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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL

Diego Martins Dória Paulo

AS CONTRADIÇÕES DA DEMOCRACIA E O INSTITUTO FERNANDO


HENRIQUE CARDOSO (2004-2019)

Niterói
2020

1
DIEGO MARTINS DÓRIA PAULO

AS CONTRADIÇÕES DA DEMOCRACIA E O INSTITUTO FERNANDO


HENRIQUE CARDOSO (2004-2019)

Tese submetida ao Programa de Pós-


Graduação em História Social da
Universidade Federal Fluminense como
requisito parcial para a obtenção do grau
de Doutor em História

Orientadora: Profª Doutora Virginia Maria Gomes de Mattos Fontes

Niterói
2020

2
Sumário

Introdução..................................................................................................................................... 5
1. Os tanques de pensamento e o Estado capitalista ................................................................... 19
Parte I: estado da arte ................................................................................................................. 27
1.1 Tanques de pensamento: entidades técnicas, disputas entre Estados e mecanismo
democrático de superação de conflitos .................................................................................... 27
1.2 Os tanques de pensamento e a matriz gramsciana: aparelhos privados de hegemonia nas
lutas de classes ........................................................................................................................ 36
Parte II ......................................................................................................................................... 49
1.3 O Think tanks and Civil Societies Program (TTCSP) e a padronização dos tanques de
pensamento ............................................................................................................................. 50
1.4 O trabalho intelectual vivo e morto no capitalismo ............................................................. 67
1.5 Os tanques de pensamento entre a fábrica e o Estado........................................................ 90
1.6 Tecnologias políticas e lutas de classe no Estado capitalista .............................................. 101
2. O Instituto Fernando Henrique Cardoso e a contenção da democracia ................................. 121
2.1 Contendo a democracia: regimes de tipo democrático como forma política de pacificação
das lutas................................................................................................................................. 124
2.2 A fundação do Instituto Fernando Henrique Cardoso ....................................................... 149
2.3 Uma entidade do grande (e do mega) capital ................................................................... 156
2.4 O IFHC entre a expansão das atividades e a circunscrição do terreno dos debates ............ 170
2.5 Dentro do terreno: quem participa publicamente dos debates e seminários do IFHC........ 182
2.6 O IFHC e o contra-ativismo político empresarial: uma visão dos bastidores da entidade ... 201
2.7 O IFHC e a América Latina: o caso da Plataforma Democrática (2007-2019) ...................... 211
3. Coesão Social e acomodação capitalista na Europa e América Latina ................................... 230
3.1 Entre o socialismo e a barbárie: a matriz durkheimiana de estabilização política em Da
divisão social do trabalho ....................................................................................................... 232
3.2. A integração europeia e a importância da coesão social e econômica .............................. 243
3.3 A redescoberta da América pelos espanhois ..................................................................... 252
3.4. “Coesão social e sentido de pertencer” na América Latina e no Caribe ............................ 263
3.5 O IFHC e a coesão social: um “desafio latino-americano”.................................................. 301

3
4. O IFHC e o antipetismo (2014-2019) ...................................................................................... 314
4.1 O IFHC e a “base social petista”: a “questão racial” e a disputa pelo legado das políticas
sociais durante a eleição de 2014 ........................................................................................... 316
4.2 “Um outro bloco capaz de sustentar o poder”: o IFHC, a derrota de 2014 e a derrubada do
petismo (2014-2015) .............................................................................................................. 345
4.3 Governo Temer: o IFHC entre a representação empresarial e a fragmentação partidária .. 354
4.4 O IFHC e a emergência do “Novo PSDB” após a derrota nas eleições de 2018 ................... 363
4.5 Mapeando as bases do bolsonarismo: o IFHC e o estudo do levante político evangélico ... 374
Considerações finais .................................................................................................................. 400
Anexo I. Tabela com conexões nas sociedades civis, nacional e internacional, por ano (2004-
2019) ......................................................................................................................................... 417
Anexo II. Tabela com conexões com representantes dos poderes políticos por ano (2004-2019).
.................................................................................................................................................. 464
Anexo III. Tabela com conexões em universidades, nacionais e internacionais, públicas e
privadas, por ano (2004-2019) .................................................................................................. 498
Anexo IV . Tabela com conexões com empresas por ano (2004-2019). ..................................... 554
Referências................................................................................................................................ 570

4
Introdução

Esta tese começa com uma visita à livraria. Foi vasculhando prateleiras à procura de

algo interessante que me deparei pela primeira vez com uma publicação da Plataforma

Democrática. Como o livro abordava a possível “liderança” do Brasil sobre a América Latina,

optei por investir nele a verba que tinha separado para a empreitada. Logo tomei o caminho

de mais de 2 horas que separava a universidade em que estudava da casa em que morava. A

viagem me permitiu começar a leitura imediatamente.

Enquanto progredia nas páginas, lembrava de uma apresentação de Virginia Fontes,

ocorrida há não muito tempo no Espaço Plínio de Arruda Sampaio. Tratava-se de uma casa

alugada pelo mandato do vereado Renato Cinco, do Partido Socialismo e Liberdade do Rio

de Janeiro (PSOL-RJ), na região da Lapa. O espaço ainda existe, mas agora mudou de local.

A programação é que segue a mesma. Sedia debates e reuniões mensais com a comunidade.

Foi em um destes encontros que vi a professora falar sobre imperialismo.

Aquela aula havia me causado bastante impacto, sobretudo no que dizia respeito à

ação das empresas brasileiras no entorno latino-americano. Eram muitos detalhes, todos

horrorosos. Fui fisgado pela questão. À época ainda desenvolvia minha dissertação de

mestrado sobre luta política no Brasil dos anos 1963 e 1964. Uma das organizações

brizolistas que estudava, coitada, ficou por um tempo de lado. Eu só tinha olhos para os

impactos das empresas brasileiras no nosso continente.

No afã de conhecer mais sobre o assunto que cheguei ao trabalho de Raul Zibechi. Li

Brasil Potência: entre a integração regional e um novo imperialismo em poucos dias, com

extremo prazer. Além de ter belo texto, o volume é fartamente informativo, e antes do final

5
da leitura eu já estava decidido a pesquisar alguma dimensão da relação entre Brasil e

América Latina. Preferencialmente no pós-ditadura.

Por isso o volume com o selo da Plataforma Democrática me chamou atenção. Tinha

expectativa de encontrar ali material para desenvolver em um possível doutorado. O título 1

era, neste sentido, atraente, e logo passei a investigar o que afinal de contas era a Plataforma

Democrática. Conheci as formas de atuação, assisti a vídeos – são mais cem horas de material

gravado no total -, fiz download de outras publicações com o selo da iniciativa e de um

mundo de documentos disponibilizados no site da iniciativa.

Já então os organizadores assumiam que “exportar” valores democráticos pela

América Latina era a missão da iniciativa. Para tanto, a Plataforma Democrática construíra

parcerias com mais de 30 outras organizações pelo subcontinente 2 , por meio das quais

realizava palestras, seminários, conferências. Além do volume que tinha em mãos, outros 10

livros já haviam sido publicados – atualmente são 14. Todos com temáticas que dialogam

com os problemas da democracia latino-americana.

Seguindo pistas, em pouco tempo já perseguia os investidores que bancavam o projeto,

bem como informações adicionais sobre os palestrantes selecionados para os eventos.

Quando iniciei efetivamente essa pesquisa doutoral, muito deste material já estava

1
SORJ, Bernardo; FAUSTO, Sergio (orgs.). O Brasil e a Governança da América Latina: Que Tipo de
Liderança é Possível?. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisa Sociais, 2013. São Paulo: Fundação
Instituto Fernando Henrique Cardoso, 2013. 332 p.
2
São elas: na Argentina, Universidad Torcuato di Tella, Universidad de San Andrés (MAPP e MAEP), Cadal,
Cippec, Red de Acción Politica, Universidad Nacional de San Martin (CESC e Ciedal); na Bolívia, Instituto
para la Democracia; no Brasil, FGV Direito Rio, Fundação João Pinheiro, IETS, Ipespe, Viva Rio; no Chile,
Cieplan, Universidad Diego Portales; na Colômbia, Universidad de los Andes (DCP e Ceper), Fundación
del Rosário (CEPI), Fundación Seguridad y Democracia; Costa Rica: Secretaria General de Flacso;
Equador: Programa de Estudios Politicos de Flacso; Guatemala: Universidad Rafael Landivar (Ingep),
Doses; México: Cide, Itam, Unam (SCS), Fundación Ethos; Peru: Instituto de Estudios Peruanos, Cisepa:
Escola de Gobierno de PUC; Uruguai: Instituto de Ciência Política; Venezuela: Instituto Venezolano de
Estudios Socialyes y Politicos

6
sistematizado e analisado. Àquela altura, a história da Plataforma Democrática parecia a

história de um poderoso aparelho político.

Identificando-a como uma coalizão de esforços entre o grande capital brasileiro

transnacionalizado – aquele imperialismo que me impressionara - e o Partido da Social

Democracia Brasileira (PSDB), arrisquei que seu papel seria disputar terreno com o Partido

dos Trabalhadores no campo do apoio às “grandes campeãs” nacionais e ao capitalismo

brasileiro no entorno latino-americano. A hipótese me levou ao estudo sistemático do

Instituto Fernando Henrique Cardoso, junto do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, um

dos promotores da Plataforma Democrática.

Assim cheguei ao IFHC. Quando propus ao Programa de Pós-Graduação em História

da Universidade Federal Fluminense (PPGH-UFF) a pesquisa sobre a Plataforma

Democrática, sabia que em algum momento teria de lidar com seu principal inventor. Os

caminhos da pesquisa me fizeram mergulhar nele.

Deste modo, meio sem querer, o IFHC se tornou o objeto principal desta tese. Quando

comecei a estuda-lo, dezenas de questões se impuseram. A investigação da Plataforma

Democrática então parecia um beco sem saída. Eu não conseguia avançar para além do que

já havia proposto. Assim, foi com prazer que me vi tomado pela leitura de novos documentos.

Estes, por sua vez, giravam em torno de temas parecidos com os já presentes na Plataforma,

mas ali ganhavam maior densidade. Os relatórios do IFHC são muito mais completos,

servindo de guia de pesquisa, o que sem dúvida facilitou o trabalho.

Selecionei a democracia como o problema de fundo. Claro que minha predileção

contou, mas o papel das fontes não foi menor. Ela já era evidentemente uma preocupação

central na Plataforma Democrática, mas os livros publicados pelo IFHC contavam uma

7
história similar. “América Latina, desafios da democracia e do desenvolvimento”, “O desafio

latino-americano: coesão social e democracia”, “Difícil democracia”... foram as leituras a

que me dediquei no verão de 2017.

Os dois problemas principais desta tese tinham enfim sido localizados. IFHC e

democracia – na maior parte do tempo, Democracia e IFHC – ocuparam desde então meus

esforços de pesquisa. Quis saber como no conjunto de fontes se entendia aquele regime

político, quem bancava o projeto, de que maneira a entidade atuava. Questões que

vertebraram a pesquisa em um momento em que a trajetória do IFHC – assim como da

Plataforma Democrática – parecia ascendente. Desde meados do ano anterior, o PSDB

entrara no governo de Michel Temer, e as fontes me indicavam que o IFHC cumpria um papel

importante na conjuntura.

O caminho foi melhor iluminado pela mudança de objeto. Falar sobre o IFHC – e

sobre a Plataforma Democrática dentro de uma tese sobre ele – pareceu mais adequado.

Apaguei tudo que havia redigido, conservando apenas o fichamento das fontes feito até então.

Recomecei deste ponto.

Não foi a única vez que reescrevi esta tese. A atual versão do primeiro capítulo é,

seguramente, pelo menos a décima que redigi – provavelmente algumas versões a mais. A

decisão de começar de novo nunca me assustou, e ao longo destes quatro anos sempre

encontrei boas razões para fazê-lo. A descoberta de um documento novo, uma leitura

especialmente impactante, a inestimável orientação de Virginia Fontes – aquela lá do início

que por rara sorte minha topou me orientar. É possível que, para cada página selecionada para

o resultado final, outra tenha ficado de fora.

8
Papel decisivo neste sentido foi cumprido pela descoberta do The think tank and civil

societies programa (TTCSP), da Universidade da Pensilvânia. O laboratório se dedica a

estudar tanques de pensamento , como o IFHC, desde 1989. Conta com grandes nomes das

ciências burguesas consagrados pela pesquisa do tema - destaco sobretudo James McCagann,

figurão na área e diretor da organização. Desde 2008, publica o Global go to Think Tank

Report, espécie de balanço anual das atividades dos tanques de pensamento em escala

planetária.

Foi por meio deste documento que conheci o TTCSP. Isso porque, em algum

momento, o site do IFHC passou a estampar em sua homepage um botão indicando a

publicação da última edição daquele relatório. O trabalho gráfico destacava a posição obtida

em alguns de seus rankings, com indisfarçável orgulho. A impressão de que havia alguma

coisa a ser investigada ali me levou a ler não apenas a edição mais recente, mas todos os

relatórios publicados pelo grupo da Universidade da Pensilvânia.

Um trabalho longo. Essa documentação têm uma linguagem cifrada insuportável,

tanto pior porque escrita em inglês. Em linhas gerais, constatei se tratar de uma série de

rankings de “boas práticas” dos tanques de pensamento. Dentre elas, constavam a

possibilidade de influenciar a formulação de políticas públicas, o impacto nos debates

travados na sociedade civil, e a capacidade de arregimentar apoio privado. O tanque de

pensamento “ideal”, passível de ser extraído das listagens divulgadas pelo TTCSP, deveria

pautar políticas públicas, dialogando diretamente com os representantes do Estado; ser

economicamente viável, isto é, conseguir patrocínio da iniciativa privada; e ter influência

sobre as discussões na esfera pública, participando de intervenções nos grandes meios de

comunicação, dialogando com acadêmicos do mainstream e produzindo materiais de grande

9
circulação pelas novas mídias digitais. No ranking que media os top think tanks, o IFHC

então ocupava o terceiro lugar brasileiro e o décimo segundo das Américas do Sul e Central.

A comemoração percebida no site vinha desta marca.

Então já havia escrito sobre a coesão social, identificando como a noção consistia em

espécie de feixe de diretrizes consideradas adequadas para a “gestão” da sociedade. Usando

analogia metódica que fazia sentido para mim, vi certa homologia entre aquele princípio e os

trabalhos do TTCSP. Isto é, a lista divulgada pelo laboratório, assentada em série de critérios

analisados em primeiro capítulo desta tese, serviria mais para modelar a atuação dos tanques

de pensamento do que efetivamente espelhar resultados alcançados por eles. Por meio dos

rankings, o laboratório indicava o que se esperava deles, e não necessariamente expressava

sua atuação real nos anos correntes – de fato, era difícil mensurar o impacto efetivo de alguns

dos critérios, posta a falta de clareza sobre as fontes utilizadas na confecção do relatório.

Esta forma de análise pareceu encontrar respaldo na forma como o próprio grupo de

pesquisas entendia suas atividades. Peço desculpas pela citação longa, mas julgo importante

dar esta palavra à fonte. De acordo com o site da iniciativa, em tradução livre,

O Think Tanks and Civil Societies Program (TTCSP) do Lauder Institute da


University of Pennsylvania conduz pesquisas sobre o papel que os institutos de
políticas públicas desempenham em governos e sociedades civis em todo o mundo.
Freqüentemente chamado de tanque de pensamento dos tanques de pensamento, o
TTCSP examina a evolução do papel e do caráter das organizações de pesquisa de
políticas públicas. Nos últimos 25 anos, o TTCSP desenvolveu e liderou uma série
de iniciativas globais que ajudaram a superar barreiras entre os saberes e a política
em áreas críticas, como paz e segurança internacional, globalização e governança,
economia internacional, questões ambientais, informação e sociedade , redução da
pobreza e saúde e saúde global. Esses esforços de colaboração internacional são
projetados para estabelecer redes regionais e internacionais de institutos de
políticas e comunidades que melhoram a formulação de políticas enquanto
fortalecem as instituições democráticas e as sociedades civis em todo o mundo.
O TTCSP trabalha com os principais acadêmicos e profissionais de think tanks
e universidades em uma variedade de esforços e programas colaborativos, e produz
o Índice Global Go To Think Tank anual que classifica os principais think tanks do
mundo em uma variedade de categorias. Isso é alcançado com a ajuda de um painel
de mais de 1.900 instituições semelhantes e especialistas da mídia impressa e
eletrônica, academia, instituições doadoras públicas e privadas e governos em todo
10
o mundo. Temos fortes relacionamentos com os principais centros de pesquisa em
todo o mundo, e nosso índice anual de estudos é usado por acadêmicos, jornalistas,
doadores e o público para localizar e conectar-se com os principais centros de
pesquisa de políticas públicas em todo o mundo. Nosso objetivo é aumentar o perfil
e o desempenho dos grupos de reflexão e conscientizar o público sobre o
importante papel que os grupos de reflexão desempenham nos governos e
sociedades civis em todo o mundo 3
De acordo com eles mesmos, trata-se de um “tanque de pensamento dos tanques de

pensamento”. De uma organização devotada à instrução dos “institutos de políticas públicas”.

Parece se passar, afinal, exatamente como eu disse. Os relatórios indicam como as entidades

devem ser, não necessariamente como elas são.

O estágio da pesquisa me fez ir fundo na avaliação de outras produções sobre os

tanques de pensamento. O primeiro capítulo – ou, para ser mais preciso, a versão que o leitor

e a leitora têm em mãos do primeiro capítulo – é quase todo fruto deste esforço. A tentativa

de fazer uma teoria geral dos tanques de pensamento – algo que eu negava estar fazendo,

negava-me a fazer, mas no fim acabava fazendo – é visível em seu desenvolvimento. Os

limites, igualmente óbvios. Como tirar qualquer parâmetro geral da análise de um caso

3
The Think Tanks and Civil Societies Program (TTCSP) of the Lauder Institute at the University of
Pennsylvania conducts research on the role policy institutes play in governments and civil societies around
the world. Often referred to as the “think tanks’ think tank,” TTCSP examines the evolving role and
character of public policy research organizations. Over the last 25 years, TTCSP has developed and led a
series of global initiatives that have helped bridge the gap between knowledge and policy in critical policy
areas such as international peace and security, globalization and governance, international economics,
environmental issues, information and society, poverty alleviation, and healthcare and global health. These
international collaborative efforts are designed to establish regional and international networks of policy
institutes and communities that improve policy making while strengthening democratic institutions and
civil societies around the world. The TTCSP works with leading scholars and practitioners from think tanks
and universities in a variety of collaborative efforts and programs, and produces the annual Global Go To
Think Tank Index that ranks the world’s leading think tanks in a variety of categories. This is achieved with
the help of a panel of over 1,900 peer institutions and experts from the print and electronic media, academia,
public and private donor institutions, and governments around the world. We have strong relationships with
leading think tanks around the world, and our annual Think Tank Index is used by academics, journalists,
donors and the public to locate and connect with the leading centers of public policy research around the
world. Our goal is to increase the profile and performance of think tanks and raise the public awareness of
the important role think tanks play in governments and civil societies around the globe. Disponivel em:
https://www.gotothinktank.com/history-and-mission
11
particular? Carece de lógica básica. O TTCSP certamente ajudou, assim como a descoberta

daquela maneira de investiga-lo, mas claramente não resolveram o problema.

Malgrado todas as dificuldades que medeiam a empreitada, ainda assim foi aquele

objetivo – compreender melhor os tanques de pensamento em geral – que mais motivou a

minha pesquisa e escrita no primeiro capítulo. Não há, evidentemente, nenhuma intenção de

fechar a questão. Tampouco eu apresento ali uma teoria geral dos tanques de pensamento.

Trata-se, ao contrário, de uma interpretação possível, limitada pelas fontes de que disponho

e pelas capacidades que me assistem. De sorte que, se de alguma forma, os elementos

apresentados fizerem o estudo da questão avançar – nem que seja pela negativa, ou seja, pela

constatação do que os tanques de pensamento não são – já estarei plenamente satisfeito.

Assim, no primeiro capítulo propus que os tanques de pensamento cumprem um papel

específico no conjunto dos aparelhos privados de hegemonia, conceito cunhado por Antônio

Gramsci para designar organizações da sociedade civil que, representando classes e/ou

frações de classes, disputam a direção ético-política da sociedade. Sua especificidade seria

contornar as tradicionais instituições da democracia representativa, agindo diretamente sobre

os aparelhos de Estado. A maneira de legitimar o diálogo direto seria atribuir ao tanque de

pensamento a prerrogativa de aconselhamento “técnico” sobre políticas públicas dedicadas a

enfrentar “problemas” sociais.

É claro que o elemento técnico é político. Do ponto de vista marxista me parece se

tratar de um truísmo, de sorte que fui me preocupar com outra face da equação. Se é óbvio

que o elemento técnico é político, pareceu-me paradoxalmente menos natural que, do ponto

de vista crítico, o elemento técnico seja efetivamente técnico. Mas e se fosse?

12
A pesquisa me conduziu à tentativa de recompor resumidamente a história de

formação do trabalho intelectual no capitalismo. Operando com evidentes simplificações,

tentei demonstrar como, já no terceiro livro d’O Capital, a discussão da técnica está associada

a um modo de produção específico. A reprodução ampliada do capital cria e demanda novas

funções deste tipo de trabalho, que comporta a prerrogativa do mando e da direção;

prerrogativa eminentemente política, posta sua diferenciação em relação ao trabalho “manual”

ser puramente ideológica. As funções demandadas girariam em torno da organização

produtiva, cujo direcionamento deveria ser ditado pelos supervisores - como “generais no

campo de batalha”, nas palavras de Marx.

Sugeri, diante disto, que essa técnica seria resultado de trabalho intelectual morto,

objetivado em prescrições de mando. Considerada assim, ela seria a síntese de relações

sociais de produção pretéritas, que, assumindo a forma de um saber específico,

determinariam relações sociais de produção futuras, adaptando constantemente os princípios

estruturantes do capitalismo às novas realidades postas pelo seu desenvolvimento. Radicada

no chão de fábrica pelas hierarquias sociais do capital, inclusive as constituídas a partir de

divisões na classe trabalhadora, a técnica assim definida poderia, após longo percurso no

tempo e no espaço, encontrar abrigo nos tanques de pensamento. Para tanto, contou com o

auxílio inestimável da “grande virada” da razão neoliberal, que coloca o tecnicismo político

na ordem do dia.

O capítulo 2 inicia o estudo da forma específica de contenção da democracia operada

pelo IFHC. Após reportar manobras burguesas de cerceamento da soberania popular desde o

século XIX, sugeri que a entidade se associava às técnicas de dominação mais recentes,

sobretudo àquelas apresentadas quando da análise dos tanques de pensamento em geral. O

13
estudo detalhado das operações da entidade, contudo, permitiu a identificação de algo

diferente. Tratava-se da tentativa de circunscrever o terreno do debate político legítimo sobre

temas potencialmente conflituosos. É possível que outros tanques de pensamento operem de

modo similar. Talvez seja padrão presente nas organizações estudadas e formatadas sob os

auspícios do TTCSP - a escala empregada na documentação produzida pelo laboratório não

permitia saber.

Por isso este ponto só surge no segundo capítulo. É a anatomia da entidade

apresentada na ocasião que permite o desvelamento de práticas específicas, não detalhadas

na documentação “quantitativa” que até então vinha servindo de base prioritária da

investigação. Os estudos do financiamento, da composição dos quadros, dos seminários e

debates, bem como da Plataforma Democrática, permitiram avançar hipóteses sobre a base

social da iniciativa. Uma vez notado que o IFHC tentava encapsular a discussão pública,

selecionando criteriosamente as posições que se “confrontariam” nos debates por eles

sediados, tornou-se fundamental a investigação das determinações materiais desta

circunscrição. Os dados coletados pelo estudo dos patrocínios, portanto, foram lidos à luz

daquela hipótese, e os resultados são ali apresentados.

Nesta altura da tese, tentei, ainda, construir a imagem de um IFHC estreitamente

conectado à rede associativa da burguesia em escala planetária. O trabalho que se inicia no

capítulo dois, quando discuto a inserção da entidade na sociedade civil e suas relações com

organizações transnacionais, segue no capítulo 3, quando discuto o assim chamado projeto

em favor da “coesão social na democracia”.

A politização do conceito é também sugestão desta tese. Apesar de ter procurado

intensamente interpretações similares, não localizei nenhum trabalho que tenha considerado

14
a noção de coesão social como aqui faço. Para tanto, foi importante remontar a discussão

proposta por Emile Durkheim. Na primeira parte do capítulo 3, apresento de que maneira a

especialização dos ofícios foi por ele identificada tanto como um polo de integração quanto

de potencial conflito em sociedades de “economia complexa”. A busca pela “coesão social”,

assim, expressaria o enfrentamento daquelas tensões, com o fito de superar conflitos,

potencializando a funcionalidade social. Demonstrando as reinterpretações do conceito,

sugeri que ele se convertera em feixe de balizas de políticas públicas, irradiando-se como

conjunto de diretrizes pelo Velho Mundo, ao sabor dos sucessivos estágios de integração

econômica e social europeia.

O tempo que separa as elaborações de Durkheim dos últimos tratados de formação da

União Europeia é marcado pelo enriquecimento da noção de coesão social. Se antes ela se

referia a formas de integração pacífica em sociedades marcadas por intensa divisão social do

trabalho, nos anos 1990 já contemplava interesses de diferentes formas funcionais do capital.

Tornava-se, assim, expressão da união entre os últimos estágios de desenvolvimento

capitalista e uma forma de dominação marcada pela hipertrofia relativa do consenso sobre a

coerção.

Desde Gramsci, é sabido que a dominação de classe demanda doses variadas de

violência e consentimento. Os tipos de “consenso encouraçado de coerção” se diferenciam

pelo a força relativa de cada um dos termos do binômio. Os defensores da coesão social

apostavam no leve acento do primeiro sobre o segundo, sem jamais abrir mão dos

instrumentos repressivos. Defendiam distribuição de renda, a chamada política identitária e

a “regeneração” do tecido social ameaçado pelo individualismo montante com o fim do bloco

socialista. Tentavam desta maneira evitar a “ascensão de novos autoritarismos”, como os

15
“novos populismos de direita e esquerda” que, além de incentivar o conflito social, punham

em risco o manejo ortodoxo da economia.

Como mais acabado exemplo de troca de tecnologias políticas apresentado nesta tese,

a noção de coesão social circula pelos aparelhos privados de hegemonia europeus e chega à

América Latina. O veículo que opera a transação é uma agência de Estado, cuja burguesia

interna, no mesmo período, iniciou processo de internacionalização rumo à América Latina.

Refiro-me à Espanha e à Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o

Desenvolvimento (AECID), que, com seus satélites, contata a Comissão Econômica para a

América Latina (CEPAL) e passa a difundir tecnologias políticas para o “desenvolvimento”

da região. Desenvolvimento aqui entendido como complexificação do capitalismo, o que

consiste em chave para entender os interesses empresariais no tema.

Integrando este conjunto de diretrizes para a reprodução ampliada do capitalismo, a

coesão social defendia a importância de estimular o “sentimento de pertencer”, visto como

forma de gerar vínculos sociais em uma região marcada pelas turbulências políticas. Desde

sua fundação, o IFHC se preocupou prioritariamente com estes esforços, contribuindo com a

“aclimatação” da noção de coesão social à realidade social latino-americana. Para tanto,

lançou livro largamente analisado no capítulo 3. O conteúdo do material foi intensamente

difundido pelos parceiros da entidade na América Latina, por meio da Plataforma

Democrática.

Até ali, cobri os primeiros anos de história do IFHC. A atuação mais recente seria

discutida no capítulo 4, que versou sobre o posicionamento da entidade na conjuntura política

brasileira marcada pela crise do petismo e pela ascensão do bolsonarismo. Se até então a

narrativa era de algum sucesso, coroado com importante participação durante o governo

16
Michel Temer, ali começamos a acompanhar uma mudança de curso. Os eventos ali narrados

fazem com que esta tese, que começou versando sobre um poderoso aparelho político, trate

fundamentalmente de um projeto derrotado.

A partir de 2015, o IFHC passa a insuflar a extrema-direita, com quem, é verdade, já

flertava antes. Fazendo balanço das eleições de 2014 em evento sediado no prédio do instituto,

a posição assumida pelos seus representantes indica a intenção de não ver Dilma Rousseff

completar o mandato. Fala-se em criar imediata “alternativa de poder”, coligindo esforços

das ruas e da Justiça. Naquele ano, a extrema-direita ganhava as avenidas em maciças

manifestações estimulada pelas denúncias sempre bombásticas da força tarefa da Lava-Jato

em Curitiba.

Veremos como o IFHC quis surfar a “onda conservadora”, mas o lava-jatismo

inquisitorial barrou seu movimento, ao ferir gravemente a imagem pública de alguns tucanos.

Foi Aécio Neves, outrora paladino da justiça, o mais seriamente atingido. Sufragado por mais

de 50 milhões de eleitores em 2014, seria envolvido, a partir de 2016, em delações premiadas

que indicavam crimes bem mais graves do que os inicialmente suspeitos. Sem sua liderança

mais aguda, o PSDB padeceu, momentaneamente decapitado. Passou por conflagrações

internas, que opunham os partidários de Alckimin, Serra, bem como os adeptos da nova

sensação política na grande imprensa: João Dória. Considerado o anti-Lula, o “antipolítico”

pregava combinação de “gestão técnica” com coerção encouraçada de consenso. Na disputa

pelo posto de presidenciável tucano em 2018, contudo, Alckimin venceu, mas o espaço

alcançado por João Dória evidencia que o projeto de coesão social deixara de ser importante.

Após a esmagadora derrota no último pleito presidencial, o IFHC procura novos

rumos. Assim concluímos esta tese. Demonstrando como a entidade se aproxima da formação

17
do “Novo PSDB”, agora com Dória à testa. A metamorfose tucana é certamente diferente da

petista. Se o Partido dos Trabalhadores progressivamente se aproximou do “centro” político,

os tucanos se deslocaram rumo à extrema-direita com mais violência. Enquanto escrevo,

estão sendo reiteradamente rejeitados pela turba fascista liderada por Jair Bolsonaro, por mais

que Fernando Henrique Cardoso acene insistentemente na direção deste polo do espectro

político. O futuro do IFHC parece difícil, mas nas aguas revoltosas da política nacional

contemporânea tudo pode mudar.

18
1. Os tanques de pensamento e o Estado capitalista

Nas violentas fronteiras da Segunda Guerra Mundial, veículos blindados serviram de

abrigo para a coordenação in loco das batalhas. Ficaram conhecidos como think tanks, ou

tanques de pensamento, por representarem o centro de orientação estratégica da ação tática

das forças armadas em campo. Tem esta origem o nome do objeto de estudo deste capítulo.

Os tanques que em tempos de conflagração abrigavam estrategistas no calor da luta serviram

de inspiração para entidades que, na frieza da ação cotidiana, enfrentam outros inimigos,

travam outros confrontos.

Diferentemente daquelas unidades militares, os tanques de pensamento que me

interessam aqui são entidades compostas por políticos e intelectuais com objetivos variados,

mas cujo sentido social se radica nas lutas de classes no capitalismo. A metáfora militar, neste

sentido, ilustra a natureza da paz neste modo de produção – negação da guerra que

metamorfoseia o conflito sem cessar o seu desenvolvimento.

As primeiras organizações do tipo surgem no fim do século XIX. A Inglaterra teria

sido o celeiro da novidade que, precisamente a partir dos anos 1940, espalha-se em escala

global4. A formação de redes de tanques de pensamento é impulsionada pelo ambiente social

do pós-guerra. Na conjuntura, a tecnologia avança no campo da gestão pública, enquanto o

acirramento do embate entre as classes sociais fundamentais, expresso paradoxalmente pelo

conceito de Guerra Fria, impõe às classes dominantes tanto a necessidade de elevar o

patamar de auto-organização quanto a tarefa de construir inovações institucionais que

assegurem seu poder politico. As ditaduras latino-americanas, africanas e asiáticas são a

4
SMITH, J. A. The idea brokers. Think tanks and the rise of the new policy elite. New York: The Free
Press, 1991.
19
expressão mais evidente do processo, mas mesmo onde elas não vicejaram a proliferação de

tanques de pensamento burgueses compôs o esforço da classe dominante em conter a

participação proletária. O crescimento da importância destas associações no debate público

é o reflexo acadêmico deste movimento histórico.

A fim de aplainar o terreno para minhas análises ulteriores, desenvolvo neste capítulo

uma reflexão sobre o sentido sócio-histórico deste tipo de aparelho. Estruturam o presente

texto dois movimentos. Na primeira seção deste capítulo, interessa-me distinguir os limites

do objeto sob análise. À maneira da forma científica dominante, tentatei apreender o conceito

da coisa, demonstrando seu significado para a literatura. Surge desta investigação uma

imagem, um fantasma, que não é a coisa mesma e tampouco o produto da apreensão de seu

desenvolvimento, dada a visível carência do esforço radical nestes estudos. Trata-se de mera

aparência, que mesmo nos melhores casos não passa de estudo sobre determinada forma de

figuração deste ser – nunca sobre o ser enquanto tal.

Se essas pesquisas apresentam óbvias limitações, também oferecem potencialidades

derivadas de sua forma. Com efeito, a preocupação que resulta na captura da aparência dos

tanques de pensamento é útil para nós na medida em que expressa um momento do

desenvolvimento deste objeto. Momento esse que, inserido no estágio próprio da história,

informa-nos sobre suas funções no sóciometabolismo do capital.

Deste ponto de vista, os tanques de pensamento são entendidos como instrumentos

que suprem gaps do Estado. Tais entidades se distinguiriam pela capacidade de aportar

conteúdos embasados na dita racionalidade técnica e científica, entendida esta como ente

20
neutro porque meio de se aproximar de uma missão social tida como universal5. Tal maneira

de compreendê-los lhes consagra espaço de atuação, por meio do qual efetivamente entregam

o que prometem, inclusive por ser a manipulação dos intrumentos de gestão do capital e da

coisa pública cada vez mais dependente de um saber codificado, efetivamente técnico,

produto de um campo de conhecimento relativamente autonomizado que desenvolve código

particular, métodos e objetivos próprios 6 . Aqui a aparência mais imediata do ser ganha

consistência não apenas por descrever um movimento do real, mas também por se adjudicar

a uma época do pensamento burguês que identifica a capacidade de manipulação eficiente

do mundo como critério de verdade. Neste sentido, os tanques de pensamento aparecem no

pensamento dominante da maneira aqui apresentada porque a descrição é capaz de oferecer

respostas coerentes com a missão social da classe dominante.

Em um segundo momento, o percurso da obra me colocou a tarefa de apresentar os

avanços que o marxismo tem logrado no trato da questão. Desde Antônio Gramsci, tem-se

considerado o conjunto das organizações da sociedade civil em sua relação tanto com o

núcleo duro do que é costumeiramente conhecido como Estado quanto com as lutas de

5
Lê-se com muito proveito, a esse respeito, a obra de Lukács, sobretudo no que diz respeito à multiplicidade
de formas de sociabilidade ao longo da história. Parece ser um atributo das sociedades de classe a
coexistência de mais de uma noção de missão social – isto é, de concepções sobre o dever ser do mundo -,
e, por outro lado, uma particularidade das classes dominantes a tendência a considerar a sua missão social
como universal. LUKÁCS, Gyorgy. Para uma ontologia do ser social. São Paulo: Boitempo, 2018, 2v.
6
Nicos Poulantzas, olhando para um Estado capitalista dos anos 1970, já percebera esse encastelamento dos
instrumentos de gestão pública por meio do desenvolvimento autônomo do trabalho intelectual. A dinâmica
entre o que se conhece e o que se ignora é um traço distintivo do Estado capitalista, que, aliás, o legitima
e o torna funcional. Um exemplo revelador é a pressão progressiva por transparência na gestão da coisa
pública. Mira-se, dessa forma, um Estado sujeito à fiscalização da cidadania ativa e, por isso, idealmente
sem bolsões privados em seu interior. A mesma luta por transparência, entretanto, não se direciona e não
pode se direcionar em favor da devassa do próprio saber técnico e de seus produtos, porque a técnica em si
deve ser e é insondável, ao menos enquanto vigir a separação entre trabalhos manual e intelectual, eixo
estrutural do Estado em sua forma capitalista. Em ainda menos palavras: o mistério da fé que permite
economistas elaborarem “instrumentos econômicos” pelo bem de todos é precisamente o que faz do Estado
ser também a condesação do trabalho intelectual legítimo, pois sancionador do que se entende como saber
e, portanto, legitimador do poder de um grupo sobre outros. Ver: POULANTZAS, Nicos. O Estado, o
poder, o socialismo. Rio de Janeiro: Graal, 1978.
21
classes7. Os assim chamados tanques de pensamento, por conseguinte, aparecem, em leituras

inspiradas pelo pensamento do comunista sardo, como exemplos de aparelhos privados de

hegemonia (APH) na disputa pela direção moral e intelectual da sociedade; disputa esta

travada pelas classes e frações de classes fundamentais no capitalismo. Em que pese as

diferenças internas dos grupos, que dão origem a diferentes frações e, por conseguinte,

impelem-nas à auto-organização e à formação de seus próprios APH’s, infere-se que a

sociedade civil organizada enquanto tal deve ser explicada como desdobramento das

necessidades humanas de reprodução da vida, em sentido mais geral; e, no que diz respeito

aos donos dos meios de produção, das necessidades reprodutivas do capitalismo em particular.

Visão diferente, por suposto, daquela identificada entre os cientistas burgueses. Visão

superior, por sua fecunda politização da técnica evocada como lastro das políticas públicas –

aqui entendida, essa técnica, antes como consolidação, em um nível específico, de relações

sociais determinadas, das quais eventuais interesses estatais antagônicos em uma arena

internacional conflituosa podem no máximo ser derivados. Assim, da perspectiva desta

pesquisa, o marxismo logrou notável avanço no estudo deste objeto por contestar a

universalidade supostamente exarada pelos técnicos daquelas organizações. No entanto, uma

vez que os tanques de pensamento foram considerados como APH’s, o problema teórico do

objeto foi frequentemente dado como solucionado, e com isso frequentemente se perdeu a

oportunidade de identificar seu traço distintivo no interior desta categoria de aparelhos.

7
Em Gramsci, o Estado é compreendido integralmente, ou seja, como uma união orgânica entre as
sociedades política – o Estado restrito – e civil, o conjunto de aparelhos privados de hegemonia.
Diferentemente da tradição liberal, que afasta o Estado da sociedade, Gramsci os vincula, afirmando que
tal separação em duas instâncias é meramente analítica, haja vista que na prática ambas se apresentam
imbricadas, vinculadas. Debateremos mais detalhadamente sobre o ponto abaixo.
22
René Dreifuss se distingue neste debate8. Isso porque o autor uruguaio chama atenção

para a diferença de qualidade das várias organizações da sociedade civil. Assim, identifica,

dentre outras, as noções de córtex político, “órgão capaz de visualizar objetivos estratégicos

e táticos em cenários modificáveis”, e de estado maior, “um órgão capaz de operacionalizá-

los, modificando com sua ação as relações de forças” 9 . Se o primeiro é uma espécie de

“núcleo de vanguarda político-institucional”, o segundo é notadamente um instrumento de

ação. Mais do que uma descrição pormenorizada das contribuições de Dreifuss, interessa-me

mais pontuar um elemento metódico de seus estudos: tentar diferenciar, por função tática,

organizações com objetivo estratégico idêntico.

Claro, deixar de anunciar as especificidades de um dado tipo de APH não significa

necessariamente ignorá-las. Há trabalhos que contém em ato a reflexão sobre as

particularidades do aparelho que busca investigar. Aqui pretendo expor as vísceras do objeto

por entender que ali há importantes pistas para a compreensão de uma das formas de

dominação de classe em nosso tempo. Os tanques de pensamento são APHs, sem dúvida, e

seu sentido de classe é inegável, conforme demonstraram exaustivamente os estudos

históricos do cientista político uruguaio. Entendo, porém, ser necessário refletir sobre a

natureza dos tanques de pensamento como tipo específico de APH. A forma com que nele

8
Dreifuss aporta importante contribuição ao estudo da organização empresarial. Em seu mais famoso
trabalho, 1964: A conquista do Estado, o autor aponta como, sob a batuta do Instituto de Pesquisas e
Estudos Sociais (IPES), o golpe contra João Goulart foi dado. As reflexões do pesquisador, contudo, não
se direcionaram apenas aos momentos de ruptura. Também a “normalidade” e o “dia a dia da intervenção
‘fria’ e persistente no conflito de classes, na ação diária, constante, sistemática, nos campos ‘frios da
política”, atraem sua atenção, como fica evidente em seu A Internacional Capitalista. Na obra de título
provocante, aliás, Dreifuss traça um extenso mapa das entidades empresariais que funcionam como centro
de articulações de interesses, planejamento e ação prática das classes dominantes, de 1918 à década de
1980. Ver: DREIFUSS, René. A Internacional Capitalista. Estratégias e táticas do empresariado
transnacional 1918-1986. Rio de Janeiro: Espaço e tempo, 1987, p. 22.
9
DREIFUSS, René. Op cit, p. 26.
23
aparece o trabalho intelectual, tomado como polo dirigente que se opõe ao trabalho manual,

atualiza modos de direção que expressam necessidades do ser dirigido – aqui entendido como

o capital em sua totalidade, do qual a força de trabalho é parte constituinte, mas não a única

parte.

Compreender efetivamente os tanques de pensamento, por conseguinte, demanda o

estudo do seu desenvolvimento não apenas como aparelho, mas também como figura

historicamente determinada do trabalho intelectual. Por esta razão, o último movimento do

presente capítulo retornará às reflexões sobre o capital postas por Marx. Tento identificar na

gênese da manufatura o início de um salto qualitativo na evolução daquele modo de trabalho,

por meio do qual os seus traços distintivos, a saber, aquela prerrogativa de direção sobre o

trabalho manual, pautam-se preferencialmente por determinações do assim chamado reino

da economia. Se o trabalho intelectual conserva, no transito do feudalismo para o capitalismo,

aquele poder de direção, o faz transformando sua forma de organização e exercício. O trajeto

de mediação de uma etapa em outra se dá pela negação do que era específico do modo de

produção anterior, em paralelo à afirmação das propriedades típicas do modo de produção

atual. Uma expressão evidente deste movimento negativo é a suposta rejeição de toda

metafísica, tida como influência místico-religiosa, mas que, dadas suas limitações, consegue

tão somente a consagração de uma metafísica da empiria10.

Os tanques de pensamento assim compreendidos são entidades técnicas por

excelência. Talvez sejam mesmo a figuração da “forma pura” do trabalho intelectual no

10
No estudo sobre o neoempirismo, Lukács mostra como a decadência ideológica burguesa se aferrou à
empiria, delcaradamente tentando expulsar toda “metafísica” de suas determinações, a fim de se obter um
instrumento técnico de intelecção da natureza “livre de influências externas”. LUKÀCS, Gyorgy. Para
uma ontologia do ser social. São Paulo: Boitempo, 2018, v.1.
24
capitalismo. Sua caracterização se torna tanto mais importante porque, ao longo do século

XX, sua multiplicação o gabarita a ser considerado aparelho preferencial de organização

política das classes e frações de classes dominantes. Por isso, neste capítulo, após estabelece-

lo dentro do desenvolvimento do trabalho intelectual no capitalismo, proponho uma reflexão

sobre suas características internas, sobre o prestígio que o tecnicismo nele assume. Como a

entidade é também compreendida por mim como um APH, suas determinações interiores

revelam uma das formas ótimas de se atingir o circuito interno do Estado na

contemporaneidade.

Um dos fios narrativos que já estão presentes neste capítulo, muito embora só

floresçam nos seguintes, diz respeito à mais nova crise da democracia. A investigação da

construção histórica dos tanques de pensamento, creio, tem muito a dizer neste debate. As

contradições próprias da democracia em nosso tempo, ao amadurecerem, põem as condições

que inviabilizam princípios que lhe são constitutivos como forma de dominação. Refiro-me,

por um lado, à superior capacidade organizativa das classes dominantes, que, segundo

entende Dreifuss, por meio de entidades como o objeto em discussão, tendem a traduzir “suas

capacidades estruturais (o predomínio econômico na esfera da produção, sua formação

intelectual e seu acervo cultural, suas ligações pessoais e vínculos familiares) em capacidades

político-organizacionais”11. Se os tanques de pensamento, como veremos, têm como uma de

suas funções influenciar a produção de políticas públicas, o livre associativismo, bandeira de

um regime politico inspirado por liberdades negativas (no caso, pela proibição teórica da

restrição das associações), serve, na prática, para garrotear o debate democrático. Isso porque

aquela diferencial capacidade de organização implica capacidade correlativamente desigual

11
DREIFUSS, René. Op cit, p. 21.
25
de influência sobre os aparelhos públicos – o que exige esforço sobre-humano de articulação

por parte dos subalternos, a fim de ao menos equilibrar as forças. O Estado que reprime o

associativismo popular aprofunda a tendência.

