Analise Comparativa de Duas Teorias Explicativas

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1.

2 Análise comparativa de duas teorias explicativas 1

O conhecimento envolve dois problemas fundamentais: qual a origem das nossas ideias e como se
processa o conhecimento que com elas formamos, ou seja, o problema da origem do conhecimento e o
problema da possibilidade do conhecimento, que consiste em saber se podemos atingir a verdade e a certeza
ou se temos de nos contentar com uma representação da realidade que está mais ou menos longe de ser
absolutamente verdadeira, ou seja, o alcance, os limites e validade do conhecimento.

Conhecemos a realidade tal como é em si mesma ou o nosso conhecimento é à nossa medida,


moldado pelo modo como o sujeito é constituído?

Podemos primeiro perceber o é o conhecimento para perceber de onde vem a sua origem e quais as
suas possibilidades.

Conhecimento é a forma como elaboramos mentalmente a representação da realidade (representação


essa que visa ser coerente com a realidade em si), é uma representação interna e simbólica por parte do
sujeito, relativamente ao objeto. Assim, por vezes, temos perspetivas diferentes sobre uma mesma realidade,
que não são conciliáveis, pois estas dependem do estado de espírito do sujeito e das suas experiências de
vida, que modificam a maneira como este encara certos aspetos da realidade.

Depende apenas de dois elementos, sujeito e objeto. Entre estes é necessário que haja um contacto
direto, verdadeiro, puro e original, para que possamos conhecer o objeto na sua verdadeira essência. Assim,
conhecer não significa penas ter noção de algo, implica conseguir descrevê-lo (para vermos o que realmente
comporta), calculá-lo (para o comprovar), e por vezes, prevê-lo dentro de certos limites.

Assim, a relação entre estes dois elementos dar-nos-á uma visão da realidade, que irá
inevitavelmente, ser modificada ao longo dos tempos, pois vão sendo criadas/descobertas novas formas de
ver determinado objeto. Uma vez que o conhecimento é algo cuja evolução é inevitável, podemos dizer que é
uma construção, uma resposta adaptativa do sujeito ao mundo.

O Conhecimento pode ser dividido em três etapas: Sensação, Perceção e Razão. A Sensação consiste
numa apreensão imediata do objeto, pela ação de estímulos específicos sobre o recetor, sendo ela que nos dá
uma primeira configuração das coisas. A Perceção já é algo mais individual que pode ser desenvolvido, pois
consiste na organização, articulação e associação dos elementos sensoriais, tendo em conta experiências e
interesses, de modo a adquirirem um sentido e um significado. Por último, a Razão consiste na relação
sensorial-perceptiva, que se traduz em conceitos e discursos.
O Conhecimento é definido por crenças verdadeiras e justificadas. Isto, quer dizer que podemos ter
uma crença verdadeira, mas se não soubermos o que a originou nem compreendermos os seus porquês, ela
não é justificada, ou seja, não pode ser considerada conhecimento.
Que relação existe entre conhecimento científico e filosófico? O conhecimento filosófico
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baseia-se na especulação em torno do real, tendo como objeto a busca da verdade. Vai à raiz das coisas,
questionando “tudo e todos”. O conhecimento científico, pelo contrário, é adquirido pela investigação prática
e teórica da realidade. É capaz de fazer previsões, mas também comprovar algo. É importante que estes dois
se confrontem, pois ambos procuram a mesma coisa, a verdade.
“Qual a fonte do conhecimento humano?”
O racionalismo considera que a razão humana tem capacidade para conhecer e demonstrar a verdade
dos seus conhecimentos sem precisar de se apoiar nos dados dos sentidos. Embora reconhecendo que a
experiência desempenha o seu papel no ato de conhecer, admite que só a razão dispõe de condições únicas e
inatas para garantir o seu carácter de evidência e universalidade, adotando assim, uma posição dogmática. O
dogmatismo consiste na crença de que o ser humano é capaz de atingir o conhecimento verdadeiro, absoluto
e evidente.
O Racionalismo defende que a razão é a fonte do conhecimento humano, ou seja, que o pensamento
funciona de modo independente relativamente à experiência.
■ Como tal, podem ser comparados com as aranhas, que extraem de si mesmas o que lhes serve para a teia.
■ Os racionalistas geralmente não negam que exista conhecimento empírico, mas pensam que, recorrendo
unicamente à razão ou ao pensamento, podemos obter conhecimento factual genuíno. Supõem
frequentemente que o conhecimento a priori, por oposição ao conhecimento empírico, assenta em
justificações certas ou infalíveis.
■ Os racionalistas acreditam na possibilidade dogmática de apreender o objeto, pois o pensamento e a
reflexão são a via de inferir sobre este.

O Racionalismo valoriza, sobretudo a razão, que organiza, unifica e dá sentido aos dados recebidos
espontaneamente da consciência. O Racionalismo, não encontrando na experiência, singular e concreta,
explicação para o caráter geral e abstrato do conhecimento, afirma que a razão recebe certas ideias gerais que
lhe servem para conhecer a realidade, ou cria certos dados chamados apriorísticos, com os quais organiza e
interpreta a experiência - por isso se diz que o conhecimento é "a priori".

O racionalismo cartesiano

Os problemas do conhecimento ocupam um lugar central na sua filosofia, na qual vai tentar rebater o
ceticismo. A crença de que é possível conhecer e encontrar uma verdade inquestionável é um princípio base
da sua reflexão, tendo-se suportado no exemplo matemático para apresentar o seu modelo de conhecimento,
pois as verdades matemáticas apresentam-se com o caracter de universalidade e de necessidade lógica, e
nega-las implicaria contradição.

Descartes liga a verdade à certeza e considera que, para se estar certo de algo, esse algo tem de se
impor ao espirito com caracter de evidência; este, complementada com o rigor dedutivo, será a marca da
verdade e o meio de justificação da crença.
A influência do ceticismo, que admitia não ser possível conhecer a realidade na sua essência, vinha a
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colocar em causa a validade de todos os conhecimentos até então adquiridos. Por isso, tornou-se necessário
determinar se era possível encontrar um sistema de filosofia capaz de garantir o conhecimento.

Com o objetivo de encontrar princípios indubitáveis que servissem de fundamento ao conhecimento,


Descartes decidiu por em dúvida tudo (dúvida hiperbólica) o que até então tinha dado como certo, para ver se
algo lhe resistia, ou seja, decidiu seguir um ceticismo metodológico. Assim, a dúvida cartesiana incide sobre
os seguintes pontos:

 Os dados dos sentidos – porque nos enganam com demasiada frequência, logo não são
confiáveis,
 A impossibilidade de distinguir o sonho de vigília – por vezes apresentam-se com tal nitidez
e autenticidade que os tomamos pela realidade,
 O próprio raciocínio – visto que cometemos inúmeros erros sem nos apercebemos
(paralogismos).

