REVISTA SUSTENTAREA EDICAO 11 Set2021

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SUSTENTAREA

REVISTA

ISSN 2675-858X | Julho 2021 | Volume 5 | Número 3


Imagens: Reprodução/Canva

CAPA HISTÓRIA DE SUCESSO


Sindemia Global: a interação que Comida é direito humano: gente é pra
desafia a saúde planetária | p. 11 brilhar, não pra morrer de fome | p. 22

DICA DO SUSTENTAREA OPINIÃO


Como reduzir o consumo de alimentos Cúpula Mundial de Sistemas Alimentares:
ultraprocessados? | p. 20 o trem que vai na direção errada | p. 33
REVISTA SUSTENTAREA
ISSN 2675-858X
Publicação trimestral do NACE Sustentarea

Julho 2021 | Volume 5 | Número 3

EDITOR
Alisson Diego Machado

COORDENADORAS - SUSTENTAREA
Aline Martins de Carvalho | Dirce Maria Lobo Marchioni

REVISÃO FINAL
Aline Martins de Carvalho | Alisson Diego Machado | Dirce Maria Lobo Marchioni

COLABORADORES DESTA EDIÇÃO


Ana Maria Bertolini | Beatriz Machado Martins | Deborah Rocha Fadul
Flavia Schwartzman | Jacqueline Tereza da Silva | Jennifer Tanaka | Júlia Ciscato
Mônica Rocha | Nadine Marques Nunes Galbes | Samantha Marques
Shairra Garcia Albuquerque | Thifany Torres | Vanessa Costa Cançado Silva

ENDEREÇO CONTATO
NACE Sustentarea [email protected]
Departamento de Nutrição www.fsp.usp.br/revistasustentarea
Faculdade de Saúde Pública da USP @sustentarea
Avenida Dr. Arnaldo, 715, Pacaembu
São Paulo-SP, CEP 01246-904

Licenciamento de conteúdo: o material pode ser reproduzido, desde que citada a fonte
EDITORIAL

Sindemia Global:
do que estamos falando?
ALISSON DIEGO MACHADO

Apesar de ser um termo novo, a Sindemia Global diz respeito a condições que têm
aumentado em prevalência e gravidade nas últimas décadas - as pandemias de
desnutrição, obesidade e mudanças climáticas. Neste número apresentamos o significado
do termo e qual é a sua relação com a insustentabilidade dos sistemas alimentares atuais,
além de maneiras de enfrentar esse problema.
Para começar, apresentamos o papel da agricultura urbana na Segurança Alimentar e
Nutricional. Você também vai encontrar uma entrevista com Hans Dieter Temp, o
fundador da Cidades Sem Fome, uma organização não governamental que promove a
agricultura sustentável na Zona Leste de São Paulo. Falando em projetos, trouxemos a
história de sucesso da campanha “Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome”, que
surgiu como resposta à escalada da insegurança alimentar no Brasil.
Ainda, mostramos também a importância de ações individuais para o enfrentamento das
três pandemias, seja pela redução do impacto ambiental das nossas escolhas alimentares,
seja pela melhoria da alimentação do ponto de vista nutricional.
A Sindemia é um problema complexo e, portanto, seu enfrentamento é igualmente
complexo, demandando esforço de toda a sociedade. Vamos juntos?

Alisson Diego Machado


Editor
REVISTA SUSTENTAREA
Julho 2021 | Volume 5 | Número 3

13 Doenças infecciosas e consumo de carne:


existe relação?

Imagem: Reprodução/Canva

5 ALIMENTAÇÃO SUSTENTÁVEL 10 COMPARE


O papel da agricultura urbana na Alimentos de origem animal e
Segurança Alimentar e Nutricional vegetal: o que as pegadas de carbono
dizem sobre eles?

8 O QUE TEM DE NOVO? 11 CAPA


A adoção de uma alimentação Sindemia Global: a interação que
saudável e sustentável custa mais desafia a saúde planetária
caro?
30 MULHERES NA SUSTENTABILIDADE
Larissa Bombardi e o estudo sobre o
impacto do uso de agrotóxicos

Imagem: Reprodução/Canva
32 PARA ASSISTIR
Seaspiracy

18 QUE ALIMENTO É ESSE? 33 OPINIÃO


Pequi Cúpula Mundial de Sistemas
Alimentares: o trem que vai na
direção errada

20 DICA DO SUSTENTAREA
Como reduzir o consumo de
alimentos ultraprocessados?

22 HISTÓRIA DE SUCESSO
Comida é direito humano: gente é
pra brilhar, não pra morrer de fome

Imagem: Reprodução/Canva
26 IMAGEM

27 ENTREVISTA
36 PARA CONHECER
Cidades Sem Fome: hortas urbanas 5 projetos que atuam no combate à
em favor da cidadania fome

37 CALENDÁRIO
Imagem: Reprodução/Canva

38 BIBLIOGRAFIA

41 AUTORES
ALIMENTAÇÃO SUSTENTÁVEL

O papel da agricultura urbana na Segurança


Alimentar e Nutricional
SAMANTHA MARQUES, THIFANY TORRES E FLAVIA SCHWARTZMAN

Imagem: Reprodução/Canva
A Segurança Alimentar e Nutricional crescente prevalência de insegurança
(SAN) consiste na garantia do acesso a alimentar pedem estratégias como o
alimentos de forma regular, permanente, manejo ecológico dos recursos naturais
de qualidade e em quantidade adequadas, por meio de ação social coletiva, capazes
a partir de práticas alimentares que sejam de promover a ampliação do acesso e
ambiental, cultural, econômica e melhoria da qualidade dos alimentos e dos
socialmente aceitáveis e sustentáveis, de hábitos alimentares, como é o caso da
forma a assegurar o Direito Humano à Agricultura Urbana e Periurbana (AUP).
Alimentação Adequada. A AUP refere-se à produção de alimentos
No Brasil, a intensa vinda de pessoas do dentro das cidades. É uma prática que
campo para a cidade e a rápida relaciona produção, processamento,
industrialização nas últimas décadas comercialização, distribuição e acesso a
mudaram o perfil demográfico e alimentar produtos agrícolas. Dentro dessa prática
da população urbana. A superpopulação estão inseridas as hortas urbanas, também
das cidades tornou-se um fator de ameaça chamadas de hortas comunitárias, que são
para a garantia da SAN, pois prejudicou o parcelas de terreno nos espaços urbano e
fornecimento adequado de alimentos e o periurbano, destinadas majoritariamente
cuidado com a natureza. A urbanização e a à produção de hortaliças, divididas em

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ALIMENTAÇÃO SUSTENTÁVEL

unidades mínimas de cultivo, de pequena políticas e pesquisas voltadas à AUP, pois


dimensão e cultivadas por pessoas ou possui alta concentração populacional,
grupos de pessoas que buscam produzir condições socioeconômicas variadas,
seus próprios alimentos. Elas garantem o relevante prevalência de pobreza e
acesso a alimentos de qualidade, tanto a insegurança alimentar, e também
partir dos alimentos produzidos na horta, interesse governamental, inclusive com
quanto pela geração de renda que pode ser iniciativas já implementadas. Em 2016, foi
utilizada para a compra de outros estabelecido o 1° Plano Municipal de
mantimentos. Além disso, também Segurança Alimentar e Nutricional da da
incentivam práticas promotoras de saúde cidade de São Paulo (PLASMAN), voltado
e que estimulam a autonomia das escolhas para a melhoria do acesso social à
alimentares, o pertencimento social, a alimentação saudável e ao combate da
criação de laços com a comunidade ao fome e da desnutrição, por meio do
redor e a sustentabilidade. incentivo à agricultura sustentável.
Antes do PLASMAN, São Paulo já se
A AGRICULTURA URBANA NA CIDADE DE destacava pela consolidação de hortas
SÃO PAULO comunitárias autogestionadas pelos
cidadãos, que utilizam redes sociais para
São Paulo, a maior cidade do país, é um organizarem práticas e intervenções de
interessante local para incentivos de forma ativista, como por exemplo a Horta

Imagem: Flavia Schwartzman

Horta das Corujas, localizada na Vila Beatriz, São Paulo-SP.


JULHO 2021, v. 5, n. 3 REVISTA SUSTENTAREA | 6
ALIMENTAÇÃO SUSTENTÁVEL

das Corujas, a Horta do Ciclista, o Hortão A Horta das Corujas foi co-fundada por
da Casa Verde, dentre tantos outros Claudia Visoni, uma paulistana, jornalista
espaços produtivos que surgiram na e agricultora urbana que desde
cidade e manifestam o desejo vívido do adolescente pesquisa assuntos ligados à
corpo civil pela participação na ecologia e ao consumo. Ainda nesse
construção de uma cidade mais caminho, Claudia articulou a fundação dos
sustentável e com melhor qualidade de Hortelões Urbanos e da União de Hortas
vida. Comunitárias de São Paulo. Ela nos conta
Um caso de AUP na cidade é a organi- que, infelizmente, “no contexto da política,
zação não governamental Cidades Sem por enquanto… os governantes ainda não
Fome, que a partir da horticultura como colocam a agricultura urbana como
ferramenta de inclusão realiza a prioridade, nem diante da crise de
integração social de grupos vulneráveis, insegurança alimentar que estamos
contribuindo para a melhoria da vivendo”. Além disso, outros “desafios para

"As dificuldades devem ser vistas como alavancas para a


disseminação dos diversos efeitos positivos que uma
horta urbana pode gerar para a saúde das pessoas e do
planeta, bem como para a promoção da Segurança
Alimentar e Nutricional".
alimentação dessas pessoas. Na página 27 manter a horta são as poucas pessoas para
deste número você pode conferir uma trabalhar de verdade e muitas para se
entrevista com Hans Dieter Temp, o beneficiar da horta; o roubo de mudas e
criador da Cidades Sem Fome. equipamentos, e o mau uso do espaço”.
Outros exemplos relevantes são a Horta Mas essas dificuldades não são impe-
da Faculdade de Medicina da Universidade ditivos para a Horta das Corujas ou outras
de São Paulo, referência em plantas iniciativas de AUP deixarem de existir.
alimentícias não convencionais, e a já Muito pelo contrário! As dificuldades
citada Horta das Corujas, localizada na devem ser vistas como alavancas para a
Vila Beatriz, que se constitui em um espaço disseminação dos diversos efeitos
de 800 m², aberto a todas e todos, que positivos que uma horta urbana pode
recebeu apoio do CADES (Conselho gerar para a saúde das pessoas e do
Regional de Meio Ambiente, Desenvol- planeta, bem como para a promoção da
vimento Sustentável e Cultura de Paz) da SAN, temas que se tornam cada vez mais
subprefeitura de Pinheiros. emergentes.

