Analise Comparativa de Duas Teorias Explicativas
Analise Comparativa de Duas Teorias Explicativas
Analise Comparativa de Duas Teorias Explicativas
O conhecimento envolve dois problemas fundamentais: qual a origem das nossas ideias e como se
processa o conhecimento que com elas formamos, ou seja, o problema da origem do conhecimento e o
problema da possibilidade do conhecimento, que consiste em saber se podemos atingir a verdade e a certeza
ou se temos de nos contentar com uma representação da realidade que está mais ou menos longe de ser
absolutamente verdadeira, ou seja, o alcance, os limites e validade do conhecimento.
Podemos primeiro perceber o é o conhecimento para perceber de onde vem a sua origem e quais as
suas possibilidades.
Depende apenas de dois elementos, sujeito e objeto. Entre estes é necessário que haja um contacto
direto, verdadeiro, puro e original, para que possamos conhecer o objeto na sua verdadeira essência. Assim,
conhecer não significa penas ter noção de algo, implica conseguir descrevê-lo (para vermos o que realmente
comporta), calculá-lo (para o comprovar), e por vezes, prevê-lo dentro de certos limites.
Assim, a relação entre estes dois elementos dar-nos-á uma visão da realidade, que irá
inevitavelmente, ser modificada ao longo dos tempos, pois vão sendo criadas/descobertas novas formas de
ver determinado objeto. Uma vez que o conhecimento é algo cuja evolução é inevitável, podemos dizer que é
uma construção, uma resposta adaptativa do sujeito ao mundo.
O Conhecimento pode ser dividido em três etapas: Sensação, Perceção e Razão. A Sensação consiste
numa apreensão imediata do objeto, pela ação de estímulos específicos sobre o recetor, sendo ela que nos dá
uma primeira configuração das coisas. A Perceção já é algo mais individual que pode ser desenvolvido, pois
consiste na organização, articulação e associação dos elementos sensoriais, tendo em conta experiências e
interesses, de modo a adquirirem um sentido e um significado. Por último, a Razão consiste na relação
sensorial-perceptiva, que se traduz em conceitos e discursos.
O Conhecimento é definido por crenças verdadeiras e justificadas. Isto, quer dizer que podemos ter
uma crença verdadeira, mas se não soubermos o que a originou nem compreendermos os seus porquês, ela
não é justificada, ou seja, não pode ser considerada conhecimento.
Que relação existe entre conhecimento científico e filosófico? O conhecimento filosófico
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baseia-se na especulação em torno do real, tendo como objeto a busca da verdade. Vai à raiz das coisas,
questionando “tudo e todos”. O conhecimento científico, pelo contrário, é adquirido pela investigação prática
e teórica da realidade. É capaz de fazer previsões, mas também comprovar algo. É importante que estes dois
se confrontem, pois ambos procuram a mesma coisa, a verdade.
“Qual a fonte do conhecimento humano?”
O racionalismo considera que a razão humana tem capacidade para conhecer e demonstrar a verdade
dos seus conhecimentos sem precisar de se apoiar nos dados dos sentidos. Embora reconhecendo que a
experiência desempenha o seu papel no ato de conhecer, admite que só a razão dispõe de condições únicas e
inatas para garantir o seu carácter de evidência e universalidade, adotando assim, uma posição dogmática. O
dogmatismo consiste na crença de que o ser humano é capaz de atingir o conhecimento verdadeiro, absoluto
e evidente.
O Racionalismo defende que a razão é a fonte do conhecimento humano, ou seja, que o pensamento
funciona de modo independente relativamente à experiência.
■ Como tal, podem ser comparados com as aranhas, que extraem de si mesmas o que lhes serve para a teia.
■ Os racionalistas geralmente não negam que exista conhecimento empírico, mas pensam que, recorrendo
unicamente à razão ou ao pensamento, podemos obter conhecimento factual genuíno. Supõem
frequentemente que o conhecimento a priori, por oposição ao conhecimento empírico, assenta em
justificações certas ou infalíveis.
■ Os racionalistas acreditam na possibilidade dogmática de apreender o objeto, pois o pensamento e a
reflexão são a via de inferir sobre este.
