Revisão Pas 2 (2023) Unico
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PAS – 2ª ETAPA
1.1 Racionalismo
O modo que vamos adotar aqui para efeitos de estudo é o racionalismo epistemológico, que tem como princípios fundamentais:
1º) A crítica os sentidos como fonte para o conhecimento, pois eles são falhos.
2º) A adoção da existência de ideias inatas ou puramente formuladas pela razão. Essas são verdadeiras justamente por não
dependerem dos sentidos.
3º) O fado de privilegiar a certeza sobre o conhecimento, que deve ser inabalável, sobre as probabilidades e hipóteses ainda
não confirmadas.
Inexiste no mundo coisa mais bem distribuída que o bom senso, visto que cada indivíduo acredita ser tão bem provido
dele que mesmo os mais difíceis de satisfazer em qualquer outro aspecto não costumam desejar possuí-lo mais do que
já possuem. E é improvável que todos se enganem a esse respeito; mas isso é antes uma prova de que o poder de julgar
de forma correta e discernir entre o verdadeiro e o falso, que é justamente o que é denominado bom senso ou razão, é
igual em todos os homens; e, assim sendo, de que a diversidade de nossas opiniões não se origina do fato de serem
alguns mais racionais que outros, mas apenas de dirigirmos nossos pensamentos por caminhos diferentes e não
considerarmos as mesmas coisas.
(DESCARTES, René. Discurso do método. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2004, p. 35).
✓ Bom senso consiste na capacidade de julgar o verdadeiro do falso e todos temos em igual proporção.
✓ A diversidade de opiniões é consequência de utilizarmos métodos diferentes (caminhos diferentes) e partirmos de princípios
diferentes (não considerarmos as mesmas coisas).
A citação traz um problema evidente: todos somos dotados de razão e bom senso, mas encontramos resultados diferentes.
Descartes reconhece que a causa dele é o fato de partirmos de princípios e utilizarmos métodos diferentes.
Então, como resolver o problema? Criando regras do método para orientar a razão na busca pelo conhecimento seguro.
Epistemologia, vem da junção de duas palavras gregas: episteme (), que significa conhecimento, ciência e logos
() que significa razão ou estudo. Dito de outra forma, ela consiste em uma Teoria do conhecimento, que trata das
possibilidades, origem, métodos e veracidade do conhecimento.
EPISTEMOLOGIA: Termo de origem grega que apresenta duas acepções de fundo. Num primeiro sentido (como o inglês
Epistemology), é sinônimo de gnosiologia ou de teoria do conhecimento. Num segundo sentido, é sinônimo de filosofia da
ciência. Os dois significados estão estreitamente interligados, pois o problema do conhecimento, na filosofia moderna e
contemporânea, entrelaça-se com o da ciência. (Abbagnano, Nicola. Dicionário de Filosofia, 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes,
2007, p. 392)
FILOSOFIA PAS – 2ª ETAPA
1ª) Evidência: Partir de um princípio que seja tão claro e distinto que não seja passível de dúvidas. Em outros termos, inabalável.
2ª) Análise: Dividir o problema em tantas partes quantas forem possíveis para melhor resolvê-lo.
3ª) Síntese: Estudar as partes, divididas na análise, sempre seguindo a ordem das mais simples para as mais complexas.
4ª) Enumeração ou revisão: Fazer todas as relações possíveis entre as partes até que não reste dúvidas.
A regra da evidência resolve o problema de partirmos de princípios diferentes, pois somente devemos considerar como
princípios aquelas ideias, teorias, conhecimentos que sejam impreterivelmente indubitáveis e irrefutáveis. Dito de outro modo, para
se chegar a uma verdade é necessário partir de outra verdade.
Na análise percebemos que não é possível a compreensão do todo sem compreender as partes e, por isso, a necessidade da
divisão do objeto de estudo.
A síntese estabelece a ordem de estudo mais coerente possível, visto ser impossível compreender o complexo sem entender o
mais simples. Como ser advogado e douto nas leis, sem saber ler.
A enumeração é como o fim de um quebra-cabeças, conhecendo as partes conseguimos montar o todo.
Descartes criou um método científico em que temos um todo desconhecido (não falso); dividimos em partes (desmontamos);
estudamos cada uma delas segundo uma ordem de dificuldade; e depois conseguimos montar esse todo novamente, mas agora com
ciência dele.
Seguindo essas regras do método, conseguimos evitar dois graves erros, que seguem abaixo:
✓ Precipitação: cometido por aquele que afoito, ávido pelo resultado rápido, salta etapas e, com isso, perde informações
ou evita estudos, testes que podem ser imprescindíveis para o conhecimento seguro.
✓ Prevenção: prejudica a produção de conhecimento porque, pelo excesso de zelo e dúvida de sua própria capacidade de
fazer ciência, pode fazer com que desista quando se depara com os entraves do processo para se alcançar a verdade.
Descartes se depara com um entrave já na regra da evidência, pois deve partir de um princípio irrefutável, o qual ele ainda não
tem. Para resolver esse problema opta por utilizar a dúvida como método para atingir o primeiro princípio inabalável. É importante
ressaltar que Descartes não é cético, pois admite que é possível encontrar a verdade, o que contraria o ceticismo.
Na dúvida metódica ele propõe não aceitar como certo nada que possa gerar a menor dúvida. Então, caso algo seja estudado e
gere alguma dúvida deve ser admitido como falso e colocado em suspenso.
Ao utilizar a dúvida metódica, percebemos que ele duvida de três elementos principais:
✓ Dos sentidos: porque podem nos enganar pelo fato de serem falhos. Então, as ideias geradas a partir dos sentidos
podem ser falsas ou imprecisas e, portanto, admitidas como falsas e colocadas em suspenso.
✓ Da res extensa (coisa corpórea): sabemos de nosso corpo pelos sentidos, os quais podem nos enganar. Conclui-se, dessa
forma, que é possível que a ideia que fazemos do nosso corpo é duvidosa e, assim sendo, admitida como falsa e colocada
em suspenso.
✓ Da vigília: aqui evidencia a dificuldade de separar a vigília do sonho, pois ambos parecem reais. Desse modo, coloca a
realidade vivida no momento como duvidosa e, por isso, é admitida como falsa e colocada em suspenso.
Descartes duvida de quase tudo, até não poder duvidar de que duvida. Sendo a dúvida um pensamento conclui que: “Cogito,
ergo sum.” (Penso, logo existo). Essa conclusão ficou conhecida como cogito cartesiano e constituiu o primeiro princípio da filosofia
cartesiana, ou seja, a primeira evidência.
Descartes conclui que existem algumas ideias que são evidentes em si mesmas, como as ideias da aritmética e geometria. Elas
não dependem dos sentidos e independente de acordado ou dormindo, todo triangulo tem três lados e 2 + 2 = 4. Enfim, os princípios
matemáticos seriam verdades constituídas apenas pela razão e, assim, necessariamente irrefutáveis e indubitáveis.