Por vezes entendida como melhor expressão da vontade popular, a democracia, em

sua fase atual, ao permitir a interconexão entre classes e frações de classe e o poder politico

por meio entidades como os tanques de pensamento, aceita que sejam assim contornados os

mecanismos tradicionais de representação, como o Congresso, forjando canais onde os

trabalhadores não são representados nem mesmo pelos modestos padrões do atual estágio de

desenvolvimento deste regime politico. Dito de outra forma, comprova-se assim que a fase

atual da democracia, mesmo quando se efetiva de acordo com seus marcos fundamentais,

revela-se antidemocrática, o que, contraditoriamente, impede a realização do projeto social

que inicialmente lhe deu fôlego. Sua crise, que atualmente atravessamos, revela-se menos

um desvio ao qual devemos atribuir causas acidentais e mais uma tendência de seu

desenvolvimento histórico e de suas características imanentes.

Por outro lado, a preparação de um Estado interconectado por organizações de classe

põe as condições e a tarefa da verdadeira democratização. Para tanto, é preciso enfrentar estas

organizações, negando sua técnica pela afirmação de outra política. Política que represente

os interesses da humanidade reunida, o que só é possível pela reunião da humanidade. Ato

prático que, combatendo as relações sociais de produção capitalistas, supere a divisão entre

trabalhos intelectual e manual, reunindo-os como trabalho humano. É acidental que os

movimentos de extrema-direita empunhem hoje a bandeira desta batalha, aparente assim na

forma tosca do anti-intelectualismo. Trata-se de resultado provisório da disputa política. O

movimento serve, porém, para reforçar a urgência daquela luta. Só sua vitória pode

26
reconciliar Estado e humanidade, permitindo que ele em seu leito de morte enfim suspire:

nada do que é humano me é estranho.

Parte I: estado da arte

A primeira parte deste capítulo faz um apanhado geral das principais linhas

interpretativas sobre os tanques de pensamento. Tive interesse em apresentar as análises mais

teóricas, por assim dizer. Trabalhos que, de alguma maneira, contém reflexão sobre o ser

geral deste tipo de entidade. A ordem de exposição abaixo respeita os interesses

argumentativos. Parto do que entendo como interpretações mais superficiais – não entender

como estudos simplórios, mas reflexões que priorizam a aparência do fenômeno, ainda que

não se deem conta disso – e chego a interpretações que atingem o que entendo ser o núcleo

do problema. Nestas, contudo, a visão sistemática sobre o objeto frequentemente se detém,

no que toca às determinações estruturais, no momento em que se estabelece tais aparelhos

como entidades de classe, sujeitas, por conseguinte, às e das lutas de classes.

1.1 Tanques de pensamento: entidades técnicas, disputas entre Estados e


mecanismo democrático de superação de conflitos

As ciências políticas burguesas buscam desde pelo menos 1960 definir precisamente o

que seja um tanque de pensamento. Como mostra Juliana Hauck, muito embora as primeiras

organizações identificadas como pertencentes ao tipo datem do início do século XX, como a

Russell Sage Foundation (1907), é daquela década os primeiros esforços sistemáticos para

27
pensar entidades dedicadas à formulação de políticas públicas em áreas como as relações

internacionais e a política de Estado. Em 1970 surgiria o conceito, em inglês: think tank. Com

ele, uma expansão de sua área de atuação. Desde então, as entidades do tipo discutiriam e

tentariam pautar o debate sobre questões políticas, econômicas e sociais 12.

O desenvolvimento histórico desta forma associativa se combina com novos modos de

gestão política, postos pelas condições da chamada Guerra Fria 13 . A década de 1960,

especialmente no hemisfério ocidental, foi vivida sob impacto do advento da Revolução

Cubana no alvorecer de 1959; da efetivação da independência de colônias francesas na África

– algumas delas conquistadas cruentamente, como a da Argélia em 1962; e do fechamento

de regimes políticos em países como o Brasil e Argentina, cujas especifidades de suas

ditaduras ensejaram estudos sobre as relações entre modernização capitalista e

autoritarismo 14. A década de turbulência, que em 1968 ganha ares de revolução mundial,

torna sensíveis, assim, os debates em torno do Estado e da democracia. O início das reflexões

sistemáticas sobre os tanques de pensamento como novos instrumentos de organização e

exercício do poder político, assim, deve ser interpretado à luz deste pano de fundo.

12
Juliana Hauck fez valiosa revisão bibliográfica das ciências políticas dominantes sobre os tanques de
pensamento. Ela é quem melhor apresenta o debate deste este ponto de vista, inclusive indicando os marcos
e suas compreensões do desenvolvimento dos tanques de pensamento reproduzidos neste parágrafo. Ver:
HAUCK, Juliana. Think tanks. Quem são, como atuam e qual seu panorama de ação no Brasil. Dissertação
de mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 2015. P.
13
13
FONTES, Virgínia. Brasil e o capital-imperialismo. Teoria e história. Rio de Janeiro: UFRJ, 2010.
14
Uma das discussões ainda influentes que surgem nesta conjuntura é o debate sobre os Estados burocráticos-
autoritários. Ver: O´DONNELL, Guillermo. Análise do Autoritário Burocrático. São Paulo: Paz e Terra,
1990; O´DONNELL, Guillermo. Autoritarismo y Modernización. Buenos Aires: Prometeo, 2011;
O´DONNELL, Guillermo. Reflexiones sobre los Patrones de Cambio en el Estado Burocrático-Autoritario.
In: Ecos Mundiales del Golpe de Estado: Escritos sobre el 11 de Septiembre de 1973. Santiago de Chile:
Universidad Diego Portales, 2013.
28
Talvez um dos primeiros a tentar uma análise sistemática dos tanques de pensamento

tenha sido Paul Dickson15. Em trabalho hoje clássico, o autor considera essas entidades como

“fábricas” ou “laboratórios” de ideias. Definição com contornos alargados, sem dúvida, cujo

principal problema é esta imprecisão também vista em outros textos seminais 16. Dificuldades

que exprimem as etapas iniciais do desenvolvimento deste objeto. É novamente Juliana

Hauck quem destaca como a literatura mostra como dois terços dos tanques de pensamento

existentes no início dos anos 2000 haviam sido estabelecidos depois dos anos 1970 – com o

aparecimento de mais da metade deles datando dos anos 1980 17.

Há, entretanto, algumas ideias-chave que já aparecem nestes momentos iniciais da

reflexão. Trabalhos mais recentes identificam que, desde os anos 1970, o objeto se tornou

"ator preferencial de elaboração de políticas públicas”, tendo destacado seu papel no processo

de mudança e continuidade do agir de aparelhos públicos18. Nestas análises aqui coligidas,

os tanques de pensamento aparecem como entidades que atuam no circuito de elaboração das

políticas públicas provendo um ponto de vista técnico fundamental para a qualidade da

gestão pública. As entidades, assim, seriam espécies de dispositivos que concentram

intelectuais divididos por áreas específicas, cuja atuação busca suprir o Estado de

racionalidade técnica necessária para a administração da coisa pública em uma época de

15
DICKSON, Paul. Think Tanks. Centrais de Ideias. São Paulo: Melhoramentos, 1975.
16
São os casos de trabalhos como o de James McGann, que em uma de suas obras, argumenta que reconhece
um think tank ao ver um – imprecisão que denota a falta de contornos claros de tal objeto; e os de Diane
Stone, que alega que a indefinição conceitual que cerca os think tanks dificulta sua distinção em relação a
outras organizações ditas de consultoria técnica. Ver: MCGANN, J.. (1994) The Competition for Dollars,
Scholars and Influence in the Public Policy Research Industry. University Press of America, 1994; STONE,
Capturing the Political Imagination. Think tanks and the Policy Process. London: Frank Cass.
17
HAUCK, Juliana. Op. Cit. P. 13.
18
PAUTZ, Hartwig. Revisiting the think tank phenomenon. Public Policy and Administration, Sage
Publications, 2011.
29
crescente especialização dos saberes. A síntese da proposta, assim, é entender as entidades

como meios eficientes de suprir os “gaps” do Estado no mundo contemporâneo.

Outra área que se interessou em particular pelo estudo dessas organizações foi o das

relações internacionais. Assim, aos acima referidos, juntaram-se outros trabalhos, com o

objetivo mais específico de investigar a natureza da produção dessas ideias e sua circulação

em âmbito global, sobretudo no que toca à interação entre diferentes Estados-nações. Então,

uma cisão básica começou a se desenvolver no interior desse campo de pesquisas recém-

instaurado, possível reflexo dos estudos acima comentados: de um lado, aqueles que viam os

tanques de pensamento como instrumentos técnicos de “aprimoramento institucional” e da

“governança global”; de outro, os que enxergavam no funcionamento das entidades uma

maior carga “político-ideológica”, como agente de defesa de pautas específicas, normalmente

identificadas a interesses dos Estados-nacionais que hospedavam suas matrizes. Aqueles

interpretariam os tanques de pensamento à maneira dos “idealistas”, enquanto os segundos

enxergariam de modo “realista” a ação das entidades. Os idealistas, portanto, concluíram seus

estudos avaliando os tanques de pensamento como possíveis agentes da construção do

cosmopolitismo almejado, isto é, pela expectativa do advento de uma sociedade civil mundial

harmônica, a ser alcançada pela mediação no âmbito internacional levada a cabo por tais

organizações. Já as previsões dos realistas julgavam a ação dos organismos multilaterais

como extensão da política de alguns Estados. Isso, na prática, significava compreender

aquelas entidades como aparelhos de Estado, ainda que fomentados e dirigidos pela

iniciativa privada19 - uma perspectiva que consideramos relativamente mais interessante.

19
Sobre as correntes, o debate nas Relações Internacionais é gigantesco. Para uma primeira aproximação, ver:
NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar. Teoria das relações internacionais: correntes e debates. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2005; PECEQUILO, Cristina Soreanu. Introdução às relações internacionais. Temas,
30
Estabelecer os tanques de pensamento como instrumentos atuantes na disputa entre

Estados-nações parece ter chamado atenção ao seu potencial político. Mais recentemente,

pesquisas das ciências políticas sobre os tanques de pensamento já destacam sua capacidade

de representar demandas sociais específicos. Matt Grossmann foi um dos que se sustentaram

serem os tanques de pensamento organizações que exprimem interesses setoriais. Seu

impacto como ferramenta de lobby seria visível em 2012, quando do lançamento de sua

pesquisa. O autor mostra como então os tanques d pensamento exerciam grande atração sobre

meios de comunicação de massa e congressistas estadunidenses 20 . Os apontamentos de

Grossmann, assim, embora não neguem eventuais aportes técnicos realizados pelos tanques

de pensamento na sociedade, termina por ser menos reificador, na medida em que entende o

surgimento destes aparelhos na esteira da organização conflitiva de distintos setores da

sociedade – ainda que estes, em seu trabalho, não sejam especificados.

Apesar das limitações, a reflexão de Grossmann aqui representa um importante

avanço das ciências políticas. Na década conhecida pelo boom do associativismo em tanques

de pensamento, os anos 1980, pesquisas importantes como a de Kent Weaver defenderam o

exato oposto. De acordo com este autor, aquelas entidades seriam organizações “não-

governamentais”, “não-lucrativas” e com “substancial autonomia” de governos e “interesses

setoriais”, como empresas e partidos. Seu papel fundamental, assim, seria o desenvolvimento

técnico de saberes adequados ao que considera como progresso social 21 . Não há aqui

nenhuma reflexão sobre o que seria o tal progresso, bem como sobre a natureza social desses

atores e visões. Petrópolis: Vozes, 2004; MORGENTHAU, H. Política entre las naciones. La lucha por el
poder y por La paz. Buenos Aires: Grupo Editor Latinoamericano, 1985
20
GROSSMANN, Matt. The not-so-special interests. Interest groups, public representation and American
governance. Stanford: University Press, 2012.
21
WEAVER, Kent. The changing World of think-tanks. Political Science and Politics. N. 22, v. 3. 1989, p.
563-578.
31
desenvolvimentos técnicos. A forma reificada da reflexão unilateraliza tais noções que, como

veremos, ensejam debates acirrados em outros campos.

Embora sem um estudo sistemático dos TT’s em particular, Jürgen Habermas é outro

autor cujas contribuições nos interessam de perto. Isso porque seu pensamento é reivindicado

para fundamentar a ação da entidade analisada mais profundamente nesta tese, a saber, o

Instituto Fernando Henrique Cardoso. Na produção dessas organizações, vincula-se, a partir

da obra habermasiana, a formação dos tanques de pensamento ao advento de uma esfera

pública democrática, parte constitutiva do que Habermas chama de democracias

deliberativas modernas 22. Para o autor, a formação daquela modalidade de “esfera pública”

marcaria o ponto mais alto do desenvolvimento de um intercâmbio cultural cujo advento data

da crítica ao Antigo Regime.

Este processo teria se acentuado com o aparecimento de ambientes destinados

especificamente ao debate livre de ideias, como os cafés, clubes literários e a imprensa dos

séculos XVII e XVIII. De acordo com o pensador alemão, tais espaços serviram de veículo

para expressão da prática burguesa de sociabilidade, seja pela crítica ao status quo reinante,

seja pela execução de formas de interação entre iguais, que superavam concretamente as

diferenças de status que vertebravam a sociedade feudal. A esfera pública seminal que se

desenvolvia, por conseguinte, pela associação abstrata entre estes locais historicamente

determinados, formou um ambiente de interação e interseção entre a “sociedade civil” e o

22
HABERMAS, Jurgen. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da
sociedade burguesa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984. HABERMAS, Jurgen. Direito e democracia.
Entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Templo Brasileiro, 1997, 2v.
32
“Estado”, o qual, originalmente burguês, desenvolveu-se incorporando outros setores sociais,

até assumir estatuto democrático porque de ampla participação23.

A esfera pública habermasiana, pois, representaria um elo de vinculação entre

sociedade civil, arena das ações privadas tornadas de interesse público com o advento do

modo de produção capitalista, e o Estado, arena de expressão da ação pública por excelência

– sendo o público inicialmente identificado principalmente à economia nacional e, mais

recentemente, aos interesses de uma sociedade liberal, especificamente os concernentes aos

direitos (de tipo liberal) e democracia 24


. Nessa forma de compreensão, os tanques de

pensamento aparecem como associações autônomas da sociedade civil, responsáveis por

projetar naquela arena de debates os interesses privados, cuja substância residiria no grupo

que originaria as organizações particulares. É da confluência desses discursos plurais sobre

o mundo da vida que a democracia extrairia sua validade e legitimidade, sendo esta, portanto,

uma forma de governo eminentemente racional, dado que lastreada no uso público da razão

coletiva, sintetizada por aquela esfera pública democrática existente na interseção entre

público-privado.

Entidades como as que aqui analisamos, portanto, teriam como função tanto fazer

ouvir reivindicações privadas quanto fazer sínteses de visões de mundo contraditórias,

23
O movimento das ideias de Habermas aqui sintetizado eclipsa o desenvolvimento contraditório de seu
pensamento. Conviria, portanto, ressaltar que inicialmente seus apontamentos tenderam a idealizar a esfera
pública burguesa como um espaço de, quando, na prática, aqueles locais incorporavam desigualmente os
sujeitos históricos que dele participavam – é o caso das diferenças de classe e gênero, apontadas por críticos
como Geoffrey Eley, lembradas em prefácio à obra Mudança estrutural da esfera pública, assinado em
1990 (HABERMAS, 2001, p. 49-80). Também a suposição de que somente o espaço burguês constituiria
uma esfera pública, ou mesmo que teria constituído o ponto original de desenvolvimento desse tipo de
espaço, foi alvo de críticas, uma vez que lógicas societais análogas foram identificadas por historiadores
como E. P. Thompson, cujos estudos indicaram a existência do que mesmo Habermas, no mencionado
prefácio, considerou que se poderia chamar de esfera pública plebeia. Ver: THOMPSON, E. P. A Formação
da classe operária inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. ; _______. The Moral economy of the
English crowd in the eighteenth century. Past & Present , 50, p. 76-131, February, 1971.
24
HABERMAS, Jurgen. Op. Cit. 1997
33
lastreadas na inevitável parcialidade dos conflitantes pontos de vista sobre o mundo da vida.

É da pluralidade de discursos incorporados em associações como os tanques de pensamento

que o regime democrático liberal extrairia sua legitimidade, derivada da possibilidade de

solução de conflitos. Com o avanço da esfera pública democrática, dada sua suposta

capacidade imanente de dirimir dissensos por meio da ação comunicativa, as contradições e

os antagonismos não seriam mais do que pontos transitórios na longa marcha da sociedade

do conhecimento.

Tal interpretação habermasiana para a esfera civil e a democracia parecem

corresponder à auto-imagem de intelectuais, entendidos em seu sentido restrito e tradicional,

sobre sua própria atividade. Se considerarmos tal segmento social o que faz do debate de

ideias seu modo de vida, parece haver pelo menos afinidade eletiva entre a interpretação de

Habermas – que hipertrofia a capacidade de solução de problemas por meio do uso público

da razão – e a justificação da atividade desses mesmos intelectuais que, formando seus

tanques de pensamento, buscam extrair de Habermas legitimidade teórica, como é o caso do

IFHC. Se avançarmos nesta reflexão, contudo, levantaremos como hipótese que as diversas

interpretações aqui reunidas também contribuem com seu quinhão para a auto-imagem de

tais entidades. Ora, não é raro na descrição das atividades e da “missão” desses tanques de

pensamento ser destacada suposta contribuição com eficiência na gestão da coisa pública

e/ou dos temas relacionados à sua agenda de atuação. A ideia basilar, aqui, é a de que se

tratam de entidades de experts devotados a aprimorar a ação política dos Estados, por ação

crítico-complementar, isto é, por meio de uma relação que mobiliza oposição e construção,

pautados, esses dois elementos, por racionalidade técnica – e essa ideia está presente mesmo

entre os realistas das relações internacionais que enxergam a ação política para além da

34
tecnicidade reivindicada por tais aparelhos. As interpretações hegemônicas, pois, parecem

derivar de uma mesma matriz teórica sobre o ser social e, sobretudo, sobre a relação entre a

atual forma societária e seu Estado.

Desta forma, pressupõe-se uma missão social única, dada, mas criptografada, daí a

necessidade do saber técnico, capaz de decodificá-la e apresentá-la como verdade para toda

a sociedade. Assim, caberia a esses técnicos descobrir tanto aquela finalidade a ser buscada

como o melhor caminho para atingi-la. Os tanques de pensamento, por conseguinte, seriam

espaços privilegiados de ação desses estrategistas que, detentores da técnica específica para

decifragem daqueles enigmas sociais, reunir-se-iam nas entidades para guiar no rumo àquele

objetivo. Essa visão, eivada por claro elitismo, tem como suposta a homogeneidade do ser

social, do que se depreende que, no limite, todos os indivíduos e grupos em sociedade – para

não falar em classe… - teriam metas similares e compatíveis entre si, a ponto de, pela agência

daqueles experts, a missão social ser tanto mais facilmente exequível. Na prática, dessa forma,

apaga-se a multiplicidade de formas de vida e devires possíveis, submergindo-os todos em

um mesmo conteúdo pasteurizado, desvelado pelos detentores do conhecimento legítimo e

das técnicas adequadas. Poder-se-ia falar da concepção liberal de Estado e sociedade que

subjaz essas formas de ação social, supondo, por fim, os aparelhos estatais como partes de

um ente neutro e racionalizador, importante ponto de equilíbrio de uma sociedade, ao mesmo

tempo, prenhe de dinamismo e conflitos, vazada por potencialidades de desenvolvimento e

do caos. Destacar o liberalismo como matriz teórica desta forma de ser no mundo, contudo,

não deve esmaecer seu caráter autoritário, o que não chega a representar um paradoxo, ao

contrário do que se pode imaginar. Com efeito, se a melhor forma de gerir a coisa pública é

descoberta pela ação científica de intelectuais devotados ao estudo das técnologias de gestão

35
estatal, a massa dos expropriados de saberes legítimos deve quedar fora da definição das

linhas matriciais do que se considera desenvolvimento adequado e das melhores maneiras de

se atingi-lo. Sua atuação democrática se restringe a eleição de representantes que, todavia,

devem se consultar com os representantes encastelados naquelas entidades, não apenas sobre

como fazer, mas principalmente sobre o que fazer. O enigma social, por fim, é revelado por

um lance de conhecimento. O autoritarismo do processo fica assim evidenciado, sem que

seja necessário envidar maiores esforços para demonstrá-lo.

1.2 Os tanques de pensamento e a matriz gramsciana: aparelhos privados


de hegemonia nas lutas de classes

Na concepção dominante, assentada no pensamento liberal, como vimos, os tanques

de pensamento têm seu lado técnico hipertrofiado e tornado praticamente autônomo em

relação a interesses “setoriais” da sociedade. As perspectivas acima, portanto, consideraram

a ação das entidades como expressão do agir técnico em prol da eficiência do Estado, ou, no

limite, como veículo da disputa entre distintos Estados-nacionais na arena global. Somente

neste último caso são enfatizadas as determinações políticas de sua atuação.

Esta discussão tem sentido radicalmente distinto entre os marxistas. A tradição de

pensamento tem insistido na função eminentemente política dos tanques de pensamento.

Assim, a fim de compreender as condições de possibilidade que pontuam seu advento, remete

ao modo de produção capitalista em sua forma histórica e plural de entificação. É, afinal, em

relação ao desenvolvimento das relações capitalistas que se pode compreender a formação

das classes sociais fundamentais daquele modo de produção, bem como de seus modos de

organização e ação política, dentre eles os tanques de pensamento.


36
Partindo destas observações elementares, os marxistas recuperaram a obra de Antônio

Gramsci para entender melhor a função sociometabólica dessas organizações na sociedade

civil. As entidades aparecem na literatura como aparelhos privados de hegemonia (APH’s),

sendo, assim, enfatizada a sua capacidade de formação de consensos sobre as diversas

dimensões do real. Como mostra Virgínia Fontes, os APH’s são entidades de classe; e, além

de tanques de pensamento, podem ser sindicatos patronais ou de trabalhadores, Igrejas,

clubes recreativos, entre outros25. Em conjunto, formam parte da infra-estrutura da “guerra

de posições” na sociedade civil – na conceituação gramsciana, trata-se de momento conflitivo

dinamizado por disputas pela direção moral e intelectual da sociedade como um todo,

travadas entre classes sociais fundamentais distintas ou frações no interior de uma mesma

classe. O papel dos APH’s neste universe de lutas é o que lhe confere importância teórica na

obra do comunista sardo26. Assim, tais entidades pode contibuir com a generalização de

modos de vida adequados à reprodução do modo de produção que lastreia a posição

dominante da burguesia no capitalismo, mas também servir de plataforma para a ação contra-

hegemônica27.

O pensamento de Gramsci, por sua relevância e, sobretudo, pelas implicações

contidas germinalmente nas observações gerais acima apresentadas, foi fronteira de intenso

debate entre marxistas e não-marxistas. Sofreu consequentes reinterpretações e reelaborações

25 FONTES, Virgínia. Gramsci, Estado e sociedade civil. Anjos, demônios ou lutas de classes? Revista
Outubro, edição 31, n. 1/2019.
26 GRAMSCI, Antônio. Cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, 3v.
27
Um dos textos em que Gramsci efetivamente põe em prática suas concepções teóricas é o Americanismo e
Fordismo. Nesta reflexão, o autor se debruça sobre a influência do Estado – sociedades política e civil – na
“adaptação psicofísica à nova estrutura industrial” (GRAMSCI, 2001d, p.248). Ver: GRAMSCI, Antônio.
Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, v. 4.
37
teóricas, de sorte que seu uso demanda cuidado e atenção no mapeamento das diferenças

significativas entre os vários intérpretes e comentadores da obra.

Ao iniciar os estudos sobre a obra de Antônio Gramsci por certos intérpretes, uma

qualificação salta à vista. Em diversos momentos o marxista sardo aparece como um “teórico

das superestruturas”. Isso se explica principalmente pela influência da interpretação de outro

italiano, Noberto Bobbio. De acordo com ele, Gramsci teria identificado a sociedade civil –

“e não a estrutura econômica” – como o Teatro da História28. Assim sendo, os conflitos

sociais seriam travados em âmbito superestrutural – ainda de acordo com o autor, ao contrário

do defendido por Marx.

A interpretação de Bobbio, no entanto, contorna os alicerces metodológicos da

proposta gramsciana. Com o exposto, o autor ignora que Gramsci quis acrescentar à obra de

Marx um estudo sobre as formas políticas, especialmente as verificadas no Ocidente. Os

Cadernos do Cárcere não são, pois, uma negação das análises marxianas; antes representam

esforços que buscam se somar aos estudos do autor de O Capital. Não estamos, portanto,

diante de uma reflexão que desvincule política, cultura e economia, à maneira liberal. Por

outro lado, a proposta teórica de Gramsci tem um vigoroso sentido de totalidade, ampliando

o âmbito de atuação das lutas de classes analisadas por Karl Marx, como bem salientou Guido

Liguori29.

Entretanto, a versão de Antônio Gramsci difundida por Bobbio se tornou

predominante na academia30 . Tornam-se, assim, comuns leituras ditas dos Cadernos do

28
BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade. Para uma teoria geral da política. Sâo Paulo: Paz e Terra,
2009.
29
LIGUORI, Guido. Roteiros para Gramsci. Rio de Janeiro, UFRJ, 2007, p. 41
30
BIANCHI, Álvaro. O laboratório de Gramsci. História, filosofia e política. São Paulo: Alameda, 2008,
p.173.
38
Cárcere que rompem, em diversos sentidos, com o horizonte originalmente presente na obra.

Além de fragmentar a realidade em “esferas” quase autônomas, apartam ainda sociedade civil

e sociedade política – apenas metodologicamente separadas nas notas carcerárias do marxista,

mas que em Bobbio adquirem desmembramento “orgânico”31.

Como não poderia deixar de ser, essa leitura tem consequências teóricas e políticas

diferentes das notadamente defendidas pelo autor. Teoricamente, obscurece a dialética

presente em seus escritos carcerários. Politicamente, pode ocultar as relações de classe

também na sociedade civil – afinal de contas, as relações de produção estariam relativamente

ausentes da superestrutura, já que ele a concebe como instância isolada da realidade

econômica. Em versões mais extremas dessa interpretação, vemos mesmo o solapamento do

conceito de classe social. Abre-se espaço, assim, para a impostura de uma sociedade civil

como espaço da liberdade, da autonomia, da pluralidade e do consenso – ocultando as cisões

e os antagonismos que a caracterizam. No reverse do argumento, o Estado surge como locus

exclusivo da repressão, do controle, da coerção, o que embaça não apenas sua ação na

formação de consenso, como também a violência presente na sociedade civil.

Apesar das debilidades assinaladas, ou precisamente por conta delas, as ideias de

Bobbio tiveram grande acolhida, como aqui já foi ressaltado. Um indicativo de sua difusão

se dá no encontro decenal da Fundação Instituto Gramsci dos anos 1990, quando é debatida

a atual produção dos comentadores do autor. De comum entre eles, o interesse em modernizar

os estudos gramscianos, instrumentalizando-os para as Relações Internacionais e a Economia

31
BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade. Para uma teoria geral da política. Sâo Paulo: Paz e
Terra, 2009.
39
Política Internacional32. Os principais nomes do evento seriam posteriormente rotulados de

neogramscianos, e, de maneira geral, embora fragmentados internamente, adeptos da versão

de Bobbio para a separação entre “Estado” e “sociedade civil”.

Mencionar esse ponto é fundamental por entendermos que a epistemologia que

lastreia a interpretação geral dos Cadernos do Cárcere logicamente influencia o uso

conceitual que se fará dele. Assim sendo, convém ressalvar que, neste trabalho, priorizei a

tradição de interpretação marxista da obra de Antônio Gramsci – refutando a tradição de corte

liberal popularizada por Bobbio. Ressalva-se, pois, que nesta se entende Estado de modo

integral, isto é, como um todo orgânico que somente para fins analíticos pode ser dividido

em sociedades política – ou Estado restito - e civil33. Ressaltar-se-á ainda que as separações

entre esferas econômica, política e cultura são ferramentas metodológicas do estudioso, uma

vez que na prática tais instâncias se apresentam estreitamente imbricadas. Seguimos, enfim,

autores como Álvaro Bianchi e Sônia Regina Mendonça, que fundamentam reflexões em

uma perspectiva totalizante da obra gramsciana, articulando, assim, Estado integral e lutas

de classes34.

Assumir um viés marxista de interpretação de Gramsci, todavia, não isenta esta

pesquisa de debates. Ora, mesmo no interior do marxismo há dissensos epistêmicos sobre a

obra gramsciana. O debate entendido aqui como mais relevante é o que opõe a análise dos

32
Estes foram posteriormente chamados neogramscianos por tentarem, grosso modo, “renovar as
interpretações da obra de Antônio Gramsci” com base nas questões internacionais então postas. (VACA
apud LIGUORI, 2007, p. 51). São representantes máximos da corrente: GILL, Stephen. Gramsci, States
and international relations. An essay on method. MIllenium, v.12, n.2, 1981; COX, Robert. Social
forces, states and world orders. Beyond the international relations theory. Millenium, v.12, n.2, 1981
33
GRAMSCI, A. Cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, v.2 p.35-36.
34
MENDONÇA, Sônia Regina. Sociedade civil em Gramsci. Venturas e desventuras de um conceito. In:
DE PAULA, Dilma Andrade. MENDONÇA, Sônia Regina. Sociedade civil. Ensaios críticos. Jundiaí:
Paco editorial, 2013. p. 16
40
Cadernos do Cárcere pelas antinomias, como Perry Anderson (2002), e pela unidade-

distinção entre alguns conceitos, tal qual a proposta de autores como Álvaro Bianchi e o já

referido Guido Liguori35.

Em um dos primeiros esforços de sistematização da obra de Gramsci, Anderson

aposta em pares antitéticos para explicar a reflexão do cárcere. Assim sendo, oferece uma

leitura esquemática, expondo os conceitos como polos excludentes. Nesse sentido, para

Anderson, civilização e violência, por exemplo, são antagônicas e, no limite, excluem-se36.

Acreditamos que tal interpretação é muito concessiva com a civilização burguesa, imposta

violentamente, inclusive no âmbito simbólico37.

Hegemonia e coerção aparecem também como categorias de mútua alteridade.

a predominância da sociedade civil sobre o Estado no Ocidente pode ser


colocada como equivalente à predominância da “hegemonia” sobre a coerção,
como a modalidade fundamental do poder burguês nos países capitalistas
avançados38.

O autor, assim, realiza uma distinção que é, na letra gramsciana, meramente

metológica 39 . Carlos Nelson Coutinho comunga, em parte, desse dualismo. Principal

introdutor da obra de Antônio Gramsci no Brasil, Coutinho é autor de diversas reflexões

sobre o pensamento do marxista sardo, sendo pioneiro nesta seara. Em obra sistemática sobre

o pensamento politico gramsciano, sem maiores concessões ao pensamento liberal, o autor

35
Tal é a proposta de leitura de Álvaro Bianchi, que, da forma como entendemos, enfatiza a dialética na
leitura dos Cadernos do Cárcere.
36
ANDERSON, Perry. As antinomias de Gramsci. In:__. Afinidades seletivas. São Paulo: Boitempo, 2002,
p. 34
37
O conceito de violência simbólica é de Pierre Bourdieu, mas interessante reflexão de Michel Burawoy
aproximou sua construção com as ideias de hegemonia presentes em Gramsci. Não sem razão, o autor
ressalta que o par dialético necessário da hegemonia é o ataque ao desviante, o qual se objetiva suprimir.
Ver: BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand, 1999; BURAWOY, Michel.
Marxismo encontra Bourdieu. Campinas: Unicamp, 2010.
38
ANDERSON, Perry. Op cit. p. 38.
39
GRAMSCI, A. Cádernos do Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, v2, p.33-3
41
oferece uma interpretação que atribui à sociedade política, o Estado estrito, o o espaço

preferencial da coerção, enquanto a sociedade civil se torna o âmbito da liberdade, espaço

privilegiado da ação dos subalternos40. Apesar de coberto de méritos, pode-se com Sônia

Mendonça, indicar alguns problemas nesta leitura; o principal sendo a suposição de que uma

maior ocidentalização, isto é, a complexificação da sociedade civil, gera necessariamente

avanço das lutas populares 41 . Como mostra bem Liguori ao discordar de Coutinho nesse

aspecto, a sociedade civil é uma arena de lutas de classes, sendo, portanto, atravessada por

diferentes representações classistas, que se chocam internamente e externamente. Não há

nenhuma garantia, portanto, do crescimento progressivo da participação dos subalternos em

seu âmbito, e somente uma análise histórica da correlação de forças pode indicar o peso

circunstancialmente maior deste ou daquele grupo social42.

Álvaro Bianchi enfatiza o princípio dialético de unidade-distinção presente nos

Cadernos do Cárcere a fim de rejeitar qualquer dualismo na compreensão dos escritos

gramscianos43 , descartando a redução do marxista sardo à conceituação de “teórico das

superestruturas”. Isso porque, da forma como os Cadernos são entendidos em sua análise,

“também na análise das superestruturas Gramsci destacava o nexo que elas mantinham com

as estruturas”44. Bianchi recuperava, assim, habilmente as diversas superposições presentes

na obra de Gramsci, inclusive entre sociedade civil e política – demonstrando que aquelas

instâncias, só separadas pela operação mental do observador 45.

40
COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci. Um estudo sobre seu pensamento político. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2014, 119-144.
41
MENDONÇA, Sônia Regina, Op cit., p. 20.
42
LIGUORI, Guido. Op cit, p. 54
43
BIANCHI, Álvaro. Op Cit.
44
BIANCHI, Álvaro. Op cit, p. 133
45
BIANCHI, Álvaro. Op cit, p. 184
42
Insistir na unidade-distinção é fundamental para operar com o arcabouço teórico

gramsciano da maneira como aqui se pretende. É com base nesse princípio que se pode

aceitar a proposta metodológica de Sônia Regina Mendonça, que articula as sociedades civil

e política pela capacidade de a primeira formar disposições e visões de mundo que, uma vez

tendo sucesso nas lutas de classes que envolvem especificamente os aparelhos privados de

hegemonia, ocupam a segunda e se universalizem também a partir daí. Nessa perspectiva, a

eficácia de um aparelho privado de hegemonia seria medida, portanto, pela sua capacidade

de engastar quadros políticos na ossatura estatal, implementando desde esse espaço a agenda

política entendida como mais adequada pela sua formação no âmbito daqueles aparelhos. A

grande vantagem desse método é ser radicalmente histórico, ao se debruçar sobre

personagens, na letra da autora, “de carne, osso e projetos específicos”46.

Isso leva a refletir que a sociedade civil é, na verdade, um duplo espaço da


luta de classes – intra e entre classes sociais, através das organizações nas quais se
moldam as vontades coletivas e através das formas de dominação que, partindo
delas, irradiam formas de convencimento, consenso. (...) Logo, qualquer
modificação na correlação de forças vigente na sociedade civil, dentro ou entre
aparelhos privados de hegemonia distintos, tem, necessariamente, repercussões
junto à sociedade política e aos organismos estatais, em particular. Afinal, os
agentes sociais engajados nas agencias da sociedade civil e da sociedade política
não representam classes em abstrato inscritas em um estado etéreo. Este vasto e
complexo tecido de relações se constrói e reconstrói no cotidiano de suas práticas
políticas e conta com rostos, projetos, embates e história, enfim.(...) Isso significa
que, nesta relação ampliada entre Estado restrito e sociedade civil, o
convencimento se exerce em uma dupla direção: dos aparelhos privados de
hegemonia rumo à ocupação das agências do Estado restrito e, inversamente, da
sociedade política e da coerção em direção ao fortalecimento da direção das frações
de classe dominantes através da sociedade civil, reforçando, a partir do próprio
Estado restrito, seus respectivos aparelhos privados de hegemonia47.

Com esse modo de trabalho, Mendonça, em seus estudos sobre a questão agrária

brasileira, legou importantes contribuições para se entender a História do Brasil. Pôde

46
MENDONÇA, Sônia Regina. Op Cit. P. 19
47
Idem, ibidem. p. 18-19.
43
perceber que diferentes aparelhos privados de hegemonia disputavam a agenda política do

setor ruralista, sendo a designação de quadros formados naqueles espaços para o Ministério

da Agricultura um indício da primazia dos grupos representados por estes quadros políticos

ao longo do século XX48. Com isso, sua reflexão desvelou desde muito cedo na História do

Brasil republicano a existência de organizações burguesas, o que mostra que a chamada

ocidentalização do país não é tardia e tampouco obra exclusiva dos subalternos49.

Isso posto, convém se indagar como efetivamente acontece a disputa pelo poder em

uma dada formação social – e como se expressa a influência do conjunto das classes sociais.

Recuperar Gramsci, nesse ponto, parece sumamente produtivo. O marxista sardo segue a

senda consagrada nas análises marxistas, considerando o Estado para além de sua aparência

de ente universal. Trata-se, assim, de um

organismo próprio de um grupo, destinado a criar as condições favoráveis à


máxima expansão desse grupo, mas este desenvolvimento e esta expansão são
concebidos e a presentados como a força motriz de uma expansão universal, de um
desenvolvimento de todas as energias ‘nacionais’50.

Como visto acima, Gramsci oferece apontamentos poderosos que superam formas de

compreensão que identificam o Estado a seus aparelhos burocráticos e coercitivos oficiais.

Concebe-o, em vez disso, como Estado integral, isto é, como articulação entre sociedade

política (o Estado restrito das concepções clássicas do pensamento liberal) e a sociedade civil,

48
Ver, por exemplo: MENDONÇA, Sônia Regina. O patronato rural no Brasil Recente (1964-1993). Rio
de Janeiro: UFRJ, 2010
49
Gramsci opõe sociedades ocidentalizadas às congêneres orientais. Enquanto estas teriam uma sociedade
civil “gelatinosa” e um Estado restrito (ou sociedade política) comparativamente forte, as primeiras seriam
palco da proliferação de APH’s, do que se desdobrariam uma diferença tática na luta revolucionária: nas
formações sociais ocidentalizadas, não bastaria atacar diretamente o centro do poder, mas se deveria travar
as lutas também na sociedade civil, a fim de conseguir transformações ético-morais que possibilitem o
surgimento de um novo tipo de sociedade. Gramsci, portanto, revela aqui a importância da formação de
consensos para o advento e a reprodução de novos tipos de relações sociais, consensos esses que poderiam
ser edificados também pela função pedagógica própria dos APH’s em uma sociedade de tipo ocidental. Ver:
GRAMSCI, Antônio. Cadernos do cárcere. v. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003c.
50
GRAMSCI, Antônio. Cadernos do cárcere. v. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003c.
44
ou o conjunto de associações, chamadas de aparelhos privados de hegemonia (APH’s), por

meio das quais uma classe ou um bloco de classe lutam pela direção político-moral da

formação social. Enfatizar a integralidade do Estado, portanto, é uma forma de ressaltar que

tais instâncias não podem senão didaticamente serem separadas – porque, na prática, a

sociedade civil é uma das trincheiras onde ocorrem as disputas pelo poder em uma sociedade

capitalista ocidentalizada. Os APHs, pois, não podem ser entendidos como agentes de uma

neutralidade técnica, a menos que se conceba essa expressão em toda sua profundidade, isto

é, como forma de apresentação e defesa de interesses de classes específicos e

necessariamente atravessados pela contradição básica da sociedade capitalista entre capital e

trabalho.

A matriz gramsciana, assim, nutria o solo do pensamento sobre a organização das

classes sociais na sociedade civil, da qual os tanques de pensamento são exemplares. Nos

desdobramentos historiográficos desta contribuição teórica, apurou-se que, em um período

histórico com intensa mundialização do capital e ampliado trânsito das classes dominantes,

essas associações refletem tal realidade, reproduzindo também o consórcio das burguesias

internas associadas às suas congêneres internacionais51. Debruçando-se sobre o problema,

René Dreifuss sugeriu a existência de uma internacional capitalista, devido ao crescimento

exponencial, em nivel planetário, das entidades burguesas desde, pelo menos, a década de

191052.

Seguindo a senda de Dreifuss, Virgínia Fontes recupera a expressão frentes móveis de

ação internacional, desse autor, para se referir às organizações burguesas de articulação

51 POULANTZAS. Op Cit.
52
DREIFUSS, René. A internacional capitalista. Petrópolis: Vozes, 1986.
45
interimperialista e de defesa da ordem do capital-imperialismo 53 . A partir de suas

contibuições seminais, gerações de pesquisadores se formaram com interesse na investigação

sobre formas associativas das classes sociais – mais especificamente da burguesia – e as lutas

que pontuam o desenvolvimento da sociabilidade capitalista. Estes estudiosos provaram a

fecundidade das observações gramscianas, tornadas mais ricas por estudos específicos que

preenchiam com carne viva o esqueleto teórico deixado pelo autor dos Cadernos do Cárcere.

No interior deste grupo, as pesquisas sobre tanques de pensamento ganharam relevância,

tanto por sua qualidade quanto pela importância que o objeto construído sobre aqueles

alicerces teóricos assume. Aqui destacamos apenas os que dialogam mais diretamente com

nosso tema de pesquisa, muito embora a indicação ao conjunto dos trabalhos fique registrada

– inclusive com encaminhamento do leitor ao site que concentra a produção do grupo54.

Flávio Calheiros é um dos historiadores formados por esta perspectiva. Buscando

entender a nova direita brasileira, investigou aquelas organizações, interpretando-as como

aparelhos de ação política e ideológica – uma outra forma de chamar os APH’s. A obra

apresenta a trajetória de entidades – inclusive tanques de pensamento - que se tornaram, na

assim chamada Nova República, importantes vetores de organização e difusão de interesses

burgueses no Brasil. O texto, portanto, é central para a compreensão da política

contemporânea, sobretudo no que toca à formação e no direcionamento de classe dos setores

dominanantes brasileiros55.

53
FONTES, Virginia. Op. Cit. 2010.
54 Ver: http://www.grupodetrabalhoeorientacao.com.br/
55
CALHEIROS, Flávio. A nova direita. Aparelhos de ação política e ideológica no Brasil contemporâneo.
Rio de Janeiro: São Paulo: Expressão Popular, 2018.
46
Poder-se-ia apontar ainda, como contribuição importante daquele grupo, os estudos

sobre o Grupo Banco Mundial. Estes demonstram como, com suporte de fundações como

Rockefeller e Ford, o GBM formou quadros políticos para atuação em países-alvos. Assim,

através de seus braços educadores, inúmeros cursos foram oferecidos, formando vetores de

ação política com disposições adequadas aos financiadores da iniciativa 56 . Em nossa

pesquisa, o Grupo Banco Mundial foi ator presente nas cenas mesmo quando ausente, dadas

as referências às suas pesquisas e suas indicações presentes na documentação gerada pelo

Instituto Fernando Henrique Cardoso. As tabelas anexadas ao fim desta tese evidenciam a

importância de sua “consultoria” para o objeto em análise.

O trabalho de Rejane Carolina Hoeveler é outro que, servindo-se do quadro teórico,

avança hipóteses sobre a articulação transnacional das classes dominantes por meio de

organizações como a Comissão Trilateral. Fundada em 1973 por David Rockefeller e

Zbigniew Brzezinski, a entidade reúne capitalistas responsáveis pelo controle de grandes

conglomerados nacionais e quadros politicos centrais dos principais Estados das chamadas

“nações desenvolvidas” – que na visão, do segundo, deveriam se expressar

institucionalmente57. De acordo com as pesquisas de Hoeveler, a Comissão Trilateral foi um

dos principais fóruns de deliberação e articulação da reação burguesa à confluência de crises

que arrebenta nos anos 1970, apresentando como novo caminho para a reprodução ampliada

do capital um conjunto de medidas que ficaria conhecido como “neoliberalismo”58 . O

56
PEREIRA, J. M. M. O Banco Mundial como ator político, intelectual e financeiro (1944-2008). Tese de
doutoramento em História. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2009.
57 BRZEZINSKI, Zbigniew. Entre duas eras. América: laboratório do mundo. Rio de Janeiro: Artenova,
1971
58 HOEVELER, Rejane Carolina. As elites orgânicas transnacionais diante da crise. Uma história dos
primórdios da Comissão Trilateral (1973-1979). Dissertação de mestrado em História. Universidade
Federal Fluminense, 2015.
47
mecanismo de sua implementação reforça a importância do método de pesquisa aqui debatido:

por um lado, age no sentido de conformar acordos no interior das burguesias dominantes em

nível internacional, forjando unidade de ação; por outo, com participação frequente em

fóruns organizados pela Comissão Trilateral, quadros politico assumem postos da

administração estatal como agentes técnicos, responsáveis pela formulação de políticas

públicas que respondam às necessidades do capitalismo, transubstanciadas em necessidades

sociais pela rede de aparelhos privados de hegemonia burgueses. Funcionam como laços,

portanto, que vinculam poder politico e “mundo produtivo”, constituindo um canal de

expressão das aspirações empresariais em uma época de potencial “excesso democrático”59.

