Literatura Africana
Literatura Africana
Literatura Africana
Tema
Nome do estudante:
Alfredo Tomás Salomão Chave
Código:
708207683
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CAPITULO I. Introdução
Esta pesquisa procura investigar o contributo da formação identitária da população de Cabo
Verde nas obras literárias produzidas naquele país, bem como possíveis influências da
literatura na formação da identidade cultural do povo cabo-verdiano. A intenção é analisar
algumas produções literárias tendo como pano de fundo os processos históricos e políticos
vivenciados pelo arquipélago, principalmente ao longo do século XX, época de grandes
alterações nas dinâmicas sociais no mundo como um todo e em especial em Cabo Verde,
que viu surgir diferentes abordagens a respeito do indivíduo caboverdiano no longo processo
que levou as ilhas à independência, com consequente formação de uma nova identidade
nacional. Por essa razão será dada uma certa centralidade ao desenvolvimento histórico de
Cabo Verde no decorrer dessa dissertação, a fim de clarificar determinadas noções que
fizeram e ainda fazem parte do imaginário coletivo cabo-verdiano.
Desde a descoberta das ilhas até o início do século XX, os intelectuais caboverdianos tinham
a África como uma espécie de potência adormecida, pelo que vigorou no arquipélago,
durante os primeiros séculos a partir do descobrimento, uma identidade cultural referenciada
basicamente em Portugal, a despeito da posição geográfica do arquipélago. Posteriormente,
uma identidade atlântica, sob os pressupostos da ideia de mestiçagem, tomou forma e
ganhou força na década de 1930, mesmo período em que uma nova literatura, com
características mais marcadamente cabo-verdianas, desabrochava no encalço da revista
Claridade, sob forte influência do modernismo nordestino que na mesma época crescia em
importância no Brasil. Após essa tendência liderada pela Claridade, o panorama político em
meio aos movimentos de descolonização da África favoreceu uma busca por referências
dentro do próprio continente africano, procurando bases em suas tradições e em sua
realidade singular frente ao mundo.
1.2. Contextualização
A literatura, assim como as demais manifestações culturais das nações que outrora foram
colônias europeias, por muito tempo sofreu com as influências coloniais deformando o
modo de identificação com sua origem e sua ancestralidade, sob um olhar deturpado,
silenciado e anulado dos bens culturais, a partir do contato com os europeus. Em Cabo
Verde, colônia portuguesa entre 1460 e meados dos anos de 1970, houve uma influência
muito forte da cultura portuguesa sobre a ideia identitária e cultural da nação, especialmente
sobre sua literatura. Segundo Romano (1984), a Literatura caboverdiana possui registros
desde o século XVIII, ainda que incompletos. A produção literária caboverdiana passou por
algumas fases em que as obras representavam, através de seus versos, rimas e estrofes, os
sentimentos e os pensamentos latentes de cada um dos períodos.
Mesmo a literatura absorvendo os ideais colonialistas portugueses, foi ela também um dos
pontos de partida para um processo de ressignificação do povo caboverdiano com as suas
raízes ancestrais, incorporando as manifestações culturais populares do povo, como lendas e
mitos, seu folclore, religiosidade e a língua crioula. Contudo, as contribuições dos
portugueses e também dos brasileiros em algumas fases do movimento literário
caboverdiano se fizeram presentes, mesmo havendo uma transformação e descolamento da
cultura de Cabo Verde em relação aos portugueses (Romano, 1984).
Nesta pesquisa, as fases literárias de Cabo Verde são explanadas dentro do contexto em que
se manifestaram, com seus principais autores e as obras de maior destaque em cada período,
problematizando assim, a relação entre literatura e identidade caboverdiana.
1.3. Metodologias
O conceito de metodologia pode variar em fução da área de aplicação. Segundo Gil (2008),
“metodologia é o estudo dos métodos que envolvem a escolha, a aplicação e a análise dos
procedimentos utilizados na pesquisa, buscando garantir sua validade e confiabilidade”.
Para Lakatos e Marconi (2010), a metodologia é o conjunto de procedimentos lógicos e
sistemáticos que orientam a pesquisa. Ela abrange desde a formulação do problema até a
interpretação dos resultados, fornecendo uma estrutura para a investigação científica.
