A Educação de Bebês e Crianças Pequenas No

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC

CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – CED


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGE

FERNANDA GONÇALVES

A EDUCAÇÃO DE BEBÊS E CRIANÇAS PEQUENAS NO


CONTEXTO DA CRECHE: UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO
CIENTÍFICA RECENTE

Florianópolis, 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC
CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – CED
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGE

FERNANDA GONÇALVES

A EDUCAÇÃO DE BEBÊS E CRIANÇAS PEQUENAS NO


CONTEXTO DA CRECHE: UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO
CIENTÍFICA RECENTE

Dissertação apresentada ao Programa


de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal de Santa
Catarina como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em
Educação. Linha de Pesquisa
Educação e Infância. Orientadora:
Professora Dra. Eloisa Acires Candal
Rocha

Florianópolis, 2014
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor,
através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.

Gonçalves, Fernanda
A educação de bebês e crianças pequenas no contexto da
creche : Uma análise da produção científica recente /
Fernanda Gonçalves ; orientadora, Dra. Eloisa Acires Candal
Rocha - Florianópolis, SC, 2014.
202 p.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa


Catarina, Centro de Ciências da Educação. Programa de Pós-
Graduação em Educação.

Inclui referências

1. Educação. 2. educação infantil. 3. produção científica;


bebês. 4. crianças pequenas. 5. docência. I. Rocha, Dra.
Eloisa Acires Candal . II. Universidade Federal de Santa
Catarina. Programa de Pós-Graduação em Educação. III. Título.
FERNANDA GONÇALVES

A EDUCAÇÃO DE BEBÊS E CRIANÇAS PEQUENAS NO


CONTEXTO DA CRECHE: UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO
CIENTÍFICA RECENTE

Dissertação de Mestrado apresentada à banca de defesa do Programa de


Pós-Graduação em Educação (PPGE), Linha de pesquisa Educaçação e
Infância, Centro de Ciências da Educação (CED), da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC).

Aprovada pela Banca Examinadora em __ Outubro de 2014:

___________________________________________
Dra. Eloisa Alicres Candal Rocha
Universidade Federal de Santa Catarina
Orientadora

____________________________________________
Dra. Márcia Buss-Simão
Universidade do Sul de Santa Catarina
Co-orientadora

_________________________________________________
Profª. Angela Maria Scalabrin Coutinho
Universidade Federal do Paraná
Membro

____________________________________________
Profª. Dra. Kátia Adair Agostinho
Universidade Federal de Santa Catarina
Membro
____________________________________________
Profª. Dra. Maria Carmen Silveira Barbosa
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Membro

______________________________________________
Prof. Dr. João Josué da Silva Filho
Universidade Federal de Santa Catarina
Suplente
A todos que se fizeram presente nesse
sonho.
AGRADECIMENTOS

Nesta trajetória de escrita e de vida, tenho muitas pessoas


especiais a quem gostaria de agradecer. Primeiramente aos meus pais,
Fernando e Dilva, pelo apoio, por todos os abraços de incentivo, por
todo carinho e principalmente por terem me ensinado o sentido do amor.
Dedico todas as minhas conquistas a vocês.
À minha irmã Gisele, parceira de vida e, por sorte, de trajetória
acadêmica. Esteve ao meu lado desde o primeiro dia de aula na
Graduação de Pedagogia, e eu estive ao seu, desde o seu primeiro dia de
vida. Obrigada pelo apoio, amizade e por me encorajar sempre que
preciso. É a “metade de mim”.
Ao meu amor Gustavo, que dentre todos que me auxiliaram nesse
processo, foi indispensável, me apoiando com tanto carinho e amor,
sendo compreensível com todas as demandas. É a pessoa que presenciou
– e com que dividi – todas minhas alegrias e angústias, quem acreditou
nos meus sonhos, meu grande parceiro de todos os momentos.
À toda minha família, obrigada pelas palavras de carinho, que
tanto me impulsionaram nesse processo. Em especial, às minhas primas
e primos, pela amizade, ternura e apoio.
A todos os meus amigos, que são muito importantes na minha
vida. Obrigada por existirem.
Às preciosas amizades que fiz neste percurso, aos meus queridos
colegas do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Educação na Pequena
Infância (NUPEIN/UFSC), pelas profícuas discussões que enriqueceram
minha formação.
A minha mais profunda gratidão às queridas e especiais
professoras que contribuíram para minha formação acadêmica e pessoal,
minha orientadora Eloisa Acires Candal Rocha, pelo carinho com que
compartilhou seus conhecimentos e por toda atenção que dedicou a
mim. E minha estimada co-orientadora Márcia Buss Simão, por me
acolher, pelas primorosas orientações, pelas conversas que tanto me
motivaram. Pelo carinho e sensibilidade com que me orientou em todo
esse percurso, por toda dedicação que teve à minha pesquisa. Não
existem palavras para expressar a importância de vocês na minha
formação e na minha vida. Às duas professoras serei eternamente grata.
Às professoras que tão carinhosamente aceitaram fazer parte da
banca: Angela Coutinho, Kátia Agostinho, Maria Carmen Silveira
Barbosa e o Professor João Josué da S. Filho, tão especiais e
importantes na minha trajetória. Obrigada por fazerem parte desse
momento especial.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação deste Centro, em
especial à Professora Maria Isabel Batista Serrão, Professor João Josué
da Silva Filho e Professoa Maria das Dores Daros, que em suas
disciplinas me ajudaram a refletir sobre o processo da pesquisa.
Aos professores que participaram da minha formação no Curso
de Pedagogia da UFSC, sobretudo, aos professores da Habilitação em
Educação Infantil, que tanto me mobilizaram e inspiraram a participar
do processo de seleção de mestrado. Em especial, Professor Adilson De
Angelo, Professoras Angela Coutinho, Kátia Agostinho e Eliane Debus,
agradeço pelas ricas discussões que fizeram apaixonar-me ainda mais
pela Educação.
Por fim, às pesquisadoras/autoras das dissertações que fizeram
parte desse estudo, sem as quais não seria possível realizá-lo.
Meus sinceros agradecimentos a todos que contribuiram com o
meu processo de formação.
Um fotógrafo-artista me disse outra
vez: Veja que pingo de sol no couro de
um lagarto é para nós mais importante
do que o sol inteiro no corpo do mar.
Falou mais: que a importância de uma
coisa não se mede com fita métrica
nem com balanças nem com
barômetros etc. Que a importância de
uma coisa há que ser medida pelo
encantamento que a coisa produza em
nós. Assim um passarinho nas mãos de
uma criança é mais importante para
ela do que a Cordilheira dos Andes
(Manoel de Barros).
RESUMO

A presente pesquisa, em nível de mestrado, teve como objetivo


aprofundar os estudos sobre as práticas pedagógicas com as crianças de
0 a 3 nos de idade, analisando os indicativos para a docência com bebês
e crianças bem pequenas, a partir da produção científica brasileira,
cadastradas no banco de teses e dissertações da CAPES entre os anos de
2008 a 2011. Para tanto, utilizou-se como referenciais teóricas autores
da Educação Infantil, como Tristão (2006), Guimarães (2008), Schmitt
(2008), Coutinho (2010), Barbosa (2010), entre outros, cujas
contribuições ajudam a pensar as relações educativas que envolvem a
educação dos bebês e crianças pequenas. Realizou-se, deste modo um
mapeamento da produção nacional que tinham como foco de
preocupação a educação das crianças de zero a três anos no contexto da
educação infantil, totalizando 48 trabalhos, dos quais 13 constituíram o
corpus definitivo analisado. Como referência metodológica optou-se
pela Análise de Discurso Textualmente Orientada de Normam
Fairclough (2001), que concebe o discurso como manifestação dos
modos particulares de uso da linguagem e manifestação social,
compreendido enquanto aquele que não somente reflete ou representa
entidades e relações sociais, mas constitui e constrói os discursos e os
modos de posicionamento dos sujeitos. A partir do corpus analisado,
emergiram as seguintes categorias de análise: 1) Estudos sobre a
especificidade docente; 2) Estudos sobre as práticas pedagógicas; 3)
Estudos sobre o desenvolvimento infantil; 4) Estudos sobre a função
social da creche e relações com a família. Na categoria estudos sobre a
especificidade docente, os dados reafirmam que ser professora de bebês
possui especificidades próprias para essa faixa etária, que se caracteriza
principalmente pelas ações que envolvem os momentos de alimentação,
higiene e sono, entre outros, que constituem as dimensões educativas,
logo, a docência é marcada pelas relações, pelo compartilhamento de
experiências. No âmbito da categoria estudos sobre as práticas
pedagógicas emergem indicativos para a própria prática pedagógica,
sobretudo, elementos que assinalam e reafirmam a potencialidade dos
bebês, chamando atenção para a importância do esforço dos
pesquisadores em buscar compreender e legitimar seus pontos de vistas,
considerando as suas múltiplas linguagens: o corpo, o choro, o sorriso, o
balbucio, olhares, etc. Já na categoria estudos sobre o desenvolvimento
infantil é significativo a grande predominância de pesquisas, ainda que
de distintas perspectivas teóricas, que se dedicaram a estudar aspectos
ligados ao desenvolvimento das crianças de zero a três anos, se
comparado aos estudos que tenham como foco de preocupação a própria
prática pedagógica. Referente aos estudos sobre a função social da
creche e relação com as famílias, todas as pesquisas reafirmam a
importância das relações estabelecidas entre as famílias e a creche,
atribuindo à creche a responsabilidade de revelar para as famílias sua
ação fundamentada numa intencionalidade pedagógica. Como resultado
da pesquisa pode-se destacar à organização dos tempos e espaços como
dos elementos centrais que caracterizam a especificidade docente com
essa faixa etária. Por fim, emergiu com grande evidência dentre as
dissertações analisadas, perspectivas de pesquisas as quais assumem um
posicionamento metodológico que buscam se aproximar dos pontos de
vistas das crianças, considerando-as partícipes legitimas da pesquisa.
Palavras-chave: educação infantil; produção científica; bebês; crianças
pequenas; docência.
ABSTRACT

This research aimed at deepening the studies on pedagogical practices


with children within 0-3 years old, in order to analyze the indicative for
teaching babies/ little children, based on the Brazilian scientific
literature, registered in CAPES database of thesis and dissertations from
2008 to 2011. Therefore, it was used as theoretical reference authors of
Child Education, such as Tristão (2006), Guimarães (2008), Schmitt
(2008), Coutinho (2010), Barbosa (2010), among others, whose
contributions help to think educational relations involving the education
of babies and children. This way, a mapping of national production was
done focusing on the education of children between zero and three years
old in the context of Child Education. There were a total of 48 papers of
which 13 constituted the final corpus for the proposed analysis. The
methodological reference was based on Normam Fairclough's Textually
Oriented Discourse Analysis (2001), which conceives the discourse as a
manifestation of particular modes of language use and social
manifestation, understood as one who not only reflects or represents
social entities and relations, but also constitutes and constructs
discourses and the subject‟s ways of positioning. From the corpus
analysis, the following categories of analysis emerged: 1) Studies on
teacher specificity; 2) Studies on the pedagogical practices; 3) Studies
on child development; 4) Studies on the social role of daycares and the
relationship with the family. As a result of this research it is possible to
highlight the organization of time and space as the central elements that
characterize the teaching specificity within this age group. In the
category studies on teacher specifity, the researches indicate the
fundamental importance of pedagogical documentation, especially for a
planning which involves all specificities of working with children
between zero and three years old. In the category field studies on
pedagogical practices there are indicatives for the pedagogical practice
itself, especially the elements that mark and reassure the potential of
babies, pointing out the importance of the researchers‟ effort on trying
to understand and legitimize their views, considering the multiple
languages: the body, the crying, the smiling, the babbling, the looks, etc.
In the category of child development studies most researches, even if
from different theoretical perspectives, focused on studying the
development aspects of children from zero to three years old, rather than
focusing on studies that center on the pedagogical practice itself.
Concerning to the studies about the social role of daycares and the
relation with the families, all researches reassure the importance of the
relationship between families and daycare and assign to the daycares the
responsibility of revealing to the families their actions, which are based
on a pedagogical intentionality. Finally, considering the analyzed
dissertations, it‟s necessary to point out the researches perspectives that
assume a methodological positioning in order to approach the children‟s
points of view, considering them as legitimate participants in the
research.
Keywords: child education; scientific production; babies; little children;
teaching.
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Palavras-chave utilizadas nas buscas por combinações........ 49


Tabela 2: Total de teses e dissertações selecionadas por ano ............... 49
Tabela 3: Trabalhos selecionados por número de dissertações e teses. 50
Tabela 4: Grupos e linhas de pesquisas dos orientadores..................... 52
Tabela 5: Dissertações selecionadas para o corpus de análise por
instituição ............................................................................................. 59
Tabela 6: Estudos sobre a especificidade da docência ......................... 71
Tabela 7: Estudos sobre práticas pedagógicas 85800000000-3
79640270200-9 30442212400-3 01162014117-0 ................................ 71
Tabela 8: Estudos sobre o desenvolvimento infantil ............................ 72
Tabela 9: Estudos sobre a função social e relações com a família ....... 72
LISTA DE ABREVIATURAS

ANPEd Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em


Educação
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico
FORPREI Grupo de Pesquisa Educação Infantil e Formação de
Professores
GEPSI Grupo de Pesquisa Sociologia da Infância e Educação
Infantil
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
NUPEIN Núcleo de Estudos e Pesquisa de Educação na Pequena
Infância
PIBIC Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica
PPGE Programa de Pós-Graduação em Educação
PUC/SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
PUC/Goiás Pontifícia Universidade Católica de Goiás
PUC/RS Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
UEL Universidade Estadual de Londrina
UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
UFPR Universidade Federal do Paraná
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
UFSCar Universidade Federal de São Carlos
UNESP/AraraquaraUniversidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” – Campos Araraquara
UNESP/Pr. PrudenteUniversidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” – Campos Presidente Prudente
UNIJUÍ Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul
UNISUL Universidade do Sul de Santa Catarina
UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí
USPUniversidade de São Paulo
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................... 23
1.1 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA .............................................. 32
1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA ........................................................ 33
1.2.1 Objetivos específicos ................................................................. 33
2 A PESQUISA EM EDUCAÇÃO: ESPECIFICIDADES DE UMA
ÁREA .................................................................................................. 37
2.1 BREVE REFLEXÃO ACERCA DA TRAJETÓRIA DA
PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NO BRASIL 39
2.1.1 Pesquisa em Educação Infantil: constituição de um campo
científico .............................................................................................. 41
2.2 CAMINHOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA .................... 46
2.2.1 O levantamento no banco da CAPES ...................................... 47
2.2.2 A escolha do corpus de análise .................................................. 50
2.2.3 Situando as pesquisas e os Programas de Pós-graduação...... 61
2.2.4 A opção por Análise de Discurso Textualmente Orientada:
implicações do discurso nas práticas sociais .................................... 64
2.2.5 Situando o “campo”: as pesquisas selecionadas ..................... 66
2.2.6 Emersão das categorias de análise ........................................... 71
3 ESPECIFICIDADES DA EDUCAÇÃO DOS BEBÊS E
CRIANÇAS BEM PEQUENAS ........................................................ 73
3.1 A ESPECIFICIDADE DOCENTE: O QUE É SER PROFESSORA
DE BEBÊS E CRIANÇAS BEM PEQUENAS? ................................. 75
3.2 AS RELAÇÕES SOCIAIS DOS/COM BEBÊS E CRIANÇAS BEM
PEQUENAS ......................................................................................... 80
3.3 CUIDADO E EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DA CRECHE ...... 82
3.4 CORPO, LINGUAGEM E ALGUNS ENTRELAÇAMENTOS ... 86
3.5 ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS E TEMPOS NA AÇÃO
PEDAGÓGICA/NA DOCÊNCIA COM BEBÊS ................................ 89
4 A EDUCAÇÃO DE BEBÊS E CRIANÇAS BEM PEQUENAS NO
CONTEXTO DA CRECHE: ANÁLISE DA PRODUÇÃO
SELECIONADA ................................................................................ 93
4.1 ESTUDOS SOBRE A ESPECIFICIDADE DA DOCÊNCIA ....... 93
4.2 ESTUDOS SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ............... 116
4.3 ESTUDOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO INFANTIL ...... 131
4.4 ESTUDOS SOBRE A FUNÇÃO SOCIAL DA CRECHE E A
RELAÇÃO COM AS FAMÍLIAS ......................................................149
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................169
REFERÊNCIAS ................................................................................179
ANEXO A - LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO BANCO DA
CAPES: TESES E DISSERTAÇÕES (POR ANO E PALAVRAS-
CHAVE) .............................................................................................192
23

1 INTRODUÇÃO

O interesse e aproximação sobre a educação dos bebês e crianças


pequenas emergiram das experiências vivenciadas ainda na graduação
do curso de pedagogia da Universidade Federal de Santa Catarina,
quando nesta circunstância, tive a oportunidade de atuar como auxiliar
de sala em creches privadas no município de Florianópolis, com
crianças na faixa etária de zero a três anos.
Foi uma experiência significativa, embora, muitas delas tenham
despertado a necessidade de confrontar as concepções e as práticas
pedagógicas que são propostas para os pequenos. Ainda que no discurso
exista uma superação da ideia assistencialista que perpassou a educação
infantil historicamente, percebi que as relações educativas estabelecidas
com os bebês estavam muito ligadas ao cuidado com o corpo, em que
nesse cuidado se evidencia um esvaziamento da compreensão da
dimensão educacional e humana que se proporciona nestes momentos:
quando às tocamos, conversamos e subjetivamos seu lugar no mundo
social.
Para compreendermos a relevância da dimensão corporal nas
relações educativas é necessário, sobretudo, considerar as
especificidades que caracterizam a docência com bebês e crianças
pequenas.
O corpo assume centralidade quando falamos dos bebês: o corpo
que comunica sentimentos e anseios, que explora o mundo, que entra em
contato com outros corpos – dos adultos nos momentos de higiene e
alimentação, nos momentos de interações e brincadeiras com as outras
crianças, por exemplo. O corpo que informa, que expressa, que vive, que
anuncia, que nega e que consente. Portanto, o corpo como linguagem
em todos seus entrelaçamentos.
O historiador Kuhlmann Jr. (1998) em análise das motivações
para a constituição do que hoje consideramos a primeira etapa da
educação básica – a creche e pré-escola -, evidencia que dentre os
aspectos que demarcam a conjuntura do aparecimento das instituições
de educação infantil, está a ligação/relação da maternidade e o trabalho
feminino, mas não só, pois, pode-se destacar ainda um conjunto de
fatores como a consolidação da sociedade capitalista e seus muitos
desdobramentos. A partir dos seus estudos históricos, tem-se a
informação de que o Jardim de Infância, uma proposta criada por
Froebel, seria por excelência uma instituição com uma função educativa,
já as creches e escolas maternais seriam assistencialistas e, por
conseguinte, não educativas.
24

Cerisara (1999) aponta em seus estudos que foi possível verificar


duas formas que caracterizam os trabalhos efetivados em creches e pré-
escolas: havia as instituições que realizavam um trabalho de cunho
assistencialista e, também, instituições que realizavam trabalhos
denominados educativos:
Nesta “falsa divisão” ficava implícita a idéia de
que haveria uma forma de trabalho mais ligada às
atividades de assistência à criança pequena, as
quais era dado um caráter não-educativo, uma vez
que traziam para as creches e pré-escolas as
práticas sociais do modelo familiar e/ou hospitalar
e, as outras, que trabalhavam numa suposta
perspectiva educativa, geral trazendo para as
creches e pré-escolas o modelo de trabalho escolar
das escolas de ensino fundamental (CERISARA,
1999, p. 12)
Embora existam muitas discussões em torno destas questões, elas
ainda estão presentes no cotidiano das instituições de educação infantil e
se manifestam não somente no discurso, mas nas práticas dos
profissionais. Os estudos da área vêm contribuindo significativamente
para que se revejam concepções acerca das ações que envolvem o
cuidado e educação no interior das creches. Tal concepção, apesar de
uma aparente superação, ainda permanece no imaginário de muitos
professores, perpassando os muros das instituições e permeando as
práticas pedagógicas. Não são incomuns falas que expressam uma
insatisfação profissional em trabalhar com as crianças muito
pequenininhas1 – uma vez que estas necessitam de um cuidado
constante, ligados ao asseio do corpo, cuidados com alimentação, sono,
enfim, aspectos que se vinculam ao caráter assistencial e higienista que
se constituiu historicamente nas creches.
As instituições de educação infantil originaram-se de forma
distinta das escolas obrigatórias, públicas, laicas e gratuitas para as
crianças na faixa etária de sete anos. Segundo Faria (2005), as primeiras
creches foram criadas para atender aos interesses da elite, com objetivos
bem delineados: educar as crianças das camadas populares, enquanto
suas mães estavam trabalhando. Tais instituições nascem como uma

1
Tristão (2006) e Schmitt (2008) explicitam em suas pesquisas, que por vezes,
nos grupos de bebês as professoras expressam negação para assumir o trabalho
junto às crianças, preferindo o grupo das crianças com a faixa etária de 4 a 6
anos de idade.
25

espécie de substitutas das relações domésticas maternas: “[...] religiosas,


filantrópicas e, em tempos de predominância higienista, surgem
patologizando a pobreza e criando o cidadão de segunda classe, inserido
no sistema. Portanto, nesse âmbito, criança era sinônimo de criança
pobre” (FARIA, 2005, p. 1021).
A criança é tomada historicamente a partir de um viés higienista,
e a área da Medicina é uma das primeiras a manifestar interesse em
estuda-la, mais especificamente com a criação da Pediatria, Obstetrícia e
Puericultura. A ciência tinha como principal preocupação a prevenção
social:
A morbilidade, a mortalidade, a natalidade e os
comportamentos “vitais”, a moralidade, são
relativos às diferentes classes sociais que
compõem estas populações e que, em íntima
relação com as suas condições de trabalho e de
vida, põem a nú, para a pobreza, uma
perigosidade acrescida, epidémica e endémica –
microbiana (FERREIRA, 2000, p. 80).
Buscava-se um saneamento neste grupo populacional,
legitimando a higiene como um princípio de regulação pública e
privada, articulada com a ordem e moralidade. O caráter de prevenção
social dos saberes médicos perspectivava uma proteção social e
assistencial da criança e da mãe.
Nesta conjuntura, o positivismo e o experimentalismo que
dominaram até a metade do século XIX proveram a Psicologia
elementos necessários para se tornar uma ciência credível. Isto se deu a
partir do “[...] estudo das relações entre experiência sensorial e os
processos fisiológicos envolvidos no funcionamento mental”
(FERREIRA, 2000, p. 96). Começou-se a classificar o desenvolvimento
infantil em etapas evolutivas e, a criança torna-se um objeto privilegiado
de estudos:
Impõe-se, assim, uma observação dos
comportamentos exteriores da criança como
reveladores da sua interioridade, pelo que os
movimentos, as percepções e as expressões,
destacadamente a linguagem verbal, se vão
constituir em factos psicológicos, passíveis de
serem observados, medidos, classificados,
seriados, a fim de possibilitarem a determinação
daquilo que em cada idade a criança consegue
fazer e compreender, e de aferição ao padrão de
26

normalidade do comportamento infantil


(FERREIRA, 2000, p. 99).
Com a imposição do padrão de normalidade cria-se uma
necessidade de observar e medir o desenvolvimento infantil, deste
modo, as crianças bem pequenas, em especial os bebês, que ainda não
falam e não andam, ficavam ainda mais a mercê de padrões de
mensuração e enquadramentos de desenvolvimento.
De acordo com Guimarães (2008), no Brasil as formas de relação
com os bebês são marcadas por questões de caráter disciplinador,
higienista e de controle. Durante muito tempo os bebês foram
concebidos como seres frágeis e imaturos, mas, estudos recentes vêm
apontando para a capacidade real dos bebês.
Já a primeira proposta brasileira para uma política pública de
educação das crianças de 0 a 3 anos nasce graças às pesquisas e estudos
feministas nacionais e internacionais:
Produto de pesquisas e estudos feministas
nacionais e internacionais, a primeira proposta
brasileira para uma política pública de educação
das crianças de 0 a 3 anos veio da gestão (1986-
1989) do então criado Conselho Nacional dos
Direitos da Mulher (CNDM) e do Conselho
Estadual da Condição Feminina (CECF de São
Paulo). O material produzido, Creche – urgente,
traz a discussão feminista pelo dever do Estado e
pelo direito à creche tanto para as mulheres e os
pais como para as crianças, ampliando, portanto, a
luta inicial apenas pelo direito da mulher
trabalhadora (FARIA, 2005, p. 1023, grifo no
original).
A Constituição Brasileira de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases
n.9394/96 tiverem uma impactante repercussão na Educação Infantil, já
que a partir daqui passa a ser a primeira etapa da educação básica,
contribuindo também para a compreensão de que as instituições de
educação infantil tem a responsabilidade de trabalhar de forma
indissociável e complementar a educação e o cuidado das crianças:
A constituição de 1988 reconheceu como direito
da criança pequena o acesso à educação em
creches e pré-escolas. Esta lei coloca a criança no
lugar de sujeito de direitos em vez de trata-la
como ocorria nas leis anteriores, como objeto de
tutela. Mesmo sabendo que entre a proclamação
27

de direitos na forma de lei e a consolidação da


mesma em práticas sociais adequadas existe um
grande hiato, esta lei constitui um marco decisivo
para o longo caminho a ser percorrido na busca de
uma possível definição do caráter que as
instituições de educação infantil devem assumir,
sem que reproduzam as práticas desenvolvidas no
seio das famílias, nos hospitais ou nas escolas de
ensino fundamental (CERISARA, 1999, p.14,
grifo no original).
Tais legislações se constituem como o passo inicial para uma lei
maior, já que, depois da segunda metade da década de 80 até a década
de 90, sucedeu-se um trabalho bastante intenso que resultou na definição
do Estatuto da Criança e do Adolescente e também importantes
discussões sobre a Lei de Diretrizes e Bases, que mesmo aprovada no
ano de 1996, passou por muitas discussões em distintos segmentos da
sociedade e uma longa tramitação no Congresso.A nova LDB colocou a
educação infantil como a primeira etapa da educação básica
consolidando-a como um nível de ensino (CERISARA, 1999).
E agora, mais recentemente, com a aprovação da EC nº 59/2009
que determina a extensão da obrigatoriedade para a educação infantil
para as crianças a partir de quatro anos de idade, importantes questões
estão em debate na área. Segundo Vieira (2011), tal implementação gera
uma necessária discussão acerca dos desafios, principalmente no que
concerne nas questões das ofertas das creches e pré-escolas, bem como a
qualidade que este atendimento terá, a partir das condições objetivas que
vivemos atualmente no país:
A aprovação da EC nº 59, de novembro de 2009
pelo Congresso Nacional tornou compulsória a
frequência escolar para pessoas na faixa de idade
de quatro a 17 anos, incluindo, doravante, crianças
e jovens que frequentam a educação infantil – pré-
escola – e o ensino médio regular. A mudança
constitucional colocou o Brasil no patamar dos
países que possuem maior tempo de
obrigatoriedade escolar (agora com 14 anos),
sendo que, até então, somente o ensino
fundamental com duração de nove anos era
definido como de matrícula obrigatória e como
direito público subjetivo (VIEIRA, 2011, p.247).
28

Com a obrigatoriedade da frequência regular das crianças com 4


anos de idade, surge a preocupação com a situação das crianças de 0 a 3
anos de idade. Campos (2012) em pesquisa acerca da situação da
educação das crianças entre 0 a 3 anos de idade na América Latina
ressalta que existe uma persistência em tratar a educação dos pequenos
como uma forma de mitigar a miséria, e isso “[...] tem inaugurado novas
formas de segmentação e de focalização de políticas, que, longe de
distribuir com “equidade” as “oportunidades educacionais”, criam novas
formas de discriminação e de subalternização” (CAMPOS, 2012, p.99).
Deste modo, a educação das crianças de 0 a 3 anos na América
Latina tem sido oferecida predominantemente pelos programas de
atenção socioeducativa, com caráter não formal ou não escolar. Tais
programas: “[...] resultam da ação de diferentes atores sociais e em boa
parte dos países, especialmente os mais pobres, são desenvolvidos com
aportes financeiros oriundos de organismos multilaterais ou de
organizações internacionais, de cunho humanitário ou filantrópico, que
atuam na região” (CAMPOS, 2012, p.93).
No Brasil a aprovação da EC nº 59/2009 dividiu opiniões,
gerando distintas reações junto à área (pesquisadores, especialistas e
militantes do campo de estudos e de ação política na educação infantil).
Entre os debates e discussões, aponta-se para alguns riscos que
corremos:
[...] expansão das matrículas sem a desejada
qualidade; de excluir o cuidado, pela diminuição
da oferta de atendimento em tempo integral; de
antecipar a escolaridade com as características da
oferta do ensino fundamental; da cisão creche-pré-
escola; e de privatização da creche (VIEIRA,
2011, p. 255).
Estas questões estão em evidência no debate atual, estudiosos da
área chamam atenção para a necessária preocupação com a educação das
crianças de 0 a 3 anos de idade. Isso demanda que mais pesquisas sejam
realizadas, ressaltando a importância de pensarmos sobre as questões
entorno da creche, bem como a sua relevância no processo de formação
humana, de modo que não fique secundarizada, com atendimento
precarizado e de baixa qualidade.
Algumas pesquisas da área já dedicaram sua atenção para as
crianças bem pequenas, evocando a importância de ponderarmos acerca
da sua educação no contexto da creche, dentre eles podemos destacar as
contribuições de Barbosa (2000, 2010), Coutinho (2002, 2010), Tristão
29

(2004), Guimarães (2008), Schmitt (2008) e Ramos (2012). A partir das


pesquisas citadas, foi possível iniciar uma imersão nas questões que me
provocaram a pensar a educação das crianças bem pequenas.
Os trabalhos que se ocupam em estudar as crianças na faixa etária
entre zero a três anos, em especial os bebês, têm nos aproximado cada
vez mais das suas formas de se comunicar e compreender o mundo:
Temos cada vez um maior conhecimento acerca
da complexidade da sua herança genética, dos
seus reflexos, suas competências sensoriais e, para
além das suas capacidades orgânicas, aprendemos
que os bebês também são pessoas potentes no
campo das relações sociais e da cognição. Os
bebês possuem um corpo onde afeto, intelecto e
motricidade estão profundamente conectados e é a
forma particular como estes elementos se
articulam que vão definindo as singularidades de
cada indivíduo ao longo de sua história. Cada
bebê possui um ritmo pessoal, uma forma de ser e
de se comunicar (BARBOSA, 2010, p.2).
Para Barbosa (2010) no ponto de vista político-pedagógico,
existem três importantes aspectos das diretrizes curriculares que são
indispensáveis para pensarmos numa proposta educacional para bebês e
crianças pequenas. O Primeiro trata-se de compreendê-las como sujeitos
que fazem parte da história, merecedores de seus direitos efetivados, já
que, quando compreendemos as crianças como seres humanos capazes,
elas se tornam protagonistas no projeto educacional:
Essa é uma mudança paradigmática na
compreensão da educação dos bebês, pois se
afirma o compromisso com a oferta de um serviço
educacional que promova, para todas as crianças,
a possibilidade de viver uma experiência de
infância comprometida com a aprendizagem
gerada pela ludicidade, brincadeira, imaginação e
fantasia. Nesse espaço, os bebês aprendem
observando, tocando, experimentando, narrando,
perguntando, e construindo ações e sentidos sobre
a natureza e a sociedade, recriando, deste modo, a
cultura (BARBOSA, 2010, p.3).
O segundo e importante aspecto é a necessidade da defesa de uma
sociedade que reconheça, valorize e respeite a diversidade cultural e
social, de modo a construir igualdade nas oportunidades educacionais
30

para as crianças. E por fim, a valorização das relações interpessoais, ou


seja, as vivências experienciadas entre as crianças, mas também entre
elas e os adultos:
[...] pois são estas relações sociais que oferecem
os elementos para a construção da sociabilidade e
da constituição subjetiva de cada uma das
crianças. Esse é um importante papel da educação
infantil principalmente no que se refere às
crianças bem pequenas, pois nesta faixa etária as
interações entre as pessoas têm expressiva
relevância para a construção das identidades
pessoal e coletiva das crianças (BARBOSA, 2010,
p.3).
Para uma aproximação as esses aspectos elencados por Barbosa
(2010) é necessário, todavia, que as crianças sejam concebidas como
seres humanos de pouca idade e com potencialidade, que produzem e
recriam cultura. A partir das condições socioculturais – já que elas
sempre estão situadas em conjunturas com especificidades sociais e
culturais – é que elas buscam uma participação efetiva no mundo,
apropriando-se e resignificando valores e comportamentos.
Defendemos aqui, portanto, uma perspectiva que entende as
crianças como seres humanos de direitos e com potencialidade, que
aprende e é capaz, desde a mais tenra idade. Elas se constituem
humanas pelas suas experiências vivenciadas e partilhadas, a partir de
sua classe social, gênero, etnia, por diferenças físicas, psicológicas e
culturais2.
Segundo Rocha (2001), estudos da área da educação permitem
afirmar a possibilidade de uma consolidação de uma Pedagogia da
Educação Infantil, que se propõe analisar criticamente a realidade vivida
dentro das instituições de educação infantil, a partir do que as crianças
têm a nos diz e mostrar. Mas não só, pois, o objetivo consiste em
valorizar os pontos de vistas das crianças, colocando-o em confronto
com o olhar e mediação adulta, trata-se de um olhar respeitoso mediante
as distintas perspectivas.
As contribuições da Pedagogia da Educação Infantil tem nos
indicado a importância de colocar as crianças como ponto de partida
para a organização do cotidiano e do trabalho pedagógico. Cotidiano

2
KRAMER, Sônia. Dicionário de verbetes: Criança. S.d. Disponível em:
http://www.gestrado.org/?pg=dicionario-verbetes&id=107. Acesso em 25 de
abril de 2014.
31

este compreendido para além de uma rotina mecanizada, mas repleto de


subjetividade humana, que leve em conta as singularidades das crianças.
O que, sobretudo, caracteriza tal perspectiva é o reconhecimento
da especificidade da educação da pequena infância, numa dinâmica que
procura bases teóricas que fundamentam a afirmação da infância como
categoria histórico-social e na atenção aos determinantes materiais e
culturais que a compõem.
Acreditamos, assim, numa necessária atenção cuidadosa às
manifestações das crianças, das suas significações, de sua cultura, que
são assinaladas por uma inserção concreta e histórica marcada pelos
determinantes sociais: relações de classe social, gênero, etnia e raça.
Essa perspectiva sugere que se adotem novas possibilidades
metodológicas para as pesquisas, que se diferenciem de metodologias
convencionas de pesquisa para o estudo das crianças, da infância e da
sua educação. Portanto:
Nesse campo, passa-se a exigir um alargamento
das pesquisas para além dos estudos que tomam
como fonte privilegiada, sobretudo as
profissionais, as famílias ou os processos
pedagógicos, e que dão pouca atenção às relações
educativas estabelecidas com as crianças
(ROCHA, 2008, p.56, grifo no original).
Em um movimento de afirmação teórica, os conceitos como jogo
e brincadeira ligados à linguagem, à elaboração do conhecimento e aos
processos atrelados ao desenvolvimento da criança: “[...] são definidos
inicialmente e em especial sob o ponto de vista da psicologia histórico-
cultural (até então denominada predominantemente pelos autores como
perspectiva sócio-histórica)” (ROCHA, 2008, p.56). A contribuição
dessa perspectiva indicou que a brincadeira, é um importante eixo da
prática pedagógica na educação infantil.
Tomou-se como importante, então, um diálogo com perspectivas
teóricas alicerçadas nas determinações socioculturais para uma
apreensão das relações educativas na infância, como também, uma
efetiva atenção às manifestações das crianças. O principal objetivo da
consolidação de uma Pedagogia da Infância é a preocupação com a
própria criança: “[...] seus processos de constituição como seres
humanos em diferentes contextos sociais, sua cultura, suas capacidades
intelectuais, criativas, estéticas, expressivas e emocionais” (ROCHA,
2001, p.31).
32

Entendemos que as especificidades na educação infantil estão


ligadas aos processos de constituição da criança como ser humano: o
afeto, a socialização, o brincar, a expressão, a linguagem, a fantasia, o
movimento, enfim, suas múltiplas formas de se expressar e suas relações
sociais e interpessoais estabelecidas com o mundo. De acordo com
Buss-Simão (2012) são vários os indicativos que contribuem para uma
consolidação de uma Pedagogia da Infância:
Diversas iniciativas de articulação entre os
segmentos da política, pesquisa e pedagogia têm
contribuído para a construção e consolidação de
uma Pedagogia da Infância, na busca em delimitar
uma especificidade da ação educativa junto às
crianças de 0 a 6 anos em instituições de
Educação Infantil. Assim, tendo como marca a
função social atribuída à Educação Infantil, na
perspectiva de uma Pedagogia da Infância, deve-
se ter como fundamental que a dimensão que os
conhecimentos assumem na educação das crianças
pequenas dá-se de modo vinculado aos processos
gerais que as constituem: as linguagens, as
interações, os jogos e as brincadeiras (BUSS-
SIMÃO, 2012, p. 267).
As crianças têm muitas coisas há nos dizer, elas opinam
criticamente acerca da realidade em que se situam e, tal opinião precisa
ser respeitada e considerada nas decisões cotidianas do trabalho
pedagógico.

1.1 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

A definição do problema de pesquisa foi se formulando e


reformulando no decorrer da própria pesquisa e, na medida em que as
dissertações foram compondo o corpus de análise, houve a necessidade
de leituras mais aproximadas das pesquisas, com isso o problema foi
também ganhando contornos mais delineados.
Colocando em confronto dimensões individuais e coletivas é que
se definiu a problemática desta pesquisa a partir das contribuições de
Rocha (1999), Barbosa (2000, 2010) e Faria (1999, 2005), numa
perspectiva que busca conhecer a educação das crianças pequenas no
contexto da creche, levando em conta os determinantes objetivos e
33

subjetivos que envolvem o cotidiano das instituições de educação


infantil.
Deste modo, definimos como problemática de pesquisa: pensar as
práticas pedagógicas com as crianças de 0 a 3 anos de idade, propondo-
se a refletir acerca dos indicativos para docência com bebês e crianças
bem pequenas, a partir das contribuições encontradas nas produções
científicas no banco de teses e dissertações da CAPES3. Nessa
perspectiva, algumas indagações acompanharam a pesquisa sobre a
temática: o que se produz sobre as crianças de zero a três anos no
contexto da creche? Quais perspectivas teóricas que orientam as
pesquisas? O que constitui a docência/prática pedagógica com as
crianças bem pequenas? A produção científica traz implicações para a
ação docente? Quais seriam essas implicações?

1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA

Temos como objetivo analisar as produções científicas, em nível


de mestrado, tendo como preocupação aprofundar os estudos sobre as
práticas pedagógicas com as crianças de 0 a 3 anos de idade, analisando
os indicativos para a docência com bebês e crianças bem pequenas, a
partir da produção científica brasileira produzida entre os anos de 2008 a
2011, registradas no banco de teses e dissertações da CAPES.

1.2.1 Objetivos específicos

Com base nessas indagações foram delineados os seguintes


objetivos específicos:
Mapear a produção científica brasileira em nível de mestrado,
entre os anos de 2008 a 2011 sobre as crianças de zero a três
anos, no contexto da creche;

3
O Banco de Teses e Dissertações da Capes é uma base de dados que reúne
vários trabalhos – dissertações e teses -, possibilitando realizar pesquisas
direcionadas para o tema pesquisado, por meio dos filtros. É possível também
selecionar a instituição para filtrar a busca, o nível do trabalho pesquisado
(mestrado ou doutorado) por ano de publicação, por autor e instituição. A base
disponibiliza até o momento os trabalhos que compreendem os anos de 1987 até
2011, por este motivo optamos pelo recorte temporal dos trabalhos publicados
entre 2008 e 2011.
34

Identificar quais perspectivas e tendências teóricas estão em


evidência e orientam as produções que têm como foco de
investigação as crianças pequenas;
Levantar possíveis indicativos para a prática pedagógica e
docência com crianças de zero a três anos;
Identificar o aporte teórico presente nas dissertações e mapear
os auores de referência.
Para a realização desse estudo, optamos pela referência
metodológica a Análise de Discurso Textualmente Orientada, a partir
das contribuições de Normam Fairclough (2001), o qual compreende o
discurso como manifestação dos modos particulares de uso da
linguagem e manifestação social, cujo objetivo é a própria mudança
social. Para tanto, o discurso não apenas reflete ou representa entidades
e relações sociais, mas “constituem” e constroem os discursos e os
modos de posicionamento dos sujeitos (FAIRCLOUGH, 2011).
Mediante o exposto, consideramos a possibilidade de colaborar
com o desafio de dar visibilidade às práticas pedagógicas as quais
concebem os bebês e crianças bem pequenas de forma respeitosa no
cotidiano educativo, como também, as produções científicas que trazem
para o debate a importância de se pensar sobre a intencionalidade
pedagógica com as crianças de 0 a 3 anos.
Importante destacar ainda, que a proposta desta pesquisa vem ao
encontro com o trabalho do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Educação
na Pequena Infância4 – NUPEIN vem realizando, com objetivo de
conhecer e se aproximar das crianças e suas manifestações de forma
ética, em particular, tem empreendido um esforço em contribuir com a
busca em efetivar práticas pedagógicas e uma docência com crianças
pequenas que levem em conta os modos próprios das crianças,
considerando-as como partícipes legítimas dos processos que dizem
respeito as suas vidas.
Para a organização da escrita, o texto foi dividido em capítulos.
No segundo capítulo procuramos trazer uma breve reflexão acerca da

4
O NUPEIN é um Núcleo de pesquisas no qual faço parte e tem como principal
objetivo consolidar um espaço de pesquisas e estudos com crianças de zero a
seis anos, nos contextos de Educação Infantil, mas não só; que visam à
produção de conhecimento sobre as crianças e suas muitas formas de viver a
infância, de modo a auxiliar a reflexão acerca dos cursos de formação de
professores e buscar indicativos para a prática pedagógica com crianças
pequenas. Maiores informações em http://www.ced.ufsc.br/nupein/
35

trajetória da pesquisa e pós-graduação em Educação no Brasil, e, como a


pesquisa em Educação Infantil se constitui enquanto um campo
científico na conjuntura nacional. Explicitamos nesse capítulo ainda, os
caminhos metodológicos da pesquisa e a definição do corpus de análise.
No terceiro capítulo situamos alguns aspectos que envolvem a
especificidade docente com as crianças de zero a três anos e as relações
educativas no contexto da creche. Dialogamos, sobretudo, com autoras
da área da Educação Infantil5, que nos ajudam a pensar os elementos
que marcam essa docência.
No quarto capítulo situamos as análises das categorias que
emergiam dos dados, buscando destacar indicativos para as práticas
pedagógicas com o os bebês e crianças bem pequenas no contexto da
educação infantil. Por fim, nas considerações finais retomamos os dados
e importantes elementos das categorias de análise, procurando trazer
algumas pistas para as relações educativas, e, também, sinalizar
possibilidades de futuros estudos que tomem como centralidade os
temas relativos à prática pedagógica.

