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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

VAGNA BRITO DE LIMA

PROFESSOR DIRETOR DE TURMA: um estudo entre Brasil e Portugal acerca de


uma política educativa do estado do Ceará

JOÃO PESSOA
2017
VAGNA BRITO DE LIMA

PROFESSOR DIRETOR DE TURMA: um estudo entre Brasil e Portugal acerca de


uma política educativa do estado do Ceará

Texto de tese para defesa apresentado ao Programa de Pós-


Graduação em Educação do Centro de Educação da
Universidade Federal da Paraíba (PPGE/UFPB) na linha de
pesquisa: Políticas Públicas e Práticas Educativas, como
exigência institucional para a obtenção do grau de Doutora
em Educação.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Zuleide da Costa Pereira


Co-Orientador: Prof. Dr. Virgínio Isidro Martins de Sá

JOÃO PESSOA
2017
Dedico:

Aos meus pais, Selisvaldo Pereira Lima e


Izaura Maria de Brito Lima, pela grandeza da
sabedoria construída no cotidiano da zona
rural, no sertão do Nordeste brasileiro, pela
capacidade de inspirarem os seis filhos a
buscar no conhecimento o comprometimento
com a luta por um mundo melhor.
Aos meus irmãos Célio, Régis e Selisvaldo
Filho. Minhas irmãs Vanúzia e Verônica. Meus
sobrinhos Rafael e Renzo. Minha sobrinha
Flora. Meu cunhado Ivan Souza. Minha
cunhada Adalgisa. Pessoas que tornam minha
vida mais significativa.
Aos professores comprometidos com a
qualidade social da escola pública do Ceará,
do Brasil, que estiveram comigo no pensamento
e no desejo de construir uma escola pública de
boa qualidade para aqueles que mais precisam.
AGRADECIMENTOS

A Deus, força suprema que me conduz nos caminhos que devo percorrer, mesmo quando
me sinto sem norte.
Ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba
(PPGE-UFPB), João Pessoa-BR.
Ao Instituto de Educação da Universidade do Minho (IE-UMINHO), Braga-PT.
A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira/PPGE
da Universidade Federal da Paraíba/UFPB, pela grandeza dos seus ensinamentos investidos no
crescimento daqueles que têm a oportunidade de tê-los como mestres.
À Secretaria da Educação do Estado do Ceará (SEDUC/CE-BR).
Aos colegas de turma n. 34 do Doutorado em Educação/PPGE/UFPB 2014, pela
construção coletiva do conhecimento nos debates travados em sala de aula.
Aos colegas do Curso de Mestrado em Ciências da Educação na área de Especialização
em Administração Educacional 2015/2016 (IE-UMINHO) Braga-PT, pelo diálogo profícuo
sobre o sistema educativo português.
Aos membros do Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Curriculares (GEPPC), por
me acolherem para a reflexão coletiva e permanente sobre as dinâmicas da pesquisa em políticas
educacionais, além do carinho e apoio nas horas necessárias.
À Professora Doutora Maria Zuleide da Costa Pereira, pela significativa orientação.
Ao Professor Doutor Virgínio Isidro Martins de Sá, pela significativa co-orientação.
Aos atores sociais que contribuíram para a construção da compreensão do objeto
estudado nesta investigação, sem a disponibilidade para o diálogo dos quais, pouco teria sido
revelado.
Ao Joaquim Renato Ferreira da Silva, pelo afeto alentador nas horas que nem ele próprio
sabia estar comigo.
A minha comadre Luzimar Fonteles, meu compadre Jaime Elisegaray, meus afilhados
Michel e Marcus Vinicius Elisegaray, que me acolheram tão prontamente em seu lar, em João
Pessoa-PB. Ao amigo Rafael Honorato e à amiga Veridiana Dantas, pelo mesmo motivo.
A todos os meus amigos, que são muitos! Por me amarem, torcerem por mim e
principalmente por permitirem que eu os ame.
RESUMO

O presente trabalho apresenta o relatório de tese da investigação realizada no âmbito do


Doutoramento em Educação no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) - Brasil, que teve como objetivo analisar a forma
como os atores da organização educativa − gestores, professores, alunos e pais −, apropriaram-
se das significações do cargo do professor diretor de turma, no contexto da escola pública
estadual regular cearense, no período de 2011 a 2014. No estudo, foi levado em consideração
que o cargo de diretor de turma instituído no Ceará-Brasil se inspira no cargo homônimo, criado
no sistema educativo português na década de 60 do século XX. Nesse sentido, a investigação
realizou dois estudos de caso, um no contexto cearense, e outro, no norte de Portugal. A política
educativa, intitulada Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT), está em atuação no âmbito
brasileiro precisamente nas escolas públicas estaduais regulares do Ceará-Brasil desde o ano de
2008, no sistema educativo português, o cargo encontra-se consolidado e regulamentado com
a nomenclatura, diretor de turma, desde o final de 1968. Ao analisar as continuidades e rupturas
do Diretor de Classe ao Diretor de Turma, Sá (1997) põe em evidência a “tríplice função” que
une os dois cargos, ainda que com uma hierarquização diferente das funções em causa. No
contexto da análise, a abordagem metodológica foi de natureza qualitativa, a estratégia de
investigação escolhida foi a do método de estudo de caso único (integrado e holístico), e os
instrumentos de recolha de dados utilizados foram pesquisas bibliográfica e documental,
questionário, observação não participante e entrevistas semiestruturada. Adotou-se como
modelo de análise o ciclo contínuo de políticas formulado por Richard Bowe, Stephen Ball e
Anne Gold (1992); Ball (1994, 2011), articulando-o com a perspectiva da escola como
organização educativa de Licínio C. Lima (1998, 2001). Assim, o referencial teórico procurou
articular a abordagem do ciclo das políticas, com as contribuições da sociologia das
organizações educativas, a partir das perspectivas de Ball (1992, 1994, 2002, 2004, 2011, 2013),
Lima (1986, 1998, 2001), Sá (1997), e de outras contribuições para a compreensão da escola
como organização educativa complexa. Vale ainda ressaltar que este trabalho constatou que o
PPDT, em sua trajetória, passou pelo processo de (re) interpretação e (re) contextualização, nos
diferentes contextos da política em atuação (contexto da influência, contexto da produção do
texto, contexto da prática, contexto dos resultados e efeitos e contexto das estratégias políticas).
Efetivamente, o PPDT resulta da “interpretação da interpretação” sobre o diretor de turma
existente na estrutura educativa portuguesa pelos atores dos grupos de interesses no contexto
brasileiro. Conclui-se que os atores para os quais a política PPDT é destinada − alunos, pais,
professores e gestores escolares – mostram-se convencidos da importância da política
educativa, para a educação dos estudantes na escola cearense, ainda que, se observe resistências,
sobretudo, quanto à imagem burocrática da política educativa. Relativamente às significações
sobre o cargo/função de DT, os textos e discursos apresentam significativas aproximações no
plano das orientações para a ação, embora no plano da ação se observe distanciamentos sociais,
políticos e econômicos entre os contextos investigados.

Palavras-chave: Ciclo de políticas. Diretor de Turma. Organização Educativa.


ABSTRACT

This paper presents the thesis report of the research carried out in the scope of the PhD in
Education in the Postgraduate Program in Education (PPGE), Federal University of Paraíba
(UFPB) − Brazil, whose objective was to analyze how the actors of the educational organization
− managers, teachers, students and parents - appropriated the meanings of the position of
teacher class director, in the context of the state school of Ceará, from 2011 to 2014. In the
study, it was taken into account that the position of class director established in Ceará-Brazil is
inspired by the homonymous post created in the Portuguese educational system in the 60's of
the twentieth century. In this sense, the research carried out two case studies, one in the context
of Ceará and the other in the north of Portugal. The educational policy, titled Project Teacher
of the Class (PPDT), has been working in the Brazilian context precisely in the state schools of
Ceará-Brazil since 2008, in the Portuguese educational system, the position is consolidated and
regulated with the nomenclature, class director, since the end of 1968. In analyzing the
continuities and ruptures of the Class Director to the Class Director, Sá (1997) highlights the
"triple function" that unites the two positions, although with a different hierarchy of the
functions in question. In the context of the analysis, the methodological approach was
qualitative, the research strategy chosen was the single case study method (integrated and
holistic), and the data collection instruments used were bibliographic and documentary
research, questionnaire, observation non-participant and semi-structured interviews. The
continuous policy cycle formulated by Richard Bowe, Stephen Ball and Anne Gold (1992) was
adopted as the model of analysis; Ball (1994, 2011), articulating it with the school perspective
as an educational organization of Licínio C. Lima (1998, 2001). Thus, the theoretical reference
sought to articulate the approach of the policy cycle, with the contributions of the sociology of
educational organizations, from the perspective of Ball (1992, 1994, 2002, 2004, 2011, 2013),
Lima (1986, 1998, 2001), Sá (1997), and other contributions to the understanding of school as
a complex educational organization. It is also worth mentioning that this work verified that the
PPDT, in its trajectory, underwent the process of (re)interpretation and (re)contextualization, in
the different contexts of the policy in action (influence context, text production context, practice
context, context of results and effects and context of policy strategies). Effectively, the PPDT
results from the "interpretation of the interpretation" on the class director existing in the
Portuguese educational structure by the actors of interest groups in the Brazilian context. It is
concluded that the actors for whom the PPDT policy is intended - students, parents, teachers
and school administrators - are convinced of the importance of educational policy for the
education of students in the school of Ceará, even if, above all, regarding the bureaucratic image
of educational policy. Regarding the significations about the position/function of DT, the texts
and speeches present significant approximations in the plane of the guidelines for action,
although in the plane of action social, political and economic distances between the contexts
investigated are observed.

Keywords: Policy cycle. Class director. Educational Organization.


RESUMEN

El actual trabajo presenta el relato de tesis de investigación realizada en ámbito del


Doctoramiento en Educación del Programa de Pos-graduación en Educación (PPGE) de la
Universidad Federal de Paraíba (UFPB) - Brasil, con objetivo de analizar como actores de la
organización educativa − gestores, profesores, alumnos y padres −, se apropiaran de las
significaciones del cargo del profesor director de grupo, en el contexto de la escuela pública
estadual regular del Ceará en el período de 2011 hacia 2014. En el estudio, fue llevado en
consideración que el cargo de director de grupo instituido en Ceará-Brasil se inspira en el cargo
homónimo, creado en el sistema educativo portugués por la década de los 60 del siglo XX. En
esto sentido, la investigación realizó dos estudios de caso, un en contexto del Ceará, y el otro,
en norte de Portugal. La política educativa nombrada Proyecto Profesor de Grupo (PPDT), está
en actuación en el ámbito brasilero precisamente en las escuelas públicas estatales regulares de
Ceará-Brasil desde el año de 2008, en el sistema educativo portugués, el cargo se encuentra
consolidado y reglamentado con la nomenclatura, director de grupo, desde final de 1968. Al
analizar las continuidades y rupturas del Director de Grupo, Sá (1997) pone en evidencia la
“tríplice función” que une los dos cargos, aunque con una jerarquización diferente de las
funciones en causa. En contexto de análisis, el abordaje metodológico fue de naturaleza
cualitativa, la estrategia de investigación elegida fue el método de estudio de caso único
(integrado y holístico), y los instrumentos de recoja de datos utilizados fueron pesquisas
bibliográfica y documental, cuestionario, observación no participante, entrevista
semiestructurada. Se adoptó como modelo de análisis el ciclo continuo de políticas formulado
por Richard Bowe, Stephen Ball e Anne Gold (1992); Ball (1994, 2011), articulándolo con
perspectiva de la escuela como organización educativa de Licínio C. Lima (1998, 2001). Así,
el referencial teórico busca articular el abordaje del ciclo de políticas, con las contribuciones de
la sociología de organizaciones educativas, a partir de las perspectivas de Ball (1992, 1994,
2002, 2004, 2011, 2013), Lima (1986, 1998, 2001), Sá (1997), y de otras contribuciones para
comprensión de la escuela como organización educativa compleja. Vale aún resaltar que esto
trabajo constató que el PPDT, en su trayectoria, pasó por el proceso de (re)interpretación y
(re)contextualización, en los diferentes contextos políticos de actuación (contexto influencia,
contexto de la producción del texto, contexto de la práctica, contexto de los resultados y efectos
y contexto de las estrategias políticas). Efectivamente, el PPDT resulta de la “interpretación de
la interpretación” sobre el director de grupo existente en la estructura educativa portuguesa por
actores de los grupos de intereses en el contexto brasilero. Se concluye que los actores para los
cuales la política PPDT es destinada − alumnos, padres, profesores y gestores escolares − se
muestran convencidos de la importancia de la política educativa, para la educación de los
estudiantes en la escuela del Ceará, aunque, se observe resistencias, sobretodo, cuanto la imagen
burocrática de la política educativa. Relativamente las significaciones sobre el cargo/función
de DT, los textos y discursos presentan significativas aproximaciones en el plano de las
orientaciones para acción, empero en el plano de acción se observe distanciamientos sociales,
políticos y económicos entre los contextos investigados.

Palabras clave: Ciclo de políticas. Director de Grupo. Organización Educativa.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – “Metamorfose” do diretor de turma no sistema educativo português .................... 52


Figura 2 – Contexts of policy making – Ciclo contínuo de políticas ...................................... 63
Figura 3 – Imagem do ciclo contínuo de políticas................................................................... 64
Figura 4 – Imagem da versão “aninhada” dos contextos......................................................... 65
Figura 5 – Modo de Funcionamento Díptico da Escola como Organização ........................... 76
Figura 6 – Tipologia dos modelos organizacionais apresentada por Ellströn (2007) ............. 83
Figura 7 – Análise do PPDT com base no Ciclo Contínuo de Políticas.................................. 86
Figura 8 – Síntese do estudo de caso – do tipo às estratégias de análises ............................. 102
Figura 9 – Localização do município no estado do Ceará-Brasil .......................................... 105
Figura 10 – Número de Alunos por Escalão de Acção Social Escolar.................................. 115
Figura 11 – Número de Alunos por Filiação – Habilitações ................................................. 116
Figura 12 – Número de Alunos por Computador e Internet .................................................. 116
Figura 13 – Organograma do PPDT na SEDUC – Ceará ...................................................... 147
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Representação gráfica das variáveis categóricas .................................................. 97


LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Um modelo ........................................................................................................... 69


Quadro 2 – Projeto de caso único integrado (unidade múltiplas de análises) no contexto
brasileiro e um estudo de caso único holístico no contexto português .................................... 93
Quadro 3 – Legenda das siglas para identificação das falas dos sujeitos entrevistados ........ 103
Quadro 4 – Oferta educativo-formativa por ano de escolaridade .......................................... 113
Quadro 5 – Comparativo dos textos orientadores do DT entre a EP e a EB ......................... 143
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Demonstrativo do PPDT CREDE/SEFOR de 2008 a 2014................................... 46


Tabela 2 – Demonstrativo do PPDT CREDE/SEFOR relativo ao ano de 2017...................... 50
Tabela 3 – Detalhamento do quantitativo de respondentes por cargo ou função .................... 97
Tabela 4 – Detalhamento do quantitativo de professores da rede estadual de ensino por
categoria................................................................................................................................... 97
Tabela 5 – Demonstrativo dos sujeitos entrevistados na SEDUC-CE e CREDE ................... 98
Tabela 6 – Demonstrativo dos sujeitos entrevistados na EB ................................................... 99
Tabela 7 – Demonstrativo dos sujeitos entrevistados na EP ................................................. 100
Tabela 8 – Quantitativo de Escolas Estaduais por Categoria ................................................ 104
Tabela 9 – Quantitativo de alunos, por turno da EB ............................................................. 106
Tabela 10 – Quantitativo de alunos, por localização e segmento .......................................... 106
Tabela 11 – Quantitativa de docentes, em outras funções ..................................................... 107
Tabela 12 – Vínculo profissional dos docentes colocados em 2014/2015 (agosto 2014).
Vínculo profissional dos docentes colocados em 2014/2015 ................................................ 114
Tabela 13 – Técnico de apoio aos alunos surdos................................................................... 114
Tabela 14 – Distribuição do pessoal não docente por Categoria ........................................... 114
Tabela 15 – Vínculo profissional dos não docentes colocados em 2014/2015 ..................... 115
LISTA DE ABREVIATURAS

AEB Aluno (a) na Escola Brasileira (1 e 2)


AEP Aluno (a) na Escola Portuguesa (1 e 2)
ANPAE Associação Nacional de Política e Administração da Educação
AVEP Agrupamento Vertical de Escola Português
CAED Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação
CDTEP Coordenador (a) dos Diretores de Tuma na Escola Portuguesa
CE Ceará
CEP Consultora Externa Portuguesa do Projeto Professor Diretor de Turma
CEPPDT Coordenador (a) Estadual do Projeto Professor diretor de Turma
CPPDTEB Coordenador (a) do Projeto Professor Diretor de Turma na Escola Brasileira
CREDE Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação
CRPPDT Coordenadoria Regional do Projeto Professor Diretor de Turma
DGEB Diretor (a) Geral na Escola Brasileira
DGEP Diretor (a) Geral da Escola Portuguesa
DT Diretor de Turma
EB Escola Brasileira
EEB Especialista em Educação Brasileira membro da ANPAE EEB
EEEP Encarregado de Educação na Escola Portuguesa (1 e 2)
EP Escola Portuguesa
EPENN Encontro de Pesquisa Educacional Norte e Nordeste
ESFAPEM Escola de Formação Permanente do Magistério
FMI Fundo Monetário Internacional
FUNDEB Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
dos Profissionais da Educação
GPR Gestão por Resultados
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação
MEC Ministério da Educação
PAIC Programa de Alfabetização na Idade Certa
PCA Professor Coordenador de Área
PCEPPDT Primeiro Coordenador Estadual do Projeto Professor Diretor de Turma
PDE Plano de Desenvolvimento da Educação
PDS Plano de Desenvolvimento Sustentável
PDTEB Professor (a) Diretor de Turma na Escola Brasileira (1 e 2)
PDTEP Professor (a) Diretor de Turma na Escola Portuguesa (1 e 2)
PLAMETAS Plano de Metas do Diretor
PMEB Pai/Mãe na Escola Brasileira (1 e 2)
PNAIC Pacto Nacional pela Alfabetização da Idade Certa
PPDT Projeto Professor Diretor de Turma
SAEB Sistema de Avaliação da Educação Básica
SEDUC Secretaria da Educação Básica do Estado do Ceará
SEFOR Superintendência das escolas Estaduais de Fortaleza
SPAECE Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
SUMÁRIO

1 PRIMEIROS ENUNCIADOS ........................................................................................... 17


1.1 O Objeto de Estudo ......................................................................................................... 21
1.2 A Problemática ................................................................................................................ 23
1.3 Enunciados investigativos: vias metodológicas ............................................................. 25
1.4 Objetivos pretendidos ..................................................................................................... 26
1.5 A estrutura da tese ........................................................................................................... 26
2 A POLÍTICA EDUCACIONAL DO ESTADO DO CEARÁ-BRASIL COMO PONTO
DE PARTIDA ........................................................................................................................ 28
2.1 Considerações sobre a política educacional cearense e seus antecedentes históricos 28
2.1.1 A Política Educacional do Governo Cid Gomes (2007-2010/2011-2014) ..................... 41
2.1.2 O Projeto Professor Diretor de Turma no Estado do Ceará-Brasil: cronologia e
contextualização ...................................................................................................................... 43
2.1.3 O Diretor de Turma na Escola Portuguesa: um considerável percurso histórico ........... 51
3 OPÇÕES TEÓRICAS: MODELOS DE ANÁLISE PARA A COMPREENSÃO DO
OBJETO DE ESTUDO ......................................................................................................... 61
3.1 A abordagem do Ciclo Contínuo de Políticas para a análise de políticas educativas:
conceitos e ferramentas analíticas ........................................................................................ 61
3.2 A escola como organização educativa: o modo de funcionamento díptico da escola
como organização .................................................................................................................. 72
3.3 Modelos Formais ............................................................................................................. 77
3.3.1 Modelos Estruturais ........................................................................................................ 78
3.3.2 Modelos Sistêmicos ........................................................................................................ 79
3.3.3 Modelos Burocráticos ..................................................................................................... 79
3.3.4 Modelos Racionais ......................................................................................................... 80
3.4 Modelos Organizacionais Face A ................................................................................... 80
3.4.1 Modelos de Ambiguidade............................................................................................... 81
3.4.2 Modelos Políticos ........................................................................................................... 82
3.4.3 Modelos Subjetivos ........................................................................................................ 82
3.5 O Projeto Professor Diretor de Turma no Ceará-Brasil entre o Ciclo Contínuo de
Políticas e a perspectiva da escola como organização educativa ....................................... 83
4 PERCURSOS METODOLÓGICOS: apresentação e fundamentos ............................. 87
4.1 Considerações Metodológicas ......................................................................................... 87
4.1.1 Compreendendo o “caso” em estudo .............................................................................. 92
4.1.2 O percurso investigativo ................................................................................................. 95
4.1.3 Análise e interpretação dos dados ................................................................................ 100
4.2 O contexto mesopolítico em que se encontram as unidades de análise no Estado do
Ceará-Brasil ......................................................................................................................... 104
4.2.1 Caracterização da Escola Brasileira ......................................................................... 105
4.3 Do contexto meso político em que se encontra a unidade de análise em Portugal, ao
contexto micro político, a escola ......................................................................................... 107
4.3.1 Caracterização da Escola Portuguesa ........................................................................... 111
5 A TRAJETÓRIA DA POLÍTICA EDUCATIVA PPDT NOS DIFERENTES
CONTEXTOS DE ATUAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO EDUCATIVA .......................... 117
5.1 O PPDT sob a abordagem do Ciclo Contínuo de Políticas ........................................ 117
5.1.1 A trajetória da política educativa PPDT na educação cearense.................................... 119
5.1.1.1 Contexto de influência ............................................................................................... 120
5.1.1.2 Contexto da produção do texto .................................................................................. 124
5.1.1.3 Contexto da prática .................................................................................................... 129
5.1.1.4 Contexto dos resultados/efeitos ................................................................................. 132
5.1.1.5 Contexto da estratégia política .................................................................................. 135
5.2 O PPDT entre o “Plano das Orientações para a Ação” e o “`Plano da Ação” ........ 138
6 AS SIGNIFICAÇÕES DO CARGO/FUNÇÃO DE DIRETOR DE TURMA NO
CONTEXTO BRASILEIRO E SUAS APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS
COM O SISTEMA EDUCATIVO PORTUGUÊS ........................................................... 142
6.1 O DT entre Brasil e Portugal: textos, contextos e práticas ........................................ 142
6.2 O Dossiê de Direção de Turma ..................................................................................... 158
6.3 O Conselho de Turma ................................................................................................... 161
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 166
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 176
APÊNDICE A – Quadro síntese da política educacional do governo do Estado do Ceará
(2007-2014) ........................................................................................................................... 182
APÊNDICE B – Quadro síntese das produções acadêmicas sobre o projeto diretor de
turma EM ANDAMENTO no Estado do Ceará (2007-2017) .......................................... 192
APÊNDICE C – Questionário aplicado on line ceará – Brasil ........................................ 196
APÊNDICE D – Roteiro de entrevistas semiestruturadas professores e gestores – Brasil
............................................................................................................................................... 199
APÊNDICE E – Roteiro de entrevistas semiestruturadas para responsáveis e alunos –
Brasil ..................................................................................................................................... 200
APÊNDICE F – Roteiro (guião) de entrevistas semiestruturadas para conselheiro dos
diretores – Portugal ............................................................................................................. 201
APÊNDICE G – Roteiro(guião) de entrevistas semiestruturadas para diretores –
Portugal ................................................................................................................................ 203
APÊNDICE H – Roteiro (guião) de entrevistas semiestruturadas para diretores de
turma – Portugal .................................................................................................................. 205
APÊNDICE I – Roteiro (guião) de entrevistas semiestruturadas para responsáveis –
Portugal ................................................................................................................................ 207
APÊNDICE J – Roteiro(guião) de entrevistas semiestruturadas para alunos – Portugal
............................................................................................................................................... 209
ANEXO A – Agenda estratégica – SEDUC 2008-2010 .................................................... 211
ANEXO B – Plano de ação setorial de SEDUC-CE 2008-2010 ....................................... 216
ANEXO C – Matriz de GPR ............................................................................................... 221
ANEXO D – Folder do projeto diretor de turma em andamento no estado do Ceará
(2007-2014) ........................................................................................................................... 223
ANEXO E – Chamada pública para adesão ao projeto diretor de turma ..................... 225
ANEXO F – Quadro demonstrativo do PPDT na SEDUC/CE/BR 2008 a 2014 ........... 248
ANEXO G – Calendário norteador de atividades do PPDT na
CREDE06/SEDUC/CE/BR ................................................................................................. 249
ANEXO H – Quadro demonstrativo do PPDT na SEDUC/CE/BR relativo a 2017 ...... 250
17

1 PRIMEIROS ENUNCIADOS
“Eu venho das dunas brancas
Onde eu queria ficar
Deitando os olhos cansados
Por onde a vida alcançar
[...]
Eu tenho a mão que aperreia
Eu tenho o sol e areia
Eu sou da América, sul da América
South America
Eu sou a nata do lixo, eu sou o luxo da aldeia
Eu sou do Ceará”
(Ednardo)1

O ponto de partida desta investigação que agora se apresenta, é a política educacional


para as escolas públicas estaduais do Ceará, no Nordeste do Brasil. A escolha do objeto de
estudo ocorreu porque a pesquisadora foi movida pelos achados da pesquisa realizada no âmbito
do mestrado no campo da política educacional cearense, condensados no relatório de
dissertação intitulado − “Um estudo acerca da gestão democrática nas escolas públicas do Ceará
(2007-2010): avanços e recuos”. Tal pesquisa que teve como objetivo central analisar a política
de “gestão escolar democrática e participativa” que se materializou nas escolas públicas
cearenses − no período investigado −, quando foi analisado o fato de este modelo de gestão ter
resultado em avanços ou recuos, em relação ao modelo implantado desde 1995. Estudo este que
possibilitou a imersão nas trajetórias das políticas de educação em andamento nos últimos anos
na rede pública estadual do Ceará.
Assim, o interesse investigativo, agora em caráter de pesquisa de doutorado, se volta na
direção de analisar o Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT), em atuação na escola pública
estadual cearense, desde o ano de 2007, mais efetivamente 2008, inspirado no sistema educativo
dos nossos patrícios lusitanos. Este projeto situa-se no âmbito das políticas educacionais
brasileiras, e se efetiva de forma pioneira no estado do Ceará, Brasil. Assim, esta pesquisa
surgiu da necessidade de compreender um projeto/programa em atuação na escola pública
brasileira, notadamente, no âmbito da política educacional cearense, inspirado em um modelo
já consolidado num determinado país da Europa, especificamente em Portugal, desde os anos
de 1960. As inquietações que motivaram este empreendimento investigativo pautam-se pelo
desejo de entender as reais contribuições das políticas educacionais inovadoras, apresentadas
como alternativas para superar os desafios que se sobrepõem ao fazer pedagógico, no cotidiano
escolar brasileiro, sobretudo na escola pública cearense, lócus desta investigação.

1
José Ednardo Soares Costa Souza, poeta, músico cearense. Música “Terral” gravada em 1973.
18

As políticas educacionais que se configuraram e se materializaram na educação pública


cearense, nas últimas décadas, pautam-se na agenda de “competição e performatividade”
(BALL, 2002; 2004)2, como se pode observar nos documentos de apresentação da Secretaria
da Educação Básica do Estado do Ceará-Brasil (SEDUC-CE/BR), órgão máximo de
coordenação da educação básica no estado do Ceará, em que se identifica o discurso das
organizações administrativas, logo ao se analisar o perfil da instituição, como também, no
planejamento estratégico composto pela a matriz de GPR (gestão por resultados); na agenda
estratégica – missão: garantir educação básica com equidade e foco no sucesso do aluno; visão:
ser uma organização eficaz com um ambiente de trabalho acolhedor e propício ao
desenvolvimento de pessoas –, assegurando, até 20103, a matrícula de todas as crianças e jovens
de 4 a 18 anos; a melhoria dos resultados de aprendizagem em todos os níveis de ensino; a
efetiva articulação, do ensino médio à educação profissional, e os planos setoriais (objetivos
estratégicos e metas globais) (SEDUC-CE, 2015).
Com efeito, compreende-se que o estado do Ceará tem elegido a racionalidade
econômica, a otimização, a eficácia e a eficiência, como elementos nucleares, no processo de
modernização e reforma da administração pública e da educação, onde privilegia as tecnologias
da atividade econômica, da organização produtiva e do mercado, exportando as ideias do
contexto empresarial, para o campo da administração pública (LIMA, 2001), o que se
consubstancia no modelo de gestão pública gerencial. Como se pode analisar no processo de
reforma ocorrido no Ceará, em meados dos anos de 1990, sobretudo no âmbito da educação,
têm início reformas estruturais no sistema educacional do Estado, sob o projeto com slogan
“Todos pela Educação de Qualidade Para Todos”, centrado em três vertentes: “Todos pela
Educação”, “Educação de Qualidade” e “Educação para todos”, em torno das quais se anuncia
a construção de um novo paradigma para a educação no Ceará. Trata-se de um texto de
declarações e princípios, apresentado na proposta de educação no Plano de Desenvolvimento
Sustentável (1995-1998), inclusa no segmento dos Programas Estruturantes na área de

2
“A instauração de uma nova cultura de performatividade competitiva que envolve uma combinação de
descentralização, alvos e incentivos para produzir novos perfis institucionais”. (BALL, 2004, p. 1107). “A
performatividade é uma tecnologia, uma cultura e um modo de regulação que serve de críticas, comparações e
exposições como meios de controlo, atrito e mudança. Os desempenhos (de sujeitos individuais ou organizações)
servem como medidas de produtividade e rendimento ou mostra de `qualidade` ou ainda momentos de promoção
ou inspeção. Significam, englobam e representam a validade, a qualidade ou valor de um indivíduo ou organização
dentro de um determinado âmbito de julgamento/avaliação. [...]” (BALL, 2002, p. 4).
3
Dados recolhidos dos documentos oficiais disponibilizados no site da SEDUC-CE, embora se encontrem
desatualizados, a exemplo da Agenda Estratégica 2008-2010.
19

Capacitação da População, proposta renovada no Programa de Governo do terceiro mandado


de Tasso Jereissati4 (1999-2002) (VIEIRA, 2002).
No Brasil, a década de 1990 foi marcada pelas reformas gerenciais na administração
pública do Estado. No estado do Ceará, tal movimento teve seus desdobramentos, como em
praticamente todo o território nacional, entretanto, em proporções e intensidades diferentes. No
caso do Ceará, o referido movimento tem início no governo de Ciro Ferreira Gomes 5, apoiado
por Tasso Jereissati – o “Governo das Mudanças” (1986) –, que posteriormente foi eleito
novamente em 1994 e 1998, para o terceiro e quarto mandatos, concretizando o projeto político
de modernização, iniciado no seu primeiro mandato ainda no final dos anos de 1980, tendo
continuidade com o governo do mandato seguinte, de Lúcio Alcântara (2003/2006). Nesse
cenário de mudanças e modernização administrativa, foram postos em prática políticas
educativas para as escolas públicas da rede estadual no contexto do projeto de governo “Todos
pela Educação de Qualidade para Todos” seguindo ideário que orientava a macropolítica
nacional, naquele contexto, advindo das influências internacionais (FARIAS, 1997; LEITÃO,
2010; VIEIRA, 2002).
Os dois mandatos subsequentes, no governo do estado do Ceará, foram ocupados por
Cid Ferreira Gomes de 2007 a 2014. Cid Gomes, assumiu o governo do estado depois de dois
mandatos consecutivos (1996-1999/2000-2004), como prefeito no município de Sobral, de
onde saiu com significativa popularidade no campo educacional, saldo da propagada
experiência “implementada”6 no maior município da região norte do estado do Ceará,
amplamente divulgada como referência e modelo de política educacional a ser seguido, na
perspectiva do Ministério da Educação (MEC), que publicou a citada experiência na série “Boas
Práticas na Educação”. A experiência educacional em questão foi objeto de estudo de diversos
pesquisadores. No âmbito da academia, o ex-secretário da Secretaria da Educação do Município
de Sobral na gestão de Cid Gomes e, posteriormente, secretário da SEDUC-CE, Maurício
Holanda Maia (2006, p. 86), que destaca, em sua tese de doutorado:

Entre 2001 e 2004, a Secretaria de Desenvolvimento da Educação do Município de


Sobral, no Estado do Ceará, protagonizou uma significativa experiência da gestão de

4
Tasso Ribeiro Jereissati foi governador do Ceará por três mandatos, nos anos de 1987/1990, 1995/1998 e
1999/2002. Iniciou sua carreira política no Partido do Movimento Democrático Brasileiro, transferindo-se para o
Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e já em 1991 assumiu a presidência do referido partido.
5
Cearense radicado no município de Sobral, foi eleito governador do Ceará pelo PSDB para o mandato de 1991 a
1994. Irmão do ex-governador do Ceará Cid Ferreira Gomes nos mandatos compreendidos nos anos de 2007/2010
e 2011/2014.
6
A abordagem teórica de Stephen J. Ball, refuta a ideia de implementação das políticas educacionais, substitui
pela noção de atuação da política (policy enactment). Embora, admita-se essa perspectiva, neste texto ainda se
registra o uso da palavra “implementação”, assim, assinala o uso das aspas para indicar tal entendimento.
20

uma política de alfabetização na idade certa, a qual, além dos resultados específicos,
vinculados aos seus objetivos e metas, ampliou-se na direção da busca de soluções
operacionais e do diálogo com os pressupostos teóricos e ideológicos que informam
a atual reflexão brasileira sobre alguns aspectos da gestão educacional, escolar e
pedagógica e do processo de alfabetização-letramento, a respeito dos quais se
experimentam hoje, no País, impasses e sensações de dúvida, confusão e mesmo
descrença.

A política de alfabetização na idade certa foi ampliada para todo o estado do Ceará
durante os oito anos de mandato do governo Cid Gomes e, ainda, durante o segundo mandato
(2011-2014), o modelo de política educacional aqui mencionado foi ampliado para todo o
território nacional brasileiro por meio da Medida Provisória nº 586, de 8 de novembro de 2012,
com a denominação de Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). O percurso
político do Cid Gomes, com a ênfase na educação de qualidade como estratégia de
desenvolvimento social e econômico, rendeu-lhe o convite para assumir o Ministério da
Educação, no segundo mandato da Presidenta da República Dilma Rousseff – início do ano de
2015 –, cargo que ocupou por pouco mais de dois meses, após a sua nomeação, chegou a pedir
demissão em meados do mês de março em consequência de desacordo político com a Câmara
dos Deputados Federais.
O governo mudou com a eleição, no final do ano de 2014, na condução do Estado,
contudo, observa-se entre os programas e projetos educativos da SEDUC-CE, um conjunto de
iniciativas que permanecem no quadro da política educacional (APÊNDICE A), em andamento
nos últimos oito anos do governo anterior. Dentre essas iniciativas, pode-se destacar, no quadro
da política educacional, o Programa de Alfabetização na Idade Certa (PAIC), um programa de
cooperação entre Governo do Estado e municípios cearenses, com a finalidade de apoiar os
municípios para alfabetizar os alunos da rede pública de ensino até o final do segundo ano do
ensino fundamental; Prêmio Escola Nota 10, com o objetivo de fortalecer, valorizar e ampliar
o trabalho que vem sendo empreendido pelas escolas em relação aos resultados de
alfabetização; Projeto Jovem de Futuro – projeto de gestão escolar para resultados –, em
parceria com o Instituto Unibanco, que oferece às escolas participantes, apoio técnico e
financeiro para, em um período de 3 anos – duração do Ensino Médio –, melhorar o
desempenho dos alunos (SEDUC-CE, 2015).
Além da Educação Profissional e do e-Jovem − com o objetivo de implantar as escolas
de educação profissional de tempo integral e integrada ao ensino médio −, o governo do Ceará
mantém: o e-Jovem − cursos profissionalizantes para alunos egressos do ensino médio regular
−; o Programa Aprender pra Valer, com a finalidade de elevar o desempenho acadêmico dos
alunos do ensino médio, com vistas à aquisição dos níveis de proficiência adequados a cada
21

série/ano, bem como, a articulação deste nível de ensino com a educação profissional e
tecnológica; a Superintendência Escolar, com o objetivo de contribuir com a reorganização do
trabalho e com a participação mais eficaz no processo ensino-aprendizagem, das unidades
escolares, através de um processo de ação - reflexão - ação; o PPDT, que visa a construção de
escola que eduque a razão e a emoção, uma escola que tem como premissa a desmassificação
do ensino, uma escola com plenos objetivos de acesso, permanência, sucesso e formação do
cidadão; dentre outros programas e projetos. Isso só para citar as iniciativas da própria SEDUC-
CE (SEDUC-CE, 2016).
O PPDT, resultou da (re)interpretação e (re)contextualização das observações e
vivências dos atores que tomaram como inspiração o cargo existente no sistema educativo
português, posto em atuação nas escolas públicas estaduais cearenses, no primeiro mandato do
governo do Estado Cid Ferreira Gomes (2007-2010). Para efeito deste estudo, essa política
educativa chama a atenção dentre os programas e projetos da SEDUC-CE, para a apresentação
de objetivos que não enfatizam os argumentos de mercado e o discurso da performatividade
que se verificam nos objetivos dos demais projetos (APÊNDICE A).

1.1 O Objeto de Estudo

O PPDT teve início no estado do Ceará, no ano de 2008, em 25 escolas estaduais de


educação profissional, e se registra que, em 2009, foi ampliado em mais 26 escolas da mesma
modalidade de ensino, totalizando 51 unidades e, já em 2010, foi expandido para 503 escolas
estaduais de ensino médio, entre regulares e profissionais, perfazendo 2.988 turmas e 2.118
professores-diretores de turma, por meio de “adesão” das escolas de ensino regular da rede
estadual, nas turmas de 1º ano do ensino médio e 9º ano do ensino fundamental, nas escolas que
não ofertavam ensino médio. Em 2011, o projeto foi ampliado para os demais anos do ensino
médio, abrangendo 530 escolas, 4.918 turmas e 4.661 professores-diretores de turma. No ano
de 2012, ocorreu a ampliação para 543 escolas, 5.637 turmas e 4.885 professores-diretores de
turma. E, em 2014, o ano se iniciou com 596 escolas, 7.178 turmas e 6.470 professores-diretores
de turma (SEDUC-CE, 2014).
A pertinência da presente proposta de investigação justifica-se pelas contribuições
indicadas nos estudos de Lima (1986), Castro (1995), Sá (1997), sobre o cargo de professor
diretor de turma, no contexto das escolas portuguesas, lócus em que tal política educativa se
materializa de forma regulamentada, e instituída, pelo sistema educativo de Portugal.
22

A relevância deste estudo consistiu na possibilidade de realizar uma análise da


concretude da política educacional de gestão da sala de aula, nas escolas públicas estaduais
regulares cearenses que aderiram ao PPDT, onde se buscou identificar quais as
(re)interpretações ou (re)contextualizações em relação ao cargo/função de diretor de turma
instituído no sistema educativo português. Nessa direção, objetivou-se analisar o projeto
educativo em andamento na rede de ensino do estado do Ceará. Para isto, tomou-se como base
o referencial analítico da abordagem do ciclo contínuo de políticas formulado pelos
pesquisadores ingleses Stephen Ball, Richard Bowe e Anne Gold (1992), ampliado por Stephen
Ball (1994), e a perspectiva da escola como organização educativa, de Licínio C. Lima (1998,
2001), quando se buscou perceber as aproximações e distanciamentos da política educativa
analisada em relação ao modelo do sistema educativo português inspirador.
A perspectiva teórica analítica e metodológica desta pesquisa caracterizou-se pela
ampliação do campo de investigação sobre o PPDT, com vistas a compreender a trajetória da
política educativa nas escolas públicas regulares do estado do Ceará-Brasil, onde se registrava,
em 2014 − no início da investigação −, pouca produção acadêmica sobre a experiência
educativa em questão. Entretanto, observou-se elevado interesse pelo tema, ao se considerar a
incipiente publicação de artigos, em anais de eventos acadêmicos, periódicos e defesas de
dissertações, entre os anos de 2014 e 2017 (APÊNDICE B), em cursos de pós-graduação de
diferentes instituições do país. Considerou-se, ainda, que o tema é oportuno pelo seu caráter
inovador, analítico e interpretativo, enfim, pela singularidade e complexidade do fenômeno
estudado.
Serviram de base, para o presente estudo, pesquisas realizadas em Portugal (LIMA,
1986, 1998, 2001, 2011; CASTRO, 1995; SÁ, 1997) e no Brasil (CHAVES; LEITE, 2012;
COSTA, 2014), sobre a temática, bem como, outros autores que orientam a reflexão acerca da
educação (BOWE; BALL; GOLD, 1992; BALL, 2004, 2002, 1994, 1992, 1989; BALL;
MAINARDES, 2011; MAINARDES, 2007; 2011; AVELAR, 2016).
Pensando em não se cometer o equívoco de analisar a referida prática educativa de
maneira “insularizada”7 ou mesmo no plano textual e normativo, recorreu-se ao modelo de
análise das organizações educativas/escolares, em suas múltiplas focalizações, na perspectiva
de compreender o objeto estudado e as suas diferentes dimensões aliado a abordagem do ciclo
contínuo de políticas formulado por Ball, Bowe e Gold (1992) e Ball (1994). Nesse contexto,

7
Ver A Escola como organização educativa: uma abordagem sociológica (LIMA, 2001).
23

procuramos compreender as (re)interpretações e (re)contextualizações pelas quais passou o


PPDT, do contexto da influência ao contexto da prática. Para Mainardes (2007, p. 27),

Essa abordagem destaca a natureza complexa e controversa da política educacional,


enfatiza os processos micropolíticos e a ação dos profissionais que lidam com as
políticas no nível local e indica a necessidade de se articularem os processos macro e
micro na análise de políticas educacionais.

Na esteira de Lima (2001, p. 95), “mesmo no caso dos modelos organizacionais


formalmente instituídos, por via jurídico-normativa, com caráter universal, fixados em textos
legais, é indispensável proceder ao seu estudo enquanto produções resultantes da acção política
e administrativa [...]”. Portanto, o esforço que se mobilizou, nesta pesquisa, deu-se na
perspectiva de, primeiramente, compreender as teorias, abordagens e imagens que ajudam a
analisar os fenômenos, tanto no “plano das orientações para a ação” como no “plano da ação”
e, para tal, foi imperativo que se investisse no exercício compreensivo dos diferentes modelos
de análise das organizações.

1.2 A Problemática

O marco temporal para efeito deste estudo foi delimitado entre os anos de 2011 e 2014,
por esse período se caracterizar como o momento de consolidação dessa política educativa, nas
escolas públicas estaduais de ensino médio regular, e por se coadunar com o segundo mandato
de Cid Gomes e sua equipe na Secretaria da Educação do Estado, no governo do Ceará. Nesses
termos, considerou-se esse interstício, para a demarcação desta análise.
Segundo referências da SEDUC-CE (2013, 2015, 2016), no XVIII Encontro da
Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE)8 – Seção do Ceará, o
ano de 2007 marca a origem do PPDT, aqui no Brasil, quando foi apresentada a experiência das
escolas públicas portuguesas. Com base nessa apresentação, gestores educacionais dos
municípios de Pernambuco − Eusébio, Madalena e Canindé − iniciaram um projeto-piloto, em
três escolas; posteriormente, a SEDUC-CE aderiu à proposta, inserindo-a nas escolas da rede
estadual.

8
Uma das primeiras associações brasileira da sociedade civil organizada no campo da educação, fundada em 1961
com outra nomenclatura, passando por diferentes transformações ao longo dos anos, desde o ano de 1996 mantém
a atual denominação. Para Benno Sander (2007), “A ANPAE foi concebida com a missão de lutar pelo exercício
do direito à educação de qualidade para todos, através de sua participação na formulação de políticas públicas de
educação e na concepção e adoção de práticas de gestão democrática, alicerçadas nos princípios e valores da
solidariedade e justiça social e da liberdade e igualdade de direitos e deveres na educação e na sociedade”.
Disponível em: <http://www.anpae.org.br/website/>. Acesso em: 20 out. 2016.
24

A política educativa cearense em questão buscou inspiração no modelo educativo, em


prática nas escolas de Portugal desde o ano de 1968, ano da aprovação do Estatuto do Ciclo
Preparatório do Ensino Secundário, por meio do decreto nº 48.572/68, momento em foi
substituída a denominação de diretor de ciclo, existente naquela ocasião, por diretor de turma,
através do Decreto 27.084 de 14 de outubro de 1936, na ocasião da Reforma Carneiro Pacheco,
precedido pela designação de diretor de classe, através do Decreto de 14 de agosto de 1895, a
reforma Jaime Moniz (SÁ, 1997). Para além do percurso da evolução histórica do cargo de
diretor de turma (DT), na escola portuguesa, que será ressaltado posteriormente. Sá (1997, p.
47) considera que recai sob as atribuições do diretor de turma “a tradicional ‘tríplice função’:
coordenação do ensino, controlo disciplinar dos alunos e o contacto com as famílias, constitui,
também aqui, o núcleo duro das atribuições do director de turma”.
Entre as dimensões atribuídas ao diretor de turma em Portugal, e as funções que o diretor
de turma ocupa no âmbito educacional brasileiro, precisamente na escola pública estadual do
Ceará, impõe-se a necessidade de compreender os meandros de tal projeto/programa, na política
educacional cearense.
As reflexões realizadas até aqui suscitam a seguinte problemática: como os atores da
organização educativa (gestores, professores, alunos e pais), se apropriaram das significações
do cargo/função do diretor de turma, no contexto da escola pública estadual regular do estado
do Ceará-Brasil, no período de 2011 a 2014?
Diante da pergunta norteadora da pesquisa, levantaram-se outras questões instigadoras,
para que fosse possível perceber a problemática que envolve o objeto desta investigação:

a) como foi o processo histórico da instituição do cargo/função de professor diretor de


turma no sistema educativo português e quais as concepções atribuídas a tal cargo no
contexto de sua origem à atualidade?
b) como se deu a trajetória do Projeto Professor Diretor de Turma em todos os contextos
de atuação nas escolas públicas estaduais regulares de ensino cearense, no marco
temporal de 2011 a 2014?
c) quais as aproximações e distanciamentos das significações do cargo/função de diretor
de turma entre os dois contextos, Brasil e Portugal?
25

1.3 Enunciados investigativos: vias metodológicas

A abordagem teórico-metodológica que norteia a presente investigação possui natureza


qualitativa, de cunho analítico interpretativo. Assim, como Bogdan e Biklen (1994, p. 16),
entende-se que “a investigação qualitativa em educação assume muitas formas e é conduzida
em múltiplos contextos”, bem como, reúne determinadas características específicas para as
estratégias de investigação. Quanto aos dados recolhidos, foram denominados qualitativos e
apresentam riquezas de detalhes descritivos, concernentes às pessoas, locais e conversas,
sobretudo, exigem uma complexa análise. As questões de investigação não são estabelecidas
por meio da operacionalização de variáveis, são formuladas com o objetivo de investigar os
fenômenos em toda a sua complexidade e no seu contexto de origem. Contudo, caso os
pesquisadores em investigação qualitativa selecionem questões específicas sobre a temática
investigada, através da recolha dos dados, a abordagem à investigação não pressupõe o objetivo
de responder a questões prévias ou de testar hipóteses, visto que, esta abordagem privilegiou a
compreensão dos comportamentos, a partir da perspectiva dos sujeitos da investigação. A
complexidade do fenômeno foi estudada no seu contexto natural (BOGDAN; BIKLEN, 1994).
Como estratégia de pesquisa qualitativa, elegeu-se o estudo de caso, por acreditar que
tal estratégia de investigação se configura como a mais apropriada para a compreensão do
fenômeno estudado, posto que, se trata de um fenômeno singular, complexo e contemporâneo.
No que se refere ao tipo de estudo de caso, apesar das muitas designações (STAKE, 2012; YIN,
2010), fizemos a opção pelo estudo de caso único, embora tenham sido realizados dois estudos
de caso, em contextos diferentes, desenhando-se, deste modo, um estudo de caso único,
integrado por duas unidades de análise; e outro estudo de caso único, holístico, com uma única
unidade de análise, um em cada lócus estudado, Brasil e Portugal. Tal opção resultou da
articulação entre as asserções sobre estudo de caso de Stake (2012) e Yin (2010).
Os instrumentos adotados para a recolha de dados consistiram em pesquisa bibliográfica
e documental, levantamento por meio de questionário, visitas de observação não participante,
notas de campo, e entrevistas semiestruturadas. Segundo Stake (2012, p. 77), “as observações
conduzem o investigador a uma maior compreensão do caso”, [ou seja], “precisamos de
observações pertinentes dos nossos problemas”, a fim de ampliar o entendimento do
investigador sobre o caso em estudo, embora, por mais cuidadoso que possa ser o olhar do
pesquisador, este só consegue perceber alguns aspectos, o que justifica a escolha de outros
instrumentos para a recolha de dados, sob pena, de se ter apenas um único olhar.
26

Segundo Stake (2012, p. 81), “os investigadores qualitativos têm orgulho de descobrir
e retratar as múltiplas perspectivas sobre o caso”, nessa direção e complementa que “a entrevista
é a via principal para as realidades múltiplas”. No que se refere à análise documental atribui-se
a mesma importância dos demais instrumentos de recolha de dados, visto que, de acordo com
Stake (2012, p. 81), no momento da sua produção, “os documentos servem como substitutos de
registros de actividades que o investigador não poderia observar directamente”.

1.4 Objetivos pretendidos

O estudo tomou como objetivo norteador, analisar como os atores da organização


educativa (gestores, professores, alunos e pais), se apropriaram das significações do
cargo/função do professor diretor de turma no contexto da escola pública estadual regular do
estado do Ceará-Brasil no período de 2011 a 2014.
O objetivo central deste estudo se desdobra nos seguintes objetivos específicos:

a) entender o processo histórico da instituição do cargo/função de professor diretor de


turma no sistema educativo português e as concepções atribuídas a tal cargo no contexto
de sua origem à atualidade;
b) analisar a trajetória da política educativa Projeto Professor Diretor de Turma em todos
os contextos de atuação nas escolas da rede pública estadual regular de ensino cearense
no marco temporal de 2011 a 2014;
c) compreender as aproximações e distanciamentos das significações do cargo/função
de diretor de turma entre os dois contextos estudados, Brasil e Portugal.

1.5 A estrutura da tese

O presente relatório de tese está estruturado em seis capítulos, incluindo esta introdução.
A organização da tese pretende revelar a trajetória do caminho teórico, analítico e metodológico
percorrido na investigação de doutorado que ora se apresenta.
A introdução, neste documento, configura-se como um capítulo com a breve
apresentação do desenho teórico, metodológico e empírico que se constituiu no percurso da
investigação, e ainda, descreve sucintamente o modelo de análise e as enunciações
metodológicas, além de apresentar o objeto de estudo da investigação.
27

No segundo capítulo, procura-se compreender a política educacional do estado do Ceará


e os seus antecedentes históricos que levaram a consecução da política educativa a qual se
debruçou no percurso investigativo deste trabalho. Também se buscou compreender a trajetória
da política educativa em estudo, o PPDT, realizando um regresso à gênese inspiradora do
sistema educativo português, com vistas a compreensão das (re)interpretações e
(re)contextualizações da prática educativa em atuação na escola pública do estado do Ceará-
Brasil.
O terceiro capítulo assume o esforço teórico da construção do modelo de analise, na
perspectiva de iluminar os achados empíricos identificados no campo investigado. Assim,
recorre-se ao ciclo contínuo de políticas em articulação, com a perspectiva da escola como
organização educativa, entre as dimensões do “plano das orientações para a ação” e o “plano
da ação” nos diferentes contextos.
No quarto capítulo, é feita uma justificativa das opções metodológicas, procurando
apresentar e fundamentar a preferência dada à investigação qualitativa, a estratégia de estudo
de caso e à seleção dos instrumentos de recolha de dados. Também se buscou caracterizar o
campo de investigação e descrever as unidades de análises selecionadas, para a realização do
estudo de caso.
No quinto capítulo, tomaram-se como referência as abordagens teóricas do modelo de
análise para interpretar os dados angariados no campo empírico. Tais abordagens se assentam
no ciclo contínuo de políticas, na busca constante de compreender a trajetória do PPDT em
atuação na escola pública regular de ensino, além de procurar perceber como se mobiliza a
atuação da política educativa entre “plano das orientações para a ação” e o “plano da ação”.
O sexto capítulo é dedicado à compreensão, a partir dos textos, contextos e práticas, as
aproximações e distanciamento do cargo/função de diretor de turma, construídas no contexto
das escolas públicas cearenses, no Brasil, em relação às significações do diretor de turma na
escola portuguesa.
Por fim, temos as considerações finais seguidas dos apêndices e anexos.
28

2 A POLÍTICA EDUCACIONAL DO ESTADO DO CEARÁ-BRASIL COMO PONTO


DE PARTIDA

Objetiva-se, neste capítulo, apresentar e refletir sobre o percurso histórico, político e


sociológico pelo qual a política educacional do estado do Ceará foi se construindo nas últimas
décadas, identificando os seus antecedentes históricos e os desdobramentos que influenciaram
sua materialização no contexto em que se insere a política educativa da presente investigação.
Nesse sentido, intenta-se inicialmente analisar a política educacional, no âmbito geral;
posteriormente, realiza-se a caracterização da política educativa em estudo mediante os
antecedentes históricos considerados como inspiração no contexto de influência da
(re)interpretação, tradução e (re)contextualização dos atores que mobilizaram a atuação da
política educativa no campo estudado.

2.1 Considerações sobre a política educacional cearense e seus antecedentes históricos

O estado do Ceará, localizado no Nordeste brasileiro, pode ser apresentado como um


exemplo de executor das políticas públicas definidas pelo governo federal, pelo fato de cumprir
criteriosamente as orientações centrais, no contexto local, no tocante às políticas de
descentralização, nas mais diversas áreas de atuação, da educação à saúde. A descentralização
das responsabilidades e o aumento dos mecanismos de controle podem ser constatados
mediante a mensuração dos resultados, e, sobretudo, a partir das análises da configuração
histórica desse processo.
A partir da ampliação e do aprofundamento das reflexões sobre o campo educacional
cearense, realizadas no percurso da construção do relatório final da dissertação de mestrado,
finalizada em 2012, considera-se que a política educacional em andamento no estado do Ceará
tem sua origem nas reformas eduacionais ocorridas na educação brasileira, com o início na
segunda metade da década dos anos de 1990, como desdobramentos dos anos anteriores, os
quais foram marcados pelos processos de redemocratização no Brasil.
Diante dessas considerações iniciais, chama-se a atenção para o fato de que a reforma
educacional cearense teve, na sua gênese, as mesmas concepções que orientaram as reformas
educacionais centrais do país, conjugadas pelo ideário das organizações internacionais 9 que

9
Organizações ou organismos internacionais agrupam instituições internacionais de vários países com interesses
comuns, exemplo Organização das Nações Unidas (ONU), Fundo Monetário Internacional (FMI), Comissão
Econômica para América Latina/CEPAL, Oficina Regional de Educação para América Latina e Caribe/OREALC,
29

exercem influência no âmbito global e que intervêm diretamente nas configurações políticas e
econômicas dos países periféricos, pobres e/ou em desenvolvimento, como é o caso dos países
da América Latina.
A propósito dessa reflexão, Leitão (2010, p. 79) defende que, no que se relaciona às
políticas públicas para a educação cearense, “a discursividade da reforma cearense foi gerada
no interior da própria formação discursiva em gestação em meio ao burburinho geral das
reformas da América Latina e no Brasil, na sua anexação ao capital globalizado”. Na direção
desse debate, a autora segue afirmando que “foi possível entender, então, a ‘Caminhada
Cearense’10 como irrupção no quadro dos ‘novos’ projetos educacionais desenhados para o
Brasil e o Ceará na década de 1990” (LEITÃO, 2010, p. 79).
Cabe, mais uma vez, chamar a atenção para o fato de que a reforma educacional cearense
se materializou não somente como desdobramento das políticas centrais do país, mas,
sobretudo, sob a égide das orientações dos organismos internacionais, seguindo o exemplo de
outros estados brasileiros, conforme afirma Dagmar M. L. Zibas (2005, p. 204) em pesquisa
realizada sobre a reforma do ensino médio no Ceará. Afirma

O que vale aqui destacar é que a reforma, no Ceará, não foi induzida, integralmente,
pelo governo federal, mas teve, também, uma vinculação direta com movimentos de
abrangência global, uma vez que as autoridades estaduais tinham bom trânsito
(inclusive quanto à obtenção de empréstimos) junto a organismos multilaterais. Na
verdade, a Secretaria da Educação do Ceará e suas congêneres de São Paulo, Paraná
e Minas Gerais constituíram, nos meados dos anos 1990, simultaneamente, as
reformuladoras e implementadoras de políticas educacionais cuja matriz estava
situada em organizações internacionais.

É pertinente lembrar que as reformas sucedidas no Brasil, após os 21 anos de ditadura


militar11, decorrem da nova configuração econômica mundial, desencadeada na década de 1980,
no contexto da reordenação do Estado, no âmbito global e na perspectiva de revitalizar a
economia após a crise da década anterior. Neste sentido, para propiciar o desenvolvimento
econômico, precípuo ao ideário que mobilizou as transformações mundiais das últimas décadas,
a educação ganha centralidade.

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura/UNESCO, Fundo Monetário
Internacional/FMI, Banco Mundial/BM e instituições associadas. Muitas dessas instituições, financiam e ou
monitoram a educação, projetos de desenvolvimento econômico, no Brasil e demais países em desenvolvimento
na América Latina.
10
Política educacional do período de 1995 a 2002.
11
Período do regime militar iniciado com o golpe militar de 31 de março de 1964 até a escolha do deputado
Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral em 15 de janeiro de 1995.
30

Oliveira (2009a, p. 79) chama a atenção para a relevância ocupada pela educação como
componente indispensável ao desenvolvimento econômico, algo já observado nos primeiros
anos da década de 1960, como prenúncio das novas demandas educativas:

A educação é percebida como um componente essencial ao desenvolvimento


econômico à medida que exerce forte influência sobre a inversão tecnológica, a
difusão de inovações, a aptidão empresarial, os padrões de consumo, a adaptabilidade
às mudanças econômicas e a participação ativa dos distintos setores sociais nas tarefas
do desenvolvimento. Considera-se indispensável um nível relativamente alto de
educação geral, tanto primária quanto secundária. (OLIVEIRA, 2009a, p. 79).

A reforma eduacional brasileira, que teve início na segunda metade da década dos anos
de 1990, tem suas origens nos anos anteriores, quando algumas políticas já se materializavam
(KRAWCZYK, 2008). Sobre os sentidos que mobilizaram a reforma educacional da década de
1990, Krawczyk (2008, p. 47) afirma:

No ideário da reforma buscava-se conciliar as diretrizes internacionais para a


constituição de uma nova forma de gestão da educação e da escola, no marco de
mudanças regulatórias próprias do novo modelo hegemônico do papel do Estado, e a
premente necessidade de reverter o quadro de exclusão e desigualdade educacional,
representado principalmente pelo exíguo atendimento à demanda do ensino
fundamental e médio e dos altos índices de fracasso e evasão escolar.

Nesse contexto, as responsabilidades, entre as diferentes esferas do poder público, foram


distribuídas, cabendo aos estados, desde a organização do ensino médio, até a universalização
da educação básica, o que lhes permitiu realizar mudanças na legislação educacional, e
reformas, no sistema educacional, na instância local. Diante desse entendimento, volta-se o
olhar para compreender como se deram os desdobramentos de tais reformas, especificamente,
na área da educação do estado do Ceará, que constituiu o lócus da presente investigação.
Nos anos de 1995 a 2002, Tasso Ribeiro Jereissati12 encontrava-se à frente do governo
do estado do Ceará/Brasil, ocupando o cargo, no seu segundo e terceiro mandatos (1995-
1998/1999-2002), com um projeto político mudancista em implementação no Estado, em
andamento desde o final dos anos de 1980, ocasião em que fora eleito para o primeiro mandato
(1987-1991); intercalado por Ciro Ferreira Gomes (1991-1994), na altura, membro do mesmo
grupo político.
Com o argumento da “mudança” em um momento de intensas transformações no Estado
brasileiro, a maioria da população do Estado do Ceará elegeu, em 1986, o empresário estreante
na política, Tasso Jereissati. Sua gestão tornou-se conhecida como “o governo das mudanças”

12
Tasso Ribeiro Jereissati foi governador do Ceará por três mandatos, correspondente aos anos de 1987/1990,
1995/1998 e 1999/2002.
31

ou “grupo cambebista”13; assim, o referido grupo político se firmou hegemonicamente no


controle do poder do Estado cearense de 1987 a 2002.
O estado do Ceará, como dito anteriormente, reflete os desdobramentos das mudanças
e reformas estruturais do Estado central, atendendo aos princípios norteadores para as políticas
educacionais influenciadas pelas orientações das transformações globais. Em nível federal, os
interesses explicitaram as tensões nas disputas travadas no processo de debate e consolidação
da Constituição Federal de 1988, considerada popularmente “Constituição Cidadã”. No campo
educacional, só praticamente dez anos mais tarde, foi promulgada a nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional – LDB, nº 9.394/96, após sucessivos debates e embates das
diferentes correntes políticas14.
No sentido de compreender o discurso da qualidade na educação, presente nos
documentos que nortearam a política educacional do citado período, na história do Ceará,
Leitão (2010, p. 83) assevera:

Uma não apressada conclusão é possível apontar de saída: a produção do discurso da


qualidade em educação, no Ceará, atendeu ideologicamente aos interesses do sistema
do capitalismo moderno. A qualidade na educação assumiu um único sentido: de
conotação calcada nos valores empresariais como eficiência, eficácia, efetividade,
racionalização, modernização, otimização dos resultados, adquirindo um caráter
tecnicista, para atender às exigências pragmáticas do mercado.

Na perspectiva do ex-secretário da educação básica do Ceará, Antenor Naspolini (2001,


p. 169), nos dois mandatos do governador Tasso Jereissati (1995 a 2002),

Três elementos apoiaram a reforma de educação básica cearense, entre 1995 e 2000:
uma reconhecida necessidade de mudança, expressa nos planos de governo dos
últimos 12 anos; o contexto econômico e político favorável, traduzido pelo
saneamento das finanças do estado e a expressiva credibilidade de suas instituições; e
a existência de mecanismos efetivos de participação social, evidenciados pela
modernização das formas de gestão pública e pela atuação organizada da sociedade
civil.