O Racionalismo valoriza, sobretudo a razão, que organiza, unifica e dá sentido aos dados recebidos
espontaneamente da consciência. O Racionalismo, não encontrando na experiência, singular e concreta,
explicação para o caráter geral e abstrato do conhecimento, afirma que a razão recebe certas ideias gerais que
lhe servem para conhecer a realidade, ou cria certos dados chamados apriorísticos, com os quais organiza e
interpreta a experiência - por isso se diz que o conhecimento é "a priori".
O racionalismo cartesiano
Os problemas do conhecimento ocupam um lugar central na sua filosofia, na qual vai tentar rebater o
ceticismo. A crença de que é possível conhecer e encontrar uma verdade inquestionável é um princípio base
da sua reflexão, tendo-se suportado no exemplo matemático para apresentar o seu modelo de conhecimento,
pois as verdades matemáticas apresentam-se com o caracter de universalidade e de necessidade lógica, e
nega-las implicaria contradição.
Descartes liga a verdade à certeza e considera que, para se estar certo de algo, esse algo tem de se
impor ao espirito com caracter de evidência; este, complementada com o rigor dedutivo, será a marca da
verdade e o meio de justificação da crença.
A influência do ceticismo, que admitia não ser possível conhecer a realidade na sua essência, vinha a
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colocar em causa a validade de todos os conhecimentos até então adquiridos. Por isso, tornou-se necessário
determinar se era possível encontrar um sistema de filosofia capaz de garantir o conhecimento.
Os dados dos sentidos – porque nos enganam com demasiada frequência, logo não são
confiáveis,
A impossibilidade de distinguir o sonho de vigília – por vezes apresentam-se com tal nitidez
e autenticidade que os tomamos pela realidade,
O próprio raciocínio – visto que cometemos inúmeros erros sem nos apercebemos
(paralogismos).
Porém, mesmo levando a dúvida a tais extremos, verificou havia algo que lhe resistia, podia estar
enganado e iludido acerca de tudo, mas não poderia duvidar da sua própria existência, do seu próprio
pensamento. Daqui surgiu o primeiro princípio da sua filosofia, cogito ergo sum (penso, logo existo).
“Mas logo em seguida, notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso, eu, que assim o
pensava, necessariamente era alguma coisa […] julguei que a podia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro
princípio da filosofia que procurava.” – René Descartes, Discurso do método.
Descartes percebeu que o que tornava este princípio indubitável, é a clareza e distinção com que se
impõe ao espirito, pelo que, a partir dai, a evidência será o critério para aceitar algo como verdadeiro. A
dúvida não se apresenta então como um critério cético e espontâneo mas antes como um método, capaz de
garantir validade ao conhecimento, sujeito a regras rigorosas de modo a aceitar como verdadeiras apenas as
coisas que apareçam ao espirito tão clara e distintamente que nenhuma dúvida lhes possa resistir.
Regras do método- a adoção da dúvida como método levou Descartes a elaborar um conjunto de
quatro regras, baseadas no método matemático, que pudessem conferir rigor na resolução de problemas e que
tornassem impossível tomar o falso por verdadeiro. São elas: 1ª evidencia, 2ª análise, 3ª ordem (ir do mais
simples para o mais complexo) e 4ª enumeração (daquilo que me parece mais evidente para o menos).
1. Só aceita aquilo que for claro para a sua mente. Descartes ensina-nos a “duvidar até distinguir o
verdadeiro do falso”, pelo que esta primeira regra trata da clareza e da distinção dos dados que são
adquiridos. Diz-nos que só devemos aceitar determinada ideia se for evidente e o nosso espírito e razão a
reconhecer como verdade, tal como se tratasse de um objeto físico que pudéssemos observar concretamente.
Alerta-nos assim para a atenção e o cuidado na apreensão de noções, conceitos ou juízos e a quais devemos
aceitar como verdade.
2. Divide os grandes problemas em pequenos. Esta diz-nos que devemos decompor as “dificuldades em
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parcelas”, isolando os elementos mais simples. Apenas deste modo é que será possível um entendimento
integral da peça, ou seja, do que é apreendido. Desta maneira capta a função que cada dificuldade exerce no
problema em si e do que se trata.
3. Argumenta do simples para o complexo. Esta consiste numa reorganização das peças que foram
decompostas. A mesma dedica-se à reestruturação dos dados que são adquiridos de modo a dar-lhes unidade
e consistência quando integrados num todo. Esta síntese das partes realiza-se progressivamente, dos
pensamentos mais simples e mais fáceis até aos mais complexos, permitindo assim a construção muito mais
precisa do saber.