5
Tristão (2006), Guimarães (2008), Schmitt (2008), Coutinho (2010), Barbosa
(2010), entre outros.
36
37

2 A PESQUISA EM EDUCAÇÃO: ESPECIFICIDADES DE UMA


ÁREA

A pesquisa em educação caracteriza-se por especificidades de


uma área que tem como finalidade a criação de um corpo de
conhecimentos sobre distintos aspectos. Contudo, não buscamos por
meio da pesquisa qualquer conhecimento, mas aqueles que ultrapassem
possíveis entendimentos imediatos na observação e na explicação da
realidade:
Um conhecimento que pode até mesmo contrariar
esse entendimento primeiro e negar as explicações
óbvias a que chegamos com nossas observações
superficiais e não-sistemáticas. Um conhecimento
que obtemos indo além dos fatos, desvendando
processos, explicando consistentemente
fenômenos segundo referencial. (GATTI, 2002, p.
10).
Pesquisar é a ação que visa compreender variados aspectos que
contribuam na construção coletiva de conhecimentos, a fim de promover
reflexões e explicações significativas sobre a realidade, a luz de um
referencial teórico selecionado. O “[...] conhecimento obtido pela
pesquisa é um conhecimento vinculado a critérios de escolha e
interpretações de dados, qualquer que seja a natureza destes dados”
(GATTI, 2002, p. 100). Estes critérios estão ligados às escolhas do
pesquisador, incluindo também sua subjetividade e trajetória
profissional.
Segundo Luna (2000) a realidade que é pesquisada é
extremamente maior, mais diversificada e mais complexa do que as
possíveis formalizações didáticas que envolvem a atividade do
pesquisador. Nesse sentido, a metodologia pode correr o risco de se
transformar em padrões e modelos a serem seguidos e o próprio sentido
da palavra metodologia tem variado ao longo dos anos, principalmente o
caráter que a ela é conferido na conjuntura da pesquisa:
Mais importante, porém, que as conotações que
possam ser atribuídas ao termo, foram as
transformações que sofreu o seu status dentro do
cenário da ciência. De fato, reconhece-se, hoje,
que a metodologia não tem status próprio,
precisando ser definida em um contexto teórico-
metodológico. Em outras palavras, abandonou-se
(ou vem se abandonando) a idéia de que faça
38

qualquer sentido discutir a metodologia fora de


um quadro de referência teórico que, por sua vez,
é condicionado por pressupostos epistemológicos.
O reconhecimento do poder relativo da
metodologia tem por trás outra decorrência da
evolução do pensamento epistemológico: a
substituição da busca da verdade pela tentativa de
aumentar o poder explicativo das teorias (LUNA,
2000, p.14, grifo no original).
Ao realizarmos uma pesquisa estamos também contribuindo para
a construção de conhecimentos, todavia, ao escolher um tema é
necessário questionar sobre sua relevância. Para Charlot (2006) a
produção em ciências humanas carece de memória, uma vez que são
feitas e refeitas continuamente teses e dissertações, sem que o
pesquisador tome conhecimento das produções já existentes:
Que pesquisas já foram realizadas sobre os temas
que estão na moda (os objetos sociomidiáticos), a
partir de quais questões, com que dados e quais
resultados? Quais foram as dissertações de
mestrado e as teses de doutorado defendidas nos
últimos anos, e que resultados foram
estabelecidos? Que pesquisas estão atualmente em
andamento, sobre que temas, onde? (CHARLOT,
2006, p.17).
Segundo Ferreira (2002), existe nos últimos quinze anos um
número expressivo de pesquisas que são denominadas “estado da arte”
ou “estado do conhecimento” e que são definidas de caráter
bibliográfico. Tais pesquisas têm como objetivo mapear e discutir a
produção acadêmica em distintos campos do conhecimento com
pressuposto de tentar responder quais aspectos têm recebido atenção em
diferentes lugares e tempos e, em quais condições estão sendo
produzidas as dissertações de mestrado e teses de doutorado, bem como
outras formas de publicações como periódicos e comunicações em anais.
E que:
Sustentados e movidos pelo desafio de conhecer o
já construído e produzido para depois buscar o
que ainda não foi feito, de dedicar cada vez mais
atenção a um número considerável de pesquisas
realizadas de difícil acesso, de dar conta de
determinado saber que se avoluma cada vez mais
rapidamente e de divulgá-lo para a sociedade,
39

todos esses pesquisadores trazem em comum a


opção metodológica, por se constituírem
pesquisas de levantamento e de avaliação do
conhecimento sobre determinado tema
(FERREIRA, 2002, p.03).
Acreditamos que essa retomada e análise da pesquisa são
relevantes já que no Brasil acabamos sofrendo consequências por conta
de pesquisas que são refeitas, como explica Charlot (2005, p.17):
“Nossa disciplina não tem uma memória suficiente, e isso freia o
progresso da pesquisa em educação”.
Para uma proposição adequada de um problema de pesquisa,
necessariamente demanda que o pesquisador analise o estado atual do
conhecimento na área de interesse e se situe nesse processo: “[...]
comparando e contrastando abordagens teórico-metodológicas utilizadas
e avaliando o peso e a confiabilidade de resultados de pesquisa, de modo
a identificar pontos de consenso, bem como controvérsias, regiões de
sombra e lacunas que merecem ser esclarecidas” (ALVES, 1992, p. 54).
Uma revisão crítica de teorias e pesquisas é essencial para a
construção de novos conhecimentos:
A importância atribuída à revisão critica de teorias
e pesquisas no processo de produção de novos
conhecimentos não é apenas mais uma exigência
formalista e burocrática da academia. É um
aspecto essencial à construção do objeto de
pesquisa e como tal deve ser tratado, se quisermos
produzir conhecimentos capazes de contribuir
para o desenvolvimento teórico-metodológico na
área e para a mudança de práticas que já se
evidenciaram inadequadas ao trato dos problemas
com que se defronta a educação brasileira
(ALVES, 1992, p.58).
A produção de conhecimento é, portanto, uma construção
coletiva da comunidade científica, uma ação contínua de busca onde as
novas pesquisas complementam ou contestam anteriores.

2.1 BREVE REFLEXÃO ACERCA DA TRAJETÓRIA DA


PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NO BRASIL

Segundo Charlot (2006) a educação – ou ciências da educação – é


uma área do saber e os pesquisadores que se definem “da educação” se
preocupam fundamentalmente pelas questões da educação:
40

[...] é isso que o leva a dar importância, de um


lado, à própria educação, naquilo que ela tem de
específico, e, de outro lado, aos efeitos da
pesquisa sobre a educação. Como consequência,
ele não poderá mais se desinteressar, se desligar
das questões relativas aos fins (em que se incluem
as questões políticas) e das questões relacionadas
à prática (CHARLOT, 2006, p.9).
Campos (2009) explica-nos que nos últimos anos a pesquisa em
educação caminhou em direção a uma cisão entre dois campos de
produção paralelos, primeiramente o campo acadêmico que se constitui
principalmente pelas produções situadas nos programas de pós-
graduação das universidades, e também por outro campo, as instituições
que possuam certa autonomia em relação ao primeiro: “[...] como, por
exemplo, as instituições independentes de pesquisa, as organizações não
governamentais e os institutos empresariais, associados ou não a órgãos
oficiais nacionais” (CAMPOS, 2009, p.271).
Segundo Rocha e Buss-Simão (2013, p.945) as preocupações que
envolvem as dimensões entre as relações da pesquisa com a realidade
educacional não são novas, e envolvem distintos aspectos de um mesmo
processo social e educativo, e são eles: “a ação educativa em si, a
pesquisa educativa e o conhecimento; e a política educacional”. Na
conjuntura brasileira tem se retomado essa preocupação, por conta do
crescimento dos programas de pós-graduação:
[...] e das políticas de qualidade dos sistemas de
ensino. Em alguma medida, essa motivação,
aliada à busca de resultados educacionais e, ainda,
à pressão social via o imediatismo midiático e a
urgência dos gestores dos sistemas de ensino para
responder às exigências das agências
financiadoras e organismos internacionais, vem
configurando uma demanda no sentido de que a
pesquisa apresente respostas e aplicações
simplificadoras e aligeiradas para os problemas da
educação nacional (ROCHA, BUSS-SIMÃO,
2013, p.945).
De modo geral, as universidades que se dedicaram à pesquisa não
obtiveram condições institucionais de apoio à pesquisa educacional e
por este motivo a pesquisa na área se desenvolveu com características de
iniciativa individual. Tais condições alcançaram os programas de pós-
graduação stricto sensu, brotando daí, em grande medida, suas
41

dificuldades em consolidar até recentemente os grupos de pesquisa com


produção continuada:
Verificamos que, em alguns poucos programas de
metrado e doutorado, no final dos anos 80, se
solidificaram tendências de trabalho – poderíamos
dizer, começavam a formar a tradição –
enfrentando, todavia, condições institucionais
internas ainda não tão favoráveis. As
universidades brasileiras, com raras exceções, não
nasceram conjugando pesquisa e ensino;
voltavam-se só para o ensino, para dar um
diploma profissionalizante, tanto as de natureza
confessional, como as leigas privadas e algumas
públicas. Elas não foram estruturadas para
incorporar a produção de conhecimento de modo
sistemático, como parte de sua função, sequer
para a discussão do conhecimento. Elas
mostravam-se voltadas para a reprodução de um
conhecimento que não produziu, com o qual não
trabalhou investigativamente, mas que absorveu e
tranfere (GATTI, 2009, p.25)
Um significativo desenvolvimento se deu no final da década de
80 e nos anos 90 de programadas de mestrado e doutorado – com
incentivos especiais à pesquisa e com avaliações periódicas –, e a
redefinição das exigências para carreiras docentes nas universidades,
acarretaram mudanças expressivas nesse quadro institucional (GATTI,
2009).

2.1.1 Pesquisa em Educação Infantil: constituição de um campo


científico

A educação das crianças de 0 a 6 anos de idade apresenta-se


como um campo de institucionalização recente e, ainda que exista um
aumento no número das pesquisas e trabalhos que se preocuparam em
estudar a educação infantil, ainda recebe pouca atenção, principalmente
se ponderarmos sobre o conjunto de produção acadêmica na pós-
graduação brasileira, como apontam Silva, Luz e Filho (2010).
Em estudo da produção de pesquisas na área da educação infantil
entre os anos de 1983 e 1998, Strenzel (2000 Apud SILVA; LUZ;
FILHO, 2010) identificou que a produção científica se concentrou em
nível de mestrado no decorrer da década de 1990, revelando um
42

crescimento expressivo em relação às décadas anteriores, já o


crescimento das teses de doutorado foi possível verificar mais ao final
do período estudado:
Entendemos que a construção da área como
campo de conhecimento e seu fortalecimento no
campo da educação passam também pela pesquisa
institucionalizada. As transformações que vêm
ocorrendo na última década no campo da pesquisa
em educação no Brasil indicam a tendência de que
ao lado da pós-graduação stricto sensu, os grupos
ou núcleos de pesquisa se constituem em espaços
que promovem o avanço do conhecimento na área
e a conformam, reunindo seus pesquisadores,
elegendo temas, abordagens teórico-
metodológicas, interfaces, etc. (SILVA; LUZ;
FILHO, 2010, p. 85).
Conhecer os grupos e núcleos de pesquisa que se preocupam e se
dedicam a pensar questões sobre a infância, a criança e da educação
infantil configura-se como estratégia importante de compreensão desse
campo de estudo e pesquisa. Silva, Luz e Filho (2010), em pesquisa
acerca dos elementos para a compreensão do processo de constituição da
área de estudos sobre infância, criança e a educação infantil no campo
da educação, por meio de um mapeamento dos grupos de pesquisa que
estudaram e pesquisaram tais temáticas, identificaram que 70 grupos
apresentavam no título ou nas palavras-chaves de suas linhas de
pesquisa temas específicos da educação infantil6.
Os pesquisadores realizaram e uma classificação dos grupos de
pesquisa a partir da presença de algum descritor no nome do grupo7, no
título e nas palavras-chave de suas linhas de pesquisa. Ao identificar
como acontece a distribuição dos grupos foi possível constatar que o
maior número de trabalhos estão concentrados na região Sudeste,
somando um total de 37,3%. Em seguida a região Sul com 22,6%,
totalizando uma concentração de 60% dos grupos de pesquisa. A região

6
As palavras-chave utilizadas na pesquisa foram: educação infantil, criança de
0 a 6, creche, pré-escola, educação pré-escola.
7
Os pesquisadores consideraram os grupos de pesquisa que tivessem descritores
tanto no nome quanto no título e nas palavras-chave das linhas de pesquisa que
mais fortemente explicitavam a vinculação com os temas da infância, da criança
e da educação infantil (SILVA; LUZ; FILHO, 2010).
43

do Nordeste apresentou 16,6% dos grupos, o Centro-Oeste um total de


14,6%, e por fim o Norte com 8,6% (SILVA; LUZ; FILHO, 2010).
Com intuito de aproximar e conhecer os temas e tendências de
pesquisa dos grupos no campo da educação, Silva, Luz e Filho (2010)
relacionaram todas as palavras-chave anunciadas nas linhas de pesquisa
dos 150 grupos que tinham estudos sobre a infância, criança e educação
infantil. Nas frequências levantadas pelas palavras-chave, o tema
infância foi o mais frequente entre elas, acompanhadas dos temas:
educação infantil e educação de um modo geral. Já os temas referentes
às crianças, formação de professores e às políticas são os três seguintes
que mais aparecem. Interessante notar que temas como creche é pouco
frequente se comparados aos outros, o que remete a um importante
questionamento: que lugar ocupa as creches e as crianças de 0 a 3 anos
nas pesquisas no campo da educação?
Os temas que apareceram em mais evidência estiveram presentes
significativamente nos trabalhos apresentados na ANPEd no GT
Educação da Criança de 0 a 6 anos (ROCHA, 2008a). Pesquisas e
perspectivas recentes demonstram que:
[...] as temáticas, as quais até início dos anos
de 1990 se centravam nos adultos e nas
instituições, passaram a incluir reflexões
sobre a ação social das crianças como seres
históricos e culturais concretos, reprodutores
e produtores de cultura (SILVA; LUZ;
FILHO, 2010).
A constituição do Grupo de Trabalho da Educação da Criança de
0 a 6 anos na ANPEd está ligada a um caráter político que consolida o
compromisso da associação e seus membros com uma luta pela
conquista do direito à educação pública, gratuita e de qualidade para os
brasileiros. A sua organização é resultado de um esforço coletivo dos
programas de pós-graduação em educação do país, recém-criados e que,
na época tinham como objetivo: “[...] articular a produção de
conhecimento sobre a educação com reflexão e definição das políticas
públicas para a educação” (ROCHA, 2008a, p.53).
O GT07 iniciou a sua efetiva participação na Reunião Anual da
ANPEd no ano de 1981, resultado do expressivo movimento de
discussões acerca das políticas sociais e educacionais que marcaram
44

aquele período8. Na sua fundação chamava-se GT de Educação Pré-


escolar:
[...] o grupo reuniu pesquisadores e profissionais
ligados à formação e aos sistemas de ensino na
rede pública, com a intenção de constituir um
fórum de discussões e debates dos problemas e
políticas da área. Durante os primeiros anos de
sua consolidação, entre as discussões que
buscavam um reconhecimento da situação da
educação infantil nacional, o GT organizou
debates internos e reuniões de trabalho tendo em
vista a definição de posicionamentos da Anped
frente às novas deliberações legais que pautaram
todo o cenário político desde o fim dos anos
oitenta, em especial até a promulgação da LDB
(ROCHA, 2008a, p. 53).
O foco da luta política do grupo ficou definido como a
viabilização de políticas educacionais que promovessem possibilidades
de uma efetivação dos direitos das crianças à educação infantil. Em seus
primeiros anos o GT de Educação Pré-Escolar – que depois passaria a se
chamar Educação de Crianças de 0 a 6 anos – procurou acompanhar
uma ideia geral dos grupos de trabalho, num esforço de consolidar um
espaço onde questões teórico-metodológicas e, resultados de pesquisas
pudessem ser discutidos e refletidos (ROCHA, 2008a).
O início do grupo coincidiu com aumento do tema nos programas
de pós-graduação, combinado com um crescente interesse do
movimento internacional da pesquisa sobre a educação na pequena
infância, que passa a aflorar a partir dos anos setenta (PLAISENCE;
RAYNA, 1997, Apud ROCHA, 2008a).
Interessante notar que neste período existia um forte predomínio
nas pesquisas que tinham como preocupação a criança pré-escolar e seu
desenvolvimento, embora existisse um movimento no final da década de
noventa que assinalava uma consolidação das pesquisas em educação
infantil: “Em parte, essa consolidação pauta-se em bases históricas
amplamente investigadas no período e representadas no grupo que

8
“Criada em 1978, a Anped só organizou os Grupos de Trabalhos em 1981, na
4ª Reunião Anual. Antes disso, realizou suas reuniões em torno de temais
gerais, vinculados especialmente aos Programas de Pós-Graduação” (ROCHA,
2008, p.53).
45

analisam criticamente a definição das funções sociais e educativas da


creche e da pré-escola” (ROCHA, 2008, p.55).
Silva, Luz e Filho (2010) constataram que existe de fato uma
baixa visibilidade da área da educação infantil na pós-graduação. Ainda
que, as duas últimas décadas tenham se mostrado fecundas no
desenvolvimento das pesquisas da área, a inserção da temática nos
programas de pós-graduação ainda é consideravelmente baixa, o que
remete a questões concernentes ao lugar da infância e da educação
infantil no campo científico em geral, e mais particularmente no campo
da educação.
Rocha e Buss-Simão (2013) em levantamento da produção
recente da Região Sul, alertam sobre o crescimento das pesquisas em
educação, mais especificamente na educação infantil (mas não só), que
tomam como referencial a Sociologia da Infância, e explicam que tal
intensificação é: “[...] resultado da consolidação desta área na Europa,
do fortalecimento das relações internacionais dos PPGE‟S e da própria
demanda científica por uma maior articulação disciplinar para o estudo
da educação na infância” (ROCHA; BUSS-SIMÃO 2013, p. 949).
Os estudos sociais da infância trazem a tona uma nova concepção
de criança, esta mudança paradigmática influencia significativamente
para que se lance um novo olhar para os bebês, que por vezes eram
esquecidos e desconsiderados. Segundo Coutinho (2010), a Sociologia
da Infância tem como base, princípios formulados por Prout e James
(1990 Apud Coutinho 2010), que defendem:
1. A infância é entendida como uma construção
social. 2. A infância é uma variável de análise
social. 3. As relações sociais e culturais das
crianças são dignas de estudo em seu direito
próprio. 4. As crianças são e devem ser encaradas
como ativas na construção e determinação de suas
próprias vidas. 5. A etnografia é uma metodologia
particularmente útil para o estudo da infância. 6.
Ao proclamar um novo paradigma dos estudos da
infância também está a empenhar-se numa
reconstrução da infância na sociedade (PROUT e
JAMES Apud COUTINHO, 2010 p. 5).
Esses princípios chamam a atenção para um novo jeito de
compreender as crianças e suas formas de viver e agir no mundo. As
crianças que eram consideradas um vir-a-ser passam a ser concebidas
como atores sociais de direitos, ativas nas relações que estabelecem. E, é
“[...] principalmente por oposição a essa concepção da infância,
46

considerada como um simples objeto passivo de uma socialização regida


por instituições, que vão surgir e se fixar os primeiros elementos de uma
sociologia da infância” (SIROTA, 2001, p.09).
Recentemente, o Grupo de Pesquisa Sociologia da Infância e
Educação Infantil (GEPSI) coordenado por Maria Letícia Pedroso
Nascimento, realizou uma pesquisa objetivando mapear os grupos de
pesquisas brasileiros que trabalham com a Sociologia da Infância: “[...]
identificando os conceitos da área mais utilizados por cada um deles, e
sua produção, com vistas a conhecer a extensão da pesquisa nesse
campo e as interlocuções estabelecidas com outras áreas de
conhecimento, além da educação” (NASCIMENTO, 2013, p.9).
De todos os grupos selecionados no levantamento, 16 estão
situados na área da educação, o que permite afirmar que existe de fato
uma forte relação entre a sociologia da infância e a área da educação no
Brasil. Dentre as conclusões da pesquisa, foi possível constatar que há
uma predominância do diálogo entre Sociologia da Infância e Educação
infantil que privilegia a Sociologia da Infância como recurso teórico-
metodológico para realização de pesquisas com crianças pequenas.
Dos 16 grupos situados na educação, 11 deles afirmam que as
pesquisas têm impacto na sociedade, segundo eles: “[...] as pesquisas e
seus resultados, ao extrapolarem os muros das universidades, têm
impacto na sociedade e fomentam discussões sobre os temas relativos às
crianças e à infância na sociedade” (NASCIMENTO, 2013, p.145).
Os grupos de pesquisas possuem um papel fundamental na
consolidação da área da educação infantil, principalmente se tomarmos a
produção de conhecimento, assim como explicita Charlot (2006) numa
perspectiva coletiva. A contribuição da construção coletiva de
conhecimento possibilita que se ampliem os debates, as reflexões e,
sobretudo a forma de olharmos, compreendermos e concebermos as
crianças, suas formas de viver a infância e os processos educativos.
A construção de conhecimento a respeito da infância e sobre o
que é ser criança se coloca numa relação dialética com as formas de
significar e representar os discursos constituídos culturalmente, que, por
sua vez, legitimam e criam novas formas de ver e compreender a criança
e a infância.

2.2 CAMINHOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

Com objetivo de compreender como se configuram as pesquisas


sobre as crianças pequenas no contexto da creche e identificar as
questões norteadoras, os cruzamentos disciplinares e os referencias que
47

servem como base dos trabalhos analisados, essa pesquisa tem como
objetivo aprofundar os estudos acerca as práticas pedagógicas com as
crianças de 0 a 3 nos de idade, analisando os indicativos para a docência
com bebês a partir da produção científica brasileira produzida entre os
anos de 2008 a 2011 no banco de teses e dissertações da CAPES.

2.2.1 O levantamento no banco da CAPES

Para dar início à seleção das dissertações que comporiam a


presente pesquisa, realizou-se um levantamento da produção na Base de
Teses e Dissertações CAPES.
O Banco de Teses e Dissertações da Capes9 é uma base de dados
que reúne várias pesquisas – dissertações e teses – das distintas áreas do
conhecimento. Sua organização permite a realização de busca dos
trabalhos, direcionando para o tema da pesquisa, por meio dos filtros.
Desta forma, é possível selecionar a busca por autor, por assunto, por
instituição, por nível do trabalho pesquisado (mestrado ou doutorado) e
por ano de publicação10.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) é uma fundação do Ministério da Educação (MEC) –
conforme a história apresentada no próprio site - vem historicamente
desempenhando um importante papel na expansão e consolidação da
pós-graduação stricto-sensu (mestrado e doutorado), em todos os
estados do país. No ano de 2007, começou a atuar também na formação
de professores da educação básica, de modo a ampliar o alcance das
suas ações formativas na formação de pessoal qualificado no Brasil e no
exterior. As atividades desenvolvidas pela CAPES são agrupadas pelas
seguintes linhas de ação11: 1) avaliação da pós-graduação strictu sensu;
2) acesso e divulgação da produção científica; 3) investimentos na
formação de recursos de alto nível no país e exterior; 4) promoção da
cooperação científica internacional.
Inicialmente realizamos uma busca apenas usando o termo
bebês, com objetivo de apurar um mapeamento inicial do número de
trabalhos no banco de dados que tinham como foco os bebês em
distintas áreas disciplinares. Foi possível notar um crescimento

9
O acervo do Banco de Teses e Dissertações da CAPES pode ser acessados em:
http://www.capes.gov.br/
10
No momento do levantamento, a base disponibilizava os trabalhos de 1987
até 2011.
11
Essas informações estão disponibilizadas no site da CAPES supracitada.
48

significativo no número de trabalhos. Na primeira busca, em 2008,


encontramos 286 trabalhos, entre teses e dissertações. Já no ano seguinte
o número de trabalhos praticamente dobrou, chegando a um total de 449
trabalhos. Em 2010 na mesma busca, encontramos 457 trabalhos e, em
2011 este número salta para 490:
Gráfico 1: Número de teses e dissertações encontrados por ano: descritor bebês
no banco CAPES:

Fonte: Levantamento da pesquisadora (2012).


Para realizar o levantamento da produção científica que tinha
como preocupação de pesquisa as crianças de zero a três anos em
contextos educativos, foi necessário primeiramente selecionar as
palavras-chave eficazes nas buscas. Realizamos várias pesquisas com
combinações e tentativas distintas de termos no banco de dados. Após
múltiplos ensaios, definimos que as palavras-chave para a busca seriam:
49

Tabela 1: Palavras-chave utilizadas nas buscas por combinações


Termo Termo-filtro
Bebês Educação Infantil
Crianças pequenas Bebês
Zero a três (0 a 3) Educação Infantil
Berçário Creche
Fonte: Levantamento da pesquisadora.
O principal critério para a primeira seleção dos trabalhos foi o de
eleger as pesquisas que tratavam diretamente das crianças na faixa etária
de 0 a 3 anos de idade, nos contextos educativos (creches e centros de
educação infantil), com foco nas questões que abordam cotidiano
educativo e prática pedagógica com bebês. Deste modo, selecionamos
trabalhos de qualquer campo disciplinar, embora apenas 5 pesquisas
encontradas fossem da Psicologia e 1 dissertação da área da Música,
todos os outros estavam situados na área da Educação.
Após a leitura de todos os critérios citados, encontramos entre
teses e dissertações 48 pesquisas, nos anos de 2008 a 2011:
Tabela 2: Total de teses e dissertações selecionadas por ano
Ano pesquisado Número de trabalhos selecionados por
ano
2008 14
2009 4
2010 9
2011 21
Total de trabalhos 48
Fonte: Levantamento da pesquisadora.
Dentre as pesquisas selecionadas no levantamento encontramos
um total de 34 dissertações entre os anos de 2008 e 2011, e apenas 14
teses no mesmo período. Interessante notar que nos números
apresentados no quadro a seguir, em 2008 localizamos apenas três teses
preocupadas em estudar as crianças pequenas, já em 2011 este número
se elevou para nove. Esse dado nos leva a pensar que tal aumento está
ligado à atenção que as pesquisas, em especial na área da educação,
estão dedicando para a educação dos bebês e crianças bem pequenas:
50

Tabela 3: Trabalhos selecionados por número de dissertações e teses


Ano das pesquisas Dissertações Teses
2008 11 03
2009 4 X
2010 6 3
2011 13 8
Total de trabalhos 34 14
Fonte: Levantamento da pesquisadora.
Pronto o levantamento, com todos os trabalhos12 encontrados a
partir das combinações das palavras-chave previamente adotadas,
iniciou-se uma análise mais profunda dos estudos, a fim de selecionar
aqueles que fariam parte do corpus de análise da pesquisa, para tanto,
foi necessária uma releitura mais atenta a partir de critérios
estabelecidos.

2.2.2 A escolha do corpus de análise

Foram selecionados inicialmente 48 trabalhos entre teses e


dissertações que compreenderam os anos de 2008 até 201113. Após
diversas leituras, retiramos as teses e todas as dissertações que não
estavam situadas na área da Educação14, ficando 25 dissertações que
tinham como foco de preocupação as crianças entre 0 a 3 anos e a sua
educação no contexto da creche.
Devido ao número expressivo encontrado, foi necessário um
refinamento dos dados15, para tanto, incialmente consideramos como
critério de seleção a vinculação e representatividade dos trabalhos aos

12
O quadro com o levantamento inicial completo com todos os trabalhos
encontrados pode ser conferido em Anexo A.
13
O recorte temporal aconteceria no primeiro momento entre os anos de 2008 a
2012, mas durante o período da pesquisa o Bando da CAPES não disponibilizou
os trabalhos defendidos no ano de 2012 e por este motivo, acabou-se optando
em analisar somente até o ano de 2011.
14
O principal critério para escolha das dissertações para o corpus de análise é
que eles deveriam pertencer à área da Educação. Uma das dissertações não
compôs o corpus de análise devido à falta de acesso ao trabalho.
15
Na banca de qualificação de dissertação foi indicado que o número de
dissertações para análise fosse diminuído a partir de alguns critérios, devido ao
tempo objetivo do mestrado. As duas sugestões foram: 1) que optasse pela
representatividade dos grupos/núcleos de pesquisas; 2) que optasse pela
representatividade das instituições/universidades.
51

grupos de pesquisa. Avaliamos que é de extrema importante à


vinculação das pesquisas aos grupos e núcleos de pesquisas para a
consolidação da área da educação Infantil, numa perspectiva que toma a
construção de conhecimento coletivamente.
Para localizar os grupos e núcleos de pesquisas foi necessária
uma busca no diretório16 dos grupos de pesquisas cadastrados no CNPq.
Realizamos a busca pelos nomes dos orientadores das dissertações,
porém, não foi possível efetivar a busca com todos os orientadores, visto
que neste banco de dados é possível localizar apenas os dirigentes
institucionais dos grupos de pesquisa. Deste modo, foi necessária uma
busca no currículo lattes de cada orientador/a para confirmação dos
vínculos:

16
Mais informações em: http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/
52

Tabela 4: Grupos e linhas de pesquisas dos orientadores


Orientador Grupo de Pesquisa Linha de Pesquisa Dissertação Orientanda
(a) Instituição
Maria Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento e aprendizagem da SOUZA, Nelly Narciso de.
Augusta Desenvolvimento Humano – criança pequena com ou sem necessidades Concepções de educadores de
Bonsanello UFPR (líder) especiais. creche sobre o
desenvolvimento da criança na
faixa etária de zero a três anos
(2008). UFPR
Lígia Márcia Estudos Marxistas em Desenvolvimento humano; MAGALHÃES, Giselle Mode.
Martins Educação – UNESP (líder) Teorias pedagógicas, trabalho educativo e Análise do desenvolvimento
sociedade. da atividade da criança em seu
primeiro ano de vida (2011).
UNESP Araraquara
Alessandra Grupo de Pesquisa em Currículo e Políticas para Educação SILVA, Janaina Cassiano.
Arce História da Educação e Infantil; Formação Humana, Teoria Social Práticas educativas: a relação
Educação Infantil – e Ontologia Crítica; História das Ideias entre cuidar e educar e a
UFSCAR (líder); Grupo de pedagógicas educacionais; Memória, promoção do desenvolvimento
Estudos e Pesquisa em Patrimônio e Educação. infantil à luz da psicologia
Ontologia Crítica (GEPOC) – histórico cultural (2008).
UFSC (pesquisadora); UNESP Araraquara
Informação e Memória –
UFSCAR (pesquisadora)
Gilza Maria Educação Infantil e Formação de Professores. RODRIGUES, Sílvia Adriana.
Zauhy Garms Formação de Professores – Expressividade e Emoções na
FORPREI – UNESP (líder) primeira infância: um estudo
sobre a interação criança-
criança na perspectiva
53

walloniana (2008) UNESP


Pre. Prudente
Célia Maria Educação Infantil e Práticas educativas e formação de TONINATO, Tatiane
Guimarães Formação de Professores professores. Dalpério. Formação identitária
(FORPREI) - UNESP (líder); de docentes da Educação
Profissão docente: formação, Infantil (2008). UNESP Pre.
identidade e representações Prudente
sociais – UNESP (líder);
Representações sociais e
Formação Docente – UNESP
(pesquisadora)
Tizuko Contextos Integrados de Formação profissional em contextos PANTALENA, Eliane
Morchida. Educação Infantil – USP integrados; Jogo na educação infantil. Sukerth. O ingresso da criança
Kishimoto (líder) na creche e os vínculos iniciais
(2010). USP
Mônica Contextos Integrados de Formação profissional em contextos CALLIL, Maria Rosária Silva
Appezzado educação infantil – USP integrados; Jogos na educação infantil. Formar e formar-se no
Pinazza (líder) berçário: um projeto de
desenvolvimento profissional
no contexto de um Centro de
Educação Infantil (2010). USP
Teresa Informação não localizada Culturas, práticas educativas e saberes NASCIMENTO, Sandra
Cristina pedagógicos; Narrativas autobiográficas, Jerônimo do. Cuidar e educar:
Rebolho Rego memória e subjetividades; Psicologia concepções de professores de
histórico-cultural, cultura escolar e um Centro de Educação
constituição de singularidades. Infantil na cidade de São Paulo
(2009). USP
Christian Núcleo de Estudos e Filosofia, Contemporaneidade e SIMIANO, Luciane Pandini.
Muleka Pesquisas Educação e Educação; Teoria Crítica da Sociedade e Meu quintal é maior que o
54

Mwewa Sociedade Contemporânea – Educação. Teoria Crítica, Educação e mundo... Da configuração do


UFSC (pesquisador) Cultura. espaço da creche à constituição
Grupo de Estudos e de um lugar dos bebês (2010).
Pesquisas em Educação e UNISUL
Sociedade - UFMS
(pesquisador)
Marcos Vellela Cultura, subjetividade e Cultura, subjetividade e políticas de CARONI, Cybelle. Como é
Pereira Políticas de Formação – formação; Formação, Saberes e ser professor de crianças de 1 a
PUCRS (líder); Grupo de Desenvolvimento Profissional. 2 anos? Um olhar crítico-
Estudos e Pesquisas em reflexivo sobre uma realidade
Educação e Imaginário vivida (2011).
Social – UFSM (pesquisador) PUCRS
Cleide Vitor Núcleo de Estudos e A caminho do Letramento; Ciências da BIANCHINI, Luciane
Mussini Pesquisas do Brincar, Cognição; Estimulação das habilidades Guimarães B. Práticas
Infância e Diferentes metalinguísticas e psicomotoras: uma Educativas em berçários: o
Contextos – UEL (líder); proposta de prevenção pedagógica e papel da imitação no
Lúdico, Cognição e Saúde – psicopedagógico; Implicações do desenvolvimento e suas
LÚDICOS – UMESP desenvolvimento psíquico nos processos implicações (2008).
(pesquisadora) cognitivos: formação de professores da 1ª
infância; Nascidos para brincar: a UEL
apropriação de significados dos
professores sobre a importância do brincar
na constituição do sujeito cognoscitivo e
psíquico das crianças da Educação Infantil
e Anos Iniciais do Ensino fundamental;
Processos Psicossociais; Tempos de
Brincar: a infância como um espaço de
vivências lúdicas e de aprendizagens;
Uma sala de aula onde se possa brincar.
55

Noeli Grupo Interdisciplinar de Cultura, Infância e Sociedade; Formação FERNANDES, Simoni


Valentina Pesquisa: currículo, inclusão Saberes e Desenvolvimento Profissional. Antunes. A escuta e as
Weshenfelder e direitos humanos – UNIJUI palavras nos anos iniciais da
(líder); Grupo de Estudos e vida: diálogos entre os bebês, a
Pesquisas em Educação e psicanálise e a educação
Imaginário Social – UFSM infantil (2011).
(pesquisadora) UNIJUI
Eloisa Acires Núcleo de Estudos e Avaliação dos serviços educacionais para 1.DUARTE, Fabiane.
Candal Rocha Pesquisas da Educação na crianças de 0 a 6 anos; Criança, educação, Professoras de bebês: as
Pequena Infância – UFSC culturas e cidadania; Crianças e educação: dimensões educativas que
(líder) concepções sóciopedagógicas da infância constituem a especificidade da
nas políticas, normas e saberes científicos; ação docente (2011).
Teoria e prática pedagógica.
2. CASTRO, Joselma Salazar
de. A constituição da
linguagem e as estratégias de
comunicação dos e entres
bebês no contexto coletivo da
educação infantil (2011)

3. SCHMITT, Rosinete
Valdeci.Mas eu não falo a
língua deles! As relações
sociais de bebês num contexto
de educação infantil (2008)
UFSC
Valéria Silva Contextos Educativos e Informação não localizada. 1.CASANOVA, Letícia Veiga.
Ferreira Práticas Docente – UNIVALI O que as crianças pequenas
(líder) fazem na creche? As famílias
56

respondem (2011).
Orientadora:

2. GIRALDI, Ana Vani. A


prática da professora no
cotidiano de uma creche: que
prática é essa? (2008).

UNIVALI
Maria Helena Grupo de pesquisa em Aquisição, aperfeiçoamento e dificuldades 1.TRAI, Micheline Cristina.
Baptista Desenvolvimento Humano, da leitura e da escrita; Desenvolvimento, Experiências de movimento na
Vilares Cultura e Educação – UFFS educação e representações sociais; educação infantil: um estudo
Cordeiro (líder); Cognição, Representação Social e Trabalho do com as professoras do
Aprendizagem e professor. município de Corupá (2008).
Desenvolvimento Humano –
UFAL (pesquisadora) 2. CERA, Fernanda Seara. A
convivência nos ceis:
implicações para o
desenvolvimento dos bebês e
das crianças pequenas (2010).

UNIVALI
Maria Crianças, Infâncias e Linguagens, infância e educação; Estudos 1.GUIMARÃES, Rosele
Carmem Culturas – CIC – UFPEL de Grupos Geracionais e alteridade; Martins. Encontros, cantigas,
Silveira (pesquisadora); Grupo de Políticas e Pedagogias da Educação brincadeiras, leituras: Um
Barbosa Estudos de Educação infantil Infantil. estudo acerca das interações
e Infâncias – GEIN – dos bebês, as crianças bem
UFRGS (pesquisadora); pequenas com o objeto livro
Linguagens, cultura e numa turma de berçário
57

educação – UNISC (2011).


(pesquisadora)
2. PEREIRA, Rachel Freitas.
As crianças bem pequenas na
produção de suas culturas
(2011).

3. GOBBATO, Carolina. “Os


bebês estão por todos os
espaços”: um estudo sobre
educação de bebês nos
diferentes contextos de vida
coletiva da escola infantil
(2011).
Eliane Maria Educação e Infância: Políticas de Educação Infantil; Programas MELO, Alessandra Sarkis de.
Bahia Bhering políticas e práticas – FCC e Práticas na Educação da Infância. A relação entre pais e
(líder); Grupo de Estudos e professores de bebês: uma
Pesquisas em Políticas na análise de seus encontros
Educação Infantil – GEPPEI diários (2008). UFRJ
– UFSC (pesquisadora)
Nádia Maria Interação Social e Ideias e expectativas parentais sobre o MATOS, Maria dos Remedios
Ribeiro Desenvolvimento Infantil – desenvolvimento infantil; Interação social Almeida. Concepções de mães
Salomão UFPB (líder) e desenvolvimento linguístico; Práticas e educadoras sobre o
parentais e metas de socialização; desenvolvimento infantil
Prevenção de problemas de (2010). UFPB
desenvolvimento.
Antônia Informação não encontrada. A Monografia no Departamento de CURADO, Márcia Helena
Ferreira Educação: Um estudo metodológico do Santos. Os saberes docentes
Nonata Processo de Construção; dos professores de educação
58

Reconstituindo a Realidade do Ensino de infantil no trabalho com as


Direito da UCG; crianças de zero (00) a três
Movimentos de Educadores e o Curso de (03) anos sob a perspectiva
Pedagogia: A Identidade em Questão. histórico-cultural: um estudo
na rede municipal de educação
de Goiânia (2009). PUC Goiás
Fonte: Levantamento da pesquisadora.
59

Importante destacar ainda que, ao analisarmos as linhas e grupos


de pesquisas dos/das orientadores/as é possível notar que a temática da
dissertação orientada, em grande parte dos casos, está diretamente ligada
ao tema das linhas e grupos de pesquisas. Logo, um grupo de pesquisa
define-se como um conjunto de pesquisas que se organizam e se
complementam em torno de objetivos delineados, características tal, que
legitima e consolida a importância da pesquisa coletiva, que em diálogo
e confronto, produzem conhecimentos acerca da infância, criança e sua
educação.
Após levantar todos os grupos e linhas de pesquisas dos
orientadores, na confrontação dos dados foi possível notar que nem
todos os orientandos estavam vinculados ao mesmo grupo de pesquisas
dos autores das dissertações, sobretudo, as que foram defendidas há
mais tempo. Outro elemento que dificultou a confirmação da vinculação
dos grupos de pesquisas é a mudança de instituição de alguns
orientadores, que, na época da publicação da dissertação estavam
vinculados a uma universidade e atualmente estão vinculadas a outra
instituição.
Por este motivo foi necessário à modificação do critério de
seleção para o corpus de análise, que passou a ser: a) vinculação e
representatividade de dissertação por universidade (uma dissertação por
instituição); b) Nas instituições que encontramos mais de uma
dissertação (ocorreu nas instituições: UFSC, UNESP, USP E UFRGS),
utilizamos como critério de escolha a última dissertação defendida – a
mais recente. No caso da UNESP elencamos uma instituição por
campus, uma situada no município de Presidente Prudente e outro em
Araraquara (São Paulo).
Deste modo, selecionamos pelo menos um trabalho por
universidade, resultando em 13 dissertações de mestrado elencadas para
compor o corpus de análise:
Tabela 5: Dissertações selecionadas para o corpus de análise por instituição
Pesquisadora Título da dissertação Instituição

FERNANDES, A Escuta e as Palavras nos Anos Iniciais UNIJUÍ


Simoni Antunes. da Vida: Diálogos entre os Bebês, a
Psicanálise e a Educação Infantil (2011)
RODRIGUES, Expressividade e emoções na primeira UNESP
Sílvia Adriana. infância: um estudo sobre a interação Presidente
criança-criança na perspectiva Prudente
walloniana (2008)
60

BIANCHINI, Práticas educativas em berçários: o papel UEL


Luciane Guimarães da imitação no desenvolvimento e suas
Batistella implicações (2008)

MAGALHÃES, Análise do Desenvolvimento da UNESP


Giselle Modé. Atividade da Criança em seu Primeiro Araraquara
Ano de Vida (2011)
GUIMARÃES, Encontros, cantigas, brincadeiras, UFRGS
Rosele Martins. leituras: Um estudo acerca das
interações dos bebês, as crianças bem
pequenas com o objeto livro numa turma
de berçário (2011)
SIMIANO, Meu quintal é maior que o mundo... Da UNISUL
Luciane Pandini configuração do espaço da creche à
constituição a de um lugar dos bebês
(2010)
PANTALENA, O ingresso da criança na creche e os USP
Eliane Sukerth. vínculos iniciais (2010)

CASANOVA, O que as crianças pequenas fazem na UNIVALI


Letícia Veiga. creche? As famílias respondem (2011)

MELO, Alessandra A relação entre pais e professores de UFRJ


Sarkis de. bebês: Uma análise da natureza de seus
encontros diários (2008)

DUARTE, Professoras de bebês: as dimensões UFSC


Fabiana. educativas que constituem a
especificidade da ação docente (2011)
CURADO, Márcia Os saberes docentes dos professores de PUC Goiás
Helena Santos. educação infantil no trabalho com as
crianças de zero (00) a três (03) anos sob
a perspectiva histórico-cultural: um
estudo na rede municipal de educação de
Goiânia (2009)
CARONI, Cybelle. Como é ser professor de crianças de 1 a PUC RS
2 anos? Um olhar crítico-reflexivo sobre
uma realidade vivida (2011)
SOUZA, Nelly Concepções de educadoras de creche UFPR
Narcizo De. sobre o desenvolvimento da criança na
faixa etária de zero a três anos (2008)
Fonte: Levantamento da pesquisadora.
61

2.2.3 Situando as pesquisas e os Programas de Pós-graduação

Para situar geograficamente as dissertações, tomamos como


referência as 25 pesquisas selecionadas incialmente. Foi possível
verificar, deste modo, no total de pesquisas uma significativa
concentração de trabalhos produzidos na região Sul, somando 15
dissertações. Já na região Sudeste também localizamos um número
expressivo, sendo a segunda maior região somando um total de 8
pesquisas. No Centro-Oeste e Nordeste localizamos uma dissertação em
cada região e por fim, no Norte não encontramos nenhuma pesquisa:
Gráfico 2: Número de dissertações por região do Brasil

Fonte: Levantamento da pesquisadora (2012).


