À Média Luz Da Democracia Interna:: Sombras E Reflexos Constitucionais Na Incorporação Do Multipartidarismo Português
À Média Luz Da Democracia Interna:: Sombras E Reflexos Constitucionais Na Incorporação Do Multipartidarismo Português
À Média Luz Da Democracia Interna:: Sombras E Reflexos Constitucionais Na Incorporação Do Multipartidarismo Português
CIÊNCIA POLÍTICA
2010-2011
2º Semestre: Turma B
Julho de 2011
À média luz da Democracia interna: sombras e reflexos
constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
Índice
Introdução ........................................................................................................................ 3
1. O caminho faz-se caminhando: coordenadas histórico-filosóficas dos partidos
rumo à democracia ........................................................................................................... 5
1.1 Da omissão à incorporação: apontamento de história constitucional dos séc.
XIX e XX ......................................................................................................................... 5
1.1.1 Pela positivação constitucional da liberdade de associação: o liberalismo de
séc. XIX em análise .................................................................................................... 6
1.1.2 A evolução política e constitucional contemporânea: a bonança depois da
tempestade................................................................................................................ 9
1.2 Democracia interna: um esboço filosófico de aproximação ao conceito ............ 10
2. A funcionalização constitucional e a praxis política nos dias de hoje .................... 14
2.1 O défice democrático: to be or not to be......................................................... 14
2.1.1 Liberdade de associação vs. princípios injuntivos de gestão e organização
interna ..................................................................................................................... 15
2.1.2 Requisitos legais, mínimos democráticos e limites de ingerência normativa 17
2.2 Da prática: situações de democracia interna .................................................. 19
2.2.1 Voto secreto: a forma soberana das candidaturas partidárias...................... 20
2.2.2 Eleições directas: evangelização ou democratização? .................................. 20
2.2.3 Direito de tendência e correntes de exclusão ................................................ 21
Conclusões ...................................................................................................................... 23
Bibliografia ...................................................................................................................... 24
2
À média luz da Democracia interna: sombras e reflexos
constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
Introdução
Cabe começar por assinalar que o foco deste estudo dá sequência ao interesse
suscitado pelo tema da Democracia interna aquando da realização do trabalho de
grupo no decurso do 2ºsemestre. Assim, algumas das matérias aqui desenvolvidas,
nomeadamente as afloradas no ponto 2., foram objecto de estudo e reflexão
anteriores. Se tal constitui, prima facie, um predicado vantajoso, importa também
informar que pretendemos contribuir para o estudo destas questões com maior
investigação e renovadas perspectivas.
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À média luz da Democracia interna: sombras e reflexos
constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
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constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
Cabe dizer que até ao cais da democracia interna, por muitas tormentas passaram os
sistemas constitucionais que incorporam hoje os partidos políticos. Isto é dizer que no
início era a liberdade de associação o destino e vários caminhos se traçaram para lá
chegar; depois as correntes de opinião que trouxeram o perigo iminente do naufrágio
no nevoiro da prática autoritária e corporativa; por fim, o pluralismo democrático
apontou a rota e concedeu a maior das honras pelos serviços prestados (e pelos que se
haveriam ainda de prestar): o reconhecimento constitucional.
Mas também se dirá que a democracia interna nem sempre é um porto seguro, imune
a temporais, maus ventos e noites sem estrelas. É verdade que no que toca a maus
ventos contrários à democracia semipresidencial, os partidos estarão razoavelmente
abrigados pela Constituição; mas já no que toca ao funcionamento interno a
democracia vagueia por marés muito próprias - estas, que reclamam um tratamento
desigual, resultam muitas vezes da organização interna, mas também do comandante
ou dos marinheiros, individualmente considerados. Por entre estes caminhos incertos
da questão interna, fixaremos o leme da nossa viagem.
“A política nem sequer podia ser concebida se o homem não existisse no plural.”1
Hannah Arendt
Sabemos que o surgimento dos partidos políticos é associado comunmente ao séc. XIX,
particularmente por meio da constitucionalização da liberdade de expressão 2. Mas a
questão que aqui se tratará está a montante, em face do tema da democracia interna.
É sabido que o liberalismo preconizava liberdades individuais, o que poderá ter
significado o descurar das instituições que agregam homens para melhor prosseguir o
fim da participação política - os partidos políticos. Então: onde pára a liberdade de
associação ? E, consequentemente, qual a ratio política desta omissão legislativa ?
