Krenak Com Questoes

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PROFESSORA: ANA VITAL

Krenak A. Ideias para Adiar o Fim do Mundo. Companhia das Letras, São Paulo, 2019

Um dos mais expressivos pensadores indígenas da atualidade, Ailton Krenak ficou conhecido pelo seu
inesquecível discurso na Assembleia Constituinte de 1987, no qual pintou seu rosto com tinta de jenipapo,
como forma de demonstrar seu luto pelo retrocesso vivido nos direitos dos povos indígenas. Seu livro
“Ideias para adiar o fim do mundo” se divide em três partes, as quais consistem de duas palestras realizadas
em Lisboa, nos anos 2017 e 2019 e a adaptação de uma entrevista realizada em Lisboa, em 2017. O pano de
fundo é a discussão sobre a capacidade da humanidade de autodestruição, em vista da exaustão pela
exploração excessiva da natureza. O modo de vida dos povos originários é visto como uma alternativa a
essa lógica de exploração. Uma das colocações centrais que perpassa toda a obra concerne na dualidade
entre a certeza da “ideia de humanidade” versus o questionamento “somos mesmo uma humanidade?”.

Para o autor, a ideia de humanidade foi, e continua sendo, um pretexto utilizado para a justificativa do uso
da violência em diversos momentos históricos. A principal justificativa do processo civilizatório seria trazer
luz à “humanidade obscurecida”, por meio do encontro e trocas com a “humanidade esclarecida”, civilizada.
Já na modernidade, a alegoria de um “liquidificador chamado humanidade” é utilizada para tratar do êxodo
rural dos camponeses e habitantes da floresta para as periferias das cidades, para servirem de mão de obra,
sendo apartadas de suas identidades, em nome do processo civilizatório continuado.

A convicção do pertencimento a uma humanidade civilizada é tratada como a porta de entrada para o
segundo binômio principal elencado no texto, a dualidade entre a Terra e a humanidade, ou seja, a alienação
entre humano e natureza. Os resultados da atuação deste binômio seriam a perda do sentimento de
pertencimento e um distanciamento do lugar de origem, bem como do vínculo com a identidade ancestral.
Um antídoto para este estado de apartação e alienação é dado pelo autor, e expresso na visão holística trazida
comumente na cosmovisão de muitos povos indígenas de que “Tudo é natureza. O cosmos é natureza”.

O terceiro binômio apontado no texto surge do descolamento entre a dita “humanidade homogênea”, na
qual o consumo tomou o lugar da cidadania, de uma “sub-humanidade”, que consiste de grupos que estão à
margem da sociedade de consumo, e que possuem uma ligação orgânica e quase visceral com a Terra.