Porém, mesmo levando a dúvida a tais extremos, verificou havia algo que lhe resistia, podia estar
enganado e iludido acerca de tudo, mas não poderia duvidar da sua própria existência, do seu próprio
pensamento. Daqui surgiu o primeiro princípio da sua filosofia, cogito ergo sum (penso, logo existo).

“Mas logo em seguida, notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso, eu, que assim o
pensava, necessariamente era alguma coisa […] julguei que a podia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro
princípio da filosofia que procurava.” – René Descartes, Discurso do método.

Descartes percebeu que o que tornava este princípio indubitável, é a clareza e distinção com que se
impõe ao espirito, pelo que, a partir dai, a evidência será o critério para aceitar algo como verdadeiro. A
dúvida não se apresenta então como um critério cético e espontâneo mas antes como um método, capaz de
garantir validade ao conhecimento, sujeito a regras rigorosas de modo a aceitar como verdadeiras apenas as
coisas que apareçam ao espirito tão clara e distintamente que nenhuma dúvida lhes possa resistir.

Regras do método- a adoção da dúvida como método levou Descartes a elaborar um conjunto de
quatro regras, baseadas no método matemático, que pudessem conferir rigor na resolução de problemas e que
tornassem impossível tomar o falso por verdadeiro. São elas: 1ª evidencia, 2ª análise, 3ª ordem (ir do mais
simples para o mais complexo) e 4ª enumeração (daquilo que me parece mais evidente para o menos).

1. Só aceita aquilo que for claro para a sua mente. Descartes ensina-nos a “duvidar até distinguir o
verdadeiro do falso”, pelo que esta primeira regra trata da clareza e da distinção dos dados que são
adquiridos. Diz-nos que só devemos aceitar determinada ideia se for evidente e o nosso espírito e razão a
reconhecer como verdade, tal como se tratasse de um objeto físico que pudéssemos observar concretamente.
Alerta-nos assim para a atenção e o cuidado na apreensão de noções, conceitos ou juízos e a quais devemos
aceitar como verdade.
2. Divide os grandes problemas em pequenos. Esta diz-nos que devemos decompor as “dificuldades em
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parcelas”, isolando os elementos mais simples. Apenas deste modo é que será possível um entendimento
integral da peça, ou seja, do que é apreendido. Desta maneira capta a função que cada dificuldade exerce no
problema em si e do que se trata.
3. Argumenta do simples para o complexo. Esta consiste numa reorganização das peças que foram
decompostas. A mesma dedica-se à reestruturação dos dados que são adquiridos de modo a dar-lhes unidade
e consistência quando integrados num todo. Esta síntese das partes realiza-se progressivamente, dos
pensamentos mais simples e mais fáceis até aos mais complexos, permitindo assim a construção muito mais
precisa do saber.
4. E, finalmente, verifica tudo cuidadosamente quando tiver acabado. Trata da revisão do conhecimento que
é construído anteriormente. Segundo Descartes esta regra consistia em “fazer sempre enumerações tão
completas e revisões tão gerais que tivesse a certeza de não proferir erros e de nada omitir”. Só na análise do
saber no seu todo é que podemos verificar a existência de erros ou dados falsos que façam parte do mesmo.
Confere unidade à teoria e estabelece inúmeras relações entre as partes e, assim, permite-nos compreender a
peça como um todo, como algo funcional.
■ A unidade é muito importante pois só através dela é que conseguimos ver algo como um todo, as peças que
os constituem, as relações que dele fazem parte, as funções que nele estão inscritas, ou seja, podemos
representar o “objeto” de maneira mais completa possível no “nosso” mundo.
Descartes admitiu ainda a existência de um génio maligno que o poderia enganar mesmo quando
pensasse clara e distintamente, surge então a seguinte questão: que garantias temos nós de que as ideias
claras e distintas que obtemos pelo nosso pensamento são realmente verdadeiras? Em resposta a esta
pergunta, Descartes reconhece a necessidade da existência de um Ser Superior, dotado de todas as
perfeições, que pudesse garantir a veracidade dos conhecimentos obtidos, sempre que tivessem marcas da
evidência e do rigor dedutivo.

Mas como pode Deus garantir o conhecimento verdadeiro? E como provar a Sua existência?

Deus enquanto garante da verdade

Descartes encontra a ideia de um ser absolutamente perfeito, ideia essa que considera inata a priori,
não tendo origem na experiencia pois esta não lhe mostra nada de absolutamente perfeito. Da ideia de Deus
como ser perfeito deduza sua existência. Explica que a ideia que cada um tem de perfeição, jamais poderia
ser criada por um ser imperfeito, pois este não tem capacidade para criar coisas perfeitas.

A existência do mundo material e a possibilidade de o conhecer, são aceites, desde que sejam
acauteladas as exigências metodológicas autoimpostas:

 Partir de princípios evidentes – ideias claras e distintas, apreendidas por intuição intelectual.
 Raciocinar dedutivamente.

Descartes distingue três tipos de ideias:


 Ideias inatas – são as ideias claras e distintas, sementes de verdade implantadas por Deus em
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nós.
 Ideias adventícias – são ideias que provêm da experiencia e dos sentidos, ideias sobre as
coisas exteriores.
 Ideias factícias – são ideias que provêm da nossa própria imaginação.

Realismo ingénuo – As coisas são, segundo eles exatamente tais como as percebemos. O
conhecimento atinge a realidade objetiva.

Realismo Crítico – Admite que o conhecimento atinge o real, conhecer é conhecer uma realidade
objetiva. Mas afirma que as coisas não têm todas as propriedades que nelas percebemos. O realismo crítico
apercebe-se que existe uma diferença entre perceção e objeto percebido.

A filosofia cartesiana é objeto de uma crítica de fundo que denuncia a circularidade do seu
pensamento:

 Duvida da razão, mas utiliza a razão para provar que Deus existe.
 Atribui as ideias inatas a Deus do qual também tem uma ideia inata.

Resolve-se o problema do ceticismo mas coloca-se outra dúvida: Será uma teoria filosófica ou
teológica?

O empirismo considera que o conhecimento parte dos dados dos sentidos e que a razão humana não tem
capacidade para o construir sozinha, atribuindo à experiência sensível um papel fundamental e determinante
no processo de formação do conhecimento, uma vez que as ideias que temos das coisas partem
inevitavelmente da experiencia. No entanto, ao reconhecer a falibilidade da informação sensorial, não atribui
ao conhecimento o valor de verdade absoluta e de certeza que o racionalismo lhe concede, inclinando-se para
posições mais ou menos céticas relativamente à possibilidade de conhecer. O ceticismo coloca em dúvida a
possibilidade do ser humano atingir conhecimentos absolutamente certos e evidentes.

A origem das ideias

Para David Hume, todas as ideias têm origem na experiencia sensorial, não admitindo a existência de
conhecimento por parte do sujeito antes de qualquer experiencia.

