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1 INTRODUÇÃO
De acordo com a Estratégia Nacional de Educação Financeira – ENEF e a
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, a educação financeira é definida como o processo em que os indivíduos melhoram os seus conhecimentos sobre o dinheiro e produtos com orientação, informação e formação. Além de se tornarem mais conscientes das oportunidades e riscos para realizarem escolhas bem informadas. Teixeira (2015) diz que a educação financeira se aplicada desde a infância pode proporcionar ao indivíduo o conhecimento e controle dos recursos visando uma melhor qualidade de vida, podendo ajudar na formação de uma sociedade consumidora consciente e preparada que conheça o valor do dinheiro e dos bens, sabendo lidar com situações adversas. Segundo uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística – IBOPE (2020), apenas 21% dos brasileiros das classes A, B e C com acesso à internet tiveram acesso à educação financeira durante a infância. O levantamento mostra também que 38% dos entrevistados aprenderam noções de educação financeira na adolescência (dos 12 aos 17 anos de idade), 27% tiveram contato com o assunto na juventude (dos 18 aos 24 anos) e 14% só aprenderam finanças pessoais na fase adulta (acima dos 25 anos). Lucci et al. (2006) salientam-se que uma sociedade conhecedora de assuntos financeiros, que identificam as variações e particularidades do mercado, possuem um maior grau de assertividade na tomada de decisões financeiras. Nessa perspectiva, diante da situação exposta do letramento tardio sobre finanças, surge a necessidade de falar sobre a relevância da educação financeira para a formação do indivíduo e os reflexos de seu comportamento financeiro.
Isto posto, o objetivo geral da presente pesquisa é analisar se indivíduos que
não tiveram acesso à educação financeira tendem a serem mais consumistas, mais endividadas e sem planejamento financeiro. Para tanto, foram delineados os seguintes objetivos específicos: identificar quais as diferenças comportamentais na tomada de decisão entre pessoas que tiveram e as que não tiveram educação financeira na sua formação escolar; analisar como a inclusão desse tema no cotidiano pode potencializar as noções sobre: finanças pessoais; planejamento financeiro; e comportamento do consumidor. Parte-se da hipótese de que os indivíduos que não obtiveram um ensino sobre educação financeira são mais consumistas e tendem a não fazerem um planejamento financeiro, além de terem uma maior dificuldade na realização de aplicações monetárias. Então, mediante a esse cenário buscou-se compreender o papel do ensino financeiro no cotidiano das pessoas e analisar quais são as atitudes tomadas por elas para gerir suas finanças pessoais. Assim, para viabilizar o teste da hipótese, realizou-se uma pesquisa quantitativa, por meio de aplicação de questionário com alunos de graduação dos cursos de Ciências Contábeis, Administração e estudantes de cursos que não abordam disciplinas de finanças e economia em sua grade curricular da Universidade Faculdade Metropolitana - UniFametro, com questões que abordam o contato dos alunos com a educação financeira e seus reflexos na tomada de decisão das finanças pessoais.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 EDUCAÇÃO FINANCEIRA
Olivieri (2013) conceitua educação financeira como o processo de constante evolução de aprendizagem referente às questões oriundas ao ganho de capital, objetivando o seu melhor uso, refletindo diretamente na tomada de decisão dos indivíduos. Segundo De Souza (2012) a educação financeira é um tema longínquo da realidade dos brasileiros, distante essencialmente do alcance dos jovens e crianças que não tem a devida informação e preparação das questões financeiras. Segundo o Banco Central do Brasil (2013, p.12): Infelizmente, não faz parte do cotidiano da maioria das pessoas buscar informações que as auxiliem na gestão de suas finanças. Para agravar essa situação, não há uma cultura coletiva, ou seja, uma preocupação da sociedade organizada em torno do tema. Nas escolas, pouco ou nada é falado sobre o assunto. As empresas, não compreendendo a importância de ter seus funcionários alfabetizados financeiramente, também não investem nessa área. Similar problema é encontrado nas famílias, onde não há o hábito de reunir os membros para discutir e elaborar um orçamento familiar. Igualmente entre os amigos, assuntos ligados à gestão financeira pessoal muitas vezes são considerados invasão de privacidade e pouco se conversa em torno do tema. Enfim, embora todos lidem diariamente com dinheiro, poucos se dedicam a gerir melhor seus recursos. Estudos realizados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre a real utilização ou conhecimento sobre a educação financeira e seus benefícios, mostraram resultados insatisfatórios sobre o grau de instrução e utilização de instrumentos financeiros por parte dos brasileiros, o que acaba tendo reflexo no resultado final da engenharia monetária das famílias e das pessoas em geral. Borges (2013) em seu estudo analisou a influência da educação financeira pessoal nas decisões econômicas dos indivíduos, e concluiu que apesar de ter avançado nos últimos anos, ainda existe a necessidade de um maior engajamento por parte do governo, universidade e sociedade em geral. Observou ainda que a principal causa do alto nível de endividamento dos indivíduos é a falta de informação e formação econômico-financeira adequada, tendo reflexo no planejamento financeiro pessoal e familiar.