13
Segundo Lima (2012, p. 66), “o então ‘governo das mudanças’ deu início à constituição de um grupo político
hegemônico, que liderou a política local até o início dos anos 2000, a “era cambebista”, como o grupo era
conhecido em alusão à nova sede administrativa Palácio do Cambeba, construída com ares de modernização”.
14
Para o entendimento do processo de disputa entre os projetos políticos contraditórios na construção da última
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) brasileira, n. 9.394 decretada e sancionada no ano de 1996,
cabe alguns destaques. Os educadores e sindicalistas que defendiam a educação pública e participavam do Fórum
Nacional de Defesa da Escola Pública na LDB (Fórum), coadunavam com o projeto de LDB apresentado na
Câmara dos Deputados pelo Deputado Octavio Elísio, no dia 28 de novembro de 1988, denominado como Projeto
de Lei (PL) n. 1.258, aprovado na Assembleia Legislativa como PL n. 1.258-C em 13/05/1993. Entretanto, no
Senado Federal, o denominado PLC n. 101/1993, foi descaracterizado pelo relator senador Darcy Ribeiro, a fim
de atender os interesses do poder executivo e beneficiar os defensores do ensino particular (BRZEZINSKI, 2014).
32

Cabe destacar que os elementos citados por Naspolini (2001), sobre a reforma da
educação básica no Ceará, não explicitam a influência do pensamento condutor do processo de
globalização e internacionalização da economia, presente nas políticas públicas educacionais,
implementadas nas últimas décadas, no contexto nacional e local. Os argumentos do autor sobre
a reforma educacional cearense não revelam as intenções das concepções neoliberalizantes,
contidas nos propagados valores de racionalização, otimização dos recursos, eficiência,
eficácia, equidade, qualidade, participação, descentralização e democracia, contidas nos
documentos do período.
Contudo, concorda-se com Leitão (2010, p. 37) quando ele afirma que “[...] a reforma
educacional cearense, em meados da década de 1990 [...], está imersa nos quadros da reforma
estrutural do Estado, atendendo a interesses internacionais da mundialização do capital,
impulsionada, principalmente, por esta dinâmica dos novos tempos”. Em conformidade com
tais argumentos, Zibas (2005, p. 208) anota que “empréstimos internacionais começaram logo
a chegar em apoio aos projetos do estado, com o aval do governo federal, o que possibilitou a
reforma de muitas escolas de ensino médio”.
A fim de proceder ao movimento de análise da macropolítica à micropolítica, ou do
global para o local, e vice-versa, retoma-se o olhar analítico para a política central do Brasil,
naquele contexto. Na condução do governo federal, no período que Tasso Jereissati (1995 a
2002) governava o Ceará, achava-se Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), responsável
pela reforma estrutural do Estado brasileiro com vistas à inserção do Brasil na economia global,
não coincidentemente sob os mesmos valores, contidos no ideário da reforma educacional
cearense, visto que, os líderes políticos supracitados pertencem ao mesmo partido. Conforme
Oliveira (2009b, p. 199),

O governo FHC15 (1995-2002), marcado pela estabilidade econômica alcançada


através do Plano Real, promoveu importante reforma do Estado brasileiro no sentido
de sua racionalização e modernização. Tal reforma que implicou, sobretudo, a
privatização de empresas públicas, trouxe como importante elemento iniciativas de
desregulamentação da Administração Federal e, consequentemente, da administração
pública, instaurando um modelo de gestão das políticas sociais assentado na
descentralização. Esse modelo trouxe consequências consideráveis para a educação.

As reformas implantadas no Brasil, nos anos de 1990, tiveram marcadamente a


configuração das orientações dos organismos internacionais, como condição para a concessão
de financiamentos e cooperação técnica. Sobretudo, no âmbito da educação, foram firmados

15
Fernando Henrique Cardoso, fundou o PSDB, foi Presidente do Brasil por dois mandatos consecutivos (1995-
2002).
33

acordos para o desenvolvimento de programas e projetos, em sua maioria, financiados pelo


Banco Mundial (BM).
Sobre a influência dos organismos internacionais na educação brasileira, Fonseca e
Oliveira (2009, p. 235) esclarecem:

Na década de 1990, os organismos internacionais tiveram presença marcante no


Brasil, dentre eles a Unesco, o Unicef, o Pnud e o Banco Mundial (BM). Na educação
básica, este último projetou-se como a principal agência internacional de cooperação,
seja pela amplitude territorial e temporal de seus projetos, seja pela magnitude dos
financiamentos. Dois acordos foram firmados com o governo federal, e outros
diretamente com os governos dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Ceará,
Espírito Santo e Paraná.

Os autores prosseguem com as observações sobre os acordos firmados entre o Banco


Mundial e o Ministério da Educação, direcionados para as regiões mais pobres do Brasil,
reproduzindo as práticas gerencialistas, transpostas do ambiente empresarial, como os valores
de eficiência e eficácia, explícitos no Projeto Nordeste. Para Fonseca e Oliveira (2009, p. 235),

O Projeto Nordeste também faz parte desse processo, fruto de um acordo do MEC
com o BM para o desenvolvimento do ensino nas quatro primeiras séries da educação
fundamental em toda a região Nordeste. De acordo com a expectativa gerada pela
cooperação do BM, as experiências dos projetos seriam repassadas para o sistema
educacional como um todo, produzindo eficiência (maior produtividade educacional
com menor custo) e eficácia, esta entendida como alcance de objetivos de impacto
para melhorar o desempenho escolar (expansão de matrículas, diminuição da evasão
e da repetência).

No Ceará, o projeto Todos pela Educação de Qualidade Para Todos, na gestão de Tasso
Jereissati, contou com significativo aporte de recursos extraorçamentários, oriundos de
empréstimos internacionais, concedidos pelo Banco Mundial para financiar o ensino
fundamental. Os projetos Nordeste e o FUNDESCOLA (1998)16 resultaram de acordos
estabelecidos entre os organismos internacionais, a saber, o Banco Mundial e o governo federal.
No caso do último, trata-se da política de descentralização e municipalização, sendo o Plano de
Desenvolvimento da Escola (PDE) seu carro-chefe (VIEIRA, 2002).

16
O Fundo de Fortalecimento da Escola (Fundescola) é um programa do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE) - MEC, criado em 1995, realizado em parceria com as secretarias estaduais e municipais de
Educação das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com financiamento do Banco Mundial e do Tesouro
Nacional. O objetivo do programa é promover a eficácia, eficiência e equidade no ensino fundamental público das
regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, por meio da oferta de serviços, produtos e assistência técnico-financeira
inovadores e de qualidade, que focalizam o processo de ensino-aprendizagem e as práticas gerenciais das escolas
e secretarias de Educação. Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/fnde/sala-de-
imprensa/noticias/itemlist/tag/Fundescola%20(Fundo%20de%20Fortalecimento%20da%20Escola)>. Acesso em:
13 out. 2016.
34

Quanto ao Estado do Ceará, segundo Vieira17 (2002), foram firmados acordos


diretamente com os organismos internacionais para a concessão de financiamento para a
educação.

O Projeto Escola Novo Milênio: educação básica de qualidade é uma iniciativa


contratada pelo próprio Estado, no valor de US$ 150 milhões. Destes, US$ 90 milhões
referem-se ao investimento do Banco Mundial e US$ 60 milhões são a contrapartida
do governo estadual (VIEIRA, 2002, p. 369).

O Estado do Ceará foi precursor na direção da materialização das novas políticas


públicas para a educação, tomando as primeiras iniciativas antes mesmo da aprovação da LDB
nº 9.394, em 1996. Em 1989, foi aprovada uma nova Constituição do Estado do Ceará a qual,
sem a mobilização da sociedade cearense, esse texto é mais uma reprodução da Constituição
Federal de 1988, contudo, contempla dispositivos que abrem caminhos para a efetivação da
gestão democrática e da municipalização, iniciativas ensaiadas no segundo e terceiro governos,
de Tasso Jeressaiti.
Para Zibas (2005, p. 207), “O papel precursor do Ceará (junto com os Estados de São
Paulo, Minas e do Paraná) na implementação da reforma de contornos internacionais no país
fica evidente no documento ‘Todos pela educação de qualidade para todos’ (Ceará, 1995),
anterior à promulgação da LDB”. Tal característica coloca o Ceará em uma posição de
vanguarda, no processo de racionalização da administração pública e da reforma educacional.
Na direção de compreender o esforço do estado cearense em atualizar as estratégias
administrativas que orientavam as reformas no campo educacional, materializadas nos anos de
1990, Zibas (2008, p. 461) argumenta que

No contexto cearense, esse esforço de “aggiornamento 18 neoliberal” teve


desdobramentos diversos. De um lado, os formuladores de políticas trataram de
introduzir uma nova racionalidade ao sistema e, nesse sentido, o Ceará antecipou-se
à promulgação, em 1996, da nova Lei de Diretrizes e Bases – LDB (Lei n. 9.394/96),
pois, no documento “Todos pela educação de qualidade para todos” (Ceará, 1995), foi
delineada a reestruturação de toda a Secretaria de Educação (SEDUC) e dos órgãos
intermediários, de forma a conferir mais autonomia às unidades escolares. Ficou
instituída, por exemplo, a obrigação das escolas de elaborarem seu projeto político-
pedagógico, em um processo em que, afirmando sua autonomia, as instituições
também deveriam estabelecer um compromisso passível de ser cobrado.

17
Sofia Lerche Vieira, foi secretária da Educação Básica do Estado do Ceará no período de 2003 a 2006.
18
Termo italiano, que significa "atualização". Esta palavra foi a orientação chave dada como objetivo para o
Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII em 1962. AGGIORNAMENTO. In: WIKIPÉDIA, a
enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2017. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Aggiornamento&oldid=49301907>. Acesso em: 15 jul. 2017.
35

Na perspectiva da descentralização, o governo do estado do Ceará reestruturou as


antigas delegacias regionais de Educação (14 DERES), instâncias burocráticas e sem autonomia
no contexto educacional local, nas regiões em que estavam localizadas. Nesse sentido, o
governo criou 21 Centros Regionais de Desenvolvimento da Educação – CREDEs, através do
Decreto nº 24.274, de 22 de novembro de 1996, distribuídos nas vinte microrregiões
geográficas, e um centro específico, na capital (LEITÃO, 2010). Diante disso, Leitão (2010, p.
107) sublinha:

Com a transferência de responsabilidades na gerência da educação para os CREDEs,


a SEDUC considerou que conseguiria melhorar os indicadores de acesso escolar. Em
sua avaliação interna, acreditava que os CREDEs possibilitavam o estabelecimento
de novas relações de parceria e colaboração entre estado e municípios,
desconcentrando o poder e as atribuições inerentes à instância central responsável
pelas políticas públicas de educação no estado do Ceará.

O processo de reestruturação e modernização da educação cearense não parou na


referida iniciativa, visto que muitas outras inovações foram postas em prática, como concurso
público para professores, escolha dos coordenadores regionais (CREDES), regulamentação
para o preenchimento de direção das escolas por meio de processo eleitoral combinado com a
realização de provas de conhecimentos referentes ao campo educacional e títulos relacionados
à gestão e a administração escolar, com a participação de alunos, professores, funcionários e
pais (LEITÃO, 2010; ZIBAS, 2005, 2008; VIEIRA, 2002).
Vieira (2007) esclarece que a inovação na gestão das escolas trouxe muitos ganhos, do
ponto de vista da alternância do poder, representando alternativa positiva ao anterior critério da
indicação política para a nomeação dos cargos de diretores escolares. Sobre esse processo, em
sua pesquisa “Gestão, Avaliação e Sucesso Escolar: Recortes da Trajetória Cearense” (2007),
a educadora afirma que

No período compreendido entre 1995 e 2002, como outras unidades da federação, o


Estado deu largos passos na direção da universalização do Ensino Fundamental e da
expansão do Ensino Médio. O projeto de governo, resumido na proposta “Todos pela
Educação de Qualidade para Todos”, imprimiu forte ênfase na participação e
mobilização da sociedade pela educação. Algumas peculiaridades, entretanto, foram
determinantes no processo vivenciado na educação cearense nesses oito anos, duas
das quais merecem destaque: o processo de seleção técnica e eleição de diretores e o
acelerado processo de municipalização do Ensino Fundamental (VIEIRA, 2007, p.
46).

Sob o argumento de implantação da política de gestão democrática, as escolas públicas


estaduais cearenses vivenciaram a primeira eleição para diretores, ainda em 1995. Naspolini
(2001, p. 181) anota que “o primeiro passo dado para a implementação desta política foram as
36

eleições diretas para diretores escolares em 1995, que inauguraram na educação a forma
democrática de escolha de gerentes públicos”.
Sobre o pensamento engendrado no modelo de gestão democrática, o ex-secretário da
educação, destaca que a “concepção aponta para a descentralização, a redução dos níveis
hierárquicos, a participação da sociedade civil nas ações do governo, a socialização das decisões
e a divisão de responsabilidades” (NASPOLINI, 2001, p. 181). Entretanto, compreende-se que
a gestão democrática não se restringe a eleições para diretores escolares, mas, sobretudo,
consiste na efetiva participação dos atores que interagem no cotidiano da comunidade escolar,
com autonomia para tomada de decisões. Entende-se também que tal experiência tem as bases
da sua concepção, como já mencionado, na reforma educacional do Estado brasileiro da década
de 1990. Contudo, é importante destacar também a influência externa do Banco Mundial, que
financiou projetos direcionados ao setor da educação básica, no Estado do Ceará.
Os estados do Ceará, Bahia e Pernambuco foram os únicos do País a contar com um
empréstimo para a Educação Básica, firmado com o Banco Mundial, simultaneamente ao
Fundescola. Foram, portanto, precedentes do BM no Brasil, em relação aos outros estados no
que se refere à política de educação e empréstimos auferidos ao BM (SILVA; AZZI; BOCK,
2007). Neste sentido, estes teóricos destacam:

O estado do Ceará está atualmente na fase final de seu programa “Projeto para a
melhoria da educação básica do Ceará” (Projeto Escola Novo Milênio), no qual o
empréstimo junto ao Banco Mundial corresponde a US$ 90 milhões, num total de US$
150 milhões. Coordenado pela Secretaria de Educação Básica do Estado do Ceará
(SEDUC-CE), o projeto está previsto para o período de 29 de novembro de 2000 a 30
de junho de 2006, sendo os anos de 2001 a 2005 prioritários para a avaliação da sua
efetividade. O Banco deixa claro que o Projeto Escola Novo Milênio visa
complementar projetos federais em andamento no estado, tais como o Fundescola e o
Promed (Projeto de Expansão e Melhoria da Educação Secundária, financiado pelo
Banco Interamericano de Desenvolvimento) (SILVA; AZZI; BOCK, 2007, p. 33).

Com efeito, a gestão democrática “implementada” nas escolas públicas estaduais do


Ceará tem suas concepções baseadas nas exigências dos organismos internacionais, onde estes
impõem à educação dos países em desenvolvimento, que recorrem aos seus recursos
financeiros, o pacote de estratégias orientadas pelos seus especialistas. Sobre a política de
gestão democrática, também denominada gestão colegiada, “implementada” pelo governo no
âmbito da reforma educacional − em andamento no Ceará, a partir da metade da década dos
anos 1990 −, Naspolini (2001, p. 181) corrobora que

[...] a proposta de gestão colegiada da Secretaria de Educação Básica do Ceará focaliza


a escola como ponto de partida, adotando mecanismos como a eleição direta para
diretores de escolas, a criação do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento da Escola
37

(FADE), o projeto Escola Viva, a criação dos Conselhos Escolares, a Escolarização


da Merenda e, mais recentemente, a definição do Plano de Desenvolvimento da Escola
(PDE) (NASPOLINI, 2001, p. 181).

A partir da fala do autor, entende-se que, além dos projetos voltados para a lógica de
modernização implantada pelo governo, está em destaque a responsabilização da escola pela
materialização das políticas educativas do governo cearense, no contexto da reforma
educacional.
No contexto político e social em tela, é inegável a centralidade que ocupa a educação
nas diferentes esferas políticas que constituem a organização da sociedade, desde as instâncias
municipais, estaduais, nacionais, até os organismos internacionais que financiam projetos
educacionais em diferentes países e regiões. Entretanto, a administração pública tem
transplantado ações do modelo gerencial, a fim de se tornar mais eficiente, eficaz e flexível.
Desse modo, “uma das ações prioritárias foi a descentralização, pela qual foram transferidas
funções da burocracia central para estados e municípios [...]” (FONSECA; OLIVEIRA, 2009,
p. 235). Com esse entendimento, procurou-se focalizar a reflexão para as instâncias locais e
analisar quais as influências políticas locais, como também, a sua relação com a educação,
diante das interfaces com as demais esferas de organização política.
Com efeito, considera-se que as estratégias de modernização, racionalização, e
descentralização, da educação e das demais políticas sociais − adotadas pelo poder central na
década de 1990 −, e que passaram pela via da municipalização, foram concebidas no contexto
da reforma do Estado brasileiro, sob as orientações dos organismos internacionais, na
perspectiva de racionalizar recursos e transferir para a sociedade as atribuições que antes
concerniam ao Estado, sob o argumento da garantia da otimização dos resultados e da eficiência
e eficácia do Estado.
Pensando no âmbito global, nos termos da ampliação das definições neoliberais para o
mundo, observa-se que as transformações materializadas nas reformas dos anos de 1990 no
Brasil impuseram a lógica neoliberal sob o discurso da modernização e racionalização do
Estado, num momento histórico em que o país passava pelo processo de redemocratização. É
nesse contexto, que Leitão (2010) insere os desdobramentos das contingências das reformas
engendradas no Estado cearense.
Deste modo, no âmbito global, são perceptíveis os efeitos do processo da mundialização
da economia, contudo, tal processo não se restringe exclusivamente a este campo, mas se
estende a todas as dimensões da organização, social, política e cultural. Nessa perspectiva, na
educação, precisamente na educação escolar, tem sido marcadamente fértil a germinação de
38

medidas para favorecer a efetivação de tal tendência, sob o argumento do conhecimento como
condição necessária ao “desenvolvimento” e diminuição das desigualdades. A esse respeito,
bem diz Krawczyk (2000, p. 2):

[...] no processo de mundialização da economia, o conhecimento é frenquentemente


apresentado como a principal variável na explicação das novas formas de organização
social e econômica e muitas vezes como condicionante e gerador de novas
desigualdades e diferenciações. Daí a centralidade que se tem na educação outorgada
à educação escolar.

Os aspectos observados no cenário global têm desdobramentos nas diferentes


dimensões, portanto, para compreender as relações políticas que se materializam no âmbito
local faz-se imperativo voltar o olhar para a política que se estabelece nas demais esferas, ou
seja, nos âmbitos central e global. De acordo com Vieira (2011, p. 126, grifo do autor), “o local,
pois, já não é mais o mesmo e ultrapassa a demarcação do território, redefinindo-se com base
na identidade, traço marcante das redes sociais que desenham novos contornos às fronteiras
entre povos e países”.
A relativa autonomia conquistada pelos municípios, enquanto instâncias de políticas,
decorre do processo de democratização do Estado brasileiro, iniciado na década de 1980 e
materializado no decorrer da década de 1990. Tais alterações no cenário político brasileiro, nos
primeiros anos da década de 1990, têm na promulgação da Constituição Federal (1988) o
respaldo legal, e no âmbito da educação, na atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (9.394/96).
A relação entre as instâncias políticas macro e meso, com a escola, como também, a
esfera de produção e a decisão política, ou seja, a instância da micropolítica torna-se mais
estreita por meio da via da municipalização do ensino, processo desencadeado no Ceará em
meados da década de 1990. Assim, busca-se realizar uma reflexão acerca da política local a
partir da compreensão das relações que se constituem nas diferentes dimensões, com o foco na
perspectiva da atuação das políticas educacionais específicas para a realidade onde se vive.
As políticas públicas de democratização da educação que se configuraram no contexto
das reformas educacionais dos anos 90 encontraram terreno fértil à sua materialização no
cenário de ressignificação do Estado brasileiro, para atender ao processo de reestruturação
econômica. Nessa direção, o Estado do Ceará partiu na frente, na perspectiva de materializar a
política educacional “Todos pela Educação de Qualidade para Todos”, do “Governo das
Mudanças” Tasso Jereissati (1995-1998), a fim de adequar a educação cearense às exigências
39

do capitalismo contemporâneo, sob o imperativo dos compromissos assumidos com os


organismos internacionais (LEITÃO, 2010; ZIBAS, 2005, 2007; VIEIRA, 2002).
Ante o cenário político descrito, tem início no Estado do Ceará uma nova era na política
local, a era de “mudanças” com a eleição de Tasso Jereissati, sob o discurso de democratização.
Conforme Leitão (2010, p. 25), em sua pesquisa sobre a política educacional do Ceará,

[...] Este amanhã constitui-se na vitória de um autêntico representante da burguesia


industrial, Tasso Ribeiro Jereissati, ao governo do Ceará, no ano de 1986. Com um
discurso sustentado pelo termo “mudança”, o supracitado empresário conseguiu
eleger-se governador, pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), de um
dos estados mais pobres da Federação.

O denominado “governo das mudanças” deu início à constituição de um grupo político


hegemônico, que liderou a política local até o início dos anos 2000, nomeada de “era
cambebista”, como o grupo ficou conhecido no Estado, uma alusão à nova sede administrativa,
o “Palácio do Cambeba”, construído com ares de modernização. Neste sentido, Leitão (2010,
p. 26) pondera sobre o fato de como a modernização administrativa foi uma marca impressa
por tal grupo:

Inaugura-se, pois, no Ceará o “governo das mudanças” por um novo grupo


hegemônico que consolidou o seu domínio político por quatro mandatos consecutivos
(1987-1990;1991-1994;1995-1998;1999-2002). O “grupo das mudanças”, como
assim era conhecido e reconhecido pela população, implantou no estado um projeto
de modernização da administração pública e um pacote de reformas políticas e
administrativas de caráter neoliberal.

Registra-se que, naquele contexto, o forte grupo político foi determinante para promover
a inserção do Estado na nova ordem econômica mundial, constituída por uma elite econômica
local da área da indústria e do comércio, com amplos interesses na reestruturação do Estado e
na mudança da prática política e administrativa (LEITÃO, 2010). Tal grupo político conduziu
as mudanças de reestruturação do Estado, atendendo às demandas impostas pelas
transformações demarcadas pela reforma do Estado brasileiro, nos anos de 1990, momento em
que a educação foi alvo das mesmas concepções administrativas.
No campo da educação, as mudanças efetivadas pelo grupo político hegemônico em
questão não foram menos estruturais que na economia. O processo de descentralização e
municipalização da educação, bem como, a implantação da gestão democrática ganhou
materialidade em meados da década de 1990, no âmbito da reforma educacional do Estado
brasileiro, sob os ditames da política neoliberal.
40

O grupo político denominado “grupo das mudanças”, ou “cambebistas”, permaneceu na


condução do Estado até o final do ano de 2006. Em 2003, Tasso Jereissati foi substituído por
Lúcio Alcântara (2003/2006), membro do mesmo partido político (Partido da Social
Democracia Brasileira – PSDB), com discurso e imagem menos empreendedores no campo das
inovações, contudo deu continuidade ao projeto político, em andamento no estado.
Na sequência, Cid Ferreira Gomes19, respaldado pela experiência educacional
desenvolvida na prefeitura do município de Sobral/Ceará, por dois mandatos consecutivos
(1997-2000/2001-2004), toma posse do governo do estado do Ceará, em 2007, sob grande
expectativa do poder político local, e aclamado por uma significativa votação em eleição, na
qual derrotou o então governador Lúcio Alcântara (2003/2006). Tal experiência educacional
foi respaldada pelo Ministério da Educação (MEC), que a divulgou na série “Boas Práticas na
Educação” (INEP, 2005).
Sobre a série da publicação “Boas Práticas na Educação”, com a divulgação das
experiências educacionais consideradas “exitosas”, pelo MEC (GOULART, 2005, p. 11)
destaca:

A ideia é registrar práticas selecionadas com resultados comprovados e disseminá-las


amplamente, fazendo-as chegar, por meio de publicações, oficinas, seminários e
encontros, à comunidade educacional. Além dos responsáveis pela tomada de decisão
em políticas educacionais, queremos contar tais experiências inovadoras e as lições
que delas possam ser extraídas para as escolas e seus gestores, professores, alunos,
pais, a comunidade, enfim. Nosso objetivo é usar exemplos concretos, com seus
sucessos e dificuldades, para extrair aprendizagens e contribuir para a transformação
do quadro atual retratado pelas contundentes estatísticas educacionais.

Nesse cenário, localizado na região Norte do estado do Ceará, o prefeito Cid Ferreira
Gomes e a sua equipe ganham status de referência em política educacional, na perspectiva das
orientações que o MEC considerava importantes, como modelo a ser seguido. Contudo, a
imagem de político jovem, empreendedor, eficiente e com apelo modernizador não cabe só para
o campo educacional. Segundo Carvalho (2008, p. 34), “o ethos da credibilidade apoiou-se nos
depoimentos, narrativas e principalmente nas imagens documentais do crescimento de Sobral
sob as duas administrações de Cid Gomes”. O político com imagem de eficiência e inovação –
não só no campo da educação –, já desfrutava de trajetória política, para além do saldo da
administração, em dois mandatos, no município de Sobral, considerando também a sua tradição
política familiar:

19
Irmão mais novo do Ciro Ferreira Gomes, governador do estado do Ceará nos anos de 1991 a 1994, aliado ao
grupo “cambebista”.
41

Ele tinha uma trajetória política própria a ser mostrada na campanha. A voz em off
intercalava-se com a de sua mãe e a do irmão Ciro, entrelaçando-se, aí, elementos do
imaginário político da tradição e da modernidade: dos Ferreira Gomes, carrega a
herança de uma família de tradição, que tem a “política no sangue”; do imaginário da
modernidade, emerge o político jovem, com formação técnica (engenheiro), ousado,
competente (CARVALHO, 2008, p. 35).

No município de Sobral, o período 1997-2000 – primeiro mandato do prefeito Cid


Gomes –, foi marcado pela materialização das políticas públicas educacionais, resultantes das
importantes transformações na reconfiguração da estrutura federativa do Estado brasileiro, que
associaram democratização e descentralização, no processo de redemocratização do Estado,
iniciado na década de 1980.
No segundo mandato (2001-2004), Ciro Gomes dá continuidade às políticas
educacionais em andamento e estabelece como prioridade da sua gestão municipal o foco na
aprendizagem e, sobretudo, a alfabetização nas séries iniciais, a política de alfabetização na
idade certa. A atuação de tal política, pela Secretaria de Educação de Sobral, baseia-se em três
grandes pilares: “mudança da prática pedagógica, fortalecimento da autonomia da escola e
monitoramento dos resultados de aprendizagem com base em indicadores” (INEP, 2005, p. 16),
com vistas ao cumprimento das metas estabelecidas pelos gestores municipais, com foco na
alfabetização. De modo especial, fez-se uma referência à experiência do ex-governado Cid
Gomes, na prefeitura do município de Sobral, visando contribuir com a contextualização da sua
trajetória na política, com ênfase no campo educacional. A partir de agora, volta-se o olhar para
a política educacional materializada no seu governo no nível meso político, ou seja, o estado
do Ceará.

2.1.1 A Política Educacional do Governo Cid Gomes (2007-2010/2011-2014)

As forças políticas da região Norte do estado do Ceará surgem com uma forte imagem
pública: o jovem, arrojado e eficiente administrador, talhado para impulsionar o “salto” de
desenvolvimento que o Ceará precisava dar para retomar o crescimento. Com efeito, os
documentos oficiais do governo recém-empossado, a exemplo a Lei nº 13.875, de 7 de fevereiro
de 2007 dispõem sobre o modelo de gestão a ser implantado, pelo governador. Nessa direção,
Medeiros (2011, p. 16) afirma que, “em 2007, o Governo Cid Gomes assume o Estado com o
Plano de Governo ‘O grande Salto que o Ceará Merece’ e, por meio da Lei nº 13.875, de 7 de
fevereiro de 2007, define seu modelo de governar”.
42

Efetivamente, a gestão por resultados é marcada por um dos princípios definidos como
orientação administrativa do seu governo, consoante o art. 1º, parágrafo VI, da Lei n.
13.875/2007. No citado documento, como se pode verificar a seguir, o governador oficializa o
seu modelo de gestão e altera a estrutura de administração e assessoramento:

[...] a Gestão por Resultados como administração voltada para o cidadão, centrada
notadamente nas áreas finalísticas, objetivando padrões ótimos de eficiência, eficácia
e efetividade, contínua e sistematicamente avaliada e reordenada às necessidades
sociais, fornecendo concretos mecanismos de informação gerencial (SEDUC-CE,
2007, p. 3).

Embora o governo anterior tenha perdido as eleições para o novo político, o então
governador já havia lançado mão das estratégias e práticas administrativas voltadas para a
obtenção de resultados, como consequência das fortes orientações para a “implementação” dos
objetivos estratégicos de garantia, da pregada eficiência e eficácia. Para Medeiros (2011, p. 13),
“O início da implantação de GPR20 no Estado do Ceará, ocorreu no Plano de Governo de 2003-
2006, denominado ‘Ceará Cidadania, Crescimento com Inclusão Social’, do Governador Lúcio
Alcântara”. Ao assumir o governo, Cid Gomes não só dá continuidade à prática administrativa
em andamento, como a amplia para todas as secretarias do seu governo.
Dentre as iniciativas do Governo Cid Gomes, destacam-se empreendimentos locais, na
política educacional cearense; nomeadamente, o Programa de Alfabetização na Idade Certa
(PAIC)21, em 2012, ampliado para o âmbito nacional através da Portaria nº 867, de julho de
2012, do Ministério da Educação:

Art. 1º Fica instituído o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, pelo qual
o Ministério da Educação (MEC) e as secretarias estaduais, distrital e municipais de
educação reafirmam e ampliam o compromisso previsto no Decreto nº 6.094, de 24
de abril de 2007, de alfabetizar as crianças até, no máximo, os oito anos de idade, ao
final do 3º ano do ensino fundamental, aferindo os resultados por exame periódico
específico, que passa a abranger: I − a alfabetização em língua portuguesa e em
matemática; II − a realização de avaliações anuais universais, pelo Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira − INEP, para os concluintes do
3º ano do ensino fundamental.

O Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica (SPAECE) foi implantado no


Estado em 1992 e ampliado em 2007. A partir do ano de 2007, o SPAECE incorporou a
avaliação da alfabetização, expandiu a avaliação do ensino médio para as três séries de forma

20
Gestão Por Resultados ou Result Based Management (RBM).
21
O programa consistia em uma parceria estabelecida entre a SEDUC/CE e os 184 municípios do Ceará. Em 24
de maio de 2007 foi estabelecido um pacto de cooperação entre a SEDUC/CE e os 184 municípios do Ceará, no
qual os prefeitos assumem publicamente o compromisso com a execução das propostas do Programa Alfabetização
na Idade Certa, com o objetivo de alfabetizar todas as crianças até o 2º ano do ensino fundamental.
43

censitária, passando a ter como foco a avaliação da alfabetização (SPAECE − Alfa 2º ano), a
avaliação do ensino fundamental (5º e 9º anos), e a avaliação do ensino médio (1º, 2º e 3º anos).
No âmbito das iniciativas, nas políticas educativas locais, cabe destacar a criação da
Superintendência Escolar, como estratégia de acompanhamento, monitoramento e controle
direto, dos indicadores de eficiência, aprendizagem, frequência, abandono e demais aspectos
referentes à rotina cotidiana da escola e do professor.
Dentre as iniciativas apresentadas como inovadoras, o PPDT, objeto desta análise
investigativa, teve como inspiração o sistema educativo português e a sua atuação, nas escolas
públicas estaduais cearenses, que teve início no primeiro mandato do governo de Cid Ferreira
Gomes (2007-2010), e teve continuidade no seu segundo mandato (2011-2014).

2.1.2 O Projeto Professor Diretor de Turma no Estado do Ceará-Brasil: cronologia e


contextualização

Embora o objeto investigado tenha a palavra “projeto” na sua denominação, dada a


dimensão que ocupa no âmbito da política educacional do estado do Ceará, considera-se o
PPDT, para efeito desta análise, como sendo uma política educativa. Nessa perspectiva,
Antunes (2004) com base em Dale (1988, 1994) elucida que, “a análise da política de educação
orienta-se para compreender os processos e estruturas através dos quais a agenda para a
educação é produzida; isto é, a investigação a este nível procura examinar como são traduzidas
as dinâmicas macro-sociais” (ANTUNES, 2004, p. 40), no sentido de perceber como se
“constituem os contextos económico, político, cultural e ideológico - através do conjunto de
prioridades, objetivos, problemas e expectativas construídos face aos sistemas educativos”
(ANTUNES, 2004, p. 40).
Por seu turno, ainda no dizer de Antunes (2004, p. 40), “o estudo das políticas
educativas explora as formas como a agenda é concretizada através da (re)estruturação das
instituições, dos processos e das práticas educativas”. Nessa vertente, são direcionadas as
análises para “as interpretações, reacções e (re)posicionamentos do conjunto de actores
relevantes envolvidos, as relações e condições sociais que confrontam e, em certa medida, os
constituem, bem como as interações e os efeitos de tais dinâmicas face a outras esferas da vida
social” (ANTUNES, 2004, p. 40).
Corroborando com as perspectivas de análise expostas, considera-se o PPDT como uma
política educativa, uma vez que, observa-se nos seus efeitos uma reconfiguração na estrutura
das organizações escolares e na dinâmica das práticas educativas em meio ao contexto da
44

política educacional cearense. É nesse sentido que se procura analisar este objeto de estudo.
Desse modo, no contexto das inovações nas políticas educativas, entre os dois mandatos do
governo Cid Gomes (2007-2010/2011-2014), insere-se a presente investigação acerca do
PPDT, na escola pública estadual de ensino médio regular. Sobre a origem dessa política
educativa no cenário da educação cearense, cabe inicialmente destacar que o ano de 2007 marca
a origem do referido projeto no Brasil, precisamente, no XVIII Encontro da Associação
Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE) – Seção do Ceará, evento em que
houve uma apresentação sobre a experiência do professor-diretor de turma. nas escolas públicas
portuguesas. Em um momento anterior ao evento supracitado, uma das diretoras da ANPAE/CE
havia conhecido a experiência de diretor de turma, em Portugal, e procurou divulgá-la para os
educadores cearenses. Conjugados com os argumentos apresentados na exposição e na
mobilização de educadores, respeitados no âmbito da educação cearense, gestores educacionais
dos municípios de Eusébio, Madalena e Canindé iniciaram um projeto-piloto em três escolas.
Posteriormente, a SEDUC-CE aderiu à proposta – conforme sinalizado na introdução deste
trabalho –, inserindo-a nas escolas da rede pública estadual (SEDUC-CE, 2015; CRAVES;
LEITE, 2010).
Segundo Ball (2013, p. 177):

Em contextos nacionais de vários tipos em todo o mundo, há um conjunto de


“movimentos” experimentais e evolucionários gerais e altamente significativos em
curso que envolvem a modernização de serviços públicos, aparatos estaduais,
arquitetura institucional global do Estado e suas escalas de operação.

Embora se identifiquem “novas vozes e interesses”, representados nesses movimentos


no processo político de pesquisa, elaboração e avaliação das políticas para a educação (BALL,
2013), no caso da política educativa evidenciada neste estudo, percebe-se a influência dos
especialistas em educação das universidades locais, com trânsito político no grupo que se
encontrava no poder executivo do Estado.
A política educativa em análise iniciou sua atuação nas escolas públicas estaduais do
Ceará a partir de 2008, abrangendo apenas 25 escolas profissionais e constituindo uma nova
modalidade de escola, na rede pública estadual, parte do compromisso de construir 50 escolas
de ensino médio integrado ao profissional, assumido pelo então governador Cid Gomes até o
final do seu primeiro mandato. Nesse contexto, teve início como experiência piloto, nas escolas
estaduais de educação profissional, integradas ao ensino médio de tempo integral. Tal modelo
de escola que, naquele momento, estava sendo implantado no Estado, orientava-se pela
45

perspectiva de garantir a redução do abandono, a melhoria da frequência escolar e melhores


resultados de aprendizagem.
Sobre o processo inicial, no estudo realizado pela professora portuguesa, Haidé Eunice
G. F. Leite, consultora do PPDT na SEDUC-CE, e da Profa. Dra. Maria Luíza B. Chaves,
publicado no artigo “O Projeto Diretor de Turma no Ceará”, consta que, dois anos depois,

No período de 1º de outubro de 2008 até 21 de dezembro de 2008, foram visitadas as


25 escolas profissionais de ensino médio cearense com o objetivo de supervisionar e
orientar os trabalhos do diretor de turma, habilitando-os individualmente à efetivação
do cargo, às respectivas funções, atribuições e gestão operacional das atividades
propostas no projeto (CHAVES; LEITE, 2010, p. 9).

Com a construção de mais 26 escolas de educação profissional, como previa o


compromisso do governo em exercício, o PPDT foi ampliado (2009), para 51 escolas estaduais
de educação profissional. Segundo Chaves e Leite (2010, p. 9),

No período de 16 de fevereiro a 29 de junho do ano em curso, as atividades


relacionadas à execução do projeto tiveram uma abrangência muito ampla, mas
sempre, obstinadamente, focalizando a maioria das 51 unidades escolares (25 + 26)
do ensino médio profissionalizante integrado, selecionadas a priori, para a efetivação
do projeto.

Em consonância com a perspectiva do PPDT, no dia 12 de janeiro de 2010, a SEDUC


lança uma “chamada pública para adesão ao projeto professor diretor de turma”. Por meio desse
documento, a política educativa em estudo foi ampliada para as escolas de ensino médio regular.
Nos termos do referido documento sobre a adesão das escolas, consta que:

Poderão aderir ao Projeto Diretor de Turma todas as escolas públicas estaduais que
possuírem oferta de 1º ano do Ensino Médio. 2. Nas escolas onde não houver oferta
de Ensino Médio, a adesão ao Projeto Diretor de Turma poderá ser efetivada nas
turmas de 9º ano do Ensino Fundamental. 3. As escolas poderão aderir parcialmente,
em caráter de experiência, não sendo obrigatória a implementação do Projeto em todas
as turmas de 1º ano ou 9º ano. 4. Também é facultada às escolas a adesão a partir do
1º semestre letivo ou somente no para o 2º semestre letivo de 2010. 5. Cada escola
deve promover com seu colegiado de professores uma reunião de discussão sobre a
adesão ao projeto que deve ser registrada em ata que será o documento que confirmará
ou não a adesão da escola. Esta ata deve ser assinada pelo Núcleo Gestor e pelos
professores presentes à reunião. Previamente à reunião os professores devem fazer
uma leitura aprofundada do projeto. (SEDUC-CE, 2010, p. 1).

Como se pode observar no texto do documento de ampliação da “implantação” do


projeto para as escolas de ensino médio regular, há um processo de adesão gradual das escolas
e turmas/anos.
Para efeito de compreensão, faz-se importante destacar que a Secretaria da Educação do
Estado do Ceará (SEDUC/CE) divide-se em vinte Coordenadorias Regionais de
46

Desenvolvimento da Educação (CREDE)22, distribuídas pelo interior do estado, para


acompanhar mais de perto os 184 municípios; e três Superintendências das Escolas Estaduais
de Fortaleza (SEFOR), com sede no prédio da própria SEDUC/CE, para acompanhar as escolas
da capital, Fortaleza.
Conforme foi detalhado anteriormente, o PPDT encontra-se em andamento nas escolas
públicas estaduais do Ceará desde 2008 e, em 2014, já abrangia 596 escolas, 7.178 turmas e
6.470 professores-diretores de turma (SEDUC-CE, 2013).
Para melhor sistematização, o quadro que se segue apresenta a série histórica da
progressão do PPDT, no estado do Ceará, do ano de 2008 a 2014, onde se pode observar uma
efetiva progressão na adesão da política educativa em atuação, nas escolas cearenses:

Tabela 1 – Demonstrativo do PPDT CREDE/SEFOR de 2008 a 2014


Ano Nº de Escolas Escolas Nº de Porcentagem Nº de Nº de
Escolas do profissionais regulares Escolas aproximada professores Turmas
Ceará com PPDT com PPDT com o das escolas DT com DT
PPDT com o PPDT
2008 626 25 – 25 4% 93 93
2009 639 51 – 51 8% 264 264
2010 642 59 444 503 77% 2.818 3.040
2011 672 67 463 530 78% 4.661 4.918
2012 690 92 451 543 80% 4.885 5.637
2013 687 97 470 567 83% 5.574 6.204
2014 691 102 494 596 85% 6.470 7.178
Fonte: SEDUC-CE (2015).

Quanto à asserção da política educativa no contexto da prática, busca-se perceber nos


achados do trabalho de dissertação de Daniel Carlos da Costa (2014, p. 30)

[...] para enfrentar os maiores desafios presentes no ensino médio, como a


infrequência, a baixa aprendizagem e o abandono escolar, foi implantado, em 2008, o
Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT), direcionado, dessa vez, para o
monitoramento da aprendizagem, da frequência e do conhecimento das condições
socioculturais de cada aluno, para melhor conhecê-lo e apoiá-lo de forma
individualizada, rompendo com a massificação das ações.

Portanto, observam-se intenções e objetivos pautados pelos paradigmas adotados na


direção da eficácia e eficiência do sistema educacional e da qualidade da educação, referenciada
pelas avaliações de larga escala, com vistas ao monitoramento da aprendizagem, da frequência

22
Em 22/02/1996, através do Decreto 27.274, o governo do estado do Ceará instituiu vinte e um Centros Regionais
de Desenvolvimento da Educação (CREDE) em substituição as Delegacias Regionais de Ensino (DERE). Em
2007, a nomenclatura mudou para Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (CREDE).
47

e abandono escolar, aspectos que podem ser caracterizados como as demandas orientadas pela
nova gestão pública gerencial, no âmbito da educação. Para uma melhor compreensão, Chaves
e Leite (2010, p. 3, grifo do autor) detalham a dinâmica de funcionamento do PPDT:

O diretor de turma é um professor que leciona disciplina de sua área de formação e


ministra simultaneamente a disciplina de Formação Cidadã. Suas atribuições vão de
encontro à articulação entre pais, núcleo gestor, professores e alunos que compõem a
turma. O diretor de turma tem três horas da carga horária semanal para efetivar:
atendimento aos pais; organização do dossiê da turma e a disciplina de Formação
Cidadã, com vistas a debater problemas socioeconômicos e culturais, identificados no
portfólio dos alunos. A partir daí, são discutidos problemas de ordem pessoal ou
social, cultural, diversidade étnica, linguística, cognitiva e de integração. A finalidade
das ações é promover valores intrínsecos à aprendizagem mediante convivência
solidária e social, onde os atores são, também, espectadores. As intervenções são
delineadas em reunião do conselho de turma e registradas em ata.

A metodologia de execução do PPDT, em atuação na Secretaria da Educação do Estado


do Ceará, destina cinco horas semanais para a realização das atividades específicas, onde duas
horas são destinadas à organização dos instrumentais, como informações individuais e
coletivas, colecionadas em um dossiê e portfólio; uma hora para atendimento dos pais e alunos;
uma hora para orientação de alunos monitores, por disciplina, para o estudo orientado; e uma
hora referente à aula de formação para a cidadania (SEDUC-CE, 2013).
Com vistas à compreensão desta política educativa, cabe destacar os objetivos definidos
pela SEDUC-CE, para o contexto educacional cearense, a saber: favorecer a articulação entre
os professores, alunos, pais e responsáveis, buscando promover um trabalho cooperativo,
especificamente, entre professores e alunos, no sentido de adequar estratégias e métodos de
trabalho; tornar a sala de aula uma experiência gratificante, em que os professores da turma,
familiares, gestão, comunidade escolar, com respectivas parcerias, unam-se com o objetivo de
proporcionar uma educação que vise à excelência; manter a assiduidade dos alunos,
estimulando sua permanência na escola e elevando o grau de sucesso da aprendizagem; oferecer
uma educação sustentável que contemple a formação cidadã do educando, estimulando sua
participação na vida social, com a tomada de consciência dos problemas que afetam a
humanidade; motivar os alunos para aprendizagens significativas e encorajá-los a ter
perspectivas otimistas, quanto ao seu futuro pessoal e profissional (SEDUC-CE, 2013).
Para exercer a função de Diretor de Turma (DT), nas escolas públicas cearenses, cabe
ao professor efetivo ou temporário, na rede estadual da educação, aderir ou não ao projeto de
trabalho, conforme orientações da Chamada Pública (2010) e diretrizes da SEDUC-CE. Na
concepção da SEDUC-CE, subentende-se que a adesão à proposta metodológica do PPDT deve
48

se configurar um comprometimento com as atribuições exigidas e, sobretudo, com a qualidade


social da educação.
Para o efetivo acompanhamento e monitoramento da gestão da escola, a SEDUC-CE
implantou, no ano de 2008, a superintendência escolar, distribuída entre superintendência
central na SEDUC-CE e as equipes de superintendentes nas vinte Coordenadorias Regionais de
Desenvolvimento da Educação (CREDE) e nas três Superintendências das Escolas Estaduais
de Fortaleza (SEFOR), que realizam um trabalho de visitas permanentes às instituições de
ensino. De acordo com documento da própria SEDUC-CE (2013),

A Superintendência Escolar, parte integrante do Programa Aprender Pra Valer,


contemplado na Lei nº 14.190, de 30/7/2008, consiste em um serviço que busca,
através de uma ação dinamizadora, desenvolver estratégias de acompanhamento e
monitoramento à gestão escolar, com foco no aperfeiçoamento pedagógico e na
melhoria da aprendizagem dos estudantes.

Na direção do acompanhamento sistemático das ações do PPDT que se desenvolvem no


interior das escolas − visto que a superintendência escolar realiza o acompanhamento na
perspectiva da gestão da escolar −, observa-se a existência de mais um sujeito específico na
coordenação desse acompanhamento, que é o Coordenador Regional do Projeto Professor
Diretor de Turma (CRPPDT). Tais coordenadores são distribuídos nas 20 (vinte) CREDE, e 3
(três), no SEFOR, no âmbito da SEDUC-CE.
Para além do acompanhamento das ações do PPDT, o estudo “O Professor Diretor de
Turma como Mediador do Processo de Ensino-Aprendizagem” (TAVARES, 2011), com lócus
investigativo no contexto da política educacional cearense, afirma que

O Diretor de Turma é o elemento do grupo que cria o ambiente para que os alunos
possam partilhar as suas experiências, preocupações, fobias, permitindo-lhes
exprimirem-se de modo aberto e objetivo, sendo um verdadeiro amigo/conselheiro e
um tutor que se empenha no sucesso dos seus alunos (TAVARES, 2011, p. 457).

Conforme o citado estudo, considera-se muito relevante o papel do Professor Diretor de


Turma (PDT) nas escolas públicas cearenses, por ser o mobilizador das estratégias de integração
entre os atores dos diferentes segmentos envolvidos no contexto escolar, com vistas à
construção de um ambiente capaz de proporcionar condições adequadas ao efetivo fazer
pedagógico, com vistas à garantia do desenvolvimento dos envolvidos, na relação de ensino e
aprendizagem.
Da carga horária de lotação do professor dedicada ao PPDT, na rede estadual de ensino,
o Diretor de Turma (DT) tem como atribuições: mediar o relacionamento entre os alunos de sua
turma e os demais professores; disponibilizar-se a atender os alunos, pais ou responsáveis,
49

professores e núcleo gestor da escola; promover um ambiente facilitador do desenvolvimento


pessoal, cognitivo e social dos alunos; elaborar e organizar o Dossiê de sua turma; lecionar a
Formação Cidadã; acompanhar o Estudo Orientado; organizar e presidir as Reuniões do
Conselho de Turma (intercalares e bimestrais), que fornecem aos educadores um diagnóstico
pormenorizado da turma e têm um caráter avaliativo (SEDUC-CE, 2013).
Desse modo, compreende-se que o diretor de turma assume papel de gestor da sala de
aula e, sobretudo, de mediador das relações entre alunos, escola e família, e esta é considerada
a caracterização da primeira interface do PPDT, com a prática docente, que se trata da mediação
entre a escola e a família.
A segunda interface do PPDT, com a prática docente, aponta na direção da exigência
que se impõe à escola: a transmissão do saber sistematizado. Os professores diretores de turma
ocupam um papel importante na mobilização de esforços para garantir a permanência e a
aprendizagem dos alunos, através do acompanhamento diário da frequência e do atendimento
individualizado dos pais e alunos.
Conforme Tavares (2011, p. 451), no seu estudo de caso em uma escola cearense,

Outra consequência importante acerca da implantação pode ser verificada em uma


decrescência nos índices de abandono escolar, uma vez que uma das funções do
Diretor de Turma está em verificar semanalmente as faltas dos alunos nas diferentes
disciplinas, relevar as devidamente justificadas e informar, por escrito, os
encarregados de educação sempre que o número de faltas dos respectivos educandos
atinja metade ou o total do limite legalmente estabelecido, elucidando-os das
consequências caso esse limite seja ultrapassado.

Embora, o autor do estudo não apresente dados que comprovem os argumentos sobre
efeitos da política educativa em atuação, no contexto da prática das escolas cearenses,
complementa:

O Diretor de Turma é, antes de mais, um educador; ele é o professor que acompanha,


apoia e coordena os processos de aprendizagem, de orientação, de maturação dos
alunos e de orientação e de comunicação entre os docentes, alunos, pais/encarregados
de educação e restantes agentes da ação educativa (TAVARES, 2011, p. 456).

Com efeito, a experiência da política educativa nas escolas públicas cearenses apresenta
visíveis aproximações com a política original inspiradora. A tríplice função de coordenar o
ensino, disciplinar os alunos e mobilizar o contato com as famílias, atribuídas ao diretor de
turma em Portugal (SÁ, 1997), tem se observado no âmbito das escolas públicas estaduais do
Ceará, mesmo considerando as pesquisas existentes ainda inaugurais na análise sobre o tema.
50

Nessa direção, cabe destacar a terceira interface, a gestão curricular. No trabalho


“Conselho de Turma: uma proposta de gestão curricular à escola cearense”, de Gilmar Dantas
Silva, apresentado no XXI EPENN23, em 2013, no Rio Grande do Norte, encontra-se a seguinte
reflexão:

O professor diretor de turma, apesar de centrar sua atenção sobre os alunos, continua
ocupando o lugar de interface entre a docência e a gestão curricular através do
conselho de turma, onde discutirá, por exemplo, as práticas curriculares mais
adequadas à sua turma. Ao apresentar diagnósticos da dinâmica de aprendizagem dos
educandos da sua turma, irá direcionar adequações de estudos de modo a sanar a
perspectiva da antiga uniformidade curricular e pedagógica dirigidas a todos os
educandos como se constituíssem um único sujeito moral (SILVA, 2013, p. 5).

Conforme consulta aos documentos apresentados pela SEDUC-CE, sobre a política


educativa, observa-se que se esperam significativos efeitos do PPDT, contudo, por meio dos
levantamentos realizados em pesquisas sobre a experiência cearense, embora sem dados
consistentes, observa-se que educadores o consideram um projeto humanizador, dentre tantos
outros direcionados para a gestão por resultados, conforme se defende nos documentos
orientadores do PPDT:

O Projeto Professor Diretor de Turma visa à construção de uma escola que eduque a
razão e a emoção, onde os estudantes são vistos como seres humanos que aprendem,
riem, choram, se frustram... Uma escola que tem como premissa a desmassificação.
Uma escola com plenos objetivos de acesso, permanência, sucesso e formação do
cidadão e do profissional (SEDUC-CE, 2013).

A premissa de desmassificação do aluno, defendida nos documentos orientadores do


PPDT, ressalta o intuito de buscar a interação entre escola, professor, aluno e família, o que,
para os educadores comprometidos com uma gestão democrática, caracteriza-se uma
possibilidade de participação. Ademais, se observa que os números relativos ao PPDT na rede
pública estadual de ensino no Ceará, em 2017, se mantêm relativamente equiparados ao ano de
2014, final da série histórica apresentada anteriormente (Tabela 1), salvo no caso da ampliação
da quantidade de escolas voltadas para a referida política educativa, o que pode se atribuir a
novas unidades escolares construídas nesse interstício.

Tabela 2 – Demonstrativo do PPDT CREDE/SEFOR relativo ao ano de 2017

Nº de Escolas com o PPDT Nº de Turmas com DT Nº de Professores DT

625 6449 6377

23
Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste.
51

Fonte: SEDUC-CE, 2017.

Os dados apontados demonstram a manutenção da política educativa na rede estadual


de ensino do Ceará, em efetivo andamento em 2017.

2.1.3 O Diretor de Turma na Escola Portuguesa: um considerável percurso histórico

Antes de tratar nomeadamente do diretor de turma, no sistema educativo português,


convém fazer uma rápida contextualização da realidade sócioeducativa de Portugal, no contexto
de “globalização e de interação européia” (ANTUNES, 2004, p. 25) em que se insere, desde
meados dos anos de 1980. Compete compreender que Portugal se inclui na Comunidade/União
Europeia, instituição política supranacional e regional que impõe respostas a uma agenda
globalmente estruturada, para o campo educacional. Embora isto não implique que a atuação
do Estado seja determinada pelo contexto econômico-político global/regional, porém, as
orientações e processos sociais, econômicos e culturais apontam na direção de responder às
soluções possíveis, no contexto nacional, formuladas pelos atores do Estado (ANTUNES,
2004), sob tais influências e interesses. Entretanto, o diretor de turma na escola portuguesa tem
um significativo percurso histórico que antecede ao contexto econômico e político explicitado.
É importante frisar que não se pretende, aqui, realizar um inventário dos antecedentes
históricos do cargo de diretor de turma, no contexto da educação portuguesa, uma vez que
cientistas da educação, referências para a investigação da organização educativa em Portugal
(LIMA, 1986; CASTRO, 1995; SÁ, 1997), já deram conta desta importante tarefa. Entretanto,
para realizar a análise do objeto de estudo desta investigação – a política educativa do PPDT na
escola pública regular do estado Ceará-Brasil –, é imperativo fazer a contextualização histórica
da gênese do cargo, na educação portuguesa, como lócus de inspiração para a política educativa
em atuação no contexto educacional brasileiro.
Embora a criação do cargo Diretor de Turma, com essa nomenclatura, entre em vigor
com a publicação do Estatuto do Ciclo Preparatório do Ensino Secundário24, publicado em 9 de
setembro de 1968, a origem dessa estrutura de gestão intermediária, no sistema escolar
português, remonta à memória do cargo do Diretor de Ciclo, criado pelo decreto 27.084, de 14
de outubro de 1936, que regulamenta a reforma do ensino liceal de Carneiro Pacheco, e,
anteriormente ao Diretor de Classe, criado pelo decreto de 14 de agosto de 1895, que
regulamenta a reforma Jaime Moniz, como os antecedentes do cargo de diretor de turma

24
A estrutura e organização da educação pública portuguesa serão abordadas no 3º capítulo.
52

(LIMA, 1986; CASTRO, 1995; SÁ, 1997). Para Sá (1997, p. 24), essas são “as diferentes
metamorfoses por que passou essa estrutura até cristalizar na figura do director de turma”.

Figura 1 – “Metamorfose” do diretor de turma no sistema educativo português

Diretor de Classe Diretor de Ciclo Diretor de Turma

•Reforma do •Reforma de •Estatuto do


Ensino Liceal, Carneiro Ciclo
Jaime Moniz. Pacheco. Preparatório do
•Decreto de 14 •Decreto 27.084 Ensino
de agosto de de 14 de Secundário.
1895. outubro de •Decreto
1936. n.º48572 de 9 de
setembro de
1968.

Fonte: Sá (1997, p. 24).

Na perspectiva de alargar a compreensão sobre esse percurso histórico, recorre-se a Sá


(1997), que trata sobre a emergência do cargo de Diretor de Classe:

A coordenação do ensino e dos professores ganha relevância organizacional a partir


do momento em que, por um lado, se torna necessário ensinar a vários alunos em
simultâneo e, por outro, a especialização dos saberes obriga a que um mesmo grupo
de alunos seja submetido à acção de vários professores (SÁ, 1997, p. 24).

Nos termos de Sá (1997), a emergência do cargo de diretor de classe, no processo de


formação da organização pedagógica do liceu em Portugal, no final do século XIX, tem como
primeiro elemento da sua origem o aumento da procura social da educação escolar, conjugando-
se a essa questão a necessidade da organização dos alunos em grupos homogêneos, como
solução para o atendimento da crescente demanda, recorrendo-se ao ensino magistral para dar
conta de se ensinar a vários alunos como se fosse um só.
O segundo elemento, o confronto entre os dois modelos divergentes de organização do
plano de estudos naquele contexto, o colégio, com uma educação global e integral, e as aulas,
com uma educação mais utilitarista e disciplinas independentes.
O terceiro elemento foi a formalização do “regime de classe”, que idealizou a
organização de um grupo de alunos de uma classe (alunos do mesmo ano de escolaridade),
como se esses tivessem um só programa, para todas as disciplinas, um só livro e um só
professor. Nesse contexto, é criado o diretor de classe, a quem foram determinadas
53

competências específicas na coordenação dos professores que lecionavam a um mesmo


agrupamento de alunos (SÁ, 1997).
Na esteira de Castro (1995, p. 37), “[…] a figura do Director de Classe é introduzida
através da Reforma do Ensino Liceal de 1895, começando desde então a definirem-se os
contornos da sua atividade no setor pedagógico de acordo com a filosofia liberal, claramente
presentes nas políticas do início do século”. A argumentação temporal e normativa da criação
da figura do diretor de classe, apresentada pela autora, converge com os argumentos assentes
no pensamento de Sá (1997), salvo a revelação da influência da filosofia liberal no contexto de
criação do cargo.
Sobre as funções atribuídas ao cargo de diretor de classe, Castro (1995, p. 37) afirma:

As funções que lhe são cometidas situam-no como órgão de apoio ao Reitor, em tudo
o que à classe diz respeito, quer a nível de alunos – aproveitamento, comportamento
e faltas –, quer a nível dos professores da classe – coordenando a sua actividade
pedagógica, presidindo as reuniões da classe, cabendo-lhe ainda o papel de mediador,
relativamente aos pais dos alunos, a quem deve prestar todas as informações que a
estes dizem respeito.

A atividade de acompanhamento do aproveitamento, comportamento e assiduidade dos


alunos, a coordenação pedagógica junto à equipe de professores da classe e a mediação com as
famílias ocupam lugar central nas funções do diretor de classe. Segundo Sá (1997, p. 29), “o
director de classe aparece assim como uma figura nuclear no sucesso do novo modelo de
organização pedagógica, pelas responsabilidades que lhe são atribuídas na coordenação de uma
equipa de professores”.
Todavia, Sá (1997) reflete que a atuação da figura do diretor de classe não se restringe
a coordenar a interação dos professores das diferentes disciplinas. O autor (SÁ, 1997) organiza
as sete atribuições determinadas no decreto de criação do diretor de classe (14 de agosto de
1895) em três grandes áreas. Deste modo,

O art. 53º discrimina um conjunto de atribuições do director de classe que podem ser
arrumadas em três grandes áreas: 1) coordenação dos professores e do ensino; 2)
controlo da assiduidade, comportamento e aproveitamento dos alunos; 3) informação
regular dos pais e encarregados de educação. (SÁ, 1997, p. 29).