O ser humano à partida, não possui qualquer tipo de conhecimento, é como uma página em branco
desprovida de qualquer conteúdo, que só a experiencia tem capacidade para a preencher.
Os elementos básicos com os quais a mente trabalha são as perceções, obtidas através dos órgãos dos
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sentidos. As perceções por sua vez dividem-se em dois:

o Impressões – mais vividas e fortes


o Ideias – mais fracas e ténues, como que cópias de impressões.

“ A diferença entre ambos consiste no grau de força e de vivacidade com que incidem na mente e abrem
caminho no nosso pensamento e na nossa consciência” – David Hume, Tratado da Natureza Humana

Reconhecer que na origem do conhecimento se encontra a experiência sensorial não significa que a
mente se comporta passivamente; ela tem algum poder criador, embora limitado, porque o material com que
trabalha procede sempre da experiência.

Podemos então retirar as seguintes conclusões:

 Todas as nossas perceções se dividem em impressões e ideias.


 As impressões são os dados imediatos da experiencia (sensações).
 As ideias são representações mentais das impressões.
 As ideias dependem das impressões, pois são as impressões que vão dar origem às ideias.

As ideias são como que copias das impressões, se não conseguirmos estabelecer relação entre uma ideia
e a correspondente impressão, então pode concluir-se que essa «ideia» é um termo sem significado. Esta é
uma das maneiras de eliminar ideias falsas.
David Hume recusa decididamente o estatuto de ideia inata que Descartes atribuía a Deus,
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considerando que na sua origem se encontram ideias simples que resultam da reflecção sobre a nossa
experiencia interior. Mesmo as ideias mais complexas e aparentemente mais afastadas da experiência
sensível têm nela a sua origem.

A associação de ideias

As ideias nunca surgem isoladas, estão sempre interligadas, e os princípios que presidem a essas
interligações são três:

o A semelhança – quando compro pão, pergunto-me se não precisarei também de leite.


o A contiguidade (vizinhança, proximidade) no tempo e no espaço – procuro um livro na estante do
escritório.
o Causalidade – ponho a água ao lume com a convicção de que vai ferver.

Ex: quando dizemos que a neve é fria é porque as impressões provocadas respetivamente pela neve e pelo
frio se encontram sempre associadas.

Os nossos conhecimentos surgem então, dessa interligação de ideias. As crenças são fruto de
processos associativos, consolidados e fortalecidos pelo hábito, não tendo fundamento e natureza racional.
David Hume distingue crenças (conhecimentos) das ficções da imaginação pelo facto de que as crenças
resultam de uma associação constante e repetida entre impressões e ideias.

Conhecimento (segundo Hume) – é uma crença que formamos e que é justificada pelo facto de as nossas
experiencias a consolidarem e confirmarem.

Ex: Embora possa imaginar uma sereia, na medida em que combino as ideias de mulher e de peixe, o elo
entre estas duas ideias é fraco e não é consolidado pela experiência, pelo que não posso acreditar que existam
sereias, as sereias são simples ficção da imaginação.

Tipos de conhecimento

Para Hume existem dois tipos de conhecimento:

o Relação de ideias – Para Hume, o conhecimento de relação de ideias consiste em estabelecer


relações entre as ideias que fazem parte de uma afirmação ou de um pensamento. As ideias, resultam
da própria definição dos termos que as constituem, são intuitiva ou demonstrativamente certas, pois
entraríamos em contradição se afirmássemos o contrário daquilo que se supõe e basta o exercício do
pensamento para as encontrar, não necessitando de recorrer á experiencia do mundo. São
conhecimentos dotados de evidência e certeza e não nos fornece novas informações. Este tipo de
conhecimento está principalmente ligado à lógica e à matemática. Trata-se de um conhecimento que
relaciona conceitos ou ideias e que se baseia no princípio de não contradição. Ex: 15 é igual a
metade de 30.
o Questão de facto e de existência – Este conhecimento relativo aos factos baseia-se na experiência
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sensível e é-nos proporcionado pelas nossas impressões. Neste tipo de conhecimento, as proposições
que se formulam não são demonstráveis nem dotadas de necessidade lógica. O conhecimento de
factos não se baseia no princípio de não contradição, já que é possível afirmar o contrário de um
facto. A verdade ou falsidade de um conhecimento de factos só pode ser determinada através do
confronto com a experiência, isto é, a posteriori. Ex: o sol nascerá amanhã, o sol não nascerá
amanhã.

O problema da causalidade e o raciocínio indutivo

No conhecimento de questões de facto – questões acerca do que existe e do que ocorre na natureza, a
relação de causa e efeito ocupa um papel fundamental porque procuramos relacionar os fenómenos, e quando
determinados fenómenos se verificam, aguardamos que outros também se verifiquem, de certas causas
esperamos certos efeitos.

Princípio da causalidade- princípio que defende a relação entre uma causa e o seu efeito, ou seja,
que o acontecimento de algo é sempre procedido por uma causa, e assim sucessivamente.

O princípio da causalidade era um princípio a priori, segundo o racionalismo clássico, ou seja, era
independente e anterior à experiência. Assim, este princípio permitia estabelecer um nexo de necessidade
lógica entre causa e efeito, de tal modo que, posta a causa, seguia-se necessariamente o efeito, entendendo-se
haver na causa uma qualquer força intrínseca capaz de produzir o efeito.

Hume diz-nos que todas as ideias derivam de impressões sensíveis. Assim, do que não há impressão
sensível não há conhecimento.
Segundo David Hume, o nosso conhecimento dos factos restringe-se às impressões atuais e às
recordações de impressões passadas. Assim, se não dispomos de impressões relativas ao que acontecerá no
futuro, também não possuímos o conhecimento dos factos futuros. Não podemos dizer o que acontece no
futuro porque um facto futuro ainda não aconteceu.

Contudo, há muitos factos que esperamos que se verifiquem no futuro. Por exemplo, esperamos que
um papel se queime se o atirarmos ao fogo. Esta certeza que julgamos ter (que o papel se queima), tem por
base a noção de causa (nós realizamos uma inferência causal), ou seja, atribuímos ao fogo a causa de o papel
se queimar.

Sucede que, segundo Hume, não dispomos de qualquer impressão da ideia de causalidade necessária
entre os fenómenos. Hume afirma que só a partir da experiência é que se pode conhecer a relação entre a
causa e o efeito. Para o autor escocês, não se pode ultrapassar o que a experiência nos permite.
A experiência é, pois, a única fonte de validade dos conhecimentos de factos. Quer dizer que só
podemos ter um conhecimento a posteriori. A única coisa que sabemos é que entre dois fenómenos se
verificou, no passado, uma sucessão constante, ou seja, que a seguir a um determinado facto ocorreu sempre
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um mesmo facto.
Raciocínio indutivo/causal – aquele que nos permite inferir, a partir da experiencia, que um dado
fenómeno é causa de um outro; o fundamento deste princípio é a experiência e não a razão. É o resultado do
hábito que nos leva a projetar uma certeza subjetiva numa realidade objetiva: porque esperamos b quando a
se verifica, supomos que entre eles existe a ligação que subjetivamente experimentámos.