1
Hannah Arendt (Concern with Politics in Recent European Philosophical Thought” in Essays in
Understanding 1930-1954, p.443). Cfr. Miguel Morgado, Pensamento Político Contemporâneo..., p.289
2
Veja-se art.7º Título I da Constituição de 1822: “a livre comunicação dos pensamentos é um dos mais
preciosos direitos do homem. Todo o Português pode conseguintemente, sem dependência de censura
prévia, manifestar suas opiniões em qualquer matéria, contanto que haja de responder pelo abuso
desta liberdade nos casos, e pela forma que a lei determinar.” Este artigo encontra-se inserido no Título
I, denominado Dos direitos e deveres individuais dos portugueses.
5
À média luz da Democracia interna: sombras e reflexos
constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
Também a Carta de 1826 não consagrou as liberdades assinaladas, sendo uma cópia
fiel8 da Constituição de 1822: com efeito, os arts. 16º e 17º terão sido fielmente
transcritos para o parágrafo 28º do art.145ºda Carta.9
3
Foi apresentada uma proposta de positivação pelo Deputado Baeta Neves, em 1821 nos trabalhos
preparatórios das Bases da primeira Constituição portuguesa, discutida na sessão nº17 de 16 de
Fevereiro de 1821 e rejeitada. Os arts.14 e 15º da Sessão 2ª do Projecto das Bases omitiram assim as
liberdades de reunião e de associação. As Bases foram o referencial doutrinário concreto no período de
1821-1822. n Cfr. Ivo Miguel Barroso, A ausência geral de positivação…, p.177-178.
4
Uma vez que a Constituição portuguesa inova por exemplo ao incluir o título I, relativo aos direitos
individuais dos portugueses (ver nota 1 supra). Ainda que as garantias consignadas fossem muitíssimo
inferiores às que se lhes não podem deixar de reconhecer. Palavras de Silva Sanches, sessão de 26 de
Abril, in Diario das Cortes Geraes, II, 1837, p.69 Cfr. Ivo Miguel Barroso, ob.cit., p.180
5
Neste sentido, Soares Martinez, Comentários à Constituição portuguesa de 1976, p.265.
6
Paulo Otero, O Poder de Substituição em Direito Administrativo, vol I. Lex, Lisboa, 1995, p.326.
7
Neste sentido, Jorge Miranda, Manual…, I, 7ªedição, 2003, p.268.
8
Silva Sanches, sessão de 26 de Abril, in Diario…, II, 1837, p. 68. (Cfr. Ivo, Miguel Barroso, ob.cit, p.181)
9
Segundo o Parecer nº239 da commissão especial nomeada pela Câmara dos Pares. Ver nota nº26, Ivo
Miguel Barroso, ob cit., p.181.)
10
Preceito decalcado ipsis verbis do art.179nº4 da Constituição brasileira de 1824.
11
“Naquilo que um povo não pode decidir sobre si mesmo, menos o poderá decidir o legislador pelo
povo”. Immanuel Kant, Sobre a expressão corrente… in A Paz Perpétua e Outros Opúsculos, Lisboa:
Edições 70, 1995, p.91.
6
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constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
ser doutrinas de política, religião, moral, etc.(…) “12. Infelizmente, o citado juspublicista
não chegou a autonomizar essas liberdades no seu Projecto de Codigo Geral…13
Neste sentido, importa mencionar a dissertação de Costa Lobo datada de 1864 (!) e
cujo alcance e ousadia se conseguem quase antecipar pelo título da obra: “ O Estado e
a Liberdade de Associação”. Escrito, a páginas tantas, de forma lapidar: “É a associação
que reúne e concilia a liberdade com uma vontade e razão geral, sem o que não pode
haver direcção nem fim comum”.17
12
Silvestre Pinheiro Ferreira, Manual do cidadão em um governo representativo…, p.33.
13
Silvestre Pinheiro Ferreira, ob.cit, tomo III, Projecto de Codigo Geral, Paris, 1834, p. 2-3.
14
F.A. da Silva Ferrão, Theoria do Direito Penal Applicada ao Código Penal Portuguez, vol.VI, p.48.
Lisboa: Imprensa Nacional, 1857.
15
Para uma perspectiva histórica acerca da interpretação das leis: Barbas Homem, A Lei da Liberdade,
p.110 e segs. No sentido de que os imperativos de justiça, nos casos “em que o direito deve adaptar-se
aquelas coisas que acontecem frequente e facilmente”, emanam mais da vontade da lei do que das suas
palavras.
16
J.J.Lopes Praça, Direito Constitucional portuguez, vol I, p.79-80. E este A. vai mais longe: “As
Contituições dos povos cultos e de boa razão estão de acordo em reconhecer a necessidade de inscrever
no capítulo dos direitos individuais os direitos de reunião e de associação”.
17
Costa Lobo, O Estado e a Liberdade de Associação, p.158.