4. E, finalmente, verifica tudo cuidadosamente quando tiver acabado. Trata da revisão do conhecimento que
é construído anteriormente. Segundo Descartes esta regra consistia em “fazer sempre enumerações tão
completas e revisões tão gerais que tivesse a certeza de não proferir erros e de nada omitir”. Só na análise do
saber no seu todo é que podemos verificar a existência de erros ou dados falsos que façam parte do mesmo.
Confere unidade à teoria e estabelece inúmeras relações entre as partes e, assim, permite-nos compreender a
peça como um todo, como algo funcional.
■ A unidade é muito importante pois só através dela é que conseguimos ver algo como um todo, as peças que
os constituem, as relações que dele fazem parte, as funções que nele estão inscritas, ou seja, podemos
representar o “objeto” de maneira mais completa possível no “nosso” mundo.
Descartes admitiu ainda a existência de um génio maligno que o poderia enganar mesmo quando
pensasse clara e distintamente, surge então a seguinte questão: que garantias temos nós de que as ideias
claras e distintas que obtemos pelo nosso pensamento são realmente verdadeiras? Em resposta a esta
pergunta, Descartes reconhece a necessidade da existência de um Ser Superior, dotado de todas as
perfeições, que pudesse garantir a veracidade dos conhecimentos obtidos, sempre que tivessem marcas da
evidência e do rigor dedutivo.
Mas como pode Deus garantir o conhecimento verdadeiro? E como provar a Sua existência?
Descartes encontra a ideia de um ser absolutamente perfeito, ideia essa que considera inata a priori,
não tendo origem na experiencia pois esta não lhe mostra nada de absolutamente perfeito. Da ideia de Deus
como ser perfeito deduza sua existência. Explica que a ideia que cada um tem de perfeição, jamais poderia
ser criada por um ser imperfeito, pois este não tem capacidade para criar coisas perfeitas.
A existência do mundo material e a possibilidade de o conhecer, são aceites, desde que sejam
acauteladas as exigências metodológicas autoimpostas:
Partir de princípios evidentes – ideias claras e distintas, apreendidas por intuição intelectual.
Raciocinar dedutivamente.
Realismo ingénuo – As coisas são, segundo eles exatamente tais como as percebemos. O
conhecimento atinge a realidade objetiva.
Realismo Crítico – Admite que o conhecimento atinge o real, conhecer é conhecer uma realidade
objetiva. Mas afirma que as coisas não têm todas as propriedades que nelas percebemos. O realismo crítico
apercebe-se que existe uma diferença entre perceção e objeto percebido.
A filosofia cartesiana é objeto de uma crítica de fundo que denuncia a circularidade do seu
pensamento:
Duvida da razão, mas utiliza a razão para provar que Deus existe.
Atribui as ideias inatas a Deus do qual também tem uma ideia inata.
Resolve-se o problema do ceticismo mas coloca-se outra dúvida: Será uma teoria filosófica ou
teológica?
O empirismo considera que o conhecimento parte dos dados dos sentidos e que a razão humana não tem
capacidade para o construir sozinha, atribuindo à experiência sensível um papel fundamental e determinante
no processo de formação do conhecimento, uma vez que as ideias que temos das coisas partem
inevitavelmente da experiencia. No entanto, ao reconhecer a falibilidade da informação sensorial, não atribui
ao conhecimento o valor de verdade absoluta e de certeza que o racionalismo lhe concede, inclinando-se para
posições mais ou menos céticas relativamente à possibilidade de conhecer. O ceticismo coloca em dúvida a
possibilidade do ser humano atingir conhecimentos absolutamente certos e evidentes.
Para David Hume, todas as ideias têm origem na experiencia sensorial, não admitindo a existência de
conhecimento por parte do sujeito antes de qualquer experiencia.
O ser humano à partida, não possui qualquer tipo de conhecimento, é como uma página em branco
desprovida de qualquer conteúdo, que só a experiencia tem capacidade para a preencher.
Os elementos básicos com os quais a mente trabalha são as perceções, obtidas através dos órgãos dos
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sentidos. As perceções por sua vez dividem-se em dois:
“ A diferença entre ambos consiste no grau de força e de vivacidade com que incidem na mente e abrem
caminho no nosso pensamento e na nossa consciência” – David Hume, Tratado da Natureza Humana
Reconhecer que na origem do conhecimento se encontra a experiência sensorial não significa que a
mente se comporta passivamente; ela tem algum poder criador, embora limitado, porque o material com que
trabalha procede sempre da experiência.
