REVISTA SUSTENTAREA EDICAO 11 Set2021
REVISTA SUSTENTAREA EDICAO 11 Set2021
REVISTA SUSTENTAREA EDICAO 11 Set2021
REVISTA
EDITOR
Alisson Diego Machado
COORDENADORAS - SUSTENTAREA
Aline Martins de Carvalho | Dirce Maria Lobo Marchioni
REVISÃO FINAL
Aline Martins de Carvalho | Alisson Diego Machado | Dirce Maria Lobo Marchioni
ENDEREÇO CONTATO
NACE Sustentarea [email protected]
Departamento de Nutrição www.fsp.usp.br/revistasustentarea
Faculdade de Saúde Pública da USP @sustentarea
Avenida Dr. Arnaldo, 715, Pacaembu
São Paulo-SP, CEP 01246-904
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EDITORIAL
Sindemia Global:
do que estamos falando?
ALISSON DIEGO MACHADO
Apesar de ser um termo novo, a Sindemia Global diz respeito a condições que têm
aumentado em prevalência e gravidade nas últimas décadas - as pandemias de
desnutrição, obesidade e mudanças climáticas. Neste número apresentamos o significado
do termo e qual é a sua relação com a insustentabilidade dos sistemas alimentares atuais,
além de maneiras de enfrentar esse problema.
Para começar, apresentamos o papel da agricultura urbana na Segurança Alimentar e
Nutricional. Você também vai encontrar uma entrevista com Hans Dieter Temp, o
fundador da Cidades Sem Fome, uma organização não governamental que promove a
agricultura sustentável na Zona Leste de São Paulo. Falando em projetos, trouxemos a
história de sucesso da campanha “Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome”, que
surgiu como resposta à escalada da insegurança alimentar no Brasil.
Ainda, mostramos também a importância de ações individuais para o enfrentamento das
três pandemias, seja pela redução do impacto ambiental das nossas escolhas alimentares,
seja pela melhoria da alimentação do ponto de vista nutricional.
A Sindemia é um problema complexo e, portanto, seu enfrentamento é igualmente
complexo, demandando esforço de toda a sociedade. Vamos juntos?
Imagem: Reprodução/Canva
Imagem: Reprodução/Canva
32 PARA ASSISTIR
Seaspiracy
20 DICA DO SUSTENTAREA
Como reduzir o consumo de
alimentos ultraprocessados?
22 HISTÓRIA DE SUCESSO
Comida é direito humano: gente é
pra brilhar, não pra morrer de fome
Imagem: Reprodução/Canva
26 IMAGEM
27 ENTREVISTA
36 PARA CONHECER
Cidades Sem Fome: hortas urbanas 5 projetos que atuam no combate à
em favor da cidadania fome
37 CALENDÁRIO
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38 BIBLIOGRAFIA
41 AUTORES
ALIMENTAÇÃO SUSTENTÁVEL
Imagem: Reprodução/Canva
A Segurança Alimentar e Nutricional crescente prevalência de insegurança
(SAN) consiste na garantia do acesso a alimentar pedem estratégias como o
alimentos de forma regular, permanente, manejo ecológico dos recursos naturais
de qualidade e em quantidade adequadas, por meio de ação social coletiva, capazes
a partir de práticas alimentares que sejam de promover a ampliação do acesso e
ambiental, cultural, econômica e melhoria da qualidade dos alimentos e dos
socialmente aceitáveis e sustentáveis, de hábitos alimentares, como é o caso da
forma a assegurar o Direito Humano à Agricultura Urbana e Periurbana (AUP).
