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CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
JOÃO PESSOA
2017
VAGNA BRITO DE LIMA
JOÃO PESSOA
2017
Dedico:
A Deus, força suprema que me conduz nos caminhos que devo percorrer, mesmo quando
me sinto sem norte.
Ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba
(PPGE-UFPB), João Pessoa-BR.
Ao Instituto de Educação da Universidade do Minho (IE-UMINHO), Braga-PT.
A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira/PPGE
da Universidade Federal da Paraíba/UFPB, pela grandeza dos seus ensinamentos investidos no
crescimento daqueles que têm a oportunidade de tê-los como mestres.
À Secretaria da Educação do Estado do Ceará (SEDUC/CE-BR).
Aos colegas de turma n. 34 do Doutorado em Educação/PPGE/UFPB 2014, pela
construção coletiva do conhecimento nos debates travados em sala de aula.
Aos colegas do Curso de Mestrado em Ciências da Educação na área de Especialização
em Administração Educacional 2015/2016 (IE-UMINHO) Braga-PT, pelo diálogo profícuo
sobre o sistema educativo português.
Aos membros do Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Curriculares (GEPPC), por
me acolherem para a reflexão coletiva e permanente sobre as dinâmicas da pesquisa em políticas
educacionais, além do carinho e apoio nas horas necessárias.
À Professora Doutora Maria Zuleide da Costa Pereira, pela significativa orientação.
Ao Professor Doutor Virgínio Isidro Martins de Sá, pela significativa co-orientação.
Aos atores sociais que contribuíram para a construção da compreensão do objeto
estudado nesta investigação, sem a disponibilidade para o diálogo dos quais, pouco teria sido
revelado.
Ao Joaquim Renato Ferreira da Silva, pelo afeto alentador nas horas que nem ele próprio
sabia estar comigo.
A minha comadre Luzimar Fonteles, meu compadre Jaime Elisegaray, meus afilhados
Michel e Marcus Vinicius Elisegaray, que me acolheram tão prontamente em seu lar, em João
Pessoa-PB. Ao amigo Rafael Honorato e à amiga Veridiana Dantas, pelo mesmo motivo.
A todos os meus amigos, que são muitos! Por me amarem, torcerem por mim e
principalmente por permitirem que eu os ame.
RESUMO
This paper presents the thesis report of the research carried out in the scope of the PhD in
Education in the Postgraduate Program in Education (PPGE), Federal University of Paraíba
(UFPB) − Brazil, whose objective was to analyze how the actors of the educational organization
− managers, teachers, students and parents - appropriated the meanings of the position of
teacher class director, in the context of the state school of Ceará, from 2011 to 2014. In the
study, it was taken into account that the position of class director established in Ceará-Brazil is
inspired by the homonymous post created in the Portuguese educational system in the 60's of
the twentieth century. In this sense, the research carried out two case studies, one in the context
of Ceará and the other in the north of Portugal. The educational policy, titled Project Teacher
of the Class (PPDT), has been working in the Brazilian context precisely in the state schools of
Ceará-Brazil since 2008, in the Portuguese educational system, the position is consolidated and
regulated with the nomenclature, class director, since the end of 1968. In analyzing the
continuities and ruptures of the Class Director to the Class Director, Sá (1997) highlights the
"triple function" that unites the two positions, although with a different hierarchy of the
functions in question. In the context of the analysis, the methodological approach was
qualitative, the research strategy chosen was the single case study method (integrated and
holistic), and the data collection instruments used were bibliographic and documentary
research, questionnaire, observation non-participant and semi-structured interviews. The
continuous policy cycle formulated by Richard Bowe, Stephen Ball and Anne Gold (1992) was
adopted as the model of analysis; Ball (1994, 2011), articulating it with the school perspective
as an educational organization of Licínio C. Lima (1998, 2001). Thus, the theoretical reference
sought to articulate the approach of the policy cycle, with the contributions of the sociology of
educational organizations, from the perspective of Ball (1992, 1994, 2002, 2004, 2011, 2013),
Lima (1986, 1998, 2001), Sá (1997), and other contributions to the understanding of school as
a complex educational organization. It is also worth mentioning that this work verified that the
PPDT, in its trajectory, underwent the process of (re)interpretation and (re)contextualization, in
the different contexts of the policy in action (influence context, text production context, practice
context, context of results and effects and context of policy strategies). Effectively, the PPDT
results from the "interpretation of the interpretation" on the class director existing in the
Portuguese educational structure by the actors of interest groups in the Brazilian context. It is
concluded that the actors for whom the PPDT policy is intended - students, parents, teachers
and school administrators - are convinced of the importance of educational policy for the
education of students in the school of Ceará, even if, above all, regarding the bureaucratic image
of educational policy. Regarding the significations about the position/function of DT, the texts
and speeches present significant approximations in the plane of the guidelines for action,
although in the plane of action social, political and economic distances between the contexts
investigated are observed.
1 PRIMEIROS ENUNCIADOS
“Eu venho das dunas brancas
Onde eu queria ficar
Deitando os olhos cansados
Por onde a vida alcançar
[...]
Eu tenho a mão que aperreia
Eu tenho o sol e areia
Eu sou da América, sul da América
South America
Eu sou a nata do lixo, eu sou o luxo da aldeia
Eu sou do Ceará”
(Ednardo)1
1
José Ednardo Soares Costa Souza, poeta, músico cearense. Música “Terral” gravada em 1973.
18
2
“A instauração de uma nova cultura de performatividade competitiva que envolve uma combinação de
descentralização, alvos e incentivos para produzir novos perfis institucionais”. (BALL, 2004, p. 1107). “A
performatividade é uma tecnologia, uma cultura e um modo de regulação que serve de críticas, comparações e
exposições como meios de controlo, atrito e mudança. Os desempenhos (de sujeitos individuais ou organizações)
servem como medidas de produtividade e rendimento ou mostra de `qualidade` ou ainda momentos de promoção
ou inspeção. Significam, englobam e representam a validade, a qualidade ou valor de um indivíduo ou organização
dentro de um determinado âmbito de julgamento/avaliação. [...]” (BALL, 2002, p. 4).
3
Dados recolhidos dos documentos oficiais disponibilizados no site da SEDUC-CE, embora se encontrem
desatualizados, a exemplo da Agenda Estratégica 2008-2010.
19
4
Tasso Ribeiro Jereissati foi governador do Ceará por três mandatos, nos anos de 1987/1990, 1995/1998 e
1999/2002. Iniciou sua carreira política no Partido do Movimento Democrático Brasileiro, transferindo-se para o
Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e já em 1991 assumiu a presidência do referido partido.
5
Cearense radicado no município de Sobral, foi eleito governador do Ceará pelo PSDB para o mandato de 1991 a
1994. Irmão do ex-governador do Ceará Cid Ferreira Gomes nos mandatos compreendidos nos anos de 2007/2010
e 2011/2014.
6
A abordagem teórica de Stephen J. Ball, refuta a ideia de implementação das políticas educacionais, substitui
pela noção de atuação da política (policy enactment). Embora, admita-se essa perspectiva, neste texto ainda se
registra o uso da palavra “implementação”, assim, assinala o uso das aspas para indicar tal entendimento.
20
uma política de alfabetização na idade certa, a qual, além dos resultados específicos,
vinculados aos seus objetivos e metas, ampliou-se na direção da busca de soluções
operacionais e do diálogo com os pressupostos teóricos e ideológicos que informam
a atual reflexão brasileira sobre alguns aspectos da gestão educacional, escolar e
pedagógica e do processo de alfabetização-letramento, a respeito dos quais se
experimentam hoje, no País, impasses e sensações de dúvida, confusão e mesmo
descrença.
A política de alfabetização na idade certa foi ampliada para todo o estado do Ceará
durante os oito anos de mandato do governo Cid Gomes e, ainda, durante o segundo mandato
(2011-2014), o modelo de política educacional aqui mencionado foi ampliado para todo o
território nacional brasileiro por meio da Medida Provisória nº 586, de 8 de novembro de 2012,
com a denominação de Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). O percurso
político do Cid Gomes, com a ênfase na educação de qualidade como estratégia de
desenvolvimento social e econômico, rendeu-lhe o convite para assumir o Ministério da
Educação, no segundo mandato da Presidenta da República Dilma Rousseff – início do ano de
2015 –, cargo que ocupou por pouco mais de dois meses, após a sua nomeação, chegou a pedir
demissão em meados do mês de março em consequência de desacordo político com a Câmara
dos Deputados Federais.
O governo mudou com a eleição, no final do ano de 2014, na condução do Estado,
contudo, observa-se entre os programas e projetos educativos da SEDUC-CE, um conjunto de
iniciativas que permanecem no quadro da política educacional (APÊNDICE A), em andamento
nos últimos oito anos do governo anterior. Dentre essas iniciativas, pode-se destacar, no quadro
da política educacional, o Programa de Alfabetização na Idade Certa (PAIC), um programa de
cooperação entre Governo do Estado e municípios cearenses, com a finalidade de apoiar os
municípios para alfabetizar os alunos da rede pública de ensino até o final do segundo ano do
ensino fundamental; Prêmio Escola Nota 10, com o objetivo de fortalecer, valorizar e ampliar
o trabalho que vem sendo empreendido pelas escolas em relação aos resultados de
alfabetização; Projeto Jovem de Futuro – projeto de gestão escolar para resultados –, em
parceria com o Instituto Unibanco, que oferece às escolas participantes, apoio técnico e
financeiro para, em um período de 3 anos – duração do Ensino Médio –, melhorar o
desempenho dos alunos (SEDUC-CE, 2015).
Além da Educação Profissional e do e-Jovem − com o objetivo de implantar as escolas
de educação profissional de tempo integral e integrada ao ensino médio −, o governo do Ceará
mantém: o e-Jovem − cursos profissionalizantes para alunos egressos do ensino médio regular
−; o Programa Aprender pra Valer, com a finalidade de elevar o desempenho acadêmico dos
alunos do ensino médio, com vistas à aquisição dos níveis de proficiência adequados a cada
21
série/ano, bem como, a articulação deste nível de ensino com a educação profissional e
tecnológica; a Superintendência Escolar, com o objetivo de contribuir com a reorganização do
trabalho e com a participação mais eficaz no processo ensino-aprendizagem, das unidades
escolares, através de um processo de ação - reflexão - ação; o PPDT, que visa a construção de
escola que eduque a razão e a emoção, uma escola que tem como premissa a desmassificação
do ensino, uma escola com plenos objetivos de acesso, permanência, sucesso e formação do
cidadão; dentre outros programas e projetos. Isso só para citar as iniciativas da própria SEDUC-
CE (SEDUC-CE, 2016).
O PPDT, resultou da (re)interpretação e (re)contextualização das observações e
vivências dos atores que tomaram como inspiração o cargo existente no sistema educativo
português, posto em atuação nas escolas públicas estaduais cearenses, no primeiro mandato do
governo do Estado Cid Ferreira Gomes (2007-2010). Para efeito deste estudo, essa política
educativa chama a atenção dentre os programas e projetos da SEDUC-CE, para a apresentação
de objetivos que não enfatizam os argumentos de mercado e o discurso da performatividade
que se verificam nos objetivos dos demais projetos (APÊNDICE A).
7
Ver A Escola como organização educativa: uma abordagem sociológica (LIMA, 2001).
23
1.2 A Problemática
O marco temporal para efeito deste estudo foi delimitado entre os anos de 2011 e 2014,
por esse período se caracterizar como o momento de consolidação dessa política educativa, nas
escolas públicas estaduais de ensino médio regular, e por se coadunar com o segundo mandato
de Cid Gomes e sua equipe na Secretaria da Educação do Estado, no governo do Ceará. Nesses
termos, considerou-se esse interstício, para a demarcação desta análise.
Segundo referências da SEDUC-CE (2013, 2015, 2016), no XVIII Encontro da
Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE)8 – Seção do Ceará, o
ano de 2007 marca a origem do PPDT, aqui no Brasil, quando foi apresentada a experiência das
escolas públicas portuguesas. Com base nessa apresentação, gestores educacionais dos
municípios de Pernambuco − Eusébio, Madalena e Canindé − iniciaram um projeto-piloto, em
três escolas; posteriormente, a SEDUC-CE aderiu à proposta, inserindo-a nas escolas da rede
estadual.
8
Uma das primeiras associações brasileira da sociedade civil organizada no campo da educação, fundada em 1961
com outra nomenclatura, passando por diferentes transformações ao longo dos anos, desde o ano de 1996 mantém
a atual denominação. Para Benno Sander (2007), “A ANPAE foi concebida com a missão de lutar pelo exercício
do direito à educação de qualidade para todos, através de sua participação na formulação de políticas públicas de
educação e na concepção e adoção de práticas de gestão democrática, alicerçadas nos princípios e valores da
solidariedade e justiça social e da liberdade e igualdade de direitos e deveres na educação e na sociedade”.
Disponível em: <http://www.anpae.org.br/website/>. Acesso em: 20 out. 2016.
24
Segundo Stake (2012, p. 81), “os investigadores qualitativos têm orgulho de descobrir
e retratar as múltiplas perspectivas sobre o caso”, nessa direção e complementa que “a entrevista
é a via principal para as realidades múltiplas”. No que se refere à análise documental atribui-se
a mesma importância dos demais instrumentos de recolha de dados, visto que, de acordo com
Stake (2012, p. 81), no momento da sua produção, “os documentos servem como substitutos de
registros de actividades que o investigador não poderia observar directamente”.
O presente relatório de tese está estruturado em seis capítulos, incluindo esta introdução.
A organização da tese pretende revelar a trajetória do caminho teórico, analítico e metodológico
percorrido na investigação de doutorado que ora se apresenta.
A introdução, neste documento, configura-se como um capítulo com a breve
apresentação do desenho teórico, metodológico e empírico que se constituiu no percurso da
investigação, e ainda, descreve sucintamente o modelo de análise e as enunciações
metodológicas, além de apresentar o objeto de estudo da investigação.
27
9
Organizações ou organismos internacionais agrupam instituições internacionais de vários países com interesses
comuns, exemplo Organização das Nações Unidas (ONU), Fundo Monetário Internacional (FMI), Comissão
Econômica para América Latina/CEPAL, Oficina Regional de Educação para América Latina e Caribe/OREALC,
29
exercem influência no âmbito global e que intervêm diretamente nas configurações políticas e
econômicas dos países periféricos, pobres e/ou em desenvolvimento, como é o caso dos países
da América Latina.
A propósito dessa reflexão, Leitão (2010, p. 79) defende que, no que se relaciona às
políticas públicas para a educação cearense, “a discursividade da reforma cearense foi gerada
no interior da própria formação discursiva em gestação em meio ao burburinho geral das
reformas da América Latina e no Brasil, na sua anexação ao capital globalizado”. Na direção
desse debate, a autora segue afirmando que “foi possível entender, então, a ‘Caminhada
Cearense’10 como irrupção no quadro dos ‘novos’ projetos educacionais desenhados para o
Brasil e o Ceará na década de 1990” (LEITÃO, 2010, p. 79).
Cabe, mais uma vez, chamar a atenção para o fato de que a reforma educacional cearense
se materializou não somente como desdobramento das políticas centrais do país, mas,
sobretudo, sob a égide das orientações dos organismos internacionais, seguindo o exemplo de
outros estados brasileiros, conforme afirma Dagmar M. L. Zibas (2005, p. 204) em pesquisa
realizada sobre a reforma do ensino médio no Ceará. Afirma
O que vale aqui destacar é que a reforma, no Ceará, não foi induzida, integralmente,
pelo governo federal, mas teve, também, uma vinculação direta com movimentos de
abrangência global, uma vez que as autoridades estaduais tinham bom trânsito
(inclusive quanto à obtenção de empréstimos) junto a organismos multilaterais. Na
verdade, a Secretaria da Educação do Ceará e suas congêneres de São Paulo, Paraná
e Minas Gerais constituíram, nos meados dos anos 1990, simultaneamente, as
reformuladoras e implementadoras de políticas educacionais cuja matriz estava
situada em organizações internacionais.
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura/UNESCO, Fundo Monetário
Internacional/FMI, Banco Mundial/BM e instituições associadas. Muitas dessas instituições, financiam e ou
monitoram a educação, projetos de desenvolvimento econômico, no Brasil e demais países em desenvolvimento
na América Latina.
10
Política educacional do período de 1995 a 2002.
11
Período do regime militar iniciado com o golpe militar de 31 de março de 1964 até a escolha do deputado
Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral em 15 de janeiro de 1995.
30
Oliveira (2009a, p. 79) chama a atenção para a relevância ocupada pela educação como
componente indispensável ao desenvolvimento econômico, algo já observado nos primeiros
anos da década de 1960, como prenúncio das novas demandas educativas:
A reforma eduacional brasileira, que teve início na segunda metade da década dos anos
de 1990, tem suas origens nos anos anteriores, quando algumas políticas já se materializavam
(KRAWCZYK, 2008). Sobre os sentidos que mobilizaram a reforma educacional da década de
1990, Krawczyk (2008, p. 47) afirma:
12
Tasso Ribeiro Jereissati foi governador do Ceará por três mandatos, correspondente aos anos de 1987/1990,
1995/1998 e 1999/2002.
31
Três elementos apoiaram a reforma de educação básica cearense, entre 1995 e 2000:
uma reconhecida necessidade de mudança, expressa nos planos de governo dos
últimos 12 anos; o contexto econômico e político favorável, traduzido pelo
saneamento das finanças do estado e a expressiva credibilidade de suas instituições; e
a existência de mecanismos efetivos de participação social, evidenciados pela
modernização das formas de gestão pública e pela atuação organizada da sociedade
civil.
13
Segundo Lima (2012, p. 66), “o então ‘governo das mudanças’ deu início à constituição de um grupo político
hegemônico, que liderou a política local até o início dos anos 2000, a “era cambebista”, como o grupo era
conhecido em alusão à nova sede administrativa Palácio do Cambeba, construída com ares de modernização”.
14
Para o entendimento do processo de disputa entre os projetos políticos contraditórios na construção da última
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) brasileira, n. 9.394 decretada e sancionada no ano de 1996,
cabe alguns destaques. Os educadores e sindicalistas que defendiam a educação pública e participavam do Fórum
Nacional de Defesa da Escola Pública na LDB (Fórum), coadunavam com o projeto de LDB apresentado na
Câmara dos Deputados pelo Deputado Octavio Elísio, no dia 28 de novembro de 1988, denominado como Projeto
de Lei (PL) n. 1.258, aprovado na Assembleia Legislativa como PL n. 1.258-C em 13/05/1993. Entretanto, no
Senado Federal, o denominado PLC n. 101/1993, foi descaracterizado pelo relator senador Darcy Ribeiro, a fim
de atender os interesses do poder executivo e beneficiar os defensores do ensino particular (BRZEZINSKI, 2014).
32
Cabe destacar que os elementos citados por Naspolini (2001), sobre a reforma da
educação básica no Ceará, não explicitam a influência do pensamento condutor do processo de
globalização e internacionalização da economia, presente nas políticas públicas educacionais,
implementadas nas últimas décadas, no contexto nacional e local. Os argumentos do autor sobre
a reforma educacional cearense não revelam as intenções das concepções neoliberalizantes,
contidas nos propagados valores de racionalização, otimização dos recursos, eficiência,
eficácia, equidade, qualidade, participação, descentralização e democracia, contidas nos
documentos do período.
Contudo, concorda-se com Leitão (2010, p. 37) quando ele afirma que “[...] a reforma
educacional cearense, em meados da década de 1990 [...], está imersa nos quadros da reforma
estrutural do Estado, atendendo a interesses internacionais da mundialização do capital,
impulsionada, principalmente, por esta dinâmica dos novos tempos”. Em conformidade com
tais argumentos, Zibas (2005, p. 208) anota que “empréstimos internacionais começaram logo
a chegar em apoio aos projetos do estado, com o aval do governo federal, o que possibilitou a
reforma de muitas escolas de ensino médio”.
A fim de proceder ao movimento de análise da macropolítica à micropolítica, ou do
global para o local, e vice-versa, retoma-se o olhar analítico para a política central do Brasil,
naquele contexto. Na condução do governo federal, no período que Tasso Jereissati (1995 a
2002) governava o Ceará, achava-se Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), responsável
pela reforma estrutural do Estado brasileiro com vistas à inserção do Brasil na economia global,
não coincidentemente sob os mesmos valores, contidos no ideário da reforma educacional
cearense, visto que, os líderes políticos supracitados pertencem ao mesmo partido. Conforme
Oliveira (2009b, p. 199),
15
Fernando Henrique Cardoso, fundou o PSDB, foi Presidente do Brasil por dois mandatos consecutivos (1995-
2002).
33
O Projeto Nordeste também faz parte desse processo, fruto de um acordo do MEC
com o BM para o desenvolvimento do ensino nas quatro primeiras séries da educação
fundamental em toda a região Nordeste. De acordo com a expectativa gerada pela
cooperação do BM, as experiências dos projetos seriam repassadas para o sistema
educacional como um todo, produzindo eficiência (maior produtividade educacional
com menor custo) e eficácia, esta entendida como alcance de objetivos de impacto
para melhorar o desempenho escolar (expansão de matrículas, diminuição da evasão
e da repetência).
No Ceará, o projeto Todos pela Educação de Qualidade Para Todos, na gestão de Tasso
Jereissati, contou com significativo aporte de recursos extraorçamentários, oriundos de
empréstimos internacionais, concedidos pelo Banco Mundial para financiar o ensino
fundamental. Os projetos Nordeste e o FUNDESCOLA (1998)16 resultaram de acordos
estabelecidos entre os organismos internacionais, a saber, o Banco Mundial e o governo federal.
No caso do último, trata-se da política de descentralização e municipalização, sendo o Plano de
Desenvolvimento da Escola (PDE) seu carro-chefe (VIEIRA, 2002).
16
O Fundo de Fortalecimento da Escola (Fundescola) é um programa do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE) - MEC, criado em 1995, realizado em parceria com as secretarias estaduais e municipais de
Educação das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com financiamento do Banco Mundial e do Tesouro
Nacional. O objetivo do programa é promover a eficácia, eficiência e equidade no ensino fundamental público das
regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, por meio da oferta de serviços, produtos e assistência técnico-financeira
inovadores e de qualidade, que focalizam o processo de ensino-aprendizagem e as práticas gerenciais das escolas
e secretarias de Educação. Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/fnde/sala-de-
imprensa/noticias/itemlist/tag/Fundescola%20(Fundo%20de%20Fortalecimento%20da%20Escola)>. Acesso em:
13 out. 2016.
34
17
Sofia Lerche Vieira, foi secretária da Educação Básica do Estado do Ceará no período de 2003 a 2006.
18
Termo italiano, que significa "atualização". Esta palavra foi a orientação chave dada como objetivo para o
Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII em 1962. AGGIORNAMENTO. In: WIKIPÉDIA, a
enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2017. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Aggiornamento&oldid=49301907>. Acesso em: 15 jul. 2017.
35
eleições diretas para diretores escolares em 1995, que inauguraram na educação a forma
democrática de escolha de gerentes públicos”.
Sobre o pensamento engendrado no modelo de gestão democrática, o ex-secretário da
educação, destaca que a “concepção aponta para a descentralização, a redução dos níveis
hierárquicos, a participação da sociedade civil nas ações do governo, a socialização das decisões
e a divisão de responsabilidades” (NASPOLINI, 2001, p. 181). Entretanto, compreende-se que
a gestão democrática não se restringe a eleições para diretores escolares, mas, sobretudo,
consiste na efetiva participação dos atores que interagem no cotidiano da comunidade escolar,
com autonomia para tomada de decisões. Entende-se também que tal experiência tem as bases
da sua concepção, como já mencionado, na reforma educacional do Estado brasileiro da década
de 1990. Contudo, é importante destacar também a influência externa do Banco Mundial, que
financiou projetos direcionados ao setor da educação básica, no Estado do Ceará.