18
Os direitos originários eram, segundo o proémio desse artigo, os da própria natureza do homem, que
a lei civil reconhece, e protege como fonte e origem de todos os outros. Seriam inalienáveis (art.368º,
1ªparte).
19
Mário Reis Marques, História do Direito Português Medieval e Moderno, 2ªedição, p.217.
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constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
Vejamos agora o porquê desta omissão legislativa, apesar de tudo num contexto
sociológico favorável pela existência de sociedades patrióticas e de clubes23: na
prática, o individualismo característico da época não produziu uma obliteração
completa do sentido organizativo dos cidadãos que os conduzisse a uma atomização
total24.
20
A completa subordinação normativa aos princípios individualistas foi um dos defeitos apontados ao
Código. Assim, Mário Reis Marques, ob.cit, p.216.
21
Pois como escreve Miguel Lopes Romão, A Bem do Estado, p.83:”… a constitucionalização do direito
político e a codificação do direito civil são cara e coroa da mesma moeda – a formalização do direito, de
modo a que seja uma emanação soberana da vontade representativa da comunidade(…) por forma a
defender a liberdade de cada um dos membros dessa comunidade”.
22
Jorge Miranda, Manual…,III, p.344.
23
Ivo Miguel Barroso, ob.cit., p.183 e segs e p.201:” São detectáveis realidades fluidas, como correntes
de opinião, clubes secretos, associações secretas, sociedades secretas, sociedades partrióticas. Em
especial, as sociedades patrióticas eram estruturas do liberalismo junto das massas, sendo
simultaneamente lugares de convívio e de acrisolamento dos liberais, desde 26 de Setembro de 1820”.
24
Maria Carlos Radich, Formas de Organização Política…, p.119
25
Paulo Otero, Instituições Políticas…, I, p.250
26
Barbas Homem, A Lei da Liberdade, p. 180
27
Barbas Homem, O Justo…, p.61. Essa liberdade individual é analisada por Habermas, que retém do
liberalismo o respeito pela fronteira que separa a sociedade civil do Estado. Cfr. Pensamento político…,p.
323 e segs.
28
Miguel Lopes Romão, ob.cit., p.87 : “… vive em grande medida na negação de estruturas identificadas
com um poder político exercido de modo a não permitir a participação da comunidade sua destinatária
(…) com uma determinada perspectiva de racionalidade política que vive de uma autoridade para a
comunidade e não no seu inverso.”
29
Como nota Quentin Skinner, a liberdade do corpo político é identificada com a liberdade de cada
cidadão. Cfr. Pensamento político…, p.200 e segss.
8
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constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
30
Braga da Cruz, Instituições Políticas…, p.121
31
Jorge Miranda, ob.cit, 343-346.
32
Barbas Homem, A lei da liberdade, p.190
33
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, A Constituição e os Partidos Políticos, p.663. É neste ano, segundo
este A., que termina a fase de ignorância intencional iniciada em 1822.
34
Que prevê um Conselho parlamentar consultivo (em caso de dissolução presidencial das Câmaras
Legislativas) de não mais de 18 membros, respeitando uma proporção que permita ouvir todas as
correntes de opinião (art.10º, parágrafo 1º, da lei nº891 de 22 de Setembro).
35
Doutrinariamente o Estado Novo pretende ser apartidário, prescindindo dos partidos enquanto
veículos de participação e representação política dos cidadãos, pelo funcionamento do sistema
representativo e corporativo atender, segundo Marcelo Rebelo de Sousa, ”à inserção dos indivíduos nas
múltiplas sociedades primárias” – o que, em face das miseráveis condições de vida e da inexistente
alfabetização de larga maioria da população (66% da população sem nível de ensino em 1960, segundo
dados do PORDATA, disponíveis em http://www.pordata.pt/azap_runtime/?n=4), é difícil de conceber
que tenha sido mais do que um postulado teórico nunca aplicado. Veja-se, entre outros, o art.14º da
Constituição de 1933 que preconiza a independência dos funcionários públicos no exercício das
respectivas funções relativamente a qualquer partido político. Cfr. Marcelo Rebelo de Sousa,ob.cit,
p.665.
36
Ademais, a concepção democrática de Estado é definida como “universalidade de indivíduos e
confusão”. Cfr. O Estado Novo: Princípios e Realizações, p.25.