Alimentação Adequada. A AUP refere-se à produção de alimentos
No Brasil, a intensa vinda de pessoas do dentro das cidades. É uma prática que
campo para a cidade e a rápida relaciona produção, processamento,
industrialização nas últimas décadas comercialização, distribuição e acesso a
mudaram o perfil demográfico e alimentar produtos agrícolas. Dentro dessa prática
da população urbana. A superpopulação estão inseridas as hortas urbanas, também
das cidades tornou-se um fator de ameaça chamadas de hortas comunitárias, que são
para a garantia da SAN, pois prejudicou o parcelas de terreno nos espaços urbano e
fornecimento adequado de alimentos e o periurbano, destinadas majoritariamente
cuidado com a natureza. A urbanização e a à produção de hortaliças, divididas em
das Corujas, a Horta do Ciclista, o Hortão A Horta das Corujas foi co-fundada por
da Casa Verde, dentre tantos outros Claudia Visoni, uma paulistana, jornalista
espaços produtivos que surgiram na e agricultora urbana que desde
cidade e manifestam o desejo vívido do adolescente pesquisa assuntos ligados à
corpo civil pela participação na ecologia e ao consumo. Ainda nesse
construção de uma cidade mais caminho, Claudia articulou a fundação dos
sustentável e com melhor qualidade de Hortelões Urbanos e da União de Hortas
vida. Comunitárias de São Paulo. Ela nos conta
Um caso de AUP na cidade é a organi- que, infelizmente, “no contexto da política,
zação não governamental Cidades Sem por enquanto… os governantes ainda não
Fome, que a partir da horticultura como colocam a agricultura urbana como
ferramenta de inclusão realiza a prioridade, nem diante da crise de
integração social de grupos vulneráveis, insegurança alimentar que estamos
contribuindo para a melhoria da vivendo”. Além disso, outros “desafios para
mais estrita de GEE, o preço dela tende a Assim, o estudo concluiu que tornar uma
diminuir. Essa redução do custo foi dieta mais saudável implicaria em um
associada à diminuição do consumo de maior custo, que seria mitigado quando a
carne vermelha e de alimentos ricos em dieta saudável fosse mais sustentável.
gordura, açúcar e sal, que são 52% mais Considerando-se as preferências alimen-
caros quando comparados ao custo médio tares, a emissão de GEE dessa dieta pode
por calorias dos demais itens. ser reduzida em até 30%. Já em dietas em
Outro ponto interessante mostrado pelo que mudanças drásticas são aceitas, a
estudo foi que uma redução de GEE maior redução pode chegar a até 70%, indicando
que 30%, considerando as preferências que modificações nos hábitos alimentares
alimentares da população, não seria são importantes para o meio ambiente.
alcançada sem uma redução drástica no
consumo de carne vermelha, frango e Verly Jr E, Carvalho AM, Marchioni DML,
alimentos ricos em gordura, açúcar e sal, Darmon N. The cost of eating more
sendo a redução de até 30% induzida sustainable diets: a nutritional and
apenas pelas mudanças do âmbito environmental diet optimisation study. Glob
nutricional. Public Health. 2021;no prelo.
Você já parou para pensar como suas escolhas alimentares afetam o meio ambiente?
Dentre os impactos causados pela produção de alimentos, a emissão de gases de efeito
estufa (GEE) é uma das mais estudadas. A emissão de GEE, também chamada de pegada de
carbono, é um importante indicador da quantidade total da emissão de gases poluentes
gerados no ciclo de vida de um produto. Para ilustrar o impacto da dieta na pegada de
carbono, comparamos a quantidade de gás carbônico (em kg) gerada na produção de
alguns alimentos (por 100 g de alimento pronto para consumo). Confira abaixo:
CARNE BOVINA
LINGUIÇA
CARNE SUÍNA
PEIXE
FRANGO
ARROZ INTEGRAL
LENTILHA
FEIJÃO
MANDIOCA
0 1 2 3 4 5
Sindemia Global:
a interação que desafia a saúde planetária
Imagem: Reprodução/Canva
que é uma sindemia? Quais os impactos isoladas, elas passam a ser reconhecidas
dela para a saúde humana e planetária? enquanto fenômenos sinérgicos que
Qual a relação existente com a pandemia interagem de forma simultânea e
de COVID-19? E quais são os principais compartilham determinantes sociais e
obstáculos e ações para o seu ambientais comuns. As mudanças climáti-
enfrentamento? cas são reconhecidas como uma pandemia
O termo sindemia é, na verdade, o neo- devido à sua natureza dinâmica, sua
logismo entre as palavras sinergia e rápida ascensão e seu impacto catastrófico
epidemia, e simboliza a interação entre previsto sobre a saúde humana e planetá-
duas ou mais condições de saúde. O termo ria. Vincular a obesidade à desnutrição e
ganhou grande repercussão após a às mudanças climáticas em uma única
publicação de inúmeros trabalhos sobre o estrutura concentra a atenção na urgência,
tema, embora tenha aparecido pela na escala dos problemas e enfatiza
primeira vez na década de 1990, em uma também a necessidade da adoção de
pesquisa conduzida por Merrill Singer. soluções comuns visando acessar a raiz
Nessa ocasião, Singer e outros pesqui- comum relativa às três pandemias: os
sadores estudaram o uso de drogas sistemas de transporte, o uso e ocupação
injetáveis em comunidades de baixa renda do solo, o desenho urbano e, sobretudo, a
nos Estados Unidos e observaram que as insustentabilidade dos sistemas alimen-
consequências do uso dessas substâncias tares atuais.