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O QUE TEM DE NOVO?

A adoção de uma alimentação saudável e


sustentável custa mais caro?
JÚLIA CISCATO E ALINE MARTINS DE CARVALHO

O impacto ambiental gerado pela cadeia de alimentos, recentemente foi publicado


produtiva de alimentos é um assunto que um artigo que teve como objetivo iden-
deve ser abordado em diversas esferas. No tificar quais mudanças na dieta seriam
Brasil, a mudança do uso da terra capazes, simultaneamente, de otimizar a
(utilização do solo para uso da agricultura alimentação e a emissão de GEE no Brasil,
e pecuária) representa 44% da emissão de considerando também as preferências
gases de efeito estufa (GEE), sendo a alimentares e o preço dos mantimentos em
pecuária responsável por 70% da emissão todo o país.
agrícola, além de 15% da emissão total do Para tanto, os autores utilizaram os
país. É consenso que a redução do dados de registros individuais do consumo
consumo de alimentos de origem animal, de alimentos e bebidas da Pesquisa de
sobretudo carne vermelha, é uma medida Orçamentos Familiares. Além disso, foram
que pode reduzir a emissão de GEE. Logo, consideradas recomendações nutricionais,
uma maior ingestão de alimentos de preferências alimentares e redução da
origem vegetal e menor de produtos de emissão de GEE em etapas de 10% para
origem animal, é característica de uma estimar essa dieta otimizada, descritas no
dieta sustentável. quadro da página seguinte.
De acordo com as quatro esferas defi- Os resultados da pesquisa mostraram
nidas pela Organização das Nações Unidas que a mudança para uma dieta mais
para a Alimentação e a Agricultura, para saudável, mesmo sem o objetivo de reduzir
considerarmos uma dieta saudável e os GEE, causaria por si só uma redução de
sustentável ela deve ser nutricionalmente 10 a 27% na emissão de GEE. Quando
saudável, socioculturalmente aceitável, analisado como ficaria o preço dessa dieta
ambientalmente protetora e respeitosa nutricionalmente mais saudável, foi
com a biodiversidade e os ecossistemas, e observado que o valor seria maior,
economicamente acessível. Pensando principalmente para pessoas de menor
nisso, e no impacto ambiental causado renda. Porém, quando otimiza-se essa
pela emissão de GEE oriunda da produção dieta mais saudável com uma redução

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O QUE TEM DE NOVO?

ÂMBITOS CONSIDERADOS PARA A OTIMIZAÇÃO DA DIETA

- Recomendações nutricionais da Organização Mundial


da Saúde para a redução do risco de doenças crônicas
ASPECTOS não transmissíveis
NUTRICIONAIS
- Recomendações de ingestão de vitaminas e minerais
do Instituto de Medicina dos Estados Unidos

- Mudanças estritas na dieta: o consumo poderia variar


entre o percentil 5 e a média de ingestão observada para
cada alimento ou grupos de alimentos
ACEITABILIDADE
- Mudanças flexíveis na dieta: o consumo poderia variar
entre zero e a média de ingestão observada para cada
alimento ou grupos de alimentos

EMISSÃO DE GASES - Redução na emissão de gases de efeito estufa em


DE EFEITO ESTUFA etapas de 10%

mais estrita de GEE, o preço dela tende a Assim, o estudo concluiu que tornar uma
diminuir. Essa redução do custo foi dieta mais saudável implicaria em um
associada à diminuição do consumo de maior custo, que seria mitigado quando a
carne vermelha e de alimentos ricos em dieta saudável fosse mais sustentável.
gordura, açúcar e sal, que são 52% mais Considerando-se as preferências alimen-
caros quando comparados ao custo médio tares, a emissão de GEE dessa dieta pode
por calorias dos demais itens. ser reduzida em até 30%. Já em dietas em
Outro ponto interessante mostrado pelo que mudanças drásticas são aceitas, a
estudo foi que uma redução de GEE maior redução pode chegar a até 70%, indicando
que 30%, considerando as preferências que modificações nos hábitos alimentares
alimentares da população, não seria são importantes para o meio ambiente.
alcançada sem uma redução drástica no
consumo de carne vermelha, frango e Verly Jr E, Carvalho AM, Marchioni DML,
alimentos ricos em gordura, açúcar e sal, Darmon N. The cost of eating more
sendo a redução de até 30% induzida sustainable diets: a nutritional and
apenas pelas mudanças do âmbito environmental diet optimisation study. Glob
nutricional. Public Health. 2021;no prelo.

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COMPARE

Alimentos de origem animal e vegetal:


o que as pegadas de carbono dizem sobre eles?
BEATRIZ MACHADO MARTINS E JACQUELINE TEREZA DA SILVA

Você já parou para pensar como suas escolhas alimentares afetam o meio ambiente?
Dentre os impactos causados pela produção de alimentos, a emissão de gases de efeito
estufa (GEE) é uma das mais estudadas. A emissão de GEE, também chamada de pegada de
carbono, é um importante indicador da quantidade total da emissão de gases poluentes
gerados no ciclo de vida de um produto. Para ilustrar o impacto da dieta na pegada de
carbono, comparamos a quantidade de gás carbônico (em kg) gerada na produção de
alguns alimentos (por 100 g de alimento pronto para consumo). Confira abaixo:

CARNE BOVINA

LINGUIÇA

CARNE SUÍNA

PEIXE

FRANGO

ARROZ INTEGRAL

LENTILHA

FEIJÃO

MANDIOCA

0 1 2 3 4 5

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CAPA

Sindemia Global:
a interação que desafia a saúde planetária
Imagem: Reprodução/Canva

DEBORAH ROCHA FADUL E ANA MARIA BERTOLINI

A exposição a desafios complexos é uma pais desafios da atualidade, que afeta a


realidade não apenas para a nossa saúde humana e planetária, são as
sociedade, mas também para formas de pandemias de obesidade, desnutrição e
vida não humanas, o meio ambiente e a mudanças climáticas, que se constituem
biodiversidade em geral. Um dos princi- em uma Sindemia Global. Mas, afinal, o

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CAPA

que é uma sindemia? Quais os impactos isoladas, elas passam a ser reconhecidas
dela para a saúde humana e planetária? enquanto fenômenos sinérgicos que
Qual a relação existente com a pandemia interagem de forma simultânea e
de COVID-19? E quais são os principais compartilham determinantes sociais e
obstáculos e ações para o seu ambientais comuns. As mudanças climáti-
enfrentamento? cas são reconhecidas como uma pandemia
O termo sindemia é, na verdade, o neo- devido à sua natureza dinâmica, sua
logismo entre as palavras sinergia e rápida ascensão e seu impacto catastrófico
epidemia, e simboliza a interação entre previsto sobre a saúde humana e planetá-
duas ou mais condições de saúde. O termo ria. Vincular a obesidade à desnutrição e
ganhou grande repercussão após a às mudanças climáticas em uma única
publicação de inúmeros trabalhos sobre o estrutura concentra a atenção na urgência,
tema, embora tenha aparecido pela na escala dos problemas e enfatiza
primeira vez na década de 1990, em uma também a necessidade da adoção de
pesquisa conduzida por Merrill Singer. soluções comuns visando acessar a raiz
Nessa ocasião, Singer e outros pesqui- comum relativa às três pandemias: os
sadores estudaram o uso de drogas sistemas de transporte, o uso e ocupação
injetáveis em comunidades de baixa renda do solo, o desenho urbano e, sobretudo, a
nos Estados Unidos e observaram que as insustentabilidade dos sistemas alimen-
consequências do uso dessas substâncias tares atuais.
eram maiores naqueles que apresentavam As pandemias de obesidade, desnutrição
doenças pré-existentes. Além disso, e mudanças climáticas atravessam todos
notaram que fatores externos, como os subsistemas e interagem mutuamente.
pobreza e violência, também potencia- A interação entre desnutrição e obesidade,
lizavam as condições de saúde da por exemplo, pode ser observada entre
população. Nesse sentido, deve-se levar em ciclos da vida, uma vez que a desnutrição
consideração as iniquidades sociais e fetal e infantil são fatores de risco para a
econômicas na abordagem da sindemia, já obesidade e suas consequências ao longo
que elas facilitam a interação entre as da vida. Já os efeitos das mudanças do
condições de saúde ou tornam a clima na saúde, sobretudo a partir da
população mais vulnerável ao seu impacto. ocorrência de eventos climáticos extremos,
A Sindemia Global de obesidade, des- como ondas de calor e frio, seca e
nutrição e mudanças climáticas não é enchentes, serão observados sobretudo no
diferente. Se antes esses problemas eram aumento da fome e da desnutrição em
vistos como divergentes - no caso da populações vulneráveis, principalmente
desnutrição e da obesidade e suas relações tendo em vista a redução da produção,
com o desenvolvimento de doenças falhas na colheita e aumento do preço dos
crônicas não transmissíveis (DCNT) - e alimentos. As interações entre mudanças
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CAPA