Diante da análise realizada por Sá (1997), pode-se concluir que o diretor de classe é
concebido com o papel de coordenação pedagógica, envolvendo os professores, alunos,
pai/mães e encarregados de educação no contexto da organização escolar do final do século
XIX, considerando a turma como “um órgão elementar da organização do processo de ensino”
(LIMA, 1986, p. 9).
54

A fim de analisar as determinações do documento, na direção da primeira área de


atuação do diretor de classe (SÁ, 1997), recorre-se aos termos explicitados no enunciado do art.
53º, quando este menciona que “Ao director de classe incumbe guardar e fazer guardar a
connexão interna ou a unidade científica e disciplinar na classe confiada ao seu cuidado”
(PORTUGAL, 1895, p. 497). Entende-se que a conexão interna citada refere-se à coordenação
da equipe dos professores da turma, no contexto do documento, a classe. Ainda no enunciado
do mesmo artigo, consta que “Deve pois intender-se com os seus collegas de classe a fim de
manterem junctos acção combinada no exercício do ensino, e desta arte se effetuarem os estudos
pelo modo mais vantajoso em todas as disciplinas” (PORTUGAL, 1895, p. 497).
O diploma supracitado, no seu parágrafo 3º, fixa como competência do diretor de classe:
“Recolher semanalmente as notas de frequencia (presença, habilitação litteraria e
procedimento) dos alumnos, e lançal-as em livro destinado para este effeito (livro de classe)”
(PORTUGAL, 1895, p. 497). Atribuições do diretor de classe arrumadas na segunda área de
atuação: o “controlo da assiduidade, comportamento e aproveitamento dos alunos” (SÁ, 1997,
p. 29).
Na terceira área de atuação, põe-se em relevo o parágrafo 4º do artigo em discussão, que
define ser atribuição do diretor de classe: “Prestar ou enviar informação acerca da situação
escolar de cada alumno, ao reitor, ao pai, ao tutor ou a quem os represente” (PORTUGAL,
1895, p. 497).
No que se refere ao contexto da concepção e criação do cargo de diretor de classe, na
escola portuguesa, como estrutura de gestão intermediária, pautando-se pelas análises
realizadas, pode-se inferir que a emergência do cargo se dá no contexto da institucionalização
do regime de classe, em substituição ao regime de disciplinas, na organização pedagógica da
reforma do ensino secundário português, no final do século XIX (SÁ, 1997).
Nesse contexto, aspectos de continuidade nas atribuições para o exercício da função
podem ser observados na “metamorfose” do cargo diretor de classe, para diretor de ciclo,
conforme o decreto 27.084, de 14 de outubro de 1936, já mencionado. Com efeito, assinalam-
se os normativos que alteram a estrutura organizacional da escola portuguesa, entre o decreto
de 14 de agosto de 1895, que instituiu o cargo de diretor de classe no âmbito da reforma Jaime
Moniz, e o decreto 27.084, de 14 de outubro de 1936, que regulamenta a reforma Carneiro
Pacheco, ocasião que se altera a nomenclatura de diretor de classe para diretor de ciclo.
Nesse ínterim, sublinha-se a reforma liceal de Eduardo José Coelho (decreto de 29 de
agosto de 1905). Na esteira de Sá (1997, p. 31), “A reforma de 1905 considera o sistema de
classes, introduzido pela reforma de Jaime Moniz, como um dos melhoramentos dignos de
55

‘merecimento’ e, por isso, reitera a sua importância embora reconheça que se impõem alguns
aperfeiçoamentos, […]”.
No tocante às possibilidades de aperfeiçoamento da reforma de 1905, soluções foram
propostas, no normativo, como a questão da “concentração dos estudos, de uma redução do
número de professores por classe, de uma maior frequência de reuniões dos conselhos de classe,
da simplificação e articulação dos programas e da selecção das matérias a serem exploradas
simultaneamente por todos os professores” (SÁ, 1997, p. 31). Entretanto, “Um dos processos
de coordenação dos professores que maior resistência gerou foi a visita às aulas por parte do
director de classe” (SÁ, 1997, p. 31), atribuição de coordenação do ensino e conexão entre os
professores, exercida pelos diretores de classe, e posteriormente dos diretores dos ciclos,
contestado sob o argumento de que o diretor de classe não estava habilitado a emitir julgamento
por não pertencer à área disciplinar do observado.
Registram-se, ainda, outros normativos com alterações mínimas na organização da
coordenação intermediária, no âmbito da organização escolar portuguesa, entre os anos de 1918
e 1930. Para Sá (1997, p. 36), “Entre 1918 e 1930 não encontramos alterações significativas no
perfil do director de classe e nas condições de exercício do cargo”. Contudo, cabe chamar a
atenção para a alteração nos requisitos exigidos para o exercício do cargo de diretor de classe
em 1918: “Com a publicação do decreto nº 4.650, de 14 de Julho de 1918, o perfil e os requisitos
que o director de classe deve satisfazer tornam-se mais exigentes. Agora, além de efectivo, o
director de classe deve, de preferência, ter pelo menos cinco anos de bom e efectivo serviço”
(SÁ, 1997, p. 36).
Embora se considere que houve poucas alterações na estrutura organizacional da gestão
intermediária, o diploma em questão aponta definições para o perfil dos professores a serem
designados para o exercício do cargo de diretor de classe, além de definir condições para a
gratificação correspondente à carga horária semanal, conforme o estabelecimento liceal, nas
diferentes regiões do país.
No período que compreende o golpe de estado, em 28 de maio de 1926, assinalado pelo
modelo de “Organização sociopolítica, de cariz autoritário, católico e patrimonialista”
(CASTRO, 1995, p. 39) e pela publicação da Lei nº 1.941, de 11 de abril de 1936, considerada
uma referência histórica para a educação portuguesa, houve a manutenção da figura do Diretor
de Classe (CASTRO, 1995). Nesse interstício de dez anos, registram-se modificações pontuais
na estrutura de gestão intermediária portuguesa, que se intenta aqui compreender. Conforme
Castro (1995, p. 40), em 6 de setembro de 1930, foi publicado o decreto nº 18.827, no qual “vê-
se alargado o âmbito de atribuições dos Diretores de Classe”.
56

Contudo, para o exercício do cargo de diretor de classe, persiste a exigência de que o


candidato seja um professor efetivo, considerando a avaliação docente classificatória dos
últimos três anos, com os conceitos de bom ou muito bom, como condição preferencial para a
nomeação. A nomeação continua a ser de competência do governo, a partir de proposição do
reitor, após ouvir a “Secção Ensino Secundário do Conselho Superior de Instrução Pública”.
Nesse contexto, há redução de duas horas semanais na componente letiva, com a finalidade de
o diretor de classe poder assistir às aulas dos demais professores da turma, examinando
detalhadamente os cadernos diários dos alunos (CASTRO, 1995; SÁ, 1997).
Acerca da inovação para o cargo de diretor de ciclo, em 11 de janeiro de 1932, foi
publicado o decreto nº 20.741, regulamento do Estatuto do Ensino Secundário em que se
destaca, para além das regulamentações mantidas dos normativos anteriores, que introduziu
“como maior novidade a atribuição ao director de classe de uma gratificação mensal, durante o
ano escolar” (SÁ, 1997, p. 36), quer dizer, entre os anos de 1930 a 1936 não houve grandes
inovações no cargo. Com efeito, somente em 1936, com a publicação decreto nº 27.084, em 14
de outubro, que regulamenta a reforma do ensino liceal do Ministro Carneiro Pacheco, é que se
registra uma alteração no estatuto do cargo de gestão intermediária, na escola portuguesa: a
criação do cargo de diretor de ciclo em substituição ao cargo diretor de classe.
No contexto ditatorial em que se encontrava a política portuguesa, sob o jugo
salazarista25 naquele período, “a pasta da Instrução Pública foi entregue à pessoa com o perfil
adequado à execução dos altos desígnios nacionais nessa área” (SÁ, 1997, p. 37), o professor
António Carneiro Pacheco, da Faculdade de Direito de Lisboa, que se revelou um fiel executor
das orientações em voga, ditadas pela doutrina governamental e centrada nos valores absolutos:
Deus, Pátria e Família (SÁ, 1997).
Para dar conta de pôr em ação as concepções que influenciavam os interesses políticos
do contexto sociopolítico português vigente, foram acionados vários mecanismos
centralizadores. Ademais, “o facto de o Director de Ciclo passar a ter a seu cargo a organização
das sessões de ‘Educação Moral e Cívica dos alunos’ é por si só prova de preocupação com o
perfil delineado – de acordo com a concepção definida” (CASTRO, 1995, p. 41).
Embora o diploma em tela apresente uma ruptura nas concepções orientadoras do cargo
e altere a nomenclatura, observam-se continuidades nas atribuições da figura de gestão
intermediária existente. Sá (1997, p. 38) chama atenção para “a continuidade/ruptura no

25
António de Oliveira Salazar, Ministro das Finanças Públicas Portuguesas de 1928 a 1932, Presidente do
Ministério de 1932 a 1933, Presidente do Conselho de Ministros entre 1933 e 1968. Figura política de inspiração
fascista, atuou ditatorialmente no cenário político português até praticamente sua morte.
57

conteúdo funcional do cargo de director de ciclo, quando comparado com o de director de


classe, torna-se difícil de ajuizar dado não aparecerem discriminadas de forma clara as
atribuições do primeiro”.
Contudo, a questão que se conjuga ao aspecto mencionado anteriormente –
continuidades e rupturas −, pois, “apesar de o legislador não ter cuidado de explicitar as
diferentes áreas de intervenção do director de ciclo, há, no entanto, um domínio de actuação
que lhe foi explicitamente cometido: ‘a seu cargo ficará sempre a organização das sessões de
educação moral e cívica’” (SÁ, 1997, p. 38). Embora se conceda destaque a essa nova atribuição
em contexto de incertezas funcional, “sugere-nos a hipótese de que a conexão do ensino e dos
professores, enquanto área prioritária de intervenção do director de classe, poderá ter cedido o
lugar ao endoutrinamento ideológico dos alunos, na nova estrutura de gestão pedagógica
intermédia” (SÁ, 1997, p. 40).
No entendimento de Sá (1997, p. 40), “entre 1936 e 1947, data da publicação da reforma
de Pires de Lima, não se produziram alterações substanciais ao nível da organização pedagógica
e da gestão intermédia dos liceus”. Em 17 de setembro de 1947, com a promulgação da lei nº
36.507, que regulamenta a reforma do ensino liceal, considera-se, em consonância com Castro
(1995) e Sá (1997), que tal reforma ampliou o caráter ideológico centralizador do Estado sobre
a educação, intensificando-se as influências das ideias nacionalistas em andamento, iniciadas
com a reforma de Carneiro Pacheco. Nesse sentido, compreende-se que os normativos
constituídos no contexto sociopolítico centralizador em se encontrava a nação portuguesa estão
permeados pelas tensões e influências ideológicas que orientavam o poder central do Estado,
com desdobramentos em todas as dimensões sociais, sobretudo no campo educacional. De
acordo com Sá (1997, p. 41),

A criação da Inspecção do Ensino Liceal, agora tornada efectiva, é disso um bom


exemplo. Esta estrutura de controlo tinha responsabilidades na classificação dos
professores. Um dos elementos a considerar nessa avaliação é o “rendimento do
ensino, verificado pelas visitas dos inspectores, pela observação dos sumários das
lições, pelas informações dos reitores e pelos resultados dos exames”.

É importante ressaltar que, naquele cenário sociopolítico vigente em Portugal, os


mecanismos criados pelos diplomas regulamentadores da educação coadunavam-se com as
orientações norteadoras do Estado, na perspectiva de fortalecer o controle, a manipulação e a
fiscalização, dos docentes e profissionais, além da reprodução do pensamento ideológico
exercido pelo Estado.
No contexto analisado, a figura de gestão intermediária na escola portuguesa, o diretor
de ciclo, apresenta aproximações e semelhanças com a figura de gestão intermediária que
58

substituiu o diretor de classe. As mudanças verificadas no cargo, entre a primeira determinação


e a segunda, não apresentam significativas alterações. Diante deste entendimento, Sá (1997, p.
42) compreende que

A nova figura de gestão intermédia, criada pela reforma de Carneiro Pacheco, mantém
as mesmas atribuições, com a diferença de que o seu território pedagógico deixa de
ser a classe e passa a ser o ciclo. Mesmo esta última alteração não tem o alcance que
se poderia pensar, pois a direcção de mais do que uma classe pelo mesmo director,
como acima referimos, já vinha sendo praticada bastante antes da instituição do cargo
de director de ciclo.

É sabido que o cargo de diretor de ciclo se mantém, basicamente, com as mesmas


funções e atribuições, até o início dos anos de 1960. Em 9 de setembro de 1968, com a
publicação do decreto nº 48.572 – diploma que regulamenta o Estatuto do Ciclo Preparatório
do Ensino Secundário –, registra-se a criação da figura do diretor de turma, como gestor
intermediário, em substituição ao diretor de ciclo (CASTRO, 1995; SÁ, 1997).
A criação do diretor de turma, em 1968, se insere no contexto da “emergência da escola
de massas” (SÁ, 1997), na educação portuguesa, contexto esse em que “a rápida expansão do
sistema educativo escolar resultou da conjugação da vontade política, da conjuntura económica
e da procura social da educação” (SÁ, 1997, p. 44). Tal expansão no sistema educativo tem
início como tentativa isolada de melhoria do sistema, na perspectiva de democratização do
campo educacional e num contexto de esperança de liberalização do regime autoritário,
corroído pelas tensões políticas (CASTRO, 1995), sendo intensificada nos anos de
redemocratização do país.
Para Sá (1997, p. 44),

Este fenómeno em Portugal, já perceptível na década de cinquenta, acentua-se na


década seguinte com a extensão da escolaridade obrigatória para seis anos (1964),
seguida de uma nova dilatação para oito anos (1973) e, por último, fixa-se nos nove
anos (1986). Num período de trinta anos (1956-1986) a escolaridade obrigatória
triplicou a sua duração, passando de três para nove anos. Este acréscimo da
escolaridade obrigatória legal foi acompanhado de uma quase obrigatoriedade social,
pelo menos para determinados grupos sociais. A procura social acabou por se estender
progressivamente aos níveis mais elevados, atingindo também o ensino superior de
tal modo que houve mesmo que instituir o numerus clausus26.

26 Limite máximo estabelecido de indivíduos ou entidades que podem ser admitidos num organismo ou
instituição. In: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.
Disponível: <http://www.priberam.pt/dlpo/numerus%20clausus>. Acesso em: 28 maio 2016. “A imposição do
numerus clausus no ensino liceal constituiu desde cedo uma prática de limitar o acesso a esse nível de ensino”
(SÁ, 1997, p. 44).
59

O aumento da escolaridade obrigatória legal, e a procura social pela educação, que


resultou na rápida expansão do sistema educativo, geraram intensas contradições, visto que “o
aumento quantitativo não foi acompanhado por uma alteração qualitativa” (SÁ, 1997, p. 46). A
título de exemplo, a estruturação das condições físicas e pedagógicas, no sentido de abranger a
complexidade gerada pela “pluralidade de papéis cometidos à escola” (SÁ, 1997, p. 46).
De acordo com Sá (1997), a expansão da escolaridade obrigatória deve-se à exigência
de uma mão de obra especializada no contexto de crescimento do processo de industrialização
da sociedade, obrigando a escola a dar conta de preparar tecnicamente os indivíduos para a
prestação de serviços. Soma-se a essa primeira razão a crença na educação como instrumento
de mobilidade social e, também, a possibilidade de a educação funcionar como instrumento de
poder e controle ideológico da sociedade, por parte do Estado.
Desse modo, pode-se concordar com Sá (1997, p. 46), quando ele afirma que “a
complexidade da escola de massas é uma consequência da combinação de vários factores que
se potenciam mutuamente” (SÁ, 1997, p. 46), observando-se que “é neste contexto que se
inscreve o aparecimento de uma nova figura de gestão intermédia, que toma a turma como
unidade nuclear de organização do processo de ensino (SÁ, 1997, p. 47)”, sobretudo, “[...] a
quem compete, além de presidir ao conselho de turma e ao serviço de orientação escolar,
‘apreciar os problemas educativos e disciplinares relativos aos alunos da turma e assegurar os
contatos com as famílias'” (SÁ, 1997, p. 47).
Quando da aprovação do Estatuto do Ciclo Preparatório do Ensino Secundário, por meio
do decreto nº 48.572/68, é criado o diretor de turma, em atuação nas escolas públicas de
Portugal desde o ano de 1968 com essa nomenclatura – diretor de turma –, em substituição ao
cargo de Diretor de Ciclo, existente. O referido cargo foi criado e regulamentado com áreas e
responsabilidades idênticas às já antes conferidas ao Diretor de Ciclo. Contudo, segundo Sá
(1997, p. 47), “[...] a substituição do director de ciclo pelo director de turma tem um alcance
que vai muito para além da mera alteração de nomenclatura [...]”. O mesmo autor acrescenta
que tal mudança se configurou “[...] mesmo em outra escala de prioridades determinada pela
difusão crescente de uma nova ideologia organizacional que acabará por impregnar fortemente
o contexto educativo” (1997, p. 47).
Entre 1968, ano da criação do cargo de diretor de turma com essa nomenclatura, até os
anos atuais, a figura do diretor de turma tem passado por mudanças normativas, entretanto, não
se observam transformações significativas no concernente ao papel central do cargo, ou seja,
60

“a tradicional tríplice função”27 de coordenar o ensino, controlar a disciplina dos alunos e


manter o contato com as famílias.
Sobre a importância do diretor de turma, entre o que está posto nos discursos
normativos, ou seja, no “plano das orientações para a ação” (LIMA, 2001), e as representações
que os sujeitos da comunidade educativa constroem no contexto da prática, no nível da
micropolítica na atuação, o cargo de diretor de turma tem a função de coordenação pedagógica
e funciona como gestor intermediário, no “plano da ação” (LIMA, 2001). Ainda se recorre ao
Lima (1997, p. 14), no que se refere ao desvendamento dessa questão:

Creio que em nenhuma outra área de organização escolar se têm concentrado,


historicamente, mais expectativa de coordenação pedagógica e de diálogo educativo
entre professores, alunos e encarregados de educação. Os discursos normativos,
regulamentares e pedagógicos atestam isso mesmo. Invariavelmente, responsáveis
políticos, funcionários da administração, professores e cientistas da educação
convergem como em poucos casos relativamente à importância e ao elevado potencial
das funções que estão cometidas ao diretor de turma.

Feita esta breve contextualização do percurso histórico do diretor de turma, no contexto


educacional português, antecedido pela caracterização da criação da política educativa no
âmbito da educação cearense, como desdobramento de políticas educativas em andamento no
contexto local, nacional e global, pretende-se agora revelar que tomou-se posse de
entendimento conceitual analítico que permitiu abordar o objeto deste estudo desta
investigação.

27
Ver Sá (1997): “Racionalidades e Práticas na Gestão Pedagógica: O caso do diretor de turma”.
61

3 OPÇÕES TEÓRICAS: MODELOS DE ANÁLISE PARA A COMPREENSÃO DO


OBJETO DE ESTUDO

O presente capítulo tem por objetivo explicitar a arquitetura teórico-conceitual que


possibilitou a presença do suporte analítico que contribuiu com o achado das pistas necessárias
à compreensão do objeto estudado. Com esse intuito, recorreu-se às concepções teóricas de
Bowe, Ball com Gold (1992), Ball (1989, 1994, 2011, 2014), com a abordagem do ciclo
contínuo de políticas, a fim de abordar a política educativa do PPDT e os modelos de análise
da escola como organização educativa. Assim, foi adotada a abordagem do “plano de orientação
para a ação” e o “plano da ação” da escola como organização educativa, elaborado por Licínio
C. Lima (1986, 1998, 2001, 2011), na perspectiva de analisar as diferentes significações acerca
do Diretor de Turma reinterpretadas e/ou recontextualizadas na política educativa em atuação
nas escolas públicas estaduais regulares no estado do Ceará-Brasil.

3.1 A abordagem do Ciclo Contínuo de Políticas para a análise de políticas educativas:


conceitos e ferramentas analíticas

As contribuições de Stephen J. Ball, para o campo da pesquisa em políticas


educacionais, em diferentes contextos, têm sido apresentadas como sendo de grande
potencialidade, para a análise de programas, projetos e políticas educativas em atuação em
diversas conjunturas, em especial, nos países da América Latina. Ressalta-se, entretanto, a
limitação das ferramentas analíticas de Ball quando essas são transpostas para outros contextos
distintos do seu contexto de estudo, a Inglaterra (AVELAR, 2016).
Logo, “com uma abordagem de pesquisa que combina coleta de dados modernista e
teorização pós-estrutural, Ball desafia conceitos analíticos e pressupostos epistemológicos
sobre ordem e estrutura social, que tendem a excluir qualidades complexas e confusas do mundo
social e da educação” (AVELAR, 2016, p. 3). Diante disso, para Avelar (2016, p. 3), a
abordagem de pesquisa de Ball “oferece ferramentas conceituais que podem ser trabalhadas em
diferentes contextos”.
No caso específico desta investigação, recorreu-se às suas ferramentas analíticas com
ênfase no ciclo contínuo de políticas, na perspectiva de compreender a política educativa: o
PPDT em atuação nas escolas públicas estaduais regulares, no estado do Ceará, no Nordeste
brasileiro. Conforme explica Ball, em entrevista concedida a Avelar (2016, p. 1), suas
ferramentas analíticas “podem ser compreendias como pontos de partida, ou perguntas
62

norteadoras, que podem ser conduzidas em diferentes direções, ao invés de orientações


específicas sobre como se deve pesquisar educação” (BALL, 2016 apud AVELAR, 2016, p. 3).
Nesse sentido, consideram-se como essenciais as ferramentas analíticas propostas no
trabalho de Ball, a fim de compreender a política educativa em atuação nos seus diferentes
aspectos e contextos, visto que “o autor ressalta a separação heurística entre texto e discurso da
política, o ciclo da política pública e o conceito de atuação da política […]” (AVELAR, 2016,
p. 3). Assim, na direção da análise da política educacional, na perspectiva de Ball (1989, 1992,
1994, 2011), observa-se que o pesquisador criou conceitos e ferramentas analíticas que ajudam
a entender a complexa e desordenada realidade social. Ball, destaca três aspectos-chave da sua
abordagem teórica, sobre política educacional: “a separação heurística entre texto e discurso, a
ideia do ciclo da política, a ideia de atuação da política (policy enactment)” (BALL, 2016 apud
AVELAR, 2016, p. 5).
No que se refere à compreenção da separação da política, como texto e como discurso,
pode-se concluir que, na arena de atuação, os atores escolares são convocados a “implementar”
normativamente a política posta, ou seja, o texto. Entretanto, ao se analisar a política em
atuação, considera-se que no processo há interpretação e tradução pelo qual perpassa a política,
entre o texto e o dircurso, nos diferentes contextos mobilizados na atuação, nas dimensões
macro, meso e micro da política. Nessa visão, os atores sociais são interpretadores ativos que
ressignificam o texto e são, concomitantemente, produtos e produtores do discurso.
A ideia do ciclo contínuo de políticas ocorreu quando Stephen J. Ball trabalhava com
Richard Bowe e colaboradores, em 1992, no tempo em que lançaram o livro Reforming
Education and Changing Schools: Case Studies in Policy Sociology, no qual, apresentaram uma
representação heurística do processo da política, por meio de uma formulação inicial, lendo do
topo e no sentido anti-horário, onde os contextos foram nomeados como desejado, atual e
política em uso, formulação esta que os autores se distanciaram por acreditar que a linguagem
introduzia uma rigidez que não queriam insinuar, portanto, previram três contextos políticos
primordias, contexto de influência, contexto da produção de texto e contexto da prática
(BOWE; BALL; GOLD, 1992).
63

Figura 2 – Contexts of policy making – Ciclo contínuo de políticas

Context of
influence

Context of
Context of
policy text
practice
production

Fonte: Bowe, Ball e Gold (1992, p. 20).

Bowe, Ball e Gold (1992) estavam “pensando sobre política e tentando criar uma ideia
de trajetória da política” (AVELAR, 2016, p. 6). Deste modo, esses autores tentaram “pensar
na política não como documento, ou uma coisa, mas sim uma entidade social que se move no
espaço e o modifica enquanto se move, e modifica coisas nesse movimento, modifica o espaço
pelo qual se move” (AVELAR, 2016, p. 6).
Posteriormente, em 1994, foram incluídos mais dois contextos: o contexto dos
efeitos/resultados e o contexto da estratégia política. Em 2009, ao ser indagado sobre a inclusão
dos dois últimos contextos à abordagem do ciclo contínuo de políticas para a análise de
políticas, Ball afirma que “não é útil separá-los e eles deveriam ser incluídos no contexto da
prática e da influência, respectivamente” (MAINARDES; MARCONDES, 2009, p. 306).
Sobre a temática dos resultados, Ball em entrevista a Mainardes e Marcondes (2009, p.
306), afirma:

Em grande parte, os resultados são uma extensão da prática. Resultados decorrem de


tentativas de mudar as ações ou o comportamento de professores ou de profissionais
que atuam na prática. Resultados de segunda ordem também acontecem, ou pelo
menos alguns deles acontecem, dentro do contexto de prática, particularmente aqueles
relacionados ao desempenho, a outras formas de aprendizado. Obviamente, outros
resultados só podem ser observados a longo prazo e desaparecem dentro de outros
contextos de realização. O contexto da ação política, na realidade, pertence ao
contexto de influência, porque é parte do ciclo do processo através do qual as políticas
são mudadas, ou podem ser mudadas ou, pelo menos, o pensamento sobre as políticas
muda ou pode ser mudado. O pensar sobre as políticas e o discurso das políticas
podem ser mudados pela ação política. Assim, eles podem ser subsumidos e
integrados ao contexto de influência.

Na análise de políticas, os resultados são percebidos como produção dos sujeitos/atores,


nos diferentes contextos da política em atuação; consequentemente, a ação política no processo
64

de atuação reinterpreta as políticas e o discurso da política é influenciado pelos “objetivos,


interesses e estratégias”, dos envolvidos. Assim, entende-se não ser possível pensar sobre as
políticas desconsiderando a atuação política dos atores sociais, porquanto, os contextos das
políticas encontram-se integrados em diferentes momentos da trajetória.
Ainda em diálogo com Mainardes e Marcondes (2009, p. 304), Ball destacou que, “o
ciclo de políticas é método. Ele não diz respeito à explicação das políticas. É uma maneira de
pesquisar e teorizar as políticas. Algumas pessoas o leram e interpretaram como se eu estivesse
descrevendo políticas e os processos de elaborá-las”. Levando em conta esse pensamento, ao
se refletir sobre a abordagem do ciclo contínuo de políticas criado por Bowe, Ball e Gold
(1992), ampliado por Ball (1994), com reflexões proporcionadas através de interlocutores,
como Mainardes e Marcondes (2009) e Avelar (2016), no Brasil, serviu como estratégia de
análise das políticas, mesmo considerando a circularidade que o método propõe, constrói-se
uma primeira imagem com uma ideia de contextos enquanto trajetória, separados e inter-
relacionados de forma subsequente, conforme se observa na Figura 3, a seguir.

Figura 3 – Imagem do ciclo contínuo de políticas

Contexto
de
influência

Contexto Contexto
da da
produção estratégia
de texto política

Contexto
Contexto dos
da prática efeitos/
resultados

Fonte: a autora (2016).

Diante dessa imagem, conclui-se que a compreensão de cada contexto é relevante para
a análise de política, e se dá a partir das perguntas que o pesquisador levanta, em relação aos
aspectos relacionados ao texto, à trajetória e à atuação da política analisada. Para Ball, na citada
entrevista com Avelar (2016, p. 6), “as perguntas que precisamos perguntar enquanto
pesquisadores de política dependem dos contextos que estamos olhando, ou da posição que
65

tomamos em relação às questões que perguntamos sobre a política”, ou seja, a caracterização


dos contextos em que se encontram inseridos a política e o contexto da trajetória é essencial
para a construção das perguntas norteadoras que possibilitarão a análise da política. Cabe ao
pesquisador resolver em que está interessado em direcionar o seu olhar analítico: para a
trajetória da política ou apenas para um determinado ponto da trajetória? É o texto o seu objeto
de análise, ou é a ação? Ainda em relação aos contextos no processo de análise na abordagem
do ciclo contínuo de políticas, de acordo com as palavras de Ball em Mainardes e Marcondes
(2009, p. 306):

Os contextos podem ser pensados de outra maneira e podem ser “aninhados” uns
dentro dos outros. Assim, dentro do contexto de prática, você poderia ter um contexto
de influência e um contexto de produção de texto, de tal forma que o contexto de
influência dentro do contexto da prática estaria em relação à versão privilegiada das
políticas ou da versão privilegiada da atuação. Assim, podem existir disputas ou
versões em competição dentro do contexto da prática, em diferentes interpretações de
interpretações. E, ainda, pode haver um contexto de produção de texto dentro do
contexto de prática, na medida em que materiais práticos são produzidos para
utilização dentro da atuação.

Refletindo sobre a ideia de Ball, sobre a possibilidade de os contextos se apresentarem


“aninhados”, através de seus diálogos com Mainardes e Marcondes (2009) e Avelar (2016),
concebe-se a ideia de circularidade e sobreposição, entre os contextos da abordagem do ciclo
contínuo de políticas, o que, na prática, significa a simultaneidade na atuação das políticas,
como representado na Figura 4, a seguir:

Figura 4 – Imagem da versão “aninhada” dos contextos

Contexto de influência

Contexto da Contexto do
produção de texto estratégia política

Contexto dos
Contexto da prática efeitos/resultados

Fonte: a autora (2016).


66

Retomando o terceiro aspecto-chave da abordagem teórica de Ball, sobre política


educacional, resultante da relação entre o texto da política e a ação, isto é, a noção de atuação
da política (policy enactment), elimina-se a ideia de “implementação” no sentido do texto dado,
pronto e acabado para ser imediatamente “implementado” pelos atores sociais, sem o
reconhecimento da interpretação e da tradução do texto, no processo para a ação. Para Bowe,
Ball e Gold (1992, p. 10), “the image implicit in the conception of distinct and disconnected
sets of policy makers and policy implementors actually serves the powerful ideological purpose
of reinforcing linear conception of policy in which theory and practice are separate and
privileged”28. Desse modo, observa-se articulação com a perspectiva de Lima (2001) ao tratar
dos fenômenos das políticas educativas entre o “plano das orientações para a ação” e o “plano
da ação”29. Ball avança sobre essa ideia, na citada entrevista concedida em 2016 (AVELAR,
2016, p. 6), ao anotar:

E eu queria apagar implementação da linguagem da pesquisa em política, fazer disto


um pária por causa das suposições epistemológicas, empíricas e teóricas que o termo
carrega consigo. A política é “implementada” ou a “implementação” falha, a política
é fixada no texto, algo que alguém escreve e planeja, e outra pessoa a “implementa”,
ou não.

Nessa perspectiva, compreende-se que nos “processos intraorganizativos” (BALL,


1989) e/ou no “plano da ação” (LIMA, 2001), as políticas educativas são “traduzidas”,
“(re)interpretadas” pelos atores sociais no campo da atuação. Ball (2009) rejeita completamente
a ideia de que as políticas são “implementadas”. Considera descuidado e impensado o uso do
verbo “implementar” nesse contexto, porquanto sugere um processo linear pelo qual elas se
movimentam em direção à prática de maneira direta, sem conceber a existência das estratégias
políticas, presentes no processo da ação dos atores sociais.
Ainda na esteira do pensamento de Ball (1989, p. 18), “negar la importancia de la
micropolitica es condenar la investigación organizativa a ser siempre ineficaz y permanecer
alejada de las realidades inmediatas de la vida en las organizaciones”, uma vez que, no campo
da atuação, na organização escolar, no campo das experiências dos professores, as políticas
educativas são “traduzidas”, “reproduzidas” e “produzidas”, como estratégias individuais dos
sujeitos, no desenvolvimento da ação.

28
“a imagem implícita na concepção de grupos distintos e desconectados de formuladores de políticas e
implementadores de políticas serve de fato ao poderoso propósito ideológico de reforçar uma concepção linear de
política em que a teoria e a prática são separadas e a primeira é privilegiada” (BOWE; BALL; GOLD, 1992, p. 10,
tradução nossa).
29
Ver A Escola Como Organização Educativa: Uma abordagem sociológica (LIMA, 2001), temática a ser
abordada no tópico seguinte.
67

Conforme Mainardes e Marcondes, (2009, p. 305), “a prática é composta de muito mais


do que a soma de uma gama de políticas e é tipicamente investida de valores locais e pessoais”.
Em face desta concepção, o pesquisador continua afirmando, em entrevista, que “como tal,
envolve a resolução de, ou luta com, expectativas e requisitos contraditórios – acordos e ajustes
secundários fazem-se necessários”. Acrescenta que ao se reduzir à atuação de uma política
educativa, à “implementação”, nega-se a ação dos sujeitos sociais no campo da micropolítica,
precisamente, no contexto da organização escolar.
No pensamento de Lima (2001, p. 63), “a implementação das directivas normativas
estabelecidas pode, portanto, e em teoria, assumir pelo menos três formas distintas: a
reprodução total dos conteúdos normativos, a reprodução parcial, ou a não reprodução”. Isso
corrobora a perspectiva de Ball, em ambas as entrevistas concedidas, a Mainardese Marcondes
(2009) e Avelar (2016), pois se entende que o texto das políticas educativas consiste em
“(re)interpretação” (LIMA, 2001) do processo de atuação dos sujeitos/atores escolares nos
contextos da ação na organização educativa, o que Lima (2001) designou de “infidelidade
normativa”30.
Sobre a possível infidelidade, vale-se, ainda, do julgamento de Lima (2001, p. 64): “Não
perspectivo esta infidelidade como mero desvio, com caráter de excepção, mas antes como um
fenómeno típico que pode caracterizar os actores educativos e a ação organizacional escolar”.
Tal acepção sugere o entendimento de pontos de articulação com a perspectiva teórica aludida,
visto que, “na verdade, a infidelidade seria mais correctamente compreendida se considerada
enquanto fidelidade dos actores aos seus objetivos, interesses e estratégias” (LIMA, 2001, p.
64).
Lima (2001, p. 64) admite a infidelidade normativa como um contraponto ao
normativismo burocrático, por motivos de desconhecimento dos normativos (“texto” da política
para Ball), falta de clareza, reprodução deficiente dos conteúdos, erro não intencional de
interpretação ou de aplicação, erro intencional de interpretação e aplicação. Ball, com
Mainardes e Marcondes (2009, p. 305), assevera que “a modalidade primária é textual, pois as
políticas são escritas, enquanto a prática é ação, inclui o fazer coisas”; portanto, é no fazer que
os sujeitos/atores agem conforme seus “objetivos, interesses e estratégias”.
Já quanto aos motivos, estes “são passíveis de relacionamento com o carácter voluntário
ou involuntário da infidelidade” (LIMA, 2001, p. 64), ou seja, “a pessoa que põe em prática as
políticas tem de converter/transformar essas duas modalidades, entre a modalidade da palavra

30
Ver Lima (1998, 2001). “Três grandes tipos de infidelidade: (1) em relação à letra mas não ao espírito; (2) em
relação ao espírito ma não à letra; (3) em relação à letra e ao espírito” (LIMA, 2001, p. 65).
68

escrita e a da ação […] E isto envolve um processo de atuação, a efetivação da política na


prática e através da prática” (BALL, 2009, p. 305), aspectos políticos que se mobilizam no
campo da ação, nos diferentes níveis de atuação das políticas educativas.
Ball (1989, p. 21), no trabalho La micropolítica de la escuela: hacia una teoría de la
organización escolar, ao argumentar sobre os binarismos entre os níveis de análise, nas
pesquisas acerca das políticas educativa, afirma que

En verdad, en los quince años pasados han predominado en la sociología de la


educación los motivos continuamente repetidos de lo “macro” frente lo “micro”, la
estructura frente a accion, la libertad frente al determinismo e los professores frente
al modo de produción. En aspectos importantes, esto ha conducido a subvalorar y a
representar errónemente otras esferas importantes de análisis en los estudios
sociológicos, el grupo de trabajo y la organización, lo que podría llamarse el
mesonivel. El primeiro ha sido dejado en manos de los psicologos sociales, el segundo
a la compasiva misericordia de la teoría organizativa. (BALL, 1989, p. 21)

Mesmo considerando o período em que foi produzido o trabalho acima citado, em


relação ao atual contexto, chama-se a atenção para a atualidade da problemática e para a
necessidade de se proceder a uma análise das políticas educativas que contemple os diferentes
níveis de atuação, nos diversos contextos e níveis das políticas, ou seja, macro, meso e micro,
visto que a análise da política não pode se dar de forma “insularizada” (LIMA, 2001), sem a
percepção analítica dos diferentes níveis de abordagens das políticas educativas, sob pena de se
correr o risco de realizar uma análise fragmentada em um nível de abordagem.
Nessa direção, as considerações de Ball (2011, p. 32) “para os pesquisadores são a de
estarem atentos para o conjunto de políticas, relações de políticas e níveis da política”, com
vistas à compreensão de que as mudanças ocorridas na educação, nas últimas décadas, fazem
parte de um processo de transformações mais amplo, com efeitos principalmente no setor
público (BALL, 2011). Nesse sentido, a pesquisa em políticas exige um olhar multifocalizado
da realidade.
Assim, na perspectiva de ampliar a compreensão sobre os binarismos e polarizações que
se observa nas pesquisas sobre políticas, no campo educacional, recorre-se a uma revisão
pessoal de Ball (2011), sobre as políticas educacionais e a pesquisa em política educacional,
onde o autor apresenta uma discussão a partir de quadro binário sobre a “relação entre
conceptualização, condução, desenho e interpretação da pesquisa” (BALL, 2011, p. 22), em
educação, a qual denomina de “epistemologia de superfície” (BALL, 2011, p. 22).
Os aspectos encontrados nos polos desses binarismos, observados nas pesquisas em
educação, estão reunidos em três grupos: desenho do escopo, envolvimento total, e uma ética
da pesquisa e pesquisa das pessoas. Ver quadro abaixo (Quadro 1):
69

Quadro 1 – Um modelo
a) Desenho do escopo
Orientado pelas políticas Orientado pelas práticas
Focos multiplos Foco singular
Níveis múltiplos Níveis singulares
Temporal Atemporal
Global/local Nacional/geral
Focos ligados Destacados/separados
b) Envolvimento total
Contexto rico Contexto não produtivo
Conceptualmente “profundo” Contexto “sem profundidade”
c) Uma ética da pesquisa
Justiça social Eficiência social
Crítico Incorporado
d) Política das pessoas
Dotadas de voz Silenciadas
Fonte: Ball e Mainardes (2011, p. 35).

O primeiro binarismo apresentado por Ball (2011, p. 35) trata da “diferença entre as
pesquisas ‘orientadas pelas políticas’ e as pesquisas ‘voltadas para a prática’”. Observa o autor
que “esse tipo de pesquisa desliza claramente de volta as táticas de formuladores de políticas
reflexivas, ‘baseadas na culpabilização’, nas quais as políticas são sempre soluções e nunca
parte do problema” (BALL, 2011, p. 36).
O segundo binário trata do sentido do foco da análise e chama a atenção para as
pesquisas que direcionam o olhar compreensivo para um foco único, desconsiderando diversos
aspectos da política na prática, em contraposição a pesquisas com foco múltiplo.
O terceiro binário refere-se “à oposição entre os estudos que se localizam em um único
nível de análise – a escola, a sala de aula, a autoridade educacional local – e aos que tentam
capturar a dinâmica da política nos níveis educacionais, e entre eles, o que eu chamei de
abordagem da ‘trajetória da política’” (BALL, 2011, p. 37), ou seja, direciona a preocupação
para a micropolítica da escola ou para os níveis meso e macro da política.
O quarto binário aborda a temporalidade nos trabalhos de pesquisa sobre políticas,
sobretudo, a ausência do sentido de tempo, nas análises das políticas educativas. Nessa direção,
“o aspecto negligenciado mais óbvio é um extravagante a-historicismo” (BALL, 2011, p. 37).
Sobre o quinto binário, Ball (2011, p. 40) segue sua reflexão “movendo-se do tempo
para o espaço”, e chama “a atenção tanto para a insularidade quanto para a abstração de muitas
pesquisas sobre política educacional” (BALL, 2011, p. 40). Nessa direção, ressalta a falta de
sentido de “lugar”, ou melhor, as pesquisas desse gênero que “não localizam as políticas em
algum quadro que ultrapassam o nível nacional nem conseguem dar uma explicitação analítica
70

ou conduzir a um sentido de localidade nas análises das realizações políticas” (BALL, 2011, p.
40).
O sexto binário trata da polarização, ligação e/ou desconexão analítica entre os espaços
local, nacional e global, sobretudo, da necessidade de as pesquisas realizarem não apenas uma
descrição empírica, mas também, uma contextualização teórica das políticas.
As polaridades no ponto “envolvimento total” seguem na direção dos binarismos
anteriores, mormente, no sentido do entendimento de que as polarizações resultam na ausência
de uma interpretação mediadora. Assim, Ball (2011, p. 41) destaca que, nas pesquisas sobre
política educacional, “a educação é separada do campo mais amplo da mudança na política
social” incorrendo no isolacionismo empírico e no reducionismo teórico.
No ponto “uma ética de pesquisa”, os binários se caracterizam nas polaridades de
posicionamentos teóricos tomados pelos pesquisadores de políticas. Ball (2011, p. 43) afirma
que “a teoria provê a possibilidade de desindentificação – o efeito de trabalhar ‘em e contra’
prevalente nas práticas de sujeição ideológica”, isto é, a teoria como potencialidade para
“revelar e subverter” os discursos implícitos nos textos e práticas das políticas em atuação.
Segundo Ball (2011, p. 44), “a teoria provê a possibilidade de uma linguagem diferente,
uma linguagem que não é capturada por assunções e inscrições dos formuladores de políticas
ou pela imediaticidade da prática (envolvida em tradição, preconceito, dogma e ideologia)”.
Nesse sentido, cabe o esforço intelectual dos pesquisadores de políticas para definir o seu
posicionamento, numa perspectiva de pesquisa crítica e comprometida com a justiça social, ou
com ênfase nos movimentos de monitoramento e controle, eficiência e performatividade, na
educação.
O último binarismo – “incluindo as pessoas” – apresentado por Ball (2011), nas
pesquisas de políticas, trata das polarizações entre as pesquisas em que as pessoas são “dotadas
de voz” e ou “silenciadas”. Para Ball (2011, p. 45), “a visão prevalente, embora normalmente
implícita, é de que a política é algo “feito para as pessoas”, e, “como beneficiárias de primeira
ordem, elas ‘implementam’ políticas; como beneficiárias de segunda ordem, elas são afetadas
positiva ou negativamente pelas políticas” (BALL, 2011, p. 45). Em contraposição a essa ideia,
Ball (2011, p. 45) observa que

[…] políticas colocam problemas para os sujeitos, problemas que precisam ser
resolvidos no contexto. Soluções para os problemas postos pelos textos políticos serão
localizadas e deveria ser esperado que discernissem determinados fins e situações
confusas. Respostas que precisam, na verdade, ser “criativas”.
71

Diante de tal posicionamento, compreende-se que os pesquisadores de políticas podem


dar voz aos sujeitos ou silenciá-los no contexto da prática, nas políticas investigadas.
Normalmente, observa-se que “há um silêncio surdo no coração desses textos diligentes,
abstratos e metódicos. Tanto das pessoas que ‘fazem’ as políticas quanto as confrontadas com
eles são deslocadas” (BALL, 2011, p. 46). Diante disso, nas análises de políticas, é preciso dar
voz ao coletivo dos sujeitos engajados nessas políticas.
De modo geral, o quadro binário explicita a necessidade de o pesquisador ser crítico e
preocupado com a justiça social, para que consiga realizar uma análise voltada para a
compreensão dos diferentes níveis, e polos de atuação das políticas, sem descuidar dos aspectos
analíticos globais que envolvem a ação dos sujeitos/atores sociais, na atuação das políticas, nos
diferentes níveis no campo da prática.
Diante dos argumentos postos, entende-se que a análise das políticas educativas não
pode ocorrer deslocada da interpretação do mundo em que se vive, mas deve ser realizada numa
perspectiva analítica, de acordo com o que Ball destaca, na entrevista com Avelar (2016, p. 3):

[...] não podemos interpretar o mundo, criar significado sobre o mundo, utilizando
uma teoria ou posição epistemológica, porque o mundo é mais persistentemente
complexo e difícil do que aquilo que se pode entender com o simples uso de uma
posição.

Com efeito, as políticas educacionais encontram-se entrelaçadas pelos objetivos,


interesses e estratégias, nos diferentes níveis de atuação dos sujeitos sociais. Ao adotar a ideia
dos binarismos, existentes entre os níveis e polos de focalização das pesquisas em educação,
cabe ao pesquisador crítico reconhecer a necessidade de realizar “uma abordagem teórica de
tipo plural e multifocalizado, seja em termos de abordagem analítica e de escala de observação,
seja ainda em termos de interpretação teoricamente sustentada” (LIMA, 2008, p. 84); e nessa
direção, lançar mão das “lentes” epistemológicas que possibilitem esse olhar “multifocalizado”
das políticas educativas e, consequentemente, da escola.
Com esse entendimento, percebem-se os pontos de articulação entre o pensamento de
Ball (1989,1992, 1994, 2011), nas entrevistas que concedeu a Mainardes e Marcondes (2009)
e Avelar (2016), e as estratégias para a análise das políticas educativas nos diferentes níveis e
contextos, com vistas ao estabelecimento de articulações entre distintas escalas de observação
e diferentes estratégias de abordagem analítica, o que pode ser facilitado pela ruptura com
antinomias clássicas, por exemplo, do tipo macro/micro, designadamente, pela introdução de
perspectivas de análise intermediárias ou mediadoras. (LIMA, 2008, p. 84).
Lima (2008, p. 82) complementa este pensamento:
72

A escola revela-se um objecto de estudo complexo e polifacetado, construído sob


variadas influências teóricas e tradições disciplinares. Referência discursiva dotada de
grande centralidade na pesquisa educacional, evidenciando mesmo uma certa
hegemonia face ao estudo de outros fenómenos educativos não escolares e não
formais, a que nos referimos exactamente quando mobilizamos a categoria “escola”
nos nossos trabalhos? Quais os seus distintos estatutos em termos de análise?

Nessa perspectiva, defende-se que as abordagens dos pesquisadores supracitados


(BALL, 1989, 2009, 2011, 2016; LIMA, 1998, 2001, 2008) são lentes que possuem potência
para focalizar o objeto de estudo desta investigação, o Diretor de Turma nas múltiplas
dimensões, níveis e focalizações. Portanto, a determinação agora se dá na direção de
compreender a escola como organização educativa, e o modo de funcionamento díptico da
escola, intentando lançar o olhar analítico sobre o objeto por meio das “lentes” a que se recorre
neste estudo, procurando não incorrer no binarismo entre o “olhar macroanalítico” e o “olhar
microanalítico” (LIMA, 2001).

3.2 A escola como organização educativa: o modo de funcionamento díptico da escola


como organização

A princípio, considera-se que num primeiro olhar analítico lançado sobre as políticas
educativas e/ou sobre o pensamento pedagógico que se vem presenciando ao longo dos tempos,
percebe-se a influência das teorias organizacionais e administrativas no campo educacional,
observação que se revela, sobretudo, nas tensões presenciadas, intrínsecas no campo das
políticas para a educação no atual contexto. Tensões essas que nas pesquisas em políticas
educacionais se estabelecem “entre preocupações com eficiência e com justiça social […]”
(BALL, 2011, p. 48), pois, segundo Ball (2011, p. 48), “ambos os lados da tensão são políticos
– ainda que os prosélitos da eficiência tipicamente não vejam isso dessa forma”.
Nesse sentido, Lima (2001, p. 101) afirma que: “É conhecida a influência, passada e
presente, de alguns destes modelos nas políticas educativas [...]”. Conforme esse autor, não é
difícil perceber na educação tais influências das teorias organizacionais e administrativas que
intervêm no andamento das decisões que se efetivam na educação, “[...] em certas reformas do
ensino, na legislação escolar e até mesmo no pensamento pedagógico, sobretudo no caso das
pedagogias científicas e racionalizadoras” (LIMA, 2001, p. 101).
Para se proceder a uma análise de qualquer política educacional e/ou mesmo de
programas e projetos, que se materializam no campo da educação, torna-se urgente um estudo
aprofundado dos diferentes modelos organizacionais e dos seus princípios e fundamentos, para,
73

então, analisar as influências, contribuições, implicações, possibilidades, interesses e limites da


sua aplicação, ao campo da educação. Embora não seja este o objetivo precípuo desta
investigação, procura-se entender minimamente este tema, com a finalidade de se direcionar a
compreensão para a perspectiva da escola como organização educativa.
É pensando na compreensão dessa construção teórica e conceitual das organizações, que
se busca, inicialmente, realizar uma análise sobre as teorias organizacionais e administrativas
para, só a partir de então, abordar os modelos de análise das organizações, em busca de suas
convergências, divergências e intencionalidades, ao se aplicarem ao campo educacional.
Embora o debate entre os defensores da racionalidade técnica instrumental considere
que a sociedade se encontra em um elevado grau de modernização que requer das organizações,
cada vez mais, otimização, eficácia e eficiência, com base nos argumentos presentes, faz-se
imperativo revisitar os conceitos construídos historicamente. Deste modo, inicialmente,
procura-se delinear a forma como se constituíram, ao longo dos anos, os conceitos e teorias
organizacionais e administrativas
Com a intensificação do processo de industrialização e os efeitos provocados no modo
de produção e divisão do trabalho, ocorre o crescimento desordenado das empresas, os conflitos
de interesses entre empregado e empregador e, sobretudo, a necessidade de aumentar a
eficiência produtiva das organizações. Nessa direção, também se intensificaram os estudos
científicos, escolas/movimentos e correntes filosóficas que intentam compreender e/ou explicar
os fenômenos econômicos e sociais, ligados ao campo organizacional e administrativo,
principalmente, em consequências das transformações do século XIX que afetaram o campo
empresarial.
O pensamento que funda a Escola de Administração Científica tem início com os
estudos de Frederick Winslow Taylor (1856-1915), fundamentados na aplicação de métodos
científicos de observação do trabalho, controle do tempo da execução das tarefas, divisão e
especialização do trabalho. Tal teoria representou uma revolução científica, na perspectiva de
otimização da produção e racionalização do trabalho, sob o controle do empregador, na busca
pela eficiência, ignorando a possibilidade da existência de conflito entre categorias, dentro da
organização. Ao tratar da influência da produção na prosperidade do empregado e do
empregador, Taylor (1982, p. 31) afirma que

[…] o objetivo mais importante de ambos, trabalhador e administração, deve ser a


formação e o aperfeiçoamento do pessoal da empresa, de modo que os homens possam
executar em ritmo mais rápido e com maior eficiência os tipos mais elevados de
trabalho, de acordo com suas aptidões naturais.
74

Os conceitos e fundamentos do pensamento de Taylor, embora com “argumentos mais


sofisticados”, influenciaram as demais teorias organizacionais e administrativas, posteriores.
Embora Henry Fayol (1841-1925) não fosse um discípulo de Taylor, a Teoria Clássica,
fundada pelo seu pensamento, complementa, de certa forma, as concepções da Escola de
Administração Científica. Enquanto Taylor dava ênfase à tarefa, ao controle e à otimização do
tempo, para a realização do trabalho na perspectiva do aumento da produção, Fayol deu ênfase
à estrutura administrativa. Assim, Fayol funda a primeira definição de administração, com a
inovação dos 14 princípios para a boa administração, e assevera que administrar é prever,
organizar, comandar, coordenar e controlar.
A Teoria Burocrática, fundada a partir do pensamento do sociólogo alemão Max Weber
(1864-1920), tomou como enfoque a especialização do trabalhador na estrutura formal e
hierarquizada, com a finalidade de atingir a racionalidade técnica e o alcance da eficiência.
Weber (1978, p. 25) afirma que: “A fonte principal da superioridade da administração
burocrática reside no papel do conhecimento técnico que, através do desenvolvimento da
moderna tecnologia e dos métodos econômicos na produção de bens, tornou-se totalmente
indispensável […]”. O sociólogo da burocracia administrativa, baseado num aparato
burocrático rigoroso controlado por uma “autoridade” técnica especializada, defende que “A
administração burocrática significa, fundamentalmente, o exercício da dominação baseado no
saber” (WEBER, 1978, p. 27).
Em contraposição às teorias que se pautavam pela tarefa e pela estrutura administrativa,
menciona-se o Movimento das Relações Humanas, a Teoria Comportamentalista e a Teoria do
Desenvolvimento Organizacional, tomando como argumento a ênfase nas pessoas, com uma
abordagem humanista para a organização. Entretanto, os seus objetivos nucleares não diferem
dos demais pensamentos, ou seja, a maior produtividade, com menos recursos e menor tempo.
Enfim, mudam-se as abordagens organizacionais, com estratégias e linguagens diferenciadas,
porém a ideologia presente continua a ser a busca pelas condições mais favoráveis, para a
obtenção do lucro.
Feito esse breve preâmbulo acerca das teorias da organização e da administração,
intenta-se, a partir de então, entender as influências de tais teorias no campo da educação e
compreender a escola como uma organização educativa, perspectiva conceitual importante para
uma investigação sobre políticas no campo educacional, sobretudo, na educação pública.
Na direção desse pensamento, considera-se que sob o argumento da modernização tem-
se presenciado, ao longo dos anos – sobretudo nas últimas décadas –, a pressão sobre a
administração pública para que esta adote a racionalidade técnica das organizações (empresas),
75

e eleja a racionalidade econômica, a otimização, a eficácia e a eficiência, como elementos


nucleares para nortear a materialização de seus programas e políticas. Enfim, transferem-se as
ideias do campo empresarial para o contexto da administração pública (LIMA, 2001).
Nessa direção, Lima (2001, p. 122) afirma que:

A empresa significa, neste contexto, um modelo a seguir em termos de capacidade de


resposta e de adaptação às pressões do mercado, um exemplo de capacidade de
inovação; mesmo as empresas mal sucedidas constituem um bom exemplo a reter para
as organizações públicas não produtivas, no sentido em que fica mais claro que quem
não é eficaz não sobrevive (LIMA, 2001, p. 122).

Corrobora-se o pensamento de Lima (2001), ao ampliar a reflexão crítica sobre a


empresa como exemplo de excelência a ser seguido, já que o argumento transposto das
organizações produtivas, para o campo educacional, ignora os conflitos e interesses existentes
entre os sujeitos da dinâmica organizacional, ou seja, concebe-se o modelo importado da
atividade econômica como se fora consensual, despolitizado, e imune às tensões internas e
externas próprias da sociedade capitalista. Sobre essa questão, Lima (2001, p. 128) assevera:

A obsessão pela eficácia, pela eficiência e pela qualidade, ainda que recente no
universo educativo, é uma obsessão tipicamente tayloriana, presente por diversas
formas na teoria da burocracia, na escola das relações humanas, nas perspectivas
sistémicas e contingenciais, etc.

Tais perspectivas referidas por Lima (2001) estão, há muito tempo, no contexto das
organizações econômicas e apresentadas como inovação no campo educacional. E este autor
acrescenta:

A novidade residirá, apenas, na insistência com que é referida no setor educativo,


ganhando foros de inovação. A reedição de programas, de métodos e de técnicas que
têm feito carreira na administração das empresas, sobretudo a partir da década de
sessenta, agora no contexto educativo, é mais um sinal a confirmar a adopção de um
modo de racionalidade económica (LIMA, 2001, p. 128).

Para este estudo da sociologia das organizações educativas, toma-se, como referência
central, o modelo de análise organizacional elaborado por Lima (2001), o “modo de
funcionamento díptico da escola como organização” 31
. A esse respeito, Lima (2001) admite
que a ação organizacional pode apresentar dois modos de funcionamento, aos quais denominou
“conjuntivo” e “disjuntivo”. Desse modo, ora os objetivos, estruturas, recursos e atividades da
ação, no contexto da organização, são “fieis” às normas burocráticas, ou infringem as
orientações, produzindo regras alternativas; em outras situações, corroboram as conexões

31
Ver Lima (2001, p. 45-92).
76

normativas; e em outras, rompem com estas e suscitam a desconexão de “fato”. Desse modo, o
modo de funcionamento da organização poderá ser ao mesmo tempo conjuntivo e disjuntivo, e
é nessa direção que se aplica a possibilidade de análise do referido modelo.
O modo de funcionamento díptico caracteriza-se em duas faces (A e B), articuladas pelo
eixo da ação e que apresentam um contínuo dinâmico, nas duas direções. Na face A, organizam-
se os modelos analíticos/interpretativos, como, os modelos de ambiguidade, os modelos
políticos, os modelos democráticos, os modelos culturais e os modelos subjetivos, ou seja,
aqueles modelos que representam a crítica aos modelos prescritivos e normativos, organizados
na face oposta. Na face B, encontram-se os modelos normativo-pragmáticos, como, os modelos
burocráticos, os modelos sistêmicos, os modelos estruturais. Nesses modelos, embora
apresentem diferenças entre si, podem ser identificados os conceitos de articulação forte,
conjuntiva, clareza, objetividade e ordem, nas suas definições. Já os modelos da face A
apresentam conceitos de articulação, disjunção, ambiguidade, subjetividade e desordem, no
interior das organizações, como se pode verificar na Figura 5.

Figura 5 – Modo de Funcionamento Díptico da Escola como Organização

Fonte: Lima (2001, p. 48).

Para uma melhor compreensão do modo de funcionamento díptico da organização,


nesse caso a escola, recorre-se aos argumentos do próprio autor:

[...] “Díptico” no sentido em que é dobrado em dois a partir de um eixo construído


pelo plano da acção e por referência ao plano das orientações para a acção, ora
exibindo mais um lado, ou face (por exemplo, a face da burocracia racional ou de
sistema social), ou outra face (a metaforicamente representada como anárquica, ou
ainda aquelas associadas aos modelos políticos, ou culturais, ou subjetivos), ora ainda
77

apresentando as duas faces em simultâneo, ainda que em graus variados de abertura


ou de fechamento, ou de presença/ausência face ao observador (LIMA, 2001, p. 47).

Diante do enunciado, como propósito investigativo, busca-se compreender e refletir


sobre os modelos organizacionais, propostos nas duas faces, do modo de funcionamento díptico
da organização. Para tanto, inicia-se a reflexão pelos modelos organizacionais que se encontram
na face B, do modo funcionamento díptico, no extremo da burocracia racional (+). Com vistas
à compreensão de que os modelos organizacionais que se encontram na face A, o extremo da
anarquia organizada (-), propõe-se a crítica aos modelos organizados na face B.
Contudo, cabe o entendimento de que “a noção de um modelo organizacional se refere
a um conjunto de suposições, ou uma orientação de pesquisa, concernente à realidade
organizacional” (ELLSTRÖM, 2007, p. 450). Trata-se de um arcabouço teórico-conceitual que
orienta a organização, que o toma como referência. “Em outras palavras, um modelo
organizacional tem a característica de um esquema conceitual, o qual pode ser usado para
propósitos descritivos e analíticos” (ELLSTRÖM, 2007, p. 450).
Na perspectiva de compreender como se desenham os diferentes modelos
organizacionais, procurou-se, a partir deste ponto, caracterizá-los em suas especificidades e
aproximações.

3.3 Modelos Formais

Conforme Sá (1997, p. 63), “os modelos formais não constituem um corpo unitário de
conceitos. Trata-se de um guarda-chuva conceptual sob o qual se abriga um conjunto de
abordagens que apesar de similares apresentam algumas especificidades”.
Ainda na perspectiva de compreender como se constituem os modelos formais, Sá
(1997, p. 63) assevera que “Tony Bush (1986, p. 24) inclui entre os modelos formais o modelo
estrutural, o modelo sistêmico, o modelo burocrático, o modelo racional e o modelo
hierárquico”. Neste momento, cabe a tarefa de caracterizar os modelos formais em suas
especificidades e definições conceituais. A partir dessa análise, conclui-se que tais modelos de
organização tomam como enfoque central a estrutura formal, ou seja, baseiam-se em uma
organização fechada, hierárquica, racionalmente planejada, com objetivos claros e bem
definidos, na perspectiva da máxima racionalidade.
Para Blau e Scott (1979, p. 40), “a análise teórica perceptiva e incisiva dos princípios
da burocracia feita por Max Weber é, sem dúvida, o trabalho geral mais importante a respeito
de organizações formais”. Para esses autores, “Weber analisa as organizações formais como
78

parte de sua teoria de estruturas de autoridade ou de sistemas de controle social legítimo” (Blau;
Scott, 1979, p. 40).
Nesses parâmetros, se reconhece que a influência weberiana na constituição dos
modelos das organizações formais é um ponto de partida para a compreensão das características
conceituais dos referidos modelos; entretanto, Blau e Scott (1979) apontam outros estudiosos
que acrescentaram contribuições significativas a tais modelos, como Herbert Simon e Talcott
Parsons.
Outra contribuição importante é a de Blau e Scott (1979, p. 50), quando estes teóricos
afirmam que “Herbert Simon considera as organizações administrativas, primariamente, como
estruturas de decisão a tomar”. Neste sentido, de acordo com Simon (1970, p. 60):

En el proceso de decisión resultan elegidas las alternativas que se consideran medios


adecuados para alcanzar los fines que se desean. Sin embargo, los fines mismos son,
con frecuencia, simples instrumentos para conseguir objetivos más definitivos. De
esta forma nos vemos conducidos al concepto de una serie o jerarquía de fines. La
racionalidad se interesa en la construcción de cadenas medio-a-fines de esta classe

Conforme o pensamento de Simon (1970), o processo de decisão organizacional


configura-se em estratégias para se alcançar os fins desejados. A “boa” administração pensa
nos efeitos das suas decisões, assim como, uma boa empresa calcula a precisão das suas
decisões para a aquisição dos seus lucros. Portanto, a teoria das decisões ocupa-se dos aspectos
racionais da eleição das decisões, com vistas aos objetivos finais.
Segundo Blau e Scott (1979, p. 52), “Talcott Persons fornece ainda uma outra concepção
da organização formal, na recente aplicação de seu esquema teórico geral do estudo dos
sistemas sociais a essas organizações”. Para além da apresentação de outras abordagens sobre
as organizações formais, os autores apresentam uma tipologia, a saber: associações de benefício
mútuo, firmas comerciais, organizações de serviços e organizações para o bem-estar público.
Ao compreender que os modelos formais configuram um “guarda-chuva conceitual”
(SÁ, 1997), sob diferentes metáforas, tais como sistemas, máquina, organismos, cérebros
(MORGAN, 2006), intenta-se caracterizar alguns dos diferentes modelos formais de
organização, a saber: modelos estruturais, modelos sistêmicos, modelos burocráticos e modelos
racionais.

3.3.1 Modelos Estruturais

Os pressupostos fundamentais desse modelo pautam-se pela estrutura da organização e


traçam uma imagem organizacional de modo racional (SÁ, 1997). Contudo, o enfoque
79

privilegiado, centrado em uma estrutura centralizada e rígida da organização, não significa que
este modelo descuide da organização como um todo. Nesse caso, tal abordagem pode se centrar,
apenas, em algumas partes e/ou processos, pois os modelos estruturais focam a atenção além
da estrutura, ou seja, nas técnicas e objetivos (PERROW, 1981). Com efeito, as organizações
sob as orientações dos modelos estruturais são vistas, pela estrutura e técnica rígidas, com
papéis e funções bem definidos. Para Sá (1997, p. 66), “cada uma das configurações estruturais
caracteriza-se pela predominância de um determinado mecanismo de coordenação, dependente
da possibilidade/capacidade de formalizar os procedimentos e/ou os produtos da actividade da
organização”, ou seja, a decisões são tomadas hierarquicamente.

3.3.2 Modelos Sistêmicos

Os modelos sistêmicos partem do pressuposto de que a organização funciona como um


sistema biológico, fundamentando-se na teoria geral dos sistemas. Para Ellströn (2007, p. 452),
“em oposição tanto ao modelo racional quanto ao modelo político, o modelo de sistema social
vê os processos organizacionais como respostas adaptativas espontâneas a problemas internos
e externos, ao invés de ações intencionais”.

3.3.3 Modelos Burocráticos

Os modelos burocráticos de organização têm sua origem no pensamento do sociólogo


alemão Max Weber e privilegiam o enfoque na estrutura fechada, rígida e com objetivos bem
definidos, com enfoque na especialidade técnica, burocratizada e hierárquica. Nesses modelos,
o pensamento assenta-se na análise do tipo ideal, do funcionalismo, dos especialistas, ou da
burocracia, racionalidade e técnica administrativa. Conforme Weber (1978, p. 24),

A experiência tende a mostrar universalmente que o tipo burocrático mais puro de


organização administrativa – isto é, o tipo monocrático de burocracia – é capaz, numa
perspectiva puramente técnica, de atingir o mais alto grau de eficiência e neste sentido
é, formalmente, o mais racional e conhecido meio de exercer a dominação sobre os
seres humanos.