As ideias são como que copias das impressões, se não conseguirmos estabelecer relação entre uma ideia
e a correspondente impressão, então pode concluir-se que essa «ideia» é um termo sem significado. Esta é
uma das maneiras de eliminar ideias falsas.
David Hume recusa decididamente o estatuto de ideia inata que Descartes atribuía a Deus,
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considerando que na sua origem se encontram ideias simples que resultam da reflecção sobre a nossa
experiencia interior. Mesmo as ideias mais complexas e aparentemente mais afastadas da experiência
sensível têm nela a sua origem.
A associação de ideias
As ideias nunca surgem isoladas, estão sempre interligadas, e os princípios que presidem a essas
interligações são três:
Ex: quando dizemos que a neve é fria é porque as impressões provocadas respetivamente pela neve e pelo
frio se encontram sempre associadas.
Os nossos conhecimentos surgem então, dessa interligação de ideias. As crenças são fruto de
processos associativos, consolidados e fortalecidos pelo hábito, não tendo fundamento e natureza racional.
David Hume distingue crenças (conhecimentos) das ficções da imaginação pelo facto de que as crenças
resultam de uma associação constante e repetida entre impressões e ideias.
Conhecimento (segundo Hume) – é uma crença que formamos e que é justificada pelo facto de as nossas
experiencias a consolidarem e confirmarem.
Ex: Embora possa imaginar uma sereia, na medida em que combino as ideias de mulher e de peixe, o elo
entre estas duas ideias é fraco e não é consolidado pela experiência, pelo que não posso acreditar que existam
sereias, as sereias são simples ficção da imaginação.
Tipos de conhecimento
No conhecimento de questões de facto – questões acerca do que existe e do que ocorre na natureza, a
relação de causa e efeito ocupa um papel fundamental porque procuramos relacionar os fenómenos, e quando
determinados fenómenos se verificam, aguardamos que outros também se verifiquem, de certas causas
esperamos certos efeitos.
Princípio da causalidade- princípio que defende a relação entre uma causa e o seu efeito, ou seja,
que o acontecimento de algo é sempre procedido por uma causa, e assim sucessivamente.
O princípio da causalidade era um princípio a priori, segundo o racionalismo clássico, ou seja, era
independente e anterior à experiência. Assim, este princípio permitia estabelecer um nexo de necessidade
lógica entre causa e efeito, de tal modo que, posta a causa, seguia-se necessariamente o efeito, entendendo-se
haver na causa uma qualquer força intrínseca capaz de produzir o efeito.
Hume diz-nos que todas as ideias derivam de impressões sensíveis. Assim, do que não há impressão
sensível não há conhecimento.
Segundo David Hume, o nosso conhecimento dos factos restringe-se às impressões atuais e às
recordações de impressões passadas. Assim, se não dispomos de impressões relativas ao que acontecerá no
futuro, também não possuímos o conhecimento dos factos futuros. Não podemos dizer o que acontece no
futuro porque um facto futuro ainda não aconteceu.
Contudo, há muitos factos que esperamos que se verifiquem no futuro. Por exemplo, esperamos que
um papel se queime se o atirarmos ao fogo. Esta certeza que julgamos ter (que o papel se queima), tem por
base a noção de causa (nós realizamos uma inferência causal), ou seja, atribuímos ao fogo a causa de o papel
se queimar.
Sucede que, segundo Hume, não dispomos de qualquer impressão da ideia de causalidade necessária
entre os fenómenos. Hume afirma que só a partir da experiência é que se pode conhecer a relação entre a
causa e o efeito. Para o autor escocês, não se pode ultrapassar o que a experiência nos permite.
A experiência é, pois, a única fonte de validade dos conhecimentos de factos. Quer dizer que só
podemos ter um conhecimento a posteriori. A única coisa que sabemos é que entre dois fenómenos se
verificou, no passado, uma sucessão constante, ou seja, que a seguir a um determinado facto ocorreu sempre
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um mesmo facto.