CONSTITUINTES DA SINDEMIA GLOBAL

MUDANÇAS
CLIMÁTICAS

SINDEMIA
GLOBAL

DESNUTRIÇÃO OBESIDADE

climáticas e obesidade ainda não são pelo uso de agrotóxicos e fertilizantes,


explícitas, contudo, sabe-se que a quanto pela monocultura em latifúndios e
insegurança alimentar leve e moderada a grande produção de carne bovina. No
em populações vulneráveis está, para- processamento, os alimentos passam por
doxalmente, relacionado à maior diversas etapas que contribuem para
prevalência de sobrepeso e obesidade. perda nutricional, ao mesmo tempo em
O referencial da sindemia destaca que o que há aumento da disponibilidade e
principal impulsionador das pandemias consumo de alimentos ultraprocessados,
de obesidade, desnutrição e obesidade é a que em geral são ricos em gorduras,
insustentabilidade dos sistemas alimen- açúcares e sal e contêm aditivos e
tares atuais. Sistemas alimentares são as conservantes. Na comercialização são
etapas que envolvem a produção, apontados fatores como a desvalorização
processamento, distribuição, preparo, da agricultura familiar e dos circuitos
consumo e descarte dos alimentos. No curtos de comercialização, bem como a
quadro da página 14 estão apontados os facilidade no acesso de alimentos ultra-
grandes prejuízos trazidos ao solo, tanto processados, ao passo em que há

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CAPA

CARACTERÍSTICAS DE SISTEMAS ALIMENTARES INSUSTENTÁVEIS

- Patronal
- Agricultura convencional baseada na monocultura
- Uso excessivo de recursos naturais, como água e solo
- Uso de transgênicos
PRODUÇÃO
- Uso indiscriminado de agrotóxicos e fertilizantes
- Perda de biodiversidade
- Criação intensiva de animais para consumo
- Perda de insumos e alimentos

- Alto grau de processamento


- Refinamento
PROCESSAMENTO - Perda de vitaminas e minerais
- Uso de aditivos alimentares e conservantes
- Perda de insumos e alimentos

- Cadeias longas de comercialização


- Longas distâncias percorridas
- Desvalorização dos produtos locais
COMERCIALIZAÇÃO
-Valorização de grandes redes varejistas
- Preços elevados
- Perdas de alimentos
Fonte: adaptado de Martinelli e Cavalli (2019)

- Hábitos alimentares e culturais insustentáveis


- Baixa procura e acesso a alimentos sustentáveis
CONSUMO
- Elevado consumo de ultraprocessados e fast foods
- Desperdício de alimentos

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CAPA

dificuldade no acesso a frutas, legumes e desproporcionalmente grupos sociais e


verduras, por exemplo. Além disso, os contribuem para amplificar as exter-
sistemas alimentares atuais demandam a nalidades negativas da COVID-19. Esses
utilização intensiva de recursos naturais, fatores corroboram o entendimento de
com intensos impactos sobre o meio que a pandemia de COVID-19 é, na
ambiente. verdade, uma sindemia.
Diante desse cenário insustentável e re- Legitimar a COVID-19 como uma sinde-
conhecendo a urgência de ações globais mia demonstra a necessidade de ações
para acessar a má nutrição, foi posto em amplas para o seu enfrentamento. Na
debate, durante a II Conferência Inter- mesma medida em que são necessárias
nacional de Nutrição, realizada em 2014, ações individuais e coletivas de higiene
uma resolução denominada “Década de das mãos, distanciamento social e
ação pela nutrição”, com seis metas imunização, a prevalência de doenças
prioritárias no campo da nutrição até crônicas e a amplificação da desigualdade
2025, com enfoque na nutrição materno- econômica e suas relações com temas
infantil, nas DCNT relacionadas com a má como trabalho, moradia, educação,
alimentação e, sobretudo, no fornecimento produção de alimentos e meio ambiente
de uma alimentação saudável, sustentável devem ser consideradas.
e acessível para todos. Todavia, a No Brasil, os impactos da COVID-19 se
progressão das metas estabelecidas tem somam aos obstáculos para o enfren-
ocorrido de forma bastante lenta, tamento da sindemia. A pandemia
considerando condições de vulnera- contribuiu para o aumento da insegurança
bilidade social, especialmente durante a alimentar, desigualdade e exclusão social.
pandemia de COVID-19. O Inquérito Nacional sobre Insegurança
A pandemia de COVID-19 é um problema Alimentar no âmbito da COVID-19 trouxe
maior do que aparenta. Na conceituada dados alarmantes a respeito do aumento
revista The Lancet, o pesquisador Richard da fome no Brasil: entre 2018 e 2020, o
Horton chama atenção para a interação número de brasileiros em situação de
entre a infecção causada pelo vírus SARS- insegurança alimentar grave quase do-
CoV-2 e a existência de comorbidades pré- brou, saltando de 10,3 milhões para 19,1
existentes, como diabetes, hipertensão, milhões de pessoas, que corresponde a
obesidade e condições cardiorrespi- cerca de 9% da população brasileira. Ao
ratórias. No plano individual, por exemplo, mesmo tempo, cresce o número de pessoas
a existência de outra comorbidade piora o com sobrepeso, obesidade e DCNT.
prognóstico e aumenta as chances de A continuidade da sindemia global é
complicações. Essas interações, em resultado da dificuldade na imple-
conjunto com iniquidades socioeco- mentação de ações necessárias ao seu
nômicas enraizadas na sociedade, afetam enfrentamento. Entre as causas estão,
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CAPA

sobretudo, a política e a economia. As demanda de opções alimentares menos


lideranças políticas dos países relutam em sustentáveis, como os alimentos de origem
implementar medidas eficazes para animal.
combater as pandemias, uma vez que há Outra ação de trabalho triplo são as
forte oposição motivada por interesses convenções-quadro sobre os sistemas
comerciais de grandes empresas que alimentares, com a implementação de
orientam o modelo do sistema agro- políticas que os tornem mais saudáveis,
alimentar atual, além da falta de ação equitativos, sustentáveis e economi-
efetiva da sociedade civil no apelo por camente prósperos. A implementação
mudanças. dessas políticas contribui para a criação de
É imprescindível o enfrentamento das ambientes alimentares mais saudáveis e
três pandemias e seus determinantes podem reduzir a prevalência de obesidade
comuns. Embora recomendações para a e DCNT. As políticas voltadas à redução da
redução das prevalências de obesidade e pobreza e das desigualdades sociais
desnutrição possam ter impacto positivo subsidiam a garantia da segurança
na mitigação e adaptação às mudanças do alimentar e nutricional, mitigando a má
clima (e vice-versa), o enfrentamento da nutrição em todas as suas formas. Essas
sindemia global demanda uma ação mais políticas também têm impacto nas
ampla, acessando fatores sociais, socio-
econômicos, políticos e comerciais. Dessa
necessidade surgem as ações de trabalho
duplo ou triplo, cuja finalidade é
influenciar múltiplas partes da sindemia
em uma única intervenção. Um exemplo é
a elaboração e posterior divulgação de
guias alimentares que orientem escolhas
alimentares mais saudáveis e sustentáveis.
Imagem: Reprodução/Ministério da Saúde

Por meio dos guias, a promoção de


escolhas mais saudáveis e benéficas à
saúde auxiliam na prevenção da obesidade
e de DCNT. No que diz respeito à
desnutrição, eles podem conscientizar a
população sobre a importância do
aleitamento materno para a prevenção de
deficiências nutricionais e na escolha de Segunda edição do Guia Alimentar para a
alimentos mais nutritivos e saudáveis. Por População Brasileira, considerado o mais
fim, os guias atuam nas mudanças abrangente do mundo em relação à
climáticas por promoverem a redução da sustentabilidade
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CAPA

mudanças do clima, contribuindo para sindemia, incluindo o fortalecimento da


redução da emissão de gases de efeitos governança de agências internacionais e
estufa provenientes da produção de de governos municipais e o engajamento
alimentos, sobretudo daqueles de origem da sociedade civil, reivindicando ações
animal. políticas em todos os níveis de governo.
O relatório elaborado e publicado em É importante levarmos em consideração
2019 pela Comissão Lancet, composta por que a efetivação dessas ações é
pesquisadores de todo o mundo, aponta politicamente difícil e que seus resultados
que respostas efetivas às pandemias de ainda são incertos, se comparados com
obesidade, desnutrição e mudanças ações já implementadas anteriormente,
climáticas devem ser norteadas por pelo como programas de promoção da saúde.
menos seis princípios: (1) fortalecer a Contudo, o desafio imposto pelas
implementação de recomendações já pandemias de desnutrição, obesidade e

"Ações em âmbito global, nacional e local são grandes


aliadas no enfrentamento da sindemia, incluindo o
fortalecimento da governança de agências internacionais
e de governos municipais e o engajamento da sociedade
civil, reivindicando ações políticas em todos os níveis de
governo".
existentes para o enfrentamento das mudanças climáticas demanda, necessa-
pandemias; (2) ser de natureza sistêmica; riamente, a adoção de mudanças
(3) pôr em foco a inércia política, de forma sistêmicas transformadoras. Assim, ações
a direcionar os principais fatores da no plano individual, como mudanças no
sindemia global; (4) criar sinergias entre estilo de vida, devem ser acompanhadas de
diferentes movimentos da sociedade civil; políticas públicas de incentivo à agric-
(5) produzir múltiplos benefícios por meio ultura sustentável, garantia do acesso a
das ações de trabalho duplo e triplo, e (6) alimentos seguros e nutritivos para todas
enfrentar as iniquidades sociais, como a as pessoas e de estímulo à educação para o
pobreza e a falta de acesso à educação e desenvolvimento sustentável. Ainda, o
saúde de qualidade, para melhorar as monitoramento dessas políticas e dos
condições de populações desfavorecidas. principais determinantes da sindemia são
Ações em âmbito global, nacional e local fundamentais para que o seu enfrenta-
são grandes aliadas no enfrentamento da mento possa ser bem-sucedido.