O estudo das lutas de classe por esta chave de análise fez avançar o conhecimento

sobre a estruturação de regimes políticos, a formação de políticas públicas e o advento de

diferentes modalidades de organização social no capitalismo contemporâneo. Entendo,

porém, que se pode avançar mais estabelecendo qualificadores internos no grupo dos APH’s,

a fim de compreender melhor as especificidades que se revelam pela comparação entre

diferentes tipos de associação que, contudo, frequentemente são reunidas sob o guarda-chuva

daquele conceito. Tampouco esta intenção me parece original. René Dreifuss, afinal, já

demonstrara disposição similar ao sugerir uma subconceituação dos aparelhos burgueses por

sua função política mais imediata – dos pivôs ao Estado-maior60.

Nesta tese, pretendo seguir o caminho, entendendo os tanques de pensamento como

um tipo específico de APH. Na segunda parte deste primeiro capítulo, coloco-me o objetivo

59 RAGO FILHO, Antônio. Os ensinamentos de Samuel Huntington para o processo de autorreforma da


autocracia burguesa bonapartista. In: Anais do XIX Encontro regional de História. Poder, violência e
exclusão. ANPUH/SP-USP, São Paulo, setembro de 2008;
60
DREIFUSS, René. 1964: a conquista do Estado. Petrópolis: Vozes, 2006
48
de refletir sobre as especificidades deste tipo de aparelho. Parto, mais uma vez, das

determinações mais aparentes do fenômeno, expressas no importante estudo do Think Tank

and Civil Societies Program (TTCSP), para tentar atingir o núcleo essencial – ali entendido

como uma das formas com que, em nosso tempo, o circuito de mando e obediência, que opõe

artificialmente os trabalhos intelectual e manual, estrutura-se e se reproduz.

Parte II

A segunda parte do capítulo oferece uma forma alternativa de compreensão do

fenômeno em tela. Partimos da análise concreta do Think Tanks and Civil Societies Programa

(TTCSP), da Universidade da Filadélfia, para mostrar como ocorre a tentativa de

enquadramento dos múltiplos tanques de pensamento em um modelo construído pelas trocas

de tecnologias políticas realizada por meio dos summits daquele laboratório de pesquisa.

Neste processo, fica claro ser a própria ideia de think tank uma mistificação que oculta a

natureza da luta política, substituindo-a por uma miragem idealista que poderia ser sintetizada

na expressão batalha das ideias.

A luta política mobiliza afetos, medos, sonhos, horrores. Não consiste na disputa entre

melhores projetos sociais racionalmente concebidos, embora essa dimensão existe. Trata-se

de campo de disputa concreta, travada por pessoas, organizações, táticas e estratégias. Os

tanques de pensamento representam uma modalidade de luta, nascida como condição de

possibilidade graças à divisão social do trabalho no capitalismo. Prisma de luta que, se por

um lado favorece a contenção da democracia em limites interessantes aos gestores do capital,

49
por outro prepara as bases para novos tipos de insurreição social – cujo exemplo mais tosco

aparece recentemente na forma do anti-intelectualismo.

1.3 O Think tanks and Civil Societies Program (TTCSP) e a padronização


dos tanques de pensamento

Ao longo dos anos de pesquisa sobre o IFHC, o Think Tanks and Civil Societies

Program (TTCSP) frequentemente figurou na homepage da fundação. Trata-se de um

laboratório de estudos e pesquisas sobre os tanques de pensamento, situado na Universidade

da Pensilvânia, nos Estados Unidos. A referência ao programa no site do IFHC aparecia por

meio do Global Go To Think Tank Index Report, espécie de relatório anual, lançado pelo

TTCSP. O documento, cuja abrangência mundial impressiona, avalia a atuação dos tanques

de pensamento, hieraquizando-os por critérios definidos pelo programa de pesquisa.

De início, atraiu minha atenção o indisfarçado orgulho com que o IFHC noticiava as

boas colocações registradas naqueles relatórios. De fato, a julgar pelos rankings, a fundação

mostrava ter papel relevante na América Latina, figurando entre os principais aparelhos do

tipo na região61. O estudo dos critérios e do método de apuração de dados do TTCSP, portanto,

pareceu-me instrumento importante para avançar no conhecimento sobre o IFHC, destacando

aqui a possibilidade de descobrir mecanismo de medição de seus impactos nas sociedades

civil e política do subcontinente.

61
Veremos mais sobre isso no segundo capítulo, quando terei oportunidade de refletir mais particularmente
sobre a fundação.
50
Reproduzo abaixo, com comentários meus, a lista dos critérios contida no report de

201562:

1. “a qualidade e o comprometimento da liderança do think tank”, aqui entendidos

como a capacidade de captação de “recursos financeiros e humanos necessários para o

sucesso da missão”. A linguagem cifrada do documento se refere ao reconhecimento que um

dado tanque de pensamento tem na sua zona de atuação. Quanto maior o grau de consagração,

tanto maior será seu poder de mobilizar recursos e atrair especialistas devotados à sua

“missão”, expressão empresarial que indica a finalidade da iniciativa;

2. a “qualidade e a reputação da equipe”, que significa a capacidade de reunir

membros reconhecidos tanto como autoridades “técnicas” em suas áreas quanto de reputação

ilibada;

3. a “qualidade e a reputação das pesquisas e análises produzidas”. Em outras palavras,

o grau de influência positiva que as atividades do tanque de pensamento alcançam sobre o

seu público alvo;

4. habilidade para recrutar “acadêmicos e analistas de primeira linha”;

5. reputação acadêmica, isto é, o rigor científico na condução das pesquisas

desenvolvidas;

6. o impacto das pesquisas e do programa dos tanques de pensamento sobre os “atores

políticos” e “formuladores de políticas públicas”, medida pelas políticas públicas adotadas

por órgãos de governo ou da sociedade civil;

62
McGann, James. Global go to think tanks Index Report. Universidade da Pensilvânia, 2015, P. 5.
Disponívelem: https://repository.upenn.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1009&context=think_tanks
(acessado em 02/11/2018).
51
7. “reputação com formuladores de políticas públicas”, medida pelo reconhecimento

do nome do tanque de pensamento e de sua trajetória, associado ao número de referências

públicas às suas atividades;

8. White papers (livros brancos) produzidos com base nas pesquisas do tanque de

pensamento. Um White Paper (em português, "Livro branco" ou "Relatório Branco") é um

documento oficial publicado por um governo ou uma organização internacional a fim de

servir de informe ou guia para o enfrentamento de algum problema. Geralmente, indica a

síntese do conhecimento dominante construído sobre o assunto, e a capacidade que um

tanque de pensamento tem de formular tais documentos indica sua capacidade de

mobilização e influência sobre governos em determinada área;

9. depoimentos no poder legislativo referenciados no material produzido pela

organização. O item ilustra a ascendência da produção de um dado tanque de pensamento

sobre o poder legiferante de uma dada sociedade;

10. compromisso demonstrável de produção “independente”, isto é, “independência

partidária e de interesses setoriais”, verificável por suposta “isenção” no trato de conflitos de

interesse (financeiros, institucionais ou pessoais);

11. acesso a “instituições-chave”, com ascendêcia sobre pessoas em posição de poder.

Trata-se da influência dos tanques de pensamento tanto sobre formadores de opinião, na

sociedade civil, quanto sobre a burocracia governamental;

12. influência alcançada pelo think tank, com publicações, visitações em sítios

virtuais e proposições de políticas públicas;

13. a utilização efetiva de pesquisas do think tank por formuladores de políticas

públicas;

52
14. influência da organização na mobilização pública, no debate acadêmico ou nos

debates legislativos;

15. reputação midiática, medida pela citação e aparecimento e entrevistas na mídia;

16. habilidade no uso da internet, incluindo ferramenta das redes sociais;

17. existência de um sítio virtual e de “influência digital”, dimensionada pelo impacto

do tanque de pensamento nas redes sociais;

18. capacidade de captar recursos ao longo do tempo, o que garante a longevidade da

organização;

19. habilidade na superação dos “gaps” entre a academia e os formuladores de

políticas públicas e, por sua vez, entre estes e a “sociedade”, entendida aqui como o restante

da população;

20. habilidade de incluir novas “vozes” na formulação de políticas públicas,

significando a capacidade de incorporar os “novos sujeitos” sociais nas regras políticas,

conformando e aclimatando seu impulso renovador ao quadro geral da ordem social;

21. e, finalmente, o “impacto social”, medido pela efetiva capacidade de transformar

“valores sociais” nas áreas de atuação.

Um tanque de pensamento com destaque em um ranking destes não é uma

organização desprezível. Muito ao contrário, reúne impotante acervo de recursos técnicos,

expresso no número de acadêmicos que, dado o elevado prestígio da entidade, são para ela

atraídos e lá oferecem seus serviços. Dispõe também de significativa capacidade de inflência

sobre a sociedades civil e política, naquela disjuntiva meramente didática de que falou

Gramsci e acima pudemos discutir com mais calma. Essa organização é de tal modo orgânica,

no sentido de ser reconhecida como importante fórum de representação de uma classe, que

53
seu sustento é garantido pela iniciativa privada. Trata-se, efetivamente, de um importante

aparelho privado de hegemonia, cuja ideologia comporta o tecnicismo radicado nas práticas

que entificam o trabalho intelectual nesta forma.

Identificar o IFHC entre os melhores da América Latina em uma lista desta natureza

deveria pautar investigações dedicadas a verificar a importância da entidade na região.

Assumindo como verdadeiro o que ali consta, poder-se-ia formular hipóteses acerca da

direção ético-política da fundação sobre o entorno latino-americano, indicando ser ela

importante nó da rede de associações burguesas que tenta dirigir os rumos políticos da região.

Embora sem dúvidas fosse abrir importantes caminhos de pesquisa, este procedimento

científico falhara em deixar passar um elemento fundamental do ofício do historiador. Refiro-

me à crítica das fontes. No caso, é passo metodológico indispensável investigar tanto se a

base de dados do ranking se sustenta quanto a que interesses ela atende. A isso passamos

agora63.

O documento do TTCSP fala assim sobre a montagem das listas:

Desde 2006, o processo de classificação foi refinado e simplificado, e o número


e escopo de as instituições e indivíduos envolvidos têm crescido constantemente.
(...). Como parte do processo de nomeações, todos os 6.846 tanques de pensamento
catalogados no banco de dados do TTCSP foram contactados e incentivados a
participar, assim como os mais de 4.750 jornalistas, legisladores, doadores públicos

63
Algumas análises aceitaram mais ou menos acriticamente as conclusões do laboratório, do que derivou
tanto denúncia do ativismo de organizações de direita desde os anos 1970 – o marco é a fundação da
Heritage Foundation, em 1973 - quanto, paralelamente, a suposição de que existiriam tanques de
pensamento não ativistas, ou menos ativistas, sobretudo antes disso. É o caso do trabalho de Camila Rocha,
que, a despeito da boa qualidade e da adoção de interessante postura crítica geral, ao centrar seu fogo sobre
esses advocacy think tanks (expressão de R. Kent Weaver para caracterizar as organizações ativistas em
oposição às suas congêneres mais imediatamente “desinteressadas”, aceita pela autora), acaba admitindo a
existência de tanques de pensamentos nao enquadrados neste subtipo – o que tem por consequência a
suposição de algum nível de distanciamento político em suas atividades. Ver: ROCHA, Camila. Direitas
em rede. Think tanks de direita na América Latina. In: VELASCO E CRUZ, Sebastião; KAYSEL, André;
CODAS, Gustavo (org.). Direita, volver! O retorno da direita e o ciclo político brasileiro. São Paulo: Perseu
Abramo, 2015, p. 265
54
e privados e especialistas da área. Este grupo de pares e especialistas foi pesquisado
para nomear e classificar os tanques de pensamento para distinção em 201564.

Como se vê, o rigor na coleta de dados é pelo menos discutível. Parte

fundamentalmente de uma base impressionista: é a opinião de um grupo de analistas, alguns

deles vinculados a tanques de pensamento, que origina o escalonamento dos aparelhos com

base naqueles critérios acima listados. Por este expediente, tudo que podemos alcançar é tão

somente a avaliação daqueles mais de 6800 tanques de pensamento e 4750 jornalistas,

legisladores, empresários e especialistas acerca das entidades. Não há um sistema de

verificação que dimensione o real impacto desses aparelhos na área de produção de políticas

públicas, por exemplo. E esse é um dos mais importantes quesitos do ranqueamento.

À esta altura, talvez fosse o caso de concluir que a fonte não nos leva muito longe na

investigação do nosso objeto. Seria de fato um recuo dramático para a pesquisa. Postos os

objetivos desta etapa do trabalho, abdicar de uma base de dados que inclui mais de 6 mil

entidades seria, na prática, desistir de qualquer tentativa de identificar padrões de

funcionamento que iluminem os contornos dos tanques de pensamento. Seria praticamente

impossível, nos limites desta pesquisa, identificar as especificidades deste tipo de aparelho.

Seria também um exagero. De certo não se pode ratificar o ranqueamento daquelas

listas, como se eles exprimissem de fato o grau comparativo de sucesso de cada entidade nos

quesitos acima arrolados – e não, em vez disso, a impressão dos consultados sobre o

fenômeno. Mas há o que se tirar da documentação, inclusive na área de nosso interesse. Para

tanto é preciso, porém, entender melhor o que é o TTCSP, seus projetos e sua influência. Por

64
McGann, James. Global go to think tanks Index Report. Universidade da Pensilvânia, 2015.
Disponívelem: https://repository.upenn.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1009&context=think_tanks
(acessado em 02/11/2018).
55
essa análise, mesmo que parnorâmica, pode-se inserir aquela fonte em um conjunto de

relações que ajude a determina-la mais precisamente.

O laboratório foi criado em 1989 por meio do Lauder Institute, da Universidade da

Pensilvânia. Seu criador e ainda diretor, James McGann, é especialista em tanques de

pensamento, cujos importantes trabalhos incorporam aquela visão clássica das ciências

políticas dos anos 1980 sobre o tema. Para ele, esses aparelhos são entidades técnicas que

objetivam efetivar pontes entre o conhecimento especializado e a formulação de políticas

públicas no seio do Estado 65 . Uma visão muito tradicional, conforme vimos acima, que

atribui aos aparelhos a capacidade de influenciar positivamente o Estado, graças ao seu

domínio sobre recursos técnicos. A relação entre o tanque de pensamento e os aparelhos

públicos, assim, seria de direção científica – expressa na suposta capacidade de guiar a

formulação de políticas públicas baseadas em evidências.

Trata-se de uma visão eloquente, tanto mais por estar ela na base da explicação da

missão de seu programa de pesquisas. De acordo com site do TTCSP, o laboratório seria

espécie de tanque de pensamento dos tanques de pensamento. Desde sua criação, teria

ajudado a desenvolver aparelhos que superam os gaps entre saber e política em temas como

paz e segurança internacional, globalização e governança, economia internacional, questões

ambientais, informação, “alívio” da pobreza e sistemas de saúde. “Estes esforços

colaborativos internacionais”, anota o documento, “destinam-se a estabelecer redes regionais

65
A visão ainda segue basicamente a mesma até os dias de hoje, haja vista a apresentação da “missão” do
TTCSP em seu site, cuja descrição conta com espécie de slogan: Helping to bridge the gap between
knowledge and policy. Ver: https://www.gotothinktank.com/history-and-mission (acessadoem 02/11/2018)
56
e internacionais de tanques de pensamento que melhoram a formulação de políticas públicas

enquanto fortalecem as instituições democráticas e as sociedades civis em todo mundo”66.

Trata-se de intenção já assumida por James McGann em 2002. Na ocasião, o autor

discutia o papel dos tanques de pensamento nas relações exteriores em um mundo com

organizações transnacionais, cujo complexa rede de interações deveria ser decifrada por

instituições capazes. Ali, aparece a referência ao saber especializado necessário em um

mundo com saberes cada vez mais específicos, técnicos e complexos. No mesmo texto,

McGann admite os esforços de enquadramento desse tipo de entidade, a fim de aprimorar

sua “independência” e “influência” na produção de políticas públicas cientificamente

embasadas.

Apesar dos esforços de alguns estudiosos e formuladors de políticas públicas


para questionar a potencial transferência de tanques de pensamento independentes
ao estilo dos EUA para outras regiões e países do mundo, muitos formuladores de
políticas e grupos da sociedade civil de todo o mundo têm procurado criar tanques
de pensamento verdadeiramente independentes para ajudar sus governos. Assim,
enquanto a transferência do modelo da Brookings Institution, Rand Corporation ou
Heritage Foundation para outros países e culturas políticas pode ser debatida, a
necessidade e o desejo de replicar a independência e influências que essas
instituições desfrutam é incontestável67

66
O parágrafo foi construído sobre a descrição da missão do laboratório. Em inglês, consta assim na fonte:
“The Think Tanks and Civil Societies Program (TTCSP) of the Lauder Institute at the University of
Pennsylvania conducts research on the role policy institutes play in governments and civil societies around
the world. Often referred to as the “think tanks’ think tank,” TTCSP examines the evolving role and
character of public policy research organizations. Over the last 25 years, TTCSP has developed and led a
series of global initiatives that have helped bridge the gap between knowledge and policy in critical policy
areas such as international peace and security, globalization and governance, international economics,
environmental issues, information and society, poverty alleviation, and healthcare and global health. These
international collaborative efforts are designed to establish regional and international networks of policy
institutes and communities that improve policy making while strengthening democratic institutions and
civil societies around the world”. Ver: https://www.gotothinktank.com/history-and-mission (acessadoem
02/11/2018)
67
No original em inglês: “despite the efforts of some scholars and policy-makers to question the potential
transferability of U.S.-style independent think tanks to other regions and countries of the world, many policy-
makers and civil society groups from around the globe have sought to create truly independent, free-standing
think tanks to help their governments. So while the transferability of the Brookings Institution, RAND
Corporation, or Heritage Foundation model to other countries and political cultures may be debated, the need
and desire to replicate the independence and influence these institutions enjoy is unchallenged”. Disponível
em:
https://globalnetplatform.org/system/files/1/Think%20Tanks%20and%20the%20Transnationalization%20of%
20Foreign%20Policy.pdf (acessaod em 14/10/2019 às 17h39)
57
Como isso ocorre na prática? Pelo menos desde 2014, o TTCSP convoca cumes

(summits) de tanques de pensamento - espécies de convenções que debatem e formulam quais

papeis devem desempenhar os aparelhos do tipo em todo o mundo. O primeiro Global think

tank summit Report disponibilizado pela iniciativa, datado de dezembro daquele ano, relata

o encontro ocorrido em Genebra, Suiça. Reuniram-se representantes de mais de 60 tanques

de pensamento do mundo inteiro para discutir uma série de tópicos, dentre eles, a relação

entre esse tipo de entidade, as políticas públicas e as possibilidades de uma “governança

global”; o papel dos tanques de pensamento em crises, como as provacadas pelo Ebola e pelo

Estado Islâmico; além de temas mais genéricos, como os “desafios globais” postos a esses

aparelhos, como a demanda por “desenvolvimento sustentável” e por governos “eficientes”.

O fim do encontro contou com avaliação dos tanques de pensamento pelos representantes

convidados ao encontro, cujos pareceres sublinharam o foco técnico das entidades, muito

embora vozes dissonantes já ali alertassem sobre a impossibilidade da neutralidade

científica68.

A representatividade dos tanques de pensamento nos cumes organizados pelo TTCSP

tem crescido. A última de suas edições globais ocorreu em 2019, na Fundação Getúlio Vargas,

no Rio de Janeiro. Reuniu 150 intelectuais vinculados a 107 entidades de todo o mundo.

Sérgio Fausto representou o IFHC como seu “presidente” 69 . Nesta última edição dos

encontros globais, o formato seguiu quase o mesmo. Após rodadas de debate sobre os

68
https://repository.upenn.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1006&context=ttcsp_summitreports p. 26.
(acessadoem 02/11/2018)
69
https://repository.upenn.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1008&context=ttcsp_papers P. 30 (acessadoem
02/11/2018)
58
desafios postos aos tanques de pensamento na conjuntura, foram tecidos prognósticos sobre

a atuação e a evolução do formato deste tipo de entidade 70.

Entre 2014 e 2019 foram realizados 27 encontros do tipo. Além dos cumes globais

que aqui destaquei, há encontros homólogos ocorrendo anualmente em nível regional71. Sua

regularidade, bem como sua capilarização regional, permite hipóteses sejam formuladas,

agora à luz da análise de um conjunto de documentos em interação. Por sua natureza de

intenso intercâmbio entre representantes de tanques de pensamento, é possível que tais cumes

funcionem como mecanismo de padronização relativa dos contornos institucionais e das

práticas dessas entidades. Deste ponto de vista, as deliberações acerca dos papeis

desempenhados e a desempenhar por esse tipo de organização expressariam e implicariam

modos de funcionamento específicos, que por meio daquelas reuniões seriam tanto mais ou

menos amalgamados quanto difundidos para e pelos aparelhos que tomam parte dos

encontros. Estou falando, portanto, da formação de uma rede de tanques de pensamento, com

intensa troca multidirecional de tecnologias políticas, mas cujo epicentro se encontra no

TTCSP, um de seus principais fiandeiros. A esse respeito, ganha renovada importância o

título de tanques de pensamento dos tanques de pensamento, especialmente quando

sublinhamos o que o diretor do laboratório entende por este tipo de entidade no que toca ao

seu papel social e à forma de sua atuação.

70
https://repository.upenn.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1008&context=ttcsp_papers
71
As regiões assim se definem: América Latina, Europa, África, Oriente Médio e norte africano, América do
Norte. Esses encontros regionais, na verdade, parecem ter antecedido em um ano os seus congêneres globais.
As primeiras documentações a respeito datam de 2013 e podem ser encontradas aqui:
https://www.gotothinktank.com/past-summits (acessado 02/11/2019). Chama atenção a ausência de
encontros regionais no restante da Ásia e na Oceânia, especialmente se considerada a importância
geopolítica da região – às portas da potência chinesa
59
A importância do TTSCP assim se justifica. Não por ser ele um laboratório que

permite a aferição dos impactos dos tanques de pensamento em diversas escalas, a saber,

global, regional e nacional; mas por representar o centro de uma rede de trocas que conforma

um tipo ideal de tanque de pensamento, tomado como tal por todas as entidades que,

orgulhosamente, buscam constar em seus relatórios e, por isso, reconhecem sua autoridade

na formulação dos contornos organizacionais deste tipo de aparelho. É a maneira concreta da

interação daquela rede associativa com o TTSCP, portanto, que ratifica e reproduz seu papel

de direção. Não se trata de uma posição identificada a priori, mas surgida pelo

desenvolvimento dos tanques de pensamento – daí a necessidade de seu estudo histórico, o

que até agora não parece ter sido feito.

Seria um erro, entretanto, interromper seu estudo no nível institucional. Claro, a forma

específica desta institucionalidade interessa sobretudo por levantar perguntas e hipóteses de

pesquisa, bem como por ser a manifestação histórica visível de uma das principais

modalidades associativas no capitalismo contemporâneo. Mas é fundamental relacionar sua

ossatura material, para falar como Poulantzas, às classes e frações de classes sociais que por

meio dela se expressam e se organizam72.

Estamos aqui muito longe daquelas interpretações ingênuas sobre os tanques de

pensamento. Não há e nem pode haver distanciamento entre técnica e política, conforme

tentarei sustentar de uma maneira que julgo significativamente distinta daquelas colocações

que, de rompante, indicam sua impossibilidade sem demonstrar as raízes da associação entre

trabalho intelectual e capitalismo. Com efeito, entendidos por mim como desenvolvimento

formal daquele tipo de trabalho, tais organizações estão circunscritas a relações sociais

72
POULANZAS, Nicos. O Estado, o poder, o socialismo. Rio de Janeiro: Graal, 1981.
60
específicas, das quais só podem se afastar por um contundente esforço de crítica prática. Seu

funcionamento normal, assim, ao passo que se explica pela origem e desenvolvimento

históricos do capitalismo, reforça, tanto no âmbito de sua produção quanto pela sua

organização interna, alguns pilares deste modo de produção. É à luz desta perspectiva que

entendo ser necessário trabalhar com os dados levantados pelo importante laboratório da

Universidade da Pensilvânia, tais quais o conhecido relatório anual de indexação de tanques

de pensamento. Assim, se as conclusões tiradas a partir dos dados não nos satisfazem como

leitura do objeto, as informações construídas são importante fonte não apenas da visão

dominante sobre os tanques de pensamento, mas também de importante função que lhe é

atribuída nas sociedades capitalistas contemporâneas.

Essa função é de alguma maneira reforçada pela sistematização dos dados em formato

de ranking. Dardot e Laval demonstram muito bem como o que eles chamam de razão

neoliberal lastreou a construção de instrumentos de controle com foco na eficiência, sendo o

ranqueamento tanto expressão do princípio da competitividade erigido como propulsor da

excelência quanto forma de ilustrar os fins últimos das práticas sociais sob análise – isto é,

no que, durante a decantação institucional marcada pelos esforços em busca do que se

considera otimização administrativa, as organizações se tornaram especializadas 73 . Por

conseguinte, os dados quantificáveis da ação dos tanques de pensamento revelam os esforços

73
Os autores demonstram como a racionalidade empresarial transborda para outros espaços a partir da crise
do welfarismo, nos anos 1970. Assim, entidades públicas e o assim chamado “terceiro setor” passaram a
adotar padrões de funcionamento de Mercado, entendidos como melhores por serem regidos pelo
princípio da competição. O processo em tela é marcado pela reestruturação administrativa, com
instituições terceirizando atividades, a fim de centrar esforços em atividades-fim, nas quais se tornariam
especialistas e, logo, mais eficientes. O princípio da “excelência” preside, ainda, a construção de uma
miríade de tecnologias de controle cujo objetivo é reproduzir determinadas práticas, subsumidas a
padrões gerenciais de accountability e management. Ver: DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova
razão do mundo. Ensaios sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016, principalmente
capítulo O governo empresarial, pp. 271-320.
61
de controle sobre sua maior ou menor eficiência em um dado objetivo – o que, colateralmente,

indica o que deles mais se espera.

Ler as listagens sob estes prismas, a saber, destacando a forma associativa idealizada

e as classes e frações de classes que por ela se expressam, permite entender por que parte

significativa dos índices de ranqueamento situa as entidades a meio caminho entre o que

Gramsci chamou de sociedade civil e sociedade política. Claro, já vimos que a distinção no

pensamento do marxista sardo é meramente didática, porque, na prática, as duas instâncias

sociais se articulam e combinam. Acima já passamos por esta discussão. O conceito de

aparelho privado de hegemonia é, assim, frequentemente referenciado a fim de dar conta

destas articulações entre o Estado, em sentido restrito, e a sociedade, tanto no que diz respeito

à formação de consenso sobre determinado modo de vida, quanto no que toca às pressões das

classes e frações de classe organizadas sobre as políticas públicas 74 . Os tanques de

pensamento, assim, conforme demonstram as pesquisas sobre o que se espera de suas práticas,

assentam-se bem às análises formuladas pelo instrumental teórico desenvolvido por

gramscianos, revelando-se entidades da sociedade civil com expectativa de projeção sobre a

sociedade política.

Creio, no entanto, que há aqui algumas diferenças substanciais entre outras formas de

organização também subscritas ao conceito de APH’s, como jornais e sindicatos. O que

aparece de modo mais imediato é o uso de um saber técnico, especializado, como forma de

legitimar prescrições sobre como deve ser a ação pública. Jornais e sindicatos também

74
Pressões que podem se dar de diferentes formas, de campanhas em favor de uma maneira de governar à
formação de quadros políticos que, saídos dos aparelhos privados de hegemonia prenhes de sua visão de
mundo, ocupam postos no Estado generalizando interesses setoriais como interesses sociais. Se o
primeiro tipo de “pressão” está presente na obra de Poulantzas (1978), o segundo aparece descrito
detalhadamente na tese de doutorado de Sônia Regina de Mendonça
62
recorrem ao saber técnico – são eles próprios redutos do trabalho intelectual. Ocorre que,

nessas associações, em que pese a ideologia jornalística da imparcialidade, os interesses

políticos aparecem com mais clareza, especialmente no segundo caso, mas também no

primeiro. Já nos tanques de pensamento é como se, no longuíssimo desenvolvimento

histórico que leva o trabalho intelectual a se apresentar prioritariamente na forma do domínio

técnico, os tanques de pensamento se apresentassem como a forma mais pura desta evolução

– daí a afirmação constante, por parte destas entidades, de sua imparcialidade política,

partidária; e seu suposto combate a qualquer metafísica, tomada como discurso ideologizado

oposto ao verdadeiro saber.

Não sem razão apenas seis itens da lista de critérios acima não podem ser relacionados

diretamente a nenhum saber especializado – embora mesmo entre eles existam relações

indiretas, sobretudo no que diz respeito às funções de propaganda e marketing do aparelho.

Indubitavelmente, a lista privilegia organizações capazes de atrair profissionais consagrados

como detentores de saber específico em suas áreas de atuação, sendo suas demais atribuições

como que desdobramentos desta capacidade de galvanizar autoridade por meio do

recrutamento de “técnicos”.

Dardot e Laval argumentam que as reformas de Estado fundadas pelo movimento

“neoliberal” desde os anos 1980 incorporaram tecnologias de controle de “qualidade”

determinada pela administração científica de agentes formados nas business schools, em

“simbiose” com o empresariado privado. A fonte de legitimidade destas personagens, assim,

misturaria o domínio de instrumentos “modernos” de gestão, “em detrimento de instituições

democrática, que foram privadas de seu papel de proposição e controle da administração

63
pública por este poder de expertise”75. Os critérios que balizam rankings como o da Global

Go To Think Tank, portanto, carregam o “espírito” desta nova gestão pública, tornando os

tanques de pensamento um tipo de instituição responsável por aportar ao Estado os saberes

especializados necessários para o gerenciamento eficiente e otimizado de sua ação politica.

Talvez seja essa uma das razões da multiplicação de tanques de pensamento desde os anos

1970, década que também marca a ascensão do que aqueles autores chamam de “governo

empresarial”76.

A esta altura, convém recuperar algumas ideias-chave da produção acadêmica

hegemônica sobre os tanques de pensamento. Como vimos no início deste capítulo, sobretudo

nas ciências políticas, a tese de que essas entidades supririam os “gaps” de racionalidade do

Estado é uma suposição frequente, servindo de explicação para sua multiplicação em

sociedades de tradição liberal. Se por um lado a interpretação também contribuir para emitir

luz sobre o que se espera desse tipo de organização, por outro encobre com um suposto véu

de neutralidade a ação específica do saber técnico na administração e reprodução do

capitalismo. É precisamente aqui que entendemos residir o traço diferencial dos tanques de

pensamento no conjunto dos APH’s. A construção ideológica deste saber descarnado, “livre”

de pressupostos materiais e fora do alcance de interesses setoriais atribui aos tanques de

pensamento um maior apelo sobre os aparelhos de Estado – apelo hipertrofiado em uma

época de gerenciamento científico da política, da qual falam Dardot e Laval. Os critérios

acima listados, principalmente sua insistência em premiar a capacidade de influência sobre a

75
DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. Nova razão do mundo. Ensaio sobre a sociedade neoliberal. São
Paulo: Boitempo, 2016, p. 314
76 Camila Rocha identifica que o número de organizações do tipo mais que quadruplicou nos Estados
Unidos entre 1970 e 2000 – subindo de menos de 70 para mais de 300 tanques de pensamento atuantes .
Ver: ROCHA, Camila, Op. cit, p. 264.
64
administração pública, evidenciam, portanto, que os tanques de pensamento podem entregar

com maior eficiência o que também é a aspiração de outros APH’s (penso sobretudo nos já

citados exemplos de jornais e sindicatos patronais, cuja parcialidade tem se tornado mais

visível). A prerrogativa de autoridade na manipulação do saber especializado, assim, parece

ser uma das marcas específicas desta forma organizativa.

Trata-se de capacidade de transferir saber técnico à burocracia de Estado e controlar

sua aplicação, por meio de relatórios, seminários, debates e toda sorte de análise das políticas

públicas. Importa destacar que não me refiro necessariamente à produção de conhecimento

– área em que as universidades seguem como principais instituições, o que é ainda mais

evidente em países como o Brasil. Com efeito, a documentação produzida pelo laboratório

fala em recrutamento de acadêmicos, em divulgação de pesquisas superando a distância entre

“academia” e “sociedade”, em influência sobre a administração estatal. Dito de outro jeito, é

destacada a efetiva capacidade de servir de ponte entre a produção de conhecimento na

“sociedade” e o “Estado”.

As práticas que asseguram essa transferência podem variar. No caso que aqui me

interessa mais de perto, a saber, o O IFHC, a conexão é operada por meio de reuniões entre

empresários, acadêmicos, representantes de outras organizações da sociedade civil, membros

de “órgãos multilaterais” e quadros da administração pública. Claro que outros APH’s podem

sediar encontros do tipo. Mas esses eventos representam o centro das investidas de tanques

de pensamento como o IFHC, e nesse sentido fazem parte de suas atividades-fim. Entre 2004

e 2018, mais de 1100 pessoas diferentes concederam palestras nesta fundação – infelizmente

não disponho de dados sobre a plateia, que é importantíssima uma vez que estamos

considerando aqui os eventos sediados na entidade como ponto de integração entre

65
representantes de diferentes “espaços sociais”, a saber, o “mundo produtivo”, a “sociedade

civil” e o Estado. No capítulo 2 veremos dados mais detalhados. Por ora, números

proporcionais bastam para ratificar a posição de intermediário assuimda pelo IFHC. Entre os

palestrantes, temos que 7% do total é de ocupantes de cargo da administração pública

(somados aqui o Estado brasileiro e outros), 10% é de empresários e o restante representa

acadêmicos, funcionários e diretores de “ONG’s”, órgãos multilaterais, enfim, intelectuais

que atuam na “sociedade civil”77.

Em poucas palavras, os rankings do Global Go To Think Tanks ilustram o papel de

transmissor de conhecimento técnico produzido pela expertise social. Os critérios enfatizam

a importância de influenciar as políticas públicas por pressões sobre a burocracia. No caso

em tela, o convite a secretários e ministros de Estado para participar das reuniões é uma forma

encontrada pelo IFHC de tentar transmitir a operadores de políticas públicas o conhecimento

selecionado pela entidade – por meio da escolha consciente de determinados intelectuais em

detrimento de outros. O circuito também tem uma ponta na sociedade civil, por meio da qual

colabora-se com a construção de consensos, para tanto reividicando a autoridade do saber

técnico que, como acima indicaram Dardot e Laval, constitui instrumento suplementar de

legitimidade, pelo menos desde 1970.

Por estes saberes serem entendidos como livre de pressupostos sociais, a síntese

operada pelos tanques de pensamento aparece tão somente como superação das barreiras

entre a academia e a administração pública. A disjunção entre técnica e interesses setoriais,

já o vimos acima quando analisamos a produção de matriz gramsciana sobre os aparelhos

77 Dados coletados a partir de relatórios do IFHC publicados entre 2004 e 2018 e disponíveis no site da
fundação.
66
privados de hegemonia, deve ser analisada como construção ideológica – no sentido de ideias

que legitimam, naturalizam e ajudam a reproduzir as práticas que as animam, a saber, a

direção social por classe e frações de classe que se entendem universais. Assim, este tipo de

tanque de pensamento se radica na construção de mundo operada pela burguesia, e sua

produção não pode ser entendida sem referência às relações sociais de produção dominantes.

Convém, portanto, situá-lo historicamente como desenvolvimento de contradições presentes

no modo de produção capitalista. Não apenas para demonstrar a filiação de classe desses

aparelhos, mas também para sugerir que a tecnologia produzida por eles seja em si mesma

tecnologia de dominação, na medida em que reproduz a cisão primordial entre trabalhos

intelectual e manual, fundamento de importante circuito mando-obediência cuja longevidade

vai ainda mais distante do que o próprio capitalismo.

1.4 O trabalho intelectual vivo e morto no capitalismo

Aquele tipo de autoridade da técnica pode ser compreendido como produto do

desenvolvimento do trabalho intelectual no capitalismo. Com efeito, as perspectivas que

apostam na neutralidade do saber extraem sua razoabilidade de uma concepção fetichizada

desse tipo de trabalho, isto é, como prática dissociada das relações sociais de produção

predominantes em uma dada formação histórica. Este modo interpretativo se torna

especialmente mistificante quando lembramos que o saber é um produto social. De fato, o

desenvolvimento tecnológico é obra coletiva, sendo a ideia de seus principais promotores

serem gênios solitários criticada pela sociologia da ciência pelo menos desde os anos 193078.

78
O clássico de Robert Merton já apontava para a necessidade de se compreender a atividade científica como
produto coletivo. MERTON, Robert. Ensaios sobre a sociologia da ciência. São Paulo: Editora 34, 2013
67
Por outro lado e em outro nível de análise, entende-se por saber uma construção social que

legitima determinadas formas de conhecimento em detrimento de outras. Discutirei a questão

em seção mais abaixo, de sorte que aqui basta reter o caráter social da produção de

conhecimento, bem como da identificação do que se entende legitimamente por saber, do que

se depreende ser inadequada a interpretação que coloca o indivíduo, tomado isoladamente,

como ator principal na expansão dos limites do conhecimento legítimo.

Temos, pois, que a atividade intelectual, como produto cooperativo e historicamente

determinado, jaz subsumida aos condicionantes gerais de um modo de vida, do que se

depreende que as relações sociais de produção típicas em um período histórico devem ter

com ela algum grau de parentesco, mesmo que distante. Claro, os que, no limite, defendem

ser seu sociometabolismo de tal modo idiossincrático que careceria de sentido relacioná-lo a

qualquer padrão maior de relações sociais tendem a compreender a própria sociedade como

aglomerado de campos por sua vez atomizados; sociedade essa que teria, assim, em comum

apenas o espaço e o tempo onde se realizam aqueles múltiplos e fragmentários processos, em

vez de qualquer lógica imanente. São, de diferentes formas, os casos de autores clássicos que

estudaram, do ponto de vista social, um dos campos da atividade intelectual, qual seja a

ciência, como Robert Merton e Thomas Kuhn79. Em poucas palavras, estes enfatizaram o

79
Kuhn e Merton contribuíram com a sociologia da ciência por incentivarem estudos sobre a participação
coletiva nas inovações técnicas. Os autores, assim, ajudaram a substituir a mistificada ideia da produção
científica como sendo gerada principalmente por gênios solitários, sendo fundamental, para tanto, dois
conceitos-chave de seus trabalhos, respectivamente, paradigma/ciência normal e ethos científico. No caso
de Merton, a ciência é espécie de “estrutura social”, povoada por comunidades científicas com normas e
valores próprios (universalismo, comunalidade, desinteresse, ceticismo organizado), tornando, assim, a
ciência um sistema autônomo no interior da sociedade. Já para Kuhn, as “revoluções científicas” são
determinadas pelas atividades dos que se dedicam a esse tipo de trabalho intelectual. É pelo acúmulo de
“anomalias” em relação a um paradigma científico vigente que sobrevem uma época disruptiva, abrindo
espaço para o advento de um novo modelo geral de explicação da realidade. Vemos, pois, que, nos dois
casos, ainda que as explicações não excluam as pressões de outras esferas da sociedade (Merton reconheceu
a importância do protestantismo na formação do ascetismo moral que marcaria a atividade científica), o
desenvolvimento deste tipo de conhecimento é autorreferencial, não encontrando relação dialética com a
68
caráter voluntário da atividade científica, bem como da formação de diferentes grupos de

trabalho que, a partir da intersubjetividade estruturada em relações de mútua dependência,

asseguram autonomia substancial ao campo científico em relação ao que seriam estruturas

mais genéricas de uma dado tipo de desenvolvimento do ser social.

Uma perspectiva materialista da atividade intelectual, ao contrário, deve ler esta

história à contrapelo. Concordando com pesquisas que se dedicaram especificamente ao

estudo das técnicas sob este prisma80, penso ser necessário considerar, portanto, a relação de

seu objeto com o modo de produção dominante nas sociedades em que a atividade se radica,

como, no mais, foi defendido por Marx e Engels desde A Ideologia Alemã81. Isso, por óbvio,

não implica reduzi-lo a essas mesmas relações, como se deduz a partir de diferentes

pensadores, de Lukács a Adorno, e da mencionada obra de juventude de Marx e Engels82.

Por conseguinte, considero aqui a forma social dominante da produção de saber em sua

correlação com as relações sociais de produção enquanto tais – entendendo, com isso, a forma

generalizada de criação pelo trabalho coletivo, socialmente coordenado de acordo com

sociedade em seu modo de vida mais geral. Ver: KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas.
São Paulo: Perspectiva, 1978
80
São os casos ilustrativos de, no Brasil, Renato Dagnino, que entende a tecnologia como expressão
consolidada do processo de trabalho organizado para gerar mais-valor; e no exterior, de Andrew Feenberg,
que entende como sendo importante a politização das raízes de produção de conhecimento na sociedade
contemporânea, que estaria sob hegemonia da razão instrumental. Ver: DAGNINO, R. Em direção a uma
teoria crítica da tecnologia. In: Tecnologia Social: contribuições conceituais e metodológicas [online].
Campina Grande: EDUEPB, 2014, pp. 113-152; e FEENBERG, Andrew. Critical theory of technology.
New York: Oxford University Press, 1991.
81
MARX, K; ENGELS, F. A Ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo, 2007 p. 41-43
82
Marx e Engels, na Ideologia Alemã, entendem a divisão social do trabalho como condição de possibilidade
da emergência do trabalho material e do trabalho espiritual, assim divididos. Como crítica à compreensão
idealista da história, a obra trata dos fundamentos de uma ciência histórica materialista, que, claro,
debruçar-se-ia sobre o capitalismo, mas não necessariamente deveria tratar exclusivamente deste período
histórico, do que se depreende que os autores tratam daquela cisão entre diferentes tipos de trabalho
considerando-na fenômeno anterior à generalização das formas capitalistas de produção. No mais, os
autores parecem ter a mesma visão expressa nesta tese sobre as desigualdades sociais advindas daquela
diferenciação. Na sequência do argumento sobre a divisão social do trabalho e a emergência de tarefas
“materiais” e “espirituais”, os autores indicam que ela torna possível que “fruição e o trabalho, a produção
e o consumo (…) caibam a indivíduos diferentes” Ver: MARX, K; ENGELS, F. Op cit. p. 35-6.
69
circunstâncias historicamente construídas que, por terem esta natureza, induzem padrões de

desenvolvimento mais ou menos rígidos83.

Este cânone do pensamento marxista indica que as formas de organização da

produção, em sentido lato, devem ser compreendidas como “forças produtivas”, entendendo

que estas, por conseguinte, não seriam neutras ou universais, mas condicionadas pelo modo

de produção dominante em uma formação social84 . Nesse sentido, considerar uma das

expressões máximas do trabalho intelectual – a tecnologia – sem referenciá-la à sua “base

material” parece ser um equívoco. Equívoco, no entanto, possibilitado pela tradução e

disponibilização tardias de obras seminais do pensamento marxiano, como a aqui já

referenciada A Ideologia Alemã. Interpretar os produtos do trabalho intelectual em sua

vinculação com o modo de produção dominante é tentar entendê-los como polo de expressão

e desenvolvimento de suas contradições particulares. Se entendermos a tecnologia como

força produtiva e as forças produtivas desta forma, teremos como hipótese que outra máxima

de Marx, qual seja, a de que “épocas de revolução social” são condicionadas pelo choque

entre relações sociais de produção e forças produtivas, pode se referir não apenas aos limites

impostos por aquelas sobre o “livre desenvolvimento” destas, mas também pela hipertrofia

relativa de um tipo específico das últimas - “revolucionário” - sobre outro tipo -

“conservador”; sendo tal diferenciação abarcada pela noção de “liberdade” contida na

proposição. Assim sendo, estamos distante da usual crença no caráter cumulativo do trabalho

intelectual – o que entendo como expressão da desatenção às lutas concretas travadas nesta

83
A ideia é um dos pilares da obra marxiana, sendo conhecida a sua referência à criação histórica dos seres
humanos ser determinada por circunstâncias que, em diferentes épocas, encontram-se dadas. O princípio foi
anunciado na já mencionada Ideologia Alemã e posteriormente recuperado e desenvolvido. Ver: MARX, K;
ENGELS, F. Op cit.. p. 43.
84
MARX, K; ENGELS, F. Op cit.. p. 34.
70
área, que tornam a narrativa do desenvolvimento técnico muito menos linear do que

transparecem aquelas pesquisas clássicas na área.