Estes números ilustram a realidade nacional e corroboram com
outras pesquisas que já haviam chamado a atenção para a significativa
concentração de trabalhos nas regiões Sul e Sudeste. Buss-Simão
(2007), em sua pesquisa de mestrado também sinaliza a discrepância
entre os números das pesquisas nas distintas regiões do país. Em análise
da produção, entre os anos de 1997 e 2003, indicou que dentre as 29
dissertações selecionadas para seu trabalho, 24 pertenciam às regiões
Sul e Sudeste (ambas com 12 dissertações). Passados oito anos de sua
pesquisa, estes dados continuam atuais, o que se justifica também pelo
número de universidades concentradas nas regiões Sul e Sudeste com
programas de pós-graduação.
62

Segundo Ramalho e Madeira (2005) a oferta da pós-graduação


em educação nas regiões federais, nos níveis de mestrado e doutorado
apresenta-se com a seguinte configuração:
Sudeste: 45% mestrado e 56% doutorado; Sul:
26% mestrado e 17% doutorado; Nordeste: 16%
mestrado e 17% doutorado; Centro-Oeste: 9%
mestrado e 10% doutorado; Norte: 4%mestrado e
nenhum doutorado. Se considerarmos somente os
doutorados, a concentração dos programas no eixo
Sul-Sudeste é ainda maior: as regiões Sul e
Sudeste detêm 73% dos programas de pós-
graduação [...] (RAMALHO; MADEIRA, 2005,
p. 75).
O desequilíbrio entre as regiões que se apresenta no contexto da
pós-graduação é um dos aspectos que compõem também o desequilíbrio
total de um país desigual:
[...] por força do modelo de desenvolvimento
econômico e social historicamente implantado.
Várias declarações sobre a política de pós-
graduação defendem que, se não for efetivada
uma eficiente ação governamental para fazer
frente a tais desequilíbrios, esse fosso acadêmico
deve aprofundar-se cada vez mais. Acontece que
esse problema é uma decorrência de outros
fatores, e continuará a existir necessariamente
enquanto suas causas estruturais não forem
superadas pela estreita vinculação entre o
crescimento econômico e a fixação de
competências, que, no final deste século, se
delineia como fundamental para o
desenvolvimento das regiões (RAMALHO;
MADEIRA, 2005, p.75).
O atual desenvolvimento econômico e social impacta diretamente
o contexto da pós-graduação, que segundo Ramalho e Madeira (2005), é
um problema decorrente de diversos fatores oriundos de causas
estruturais. A distribuição dos programas obedece a determinismos de
assimetrias regionais e estaduais: “Por certo corporativismo, é na
própria comunidade acadêmica que enaltece as características da pós-
graduação, omitindo seus problemas de concepção, estrutura e
funcionamento” (RAMALHO; MADEIRA, 2005, p.71).
63

Segundo as autoras é necessário lutar pelo avanço da cultura pós-


graduada nas regiões Norte e Nordeste, fomentando e incentivando,
desde: “[...] a graduação, a institucionalização da pesquisa no processo
acadêmico do ensino-aprendizagem, na construção coletiva do
conhecimento histórico, social e politicamente relevante” (RAMALHO;
MADEIRA, 2005, p.80). Para tanto, elas situam uma série de indicações
e recursos de várias ordens, para que se possa pensar de forma efetiva os
avanços na região: como a importância da iniciação científica dos
graduandos, sobretudo, por meio do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica (PIBIC); a ampliação quantitativa e qualitativa o
engajamento dos professores pesquisadores no Sistema Nacional de
Pós-Graduação, de modo a apoiar a melhoria da pós-graduação nas
instituições de ensino superior em ambas às regiões. Consolidar os
grupos de pesquisas: “[...] para a produção do conhecimento e para
fornecerem bases e consistência ao desenvolvimento da pós-graduação”
(RAMALHO; MADEIRA, 2005, p.80). A garantia de condições a
produtividade acadêmica e por fim desenvolver a participação regional,
de modo que as lideranças possam ocupar espaços de decisões.
A ideia é que possamos pensar a construção coletiva de
conhecimento por distintas perspectivas, tendo em vista que, pensar a
infância, as crianças e os processos educativos na realidade da região
Sul e/ou Sudeste trazem alguns elementos, que não são os mesmos se
pensarmos tais aspectos nas demais regiões. Cada região tem suas
particularidades, culturas próprias, um contexto social amplo que se
reflete também na produção de conhecimento. Ampliar tal produção,
para que se possa realizar um diálogo, uma interface das pesquisas em
Educação nos diferentes contextos enriquece, legitima e consolida a
área.
Importante situar ainda, que dentre as dissertações selecionadas
para compor a presente pesquisa, verificamos que das 25 dissertações
selecionadas, 09 foram produzidas no contexto das Universidades
Federais, 8 realizadas nas Universidades Estaduais e 8 em
Universidades Privadas:
64

Gráfico 3: Número de dissertações por instituições

Fonte: Levantamento da pesquisadora (2012).


Por fim, gostariamos de salientar que, acreditamos na construção
de conhecimento numa perspectiva coletiva, em instituições públicas,
que não favoreçam os interesses de instâncias privadas, mas pesquisas
compremetidas intencionalmente com a emancipação social, assim
como sinalizam Ramalho e Madeira (2005). Os programas de pós-
graduação não devem perder de vista que esta é a finalidade intrínsica da
pesquisa: uma construção de inovação intelectual e atitude profissional
emancipadora, que promova mudanças singificativas no contexto
educional do nosso país.

2.2.4 A opção por Análise de Discurso Textualmente Orientada:


implicações do discurso nas práticas sociais

Nesta pesquisa temos como finalidade analisar as produções


científicas, em nível de mestrado, tendo como preocupação aprofundar
os estudos sobre as práticas pedagógicas com as crianças de 0 a 3 nos de
idade, analisando os indicativos para a docência com bebês/crianças
pequenas, a partir da produção científica brasileira produzida entre os
anos de 2008 a 2011 no banco de teses e dissertações da CAPES.
Para tanto, é necessário ponderarmos que toda produção
científica, em especial nas ciências humanas, é constituída por um
65

discurso, e este, por sua vez, vai se delineando a partir de uma


intencionalidade do pesquisador. Estas dimensões fazem com que o
discurso seja sempre social, uma vez que ele é construído a partir das
análises das relações sociais vivenciadas entre sujeitos.
O uso da linguagem é também uma prática social, deste modo, o
discurso mostra-se como uma possibilidade de ação e intervenção
social, ou seja, que pode agir sobre as questões da realidade social e, as
representações dos sujeitos sobre a mesma.
Segundo Norman Fairclough (2008), estas questões desembocam
numa importante implicação dialética entre o discurso e a estrutura
social, uma vez que o discurso é moldado e restringido pela estrutura
social, tanto num sentido amplo, como também em todos os níveis:
[...] pela classe, pelas relações sociais em um nível
societário, pelas relações específicas em
instituições particulares, como o direito ou a
educação, por sistemas de classificação, por várias
normas e convenções, tanto de natureza discursiva
como não-discursiva e assim por diante
(FAIRCLOUGH, 2008, p.91).
Para pensarmos as implicações do discurso nas práticas sociais,
Fairclough (2001) destaca três elementos que provocam efeitos
construtivos sobre o discurso: em primeiro lugar, ele contribui para a
construção e significação das identidades sociais, em segundo lugar na
posição dos sujeitos, por fim, para os sujeitos sociais e os tipos de eu.
Ou seja, o discurso é capaz de atribuir e moldar formas de ser estar na
sociedade, com as crianças não seria diferente.
Os discursos que são enunciados e alimentados, em especial
pelas próprias produções acadêmicas, legitimam as formas de
compreender a criança, a infância e a sua educação. É a partir de
enunciados repletos de significações que os discursos vão construindo
uma ideia do que é a criança e do que é, ou deveria ser a infância.
Importante salientar que as formas que significamos a infância,
como a entendemos, como a idealizamos, conforma e molda os jeitos de
como a própria criança vive este momento peculiar da vida humana. O
discurso contribui para a construção das relações sociais entre os
sujeitos, e a linguagem exerce um papel fundamental nesta relação, uma
vez que, é a própria linguagem que nutre os discursos, atribuindo
significados sociais entre os seres humanos.
Todos os discursos, neste caso, o discurso produzido por meio
das pesquisas, não se constituem sem uma intencionalidade. Tal
66

intencionalidade está intimamente ligada ao contexto social que o


próprio pesquisador está inserido. Os enunciados lançados pelo
pesquisador se legitimam também, por intermédio dos campos de
interesses, portanto, há uma forte relação entre discurso e poder, uma
vez que o discurso tem uma relação ativa com a realidade.
Para Foucault, o discurso não somente traduz as lutas ou sistemas
de dominação, mas é a finalidade para qual e pela qual existe luta, o
discurso, é, portanto, o poder a ser tomado:
O caráter do poder nas sociedades modernas está
ligado aos problemas de controle das populações.
O poder é implícito nas práticas sociais cotidianas,
que são distribuídas universalmente em cada nível
de todos os domínios da vida social e são
constantemente empregadas (FAIRCLOUGH,
2008, p.75).
Assim como o discurso, permeado pelas relações de poder,
contribui para reproduzir a sociedade – as identidades sociais, sistemas
de conhecimento, relações sociais e crenças –, ele pode contribuir
também para transformá-la.
Os efeitos das produções - dos discursos - refletem diretamente
na realidade social, portanto, criam implicações nas práticas
pedagógicas e nas concepções de bebê e crianças pequenas. Por este
motivo, justificamos a importância de aprofundar os estudos sobre as
práticas pedagógicas com as crianças de 0 a 3 nos de idade, analisando
os indicativos para a docência com bebês/crianças pequenas, a partir da
produção científica brasileira.
É nessa perspectiva que esta pesquisa se propõe analisar as
práticas discursivas, que se manifestam por meio das dissertações de
mestrado, que foram realizadas entre os anos 2008 e 2011; a partir da
metodologia de Análise de Discurso Textualmente Orientado (ADTO)
de Fairclough (2008), considerando os determinantes sociais, bem como
os contextos que estas produções são construídas.

2.2.5 Situando o “campo”: as pesquisas selecionadas

Diz-se pesquisa de campo, aquelas que lançam mão de


procedimentos metodológicos que transpõem o reducionismo do
empirismo, mas busca interpretar a realidade a partir de pressupostos
teóricos, sem pretensão de desvelar “verdades” integrais, e configura-se,
sobretudo, como uma tentativa de aproximação: “[...] de conhecer
67

qualquer fenômeno constituinte dessa realidade [...], visto sua


complexidade e dinâmica dialética” (PIANA, 2009).
Usamos como título “campo”, pois, aqueles que realizam
pesquisas que se caracterizam como estado da arte, levantamento e
análise de produção, o “campo” da pesquisa são os documentos, teses,
dissertações, dentre outros, onde o pesquisador mergulha por meses ou
anos.
E, para situar nosso campo, inicialmente, vamos tecer algumas
considerações acerca do perfil das pesquisadoras – as autoras das
dissertações –, que compuseram nosso corpus de análise.
Quanto às opões metodológicas das pesquisas, entre as
dissertações analisadas, algumas se detiveram a uma descrição detalhada
do percurso metodológico, explicitando as ferramentas. Das 13
dissertações selecionadas nenhuma se configura como estado da arte,
nem como levantamento de produção, as 13 pesquisas realizaram a
pesquisa diretamente com as crianças, as professoras ou com as famílias
no contexto da educação infantil.
Três dissertações definiram-se enquanto estudos do tipo
etnográfico, com os seguintes nomes: etnográfica, inspirado no método
etnográfico e estudo com nuances etnográficas. Duas dissertações
classificaram-se como pesquisa ação, encontramos ainda dois estudos
exploratórios e uma análise de conteúdo. Encontramos duas pesquisas
do tipo estudo de caso, outra que se caracteriza enquanto uma análise
crítico-reflexiva da própria realidade vivida. Por fim, uma das
dissertações não explicitou qual tipo de pesquisa adotou, todavia trouxe
uma densa descrição dos processos metodológicos.
Os principais procedimentos metodológicos explicitados nas
dissertações são: observação participante, registos fílmicos e
fotográficos, caderno de campo, entrevista semi-estruturadas e
questionários. Muitos dos procedimentos e ferramentas metodológicas
se assemelham com pequenas distinções nos modos como são chamados
pelas pesquisadoras.
Grande parte das pesquisas manifestou a preocupação de utilizar
ferramentas metodológicas que ajudassem a se aproximar dos pontos de
vistas das crianças e chamam a atenção para a importância dos
pesquisados em legitima-las enquanto partícipes da pesquisa, muitas das
dissertações manifestaram o cuidado em aproximar-se das crianças de
forma respeitosa.
De acordo com Buss-Simão (2007) reservar esse direito às
crianças que estão envolvidas nas pesquisas é basal para a consolidação
das crianças como sujeito de direitos, pois, em muitas perspectivas
68

somente o consentimento dos adultos responsáveis é o suficiente para a


realização da pesquisa. Nessa perspectiva, podemos destacar a partir dos
estudos analisados, que tem optado por alternativas metodológicas
comprometidas em ir até a creche, ouvir e/ou auscultar as crianças
pequenas, com olhar sensível mediante aos modos comunicacionais dos
bebês, a seus pontos de vistas, como um esforço de conhecê-las e,
também as relações educativas que envolvem esse contexto.
Para tanto, as ferramentas metodológicas explicitadas nos estudos
parece-nos alternativas profícuas para estudos com crianças, para
conhecer sua infância e a sua educação. De acordo com Jobim e Souza e
Castro (2008, p.53, grifo no original):
Na medida em que a criança não é vista apenas
como um objeto a ser conhecido, mas como
sujeito com um saber que deve ser reconhecido e
legitimado, a relação que se estabelece com ela,
no contexto da pesquisa, começa a ser orientada e
organizada a partir dessa visão. Nessa perspectiva,
em vez de pesquisar a criança, com o intuito de
melhor conhece-la, o objetivo passa a ser
pesquisar com a criança as experiências sociais e
culturais que ela compartilha com as outras
pessoas de seu ambiente, colocando-a como
parceira do adulto-pesquisador, na busca de uma
permanente e mais profunda compreensão da
experiência humana.
Na esteira dessa discussão, Buss-Simão (2007) e explica-nos que
os estudos da Sociologia da Infância têm sugerido que as pesquisas
sejam feitas com as crianças e não somente sobre elas, realizando-as a
partir da perspectiva das crianças e compreendo que são sujeitos da
pesquisa e não meros objetos, com vistas a:
[...] dar-lhes legitimidade e outorgar-lhes o direito
conquistado de sujeito de direitos e de se
constituírem partícipes na e da produção do
conhecimento. É importante ressaltar que as
pesquisas que se configuram a partir da
perspectiva das crianças se caracterizam por
focalizar as crianças para o estudo das realidades
das infâncias (BUSS-SIMÃO, 2007, p.186, grifo
no original).
Boa parte dos trabalhos apresenta ainda, uma perspectiva de
colaboração e diálogo disciplinar, importante movimento que se
69

expressa por meio das pesquisas da área e reitera a complexidade que


envolve a infância e seus processos educativos. Entre as áreas
sinalizadas, podemos destacar as contribuições da Educação,
Antropologia, Filosofia, História, Psicologia e, em menor número,
diálogo com a Sociologia da Infância.
Dentre os muitos autores utilizados para os diálogos disciplinares,
podemos citar as contribuições de autores da área da Psicologia: Donald
Winiccott, Jacques Lacan, Henri Wallon, Lev Vygotsky, Alexander R.
Luria, Alexis N. Leontiev, Jean Piaget.
Já no âmbito da Filosofia aparecem: Jean-Jacques Rousseau,
Karl Marx, John Dewey, Mikhail Bakhtin, Walter Benjamin. E os mais
contemporâneos Walter Kohan e Jorge Larrosa. Os principais autores
citados na área da Sociologia da Infância foram Manuel Sarmento, Alan
Prout e Peter Moss.
No âmbito da Educação as principais referências utilizadas
foram: Maurice Tardif, Bernadete Gatti, Ana Beatriz Cerisara, Maria
Malta Campos, Sônia Kramer, Fúlvia Rosemberg, Eloisa Rocha,
Tizuko Morchida Kishimoto, Fernanda Carolina Dias Tristão,
Alessandra Arce17, Lígia Márcia Martins, Maria Carmen Silveira
Barbosae Maria Clotilde Rossetti-Ferreira. Para situar a história da
educação infantil o principal autor utilizado foi Moysés Kuhlmann Jr.
As contribuições da educação das italianas também apareceram
num significativo número de trabalhos, as quais são: Susanna
Mantovani, Anna Bondioli e Lella Gandini.
Importante salientar que todas são pesquisadoras, e, dentre as 13
dissertações, 9 pesquisadoras se dizem professoras de bebês, professoras
de educação infantil ou pedagogas. Grande parte das pesquisadoras
explicita, ao apresentar a trajetória profissional e motivações, que suas
questões e inquietações originaram-se justamente na prática pedagógica
com grupos de bebês.
Deste modo, podemos afirmar que, a grande maioria das
pesquisadoras são professoras de bebês que buscam, por meio da
pesquisa, tecer reflexões e produzir conhecimento acerca da própria
profissão. A feminilidade que demarca a profissão vem se constituindo
historicamente, logo, refletem-se também nas pesquisas da área, que são
significativamente produzidas por mulheres, pedagogas: professoras-
pesquisadoras.

17
Alessandra Arce e Ligia M. Martins organizaram um livro cujo objeto de
preocupação é a educação das crianças na faixa etária de zero a três anos, com o
nome Ensinando aos pequenos de zero a três anos (2009).
70

Cerisara (2002) já havia assinalado este quadro e indica-nos que o


perfil das profissionais da educação infantil se constitui entrelaçado com
o feminino. Embora, destaque a necessidade de considerar as mulheres
em seu contexto sociocultural, o que inclui a existência de contradições
sociais:
Sem pretender uma definição acabada do perfil
das profissionais de educação infantil, pode-se
afirmar que elas têm sido mulheres de diferentes
classes sociais, de diferentes idades, de diferentes
raças, com diferentes trajetórias pessoais e
profissionais, com diferentes expectativas frente à
sua vida pessoal e profissional, e que trabalham
em uma instituição que transita entre o espaço
publico e o espaço doméstico, em uma profissão
que guarda traços de ambiguidade entre a função
materna e a função docente (CERISARA, 2002,
p.25-26).
É importante considerar a discussão e o aprofundamento acerca
do gênero na constituição da profissão, pois, significa apreender o
conceito de gênero que se faz persente não somente na experiência
doméstica, mas também nos sistemas econômicos, políticos ou de poder:
“Não pode ser considerada apenas uma variável a mais a ser constatada,
mas uma categoria de análise fundamental par a compreensão da
identidade dessa profissão e dessas profissionais [...]” (CERISARA,
2002, p.31).
Segundo Batista (2013) ao atribuir às profissionais da educação
infantil um caráter de legalidade da denominação “professora” traz
implicações que sugerem uma valorização. Tendo em vista que esta
denominação é historicamente carregada de um status de cientificidade
– que advém da perspectiva escolar, o que desloca o papel da professora
de substituição das mães na educação das crianças pequenas. Para
termos uma definição mais clara do papel das professoras de educação
infantil, que se distingue das professoras das séries iniciais, será preciso
que a especificidade do trabalho junto aos bebês e crianças pequenas
seja amplamente compreendida, pois, “[...] as práticas dessas
profissionais são práticas que se mesclam com as práticas domésticas e
de maternagem, as quais são socialmente desvalorizadas” (CERISARA,
2002, p.107).
71

2.2.6 Emersão das categorias de análise

As categorias de análise foram emergindo na medida em que as


leituras das dissertações foram realizadas, deste modo, assim que
localizávamos os principais temas das pesquisas agrupávamos os
trabalhos.
Para a categorização e agrupamento das categorias utilizamos
como estratégia metodológica de análise de conteúdo, em que o método
indutivo (VALA, 1999), onde a partir das leituras, as categorias
pudessem emergia do próprio campo – as dissertações. Após o primeiro
agrupamento e a “pré-cageroização”, junto com a orientadora, definimos
quais seriam então as categorias de análise a partir do agrupamento das
pesquisas. As categorias ficam assim definidas:
Tabela 6: Estudos sobre a especificidade da docência
Título da dissertação Pesquisadora
Concepções de educadoras de creche sobre o SOUZA, Nelly
desenvolvimento da criança na faixa etária de zero a três Narcizo De/ UFPR
anos (2008)
Dissertação: Os saberes docentes dos professores de Márcia Helena
educação infantil no trabalho com as crianças de zero Santos Curado/
(00) a três (03) anos sob a perspectiva histórico-cultural: PUC Goiás
um estudo na rede municipal de educação de Goiânia
(2009)
Como é ser professor de crianças de 1 a 2 anos? Um CARONI, Cybelle./
olhar crítico-reflexivo sobre uma realidade vivida (2011) PUC RS
Professoras de bebês: as dimensões educativas que DUARTE,
constituem a especificidade da ação docente Fabiana/UFSC
Fonte: Levantamento da pesquisadora.
Tabela 7: Estudos sobre práticas pedagógicas
Título da dissertação Pesquisadora
Meu quintal é maior que o mundo... Da configuração do SIMIANO, Luciane
espaço da creche à constituição a de um lugar dos bebês Pandini/ UNISUL
(2008)
Encontros, cantigas, brincadeiras, leituras: Um estudo Rosele Martins
acerca das interações dos bebês, as crianças bem Guimarães/ UFRGS
pequenas com o objeto livro numa turma de berçário
(2011)
Fonte: Levantamento da pesquisadora.
72

Tabela 8: Estudos sobre o desenvolvimento infantil


Título da dissertação Pesquisadora
Práticas educativas em berçários: o papel da BIANCHINI, Luciane
imitação no desenvolvimento e suas implicações Guimarães Batistella /UEL
(2008)
Expressividade e emoções na primeira infância: RODRIGUES, Sílvia
um estudo sobre a interação criança-criança na Adriana/ UNESP Pr.
perspectiva walloniana (2008) Prudente
Análise do Desenvolvimento da Atividade da MAGALHÃES, Giselle
Criança em seu Primeiro Ano de Vida (2011) Modé/UNESP Araraquara
A Escuta e as Palavras nos Anos Iniciais da Vida: FERNANDES, Simoni
Diálogos entre os Bebês, a Psicanálise e a Antunes/UNIJUÍ
Educação Infantil (2011)
Fonte: Levantamento da pesquisadora.
Tabela 9: Estudos sobre a função social e relações com a família
Título da dissertação Pesquisadora
A RELAÇÃO ENTRE PAIS E PROFESSORES DE MELO, Alessandra
BEBÊS: Uma análise da natureza de seus encontros Sarkis de /UFRJ
diários (2008)
O ingresso da criança na creche e os vínculos PANTALENA, Eliane
iniciais (2010) Sukerth/USP
O que as crianças pequenas fazem na creche? As CASANOVA, Letícia
famílias respondem (2011) Veiga. /UNIVALI
Fonte: Levantamento da pesquisadora.
73

3 ESPECIFICIDADES DA EDUCAÇÃO DOS BEBÊS E


CRIANÇAS BEM PEQUENAS

A instituição de educação infantil possui como função social


acolher, cuidar e educar as crianças entre a faixa etária de 0 a 5 anos – e
seus processos formativos de forma integral e compartilhada com as
famílias. Cumprindo um papel importante na constituição de valores,
tais como solidariedade e respeito ao bem comum, aprender a conviver
com as distintas culturas, singularidades, identidades, respeitando a
autonomia de cada ser humano (BARBOSA, 2010).
Segundo Barbosa (2010) a ida dos bebês para creche significa
uma ampliação das relações com o mundo, já para os adultos
responsáveis pela sua educação, significa organizar intencionalmente –
selecionar, refletir – a vida nas instituições de educação infantil com
práticas sociais, as quais demonstram também as formas como as
professoras18 apreendem o patrimônio cultural, artístico, ambiental,
dentre outros, que se revelam na docência e nas propostas pedagógicas.
É nas práticas sociais, onde as famílias e as instituições
educativas ensinam aos bebês e crianças pequenas suas primeiras
aprendizagens, que, paulatinamente vão constituindo os repertórios e,
por conseguinte, novas aprendizagens. As concepções contemporâneas
acerca dos bebês, infância, a aprendizagem e a educação, cujos estudos
recentes tem nos ajudado a pensar e repensar tem nos conduzido para a
apreensão de um currículo que perceba o desenvolvimento das crianças
de maneira integral, em suas muitas dimensões: expressivo-motora,
afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural, concebendo
as crianças em sua multiplicidade (BARBOSA, 2010).
Contudo, ao tratar-se especificamente da educação dos bebês,
emergem muitas dúvidas em como sugerir este currículo. Sabe-se que
não será por meio de aulas expositivas, mas pela elaboração de uma vida
cotidiana com práticas sociais que ampliem as vivências em linguagens,
para que os bebês possam experienciar seus saberes (BABROSA, 2010).
As crianças desde muito pequenininhas são capazes de aprender
e, para isto, as instituições de educação infantil precisam organizar
tempos, espaços e condições adequadas, assumindo as crianças como
ponto de partida para pensar as relações educativas. A organização do
cotidiano na creche deve privilegiar experiências significativas,

18
Optamos em utilizar professoras, pois, assim como evidenciado por Cerisara
(2002) essa é uma profissão marcada sobremaneira pelo gênero feminino.
74

considerando a potencialidade dos bebês e crianças pequenas nesse


processo.
Durante muito tempo concebeu-se o bebê como um ser humano
incapaz, devido sua dependência para sobreviver. Os estudos
antropológicos, por exemplo, ignoraram os bebês durante muito tempo,
tomando-os como um não-sujeito e que ocupa um espaço negativo sob
o olhar antropológico (GOTTLIEB, 2009). Por este motivo estudos que
se debruçassem em investigar os bebês seriam desnecessários,
compreendia-se esse tempo “como passageiro”.
Segundo Hirschfeld (2002) 19, as crianças compõem um grupo
social esquecido dentre os estudos da área, elas são marginalizadas por
desconsiderarem suas características próprias, o que ele chama de “as
coisas que as crianças fazem melhor”. E são elas: a) as crianças são
favoráveis em adquirir culturas em contato com os adultos; b) as
crianças são capazes de produzir suas próprias culturas (HIRSCHFELD,
2002).
Quanto ao desinteresse sobre os bebês Gottlieb (2005) argumenta
que:
Quanto menor a criança, mais dependente ela é de
outros para seu suporte básico biológico: para os
padrões antropológicos, os bebês aparentam ser
desinteressantes. Eles parecem precisar tanto da
misericórdia dos outros que não existe nem um
mínimo grau daquela relação de oferta e demanda
entre dois indivíduos, ou entre um indivíduo e a
sociedade em geral, que torna a reflexão
acadêmica tão interessante. Outro fator
relacionado a essa questão é o de que os bebês, na
maioria das sociedades – se não em todas -, são
classificados como menores. Incapazes de
testemunhar em tribunal, eles não produzem
nenhum efeito legal sobre outros. Dada a base
legalista da herança da maior parte das nossas
disciplinas (britânicas/funcionalistas) –
especialmente na África -, o legado de tal
posicionamento jurídico inconsequente dos bebês
parece pertinente mesmo hoje em dia, e talvez,
inconscientemente, sirva como mais um fator
responsável por sua invisibilidade etnográfica. Em

19
HIRSCHFELD, Lawrence. Why Don‟t Anthropologist Like Children?
American Anthropologist. 104(2): 611-627, 2002.
75

geral, a opinião dos bebês parece ser irrelevante


na tomada de decisões que envolvam outras
pessoas. Como informantes, bebês aparentemente
não contribuem com um material muito promissor
(GOTTLIEB, 2005, p.320).
Essa concepção de incapacidade dos bebês acaba invibilizando
sua real potencialidade. Pesquisas recentes na área da Educação vêm
contribuindo para informar um novo olhar sobre a capacidade dos
bebês20, demonstrando que, distintamente do que se pensava, eles
estabelecem relações sociais com seus pares e não somente com os
objetos, participam ativamente do seu entorno social.
Isso não significa dizer que os bebês são independentes, pois, são
biologicamente dependentes de seres humanos mais velhos, para lhes
prover as condições necessárias de sobrevivência, contudo, desde muito
pequenos demonstram interação social com o mundo, manifestando
desejos e significações.

3.1 A ESPECIFICIDADE DOCENTE: O QUE É SER PROFESSORA


DE BEBÊS E CRIANÇAS BEM PEQUENAS?

O profissionalismo em educação infantil é uma questão que tem


tomado um importante espaço no debate nacional e internacional, cujo
tema é de interesse dos organismos públicos e é também pauta no debate
dos pesquisadores da área:
É cada vez mais reconhecido que a qualidade nos
programas de educação infantil depende de
profissionais competentes no trabalho com
crianças, famílias e comunidades. No entanto, o
que significa competência e os caminhos para
alcança-la são pontos de controvérsia. A ausência
de consenso, associada à falta de claras
referências de perfil profissional de uma trilha
comum a seguir na construção dessa
profissionalidade, deve-se tanto a fatores externos,
relacionados com a origem e o desenvolvimento
das instituições de cuidado e educação da criança
pequena, quanto a fatores inerentes às atividades
voltadas à infância (HADDAD et al, 2012, p.
136).

20
Ver Coutinho (2002, 2010), Tristão (2004), Guimarães (2008), Schmitt
(2008).
76

São vários os pontos que culminam para uma ausência de


identidade própria para o profissional de educação infantil, a dupla
trajetória histórica que marcam as creches e pré-escolas21 e as atividades
próprias do magistério infantil associada ao papel maternal, são fatores
que não colaboram para a consolidação de uma qualificação à profissão
(HADDAD et al, 2012).
Ainda que, existam muitos avanços registrados sobre o
reconhecimento legal do campo profissional e da profissão – que
posiciona a educação infantil como a primeira etapa da educação básica
e reconhece o profissional como professor com formação específica,
segundo Haddad et al (2012) ainda prevalece uma polarização da
profissão no senso comum.
A docência é uma profissão marcada pela interação entre seres
humanos, principalmente pela subjetividade, visto que a
compreendemos como um trabalho sobre e com o outro, por
conseguinte: “A docência é um trabalho cujo objeto não é construído de
matéria inerte ou de símbolos, mas de relações humanas com pessoas
capazes de inciativas e dotadas de uma certa capacidade de resistir ou
participar da ação dos professores” (TARDIF; LESSARD, 2009, p.35,
grifo no original).
Pesquisas apontam a educação infantil como a primeira etapa da
educação básica com especificidades próprias, dentre as contribuições
podemos citar os estudos de Cerisara (1996), Rocha (1999), Faria
(1997), Batista (1998), Oliveira (1996, 2002), Kramer (2003), Coutinho
(2002), Tristão (2004), Schmitt (2008) e Guimarães (2008). Ou seja, são
características que demarcam particularidades ao trabalho docente junto
às crianças pequenas, tais como estrutura física dos espaços
institucionais, os planejamentos pedagógicos que levem em conta as
dimensões educativas (lúdicas, expressivas e socioculturais), bem com
suas ferramentas pedagógicas como observação, registros e avaliação.
As especificidades que envolvem as relações pedagógicas se
afunilam ainda mais, quando tratamos das crianças de 0 a 3 anos,
sobretudo, os bebês que ainda não desenvolveram a linguagem oral e
precisam de cuidados constantes como nos momentos de sono,

21
“Durante as últimas décadas, foi possível constatar duas formas de
caracterização dos diferentes tipos de trabalhos realizados em creches e pré-
escolas: por um lado, havia as instituições que realizavam um trabalho
denominado “assistencialista” e, por outro, as que realizavam um trabalho
denominado “educativo”(CERISARA, 2002, p.11-12).
77

alimentação e higiene por exemplo. Essas dimensões demandam


sutilezas na ação docente, assim como sugere Tristão (2006):
Virar uma criança, colocá-la mais perto do grupo,
perceber seus sinais - corporais, prestar atenção na
temperatura-ambiente para deixá-la com uma
roupa confortável, cobri-la em um dia de frio e
outras tantas ações podem fazer a diferença entre
a atenção, característica de uma prática humanista
e emancipadora, plena de significados, e o
descaso, característica das práticas
desumanizadoras voltadas para o conformismo e
subalternidade (TRISTÃO, 2006, p.40).
Esses são alguns exemplos das sutilezas que caracterizam os
trabalhos com os bebês e as crianças bem pequenas. Na medida em que
agimos com responsividade22 mediante as formas comunicacionais dos
bebês, suas necessidades, atendendo seu chamado – seja corporalmente,
com um choro, um bocejo, um sorriso –, informamos para essa criança
que seus sentimentos e desejos são considerados.
A maior parte do tempo, dentro das salas dos grupos menores é
destinada aos necessários momentos rotineiros marcados pelas relações
individuais e subjetivas, como a acolhida das crianças, a alimentação,
momentos de higiene, de sono e descanso, que não são considerados, em
grande medida, como importantes ou merecedores de atenção com
planejamento próprio, consequentemente, tais momentos não recebem a
reflexão necessária nas avaliações e registros, pois, no imaginário das
professoras: “[...] há a noção de que deve haver a produção de algo para
estar caracterizado um processo educativo, bem de acordo com a noção
da sociedade capitalista onde vivemos, que valoriza os resultados como
lógica estruturante” (TRISTÃO, 2006, p.40).
Segundo Buss-Simão (2012), durante muito tempo nos espaços
da educação infantil o “pedagógico” se manteve cultural e
historicamente ligado às atividades mais “nobres”, ou seja:
[...] o termo passou a ser utilizado para distinguir
atividades “nobres” de atividades menos “nobres”,
sendo que as atividades menos “nobres” estariam

22
Segundo Schmitt (2008), em diálogo com os contributos bakhtinianos,
responsividade significa a não-indiferença do ser frente ao outro, ou seja, a
atividade ou posição que tomamos em relação ao outro. Significa compreendê-
lo em relação a mim mesmo: “[...] o que pressupõe a ação responsável, e não a
abstração de mim mesmo” (BAKHTIN, 1993, Apud SCHMITT, 2008, p119).
78

mais voltadas ao cuidado, sobretudo com a


dimensão corporal que a educação das crianças
pequenas envolve. Por outro lado, as atividades
mais “nobres” com status estariam voltadas ao
termo educação e, sobretudo, com a dimensão
cognitiva, mantendo também uma relação com um
produto final, com resultados e desempenhos
observáveis (BUSS-SIMÃO, 2012, p.267).
Nessa perspectiva, as atividades ditas pedagógicas eram aquelas
que abrangem:
[...] jogos dirigidos, colagens, recortes e desenhos
coletivos, contações de histórias e, mais
particularmente ainda, aquelas atividades
“pedagógicas” são compreendidas, pelos
profissionais que atuam diretamente com as
crianças, como aquelas atividades que ensinam
algo para as crianças (BUSS-SIMÃO, 2012,
p.267).
Estas questões estão ligadas também ao desejo de legitimar a
profissão, ou seja, o ser professora de bebês, com a mesma importância
de ser professora de qualquer outra faixa etária. E, para então legitimar-
se professora, as profissionais sentem a necessidade de realizar
atividades que se assemelham ao ensino fundamental, e, portanto,
ensinar algo concreto com resultados palpáveis/quantificáveis/possíveis
de serem avaliados/ apresentados.
Nesse sentido, estudos e pesquisas na perspectiva de
consolidação de uma Pedagogia da Infância indicam como essencial
tirar as crianças de uma posição de subalternidade mediante as decisões
que lhe dizem respeito, e do mesmo modo, concebe-se como necessária
importância: “[...] não tomar como base de um projeto educacional
pedagógico o conteúdo em sua versão escolar, especialmente aqueles
pautados numa visão do ensino como mera transmissão” (BUSS-
SIMÃO, 2012, p.267).
Essa luta pela legitimidade docente se esclarece ao
compreendermos que a sutileza23 é uma marca no trabalho docente que
revela sua importância. Pois, ser professora de bebês significa ajudar as
crianças ainda tão pequenas a desvendar o mundo, mas principalmente
conhecer e descobrir a si mesma: seus desconfortos, seus desejos, seu
corpo, sua potencialidade e possibilidades de se expressar ativamente.

23
Tristão (2006).
79

De acordo com Guimarães (2008) é preciso compreender o


trabalho junto aos bebês como uma possibilidade de incentivo à abertura
de caminhos de encontros deles consigo mesmos, pois, nos primeiros
meses de vida é também o momento que nasce o si mesmo.
As ações dentro das salas dos grupos dos bebês demandam tempo
e rotinas pensadas e repensadas pelas professoras, planejando o espaço
de modo que as crianças possam interagir e o cotidiano de forma que
respeite a temporalidades das crianças. Educar crianças tão pequenas
significa, sobretudo: “[...] promover um crescimento integral do
indivíduo e também desenvolver a solidariedade, a capacidade de
enxergar o outro e a tolerância para com outros modos de ser, de modo a
ter respeito e responsabilidade para com os demais” (TRISTÃO, 2006,
p.47).
Uma importante característica que demarca a docência com
crianças pequenas é o compartilhamento da responsabilidade da sua
educação, tanto com as profissionais da creche, como com as famílias.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil
apresentam essa etapa da educação básica como um espaço educacional,
cujo papel é também de dividir de maneira indissociável, a educação e
cuidado das crianças com as suas famílias, sendo esta, uma característica
fundamental dessa instituição que se diferencia dos outros níveis
(BARBOSA, 2010).
As famílias não podem ser encaradas somente como usuários de
um serviço, mas como colaborares, ou seja, coautores dos processos
educacionais, portanto, é necessário sintonia quando estamos tratando
da educação dos bebês e crianças pequenas (BARBOSA, 2010).
Para as italianas Mantovani e Perani (1999) a profissionalidade
na educação infantil e a sua consolidação vem exigido cada vez mais um
aprofundamento acerca das suas funções e maior conhecimento sobre
suas seu percusrso histórico de constituição profissional. No contexto
italiano a educação infantil têm duas professoras, distintamente do
ensino fundamental, o que demarca a especificidade docente nesse
contexto. As duas professoras são conjuntamente responsáveis pelo
grupo de crianças, para tanto, é necessário diálogo constante e um
compartilhamento de suas perspectivas.
A experiência italiana que pressupõe parceria e compartilhamento
parece-nos profícua, pois enriquece o trabalho docente e promove um
estreitamento relacional de forma respeitosa, o que é fundamental
quando trabalhamos com crianças bem pequenas.
80

3.2 AS RELAÇÕES SOCIAIS DOS/COM BEBÊS E CRIANÇAS BEM


PEQUENAS

O contexto da Educação Infantil tem uma importante


característica: é um lugar de encontro, de relações sociais entre pessoas
de distintos contextos, classes sociais, crenças e etnias. É um espaço de
múltiplas peculiaridades que se encontram, se aproximam e ao mesmo
tempo se distanciam. Mas se configura principalmente como um espaço
de trocas: de conhecimentos, de experiências, de afetos, de sentimentos
– que nem sempre são harmoniosos, pois, as relações sociais também
são repletas de divergências, embates e tensões.
Entretanto, é necessário compreender que as relações sociais não
se estabelecem somente na presença física ou na existência de duas ou
mais pessoas, ainda que seja necessário tal encontro, uma vez que:
“Além da condição da existência humana e do aparato biológico que lhe
permite interagir, é preciso considerar que as relações entre pessoas são
atravessadas por determinantes e significações sociais/culturais que
constroem suas posições uma diante da outra” (SCHMITT, 2011, p. 19).
Para compreender as relações entre os sujeitos, principalmente
entre as crianças pequenas, delas com as crianças maiores, com as
professoras e outros adultos da creche, é importante considerar o
significado social que cada indivíduo ocupa nesse contexto e mediante
aos outros:
Compreender as relações entre as crianças e
adultos implica abarcar aspectos próximos à
realidade desses sujeitos, como os mais amplos
que concretizam nas ações, nos comportamentos e
pensamentos dos indivíduos, dialeticamente, não
sendo possível dissocia-los. As ações, mesmo as
de nível pessoal, são permeadas por esses
aspectos, configurando-se na voz, no pensamento
e na ação de uma pessoa a presença de outras
vozes que a compõem (SCHMITT, 2011, p.19).
Tomando como base o conceito de polifonia de Bakthin24
podemos compreender que as relações são constituídas por muitas
vozes: “ao mesmo tempo em que são condensadas pelas significações e
pelos sentidos atribuídos à creche, ao trabalho desenvolvido nela, são
também atravessadas pelas composições sociais que formam os
indivíduos em outros espaços” (SCHMITT, 2011, p.19). É neste sentido
24
(2003 Apud SCHMITT 2011).
81

que compreendemos os bebês sujeitos que manifestam seus desejos,


atuam e se expressam ativamente na realidade social.
Segundo Coutinho (2010, p.114): “As ações sociais das crianças
são produto e ao mesmo tempo produtoras de culturas”, para tanto, é
necessário reconhecer que as crianças produzem culturas. Cohn (2009)
contribui para o debate e indica que as crianças não são somente
produzidas pelas culturas, mas são também produtoras de cultura, já
que, elaboram sentidos e compartilham suas experiências:
Elas elaboram sentidos para o mundo e suas
experiências compartilhando plenamente de uma
cultura. Esses sentidos têm uma particularidade, e
não se confundem e nem podem ser reduzidos
àqueles elaborados pelos adultos; as crianças têm
autonomia cultural em relação ao adulto. Essa
autonomia deve ser reconhecida, mas também
relativizada: digamos, portanto, que ela têm uma
relativa autonomia cultural. Os sentidos que
elaboram partem de um sistema simbólico
compartilhando com os adultos. Negá-la seria ir
de um extremo ao outro; seria afirmar a
particularidade da experiência infantil sob o custo
de cunhar uma nova, e desse ver irredutível, cisão
entre os mundos. Seria tornar esses mundo
incomunicáveis (COHN, 2009, p.35).
Contudo, devemos ponderar, como nos alerta Sarmento (2005),
que as crianças não produzem cultura de maneira independente do
contexto social no qual estão inseridas. Sua autonomia é relativa, o que
não nega o papel ativo das crianças na construção cultural, que por sua
vez, é resultado da interação social entre todos os sujeitos pertencentes à
realidade social, tanto adultos como crianças, e estão ligadas aos
determinantes sociais, as condições socioculturais em que estão
inseridas.
Concordamos com Coutinho (2010) quando nos diz que dar
visibilidade para as ações das crianças é uma possibilidade de conhecer
seus processos de socialização, valorizando o papel dos pares,
reconhecendo a competência social das crianças no processo de
elaboração e apropriação da cultura:
[...] Em primeiro lugar reconhecemos que as
crianças elaboram culturas, tendo em vista que
produzem significados partilhados socialmente
entre elas. As crianças são capazes de apropriar-se
82

de uma dada situação, conhecimento e reinseri-lo


- modificando-o - em outro contexto
(COUTINHO, 2010, p.125).
Coutinho (2010) explica-nos acerca dos elementos que se
mostram como constituidores das ações das crianças na relação entre
pares e elaboração cultural, indicando o corpo como uma importante
forma de comunicação:
Tratando-se das relações sociais, podemos indicar
de modo mais específico a troca de olhares. E
nesse caso não só as capacidades fisiológicas dos
bebês que devem ser convocadas para uma
compreensão dessa linguagem, mas
principalmente as relações sociais que
estabelecem no contanto com o outro
(COUTINHO, 2012, p.250).
Os bebês usam modos comunicacionais distintos dos adultos, que
se manifestam como possibilidades de relações sociais entre os
pequenos: quando trocam olhares e se comunicam com o corpo, por
exemplo.