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QUE ALIMENTO É ESSE?

Pequi
VANESSA COSTA CANÇADO SILVA E MÔNICA ROCHA

Imagem: Reprodução/Canva
O pequi é um fruto do Cerrado, a mais Caryocar brasiliense Cambess subsp.
rica savana do mundo em biodiversidade. brasiliense e Caryocar brasiliense subsp.
Conhecido pelo sabor e aroma marcantes, intermedium (Wittm.)
pela polpa amarela intensa e por ter O fruto é versátil e possui diversos usos.
caroços com inúmeros espinhos finos, o Tanto a polpa amarela quanto a amêndoa,
pequi está maduro quando sua casca verde localizada abaixo dos espinhos, são
amolece. A origem do nome vem do tupi comestíveis. Na culinária, um dos pratos
py, que significa pele, e qui, espinho. mais conhecidos é o arroz com pequi,
Os pequizeiros são árvores frondosas, sendo que o fruto também é bastante
que podem atingir até doze metros de utilizado na produção de óleo, doces,
altura, e possuem um ciclo de vida de sorvetes e licores. A polpa (mesocarpo
aproximadamente cinquenta anos. A interno) tem sabor adocicado e deve ser
floração ocorre normalmente entre os roída com cuidado por causa dos espinhos.
meses de setembro e novembro, enquanto Durante a entressafra, a polpa pode ser
a frutificação acontece de outubro a encontrada congelada, conservada em
fevereiro. salmoura ácida ou desidratada.
A principal espécie de pequi encontrada O óleo e o licor podem ser produzidos a
no Cerrado é a Caryocar brasiliense partir da polpa ou da amêndoa do pequi,
Cambess, mas o Inventário Florestal criando diferentes sabores, pois a
Nacional registrou outras duas espécies, amêndoa possui um gosto mais suave e

JULHO 2021, v. 5, n. 3 REVISTA SUSTENTAREA | 18


QUE ALIMENTO É ESSE?

delicado. Para retirar a amêndoa é preciso outros organismos. Quando determinada


partir o caroço com a ajuda de um martelo área é desmatada, restando somente o
e verificar se não ficou nenhum espinho pequizeiro, essa árvore fica mais suscetível
aderido. Elas são comercializadas já ao ataque de pragas, como ocorre
prontas para consumo, torradas e atualmente no norte de Minas Gerais com
crocantes. A amêndoa do pequi pode o caso da broca do pequi. O fenômeno é
substituir outras oleaginosas em pastas, recente e pode provocar danos à produção,
pralinés, biscoitos, tortas e chocolates. destruindo todo o interior dos frutos, que
A versatilidade do pequi também se dá se tornam impróprios para consumo.
pelas possibilidades de uso medicinal e O crescimento das mudas é lento, mas o
geração de diversos produtos, como pequizeiro também pode ser cultivado
cosméticos, corantes, adubo orgânico e para recomposição ambiental e proteção
alimentação animal. de nascentes. Em
O pequi tem grande geral, menos da
importância socio- metade dos caroços
cultural e é fonte de germina, o que pode
renda para muitas demorar mais de
comunidades que um ano. A produção
habitam o Cerrado. do pequi se inicia a
Apesar de proi- partir do quarto
bições legais que ano após o plantio.
Imagem: Gabriela Rigote

impedem o corte da Como recomenda-


árvore e a comércio ção de boas prá-
de sua madeira, a ticas, devem ser
espécie sofre amea- coletados apenas os
ças com a expansão Arroz com pequi frutos caídos natu-
de monoculturas. O ralmente e que es-
plantio de soja e eucalipto, a formação de tejam sadios. Cerca de dois terços dos
pastagens para criação de gado, bem como frutos produzidos pelos pequizeiros
o extrativismo intensivo, colocam em risco devem permanecer nas áreas de coleta,
a conservação do pequizeiro e de toda a para germinação e também alimentação
flora e fauna nativa. dos animais nativos. O amadurecimento
Comumente, grandes áreas do Cerrado do fruto fica completo depois de três dias
são desmatadas, restando somente as da queda natural, quando tem maior
árvores do pequi em função da proibição quantidade de vitaminas e proteínas.
do corte. Contudo, é necessário considerar Agora que você conhece o pequi, que tal
a existência e a preservação das espécies a experimentar esse fruto tão versátil em
partir do seu meio e da interação com alguma preparação?
19 | REVISTA SUSTENTAREA JULHO 2021, v. 5, n. 3
DICA DO SUSTENTAREA

Como reduzir o consumo de alimentos


ultraprocessados?
SHAIRRA GARCIA ALBUQUERQUE E ALISSON DIEGO MACHADO

Alimentos ultraprocessados são, de diversos estudos têm apontado a relação


maneira geral, formulações que contêm entre o consumo de ultraprocessados e
uma quantidade expressiva de ingre- maior risco de obesidade e doenças
dientes e aditivos alimentares, como crônicas não transmissíveis, como câncer,
corantes, aromatizantes, emulsificantes e diabetes e doenças cardiovasculares.
conservantes. Além disso, para a sua De acordo com os dados da Pesquisa
produção são empregadas diversas Nacional de Saúde de 2019, 14,3% dos
técnicas industriais, como hidrólise, brasileiros de 18 anos ou mais consumiam
hidrogenação e interesterificação. Como cinco ou mais grupos de alimentos
resultado, obtêm-se produtos com longa ultraprocessados regularmente, sendo
vida de prateleira e de grande palata- esse percentual maior nas áreas urbanas
bilidade, mas usualmente ricos em (15,4%). Por outro lado, a mesma pesquisa
açúcares, gorduras saturadas e sal. Alguns aponta que o consumo recomendado de
exemplos de alimentos ultraprocessados frutas, legumes e verduras foi alcançado
são embutidos, como salsicha, linguiça e por apenas 13,0% da população adulta.
presunto; salgadinhos; bolachas em geral; Considerando a participação significa-
bolos prontos; doces, como bala, chiclete, tiva de ultraprocessados na dieta
chocolate e sorvete; bebidas açucaradas, brasileira e seu impacto na saúde,
como refrigerante, néctar de fruta e estratégias que visem a redução de sua
refresco em pó; e fast foods, como pizza, ingestão devem ser estimuladas. É
cachorro-quente e hambúrguer. importante levarmos em consideração que
Esse tipo de alimento pode ser consi- a diminuição do consumo de ultra-
derado de baixo valor nutricional, uma vez processados também traz benefícios ao
que são pobres em proteínas, fibras, meio ambiente, uma vez que esses
vitaminas e minerais. Ainda, são produtos estão quase sempre embalados
densamente energéticos, pois possuem em plástico. O caminho percorrido das
uma grande quantidade de calorias por indústrias ao consumidor deve ser
porção. Devido a essas características, igualmente considerado, pois há utilização

JULHO 2021, v. 5, n. 3 REVISTA SUSTENTAREA | 20


DICA DO SUSTENTAREA

DICAS PARA REDUZIR O CONSUMO DE ULTRAPROCESSADOS

COZINHE MAIS: muitas vezes, os ultraprocessados são consumidos por


serem mais práticos. Uma ótima estratégia para reduzir o consumo desse

1
tipo de produto é cozinhar, pois assim a ingestão de alimentos in natura,
como cereais, leguminosas, frutas, legumes e verduras é aumentada.
Sabemos que cozinhar demanda tempo, por isso as próximas dicas podem
te ajudar a otimizar essa atividade.

PLANEJE SUAS COMPRAS: planejar as compras é uma boa estratégia para

2
reduzir o consumo de ultraprocessados, pois assim é possível fazer
escolhas mais conscientes. Fazer o planejamento dos itens também faz com
que você possa ter sempre alimentos saudáveis à sua disposição.

DEIXE ALGUNS ALIMENTOS PRÉ-PREPARADOS: cozinhar pode


demandar um tempo que nem sempre temos, mas isso pode ficar mais fácil
se você deixar alguns alimentos pré-preparados. Por exemplo, frutas,
3 legumes e verduras podem ser higienizados de uma única vez e mantidos
na geladeira. Você pode deixar algumas frutas já picadas ou mesmo
cozinhar certa quantidade de alimentos de uma única vez. Isso funciona
muito bem para cereais, leguminosas e legumes.

SUBSTITUA ULTRAPROCESSADOS POR ALIMENTOS IN NATURA:


ultraprocessados podem ser facilmente substituídos por preparações

4
feitas a partir de alimentos in natura. Patês de legumes e queijo podem ser
consumidos no lugar de patês prontos, por exemplo. Bebidas açucaradas
podem ser substituídas por chás caseiros; salgadinhos e bolachas podem
dar lugar a frutas, castanhas e pipoca caseira.

de recursos naturais e emissão de gases de ultraprocessados de uma única vez.


efeito estufa durante esse percurso. Mudanças nos hábitos alimentares
Pensando nisso, acima elencamos dicas demandam tempo e disciplina, então é
que podem te ajudar a reduzir o consumo natural que esse processo ocorra de
de ultraprocessados e a fazer escolhas maneira gradativa. Pequenas modificações
alimentares cada vez mais conscientes e são bem-vindas e certamente terão
sustentáveis. É importante salientar que impacto positivo na sua saúde e também
você não precisa abolir a ingestão de na do planeta.