A burocracia, na concepção weberiana, representa a eficiência máxima dos resultados


da organização e se baseia nos objetivos formalmente definidos, na autoridade, na divisão
especializada do trabalho, na consecução de regras claras e consensuais. Nestes termos, a
eficiência configura o fim esperado. Ainda sobre o tipo ideal monocrático de administração
burocrática, Weber (1978, p. 24) acrescenta que “este tipo é superior a qualquer outro em
80

precisão, estabilidade, rigor disciplinar e confiança. Daí a possibilidade de que os chefes da


organização e os interessados possam contar com um grau particularmente elevado de
calculabilidade dos resultados”.
Na perspectiva de Weber (1978), o modelo burocrático “coincide em todos os setores
com o desenvolvimento e a contínua expansão da administração burocrática” (WEBER, 1978,
p. 24). Com o desenvolvimento das formas modernas de organização, na esteira do pensamento
de Weber (1978), o modelo de organização em questão, aplica-se às diferentes espécies de
organizações, desde igrejas, Estado, exércitos, partidos políticos, empresas econômicas,
associações particulares, clubes, dentre outras.
Os modelos burocráticos podem ser identificados com a metáfora da organização como
máquina, com uma estrutura racional de tarefas e atividades: a organização racionalmente
planejada e estruturada, com metas e objetivos. A organização deve funcionar de maneira
mecanicista, rotineira, eficiente, confiável e previsível (MORGAN, 2006).

3.3.4 Modelos Racionais

Os modelos racionais podem ser caracterizados pela ideia de que a organização e o


resultado da definição de um conjunto de objetivos ou preferências propositalmente desenhadas
são instrumentos/meios para alcançar os resultados esperados, sob a liderança de um ator ou a
coalizão de um conjunto de atores. Conclui-se, portanto, que os modelos racionais adotam a
formalização da estrutura organizacional, a definição dos papéis e procedimentos claros
(ELLSTRÖM, 2007).
Segundo Ellström (2007, p. 451), o modelo racional “propõe um conjunto de objetivos
claros e consistentes; certo consenso no que concerne aos objetivos; e uma base explícita de
conhecimentos e de tecnologia bem compreendida com vistas à escolha de atividades (meios)
para o alcance dos objetivos compartilhados”.

3.4 Modelos Organizacionais Face A

Na perspectiva de analisar os modelos organizacionais acolhidos na face A, do modo de


funcionamento díptico da escola como organização, no extremo contínuo da anarquia
organizada, procurou-se caracterizar os modelos de ambiguidade, os modelos políticos, os
modelos subjetivos e os modelos culturais.
81

3.4.1 Modelos de Ambiguidade

Incerteza, imprevisibilidade e objetivos inconsistentes são características que podem


identificar os modelos de ambiguidade. Identifica-se também a presença das metáforas:
anarquia organizada, sistemas debilmente articulados e modelos de decisão do caixote do lixo.
Nos modelos de ambiguidade, os procedimentos organizacionais e tecnológicos não são claros,
sendo pouco compreendidos pelas pessoas que compõem a organização, mesmo havendo
participação fluida e parcial (SÁ, 1997; ELLSTRÖN, 2007).
Ao analisar a metáfora da “anarquia organizada”, Sá (1997, p. 85) afirma que ela “põe
em destaque a falta de clareza dos objectivos organizacionais, o carácter problemático e pouco
claro da tecnologia e a participação fluida”. Verifica-se a inconsistência na definição dos
objetivos e a incompreensão de alguns membros da organização.
Sobre a metáfora do “caixote do lixo”, Sá (1997, p. 85) “destaca a falta de
intencionalidade da acção organizacional, questionando nomeadamente as concepções
tradicionais da decisão organizacional como um acto planeado obedecendo a uma sequência
racional de fases”. Essa metáfora – “caixote do lixo” – pode ser caracterizada como um local
depositário dos problemas e soluções da organização, onde posteriormente se recolhe um ou o
outro, a depender das circunstâncias e situações presentes, sem que se faça um planejamento
das ações a serem realizadas (ELLSTRÖM, 2007). No contexto dessa metáfora, Ellström (2007,
p. 454) observa que

[...] Mais especificamente, a decisão organizacional é vista como uma consequência


de quatro fluxos, consistindo de problemas, soluções, participantes e oportunidades
de escolha. Assim, se o modelo de caixote de lixo está correto, os processos
organizacionais são, em grande proporção, determinados por fluxos acidentais de
eventos.

Já a metáfora “sistemas debilmente articulados” refere-se, sobretudo, à relativa


independência entre diferentes dimensões da organização, enquanto que, os modelos formais
as supõem fortemente integradas (SÁ, 1997, p. 85). Compreende-se que essa metáfora
representa as desarticulações existentes entre as partes das organizações, em alguns casos com
maior intensidade, em outros, menos perceptíveis. Contudo, reconhece-se como sendo uma
manifestação da “relativa independência” dos membros da organização. Nas palavras de
Ellström (2007, p. 455), “de acordo com esta metáfora, os elementos de uma organização são
apenas fracamente conectados uns aos outros”.
82

3.4.2 Modelos Políticos

Nos modelos políticos a organização configura uma arena política em que coexistem
diferentes interesses e grupos de poderes. Na esteira de Ellström (2007, p. 452), o modelo
político pode ser caracterizado “como um sistema de interação individual e de subgrupos
perseguindo diferentes interesses, demandas e ideologias através do uso do poder e de outros
recursos”. Conforme as orientações desse modelo, as decisões e resoluções dos problemas e
conflitos são compartilhadas pelo grupo e acordadas pela negociação mútua, prevalecendo as
ideologias e interesses dos subgrupos que mobilizam a maioria das estratégias de poder.

3.4.3 Modelos Subjetivos

Para Sá (1997, p. 82), “uma das ideias centrais dos modelos subjectivos é a negação da
organização como uma realidade objectiva exterior ao sujeito que a experiencia”. O modelo
subjetivo pode ser caracterizado pela negação de uma organização integrada, ou mesmo pela
existência de uma única organização, visto que, cada membro, com sua subjetividade e
experiência, configura uma organização.
Ainda conforme Sá (1997, p. 82), “as perspectivas fenomenológicas vão colocar a
ênfase no significado que a organização tem para cada um dos seus membros, admitindo que
haja tantas organizações quantos os participantes”. Essa subjetividade organizacional,
focalizada individualmente nos atores, sobrepõe os objetivos pessoais em multiplicidade em
relação aos interesses individuais. Assim, “esta abordagem considera que as organizações não
têm objetivos, mas antes servem interesses particulares que alguns actores organizacionais, pela
posição que ocupam dentro da organização, elevam à condição de objectivos oficiais” (SÁ,
1997, p. 82).
No intento de aprofundar essa questão, os estudos de Ellström (2007) propõem um
modelo multifocalizado, sintetizado em quatro modelos organizacionais, que sugerem quatro
formas de observar a escola como organização: o modelo racional, com uma visão normativa
instrumental; o modelo político, em que a escola é vista como arena de disputa política e de
poder; o modelo de sistema social, que tem a escola como uma organização sem objetivos
definidos, adaptável às demandas internas e externas; e o modelo anárquico, com sistemas
debilmente articulados.
83

Figura 6 – Tipologia dos modelos organizacionais apresentada por Ellströn (2007)

Fonte: Ellström (2007).

Diante do exposto acerca dos diferentes modelos de organização, cabe ao pesquisador


que pretende compreender a escola como organização educativa, fazer suas escolhas teóricas
conceituais, a fim de melhor visualizar a realidade e seus diferentes matizes.
Para a análise da política educacional materializada no Projeto Professor Diretor de
Turma no Estado do Ceará – Brasil, a opção se dá na perspectiva de analisar a efetividade do
referido projeto “no plano das orientações para a ação organizacional” e no “plano das ações
organizacionais” (LIMA, 2001).

3.5 O Projeto Professor Diretor de Turma no Ceará-Brasil entre o Ciclo Contínuo de


Políticas e a perspectiva da escola como organização educativa

O exercício investigativo que se mobiliza neste estudo toma como ponto de partida a
necessidade de compreender uma política educativa, o PPDT, entre os diferentes programas e
projetos que constituem a política educacional da SEDUC-CE, que atuam nas escolas públicas
estaduais regulares do Ceará-Brasil e que têm como argumento principal a “premissa da
desmassificação do aluno” (SEDUC-CE, 2015).
Na perspectiva de não incorrer no risco de analisar a referida política educativa de
maneira “insularizada”32, como mencionado anteriormente, ou de realizar uma pesquisa restrita
à perspectiva textual e normativa, recorreu-se à concepção analítica das organizações
educativas/escolares em suas múltiplas focalizações, associada ao “ciclo contínuo de políticas”
(BALL, 1992, 1994), no intuito de compreender o objeto estudado em seus diferentes níveis,
contextos e dimensões.

32
Ver A Escola Como Organização Educativa: Uma abordagem sociológica (LIMA, 2001).
84

De acordo com o sentido enfocado anteriormente − compreender o objeto estudado em


seus diferentes níveis, contextos e dimensões − concorda-se com Lima (2001, p. 95) quando
este afirma que, “mesmo no caso dos modelos organizacionais formalmente instituídos por via
jurídico-normativa, com caráter universal, fixados em textos legais, é indispensável proceder
ao seu estudo enquanto produções resultantes da acção política e administrativa. [...]”. Portanto,
o esforço mobilizado nesta pesquisa dá-se na perspectiva de, primeiramente, analisar a política
educativa PPDT, em atuação na escola pública regular cearense, recorrendo à abordagem do
“ciclo contínuo de políticas” (BALL, 1989, 2009, 2011, 2016), nos cinco contextos – contexto
da influência, contexto da produção do texto, contexto da prática, contexto dos
efeitos/resultados e contexto da estratégia política –, aninhados no campo da atuação da política
educativa analisada.
Para compreender o interior de cada contexto, procura-se entender as teorias,
abordagens e imagens que ajudam a analisar os fenômenos, tanto no “plano das orientações
para a ação” como no “plano da ação” (LIMA, 2001). Para tal, é imperativo que se invista no
exercício compreensivo que “de um ponto de vista racional-legal, nas escolas opera-se por
referência a estas orientações normativas; um problema é resolvido a partir do momento em
que lhe é conferido solução formal” (LIMA, 1998, p. 170), ou seja, “um órgão existe a partir
do momento em que é juridicamente previsto e normativamente criado, etc.” (LIMA, 1998, p.
170), contudo, faz-se necessário considerar que as orientações são recontextualizadas, e
recriadas, no processo de atuação, nos contextos de nível micro, na escola, conforme os
objetivos, interesses e estratégias dos atores envolvidos. Dimensão esta que Lima (1998, 2001)
designa de infidelidade normativa, e Ball (1989) de micropolítica.
Embora a perspectiva analítica da escola como organização educativa, de Lima (1998,
2001), ofereça potencial para uma análise mais profícua do objeto estudado, fez-se a opção por
esse recorte, a fim de que seja mais fácil compreender a política educativa em atuação, sob a
abordagem do ciclo contínuo de políticas, nos cincos contextos anteriormente referidos,
associando-se à abordagem da sociologia sobre a organização escolar, onde foi utilizada a
compreensão do processo de recontextualização, no contexto organizacional, da política
educativa em cena.
Sobre a abordagem sociológica da organização escolar, Lima (2001, p. 7) afirma que

Uma abordagem sociológica da organização escolar, como unidade social e como


acção pedagógica organizada, revela-se capaz de valorizar os elementos de mediação,
ou intermediários, onde se articulam e são reconstruídos os elementos resultantes das
focalizações analíticas de tipo macro e micro. Sem ignorar tais elementos, que de fato
não pode dispensar ou desprezar, a mesoabordagem da escola parece construir uma
85

forma de integração/articulação de objetos de estudo macroestruturais (o Estado, os


sistemas político e económico, a macro-organização do sistema escolar etc.) e de
objectos de estudo de tipo microestrutural (a sala de aula, os grupos/subgrupos de
formação, os actores e as suas práticas em contexto específico de acção).

Conclui-se que o pensamento de Lima (2001) ilumina a ideia sobre os níveis de


abordagens para as análises das políticas educativas, considerando os diferentes contextos do
“macroestrutural” ao “microestrutural” (LIMA, 2001), considerando a “mesoabordagem”, a
escola, como contexto organizacional concreto onde os sujeitos/atores sociais mobilizam seus
objetivos, interesses e estratégias no processo de reinterpretação das orientações textuais
normativas centrais. Contudo, na perspectiva de Ball (1989) em que esse estudo se ancora o
nível micropolítico se caracteriza a escola.
Sob a lente da abordagem do “ciclo contínuo de políticas”, pretende-se analisar a política
educativa PPDT nos cincos contextos, como mencionado acima, a partir das perguntas que se
levantam na direção de entender tais contextos: contexto de influência (Quais as influências e
interesses locais, nacionais e internacionais que mobilizaram a atuação da política?); contexto
da produção de texto (Como ocorreu o processo de construção dos textos da política em
atuação? – Chamada Pública de adesão ao PPDT, Folder de orientação, Dossiês e Portfólios);
contexto da prática (Quais as significações que os sujeitos/atores sociais construíram sobre o
Diretor de Turma (DT)? – SEDUC/CE, CEPPDT, CRPPDT, PDT, pais e alunos); contexto dos
efeitos/resultados (Quais os efeitos e resultados da política educativa PPDT observados nos
discursos dos sujeitos/atores sociais, nos documentos e dados encontrados?); contexto da
estratégia política (Quais as estratégias políticas definidas no processo de reinterpretação da
política em atuação?).
Como já apresentado na introdução, a análise da política educativa do PPDT em atuação
na escola pública estadual regular cearense consiste no percurso descrito nos cinco contextos,
conforme disposto na Figura 7, abaixo.
86

Figura 7 – Análise do PPDT com base no Ciclo Contínuo de Políticas

CONTEXTO DE
INFLUÊNCIA
Influências e
interesses locais,
nacionais e
internacionais

CONTEXTO DA
PRODUÇÃO DE CONTEXTO DA
TEXTO Chamada ESTRATÉGIA
pública para adesão POLÍTICA:
ao PPDT, Folder de Elementos da
Orientação, Dossiês (re)interpretação e
e Portfólios (re)contextualização

CONTEXTO DA
PRÁTICA CONTEXTO
Discursos dos DOS EFEITOS/
idealizadores, RESULTADOS
SEDUC/CE, Discursos dos
CEPPDT, atores sociais,
CRPPDT, PDT dados e
documentos

Fonte: a autora (2016).

Na perspectiva de compreender as significações dos atores da organização educativa


(gestores, professores, alunos e pais), acerca do cargo/função de diretor de turma,
reinterpretada, recriada e descontextualizada, no processo de atuação na escola pública estadual
regular cearense no período de 2010 a 2014, em relação às significações do cargo/função do
diretor de turma, criado no sistema educativo português na década de 60 do século XX – modelo
homônimo inspirador para tal política educativa no estado do Ceará/Brasil –, a investigação
envolve dois estudos de caso, um em desenvolvimento no contexto cearense, e outro, no norte
de Portugal, conforme explicita o percurso metodológico.
87

4 PERCURSOS METODOLÓGICOS: apresentação e fundamentos

Este capítulo se divide em duas partes, com vistas a apresentar as opções metodologicas
que orientaram o percurso da investigação, bem como, de caracterizar o campo de estudo, numa
perspectiva que perpassa os diferentes níveis de abordagens – micro, meso e macro-analítica –
, onde se desenvolveu a análise do programa educativo PPDT, na SEDUC-CE. A análise está
subsidiada com a realização de dois estudos de caso, numa escola de cada um dos dois contextos
investigados, no Brasil e em Portugal.

4.1 Considerações Metodológicas

Sem dúvida, as opções metodológicas revelam muito sobre as perspectivas teóricas e


analíticas que norteiam as estratégias e a orientação da condução da investigação, em todo o
seu percurso, bem como, os sentidos dos resultados encontrados e a forma como foram
analisados, ou seja, “quando nos referimos a ‘orientação teórica’ ou a ‘perspectiva teórica’,
estamos a falar de um modo de entendimento do mundo, das asserções que as têm sobre o que
é importante e o que é que faz o mundo funcionar” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 52). Ou seja,
o investigador qualitativo constrói a sua interpretação com base nos dados recolhidos sobre o
objeto estudado na interação com os sujeitos investigados no contexto da realidade, no
“ambiente natural”.
Nesse processo, inicialmente, retomam-se alguns elementos estruturantes para a
arquitetura da investigação, embora esta tarefa já tenha sido brevemente realizada na introdução
deste trabalho, como é o caso da apresentação da pergunta de partida que se levantou e se
configurou o fio condutor para o percurso do estudo realizado. Assim sendo, procura-se
analisar: Como os atores da organização educativa (gestores, professores, alunos e pais),
se apropriaram das significações do cargo/função do professor diretor de turma no
contexto da escola pública estadual regular do estado do Ceará-Brasil no período de 2011
a 2014?
A definição da pergunta de partida não se configura uma tarefa fácil, no início do estudo,
entretanto, a definição deste significado faz-se primordial para clarificar as características da
pesquisa na direção de orientar o desencadeamento de todo o percurso de investigação. No
sentido de desenredar intrincada tarefa, recorre-se a Yin (2010, p. 31) quando este afirma que
“o segredo é entender que suas questões de pesquisa possuem tanto substância – por exemplo,
sobre o que é meu estudo? – quanto forma – por exemplo, estou fazendo uma pergunta ‘quem’,
88

‘o que’, ‘onde’, ‘porque’ ou ‘como’?” (YIN, 2010, p. 30), e, pode se destacar ainda que “as
questões ‘como’ e ‘por que’ são mais explanatórias e provavelmente levam ao uso dos estudos
de caso [...]” (YIN, 2010, p. 30), nesses termos, um estudo de caso explicativo.
Definida a pergunta central que permite explicitar a problemática que se levanta neste
estudo, o PPDT no contexto das escolas públicas regulares do estado do Ceará, e considerando
que o projeto em apreço se inspira num modelo em uso em Portugal, desde o século passado,
suscitam-se as questões que se erguem em torno do problema central desta investigação:

a) como foi o processo histórico da instituição do cargo/função de professor diretor de


turma no sistema educativo português e quais as concepções atribuídas a tal cargo no
contexto de sua origem à atualidade?
b) como se deu a trajetória do Projeto Professor Diretor de Turma em todos os contextos
de atuação nas escolas públicas estaduais regulares de ensino cearense, no marco
temporal de 2011 a 2014?
c) quais as aproximações e distanciamentos das significações do cargo/função de diretor
de turma entre os dois contextos, Brasil e Portugal?

No sentido de rememorar as intencionalidades do estudo, alinhadas às opções


metodológicas, a presente investigação adota, como objetivo norteador, analisar como os
atores da organização educativa (gestores, professores, alunos e pais), se apropriaram das
significações do cargo/função do professor diretor de turma no contexto da escola pública
estadual regular, do estado do Ceará-Brasil, no período de 2011 a 2014.
O objetivo central deste estudo se desdobra em cinco objetivos específicos advindos das
questões de pesquisa, na direção de procurar compreender o objeto estudado, o diretor de turma,
em dois contextos, Ceará/Brasil e Portugal. Em síntese, esses objetivos buscam clarificar o
entendimento sobre o percurso das influências e interesses que mobilizaram a criação da
política educativa, PPDT, na escola brasileira até a gênesis do diretor de turma, no sistema
educacional português, uma vez que o cargo de diretor de turma instituído no Ceará se inspira
no cargo homônimo, criado no sistema educacional português, na década de 60 do século XX.
Ao se trazer novamente à memória esses elementos importantes para o entendimento do
desenvolvimento deste trabalho, explicita-se que este estudo se inclui no paradigma33
qualitativo. Dessa maneira, considera-se que esta investigação se enquadra dentre as cinco

33
Segundo Bogan e Biklen (1994, p. 52), “um paradigma consiste num conjunto aberto de asserções, conceitos ou
proposições logicamente relacionadas e que orientam o pensamento e a investigação”.
89

características de uma investigação qualitativa, posto que, a fonte dos dados é o ambiente
natural, constituindo-se o investigador o instrumento principal. Deste modo, é uma investigação
descritiva onde o investigador se preocupa com o processo e não simplesmente com resultados
ou produtos, onde os dados são analisados de forma indutiva, e, sobretudo, busca-se
compreender os sentidos e significados do objeto estudado (BOGDAN; BIKLEN, 1994).
Embora, Bogdan e Biklen (1994, p. 47) admitam que, “nem todos os estudos que
consideraríamos qualitativos patenteiam estas características com igual eloquência Alguns
deles são, inclusivamente, totalmente desprovidos de uma ou mais das características”,
portanto, nessa perspectiva julga-se que este estudo se caracteriza eminentemente como de
natureza qualitativa.
A tradição da investigação qualitativa em educação tem um percurso histórico que
remonta a sua origem à segunda metade do século XIX, passando pela influência dos sociólogos
da Escola de Chicago, pela criação da sociologia da educação, no início do século XX, até se
identificar um hiato da abordagem, entre os anos de 1930 e 1950. Nessa análise, é possível
verificar que, nos anos de 1950, houve um desenvolvimento significativo dos métodos
qualitativos e de trabalho de campo, em nível conceitual e metodológico. Os anos sessenta
foram permeados por tumultos e mudanças sociais, momento em que a atenção dos educadores
voltou-se para a experiência escolar das crianças pertencentes às classes sociais minoritárias.
Na direção de dar voz aos sujeitos discriminados, os métodos qualitativos de investigação
começam a ganhar terreno (BOGDAN; BIKLEN, 1994).
Na década seguinte, “no início dos anos setenta, ainda que os métodos qualitativos não
fossem, de modo algum, os dominantes, já não podiam ser vistos como marginais” (BOGDAN;
BIKLEN, 1994, p. 39). A investigação qualitativa, nos anos de 1980 e 1990, tem as publicações
acadêmicas e científicas ampliadas, ainda que seja como resultado da solicitação dos
representantes dos periódicos de educação. Observam-se, também, as influências da teoria e
prática feministas e das posições dos intelectuais pós-modernistas (também designado por pós-
estruturalismo ou desconstrucionismo). Entretanto, a inovação mais significante tem caráter
mais técnico que conceitual, que é a utilização do computador na recolha, gestão e análise dos
dados qualitativos (BOGDAN; BIKLEN, 1994).
Quanto ao método de pesquisa, elegeu-se o estudo de caso como sendo capaz de
proporcionar a “interação investigador-sujeito” (STAKE, 2012, p. 62), nos contextos reais onde
se materializa a complexidade da ação. As definições de estudo de caso são muitas e variadas,
e entre as mais divulgadas, recorre-se a Yin (2010, p. 39), que define “o estudo de caso é uma
investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo em profundidade e em seu
90

contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são
claramente evidentes”. Para outra definição, recorre-se a Stake (2012, p. 11), quando este afirma
que “estudo de caso é o estudo da particularidade e complexidade de um único caso,
conseguindo compreender a sua atividade no âmbito de circunstâncias importantes”, assim,
considerando essas definições busca-se justificar o estudo de caso como o método de pesquisa
eficaz, para a compreensão e interpretação do fenômeno estudado.
O que pode ser um caso? No tocante ao que pode ser um caso a ser estudado, com o
método de estudo de caso, Stake (2012, p. 17) afirma que, “o caso pode ser uma criança. Pode
ser uma sala de aula cheia de crianças ou uma mobilização de profissionais para estudar uma
situação específica da infância. O caso é um entre outros. Em qualquer estudo concentrar-nos-
emos nesse um”. Entretanto, chama a atenção para dizer que segundo a tradição, nem tudo é
um caso. Uma criança, um professor, um método de ensino específico, um programa inovador,
um conjunto de escolas de uma determinada rede de ensino pode ser um caso. Contudo, a
relação existente entre as escolas, as razões para a realização de um ensino inovador, as políticas
de reforma escolar são menos habitualmente consideradas um caso, por serem analisadas como
temas gerais e não específicos (STAKE, 2012, p. 18), posto que, “o caso é uma coisa específica,
uma coisa complexa e em funcionamento” (STAKE, 2012, p. 18), ou seja, um fenômeno
contemporâneo bem limitado e específico.
Em relação ao tempo despendido para realização de um estudo de caso, Stake (2012, p.
17) admite, que “o tempo que despendemos a concentrar-nos no um pode levar um dia ou um
ano, mas, enquanto assim nos concentrarmos, estamos envolvidos num estudo de caso”. Deste
modo, a duração é determinada pelo objetivo e, consequentemente, pelo tipo de estudo de caso
em estudo.
Muitas são as tipologias definidas para o método de estudo de caso. Para Bogdan e
Biklen (1994, p. 90), o estudo de caso pode ser definido das seguintes formas: estudo de caso
de organização, numa perspectiva histórica; estudo de caso de observação; estudo de caso
história de vida; estudo de caso comunitário; estudo de caso por análise situacional; e estudo de
caso de microetnografia. Nessa direção, admite-se que os investigadores podem optar por
estudar dois ou mais assuntos em diferentes ambientes ou base de dados, realizando assim,
estudos de caso múltiplos, ou estudos de caso comparativos – dois ou mais estudos de casos
efetuados e depois comparados –, ou mesmo, o estudo de caso único. Por outro lado, Yin (2010,
p. 26) divide os estudos de caso em três tipos: estudos de caso explanatórios ou causais, estudos
de caso descritivos e estudos de caso exploratórios. Nesses casos, identifica-se este projeto de
91

estudo, como de caso único, múltiplo, holístico e integrado. Já Stake (2012, p. 19) contempla o
estudo de caso intrínseco, o estudo de caso instrumental e o estudo de caso coletivo.
Entre diferentes definições e tipologias, para o estudo de caso, fazem-se algumas opções
na direção de delimitar o desenho do estudo de caso, efetuado nessa investigação. Desse modo,
considera se necessário explicitar o entendimento sobre o estudo de caso, intrínseco,
instrumental e coletivo (STAKE, 2012), como opção de perspectiva orientadora. Para Stake
(2012, p. 19), estudo de caso intrínseco é:

[...] quando sentimos curiosidade acerca de uma determinada atividade ou quando


assumimos a responsabilidade de avaliar um programa. O caso está dado. Estamos
interessados nele, não apenas porque ao estudá-lo aprendemos sobre outros casos ou
sobre um problema em geral, mas também porque precisamos de aprender sobre este
caso em particular.

Nesses termos, conclui-se que temos um interesse intrínseco no caso. Na situação


diferente, relativa ao estudo de caso instrumental, Stake (2012, p. 19) afirma que, “[...] teremos
um problema de investigação, uma perplexidade, uma necessidade de compreensão global, e
sentiremos que podemos alcançar um conhecimento mais profundo se estudarmos um caso em
particular”, e, complementa com um exemplo:

Por exemplo, os professores pré-universitários suecos tem um ano para começar a usar
um sistema de avaliação novo aprovado pelo Parlamento. Como é que isso funciona?
Irá o sistema ter uma orientação com referência a critérios? Irá essa orientação
modificar a forma de ensinar dos professores? Podemos escolher uma professora para
estudar, observando em termos gerais como ela ensina, mas prestando particular
atenção à forma como ela classifica o trabalho dos alunos e se isso afecta ou não a sua
forma de ensinar. Esta utilização do estudo de caso é instrumental, visa alcançar algo
mais do que compreender outra coisa. Aqui o estudo de caso é instrumental, visa
alcançar algo mais do que compreender essa professora específica, [...]. (STAKE,
2012, p. 19)

Outra categoria defendida por Stake (2012, p. 19), para o estudo de caso, é o estudo de
caso coletivo, projeto em que o investigador procura estudar mais de um caso sobre o mesmo
fenômeno, ou melhor, “cada estudo de caso é instrumental [...], mas deverá haver uma
coordenação importante entre os estudos individuais”, o que estabelece distinção entre estes
três tipos de caso. Sobre a descrição dos contextos, nas diferentes categorias de estudo de caso,
Stake (2012, p. 80) sublinha que, “quanto mais o estudo de caso for um estudo de caso
intrínseco, mais atenção é necessário prestar aos contextos”, e continua, “quanto mais o estudo
de caso for um estudo de caso instrumental, certos contextos serão importantes, mas outros
contextos importantes para o caso terão pouco interesse para o estudo”, ou seja, “a distribuição
da atenção pelos contextos basear-se-á em parte na distinção entre os objetivos intrínseco e
92

instrumental”. Neste ensejo, buscar-se-ão as articulações entre as definições de estudo de caso


entre Stake (2012) e Yin (2010) para emoldurar a arquitetura deste estudo de caso em análise.
Considera-se que o estudo de caso intrínseco (STAKE, 2012) assemelha-se às
características do estudo de caso único holístico, definido por Yin (2010), a saber, “o mesmo
estudo de caso único pode envolver mais do que uma unidade de análise. Isso ocorre quando,
em um caso único, a atenção também é dirigida a uma subunidade ou mais” (YIN, 2010, p. 73).
Julga-se que o estudo de caso único é análogo ao experimento único, enquanto que os casos
únicos são projetos comuns para a realização de estudo de caso, variando em holístico ou em
unidades integradas de análise. O estudo de caso único holístico ou integrado é justificável,
quando ele representa um caso crítico no teste de uma teoria existente, quando representa um
caso extremo ou peculiar, ou quando ele é representativo ou típico, ou ainda, quando o estudo
de caso é o caso revelador. Outra justificativa para o estudo de caso único é o caso longitudinal.
Esses são os cinco fundamentos que traduzem as principais razões para a condução de um
estudo de caso único (YIN, 2010).

4.1.1 Compreendendo o “caso” em estudo

Diante das asserções expostas acima, evidencia-se que, na presente investigação,


realizaram-se dois estudos de casos únicos, um integrado e um holístico, ou mesmo, estudos de
casos intrínsecos, um numa Escola Brasileira (EB), no contexto da rede pública estadual de
ensino regular do estado do Ceará na SEDUC-CE, e numa escola como subunidade de análise,
e outro, num agrupamento vertical de escolas, com ensino secundário, numa cidade do norte de
Portugal (AEP), única unidade de análise,34 denominada para efeito deste estudo de EP.
Consequentemente, sem a pretensão de efetuar comparação entre os casos, mas, sobretudo,
perceber as aproximações e distanciamentos nas apropriações dos sujeitos da organização
educativa em relação ao cargo/função do DT, reinterpretado da sua gênese para a atuação por
meio do programa intitulado PPDT. Conforme o quadro 2, abaixo, se concebe a arquitetura
deste caso.

34
Apesar do AEP integrar 10 escolas (subunidades de gestão), cobrindo todos os níveis de ensino (educação de
infância, ensino fundamental e ensino médio), neste estudo apenas recolhemos dados na escola sede do AEP, uma
escola em que é lecionado o ensino médio (ensino secundário, na designação portuguesa).
93

Quadro 2 – Projeto de caso único integrado (unidade múltiplas de análises) no contexto


brasileiro e um estudo de caso único holístico no contexto português

Contexto Contexto
BR PT

•Unidade integrada de análise 1 - SEDUC- •Unidade de análise - ESCOLA


CE PORTUGUESA (EP)
•Unidade integrada de análise 2 - ESCOLA
BRASILEIRA (BR)

Fonte: adaptado de Yin (2010, p. 70).

A escolha do caso, objeto deste estudo, o PPDT, se justifica por ser um projeto educativo
inovador em meio ao conjunto de programas e projetos educativos da política educacional, em
andamento na escola pública estadual do Ceará, como já justificado anteriormente. As
circunstâncias deste caso se caracterizam como sendo exclusivas, o que justifica a escolha do
método de estudo de caso para a realização da investigação, enquanto que a escolha da segunda
unidade de análise, a escola, justifica-se como um caso típico e representativo, no referido
contexto.
Stake (2012, p. 20) considera que “poderá ser útil seleccionar casos que são típicos ou
representativos de outros casos, mas uma amostra de um ou uma amostra de apenas alguns terá
poucas probabilidades de ser fortemente representativa de outros”, e complementa: “a
investigação com estudo de caso não é uma investigação por amostragem. Nós estudamos um
caso com o objetivo primário de entender outros casos. A nossa primeira obrigação é
compreender esse caso específico”. De posse desses elementos compreensivos sobre o método
de estudo de caso, foi realizado um levantamento das escolas públicas estaduais regulares do
estado do Ceará, com o PPDT em ação, e foi selecionada a escola com maior quantidade de
turmas com Professores Diretores de Turma (PDT) e maior tempo de efetivação do projeto
educativo, a qual se denominou Escola Brasileira (EB). Os critérios citados, usados para
selecionar a unidade de análise para o estudo de caso, se deu por acreditar que essa escola, com
essas condições evidenciadas, poderia apresentar mais elementos de interpretação e
(re)interpretação da política, em todo o seu ciclo de ação.
O segundo caso foi realizado no contexto português, onde foi selecionada uma escola
pública de ensino secundário, sede de um agrupamento35 de escolas, denominada neste estudo
como Escola Portuguesa (EP). Embora não se objetive realizar comparação entre os casos, a

35
Ver discussão posterior.
94

seleção da instituição, para a realização do estudo no segundo contexto, especificamente no


Norte de Portugal, deu-se pelas semelhanças com a escola do primeiro caso e, também, pela
facilidade de acesso e acolhimento da investigadora, na instituição. Nesses termos, concorda-
se com Stake (2012, p. 20), quando ele afirma que “precisamos escolher casos de fácil acesso
e que acolham a nossa investigação, talvez para os quais se possa identificar um informador
futuro e com actores (as pessoas estudadas) dispostas a comentar sobre certos textos e
rascunhos”. Os aspectos de acesso ao local e receptividade dos atores nesta intituição foram,
sem dúvida, importantes para a escolha e posterior realização do estudo de caso, contudo,
ressalta-se a complexidade do contexto na contribuição para o alargamento do entendimento,
sobre o caso estudado.
As estratégias de recolha de dados consistiram em pesquisa bibliografica e documental,
sobre a temática pesquisada, seguida da aplicação de questionário on line no campo investigado
no Brasil, específicamente, na rede pública estadual de ensino regular. Em seguida, prosseguiu
o estudo, por meio do trabalho de campo acerca do tema professor diretor de turma, nos dois
contextos, Ceará-Brasil e Portugal, na direção de se cumprir o objetivo analítico, proposto para
o estudo.
No campo foi realizada observação não participante, entrevistas semiestruturadas ou
não diretivas, análise dos documentos institucionais referentes ao objeto de estudo, além das
notas de campo. A compreensão sobre dados baseia-se na asserção de Bogdan e Biklen (1994,
p. 149) quando estes afirmam que “o termo dados refere-se aos materiais em bruto que os
investigadores recolhem do mundo em que se encontram a estudar; são elementos que formam
a base de análise”, e continuam se pronunciando sobre o tema, sublinhando que “os dados
incluem materiais que os investigadores registram ativamente, tais como transcrições de
entrevistas e notas de campo referentes a obserção participante” (BOGDAN; BIKLEN, 1994,
p. 149), e concluem, anunciando que “os dados também incluem aquilo que os outros criaram
e que o investigador encontra, tal como diários, fotografias, documentos oficiais e artigos de
jornais” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 149).
A vantagem do método de estudo de caso se configura em possibilitar ao investigador
estudar em profundidade um contexto, um indivíduo, um grupo de pessoas, um fenômeno ou
uma organização (BOGDAN; BIKLEN, 1994; YIN, 2010; STAKE, 2012), pode se dizer que o
método de estudo de caso responde ao “desejo de entender os fenômenos sociais complexos”
(YIN, 2010, p. 24). Entretanto, “o uso do estudo de caso com a finalidade de pesquisa
permanece um dos empreendimentos mais desafiadores das ciências sociais” (YIN, 2010, p.
23) que exige o esforço disciplinar do investigador, e, sobretudo a concepção rigorosa de um
95

plano de trabalho para a condução da investigação. Neste estudo, espera-se modestamente ter
cumprido os rigores e as exigências metodológicas, na execução de uma investigação
qualitativa, com o método de estudo de caso, e portanto, determina-se a descrever o percursos
traçado neste esforço investigativo.

4.1.2 O percurso investigativo

Como suscitado anteriormente, o percurso investigativo consistiu em pesquisas


bibliografica e documental; aplicação de um questionário on line disponibilizado, em um sítio
da web36; observação não participante; entrevistas semiestruturadas ou não diretivas realizadas
pela investigadora, nos contextos estudados, Brasil e Portugal.
No que se refere à pesquisa bibliográfica, esta teve início com realização de um
levantamento das produções acadêmicas no Brasil, sobre o objeto estudado, o PPDT37. Também
serviram como subsídios os artigos científicos publicados em anais de eventos científicos,
revistas científicas, sites de simpósios e congressos científicos disponíveis na internet,
periódicos de educação, teses, dissertações e livros referências, sobre o tema estudado, o Diretor
de Turma, seguido do levantamento das produções científicas de pesquisadores portugueses
que investigam a temática do diretor de turma no seu contexto de origem. A pesquisa
bibliográfica possibilitou a seleção das referências teóricas para dar suporte ao projeto de
pesquisa, com vistas a iluminar o estudo, no decorrer da investigação.
Quanto à pesquisa documental, buscou-se fontes diversas, mas, inicialmente, recorreu-
se aos documento produzidos pela a SEDUC-CE, tais como, a chamada pública de adesão ao
PPDT (ANEXO E); o folder de divulgação e orientação do PPDT (ANEXO D); os
instrumentais que compõem o dossiê e portifólio dos alunos, elaborado pelo PDT. Acredita-se
que tais documentos oficiais podem ajudar a compreender os interesses e tensões nos contextos
de influência e produção dos textos do projeto educativo, na política educacional em andamento
no estado do Ceará.
Na EB, foi analisado o Projeto Político Pedagógico (PPP), o Regimento Interno e os
dossiês/portifólios dos alunos. Concorda-se com Bogdan e Biklen (1994, p. 180), quando estes
afirmam que “as escolas e outras organizações burocráticas têm a reputação de produzir uma
profusão de comunicações escritas e ficheiros”, bem como, quando destacam que “a maior parte

36
Site. Disponível em: <http://www.geppc.org.br/limesurvey/index.php/231872/lang-pt-BR>. Acesso em: 10 jun.
2016.
37
Ver anexo.
96

das pessoas fala depreciativamente destes montes de papel e pode olhar-nos de soslaio por
chamarmos a estes documentos oficiais de dados”. Apesar disso, esses documentos oficiais são
úteis para a ajudar o investigador a compreender as perspectivas oficiais, sobre programas,
sobre a estrutura administrativa, dentre outros aspectos do sistema escolar (BOGDAN;
BIKLEN, 1994). No contexto português, recorreu-se ao Decreto de 14 de agosto de 1895, que
aprova o regulamento geral do ensino secundário, e ao Decreto nº 48.572, que aprova o Estatuto
do Ciclo Preparatório do Ensino Secundário. Na EP, analisou-se o Projeto Educativo, o
Regulamento Interno, o Guião do Diretor de Turma 2015-2016, Guiões de orientação para os
Conselhos de Turma e dossiês de turma.
Posteriormente, na perspectiva de compreender as primeiras percepções dos professores
da rede estadual de ensino da SEDUC-CE, sobre o PPDT, após ampla articulação por meio de
e-mails, junto à secretaria executiva (SEDUC/CE), aos/as coordenadores(as) das vinte
Coordenadorias Regionais de Desenvolvimento da Educação (CREDE), aos/as
coordenadores(as) das três Superintendências das Escolas Estaduais de Fortaleza (SEFOR), à
Coordenadoria Estadual do Projeto Professor Diretor de Turma (CEPPDT) e às Coordenadorias
Regionais do Projeto Professor Diretor de Turma (CRPPDT), para a divulgação do link do
questionário (ANEXO) on line feito em software livre denominado lime survey, disponibilizado
no site38 do Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Curriculares (GEPPC) da UFPB-BR,
precisamente no dia 15 de abril de 2015, seguido por trabalho de divulgação e articulação junto
às instâncias de coordenação do projeto educativo no estado do Ceará. O trabalho de
mobilização para essa etapa teve continuidade com a realização de visitas à secretaria executiva
e à coordenação estadual do PPDT, na SEDUC-CE.
Como resultado do levantamento do campo de pesquisa, na rede pública estadual de
ensino do Ceará-Brasil, realizado através do citado questionário, apresentam-se as informações
obtidas com a primeira pergunta, objetivando identificar, por categorias, os respondentes. A
primeira pergunta formulada foi nos seguintes termos: 1. Prezado participante, antes de
iniciarmos com o preenchimento do presente questionário, indique se você é professor (efetivo
e/ou temporário) da rede pública estadual de ensino do Ceará (APÊNDICE C).
Os dados foram extraídos da plataforma on line no dia 16 de outubro de 2015, se
caracteriza um levantamento inicial que revela a seguinte representação gráfica das variáveis
categóricas.

38
Disponível em: <http://www.geppc.org.br/limesurvey/index.php/231872/lang-pt-BR>. Acesso em: 10 jun.
2016.
97

Gráfico 1 – Representação gráfica das variáveis categóricas

É Professor?

Sim Não

Fonte: a autora (2015).

Como é possível observar na figura acima, a grande maioria dos respondentes do


questionário aplicado são professores (94,8%). Abaixo, segue uma tabela detalhando esta
informação pelos diferentes cargos ou funções, dos respondentes.

Tabela 3 – Detalhamento do quantitativo de respondentes por cargo ou função


Cargos/Funções N Sim Não
Coordenador(a) Estadual (CEPPDT) 6 5 1
Coordenador(a) Regional (CRPPDT) 13 12 1
Coordenador Escolar (PPDT) 101 93 8
Professor Diretor de Turma (PDT) 314 301 13
Professor Não Diretor de Turma (PDT) 46 44 2
Fonte: a autora (2015).

Ao se considerar a totalidade dos professores da rede estadual de ensino, observa-se que


1,89% (480 atores) responderam ao questionário divulgado, como se pode verificar na tabela,
com detalhamento do quantitativo de professores, por categoria a seguir.

Tabela 4 – Detalhamento do quantitativo de professores da rede estadual de ensino por


categoria
Categorias N
Professor Efetivo 12.715
Professor em Regime Temporário 12.570
98

Total 25.285
Fonte: SEDUC-CE (2015).

Considera-se que, desse total, existe um grande contingente de professores que não
respondeu ao questionário, visto que, de 25.285 professores entre efetivos e temporários apenas
480 responderam. O processo de mobilização para a divulgação do referido questionário de
pesquisa, ocorreu por via institucional, pela secretaria executiva da SEDUC-CE e coordenação
estadual que mobilizaram as coordenadorias regionais na CREDEs e estas entraram em contato
com as coordenações escolares, para divulgarem e mobilizarem os professores, nas escolas.
Portanto, não há como avaliar a pouca adesão dos professores em responder ao questionário,
visto que, não se estabeleceu estratégia de controle.
Simultâneo ao processo de divulgação, mobilização e disponibilidade do questionário,
no sítio da web, foram realizadas vistas de observação na SEDUC-CE, seguidas da realização
de entrevistas. Foram entrevistados os sujeitos que estiveram envolvidos no processo de
concepção do PPDT, mobilização e construção dos textos orientadores do projeto educativo na
SEDUC-CE, bem como, na “implementação”, nas escolas da rede estadual de ensino, a
coordenação estadual do projeto no período da “implementação” nas escolas de rede pública
estadual de ensino (1), a coordenação estadual em exercício no projeto − 2015-2017 − (1),
coordenação regional de uma CREDE selecionada por ser a única que se encontra na função de
coordenação de uma coordenadoria regional desde o início do projeto no Estado (1), a
especialista educacional que conheceu o diretor de turma na escola portuguesa e levou a
proposta para a SEDUC-CE (1) e a consultora portuguesa responsável pelas orientações do
projeto educativo no início do processo de “implementação” (1). Considera-se que as
entrevistas desses atores sociais tem potencial relevante para a compreensão dos cinco
contextos da política em análise.

Tabela 5 – Demonstrativo dos sujeitos entrevistados na SEDUC-CE e CREDE

Sujeitos SEDUC-CE/CREDE Quantidade de entrevistas


Coordenação estadual (2010-2014) 1
Coordenação estadual 2015 1
Idealizador do PPDT 1
Consultor externo 1
99

Coordenação regional - CREDE 1


TOTAL 5
Fonte: a autora (2015).

No andamento da pesquisa, foi realizado um levantamento junto às CREDEs e SEFORs,


com o objetivo de identificar a escola estadual de ensino regular com mais tempo de adesão ao
PPDT, em todas as turmas no estado do Ceará. Diante do resultado desse levantamento,
selecionou-se a unidade de análise, EB, para a realização do estudo de caso, onde foram
realizadas visitas de observação, análise dos documentos internos da escola e realização de
entrevistas. Foram realizadas oito entrevistas: com a diretora geral (1), com a coordenadora do
PPDT na escola(1), com professores(2), com alunos(2), com pais/mães (2), conforme descrição
na tabela que segue.

Tabela 6 – Demonstrativo dos sujeitos entrevistados na EB


Sujeitos EB Quantidade de entrevistas
Diretora Geral 1
Coordenadora do PPDT na escola 1
Professores 2
Alunos 2
Pais/Mães 2
TOTAL 8
Fonte: a autora (2016).

No período de 1 de setembro de 2015 a 31 de agosto de 2016, a pesquisadora esteve


realizando o Estágio Científico Avançado de Doutoramento, na Universidade do Minho (UM),
equivalente ao Programa de Doutorado-Sanduíche no Exterior (PDSE)39. Esse período
correspondeu ao ano letivo, no sistema educacional português, portanto, como já citado foi
selecionada a unidade de análise EP para a realização do estudo de caso, onde foram realizadas
visitas de observação, análise dos documentos internos da escola e realização de entrevistas.
Foram realizadas oito entrevistas: uma (1) com a diretora, uma (1) com a coordenadora do DT,
duas (2) com professores, duas com (2) alunos, e duas (2) com pais ou encarregados de
educação, conforme descrição na tabela abaixo:

39
Programa de estágio de doutoramento no exterior para estudantes de Pós-graduação de universidades brasileiras
reconhecidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
100

Tabela 7 – Demonstrativo dos sujeitos entrevistados na EP


Sujeitos EB Quantidade de entrevistas
Diretora Geral 1
Coordenadora do PDT na escola 1
Professores 2
Alunos 2
Pais ou encarregado de educação 2
TOTAL 8
Fonte: a autora (2016).

A caracterização das organizações estudadas no estudo de caso tem importância


fundamental para a compreensão dos dados recolhidos no trabalho empírico. Nesses termos,
concorda-se com Torres e Palhares (2014, p. 31) quando estes afirmam:

[...] a caracterização do contexto organizacional onde se desenvolve o estudo de caso


não pode cumprir função meramente decorativa, servindo apenas de moldura aos
dados recolhidos, mas antes constituir um momento e uma oportunidade para
interpelar as regularidades e as dinâmicas características da organização, tentando ao
mesmo tempo escapar a visões holisticas e homogeneizantes da realidade escolar [...]

No sentido de se cumprir a estratégia metodológica de caracterizar as organizações


estudadas, com a finalidade de se constituir como uma oportunidade no processo de recolha e
análise dos dados, far-se-á tal exercício.

4.1.3 Análise e interpretação dos dados

Com base na perspectiva de Bogdan e Biklen (1994, p. 205), corrobora-se que, “a análise
envolve o trabalho com os dados, a sua organização, divisão em unidades manipuláveis, síntese,
procura de padrões, descoberta dos aspetos importantes e do que deve ser aprendido e a decisão
do que vai ser transmitido aos outros”. As estratégias para a recolha de dados deste estudo,
conforme já explicitado anteriormente, se configuraram na análise dos documentos,
levantamento por meio de questionário, observação, notas de campo e entrevistas. Tais
estratégias renderam importantes informações que foram orientando a investigação ao longo da
pesquisa, portanto, cabe agora, explicitar o processo de análise e interpretação dos dados.
Nesse segmento, valeu-se das questões-problema e dos objetivos que guiaram o
desenvolvimento do estudo e, com base em Bogdan e Biklen (1994, p. 221), acredita-se que
101

“determinadas questões e preocupações de investigação dão origem a determinadas categorias.


Algumas abordagens teóricas e disciplinas acadêmicas sugerem determinados esquemas de
codificação”.
Em harmonia com Bogdan e Biklen (1994, p. 231), pode-se afirmar que “as diferentes
perspectivas teóricas dos investigadores modelam a forma como abordam, consideram e dão
sentido aos dados”. Isto posto, a abordagem do ciclo contínuo de políticas − contexto de
influência, contexto de produção de texto, contexto da prática, contexto de efeitos/resultados e
contexto da estratégia política −, bem como, a perspectiva teórica do “plano de orientações para
a ação” e do “plano da ação”, se configuram como as categorias usadas para codificar
inicialmente os dados analisados. Em síntese, tais opções se baseiam no entendimento de
Bogdan e Biklen (1994, p. 229), de que, “os valores sociais e as maneiras de dar sentido ao
mundo que podem influenciar quais os processos, atividades, acontecimentos e perspectivas
que os investigadores consideram suficientemente importantes para codificar” os dados
recolhidos para suas análises e interpretações em suas pesquisas. Sobre esta questão, Bogdan e
Biklen (1994, p. 232) acrescentam,

Sempre que fazemos análise somos, usualmente, parte do diálogo acerca do tópico
que estamos a considerar. Por isso, podemos analisar e codificar o nosso tópico de
várias formas diferentes [...] a análise é moldada pelas perspectivas e posições teóricas
do investigador e pelas ideias que este partilha acerca do assunto.

De posse desse entendimento e articulando as ideias de Bogdan e Biklen (1994), sobre


a investigação qualitativa em educação, com as orientações de Stake (2012) e Yin (2010), sobre
estudo de caso, procura-se explicitar o processo que transcorreu para se chegar às análises e
interpretações dos dados recolhidos no campo empírico sobre a trajetória da política educativa
PPDT.
No que se refere ao desenvolvimento de categorias de codificação, dos dados recolhidos,
Bogdan e Biklen (1994, p. 222) apresentam o que chamam de famílias ou tipos de códigos de
categorias como propostas para a classificação dos dados, como, códigos de contexto, código
de definição da situação, perspectivas tidas pelos sujeitos, pensamentos dos sujeitos sobre as
pessoas e objetos, código de processo, código de atividade, código de acontecimentos, código
de estratégias, código de relação e de estrutura social, código de métodos, sistema de
codificação pré-estabelecidos. Por outro lado, Stake (2012, p. 89) sugere a agregação categorial
ou interpretação direta, enquanto que, Yin (2010, p. 154) propõe quatro estratégias analíticas
gerais dos dados de estudo de caso, a saber, contar com proposições teóricas, desenvolver
descrições de caso, usar dados quantitativos e qualitativos e examinar as explanações rivais.
102

Embora, os autores Bogdan e Biklen (1994) e Yin (2010) apontem para a possibilidade
do uso de ferramentas auxiliadas pelo computador, como por exemplo, o Atlas.ti.,
HyperRESEARCH , Nvivo ou The Ethnograp, dentre outros softwares concebidos para
auxiliar a investigação qualitativa, no processo de codificação e categorização de grandes
quantidades de textos recolhidos em entrevistas e documentos, com vasto material escrito. As
opções realizadas no processo de codificação e categorização dos dados, neste estudo, não
fizeram uso dessas ferramentas auxiliadas por computador, entretanto, para tal propósito,
recorreu-se às orientações dos autores Bogdan e Biklen (1994), Stake (2012) e Yin (2010),
usados como referências. Em suma, optou-se por fazer a classificação mecânica dos dados,
codificados e classificados, conforme cada contexto do ciclo contínuo de políticas (BOWE;
BALL; GOLD, 1992; BALL, 1994), analisados e interpretados diretamente (STAKE, 2012).
Com base nas perspectivas dos autores acima citados, sobre a pesquisa qualitativa, e,
sobretudo, sobre o estudo de caso, construiu-se uma síntese com as características
metodológicas do estudo de caso que foi realizado nesta investigação, conforme se pode
observar no Quadro 3, mesmo que este não seja capaz de contemplar todas as características do
estudo de caso sintetizadas das diferentes contribuições aqui invocadas, acredita-se em poder
clarificar as intenções mobilizadas nesta investigação.

Figura 8 – Síntese do estudo de caso – do tipo às estratégias de análises


ESTUDO DE CONTAR COM CLASSIFIÇÃO
CASO ÚNICO PROPOSIÇÕES MECÂNICA DOS
TEÓRICAS DADOS
• Estudos de casos • Os objetivos originais • Rever todas as páginas
únicos são projetos que orientam do material recolhido e
comuns para a teoricamente guia o numerá-las
realização de estudos estudo de caso sequencialmente
de caso. • Baseia-se • Numerar os dados por
• Duas variações: presumidamente nas ordem cronológica do
projetos holísticos e proposições teóricas momento da recolha e
ou integrado para refletir sobre as ou,
• Neste estudo se questões de pesquisa, • Por tipo de material
realizou dois estudos revisão da litaretura, semelhante
de casos únicos hipóteses ou • Códigos com palavras
proposições. ou frases
• Os códigos
categorizam a
informação a
diferenstes níveis
• Estudar atentamente o
conteúdo
• Descobrir padrões

Fonte: adaptado de Bogdan e Biklen (1994), Stake (2012) e Yin (2010).


103

Pensando na afirmação de Stake (2012, p. 92), “[...] na minha análise, não procuro
descrever o mundo, tão pouco descrever o caso por completo [...]”, contudo, o esforço maior é
revelar fidedignamente os achados, de forma a contribuir para as considerações coletivas sobre
o objeto estudado, subscrevendo que, “cada investigador precisa, através da experiência e da
reflexão, de encontrar as formas de análise que melhor funciona para ele" (STAKE, 2012, p.
92). Adiante, no capítulo cinco dedica-se, mais especificamente, às análises e interpretações
dos dados recolhidos, fazendo a triangulação e as devidas generalizações quando conveniente.
Contudo para Stake (2012, p. 89),

A origem dos pensamentos e, portanto, do significado permanece um mistério. A


página não se escreve sozinha, mas através da descoberta, da análise, da atmosfera
certa, do momento certo, através da leitura e releitura dos relatos, através de um
pensamento profundo, o nosso entendimento avança e a página está impressa.

Nesse contexto, o mistério que envolve os significados precisa ser cautelosamente


desmistificado e a reflexão profunda revelada, no entendimento sobre o objeto de estudo em
causa. Nesse sentido, a leitura e releitura dos relatos e dados recolhidos no campo empírico, em
mobilização nas abordagens analíticas, revelam o entendimento sobre as questões que estes
levantam, desde o primeiro momento da investigação, e assim, se lança à análise, na perspectiva
de desvelar a política educativa investigada.
Para efeito de identificação, nos excertos das falas dos atores sociais entrevistados no
campo empírico, segue o Quadro 3, com a discriminação e a sigla atribuída a cada sujeito, com
o intuito de preservar o anonimato das pessoas entrevistadas.

Quadro 3 – Legenda das siglas para identificação das falas dos sujeitos entrevistados

Sujeito Siglas
BRASIL
SEDUC-CEARÁ
Primeiro Coordenador Estadual do Projeto Professor Diretor de Turma PCEPPDT
Coordenador (a) Estadual do Projeto Professor diretor de Turma CEPPDT
Coordenador (a) Regional do Projeto Professor diretor de Turma CRPPDT
Especialista em Educação Brasileira membro da ANPAE EEB
Consultora Externa Portuguesa do Projeto Professor Diretor de Turma CEP
ESCOLA BRASILEIRA
Diretor (a) Geral na Escola Brasileira DGEB
Coordenador (a) do Projeto Professor Diretor de Turma na Escola CPPDTEB
Brasileira
Professor (a) Diretor de Turma na Escola Brasileira (1 e 2) PDTEB
Pai/Mãe na Escola Brasileira (1 e 2) PMEB
Aluno (a) na Escola Brasileira (1 e 2) AEB
104

PORTUGAL – ESCOLA PORTUGUESA


Diretor (a) Geral da Escola Portuguesa DGEP
Coordenador (a) dos Diretores de Tuma na Escola Portuguesa CDTEP
Professor (a) Diretor de Turma na Escola Portuguesa (1 e 2) PDTEP
Encarregado de Educação na Escola Portuguesa (1 e 2) EEEP
Aluno (a) na Escola Portuguesa (1 e 2) AEP
Fonte: a autora (2017).

Embora as siglas contidas no Quadro 3, acima, estejam listadas no início do trabalho –


lista de siglas –, acredita-se ser importante esta explicitação e referência para a leitura dos dados
nas análises.

4.2 O contexto mesopolítico em que se encontram as unidades de análise no Estado do


Ceará-Brasil

Pensando no empreendeimento de caracterizar os lócus de pesquisa deste estudo,


principia-se com o entendimento sobre o Ceará, lugar onde se efetiva a política educativa que
mobiliza este estudo, e, de onde se partiu, para compreender a origem, embora, o processo possa
pareça invertido.
O estado do Ceará, tem no seu total, 184 municípios, e dentro desse total a Secretaria da
Educação do Estado (SEDUC) disponibiliza 705 escolas de ensino médio, distribuídas nas
categorias: Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA), Escola Estadual de Educação
Profissional (EEEP), Escola indígena e Escola Regular.

Tabela 8 – Quantitativo de Escolas Estaduais por Categoria

Categoria Quantidade de escolas


CEJA 32
Escola Estadual de Educação Profissional 113
Escola indígena 37
Escola Regular 523
TOTAL 705
Fonte: SEDUC-CE (2015).

Como estratégia metodológica deste objeto de estudo, foi realizado um levantamento


junto às vinte Coordenadorias Regionais de Desenvolvimento da Educação (CREDE) e às três
Superintendências das Escolas Estaduais de Fortaleza (SEFOR), já mencionado anteriormente,
a fim de identificar, na rede estadual de ensino, a escola com maior quantitativo de alunos e
turmas com PDT em efetivo andamento do PPDT, desde a sua implantação nas escolas de
105

ensino regular. Assim, foi selecionado a EB, localizada na sede de um determinado município
do estado do Ceará. No ano de 2015, ocasião em que foi realizado o referido levantamento,
havia uma matrícula total de 1844 alunos, 53 turmas com o PPDT, 52 professores DT`s e 1659
estudantes, atendidos pelos PPDT.

4.2.1 Caracterização da Escola Brasileira

A Escola Brasileira (EB) é um estabelecimento pertencente à rede pública estadual de


ensino, mantida pelo Governo do Estado do Ceará, cadastrada no Ministério da Educação
(MEC) e localizada no centro da cidade de Boa Viagem, sede do município. É a única escola
pública de ensino médio regular, contudo, o estado oferece outra unidade escolar, sendo que,
em outra modalidade de ensino, uma Escola Estadual de Educação Profissional em tempo
integral, localizada também na sede do município, onde oferta o ensino médio integrado ao
profissional.
O município tem uma área de 2.836,774 km², conta com 52.521 habitantes (IBGE,
2010), está localizado a 217 km da capital Fortaleza, e está situado no sertão cearense,
praticamente no centro do estado, fazendo limite com os municípios de Santa Quitéria (Norte),
Madalena (Leste), Monsenhor Tabosa, Tamboril, Independência (Sul) e Quixeramobim (Sul),
o “Coração do Ceará”.

Figura 9 – Localização do município no estado do Ceará-Brasil

Fonte: Wikipédia (2015)40.

40
CEARÁ. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2017. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Cear%C3%A1&oldid=50478257>. Acesso em: 14 nov. 2015.
106

Uma vez que este estudo tem como lócus de compreensão uma política educativa, em
ação nas escolas públicas de ensino médio regular, foi selecionada uma subunidade de análise
para o estudo de caso, a EB, que passa a ser caracterizada, na tabela que segue.

Tabela 9 – Quantitativo de alunos, por turno da EB


Ano Turno Quantidade
2015 Manhã - regular 467
2015 Tarde - regular 661
2015 Noite - regular 701
2015 Noite - EJA 41
2015 Noite - Ejovem 10
Total Geral 1.880
Fonte: Escola Brasileira (2015).

A EB tem, na sua estrutura pedagógica, prédio, laboratórios e biblioteca, localizada na


região urbana do município, como já explicitado, entretanto, para além dessa estrutura, atende
turmas em oito extensões localizadas em diferentes distritos distantes da sede do município e,
consequentemente, da escola sede. A escola em questão, sendo a única pública do município
com ensino regular, oferece oportunidade de acesso ao ensino médio a aproximadamente dois
mil alunos e funciona nos três turnos, tendo cinquenta e nove turmas na escola sede, o que
totaliza 1.108 alunos, sendo que a matrícula das oito extensões totaliza 721 alunos. Já as duas
turmas do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) possuem quarenta e um alunos matriculados, e o
Projeto Ejovem atende a dez alunos, conforme se pode verificar na tabela que segue.

Tabela 10 – Quantitativo de alunos, por localização e segmento


ANO LOCALIZAÇÃO QUANTIDADE
2015 Sede 1.108
2015 Extensões 721
2015 EJA 41
2015 Sede - Ejovem 10
Total Geral 1.880
Fonte: Escola Brasileira (2015).

No exercício da docência, a escola conta com nove professores do quadro efetivo da


rede estadual de ensino, que ingressaram na rede por meio de concurso público; e noventa e
oito em regime de contrato de trabalho temporário, totalizando cento e sete docentes. Esta rede
de ensino ainda conta com a contribuição pedagógica de treze professores, em regime de
trabalho temporário, e com oito efetivos, distribuídos em funções de Professores Coordenadores
de Ensino (PCE), nos laboratórios de informática e ciências e centro de multimeios. Segue
distribuição na Tabela:
107

Tabela 11 – Quantitativa de docentes, em outras funções


Função/Atividade Efetivo Temporário Total
PCE41 - 8 8
Laboratório de Informática 1 4 5
Laboratório de Ciências 1 1 2
Centro de Multimeios 4 - 4
TOTAL 6 13 19
Fonte: Escola Brasileira (2015).

Somando os cento e sete docentes aos dezanove docentes em outras funções, totaliza
cento e vinte oito profissionais docentes, além de vinte e nove profissionais não docentes
(funcionários) para as funções administrativas e de apoio. O núcleo gestor42 é composto por
oito membros, uma diretora geral e cinco coordenadores escolares, além de uma secretária
escolar e uma assessora financeira.