Raciocínio indutivo/causal – aquele que nos permite inferir, a partir da experiencia, que um dado
fenómeno é causa de um outro; o fundamento deste princípio é a experiência e não a razão. É o resultado do
hábito que nos leva a projetar uma certeza subjetiva numa realidade objetiva: porque esperamos b quando a
se verifica, supomos que entre eles existe a ligação que subjetivamente experimentámos.
Para D. Hume, é o hábito que nos leva a inferir uma relação de causa e efeito entre dois fenómenos.
Se no passado ocorreu sempre um determinado facto a seguir a outro, então nós esperamos que no presente e
no futuro também ocorra assim. O hábito e o costume permitem-nos partir de experiências passadas e
presentes em direção ao futuro. Por isso, o nosso conhecimento de factos futuros não é um conhecimento
rigoroso, é apenas uma convicção que se baseia num princípio psicológico: o hábito.
Olhar crítico
O critério de demarcação entre impressões e ideias, com base na força e vivacidade das primeiras em
relação às segundas, não explica o caso das alucinações percetivas que, como sabemos, por ausência do
objeto percebido, não podem ser incluídas no domínio das impressões, apesar da sua força e vivacidade.
A explicação proposta por Hume do princípio de causalidade em termos de simples relação de
constância entre fenómenos não fornece o critério de demarcação que permita distinguir as leis da natureza
de generalizações acidentais: a conjunção constante aparece como um critério necessário, mas não suficiente,
para falarmos em relação causa e efeito
O empirismo de David Hume não explica de forma convincente a necessidade lógica e a
universalidade que reconhece ao conhecimento matemático.
Levantando o problema dos limites do conhecimento através da questão “que posso conhecer”,
pondo mesmo em causa os grandes temas como a existência de Deus, da Alma e do Mundo, apelou a
necessidade de submeter a razão ao “tribunal da crítica”, afim de finalmente se estabelecer verdadeiramente
em que campo se rege o conhecimento.
O percurso iniciado por, não o levou até uma posição empirista, com consequências céticas… O
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esforço intelectual de Kant vai no sentido de tentar conciliar as correntes filosóficas desavindas do
empirismo e do racionalismo.
Com os empiristas Kant defende que sem experiência não pode existir conhecimento. Mas com os
racionalistas concorda que a razão é determinante no processo do conhecimento. No entanto desaprova a
convicção dos empiristas de que a razão tem apenas um papel passivo (como por exemplo em Hume, em que
as ideias não passam de impressões distantes e trabalhadas pela razão). E contesta aos racionalistas a
afirmação perentória de que o verdadeiro conhecimento só pode ser um conhecimento independente da
experiência.
Hume afirmava a impossibilidade de conhecer para além dos sentidos – e por isso a impossibilidade
de um conhecimento necessário e universal (como Descartes pretendia fundamentar e provar), mas Kant,
pelo contrário, afirma a necessidade de um conhecimento universal, e por isso aposta em condições a priori
que tal possibilitem.
Para Kant o conhecimento é possibilitado por juízos a priori (independentes da experiência) e por
juízos a posteriori (possíveis apenas através da experiência). O sujeito (aquele que conhece). Identificou três
tipos de juízos:
Juízos analíticos (a priori): Necessariamente verdadeiros, universais e lógicos;
São tautológicos (se negássemos entraríamos em contradição) e não oferecem conhecimento novo,
No fundo o predicado está já contido no sujeito.
Ex: para sabermos que os corpos são extensos ou que o triângulo tem três ângulos, basta proceder à
análise do conceito.
Juízos sintéticos (a posteriori): O predicado é atribuído a sujeito, fruto da experiência; Não possuem
necessidade lógica nem universalidade; O predicado exprime um atributo que não está contido no
termo sujeito, ou seja, formula conhecimentos novos. Não entraríamos em contradição se os
negássemos e são de natureza indutiva.
Ex: para sabermos que os corpos são pesados ou que os metais são bons condutores de calor,
precisamos de recorrer à experiência.
Juízos sintéticos a priori: São necessariamente verdadeiros, universais e necessários; Não provêm da
experiência; São fruto de uma síntese mental.
Formulam um conhecimento que a simples análise do conceito de sujeito não nos permite
estabelecer; Verdadeiras proposições matemáticas;
“Não empíricos, porque comportam a necessidade, que não se pode extrair da
experiência”
Ex: o juízo 7+5=12 é um juízo sintético a priori; sintético, porque a análise do conceito de 7+5
apenas implica a noção de adição e não que o resultado seja 12, e, portanto, o predicado não se limita
a explicitar a compreensão do sujeito. A priori, porque não é requerida a experiência para o
conhecer.