2.1 FINANÇAS PESSOAIS
Ferreira (2006, p. 17) define finanças pessoais como “a arte e a ciência de gerenciamento do dinheiro das pessoas”. Foulks e Graci (1989) ressaltam que é uma área de conhecimento que estuda os conceitos financeiros transmitidos aos indivíduos e as implicações desses conhecimentos na tomada de decisão. Ross descreve (1998, p. 38) que a razão mais importante para se saber sobre finanças é a de tomar decisões financeiras pois elas serão muito importantes em termos pessoais, assim como Martins expõe sobre esse assunto em seu livro Educação Financeira ao Alcance de Todos (p. 57), ele defende que é importante tomar consciência da necessidade da alfabetização financeira, e grande parte da população não estão interessadas em conhecer finanças, achando que ela somente é importante para os profissionais que lidam com dinheiro. O dinheiro vem e vai, mas se você tiver sido educado quanto ao funcionamento do dinheiro, você adquire poder sobre ele e pode começar a construir riqueza. O motivo pelo qual o simples pensamento positivo não funciona é porque a maioria das pessoas foi à escola e nunca aprendeu como o dinheiro funciona, e assim passam suas vidas trabalhando pelo dinheiro. (KIYOSAKI, 2000, p.15) “Uma criança passa oito anos no ensino fundamental, três anos no ensino médio e, durante esses onze anos de educação básica, é obrigado a memorizar nomes e datas de poucas utilidades na vida real. Em pouco tempo tudo, ou quase tudo, é esquecido. Nesses onze anos, o aluno não estuda noções de comércio, economia, finanças ou impostos… Se fizer um curso universitário fora da área econômica, o estudante completará a sua formação superior sem noções de finanças. Não tenho dúvida de que essa falha é responsável por muitos fracassos pessoais e familiares.” (MARTINS, 2004, p.57). “A classe média se encontra em um estado de constantes dificuldades financeiras. Sua renda principal é gerada por salários e quando seus salários aumentam os impostos também aumentam. Suas despesas tendem a crescer, no mesmo montante de seus salários, daí a expressão “corrida dos ratos”.” (KIYOSAKI, 2000, p.70). Potrich, Vieira, Kirch (2015) ratificam a necessidade de os indivíduos adquirirem a alfabetização financeira, e sugerem o desenvolvimento de ações para sanar essa problemática, como a introdução de disciplinas de finanças em todos os cursos de graduação, independente da área de ensino. Outra possível ação sugerida pelos autores é a adoção de programas educativos, com conteúdos específicos e diferenciados para cada perfil e, assim, alcançar a alfabetização financeira em todos os grupos.
2.1 PLANEJAMENTO FINANCEIRO
Martins (p. 51) descreve em seu livro que vaidade, ostentação e impulso são três emoções destrutivas, conforme descrito pelo autor devemos agir pelo planejamento, pois se agirmos pela emoção, provavelmente iremos nos endividar. Segundo GROPPELLI, NIKBAKHT, 2002, planejamento financeiro é o processo de estimar os fundos necessários de uma empresa e decidir como financiá-los, ou seja, é um processo de desenvolvimento e introdução de um plano personalizado para evitar ou resolver problemas financeiros com objetivo de alcançar metas previamente determinadas, esse conceito podemos inseri-lo nas finanças pessoais, pois ele não visa apenas o enriquecimento e aumento de capital, ele é relevante para o sucesso pessoal e profissional. Quando fazemos o planejamento conseguimos enxergar melhor, ou seja, conseguimos ver onde estamos, onde queremos chegar, quando chegaremos e quais os caminhos iremos percorres para atingirmos os nossos sonhos e objetivos, conforme KIYOSAKI, o segredo para ficar rico é um só, gastar menos do que se ganha! Planejar suas finanças é entender o máximo que podemos gastar hoje sem comprometer esse padrão de vida no futuro. É fazer escolhas como viver bem o presente, mesmo que isso signifique adiar o sonho de comprar determinado carro ou um apartamento mais confortável. É optar por mais anos de aluguel, viabilizando a formação de uma poupança que seria inviável durante um pesado financiamento. (CERBASI, 2005). Significa ordenar a nossa vida financeira de tal maneira que possamos sempre ter reservas para os imprevistos da vida e sistematicamente, vagarosamente, construir um patrimônio (financeiro e imobiliário), que garanta na aposentadoria fontes de renda suficientes para termos uma vida tranquila e confortável. (SERASA, 2008, grifo do autor). Cerbasi (2004. p, 61) afirma que “o primeiro passo para poupar é fazer sobrar dinheiro.” Isso é possível através de uma análise do orçamento pessoal.