4.3 Do contexto meso político em que se encontra a unidade de análise em Portugal, ao


contexto micro político, a escola

Pensando em compreender o enquadramento em que se insere a EP, onde foi realizado


o segundo estudo de caso, faz-se necessário perceber como se organiza o sistema educativo em
Portugal que, para além de se caracterizar numa administração altamente centralizada, difere
em divesos aspectos da organização dos sistemas educativos encontrados nos estados
brasileiros, onde, desde já, pode-se destacar obrigatoriedade da idade em relação ao ano de
escolaridade e à própria periodização do ano letivo.
Em Portugal, a educação obrigatória, regularmente, tem início aos 6 anos de idade e
termina aos 18 anos, no 12º ano de escolaridade, enquanto que a educação pré-escolar é um
ciclo opcional, para crianças de 3 aos 5 anos de idade. O ensino obrigatório está dividido em
ensino básico e ensino secundário, sendo o ensino básico constituído por três ciclos: 1º ciclo
com duração de quatro anos - dos 6 aos 10 anos de idade; 2º ciclo com duração de dois anos –
dos 10 aos 12 anos de idade; e 3º ciclo com três anos de duração – dos 12 aos 15 anos de idade).
O ensino secundário é constituído de três anos (10º, 11º e 12º anos) compostos por cursos
diferenciados e estruturados nos Cursos Científico-Humanísticos e Cursos Profissionais. Os
Cursos Científico-Humanísticos – Ciências e Tecnologias, Artes Visuais, Línguas e

41
Professor Coordenador de Ensino distribuídos por área de conhecimento, ou seja, linguagem e códigos e suas
tecnologias, ciências da natureza, matemática e suas tecnologias e ciências humanas e suas tecnologias.
42
Denominação atribuída a equipe gestora das escolas da rede pública estadual do Ceará.
108

Humanidades e Ciências Socioeconômicas – são orientados para o prosseguimento dos estudos


no Ensino Superior; e os Cursos Profissionais são voltados para a inserção no mercado de
trabalho e conferem dupla certificação: diploma de nível secundário e certificado de
qualificação profissional (NOTAS DE CAMPO, 2015-2016, EURYDICE, 201643).
Quanto à organização do ano letivo em Portugal, está dividido em três períodos: o
primeiro período tem início em setembro e termina em meados de dezembro, o segundo período
começa no início de janeiro e termina antes da páscoa, o terceiro período tem início depois da
páscoa44 e termina no final de junho.
No que se refere à organização da rede de escolas, no sistema de ensino básico e
secundário, a rede é organizada em agrupamento de escolas, seja horizontal (quando reúne
escolas do mesmo ciclo), seja vertical (reúne escolas de diferentes ciclo e ensino secundário).
O agrupamento escolar se configura uma “unidade orgânica” em voga, embora, ainda existam
escolas não agrupadas. Na direção de compreender como se caracteriza o agrupamento de
escolas, no contexto educacional português, procura-se delinear minimamente como ocorreu o
processo de reorganização da rede de estabelecimentos de ensino.
Sobre a temática anunciada, chama-se a atenção para o Decreto-Lei nº 115-A/9845,
publicado em 4 de maio de 1998, com o objetivo de aprovar “o regime de autonomia,
administração e gestão dos estabelecimentos da educação pré-escolar e dos ensinos básico e
secundário” (PORTUGAL, 1998, p. 2), o qual, no seu art. 6º, especifica os princípios gerais
sobre o agrupamento de escolas. Não obstante, Lima (2011, p. 87) destaca: “no que concerne
aos agrupamentos de escolas haja que reconhecer que várias realizações antecedem a aprovação
do Decreto-lei n.º 115-A/98, de 4 de Maio, normativo a que frequentemente, embora
erroneamente, se vem atribuindo o processo de agrupamento de escolas”. Embora se subscreva
o entendimento exposto por Lima (2011), contudo, destaca-se uma designação para
agrupamento de escolas apresentada no Artigo 5º, do referido normativo, a saber: “O
agrupamento de escolas é uma unidade organizacional, dotada de órgãos próprios de
administração e gestão, podendo integrar estabelecimentos de educação pré-escolar e de um ou

43
European Commission, EURYDICE. Disponível em
<https://webgate.ec.europa.eu/fpfis/mwikis/eurydice/index.php/Portugal:Early_Childhood_Education_and_Care
>. Acesso em: 20 ago. 2016.
44
Na época da páscoa há uma interrupção letiva de cerca de duas semanas.
45
PORTUGAL. Decreto-Lei n. 115-A/98, de 4 de maio de 1998. Portugal, Ministério da Educação, Diário da
República, 1 Série-A, n. 102, 4 maio 1998. Disponível em: < http://www.ige.min-
edu.pt/upload/Legislação/Dec_Lei_115-A_98.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2016.
109

mais ciclos do ensino básico, a partir de um projecto pedagógico comum […]” (PORTUGAL,
1998, p. 5).

Retomando a perspectiva de Lima (2011), sobre a questão do agrupamento das escolas,


entende-se que outros ordenamentos jurídicos anteriores ao acima citado, já apontavam para o
reordenamento da rede escolar por meio de associação e ou agrupamento de escolas, horizontais
e verticais. Nesse sentido, Lima (2011, p. 42) afirma que:

As dinâmicas de agrupamento das escolas encontravam-se, há mais de uma década,


em processo de expansão no terreno, ainda que em ritmos diversos. Basta lembrar a
criação das escolas C+S (Decreto Lei n.º 46/85, de 22 de Fevereiro), da “escola básica
de nove anos” e das escolas básicas integradas (Despacho Conjunto
19/SERE/SEAM/90, de 6 de Maio), das áres escolares (Decreto-Lei n.º172/92, de 10
de Maio), dos centros de formação de associação de escola (Decreto-Lei n.º249/92,
em materias de formação contínuas de professores, e até mesmo dos vários
agrupamentos, horizontais e verticais, de há muito previsto na LBSE 46 e criados na
sequência do Despacho n.º27/97 e, sobretudo, do Decreto-Lei n.º 115-A/98.

Diante da concepção exposta, corrobora-se com Lima (2011) ao evidenciar que, ao


longo de mais de uma década, ordenamentos jurídicos relativos ao agrupamento de escolas
antecederam o Decreto-Lei n.º 115-A/98. Para Lima (2011, p. 87), “a questão do agrupamento
de escolas, é juridicamente contemplada na Lei de Bases do Sistema Educativo (1986)” e ainda
chama “a atenção dos trabalhos desenvolvidos no âmbito da Comissão de Reforma do Sistema
Educativo (1986-1988), especialmente daqueles que incidiam sobre a organização e gestão das
escolas” (LIMA, 2011, p. 87).
Com efeito, as orientações indicadas nos ordenamentos jurídicos não se efetivam
prontamente com um único normativo e, segundo Lima (2011, p. 92), “numa antecipação à
aprovação do regime de autonomia, administração e gestão das escolas e respectivos
agrupamentos, que viria a ocorrer em 1998 (Decreto-Lei n.º 115-A/98) [...]”, no que se refere
ao mencionado ordenamento jurídico atribuído ao processo de agrupamento das escolas, “o
governo publicou, de forma relativamente insular e precipitada, o Despacho Normativo n.º
27/97 [...]” (LIMA, 2011, p. 92). Nessa direção, o referido normativo publicado em 2 de julho
1997, regulamenta a participação dos orgãos de administração e gestão dos jardins-de-infância
e dos estabelecimentros dos ensinos básico e secundário no novo regime e gestão das escolas
públicas portuguesas. O documento em pauta reza, ainda, que, “o ano lectivo de 1997-1998

46
Lei de Bases do Sistema Educativo (1986).
110

configura-se, assim, como o ano de preparação da aplicação de um novo regime de autonomia


e gestão das escolas” (PORTUGAL, 1997, p. 2668)47.
A saber, alguns termos orientados para o processo de reordenamento da rede no
Despacho Normativo n.º 27/97, supracitado iten número 2:

O reordenamento da rede escolar orientar-se-á do seguinte modo: 2.1- Em situações


devidamente fundamentadas, pode ser autorizada a constituição de agrupamentos de
escolas, para início de funcionamento no ano lectivo de 1997-1998, por despacho do
competente director regional de educação, o qual, ouvidas as escolas, designará o
respectivo órgão de gestão provisório;

Perante o argumento de “dotar gradualmente os estabelecimentos dos ensinos básico e


secundário de maiores graus de autonomia implica a criação de condições que lhes possibilitem
assumir novas responsabilidades” (PORTUGAL, 1997, p. 2667), destacam-se algumas
orientações para o reordenamento da rede escolar:

2- O reordenamento da rede escolar orientar-se-á do seguinte modo: 2.1- Em situações


devidamente fundamentadas, pode ser autorizada a constituição de agrupamentos de
escolas, para início de funcionamento no ano lectivo de 1997-1998, por despacho do
competente director regional de educação, o qual, ouvidas as escolas, designará o
respectivo órgão de gestão provisório; 2.2- As direcções regionais de educação devem
dar prioridade às propostas de associação ou agrupamento de escolas que: a)
Favoreçam a realização de um percurso escolar sequencial e articulado, privilegiando
as associações entre jardins-de-infância e estabelecimentos do ensino básico da
mesma área geográfica; b) Reflictam experiências desenvolvidas pelas escolas,
nomeadamente no âmbito das escolas básicas integradas, das áreas escolares e dos
territórios educativos de intervenção prioritária; c) Visem superar situações de
isolamento, dando particular atenção aos jardins-de-infância e estabelecimentos do 1º
ciclo e do ensino básico mediatizado localizados em zonas isoladas; (PORTUGAL,
1997, p. 2668)

Parafraseando Lima (2011), a constituição de uma lógica racionalizadora que orienta o


processo de reordenamento da rede escolar foi se revelando gradativamente, ao longo dos anos,
por muitas vezes sem cumprir os objetivos políticos mais essenciais, como a participação,
descentralização e autonomia, dimensões estas, contrárias às “imposições burocráticas”,
propostas como “soluções uniformes consideradas óptimas” (LIMA, 2011, p. 93). Nos termos
de Lima (2011, p. 110):

Como sempre, a imposição normativa-burocrática e a lógica racionalizadora,


singularmente expressas no plano das orientações para a accção, são empíricamente
confrontadas, no plano da acção organizacional efectiva, com a considerável
diversidade de situações, com dificuldades e conflitos, com lógicas de acção local que
o legislador central e os textos que produz tendem a ignorar, ou desprezar.

47
PORTUGAL. Despacho Normativo nº 27/97, de 2 de junho de 1997. Portugal, Diário da República, n.
126/1997, Série I-B, 2 jun. 1997. Disponível em: < https://dre.pt/web/guest/pesquisa/-
/search/351706/details/maximized?jp=true&print_preview=print-preview>. Acesso em: 14 mar. 2016.
111

Coadunando-se com a perspectiva supracitada, considera-se que, no “plano da ação”, o


processo de reordenamento da rede não se efetivou sem a presença de dificuldades e conflitos,
ignorados no “plano das orientações para a ação”. Sem dúvida, os legisladores ignoram as
recontextualizações que o texto da política sofre no contexto da ação.
Mesmo considerando que, no “plano da ação”, o percurso foi permeado de dificuldades
e conflitos, o fato é que, a política racionalizadora que orienta o reordenamento da rede, de
acordo com Lima (2011, p. 100), “segundo dados oficiais do Ministério da educação reportados
a Novembro de 2004 [...] existia já um total de 765 agrupamentos, dos quais apenas 14,5% se
mantinham ainda horizontais”, e o teórico em tela complementa: “em termos globais, das
12.663 escolas que integravam a rede, 11.493 encontravam já agrupadas (90,8%). A única
exceção, até a data antes referida, localizava-se nas escolas secundárias onde imperava a
situação agora definida como de ‘escola singular’” (LIMA, 2011, p. 101).
Em consulta ao site da Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEsTE)48, em
agosto de 2016, verificou-se que existiam 711 agrupamentos de escolas, distribuidos nas
diferentes regiões de Portugal continental, dado este que leva a concluir que entre 2004 e 2016,
na perspectiva da polítita de reordenamento da rede em andamento há quase duas décadas, mais
escolas foram reagrupadas.

4.3.1 Caracterização da Escola Portuguesa

A Escola Portuguesa (EP) onde foi realizado o estudo de caso está localizada na região
Norte do país, situada numa cidade sede de um município com 183,4 km de área, com uma
população de 181.494 habitantes, sendo que, 137.000 desse total reside no perímetro urbano49.
Na cidade, existem cinco escolas secundárias públicas e um colégio particular que oferece o
ensino secundário, e duas universidades.
A escolha da instituição escolar para a realização do estudo de caso, em Portugal, deu-
se, primeiramente, pela caracterização da oferta de ensino – cursos de ensino secundário
científico humanístico, ensino profissional de nível secundário, ensino de adultos em regime
noturno e em alguns períodos oferta o 3º ciclo do ensino básico –, bem como, pela facilidade
de acesso e receptividade dos gestores, pessoal docente e não docente. Considerando que o

48
Disponível em: <http://www.dgeste.mec.pt/index.php/escolas/pesquisa-de-agrupamentos/>. Acesso em: 20 ago.
2016.
49
BRAGA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2017. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Braga&oldid=50580303>. Acesso em: 15 jan. 2015.
112

objeto de estudo da investigação se limita ao ensino médio regular no Brasil, o que se pode
equiparar ao ensino secundário científico humanístico em Portugal, salvo as diferentes
especificidades de cada sistema, a unidade orgânica selecionada para o estudo reune a
complexidade do sistema educacional em que se encontra localizada.
A instituição escolar escolhida para a realização do estudo de caso, caracterizada
históricamente como um centro formativo de ensino secundário, tornou-se agrupamento em 16
de janeiro de 2013, sendo associada a um agrupamento de escolas de ensino básico, que passou
a ser constituído por sete escolas de ensino básico, duas de jardim de infância e uma escola
básica e secundária, num total de dez estabelecimentos de ensino. Como se trata de um
agrupamento, os órgão de direção, administração e gestão são comuns às dez subunidades de
gestão.
Quanto a infraestrutura, a escola dispõe de excelente estrutura física, dividida em sete
blocos. No bloco A, localizam-se nove laboratórios: três de Fisica e Química, três de Biologia
e três de Ciências, sendo que um desses laboratórios é utilizado como sala de preparação para
educação profissional do curso de enfermagem; no bloco B – segundo piso: 18 salas de aula
(28 a 45), laboratório de informática (TIC) e sala de teatro; no bloco C: duas salas de oficinas
de arte, uma de educação visual (EV) e arquivo; no bloco D, há um pavilhão desportivo com
duas quadras cobertas, um pavilhão desportivo com duas quadras descobertas, doze balneários
(banheiros), quatro casas de banho para deficientes físicos (banheiros), um gabinete médico,
um gabinete para os professores de educação física e uma lavanderia; no bloco E: secretaria e
recepção; No bloco F: Biblioteca; no bloco G, 27 salas de aula (1 a 27), três salas de desenho,
uma sala para os professores (dividida por departamentos), uma sala dos diretores de turma,
dois gabinetes de atendimento dos encarregados de educação, uma sala para atendimento
psicológico, uma sala de formação, uma sala da associação dos pais, uma sala da associação
dos estudantes, diretoria, recepção, entrada e noventa e duas casas de banho distribuídas por
todos os blocos; um auditório pequeno e um auditório polivalente, um bar (cantina/lanchonete),
para os alunos, e outro, para os professores; duas salas de convívio dos alunos (com jogos de
mesa e pufs).
O ensino secundário científico-humanístico, no sistema educacional português, é uma
modalidade de ensino foi tomada como equivalente ao ensino médio regular brasileiro, que se
organiza em quatro áreas de conhecimento, a saber: Artes Visuais, Ciências e Tecnologias,
Ciências Sócio Econômicas, Línguas e Humanidades. Além dos cursos cientifico-humanísticos,
existem também seis cursos profissionais (CF) que conferem dupla certificação (escolar e
profissional). No ano letivo de 2015-2016 frequentavam o agrupamento 3114 crianças/alunos,
113

distribuídos por 23 nacionalidades diferentes, incluíndo 85 alunos de nacionalidade brasileira


(2 na educação de infância, 53 no ensino fundamental e 30 no ensino médio). As 23
nacionalidades representadas no agrupamento eram oriundas de 4 continentes: Europa, Ásia,
África e América. Com origem no continente americano, além de brasileiros, que
representavam cerca de 50% dos alunos estrangeiros, frequentavam o agrupamento alunos de
Cuba, Venezuela e Equador.
Conforme o Projeto Educativo 2015/2018, do Agrupamento Vertical Português (AVP),
a oferta educativo/formativa, por ano de escolaridade, encontra-se distribuída conforme o
quadro que segue:

Quadro 4 – Oferta educativo-formativa por ano de escolaridade


N.º de turmas por ano e por ciclo
Ciclos/Cursos JI 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º
ano ano ano ano ano ano ano ano ano ano ano ano
JI 9
1º Ciclo 8 8 7 7
2º Ciclo 9 9
3º Ciclo 10 10 12
CCH Ciências e 7 6 4
Tecnologias
CCH 2 2 1
Socioeconómicas
CCH Línguas e 4 3 2
Humanidade
CCH Artes 2 2 1
visuais
Totais 15 13 8
CP Técnico de 1 1 1
Serviços
Jurídicos
CP Artes 2
Gráficas
CP Gestão e 1
Programação de
Sistemas
Informáticos
CP Técnico 1 1 1
Auxiliar de
Saúde
CP Técnico de 1
Design Gráfico
CP Técnico 1
Design Int/Ext
Totais 4 3 4
114

Total de turmas 9 9 10 10 12 19 16 12
Fonte: Escola Portuguesa (2015).

Quanto ao vínculo profissional dos docentes do agrupamento, 49% destes pertence ao


quadro do agrupamento/quadro da escola (QE), 30% pertence ao quadro da zona pedagógica
(QZP), e 21% colocados por contrato a termo, somados aos técnicos especializados, contratados
para o trabalho com a educação especial. Pode-se observar que se trata de uma unidade orgânica
com 356 profissionais docentes, entre efetivos do quadro e contratados, um universo
significativo.

Tabela 12 – Vínculo profissional dos docentes colocados em 2014/2015 (agosto 2014).


Vínculo profissional dos docentes colocados em 2014/2015
Total
Vínculo Profissional
Nº %
Quadro (QE) 174 49
Quadro (QZP) 108 30
Contrato (Além quadro ou a Termo) 74 21
Total 356 100
Fonte: Escola Portuguesa (2015).

No que se refere aos especialistas, para o apoio aos alunos com necessidades educativas
especiais, o AVP conta com o contingente demonstrado a seguir (Tabela 13):

Tabela 13 – Técnico de apoio aos alunos surdos


Especialidade Número
Terapeutas de fala 5
Formadores/Docentes de LGP 7
Intérpretes de LGP 7
Fonte: Escola Portuguesa (2015).

Quanto ao pessoal não docente, ou seja, que trabalha nas áreas, administrativa, técnica
e de apoio, está distribuído por categoria conforme tabela abaixo.

Tabela 14 – Distribuição do pessoal não docente por Categoria


CATEGORIA F M Nº %
Assistente operacional (do quadro da escola) 55 11 66 73
Assistente operacional (colocados pelo IEFP50) 1 4 5 5
Assistente técnico 17 17 19
Chefe de Serviços de administração escolar 1 1 1
Técnico Superior 1 1 2 2

50
Instituto do Emprego e Formação Profissional.
115

Total 75 16 91 100
Fonte: Escola Portuguesa (2015).

No que se refere ao demonstrativo do vínculo do pessoal não docente, conforme a tabela


que segue, observa-se que apenas 7% não pertence ao quadro da escola.

Tabela 15 – Vínculo profissional dos não docentes colocados em 2014/2015


Total
Vínculo Profissional
Nº %
Quadro 85 93
IEFP 6 7
Total 91 100
Fonte: Escola Portuguesa (2015).

É importante lembrar que os demonstrativos acima referem-se aos quantitativos


disribuídos nas diferentes unidades do agrupamento de escolas. No caso desse agrupamento,
são dez escolas.
Conforme alguns dos dados de contexto 2015/2016, do Agrupamento Vertical de Escola
Portuguesa (AVEP), que foram apresentados para a avaliação externa das escolas 2015-2016.
A figura 10 mostra os dados sobre os alunos, por escalão social escolar.

Figura 10 – Número de Alunos por Escalão de Acção Social Escolar

Fonte: Agrupamento Vertical de Escola Portuguesa (2016).

No que se trata da condição socioeconômica dos alunos, nota-se que apenas cerca de
20% dos alunos se beneficiam de apoio socioeconômico, quando é frequente nas escolas
116

portuguesas que mais de 50% se beneficiem desse apoio. Observa-se que este agrupamento é
frequentado por um público que possui condições socioeconômicas bastante favoráveis. A
figura 11, a seguir, demonstra à habilitação por filiação dos alunos.

Figura 11 – Número de Alunos por Filiação – Habilitações

Fonte: Agrupamento Vertical de Escola Portuguesa (2016).

Sobre a habilitação, por filiação dos alunos, verifica-se que, no ensino básico 20% dos
pais/encarregados de educação tem habilitação superior; 23%, habilitação secundária; e entre
pais/encarregados de educação do ensino secundário, 17% habilitação superior e 15%
habilitação secundária, ou seja, cerca de 27% dos pais/encarregados de educação (1233 em
4568) que informaram acerca das suas habilitações acadêmicas tinham formação de nível
superior, incluindo 64 com doutoramento e 80 com mestrado. Portanto, nota-se que o
agrupamento de escolas em que se insere a EP estudada é frequentado por crianças, jovens e
adolescentes, que possuem pais/encarregados de educação, com formação intelectual que pode
favorecer a discussão sobre o papel e a ação, do diretor de turma.

Figura 12 – Número de Alunos por Computador e Internet

Fonte: Agrupamento Vertical de Escola Portuguesa (2016).

Relativamente ao número de alunos por computador e internet, observa-se que 94% dos
alunos do ensino básico possuem computador, e internet, e 99% dos alunos do ensino
secundário possuem computador e internet.
117

5 A TRAJETÓRIA DA POLÍTICA EDUCATIVA PPDT NOS DIFERENTES


CONTEXTOS DE ATUAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO EDUCATIVA

O presente capítulo divide-se em duas partes. Inicialmente, procura-se analisar a


trajetória de atuação da política educativa em estudo, nos diferentes contextos da organização
educativa, na perspectiva de compreender a atuação dos atores sociais, nos níveis macro, meso
e micro, da política e de suas interpretações, traduções, atuações e interpretações de
interpretações entre o “plano das orientações para a ação” e o “plano da ação”. A segunda parte
tem por objetivo compreender as significações do cargo/função do Professor de Diretor de
Turma, no contexto brasileiro, e suas aproximações e distanciamentos em relação ao sistema
educativo apontado como inspiração.

5.1 O PPDT sob a abordagem do Ciclo Contínuo de Políticas

Antes de se fazer uma imersão, na tentativa de rastrear a política educativa PPDT, em


sua trajetória, cabe alcançar alguns entendimentos sobre política, bem como, a compreensão de
interpretação, tradução e atuação, categorias que se mobilizam no interior do funcionamento
das políticas51. Entretanto, se pretende realizar uma breve explicitação e, sem tecer um
levantamento teórico sobre o tema, visto que, são conceitos que transversalmente perpassam
toda a análise da política, sobretudo, quando se intenciona fazer um exame que vá além da
superfície, um diagnóstico em que se busque a compreensão da política nos seus diferentes
níveis (micro, meso e macro).
Nesse sentido, primeiramente, destaca-se a compreensão que “a política é um processo,
tão diverso e repetidamente contestado e/ou sujeito a diferentes ‘interpretações’ conforme é
encenado (colocado em cena, em atuação) (ao invés de implementação)” (BALL; MAGUIRE;
BRAUN, 2016, p. 13), além disso, é um processo encenado “de maneiras originais e criativas,
dentro das instituições e das salas de aula, mas de maneiras que são limitadas pelas
possibilidades de discurso (BALL; MAGUIRE; BRAUN, 2016, p. 13). Desta maneira,
compreende-se a complexidade da política no processo de contestação, pelos atores, nas arenas
de atuação, a qual se constitui conforme seus interesses e interpretações. Para Ball, Maguire e
Braun (2016, p. 13), a política é tomada como,

51
Ver Como as Escolas Fazem Políticas: Atuação em escolas secundárias (BALL; MAGUIRE; BRAUN, 2016).
118

[...] textos e “coisas” (legislação e estratégias nacionais), mas também como processos
discursivos que são complexamente configurados, contextualmente mediados e
institucionalmente prestados. A política é feita pelos e para os professores; eles são
atores e sujeitos, sujeitos e objetos da política. A política é escrita nos corpos e produz
posições específicas dos sujeitos.

Ao entender que a política é feita para os professores e pelos professores, e que estes
são atores e sujeitos, sujeitos e objetos da política, conforme pensa Ball, Maguire e Braun
(2016), faz-se necessário conceber a ideia que cada sujeito atua conforme os seus interesses e
interpretações, em relação à política em cena. Em segundo lugar, compreende-se que, na arena
da prática, nas escolas, “existem interações e acomodações entre as políticas obrigatórias, as
histórias institucionais e os compromissos − isso faz parte do trabalho de interpretação e
tradução” (BALL; MAGUIRE; BRAUN, 2016, p. 20). Por conseguinte, “a interpretação é, por
vezes, de suma importância; a responsabilidade de dar sentido à política recai sobre as escolas,
em que (às vezes) nenhuma é auto evidente” (BALL; MAGUIRE; BRAUN, 2016, p. 21), ou
seja, “interpretação é uma leitura inicial, um fazer sentido da política” (BALL, MAGUIRE E
BRAUN, 2016, p. 68), no curso de “decodificação” para dar significado à política, ou mais, “é
um compromisso com as linguagens da política” (BALL, 2016, p. 69).
O terceiro destaque é sobre o entendimento de que a tradução das políticas se aproxima
mais das linguagens do contexto da prática, como asseveram Ball, Maguire e Braun (2016, p.
69): “a tradução é uma espécie de terceiro espaço entre política e prática”. Nos termos destes
mesmos autores (2016, p. 69), a tradução é

[...] um processo interativo de fazer textos institucionais e colocar esses textos em


ação, literalmente “atuar” sobre a política usando táticas que incluem conversas,
reuniões, planos, eventos, “caminhada da aprendizagem”, bem como a produção de
artefatos e empréstimos de ideias e práticas de outras escolas, a compra e a utilização
de materiais comerciais e site oficiais [...]

A tradução envolve prioridades e valores institucionais, no decurso de transformação da


política em materiais, práticas, procedimentos orientações, ou seja, na recodificação da política
em relação aos contextos e culturas dos destinatários (BALL, MAGUIRE E BRAUN, 2016). A
política envolve interpretação, tradução ao ser encenada nos seus diferentes contextos de
atuação e, por vezes, é recontextualizada conforme os compromissos e lutas assumidos pelos
sujeitos, na sua atuação, para compreender como se mobilizam todos esses momentos, nos
diferentes contextos de atuação de uma política, se for necessário analisar sua trajetória.
119

5.1.1 A trajetória da política educativa PPDT na educação cearense

A análise de trajetória de política configura-se em uma estratégia que intenta rastrear as


origens e possibilidades da política, com o esforço de compreender as intenções inseridas na
direção dos resultados e efeitos da política. Busca-se uma análise transversal, em vez de uma
análise linear, num único nível – na direção de rastrear a formulação da política –, as lutas e as
respostas do próprio Estado, até os vários destinatários da política (BALL, 1994, p. 26).
A abordagem do Ciclo Contínuo de Política, inicialmente estruturado em três contextos,
por Bowe, Ball com Gold (1992), adotando o contexto de influência, contexto da produção de
texto de política e o contexto da prática, foi ampliado em mais dois contextos em 1994, o
contexto dos resultados/efeitos e o contexto da estratégia política. Abordagem essa, que
contribui analiticamente na incursão para a compreensão da trajetória da política educativa
PPDT na educação cearense. A respeito do tema dos contextos do ciclo contínuo de políticas,
nos termos de Ball (1994, p. 26, grifo do autor):

Each consists of a number of arenas of action - some private and some public. Each
context involves struggle and compromise and ad hocery. They are loosely coupled
and there is no simple direction of flow of information between them. But in
theoretical and practical terms, this model requires two further "contexts" to make it
complete. First, we must add the relationship between first order (practical) effects
and second order effects; that is, the context of the outcome. [...] The question of the
fifth context is then begged, the context of the political strategy;52

Portanto, se compreende que cada contexto representa uma arena de ação, e luta dos
atores sociais, e, sobretudo, que os compromissos construídos na atuação da política são
pautados nos processos de tradução e interpretação dos textos da política, nos diferentes
contextos articulados entre si. Outrossim, corrobora-se com as perspectivas aninhadas dos
contextos do ciclo contínuo de políticas defendido por Ball, em entrevista à Avelar (2016),
como se pode observar no extrato de entrevista de um sujeito que passou por diferentes funções,
na trajetória da política estudada, o Primeiro Coordenador Estadual do Projeto Professor Diretor
de Turma (PCEPPDT):

Bom, eu, eu comecei como professor diretor de turma no ano de 2009, atuei durante
um ano em uma escola estadual de educação profissional no município de Juazeiro.

52
Cada um consiste em uma série de arenas de ação - algumas privadas e algumas públicas. Cada contexto envolve
luta e compromisso e ad hoc. Eles são vagamente acoplados e não existe uma direção simples de fluxo de
informações entre eles. Mas, em termos teóricos e práticos, esse modelo requer dois "contextos" adicionais para
torná-lo completo. Primeiro, devemos adicionar o relacionamento entre efeitos de primeira ordem (prática) e
efeitos de segunda ordem; Ou seja, o contexto dos resultados. [...] A questão do quinto contexto é então discutida,
o contexto da estratégia política; (BALL, 1994, p. 26, tradução nossa).
120

Em 2010 e 2011 eu passei a atuar como, eu atuei como coordenador regional do


Professor Diretor de Turma, na CREDE 19 também em Juazeiro do Norte. Então em
2009 eu fui diretor de turma, em 2010 e 2011 eu atuei como coordenador regional do
projeto, acompanhando a operacionalização desse modelo de gestão nas escolas da
área de jurisdição da CREDE 19, em Juazeiro do Norte. Em 2011, não, em 2012 eu
assumi a coordenação estadual do diretor de turma... E aí, isso, de certa forma, agregou
um valor muito grande a minha condição como profissional porque eu saí de um
espaço de um âmbito regional para um âmbito estadual. Então, passei o ano de 2012
na coordenação estadual, acompanhando a execução da direção de turma em todo o
Estado. Em 2013, eu lamentavelmente, por algumas questões pessoais, não tive
condições de continuar na coordenação, e aí, eu fiquei apenas dando uma assistência
a nova coordenadora Professora… passei o primeiro semestre de 2013 prestando uma
consultoria, preparando essa nova coordenadora para assumir a função, dando um
suporte! No segundo semestre de 2013, eu passei a atuar como consultor da UNESCO,
estudando mecanismos de aperfeiçoamento para o diretor de turma na rede pública
estadual de ensino. E aí fiquei, o segundo semestre de 2013 e o ano de 2014 nessa
função de consultor, e agora em 2015, eu estou atuando como coordenador na rede
pública municipal de Fortaleza (PCEPPDT, 2015).

Ao se destacar que o sujeito atuou nos diferentes níveis de encenação da política, em


diferentes funções e espaços de atuação − a começar pela atuação como professor diretor de
turma em 2009 (na escola profissional onde inicialmente a política foi experienciada) −, como
coordenador regional nos anos de 2010 e 2011; coordenador estadual do diretor de turma, em
2012; consultor da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciências e a Cultura
(UNESCO), nos anos de 2013 e 2014, para aperfeiçoar a política do diretor de turma; e, em
2015, multiplicador da política para as redes municipais, o que leva ao entendimento da estreita
interação entre os contextos da trajetória da política, enfim, os contextos encontram-se
“frouxamente acoplados” e ou “simbioticamente” relacionados entre eles.
Contudo, acredita-se ser necessário, neste momento, analisar as percepções dos atores
nos diferentes contextos, ainda que se tenha em mente a compreensão, de que, na atuação, tais
contextos se sobrepõem e ou mesmo atuam, concomitantemente, na ação em cena.

5.1.1.1 Contexto de influência

O contexto de influência pode ser caracterizado como a arena política onde se configura
a gêneses da política. Regularmente, é nesse contexto que a política é debatida pelos grupos de
interesse, e as disputas são travadas pelos atores sociais, para a definição dos objetivos e
finalidades da política. Nos termos de Bowe e Ball com Gold (1992, p. 20),

This context of influence has a symbiotic but none the less uneasy relation to the
second context, the context of policy text production. Because while influence is often
related to the articulation of narrow interests and dogmatic ideologies, policy texts are
normally articulated in the language of general public good. Their appeal is based
upon claims to popular (and populist) commonsense and political reason. Policy texts
therefore represent policy. These representations can take various forms: most
121

obviously 'official' legal texts and policy documents; also formally and informally
produced commentaries which offer to 'make sense of' the 'official' texts, again the
media is important here; also the speeches by and public performances of relevant
politicians and officials; and 'official' videos are another recently popular medium of
representation. Many of those towards whom policy is aimed rely on these
secondhand accounts as their main source of information and understanding of policy
as intended.53

Mainardes (2006) sugere um conjunto de questionamentos, formulados com o objetivo


de contribuir com o melhor entendimento das respostas às indagações a serem feitas em cada
contexto, para os pesquisadores que lançam mão desse referencial analítico, o ciclo contínuo
de política. Contudo, são questões iniciais que podem ser adaptadas e ou modificadas conforme
os objetivos da investigação realizada. Para o contexto de influência, sugerem-se as seguintes
questões:

1. Quais são as influências e tendências presentes na política investigada? Por que a


política emergiu agora?; 2. Há influências globais/internacionais? Há influências
nacionais e locais? Como elas se relacionam?; 3. Como o discurso da política foi
constituído no decorrer do tempo? É possível traçar a genealogia completa do discurso
da política?; 4. No desenvolvimento do discurso da política é possível observar a
configuração de diferentes versões da política (versões conservadoras, progressistas
etc.)?; 5. Qual a origem das influências globais e internacionais? (World Bank,
organismos multilaterais, movimentos internacionais de restauração conservadora, de
renovação ou resistência); 6. Quem são as elites políticas e que interesses elas
representam?; 7. Que outros grupos têm exercido ou tentado exercer influência?; 8.
Quais são os interesses e grupos de interesse mais poderosos?; 9. Existiam influências
globais/internacionais, nacionais ou locais operando antes mesmo da emergência da
formulação da política (MAINARDES, 2006, p. 66).

Neste estudo, tomou-se como base essa orientação, realizando as devidas adaptações
aos objetivos da política educativa analisada, conforme roteiro de entrevista nos anexos
(APÊNDICE D, F, G), uma vez que, os questionamentos sugeridos por Mainardes (2006) são
balizadores para serem direcionados ao objeto estudado, como recurso à compreensão do
mesmo. A guisa de compreensão das influências no processo de construção do PPDT, destaca-
se o extrato da entrevista com um (a) coordenador (a) regional do projeto professor diretor de

53
Este contexto de influência tem uma relação simbiótica, mas, não menos desconfortável, com o segundo
contexto, o contexto da produção de texto político, visto que, embora a influência seja frequentemente relacionada
à articulação de interesses estreitos e ideologias dogmáticas, os textos políticos são normalmente articulados na
linguagem do bem público em geral. O apelo deles é baseado em reivindicações de senso comum popular (e
populista). Os textos políticos, portanto, representam políticas. Essas representações podem assumir várias formas:
documentos jurídicos e documentos de política mais obviamente "oficiais"; Também produziu comentários
formalmente e informalmente que oferecem "fazer sentido" os textos "oficiais", novamente a mídia é importante
aqui; Também os discursos e performances públicas de políticos e funcionários relevantes; E os vídeos "oficiais"
são outro meio de representação recentemente popular. Muitas das pessoas com quem a política é direcionada
dependem dessas contas de segunda mão como sua principal fonte de informação e compreensão da política
conforme pretendido (BOWE; BALL; GOLD, 1992, p. 20, tradução nossa ).
122

turma (CRPPDT) sobre a origem da referida política educativa no âmbito das escolas públicas
estaduais cearenses:

O projeto diretor de turma entrou na minha vida em 2009, na época eu era professora
de educação profissional, eu nunca tinha ouvido falar... na verdade eu tinha ouvido
falar do projeto diretor de turma numa reunião em 2008 aqui na CREDE, quando se
estavam implantando as primeiras escolas de educação profissional, então assim, até
onde eu sei, porque foi algo que nunca foi tão divulgado né! Mas até onde a gente
ficou sabendo na função de coordenador regional, quando começamos em 2010, é que
o projeto diretor de turma, ele chega aqui no estado do Ceará por volta de 2007, né!
Ele foi disseminado, a ideia foi disseminada por meio da ANPAE na pessoa da
professora (EEB), e, e da professora (CEPPPDT), a professora diretora de turma de
Portugal… O projeto professor diretor de turma foi apresentado no congresso da
ANPAE em 2007, se eu não me engano né! E aí, ela teve a ideia, ela foi inicialmente
testada em três escolas da rede municipal a nível de Fundamental... depois essa, essa
experiência, ela chegou ao conhecimento da SEDUC quando a professora … (EEB)
foi conversar com a professora ... da CODEA para que pudesse experimentar o projeto
piloto em algumas escolas da rede estadual de Fortaleza (CRPPDT, 2015).

Analisando o extrato da fala do sujeito entrevistado, pode-se considerar que a narrativa


discursiva, tal como a de performance pública, de uma Especialista em Educação Brasileira
(EEB), membro de uma entidade com respeito no campo educacional brasileiro, como a
ANPAE, e de relevante influência política no estado do Ceará, contribuiu para a negociação da
construção da política em estudo. Por conseguinte, comparando a fala acima com o texto escrito
no folder de divulgação (ANEXO D) quando se menciona sobre a gênese do PPDT, percebe-se
uma assimilação do discurso empregado, nos documentos oficiais da política em destaque:

O Projeto Professor Diretor de Turma teve sua origem, aqui no Brasil, por ocasião do
XVIII Encontro da ANPAE – Seção do Ceará, no ano de 2007, quando foi apresentada
a experiência das escolas públicas portuguesas. Baseados nessa apresentação, gestores
educacionais dos municípios de Eusébio, Madalena e Canindé iniciaram um projeto
piloto em três escolas (SEDUC-CE, 2010, p. 1).

Cabe ainda, compreender que algumas políticas “feitas” que se materializam nas escolas
são “escritas” pelo governo, ou pelas agências e ou investidores, influentes nos contextos locais,
ou nacionais, envolvendo negociações, contestações e ou lutas entre os grupos de formuladores
de políticas que podem estar fora da máquina formal de elaboração de políticas oficiais (BALL,
2016).
No extrato discursivo da professora Especialista em Educação Brasileira (EEB),
membro da ANPAE a qual se atribui a ideia de trazer o PPDT para o Ceará, quando questionada
sobre a gênese de tal política educativa − O que é o PPDT em andamento nas escolas públicas
estaduais do Ceará? −, a referida especialista argumenta que,

O projeto tem toda uma história, para termos chegado aí. Primeiro, eu agora tenho 76
(setenta e seis) anos. Então, da sala de aula eu estou afastada, mas como eu fui
123

secretária, é, saí de lá em noventa e quatro (1994). Então, eu me dediquei tanto, e eu


acho que eu tenho obrigação de passar isso adiante. Quando eu era estudante, eu
sempre estudei em colégio católico, o Dorotéia aqui no Ceará e o Sacré Coeur de Jésus
no Rio de Janeiro. Em todos esses colégios, a maioria deles, maioria era europeia.
Então, a o colégio, o próprio colégio cearense, ele é um colégio se eu não me engano,
francês, e, todos esses tinham a mestre de classe. E a gente nem dá valor, porque
estudante vai no rumo né?! No caminho que a gente é colocada. Mas eu sempre notei
que a mestre de classe era uma pessoa mais próxima da gente, e, que nós éramos
avaliados pelas atitudes, pelo comportamento, pela dedicação aos estudos, era uma
avaliação assim conceitual. Mas ela fazia também a coordenação daquela turma, isso
eu senti aqui nas Dorotéias e senti lá no Rio… (EEB, 2016)

Em seguimento, a resposta, à mesma pergunta, a entrevistada segue com sua


argumentação:

[…] fui secretária da educação e nunca pensei de fazer algo semelhante na escola
pública, porque a escola pública é uma distância tão grande da escola particular que a
gente... e depois a miséria de dinheiro é tão grande que qualquer coisa que a gente
pensasse, a gente até tirava, isso aqui é) para a escola particular, escola pública é outra
coisa. Nada! A escola pública não é pior não! Precisa ser até melhor que a escola
particular, viu! Então, eu fui lá para Portugal, assisti a defesa de tese da …ela era antes
diretora de escola aqui... e eu fui fazer contato com a ANPAE… Fazer um contato
com a Universidade do Minho porque eu conhecia o Carlos Estevão… Eu tinha
passado por lá uns anos atrás e já tinha saído, eu acho o Virgínio que escreveu… aí
eu vi exposto lá a publicação na mesa, na universidade, no Instituto de Educação… aí
eu peguei e comprei… quando eu cheguei em casa notei, é o mestre de classe... (EEB,
2016)

Ao contrário de outras políticas educativas, oriundas das agências de elaboração de


políticas com interesses transnacionais, e disseminação em redes políticas em âmbito nacional
(BALL, 2014), quando se faz a análise dos extratos discursivos − antes citados − dos atores
envolvidos na atuação, pode-se verificar nesses depoimentos que as influências são advindas
do poder local, no caso da política estudada. No entanto, pode-se perceber, também, influências
das experiências particulares, e das experiências externas.
Para Ball (2014, p. 32), “o ‘território de influência’ (MACKENZIE; LUCIO, 2005)
sobre política é expandido e, ao mesmo tempo, os espaços de política são diversificados e
dissociados”, e complementa que, “como resultado, enquanto esses novos locais dentro dos
contextos de influência e de produção de texto proliferam, há um aumento concomitante na
opacidade da elaboração de políticas” (BALL, 2014, p. 32). O que no interior do funcionamento
das políticas não deixa claro o que pode ser dito a quem, onde, com que efeito e, em troca de
que, num processo de privatização da elaboração das políticas, em vários sentidos (BALL,
2014), e é por isso que o contexto de concepção da PPDT se torna opaco na identificação das
influências.
Nesse sentido, percebe-se a articulação entre os contextos de influência e prática, na
discursividade dos sujeitos envolvidos na elaboração da política educativa analisada. Assim, ao
124

se perguntar à Consultora Externa Portuguesa (CEP) como se deu o processo de


“implementação” do PPDT no estado do Ceará, ela destaca:

Foi através da… (EEB), secretária de estado do Ceará, [...] conhecia cá em Portugal,
ela viu o meu trabalho como diretora de turma, mas, mais dentro da área de gerir os
alunos, de gerir a turma, de gerir as problemáticas que existiam dentro da turma. Ela
assistiu a algumas aulas minhas e ficou encantada, aí eu levei o projeto para um
congresso de educação da ANPAE em abril de 2007. Três escolas foram, quiseram
ser escolas piloto que foi Madalena, [...] Canindé e uma outra… Eusébio. Pronto, e
passados 3 meses, mesmo sem orientação quase nenhuma, só com a apresentação que
eu fiz do projeto, os diretores das escolas foram aplicando, não foi com orientação,
portanto, foram aplicando daquilo que ouviram e viram resultados muito positivos em
relação aos alunos. Então a secretaria da educação do Ceará chamou-me, eu expus o
projeto e, foi-me pedido que ficasse, que fizesse uma formação a nível de vários
professores, que seriam professores multiplicadores. Esses professores, a quem eu
chamei coordenadores do projeto, iriam para as suas regiões e passavam para outros
professores que iriam exercer dentro de sala de aula o projeto, não é?! (CEP, 2016)

Ao explorar as narrativas discursivas dos diferentes sujeitos em atuação na cena da


política educativa do PPDT, percebe-se convergências no sentido de identificar as principais
influências para a elaboração do PPDT, e divergências, nos sentidos imbricados na ação de cada
indivíduo, posto que, há os interesses particulares de cada ator, no processo de interpretação,
tradução e recriação da política em ação.

5.1.1.2 Contexto da produção do texto

Frequentemente, os textos das políticas podem ser contraditórios, expositivos, e


permeados pela representação política dos grupos de atores que trabalharam nas arenas de
produção de texto, entretanto, essa representação política muda, conforme as lutas e tensões na
arena de atuação, no contexto da prática (BOWE; BALL; GOLD, 1992). Dessa forma, para
Bowe, Ball e Gold (1992, p. 21), “Policy is not done and finished in the legislative moment, it
evolves in and through the texts that represent it, texts have to be read in relation to the time
and the particular site of their production” (BOWE; BALL; GOLD, 1992, p. 21)54, ou seja,
“They also have to be read with and against one another - intertextuality is important. Second,
the texts themselves are the outcome of struggles and compromises”55. Desse modo, é comum

54
A política não é feita e terminada no momento legislativo, ela evolui nos textos que a representam, e os textos
devem ser lidos em relação ao tempo e ao local específico de sua produção (BOWE; BALL; GOLD, 1992, p. 21,
tradução nossa).
55
Eles também precisam ser lidos com e contra os outros - a intertextualidade é importante. Em segundo lugar, os
próprios textos são o resultado de lutas e compromissos (BOWE; BALL; GOLD, 1992, p. 21, tradução nossa).
125

que o texto da política passe por interpretação, tradução e ou interpretação de interpretação, nas
disputas pelo controle de representação dos sujeitos, nas arenas de atuação.
Mainardes (2006, p. 66) também contribui para a compreensão do contexto ora
analisado, por meio das questões orientadoras que seguem:

1. Quando se iniciou a construção do texto da política?; 2. Quais os grupos de interesse


representados no processo de produção do texto da política? Quais os grupos
excluídos? Houve espaço para a participação ativa dos profissionais envolvidos na
construção dos textos?; 3. Como o texto (ou textos) da política foi(foram) construído
(s)? Quais as vozes “presentes” e “ausentes”?; 4. Houve a intenção de buscar
consensos na construção do texto (escrito ou não)? Como eles foram atingidos?; 5.
Quais são os discursos predominantes e as idéias-chave do texto? Que intenções,
valores e propósitos eles representam?; 6. É possível identificar interesses e opções
não explicitados (ocultos) no texto?; 7. Há no texto da política influências de agendas
globais, internacionais ou nacionais; de autores estrangeiros ou de compromissos
partidários?; 8. Como é a linguagem do texto? É possível identificar o estilo do texto
(writerly, readerly, a combinação de ambos os estilos) ?; 9. Há inconsistências,
contradições e ambigüidades no texto?; 10. Quem são os destinatários (leitores) do
texto elaborado?; 11. Além do texto ou textos principais, houve a produção de textos
secundários (subsídios, orientações, manuais, diretrizes) ?; 12. Os textos são
acessíveis e compreensíveis? (MAINARDES, 2006, p. 66)

O excerto abaixo de uma entrevista com um sujeito que atuou com a política na sala de
aula, no primeiro momento, destaca o contato inicial com os textos da política, na arena da
prática, em interação com o contexto de elaboração de texto. Preliminarmente, percebe-se um
exemplo habitual no campo das políticas educativas, ou seja, “uma concepção linear de políticas
impostas para as escolas de cima para baixo (top-dawn)” (BOWE; BALL; GOLD, 1992; BALL,
MAGUIRE; BRAUN, 2016), consoante se pode identificar por meio da fala que segue:

[...] de início eu gostei da proposta de cuidar dos meus alunos, de ter uma relação mais
próxima com os meninos, ter aula de formação para cidadania. Mas nada me preparou
para o que viria, logo quando eu e meus amigos chegamos lá de Fortaleza, o que a
gente recebeu foi fichas, fichas e fichas e mais fichas, todas em PDF. Numa linguagem
que muitas vezes estava longe da nossa realidade, porque os instrumentais que nos
foram apresentados eram instrumentais da realidade das escolas portuguesas. Embora,
a nossa escola de educação profissional, ela tivesse uma proposta mais ou menos
alinhada a essa filosofia, mas estava muito distante da nossa carga horária, da nossa
situação funcional, do preparo teórico metodológico, que os professores portugueses,
imagino que tenham, e que, nosso caso não. Até porque, no início dessa situação,
todos os professores que assumiram a função eram professores temporários, que não
tinham essa dedicação exclusiva ao projeto, que muitas vezes saiam da escola
profissional e a noite ainda iam assumir outras funções em outras escolas particulares
ou da rede municipal (CRPPDT, 2015).

Embora seja natural o estranhamento em relação ao primeiro contato com os


documentos − “instrumentais da realidade das escolas portuguesas” e ou “fichas” –, até então
desconhecidos pelos professores brasileiros, esboçou-se uma resistência à inovação. Contudo,
observa-se uma receptiva acomodação da proposta a ser trabalhada:
126

Mas mesmo sem conhecer, mesmo sem a gente ter esse preparo todo, a gente começou
o trabalho, tentando entender como era que funcionava, como era que fazia a ficha
biográfica, para que ela servia. A gente foi se perdendo naquele mundaréu de fichas,
né ?! A gente ansiava pela presença da professora... (CEP) na nossa escola, eu
particularmente fui uma das que mais desejei a presença dela! Porque eu sempre parti
do pressuposto, que eu só faço alguma coisa quando eu compreendo o que eu tenho
que fazer, então eu não entendia como era que em uma carga horária de três horas eu
ia ter que cumprir todas aquelas funções e ainda sem entender qual era a função
daquele mundaréu de fichas. Três meses depois a professora (CEP) veio na escola e a
vinda dela foi um divisor de águas na minha vida [...] ela mudou a minha vida
profissional [...] (CRPPDT, 2015).

A partir da fala apresentada acima, pode-se perceber que inicialmente os textos foram
levados prontos para o contexto da prática, e que, em face as leituras ativas, as resistências e
negociações motivaram a readaptação e reescrita dos textos. Isso também pode ser observado
na citação que segue:

Na realidade, quando ele começou em 2008, não havia, não havia nenhum documento
em 2008! Os únicos instrumentos que existiam, eram os instrumentais que foram
trazidos de Portugal, que até então não tinham sido submetidos a uma adequação, a
um estudo, a uma reorganização ou uma reformatação mais consistente né?! A
professora... (técnica SEDUC) e a professora (CEP) até andaram dando uma olhada,
para ver a grosso modo quais seriam as possíveis adaptações, e, existia meio que
pontualmente algumas apresentações de slides que norteavam aí, o trabalho dos
educadores das nossas unidades de ensino. Mas de 2008 até 2009, em 2008 e 2009
não existiam documentos que estruturassem a proposta ou que sistematizassem. O
primeiro documento é considerado a chamada pública. O primeiro, na realidade o
único pelo menos até 2014. Porque agora em 2015, a COPEM, lançou através da
própria COPEM, Coordenadoria de Cooperação com os Municípios, lançou um
pequeno manualzinho de orientações, tratando sobre o diretor de turma (PCEPPDT,
2015).

Novamente, na esteira de se compreender o contexto de produção de texto, na trajetória


da política educativa PPDT, pode-se colher mais subsídios, para a análise da questão, quando
o folder do projeto é analisado no discurso de um dos atores envolvidos na atuação:

O folder na realidade, até pela sua própria natureza, é apenas um documento


de divulgação, né?! Ele não normatiza nada, ele não sistematiza ações, ele não
se caracteriza como um manual de orientações, ou como um passo a passo.
Ele apenas é um documento, um informativo de divulgação que mostra de
maneira muito resumida e sintética, o que se concebe, assim, pelo menos
inicialmente qual é a proposta inicial do Professor Diretor de Turma certo?
(PCEPPDT, 2015).

O folder (ANEXO D), mesmo sendo interpretado, pelo sujeito acima, como sendo
“apenas um documento de divulgação”, configura-se um documento da política PPDT, tal seja,
um artefato importante para a criação de significado, em torno da política educativa. Nos termos
de Ball, Maguire e Braun (2016, p. 171),
127

Nos processos de atuação de políticas, líderes e gestores escolares, às vezes, tentarão,


conscientemente, “chamar a atenção” para a substância da política por meio de
produção de materiais visuais e recursos que documentam/ilustram o que tem de ser
feito, ou qual é a conduta desejável. Estes são artefatos que “marcam” o
direcionamento da política; que circulam, reforçam e representam o que deve ser feito.

Nesse sentido, o folder é um artefato que documenta e ilustra a proposta filosófica e


metodológica do PPDT. Este material apresenta a logomarca, a gêneses, os objetivos, a funções
atribuídas ao professor diretor de turma e discrimina os instrumentais que compõem o dossiê
da turma, enfim, explicita o que deve ser feito e qual a conduta desejável. Ao se buscar a
representatividade da política em atuação, pode-se perceber um efeito desse artefato − material
e discursivo −, na fala de um sujeito envolvido no referido projeto:

Eu gosto da logomarca do DT [Figura 12] porque ela vai mostrar justamente esse
aspecto o diretor de turma como link, o agente que vai aproximar a escola com a
família, uma comunicação e um envolvimento entre os professores com a gestão e
com certeza, o foco maior que é o aluno (CRPPDT, 2015).

Conforme se pode perceber no excerto da fala de um sujeito acima citado, a significação


dos objetivos “desejados”, no PPDT, está relacionada à imagem produzida no artefato
determinado pelas interpretações e traduções, na arena de atuação, pelos atores em cena.

Figura 12 – Logomarca do PPDT

Fonte: SEDUC-CE (2017).

Em suma, os sentidos discursivos atribuídos a esses artefatos produzidos na cena da


atuação são efeitos das interpretações, de interpretações, construídas pelos atores, nos diferentes
contextos da política em ação. Parte-se do pressuposto de que, “poucas políticas chegam
totalmente formadas e os processos de atuação da política também envolvem tarefas específicas
128

(ad hoc), empréstimos, reordenação, deslocamento, adequação e reinvenção” (BALL,


MAGUIRE; BRAUN, 2016, p. 20).
Nessa direção, a produção de texto de política baseia-se, nos compromissos,
compreensão, capacidade, recursos, limitações práticas, cooperação e compatibilidade
intertextual, sem deixar de considerar as outras políticas e textos em circulação, que podem se
confrontar e ou influenciar as políticas recém-iniciadas, na sua produção de texto (BALL,
1994), conforme se destaca no excerto abaixo:

Então, em 2012, formou-se um grupo de coordenadores regionais, convidou-se cinco


coordenadores regionais. Todo mês a gente ia pra SEDUC passava uns dois dias lá,
junto com a coordenadora estadual e com o apoio da SEDUC. Inicialmente tinha até
lugar pra gente ficar, depois a gente ia se virando, mas a gente passou o ano de 2012
dando a cara do projeto diretor de turma a realidade cearense. Então, a gente adequou
o que pode de instrumentais, a gente passou de cento e poucos instrumentais... A gente
ficou acho que com menos de trinta nessa reformulação, porque muitos deles tinham
três folhas diferentes para o mesmo instrumental. Então, a gente não só resumiu a
funcionalidade deles, como resumiu também o modus operandi. Ainda diminuiu! No
ano seguinte, a gente começou a pensar na informatização desse instrumental por meio
do SIGE56. Tinha muita coisa que a gente já fazia, que o diretor de turma tinha que
fazer e o SIGE já estava pronto. Então, porque não informatizar e aí entra a figura tão
excepcional do professor... (PCEPPDT), por meio desse trabalho de reunião em 2012,
ele ficou mais conhecido e mostrou seu potencial, e foi convidado a assumir a
coordenação estadual e foi o que ele fez a partir de 2013 (CRPPDT, 2015).

Na narrativa acima, percebe-se interação, intersecção e ou sobreposição entre a política


e o contexto da prática, − “tinha muita coisa que a gente já fazia, que o diretor de turma tinha
que fazer e o SIGE já estava pronto” −, bem como, a decodificação e recodificação do texto –
“a gente adequou o que pôde de instrumentais” −. Isto ocorre, porque, de acordo com Ball
(1994, p. 19), “the translation of the crude, abstract simplicities of policy texts into interactive
and sustainable practices of some sort involves production thought, invention and adaptation”.57
Portanto, é oportuna a compreensão em relação aos tipos de textos relativos a políticas.
Nessa direção, o texto de política oferece o mínimo de possibilidade para a interpretação e
tradução criativa, pelos atores no processo de encenação da política, por se tratar de uma
linguagem técnica, estabelecimento de metas previamente definidas, realização de testes
padronizados de aprendizagem e programas de estudos. São textos legíveis (readerly), que
sugerem possibilidades limitadas de interpretação. Neste sentido, os textos do tipo escrevíveis

56
O Sistema Integrado de Gestão Escolar trata-se de um sistema informatizado de acompanhamento acadêmico
de todos os alunos das escolas públicas estaduais do Ceará. Tal como, monitoramento e controle da lotação de
professores, diretor de turma, estrutura física das escolas, organismos colegiados (grêmios estudantis e conselhos
escolares, funcionários terceirizados e demais projetos e programas em andamento na rede de ensino).
57
A tradução das simplicidades cruas e abstratas dos textos políticos em práticas interativas e sustentáveis de
algum tipo envolve pensamento de produção, invenção e adaptação (BALL, 1994, p. 19, tradução nossa).
129

(writerly), convidam os sujeitos a leituras e releituras ativas, autoconscientes, à participação, à


cooperação, e a ser coautor. Contudo, essa liberdade tem certo grau de interpretação e leitura,
ou seja, não é qualquer liberdade aberta à ação. (BOWE; BALL; GOLD, 1992; BALL, 2016).

5.1.1.3 Contexto da prática

A arena de prática, por mais que se configure o contexto para o qual a política foi
pensada, não quer dizer que essa política será meramente implementada, uma vez que, esta
política estará passiva à interpretação, tradução e recriação, nos termos dos atores envolvidos,
razão porque, a partir dos seus entendimentos, valores e interesses, essas políticas são
contestadas e “recriadas” (BOWE; BALL; GOLD, 1992).
Nessa direção, percebe-se um ponto de articulação intensamente subsumido ao contexto
de produção de texto e ao contexto de influência, posto que, as consequências das lutas que
ocorrem nessa arena submetem a política às mudanças ao texto político, advindas das
influências das representações dos sujeitos envolvidos.
Contribuindo para a compreensão deste contexto, Mainardes (2006, p. 67) lança as
questões transcritas a seguir:

1. Como a política foi recebida? Como está sendo implementada?; 2. Como os


professores, diretores, pedagogos e demais envolvidos interpretam os textos? Há
mudanças, alterações e adaptações do texto da política para a concretização da
política? Há variações no modo pelo qual o texto é interpretado, nos diferentes
espaços observados na pesquisa?; 3. Há evidências de resistência individual ou
coletiva?; 4. Os profissionais envolvidos na implementação têm autonomia e
oportunidades de discutir e expressar dificuldades, opiniões, insatisfações,
dúvidas? Recebem algum tipo de pressão? E suporte?; 5. Há contradições,
conflitos e tensões entre as interpretações expressas pelos profissionais que atuam
na prática e as expressas pelos formuladores da política e autores dos textos da
política?; 6 - Quais são as principais dificuldades identificadas no contexto da
prática? Como os professores e demais profissionais lidam com elas? Há a
reprodução ou criação de desigualdades?; 7. Como são as relações de poder
dentro do contexto da prática (escola, por exemplo) e no relacionamento dos
profissionais que atuam na escola com os órgãos educacionais oficiais e
dirigentes educacionais? Há formas de opressão, mecanismos de pressão,
silenciamentos? Há espaços de vivências democráticas e emancipatórias?; 8 - O
contexto da prática tem influenciado o contexto da produção do texto?

O argumento participativo dos envolvidos está implícito no discurso daqueles que se


investem de autoridade, em relação à política, ou seja, os atores imbuídos na formulação e ou
reformulação da política. O texto que segue contém elementos para apoiar esta análise:

A secretaria de educação teve o cuidado de primeiro encaminhar para cada


coordenadoria, colocar a disponibilidade das comunidades de cada coordenadoria essa
130

chamada pública, para que elas pudessem se apropriar, fazer uma leitura, compreender
a proposta. E aí, como consequência socializar essa proposta junto a todos os gestores
escolares, para que eles pudessem se apropriar da mesma, e, consequentemente
disseminá-las nas escolas apresentando a proposta para os professores, fazendo com
que os educadores de certa forma, aderissem ou não. Então, o fluxo se deu dessa
forma, Secretaria de Educação do Estado – CREDE – Escola. Então, o foco da
secretaria, era fazer primeiro com que todos esses segmentos se apropriassem da
proposta, e aí, não foi uma imposição, foi uma proposta de adesão, onde as escolas
poderiam optar por se queriam ou não fazer a adesão, certo?! (PCEPPDT, 2015)

A narrativa de descentralização sugere leitura, apropriação, interpretação, tradução,


participação e aceitação, ou não. Contudo, nesse fluxo “descentralizado” – “Secretaria de
Educação do Estado – CREDE – Escola” – descontextualiza-se, em um espaço, e se
recontextualiza, em outro, e se passa por contestação e conformidade, nos contextos
interrelacionados do ciclo da política em ação.
Analisando a fala de um sujeito com experiência no PPDT, apenas na escola – na sala
de aula –, observam-se algumas contestações, em relação ao discurso da apropriação, por todos
os segmentos. A se perguntar ao Professor Diretor de Turma da Escola Brasileira (PDTEB)
entrevistado, sobre sua iniciação no PPDT, o mesmo destaca:

Já chegou em forma de capacitação, porque eu sou uma das primeiras do grupo, sou
a mais velha (risos) ... É porque assim, quando eu tomei conhecimento do projeto em
2010, eu já fui intimada para uma capacitação porque eu iria ser diretora de turma. É
um ultimato, chegou você tem que ir! Lógico, logo que nós chegamos lá, naquele
primeiro momento foi aquele impacto! “Poxa eu vou dar conta de tudo isso, eu
também vou dar aula, eu vou dar conta de tudo isso? No primeiro momento você já
pensa assim… “Eu vou dar conta?” É muita responsabilidade! … Então, eles
chegaram e disseram assim: “o projeto é teu, toma, vai dar conta, eu acredito em
você”. Então, essa confiança que o Estado já colocou em cima da escola, em cima do
professor, ele já veio, já com um desafio, começou o desafio logo pela gente, não sabia
como funcionava, porque lá era baseado nos quatro pilares da educação, não é?! O
projeto foi todo desempenhado em cima dos quatro pilares. (PDTEB - 1, 2015)

Para além da contestação do discurso de descentralização e apropriação da proposta do


PPDTn nos diferentes segmentos da estrutura organizacional da secretaria da educação do
estado do Ceará, defendido no excerto anterior (PCEPPDT, 2015), percebe-se a interpretação
da política educacional em relação às influências e textos assimilados pelos atores, nos
contextos de influência e produção de texto, como se pode comparar com o trecho encontrado
no folder/panfleto de divulgação: “O Projeto desenvolve-se numa atmosfera educativa
favorável, tendo por princípios básicos os quatro pilares da educação de Jacques Delors:
Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser” (SEDUC-CE,
2010, p. 6).
131

Em outra direção, destaca-se a fala do (a) Coordenador (a) do Projeto Professor Diretor
de Turma, na Escola Brasileira (CPPDTEB), que afirma ter havido, inicialmente, uma
multiplicação das metodologias empregadas no PPDT − por parte da CEP − na ocasião da
implantação da política educativa em tela, nas Escolas Estaduais de Educação Profissional.
Entretanto, ao tratar das escolas regulares, locus em que este estudo procura compreender a
trajetória da política educativa. Na mesma fala, o (a) referido (a) coordenador (a) afirma:

Na escola na qual eu trabalhei a (EEEP), a professora... (CEP) esteve conosco, foi


uma tarde longa, até o anoitecer, e ela apresentou todos os instrumentais, o objetivo
de cada instrumental fez uma simulação das reuniões: da reunião diagnóstica, da
reunião bimestral, e disse... E falou da importância do registro desses documentos, da
construção do dossiê, da vida do aluno ali documentada e ali sempre ao nosso alcance.
Falou também da importância da visita domiciliar... Essa visita domiciliar, ela é muito
boa! Você ir à casa do aluno, visitar o pai, conhecer a realidade dele. Nessa escola nós
tínhamos esse compromisso de irmos realmente... Mas na escola regular, já é bem
diferente, nós não conseguimos ir à casa de todos os nossos alunos (CPPDTEB, 2015).