A possibilidade de conhecer – o ceticismo moderado de Hume


Hume critica o racionalismo clássico que entendia a razão dotada de um património a priori de ideias
ou princípios inatos e de um poder de construir o conhecimento da realidade a partir de tais fundamentos,
como se a razão fosse uma qualquer faculdade existente em si e por si, independente do aparelho sensorial.
Hume não rejeita a hipótese de conhecermos a realidade, apenas lhe assinala limites. Neste aspeto, o
seu ceticismo é mitigado/moderado, reconhece a imperfeição e os limites do entendimento humano, que não
pode ir além da experiência e para o qual há domínios que se encontram vedados. As crenças cognitivas para
Hume não têm um fundamento racional mas sim um fundamento no hábito e no sentimento.

Para D. Hume, é o hábito que nos leva a inferir uma relação de causa e efeito entre dois fenómenos.
Se no passado ocorreu sempre um determinado facto a seguir a outro, então nós esperamos que no presente e
no futuro também ocorra assim. O hábito e o costume permitem-nos partir de experiências passadas e
presentes em direção ao futuro. Por isso, o nosso conhecimento de factos futuros não é um conhecimento
rigoroso, é apenas uma convicção que se baseia num princípio psicológico: o hábito.

Olhar crítico
O critério de demarcação entre impressões e ideias, com base na força e vivacidade das primeiras em
relação às segundas, não explica o caso das alucinações percetivas que, como sabemos, por ausência do
objeto percebido, não podem ser incluídas no domínio das impressões, apesar da sua força e vivacidade.
A explicação proposta por Hume do princípio de causalidade em termos de simples relação de
constância entre fenómenos não fornece o critério de demarcação que permita distinguir as leis da natureza
de generalizações acidentais: a conjunção constante aparece como um critério necessário, mas não suficiente,
para falarmos em relação causa e efeito
O empirismo de David Hume não explica de forma convincente a necessidade lógica e a
universalidade que reconhece ao conhecimento matemático.

O problema do conhecimento em Kant

Levantando o problema dos limites do conhecimento através da questão “que posso conhecer”,
pondo mesmo em causa os grandes temas como a existência de Deus, da Alma e do Mundo, apelou a
necessidade de submeter a razão ao “tribunal da crítica”, afim de finalmente se estabelecer verdadeiramente
em que campo se rege o conhecimento.
O percurso iniciado por, não o levou até uma posição empirista, com consequências céticas… O
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esforço intelectual de Kant vai no sentido de tentar conciliar as correntes filosóficas desavindas do
empirismo e do racionalismo.
Com os empiristas Kant defende que sem experiência não pode existir conhecimento. Mas com os
racionalistas concorda que a razão é determinante no processo do conhecimento. No entanto desaprova a
convicção dos empiristas de que a razão tem apenas um papel passivo (como por exemplo em Hume, em que
as ideias não passam de impressões distantes e trabalhadas pela razão). E contesta aos racionalistas a
afirmação perentória de que o verdadeiro conhecimento só pode ser um conhecimento independente da
experiência.
Hume afirmava a impossibilidade de conhecer para além dos sentidos – e por isso a impossibilidade
de um conhecimento necessário e universal (como Descartes pretendia fundamentar e provar), mas Kant,
pelo contrário, afirma a necessidade de um conhecimento universal, e por isso aposta em condições a priori
que tal possibilitem.
Para Kant o conhecimento é possibilitado por juízos a priori (independentes da experiência) e por
juízos a posteriori (possíveis apenas através da experiência). O sujeito (aquele que conhece). Identificou três
tipos de juízos:
 Juízos analíticos (a priori): Necessariamente verdadeiros, universais e lógicos;
São tautológicos (se negássemos entraríamos em contradição) e não oferecem conhecimento novo,
No fundo o predicado está já contido no sujeito.
Ex: para sabermos que os corpos são extensos ou que o triângulo tem três ângulos, basta proceder à
análise do conceito.
 Juízos sintéticos (a posteriori): O predicado é atribuído a sujeito, fruto da experiência; Não possuem
necessidade lógica nem universalidade; O predicado exprime um atributo que não está contido no
termo sujeito, ou seja, formula conhecimentos novos. Não entraríamos em contradição se os
negássemos e são de natureza indutiva.
Ex: para sabermos que os corpos são pesados ou que os metais são bons condutores de calor,
precisamos de recorrer à experiência.
 Juízos sintéticos a priori: São necessariamente verdadeiros, universais e necessários; Não provêm da
experiência; São fruto de uma síntese mental.
Formulam um conhecimento que a simples análise do conceito de sujeito não nos permite
estabelecer; Verdadeiras proposições matemáticas;
“Não empíricos, porque comportam a necessidade, que não se pode extrair da
experiência”
Ex: o juízo 7+5=12 é um juízo sintético a priori; sintético, porque a análise do conceito de 7+5
apenas implica a noção de adição e não que o resultado seja 12, e, portanto, o predicado não se limita
a explicitar a compreensão do sujeito. A priori, porque não é requerida a experiência para o
conhecer.
Kant defende a existência de juízos sintéticos a priori, com as características que lhes reconhece
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porque:
 Se apenas existissem juízos analíticos, estes não permitiriam que progredíssemos no conhecimento
do mundo já que são meras tautologias; estes juízos são independentes da experiencia, mas também
nada nos dizem acerca dela, isto é, são puramente formais.
 Se apenas existissem juízos sintéticos, o nosso conhecimento careceria de necessidade logica e de
universalidade, já que a experiencia é sempre contingente.
 Portanto, tem de se admitir a existência de juízos sintéticos a priori, pois so estes aumentam o nosso
conhecimento e tornam possível que os conhecimentos da matemática e da física sejam dotados de
necessidade logica de universalidade.

O conhecimento para Kant consiste na relação estabelecida entre as formas a priori do próprio sujeito
e a matéria fornecida pela experiencia - o juízos sintéticos a priori.

A origem do conhecimento: caracterização do apriorismo kantiano- como são possíveis os juízos


sintéticos a priori?

Há duas faculdades do sujeito que interferem no conhecimento: a sensibilidade e o entendimento.