Os estados do Ceará, Bahia e Pernambuco foram os únicos do País a contar com um
empréstimo para a Educação Básica, firmado com o Banco Mundial, simultaneamente ao
Fundescola. Foram, portanto, precedentes do BM no Brasil, em relação aos outros estados no
que se refere à política de educação e empréstimos auferidos ao BM (SILVA; AZZI; BOCK,
2007). Neste sentido, estes teóricos destacam:
O estado do Ceará está atualmente na fase final de seu programa “Projeto para a
melhoria da educação básica do Ceará” (Projeto Escola Novo Milênio), no qual o
empréstimo junto ao Banco Mundial corresponde a US$ 90 milhões, num total de US$
150 milhões. Coordenado pela Secretaria de Educação Básica do Estado do Ceará
(SEDUC-CE), o projeto está previsto para o período de 29 de novembro de 2000 a 30
de junho de 2006, sendo os anos de 2001 a 2005 prioritários para a avaliação da sua
efetividade. O Banco deixa claro que o Projeto Escola Novo Milênio visa
complementar projetos federais em andamento no estado, tais como o Fundescola e o
Promed (Projeto de Expansão e Melhoria da Educação Secundária, financiado pelo
Banco Interamericano de Desenvolvimento) (SILVA; AZZI; BOCK, 2007, p. 33).
A partir da fala do autor, entende-se que, além dos projetos voltados para a lógica de
modernização implantada pelo governo, está em destaque a responsabilização da escola pela
materialização das políticas educativas do governo cearense, no contexto da reforma
educacional.
No contexto político e social em tela, é inegável a centralidade que ocupa a educação
nas diferentes esferas políticas que constituem a organização da sociedade, desde as instâncias
municipais, estaduais, nacionais, até os organismos internacionais que financiam projetos
educacionais em diferentes países e regiões. Entretanto, a administração pública tem
transplantado ações do modelo gerencial, a fim de se tornar mais eficiente, eficaz e flexível.
Desse modo, “uma das ações prioritárias foi a descentralização, pela qual foram transferidas
funções da burocracia central para estados e municípios [...]” (FONSECA; OLIVEIRA, 2009,
p. 235). Com esse entendimento, procurou-se focalizar a reflexão para as instâncias locais e
analisar quais as influências políticas locais, como também, a sua relação com a educação,
diante das interfaces com as demais esferas de organização política.
Com efeito, considera-se que as estratégias de modernização, racionalização, e
descentralização, da educação e das demais políticas sociais − adotadas pelo poder central na
década de 1990 −, e que passaram pela via da municipalização, foram concebidas no contexto
da reforma do Estado brasileiro, sob as orientações dos organismos internacionais, na
perspectiva de racionalizar recursos e transferir para a sociedade as atribuições que antes
concerniam ao Estado, sob o argumento da garantia da otimização dos resultados e da eficiência
e eficácia do Estado.
Pensando no âmbito global, nos termos da ampliação das definições neoliberais para o
mundo, observa-se que as transformações materializadas nas reformas dos anos de 1990 no
Brasil impuseram a lógica neoliberal sob o discurso da modernização e racionalização do
Estado, num momento histórico em que o país passava pelo processo de redemocratização. É
nesse contexto, que Leitão (2010) insere os desdobramentos das contingências das reformas
engendradas no Estado cearense.
Deste modo, no âmbito global, são perceptíveis os efeitos do processo da mundialização
da economia, contudo, tal processo não se restringe exclusivamente a este campo, mas se
estende a todas as dimensões da organização, social, política e cultural. Nessa perspectiva, na
educação, precisamente na educação escolar, tem sido marcadamente fértil a germinação de
38
medidas para favorecer a efetivação de tal tendência, sob o argumento do conhecimento como
condição necessária ao “desenvolvimento” e diminuição das desigualdades. A esse respeito,
bem diz Krawczyk (2000, p. 2):
Registra-se que, naquele contexto, o forte grupo político foi determinante para promover
a inserção do Estado na nova ordem econômica mundial, constituída por uma elite econômica
local da área da indústria e do comércio, com amplos interesses na reestruturação do Estado e
na mudança da prática política e administrativa (LEITÃO, 2010). Tal grupo político conduziu
as mudanças de reestruturação do Estado, atendendo às demandas impostas pelas
transformações demarcadas pela reforma do Estado brasileiro, nos anos de 1990, momento em
que a educação foi alvo das mesmas concepções administrativas.
No campo da educação, as mudanças efetivadas pelo grupo político hegemônico em
questão não foram menos estruturais que na economia. O processo de descentralização e
municipalização da educação, bem como, a implantação da gestão democrática ganhou
materialidade em meados da década de 1990, no âmbito da reforma educacional do Estado
brasileiro, sob os ditames da política neoliberal.
40
Nesse cenário, localizado na região Norte do estado do Ceará, o prefeito Cid Ferreira
Gomes e a sua equipe ganham status de referência em política educacional, na perspectiva das
orientações que o MEC considerava importantes, como modelo a ser seguido. Contudo, a
imagem de político jovem, empreendedor, eficiente e com apelo modernizador não cabe só para
o campo educacional. Segundo Carvalho (2008, p. 34), “o ethos da credibilidade apoiou-se nos
depoimentos, narrativas e principalmente nas imagens documentais do crescimento de Sobral
sob as duas administrações de Cid Gomes”. O político com imagem de eficiência e inovação –
não só no campo da educação –, já desfrutava de trajetória política, para além do saldo da
administração, em dois mandatos, no município de Sobral, considerando também a sua tradição
política familiar:
19
Irmão mais novo do Ciro Ferreira Gomes, governador do estado do Ceará nos anos de 1991 a 1994, aliado ao
grupo “cambebista”.
41
Ele tinha uma trajetória política própria a ser mostrada na campanha. A voz em off
intercalava-se com a de sua mãe e a do irmão Ciro, entrelaçando-se, aí, elementos do
imaginário político da tradição e da modernidade: dos Ferreira Gomes, carrega a
herança de uma família de tradição, que tem a “política no sangue”; do imaginário da
modernidade, emerge o político jovem, com formação técnica (engenheiro), ousado,
competente (CARVALHO, 2008, p. 35).
As forças políticas da região Norte do estado do Ceará surgem com uma forte imagem
pública: o jovem, arrojado e eficiente administrador, talhado para impulsionar o “salto” de
desenvolvimento que o Ceará precisava dar para retomar o crescimento. Com efeito, os
documentos oficiais do governo recém-empossado, a exemplo a Lei nº 13.875, de 7 de fevereiro
de 2007 dispõem sobre o modelo de gestão a ser implantado, pelo governador. Nessa direção,
Medeiros (2011, p. 16) afirma que, “em 2007, o Governo Cid Gomes assume o Estado com o
Plano de Governo ‘O grande Salto que o Ceará Merece’ e, por meio da Lei nº 13.875, de 7 de
fevereiro de 2007, define seu modelo de governar”.
42
Efetivamente, a gestão por resultados é marcada por um dos princípios definidos como
orientação administrativa do seu governo, consoante o art. 1º, parágrafo VI, da Lei n.
13.875/2007. No citado documento, como se pode verificar a seguir, o governador oficializa o
seu modelo de gestão e altera a estrutura de administração e assessoramento:
[...] a Gestão por Resultados como administração voltada para o cidadão, centrada
notadamente nas áreas finalísticas, objetivando padrões ótimos de eficiência, eficácia
e efetividade, contínua e sistematicamente avaliada e reordenada às necessidades
sociais, fornecendo concretos mecanismos de informação gerencial (SEDUC-CE,
2007, p. 3).
Embora o governo anterior tenha perdido as eleições para o novo político, o então
governador já havia lançado mão das estratégias e práticas administrativas voltadas para a
obtenção de resultados, como consequência das fortes orientações para a “implementação” dos
objetivos estratégicos de garantia, da pregada eficiência e eficácia. Para Medeiros (2011, p. 13),
“O início da implantação de GPR20 no Estado do Ceará, ocorreu no Plano de Governo de 2003-
2006, denominado ‘Ceará Cidadania, Crescimento com Inclusão Social’, do Governador Lúcio
Alcântara”. Ao assumir o governo, Cid Gomes não só dá continuidade à prática administrativa
em andamento, como a amplia para todas as secretarias do seu governo.
Dentre as iniciativas do Governo Cid Gomes, destacam-se empreendimentos locais, na
política educacional cearense; nomeadamente, o Programa de Alfabetização na Idade Certa
(PAIC)21, em 2012, ampliado para o âmbito nacional através da Portaria nº 867, de julho de
2012, do Ministério da Educação:
Art. 1º Fica instituído o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, pelo qual
o Ministério da Educação (MEC) e as secretarias estaduais, distrital e municipais de
educação reafirmam e ampliam o compromisso previsto no Decreto nº 6.094, de 24
de abril de 2007, de alfabetizar as crianças até, no máximo, os oito anos de idade, ao
final do 3º ano do ensino fundamental, aferindo os resultados por exame periódico
específico, que passa a abranger: I − a alfabetização em língua portuguesa e em
matemática; II − a realização de avaliações anuais universais, pelo Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira − INEP, para os concluintes do
3º ano do ensino fundamental.
20
Gestão Por Resultados ou Result Based Management (RBM).
21
O programa consistia em uma parceria estabelecida entre a SEDUC/CE e os 184 municípios do Ceará. Em 24
de maio de 2007 foi estabelecido um pacto de cooperação entre a SEDUC/CE e os 184 municípios do Ceará, no
qual os prefeitos assumem publicamente o compromisso com a execução das propostas do Programa Alfabetização
na Idade Certa, com o objetivo de alfabetizar todas as crianças até o 2º ano do ensino fundamental.
43
censitária, passando a ter como foco a avaliação da alfabetização (SPAECE − Alfa 2º ano), a
avaliação do ensino fundamental (5º e 9º anos), e a avaliação do ensino médio (1º, 2º e 3º anos).
No âmbito das iniciativas, nas políticas educativas locais, cabe destacar a criação da
Superintendência Escolar, como estratégia de acompanhamento, monitoramento e controle
direto, dos indicadores de eficiência, aprendizagem, frequência, abandono e demais aspectos
referentes à rotina cotidiana da escola e do professor.
Dentre as iniciativas apresentadas como inovadoras, o PPDT, objeto desta análise
investigativa, teve como inspiração o sistema educativo português e a sua atuação, nas escolas
públicas estaduais cearenses, que teve início no primeiro mandato do governo de Cid Ferreira
Gomes (2007-2010), e teve continuidade no seu segundo mandato (2011-2014).
política educacional cearense. É nesse sentido que se procura analisar este objeto de estudo.
Desse modo, no contexto das inovações nas políticas educativas, entre os dois mandatos do
governo Cid Gomes (2007-2010/2011-2014), insere-se a presente investigação acerca do
PPDT, na escola pública estadual de ensino médio regular. Sobre a origem dessa política
educativa no cenário da educação cearense, cabe inicialmente destacar que o ano de 2007 marca
a origem do referido projeto no Brasil, precisamente, no XVIII Encontro da Associação
Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE) – Seção do Ceará, evento em que
houve uma apresentação sobre a experiência do professor-diretor de turma. nas escolas públicas
portuguesas. Em um momento anterior ao evento supracitado, uma das diretoras da ANPAE/CE
havia conhecido a experiência de diretor de turma, em Portugal, e procurou divulgá-la para os
educadores cearenses. Conjugados com os argumentos apresentados na exposição e na
mobilização de educadores, respeitados no âmbito da educação cearense, gestores educacionais
dos municípios de Eusébio, Madalena e Canindé iniciaram um projeto-piloto em três escolas.
Posteriormente, a SEDUC-CE aderiu à proposta – conforme sinalizado na introdução deste
trabalho –, inserindo-a nas escolas da rede pública estadual (SEDUC-CE, 2015; CRAVES;
LEITE, 2010).
Segundo Ball (2013, p. 177):
Poderão aderir ao Projeto Diretor de Turma todas as escolas públicas estaduais que
possuírem oferta de 1º ano do Ensino Médio. 2. Nas escolas onde não houver oferta
de Ensino Médio, a adesão ao Projeto Diretor de Turma poderá ser efetivada nas
turmas de 9º ano do Ensino Fundamental. 3. As escolas poderão aderir parcialmente,
em caráter de experiência, não sendo obrigatória a implementação do Projeto em todas
as turmas de 1º ano ou 9º ano. 4. Também é facultada às escolas a adesão a partir do
1º semestre letivo ou somente no para o 2º semestre letivo de 2010. 5. Cada escola
deve promover com seu colegiado de professores uma reunião de discussão sobre a
adesão ao projeto que deve ser registrada em ata que será o documento que confirmará
ou não a adesão da escola. Esta ata deve ser assinada pelo Núcleo Gestor e pelos
professores presentes à reunião. Previamente à reunião os professores devem fazer
uma leitura aprofundada do projeto. (SEDUC-CE, 2010, p. 1).
22
Em 22/02/1996, através do Decreto 27.274, o governo do estado do Ceará instituiu vinte e um Centros Regionais
de Desenvolvimento da Educação (CREDE) em substituição as Delegacias Regionais de Ensino (DERE). Em
2007, a nomenclatura mudou para Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (CREDE).
47
e abandono escolar, aspectos que podem ser caracterizados como as demandas orientadas pela
nova gestão pública gerencial, no âmbito da educação. Para uma melhor compreensão, Chaves
e Leite (2010, p. 3, grifo do autor) detalham a dinâmica de funcionamento do PPDT:
O Diretor de Turma é o elemento do grupo que cria o ambiente para que os alunos
possam partilhar as suas experiências, preocupações, fobias, permitindo-lhes
exprimirem-se de modo aberto e objetivo, sendo um verdadeiro amigo/conselheiro e
um tutor que se empenha no sucesso dos seus alunos (TAVARES, 2011, p. 457).
Embora, o autor do estudo não apresente dados que comprovem os argumentos sobre
efeitos da política educativa em atuação, no contexto da prática das escolas cearenses,
complementa:
Com efeito, a experiência da política educativa nas escolas públicas cearenses apresenta
visíveis aproximações com a política original inspiradora. A tríplice função de coordenar o
ensino, disciplinar os alunos e mobilizar o contato com as famílias, atribuídas ao diretor de
turma em Portugal (SÁ, 1997), tem se observado no âmbito das escolas públicas estaduais do
Ceará, mesmo considerando as pesquisas existentes ainda inaugurais na análise sobre o tema.
50
O professor diretor de turma, apesar de centrar sua atenção sobre os alunos, continua
ocupando o lugar de interface entre a docência e a gestão curricular através do
conselho de turma, onde discutirá, por exemplo, as práticas curriculares mais
adequadas à sua turma. Ao apresentar diagnósticos da dinâmica de aprendizagem dos
educandos da sua turma, irá direcionar adequações de estudos de modo a sanar a
perspectiva da antiga uniformidade curricular e pedagógica dirigidas a todos os
educandos como se constituíssem um único sujeito moral (SILVA, 2013, p. 5).
O Projeto Professor Diretor de Turma visa à construção de uma escola que eduque a
razão e a emoção, onde os estudantes são vistos como seres humanos que aprendem,
riem, choram, se frustram... Uma escola que tem como premissa a desmassificação.
Uma escola com plenos objetivos de acesso, permanência, sucesso e formação do
cidadão e do profissional (SEDUC-CE, 2013).
23
Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste.
51
24
A estrutura e organização da educação pública portuguesa serão abordadas no 3º capítulo.
52
(LIMA, 1986; CASTRO, 1995; SÁ, 1997). Para Sá (1997, p. 24), essas são “as diferentes
metamorfoses por que passou essa estrutura até cristalizar na figura do director de turma”.
As funções que lhe são cometidas situam-no como órgão de apoio ao Reitor, em tudo
o que à classe diz respeito, quer a nível de alunos – aproveitamento, comportamento
e faltas –, quer a nível dos professores da classe – coordenando a sua actividade
pedagógica, presidindo as reuniões da classe, cabendo-lhe ainda o papel de mediador,
relativamente aos pais dos alunos, a quem deve prestar todas as informações que a
estes dizem respeito.
O art. 53º discrimina um conjunto de atribuições do director de classe que podem ser
arrumadas em três grandes áreas: 1) coordenação dos professores e do ensino; 2)
controlo da assiduidade, comportamento e aproveitamento dos alunos; 3) informação
regular dos pais e encarregados de educação. (SÁ, 1997, p. 29).
Diante da análise realizada por Sá (1997), pode-se concluir que o diretor de classe é
concebido com o papel de coordenação pedagógica, envolvendo os professores, alunos,
pai/mães e encarregados de educação no contexto da organização escolar do final do século
XIX, considerando a turma como “um órgão elementar da organização do processo de ensino”
(LIMA, 1986, p. 9).
54
‘merecimento’ e, por isso, reitera a sua importância embora reconheça que se impõem alguns
aperfeiçoamentos, […]”.
No tocante às possibilidades de aperfeiçoamento da reforma de 1905, soluções foram
propostas, no normativo, como a questão da “concentração dos estudos, de uma redução do
número de professores por classe, de uma maior frequência de reuniões dos conselhos de classe,
da simplificação e articulação dos programas e da selecção das matérias a serem exploradas
simultaneamente por todos os professores” (SÁ, 1997, p. 31). Entretanto, “Um dos processos
de coordenação dos professores que maior resistência gerou foi a visita às aulas por parte do
director de classe” (SÁ, 1997, p. 31), atribuição de coordenação do ensino e conexão entre os
professores, exercida pelos diretores de classe, e posteriormente dos diretores dos ciclos,
contestado sob o argumento de que o diretor de classe não estava habilitado a emitir julgamento
por não pertencer à área disciplinar do observado.
Registram-se, ainda, outros normativos com alterações mínimas na organização da
coordenação intermediária, no âmbito da organização escolar portuguesa, entre os anos de 1918
e 1930. Para Sá (1997, p. 36), “Entre 1918 e 1930 não encontramos alterações significativas no
perfil do director de classe e nas condições de exercício do cargo”. Contudo, cabe chamar a
atenção para a alteração nos requisitos exigidos para o exercício do cargo de diretor de classe
em 1918: “Com a publicação do decreto nº 4.650, de 14 de Julho de 1918, o perfil e os requisitos
que o director de classe deve satisfazer tornam-se mais exigentes. Agora, além de efectivo, o
director de classe deve, de preferência, ter pelo menos cinco anos de bom e efectivo serviço”
(SÁ, 1997, p. 36).
Embora se considere que houve poucas alterações na estrutura organizacional da gestão
intermediária, o diploma em questão aponta definições para o perfil dos professores a serem
designados para o exercício do cargo de diretor de classe, além de definir condições para a
gratificação correspondente à carga horária semanal, conforme o estabelecimento liceal, nas
diferentes regiões do país.
No período que compreende o golpe de estado, em 28 de maio de 1926, assinalado pelo
modelo de “Organização sociopolítica, de cariz autoritário, católico e patrimonialista”
(CASTRO, 1995, p. 39) e pela publicação da Lei nº 1.941, de 11 de abril de 1936, considerada
uma referência histórica para a educação portuguesa, houve a manutenção da figura do Diretor
de Classe (CASTRO, 1995). Nesse interstício de dez anos, registram-se modificações pontuais
na estrutura de gestão intermediária portuguesa, que se intenta aqui compreender. Conforme
Castro (1995, p. 40), em 6 de setembro de 1930, foi publicado o decreto nº 18.827, no qual “vê-
se alargado o âmbito de atribuições dos Diretores de Classe”.
56
25
António de Oliveira Salazar, Ministro das Finanças Públicas Portuguesas de 1928 a 1932, Presidente do
Ministério de 1932 a 1933, Presidente do Conselho de Ministros entre 1933 e 1968. Figura política de inspiração
fascista, atuou ditatorialmente no cenário político português até praticamente sua morte.
57
A nova figura de gestão intermédia, criada pela reforma de Carneiro Pacheco, mantém
as mesmas atribuições, com a diferença de que o seu território pedagógico deixa de
ser a classe e passa a ser o ciclo. Mesmo esta última alteração não tem o alcance que
se poderia pensar, pois a direcção de mais do que uma classe pelo mesmo director,
como acima referimos, já vinha sendo praticada bastante antes da instituição do cargo
de director de ciclo.
26 Limite máximo estabelecido de indivíduos ou entidades que podem ser admitidos num organismo ou
instituição. In: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.
Disponível: <http://www.priberam.pt/dlpo/numerus%20clausus>. Acesso em: 28 maio 2016. “A imposição do
numerus clausus no ensino liceal constituiu desde cedo uma prática de limitar o acesso a esse nível de ensino”
(SÁ, 1997, p. 44).
59
27
Ver Sá (1997): “Racionalidades e Práticas na Gestão Pedagógica: O caso do diretor de turma”.
61
Context of
influence
Context of
Context of
policy text
practice
production
Bowe, Ball e Gold (1992) estavam “pensando sobre política e tentando criar uma ideia
de trajetória da política” (AVELAR, 2016, p. 6). Deste modo, esses autores tentaram “pensar
na política não como documento, ou uma coisa, mas sim uma entidade social que se move no
espaço e o modifica enquanto se move, e modifica coisas nesse movimento, modifica o espaço
pelo qual se move” (AVELAR, 2016, p. 6).
Posteriormente, em 1994, foram incluídos mais dois contextos: o contexto dos
efeitos/resultados e o contexto da estratégia política. Em 2009, ao ser indagado sobre a inclusão
dos dois últimos contextos à abordagem do ciclo contínuo de políticas para a análise de
políticas, Ball afirma que “não é útil separá-los e eles deveriam ser incluídos no contexto da
prática e da influência, respectivamente” (MAINARDES; MARCONDES, 2009, p. 306).
Sobre a temática dos resultados, Ball em entrevista a Mainardes e Marcondes (2009, p.
306), afirma:
Contexto
de
influência
Contexto Contexto
da da
produção estratégia
de texto política
Contexto
Contexto dos
da prática efeitos/
resultados
Diante dessa imagem, conclui-se que a compreensão de cada contexto é relevante para
a análise de política, e se dá a partir das perguntas que o pesquisador levanta, em relação aos
aspectos relacionados ao texto, à trajetória e à atuação da política analisada. Para Ball, na citada
entrevista com Avelar (2016, p. 6), “as perguntas que precisamos perguntar enquanto
pesquisadores de política dependem dos contextos que estamos olhando, ou da posição que
65
Os contextos podem ser pensados de outra maneira e podem ser “aninhados” uns
dentro dos outros. Assim, dentro do contexto de prática, você poderia ter um contexto
de influência e um contexto de produção de texto, de tal forma que o contexto de
influência dentro do contexto da prática estaria em relação à versão privilegiada das
políticas ou da versão privilegiada da atuação. Assim, podem existir disputas ou
versões em competição dentro do contexto da prática, em diferentes interpretações de
interpretações. E, ainda, pode haver um contexto de produção de texto dentro do
contexto de prática, na medida em que materiais práticos são produzidos para
utilização dentro da atuação.
Contexto de influência
Contexto da Contexto do
produção de texto estratégia política
Contexto dos
Contexto da prática efeitos/resultados
28
“a imagem implícita na concepção de grupos distintos e desconectados de formuladores de políticas e
implementadores de políticas serve de fato ao poderoso propósito ideológico de reforçar uma concepção linear de
política em que a teoria e a prática são separadas e a primeira é privilegiada” (BOWE; BALL; GOLD, 1992, p. 10,
tradução nossa).