Outro aspecto a ser destacado, consiste na interpretação com relação à visita domiciliar
aos alunos e suas famílias, o que não se observou nos textos orientadores do PPDT. Na
sequência o CPPDTEB (2015) complementa:

Por que? Porque o número de alunos é maior, como você viu na escola (EB), é muito
grande, quase 2000 (dois mil) alunos… o fluxo de professores, a entrada e saída de
professor é... os nossos professores que estão lá pela manhã, não estão a tarde, e vice-
versa né?! Os nossos professores nem sempre têm a carga horária semanal preenchida,
tem dois dias, tem três dias na escola. Então isso aí dificulta, essa visita, essa presença
maior junto a família do aluno, mesmo assim, quando é necessário, quando se ver
necessário, os nossos professores vão à casa deles, como eu tenho acompanhado o
trabalho dos professores desde que eu comecei na coordenação, que eu acompanho,
que eu oriento e digo. Falo para eles a importância de resgatar o aluno. Porque a nossa
maior dificuldade hoje, não é trazer o aluno… não é fazer o aluno se matricular... é
fazer com que ele permaneça. Então, esse é um grande desafio...

No tocante aos “instrumentais”, documentos que compõem o dossiê de turma – relação


de alunos e registro fotográfico, ficha biográfica, caracterização da turma, informações para o
acompanhamento da turma, ata da eleição de líder e vice-líder da turma, ata de eleição de
representante dos pais ou responsáveis, ata das reuniões de conselho de turma (intercalares e
bimestrais), coleta de dados dos professores de cada disciplina, frequência escolar, calendário
escolar, e legislação vigente58 -, os (as) professores (as) têm interpretação diferente, como se
pode analisar no texto que segue:

Acredito nesse pensamento aí da parte da burocrática, porque a gente sabe, o projeto


pode dar frutos ainda melhores. É porque isso prende a gente um pouco! Eles mesmos

58
Disponível em: <https://sites.google.com/site/diretordeturmacrede06/home>. Acesso em: 10 jun. 2016.
132

falam no início do ano, por exemplo, um aluno do terceiro ano que vai preencher uma
ficha biográfica, ele já tem feito duas outras vezes, aí eles dizem: “Para quê? Eu não
já fiz?” Aí eu digo: “Mas é uma renovação!”. Mas, até que ele consiga aceitar o que
você está ali colocando, não é?! Quer dizer, ele já tem a ficha biográfica dele salva no
sistema, nas fichas anteriores do primeiro e no segundo ano. Só que precisa desta
atualização. E muitos deles se negam a dar o telefone porque sabe que a gente vai
atrás né?! O endereço a gente vai atrás! (PDTEB - 1, 2015)

Nas falas analisadas, percebe-se que há certa divergência em relação ao discurso de


outros atores, e os PDTEB veem a existência de alguma burocracia, no PPDT.

Eu sou professor de matemática do terceiro da noite... o projeto ele tem objetivos bem
interessantes, buscando mecanismos como conduzir a turma do início ao fim do ano...
e até mesmo estudar os problemas dos alunos, que muitas vezes trazem para a sala de
aula, ele visa conhecer um pouco mais não só o aluno, mas a família, para que a gente
possa prevenir certos comportamentos em sala de aula, na medida do possível, ir
dentro do acontece. Ao mesmo tempo que o projeto tem essa visão... bem amplo, esse
objetivo bem claro, a gente ainda não tem tanto êxito na parte burocrática, a gente fica
muito preso. A parte burocrática, creio eu que se nós tivéssemos um pouco mais de
tempo de nos sentar com a família desse aluno surtiria mais efeito. (PDTEB - 2, 2015)

Embora os (as) PDTEB considerem que “a parte burocrática” dificulta que o PPDT
alcance melhores efeitos, eles argumentam que os objetivos do mesmo são interessantes e
buscam “conduzir a turma do início ao fim do ano”, ou seja, evitar a evasão escolar, como já
foi declarado anteriormente (CPPDTEB, 2015) ser esse o maior desafio do DT. Outro aspecto
que tem sido destacado pelos atores envolvidos na política educativa é a importância da
interação com as famílias dos alunos.

5.1.1.4 Contexto dos resultados/efeitos

Para Bowe e Ball com Gold (1992, p. 23), é mais apropriado dizer que AS políticas têm
“efeitos” em vez de “resultados”, posto que, a complexidade do processo político é entremeada
por construção e reconstrução. Conforme os autores (BOWE; BALL; GOLD, 1992, p. 26),
“Here, the analytical concern is with the issues of justice, equality and individual freedom.
Policies are analysed in terms of impact upon and interactions with existing inequalities and
forms of injustice”59. Portanto, as análises nesta arena pautam-se nos impactos e interações das
políticas nas demandas por justiça, igualdade e liberdades dos sujeitos, por elas comprometidos.

59
Aqui, a preocupação analítica é com as questões da justiça, da igualdade e da liberdade individual. As políticas
são analisadas em termos de impacto e interações com as desigualdades e formas de injustiça existentes (BOWE;
BALL; GOLD, 1992, p. 26, tradução nossa).
133

Na esteira do pensamento de Ball (1994), uma das dificuldades em discutir os efeitos,


dá-se, possivelmente, por se fazer confusão entre efeitos gerais e específicos. Os efeitos gerais
das políticas são evidenciados quando os aspectos específicos da mudança e conjunto
específicos de respostas, no contexto da prática, se relacionam entre si. É comum negligenciar
o geral nos estudos de único foco, que tomam uma mudança ou texto da política e tentam
determinar seu impacto na prática. Os efeitos específicos de uma política podem ser limitados,
entretanto, os efeitos gerais de um conjunto de políticas de diferentes tipos, consequentemente,
podem ser diferenciados. Como ponto de partida para a análise deste contexto, Mainardes
(2006, p. 68) sugere as seguintes questões:

1. Qual o impacto da política para os alunos (ou receptores da política) em geral?; 2.


Qual o impacto da política para grupos específicos tais como: classe social, gênero,
raça/etnia, localidade (urbana/rural; áreas carentes/mais desenvolvidas),
características pessoais dos alunos, ritmos de aprendizagem, pessoas portadoras de
necessidades especiais?; 3. Há conseqüências inesperadas? Quais?; 4. Há dados
oficiais sobre o impacto da política? O que eles mostram?; 5. Quais as diferenças e
semelhanças entre os dados oficiais e o que foi observado no contexto da prática pelo
pesquisador? É possível identificar disparidades entre dados estatísticos oficiais e
dados qualitativos obtidos por meio de observações, depoimentos?; 6. Há efeitos de
primeira ordem (mudanças na estrutura e na prática)? Quais são?; 7. O que pode ser
considerado como efeitos de segunda ordem? Como eles podem ser analisados?; 8.
Até que ponto a política contribuiu para a elevação dos padrões de acesso,
oportunidades e justiça social?

Nessa direção investigada, nota-se que ao analisar o excerto da fala de um (a) PDTEB,
destaca-se como resultado o comportamento do aluno dentro da escola, a diminuição da evasão
escolar e a participação, a saber:

Cinco anos, é cinco anos de projeto! O que nós observamos de mudança aqui dentro,
estou falando aqui dentro da ... (EB) é enorme! Porque diminuiu a evasão,
comportamento, a participação em si, melhorou demais! Porque era aquela história
que, “eu não quero, eu não vou” né ?! Morreu essa história! Eles sabem que eles estão
sendo mais monitorados, né… assim, de certa forma, “não eu não vou fazer tal coisa
porque eu sei…”, porque antes eles tinham aquela ideia “eu posso fazer o que eu
quiser, que não vai acontecer nada”! Então, com o projeto não, como eles (alunos) são
mais observados eles têm o maior cuidado. De certa forma, eles têm “um pai ou uma
mãe”… observando... Até no recreio, até no intervalo a gente tem aquele contato...
(risos) (PDTEB - 1, 2015).

Outro aspecto a ser destacado é o monitoramento permanente dos alunos, como se


percebe na fala citada acima.
Nas entrevistas com Aluno (a) na Escola Brasileira (AEB), identifica-se uma
assimilação positiva, em relação à representação do PDT, nas relações aluno/ escola/família.
Nesta vertente, os AEB 1 (2015) consideram:
134

Eles não se preocupam só na escola né?! A gente ver que eles se preocupam também
fora da escola, quando a gente falta eles procuram saber se aconteceu alguma coisa,
se a gente tava doente e tal! Se está passando por alguma coisa, algum problema, ele
visita a nossa casa se puder ele ajuda... (AEB 1, 2015)

Em outro excerto de entrevista, também com AEB, confirma-se essa identificação


personalizada na imagem do PDT, como um amigo, um conselheiro, um “pai”, para além das
questões que envolvem o fazer pedagógico:

Ele representa a nossa sala, porque geralmente o professor, ele vai defender o aluno,
vai ajudar, ele conhece os alunos pessoalmente, ele sabe o problema que cada aluno
passa e isso ajuda muito. O nosso em particular, a gente tem como um pai né, um
amigo, como por exemplo, ele nos dar conselhos, ele às vezes nos dar, como ele fala:
um cascudo! (Risos)... Eu gosto deste projeto diretor de turma! Ajuda bastante! Além
de diretor de turma, no caso, o professor acaba se tornando nosso amigo. (AEB 2,
2015)

Entretanto, percebe-se que o olhar individualizado do PDT, para com seus alunos, é
direcionado, principalmente, na direção da manutenção do vínculo do aluno com a escola, na
perspectiva da garantia da permanência e, consequentemente, na redução da evasão, sem
desconsiderar o cuidado mencionado pelos alunos.
A narrativa do (a) Pai/Mãe na Escola Brasileira (PMEB), vai na mesma direção, dos
discursos do (a) AEB:

Para mim, eu acho que o professor de turma, ele é tipo assim um pai… tá ali
preocupado, ele vai... se o aluno tá com algum problema, ele vai saber, ele vai procurar
saber o porquê, o que tá acontecendo, ele chama os pais para conversar por isso que
eu acho excelente… para mim pessoalmente, eu acho excelente… (PMEB, 2015).

Os atores, AEB e PMEB, destacaram a dimensão do acompanhamento permanente da


frequência e do rendimento escolar, o que pode ser interpretado como um controle mais
individualizado para cada aluno, e suas famílias, na perspectiva de reduzir a evasão. Conforme
pode se comparar com a fala do (a) Diretor (a) Geral, na Escola Brasileira (DGEB), a
problemática da evasão escolar se configura como o efeito mais apontado pelos sujeitos:

O mais impactante é a evasão, assim, a redução da evasão. Se eu não me engano, em


2011 era o segundo ano do projeto, que foi quando nós passamos a participar do Jovem
de Futuro que foi o ano base para nossas medidas, nós estávamos com 12% de alunos
com evasão, e nossa meta era reduzir 40%. E o ano passado a gente já inclusive
chegamos a reduzir 40% da nossa evasão… é uma coisa que eu acho que a gente não
vai conseguir baixar muito, até porque nós temos um turno da noite, que é um turno
muito grande e a maioria desse turno da noite, é aquela questão do aluno trabalhador,
maior de idade que está aqui hoje, acabou o emprego ele vai pra Fortaleza ele vai pra
São Paulo. E, principalmente agora, nesse momento, aliás esses quatro anos, cinco,
sei lá! Que nós estamos sofrendo de seca né?!... Eu acho que em maio nós estávamos
com dois primeiros com 48 (quarenta e oito) alunos, e hoje tem 20 (vinte) e pouco do
turno da noite e a maioria é indo embora mesmo.
135

Neste sentido, a DGEB acrescenta:

São pais de família e tem que sair a procura de emprego, mas que o projeto ajudou
muito aí nessa parte, nessa questão de a gente conseguir ultrapassar inclusive a meta,
que era 40% e nós já conseguimos 42% (quarenta e dois) da evasão. Porque como eu
te disse lá no início, no meu caso como diretora e coordenadoras, temos como detectar
aquele aluno que está faltando há uma semana, há duas semanas. Nós temos aqui
professores que passam em 27 (vinte e sete) salas, Filosofia com 1 hora. Então, ele
chega ali, pensa que aquele aluno veio na aula dele, mas não sabe se nas outras aulas
ele está vindo. Então, se não fosse o professor diretor de turma que detecta a tempo
de a gente ir na casa deste aluno e a gente procurar a família...

Analisa-se que os efeitos mais destacados do PPDT tratam-se da interação da família


com a escola, na perspectiva da redução da evasão, bem como, a melhoria dos rendimentos,
embora não se tenha encontrado dados oficiais que revelassem tal efeito para além dos discursos
dos atores envolvidos.
Para Ball (1994), se faz necessário uma distinção importante no que se refere aos efeitos,
ou seja, o que pode ser considerado efeito de primeira e de segunda ordem. Os efeitos de
primeira ordem são caracterizados como mudança na prática ou na estrutura, evidenciados em
determinados locais e em todo o sistema; já os efeitos de segunda ordem são os impactos dessa
mudança nos padrões de acesso social, oportunidade de inclusão e justiça social.

5.1.1.5 Contexto da estratégia política

Nesse contexto, a preocupação é com a identificação de um conjunto de atividades


políticas e sociais que consigam resolver mais eficazmente as desigualdades e injustiças
produzidas, nas situações de lutas por interesses individuais, no âmbito das políticas analisadas
(BALL, 1994). Mainardes (2006, p. 68), propôs como questões iniciais para discussão deste
contexto:

1. Há desigualdades criadas ou reproduzidas pela política? Quais são as evidências


disso? Há conclusões similares em outros estudos da literatura?; 2. Que estratégias
(gerais e específicas) poderiam ser delineadas para lidar com as desigualdades
identificadas?; 3. As estratégias delineadas contribuem para o debate sobre a política
investigada e para aspectos da política que deveriam ser repensados e
redimensionados? Que outras estratégias são apontadas na literatura?; 4. As
estratégias delineadas são exeqüíveis e fundamentadas em referenciais teóricos
consistentes?; 5. Em que medida as estratégias delineadas pelo pesquisador
contribuem para o fortalecimento das pedagogias críticas, de projetos alternativos para
a educação das classes trabalhadoras e de uma democratização real e efetiva?; 6.
Como tais estratégias poderiam ser disseminadas?; 7. As estratégias delineadas
consideram os aspectos macroestruturais?
136

Na perspectiva de analisar as estratégias delineadas pelo PPDT, nas escolas cearenses,


destaca-se a narrativa do (a) CPPDTEB (2015):

Foram muitas adequações, porque o que a (CEP) trouxe de instrumentais… eram


vários instrumentais, vários registros, era realmente um processo muito burocrático,
muito! Então, ao longo do tempo, na escola profissional foi assim como ela recebeu,
digamos assim a dona do projeto! A gente tentava seguir à risca aqueles
instrumentais! Mas, quando se passou para o segundo ano, aquilo que a gente achava
que poderia mudar, já mudava. Algo muito difícil de você tentar realizar na data
precisa, é aquela reunião bimestral. A reunião diagnóstica não! A gente consegue
dentro de uma data precisa, agora a bimestral... porque vem num atropelo de afazeres
de final de bimestre, correção de provas, entrega de notas né! É professor passando
nota para o diário, e o sistema para alimentar, nesse caso, na época que não era
sistema, eram uns papéis, e as reuniões tinha que acontecer de qualquer maneira.
Então, sempre acontecia de uma forma bem atropelada! Sim, na marra mesmo!
Tentando reunir os professores do Conselho de Classe, tentando chamar os pais para
aquele momento de forma bem... foi adaptado e… é tão adaptado que nós, na nossa
escola que nós trabalhamos, nós não conseguimos realizar a reunião bimestral com a
reunião do Conselho de Classe…. Devido à nossa realidade! São cerca de cinquenta
e sete turmas, cinquenta e três têm o projeto… quatro não têm você deve saber né?!

Compreende-se que as estratégias delineadas no processo de adequação são resultados


das lutas dos grupos de interesses, na atuação no contexto da prática (professores, diretores,
coordenadores escolares, pais e alunos), em decorrência dos conflitos de nível micropolítico
que mobiliza os atores na arena de atuação, na relação com todos os envolvidos.
Outra estratégia que pode ser destacada é o direcionamento da política educativa em
análise para o acompanhamento dos resultados de aprendizagem e avaliação dos alunos, como
destaca o PDTEB (2015):

Eu sou diretor de turma do terceiro ano, e, a gente hoje no Brasil a gente fala muito
do ENEM né ?! Essa dificuldade, porque tem gente no interior que não tem condições!
E implantar na mente do aluno essa visão hoje, de que pode ser alguém na vida e
buscar algo na vida. É a função… nós temos essa função! Vamos dizer, levar esse cara
conosco aqui né...(gesto de braços dados). Então, esse projeto é muito interessante
porque ele mostra, ele tenta mostrar uma visão diferente numa sociedade corrompida
que nós temos.

Percebe-se que o PDTEB é responsável por corporificar, na consciência dos alunos, a


importância da cultura das avaliações de larga escala existente no país. Pode se destacar ainda,
a constituição da responsabilização do professor, como gestor da sala de aula, com a função de
articular os processos de gestão da turma -- concernentes às questões pedagógicas --, com os
demais professores da turma; as relações interpessoais entre os alunos da turma; e a interação
da escola com a família. Aspecto que se aproxima do que Sá (1997), em seu estudo sobre o
137

diretor de turma na educação portuguesa60, denomina como gestão intermédia. Neste sentido,
o (a) CPPDTEB (2015) identifica, como uma das estratégias do PPDT:

Bem, ele (PPDT) tenta colocar em cada sala de aula um gestor né! Alguém que tenha
um olhar mais afinado para aquela turma, que possa acompanhar melhor, ver aquilo
que enquanto o diretor, que enquanto o coordenador ver de uma maneira geral, o
professor vai ver de perto... que é o aluno, que é a presença dele, que é a participação
dele em sala de aula, a atuação do professor em sala de aula. E, principalmente, eu
acredito que o professor de turma ele tem um foco muito voltado para a evasão escolar
que é um caso gravíssimo que hoje nós enfrentamos na escola pública, muito grave.
(CPPDTEB, 2015)

Em outro momento, o (a) CPPDTEB (2015) evidencia, em seu discurso, as expectativas


atribuídas à figura do PDT:

[…] contribui sim, se ele for bem executado! Se o professor realmente realizar suas
atribuições, que é se aproximar do aluno, que é conhecer a família, a sua infrequência,
o seu rendimento, se ele fizer todas essas atribuições, que é dele. Sem dúvida todos os
padrões serão alcançados... cem por cento? Não! Porque a gente sabe que dentro de
uma escola pública, existem ‘ene’ fatores que vão desviando e vão te desvirtuando do
seu caminho. Mas você tem que relutar sempre naquela busca, sem dúvida o projeto
é uma ferramenta que auxilia sim nos desempenhos… (CPPDTEB, 2015).

Para além das atribuições explicitadas nos poucos documentos orientadores, didáticas,
pedagógicas, gestão de sala de aula e interação entre a família e escola. Percebe-se a
responsabilização deste sujeito pela melhoria da frequência escolar e consequentemente dos
rendimentos/resultados de aprendizagens dos alunos.
Em um estudo acadêmico de mestrado que se ocupou em investigar a gestão do PPDT,
após cinco anos da implantação, Costa (2014, p. 30) afirma que

[...] para enfrentar os maiores desafios presentes no ensino médio, como a


infrequência, a baixa aprendizagem e o abandono escolar, foi implantado, em 2008, o
Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT) direcionado, dessa vez, para o
monitoramento da aprendizagem, da frequência e do conhecimento das condições
socioculturais de cada aluno, para melhor conhecê-lo e apoiá-lo de forma
individualizada, rompendo com a massificação das ações.

Comparando os extratos das falas dos atores sociais, nesta análise da trajetória do PPDT,
em funcionamento nas escolas públicas regulares do Ceará, deste estudo, com a perspectiva
supracitada por Costa (2014), percebe-se uma convergência na significação dos sentidos
construídos, sobre a política educativa em análise. Entretanto, se faz importante explicitar que,
no cenário em o PPDT, o pesquisador é sujeito e é objeto que se encontra em atuação, posto
que, é gestor na rede de ensino.

60
Ver Racionalidades Práticas na Gestão Pedagógica: O caso do diretor de turma (SÁ, 1997).
138

Costa (2014), afirma que o PPDT, nas escolas públicas estaduais cearenses, caracteriza-
se como “uma das mais abrangentes propostas de gestão do currículo e da sala de aula, com
repercussão na gestão escolar, na relação escola e família, e nos indicadores de desempenho e
fluxo escolar, cuja execução atinge mais de 90% das escolas” (p. 19). Embora o estudo não seja
amplo e não apresente os efeitos do PPDT, no âmbito do Estado, este aponta para a estratégia
de reorganização das práticas organizacionais da escola e, sobretudo, reconfigura a função do
professor.
Ao intentar o rastreamento da trajetória do PPDT em atuação nas escolas públicas
cearenses, pode-se chegar a algumas considerações sobre esta trajetória. A referida política
educativa pode ser caracterizada como uma política do tipo “top-dawn”, imposta para às
escolas, de cima para baixo. Contudo, os textos desta política podem ser considerados
escrevíveis (writerly), possibilitando a leitura, interpretação e tradução ativa dos sujeitos na
arena de atuação, resultando em significativas readequações críticas, na interação entre os
contextos, conforme foi observado nas análises.

5.2 O PPDT entre o “Plano das Orientações para a Ação” e o “`Plano da Ação”

As construções teóricas de Ball (1994, 2011, 2014) contribuíram efetivamente para a


compreensão analítica da trajetória da política educativa, investigada nos diferentes contextos
e níveis, entretanto, Lima (1998, 2001) contribuiu para compreender como foi
recontextualizado a figura do DT, na estrutura organizacional em que a política é posta em
atuação, a escola pública cearense.
Os discursos dos sujeitos revelaram que, embora o PPDT não tenha um ordenamento
jurídico, A Chamada Pública para Adesão ao Projeto Professor Diretor de Turma (SEDUC-CE,
2010) caracteriza as orientações normativas da referida política educativa, posto que se entende
que

A grande quantidade e diversidade de regras assim produzidas, embora de tipologia e


alcance distintos, é geralmente designada por “legislação”, não apenas no sentido de
leis, decretos-leis, portarias…, produzidos pelos órgãos com poderes legislativos, mas
com um sentido mais amplo que inclui circulares, ordens de serviços, esclarecimentos,
etc., produzidos pelos órgãos da administração (LIMA, 1998, p. 170).

Os atores sociais envolvidos nos diferentes contextos da trajetória da política educativa


analisada explicitaram, em seus discursos, como o anteriormente citado, reconhecer o texto da
chamada pública (SEDUC-CE, 2010), produzido pelo órgão da administração executiva da
139

educação, no estado do Ceará, a SEDUC, como sendo o documento orientador do PPDT.


Assim,

[O] Documento orientador do projeto diretor de turma oficial, dentro da SEDUC, a


chamada pública de 2010, tudo o que foi escrito depois disso... as sete práticas
pedagógicas, também é um documento que a gente utiliza muito informações é um
documento que foi produzido pelo professor... (PCEPPDT) na época consultor de
2013 até 2014. Ele ficou como consultor do Programa Geração da Paz, fazendo essa
intersecção dos projetos e ele construiu esses produtos, como ele chama, e, existem
outros produtos que ele construiu e concluiu em 2014 (CRPPDT, 2015).

O referido documento, Chamada pública para adesão ao Projeto Diretor de Turma


(2010), convoca as escolas a aderir ao PPDT e, em anexo, publica as orientações para o
desenvolvimento do mesmo, no contexto escolar. Mesmo com prerrogativa da “adesão” à
política educativa, teve início em 2010 com o significativo número de quatrocentos e quarenta
e quatro escolas. Na perspectiva de melhor compreender a força do referido documento,
recorre-se ao pensamento de Lima (1998, p. 170), quando este afirma que “a palavra
‘legislação’, nas escolas, tem um sentido largo que destaca sobretudo o caráter normativo e
impositivo de determinadas orientações que lhe são impostas, realçando mais os conteúdos da
imposição do que propriamente as formas de que se reverte”. Neste sentido, o PPDT, com a
força da chamada pública (SEDUC-CE, 2010), tem sido ampliado nas escolas públicas
estaduais cearenses, com indicação para as redes municipais de ensino. Todavia, percebe-se
que os atores anseiam por um ordenamento jurídico, considerando a possibilidade da
descontinuidade do PPDT. Isto pode ser observado no excerto a seguir:

Como é que, uma política pública dessas, que é tão fundamentada, que exige tantos
recursos públicos, porque o projeto diretor de turma não é barato, tá certo! Mas, ele
continua com essa fragilidade e esse risco de descontinuidade porque nós não temos
fundamentos institucionalizados (CRPPDT, 2015).

Entretanto, voltando à análise das orientações explicitadas no documento supracitado e


relacionando-as com as vozes dos atores na trajetória da política educativa, nos contextos da
atuação enfocada no tópico anterior, compreende-se que a política educativa em estudo passou
por intenso processo de reinterpretação, recontextualização e recriação, entre as orientações
para a ação, e a ação.
Dito isso, entende-se que “existe uma separação nítida entre a concepção e a execução,
entre os superiores e os subordinados” (LIMA, 1998, p. 171), ou seja, “a legislação e outros
normativos produzidos não constituem um bloco monolítico, coerente e articulado, tudo
prevendo e regulamentando, de tal forma que nada nem ninguém poderá escapar” (LIMA, 1998,
140

p. 171). Nesses termos, se insere a compreensão que no processo de atuação das políticas, às
tensões e resistências mobilizadas pelos grupos de interesses, estes grupos reinterpretam as
orientações no “plano da ação organizacional”, como recurso das negociações. Enfim, “mesmo
no caso de uma execução em conformidade, a execução redunda quase sempre em uma
reinterpretação” (LIMA, 1998, p. 171).
Uma política educativa passa por diferentes contextos, na trajetória entre a
concepção/produção normativa e a atuação no contexto da prática na escola e, nesse longo e
complexo percurso, pode-se identificar diversos tipos de intervenção realizadas pelos diferentes
atores sociais envolvidos, admitindo-se que o texto originalmente produzido vá sofrendo
alterações, na forma e no conteúdo (LIMA, 1998), como se pode conferir no texto que segue:

Olha só, de fato aconteceram algumas alterações primeiro…, a primeira mudança,


pontuando, diz respeito aos instrumentais certo?! Nós passamos…, as escolas
passaram a trabalhar com esses instrumentais e ficaram a partir de 2008, 2009, 2010
e 2011, quando foi em 2011 eu fiz parte de uma comissão que começou a analisar, a
alterar. A fazer uma adaptação dos instrumentais para que eles pudessem se aproximar
um pouco mais a nossa realidade educacional. Então, de forma que em 2011 esses
instrumentais foram relançados para todo estado do Ceará com uma nova formatação
com uma versão bem mais aproximada da nossa realidade (PCEPPDT, 2015).

No que se refere ao texto orientador do PPDT, como vimos, este apresenta uma imagem
de flexibilidade no discurso implícito, sob a perspectiva da adesão, para além de não se
configurar um ordenamento jurídico. Portanto, o texto da política educativa analisada sofreu
significativas recriações, em relação aos documentos reproduzidos de outro sistema educativo,
com objetivos e estrutura organizacional absolutamente diferente, na direção de atender às
exigências e contribuições dos atores sociais, nos contextos de atuação da escola pública
cearense.
Apesar das perceptíveis recriações impostas às orientações normativas das políticas,
mobilizadas pelos atores educativos na ação/atuação, no contexto da escola, manifestação que
Lima (1998, 2001) denomina de “infidelidade normativa”, não se pode desconsiderar a força
que as orientações exercem sobre a ação.
Relativamente à compreensão do que se designou “infidelidade normativa”, “na
verdade, a infidelidade seria mais corretamente compreendida se considerada enquanto
fidelidade dos actores aos seus objectivos, interesses e estratégias” (LIMA, 1998, p. 176). Nesse
sentido, a “infidelidade normativa” pode ser entendida como uma contraposição às diretrizes e
regras estabelecidas e regulamentadas, de cima para baixo, nos textos normativos das políticas
direcionadas para as escolas. Vale frisar que a admissão da presença dessa infidelidade,
141

pressupõe a existência de dois planos organizacionais, plano das orientações para a ação e o
plano da ação (LIMA, 1998, 2001).
A escola não pode ser interpretada como um espaço somente de reprodução das
políticas, ou mesmo, de orientações organizacionais normativas, o que configura, também, uma
instância auto-organizada, para a produção de novas diretrizes e regras, na perspectiva de Lima
(1998), e um contexto micropolítico permeado por tensões e resistências, e, permanente, em
reprodução, produção e redefinição de políticas, nos sentidos de Ball (1989). Na direção dessas
perspectivas, busca-se compreender as significações construídas sobre o cargo/função do
diretor de turma no contexto brasileiro e suas aproximações e distanciamentos em relação ao
diretor de turma, no sistema educativo português.
142

6 AS SIGNIFICAÇÕES DO CARGO/FUNÇÃO DE DIRETOR DE TURMA NO


CONTEXTO BRASILEIRO E SUAS APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS
COM O SISTEMA EDUCATIVO PORTUGUÊS

O capítulo cinco é dedicado à compreensão das significações sobre o cargo/função de


DT, no contexto brasileiro, como resultado do processo de recontextualização desse sujeito na
educação brasileira, relativamente ao DT, na escola portuguesa, a fim de perceber as
aproximações e distanciamentos em relação ao sistema educativo português, apontado como
inspiração. Tal como, depreender relativamente às (re)interpretações ocorridas entre uma
realidade e a outras investigadas neste estudo, Brasil e Portugal.

6.1 O DT entre Brasil e Portugal: textos, contextos e práticas

Na perspectiva de perceber as aproximações e distanciamentos entre os textos, as


práticas do DT, nos diferentes contextos de atuação na escola pública cearense, em relação à
escola portuguesa, como inspiração para a política educativa estudada, recorreu-se às
evidências encontradas nos documentos, discursos e nas observações realizadas. Por
conseguinte, primeiramente se imerge no documento de orientação referência do PPDT, a
Chamada pública para adesão para o diretor de turma (2010), no que se refere ao perfil e tarefas
do PDT, sublinha-se:

2. Perfil e principais tarefas do Professor Diretor de Turma: i. Motivação para


desempenhar a função; ii. Participar, articular e coordenar o trabalho desenvolvido
pelos vários professores dos Conselhos de Classe; iii. Conhecimentos da legislação
em vigor, avaliação e estatuto dos alunos; iv. Estabelecer relacionamento com alunos,
pais ou responsáveis; v. Promover e fomentar bom relacionamento entre alunos e
comunidade educativa; vi. Gerir situações de conflitos; vii. Promover um ambiente
facilitador do desenvolvimento pessoal, cognitivo e social dos alunos. (SEDUC-CE,
2010, p. 5)

O item 2, do anexo I, da chamada pública para adesão para o diretor de turma (2010),
acima citado, apresenta o perfil e as principais tarefas do PDT. E, embora não se tenha realizado
uma pesquisa comparativa, buscou-se traçar as relações existentes entre o DT, nos dois
contextos estudados na investigação, no Brasil, especificamente nas escolas públicas estaduais
regulares do estado do Ceará e em uma escola do sistema educativo de Portugal, citado como a
inspiração, para a materialização do objeto deste estudo.
Na direção de perceber as articulações entre as experiências, seja nos pontos que se
aproximam ou se distanciam, em suas distintas realidades, procurou-se imergir nos textos e nos
143

discursos sobre as atuações práticas nos contextos, a fim de emergir com as interpretações.
Portanto, parte-se de um ponto ao outro extremo na pretensão de revelar os contrapontos de
interrelação, entre os textos de orientação. Nesta altura, o referido ponto extremo se configura
o Regulamento Interno 2014-2018 de uma Escola Portuguesa (EP).
Tomando como base para analisar as aproximações e distanciamentos, entre as
significações do cargo/função de DT nas duas realidades investigadas, a partir dos textos e ou
do “plano das orientações para a ação”, destacou-se acima o art. 40º, do Regulamento Interno
da EP, em associação ao texto orientador para a EB, a Chamada Pública para Adesão para o
Diretor de Turma (2010).
Diante disso, procurou-se elaborar um quadro comparativo dos textos normativos do
DT entre a EP e a EB abaixo, com o propósito de perceber as aproximações e ou
distanciamentos, entre as orientações para as diferentes realidades em estudadas, como o
disposto no quadro que segue:

Quadro 5 – Comparativo dos textos orientadores do DT entre a EP e a EB


Regulamento Interno 2014-2018 da EP - Chamada Pública para Adesão ao Diretor de
Artigo 40º - Competências do DT (EP, Turma (2010) para a EB
2014, p. 33-34)
a) Coordenar o desenvolvimento e a 4. ii. A realização das Reuniões de Conselho
execução das competências do Conselho de de Turma será da responsabilidade do Diretor
Turma; de Turma. A convocação destas reuniões é
feita pelo Núcleo Gestor61, em tempo devido.
Também devem ser convocados os
Representantes e Líderes de sala de aula com
tempo necessário (geralmente 08 dias de
antecedência) para que possam se reunir com
seus pares e preparar os devidos pontos da
pauta de trabalho. Da mesma forma, os
professores agirão, com a finalidade da reunião
ser incisiva, precisa e concisa e prática.
5. iii. Analisar Atas das reuniões dos
Conselhos de Turma, junto com o Secretário
que as digitou. As atas serão digitadas por um
dos seus professores (pela ordem alfabética)
do Conselho de Turma;
b) Assegurar a articulação e a comunicação 4. i. Atividades que envolvem alunos,
entre os professores da turma, os alunos, os professores e pais ou responsáveis, Núcleo
pais e encarregados de educação, Gestor, possíveis parcerias com a comunidade
promovendo ainda com os últimos a sua educativa e elaboração do Dossiê de Turma.
61
Núcleo Gestor (CEARÁ, 1998) – diretor, coordenador pedagógico, coordenador administrativo-financeiro,
coordenador de articulação comunitária (posteriormente, denominado coordenador da gestão escolar) e secretário
escolar. Atualmente (2017) - diretor e coordenadores escolares.
144

participação em atividades desenvolvidas


pela turma ou pelo estabelecimento de
educação ou de ensino;
c) Desenvolver ações que promovam e 6. vi. Promoção de uma correta integração do
facilitem a correta integração dos alunos na aluno na vida escolar;
vida escolar; 8. v. Realizar as atividades educativas pais /
alunos / professores da turma. vi. Propor
formas de atuação para uma relação mais
estreita família / escola. vii. Arranjar
estratégias específicas de aproximação.
d) Coordenar o processo de avaliação 7. i. Fornecer informação da Turma; ii.
formativa e somativa dos alunos, garantindo Discutir e definir com os professores
o seu caráter globalizante e integrador; estratégias de ensino-aprendizagem; iii.
Promover o trabalho de equipe entre os
professores; iv. Favorecer a coordenação
interdisciplinar; v. Recolher/fornecer
informações sobre
assiduidade/comportamento/aproveitamento;
vi. Analisar problemas dos alunos; vii.
Coordenar relações interpessoais e
intergrupais; viii. Coordenar a elaboração de
propostas de apoio pedagógico, nas disciplinas
de dificuldades;
e) Garantir aos professores da turma a 2. ii. Participar, articular e coordenar o
existência de meios e documentos de trabalho desenvolvido pelos vários professores
trabalho e orientação necessária ao dos Conselhos de Classe;
desempenho das atividades próprias da ação
educativa;
f) Garantir uma informação atualizada junto 5. i. Analisar o registro de faltas; ii. Analisar as
dos Pais/EE acerca da integração dos alunos coletas de dados de informação por disciplina
na comunidade escolar, do aproveitamento fornecidas por cada professor de cada
escolar, da assiduidade e das atividades disciplina;
escolares;
g) Coordenar a aplicação de medidas 2. v. Promover e fomentar bom
disciplinares e proceder ao relacionamento entre alunos e comunidade
acompanhamento do aluno na sua educativa; vi. Gerir situações de conflitos; vii.
execução, mantendo informado o Promover um ambiente facilitador do
encarregado de educação; desenvolvimento pessoal, cognitivo e social
dos alunos.
h) Assegurar a eleição, no início de cada ano 8. iv. Após aviso do núcleo gestor, convocá-
letivo, dos representantes dos pais e los (pais ou responsáveis) para as reuniões.
encarregados de educação e dos alunos do Uma no início do ano escolar (onde se fará a
2.º e 3.º ciclos do ensino básico e do ensino eleição do Representante ou Representantes),
secundário nos conselhos de turma uma para cada entrega de avaliação do aluno;
respetivos;
i) Convocar reuniões com os pais e 2. iv. Estabelecer relacionamento com alunos,
encarregados de educação, quando pais ou responsáveis;
considerar pertinente;
145

7. ix. Propor/debater formas de atuação entre


escola/pais, durante as reuniões de Conselho
de Turma.
j) Coordenar, conjuntamente com o 6. viii.Alunos com dificuldade de
representante da educação especial, o acompanhamento especial;
programa educativo individual dos alunos
com necessidades educativas especiais;
k) Proceder, no início do ano letivo, à
eleição do delegado e do subdelegado da
turma;
l) Definir e divulgar a hora de atendimento 8. i. Informar os Pais ou Responsáveis. ii.
aos pais/EE; Combinar com eles comunicando-lhes o dia e
a hora de atendimento semanal.
m) Facultar o link da página do
Agrupamento para consulta dos critérios
gerais de avaliação do ano de escolaridade
do seu educando, na 1ª reunião de Pais/EE,
a realizar durante os primeiros 30 dias de
aulas;
n) Realizar uma reunião de pais / EE após o 8. iii. Fornecer aos pais, com regularidade,
término de cada período escolar, com o informações sobre a assiduidade
objetivo de prestar informações relativas ao comportamento e aproveitamento escolar dos
processo de aprendizagem e avaliação dos alunos.
alunos;
o) Arquivar o respetivo Plano de Turma no 5. iv. Organizar o Dossiê da Turma.
dossiê de turma de acordo com a data
definida pelo Conselho Pedagógico e enviá-
lo, em formato digital, à Direção;
p) Elaborar um relatório crítico anual do
trabalho desenvolvido, até ao dia 15 de
julho;
q) Exercer qualquer outra competência que 2. i. Motivação para desempenhar a função;
lhe seja atribuída por lei ou por este
regulamento.
Fonte: a autora (2017).

No item 4.i., da Chamada pública para adesão para o diretor de turma (2010), que orienta
o PPDT na EB, esta se aproxima do item “b”, do artigo 40º, quando este trata da articulação e
comunicação, entre professores da turma e atividades que envolvem alunos, professores e pais
ou responsáveis, salvo distanciamentos próprios das peculiaridades dos diferentes contextos
sociais, tal como a denominação de articulação com Núcleo Gestor e estabelecimento de
parcerias (EP, 2016; SEDUC-CE, 2010).
No que se refere à elaboração do Dossiê de Turma proposta nas orientações para a EB
se aproximam das orientações para EP, propostas no item “o”, em relação ao texto do item 5.
iv. Na sequência, ainda na perspectiva de se identificar as aproximações entre os documentos
146

das duas realidades observadas, o item 5. i. e 5. ii. (EB) em relação ao item “f” (EP), bem como,
4. ii e 5. iii. (EB) em relação ao item “a” (EP). Afinal, muitas são as aproximações textuais
como pode se verificar o item 6. vi. (SEDUC-CE, 2010, p. 6, grifo nosso) sublinhado na citação
abaixo com o item “c” (EP, 2016), observa-se que a redação do texto é praticamente a mesma.

6. Aspectos a serem considerados pelo Diretor de Turma junto aos alunos. i.


Conhecimento do aluno em toda a sua dimensão; ii. Orientação personalizada aos
alunos; iii. Adequação do plano de estudos; iv. Observação dos comportamentos em
situações coletivas; v. Conhecimento dos interesses, atitudes, valores e hábitos de
trabalho; vi. Promoção de uma correta integração do aluno na vida escolar; vii. Clima
de liberdade que facilite a adaptação social, física e intelectual do aluno. viii. Alunos
com dificuldade de acompanhamento especial; ix. Atividades extracurriculares; x. Ser
o elo entre a escola e a família

Analisando as aproximações entre os textos/documentos, observa-se que o item “6. viii.


Alunos com dificuldade de acompanhamento especial” (SEDUC-CE, 2010, p. 6) parece
equivocadamente reescrito em relação ao item: “j) Coordenar, conjuntamente com o
representante da educação especial, o programa educativo individual dos alunos com
necessidades educativas especiais” (EP, 2016, p. 33), o que leva a consideração de possíveis
confusões interpretativas no processo de tradução da política educativa para a realidade
brasileira, neste caso, as escolas cearenses.
Portanto, verifica-se que os pontos de articulação entre os textos orientadores das duas
experiências apresentam muitas aproximações, por conseguinte, compreende-se que ocorreram
prováveis adaptações pela consultoria externa que trouxe a proposta para as escolas cearenses.
Observa-se, ainda, no documento (SEDUC-CE, 2010), especificações para o desenvolvimento
da prática dos PDT no cotidiano da escola, como as diretrizes procedimentais, o passo a passo,
a ser realizado em cada ação.
Na sequência dessas recomendações, o referido documento (SEDUC-CE, 2010)
descreve cada um dos dezesseis separadores que compõem o dossiê de turma, caracterizando
as suas finalidades e as devidas providências a serem tomadas. Do item 10 ao 12, o documento
apresenta instruções para cada conduta anunciada: o item 10 apresenta um passo a passo da ata
intercalar; o item 11, uma simulação de uma reunião intercalar de conselho de turma; e o item
12, um tutorial para o componente curricular formação cidadã. Imediatamente, o item 13 trata
das atribuições e competências do Coordenador do Diretor de Turma (Coordenador Escolar).
Os pontos de articulação entre os textos orientadores das duas experiências apresentam
muitas aproximações, contudo, as análises realizadas na tese vão para além deste viés, de acordo
com a análise da trajetória da política educativa no contexto da educação cearense, realizada no
capítulo anterior deste documento. Feito esse exercício de análise, voltou-se, neste momento, o
147

olhar para os textos e discursos dos atores sobre as significações no campo da atuação, nas duas
realidades estudadas. Nessa direção, nas experiências analisadas, recorreu-se aos testemunhos
dos atores sociais nos diferentes níveis e dimensões.
O encadeamento da análise segue na busca de compreender como se caracterizam as
significações, sobre o cargo/função de DT, construídas no imaginário dos atores da organização
educativa em três dimensões: designação do cargo, importância e atribuições do DT e
designação do CDT, as relações que se estabelecem na comunidade escolar/comunidade
educativa e algumas estratégias metodológicas do PPDT. Sobre tais processos e procedimentos
procura-se encontrar as evidências nos discursos dos atores entrevistados nos contextos
estudados e o contraponto com os referenciais que balizam este estudo.
Segue o organograma de organização do PPDT na SEDUC-CE:

Figura 13 – Organograma do PPDT na SEDUC – Ceará

Fonte: a autora (2017).

A rede pública estadual do Ceará conta com cento e dezesseis Escolas Estaduais de
Educação Profissional (EEEP) em tempo integral, com ensino médio integrado ao ensino
profissional; e seiscentas Escolas Regulares. O acompanhamento sistemático das escolas pela
SEDUC é descentralizado pelas vinte CREDE e três SEFOR, no caso do PPDT, conta-se com
a figura do (a) Coordenação Regional do PPDT e, em cada escola, o (a) Coordenador (a) Escolar
(SEDUC-CE, 2017). Feita essa breve contextualização sobre como se estrutura o organograma
148

do PPDT na SEDUC-CE, verificou-se que a designação do professor para ocupar a coordenação


estadual, mesmo sendo considerada a experiência do sujeito como DT ocorre por adesão do
mesmo em aceitação à indicação dos gestores da escola.
A designação para CRPPDT também considera a experiência do professor, como DT, e
acontece por indicação dos técnicos das CREDEs e SEFORs, embora se tenha registrado casos
de abertura de chamada pública para seleção de professor, para ocupar o cargo/função em
algumas CREDEs. No que se refere ao processo inicial de designação dos(as) coordenadores
(as) regionais do PPDT, para o exercício de função nas CREDEs, anota-se que

[...] coordenadores regionais que é uma função que passa a existir a partir do ano de
2010. Então, a primeira questão que nós vamos ter, o projeto professor diretor de
turma além das escolas de educação profissional nas escolas regulares, nós precisamos
ter um técnico na CREDE que possa coordenar já que seria um, um campo de ação
muito amplo para um superintendente e para uma pessoa que nunca vivenciou o
projeto diretor de turma mesmo em situações não é, não aprofundadas. Mesmo sem
conhecer muito a proposta considerou-se isso que essa pessoa que iria assumir a
função de coordenador regional em cada CREDE e SEFOR deveria ser pelo menos
dentro desses critérios uma pessoa que já tivesse vivenciado a função de professor
diretor de turma. Com base nas visitas né, que a... (CEP) e a sua equipe técnica
realizou no ano de 2008 e 2009 nas escolas de educação profissional ao longo do
estado do Ceará, ela foi vendo alguns professores que ela considerou que tivesse um
bom perfil e foi nesse momento que a coordenação regional entra na minha vida né,
eu recebi a proposta do coordenador da CREDE né, eles receberam esse
encaminhamento da SEDUC e aí teve esse período pra que a gente pudesse fazer essa
aceitação (CRPPDT, 2015).

O discurso revela que o processo de designação para CRPPDT teve inicialmente um


caráter, diga-se, que meio intuitivo e experimental, como resultado das interpretações sobre o
DT em outro espaço. A partir desse momento, foram se realizando as adaptações que os grupos
de interesses considerassem pertinentes ao bom funcionamento nos contextos de atuação na
rede de ensino que se mobilizou a política educativa do PPDT. Relativamente ao processo de
designação para assumir a coordenação do PPDT na escola, assenta-se a compreensão a partir
da voz do próprio ator.

Desde de janeiro de 2015... comecei como coordenadora neste ano já, mas eu conheço
o projeto já há algum tempo... conheço desde 2009. Em 2008, eu creio que tenha sido
a data que ele foi implantado aqui no Ceará, porque foi logo quando começou as
escolas profissionais né?! E quando o Estado trouxe as escolas profissionais para cá a
questão é que na época era chamado Escola de Educação Profissional… (NOME DA
ESCOLA), houve uma seleção né, eu era temporária e passei. E então, eu trabalhei
desde 2009 até dois mil… o meio de fevereiro de 2012 lá na escola profissional. Então
eu saí de lá, enquanto eu estive lá eu fui diretora de turma, eu conheci o projeto lá daí,
eu conheci a professora… (CEP) que foi a grande idealizadora, ela sempre esteve lá
conosco, apresentou todo o projeto, deu todas as orientações. Aí de lá eu vim para o
(NOME DA ESCOLA), aí entrei como temporária e prestei esse último concurso,
passei e graças a Deus, consegui me efetivar, é o sonho de todo professor! (CPPDTEB,
2015).
149

Analisando o discurso citado, verificam-se evidências da trajetória do PPDT da


“implantação” na escola profissional, onde teve início à ampliação até a escola de ensino
regular, lugar que o sujeito entrevistado se situa, na coordenação do PPDT.

E mesmo quando eu voltei, vim para o (NOME DA ESCOLA) como Diretora de


Turma fui convidada para aderir ao projeto, para ser uma das professoras e eu...
continuei! Quando foi no final do ano passado em 2014, a (DIRETORA) [...] ela me
convidou para assumir a coordenação, havia uma carência, me disse que eu ficaria
responsável pelo projeto pelo PPDT, mais o planejamento da minha área que é
Linguagens e Códigos… pelo… eu gostei porque como eu já disse e torno a dizer eu
acredito nesse projeto (CPPDTEB, 2015).

Diante do discurso acima transcrito, verifica-se ser a experiência como DT um requisito


importante para a designação da coordenação do PPDT na escola. É importante chamar a
atenção, na EB a coordenação do DT é realizada pela figura de um coordenador escolar, ou
seja, um sujeito responsável por outras dimensões das atividades pedagógicas.
Na EP, a coordenação dos professores DT é realizada, também, por um DT, com lotação
da carga horária da sua disciplina, no exercício da docência em sala de aula, aspecto esse que
se distancia da realidade brasileira. Relativamente ao perfil para coordenar os DTs na escola,
no sistema educativo português, altamente centralizado, com determinações emanadas pelo
Ministério da Educação, por meio dos normativos legais que regulamentam a educação
portuguesa, em todos os níveis, por meio das suas secretarias e direções-gerais específicas.
Nesse cenário, argumenta-se que a escolha para a coordenação dos DTs na escola,

[...] tem a ver com a capacidade de agregar várias vontades dos diferentes diretores de
turma, com a capacidade de se expor e mobilizar, fazer com que os próprios diretores
de turma compreendam as diretrizes que ele vai emanando, não é!? Porque
normalmente essas diretrizes também são validadas pelo conselho pedagógico, por
vezes, nem sempre, e ainda bem, não é, nem sempre todos estamos de acordo, não é…
mas tem que seguir um rumo, não é, e esse rumo é definido pelo coordenador dos
diretores de turma. Portanto, é nesse sentido que as competências deles são
extremamente importantes, não é, de fazer com que os diretores de turma possam
perceber, quer a componente administrativa, não é, que eu penso que essa é, até é mais
simples, porque a lei aqui em Portugal determina tudo, está tudo determinado, o
espaço da autonomia é extremamente residual. (DGEP, 2016)

Sobre a mesma temática, prossegue:


Em termos de critérios, na resolução dos conflitos que possam existir com as próprias
famílias, e utilizando estratégias comuns, para que a organização possa transmitir uma
imagem de, como hei de dizer, uma imagem que é, portanto, que é uma própria cultura
de organização. É uma questão já organizacional na resolução desses mesmos
conflitos, não é, de ouvir sempre as famílias. Eu acho e os alunos, penso que tem sido
uma tónica que nós pomos… ouvir e ouvir. Não quer dizer que é dar razão, não é,
ouvir no sentido de clarificar as dúvidas, e nesse sentido, penso que é uma função
muito importante. Não partimos do pressuposto que a escola tem sempre razão, não
150

é! Seria bom que assim fosse, mas temos, temos que ouvir… essencialmente isso.
(DGEP, 2016)

A função do Coordenador dos Diretores de Turma (CDT) na EP é considerada muito


importante, tanto para a mediação de conflitos entre os atores da dinâmica educativa cotidiana
– alunos, conselho de pedagógico, conselho de turma –, quanto para a resolução de problemas,
entre as escolas e as famílias.
No tocante ao perfil para a designação do professor, para ocupar o cargo/função de DT
destacam-se, a seguir, os discursos de atores entrevistados, nas duas realidades:

De impacto também né, primeiro a questão da descontinuidade da essência do projeto


diretor de turma, o professor diretor de turma começar com a turma do primeiro ano
e ter continuidade com essa turma no terceiro ano. Como a maioria são professores
temporários, como na pesquisa que eu fiz ano passado, apenas 2,5% dos nossos
professores eram efetivos. Então a gente tem por exemplo, agora passaram onze
efetivos aqui, pediram vaga aqui na nossa CREDE, lotados aqui. Então os professores
que eram temporários, que eram dessas turmas, eles saíram e nem todos esses
professores que entraram querem ser DT, ou tem perfil para serem DT. Então a turma
vai ficar sem o professor diretor de turma ou vai ter um professor que vai estar lá só
pra ocupar espaço... (CRPPDT, 2015, grifo nosso).

Embora o discurso citado fale sobre o perfil do professor para ocupar o cargo/função de
DT, este o não caracteriza, nem descreve quais aspectos devam ser considerados importantes,
para traçar tal perfil. Porém, o item 2, do documento de orientação – a chamada pública
(SEDUC-CE, 2010) –, citado no quadro anterior, prescreve as características desse perfil nos
sete subitens. Outros aspectos que se acentuam no extrato citado referem-se à descontinuidade
do professor no cargo de DT, pela evidência de professores temporariamente contratados na
rede de ensino, que apontam para a interpretação de que os professores efetivados por meio de
concurso recusam-se a ocupar o cargo/função de DT ou o ocupam para completar a carga
horária.
A respeito do perfil para o desempenho do cargo/função de DT, o (a) Professor Diretor
de Turma, na Escola Portuguesa (PDTEP), acentua que “o perfil deve ser uma pessoa que
resolva os problemas e que não os levante. Porque é quando há atritos entre professor e aluno
que precisa de haver alguém que deite água na fervura e não deite álcool no lume que o
incendeie, em vez de acalmar as coisas e deve compreender” (PDTEP 1, 2016), complementa
que “as funções mais importantes são na gestão... eu acho que um diretor de turma tem aquele
trabalho burocrático de faltas, justificação de faltas (PDTEP 1, 2016). E acentua: “mas o
importante num diretor de turma é que faça a gestão de conflitos entre os alunos às vezes, muitas
vezes, a gestão de conflitos entre professor/aluno e a gestão de conflito entre o encarregado de
educação e do professor” (PDTEP 1, 2016). No contexto educativo português, a habilidade para
151

a gestão de conflitos, ou seja, resolução de problemas entre os diferentes atores do contexto


educativo, é destacado para além da importância do controle da frequência escolar dos alunos
e da relação entre os segmentos da comunidade escolar/comunidade educativa. Nessa mesma
direção, o (a) Diretor (a) Geral da Escola Portuguesa (DGEP), sublinha:

É a capacidade de resolução de problemas, tem que ser uma pessoa capaz de resolver
problemas, como digo, normalmente e no secundário existe mais tensões com a
família do que no básico, porque no secundário, […] portanto, é um ciclo onde
existem exames e os exames têm um peso significativo depois para o ensino superior,
... as famílias têm, estão muito atentas e têm uma intervenção muito ativa, não é…
junto do diretor de turma e por vezes apresentam queixas que o professor A ou B, não
está a fazer da melhor maneira e que eles acham que devia ser de outra… O papel do
diretor de turma aqui é muito importante para clarificar, para ver também se os pais
têm razão ou não, mas essencialmente aqui é a capacidade relacional que o diretor de
turma tem com as famílias, com os alunos e com os restantes professores… hmmm…
e este para mim tem sido o ponto fulcral para que o diretor de turma tenha, tenha
continuidade. Não tenho dúvidas que, hmmm, a capacidade de mediação de conflitos,
é uma característica fundamental e penso que todos os diretores de turma deveriam
ter formação nessa área, não é, da mediação de conflitos.

Analisando os discursos dos sujeitos e os textos orientadores do projeto em questão,


pode-se verificar que o perfil do professor a ser designado para ocupar o cargo/função de DT,
pauta-se nas características que se percebem necessárias ao exercício da docência, como, a
capacidade de mediação de conflitos e a mobilização das relações entre os segmentos da
comunidade educativa, e o saber dialógico, necessário para a construção das relações
pedagógicas.
Na sequência, destaca-se o discurso de Alunos (as) da Escola Brasileira (AEB) sobre o
perfil do DT, nas relações cotidianas.

É bom a gente ter atenção né... sempre é bom ter um pouquinho de atenção… Porque
não é todo o professor que tem esse cuidado com a gente, aí no caso dele é uma função
específica, para tá dando uma atenção a mais né... de alguma forma a gente se sente
cuidado… (AEB 1, 2015)

Prosseguem os AEB 2 (2015), sobre sua percepção sobre o (a) DT:

Geralmente ela tem um cuidado mais, especial na gente, do que os outros. Ela se
preocupa bem mais que os outros. E se responsabiliza né, pelos atos de cada um, é
como se... É como se fosse nossos pais! Vai dar bastante conselho! E não só nas aulas
de formação cidadã né?! Nesse dia ela sempre dá esses vídeos nas aulas dela, sobre o
dia a dia, aí as aulas dele ou começam com reflexão ou terminam (AEB 2, 2015).

Observa-se que os (as) alunos (as) percebem como características importantes, para o
exercício do DT, a atenção, o cuidado e a capacidade de oferecer orientação pedagógica,
aspectos inerentes à função de professor. Na mesma perspectiva, sublinha um (a) Encarregado
de Educação, na Escola Portuguesa (EEEP), sobre a atuação do DT na ocasião da entrevista:
152

Eu acho que um diretor de turma, além de tudo, tem que ser uma pessoa compreensiva,
com uma mentalidade atual, porque hoje não é fácil ser professor… a vida está muito
complicada para os professores… hmmm… principalmente saber ouvir para saber
falar de seguida. Eu acho que é um dos pontos principais de um diretor de turma,
porque um professor que não sabe ouvir, no fim não sabe falar. Como nós falamos, a
diretora de turma desta turma tentou, através do que ouviu dos outros professores,
tentar mudar a turma… uns foram mudando, outros não quiseram, mas conseguiu. Eu
acho que… ela diz que não, mas conseguiu que a turma melhorasse um bom bocado
através da fala. Não é com castigos, muitas vezes não se resolve nada, através da fala,
eu acho que… eu acho que ela conseguiu (EEEP, 2016).

Analisando os discursos citados, verifica-se que as qualidades que se espera de um DT,


apontadas pelos sujeitos, ou seja, os requisitos necessários para o exercício do cargo/função de
DT, pressupõem-se que estes sejam atributos necessários à condição docente. Ou mesmo, pode-
se concluir “que se trata basicamente de características inatas, não se contemplando qualquer
necessidade de formação específica” (SÁ, 1997, p. 54), o que permite a possível pressuposição
implícita de “que a eficácia no exercício do cargo depende das qualidades pessoais do director
de turma, ignorando-se também qualquer dimensão de natureza organizacional” (SÁ, 1997, p.
54). No sistema educativo português, o professor tem a referência do DT, no seu próprio do
percurso escolar e, no caso brasileiro, a construção dessa significação, na estrutura da
organização escolar, tem se construído com base nos parâmetros apontados para a introdução
desse sujeito no contexto educativo cearense, em todo o processo de (re)interpretação e
adequação à realidade local.
Na perspectiva de analisar a importância do DT e as suas atribuições seguem alguns
excertos destacados, das falas dos atores entrevistas.

Olha, é, a gente divide essas atribuições por meio do horário da nossa carga horária
bem estipulada. Então, a gente vai ter aí essa função de organizar, analisar e conhecer
a turma por meio dos instrumentais, esse diretor de turma tem as duas horas semanais
para eles fazerem isso, obviamente que eles sempre reclamam que não dá tempo,
porque tem uma falha nesse processo, novamente a falta de monitoramento e o diretor
de turma que comanda, a grande maioria dos profissionais eles têm dificuldade no
aprofundamento no tempo, alguns fazem isso muito bem quando já estão mais
experientes na função. O SIGE tem ajudado muito, isso pela facilidade né, de fazer
ou não, às vezes até atrapalha! Porque se a escola tiver dificuldade de internet de
computador. Isso também vai ser em vez de ajudar isso vai atrapalhar, por isso que a
gente ainda continua com esses dois dossiês, o online e o em papel, porque depende
da realidade. [...] Então, uma das funções primordiais do diretor de turma é
desenvolver essa habilidade de registrar, aquilo que ele observa aquilo que ele
vivencia, a outra função interessante ocorre justamente no momento que ele tem que
fazer o atendimento, então uma das funções do diretor de turma é realmente
estabelecer essa relação interpessoal com o seu aluno fazer com que ele estabeleça
essa relação para que ela seja mais construtiva e harmoniosa possível com os alunos
e também com a família que durante muito tempo foi tão esquecida (CRPPDT, 2016).

No excerto que segue, tem-se o testemunho de como um dos atores sociais percebe, na
prática, as suas atribuições:
153

Então, a gente trabalha mais assim, as qualidades, os valores né! Porque eles não têm
esses valores em casa, nós estamos indo lá tentar resgatar mesmo, o projeto é isso é
um resgaste mesmo! Porque é o principal do projeto, é o cuidado com a evasão
escolar, porque o adolescente, por tudo né!, é o motivo dele se evadir da escola
(PDTEB 1, 2016).

A preocupação do DT com a frequência, também mencionada, no capítulo anterior, nos


excertos dos discursos de atores envolvidos no projeto em referência, caracterizam a frequência
como uma responsabilidade marcante, entre as atribuições do DT. Nessa direção, o cuidado
com a evasão escolar é visto por diferentes sujeitos como sendo uma das atribuições mais
relevantes do PPDT, haja vista, que ocupa destaque entre os discursos dos entrevistados.
Nessa perspectiva, o estudo de Sá (1997, p. 106), sobre o DT no sistema educativo
português, ressalta a importância de “controlar a assiduidade dos alunos, através do registro
semanal das faltas e sua comunicação ao encarregado de educação quando estas atingem
determinados limites normativamente fixados” (SÁ, 1997, p. 106), e acrescenta ser esta “a
actividade que globalmente mais tempo absorve ao director de turma no exercício quotidiano
da sua função e é também esta a imagem que mais frequentemente se associa ao cargo de
director de turma” (SÁ, 1997, p. 106).
Sobre o controle permanente da frequência escolar de cada aluno, as diretrizes no
documento orientador explicitam:

VIII. REGISTRO DE FALTAS O registro de faltas deve ser feito convencionalmente


por quem já está habituado a fazê-lo, mas o Diretor de Turma tem que fazer a junção
dessas faltas por aluno, por disciplina e por mês. Depois colocará o instrumental de
faltas junto do portfólio de cada aluno. Na hora em que está em serviço de Direção de
Turma, o Diretor de Turma deve analisar esses dados e verificar se há discrepância
entre as faltas de umas ou outras disciplinas. Perante isso, deve imediatamente
confrontar o aluno e o professor da disciplina em que está faltando para apurar as
razões que o levaram a tal atitude. Não deve ser esquecida a entrega aos pais da
informação bimestral sobre a assiduidade de cada aluno (SEDUC-CE, 2010).

