4 Descartes Da Dúvida À Certeza - Doc - 20231108 - 090306 - 0000
4 Descartes Da Dúvida À Certeza - Doc - 20231108 - 090306 - 0000
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1. Descartes e o Racionalismo
1. Evidência: evitar precipitações e só aceitar como verdadeiro aquilo que for claro e
distinto ao espírito e deste modo não ofereça qualquer razão para duvidar.
2. Análise: dividir uma dificuldade nas parcelas necessárias de modo a melhor a resolver.
3. Síntese: conduzir por ordem os pensamentos, dos mais simples para os mais
complexos.
4. Enumeração: fazer revisões gerais de modo a ter a certeza de nada omitir.
“Enquanto rejeitamos deste modo tudo aquilo de que podemos duvidar, e que fingimos
mesmo que é falso, supomos facilmente que não há Deus, nem céu, nem terra, e que não
temos corpo; mas não poderíamos igualmente supor que não existimos, enquanto
duvidamos da verdade de todas as coisas: porque temos tanta repugnância em conceber
que aquele que pensa não existe verdadeiramente ao mesmo tempo que pensa que, não
obstante todas as mais extravagantes suposições, não poderíamos impedir-nos de crer que
esta conclusão, PENSO, LOGO EXISTO é verdadeira e, por conseguinte, a primeira e a
mais certa que se apresenta àquele que conduz os seus pensamentos por ordem.”
Descartes, Princípios de Filosofia
Mas, ainda não foi afastada a hipótese de um deus enganador. Como provar então a
existência de Deus?
Apesar de evidente, o cogito como verdade solipsista não é suficiente para uma
fundamentação absoluta do conhecimento. Temos que encontrar o suporte e fundamento
do pensamento e também desta primeira evidência ou ideia inata.
Mas, que tipos de ideias pode ter a nossa mente? (págs. 73 e 74 do Manual)
Reconhecemos que não existem apenas ideias inatas (provenientes da razão como por
exemplo: o cogito) mas existem ideias adventícias (provenientes dos sentidos como por
exemplo: cão, gato ou barco) e ideias factícias (fabricadas pela imaginação como por
exemplo: sereia ou dragão). Entre as ideias inatas encontramos a de um ser omnisciente,
omnipotente e sumamente perfeito – Deus. Mas como provar a sua existência? (pág. 75 do
Manual)
São três as provas da existência de Deus:
1. Na ideia de ser perfeito estão incluídas todas as perfeições, sendo a existência uma
dessas perfeições. Assim, Deus existe. Existir é inerente à essência de Deus. Este é o
argumento ontológico.
1. A causa da perfeição não pode encontrar-se num ser imperfeito. O ser pensante, sendo
finito não pode ser a causa do infinito, logo só Deus pode ser a causa em mim da ideia
de Deus. Assim Deus existe. (argumento da causalidade)
Provando a existência de Deus supera-se o solipsismo do Cogito. Mas ainda não está
provada a existência do mundo físico? Como fazê-lo?
Vamos continuar a acompanhar o raciocínio de Descartes. Deus, como ser perfeito, não é
enganador e, como tal, é a garantia de que podemos confiar na razão e no que ela conhece
clara e distintamente. Assim, a existência de Deus nega a hipótese do génio maligno,
garante as verdades claras e distintas e a confiança na razão. E, teremos nós ideias claras e
distintas sobre o mundo físico? A resposta só pode ser afirmativa. Com efeito, se Deus
existe e se temos em nós as ideias de casas, árvores ou montanhas e se Deus não nos
engana, então não poderemos dizer que essas ideias são ilusões. Pelo contrário, são essas
realidades físicas a origem das ideias que delas tenho, logo o mundo físico existe. E qual é a
natureza ou essência deste mundo físico? É a extensão (altura, largura e profundidade). E
poderei ter conhecimentos certos e seguros sobre este mundo físico? Descartes está
convencido que não, mas não nega a crença natural, viva, intensa e digna de confiança em
relação a este mundo físico e aos seus objetos mas não ao ponto de os considerar como
conhecimento claro e distinto.
Conclusão:
Se Deus existe, não há génio maligno que nos possa enganar, todas as ideias claras e
distintas são verdadeiras. Está encontrado assim o fundamento certo, seguro e inabalável
do conhecimento – Deus. Deste modo, poderemos ter ideias claras e distintas de três tipos
de substâncias:
1. Substância pensante (res cogitans) – atributo essencial é o pensamento.
2. Substância extensa (res extensa) – atributo essencial é a extensão.
3. Substância divina (res divina) – atributo essencial é a perfeição.
O ser humano é constituído por duas substâncias: o corpo (substância extensa) e a alma
(substância pensante). É através do pensamento, da razão devidamente orientada pelo
método, que é possível alcançar verdades universais bem como os fundamentos ou
princípios fundamentais do conhecimento. Estes princípios são: a existência do
pensamento; a existência de Deus e a existência dos corpos extensos (com comprimento,
altura e largura). Deus é fundamento de toda a realidade e também do conhecimento.
Quanto aos erros, eles são produto do mau uso da liberdade (o sujeito dá o seu
consentimento a juízos que não são evidentes) e de uma incorreta orientação da razão e
precipitação da vontade.
A filosofia de Descartes começa por uma dúvida metódica, supera o ceticismo e mostra
razões para defender conhecimentos certos e seguros.