29
Ver A Escola Como Organização Educativa: Uma abordagem sociológica (LIMA, 2001), temática a ser
abordada no tópico seguinte.
67
30
Ver Lima (1998, 2001). “Três grandes tipos de infidelidade: (1) em relação à letra mas não ao espírito; (2) em
relação ao espírito ma não à letra; (3) em relação à letra e ao espírito” (LIMA, 2001, p. 65).
68
Quadro 1 – Um modelo
a) Desenho do escopo
Orientado pelas políticas Orientado pelas práticas
Focos multiplos Foco singular
Níveis múltiplos Níveis singulares
Temporal Atemporal
Global/local Nacional/geral
Focos ligados Destacados/separados
b) Envolvimento total
Contexto rico Contexto não produtivo
Conceptualmente “profundo” Contexto “sem profundidade”
c) Uma ética da pesquisa
Justiça social Eficiência social
Crítico Incorporado
d) Política das pessoas
Dotadas de voz Silenciadas
Fonte: Ball e Mainardes (2011, p. 35).
O primeiro binarismo apresentado por Ball (2011, p. 35) trata da “diferença entre as
pesquisas ‘orientadas pelas políticas’ e as pesquisas ‘voltadas para a prática’”. Observa o autor
que “esse tipo de pesquisa desliza claramente de volta as táticas de formuladores de políticas
reflexivas, ‘baseadas na culpabilização’, nas quais as políticas são sempre soluções e nunca
parte do problema” (BALL, 2011, p. 36).
O segundo binário trata do sentido do foco da análise e chama a atenção para as
pesquisas que direcionam o olhar compreensivo para um foco único, desconsiderando diversos
aspectos da política na prática, em contraposição a pesquisas com foco múltiplo.
O terceiro binário refere-se “à oposição entre os estudos que se localizam em um único
nível de análise – a escola, a sala de aula, a autoridade educacional local – e aos que tentam
capturar a dinâmica da política nos níveis educacionais, e entre eles, o que eu chamei de
abordagem da ‘trajetória da política’” (BALL, 2011, p. 37), ou seja, direciona a preocupação
para a micropolítica da escola ou para os níveis meso e macro da política.
O quarto binário aborda a temporalidade nos trabalhos de pesquisa sobre políticas,
sobretudo, a ausência do sentido de tempo, nas análises das políticas educativas. Nessa direção,
“o aspecto negligenciado mais óbvio é um extravagante a-historicismo” (BALL, 2011, p. 37).
Sobre o quinto binário, Ball (2011, p. 40) segue sua reflexão “movendo-se do tempo
para o espaço”, e chama “a atenção tanto para a insularidade quanto para a abstração de muitas
pesquisas sobre política educacional” (BALL, 2011, p. 40). Nessa direção, ressalta a falta de
sentido de “lugar”, ou melhor, as pesquisas desse gênero que “não localizam as políticas em
algum quadro que ultrapassam o nível nacional nem conseguem dar uma explicitação analítica
70
ou conduzir a um sentido de localidade nas análises das realizações políticas” (BALL, 2011, p.
40).
O sexto binário trata da polarização, ligação e/ou desconexão analítica entre os espaços
local, nacional e global, sobretudo, da necessidade de as pesquisas realizarem não apenas uma
descrição empírica, mas também, uma contextualização teórica das políticas.
As polaridades no ponto “envolvimento total” seguem na direção dos binarismos
anteriores, mormente, no sentido do entendimento de que as polarizações resultam na ausência
de uma interpretação mediadora. Assim, Ball (2011, p. 41) destaca que, nas pesquisas sobre
política educacional, “a educação é separada do campo mais amplo da mudança na política
social” incorrendo no isolacionismo empírico e no reducionismo teórico.
No ponto “uma ética de pesquisa”, os binários se caracterizam nas polaridades de
posicionamentos teóricos tomados pelos pesquisadores de políticas. Ball (2011, p. 43) afirma
que “a teoria provê a possibilidade de desindentificação – o efeito de trabalhar ‘em e contra’
prevalente nas práticas de sujeição ideológica”, isto é, a teoria como potencialidade para
“revelar e subverter” os discursos implícitos nos textos e práticas das políticas em atuação.
Segundo Ball (2011, p. 44), “a teoria provê a possibilidade de uma linguagem diferente,
uma linguagem que não é capturada por assunções e inscrições dos formuladores de políticas
ou pela imediaticidade da prática (envolvida em tradição, preconceito, dogma e ideologia)”.
Nesse sentido, cabe o esforço intelectual dos pesquisadores de políticas para definir o seu
posicionamento, numa perspectiva de pesquisa crítica e comprometida com a justiça social, ou
com ênfase nos movimentos de monitoramento e controle, eficiência e performatividade, na
educação.
O último binarismo – “incluindo as pessoas” – apresentado por Ball (2011), nas
pesquisas de políticas, trata das polarizações entre as pesquisas em que as pessoas são “dotadas
de voz” e ou “silenciadas”. Para Ball (2011, p. 45), “a visão prevalente, embora normalmente
implícita, é de que a política é algo “feito para as pessoas”, e, “como beneficiárias de primeira
ordem, elas ‘implementam’ políticas; como beneficiárias de segunda ordem, elas são afetadas
positiva ou negativamente pelas políticas” (BALL, 2011, p. 45). Em contraposição a essa ideia,
Ball (2011, p. 45) observa que
[…] políticas colocam problemas para os sujeitos, problemas que precisam ser
resolvidos no contexto. Soluções para os problemas postos pelos textos políticos serão
localizadas e deveria ser esperado que discernissem determinados fins e situações
confusas. Respostas que precisam, na verdade, ser “criativas”.
71
[...] não podemos interpretar o mundo, criar significado sobre o mundo, utilizando
uma teoria ou posição epistemológica, porque o mundo é mais persistentemente
complexo e difícil do que aquilo que se pode entender com o simples uso de uma
posição.
A princípio, considera-se que num primeiro olhar analítico lançado sobre as políticas
educativas e/ou sobre o pensamento pedagógico que se vem presenciando ao longo dos tempos,
percebe-se a influência das teorias organizacionais e administrativas no campo educacional,
observação que se revela, sobretudo, nas tensões presenciadas, intrínsecas no campo das
políticas para a educação no atual contexto. Tensões essas que nas pesquisas em políticas
educacionais se estabelecem “entre preocupações com eficiência e com justiça social […]”
(BALL, 2011, p. 48), pois, segundo Ball (2011, p. 48), “ambos os lados da tensão são políticos
– ainda que os prosélitos da eficiência tipicamente não vejam isso dessa forma”.
Nesse sentido, Lima (2001, p. 101) afirma que: “É conhecida a influência, passada e
presente, de alguns destes modelos nas políticas educativas [...]”. Conforme esse autor, não é
difícil perceber na educação tais influências das teorias organizacionais e administrativas que
intervêm no andamento das decisões que se efetivam na educação, “[...] em certas reformas do
ensino, na legislação escolar e até mesmo no pensamento pedagógico, sobretudo no caso das
pedagogias científicas e racionalizadoras” (LIMA, 2001, p. 101).
Para se proceder a uma análise de qualquer política educacional e/ou mesmo de
programas e projetos, que se materializam no campo da educação, torna-se urgente um estudo
aprofundado dos diferentes modelos organizacionais e dos seus princípios e fundamentos, para,
73
A obsessão pela eficácia, pela eficiência e pela qualidade, ainda que recente no
universo educativo, é uma obsessão tipicamente tayloriana, presente por diversas
formas na teoria da burocracia, na escola das relações humanas, nas perspectivas
sistémicas e contingenciais, etc.
Tais perspectivas referidas por Lima (2001) estão, há muito tempo, no contexto das
organizações econômicas e apresentadas como inovação no campo educacional. E este autor
acrescenta:
Para este estudo da sociologia das organizações educativas, toma-se, como referência
central, o modelo de análise organizacional elaborado por Lima (2001), o “modo de
funcionamento díptico da escola como organização” 31
. A esse respeito, Lima (2001) admite
que a ação organizacional pode apresentar dois modos de funcionamento, aos quais denominou
“conjuntivo” e “disjuntivo”. Desse modo, ora os objetivos, estruturas, recursos e atividades da
ação, no contexto da organização, são “fieis” às normas burocráticas, ou infringem as
orientações, produzindo regras alternativas; em outras situações, corroboram as conexões
31
Ver Lima (2001, p. 45-92).
76
normativas; e em outras, rompem com estas e suscitam a desconexão de “fato”. Desse modo, o
modo de funcionamento da organização poderá ser ao mesmo tempo conjuntivo e disjuntivo, e
é nessa direção que se aplica a possibilidade de análise do referido modelo.
O modo de funcionamento díptico caracteriza-se em duas faces (A e B), articuladas pelo
eixo da ação e que apresentam um contínuo dinâmico, nas duas direções. Na face A, organizam-
se os modelos analíticos/interpretativos, como, os modelos de ambiguidade, os modelos
políticos, os modelos democráticos, os modelos culturais e os modelos subjetivos, ou seja,
aqueles modelos que representam a crítica aos modelos prescritivos e normativos, organizados
na face oposta. Na face B, encontram-se os modelos normativo-pragmáticos, como, os modelos
burocráticos, os modelos sistêmicos, os modelos estruturais. Nesses modelos, embora
apresentem diferenças entre si, podem ser identificados os conceitos de articulação forte,
conjuntiva, clareza, objetividade e ordem, nas suas definições. Já os modelos da face A
apresentam conceitos de articulação, disjunção, ambiguidade, subjetividade e desordem, no
interior das organizações, como se pode verificar na Figura 5.
Conforme Sá (1997, p. 63), “os modelos formais não constituem um corpo unitário de
conceitos. Trata-se de um guarda-chuva conceptual sob o qual se abriga um conjunto de
abordagens que apesar de similares apresentam algumas especificidades”.
Ainda na perspectiva de compreender como se constituem os modelos formais, Sá
(1997, p. 63) assevera que “Tony Bush (1986, p. 24) inclui entre os modelos formais o modelo
estrutural, o modelo sistêmico, o modelo burocrático, o modelo racional e o modelo
hierárquico”. Neste momento, cabe a tarefa de caracterizar os modelos formais em suas
especificidades e definições conceituais. A partir dessa análise, conclui-se que tais modelos de
organização tomam como enfoque central a estrutura formal, ou seja, baseiam-se em uma
organização fechada, hierárquica, racionalmente planejada, com objetivos claros e bem
definidos, na perspectiva da máxima racionalidade.
Para Blau e Scott (1979, p. 40), “a análise teórica perceptiva e incisiva dos princípios
da burocracia feita por Max Weber é, sem dúvida, o trabalho geral mais importante a respeito
de organizações formais”. Para esses autores, “Weber analisa as organizações formais como
78
parte de sua teoria de estruturas de autoridade ou de sistemas de controle social legítimo” (Blau;
Scott, 1979, p. 40).
Nesses parâmetros, se reconhece que a influência weberiana na constituição dos
modelos das organizações formais é um ponto de partida para a compreensão das características
conceituais dos referidos modelos; entretanto, Blau e Scott (1979) apontam outros estudiosos
que acrescentaram contribuições significativas a tais modelos, como Herbert Simon e Talcott
Parsons.
Outra contribuição importante é a de Blau e Scott (1979, p. 50), quando estes teóricos
afirmam que “Herbert Simon considera as organizações administrativas, primariamente, como
estruturas de decisão a tomar”. Neste sentido, de acordo com Simon (1970, p. 60):
privilegiado, centrado em uma estrutura centralizada e rígida da organização, não significa que
este modelo descuide da organização como um todo. Nesse caso, tal abordagem pode se centrar,
apenas, em algumas partes e/ou processos, pois os modelos estruturais focam a atenção além
da estrutura, ou seja, nas técnicas e objetivos (PERROW, 1981). Com efeito, as organizações
sob as orientações dos modelos estruturais são vistas, pela estrutura e técnica rígidas, com
papéis e funções bem definidos. Para Sá (1997, p. 66), “cada uma das configurações estruturais
caracteriza-se pela predominância de um determinado mecanismo de coordenação, dependente
da possibilidade/capacidade de formalizar os procedimentos e/ou os produtos da actividade da
organização”, ou seja, a decisões são tomadas hierarquicamente.
Nos modelos políticos a organização configura uma arena política em que coexistem
diferentes interesses e grupos de poderes. Na esteira de Ellström (2007, p. 452), o modelo
político pode ser caracterizado “como um sistema de interação individual e de subgrupos
perseguindo diferentes interesses, demandas e ideologias através do uso do poder e de outros
recursos”. Conforme as orientações desse modelo, as decisões e resoluções dos problemas e
conflitos são compartilhadas pelo grupo e acordadas pela negociação mútua, prevalecendo as
ideologias e interesses dos subgrupos que mobilizam a maioria das estratégias de poder.
Para Sá (1997, p. 82), “uma das ideias centrais dos modelos subjectivos é a negação da
organização como uma realidade objectiva exterior ao sujeito que a experiencia”. O modelo
subjetivo pode ser caracterizado pela negação de uma organização integrada, ou mesmo pela
existência de uma única organização, visto que, cada membro, com sua subjetividade e
experiência, configura uma organização.
Ainda conforme Sá (1997, p. 82), “as perspectivas fenomenológicas vão colocar a
ênfase no significado que a organização tem para cada um dos seus membros, admitindo que
haja tantas organizações quantos os participantes”. Essa subjetividade organizacional,
focalizada individualmente nos atores, sobrepõe os objetivos pessoais em multiplicidade em
relação aos interesses individuais. Assim, “esta abordagem considera que as organizações não
têm objetivos, mas antes servem interesses particulares que alguns actores organizacionais, pela
posição que ocupam dentro da organização, elevam à condição de objectivos oficiais” (SÁ,
1997, p. 82).
No intento de aprofundar essa questão, os estudos de Ellström (2007) propõem um
modelo multifocalizado, sintetizado em quatro modelos organizacionais, que sugerem quatro
formas de observar a escola como organização: o modelo racional, com uma visão normativa
instrumental; o modelo político, em que a escola é vista como arena de disputa política e de
poder; o modelo de sistema social, que tem a escola como uma organização sem objetivos
definidos, adaptável às demandas internas e externas; e o modelo anárquico, com sistemas
debilmente articulados.
83
O exercício investigativo que se mobiliza neste estudo toma como ponto de partida a
necessidade de compreender uma política educativa, o PPDT, entre os diferentes programas e
projetos que constituem a política educacional da SEDUC-CE, que atuam nas escolas públicas
estaduais regulares do Ceará-Brasil e que têm como argumento principal a “premissa da
desmassificação do aluno” (SEDUC-CE, 2015).
Na perspectiva de não incorrer no risco de analisar a referida política educativa de
maneira “insularizada”32, como mencionado anteriormente, ou de realizar uma pesquisa restrita
à perspectiva textual e normativa, recorreu-se à concepção analítica das organizações
educativas/escolares em suas múltiplas focalizações, associada ao “ciclo contínuo de políticas”
(BALL, 1992, 1994), no intuito de compreender o objeto estudado em seus diferentes níveis,
contextos e dimensões.
32
Ver A Escola Como Organização Educativa: Uma abordagem sociológica (LIMA, 2001).
84
CONTEXTO DE
INFLUÊNCIA
Influências e
interesses locais,
nacionais e
internacionais
CONTEXTO DA
PRODUÇÃO DE CONTEXTO DA
TEXTO Chamada ESTRATÉGIA
pública para adesão POLÍTICA:
ao PPDT, Folder de Elementos da
Orientação, Dossiês (re)interpretação e
e Portfólios (re)contextualização
CONTEXTO DA
PRÁTICA CONTEXTO
Discursos dos DOS EFEITOS/
idealizadores, RESULTADOS
SEDUC/CE, Discursos dos
CEPPDT, atores sociais,
CRPPDT, PDT dados e
documentos
Este capítulo se divide em duas partes, com vistas a apresentar as opções metodologicas
que orientaram o percurso da investigação, bem como, de caracterizar o campo de estudo, numa
perspectiva que perpassa os diferentes níveis de abordagens – micro, meso e macro-analítica –
, onde se desenvolveu a análise do programa educativo PPDT, na SEDUC-CE. A análise está
subsidiada com a realização de dois estudos de caso, numa escola de cada um dos dois contextos
investigados, no Brasil e em Portugal.
‘o que’, ‘onde’, ‘porque’ ou ‘como’?” (YIN, 2010, p. 30), e, pode se destacar ainda que “as
questões ‘como’ e ‘por que’ são mais explanatórias e provavelmente levam ao uso dos estudos
de caso [...]” (YIN, 2010, p. 30), nesses termos, um estudo de caso explicativo.
Definida a pergunta central que permite explicitar a problemática que se levanta neste
estudo, o PPDT no contexto das escolas públicas regulares do estado do Ceará, e considerando
que o projeto em apreço se inspira num modelo em uso em Portugal, desde o século passado,
suscitam-se as questões que se erguem em torno do problema central desta investigação:
33
Segundo Bogan e Biklen (1994, p. 52), “um paradigma consiste num conjunto aberto de asserções, conceitos ou
proposições logicamente relacionadas e que orientam o pensamento e a investigação”.
89
características de uma investigação qualitativa, posto que, a fonte dos dados é o ambiente
natural, constituindo-se o investigador o instrumento principal. Deste modo, é uma investigação
descritiva onde o investigador se preocupa com o processo e não simplesmente com resultados
ou produtos, onde os dados são analisados de forma indutiva, e, sobretudo, busca-se
compreender os sentidos e significados do objeto estudado (BOGDAN; BIKLEN, 1994).
Embora, Bogdan e Biklen (1994, p. 47) admitam que, “nem todos os estudos que
consideraríamos qualitativos patenteiam estas características com igual eloquência Alguns
deles são, inclusivamente, totalmente desprovidos de uma ou mais das características”,
portanto, nessa perspectiva julga-se que este estudo se caracteriza eminentemente como de
natureza qualitativa.
A tradição da investigação qualitativa em educação tem um percurso histórico que
remonta a sua origem à segunda metade do século XIX, passando pela influência dos sociólogos
da Escola de Chicago, pela criação da sociologia da educação, no início do século XX, até se
identificar um hiato da abordagem, entre os anos de 1930 e 1950. Nessa análise, é possível
verificar que, nos anos de 1950, houve um desenvolvimento significativo dos métodos
qualitativos e de trabalho de campo, em nível conceitual e metodológico. Os anos sessenta
foram permeados por tumultos e mudanças sociais, momento em que a atenção dos educadores
voltou-se para a experiência escolar das crianças pertencentes às classes sociais minoritárias.
Na direção de dar voz aos sujeitos discriminados, os métodos qualitativos de investigação
começam a ganhar terreno (BOGDAN; BIKLEN, 1994).
Na década seguinte, “no início dos anos setenta, ainda que os métodos qualitativos não
fossem, de modo algum, os dominantes, já não podiam ser vistos como marginais” (BOGDAN;
BIKLEN, 1994, p. 39). A investigação qualitativa, nos anos de 1980 e 1990, tem as publicações
acadêmicas e científicas ampliadas, ainda que seja como resultado da solicitação dos
representantes dos periódicos de educação. Observam-se, também, as influências da teoria e
prática feministas e das posições dos intelectuais pós-modernistas (também designado por pós-
estruturalismo ou desconstrucionismo). Entretanto, a inovação mais significante tem caráter
mais técnico que conceitual, que é a utilização do computador na recolha, gestão e análise dos
dados qualitativos (BOGDAN; BIKLEN, 1994).
Quanto ao método de pesquisa, elegeu-se o estudo de caso como sendo capaz de
proporcionar a “interação investigador-sujeito” (STAKE, 2012, p. 62), nos contextos reais onde
se materializa a complexidade da ação. As definições de estudo de caso são muitas e variadas,
e entre as mais divulgadas, recorre-se a Yin (2010, p. 39), que define “o estudo de caso é uma
investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo em profundidade e em seu
90
contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são
claramente evidentes”. Para outra definição, recorre-se a Stake (2012, p. 11), quando este afirma
que “estudo de caso é o estudo da particularidade e complexidade de um único caso,
conseguindo compreender a sua atividade no âmbito de circunstâncias importantes”, assim,
considerando essas definições busca-se justificar o estudo de caso como o método de pesquisa
eficaz, para a compreensão e interpretação do fenômeno estudado.
O que pode ser um caso? No tocante ao que pode ser um caso a ser estudado, com o
método de estudo de caso, Stake (2012, p. 17) afirma que, “o caso pode ser uma criança. Pode
ser uma sala de aula cheia de crianças ou uma mobilização de profissionais para estudar uma
situação específica da infância. O caso é um entre outros. Em qualquer estudo concentrar-nos-
emos nesse um”. Entretanto, chama a atenção para dizer que segundo a tradição, nem tudo é
um caso. Uma criança, um professor, um método de ensino específico, um programa inovador,
um conjunto de escolas de uma determinada rede de ensino pode ser um caso. Contudo, a
relação existente entre as escolas, as razões para a realização de um ensino inovador, as políticas
de reforma escolar são menos habitualmente consideradas um caso, por serem analisadas como
temas gerais e não específicos (STAKE, 2012, p. 18), posto que, “o caso é uma coisa específica,
uma coisa complexa e em funcionamento” (STAKE, 2012, p. 18), ou seja, um fenômeno
contemporâneo bem limitado e específico.
Em relação ao tempo despendido para realização de um estudo de caso, Stake (2012, p.
17) admite, que “o tempo que despendemos a concentrar-nos no um pode levar um dia ou um
ano, mas, enquanto assim nos concentrarmos, estamos envolvidos num estudo de caso”. Deste
modo, a duração é determinada pelo objetivo e, consequentemente, pelo tipo de estudo de caso
em estudo.
Muitas são as tipologias definidas para o método de estudo de caso. Para Bogdan e
Biklen (1994, p. 90), o estudo de caso pode ser definido das seguintes formas: estudo de caso
de organização, numa perspectiva histórica; estudo de caso de observação; estudo de caso
história de vida; estudo de caso comunitário; estudo de caso por análise situacional; e estudo de
caso de microetnografia. Nessa direção, admite-se que os investigadores podem optar por
estudar dois ou mais assuntos em diferentes ambientes ou base de dados, realizando assim,
estudos de caso múltiplos, ou estudos de caso comparativos – dois ou mais estudos de casos
efetuados e depois comparados –, ou mesmo, o estudo de caso único. Por outro lado, Yin (2010,
p. 26) divide os estudos de caso em três tipos: estudos de caso explanatórios ou causais, estudos
de caso descritivos e estudos de caso exploratórios. Nesses casos, identifica-se este projeto de
91
estudo, como de caso único, múltiplo, holístico e integrado. Já Stake (2012, p. 19) contempla o
estudo de caso intrínseco, o estudo de caso instrumental e o estudo de caso coletivo.
Entre diferentes definições e tipologias, para o estudo de caso, fazem-se algumas opções
na direção de delimitar o desenho do estudo de caso, efetuado nessa investigação. Desse modo,
considera se necessário explicitar o entendimento sobre o estudo de caso, intrínseco,
instrumental e coletivo (STAKE, 2012), como opção de perspectiva orientadora. Para Stake
(2012, p. 19), estudo de caso intrínseco é:
Por exemplo, os professores pré-universitários suecos tem um ano para começar a usar
um sistema de avaliação novo aprovado pelo Parlamento. Como é que isso funciona?