 A primeira caracteriza-se pela recetividade e é através dela que somos afetados pelo mundo
exterior.
 O entendimento caracteriza-se pela sua espontaneidade e atividade, ou seja pela capacidade
de produzir representações a partir dos dados recebidos da sensibilidade.
Tanto a sensibilidade como o entendimento são dotados de estruturas que lhes são inerentes e que
não procedem da experiencia, sendo, portanto, apriorísticas. No conhecimento ao nível da sensibilidade
existem as noções de espaço e tempo que são intuições puras, ou seja são desprovidas de qualquer conteúdo
ou experiencia. No conhecimento ao nível do entendimento existem conceitos puros, as categorias, tais como
a substancia, de unidade e de causalidade, que são utilizados para organizar os dados da experiência.
Daqui resulta que, para haver conhecimento, é sempre requerida a experiência; esta fornece a matéria
que vai ser enquadrada pelas formas a priori da sensibilidade e do entendimento.
 Se as intuições ou os conceitos são puros: não provêm da experiência (são a priori) e permitem-nos
organizar a experiência.
 Se as intuições ou os conceitos são empíricos: há neles algo que procede da experiência (a
posteriori).
o A sensibilidade pode fornecer intuições puras.
o O entendimento pode fornecer conceitos puros: categorias.
o Só há conhecimento se estes diferentes elementos estiverem presentes.
A Sensibilidade é, sobretudo, passiva, a sua principal característica é a recetividade, ou seja, ela
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deixa-se ‘tocar’ pelos objetos do mundo externo…Esta abertura ao exterior fornece ao sujeito as impressões
sensíveis.
O Entendimento tem uma dimensão ativa, e é capaz de Pensar as representações veiculadas pela
sensibilidade.
Portanto, a Sensibilidade dá-nos intuições e o Entendimento conceitos.

O conhecimento só é possível quando às formas a priori da sensibilidade e do entendimento se junta


a matéria a posteriori da experiência, e vice-versa, pois, de outro mundo, os pensamentos que teríamos sobre
as coisas seriam vazios, da mesma forma que, sem conceitos, seria impossível distinguir as diversas
sensações que recebemos.

Faculdades
cognitivas

Sensibilidade:
o Formas a priori- espaço e tempo
o Materia a posteriori- impressões sensíveis
Entendimento:
o Formas a priori- conceitos puros
o Matéria a posteriori- sensações

As intuições puras da sensibilidade

A sensibilidade, embora definida como recetividade, já fornece enquadramento aos dados que lhe
são fornecidos pela experiência, uma vez que possui duas intuições puras a priori: o espaço e o tempo, que
nos permitem situar os objetos e acontecimentos. O espaço e o tempo, enquanto intuições puras não só não
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têm a sua origem na experiência, como são elas que tornam a experiência possível, pois conferem-lhes
ordem: quando percecionamos um objeto, procedemos de imediato à sua localização no espaço, e quando
ocorre um acontecimento, de imediato situamos no tempo. O espaço e o tempo não são realidades que
existam em si mesmas independentemente do sujeito; são estruturas cognitivas inatas que,
independentemente da experiencia, o sujeito possui; fazem parte da constituição da sua sensibilidade e são
elas que permitem organizar os dados da experiencia.
A experiência é a base do conhecimento. Nada o Homem pode conhecer que não passe pela
sensibilidade, mas afasta-se do empirismo ao considerar que a base das impressões sensíveis é condição
necessária mas não suficiente para que haja conhecimento. Só se pode falar de conhecimento depois desta
base ser organizada por categorias do entendimento. Portanto, Kant considera que o empirismo e o
racionalismo são duas conceções insuficientes para explicar a questão da origem do conhecimento. Todo o
conhecimento começa com a experiência, mas os dados desta têm que ser organizados e integrados em
conceitos que o entendimento possui a priori. O conhecimento é uma síntese entre matéria e forma.

Os conceitos puros do entendimento

O entendimento, tal como a sensibilidade, também é dotado de estruturas inatas, de formas a priori,
conceitos puros, que Kant designa por categorias; são formas que nos permitem pensar os objetos em geral.
De entre estas, reveste-se de particular interesse a categoria da causalidade. É ele que fornece fundamento à
formulação das leis cientificas, já que as leis são enunciados que estabelecem relações de causa a efeito entre
fenómenos. Kant considera que a causalidade é uma estrutura universal e necessária que aplicamos ao
conhecimento dos fenómenos da natureza quando eles se nos apresentam numa certa relação, sendo a noção
de causa e efeito pensada a priori pelo entendimento. Quando se afirma que “todo o conhecimento tem uma
causa”, esta afirmação não deriva da experiencia, não resulta do facto de eu ver constantemente o
acontecimento a preceder o acontecimento b, mas bem pelo contrario, quando observo dois acontecimentos
que se apresentam numa determinada relação, aplico-lhes a categoria de causalidade e afirmo que a é causa
de b.

A categoria de causalidade corresponde a um princípio considerado fundamental em ciência: “tudo o


que acontece tem uma causa”, uma vez que fornece fundamento à formulação das leis científicas.
Para David Hume: não é um princípio construtivo da razão humana, não é uma estrutura universal e
necessário – resulta do simples hábito. Reduz os fundamentos científicos a meras probabilidades.
Para Kant, a noção de causa e efeito é pensada a priori pelo entendimento – não deriva da
experiência. É um conceito puro do entendimento, uma categoria, uma estrutura formal inata, a priori, que,
em determinadas circunstâncias, se aplica a determinados dados da experiência.
É porque aplica aos objetos que estuda estruturas cognitivas que correspondem a formas universais e
necessárias que o conhecimento dos objetos pode ser ele próprio universal e necessário, mas os objetos não
são conhecidos em si mesmos, mas penas conhecidos enquanto fenómenos, isto é, como nos aparecem, em
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virtude da razão humana apenas dispor de intuições sensíveis (recetividade aos dados da experiencia) e não
de dispor intuições inteligíveis que lhe permitiram ter acesso as essências das coisas.

O problema da possibilidade do conhecimento

Como ao conhecermos o real há sempre a interferência da nossa subjetividade, constituída por


estruturas formais que aplicamos à matéria fornecida pela sensibilidade, nunca podemos dizer que
conhecemos as coisas como elas são em si mesmas- os númenos, apenas podemos dizer que conhecemos as
coisas como elas são para nos- os fenómenos.

 Kant sustenta uma posição idealista (idealismo transcendental) quando à essência do conhecimento,
uma vez que só atingimos os fenómenos:
o O conhecimento não atinge uma realidade objetiva.
o Não se pode sair da ordem das representações para a ordem das coisas em si mesmas.
o Não há nenhuma garantia de correspondência entre as nossas representações e as coisas em
si mesmas.
 Não aceita que a razão humana, uma vez corrigida dos erros dos sentidos, nos permita o acesso ao
conhecimento da verdadeira realidade.
 Não põe em dúvida o valor da experiência: “todo o conhecimento das coisas tirado exclusivamente
do entendimento puro não passa de ilusão”.
 Não põe em dúvida a existência de uma realidade objetiva.

O conhecimento tem os seus limites, na medida em que é impossível conhecer a realidade em si


mesma por se encontrar fora das nossas capacidades intelectuais, mas por outro lado, mantem o seu
valor, pois o conhecimento em nos (transcendental) é verdadeiro.
Para além destas limitações e diferentemente do racionalismo clássico, Kant nega que a metafisica
como ciência seja possível, já as ideias da metafisica como Deus, a Alma, o Mundo como um todo, não são
cognoscíveis em virtude de nestes casos faltar o elemento empírico do conhecimento: daquilo que não temos
experiencia também não podemos ter conhecimento.