Ao compreendermos o trabalho intelectual em sua interface com o modo de produção

dominante, torna-se possível entendermos as relações de produção em um sentido “ampliado”

em relação às leituras clássicas que as encerram no reino da “economia”. Evito, por este

expediente, reduzir à nomenclatura burguesa e à lógica formal por ela esposada o pensamento

vivo de Marx, entendendo que a força motriz de suas contribuições reside na rejeição deste

método de investigação. Neste sentido, tanto o autor quanto alguns dos seus melhores

seguidores consideram como resultado das relações sociais de produção os diferentes modos

de vida verificados em diferentes épocas85. O capital, portanto, é entendido como principal

força das sociedades onde reina este modo de produção, exercendo atração sobre as demais

formas de atividade humana, radicadas historicamente em sociedades concretas. As variadas

expressões daqueles modo de vida, deste ponto de vista, atuariam exercendo forças díspares.

Força que contribui efetivamente com sua diferenciação daquele, sendo a maior capacidade

de resistêcia indicativo também de maiores capacidades de diferenciação e distanciamento

da relação social elementar em torno do qual a vida, no capitalismo, gravita. A dinâmica em

tela é sensivelmente conflitiva, vivificada por atração e repulsão, e quando subsumo a

produção do saber no capitalismo a ela, procuro descrever uma tensão que só se dissolve com

o fim de alguma das partes em oposição – como ocorre, no mais, também em outros campos

da atividade humana sob jugo do capital.

85
É o caso de Antônio Gramsci, evidente em sua tradução do famoso prefácio marxiano à edição de 1859
de Para uma Crítica da Economia Política.
71
O objeto que tentei descrever em suas linhas mais gerais é, assim, basicamente

movimento. Melhor ainda descrevê-lo como fração de um movimento maior, que é a

trajetória particular da própria forma social de produção de conhecimento. Com isso busco

enfatizar o que aqui já foi dito: aquela atividade, enquanto ser genérico, tem história mais

longeva e carrega potencialidades transformadoras e/ou mesmo revolucionárias capazes de

dissociá-la do modo de produção a partir do qual se desenvolveu nesta etapa histórica – o

que, insisto, não chega a ser uma especificidade digna de nota, dado que também o capital

porta um horizonte de futuro para além de si. Enquanto reinar o modo de produção capitalista,

entretanto, o desenvolvimento dos padrões de relações sociais de produção, do mais geral ao

mais particular, devem estar mais ou menos relacionados a ele, mesmo que pela negação.

Disso se depreende o que a esta altura convém reter: diferentemente da sociologia da ciência

tradicional, uma interpretação marxista do problema pode adjudicar desenvolvimento

tecnológico, uma das formas de expressão daquela atividade intelectual, à expansão e

reprodução do capitalismo. Assim como as relações sociais dominantes determinam as ideias

dominantes porque também elas são produtoras de ideias; a tecnologia dominante é produto

daquelas, de sorte que me parece equivocado compreender a história das forças produtivas

como um processo evolutivo e acumulativo que se desenrola, ora ao fundo, ora à frente, da

trama que destaca o trânsito histórico entre diferentes modos de produção. Parece-me melhor

considerá-las à luz das relações sociais de produção, do que se conclui que a tecnologia

carrega a tensão que aqui tentei esboçar, portando pressupostos e proposições acerca dos

processos produtivos.

Entendo que o pensamento clássico de Karl Polanyi já trazia in nuce este

entendimento. Em A grande transformação, vemos o autor historicizar o que ele chama de

72
“sociedade de Mercado”, demonstrando como o advento da mecanização pressupôs a

transformação dos fatores de produção em mercadoria, incluindo a força de trabalho. Os

momentos de turbulência que marcaram o nascimento deste novo tipo de formação social

dizem respeito principalmente ao descompasso entre setores distintos da sociedade.

Enquanto as “forças de Mercado” impulsionavam na direção da mercantilização da vida

social, a Coroa britânica, temendo o empobrecimento da massa trabalhadora e a possibilidade

de o país mergulhar em convulsão social, adotava medidas de reação, cujo exemplo mais

destacado é o sistema Speenhamland, que subsidiava a compra do pão pelos trabalhadores.

O fracasso desta proteção social – com efeito, o sistema parece ter contribuído

paradoxalmente com o aprofundamento da miséria dos trabalhadores86 – abriu caminho para

que um grupo de pensadores refletisse sobre este novo tipo de formação social, identificando

nela leis que, se contrariadas, trariam enormes prejuízos ao “conjunto da sociedade”. Polanyi

então demonstra como o estudo deste período histórico foi fundamental não apenas para a

formação de um novo campo de saber (a economia moderna), como também para a

estruturação dos pilares da sociedade de Mercado – sintetizados na formula do laissez-faire.

Era tempo de prestígio dos cientistas sociais, que se sobrepunham mesmo às demais áreas

do saber, sendo responsáveis direto pela formulação de uma nova lei dos pobres, em 1834,

cujo significado histórico foi retirar óbices politicos à mercantilização radical da sociedade87.

O que está contido em estado prático nas análises polanyianas é a demonstração de

que o trabalho intelectual tem sido fundamental na história do capitalismo desde os seus

86 Ver: POLANYI, Karl. A Grande transformação. As origem da nossa época. 2º ed. Rio de Janeiro:
Câmpus, 2000 e HOBSBAWM, E. J. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Rio de
Janeiro: Forense-Universitária, 1979.
87 POLANYI, K. op cit;
73
primórdios. Não se trata, porém, apenas do trabalho intelectual objetivado em máquinas, mas

também de uma forma de compreender a sociedade capitalista que contribuiu ativamente não

apenas com a sua construção, mas também com a sua regulação. Assim, não é possível

considerar esse trabalho intelectual morto, isto é, a tecnologia, sem referência ás

determinações materiais do tempo e do espaço de sua produção - se isso vale para ciências

da natureza, vale muito mais para as ciências sociais, campo principal de atuaçao dos tanques

de pensamento. Se isso é verdade para a época da chamada revolução industrial, também

vale para outros produtos do saber ao longo da história do capitalismo. Àquele exemplo,

poderíamos acrescentar a linha de montagem e o aparelhamento que a envolve, bem como

os dispositos de uberização que transformam meios de produção dos trabalhadores em capital

pelo período em que eles gerarem valor – que, por esta razão, é parcialmente apropriado por

quem a tecnologia determina. A politização da questão conforme aqui proposto não é nova.

Os revolucionários chineses, por exemplo, estiveram atentos a ela durante a Revolução

Cultural, travando interessante debate sobre o tema88 que, inclusive, representou revisões a

88
Charles Bettelheim, discutindo a reorganização industrial na China durante a Revolução Cultural, lembra a
importância então assumida pelo princípio da gestão compartilhada do processo produtivo, cuja
legitimidade foi extraída da “Carta de Anshan”, produzida em 1960 mas desde então “sufocada”. O
documento criticava a separação entre trabalho e direção, resultado da cisão entre trabalho manual e
trabalho intelectual justificada pelo domínio técnico do segundo sobre o primeiro. A carta, pois, criava
condições de possibilidades para se considerar o saber como adscrito em um regime produtivo específico
voltado para a extração de mais-valor - e que, no mais, alienava o trabalho no processo. A análise social
dos desenvolvimentos tecnológicos apresentada por Bettelheim contrasta com o trato tradicional do tema,
com relatos que descrevem cronologica e cumulativamente os inventos da área, sem maiores referências às
condições sociais que lhes deram à luz, como exemplificado em: ZENHA, Celeste. Mídia e informação no
cotidiano contemporâneo. In: REIS FILHO-, Daniel Aarão; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste (org.) O
século XX. O tempo das dúvidas: do declínio das utopias às globalizações. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2000, p. 225-248. Ver também: BETTELHEIM, Charles. Revolucion Cultural y organización
industrial en China. Buenos Aires: Siglo Ventuno, 1974.
74
orientações anteriores que associavam imediatamente a grande indústria à emancipação

política89.

Se A Ideologia Alemã contém em estado germinal a reflexão sobre a política do

trabalho “espiritual”, em O Capital ela encontra seu desenvolvimento máximo sob a pena

marxiana. Deste ponto de vista, a seção IV da obra máxima de Marx, que agora passamos a

discutir, é especialmente interessante. Nesta altura da sua obra, importa ao autor

principalmente compreender como o mais-valor pode ser ampliado pelo desenvolvimento

das forças produtivas de tipo capitalista – agora penso ser conveniente adjetivar. São

diferenciados, neste interím, mais-valor relativo de mais-valor absoluto, este formado pelo

aumento da jornada de trabalho, aquele pela revolução técnica na composição do capital,

e/ou, em casos mais específicos, pela redução dos salários abaixo do valor da força de

trabalho – que, inclusive pode ser encetada por transformações tecnológicas que ampliam o

exército industrial de reserva 90 ; bem como pode contar, agregaríamos, com inovações

tecnológicas avançadas por outros ramos do saber que “liofilizam” a organização produtiva

em busca de maiores rendimentos 91 . No curso da sua reflexão, assim, são debatidos

89 Maiores informações na discussão travada por Domenico Losurdo sobre as especificidades do marxismo
oriental, que, segundo ele, distancia-se de seu congênere ocidental por privilegiar a luta anticolonial e o
desenvolvimento tecnológico, este entendido por revolucionários como Mao Tsé-Tung, pelo menos nos
anos 1950, e Ho Chi Minh como elemento necessário para a superação do atraso técnico do mundo
colonial em relação às potencias imperialistas. Algum cuidado é necessário nesta análise, porque, se, por
um lado, é fora de questão que o hiato bélico que marca a distância entre o capitalismo central e periférico
de fato reforça os laços de dependência e dominação, por outro, a transposição pura e simples da técnica e
da máquina do centro à periferia não resolve necessariamente o problema da alienação, o que dificulta a
emancipação social. Neste sentido, a revolução cultural chinesa marca um passo à frente na reflexão
prática sobre a ontologia do ser social na China, identificando na contradição entre trabalhos manual e
intelectual uma forma de expressão da subsunção social ao capital. Ver: LOSURDO, Domenico. O
marxismo ocidental. Como nasceu, como morreu, como pode renascer. São Paulo: Boitempo, 2018,
sobretudo capítulos 1 e 2.
90
MARX, Karl. O capital. Crítica da economia política. O processo de produção do capital. São Paulo:
Boitempo, 2011, Livro 1. P. 387-396.
91
O termo é de Ricardo Antunes e indica o processo de “secagem” da renda do trabalho. Ver: ANTUNES,
Ricardo. Os caminhos da liofilização organizacional: as formas diferenciadas da reestruturação produtiva
no Brasil. Ideias. Campinas. 9 (2)/ 10(1): 13-24, 2002-2003.
75
componentes importantes daquelas forças produtivas, tais quais as novas relações de

produção, com cooperação ampliada entre trabalhadores e, como desenvolvimento daquelas,

a introdução da maquinaria por meio de “revolucionamentos” setoriais que reverberam por

toda a cadeia produtiva. Entendo haver aqui, por conseguinte, importante discussão sobre a

formação do mais-valor em capital – processo encerrado nos diferentes tipos de máquina e

técnicas produtivas, mas que guarda, uma força produtiva específica que é o desenvolvimento

de um papel social dedicado aos detentores de saber técnico.

Seria certamente interessante recompor o argumento marxiano em seu principal

trabalho, demonstrando, em cada passo, a importância da incorporação de tecnologia ao

processo produtivo. Não tenho tempo para um empreendimento desta natureza. Trata-se-ia

de uma outra tese de doutorado. Nesse sentido, tentarei apresentar sinteticamente um dos

movimento de formação do mais-valor relativo, fundamental, creio, para se compreender a

forma com que a lei geral de acumulação capitalista e, no interior dela, o papel do trabalho

intelectual se apresentam. Por conseguinte, destacarei do texto alguns elementos úteis para a

discussão travada. Basearei a análise da questão no próprio método expositivo da seção IV

do livro 1 da obra máxima de Marx. Ora, sabemos que a ordem dos capítulos tem, neste autor,

uma função específica no desvelamento do objeto em análise. Respeitar a sequência que vai

da cooperação do trabalho ao desenvolvimento da maquinaria e o advento da grande industria,

passando pela divisão social do trabalho na manufatura, é tentar capturar, no movimento de

formação do mais-valor relativo, o papel imanente do saber técnico e, logo, da tecnologia,

como expressões de um campo específico que se diferencia no conjunto das relações sociais

de produção.

76
Seguindo a trilha de Marx, portanto, percebemos que, na formação do capital, a

cooperação cumpre um papel importante. Mesmo Adam Smith já havia identificado na

repartição social do trabalho uma das forças motrizes, por um lado, do aperfeiçoamento

técnico, por outro, do aumento da produtividade laboral. Como grande leitor da economia

política que era, Marx reapresenta a questão, mas em outra forma e outro conteúdo social.

Discorrendo sobre as necessidades daquela cooperação, identificada por ele nos marcos do

capitalismo, e não mais como força da natureza, o autor aponta para o imperativo de reunião

espacial de trabalhadores que então limitava o capital.

Se os trabalhadores – avaliar ele - não podem cooperar diretamente uns com os


outros sem estar juntos, de modo que sua aglomeração num determinado local é
condição de sua cooperação, os trabalhadores assalariados não podem cooperar
sem que o mesmo capital, o mesmo capitalista os empregue simultaneamente,
comprando ao mesmo tempo, portatno, sua força de trabalho92.

Atento à dialética presente no seu objeto de análise, Marx considera de fato esta uma

condição para o aumento da produtividade, como no mais a economia política já havia

indicado, mas destaca, entretanto, outras consequências. Por um lado, a reunião de

trabalhadores em um mesmo espaço aumentava potencialmente a resistência em relação ao

capital, pelo compartilhamento da experiência de exploração. Por outro, a cooperação de

trabalhadores assalariados, isto é, subordinados no processo produtivo, demanda a formação

de uma posição social de direção e coordenação dos esforços fracionados. Trata-se da

diferenciação, na cadeia produtiva, entre trabalho intelectual, de direção, planejamento,

supervisão e controle, fundamentados em um saber específico supostamente detido por

poucos porque inacessível por meio da experiência imediata; e trabalho manual, este

implicando o exercício prático, simples, bruto mesmo das forças que transformam a natureza.

92
MARX, K. Op cit. p. 405
77
Dessa diferenciação, que, como bem lembrou Gramsci, é mais política do que concreta,

edifica-se um tipo de circuito de mando-obediência que é intimamente caro ao capitalismo.

(…) o comando do capital sobre o trabalho parecia inicialmente ser apenas uma
decorrência formal do fato de o trabalhador trabalhar não para si, mas para o
capitalista e, portanto, sob o capitalista. Com a cooperação de muitos trabaladores
assalariados, o comando do capital se converte num requisito para a consecução do
próprio processo de trabalho, numa verdadeira condição da produção. O comando
do capitalista no campo de produção torna-se agora tão imprescindível quanto o
comando do general no campo de batalha93.

A alusão ao “general no campo de batalha” revela o caráter despótico do trabalho

cooperado neste modo de produção. O tipo de trabalho intelectual que é produto desta relação,

ao ser vinculado à produção de valor, recria, em outros termos, uma hierarquia social baseada

no saber incorporado. Adorno aborda a questão, mas sugerindo que o trabalho intelectual

enquanto tal é capaz de gerar sua própria hierarquia – definindo como “oposto” o trabalho

dito não-intelectual, logo manual e, por conseguinte, inferior porque concebido pela falta de

elementos constituintes do outro tipo de trabalho, tornado, pelo próprio método comparativo,

padrão. Em um de seus trabalhos clássicos, o pensador alemão lembra o poder social dos

sacerdotes e emissários do “oculto” nas sociedades ainda plenamente dominadas pelas forças

da natureza. A religiosidade hipertrofiada, assim, forma de expressão da hierarquia social do

período, reafirmava o poder de um segmento da sociedade que tinha como prerrogativa

enxergar o que não se via e falar com quem não se escutava94. O circuito mando-obediência

93
MARX, K. Op cit. p. 406
94
A reflexão de Adorno, claro, é bem mais rica do que o ponto ressaltado, dedicando-se a capturar a dialética
do processo de esclarecimento encetado pela revolução das luzes. Em certo nível de análise, assim como
os sacerdotes que entravam em contato com o invisível, os intelectuais modernos também conjuram
explicações e teses pouco visíveis a maioria dos não-iniciados em suas tradições. Neste sentido, por
conseguinte, a subsunção do social ao domínio do esclarecimento carrega consigo, potencialmente, a
edificação de um novo tipo de hierarquia, assentada nessas premissas do novo tipo de saber oculto
socialmente dominante. A compreensão dialética do processo, assim, lembra a expansão do conhecimento
sobre a natureza e a sociedade, derivada do trabalho intelectual revivido em novos termos pela razão, mas
não esquece os efeitos deletérios que estão no verso da história. Efeitos esses que engendram um novo tipo
de autoritarismo, tecnocrático, além de gerar as condições de possibilidade de manipulação da natureza
78
que daí resultava, porém, deve ser entendido como produto e produtor de uma formação

histórica particular, assentada em modos de produção distintos do capitalismo. Dessa forma,

se o trabalho intelectual como fundamento da prerrogativa do mando não é uma criação do

capital, o modo de exercício dessa função na produção de valor deve ser considerado sob seu

jugo. Na sequência do trecho glosado acima, diz-nos o autor

Todo trabalho imediatamente social ou coletivo em grande escala requer, em


maior ou menor medida, uma direção que estabeleça a harmonia entre as atividades
individuais e cumpra as funções gerais que resultam do mvimento do corpo
produtivo total em contraste com o movimento de seus órgãos autônomos. Um
violinista isolado dirige a si mesmo, mas uma orquestra requer um regente. Essa
função de direção, supervisão e mediação torna-se função do capital assim que o
trabalho a ele submetido converte-se em trabalho cooperativo. Como função
específica do capital, a direção assume características específicas95.

Primeiro, como a função social do capital é se reproduzir em maior escala, a direção

capitalista organiza a produção com o fito de ampliar a extração de mais-valor. Segundo,

dada aquela maior resistência do trabalho nas condições em que se radica a concentração

espaço-temporal da produção, passa a ser também atribuição desta posição no processo

produtivo o controle da agitação proletária, inclusive preventivo, poderíamos aqui

acrescentar96.

O comando do capitalista – sentencia Marx – não é apenas uma função


específica, derivada da natureza do processo social de trabalho e, portanto, peculiar
a esse processo, mas, ao mesmo tempo, uma função de exploração de um processo
social do trabalho, determinada pelo antagonismo entre o explorador e a matéria-
prima de sua exploração97.

para fins de morte e exploração, como os genocídios, as guerras e as grandes indústrias capitalistas não
deixam esquecer. ADORNO, T. Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985
95
MARX, K. Op cit. p. 406
96
Este é um elemento importante para a minha tese. Recupero-o mais abaixo, mas gostaria de destacar, neste
altura, que considero as técnicas de reorganização produtiva e de debelamento das contestações proletárias
igualmente como produtos de um saber técnico, vinculado, portanto, ao exercício do “trabalho intelectual”.
Este se difere daquele “trabalho morto” empregado na produção na forma de máquinas por ser resultado de
um ramo diferente de exercício do trabalho intelectual.
97
MARX, K. Op cit. p. 406
79
Para os fins do meu argumento, pouco importa se esta função é posteriormente

repassada a uma seção dos trabalhadores, tornada gestora por obra dos capitalistas – como,

no mais, reconhece Marx, ciente, inclusive, do potencial político desta diferenciação

lançando confusão nas fileiras proletárias 98 . A construção de um processo produtivo

hierarquizado condicionado por uma cadeia vertebrada por circuitos de mando-obediência é

o resultado já verificado nos primórdios da produção capitalista (e que se torna também pré-

condição para seu funcionamento). A letra marxiana rejeita a necessidade de sua existência

em formas de produção para além do capital. Em nota de rodapé, são apresentados os

exemplos da Wirework Company of Manchester, registrado em maio de 1866, e da Sociedade

dos Pioneiros Justos, formada em Rochdale, ao norte de Manchester, em 1844. Em ambos os

casos, como anota Marx à margem, foram comprovadas as capacidades de autogestão dos

trabalhadores que ampliaram a capacidade produtiva, reduziram o desperdício de materiais

e, no processo, não deixaram qualquer lugar para “patrões”99. Até onde se conhece, não

foram criadas hierarquias pela diferenciação entre tipos distintos de trabalho. Essas

experiências revelam, ainda, o caráter ideológico daquela distinção entre trabalhos intelectual

e manual, ratificando na prática que o oposto real do trabalho é o ócio.

A ascensão do trabalho intelectual no capitalismo está geneticamente ligada às

relações socias de produção que emergem com a manufatura. É ela que produz o trabalhador

“virtuoso” e “detalhista” quando reproduz sistematicamente a diferenciação “natural-

espontânea” dos ofícios 100 . A fragmentação do processo produtivo, consequência da

introdução de aprendizes e ajudantes nas oficinas, em um só lance, aumenta a produtividade

98
MARX, K. Op cit. p. 407.
99
MARX, K. Op cit. p. 406-407.
100
MARX, K. Op cit. p. 414.
80
e aprimora tecnicamente os trabalhos, gerando, como condição de possibilidades, a

complexificação do mundo do trabalho expressa no aparecimento de diferentes profissões.

Sempre segundo nosso autor, este “trabalhador coletivo” resulta da combinação de muitos

trabalhadores parciais, e a diferenciação interna dos ofícios torna a habilidades requiridas

para a execução das tarefas desigualmente distribuídas entre a classe trabalhadora. Assim,

temos que, em um grupo de posições do processo produtivo, a força se destaca; noutro, a

destreza; em um terceiro, “a força mental”, etc 101 . Marx sintetiza algumas das

consequências sociais do processo em tela.

Como as diferentes funções do trabalhador coletivo podem ser mais simples ou


mais complexas, inferiores ou superiores, seus órgãos, as forças de trabalho
individuais, requerem diferentes graus de formação e possuem, por isso, valores
muito diferentes. A manufatura desenvolve, assim, uma hierarquia das forças de
trabalho, a que corresponde uma escala de salários. Se de um lado o trabalhador
individual é apropriado e anexado vitaliciamente a uma função unilateral, de outro
as diferentes operações laborais daquela hierarquia são adaptadas às suas
habilidades naturais e adquiridas. Todo processo de produção requer, no entanto,
certas operações simples que qualquer ser humano é normalmente capaz de
executar. Também tais operações são agora destacadas de sua conexão fluida com
os movimentos mais plenos de conteúdo da atividade e ossificadas em funções
exclusivas102.

Nesta altura de sua reflexão, o autor está mais atento ao movimento do capital em sua

valorização “adicional” – não esqueçamos seu objetivo de compreender a formação do mais-

valor relativo. Contudo, já compreende o papel importante para reprodução da ordem

desempenhado pela diferenciação no mundo do trabalho. A formação do trabalhador

qualificado, assim, é o anverso da força de trabalho não qualificada, “ossificada” nas funções

simples da cadeia produtiva. O resultado do ponto de vista da valorização do valor é a redução

dos custos da mão de obra, dados, por um lado, a formação de funções simples que “qualquer

ser humano é normalmente capaz de executar”, e, por outro, o barateamento da qualificação

101
MARX, K. Op cit. p. 423.
102
MARX, K. Op cit. p. 424.
81
do trabalhador especializado, em vista da parcialização do processo produtivo103. Para nosso

objetivo, convém reter que a hieraquização em circuitos de mando-obediência de tipo

capitalista corresponde àquele movimento de formação de postos de comando lastreados em

um saber específico – ora de “gestão e controle do trabalho”, ora da “técnica” de um ofício

especializado. Em um nivel relativamente mais geral, temos aqui a base da difusão de um

campo de trabalho que lida essencialmente com a produção de saber, ainda que este possa se

fragmentar em ofícios privados sem perder seu traço distintivo, qual seja, a produção de

conhecimento que legitima o mando. Por outro lado, a noção de separação entre diferentes

tipos de trabalho expressa contradições reais que são postas no seio da classe trabalhadora

pelo capital, mesmo nos primeiros momentos de sua existência sob o capitalismo.

Por entender a manufatura como espécie de condensação das relações

sociometabólicas de tipo capitalista, Marx vê na divisão social do trabalho desencadeada ali

chave para a compreensão do papel social da maquinaria e da grande industria. Assim, se “a

maquinaria específica do período da manufatura”, destaca, “permanece sendo o próprio

trabalhador coletivo”, com a grande indústria, as máquinas de ferro e valor dominam a

paisagem, consubstanciando diversas ferramentas e etapas do processo produtivo em uma.

Em nível elementar e do ponto de vista do capital, as relações sociais que marcam a sociedade

industrial já estão contidas embrionariamente naquela produção artesanal. As invenções

tecnológicas da época fabril, assim, são “trabalho morto”, mas não qualquer trabalho. Trata-

se, em vez disso, de trabalho subsumido a relações sociais de produção específicas, como,

no mais, qualquer tecnologia. Dito de outras forma, se as relações de produção vigentes na

103
MARX, K. Op cit. p. 424.
82
manufatura são de um tipo relativamente mais simples, os mesmos elementos aparecem, na

grande indústria, em nível mais concentrado.

Já haviam mules, máquinas a vapor etc. antes de haver quaisquer trabalhadores


ocupados exclusivametne com a construção de máquinas a vapor, miles etc, assim
como o homem usava roupas antes de existirem alfaiates. Mas as invenções de
Vaucanson, Arkwright, Watt etc. só puderam ser realizadas porque esses inventores
encontraram à sua disposição, previamente fornecida pelo período manufatureiro,
uma quantidade considerável de hábeis trabalhadores mecânicos. Uma parte desses
trabalhadores era formada de artesãos autônomos de diversas profissões, e outra
parte já se encontrava reunida em manufaturas, onde, como já mencionado, a
divisão do trabalho dominava com especial rigor. Com o aumento das invenções e
a demanda cada vez maior por máquinas revém-inventadas, desenvolveu-se
progressivamente, por um lado, a compartimentação da fabricação de máquinas em
diversos ramos autônomos, e, por outro, a divisão do trabalho no interior das
manufaturas de máquinas. Na manufatura, portanto, veos a base técnica imediata
da grande indústria. Aquela produziu a maquinaria, com a qual esta suprassumiu
[aufhob] os sistemas artesanal e manufatureiro nas esferas de produção de que
primeiro se apoderou104.

A reunião de diversas etapas de processo produtivo e variadas ferramentas em um

ponto específico do percurso da produção ilustra metaforicamente aquela concentração105.

Além disso, transforma novamente o mundo do trabalho de tipo capitalista, ainda que, como

defendi acima, suas características mais simples sigam as mesmas. Ofícios são eliminados

pela maré montante de mecanização, enquanto novas tarefas são ressuscitadas em novos

termos – processo, no mais, identificável nas diversas reestruturações produtivas da história

do capitalismo. O percurso do argumento parece levar Marx a indicar que o desenvolvimento

de ofícios ligados ao trabalho intelectual aplicado à produção estaria na face oculta da

expansão capitalista. Assim, a geração de saberes, de um processo descentralizado,

centralizar-se-ia em ofícios específicos, preenchendo papel de impulsionador da acumulação

no processo produtivo, o que, claro, não elimina a existência de empreendimentos individuais

e isolados à margem daqueles postos institucionalizados.

104
MARX, K. Op cit. p. 455-456.
105
Não confundir com concentração de capital, processo também aludido na seção IV do livro 1 de O
Capital.
83
Mas a grande indústria não é, em certo sentido, o progresso da manufatura apenas por

desenvolver o trabalho intelectual aplicado à produção de valor. A concentração e a

centralização de capital, processos que, nesta altura do desenvolvimento capitalista, ganham

impulso, reforçam a atração do mundo do trabalho em direção ao capital. Assim, se a

acumulação capitalista se expressa, na letra marxiana, pelo advento de “de máquinas que

geram máquinas”; na contraface do processo estão as invenções, criações e aperfeiçoamentos

obras do trabalho intelectual a serviço do capital. Ao passo que se desenvolve e se fragmenta

em muitos ofícios distintos e especializados, todos imantados direta ou indiretamente pelo

sociometabolismo capitalista, o trabalho intelectual tende a aprimorar o tipo de conhecimento

sobre a natureza que a sujeita aos ditames da valorização do valor. Como resultado, a

centralização e a concentração de capital são impulsionadas, o que aumenta a atração deste

sobre o mundo do trabalho, incluindo aqui a produção de saber. A expressão mais imediata

deste processo é a série de “revolucionamentos” que engendram transformações na cadeia

produtiva e na própria composição do capital106.

A grande industria teve, pois, de se apoderar de seu meio característico de


produção, a própria máquina, e produzir máquinas por meio de máquinas.
Somente assim ela criou sua base técnica adequada e se firmou sobre seus próprios
pés. Com a crescente produção mecanizada das primeiras décadas do século XIX,
a maquinaria se apoderou gradualmente da fabricação de máquinas-ferramentas.
No entanto, foi apenas nas últimas décadas que a colossal construção de ferrovias
e a navegação oceânica a vapor deram à luz as ciclópicas máquinas empregadas
na contrução dos primeiros motores (MARX, 2013, p. 458).

Neste nível de análise, de fato, a “condição mais essencial de produção para a

fabricação de máquinas por meio de máquinas era uma máquina motriz capaz de gerar

qualquer potência e que fosse, ao mesmo tempo, inteiramente controlável” (MARX,

2013, p. 458). Do ponto de vista do capital, assim, o desenvolvimento relativamente

106
MARX, K. Op cit. 457-458.
84
autônomo de ofícios práticos do trabalho intelectual aparece como elemento impulsionador

da acumulação pela capacidade de engendrar um domínio tipicamente capitalista sobre a

natureza, colocando-a ao serviço da valorização do valor. A centralização de capitais na mão

de um capitalista individual ou de uma sociedade de capitalistas, via ações, maximiza as

possibilidades de investimento em tecnologia, ao passo em que gera demanda por saberes

mais variados e complexos sobre os processos produtivos, a natureza, as máquinas, etc. O

resultado mais aparente é o advento de tecnologia cada vez mais complexa, modificando os

processos produtivos em um percurso contraditório, que aumenta as barreiras de ingresso no

clube da classe dominante, dado o custo crescentemente elevado da maquinaria de ponta que

compõe as unidades produtivas. Indicando esta tensão entre acumulo de trabalho intelectual

morto e capital, Marx lembra que o mundo em que viveu ainda careceria de ferrovias não

fossem as manifestações da lei geral de acumulação capitalista, que preside a centralização e

a concentração de capital107.

Neste sentido,

as massas de capital fundidas entre si da noite para o dia por obra da


centralização se reproduzem e multiplicam como as outras, só que mais
rapidamente, convertendo-se, com isso, em novas e poderosas alavancas da
acumulação social. Por isso, quando se fala do progresso da acumulação social,
nisso se incluem – hoje – tacitamente os efeitos da centralização108.

Convém retomar, de modo a destacar, a natureza dessa aceleração, ponto onde reside

o cerne do meu argumento. Como diz Marx no trecho destacado, as massas de capital

centralizadas se reproduzem mais rapidamente do que as os capitais descentralizados. Por

qual razão? Porque esse capital muscularizado, contando com apoio de sociedades de ações,

crédito, Estado e da própria dinâmica expansiva do capitalismo, aplica mais tecnologia no

107
MARX, K. Op cit. p. 703.
108
MARX, K. Op cit. p. 703.
85
processo produtivo, aumentando a produtividade, a rotatividade do capital e o mais-valor

relativo. É precisamente esta uma das forças de atração do trabalho intelectual em direção ao

núcleo do capital, cuja expressão mais óbvia é o financiamento de pesquisas. Se parte dos

partícipes daquele campo tenta se distanciar de influências “externas” (inclusive do capital)

em nome de um conhecimento distanciado da natureza e da sociedade, fazem-no também em

busca da legitimidade do próprio campo e de um ethos científico construído históricamente

como autorregulador dessa atividade.109 Em outras palavras, a partir de Marx, podemos

perceber a capacidade “espiralada” de acumulação baseada na manipulação despótica da vida

e dos seres pelo capital, com o trabalho intelectual em patamar destacado de direção do

processo produtivo, mas respondendo aos ditames da reprodução ampliada e, logo,

subsumido ao despotismo burguês.

De outro ponto de vista, no mesmo processo, há o trabalho que gera sistematicamente

os conhecimentos necessários a expansão do capital – incluindo a construção de máquinas,

mas não se limitando a ela. No seu desenvolvimento, vemos a formação daquele grupo de

trabalhadores especializados na criação dos elementos técnicos imprescindíveis não só à

mecanização, pela manipulação especializada da natureza, mas de organização de qualquer

processo produtivo, do simples ao complexo. A fragmentação do trabalho social

institucionaliza, e disso Marx estava ciente, o saber técnico como elemento central do

sociometabolismo capitalista. Não apenas nas ciências naturais, é importante ressaltar, mas

também nos ramos de conhecimento dedicados à compreensão da sociedade e da cultura,

armas importantes para a ação despótica do trabalho intelectual que dirige empresas e contém

109
E aqui a análise de Merton parece descrever eficientemente uma das aparências do processo, ainda que
descure o movimento interno que torna os dois objetos sociais, a saber, ciência e capitalismo, desiguais na
sua interdependência, dada a força maior de determinação do ser social detida pelo segundo.
86
conflitos de classe110. As manifestações do conhecimento posto a serviço do capital, assim,

são identificadas na organização da produção com o fito de dirimir eventuais conflitos entre

trabalho e capital; na busca pela maximização da eficiência produtiva, assegurando tanto a

velocidade de rotação de capital quanto o aumento da extração de valor – diferentes lados do

processo de reprodução ampliada do capital; do domínio ampliado sobre a natureza, com o

fito de transformá-la sob os desígnios daquele modo de produção. Temos, assim, que a

atividade intelectual é atraída para a esfera de influência do capital, com seus diferentes

ofícios exclusivos sendo afetados, mais ou menos diretamente, pela dinâmica de acumulação

– incluindo aqui os que são afetados por se oporem a ela. A concentração e a centralização,

nesse sentido, reforçam aquela atração. Se o trabalho intelectual para o capital organiza e

amplia em escala aquela acumulação, os efeitos do seu trabalho se voltam contra si. Pouco

importa que em seu primórdio as instituições modernas dedicadas ao seu exercício tenham

tentado se distanciar da produção de valor 111 . Como acima mencionei, a tensão entre

influências externas e autonomia da prática científica, identificada mesmo pela sociologia

da ciência tradicional, revela a centralidade do capital no mundo contemporâneo, bem como

as contradições do campo, que se legitima enquanto esfera social particular pela busca de

distanciamento em relação ao reino da “economia”, mas cujo principal motor tem sido a

110 Wanderson Chaves mostra como, no ambiente Guerra Fria, o Departamento de Estado estadunidense
coordenou ação ideológica e doutrinal de um conjunto de fundações privadas, dentre elas a Fundação
Ford, escalada para defender os pilares do chamado modo de vida americano dentro e fora do país. Para
tanto, a produção de conhecimento foi vista como principal fronteira de luta, sobretudo pela cooptação de
intelectuais e especialistas das ciências sociais, que deveriam produzir conhecimento adequado à costura
de visões de mundo compatíveis com o capitalismo e a democracia liberal. Ver: CHAVES, Wanderson. A
Questão Negra: a Fundação Ford e a Guerra Fria (1950-1970) Curitiba: Appris, 2019.
111
Com efeito, as primeiras descobertas da Royal Society de Londres, isto é, transfusão de sangue entre os
animais e a microbiologia, por exemplo, não tinham vinculação imediata com o desenvolvimento fabril
verificado principalmente no norte da Inglaterra. A tensão entre a maior ou menor dependência do campo
científico em relação a outras “esferas” da sociedade, no mais, marca a produção da sociologia da ciência,
de Merton e Kuhn a Bourdieu e Latour.
87
acumulação capitalista. Nesta altura da explanação, importa perceber a interrelação – ainda

que certamente em níveis diferenciados – entre capital e conhecimento do mundo social e

natural. O que me parece chave na questão é que se, como vimos, esses produtos do saber

atuam positivamente no processo de acumulação capitalista, sendo, pois, um tipo específico

de conhecimento sobre a natureza importante para sua dinâmica expansiva, de outro ponto

de vista o distanciamento do campo científico que vai se formando é também importante para

o emprego da técnica ao mundo produtivo – isso porque o reforço de um ethos científico

autorregente atua como força de atração de trabalho para a área, como o esforço em patentear

o afastamento entre aqueles espaços sociais parece contraditoriamente revelar.

O tipo de exercício do trabalho intelectual que emerge da produção capitalista, assim,

ergue um novo padrão de mando-obediência. Não é que o capitalismo inaugure a cisão entre

trabalho intelectual e manual, assim entendidos, mas se aproveita desta diferenciação para

acelerar a produção e a extração de valor. Em alguma medida, assim, os técnicos do

conhecimento burguês, mutatis mutandis, assemelham-se aos sacerdotes em outros regimes

de saber, como demonstrado por Adorno. A legitimidade de suas atividades é extraída da

capacidade de enxergar e compreender o que não está imediatamente dado.

O advento dos tanques de pensamento, por sua vez, é por mim entendido como fruto

desta etapa histórica. Se adotarmos uma visão alargada sobre o conceito de tecnologia, como

aqui fizemos112, ao ponto de incluir, dentre outras modalidades, a organização da produção,

112
Lembrar que o senso comum entende tecnologia como produto vinculado estreitamente ao mundo produtivo,
da economia, da natureza; aqui defendemos que tecnologia é o estudo das técnicas, estas significando
dispositivos aprendidos pelos seres humanos em sociedade. A ciência e seus produtos não passam de,
respectivamente, trabalhos vivo e morto, cujo sentido social é determinado pelo modo de produção no qual
repousam. Se o trabalho intelectual no capitalismo é principalmente trabalho para o capital, dados os elementos
aqui discutidos, temos que a reprodução ampliada do capital está matricialmente inscrita como potencialidade
no sóciometabolismo da ciência. Por outro lado, o descompasso entre a capacidade de captura do saber pelo
capital e a dinâmica de produção do conhecimento, esta irreduvitel naquela tendência, permite, pelo menos em
88
das instituições sociais e, por fim, o conhecimento mesmo da sociedade em geral, aquelas

entidades, assim, atuariam na interface entre diferentes níveis de produção de saber em sua

dinâmica mais geral de atração e repulsão do capital, ainda que com particularidades que

devam ser apontadas. Esses elementos em seu conjunto, encarnam a dinâmica real da

reprodução do capital; ou, em outras palavras, presidem parcialmente a entificação da lei

geral de acumulação capitalista. São tão importantes quanto aqueles “generais no campo de

batalha” da produção fabril a que Marx fazia referência - por incorporar e expandir parte de

suas funções, talvez representem atualmente uma patente superior àquela. Ao longo desta

tese, indicaremos aqui e ali papeis desempenhados pelos tanques de pensamento não só na

geração de valor, posto serem loci de trabalho intelectual que, dentre outras tarefas, dinamiza

a produção capitalista pela recriação de um ambiente social otimizado para a expansão do

capital, como também na reprodução da sociabilidade burguesa. No terceiro capítulo desta

tese, observaremos como, no tratamento da problemática da “coesão social”, as classes

dominantes instrumentalizaram o saber adquirido pela expansão capitalista e seus conflitos,

a fim de sustar preventivamente óbices à acumulação, principalmente no terreno das tensões

sociais despertadas pelo próprio movimento do capital. No que resta deste capítulo, porém,

gostaria de sugerir que o advento dos tanques de pensamento expressa também o

desenvolvimento do trabalho intelectual para aquele novo tipo de gestão estatal de que

falaram Dardot e Laval (2016), bem como o desenvolvimento germinal de um autoritarismo

de novo tipo, assentado na capacidade reconhecida de manipulação de saberes.

teoria, surgir tecnologia anticapitalista, como defende a teoria crítica da tecnologia. Ver: FEENBERG, A.
Critical Theory of Technology. Oxford: Oxford Printing Press, 1991.
89
1.5 Os tanques de pensamento entre a fábrica e o Estado

Como vimos, a divisão social do trabalho de tipo capitalista consubstancia trabalho

intelectual na e com a direção do processo produtivo, formulando um tipo específico de

circuito de mando-obediência que faz o “trabalhador intelectual” encarnar parte do

despotismo do capital sobre o trabalho, fantasiando-o de autoridade técnica. Na outra ponta

do processo, temos o Estado moderno, cuja inserção neste debate foi melhor feita pelas

reflexões de Nicos Poulantzas. De acordo com elas, esta forma histórica de organização do

poder politico tem origem na divisão social do trabalho de tipo capitalista, com a consequente

forma específica de cisão entre trabalho intelectual e manual e subsunção deste àquele, bem

como de ambos ao capital113.

Assim, se em O Estado, o poder, o socialismo, Nicos Poulantzas investiga a

especificidade do que chama de Estado Moderno, tentando entender a sua genealogia e seus

traços distintivos em relação a outras formas históricas de expressão do poder político, é por

compreendê-lo como um aparelho especial, formalmente distinto de instituições de

dominação de épocas anteriores114

Aparelho especializado, centralizado, de natureza especificamente política,


consistindo num agrupamento de funções anônimas, impessoais e formalmente
distintas do poder econômico, cujo agenciamento apóia-se numa axiomatização de
leis- regras que distribuem os domínios de atividade, de competência e numa
legitimidade baseada nesse corpo que é o povo-nação. (…) Especificidade,
portanto, do Estado moderno que está ligado precisamente a esta separação relativa
do político e do econômico, e a toda uma reorganização de seus espaços e

113 Neste sentido, a aceitar as conclusões deste autor, o processo identificado por Dardot e Laval acima
comentado seria o desenvolvimento de uma trajetória anterior, uma vez que a relação entre técnica,
autoridade e exercício intelectual não seria um produto novo dos anos 1970, mas acompanharia a
estruturação dos aparelhos politicos de tipo “moderno”.
114
Importante destacar que, para Poulantzas, o Estado Representativo Moderno não implica necessariamente
regime democrático. Trata-se, em vez disso, de um modelo de poder político que extrai sua legitimidade da
representação do “povo-nação”. Neste sentido, a diferença específica entre este tipo de Estado e a
“Monarquia Absolutista”, a qual ele se refere, é que, no último caso, a vontade do monarca, e, por seu
intermédio, da divindidade, é o pilar do saber legítimo e, logo, dos aparelhos que concentram o trabalho
intelectual no período histórico de seu desenvolvimento.
90
respectivos campos, implicada na total espoliação do trabalhador direto nas
relações de produção capitalistas” (POULANTZAS, 1981, p. 51-52)

Se outras formas de poder se associavam diretamente ao poder “econômico” da classe

dominante, o modo de produção capitalista permite a formação de um corpo de técnicos e

burocratas que, não se confundindo com os proprietários de meios de produção stricto sensu,

torna o aparelho Estatal funcional aos seus interesses, ainda que ele permaneça relativamente

autônomo.

Essa observação de caráter elementar encontra sua explicação na obra de Poulantzas

por sua referência à discussão de Marx, debatidas parcialmente na seção anterior. Embora o

Estado capitalista seja importante organizador e reprodutor da circulação de mercadorias, sua

novidade e seu fundamento característicos, por conseguinte e como dificilmente poderia

deixar de ser, residiriam na esfera da produção115. Como vimos, tais relações conformam

uma “reorganização prodigiosa da divisão social do trabalho”, qual seja um novo tipo de

cisão entre trabalho manual e trabalho intelectual, desta feita vinculada ao mundo da

produção de valor116 . Recuperando Marx, Poulantzas torna este o nervo central de sua

análise do Estado no capitalismo. Sem essa forma de divisão social do trabalho – inclusive e

sobretudo entre trabalho manual e trabalho intelectual aplicado à produção de mercadorias –

esta forma de organização do poder politico não seria possível. Assim, se o Estado Moderno

conta com quadros dedicados puramente ao exercício deste tipo de poder, é porque a relações

115
A discussão sobre o trabalho intelectual é central para a concepção de Estado capitalista formulada em O
Estado, o poder, o socialismo. Não sem razão Poulantzas abre o capítulo dedicado a discutir a materialidade
institucional do Estado por aquela reflexão. As conclusões políticas mais dramáticas serão expostas na
quarta parte, que encerra esta grande obra. Na ocasião, o autor debate o que chama de estatismo autoritário,
isto é, o processo de vedação dea influência democrática sobre certos aparelhos do Estado cujo
sociometabolismo é extraído do domínio de tecnicalidades inacessíveis às “massas populares”. Ver:
POULANTZAS, N. O Estado, o poder, o socialismo. Graal: Rio de Janeiro, 1981, p. 207-253
116
POULANTZAS, Op. cit, p. 52

91
sociais de produção que encarnam sua anatomia permitem a alocação de força de trabalho no

exercício do saber legítimo117.