Irá o sistema ter uma orientação com referência a critérios? Irá essa orientação
modificar a forma de ensinar dos professores? Podemos escolher uma professora para
estudar, observando em termos gerais como ela ensina, mas prestando particular
atenção à forma como ela classifica o trabalho dos alunos e se isso afecta ou não a sua
forma de ensinar. Esta utilização do estudo de caso é instrumental, visa alcançar algo
mais do que compreender outra coisa. Aqui o estudo de caso é instrumental, visa
alcançar algo mais do que compreender essa professora específica, [...]. (STAKE,
2012, p. 19)
Outra categoria defendida por Stake (2012, p. 19), para o estudo de caso, é o estudo de
caso coletivo, projeto em que o investigador procura estudar mais de um caso sobre o mesmo
fenômeno, ou melhor, “cada estudo de caso é instrumental [...], mas deverá haver uma
coordenação importante entre os estudos individuais”, o que estabelece distinção entre estes
três tipos de caso. Sobre a descrição dos contextos, nas diferentes categorias de estudo de caso,
Stake (2012, p. 80) sublinha que, “quanto mais o estudo de caso for um estudo de caso
intrínseco, mais atenção é necessário prestar aos contextos”, e continua, “quanto mais o estudo
de caso for um estudo de caso instrumental, certos contextos serão importantes, mas outros
contextos importantes para o caso terão pouco interesse para o estudo”, ou seja, “a distribuição
da atenção pelos contextos basear-se-á em parte na distinção entre os objetivos intrínseco e
92
34
Apesar do AEP integrar 10 escolas (subunidades de gestão), cobrindo todos os níveis de ensino (educação de
infância, ensino fundamental e ensino médio), neste estudo apenas recolhemos dados na escola sede do AEP, uma
escola em que é lecionado o ensino médio (ensino secundário, na designação portuguesa).
93
Contexto Contexto
BR PT
A escolha do caso, objeto deste estudo, o PPDT, se justifica por ser um projeto educativo
inovador em meio ao conjunto de programas e projetos educativos da política educacional, em
andamento na escola pública estadual do Ceará, como já justificado anteriormente. As
circunstâncias deste caso se caracterizam como sendo exclusivas, o que justifica a escolha do
método de estudo de caso para a realização da investigação, enquanto que a escolha da segunda
unidade de análise, a escola, justifica-se como um caso típico e representativo, no referido
contexto.
Stake (2012, p. 20) considera que “poderá ser útil seleccionar casos que são típicos ou
representativos de outros casos, mas uma amostra de um ou uma amostra de apenas alguns terá
poucas probabilidades de ser fortemente representativa de outros”, e complementa: “a
investigação com estudo de caso não é uma investigação por amostragem. Nós estudamos um
caso com o objetivo primário de entender outros casos. A nossa primeira obrigação é
compreender esse caso específico”. De posse desses elementos compreensivos sobre o método
de estudo de caso, foi realizado um levantamento das escolas públicas estaduais regulares do
estado do Ceará, com o PPDT em ação, e foi selecionada a escola com maior quantidade de
turmas com Professores Diretores de Turma (PDT) e maior tempo de efetivação do projeto
educativo, a qual se denominou Escola Brasileira (EB). Os critérios citados, usados para
selecionar a unidade de análise para o estudo de caso, se deu por acreditar que essa escola, com
essas condições evidenciadas, poderia apresentar mais elementos de interpretação e
(re)interpretação da política, em todo o seu ciclo de ação.
O segundo caso foi realizado no contexto português, onde foi selecionada uma escola
pública de ensino secundário, sede de um agrupamento35 de escolas, denominada neste estudo
como Escola Portuguesa (EP). Embora não se objetive realizar comparação entre os casos, a
35
Ver discussão posterior.
94
plano de trabalho para a condução da investigação. Neste estudo, espera-se modestamente ter
cumprido os rigores e as exigências metodológicas, na execução de uma investigação
qualitativa, com o método de estudo de caso, e portanto, determina-se a descrever o percursos
traçado neste esforço investigativo.
36
Site. Disponível em: <http://www.geppc.org.br/limesurvey/index.php/231872/lang-pt-BR>. Acesso em: 10 jun.
2016.
37
Ver anexo.
96
das pessoas fala depreciativamente destes montes de papel e pode olhar-nos de soslaio por
chamarmos a estes documentos oficiais de dados”. Apesar disso, esses documentos oficiais são
úteis para a ajudar o investigador a compreender as perspectivas oficiais, sobre programas,
sobre a estrutura administrativa, dentre outros aspectos do sistema escolar (BOGDAN;
BIKLEN, 1994). No contexto português, recorreu-se ao Decreto de 14 de agosto de 1895, que
aprova o regulamento geral do ensino secundário, e ao Decreto nº 48.572, que aprova o Estatuto
do Ciclo Preparatório do Ensino Secundário. Na EP, analisou-se o Projeto Educativo, o
Regulamento Interno, o Guião do Diretor de Turma 2015-2016, Guiões de orientação para os
Conselhos de Turma e dossiês de turma.
Posteriormente, na perspectiva de compreender as primeiras percepções dos professores
da rede estadual de ensino da SEDUC-CE, sobre o PPDT, após ampla articulação por meio de
e-mails, junto à secretaria executiva (SEDUC/CE), aos/as coordenadores(as) das vinte
Coordenadorias Regionais de Desenvolvimento da Educação (CREDE), aos/as
coordenadores(as) das três Superintendências das Escolas Estaduais de Fortaleza (SEFOR), à
Coordenadoria Estadual do Projeto Professor Diretor de Turma (CEPPDT) e às Coordenadorias
Regionais do Projeto Professor Diretor de Turma (CRPPDT), para a divulgação do link do
questionário (ANEXO) on line feito em software livre denominado lime survey, disponibilizado
no site38 do Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Curriculares (GEPPC) da UFPB-BR,
precisamente no dia 15 de abril de 2015, seguido por trabalho de divulgação e articulação junto
às instâncias de coordenação do projeto educativo no estado do Ceará. O trabalho de
mobilização para essa etapa teve continuidade com a realização de visitas à secretaria executiva
e à coordenação estadual do PPDT, na SEDUC-CE.
Como resultado do levantamento do campo de pesquisa, na rede pública estadual de
ensino do Ceará-Brasil, realizado através do citado questionário, apresentam-se as informações
obtidas com a primeira pergunta, objetivando identificar, por categorias, os respondentes. A
primeira pergunta formulada foi nos seguintes termos: 1. Prezado participante, antes de
iniciarmos com o preenchimento do presente questionário, indique se você é professor (efetivo
e/ou temporário) da rede pública estadual de ensino do Ceará (APÊNDICE C).
Os dados foram extraídos da plataforma on line no dia 16 de outubro de 2015, se
caracteriza um levantamento inicial que revela a seguinte representação gráfica das variáveis
categóricas.
38
Disponível em: <http://www.geppc.org.br/limesurvey/index.php/231872/lang-pt-BR>. Acesso em: 10 jun.
2016.
97
É Professor?
Sim Não
Total 25.285
Fonte: SEDUC-CE (2015).
Considera-se que, desse total, existe um grande contingente de professores que não
respondeu ao questionário, visto que, de 25.285 professores entre efetivos e temporários apenas
480 responderam. O processo de mobilização para a divulgação do referido questionário de
pesquisa, ocorreu por via institucional, pela secretaria executiva da SEDUC-CE e coordenação
estadual que mobilizaram as coordenadorias regionais na CREDEs e estas entraram em contato
com as coordenações escolares, para divulgarem e mobilizarem os professores, nas escolas.
Portanto, não há como avaliar a pouca adesão dos professores em responder ao questionário,
visto que, não se estabeleceu estratégia de controle.
Simultâneo ao processo de divulgação, mobilização e disponibilidade do questionário,
no sítio da web, foram realizadas vistas de observação na SEDUC-CE, seguidas da realização
de entrevistas. Foram entrevistados os sujeitos que estiveram envolvidos no processo de
concepção do PPDT, mobilização e construção dos textos orientadores do projeto educativo na
SEDUC-CE, bem como, na “implementação”, nas escolas da rede estadual de ensino, a
coordenação estadual do projeto no período da “implementação” nas escolas de rede pública
estadual de ensino (1), a coordenação estadual em exercício no projeto − 2015-2017 − (1),
coordenação regional de uma CREDE selecionada por ser a única que se encontra na função de
coordenação de uma coordenadoria regional desde o início do projeto no Estado (1), a
especialista educacional que conheceu o diretor de turma na escola portuguesa e levou a
proposta para a SEDUC-CE (1) e a consultora portuguesa responsável pelas orientações do
projeto educativo no início do processo de “implementação” (1). Considera-se que as
entrevistas desses atores sociais tem potencial relevante para a compreensão dos cinco
contextos da política em análise.
39
Programa de estágio de doutoramento no exterior para estudantes de Pós-graduação de universidades brasileiras
reconhecidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
100
Com base na perspectiva de Bogdan e Biklen (1994, p. 205), corrobora-se que, “a análise
envolve o trabalho com os dados, a sua organização, divisão em unidades manipuláveis, síntese,
procura de padrões, descoberta dos aspetos importantes e do que deve ser aprendido e a decisão
do que vai ser transmitido aos outros”. As estratégias para a recolha de dados deste estudo,
conforme já explicitado anteriormente, se configuraram na análise dos documentos,
levantamento por meio de questionário, observação, notas de campo e entrevistas. Tais
estratégias renderam importantes informações que foram orientando a investigação ao longo da
pesquisa, portanto, cabe agora, explicitar o processo de análise e interpretação dos dados.
Nesse segmento, valeu-se das questões-problema e dos objetivos que guiaram o
desenvolvimento do estudo e, com base em Bogdan e Biklen (1994, p. 221), acredita-se que
101
Sempre que fazemos análise somos, usualmente, parte do diálogo acerca do tópico
que estamos a considerar. Por isso, podemos analisar e codificar o nosso tópico de
várias formas diferentes [...] a análise é moldada pelas perspectivas e posições teóricas
do investigador e pelas ideias que este partilha acerca do assunto.
Embora, os autores Bogdan e Biklen (1994) e Yin (2010) apontem para a possibilidade
do uso de ferramentas auxiliadas pelo computador, como por exemplo, o Atlas.ti.,
HyperRESEARCH , Nvivo ou The Ethnograp, dentre outros softwares concebidos para
auxiliar a investigação qualitativa, no processo de codificação e categorização de grandes
quantidades de textos recolhidos em entrevistas e documentos, com vasto material escrito. As
opções realizadas no processo de codificação e categorização dos dados, neste estudo, não
fizeram uso dessas ferramentas auxiliadas por computador, entretanto, para tal propósito,
recorreu-se às orientações dos autores Bogdan e Biklen (1994), Stake (2012) e Yin (2010),
usados como referências. Em suma, optou-se por fazer a classificação mecânica dos dados,
codificados e classificados, conforme cada contexto do ciclo contínuo de políticas (BOWE;
BALL; GOLD, 1992; BALL, 1994), analisados e interpretados diretamente (STAKE, 2012).
Com base nas perspectivas dos autores acima citados, sobre a pesquisa qualitativa, e,
sobretudo, sobre o estudo de caso, construiu-se uma síntese com as características
metodológicas do estudo de caso que foi realizado nesta investigação, conforme se pode
observar no Quadro 3, mesmo que este não seja capaz de contemplar todas as características do
estudo de caso sintetizadas das diferentes contribuições aqui invocadas, acredita-se em poder
clarificar as intenções mobilizadas nesta investigação.
Pensando na afirmação de Stake (2012, p. 92), “[...] na minha análise, não procuro
descrever o mundo, tão pouco descrever o caso por completo [...]”, contudo, o esforço maior é
revelar fidedignamente os achados, de forma a contribuir para as considerações coletivas sobre
o objeto estudado, subscrevendo que, “cada investigador precisa, através da experiência e da
reflexão, de encontrar as formas de análise que melhor funciona para ele" (STAKE, 2012, p.
92). Adiante, no capítulo cinco dedica-se, mais especificamente, às análises e interpretações
dos dados recolhidos, fazendo a triangulação e as devidas generalizações quando conveniente.
Contudo para Stake (2012, p. 89),
Quadro 3 – Legenda das siglas para identificação das falas dos sujeitos entrevistados
Sujeito Siglas
BRASIL
SEDUC-CEARÁ
Primeiro Coordenador Estadual do Projeto Professor Diretor de Turma PCEPPDT
Coordenador (a) Estadual do Projeto Professor diretor de Turma CEPPDT
Coordenador (a) Regional do Projeto Professor diretor de Turma CRPPDT
Especialista em Educação Brasileira membro da ANPAE EEB
Consultora Externa Portuguesa do Projeto Professor Diretor de Turma CEP
ESCOLA BRASILEIRA
Diretor (a) Geral na Escola Brasileira DGEB
Coordenador (a) do Projeto Professor Diretor de Turma na Escola CPPDTEB
Brasileira
Professor (a) Diretor de Turma na Escola Brasileira (1 e 2) PDTEB
Pai/Mãe na Escola Brasileira (1 e 2) PMEB
Aluno (a) na Escola Brasileira (1 e 2) AEB
104
ensino regular. Assim, foi selecionado a EB, localizada na sede de um determinado município
do estado do Ceará. No ano de 2015, ocasião em que foi realizado o referido levantamento,
havia uma matrícula total de 1844 alunos, 53 turmas com o PPDT, 52 professores DT`s e 1659
estudantes, atendidos pelos PPDT.
40
CEARÁ. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2017. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Cear%C3%A1&oldid=50478257>. Acesso em: 14 nov. 2015.
106
Uma vez que este estudo tem como lócus de compreensão uma política educativa, em
ação nas escolas públicas de ensino médio regular, foi selecionada uma subunidade de análise
para o estudo de caso, a EB, que passa a ser caracterizada, na tabela que segue.
Somando os cento e sete docentes aos dezanove docentes em outras funções, totaliza
cento e vinte oito profissionais docentes, além de vinte e nove profissionais não docentes
(funcionários) para as funções administrativas e de apoio. O núcleo gestor42 é composto por
oito membros, uma diretora geral e cinco coordenadores escolares, além de uma secretária
escolar e uma assessora financeira.
41
Professor Coordenador de Ensino distribuídos por área de conhecimento, ou seja, linguagem e códigos e suas
tecnologias, ciências da natureza, matemática e suas tecnologias e ciências humanas e suas tecnologias.
42
Denominação atribuída a equipe gestora das escolas da rede pública estadual do Ceará.
108
43
European Commission, EURYDICE. Disponível em
<https://webgate.ec.europa.eu/fpfis/mwikis/eurydice/index.php/Portugal:Early_Childhood_Education_and_Care
>. Acesso em: 20 ago. 2016.
44
Na época da páscoa há uma interrupção letiva de cerca de duas semanas.
45
PORTUGAL. Decreto-Lei n. 115-A/98, de 4 de maio de 1998. Portugal, Ministério da Educação, Diário da
República, 1 Série-A, n. 102, 4 maio 1998. Disponível em: < http://www.ige.min-
edu.pt/upload/Legislação/Dec_Lei_115-A_98.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2016.
109
mais ciclos do ensino básico, a partir de um projecto pedagógico comum […]” (PORTUGAL,
1998, p. 5).
46
Lei de Bases do Sistema Educativo (1986).
110
47
PORTUGAL. Despacho Normativo nº 27/97, de 2 de junho de 1997. Portugal, Diário da República, n.
126/1997, Série I-B, 2 jun. 1997. Disponível em: < https://dre.pt/web/guest/pesquisa/-
/search/351706/details/maximized?jp=true&print_preview=print-preview>. Acesso em: 14 mar. 2016.
111
A Escola Portuguesa (EP) onde foi realizado o estudo de caso está localizada na região
Norte do país, situada numa cidade sede de um município com 183,4 km de área, com uma
população de 181.494 habitantes, sendo que, 137.000 desse total reside no perímetro urbano49.
Na cidade, existem cinco escolas secundárias públicas e um colégio particular que oferece o
ensino secundário, e duas universidades.
A escolha da instituição escolar para a realização do estudo de caso, em Portugal, deu-
se, primeiramente, pela caracterização da oferta de ensino – cursos de ensino secundário
científico humanístico, ensino profissional de nível secundário, ensino de adultos em regime
noturno e em alguns períodos oferta o 3º ciclo do ensino básico –, bem como, pela facilidade
de acesso e receptividade dos gestores, pessoal docente e não docente. Considerando que o
48
Disponível em: <http://www.dgeste.mec.pt/index.php/escolas/pesquisa-de-agrupamentos/>. Acesso em: 20 ago.
2016.
49
BRAGA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2017. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Braga&oldid=50580303>. Acesso em: 15 jan. 2015.
112
objeto de estudo da investigação se limita ao ensino médio regular no Brasil, o que se pode
equiparar ao ensino secundário científico humanístico em Portugal, salvo as diferentes
especificidades de cada sistema, a unidade orgânica selecionada para o estudo reune a
complexidade do sistema educacional em que se encontra localizada.
A instituição escolar escolhida para a realização do estudo de caso, caracterizada
históricamente como um centro formativo de ensino secundário, tornou-se agrupamento em 16
de janeiro de 2013, sendo associada a um agrupamento de escolas de ensino básico, que passou
a ser constituído por sete escolas de ensino básico, duas de jardim de infância e uma escola
básica e secundária, num total de dez estabelecimentos de ensino. Como se trata de um
agrupamento, os órgão de direção, administração e gestão são comuns às dez subunidades de
gestão.
Quanto a infraestrutura, a escola dispõe de excelente estrutura física, dividida em sete
blocos. No bloco A, localizam-se nove laboratórios: três de Fisica e Química, três de Biologia
e três de Ciências, sendo que um desses laboratórios é utilizado como sala de preparação para
educação profissional do curso de enfermagem; no bloco B – segundo piso: 18 salas de aula
(28 a 45), laboratório de informática (TIC) e sala de teatro; no bloco C: duas salas de oficinas
de arte, uma de educação visual (EV) e arquivo; no bloco D, há um pavilhão desportivo com
duas quadras cobertas, um pavilhão desportivo com duas quadras descobertas, doze balneários
(banheiros), quatro casas de banho para deficientes físicos (banheiros), um gabinete médico,
um gabinete para os professores de educação física e uma lavanderia; no bloco E: secretaria e
recepção; No bloco F: Biblioteca; no bloco G, 27 salas de aula (1 a 27), três salas de desenho,
uma sala para os professores (dividida por departamentos), uma sala dos diretores de turma,
dois gabinetes de atendimento dos encarregados de educação, uma sala para atendimento
psicológico, uma sala de formação, uma sala da associação dos pais, uma sala da associação
dos estudantes, diretoria, recepção, entrada e noventa e duas casas de banho distribuídas por
todos os blocos; um auditório pequeno e um auditório polivalente, um bar (cantina/lanchonete),
para os alunos, e outro, para os professores; duas salas de convívio dos alunos (com jogos de
mesa e pufs).
O ensino secundário científico-humanístico, no sistema educacional português, é uma
modalidade de ensino foi tomada como equivalente ao ensino médio regular brasileiro, que se
organiza em quatro áreas de conhecimento, a saber: Artes Visuais, Ciências e Tecnologias,
Ciências Sócio Econômicas, Línguas e Humanidades. Além dos cursos cientifico-humanísticos,
existem também seis cursos profissionais (CF) que conferem dupla certificação (escolar e
profissional). No ano letivo de 2015-2016 frequentavam o agrupamento 3114 crianças/alunos,
113
Total de turmas 9 9 10 10 12 19 16 12
Fonte: Escola Portuguesa (2015).
No que se refere aos especialistas, para o apoio aos alunos com necessidades educativas
especiais, o AVP conta com o contingente demonstrado a seguir (Tabela 13):
Quanto ao pessoal não docente, ou seja, que trabalha nas áreas, administrativa, técnica
e de apoio, está distribuído por categoria conforme tabela abaixo.
50
Instituto do Emprego e Formação Profissional.
115
Total 75 16 91 100
Fonte: Escola Portuguesa (2015).
No que se trata da condição socioeconômica dos alunos, nota-se que apenas cerca de
20% dos alunos se beneficiam de apoio socioeconômico, quando é frequente nas escolas
116
portuguesas que mais de 50% se beneficiem desse apoio. Observa-se que este agrupamento é
frequentado por um público que possui condições socioeconômicas bastante favoráveis. A
figura 11, a seguir, demonstra à habilitação por filiação dos alunos.
Sobre a habilitação, por filiação dos alunos, verifica-se que, no ensino básico 20% dos
pais/encarregados de educação tem habilitação superior; 23%, habilitação secundária; e entre
pais/encarregados de educação do ensino secundário, 17% habilitação superior e 15%
habilitação secundária, ou seja, cerca de 27% dos pais/encarregados de educação (1233 em
4568) que informaram acerca das suas habilitações acadêmicas tinham formação de nível
superior, incluindo 64 com doutoramento e 80 com mestrado. Portanto, nota-se que o
agrupamento de escolas em que se insere a EP estudada é frequentado por crianças, jovens e
adolescentes, que possuem pais/encarregados de educação, com formação intelectual que pode
favorecer a discussão sobre o papel e a ação, do diretor de turma.
Relativamente ao número de alunos por computador e internet, observa-se que 94% dos
alunos do ensino básico possuem computador, e internet, e 99% dos alunos do ensino
secundário possuem computador e internet.
117
51
Ver Como as Escolas Fazem Políticas: Atuação em escolas secundárias (BALL; MAGUIRE; BRAUN, 2016).
118
[...] textos e “coisas” (legislação e estratégias nacionais), mas também como processos
discursivos que são complexamente configurados, contextualmente mediados e
institucionalmente prestados. A política é feita pelos e para os professores; eles são
atores e sujeitos, sujeitos e objetos da política. A política é escrita nos corpos e produz
posições específicas dos sujeitos.
Ao entender que a política é feita para os professores e pelos professores, e que estes
são atores e sujeitos, sujeitos e objetos da política, conforme pensa Ball, Maguire e Braun
(2016), faz-se necessário conceber a ideia que cada sujeito atua conforme os seus interesses e
interpretações, em relação à política em cena. Em segundo lugar, compreende-se que, na arena
da prática, nas escolas, “existem interações e acomodações entre as políticas obrigatórias, as
histórias institucionais e os compromissos − isso faz parte do trabalho de interpretação e
tradução” (BALL; MAGUIRE; BRAUN, 2016, p. 20). Por conseguinte, “a interpretação é, por
vezes, de suma importância; a responsabilidade de dar sentido à política recai sobre as escolas,
em que (às vezes) nenhuma é auto evidente” (BALL; MAGUIRE; BRAUN, 2016, p. 21), ou
seja, “interpretação é uma leitura inicial, um fazer sentido da política” (BALL, MAGUIRE E
BRAUN, 2016, p. 68), no curso de “decodificação” para dar significado à política, ou mais, “é
um compromisso com as linguagens da política” (BALL, 2016, p. 69).
O terceiro destaque é sobre o entendimento de que a tradução das políticas se aproxima
mais das linguagens do contexto da prática, como asseveram Ball, Maguire e Braun (2016, p.