Kant defende a existência de juízos sintéticos a priori, com as características que lhes reconhece
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porque:
Se apenas existissem juízos analíticos, estes não permitiriam que progredíssemos no conhecimento
do mundo já que são meras tautologias; estes juízos são independentes da experiencia, mas também
nada nos dizem acerca dela, isto é, são puramente formais.
Se apenas existissem juízos sintéticos, o nosso conhecimento careceria de necessidade logica e de
universalidade, já que a experiencia é sempre contingente.
Portanto, tem de se admitir a existência de juízos sintéticos a priori, pois so estes aumentam o nosso
conhecimento e tornam possível que os conhecimentos da matemática e da física sejam dotados de
necessidade logica de universalidade.
O conhecimento para Kant consiste na relação estabelecida entre as formas a priori do próprio sujeito
e a matéria fornecida pela experiencia - o juízos sintéticos a priori.
Faculdades
cognitivas
Sensibilidade:
o Formas a priori- espaço e tempo
o Materia a posteriori- impressões sensíveis
Entendimento:
o Formas a priori- conceitos puros
o Matéria a posteriori- sensações
A sensibilidade, embora definida como recetividade, já fornece enquadramento aos dados que lhe
são fornecidos pela experiência, uma vez que possui duas intuições puras a priori: o espaço e o tempo, que
nos permitem situar os objetos e acontecimentos. O espaço e o tempo, enquanto intuições puras não só não
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têm a sua origem na experiência, como são elas que tornam a experiência possível, pois conferem-lhes
ordem: quando percecionamos um objeto, procedemos de imediato à sua localização no espaço, e quando
ocorre um acontecimento, de imediato situamos no tempo. O espaço e o tempo não são realidades que
existam em si mesmas independentemente do sujeito; são estruturas cognitivas inatas que,
independentemente da experiencia, o sujeito possui; fazem parte da constituição da sua sensibilidade e são
elas que permitem organizar os dados da experiencia.
A experiência é a base do conhecimento. Nada o Homem pode conhecer que não passe pela
sensibilidade, mas afasta-se do empirismo ao considerar que a base das impressões sensíveis é condição
necessária mas não suficiente para que haja conhecimento. Só se pode falar de conhecimento depois desta
base ser organizada por categorias do entendimento. Portanto, Kant considera que o empirismo e o
racionalismo são duas conceções insuficientes para explicar a questão da origem do conhecimento. Todo o
conhecimento começa com a experiência, mas os dados desta têm que ser organizados e integrados em
conceitos que o entendimento possui a priori. O conhecimento é uma síntese entre matéria e forma.
O entendimento, tal como a sensibilidade, também é dotado de estruturas inatas, de formas a priori,
conceitos puros, que Kant designa por categorias; são formas que nos permitem pensar os objetos em geral.
De entre estas, reveste-se de particular interesse a categoria da causalidade. É ele que fornece fundamento à
formulação das leis cientificas, já que as leis são enunciados que estabelecem relações de causa a efeito entre
fenómenos. Kant considera que a causalidade é uma estrutura universal e necessária que aplicamos ao
conhecimento dos fenómenos da natureza quando eles se nos apresentam numa certa relação, sendo a noção
de causa e efeito pensada a priori pelo entendimento. Quando se afirma que “todo o conhecimento tem uma
causa”, esta afirmação não deriva da experiencia, não resulta do facto de eu ver constantemente o
acontecimento a preceder o acontecimento b, mas bem pelo contrario, quando observo dois acontecimentos
que se apresentam numa determinada relação, aplico-lhes a categoria de causalidade e afirmo que a é causa
de b.
Kant sustenta uma posição idealista (idealismo transcendental) quando à essência do conhecimento,
uma vez que só atingimos os fenómenos:
o O conhecimento não atinge uma realidade objetiva.
o Não se pode sair da ordem das representações para a ordem das coisas em si mesmas.
o Não há nenhuma garantia de correspondência entre as nossas representações e as coisas em
si mesmas.
Não aceita que a razão humana, uma vez corrigida dos erros dos sentidos, nos permita o acesso ao
conhecimento da verdadeira realidade.
Não põe em dúvida o valor da experiência: “todo o conhecimento das coisas tirado exclusivamente
do entendimento puro não passa de ilusão”.