É quando ele cria a hipótese do gênio maligno ou Deus enganador, também conhecida como dúvida hiperbólica. Nela Descartes
supõe a existência de um ser superior que, por sua vontade, poderia tê-lo conduzido desde o início ao erro e, por isso, até os princípios
da aritmética e geometria poderiam estar errados.
Contudo, mesmo que o gênio maligno exista e o faça errar, quem pensa errado ainda assim pensa e, portanto, existe. A dúvida
hiperbólica questiona, mas não invalida o cogito cartesiano.
Depois, em sua obra “Meditações sobre Filosofia Primeira”, Descartes também se detém a demonstrar que existe um Deus
perfeito e a refutar a hipótese de que Ele seria “maligno”.
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FILOSOFIA PAS – 2ª ETAPA
Descartes, utilizando a dúvida como método, encontra o primeiro princípio inabalável de sua filosofia: o cogito. É importante
ressaltar que a evidência de que “Penso, logo existo” consiste na certeza de que existo enquanto res cogitans (coisa pensante), isto é,
pensamento puro, o qual é dividido em três tipos:
✓ Ideias inatas: são marcas do Criador no homem e, portanto, já nascem conosco. Por não dependerem dos sentidos são
sempre verdadeiras.
Exemplo: a ideia de Deus e dos primeiros princípios matemáticos.
✓ Ideias adventícias: dependem dos nossos sentidos e, por isso, podem nos enganar.
Exemplo: cor, sabor, luz, frio, dor, cadeira etc.
✓ Ideias fictícias: são fruto da imaginação e dependem das anteriores para serem formadas.
Exemplo: figuras míticas (Medusa, Minotauro etc.), cadeira alada, dragão, dentre outras tantas.
2.1 Empirismo
O termo ‘empirismo’ deriva do grego que se traduz por ‘experiencia’, uma palavra que tem muitos sentidos.
Entre estes se destacam dois: a experiência como informação proporcionada pelos órgãos dos sentidos, e a experiência
como aquilo que logo foi chamado de “vivência”, isto é, o conjunto de sentimentos, afeições, emoções etc. que são
experimentados por um sujeito humano e se acumulam em sua memória, de modo que o sujeito que dispõe de um
modo de aprovisionamento desses sentimentos, emoções etc. é considerado “uma pessoa com experiencia”.
(Dicionário de Filosofia – TOMO II – José Ferrater Mora)
Acepção mais comum e, também, a que utilizaremos nos módulos 11 e 12 deste livro, será a primeira enunciada (em negrito) acima.
Então temos que o empirismo:
Suponhamos então que a mente seja, como se diz, um papel branco, vazio de todos os caracteres, sem quaisquer ideias.
Como chega a recebê-las? De onde obtém esta prodigiosa abundância de ideias, que a ativa e ilimitada fantasia do
homem nele pintou, com uma variedade quase infinita? De onde tira todos os materiais da razão e do conhecimento?
A isto respondo com uma só palavra: da experiência.
LOCKE, Ensaio sobre o entendimento humano. Lisboa: Calouste Gulbenkian. 2010, p. 106.
Sabemos que a expressão “tábula rasa”, apesar de coerente com a teoria empirista de Locke, não foi criada por ele. Contudo,
como exposto na citação acima, ele admitia o princípio de que nascemos como folhas em branco, ou seja, totalmente desprovidos de
ideias.
Como todo empirista, John Locke nega a existência de ideias inatas, que estariam em nosso entendimento desde o nascimento.
Essa negação ocorre por alguns motivos, dos quais elencamos dois principais.
✓ Impossibilidade de universalização: se as ideias fossem inatas todos nasceriam necessariamente com as mesmas ideias.
Então, os limites da imaginação seriam iguais, teríamos princípios morais idênticos, bem como os mesmos juízos
estéticos. A experiência nos mostra diferente.
✓ Impossibilidade de aferição: não é possível testar e comprovar por meio de experiências e experimentos a veracidade
de ideias inatas.
Desse modo toda ideia necessariamente é obtida por meio dos órgãos dos sentidos. Até os sentimentos precisariam de
experiências para serem experimentados e proporcionarem as ideias de dor, sabor, amor etc. Dessa forma, temos que os limites da
nossa imaginação são as ideias contidas na memória que, por sua vez, dependeram dos sentidos. Esse princípio justifica o porquê
temos ideias diferentes, bem como o motivo pelo qual podemos imaginar objetos que outras pessoas não poderiam.
As ideias propostas podem John Locke podem ser divididas em simples e complexas, como veremos a seguir.
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FILOSOFIA PAS – 2ª ETAPA
As ideias simples são cópias mentais da sensação, não podendo ser criadas e nem destruídas. Elas podem ser geradas por:
✓ Sensação: contato imediato com o objeto. A ideia gerada por sensação não expressa algo do sujeito que analisa, sendo
totalmente objetiva e descritiva. Por esse motivo expressam qualidade primárias, as quais constituem características
contidas no objeto. Exemplos: cor, sabor, tamanho, imagem etc.
✓ Reflexão: são geradas a partir da sensação, mas não são próprias do objeto. As ideias por reflexão são mais subjetivas,
dependem do contato com o objeto, mas não se restringem a ele. Desse modo, expressam qualidades secundárias, que
não constituem características contidas no objeto. Exemplos: dor, amizade, unidade, desejo etc.
As ideias complexas são formadas a partir das ideias simples e dependem da intenção do sujeito em formá-las. Podem ser
formadas por:
✓ Junção: consiste na soma de duas ou mais ideias (simples ou complexas), sem o intuito de formar uma ideia nova.
Exemplo: um livro, sobre a mesa de jantar rodeadas de amigos. Aqui temos a junção de várias ideias simples (livro,
mesa e amigos), que não forma uma ideia nova, mas apenas ilustra uma situação possível.
✓ Combinação: soma das partes de duas ou mais ideias simples com o objetivo de formar uma ideia nova. Exemplo: o
Minotauro. Temos nesse exemplo a combinação de uma parte do touro (a cabeça) e uma parte do ser humano (corpo),
que somadas formam a ideia de um novo ser: o Minotauro (que não passará a ter uma existência material só porque
formamos a nova ideia).
✓ Abstração: consiste na capacidade humana de formular ideias gerais e operações de causalidade. Exemplos:
Humanidade (conceito geral que nomeia vários seres semelhantes que constituem uma espécie), Sintomas X doença
(relação de causalidade: quando temos esses sintomas como causa, temos tal doença como consequência).
Como os demais empiristas, David Hume nega as ideias inatas. Tal fato ocorre pelos mesmos motivos vistos no módulo 11 sobre
John Locke. Nascemos como folhas em branco, totalmente desprovidos de ideias.
Para Hume toda ideia é fruto daquilo que percebemos, como percebemos e do modo como percebemos. Todo o conhecimento é
fruto das percepções que temos dos objetos.