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Essa “sub-humanidade” consiste de grupos indígenas, quilombolas, caiçaras e aborígenes, cuja organicidade
incomoda às grandes corporações. Para o autor, o descolamento entre homem e natureza suprime os
formatos diversos assumidos por essa, negando a pluralidade de culturas e modos de vida divergentes da
cultura da homogeneidade. Ao longo do texto, o autor trata, de forma crítica, de termos caros ao vocabulário
científico, como o que ele chama de “mito da sustentabilidade”, arguindo ser a sustentabilidade uma
narrativa travada pelas corporações, para justificar as suas agressões à natureza; a forma como é cunhado
pelos economistas o termo ‘recursos naturais’, que não consegue promover a extensão da relação íntima
existente, por exemplo, entre o povo Krenak e o Rio Doce, o qual é chamado Wantu, ou avô; e o
Antropoceno, caracterizado por um “apego a uma ideia fixa de paisagem da Terra e de humanidade”. Para o
autor, o “fim do mundo” não é uma preocupação exclusiva do Antropoceno, nem da dita ‘sociedade
civilizada'. Existem diversos “fins do mundo” possíveis, e estes podem assumir tantos significados quantos
se puderem atribuir. Para muitos dos povos que sofreram o processo civilizatório, e cujos mundos
subitamente desapareceram, o “fim do mundo” foi encontrado séculos atrás; sinais de “fim do mundo”
podem ser visualizados na Guerra Fria, na segregação do ser humano e no iminente ‘apertado do gatilho’; ou
simplesmente, na “breve interrupção de um estado de prazer extasiante que a gente não quer perder”. A
capacidade de adiar o “fim do mundo” estaria, enfim, ligada à resiliência, à qualidade de não desistir. Tal
característica espelha a luta dos nossos povos originários que resistem e insistem em adiar o fim de seu
mundo, da sua cultura e da sua organização social. Nas palavras do autor, “o tipo de humanidade zumbi que
estamos sendo convocados a integrar não tolera tanto prazer, tanta fruição de vida. Então, pregam o fim do
mundo como uma possibilidade de fazer a gente desistir dos nossos próprios sonhos. E a minha provocação
sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história. Se pudermos fazer isso,
estaremos adiando o fim”. O livro de Ailton Krenak pode contribuir com as discussões acadêmicas em
vários campos da Ciência, especialmente no âmbito da Antropologia, da Sustentabilidade, Economia
Política, dentre outros. O texto também é relevante para o amplo espectro de movimentos sociais que
abordam, de maneira crítica, o modo de produção vigente, principalmente àqueles ligados à temática
indígena e ambiental. O grito de Ailton Krenak se junta ao de tantas outras lideranças indígenas, bem como
ao de ambientalistas, militantes, cientistas e pessoas comuns, que lutam para que o dito “fim do mundo” não
seja vivenciado na prática, se limitando apenas ao campo da retórica.

1) O que eu aprendi ao longo dessas décadas é que todos precisam despertar, porque, se durante um
tempo éramos nós, os povos indígenas, que estávamos ameaçados de ruptura ou da extinção do

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sentido de nossas vidas, hoje estamos todos diante da iminência de a Terra não suportar a nossa
demanda.
Ailton Krenak. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 23
Nesse texto, o autor revela ter aprendido nas últimas décadas que

a) descobriu o sentido de nossas vidas.

b) a nossa demanda é urgente.

c) a Terra está em processo de extinção.

d) os povos indígenas estão ameaçados de extinção.

e) os seres humanos, em geral, devem ter consciência ambiental.

2) Como os povos originários do Brasil lidaram com a colonização, que queria acabar com o seu mundo?
Quais estratégias esses povos utilizaram para cruzar esse pesadelo e chegar ao século XXI ainda
esperneando, reivindicando e desafinando o coro dos contentes?
Vi as diferentes manobras que os nossos antepassados fizeram e me alimentei delas, da criatividade e
da poesia que inspirou a resistência desses povos.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. 1° ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p.
20.
Ailton Krenak defende no texto a ideia de que os povos originários do Brasil

a) entregaram-se ao sistema colonial sem resistência.

b) tornaram-se miscigenados despreocupados com a ancestralidade indígena.

c) mobilizaram-se em torno da arte em contraposição à colonialidade.

d) alteraram-se conforme as normas da sociedade brasileira para sobreviver.

e) lançaram-se por caminhos ditados pela metrópole portuguesa.

3) Estar com aquela turma me fez refletir sobre o mito da sustentabilidade, inventado pelas
corporações para justificar o assalto que fazem à nossa ideia de natureza. Fomos, durante muito
tempo, embalados com a história de que somos a humanidade. Enquanto isso - enquanto seu lobo
não vem -, fomos nos alienando desse organismo de que somos parte, a Terra, e passamos a
pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a Terra e a humanidade. Eu não percebo onde tem
alguma coisa que não seja natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza. Tudo em que eu
consigo pensar é natureza. (KRENAK, 2019, p. 16-17)

KRENAK, A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

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Com base no texto, é correto afirmar que

a) para Krenak, uma vez que humanidade e cosmos se distinguem, tudo é natureza.

b) contemporaneamente, é aceito por todos que humanidade e natureza são entidades unívocas.

c) o mito da sustentabilidade contribui para manter a nossa alienação em relação à Terra como
organismo do qual fazemos parte.