21 | REVISTA SUSTENTAREA JULHO 2021, v. 5, n. 3


HISTÓRIA DE SUCESSO

Comida é direito humano:


gente é pra brilhar, não pra morrer de fome
BEATRIZ MACHADO MARTINS E NADINE MARQUES NUNES GALBES

Imagem: Reprodução/Facebook/Gente é pra brilhar


Como já dizia o célebre Josué de Castro, a 5% da população se encontra em
fome possui um caráter político, fruto da insegurança alimentar grave.
grande desigualdade social existente na A falta de acesso a alimentos de quali-
sociedade. No Brasil, a fome pode ser dade e em quantidade suficiente já vinha
considerada como um problema crescendo e tomou maiores proporções
estrutural, visto que se faz presente desde com o advento da pandemia de COVID-19
a formação do país como o conhecemos no Brasil. Segundo uma pesquisa realizada
hoje. No entanto, apesar de grandes em 2020 e divulgada pela Rede Brasileira
conquistas em direção ao combate deste de Pesquisa em Soberania e Segurança
grave problema, dados mais recentes Alimentar em abril deste ano, cerca de 19
evidenciam um enorme retrocesso. Temos milhões de brasileiros estão passando
observado o desmonte de políticas de fome no país, o que corresponde a cerca de
combate à fome e a extinção de 9% da população. Os números são
importantes órgãos de fiscalização e preocupantes e a necessidade de agir é
participação social, além do retorno do urgente. Contudo, e especialmente por
Brasil ao Mapa da Fome da Organização conta da ausência da atuação do Estado
das Nações Unidas (ONU), publicação que frente a este problema, a resposta surge
sinaliza os países nos quais mais de nas ruas, e assistimos à resistente

JULHO 2021, v. 5, n. 3 REVISTA SUSTENTAREA | 22


HISTÓRIA DE SUCESSO

atuação dos movimentos sociais se tável e colabora também com o Conselho


encarregando de tarefas que, na realidade, Municipal de Segurança Alimentar e
são do poder público. Nutricional de São Paulo, Movimento
Um exemplo potente foi a campanha Urbano de Agroecologia de São Paulo,
“Gente é pra brilhar, não pra morrer de Slow Food Brasil e Serviço Franciscano de
fome”, realizada em outubro de 2020 pelo Solidariedade.
coletivo Banquetaço. Formado pela Essa diversidade de frentes de atuação
sociedade civil organizada, o grupo se entre os integrantes do movimento revela
articula em defesa do Direito Humano à uma das principais características do
Alimentação Adequada. Com uma coletivo: a sua composição plural e
estratégia nada convencional, o coletivo diversa. Como ressalta Fabiana, o
promove banquetes públicos, nos quais a Banquetaço surgiu como uma teia que
comensalidade se torna uma importante juntou a militância do Movimento Slow
ferramenta de sensibilização da sociedade Food com os cozinheiros ativistas. Após
sobre questões políticas e alimentares esse encontro, realizado em São Paulo em
atuais, evidenciando que o comer é, e deve 2017, ocorreu o primeiro Banquetaço em
ser cada vez mais, um ato político. defesa da alimentação de verdade e contra
Para entender melhor toda a poten- a farinata proposta pelo então prefeito da
cialidade desse grupo e a sua atuação mais cidade, João Dória. Naquele momento,
recente durante a pandemia, neste segundo André, o coletivo nasceu como
número o Sustentarea teve o prazer de uma resposta, uma ação direta de
conversar com três integrantes que resistência para gerar visibilidade pública
compõem o movimento e atuam em por meio da comensalidade.
diversas frentes de militância do ativismo Nesses anos de caminhada, o grupo já
alimentar. São eles André Luzzi, que é realizou mais de sete ações em várias
ativista alimentar, internacionalista, cidades do país, e em cada rodada surge a
mestre em História Social e doutor em união com outros movimentos e novos
Ciências, e integra a Conferência Popular membros passam a compor o coletivo,
por Soberania Alimentar e Nutricional e o transformando o Banquetaço em uma
Mecanismo da Sociedade Civil e o dos espécie de coletivo de coletivos. Fabiana
Povos Indígenas; Bianca Lima, que é reconhece a importância dessas redes:
produtora cultural, ativista e faz parte da "essa trajetória de encontros e coligações é
equipe de gestão da Xepa Ativismo, Casas muito bonita. Eu acho que não existe
Coletivas, Mídia Ninja e Rede Fora do Eixo; Banquetaço sem esses arranjos, encontros
e Fabiana Sanches, que é culinarista, e coligações.” E, quando se trata da fome, é
pesquisadora, educadora ambiental, importante reconhecer que este tema
articuladora de redes e movimentos na perpassa todos os movimentos, tornando a
defesa da alimentação saudável e susten- união de forças fundamental e potente.
23 | REVISTA SUSTENTAREA JULHO 2021, v. 5, n. 3
HISTÓRIA DE SUCESSO

André destaca uma visão que serve de tornaram-se necessárias. Foi aí que
força motriz do coletivo: a necessidade de aflorou a campanha “Gente é pra brilhar,
compreender os direitos humanos de não pra morrer de fome”, inspirada na
forma integrada. “A violência tem sido um canção “Gente”, de Caetano Veloso. A
grande fator de produção da fome e de má campanha aconteceu na Semana Mundial
alimentação, e a sobreposição das diversas da Alimentação, entre os dias 12 e 16 de
violências existentes no Brasil cria outubro de 2020, durante a qual foram
inúmeras epidemias”, reflete André. Nesse realizados diversos webinários e debates
sentido, ele ressalta que o conceito de com o intuito de ressoar a discussão sobre
sindemia global, proposto pelo relatório a problemática da fome no país. A
da comissão de obesidade do The Lancet e campanha se encerrou no sábado e
aprofundado ao longo deste número da domingo daquela semana, com o que o
revista, precisaria ser ampliado a fim de coletivo chama de marmitaço, que
contemplar também as múltiplas vio- consistiu na distribuição de marmitas em
lências como fatores de risco para a diversos locais.
insegurança alimentar. A iniciativa contou com a participação de
Essas violências e desigualdades existen- mais de cem coletivos, organizações da
tes no país foram ainda mais acentuadas sociedade civil e importantes nomes da
com a pandemia de COVID-19. Em um área da alimentação, entre pesquisadores,
cenário concomitante de crises sanitária, chefes e artistas. André pontua que um
política e econômica, ações emergenciais aspecto positivo da campanha foi a
possibilidade de convergir diferentes
estratégias de luta, tendo como plano de
fundo a solidariedade. O trabalho em
conjunto e o sentimento de coletivo
também foram aspectos destacados por
Bianca, uma vez a ação transformou lutas
segmentadas em uma pauta única. Nossos
Imagem: Reprodução/Instagram/@gente.prabrilhar

entrevistados destacam ainda a


capacidade que a campanha teve de
sensibilizar a sociedade como um todo,
não só aqueles que já faziam parte dos
movimentos sociais. Para tanto, a
comunicação foi uma das grandes aliadas.
Assim, utilizando-se de uma linguagem
didática, direta e acessível, foi possível
Marmitaço que serviu 600 refeições na Vila difundir os conteúdos rapidamente nas
Leopoldina, São Paulo-SP. redes sociais.
JULHO 2021, v. 5, n. 3 REVISTA SUSTENTAREA | 24
HISTÓRIA DE SUCESSO

indignação em novas alternativas de


combate à fome. O que os organizadores
não esperavam era a proporção que a
campanha tomaria: o seminário batizado
de Conexões Alimentares promoveu mais
de vinte atividades, durante as quais foi

Imagem: Reprodução/Instagram/@gente.prabrilhar
dado espaço para pessoas das cinco
regiões do país compartilharem ferra-
mentas de enfrentamento da fome durante
a pandemia. As atrações contaram, ainda,
com ramificações internacionais por meio
de rodas de conversas com mulheres
latino-americanas. No final de semana,
mais de setenta municípios de todo o
Brasil se cadastraram para o marmitaço,
Marmitaço que distribuiu 250 refeições na com o apoio de cozinheiros, restaurantes e
Aldeia Indígena Bororó, localizada em organizações da sociedade civil.
Dourados-MS Agora, depois de mostrar a importância
de olhar para a fome, o grupo pretende se
Uma das particularidades da ação foi o estruturar internamente, a fim de formar
seu propósito de trazer um olhar positivo à novos ativistas e pesquisar ferramentas
luta, “trazer esperança no meio do caos”, para que as próximas campanhas sejam
conta Bianca. E foi justamente a busca pela ainda maiores e mais potentes. Até porque
valorização da vida de cada pessoa que a luta pelo reconhecimento e concre-
inspirou a campanha. Segundo ela, “a tização dos direitos humanos, como a
gente é pra brilhar e não pra morrer de alimentação adequada, não tem fim, Neste
fome, a gente não tinha outra forma de sentido, todos somos chamados a atuar e
colocar que não fosse uma tentativa de ver reconhecer a importância de exercer nossa
as pessoas brilhando”. Marcada pela cor cidadania, seja por meio da ação direta ou
amarela e por imagens de pessoas e pela cobrança e vigilância de ações por
alimentos típicos de diferentes regiões do parte de nossos representantes políticos.
país, o logo da campanha foi capaz de Para quem se interessar pelo trabalho
transmitir essa alegria e sentimento de realizado pelo Banquetaço, os ativistas
esperança. afirmam que o coletivo é aberto a todas e
Como Fabiana compartilhou conosco, a todos. Caso você queira conhecer mais
maior vocação do coletivo seria sobre a campanha, acesse a conta no
justamente movimentar, animar o campo Instagram @gente.prabrilhar ou o canal
de lutas sociais, transformando a no YouTube CampanhaGenteprabrilhar.
25 | REVISTA SUSTENTAREA JULHO 2021, v. 5, n. 3
IMAGEM

Comprar alimentos provenientes da agricultura familiar é uma ação considerada sustentável,


pois assim são estimulados circuitos curtos de comercialização, ou seja, o alimento percorre uma
menor distância entre o produtor e o consumidor final. Na foto, o Instituto Feira Livre, localizado
no centro de São Paulo-SP. (Imagem: Alisson Diego Machado)

JULHO 2021, v. 5, n. 3 REVISTA SUSTENTAREA | 26


ENTREVISTA

Cidades Sem Fome:


hortas urbanas em favor da cidadania
SAMANTHA MARQUES, THIFANY TORRES E FLAVIA SCHWARTZMAN

Neste número, entrevistamos Hans Dieter o plantio. É uma herança pós-guerra.