9
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constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
os indivíduos que não são um presente da natureza mas o produto da nossa própria
experiência e inventividade; e recuperar igualmente a percepção da nossa lei, não
enquanto um mero corpo de direitos e deveres adquiridos, o corpo de uma liberdade
em que os direitos políticos detêm um lugar comparativamente insignificante, mas
como um método vivo de integração social, o método mais civilizado e mais efectivo
jamais inventado pelo género humano.” 42
Michael Oakeshott
42
The Cambridge Journal, vol I, 1947-8 cfr. José Carepa, Pensamento Político… (Org. João Carlos Espada e
João Cardoso Rosas), p.59
43
Afirma Leoni que “con la regulación legislativa del partido podrá ser combatida y derrotada la
partitocracia”. Cfr. Fernandez de La Mora, La partitocracia, p.170
44
Os partidos não poderão assim invocar a aplicação da doutrina acta interna corporis (partindo da
liberdade de associação e da auto-organização), para impossibilitar o controlo dos seus actos internos.
Cfr. Plaza, ob.cit., p.41
45
Cfr. Garcia Cotarelo, ob.cit. p.251-252
46
Cfr. Plaza, ob.cit. p.35
47
Acerca do princípio da neutralidade, mas ao nível do Estado de partidos, como entendemos que este
deve ser visto, Cfr. Garcia-Pelayo, ob.cit., p. 86
48
Cfr. Plaza, ob.cit. p.44
11
À média luz da Democracia interna: sombras e reflexos
constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
a democracia interna não deixa de incluir, nos tempos que correm, alguns predicados
que são, numa interpretação literal do que foi dito, anti-democráticos. Neste sentido,
assinale-se a concordância com o que teoriza Robert Michels49: em virtude do supra
exposto “quem diz organização diz oligarquia”.
Para que a democracia interna possa funcionar terão que verificar-se, então, dois
pressupostos-base, no entendimento de Cotarelo50, entre outros. A saber: por um
lado, definir, dentro do possível, o que se entende por funcionamento democrático;
por outro, o respeito pelos direitos fundamentais51. Apesar do que já se adiantou, a
democracia interna corresponde a um conceito jurídico indeterminado - embora
forçosamente determinável pelos dados que são oferecidos em cada ordenamento
jurídico. E no que toca aos direitos fundamentais, convém adoptar uma posição
realista que nos impele a prevenir desde já que há uma configuração sui generis destes
no âmbito interno dos partidos, como se verá com maior nitidez adiante. Assim,
conclui-se: a democracia interna mede-se em graus e não se identifica
necessariamente com a filosofia por detrás do sistema político-constitucional.52
49
Cfr. Robert Michels, Sociologia dos Partidos Políticos, Editora Universidade de Brasília, Brasília, 1982,
p. 238. O A. argumentou que a organização, ao mesmo tempo que assegura o funcionamento da
totalidade abrangida, também a afecta de um modo inevitável, dividindo-a numa minoria dirigente e
numa maioria dirigida. Enquanto os primeiros integram-se numa estrutura que lidera e controla; os
segundos, sem relações formais permanentes entre si, não têm outra alternativa senão obedecer.
Referiu este A. que “a tendência para a oligarquia constitui uma necessidade histórica, uma das leis de
ferro da história, às quais não puderam escapar as sociedades modernas mais democráticas e, dentro
destas sociedades, os partidos mais desenvolvidos”.
50
Cfr. Cotarelo, ob.cit, p.148-149; Cfr. Garcia-Pelayo, ob.cit., p.53: perfilhando semelhante doutrina,
Garcia-Pelayo concebe a legitimação do status de liberdade externa dos partidos mediante esta dupla
observância prática.
51
Segundo Nozick, na sua tese de direitos individuais e estado mínimo, existem seis etapas para um
estado moralmente legítimo. Em conclusão, se cada passo do processo foi moral, isto significa que não
violou direitos fundamentais. Cfr. Pensamento Político…p.111
52
Cfr. Cotarelo, ob.cit. p.252. Há-que ter em conta a distinção feita por Burdeau entre regimes de poder
aberto e regimes de poder fechado. Em especial, sendo o nosso uma democracia de poder aberto, a
verdade é que a realidade dos partidos tende a integrar elementos típicos de poder fechado,
nomeadamente na questão das correntes internas, como se verificará infra. Cfr. Burdeau, ob.cit., p.103-
104.
53
Cfr. Plaza, ob.cit., p.79
54
Cfr. Jorge Miranda, Manual…., VII, p.159
55
Olhando para a CRP de 1976, verificamos que existem modalidades de participação política dos
cidadãos que dispensam perfilhação partidária: o direito de sufrágio (art. 49nº1 e nº 2) e o referendo
12
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constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
nacional que pode resultar de iniciativa dos cidadãos (art. 115º1 e o art. 167º1). Pelo contrário, implica a
relação de confiança com um partido nas Eleições para a Assembleia da República (artº151).