3.3 CUIDADO E EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DA CRECHE

Pode-se dizer que os momentos que envolvem o cuidado como


uma das maiores especificidades da docência com as crianças bem
pequenininhas, uma vez que elas demandam mais atenção e cuidado no
cotidiano. Segundo Guimarães (2008) ainda existe um dualismo entre o
cuidar e o educar, aspecto que foi constatado por diversas pesquisas e
que expressa uma concepção de educação mais ligada ao “instruir e
ensinar” e o cuidar como “dar conta da rotina”. Logo, as ações que
abarcam o cuidado são compreendidas como a face negativa da
assistência, pois, está historicamente ligado às tarefas domésticas e
femininas.
As formas de relação com os bebês são historicamente marcadas
por um viés disciplinador, higienista e de controle, contudo, as críticas
às concepções higienistas e compensatórias em creches criaram alguns
equívocos sobre a compreensão do que seriam então os momentos de
cuidados com a saúde e a sua relevância:
[...] Em determinando momento desse processo de
transformação institucional, todo e qualquer
cuidado com a saúde passou a ser interpretado
83

como resquícios de concepção higienista, ou


como de exclusiva competência dos serviços de
saúde, ou seja, desnecessário de ser planejado e
operacionalizado na creche (MARANHÃO, 2000,
p.116).
Para Maranhão (2000) o cuidado pode ser compreendido como
uma prática cultural que diz respeito a nossa capacidade de, pela
interação, perceber e interpretar as necessidades dos outros sujeitos e a
forma como às atendemos. Existem ainda muitas contradições e
incompreensões sobre o que seria responsabilidade da instituição
educativa e qual seria a da família – e a creche acaba por manifestar tais
contradições.
Na nossa sociedade o cuidado sempre foi entendido como uma
função da família, tal concepção gera conflitos dentro das creches, que
precisam dividir os cuidados e a educação das crianças:
Quando educadores reconhecem que o cuidado
com a criança pequena é inerente à ação educativa
ainda encontramos dificuldades em definir os
cuidados que são de competência exclusiva da
família e os cuidados que seriam da competência
da instituição. Os cuidados aceitos como inerentes
à ação educativa geralmente se referem aos
relacionais, sendo que os cuidados com o corpo
continuam sendo atribuídos à família, revelando
dicotomias na forma de priorizar cuidados mais
ou menos importantes. São frequentes os conflitos
entre família e creche sobre a quem compete dar o
banho, cortar as unhas, remover os piolhos, ainda
que esses tenham sido adquiridos no convívio
(MARANHÃO, 2000, p.123).
As relações constituídas nos momentos de cuidados não se
configuram como meras ações mecânicas de assear as crianças, mas
revelam-se principalmente como uma resposta as manifestações
emocionais das crianças, que identifica nos adultos alguém que pode lhe
atender quando necessário; alguém a quem comunicar suas
necessidades, manifestar seus desejos (SCHMITT, 2011).
No interior das instituições de educação infantil são os adultos
que são responsáveis em perceber as necessidades de cuidado das
crianças, por meio de uma postura respeitosa e sensível às suas
manifestações. A partir das observações das ações criativas infantis,
84

Coutinho (2002) chama atenção para os modos que as crianças


informam seus desejos e necessidades:
[...] é fato notório que as crianças são as que
melhor informam seus desejos, necessidades e
paixões. Ao observá-las, é possível conhecer
muito a seu respeito, por exemplo, saber que elas
são diferentes, que as necessidades e vontades não
são as mesmas para todas, só porque se encontram
na mesma faixa etária. Embora pareça irrelevante,
essa indicação é de extrema importância, já que as
propostas educativas, apesar de falarem muito em
diversidade, em respeito às diferenças
socioculturais, de etnia, gênero e credo,
organizam as situações educativas de forma
homogênea, de acordo com padrões instituídos
(COUTINHO, 2002, p.41).
Pensar os momentos como higiene, alimentação e sono de
maneira intencional e respeitosa com os pequenos é tarefa fundamental
dos professores e isso “[...] exige que se considere e compreenda a
função da participação das crianças através dos seus indicativos e na
vivência da rotina da creche” (COUTINHO, 2002, p.143).
Schmitt (2011) em diálogo com o filósofo da linguagem Bakhtin,
explica que a empatia assume um papel fundamental na relação com as
crianças pequenas, em especial, com as que ainda manifestam seus
desejos por meio da comunicação emocional e corporal. A vivência
empática – ou a empatia – acontece sempre externamente ao sujeito, isso
significa dizer que somos afetados pelo sentimento do outro, aquilo que
o outro sente internamente e que vivemos empaticamente com ele, nos
afeta sem perder o lugar que ocupamos.
É nessa relação e a resposta que dirigimos aos sentimentos do
outro, que se manifesta a empatia:
Com relação aos bebês, os adultos profissionais
exercem uma função importante ao dar
significados a essas sensações de desconforto por
intermédio das suas respostas às crianças, ao
defini-las e respeitá-las como seres humanos que
sentem. Aos bebês que ainda não falam, que não
expressam verbalmente sentimentos, desejos e
necessidades, a posição de empatia dos
profissionais se torna imprescindível para sua
constituição. Isso se refere não apenas ao ato de
85

significação, mas também à posição dos adultos


diante dos bebês (SCHMITT, 2011, p.23).
Na maior parte do tempo os encontros entre os professores e os
bebês nos momentos de cuidado acontecem individualmente, nessas
ocasiões as relações estabelecidas vão dando significado e
proporcionando às crianças sentimentos e sensações: “Lidamos com
crianças inteiras, com corpo, mente e uma história de vida – assim não
podemos conceber que a educação infantil seja responsável apenas por
um fragmento dessa criança” (TRISTÃO, 2006, p. 46). Portanto, os
momentos que envolvem o cuidado com o corpo, higiene, a alimentação
e o sono devem acontecer de forma agradável para as crianças, para que
se sintam seguras e protegidas nesses espaços.
A partir das contribuições dos estudos foucaultianos, Guimarães
(2008) realiza uma reflexão acerca do cuidado, sinalizando o cuidado de
si como uma dimensão ética e indispensável para o trabalho com as
crianças pequenininhas. Os estudos de Foucault “sobre o cuidado de si”,
inspirados na cultura greco-romana fundamentaram as reflexões da
pesquisadora:
[...] no sentido de apontar o cuidado como um
movimento de interrogar-se sobre si mesmo,
efetuar um trabalho em si mesmo, em uma
perspectiva ética. Propõe-se que o cuidado dilata
as possibilidades de educação, abrindo espaço
para um trabalho do educador em si mesmo que
pode ampliar seu olhar para a criança
(GUIMARÃES, 2008, p.1).
A reflexão sobre o cuidado de si apresenta elementos para
pensarmos a prática pedagógica no grupo de bebês e indica a
necessidade de viver a alteridade mediante as crianças: “Nesta
perspectiva, o trabalho das profissionais da creche é focalizado como
um trabalho de questionamento frequente sobre suas funções, emoções e
ações” (GUIMARÃES, 2008, p.04).
O trabalho com o grupo de bebês requer que os professores
abram possibilidades e caminhos de encontro deles consigo mesmos:
Quando escutam, observam, dão visibilidade ou
dialogam com os movimentos das crianças
(especialmente quando as crianças não se
expressam verbalmente) as profissionais da creche
indicam que os gestos e expressões dos bebês têm
um valor. Por outro lado, não dirigir as crianças,
86

mas incentivá-las a dirigirem-se, desenvolvendo


autonomia, escolha e iniciativa é uma forma de
cuidarem do cuidado da criança sobre si,
desenvolver uma atenção da criança sobre si
(GUIMARÃES, 2008, p.04).
A posição que o adulto ocupa mediante as crianças bem pequenas
demanda uma atitude ética, que envolve reflexões sobre os modos de
ação numa perspectiva que valorize as potencialidades dos bebês.

3.4 CORPO, LINGUAGEM E ALGUNS ENTRELAÇAMENTOS

É nos primeiros anos de sua vida que o bebê vai descobrindo o


mundo ao seu redor, é nesse momento que a criança vai tendo suas
primeiras impressões sobre o que é ser um ser humano, sobre o que é
estar com outros seres humanos, os sentimentos e sensações que
envolvem tais relações sociais.
As crianças bem pequenininhas seguem ritmos próprios que
desafiam a lógica adulta, algumas levam mais tempo para se alimentar,
outras precisam dormir em horários distintos e peculiares, e isso desafia
os professores que trabalham com os grupos menores, rompendo com a
rotina estabelecida no cotidiano da creche.
Para informar seus desejos e necessidades os bebês usam o seu
corpo como possibilidade de se expressar: por meio de um olhar que
fala de alegrias e descontentamentos, um bocejo que comunica um sono,
um gesto que aponta objetos e alimentos, enfim, já que os bebês bem
pequenos ainda não dominam a linguagem verbal, lançam mão de
estratégias comunicacionais para “dizer sem falar”.
Barbosa (2011), explica-nos que a relação entre o verbal e o
extraverbal, entre o interior e exterior segundo Bahktin, bem como a
relação entre pensamento e linguagem, segundo Vigotski, admite a
hipótese que o corpo tem um importante lugar na formação da
linguagem:
No diálogo entre o que é discurso interior e
discurso exterior, que pode ser responsável por
uma determinada entonação, o elemento
primordial é a palavra. Nela ficam as marcas do
corpo que também é constituída por meio das
palavras alheias a elas próprias. Se pela entonação
a vida invade a linguagem, o movimento pode ser
descrito assim: há uma voz no discurso
materializada pela entonação e, por meio desta,
87

cria-se a ponte entre corpo e linguagem e vice-


versa. Entonação remete a um corpo que não se
identifica plenamente com o corpo biológico.
Entre um e outro acontecem transformações pela
inserção do humano no universo simbólico da
linguagem (BARBOSA, 2011, p.13).
Deste modo, o nascimento biológico não seria suficiente para
afirmar a existência de um sujeito humano como um ser social e
cultural, a condição humana necessita de um segundo nascimento, não
só o animal, mas o nascimento social (BAKHTIN, 1997).
Para nos tornarmos seres humanos é necessário nos apropriarmos
da experiência histórica e socialmente acumulada e a linguagem exerce
um papel fundamental nesse processo, pois, a apropriação da cultura
historicamente construída se dá principalmente por meio da linguagem,
é ela quem possibilita que a natureza social dos seres humanos seja
também sua natureza psicológica.
Para Bahktin o corpo não é separado da mente, ele é construído
numa relação com a palavra e, nesse entrelaçamento torna-se um corpo
carregado de valor. A forma como sentimos nosso corpo, como o
enxergamos, vem da relação com o outro, deste modo, nós seres
humanos precisamos necessariamente do outro.
É o outro que cria uma imagem externa de mim mesmo: “A
imagem que temos de nós mesmo não existe fora da ação criativa
daqueles que nos contemplam externamente” (BARBOSA, 2011, p.14).
Portanto, os bebês não apenas recebem do outro uma significação sobre
si mesmo, mas respondem e manifestam suas impressões e desejos
nessas relações.
Os bebês expressam seus sentimentos e sensações ao outro a
partir de seus movimentos e gestos: “Os gestos de apontar, ofertar,
negar, defender, os gestos que expressam raiva, carinho, curiosidade etc.
nascem nas relações sociais e, aos poucos, vão fazendo parte das
relações entre as crianças” (SCHMITT, 2011, p.17). As professoras da
creche indicam que as expressões e gestos dos bebês têm valor quando
escutam, observam, dão visibilidade e dialogam com os seus
movimentos.
A experiência com os bebês em Lóczy25 têm apresentado
aspectos para ponderamos acerca das práticas pedagógicas em creches e

25
Emmi Pikler é uma pediatra húngara que foi convidada em 1946 a coordenar
e organizar um orfanato na Rua Lóczy, em Budapeste. Hoje é o Instituto Emmi
88

do entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem. Segundo Tardos


(1992), a função dos professores é de garantir uma relação pessoal-
afetiva com as crianças, capaz de potencializar o necessário
desenvolvimento harmônico e equilibrado da sua personalidade.
O contato corporal exerce um papel muito importante na vida do
bebê, os gestos dos adultos provocam sensações agradáveis para as
crianças, mas podem também causar sensações desagradáveis sem que
os adultos percebam, tendo em vista que, concebe-se que há, entre
corpo, emoção e linguagem um forte entrelaçamento (TARDOS, 1992).
Para Emmi Pikler a liberdade de ação por meio das experiências
vivenciadas pelas crianças, possibilita elas conheçam suas próprias
capacidades e limites (FALK, 2004).
A partir de suas próprias ações, os bebês vão criando novas
estratégias de descobertas ampliando, assim, seus repertórios de ações e
possibilidades comunicacionais:
[...] de acordo com as atuações dos bebês e as
alterações que passam a instituir conforme agem,
outras estratégias são descobertas, e as crianças
pequeninas vão ampliando o repertório de ações.
Os bebês agem e percebem o resultado das suas
atitudes, criando novas estratégias para agir e para
comunicarem-se. Desse modo, o corpo, os gestos
e movimentos, o olhar, o choro, os risos e o
silêncio se convergem na constituição da
linguagem. As crianças pequenas possuem um
arcabouço de possibilidades comunicativas que,
gradativamente, complexifica o pensamento e a
linguagem, tornando-a verbal (CASTRO, 2013, p.
16).
É por meio dos processos interativos dos bebês entre bebês, deles
com o espaço, com outros sujeitos, com objetos, que a linguagem vai se
constituindo, ganhando forma e se aproximando da palavra (CASTRO,
2013).
O olhar é também uma estratégia comunicacional dos bebês - e
não só, já que as crianças dos grupos maiores também nos revelam
muito dos seus sentimentos pelo olhar. Segundo Coutinho (2012) as
crianças constituem unidades comunicacionais, como o jogo de olhares
estabelecidos entre elas. O olhar possibilita a apreensão de

Pikler conhecido familiarmente pelo nome de Lóckzy, que acolhe as crianças


desde o nascimento até os seis anos de idade.
89

acontecimentos e ao mesmo tempo permite a comunicação de


sentimentos, de combinados e ações mútuas: “Nessa perspectiva o olhar
é em si uma ação, que permite a partilha e a significação do que é
comunicado” (COUTINHO, 2012, p.251).
As crianças usam o corpo para comunicar e interagir de forma
intencional e para interpretá-los exige que os professores estejam
disponíveis26 para responder às manifestações comunicacionais dos
bebês. Importante compreender os bebês e as crianças pequenas como
competentes nas ações sociais e, deste modo, criar condições
(planejamento intencional de tempos, espaços, diversidade da dimensão
educativa, lúdicas, expressivas e socioculturais) para que as ações das
crianças sejam valorizadas.

3.5 ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS E TEMPOS NA AÇÃO


PEDAGÓGICA/NA DOCÊNCIA COM BEBÊS

As contribuições de Batista (1998,) Faria (1999), Coutinho


(2002), Tristão (2004), Schmitt (2008), Barbosa (2000; 2010),
Agostinho (2004) são alguns dos estudos que chamam a atenção para a
importância da organização dos espaços a partir dos pressupostos de
uma pedagogia da educação infantil que valoriza o ponto de vista das
crianças, sua participação efetiva no cotidiano da creche. Nessa busca
visam à consolidação de:
Uma pedagogia de educação infantil que garanta o
direito à infância e o direto a melhores condições
de vida para todas as crianças (pobres e ricas,
brancas, negras e indígenas, meninos e meninas,
estrangeiros e brasileiros, portadores de
necessidades especiais, etc) deve, necessariamente
partir da nossa diversidade cultural e, portanto, a
organização do espaço deve contemplar a gama de
interesses da sociedade, das famílias e
prioritariamente das crianças atendendo as
especificidades de cada demanda possibilitando
identidade cultural e sentido de pertencimento
(FARIA, 1999, p. 69).
O espaço é um elemento pedagógico e exerce um importante
papel na educação das crianças, já que, elas se relacionam ativamente
com o ambiente, significando e resignificando o espaço a partir das

26
Coutinho (2012).
90

relações sociais estabelecidas. Não se trata apenas da dimensão física ou


uma área determinada, mas de um lugar repleto de sentido:
As crianças vão interagindo com o espaço dando a
ele significados diferentes, criando o novo, a
partir do que está disponibilizado materialmente e
imaterialmente, que são suas idéias, pensamentos,
imaginações e fantasias, convidando-nos a
resgatarmos nosso homo ludens, lançando sobre
nós seu feitiço, fascinando-nos e cativando-nos,
cheio de ritmo e harmonia. Nestes outros sentidos
e significados que vão empregando no espaço e
em tudo que nele está contido, as crianças vão
indicando para o espaço da creche um lugar para
brincar, onde o sonho e a fantasia são possíveis,
aguçando em nós o desejo de que elas nos
enfeiticem (AGOSTINHO, 2004, p.9).
Os espaços e sua organização27 influenciam direta e
indiretamente nas experiências das crianças, uma vez que ele pode se
configurar como um limitador-regulador ou um lugar de exploração, de
ludicidade, um lugar de aconchego, de trocas com o outro – criança e
adulto – etc.
O espaço da creche é um ambiente socialmente construído pelas
crianças e adultos que o compõem, para tanto, é necessário considerar as
manifestações das crianças, incluindo seus pontos de vistas: “[...]
concebendo-as como seres sociais plenos, com especificidades próprias
desta etapa da vida. Isso desafia nosso poder adulto ao incluir a
racionalidade infantil, e também o rigor e a imaginação metodológica
para a criação de mecanismos de participação” (AGOSTINHO, 2004,
p.2).
Incluir o ponto de vistas das crianças não significa somente ouvi-
las, interroga-las e questioná-las sobre seus desejos, é desafiar-se a
lançar um olhar sensível mediante as suas múltiplas linguagens, é fazer
uso das ferramentas pedagógicas como registro e observação, na
tentativa de compreendê-las. Isso faz sentido, sobretudo, quando
falamos dos bebês que ainda não falam. Como considerar o ponto de
vista das crianças que ainda não dominam a linguagem oral? “Aos bebês

27
Alguns pesquisadores demarcam a importância de se observar a organização
dos espaços na educação infantil como aspecto constituinte da ação pedagógica,
como os contributos de Carvalho e Rubiano (1994), Forneiro (1998), Barbosa e
Horn (2001).
91

que ainda não falam, que não expressam verbalmente sentimentos,


desejos e necessidades, a posição de empatia dos profissionais se torna
imprescindível para sua constituição” (SCHMITT, 2011, p.23).
Os espaços nunca são neutros, pois, a presença e ausência dos
objetos, e o modo como são arranjados comunicam algo “sobre” e
“para” as pessoas que ali vivem. Por este motivo, é importante a
sensibilidade dos professores organizarem espaços para que as crianças
vivenciem experiências ricas e diversificadas (SCHMITT, 2011).
Os italianos colaboram para compreendermos a importância do
espaço no cotidiano das instituições da educação infantil. Em Reggio
Emillia considera-se fundamental a organização do espaço, já que é
tomado como terceiro educador: “O ambiente é visto como algo que
educa a criança; na verdade, ele é considerado o “terceiro educador”,
juntamente com a equipe de dois professores” (GANDINI, 1999, p.
157).
Neste sentido o espaço se configura como um elemento essencial
da abordagem educacional, sendo mais do que um lugar útil e seguro
onde adultos e crianças passam horas, mas refletem a cultura e as
histórias das pessoas que ali convivem. Espaços acolhedores, que
refletem a pedagogia adotada: “[...] a Pedagogia faz-se no espaço e o
espaço, por sua vez consolida a pedagogia” (FARIA, 1999, p. 70).
O espaço da creche revela-se como um componente material que
possibilita as crianças experimentar distintas sensações, temperaturas,
contato visual com luzes, cores e texturas, é um lugar onde as crianças
constituem uma relação com o mundo, com objetos e artefatos culturais
e, sobretudo, um lugar de encontro com o outro.
Concordamos com Agostinho (2004), quando nos diz que a
creche deve ser um ninho seguro para as crianças:
O espaço da creche tem de propiciar um ninho
seguro, um lugar que a criança possa considerar
seu, possa estar consigo mesma, num encontro
íntimo com seus ritmos, pulsações e sentimentos.
Um lugar em que ela tenha segurança e confiança,
oportunizando sentido de pertencimento e lhe seja
assegurada sua identidade pessoal. Enfim, que
tenha direito a estar só, momentos de quietude,
num encontro com o que lhe é mais profundo e
íntimo, resguardada sua individualidade
(AGOSTINHO, 2004, p.13, grifo no origininal).
No que se refere à organização dos espaços e tempos para os
bebês, Falk (2011), ressalta a importância do movimento autônomo
92

iniciado pela própria criança no primeiro ano de vida. A liberdade de


movimento significa a possibilidade de explorar, conhecer,
experimentar, descobrir, desvendar suas próprias possibilidades. Para
tanto é necessário um espaço planejado a partir dos movimentos da
criança, roupas que não atrapalhem sua exploração e liberdade, um chão
sólido que promova e convide ao movimento, com brinquedos e
artefatos culturais que motivem a exploração e a interação entre as
próprias crianças, um espaço seguro, acolhedor e aconchegante.
As professoras de bebês dedicam grande parte do seu tempo para
o atendimento individual das crianças, como nos momentos de trocas e
de alimentação, e, durante esses encontros entre professoras e bebês, as
outras crianças exploram e movimentam-se no espaço da creche, que
devem ser intencionalmente planejados, para que estejam seguras a
explorá-lo. As instituições de educação infantil, onde crianças passam –
por vezes – a maior parte do seu tempo, deve ser o melhor lugar para
viverem sua infância.
93

4 A EDUCAÇÃO DE BEBÊS E CRIANÇAS BEM PEQUENAS NO


CONTEXTO DA CRECHE: ANÁLISE DA PRODUÇÃO
SELECIONADA

As dissertações de mestrado selecionadas para compor o corpus


de análise se constituem como um conjunto de trabalhos preocupados
em pensar distintos aspectos acerca dos bebês e das crianças bem
pequenas, desde as especificidades subjacentes às práticas pedagógicas e
relações educativas no cotidiano da creche, bem como os processos que
dizem respeito à própria criança e seu desenvolvimento. Após a leitura
de todas as pesquisas, para o agrupamento e categorização das
dissertações utilizamos como estratégia metodológica de análise de
conteúdo, em que, por meio de um método indutivo (VALA, 1999) as
categorias de análise pudessem emergir das próprias pesquisas
selecionadas.
Definimos assim, as categorias de análise a partir das temáticas
que foram privilegiadas nas dissertações: 1) Estudos sobre a
especificidade docente; 2) Estudos sobre as práticas pedagógicas; 3)
Estudos sobre o desenvolvimento infantil; 4) Estudos sobre a função
social da creche e relação com as famílias.

4.1 ESTUDOS SOBRE A ESPECIFICIDADE DA DOCÊNCIA

Para compor a categoria Estudos sobre a especificidade da


docência elencamos quatro dissertações de mestrado que lançaram sua
atenção para os distintos e múltiplos aspectos que dizem respeito à
especificidade docente com crianças pequenas, ações, fazeres e saberes
que envolvem a profissão e o cotidiano nas instituições de educação
coletiva. Afinal, o que é e como é ser professora de bebês? Essa questão
é central para pensarmos sobre as práticas pedagógicas com as crianças
de zero a três anos de idade, as quais envolvem especificidades próprias
de trabalho com essa faixa etária.
A primeira pesquisa que compôs a presente categoria chama-se
Concepções de educadoras de creche sobre o desenvolvimento da
criança na faixa etária de zero a três anos (2008) de Nelly Narcizo De
Souza, a qual buscou investigar as concepções das professoras de creche
acerca do desenvolvimento das crianças pequenas (entre zero a três anos
de idade), objetivando verificar como concebem, planejam e
acompanham o desenvolvimento infantil. Para tanto, foram
entrevistadas professoras de um centro de educação infantil, situado em
um município do Paraná.
94

Em sua dissertação, Souza (2008) dialogou com os autores como


Donald Winnicott, Jean Piaget, Maria Silva Bolsanello, T. Berry
Brazelton, Sonia Kramer; Ana Beatriz Cerisara e Maria Clotilde
Rosseti-Ferreira.
Já a segunda dissertação intitulada Os saberes docentes dos
professores de educação Infantil no trabalho com as crianças de zero
(00) a três (03) anos sob a perspectiva histórico-cultural: um estudo na
rede municipal de educação de Goiânia (2009), Maria Helena dos
Santos Curado tomou como objeto de estudo os saberes docentes dos
professores de crianças de zero a três anos de idade da Rede Municipal
de Goiânia.
A pesquisa de Curado (2009) contou com os contributos dos
seguintes autores: Jean Piaget, Lev Vygotsky, Jean Jacques Rousseau,
John Dewey, entre outros. No âmbito da Educação, a pesquisadora
dialogou com Ana Beatriz Cerisara, Dermeval Saviani, Fernanda
Carolina Dias Tristão, Tizuko M. Kishimoto, etc.
A pesquisa de Cibelly Caroni chamada Como é ser professor de
crianças de 1 a 2 anos? Um olhar crítico-reflexivo sobre uma realidade
vivida (2011) teve como objetivo realizar uma análise crítico-reflexiva
acerca da sua própria prática e experiência enquanto professora de
crianças de 1 a 2 anos de idade. Deste modo, a pesquisadora realiza uma
análise textual discursiva, a partir da sua prática docente, de modo a
reconhecer a complementariedade entre teoria e prática.
A pesquisa de Caroni (2011) dialogou com os estudos Clermont
Gauthier, Maurice Tardif, de Hans-Georg Gadamer, Jorge Larrosa e
Marie-Christine Josso. Contou ainda com as contribuições de John
Dewey e Miguel Zabalza como base teórica da dissertação.
Por fim, a pesquisa de Fabiana Duarte intitulada Professoras de
bebês: as dimensões educativas que constituem a especificidade da ação
docente (2011) que teve por objetivo identificar a especificidade que
compõe a ação docente das profissionais que trabalham com os bebês,
num esforço de compreender as dimensões que abarcam a educação das
crianças pequenas no espaço da creche. Para tanto, realizou um
questionário com todas as professoras que atuavam com os bebês nas
creches situadas na Rede Municipal de Florianópolis.
A pesquisa de Duarte contou com os contributos dos autores
Mouysés Kuhlamnn Jr,. Eloisa Acires Candal Rocha, Manuel
Sarmento, Ana Beatriz Cerisara; Maria Carmen Silveira Barbosa,
Angela Coutinho, Daniela Guimarães, Fernanda Carolina Dias Tristão,
Márca Buss-Simão, Alan Prout, Rosinete Schmitt, entre outros.
95

A docência possui particularidades nos distintos níveis da


educação básica possui particularidades que são próprias de cada faixa
etária. O sentido da profissão vem se constituindo e legitimando-se
histórica e socialmente. Segundo Batista (2013, p.26) na Educação
Infantil as distintas denominações para designar a função das
professoras nos revela a própria indefinição histórica dos profissionais
que atuam em creche: “chamada inicialmente de ama, desde as
primeiras creches no Brasil, babá, recreacionista, atendente, auxiliar de
desenvolvimento infantil, entre outros”. Em sua tese de doutorado a
pesquisadora constatou, ao analisar os documentos da Creche Conde
Modesto Leal fundada em 1936 na cidade de Joinville (estado de Santa
Catarina), que com objetivo de educar e cuidar das crianças, mas
também acolher as crianças órfãs, a condução do cuidado e educação
das crianças remete a uma experiência de docência pautada por um viés
higiênista, sob-responsabilidade “dos bondosos” cuidados de irmãs de
caridade e empergadas, cuja remuneração era insignificante.
Esses dados mostram que, no contexto do século XX, a
constituição histórica da docência na Educação Infantil é marcada como
um período de alianças entre Estado e a Igreja, com objetivo de
fortalecer o projeto nacionalista (BATISTA, 2014).
Devido à similaridade às práticas maternais, as atividades ligadas
ao corpo (momentos de higiene, sono, alimentação, etc.) por vezes são
menos valorizadas, justamente por não se “caracterizarem” enquanto
ações educativo-pedagógicas: “A ocupação com as atividades ligadas ao
corpo – banhar, alimentar, acalentar, entre outras, parecem ainda serem
compreendidas como menos nobres porque se assemelham às práticas
maternais e, portanto, menos valorizadas por não serem consideradas
como ações educativo-pedagógicas” (BATISTA, 2013, p.24).
Para Batista (2009) reside nestes aspectos, uma indefinição
acerca do valor social e educativo da Educação Infantil, logo, sobre a
especificidade da docência com as crianças bem pequenas. Cerisara
(2002, p.102) explica-nos que as profissionais das creches e pré-escolas,
tanto as auxiliares de sala como as professoras, são pensadas a partir da
forma como a profissão vem se constituindo e delineando-se
historicamente, uma profissão que se constituiu no feminino, e, que,
portanto, carrega as marcas desse processo histórico: “[...] marcas do
processo de socialização que, em nossa sociedade, é orientado por
modelos de papéis sexuais dicotomizados e diferenciados, em que a
socialização feminina tem como eixos fundamentais o trabalho
doméstico e a maternagem”.
96

A constituição dos profissionais da educação infantil enfrenta


uma contradição, que Cerisara (2002, p.7) chama de: entre o feminino e
o profissional. Tais contradições demonstram o pouco valor atribuído às
profissionais pela sociedade, mas: “Novos valores estimularam práticas
pedagógicas que concebem a criança dentro de contextos integrados,
espaços diferenciados e planejados, com profissionais qualificados e um
projeto institucional de gestão coletiva”.
Pesquisas e estudos28 da área têm indicado e reafirmado que a
docência na educação infantil tem especificidades próprias e que
marcam a particularidade dessa etapa da educação básica, tais como:
espaços e estrutura física das instituições, documentação pedagógica
(planejamento, registros, avaliação) e, sobretudo, as dimensões
presentes nas relações educativas que se constituem como objeto de
preocupação de uma Pedagogia da Infância.
As especificidades acerca das relações pedagógicas se estreitam
ainda mais quando tratamos das crianças de 0 a 3 anos de idades, pois
envolvem dimensões que demandam cuidados constantes como nos
momentos de sono, alimentação e higiene – momentos estes, que
historicamente vem sendo vinculados e compreendidos como menos
importante, ou com menos valor, pela sua ligação às práticas maternas.
A definição de Tristão (2006) parece-nos adequada, quando indica que
ser professora de bebês e crianças pequenas é marcada pela sutileza:
[...] a possibilidade de perceber o extraordinário, o
excepcional, no trabalho pedagógico com bebês e
crianças pequenininhas, parte das ações sutis que
caracterizam a docência com esta faixa-etária, que
deve estar marcada pela promoção de
relacionamentos intensos e prazerosos, mas
também de confronto – que também trazem
consigo a possibilidade de trocas e não de
consenso -, pelos olhares definidos pela
curiosidade, pelo espanto, pelo questionamento,
pela humildade do não saber e não predizer, pela
possibilidade de descoberta conjunta, da
experiência compartilhada (TRISTÃO, 2004,
p.13).

28
Ver Cerisara (1996); Batista (1998;2013); Rocha (1999); Faria (1999);
Mantovani e Perani (1999); Rivero (2001); Kramer (2001); Coutinho (2002,
2010); Tristão (2004); Schmitt (2008); Guimarães (2008); Barbosa (2010);
Albuquerque (2013); Ramos (2012), entre outros.
97

Segundo Tardif e Lessard (2009) a docência pode ser


compreendida enquanto um trabalho interativo, sobre e com o outro.
Ou seja, um trabalho onde seu objeto é outro ser humano, que
necessariamente precisa da interação humana: “[...] O importante aqui é
compreender que as pessoas não são um meio ou uma finalidade do
trabalho, mas a matéria-prima do processo do trabalho interativo e o
desafio primeiro das atividades dos trabalhadores” (TARDIF;
LESSARD, 2009, p.20).
Para os autores docência é um trabalho de interações e se
distingue das outras formas de trabalho justamente por tratar-se de seres
humanos, que envolvem todas as sutilezas próprias das relações
humanas:
[...] os ofícios e as profissões de interação humana
apresentam, por causa da natureza humana do seu
“objeto de trabalho” e das modalidades de
interação que unem o trabalhador a este objeto,
características suficientemente originais e
particulares que permitem distingui-las das outras
formas de trabalho [...] (TARDIF; LESSARD,
2009, p.11).
A docência caracteriza-se enquanto um trabalho interativo, logo,
um trabalho que perpassa uma multiplicidade de relações. Ainda que, a
perspectiva de Tardif e Lessard (2009) seja pensada para o ensino
fundamental, também podemos dizer que a educação infantil envolve as
relações humanas.
A creche se configura como um espaço que é socialmente
construído a partir das relações ali estabelecidas, um lugar repleto de
subjetividades e significações que vai ganhando contornos na medida
em se vive experiências com e entre seres humanos.
Concordamos com Teixeira (2007, p.429), quando explica-nos
que a docência se constitui pela relação em sua origem, em sua
historicidade, em sua realização. Ou seja, a docência se instaura na
relação social entre aqueles que estabelecem tal relação, e: “[...] se
constituem, se criam e recriam mutuamente, numa invenção de si que é
também uma invenção do outro. Numa criação de si porque há o outro, a
partir do outro”. Portanto, é na relação com o outro que se compõe a
docência, a sua existência, a sua condição docente. O que significa um
caminho de alteridade. Trata-se, sobretudo, de:
[...] uma relação entre sujeitos sócio-culturais,
imersos em distintos universos de historicidade e
98

cultura, implicados em enredos individuais e


coletivos. E trata-se, sobretudo, de sujeitos cuja
condição de existência, cuja origem primeira está
na corporeidade que se inscreve, por sua vez, nas
temporalidades do transcurso da existência
humana, em rítmicas da vida bio-psico-social e
nos ciclos vitais (TEIXEIRA, 2007, p.430).
Professores/as e crianças situam-se em distintas gerações
humanas, por este motivo, uma das particularidades que demarca a
docência é as temporalidades que nela estão implicadas: “A criança, o
jovem, o adulto [...], este outro é uma vida outra, uma corporeidade
singular e indivisível” (TEIXEIRA, 2007, p. 431). Já aos docentes, a
autora explica que:
[...] em seu tempo/lugar de gerações adultas, estes
têm uma responsabilidade específica nesta
relação. Estão encarregados de acolher, apresentar
e interrogar o mundo junto a estes novos
chegantes. Responsabilizando-se pelo trabalho
com a cultura, com a memória cultural, devem
construir bases para que as novas gerações,
apropriando-se do passado, possam reinventar a
vida em comum, realizando novo de que são
portadores, livrando-se do risco de repetir o já
feito; afastando o esquecimento, para que o
passado não se repita, conforme Arendt (1979) e
Adorno (1995), respectivamente (TEIXEIRA,
2007, p. 431).
Segundo Fernandes (2010) o que assinala a docência na educação
infantil é justamente a multiplicidade de dimensões e funções,
interligadas ao entendimento das múltiplas dimensões das crianças:
linguística, intelectual, afetiva, emocional, expressiva, social, gestual,
cognitiva – as quais devem ser contempladas nas ações direcionadas a
elas. Nas dissertações analisadas, encontramos elementos que
demonstram que a docência com bebês é marcada pelas relações:
[...] “ser professora de bebês” trata-se de exercer
uma docência, chamando-se a atenção para uma
docência marcada por relações, visto que esse é o
princípio central do ser professora de crianças
pequenininhas. Por sua vez, essas relações se
constituem através de dimensões educativas que
consolidam a especificidade da ação docente das
99

professoras de bebês, as quais nesta pesquisa


correspondem à dimensão das relações de
cuidado e à dimensão das relações corporais
(DUARTE, 2011, p.13).
[...] o professor tem o importante papel de
propiciar o desenvolvimento das crianças,
enquanto mediador dos processos de
desenvolvimento, em especial com a cultura, nas
interações com outras crianças, com os adultos,
com os diferentes objetos e com os brinquedos
(CURADO, 2009, p.52).
É no cuidado atencioso, na convivência, nas
trocas, nas relações que vou conhecer a criança,
momentos em que ela também me conhecerá. Ao
estabelecer este tipo de relação, estou (estamos: a
criança e eu) estabelecendo uma comunicação,
estou (estamos) produzindo linguagens. Desta
forma, passo a conhecê-las também como signos,
linguagens (CARONI, 2011, p.71).
As relações, mediações, interações mostram-se como um
elemento importante na prática pedagógica com crianças pequenas.
Segundo Barbosa (2008) as relações demarcam a vida na creche, sejam,
com as pessoas, com o ambiente, com os objetos, uma atitude de
intercâmbio interativo. O espaço da creche configura-se enquanto um
lugar que ganha significado a partir das relações que ali são
estabelecidas, um lugar de encontro, de partilha de sentimentos, de
experiências, de vivências, um lugar de relações. Numa perspectiva que
toma como pressuposto a educação infantil como um lugar das relações,
considera que:
Através das trocas sociais, isto é, através das
relações que progressivamente se entrelaçam e se
aperfeiçoam entre [...] cria-se um conjunto de
significados compartilhados, uma espécie de
história social que é típica de uma determinada
creche e um período específico, constituído pelo
conjunto das rotinas (que criam expectativas),
pelas regras, pelas divisões temporais (que criam
ritmos reconhecíveis), permitindo, assim, também
o gosto pelo imprevisto, pelos significados e pelas
funções que os objetos e pessoas assumem
naquele contexto particular (BONDIOLI;
MANTOVANI, 1998, p.29).
100

O papel das professoras de crianças de zero a três anos deve ser o


de: planejar, propiciar encontros, relações, interações, sejam das
crianças com elas mesmas, delas com crianças de outras faixas etárias,
delas com distintos elementos e artefatos culturais, texturas, sabores,
cores, elementos da natureza, dentre outros aspectos.
Na pesquisa de Curado (2009) ela traz a definição dos professores
como mediadores dos processos de desenvolvimento. Já na perspectiva
da consolidação de uma Pedagogia da Infância tem-se optado também
pela definição do/a professor/a como mediador/a, mas compreendendo
que é o/a professor/a: “que estrutura tempos, espaços e experiências para
as crianças pequenas, que considere suas formas de comunicação, seus
conhecimentos, curiosidades e que amplie, diversifique e complexifique
seu repertório de conhecimento” (COUTINHO, 2013, p.255).
Isso não significa que as professoras precisam estar mediando
todos os processos vivenciados pelas crianças, tendo em vista que,
enquanto atores sociais potentes, elas também organizam suas relações
sociais no contexto da creche, criando e recriando criativamente cultura.
Mas significa, sobretudo, definir as professoras de educação infantil
enquanto profissionais que planejam suas práticas pedagógicas com
intencionalidade a partir de uma concepção que compreende as crianças
na sua pontecialidade, inclusive, nos momentos em que respeitam as
criações infantis, ou nos momentos de quietude dos pequenos.
As contribuições de Rocha (1999) são significativas para
pensarmos sobre o que é a prática pedagógica no contexto da creche, na
medida em que questiona as práticas com crianças de 0 a 6 anos de
idade que abarcam o que ela denomina de “versão escolar do
conhecimento” 29, as quais se fundamentam num modelo de transmissão.
Nesse sentido, a função da creche e pré-escola vai para além de
transmissões de conteúdos escolares, trata-se de objetivar as relações
educativas que se constituem em um espaço de convívio coletivo, que
tem como sujeito a criança:
Todavia, a dimensão que os conhecimentos
assumem na educação das crianças pequenas
coloca-se numa relação extremamente vinculada
aos processos gerais de constituição da criança: a
expressão, o afeto, a sexualidade, a socialização, o
brincar, a linguagem, o movimento, a fantasia, o

29
“Isto não significa que o conhecimento e a aprendizagem não pertençam ao
universo da educação infantil” (ROCHA, 1999, p.61).
101

imaginário... as suas cem linguagens (ROCHA,


1999, p.61).
De acordo com Rocha (2010, p.1624) amplia-se a ação docente e
as exigências formativas: “[...] quando a ação pedagógica extrapola uma
perspectiva simplesmente reprodutora e transmissiva”. Nesse sentido,
reafirmamos a ideia de Coutinho (2012), quando nos diz que ser
professora de bebês significa, sobretudo, estar na relação com eles,
estar à disposição de estabelecer relações de partilha, de troca, de
respeito, numa perspectiva de uma educação humanizante.
Nas dissertações analisadas, encontramos pistas acerca do papel
do professor, enquanto aquele que deve proporcionar experiências para
as crianças, principalmente, com seu corpo:
O meu papel de professora de crianças de 1 a 2
anos deve ser o de proporcionar experiências que
as envolvam, que as desafiem sempre e que as
façam “usar e abusar” dos seus sentidos e do seu
corpo (CURADO, 2009, p.23)
Ao tratar-se das especificidades da ação docente
das professoras com os bebês na creche, a
dimensão corporal logo se fez presente, tendo em
vista que as relações entre adultos e bebês na
educação infantil perpassam pela dimensão
corporal. E com os bebês esse aspecto é ainda
mais evidente, visto que são relações que preveem
uma intensidade de toques e contatos corpo a
corpo (DUARTE, 2011, p.184).
A dimensão do corpo nas práticas pedagógicas com crianças de
zero a três anos é uma das grandes especificidades que demarcam a
docência. O corpo é aquele que comunica, que informa, aquele que
explora, que manifesta, que busca estabelecer relações com os outros. O
corpo é aquele vivencia uma interação de afinidade (ou não) intensa
num trabalho individual entre professoras e crianças. Como nos
momentos de trocas, por exemplo, a interação que os corpos
estabelecem são bastante intensas e de muita intimidade.
Acreditamos que o corpo é um elemento importante para
pensarmos a docência com os bebês. Duarte (2011) traz elementos
muito significativos para pensarmos acerca da dimensão corporal, a
ação individual dentro de um coletivo é como ela denomina os
encontros individuais que acontecem entre professoras e bebês e sua
importância na ação docente:
102

Assim, outro aspecto que se faz presente nessa


relação é aquele que se denominou de ação
individual dentro de um coletivo. Pois a maior
parte dos encontros das professoras com os bebês
ocorre em momentos individuais, já que higiene e
alimentação concentram suas ações e essas
precisam ser direcionadas a uma só criança, no
seu ritmo, olhando-a no olho e tocando-a numa
relação marcada por afetos e consolidação de
vínculos e trocas (DUARTE, 2011, p.208, grifo
no original).
Na educação dos bebês, os corpos das
professoras precisam identificar o que os corpos
desses estão transmitindo ou estão precisando em
determinado momento. A ação dos corpos adultos
no contexto educativo, portanto, precisa de certa
intencionalidade e, ao mesmo tempo, estar pronto
para as imprevisibilidades. Da mesma forma, é
necessário estar ciente de que os corpos das
crianças precisam movimentar-se, descobrir e
descortinar o mundo que as rodeia, ou seja,
considerando que as ações docentes têm uma
dimensão corporal, essas devem, por sua vez,
abonar qualquer tipo de controle e dominação
sobre a criança, sobre o seu corpo que pede por
expressar-se (DUARTE, 2011, p.204).
Essa ação individual dentro de um coletivo demarca então um
encontro de dois corpos: o dos bebês e da professora. Que por sua vez
deve cuidar de si, numa perspectiva do cuidado de si, o qual
compreende a partir dos contributos foucaultianos, o cuidado como ética
na relação consigo mesmo. Na creche, o trabalho das professoras deve
ser de frequente questionamento acerca das suas funções, ações e
emoções (GUIMARÃES, 2008).
A pesquisa de Caroni (2011) indica-nos que é também papel dos
professores de bebês questionarem-se e avaliar seu próprio trabalho.
Trabalho este que deve ser permeado de reflexões, num constante
diálogo entre teoria e prática:
É desacomodação; é construção; é confronto. É
questionar-se e questioná-las.
É pesquisa; é experiência; é reflexão. É focar-se
no individual sem deixar de ver o todo. É
103

formação e aplicação. É teoria e prática


(CARONI,2011, p.152).
Já a dissertação de Souza (2008), a qual toma como pressuposto o
desenvolvimento dos bebês, compreende que o professor é um
importante personagem que influi nesse desenvolvimento, tendo em
vista o número de horas que passa com as crianças:
No presente estudo tem–se como premissa que o
educador é um personagem com grande
influência sobre o desenvolvimento infantil, já que
interage com a criança durante muitas horas do
dia. É o educador quem muitas vezes acompanha
o nascimento do primeiro dente, o desempenho
dos primeiros passos ou os primeiros sinais de
que algo não vai bem com a criança pequena. Só
isso o torna um co-responsável pela formação da
criança. E dessa forma, possivelmente deve ter
conhecimentos que o auxiliem em sua função,
favorecendo ações promotoras do
desenvolvimento infantil (SOUZA, 2008, p.12).
Sem dúvidas as professoras de educação infantil influem no
desenvolvimento das crianças, suas escolhas que estão diretamente
ligadas a sua concepção de criança, infância e educação, seu
planejamento, objetivos delineados, enfim, as experiências planejadas e
propiciadas para e com os bebês influencia direta e indiretamente o
desenvolvimento das crianças. Contudo, há que se problematizar os
modos de conceber tal desenvolvimento. Na pesquisa de Souza (2008),
as professoras aparecem com uma função de promotor do
desenvolvimento, ele executa tarefas combinando afeto com técnicas, e
respeito com os bebês:
[...] a função do educador deve ser executada de
forma a combinar afeto com técnica e respeito ao
bebê, este último sendo tratado como indivíduo,
com direito de manifestar-se e de ser
compreendido em sua condição de
desenvolvimento. A ele deve ser garantido, por
meio do trabalho realizado em creche, as
condições mínimas necessárias para se
desenvolver de modo saudável (SOUZA, 2008,
p.26).
104