eram maiores naqueles que apresentavam As pandemias de obesidade, desnutrição
doenças pré-existentes. Além disso, e mudanças climáticas atravessam todos
notaram que fatores externos, como os subsistemas e interagem mutuamente.
pobreza e violência, também potencia- A interação entre desnutrição e obesidade,
lizavam as condições de saúde da por exemplo, pode ser observada entre
população. Nesse sentido, deve-se levar em ciclos da vida, uma vez que a desnutrição
consideração as iniquidades sociais e fetal e infantil são fatores de risco para a
econômicas na abordagem da sindemia, já obesidade e suas consequências ao longo
que elas facilitam a interação entre as da vida. Já os efeitos das mudanças do
condições de saúde ou tornam a clima na saúde, sobretudo a partir da
população mais vulnerável ao seu impacto. ocorrência de eventos climáticos extremos,
A Sindemia Global de obesidade, des- como ondas de calor e frio, seca e
nutrição e mudanças climáticas não é enchentes, serão observados sobretudo no
diferente. Se antes esses problemas eram aumento da fome e da desnutrição em
vistos como divergentes - no caso da populações vulneráveis, principalmente
desnutrição e da obesidade e suas relações tendo em vista a redução da produção,
com o desenvolvimento de doenças falhas na colheita e aumento do preço dos
crônicas não transmissíveis (DCNT) - e alimentos. As interações entre mudanças
JULHO 2021, v. 5, n. 3 REVISTA SUSTENTAREA | 12
CAPA
MUDANÇAS
CLIMÁTICAS
SINDEMIA
GLOBAL
DESNUTRIÇÃO OBESIDADE
- Patronal
- Agricultura convencional baseada na monocultura
- Uso excessivo de recursos naturais, como água e solo
- Uso de transgênicos
PRODUÇÃO
- Uso indiscriminado de agrotóxicos e fertilizantes
- Perda de biodiversidade
- Criação intensiva de animais para consumo
- Perda de insumos e alimentos
Pequi
VANESSA COSTA CANÇADO SILVA E MÔNICA ROCHA
Imagem: Reprodução/Canva
O pequi é um fruto do Cerrado, a mais Caryocar brasiliense Cambess subsp.
rica savana do mundo em biodiversidade. brasiliense e Caryocar brasiliense subsp.
Conhecido pelo sabor e aroma marcantes, intermedium (Wittm.)
pela polpa amarela intensa e por ter O fruto é versátil e possui diversos usos.
caroços com inúmeros espinhos finos, o Tanto a polpa amarela quanto a amêndoa,
pequi está maduro quando sua casca verde localizada abaixo dos espinhos, são
amolece. A origem do nome vem do tupi comestíveis. Na culinária, um dos pratos
py, que significa pele, e qui, espinho. mais conhecidos é o arroz com pequi,
Os pequizeiros são árvores frondosas, sendo que o fruto também é bastante
que podem atingir até doze metros de utilizado na produção de óleo, doces,
altura, e possuem um ciclo de vida de sorvetes e licores. A polpa (mesocarpo
aproximadamente cinquenta anos. A interno) tem sabor adocicado e deve ser
floração ocorre normalmente entre os roída com cuidado por causa dos espinhos.
meses de setembro e novembro, enquanto Durante a entressafra, a polpa pode ser
a frutificação acontece de outubro a encontrada congelada, conservada em
fevereiro. salmoura ácida ou desidratada.
