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Características Perinatais e Transtorno do Espectro Autista
Gabriela Foresti Fezer
Marília Barbosa de Matos
Angélica Luciana Nau
Bianca Simone Zeigelboim
Jair Mendes Marque
Paulo Liberalesso

Transtorno do espectro autista (TEA) é um transtorno heterogêneo do


neurodesenvolvimento infantil, caracterizado por déficits na comunicação e na
interação social e por comportamentos, interesses e atividades restritos e
repetitivos. A prevalência do TEA ainda não é totalmente conhecida
mundialmente, mas claramente houve um aumento durante os últimos 50 anos.
Estima-se, atualmente, que esteja entre 0,1 e 2% entre diferentes
populações, com maior prevalência no sexo masculino. As razões para este
aumento ainda são uma questão em debate e podem incluir um maior nível de
conhecimento com relação ao TEA entre pais e profissionais da saúde e
educação, bem como critérios de diagnóstico mais amplos. Ao mesmo tempo,
um aumento na incidência de possíveis fatores de risco etiológicos, explicados
em parte pelas melhorias nos cuidados obstétricos e neonatais, pode também
contribuir.
São desconhecidos os mecanismos fisiopatogênicos exatos que levam ao
desenvolvimento do TEA. Fatores genéticos e ambientais interagem e revelam
um transtorno multifatorial. Fatores obstétricos e perinatais têm sido associados
ao TEA. Idades paterna (principalmente) e materna avançadas, sangramento
materno, parto cesariana, peso ao nascimento, baixos escores de Apgar, hipóxia
perinatal, prematuridade e malformações congênitas são as variáveis mais
estudadas. Esses fatores contribuem para a inflamação cerebral focal, que está,
possivelmente, correlacionada à fisiopatologia do autismo. No entanto, esta
associação permanece contraditória. O grande aumento nas taxas de
sobrevivência de recém-nascidos pré-termo na última década desperta
preocupações com relação às consequências neurológicas da prematuridade a
longo prazo. Diversos trabalhos demonstraram que o parto prematuro aumenta

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o risco de TEA. No entanto, ainda não foi esclarecido se o TEA está relacionado
à própria prematuridade ou às comorbidades relacionadas a ela, já que recém-
nascidos que posteriormente desenvolvem TEA têm taxas aumentadas de
complicações perinatais. Essa hipótese é reforçada pela associação entre asfixia
perinatal e TEA, que foi sugerida em muitos estudos. A anoxia causada pela
asfixia ao nascimento ativaria o sistema dopaminérgico em excesso, e
hiperatividade dopaminérgica é encontrada em algumas crianças com TEA.
Baixo peso ao nascer é uma condição que tem associação direta com
prematuridade. No entanto, sabe-se que o baixo peso é um fator de risco para o
desenvolvimento de TEA, independentemente da prematuridade, principalmente
se o recém-nascido for pequeno para idade gestacional (PIG). Algumas
condições que levam à restrição de crescimento intraútero, como insuficiência
placentária, podem contribuir diretamente para um risco aumentado de TEA, ou
indiretamente, através de outras condições associadas, tais como hemorragia
intracraniana.
A causa exata do TEA é desconhecida, mas acredita-se estar associada
a uma interação de fatores genéticos e ambientais.
Idade paterna avançada tem sido frequentemente associada ao
desenvolvimento de TEA e tem relação tanto com fatores genéticos quanto
ambientais. Taxas aumentadas de anormalidades cromossômicas e
modificações genômicas ocorrem em mães com idade avançada. Além disso,
mulheres mais velhas possuem um ambiente intraútero menos favorável devido
a fatores hormonais e endócrinos, o que pode levar a complicações obstétricas.
Por fim, alguns estudos teorizam que homens e mulheres com
predisposição genética para TEA têm maior probabilidade de ter filhos mais
tarde, e que pais mais velhos seriam mais conscientes em relação ao
desenvolvimento de seus filhos e, portanto, buscariam auxílio médico mais cedo
caso notassem alguma alteração comportamental. Uma metanálise recente
sugeriu uma associação entre idade materna avançada e risco de
desenvolvimento TEA. O risco relativo em mães de 35 anos ou mais comparado
às mães de 25-29 anos foi de 1,52. Muitos estudos analisaram a associação
entre a prematuridade e o desenvolvimento de TEA. No entanto, a etiologia desta
associação permanece incerta. Algumas pesquisas destacam o papel da