Origem do conhecimento - Defende o apriorismo, tenta a conciliação, ou melhor a síntese, entre


racionalismo e empirismo, valorizando o papel da experiência e da razão, mas reconhecendo a existência no
sujeito cognoscente de estruturas a priori, isto é independentes da experiência e que a própria experiência
pressupõe, para ser inteligível; essas estruturas seriam formas que permitiriam enquadrar os dados da
experiência.

Natureza do conhecimento - Defende o idealismo, o conhecimento não atinge uma realidade objetiva, não há
nenhuma garantia de correspondência entre as nossas representações e as coisas em si mesmas. O nosso
conhecimento não atinge a realidade em si mesma, mas “conhecemos somente o nosso modo de os
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perceber”.

Possibilidade do conhecimento - Defende o criticismo, admitindo ser possível chegar à verdade, mas limita o
conhecimento verdadeiro ao conhecimento do mundo dos fenómenos.

Ao conhecermos o real há sempre a interferência da nossa subjetividade constituída por estruturas formais
que aplicamos à matéria fornecida, nunca podemos dizer que conhecemos as coisas como elas são - os
númenos, apenas podemos dizer que conhecemos as coisas como elas são para nós – os fenómenos.

Olhar crítico

Partir do pressuposto de que o nosso conhecimento do mundo físico é universal e necessário é partir
de um pressuposto respeitável, mas em certa medida não é corroborado pelo desenvolvimento posterior do
conhecimento científico.
Defender o caracter a priori das estruturas cognitivas é oferecer uma teoria dotada de pouco poder
explicativo.

2.1 Conhecimento vulgar e conhecimento científico


Epistemologia: estudo crítico das ciências e da validade do seu conhecimento

Conhecimento vulgar

Também denominado "empírico", o conhecimento vulgar é o que todas as pessoas adquirem na vida
quotidiana, ao acaso, baseado apenas na experiência vivida ou transmitida por alguém: observa-se,
comparam-se observações, e delas elaboram-se intelectualmente os resultados sem cuidado particular na sua
formulação. Em geral resulta de repetidas experiências casuais de erro e acerto, sem observação metódica
nem verificação sistemática, por isso carece de carácter científico. Pode também resultar de simples
transmissão de geração para geração e, assim, fazer parte das tradições de uma coletividade.
De um modo geral, este tipo de conhecimento limita-se a constatar e a registar a frequência de certas
ocorrências, aceitando o que existe tal como existe, sem procurar a explicação, confundindo simples relações
de simultaneidade com relações de causalidade; apresenta-se com o caracter de evidência que não vale a
pena contestar; A superficialidade é uma característica do conhecimento comum e precisamente porque está
muito ligado à pratica e ao imediato, não consegue atingir a universalidade que iremos encontrar no
conhecimento cientifico.
1.1 Características do Conhecimento Vulgar
 Espontâneo e exato;
 Empírico (depende da experiência do dia a dia e das informações sensoriais);
 Permite-nos resolver os problemas do nosso quotidiano, é imediato;
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 Não nos dá uma explicação, pois não ultrapassa aquilo que é visível;
 Dá-nos por vezes, informações erradas, pois não vai até ao fundo da questão;
 Ametódico – não segue determinadas regras/métodos;
 Assistemático – não é organizado;
 Acrítico – muitas vezes é entendido como dogmático (como verdade incontestável);
 Subjetivo – não é rigoroso nem preciso e depende de cada pessoa e da sua opinião.
É formulado na linguagem corrente e vulgar

1.1.1 O Conhecimento do Senso Comum pode formar-se de várias maneiras


– Por experiência pessoal;
– Por meio de testemunho dos outros;
– Popularização dos conhecimentos científicos.

Conhecimento científico
O conhecimento científico resulta de investigação metódica, sistemática da realidade, ou seja, é
obtido através dos processos rigorosos de análise/observação, reflexão e demonstração ou experimentação.
Ele transcende os factos e os fenómenos em si mesmos, analisa-os para descobrir as suas causas e concluir as
leis gerais que os regem.

Como o objeto da Ciência é o universo material, físico, naturalmente percetível pelos órgãos dos
sentidos ou mediante a ajuda de instrumentos de investigação, o conhecimento científico é verificável na
prática, por demonstração ou experimentação. Além disso, tendo o firme propósito de desvendar os segredos
da realidade, ele explica e demonstra os fenómenos com clareza e precisão, descobre as suas relações de
predomínio, igualdade ou subordinação com outros factos ou fenómenos. De tudo isso conclui leis gerais,
universalmente válidas para todos os casos da mesma espécie.

A linguagem utilizada para formular esse conhecimento é precisa, com recurso a termos específicos
e, por vezes, a expressões matemáticas, de modo a eliminar as ambiguidades da linguagem corrente.

1.2 Características do Conhecimento Científico


 Sistematizado e metódico (organizado e respeita determinados métodos/regras, que irá conferir
rigor);
 Utiliza a experiência, mas também raciocínios, provas e demonstrações que permitem atingir
conclusões gerais/universais;
 Pretende formular leis e teorias explicativas;
 Explicação precisa e rigorosa;
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 Fenómenos suscetíveis de verificação;
 Decorrente de generalizações que se baseiam na experiência e na prática;
 Objetivo – trata apenas da questão em si, sem misturar ideias ou sentimentos pessoais (o cientista
tem de ser imparcial).
Linguagem precisa e exata (linguagem lógico-matemática).
É obtido através de práticas cognitivas rigorosas (teorias abstratas que irão acompanhar a
realidade).
Descreve e explica os fenómenos através da enunciação de relações de causa e efeito.
É capaz de compreender, explicar e fazer previsões (relacionar causa-efeito).
Reveste-se não só de valor prático, mas também de valor teórico, que garante enorme capacidade
preditiva.

1.3 Diferenças entre Senso Comum e Ciência

Senso Comum Ciência

Origem Empírico – derivada da experiência sensorial Racional – deriva do uso da


razão

Atitude Dogmático – aceita o que vê e lhe dizem de Crítico – quem questiona o que
forma passiva é óbvio

Verdade – responder à
Motivação Utilidade utilidade de uma forma ativa

Relativo – não vale o mesmo para todos do Objetivo e universal – é igual


Valor ponto de vista do sujeito, não passa pela cabeça para todos os conhecedores
lhe seja relativo científicos

Linguagem Superficial Rigorosa

Senso comum e ciência: continuidade ou rutura?