Muito se discutiu na área acerca das concepções oriundas da


psicologia, que tomam o desenvolvimento das crianças a partir de
estágios do desenvolvimento, Jobim e Souza (1996) explica-nos que a
psicologia do desenvolvimento tem se constituído como uma área que
legitima a construção de conceitos e teorias que tomam os aspectos
evolutivos (afetivo-emocionas, psicomotores, cognitivos, etc.) com
intuito de adequar, regular e mensurar as modificações do
comportamento no desenvolvimento ao longo da vida dos sujeitos. O
que segundo ela, acarreta em consequências constitutivas na
subjetividade humana, bem como nos seus processos de formação, tendo
em vista que, a função interpretativa e o consumo de conceitos são feitos
pela sociedade por meio dos discursos que acabam por incidir no
comportamento das crianças, moldamos os modos de ser e agir, de
acordo com as expectativas criadas pelos adultos.
Segundo Fairclough (2001) o discurso enquanto prática social
traz três importantes implicações. Primeiramente geram efeitos e
colabora na construção e significação das identidades sociais, na
posição dos sujeitos, e também nos sujeitos sociais. Logo,
compreendemos que os discursos causam um importante impacto social,
atribuindo e moldando formas de ser na sociedade, criando expectativas
de um padrão de normalidade.
Isso não significa negar as contribuições dos estudos da
Psicologia, muito pelo contrário, pois, foram pioneiros em preocupar-se
com as crianças enquanto sujeitos que merecem atenção, com
especificidades próprias. Mas trata-se de problematizar as formas de
enquadrar – o que não dever ser enquadrado - em padrões de
normalidade as etapas do desenvolvimento das crianças.
Dentre os aspectos encontrados nas dissertações, a questão
acerca da linguagem30 dos bebês foi a que apareceu com mais
recorrência, todas as pesquisas trouxeram a discussão sobre a
necessidade de escutar as muitas formas de se expressar das crianças
como uma das grandes especificidades da docência com crianças de zero
a três anos de idade. Como podemos perceber nos excertos destacados
abaixo:
É preciso, pois, considerar os bebês como sujeitos
que, também, produzem mudanças em seu meio,
por isso, “escutar” suas linguagens e entender o
significado de suas ações é fundamental para o

30
A linguagem é um elemento que emergiu também na categoria estudos sobre
o desenvolvimento infantil, vamos retomar a discussão nessa categoria.
105

estabelecimento de novas propostas educativas


que levem em conta seus conhecimentos
cotidianos (CURADO, 2009, p.82).
À medida que cresce, além do choro, a criança
utiliza [...] o corpo, os gestos, o olhar, as
expressões, o balbucio para dar vez e voz ao que
sente e ao que quer até desenvolver sua
linguagem oral (CARONI, 2011, 65).
Trata-se de uma percepção que as professoras
que trabalham com bebês acabam desenvolvendo,
é ter que perceber, muitas vezes, o que os bebês
querem “dizer” para além da linguagem oral
olhares, choros, sorrisos, enfim, um misto de
expressões/linguagens que comunicam algo
(DUARTE, 2011, 128-129).
A comunicação é, portanto, entendida aqui como
algo particular no trabalho diário com os bebês,
já que as formas de ela se manifestar são diversas
e diferem dos demais grupos. Por outro lado,
apesar de no início ser “difícil”, com o tempo ela
vai se tornando “fácil”, mas, na verdade, não é
uma questão de grau de dificuldade, e sim de
aprender a compreender o que os bebês estão
manifestando, o que estão dizendo mesmo “sem
falar”. E é na relação diária, na relação de
confiança que começa a ser estabelecida a
comunicação entre bebê e adulto, que vai se
configurando de forma a ultrapassar as palavras,
tornando essa uma relação específica no contexto
educativo com os pequenininhos. (DUARTE,
2011, p.131)
Nos excertos destacados podemos perceber que as pesquisas
indicam que a comunicação com os bebês é um aspecto que demarca a
ação docente, tendo em vista que as crianças pequenas se manifestam de
múltiplas formas, as professoras devem, portanto, buscar compreende-
los como uma resposta as suas manifestações. O corpo, a emoção e a
linguagem estão entrelaçados, uma vez que, os bebês lançam mão do
corpo para manifestar seus desejos, anseios e suas emoções. Por meio do
olhar, dos gestos, balbucios, suas múltiplas linguagens que os bebês
comunicam suas necessidades e sentimentos. Sobretudo, os que ainda
não dominam a linguagem verbal usam estratégias comunicacionais para
expressar-se. Na perspectiva bakhtiniana o corpo não é separado da
106

mente, mas se compõe num entrelaçamento com a palavra, e nessa


relação o corpo torna-se carregado de valor:
[...] na relação com o outro, com o contexto
social, o sujeito internaliza categorias,
procedimentos que constituem corpo e mente
como um todo singular, social e cultural. Não há
um corpo que se constitui como afetivo e uma
mente que se constitui como racional. O que há é
um ser que, composto por um corpo-mente,
aprende a reagir, a pensar e a sentir sempre numa
inter-relação com o outro e consigo mesmo
(BARBOSA, 2011, p.23).
Para Bakhtin (1977) o discurso, ou seja, a linguagem oral está
diretamente vinculada à vida, as situações sociais e nela ganha
significação. E não somente a linguagem oral comunica, mas o corpo, as
expressões, os gestos têm muito a informar sobre nós, nossos
sentimentos e pensamentos. Barbosa (2011, p.26) explica-nos que: “[...]
as emoções não trazem para a linguagem um mero corpo biológico, mas
um corpo constituído por meio da linguagem”. Na pesquisa de Caroni
(2011) o choro dos bebês mostra-se como uma estratégia
comunicacional que entrelaçada com a emoção, anuncia os desejos,
anseios e sentimentos dos bebês:
O choro é uma das formas de comunicação da
criança e é utilizado por ela para se fazer
entender desde que nasce. Ao sinal de fome, sede,
dor, desconforto, medo, brabeza, entre outros
sentimentos (que não sejam de alegria ou
contentamento, por exemplo), ela chora e, ao
fazê-lo, encontra resposta: um adulto vem ao seu
encontro tentar descobrir o motivo pelo qual esta
tendo esta reação. O choro é uma das primeiras
reações que encontra, portanto, para se
comunicar com o outro (CARONI, 2011, p. 64).
Estudos e pesquisas recentes têm contribuído para percebemos as
crianças enquanto seres sociais ativos e que elaboram cultura. É preciso,
portanto, que pensemos em propostas pedagógicas estruturadas
considerando a participação das crianças enquanto atores sociais, ou nas
palavras de Coutinho (2010) revestindo-as de legitimidade.
Concordamos com Bujes (2001, p.21) quando nos diz que: “[...] a
criança nos desafia porque ela tem uma lógica que é toda sua, porque ela
encontra maneiras peculiares e muito originais de se expressar, porque
107

ela é capaz através do brinquedo, do sonho, da fantasia [...]”. Isso nos


leva a pensar que as experiências no contexto da educação infantil
devem ser qualificadas, de modo a incluir o acolhimento, a segurança:
“não pode deixar de lado o desenvolvimento das habilidades sociais,
nem o domínio do espaço e do corpo e das modalidades expressivas;
deve privilegiar o lugar para a curiosidade e o desafio e a oportunidade
para a investigação” (BUJES, 2001, p.21).
Tristão (2008) chama a atenção sobre a importância das
professoras de bebês olharem, ouvirem e sentirem as crianças dos
grupos que são responsáveis, auscultando seus ritmos e cadências, pois,
conhecendo cada criança, a professora terá elementos para pensar o
planejamento pedagógico: “Parece-me que um determinante para que as
práticas docentes dêem-se de uma ou de outra forma é o quanto a
professora conhece cada uma das crianças, reconhece suas múltiplas
linguagens, valoriza os seus gestos, expressões, silêncios, olhares...”
(TRISTÃO, 2008, p.6). O trabalho docente na creche possui muitas
especificidades que devem ser consideradas no planejamento
pedagógico das professoras, dentre elas, podemos assinalar nas
dissertações analisadas aspectos pedagógicos que perpassam a ação
docente com as crianças na faixa etária de zero a três anos de idade:
Nesse sentido, por ação docente entendem-se
todos os processos, desde a definição dos
objetivos e das intenções, as estratégias e os
planos, até a relação direta com as crianças. A
ação docente é direcionada a alguém, não existe
num plano isolado, requer outros sujeitos
envolvidos nesse contexto, constituindo, dessa
forma, uma relação educativa. É uma ação social
que prevê relações, sendo uma ação dirigida
sobre o outro, para o outro e com o outro,
constituindo, assim, a docência (DUARTE, 2011,
p.126).
Sobre o tipo de atividades que elas costumam
fazer com as crianças e a descrição de um dia
típico de trabalho, as educadoras indicaram como
parte comum de sua rotina: momentos de higiene,
alimentação, sono e atividades direcionadas tais
como estimulação, brincadeiras, exercícios com
papel – pintura e desenhos, idas ao pátio externo
e atividades livres (brincadeiras, assistir vídeos,
cantigas, brincadeiras de roda, etc) (SOUZA,
2008, p.49).
108

Cuidados com alimentação, cuidados corporais e


com o bem-estar das crianças (A higiene nasal é
importante para a criança respirar bem, o que
favorece a fala, por exemplo e, nesta faixa etária,
a aquisição da fala é muito importante), cuidados
atenciosos [...]. Todos são momentos pelos quais
os vínculos iniciam e são reforçados diariamente.
O toque (colo, abraço), o olhar e a escuta na,
para e da criança são momentos de afeto,
imprescindível na Primeira Infância, se levarmos
em conta que a afetividade e as aprendizagens
são termos indissociáveis (CURADO, 2009,
p.22).

A caracterização da docência com os bebês e crianças pequenas


baseia-se, em grande medida, nas ações que envolvem o cotidiano:
momentos de alimentação, higiene, sono, dentre outros, que constituem
as dimensões educativas. É uma docência marcada pelas relações, pelas
interações humanas, pelo compartilhamento de experiências.
No contexto da creche é preciso considerar que o tempo das
crianças, sobretudo, dos bebês não se configura como o mesmo que dita
o compasso da sociedade, eles têm um ritmo bastante peculiar e que
precisa ser respeitado, esse tempo desafia a docência e a própria rotina
institucionalizada. A categoria tempo é também um aspecto que
constitui a docência e apareceu nas dissertações como um importante
elemento a ser pensado:
Isto significa que o tempo das crianças não é o
tempo do adulto, como estipula a lógica
capitalista, e que, no imaginário das professoras
e da sociedade, cuidar de bebês, ainda persiste
como algo sem significância, secundário e, até,
depreciativo (CURADO, 2009, p.94).
Outro aspecto importante a ser destacado é o
tempo. O tempo dos bebês difere do tempo da
rotina institucional, ou seja, as professoras
precisam de muito mais tempo para realizar as
ações com os bebês (DUARTE, 2011, p.135).
De acordo com Buss-Simão (2012) por vezes, as organizações
dos tempos-espaços coletivos na educação infantil revela um
descompasso entre aqueles instituídos e os instituintes:
109

Nessa perspectiva as organizações dos tempos-


espaços coletivos de educação na pequena
infância revelam um descompasso entre os
tempos-espaços instituídos e os tempos-espaços
instituintes, entre a rigidez e a fluidez, entre o
caos e a ordem, entre a homogeneidade e a
heterogeneidade, entre a monocronia e a
policronia, entre o tempo-espaço intenso (aión) e
o tempo cronológico (khrónos), entre o tempo-
espaço da infância e o tempo-espaço da alunância
(BUSS-SIMÃO, 2012, p.333).
Se tomarmos a mitologia grega para pensarmos os tempos das
crianças pequenas e dos bebês, podemos dizer que é tempo de Aiôn31,
um tempo de entregada, um “não tempo” que contesta aquele imposto
por Khrónos. Um tempo que reclama pela experiência que não se
quantifica, que não é linear. Um tempo que desafia aquele do adulto,
que por vezes é medido por Khrónos. É possível pensar em práticas
pedagógicas, em organização dos tempos e dos espaços no contexto da
creche a partir do tempo Aiôn, considerando o tempo dos bebês?
Os bebês nos desafiam e, se sensibilizarmos nosso olhar podemos
perceber convites endossados com seus sorrisos e olhares, jeitos
próprios de viver o tempo da experiência: eles nos convidam a entrega,
ao deleite da relação, uma atenção recíproca e de troca. Que as crianças
possam, então, viver no tempo da experiência, da plenitude do sentir e
do vivenciar.
Acreditamos numa perspectiva que conceba uma: “[...] educação,
em que se „olha‟ não apenas os processos de desenvolvimento das
crianças, mas também os seus conhecimentos, as suas produções, as

31
Na mitologia grega existiam três noções de tempo o Khrónos, Kairós e Aiôn.
As percepções do tempo oriundas da mitologia grega podem contribuir para
pensarmos acerca dos tempos e sua relação com as crianças no contexto da
creche. O tempo que se refere à Khrónos é aquele cronológico, linear, que
demarca uma sequencia rígida, o que os gregos chamavam de “cruel”. Turnes
(2014) explica-nos a partir do diálogo com os contributos de Gilles Deleuze,
que Kairós é aquele tempo que demanda prontidão e atenção, onde não cabe
espaço para displicência, para protelação. E um terceiro, Aiôn é o tempo da
entrega à rendição, onde a vida é comparada a um vapor, ele demanda
humildade para agradecer o privilegio de viver. Aiôn constitui-se como a
dimensão da expansão, da medida imprecisa entre a imanência e a
transcendência, é um “não tempo” e, um “não tempo” também é tempo... Tempo
do para sempre.
110

suas manifestações, as suas preferências, as suas interações e


particularmente as suas experiências” (BUSS-SIMÃO, 2012, p.349).
A docência com bebês é também marcada pelas relações de
afabilidade, que envolvem uma intensa interação: com o toque, abraços,
afagos, dentre outras ações que imprimem uma relação íntima entre os
corpos que se encontram: professora e bebê. Portanto, a discussão
acerca da relação indissociável cuidar e educar é cara para área.
Segundo Albuquerque (2013) as concepções que sustentam a
especificidade formativa da docência para a Educação Infantil estão
profundamente ligadas aos elementos que dão base as ações educativas e
pedagógicas: cuidar e educar as novas gerações. Nas dissertações de
Curado (2009) e Duarte (2011) essa relação aparece fortemente
demarcada, de modo a trazer para o debate que compreender sua
indissociabilidade é papel fundamental das professoras:
É preciso que os profissionais que trabalham com
a educação infantil compreendam a
indissociabilidade entre educar e cuidar e
entendam que a atividade de alimentação, por
exemplo, é uma atividade de aprendizagem, pois
as crianças apreendem valores, modelos culturais
e conhecimentos científicos (CURADO, 2009,
p.89).
Ao tratar da indissociabilidade do educar e
cuidar na educação infantil, que também vem
sendo defendida com vigor pelos teóricos,
enfatiza que essa prática pedagógica deve se
pautar pela sutileza das ações cotidianas, nos
simples atos de virar uma criança no berço, de
trocá-la, alimentá-la e se certificar que ela está
bem (CURADO, 2009, p.94).
A definição de Maranhão (2000) acerca do cuidado humano
como prática cultural parece-nos apropriado na medida em que, explica-
nos que o cuidado é capacidade que temos, por meio da interação com
outros humanos, de perceber, observar e interpretar suas possíveis
necessidades e a forma como respondemos a elas. Nessa perspectiva, o
cuidado com o outro nos desenvolve enquanto seres capazes de nos
posicionar empaticamente mediante as manifestações do outro, numa
posição de alteridade. Segundo Tristão (2008) o trabalho com os bebês
“não aparece” dentro da creche, justamente pelo fato de que eles “não
produzem concretamente nada”, ou seja, nada palpável, que possa ser
111

exposto em murais e deste modo, caracterizar-se “enquanto


pedagógicos”:
No imaginário das profissionais da educação
e mesmo em nível de senso comum, há uma
ideia de que deve haver a produção de algo
para estar caracterizado um processo
educativo, bem em acordo com a sociedade
capitalista na qual vivemos, que valoriza os
resultados rápidos como lógica estruturante
(TRISTÃO, 2008, 4).
Segundo Albuquerque (2013, p.7) a especificidade formativa para
a educação infantil tem um caráter educativo próprio, o qual tem como
princípio romper com a visão de escolarização precoce, que “prepara
para o suposto sucesso escolar”. As funções da educação infantil
ultrapassam as situações de ensino das escolas, tendo em vista que é
necessário conceber o cuidar e educar nesse contexto, o que significa
realizar tarefas como alimentar, banhar, trocar fraldas, estabelecer
contatos corporais com as crianças, lançar mão de formas
comunicacionais onde predomina as manifestações emocional-corporais
(CERISARA, 2002). A pesquisa de Curado (2009) também discute
acerca dos aspectos que envolvem “propostas escolarizantes” como uma
espécie de preparação ao ensino fundamental:
[...] é preciso cuidar para que as crianças não
sejam inseridas numa proposta escolarizante,
preparatória para o ensino fundamental, que
define as habilidades a serem desenvolvidas por
elas, como por exemplo, a lateralidade. É preciso
construir uma proposta que respeite a criança em
suas formas de ser e de se expressar, e a perceba
como um sujeito que vive num determinado tempo
e lugar, e participa da cultura, da história e da
vida social (CURADO, 2009, p.85).
A professora X [...] buscando concretizar os
objetivos propostos, o que significa uma
preocupação com a aprendizagem e o
desenvolvimento das crianças, porém, ainda,
numa perspectiva escolarizante, como se as
crianças fossem alunos que precisassem cumprir
determinadas tarefas (CURADO, 2009, p. 94).
112

Para tanto, o planejamento exerce um papel fundamental no


contexto da creche – e não só, como em toda a educação infantil -, ele é
um importante instrumento do trabalho das professoras e configura-se
como a peça chave para que se realize um trabalho intencional e de
qualidade com as crianças, de modo a levar em conta todas as
dimensões educativas. É preciso pensar o tempo, o espaço, as vivências,
as experiências dentro das Instituições de Educação Infantil a partir do
planejamento, para que se efetive um trabalho focado na criança.
Planejar confere intencionalidade às ações: “A intencionalidade
traduz-se no traçar, programar, documentar a proposta de trabalho do
educador. Documentando o processo, o planejamento é instrumento
orientador do trabalho docente” (OSTETTO, 2000, p. 177). Significa
reflexão constante, ponderar, avaliar e repensar as práticas e as
mediações, focando “[...] a própria criança: seus processos de
constituição como seres humanos em diferentes contextos sociais, sua
cultura, suas capacidades intelectuais, criativas, estéticas, expressivas e
emocionais” (ROCHA, 2001, p. 31).
Não só o planejamento, mas toda a documentação pedagógica, o
que implica também registrar, observar, avaliar, uma série de ações
amplas e intencionais:
Nesse sentido, podemos dizer que se trata de uma
Pedagogia construída em uma via de mão dupla,
que envolve vários cruzamentos: há elementos
que devem ser de domínio do(da) profissional que
ao ser professor ou professora de educação
infantil conhece o que constitui sua área de
atuação e recoree a tais referencias para orfanizar
a sua ação docente e há elementos que serão
captados na relação com as crianças, mediante a
observação contínua e sistemática das suas ações
(COUTINHO, 2013, p.255).
Registrar a experiência vivida é essencial para qualificar a prática
pedagógica, é preciso que os professores descrevam estas experiências e
analisem as documentações, tendo em vista que: “[...] o registro diário,
compreendido como espaço privilegiado da reflexão do professor,
converte-se em atitude vital” (OSTETTO, 2008, p.13) no contexto da
educação infantil.
Nesse sentido, podemos afirmar que a documentação pedagógica
é a “ferramenta de trabalho” das professoras de educação infantil, fato
que se corrobora com as dissertações analisadas. Destacamos excertos
113

que sinalizam a importância da documentação pedagógica no contexto


de educação coletiva:
Para isso, a meu ver, a observação e o registro
são necessários, para ver cada aluno na sua
individualidade, saber suas necessidades,
acompanhar seu desenvolvimento e proporcionar
novas vivências e experiências, visando seu
crescimento (CARONI, 2011, p.33).
Um dos modos de fazer essa escuta e essa leitura
de sujeitos é observar e registrar. Observar e
registrar. Tenho que pensar no que escrevo,
traduzir o que as crianças estão querendo, estão
precisando, estão pedindo, questionar: será que
estou fazendo as intervenções corretas?
(CARONI, 2011, p.35).
A escrita, portanto, é uma grande aliada, porque
pode me ajudar a refletir. Não só pensar numa
determinada situação, mas refletir sobre ela, para
entender os momentos e pensar em estratégias
para manejar os acontecimentos do dia dentro de
uma sala com crianças pequenas. As trocas
tornam-se cheias de significado (CARONI, 2011,
p.41).
Por meio das observações e registros as professoras percebem os
tempos peculiaridades das crianças, que muitas vezes não estão
sincronizados com o tempo do relógio, mas harmonizado pelos tempos
distintos de uma delas, pelo tempo de suas experiências e significação.
Com um olhar sensível, é possível entender a importância da
flexibilidade e compreensão o valor do exercício de escrever o vivido,
de refletir sobre ele, visando à qualificação de sua própria prática. Na
pesquisa de Souza (2008) ela constatou que as professoras partícipes da
investigação encontram dificuldades em realizar o planejamento,
embora algumas expressem que é possível. Isso acontece também pelos
fatores objetivos de condição de trabalho, ligado a carga horária e outras
dificuldades:
Muito embora, como já visto, a maioria afirme
que realiza um planejamento e organize as
atividades, somente uma delas afirmou conseguir
desenvolver este planejamento. As outras sete
afirmam que nem sempre o conseguem (SOUZA,
2008, p.51).
114

Quanto à planejar e organizar as atividades, há


forte indicativo de que a falta de oportunidades
para refletir sobre sua prática, bem como a
sobrecarga de trabalho e a dificuldade de
materiais, espaços e funcionários são elementos
que contribuem para um trabalho baseado no
senso comum e em ações imediatistas,
corroborando para a precarização do
atendimento (SOUZA, 2008, p.55).
Ainda que essas dificuldades sejam reais em muitos contextos,
reafirmamos a importância de realizar o planejamento e toda a
documentação pedagógica, pois, é um ato de compromisso com a prática
pedagógica, é estar atento aos indicativos que as crianças apresentam, é
observar cautelosamente, é coletar os dados (GANDINI &
GOLDHABER, 2002) para que estes se tornem o principal instrumento
do trabalho.
Concordamos com Ostetto (2000, p.177) quando nos diz que
planejar é: “[...] é essa atitude de traçar, projetar, programar, elaborar
um roteiro para empreender uma viagem de conhecimento, de interação,
de experiências múltiplas e significados para/com o grupo de crianças.
Planejamento pedagógico é atitude crítica do educador diante de seu
trabalho docente” (OSTETTO, 2000, p. 177).
A professora precisa ter claro o que, para que e para quem
planejar, sempre atenta à realidade vivida, pois, a ação de planejar
pressupõe um olhar atento à realidade: “Como um processo reflexivo,
no processo de elaboração do planejamento o educador vai aprendendo e
exercitando sua capacidade de perceber as necessidades do grupo de
crianças, localizando manifestações de problemas e indo em busca de
causas” (OSTETTO, 2000, p.178).
Outro importante elemento que demarca a docência com bebês e
crianças pequenas32 é que as professoras compartilham a docência com
suas parceiras, segundo Mantovani e Perani (1999) têm-se na educação
infantil duas professoras e esse é um dos fatores que diferencia a
primeira etapa da educação básica do ensino fundamental: são duas
professoras que compartilham a responsabilidade da educação das
crianças em todas as dimensões. Na pesquisa de Duarte (2011) ela traz
uma significativa contribuição acerca desse aspecto, o que ela chama de
docência partilhada:

32
Assim como toda a educação infantil.
115

[...] “docência partilhada” o que envolve uma


prática docente coletiva e para a criança ganha
muito mais sentido do que práticas fragmentadas,
que “separam a cabeça do corpo”. Mas
naturalmente que se precisa também repensar nos
atuais moldes de organização das instituições de
educação infantil, assim como nas funções e nos
cargos das profissionais que nela atuam
(DUARTE, 2011, p.151).
Outra particularidade indicada através das fontes
refere-se à docência com os bebês como uma
docência partilhada, visto que a relação e o
encontro com as famílias das crianças são mais
frequentes e recorrentes. Apontou uma professora
que os pais são como “porta-vozes” dos bebês,
indicando a necessidade de um estreitamento
relacional. Outra partilha ocorre entre os adultos
profissionais que atuam em conjunto aos
pequenos, uma professora e uma auxiliar, que, no
cotidiano, exercem a mesma função (docente),
ainda que formalmente integrem categorias
profissionais distintas (do magistério e do quadro
de servidores civis) (DUARTE, 2011, p.207).
Como podemos analisar nos excertos destacados a docência
partilhada, como define Duarte (2011) é uma especificidade da
docência com bebês e crianças pequenas, trata-se da partilha da
responsabilidade da educação das crianças entre professoras e também
delas com as famílias. Contudo, apesar da pesquisadora usar o termo
partilha no sentido de uma relação de parceria, se tomarmos o sentido
semântico da palavra no dicionário encontramos: divisão; repartição; ato
de dividir em partes ou porções.
Compartilhar a docência não se trata de dividir ou atribuir
responsabilidades delimitadas, mas uma relação permeada de parceria,
por este motivo, a definição docência compartilhada parece-nos mais
apropriada. Compartilhar pressupõe: fazer parte de; tomar uma posição
em relação; dividir com. Ou seja, é estar com, estar junto, numa relação
de compartilhamento.
A docência compartilhada implica uma relação de troca que
inclui distintas partes, as famílias enquanto “porta vozes” dos bebês, que
contam acerca das singularidades e peculiaridades das crianças, e as
professoras como aquelas que estão disponíveis para essa relação, que
compartilham as vivências, que contam sobre as conquistas, sobre as
116

adversidades, numa relação dialógica de troca. Portanto, trata-se de


compartilhar a responsabilidade da educação das crianças pequenas -
entre as profissionais que atuam na creche, entre elas e as famílias, como
também toda a comunidade.
Na presente categoria os dados apontam para as especidificidades
que abarcam ser professora de bebês e crianças bem pequenas, que se
constituem, sobretudo, pelas ações que envolvem aos momentos de
alimentação, higiene, sono, entre outros, que compõem as dimensões
educativas. A docência é, portanto, marcada pelas relações humanas,
pelo compartilhamento de experiências.
Nesse sentido, podemos dizer que ser professora de bebês
envolve uma multiplicidade de aspectos que abrangem as dimensões
educativas no cotidiano da creche, significa construir uma relação
empática, de modo a respeitar as crianças numa relação que a concebe
enquanto efetivo ator social.
A categoria tempo também demarca a especificidade da docência
com bebês e configura-se como um importante aspecto a ser
considerado no planejamento, o qual deve considerar os tempos e ritmos
próprios dos pequenos, que se distingue do tempo dos adultos. As
pesquisas reafiram ainda, a importância do planejamento, bem como
toda a documentação pedagógica, como um importante instrumento de
trabalho que atribui intencionalidade às ações junto às crianças.

4.2 ESTUDOS SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

O critério para agrupamento dos trabalhos na categoria Estudos


sobre as práticas pedagógicas foi selecionar aqueles que tinham como
preocupação central estudar aspectos da prática pedagógica,
intencionalmente pensadas e planejadas para ação junto às crianças.
Ainda que os 13 trabalhos selecionados para compor o corpus de análise
desta pesquisa sejam da educação, situados no contexto da creche,
somente duas dissertações investigaram efetivamente a prática
pedagógica no grupo de bebês. O trabalho de Luciane Pandini Simiano
intitulada Meu quintal é maior que o mundo... Da configuração do
espaço da creche à constituição a de um lugar dos bebês (2008), e teve
como objetivo compreender como se configura o espaço da creche, e,
como tal espaço se constitui como um lugar para os bebês. Para tanto,
buscou descrever os espaços da creche de modo a considerar a estrutura
física, observando como os bebês e os adultos ocupam os espaços. De
acordo com a pesquisadora, os elementos constituidores dos espaços das
instituições de educação infantil, tais como a localização, os objetos,
117

traçados arquitetônicos, sua organização e a decoração que os compõem


não são neutros, pois, expressam um conjunto de padrões culturais e
pedagógicos que as crianças internalizam e significam.
E a segunda dissertação chamada Encontros, cantigas,
brincadeiras, leituras: Um estudo acerca das interações dos bebês, as
crianças bem pequenas com o objeto livro numa turma de berçário
(2011) de Rosele Martins Guimarães, configura-se como um estudo
sobre a prática pedagógica com crianças de menos de dois anos de
idade, elegendo como foco da investigação as interações das crianças
com o objeto livro. Guimarães (2011) buscou realizar seu estudo
concebendo os bebês enquanto sujeitos da pesquisa, lançando um olhar
para as suas ações e não somente para a ação docente. A abordagem
atribuída ao livro não é centrada na sua dimensão literária, mas nos usos
que as crianças fazem dos livros, a partir do que produzem no contato
com ele.
No que diz respeito ao alicerce teórico que sustentou as
pesquisas, na dissertação de Simiano (2008) ela indica o necessário e
importante diálogo disciplinar com os autores no âmbito da Arquitetura
Mayumi Souza Lima, na área da Geografia Yi-Fu Tuan, Anne Buttimer
e Milton Santos. Na História contou com interlocução com os autores
Antonio Viñao Frago e Augustín Escolano, na Psicologia Henri Wallon,
Lev Vygotsky e Donald Winnicott, na Sociologia da Infância dialogou
com Manuel Pinto e Manuel Sarmento, na Filosofia Walter Benjamin e
Jorge Larrosa. Na área da Educação dialogou, sobretudo, com Maria
Carmem Silveira Barbosa e Eloisa Acires Candal Rocha.
Já na pesquisa de Guimarães (2011) lançou mão de um diálogo
disciplinar e teórico a partir dos seguintes autores: na Sociologia da
Infância Manuel Sarmento, Manuela Ferreira e Willian Corsaro, na
Psicologia dialogou Henri Wallon, para pensar as questões acerca da
literatura, ela indica que estabeleceu uma interlocução com autores das
experiências de bebês com livros, dentre eles Marie Bonnafé, Cristina
Rizzoli e Enzo Catarsi. No âmbito da Educação contou com as
contribuições de Judith Falk, Emanuela Cocever, Elinor Goldschmied,
Sonia Jackson e Paulo Freire. E por fim, na área da Semiótica, como
explicitado pela pesquisadora, dialogou com os autores Lucia Santaella
e Winfried Nöth.
Os estudos sobre as práticas pedagógicas são muito importantes
na área da educação, tendo em vista que muitos não acreditam que seja
possível realizar um trabalho com projetos e/ou planejados e
intencionalmente pensados no contexto da creche, principalmente por se
tratar de crianças bem pequenas. As questões históricas que envolvem as
118

creches ligadas ao cuidado, com a saúde e a higiene, atrelam-se a um


imaginário que se perpetua ainda hoje, como se não fosse possível
realizar um trabalho didaticamente organizado com as crianças bem
pequenas. Com estudos recentes e avanços de pesquisas na área, essa
crença modificou-se significativamente, abrindo espaço para uma nova
concepção de educação, onde as crianças são compreendidas enquanto
atores sociais, com potencialidade, logo, merecedoras de uma educação
sistematizada, pensada e planejada de forma qualificada e intencional
(BARBOSA; HORN, 2008).
As concepções recentes acerca dos bebês, da infância, da
aprendizagem e da educação caminham no sentido de compreender um
currículo para os bebês no contexto da educação infantil, o qual
considere o desenvolvimento integral das crianças em suas dimensões
expressivo-motora, afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e
sociocultural. Um currículo que deve privilegiar práticas sociais que
permitam ampliar horizontes, vivências em linguagens, proporcionar
que os bebês experienciem seus saberes, que serão justamente os
primeiros saberes, por meio de vivencias, sobretudo com o corpo, pelas
das brincadeiras, pelas relações com outros (adultos e crianças), dentre
outros (BARBOSA, 2010).
Estar comprometido com a educação dos bebês e crianças
pequenas traz importantes implicações, significa, sobretudo, estar
disponível para as crianças: para ouvi-las em suas múltiplas linguagens,
para atender suas manifestações e principalmente: com os processos
educativos que serão vivenciados no interior da instituição de educação
coletiva. Segundo Coutinho (2010, p.212) para pensarmos numa
Pedagogia da Infância que compreenda os bebês, é preciso respeitar:
“[...] a experiência de viver este tempo de vida a partir daquilo que
constitui a nossa humanidade, assim como, e principalmente, os
reconheça como atores partícipes e não meros objetos”.
O trabalho com as crianças pequenas demanda cuidados, que
entrelaçado com o educar, assume uma dimensão importante na prática
com as crianças de 0 a 3 anos. De acordo com Guimarães (2010, p.34), o
cuidado com atenção e escuta da criança é fundamental no contexto da
creche, devemos conceber estas duas ações - cuidar e educar - de forma
indissociável, sem dicotomizá-las. As relações de cuidado não se
caracterizam como ações automatizadas de assear as crianças, mas
respostas as suas manifestações emocionais.
O processo de aprendizagem das crianças é repleto de conexões e
relações que envolvem a criança, as famílias, professores e o ambiente
social onde estão situadas. Logo, as propostas pedagógicas pensadas e
119

direcionadas para as crianças pequenas devem ter como objetivo


garantir que tenham acesso aos processos de apropriação e articulação
das distintas linguagens:
É importante ter em vista que o currículo é
vivenciado pelas crianças pequenas não apenas
através de propostas de atividades dirigidas, mas
principalmente através da imersão em
experiências com pessoas e objetos, constituindo
uma história, uma narrativa de vida, bem como na
interação com diferentes linguagens, em situações
contextualizadas, adquirindo, assim, o progressivo
domínio das linguagens gestuais, verbais,
plásticas, dramáticas, musicais e outras e suas
formas específicas de expressão, de comunicação,
de produção humana (BARBOSA, 2010, p.5).
O espaço coletivo da creche adquire sentido quando pensa este
lugar tomando a criança como ponto de partida para a estruturação da
proposta pedagógica com reais intencionalidades. Pensando o cuidar e
educar como indissociáveis e parte efetiva do planejamento, registros,
avaliação, observação, enfim, toda a documentação pedagógica33.
As vivencias experenciadas pelas crianças no contexto da
educação infantil partirão das propostas realizadas pelas professoras, ou,
de um consentimento delas para que as crianças experimentem, sintam,
provem... Para tanto é fundamental que as profissionais planejem
distintas oportunidades para que as crianças realizem novas e múltiplas
experiências (TRISTÃO, 2006).
Elencamos deste modo34, uma série de indicativos nos quais
acreditamos ser importantes e que devem estar presentes nas práticas
pedagógicas com as crianças pequenas no contexto da creche.
Primeiramente gostaríamos de salientar que as propostas pedagógicas
devem estar comprometidas com uma educação que leve em conta a

33
Nesta perspectiva, é preciso pensar o tempo, o espaço, as vivências, as
experiências dentro das Instituições de Educação Infantil a partir do
planejamento. Este é instrumento indispensável para que se efetive um trabalho
focado na criança com intencionalidade. Planejar confere intencionalidade às
ações e é, sobretudo, orientador do trabalho docente (OSTETTO, 2000).
34
A partir dos Núcleos de Ação Pedagógica, parte das Diretrizes Educacionais
Pedagógicas para Educação Infantil (FLORIANÓPOLIS, 2010) reunimos uma
série de elementos que acreditamos ser importantes na prática pedagógica com
os bebês e crianças pequenas.
120

afetividade, como abraços, carinhos, massagens (entre as crianças de


distintas idades), o toque e a dimensão corporal assumem um importante
papel na educação das crianças pequenas. Deve, também, considerar a
brincadeira como componente fundamental no contexto da creche,
mediada pelas relações sociais (entre os pares, entre as crianças de
outras faixas etárias), por artefatos culturais e multiplicidade de matérias
(objetos musicais, elementos da natureza, por exemplo).
Importante que se planeje experiências onde as crianças tenham
interação e descubram qualidades do mundo artístico e as múltiplas
linguagens: com músicas, pinturas, esculturas, literatura infantil, contato
com acervo cultural artístico produzido pela humanidade.
Nesse sentido, devemos valorizar a produção das crianças bem
como suas manifestações afetivas e emocionais; promover a sua
participação e legitima-las enquanto atores sociais. As professoras de
bebês devem estar atentas à linguagem corporal e também, com os
movimentos: a mão da educadora, como nos diz Tardos (1992) imprime
sensações, sentimentos, quando os tocamos, quando os alimentamos,
banhamos, a forma como os colocamos nos trocadores, no momento do
sono, etc.
Concordamos com Coutinho (2010) quando assinala a
experiência de Lóczy como uma importante contribuição para
pensarmos a educação dos bebês, pois:
Experiências, como a desenvolvida em Lóczy, em
Budapeste, em que os bebês são compreendidos
como competentes, autônomos e a proposta
educativa tem como princípios a ação pedagógica
centrada na capacidade das crianças de agir
autonomamente, de fazer escolhas e de se
movimentar em liberdade, revelam que a creche
pode ser um espaço que potencializa as
experiências infantis, desde que as concepções e a
estrutura converjam para tal. Nessa proposta,
princípios como o de dar valor a atividade
autônoma da criança são enfatizados, isso
significa valorizar as iniciativas da própria
criança, que surgem do seu próprio desejo, aquilo
que lhe dá satisfação. Confiar na capacidade das
crianças não significa abandoná-las, mas lhes dar
o espaço e tempo necessários, tendo em vista que
são competentes desde que nascem, sendo o
movimento uma das primeiras formas de
121

expressão desta competência (COUTINHO, 2010,


p.214-215).
Para tanto, a organização do espaço caracteriza-se como um dos
eixos centrais da prática pedagógica: ele pode incentivar e ser
convidativo ou também um regulador/impeditivo. Eles devem ser
espaços acolhedores, planejados de modo a promover a autonomia das
crianças, que possibilitem as interações e fomentem as relações entre os
bebês, tendo em vista que, o espaço também pode configurar-se como
um terceiro educador35. Ou nas palavras de Barbosa (2010) o espaço
físico possui uma linguagem silenciosa, mas também potente: ele nos
ensina como proceder, olhar e participar.
Buscamos nessa categoria sinalizar os principais indicativos para
a prática pedagógica com as crianças na faixa etária de zero a três anos,
nas dissertações elencadas para o corpus de análise. Destacamos assim,
elementos que constituem as práticas pedagógicas nas dissertações
selecionadas:
[...] o que encontro como achado da investigação
é que, na prática pedagógica em berçários, os
livros como portadores de múltiplas narrativas
apresentam-se como uma potente ferramenta
capaz de engajar adultos e crianças na produção
de uma nova cultura de uso do objeto livro, na
qual o livro é o meio para possíveis experiências
estéticas (GUIMARÃES, 2011, p.213).
[...] não basta narrar-lhes histórias, é preciso que
as crianças possam tocar e manipular os
livros/usá-los a fim de vivenciar, atualizar em
movimentos e outras expressividades a narrativa
das imagens, das formas, das histórias, das
surpresas pictórias e plásticas, multisensoriais,
dos livros contemporaneamente produzidos para
o público infantil (GUIMARÃES, p.212).
Os excertos destacados nos revelam a importância que o livro em
toda sua dimensão simbólica e cultural representa para as crianças,
portanto, devem compor as práticas pedagógicas e os cenários de
brincadeiras dos pequenos. Não se trata de uma forma de aprendizagem
precoce da leitura escrita, mas uma possiblidade significativa e contato