3.2 Percepções
Contato do sujeito com o objeto por meio dos sentidos. Podem ser divididas em impressões e ideias.312.2.1 Impressões
A forma como o objeto afetou nossa percepção. É a sensação imediata, ou seja, sem mediação, que temos no momento exato em
que o objeto afeta nossos sentidos (tato, olfato, paladar, visão e audição). Elas são aquilo que percebemos do objeto e é importante
ressaltar que nunca o perceberemos na sua completude, mas apenas parcialmente. São mais vivas e mais fortes.
3.2.2 Ideias
São cópias mentais das impressões. São mediatas, isto é, são mediadas pelas impressões, pois antes de chegar às ideias, a
sensação, referente à forma como o objeto afetou o sujeito, passa pelas impressões. As ideias são copias mentais das impressões e não
do objeto, pois nunca perceberemos o objeto na totalidade, mas apenas parcialmente. Desse modo, a ideia corresponde àquilo que
percebemos do objeto e não a ele na completude.
✓ Memória: Obedecem a ordem e posição em que aconteceu o contato do objeto com o sujeito. Refere-se a uma lembrança.
✓ Imaginação: Pode-se mudar a ordem e posição das ideias agrupadas na memória. Consistem em modificações e montagens
feitas a partir das ideias contidas na memória.
Não existe relação NECESSÁRIA entre causa e efeito na teoria de Hume. Não é porque sempre que tive dor de cabeça tomei
dipirona e me curou, que na próxima vez acontecerá novamente.
Só é correto considerar conhecimento no momento em que acontece o fato, não podemos fazer generalizações a partir de
coincidências. mesmo porque não existem condições iguais, somente semelhantes, que não podem nos garantir necessariamente uma
relação de causa e efeito.
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FILOSOFIA PAS – 2ª ETAPA
3.4 Hábito
O hábito consiste em tirar conclusões de causa e efeito a partir da repetição e do fato de nos acostumarmos a perceber que uma
ação sempre tem a mesma consequência, julgamos que sempre ocorrerá da mesma forma. Esse fato ocorre por força do hábito, a qual
nos leva a acreditar que uma ação sempre terá o mesmo efeito. Contudo, o hábito não torna essa relação necessária.
O Iluminismo foi um movimento intelectual e político que ocorreu no século XVIII na Europa. É caracterizado por seu
antropocentrismo, bem como pela valorização da razão e da ciência em detrimento da fé.
Alguns fatores históricos contribuíram para a formação do iluminismo. Elencamos três: Renascimento, Reforma e Revolução
Inglesa.
O primeiro contribui para uma dessacralização do conhecimento e da política, visto que o cientificismo evidencia a autonomia
do homem na produção de conhecimento e no campo político, fato que percebemos já com Maquiavel na separação entre política e
religião.
A Reforma luta contra o autoritarismo no campo religioso e, mesmo não sendo necessariamente um ideal que ela defendia, acaba
colaborando para a formação de outras vertentes cristãs além do catolicismo e sendo, em certa medida, um preludio para uma
liberdade de credo.
Já com a Revolução Inglesa temos a busca pelo fim do autoritarismo absolutista, o qual passa a se subordinar ao parlamento,
além de haver um ideal liberal em ascensão, como na teoria política de John Locke que descentraliza o poder e cria o ideal de
insurreição (como veremos no módulo 17 mais detalhadamente).
Esses fatores colaboraram para um momento propício ao antropocentrismo do “século das luzes”, pois tornaram possíveis novas
visões de mundo calcadas na capacidade humana de produzir conhecimento, política, moral por meio de demonstrações lógico-
dedutivas e não mais de forma impositiva pelas perspectivas estagnadas e inflexíveis da Idade Média.
Enfim, é notório que o iluminismo é marcado pela busca da autonomia do homem por meio razão e ciência; pela liberdade de
pensamento, credo e econômica; assim como pelo fim do autoritarismo religioso e político. Apenas com a liberdade e pelo exercício
da razão o homem poderia progredir das trevas à luz.
O criticismo kantiano consiste em uma teoria epistemológica que critica e, ao mesmo tempo, concilia o racionalismo e o
empirismo que o antecederam.
O primeiro tem uma fé descomunal na razão como única capaz de compreender a realidade quase que de forma autônoma, visto
valorizar as ideias inatas em detrimento daquelas que dependem dos sentidos.
O segundo parte da negação das ideias inatas e a priori, valorizando apenas a percepção sensorial como fonte de conhecimento,
bem como anulando a possibilidade de o conhecimento extrapolar a experiência sensível, como afirma Hume na crítica a noção de
causalidade.
Para Kant, o conhecimento é formado e determinado pela razão, mas a experiência fornece as informações para que o
conhecimento seja formado. Desse modo, as ideias podem ter em si tanto elementos da razão quando da experiência, visto que por
meio daquela podemos extrapolar os limites desta.
A Revolução Copernicana na Filosofia faz alusão à Revolução realizada por Nicolau Copérnico no século XVI, a qual realiza uma
profunda transformação no modo de compreender o universo, pois ele propôs que o centro do universo era o sol (modelo
heliocêntrico) e não a Terra como era admitido desde Aristóteles e Ptolomeu (modelo geocêntrico).
Kant inova na epistemologia ao propor uma mudança na forma de compreender o modo como o conhecimento é construído.
Deixando de ser centrado no objeto, como feito até então, e passando a analisar o papel do sujeito na produção do conhecimento.
O sujeito não é passivo na relação de conhecimento, como deveria ser admitido se Hume estivesse correto. Para este filósofo
empirista, toda ideia é uma cópia mental de uma impressão. Então, Kant se pergunta: é possível gerar uma ideia consciente sobre
todas as impressões que temos ao mesmo tempo? A resposta é não.
Hume erra ao admitir a passividade do sujeito, pois, se assim fosse, não seria possível produzir conhecimento e o sujeito seria
meramente uma “esponja” que absorve informações e nada faz com elas.
Para Kant, o sujeito é o determinante do conhecimento, pois dentre as várias percepções sensoriais que tem ao mesmo tempo ele
que escolhe aquela sobre a qual vai gerar uma ideia. Chamamos comumente essa escolha de “prestar atenção” e Kant a chama de
intuição.
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Segundo Immanuel Kant, o conhecimento é regulado pela nossa razão, a qual nos é inata. Já nascemos com nossa capacidade de
gerar ideias. Dessa forma, ele cria o conceito de sujeito transcendental, pois a razão enquanto capacidade de produzir ideias é
independente da experiência. É importante ressaltar que a razão não depende dos sentidos, mas as ideias podem depender.
Nossa razão é dotada de faculdades de conhecimento, mais especificamente: sensibilidade e intelecto. Na primeira temos as
noções de espaço e tempo, que são a priori e a intuição que escolhe, dentre todos os objeto percebido, aquele que será analisado e
sobre o qual geramos a ideia. E na segunda temos as categorias (substância, quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo, posição,
posse, ação, paixão), as quais são responsáveis por identificar as características contidas no objeto de análise.
Então, o processo para a formação do conhecimento se dá da seguinte forma:
1º) A experiência sensível: percebemos vários objetos ao mesmo tempo por meio dos sentidos.