Temp, criador da organização não Então, eu comecei a pensar: se aqui na
governamental (ONG) Cidades Sem Fome, Alemanha plantam tanto, por que não
que atua na Zona Leste de São Paulo podemos fazer isso no Brasil? Nós temos
desenvolvendo projetos de agricultura tanto território, um clima maravilhoso,
sustentável. podemos produzir o ano todo. A
inspiração foi mais ou menos essa. Mesmo
Hans, o que te motivou a fundar a dentro do cenário de desemprego, de
organização? insegurança alimentar e de fome, apro-
A motivação veio de uma veitar as potencialidades
especialização que eu fiz na que o país e a cidade de São
Alemanha em Agropecuária Paulo oferecem para
e Políticas Ambientais entre desenvolver um projeto de
1993 e 1996. Lá, vemos inclusão social.
aquelas cidades super
Imagem: Samantha Marques

bonitas e imaginamos que o Como é a dinâmica da ONG


poder público trabalha sem pensar no contexto da
super bem. Mas quando pandemia?
você mora lá, percebe que A Cidades Sem Fome é
não é o poder público e sim Hans Dieter Temp baseada em um tripé de
a sociedade civil organizada metas. O primeiro é asse-
que tem muita força e poder de gurar, de forma legal, o uso do espaço
transformar as coisas. O aproveitamento urbano. Há vários donos do espaço
dos espaços urbanos de lá também me urbano, como as concessionárias de
sensibilizou; eles têm territórios muito energia e as construtoras. Então, a gente
pequenos e aproveitam cada metro tem que negociar com esses donos para
quadrado. É um país que não tem legitimar o uso dos espaços na modalidade
problema nenhum de insegurança de comodato oneroso, em que eles dão a
alimentar e ainda está na cultura deles autorização para a utilização com suas
27 | REVISTA SUSTENTAREA JULHO 2021, v. 5, n. 3
ENTREVISTA

devidas normatizações. O segundo produção de hortas urbanas aqui em São


componente é procurar os recursos. Aqui, Mateus.
saímos um pouco de tentar o poder
público e focamos na iniciativa privada, e Qual é o público que frequenta as hortas
também captamos muitos recursos do comunitárias?
exterior, porque no Brasil as leis de Tem o público local, que compra pela
incentivos fiscais são extremamente praticidade, como se estivesse comprando
complexas e oferecem poucas vantagens em um supermercado, e tem o público que
para quem investe e patrocina. O terceiro vem de mais longe, que procura uma
ponto é a implantação do projeto, alimentação diferenciada, com alimentos
trabalhar com a comunidade local. Aqui, produzidos e colhidos na hora, sem
temos um padrão de implantação: agrotóxicos. Também entregamos para
começamos com a seleção dos benefi- locais mais distantes. Temos uma listagem
ciários, que são as pessoas que vão de produtos que mandamos por meio do
trabalhar na horta, tentando ajudar as celular todos os dias; a pessoa faz o pedido
pessoas que mais precisam. Depois, e entregamos.
capacitamos essas pessoas na produção de
hortaliças, ensinando sobre o plantio Quais as principais vantagens das hortas?
adequado, recuperação do solo, Uma das grandes vantagens das hortas é
compostagem, controle da produção, que a maior parte dos supermercados está
planejamento, higienização dos alimentos longe da grande população e as feiras de
e técnicas de venda. Além disso, muitas rua estão praticamente desaparecendo. As
vezes temos que abrir os caminhos da pessoas vão ao supermercado ou ao
comercialização, ajudar a fazer documento atacado uma vez por mês, quando
de identidade, CPF e conta bancária, por recebem, e não voltam depois de duas ou
exemplo. três semanas só para comprar hortaliças. A
ausência desses produtos perto da
Atualmente, quantas hortas fazem parte residência das pessoas faz com que elas
do projeto? consumam poucos vegetais, e as hortas vão
São trinta e três hortas comunitárias e ao encontro dessa situação. Também
cerca de quarenta e uma hortas escolares. temos ganhos indiretos muito legais, como
As hortas ficam mais na Zona Leste. Alguns a expansão do cardápio das pessoas,
anos atrás, tínhamos hortas espalhadas benefícios para a saúde e impacto no
pela cidade de São Paulo, mas em algum orçamento, porque no Brasil comer carne
momento tivemos que escolher uma é um símbolo de status e, à medida que se
região, porque estávamos tendo muitas desmistifica que podemos comer mais
despesas. Isso foi bom porque hoje verduras e legumes, gasta-se menos com
estamos virando uma referência de carne.
JULHO 2021, v. 5, n. 3 REVISTA SUSTENTAREA | 28
ENTREVISTA

Além da própria produção das hortas, a educação ambiental com as crianças e


vocês também utilizam o espaço para também usar a horta para mudar hábitos
outros fins? alimentares. A meta é desmistificar a ideia
O espaço tem aplicações infindáveis, é só de que hortaliças não são boas ou
pensar. Fazemos muitos eventos aqui. Aos gostosas. Todos os produtos da horta são
sábados, temos alguns voluntários e utilizados na produção da merenda
técnicas de nutrição. Então, pegamos escolar. Além disso, a horta escolar tem um
sobras do couve-flor, talos, folhas e potencial de agregar essa comunicação
fazemos uma farofa; aí, ensinamos sobre o perdida entre comunidade e escola.
aproveitamento integral dos vegetais.
Fazíamos eventos gastronômicos antes da Você tem algum recado para os leitores da
pandemia com uma mesa no sol, na beira revista?
do canteiro e sentavam cerca de trinta O recado é para as pessoas começarem a
pessoas de cada lado. Era uma maravilha. repensar os hábitos de compra dos

"Fortalecendo um produtor de sua região, você será cada


vez mais atendido com qualidade, com presteza. Você vai
fortalecer a economia local de uma forma geral e isso vai
trazer novos investimentos, novos empregos e novos
empreendedores para o local".
Também tinha muito trabalho voluntário produtos e valorizarem a produção local,
das empresas, que traziam os funcionários regional ou dos vizinhos. Fortalecendo um
para ficar um dia trabalhando na terra, produtor de sua região, você será cada vez
mexendo, desestressando. Eles nos mais atendido com qualidade, com
pagavam, fazíamos almoço e, no fim do dia, presteza. Você vai fortalecer a economia
eles ainda levavam várias coisas para casa. local de uma forma geral e isso vai trazer
Eram estratégias que funcionavam e que novos investimentos, novos empregos e
geravam renda para fazermos algumas novos empreendedores para o local.
coisas nos nossos projetos.
Quer apoiar a ONG Cidades Sem Fome?
Você pode contar um pouco sobre o Você pode obter mais informações e fazer
projeto das hortas escolares? uma doação em cidadessemfome.org. Além
O projeto horta nas escolas não tem foco disso, você pode acompanhar as
de comercialização. O foco é trabalhar com atividades em @cidadessemfome.
29 | REVISTA SUSTENTAREA JULHO 2021, v. 5, n. 3
MULHERES NA SUSTENTABILIDADE

Larissa Bombardi e o estudo sobre o impacto


do uso de agrotóxicos
VANESSA COSTA CANÇADO SILVA E JENNIFER TANAKA

Larissa Mies Bombardi é geógrafa, mestre


e doutora em Geografia pela Universidade
de São Paulo, professora licenciada da
mesma instituição e atualmente é pós-
doutoranda na Universidade Livre de
Bruxelas, onde desenvolve projeto sobre
conflitos ambientais. Considerada uma

Imagem: Reprodução/Instagram/@larissabombardi
das mais importantes pesquisadoras sobre
o uso dos agrotóxicos e seus impactos no
ambiente e na saúde, ela mudou-se
recentemente do Brasil para a Bélgica em
função das ameaças que vinha sofrendo
após a divulgação dos resultados de suas
pesquisas, particularmente após o
lançamento, na Europa, da versão em
inglês do atlas Geografia do Uso de
Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a Ainda no primeiro semestre de 2021, em
União Europeia (2017), trabalho fruto das meio a esse período conturbado, Larissa
pesquisas de dois pós-doutorados. continuou a desenvolver sua pesquisa e
Em março deste ano foi divulgada uma lançou no Parlamento Europeu a
carta escrita por Larissa aos colegas da publicação Geografia das assimetrias:
Universidade de São Paulo, em que ela colonialismo molecular e círculo de
relata as intimidações sofridas e a sua envenenamento. Na obra, ela discorre
decisão de deixar o país. A divulgação da sobre o círculo vicioso do veneno, isto é,
carta gerou diversas manifestações de quando parte dos agrotóxicos utilizados
apoio e solidariedade à pesquisadora, que durante a produção em países do Mercosul
também recebe suporte da Rede Irerê de voltam à Europa na fase do consumo, em
Proteção à Ciência. forma de commodities e produtos