35
O conceito do espaço como terceiro educador na perspectiva de Gandini
(1999).
122

lúdico com a imaginação. Guimarães (2011) constatou em sua


investigação que as relações dos bebês com os livros são por vezes
estigmatizadas pelos próprios professores, sobretudo, no que diz
respeito ao seu manuseio, que incluem uma investigação gustativa dos
bebês. Nas instituições de educação infantil não é comum encontrar os
bebês ouvindo histórias a partir dos livros, e tão pouco vê-los
manipulando-os, cria-se um imaginário de que só deve se manipular os
livros quando as crianças obtiverem a competência da leitura. Contudo,
os bebês e crianças pequenas têm direito de estabelecer relações com os
livros e explorá-lo em toda sua materialidade, atribuindo sentidos e
significados aos seus modos próprios de realizar uma leitura interativa e
lúdica.
Segundo Debus (2006) o contato da criança com o livro pela
feição material pode ser considerado a primeira cerimônia de
apropriação da leitura e, leva-nos a refletir sobre as manifestações
sensoriais que surgem pela interação palpável entre a criança e o livro.
Neste sentido, poderíamos dizer que a leitura inicia-se pelos sentidos: a
visão, o som, o toque: ao tocar e sentir o livro, ela vai ensaiando seu
papel de leitor, experimentando a partir de uma leitura sensível que
mexe com os prazeres do corpo. É importante que, mesmo os bebês e as
crianças pequenas, tenham acesso e contato com os livros, bem como as
linguagens da arte, a música, pinturas, que possam se aventurar e
explorar distintas texturas, cores, cheiros... Experimentar o sensível em
distintas possibilidades.
Outro aspecto que emergiu nas pesquisas é as características que
demarcam o momento da alimentação, Simiano (2008) ressalta que a
prática alimentar é importante para que as crianças experienciem e
aprendam acerca dos objetos culturalmente criados pela humanidade:
A prática alimentar é uma importante
oportunidade de as crianças vivenciarem e
aprenderem a respeito dos objetos culturalmente
criados pela humanidade para a alimentação.
Sentamos em cadeiras e não em mesas,
alimentamo-nos com talheres e pratos individuais
e não coletivamente, utilizamos guardanapo
quando estamos com a boca suja e não
permanecemos com ela suja até o final da
refeição para que seja lavada. Assim podemos
dizer que o preparo da comida e o momento da
refeição constituem ocasiões extremamente ricas
de aprendizagem individual, social e cultural e
123

constituição de subjetividade (SIMIANO, 2008,


p.86).
Na pesquisa de Guimarães (2011) a alimentação apareceu como
um momento onde as crianças pudessem manusear alguns livros,
estratégia utilizada pelas professoras, para dar conta das demandas da
rotina como as trocas, higiene e alimentação individual dos bebês:
Na sala do berçário I, havia livros que os
pequenos podiam manusear, os quais também
ficavam guardados em armários inacessíveis para
as crianças, inclusive fora de seu campo de visão,
visto que, no armário, havia portas de madeira.
Eram livros de plástico e outros confeccionados
pelas próprias educadoras com recortes de
revistas. Eles eram disponibilizados para as
crianças, geralmente, no momento que antecedia
o horário do almoço. Enquanto as adultas
ocupavam-se em organizar a sala, realizar a
trocas de fraldas, quando necessário, lavar as
mãos, etc., nesses momentos as crianças
manuseavam livremente os livros (GUIMARÃES,
2011, p.35, grifo nosso).
Lançar mão de estratégias de organização de tempos e espaços,
disponibilizando livros para as crianças nos momentos mais tensos da
rotina, como a hora da alimentação que demanda uma grande atenção
dos adultos, é importante e devem fazer parte do cotidiano das
instituições, visto que, as outras crianças que ainda não foram
alimentadas merecem ter acesso a materiais, artefatos e organização
espacial que possibilite uma ação autônoma, exploratória e lúdica.
Entretanto, isso não significa instituir que determinados livros – bem
como outros materiais -, devem ser disponibilizados somente nestes
momentos, mas devem compor as brincadeiras das crianças.
Os momentos que abarcam o cuidado podem ser considerados a
maior especificidade que configura a docência com as crianças de zero a
três anos de idade, pois, demandam mais atenção e cuidado. Esses
momentos devem ser planejados a partir de espaços humanizados, que
sejam agradáveis e que respeitem os pequenos, o que demanda: “[...]
planejamento, reflexão, mudança na rotina e, principalmente, um maior
envolvimento com a proposição desses momentos” (COUTINHO, 2002,
p.92).
Um importante elemento, que também apareceu nas outras
categorias e que se reitera nos estudos sobre as práticas pedagógicas é a
124

importância da organização dos espaços no trabalho junto às crianças de


0 a 3 anos de idade. O espaço da creche é o lugar do desenvolvimento de
múltiplas habilidades, é a partir das riquezas que o compõem é que ele
desafia – ou não – aqueles que o ocupam, desafio este que é construído
pelos símbolos e linguagens, que o modificam e recriam
consecutivamente (BARBOSA, 2006).
E tal importância amplia-se, bem como sinaliza Barbosa (2006,
p.120): “[...] quando se leva em consideração que a jornada diária nesses
lugares é, muitas vezes, equivalente ao seu horário de vigília”. As
crianças passam grande parte do seu dia dentro das instituições de
educação infantil, em sua pesquisa Batista (1998) faz uma contagem
aproximada e ilustra este quadro: “[...] de dez a doze horas por dia,
sessenta horas por semana, duzentos e quarenta horas por mês, duas mil
e quatrocentas horas por semana, duzentos e quarenta horas por mês,
duas mil e quatrocentas horas por ano” (BATISTA, 1998, p.3). Esse
representativo numérico leva-nos a pensar: será que o espaço da creche
é pensado considerando o significativo número de horas que as crianças
passam dentro das instituições?
O espaço da sala mostra-se como um lugar de vivências e
narrativas, um lugar de encontro, onde se encontram olhares, sorrisos, o
movimento e o toque... São muitos os modos de comunicação que
marcam a vida na creche, os bebês lançam mão de diversas linguagens
para conhecer o espaço e interagir com os outros:
Observou-se que o espaço da creche se constitui
(ou não) em lugar a partir das relações
estabelecidas entre os bebês e os adultos que ali
convivem diariamente. Um lugar para ser, um
lugar de rastros e traços, um lugar de encontro,
um lugar para brincar e para o encontro com a
narrativa do adulto. No presente estudo, esses são
os lugares constituídos e constitutivos dos bebês
para ser, estar e viver a vida na creche
(SIMIANO, 2008, p.7).
[...] ao organizar a sala para os bebês e as
crianças bem pequenas é importante arranjá-la
de modo que auxilie as ações das crianças e
favoreça os seus movimentos. Nessa perspectiva,
o espaço da sala é pensado, tendo em vista o
arranjo da mobília, dos brinquedos e outros
materiais, para que as crianças interajam e
relacionem-se umas com as outras e com as
125

adultas, brinquem com os objetos e os brinquedos


podendo, assim, vivenciar diferentes experiências.
O objetivo consiste em proporcionar conforto e
bem-estar e, ao mesmo tempo, oferecer-lhes
amplas oportunidades de aprendizagem ativa e de
interação sociais (GUIMARÃES, 2011, p.102).
Esses espaços devem ser pensados considerando que as crianças
precisam sentir-se confortáveis, de um lugar para descanso mais
preservado, um lugar de quietude e também lugares de interação com as
outras crianças e adultos. Ao tratar-se dos bebês os espaços devem
considerar ainda, que eles exploram os ambientes com o corpo,
engatinham, arrastam, viram, apoiam. Por vezes, é no espaço da creche
que os bebês vivenciam as primeiras experiências de sentar, ensaiam
suas primeiras tentativas de engatinhar, de alcançar um colega e também
de caminhar.
É importante uma organização a qual oportunize que os bebês
escolham os elementos que queiram interagir de forma autônoma, como
os livros, os brinquedos, dentre outros subsídios; logo, os espaços
devem propiciar e promover a exploração nas suas múltiplas
possibilidades, como bem sinalizam as pesquisadoras das dissertações:
O espaço da creche precisa estar organizado de
forma que oportunize aos bebês momentos de
privacidade, intimidade, aconchego, respeitando,
assim, a sua singularidade. Os objetos trazidos de
casa ajudam a criança a formar e constituir “um
ninho seguro”, pois estabelecem vínculos entre a
casa e a creche (SIMIANO, 2008, p.97).
[...] dentre as dimensões da prática pedagógica
que permeiam a interação das crianças com os
livros, a organização do espaço físico da sala, o
acesso aos livros e a outros materiais, também as
formas de intervenção que as adultas
estabeleciam com as crianças, foram questões que
demandaram uma certa discussão e
reorganização, uma vez que, como se sabe, o que
as crianças fazem com os livros é uma projeção
da totalidade da prática educativa em sua
multidimensionalidade (GUIMARÃES, 2011,
p.19).
Com isso, eles manifestam que é preciso pensar,
planejar, organizar lugares onde o bebê se sinta
126

seguro, acolhido, familiarizado. Os bebês


apontam que necessitam estar ligados os objetos
trazidos de casa que representam a sua
subjetividade (SIMIANO, 2008, p.103).
Os bebês indicam que necessitam de tempo/espaço para
permanecer com seus pertences, pois, reconhecem nos objetos pessoais
a sua singularidade, é importante que as crianças se reconheçam nesse
espaço com sentido de pertencimento. Outro elemento que nos chama
atenção nas duas investigações é que as pesquisadoras argumentam
acerca da postura das professoras no cotidiano da creche, de acordo com
ambas, ela é reveladora de uma concepção de crianças e um
posicionamento teórico, que perpassam os fazeres e as ações educativas.
Destacamos excertos das dissertações que sinalizam tais aspectos:
[...] partimos do pressuposto de que a forma
como planejamos e organizamos os espaços na
instituição não são neutras, pois revelam uma
intenção pedagógica e, ao mesmo tempo, podem
nos relevar as concepções que os adultos têm
sobre as crianças, e no caso específico deste
estudo, sobre os bebês. Deve-se ampliar e prever
o planejamento do espaço na prática pedagógica
com bebês (SIMIANO, 2008, p.43).
[...] ao tecer a prática pedagógica, estamos
assumindo uma posição teórica que também
adquire os contornos de uma posição política,
tendo em vista que do “lugar” de onde se olha as
crianças, ou melhor, a partir das lentes teóricas
pelas quais os pequenos e suas infâncias são
entendidos, é que se constituem as práticas para o
relacionamento com eles (GUIMARÃES, 2011,
p.53).
Podemos destacar ainda, nesse sentido, que a presença mediadora
é fundamental para pensarmos as práticas pedagógicas com as crianças.
Na perspectiva da consolidação de uma Pedagogia da Infância, temos
elegido como definição do papel das professoras de educação infantil
como mediador, pois, é “[...] aquele que estrutura tempos, espaços e
experiências para as crianças pequenas, que considere suas formas de
comunicação, seus conhecimentos, curiosidades e que amplie,
diversifique e complexifique seu repertório de conhecimentos e
experiências” (COUTINHO, 2012, p.255).
127

Nesse sentido, ser professora de bebês significa estar na relação


com elas, é estar à disposição e entregar-se para essa relação; o que traz
implicações inclusive na dimensão corporal do adulto, que necessita
abaixar-se para olhar nos olhos das crianças, comunicar as suas ações
quando estão direcionado à elas, cuidar com o toque, anunciar suas
intenções (COUTINHO, 2012). Na dissertação de Guimarães (2011) ela
também traz a presença mediadora como papel dos professores:
Entretanto, por se tratar de bebês - crianças no
começo de seus primeiros encontros com o mundo
social, cultural e físico – como elemento da
prática pedagógica, não basta que tenham acesso
aos livros, é preciso uma presença mediadora,
acolhedora, disponível, sensível aos tempos, aos
ritmos, às expressões desses sujeitos de pouca
idade e muito desejo pela vida. Portanto, uma
mediação que aceita e possibilita a participação
ativa, livre de regras reguladoras, mas repletas
de oportunidades enriquecidas que potencializem
suas experimentações-interações com e a partir
dos livros (GUIMARÃES, 2011, p.213, grifo
nosso).
Perspectivas e pesquisas36 recentes na área da Educação vêm
colaborando para lançarmos um novo olhar sobre e potencialidade dos
bebês, e vem nos indicando que as crianças bem pequenas estabelecem
relações sociais e participam ativamente da realidade social, de modo a
significar os espaços e as relações a partir das suas experiências. Mesmo
os bebês que ainda não falam, exploram e comunicam com seu corpo,
lançam mão de estratégias comunicacionais como os gestos, olhares,
sorrisos, balbucios, enfim, seus muitos modos de se expressar. As
pesquisas de Simiano (2008) e Guimarães (2011) corroboram com esse
posicionamento, trazendo elementos significativos nas suas pesquisas
que confirmam essa concepção que compreende os bebês na sua
potencialidade:
[...] as crianças bem pequenas têm uma grande
capacidade de estabelecer relações diante de suas
vivências e expressar, comunicar aos outros seus
pensamentos, que, por vezes, são fruto de

36
Como por exemplo, os estudos de Tristão (2004), Camera (2006), Schmitt
(2008), Guimarães (2008), Coutinho (2002; 2010) e Ramos (2012).
128

percepção aguçada e perspicaz que possuem [...]


(GUIMARÃES, p.118).
Tantas são as formas de comunicação que
marcam a vida na creche. Para conhecer o
espaço e interagir com o outro, os bebês se
utilizam de muitas linguagens. Observar,
reconhecer e compreender estas formas de
comunicação nos bebês significa valorizá-los
como sujeitos capazes, competentes e que têm
algo a nos dizer sobre eles. (SIMIANO, 2008,
p.109-110, grifo nosso).
Foi acreditando na capacidade dos bebês,
acreditando que eles têm muito a nos dizer e nos
ensinar que mergulhei no cotidiano. Desafiando
minha sensibilidade para trazer à tona suas ideias
e sentimentos, suas formas de ocupar e se
relacionar com o espaço/lugar, sem perder de
vista os limites, a delicadeza e a sutileza de tal
tarefa (SIMIANO, 2008, p. 69, grifo nosso).
Com presença marcante, ao longo dos dados, foi
observado o protagonismo ativo e reflexivo dos
pequenos durante as suas ações com os livros,
identificados nas mais distintas formas, tais
como: no engajamento autônomo com os livros;
na livre escolha dos suportes; nas múltiplas
formas de utilização das estruturas e dos signos
dos livros, na construção de lugares para “ler”;
na busca constante por parceiros de “leitura”; na
participação ativa durante as narrativas
compartilhadas com as educadoras e outras
crianças ou ainda, na preferência por uma
interação solitária com os livros (GUIMARÃES,
2011, p.211, grifo nosso).
Concordamos com Barbosa, quando nos diz que os primeiros
anos de vida das crianças são marcados pelas relações, ou seja: “[...] por
uma constante busca de relações: as pessoas, os objetos e o ambiente são
interrogados, manipulados, mediante uma atitude de intercâmbio
interativo, juntamente com um processo de forte empatia” (BARBOSA,
2008, p.72). Relacionar-se pressupõe estar com o outro, em contato,
interagir com o outro. Nessa interação a linguagem que se expressa por
meio das distintas manifestações, como nas ações de tocar, olhar, sorrir,
129

chorar, por exemplo, formam um entrelaçamento onde os contatos


corporais intensificam-se.
No contexto da creche, os meninos e meninas que a frequentam
cotidianamente tem a experiência de viver o coletivo, de viver o estar
em relação com outros – sejam adultos e crianças de idades diversas. Os
bebês buscam estar em relação, antes mesmo de engatinhar, lançam mão
de manifestações corporais que demarcam sua busca pelo outro.
Portanto, a ação pedagógica deve favorecer o encontro entre as crianças,
em distintos momentos do dia, logo, o espaço deve ser planejado como
um incentivador das relações. O espaço da creche é socialmente
construído a partir das relações, um lugar de trocas e, sobretudo, de
encontros, deste modo constituí-se como um lugar repleto de
significados (AGOSTINHO, 2012).
Para Vygotsky (1995; 2008) os seres humanos se constituem nas
relações sociais, nessa perspectiva, os sujeitos se apropriam das
características humanas num processo externo que se manifesta como
reflexo das vivências sociais que lhe foram significativas. Na medida em
que os bebês estabelecem relação com seu entorno vai significando a si
mesmo e também ao outro: “[...] as significações daquilo que somos,
falamos, sentimos e pensamos passaram primeiramente pelo outro, pelo
externo; portanto, são de origem social” (SCHMITT, 2011, p.18).
Coutinho (2012, p.250) nos dá pistas acerca das relações sociais
dos bebês, e indica-nos que o olhar e o corpo são modos privilegiados
de relação com seus pares, constituindo unidades comunicacionais: “[...]
o olhar em si é uma ação, que permite a partilha e a significação do que
é comunicado”. O olhar, o corpo comunica sentimentos, ações
recíprocas:
A tarefa de “tradução” das ações das crianças bem
pequenas coloca, para quem se propõe
desenvolvê-la, a condição de aprendiz dessa
polifonia própria da comunicação entre as
crianças, que se para alguns pode remeter à
incompletude e falta, revela-se, na verdade, como
uma complexa trama relacional (COUTINHO,
2012, p.251).
Nessa complexa trama relacional, o corpo aparece como um
importante elemento. Buss-Simão (2012, p.185) analisa as relações das
crianças pequenas a partir da dimensão corporal e ajuda-nos
compreender a sua centralidade: “[...] é possível perceber que essa
centralidade da dimensão corporal nas suas ações, enquanto mediador
130

das relações traz elementos não somente cognitivos, mas envolve


também elementos sensoriais e emocionais nos usos do corpo”.
Importante trazer para o debate as relações que envolvem a afetividade e
as emoções, pois, o corpo enquanto base da experiência social está
atrelado a estes aspectos.
De acordo com Le Breton37 as emoções não existem sem estarem
vinculadas ao relacionamento com o outro, logo, só ganham real
significado quando situadas numa determinada cultura e contexto social
específico. As relações que envolvem a afetividade e as emoções são
sociais e estão entrelaçadas com toda dimensão do humano.
Partimos do pressuposto de que as crianças são sujeitos que
desejam e experimentam o mundo, logo, sentem-se parte dele. Elas são
curiosas e desejosas de viver, provar, degustar e sentir o mundo que as
cerca nas suas múltiplas possibilidades, nas suas múltiplas linguagens.
Nas pesquisas, também percebemos indicativos sobre as relações no
contexto da creche e destacamos excertos que ilustram esses aspectos:
Observou-se que o espaço da creche se constitui
(ou não) em lugar a partir das relações
estabelecidas entre os bebês e os adultos que ali
convivem diariamente. Um lugar para ser, um
lugar de rastros e traços, um lugar de encontro,
um lugar para brincar e para o encontro com a
narrativa do adulto. No presente estudo, esses são
os lugares constituídos e constitutivos dos bebês
para ser, estar e viver a vida na creche
(SIMIANO, 2008, p.7).
A partir das manifestações dos bebês, pude
confirmar que eles necessitam estabelecer
relações não somente entre eles, mas também com
crianças mais experientes e diferentes adultos e
gostam disso. Conhecer, interagir, partilhar... A
cerquinha era lugar de estar em relação com as
crianças maiores e diferentes adultos (SIMIANO,
2008, p.106).
Relações estas, que se estabelecem também com os adultos por
meio da linguagem, cantigas de roda, canções de ninar, jogos de
linguagem que acompanham os momentos de alimentação, as narrativas,
contações de histórias, as cantigas cantaroladas em distintos momentos:

37
(2009, Apud BUSS-SIMÃO, 2012).
131

As cantigas constituíam-se como narrativas com


que as adultas e as crianças gostavam de brincar
e, desse modo, interagir entre elas. Elas riam e se
divertiam, cantavam, batiam palmas, dançavam
“se sacudindo” e gingando os ombros, batendo os
pés no ritmo das canções e dos gestos das
coreografias das canções. Durante as canções,
destacavam detalhes de seus corpos por meio da
narrativa que elas contavam (GUIMARÃES,
2011, p.32).
É na relação com os adultos, ouvindo suas
palavras, que o bebê atribui sentido e significado
ao mundo que o cerca. Traduzir as ações dos
bebês em palavras, contar histórias, ler poemas,
cantar músicas possibilitam a sua interação com
a linguagem oral e com o encontro de narrativas.
O professor, ao narrar a vida na creche, os fatos,
os acontecimentos, estará possibilitando aos
bebês uma produção de sentidos e significados
que podem influenciar na sua trajetória de vida
para o posterior acúmulo de experiência
(SIMIANO, 2008, p.123).
Concordamos com Bruley (2013), quando nos diz que estes
pequenos cuidados, esses encontros com narrativas de infância – como
cantigas, canções, poemas, etc. -, que parecem sutis, imprimem em nós
narrativas do que vivemos, narrativas que continuam presentes em
nossas vidas, encarnadas em nós, e que iniciam quando somos ainda
bebês, nas experiências que vivenciamos no contexto da creche: “A cada
nova criança que nasce toda a humanidade é convocada a falar, a
cantar. Se recupera a história...” (BRULEY, 2013, p.40, grifo nosso). A
linguagem mostra-se, então, como um importante aspecto para as
crianças de 0 a 3 anos, nesse sentido, todas as relações que as crianças
estabelecem com as formas de linguagem possibilitam uma produção de
sentidos e significados. As práticas pedagógicas com os bebês e crianças
pequenas são permeadas pelas ações sutis que demarcam a
especificidade docente com as crianças dessa faixa etária.

4.3 ESTUDOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Na categoria Estudos sobre o desenvolvimento infantil agrupamos


quatro dissertações que tinham como preocupação central estudar
aspectos do desenvolvimento das crianças sob as distintas perspectivas
132

teóricas, as quais tomaram como referencial teórico autores como


Wallon, Vygotsky, Piaget, Winnicot e Lacan em diálogo com autores as
área da Educação, sobretudo, da educação infantil, para olhar elementos
na prática pedagógica com as crianças – ou seu próprio desenvolvimento
- na faixa etária de zero a três anos de idade.
A primeira pesquisa, intitulada Práticas educativas em berçários:
o papel da imitação no desenvolvimento e suas implicações (2008) de
Luciane Guimarães Bianchini objetivou analisar a imitação na
construção simbólica no processo de aprendizagem e desenvolvimento
infantil. A luz dos pressupostos de Jean Piaget, a pesquisadora buscou
observar e analisar a atividade construtiva e inteligente do bebê na
produção da imitação com o educador38, e também discutir aspectos
acerca do ambiente – que a pesquisadora chama de promotores desse
processo. Bianchini (2008) dialogou ainda com autores como: Henri
Wallon, Maria Clotilde Rosseti-Ferreira e autores piagetianos como
Lino de Macedo e Francismara Oliveira.
Outro trabalho selecionado que tinha como foco de atenção o
desenvolvimento das crianças foi a dissertação de Sílvia Adriana
Rodrigues, chamada Expressividade e emoções na primeira infância:
um estudo sobre a interação criança-criança na perspectiva walloniana
(2008), que lançou mão dos contributos de Wallon para examinar as
interações das crianças com seus coetâneos, objetivando compreender os
tipos de manifestações afetivo-emocionais que acontecem no contexto
da creche e as possibilidades de propiciar um ambiente produtivo e
satisfatório para o desenvolvimento das crianças. Além dos pressupostos
de Wallon, a pesquisadora apoia-se também com autores como Lev
Vygotsky, Maria Clotilde Rosseti-Ferreira, Heloysa Dantas e Marta
Kohl de Oliveira.
Já a dissertação intitulada Análise do Desenvolvimento da
Atividade da Criança em seu Primeiro Ano de Vida (2011) de Giselle
Modé Magalhães, tomou como objeto de investigação estudar o
desenvolvimento da atividade da criança em seu primeiro ano de vida,
destacando que compreender o desenvolvimento humano é fundamental
para a organização dos processos de ensino39. A partir do referencial de
autores da Psicologia Histórico-Cultural, tais como: Davídov, Mukhina,

38
Optamos em utilizar a nomenclatura adotada pela pesquisadora em sua
dissertação quando nos referimos ao seu trabalho. Na pesquisa de Bianchini
(2008) ela utiliza o termo educador para falar das professoras partícipes da
pesquisa.
39
Termo utilizado pela autora.
133

Vigotski, Elkonin, Leontiev e Luria, a pesquisadora propõe realizar uma


análise acerca da dinâmica da idade em relação à situação social de
desenvolvimento.
Por fim, a pesquisa de Simoni Antunes Fernandes: A escuta e as
palavras nos anos iniciais da vida: diálogos entre os bebês, a
psicanálise e a educação infantil (2011), objetivou analisar as relações
estabelecidas entre as educadoras e os bebês no cotidiano de uma
instituição de educação infantil no município de Santa Rosa (RS), de
modo a articular as cenas observadas durante a pesquisa com elementos
teóricos da psicanálise. Dialogando com os autores Anny Cordié,
François Dolto, Maria Cristina Kupefer e Leandro de Lojonquière, a
pesquisadora levantou a hipótese que educar é subjetivar. A autora
contou ainda, com as contribuições dos autores como Sigmund Freud,
Donald Winnicott e Jacques Lacan.
Os estudos aqui analisados estabeleceram diálogo com autores
nacionais da Educação como Sônia Kramer, Tizuko Morchida
Kishimoto, Maria Carmen Silveira Barbosa, Ana Beatriz Cerisara,
Miguel Arroyo, Julieta Jerusalinsky. Para discutir aspectos relativos à
prática pedagógica e especificidade da docência com bebês,
encontramos os contributos de Daniela Guimarães e Fernanda Tristão.
Os pressupostos das italianas Susanna Mantovani, Anna Bondioli e
Lella Gandini aparecem em três dos quatro trabalhos dessa categoria.
Por fim, na pesquisa de Magalhães (2011) aparecem os seguintes
autores da educação na perspectiva histórico-cultural: Alessandra Arce,
Suely Amaral Mello, Lígia Martins, Newton Duarte e Dermeval
Saviani.
Estas pesquisas nos levam a retomar a própria trajetória da
Psicologia do Desenvolvimento que vem se constituindo historicamente
tendo como preocupação a criança e colocando em questão o
conhecimento sobre elas. Tal como indica Vasconcelos (2009, p.62): “O
que fez a Psicologia com o conhecimento acumulado de tanto estudar a
criança? O que fez a criança? O que fez a Psicologia com as imagens de
Infância e criança que construiu ao longo de todo o século XX – Século
da Criança?”.
Tais questionamentos aproximam-se do objetivo de compreender
como a Psicologia do Desenvolvimento tem ajudado a pensar a infância
e a criança e, em que medida as pesquisas da área da Educação em
diálogo com a Psicologia do Desenvolvimento, contribuem – ou não -
para pensarmos os aspectos que envolvem a educação e a prática
pedagógica com as crianças de zero a três anos no contexto da creche.
134

Se partirmos da sua constituição histórica, encontramos os


primórdios das observações sistemáticas da Psicologia do
Desenvolvimento registradas no final do século XVII e início do século
XIX, com as chamadas biografias de bebês:
[...] sendo a origem da observação científica sobre
a infância reconhecida a partir dos estudos e
documentação de expressões emocionais em
crianças realizados por Charles Darwin (1877),
biólogo inglês e, mais tarde, na tradição inglesa do
Child Study Movement (URWIN, 1986). Tais
estudos, baseados nas teorias biológicas e
evolucionistas, acabaram por dar origem às
análises do que era considerado o
desenvolvimento “normal” de crianças. Nessa
perspectiva, o desenvolvimento seria resultante de
processos maturacionais de características da
espécie humana, visando a adaptação ao meio
ambiente (VASCONCELOS, 2009, p.62).
A rara atenção dada à infância e às crianças nos estudos
científicos existentes até o final do século XIX foi acompanhada pela
concepção do desenvolvimento que destaca a maturação orgânica, a
ênfase as bases biológicas do comportamento marcaram as pesquisas do
desenvolvimento humano até o início do século XX e teve como um dos
seus portais as contribuições da Psicanálise (VASCONCELOS, 2009).
Sigmund Freud inspirado em Darwin delineou uma teoria do
desenvolvimento embasada nas leis biogenéticas, principalmente, os
conceitos de latência-sexual, sublimação, formação reativa e regressão,
os quais resultaram na evidência aos aspectos psicopatológicos
presentes no desenvolvimento da criança. Em 1905, lançou a obra Três
ensaios sobre a sexualidade infantil, onde faz relação entre o
desenvolvimento psicossexual com a infância (VASCONCELOS,
2009). Nos estudos da Infância na Psicanálise, em especial pelos
seguidores de Melanie Klein, os processos inconscientes na criança (pré-
edipianos e o “conflito edipiado”) são compreendidos da seguinte
forma:
[...] o desenvolvimento psíquico da criança foi
reduzido do triângulo edipiano para díade mãe-
bebê, e o valor dado por Freud ao
desenvolvimento psicossexual foi redefinido.
Assim, o drama triangular, alimentado pelo desejo
da criança em relação aos seus pais – de ambos os
135

sexos – foi recolocado a um estágio


cronologicamente anterior, no qual os atores
psíquicos ficam reduzidos a dois: a mãe e a
criança (VASCONCELOS, 2009, p.63).
Nesse sentido, o bebê é munido com impulsos inatos que são
orientados para o primeiro objeto de desejo: o seio da mãe. Os estudos
desenvolvidos na Psicologia da Infância: “[...] alimentada pela
psicanálise de M. Klein (1928/1975) e seus diletos discípulos, John
Bowlby (1969) e Donald Winnicott (1979), acumulou uma longa
experiência sobre a Infância, valorizando o seu imaginário, sonhos
patologias psíquicas” (VASCONCELOS, 2009, p.63).
Na história da Psicologia, sobretudo no contexto brasileiro, a
criança tomada enquanto objeto de pesquisa está presente desde o início
do séc. XX, e, nessa conjuntura, a vertente médico hospitalar da
psicologia científica estava mais focada para uma perspectiva do estudo
da doença mental em adultos. Foram os educadores – em grande medida
ligados a Escolas Normais – que se encarregaram de inserir e
desenvolver a psicologia do desenvolvimento infantil por meio da
condução de experimentos e pesquisas realizadas com crianças (COPIT;
PATTO, 1979).
Esta introdução inicial acerca dos primórdios da psicologia da
criança no Brasil, segundo Copit e Patto (1979), mostra-nos que os
pilares da pesquisa nessa área são de caráter positivista, mas que
acabaram por sofrer duras críticas epistemológicas, com reformulações
teóricas alternativas: “[...] sobre o psiquismo e o comportamento
humano, em geral, e infantil, em particular, se desenvolveram,
acompanhadas de novas propostas metodológicas e de pesquisa, que
características assume o estudo da criança na psicologia produzida em
nosso meio?” (COPIT, PATTO, 1979, p.7).
Segundo Jobim e Souza (1996) a psicologia do desenvolvimento
tem se mostrado como uma área que legitima a construção de teorias e
conceitos sobre os aspectos evolutivos - cognitivos, afetivo-emocionais,
psicomotores, sociais etc. – da infância. Como disciplina acadêmica que
constitui as ciências do comportamento, tem como intenção observar e
medir as modificações externalizadas pelos indivíduos ao decorrer da
sua trajetória de vida:
[...] por um lado a psicologia do desenvolvimento
pretende compreende e iluminar fatos
desconhecidos sobre o desenvolvimento da
criança e do adolescente, por outro, ao investir
136

nesta direção, acaba por se tornar propriamente


estruturadora da experiência da criança, ou seja,
os comportamentos cognitivos, afetivos,
psicomotores, psicossociais etc., passam a ser
moldados por determinadas características
descritivas, além de emergirem cada vez mais
cedo na vida da criança (JOBIM e SOUZA, 1996,
p.41).
Assim sendo, podemos dizer que estudos e pesquisas da
psicologia tiveram como preocupação a constituição dos sujeitos que
estão em processo de formação e produziram conceitos que foram
dinamicamente construídos e reconstruídos no cerne das teorias afetando
a própria forma da sociedade agir sobre as crianças: “[...] modelando
formas de ser e agir de acordo com as expectativas criadas, tendo por
base interesses culturais, político e econômico do contexto social mais
amplo” (JOBIM e SOUZA, 1996, p.41).
Nesta dinâmica, a produção de conhecimento sobre a criança
comprometida com as demandas geradas pelas mudanças sociais passa a
preocupar-se com o lugar ocupado por elas nas relações sociais. E as
teorias que tomam como pressuposto a constituição social do sujeito,
buscam caminhos para uma pesquisa que se preocupa em conhecer os
distintos aspectos envolvidos na educação das crianças incluindo sua
inserção em contextos de educação coletiva.
As quatro dissertações aqui agrupadas na categoria estudos sobre
o desenvolvimento infantil, tem como base autores de diferentes
posicionamentos teóricos, mas tomam como aporte a área da Psicologia
do Desenvolvimento Infantil para analisar diferentes aspectos tais como:
linguagem, organização dos espaços, relações e interações, a
brincadeira, dentre outros aspectos, que envolvem as questões do
desenvolvimento infantil no contexto da creche.
Em síntese, os posicionamentos teóricos encontrados foram os
seguintes: a pesquisa de Bianchini (2008) preocupou-se com o
desenvolvimento da imitação das crianças, a partir dos pressupostos de
Jean Piaget; a dissertação de Rodrigues (2008) apoiou-se na teoria da
psicogenética de Wallona; já a dissertação de mestrado de Magalhães
(2011) direcionou seu olhar para a atividade do bebê a partir dos
contributos da Psicologia Histórico-Cultural, ancorada em seus
principais autores soviéticos – Vygotsky, Elkonin, Davidov, Leontiev –
e, por fim, a dissertação de Fernandes (2011) tomou como base o
referencial teórico da psicanálise, dialogando com autores como Freud,
137

Lacan, Winnicot, dentre outros para investigar as relações existentes


entre as educadoras e os bebês em uma instituição de educação infantil.
Um primeiro indicativo que aparece com evidência nas quatro
dissertações é a organização do espaço como elemento que constitui a
prática pedagógica com bebês e crianças pequenas, já que, a sua
organização é um fator que pode proporcionar muitas experiências, mas
também limitá-las. Por esse motivo é importante que seja
intencionalmente pensado desde a disposição de objetos,
disponibilização de materiais, distintos elementos e artefatos, mas
principalmente um espaço que possibilite a interação entre as crianças a
uma exploração livre para que também conheçam seu próprio corpo.
Destacamos excertos das pesquisas onde a organização do espaço
aparece como elemento da prática pedagógica:
Já quando os bebês ficam livres na sala com
alguns objetos espalhados, a exploração livre
parece ser bem mais prazerosa para eles. Os
bebês interagem entre si, se escondem embaixo
dos berços, os menores tentam se movimentar de
formas diferentes, enfim, exploram o ambiente e
seu corpo (FERNANDES, 2011, p.58).
[...] a comunicação emocional direta com o
adulto é a atividade-guia no primeiro ano de vida,
e a partir da segunda metade do período passam
a ascender significativamente os movimentos
reiterativos e concatenados com os objetos, que
representam a gestação da atividade de ação com
objetos, a qual será guia na primeira infância.
Nesse sentido, espera-se das instituições de
ensino a organização de espaços direcionados à
promoção do máximo desenvolvimento possível
nesse período de vida (MAGALHÃES, 2011,
p.8).
[...] nos dois primeiros anos de vida algumas
aquisições importantes do desenvolvimento
entram em destaque na vida infantil como é o
caso da função simbólica, constituição do eu,
aquisições motoras etc. Por isso, ao professor
cabe criar ambientes favoráveis para que tais
aquisições encontrem espaço de expressão na
escola (BIANCHINI, 2008, p.25).
138

As pesquisas de Bianchini (2008) e Magalhães (2011) chamam a


atenção para a importância da organização do espaço e dos objetos que o
compõem como possibilidade de materialização das ações infantis.
Nesta perspectiva, é preciso que se ofereça para os bebês um espaço
para explorações ativas, onde os objetos adquirem um papel peculiar:
Incentivar a criança a alcançar os objetos,
chamar a sua atenção em diferentes direções,
obrigando-a a movimentar o pescoço para buscar
contato, segurar em suas mãos de modo a auxiliá-
la a dar pequenos passos, são exemplos de
orientações que o educador pode fornecer no
desenvolvimento psicomotor (MAGALHÃES,
2011, p.122).
[...] o objeto promove um espaço construtivo
relevante de interação da criança com o próprio
objeto. Este é um espaço de múltiplas
explorações, na qual o sujeito pode-se posicionar
atuante ou não, dependendo do interesse
despertado pelo objeto. O interesse da criança
está relacionado aos esquemas que ela tem até
então construído, pois é a partir da compreensão
que ela tem em um determinado momento de seu
desenvolvimento sobre o objeto que a levará
interessar-se por este ou não e assim se colocar
numa posição ativa. Mas, não é só isso. É preciso
também que surja um conflito, a fim de que os
esquemas adquiridos desequilibrem-se diante de
uma situação, assim o incômodo gerado converte-
se numa fonte de interesse para o bebê
(BIANCHINI, 2008, p.34).
A ênfase ao papel do objeto na organização dos espaços e nas
próprias brincadeiras precisa ser problematizada, pois, foca-se na
importância dos objetos e se desconsidera a relevância das relações
sociais constituídas nesses espaços. De acordo com Bondioli (1998)
existe um debate relacionado à ideia de uma pedagogia do jogo nas
instituições de educação infantil, a qual considera em primeiro plano as
organizações das atividades lúdicas que evidencia as relações com os
objetos, considerando que o desejo de exploração na criança se
manifesta como um desejo primário. O que segundo ela, mostra-se uma
premissa um tanto psicanalítica e também interativo-cognitivista, tendo
em vista que, os desejos e motivações das crianças pelos objetos não se
139

constituem por ele em si mesmo, mas também pelas situações sociais


compartilhadas com os outros.
As relações com objetos e artefatos culturais são importantes no
cotidiano das instituições de educação infantil, logo, nas práticas
pedagógicas, contudo, pesquisas como Schmitt (2008), Coutinho (2010),
Amorim, Anjos e Rosseti-Ferreira (2012) avançam nestas questões e
chamam a atenção para outro aspecto: as relações sociais entre as
crianças pequenas, como uma ação ativa e que manifesta outras
linguagens que se compõem nas próprias interações: como o olhar e o
corpo.
Os bebês estabelecem relação com o ambiente e o exploram com
o corpo, mas também interagem entre si, como bem assinalam Amorim,
Anjos e Rosseti-Ferreira (2012). Segundo as pesquisadoras existe
interação entre os bebês e podem ser percebida pelas trocas de olhares
contínuos, tanto para o ambiente, para os objetos e as pessoas que se
aproximam: “[...] tanto no cotidiano de instituições creche, como na
psicologia, esse dado – a frequência e o tempo com que o bebê olha ao
seu redor – muitas vezes, é desvalorizado e considerado como atividade
passiva e indicativa de que a criança não se engaja em atividades e
relações” (AMORIM; ANJOS; ROSSETI-FERREIRA, 2008, p.380).
De acordo com Bandioli (1998) o desejo de exploração dos
objetos se constitui a partir das situações sociais, a motivação que
constitui o desejo nas crianças por determinados objetos tem uma forte
qualidade social e não um valor no objeto em si mesmo, ou seja, a
criança se enamora pelo o objeto que está repleto de significado social,
atribuído por aquele que o possui nas mãos.
Destarte, Amorim, Anjos e Rosseti-Ferreira (2012) explicam que
os objetos que costumam ser atrativos para os bebês são aqueles que
outra criança manipula. Para os adultos isso pode parecer processo de
disputa, o que os leva a oferecer objetos semelhantes para as crianças,
contudo, os objetos podem conter atrativos, mas não pode afirmar que
ação e interesse das crianças são motivados pela atração dos objetos em
si, eles mostram-se mais atrativos quando estão nas mãos de outras
crianças, pois, ao manipular confere movimento ao objeto, nesse sentido
a atração acontece pelo complexo bebê-objeto-bebê.
Pensar essas questões desloca o valor do objeto em si mesmo,
para a importância das relações e interações entre as crianças, entre elas
com outras crianças e também com os adultos, no contexto da educação
infantil. Na pesquisa de Rodrigues (2008), por exemplo, os dados
expressam que as interações entre as crianças constituem um campo rico
140

de significados e o modo como o espaço é organizado pode facilitar e


promover as interações entre as crianças:
[...] o arranjo espacial ganha especial valor,
tendo em vista que as interações entre as crianças
serão distintas em ambientes com arranjos
espaciais diferentes, pois em espaços com arranjo
aberto, como no caso do ambiente observado, as
interações entre crianças são menos freqüentes,
visto que têm mais espaço para se “espalhar”
pela sala; ao contrário, num espaço de “arranjo
semi-aberto”, com um número maior de móveis e
equipamentos as crianças tendem a aproximarem-
se umas das outras e há uma maior interação
entre elas (RODRIGUES, 2008, p.62)
A organização do espaço deve ser planejada para que os bebês
possam se manifestar corporalmente e explorá-lo, é necessário
considerar que os bebês ainda bem pequenos que não andam ou
engatinham precisam se relacionar com o espaço, vislumbrando o seu
entorno por distintas perspectivas e também estabelecer interações com
as outras crianças: pelo olhar, pelo sorriso, pelo toque daqueles que
chegam até ele. Para tanto é preciso que as professoras possibilitem que
os bebês possam estar em posições diferentes, experimento outras
perspectivas.
As interações entre as crianças e das crianças com os adultos
aparece como um importante elemento em três das quatro dissertações
analisadas, tendo em vista que, as instituições de educação infantil são
espaços que podem proporcionar aos bebês uma grande possibilidade de
múltiplas relações. Sendo assim, destacamos excertos das pesquisas que
trazem a discussão sobre interação entre as crianças e sua importância
no contexto da creche:
[...] faz-se necessário que as propostas
pedagógicas para educação infantil enfatizem a
importância das interações entre crianças, visto
que se configuram em uma das molas propulsoras
do desenvolvimento; criem, intencionalmente,
situações que permitam contatos entre grupos
variados e situações interativas que favoreçam o
desenvolvimento da autonomia baseando-se no
respeito pelas características próprias da
inteligência infantil, bem como nas necessidades
específicas de cada grupo. É preciso, então, uma
141

concepção de escola infantil como espaço de


comunicação e trocas permanentes, onde a
coerência, a unidade dos princípios e as
concepções comuns sobre valores instaurem um
relacionamento de confiança, gerando assim criar
um clima facilitador do desenvolvimento, num
ambiente acolhedor e aconchegante
(RODRIGUES, 2008, p.98, grifo nosso).
Observamos que muitos dos esquemas
convocados pela educadora durante as atividades
educativas da proposta passaram a aparecer nos
diversos momentos nos quais os bebês estavam na
instituição, demonstrando cada vez mais
ampliação nos esquemas de ações e riqueza nas
expressões de interação (BIANCHINI, 2008,
p.119 grifo nosso).
Quanto às imitações entre pares, pode-se
perceber que os bebês aprendem muito entre si e
que o principal motivo de convocação a imitação
entre coetâneos está na relação que se estabelece
entre eles. Por isso, gostaríamos de destacar que
o interesse do bebê com relação à imitação entre
pares, está de um lado, motivado pelo
desequilíbrio provocado entre eles, mas, de outro,
relacionado ao campo dos afetos, como aponta
Piaget (BIANCHINI, 2008, p.120).
A pesquisa de Rodrigues (2008) indica que o processo de
desenvolvimento infantil acontece por meio das interações, que objetiva
a construção de novas relações sociais, portanto, as instituições de
educação infantil necessitam garantir recursos e possibilidades para a
qualidade nas interações. Na pesquisa de Fernandes (2011) as
interações mostram-se como um dos momentos que propicia vivências
prazerosas, é quando as crianças experimentam e exploram o ambiente
com seu corpo, logo, o espaço da sala deve ser estruturado e legitimado
como um lugar de desenvolvimento cognitivo e subjetivo das crianças,
um espaço onde as relações de cuidado e de educação sejam concebidas
como indissociáveis.
Já na pesquisa de Bianchini (2008) as interações aparecem
caracterizadas como imitações. De acordo com a pesquisadora, a partir
dos pressupostos piagetianos, é pela imitação que os bebês aprendem
muito entre si, e o principal motivo para convocação à imitação entre
eles é a própria relação estabelecida por eles próprios:
142

[...] Por isso, gostaríamos de destacar que o


interesse do bebê com relação à imitação
entre pares, está de um lado, motivado pelo
desequilíbrio provocado entre eles, mas, de
outro, relacionado ao campo dos afetos,
como aponta Piaget (BIANCHINI, 2008, p.
120).
Guimarães (2008) amplia o debate e explica que a imitação é uma
importante qualidade nas iniciativas das próprias crianças, pois, trata-se
de significar os acontecimentos sociais. Nesse sentido, é compreendida a
partir do seu valor social, ou seja: a criança imita aquilo que lhe desperta
o interesse, o que também revela a potência criadora daqueles que
imitam. A imitação mostra-se, então como formas de diálogo, contato e
ampliação de sentidos: “[...] a imitação se apresenta como expansão da
criança, exploração de possibilidades que brotam no contato com o
outro e afetam quem imita” (GUIMARÃES, 2008, p.14).
As crianças constroem o significado das coisas, das pessoas e
também de si mesmas, compartilhando distintas situações, constituindo
afetos e conhecimentos, distinguindo pontos de vista. Elas estabelecem
relações sociais ativamente, logo, são atores sociais competentes
(COUTINHO, 2010), que não somente imitam, mas significam e
resignificam as relações a partir das suas experiências, portanto,
produtoras legítimas de cultura40.
Outro elemento que emerge das análises é o brincar como
subterfúgio para os momentos de rotina da creche. Das quatro
dissertações, duas apontam para a brincadeira na prática educativa como
possibilidade de distração dos bebês – para dar conta das demandas
como os momentos de higiene e alimentação. Deste modo, destacamos
excertos das pesquisas que envolvem as brincadeiras, os momentos de
higiene, alimentação e sono:
Foram registrados, nos tempos de brincadeiras
no Berçário, [...] que em alguns momentos não
são propostas atividades pré-elaboradas, mas,
sim, partem da convocação dos bebês, posto que,
boa parte do tempo eles ficam no chão da sala,
sobre um tapete, e as monitoras fica junto a eles,
selecionando brinquedos de acordo com o
interesse deles. Fica claro que todo o tempo é

40
Ver Sarmento (2005), Cohn (2009), Coutinho (2010).
143

organizado em torno das atividades de cuidado


físico: troca de fraldas antes da hora do almoço,
alimentação e horário de dormir. Porém, esse
rigor de horários pré-estipulados deixa tempos
nos quais os bebês conseguem colocar suas
produções em cena, como no caso do brincar
(FERNANDES, 2011, p.53).
[...] seja, na hora do banho, da alimentação e em
todos os outros momentos que fazem parte da
rotina é preciso que o brincar seja reconhecido
enquanto prática educativa, a fim de que este
processo resulte na formação de crianças felizes e
saudáveis (BIANCHINI, 2008, p.30).
A brincadeira aparece organizada de acordo com a rotina que
envolve os momentos de cuidado, higiene e alimentação, e apesar do
rigor que a demarca, de acordo com Fernandes (2011), os bebês
conseguem colocar suas produções em cena, no caso do brincar, quando
exploram o ambiente com seu corpo, fator que revela e manifesta a
potencialidade dos bebês.
A experiência de Lóczy sugere que nos momentos de cuidado,
como na troca de fraldas, aconteça uma interação e atenção recíproca
entre a educadora41 e o bebê. Nesse sentido, é necessário que as
educadoras busquem a participação das crianças, como uma cadeia de
interações e que exista um diálogo permeado de respeito. É importante
que as professoras estabeleçam uma troca de atenção com os bebês, sem
desviar a atenção dos pequenos ofertando objetos para brincadeiras
(HAVESI, 2011).
Em Lóczy se compreende que as crianças devem ser partícipes de
todos os processos que lhe dizem respeito, inclusive e, não menos
importante, os momentos de higiene. É preciso investir na relação onde
as crianças consigam trocar-se, alimentar-se de forma cada vez mais
autônoma e para que as crianças não estejam submetidas a ações
mecânicas, que sugerem uma violência suave:
Por tudo isso, consideramos fundamental que a
criança participe dos cuidados de seu corpo e que,
ainda que não possa se vestir sozinha nessa idade,
observe os detalhes, acompanhe o processo pela
fala da educadora, mesmo que não esteja em