Diferentemente de definições mais apressadas sobre essa divisão, o autor não aparta

os dois tipos de trabalho de maneira “empírico-naturalista”, isto é, “como uma cisão entre os

que trabalham com suas mãos e os que trabalham com sua cabeça” (POULANTZAS, 1978,

p. 52). Como visto acima, Antônio Gramsci já havia ressaltado a inadequação da observação,

uma vez que mesmo o mais manual dos trabalhos envolve dispêndio de energia mental – e,

portanto, inclusive do ponto de vista biológico, também é intelectual (GRAMSCI, 2003c). A

cisão operada é eminentemente, portanto, político-ideológica, isto é, revela muito menos uma

distinção essencial do que uma separação política. A repartição entre trabalho manual e

trabalho intelectual, por conseguinte, está “ligada à espoliação completa do trabalhador direto

de seus meios de trabalho”, além de representar a condensação do saber no polo do trabalho

intelectual, o que não significa aqui a cristalização efetiva e essencial do saber neste polo,

mas revela a concentração da capacidade de se decidir sobre o que é o saber legítmo118. O

que tem como efeito,

a) a separação característica dos elementos intelectuais e do trabalho realizado


pelo trabalhador direto, trabalho que, nesta distinção do trabalho intelectual (o
saber) recobre assim a forma capitalista de trabalho manual; b) a separação da
ciência do trabalho manual enquanto, a “serviço do capital”, tende a tornar-se força
produtiva direta; c) as relações particulares entre ciência-saber e as relações
ideológicas, ou seja a ideologia dominante, não apenas no sentido de um saber mais
“ideologizado” que antes, nem simplesmente no sentido de uma utilização político-
ideológica do saber pelo poder (isso sempre aconteceu), mas no sentido de uma
legitimação ideológica do poder instituído na modalidade de técnica científica, ou
seja, a legitimação de um poder como decorrente de uma prática científica racional;
d) as relações orgânicas estabelecidas doravante entre o trabalho intelectual assim

117
Para enfatizar como a burocracia estatal compõe o conjunto de intelectuais, Poulantzas lembra o uso dos
saberes codificados embutidos nas rotinas administrativas, dos mais básicos, como a escrita, aos mais
específicos, como as tecnicalidades setoriais. Acrescentaríamos, ainda, que a maré montante da busca pela
eficiência no Estado revela a importância dos saberes, prisma por meio do qual as práticas são gerenciadas.
118
POULANTZAS, Op. Cit, p. 52

92
separado do trabalho manual e as relações de dominação políticas, em suma entre
o saber e o poder capitalistas (POULANTZAS, 1981, p. 52-53)

O Estado capitalista, por conseguinte, representa a cristalização do novo tipo

de trabalho intelectual, surgido, como vimos, da diferenciação de ofícios na manufatura.

Desta perspectiva, o exercício do poder estatal é inseparável do exercício do saber e se

confunde constantemente com ele. Com efeito, a concentração do saber é o anverso da

expropriação do saber, o que enseja uma relação de poder com exercício necessário da

obediência. É pelo saber estar concentrado em um determinado polo que o outro, desprovido

do conhecimento legítimo, deve acatar e seguir ordens. Daí o Estado ter uma miríade de

aparelhos ditos técnicos – e que são efetivamente técnicos, em um determinado nível de

análise e abstração -, cuja função é “gerir a sociedade” ao passo em que reforça o circuito

estruturado em torno da antinomia mando-obediência.

O Estado encarna no conjunto de seus aparelhos, isto é, não apenas em seus


aparelhos ideológicos mas igualmente em seus aparelhos repressivos ou
econômicos, o trabalho intelectual enquanto afastado do trabalho manual: o que
se torna evidente quando se sai da distinção naturalista-positivista trabalho
manual/trabalho intelectual. (…) Esse Estado, afastado das reações de produção,
situa-se precisamente ao lado do trabalho intelectual ele mesmo separado do
trabalho manual: ele é o corolário e o produto desta divisão, ao deter um papel
próprio em sua constituição e sua reprodução (POULANTZAS, 1981, p. 53).

O Estado capitalista, assim, é produto das relações sociais de produção capitalista,

que ensejam precisamente a concentração do saber em um dos polos da relação trabalho

intelectual-trabalho manual. Como resultado desta consagração, apoia-se em seu

desenvolvimento, reproduzindo, por um lado, a tendência de apropriação de conhecimento

pelo capital; por outro, os circuitos de mando-obediência cujas pontas são ocupadas,

respectivamente, pelo trabalho intelectual e pelo trabalho manual. Por conseguinte, ainda que

não reúna o exercício de todo o trabalho intelectual nascido da divisão social do trabalho no

interior do capital, o Estado se converte em importante difusor das mesmas relações,

93
tornando-se um dos pilares daquela hierarquia que separa os que mandam dos que

obedecem119.

Aqui considero a análise de Poulantzas sobre o Estado muito interessante, e ela será

base do restante do desenvolvimento desta tese. Todavia, parece-me que essas reflexões do

autor pecam no que diz respeito ao sociometabolismo dos produtos do trabalho intelectual na

“sociedade” e no “Estado”, nas definições mais comuns destas instâncias da vida social. O

Estado é, com efeito, locus da difusão de ideias, hábitos, princípios e toda sorte de normas

de convivência que organizam a vida sob o capitalismo. Mas como ele seleciona

determinados hábitos e princípios em detrimento de outros?

Neste terreno, as contribuições de Antônio Gramsci foram fundamentais e

inauguraram, direta ou indiretamente, uma área de pesquisa fértil. Acima já apresentei de

passagem alguns trabalhos que, lançando mão declaradamente do instrumental teórico

gramsciano, fizeram o conhecimento daquela relação entre sociedade civil e sociedade

política avançar. Há, entretanto, outros que, nem sempre citando diretamente as contribuições

119
O supracitado trabalho de Poulantzas, além dos elementos já aqui apresentados, identifica ainda uma
dinâmica contraditória operada essencialmente pelo Estado. Tendo em mente o processo de parcialização
radicado nas relações sociais de produção, durante as quais, pela expropriação do trabalhador de seus meios
de vida, o indívuo aparece “livre” de quaisquer compromissos, o autor lembra que aquele aparelho especial,
por um lado, atua positivamente na individualização do corpo político; atuação exemplificada pela eleição
de representantes e pela responsabilização individual frente ao império da lei. Por outro, reune magicamente
o povo-nação em um conjunto de representantes e práticas institucionais, reafirmando, no processo, a
prerrogativa de direção do Estado sobre aquele mesmo corpo político, dada a relativa debilidade dos
indivíduos-cdadãos isolados. Assim, se o trabalho intelectual é igualmente o trabalho de coordenação de
esforços de outro modo dispersos, o Estado, além de sua síntese máxima, também é executor espécifico,
no nível político, do exercício de trabalho intelectual em uma sociedade capitalista – isto é, uma sociedade
regida pela lei do valor derivada da fragmentação do processo produtivo. Mas isso não é tudo. Dada a
individualização grassante, o trabalho de coordenação deve ser necessariamente individual, o que rejeita,
de partida, esforços coletivos na coordenação-execução de tarefas, reafirmando, por este expediente, a
diferenciação tanto no mundo produtivo quanto na esfera da política institucional. Assim, se à primeira
vista o Estado aparece como grande coordenador, ao reduzir a escala de análise o exercício de coordenação
é atributo de indivíduos específicos – daí a importância tendêncial do “pessoal do Estado” e da
administração pública no intercurso da obra em debate, que, claro, adquire o estatuto identificado na
reflexão sobre o estatismo autoritário, cara ao autor, devido à debilidade relativa de suas contratendências.
94
do marxista sardo, atuaram em sentido homólogo e têm com ele dívidas intelectuais. Dardot

e Laval, aqui já referenciados, inserem-se neste grupo. Com efeito, ao refletirem como a

razão neoliberal se tornou norma de uma nova forma de gestão pública, os autores lembram

o papel dos intelectuais orgânicos, conceito de Antônio Gramsci, que, contudo, não é

referenciado no livro. Dizem eles:

Especialistas e administradores politicos dóceis, que, nos diferentes campos em


que deveriam intervir, instauraram os novos dispositivos e modos de gestão
próprios do neoliberalismo, apresentando-os como técnicas políticas novas,
guiadas unicamente pela busca de resultados benéficos para todos. Esses
‘intelectuais orgânicos’ do neoliberalismo, afirmando-se ora de direita, ora de
esquerda, ou sucessivamente um e outro, tiveram um papel-chave na naturaliação
dessas práticas, em sua neutralização ideológica e, por fim, em sua implantação
prática. Células de pesquisa, inúmeros colóquios, amplas operações de formação
de quadros da função pública, produção e difusão maciça de um léxico homogêneo,
verdadeira língua franca das elites modernizadoras, acabaram por impor o discurso
ortodoxo da gestão. Mas nã onos enganemos: as políticas neoliberais não foram
implantadas em nome da ‘religião de mercado’, mas em nome de imperativos
técnicos de gestão, em nome da eficácia, ou até mesmo da ‘democratização’ dos
sistemas de ação pública. As elites convertidas à racionalização das políticas
públicas desempenharam o papel principal, com a ajuda, evidentemente, do
conjunto dos aparelhos de fabricação do consentimento que retransmitiram seus
argumentos a favor da ‘modernidade’120.

No conjunto de aparelhos de fabricação do consentimento constam os tanques de

pensamento, como fica evidente em outros trechos da obra, principalmente quando da

apresentação da origem das difusão de ideias de Mises, Hayek, e companhia 121 . Eles

também integram as reflexões de Elizabeth Cancelli, cujo interessante trabalho também tem

dívida com Gramsci, que não é citado, e René Dreifuss, este sim referenciado. É o caso de

suas reflexões sobre o que ela chama de guerra fria cultural, campo de disputas entre

organizações soviéticas e estadunidenses pelas consciências no pós-guerra. Cancelli destaca

a importância da Fundação Ford no desenvolvimento das atividades do Congress for Cultural

Freedom, organização que tentou rivalizar com associação de comunistas que atraiam

120 DARDOT e LAVAL, op cit, p. 231-232.


121 DARDOT e LAVAL, op cit, P. 205
95
intelectuais sobretudo na Europa, como o Congresso Mundial dos Partidários da Paz.

Inicialmente projetado pela CIA, fundações de direito privado, como a Ford e a Rockefeller,

apoiaram as iniciativas estadunidenses na área, após o envolvimento do Estado com o

programa ter sido avaliado como prejudicial à sua influência 122 . Esses tanques de

pensamento, agindo em coalização de esforços com o Departamento de Estado estadunidense,

favoreceram representantes da esquerda “antissoviética”, estimularam a produção das

ciências sociais críticas aos “totalitarismos” fascistas e comunistas e trabalharam em favor

da captura de bandeiras potencialmente revolucionárias – como a “questão racial” – por

agentes da ordem “livre” e “democrática”. No Brasil, as ciências sociais com função

conservadora foram estimuladas, inclusive pela concessão de bolsas de estudo nos Estados

Unidos por programas como o Fullbright Exchange Program, o People-to-People Program,

o Ambassador Program, e o Peace Corps, que formaram uma camada de inteletuais

predispostos a defenderem teses adequadas à estratégia estadunidense do período. Estes

passaram a frequentar tanques de pensamento formados no país com o fito de assegurar

reformas de Estado que estabilizassem a reprodução capitalista no país, cujo exemplo mais

destacado no trabalho da autora é o Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (IPES)123.

Nesta chave de análise, os tanques de pensamento estiveram “por trás” dos grandes

movimentos sísmicos que abalaram a América Latina pelo menos desde a Segunda Guerra

Mundial. Se golpes de Estado como o brasileiro de 1964 não podem ser entendidos sem

referência ao IPES, também as transições democráticas que eclodem na região a partir dos

anos 1970 se tornam resultado do embate entre diferentes organizações que disputam a

122 Ver: CANCELLI, Elizabeth. O Brasil na Guerra Fria Cultural. O Pós-guerra em releitura. São Paulo:
Intermeios, 2017.
123 CANCELLI, Elizabeth. Op cit. P. 89.
96
direção do processo. Beatriz Stolowicz (2005) evoca o papel dos tanques de pensamento na

elaboração da tese dos dois demônios, que lastreou a ação política de democratas naquela

quadra histórica. Por meio deles, idealizou-se o passado e o futuro: o regime político de matiz

liberal era estendido para trás, como norma aviltada por tentações populistas, e à frente, como

projeto. A democracia burguesa era apresentada como saída para a crise política. Mesmo

algumas alas das esquerdas que combatiam o capitalismo aceitaram tais marcos para o debate,

fazendo, então, com que o retorno ao regime democrático daquele tipo se tornasse a principal

bandeira de luta. A operação, desta forma, foi fundamental para que o combate ao capitalismo

perdesse terreno, e a questão do socialism quedasse esmaecida, recoberta pelo entulho das

“mais urgentes” lutas por abertura política. Além disso, favoreceu-se a identificação entre

forma democrática burguesa e democracia enquanto tal. Importante ponto deste trabalho,

assim, é a caracterização daquelas entidades e instutos de pesquisa como nós de uma rede de

formulação e propagação dessas visões de mundo, do que se pode extrair o papel dos tanques

de pensamento na (trans)formação de regimes politicos.

Outro campo de estudos aberto por aquela perspectiva se dedica a analisar a Comissão

Trilateral, associação de burguesias da Europa Ocidental, América e Japão 124 . Assim,

estudos indicam sua atuação na virada da política externa estadunidense nos anos 1970,

quando então a superpotência ocidental passou a defender a democratização da América

124
ASSMAN, Hugo; SANTOS, Theotônio dos; CHOMSKY, Noam (orgs.). A Trilateral. Nova fase do
capitalismo mundial. Petrópolis: Vozes, 1979; GILL, Stephen. American hegemony and the Trilateral
Commission. Cambridge: Cambridge University Press, 1990; SKLAR, Holly. Trilateralism. The trilateral
commission and elite planning for world management. Boston: South and Press, 1980; SANTOS, Thetonio.
The multinational corporation. Cell of a contemporary captalism. Toronto: Laru, 1978. SKLAR, Holly
(org.) Trilateralism. Managing dependence and democracy. Boston: South Press, 1980; HOEVELER,
Rejane Carolina. As elites orgânicas transnacionais diante da crise. Os primórdios da Comissão
Trilateral (1973-1979). Dissertação de mestrado. Univesidade Federal Fluminense, Programa de Pós-
Graduação em História, 2015.
97
Latina, então parcialmente imersa em regimes autoritários. Tais pesquisas apontaram que,

por meio dessas associações burguesas, defendeu-se a construção de uma democracia para o

capital, que favoreceria não só as burguesias locais dos países redemocratizados, mas

principalmente a epítome do capitalismo125.

Nessa perspectiva, também o chamado neoliberalismo contou com uma rede de apoio

da burguesia para se efetivar. Nessa questão, o trabalho de Daniel Mato é referência,

principalmente por acrescentar às análises mais tradicionais sobre as reformas de Estado

promovidas pelo Consenso de Washington – notadamente o papel do Fundo Monetário

Internacional e do Banco Mundial126 - a atuação de outros intelectuais127. Formados em

instituições cujas formulações foram pautadas pela burguesia, intelectuais das classes

dominantes difundem sua ideologia como senso comum, seja pela grande mídia, seja por

outras instituições de formação de consciência, como universidades e escolas 128 . Por

conseguinte, o papel de entidades como os tanques de pensamento é, neste conjunto de

trabalhos, fundamental para se entender os laços que unem a produção de saberes na

sociedade e as reformas das práticas e da ossatura do Estado129.

125
GUILHOT, Nicolas. Op cit; MATO, Daniel. Critica de la modernidad, globalizacion, y construccion de
identidades en América Latina y el Caribe. Caracas: UCV, 1995; _______ On the making of transnational
identities in the age of globalizacion. Caracas: UCV, 1998; _______ Sobre la fetichización de la
‘globalización’. In: Revista venezolana de analisis de coyuntura, v. 5, n.1, Caracas, 1999
126
HARVEY, David. Neoliberalismo. História e implicações. São Paulo: Loyola, 2014; CHESNAIS, Francois.
Mundialização do capital; HUSSON, Michel. Misere du capital. Paris: Syros, 1996; NETTO, José Paulo.
Crise do socialismo e ofensiva neoliberal. São Paulo: Cortez, 1995.RAPLEY, J. Globalization and
inequality. Neoliberalism’s downward Spiral, Colorado: Lynne Reiner, 2004. ROUQUIÉ, Alain;
SCHVARZER, Jorge; LAMOUNIER, Bolivar. Como renascem as democracias. São Paulo: Brasiliense,
1985.
127
MATTO, Daniel. Think tanks, fundaciones y profesionales en la promoción de ideas neoliberales en
America Latina. In: GRIMSON, Alejandro (org.). Cultura y neoliberalismo. Buenos Aires: CLACSO,
2007, p. 29
128
NEVES, Lúcia Wanderley (org). Nova pedagogia da hegemonia. São Paulo: Xamã, 2005. MARTINS,
André. A direita para o social. A educação da sociabilidade no Brasil contemporâneo. Juiz de Fora: Editora
UFJF, 2009.
129
Em uma anedota popular nos círculos burgueses, Friedrich Hayek aconselha um entusiasta do liberalismo
a agir em âmbitos extrapartidários, notadamente no convencimento de acadêmicos e jornalistas para sua
98
Este conjunto de trabalhos ratifica a perspectiva dos tanques de pensamento como

laços entre a sociedade civil e a sociedade política, conforme acima discutimos. O destaque

à capacidade de produção de saberes por entidades fora do Estado que, contudo, por

expedientes de consultoria, tentam influenciar políticas públicas recorrendo à ideologia da

técnica, contraria algumas observações de Nicos Poulantzas. Com efeito, em O Estado, o

poder, o socialismo, o autor reflete de maneira distinta sobre os aparelhos de Estado e as

instituições que intermediam as suas relações com as “massas-populares”, como fica evidente

no trecho glosado abaixo.

(…) é a monopolização permanente do saber por parte do Estado-sábio-locutor,


por parte de seus aparelhos e de seus agentes, que determina igualmente as funções
de organização e de direção do Estado, funções centralizadas em sua separação
específica das massas: imagem do trabalho intelectual (saber-poder) materializada
em aparelhos, em face do trabalho manual tendencialmente polarizado em massas
populares separadas e excluídas dessas funções organizacionais. É igualmente
evidente que uma série de instituições da democracia representativa, dita indireta
(partidos políticos, parlamento, etc), em suma da relação Estado-massas, dependem
do mesmo mecanismo” (p. 54, grifos meus).

Assim, diferentemente de Antônio Gramsci, Poulantzas não demonstrou o mesmo

interesse em discutir prolongadamente a “sociedade civil”, pelo menos não enquanto rede de

interação dos aparelhos privados de hegemonia que agem na sociedade civil e sobre a

sociedade política. Essa distinção se anuncia pela crítica a Gramsci, que não teria entendido

as relações de produção também elas como loci de construção política130. Por um lado, o

ideologia. Este seria um primeiro passo para a posterior refundação do Estado de acordo com os
princípios defendidos pelos adeptos da Sociedade Mont Pelerín (Blundell, 2004, 20-29; Friedman, 1994,
XIX; 2002; Liggio, 2002; MATO, 2007, p. 29).
130
Importante destacar, entretanto, que Poulantzas não parecia aceitar principalmente a compreensão de
Gramsci sobre o Estado, embora tenha reconhecido o “mérito” do sardo em “ampliar o espaço do Estado
nas instituições ideológicas” (p. 28) e compreendê-lo como “a realização por excenlência de um trabalho
intelectual separado de maneira característica do trabalho manual”, a ponto de entender os intelectuais em
amplo sentido, para incluir mesmo “os aparelhos repressivos (policaiis, guardas, militares)” (p. 54).
Crítica do filósofo greco-francês repousa sobre suposta desatenção ao mundo da economia, que teria, por
conseguinte, entendido como “auto-regulado” ou “livre” da presença do poder político. A crítica
poulantziana, no entanto, queda frágil à luz da discussão gramsciana sobre o liberismo, entendido pelo
autor dos Cadernos do Cárcere como produto da ação organizada das classes dominantes, não como
99
pouco desenvolvimento do tema da sociedade civil no pensamento poulantziano se tornou

mais problemático desde a publicação original de seus últimos trabalhos, no fim dos anos

1970. Isso porque, como vimos, desde então os tanques de pensamento têm se multiplicado,

tornando-se um dos principais beneficiários da ideologia da técnica tornada possível pela

forma de organização das relações sociais de produção no capitalismo, como bem notou o

próprio Poulantzas. Neste quesito, as reflexões gramscianas contribuem mais com o estudo

das sociedades contemporâneas, inclusive porque também ele esteve preocupado com a

organização das relações sociais de produção em sua função de formação de consenso, como

seu estudo do americanismo-fordismo evidencia.

Consideramos aqui, portanto, as observações de Poulantzas acerca da homologia

entre Estado e relações de produção, com respectiva separação entre trabalho intelectual e

trabalho manual, uma maneira interessante de entender a divisão social do trabalho no

capitalismo e o próprio funcionamento dos aparelhos públicos. Diferentemente dele, contudo,

destaco também a atuação das entidades da sociedade civil, os aparelhos privados, que atuam

na formação e transmissão de saberes difundidos pelo Estado, como queria Gramsci131.

Também elas possuem homologias com as relações sociais de produção no capitalismo, uma

vez que encarnam o tipo de cisão do trabalho que é alimentada pelo modo de produção.

Assim, se Nicos Poulantzas enxerga nas relações sociais de produção e na formatação do

Estado a consagração da racionalidade técnica como fundamento de um novo tipo de saber,

acrescentaríamos, com as contribuições gramscianas, que também as entidades da sociedade

manifestação, em nível ideal, do próprio “jogo” econômico. Da forma como entendo, contudo, os aportes
gramscianos podem ser combinados à análise de Poulantzas sem se contradições insolúveis.
131
E que, se ele não ignora totalmente, haja vista sua análise de partidos e sindicatos, não ressalta
adequadamente sua complexidade e nem a sua interação interna, prefereindo – dado o objeto de sua
investigação, é verdade – estudar aquelas organizações em sua interface com a sociedade política.
100
civil colaboram com o quadro. Dentre elas, os tanques de pensamento tem neste quesito

função de destaque, por isso os considero um tipo específico de APH que deve ser entendido

em sua especificidade. Creio que, dessa forma, entende-se de maneira enriquecida o circuito

das tecnologias políticas que, de acordo com Poulantzas, a partir do Estado engendram

formas particulares de organização social, reproduzindo a hierarquia entre proprietários e

despossuidos – tanto de meios de produção quanto de saber legítimo.

1.6 Tecnologias políticas e lutas de classe no Estado capitalista

Estabelecendo os tanques de pensamento como pontes privilegiadas entre as

sociedades civil e política, fica identificado o plano geral do circuito que o trabalho

intelectual percorre, das relações sociais de produção até o Estado, onde se impõe da maneira

como acima indiquei. Restam duas questões a serem tratadas no capítulo: como as classes

sociais em disputa interagem com este circuito?; b) de que modo o mesmo pode ser

instrumentalizado para curto-circuitar os avanços populares sobre os interesses do capital?.

Sobre estes temas nos debruçaremos agora.

Conforme dito acima, o trabalho intelectual não é uma criação burguesa. Tampouco

é uma exclusividade sua. Embora, em termos capitalistas, ele tenha sido impulsionado pela

divisão social do trabalho possibilitada pela manufatura e suas derivadas, o desenvolvimento

histórico viu representantes das classes dominadas ocuparem postos de exercício daquela

atividade. Gramsci esteve atento ao processo, indicando não só a possibilidade, mas a

101
necessidade de os subalternos procurarem gerar seus próprios intelectuais orgânicos132 .

Assim, no capitalismo contemporâneo, todas as classes sociais atuam, ainda que

desigualmente, na formação de quadros de direção e organização133.

Observar esses pontos, sobretudo no interior da percepção de totalidade social, é

fundamental para se compreender o papel dos operadores da técnica, na figura de pessoas ou

entidades como os tanques de pensamento. São eles que, cuja atuação é consagrada pelo

domínio reconhecido do saber autorizado, atuam tanto na formação de disposições e

consciências dos indivíduos quanto na geração e atribuição de prestígio técnico e político,

fundamental para gabaritar pessoas a cargos no Estado. É assim que entendemos o papel

fundamental sobretudo daquelas organizações na estruturação, composição e funcionamento

dos aparelhos estatais. Por serem aparelhos de classes, identificadas não apenas pela

composição de seus quadros, como também por seus financiadores, parceiros e apoiadores,

são interesses materiais os defendidos envoltos sob o manto da técnica. Este expediente, por

ser eminentemente despolitizante, é geneticamente associado à burguesia e às suas frações

internas, único grupo efetivamente capaz de, no quadro atual de predomínio do modo de

132
A discussão de Gramsci sobre o assunto revela a importância de que o intelectual orgânico dos dominados
seja recrutado entre os representantes proletários e, mesmo alçado à posição de direção, mantenha com a
base vínculos estreitos, a fim de evitar o esclerosamento da representação. Essa discussão, no mais, integra
o debate sobre a burocratização dos postos de comando e a possibilidade de uma vanguarda proletária ser
representativa dos interesses dos de baixo. Do meu ponto de vista, a posição mais avançada sobre a questão
foi identificada, em termos práticos, no debate sobre a Revolução Cultural chinesa, acima mencionado. Em
todo o caso, o destaque dado ao longo do capítulo à questão do circuito mando-obediência tem o interesse
também de ressaltar a necessidade de todos atuarem efetivamente como “filósofos” (o que, segundo
Gramsci, na prática já o são). Isso porque, do ponto de vista dos que planejam o futuro para além do capital,
quebrar a espinha dorsal da hierarquia vertebrada pela posse desigual de saber legítimo só é possível com
a gestão cooperada da direção e coordenação do trabalho e da classe revolucionária – que, na medida em
que transforma a missão social (o termo é de Lukács) dominante, tende, inclusive, a ressignificar o que se
entende por saber.
133
A referida desigualdade, no caso brasileiro, dá-se inclusive por ação do Estado, que reprime a organização
autônoma da classe trabalhadora. Virgínia Fontes discute a questão quando debate a ampliação seletiva do
Estado no país. Ver: FONTES, Virgínia. Brasil e o capital-imperialismo. Teoria e história. Rio de
Janeiro: UFRJ, 2010.
102
produção capitalista, fazer com que seus interesses pareçam naturais. De sorte que, se

aceitarmos os tanques de pensamento como conjunto de entidades que se pautam

principalmente pela produção de visões de mundo escoradas no tecnicismo, conviria se

perguntar se é possível existirem tanques de pensamento proletários ou se, ao contrário, esta

forma de organização é especificamente burguesa, não apenas por seus discursos

mistificadores, mas também por reproduzir a hierarquia entre trabalhos manual e intelectual

– também ela uma forma de causar cisões nas fileiras da classe trabalhadora.

Como vimos, a sociedade civil assim entendida é composta por espécies de cabeças

de pontes por meio das quais as classes e fraçoes de classes tentam impor seus interesses ao

Estado. Também pontuamos que desde os anos 1970 se multiplicam os números de tanques

de pensamento, inclusive de ação internacional. Temos, portanto, que a rede que aqui

descrevemos transcende os limites nacionais e da soberania de estados, a ponto de o

instrumental teórico gramsciano acima comentado ter sido adaptado aos estudos das relações

internacionais, em estudos que ganharam força diante das expectativas com a emergência de

sociedades “cosmopolitas” após o colapso do bloco socialista134. O estudo das entidades de

classe em sua atuação sobre os Estados, assim, não pode considerar apenas as organizações

“nacionais”, sendo fundamentais a construção de explicações que destaquem fluxos globais,

capturáveis por metodologia que destaque histórias transnacionais.

Vejamos mais de perto um exemplo recolhido do estudo da documentação produzida

pelo IFHC. Em novembro de 2019, a entidade demonstrou preocupação com o que chamou

significativamente de tecnologias disruptivas. Na ocasião, sediou seminário com Lindsay

134 Ver: MURPHY, Craig. International organizations and Industrial Change. Global Governance since
1850. Cambridge: Polity Press, 1994.
103
Gorman, especialista em inovações do The German Marshall Fund of the United States

(GMF), considerado um dos principais tanques de pensamento com presença nos Estados

Unidos e na Europa. O evento foi apoiado por inúmeras empresas, organizações da sociedade

civil e pelo Estado estadunidense, na figura da organização de embaixadas e consulados do

país135. O encontro acentuou os riscos de conflitos éticos frente às vanguardas científicas

que têm desenvolvido dispositivos de vigilância assentados na mineração de dados de

usuários em ambiente virtual. Problemas de privacidade, da reprodução de vieses sociais

atualmente sob combate 136 e da “ideologia” de idealizadores embutida nos inventos

tecnológicos demonstrariam os riscos do livre desenvolvimento da área. Como exemplo do

último elemento, apresentou um panorama das pesquisas tecnológicas em “Estados

autoritários como o chinês”, defendendo que a disposição de controle sobre os cidadãos

influenciara as pesquisas científicas na área de vigilância, favorecendo produtos como

escâneres faciais e aplicativos de mineração de dados comportamentais. Estes inventos são

vistos como potencialmente prejudiciais por demonstrarem as “vantagens do autoritarismo”

na área, precisamente por suposta ausência de limites éticos ao avanço da ciência sobre a

privacidade individual e o controle dos cidadãos – obstáculos que seriam inerentes às

democracias. Ainda que tenha admitido que também nos Estados Unidos e em outros “países

democráticos” a vigilância de cidadãos em espaço público já havia sido naturalizada, a

palestrante silenciou sobre a espionagem dos cidadãos em ambiente privado, sancionada por

135 Ambe; Athie Wohnrath; Apas; Banco Alfa; Banco Safra; Bradesco; B³ Brasil, Bolsa, Balcão; Bunge;
Carrefour; CCR; Comgas; Cosan; CPFL Energias; Femsa; Itaú; Natura; Raizen; Sanofi, Raps; Telefônica
Vivo; Votorantim; Band News; Embaixadas e Consulados dos Estados Unidos da América.
136 Gorman apresenta os dados que mostram como o programa de reconhecimento facial tem muito mais
sucesso em identificar homens brancos (acerta 99% das vezes) do que mulheres negras (grupo em que os
erros chegam a 35%). Segundo ela, o descompasso da eficiência tecnológica pode prejudicar a população
negra, submetendo-a a erros policiais também motivados por falhas no sistema de vigilância,
aprofundando o racismo.
104
medidas tais quais o Ato Patriótico de George W. Bush em 2001. O evento contribuiu, assim,

com a elaboração de uma imagem esquemática não apenas sobre o regime chinês, mas

também sobre a relação entre democracia burguesa e tecnologia137.

Já os pontos positivos elencados pela palestrante são bastante elucidativos sobre o

que aqui tentamos defender mais acima: se a tecnologia pressupõe e engendra determinadas

relações sociais, é também porque os dilemas éticos que favorecem ou dificultam seu

desenvolvimento expressam interesses de classes. Faz sentido, assim, que sejam elogiados

os instrumentos de machine learnings que preparam a “próxima geração de automatização”,

nas palavras de Gorman. A pesquisadora na ocasião demonstrou como os sistemas de

verificação de humanos em ambiente virtual contribuem com as pesquisas na área de

automação veicular, ao se apropriarem das respostas de internautas àqueles sistemas para

identificar conjuntos de objetos visíveis. No caso em tela, foi destacado o sistema de

reconhecimento de objetos em imagens, como placas de trânsito e faixas de pedestres que,

dada sua quantidade maciça, auxiliam as empresas a ensinarem as máquinas a reconhecerem

esses sinais fundamentais para o trânsito seguro da futura geração de automóveis sem

motoristas. Como vemos, não foram questionadas a apropriação de trabalho não pago – é

efetivamente disso que se trata, quando os usuários são postos para fazer o serviço de

construir um enorme banco de dados posteriormente disponibilizado às empresas de

automação – ou a conveniência de uma nova etapa de reestruturação produtiva que tende a

fechar postos de trabalho. Assim, se nos aspectos negativos foram destacados principalmente

os riscos às democracias por suposta maior eficiência neste tipo de campo tecnológico por

137 A apresentação de Lindsay Gorman está disponível no YouTube:


https://www.youtube.com/watch?v=i0Iwx0OhDH0 (acessado em 23/07/2020 às 17h55).
105
regimes autoritários, entre os itens positivos foram enfatizados os mecanismos que criam

novas formas de extração de valor produzido pela classe trabalhadora.

Para os fins da presente discussão, importa destacar como o IFHC e o GMF

produziram seminário em conjunto sobre o que são considerados problemas importantes do

século XXI tanto para a democracia quanto para o capitalismo. Por um lado, o risco do

avanço militar de “países autoritários”, que, supostamente diferentes dos países

“democráticos”, poderiam aplicar sem maiores entraves inteligência artificial em “momentos

críticos” de escolha entre vida e morte, notadamente na área da saúde e no campo militar.

Naturalmente, a preocupação com países que possam pôr em xeque à liderança internacional

dos Estados Unidos é evidente, mas há aqui também a preocupação com o fim de equilíbrio

relativo entre as classes dominantes dos países centrais, alcançado com o claro predomínio

militar estadunidense, responsável por inibir eventuais evoluções da política institucional à

guerra aberta. Gorman transparece a preocupação com a instabilidade internacional que

poderia ser provocada por uma nova corrida armamentista, por sua vez possibilitada pela

nova fase de descobertas tecnológicas no campo da inteligência artificial.

Por outro lado, áreas de ponta no campo da inteligência artificial podem representar,

por meio de mecanismos de machine learnings e mineração de dados de usuários, novo

recurso estratégico tanto na definição das relações de força em níveis de Estados quanto

importante setor de extração de valor. Assim, ao passo que se instruem as “democracias

ocidentais” sobre os riscos das tecnologias disruptivas, informa-se a classe dominante sobre

setor capaz de constituir fronteira de acumulação capitalista no próximo período histórico.

A prerrogativa desfrutada pelo IFHC de constituir importante nó nesta teia

internacional de organizações burguesas é um dos elementos que o destaca em rankings de

106
avaliação de tanques de pensamento, como os produzidos pela Univesidade da Pensilvânia.

Ao mesmo tempo que as entidades coordenam a ação das classes dominantes em nível global,

inclusive no que diz respeito à identificação de importantes áreas de investimento, também

atuam no consórcio das frações dominantes, dirimindo potenciais fricções, superando

conflitos e colaborando com a manutenção da ordem capitalista, inclusive pela reprodução

da hierarquia entre classes e frações de classes138. Deste ponto de vista, o constant redesenho

de Estados é uma função fundamental, tendo em vista o dinamismo do modo de produção

em tela.

Para tratarmos teoricamente desta questão, o entendimento do último Poulantzas

sobre o poder politico “moderno” traz inegáveis ganhos. O autoro o percebia como um campo

atravessado pelas contradições e pelos antagonismos do mundo produtivo. As classes e

frações de classes organizadas, protanto, lutam, inclusive, em sua ossatura material,

conformando-a em compasso à correlação de forças em uma dada sociedade.

Ao precisar algumas de minhas formulações anteriores, diria que o Estado, no caso


capitalista, não deve ser considerado como uma entidade intrínseca mas, como aliás é o
caso do “capital”, como uma relação, mais exatamente como a condensação material de
uma relação de forças entre classes e frações de classe, tal como ele expressa, de maneira
sempre específica, no seio do Estado139(grifos do autor).

Dessa forma, sempre segundo o filósofo grego, têm-se condições de superar o eterno

dilema que marcava a oposição entre os paradigmas liberal e marxista de concepção do

Estado: este não seria um sujeito como defendiam Hegel e Weber, que o postulavam como

instância racionalizadora apartada da sociedade civil; tampouco seria a coisa, o instrumento

de uma “velha concepção” materialista do Estado, que o considerava totalmente manipulável

138 Leo Panitch tem uma interessante contribuição que discute o papel dos Estados Unidos como promotores
e defensores do “capitalismo global”. Ver: PANITCH, Leo. The making of global capitalism. London:
Verso, 2013.
139
Poulantzas, Op. Cit, p. 130.
107
por uma única classe, como uma ferramenta exclusivamente erguida para sua dominação. O

Estado-relação, assim, seria uma premissa teórica superior por considerar a interação que há

entre os representantes de diferentes classes no Estado. Mais: a própria luta de classes –

presente e passada - desenha os limites do Estado e seus padrões de funcionamento,

determinando, por meio de embates concretos e historicamente observáveis, sua ossatura

material e sua práticas de rotina, bem como sua disposição à reprodução da lógica social

dominante.140

Para as questões que aqui nos interessam, as formulações poulantzianas acerca do

Estado-relação abrem campo de pesquisa para aqueles interessados em averiguar a

constituição dos diferentes Estados capitalistas – relacionando-o às lutas de classes. Se essa

forma de interpretar o Estado não deve sua existência inteiramente às contribuições de

Poulantzas, ele certamente chegou mais longe na constituição daquele objeto como um

“aparelho especial”. Não se trata, portanto, de considerar o Estado mera relação social. Isso

porque ele mantém em conjunto instituições que não perdem sua materialidade de aparelhos,

com constituições históricas e disposições particulares nelas incorporadas. Como novidade,

porém, a tentativa de capturar sua genealogia sempre dinâmica, uma vez que sua construção

e reconstrução constantes são resultados de lutas de classes, expressas inclusive por meio de

APH’s e tanques de pensamento, cuja atuação impacta de diferentes formas sua expressão

sempre histórica. Em que pese tais instituições específicas do Estado terem uma constituição

particular, esta é definida pela dinâmica conflitiva da sociedade capitalista, com seus

interesses contraditórios e seus antagonismos insuperáveis, cujo desdobramentos presentes e

passados afetam suas disposições, suas práticas, seus procedimentos, rotinizados pelo

140
Idem, ibidem, p. 131.
108
trabalho intelectual morto contido nas orientações que presidem sua concepção e pautam sua

atuação. Tendo essa operação em mente, Poulantzas é capaz de sentenciar que a subida ao

governo por representantes da classe dominada não é por si só bastante para pôr fim à

dominação da burguesia, uma vez que traços do domínio burguês ficam impressos de tal

forma que é mantido certo grau de autonomia em relação ao dirigentes da vez. Nesse sentido,

o conjunto de instituições que formam o Estado parece ganhar vida própria a ponto de, ainda

que limitadamente, ser capaz de funcionar por uma lógica intrínseca, historicamente

determinada porque resultado da incorporação de interesses, práticas e dispositivos em um

período de tempo que deve ser entendido emu ma duração mais longa do que eventuais

composições governamentais141. Não se trata, portanto, de ocupar o Estado, mas transformá-

lo.

É este um dos motivos de nosso especial interesse nessa reflexão de Poulantzas. De

acordo com o que entendemos, a particularidade das propostas da “última fase” desse autor

reside não somente na concepção de um Estado-relação, mas na combinação entre a dinâmica

da luta de classes presentes e passadas na constituição de um Estado que está permeado por

aquelas relações. Temos, aqui, duas proposições diferentes, ambas fecundas: de um lado, se

entende o Estado como a consolidação das correlações de força entre as classes sociais, o

que abre caminho para se verificar a relação direta entre o grau de organização classista e a

capacidade de influência nas políticas públicas; por outro lado, temos a hipótese de inscrição

das lutas de classes na ossatura material do Estado e nas práticas e procedimentos de rotina

dos aparelhos estatais, o que abre campo de estudos das tecnologias de gestão pública,

notadamente a relação de troca desses saberes entre diferentes setores das classes dominantes

141
Idem, ibidem, p. 133.
109
ao redor do globo, cujo ritmo respeita o movimento desigual e combinado que marca a

evolução do sistema e a peculiaridade da luta de classes em cada ambiente social.

Recuperemos como exemplo um trecho do trabalho de Dardot e Laval já aqui citado. Em sua

análise da nova gestão pública, os autores destacam como

(…) a principal tendência nos países desenvolvidos consistiu em impor um novo


modo de racionalizaçao às administrações píblicas que obedece às lógicas
empresariais. Concorrência, downsizing, outsourcing [terceirização], auditoria,
regulação por agências especializadas, individualização das remunerações,
flexibilização do pessoal, descentralização dos centros de lucro, indicadores de
desempenho e benchmarking são todos instrumentos que administradores zelosos
e decididores politicos em busca de legitimidade importam e difundem no setor
público em nome da adptação do Estado à ‘realidade do mercado e da
globalização’142.

Essas tecnologias de vigilância, ao instituírem padrões de ação pública controlados

por rankings de rendimento, pressupõem e engendram práticas sociais específicas, em

detrimento de outras “não quantificáveis” nestes termos143 . São, por isso, importantes

vetores de reprodução das relações sociais adequadas à “realidade do Mercado e da

globalização”, constituindo importante exemplo não apenas da ligação genética de certo tipo

de trabalho intelectual morto às relações sociais nas quais ele se radica, mas também de sua

determinação de classe. Conforme o estudo dos autores mostra, contudo, os princípios do

Estado eficiente foram difundidos por agências transnacionais, como o Grupo Banco

Mundial, desde os anos 1990, sendo essa difusão, por sua vez, cristalização das experiências

apreendidas pelas lutas de classes em países centrais desde os anos 1970 e 1980, época

histórica de crise do welfarismo. Em países periféricos, permeados por determinações desta

condição de dependência, bem como pelo acúmulo de experiências históricas particulares

142 DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. Op cit. P. 301-302.


143 DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. Op cit.
110
que formam um edifício cultural específico, os princípios da eficiência teorizados pela nova

gestão pública se revelaram de concretização mais problemática.

É o que se extrai da realização de seminário, em setembro de 2018, sobre Eficiência

da gestão pública e instituições de controle, no IFHC144. A mesa de debates foi composta

por Carlos Ari Sundfeld e Francisco Gaetani, professores da FGV; além de Marcelo Barros

Gomes, então do Tribunal de Contas da União e atualmente diretor da Secretaria Especial de

Relacionamento Externo do governo Jair Bolsonaro; e Samantha Chantal Dobrowski,

subprocuradora geral da República. Na ocasião, Gaetani defendeu a necessidade de traduzir

para o Brasil o princípio de accountability, encarnando-o em instrumentos de controle e

mecanismos de responsabilização de administradores públicos. De acordo com o professor

da FGV, apesar da Emenda Constitucional 19 determinar o princípio da eficiência como uma

linha-mestra da administração pública nacional, a completa ausência de mecanismos de

avaliação e controle tem sido a regra do Estado nacional desde a elaboração da Constituição

Federal de 1988145. Concordando com a análise do colega, Gomes defendeu a urgência de

se adotar esquemas de gestão de risco na administração pública a fim de se recuperar a

competitividade dos produtos nacionais no mercado internacional146.

Vemos também aqui vinculação estreita entre determinadas tecnologias, no caso

encarnadas em mecanismos de controle e regulação de Estado, e os interesses materiais,

representados pela demanda empresarial por competividade. O IFHC, em sua atuação de

144 Ambev, Athie Wonhrath, Banco Alfa, Banco Safra, B³, Bunge, CCR, Comgas, Cosan, CPFL, FEMSA,
Itaú, Natura, Raízen, Sanofi, Telefônica Vivo, Votorantim, Band News, Livraria Cultura. O vídeo do
debate pode ser acompanhado aqui: https://www.youtube.com/watch?v=gKpdLV9lDP0 (acessado
31/07/2020, às 11h31).
145 Em torno do 4m20seg do seguinte video: https://www.youtube.com/watch?v=F-v_iyCtCiA (02/08/2020
às 18:04)
146 Em torno do 5m15seg do seguinte video: https://www.youtube.com/watch?v=yA1uOoyerQs&t=1s
(02/08/2020 às 19h30)
111
tanque de pensamento, busca aclimatar à realidade nacional os princípios estruturantes do

capitalismo “globalizado”. Para tanto, convoca técnicos versados não apenas nas diretrizes e

nos padrões de otimização da ação pública, postos pelas demandas da fase do capitalismo,

mas especialistas também nas idiossincrasias da realidade brasileiras, as quais forçam a

tradução nacional deaquelas orientações gerais. Ao observamos a composição da plateia,

vemos a personificação de representantes da burguesia, como é o caso de Edmundo Lima

Neto, da Central Brasileira do Setor de Serviços (Cebrasse); e do setor público, responsável,

portanto, por efetivar as tecnologias políticas discutidas, como é o caso de Claudineli Ramos,

da Secretaria da Cultura de São Paulo, responsável pela coordenação da unidade de

monitoramento e avaliação de projetos. Assim, o espaço para dissensos no âmbito destes

seminários é reduzido, como aqui exemplifica a intervenção de Samantha Chantal Dobrowski.