56
Cfr. Gerhard Leibholz, O pensamento Democrático como Princípio Estruturador na Vida dos Povos
Europeus, Coimbra 1974, pp. 30-32. O A. vê a democracia como modalidade racional em que a vontade
do povo se assimila à vontade da maioria de governo, bem como à dos partidos com assento
parlamentar. Daí resulta a importância do sufrágio como manifestação popular, periódica, de apreciação
das propostas programáticas de cada partido político.
57
Assim como o inverso também é verdade.
58
Cfr. J.J.Gomes Canotilho / Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa Anotada, volume I, 4ª
edição, Coimbra, 2007, Anotação ao artigo 51º.
13
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constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
2. A funcionalização constitucional
e a praxis política nos dias de hoje
Ora bem, aqui chegados importa esclarecer o contributo que se segue. Existe, como
decorre do supra exposto, um Estado de partidos59 ou, numa expressão paralela, uma
partidarização parlamentar60. Em sentido oposto, de fora para dentro, podemos
também falar de uma parlamentarização partidária, que consiste na mutação da
estrutura interna dos partidos com o objectivo de melhor expressarem na sua função
eleitoralista a lógica de funcionamento da maioria parlamentar futura, que é no caso
do semipresidencialismo português a base de legitimidade do governo
(independentemente da sua composição mais política ou mais técnica). Por exemplo,
na escolha das listas de deputados à Assembleia da República, a escolha é centralizada
no órgão central do partido e prevalece um vínculo pessoal61, favorecendo fenómenos
de caciquismo típicos dos partidos de notáveis de séc. XIX62, com expressão na futura
relação (que deveria ser de separação de poderes e fiscalização) institucional entre
governo e parlamento, que se afigura assim mais suave. Ou não estivéssemos na
presença de partidos de eleitores63 num sistema multipartidário limitado, no caso
português – o mesmo é referir a flexibilização ideológica em sociedades cada vez mais
(i)mediatizadas64.
Ora, quanto a essa adaptação actual do funcionamento interno expressa na
classificação de partidos supra citada, entendemos traduzir-se num défice democrático
59
Cfr. Burdeau, O Estado, p. 107.
60
Cfr. Braga da Cruz, Instituições…, pp. 175.
61
Neste sentido, Cotarelo, ob.cit, p.158. O A. refere “lealdades pessoais”. Também Burdeau ao escrever
sobre “personalização”, O Estado, p.34.
62
Segundo Costa Pinto, o clientelismo é uma prática com enorme expressão durante o séc. XIX – este A.
refere-se a essa realidade nos seguintes termos: “Portugal’s oligarchic and clientelistic liberalism”. Cfr.
Costa Pinto, ob.cit., p.3.
63
Tradução portuguesa da expressão “catch-all party” de Otto Kirchheimer. Cfr. David Plaza, ob.cit,
p.44-45.
64
Neste sentido: Braga da Cruz, Instituições…, p.119; Paulo Otero, A democracia totalitária, p.264.
14
À média luz da Democracia interna: sombras e reflexos
constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
65
Cfr. Paula Sofia Ávila, Funções…, pp.34.
66
Expressão da revisão constitucional de 1919, a que já se aludiu supra. Plaza, ob.cit., p.88.
67
Tal referem Stefano Bartolini e Peter Mair em 2001 (cfr. Paula Sofia Ávila em Funções…, pp.34.)
68
Cfr.Peter Mair e Richard Katz, El partido cartel.., 2004. Sugestivamente, avisa Plaza, ob.cit.,p.83: “La
posicion oligopólica que ocupan los modernos partidos cartel en ele marco representativo, obliga que el
derecho o facultad de decidir libremente sobre las personas que van a integrar la asociación política
deva ser interpretado restrictivamente”.
69
Sem prejuízo de se considerar, com Plaza, que a falta de democracia interna tem sido uma constante
desde que os partidos existem. David Plaza, ob.cit, p. 35.
70
Exemplo de José I. Navarro Méndez, cfr. por João Pedro Freire, O princípio democrático na…, p.22.
71
Conclui Paula Ribeiro Costa a propósito de PS, PSD, PCP e CDS. Paula Ribeiro Costa, A democraticidade
interna…,numeração de pág. inexistente, ver Conclusão (1992).
