W. Literatura Africana
W. Literatura Africana
W. Literatura Africana
2.2. Literatura cabo-verdiana e afirmação da cultura cabo-verdiana: o papel dos escritores cabo-
verdianos na construção da identidade cabo-verdiana .................................................................... 6
Capitulo I: Introdução
A literatura de Cabo Verde, em particular, não foge à regra. Na década de 30, os escritores
Baltasar Lopes, Jorge Barbosa e Manuel Lopes, tendo em consideração as preocupações
longamente alimentadas pelo grupo, criaram a revista literária Claridade, em que os escritores
envolvidos buscaram, acima de tudo, criar uma literatura de caráter nacional, de “fincar os pés no
chão” e de exaltar a realidade cabo-verdiana. Na mesma linha ideológica da Claridade, o
claridoso Manuel Lopes publica, em 1959, o romance Os Flagelados do Vento Leste que, a partir
da análise da realidade cabo-verdiana, coloca em evidência as calamidades, as secas e as mortes
que afetavam a população do arquipélago.
Em Cabo Verde, o contexto político, social, histórico e literário terá permitido, nos anos 30, a
emergência de um novo período de produção literária, não só em termos de dominantes
temáticas, como de conteúdos literários e de transformações formais e estéticas. Iniciou-se,
assim, uma nova estética literária. Mas a acção do grupo de intelectuais que originou essa
mudança, não se limitou só a alterações no domínio literário, mas também no campo ideológico,
sociológico, antropológico e etnográfico.
O presente trabalho está dividido em quatro partes, sendo na parte introdutória fez-se a
contextualização do tema em estudo e os objectivos. Na segunda parte estão desenvolvidos os
conteúdos que dizem respeito ao tema em estudo. Na terceira apresenta-se a conclusão e a ultima
parte, as referências bibliográficas onde são arroladas todas obras consultadas pelo autor do
trabalho.
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1.2. Objectivos
O trabalho foi norteado por um (1) objectivo geral, e quatro (04) objectivos específicos.
1.3. Metodologia
Esta pesquisa quanto aos objectivos trata-se de uma pesquisa Exploratória: proporcionar maior
familiaridade com o problema (explicitá-lo). Pode envolver levantamento bibliográfico,
entrevistas com pessoas experientes no problema pesquisado. Geralmente, assume a forma de
pesquisa bibliográfica e estudo de caso. Gil (2008)
Para efectivar este trabalho de campo, recorreu-se a pesquisa bibliográfica, pois, para (Gil, 2008)
afirma que é aquela que é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos.
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Cabo verde um arquipélago atlântico, em plena banda tropical, com uma área de 4033 Km2 e
uma população de cerca de 350.000 almas, tem uma sociedade multifacetada, devido às diversas
origens dos seus habitantes: em termos de raça, é facilmente verificável a disparidade de origem
da população do Arquipélago. 16 Predominam os indivíduos mestiços, resultado de relações
interraciais, promovidas pelo tipo de povoamento efectuado. Grupos populacionais oriundos da
Europa, esmagadoramente portugueses, mas também alguns indivíduos catalães e genoveses,
deslocaram-se para habitar o Arquipélago, no século XVI. Cedo verificaram a falta de recursos e
as adversidades climáticas e da Natureza, o que fez com que muitos regressassem à sua terra
natal.
Jorge Vera-Cruz Barbosa nasceu na ilha de Santiago, de Cabo Verde, em 22 de Maio de 1902 e
faleceu em Portugal em 6 de Janeiro de 1971. A infância e a juventude passaram-nas na ilha de
São Vicente, onde fez os seus estudos primários, continuou os estudos em Portugal concluindo o
3º ano no Liceu de Gil Vicente. Regressou a Cabo Verde, continuando os seus estudos até ao 5º
ano, que não chegou a concluir. Cedo, concretamente aos dezoito anos de idade, entra para a
alfândega de São Vicente. Resultado de várias transferências, percorre quase todas as ilhas em
serviço. Como funcionário aduaneiro residiu longos anos na ilha do Sal, onde se aposentou em
1967, com sessenta e cinco anos, com a categoria de diretor de alfândega.
A afirmação da identidade cultural cabo-verdiana está intimamente ligada à sua história literária.
A literatura serviu como base de afirmação, arma de combate e realização simbólica da cabo-
verdianidade, em diferentes momentos de afirmação. A identidade crioula construiu-se e
veiculou-se pela literatura. Os escritores cabo-verdianos utilizaram os textos literários para
transmitirem aos seus irmãos e aos estrangeiros a sua ideia de identidade cultural e nacional.
O termo nativismo é entendido como movimento de luta a favor dos interesses e manifestações
culturais por parte dos povos colonizados e da defesa da sua terra de origem.