A tese da continuidade- entre senso comum e ciência existe diferença de grau, mas não de natureza
O senso comum é para Popper o ponto de partida de qualquer conhecimento mais aprofundado da
realidade como a ciência, a filosofia ou o conhecimento racional. Considera que existe continuidade entre o
senso comum e a ciência, constituindo-se esta como um nível de conhecimento mais rigoroso e aprofundado
acerca da realidade. A ciência constrói-se corrigindo, reformulando e esclarecendo o senso comum através
da crítica. A ciência aprofunda e critica o conhecimento comum, ou seja, tem a função de aprofundar e
criticar o conhecimento comum, afastando o ilusório e o aparente.
As práticas cognitivas que permitem elaborar o conhecimento seriam comuns ao conhecimento
vulgar à ciência, limitando-se a ciência a introduzir conhecimentos e protocolos de rigor na utilização dessas
práticas. Isto é, no conhecimento comum, as praticas cognitivas que consistem em perceber e pensar o que se
percebe seriam utilizadas espontânea e inconscientemente, enquanto que a elaboração cientifica exigiria
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reflexão e sistematicidade.
A ciência assegura com rigor as generalizações atingidas pelo senso comum.
Tese da rutura- enfatiza-se a natureza profundamente subjetiva do sendo comum em contraste com
um ideal de objetividade que a ciência persegue e que julga poder atingir através da utilização de
instrumentos de medida e de registo em linguagem matemática.
Bachelard sustenta que a opinião, senso comum, impossibilita aceder ao verdadeiro conhecimento,
constituindo-se como um obstáculo epistemológico. A opinião limita-se a constatar a ocorrência dos
fenómenos, sem ter, assim, qualquer preocupação de se questionar de forma sistemática, e rege-se por
critérios de utilidade, pelo que não fomenta o progresso intelectual. Neste sentido, Bachelard propõe a rutura
da ciência com a opinião, o senso comum.
O senso comum, porque se baseia fundamentalmente nos dados dos sentidos, estaria sujeito a erros
percetivos e ocultaria, em vez de desvendar, a realidade.
Por outro lado o senso comum, na medida em que se limita a constatar a ocorrência de fenómenos e
não se questiona, estaria nos antípodas (polo inverso) do espirito científico.
O conhecimento vulgar, prático e pragmático deve ser afastado e mesmo destruído pela ciência, já
que sobre os assuntos que esta investiga não se pode ter opiniões.

Necessidade de aproximação entre ciência e senso comum


Hoje, dada a importância prática de que a investigação cientifica se reveste, há a noção de que é
preciso, na medida do possível, esbater as fronteiras entre senso comum e ciência, através da construção de
uma opinião esclarecida. Entende-se que o conhecimento científico é demasiado importante para ser deixado
ao arbítrio dos cientistas e mesmo daqueles que nos governam, e que o comum dos cidadãos deve ter alguma
capacidade de intervenção nas decisões que a todos dizem respeito e que a todos vão afetar.
É preciso que as pessoas compreendam o alcance, os limites e o interesse da investigação científica e
tenham alguma capacidade de intervenção na eventual tomada de decisão acerca de assuntos que a todos
interessam.

2.2 Ciência e construção. Validade e verificabilidade de hipóteses


Com o surgimento das ciências modernas, as afirmações científicas passaram a estar baseadas no
raciocínio teórico e na evidência experimental, considerando-se que as teorias, para não serem puras
especulações, teriam de ser confirmadas pela observação e experimentação.

O método científico

A ciência utiliza, na produção de conhecimentos e como procedimento e forma 
de atuar, o método científico. O mais/característico e específico da ciência, ou seja, 
aquilo que a constitui como tal e a distingue dos demais tipos deconhecimento é, com 
efeito, o método científico.
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O método científico é uma forma de atuação humana orientada para o conhecimento da realidade empírica.

Positivismo lógico – restringe o conhecimento à ciência, negando o valor da metafisica enquanto tal,
ou seja, so admitia como conhecimento válido os enunciados suscetíveis de verificação empírica ou os
analíticos (puramente formais).

A conceção indutivista do método científico

De acordo com a perspetiva indutivista, a ciência parte dos factos e da sua observação (observação
natural, quase o mesmo que senso comum mas com mais rigor), cuidada e rigorosa que permite encontrar
padrões de comportamento, relações de semelhança e de concomitância, e estabelecer enunciados
observacionais; Estes referem-se sempre a casos particulares: observando-se este ou aquele particular
fenómeno; constata-se, por exemplo, que o ferro é bom condutor de calor, que o mesmo acontece com cobre
ou com o estanho.

Por sua vez, a observação dos factos suscita uma hipótese (salto logico: passo do caso para a lei- é
um caminho tendencioso, mostra uma verdade que já provei varias vezes), isto é, uma explicação provisoria
que reveste a forma de um princípio geral, estando sujeita a verificação: todos os metais são bons condutores
de calor.

A hipótese tem de ser submetida à experimentação; esta já é uma observação provocada em situação
artificial, com a manipulação das diferentes variáveis por parte do experimentador: verifica-se se a
propriedade de boa condutibilidade ocorre com outros metais, para alem dos inicialmente observados.

Se na fase de experimentação a hipótese for verificada, então pode formular-se uma lei: “os metais
são bons condutores de calor”.

Segundo esta conceção, o critério que permite a passagem da hipótese à lei é o da verificabilidade-
este constitui-se em critério de cientificidade: se a hipótese for verificada em n casos, conclui-se que ela será
verificada em todos os casos da mesma espécie.

De acordo com a conceção indutivista, admite-se ainda que o progresso da ciência consiste na
acumulação e no aperfeiçoamento do conhecimento: conhece-se progressivamente mais e melhor, a evolução
do conhecimento ocorre numa linha de continuidade. As leis, agrupadas e conexidades, constituem-se em
teorias com poder explicativo e capacidade preditiva, sendo uma teoria científica quando as afirmações que
comporta forem verificáveis.

No método indutivo, a ciência evolui por uma acumulação de teorias e leis, evolui dentro de uma
linha linear (linearidade-continuidade), não volta atrás.

Observação: o cientista começa por observar os factos (não é imparcial).


Hipótese: formula teorias (verdade).
Experimentação: consiste na verificação experimental (confirmação da hipótese). A verificação
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experimental é a realização de diversas experiências para verificar se uma hipótese é verdadeira, que depois
de ser confirmada um grande nº de vezes passa a ser uma lei científica.

1.4.1 Críticas feitas à Observação


1ª Crítica – a observação dos factos não é o ponto de partida da Ciência – esclarece que como já
temos alguns conhecimentos prévios que interferem no que iremos observar e/ou expetativas do que
provavelmente vamos encontrar, então estas vão afetar o que vemos de facto.
2ª Crítica – as observações não são imparciais – explica que como existem conhecimentos e
expetativas anteriores à observação, elas vão interferir no que realmente vemos, logo as observações não são
imparciais.
3ª Crítica – a observação, principalmente num contexto científico, é sempre seletiva – afirma que
para que haja observação é necessário que haja um objeto escolhido, uma tarefa definida, um interesse
prévio, um ponto de vista, um problema que se pretende resolver…Isto quer dizer que nós selecionamos o
que vemos, é uma escolha, uma seleção. Na investigação científica, os cientistas não se limitam a “observar”
uma vez que é impossível observar e registar todas as medições de todos os fenómenos. Por isso, os
cientistas escolhem apenas os aspetos da situação que lhes interessam para o seu estudo.