A subprocuradora foi responsável por lembrar que, em sociedades democráticas, os

mecanismos de controle e avaliação devem incorporar a possibilidade de reorientação de

objetivos, haja vista que esse tipo de regime tem como característica a preservação do

dissenso e de constantes reorientações da direção social. Assim, por mais que Dobrowski

alerta contra o autoritarismo de regras estritas que despolitizam a administração pública,

mantem seu horizonte pautado por princípios de accountability que na prática estrangulam

modos de vida pautados por missões sociais não quantificáveis.

Ao estudarmos a produção do IFHC conforme comentado acima, tive a convicção de

que Nicos Poulantzas torna possíveis não apenas estudos mais complexos sobre a

internacionalização dos Estados, mas também sobre o papel fundamental dos tanques de

pensamento na transferência destas tecnologias que, radicadas nos interesses de classe,

normalizam práticas e instituem instrumentos que tornam rotineiras relações de dominação e

112
subordinação pela própria natureza do trabalho intelectual morto ali contido. Deste ponto de

vista, tornam-se interesssantes as possibilidades de pesquisa sobre as interconexões das

classes dominantes ao redor do globo e a influência que a troca de trabalho intelectual, “vivo”

ou objetivado, exerce na constante atualização de formas de dominação que assegurem a

estabilidade e o desenvolvimento capitalista, em um sentido fundamentalmente

contrarrevolucionário. Dardot e Laval mesmo já indicavam a importância de “agências

internacionais”, como o aqui citado grupo Banco Mundial, na formatação de “reformas”

lastreadas na busca por eficiência de Estado, indicando ainda que elas estão em acordo com

o “espírito” do que eles chamam de “capitalismo financeiro”147. No terceiro capítulo desta

tese, tentarei demonstrar uma vez mais como o IFHC integra um circuito de trocas de

tecnologias políticas de dominação assentado na experiências da lutas de classe ao longo do

século XX – que dada a força relativa da ameaça proletária no período, pautou-se no

privilégio dado às táticas de coesão social, forma de integração harmônica de potenciais

sujeitos disruptivos.

Esta reflexão dialoga com Poulantzas na medida em que, analisando a

internacionalização do capital na década de 1970, ele já então apontava a retração das

“burguesias nacionais” frente às burguesias internas. Estas, ao contrário daquelas,

consorciavam-se com burguesias imperialistas, à época notadamente americanas, a fim de

hegemonizar os blocos no poder em Estados capitalistas. Se o Estado nacional é o resultado

das lutas de classes, certamente deve-se levar em conta aquela associação, que combina

interesses endógenos e exógenos. Assim, ao contrário do fim dos Estados ou de sua

147 Ver: DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. Op cit. P. 311. Sobre o Banco Mundial como formulador de
políticas públicas, ver também: PEREIRA, João Márcio Mendes. O Banco Mundial como ator político,
intelectual e financeiro (1944-2008). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 2010.
113
secundarização frente ao surgimento de um super-Estado – como queriam os adeptos da

teoria do ultraimperialismo – a política contemporânea seria marcada por essa interconexão

de burguesias internacionais e sua influência identificável na conformação das políticas

públicas.

A internacionalização atual do capital não suprime e não abala os Estados


nacionais, nem no sentido de uma integração pacífica dos diversos capitais “por
cima” dos Estados (...), nem no sentido de sua extinção sob o super-Estado
americano. Mas essa internacionalização, por outro lado, afeta profundamente a
política e as formas institucionais desses Estados pela sua inclusão em um sistema
de interconexões, que não se limita de forma alguma a um jogo de pressões
“exteriores” e “mútuas” entre Estados e capitais justapostos 148.

Não teríamos, pois, na política interna, pressões imperiais externas a condicionar a

ação dos Estados. O imperialismo, em vez disso, reproduzir-se-ia internamente, pelo

entrelaçamento de capitais externos com o que ele chama de burguesia interna. Logo, temos

que, se as classes sociais originam os Estados, a imbricação de capitais no bloco no poder

constitui dado determinante da forma de dominação que um Estado nacional assume. Um

dos operadores históricos dessa associação e consorciaçao de classes dominantes foram as

organizações transnacionais, dentre elas tanques de pensamento que difundem tecnologias

políticas constituídas pelo aprendizado na luta pela preservação da ordem.

Se a interface das frações das classes dominantes, internas e externas, articulam-se

dessa forma, no entrechoque com as classes e frações de classe dominadas saltam aos olhos

a contenção e o isolamento do poder. Ora, se como Poulantzas bem observou, as disputas

entre as classes dominantes e as classes dominadas no interior do Estado explicam a

rotatividade dos centros nevrálgicos de poder, com o fito de preservação da direção

estratégica dos aparelhos estatais por parte dos dominantes, a relação entre os manipuladores

148
POULANTZAS, Nicos. As classes sociais no capitalismo de hoje. Rio de Janeiro: Zahar, 1976, p. 78.
114
do trabalho intelectual e as “massas-populares” encerradas no trabalho manual tende a ser de

afastamento e exclusão149. Com efeito, a expansão do capitalismo amplia a subsunção real

ao capital, reforçando a cisão entre, de um lado, o trabalho intelectual, e, de outro, o trabalho

manual, com intensificação relativa da alienação neste polo150. O resultado que ora nos

interessa é tendência à centralização do desenvolvimento dos saberes especializados no

primeiro ponto da relação, tornando a hierarquia de mando-obediência instituída pela divisão

política-ideológica dos trabalhos mais forte. No plano da concretude histórica, em época de

crise econômica, com consequente aumento da exploração do trabalho, a barreira de ingresso

no clube dos intelectuais tende a crescer, tornando os saberes especializados

consequentemente menos acessíveis aos subalternos. Com efeito, isso tende a ocorrer tanto

com o desenvolvimento progressivo do saber especializado nos marcos do capitalismo, que

pressiona pelo aumento do acervo de conhecimentos requeridos para o exercício do trabalho

intelectual; quanto com a redução – relativa ou absoluta – do tempo livre disponível à

“formação continuada” em épocas de reestruturação produtiva e transformações no mundo

do trabalho, que, no limite, escalonam diferenças mesmo no interior do trabalho intelectual,

separando a elaboração da execução dos saberes. Contraditoriamente, e em relação às

funções “manuais”, o trabalho intelectual, portanto, tende a reforça-se com o

149 Daí a importância das orientações de Antônio Gramsci sobre os perigos da manutenção, no grupo que
porta o “progresso histórico”, de resolutas divisões entre dirigentes e dirigidos, expressão em âmbito
político da cisão entre trabalho intelectual e manual no capitalismo. A discussão pode ser acompanhada
quando de sua reflexão sobre as distinções entre centralismos “burocrático”, o qual considera regressivo
por manter uma estrita cadeia de comando à maneira do despotismo burguês, e “democrático”, quando a
organização se constitui por deliberação efetiva da comunidade organicamente associada. Ver:
GRAMSCI, A. Op cit. V.3 p. 307-309.
150
De alguma forma, a uberização do trabalho pode ilustrar essa dinâmica, transferindo um dos elementos da
direção do processo produtivo ao executor do trabalho manual ao passo que, por conseguinte, isola ainda
mais a técnica que organiza a produção de valor na economia de plataforma.
115
enfraquecimento das organizações dos trabalhadores que punham obstáculo ao afastamento

entre os dois polos151.

Tem-se, assim, condições de analisar outra forma de isolamento dos centros

nevrálgicos de poder, que separam, por excelência, trabalho intelectual e as “massas-

populares” despossuídas de saber, mas também frações distintas de trabalhadores intelectuais,

apartadas pela distribuição desigual entre criadores e executores de conteúdo. Refiro-me à

imposição de um código desconhecido e de um acervo mínimo de conhecimentos pouco

acessível aos que estão atados às cadeias do trabalho manual, mas gradualmente mais distante

também dos que, no grupo dos trabalhadores intelectuais, cada vez mais são encerrados nas

posições de execução de saberes especializados. Creio que o processo em tela se evidencia

no caso dos aparelhos econômicos e jurídicos, alguns dos principais centros de poder no

Estado moderno, mas cuja regulação interna é cada vez mais autorreferencial, expressa no

domínio de tecnicalidades plenamente acessíveis apenas a poucos iniciados em seus

mistérios.

Investigando o Estado e o capitalismo na França dos anos 1970, Poulantzas

identificou tendência similar na análise do estatismo autoritário. Ao versar sobre a

“desideologização” dos partidos e a consequente perda de sua representatividade, sobretudo

entre as organizações de esquerda, o autor viu a redução de poder do Parlamento como

expressão do correlato enfraquecimento de importante contratendência ao crescimento das

propensões autoritárias imanentes ao Estado capitalista 152 . O problema tratado por ele

151
Poulantzas trata da questão, dedicando-se ao estudo de sindicatos e partidos de classe, durante a discussão
do estatismo autoritário. Ver: POULANTZAS, N. O declínio da democracia. O estatismo autoritário. In:
______. O Estado, o poder, o socialismo. Rio de Janeiro: Graal, 1981.
152
Poulantzas sustenta, que durante os anos 1970, nos países desenvolvidos, o poder legislativo passou a ser
progressivamente contornado por ações do executivo e da administração pública, que passavam então, no
exercício de um poder que não era o seu, a fabricar a norma ou a ignorá-la. Ver: POULANTZAS, N. O
116
encontrou vazão na hipertrofia do poder da administração pública tecnocrática, às espensas

dos representantes eletivos. Em nosso tempo, contudo, os elementos autoritários que

despontam no Estado capitalista surgem do amadurecimento de condições estruturais das

democracias liberais, acentuando o enfraquecimento dos poderes eletivos pela consolidação,

em nível do poder politico, das desiguais capacidades organizativas entre as classes e frações

de classes. Refiro-me aqui para traços próprios daquele regime politico que, nesse sentido,

encontram mais ou menos força de acordo com a conjuntura, mas, no limite, independem

dela para existir como virtualidade. Dentre eles, destaca-se o livre associativismo assentado

na premissa das liberdades negativas, que, por compreenderem direito como direito de não-

intervenção, favorecem que aquela desigualdade estrutural no nível das condições de

organização das classes se traduza no poder politico como homologia153. Associada com a

liberação relativa do trabalho intelectual dos entraves que objetavam sua emancipação em

relação ao trabalho manual, outra tendência observada historicamente no desenvolvimento

do capital, como acima visto, a formação de organizaçoes burguesas capazes de influenciar

diretamente o poder politico, como é o caso dos tanques de pensamento, reveste-se de reforço

da “técnica” na operação dos intrincados mecanismos de gestão social, sobretudo no reino

da “economia”, entendida como uma questão de “ciência” e não de interesse. A direção da

sociedade, assim, queda mais isolada frente a um poder democrático já em recuo. Essa

tendência autoritária não é a única a se destacar em época de refluxo democrático, mas para

esta pesquisa é a mais importante154.

declínio da democracia. O estatismo autoritário. In: ______. O Estado, o poder, o socialismo. Rio de
Janeiro: Graal, 1981.
153 Abriremos o segundo capítulo com esta discussão.
154
Bobbio, que não pode ser enquadrado como um pensador crítico ao capitalismo, já identificava segredo a
poder, em obra que versa sobre um dos aspectos da crise da democracia. O aumento do volume dos
segredos em um Estado dá luz a um tipo de poder que aparece como oculto, por ser essencialmente
117
Primeiro porque o reforço relativo da técnica no interior do Estado é expressão do

reforço relativo da técnica na sociedade civil – e, novamente, o anti-intelectualismo grassante

é uma comprovação paradoxal do potencial explosivo destas contradições. Que ele tenham

sido apropriado pela extrema-direita é apenas mais uma peça dos escombros deixados pela

falência das esquerdas revolucionárias e mesmo reformistas stricto sensu, cujos princípios

foram substituídos pela “modernidade” de uma esquerda de “terceira-via”155 . Segundo,

porque a hipertrofia relativa de aparelhos públicos no interior do Estado favorece os canais

que, a partir da sociedade civil, conectam-se diretamente a eles – contornando, no reverso do

processo em tela, os canais democráticos. Como já parece claro a esta altura, meu argumento

conduz para identificar, assim, uma das razões para o possível reforço dos tanques de

pensamento em épocas de crise como a teorizada por Poulantzas 156 . Como difusor de

saberes técnicos e centro de articulação direta com a sociedade política, essas entidades

contribuem, assim, com o reforço das tendências autoritárias imanentes ao Estado capitalista.

O resultado é a circulação, à revelia de verdadeiro debate e confrontação, de tecnologias

políticas de dominação que demonstram, em nossa época, uma renovada capacidade das

burguesias exercerem o seu papel de classe contrarrevolucionária.

antidemocrático, e, portanto, não aparecer nos marcos da democracia. O filósofo italiano qualifica, assim,
o exercício do poder por for a dos mecanismos de publicização. Nesse sentido, valoriza como conquista
democrática a transparência a que os Estados estão cada vez mais submetidos, como mostram Dardot e
Laval em sua análise da nova gestão pública. Poderíamos acrescentar, contudo, a contradição presente na
própria luta por transparência do Estado, geralmente levada a cabo por liberais, que deixa de for a a
transparência do código e dos saberes que enformam as práticas de dominação. Ver: BOBBIO, Norberto.
Democracia e segredo. São Paulo: Unesp, 2015.
155
O anti-intelectualismo vigente, nesse sentido, seria expressão a) do afastamento entre trabalho intelectual
e trabalho manual produzido pela expansão do capitalismo e, por conseguinte, da subsunção real do
trabalho ao capital; b) da debilidade organizativa da classe trabalhadora que, então, encontra
representação em bufões que reproduzem o anti-intelectualismo, mas seletivamente, na medida em que
poupam de ataques a parte que mais lhe interessa do saber técnico, qual seja, o produzido pela “ciência
econômica”.
156
Refiro-me aos diversos níveis de crise, econômica, política e de Estado, tratados durante o exame do
estatismo autoritário.
118
* * *

Seguiremos desenvolvendo alguns pontos que apareceram aqui no próximo capítulo.

Por ora, convém recuperar o que aqui tentou se demonstrar. Os tanques de pensamento se

radicam no sociometabolismo capitalista, com uma separação entre trabalho manual e

trabalho intelectual de tipo novo e a atração deste ao mundo produtivo, que se torna, no

capitalismo, uma das esferas sociais privilegiadas para sua consagração. O livre curso do

desenvolvimento histórico associou parte importante do desenvolvimento dos saberes à

lógica de valorização do valor, emprenhando o que se entende por tecnologia pela dinâmica

expansiva do capital. Se míssil e geladeira são, nesse sentido, verso e anverso da mesma

moeda, para ficarmos em uma expressão conhecida, ambos tem como razão de ser, em última

instância, a dinâmica reprodutiva do capital. De tal sorte que a técnica predominante em

nosso tempo é principalmente produto da objetivação de um trabalho intelectual atraído pelas

determinações da “economia”.

O aparecimento dos tanques de pensamento, atendeu também a necessidades

conjunturais, marcadas pelo imperativo da organização classista desde a capacidade de

autofagia demonstrada pelas classes dominantes na Primeira Guerra Mundial até à

entificação de uma forma alternativa de sociabilidade com o advento da URSS. Sua eficiência

em rebaixar a democracia, aproveitando-se, por sua vez, do desenvolvimento paralelo dos

saberes e da técnica em geral, reforçou as tendências para seu surgimento, de sorte que a

multiplicação destes aparelho seguiu seu curso mesmo quando aquelas ameaças ficaram

esmaecidas. Mostram-se, atualmente, aparelhos poderosos, capazes de atuar com força em

dois níveis; na sociedade civil, como polo de desequilíbrio em favor de visões de mundo

119
adequadas à reprodução do capital; na sociedade política, como aneis que se conectam aos

aparelhos públicos direta ou indiretamente insulados, sobre os quais o poder democrático tem

pouca ou tendencialmente nenhuma influência, dado, quando não pelo autoritarismo puro e

simples que os isola, seu simples funcionamento rotineiro, vivificado por códigos pouco

acessíveis aos que, condenados a serem alvo prioritário de “reestruturações produtivas”

permanentes do mundo do trabalho, não dispoem de tempo suficiente de qualificação para se

alfabetizarem no código em que se dão as discussões do que apenas a custo de enorme

concessão se poderia considerar como práticas efetivamente deliberativas.

Talvez uma inovação esteja na tentativa de captura destes canais pelos partidos

tradicionais, que se percebem com progressivamente menos representatividade em um

regime politico que extrai sua legitimidade da representação popular157, no qual mesmo essa

eletividade tem sido amputada. O próximo capítulo, ao se debruçar prioritariamente sobre a

história do IFHC, versará também sobre isso, identificando seu ponto de surgimento no

momento histórico de maturação das tendências inerentes à democracia liberal.

157 BOBBIO, Norberto. Democracia e segredo. São Paulo: Unesp, 2015, P. 65


120
2. O Instituto Fernando Henrique Cardoso e a contenção da democracia

O curso do desenvolvimento da democracia, acicatado pelas lutas de classes, liberou

tendências imanentes do capital. Se, como vimos no primeiro capítulo, as relações sociais de

produção capitalistas consagram um papel importante, de direção mesmo do processo, no

polo do “trabalho intelectual”, por outro lado, o livre associativismo característico daquele

regime político permitiu que as diferenças de classe fossem traduzidas em diferenças de

organização e, logo, de influência sobre o poder político. O advento dos tanques de

pensamento, atendendo a diversos imperativos, reforçou o processo, fornecendo sobretudo à

burguesia um canal alternativo de conexão entre sociedade civil e sociedade política – muito

mais direto do que o experimentado pelas vias representativas. O quadro em tela, por

conseguinte, apresenta sinteticamente o caminho da afirmação da união entre democracia e

liberalismo, bem como a consequente negação de uma das “bases éticas” do regime: a

soberania popular.

É o que discutiremos no início e na conclusão deste capítulo. O processo condensado

acima se desdobrará pela análise de estratégias burguesas de contenção democrática.

Remontaremos as ideias do século XIX, demonstrando como já na origem da democracia

moderna a tendência de sua contenção estava presente. Procurava-se, então, restringir as

bases de participação pelo controle do direito ao voto. A dinâmica particular do século XX

dá novas formas àquele conteúdo. As estratégias de contenção ainda estão ali, ainda que agora

aparecem em nova roupagem.

A nova realidade do pós-guerra acelera o associativismo burguês (FONTES, 2010).

Algumas tendências já presentes no desenvolvimento capitalista – como a liderança do

121
trabalho intelectual sobre o trabalho manual – são reforçadas na conjuntura. Os tanques de

pensamento já existiam, mas ganham mais fôlego, sobretudo a partir dos anos 1970, com a

ocorrência do que Laval e Dardot chamam de “a grande virada” neoliberal.

O desenvolvimento da sociedade civil burguesa transformou a realidade da sociedade

política e, colateralmente, da democracia. O tanque de pensamento é talvez o símbolo desta

reconfiguração. Como mostram os estudos sobre a composição dos quadros do Instituto

Fernando Henrique Cardoso, a presença de representantes do Estado é constante, bem como

a de empresários e gestores do capital158. Diferentes setores das classes dominantes, são,

assim, postos em uma espécie de simulacro de Congresso para debater “políticas públicas”.

É o que veremos quando analisarmos o IFHC por dentro.

Aqui temos entendido este traço dos think tanks como sendo seu diferencial. Isso não

impede a existência de características típicas de outros APHs. No caso, o IFHC também é

um centro de articulação e disputa na sociedade civil. Os debates travados na sede da

fundação, nesse sentido, devem ser entendidos como seleções a priori de pontos de vista que

devem ser difundidos pelos canais de comunicação da entidade – o que implica, claro, que

outros não sejam divulgados. A multiplicação desses canais, por outro lado, também expressa

o esforço de conquista de espaços na sociedade civil. O IFHC esteve atento a esses caminhos,

debruçando-se sobre as novas tecnologias com celeridade. A internet tem sido o terreno de

expansão preferencial das iniciativas da entidade, sobretudo depois que as organizações

sociais de extrema-direita tiveram sucesso no terreno.

158 Ao longo deste trabalho, adotamos a conceituação de Antônio Gramsci também no que se refere a esse
conceito: é conhecida a sentença do comunista sardo que coloca toda pessoa como filósofa, na medida em
que esta é capaz de gestar uma visão e compreensão de mundo próprias. O intelectual na obra gramsciana,
por conseguinte, é o formulador de cultura – que, no limite, pode ser qualquer um, ainda que existam níveis
distintos de capacidade de influenciar.
122
Pelo lado da articulação, vemos o IFHC se conectar a diversas outras entidades, no

entorno estratégico do país, por meio da Plataforma Democrática; com os grandes veículos

de troca de tecnologia burguesa, como demonstram suas parcerias com organizações

estadunidenses e europeias. A rede em tela é demonstrativa não apenas das pretensões

hegemônicas do nosso objeto, mas também da capilaridade da organização burguesa, capaz

de transmitir invenções no campo das lutas de classes entre seus diferentes setores em escala

global. Este tema em particular aprofundaremos no capítulo seguinte, mas aqui já teremos,

pela análise das diferentes interfaces do IFHC, condições de mensurar a escala de

comunicação entre diferentes entidades burguesas – com respectiva troca de tecnologias

políticas.

Neste capítulo identificaremos, ainda, classes e frações de classes que financiam o

IFHC. No conjunto de apoiadores da entidade, vemos ao menos duas linhas classificatórias:

por um lado, grandes capitais transnacionalizados pela América do Sul, precisamente onde a

Plataforma Democrática atua, sendo uma caixa de ressonância do IFHC na região; por outro,

grandes capitais radicados no Brasil. Indicativo do apoio de setores burgueses fortalecidos

ao projeto. Este apoio contudo, não pode ser superdimensionado. Isso porque algumas das

empresas aqui mencionadas são financiadoras crônicas de organizações de classe. De sorte

que, para estas, parece ser mais importante o apoio à rede associativa do que a nós específicos.

É a rede, com sua diversidade na igualdade, que oferece diferentes alternativas de gestão

política, do que depende o enriquecimento do acervo da classe.

123
2.1 Contendo a democracia: regimes de tipo democrático como forma
política de pacificação das lutas

Em meio à corrida presidencial que consagraria Jair Bolsonaro, Steven Levitsky e

Daniel Ziblatt estiveram no Brasil divulgando o então recém-lançado Como as democracias

morrem. Por aqui visitaram o Instituto Fernando Henrique Cardoso, onde apresentaram a tese

do livro e arriscaram avaliação sobre as consequências da então provável vitória do candidato

da extrema-direita. Maiores detalhes serão discutidos no quarto capítulo, quando o encontro

será analisado. Aqui, basta dizer que o que se ouviu na fundação foi uma advertência

contundente contra um presidenciável que, assumindo o poder por meios democráticos,

poderia trabalhar por dentro das instituições para solapar a democracia159.

O diagnóstico dos palestrantes projetava um horizonte sombrio. Não apenas para a

política brasileira, mas para o regime democrático. O drama que o país poderia viver se

inseria em uma trama maior, em que diversos outros exemplos se coligiam indicando a

amplitude da crise vivida. Turquia, Estados Unidos, Inglaterra, Polônia, Itália. Nestes e em

outros lugares, a eleição de líderes também chamados de neopopulistas ameaçava o “sadio”

balanço de poderes necessário à manutenção do Estado de direito160.

A aposta no potencial destrutivo de Executivos reforçados, sustentada por Levistsky

e Ziblatt, indica os possíveis descaminhos que intervenções burguesas em prol da estabilidade

política eventualmente tomam. Isso porque a hipertrofia dos poderes presidenciais já foi

identificada como manobra para conter a instabilidade genética da democracia em uma

159 https://fundacaofhc.org.br/iniciativas/como-morrem-as-democracias-por-steven-levitsky (acessado em


16/11/2019 às 16h03)
160 Idem.
124
sociedade capitalista161. O diagnóstico da crise atual por autores da ordem, assim, revela

mais sobre a falha estrutural do regime do que parece fazê-lo à primeira vista.

Quando analisamos as crises democráticas, as mais recentes parecem ser resultantes

de soluções encontradas durante o desenvolvimento das anteriores. É uma impressão útil na

medida em que desloca o interesse dos aspectos acidentais para elementos estruturantes da

relação conflituosa entre democracia e capitalismo. Já no século XIX os intelectuais

burgueses advertiam contra as forças democratizantes. O regime, afinal, reivindicava o poder

popular – do povo, do demos – como fonte de legitimidade para suas instituições de regulação,

mas o fazia sobre uma forma de sociabilidade que exclui a maioria do direito gozado por

poucos - o direito à propriedade. Luminares do pensamento burguês, de John Stuart Mill aos

federalistas estadunidenses 162 , envidaram esforços para evitar a emergência da assim

chamada tirania da maioria, tentando acomodar o processo de democratização – que gente

como Tocqueville via como imparável – aos estreitos limites de um modo de vida dominado

pelo capital163. Deste ponto de vista, ao se tornar regime político de uma sociedade de

classes, a democracia deveria se tornar também instrumento de reprodução da hierarquia

estabelecida, sob pena de gerar condições para a correção do abismo existente entre a

igualdade política e a igualdade social.

161 É uma das teses do importante livro de Domenico Losurdo. Democracia ou bonapartismo. Também está
presente como prescrição em relatório intitulado Crisis of Democracy, encomendado pela Comissão
Trilateral e lançado por Samuel Huntington, Michel Crozier e Joji Watanuke, em 1975. Ver:
https://trilateral.org/download/doc/crisis_of_democracy.pdf (acessado em 16/11/2019 às 16h04)
162 CUNNINGHAM, Frank. Teorias da democracia. Uma introdução crítica. Porto Alegre: Grupo A, 2009.
163 Democracia nas Américas. Tocqueville, aliás, foi importante intelectual da primeira metade do século XIX,
e seus estudos revelam claro esforço para aclimatar o processo de desenvolvimento democrático às relações
soicais dominantes. Criação de oposição, elogio da prudência administrativa. Tudo isso está em
Lembranças de 1848.
125
A democratização, assim, representa o avanço popular sobre a política, e, desde as

primeiras experiências modernas com este regime, a ampliação dos direitos de participação

significou vitórias da luta proletária164. As pesquisas sobre o tema ajudam a evidenciar a

falácia das posições burguesas que identificam democracia e liberalismo, como se aquela

fosse um desdobramento natural deste165. A história da democracia, portanto, é também a

história das lutas contra ela, e sua crise deve ser entendida como o desgaste de uma forma de

dominação que, embora extremamente plástica, põe-se progressivamente novos limites, dada

a incapacidade de solucionar aquela falha estrutural. Nesta seção, abordarei algumas

manobras das classes dominantes para impedir ou, quando a força dos subalternos se

demonstrou grande demais, tutelar a democratização.

O trabalho de Domenico Losurdo sobre o tema fez grande parte do trabalho. Nesta

obra, o autor apresenta uma vantagem em relação a tantas outras histórias da democracia.

Com efeito, em nenhum momento o regime político é analisado sem referência às bases

materiais da sociedade em que ele era imposto. Desta forma, o italiano esquadrinha as

tentativas de acomodação da democracia ao capitalismo, demonstrando como a

caracterização do regime variara conforme a definição que se fazia de cidadania, e esta luta,

por sua vez, expressava as correlações das lutas de classes, gênero e raça. Restringir a

participação, por conseguinte, foi um dos primeiros esforços considerados por aqueles que

queriam conter a energia democratizante nos limites da sociabilidade burguesa166. Mas o

164 Eley, Geofrey. Forjando a democracia. São Paulo: Perseu Abramo, 2009; ROSENBERG. Artur.
Democracia e socialismo. Rio de Janeiro: Global, 1986.
165 É a posição de Norberto Bobbio. BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. São Paulo: Edipro
166 LOSURDO, Domenico. Democracia ou bonapartismo. Triunfo e decadência do sufrágio universal. Rio
de Janeiro: UFRJ, 2004.
126
prosseguimento das pesquisas na área revela que outros métodos foram empregados com

variável sucesso.

Seguindo método que privilegia a construção de modelos, há também o trabalho

clássico de Crawford Brough Macpherson. A exemplo de Losurdo, o autor também não perde

de vista as determinações sociais da democracia; e sua contribuição fundamental se dá no

sentido de desvelar os interesses materiais das teorias da democracia liberal. Os modelos de

que fala são, assim, a consolidação de esforços intelectuais que atuam no sentido de adequar

regimes políticos de tipo democrático a uma forma social cuja classe e frações de classe

dominantes aspiram à manutenção da ordem pela solução pacífica dos conflitos originados

pela distribuição desigual de propriedades 167 . O regime político, portanto, tem papel

fundamental não apenas na reprodução do capitalismo, mas também em sua organização

interna, com a institucionalização de mecanismos de solução de confrontos radicados em

uma sociabilidade eminentemente conflituosa. Os modelos versam precisamente sobre a

forma de regulação dos dissensos, assentando-se em princípios moventes em torno dos quais

os intelectuais da ordem trabalham para redesenhar continuamente os limites da arena

política legal. Trata-se de um insight que aqui tento desenvolver.

Na minha leitura, o trabalho de Macpherson deixa entrever que as teorias

democráticas da ordem sintetizam lutas de classes presentes e passadas, não apenas das

classes sociais fundamentais, mas também as disputas intraburguesas. Os estudos sobre a

democracia protetora, por exemplo, revelam sua adequação a uma sociedade de livre

mercado em que os cidadãos deveriam ser protegidos de “governos rapaces”. O laço que

167 MACPHERSON, Crawford Brough. A democracia liberal: origens e evolução. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1978.p. 17.
127
uniria o sistema econômico ao regime político, neste formato, seria o da preservação das

trocas mercantis e da igualdade jurídica, assegurado pela prerrogativa de escolha dos líderes,

inerente ao regime168. Ao associar este modelo democrático a pensadores como James Mill e

Jeremy Bentham, Macpherson reporta o leitor à “fase heroica” da burguesia, quando a

democracia ainda era valorizada principalmente pela sua capacidade de proteger a circulação

mercantil e limitar os poderes monárquicos, assegurando um mecanismo de proteção contra

rompantes “autoritários”. Enquanto fundamentada sobre este pilar, a democracia refletiu uma

etapa histórica que tinha na burguesia seu sujeito revolucionário. O proletariado organizado

autonomamente não havia entrado em cena, e 1848 ainda era apenas um número. O princípio

cada cabeça um voto não era visto como uma ameaça às posições dominantes169 , e a

diligente defesa da alternância de poder assegurava que mesmo os choques entre os

dominantes encontrariam uma solução pacífica.

A situação era outra após a Segunda Guerra Mundial. Com efeito, a vitória aliada

sobre os fascismos e a presença do impressionante exército vermelho no continente europeu

trouxeram novos desafios aos capitalistas. Sobre isso o trabalho de John Lewis Gaddis é

particularmente elucidativo. Assumindo o ponto de vista das relações internacionais

burguesas, o autor, ainda que sem querer, acaba por revelar um importante papel

desempenhado pela vitória soviética no Ocidente. Além do prestígio auferido pela destruição

do Terceiro Reich, ao fim da guerra, a URSS contava com inigualável exército mobilizado

168
‘MACPHERSON, Crawford Brough. A democracia liberal: origens e evolução. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1978.p 39.
169 Muito embora Lukács defenda que alguns críticos sociais, como Linguet, antes mesmo da Revolução
Francesa, já haviam percebido as contradições entre igualdade e liberdade política e igualdade e liberdade
reais do homem que desafiavam a estabilidade democrática. Ver LUKACS. G. Concepção aristocrática e
concepção democrática de mundo. IN: O jovem Marx e outros escritos de filosofia. Editora UFRJ, Rio de
janeiro, 2009 p. 27
128
na Europa, o que representava enorme ponto de tensão entre os ex-aliados. Diante disto,

Gaddis defende que a cautela e a busca por segurança foram os princípios norteadores da

assim chamada Guerra Fria – o que, se por um lado ajuda a explicar a existência e o

prolongamento do conflito; por outro, ilustra a particular correlação de forças verificada no

período, bem como a disposição burguesa à negociação nas áreas sob alcance do poderio

militar soviético170. Era preciso conter a ameaça vermelha, ainda mais forte depois de o

Kremlin testar com sucesso sua primeira bomba nuclear.

As classes e frações de classes dominantes dos países ocidentais teriam de lidar com

uma classe trabalhadora reforçada pela experiência recente de resistência e vitória sobre a

extrema-direita. Se considerados o internacionalismo ainda cultivado por setores da esquerda

revolucionária e a paranoia burguesa, a “superpotência” do Leste representava efetivo acervo

de poder material, virtualmente disponível aos seus partidários no Ocidente. Mais do que o

choque entre dois modos de vida vistos como viáveis, o período representa de fato um

momento específico das lutas de classe, em que o monopólio fático da força pela burguesia

não era evidente.

Quanto mais porque a dominação de suas congêneres europeias sobre colônias afro-

asiáticas desmanchava aceleradamente. Existiu certa tendência de estudar o pós-guerra

considerando apenas os eventos europeus, mas essa, sobretudo ao idealizar uma dourada de

paz e prosperidade capitalista, é hoje considerada uma perspectiva sumamente eurocêntrica,

quando não mera peça de propaganda171 . A imagem idílica de um proletariado que se

integrava harmonicamente à sociedade de mercado não passou de um mito172. A paisagem

170 GADDIS, John Lewis. A guerra fria. Lisboa: 70, 2007.


171 HOBSBAWH, Eric. A era dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
172 BIHR, Alain. Da grande noite à alternativa. São Paulo: Boitempo, 1998.
129
que surge de estudos que consideram a periferia capitalista é muito mais belicosa, e nela as

classes estavam em guerra aberta. Mais: o panorama mundial nos anos 1950 e 1960,

sobretudo após o triunfo dos comunistas chineses e dos nacionalistas cubanos, era de fato

preocupante para a burguesia, de sorte ser anacrônico considerar aquela “ameaça” como mera

fantasia, muito embora paranoia não tenha faltado.

Assim, quando não em guerra aberta, a reação burguesa assumiu a forma de inclusão

subalterna na ordem. Onde foi possível, tratou-se de buscar o apaziguamento da politização,

por meio de instrumentos de bem-estar e pelo aparelhamento de mecanismos de participação

política173. Estudos sobre os partidos sociais-democratas mostram como a conciliação de

classes por eles operada correspondeu a uma manobra contrarrevolucionária em época de

ascensão das lutas populares, e o próximo capítulo contará a história da maturação do

princípio da coesão social como signo de um conjunto de contrarreformas apassivadoras que

circunscreviam um lugar para o irredutível dissenso. Por outro lado, além de contar com

inestimável apoio político, o capitalismo ganhou força também em razão de sua própria

dinâmica destrutiva, capaz de produzir trabalhadores em excesso. O cenário do pós-guerra é,

portanto, especialmente complexo, inclusive porque a própria lógica do desenvolvimento do

capital jogou um papel importante na conformação do compromisso fordista.

Por isso que defesas enfáticas de um futuro socialista não podem ser consideradas

hiperbólicas nessa quadra histórica. Na Genebra de 1946, Lukács advertia contra a

173 O espaço em questão se restringiu praticamente à Europa Ocidental. Só no Velho Mundo a mistura de
reformismo social e rebaixamento democrático foi experimentada de modo sistemático. Na periferia, a
Doutrina Mann ainda regia a ação do Estado estadunidense. O princípio defendia as boas relações com
ditaduras militares e outros regimes autoritários, contanto que eles fossem pró-americanos e anticomunistas
(CANCELLI, p. 108). Entre os pensadores liberais da década de 1950, existia certo consenso de que a
democracia só poderia ser alcançada por países modernos e industrializados, o que encarava os eventuais
défices democráticos na região como uma necessidade estrutural contra a qual nada se podia fazer (p. 110).
Ver: CANCELLI, Elizabeth. Op. Cit.
130
reminiscência de bolsões fascistizantes no seio das democracias liberais europeias, atacando

neles sua “visão aristocrática de mundo”. Fazia-o em nome do socialismo democrático, visto

como único capaz de esposar consequentemente a visão democrática de mundo, muito

difundida também pela constatação do horror vivido na Guerra. Era, afinal, a defesa de uma

democracia autêntica que encontraria na revolução proletária seu apogeu, pela enfim

superação das diferenças entre liberdades potenciais e liberdades reais 174. Dimensionado ao

lado do poder material aparentemente detido pela esquerda revolucionária, o discurso do

Lukács estava longe de soar exagerado, e a burguesia atenta escalou seus representantes para

enfrentar sua repercussão no campo de batalha intelectual. A polêmica com Karl Jaspers é

conhecida e talvez o tenha gabaritado a receber financiamento de agências burguesas

interessadas em contrabalancear o suposto predomínio comunista na “guerra cultural”175.

É disso que trata a incontornável pesquisa de Elizabeth Cancelli. A autora segue os

rastros de financiamento e suporte material aos intelectuais burgueses que, naquela

conjuntura, operaram com o fito de formular, na arena cultural, alternativas que

correspondessem, em parte, àqueles esforços de contenção popular; em parte, às tentativas

de organizar o bloco dominante. Apresentando importante documentação, Cancelli revela

como o Departamento de Estado estadunidense, a CIA e grandes fundações empresariais,

com a Ford e a Rockefeller, patrocinaram movimentos em defesa dos “valores ocidentais”

contra o comunismo176. Em uma seara onde reina o conspiracionismo, o trabalho recheado

de fontes de arquivo é um oásis.

174
LUKÁCS, G. Op. Cit p. 19
175 CANCELLI, Elizabeth. O Brasil na guerra fria cultural. O pós-guerra em releitura. São Paulo: Artes e
Livros, 2017.
176 Também a democracia seria um primado “ocidental”, e esses tanques de pensamento se lançaram
ativamente no embate em favor de um regime de tipo democrático adequado aos limites do
desenvolvimento capitalista. Neste intento, a Fundação Rockefeller chegou a publicar livros defendendo o
131
Dentre os esforços, a historiadora destaca o Congresso pela Liberdade da Cultura

(Congress for Cultural Freedom). Sua primeira edição, realizada em Berlim, em 1950, além

de lançar seus homônimos no Ocidente, produziu e publicou o “Manifesto dos Homens

Livres”. O documento, entre suas 14 teses, evidencia o uso político da teoria do totalitarismo,

acusando os Estados enquadrados nesta baliza de serem inimigos da liberdade177. Os alvos

óbvios eram as organizações inspiradas pela Revolução de Outubro. “Em seu auge”, anota

Cancelli

o Congresso pela Liberdade da Cultura tinha 35 escritórios em diversos países,


empregava mais de trezentas pessoas e construía agendas de discussão intelectual
que tinham como assunto dominante a luta contra o totalitarismo. O ponto nodal
das discussões do CCF era o paralelo entre o nazismo e o comunismo como
sistemas totalitários. O ódio e o fanatismo eram recordados e denunciados como
comuns tanto ao nazismo quanto ao comunismo, responsáveis em última análise,
pela era de escuridão (darkness) do sombrio século XX. Deste paralelismo entre
nazismo e comunismo se fixou também o conceito/adjetivo de totalitarismo para
ambos. Nele, o questionamento era o da perda total da dimensão humana e de sua
substituição por códigos brutais de ação baseados na crença de que sistemas
políticos pudessem libertar o homem. O livro de Hannah Arendt, As Origens do
Totalitarismo, publicado em 1951, tornar-se-ia a obra síntese e de maior prestígio
deste paralelo (P. 24-25).

Segundo a autora, estudos da área mostram que, além de combater o modo de vida

soviético, a Cultural War estadunidense subsidiou intelectuais, e não apenas anticomunistas.

Também “nomes de destaque da inteligência internacional com posições de esquerda, mas

críticos ao regime soviético”, como a New Left, receberam subsídios que integraram os

esforços de construção de uma esquerda “democrática”, isto é, para o capital (p, 27). Tratava-

se de combater qualquer perspectiva de democracia com horizonte socializante, de inclinação

totalitária, além do próprio comunismo178. Desta análise, depreende-se, ainda, a tentativa

“poder da ideia democrática” contra o “autoritarismo igualitarista”. A edição brasileira saiu em 1963, em
conjuntura quente que culminaria com o golpe de Primeiro de Abril. Ver: ROCKEFELLER BROTHERS
FUNDATION. O poder da ideia democrática, 1963.
177 CANCELLI, Op. Cit. p. 22-24
178 O importante trabalho de Jacob Talmon, The Origins of Totalitarian Democracy, lançado em 1952, deve
ser dimensionado à luz deste projeto. Nele, o autor diferenciou a democracia para a liberdade, desejável;
132
de conformação de espaços de disputa política autorizada, cujos oponentes expressassem

suas diferenças sem atacar o sociometabolismo capitalista.

Seguindo a senda deixada pela autora, vemos que as manobras alcançaram também a

América Latina, onde os intelectuais eram vistos como especialmente importantes pela sua

influência política. No Brasil, a burguesia estadunidense financiou revistas, como a Cadernos

Brasileiros, fomentou grupos de pesquisa – o caso do apoio da Fundação Ford, peça central

neste tabuleiro, a Cebrap é conhecido179 - e patrocinou acadêmicos e artistas180.

Como vimos no primeiro capítulo, as ciências sociais constituem campo importante

de investimento pela burguesia. Com efeito, desde os primórdios do capitalismo,

trabalhadores intelectuais organizaram princípios de administração do capital e da sociedade

dominada por ele. Do ponto de vista que interessa nesta seção, importa destacar que a

conjuntura sob análise viu pesquisas sobre manobras contrarrevolucionárias democráticas

serem desenvolvidas. Algumas ideias-força simbolizam a produção, e sua popularização

representa a importância do trabalho intelectual objetivado na melhora da posição relativa da

burguesia e suas frações internas nas lutas de classes. São essas mesmas lutas a matéria-prima

de ideias do tipo, e sua transformação em tecnologias políticas disponíveis no acervo de

táticas dos dominantes mostra como o desafio de manipular uma forma social

irremediavelmente contraditória é apreendido e racionalizado pelos intelectuais da ordem.

Assim, se aquele primeiro modelo de Macpherson representou as ideias formuladas

principalmente por disputas contra a aristocracia nobilitar, o que ele intitula de democracia

da democracia totalitária, na qual o excesso de intervenção do Estado em nome de direitos sociais


conduziria ao temido “totalitarismo”
179 CANCELLI, Op. Cit 15-44 p.
180 A lista apresentada causa desconforto por conter nomes importantes da cultura nacional, como Manuel
Bandeira, Cecília Meirelles, Érico Veríssimo e João Guimarães Rosa. Ver: CANCELLI, Op. Cit P. 33.
133
de equilíbrio é o produto teórico desta etapa peculiar das lutas de classes. Nela entrevemos o

desafio formidável representado pela existência de uma “superpotência proletária”, não

apenas pelo reforço relativo da classe trabalhadora, mas também pelo potencial destrutivo

que os inevitáveis entrechoques burgueses poderiam alcançar nesta conjuntura181. Erigido

no pós-guerra, o autor ressalta como, diante do quadro acima esboçado, mostrou-se

necessário produzir apatia social. Desmobilização entendida por mim não apenas como

contenção de reivindicação dos dominados, mas também como despolitização das frações

burguesas, cujas disputas registradas até a Segunda Guerra já haviam se mostrado capazes

de dramáticos abalos sísmicos. Deste ponto de vista, o modelo sintetiza essa busca comum

levada a cabo por trabalhos dispersos, alguns apoiados inclusive materialmente por agências

da burguesia estadunidense – líder no esforço de organização do “bloco ocidental”182.