A primeira fase foi classificada por Romano (1984) como: “Herança Romântica”, devido a
influência do Romantismo então vigente em Portugal, na França e, posteriormente, no
Brasil, influenciado pelas duas potências europeias. Os livros produzidos nestes países
foram traduzidos e levados para o arquipélago para o deleite das famílias abastadas, o que
acarretou na influência da escrita produzida em Cabo Verde. Os autores que se destacam
nessa fase são Eugênio Tavares (poeta, trovador e publicista), António Januário Leite
(sonetista) e José Lopes (poeta erudito e polígrafo).
No entanto, ainda que com forte apelo colonial, tanto do ponto de vista político como sócio
identitário, alguns intelectuais do período já esboçavam a sua preocupação patriótica através
da sua produção literária:
A segunda fase das letras caboverdianas, data-se de 1910 com a publicação das “Canções
Crioulas” (1910), de José Bernardo Alfama, seguido de Pedro Cardoso com “caboverdianas”
(1915) e “Ode à África” (1921). Constata-se nessa fase os iniciadores com vocação
patriótica (1910 – 1925), na qual “as figuras mais em evidência nesse período são Eugénio
Tavares com suas ‘Mornas’, escritas na modalidade da Ilha Brava, e Pedro Cardoso
seguindo a mesma linha, através da imprensa” (ROMANO, 1984, p. 42).
A terceira fase, classificada por Romano (1984) como: Precursores ou Pré-Claridosos, data-
se de 1925 a 1935. Esse período é o resultado das actividades e preocupações expressadas
pelos intelectuais e suas publicações na revista Manduco que, segundo Romano, “havia já
pressentimento colectivo, de uma Realidade, em forma da espécie de transição que se
processava na Literatura e na Arte, enquanto a curiosidade e as ideias fustigavam os
diálogos e debates” (1984, p. 45). Os escritores que se destacam nessa época são: João
Lopes e Jaime de Figueiredo, os quais possibilitaram a edição e publicação do livro de
poesia realista “Diário”, de António Pedro, em 1929: obra chave escrita em lusoverdiano,
que, ao descobrir as ilhas da sua terra no seu ativismo e dinâmica do dia-a-dia, viria –
parece-nos – influenciar pela mudança, mensagem e estética, a primeira produção
modernista de Jorge Baltazar: – “ARQUIPÉLAGO” – verdadeira revolução na Poesia
Caboverdiana dessa década, quando aquele poeta iniciava sua libertação dos
condicionamentos de uma herança saturada de sensualismo romântico, já cronologicamente
superada, e torturada pelo suplício da métrica e das rimas, em detrimento da criatividade
espontânea. (ROMANO, 1984, p. 45).
Diante desse fator, a fundação da revista Claridade possuiu como finalidade se firmar
enquanto uma revista de “fundação”, de “interpretação da realidade nacional”, de “contra-
aculturação literária e social”, de “investigação dentro do país” e, juntamente, de busca das
raízes nativas além do substrato colonial, re-enraizamento nativista – “fincar os pés na
terra”. Isto permitiria pensar um futuro para o país reconhecido como pátria, se ele ainda não
puder se enunciar como nação.” (RIVAS, 1989, p. 42).
Para Romano (1984), os integrantes dessa fase nacionalista refutavam as ideias dos
claridosos, pois sustentavam a luta pela independência e afirmação de uma identidade
africana, do arquipélago de Cabo Verde, ou seja, a defesa da raiz de África e a forte ligação
do arquipélago com o continente negro. A partir da década de 50, marca-se uma nova era na
formação da identidade cultural e nacional com o resgate dessas origens. A defesa da raiz
africana e profundo laço dos caboverdianos a este continente passam a ser um dos principais
propósitos, assim como um dos mais importantes pressupostos teóricos daquilo que viria a
ser a “reafricanização dos espíritos”.
De filial afeição!
CASEBRE
Foi a estiagem
E o silêncio depois
O casebre apenas
de pedra solta
O teto de palha
levou-o
a fúria do sueste.
Sem batentes
as portas e as janelas
ficaram escancaradas
Essa abertura ao estrangeiro possibilitou à configuração cultural uma mescla entre as duas
culturas em questão, a europeia e a africana. No entanto, segundo Anjos (2003), estruturou-
se com base nas distinções raciais desenvolvidas pela ciência produzida no século XIX a
partir de uma distinção hierárquica entre os dois polos. Desse modo, a cultura africana do
arquipélago se manteve distanciada do continente africano de maneira a estruturar-se com
base nos preceitos eurocêntricos.