A principal espécie de pequi encontrada O óleo e o licor podem ser produzidos a
no Cerrado é a Caryocar brasiliense partir da polpa ou da amêndoa do pequi,
Cambess, mas o Inventário Florestal criando diferentes sabores, pois a
Nacional registrou outras duas espécies, amêndoa possui um gosto mais suave e
1
tipo de produto é cozinhar, pois assim a ingestão de alimentos in natura,
como cereais, leguminosas, frutas, legumes e verduras é aumentada.
Sabemos que cozinhar demanda tempo, por isso as próximas dicas podem
te ajudar a otimizar essa atividade.
2
reduzir o consumo de ultraprocessados, pois assim é possível fazer
escolhas mais conscientes. Fazer o planejamento dos itens também faz com
que você possa ter sempre alimentos saudáveis à sua disposição.
4
feitas a partir de alimentos in natura. Patês de legumes e queijo podem ser
consumidos no lugar de patês prontos, por exemplo. Bebidas açucaradas
podem ser substituídas por chás caseiros; salgadinhos e bolachas podem
dar lugar a frutas, castanhas e pipoca caseira.
André destaca uma visão que serve de tornaram-se necessárias. Foi aí que
força motriz do coletivo: a necessidade de aflorou a campanha “Gente é pra brilhar,
compreender os direitos humanos de não pra morrer de fome”, inspirada na
forma integrada. “A violência tem sido um canção “Gente”, de Caetano Veloso. A
grande fator de produção da fome e de má campanha aconteceu na Semana Mundial
alimentação, e a sobreposição das diversas da Alimentação, entre os dias 12 e 16 de
violências existentes no Brasil cria outubro de 2020, durante a qual foram
inúmeras epidemias”, reflete André. Nesse realizados diversos webinários e debates
sentido, ele ressalta que o conceito de com o intuito de ressoar a discussão sobre
sindemia global, proposto pelo relatório a problemática da fome no país. A
da comissão de obesidade do The Lancet e campanha se encerrou no sábado e
aprofundado ao longo deste número da domingo daquela semana, com o que o
revista, precisaria ser ampliado a fim de coletivo chama de marmitaço, que
contemplar também as múltiplas vio- consistiu na distribuição de marmitas em
lências como fatores de risco para a diversos locais.
insegurança alimentar. A iniciativa contou com a participação de
Essas violências e desigualdades existen- mais de cem coletivos, organizações da
tes no país foram ainda mais acentuadas sociedade civil e importantes nomes da
com a pandemia de COVID-19. Em um área da alimentação, entre pesquisadores,
cenário concomitante de crises sanitária, chefes e artistas. André pontua que um
política e econômica, ações emergenciais aspecto positivo da campanha foi a
possibilidade de convergir diferentes
estratégias de luta, tendo como plano de
fundo a solidariedade. O trabalho em
conjunto e o sentimento de coletivo
também foram aspectos destacados por
Bianca, uma vez a ação transformou lutas
segmentadas em uma pauta única. Nossos
Imagem: Reprodução/Instagram/@gente.prabrilhar
Imagem: Reprodução/Instagram/@gente.prabrilhar
dado espaço para pessoas das cinco
regiões do país compartilharem ferra-
mentas de enfrentamento da fome durante
a pandemia. As atrações contaram, ainda,
com ramificações internacionais por meio
de rodas de conversas com mulheres
latino-americanas. No final de semana,
mais de setenta municípios de todo o
Brasil se cadastraram para o marmitaço,
Marmitaço que distribuiu 250 refeições na com o apoio de cozinheiros, restaurantes e
Aldeia Indígena Bororó, localizada em organizações da sociedade civil.