2º) Intuição: escolhemos conscientemente um objeto dentre todos os que percebemos na experiência sensível.
3º) A sensibilidade: situa/impõe à intuição as noções de espaço e tempo.
4º) Intelecto: o objeto da intuição é lançado no intelecto que, por meio das categorias, vai identificar as características do objeto
para gerar o juízo.
5º) Um juízo é gerado sobre o objeto.
É importante deixar claro que, de acordo com Kant, nossa percepção a posteriori é determinada de forma a priori. Isso ocorre
porque a razão é transcendental, ou seja, independente, ou seja, é anterior aos sentidos. Nossa capacidade de conhecer, o que inclui
obviamente as faculdades de conhecimento (intelecto e sensibilidade) existem anteriores a qualquer experiência que tenhamos e, por
tal motivo, são a priori.
O que a razão é capaz de conhecer nos objetos pelas categorias, por exemplo, é definido antes mesmo de percebê-los. Então, se
percebermos uma característica no objeto que a razão não é capaz de reconhecer é como se ela não existisse. Algum dos nossos
sentidos (tato, olfato, paladar, visão e audição) pode até perceber, mas a razão não consegue gerar a ideia.
Toda forma de conceito e conhecimento será expresso na forma de um juízo com uma estrutura do tipo: Sujeito (é, tem ou está)
predicado. Desse modo, temos que o sujeito na estrutura do juízo é o objeto de análise (por exemplo, o quadro da sala) e o predicado
é a característica contida ou atribuída a ele (por exemplo, branco). Então, o juízo ficaria: O quadro é branco.
Não devemos entender juízo necessariamente como uma análise de valor, como: bom ou mau, certo ou errado, mas como uma
ideia ou conceito gerado por nossa razão.
Temos dois tipos de Juízos:
✓ Juízo analítico: aquele em que o predicado está contido no sujeito (existe identidade entre sujeito e predicado). Podemos
dizer também que é aquele em que a característica está contida no objeto. É um juízo de elucidação e, por isso, mais
descritivo.
Exemplo: “um triângulo tem três lados”, o predicado está implicitamente contido no conceito de triângulo.
“todo corpo é extenso”, não existe um corpo sem extensão.
✓ Juízo sintético: aquele em que o predicado NÃO está contido no sujeito (NÃO existe identidade entre sujeito e
predicado). Podemos dizer também que é aquele em que a característica não está contida no objeto. Por isso considerado
um juízo de ampliação. Pode ser dividido em:
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FILOSOFIA PAS – 2ª ETAPA
Exemplo: Todo corpo tem peso. A força peso não está contida no corpo, mas é exercida sobre ele. Então, é sintético
porque a característica peso não está contida em corpo e a posteriori poque depende da experiência de perceber a
força de atração nos corpos.
Kant, quando fala das possibilidades de conhecimento e admite que, apesar de podermos extrapolar a mera descrição objetiva
de objetos percebidos pelos sentidos, nossa capacidade de percepção é limitada. Para explicar melhor essa limitação ele desenvolveu
os conceitos de fenômeno e coisa em si.
O fenômeno é aquilo que se dá a experiência, ou seja, consiste naquilo que conseguimos perceber por meio dos sentidos. Desse
modo, todo juízo que formulamos acerca de objetos sensíveis é sobre o fenômeno e, por isso, ele é cognoscível (possível conhecer).
A coisa em si (noumeno) consiste na totalidade o objeto, isto é, trata-se de todas as características contidas nele. Dessa forma, a
coisa em si é incognoscível (não é possível conhecer), pois nunca perceberemos a totalidade de características que compõem um
objeto.
Percebemos que, de acordo com Kant, o conhecimento não se restringe à experiência podendo extrapolá-la ou ser independente
dela. Temos, assim, o seguinte esquema:
✓ Transcendental: aquilo que está aquém (anterior) ou independente da experiência pelos sentidos. Em outros termos,
podemos inferir que existem ideias independentes dos sentidos, como os juízos sintéticos a priori. Nossas faculdades de
conhecimento também não dependem da experiência.
✓ Imanente: consiste naquilo que a experiencia nos evidencia de forma objetiva. Podemos associar ao fenômeno.
✓ Transcendente: aquilo que está além da experiência. Aqui estão as leis gerais da ciência, que extrapola a descrição do
fenômeno criando regras gerais que podem antever uma relação causal, por exemplo.
Como vimos no módulo anterior, o contexto histórico em que Immanuel Kant está inserido é o iluminismo, o qual é caracterizado
pela forte valorização da razão e por seu cientificismo.
A partir deste mote é possível fazer a seguinte análise: a ciência nos mostra que podemos observar, compreender, explicar e até
intervir no meio em benefício humano. Dessa forma, é possível estabelecer relações necessárias entre causa e efeito, que geram leis
universais e necessárias que determinam o modo como os seres e fenômenos se desenvolveram e, consequentemente, como eles se
desenvolvem mesmo em situações diversas.
A partir dessa reflexão, Kant admite que é necessário “cientificizar” também a moral. Em outros termos, devemos buscar padrões
de conduta moral que sejam universais e necessários e que, por tal motivo, sejam válidos independente de valores, cultura, religião,
tradições, classes sociais etc.
Immanuel Kant, se opõe a ética teleológica. Para ele a ação moral não deve ser regulada pelo “fim” que ela deve proporcionar, como
a felicidade objetivada por Aristóteles e pelos filósofos do helenismo, por exemplo.
A moral deve ser pensada deontologicamente, isto é, pautada no dever, o qual é determinado pela razão. A ação deve ser um
“fim” em si mesmo e não pensada como “meio” para outra coisa, como na moral teleológica.
O dever, por sua vez, consiste na necessidade moral de se obedecer, ou seja, respeitar a um princípio, o qual deve ser universal
e necessário. Então, tais princípios não podem ser definidos de forma relativa ou subjetiva, pois negaria sua universalidade. A razão
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FILOSOFIA PAS – 2ª ETAPA
pura é a única capaz de construir racional e imparcialmente os princípios a serem seguidos pelo ser humano, como uma espécie de
moral absoluta.
DEONTOLOGIA vem do grego deontos (), que significa dever, obrigação e logos () que significa razão, mas também traduzido
por estudo. A deontologia é o tratado acerca do dever enquanto norma moral a ser obedecida.
De acordo com a deontologia kantiana, a ações humanas são definidas por alguns elementos primordiais, a saber: os princípios
que regem as ações, a liberdade e a vontade.
Os princípios, como ficou evidente, devem ser universais e necessários por determinarem de forma objetiva o que é certo e errado
no que concerne à moral.
A liberdade não é apenas o poder fazer tudo, totalmente desprovidos de regras ou normas. Ela está diretamente ligada ao agir
de acordo com os princípios que imponho a mim mesmo como determinante da minha conduta. Agir por instinto (comer, dormir,
beber água, buscar prazer, evitar a dor) não é liberdade, pois estamos subordinados aos desejos e ao próprio instinto. Se agimos
segundo regras e convenções sociais, não somos livres, pois o determinante da ação é exterior ao indivíduo que age. A liberdade está
relacionada ao fato de a razão determinar para si as regras que deve seguir.