O arquipélago de ilhas que formam a república do Cabo Verde encontrase a 650 km de
distância da costa africana. Com isso, evidencia-se uma problemática ao que se refere a
relação do arquipélago com o continente africano, como afirma Anjos (2003): “todo o
processo de construção da identidade nacional cabo-verdiana tem o Continente africano
como referência, seja para uma afirmação de distanciamento, ou para uma firmação de
proximidade ou de pertencimento”. No entanto, o processo de assimilação da cultura
africana provocou o direcionamento da cultural local para a metrópole, como maneira de se
firmar enquanto cidadãos africanos de comportamentos europeu. Sendo assim, a sociedade
cabo-verdiana é vista a partir do processo de mestiçagem como:
Uma sociedade cujas estruturas estatais são exteriores à cultura da maioria da população é
uma sociedade fraturada entre a elite, que tem acesso aos códigos ocidentais, e o resto.
Nesse sentido, a mestiçagem aparece não apenas como a ideologia que alivia as tensões
internas propondo uma imagem de coletividade homogênea, mas é também um modelo de
(Geertz, 1978) encompassamento de diferenças, que operacionaliza a forma como modelos
simbólicos exteriores podem ser integrados e, por fim, justifica essa importação. (ANJOS,
2003, p. 584).
Para Anjos (2003), o processo de construção da identidade do povo cabo-verdiano foi sendo
desenvolvido juntamente com a manifestação da sua produção literária, sendo que um
movimento foi importante para o avanço do outro dentro do contexto em que o povo cabo-
verdiano se encontrava, sendo colônia portuguesa por mais de 400 anos, sofrendo todas as
influências europeias nesse período, de maneira impositiva, o que provocou o afastamento
do povo com suas origens.
Num primeiro momento, os movimentos realizados pela elite de Cabo Verde dentro da
produção literária consistiam em absorver os traços europeus na formação linguística e
textual, entretanto, a cultura materna do povo caboverdiano era introduzida para demonstrar
as características regionais da colônia portuguesa. Sobre isso, Secco (1999, p.13) cita: “Nas
primeiras décadas do século XX, surgiu uma poesia que procurava as raízes regionais de
Cabo Verde, mas havia ainda nessa fase ambivalência entre ‘pátria portuguesa’ e a ‘mátria
crioula’ traduzindo o desenraizamento dos sujeitos poéticos”.
Conclusão
A cultura de um povo se manifesta de diversas maneiras, seja nos costumes, no cotidiano,
nas artes plásticas, literárias, entre outras. Algumas nações foram colonizadas
principalmente por nações europeias entre os séculos XV e XX e, por esse fato, os povos
colonizados sofreram diversas influências dos seus colonizadores, o que modificou e até
suprimiu, em alguns casos, a identidade cultural dos povos.
Em Cabo Verde, os portugueses ocuparam as terras do arquipélago por quase 400 anos,
contribuindo impositivamente na formação cultural dos caboverdianos. A literatura foi um
meio pelo qual os nativos, ao longo do período de colonização, puderam enfrentar a
dominação cultural portuguesa e, desta forma, ressignificar a identidade da sociedade cabo-
verdiana.
A literatura em Cabo Verde passou por fases distintas ao longo dos séculos XIX e XX, ao
menos onde se tem registros acessíveis. No início, os cabo-verdianos tinham como
referência o romantismo presente na Europa, especialmente em Portugal e França. As obras
lá produzidas eram traduzidas e importadas para Cabo Verde, e eram consumidas pela elite
abastada.
Por fim, com os claridosos, a questão regional é amplificada pelo discurso nacionalista, onde
a negligência de Portugal com sua colônia se tornava um dos principais motivos para o
afastamento de Cabo Verde em relação à dominação portuguesa. As contribuições dos
principais nomes das letras em Cabo Verde expandiram para o campo político,
acompanhando a onda de revolução das nações colonizadas pelos europeus na região em que
buscavam a independência.
Referências Bibliográficas
SECCO, Carmem Lucia Tindó Ribeiro (1999). Antologia do Mar na Poesia Africana de
Língua Portuguesa do século XX. Volume II: Cabo-Verde. Caderno de Letras Africanas II,
Rio de Janeiro: UFRJ.