69): “a tradução é uma espécie de terceiro espaço entre política e prática”. Nos termos destes
mesmos autores (2016, p. 69), a tradução é
Each consists of a number of arenas of action - some private and some public. Each
context involves struggle and compromise and ad hocery. They are loosely coupled
and there is no simple direction of flow of information between them. But in
theoretical and practical terms, this model requires two further "contexts" to make it
complete. First, we must add the relationship between first order (practical) effects
and second order effects; that is, the context of the outcome. [...] The question of the
fifth context is then begged, the context of the political strategy;52
Portanto, se compreende que cada contexto representa uma arena de ação, e luta dos
atores sociais, e, sobretudo, que os compromissos construídos na atuação da política são
pautados nos processos de tradução e interpretação dos textos da política, nos diferentes
contextos articulados entre si. Outrossim, corrobora-se com as perspectivas aninhadas dos
contextos do ciclo contínuo de políticas defendido por Ball, em entrevista à Avelar (2016),
como se pode observar no extrato de entrevista de um sujeito que passou por diferentes funções,
na trajetória da política estudada, o Primeiro Coordenador Estadual do Projeto Professor Diretor
de Turma (PCEPPDT):
Bom, eu, eu comecei como professor diretor de turma no ano de 2009, atuei durante
um ano em uma escola estadual de educação profissional no município de Juazeiro.
52
Cada um consiste em uma série de arenas de ação - algumas privadas e algumas públicas. Cada contexto envolve
luta e compromisso e ad hoc. Eles são vagamente acoplados e não existe uma direção simples de fluxo de
informações entre eles. Mas, em termos teóricos e práticos, esse modelo requer dois "contextos" adicionais para
torná-lo completo. Primeiro, devemos adicionar o relacionamento entre efeitos de primeira ordem (prática) e
efeitos de segunda ordem; Ou seja, o contexto dos resultados. [...] A questão do quinto contexto é então discutida,
o contexto da estratégia política; (BALL, 1994, p. 26, tradução nossa).
120
O contexto de influência pode ser caracterizado como a arena política onde se configura
a gêneses da política. Regularmente, é nesse contexto que a política é debatida pelos grupos de
interesse, e as disputas são travadas pelos atores sociais, para a definição dos objetivos e
finalidades da política. Nos termos de Bowe e Ball com Gold (1992, p. 20),
This context of influence has a symbiotic but none the less uneasy relation to the
second context, the context of policy text production. Because while influence is often
related to the articulation of narrow interests and dogmatic ideologies, policy texts are
normally articulated in the language of general public good. Their appeal is based
upon claims to popular (and populist) commonsense and political reason. Policy texts
therefore represent policy. These representations can take various forms: most
121
obviously 'official' legal texts and policy documents; also formally and informally
produced commentaries which offer to 'make sense of' the 'official' texts, again the
media is important here; also the speeches by and public performances of relevant
politicians and officials; and 'official' videos are another recently popular medium of
representation. Many of those towards whom policy is aimed rely on these
secondhand accounts as their main source of information and understanding of policy
as intended.53
Neste estudo, tomou-se como base essa orientação, realizando as devidas adaptações
aos objetivos da política educativa analisada, conforme roteiro de entrevista nos anexos
(APÊNDICE D, F, G), uma vez que, os questionamentos sugeridos por Mainardes (2006) são
balizadores para serem direcionados ao objeto estudado, como recurso à compreensão do
mesmo. A guisa de compreensão das influências no processo de construção do PPDT, destaca-
se o extrato da entrevista com um (a) coordenador (a) regional do projeto professor diretor de
53
Este contexto de influência tem uma relação simbiótica, mas, não menos desconfortável, com o segundo
contexto, o contexto da produção de texto político, visto que, embora a influência seja frequentemente relacionada
à articulação de interesses estreitos e ideologias dogmáticas, os textos políticos são normalmente articulados na
linguagem do bem público em geral. O apelo deles é baseado em reivindicações de senso comum popular (e
populista). Os textos políticos, portanto, representam políticas. Essas representações podem assumir várias formas:
documentos jurídicos e documentos de política mais obviamente "oficiais"; Também produziu comentários
formalmente e informalmente que oferecem "fazer sentido" os textos "oficiais", novamente a mídia é importante
aqui; Também os discursos e performances públicas de políticos e funcionários relevantes; E os vídeos "oficiais"
são outro meio de representação recentemente popular. Muitas das pessoas com quem a política é direcionada
dependem dessas contas de segunda mão como sua principal fonte de informação e compreensão da política
conforme pretendido (BOWE; BALL; GOLD, 1992, p. 20, tradução nossa ).
122
turma (CRPPDT) sobre a origem da referida política educativa no âmbito das escolas públicas
estaduais cearenses:
O projeto diretor de turma entrou na minha vida em 2009, na época eu era professora
de educação profissional, eu nunca tinha ouvido falar... na verdade eu tinha ouvido
falar do projeto diretor de turma numa reunião em 2008 aqui na CREDE, quando se
estavam implantando as primeiras escolas de educação profissional, então assim, até
onde eu sei, porque foi algo que nunca foi tão divulgado né! Mas até onde a gente
ficou sabendo na função de coordenador regional, quando começamos em 2010, é que
o projeto diretor de turma, ele chega aqui no estado do Ceará por volta de 2007, né!
Ele foi disseminado, a ideia foi disseminada por meio da ANPAE na pessoa da
professora (EEB), e, e da professora (CEPPPDT), a professora diretora de turma de
Portugal… O projeto professor diretor de turma foi apresentado no congresso da
ANPAE em 2007, se eu não me engano né! E aí, ela teve a ideia, ela foi inicialmente
testada em três escolas da rede municipal a nível de Fundamental... depois essa, essa
experiência, ela chegou ao conhecimento da SEDUC quando a professora … (EEB)
foi conversar com a professora ... da CODEA para que pudesse experimentar o projeto
piloto em algumas escolas da rede estadual de Fortaleza (CRPPDT, 2015).
O Projeto Professor Diretor de Turma teve sua origem, aqui no Brasil, por ocasião do
XVIII Encontro da ANPAE – Seção do Ceará, no ano de 2007, quando foi apresentada
a experiência das escolas públicas portuguesas. Baseados nessa apresentação, gestores
educacionais dos municípios de Eusébio, Madalena e Canindé iniciaram um projeto
piloto em três escolas (SEDUC-CE, 2010, p. 1).
Cabe ainda, compreender que algumas políticas “feitas” que se materializam nas escolas
são “escritas” pelo governo, ou pelas agências e ou investidores, influentes nos contextos locais,
ou nacionais, envolvendo negociações, contestações e ou lutas entre os grupos de formuladores
de políticas que podem estar fora da máquina formal de elaboração de políticas oficiais (BALL,
2016).
No extrato discursivo da professora Especialista em Educação Brasileira (EEB),
membro da ANPAE a qual se atribui a ideia de trazer o PPDT para o Ceará, quando questionada
sobre a gênese de tal política educativa − O que é o PPDT em andamento nas escolas públicas
estaduais do Ceará? −, a referida especialista argumenta que,
O projeto tem toda uma história, para termos chegado aí. Primeiro, eu agora tenho 76
(setenta e seis) anos. Então, da sala de aula eu estou afastada, mas como eu fui
123
[…] fui secretária da educação e nunca pensei de fazer algo semelhante na escola
pública, porque a escola pública é uma distância tão grande da escola particular que a
gente... e depois a miséria de dinheiro é tão grande que qualquer coisa que a gente
pensasse, a gente até tirava, isso aqui é) para a escola particular, escola pública é outra
coisa. Nada! A escola pública não é pior não! Precisa ser até melhor que a escola
particular, viu! Então, eu fui lá para Portugal, assisti a defesa de tese da …ela era antes
diretora de escola aqui... e eu fui fazer contato com a ANPAE… Fazer um contato
com a Universidade do Minho porque eu conhecia o Carlos Estevão… Eu tinha
passado por lá uns anos atrás e já tinha saído, eu acho o Virgínio que escreveu… aí
eu vi exposto lá a publicação na mesa, na universidade, no Instituto de Educação… aí
eu peguei e comprei… quando eu cheguei em casa notei, é o mestre de classe... (EEB,
2016)
Foi através da… (EEB), secretária de estado do Ceará, [...] conhecia cá em Portugal,
ela viu o meu trabalho como diretora de turma, mas, mais dentro da área de gerir os
alunos, de gerir a turma, de gerir as problemáticas que existiam dentro da turma. Ela
assistiu a algumas aulas minhas e ficou encantada, aí eu levei o projeto para um
congresso de educação da ANPAE em abril de 2007. Três escolas foram, quiseram
ser escolas piloto que foi Madalena, [...] Canindé e uma outra… Eusébio. Pronto, e
passados 3 meses, mesmo sem orientação quase nenhuma, só com a apresentação que
eu fiz do projeto, os diretores das escolas foram aplicando, não foi com orientação,
portanto, foram aplicando daquilo que ouviram e viram resultados muito positivos em
relação aos alunos. Então a secretaria da educação do Ceará chamou-me, eu expus o
projeto e, foi-me pedido que ficasse, que fizesse uma formação a nível de vários
professores, que seriam professores multiplicadores. Esses professores, a quem eu
chamei coordenadores do projeto, iriam para as suas regiões e passavam para outros
professores que iriam exercer dentro de sala de aula o projeto, não é?! (CEP, 2016)
54
A política não é feita e terminada no momento legislativo, ela evolui nos textos que a representam, e os textos
devem ser lidos em relação ao tempo e ao local específico de sua produção (BOWE; BALL; GOLD, 1992, p. 21,
tradução nossa).
55
Eles também precisam ser lidos com e contra os outros - a intertextualidade é importante. Em segundo lugar, os
próprios textos são o resultado de lutas e compromissos (BOWE; BALL; GOLD, 1992, p. 21, tradução nossa).
125
que o texto da política passe por interpretação, tradução e ou interpretação de interpretação, nas
disputas pelo controle de representação dos sujeitos, nas arenas de atuação.
Mainardes (2006, p. 66) também contribui para a compreensão do contexto ora
analisado, por meio das questões orientadoras que seguem:
O excerto abaixo de uma entrevista com um sujeito que atuou com a política na sala de
aula, no primeiro momento, destaca o contato inicial com os textos da política, na arena da
prática, em interação com o contexto de elaboração de texto. Preliminarmente, percebe-se um
exemplo habitual no campo das políticas educativas, ou seja, “uma concepção linear de políticas
impostas para as escolas de cima para baixo (top-dawn)” (BOWE; BALL; GOLD, 1992; BALL,
MAGUIRE; BRAUN, 2016), consoante se pode identificar por meio da fala que segue:
[...] de início eu gostei da proposta de cuidar dos meus alunos, de ter uma relação mais
próxima com os meninos, ter aula de formação para cidadania. Mas nada me preparou
para o que viria, logo quando eu e meus amigos chegamos lá de Fortaleza, o que a
gente recebeu foi fichas, fichas e fichas e mais fichas, todas em PDF. Numa linguagem
que muitas vezes estava longe da nossa realidade, porque os instrumentais que nos
foram apresentados eram instrumentais da realidade das escolas portuguesas. Embora,
a nossa escola de educação profissional, ela tivesse uma proposta mais ou menos
alinhada a essa filosofia, mas estava muito distante da nossa carga horária, da nossa
situação funcional, do preparo teórico metodológico, que os professores portugueses,
imagino que tenham, e que, nosso caso não. Até porque, no início dessa situação,
todos os professores que assumiram a função eram professores temporários, que não
tinham essa dedicação exclusiva ao projeto, que muitas vezes saiam da escola
profissional e a noite ainda iam assumir outras funções em outras escolas particulares
ou da rede municipal (CRPPDT, 2015).
Mas mesmo sem conhecer, mesmo sem a gente ter esse preparo todo, a gente começou
o trabalho, tentando entender como era que funcionava, como era que fazia a ficha
biográfica, para que ela servia. A gente foi se perdendo naquele mundaréu de fichas,
né ?! A gente ansiava pela presença da professora... (CEP) na nossa escola, eu
particularmente fui uma das que mais desejei a presença dela! Porque eu sempre parti
do pressuposto, que eu só faço alguma coisa quando eu compreendo o que eu tenho
que fazer, então eu não entendia como era que em uma carga horária de três horas eu
ia ter que cumprir todas aquelas funções e ainda sem entender qual era a função
daquele mundaréu de fichas. Três meses depois a professora (CEP) veio na escola e a
vinda dela foi um divisor de águas na minha vida [...] ela mudou a minha vida
profissional [...] (CRPPDT, 2015).
A partir da fala apresentada acima, pode-se perceber que inicialmente os textos foram
levados prontos para o contexto da prática, e que, em face as leituras ativas, as resistências e
negociações motivaram a readaptação e reescrita dos textos. Isso também pode ser observado
na citação que segue:
Na realidade, quando ele começou em 2008, não havia, não havia nenhum documento
em 2008! Os únicos instrumentos que existiam, eram os instrumentais que foram
trazidos de Portugal, que até então não tinham sido submetidos a uma adequação, a
um estudo, a uma reorganização ou uma reformatação mais consistente né?! A
professora... (técnica SEDUC) e a professora (CEP) até andaram dando uma olhada,
para ver a grosso modo quais seriam as possíveis adaptações, e, existia meio que
pontualmente algumas apresentações de slides que norteavam aí, o trabalho dos
educadores das nossas unidades de ensino. Mas de 2008 até 2009, em 2008 e 2009
não existiam documentos que estruturassem a proposta ou que sistematizassem. O
primeiro documento é considerado a chamada pública. O primeiro, na realidade o
único pelo menos até 2014. Porque agora em 2015, a COPEM, lançou através da
própria COPEM, Coordenadoria de Cooperação com os Municípios, lançou um
pequeno manualzinho de orientações, tratando sobre o diretor de turma (PCEPPDT,
2015).
O folder (ANEXO D), mesmo sendo interpretado, pelo sujeito acima, como sendo
“apenas um documento de divulgação”, configura-se um documento da política PPDT, tal seja,
um artefato importante para a criação de significado, em torno da política educativa. Nos termos
de Ball, Maguire e Braun (2016, p. 171),
127
Eu gosto da logomarca do DT [Figura 12] porque ela vai mostrar justamente esse
aspecto o diretor de turma como link, o agente que vai aproximar a escola com a
família, uma comunicação e um envolvimento entre os professores com a gestão e
com certeza, o foco maior que é o aluno (CRPPDT, 2015).
56
O Sistema Integrado de Gestão Escolar trata-se de um sistema informatizado de acompanhamento acadêmico
de todos os alunos das escolas públicas estaduais do Ceará. Tal como, monitoramento e controle da lotação de
professores, diretor de turma, estrutura física das escolas, organismos colegiados (grêmios estudantis e conselhos
escolares, funcionários terceirizados e demais projetos e programas em andamento na rede de ensino).
57
A tradução das simplicidades cruas e abstratas dos textos políticos em práticas interativas e sustentáveis de
algum tipo envolve pensamento de produção, invenção e adaptação (BALL, 1994, p. 19, tradução nossa).
129
A arena de prática, por mais que se configure o contexto para o qual a política foi
pensada, não quer dizer que essa política será meramente implementada, uma vez que, esta
política estará passiva à interpretação, tradução e recriação, nos termos dos atores envolvidos,
razão porque, a partir dos seus entendimentos, valores e interesses, essas políticas são
contestadas e “recriadas” (BOWE; BALL; GOLD, 1992).
Nessa direção, percebe-se um ponto de articulação intensamente subsumido ao contexto
de produção de texto e ao contexto de influência, posto que, as consequências das lutas que
ocorrem nessa arena submetem a política às mudanças ao texto político, advindas das
influências das representações dos sujeitos envolvidos.
Contribuindo para a compreensão deste contexto, Mainardes (2006, p. 67) lança as
questões transcritas a seguir:
chamada pública, para que elas pudessem se apropriar, fazer uma leitura, compreender
a proposta. E aí, como consequência socializar essa proposta junto a todos os gestores
escolares, para que eles pudessem se apropriar da mesma, e, consequentemente
disseminá-las nas escolas apresentando a proposta para os professores, fazendo com
que os educadores de certa forma, aderissem ou não. Então, o fluxo se deu dessa
forma, Secretaria de Educação do Estado – CREDE – Escola. Então, o foco da
secretaria, era fazer primeiro com que todos esses segmentos se apropriassem da
proposta, e aí, não foi uma imposição, foi uma proposta de adesão, onde as escolas
poderiam optar por se queriam ou não fazer a adesão, certo?! (PCEPPDT, 2015)
Já chegou em forma de capacitação, porque eu sou uma das primeiras do grupo, sou
a mais velha (risos) ... É porque assim, quando eu tomei conhecimento do projeto em
2010, eu já fui intimada para uma capacitação porque eu iria ser diretora de turma. É
um ultimato, chegou você tem que ir! Lógico, logo que nós chegamos lá, naquele
primeiro momento foi aquele impacto! “Poxa eu vou dar conta de tudo isso, eu
também vou dar aula, eu vou dar conta de tudo isso? No primeiro momento você já
pensa assim… “Eu vou dar conta?” É muita responsabilidade! … Então, eles
chegaram e disseram assim: “o projeto é teu, toma, vai dar conta, eu acredito em
você”. Então, essa confiança que o Estado já colocou em cima da escola, em cima do
professor, ele já veio, já com um desafio, começou o desafio logo pela gente, não sabia
como funcionava, porque lá era baseado nos quatro pilares da educação, não é?! O
projeto foi todo desempenhado em cima dos quatro pilares. (PDTEB - 1, 2015)
Em outra direção, destaca-se a fala do (a) Coordenador (a) do Projeto Professor Diretor
de Turma, na Escola Brasileira (CPPDTEB), que afirma ter havido, inicialmente, uma
multiplicação das metodologias empregadas no PPDT − por parte da CEP − na ocasião da
implantação da política educativa em tela, nas Escolas Estaduais de Educação Profissional.
Entretanto, ao tratar das escolas regulares, locus em que este estudo procura compreender a
trajetória da política educativa. Na mesma fala, o (a) referido (a) coordenador (a) afirma:
Outro aspecto a ser destacado, consiste na interpretação com relação à visita domiciliar
aos alunos e suas famílias, o que não se observou nos textos orientadores do PPDT. Na
sequência o CPPDTEB (2015) complementa:
Por que? Porque o número de alunos é maior, como você viu na escola (EB), é muito
grande, quase 2000 (dois mil) alunos… o fluxo de professores, a entrada e saída de
professor é... os nossos professores que estão lá pela manhã, não estão a tarde, e vice-
versa né?! Os nossos professores nem sempre têm a carga horária semanal preenchida,
tem dois dias, tem três dias na escola. Então isso aí dificulta, essa visita, essa presença
maior junto a família do aluno, mesmo assim, quando é necessário, quando se ver
necessário, os nossos professores vão à casa deles, como eu tenho acompanhado o
trabalho dos professores desde que eu comecei na coordenação, que eu acompanho,
que eu oriento e digo. Falo para eles a importância de resgatar o aluno. Porque a nossa
maior dificuldade hoje, não é trazer o aluno… não é fazer o aluno se matricular... é
fazer com que ele permaneça. Então, esse é um grande desafio...
58
Disponível em: <https://sites.google.com/site/diretordeturmacrede06/home>. Acesso em: 10 jun. 2016.
132
falam no início do ano, por exemplo, um aluno do terceiro ano que vai preencher uma
ficha biográfica, ele já tem feito duas outras vezes, aí eles dizem: “Para quê? Eu não
já fiz?” Aí eu digo: “Mas é uma renovação!”. Mas, até que ele consiga aceitar o que
você está ali colocando, não é?! Quer dizer, ele já tem a ficha biográfica dele salva no
sistema, nas fichas anteriores do primeiro e no segundo ano. Só que precisa desta
atualização. E muitos deles se negam a dar o telefone porque sabe que a gente vai
atrás né?! O endereço a gente vai atrás! (PDTEB - 1, 2015)
Eu sou professor de matemática do terceiro da noite... o projeto ele tem objetivos bem
interessantes, buscando mecanismos como conduzir a turma do início ao fim do ano...
e até mesmo estudar os problemas dos alunos, que muitas vezes trazem para a sala de
aula, ele visa conhecer um pouco mais não só o aluno, mas a família, para que a gente
possa prevenir certos comportamentos em sala de aula, na medida do possível, ir
dentro do acontece. Ao mesmo tempo que o projeto tem essa visão... bem amplo, esse
objetivo bem claro, a gente ainda não tem tanto êxito na parte burocrática, a gente fica
muito preso. A parte burocrática, creio eu que se nós tivéssemos um pouco mais de
tempo de nos sentar com a família desse aluno surtiria mais efeito. (PDTEB - 2, 2015)
Embora os (as) PDTEB considerem que “a parte burocrática” dificulta que o PPDT
alcance melhores efeitos, eles argumentam que os objetivos do mesmo são interessantes e
buscam “conduzir a turma do início ao fim do ano”, ou seja, evitar a evasão escolar, como já
foi declarado anteriormente (CPPDTEB, 2015) ser esse o maior desafio do DT. Outro aspecto
que tem sido destacado pelos atores envolvidos na política educativa é a importância da
interação com as famílias dos alunos.
Para Bowe e Ball com Gold (1992, p. 23), é mais apropriado dizer que AS políticas têm
“efeitos” em vez de “resultados”, posto que, a complexidade do processo político é entremeada
por construção e reconstrução. Conforme os autores (BOWE; BALL; GOLD, 1992, p. 26),
“Here, the analytical concern is with the issues of justice, equality and individual freedom.
Policies are analysed in terms of impact upon and interactions with existing inequalities and
forms of injustice”59. Portanto, as análises nesta arena pautam-se nos impactos e interações das
políticas nas demandas por justiça, igualdade e liberdades dos sujeitos, por elas comprometidos.
59
Aqui, a preocupação analítica é com as questões da justiça, da igualdade e da liberdade individual. As políticas
são analisadas em termos de impacto e interações com as desigualdades e formas de injustiça existentes (BOWE;
BALL; GOLD, 1992, p. 26, tradução nossa).
133
Nessa direção investigada, nota-se que ao analisar o excerto da fala de um (a) PDTEB,
destaca-se como resultado o comportamento do aluno dentro da escola, a diminuição da evasão
escolar e a participação, a saber:
Cinco anos, é cinco anos de projeto! O que nós observamos de mudança aqui dentro,
estou falando aqui dentro da ... (EB) é enorme! Porque diminuiu a evasão,
comportamento, a participação em si, melhorou demais! Porque era aquela história
que, “eu não quero, eu não vou” né ?! Morreu essa história! Eles sabem que eles estão
sendo mais monitorados, né… assim, de certa forma, “não eu não vou fazer tal coisa
porque eu sei…”, porque antes eles tinham aquela ideia “eu posso fazer o que eu
quiser, que não vai acontecer nada”! Então, com o projeto não, como eles (alunos) são
mais observados eles têm o maior cuidado. De certa forma, eles têm “um pai ou uma
mãe”… observando... Até no recreio, até no intervalo a gente tem aquele contato...
(risos) (PDTEB - 1, 2015).
Eles não se preocupam só na escola né?! A gente ver que eles se preocupam também
fora da escola, quando a gente falta eles procuram saber se aconteceu alguma coisa,
se a gente tava doente e tal! Se está passando por alguma coisa, algum problema, ele
visita a nossa casa se puder ele ajuda... (AEB 1, 2015)
Ele representa a nossa sala, porque geralmente o professor, ele vai defender o aluno,
vai ajudar, ele conhece os alunos pessoalmente, ele sabe o problema que cada aluno
passa e isso ajuda muito. O nosso em particular, a gente tem como um pai né, um
amigo, como por exemplo, ele nos dar conselhos, ele às vezes nos dar, como ele fala:
um cascudo! (Risos)... Eu gosto deste projeto diretor de turma! Ajuda bastante! Além
de diretor de turma, no caso, o professor acaba se tornando nosso amigo. (AEB 2,
2015)
Entretanto, percebe-se que o olhar individualizado do PDT, para com seus alunos, é
direcionado, principalmente, na direção da manutenção do vínculo do aluno com a escola, na
perspectiva da garantia da permanência e, consequentemente, na redução da evasão, sem
desconsiderar o cuidado mencionado pelos alunos.