A vontade está diretamente associada a liberdade do ser humano em ter o poder de decidir as ações que deve realizar, pois
mesmo conhecendo os princípios morais e o dever de obedecê-los temos a liberdade de cumpri-los ou não. Então, a vontade boa seria
exercer a liberdade para escolher seguir tais princípios e a vontade má seria optar por negligenciá-los.
A moral está na vontade boa, que consiste em exercer a liberdade escolhendo realizar as ações que estão de acordo com os
princípios universais constituídos pela razão.
Os princípios universais dos quais falamos constituem as regras universais objetivas que o ser humano deve seguir para agir
moralmente. Kant os denominou de imperativos, os quais são divididos em:
Imperativo hipotético é aquele em que a vontade leva o indivíduo a exercer sua liberdade escolhendo obedecer a um princípio
moral, mas com vistas a um “fim”. Desse modo, a ação em si se torna meio para o “fim” objetivado pelo indivíduo que age. Por isso,
esse imperativo acaba sendo subjetivo e fugindo ao dever, por ceder ao desejo ou objetivo particular.
Imperativo categórico diz que “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.”
(KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 1995. p. 59). Este imperativo é o que deve reger os indivíduos,
pois admite que a ação deva ser um “fim” em si mesmo, pois conseguem sintetizar universalmente o que é o dever a ser cumprido.
Isso ocorre porque independe de contexto histórico-social e até mesmo dos desejos e objetivos particulares do indivíduo que age.
Segundo o imperativo categórico uma ação correta é aquela que poderia ser praticada por todos ao mesmo tempo, sem prejuízo a
alguém.
Autonomia vem da junção de dois termos: auto () que é por si próprio; e nomós (), que significa lei. Então, autonomia
quer dizer aquele que rege a si mesmo.
Para Kant, a moralidade pressupõe a autonomia do indivíduo em fazer uso da própria razão de forma livre e, consequentemente,
sem a tutela de outro. Tal definição implica em não agir subordinado aos instintos, desejos e normas sociais. Contudo, também não
admite poder fazer tudo. A autonomia está vinculada ao uso da razão no intuído de seguir a vontade boa, ou seja, seguir o imperativo
categórico por decisão própria e não com vistas a um “fim” ou por coerção.
A heteronomia é quando o ser humano age sem liberdade e, por tal motivo, é condicionado por fatores externos ao próprio
indivíduo que age. Dessa forma, quem segue a lei, moral, religião, convenções sociais por coerção ou medo de sanções e punições
age de forma heterônoma, pois sua ação está sendo determinada por esses fatores que são externos àquele que age.
De acordo com o que foi dito até agora é necessário perceber que não basta analisar uma ação em si mesma para determinar sua
moralidade, pois a ação pode ser correta e imoral. Então, é preciso verificar também a motivação do indivíduo que age.
Temos, desse modo, três tipos de ações que devemos considerar:
✓ Ação contrária ao dever: é imoral. A ação em si é errada, pois viola tanto o imperativo categórico quando as normas
sociais. E sua motivação também é errada, já que é motivada pela inclinação (que seria o interesse ou desejo particular
do indivíduo em “receber algo em troca pela ação).
Exemplo: Roubar. Ação errada, pois traz prejuízo a alguém e motivação errada pela inclinação de ter objeto
roubado ou o valor que a venda dele pode proporcionar.
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FILOSOFIA PAS – 2ª ETAPA
✓ Ação conforme o dever: é imoral. A ação em si é correta, pois segue o imperativo categórico. Contudo, a motivação é
errada, podendo ser: Inclinação e determinação externa (leis, religião, cultura etc.).
Exemplos:
1) Por inclinação: Encontro um objeto e devolvo ao dono com o intuito de receber uma recompensa. A ação de
devolver o objeto ao dono é correta, mas a motivação de receber a recompensa é errada porque torna a ação
meio e a inclinação da recompensa o verdadeiro “fim”.
2) Por determinação externa: Encontro um objeto e devolvo ao dono, pois a norma definida pela lei proíbe que
eu fique com o objeto. A ação de devolver o objeto ao dono é correta, mas a motivação de apenas seguir a lei é
errada, pois caracterizaria heteronomia, ou seja, não partiu do próprio indivíduo como na autonomia.
✓ Ação por dever: é moral. A ação em si é correta, pois segue o imperativo categórico. E sua motivação também é correta,
que seria a autonomia, isto é, agir livremente com a vontade boa de escolher fazer o correto.
Exemplo: Encontro um objeto e devolvo ao dono sem esperar nada em troca. A ação é correta, pois poderia ser
praticada por todos ao mesmo tempo sem prejuízo a alguém (ação universalizável). A motivação também, já que
não espero algo em troca (sem inclinação) e o faço de forma autônoma (sem determinação externa: leia, religião,
cultura etc.).
Referência bibliográfica utilizada: KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Tradução do alemão de Estevão
C. de Rezende Martins. São Paulo: Penguin & Companhia das Letras, 2022.
Immanuel Kant escreveu um artigo intitulado Resposta à pergunta: O que é Esclarecimento em 1784, o qual foi inicialmente
publicado em uma revista chamada Büsching. Como é um texto que visa “explicar” o que vem a ser esclarecimento tem um teor bem
didático.
É importante deixar claro que Kant está fazendo referência ao período histórico em que está inserido, qual seja: o Iluminismo.
Então, não se trata apenas de uma reflexão acerca da forma como o entendimento é formado na razão, mas de uma análise do que
vem a ser o esclarecimento, qual a sua importância, o seu papel no contexto do Iluminismo, bem como sua relevância para a ética e
desenvolvimento da sociedade.
6.2 Entendimento
Caso se pergunte agora: vivemos em época esclarecida? A resposta é: não; mas certamente em uma era do
esclarecimento. No atual estado de coisas, as pessoas, tomadas em seu conjunto, ainda estão longe de servir-se
bem e com segurança de seu entendimento em questões de religião, sem o concurso de outrem.
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? São Paulo: Penguin & Companhia das Letras, 2022.
Temos, desse modo, que o Iluminismo não é o período de pessoas já esclarecidas, mas em processo de esclarecimento.
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FILOSOFIA PAS – 2ª ETAPA
Contudo, poderíamos nos perguntar: Mas este não é o século das luzes, o período em que a razão e o conhecimento científico
produziram grande avanço para a sociedade nos mais variados âmbitos? A resposta é: sim. Porém, há uma diferença entre
esclarecimento e entendimento.
Para Kant, o entendimento constitui uma faculdade da razão que processa o conhecimento possível. Em outros termos, só
conseguimos conhecer por meios de representações que fazemos da realidade. Então, o conhecimento sobre algo presume a criação
de conceitos sobre o objeto de análise, o qual pode ser empírico ou não. O entendimento consiste na forma com a qual conseguimos
expressar nossa compreensão sobre algo.