A conceção popperiana do método científico


A teoria precede a observação
Na origem da observação científica encontra se sempre uma situação problemática, que suscita
dúvidas e motiva para a reflexão; logo, o cientista não parte da observação, parte de um problema e é este
que determina o próprio angulo da observação. Qualquer observação é sempre impregnada de teoria, não
existe observação pura.

A indução não é método da ciência


Popper não aceita a legitimidade da indução, já que este tipo de inferência supõe que, de um certo
número de casos observados, se conclua para algo que não foi observado; e pretende resolver o problema,
negando que este seja o tipo de raciocínio usado pela ciência, defendendo que o raciocínio científico por
excelência é o dedutivo, mais especificamente que a ciência usa o método hipotético-dedutivo.

O método da ciência é hipotético-dedutivo


Este método consiste em deduzir consequências de uma hipótese que se admitiu, e ir verificar se elas
ocorrem ou não, ir testar a hipótese; a hipótese funciona como um antecedente, como a condição, e as
consequências funcionam como o consequente, como o condicionado.
Para testar a hipótese, o único modo de inferência válido é Modus Tollens que nos diz que negar o
consequente implica negar o antecedente, mas que afirmar o consequente não permite afirmar
necessariamente o antecedente. Isto é, se o consequente se verificar, a hipótese não é verificada, apenas é
corroborada.
Do facto de, em ciência, só ser possível utilizar o Modus Tollens, Popper retira a seguinte conclusão:
21
em ciência não se podem verificar as hipóteses; estas apenas podem ser corroboradas ou falsificadas.

1.5 Relação entre Senso Comum e Ciência


1.5.1 Tese de Karl Popper
 Defende a continuidade entre senso comum e ciência;
 Apesar das diferenças entre eles, têm um grau de parentesco;
 A ciência é o prolongamento do senso comum;
 É um acrescimento e um aperfeiçoamento;
 As suas diferenças são apenas de grau (a ciência é mais desenvolvida);
 Defende que o senso comum é o ponto de partida para todo o conhecimento do real;
 Senso comum tem um caráter inseguro;
 O grande instrumento para progredir (avançar de senso comum para conhecimento científico) é a
crítica.

2. Validade e Verificabilidade das Hipóteses

2.1 Hipótese
 Suposta explicação para o facto cuja aceitação depende do resultado da experiência;
 Teoria que mostra uma possível relação entre os factos observados e a causa da sua ocorrência;
 Orienta o cientista nas suas experiências;
 Uma boa hipótese tem de ser racional, verificável e suficiente (resposta razoável, reúna condições
para ser testada e expliquem a totalidade dos factos);
 Caráter provisório: se for verificada a sua falsidade continua a ser útil para o cientista, pois
delimita-lhe o campo das hipóteses;
 A comprovação dessas hipóteses é que as vai transformar em conclusões, até que surjam factos
que as ponham em causa. Se a hipótese resistir a essa comprovação, passa a ser aceite como lei/teoria;
 O objetivo das experiências consiste na verificação das hipóteses a fim de que possam ser
proclamadas como leis/teorias verdadeiras a vigorar como explicações de fenómenos.

3. Dois grandes Modelos Metodológicos – Como se constrói a Ciência.

Indutivo (particular–geral): Verificacionismo (a hipótese passa a teoria verdadeira).


Hipotético – Dedutivo: Falsificacionismo (a hipótese passa a teoria corroborada).

3.1 Indutivo
Observação: constatação da existência de um determinado fenómeno.
Hipótese: explicação provisória resultante da organização dos dados observados.
Experimentação: experiência metódica e organizada no sentido de confirmar a hipótese.
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Lei/Teoria: regra geral e universal em virtude da experimentação de se ter confirmado a hipótese.

3.1.1 Críticas à Indução


1ª Crítica: O método experimental não consegue garantir que a hipótese formulada é verdadeira pois
não conseguimos verificar todos os casos reais e concretos a que a teoria se refere. Podemos apenas
confirmar alguns casos (é uma verificação parcial) e quando isto acontece acreditamos que encontrámos boas
razões para confiar que a teoria é verdadeira.
2ª Crítica: A indução só se justifica se nos apoiarmos noutro raciocínio indutivo, isto é, se queremos
justificar a indução recorremos a uma falácia: a petição de princípio.

3.2 Hipotético – Dedutivo (Popper)


3.2.1 Método das Conjeturas e Refutações ou Falsificacionismo
 As teorias científicas são conjeturas (não são explicações definitivas, mas tentativas de
explicação, isto é, é uma teoria falsificável, que se pode mostrar que é falsa) – têm mais possibilidade de se
manterem quanto maior for o nº de casos de falsificabilidade;
 Não é possível confirmar a veracidade de uma teoria, só é possível falsificá-la;
 Não se podem verificar as hipóteses: estas podem apenas ser corroboradas ou falsificadas;
 Uma teoria corroborada é aceite provisoriamente pela comunidade científica (não é
definitivamente confirmada, apesar de resistir face às tentativas de invalidação);
 Procura refutar as teorias (eliminar o erro como via de clarificação de novos conhecimentos).

3.2.2 Falsificacionismo
 Possibilidade de mostrar que uma hipótese ou teoria é falsa.
 A verdade do que é particular não implica a verdade do que é universal. Logo, nunca se pode
comprovar que as hipóteses são verdadeiras.
 As experiências devem ser feitas com o objetivo de invalidar as hipóteses, e não de as tornar
verdadeiras.
 Em laboratório só se pode obter a certeza de hipóteses falsas.
 As conjeturas mantêm-se em vigor (quando não são destruídas pela ocorrência de casos particulares
que as contradigam).

3.3 Método das Conjeturas e Refutações


1 – Formulação do problema.
2 – A criação de uma situação ousada: a conjetura.
2.1 – Deduzir as consequências empíricas.
2.2 – Indicar as condições em que a teoria pode ser falsificável.
3 – Submeter a teoria aos testes de falsificabilidade.
4 – Ou a teoria é corroborada ou é abandonada (quando é identificado o erro).
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3.4 Críticas ao Método de Popper


1ª Crítica: O método das conjeturas e refutações não traduz aquilo que efetivamente se passa na
ciência. Ou seja, na prática o trabalho do cientista não consiste em falsificar as teorias ou procurar erros mas
em confirmar as teorias aceites pela comunidade científica.
2ª Crítica: As teses de Popper tornam a nossa crença na ciência (crença irracional).

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