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inflamação intrauterina como um fator de correlação entre prematuridade e TEA.
Sabe-se, por exemplo, que infecção bacteriana materna durante a
gravidez é uma causa frequente de parto prematuro. A infecção materna resulta
em uma resposta inflamatória que leva ao início do parto espontâneo. A mesma
resposta inflamatória que provoca o parto pode interferir no desenvolvimento do
sistema nervoso central (SNC) fetal e, portanto, possivelmente contribui para o
desenvolvimento de TEA.
O estresse materno durante a gravidez é outra causa de parto prematuro.
Pode ser explicado pela liberação do hormônio liberador de corticotrofina (CHR)
no hipotálamo, que ocorre como uma reação ao estresse, conforme
demonstrado em estudos que encontraram níveis séricos elevados de CHR em
mães que tiveram partos prematuros. O CRH ativa os mastócitos, que liberam
diversas citocinas pró-inflamatórias. Esta cascata de eventos no sistema
imunológico poderia romper as barreiras hematoencefálica e intestinal,
possibilitando a entrada de moléculas neurotóxicas no cérebro, resultando em
inflamação cerebral e, desse modo, contribuindo para a patogênese do autismo.
Por outro lado, ainda não foi esclarecido se o TEA está relacionado à
prematuridade em si ou às comorbidades liga das a ela. Recém-nascidos que
posteriormente desenvolvem TEA têm taxas aumentadas de complicações
perinatais. Foi sugerido que insultos ambientais precoces podem predispor à
ocorrência de TEA, por afetar o desenvolvimento estrutural cerebral.
Outro fato que sustenta a ideia de que um dano cerebral precoce poderia
predispor ao TEA é a associação entre asfixia perinatal e TEA, sugerida em
muitos estudos. Um estudo que comparou gêmeos com TEA demonstrou que
marcos de hipóxia, tais como desconforto respiratório ou necessidade de
oxigênio logo após o nascimento, foram associados a risco elevado do TEA entre
gêmeos concordantes e discordantes (se ambos ou apenas um gêmeo
apresentava TEA). Em gêmeos discordantes, se apenas um havia sofrido
hipóxia, este era sempre o que apresentava TEA. A anóxia causada por asfixia
ao nascimento poderia ativar o sistema dopaminérgico em excesso, e a
hiperatividade dopaminérgica foi encontrada em parte das crianças autistas. A
asfixia perinatal poderia auxiliar também a explicar a maior prevalência de TEA

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em meninos, já que neonatos do sexo masculino sofrem mais disfunções
neurológicas devido à hipóxia cerebral do que os do sexo feminino.
Lampi e colaboradores e Moore e colaboradores também mostraram
associação entre baixo peso ao nascer e TEA. Além disso, os mesmos autores
correlacionaram peso ao nascer com a idade gestacional e encontraram uma
correlação positiva entre ser PIG e risco de TEA. No estudo de Lampi et al.,
recém-nascidos com baixo peso ao nascer (<2.500 g) tiveram um aumento de
60% do risco de desenvolvimento de TEA (OR=1,60; IC95% 1,05–2,30;
p=0,029). Os recém-natos PIG tiveram um risco 70,0% maior, em comparação
com os neonatos com peso adequado para a idade gestacional (OR=1,70,
IC95% 1,10–2,60, p=0,009).10 As condições que levam ao crescimento
intrauterino restrito, como insuficiência placentária, podem contribuir diretamente
para o risco elevado de TEA, ou indiretamente, através de outras condições
associadas, tais como hemorragia intracraniana.

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