O Nativismo e a geração da elite cabo-verdiana que o representa, defende os direitos dos filhos da
terra, alegando a autonomia do arquipélago. Apelando à união dos ditos filhos da terra, o
objectivo principal consiste na luta pela igualdade em relação aos da metrópole, de modo a serem
reconhecidos e considerados como portugueses plenos, sem contudo abrirem mão da Matria
(África). A valorização do espaço geográfico e humano das ilhas e da sua cultura, também foi
outro aspecto defendido pelos nativistas.
Apesar dessa identificação com a pátria portuguesa, os nativistas tentaram evidenciar uma
identidade crioula através de mitos que explicavam a origem de Cabo Verde. Assim, destaca-se o
mito hesperitano ou arsinário, que constituiu uma fantasia imaginária de alguns intelectuais cabo-
verdianos numa tentativa de defender uma identidade para Cabo Verde, ou seja, uma identidade
distinta, específica e singular em relação à Pátria-Portugal.
Com a geração de Amílcar Cabral, o fincar os pés na terra adquire um significado essencialmente
político, tendo como implicação imediata a assunção da condição de africano e a ligação de Cabo
Verde aos outros países envolvidos no projecto de emancipação político-cultural. Assim,
enquanto a geração dos Claridosos encarava a identidade como resultado de interacções
quotidianas, sem que as relações ali subjacentes fossem problematizadas, já que assumidas como
relações simétricas, a geração de 50 concebe-as a partir da reiteração das diferenças num cenário
de assimetrias e de relações de dominação.
Baltasar Lopes (considerado o líder do grupo), Manuel Lopes e Jorge Barbosa. Estava assim
lançada a era moderna da literatura cabo-verdiana.
Como anteriormente foi referido, com o objetivo de relatar uma identidade e os males que
afetavam a realidade social do arquipélago, em vez da publicação de um jornal, que inicialmente
era a aspiração do grupo, surge no cenário literário caboverdiano a revista Claridade. Quanto às
publicações, de 1936 a 1966, saíram, no total, nove (9) números desta revista.
E devido ao interregno que se estabeleceu entre essas publicações, surgem dois momentos ou
fases distintas da Claridade. Na primeira fase, de Março de 1936 a Março de 1937, foram
publicados três (3) números, com um intervalo de cinco a seis meses. O 1º (Março de 1936) e 2º
(Agosto de 1936) foram dirigidos por Manuel Lopes e o 3º número (Março de 1937) por João
Lopes.
O núcleo de redatores nesta primeira fase é muito pequeno e podemos dizer que estes três
números devem-se ao trabalho exclusivo dos seus respectivos fundadores, anteriormente citados,
e João Lopes. Atento à construção de uma identidade cultural autónoma, baseada na criação da
"cabo-verdianidade" e na análise das alarmantes condições socioeconómicas e políticas das ilhas
do arquipélago, esses três números, essencialmente literários, nem por isso deixam de mostrar
“notas que apontam não só às características sociais de Cabo Verde mas também às suas raízes
humanas e telúricas, conferindo à língua de Cabo Verde uma presença de honra” , demonstrando
assim uma clara desobediência ao regime colonialista.
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a Claridade pode ser entendida como um marco na literatura cabo-verdiana, na medida em que
este movimento deu um grande passo para a viragem total na temática da literatura produzida em
Cabo Verde, devido ao seu carácter grupal e de assumida cabo-verdianidade. Lançada em Março
de 1936, na cidade do Mindelo, ilha de São Vicente, sob a vontade de três homens, Claridade
desempenhou um papel essencial não só para o surgimento da literatura “propriamente dita de
Cabo Verde”, mas também para a sua formação e definição em relação às outras culturas, como
por exemplo a europeia. O seu surgimento só deve causar admiração e orgulho no homem cabo-
verdiano, na medida em que, literariamente, e não só, foi o início da afirmação do povo desse
arquipélago, dentro do conjunto das culturas europeias-africanas.
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Referencias Bibliográficas
Carvalho, A. (1998) "A Ficção de Baltasar Lopes, contributo para a Originalidade da literatura
cabo-verdiana" (tese de doutoramento), Lisboa.
Cerrone, F. (1998). Cabo Verde, Cruzamento do Atlântico Sul, Edição Rádio Nova, Mindelo, S.
Vicente.
Ferreira, M. (1987). 50 Poetas Africanos, Lisboa, Plátano Editora, 1ª edição, s.d.. Ferreira,
Manuel, Hora di Bai, Mem Martins, Europa-América.
Laban, M. (1992). Cabo Verde. Encontro com os escritores, 2volumes, Porto, Fundação
Engenheiro António de Almeida.