d) as grandes corporações protegem hoje a natureza, pois compreendem a importância do conceito


de sustentabilidade

4) TEXTO I
“É impensável para o Brasil e para Minas Gerais abrir mão da atividade da mineração, uma
indústria que representa cerca de 4% do PIB brasileiro e 8% das riquezas geradas em território
mineiro”, afirma o diretor do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). “A extração mineral é a
principal atividade econômica de muitas regiões distantes dos grandes centros e inviáveis para
outros segmentos produtivos. Afinal, não se pode mover uma reserva de minério de um local para
outro”, acrescenta o executivo.
APESAR de tragédias, mineração é vital para a economia. Correio Braziliense, 10 maio 2019.
Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br. Acesso em: 16 fev. 2021. (adaptado)

TEXTO II

A experiência das pessoas em diferentes lugares do mundo se projeta na mercadoria, significando


que ela é tudo o que está fora de nós. A política compõe espaços de segurança temporária em que
as comunidades [...] são protegidas por um aparato que depende cada vez mais da exaustão das
florestas, dos rios, das montanhas, nos colocando num dilema em que parece que a única
possibilidade para que as comunidades humanas continuem a existir é à custa da exaustão de
todas as outras partes de vida.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. p. 45-
46. (adaptado)

[Questão Inédita] Sobre a utilização de recursos naturais, os textos apresentam divergências


quanto à

a) relevância dada a impactos ambientais.

b) importância das atividades garimpeiras.

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c) essencialidade da subsistência coletiva.

d) dependência dos elementos ambientais.

e) democratização das terras improdutivas.

5) “Ailton Krenak foi eleito para a cadeira 5 da Academia Brasileira de Letras (ABL) nesta quinta-feira
(5). O filósofo, professor, escritor, poeta, ambientalista e líder ativista da causa dos povos
originários é o primeiro indígena a se juntar à instituição. Membro da Academia Mineira de Letras
desde março, ele entra para a vaga deixada por José Murilo de Carvalho, que morreu em agosto.
Krenak recebeu 23 votos. Mary Lucy Murray Del Priore teve 12, e Daniel Munduruku, 4.
Autor de diversos livros como "Ideias para adiar o fim do mundo", "A vida não é útil" e "O Amanhã
não está à venda", teve obras traduzidas para mais de treze países. Atualmente vive na Reserva
Indígena Krenak, em Resplendor (MG). Krenak também é autor de 'Futuro Ancestral', na qual fala
que reservar os rios é uma atitude de preservar o futuro. Os rios já estavam aqui antes da gente
chegar, então, é por isso que essa visão da natureza, do homem junto da natureza, que estamos
reforçando através de um grande escritor e de um grande intelectual indígena."

Disponível em: <https://g1.globo.com/poparte/noticia/2023/10/05/ailton-krenak-e-1o-indigena-


eleito-paraa-academia-brasileira-de-letras.ghtml>.

Fundamentados no Art. 26-A da Lei 9.394/96, nos estabelecimentos de ensino fundamental e de


ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório:

a) O estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.

b) As contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro.

c) O ensino das matrizes indígena, africana e europeia.

d) A exibição de filmes de produção nacional.

e) História e cultura afro-brasileira.

6) “Talvez estejamos muito condicionados a uma ideia de ser humano e a um tipo de existência. Se a
gente desestabilizar esse padrão, talvez a nossa mente sofra uma espécie de ruptura, como se
caíssemos num abismo. Quem diria disse que a gente não pode cair¿ Quem disse que a gente já
não caiu¿ Houve um tempo em que o planeta que chamamos Terra juntava continentes todos
numa grande Pangeia. Se olhássemos lá de cima do céu, tiraríamos uma fotografia completamente
diferente do globo. Quem sabe se, quando o astronauta Iúri Gagárin disse “a Terra é azul”, ele não
fez um retrato ideal daquele momento para essa humanidade que nós pensamos ser. Ele olhou
com o nosso olho, viu o que a gente queria ver. Existe muita coisa que se aproxima mais daquilo
que pretendemos ver do que se podia constatar se juntássemos as duas imagens: a que você
pensa e a que você tem. Se já houve outras configurações da Terra, inclusive sem a gente aqui, por
que é que nos apegamos tanto a esse retrato com a gente aqui? O Antropoceno tem um sentido