41
Haversi (2011) usa o termo educadora para referencias as professoras de
Lóczy.
144

condições de participar concretamente. A cadeia


de interação se interromperá de quando em
quando, mas as educadoras devem procurar atrair
intencionalmente o olhar da criança e se esforçar
por fazer ressurgir a interação (HAVERSI, 2011,
p.87).
Trata-se de uma ação especial a qual considera que as crianças
podem, devem e merecem participar dos processos no cotidiano da
educação infantil. Entra em cena aqui a ideia dos bebês enquanto
protagonistas das ações, a partir de um ponto de vista que os considera
como base para a organização das práticas educativas, explorando suas
possibilidades expressivas não-verbais e compreendendo que eles têm
muito o que nos informar (RAMOS, 2012).
Entendemos que a organização do espaço é um aspecto
pedagógico fundamental para as relações estabelecidas com e dos bebês,
sobretudo, pela condição da onipresença42 dos adultos nesse contexto.
Ou seja, os adultos responsáveis pelos grupos dos bebês passam grande
parte do seu tempo ocupados com aspectos ligados aos momentos da
alimentação, troca de fraldas, sono, dentre outras demandas, que se
caracterizam especialmente pela relação adulto-bebê, enquanto as
demais crianças estão situadas nos espaços da sala. Esse espaço deve ser
pensado e planejado intencionalmente para que elas possam se expressar
corporalmente de forma segura e confortável, um espaço que os convida
a explorá-lo, a partir de um planejamento intencional que se distingue de
ofertas de objetos como mero subterfugio para dar conta de ações
rotineiras.
Fernandes (2011) considera que no contexto da creche o outro ser
humano oferece suporte e hospitalidade. O termo hospitalidade parece-
nos apropriado, se tomarmos o sentido semântico da palavra: diz-se
qualidade do lugar em que há boa acolhida, a forma de tratar que
expressa gentileza e amabilidade. Assim sendo, que nossas instituições
de educação infantil sejam hospitaleiras e recebam as crianças de forma
gentil e amável, e que, sobretudo, sintam-se verdadeiramente acolhidas
nesses espaços.
Quando um bebê passa a frequentar uma instituição de educação
infantil significa ampliar seus contatos e relações com o mundo, para os
professores significa refletir e organizar intencionalmente todos os
aspectos que articulam às relações educativas no interior da creche. A
partir das pesquisas de Magalhães (2011), Rodrigues (2011), Fernandes

42
Schmitt (2008).
145

(2008) e Bianchini (2008) fica marcante que os bebês precisam de uma


forma bastante específica de organização do ambiente físico e trabalho
pedagógico.
Nas pesquisas de Magalhães (2011), Rodrigues (2011) e
Fernandes (2008) a linguagem aparece como um eixo relevante para o
desenvolvimento das crianças, manifestando-se como uma prática social
que estabelece a mediação dos bebês com o mundo, atribuindo
significado as suas ações, suas relações e interações sociais, bem como a
percepção e conhecimento sobre si mesmo e sua corporeidade:
[...] a comunicação com o meio se dá a partir de
formas interativas não-verbais, epidérmica e
expressiva, sendo que a única forma de
linguagem disponível neste momento é a corporal,
recurso esse que ainda é reflexo. (RODRIGUES,
2008, p.35).
As crianças se expressam se comunicam e interagem de múltiplas
formas, sendo características constitutivas dos seres humanos, é
necessário, portanto, que os adultos se sensibilizem mediante as muitas
formas das crianças se expressarem e legitimem os sinais emitidos pelos
bebês enquanto uma forma comunicacional. As professoras indicam que
as expressões e sentimentos dos bebês tem valor, ao escutar de forma
atenciosa os modos deles se comunicarem, quando dão visibilidade e
dialogam com os seus movimentos, gestos, olhares e balbucios
(SCHMITT, 2008).
A apropriação da cultura historicamente construída se dá
principalmente por meio da linguagem, é ela quem possibilita que a
natureza social dos seres humanos seja também sua natureza psicológica
(JOBIM e SOUZA, 1994). Para Magalhães (2011) a fala é um exemplo,
pois, a necessidade de estabelecer comunicação servirá como estímulo
para a criança emitir sons até que se desenvolva propriamente a fala, e é
o próprio adulto que convida a criança para a comunicação:
A necessidade de comunicação estimulará a
criança a emitir sons até originar a fala, sendo o
adulto quem atrai a criança para a comunicação
e cria nela tal necessidade (MAGALHÃES, 2011,
p.104).
A comunicação com o adulto é a característica
fundamental da atividade-guia que permite a
afirmação do bebê como um ser profundamente
social, uma vez que é por meio dessa
146

comunicação, uma atividade social por natureza,


que se desenvolvem suas ações e operações para
com a realidade. Em outras palavras,
concordamos com Vygotski (1996) quando afirma
que a atitude do bebê diante do mundo acontece
sempre por meio de outras pessoas. Todo o
contato da criança com a realidade é socialmente
mediado (MAGALHÃES, 2011, p.118).
Na investigação de Magalhães (2011) a linguagem aparece como
um importante elemento na relação entre os bebês e outros sujeitos.
Nesta perspectiva a comunicação configura-se como uma característica
fundamental da atividade-guia, a qual possibilita a afirmação do bebê
como um ser social, pois, é por meio da comunicação, uma atividade
social, que se desenvolvem as ações com a realidade.
Já na pesquisa de Rodrigues (2008), destaca-se a importância das
professoras de bebês estarem sensíveis às múltiplas formas de se
expressar, como o olhar, a entonação da fala, variações posturais, entre
outros. Indicativos estes, que segundo a pesquisadora, endossa indícios
dos estados afetivos dos diversos aspectos da atividade cognitiva das
crianças.
Já na dissertação de Bianchini (2008) a linguagem não aparece
com tanta relevância, sua pesquisa teve como objetivo central olhar o
modo a compreender como acontecem as ações imitativas entre pares
com bastante ênfase ao processo de desenvolvimento a partir dos
pressupostos piagetianos.
Segundo a perspectiva bakhtiniana é pela entonação que os
elementos vivenciados pelos sujeitos invadem a linguagem43, a voz do
discurso materializa-se por meio da entonação, que, cria uma ligação
entre o corpo e a linguagem (e vice-versa). Os modos de sentirmos
nosso corpo, como o enxergamos, é também reflexo das relações
estabelecidas com os outros seres humanos, mediado pela palavra
(BARBOSA, 2012). Na medida em que o adulto se comunica com os
bebês, também significa suas manifestações informando seu lugar no
mundo social.
Já na pesquisa de Fernandes (2011), a linguagem aparece
enquanto formadora da subjetividade humana:
É nessa relação constituinte que podemos
visualizar a linguagem como formadora da
subjetividade humana, na medida em que se

43
São muitas as formas de linguagem: oral, escrital, corporal, dentre outras.
147

tomam gritos, choros, esperneios e movimentos


corporais reflexos como palavras (FERNANDES,
2011, p.15).
[...] as palavras deixam marcas em cada criança,
pois, ao se inscreverem no corpo do infans, lhe
conferem uma significação mínima, fazendo com
que a linguagem, o simbólico, venha recobrir o
corpo, o real. Para que o sujeito do desejo possa
emergir, falando em nome próprio, é necessário
que haja uma inscrição do mesmo no campo da
linguagem, na ordem simbólica, possibilitando o
ingresso do bebê em determinada história, em
determinada cultura (FERNANDES, 2011, p.62).
Para Fernandes (2011), ao significar as manifestações orgânicas
do bebê emerge de um corpo reflexo, um corpo subjetivado, e a função
materna representa para o bebê o Outro primordial. Esse Outro que é
representado pelo papel materno – mas não necessariamente precisa ser
a mãe - nos primórdios da vida, é quem por meio do olhar, do toque, da
palavra, vai apresentar o mundo à criança, apresentando-lhe de múltiplas
formas a linguagem, de modo a tornar o corpo orgânico em um corpo
subjetivo.
Os seres humanos tem uma necessidade integral do outro, é esse
outro que tem o papel de criar uma imagem externa de mim, pois, a
imagem que temos de nós mesmos é na verdade uma ação criativa dos
outros que nos contemplam (BAKHTIN, 1997). A concepção de
excedente de visão de Bakhtin concebe o corpo como valor: um corpo
signo que ganha seus contornos de existência quando está nessa relação
com o outro. Nesse sentido, o corpo e a mente estão em inter-relação e
são constituídos por meio da palavra (BARBOSA, 2012).
Fernandes (2011) percebeu no contexto da sua pesquisa que o
elemento voz das professoras era algo que despertava encantamento nos
bebês. Voz que dá suporte à palavra, voz convocante. O bebê interessa-
se pela voz daquele outro, processo este, que é fundamental para que os
bebês aceitem o convite a participar do cotidiano das instituições de
educação infantil. Nessa voz, produzem-se sentidos, que incluem os
bebês no campo da linguagem:
Foi verificado um encantamento dos bebês pela
voz da professora. É a voz que dá suporte à
palavra. A palavra parte de um sujeito se
dirigindo para outro e da demanda que ela
transmite. A voz é convocante para os bebês. E
148

não é uma voz qualquer, é a voz de Clara. Ela


mesma conta animada: “Se vou conversar na
cozinha, eles me escutam e já ficam me
chamando, conhecem minha voz”. Sobre a voz
que encanta, Catão (2008, p.34) assevera que: O
que interessa à pequena criança na voz do outro
cuidador, mais que o sentido das palavras que ela
ainda não compreende, é uma certa entonação,
uma certa música da voz (...) a voz porta um
investimento libidinal que o Outro materno faz no
bebê. Em um engano necessário e estruturante, o
bebê se toma pelo objeto do interesse do
cuidador. Ele se toma pela causa do espanto e do
prazer que escuta na voz do outro (Outro). E isto
é fundamental para que ele aceite o convite a
participar, alienando-se, no campo da linguagem
(FERNANDES, 2011, p.52).
Segundo Jobim e Souza (1994), Bakhtin esclarece que a
característica fundamental da entoação é constituir uma relação íntima
da palavra com o contexto extraverbal, situando-se na fronteira entra o
verbal e não verbal: “A entoação é especialmente sensível a todas as
vibrações da atmosfera social que envolve o extraverbal não age sobre o
enunciado como uma parte constitutiva essencial da estrutura de sua
significação” (JOBIM e SOUZA, 1994, p.106).
Por fim, encontramos nas investigações aspectos que assinalam e
reafirmam a organização do espaço enquanto elemento fundamental
para a prática pedagógica com os bebês, ainda que por perspectivas
teóricas distintas, desde as pesquisas que chamam atenção para os
objetos, como também as que concebem que o espaço deve ser
organizado como um lugar de relações, um lugar hospitaleiro e
acolhedor, onde os bebês possam explorar o ambiente com seu corpo.
As pesquisas evidenciam que as interações das crianças com os
adultos e com as outras crianças como aspecto relevante, pois, a
educação infantil propicia aos bebês possibilidades de múltiplas
relações, que devem ser pensadas com intencionalidade na organização
desse espaço.
Ademais, o corpo também assume, nesse contexto, o papel de
linguagem, pois, os bebês lançam mão do seu corpo para comunicar
seus sentimentos e desejos. Os bebês não somente estabelecem relação
com o espaço, mas também interação entre eles, em situações que
surgem trocas de olhares, de risos, outros movimentos corporais onde os
bebês expressam respostas para seus pares, constituindo uma relação de
149

alteridade44. A linguagem dos adultos também assume um papel


significativo, pois as palavras carregam marcas, endossam sentidos, a
voz do adulto que dá suporte a palavra e a entonação que transmite
significados.
O lugar que as crianças ocupam no espaço da creche se constitui
a partir da ocupação, de usá-lo, significando a partir das relações ali
estabelecidas. As crianças tornam os espaços em um lugar de vida, de
cor, de movimento, portanto, devem ser espaços pensados como um
lugar para que as crianças possam viver intensamente a infância.

4.4 ESTUDOS SOBRE A FUNÇÃO SOCIAL DA CRECHE E A


RELAÇÃO COM AS FAMÍLIAS

Na categoria estudos sobre a função social e relações com a


família elencamos três dissertações que tinham como objetivo olhar os
distintos aspectos que envolvem as relações com as famílias no contexto
da educação infantil e a função social da creche. A primeira pesquisa
selecionada para compor essa categoria chama-se A relação entre pais e
professores de bebês: Uma análise da natureza de seus encontros
diários (2008), de Alessandra Sarkis de Melo e teve como objetivo
principal estudar a natureza da interação entre os pais e professores de
bebês, como se constituem esses encontros, trocas e diálogos, no
cotidiano de uma instituição de educação infantil.
A segunda dissertação O ingresso da criança na creche e os
vínculos iniciais (2010), de Eliane Sukerth Pantalena investigou como
ocorre a inserção dos bebês na instituição de educação infantil e as
relações entre família, creche e criança (de díades e tríades), e verificar
se a voz dos bebês é considerada neste processo. E por fim, a terceira
pesquisa chamada O que as crianças pequenas fazem na creche? As

44
A alteridade segundo Schmitt (2008, p.149) significa: “A palavra alteridade
vem do latim, alter, „outro‟, (+ -(i)dade.) e, no Dicionário Aurélio da Língua
Portuguesa tem o significado de “a qualidade do que é outro” (FERREIRA,
1999, p. 107). O outro em mim, como profere Bakhtin (1993) em seus escritos,
na constituição da consciência e da linguagem, aspecto fundamental das
relações sociais e da constituição do ser humano. Ou seja, é aquilo que, sendo
de fora de mim, sendo do outro, me atinge, me modifica, me constitui, me
completa, me diferencia, me altera, seja na linguagem, seja nos hábitos, nos
gostos, nas palavras, na forma de brincar e nas diversas expressões sociais. Nas
relações estamos sempre estabelecendo alteridade com o outro ser humano ou
com os objetos e produções culturais que trazem em si a linguagem e sentidos
atribuídos socialmente”.
150

famílias respondem (2011) de Letícia Veiga Casanova tinha como


objetivo olhar como os pais/responsáveis pelas crianças compreendem o
trabalho docente, o papel e a função social da instituição de educação
infantil pesquisada.
Os trabalhos que buscaram estudar as relações estabelecidas entre
as famílias e as professoras da creche, bem como sua função social,
utilizaram como referencial teórico autores da Psicologia como Urie
Bronfenbrenner e John Bowlby, Donald Winnicott, Wilfred Bion e
Maria Clotilde Rosseti-Ferreira.
No âmbito da Educação as autoras italianas Anna Bondioli,
Susanna Mantovani. Nice Terzi e Lella Gandini apareceram em todas as
pesquisas. Ainda na área da Educação encontramos as contribuições dos
autores Lenira Haddad, Elinor Goldschmied, Sonia Jackson, Gullina
Dahlberg, Peter Moss, Allan Pence, Zilma Ramos de Oliveira. Na
Sociologia encontramos o autor Bernard Lahire, na História Colin
Heywood e Moyses Kuhlmann Junior.
Compreender a creche na sua função social é importante para
consolidação da primeira etapa da educação básica que é historicamente
marcada pelo cuidado assistencial, mas que recentemente vem ganhando
legitimidade enquanto um espaço organizado e pensado para os
processos educativos. Tem se difundido cada vez mais a ideia da creche
como agência educativa (BONDIOLI; MATOVANI, 1998), pois, não
se trata de um espaço que tem como finalidade não apenas de cuidar das
crianças enquanto as famílias trabalham, mas de um direito das próprias
crianças.
No Brasil essa ideia consolidou-se a partir da LDB de 1996, que
assume a educação infantil como a primeira etapa da educação básica
definindo que o acesso à educação infantil é direito das crianças. O
documento indica que a educação é dever da família e do Estado45, com
a finalidade do pleno desenvolvimento das crianças:
A educação infantil, primeira etapa da educação
básica, tem como finalidade o desenvolvimento
integral da criança até seis anos de idade, em seus
aspectos físicos, psicológico, intelectual e social,

45
A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional determina que: “Art.2º A educação, é dever da
família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de
solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho” (BRASIL, 2010, p.07).
151

complementando a ação da família e da


comunidade (BRASIL, 2010, p. 25-26).
A legitimação do direito das crianças à Educação Infantil,
promulgada na Constituição de 1988, põe em cena a concepção da
criança como sujeito de direitos, tendo em vista que, a partir desse
momento elas passam a ter direito a educação em instituições
específicas, não somente a recebida na instituição familiar. Segundo
Guimarães (2012), a educação infantil passa a ser complementar à
família:
A observação da legislação que regulamenta o
trabalho nas instituições de Educação Infantil é
fundamental para discutir os desafios da relação
com a família no dia a dia. A LDB de 1996, além
de estabelecer a Educação Infantil como 1ª etapa
da Educação Básica, considera este segmento
educacional como complementar a família.
Complementariedade pressupõe parceira, encontro
e diálogo, o que se contrapõe à ideia de
substituição, que supõe disputa de lugar, pode e
saber nas relações com as famílias
(GUIMARÃES, 2012, p.92).
Essa complementaridade, que pressupõe parceria encontro e
diálogo é também, uma das grandes especificidades da Educação
Infantil. Por este motivo, o trabalho que se realiza nesse nível de ensino
é um trabalho de compartilhamentos de sentidos: “Trata-se de assumir
que o foco do trabalho na creche, principalmente no berçário, não é só o
bebê, mas a família” (GUIMARÃES, 2012, p.96).
A relação entre creche e família é bastante complexa, visto que,
ambas compartilham a responsabilidade da educação das crianças e às
vezes essa relação pode ser conflituosa: “Compartilhar com adultos o
crescimento e a educação de uma criança pequena envolve a prática de
uma dinâmica relacional complexa. A criança, como objeto comum de
cuidados e atenções, mas também de expectativas e avaliações, é fonte
de um tipo particular de experiência conflitante entre os adultos”
(BONOMI, 1998, p.161).
Esta complexa relação manifesta-se por diversos fatores, segundo
Guimarães (2012) a afetividade que existe na relação adulto-criança na
dimensão profissional é desafiadora no contexto da creche, por vezes
tem-se a impressão que as professoras estão substituindo a mãe. Em sua
pesquisa, pode perceber que existe na fala das educadoras um
152

antagonismo, uma vez que, reconhecem as especificidades que


perpassam a realidade familiar na atualidade – com grandes sobrecargas
oriundas das demandas da conjuntura própria do trabalho -, mas também
partem de uma hipótese de que as famílias não dariam conta de
acompanhar o desenvolvimento das crianças. Esse descompasso é
também reflexo das questões históricas da constituição da creche:
A creche nasce no Brasil, no final do séc. XIX e
início do séc. XX, no contexto da Abolição da
Escravatura, da Proclamação da República e da
construção de um modelo econômico capitalista,
urbano e industrial. Esta situação política e
econômica interfere diretamente na demanda por
creches no país e no funcionamento daqueles que
se instituem (GUIMARÃES, 2012, p.93).
Se hoje a creche é um direito das crianças e 1ª etapa da Educação
Básica, é resultado de conquistas de lutas provenientes de distintos
setores dos movimentos sociais. Seu surgimento é marcado pelo reflexo
de uma necessidade das famílias: quem ficará com as crianças enquanto
as famílias trabalham? Guimarães (2012) explica-nos que a creche surge
como um espaço de guarda das crianças, uma espécie de depósito: um
mal necessário.
Importante pensarmos nesse contexto histórico, tendo em vista
que, ainda hoje a ideia da creche como um mal necessário se faz
presente nas falas das famílias e não só, professores e professoras
também perpetuam esse conceito:
No cenário da formação das sociedades urbanas,
as mulheres ingressam no mercado de trabalho,
seja como empregadas domésticas ou mão de obra
nas indústrias emergentes. [...] Neste panorama, a
creche se constitui como um espaço de guarda das
crianças, depósito, e é considerada como mal
necessário, tendo em vista o trabalho feminino.
Na sociedade brasileira do início do séc. XX,
marcada pelo modelo patriarcal, o lugar ideal da
mulher é o cuidado dos filhos, e o trabalho é visto
como necessidade e, de certa forma, desvio
(GUIMARÃES, 2012, p.94, grifo no original).
Nessa conjuntura, a creche aparece como um mecanismo de
compensação social, resultado do capitalismo, substituindo uma família
“em falta”. Como um mal necessário, a creche era, sobretudo, um
instrumento de socorro para as mulheres de camadas pobres e
153

desamparadas. As que a procuravam eram aquelas que de alguma


maneira havia sido socialmente obrigadas a trabalhar: como mães
solteiras, mulheres abandonadas pelos cônjuges, mulheres casadas que
necessitavam contribuir com orçamento familiar e viúvas (VIEIRA,
1988).
Outro aspecto que reflete na contradição, antagonismo e
complexa relação que se vive entre creche-famílias é a ideia do
atendimento como benevolência: “A família é vista como necessitada e
o atendimento uma benevolência. O signo da filantropia e do
atendimento como favor atravessa a instituição até hoje, diluindo a
perspectiva do direito e da qualidade das estruturas de atendimento”
(GUIMARÃES, 2012, p.95).
Maistro (1999) também sinalizou em seu estudo a existência de
um “muro de isolamento” entre a creche e a família, que se constrói
diariamente. Ao analisar possíveis aproximações entre as duas
instituições percebeu que há um clima de distanciamento que se
caracteriza pelo silêncio: “[...] pelo “nada a reclamar” dos pais, e pelas
queixas da creche sobre a não participação das famílias, por sua pouca
permanência – deixam e buscam os filhos rapidamente, não
demonstrando interesse em saber como foi o dia deles” (MAISTRO,
1999, p.50). Por vezes, as professoras atribuíam à creche uma grande
parte da responsabilidade por tal distanciamento e a participação das
famílias acaba se reduzindo para o espaço das reuniões.
Conflitos e dificuldades de relacionamento entre professores e
famílias emergiram também nos trabalhos analisados, os diálogos entre
pais e professoras aparecem como restritos ou superficiais, tratando-se
em grande medida, de conversas focadas nos momentos de cuidado
como trocas, alimentação e sono:
Percebemos que pais e professoras interagem
com comunicações restritas, comumente sobre a
criança, sendo mais comuns trocas que tratam de
assuntos relativos aos materiais da criança,
incluindo aqui materiais de higiene e de uso
pessoal, assim como habilidades emocionais, que
tratam de como as crianças se sentem na escola.
Percebemos que há clima de cordialidade entre
os pais e as professoras (MELO, 2008, p.156).
A relação da díade professora-pais é superficial,
repleta de juízo e resistente, o que impede
estabelecer uma relação triádica harmoniosa e a
154

professora constituir-se como figura de referência


(PANTALENA, 2010, p.87).
Esse momento de entrada e saída é percebido
como um momento de conversa com as
professoras para saber como a criança está. Na
entrada as mães relatam como a criança passou a
noite e na saída as professoras registram o dia da
criança na creche. [...] Com as mães as conversas
se fazem em torno, principalmente, da
alimentação, se comeu ou não durante o dia; se
dormiu; se chorou; sobre as questões de saúde e
comportamento; e por parte das professoras os
recados rotineiros sobre feriado, ponto
facultativo, reunião etc. (CASANOVA, 2011,
p.68).
Ainda que exista, em certos casos, uma dificuldade que perpassa
o relacionamento entre a família e as professoras, como apontam as
pesquisas de Melo (2008), Pantalena (2010) e Casanova (2011),
consideramos importante ressaltar que é papel das professoras
constituírem estratégias comunicativas estabelecendo uma rede de
relacionamento harmonioso, que viabilizem conhecer melhor os bebês,
suas rotinas, suas particularidades – como gosta de dormir, comer, um
objeto pessoal como cheirinho, etc.
As professoras encontram-se no cruzamento de numerosas
relações e é uma posição que necessita um olhar sensível ao
relacionamento individual, como também ao sistema global de
comunicação no contexto da creche (CIPOLLONE, 1998).
Por este motivo, o termo pedagogia do relacionamento de
Bondioli e Mantovani (1998, p.29) parece-nos apropriado: “[...] a
pedagogia da relação é uma intervenção educativa que age sobre o
sistema de trocas sociais, utilizando-o como instrumento de
crescimento”. Por meio das trocas sociais e das relações que se
entrelaçam de forma gradual estabelecem-se o compartilhamento de um
conjunto de significados.
Uma pedagogia do relacionamento que compartilha e constrói
significados junto às famílias, estabelecendo uma relação de troca, é
fundamental na prática pedagógica com os bebês. Isso torna o adulto
porta-voz dos pequenos que ainda não falam e que precisam de alguém
que comunique e compreenda suas particularidades. Nesse sentido,
destacamos nas pesquisas analisadas excertos em que problematizam o
155

papel dos professores e da creche na relação que estabelecem com as


famílias:
Considerando o ingresso como o momento e o
movimento das primeiras semanas do bebê na
creche, não é responsabilidade da professora
adaptar a criança, mas acolhê-la, criar um
ambiente propício e ter postura favorável à
formação de novos vínculos. Também não é
responsabilidade da mãe adaptá-la, mas tornar-
lhe familiar o novo ambiente, para que se sinta
segura e confortável. Assim, professora e mãe
passam a vivenciar um momento importante e
difícil para a criança, que envolve a separação da
figura materna, o estabelecimento de novas
figuras de apego, aquisição de novos hábitos,
rotina e conhecimento de um novo ambiente
(PANTALENA, 2010, p.35).
Nas instituições de educação dos pequenos,
conhecer cada criança torna-se imprescindível
para o sucesso do processo. Porém, só conhecer
as crianças não basta quando busca-se a
educação compartilhada, que prevê a troca, a
interação entre pais e professores, o envolvimento
entre instituição educacional e familiar. E para
tanto, conhecer as famílias torna-se fundamental.
Cada qual com suas especificidades, com modos
próprios de se relacionar com o mundo, de
entender e estabelecer contato com as pessoas
que fazem parte do seu cotidiano (CASANOVA,
2011, p.38).
Aqui torna-se imprescindível registrar a
responsabilidade da creche em revelar às
famílias suas ações fundamentadas em
conhecimentos. Tanto professores quanto
familiares podem e precisam conhecer o por que,
como e para que as atividades existem dentro da
creche (CASANOVA, 2011, p.62, grifo nosso).
As professoras exercem um importante papel
junto às famílias e podem ampliar sua atuação
através da percepção das demandas de
informação e trocas das famílias (MELO, 2008,
p.158).
156

Podemos perceber por meio dos excertos destacados que em


distintos momentos, desde o mais inicial no processo da inserção das
crianças, a forma como se estabelecem as relações entre pais e a
instituição – logo os profissionais que a compõem – é importante e
merece atenção. As famílias precisam conhecer como acontecem as
práticas pedagógicas e ações educativas junto às crianças, e não só;
escutar as famílias é um importante elemento para que conheçamos
melhor os pequenos, para que se tome ciência de uma noite mal
dormida, por exemplo. O papel da creche e aquele assumido pela
professora é essencial, assim como expressam as autoras das
dissertações analisadas:
A professora estabelece-se como figura de apego
subsidiária tanto para o bebê como para a
mãe/família. Para o bebê, ela proporciona uma
base segura, promove a segurança, para
possibilitar novos vínculos, explorações e
brincadeiras. Para a mãe, é a pessoa a quem se
confia o filho (PANTALENA, 2010, p.28).
Não se trata de a escola substituir o papel
desempenhado pela família, nem de fazer o que a
família não faz. A escola realiza o papel
educacional e a família continua sendo a
principal responsável pelo cuidado da criança.
Isto não exclui a família em seu papel educativo e
a escola de seu papel de cuidador. Família e
escola são contextos importantes do
desenvolvimento de crianças pequenas na
atualidade e ambos têm responsabilidades,
cabendo às duas instâncias interações que
abranjam todos os aspectos da vida da criança e
não somente a questão da aprendizagem [...]
(MELO, 2008, p.36).
A pesquisa de Pantalena (2010) dialoga com a Teoria do Apego
de Jonh Bowlby discutindo sobre as reações dos bebês nos momentos de
“perdas temporárias ou permanentes” da figura materna, para tratar do
processo de inserção dos bebês na creche. Por esse motivo, no excerto
acima, a pesquisadora atribui à professora o papel de base segura, nesse
sentido a figura materna pode ser qualquer pessoa em que a criança
orienta seu comportamento de apego.
Os estudos dos psicanalistas John Bowlby (1989, 2002) e René
Spitz (1988) surgiram no contexto pós-guerra, trazendo a tona
157

discussões acerca da ligação materna, os quais influenciaram as críticas


entorno do ingresso das crianças em espaços de educação coletiva, como
a creche. O livro de Spitz (1988) chamado O primeiro ano de vida, traz
a afirmação da responsabilidade da díade mãe-filho. Tal
responsabilidade é atribuída à mãe, considerada a principal propulsora
da relação mãe-filho em todas as condições sociais:
[...] na primeira infância, as influências
psicológicas prejudiciais são consequência de
relações insatisfatória entre mãe e filho. Tais
relações insatisfatórias são patogênicas e podem
ser divididas em duas categorias: a) relações
inadequadas entre mãe e filho; b) relações
insuficientes entre mãe e filho. Em outras
palavras, no primeiro, [...] é devido ao fator
quantitativo, enquanto no segundo é devido um
fator qualitativo (SPITZ, 1988, p.154).
A separação das crianças e da mãe no momento da creche é
compreendida como um mal necessário, que substitui a falta da família
que não tem condições objetivas de estar com as crianças. É, portanto,
compreendida numa perspectiva de carência e fragilidade: “[...] a creche
é um “mínimo social” destinado a uma população em situação de
subordinação. Por um lado, destinada às crianças pequenas e
dependentes dos adultos e, por outro, dirigida às mulheres pobres e
trabalhadoras (GUIMARÃES, 2012, p.94)”.
Concordamos com Guimarães (2012) quando nos diz que os
avanços teóricos vêm despontando a capacidade das crianças e
sublinham a importância fundamental nas relações delas com outras
crianças, com a família e também outros adultos:
Atualmente, o avanço legal que reconhece as
instituições de Educação Infantil como direito de
todas as crianças de 0 a 5 anos, oferecida pelos
sistemas públicos de educação, coaduna-se com o
avanço teórico, na medida em que pesquisas
revelam a capacidade da criança para múltiplas
relações significativas, ou seja, sublinham a
importância da relação com pares e outros adultos
diferentes dos familiares. No entanto, os avanços
legais e discursivos não se traduzem em mudanças
nas práticas e construção de políticas que
garantam pertencimento, acolhida da cultura das
158

crianças, promoção dessa cultura (GUIMARÃES,


2012, p.93).
Mas pensar na relação das famílias com as professoras traz
implicações pedagógicas? Sem dúvidas as professoras enquanto
profissionais da educação devem pensar em todos os elementos que
envolvem essa relação, isso traz importantes implicações para as
práticas pedagógicas, como o momento da inserção das crianças, por
exemplo. Ao vivenciar a experiência de estar em um novo lugar, repleto
de pessoas e coisas diferentes, o bebê precisa de uma atenção especial
intencionalmente planejada.
Para que o ambiente da creche seja acolhedor e para que esse
processo aconteça de forma gradual e respeitosa tanto com as famílias,
como para os bebês, é necessário que as professoras planejem esse
momento e desse modo, possibilitar o máximo de âncoras sensoriais:
“[...] perceptivas de imagens e de hábitos, para que a criança se
reconheça no ambiente, sem ser bloqueada pelo excesso de discrepância
do „tudo novo‟ e para que possa, a seguir, estabelecer ativamente novos
hábitos e novas relações” (MANTOVANI; TERZI, 1998, p.178). Nas
pesquisas analisadas, também encontramos elementos para pensarmos
acerca do processo da inserção e suas implicações pedagógicas:
O bem estar da criança, quando esta se encontra
em uma instituição de EI, parece ser um fator de
extrema importância, tendo em vista que
demonstra sua segurança neste ambiente que não
lhe é familiar. Também nos parece que o sentido
de bem estar demonstra a segurança da criança
em relação ao retorno de seus pais, o que
construído gradativamente em conjunto com a
creche/escola. Entendemos que um processo de
inserção da criança e da família no ambiente
escolar, de modo que favoreça um sentimento de
continuidade casa/escola e não de rompimento,
ajuda a família e, conseqüentemente, a criança, a
estabelecer laços de segurança com o ambiente e
as pessoas do ambiente escolar (MELO, 2008,
p.160).
Ao promover a relação triádica, a professora
consegue entrar na relação mãe filho sem excluir
a mãe. O objetivo do período inicial de ingresso
não é separar, adequar ou ajustar, mas acolher,
envolver numa relação nova. A professora e a
159

creche fazem parte da tríade, o que não quer dizer


que os três têm papel ativo, mas compartilham um
espaço onde os três convivem, ninguém se
sobrepondo ao outro. Não se pensa mais sobre o
ingresso da criança, mas sobre o ingresso da
família no contexto escolar (PANTALENA, 2010,
p.48).
As atividades do período de adaptação incluem o
conhecimento do espaço da instituição (o
banheiro, o refeitório, o parque etc.);
conhecimento de atividades rotineiras, como
ouvir histórias, cantar, brincar no parque,
desenhar; conhecimento de procedimentos, como
pendurar a mochila no cabide, realizar as
refeições nos horários e maneiras estabelecidas;
conhecimento das regras e do pessoal
(professoras e outros funcionários). Para os
bebês, a rotina propicia o conhecimento do
espaço da sala, área de higiene e refeitório,
horários de refeição e sono e do pessoal,
especialmente das professoras (PANTALENA,
2010, p.16).
A área da Educação Infantil tem optado em adotar o conceito de
inserção ou inserimento, ao invés de adaptação, pois, o termo
inserimento é compreendido como uma estratégia de iniciar uma série
de relacionamentos e comunicações entre as crianças e adultos no
processo inicial de acolhida a esse novo espaço (BOVE, 2002).
Enquanto o termo adaptação diz respeito a uma condição de ajustar-se
às condições do meio social, ou seja, crianças e famílias que se adaptam
devem se enquadrar às rotinas e regras da instituição rapidamente.
De acordo com Bove (2002, p.135): “[...] a prática da inserção
baseia-se principalmente em uma ampla variedade de estratégias que
tem por objetivo encorajar o envolvimento dos pais e tem início antes
mesmo do ingresso da criança na creche ou pré-escola”.
Por este motivo, a presença de alguém que a criança seja
familiarizada durante esse processo é relevante, Bove (2002) indica-nos
que deste modo, a creche oferece às crianças um sentimento inicial de
familiaridade, que lhe proporciona segurança emocional e que
provavelmente perdurará quando os pais46 se ausentarem. Essa
estratégia oferece também as professoras uma oportunidade de

46
Ou a figura familiar.
160

conhecerem os padrões individuais de interação e os distintos modos de


relação entre as famílias e as crianças.
O processo de inserção demanda um ambiente planejado e
preparado cuidadosamente:
[...] que transmita mensagens imediatas de
acolhimento e respeito a crianças e famílias. Tais
mensagens devem traduzir-se no cuidado especial
dado ao espaço físico, nas atitudes e nos
comportamentos positivos dos professores durante
o processo, bem como na grande variedade de
respostas personalizadas às solicitações das
famílias. O principal indicador de acolhimento
que os pais podem receber é o fato de serem
convidados a passar o maior tempo possível na
creche. À medida que os pais e o professor vão
familiarizando-se entre si, também vão criando
vínculos, e a criança se beneficiará desses
vínculos cada vez mais estreitos entre professores
e pais (BOVE, 2002, p.136).
Na dissertação de Pantalena (2010) a organização do espaço
também é um importante elemento na prática pedagógica com os bebês,
sobretudo no momento de inserção das crianças nesse novo lugar. Esse
novo deve ser convidativo, um ambiente afável para que as crianças de
fato sintam-se convidadas a “estar”. Tais aspectos auxiliam para que o
processo aconteça de uma forma mais agradável para as crianças:
Organizar um ambiente convidativo ao brincar,
planejar atividades lúdicas, como o cesto de
brinquedos, e estar atento a situações propícias,
como brincar de esconder, possibilita a relação
professora-bebê e os vínculos (PANTALENA,
2010, p.103).
Contudo, não se trata apenas de um novo momento para as
crianças, mas também para as famílias que por vezes se sentem ansiosas
e inseguras. Segundo Mantovani e Terzi (1998) isso pode gerar reações
distintas nas crianças, como recusar estabelecer relações com o ambiente
e outras pessoas. Encontramos nas pesquisas analisadas, dados que
ilustram o momento de tensão:
[...] os pais vivenciam grande ansiedade ao
deixarem seus filhos em escolas de educação
infantil e que tal sentimento pode ser minimizado
161

por uma política de envolvimento de pais na


escola, criando um ambiente favorável para isto.
O fato de possibilitar aos pais sentirem-se mais
confortáveis, conhecendo mais sobre o que ocorre
na rotina, favorece a construção de uma relação
de confiança, que é sentida pelas crianças e
possibilita que elas sintam-se bem, mesmo na
ausência de seus pais (MELO, 2008, p.60).
O período de ingresso da criança em uma
instituição educacional1 é muito importante, visto
que as experiências iniciais são bastante
significativas. Os pais experimentam sentimentos
contraditórios, ansiedade e insegurança na
interação com a creche ou escola infantil
(PANTALENA, 2010, p.13).
As relações estabelecidas entre profissionais e as famílias
constrói-se gradualmente, permeada tanto por afinidades como por
contradições. Uma relação complexa e que perpassa aspectos de
diversas ordens: gênero, organização e integração de serviços para a
infância, heterogeneidade cultural, desigualdade socioeconômica,
formação das profissionais que atuam no contexto da creche, dentre
outros aspectos (MARANHÃO; SARTI, 2008).
Essa complexidade aumenta justamente por se tratar de crianças
bem pequenas, que ainda não conseguem se comunicar com a
linguagem oral, gerando ainda mais ansiedade para as famílias. Os bebês
expressam suas emoções, anseios, comunicam seus sentimentos ao
outro, por meio dos gestos, olhares, choros, balbucios, enfim, suas
diversas expressões corporais. Sendo assim, a dimensão corporal é
fundamental na ação com as crianças pequena.
Por todas essas questões, dizemos que o trabalho com os bebês
tem especificidades próprias, as quais demandam sensibilidade mediante
aos pequenos, para captar o ponto de vista das crianças que ainda não se
expressam verbalmente é necessário um esforço e posicionamento
empático47 do adulto. Casanova (2011) e Pantalena (2010) destacam em
suas pesquisas sobre alguns aspectos que envolvem a especificidade da

47
Para Bakhtin (1997) a vivência empática ou a empatia acontece sempre
externamente ao sujeito, isso significa dizer que somos afetados pelo sentimento
do outro, aquilo que o outro sente internamente e que vivemos empaticamente
com ele nos afeta, sem perder o lugar que ocupamos.
162

docência com os bebês, como por exemplo, valorizar os seus modos


comunicativos:
O trabalho com crianças pequenas dispõe de
características bem específicas, como a
valorização do toque, do olhar, das sensações, do
carinho, do colo, do aconchego, nos cuidados
com a higiene na troca de fraldas, no banho, na
alimentação, no acompanhamento direto do
adulto nas conquistas diárias de cada criança.
Significando essa parte do trabalho com as
crianças pequenas registramos a comparação da
creche ao lar em cinco das onze famílias
(CASANOVA, 2011, p.52).
Para dar voz às crianças é primordial saber como
elas se comunicam. No caso dos bebês, é pelo
choro, sorriso, apatia, interação, balbucio e
gestos. Tolher os comportamentos de apego é
tolher a possibilidade de comunicação e de
expressão de sentimentos por parte da criança.
Dar voz a elas significa acolher a sua voz
(sentimentos e idéias), compreendê-las e
responder-lhes por meio de ações com significado
para as crianças (PATALENA, 2010, p.109).
As crianças vivenciam um entrelaçamento de relações no
contexto da educação infantil, com as famílias, com as crianças, com a
comunidade e também com os distintos ambientes, que possuem efeitos
diretos e indiretos sobre elas.
Compreender qual a concepção das famílias sobre a creche
indica-nos elementos que dizem respeito à prática pedagógica e também
as possibilidades de relação creche-família. Para aproximarmos essa
relação, buscando estabelecer uma relação de compartilhamento e um
trabalho coletivo é necessário escutar o que eles têm a comunicar.
Buscamos destacar assim, excertos das pesquisas que retratam a
compreensão das famílias acerca da creche em distintos aspectos:
Os dados desta pesquisa nos mostram que, no
caso de crianças pequenas, a preocupação
central de pais se volta para aspectos de cuidado,
pois se preocupam com o bem estar físico e
emocional de seus filhos: se estão alimentados, se
estão bem fisicamente, se estão confortáveis, se
estão chorando, etc... O cuidar na faixa etária de
163

crianças de até 2 anos é um aspecto marcante.


Apesar disso, as práticas assistencialistas não
atendem à demanda da legislação da EI e ao
papel que as escolas têm na vida de crianças
pequenas (MELO, 2008, p.157, grifo nosso).
Evidencia-se aqui a creche como um lugar para
ficar, onde as necessidades básicas de
alimentação, trocas, banho e cuidados com
higiene e saúde são vivenciados rotineiramente
(CASANOVA, 2011, p.45, grifo nosso).
A creche [...] tem sua função definida em
cuidar/educar diante das regras de convívio
social e dos conteúdos significativos para cada
grupo. As famílias reconhecem as aprendizagens
e o desenvolvimento que se referem ao convívio
social, no qual a criança está exposta também no
seu ambiente familiar. O ato de andar, falar,
comer sozinha, reconhecer as partes do corpo,
bater palmas são representados e reconhecidos
pelas famílias como desenvolvimento
(CASANOVA, 2011, p.59).
É perceptível que a principal preocupação da família está voltada
para os momentos de cuidado, como sono, higiene e alimentação,
embora estes aspectos tenham se evidenciado nas pesquisas de
Casanova (2011) e Melo (2008), também encontramos elementos que
retratam a compressão da creche enquanto um lugar de aprendizagens e
também das relações sociais.
A creche não é feita somente de muros, ela se constitui das
relações que ali são estabelecidas, e nesse entrelaçamento repleto de
subjetividade que o espaço vai ganhando significado. Segundo
Maranhão e Sarti (2008) compartilhar a educação das crianças tem
implicações, pois:
[...] o encontro de famílias e profissionais que
podem ter perspectivas diferentes sobre
desenvolvimento e necessidades infantis, o que
demanda uma constante negociação entre as
partes. No entanto, é preciso considerar,
sobretudo, a perspectiva da criança, foco do
cuidado e, ao mesmo tempo, participante ativa da
relação entre sua família e os profissionais de
educação infantil (MARANHÃO; SARTI, 2008,
p.191).
164

Qual o sentido de compreender o ponto de vista das famílias? No


que o olhar do outro me altera? O olhar do outro altera meu próprio
olhar: “O seu olhar seu olhar melhora... Melhora o meu”48.
Para Bakhtin (1997) é por meio da relação, quando duas pessoas
“olham-se”, no partilhar, trocar, compartilhar valores, saberes,
sentimentos - no nosso caso, sobre a educação das crianças -, duas
realidades distintas se entrelaçam: “Quando estamos nos olhando, dois
mundos diferentes se refletem na pupila dos nossos olhos” (BAKHTIN,
1997, p.44). Conseguimos nos identificar com o outro no momento em
que consigo ver o mundo por meio dos seus sistemas de valores, tal
como ele vê, no sentido de colocar-se em seu lugar e depois voltar ao
meu próprio lugar, contemplar a perspectiva do outro a partir do lugar
em que ocupo: “[...] mediante do excedente da minha visão, de meu
saber, de meu desejo e sentimento” (BAKHTIN, 1997, p.45).
Guimarães (2012, p.88) alarga a compreensão acerca das ideias
de Bakhtin e destaca que: “[...] este autor compreende a constituição do
sujeito a partir do olhar e da ação do outro e com o outro. A linguagem é
espaço de ação social e significação, enunciação de palavra e
contrapalavra, oportunidade de cotejo de pontos de vista diferentes,
conflitos e negociações”.
A alteridade considera a diferença na relação com o outro, no
sentido de compreendê-lo numa relação de troca, sem perder o lugar que
ocupamos. Segundo Schmitt (2008) significa:
O outro em mim, como profere Bakhtin (1993) em
seus escritos, na constituição da consciência e da
linguagem, aspecto fundamental das relações
sociais e da constituição do ser humano. Ou seja,
é aquilo que, sendo de fora de mim, sendo do
outro, me atinge, me modifica, me constitui, me
completa, me diferencia, me altera, seja na
linguagem, seja nos hábitos, nos gostos, nas
palavras, na forma de brincar e nas diversas
expressões sociais. Nas relações estamos sempre
estabelecendo alteridade com o outro ser humano
ou com os objetos e produções culturais que
trazem em si a linguagem e sentidos atribuídos
socialmente (SCHMITT, 2008, p.149).
É bastante desafiador considerar a alteridade nas relações com as
famílias, afastando a ideia de julgamento de suas atitudes, de modo a

48
Música intitulada: O Seu Olhar (Arnaldo Antunes).
165

compreender os limites e as possibilidades de diálogo com elas.