JULHO 2021, v. 5, n. 3 REVISTA SUSTENTAREA | 30


MULHERES NA SUSTENTABILIDADE

"Repetidas vezes, a pesquisadora utiliza a frase 'a


soberania começa pela boca' com o intuito de
demonstrar a potencialidade de transformação da
sociedade na discussão sobre a alimentação".
agrícolas. Contudo, enfatiza-se que o alimento em mercadoria e a subversão do
maior impacto da utilização das tempo cíclico simbolizam um processo de
substâncias fica nos países do Mercosul, esterilização da terra, bem como de
contaminando a água, o solo, as plantas, os aniquilação do princípio feminino.
animais, o ar e as pessoas. Não deixando ao Nos trabalhos e palestras de Larissa
mesmo tempo de sublinhar o fato de que frequentemente são feitas citações do
grande parte dos agrotóxicos do mundo escritor uruguaio Eduardo Galeano.
são fabricados por indústrias químicas Repetidas vezes, a pesquisadora utiliza a
europeias, onde têm sua utilização frase “a soberania começa pela boca” com
proibida por causarem graves problemas o intuito de demonstrar a potencialidade
de saúde, como câncer, malformações de transformação da sociedade na
fetais e alterações hormonais. discussão sobre a alimentação. Em seu
No Brasil, apenas entre 2019 e 2021, mais mais recente trabalho, ao tratar das
de 900 agrotóxicos tiveram autorização relações assimétricas entre os países da
para uso. É indissociável a relação entre o América Latina e Europa, o texto se inicia
crescente uso de agrotóxicos, a produção nos recordando as palavras de Galeano
de commodities, o desmatamento e a em: “a América Latina se especializou em
questão fundiária. Como Bombardi não perder”.
nos deixa esquecer, há um jogo de Apesar dos dados alarmantes e desse
interesses entre a indústria de cenário complexo, Larissa aponta alguns
agroquímicos e a agricultura capitalista, caminhos para a transformação da
ambos contando com a subvenção do realidade, tais como a proibição de
Estado. agrotóxicos não homologados na União
Em uma comparação entre agricultura Europeia, cessação da pulverização aérea,
familiar e agricultura capitalista, Larissa abolição dos subsídios aos agrotóxicos,
faz uma reflexão sobre o arquétipo apoio financeiro à produção agroecológica
feminino no significado atual da e democratização do acesso à terra. Essas
agricultura. A terra, palavra no feminino, é são certamente propostas para nos
entendida enquanto húmus, reprodução inspirar e que podem contribuir para que
da vida, e também enquanto lócus da a alimentação saudável e sustentável seja
existência humana. A transformação do possível para todos.

31 | REVISTA SUSTENTAREA JULHO 2021, v. 5, n. 3


PARA ASSISTIR

Seaspiracy
JÚLIA CISCATO

Dos mesmos criadores de Cowspiracy, Ao narrar o documentário, Trabizi conta


Seaspiracy é um documentário original da que sempre teve imagens fascinantes dos
Netflix, lançado em 2021, que aborda a oceanos e vidas marinhas, mas que isso
natureza marinha. De forma provocante e mudou completamente e abriu seus olhos
investigativa, o cineasta britânico Ali sobre o impacto ambiental causado pelas
Tabrizi resolve registrar os danos nossas escolhas e preferências, sobretudo
ambientais causados pela pesca comercial alimentares, na vida e equilíbrio dos
e o impacto humano na biodiversidade e oceanos, e mostra que mudanças nos
ecossistemas marinhos. Contudo, ele não hábitos alimentares são necessárias, assim
esperava se deparar com como políticas que exijam
uma rede de corrupção boas práticas para
global que vai muito além combater esse problema.
Imagem: Reprodução/Instagram/@seaspiracy

da vida marinha. É necessário dizer que


Além da abordagem alguns dados apresen-
sobre os direitos dos tados no documentário
animais, também são estão desatualizados ou
expostos temas que equivocados. Contudo,
precisam ser discutidos, também é importante
como a captura acessória, levar em consideração
mostrando a insustenta- que isso não muda o
bilidade e o impacto nos ecossistemas sentido da análise feita por Tabrizi sobre o
marinhos com a captura de animais que impacto da pesca insustentável.
não são aproveitados comercialmente e, Embarque nesse documentário de estô-
consequentemente, são desperdiçados; a mago vazio e pronto para se deparar com
certificação de peixes sustentáveis e a falta questões que talvez você nunca tenha
de fiscalização; a garantia e o real impacto considerado antes.
desses certificados; a poluição de plástico Para mais informações, acesse o site
dos mares e oceanos devido ao descarte www.seaspiracy.org ou @seaspiracy.
das redes de pesca; além de críticas ao
trabalho escravo e narcotráfico. Onde assistir? Netflix (desde março/2021)

JULHO 2021, v. 5, n. 3 REVISTA SUSTENTAREA | 32


OPINIÃO

Cúpula Mundial de Sistemas Alimentares:


o trem que vai na direção errada
MÔNICA ROCHA

A atual pandemia de COVID-19 trouxe à corporações transnacionais e do


tona o que evidências científicas já agronegócio limita (ou ignora) as
apontavam: os impactos negativos da discussões da sociedade civil na definição
sindemia global, caracterizada pela dos rumos do sistema alimentar que
coexistência de obesidade, má nutrição e desejamos.
mudanças climáticas que, juntas, afetam Em 2019, o Secretário Geral da ONU,
diretamente a saúde das pessoas e do António Guterres, anunciou a criação de
planeta. uma reunião de Cúpula dos Sistemas
Os modelos atuais de produção e con- Alimentares. A Cúpula é o encontro entre
sumo dos alimentos têm exaurido os altas autoridades de vários países para
recursos naturais. Assim, a transformação discutir e indicar soluções sobre
do sistema alimentar vigente é o melhor determinado tema, incluindo a questão
caminho para alcançarmos os Objetivos de ambiental. Entretanto, a Cúpula tem sido
Desenvolvimento Sustentável (ODS) e palco de grandes disputas e tensões em
contribuirmos com a Década de Ação pela relação à temática.
Nutrição, ambas iniciativas da Organi- Afinal, o que acontece nos bastidores do
zação das Nações Unidas (ONU). evento que tem gerado tanta apreensão?
Produzir alimentos seguros e saudáveis Primeiramente, a nomeação pelo Secre-
que promovam justiça social, proteção dos tário Geral da ONU de Agnes Kalibata,
recursos naturais e da biodiversidade, presidente da Aliança para uma Revolução
defesa dos direitos humanos, igualdade de Verde na África (AGRA), como enviada
gênero, e o desenvolvimento da agro- especial para a Cúpula. As críticas
ecologia é um pequeno retrato do que apontam para a ligação de Agnes com o
seriam as características de um sistema agronegócio e para a abordagem da AGRA,
alimentar saudável, sustentável e financiada pelas Fundações Bill e Melinda
resiliente. Gates e Rockefeller, com uma agricultura
No local que seria ideal para frutificar altamente industrializada, com o uso de
esse debate, a Cúpula Mundial de Sistemas sementes híbridas e insumos agro-
Alimentares de 2021, a influência das químicos e fertilizantes. Soma-se a isso

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OPINIÃO

o fato do grupo científico do evento não enviou uma carta ao presidente do CSA,
garantir a representatividade da América Thanawat Tiensin, na qual ressalta as
Latina e de áreas como a saúde e a condições para a participação na Cúpula.
nutrição, tão necessárias para a ampliação Como afirmam na carta, “o MSC não pode
do debate de ideias. ‘pular em um trem’ que está indo na
Ainda, a versão final das “Diretrizes direção errada”. Recentemente, o Núcleo
Voluntárias de Sistemas Alimentares e de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição
Nutrição” no âmbito do Comitê de e Saúde (Nupens) e a Cátedra Josué de
Segurança Alimentar (CSA), secretariado Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis
da própria ONU, não teve a aprovação da e Sustentáveis, ambos da Faculdade de
sociedade civil. No mais, a participação do Saúde Pública da Universidade de São
CSA foi tardia na Cúpula. Por enquanto, o Paulo, realizaram um evento lançando o
cenário tem sido bastante desfavorável documento “Diálogo sobre ultra-
para a sociedade civil e os interesses processados: soluções para sistemas
privados têm prevalecido. alimentares saudáveis e sustentáveis”, que
Todavia, a sociedade civil não se inti- contou com a colaboração de mais de 80
midou. Em 2020, 176 organizações da pesquisadores. O objetivo foi reunir
sociedade civil de 83 países enviaram uma evidências científicas sobre o impacto de
carta ao Secretário Geral da ONU para ultraprocessados na saúde humana e do
revogar a nomeação de Agnes Kalibata. Em planeta e fazer um apelo à ONU para que o
seguida, uma segunda declaração, tema seja incluído nas discussões da
assinada por 500 organizações da socie- Cúpula.
dade civil, acadêmicos e outros atores, foi O trem está na direção errada, mas ainda
enviada à ONU sinalizando preocupações dá tempo de colocá-lo na rota ou, ao
sobre esta nomeação e as discussões da menos, frear a locomotiva das corpo-
Cúpula. Em resposta às duas cartas da rações. Por aqui, organizações da
sociedade civil, com mais de 600 sociedade civil e movimentos sociais têm
organizações, doze indivíduos repre- se manifestado nesse sentido. O Instituto
sentando os interesses do setor privado de Defesa do Consumidor (IDEC) publicou
enviaram uma carta ao Secretário Geral da um posicionamento, uma vez que não irá
ONU para apoiar a indicação de Kalibata. participar formalmente da Cúpula. Em sua
O que não causa espanto é que esses carta, destaca que a nomeação de Agnes
indivíduos, exceto um, receberam recursos Kalibata representa um impedimento à
da Fundação Gates, sinalizando um participação da academia e da sociedade
evidente conflito de interesses. civil, pois marca a influência do
Contudo, o jogo ainda não terminou. O agronegócio e dos interesses corporativos
Mecanismo da Sociedade Civil (MSC), que no evento. A Conferência Popular de
representa a sociedade civil no CSA, Soberania e Segurança Alimentar e

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OPINIÃO

"A Cúpula é um terreno fértil para que as sementes do


futuro possam crescer e prosperar e, assim,
direcionarmos a mudança dos sistemas alimentares nos
próximos anos. Mas quem definirá os rumos dessa
mudança?"