A narrativa do (a) Pai/Mãe na Escola Brasileira (PMEB), vai na mesma direção, dos
discursos do (a) AEB:
Para mim, eu acho que o professor de turma, ele é tipo assim um pai… tá ali
preocupado, ele vai... se o aluno tá com algum problema, ele vai saber, ele vai procurar
saber o porquê, o que tá acontecendo, ele chama os pais para conversar por isso que
eu acho excelente… para mim pessoalmente, eu acho excelente… (PMEB, 2015).
São pais de família e tem que sair a procura de emprego, mas que o projeto ajudou
muito aí nessa parte, nessa questão de a gente conseguir ultrapassar inclusive a meta,
que era 40% e nós já conseguimos 42% (quarenta e dois) da evasão. Porque como eu
te disse lá no início, no meu caso como diretora e coordenadoras, temos como detectar
aquele aluno que está faltando há uma semana, há duas semanas. Nós temos aqui
professores que passam em 27 (vinte e sete) salas, Filosofia com 1 hora. Então, ele
chega ali, pensa que aquele aluno veio na aula dele, mas não sabe se nas outras aulas
ele está vindo. Então, se não fosse o professor diretor de turma que detecta a tempo
de a gente ir na casa deste aluno e a gente procurar a família...
Eu sou diretor de turma do terceiro ano, e, a gente hoje no Brasil a gente fala muito
do ENEM né ?! Essa dificuldade, porque tem gente no interior que não tem condições!
E implantar na mente do aluno essa visão hoje, de que pode ser alguém na vida e
buscar algo na vida. É a função… nós temos essa função! Vamos dizer, levar esse cara
conosco aqui né...(gesto de braços dados). Então, esse projeto é muito interessante
porque ele mostra, ele tenta mostrar uma visão diferente numa sociedade corrompida
que nós temos.
diretor de turma na educação portuguesa60, denomina como gestão intermédia. Neste sentido,
o (a) CPPDTEB (2015) identifica, como uma das estratégias do PPDT:
Bem, ele (PPDT) tenta colocar em cada sala de aula um gestor né! Alguém que tenha
um olhar mais afinado para aquela turma, que possa acompanhar melhor, ver aquilo
que enquanto o diretor, que enquanto o coordenador ver de uma maneira geral, o
professor vai ver de perto... que é o aluno, que é a presença dele, que é a participação
dele em sala de aula, a atuação do professor em sala de aula. E, principalmente, eu
acredito que o professor de turma ele tem um foco muito voltado para a evasão escolar
que é um caso gravíssimo que hoje nós enfrentamos na escola pública, muito grave.
(CPPDTEB, 2015)
[…] contribui sim, se ele for bem executado! Se o professor realmente realizar suas
atribuições, que é se aproximar do aluno, que é conhecer a família, a sua infrequência,
o seu rendimento, se ele fizer todas essas atribuições, que é dele. Sem dúvida todos os
padrões serão alcançados... cem por cento? Não! Porque a gente sabe que dentro de
uma escola pública, existem ‘ene’ fatores que vão desviando e vão te desvirtuando do
seu caminho. Mas você tem que relutar sempre naquela busca, sem dúvida o projeto
é uma ferramenta que auxilia sim nos desempenhos… (CPPDTEB, 2015).
Para além das atribuições explicitadas nos poucos documentos orientadores, didáticas,
pedagógicas, gestão de sala de aula e interação entre a família e escola. Percebe-se a
responsabilização deste sujeito pela melhoria da frequência escolar e consequentemente dos
rendimentos/resultados de aprendizagens dos alunos.
Em um estudo acadêmico de mestrado que se ocupou em investigar a gestão do PPDT,
após cinco anos da implantação, Costa (2014, p. 30) afirma que
Comparando os extratos das falas dos atores sociais, nesta análise da trajetória do PPDT,
em funcionamento nas escolas públicas regulares do Ceará, deste estudo, com a perspectiva
supracitada por Costa (2014), percebe-se uma convergência na significação dos sentidos
construídos, sobre a política educativa em análise. Entretanto, se faz importante explicitar que,
no cenário em o PPDT, o pesquisador é sujeito e é objeto que se encontra em atuação, posto
que, é gestor na rede de ensino.
60
Ver Racionalidades Práticas na Gestão Pedagógica: O caso do diretor de turma (SÁ, 1997).
138
Costa (2014), afirma que o PPDT, nas escolas públicas estaduais cearenses, caracteriza-
se como “uma das mais abrangentes propostas de gestão do currículo e da sala de aula, com
repercussão na gestão escolar, na relação escola e família, e nos indicadores de desempenho e
fluxo escolar, cuja execução atinge mais de 90% das escolas” (p. 19). Embora o estudo não seja
amplo e não apresente os efeitos do PPDT, no âmbito do Estado, este aponta para a estratégia
de reorganização das práticas organizacionais da escola e, sobretudo, reconfigura a função do
professor.
Ao intentar o rastreamento da trajetória do PPDT em atuação nas escolas públicas
cearenses, pode-se chegar a algumas considerações sobre esta trajetória. A referida política
educativa pode ser caracterizada como uma política do tipo “top-dawn”, imposta para às
escolas, de cima para baixo. Contudo, os textos desta política podem ser considerados
escrevíveis (writerly), possibilitando a leitura, interpretação e tradução ativa dos sujeitos na
arena de atuação, resultando em significativas readequações críticas, na interação entre os
contextos, conforme foi observado nas análises.
5.2 O PPDT entre o “Plano das Orientações para a Ação” e o “`Plano da Ação”
Como é que, uma política pública dessas, que é tão fundamentada, que exige tantos
recursos públicos, porque o projeto diretor de turma não é barato, tá certo! Mas, ele
continua com essa fragilidade e esse risco de descontinuidade porque nós não temos
fundamentos institucionalizados (CRPPDT, 2015).
p. 171). Nesses termos, se insere a compreensão que no processo de atuação das políticas, às
tensões e resistências mobilizadas pelos grupos de interesses, estes grupos reinterpretam as
orientações no “plano da ação organizacional”, como recurso das negociações. Enfim, “mesmo
no caso de uma execução em conformidade, a execução redunda quase sempre em uma
reinterpretação” (LIMA, 1998, p. 171).
Uma política educativa passa por diferentes contextos, na trajetória entre a
concepção/produção normativa e a atuação no contexto da prática na escola e, nesse longo e
complexo percurso, pode-se identificar diversos tipos de intervenção realizadas pelos diferentes
atores sociais envolvidos, admitindo-se que o texto originalmente produzido vá sofrendo
alterações, na forma e no conteúdo (LIMA, 1998), como se pode conferir no texto que segue:
No que se refere ao texto orientador do PPDT, como vimos, este apresenta uma imagem
de flexibilidade no discurso implícito, sob a perspectiva da adesão, para além de não se
configurar um ordenamento jurídico. Portanto, o texto da política educativa analisada sofreu
significativas recriações, em relação aos documentos reproduzidos de outro sistema educativo,
com objetivos e estrutura organizacional absolutamente diferente, na direção de atender às
exigências e contribuições dos atores sociais, nos contextos de atuação da escola pública
cearense.
Apesar das perceptíveis recriações impostas às orientações normativas das políticas,
mobilizadas pelos atores educativos na ação/atuação, no contexto da escola, manifestação que
Lima (1998, 2001) denomina de “infidelidade normativa”, não se pode desconsiderar a força
que as orientações exercem sobre a ação.
Relativamente à compreensão do que se designou “infidelidade normativa”, “na
verdade, a infidelidade seria mais corretamente compreendida se considerada enquanto
fidelidade dos actores aos seus objectivos, interesses e estratégias” (LIMA, 1998, p. 176). Nesse
sentido, a “infidelidade normativa” pode ser entendida como uma contraposição às diretrizes e
regras estabelecidas e regulamentadas, de cima para baixo, nos textos normativos das políticas
direcionadas para as escolas. Vale frisar que a admissão da presença dessa infidelidade,
141
pressupõe a existência de dois planos organizacionais, plano das orientações para a ação e o
plano da ação (LIMA, 1998, 2001).
A escola não pode ser interpretada como um espaço somente de reprodução das
políticas, ou mesmo, de orientações organizacionais normativas, o que configura, também, uma
instância auto-organizada, para a produção de novas diretrizes e regras, na perspectiva de Lima
(1998), e um contexto micropolítico permeado por tensões e resistências, e, permanente, em
reprodução, produção e redefinição de políticas, nos sentidos de Ball (1989). Na direção dessas
perspectivas, busca-se compreender as significações construídas sobre o cargo/função do
diretor de turma no contexto brasileiro e suas aproximações e distanciamentos em relação ao
diretor de turma, no sistema educativo português.
142
O item 2, do anexo I, da chamada pública para adesão para o diretor de turma (2010),
acima citado, apresenta o perfil e as principais tarefas do PDT. E, embora não se tenha realizado
uma pesquisa comparativa, buscou-se traçar as relações existentes entre o DT, nos dois
contextos estudados na investigação, no Brasil, especificamente nas escolas públicas estaduais
regulares do estado do Ceará e em uma escola do sistema educativo de Portugal, citado como a
inspiração, para a materialização do objeto deste estudo.
Na direção de perceber as articulações entre as experiências, seja nos pontos que se
aproximam ou se distanciam, em suas distintas realidades, procurou-se imergir nos textos e nos
143
discursos sobre as atuações práticas nos contextos, a fim de emergir com as interpretações.
Portanto, parte-se de um ponto ao outro extremo na pretensão de revelar os contrapontos de
interrelação, entre os textos de orientação. Nesta altura, o referido ponto extremo se configura
o Regulamento Interno 2014-2018 de uma Escola Portuguesa (EP).
Tomando como base para analisar as aproximações e distanciamentos, entre as
significações do cargo/função de DT nas duas realidades investigadas, a partir dos textos e ou
do “plano das orientações para a ação”, destacou-se acima o art. 40º, do Regulamento Interno
da EP, em associação ao texto orientador para a EB, a Chamada Pública para Adesão para o
Diretor de Turma (2010).
Diante disso, procurou-se elaborar um quadro comparativo dos textos normativos do
DT entre a EP e a EB abaixo, com o propósito de perceber as aproximações e ou
distanciamentos, entre as orientações para as diferentes realidades em estudadas, como o
disposto no quadro que segue:
No item 4.i., da Chamada pública para adesão para o diretor de turma (2010), que orienta
o PPDT na EB, esta se aproxima do item “b”, do artigo 40º, quando este trata da articulação e
comunicação, entre professores da turma e atividades que envolvem alunos, professores e pais
ou responsáveis, salvo distanciamentos próprios das peculiaridades dos diferentes contextos
sociais, tal como a denominação de articulação com Núcleo Gestor e estabelecimento de
parcerias (EP, 2016; SEDUC-CE, 2010).
No que se refere à elaboração do Dossiê de Turma proposta nas orientações para a EB
se aproximam das orientações para EP, propostas no item “o”, em relação ao texto do item 5.
iv. Na sequência, ainda na perspectiva de se identificar as aproximações entre os documentos
146
das duas realidades observadas, o item 5. i. e 5. ii. (EB) em relação ao item “f” (EP), bem como,
4. ii e 5. iii. (EB) em relação ao item “a” (EP). Afinal, muitas são as aproximações textuais
como pode se verificar o item 6. vi. (SEDUC-CE, 2010, p. 6, grifo nosso) sublinhado na citação
abaixo com o item “c” (EP, 2016), observa-se que a redação do texto é praticamente a mesma.
olhar para os textos e discursos dos atores sobre as significações no campo da atuação, nas duas
realidades estudadas. Nessa direção, nas experiências analisadas, recorreu-se aos testemunhos
dos atores sociais nos diferentes níveis e dimensões.
O encadeamento da análise segue na busca de compreender como se caracterizam as
significações, sobre o cargo/função de DT, construídas no imaginário dos atores da organização
educativa em três dimensões: designação do cargo, importância e atribuições do DT e
designação do CDT, as relações que se estabelecem na comunidade escolar/comunidade
educativa e algumas estratégias metodológicas do PPDT. Sobre tais processos e procedimentos
procura-se encontrar as evidências nos discursos dos atores entrevistados nos contextos
estudados e o contraponto com os referenciais que balizam este estudo.
Segue o organograma de organização do PPDT na SEDUC-CE:
A rede pública estadual do Ceará conta com cento e dezesseis Escolas Estaduais de
Educação Profissional (EEEP) em tempo integral, com ensino médio integrado ao ensino
profissional; e seiscentas Escolas Regulares. O acompanhamento sistemático das escolas pela
SEDUC é descentralizado pelas vinte CREDE e três SEFOR, no caso do PPDT, conta-se com
a figura do (a) Coordenação Regional do PPDT e, em cada escola, o (a) Coordenador (a) Escolar
(SEDUC-CE, 2017). Feita essa breve contextualização sobre como se estrutura o organograma
148
[...] coordenadores regionais que é uma função que passa a existir a partir do ano de
2010. Então, a primeira questão que nós vamos ter, o projeto professor diretor de
turma além das escolas de educação profissional nas escolas regulares, nós precisamos
ter um técnico na CREDE que possa coordenar já que seria um, um campo de ação
muito amplo para um superintendente e para uma pessoa que nunca vivenciou o
projeto diretor de turma mesmo em situações não é, não aprofundadas. Mesmo sem
conhecer muito a proposta considerou-se isso que essa pessoa que iria assumir a
função de coordenador regional em cada CREDE e SEFOR deveria ser pelo menos
dentro desses critérios uma pessoa que já tivesse vivenciado a função de professor
diretor de turma. Com base nas visitas né, que a... (CEP) e a sua equipe técnica
realizou no ano de 2008 e 2009 nas escolas de educação profissional ao longo do
estado do Ceará, ela foi vendo alguns professores que ela considerou que tivesse um
bom perfil e foi nesse momento que a coordenação regional entra na minha vida né,
eu recebi a proposta do coordenador da CREDE né, eles receberam esse
encaminhamento da SEDUC e aí teve esse período pra que a gente pudesse fazer essa
aceitação (CRPPDT, 2015).
Desde de janeiro de 2015... comecei como coordenadora neste ano já, mas eu conheço
o projeto já há algum tempo... conheço desde 2009. Em 2008, eu creio que tenha sido
a data que ele foi implantado aqui no Ceará, porque foi logo quando começou as
escolas profissionais né?! E quando o Estado trouxe as escolas profissionais para cá a
questão é que na época era chamado Escola de Educação Profissional… (NOME DA
ESCOLA), houve uma seleção né, eu era temporária e passei. E então, eu trabalhei
desde 2009 até dois mil… o meio de fevereiro de 2012 lá na escola profissional. Então
eu saí de lá, enquanto eu estive lá eu fui diretora de turma, eu conheci o projeto lá daí,
eu conheci a professora… (CEP) que foi a grande idealizadora, ela sempre esteve lá
conosco, apresentou todo o projeto, deu todas as orientações. Aí de lá eu vim para o
(NOME DA ESCOLA), aí entrei como temporária e prestei esse último concurso,
passei e graças a Deus, consegui me efetivar, é o sonho de todo professor! (CPPDTEB,
2015).
149
[...] tem a ver com a capacidade de agregar várias vontades dos diferentes diretores de
turma, com a capacidade de se expor e mobilizar, fazer com que os próprios diretores
de turma compreendam as diretrizes que ele vai emanando, não é!? Porque
normalmente essas diretrizes também são validadas pelo conselho pedagógico, por
vezes, nem sempre, e ainda bem, não é, nem sempre todos estamos de acordo, não é…
mas tem que seguir um rumo, não é, e esse rumo é definido pelo coordenador dos
diretores de turma. Portanto, é nesse sentido que as competências deles são
extremamente importantes, não é, de fazer com que os diretores de turma possam
perceber, quer a componente administrativa, não é, que eu penso que essa é, até é mais
simples, porque a lei aqui em Portugal determina tudo, está tudo determinado, o
espaço da autonomia é extremamente residual. (DGEP, 2016)
é! Seria bom que assim fosse, mas temos, temos que ouvir… essencialmente isso.
(DGEP, 2016)
Embora o discurso citado fale sobre o perfil do professor para ocupar o cargo/função de
DT, este o não caracteriza, nem descreve quais aspectos devam ser considerados importantes,
para traçar tal perfil. Porém, o item 2, do documento de orientação – a chamada pública
(SEDUC-CE, 2010) –, citado no quadro anterior, prescreve as características desse perfil nos
sete subitens. Outros aspectos que se acentuam no extrato citado referem-se à descontinuidade
do professor no cargo de DT, pela evidência de professores temporariamente contratados na
rede de ensino, que apontam para a interpretação de que os professores efetivados por meio de
concurso recusam-se a ocupar o cargo/função de DT ou o ocupam para completar a carga
horária.
A respeito do perfil para o desempenho do cargo/função de DT, o (a) Professor Diretor
de Turma, na Escola Portuguesa (PDTEP), acentua que “o perfil deve ser uma pessoa que
resolva os problemas e que não os levante. Porque é quando há atritos entre professor e aluno
que precisa de haver alguém que deite água na fervura e não deite álcool no lume que o
incendeie, em vez de acalmar as coisas e deve compreender” (PDTEP 1, 2016), complementa
que “as funções mais importantes são na gestão... eu acho que um diretor de turma tem aquele
trabalho burocrático de faltas, justificação de faltas (PDTEP 1, 2016). E acentua: “mas o
importante num diretor de turma é que faça a gestão de conflitos entre os alunos às vezes, muitas
vezes, a gestão de conflitos entre professor/aluno e a gestão de conflito entre o encarregado de
educação e do professor” (PDTEP 1, 2016). No contexto educativo português, a habilidade para
151
É a capacidade de resolução de problemas, tem que ser uma pessoa capaz de resolver
problemas, como digo, normalmente e no secundário existe mais tensões com a
família do que no básico, porque no secundário, […] portanto, é um ciclo onde
existem exames e os exames têm um peso significativo depois para o ensino superior,
... as famílias têm, estão muito atentas e têm uma intervenção muito ativa, não é…
junto do diretor de turma e por vezes apresentam queixas que o professor A ou B, não
está a fazer da melhor maneira e que eles acham que devia ser de outra… O papel do
diretor de turma aqui é muito importante para clarificar, para ver também se os pais
têm razão ou não, mas essencialmente aqui é a capacidade relacional que o diretor de
turma tem com as famílias, com os alunos e com os restantes professores… hmmm…
e este para mim tem sido o ponto fulcral para que o diretor de turma tenha, tenha
continuidade. Não tenho dúvidas que, hmmm, a capacidade de mediação de conflitos,
é uma característica fundamental e penso que todos os diretores de turma deveriam
ter formação nessa área, não é, da mediação de conflitos.
É bom a gente ter atenção né... sempre é bom ter um pouquinho de atenção… Porque
não é todo o professor que tem esse cuidado com a gente, aí no caso dele é uma função
específica, para tá dando uma atenção a mais né... de alguma forma a gente se sente
cuidado… (AEB 1, 2015)
Geralmente ela tem um cuidado mais, especial na gente, do que os outros. Ela se
preocupa bem mais que os outros. E se responsabiliza né, pelos atos de cada um, é
como se... É como se fosse nossos pais! Vai dar bastante conselho! E não só nas aulas
de formação cidadã né?! Nesse dia ela sempre dá esses vídeos nas aulas dela, sobre o
dia a dia, aí as aulas dele ou começam com reflexão ou terminam (AEB 2, 2015).
Observa-se que os (as) alunos (as) percebem como características importantes, para o
exercício do DT, a atenção, o cuidado e a capacidade de oferecer orientação pedagógica,
aspectos inerentes à função de professor. Na mesma perspectiva, sublinha um (a) Encarregado
de Educação, na Escola Portuguesa (EEEP), sobre a atuação do DT na ocasião da entrevista:
152
Eu acho que um diretor de turma, além de tudo, tem que ser uma pessoa compreensiva,
com uma mentalidade atual, porque hoje não é fácil ser professor… a vida está muito
complicada para os professores… hmmm… principalmente saber ouvir para saber
falar de seguida. Eu acho que é um dos pontos principais de um diretor de turma,
porque um professor que não sabe ouvir, no fim não sabe falar. Como nós falamos, a
diretora de turma desta turma tentou, através do que ouviu dos outros professores,
tentar mudar a turma… uns foram mudando, outros não quiseram, mas conseguiu. Eu
acho que… ela diz que não, mas conseguiu que a turma melhorasse um bom bocado
através da fala. Não é com castigos, muitas vezes não se resolve nada, através da fala,
eu acho que… eu acho que ela conseguiu (EEEP, 2016).
Olha, é, a gente divide essas atribuições por meio do horário da nossa carga horária
bem estipulada. Então, a gente vai ter aí essa função de organizar, analisar e conhecer
a turma por meio dos instrumentais, esse diretor de turma tem as duas horas semanais
para eles fazerem isso, obviamente que eles sempre reclamam que não dá tempo,
porque tem uma falha nesse processo, novamente a falta de monitoramento e o diretor
de turma que comanda, a grande maioria dos profissionais eles têm dificuldade no
aprofundamento no tempo, alguns fazem isso muito bem quando já estão mais
experientes na função. O SIGE tem ajudado muito, isso pela facilidade né, de fazer
ou não, às vezes até atrapalha! Porque se a escola tiver dificuldade de internet de
computador. Isso também vai ser em vez de ajudar isso vai atrapalhar, por isso que a
gente ainda continua com esses dois dossiês, o online e o em papel, porque depende
da realidade. [...] Então, uma das funções primordiais do diretor de turma é
desenvolver essa habilidade de registrar, aquilo que ele observa aquilo que ele
vivencia, a outra função interessante ocorre justamente no momento que ele tem que
fazer o atendimento, então uma das funções do diretor de turma é realmente
estabelecer essa relação interpessoal com o seu aluno fazer com que ele estabeleça
essa relação para que ela seja mais construtiva e harmoniosa possível com os alunos
e também com a família que durante muito tempo foi tão esquecida (CRPPDT, 2016).
No excerto que segue, tem-se o testemunho de como um dos atores sociais percebe, na
prática, as suas atribuições:
153
Então, a gente trabalha mais assim, as qualidades, os valores né! Porque eles não têm
esses valores em casa, nós estamos indo lá tentar resgatar mesmo, o projeto é isso é
um resgaste mesmo! Porque é o principal do projeto, é o cuidado com a evasão
escolar, porque o adolescente, por tudo né!, é o motivo dele se evadir da escola
(PDTEB 1, 2016).
Para todo mundo a gente fala que é pouco tempo, mas assim são cinco horas para o
projeto... é, cada hora destina a uma atribuição, por exemplo para receber a visita de
um pai de alguma situação, aula em si da formação cidadã dentro da sala de aula…
outras horas para você... estudar… para ajeitar a parte burocrática, mas a gente é muito
preso. A aula em si da formação cidadã dentro da sala de aula, e mais três para o
burocrático. (PDTEB 2, 2016)
Olha a primeira coisa, assim, os primeiros frutos desse resultado foram colhidos nos
primeiros anos, com dois, três anos já era possível a gente verificar. A primeira
questão, a mudança de postura... em nível digamos de, de proficiência, vou usar essa
155
palavra! Na primeira instância a gente ver a postura de professores, então a gente tem
uma mudança, assim na forma dos professores tratarem os alunos do envolvimento
dos professores com a turma, de uma maneira geral no envolvimento dos professores
entre eles professores, nesse diálogo, então a primeira mudança foi nos professores.