Esse entendimento possibilita a erudição, ou seja, ter conhecimento sobre uma ou mais áreas do saber. Posso ser erudito em
filosofia e, talvez, leigo em biologia. Mas para que eu possa atingir o esclarecimento é necessário erudição, mas esta isoladamente
não é suficiente para aquela.
Para ser esclarecido, não basta entendimento e erudição. É preciso transcender o conhecimento e ser capaz de uma análise crítica
da realidade e, para tanto, é necessário: uso público da razão, autonomia e liberdade, assim como a maioridade da razão.
Em suma, é possível ter entendimento e não ser esclarecido.
Respondo: o uso público da razão deve ser sempre livre, e somente ele pode promover o esclarecimento
entre as pessoas. Contudo, o uso privado da razão pode com frequência estar estritamente limitado, sem contudo
impedir o progresso do esclarecimento. Entendo por uso público da razão própria aquele que qualquer um,
enquanto erudito, faz perante seu púbico leitor. Chamo de uso privado o emprego que lhe dá esse erudito no
exercício de um cargo ou de uma função civis que lhe tenham sido confiados.
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? São Paulo: Penguin & Companhia das Letras, 2022.
De acordo com a citação acima temos dois usos da razão: o público e o privado. O primeiro é condição para o esclarecimento
enquanto o segundo é, dependendo da situação, necessário para o andamento da sociedade. Podemos defini-los da seguinte maneira.
O uso público da razão consiste na capacidade e vontade do indivíduo expor suas ideias a um público aberto ao debate. Quando
alguém participa de uma conversa apenas para ganhar não é debate, mas discussão. Dessa forma, o uso público da razão pressupõe
o debate entre pessoas que queiram pensar criticamente sobre determinado assunto e, assim, busquem o esclarecimento.
Ser erudito por si só não é sinônimo de esclarecimento. O debate, a troca de ideias entre as pessoas com diferentes opiniões,
saberes e visões de mundo é que possibilita o desenvolvimento de indivíduos autônomos e esclarecidos.
O uso privado da razão está diretamente ligado a heteronomia, pois o indivíduo exerce alguma função que é necessária na
sociedade. Numa operação militar os soldados estão subordinados às ordens de seus superiores e, naquele momento, não cabe
contestá-las, mas segui-las. Os eruditos que compõem o poder executivo devem garantir os direitos e exigir os deverem dos cidadãos
previstos nas leis.
Então, existem situações em que o uso privado da razão é necessário, para que as atividades civis sejam exercidas. É uma questão
de pragmatismo para que a sociedade civil se desenvolva.
Entretanto, não existe uma divisão rígida no que concerne às circunstâncias em que o uso público e privado da razão. O soldado
vai seguir a ordem que é necessária, nas deve ser livre para que, em momento oportuno, possa apontar sua análise acerca de tal
ordem. O executivo deve acatar as leis, mas expor de forma livre ao legislativo a viabilidade e possíveis falhas dessas leis.
Percebemos claramente essa reflexão na citação abaixo.
O cidadão não pode furtar-se a pagar os impostos que lhe foram fixados; uma censura descabida ao
pagamento de tais encargos por ele devido pode até ser punida à maneira de um escândalo (passível de
provocar uma insubordinação generalizada). O mesmo cidadão em nada infringe suas obrigações civis quando,
como erudito, manifesta publicamente sobre a eventual incongruência ou mesmo injustiça de tais obrigações.
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? São Paulo: Penguin & Companhia das Letras, 2022.
Percebemos que o uso público da razão é realizado pelo erudito, o qual por ter conhecimento tem condições para analisar
criticamente as situações e definições a ponto de conseguir expor e debater suas análises sobre qualquer tema.
O uso privado da razão, mesmo quando necessário, deve ser seguido do uso público da razão para que se alcance o
esclarecimento necessário para a vida ética.
Como analisamos no módulo anterior, a eticidade de uma ação está diretamente ligada à liberdade de tomada de decisão, ou
seja, à sua autonomia e vontade de escolher o que, por dever, é o correto.
Ninguém está isento de influências do meio, tais como: cultura, tradições, leis, religiões e convenções sociais de toda sorte.
Contudo, a liberdade requer o exame desses elementos que nos cercam para que haja uma tomada de decisão autônoma e não
heterônoma.
Para tal esclarecimento, contudo, não é preciso nada além de liberdade – e, verdadeiramente, a mais
inofensiva dentre todas as acepções da palavra, única a merecer o nome de liberdade: fazer uso público de seu
entendimento, em quaisquer assuntos.
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FILOSOFIA PAS – 2ª ETAPA
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? São Paulo: Penguin & Companhia das Letras, 2022.
A liberdade é condição para a autonomia e o esclarecimento. Mas, desse modo, devemos ter uma “liberdade de expressão”
irrestrita? Todos podem expor suas ideias e opiniões sobre tudo livre se qualquer censura? Não é bem assim.
O exercício da liberdade deve visar pensar criticamente sobre qualquer assunto. A censura é um empecilho para o debate, mas
ele não deve ser um lugar para ofensas e imposições de ideias. É necessário que haja um bom senso entre os indivíduos que busquem
um consenso sobre o tema abordado para que não se torne uma discussão infrutífera.
A autonomia não meramente reger a si mesmo de qualquer forma. Toda ação, norma, dogma deve passar pelo crivo de nossa
razão crítica antes de se tornar pública.
Esclarecimento é a saída do ser humano da menoridade à qual ele mesmo se relegou. Menoridade é a incapacidade de se
servir de seu entendimento sem a orientação de terceiros. Essa menoridade é de responsabilidade própria na medida
em que suas causas residem não na falta de entendimento, mas na carência de decisão e de coragem de dele se servir
sem a tutela de outrem. Sapere aude! Tem coragem de servir-te de teu próprio entendimento. Está é, pois, a bandeira do
Esclarecimento.
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? São Paulo: Penguin & Companhia das Letras, 2022.
Percebemos na citação acima que Kant também aborda o conceito de esclarecimento, até pelo contexto do iluminismo em que
viveu. Em síntese, trata-se da saída da menoridade para a maioridade da razão.
A menoridade da razão consiste na ausência de autonomia e, por tal motivo, Kant diz que é fruto da preguiça e covardia do
indivíduo de usar de seu próprio entendimento sem a tutela de outro. Então, um indivíduo na menoridade da razão agiria de acordo
com a heteronomia, ou seja, regido por fatores externos a ele, tais como as leis, religião e convenções sociais.
Contudo, é importante evidenciar a seguinte passagem da citação: “Essa menoridade é de responsabilidade própria na medida
em que suas causas residem não na falta de entendimento”. Percebamos que a causa da menoridade não consiste apenas na covardia
de usar de seu entendimento, mas pode ser a falta de entendimento e erudição.
É cômodo permanecer na menoridade, deixar que outros decidam por mim é mais fácil e, em tese, transfere a responsabilidade
pela consequência da decisão e/ou ação.