Não põe em dúvida a existência de uma realidade objetiva.
Natureza do conhecimento - Defende o idealismo, o conhecimento não atinge uma realidade objetiva, não há
nenhuma garantia de correspondência entre as nossas representações e as coisas em si mesmas. O nosso
conhecimento não atinge a realidade em si mesma, mas “conhecemos somente o nosso modo de os
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perceber”.
Possibilidade do conhecimento - Defende o criticismo, admitindo ser possível chegar à verdade, mas limita o
conhecimento verdadeiro ao conhecimento do mundo dos fenómenos.
Ao conhecermos o real há sempre a interferência da nossa subjetividade constituída por estruturas formais
que aplicamos à matéria fornecida, nunca podemos dizer que conhecemos as coisas como elas são - os
númenos, apenas podemos dizer que conhecemos as coisas como elas são para nós – os fenómenos.
Olhar crítico
Partir do pressuposto de que o nosso conhecimento do mundo físico é universal e necessário é partir
de um pressuposto respeitável, mas em certa medida não é corroborado pelo desenvolvimento posterior do
conhecimento científico.
Defender o caracter a priori das estruturas cognitivas é oferecer uma teoria dotada de pouco poder
explicativo.
Conhecimento vulgar
Também denominado "empírico", o conhecimento vulgar é o que todas as pessoas adquirem na vida
quotidiana, ao acaso, baseado apenas na experiência vivida ou transmitida por alguém: observa-se,
comparam-se observações, e delas elaboram-se intelectualmente os resultados sem cuidado particular na sua
formulação. Em geral resulta de repetidas experiências casuais de erro e acerto, sem observação metódica
nem verificação sistemática, por isso carece de carácter científico. Pode também resultar de simples
transmissão de geração para geração e, assim, fazer parte das tradições de uma coletividade.
De um modo geral, este tipo de conhecimento limita-se a constatar e a registar a frequência de certas
ocorrências, aceitando o que existe tal como existe, sem procurar a explicação, confundindo simples relações
de simultaneidade com relações de causalidade; apresenta-se com o caracter de evidência que não vale a
pena contestar; A superficialidade é uma característica do conhecimento comum e precisamente porque está
muito ligado à pratica e ao imediato, não consegue atingir a universalidade que iremos encontrar no
conhecimento cientifico.
1.1 Características do Conhecimento Vulgar
Espontâneo e exato;
Empírico (depende da experiência do dia a dia e das informações sensoriais);
Permite-nos resolver os problemas do nosso quotidiano, é imediato;
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Não nos dá uma explicação, pois não ultrapassa aquilo que é visível;
Dá-nos por vezes, informações erradas, pois não vai até ao fundo da questão;
Ametódico – não segue determinadas regras/métodos;
Assistemático – não é organizado;
Acrítico – muitas vezes é entendido como dogmático (como verdade incontestável);
Subjetivo – não é rigoroso nem preciso e depende de cada pessoa e da sua opinião.
É formulado na linguagem corrente e vulgar
Conhecimento científico
O conhecimento científico resulta de investigação metódica, sistemática da realidade, ou seja, é
obtido através dos processos rigorosos de análise/observação, reflexão e demonstração ou experimentação.
Ele transcende os factos e os fenómenos em si mesmos, analisa-os para descobrir as suas causas e concluir as
leis gerais que os regem.
Como o objeto da Ciência é o universo material, físico, naturalmente percetível pelos órgãos dos
sentidos ou mediante a ajuda de instrumentos de investigação, o conhecimento científico é verificável na
prática, por demonstração ou experimentação. Além disso, tendo o firme propósito de desvendar os segredos
da realidade, ele explica e demonstra os fenómenos com clareza e precisão, descobre as suas relações de
predomínio, igualdade ou subordinação com outros factos ou fenómenos. De tudo isso conclui leis gerais,
universalmente válidas para todos os casos da mesma espécie.
A linguagem utilizada para formular esse conhecimento é precisa, com recurso a termos específicos
e, por vezes, a expressões matemáticas, de modo a eliminar as ambiguidades da linguagem corrente.
Atitude Dogmático – aceita o que vê e lhe dizem de Crítico – quem questiona o que
forma passiva é óbvio
Verdade – responder à
Motivação Utilidade utilidade de uma forma ativa
O método científico
A ciência utiliza, na produção de conhecimentos e como procedimento e forma
de atuar, o método científico. O mais/característico e específico da ciência, ou seja,
aquilo que a constitui como tal e a distingue dos demais tipos deconhecimento é, com
efeito, o método científico.