Aquele princípio norteador ganhou vazão prática com o desenvolvimento de uma

nova definição de democracia. Em 1942, o lançamento de Capitalismo, socialismo e

democracia, por Joseph Schumpeter, apresentaria ao mundo o “método democrático”,

“arranjo institucional para se chegar a decisões políticas em que indivíduos adquirem o poder

de decidir através de uma luta competitiva pelos votos do povo”183 . Se a conjuntura

potencialmente revolucionária é o solo em que o modelo germina, a contribuição

schumpeteriana é a força centrípeta que organiza diferentes trabalhos a ponto de ser possível

falar em um modelo. As regras do jogo foram transformadas em moldura de embates

181 MACPHERSON, Op. Cit. p. 91.


182 CANCELLI, Op. Cit
183 HUNTINGTON, Samuel. A terceira onda. A democratização no final do século XX. São Paulo: Ática,
1994. p. 16
134
inevitáveis, cuja solução institucional por meio de eleições deveria evitar que eles se

desdobrassem em conflagração aberta.

Samuel Huntington avalia que o sucesso schumpeteriano seria verificado nos anos

seguintes, quando a “teoria clássica da democracia, definida em termos de ‘vontade do povo’

(fonte) e de ‘bem comum’ (propósito) fora “definitivamente” abandonada184. Em texto de

1991, avalia o autor

Por algum tempo depois da Segunda Guerra Mundial, travou-se um debate


entre aqueles que, na linha clássica, definiam democracia segundo fonte ou
propósito e o crescente número de teóricos que aderiam ao conceito processual de
democracia, à maneira schumpeteriana. Nos anos 1970 o debate havia terminado e
Schumpeter vencera185.
É verdade que, do ponto de vista dos anos 1990, o trabalho de Schumpeter se provou

extremamente influente. Tanto como base de um modelo de democracia vigente por anos

quanto por fornecer um instrumento de solução pacífica de conflitos. Com efeito, ao reduzir

a democracia a um mercado eleitoral, a politização ficava temporal e formalmente

circunscrita. Essa eficiência em descomprimir os regimes de tipo democrático é visível no

desenvolvimento de pesquisas a partir do patamar de reflexões alcançado pelas contribuições

de Schumpeter. Entenderia democracia mais ou menos à maneira schumpeteriana a renovada

safra de pesquisas sobre sistema eleitoral e suas variáveis internas, que viria à luz a partir dos

anos 1970186. No conjunto de esforços de manutenção da ordem aqui destacado, a redução

da democracia a um procedimento consiste em passo importante na conformação do regime

aos limites da sociabilidade capitalista. Em comum a essas abordagens o elogio à plasticidade

184 Idem. Ibidem.


185 Idem. Ibidem.
186
Como um movimento do contra-ativismo empresarial de que fala Grégoire Chamayou. Veremos mais
sobre isso no terceiro capítulo, mas para a discussão sobre a genealogia do liberalismo autoritário e a
importância contrarrevolucionária dos anos 1970 e 1980, ver: CHAMAYOU, Grégoire. A sociedade
ingovernável. Uma genealogia do liberalismo autoritário. São Paulo: Ubu, 2020.
135
de uma forma de governo capaz de se conformar às peculiaridades de contextos particulares,

impedindo o esgarçamento do tecido social para além de seus limites da sociabilidade

burguesa. Tudo isso devido ao poder estabilizador do sistema eleitoral bem ajustado.

Mas há razões para duvidar da sentença definitiva de Huntington. Ele foi consultor

do Departamento de Estado estadunidense pelo menos desde 1968, e a normalização de

sociedades capitalistas durante a Guerra Fria foi uma de suas responsabilidades187. Com

este objetivo, apoiou a modernização autoritária em países sob ditadura militar188; auxiliou

os processos de redemocratização liderados por ditadores, dentre os quais se destaca o caso

brasileiro, o qual contou com seu aconselhamento pessoal189; e contribuiu com os esforços

de contenção dos “excessos” das redemocratizações iniciadas nos anos 1970 – dentre os quais

consta a edição e publicação do livro com o diagnóstico da vitória schumpeteriana 190 .

Lançado em 1991, o trabalho defende que ondas de autoritarismo historicamente sucederam

as ondas de democratização191, e, por isso, seria necessário identificar padrões sociais que

favorecessem a reversão autoritária, a fim de evitar a desconsolidação democrática. Neste

livro, Huntington é até explícito no combate a outras definições de democracia que poderiam

entrar em choque com o capitalismo – recorrendo até a um guia de ação para

democratizadores, a fim de circunscrever os limites de atuação do regime e da política nas

187 CANCELLI, Op Cit. p. 111


188 VER: HUNTINGTON, Samuel. O soldado e o Estado. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1996.
189 LEMOS, Renato. A CONEXÃO HARVARD E A POLÍTICA DE DESCOMPRESSÃO:
SOBRE AS ORIGENS DA TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL PÓS64. Tempos Históricos • Volume 18 •
2º Semestre de 2014
190. HUNTINGTON, Samuel. Op. Cit.
191 Teriam existido três. A primeira, transcorrida entre 1820 e 1926, teria sido revertida pela ascensão dos
fascismos; a segunda, iniciada no pós-guerra, estancada entre 1960 e 1975, com as guerras coloniais; e a
terceira, iniciada em 1975, com o debacle dos últimos impérios coloniais formais, a derrubada do
autoritarismo na Península Ibérica e o início de movimentos de redemocratização na América Latina, era
ameaçada por excessos reformistas e a sensação de ameaça das esquerdas (HUNTINGTON, Samuel. Op.
Cit. p. 281-282) .
136
sociedades democratizadas neste formato. A terceira onda é um documento importante por

mostrar a resiliência de ameaças à “democracia limitada”, identificadas na lista de possíveis

desencadeadores de “reversão autoritária” formulada pelo autor192. Não existia clara vitória

de Schumpeter nos anos 1970. Em vez disso, parte dos intelectuais burgueses trabalhava duro

para tornar possível essa redução, e o diagnóstico do próprio Huntington – um dos mais

dedicados à missão – deve ser considerado também ele como esforço em favor daqueles

limites.

A formação daquele modelo de democracia de equilíbrio, portanto, não deve apagar

as contradições existentes no período de sua vigência. Seria uma leitura superficial da obra

de Macpherson, que jamais reduziu a história das teorias democráticas aos modelos que

apresenta. A realidade, como se sabe, é muito mais caótica, e o pós-guerra foi atravessado

por conflitos em torno dos limites da democracia que transcenderam mesmo os marcos

temporais da chamada Guerra Fria até os nossos dias193. Qualquer tentativa de recomposição

de uma “história das ideias” com formas de pensamento sucessivas e cumulativas é

necessariamente simplista e, em larga medida, ideológica, posto que apaga discursivamente

a diversidade – e o conflito – social.

O exemplo mais óbvio de uma forma democrática que não se reduz à fórmula

schumpeteriana é a derivada das reflexões de Isaiah Berlin. Ainda na conjuntura quente do

pós-guerra acima apresentada, o filósofo publicaria Dois conceitos de liberdade, em 1958. O

192 HUNTINGTON, Samuel. Op. Cit


193 Mesmo um liberal como Norberto Bobbio, já nos anos 1990, defendia que a democracia deveria ser
considerada como o “natural desenvolvimento” do Estado Liberal precisamente por sua “fórmula política”,
isto é, a soberania popular (BOBBIO, 2017, p. 65). E claro que, do ponto de vista deste trabalho, tal defesa
não faz qualquer sentido, porque o conjunto de direitos que distingue o Estado liberal prepara as condições
para a perversão da soberania popular exatamente por não interferir na transposição, para o âmbito da
disputa política, das desigualdades de classe. Ver: BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. São
Paulo: Edipro, 2017.
137
ensaio distinguiu as liberdades positiva e negativa, esta considerada a ausência de

constrangimentos à ação dos indivíduos; aquela, a garantia de condições para que os

indivíduos persigam seus objetivos. Se a primeira, por um lado, é restringida pelo

ordenamento jurídico, que estabelece leis que limitam a ação individual; por outro, é

assegurada por direitos civis, como o de associação, expressão e livre trânsito. A segunda,

por sua vez, quando descontrolada, representaria uma ameaça a esses mesmos direitos,

inclusive e principalmente ao de propriedade, posto que abria espaços para o autoritarismo

sobre o direito das minorias – inclusive dos proprietários194.

Desta forma, Berlin privilegia as liberdades negativas na constituição de sua defesa

da democracia como o regime mais apto a assegurar a liberdade. Qualquer ação fora da

definida naqueles limites seria o primeiro passo na caminhada rumo ao totalitarismo195.

Claro que o contexto de produção da obra deixa marca evidente no produto final.

Dimensionado nesta quadra histórica, Dois conceitos de liberdade teria exercido o papel de

organizar a defesa filosófica do liberalismo contra qualquer intervenção “social” do

welfarismo196. E o faria de uma maneira singelamente distinta da verificada nas reflexões

de Schumpeter. Se este definiu a democracia como um método de seleção de governantes,

ao privilegiar as liberdades negativas, Berlin cria terrenos inacessíveis ao poder “coercitivo”

da sociedade, tornando-se matriz seminal de uma nova forma de conter os conflitos derivados

da dinâmica expansiva do capital – tudo isso sem se contrapor ao princípio movente da

teorização de Schumpeter, com o qual, pelo contrário, se associa197.

194 BERLIN, Isaiah, Os dois conceitos de liberdade. In: HARD, H (org.), Estudos sobre a humanidade , São
Paulo, Cia. das Letras, 2002.
195 CUNNINGHAM, Frank Op. Cit. P. 48-52.
196 TULLY, James. T wo concepts of liberty in context. In: BAUM, B. (org.) Isaiah Berlin and the politics
of freedom. Nova York: Routledge, 2014, p.24.
197 CUNNINGHAM, Frank Op Cit.
138
Frank Cunningham foi quem me chamou atenção para a importância de Berlin na

democracia moderna. De acordo com o autor, a defesa berlineana da liberdade negativa se

combina com o entendimento do pluralismo como mínimo democrático, por prescrever a

liberdade de expressão de diferentes visões de mundo, no limite todas igualmente aceitáveis,

considerada a impossibilidade de definição de uma ética universal apriorística198. A filosofia

se assenta na premissa da impossibilidade prática do dirigismo coletivo, posta a incapacidade

de conhecimento da realidade complexa por um grupo restrito de pessoas. Neste preciso

sentido, liberdades negativas, definida pelo direito ao pleno exercício de direitos civis; e

pluralismo, pela a autonomia de diferentes modos de vida, combinam-se na defesa de uma

forma democrática cujo âmbito privado é necessariamente heterogêneo, e o público, limitado

à conservação das liberdades individuais.

Operando em base similar, Friedrich Hayek, o “pai” do neoliberalismo, também

restringe a base de ação governamental. É curioso notar como esses autores raramente

aparecem correlacionados, e à Berlin não é atribuída filiação ao neoliberalismo199. Do ponto

de vista aqui desenvolvido, todavia, as reflexões de ambos respondem ao mesmo problema

de fundo, ainda que diferentemente. De fato, a obra hayekiana acentua a questão moral de

uma forma que inspiraria, mais à frente, a nova direita inclusive contra setores que tiraram

inicialmente proveito de sua definição de democracia limitada200. Mas, na precisa definição

dos limites democráticos, Berlin e Hayek mais se assemelham do que divergem.

198 Idem, ibidem.


199 https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/6/30/mais!/16.html (acessado em 19/11/2019 às 17h21)
200 O trabalho de Wendy Brown é particularmente instrutivo sobre isso, e sua leitura é muito recomendada.
Ver BROWN, Wendy. Nas ruínas do neoliberalismo. São Paulo: Politeia, 2019.
139
Claro que o problema já está posto em O caminho da servidão, de 1944, mas aqui

gostaria de destacar as reflexões realizadas pelo autor em excursão pela Austrália no ano de

1976. Na ocasião, Hayek visitou universidades e tanques de pensamento no país, concedendo

palestras sobre os problemas políticos da democracia moderna. Algumas dessas

apresentações foram lançadas em coletânea, e um do texto se destaca por discutir

precisamente os limites democráticos201. Em Whither democracy?, o autor avalia como as

transformações do regime no século XIX trouxeram novos elementos na história do alcance

governamental. Segundo ele, por séculos, o que se viu foram esforços de contenção do poder

político, esforços dos quais o constitucionalismo seria o melhor exemplo. Aquele século

testemunhou, contudo, o advento de uma nova crença: a ocupação do governo por

representantes eleitos pela maioria tornava qualquer outra limitação de poderes desnecessária,

de sorte que as salvaguardas constitucionais erigidas ao longo do tempo poderiam ser

dispensadas202. Assim teria nascido o que Hayek chama de democracia ilimitada. Ela, e

não a democracia enquanto tal, seria a “abominação” a ser combatida daquele momento203.

O autor parece preocupado com poderes autoritários detidos por um governo que,

sem limites, poderia agir contra minorias circunstanciais. Se esta é uma questão cara à

luta pelos direitos humanos, que no pós-guerra ganhou espaço, sendo incluída na agenda

201 HAYEK, Friedrich. Social justice, socialism and democracy. Australian lectures. Turramurra: Centre
for Independent Studies, 1976.
202 No original, em inglês, consta assim: Suddenly it was believed that the control of government by elected
representatives of the majority made any other checks on the powers of government unnecessary, so that
all the various Constitutional safeguards which had been developed in the course of time could be dispensed
with. Ver: HAYEK, Friedrich. Social justice, socialism and democracy. Australian lectures. Turramurra:
Centre for Independent Studies, 1976, p. 34
203 No original, em inglês, consta assim: While personally I believe that democratic decision on all issues on
which there is general agreement that some government action is necessary is an indispensable method of
peaceful change, I also feel that a form of government in which any temporary majority can decide that any
matter it likes should be regarded as "common affairs" subject to its control is an abomination. Ver: HAYEK,
Friedrich. Social justice, socialism and democracy. Australian lectures. Turramurra: Centre for
Independent Studies, 1976, p. 34
140
de instituições multilaterais como a Organização das Nações Unidas, Hayek a reivindica

como defesa da liberdade individual em um duplo sentido bem específico: o de viver e o

de possuir. O autor, por conseguinte, vê como igualmente ilegítimas leis que atentem

contra a vida e contra a propriedade de um indivíduo ou de uma minoria204. Trata-se de

conjugar democracia com direitos naturais, definidos pelos costumes e tradições – daí

também a inviolabilidade das relações familiares pelo Estado; a família é entendida por

Hayek precisamente como o bastião dos costumes e da tradição contra “engenharias

sociais”; e da liberdade contra o autoritarismo205.Daí sua proximidade com Berlin: em

um mundo complexo onde não há verdade em si, a tradição e a família são os depositários

de certeza sem as quais a própria sociedade fica ameaçada. Por isso a necessidade

paradoxal de “conter” o social, entendido como a disposição de governos em seguirem

indiscriminadamente as pressões por maior intervenção estatal.

Apesar da importância de Hayek, é entre os ordoliberais que o potencial de uma

zona fortificada contra pressões “políticas” aparece de modo cristalino. Wendy Brown

mostra como os ordoliberais diferem dos demais neoliberais por não atacarem o tamanho

do Estado de Bem-Estar Social, mas suas funções. Segundo a autora, autores como Walter

Eucken (1891-1950) criticaram os desdobramentos da pressão das massas, cuja

modalidade de intervencionismo, assentada na reivindicação de direitos sociais e na

regulamentação de atividades econômicas, resultaria no paradoxal enfraquecimento da

economia e do Estado. Um dos fundadores da doutrina, Eucken defendia que

204 No original, em inglês, consta assim: Arbitrary oppression - that is coercion undefined by any rule by the
representatives of the majority - is no better than arbitrary action by any other ruler. Whether it requires
that some hated person should be boiled and quartered, or that his property should be taken from him,
comes in this respect to the same thing Ver: HAYEK, Friedrich. Social justice, socialism and democracy.
Australian lectures. Turramurra: Centre for Independent Studies, 1976, p. 35
205 BROWN, Wendy. Op. Cit.
141
a solução ordoliberal para esse problema envolve isolar o Estado tanto da
democracia quanto da economia. Isso é realizado pela transformação da
constituição política mais em um ethos animador do que um documento soberano,
e pela complementação dessa constituição política com uma econômica (p. 95).
A necessidade de uma constituição do tipo vem da multiplicidade de ordens

econômicas possíveis, o que, considerando os efeitos da politização sobre a questão,

subsumiria o manejo da economia a demandas momentâneas e ao embate da arena

política. No quadro de um capitalismo cada vez mais complexo, a aplicação e a gestão

dos mecanismos econômicos “exigem uma planta técnica para uma ordem técnica gerida

por especialistas técnicos” (p. 96).

É claro que a despolitização pretendida pelos ordoliberais é uma decisão política. O

insulamento do aparelho econômico dela resultante tenta impedir que o terreno

acidentado das lutas transcenda limites indesejáveis. Desta forma, estanca-se não apenas

a influência da soberania popular sobre a “economia”, como se apazigua também os

confrontos entre as frações das classes dominantes sobre como e quais deveriam ser os

pilares da ordem econômica.

A importância do ordoliberalismo é destacada por Dardot e Laval. Eles demonstram

como os adeptos da doutrina aproveitaram uma “grande oportunidade” deixada pelo pós-

guerra para se aproximarem do poder político na República Federal Alemã, então sob

ocupação das forças ocidentais que compuseram a aliança contra o Eixo206. A partir da

posição privilegiada alcançada no Conselho Econômico criado em 1948, tiveram

importante papel no “milagre alemão”; na formação da “economia social de mercado”,

durante o governo de Konrad Adenauer; e, finalmente, influência sobre os tratados que

regulamentaram a integração europeia 207 . Com efeito, como veremos no próximo

206 BROWN, Wendy. Op. Cit. p. 256


207 BROWN, Wendy. Op. Cit 245-269.
142
capítulo, os documentos constitucionalizam princípios caros aos ordoliberais – como a

gestão técnica da economia, a estabilidade monetária, a flexibilização de direitos sociais

e a livre concorrência – sem deixar de lado a preocupação com possíveis ebulições sociais

que transgredissem os limites demarcados.

O que une Berlin, Hayek e os ordoliberais é aposta na privatização como forma de

solucionar os gargalos da sociedade capitalista desenvolvida. A posição berlineana de

sustentação das liberdades negativas, como vimos, deriva de uma premissa: a atividade

livre e espontânea dos indivíduos é melhor do que o dirigismo Estatal, postos a

complexidade do mundo social e os riscos do “totalitarismo”. Em Hayek, o combate ao

“intervencionismo” vem da aposta na vitalidade moral da família tradicional, cujo modo

de vida teria se provado efetivo no teste do tempo. Para os ordoliberais, a complexidade

do capitalismo abre condições de possibilidade para múltiplas ordens econômicas, e a

intervenção “política” nesta esfera, por maiorias circunstanciais expressas pelos métodos

democráticos, traria aqueles mesmos defeitos, com o diferencial de agirem sobre

sociometabolismo cuja compreensão demandaria o domínio de instrumentos técnicos – e,

portanto, sua manipulação por não-iniciados seria ainda mais catastrófica. O

constitucionalismo econômico, portanto, é também uma forma de privatização, mas cujo

escopo seria de alçada especializada, devendo ser fruto do trabalho intelectual de

tecnocratas organizados autonomamente, livre de pressão dos poderes “demoníacos dos

povos”208.

Entendida desta forma, a anatomia do neoliberalismo casa muito bem com a

“sociedade livre” em que proliferam os APHs. Virginia Fontes mostrou como o processo

208 BROWN, Wendy. Op. Cit. 256


143
de privatização deu abrigo ao movimento expansivo do associativismo burguês,

ocupando espaços deixados pelo poder público 209 . Na fronteira com as classes

subalternas, um sem número de entidades passou a atuar sobre os bolsões de miséria,

eventualmente apagando incêndios deixados pela destruição capitalista, mas também

cooptando e transfigurando as associações populares que conseguiriam vir à luz mesmo

em países cuja expansão do Estado (em sentido gramsciano) se deu seletivamente (como

o Brasil, em que a interface do poder público com os de baixo é extremamente violenta

desde o período colonial). Mais recentemente, considerou o maciço volume de

intervenção burguesa nas sociedades civil e política, por meio de estratégias de

convencimento e aparelhamento, prejudicial ao seu próprio fundamento. Contando com

uma base de capitais extremamente concentrada e com “benevolência” estatal, esse

“hegemonismo” acabaria solapando os pilares mesmo da tímida forma democrática

atualmente predominante.

Visando enfrentar diuturnamente qualquer possibilidade de elaboração


organizativa e política por parte de setores populares e bloquear o sentido de classe
de sua atuação, o hegemonismo contribuiu fortemente para o esvaziamento da
própria forma de sustentação que o originou e que supostamente seria por ele
reforçada. Ele mina permanentemente a política oficial, parlamentar, de seu
conteúdo. Apesar de não objetivar explicitamente a eliminação da estrutura
representativa, tende a cerca-la de tal maneira que seu próprio sentido definha210.

Apresentando outros elementos e uma análise mais complexa, a autora define melhor

o processo que no capítulo anterior foi esboçado quando da apresentação dos dados

quantitativos sobre atuações dos tanques de pensamento. A extensão da “atuação

hegemônica” da burguesia, representada pela gigantesca malha associativa que reúne

209 FONTES, Virginia. Op. Cit. 2010.


210 FONTES, Virginia. Hegemonismos e política. Que democracia? In: MATTOS, Marcelo Badaró (org.).
Estado e formas de dominação no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Consequência, 2017, p. 224.
144
institutos empresariais, organizações sem fins lucrativos, fundações de fomento do

“desenvolvimento” e outros tipos de entidade, explicaria a mais recente crise da

democracia precisamente pelo seu sucesso na contenção do dissenso em limites

adequados.

Os limites do hegemonismo estão naturalmente na própria sociabilidade

capitalista, imanentemente conflituosa. As tensões permanecem, a despeito das tentativas

de contê-las e desloca-las. Inserido neste movimento, o estudo do IFHC pode enriquecer

a compreensão de outras formas de administração dessas lutas. O prosseguimento da tese

demonstrará como a entidade tenta criar terrenos de debate legítimos sobre questões que,

do seu ponto de vista, merecem ser consideradas “problemas” nacionais. Trata-se de

filtrar o potencial do debate ao selecionar seus participantes previamente – e, desta forma,

escolhe-se também de modo adiantado tanto o que é dado à discussão quanto as posições

legítimas sobre o tema. Teremos oportunidade de ver, ainda neste capítulo, um caso de

delimitação das discussões no IFHC, quando da apresentação das posições sobre a

chamada “Reforma Trabalhista”. Veremos na prática como se dá a tentativa de controle

da enorme diversidade social, moderando o que pode e o que não pode vazar para a arena

política.

Por ser um fórum de debates que colige representantes das sociedades civil e

política, bem como das classes e frações de classes sociais, talvez seja o caso de

considerar o atual estágio de desenvolvimento de tanques de pensamento como o IFHC

como mais fluído do que etapas anteriores das atividades de outros APH’s. Permanece

insuperável a monumental pesquisa de Sônia Regina de Mendonça sobre as disputas entre

145
diferentes frações do capital agrário por postos ministeriais211. A dinâmica ali destacada

foi a da guerra de posições, com conquista de espaços e avanço sobre a cidadela do Estado.

Por mais que alguma moderação tenha havido, e os momentos de guerra aberta tenham

se intercalado com períodos de relativa paz, o processo narrado pela brilhante historiadora

é indisfarçavelmente conflituoso, porque aquela conquista de espaços no poder público

envolve necessariamente vencedores e perdedores.

Sem aposentar esta modalidade de luta – e sem conseguir suprimir as tensões - é

possível que tanques de pensamento como o IFHC representem uma alternativa menos

belicosa, por conseguirem abrigar mais de uma tendência burguesa ao mesmo tempo. Eles

são fóruns de discussão e apresentação de ideias, afinal, por meio do qual os setores e

frações das classes dominantes apresentam demandas a quadros do Estado restrito. A

pluralidade – que, como vimos, é relativa, porque dependente de filtragem anterior –

talvez corresponda a uma forma de dominação mais fluida, em que diferentes caminhos

– todos no marco do capitalismo – possam ser adotados sem necessidade de guerra civil

por conquistas de espaços no Estado – com efeito, a luta logicamente não cessaria, mas

seria deslocada para o momento de associação, com a formação de outros tanques de

pensamento para se contrapor aos mais prestigiados, a fim de controlar a capacidade de

seleção prévia dos assuntos e posições dadas ao debate. Os limites desta pesquisa não

permitem a verificação da hipótese, embora ela inegavelmente esteja no horizonte do

pesquisador ao longo da análise dos dados aqui reunidos.

Seja como for, é certo que, na interface política, o papel renovado dos aparelhos

privados de hegemonia empresarial traduziu, para a “batalha das ideias”, as desigualdades

211 MENDONÇA, Sônia Regina de. O ruralismo brasileiro. Rio de Janeiro: Hucitec, 1997.
146
estruturais do capitalismo. Entendo que a sacralização das liberdades negativas cumpriu

aí papel importante – denúncia, aliás, que, mutatis mutandis, fora feita por Lênin em seu

famoso debate com Kautsky. Entre os APHEs, os tanques de pensamento, operando

conexões diretas entre classes e frações de classe, seus intelectuais e o poder político, deu

outros contornos à democracia – inaugurando nova etapa da história de contenção das

lutas sociais sob o reino do capital. Neste sentido, sua multiplicação não deixa de ser uma

forma de democratização, mas democratização burguesa, como frisou o revolucionário

bolchevique212.

212 Na conjuntura do imediato pós-guerra, tendo triunfado a Revolução Soviética, muita tinta foi gasta para se
analisar o regime político dos bolcheviques. Kautsky, um dos mais eruditos conhecedores da obra de Marx e
Engels, foi então uma das figuras de proa a criticar a experiência. O que ele considerou como autoritarismo dos
métodos bolcheviques foi o alvo preferencial de seus ataques. Destacaram-se entre os elementos de sua
abordagem as duras críticas à dissolução da Assembleia Constituinte pelos bolcheviques, em 1918, bem como
a supressão da “imprensa livre” e a cassação dos “direitos burgueses”. Na ocasião, Kautsky defendia a
“democracia pura”, opondo-lhe o modelo então criado pelos revolucionários de outubro. Sem respeito pela
“democracia em geral”, argumentava, retirava-se o fundamento de uma sociabilidade que privilegiasse a
coletividade, e o resultado só poderia ser a degeneração ditatorial exercida não por uma classe, mas por um
partido agindo em seu nome Essa concepção de democracia pura e a consequente crítica à “forma de governo
ditatorial” foram ferozmente rebatidas por Lênin em A revolução proletária e o renegado Kautsky, brochura
lançada naquele ano de 1918. Para o autor, não havia sentido em analisar um regime político sem referência às
suas determinações de classe. Os princípios liberais identificáveis na concepção kautskyana de pureza
democrática recobririam, assim, o fato de qualquer Estado ser um aparato de poder; de as condições universais
de liberdade, de igualdade, na democracia burguesa, jamais ultrapassarem seus aspectos formais, o que, ao
mesmo tempo, ocultaria e revelaria que os meios de produção permaneciam privatizados na época histórica de
sua expansão como forma de dominação. As medidas da Revolução Soviética, portanto, evidenciariam que a
democracia burguesa seria democrática para a burguesia, mas ditatorial para o proletariado. Para Lênin, não
enxergar isso seria cair em espécie de reificação das formas de governo e fetichização do Estado. Em suma:
seria abandonar o ponto de vista marxista, como um renegado.
Concebendo o Estado desta forma, a transformação da classe trabalhadora em classe dominante
passaria necessariamente pelo uso dos instrumentos coercitivos conhecidos. Para Lênin, portanto, a ditadura
do proletariado é de fato ditatorial, mas na sua interface com a burguesia. Nesse sentido, acentuar a repressão
daquela experiência revolucionária seria indício importante da aceitação do ponto de vista burguês, posto que
os trabalhadores jamais teriam desfrutado de liberdade comparável à verificada no regime soviético.
Ao substituir o antagonismo entre exploradores e explorados pela fórmula minoria-maioria, Kautsky
acabaria por ocultar, sempre de acordo com o líder bolchevique, as desigualdades realmente existentes entre,
por um lado, burguesia e seus acólitos, por outro, a classe trabalhadora. Diferenças de formação – a vida pródiga
da burguesia poderia se expressar em maior domínio sobre os produtos culturais -, de oportunidades, de
capacidade de fala (estavam sob posse burguesa, afinal, os maiores e mais influentes meios de comunicação),
enfim, de exercício de poder (inclusive de setores de Estado que recrutavam preferencialmente das fileiras da
burguesia ou da pequena burguesia seus representantes). O sentido social da revolução proletária seria, portanto,
menos a conquista do poder político e mais a transformação das estruturas da sociedade capitalista com o fito
de dissolver as desigualdades de classe – e, logo, as classes enquanto tais. Para Lênin, portanto, a revolução
147
A democracia projetada por estes intelectuais da ordem, assim, é o regime político

dinamizado pelo método democrático de seleção de governantes, cuja amplitude de

atuação está limitada pelo insulamento de aparelhos. O acesso a eles é controlado por

filtro naturalmente interessado, definido tanto por correlação circunstancial de forças

quanto pela sintonia fina capaz de apaziguar os confrontos e reproduzir o condomínio das

classes sociais, preferencialmente com o mínimo de movimentação interna possível –

ainda que alternâncias sejam possíveis, eventualmente desejáveis, desde que realizadas

pelos mecanismos consagrados, isto é, pelas atividades regular dos APHE’s. Mais do que

democracia processual, há agora regimes de tipo democrático cujo dever principal é

pacificar e limitar dissensos, não pelo seu sufocamento, mas por sua restrição a um terreno

cujos resultados mais gerais são conhecidos de antemão. Não deixa de ser curiosa a

sugestão de ser a liberdade negativa (negative liberty) uma tecnologia política de base tão

importante em seus fundamentos filosóficos. Trata-se, literalmente, da liberdade de não-

escolher sobre o essencial.

* * *

O período histórico de que trata esta tese vê o prosseguimento dos embates em torno

da democracia. Os conflitos derivados da sociabilidade capitalista são estruturais, portanto

proletária seria precisamente o momento de luta em que a classe que aspira à dominação quebra as resistências
dos então dominantes, retirando-lhes não apenas as bases “econômicas” do poder, mas também os meios
culturais usados para expressar e reproduzir aquela condição de dominação. Um exemplo eloquente desta visão
sobre os imperativos das lutas de classes está no debate em torno da liberdade de imprensa, travado por Lênin
contra o pensamento liberal em outro trabalho. Ver: LENIN, V. Democracia e luta de classes. São Paulo:
Boitempo, 2019.

148
impossíveis de serem superados enquanto a dinâmica expansiva do capital ditar o ritmo da

vida social. Por isso, qualquer sucesso de contenção democrática é necessariamente

passageiro, embora renovável. Válido até o próximo ponto de contradição amadurecer. Isso

não impede, contudo, que procuremos investigar as posições concretamente defendidas na

conjuntura de desenvolvimento de nosso objeto. Sendo o IFHC um dos que reivindicam a

defesa da democracia, outros sentidos democráticos serão seus naturais rivais, assim como

os que recusam a democracia de princípio – ainda que alianças táticas possam ser

identificadas; e efetivamente o são, como o capítulo quatro mostrará.

Na sequência deste segundo capítulo, contudo, estabeleceremos a natureza de classe

da entidade em análise. Identificando sua base social, veremos como as consequências de sua

existência representa uma ameaça mortal para a democracia em sentido amplo (e não restrito

ou limitado). Com efeito, como tentei mostrar até aqui, em uma sociedade com atuação de

tanques de pensamento deste tipo, uma democracia que se identifique como a forma de

governo da soberania popular não pode vicejar. Por outro lado, essa democracia “tecnocrática”

constantemente erode as bases de sua própria sustentação, posto ser o elemento técnico em

si mesmo limitado e tendencialmente ainda mais restritivo.

2.2 A fundação do Instituto Fernando Henrique Cardoso

Às vésperas da inauguração de seu instituto, Fernando Henrique Cardoso não

escondeu as inspirações que o levaram a idealizar a entidade. A Clinton Foundation, do ex-

presidente estadunidense Bill Clinton; e a Fundação Mário Soares, criada em 1991 pelo ex-

presidente português, eram seus modelos. São fundações com práticas similares, que vão da

preservação do acervo dos líderes que as nomeiam à organização de debates, palestras e


149
produção editorial independente. É verdade que a entidade estadunidense também apoia, com

ajuda de seus “parceiros estratégicos”, a “criação de oportunidades econômicas”213. Mas,

assim como em sua congênere portuguesa, suas atividades principais parecem ser de cunho

intelectual.

Investigando o sítio do então Instituto Fernando Henrique Cardoso (ele viraria

fundação posteriormente), os paralelos são inegáveis. Trata-se também de uma entidade

devotada à preservação da memória do político que lhe empresta o nome. Sedia igualmente

debates, palestras, lança livros e traduz publicações importantes da intelectualidade

internacional. A lista de atividades é imensa. A preservação da documentação produzida pelo

tucano e seus governos sem dúvida é importante, mas o leit-motiv parece mesmo ser sediar

intensa atividade política.

Nos capítulos anteriores vimos os possíveis significados e as prováveis funções de

um tanque de pensamento. Ao iniciarmos nosso estudo de caso, buscamos identificar as bases

sociais da entidade, bem como refletir com maior riqueza de detalhes sobre suas funções e

conexões. Trata-se de modo interessante de prosseguir nossos estudos sobre o papel

desempenhado por este tipo de entidade no capitalismo moderno, quais suas relações com os

diferentes níveis da sociedade política e com as demais organizações da sociedade civil.

Apresentar o início de sua história é uma boa maneira de começar a busca pelas respostas.

Embora Fernando Henrique Cardoso atribua inspiração exógena à sua fundação, ela

integra a lista de organizações do tipo deixadas em solo pátrio por ex-presidentes – ou em

nome deles. A primeira entidade do tipo, após a última ditadura, foi logo de Tancredo Neves

– fundada em 1987. Em 1990 seria a vez da Fundação José Sarney, transformada em

213 Ver: https://www.clintonfoundation.org/about


150
Fundação da Memória Republicana Brasileira após ser alvo de investigações por corrupção.

Presumivelmente a hora de Itamar Franco chegaria, e o Instituto Itamar Augusto Franco veio

à luz em 2002, recebendo depois o beneplácito da Universidade Federal de Juiz de Fora, que

o tomou como seu órgão214. Fernando Collor não nomeia nenhuma entidade, mas se associa

ao Instituto Arnon de Mello de Liberdade Econômica e Promoção Social, fundação dedicada

a fins semelhantes às demais aqui apresentadas – e que leva o nome do pai do ex-presidente.

No Partido dos Trabalhadores, Lula tem o seu instituto; Dilma, ainda não. A julgar pelo

panorama visto, é questão de tempo. Ou aos ex-presidentes que sofreram impeachment não

é facultada a preservação institucional da memória de seu governo – ou talvez não pareça de

bom tom fazer política em seu nome.

Posto que todas essas fundações presidenciais reivindicam o direito de discutir “os

problemas” de seu país e interferir nas políticas públicas, parece que o prestígio de ex-

presidentes é um mecanismo importante de consagração dos debates ali travados – de sorte

que os líderes com menor capital político não dariam bons nomes de fundação. Sem dúvida,

a atração que a forma tanque de pensamento exerce sobre o campo político é enorme, e não

são apenas os ex-presidentes que procuram prolongar sua influência criando suas próprias

entidades. Os partidos já o fazem, e dentro deles suas correntes, tendências. Fora deles não é

diferente. São indícios importantes que não serão esquecidos enquanto avançamos na história

do IFHC. Também queremos saber o que o ex-presidente tem a ver com o problema aqui

tratado, bem como o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), derivação do Partido

do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) que há muito tempo Fernando Henrique

acostumou a chamar de seu.

214 Ver: http://mrpitamarfranco.com.br/n/instituicao/


151
Mas declaradamente inspirado não pelas experiências nacionais, e sim por congêneres

estrangeiros, em 2004 surgiria o Instituto Fernando Henrique Cardoso. Assim como os

demais, fora pensado para ser uma instituição declaradamente dedicada a preservar o acervo

profissional do ex-presidente – notadamente a documentação referente ao seu governo e à

sua produção intelectual como sociólogo. Ainda seguindo a pista dos anteriores, o IFHC,

esforçou-se também em outras áreas. Em seu sítio virtual oficial, acessível pelo endereço

fundacaofhc.org.br, constata-se que a agora “fundação” Instituto Fernando Henrique

Cardoso tem um “duplo proposito”. Para além da preservação e disponibilização dos arquivos

do ex-presidente, de sua esposa Ruth Cardoso e “outras figuras públicas ligadas ao casal, de

modo a contribuir com a pesquisa e a difusão do conhecimento sobre a história brasileira”, a

Fundação “promove o debate público, a produção e a disseminação de conhecimento sobre

os desafios do desenvolvimento e da democracia no Brasil, em sua relação com o mundo”215.

Para tanto, o IFHC promove exposições, eventos educativos, debates, estudos e publicações.

O debate sobre o tema é escasso no meio científico. Antes dessa pesquisa ser iniciada,

não foram encontradas investigações de fôlego sobre a história do instituto e seu significado

social. Mesmo agora, os textos que tocam no assunto dialogam com apontamentos

provisórios meus, publicados em anais de congresso e artigos de revistas acadêmicas216. Na

215 http://fundacaofhc.org.br/sobre-a-fundacao/missao-e-valores (12/10/2017, às 12h)


216São os casos da excelente tese de doutorado de Flávio Calheiros, recentemente publicada em formato de
livro; e de um artigo de Virgínia Fontes publicado em coletânea de textos sobre Estado e democracia na
América Latina. Ver: CASIMIRO, Flávio Henrique Calheiros. A Nova Direita no Brasil. Aparelhos de ação
política-ideológica e a atualização das estratégias de dominação burguesa no Brasil (1980-2014) tese de
doutorado em História Social. Universidade Federal Fluminense, Departamento de História, 2016.
FONTES, Virgínia. Estado, democracia e participação na América Latina. In: ROZENTINO, Gelsom;
BRANDÃO, Rafael Vaz da Motta. Estado, democracia e participação popular na América Latina. Rio de
Janeiro: Autobiografia, 2017.
152
imprensa, entretanto, o tema recebeu atenção, com conotação mais ou menos polêmica.

Nessas notas, interessou-se, sobretudo, pelo papel político da organização e pela natureza do

financiamento de suas ações.

Em coluna na Tribuna da Imprensa de 2004, Sebastião Nery tece comentários críticos

a Fernando Henrique Cardoso e seus “mecenas”. De acordo com o articulista, a edição de

ÉPOCA daquela semana (o texto foi publicado em 29 de abril) revelava que o ex-presidente

já havia faturado 3 milhões de reais em “palestras para empresários no Brasil e no exterior”.

Dividindo o valor pelos quinze meses de atividade, o autor chega à conta de 200 mil reais

mensais, os quais não batem com o valor e a periodicidade declarados de suas palestras –

duas por mês, a valores que giram entre 10 a 20 mil dólares cada. (TRIBUNA DA

IMPRENSA, 29-04-2004, P. 6)

A polêmica sobre os valores de palestras de ex-presidentes ainda não era um dos

temas mais quentes do jornalismo nacional. Torna-se centro das atenções quando de

denúncias à suposta lavagem de dinheiro realizada pelo ex-presidente Lula por meio de seu

instituto. Já em 2004, porém, Nery levanta suspeitas sobre o funcionamento do IFHC, usando

para isso novamente armas concedidas pela revista ÉPOCA. Argumentando sobre dados

reproduzidos pelo semanário, que davam conta de que a compra do andar e subsolos que

pertenciam ao Automóvel Clube, em edifício na região central de São Paulo, custara R$ 900

mil reais, e as reformas realizadas no espaço para torná-lo apto a receber o acervo do ex-

presidente, mais R$ 3 milhões, Nery sugere que FHC utilizava o instituto para lavar dinheiro

“do passado ou do futuro”.

Como conseguiu os 3 milhões de reais em quinze meses? O que será que


Fernando Henrique está querendo lavar? O passado ou o futuro? A revista [Época]
revela que, atrás das conferências dele, estão os bancos Santander (a quem ele doou
o Banespa) e Pátria, a Medial Saúde, AmBev, ACNielsen. Quem mais? (idem)

153
A tinta afiada de Nery é também uma das primeiras a legar interpretação sobre o

significado sócio-político do IFHC. Em outra coluna, esta do dia 24 de abril, o IFHC é tido

como “uma indisfarçada agência política para defender e vender as posições dos Estados

Unidos e do sistema financeiro internacional” (TRIBUNA DA IMPRENSA, 24-05-2004. p.

6). A interpretação do jornalista remonta uma visão pessoal sobre o ex-presidente. De acordo

com Nery, já quando da criação do Cebrap, FHC fora financiado pela Fundação Ford para

defender, no debate acadêmico nacional, as posições favoráveis a Washington (Idem). Há

evidentemente outros lados sobre a questão. Embora o aporte financeiro da Fundação Ford

seja conhecido, não necessariamente é prova suficiente para atestar a subordinação do grupo

de pesquisas ao governo forâneo – isso porque a entidade estadunidense era reconhecida por

esse tipo de “filantropia” nos anos 1960, ainda que reconheçamos, por óbvio, que aportes

dessa natureza dificilmente deixam de representar algum nível de investimento interessado.

De fato, há indícios da proximidade do IFHC com o Estado estadunidense. Bill

Clinton esteve na inauguração da entidade para falar sobre “democracia como valor universal”

– embora, é verdade, ao custo de um cachê generoso, especulado pela imprensa como algo

em torno de R$ 60 mil reais. (JORNAL DO COMMÉRCIO, 18-12-2003, p. A-11). A mesma

Tribuna da Imprensa noticiou, em 04 de agosto de 2004, a primeira fala pública do então

novo embaixador estadunidense no Brasil, realizada precisamente na sede do IFHC. Na

ocasião, de acordo com o jornal, John Danilovich elogiou o papel “da diplomacia brasileira

junto aos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento”. O diplomata ainda destacou

positivamente a “emergência do Brasil como um líder mundial” (TRIBUNA DA IMPRENSA,

04/08/2018, p. 11). Uma mirada mais larga para a História da entidade, contudo, desautoriza

abordagens simplistas como a acima esboçada. Com efeito, como se verá abaixo, a amplitude
154
de assuntos abordados e de personagens participantes nos encontros da entidade torna difícil

de sustentar qualquer tese que defenda ser o IFHC uma “estrutura para defesa dos interesses

estadunidenses” no Brasil – ainda que isso possa ocorrer em algum nível.

Ainda nas interpretações jornalísticas, vemos outras versões que também

consideramos limitadas – desta feita, por conta de certa ingenuidade dos autores, que aceitam

o discurso dos investigados sobre si mesmos. É o caso do Correio Braziliense, que repercutiu

a inauguração do IFHC em sua edição de 22 de maio de 2004. FHC inaugura seu grande

palanque”, foi a manchete de reportagem que detalhava o financiamento – feito “com a ajuda

de empresários” - e o “modelo” do instituto – homólogo do ex-presidente português Mário

Soares. O texto traz ainda uma pequena entrevista com FHC, na qual se aborda o “objetivo”

do instituto. Diz o ex-presidente,

Em primeiro lugar, serão feitas basicamente reflexões sobre o Brasil, sobre o


mundo do ponto de vista mais geral, sem entrar em detalhes como a taxa de câmbio,
o governo Lula. Em segundo lugar, a ideia é convidar sempre pessoas variadas, que
não sejam necessariamente vinculadas a partidos, nem de uma área específica. Sou
um ex-presidente e não um líder políticio. Sou presidente de honra do PSDB, tenho
uma posiçã osobre a política e vou apoiar o partido, mas como ex-presidente e não
como militante. (…) Os presidentes Jimmy Carter (dos Estados Unidos) e Mário
Soares (de Portugal) fizeram fundações nesses moldes. É um centro de reflexão,
para evitar ser uma coisa morta. Há uma necessidade, uma obrigação de pensar e
contribuir com soluções (CORREIO BRAZILIENSE, 22-04-2004, p. 4)

O Jornal do Commércio também descreve o IFHC dessa maneira. Na matéria do

periódico sobre o instituto, a entidade teria sido fundada “com o objetivo de abrir espaço para

reflexões sobre desafios políticos, sociais e econômicos enfrentados pelo Brasil diante da

globalização” (JORNAL DO COMMÉRCIO, 24/05/2004, p. A-16a).