Dourados-MS Agora, depois de mostrar a importância
de olhar para a fome, o grupo pretende se
Uma das particularidades da ação foi o estruturar internamente, a fim de formar
seu propósito de trazer um olhar positivo à novos ativistas e pesquisar ferramentas
luta, “trazer esperança no meio do caos”, para que as próximas campanhas sejam
conta Bianca. E foi justamente a busca pela ainda maiores e mais potentes. Até porque
valorização da vida de cada pessoa que a luta pelo reconhecimento e concre-
inspirou a campanha. Segundo ela, “a tização dos direitos humanos, como a
gente é pra brilhar e não pra morrer de alimentação adequada, não tem fim, Neste
fome, a gente não tinha outra forma de sentido, todos somos chamados a atuar e
colocar que não fosse uma tentativa de ver reconhecer a importância de exercer nossa
as pessoas brilhando”. Marcada pela cor cidadania, seja por meio da ação direta ou
amarela e por imagens de pessoas e pela cobrança e vigilância de ações por
alimentos típicos de diferentes regiões do parte de nossos representantes políticos.
país, o logo da campanha foi capaz de Para quem se interessar pelo trabalho
transmitir essa alegria e sentimento de realizado pelo Banquetaço, os ativistas
esperança. afirmam que o coletivo é aberto a todas e
Como Fabiana compartilhou conosco, a todos. Caso você queira conhecer mais
maior vocação do coletivo seria sobre a campanha, acesse a conta no
justamente movimentar, animar o campo Instagram @gente.prabrilhar ou o canal
de lutas sociais, transformando a no YouTube CampanhaGenteprabrilhar.
25 | REVISTA SUSTENTAREA JULHO 2021, v. 5, n. 3
IMAGEM
Imagem: Reprodução/Instagram/@larissabombardi
das mais importantes pesquisadoras sobre
o uso dos agrotóxicos e seus impactos no
ambiente e na saúde, ela mudou-se
recentemente do Brasil para a Bélgica em
função das ameaças que vinha sofrendo
após a divulgação dos resultados de suas
pesquisas, particularmente após o
lançamento, na Europa, da versão em
inglês do atlas Geografia do Uso de
Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a Ainda no primeiro semestre de 2021, em
União Europeia (2017), trabalho fruto das meio a esse período conturbado, Larissa
pesquisas de dois pós-doutorados. continuou a desenvolver sua pesquisa e
Em março deste ano foi divulgada uma lançou no Parlamento Europeu a
carta escrita por Larissa aos colegas da publicação Geografia das assimetrias:
Universidade de São Paulo, em que ela colonialismo molecular e círculo de
relata as intimidações sofridas e a sua envenenamento. Na obra, ela discorre
decisão de deixar o país. A divulgação da sobre o círculo vicioso do veneno, isto é,
carta gerou diversas manifestações de quando parte dos agrotóxicos utilizados
apoio e solidariedade à pesquisadora, que durante a produção em países do Mercosul
também recebe suporte da Rede Irerê de voltam à Europa na fase do consumo, em
Proteção à Ciência. forma de commodities e produtos
Seaspiracy
JÚLIA CISCATO
o fato do grupo científico do evento não enviou uma carta ao presidente do CSA,
garantir a representatividade da América Thanawat Tiensin, na qual ressalta as
Latina e de áreas como a saúde e a condições para a participação na Cúpula.
nutrição, tão necessárias para a ampliação Como afirmam na carta, “o MSC não pode
do debate de ideias. ‘pular em um trem’ que está indo na
Ainda, a versão final das “Diretrizes direção errada”. Recentemente, o Núcleo
Voluntárias de Sistemas Alimentares e de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição
Nutrição” no âmbito do Comitê de e Saúde (Nupens) e a Cátedra Josué de
Segurança Alimentar (CSA), secretariado Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis
da própria ONU, não teve a aprovação da e Sustentáveis, ambos da Faculdade de
sociedade civil. No mais, a participação do Saúde Pública da Universidade de São
CSA foi tardia na Cúpula. Por enquanto, o Paulo, realizaram um evento lançando o
cenário tem sido bastante desfavorável documento “Diálogo sobre ultra-
para a sociedade civil e os interesses processados: soluções para sistemas
privados têm prevalecido. alimentares saudáveis e sustentáveis”, que
Todavia, a sociedade civil não se inti- contou com a colaboração de mais de 80
midou. Em 2020, 176 organizações da pesquisadores. O objetivo foi reunir
sociedade civil de 83 países enviaram uma evidências científicas sobre o impacto de
carta ao Secretário Geral da ONU para ultraprocessados na saúde humana e do
revogar a nomeação de Agnes Kalibata. Em planeta e fazer um apelo à ONU para que o
seguida, uma segunda declaração, tema seja incluído nas discussões da
assinada por 500 organizações da socie- Cúpula.