É tão cômodo ser tutelado! Se houver um livro que possua entendimento em meu lugar, um pastor que
tenha consciência por mim, um médico que fixe minha dieta, e assim por diante, eu não preciso me dar ao
trabalho. Não é necessário que eu pense, desde que eu possa pagar; outros assumirão em meu lugar os encargos
penosos.
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? São Paulo: Penguin & Companhia das Letras, 2022.
A passividade das pessoas, o comodismo de permanecerem na menoridade da razão e se subordinarem à tutela de outros cria a
possibilidade de pessoas que assumem o papel de tutores e, consequentemente, colaborem para uma maioria sem autonomia.
Após terem embrutecido seu rebanho e, com esmero, evitado que essas pacíficas criaturas ousassem dar
um único passo sem o andador em que foram confinadas, mostram-lhes o perigo de que estão ameaçadas caso
tentem caminhas por si mesmas. Esse perigo, todavia, não é tão grande, uma vez que, após algumas quedas,
eles acabariam de todo modo aprendendo a andar. No entanto, um caso de queda costuma bastar para intimidar
e desencorajar novas tentativas.
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? São Paulo: Penguin & Companhia das Letras, 2022.
Por isso a menoridade é consequência da preguiça e covardia: “um caso de queda costuma bastar para intimidar e desencorajar
novas tentativas”. Pensar por si mesmo, analisar criticamente o que já está posto, sair da zona de conforto para arriscar e talvez cair
é desafiador e passível de falhar.
Permanecer na tutela de pessoas que sabem mais do que eu, que pensaram sobre tudo antes de mim parece ser o correto. Mas
isso é meio que introjetado em nós e, é claro, torna difícil o processo para saída da menoridade da razão. Passamos a vida aprendendo
que “em time que está ganhando não se mexe”. Então, como deu certo até agora, não sou eu quem vai mudar.
Por isso, sozinho é muito difícil sair da menoridade. Precisamos do debate, da participação de mais eruditos que nos instiguem
a criticidade e reflexão sobre a realidade. O processo é gradual e lento, mas necessário. O próprio imperativo categórico nos impele
a esse processo.
Uma revolução que busque promover uma ruptura entre menoridade e maioridade não daria certo. Tudo que é imposto gera
resistência. Quem nos tutela nos convenceu que ela é necessária e, talvez até por falta de entendimento, concordamos que deve ser
assim.
A maioridade da razão presume a autonomia do indivíduo em agir e, portanto, ele tem a coragem de usar de seu próprio
entendimento sem a tutela de outro. Em outros termos, rege a si mesmo seguindo o imperativo categórico por vontade própria no
uso de sua liberdade.
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FILOSOFIA PAS – 2ª ETAPA
6.5 O Esclarecimento
Em suma, o esclarecimento consiste na saída do homem de sua menoridade da razão para maioridade. Para tanto é preciso:
1) o entendimento e, consequentemente, erudição para que consiga ter a base necessária para pensar criticamente a realidade;
2) a coragem de servir-se de seu próprio entendimento sem a tutela de outro, ou seja, atingir a autonomia;
3) de liberdade para o exercício da autonomia e uso público da razão;
4) visar, no exercício do uso público da razão, o debate para atingir o esclarecimento sobre algo e não apenas vencer uma
discussão.
6.5. 1 A religião
Exprimi a essência do esclarecimento – como a saída do ser humano da menoridade à qual ele mesmo se relegou
– principalmente em termos de religião, pois em assuntos de artes e ciências nossos soberanos não têm interesse
em exercer tutela sobre seus súditos. Além do mais, a imaturidade religiosa é a mais nociva e desonrosa que há.
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? São Paulo: Penguin & Companhia das Letras, 2022.
Kant não é contra a religião, apenas deixa claro que o campo religioso é um dos mais difíceis de se desvencilhar da menoridade
da razão. Mesmo que fundamentado na crença é necessário que seus dogmas passem pelo crivo da razão. não se trata apenas de
seguir cegamente o que a religião afirma, mas de, também, nos lermos a Bíblia e tirarmos nossas próprias conclusões e
argumentarmos.
Se a pessoa da religião me mostra meu erro, eu entendo e acato. Mas aí houve o uso público da razão em que ambos chegaram
ao consenso. Não foi a imposição de um sobre o outro sobre o risco de ser considerado a diálogo pecaminoso ou heresia.
Outro ponto importante a se ressaltar é que religião é a instituição que tem seus dogmas e interpretação das Sagradas Escrituras.
Ela presume a fé, mas não é a fé em si.
EXERCÍCIOS
O Discurso do Método produziu uma revolução na filosofia e na ciência. A partir dessa obra, Descartes buscou um conjunto de
princípios que pudessem ser conhecidos sem qualquer dúvida. Para investigar tal possibilidade, procedeu à análise por meio de um
método próprio conhecido como “dúvida hiperbólica”, ou “dúvida metafísica”, mais frequentemente referido como “ceticismo
metodológico”, que consiste em rejeitar qualquer ideia da qual se possa duvidar, para então, após análise, restabelecer ou reconstruir
essa ideia de modo a criar uma base sólida para o conhecimento.
Internet: (com adaptações).
Considerando o texto acima e os múltiplos aspectos a ele relacionados, julgue os itens de 01 a 03 e assinale a opção correta no item
04, que é do tipo C.
01 – Descartes foi um dos expoentes do Racionalismo, que considera a empiria desnecessária para a obtenção de conhecimento.
02 – O método cartesiano se fundamenta na dúvida hiperbólica, que consiste em duvidar de tudo o que é possível duvidar. Tal
dúvida não se aplica à capacidade de seu próprio método de revelar verdades.
03 – O método cartesiano, de caráter analítico, tem por característica não se interessar pelo processo de síntese, que é um elemento
do método sintético.
04 – O ponto de partida do método analítico cartesiano (cogito) deve ser compreendido como
Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, pela qual é o próprio culpado. Menoridade é a incapacidade de servir-
se do próprio entendimento sem direção alheia. O homem é o culpado por essa incapacidade quando sua causa reside na falta não
de entendimento, mas de resolução e de coragem de fazer uso dele sem a direção de outra pessoa. Sapere aude! Ouse fazer uso de teu
próprio entendimento! Eis o lema do esclarecimento.
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FILOSOFIA PAS – 2ª ETAPA
Se, então, for perguntado: vivemos agora em época esclarecida? A resposta será: não, mas em uma época de esclarecimento. No
atual estado de coisas, falta muito para que os homens, tomados em seu conjunto, estejam em condições ou possam vir a dispor de
condições de servirem-se de seu próprio entendimento sem a direção alheia de modo seguro e desejável em matéria de religião.
Immanuel Kant. Resposta à pergunta: o que é o esclarecimento?
Tendo como referência inicial o fragmento de texto apresentado, de Immanuel Kant, julgue os itens 01 a 05 e faça o que se pede no
item 06 que é do tipo C.
01 – Ao fazer referência à “época de esclarecimento”, Kant alude a um movimento histórico es social específico, que exerceu
influências em diferentes espaços e contextos.