Acompanhar e analisar sistematicamente a frequência escolar é uma das atribuições


desempenhadas pelo DT, na educação cearense, a ponto de este ser responsabilizado pelo
controle da evasão escolar. Não obstante, a redução da problemática evasão escolar é apontada
pelos sujeitos da organização educativa como sendo um dos efeitos da política educativa
estudada, ou seja, o PPDT no contexto das escolas públicas do Ceará.
Relativamente às atribuições em relação à carga horária, outro ator do projeto
argumenta:
154

Para todo mundo a gente fala que é pouco tempo, mas assim são cinco horas para o
projeto... é, cada hora destina a uma atribuição, por exemplo para receber a visita de
um pai de alguma situação, aula em si da formação cidadã dentro da sala de aula…
outras horas para você... estudar… para ajeitar a parte burocrática, mas a gente é muito
preso. A aula em si da formação cidadã dentro da sala de aula, e mais três para o
burocrático. (PDTEB 2, 2016)

Observa-se que no folder de divulgação do PPDT, e no discurso supracitado, especifica-


se que são destinadas cinco horas semanais da carga horária do professor DT para as atividades
específicas da função, enquanto que a chamada pública (2010) recomenda quatro horas, onde
uma hora destina-se à elaboração do Dossiê da Turma; uma hora para atendimento aos pais ou
responsáveis pela educação do aluno; uma hora para a orientação de alunos monitores de Estudo
Orientada; e a quarta hora é dedicada à área curricular não disciplinar, à Formação Cidadã,
ministrada pelo Diretor de Turma (SEDUC-CE, 2010). Constatou-se que, nas conversas
informais realizadas nas visitas ao campo (2015), na trajetória da política do projeto, foram
anteriormente, destinadas cinco horas da carga horária do professor, para dedicação às
atribuições do DT.
No de estudo de Sá (1997, p. 54), ao analisar uma publicação normativa dos conselhos
pedagógicos de 1980, sobre as atribuições do diretor de turma no enquadramento legal, ele
anota que

Em relação às atribuições do director de turma, elas constituem, no essencial, uma


reprodução das que doze anos antes foram previstas para o mesmo cargo: promover a
integração dos alunos na vida escolar; assegurar os contactos com os encarregados de
educação; criar condições de participação efectiva dos professores na planificação dos
trabalhos e proporcionar-lhes a existência dos meios e documentos de trabalho
necessários às actividades educativas (SÁ, 1997, p. 54).

É evidente a percepção das poucas alterações nas significações do cargo/função do DT


no contexto educativo português, bem como, é notória a inegável a interpretação de que houve
uma intenção precípua de transposição desses significados resultantes do considerado percurso
de atuação no referido sistema educativo para as escolas estaduais do Ceará.
Os textos e discursos analisados confirmam para a perspectiva da “tradicional ‘tríplice
função’: coordenação do ensino, controlo disciplinar dos alunos e o contacto com as famílias”
(SÁ, 1997, p. 47), na constituição do cerne das atribuições do diretor de turma.
No que se refere às relações que o DT estabelece com a comunidade escolar e a
comunidade educativa, destacam-se os discursos:

Olha a primeira coisa, assim, os primeiros frutos desse resultado foram colhidos nos
primeiros anos, com dois, três anos já era possível a gente verificar. A primeira
questão, a mudança de postura... em nível digamos de, de proficiência, vou usar essa
155

palavra! Na primeira instância a gente ver a postura de professores, então a gente tem
uma mudança, assim na forma dos professores tratarem os alunos do envolvimento
dos professores com a turma, de uma maneira geral no envolvimento dos professores
entre eles professores, nesse diálogo, então a primeira mudança foi nos professores.
A segunda mudança foi nos gestores. Os gestores começaram a se aproximar dos
professores diretores de turma, porque tinha o contato maior com relação a
frequência, com relação à conversa com os pais, em relação com o atendimento com
os pais e os alunos. Digamos que os gestores ficaram mais aliviados em não ter que
atender todos os pais frequentemente, os diretores de turma fazem isso e os gestores
registram. O impacto voltado com relação ao aluno, com certeza foi no controle de
frequência. O controle de frequência na nossa CREDE, ele hoje realmente funciona
de forma maravilhosa, principalmente com a parceria dos monitores do PJF. Então,
assim quando o PJF chega com essa questão da monitoria dos resultados diretamente
voltado para a frequência e da aprovação, já encontrou um terreno bem organizado
pelos diretores de turma com a questão dos ajudantes de sala, controle de frequência
diária e o mapeamento (CRPPDT, 2016, grifo nosso).

No percurso das análises tem se verificado a intenção do desenvolvimento da


significação da “tríplice função” do DT, na escola pública cearense, como se verifica a sua
consecução, ao longo dos anos, no contexto português. Nessa direção, os discursos evidenciam
a efetivação de ações, como, o controlo da frequência, monitoramento dos resultados,
preocupação com as relações interpessoais entre os diferentes segmentos da comunidade
educativa – alunos, pais e ou representantes, professores, gestores –, e mapeamento da sala,
como estratégias do PPDT.
Nas vozes dos (as) professores (as) que atuam no contexto da prática, na escola cearense,
destaca-se:

A gente sente: “eu acho que a gente não consegue dar conta!”, mas você sente uma
certa segurança dos alunos em relação ao professor diretor de turma. Quando a família
procura a escola, procura o diretor de turma, para resolver o problema do filho... seja
até mesmo para pedir uma declaração, para saber se o filho está bem, para saber se o
filho está faltando as aulas… tem o diretor de turma! E há casos né!, do professor
diretor de turma, ter de sair para tentar resolver problemas sérios de família...
terminaram… praticamente é… às vezes é um pouco constrangedor para gente chegar
lá para família, e, dizer assim: “não faça isso”! E ao mesmo tempo você fica sem saída,
porque o aluno joga para ti aquela responsabilidade, está entendendo?! Como se
dissesse assim: “Me ajude”! (PDTEB 1, 2015).

Sobre a mesma questão em análise, as relações entre o PDT e os segmentos da


comunidade educativa o (a) PDTEB 2 (2015), sublinham:

Conhecer mais a família, o ambiente familiar do aluno, que isso é fundamental, leva
a gente a entender como ele chega! Muitas vezes, o aluno chega querendo o que?
Porque tem algum problema em casa... se eu sei que aquele rapaz lá que mora com os
pais, ou daquela moça que não mora com os pais, que mora com um irmão, que não
trabalha, que tem certa dificuldade… eu vou entender o comportamento dela! Mas eu
vejo a preocupação do Estado em montar com este projeto justamente perceber que o
problema da escola está na parte social, está na parte familiar. O aluno que a gente
recebe, ele traz uma bagagem enorme! Ele traz seus anseios, mas ele também traz seus
problemas… E, creio eu, que uma das intenções do Estado, seria tentar fazer com que
a escola pudesse influenciar de certa forma na vida social daquele aluno.
156

Percebe-se que a responsabilidade de acompanhamento do DT, junto aos alunos,


ultrapassa o espaço escolar, ou seja, o elo de comunicação do DT com a família consiste não só
na preocupação com a dimensão do ensino e aprendizagem, mas acaba por interferir nos
problemas pessoais que envolvem os alunos e suas famílias, na perspectiva dessas interferências
contribuírem para o melhor desenvolvimento acadêmico do estudante. Essa questão converge
com a análise de Sá (1997, p. 121), sobre o diretor de turma, no sistema educativo português,
quando este afirma:

[...] é congruente com a nossa sugestão segundo a qual a intervenção do director de


turma junto dos alunos não se orienta tanto para a resolução dos seus problemas
pessoais mas antes se inscreve no quadro de uma acção disciplinadora, orientada para
a correcção dos comportamentos considerados desviantes ou desafiadores da
autoridade docente. Por outras palavras, o director de turma existe para "ser usado"
pelos outros professores para resolver os seus problemas de controlo disciplinar.

Novamente, verifica-se a aproximação entre as significações sobre o cargo/função de


DT, na escola pública estadual cearense, em relação às representações sobre o DT consolidadas
no sistema educativo português, pois, embora em realidades diversas “a ênfase colocada na
participação dos pais é ainda relevante mesmo nos casos em que estes não participam” (SÁ,
1997, p. 123). Em tal contexto, mesmo que a família procure a escola somente quando
solicitada, e ou para tomar informações sobre a vida acadêmica do estudante, ainda assim, os
professores consideram importante conhecer o ambiente familiar de seus alunos.
As dimensões de coordenação do ensino e aprendizagem, acompanhamento disciplinar
dos alunos da turma e a relação com a família, são impulsionadas por um conjunto de estratégias
metodológicas definidas para o DT, na educação portuguesa, em reconhecido percurso
histórico. Estratégias metodológicas como construção, organização, análise do dossiê de turma,
mapeamento da sala, conselho de turma, atendimento individualizado ao aluno, pais ou
responsáveis, componente curricular não disciplinar de formação para a cidadania, são alguns
desses procedimentos, os quais se procura compreender.
Entre as dezesseis estratégias temáticas que compõem o dossiê de turma realçam-se as
mais apontadas nos discursos dos sujeitos, como o mapeamento de sala, o conselho de turma,
dossiê de turma e a disciplina de formação para a cidadania. Nesses termos, em relação ao
mapeamento de sala, destaca-se:

IV. MAPA DA TURMA O mapeamento da turma deve ser feito em primeira instância
com flexibilidade. Os alunos sentam onde querem responsabilizando-se pelo seu
comportamento e regras que são negociadas entre todos e têm que contemplar a
disciplina, concentração, atenção, interesse e respeito pelo outro. Têm prioridade em
157

serem colocados na fila da frente os alunos que tenham dificuldades visuais, auditivas.
A partir do momento em que desrespeitem as regras, automaticamente o mapeamento
será refeito com o consenso de todos os professores da turma. No espaldar da cadeira
será colocado o nome do aluno, bem como o seu respectivo número. Sempre o aluno
sentará nesse lugar. A chamada de frequência será feita pelo professor a partir da
cadeira que está vazia. Tem este modelo o objetivo de rentabilizar o tempo de aula,
levar os alunos a entrarem mais disciplinadamente na sala e melhor memorização dos
nomes dos alunos pelos colegas e pelos professores. Sempre o aluno deve ser chamado
pelo seu nome. Nas atividades de equipe o professor pode mudar os alunos de acordo
com a metodologia que quiser seguir (SEDUC-CE, 2010).

O mapa de sala se configura na disposição dos alunos, no espaço da sala de aula, sob a
organização negociada entre os alunos e professores, e deverá ser observado e cumprido por
todos, no cotidiano da sala de aula, podendo ser (re)negociado quando os envolvidos nessa
dinâmica sentirem necessidade. No que se refere ao “mapeamento de sala”, como denominado
pelos sujeitos, assim como, com todos os instrumentais propostos inicialmente pelo PPDT, que
foram reconfigurados para atender à realidade brasileira. Com relação às referidas alterações
realizadas nos instrumentais e adequação das metodologias, destaca-se a fala deste excerto:

Os instrumentais foram reformatados, isso, reconcebidos! Porque eles, porque a


versão primitiva, a versão primeira, era muito cheia de termos “portugueses”, de
informações redundantes né!? É, de instrumentais que não se aplicavam a nossa
realidade educacional, eles eram em número muito maior, e aí por conta de todas essas
questões e de algumas outras especificidades, a SEDUC considerou oportuno nós
montarmos uma comissão para analisarmos esses documentos. E relançarmos no
estado, para enxugá-los, reformatá-los e encaminhar a realidade brasileira. Então essa
foi a primeira, aí as outras alterações que foram surgindo, na realidade elas são... eu
diria que adequações também a realidade brasileira. Por exemplo, como trabalhar a
questão da implantação e da implementação do mapeamento de sala, não
necessariamente na perspectiva orientada pelo projeto, mas por uma série de
questões... Vamos fixar o nome dos alunos das carteiras! Aí a turma de manhã tem
diretor de turma e de tarde não tem! Enfim, os meninos arrancam, uma série de
dificuldades né?! (PCEPPDT, 2015).

Percebe-se uma implícita preocupação em seguir as orientações do PPDT, embora se


observe as reinterpretações e adequações realizadas nos contextos de atuação. No que se refere
ao mapeamento de sala, conforme as observações realizadas no contexto português, verifica-se
certa tranquilidade nesse procedimento e, em caso de possíveis alterações, estas eram alvo de
diálogo, entre os professores, no conselho de turma. Contudo, o pensamento de que “o
mapeamento promove uma gestão maior da sala de aula” (CRPPDT, 2016) é observado nos
dois lados, Brasil e Portugal.
Em relação à componente curricular, não disciplinar, denominada “Formação Cidadã”,
o documento de orientação preconiza:

Esta área curricular tem por objetivos e orientações o desenvolvimento humano, a


participação democrática, a coesão social. À luz dos princípios e valores orientadores,
a Formação Cidadã, afeta transversalmente todo o processo educativo. As suas
158

competências refletem necessidades sentidas por todos os atores envolvidos na


formação do aluno (SEDUC-CE, 2010).

Conforme as análises explicitadas neste percurso investigativo, conclui-se que há a


disponibilidade de uma hora aula para a “Formação Cidadã”, que os objetivos são na
perspectiva da formação humana, social e participativa e, ainda, que não há uma definição fixa
de conteúdo a ser tratados em sala de aula. Isto ocorre porque os assuntos perpassam
transversalmente o processo educativo e demandam necessidades dos atores envolvidos, ou
seja, dos alunos e professores. Sobre a formação cidadã, anota-se:

Também eles (DT) ajudam a gente a ser educados né!? A aula de formação cidadã,
formando cidadãos né!? Fazendo da gente alguém que tenha um pensamento
diferente, aí tipo... pessoas que usam drogas, que bate na namorada... a pessoa que
mude de opinião, de ideia e seja uma pessoa melhor (AEB 2, 2015).

A componente curricular se configura um elo, entre o PDT e a turma, um espaço para a


reflexão dos problemas e interesses que os alunos estão vivenciando e que, nesse momento,
demandam diálogos, sem o compromisso disciplinar do conteúdo e avaliação.
Embora, como mencionado, o PPDT tenha um conjunto de estratégias far-se-á destaque
mais detalhado sobre o dossiê de turma e conselho de turma, posto que, são ações que
mobilizam as demais.

6.2 O Dossiê de Direção de Turma

O dossiê de turma é um conjunto de documentos que são denominados como


instrumentais pelos sujeitos em seus discursos. O referido conjunto de documentos,
denominado dossiê da turma é organizado numa pasta (az) para cada turma e ou ano escolar e
disponibilizado num espaço da escola reservado para os DT, as escolas visitadas nos dois
contextos estudados, dispõem de sala específica para os diretores de turma. Por ocasião das
visitas realizadas na EB, em conversas informais com a direção da escola, foi relatado que a
disposição e logística de uma sala específica para os professores diretores de turma, foi um
requisito para a adesão ao PPDT.
As diretrizes para a organização do dossiê de direção de turma, contidas no documento
de orientação para a escola cearense, recomendam:

9. Organização do Dossiê de Direção de Turma. O Dossiê é organizado numa pasta


(az) para cada turma e respetivo ano escolar. Pode e deve também ser
concomitantemente digitado em computador e inserido numa pasta para cada direção
de turma. Depois é só imprimir e colocar os instrumentais na pasta az que ficará
159

guardada em armário no espaço em que a escola reservar para a direção de turma. Este
dossiê é para ser consultado pelo núcleo gestor, professores da turma, supervisor,
superintendente ou outras pessoas superiormente hierárquicas e analisado pelo diretor
de turma sempre que necessário e no atendimento aos pais de cada discente ou
responsáveis pela educação. É nessa pasta que se colocam todos os instrumentais que
nos vão levar ao conhecimento de cada aluno. A capa deve ser dividida por
separadores elaborados em papel colorido 40 quilos por onde se distribuem os
respectivos instrumentais (SEDUC-CE, 2010, p. 6).

No interior da pasta, os documentos são categorizados por temáticas e, para tal existe
um conjunto de separadores, assim também denominados na EP. O conjunto de separadores
utilizados na rede pública estadual de ensino no Ceará, estão determinados em: I. Identificação
da turma; II. Calendário; III. Registro fotográfico dos alunos; IV. Mapa da turma; V.
Caracterização da Turma; Horário e relação da Turma; VII. Ficha biográfica; VIII. Registro de
faltas; IX. registro de atendimento (pais e alunos); X. Registro de ocorrências; XI.
Convocatória: XI.1. Convocação do representante de pais; XII. Atas; XIII. Coleta de
informações; XIV. Avaliação; XV. Projetos da turma; XVI. Legislação vigente (SEDUC-CE,
2010).
Não se pode afirmar com certeza, embora tenham sido feitas análises dos documentos,
o estudo das referências bibliográficas convocadas, as observações realizadas no campo
empírico, apontam na direção de uma tentativa de reprodução dos textos e discursos, de um
contexto para outro, por parte dos atores interessados na consecução da política educativa, no
espaço, tempo e lugar que se analisa neste estudo, ou seja, o PPDT na escola pública cearense,
porém, se observa significativas aproximações. Nessa significação, realça-se o discurso da
Consultora Externa Portuguesa (CEP), investida do mandato de especialista educacional sobre
o assunto:

Pronto, eu levava uma série de documentos para serem estudados e serem adaptados
à realidade do Ceará. Hmmm, sim era… alguns eram do sistema educacional
português, mas já adaptados à minha maneira aqui, portanto eu já dentro da minha
sala de aula já fazia a documentação… já era diferente, já não era rígida como vinha
na Lei de Bases do 115. Os meus eram já diferentes… eu tinha um dossiê onde eu
fazia, baseado em alguns estudos que fiz de psicologia, em psicologia aplicada e
mesmo com o estudo e contato, eu tinha bastante contato com Dr. Juan Casassus, esse
tal psicólogo e sociólogo chileno. Portanto, eu já tinha uma série de documentação,
de instrumentos que eram… seguiam um pouco a linha dos portugueses, mas eu
modificava-os, ou seja, adaptava-os a cada turma. Cada ano era diferente! Portanto,
eu ia adaptando à realidade que eu tinha dentro da sala, daí eu ter levado para lá e
verificar que a realidade do Ceará era diferente da realidade portuguesa, e então, em
grupo com vários professores fizemos, adaptamos os instrumentos que eu levei daqui
à realidade do Ceará e depois foram sempre também adaptando mais (CEP, 2016).

Com base nos discursos dos atores responsáveis pela interpretação do projeto em tela
como “processo político institucional, uma estratégia, uma ‘cadeia de gênero’, um processo de
160

explicitação, esclarecimento e criação de uma agenda institucional” (BALL; MAGUIRE;


BRAUN, 2016, p. 69), na organização educativa do estado Ceará e na perspectiva da tradução
dos textos da política para a prática, considera-se que se trata da interpretação de um ator social
de uma realidade díspar do contexto brasileiro, com o sistema educativo português. Conclui-se
que não houve articulação entre os sistemas educativos, muito menos, um estudo da estrutura e
objetivos do DT em Portugal, antes da inserção desse sujeito, o diretor de turma, na organização
da educação cearense.
Embora as análises apontem que PPDT se trata da reinterpretação do DT do sistema
educativo português, imbuído de considerável processo de tradução, adequação dos textos e
discursos na educação cearense, ainda assim, observam-se fortes aproximações, como os
argumentos sobre a importância e utilidade do dossiê para subsidiar a reunião do conselho de
turma, conforme Lima (1986, p. 24) sublinha:

O dossier do Director de Turma e o livro de ponto e de sumários da turma devem estar


à disposição dos membros do conselho, durante a reunião. E na base do registro
efectuado no dossier que as faltas são confirmadas. Contudo, se os números
fornecidos pelo Director de Turma e por cada um dos docentes não forem
coincidentes, então só uma consulta ao livro de ponto poderá esclarecer quantas faltas
deu efectivamente um determinado aluno e uma determinada disciplina, durante o
respectivo período lectivo (LIMA, 1986, p. 24).

O dossiê de turma reuniu informações detalhadas sobre rendimento escolar; número de


faltas; ocorrências de atendimento individualizado, aos alunos, pais e ou encarregados de
educação; dentre tantas outras produções de acompanhamento individuais de cada aluno. Dessa
forma, observa-se que o dossiê de turma configura um acervo de registros importante para a
avaliação de cada estudante. Nessa direção, o documento orientador do PPDT preconiza:

O dossiê como já exposto acima é formado por instrumentais, bastante detalhados,


que possibilitam um amplo conhecimento dos alunos, pela relevância das informações
pessoais e acadêmicas que acumulam. É imprescindível que o diretor de turma comece
a recolher as informações pessoais dos alunos, logo no início do ano letivo. Ao longo
do tempo, entretanto, devem permanecer atentos à atualização dos dados dos alunos;
arquivar suas produções individuais significativas; sua auto avaliações; as avaliações
dos professores (de todas as disciplinas), sua frequência etc., de forma a produzir
material suficiente para o acompanhamento satisfatório do desempenho dos alunos
(SEDUC-CE, 2010, p. 6).

Entre o texto e o discurso, na voz dos atores em atuação, verifica-se uma preocupação
com a explicitação da utilidade de cada instrumental para afastar a impressão do trabalho
burocrático desnecessário, como argumenta o (a) CRPPDT (2016),

A gente tem um leque de instrumentais aí usados cotidianamente, cerca de vinte


instrumentais é o que a gente utiliza. E assim, todo diretor de turma a primeira coisa
pra saber, é que instrumental ele precisa, quem preenche o instrumental e para que ele
161

serve. Porque é isso que a gente considera essencial, sair desse campo de construir um
instrumental de forma burocrática, ou seja, construir algo que ninguém vá utilizar.

Na sequência do mesmo discurso:

Então, nosso maior desafio hoje é mostrar para todos os professores diretores de
turma, qual é a funcionalidade de cada um, e o desafio maior ainda é mostrar que
aqueles instrumentais aí, que eles não são só obrigação dos diretores de turma. Então,
a gente ganhou muito quando a gente começou a fazer essas formações deixando bem
claro: esse grupo de instrumentais aqui é para o gestor, esse grupo aqui é para o
professor, esse grupo de instrumentais aqui são para os alunos, esse grupo aqui é para
o diretor de turma. Então o papel do diretor de turma é mais organizar e avaliar o
dossiê do que propriamente construir, e aí a gente começa a ter um projeto diretor de
turma exequível e com uma maior aceitabilidade, com maior efetivação (CRPPDT,
2016).

Verifica-se que a construção do dossiê de turma não é vista como atividade necessária,
portanto, se explica o fato de ser um desafio convencer os professores da importância do
preenchimento dos inúmeros “instrumentais”, propostos na metodologia do PPDT, dado que os
discursos dos PDT, por vezes, revelam que tal atribuição chega a ser vista como burocrática,
aspecto também observado na realidade portuguesa.

6.3 O Conselho de Turma

O conselho de turma trata-se “de um nível para onde convergem elementos tão
importantes como o agrupamento de alunos e dos professores, o acompanhamento, orientação
e avaliação dos alunos, a coordenação interdisciplinar, as relações com os encarregados de
educação, etc.” (LIMA, 1986, p.7), aspectos que se observa transferidos no “plano das
orientações para a ação” para o contexto da escola brasileira, onde se encontra em atuação o
PPDT, onde se percebe a manutenção de “um aspecto particular da sua organização e das suas
funções - as reuniões de avaliação do rendimento escolar dos alunos em final de período
lectivo” (LIMA, 1986, p. 7).
No texto que orienta o PPDT, a chamada pública para adesão ao projeto professor diretor
de turma (SEDUC-CE, 2010), no item 11, onde é simulada uma reunião intercalar de conselho
de turma, de acordo com a pauta que segue:

I. Pauta da Reunião PONTO 01: Informações do núcleo gestor PONTO 02: Entrega
de instrumentais aos professores da turma PONTO 03: Análise e reflexão com os
representantes dos pais e dos alunos sobre a dinâmica da turma PONTO 04:
Caracterização da turma PONTO 05: Avaliação intercalar da turma PONTO 06:
Outros assuntos (SEDUC-CE, 2010, p. 14).
162

O documento segue detalhando cada ponto proposto de pauta, descrevendo


minuciosamente cada momento, ou seja, o que deve ser realizado antes, durante e depois da
reunião do conselho de turma. Sobre a pauta da reunião do conselho de turma, Lima (1986, p.
22) sublinha, “a pauta é um documento cujo preenchimento se reveste de grande importância”,
e prossegue com a explicação de que, “após a reunião, o Director de Turma procederá à sua
assinatura e apresenta-la-á ao presidente do conselho directivo que a assinará, depois de
verifica-la, e de se certificar de que não existem incorreções e rasuras (LIMA, 1986, p. 22).
De acordo com o que pode ser observado na sequência extraída do documento de
orientação para a política educativa, nas escolas cearenses, considera-se, como mencionado
anteriormente que, no “plano das orientações para a ação”, houve uma aproximação com as
diretrizes em prática, no sistema educativo português. Na sequência das orientações para a
reunião do conselho de turma, podem-se observar aspectos importantes do processo em estudo:

Finalmente, o presidente da reunião solicita ao representante dos pais e aos alunos que
avaliem a importância de sua participação na reunião. Apesar do constrangimento
provocado pela avaliação dos professores, na presença dos mesmos, normalmente, os
alunos sentem-se bastante satisfeitos, pela oportunidade de expressar sua opinião a
respeito da dinâmica das aulas e da conduta dos alunos, assim como pela oportunidade
de espaço para que façam suas reivindicações. Quanto aos representantes de pais,
alegram-se por saber que a escola está dando vez e voz aos alunos e aos pais, na busca
de realizar um trabalho mais eficiente (SEDUC-CE, 2010, p. 14).

As orientações conclusivas contidas nas diretrizes para o conselho de turma indicam


que “Os alunos são orientados a manter discrição sobre tudo que foi tratado, ao longo de sua
permanência na reunião, devendo repassar à turma somente o que for adequado” (SEDUC-CE,
2010, p. 14). Tal como, o diretor de turma realça que deve ser dada ênfase “a importância da
participação do representante dos pais e dos alunos para o enriquecimento da reunião, agradece
suas presenças e os dispensa, dando sequência à reunião com os profissionais da escola e da
CREDE, se for o caso” (SEDUC-CE, 2010, p. 14).
Contudo, os discursos dos atores presentes nas arenas de atuação do PPDT chamam a
atenção para tensões levantadas nos contextos da trajetória da política educativa, ou seja, no
“plano da ação”. Nesta direção, ainda sobre a pauta evidencia-se:

A gente ia para uma formação que ... (CEP) colocava pra gente o passo a passo. A
pauta do conselho de turma da realidade de Portugal, ela não... não... não se adequava
a realidade do nosso conselho de turma, onde todos os meninos ficavam na escola, os
professores ficavam no conselho e quem ficava com os meninos? Os nossos meninos
ainda não estavam acostumados a protagonizar numa sala de aula sozinhos! Então,
ficava todo tempo gente saindo, os gestores horrorizados com essa história de ter de
tirar todos os professores de sala e quem vai ficar com os meninos? (CRPPDT, 2016).
163

Com base na fala citada, pode se considerar o que se verifica ao longo da análise, ou
seja, que no “plano das orientações para a ação” houve uma tentativa de transferência das
orientações existentes no sistema educativo português, usado como inspiração. Entretanto, no
“plano da ação”, a atuação dos sujeitos envolvidos (re)interpreta, traduz e (re)contextualiza o
que supostamente deveria ser posto em prática, conforme as orientações, aspectos que não
configuram a redução da importância dada ao órgão do conselho de turma, em análise.
Nesse sentido, compete distinguir a importância dada ao conselho de turma, nos
discursos dos discursos dos atores sociais envolvidos nas arenas de atuação, do objeto estudado,
o DT. Os excertos dos discursos foram sublinhados aleatoriamente entre as duas realidades,
embora os destaques tenham início com discursos da realidade brasileira, posto que, se trata
objetivamente da construção significativa, que procurou desvelar neste estudo. Desse modo, o
primeiro excerto sobre a temática do conselho de turma trata-se da fala do Primeiro
Coordenador Estadual do Projeto Professor Diretor de Turma (PCEPPDT):

Uma das práticas pedagógicas estruturantes desse modelo de gestão desse projeto são
as reuniões de conselho de turma e essas reuniões elas contribuem para que a
comunidade escolar consiga alcançar com um nível de profundidade maior, as
especificidades de cada estudante, (...) a maneira como cada docente põe em prática
as suas ações pedagógicas em sala de aula. (...) as reuniões do conselho de turma, se
caracterizam como uma das principais práticas pedagógicas do professor diretor de
turma. Então, nesses encontros a gente primeiro conhece melhor os sujeitos, segundo
são traçadas metas pedagógicas, práticas pedagógicas para desenvolver o desempenho
acadêmico dos estudantes e termina: fortalecendo os laços as interações entre os
sujeitos dali. Os professores se percebem no outro, os professores fazem uma auto
avaliação. Então, a sua prática é avaliada pelos estudantes, então é um momento de
interação muito importante que termina contribuindo para melhoria das relações, dos
laços aí entre os diferentes segmentos da comunidade né! (PCEPPDT, 2016, grifo
nosso).

O conselho de turma é apontado como sendo “uma das práticas pedagógicas


estruturantes desse modelo de gestão”, quer dizer, do PPDT. Conforme o discurso citado, a
reunião do conselho de turma é o momento em que os professores realizam uma autoavaliação,
avaliam a turma, são avaliados, resultando em profícua interação entre os representantes dos
diferentes segmentos de atores envolvidos na comunidade escolar. A respeito da composição
do conselho de turma, Lima (1986, p. 20) detalha:

O Conselho de Turma, quando reúne para avaliar o rendimento escolar dos alunos, é
composto por todos os professores da turma e é presidido pelo Director de Turma (que
é também um professor da turma). Tratando-se de uma reunião de avaliação, a
legislação estabelece que o aluno delegado da turma não poderá estar presente. Não
se tratando de uma reunião de cáracter disciplinar, também não participarão um
segundo aluno da turma e um representante dos encarregados de educação, nem será
o Presidente do Conselho Directivo a presidir à reunião.
164

O trabalho de Lima (1986), citado, embora tenha mais de trinta anos da sua publicação
mantém-se atual, posto que, as diretrizes sobre o DT no sistema educativo português, pelo que
se observou, sofreram ao longo dos anos poucas alterações, posto que, as incursões realizadas
no campo de estudo revelaram que as determinações para a composição do conselho de turma
permanecem as mesmas.
Nessa direção, verifica-se, no artigo 37, do Regimento Interno 2014/2018 do
agrupamento de escolas do qual a escola onde foi realizado o estudo de caso, em Portugal, faz
parte, acentua-se a importância da composição do conselho de turma:

1. O conselho de turma tem a seguinte composição: a) Todos os professores da turma,


incluindo o(s) da educação especial, sempre que haja alunos com necessidades
educativas especiais; b) O aluno delegado de turma, que pode fazer-se acompanhar
(ou substituir) pelo delegado; c) O representante dos pais e encarregados de educação
dos alunos da turma, que pode fazer-se acompanhar (ou substituir) pelo suplente,
eleitos de entre e por aqueles na reunião de apresentação no início do ano letivo. 2.
Nas reuniões de avaliação sumativa, ou sempre que se trate de matéria sigilosa, apenas
participam os membros docentes.. (EP, 2014, p. 32).

Conforme se pode analisar, entre a análise de Lima (1986) e o excerto acima citado, a
composição do conselho de turma se mantém com a mesma composição. Entretanto, nas
reuniões do conselho de turma, observadas no trabalho de campo em diferentes momentos do
ano, não foi registrada a participação de delegados de sala e nem de representantes de pais e ou
encarregados de educação.
Subscreve-se, com a opinião de Lima (1986), ao afirmar que a turma se caracteriza um
nível elementar, contudo, nuclear na organização de ensino, consoante seus termos:

Quer isto dizer que a turma parece constituir um nível privilegiado para a necessária
coordenação pedagógica e interdisciplinar, para a solução de problemas disciplinares,
para o contacto entre as escolas e os pais e encarregados de educação dos alunos, e
para muitos outros aspectos relacionados com as implicações pedagógicas da selecção
e gestão de espaços, elaboração de horários, etc. (LIMA, 1986, p. 9).

A turma se caracteriza pelo nível favorável à mobilização do acompanhamento


“desmassificado”, como sugere a premissa do PPDT, para o professor investido da autoridade
representativa da instituição escolar, realize o trabalho coordenação pedagógica e
interdisciplinar.
O conselho de turma caracteriza-se como um órgão de apoio pedagógico e disciplinar,
com a participação docente, discente, e de representantes dos pais e ou encarregados de
educação (LIMA, 1986), feições estas transpostas para a experiência em andamento nas escolas
públicas do estado do Ceará, Brasil.
165

Por conseguinte, mesmo considerando as múltiplas particularidades entre os sistemas


educativos das realidades que se procura compreender o DT, observa-se que existem
significativas aproximações, posto que, analisando os documentos, a trajetória da prática
educativa em andamento nas escolas públicas do Ceará, as observações realizadas nos contextos
de investigação e os discursos dos atores, pode-se verificar que, inicialmente, houve uma
tentativa de transposição das estratégias investidas no cargo/função de DT, consolidado em seu
percurso histórico no sistema educativo português, para um contexto um educativo totalmente
diverso.
Contudo, são perceptíveis as (re) interpretações, traduções e adaptações, que ocorreram
nas arenas de atuação, no campo educativo onde o PPDT está em andamento. Nesse cenário, é
evidente que o PPDT imprimiu a figura do DT, na estrutura organizacional da escola cearense,
mantendo significações propostas nas orientações textuais e discursivas, deslocada da outra
realidade educativa e sob interesses educacionais orientados para a garantia da redução do
abandono escolar e melhoria dos resultados de aprendizagem, no ensino médio, etapa da
educação em atuação no estado do Ceará.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscou-se, na pesquisa intitulada “Professor Diretor de Turma: um estudo entre Brasil


e Portugal acerca de uma política educativa do Estado do Ceará”, analisar a forma como os
atores da organização educativa (gestores, professores, alunos e pais) se apropriaram das
significações do cargo/função do professor diretor de turma, no contexto, da escola pública
estadual regular do estado do Ceará-Brasil, no período de 2011 a 2014.
Vale evidenciar que as conclusões aqui apresentadas podem se configurar em
considerações eminentemente passíveis de outras diferentes interpretações e de diferentes
resultados, em pesquisas futuras. Contudo, acredita-se ter conseguido responder às questões
levantadas no início do estudo: Como foi o processo histórico da instituição do cargo/função de
professor diretor de turma no sistema educativo português e quais as concepções atribuídas a
166

tal cargo no contexto de sua origem à atualidade? Como se deu a trajetória do Projeto Professor
Diretor de Turma em todos os contextos de atuação nas escolas públicas estaduais regulares de
ensino cearense, no marco temporal de 2011 a 2014? e Quais as aproximações e
distanciamentos das significações do cargo/função de diretor de turma entre os dois contextos,
Brasil e Portugal?
Os dados analisados no decorrer deste estudo sob a lente do quadro teórico-analítico do
ciclo contínuo de políticas – contexto da influência, contexto da produção do texto, contexto da
prática, contexto dos efeitos/resultados e contexto da estratégia política – e a perspectiva da
escola como organização educativa, de que se lançou mão para interpretar as evidências
encontradas neste empreendimento investigativo, revelam, neste estágio, as percepções
factíveis, explicitadas neste relatório de tese, embora se tenha consciência de que esta se trata
de uma contribuição momentânea e não um ponto final para a análise do objeto estudado. Feitas
estas considerações iniciais, segue-se com as conclusões, para a finalização deste trabalho, que
se afigura como um marco inicial para novas possibilidades de reflexão sobre a temática
estudada, em outros espaços, acadêmicos ou não.
Considera-se a importância da contribuição deste estudo e se admite o reconhecimento
das suas possibilidades, sobretudo, no que se refere à análise dos dados recolhidos no campo
empírico. Nesse sentido, a primeira distinção a ser feita diz respeito ao volume de dados
recolhidos, e apresentados, neste relatório de tese. Para o entendimento do percurso, resgata-se
que foi realizado um levantamento prévio on line no qual 480 (quatrocentos e oitenta)
professores da rede estadual de ensino responderam a um questionário, 21 (vinte e uma)
entrevistas semiestruturadas, 18 (dezoito) visitas na EB entre os meses de abril a agosto de
2016, e 38 (trinta e oito) visitas na EP, entre os meses de setembro de 2015 a julho de 2016. A
partir deste trabalho de investigação, foram reunidas 33 (trinta e três) páginas de notas de campo
e 171 (cento e setenta e uma) páginas de transcrições das entrevistas. Apesar do volume e
riqueza dos dados, o tempo exíguo determinado para um trabalho de tese, impõe ao pesquisador
fazer suas opções. No entanto, tal circunstância, não minora o valor do resultado aqui
apresentado, o qual, aponta-se para a capacidade de pesquisas a posteriori. A segunda distinção
consiste na observação de que as abordagens analíticas oferecem potencial para uma incursão
ao âmago das problemáticas que envolvem a política estudada, contudo, pelas mesmas razões
anteriores determinou-se que se buscassem respostas, apenas, para as questões específicas desta
pesquisa, o que se considerou uma escolha sensata para aqueles que se determinam a realizar
um trabalho de tese, mesmo que novas indagações tenham surgido no curso do trabalho.
167

À guisa de síntese da pesquisa, determinou-se desenredar os achados relevantes,


analisados no percurso do estudo, com destaque para os aspectos estruturados neste relatório de
tese, tomando-se a política educacional do estado do Ceará como ponto de partida. Deste modo,
considerou-se como pontos relevantes, as opções teóricas analíticas para compreender o objeto,
o percurso metodológico realizado, a trajetória do PPDT em atuação na escola pública estadual
cearense, as significações sobre o cargo/função de DT construídas na escola brasileira em
relação à escola portuguesa, tal seja, efetivamente, o PPDT em atuação na escola pública
estadual cearense como resultado do processo da reinterpretação da interpretação dos atores dos
grupos de interesses, sobre o diretor de turma existente na estrutura educativa portuguesa.
No tocante ao PPDT, como política educativa, inserida no conjunto que constitui a
política educacional do Ceará − estado do Nordeste brasileiro −, apontado como referência na
educação, na perspectiva das orientações macroestruturais que pautam as construções da
legislação e estratégias para todas as áreas de atuação do Estado, sobretudo, a educação, ponto
de partida desta análise. Importante ressaltar que, inicialmente, o que chamou a atenção para
procurar compreender o PPDT, foi o conjunto dos discursos impressos nos seus textos e
mecanismos de mobilização dos atores envolvidos na dinâmica educativa da rede de ensino.
Assim, o PPDT, sob a premissa da “desmassificação do ensino”, com vistas “a construção de
uma escola que eduque a razão e a emoção”, “com plenos objetivos de acesso, permanência
sucesso e formação do cidadão” (SEDUC-CE, 2010), o PPDT se sobressai como sendo uma
política educativa voltada para a formação integral e emancipatória, em meio às políticas
educativas focalizadas nos resultados aferidos pelas as diferentes avaliações, pelas quais são
submetidos os professores, a escola, os alunos e a gestão da escola, à exemplo, do Sistema
Permanente de Avaliação Básica do Ceará (SPAECE); do Sistema de Avaliação da Educação
Básica (SAEB) e do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).
A despeito dos discursos impressos nos textos de orientação do PPDT, as vozes dos
sujeitos entrevistados, nos contextos de atuação, demonstram que foi atribuído, ao PDT, a
responsabilidade pelo controle da frequência; o monitoramento dos resultados; a coordenação
disciplinar da turma e a mobilização das relações que se estabelecem entre os atores da
organização educativa, a “‘tríplice função’: coordenação do ensino, controlo disciplinar dos
alunos e o contacto com as famílias”, justificada por Sá (1997, p. 47), em seu estudo sobre o
DT, no sistema educativo português. Nestes termos, pode-se considerar como uma aproximação
sobre as significações do cargo/função de DT, entre os dois contextos.
Dito isso, verificou-se que o objetivo implícito da política educativa em análise é a
redução da infrequência, evasão e abandono, problemáticas que se apresentam com elevados
168

índices, sobretudo, na última etapa da educação básica, o ensino médio. Nessa direção, os
depoimentos apontaram para o efeito/resultado positivo do PPDT, no esforço visível em
acompanhar sistematicamente de forma individualizada a frequência e o desenvolvimento da
aprendizagem de cada aluno. Entende-se que esta particularidade, se caracteriza como um
distanciamento da política educativa no Ceará/Brasil em relação a Portugal, visto que, no
sistema educativo português o DT é instituído na estrutura da organização escolar em 1968 no
Ciclo Preparatório do Ensino Secundário, − julga-se para efeito de entendimento, corresponder
ao ensino fundamental anos finais no Brasil −, com a preocupação de orientar a continuidade
dos estudos dos alunos no ensino secundário – o ensino médio na educação básica brasileira.
Acredita-se ser importante relembrar a reflexão sobre o fato de que a educação pública
estadual do Ceará tem suas bases inovadoras no contexto da reforma do Estado brasileiro
iniciada no final dos anos de 1980, e a reforma da educação que se desdobrou nos anos de 1990.
Nesse contexto, as políticas educacionais mobilizadas na educação cearense não foram somente
desdobramentos das políticas educacionais produzidas pelo governo federal, pois houve
associação concreta com os movimentos de abrangência global, posto que, as autoridades
políticas locais tinham influência junto aos organismos multilaterais, inclusive, quanto à
obtenção de empréstimos (LEITÃO, 2010; VIEIRA, 2007; ZIBAS, 2005, 2008). Nesse
meandro, se insere a perspectiva da política educacional em andamento nas escolas públicas
estaduais do Ceará, em diversas políticas educativas, projetos e estratégias para alcançar os
resultados exigidos dentro do modelo da performatividade que regula a educação brasileira.
Nos documentos da SEDUC-CE, embora desatualizados, mantém-se a matriz de GPR (gestão
por resultados), a agenda estratégica, planos setoriais, tecnologias de gestão, voltadas para a
gerência empreendedora da educação, posto que, na perspectiva da performatividade “as
organizações são ‘ativadas’ para pensar sobre elas de forma diferente, em termos de seu
desempenho ou em relação a ele” (BALL, 2014, p. 65).
Sobre as opções teóricas, ressalta-se que as perspectivas analíticas em que se ancorou
esta investigação, assentam-se na abordagem do ciclo contínuo de política (BOWE; BALL;
GOLD, 1992; BALL, 1994), na compreensão sobre política, como também, na interpretação,
tradução e atuação, como categorias presentes na trajetória de construção e atuação das políticas
(BALL; MAGUIRE; BRAUN, 2016), sobretudo para a educação, entre outros conceitos
importantes para a análise de políticas educativas, como é o caso da compreensão do que vem
a ser performatividade (BALL, 2014). Quanto às concepções da escola como organização
educativa, de Lima (1992, 2001) oferecem um potencial analítico para compreensão dos
objetivos e estrutura do objeto estudado, na essência das relações que se estabelecem na
169

dinâmica educativa, contudo, optou-se por entender a política educativa estudada entre o “plano
das orientações para a ação” e o “plano da ação”, procurando observar as articulações entre as
duas concepções teóricas.
O estudo de realizado pela pesquisadora no Instituto de Educação da Universidade do
Minho (UM), em Portugal, por ocasião do estágio científico avançado de doutoramento pelo
Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE), com foco sobre “a escola como
organização educativa” (LIMA, 1998, 2001), numa abordagem assentada à sociologia das
organizações educativas, exerceu sobre esta investigação forte influência na maneira de
direcionar o olhar analítico para a escola, tal como, a identificação e interpretação dos dados.
Identifica-se, nesse modelo de análise, a potencialidade para imergir nos objetivos e estruturar
o objeto estudado, contudo, fez-se a opção por analisar a política educativa do PPDT, sob a
abordagem do ciclo contínuo de política (BOWE; BALL; GOLD, 1992; BALL, 1994), com as
contribuições de Lima (1986, 1992, 2001, 2011) e Sá (1997), por serem estes estudiosos
reconhecidamente conhecedores da figura do DT, nos diferentes níveis da organização
educativa.
As contribuições do referido estágio de doutoramento versam, para além da academia,
com experiências vividas em diferentes espaços educativos, porém, ressalta-se a relevância do
trabalho de campo, realizado em uma escola de ensino secundário, no Norte de Portugal, no
período de setembro de 2015 a julho de 2016, para o entendimento da gênese, objetivo, estrutura
e representação do DT, no sistema educativo português. Tais dimensões revelam-se
substantivas, para a análise das significações construídas sobre o cargo/função de PDT, na
escola pública estadual do Ceará, tal como, conhecer a arqueologia das representações sobre o
DT no sistema educativo português, seu funcionamento no atual contexto para melhor analisá-
lo como política educativa, em outro contexto.
Portanto, considera-se esta compreensão sobre DT, no contexto português, como
significativa, para a análise do PPDT, enquanto política educativa que propõe em seus
objetivos, “oferecer uma educação sustentável que contemple a formação cidadã do educando,
estimulando sua participação na vida social, com a tomada de consciência dos problemas que
afetam a humanidade” (SEDUC-CE, 2010, p. 1), para além de “manter a assiduidade dos
alunos, estimulando sua permanência na escola e elevando o grau de sucesso de aprendizagem”
(SEDUC-CE, 2010, p. 1), entre outros objetivos na direção articulação dos professores, alunos,
família, gestão e comunidade escolar para uma “educação que vise a excelência” (SEDUC-CE,
2010, p. 1). Objetivos estes que despertam, desde muito cedo, a atenção para esta política
educativa, por se tratar de uma proposta de inovação no campo educacional brasileiro.
170

Diante destes reconhecimentos, aponta-se para o potencial heurístico do objeto aqui


desvelado, por meio da abordagem qualitativa, com método de estudo de caso único, realizado
em dois contextos; um, tomando-se como unidade de análise a SEDUC-CE e, com uma
subunidade de análise, uma escola brasileira (EB); e outro, com uma unidade de análise em
uma escola portuguesa (EP); ou seja, com duas variações de projeto - holístico e integrado.
Neste diapasão, a pesquisa teve como base as proposições teóricas para refletir sobre as
questões de pesquisa e, na revisão da literatura, seguido da classificação mecânica dos dados e,
posteriormente, da análise indutiva e dedutiva dos achados no campo empírico. Por
conseguinte, considera-se que esta metodologia, aliada ao modelo de análise, contribuiu para
desvendar as interpretações subsumidas nos textos e discursos da política educativa PPDT, na
escola pública estadual cearense de ensino regular, no marco temporal de 2011 a 2014, embora
se tenha dados que ultrapassam essa temporalidade.
Relativamente à trajetória do PPDT, nos diferentes contextos de atuação da política, não
obstante, os discursos dos atores investidos de autoridade educacional local, em nível meso,
especificamente, no contexto educação cearense, apontem na direção da influência de uma
entidade educacional brasileira com relevante percurso histórico marcado por reflexões, debates
e direcionamentos sobre a educação no Brasil, além do considerável prestígio internacional no
campo da educação como o fato de ser apoiado pela ANPAE. Analisa-se que houve uma
influência local em nível meso, associada ao prestígio da citada instituição, posto que, a
idealizadora e mobilizadora, junto a SEDUC-CE, tratava-se de uma especialista em educação
membro da ANPAE, com expressiva atuação no campo educacional cearense e reconhecimento
político.
Com base nas análises realizadas, percebeu-se que não foi efetivado um debate
institucional sobre o cargo/função de DT – no sistema educativo português –, no sentido de
compreender o seu percurso histórico, objetivos e estrutura. Também se concluiu que não
houve, por parte da SEDUC-CE, um investimento investigativo nos estudos científicos como
os realizados pelos especialistas em educação de Portugal, que se debruçaram em suas pesquisas
para desvelar a representação do DT, no sistema educativo daquele país. Igualmente, não se
registra uma articulação ampla da instituição citada como mobilizadora, do modelo implantado
na escola pública do Ceará, a ANPAE.
Consequentemente, pode-se concluir que o PPDT, constituído na educação cearense, é
consequência da “interpretação da interpretação”, sobre o DT existente no sistema educativo
em Portugal, desde 1968, com esta nomenclatura, passando pela metamorfose do diretor,
conforme explica Sá (1997): por diretor de ciclo, em 1936, e antes, diretor de classe (1895).
171

Compreende-se que “a política é complexamente codificada em textos e artefatos e é


decodificada (e recodificada) de forma igualmente complexa” (BALL; MAGUIRE; BRAUN,
2014, p. 14), portanto, “falar em decodificação e recodificação sugere que a ‘formulação’ da
política é um processo de compreensão e tradução - que obviamente é” (BALL; MAGUIRE;
BRAUN, 2014, p. 14). Por conseguinte, a política educativa que se materializa na escola pública
cearense passou por um processo de decodificação e recodificação na travessia de uma
realidade a outra, sofrendo recontextualizações e readaptações dos textos e discursos pela ação
de grupos de interesse e de sujeitos da atuação nos seus diferentes contextos.
No nível micro, os dados revelaram que os sujeitos para os quais a política PPDT é
destinada − alunos, pais, professores e gestores escolares − se mostram convencidos da
importância dessa política, para a educação dos estudantes na escola cearense, ainda que, se
observe as resistências, sobretudo, quanto à imagem burocrática da política educativa. Contudo,
tais resistências são atenuadas pelas autoridades educacionais locais, envolvidas nos grupos de
interesses de mobilização, em prol da “implantação” do PPDT.
No que se refere às aproximações e distanciamentos das significações construídas sobre
o cargo/função de DT constituído no Brasil, em relação Portugal, a análise dos documentos
apontam para uma possível reprodução das orientações existentes, para o exercício do
cargo/função, no sistema educativo português, posto que, em muitas situações encontram-se
expressões textuais explicitamente iguais. Para além desta visível aproximação, concluiu-se
que os instrumentais (fichas biográficas, atas, formulários de registro de atendimento e
ocorrência, modelos de comunicados) foram literalmente transportados, e adotados, da
realidade da escola portuguesa para a escola cearense.
A tentativa de transferência das estratégias do DT, da escola portuguesa, para a escola
cearense, não se limitou aos instrumentais, embora esses documentos tenham passado por
significativo processo de reinterpretação e recriação. Para além deste aspecto, considera-se que
os discursos sobre as estratégias metodológicas que foram disseminadas, embora se evidencie
que houve resistências e recontextualização no processo de atuação pelos atores educativos
envolvidos contextos da trajetória da política, ainda assim, as aproximações são perceptíveis.
Considera-se que a política educativa apresenta efeitos/resultados positivos importantes
para a educação cearense, como a construção de um vínculo maior do aluno com a escola, a
referência do PDT, para a família, e a possível redução da evasão escolar, conforme se verifica
nas vozes dos atores sociais envolvidos na atuação. A política educativa do PPDT disponibiliza
uma redução na carga horária das componentes letivas em sala de aula, do professor, embora
os PDT em seus testemunhos tenham expressado ser esse um tempo insuficiente em relação à
172

demanda de trabalho burocrático − preenchimento de “instrumentais”, fichas e ou formulários


− que compõe o dossiê de turma, contudo, julga-se esse tempo importante. Por conseguinte, o
Estado investe recursos significativos para essa redução de carga horária, posto que, com tal
ação, é necessário reorganizar a lotação e redistribuição das horas aulas dos professores,
fazendo-se necessário a contratação de um número maior de docentes, reconhecendo-se, diante
disso, que há uma aplicação financeira, direcionada para execução da política educativa em
análise.
Compreende-se que o PPDT é uma tecnologia educativa formatada, com estratégias de
trabalho sistematizadas, um passo a passo organizado num repertório denominado “Calendário
Norteador” (ANEXO G), que contém, especificamente, qual ação deve ser realizada, por quem
e quando. Esses pormenores conduzem à interpretação, na direção do entendimento de que o
PPDT é um mecanismo de controle e regulação do Estado, sobre a atuação dos professores,
reduzindo a autonomia e a criatividade, o que, efetivamente, é, posto que, favorece o
acompanhamento permanente das ações do PDT por parte da Superintendência Escolar 62 e
CRPPDT, planejadas para o ano letivo escolar. Entretanto, esse acompanhamento caracteriza-
se, minimamente, pela garantia de que as ações pedagógicas cotidianas serão cumpridas, posto
que, há certa falta de compromisso de alguns professores, para com sua atuação na escola
pública.
Para além destas impressões, cabe destacar que o PPDT é uma política educativa
focalizada no aluno, pensando na redução da infrequência, evasão e abandono e na melhoria
dos resultados de aprendizagem, como está explícito nos seus objetivos. As interpretações dos
discursos apontaram para o entendimento de que o PPDT se trata de uma estratégia para atender
às exigências da lógica voltada para a política de resultados impressa nas orientações para
educação no campo educacional local e global. No entanto, percebe-se a preocupação
individualizada com o estudante na garantia da permanência vislumbrando uma educação de
qualidade, socialmente referenciada, embora se perceba-se a ênfase nos resultados.
Nessa direção, pode-se mencionar o ponto de vista de uma mãe de aluno do PPDT: “vou
dizer como mãe, né, meu filho mesmo ele tem déficit de atenção [...] e antes do programa
Professor Diretor de Turma num tinha em outras escolas [...] eu percebi a grande diferença [...]
deu para sentir mais que qualquer outra mãe [...]” (PMEB, 2015), na sequência explicita em
que concerne à especificidade que lhe chama a atenção na postura do PDT, “[...] sentir a

“[...] acompanhamento e monitoramento à gestão escolar, com foco no aperfeiçoamento pedagógico e na


62

melhoria da aprendizagem dos estudantes” (SEDUC-CE, 2017). Disponível em: <http://www.seduc.ce.gov.br>.


Acesso em: 8 set. 2017.
173

diferença do acompanhamento diferenciado com ele, a preocupação de me ligar pra saber né,
quando o menino tinha feito a prova o dia, que ele dormiu um pouco a mais, para saber se ele
tinha tomado algum medicamento ou não […] (PMEB, 2015). São discursos como este que
levam a concluir que a comunidade considera a figura do DT importante na dinâmica
pedagógica do cotidiano da escola, nas vertentes de atuação relacionada ao desenvolvimento
acadêmico do aluno, ao controle disciplinar e da frequência e a relação da escola com a família.
Não obstante, compreende-se que as políticas são permeadas por tensões e resistências,
e que a atuação do PPDT, no contexto das escolas públicas cearenses, revela a existência de
descontinuidade na lotação do professor, no exercício do cargo/função de DT. Tal situação se
põe em evidência quando é registrada a presença de professores, em regime de contrato
temporário, desenvolvendo o cargo/função, como também, porque no momento de
reorganização do ano letivo, fazia-se necessário a substituição por um professor efetivo da rede,
e ou mesmo para complementação da carga horária sem a legítima adesão do sujeito à filosofia
da política educativa do PPDT.
Nesse processo de descontinuidade, percebe-se a falta de formação específica, para o
desempenho do cargo/função de DT, embora os coordenadores escolares sejam os sujeitos
indicados para realizarem tais formações, no cotidiano das ações pedagógicas no âmbito da
escola. A não efetiva adesão à filosofia proposta pelo PPDT, por parte de alguns professores
que ocupam o cargo/função, resulta, consequentemente, no cumprimento, somente, das ações
monitoradas, ou seja, em relação aos aspectos burocráticos que compõem o dossiê de turma.
Os PDT se queixam de que não existe o reconhecimento e a valorização, nem tampouco
compensações financeiras, por parte do Governo, pelo desempenho do cargo/função. Nos
discursos políticos, os sujeitos argumentam que “temos a inexistência de uma política de
valorização, de reconhecimento do profissional professor diretor de turma, daquele que exerce
a função de professor diretor de turma [...]” (PCEPPDT), e explicitam que anseiam por “[...]
uma espécie de política de valorização para os professores diretores de turma [...]” (PCEPPDT),
visto que, “[…] não existe nenhum tipo de incentivo financeiro, […] não existe um suporte do
ponto de vista formativo […]” (PCEPPDT), pois os atores entendem que “[...] o professor
diretor de turma é um mediador de conflitos por excelência […]” (PCEPPDT), pois são
investidos da função de gestor intermediário63, intraescola, e entre escola e comunidade.
As tensões que envolvem a atuação do PPDT, na escola cearense, se estendem para a
preocupação com a continuidade da política por parte dos sujeitos, posto que, não existe uma

63
Ver Sá (1997).
174

normalização do cargo/função no ordenamento jurídico da estrutura da SEDUC-CE. Mesmo


considerando o PPDT uma política educativa, pelas características de intervenção na estrutura
da organização educativa e pela trajetória que se analisa, registra-se a permanência do nome
“projeto”, desde a sua origem, na escola pública do Ceará.
Nesses parâmetros, verifica-se que, “logo em janeiro de 2008, sai o primeiro documento
com o nome de Projeto Professor Diretor de Turma, é esse o nome que sai” (CEP, 2016).
Argumenta-se que não era bem isso, “[...] até porque o projeto lá não tem a mesma linha do
diretor de turma cá em Portugal [...] aqui é obrigatório para todas as escolas, lá foi algo por
adesão” (CEP, 2016). Certamente, alguns fatores, como, a falta de normativo legal, enquanto
política de Estado; a manutenção da nomenclatura “projeto”; e o princípio da adesão pela escola
− para dar andamento ao PPDT − e pelo professor, para assumir o cargo/função de DT, não
oferecem segurança de continuidade da política, na SEDUC-CE, em outro contexto político
partidário que vier substituir o presente, visto que, verificam-se descontinuidades nas políticas,
ao se mudar a orientação partidária, na ocupação dos cargos executivos dos estados, municípios
e União.
Em relação à preocupação antes referida, alguns professores – CRPPDT, EEB, SEDUC-
CE –, juntamente com, um deputado estadual, a Associação por uma Educação e Cultura de
Qualidade para Todos (PECQTO) e a Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do
estado do Ceará, organizaram, em 2013, um seminário para debater sobre importância da
ampliação do PPDT para as redes municipais, bem como, para discutir a construção de um
enquadramento legal. Na mesma direção, com sentidos semelhantes, também em 2013,
registra-se uma apresentação no Seminário Nacional do Observatório da Educação em Brasília.
Todavia, o PPDT se mantém sem um aparato legal que legitime o cargo/função de DT, na
estrutura da rede de ensino, e/ou que garanta a continuidade da política educativa.
Diante das considerações expostas, e perante a análise das ações e depoimentos dos
atores da organização educativa − gestores, professores, alunos e pais −, envolvidos na atuação
do PPDT, em andamento na escola pública estadual regular do estado do Ceará-Brasil −
analisado no período de 2011 a 2014 −, conclui-se que a referida política educativa apresenta
contribuições importantes para o campo educacional, com possibilidades significativas para a
continuidade, a depender da apreciação positiva dos gestores executivos da educação, no
estado, mesmo diante da percepção positiva da comunidade educativa.
Em face da complexidade de se analisar uma política na sua trajetória, em todos os
contextos de atuação, observa-se como ela se materializa, entre o “plano das orientações para a
ação” e o “plano da ação”, se remete a atenção a possíveis faces não observadas no processo de
175

análise, deste objeto, limites estes, inerentes à investigadora, que perseguiu, prioritariamente, o
exame dos objetivos definidos, como balizadores para o percurso do estudo. Nesse sentido,
embora se tenha procurado lançar o olhar com flexibilidade, para enxergar o que não estava
posto na superfície, admitem-se possíveis lacunas, nas interpretações das significações escusas,
sobre a política educativa.
176

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182

APÊNDICE A – Quadro síntese da política educacional do governo do Estado do Ceará (2007-2014)

CATEGORI OBJETIVO DESCRIÇÃO


A
1. Programa de Programa Alfabetizar todas as crianças de 6 e 7 anos (1º e 2º Em 2005 o Programa Alfabetização na Idade
Alfabetização na Idade anos) Certa, definiu algumas recomendações para que
Certa (PAIC) Oferecer assessoria técnica aos municípios para os municípios superassem o grave problema de
modificar os seus baixos indicadores de aprendizagem que está gerando analfabetos
aprendizagem nos próximos quatro anos desta dentro da própria rede escolar.
gestão (2007 a 2010).
Em 2007, o Governo através da SEDUC abraça
fortemente o Programa, fortalece-o e o propõe
sua expansão, contando com os parceiros
SECULT, APRECE, UNDIME/CE, APDMCE,
UNCME, FÓRUM DE EDUCAÇÃO
INFANTIL, UFC e UNICEF, afinal a
responsabilidade pela aprendizagem é missão de
vários sujeitos.