72
Cfr. David Plaza, ob.cit, p.43, referindo-se “a la tensión”. Segundo Friedrich A. Hayek (que começou os
seus estudos licenciando-se em Direito em 1921 e em Ciência Política em 1923, antes de se notabilizar
na ciência económica e receber o Nobel da Economia em 1974) existem dois tipos ideais de ordem: a
organização (made order) e a ordem espontânea (grown order). No caso do sistema partidário
português, a organização é criada por forças exteriores (a Constituição), que impõem aos elementos
constituintes da mesma (militantes) o cumprimento de determinadas instruções, tendo em vista fins de
pluralismo democrático; a ordem espontânea é uma estrutura que surge em virtude da auto-
organização (liberdade de associação) dos militantes que obedecem a regras comuns, como nos casos
de autonomia estatutária (por ex., eleições directas). Cfr. Pensamento Político… Org. João Carlos Espada
e João Cardoso Rosas, p.35.
15
À média luz da Democracia interna: sombras e reflexos
constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
73
Sobre o pluralismo na CRP, ver Jorge Miranda, Manual…,III, p.351. Em sentido diferente, Soares
Martinez, ob.cit, p.12-13.
74
Jorge Miranda, Manual…, I, p.321 e segs
75
A questão que se coloca hoje é saber se uma democracia deve comportar cláusulas de protecção ao
sistema constitucional de partidos democráticos (o que pode configurar o paradoxo da tolerância de
Popper, dizem os críticos) ou, se pelo contrário, não existem hoje razões objectivas para manter esta
restrição de cariz ideológico (o que em face por um lado da imprevisibilidade dos movimentos sociais
que se prevêem; e, por outro, da recente evolução de movimentos ilegais e partidos de extrema-direita
na Europa, por ex. na Finlândia, onde o partido dos Verdadeiros Finlandeses obteve uns expressivos 19,1
% nas eleições legislativas em 17 de Abril de 2011, elegendo 39 deputados em 200, é imprudente
afirmar com certeza). Posto em termos muito sucintos o problema, tendemos a concordar com a letra
da lei com base nas exigências de uma sociedade democrática própria, portadora de uma história
política particular à qual os órgãos de soberania não devem ser insensíveis, especialmente em períodos
de previsível turbulência social como o que vivemos. O nosso entendimento é sustentado pelos arts.
11nº2 e 17º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem. Em sentido contrário: desde logo o
professor Jorge Miranda, Manual…, tomo VII, pp.165-166; Paulo Otero, A democracia totalitária, p.263-
266; Soares Martinez, Comentários à Constituição portuguesa de 1976, p.70. Veja-se, para uma
perspectiva eminentemente filosófica, a tese da democracia militante em Plaza, ob.cit p.195 e segs..
76
As revisões expressam o exercício de uma faculdade do sistema política português que Pedro C.
Magalhães denominou de “reforming itself”. Cfr. Costa Pinto, ob.cit., p. 201-202.
77
Georges Burdeau, professor de Direito Público e cientista político (1905-1988). Quanto à obra deste
autor francês, veja-se o Traité de Science Politique (1980).
16
À média luz da Democracia interna: sombras e reflexos
constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
78
Cfr. Plaza, ob.cit. p.83.
79
É Jorge Reis Novais quem o afirma. Ver As Restrições aos Direitos Fundamentais…, 2010, pp.141.
80
Ver nota nº 44, supra. Conforme teoriza John Rawls, o pluralismo razoável não tem – nem pode ter -
um carácter provisório ou acessório numa sociedade democrática. Nas palavras de João Cardoso
Rosas:”um consenso de sobreposição entre doutrinas abrangentes razoáveis que fundamente os
aspectos essenciais da Constituição e os principais arranjos económicos e sociais, sendo apoiado por um
exercício compatível da razão pública”. Cfr. Pensamento Político…, p.100-103.
81
J.Rawls, Political Liberalism, I,II,IV. Cfr. Pensamento Político…, p.101.
82
Aprovada pela lei orgânica nº2/2003 de 22 Agosto.
83
Matéria que não será aqui aprofundada. Ver, a título de exemplo o Acórdão nº290/2008, em que o
Tribunal se pronuncia negativamente sobre a existência de qualquer situação violadora do princípio
democrático (art.5º da lei dos partidos políticos). Para maiores desenvolvimentos, ver Garcia Cotarelo,
ob.cit, p.164 e segs.
17
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constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
84
Veja-se a evolução traçada de partidos de militantes para partidos de eleitores, genericamente a
partir da 2ªmetade do séc. XX, em Pasquino, Curso de …, pp.187 e segs.
85
Também referidos por Plaza, ob.cit, p.43 e nota nº20.
86
Contrariando, por exemplo, Paulo Otero que, partindo de pressupostos críticos idênticos aos nossos,
conclui pela vigência de uma “constituição não oficial”. Cfr. A subversão da herança política liberal: a
presidencialização do sistema parlamentar …, pp.254 e segs.