A segunda mudança foi nos gestores. Os gestores começaram a se aproximar dos
professores diretores de turma, porque tinha o contato maior com relação a
frequência, com relação à conversa com os pais, em relação com o atendimento com
os pais e os alunos. Digamos que os gestores ficaram mais aliviados em não ter que
atender todos os pais frequentemente, os diretores de turma fazem isso e os gestores
registram. O impacto voltado com relação ao aluno, com certeza foi no controle de
frequência. O controle de frequência na nossa CREDE, ele hoje realmente funciona
de forma maravilhosa, principalmente com a parceria dos monitores do PJF. Então,
assim quando o PJF chega com essa questão da monitoria dos resultados diretamente
voltado para a frequência e da aprovação, já encontrou um terreno bem organizado
pelos diretores de turma com a questão dos ajudantes de sala, controle de frequência
diária e o mapeamento (CRPPDT, 2016, grifo nosso).
A gente sente: “eu acho que a gente não consegue dar conta!”, mas você sente uma
certa segurança dos alunos em relação ao professor diretor de turma. Quando a família
procura a escola, procura o diretor de turma, para resolver o problema do filho... seja
até mesmo para pedir uma declaração, para saber se o filho está bem, para saber se o
filho está faltando as aulas… tem o diretor de turma! E há casos né!, do professor
diretor de turma, ter de sair para tentar resolver problemas sérios de família...
terminaram… praticamente é… às vezes é um pouco constrangedor para gente chegar
lá para família, e, dizer assim: “não faça isso”! E ao mesmo tempo você fica sem saída,
porque o aluno joga para ti aquela responsabilidade, está entendendo?! Como se
dissesse assim: “Me ajude”! (PDTEB 1, 2015).
Conhecer mais a família, o ambiente familiar do aluno, que isso é fundamental, leva
a gente a entender como ele chega! Muitas vezes, o aluno chega querendo o que?
Porque tem algum problema em casa... se eu sei que aquele rapaz lá que mora com os
pais, ou daquela moça que não mora com os pais, que mora com um irmão, que não
trabalha, que tem certa dificuldade… eu vou entender o comportamento dela! Mas eu
vejo a preocupação do Estado em montar com este projeto justamente perceber que o
problema da escola está na parte social, está na parte familiar. O aluno que a gente
recebe, ele traz uma bagagem enorme! Ele traz seus anseios, mas ele também traz seus
problemas… E, creio eu, que uma das intenções do Estado, seria tentar fazer com que
a escola pudesse influenciar de certa forma na vida social daquele aluno.
156
IV. MAPA DA TURMA O mapeamento da turma deve ser feito em primeira instância
com flexibilidade. Os alunos sentam onde querem responsabilizando-se pelo seu
comportamento e regras que são negociadas entre todos e têm que contemplar a
disciplina, concentração, atenção, interesse e respeito pelo outro. Têm prioridade em
157
serem colocados na fila da frente os alunos que tenham dificuldades visuais, auditivas.
A partir do momento em que desrespeitem as regras, automaticamente o mapeamento
será refeito com o consenso de todos os professores da turma. No espaldar da cadeira
será colocado o nome do aluno, bem como o seu respectivo número. Sempre o aluno
sentará nesse lugar. A chamada de frequência será feita pelo professor a partir da
cadeira que está vazia. Tem este modelo o objetivo de rentabilizar o tempo de aula,
levar os alunos a entrarem mais disciplinadamente na sala e melhor memorização dos
nomes dos alunos pelos colegas e pelos professores. Sempre o aluno deve ser chamado
pelo seu nome. Nas atividades de equipe o professor pode mudar os alunos de acordo
com a metodologia que quiser seguir (SEDUC-CE, 2010).
O mapa de sala se configura na disposição dos alunos, no espaço da sala de aula, sob a
organização negociada entre os alunos e professores, e deverá ser observado e cumprido por
todos, no cotidiano da sala de aula, podendo ser (re)negociado quando os envolvidos nessa
dinâmica sentirem necessidade. No que se refere ao “mapeamento de sala”, como denominado
pelos sujeitos, assim como, com todos os instrumentais propostos inicialmente pelo PPDT, que
foram reconfigurados para atender à realidade brasileira. Com relação às referidas alterações
realizadas nos instrumentais e adequação das metodologias, destaca-se a fala deste excerto:
Também eles (DT) ajudam a gente a ser educados né!? A aula de formação cidadã,
formando cidadãos né!? Fazendo da gente alguém que tenha um pensamento
diferente, aí tipo... pessoas que usam drogas, que bate na namorada... a pessoa que
mude de opinião, de ideia e seja uma pessoa melhor (AEB 2, 2015).
guardada em armário no espaço em que a escola reservar para a direção de turma. Este
dossiê é para ser consultado pelo núcleo gestor, professores da turma, supervisor,
superintendente ou outras pessoas superiormente hierárquicas e analisado pelo diretor
de turma sempre que necessário e no atendimento aos pais de cada discente ou
responsáveis pela educação. É nessa pasta que se colocam todos os instrumentais que
nos vão levar ao conhecimento de cada aluno. A capa deve ser dividida por
separadores elaborados em papel colorido 40 quilos por onde se distribuem os
respectivos instrumentais (SEDUC-CE, 2010, p. 6).
No interior da pasta, os documentos são categorizados por temáticas e, para tal existe
um conjunto de separadores, assim também denominados na EP. O conjunto de separadores
utilizados na rede pública estadual de ensino no Ceará, estão determinados em: I. Identificação
da turma; II. Calendário; III. Registro fotográfico dos alunos; IV. Mapa da turma; V.
Caracterização da Turma; Horário e relação da Turma; VII. Ficha biográfica; VIII. Registro de
faltas; IX. registro de atendimento (pais e alunos); X. Registro de ocorrências; XI.
Convocatória: XI.1. Convocação do representante de pais; XII. Atas; XIII. Coleta de
informações; XIV. Avaliação; XV. Projetos da turma; XVI. Legislação vigente (SEDUC-CE,
2010).
Não se pode afirmar com certeza, embora tenham sido feitas análises dos documentos,
o estudo das referências bibliográficas convocadas, as observações realizadas no campo
empírico, apontam na direção de uma tentativa de reprodução dos textos e discursos, de um
contexto para outro, por parte dos atores interessados na consecução da política educativa, no
espaço, tempo e lugar que se analisa neste estudo, ou seja, o PPDT na escola pública cearense,
porém, se observa significativas aproximações. Nessa significação, realça-se o discurso da
Consultora Externa Portuguesa (CEP), investida do mandato de especialista educacional sobre
o assunto:
Pronto, eu levava uma série de documentos para serem estudados e serem adaptados
à realidade do Ceará. Hmmm, sim era… alguns eram do sistema educacional
português, mas já adaptados à minha maneira aqui, portanto eu já dentro da minha
sala de aula já fazia a documentação… já era diferente, já não era rígida como vinha
na Lei de Bases do 115. Os meus eram já diferentes… eu tinha um dossiê onde eu
fazia, baseado em alguns estudos que fiz de psicologia, em psicologia aplicada e
mesmo com o estudo e contato, eu tinha bastante contato com Dr. Juan Casassus, esse
tal psicólogo e sociólogo chileno. Portanto, eu já tinha uma série de documentação,
de instrumentos que eram… seguiam um pouco a linha dos portugueses, mas eu
modificava-os, ou seja, adaptava-os a cada turma. Cada ano era diferente! Portanto,
eu ia adaptando à realidade que eu tinha dentro da sala, daí eu ter levado para lá e
verificar que a realidade do Ceará era diferente da realidade portuguesa, e então, em
grupo com vários professores fizemos, adaptamos os instrumentos que eu levei daqui
à realidade do Ceará e depois foram sempre também adaptando mais (CEP, 2016).
Com base nos discursos dos atores responsáveis pela interpretação do projeto em tela
como “processo político institucional, uma estratégia, uma ‘cadeia de gênero’, um processo de
160
Entre o texto e o discurso, na voz dos atores em atuação, verifica-se uma preocupação
com a explicitação da utilidade de cada instrumental para afastar a impressão do trabalho
burocrático desnecessário, como argumenta o (a) CRPPDT (2016),
serve. Porque é isso que a gente considera essencial, sair desse campo de construir um
instrumental de forma burocrática, ou seja, construir algo que ninguém vá utilizar.
Então, nosso maior desafio hoje é mostrar para todos os professores diretores de
turma, qual é a funcionalidade de cada um, e o desafio maior ainda é mostrar que
aqueles instrumentais aí, que eles não são só obrigação dos diretores de turma. Então,
a gente ganhou muito quando a gente começou a fazer essas formações deixando bem
claro: esse grupo de instrumentais aqui é para o gestor, esse grupo aqui é para o
professor, esse grupo de instrumentais aqui são para os alunos, esse grupo aqui é para
o diretor de turma. Então o papel do diretor de turma é mais organizar e avaliar o
dossiê do que propriamente construir, e aí a gente começa a ter um projeto diretor de
turma exequível e com uma maior aceitabilidade, com maior efetivação (CRPPDT,
2016).
Verifica-se que a construção do dossiê de turma não é vista como atividade necessária,
portanto, se explica o fato de ser um desafio convencer os professores da importância do
preenchimento dos inúmeros “instrumentais”, propostos na metodologia do PPDT, dado que os
discursos dos PDT, por vezes, revelam que tal atribuição chega a ser vista como burocrática,
aspecto também observado na realidade portuguesa.
O conselho de turma trata-se “de um nível para onde convergem elementos tão
importantes como o agrupamento de alunos e dos professores, o acompanhamento, orientação
e avaliação dos alunos, a coordenação interdisciplinar, as relações com os encarregados de
educação, etc.” (LIMA, 1986, p.7), aspectos que se observa transferidos no “plano das
orientações para a ação” para o contexto da escola brasileira, onde se encontra em atuação o
PPDT, onde se percebe a manutenção de “um aspecto particular da sua organização e das suas
funções - as reuniões de avaliação do rendimento escolar dos alunos em final de período
lectivo” (LIMA, 1986, p. 7).
No texto que orienta o PPDT, a chamada pública para adesão ao projeto professor diretor
de turma (SEDUC-CE, 2010), no item 11, onde é simulada uma reunião intercalar de conselho
de turma, de acordo com a pauta que segue:
I. Pauta da Reunião PONTO 01: Informações do núcleo gestor PONTO 02: Entrega
de instrumentais aos professores da turma PONTO 03: Análise e reflexão com os
representantes dos pais e dos alunos sobre a dinâmica da turma PONTO 04:
Caracterização da turma PONTO 05: Avaliação intercalar da turma PONTO 06:
Outros assuntos (SEDUC-CE, 2010, p. 14).
162
Finalmente, o presidente da reunião solicita ao representante dos pais e aos alunos que
avaliem a importância de sua participação na reunião. Apesar do constrangimento
provocado pela avaliação dos professores, na presença dos mesmos, normalmente, os
alunos sentem-se bastante satisfeitos, pela oportunidade de expressar sua opinião a
respeito da dinâmica das aulas e da conduta dos alunos, assim como pela oportunidade
de espaço para que façam suas reivindicações. Quanto aos representantes de pais,
alegram-se por saber que a escola está dando vez e voz aos alunos e aos pais, na busca
de realizar um trabalho mais eficiente (SEDUC-CE, 2010, p. 14).
A gente ia para uma formação que ... (CEP) colocava pra gente o passo a passo. A
pauta do conselho de turma da realidade de Portugal, ela não... não... não se adequava
a realidade do nosso conselho de turma, onde todos os meninos ficavam na escola, os
professores ficavam no conselho e quem ficava com os meninos? Os nossos meninos
ainda não estavam acostumados a protagonizar numa sala de aula sozinhos! Então,
ficava todo tempo gente saindo, os gestores horrorizados com essa história de ter de
tirar todos os professores de sala e quem vai ficar com os meninos? (CRPPDT, 2016).
163
Com base na fala citada, pode se considerar o que se verifica ao longo da análise, ou
seja, que no “plano das orientações para a ação” houve uma tentativa de transferência das
orientações existentes no sistema educativo português, usado como inspiração. Entretanto, no
“plano da ação”, a atuação dos sujeitos envolvidos (re)interpreta, traduz e (re)contextualiza o
que supostamente deveria ser posto em prática, conforme as orientações, aspectos que não
configuram a redução da importância dada ao órgão do conselho de turma, em análise.
Nesse sentido, compete distinguir a importância dada ao conselho de turma, nos
discursos dos discursos dos atores sociais envolvidos nas arenas de atuação, do objeto estudado,
o DT. Os excertos dos discursos foram sublinhados aleatoriamente entre as duas realidades,
embora os destaques tenham início com discursos da realidade brasileira, posto que, se trata
objetivamente da construção significativa, que procurou desvelar neste estudo. Desse modo, o
primeiro excerto sobre a temática do conselho de turma trata-se da fala do Primeiro
Coordenador Estadual do Projeto Professor Diretor de Turma (PCEPPDT):
Uma das práticas pedagógicas estruturantes desse modelo de gestão desse projeto são
as reuniões de conselho de turma e essas reuniões elas contribuem para que a
comunidade escolar consiga alcançar com um nível de profundidade maior, as
especificidades de cada estudante, (...) a maneira como cada docente põe em prática
as suas ações pedagógicas em sala de aula. (...) as reuniões do conselho de turma, se
caracterizam como uma das principais práticas pedagógicas do professor diretor de
turma. Então, nesses encontros a gente primeiro conhece melhor os sujeitos, segundo
são traçadas metas pedagógicas, práticas pedagógicas para desenvolver o desempenho
acadêmico dos estudantes e termina: fortalecendo os laços as interações entre os
sujeitos dali. Os professores se percebem no outro, os professores fazem uma auto
avaliação. Então, a sua prática é avaliada pelos estudantes, então é um momento de
interação muito importante que termina contribuindo para melhoria das relações, dos
laços aí entre os diferentes segmentos da comunidade né! (PCEPPDT, 2016, grifo
nosso).
O Conselho de Turma, quando reúne para avaliar o rendimento escolar dos alunos, é
composto por todos os professores da turma e é presidido pelo Director de Turma (que
é também um professor da turma). Tratando-se de uma reunião de avaliação, a
legislação estabelece que o aluno delegado da turma não poderá estar presente. Não
se tratando de uma reunião de cáracter disciplinar, também não participarão um
segundo aluno da turma e um representante dos encarregados de educação, nem será
o Presidente do Conselho Directivo a presidir à reunião.
164
O trabalho de Lima (1986), citado, embora tenha mais de trinta anos da sua publicação
mantém-se atual, posto que, as diretrizes sobre o DT no sistema educativo português, pelo que
se observou, sofreram ao longo dos anos poucas alterações, posto que, as incursões realizadas
no campo de estudo revelaram que as determinações para a composição do conselho de turma
permanecem as mesmas.
Nessa direção, verifica-se, no artigo 37, do Regimento Interno 2014/2018 do
agrupamento de escolas do qual a escola onde foi realizado o estudo de caso, em Portugal, faz
parte, acentua-se a importância da composição do conselho de turma:
Conforme se pode analisar, entre a análise de Lima (1986) e o excerto acima citado, a
composição do conselho de turma se mantém com a mesma composição. Entretanto, nas
reuniões do conselho de turma, observadas no trabalho de campo em diferentes momentos do
ano, não foi registrada a participação de delegados de sala e nem de representantes de pais e ou
encarregados de educação.
Subscreve-se, com a opinião de Lima (1986), ao afirmar que a turma se caracteriza um
nível elementar, contudo, nuclear na organização de ensino, consoante seus termos:
Quer isto dizer que a turma parece constituir um nível privilegiado para a necessária
coordenação pedagógica e interdisciplinar, para a solução de problemas disciplinares,
para o contacto entre as escolas e os pais e encarregados de educação dos alunos, e
para muitos outros aspectos relacionados com as implicações pedagógicas da selecção
e gestão de espaços, elaboração de horários, etc. (LIMA, 1986, p. 9).
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
tal cargo no contexto de sua origem à atualidade? Como se deu a trajetória do Projeto Professor
Diretor de Turma em todos os contextos de atuação nas escolas públicas estaduais regulares de
ensino cearense, no marco temporal de 2011 a 2014? e Quais as aproximações e
distanciamentos das significações do cargo/função de diretor de turma entre os dois contextos,
Brasil e Portugal?
Os dados analisados no decorrer deste estudo sob a lente do quadro teórico-analítico do
ciclo contínuo de políticas – contexto da influência, contexto da produção do texto, contexto da
prática, contexto dos efeitos/resultados e contexto da estratégia política – e a perspectiva da
escola como organização educativa, de que se lançou mão para interpretar as evidências
encontradas neste empreendimento investigativo, revelam, neste estágio, as percepções
factíveis, explicitadas neste relatório de tese, embora se tenha consciência de que esta se trata
de uma contribuição momentânea e não um ponto final para a análise do objeto estudado. Feitas
estas considerações iniciais, segue-se com as conclusões, para a finalização deste trabalho, que
se afigura como um marco inicial para novas possibilidades de reflexão sobre a temática
estudada, em outros espaços, acadêmicos ou não.
Considera-se a importância da contribuição deste estudo e se admite o reconhecimento
das suas possibilidades, sobretudo, no que se refere à análise dos dados recolhidos no campo
empírico. Nesse sentido, a primeira distinção a ser feita diz respeito ao volume de dados
recolhidos, e apresentados, neste relatório de tese. Para o entendimento do percurso, resgata-se
que foi realizado um levantamento prévio on line no qual 480 (quatrocentos e oitenta)
professores da rede estadual de ensino responderam a um questionário, 21 (vinte e uma)
entrevistas semiestruturadas, 18 (dezoito) visitas na EB entre os meses de abril a agosto de
2016, e 38 (trinta e oito) visitas na EP, entre os meses de setembro de 2015 a julho de 2016. A
partir deste trabalho de investigação, foram reunidas 33 (trinta e três) páginas de notas de campo
e 171 (cento e setenta e uma) páginas de transcrições das entrevistas. Apesar do volume e
riqueza dos dados, o tempo exíguo determinado para um trabalho de tese, impõe ao pesquisador
fazer suas opções. No entanto, tal circunstância, não minora o valor do resultado aqui
apresentado, o qual, aponta-se para a capacidade de pesquisas a posteriori. A segunda distinção
consiste na observação de que as abordagens analíticas oferecem potencial para uma incursão
ao âmago das problemáticas que envolvem a política estudada, contudo, pelas mesmas razões
anteriores determinou-se que se buscassem respostas, apenas, para as questões específicas desta
pesquisa, o que se considerou uma escolha sensata para aqueles que se determinam a realizar
um trabalho de tese, mesmo que novas indagações tenham surgido no curso do trabalho.
167
índices, sobretudo, na última etapa da educação básica, o ensino médio. Nessa direção, os
depoimentos apontaram para o efeito/resultado positivo do PPDT, no esforço visível em
acompanhar sistematicamente de forma individualizada a frequência e o desenvolvimento da
aprendizagem de cada aluno. Entende-se que esta particularidade, se caracteriza como um
distanciamento da política educativa no Ceará/Brasil em relação a Portugal, visto que, no
sistema educativo português o DT é instituído na estrutura da organização escolar em 1968 no
Ciclo Preparatório do Ensino Secundário, − julga-se para efeito de entendimento, corresponder
ao ensino fundamental anos finais no Brasil −, com a preocupação de orientar a continuidade
dos estudos dos alunos no ensino secundário – o ensino médio na educação básica brasileira.
Acredita-se ser importante relembrar a reflexão sobre o fato de que a educação pública
estadual do Ceará tem suas bases inovadoras no contexto da reforma do Estado brasileiro
iniciada no final dos anos de 1980, e a reforma da educação que se desdobrou nos anos de 1990.
Nesse contexto, as políticas educacionais mobilizadas na educação cearense não foram somente
desdobramentos das políticas educacionais produzidas pelo governo federal, pois houve
associação concreta com os movimentos de abrangência global, posto que, as autoridades
políticas locais tinham influência junto aos organismos multilaterais, inclusive, quanto à
obtenção de empréstimos (LEITÃO, 2010; VIEIRA, 2007; ZIBAS, 2005, 2008). Nesse
meandro, se insere a perspectiva da política educacional em andamento nas escolas públicas
estaduais do Ceará, em diversas políticas educativas, projetos e estratégias para alcançar os
resultados exigidos dentro do modelo da performatividade que regula a educação brasileira.
Nos documentos da SEDUC-CE, embora desatualizados, mantém-se a matriz de GPR (gestão
por resultados), a agenda estratégica, planos setoriais, tecnologias de gestão, voltadas para a
gerência empreendedora da educação, posto que, na perspectiva da performatividade “as
organizações são ‘ativadas’ para pensar sobre elas de forma diferente, em termos de seu
desempenho ou em relação a ele” (BALL, 2014, p. 65).
Sobre as opções teóricas, ressalta-se que as perspectivas analíticas em que se ancorou
esta investigação, assentam-se na abordagem do ciclo contínuo de política (BOWE; BALL;
GOLD, 1992; BALL, 1994), na compreensão sobre política, como também, na interpretação,
tradução e atuação, como categorias presentes na trajetória de construção e atuação das políticas
(BALL; MAGUIRE; BRAUN, 2016), sobretudo para a educação, entre outros conceitos
importantes para a análise de políticas educativas, como é o caso da compreensão do que vem
a ser performatividade (BALL, 2014). Quanto às concepções da escola como organização
educativa, de Lima (1992, 2001) oferecem um potencial analítico para compreensão dos
objetivos e estrutura do objeto estudado, na essência das relações que se estabelecem na
169
dinâmica educativa, contudo, optou-se por entender a política educativa estudada entre o “plano
das orientações para a ação” e o “plano da ação”, procurando observar as articulações entre as
duas concepções teóricas.
O estudo de realizado pela pesquisadora no Instituto de Educação da Universidade do
Minho (UM), em Portugal, por ocasião do estágio científico avançado de doutoramento pelo
Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE), com foco sobre “a escola como
organização educativa” (LIMA, 1998, 2001), numa abordagem assentada à sociologia das
organizações educativas, exerceu sobre esta investigação forte influência na maneira de
direcionar o olhar analítico para a escola, tal como, a identificação e interpretação dos dados.
Identifica-se, nesse modelo de análise, a potencialidade para imergir nos objetivos e estruturar
o objeto estudado, contudo, fez-se a opção por analisar a política educativa do PPDT, sob a
abordagem do ciclo contínuo de política (BOWE; BALL; GOLD, 1992; BALL, 1994), com as
contribuições de Lima (1986, 1992, 2001, 2011) e Sá (1997), por serem estes estudiosos
reconhecidamente conhecedores da figura do DT, nos diferentes níveis da organização
educativa.
As contribuições do referido estágio de doutoramento versam, para além da academia,
com experiências vividas em diferentes espaços educativos, porém, ressalta-se a relevância do
trabalho de campo, realizado em uma escola de ensino secundário, no Norte de Portugal, no
período de setembro de 2015 a julho de 2016, para o entendimento da gênese, objetivo, estrutura
e representação do DT, no sistema educativo português. Tais dimensões revelam-se
substantivas, para a análise das significações construídas sobre o cargo/função de PDT, na
escola pública estadual do Ceará, tal como, conhecer a arqueologia das representações sobre o
DT no sistema educativo português, seu funcionamento no atual contexto para melhor analisá-
lo como política educativa, em outro contexto.