Em 24 de maio de 2007 foi realizada uma grande


solenidade de relançamento do Programa. Na
ocasião, os prefeitos assinaram o novo pacto de
cooperação, na qual assumem publicamente o
compromisso com a execução das propostas do
Programa Alfabetização na Idade Certa.
2. Projeto Diretor de Projeto Visa mobilizar alunos, professores e famílias em O Projeto Diretor de Turma caracteriza-se,
Turma torno de metas pactuadas para um mesmo objetivo: fundamentalmente, por um conhecimento
garantir que os jovens entrem, permaneçam, aprofundado e sistematizado do aluno. Na
tenham um bom desempenho e terminem o Ensino mediação que se realiza entre os alunos e os
Médio. demais professores da turma, promove-se o
desenvolvimento de um trabalho cooperativo, que
183

oportuniza aos professores conhecer as


problemáticas que fazem parte do cotidiano de
cada aluno e implicam diretamente no seu
desempenho escolar.
No Projeto, cada turma fica aos cuidados de um
professor Diretor de Turma que passa a conhecer
melhor cada aluno, a ter informações sobre seu
histórico de vida, seus interesses, atitudes, valores
e perspectivas de futuro.
3. Programa Nacional de Programa Contribuir para a construção da Segurança Programa Nacional de Alimentação Escolar –
Alimentação Escolar – Alimentar e Nutricional, nas escolas da rede PNAE tem princípios e diretrizes determinados
PNAE/CE pública estadual do Ceará, promovendo a adoção pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da
de práticas alimentares saudáveis no ambiente Educação – FNDE/MEC, órgão responsável pela
escolar. assistência financeira do PNAE. Tais princípios e
diretrizes garantem o oferecimento de uma
alimentação escolar saudável e adequada e estão
estabelecidos na Resolução do Conselho
Deliberativo do FNDE, de nº 38 de 16/07/2009,
conforme disposto na Lei 11.947 de 16/06/2009.
184

4. Programa Escola Que Programa Objetivo do programa Escola que Protege do São atendidos os municípios que incluírem o tema
Protege/Comissões - Lei Estadual - Governo Federal/Secretaria de Educação da promoção e a defesa, no contexto escolar, dos
PETECA Nº 13.230 Continuada, Alfabetização e Diversidade-SECAD direitos de crianças e adolescentes e
Recomendaçã é prevenir e romper o ciclo da violência contra enfrentamento e prevenção das violências no seu
o do crianças e adolescentes no Brasil. Pretende-se, Programa de Ações Articuladas (PAR);
Ministério portanto, que os profissionais sejam capacitados apresentem baixo Índice de Desenvolvimento da
Público - para uma atuação qualificada em situações de Educação Básica (IDEB) ou fazem parte da
Nº06/2008 violência identificadas ou vivenciadas no ambiente Matriz Intersetorial de Enfrentamento da
escolar. Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

Também são contemplados aqueles que


participam dos seguintes programas: Mais
Educação; Programa de Ações Integradas e
Referenciais de Enfrentamento à Violência
Sexual contra Crianças no Território Brasileiro
(PAIR); e Programa Nacional de Segurança
Pública com Cidadania (PRONASCI).

A SEDUC atuando frente ao tema dos direitos de


crianças e adolescentes na promoção e defesa,
enfrentamento e prevenção das violências,no
contexto escolar, implanta em suas unidades
escolares as Comissão de Atendimento,
Notificação e Prevenção à Violência Doméstica
Contra Crianças e Adolescentes na Escola, Lei
Estadual nº 13.230.
5. Programa Mais Programa Qualificar a experiência educativa das crianças e Programa federal coordenado pela Secretaria de
Educação jovens das escolas públicas de ensino fundamental; Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade – SECAD/MEC, sendo uma das
Ampliar espaços, tempos e oportunidades ações do Plano de Desenvolvimento da Educação
educativas no sentido de elevar o IDEB das escolas (PDE).
participantes do programa;
185

Ofertar novas atividades educacionais e reduzir a


evasão, a repetência e distorções de idade-série, por
meio de ações culturais, educativas, esportivas, de
educação ambiental, de educação em direitos
humanos e de lazer.
6. Prêmio Escola Nota 10 Prêmio Com o objetivo de fortalecer, valorizar e ampliar o
A Lei prevê que o prêmio é destinado para até 150
trabalho que vem sendo empreendido pelas escolas (cento e cinquenta) escolas públicas que
em relação aos resultados de alfabetização, o apresentarem os critérios de: (I) ter pelo menos 20
Governo do Estado, por meio da SEDUC, instituiu (vinte) alunos matriculados no 2º ano do ensino
o “Prêmio Escola Nota Dez”, através da Lei 14.371,fundamental regular; (II) ter o Indicador de
de 19 de junho de 2009. Desempenho Escolar de Alfabetização/ IDE-Alfa
situado no intervalo entre 8,5 e 10,0. Além disso,
garante contribuição financeiro até 150 escolas
Em 06 de dezembro de 2011 foi aprovada a Lei com menores IDE-Alfa.
Estadual 15.052, que disciplina o Prêmio Escola
Nota Dez e revogada a legislação anterior, a nova O valor da premiação por escola é calculado
legislação determina que a cada ano serão considerando a per capita por aluno de R$
premiadas até 150 escolas públicas do segundo ano 2.000,00,( dois mil reais) correspondente à
e até 150 escolas pública do quinto ano do Ensino multiplicação do número de alunos do segundo e
Fundamental, também serão beneficiadas as do quinto anos do ensino fundamental avaliados
escolas públicas em igual número das premiadas pelo SPAECE. As escolas com menores IDE-Alfa
as que obtiveram menores resultados nas e IDE 5 receberão contribuição financeira
avaliações do SPAECE do segundo e quinto anos. equivalente à multiplicação do número de alunos
do 2º e do 5º anos do ensino fundamental pelo
valor per capita de R$1.000,00 (hum
mil reais), para implementação do plano de
melhoria dos resultados de alfabetização e 5º ano
para as escolas que obtiveram os menores
resultados no IDE-Alfa e IDE 5.
186

7. Luz do Saber: Infantil e Recurso O Luz do Saber Infantil é um recurso didático que Luz do Saber Infantil e EJA, atualmente
EJA Didático tem por objetivo contribuir para a alfabetização de disponibiliza cinco módulos: “Começar”, “Ler”,
crianças, além de promover a inserção na cultura "Escrever", "Karaokê" e o "Professor". O
digital. É um software de autoria embasado primeiro é composto por 10 atividades que visam
primordialmente, na teoria do educador Paulo a estimular através de jogos, o conhecimento dos
Freire. Considera também algumas contribuições fonemas e grafemas que compõem o nome do
de Emilia Ferreiro e AnaTeberosky acerca do aluno e, paralelamente, desenvolver as
processo de aquisição do código linguístico. competências necessárias ao uso do mouse e do
teclado.
O Luz do Saber EJA é um recurso didático que tem
por objetivo contribuir para a alfabetização de
jovens e adultos, além de promover a inserção na
cultura digital. É um software de autoria embasado
primordialmente, na teoria do educador Paulo
Freire. Considera também algumas contribuições
de Emilia Ferreiro e AnaTeberosky acerca do
processo de aquisição do código linguístico.
8. Transporte Escolar: Programa Tem por objetivo executar as ações de cooperações - Assegura o repasse de recursos para 100% (cem
Transporte dos alunos da com as redes municipais para viabilizar o transporte por cento) das prefeituras que assinaram o Termo
rede estadual e Programa escolar dos alunos da rede estadual de ensino. de Responsabilidade no ano de 2011;
de renovação da frota - Capacita 100% (cem por cento) dos técnicos
estaduais e municipais responsáveis pelo sistema
de acompanhamento do Transporte Escolar nos
municípios que formalizarem o Termo de
Responsabilidade 2011;
- Apoia tecnicamente 100% (cem por cento) dos
municípios que participarem do processo de
adesão ao Programa Caminho da Escola para
assegurar a aquisição de veículos escolares.
- Assegura 100% da doação dos veículos
adquiridos pelo Estado aos municípios que
fizeram adesão ao Programa, na mesma
187

proporção de suas aquisições por meio de recurso


próprio ou através de empréstimo pelo BNDES;
- Garante o acompanhamento de 100% dos
veículos cedidos aos municípios através do
Projeto Alvorada.
9. Educação Profissional e- Projeto Oferecer uma formação de característica A proposta do Projeto e-Jovem, visa integrar a
Jovem tecnológica e profissional que possibilite inserir o Educação Profissional às diferentes modalidades
jovem no mercado de trabalho em áreas da de educação e às dimensões do trabalho, da
informática como Web designer, redes, hardware e ciência e da tecnologia, oferecendo formação
programação, observando as políticas de softwares complementar em Tecnologia da Informação e
livres, através da universalização da "cultura Comunicação - (TIC) com ênfase no
digital"; protagonismo juvenil, como forma de incentivar e
Desenvolver projetos de empreendedorismo apoiar a participação dos jovens na sociedade,
social, nas comunidades e escolas inseridas no despertando habilidades e valores necessários
projeto, criando uma cultura de responsabilidade para que se tornem cidadãos conscientes e
social; dispostos a assumir um papel pró-ativo ao longo
Qualificar mão de obra para atender a demanda das suas vidas e com isso, maiores chances de
de uma futura Indústria de software no Ceará, inserção no mundo do trabalho.
podendo estar distribuída nos municípios, em
articulação com empresas cearenses de TIC;
Colaborar com o desenvolvimento sustentável
dos Municípios e/ou bairros.
10. Geração da Paz Busca disseminar a cultura de paz através de suas O Programa Geração da Paz foi criado, em 22 de
ações e tem como missão a promoção de setembro de 2010, visando à celebração de
oportunidades de organização social a partir das cooperação técnica entre a Secretaria de
próprias escolas, mediante protagonismo juvenil, Educação do Ceará (SEDUC) e a Organização
com vistas à construção de redes de cultura de paz. das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura (UNESCO), e conta com o apoio
de diversos parceiros.
O Programa está sendo implantado na forma de
um piloto, englobando 13 escolas da Grande
188

Fortaleza e cerca de 20 situadas na Região do


Cariri.
11. Projeto Primeiro Projeto Desenvolver e consolidar conceitos, competências É uma ação voltada para o 1º ano do Ensino
Aprender Lei 14.190/ e habilidades das diversas disciplinas, considerados Médio.
30 de julho de como necessários ao bom desempenho dos Traduz-se na articulação das diversas disciplinas
2008 estudantes ao longo do ensino médio, focalizando deste ano focalizando, no período de 12 semanas,
as habilidades de: compreensão de textos, o desenvolvimento e consolidação de habilidades
raciocínio, articulação lógico-abstrata de conteúdos de leitura através do uso de material estruturado
e resolução de problemas. para o aluno e para o professor.
12. Ensino Médio Projeto Elevar o nível dos resultados das escolas públicas O projeto, iniciado em 2008, tem por finalidade
Integrado e Integral do Ceará e capacitar mão de obra, o Governo do vincular educação básica à educação profissional,
Estado criou um plano de assistência aos jovens dando assim oportunidade dos jovens
estudantes que estão na última etapa da educação complementarem seus estudos.
básica, o Ensino Médio Integrado.

Integrar a formação escolar de nível médio com


Escolas Estaduais de uma habilitação profissional técnica através de boa
Educação Profissional educação acadêmica, formação para o mundo do
trabalho e práticas e vivências em protagonismo
juvenil.
13. Superintendência Política de Fortalecer a gestão escolar e auxiliar a escola Com a missão de acompanhar e apoiar a gestão
Escolar Acompanham assumir seu papel central como protagonista das unidades escolares, a Superintendência
ento da principal no processo educativo de seus alunos. Escolar visa a fomentar um movimento de
Gestão reflexão e ação em torno de três eixos principais:
escolar Realizar acompanhamento da gestão escolar com indicadores, processos escolares e instrumento de
Lei 14.190 foco na permanência e na melhoria da gestão.
junho de 2008 aprendizagem dos alunos.

Favorecer a autonomia da escola e a


responsabilização por seus resultados.
14. Plano de Metas do Plano O Plano de Metas do Diretor – PLAMETAS Depois de decorrido o processo de escolha e
Diretor - PLAMETAS representa o compromisso inicial do diretor com a indicação para o provimento do cargo em
189

Escola e a SEDUC, servindo de base para a comissão de Diretor das escolas públicas
redefinição, junto à comunidade escolar, dos estaduais do Ceará, inicia se o processo de
instrumentos de gestão da Escola. nomeação e posse dos diretores escolares.
15. Prêmio Aprender Pra Lei 14.484/08 Reconhecer o mérito nas escolas da rede pública de Consiste na premiação do quadro funcional de
Valer, destinado ao quadro de outubro de ensino do Estado que alcançaram as metas anuais todas as escolas que alcançarem as metas anuais
funcional das escolas da 2009 de evolução da aprendizagem dos alunos. de evolução da aprendizagem dos alunos do
rede estadual de ensino ensino médio, definidas pela Secretária da
Educação do Estado do Ceará – SEDUC, tendo
por referência os resultados do Sistema
Permanente de Avaliação da Aprendizagem –
SPAECE.
16. Sistema Permanente de Política de Fornecer subsídios para formulação, reformulação O Governo do Estado do Ceará, por meio da
Avaliação da Educação avaliação e monitoramento das políticas educacionais, além Secretaria da Educação (SEDUC), vem
Básica (SPAECE) externa de possibilitar aos professores, dirigentes escolares implementando, desde 1992, o Sistema
e gestores um quadro da situação da Educação Permanente de Avaliação da Educação Básica do
Básica da Rede Pública de ensino. Ceará - SPAECE.
A SEDUC ampliou, a partir de 2007, a
abrangência do SPAECE, incorporando a
avaliação da alfabetização e expandindo a
avaliação do Ensino Médio para as três séries de
forma censitária.
Política que foi aprimorada tornando-se censitária
e como base de premiação e seleção para
participação de projetos.
17. Professor Aprendiz Lei 14. Incentivar professores da rede a colaborarem com Realizada por cada CREDE/SEFOR
190/30 de o programa, em caráter especial, na produção de
julho de 2008 material didático pedagógico, na formação e
treinamento de outros professores e na publicação
de suas experiências e reflexões.
18. Preparação, Rumo ao Projeto O Projeto Preparação Rumo ao Ensino Médio foi
Ensino Médio Com o objetivo de potencializar a entrada no concebido em 2009, pela Secretaria de Educação
Ensino Médio. do Estado do Ceará, voltado para o 9º Ano do
190

Ensino Fundamental , etapa decisiva na formação


O objetivo do material foi propiciar o das crianças e adolescentes.
fortalecimento da aprendizagem dos alunos no
último ano do ensino fundamental (9º Ano), tendo A perspectiva do projeto é focar a aprendizagem
em vista uma melhor preparação de desempenho de das habilidades de Leitura, Escrita e Cálculo,
cada aluno da Rede Pública, como forma de propondo uma revisão de estudos como forma de
garantir uma base sólida da sua aprendizagem, no potencializar o acesso do aluno ao Ensino Médio
decorrer do Ensino Médio, em relação à leitura, - “preparação” com desempenho necessário para
escrita e ao cálculo. continuar estudando e aprendendo ao longo desse
nível de ensino.
19. Premiação de aluno Lei 14.483/08 Incentivar os alunos do Ensino Médio à Institui a premiação para alunos do ensino médio
com melhor desempenho de outubro de participação no SPAECE e a elevação dos níveis de com melhor desempenho acadêmico nas escolas
no SPACE 2009 proficiência em português e matemática. da rede pública de ensino do estado conforme a
escola de proficiência do SPAECE.
20. SPE – Saúde e Projeto/MEC A proposta do projeto é realizar ações de promoção O Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE) é
Prevenção na escola da saúde sexual e da saúde reprodutiva de uma das ações do Programa Saúde na Escola
adolescentes e jovens, articulando os setores de (PSE), que tem a finalidade de contribuir para a
saúde e de educação. Com isso, espera-se contribuir formação integral dos estudantes da rede pública
para a redução da infecção pelo HIV/DST e dos de educação básica por meio de ações de
índices de evasão escolar causada pela gravidez na prevenção, promoção e atenção à saúde. Esse
adolescência (ou juvenil), na população de 10 a 24 projeto, alicerçado em uma demanda da
anos. população, foi implantado nos 26 estados do
Brasil, no Distrito Federal e em aproximadamente
600 municípios.
21. PSE – Programa Saúde Programa/M O PSE tem como objetivo contribuir para a O Programa Saúde na Escola(PSE) visa à
na Escola EC formação integral dos estudantes por meio de ações integração e articulação permanente da educação
de promoção, prevenção e atenção à saúde, com e da saúde, proporcionando melhoria da qualidade
vistas ao enfrentamento das vulnerabilidades que de vida da população brasileira. Como consolidar
comprometem o pleno desenvolvimento de essa atitude dentro das escolas? Essa é a questão
crianças e jovens da rede pública de ensino. que nos guiou para elaboração da metodologia das
Agendas de Educação e Saúde, a serem
executadas como projetos didáticos nas Escolas.
191

O público beneficiário do PSE são os estudantes


da Educação Básica, gestores e profissionais de
educação e saúde, comunidade escolar e, de forma
mais amplificada, estudantes da Rede Federal de
Educação Profissional e Tecnológica e da
Educação de Jovens e Adultos (EJA).
22. Pré Vest Lei 14.190/30 Tem o objetivo de criar ações estratégicas Consiste no apoio à continuidade dos estudos com
de julho de complementares para o fortalecimento da vista ao ingresso no ensino superior
2008 aprendizagem dos alunos do ensino médio.
23. Curso de Portaria Nº Todos os integrantes do banco de gestores escolares Para efeito do cumprimento do parágrafo único do
Especialização em Gestão 032/2009- firmarão, junto à Secretaria da Educação, Art. 3º do Decreto 29.451, de 24 de setembro de
e Avaliação da Educação GAB/ compromisso formal de frequência regular e 2008, a Secretaria da Educação ofertará Curso de
Pública do Estado do 09 de aproveitamento satisfatório no curso de Especialização em Gestão Educacional a todos os
Ceará pelo Centro de fevereiro de especialização ofertado pela SEDUC. integrantes do banco de gestores escolares. O
Políticas Públicas (CAED) 2009 descumprimento ao disposto no item anterior, por
e Avaliação da Educação, parte dos gestores beneficiados com o curso de
da Universidade Federal especialização ofertado pela SEDUC, implicará
de Juiz de Fora (UFJF) na sua exclusão do banco de gestores escolares e,
consequentemente, no impedimento à sua
nomeação para qualquer dos cargos no núcleo
gestor.
Fonte: SEDUC-CE (2010, 2011, 2016).
192

APÊNDICE B – Quadro síntese das produções acadêmicas sobre o projeto diretor de turma EM ANDAMENTO no Estado do Ceará
(2007-2017)

TÍTULO AUTOR(A) PALAVRAS- ANO DA DISPONILIDADE/REFERÊNCI


CHAVE PUBLICAÇÃO A
1. AS CONQUISTAS Autoras: Maria da Parceria; Integração; Poster Congresso daEixo temático 2: Políticas de
DO PROJETO DE Conceição Castro Aprendizagem ANPAE 2007 Educação Básica e de Formação e
DIRETOR DE TURMA Lima/Maria Irani Gama de Gestão Escolar
DE EUSÉBIO, Freitas (Prefeitura de Disponível em<
CEARÁ Eusébio/ Anpae – CE) http://www.anpae.org.br/simposio2
Conceiaocastro2007@yaho 6/2posteres/MariadaConceicao-
o.com.br / poster-int.pdf>. Acesso em 22 de
[email protected] agosto de 2014.
2. A EXPERIÊNCIA Maria da Conceição Castro Parceria; integração; Congresso da ANPAE Disponível em
PILOTO DE DIRETOR Lima – E. E. F. da Lagoinha, aprendizagem. 2007 <http://www.anpae.org.br/congress
DE TURMA DE Eusébio, Ceará os_antigos/simposio2007/279.pdf>.
EUSÉBIO, CEARÁ [email protected] Acesso em 22 de agosto de 2014.
m.br
3. O PROJETO Haidé Eunice G. F. Leite – Gestão; diretor de Publicado em 2009 Disponível em <
DIRETOR DE TURMA ANPAE/CE (madres turma; socialização http://www.anpae.org.br/congresso
NO CEARÁ, DOIS (CROSSO, AZZI e BOCK, s_antigos/simposio2009/126.pdf>.
ANOS DEPOIS 2007)@gmail.com) Acesso em 22 de agosto de 2014.
Maria Luíza B. Chaves – .
ANPAE/CE
(marialuizachaves@hotmail.
com)
4. O PROFESSOR Andrevaldo Glaidson Diretor de Turma. 2011 Disponível em <
DIRETOR DE TURMA Pereira Tavares Educação cearense. http://bell.unochapeco.edu.br/revist
COMO Sucesso escolar as/index.php/pedagogica/article/vie
193

MEDIADOR DO wFile/1316/730>. Acesso em 22 de


PROCESSO DE agosto de 2014.
ENSINO- Revista Pedagógica -
APRENDIZAGEM UNOCHAPECÓ - Ano-14 - n. 27
vol. 02 - jul./dez. 2011
5. A GESTÃO NA Renata Abreu Silvério Educação profissional, IV FIPED- Fórum Disponível em
ESCOLA DE Professora da Rede Estadual
modelo de gestão Internacional de <http://www.editorarealize.com.br/
EDUCAÇÃO de Ensino do Ceará gerencial, Escolas Pedagógia (Parnaíba- revistas/fiped/trabalhos/8dc5983b8
PROFISSIONAL Prof. Dr. Francisco Carlos
Estaduais de PI/Brasil) c4ef1d8fcd5f325f9a65511.pdf>.
INTEGRADA Araújo Albuquerque Ensino Campina Grande, Acesso em 11 de setembro de 2014.
CED-UECE Profissionalizante, REALIZE Editora,
TESE, Projeto Diretor 2012.
de Turma.
6. CONSELHO DE Gilmar Dantas da Silva Gestão curricular, Período: 10 a 13 de Disponível em <
TURMA: uma proposta (UECE) conselho de turma, novembro de 2013. http://www.epenn2013.com.br/EPE
de gestão curricular à professor diretor de UFPE NN_DISCO/Comunicacoes/GT12-
escola cearense turma XXI EPENN Curr%C3%ADculo/GT12_CONSE
Encontro de Pesquisa LHO_DE_TURMA.pdf >. Acesso
Educacional do Norte em 11 de setembro de 2014.
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Nordeste
7. PROFESSOR Vagna Brito de Lima Diretor de Turma. Revista Espaço do Disponível em
DIRETOR DE (Universidade Federal da Permanência e Currículo <http://periodicos.ufpb.br/ojs/index
TURMA: UMA Paraíba – Brasil) Abandono. Gestão de ESPAÇO DO .php/rec/article/view/20637/11386>
EXPERIÊNCIA [email protected] sala de aula. CURRÍCULO, v.7, . Acesso em 15 de setembro de
EDUCACIONAL n.2, p.326-335, Maio a 2014.
BRASILEIRA Agosto de 2014.
INSPIRADA NA
EDUCAÇÃO
PORTUGUESA
8. PROJETO Ms. Meyrismar Felipe dos Desmassificação do Dissertação de Disponível em <
PROFESSOR Santos ensino. Vínculo Mestrado em Gestão https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstr
194

DIRETOR DE Prof. Dr. Lourival Batista de família-escola. de Avaliação da eam/ufjf/1325/1/neyrismarfelipedos


TURMA: UMA Oliveira Júnior Aprendizagem Educação Pública no santos.pdf>. Acesso em 11 de
ANÁLISE DA Programa de Pós- setembro de 2014.
IMPLEMENTAÇÃO Graduação
EM UMA ESCOLA Profissional da
PÚBLICA DA REDE Universidade Federal
ESTADUAL DO de Juiz de Fora –
CEARÁ Defesa em 20 de
janeiro de 2015.
9. A GESTÃO DO Ms. Daniel Carlos da Costa Diretor de Turma. Dissertação de Disponível em
PROJETO Prof. Dr. Marcelo Tadeu Gestão. Professor. Mestrado em Gestão <http://www.mestrado.caedufjf.net/
PROFESSOR Baumann Burgos Aluno. Família. de Avaliação da wp-
DIRETOR DE Educação Pública no content/uploads/2015/04/DANIEL-
TURMA: A Programa de Pós- CARLOS-DA-COSTA.pdf>.
EXPERIÊNCIA DA Graduação Acesso em 11 de setembro de 2014.
ESCOLA ESTADUAL Profissional da
DE EDUCAÇÃO Universidade Federal
PROFISSIONAL de Juiz de Fora –
JÚLIO FRANÇA EM Defesa em 20 de
BELA CRUZ (CE) janeiro de 2015.
10. A FORMAÇÃO Ms. Maria Cleide Da Silva Formação de Dissertação Disponível em <
CONTÍNUA DO Ribeiro Leite Professores. Projeto apresentada ao Curso http://www.uece.br/ppge/dmdocum
PROFESSOR Orientadora: Prof.ª Dr.ª Professor Diretor de de Mestrado ents/DISSERTACAO%20Cleide%
DIRETOR DE TURMA Maria Socorro Lucena Lima. Turma. Reformas do Acadêmico do 20com%20Ficha.pdf>. Acesso em
NO CONTEXTO DAS Ensino Médio. Programa de Pós- 12 de dezembro de 2016.
REFORMAS DO Graduação em
ENSINO MÉDIO Educação da
Universidade Estadual
do Ceará – Defesa em
2015
11. O PROJETO Ms. Francisco Aurélio Projeto Professor Dissertação de Disponível em
PROFESSOR Rodrigues Dias Diretor de Turma. Mestrado Profissional <http://repositorio.ufjf.br:8080/xml
195

DIRETOR DE TURMA Prof. Dr. Roberto Perobelli Protagonismo Juvenil. em Gestão de ui/bitstream/handle/ufjf/3068/franci
NA GESTÃO DO de Oliveira Relação Escola- Avaliação da scoauriceliorodriguesdias.pdf?sequ
PROTAGONISMO Família. Clima Escolar Educação Pública no ence=1&isAllowed=y>. Acesso em
JUVENIL E DA Programa de Pós- 12 de dezembro de 2016.
RELAÇÃO ESCOLA- Graduação
FAMÍLIA: O CASO Profissional da
DA EEM JOÃO Universidade Federal
ALVES MOREIRA, de Juiz de Fora –
EM ARACOIABA-CE Defesa em 20 de julho
de 2016.
12. CONSTITUINTES Ms. Emanuel Kaúla Santos Mediação pedagógica. Dissertação Disponível em <
DE UMA PRÁXIS DE Machado Saberes docentes. apresentada ao Curso http://www.uece.br/ppge/dmdocum
MEDIAÇÃO Prof. Ph.D. Jacques Saberes da de Mestrado ents/Disserta%C3%A7%C3%A3o
PEDAGÓGICA DO Therrien. experiência. Formação Acadêmico em %20EMANUEL%20KA%C3%9A
PROFESSOR na práxis. Práxis Educação do LA%20SANTOS%20MACHADO.
DIRETOR DE TURMA pedagógica. Programa de Pós- pdf.pdf>. Acesso em 14 de julho de
Reflexividade. Graduação em 2017.
Educação do Centro de
Educação da
Universidade Estadual
do Ceará, como
requisito parcial à
obtenção do título de
Mestre em Educação.
Área de Concentração:
Formação de
Professores – Defesa
em 3 de fevereiro de
2017
Fonte: a autora (2014, 2017).
196

APÊNDICE C – Questionário aplicado on line ceará – Brasil

Prezado (a) Senhor (a)

O presente questionário se configura em instrumental de pesquisa como parte de um estudo


sobre Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT), sob o título PROFESSOR DIRETOR DE
TURMA: UM ESTUDO ENTRE BRASIL E PORTUGAL ACERCA DE
UMA POLÍTICA EDUCACIONAL DO ESTADO DO CEARÁ, desenvolvida pela
pesquisadora VAGNA BRITO DE LIMA aluna do Curso de Doutorado em Educação do
Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), sob a orientação da Profa. Dra. MARIA ZULEIDE DA COSTA PEREIRA.

O objetivo do estudo é investigar quais as apropriações do cargo/função do professor de diretor


de turma constituídas no contexto da escola pública estadual regular cearense no período de
2010 a 2014, em relação às representações do cargo/função do diretor de turma instituído no
sistema educacional português como o modelo inspirador para tal política educacional no estado
do Ceará/Brasil.

Convida-se Vossa Senhoria a contribuir com a disponibilidade em dialogar com a pesquisadora


sobre a referida política educacional. Informa-se que não há necessidade da sua identificação,
pois sua identidade será preservada e sua colaboração não implica em nenhum dano ou risco
para sua dignidade, visto que será mantido o sigilo e privacidade conforme a resolução 466/12
do CNS. Responda fidedignamente às questões para que sua participação possa revelar a
realidade do PPDT vivenciada pela escola e a comunidade cearense. Não será disponibilizado
nenhum recurso financeiro para os participantes.

Ao apertar na tecla "Próximo", você estará concordando em participar do estudo acima


mencionado, que faz parte da tese da doutoranda Vagna Brito de Lima.

1. Prezado participante, antes de iniciarmos com o preenchimento do presente questionário,


indique se você é professor (efetivo e/ou temporário) da rede pública estadual de ensino do
Ceará?
( ) Sim ( ) Não

2.Por favor, indique abaixo o cargo que ocupa.


( ) Coordenador (a) Estadual do Projeto Professor Diretor de Turma (CEPPDT)
( ) Coordenador (a) Regional do Projeto Professor Diretor de Turma (CRPPDT)
( ) Coordenador Escolar que acompanha o Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT)
( ) Professor Diretor de Turma (PDT)
( ) Professor Não Diretor de Turma (PDT)
197

3. Você conhece o Projeto Professor Diretor de Turma em andamento nas escolas públicas
estaduais cearenses? (Utilize o espaço em branco do lado direito para justificar a sua resposta)
( ) Sim
( ) Não
( ) Mais ou menos
( ) Outro

4. Se você conhece o Projeto Professor Diretor de Turma em andamento nas escolas do Ceará,
diga o que acha da referida política educacional. (Utilize o espaço em branco do lado direito
para justificar a sua resposta).
( ) Regular
( ) Bom
( ) Ótimo
( ) Outro

5. Quando teve início o Projeto Professor Diretor de Turma nas escolas públicas estaduais
cearenses? Por favor, comente o que você sabe sobre a origem deste projeto na educação
cearense.

6. O Projeto Professor Diretor de Turma tem documentos que orientam sua execução nas
escolas e salas de aula?
( ) Sim
( ) Não
( ) Não sei

7. Os segmentos dos professores, gestores, funcionários e a comunidade participaram da


elaboração dos documentos orientadores do Projeto Professor Diretor de Turma? (Utilize o
espaço em branco do lado direito para justificar a sua resposta).
( ) Sim
( ) Não
( ) Não sei
( ) Outro

8. Você considera que houve adaptação entre as orientações do PPDT e sua implantação na
escola e na sala de aula? (Utilize o espaço em branco do lado direito para justificar a sua
resposta).
( ) Sim
( ) Não
( ) Mais ou menos
( ) Outro
198

9. Você sabe como teve origem Projeto Professor Diretor de Turma na educação cearense?
Quais são as influências e tendências presentes na política investigada (PPDT)?

10. Você considera que o Projeto Professor Diretor de Turma apresenta impacto para a
educação cearense?
( ) Sim
( ) Não
( ) Não sei

11. Os impactos do Projeto Professor Diretor de Turma para o contexto da educação cearense
são mais fortes para o segmento. (Utilize o espaço em branco do lado direito para justificar a
sua resposta).
( ) Dos alunos
( ) Dos professores
( ) Da gestão escolar
( ) Da família

12. Você considera importante a continuidade do Projeto Professor Diretor de Turma para o
contexto da educação cearense? (Utilize o espaço em branco do lado direito para justificar a sua
resposta).
( ) Sim
( ) Não
( ) Mais ou menos
( ) Não sei

13. Questões sócio-demográficas

a) Idade: _______
b) Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
c) Estado civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Divorciado ( )Viúvo
d) Religião: ( ) Católico ( ) Evangélico ( ) Espírita ( ) Não tenho religião ( ) Outro
e) A escola em que você trabalha se localiza na zona urbana ou rural?
( ) Urbana ( ) Rural
199

APÊNDICE D – Roteiro de entrevistas semiestruturadas professores e gestores – Brasil

Participante:
( ) Coordenador (a) Estadual do Projeto Professor Diretor de Turma (CEPPDT)
( ) Coordenador (a) Regional do Projeto Professor Diretor de Turma (CRPPDT)
( ) Coordenador Escolar que acompanha o Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT)
( ) Professor Diretor de Turma (PDT)
( ) Professor Não Diretor de Turma (PDT)

O presente roteiro se configura em instrumental de pesquisa como parte de um estudo sobre o


Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT) realizado do projeto de doutorado em Educação do
Programa de Pós-Graduação (PPGE) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O objetivo
do estudo é investigar as significações do cargo/função do professor de diretor de turma no
contexto da escola pública estadual regular cearense no período de 2010 a 2014, em relação às
atribuições do cargo/função do diretor de turma consolidado normativamente no sistema
educacional português como modelo inspirador de tal política educacional no Ceará-Brasil.
Convida-se Vossa Senhoria a contribuir com a disponibilidade em dialogar com a pesquisadora
sobre a referida política educacional. Informa-se que não há necessidade de se identificar, pois
sua identidade será preservada. Responda fidedignamente às questões para que sua participação
possa revelar a realidade do PPDT vivenciada pela escola e a comunidade. Não será
disponibilizado nenhum recurso financeiro para os participantes.

PREENCHA OS DADOS
SEDUC ( ) CREDE: ( ) Cidade: _____________________
SEFOR − REGIÃO: ( ) Cidade: Fortaleza
Escola: ____________________________________________________________________
Série: ________ Turma: ______ Turno: ________
Data da realização:____/____/____

PROJETO PROFESSOR DIRETOR DE TURMA:


1. Para você, o que é o Projeto Professor Diretor de Turma?

2. Quais são as influências e tendências você considera presentes no Projeto Professor Diretor
de Turma? Por que surgiu tal política educacional no estado do Ceará/Brasil e em que contexto?

3. Como se deu o início da construção dos documentos orientadores do Projeto Professor


Diretor de Turma? Quais as influências presentes nesse contexto?

4. Como os professores, diretores, pedagogos e demais envolvidos interpretam os textos? Há


mudanças, alterações e adaptações do texto da política para a concretização da política? Há
variações no modo pelo qual o texto é interpretado, nos diferentes espaços observados na
pesquisa?

5. Há efeitos de primeira ordem (mudanças na estrutura e na prática)? Quais são? Quais as


atribuições do Professor Diretor de Turma? O que você pode apontar como contribuições
positivas e negativas? Até que ponto a política contribuiu para a elevação dos padrões de acesso,
oportunidades e justiça social?

PESQUISADOR: Vagna Brito de Lima


200

APÊNDICE E – Roteiro de entrevistas semiestruturadas para responsáveis e alunos –


Brasil

Participante:

( ) Aluno(a) atendido pelo PPDT


( ) Pai/Mãe de aluno(a) atendido pelo Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT)

O presente roteiro se configura em instrumental de pesquisa como parte de um estudo sobre o


Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT) realizado do projeto de doutorado em Educação do
Programa de Pós-Graduação (PPGE) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O objetivo
do estudo é investigar as significações do cargo/função do professor de diretor de turma no
contexto da escola pública estadual regular cearense no período de 2010 a 2014, em relação às
atribuições do cargo/função do diretor de turma consolidado normativamente no sistema
educacional português como modelo inspirador de tal política educacional no Ceará-Brasil.
Convida-se Vossa Senhoria a contribuir com a disponibilidade em dialogar com a pesquisadora
sobre a referida política educacional. Informa-se que não há necessidade de se identificar, pois
sua identidade será preservada. Responda fidedignamente às questões para que sua participação
possa revelar a realidade do PPDT vivenciada pela escola e a comunidade. Não será
disponibilizado nenhum recurso financeiro para os participantes.

PREENCHA OS DADOS

SEDUC ( ) CREDE: ( ) Cidade: _____________________


SEFOR − REGIÃO: ( ) Cidade: Fortaleza
Escola: ____________________________________________________________________
Série: ________ Turma: ______ Turno: ________
Data da realização:____/____/____

PROJETO PROFESSOR DIRETOR DE TURMA:

1. Para você, o que é o Projeto Professor Diretor de Turma?


2. Quais as atribuições do Professor Diretor de Turma? O que você pode apontar como
contribuições positivas e negativas do Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT) no contexto
escolar e na comunidade local?
3. Até que ponto a política contribuiu para a elevação dos padrões de acesso, oportunidades e
justiça social?

4. Qual o impacto da política para os alunos? Há consequências inesperadas? Quais?

5. É possível identificar formas de injustiça (distributiva, cultural) e opressão (exploração,


marginalização, imperialismo cultural, impotência, violência)?

PESQUISADOR:
Vagna Brito de Lima
201

APÊNDICE F – Roteiro (guião) de entrevistas semiestruturadas para conselheiro dos


diretores – Portugal

Participante:
Coordenador do Conselho de Diretores de Turmas no Ensino Secundário

O presente roteiro (guião) se configura em instrumental de pesquisa como parte de um estudo


sobre o Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT) realizado na pesquisa de doutorado em
Educação do Programa de Pós-Graduação (PPGE) da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB)/Brasil, com Estágio Científico Avançado no Instituto de Educação (IE) da
Universidade do Minho (UMINHO)/Portugal. O objetivo do estudo é analisar a política
educativa Projeto Professor Diretor de Turma e os sentidos das apropriações dos sujeitos da
organização educativa (gestores, professores, alunos e pais), acerca das representações do
cargo/função do diretor de turma no contexto da escola pública do estado do Ceará-Brasil no
período de 2011 a 2014. Uma vez que a figura do Diretor de Turma, introduzida em alguns
Estados do Brasil, se inspira na figura do Diretor de Turma existente nas escolas portuguesas,
este estudo inclui dois estudos de caso: um a desenvolver no Brasil e outro em Portugal.
Convido por isso Vossa Exª a contribuir com a disponibilidade em dialogar com a pesquisadora
sobre a referida temática educacional em estudo. Informa-se que não há necessidade de se
identificar, pois sua identidade será preservada. Responda fidedignamente às questões para que
sua participação possa revelar a realidade sobre o tema vivenciado pela escola e a comunidade
escolar. Não será disponibilizado nenhum recurso financeiro para os participantes.

PREENCHA OS DADOS
Cidade: _____________________
Data da realização:____/____/____

DESIGNAÇÃO PARA O CARGO DE CDT E DE DT


1. Segundo o Regulamento Interno deste agrupamento de escolas, o Coordenador do Conselho
de Diretores de Turma é designado pelo Diretor por um período de quatro anos, podendo ser
prorrogado (Art. 19º, item 3). Diante dessa determinação, há quanto tempo você é Coordenador
do Conselho de Diretores de Turma do ensino secundário?
2. Na sua opinião, quais os requisitos que o Diretor valoriza quando designa o professor para
coordenar o Conselho de Diretores de Turma?
O Diretor costuma consulta-lo antes de designar os Diretores de Turma?
3. O exercício do cargo Coordenador dos Diretores de Turma (CDT) lhe dá o direito a uma
redução componente letiva. No seu caso, de quantos tempos letivos beneficia para o exercício
do cargo? Para além desse benefício, considera que há outras vantagens em exercer o cargo de
CDT? Quanto ao tempo determinado para o exercício do cargo, você considera apropriado ou
insuficiente? Quantos Diretores de Turma integram o Conselho que coordena?
4. A legislação escolar portuguesa não exige nenhuma preparação específica para o exercício
do cargo de Diretor de Turma. Considera que seria importante uma preparação especializada
para o exercício deste cargo ?
5. Pela experiência que tem como DT e CDT, como reage a maioria dos professores quando
são designados diretores de turma: i) ficam entusiasmados e sentem-se honrados com a escolha?
ii) Aceitam com alguma resignação, pois reconhecem que alguém tem de ser? iii) Protestam
porque acham que vão ter muito trabalho e pouco reconhecimento?

IMPORTÂNCIA E COMPETÊNCIAS DO COORDENADOR DOS DT E DOS DT


202

6. Você considera o cargo de CDT importante para a comunidade escolar e para a comunidade
educativa? Por que?
7. Dentre as várias atribuições do CDT, quais as três que considera mais importantes para a
organização escolar? Por quê? No cotidiano, quais as atividades específicas do cargo de CDT?
8. De acordo com o estabelecido na alínea e), do artº 35º do RI deste Agrupamento, o CDT, no
final do ano, deve apresentar ao diretor um relatório crítico do trabalho desenvolvido. Em que
consiste esse Relatório? Que elementos deve incorporar? Acha útil a elaboração desse
Relatório?

RELAÇÕES – COMUNIDADE ESCOLAR E COMUNIDADE EDUCATIVA


9. Como caracteriza a sua relação com os outros Diretores de Turma? Na sua opinião, o cargo
de Coordenador dos Diretores de Turma é um cargo prestigiado neste Agrupamento?
Habitualmente, quando um professor se depara com um problema na turma, a quem se dirige:
ao Diretor de Turma, ao Coord dos Diretores de Turma, ou ao Diretor? Quando os
pais/encarregados de educação se dirigem à escola é habitual pedirem para serem atendidos
pelo Coordenador dos Diretores de Turma?
10. Considera o Conselho de Turma um órgão importante? Porquê? Uma das atividades
fundamentais dos Conselhos de Turma, é proceder as avaliações dos alunos. Para além das
atribuições das classificações, para que outras finalidades são relevantes as reuniões do
Conselho de Turma? É importante a presença dos representantes dos pais/mães e ou
encarregados de educação e dos alunos nessas reuniões?
11. O que você pode apontar como contribuições fortes e fracas da atuação do Diretor de Turma
no contexto escolar, especificamente para a dinâmica cotidiana da escola? E para comunidade
escolar na relação com as famílias?
12. Se não houvesse Diretores de Turma, o que de relevante mudaria neste grupamento?
13. Na sua opinião como os estudantes/alunos veem o papel do Diretor de Turma? E os
pais/mães e ou encarregados de educação?

Há alguma coisa mais que considere importante sobre o Diretor de Turma e que queira
acrescentar?

OBRIGADO POR TER PARTILHADO COMIGO AS SUAS OPINIÕES E PELO TEMPO


QUE ME DISPENSOU!

PESQUISADORA:
Vagna Brito de Lima
203

APÊNDICE G – Roteiro(guião) de entrevistas semiestruturadas para diretores –


Portugal

Participante:
Diretor

O presente roteiro (guião) se configura em instrumental de pesquisa como parte de um estudo


sobre o Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT) realizado na pesquisa de doutorado em
Educação do Programa de Pós-Graduação (PPGE) da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB)/Brasil, com Estágio Científico Avançado no Instituto de Educação (IE) da
Universidade do Minho (UMINHO)/Portugal. O objetivo do estudo é analisar a política
educativa Projeto Professor Diretor de Turma e os sentidos das apropriações dos sujeitos da
organização educativa (gestores, professores, alunos e pais), acerca das representações do
cargo/função do diretor de turma no contexto da escola pública do estado do Ceará-Brasil no
período de 2011 a 2014. Uma vez que a figura do Diretor de Turma, introduzida em alguns
Estados do Brasil, se inspira na figura do Diretor de Turma existente nas escolas portuguesas,
este estudo inclui dois estudos de caso: um a desenvolver no Brasil e outro em Portugal.
Convido-o, por isso, a contribuir com a disponibilidade em dialogar com a pesquisadora sobre
a referida temática educacional em investigação. Informa-se que não há necessidade de se
identificar, pois sua identidade será preservada. Responda fidedignamente às questões para que
sua participação possa revelar a realidade sobre o tema vivenciado pela escola e a comunidade
escolar. Não será disponibilizado nenhum recurso financeiro para os participantes.

PREENCHA OS DADOS
Cidade: _____________________
Data da realização:____/____/____

DESIGNAÇÃO DO DIRETOR DE TURMA E IMPORTÂNCIA DO CARGO


1. Conforme o art. 18º do DL nº 75 de 22 de abril de 2008, “O diretor é o órgão de administração
e gestão do agrupamento de escolas ou escola não agrupada nas áreas pedagógica, cultural,
administrativa, financeira e patrimonial”, e, é eleito pelo Conselho Geral para um mandato de
quatro anos, podendo ser reconduzido ao cargo (art. 25 DL 75/2008). No seu caso, há quanto
tempo você está na direção deste agrupamento de escolas?
2. Segundo o Regulamento Interno deste agrupamento de escolas, o Coordenador do Conselho
de Diretores de Turma (RI art. 34º) e os Diretores de Turma (RI art. 39º) são designados pelo
Diretor. Qual o perfil ideal que um professor deve apresentar para ser designado Diretor de
Turma? Há perfis específicos em função das características das turmas? Antes de designar um
professor para o cargo de Diretor de Turma, costuma sondá-lo acerca do assunto? E costuma
consultar o CDT? Os DT costumam fazer um relatório no final de cada ano, é a partir da análise
desse relatório que se decide a continuidade do DT ou não?
3. Quanto ao Coordenador dos Diretores de Turma, também é da sua responsabilidade designá-
lo, qual o perfil ideal para um professor assumir esse cargo?
4. Na sua opinião, qual a relevância do cargo de Diretor de Turma numa escola? Se tivesse que
reduzir as várias atribuições do DT a apenas três, quais selecionaria? Quais as principais razões
dessa seleção?
5. Em Portugal, o cargo de Diretor de Turma foi introduzido primeiro no 2º ciclo (década de
60 do sec XX) e só depois se generalizou ao 3º ciclo e ao ensino secundário. No Brasil, e mais
especificamente no Estado que estou a estudar, a figura do Diretor de Turma só foi instituida
204

muito recentemente e começou por ser introduzida no ensino secundário. Acha que a figura do
Diretor de Turma é mais indispensável no ensino básico ou no ensino secundário?
Como referi antes, o DT foi introduzido no sistema educativo português há cerca de 50 anos.
Desde a instituição do cargo até ao presente houve mudanças significativas nas suas
atribuições? Se sim, o que de mais relevante mudou?
6. Pela experiência que tem como Diretor, como reage a maioria dos professores quando são
designados diretores de turma: i) ficam entusiasmados e sentem-se honrados com a escolha? ii)
Aceitam com alguma resignação, pois reconhecem que alguém tem de ser? iii) Protestam
porque acham que vão ter muito trabalho e pouco reconhecimento?

RELAÇÕES – COMUNIDADE ESCOLAR E COMUNIDADE EDUCATIVA


7. No que se refere às relações construídas no contexto da organização escolar, como você
percebe a relação entre o Coordenador do Diretores de Turma e os Diretores de Turma?
8. Considera o Conselho de Turma um órgão importante? Porquê? Uma das atividades
fundamentais dos Conselhos de Turma, é proceder as avaliações dos alunos. Para além das
atribuições das classificações, para que outras finalidades são relevantes as reuniões do
Conselho de Turma? É importante a presença dos representantes dos pais/mães e ou
encarregados de educação e dos alunos nessas reuniões?
9. Supondo que estivesse dentro das suas possibilidades de decisão, o que mudaria no cargo do
DT?
10. Se não houvesse Diretores de Turma, o que de relevante mudaria neste agrupamento? Se de
um momento para o outro se eliminasse o cargo de DT, quem seriam os mais afetados: os
professores, os alunos ou os pais/EE?
11. A legislação escolar portuguesa não exige nenhuma preparação específica para o exercício
do cargo de Diretor de Turma. Considera que seria importante uma preparação especializada
para o exercício deste cargo?
12. Na sua opinião como os estudantes/alunos veem o papel do Diretor de Turma? E os
pais/mães e ou encarregados de educação?

Há alguma coisa mais que considere importante sobre o Diretor de Turma e que queira
acrescentar?

OBRIGADO POR TER PARTILHADO COMIGO AS SUAS OPINIÕES E PELO TEMPO


QUE ME DISPENSOU!

PESQUISADORA:
Vagna Brito de Lima
205

APÊNDICE H – Roteiro (guião) de entrevistas semiestruturadas para diretores de


turma – Portugal

Participante:
Professor Diretor de Turma

O presente roteiro (guião) se configura em instrumental de pesquisa como parte de um estudo


sobre o Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT) realizado na pesquisa de doutorado em
Educação do Programa de Pós-Graduação (PPGE) da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB)/Brasil, com Estágio Científico Avançado no Instituto de Educação (IE) da
Universidade do Minho (UMINHO)/Portugal. O objetivo do estudo é analisar a política
educativa Projeto Professor Diretor de Turma e os sentidos das apropriações dos sujeitos da
organização educativa (gestores, professores, alunos e pais), acerca das representações do
cargo/função do diretor de turma no contexto da escola pública do estado do Ceará-Brasil no
período de 2011 a 2014. Uma vez que a figura do Diretor de Turma, introduzida em alguns
Estados do Brasil, se inspira na figura do Diretor de Turma existente nas escolas portuguesas,
este estudo inclui dois estudos de caso: um a desenvolver no Brasil e outro em Portugal.
Convido-o, por isso, a contribuir com a disponibilidade em dialogar com a pesquisadora sobre
a referida temática educacional em investigação. Informa-se que não há necessidade de se
identificar, pois sua identidade será preservada. Responda fidedignamente às questões para que
sua participação possa revelar a realidade sobre o tema vivenciado pela escola e a comunidade
escolar. Não será disponibilizado nenhum recurso financeiro para os participantes.

PREENCHA OS DADOS
Cidade: _____________________
Data da realização:____/____/____

DESIGNAÇÃO DO CARGO
1. Segundo o Regulamento Interno deste agrupamento de escolas, o Diretor de Turma é
designado anualmente pelo Diretor . Desde quando é DT desta turma?
2. Ainda, conforme o Regulamento Interno deste agrupamento de escolas os requisitos para
designação do Diretor de Turma incluem, entre outros, possuir um“perfil adequado para o
desempenho da função”. Na sua opinião, quais devem ser os principais traços desse perfil? Se
lhe solicitassem que, entre as várias atribuições do cargo que exerce, selecionasse três, quais
elegeria? Quais as razões dessa seleção?;
3. O exercício do cargo Diretor de Turma lhe dá o direito a uma redução na componente letiva.
Para além desse benefício, você considera que há outras vantagens em exercer o cargo de
Diretor de Turma? Quanto à redução da componente letiva para o exercício do cargo de Diretor
de Turma, considera-a apropriada ou insuficiente? O facto de ter sido designado/a pelo Diretor
para exercer o cargo de Diretor de Turma constituiu para si um motivo de orgulho?
4. Pela experiência que tem, como reage a maioria dos professores quando são designados
diretores de turma: i) ficam entusiasmados e sentem-se honrados com a escolha? ii) Aceitam
com alguma resignação, pois reconhecem que alguém tem de ser? iii) Protestam porque acham
que vão ter muito trabalho e pouco reconhecimento?
5. Como aprendeu a ser Diretor de Turma? Frequentou alguma formação específica? Quem o
orientou da 1ª vez que exerceu o cargo de DT? Acha que é importante uma formação
especializada para Diretores de Turma?

IMPORTÂNCIA E ATRIBUIÇÕES DO COORDENADOR DOS DT


206

5. Você considera sua atuação do Diretor de Turma importante para a comunidade escolar e
para a comunidade educativa? Por que? E você gosta de exercer o cargo de Diretor de Turma?
Se lhe fosse permitido escolher, optaria por ser DT?

RELAÇÕES – COMUNIDADE ESCOLAR E COMUNIDADE EDUCATIVA


7. No que se refere as relações construídas no contexto da organização escolar, como você
percebe a relação entre os Diretores de Turma e o Coordenador dos Diretores de Turma ? E dos
Diretores de Turma e os demais professores da turma ? E dos Diretores de Turma com os
alunos? E dos Diretores de Turma com os pais/mães e ou encarregados de Educação?
8. Considera o Conselho de Turma um órgão importante? Porquê? Quantas reuniões foram
realizadas pelo Conselho de Turma desde o início do ano? Dessas reuniões, em quantas
estiveram presentes os representantes dos pais/mães/ ou encarregados de educação e dos
alunos?
9. Uma das atividades fundamentais dos Conselhos de Turma, é proceder as avaliações dos
alunos. Para além das atribuições das classificações, para que outras finalidades são relevantes
as reuniões do Conselho de Turma? É importante a presença dos representantes dos pais/mães
ou encarregados de educação e dos alunos nessas reuniões?
10. O que você pode apontar como contribuições fortes e fracas da atuação do Diretor de Turma
no contexto escolar, especificamente para a dinâmica cotidiana da escola? E para comunidade
escolar na relação com as famílias?
11. Se não houvesse Diretores de Turma, o que de relevante mudaria neste agrupamento?
12. Na sua opinião como os estudantes/alunos veem o papel do Diretor de Turma? E os
pais/mães e ou encarregados de educação?

Há alguma coisa mais que considere importante sobre o Diretor de Turma e que queira
acrescentar?

OBRIGADO POR TER PARTILHADO COMIGO AS SUAS OPINIÕES E PELO TEMPO


QUE ME DISPENSOU!

PESQUISADORA:
Vagna Brito de Lima
207

APÊNDICE I – Roteiro (guião) de entrevistas semiestruturadas para responsáveis –


Portugal

Participante:
Pai/Mãe e ou Encarregado de Educação

O presente roteiro (guião) se configura em instrumental de pesquisa como parte de um estudo


sobre o Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT) realizado na pesquisa de doutorado em
Educação do Programa de Pós-Graduação (PPGE) da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB)/Brasil, com Estágio Científico Avançado no Instituto de Educação (IE) da
Universidade do Minho (UMINHO)/Portugal. O objetivo do estudo é analisar a política
educativa Projeto Professor Diretor de Turma e os sentidos das apropriações dos sujeitos da
organização educativa (gestores, professores, alunos e pais), acerca das representações do
cargo/função do diretor de turma no contexto da escola pública do estado do Ceará-Brasil no
período de 2011 a 2014. Uma vez que a figura do Diretor de Turma, introduzida em alguns
Estados do Brasil, se inspira na figura do Diretor de Turma existente nas escolas portuguesas,
este estudo inclui dois estudos de caso: um a desenvolver no Brasil e outro em Portugal.
Convido-o, por isso, a contribuir com a disponibilidade em dialogar com a pesquisadora sobre
a referida temática educacional em investigação. Informa-se que não há necessidade de se
identificar, pois sua identidade será preservada. Responda fidedignamente às questões para que
sua participação possa revelar a realidade sobre o tema vivenciado pela escola e a comunidade
escolar. Não será disponibilizado nenhum recurso financeiro para os participantes.

PREENCHA OS DADOS
Cidade: _____________________
Data da realização:____/____/____

DESIGNAÇÃO DO CARGO
1. Na sua qualidade de Pai/Mãe e ou encarregado de educação, você conhece como é o
procedimento de designação do Diretor de Turma da turma do seu filho dentre os demais
professores? Na sua opinião, como você acha que deveria ser o procedimento de designação do
Diretor de Turma? Considera que os pais/EE também deveria ser ouvidos neste processo?
2. Conforme o Regulamento Interno deste agrupamento de escolas, os Diretores de Turma
devem ser designados de entre os professores que “apresentem perfil adequado para o
desempenho da função” (RI art. 39, p. 33). Na sua opinião, qual é o “perfil ideal” que um
professor deve ter para o desempenho da função de Diretor de Turma? Você considera que
todos os professores têm o perfil adequado para exercer o cargo de Diretor de Turma?

IMPORTÂNCIA E ATRIBUIÇÕES DO COORDENADOR DOS DT


3. De acordo com seu acompanhamento do trabalho realizado pelo Diretor de Turma, você
considera esse cargo importante para a educação do seu filho?
4. Quais os aspectos mais relevantes do trabalho do Diretor de Turma numa escola?

RELAÇÕES – COMUNIDADE ESCOLAR E COMUNIDADE EDUCATIVA


5. Como representante dos Pais/Mães ou EE, costuma ser convidado para participar das
reuniões do Conselho de Turma? De quantas reuniões do Conselho de Turma participou desde
o início deste ano? Quais os assuntos mais debatidos nessas reuniões? Você considera como
um momento importante para a resolução dos problemas dos alunos, das famílias e da escola?
Justifique sumariamente a sua resposta.
208

O DT dispõe de uma hora semanal para atender os pais/EE. Qual a relevância deste tempo
semanal? Esse tempo de atendimento é regularmente aproveitado pelos pais/EE?
6. O que aponta como contribuições fortes e fracas da atuação do Diretor de Turma para a
educação dos alunos no contexto escolar? E na relação com a família?
7. Se não houvesse Diretores de Turma, o que de relevante mudaria neste agrupamento?
8. Na sua opinião como os estudantes/alunos veem o papel do Diretor de Turma?
9. Habitualmente, quando se desloca à escola para se reunir com o Diretor de Turma, fá-lo por
iniciativa própria ou porque foi convocado pelo DT? Quais costumam ser os assuntos tratados?
10. É habitual ouvir-se dizer: “os pais só são chamados à escola quando há ‘problemas’
(comportamento, aproveitamento, assiduidade)”. Isto também acontece neste Agrupamento?
Os DT costumam chamar os pais à escola também para lhe dar “boas notícias”? Já aconteceu
consigo?

Há alguma coisa mais que considere importante sobre o Diretor de Turma e que queira
acrescentar?

OBRIGADO POR TER PARTILHADO COMIGO AS SUAS OPINIÕES E PELO TEMPO


QUE ME DISPENSOU!

PESQUISADORA:
Vagna Brito de Lima
209

APÊNDICE J – Roteiro(guião) de entrevistas semiestruturadas para alunos – Portugal

Participante:
Aluno/Aluna

O presente roteiro (guião) se configura em instrumental de pesquisa como parte de um estudo


sobre o Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT) realizado na pesquisa de doutorado em
Educação do Programa de Pós-Graduação (PPGE) da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB)/Brasil, com Estágio Científico Avançado no Instituto de Educação (IE) da
Universidade do Minho (UMINHO)/Portugal. O objetivo do estudo é analisar a política
educativa Projeto Professor Diretor de Turma e os sentidos das apropriações dos sujeitos da
organização educativa (gestores, professores, alunos e pais), acerca das representações do
cargo/função do diretor de turma no contexto da escola pública do estado do Ceará-Brasil no
período de 2011 a 2014. Uma vez que a figura do Diretor de Turma, introduzida em alguns
Estados do Brasil, se inspira na figura do Diretor de Turma existente nas escolas portuguesas,
este estudo inclui dois estudos de caso: um a desenvolver no Brasil e outro em Portugal.
Convido-o, por isso, a contribuir com a disponibilidade em dialogar com a pesquisadora sobre
a referida temática educacional em investigação. Informa-se que não há necessidade de se
identificar, pois sua identidade será preservada. Responda fidedignamente às questões para que
sua participação possa revelar a realidade sobre o tema vivenciado pela escola e a comunidade
escolar. Não será disponibilizado nenhum recurso financeiro para os participantes.

PREENCHA OS DADOS
Cidade: _____________________
Data da realização:____/____/____

DESIGNAÇÃO DO CARGO
1. Na sua qualidade de Aluno/Aluna, você conhece como é o procedimento de designação do
Diretor de Turma para a sua turma, dentre os demais professores que lecionam? Na sua opinião,
como deveria ser o procedimento de designação do Diretor de Turma?
2. Qual o ano de escolaridade que frequenta? Há quantos anos tem o mesmo DT?
3.. Gostaria de escolher o seu Diretor de Turma? Justifique sumariamente a sua resposta.
4. Conforme o Regulamento Interno deste agrupamento de escolas, o professor a designar para
o cargo de Diretor de Turma deve possuir um “perfil adequado para o desempenho da função”.
(RI art. 39, p. 33) ”. Na sua opinião, qual o perfil adequado para o desempenho da função de
Diretor de Turma? Você considera que todos os professores da turma têm o perfil adequado
para exercer o cargo de Diretor de Turma?

IMPORTÂNCIA E ATRIBUIÇÕES DO DT
5. De acordo com seu entendimento sobre o trabalho realizado pelo Diretor de Turma, você
considera esse cargo importante para a sua educação? Porquê?
6. Quais os aspectos mais relevantes do trabalho do Diretor de Turma?
14. Se não houvesse Diretores de Turma, o que de relevante mudaria neste agrupamento?

7. Quando o DT pretende enviar alguma mensagem para os vossos pais como é que procede?
8. Na sua opinião, a maioria dos alunos gosta que os seus pais venham à escola com regularidade
para dialogar com o DT?

RELAÇÕES – COMUNIDADE ESCOLAR E COMUNIDADE EDUCATIVA


210

10. Em sua opinião, como se caracteriza a relação entre o Diretor de Turma e os demais
professores da sua turma?
9. A vossa relação com o diretor de turma e com os outros professores da turma é igual ou há
diferenças? Se sim, quais?
11. Quanto ao Conselho de Turma, você como aluno delegado da turma, costuma ser convidado
para participar das reuniões? De quantas reuniões participou desde o início deste ano? Quais os
assuntos mais debatidos nessas reuniões? Você considera como um momento importante para
a resolução dos problemas dos alunos, das famílias e da escola? Justifique sumariamente a sua
resposta.
12. O que você pode apontar como contribuições fortes e fracas da atuação do Diretor de Turma
para a educação dos alunos no contexto escolar? E na relação com a família?
13. Se você fosse descrever o papel do Diretor de Turma em relação a vocês estudantes, como
você descreveria?
14. Se não houvesse Diretores de Turma, o que de relevante mudaria neste agrupamento?
Imagina que durante um dia você tem o poder total na organização da escola, o que efetivamente
mudaria no cargo do Diretor de Turma?
Há alguma coisa mais que considere importante sobre o Diretor de Turma e que queira
acrescentar?

OBRIGADO POR TER PARTILHADO COMIGO AS SUAS OPINIÕES E PELO TEMPO


QUE ME DISPENSOU!

PESQUISADORA:
Vagna Brito de Lima
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ANEXO A – Agenda estratégica – SEDUC 2008-2010


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ANEXO B – Plano de ação setorial de SEDUC-CE 2008-2010


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ANEXO C – Matriz de GPR


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ANEXO D – Folder do projeto diretor de turma em andamento no estado do Ceará (2007-2014)


224

Fonte: SEDUC-CE (2014, 2016).


225

ANEXO E – Chamada pública para adesão ao projeto diretor de turma


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Fonte: SEDUC-CE (2014).


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Créditos
Elaboração: Haidé Eunice Gonçalves Ferreira Leite (Consultora para implantação do projeto)
Revisão: Conceição Ávila
Fonte: SEDUC-CE (2014).
248

ANEXO F – Quadro demonstrativo do PPDT na SEDUC/CE/BR 2008 a 2014

Fonte: SEDUC-CE (2015).


249

ANEXO G – Calendário norteador de atividades do PPDT na


CREDE06/SEDUC/CE/BR

Fonte: CREDE 06 (2017).


250

ANEXO H – Quadro demonstrativo do PPDT na SEDUC/CE/BR relativo a 2017

CREDE Nº de Escolas com Nº de Turmas com Nº de Professores DT


o PPDT DT

1 57 487 481
2 41 467 472
3 20 160 161
4 15 163 155
5 31 232 231
6 47 456 458
7 16 231 214
8 21 212 212
9 16 239 243
10 24 231 235
11 13 126 124
12 18 253 253
13 28 315 317
14 13 133 134
15 11 106 108
16 17 177 178
17 15 136 138
18 26 263 268
19 27 339 343
20 21 179 184
SEFOR 1 43 429 419
SEFOR 2 50 532 487
SEFOR 3 55 583 562
TOTAL 625 6449 6377
Fonte: SEDUC-CE (2017).

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