87
A principal, a que acrescem as funções administrativa, financeira e disciplinar.
88
Afirmação de Jorge Miranda, no seu Manual…, tomo VII, pp. 176.
89
Cfr.Carla Amado Gomes, Os Partidos.., pp. 27-29. Sobre o princípio da proporcionalidade, ver Plaza,
ob.cit, p.81.
90
Assim faz sentido a tese da “inibição normativa”, apresentada por Fernandez de La Mora. Cfr.
Fernandez de La Mora, ob.cit., p.170.
91
Expressão de Ignacio Ramonet, jornalista e sociólogo galego, nascido em 1943.
92
Barbas Homem, O Justo e …, p.106 e segs; David Plaza, ob.cit, p.44. Ver ainda, supra, a propósito das
relações sociais imediatas e da mediatização da política.
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constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
93
Cfr.Carla Amado Gomes, Quem tem Medo…, pp.612
94
“El principio de democracia interna admite varias concreciones, pero un elemento indispensable
reconiece al afiliado de todos los derechos fundamentales, com las matizaciones pertinentes para que el
partido pueda concurrir cohesionadamente a la formación y manifestación de la voluntad popular”. Cfr.
David Plaza, ob.cit., p.79 e segs.
95
A defesa da liberdade negativa foi primeiramente efectuada por Jeremy Bentham, na esteira do
liberalismo clássico inglês: ”Qualquer lei é uma infracção à liberdade”. Em 1958, na lição inaugural Two
Concepts of Liberty após receber a cátedra em Teoria Social e Política, vem Isaiah Berlin corrobar: “ Qual
a área na qual o sujeito deve ou pode agir sem interferência de terceiros? Liberdade política, neste
sentido, é simplesmente a área na qual um homem pode agir sem a obstrução de outros.” Cfr.
Pensamento Político…Org. João Carlos Espada e João Cardoso Rosas, p.63-65.
96
Ob.cit., p.89
97
Cfr. Cotarelo, ob.cit., p. 252-253. Segundo o A. cuja opinião perfilhamos, não bastam estatutos que
sigam postulados de princípios democráticos, é necessária a análise da organização e do funcionamento
real.
98
Cfr. Burdeau, ob.cit. p-96-98. Subjacente ao raciocínio gizado está a distinção feita por este A. entre
poderes de Estado e poderes de facto.
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nas acções instrumentais em relação a esse fim os direitos dos seus militantes tendem
a ser relativizados por essa função constitucional99.
99
O que parece significar uma diminuição de garantias em comparação com os cidadãos não filiados em
partidos, com vantagem para o funcionamento dos partidos, conforme se preveniu supra. Cfr. Plaza,
ob.cit. p.88 .Haverá um paradoxo democrático que faz com que aqueles que se inscrevem no
instrumento privilegiado de participação política se vejam empobrecidos na sua dimensão individual,
conforme afiançaram os defensores do liberalismo? Quererá isto dizer que a participação política
implica em todo o caso uma subordinação às formas processuais da democracia que dificulta a efectiva
repercussão das ideias ?
100
Como indaga Jorge Miranda no seu Manual…, tomo VI, pp.172: Como prescrever o voto secreto para
os órgãos do poder público e não o prescrever para os órgãos do partido ?
101
Acerca do modelo normativo de política deliberativa. Pensamento político…p.339 e segs.
102
Vital Moreira, Da democracia partidária, crónica de 2 de Julho de 2007, no Jornal Público.
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constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
103
A expressão inglesa que designa esta prática inaceitável é logrolling. Segundo Costa Pinto, o
clientelismo existiu com grande expressão no séc. XIX. Infere-se que por esta altura terá começado esta
prática. Cfr. Costa Pinto, ob.cit., p.3
104
Cfr. Burdeau, ob.cit, p.34. O A. refere, logo no início do 2º parágrafo, que “Há uma certa inclinação
que impele os indivíduos a personalizar a autoridade. Um instinto ou uma inflexão sentimental incita-os
a dotar de uma figura a força que os obriga”. Na esteira de Weber, que explicou como um vínculo
institucional não poderia ser sólido sem a crença nas virtudes pessoais do chefe.
105
Ou numa expressão idêntica, o poder individualizado de que fala Burdeau. A este propósito, faz-se
referência ao poder carismático teorizado por Weber, que já se referiu acima. Cfr.Burdeau, ob.cit. p.30-
33.
106
É esta a tese com maior ênfase, entre outras. Paulo Otero, A subversão da herança política liberal: a
presidencialização do sistema parlamentar…, pp.254 e segs.
107
Neste sentido, Garcia Cotarelo, Los partidos políticos, p.162.