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incisivo sobre a nossa existência, a nossa experiência comum, a ideia do que é humano. O nosso
apego a uma ideia fixa de paisagem da Terra e de humanidade é a marca mais profunda do
Antropoceno.” (KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras,
2019. Pág. 58.)
“Antropoceno”, a que o pensador indígena Aílton Krenak faz referência, é um conceito muito
estudado e discutido atualmente no campo das ciências sociais por muitos sociólogos e
antropólogos, a exemplo de Bruno Latour. Esse termo:

a) significa o mesmo que “Multinaturalismo”, por oposição ao “Multiculturalismo” que se fez muito
presente na visão antropocêntrica ao longo da história.

b) é a visão que une homem e natureza, muito presente nas sociedades indígenas.

c) Possui uma similaridade com o conceito de “Perspectivismo Ameríndio” de Eduardo Viveiros de


Castro.

d) foi popularizado em 2000 pelo químico holandês Paul Crutzen, vencedor do Prêmio Nobel de
química em 1995, para designar uma nova época geológica caracterizada pelo impacto do homem
na Terra.

e) é o oposto do conceito de “Antropocentrismo”. Ou seja, é a visão segundo a qual tudo já está


previamente definido na vida em sociedade por forças que extrapolam a capacidade humana,
como por exemplo a força da natureza ou dos deuses, como é muito comum em sociedades
simples ou arcaicas.

7) “Talvez estejamos muito condicionados a uma ideia de ser humano e a um tipo de existência. Se a
gente desestabilizar esse padrão, talvez a nossa mente sofra uma espécie de ruptura, como se
caíssemos num abismo. Quem diria disse que a gente não pode cair¿ Quem disse que a gente já
não caiu¿ Houve um tempo em que o planeta que chamamos Terra juntava continentes todos
numa grande Pangeia. Se olhássemos lá de cima do céu, tiraríamos uma fotografia completamente
diferente do globo. Quem sabe se, quando o astronauta Iúri Gagárin disse “a Terra é azul”, ele não
fez um retrato ideal daquele momento para essa humanidade que nós pensamos ser. Ele olhou
com o nosso olho, viu o que a gente queria ver. Existe muita coisa que se aproxima mais daquilo
que pretendemos ver do que se podia constatar se juntássemos as duas imagens: a que você
pensa e a que você tem. Se já houve outras configurações da Terra, inclusive sem a gente aqui, por
que é que nos apegamos tanto a esse retrato com a gente aqui? O Antropoceno tem um sentido
incisivo sobre a nossa existência, a nossa experiência comum, a ideia do que é humano. O nosso
apego a uma ideia fixa de paisagem da Terra e de humanidade é a marca mais profunda do
Antropoceno.” (KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras,
2019. Pág. 58.)
“Antropoceno”, a que o pensador indígena Aílton Krenak faz referência, é um conceito muito
estudado e discutido atualmente no campo das ciências sociais por muitos sociólogos e
antropólogos, a exemplo de Bruno Latour. Esse termo:

a) significa o mesmo que “Multinaturalismo”, por oposição ao “Multiculturalismo” que se fez muito
presente na visão antropocêntrica ao longo da história.

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b) é a visão que une homem e natureza, muito presente nas sociedades indígenas.

c) Possui uma similaridade com o conceito de “Perspectivismo Ameríndio” de Eduardo Viveiros de


Castro.

d) foi popularizado em 2000 pelo químico holandês Paul Crutzen, vencedor do Prêmio Nobel de
química em 1995, para designar uma nova época geológica caracterizada pelo impacto do homem
na Terra.

e) é o oposto do conceito de “Antropocentrismo”. Ou seja, é a visão segundo a qual tudo já está


previamente definido na vida em sociedade por forças que extrapolam a capacidade humana,
como por exemplo a força da natureza ou dos deuses, como é muito comum em sociedades
simples ou arcaicas.

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