Portanto, considera-se esta compreensão sobre DT, no contexto português, como
significativa, para a análise do PPDT, enquanto política educativa que propõe em seus
objetivos, “oferecer uma educação sustentável que contemple a formação cidadã do educando,
estimulando sua participação na vida social, com a tomada de consciência dos problemas que
afetam a humanidade” (SEDUC-CE, 2010, p. 1), para além de “manter a assiduidade dos
alunos, estimulando sua permanência na escola e elevando o grau de sucesso de aprendizagem”
(SEDUC-CE, 2010, p. 1), entre outros objetivos na direção articulação dos professores, alunos,
família, gestão e comunidade escolar para uma “educação que vise a excelência” (SEDUC-CE,
2010, p. 1). Objetivos estes que despertam, desde muito cedo, a atenção para esta política
educativa, por se tratar de uma proposta de inovação no campo educacional brasileiro.
170
diferença do acompanhamento diferenciado com ele, a preocupação de me ligar pra saber né,
quando o menino tinha feito a prova o dia, que ele dormiu um pouco a mais, para saber se ele
tinha tomado algum medicamento ou não […] (PMEB, 2015). São discursos como este que
levam a concluir que a comunidade considera a figura do DT importante na dinâmica
pedagógica do cotidiano da escola, nas vertentes de atuação relacionada ao desenvolvimento
acadêmico do aluno, ao controle disciplinar e da frequência e a relação da escola com a família.
Não obstante, compreende-se que as políticas são permeadas por tensões e resistências,
e que a atuação do PPDT, no contexto das escolas públicas cearenses, revela a existência de
descontinuidade na lotação do professor, no exercício do cargo/função de DT. Tal situação se
põe em evidência quando é registrada a presença de professores, em regime de contrato
temporário, desenvolvendo o cargo/função, como também, porque no momento de
reorganização do ano letivo, fazia-se necessário a substituição por um professor efetivo da rede,
e ou mesmo para complementação da carga horária sem a legítima adesão do sujeito à filosofia
da política educativa do PPDT.
Nesse processo de descontinuidade, percebe-se a falta de formação específica, para o
desempenho do cargo/função de DT, embora os coordenadores escolares sejam os sujeitos
indicados para realizarem tais formações, no cotidiano das ações pedagógicas no âmbito da
escola. A não efetiva adesão à filosofia proposta pelo PPDT, por parte de alguns professores
que ocupam o cargo/função, resulta, consequentemente, no cumprimento, somente, das ações
monitoradas, ou seja, em relação aos aspectos burocráticos que compõem o dossiê de turma.
Os PDT se queixam de que não existe o reconhecimento e a valorização, nem tampouco
compensações financeiras, por parte do Governo, pelo desempenho do cargo/função. Nos
discursos políticos, os sujeitos argumentam que “temos a inexistência de uma política de
valorização, de reconhecimento do profissional professor diretor de turma, daquele que exerce
a função de professor diretor de turma [...]” (PCEPPDT), e explicitam que anseiam por “[...]
uma espécie de política de valorização para os professores diretores de turma [...]” (PCEPPDT),
visto que, “[…] não existe nenhum tipo de incentivo financeiro, […] não existe um suporte do
ponto de vista formativo […]” (PCEPPDT), pois os atores entendem que “[...] o professor
diretor de turma é um mediador de conflitos por excelência […]” (PCEPPDT), pois são
investidos da função de gestor intermediário63, intraescola, e entre escola e comunidade.
As tensões que envolvem a atuação do PPDT, na escola cearense, se estendem para a
preocupação com a continuidade da política por parte dos sujeitos, posto que, não existe uma
63
Ver Sá (1997).
174
análise, deste objeto, limites estes, inerentes à investigadora, que perseguiu, prioritariamente, o
exame dos objetivos definidos, como balizadores para o percurso do estudo. Nesse sentido,
embora se tenha procurado lançar o olhar com flexibilidade, para enxergar o que não estava
posto na superfície, admitem-se possíveis lacunas, nas interpretações das significações escusas,
sobre a política educativa.
176
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248 p. ISBN 9788577806553.
4. Programa Escola Que Programa Objetivo do programa Escola que Protege do São atendidos os municípios que incluírem o tema
Protege/Comissões - Lei Estadual - Governo Federal/Secretaria de Educação da promoção e a defesa, no contexto escolar, dos
PETECA Nº 13.230 Continuada, Alfabetização e Diversidade-SECAD direitos de crianças e adolescentes e
Recomendaçã é prevenir e romper o ciclo da violência contra enfrentamento e prevenção das violências no seu
o do crianças e adolescentes no Brasil. Pretende-se, Programa de Ações Articuladas (PAR);
Ministério portanto, que os profissionais sejam capacitados apresentem baixo Índice de Desenvolvimento da
Público - para uma atuação qualificada em situações de Educação Básica (IDEB) ou fazem parte da
Nº06/2008 violência identificadas ou vivenciadas no ambiente Matriz Intersetorial de Enfrentamento da
escolar. Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
7. Luz do Saber: Infantil e Recurso O Luz do Saber Infantil é um recurso didático que Luz do Saber Infantil e EJA, atualmente
EJA Didático tem por objetivo contribuir para a alfabetização de disponibiliza cinco módulos: “Começar”, “Ler”,
crianças, além de promover a inserção na cultura "Escrever", "Karaokê" e o "Professor". O
digital. É um software de autoria embasado primeiro é composto por 10 atividades que visam
primordialmente, na teoria do educador Paulo a estimular através de jogos, o conhecimento dos
Freire. Considera também algumas contribuições fonemas e grafemas que compõem o nome do
de Emilia Ferreiro e AnaTeberosky acerca do aluno e, paralelamente, desenvolver as
processo de aquisição do código linguístico. competências necessárias ao uso do mouse e do
teclado.
O Luz do Saber EJA é um recurso didático que tem
por objetivo contribuir para a alfabetização de
jovens e adultos, além de promover a inserção na
cultura digital. É um software de autoria embasado
primordialmente, na teoria do educador Paulo
Freire. Considera também algumas contribuições
de Emilia Ferreiro e AnaTeberosky acerca do
processo de aquisição do código linguístico.
8. Transporte Escolar: Programa Tem por objetivo executar as ações de cooperações - Assegura o repasse de recursos para 100% (cem
Transporte dos alunos da com as redes municipais para viabilizar o transporte por cento) das prefeituras que assinaram o Termo
rede estadual e Programa escolar dos alunos da rede estadual de ensino. de Responsabilidade no ano de 2011;
de renovação da frota - Capacita 100% (cem por cento) dos técnicos
estaduais e municipais responsáveis pelo sistema
de acompanhamento do Transporte Escolar nos
municípios que formalizarem o Termo de
Responsabilidade 2011;
- Apoia tecnicamente 100% (cem por cento) dos
municípios que participarem do processo de
adesão ao Programa Caminho da Escola para
assegurar a aquisição de veículos escolares.
- Assegura 100% da doação dos veículos
adquiridos pelo Estado aos municípios que
fizeram adesão ao Programa, na mesma
187
Escola e a SEDUC, servindo de base para a comissão de Diretor das escolas públicas
redefinição, junto à comunidade escolar, dos estaduais do Ceará, inicia se o processo de
instrumentos de gestão da Escola. nomeação e posse dos diretores escolares.
15. Prêmio Aprender Pra Lei 14.484/08 Reconhecer o mérito nas escolas da rede pública de Consiste na premiação do quadro funcional de
Valer, destinado ao quadro de outubro de ensino do Estado que alcançaram as metas anuais todas as escolas que alcançarem as metas anuais
funcional das escolas da 2009 de evolução da aprendizagem dos alunos. de evolução da aprendizagem dos alunos do
rede estadual de ensino ensino médio, definidas pela Secretária da
Educação do Estado do Ceará – SEDUC, tendo
por referência os resultados do Sistema
Permanente de Avaliação da Aprendizagem –
SPAECE.
16. Sistema Permanente de Política de Fornecer subsídios para formulação, reformulação O Governo do Estado do Ceará, por meio da
Avaliação da Educação avaliação e monitoramento das políticas educacionais, além Secretaria da Educação (SEDUC), vem
Básica (SPAECE) externa de possibilitar aos professores, dirigentes escolares implementando, desde 1992, o Sistema
e gestores um quadro da situação da Educação Permanente de Avaliação da Educação Básica do
Básica da Rede Pública de ensino. Ceará - SPAECE.
A SEDUC ampliou, a partir de 2007, a
abrangência do SPAECE, incorporando a
avaliação da alfabetização e expandindo a
avaliação do Ensino Médio para as três séries de
forma censitária.
Política que foi aprimorada tornando-se censitária
e como base de premiação e seleção para
participação de projetos.
17. Professor Aprendiz Lei 14. Incentivar professores da rede a colaborarem com Realizada por cada CREDE/SEFOR
190/30 de o programa, em caráter especial, na produção de
julho de 2008 material didático pedagógico, na formação e
treinamento de outros professores e na publicação
de suas experiências e reflexões.
18. Preparação, Rumo ao Projeto O Projeto Preparação Rumo ao Ensino Médio foi
Ensino Médio Com o objetivo de potencializar a entrada no concebido em 2009, pela Secretaria de Educação
Ensino Médio. do Estado do Ceará, voltado para o 9º Ano do
190
APÊNDICE B – Quadro síntese das produções acadêmicas sobre o projeto diretor de turma EM ANDAMENTO no Estado do Ceará
(2007-2017)
DIRETOR DE TURMA Prof. Dr. Roberto Perobelli Protagonismo Juvenil. em Gestão de ui/bitstream/handle/ufjf/3068/franci
NA GESTÃO DO de Oliveira Relação Escola- Avaliação da scoauriceliorodriguesdias.pdf?sequ
PROTAGONISMO Família. Clima Escolar Educação Pública no ence=1&isAllowed=y>. Acesso em
JUVENIL E DA Programa de Pós- 12 de dezembro de 2016.
RELAÇÃO ESCOLA- Graduação
FAMÍLIA: O CASO Profissional da
DA EEM JOÃO Universidade Federal
ALVES MOREIRA, de Juiz de Fora –
EM ARACOIABA-CE Defesa em 20 de julho
de 2016.
12. CONSTITUINTES Ms. Emanuel Kaúla Santos Mediação pedagógica. Dissertação Disponível em <
DE UMA PRÁXIS DE Machado Saberes docentes. apresentada ao Curso http://www.uece.br/ppge/dmdocum
MEDIAÇÃO Prof. Ph.D. Jacques Saberes da de Mestrado ents/Disserta%C3%A7%C3%A3o
PEDAGÓGICA DO Therrien. experiência. Formação Acadêmico em %20EMANUEL%20KA%C3%9A
PROFESSOR na práxis. Práxis Educação do LA%20SANTOS%20MACHADO.
DIRETOR DE TURMA pedagógica. Programa de Pós- pdf.pdf>. Acesso em 14 de julho de
Reflexividade. Graduação em 2017.
Educação do Centro de
Educação da
Universidade Estadual
do Ceará, como
requisito parcial à
obtenção do título de
Mestre em Educação.
Área de Concentração:
Formação de
Professores – Defesa
em 3 de fevereiro de
2017
Fonte: a autora (2014, 2017).
196
3. Você conhece o Projeto Professor Diretor de Turma em andamento nas escolas públicas
estaduais cearenses? (Utilize o espaço em branco do lado direito para justificar a sua resposta)
( ) Sim
( ) Não
( ) Mais ou menos
( ) Outro
4. Se você conhece o Projeto Professor Diretor de Turma em andamento nas escolas do Ceará,
diga o que acha da referida política educacional. (Utilize o espaço em branco do lado direito
para justificar a sua resposta).
( ) Regular
( ) Bom
( ) Ótimo
( ) Outro
5. Quando teve início o Projeto Professor Diretor de Turma nas escolas públicas estaduais
cearenses? Por favor, comente o que você sabe sobre a origem deste projeto na educação
cearense.
6. O Projeto Professor Diretor de Turma tem documentos que orientam sua execução nas
escolas e salas de aula?
( ) Sim
( ) Não
( ) Não sei
8. Você considera que houve adaptação entre as orientações do PPDT e sua implantação na
escola e na sala de aula? (Utilize o espaço em branco do lado direito para justificar a sua
resposta).
( ) Sim
( ) Não
( ) Mais ou menos
( ) Outro
198
9. Você sabe como teve origem Projeto Professor Diretor de Turma na educação cearense?
Quais são as influências e tendências presentes na política investigada (PPDT)?
10. Você considera que o Projeto Professor Diretor de Turma apresenta impacto para a
educação cearense?
( ) Sim
( ) Não
( ) Não sei
11. Os impactos do Projeto Professor Diretor de Turma para o contexto da educação cearense
são mais fortes para o segmento. (Utilize o espaço em branco do lado direito para justificar a
sua resposta).
( ) Dos alunos
( ) Dos professores
( ) Da gestão escolar
( ) Da família
12. Você considera importante a continuidade do Projeto Professor Diretor de Turma para o
contexto da educação cearense? (Utilize o espaço em branco do lado direito para justificar a sua
resposta).
( ) Sim
( ) Não
( ) Mais ou menos
( ) Não sei
a) Idade: _______
b) Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
c) Estado civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Divorciado ( )Viúvo
d) Religião: ( ) Católico ( ) Evangélico ( ) Espírita ( ) Não tenho religião ( ) Outro
e) A escola em que você trabalha se localiza na zona urbana ou rural?
( ) Urbana ( ) Rural
199
Participante:
( ) Coordenador (a) Estadual do Projeto Professor Diretor de Turma (CEPPDT)
( ) Coordenador (a) Regional do Projeto Professor Diretor de Turma (CRPPDT)
( ) Coordenador Escolar que acompanha o Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT)
( ) Professor Diretor de Turma (PDT)
( ) Professor Não Diretor de Turma (PDT)
PREENCHA OS DADOS
SEDUC ( ) CREDE: ( ) Cidade: _____________________
SEFOR − REGIÃO: ( ) Cidade: Fortaleza
Escola: ____________________________________________________________________
Série: ________ Turma: ______ Turno: ________
Data da realização:____/____/____
2. Quais são as influências e tendências você considera presentes no Projeto Professor Diretor
de Turma? Por que surgiu tal política educacional no estado do Ceará/Brasil e em que contexto?
Participante:
PREENCHA OS DADOS
PESQUISADOR:
Vagna Brito de Lima
201
Participante:
Coordenador do Conselho de Diretores de Turmas no Ensino Secundário
PREENCHA OS DADOS
Cidade: _____________________
Data da realização:____/____/____
6. Você considera o cargo de CDT importante para a comunidade escolar e para a comunidade
educativa? Por que?
7. Dentre as várias atribuições do CDT, quais as três que considera mais importantes para a
organização escolar? Por quê? No cotidiano, quais as atividades específicas do cargo de CDT?
8. De acordo com o estabelecido na alínea e), do artº 35º do RI deste Agrupamento, o CDT, no
final do ano, deve apresentar ao diretor um relatório crítico do trabalho desenvolvido. Em que
consiste esse Relatório? Que elementos deve incorporar? Acha útil a elaboração desse
Relatório?
Há alguma coisa mais que considere importante sobre o Diretor de Turma e que queira
acrescentar?
PESQUISADORA:
Vagna Brito de Lima
203
Participante:
Diretor
PREENCHA OS DADOS
Cidade: _____________________
Data da realização:____/____/____
muito recentemente e começou por ser introduzida no ensino secundário. Acha que a figura do
Diretor de Turma é mais indispensável no ensino básico ou no ensino secundário?
Como referi antes, o DT foi introduzido no sistema educativo português há cerca de 50 anos.
Desde a instituição do cargo até ao presente houve mudanças significativas nas suas
atribuições? Se sim, o que de mais relevante mudou?
6. Pela experiência que tem como Diretor, como reage a maioria dos professores quando são
designados diretores de turma: i) ficam entusiasmados e sentem-se honrados com a escolha? ii)
Aceitam com alguma resignação, pois reconhecem que alguém tem de ser? iii) Protestam
porque acham que vão ter muito trabalho e pouco reconhecimento?
Há alguma coisa mais que considere importante sobre o Diretor de Turma e que queira
acrescentar?
PESQUISADORA:
Vagna Brito de Lima
205
Participante:
Professor Diretor de Turma
PREENCHA OS DADOS
Cidade: _____________________
Data da realização:____/____/____
DESIGNAÇÃO DO CARGO
1. Segundo o Regulamento Interno deste agrupamento de escolas, o Diretor de Turma é
designado anualmente pelo Diretor . Desde quando é DT desta turma?
2. Ainda, conforme o Regulamento Interno deste agrupamento de escolas os requisitos para
designação do Diretor de Turma incluem, entre outros, possuir um“perfil adequado para o
desempenho da função”. Na sua opinião, quais devem ser os principais traços desse perfil? Se
lhe solicitassem que, entre as várias atribuições do cargo que exerce, selecionasse três, quais
elegeria? Quais as razões dessa seleção?;
3. O exercício do cargo Diretor de Turma lhe dá o direito a uma redução na componente letiva.
Para além desse benefício, você considera que há outras vantagens em exercer o cargo de
Diretor de Turma? Quanto à redução da componente letiva para o exercício do cargo de Diretor
de Turma, considera-a apropriada ou insuficiente? O facto de ter sido designado/a pelo Diretor
para exercer o cargo de Diretor de Turma constituiu para si um motivo de orgulho?
4. Pela experiência que tem, como reage a maioria dos professores quando são designados
diretores de turma: i) ficam entusiasmados e sentem-se honrados com a escolha? ii) Aceitam
com alguma resignação, pois reconhecem que alguém tem de ser? iii) Protestam porque acham
que vão ter muito trabalho e pouco reconhecimento?
5. Como aprendeu a ser Diretor de Turma? Frequentou alguma formação específica? Quem o
orientou da 1ª vez que exerceu o cargo de DT? Acha que é importante uma formação
especializada para Diretores de Turma?
5. Você considera sua atuação do Diretor de Turma importante para a comunidade escolar e
para a comunidade educativa? Por que? E você gosta de exercer o cargo de Diretor de Turma?
Se lhe fosse permitido escolher, optaria por ser DT?
Há alguma coisa mais que considere importante sobre o Diretor de Turma e que queira
acrescentar?
PESQUISADORA:
Vagna Brito de Lima
207
Participante:
Pai/Mãe e ou Encarregado de Educação
PREENCHA OS DADOS
Cidade: _____________________
Data da realização:____/____/____
DESIGNAÇÃO DO CARGO
1. Na sua qualidade de Pai/Mãe e ou encarregado de educação, você conhece como é o
procedimento de designação do Diretor de Turma da turma do seu filho dentre os demais
professores? Na sua opinião, como você acha que deveria ser o procedimento de designação do
Diretor de Turma? Considera que os pais/EE também deveria ser ouvidos neste processo?
2. Conforme o Regulamento Interno deste agrupamento de escolas, os Diretores de Turma
devem ser designados de entre os professores que “apresentem perfil adequado para o
desempenho da função” (RI art. 39, p. 33). Na sua opinião, qual é o “perfil ideal” que um
professor deve ter para o desempenho da função de Diretor de Turma? Você considera que
todos os professores têm o perfil adequado para exercer o cargo de Diretor de Turma?
O DT dispõe de uma hora semanal para atender os pais/EE. Qual a relevância deste tempo
semanal? Esse tempo de atendimento é regularmente aproveitado pelos pais/EE?
6. O que aponta como contribuições fortes e fracas da atuação do Diretor de Turma para a
educação dos alunos no contexto escolar? E na relação com a família?
7. Se não houvesse Diretores de Turma, o que de relevante mudaria neste agrupamento?
8. Na sua opinião como os estudantes/alunos veem o papel do Diretor de Turma?
9. Habitualmente, quando se desloca à escola para se reunir com o Diretor de Turma, fá-lo por
iniciativa própria ou porque foi convocado pelo DT? Quais costumam ser os assuntos tratados?
10. É habitual ouvir-se dizer: “os pais só são chamados à escola quando há ‘problemas’
(comportamento, aproveitamento, assiduidade)”. Isto também acontece neste Agrupamento?
Os DT costumam chamar os pais à escola também para lhe dar “boas notícias”? Já aconteceu
consigo?
Há alguma coisa mais que considere importante sobre o Diretor de Turma e que queira
acrescentar?
PESQUISADORA:
Vagna Brito de Lima
209
Participante:
Aluno/Aluna
PREENCHA OS DADOS
Cidade: _____________________
Data da realização:____/____/____
DESIGNAÇÃO DO CARGO
1. Na sua qualidade de Aluno/Aluna, você conhece como é o procedimento de designação do
Diretor de Turma para a sua turma, dentre os demais professores que lecionam? Na sua opinião,
como deveria ser o procedimento de designação do Diretor de Turma?
2. Qual o ano de escolaridade que frequenta? Há quantos anos tem o mesmo DT?
3.. Gostaria de escolher o seu Diretor de Turma? Justifique sumariamente a sua resposta.
4. Conforme o Regulamento Interno deste agrupamento de escolas, o professor a designar para
o cargo de Diretor de Turma deve possuir um “perfil adequado para o desempenho da função”.
(RI art. 39, p. 33) ”. Na sua opinião, qual o perfil adequado para o desempenho da função de
Diretor de Turma? Você considera que todos os professores da turma têm o perfil adequado
para exercer o cargo de Diretor de Turma?
IMPORTÂNCIA E ATRIBUIÇÕES DO DT
5. De acordo com seu entendimento sobre o trabalho realizado pelo Diretor de Turma, você
considera esse cargo importante para a sua educação? Porquê?
6. Quais os aspectos mais relevantes do trabalho do Diretor de Turma?
14. Se não houvesse Diretores de Turma, o que de relevante mudaria neste agrupamento?
7. Quando o DT pretende enviar alguma mensagem para os vossos pais como é que procede?
8. Na sua opinião, a maioria dos alunos gosta que os seus pais venham à escola com regularidade
para dialogar com o DT?
10. Em sua opinião, como se caracteriza a relação entre o Diretor de Turma e os demais
professores da sua turma?
9. A vossa relação com o diretor de turma e com os outros professores da turma é igual ou há
diferenças? Se sim, quais?
11. Quanto ao Conselho de Turma, você como aluno delegado da turma, costuma ser convidado
para participar das reuniões? De quantas reuniões participou desde o início deste ano? Quais os
assuntos mais debatidos nessas reuniões? Você considera como um momento importante para
a resolução dos problemas dos alunos, das famílias e da escola? Justifique sumariamente a sua
resposta.
12. O que você pode apontar como contribuições fortes e fracas da atuação do Diretor de Turma
para a educação dos alunos no contexto escolar? E na relação com a família?
13. Se você fosse descrever o papel do Diretor de Turma em relação a vocês estudantes, como
você descreveria?
14. Se não houvesse Diretores de Turma, o que de relevante mudaria neste agrupamento?
Imagina que durante um dia você tem o poder total na organização da escola, o que efetivamente
mudaria no cargo do Diretor de Turma?
Há alguma coisa mais que considere importante sobre o Diretor de Turma e que queira
acrescentar?
PESQUISADORA:
Vagna Brito de Lima
211
Créditos
Elaboração: Haidé Eunice Gonçalves Ferreira Leite (Consultora para implantação do projeto)
Revisão: Conceição Ávila
Fonte: SEDUC-CE (2014).
248
1 57 487 481
2 41 467 472
3 20 160 161
4 15 163 155
5 31 232 231
6 47 456 458
7 16 231 214
8 21 212 212
9 16 239 243
10 24 231 235
11 13 126 124
12 18 253 253
13 28 315 317
14 13 133 134
15 11 106 108
16 17 177 178
17 15 136 138
18 26 263 268
19 27 339 343
20 21 179 184
SEFOR 1 43 429 419
SEFOR 2 50 532 487
SEFOR 3 55 583 562
TOTAL 625 6449 6377
Fonte: SEDUC-CE (2017).