Reiteramos, então, os questionamentos colocados pela autora como um
convite a reflexão: “Trata-se de experimentar a alteridade perguntando:
o que na família me altera, surpreende, desinstala? Como essa relação
provoca a instituição a rever-se?” (GUIMARÃES, 2012, p.90).
As análises indicam que a relação entre professoras e família é
permeada por conflitos e tensões, em grande medida isso se reflete no
pouco diálogo, ou diálogos restritos e superficiais, delimitando-se a
pequenas conversas em torno dos momentos do cuidado. Outra
evidencia é que a concepção das famílias acerca da creche está mais
voltada para a compreensão de um lugar onde as crianças possam “ser
cuidadas”, do que para um espaço preocupado com os processos
educativos. Embora, encontremos alguns indícios de uma compreensão
do espaço da creche como um lugar de convívio social e de
aprendizagens.
É compromisso das instituições de educação infantil construir as
relações com as famílias, que podem ser proporcionadas de muitas
formas, como encontros formais ou não, reuniões, entrevistas, festas,
estratégias de compartilhamento do cotidiano, como jornais,
informativos que contem um pouco das práticas cotidianas. Deste modo,
as famílias se sentirão parte da instituição, valorizadas e afirmadas na
sua função parental – na sua responsabilidade pela educação dos filhos.
A pluralidade de encontros propicia a constituição de laços, confiança e
sintonia. A interação das creches com as famílias é muito importante e
vem sendo pautada como um dos critérios fundamentais na avaliação de
qualidade das instituições (BARBOSA, 2010).
Todas as pesquisas reafirmam a importância das relações
estabelecidas entre as famílias e a creche, atribuindo à creche a
responsabilidade de revelar para famílias sua ação fundamentada numa
intencionalidade pedagógica. E concluem que as famílias e a creche são
contextos importantes do desenvolvimento das crianças, logo, ambas
possuem responsabilidade nesse processo, cabe, portanto, as duas
instâncias estabelecer uma relação que abarque aspectos da vida dos
bebês e das crianças pequenas, aspectos estes que perpassem as questões
entorno da aprendizagem, mas que tratem desse entrelaçamento de
relações.
Encontramos nas investigações, aspectos importantes sobre a
prática pedagógica com os bebês, sobretudo no momento de inserção.
As dissertações apontam para a necessidade de uma relação dialógica
entre creche e família, objetivando conhecer melhor as crianças, e
também, a importância de se propor esse processo de forma respeitosa e
166

gradual, tendo em vista que, não diz respeito apenas ao ingresso da


criança, mas de toda a família no contexto da creche.
Dentre as implicações pedagógicas condizentes ao processo de
inserção, destacamos: a importância de organizar um ambiente
convidativo e aconchegante, com espaços que possibilitem a criação de
vínculos entre a professora e o bebê; a importância fundamental do
planejamento; a importância de conhecer melhor as crianças, de modo, a
saber, suas particularidades, como um brinquedo ou um “cheirinho” que
seja seu objeto de referência o qual estabelece uma interlocução entre a
creche e a família.
As pesquisas evidenciam que a docência com as crianças
pequenas possui características específicas, ou usando o termo de
Tristão (2006): é uma profissão marcada pela sutileza. Nesse contexto,
a valorização do toque, do olhar, das sensações, do carinho, do colo, do
aconchego, dos momentos de cuidado com a higiene, alimentação e
sono, o banho... Que parecem sutis “pequenices” na verdade demarcam
a grande especificidade de ser professora de bebês. São sutilezas
grandiosas que imprimem marcas nas crianças, marcas de infância:
marcas na sua formação como ser humano.
Outro elemento que nos chamou atenção em uma das pesquisas é
a afirmativa: precisa-se “dar voz” para as crianças pequenas. Embora a
intenção seja no sentido de ouvir as suas múltiplas linguagens, a
expressão escutar ou auscutar parece-nos mais apropriada, pois, a
expressão “dar” remete-nos ao ato: de conceder, permitir, facultar;
numa perspectiva adultocêntrica, onde é o adulto quem tem poder de
outorgar a voz às crianças.
Concordamos com Rocha (2008) quando nos diz que é preciso
ampliar os termos ouvir ou escutar: “[...] o termo auscuta não é apenas
uma mera percepção auditiva nem simples recepção da informação –
envolve a compreensão da comunicação feita pelo outro” (ROCHA,
2008, p.45, grifo no original). Esse termo concebe que a recepção e
compreensão, principalmente na escuta das crianças pelos adultos
passará necessariamente pela interpretação do adulto. É preciso
considerar que ao ouvir as crianças, a linguagem oral não se configura
como a principal forma comunicativa, ela vem combinada com as outras
formas das crianças se expressarem, como pelas expressões faciais,
corporais, gestuais, por exemplo. Ouvir essas outras possibilidades
comunicativas é uma forma de auscuta e também um grande e
necessário desafio na pesquisa com os bebês.
167

Por fim, destacamos que é necessário um estreitamento das


relações entre as instituições e as famílias, pois, tal relação revela-se
como uma pista:
[...] de assegurar a educação nos sistemas públicos
(nas creches e pré-escolas), sem aligeirar a
consideração da experiência das crianças e da
valorização de suas culturas. Para tal, é importante
enfrentar fortes provocações: ter a família
presente sem diminuí-la, ao mesmo tempo, sem
colocar-se no lugar dela; desenvolver afetividade
complementar e não substituta nos contatos com
as crianças; abrir espaços de escuta e não só de
exposição das ideias e certezas dos profissionais,
no cotidiano da instituição (GUIMARÃES, 2012,
p.96).
As relações estabelecidas entre as professoras e as famílias são
fundamentais, pois, dividem uma preocupação em comum: a educação
das crianças, suas vivencias, seus sentimentos, sua subjetividade, seu
desenvolvimento, sua alegria, suas tristezas, etc. As professoras devem
posicionar-se empaticamente com as famílias, numa relação de
alteridade buscando compartilhar a educação dos pequenos.
168
169

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Logo pensei de escovar palavras. Porque eu havia


ouvido em algum lugar que as palavras possuem
no corpo muitas oralidades remontadas e muitas
significâncias remontadas. Eu queria então
escovar as palavras [...] Comecei a fazer isso
sentado em minha escrivaninha. Passava horas
inteiras, dias inteiros fechado no quarto,
trancado, a escovar palavras (Manoel de Barros).

A presente pesquisa partiu da formulação do problema, que no


decorrer do estudo foi se reformulando e ganhando contornos, na
medida em que os critérios para compor o corpus de análise foram se
definindo. Frente ao sugestivo aumento de estudos que tomam as
crianças na faixa etária de zero a três anos no contexto da educação
coletiva, buscamos colocar em confronto e diálogo, perspectivas de
pesquisas que assumissem o compromisso de pesquisar aspectos
relativos à educação dos bebês e crianças bem pequenas na creche.
Deste modo, definimos como objetivo de pesquisa, aprofundar os
estudos sobre as práticas pedagógicas com as crianças de 0 a 3 nos de
idade, analisando os indicativos para a docência com bebês e crianças
bem pequenas a partir da produção científica brasileira (2008 – 2011)
registada no banco de teses e dissertações da CAPES. Para além do
objetivo, outras indagações acompanharam o estudo: o que se produz
sobre as crianças de zero a três anos no contexto da creche? Quais
perspectivas teóricas que orientam as pesquisas? O que constitui a
docência/prática pedagógica com as crianças bem pequenas? A
produção científica traz implicações para a ação docente? Quais seriam
essas implicações?
Para conduzir a discussão e orientar nosso olhar, utilizamos como
referencias teóricas autoras da Educação Infantil49, cujas contribuições
nos ajudaram a pensar as relações educativas que envolvem a educação
dos bebês e crianças pequenas. A partir de uma perspectiva que busca
conhecer a educação das crianças considerando os determinantes
objetivos e subjetivos que envolvem o cotidiano das instituições de
educação infantil.

49
Tristão (2006), Guimarães (2008; 2010; 2012), Barbosa (2010), Schmitt
(2008; 2011), Coutinho (2002; 2010; 2012), entre outros.
170

Na tentativa de buscar responder as indagações iniciais,


realizamos um mapeamento da produção científica nacional que tinham
como tema a educação das crianças de zero a três anos, e, definimos
como um primeiro critério para seleção, que as investigações estivessem
situadas no contexto da creche.
No âmbito geral, a primeira busca realizada apenas com o termo
bebês ilustrou um significativo aumento no número de trabalhos que
continham como tema de pesquisa os bebês nas distintas áreas
disciplinares. Em 2008 o banco apresentava 286 trabalhos registrados,
no ano seguinte o número praticamente dobrou, totalizando 449
trabalhos. Já em 2010 o número passa a ser 457, por fim em 2011,
encontramos 490 trabalhos registrados.
Para um refinamento dos dados, elegemos algumas palavras-
chaves50, as quais possibilitaram localizar com mais rigor os trabalhos
que tinham investigado as crianças de zero a três anos no contexto
creche. Encontramos nesse primeiro momento 48 teses e dissertações,
das quais, 13 compuseram o corpus definitivo analisado.
As 13 pesquisas selecionadas contaram com uma grande
interlocução disciplinar com diferentes referenciais, e dentre eles
podemos destacar contribuições da área da Antropologia, Filosofia,
História, Psicologia e, em menor número, diálogo com a Sociologia da
Infância. Distintamente da hipótese inicial, onde suscitávamos a
possibilidade de um aumento no número de trabalhos que tomam como
pressuposto teórico a Sociologia da Infância, assim como indicado pelos
estudos recentes Buss-Simão e Rocha (2013) e Nascimento (2013),
constatamos por meio das análises que as dissertações estabeleceram um
significativo diálogo com os pressupostos da Psicologia, sobretudo, a
Psicologia do Desenvolvimento.
O diálogo disciplinar anuncia a heterogeneidade como um
elemento característico da infância: “Mesmo representando uma forte
tendência, também em termos mundiais, a perspectiva de colaboração
disciplinar para uma compreensão mais articulada dos processos sociais
e culturais que determinam a infância ainda está longe de ser
hegemônica” (ROCHA; BUSS-SIMÃO 2013, p. 948).
Análises dos movimentos da pesquisa na área possibilitam
destacar uma consolidação e um avanço significativo acerca dos
diálogos disciplinares e teóricos, numa perspectiva do que tem sido

50
Todas as palavras-chaves elencadas e suas combinações estão explicitadas no
tópico: 2.2.1 O levantamento no banco da CAPES: definindo o corpus de
análise.
171

chamada de Pedagogia da Infância: “[...] se preferirem, de uma ciência


da educação que tem como foco os processos educativos que envolvem
as crianças – com negação às análises que as tomam como indivíduos
isolados em uma abstração social e cultural” (ROCHA; BUSS-SIMÃO
2013, p. 948).
Emergiu com grande evidência perspectivas de pesquisas as quais
assumem um posicionamento metodológico que buscam se aproximar
dos pontos de vistas das crianças, considerando-as partícipes legítimas
da pesquisa. Grande parte delas tem indicado que as ferramentas
oriundas da etnografia são profícuas nas pesquisas com as crianças
pequenas: como a observação participante, recursos fílmicos e
fotográficos, por exemplo.
Quanto às metodologias adotadas nas dissertações, constatamos
que as pesquisas que tiveram como preocupação os temas relativos à
prática docente, ou relações e interações sociais das crianças pequenas e
bebês, elegeram como opção metodológica o estudo de caso e também a
etnografia – algumas denominadas por elas mesmas como sendo de
inspiração etnográfica, outras como nuances etnográficas -, com grande
foco na análise qualitativa. Encontramos dissertações denominadas
como pesquisa-ação, estudo do tipo exploratório, investigação
observacional e uma pesquisa como análise dos registros escritos
(diários e avaliações) da própria pesquisadora quando iniciou a docência
com a primeira turma de bebês (realizou uma análise crítico-reflexiva da
sua própria prática docente).
Fica evidente nas análises que para ampliar os conhecimentos
sobre as crianças demanda uma vigilância epistemológica, no sentido de
dirigir nossas análises levando em consideração as determinações
estruturais próprias da categoria infância como histórica e social,
considerando às dimensões contextuais e mantendo as crianças no
plural, para não reafirmarmos uma concepção de infância neutra, a partir
de padrões ideias (ROCHA, 2008).
A partir do corpus analisado, emergiram as categorias
provenientes das temáticas privilegiadas nas pesquisas, sendo elas: 1)
Estudos sobre a especificidade docente; 2) Estudos sobre as práticas
pedagógicas 3) Estudos sobre o desenvolvimento infantil; 4) Estudos
sobre a função social da creche e relação com as famílias.
Como resultado de pesquisa podemos destacar um primeiro
elemento que se manifesta na totalidade das dissertações, a organização
do espaço como aspecto fundamental na prática pedagógica com bebês.
Esse é um fator que pode proporcionar experiências significativas, mas
pode também limitá-las, sobretudo pela relação da onipresença das
172

professoras, que dedicam grande parte do tempo para os momentos de


atendimento individuais – o que demanda necessariamente o
planejamento de um espaço seguro que proporcione possibilidades de
explorá-lo de forma autônoma.
As pesquisas assinalam a importância da organização do espaço a
partir de um planejamento que propicie possibilidades dos bebês
manifestarem-se corporalmente e explorá-lo, pois os bebês
experimentam e exploram o ambiente com seu corpo. O planejamento
deve considerar que os bebês ainda bem pequenos, que ainda não
engatinham, precisam estabelecer relações com o grupo e com o espaço,
nesse sentido, é preciso estar sensível a este aspecto e possibilitar que
eles possam vislumbrar seu entorno por distintas perspectivas, pois, os
bebês também estabelecem uma profunda relação de alteridade por meio
do olhar.
Os espaços devem ser planejados considerando que as crianças
precisam sentir-se confortáveis, e devem também privilegiar um espaço
para quietude, para o descanso mais preservado. No espaço da creche os
bebês vivenciam por vezes suas primeiras experiências, é nesse lugar
que ensaiam seus primeiros passos, que sentam pela primeira vez, dentre
outras experiências que marcam sua subjetividade.
O espaço da sala é um lugar de vivências e de narrativas, um
lugar de encontro: onde se encontram sorrisos, olhares, movimento, o
toque. Esse espaço se constitui a partir das relações que ali são
estabelecidas, que o vão significando, imprimindo marcas de histórias,
um lugar de vida, de cor, de movimento, um lugar de viver a infância.
As professoras devem pensar em lugares acolhedores e hospitaleiros,
que enamorem os bebês, que os convide a explorá-lo, propiciando
encontros entre eles mesmos, privilegiando também as interações.
Na categoria estudos sobre a especificidade docente os dados
reafirmam que ser professora de bebês possui especificidades próprias
para essa faixa etária, que se caracteriza principalmente pelas ações que
envolvem os momentos de alimentação, higiene e sono, entre outros,
que constitue as dimensões educativas, logo, a docência é marcada pelas
relações, interações humanas, pelo compartilhamento de experiências.
A categoria tempo é também um aspecto que constitui a docência
com bebês, as dissertações assinalam que este é um elemento a ser
considerado no planejamento, tendo em vista que, o tempo das crianças
não se configura com a mesma linearidade do tempo que dita o
compasso da sociedade. Elas possuem ritmos próprios, que precisam ser
respeitados, ainda que desafie a rotina institucionalizada. Nesse sentido,
o planejamento exerce um papel fundamental, ele é um importante
173

instrumento de trabalho e configura-se como elemento que confere


intencionalidade ao trabalho junto às crianças. Portanto, é necessário
pensar o tempo, o espaço, as relações educativas, as experiências que
serão propiciadas as crianças, a partir do planejamento. Não só o
planejamento, mas toda a documentação pedagógica, o que implica
registrar e observar as vivências das crianças, a dinâmica do grupo e
seus indicativos – que trazem pistas para pensar o próprio planejamento.
Registrar com um olhar sensível as vivências das crianças é importante
para qualificar a prática pedagógica e conhecer seus pontos de vistas,
considerando a sua participação efetiva de forma respeitosa.
Ainda no âmbito da categoria sobre a especificidade docente,
consideramos como um dado significativo a questão da docência
compartilhada. Algumas das investigações corroboram que, ser
professora de bebês, requer compartilhar a responsabilidade, tanto com
as professoras – ter mais de uma professora51 na sala é o que distingue
também a educação infantil das demais etapas da educação básica –,
como também com toda a comunidade e, sobretudo, com as famílias.
Duarte (2011) define o compartilhamento da responsabilidade da
educação das crianças como docência partilhada, contudo, se partirmos
do sentido semântico da palavra partilha, pressupõe repartição ou ato de
dividir. E, compartilhar a docência não se trata de delegar
responsabilidades, mas uma relação de parceria. Por este motivo
sugerimos a o termo docência compartilhada, pois, trata-se de uma
relação permeada de parceria que implica uma troca dialógica, dividir,
compartilhar, é estar em relação. As professoras devem, por sua vez,
estabelecer estratégias comunicativas e uma rede de relacionamento, de
trocas, que viabilize conhecer melhor os bebês, suas particularidades,
suas rotinas – como gosta de dormir, comer, um objeto pessoal, por
exemplo.
Portanto, a relação de troca é fundamental na prática pedagógica
com bebês, o adulto torna-se o porta-voz dos pequenos, que ainda não
falam e precisam de alguém que comunique e compreenda suas
particularidades, compartilhar a responsabilidade da educação dos bebês
e crianças pequenas é fundamental na educação infantil.
Na categoria estudos sobre as práticas pedagógicas surgem
elementos que contribuem para pensarmos indicações para a própria
prática, mas, sobretudo, assinalam e reafirmam a potencialidade dos
bebês, chamando a atenção para a importância do esforço dos
pesquisadores em buscar compreender e legitimar os seus pontos de
51
Assim como assinalam Mantovani e Perani (1999).
174

vistas, principalmente, a partir das suas múltiplas linguagens: o corpo, o


choro, o sorriso, o balbucio, olhares, etc.
Os dados apontam para a relevância de planejamentos que
privilegiem vivências onde as crianças possam experimentar e descobrir
qualidades do mundo artístico, ou seja, as múltiplas linguagens, como
músicas, pinturas, esculturas, literatura infantil, enfim, contato com
acervo cultural e artístico. Trata-se de propostas pedagógicas
comprometidas em promover uma educação preocupada com todas as
dimensões do humano. As pesquisas indicam a importância fundamental
da documentação pedagógica nesse processo, sobretudo, um
planejamento que abarque todas as especificidades do trabalho com
crianças de zero a três anos de idade.
Outro dado relevante desta pesquisa referente às categorias
estudos sobre as práticas pedagógicas e desenvolvimento infantil é a
linguagem, esse aspecto aparece como dimensão especial na docência
com bebês. Tanto a linguagem do adulto, como aquele que vai
significando a realidade social às crianças; como a linguagem própria
dos bebês, que usam estratégias comunicacionais, com o seu corpo.
Incluímos aqui ainda, as linguagens artísticas e musicais que perpassam
as propostas pedagógicas no contexto da creche.
Na educação infantil devemos estar atentos à linguagem do
adulto, a entonação e todas as marcas dessa linguagem. As professoras
enquanto seres de linguagem, também causam marcas com suas
palavras, é a linguagem que nos constituem enquanto seres sociais. Os
bebês interessam-se pela voz do outro, processo este, que é fundamental
para que os bebês aceitem o convite a participar do cotidiano das
instituições de educação infantil.
Já quanto à linguagem dos bebês aparecem como estratégias
comunicacionais, quando os bebês lançam mão do corpo para comunicar
o que ainda não conseguem expressar com a linguagem oral, por meio
de olhares, gestos, choros, sorrisos – suas diversas expressões corporais.
Por esse motivo a corporeidade é fundamental na ação com os bebês e
crianças pequenas, é por meio do corpo que os bebês incialmente se
comunicam e descobrem o mundo.
Esses aspectos explicitam que a docência com bebês é marcada
por sutilezas52. Sutilezas das palavras e suas entonações, que carregam o
corpo e as manifestações de valor. Sutilezas de olhar com sensibilidade
para os bebês, enquanto um ser humano que merece ter suas
reinvindicações consideradas – sejam elas por um choro, um olhar, um
52
Como já sinalizado por Tristão (2006).
175

sorriso ou um gesto que indica um desejo, contentamento, insatisfação...


Uma docência de sutilezas compreende as implicações da entonação da
voz e do toque. São sutilezas que respeitam o tempo das crianças – o
tempo da experiência –, e os seus ritmos próprios, que não concebe o
cuidado como mera ação mecânica, mas como respostas que damos aos
bebês mediante as suas manifestações.
Na relação com os bebês é preciso assumir uma posição de
empatia, na busca de compreendê-los com um olhar sensível mediante
as suas formas de comunicar. Segundo Bakhtin (1997) a empatia
significa sermos afetados pelo sentimento do outro, sem perdermos
nosso próprio lugar. É colocar-me em seu lugar, procurar sentir o mundo
tal qual o outro, sem perder a posição que ocupo.
Que as professoras de bebês possam, portanto, entrar numa
relação de empatia com os bebês, colocando-se no seu lugar, “sentindo
empaticamente” com ele, ou seja, estar sensível às suas manifestações,
aos seus desejos, considerando sua participação no cotidiano da creche.
Como resultado podemos também destacar os elementos
referentes à categoria estudos sobre o desenvolvimento infantil a grande
predominância de pesquisas, ainda que de distintas perspectivas
teóricas, que se dedicaram a estudar aspectos ligados ao
desenvolvimento das crianças de zero a três anos, e, em menor número,
estudos que tenham como foco de preocupação a própria prática
pedagógica. De acordo com Ferreira (2000) a tradição científica tem
tomado a criança como objeto de estudo principalmente pelo viés da
Medicina e da Psicologia, o que acarretou numa compreensão das
crianças como homogêneas, concebidas a partir de um padrão de
desenvolvimento.
O desenvolvimento infantil passou a ser classificado em etapas
evolutivas, e a criança cada vez mais privilegiada como um objeto de
estudo. Aplicam-se observações dos comportamentos exteriores da
criança, com o potencial de revelar a sua interioridade, são os fatores
psicológicos “passiveis de serem observados”, classificados e
mensurados que determinam o que as crianças conseguem fazer em
determinadas idades (FERREIRA, 2000). Essa marca histórica revela-se
também nos estudos analisados, ainda que, em vários momentos as
pesquisadoras teçam argumentos para explicitar que não existe uma
linearidade no desenvolvimento das crianças, ainda sim há uma busca
por certo padrão de desenvolvimento infantil, buscam-se respostas para
as questões que dizem respeito aos processos educativos no contexto da
creche no desenvolvimento das crianças.
176

É importante ponderamos que, com a imposição do padrão de


normalidade cria-se uma necessidade de medir o desenvolvimento das
crianças, e nessa conjuntura, as crianças bem pequenas, sobretudo os
bebês, que ainda não falam ficam submetidos a enquadramentos do
desenvolvimento. É fato que, as professoras e todo o contexto da
educação infantil influem no desenvolvimento das crianças e conhece-lo
é importante, contudo é necessário problematizar a forma de conceber o
desenvolvimento. De acordo com Jobim e Souza (1996) a psicologia do
desenvolvimento legitima a constituição de conceitos e teorias a partir
dos aspectos evolutivos com objetivo de regular o comportamento
humano, o que gera também consequências na subjetividade e nos
processos de formação humana. Uma vez que, os consumos dos
conceitos realizam-se pela sociedade por meio dos discursos, que,
influenciam no comportamento das crianças, conformando os modos de
ser de acordo com as expectativas do outro.
O discurso é permeado pelas relações de poder, assim como
assinala Fairclough (2008), e contribui para reproduzir conceitos e
padrões na sociedade, ou seja, identidades sociais, sistemas de
conhecimento, relações e crenças sociais, contudo, o discurso pode
também ser um mecanismo de transformação. Nesse sentido
questionamos: o que a pesquisa em educação infantil – logo, uma
manifestação de discurso – tem contribuído para pensarmos a educação
das crianças bem pequenas e os bebês no contexto da creche?
As dissertações que compuseram essa categoria apontaram para
as ações que envolvem o cotidiano – como os momentos de higiene,
sono e alimentação como uma característica que demarca a docência
com bebês – e, um dado significativo que nos chama atenção é o brincar
como subterfúgio nos momentos de rotina da creche. As pesquisas
indicam que as brincadeiras dos bebês aparecem como uma
possibilidade de distração, como nos momentos de higiene, alimentação
e sono, para dar conta das demandas rotineiras e, apesar do rigor que
demarca a rotina da creche os bebês conseguem colocar suas produções
em cena, quando exploram o ambiente com seu corpo, quando buscam
estabelecer relações entre pares, o que reafirma sua potencialidade.
Compreendemos que é importante que se invista numa relação de
atenção recíproca53 onde os bebês participam de todos os processos que
lhe dizem respeito, como nos momentos de higiene, sem que sejam
“distraídos”. O momento da troca é de intenso contato corporal, uma
relação afável, que endossa marcas ao corpo dos bebês. Os bebês e as
53
Haversi (2011).
177

crianças pequenas também devem ser concebidos enquanto


protagonistas das ações, a partir da sua competência social. Trata-se de
considerar que as crianças devem, podem e merecem participar dos
processos que abarcam o cotidiano da educação infantil, descontruindo
uma perspectiva adultocentrica.
No âmbito das pesquisas que compuseram a categoria estudos da
função social da creche e relação com as famílias, as análises indicam-
nos que as relações constituídas entre as professoras e a família são
permeadas de tensões e conflitos, que se reflete em diálogos restritos e
superficiais, limitados a pequenas conversas acerca dos momentos que
envolvem o cuidado. A concepção das famílias sobre a creche que se
manifesta nas investigações está voltada mais para a compreensão da
creche enquanto um lugar onde as crianças possam “ser cuidadas”, do
que para um espaço comprometido com os processos educativos.
Contudo, ainda localizamos alguns indicativos de uma compreensão da
creche enquanto um lugar de convívio social e de aprendizagens.
Todas as dissertações reafirmam a importância das relações entre
as famílias e professoras, atribuindo à creche a responsabilidade de
demonstrar para as famílias sua ação fundamentada numa
intencionalidade pedagógica. Tanto as famílias como a creche são
importantes contextos para o desenvolvimento pleno das crianças,
ambas possuem uma importante responsabilidade nesse processo,
portanto, precisam estabelecer uma relação de parceria, preocupada com
aspectos da vida das crianças e que perpassam o entrelaçamento de
relações que compõe esse espaço, por isso, a docência compartilhada.
Algumas pesquisas que compuseram essa categoria indicam que
o processo de inserção é um importante aspecto da prática pedagógica e
a sua organização enquanto uma ação fundamental. Esse processo deve
ser gradual e respeitoso, pois, as crianças vão se conhecendo e
gradativamente se reconhecendo nesse espaço. Nessa conjuntura a
presença da figura familiar, à qual a criança tenha vínculos, é importante
para que aceite positivamente esse novo lugar, e, possam estabelecer
novas relações.
Os bebês, ao inserir-se nesse novo espaço, precisam sentir-se
convidados a participar das novas relações que se constituem ali,
sentirem-se convidados a “estar”, por este motivo, acreditamos que o
espaço da creche deve ser hospitaleiro: acolhendo e recebendo com
carinho e sensibilidade. Ademais, esse “convite” acolhedor, deve estar
presente na organização e privilegiado no planejamento cotidianamente.
Estudos que se caracterizam como análise de produção são
importantes justamente para evidenciar na produção de conhecimento
178

quais as tendências das pesquisados e também, sinalizar possíveis


lacunas e questões que precisam de atenção. A produção de pesquisa é
uma contribuição para a construção coletiva do conhecimento, todavia,
ao escolher um tema é necessário questionar sua relevância, nessa
perspectiva, a análise de produção ajuda-nos evidenciando também um
panorama da produção nacional. Consideramos relevante salientar aqui,
a importância da consolidação dos grupos de pesquisas na produção
coletiva de conhecimento, tendo em vista que, as análises sugeriram
uma falta de articulação de algumas pesquisas com grupos da área. Um
grupo de pesquisa define-se na coletividade, como um conjunto de
estudos que se organizam e completam-se, a fim de realizar diálogos e
confrontos na construção do conhecimento.
Um dado significativo que emergiu nas análises é sobre o número
significativo de pesquisas que se preocuparam estudar o
desenvolvimento infantil a partir dos contributos da Psicologia,
enquanto as pesquisas que se detiveram a estudar as práticas
pedagógicas com crianças de 0 a 3 anos aparecem em menor número.
Por este motivo, ressaltamos a necessidade de que se realizem estudos
que tomem como objeto central de preocupação a própria prática
pedagógica, e as relações educativas que envolvem o cotidiano da
creche. Fica aqui a sugestões para futuras pesquisas situadas na área da
educação, que estejam preocupadas com a ação central das professoras:
as práticas pedagógicas no contexto da educação infantil.
Por fim, consideramos importante refletir criticamente acerca dos
procedimentos metodológicos que objetivam apreender as lógicas
infantis, interrogando a lógica adulta e colocando em diálogo os
distintos pontos de vista, num esforço de compreender as diferentes
formas de ser criança e de viver a infância na conjuntura da educação
infantil. Realizar pesquisas com as crianças de zero a três anos mostra-se
desafiador e exige um compromisso ético dos pesquisadores, como um
esforço de compreendê-las nas suas muitas formas de se expressar,
principalmente, lançando um olhar para elas na sua potencialidade.
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191

ANEXOS
192

ANEXO A - LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO BANCO DA


CAPES: TESES E DISSERTAÇÕES (POR ANO E PALAVRAS-
CHAVE)

Busca CAPES 2008: bebês e educação infantil.


BASE DE DADOS CAPES
PALAVRAS- Bebês, educação infantil.
CHAVE
ANO PESQUISADO 2008
QUANTIDADE DE 12
TRABALHOS
TRABALHOS Dissertações Teses
SELECIONADOS 6 1
Autor/a Título Área/ Nível/
Instituição
01 MELO, A Relação Entre Pais e Educação/ Mestrado –
Alessandra Sarkis Professores de Bebês: uma UFRJ
de análise da natureza de seus
encontros diários
02 GIRALDI, Ana A prática da professora no Educação/Mestrado
Vani cotidiano de uma creche: que - UNIVALI
prática é essa?
03 STIFFT, Kelly A construção do conhecimento Educação/ Doutorado
musical no bebê: um olhar a – UFRGS
partir das suas relações
interpessoais
04 BIANCHINI, Práticas Educativas em Educação/ Mestrado –
Luciane berçários: o papel da imitação UEL
Guimarães B. no desenvolvimento e suas
implicações
05 VITAL, Maria Programa de capacitação de Educação Especial/
Lucia Naime estudantes de psicologia para Mestrado – UFSCar
Vidal. promoção do desenvolvimento
de bebês de risco
06 SOUZA, Nelly Concepções de educadoras de Educação/ Mestrado –
Narcizo de. creche sobre o UFPR
desenvolvimento da criança na
faixa etária de zero a três anos
07 SCHMITT, Mas eu não falo a língua Educação/ Mestrado –
Rosinete Valdeci deles! As relações sociais de UFSC
bebês num contexto de
educação infantil
TOTAL DE TRABALHOS SELECIONADOS: 07 trabalhos
193

Busca CAPES 2008: Zero a três, educação infantil.


BASE DE DADOS CAPES
PALAVRAS-CHAVE Zero a três (0 a 3), educação infantil.
ANO PESQUISADO 2008
QUANTIDADE DE 13
TRABALHOS
TRABALHOS Dissertações Teses
SELECIONADOS 03 01
Autor/a Título Área/ Nível/
Instituição
01 SOEJIMA, Atenção e Estimulação precoce Educação/
Carolina Santos relacionadas ao desenvolvimento da Doutorado –
Soejima. criança de zero a três anos de idade UFPR
no ambiente da creche
02 SILVA, Janaina Práticas educativas: a relação entre Educação
Cassiano. cuidar e educar e a promoção do Escolar/
desenvolvimento infantil à luz da Mestrado –
psicologia histórico-cultural UNESP
03 FERREIRA, Política Pública de creche: entre as Educação /
Márcia Satomi leis e a realidade Mestrado –
Tsud UNESP
04 TONINATO, Formação identitária de docentes da Educação/
Tatiane Dalpério. Educação Infantil Mestrado –
UNESP
TOTAL DE TRABALHOS SELECIONADOS: 04 trabalhos
194

Busca CAPES 2008: berçário, educação infantil.


BASE DE DADOS CAPES
PALAVRAS-CHAVE Berçário, educação infantil.
ANO PESQUISADO 2008
QUANTIDADE DE 05
TRABALHOS
TRABALHOS Dissertações Teses
SELECIONADOS 02 00
Autor/a Título Área/ Nível/
Instituição
01 TRAI, Micheline Experiências de movimento na Mestrado/
Cristina. educação infantil: um estudo com as Educação –
professoras do município de Corupá UNIVALI

02 RODRIGUES, Expressividade e Emoções na Mestrado/


Sílvia Adriana.
primeira infância: um estudo sobre a Educação –
interação criança-criança na UNESP
perspectiva walloniana
TOTAL DE TRABALHOS SELECIONADOS: 02 trabalhos

Busca CAPES 2008: Berçário, creche.


BASE DE DADOS CAPES
PALAVRAS-CHAVE Berçário, creche.
ANO PESQUISADO 2008
QUANTIDADE DE 04
TRABALHOS
Dissertações Teses
TRABALHOS 00 01
SELECIONADOS

Autor/a Título Área/ Nível/


Instituição
01 GUIMARÃES, Relações entre adultos e crianças no Educação/
Daniela de berçário de uma creche pública na Doutorado –
Oliveira. Cidade do Rio de Janeiro: técnicas UFRJ
corporais, responsividade, cuidado.
TOTAL DE TRABALHOS SELECIONADOS: 01 trabalho
195

Busca CAPES 2009: bebês, educação infantil.


BASE DE DADOS CAPES
PALAVRAS- Bebês, educação infantil.
CHAVE
ANO PESQUISADO 2009
QUANTIDADE DE 07
TRABALHOS
TRABALHOS Dissertações Teses
SELECIONADOS 02 00
Autor/a Título Área/ Nível/
Instituição
01 BROOK, A Abordagem PONTES naMestrado/
Angelita Maria musicalização para crianças entre 0 e
Música –
Vander. 2 anos de idade UFBA
02 NEOFITI, Cintia Educação para a vigilância do Mestrado/
Cristina. desenvolvimento infantil: Programa Educação
de capacitação virtual e presencialEspecial –
para educadores e professores de UFSCar
creche
TOTAL DE TRABALHOS SELECIONADOS: 02 trabalhos
196

Busca CAPES 2009: zero a três (0 a 3), educação infantil.


BASE DE DADOS CAPES
PALAVRAS-CHAVE Zero a três (0 a 3), educação
infantil.
ANO PESQUISADO 2009
QUANTIDADE DE TRABALHOS 07
TRABALHOS SELECIONADOS Dissertações Teses
02 00
Autor/a Título Área/
Nível/
Instituição
01 CURADO, Os saberes docentes dos Mestrado/
Márcia Helena professores de educação Educação –
Santos. infantil no trabalho com PUC Goiás
as crianças de zero (00)
a três (03) anos sob a
perspectiva histórico-
cultural: um estudo na
rede municipal de
educação de Goiânia
02 NASCIMENTO, Cuidar e educar: Mestrado/
Sandra Jeronimo concepções de Educação –
do. professoras de um USP
Centro de Educação
Infantil na cidade de São
Paulo
TOTAL DE TRABALHOS SELECIONADOS: 02 trabalhos
197

Busca CAPES 2010: bebês, educação infantil.


BASE DE DADOS CAPES
PALAVRAS-CHAVE Bebês, educação infantil.
ANO PESQUISADO 2010
QUANTIDADE DE 11
TRABALHOS
TRABALHOS Dissertações Teses
SELECIONADOS 04 01
Autor/a Título Área/ Nível/
Instituição
01 CONTI, Clícia O papel do outro na constituição Educação/
Assumpção do psiquismo: um tema e duas Doutorado –
Martarello de. abordagens em dialogia UNIMEP
02 PANTALENA, O ingresso da criança na creche e Educação/
Eliane Sukerth. os vínculos iniciais. Mestrado – USP
03 CERA, Fernanda A convivência nos ceis: Educação/
Seara. implicações para o Mestrado –
desenvolvimento dos bebês e das UNIVALI
crianças pequenas

04 SIMIANO, Luciane Meu quintal é maior que o Educação/


Pandini. mundo...Da configuração do Mestrado –
espaço da creche à constituição UNISUL
de um lugar dos bebês
05 SILVA, Viviane Análise da implantação de um Educação
Aparecida da. currículo para a educação infantil (Currículo)/
do Centro Social Marista Mestrado – PUC
Itaquera: desafios e perspectivas –SP
TOTAL DE TRABALHOS SELECIONADOS: 05 trabalhos
198

Busca CAPES 2010: zero a três (0 a 3), educação infantil.


BASE DE DADOS CAPES
PALAVRAS-CHAVE Zero a três (0 a 3), educação infantil
ANO PESQUISADO 2010
QUANTIDADE DE 03
TRABALHOS
TRABALHOS Dissertações Teses
SELECIONADOS 00 01
Autor/a Título Área/ Nível/
Instituição
01 SARTI, Hilda Da teoria à prática: os saberes Educação
Lúcia Cerminaro. das professoras de crianças de (Currículo)/
zero a três anos Doutorado – PUC-
SP
TOTAL DE TRABALHOS SELECIONADOS: 01 trabalho

Busca CAPES 2010: berçário, educação infantil.


BASE DE DADOS CAPES
PALAVRAS-CHAVE Berçário, educação infantil.
ANO PESQUISADO 2010
QUANTIDADE DE 03
TRABALHOS
TRABALHOS Dissertações Teses
SELECIONADOS 02 01
Autor/a Título Área/ Nível/
Instituição
01 MATOS, Maria Concepções de mães e educadoras Psicologia/
dos Remedios sobre desenvolvimento infantil Mestrado –
Almeida. UFPB
02 CALLIL, Maria
Formar e formar-se no berçário: um Educação/
Rosária Silva. projeto de desenvolvimento Mestrado –
profissional no contexto de um USP
Centro de Educação Infantil
03 RAMOS, Tacyana A criança em interação social no Educação/
Karla Gomes berçário da creche e suas interfaces Doutorado –
Ramos. com a organização do ambiente UFPE
pedagógico

TOTAL DE TRABALHOS SELECIONADOS: 01 trabalho


199

Busca CAPES 2011: bebês, educação infantil.


BASE DE DADOS CAPES
PALAVRAS-CHAVE Bebês, educação infantil.
ANO PESQUISADO 2011
QUANTIDADE DE 16
TRABALHOS
TRABALHOS Dissertações Teses
SELECIONADOS 12 04
Autor/a Título Área/ Nível/
Instituição
01 URRA, Flávio. Concepção de creche em revistas Psicologia
brasileiras de pediatria: uma (Psicologia
interpretação a partir da Social)/
ideologia Mestrado – PUC-
SP
02 FERRAZ, Beatriz Bebês e crianças pequenas em Educação/
Mangione instituições coletivas de Doutorado – USP
Sampaio. acolhimento e educação:
representações de educação em
creches
03 GOBBATO, “Os bebês estão por todos os Educação/
Carolina. espaços”: Dos bebês na sala do Mestrado –
berçário aos bebês nos contextos UFRGS
de vida coletiva da escola infantil
04 CARONI, Cybelle. Como é ser professor de crianças Educação/
de 1 a 2 anos?: um olhar crítico- Mestrado – PUC-
reflexivo sobre uma realidade RS
vivida
05 DUARTE, Professoras de bebês: as Educação/
Fabiane. dimensões educativas que Mestrado –
constituem a especificidade da UFSC
ação docente
06 MAGALHÃES, Análise do desenvolvimento daEducação
Giselle Mode. atividade da criança em seu Escolar/
primeiro ano de vida. Mestrado –
UNESP
07 CASTRO, Joselma A constituição da linguagem e as Educação/
Salazar de. estratégias de comunicação dos e Mestrado –
entres bebês no contexto coletivo UFSC
da educação infantil
200

08 ZUCOLOTO, Karla Educação infantil em creches - Educação/


Aparecida. uma experiência com a escala Doutorado –
ITERS-R USP

09 SECANECHIA, Uma interpretação à luz da Psicologia


Lourdes Pereira de ideologia de discursos sobre o (Psicologia
Queiroz. bebê e a creche captados em Social)/
cursos de Pedagogia da cidade Mestrado –
de São Paulo. PUC-SP
10 LOMBARDI, Lucia Formação corporal de Educação/
Maria Salgado dos professoras de bebês: Doutorado –
Santos. contribuições da Pedagogia do USP
Teatro
11 FERNANDES, Bebê e criança pequena: imagens Educação/
Marisa Zanoni. e lugar nos projetos pedagógicos Doutorado –
de instituições públicas de UFPR
educação infantil
12 GUIMARAERS, Encontros, cantigas, Educação/
Rosele Martins. brincadeiras, leituras: Um estudo Mestrado –
acerca das interações dos bebês, UFRGS
as crianças bem pequenas com o
objeto livro numa turma de
berçário
13 FERNANDES, A escuta e as palavras nos anos Educação/
Simoni Antunes. iniciais da vida: diálogos entre os Mestrado –
bebês, a psicanálise e a educação UNIJUÍ
infantil
TOTAL DE TRABALHOS SELECIONADOS: 13 trabalhos
201

Busca CAPES 2011: Zero a três (0 a 3), educação infantil.


BASE DE DADOS CAPES
PALAVRAS- Zero a três (0 a 3), educação infantil.
CHAVE
ANO 2011
PESQUISADO
QUANTIDADE DE 07
TRABALHOS
Dissertações Teses
TRABALHOS 01 03
SELECIONADOS

Autor/a Título Área/ Nível/


Instituição
01 AMORIM, Ana SOBRE EDUCAR NA CRECHE: é Educação/
Luísa Nogueira
possível pensar em currículo para Doutorado –
de. crianças de zero a três anos? UFPB
02 LIMA, EneideEducriança: vivências educativas Educação
Maria Moreira
de crianças e suas mães - um (Psicologia
De. estudo sobre o olhar das mães no Educacional)/
tempo de experiência de um Mestrado – PUC-
programa de educação da infância. SP
03 GAGLIARDI, A relação entre mãe e professora Educação/
Márcia. na creche – um estudo de caso Doutorado –
sobre a constituição da UNIMEP
profissionalidade docente
TOTAL DE TRABALHOS SELECIONADOS: 03 trabalhos
202

Busca CAPES 2011: berçário, educação infantil.


BASE DE DADOS CAPES
PALAVRAS-CHAVE Berçário, educação infantil.
ANO PESQUISADO 2011
QUANTIDADE DE 09
TRABALHOS
TRABALHOS Dissertações Teses
SELECIONADOS 02 01
Autor/a Título Área/ Nível/
Instituição
01 MOREIRA, Ana Ambientes da infância e a Educação/
Rosa Costa Picanço. formação do educador: arranjo Doutorado –
espacial no berçário UERJ
02 CASANOVA, O que as crianças pequenas Educação/
Letícia Veiga. fazem na creche? As famílias Mestrado –
respondem UNIVALI
03 PEREIRA, Rachel As crianças bem pequenas na Educação/
Freitas. produção de suas culturas Mestrado –
UFRGS
TOTAL DE TRABALHOS SELECIONADOS: 03 trabalhos

Busca CAPES 2011: berçário, creche.


BASE DE DADOS CAPES
PALAVRAS-CHAVE Berçário, creche.
ANO PESQUISADO 07
QUANTIDADE DE 09
TRABALHOS
Dissertações Teses
TRABALHOS 01 01
SELECIONADOS

Autor/a Título Área/ Nível/ Instituição


01 GRANA, Um estudo exploratório: Educação/ Mestrado –
Katiuska Marcela. a interação sócioafetiva UNICAMP
entre bêbes
02 BIRCHAL, Paula Exploração lúdica e Psicologia Escolar e do
de Souza. afetividade em crianças Desenvolvimento/
de creche Doutorado – USP
TOTAL DE TRABALHOS SELECIONADOS: 02 trabalhos

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