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constitucionais na incorporação do multipartidarismo português
108
Com Michael Walzer: Compreensões partilhadas no seio de comunidades concretas. Os princípios
adequados às diversas esferas não se harmonizam uns com os outros, o mesmo acontecendo com os
padrões de comportamento e de sentimento que geram. Pensamento político…, p.145-152
109
“Pode ser esta uma das causas que explicam o relativo primado socialista no governo desde o início
do presente século, em face das múltiplas vozes que se degladiam no interior do principal partido da
oposição, o PPD/PSD.” Apesar deste último partido ter ganho recentemente as eleições julgamos que se
justifica manter a nota original desta investigação para uma melhor panorâmica de séc.XXI, observando
agora com atenção a formação de correntes no principal partido da oposição, o PS.
110
Expressão de Navarro Méndez, em castelhano, “corrientes excluyentes”. Em termos sinónimos,
Cotarelo classifica esta realidade de “fracciones”.
111
Na fórmula sugestiva de Cotarelo: “La intención de aplicar al interior de los partidos de modo
mecánico la libertad irrestricta de expresión no tiene verdadera eficacia y, caso de tenerla, convertiría a
los partidos políticos en algo más parecido a sociedades recreativas(…)” Garcia Cotarelo, Los partidos
políticos, p.160. No mesmo sentido, Plaza, ob.cit, p.88.
112
Neste sentido Paulo Otero, A democracia…, p.263. O A. fala de “um novo tipo de senhorio de grupos
de interesses”. Também Cotarelo, ob.cit, p.246-247 refere que “la formación de la voluntad política y en
el proceso de adopción de decisiones, hay manifiestamente una situación típica de lobby.”
113
Cfr.Cotarelo, ob.cit, p.253: “sería ingenuo ignorar que los partidos son muy sensibles a los prestigios y
situaciones de hecho, producidos fora de su seno (…) los partidos pueden reaccionar integrando en su
acción sistemas de promoción de élites extrapartidistas”. Conexo com esta situação situa-se o princípio
da seniority, que significa uma preferência dada a personalidades com prestígio e influência social, de
que são exemplo os dissidentes de outros partidos, que tendem a prevalecer sobre os militantes do
partido. Na prática, esta seniority expressa uma espécie de tutela destas elites sobre o funcionamento
interno.
114
Por exemplo, como refere Cotarelo, o comportamento oligárquico dos órgãos partidários faz com
que estes se renovem por cooptação, em lugar de o fazerem por eleição, a verdadeira forma
democrática e soberana, como se salientou. Garcia Cotarelo, ob. cit., p.163
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Conclusões
Se é verdade que a falta de democracia interna é uma crítica constante, também é
correcto reconhecer que os partidos têm vivido bem com esta. Julgamos que, na
mesma direcção em que se incorporaram os partidos no sistema de governo
constitucional, é hoje momento de se lhes exigir uma resposta à altura dos tempos.
Mas não nos iludamos: os cidadãos são os agentes responsáveis por esse impulso
necessário e também, em última análise, os prejudicados. Se hoje a perspectiva liberal,
na concretização do Estado mínimo, faz escola a nível nacional e – sobretudo -
europeu, ao menos que se aproveitem os contributos que esta trouxe à relação
inalienável de cada cidadão com os seus direitos individuais e com a sua esfera de
participação social e política.
É do senso comun que os políticos necessitam de uma revisão, em face do seu papel
insubstituível a manter e a actualizar. No quadro de uma Constituição vigente, esta
será tanto mais frutífera se for realizada por genes partidários internos, através da
inscrição de novos militantes. E, por fim, tudo volta ao cidadão – em torno de uma
actividade social e política com finalidade de bem comum: a democracia. Poderá
dizer-se, com alguma razão, que as conclusões que enunciamos não serão
propriamente novidades animadoras. Ainda assim, com muito menor dificuldade
poderia a actividade partidária comprometer o pluralismo democrático que
defendemos se estivesse omissa dos textos constitucionais. Assim, indentifiquem-se os
entorses e qualifique-se a realidade, para estatuir com solidez – eis o desafio
permanente do Estado de Direito democrático, renovado em cada cidadão pluralista,
conforme teorizado por Michael Walzer, na tentativa de demonstrar que o justo é um
conceito eminentemente histórico e de natureza política.
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Bibliografia
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- Manual de Direito Constitucional, tomo III. Coimbra: Coimbra Editora, 2004 (5ªed.)
- Partidos Políticos e Sociedade (Actas dos VII Cursos Internacionais de Verão de Cascais
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PINTO, António Costa – Contemporary Portugal. New York, Columbia University Press,
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