dade civil, acadêmicos e outros atores, foi O trem está na direção errada, mas ainda
enviada à ONU sinalizando preocupações dá tempo de colocá-lo na rota ou, ao
sobre esta nomeação e as discussões da menos, frear a locomotiva das corpo-
Cúpula. Em resposta às duas cartas da rações. Por aqui, organizações da
sociedade civil, com mais de 600 sociedade civil e movimentos sociais têm
organizações, doze indivíduos repre- se manifestado nesse sentido. O Instituto
sentando os interesses do setor privado de Defesa do Consumidor (IDEC) publicou
enviaram uma carta ao Secretário Geral da um posicionamento, uma vez que não irá
ONU para apoiar a indicação de Kalibata. participar formalmente da Cúpula. Em sua
O que não causa espanto é que esses carta, destaca que a nomeação de Agnes
indivíduos, exceto um, receberam recursos Kalibata representa um impedimento à
da Fundação Gates, sinalizando um participação da academia e da sociedade
evidente conflito de interesses. civil, pois marca a influência do
Contudo, o jogo ainda não terminou. O agronegócio e dos interesses corporativos
Mecanismo da Sociedade Civil (MSC), que no evento. A Conferência Popular de
representa a sociedade civil no CSA, Soberania e Segurança Alimentar e
GASTROMOTIVA
@gastromotiva
Há cinco anos a organização atende pessoas em situação de rua
por meio do Reffetorio Gastromotiva. Desde março de 2020, esse
espaço do projeto tem funcionado como um banco de alimentos e
semanalmente são distribuídas 1300 refeições no Rio de Janeiro.
Imagem: Reprodução/Facebook/Gastromotiva
GERANDO FALCÕES
@gerandofalcoes
Durante a pandemia de COVID-19, a organização lançou a
campanha #CoronanoParedão, que consiste na doação de cestas
básicas digitais, atendendo comunidades de São Paulo, Ceará,
Espírito Santo e Minas Gerais.
Imagem: Reprodução/Facebook/Gerando Falcões
AMPARAÍ
@misturaipoa
Criada em 2020, a frente de trabalho atua em Porto Alegre
distribuindo refeições para pessoas em situação de rua, além de
cestas básicas e itens de higiene. Apenas no ano passado foram
entregues 119.000 refeições e pelo menos 1500 cestas básicas.
Imagem: Reprodução/misturai.com/amparai/
ALIMENTOS DA ÉPOCA
JULHO
AGOSTO
SETEMBRO
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FLAVIA SCHWARTZMAN
@flaschwartzman
Nutricionista. Mestre em Nutrição pela UNIFESP e doutora em Nutrição em Saúde Pública
pela FSP-USP. Consultora da FAO.
JENNIFER TANAKA
@comermudaomundo
Nutricionista. Mestre e doutoranda em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura
e Sociedade no CDPA-UFRRJ.
JÚLIA CISCATO
@juliaciscato
Graduanda em Nutrição no Centro Universitário São Camilo. Formada no curso básico de
Antroposofia para Profissionais de Saúde da ABMA.
MÔNICA ROCHA
@comidacoisaetal
Nutricionista. Mestre em Políticas Públicas em Saúde pela FIOCRUZ. Consultora da
OPAS.
SAMANTHA MARQUES
@samantha.mvb
Graduanda em Nutrição na FSP-USP. Técnica em Nutrição e Dietética pela ETEC
Mandaqui.
THIFANY TORRES
@thifanytorres
Graduanda em Nutrição na FSP-USP. Vice-presidente da Liga Acadêmica de Nutrição e
Complexidades Alimentares da FSP-USP.