02 – Conclui-se do texto que qualquer pessoa em situação de menoridade pode sair dessa situação e atingir o esclarecimento,
bastando, para isso, resolução e coragem de fazer uso de seu entendimento sem a tutela de outra pessoa.
03 – Conforme Kant, o homem é responsável por permanecer no estado de menoridade quando o que impede de superá-lo são a
preguiça e a covardia.
04 – Para Kant, a autonomia só é possível mediante o uso público da razão e o exercício da liberdade.
05 – Infere-se do texto que Kant defende a meritocracia ao salientar a importância de se fazer uso “de seu próprio entendimento sem
direção a alheia”.
06 – Assinale a opção correta acerca do Esclarecimento, movimento a que Kant faz referência no texto.
A) Com esse movimento surge o sujeito do conhecimento, que é aquele que obedece aos seus superiores, subordinando sua razão
à realização do bem coletivo.
B) O Esclarecimento foi o primeiro movimento da história do Ocidente a conceber o ser humano como centro do universo,
idealizando-o como artífice do seu próprio destino.
C) O esclarecimento consolidou-se no século XVIII, razão pela qual Kant acreditava que, à sua época, os seres humanos já sem
encontravam emancipados.
D) A razão e a liberdade dos homens eram consideradas por esse movimento condições para o aperfeiçoamento da humanidade.
⎯ Agora, disse ele a crioula, as coisas vão correr melhor para você. Você vai ficar forra; eu entro com o que falta.
Nesse dia ele saiu muito à rua, e uma semana depois apareceu com uma folha de papel toda escrita, que leu em voz alta à
companheira.
⎯ Você agora não tem mais senhor! declarou em seguida à leitura, que ela ouviu entre lágrimas agradecidas. Agora está livre.
Doravante o que você fizer é só seu e mais de seus filhos, se os tiver. Acabou-se o cativeiro de pagar os vinte mil-réis à peste
do cego.
Aluísio de Azevedo. O cortiço. São Paulo: Martin Claret, 2004.
Considerando as afirmações de João Romão a Bertoleza, extraídas da obra o cortiço de Aluísio de Azevedo, bem como o texto
Resposta à pergunta: o que é o esclarecimento? de Immanuel Kant, julgue os itens a seguir.
07 – Com base nas ideias de Kant, infere-se que, para que Bertoleza atinja o esclarecimento, ela deve seguir as orientações de João
Romão.
08 – Aplicando-se as ideias de Kant à situação narrada por Aluísio de Azevedo, conclui-se que a alforria de Bertoleza é condição
suficiente para que ela alcance a autonomia.
O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de
evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e tão
distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida.
O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias
fossem para melhor resolvê-las.
O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para
subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma ordem entre os que não
se precedem naturalmente uns aos outros.
E o último, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir.
René Descartes. Discurso do método.
Tendo como referência o trecho precedente, extraído da obra Discurso do Método, de René Descartes, julgue os itens de 01 a 05.
01 – Descartes, em seu método, estabelece a clareza e a distinção como critérios para acolher alguma coisa como verdadeira.
02 – O método cartesiano propõe que a resolução de problemas siga uma ordem, na qual é preciso iniciar pelos objetos mais
complexos, a fim de deduzir os conhecimentos mais simples.
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FILOSOFIA PAS – 2ª ETAPA
03 – Em uma época em que os textos científicos eram escritos em latim, Descartes escreveu a obra Discurso do Método em francês,
com o objetivo de tornar seu método acessível a um número maior de leitores.
04 – A concepção de átomo proposta por Leucipo, apesar de ter sido formulada na Grécia Antiga, guarda estreita relação com ideias
de Descartes em sua obra Discurso do Método, uma vez que foi baseada no método científico.
05 – René Descartes e Carlos Lineu (Carolus Linnaeus) compartilhavam a ideia de dividir para melhor entender; em particular, o
objetivo de Lineu foi classificar os organismos em categorias, com base na estrutura anatômica.
O cidadão não pode recusar-se a pagar os impostos que lhe são exigidos; a crítica insolente de tais impostos no momento em que ele
tem a obrigação de pagá-los pode até ser punida como um escândalo (que poderia provocar rebeliões gerais). Mas não está em
contradição com seu dever de cidadão se, enquanto erudito, ele manifesta publicamente sua oposição a tais imposições inoportunas
ou mesmo injustas.
Immanuel Kant. Resposta à pergunta: o que é o Esclarecimento?
Não pago há seis anos o imposto individual, pré-requisito para votar. Por causa disso, certa vez fui colocado na prisão, onde passei
uma noite. E, enquanto contemplava as paredes de rocha sólida, com dois ou três pés de espessura, a porta de madeira e ferro de um
pé de espessura e a grade de ferro que filtrava a luz, não pude deixar de me espantar com a insensatez daquela instituição que me
tratava como mero amontoado de carne, sangue e ossos a ser trancafiado. (...) Percebi que, se havia uma parede de pedra entre mim
e meus concidadãos, havia um muro ainda mais difícil de transpor ou travessar para que eles fossem tão livres quanto eu. (...) Desse
modo, o Estado nunca confronta intencionalmente a consciência, intelectual ou moral, de um homem, mas apenas seu corpo, seus
sentidos. Não dispõe de inteligência ou honestidade superiores, mas só de força física maior. Não nasci para ser coagido. Respirarei
à minha própria maneira. Vamos ver quem é mais forte.
Henry D. Thoreau. A desobediência civil. Porto Alegre: L&PM (com adaptações).
Tendo como referência os textos precedentes, de Immanuel Kant e Henry David Thoreau, julgue os itens que se seguem.
01 – Immanuel Kant critica os escândalos cometidos por cidadãos que recolhem os impostos e se opõe publicamente a eles, motivado
pelo uso crítico da razão.
02 – H. D. Thoreau afirma que o Estado coage os cidadãos por meio da força por dispor somente dela, e não de inteligência ou
honestidade superiores.
03 – Infere-se do texto de H. D. Thoreau que, para ele, as consciências humanas podem permanecer livres nas cadeias, apesar do
encarceramento dos corpos.
04 – Nos textos apresentados, os autores destacam a faculdade da razão para pensar de forma crítica a cobrança de impostos injustos.
05 – Depreende-se que, para os autores dos textos, o conceito de liberdade está relacionado ao uso da razão.
GABARITO
(Subprograma 2015-2017)
01 – ERRADO
02 – CERTO
03 – ERRADO
04 – C
(Subprograma 2016-2018)
01 – CERTO
02 – ERRADO
03 – CERTO
04 – CERTO
05 – ERRADO
06 – D
07 – ERRADO
08 – ERRADO
(Subprograma 2017-2019)
01 – CERTO
02 – ERRADO
03 – CERTO
04 – ERRADO
14
FILOSOFIA PAS – 2ª ETAPA
05 – CERTO
(Subprograma 2018-2020)
01 – ERRADO
02 – CERTO
03 – CERTO
04 – CERTO
05 – CERTO
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