2.1 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR - endividamento
Sem a base teórica de como administrar as finanças em função do tempo, o
povo brasileiro colocado de frente com a nova possibilidade de crédito imediato e as previsões pessimistas quanto à previdência oficial do país, faz-se necessário que a população tenha uma boa educação financeira, para que sua aposentadoria seja garantida e economicamente viável. Outra questão é o envolvimento desses conhecimentos com as principais decisões durante a vida adulta de uma pessoa, são elas a compra de seu imóvel, veículo, estudos e viagens. Todas as decisões, em sua maioria, envolvem opções de crédito, por exemplo, financiamentos, consórcio, investimentos, poupança etc. O desconhecimento desses produtos e suas diferenças podem levar gerações ao alto nível de endividamento (SAVÓIA; SAITO; SANTANA, 2007). SAVÓIA, J. R. F.; SAITO, A. T.; SANTANA, F. A. Paradigmas da educação financeira no Brasil, Rio de Janeiro, v. 41, n. 6, p. 1.121-1.141, nov./dez. 2007. O endividamento familiar pode ser originado por diversas causas. A literatura mostra que há uma série de fatores psicológicos que ocasionam o endividamento e superendividamento dos indivíduos. Entretanto, estudos em finanças comportamentais mostram que as pessoas têm pouca consciência desses mecanismos psicológicos. Na realidade, os endividados colocam a culpa em fatores exógenos como dificuldades na família e no trabalho que reduzem o nível de renda, com a finalidade de justificar a situação pela qual estão passando. Dificilmente, esses indivíduos reconhecem a sua incapacidade de gerir o dinheiro e de tomar decisões em relação aos gastos (ANDERLONI; VANDONE, 2010) ANDERLONI, L. VANDONE, D. Risk of Overindebtedness and Behavioural Factors. Social Science Research Network. Milano, Working Paper n.2010-25, p.1-18, 2010. O endividamento pode ser entendido como um saldo devedor de uma pessoa ou de um grupo delas (MARQUES; FRADE, 2003) MARQUES, M. M. L.; FRADE,C. Regular o sobreendividamento. Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Observatório do Endividamento dos Consumidores. Coimbra, 2003 O superendividamento ocorre quando o indivíduo não tem condições de pagar suas dívidas (ANDERLONI; VANDONE,2010) ANDERLONI, L. VANDONE, D. Risk of Overindebtedness and Behavioural Factors. Social Science Research Network. Milano, Working Paper n.2010-25, p.1-18, 2010. Já a inadimplência é definida como a não realização de um pagamento ou descumprimento de um contrato ou de uma de suas cláusulas (SEHN; CARLINI JUNIOR, 2007) SEHN, C. F.; CARLINI JUNIOR, R. J. Inadimplência no Sistema Financeiro de Habitação. Revista de Administração Mackenzie (RAM), São Paulo, v.8, n. 2, p. 59- 84, 2007 A fim de não estar em uma situação de endividamento e superendividamento, há aqueles que apontam que uma das melhores soluções é a educação financeira. Esse processo consiste no planejamento financeiro, que é fundamental ao processo que ocorre anteriormente ao endividamento (RIBEIRO et al., 2009). RIBEIRO, C. A.; VIEIRA, K. M.; SANTOS, J. H. A.; TRINDADE, L. L.; MALLMANN, E. I. Finanças Pessoais: análise dos gastos e da propensão ao endividamento em estudantes de administração. In: XII Seminários em Administração (SEMEAD). São Paulo, 2009. Neste sentido, supõe-se que pessoas que tiveram acesso a orientações financeiras desde a tenra idade possuem melhores condições de tomada de decisão nessa área. Observa-se que muitos indivíduos, de diferentes faixas-etárias, acabam contraindo dívidas, sem considerar o impacto financeiro em suas rendas futuras. Uma das consequências diretas é a inadimplência. A falta de planejamento financeiro afeta o poder aquisitivo das famílias e gera reflexos negativos na qualidade de vida dos endividados. “Ser capaz de distinguir o que compramos porque queremos daquilo que consumimos porque precisamos é fundamental em qualquer idade” (D’AQUINO, 2008, p.23). O sistema financeiro é formado pelo dinheiro, coisa tão difícil de conseguir e tão fácil gastar por nada. Algumas pessoas aprendem cedo a receber e a gastar responsavelmente, já outras pessoas gastam em vão. Então se quiser se dar bem com o dinheiro e o sistema financeiro, aprenda a lidar com ele não deva nada e se dê bem. (PENIDO, apud SOUZA, 2012, p. 5)
POTRICH, A. C. G.; VIEIRA, K. M.; KIRCH, G. Determinantes da
alfabetização financeira: análise da influência de variáveis socioeconômicas e demográficas. Revista Contabilidade & Finanças. v. 26, n. 69, p. 362-377, 2015.
Educação Finaceira Brasileira: Uma Análise Do Segundo Mapeamento Das Iniciativas de Educação Financeira Na Formação Do Investidor Brasileiro de 2015 A 2020