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O método científico é uma forma de atuação humana orientada para o conhecimento da realidade empírica.
Positivismo lógico – restringe o conhecimento à ciência, negando o valor da metafisica enquanto tal,
ou seja, so admitia como conhecimento válido os enunciados suscetíveis de verificação empírica ou os
analíticos (puramente formais).
De acordo com a perspetiva indutivista, a ciência parte dos factos e da sua observação (observação
natural, quase o mesmo que senso comum mas com mais rigor), cuidada e rigorosa que permite encontrar
padrões de comportamento, relações de semelhança e de concomitância, e estabelecer enunciados
observacionais; Estes referem-se sempre a casos particulares: observando-se este ou aquele particular
fenómeno; constata-se, por exemplo, que o ferro é bom condutor de calor, que o mesmo acontece com cobre
ou com o estanho.
Por sua vez, a observação dos factos suscita uma hipótese (salto logico: passo do caso para a lei- é
um caminho tendencioso, mostra uma verdade que já provei varias vezes), isto é, uma explicação provisoria
que reveste a forma de um princípio geral, estando sujeita a verificação: todos os metais são bons condutores
de calor.
A hipótese tem de ser submetida à experimentação; esta já é uma observação provocada em situação
artificial, com a manipulação das diferentes variáveis por parte do experimentador: verifica-se se a
propriedade de boa condutibilidade ocorre com outros metais, para alem dos inicialmente observados.
Se na fase de experimentação a hipótese for verificada, então pode formular-se uma lei: “os metais
são bons condutores de calor”.
Segundo esta conceção, o critério que permite a passagem da hipótese à lei é o da verificabilidade-
este constitui-se em critério de cientificidade: se a hipótese for verificada em n casos, conclui-se que ela será
verificada em todos os casos da mesma espécie.
De acordo com a conceção indutivista, admite-se ainda que o progresso da ciência consiste na
acumulação e no aperfeiçoamento do conhecimento: conhece-se progressivamente mais e melhor, a evolução
do conhecimento ocorre numa linha de continuidade. As leis, agrupadas e conexidades, constituem-se em
teorias com poder explicativo e capacidade preditiva, sendo uma teoria científica quando as afirmações que
comporta forem verificáveis.
No método indutivo, a ciência evolui por uma acumulação de teorias e leis, evolui dentro de uma
linha linear (linearidade-continuidade), não volta atrás.
2.1 Hipótese
Suposta explicação para o facto cuja aceitação depende do resultado da experiência;
Teoria que mostra uma possível relação entre os factos observados e a causa da sua ocorrência;
Orienta o cientista nas suas experiências;
Uma boa hipótese tem de ser racional, verificável e suficiente (resposta razoável, reúna condições
para ser testada e expliquem a totalidade dos factos);
Caráter provisório: se for verificada a sua falsidade continua a ser útil para o cientista, pois
delimita-lhe o campo das hipóteses;
A comprovação dessas hipóteses é que as vai transformar em conclusões, até que surjam factos
que as ponham em causa. Se a hipótese resistir a essa comprovação, passa a ser aceite como lei/teoria;
O objetivo das experiências consiste na verificação das hipóteses a fim de que possam ser
proclamadas como leis/teorias verdadeiras a vigorar como explicações de fenómenos.
3.1 Indutivo
Observação: constatação da existência de um determinado fenómeno.
Hipótese: explicação provisória resultante da organização dos dados observados.
Experimentação: experiência metódica e organizada no sentido de confirmar a hipótese.
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Lei/Teoria: regra geral e universal em virtude da experimentação de se ter confirmado a hipótese.
3.2.2 Falsificacionismo
Possibilidade de mostrar que uma hipótese ou teoria é falsa.
A verdade do que é particular não implica a verdade do que é universal. Logo, nunca se pode
comprovar que as hipóteses são verdadeiras.
As experiências devem ser feitas com o objetivo de invalidar as hipóteses, e não de as tornar
verdadeiras.
Em laboratório só se pode obter a certeza de hipóteses falsas.
As conjeturas mantêm-se em vigor (quando não são destruídas pela ocorrência de casos particulares
que as contradigam).