Nutricional, que abrange diversas e as pesquisas financiadas com conflitos


organizações, publicou uma nota pública de interesse, assim como do marketing
repudiando as estratégias do setor privado abusivo e direcionado para crianças; do
e se posicionando negativamente em aumento do consumo de ultraprocessados
participar dos diálogos da Cúpula. A pela população mundial, especialmente
Organização pelo Direito Humano à por crianças e jovens, e de seu impacto
Alimentação e Nutrição Adequadas (FIAN sobre a saúde; do uso intensivo da terra e
Brasil) também fez um apelo à ONU da liberação cada vez maior de
reforçando as preocupações apresentadas agrotóxicos; do desmatamento, das mono-
anteriormente. culturas e da pecuária, que degradam os
Já percebemos que a Cúpula é um ter- solos, poluem as águas e extiguem a
reno fértil para que as sementes do futuro biodiversidade local.
possam crescer e prosperar e, assim, Talvez seja realmente necessário dar
direcionarmos a mudança dos sistemas alguns passos para trás e recomeçar a
alimentares nos próximos anos. Mas quem Cúpula, mas dessa vez com diálogos
definirá os rumos dessa mudança? amplos e livres de conflitos de interesses,
O que está em jogo é óbvio: os interesses entre Estados, organizações e sociedade
que privilegiam o lucro ou os interesses civil.
que defendem a vida e a preservação dos
ecossistemas. Para se discutir sistemas
MÔNICA ROCHA é nutricionista e mestre em
alimentares saudáveis, sustentáveis e
Políticas Públicas em Saúde pela FIOCRUZ.
resilientes, é necessário falar sobre o lobby
Possui residência em Saúde Coletiva pela
feito pelas grandes indústrias de UFRJ e especialização em Nutrição Clínica
alimentos, que tentam persuadir governos pela UFF, em Saúde Coletiva e Educação na
locais e influenciar políticas públicas Saúde pela UFRGS e em Gestão da Política
relacionadas à alimentação e nutrição. Nacional de Alimentação e Nutrição pela
Também é preciso abordar o nega- FIOCRUZ. Atualmente atua como consultora
cionismo e a negligência com a ciência da OPAS.

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PARA CONHECER

5 projetos que atuam no combate à fome


TEM GENTE COM FOME
@temgentecomfomeoficial
A campanha, que surgiu em resposta ao aumento da fome durante
a pandemia de COVID-19, foi idealizada pela Coalização Negra por
Direitos. O grupo mapeia e distribui alimentos para famílias em
situação de vulnerabilidade social de todo o Brasil.
Imagem: Reprodução/www.temgentecomfome.com.br

GASTROMOTIVA
@gastromotiva
Há cinco anos a organização atende pessoas em situação de rua
por meio do Reffetorio Gastromotiva. Desde março de 2020, esse
espaço do projeto tem funcionado como um banco de alimentos e
semanalmente são distribuídas 1300 refeições no Rio de Janeiro.
Imagem: Reprodução/Facebook/Gastromotiva

GERANDO FALCÕES
@gerandofalcoes
Durante a pandemia de COVID-19, a organização lançou a
campanha #CoronanoParedão, que consiste na doação de cestas
básicas digitais, atendendo comunidades de São Paulo, Ceará,
Espírito Santo e Minas Gerais.
Imagem: Reprodução/Facebook/Gerando Falcões

AMPARAÍ
@misturaipoa
Criada em 2020, a frente de trabalho atua em Porto Alegre
distribuindo refeições para pessoas em situação de rua, além de
cestas básicas e itens de higiene. Apenas no ano passado foram
entregues 119.000 refeições e pelo menos 1500 cestas básicas.
Imagem: Reprodução/misturai.com/amparai/

COZINHA OCUPAÇÃO 9 DE JULHO


@cozinhaocupacao9dejulho
A cozinha foi instalada em 2017 e, além de atender aos moradores
da ocupação, se tornou um polo gastronômico. Durante a
pandemia de COVID-19, a cada quentinha vendida, uma é doada
para quem necessita.
Imagem: Reprodução/Facebook/Cozinha Ocupação 9 de Julho

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CALENDÁRIO

ALIMENTOS DA ÉPOCA
JULHO

Avocado Carambola Cupuaçu Kiwi Mexerica Quincam

Abobrinha bras. Aspargo Mandioca Mandioquinha Milho verde Palmito

AGOSTO

Abacate fortuna Avelã Graviola Laranja lima Maçã Fuji Morango

Abóbora moranga Agrião Beterraba Brócolis ninja Couve Espinafre

SETEMBRO

Banana prata Manga Haden Maracujá Nêspera Tamarindo Uva Crimson


Imagens: Reprodução/Canva

Alface lisa Berinjela jap. Cenoura Couve-flor Rabanete Shimeji

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BIBLIOGRAFIA

O papel da agricultura urbana na Segurança Alimentar e Nutricional

Canavesi FC, Moura IF, Souza C. Agroecologia nas políticas públicas e promoção da segurança
alimentar e nutricional. Segur Aliment Nutr. 2016;23:1019-30.
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debater o tema sob a ótica da análise espacial. Rev Geografia. 2007;24(2):6-23.
Garcia MT. Hortas urbanas e a construção de ambientes promotores da alimentação adequada e
saudável [tese]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP; 2016.
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A adoção de uma alimentação saudável e sustentável custa mais caro?

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Alimentos de origem animal e vegetal: o que as pegadas de carbono dizem sobre eles?

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preparações culinárias consumidos no Brasil. São Paulo. Faculdade de Saúde Pública da USP;
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BIBLIOGRAFIA

Sindemia Global: a interação que desafia a saúde planetária

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Pequi

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BIBLIOGRAFIA

Como reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados?

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alcoolica
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Comida é direito humano: gente é pra brilhar, não pra morrer de fome

Greenpeace Brasil [internet]. Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome! c2020 [acesso em 10
maio 2021]. Disponível em: https://www.greenpeace.org/brasil/blog/gente-e-pra-brilhar-nao-
pra-morrer-de-fome/
Monteleone J [internet]. “Gente é para brilhar e não para morrer de fome”: uma campanha
fundamental. c2020 [acesso em 16 jun 2021]. Disponível em:
https://www.brasildefato.com.br/2020/10/16/gente-e-para-brilhar-e-nao-para-morrer-de-fome-
uma-campanha-fundamental
https://midianinja.org/editorninja/banquetaco-reune-movimentos-sociais-e-sociedade-civil-
pela-volta-do-consea/
Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Insegurança
alimentar e Covid-19 no Brasil. 2021.
Rodrigues C [internet]. “O que nos levou a sair do Mapa da Fome já foi destruído”, diz ex-ministra
de Dilma. c2019. [acesso em 16 jun 2021]. Disponível em:
https://www.brasildefato.com.br/2019/09/12/tereza-campello-tudo-que-nos-levou-a-sair-do-
mapa-da-fome-ja-foi-destruido

Larissa Bombardi e o estudo sobre o impacto do uso de agrotóxicos

Bombardi LM. Geografia do uso de agrotóxicos no Brasil e conexões com a União Europeia. São
Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP; 2017.
Bombardi LM. Geography of Asymmetry: the vicious cycle of pesticides and colonialism in the
commercial relationship between Mercosur and the European Union. Brussels: European
Parliamentary Group; 2021.

JULHO 2021, v. 5, n. 3 REVISTA SUSTENTAREA | 40


AUTORES

ALINE MARTINS DE CARVALHO


@alinemcarvalho1
Nutricionista. Mestre e doutora em Nutrição em Saúde Pública pela FSP-USP. Docente do
Departamento de Nutrição da FSP-USP.

ALISSON DIEGO MACHADO


@alissondmach
Nutricionista. Mestre e doutorando em Nefrologia na FMUSP.

ANA MARIA BERTOLINI


@anabertolinii
Nutricionista. Doutoranda em Saúde Global e Sustentabilidade na FSP-USP.

BEATRIZ MACHADO MARTINS


@biaammartins
Graduanda em Nutrição na FSP-USP.

DEBORAH ROCHA FADUL


@fadulzinha
Graduanda em Nutrição no Centro Universitário São Camilo.

FLAVIA SCHWARTZMAN
@flaschwartzman
Nutricionista. Mestre em Nutrição pela UNIFESP e doutora em Nutrição em Saúde Pública
pela FSP-USP. Consultora da FAO.

JACQUELINE TEREZA DA SILVA


@silvajacq
Nutricionista. Mestre em Nutrição em Saúde Pública pela FSP-USP e mestre em Ciência
de Dados em Saúde pela Universidade de Manchester.

JENNIFER TANAKA
@comermudaomundo
Nutricionista. Mestre e doutoranda em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura
e Sociedade no CDPA-UFRRJ.

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AUTORES

JÚLIA CISCATO
@juliaciscato
Graduanda em Nutrição no Centro Universitário São Camilo. Formada no curso básico de
Antroposofia para Profissionais de Saúde da ABMA.

MÔNICA ROCHA
@comidacoisaetal
Nutricionista. Mestre em Políticas Públicas em Saúde pela FIOCRUZ. Consultora da
OPAS.

NADINE MARQUES NUNES GALBES


@nadinemnunes
Nutricionista. Mestre em Nutrição em Saúde Pública pela FSP-USP e doutoranda em
Saúde Pública na FSP-USP

SAMANTHA MARQUES
@samantha.mvb
Graduanda em Nutrição na FSP-USP. Técnica em Nutrição e Dietética pela ETEC
Mandaqui.

SHAIRRA GARCIA ALBUQUERQUE


@filledaphrodite
Graduanda em Nutrição na FSP-USP.

THIFANY TORRES
@thifanytorres
Graduanda em Nutrição na FSP-USP. Vice-presidente da Liga Acadêmica de Nutrição e
Complexidades Alimentares da FSP-USP.

VANESSA COSTA CANÇADO SILVA


@vanessaccs
Antropóloga. Mestre em Antropologia pela UFBA.

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www.fsp.usp.br/revistasustentarea
facebook.com/sustentarea
@sustentarea

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