O jornalismo nacional, primeiro canal de debate sobre a razão de ser do IFHC, assim,

ou apenas amplifica o discurso do criador sobre a criatura, ou confunde oposição política rasa

naquela que deveria ser uma análise mais criteriosa. De nossa parte, consideramos o IFHC

155
de fato como um centro de reflexão, conforme os próprios participantes e o sítio virtual da

entidade se anunciam. A pergunta que persiste, porém, é sobre o sentido das reflexões, bem

como seu papel e sua importância políticas. Dessa forma, enfatizamos que o elemento mais

propriamente técnico que circunda o metabolismo social de organizações desse tipo –

especialmente de tanques de pensamento, conforme vimos no primeiro capítulo – não pode

ser apartado de determinações políticas. O que recoloca a questão em outro nível: que tipo

de reflexão é feita e quais são seus principais interessados? Que o IFHC e os setores do PSDB

que orbitam o ex-presidente tentem extrair daí algum grau de capital político parece certo,

mas não tudo, e certamente insuficiente como resposta sobre o sentido social da organização.

As questões nos conduzem ao estudo do financiamento da entidade, precisamente por

crermos residir aí importante pista para se desvelar sua base social.

2.3 Uma entidade do grande (e do mega) capital

A pesquisa sobre o financiamento de entidades desse tipo nunca é fácil. As empresas

de auditoria raramente disponibilizam relatórios detalhados sobre patrocinadores, apoiadores,

e, sobretudo, acerca do volume de inversões realizado nos institutos a que prestam serviço.

É claro que o apoio divulgado pelos documentos públicos das iniciativas é importante, mas

provavelmente não expressam o universo realmente existente de seu financiamento. Por

serem o principal indício material de que disponho no momento, seguirei prioritariamente

estes rastros, mas ciente de que provavelmente eles só deixam ver uma parte da história.

O escrutínio, assim, valeu-se da análise dos relatórios de atividades do IFHC,

divulgados anualmente em seu sítio virtual. Como divulgado por Sérgio Fausto em evento
156
recente 217 , o patrocínio à entidade é realizado principalmente por pacotes anuais. Os

interessados na modalidade de apoio patrocinam um conjunto de atividades a serem

realizadas no ano de referência. As palestras e debates, portanto, em um mesmo ano tendem

a ter o mesmo grupo de patrocinadores. Ocorre, porém, que o tanque de pensamento conta

também com auxílios pontuais. Organizações e empresas que ajudam a realização de eventos

específicos, não figurando entre as financiadoras da carteira anual de debates e palestras, mas

ainda assim sendo expostas na documentação que aqui temos como base. Somados, esses

dois grupos de apoiadores viabilizam as atividades mais propriamente políticas da entidade,

enquanto outras tarefas – tidas como mais técnicas, de manutenção e preservação da memória

do ex-presidente – são viabilizadas principalmente por verbas oriundas da Lei Rouanet.

Um dos objetivos desta seção é compreender melhor a base social da entidade.

Entendo que essa base pode ser melhor compreendida pelo estudo do financiamento, uma

vez que, seguindo o dinheiro, encontramos interessados nas atividades do instituto. Se o

apoio de um certo tipo de fração se torna claramente predominante em relação aos demais,

isso pode afetar diretamente as atividades da organização, posta a possibilidade da

programação da entidade ser pensada para atrair maior atenção do segmento cujo apoio se

provou mais provável ou farto. Trata-se de um dos mandamentos dos tanques de pensamento,

conforme o relatório Global go to Think Tank, apresentado no primeiro capítulo e, como

ainda veremos, seguido como cartilha pelo IFHC218. Claro, toda a dinâmica pressupõe a luta

217 Ver:https://fundacaofhc.org.br/iniciativas/debates/ameacas-e-oportunidades-das-novas-tecnologias-para-o-
desenvolvimento-e-a-democracia (acessado em 18/11/2019 às 21h28)
218 Refiro-me às recomendações, feitas na forma de critério de hierarquização dos tanques de pensamento,
para que as entidades busquem formas de financiamento privada a fim de se tornarem economicamente
viáveis.
157
também entre os patrocinadores por uma programação mais afinada aos seus próprios

interesses.

Por conseguinte, priorizei o estudo dos apoiadores anuais – do grupo de empresas e

entidades que adquirem “pacotes” de eventos. Avalio serem estes os principais

patrocinadores, e a extensão do financiamento pelos anos pode indicar a importância deste

apoio – e, logo, de sua influência sobre a entidade – através do tempo. Daí também ressaltar

este dado. O recurso a este método tenta dar alguma ordem ao caos de informações que, além

de tudo, é profundamente lacônico. Buscando o que é relativamente permanente, tento

acessar aquela base, afastando eventuais influências episódicas. É certo que uma organização

do porte do IFHC atrai muitas atenções, sendo eventualmente o locus do desenvolvimento

de interesses pontuais. Sem me desinteressar por este outro tipo de evento, privilegio as

legalidades, inclusive tentando captar eventuais transformações e reorganizações internas na

estrutura dos financiadores. Por não ser essencialmente uma entidade vinculada a um

segmento específico, é possível que a base social do IFHC seja especialmente dinâmica,

mutável, e o direcionamento da entidade pode mesmo ser alvo de disputa entre diferentes

frações interessadas em pautar seu rumo.

Também por isso o terço final desta seção analisará a dinâmica dos patrocínios anuais

no tempo. Tentarei captar mudanças na base de apoio, seja na natureza do capital vinculado

à iniciativa, seja no volume de empresas que o IFHC consegue atrair. Por motivos que

envolvem a periodização (esta pesquisa se detém em 2019), algumas das mutações não

poderão ser por ora compreendidas - notadamente as possíveis influências da ascensão do

bolsonarismo ao governo federal, após as eleições de 2018. Quando for o caso, apontarei as

158
necessidades de investigações futuras a fim de acompanhar o desenvolvimento dessas

influências em um arco temporal mais adequado.

O quadro abaixo apresenta a lista de apoiadores e patrocinadores dos eventos do IFHC,

segundo a documentação fornecida pela própria entidade.

Quadro 1: Apoiadores e patrocinadores totais – 2004-2019219

Agência Espanhola de Cooperação Consulado Geral da República Federal da


Internacional – AECI Alemanha
Águas Claras do Rio Pinheiros Consulado Geral da Rússia
Air Liquide Consulado Geral da Suíça
RAPS Consulado Geral de Portugal
Ambev Consulado Geral do Japão
Port of Rotterdam Consulado Geral do México
AMCHAM Brasil Consulado Geral dos Estados Unidos da
América
APAS Consulados Gerais da UE
associação brasileira de engenharia Consulat Général de France
sanitária e ambiental (Abes)
athie Wohnrath, Cosan
Axa Seguros Senai
B3 CPFL Energia
Banco e Seguradora Alfa Santander
Banco BNP Paribas Naval Group
Banco Interamericano de Deutsche Bank
Desenvolvimento – BID
Banco Itaú Istituto Italiano di Cutura di San Paolo
Banco Mundial Editora Campus-Elsevier
banco Safra Editora Paz e Terra
Band News El Colegio de México
BTG Pactual Embaixada da Austrália
Bunge Embaixada da Áustria
PepsiCo Embaixada da República Federal da
Alemanha
CADAL - Centro para la Apertura y el Embaixada e Consulados dos EUA
Desarrollo de América Latina
Carrefour Embaxjada de España en Brasil

219 Relatórios de atividades disponíveis em: https://fundacaofhc.org.br/sobre-a-fundacao/relatorio-de-


atividades
159
Cátedra Martius de Estudos Alemães e embassy of sweden Brasília
Europeus
CCR Embraer
CEBC – Conselho Empresarial Brasil- KPMG
China
CEBRAP Emplasa
Centro Brasileiro de Relações Escola Superior de Guerra
Internacionais (CEBRI)
ciPc – consejo iberoamericano para la ESPM
Productividad y competitividade
Citi eurasia group
Cluster of Excellence SCRIPTS FecomerciosP
COMEXI Federação israelita do estado de são
Paulo
Comgas FEMSA
Comissão Européia Natura
Conib Fiesp
London School of Economics Fórum de Democracia Europa-Brasil
Consulado da Finlândia Freie Universität Berlin
Consulado da União Europeia Fundação Alexandre de Gusmão
consulado geral da argentina Fundação Getulio Vargas
Consulado Geral da França Fundação Lemann
Consulado Geral da República da Fundación Telefónica
Coreia1
Heineken Sociedade Rural Brasileira (SRB)
Human Rights Watch Sweden brazil innovation Weeks 2017
Humanitas360 telefônica | vivo
Sanofi República do Amanhã
IBM Comissão Europeia
Ibmec São Paulo Comunitas
IBRAM - Instituto Brasileiro de Ministério das Relações Exteriores
Mineração
IDEA International Monitor do Debate Político no Meio
Digital
Institut Français Brasil The German Marshall Fund of the United
States (GMF).
instituto acende brasil The School of Life
instituto atuação um brasil
instituto semeia União da Indústria de Cana-de-Açúcar
(UNICA)
Interfarma Viva Rio
International Analysis Group IRI universidade de tel aviv
InternetLAB Votorantim
Open Society Institute Wilson Center

160
Banco Itaú Real Instituto Elcano
Japan House Kroton
JHSF Mabisa
Jorge Zahar Editor Instituto Brasileiro de Estudos em Defesa
(IBED)
JOTA Raizen
Fonte: elaboração própria a partir de dados retirados dos Relatórios de Atividades do IFHC

Todos contribuíram com ao menos um evento do IFHC. É claro que este critério de

agrupamento é deficitário. Perde-se muito ao não conseguir dimensionar o impacto de cada

um dos apoios e patrocínios. Também aqui vemos a importância de destacar os

patrocinadores e apoiadores constantes. Trata-se de manobra para minimizar as distorções

analíticas derivadas das lacunas documentais.

Por isso, o quadro 2 apresenta apenas empresas e organizações da sociedade civil

responsáveis por patrocínios anuais. A lista está apresentada por ordem decrescente de

pacotes adquiridos. Não custa ressaltar que o baixo número de pacotes não indica

necessariamente menor fidelidade, posta a possibilidade de se referirem a parceiros recentes,

como são os casos do RAPS, Carrefour, Banco e seguradora Alfa, Banco Safra; da Mabisa e

da APAS - todos com contratos iniciados de 2017 em diante. Ou seja, é possível que estes

novos elementos indiquem mutações na base social da entidade, mas as limitações de que

acima falamos impedem investigações mais profundas neste momento.

Quadro 2: Apoiadores e patrocinadores anuais (2004-2019)

Patrocínio ou apoio Eventos Tempo de parceria


B3 168 15
Cosan 153 10
CPFL Energia 151 8
Votorantim 148 7
Telefônica-Vivo 148 7
Ambev 136 6

161
Natura 127 5
JHSF 114 5
IBM 58 4
Bunge 112 4
Banco/Seguradora Alfa 112 4
Banco Itaú 114 4
FEMSA 90 3
Raps 90 3
Raizen 90 3
Comgas 90 3
CCR 90 3
Banco Safra 90 3
athie Wohnrath 90 3
PepsiCo 46 3
ESPM 47 3
Sanofi 63 2
Mabisa 63 2
Carrefour 36 1
Santander 9 1
APAS 36 1
Fonte: elaboração própria a partir de dados retirados dos Relatórios de Atividades do IFHC

A fim de desenvolver hipóteses formuladas a partir desse levantamento, é preciso

restringir a escala de investigação. O objetivo é identificar padrões entre os apoiadores, o que

serviria para nos fazer olhar para além dos nomes de empresas e organizações sociais,

observando aquela base social que aqui buscamos. Meu primeiro passo foi arriscar a

formação de alguns grupos.

O dos bancos talvez seja o mais evidente. Nele, o Itaú é sem dúvidas o de maior

destaque. Parceiro ininterrupto do IFHC desde 2016, trata-se do maior banco do país (e 58º

do mundo em 2019) segundo a Forbes e da maior instituição financeira da América Latina220.

Na região, empresa da família Setúbal atende mais de dois milhões de pessoas, e desde

relatório divulgado aos acionistas em 2017 admitiu pretender ser reconhecido como o “banco

220 https://economia.estadao.com.br/blogs/coluna-do-broad/itau-unibanco-expande-agencias-digitais-para-
toda-america-latina/ (acessado em 12/11/2020 às 16h51)
162
da América Latina”221. É importante reter o objetivo, que será relembrado quando falarmos

da Plataforma Democrática, uma das iniciativas do IFHC para o entorno latino-americano.

Completam o time dos banqueiros o Banco Alfa, o Banco Safra e o espanhol

Santander. O primeiro foi criado em 2006 a partir de divisões do Banco Real não adquiridas

pelo ABN Amro. Em 2018, já registrava a 32º posição no Brasil em volume de ativos222.

Integra o Conglomerado Alfa, de Aloysio Faria, que também controla grandes investimentos

em outras áreas, como lojas de varejo de materiais de construção (C&C), a Rede

Transamérica de Hoteís, os sorvetes La Basque e a Rádio Transamérica223. Já o Banco Safra

é líder no segmento bancário de atacado e negócios224, e o Santander é o maior banco da

Espanha e tem no Brasil o seu melhor mercado225 . Falaremos mais dele – e de outras

empresas espanholas que patrocinam o IFHC, como a Telefônica, no próximo capítulo.

No segundo grupo localizamos a Votorantim, maior produtora de cimento do Brasil,

com larga atuação na América Latina226; líderes no segmento de energia e gás encanado,

como são os casos da CPFL Energia227 , Raízen228 e Comgas229 ; a Bunge, de origem

holandesa, que manda no mercado de agronegócio do país, sendo inclusive a maior empresa

221 https://www.itau.com.br/_arquivosestaticos/RI/pdf/pt/Itau_RAC_2017_port.pdf#page=44 (p. A=44)


(acessado em 12/11/2020 às 16h52)
222https://www.valor.com.br/valor1000/2019/ranking100maioresbancos (acessado em 12/11/2020 às 16h51)
223 https://valor.globo.com/financas/noticia/2018/03/16/banco-alfa-tem-lucro-de-r-736-milhoes-em-2017-
com-queda-de-125.ghtml (acessado em 12/11/2020 às 17h11)
224 https://publicacoes.estadao.com.br/financasmais2019/evento-reconhece-as-lideres-do-setor-financeiro-
em-15-categorias/ (acessado em 12/11/2020 às 17h11)
225 Conglomerado espanhol cuja unidade brasileira é uma das mais rentáveis. É o maior banco da Espanha e
um dos mais lucrativos da América Latina. Ver: https://exame.com/negocios/santander-quer-lucros-na-
america-latina-e-cortes-de-custos-na-europa/ https://www.seudinheiro.com/2019/sergio-rial/ja-estou-no-
comando-global-do-santander-diz-sergio-rial/ (acessado em 12/11/2020 às 17h12)
226 https://exame.com/negocios/o-fabuloso-mundo-do-cimento-votorantim-mira-ativos-do-setor-no-brasil/
227 líder no segmento de mercado de energia incentivada para consumidores finais.
https://exame.com/negocios/cpfl-fecha-contrato-na-modalidade-comercializador-varejista/ (acessado em
12/11/2020 às 17h12)
228 Nasceu como a quarta maior empresa do país. Negócio controlado pela Cosan em pareceria com a Shell.
229 é a maior empresa de gás encanado do país. Após a privatização, teve uma parte de suas ações adquiridas
pela Cosan.
163
exportadora do Brasil230; a espanhola Telefônica, cuja marca brasileira Vivo domina o setor

das telecomunicações231; a IBM, colosso da tecnologia e uma das maiores empresas do

mundo, de acordo com a Forbes232; o Athie Wohnrath, maior escritório de arquitetura do

Brasil, que em 2016 controlou 55% dos projetos corporativos do páis233; a brasileira CCR,

Maior grupo privado brasileiro de concessões rodoviárias (segundo a ABCR234) e líder na

América Latina em termos de receita – é considerada também uma das maiores companhias

de infraestrutura da região235; a francesa Sanofi, vice-líder no mercado de remédios no

Brasil 236 ; e, mais recentemente, o Carrefour, multinacional francesa líder no varejo

alimentar brasileiro237. Em comum a elas, a posição de destaque em suas áreas de atuação.

Na sequência, destaco as holdings. Pareceira do IFHC há dez anos, a Cosan é um dos

maiores grupos do país, responsável pela produção e exportação de açúcar e álcool. Lidera o

mercado internacional de açúcar de cana e exportação de etanol. Controla a Raízen, acima

listada como uma das líderes no segmento de distribuição de combustíveis; e a Comgás,

maior empresa no ramo de gás enganado no país.

230 https://exame.com/negocios/as-10-maiores-empresas-de-agronegocio-do-brasil/
231 https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2020/08/28/christian-gebara-da-telefonica-brasil-atuacao-mais-
ampla.ghtml
232 https://forbes.com.br/listas/2020/05/global-2000-as-maiores-empresas-de-tecnologia-do-mundo-em-2020/
233 https://forbes.com.br/negocios/2016/08/como-o-maior-escritorio-de-arquitetura-do-pais-superou-a-epoca-
de-crise/
234 https://economia.uol.com.br/noticias/efe/2018/01/30/ccr-aposta-em-novos-negocios-nos-eua-e-na-
america-latina-em-2018.htm
235 http://www.grupoccr.com.br/ri2011/pt-br/o-grupo-ccr.html
236 https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/02/03/francesa-sanofi-tenta-reconquistar-lideranca-no-
brasil.ghtml
237 https://exame.com/negocios/com-rappi-carrefour-quer-ser-o-lider-no-e-commerce-
alimentar/#:~:text=O%20Carrefour%20tem%20investido%20em,mercado%20que%20vai%20se%20dese
nvolver.
164
Ao lado do IFHC em seis temporadas de eventos, a Ambev foi desbancada em 2019

pelo Itaú como a maior empresa em valor de mercado na Bolsa de São Paulo (B3)238. Trata-

se da maior cervejaria do mundo239 e uma das líderes do segmento de bebidas. Mercado que

disputa com a FEMSA, outra parceira do IFHC. Desde 2017 na carteira de patrocinadores da

fundação, a gigante mexicana controla empresas do ramo de engarrafamento e distribuição

de bebidas (na América Latina, é responsável principalmente pela Coca-Cola e pela

Heineken), mas também se espraia por outras áreas, como lojas de conveniência e

drogarias240 . Trava há muitos anos intensa concorrência com a Ambev, de Jorge Paulo

Lemann241. A PepsiCo, outra multinacional da área, também aporta recursos ao IFHC, tendo

apoiado 46 eventos entre 2014 e 2016242.

Após a aquisição da Avon, a Natura formou o maior grupo de cosméticos do Brasil e

o quarto do mundo. Tem atuação destacada na América Latina, onde investe mais de 70% do

seu capital. Falaremos mais detalhadamente dela quando discutirmos a Plataforma

Democrática, no final do presente capítulo. Encerra a lista de holdings a JHSF, que controla

shopping centers, empreendimentos imobiliários de alta renda e aeroportos civis. A brasileira

é a menor do grupo, mas ainda assim líder no segmento de alta renda no páis. Ambas, Natura

e JHSF, patrocinaram o IFHC por cinco anos, de 2015 até 2019 – por enquanto.

238 https://valor.globo.com/empresas/noticia/2019/01/04/itau-desbanca-ambev-como-maior-empresa-em-
valor-de-mercado-da-b3.ghtml
239 https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2019/06/livro-conta-historia-da-ambev-responsavel-
por-mudar-historia-dos-negocios-do-brasil-e-do-mundo.html
240 https://forbes.com.br/last/2019/11/coca-cola-femsa-mantem-contratos-de-distribuicao-da-heineken-no-
brasil/
241 https://exame.com/blog/primeiro-lugar/femsa-supera-a-ambev;
https://economia.estadao.com.br/noticias/mercados,ambev-declara-guerra-a-femsa,20061108p17601;
https://administradores.com.br/noticias/funcionario-da-femsa-e-demitido-por-beber-cerveja-da-ambev
242 Relatórios de Atividades do IFHC 2014-2016.
165
Mas certamente a parceria mais longeva é com a Bolsa de Valores de São Paulo.

Responsável por organizar e viabilizar o mercado acionário no Brasil, a B3 monopoliza o

segmento de renda variável no país243. Ainda que a condição esteja sob desafio, a empresa

lista sequências intermináveis de lucro, motivados por movimentos especulativos,

volatilidade do mercado ou elevação dos valores bursateis244. É atualmente considerada a

maior bolsa da América Latina245. Antes BM&FBovespa, a atual B3 já soma 15 anos de

apoio às atividades do IFHC.

Em comum a todas apresentadas, uma constatação: não são empresas pequenas. Ao

contrário, são líderes em seus segmentos, quando não constam entre as maiores companhias

da América Latina ou mesmo do mundo. A história quase monocórdica acima narrada

demonstra que, quando nos referimos aos apoiadores relativamente permanentes do IFHC, a

sua esmagadora maioria é composta por grandes capitalistas – ainda que mais recentemente

empresas de muito menor porte tenham se associado ao instituto, como é o curioso caso da

Mabisa, da qual tive dificuldades até para encontrar informações básicas na internet, como

seu ramo de atividade. Ao que parece, trata-se de uma firma de serviços imobiliários

relacionada com a tradicional família Matarazzo, de São Paulo, mas nem isso é certo.

Investigando as frações do capitalismo contemporâneo, Virginia Fontes chamou

atenção à constante tensão que envolve os diferentes setores das classes dominantes. Segundo

ela,

Para além das diferenças de setor, de porte e de escala de atuação, a unidade


profunda que coliga os diferentes setores das classes dominantes não torna
irrelevantes outras circunstâncias específicas geradoras de tensões intercapitalistas

243 https://blogs.oglobo.globo.com/capital/post/markt2market-uma-fintech-que-tenta-quebrar-o-monopolio-
da-b3.html
244 https://www.moneytimes.com.br/volatilidade-dos-mercados-faz-b3-ter-lucro-bilionario-no-2o-trimestre/
245 http://clientes.b3.com.br/pt_br/publicacoes/noticias/b3-e-eleita-a-bolsa-de-valores-do-ano-pelo-global-
investor-group-com-sede-em-londres.htm
166
em função da origem histórica de certos grupos, da concorrência entre capitais do
mesmo setor, da concorrência em escala internacional, dos conflitos resultantes da
crescente disparidade entre as corporações (monopólios) e outras empresas
capitalistas, das questões nacionais, dentre outras (p. 267).

A magnitude do capital é um dos elementos que a autora mais destaca. De acordo com

ela, desde as últimas décadas do século XX, a escala de concentração e centralização da “pura

propriedade” capitalista se acelerou dramaticamente. O processo colocou os “megacapitais”

na posição de predomínio do sistema, mantendo e expandindo “todas as formas de

propriedade capitalistas, ao mesmo tempo em que se torna uma ameaça permanente sobre

elas”. O resultado foi a “aceleração da velocidade de impulsionamento das atividades

funcionantes (extração de mais-valor sob variados formatos e escalas)”, com consequente

expropriação de terras e direitos da classe trabalhadora (FONTES, 2019, P. 265).

Seguindo Fontes, é possível identificar traços destas tensões na lista de patrocinadores.

Há ali multinacionais estrangeiras ao lado de congêneres brasileiras, rivais que disputam o

mesmo mercado. Há ainda capitais de diferentes formas funcionais, como o capital-bancário

e o capital industrial, cuja relação é potencialmente conflituosa. Mas o traço distintivo que

engloba todas as empresas aqui apresentadas é mesmo sua magnitude. São todos grandes

capitais, se considerados à luz do seu segmento de atuação. Não sei se incorporam, enquanto

empresas, os megacapitais de que fala Virginia Fontes (FONTES, 2019, p. 264). Talvez estes

se refiram aos controladores destas empresas, posta sua forma de “pura propriedade”, do que

se depreende a impossibilidade de se confundirem com qualquer propriedade em particular.

Sem necessariamente se confundir com ela, o grande capital que apoia mais

decisivamente o IFHC lhe presta serviço. Ao patrocinar uma das mais importantes funções

organizativas da burguesia, qual seja, a da formação de aparelhos privados de hegemonia,

atua em favor da reprodução do capitalismo em geral. Se consideradas as funções dos tanques

167
de pensamento e do IFHC em particular, sobretudo a interface de sua atuação investigada no

capítulo 3, veremos aquele grande capital apoiar também a organização do condomínio das

frações da classe dominante, inclusive sua hierarquia interna. Chegaremos lá quando

discutirmos as determinações da busca pela “coesão social”.

Por enquanto, não é possível avançar além de hipóteses. Congregando multinacionais

e congêneres estrangeiras, diferentes frações burguesas, mas agindo sob a égide do grande

capital, o IFHC atuaria para ajustar o solo social às demandas da reprodução ampliada da

sociabilidade capitalista – o que em tese favorece o conjunto das frações burguesas, inclusive

essa “megaburguesia”. Mas se considerada a devastação provocada pela escala de

concentração de capitais de que fala Virginia Fontes, aquele papel de bombeiro da ordem

desempenhado pelo IFHC se mostraria especialmente importante, e a medida de seu eventual

sucesso seria igualmente a medida de sucesso indireto da mesma megaburguesia, que assim

tem relativamente conservado um mundo social para destruir. Sendo essa forma de “pura

propriedade” uma forma extremamente fetichizada de ciclo capitalista, a agência que prepara

e supervisiona seu circuito metabólico contribui diretamente com sua reprodução, mesmo

sem saber ou sem querer. Por isso que aqui consideramos o grande e o “mega” capital as

bases sociais do IFHC. É do interesse deles que, direta ou indiretamente, a entidade

prioritariamente trata.

Isso, por óbvio, não exclui outras dimensões da vida social. No quarto capítulo, ficará

claro como o fato de ser uma entidade próxima ao PSDB influencia a atividade do IFHC no

chão quente da história. Entretanto, quando discutimos financiamento, talvez esta relação

seja chave explicativa tanto da forte presença de banqueiros no quadro de patrocinadores da

168
entidade246, quanto das flutuações no número de empresas que a apoiam por meio de pacotes

anuais. Com efeito, dentro de seus limites, a documentação captura bem uma mudança de

escala de financiamento no IFHC a partir de 2015. O ano, marcado pelo aprofundamento da

crise do petismo, foi, do ponto de vista da organização em estudo, marcado também pelo

espraiamento do apoio burguês às suas atividades. Entre 2014 e 2015, o número de empresas

financiadoras declaradas quase dobrou (saltando de 10 para 19).

Como também veremos no capítulo quatro, a conjuntura marcou a declaração de

guerra do IFHC aos governos do PT, com seu patrono Fernando Henrique Cardoso chegando

a apontar a necessidade de se criar imediatamente uma “alternativa de poder” no país – e não

necessariamente pelos consagrados caminhos da “regra do jogo” que o tucano declara

prezar247 . A maior atenção empresarial de que foi alvo a organização desde então, por

conseguinte, pode ser resultado da crise de direção social, deflagrada pela decadência do

governo de Dilma Rousseff, que se encerraria definitivamente com o golpe de 2016. Por

outro lado, a maior atração de capital também pode ser explicada pelo crescimento da

influência da entidade.

São hipóteses que surgem da análise de nosso corpo documental. O certo é que, se a

base social do IFHC é mesmo composta por grandes e megacapitalistas, a dimensão mais

propriamente “partidária” também tem algo a dizer nesta história. A suposição de que esta

dualidade atravessa o IFHC me acompanhou ao longo da pesquisa, e os seus

desenvolvimentos tentaram agregar mais elementos à equação.

246 Como bem defende André Guiot, aquele seria o “partido dos banqueiros”, afinal: GUIOT, André. Um
“moderno príncipe” da burguesia brasileira: O PSDB (1988-2002). Programa de Pós-Graduação em
História da Universidade Federal Fluminense (PPGH-UFF). Dissertação de mestrado. 2006
247 https://veja.abril.com.br/politica/fhc-sobre-bolsonaro-e-uma-pessoa-tosca/
169
Neste sentido, na próxima seção debateremos o alcance das ações do IFHC,

destacando o salto de qualidade registrado pelo menos desde 2013, quando a escala de

atuação da organização cresce abruptamente. É um ponto importante para desenvolvermos

melhor a dimensão da política partidária que aqui ficou apenas indicada. O desafio do restante

da pesquisa é, sem esquecer as determinações do grande capital, fornecer subsídios para

compreender também o papel da fundação na dinâmica político-partidária.

2.4 O IFHC entre a expansão das atividades e a circunscrição do terreno


dos debates

O IFHC nasceu para ser grande. Sua fundação, em 2004, foi amplamente noticiada

pela imprensa, com destaques positivos e polêmicas sobre a natureza da iniciativa. O ato

inaugural da nova entidade contou com a presença de Bill Clinton, em uma “festa” que

prometia ser “grandiosa”, como anotou ironicamente reportagem de Época em 2004 – uma

das tantas a levantar suspeitas sobre os meios que viabilizaram financeiramente da

entidade248. Em pouco tempo, o IFHC se tornaria um dos maiores centros de articulação

política do Brasil.

Como espécie de prova do patamar atingido, orgulhar-se-ia de figurar constantemente

nos relatórios da Global go to Think Tank, do The Think Tank and Civil Societies Program

(TTCSP), da Universidade da Pensilvânia – responsável por documentar a atuação das

organizações da sociedade civil ao redor do mundo 249 . Embora produzam relatórios

detalhados sobre os tanques de pensamento desde 2009 – com dados sendo coletados desde

248 http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR63980-6009,00.html
249 http://repository.upenn.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1009&context=think_tanks (12/10/17, às 12h10)
170
2008 –, a Global go to Think Tanks só passaria a incluir a Fundação Fernando Henrique

Cardoso na lista de 2010 – referente à atuação em 2009, portanto. Na ocasião, a entidade

apareceu como a vigésima quinta organização da sociedade civil mais importante da América

Latina e Caribe – ocupando o quinto posto entre os brasileiros, atrás, pela ordem, da

Fundação Getúlio Vargas (FGV) – primeiro lugar geral e com posição de destaque na série

histórica -, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e do Centro Brasileiro

de Internacionalização e Negócios (CEBRAS). Desde então, sua posição oscilou anualmente,

conforme demonstra o quadro 3, montada a partir dos dados dos relatórios.

Tabela 3. Capacidade de influência sobre as sociedades civil e política do IFHC, de

acordo com a Universidade da Pensilvânia (EUA).

Ranking 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Impactos em políticas - - - 61 68 67 52 58 60 65 62
públicas (Mundial)
Impactos em políticas - - - 3 3 3 2 2 2 2 2
públicas (Brasil)
Top think tanks nas 25 5 6 10 11 11 11 12 12 13 14
Américas do Sul e Central
Top think tanks no Brasil 3 3 3 3 3 3 3 3 4 5 5
Fonte: elaboração própria a partir de dados coletados dos Relatórios Anuais de Atividades do IFHC

Os relatórios, preparados por James McGann, especialista em tanques de pensamento

cuja obra foi apresentada no primeiro capítulo, dão grande importância à capacidade de

influência sobre políticas públicas. Aqui, não aceitamos a interpretação do laboratório e do

autor referidos, conforme demonstrei quando da discussão acerca da visão das ciências

burguesas sobre o tema. Interessa-me, ao contrário, os dados coletados, por serem frutos de

171
uma pesquisa quantitativa capaz de ajudar a inserir nosso objeto em confronto com outros

aparelhos similares.

Assim, nas notas metodológicas dos relatórios, o autor apresenta os critérios de

aferição daquela influência – o que, por extensão, fornece-nos indícios sobre a capacidade de

influência do IFHC sobre as sociedades civil e política no Brasil. Para construir a listagem,

o TTCSP consultou “especialistas”, jornalistas, apoiadores públicos e privados de tanques de

pensamento e formuladores de políticas públicas ao redor do mundo, a fim de avaliar os

seguintes itens:

Recomendações consideradas ou adotadas por formuladores de políticas


públicas e outras organizações da sociedade civil; qualidade do “network” da
entidade, com capacidade de se conectar a agentes essenciais na formulação de
políticas de Estado; papel consultivo para partidos políticos, candidatos, equipes
de transição; prêmios recebidos; publicação ou citação de publicações em revistas
acadêmicas, destaque na mídia que influencia o debate político e a tomada de
decisões; capacidade de influência na internet; e sucesso em desafiar a sabedoria
convencional e os procedimentos operacionais starndard de burocratas e
funcionários eleitos no país250.

Os critérios enfatizam, por conseguinte, não apenas a capacidade de influir sobre o

debate público, mas também sobre as decisões dos aparelhos de Estado. A coleta de dados,

contudo, merece reflexão cuidadosa. Os dados ali coligidos, postos serem fruto de entrevistas

conduzidas com os “especialistas” – nunca identificados - não projeta mais do que a sensação

provocada pelos aparelhos investigados sobre os entrevistados. Nenhum outro dado é

apresentado, de sorte que não há forma de aferir a veracidade do que é dito. Se as entrevistas

são a matéria-prima das análises, e por meio delas tenta se identificar quais são os tanques

de pensamento mais lembrados nos quesitos arrolados pelo programa (além da já mencionada

influência sobre as políticas públicas, constam a capacidade de autofinanciamento, a

250 2018 Global Go to Think Tank Index report p. 24


172
inovação na gestão dos aparelhos ou na forma de intervir no debate público, a rede de

contatos, etc), no limite não há garantia que esta sensação espelhe capacidade de influência

efetiva sobre o poder político, embora demonstre sem dúvida a capacidade de influência

sobre os “especialistas”.

Se aqui abordamos essa documentação é por crermos ser ela espécie de termômetro

que indica a ascendência do IFHC, se não sobre o aparelho de Estado, certamente sobre a

intelectualidade burguesa no país – que indubitavelmente forma o grupo de entrevistados. As

pesquisas, assim, acabam por paradoxalmente revelar algo diferente do que pretendiam.

Tratam-se de indícios importantes da medida com que os intelectuais orgânicos das frações

burguesas no Brasil tendem a identificar o IFHC como um tanque de pensamento capaz de

lidera-los251.

Sob esse prisma de análise, no documento lançado em março de 2016, referente à

atuação de 2015, o IFHC aparecia em duas listas, sendo o quinquagésimo segundo de maior

impacto em políticas públicas (considerados os tanques de pensamento do mundo todo) e o

segundo do Brasil, atrás apenas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), na décima nona

colocação global. O IFHC era também o décimo primeiro na lista dos “top think tanks” das

Américas central e do sul. A última relação é liderada pela FGV e tem o Centro Brasileiro de

Relações Internacionais (CEBRI) na quarta colocação, o que faz com que, entre os brasileiros,

o IFHC detenha o terceiro posto.

251 E isso parece ser verdade sobretudo no que diz respeito a São Paulo. Como visível pelos dados que vão em
anexo a esta tese, o volume de palestrantes vinculados direta ou indiretamente ao governo de São Paulo é
grande – não poderia ser diferente dada a proximidade com o PSDB, que há anos lidera o Estado. Talvez
esteja aqui uma das razões da crença na capacidade de influenciar políticas públicas, supostamente detida
pelo iFHC.
173
A melhor posição da fundação na série histórica coincide com o período de expansão

das atividades da entidade até aqui. O quadro 4, montado a partir de dados dos relatórios de

atividades divulgados pelo sítio virtual do IFHC, detalha a atuação da organização

anualmente, indicando o número de cada um dos tipos de iniciativas realizadas e, por fim, o

total.

Quadro 4: iniciativas do IFHC por ano (2004-2019)

Eventos 2004 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
Debates e 14 9 13 19 19 20 17 12 16 22 29 30 31 42 40 44
seminários
Diálogos com - - - - 10 8 8 10 9 9 4 4 4 3 6 6
o presidente
Internet252 - - - - - - - - - - - - 5 10 9 24
Publicações de - 2 - 4 2 3 6 6 - 2 2 1 1 2 2 -
livros
Total anual 14 11 13 23 31 31 31 28 25 33 35 35 40 57 57 64
Fonte: elaboração própria a partir de dados coletados dos Relatórios Anuais de Atividades do IFHC

Os números acima são pistas da capacidade de influência do IFHC. Assumindo que

um volume maior de atividades aumenta potencialmente a força da entidade, vemos a

tendência de crescimento acompanhar movimentos importantes na história da entidade. Em

2007, o salto coincide com o lançamento da Plataforma Democrática, que será discutida no

final do presente capítulo, mas, por ora, marca a “latino-americanização” da fundação, no

bojo da disputa por influência com o petismo; em 2017, outro grande aumento ocorreria no

252 As atividades na internet estão reunidas no mesmo item por uma opção expositiva. Em 2016, ano de estreia
desta modalidade de ação nas redes, o IFHC inaugurou o então “debate ao vivo”, tornado “debate na WEB”
a partir do ano seguinte. Até 2018, os números se referem a este tipo de atividade. Em 2019, foram lançados
os podcasts do IFHC e o programa fura-bolha, disponibilizado no site da entidade e no YouTube. O número
de 2019, portanto, se refere à soma dos diálogos na web com estes dois novos produtos.
174
momento da saída do PT do governo federal, conjuntura que será analisada no quarto capítulo,

mas que, por ora, basta apresentar como sendo de intensa disputa por maior espaço na cena

política. Por fim, em 2019, ainda que crescendo a uma taxa menor do que os outros dois

destacados, o período marca a explosão das atividades em ambiente virtual, graças ao

lançamento de duas iniciativas (o programa “Fura-bolha” e a seção de podcasts). Esta atenção

às novas mídias é possivelmente motivada pelo triunfo do bolsonarismo no ano anterior, o

que, no limite, significou retumbante derrota tanto para o PSDB quanto para o IFHC.

Até então, o IFHC só atuara em ambiente virtual por meio de parceiros. Dois foram

os principais, a saber, o Observador Político, comandado por notório defensor do

agronegócio, Xico Graziano; e o Quebrando o Tabu, resultado de obra documental sobre a

legalização da maconha, com a qual o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso contribuiu.

De alguma forma, essas duas parcerias antecipam a dualidade que se evidenciaria a partir de

2015, da campanha de agitação que antecedeu a derrubada do PT do governo federal à

efervescência que marcaria a ascensão do bolsonarismo no país. Isso porque o Quebrando o

Tabu é conhecido por sua defesa de um liberalismo progressista, enquanto o Observador

Político flerta claramente com a extrema-direita.

Lançado como página do Facebook em 2011, o Observador Político (OP) tem como

objetivo autoproclamado desenvolver o “debate qualificado” sobre política na internet.

Pode-se afirmar que a rede colaborativa do OP é a mais visitada do país.


Durante sua existência, o OP recebeu 429.792 visitantes únicos, sendo apenas 20,5%
desse total advindos da cidade de São Paulo, o que mostra o alcance nacional do
site. Até dezembro de 2011, a rede colaborativa obteve a adesão de 6.252
internautas, que postaram 4.901 discussões e publicaram 42.577 comentários. Sua
curva de visualização atingiu 91 mil visitantes únicos. O recorde de visitas diárias
foi de 6.977 e o Facebook do OP alcançou uma média diária de 1.855 pessoas. Os

175
observadores logados na rede são majoritariamente homens (74%), a maioria
(43 %) entre 18 e 34 anos253.

Ainda que os números sejam verdadeiros, o documento claramente superdimensiona

sua importância. Tratando-se do tráfego virtual, 500 mil visitantes em quase 10 anos de

existência é uma marca bastante tímida. De sorte ser exagerado atribuir alguma importância

ao Observador Político em termos de organização efetiva da extrema-direita nacional.

Para os fins de nossa pesquisa, contudo, a página funciona para indicar a presença

latente de uma veia bastante diferente do que a fachada “civilizada” do IFHC projeta.

“Parceiro” da entidade, o Observador Político navega nos turbulentos mares virtuais se

distinguindo por publicações em que considera a ocupação do cerrado nacional uma

“história sensacional” da “nossa conquista do Oeste” 254 ; defende que o combate ao

desmatamento “deforma a história” da Amazônia255; e que, antes da vitória de Bolsonaro,

vivíamos “um cerco do politicamente correto, uma espécie de patrulha ideológica que

impunha à sociedade, tão diversa, concordar sobre temas ligados à sexualidade, à cultura, aos

costumes”256.

Bem diferente é a linha do Quebrando o Tabu. Conhecido porta-voz do liberalismo

progressista no Facebook, conta com mais de 11 milhões de seguidores. Ao lado de defesas

da descriminalização das drogas, da legalização do aborto e de combates ao racismo, há

espaço para campanha em favor da Reforma da Previdência, aprovada no governo Bolsonaro.

Junto ao Quebrando o Tabu, o IFHC promove desde 2016 o “Diálogo na Web”, série de

253 IFHC, Relatório de atividades 2011. P. 39.


254 Ver: https://www.facebook.com/observadorpolitico/posts/3252319368113080 (acessado em 12/10/2020 às
21h49)
255 Ver: https://www.facebook.com/observadorpolitico/posts/3065380513473634 (acessado em 12/10/2020 às
21h49)
256 Ver: https://www.facebook.com/observadorpolitico/posts/3012295765448776 (acessado em 12/10/2020 às
21h49)
176
debates entre especialistas em temas de considerados de “interesse público”257. O programa

é divulgado pelas redes de contato dos organizadores e é transmitido pelo YouTube. De

acordo com o relatório de atividades do IFHC, a série

se diferencia da programação de seminários pela duração (1 hora) e pela


focalização em assuntos mais quentes da conjuntura política, cultural e econômica.
Para o sucesso da série, tem sido importante a parceria com o site Quebrando o
tabu. abordando temas como arte e sexualidade, feminismo, crime organizado e
violência policial, entre outros, atingimos mais de 1,6 milhão de pessoas em
2017258.

Esses parceiros sem dúvida foram importantes para introduzir o IFHC ao mundo

virtual. Mas a partir de 2016, a entidade passaria a atuar sem intermediários. Em mensagem

no último relatório publicado, referente a 2019, Fernando Henrique Cardoso avaliava assim

a nota interface digital de sua fundação.

A presença digital da Fundação FHC não para de crescer nos seus 7 canais de
mídias online. No Youtube, já publicamos quase 2 mil vídeos e atingimos a marca
de 1 milhão de visualizações. Os 44 seminários realizados e transmitidos na nossa
página do Facebook foram vistos por mais de 400 mil pessoas. Passamos também
a oferecer Podcasts, com a criação da série “Vamos Falar de Democracia”259.

Os números são frutos de novos produtos do IFHC. Agora, a entidade investe em

debates em escala reduzida, para serem transmitidos pela rede. Seu formato é muito similar

ao homólogo tradicional, que ocorre na sede em São Paulo. Chamado Diálogos na web,

aparecerou primeiramente em 2016, como “debates ao vivo”. Ganhando o nome atual no ano

seguinte, desde então ocorre aproximadamente uma vez por mês, discutindo temas quentes

da conjuntura.

257 Nestes quatro anos de existência do projeto, o IFHC e o Quebrando o Tabu já promoveram 33 diálogos.
Discutem-se, por uma ótica progressista, temas como a violência polícia, a homofobia, o racismo, a
desigualdade de gênero, a importância da imprensa na democracia, a posse de armas, o progressismo, o
populismo, o antiglobalismo, a terceirização no mundo do trabalho, dentre outros. Ver:
https://fundacaofhc.org.br/iniciativas/dialogo-na-web
258 RELATÓRIO DE ATIVIDADES, IFHC, 2017, p. 5.
259O podcast “Vamos falar de democracia” apresenta resumos das discussões dos seminários presenciais, com
sínteses operadas pelos próprios participantes. Ver: RELATÓRIO DE ATIVIDADES, IFHC, 2019, p. 3
177
Em 2019, como evidente reação ao eficiente uso da internet demonstrado pelo

bolsonarismo, o IFHC ampliou a atuação no espaço. Lançou um podcast sobre democracia e

introduziu o programa “fura-bolha”, cuja prerrogativa é reunir personagens de opiniões

“radicalmente distintas” para uma conversa sobre suas diferentes “visões de mundo”. O

objetivo é tentar demonstrar a possibilidade de diálogo entre os “extremos”, abrindo caminho

para a redução da “polarização”.

A atuação em ambiente virtual carrega, assim, um traço típico de seus eventos

presenciais. Tanto nas redes como no edifício da Rua Formosa, os debates congregariam as

“múltiplas” visões sobre o tema em discussão. Como fiz o patrono da entidade em documento

de 2019,

Não evitamos os temas sensíveis. Juntamos de ONGs ambientais a associações


ligadas à mineração, de defensores dos direitos indígenas à Confederação Nacional
da Agricultura, para um debate sobre o desenvolvimento sustentável na região
Amazônica. Abordamos também outro tema propenso a gerar bate-boca ao invés
de conversas produtivas: direitos humanos e segurança pública. Para dialogar a
respeito colocamos lado a lado representantes da Polícia Militar de São Paulo,
pesquisadores e ativistas. Tudo isso transmitido ao vivo, gravado e colocado à
disposição do público nas várias mídias sociais em que temos presença. (p. 3)260

Mas a análise das posições em confronto mostra que não é bem assim. Vejamos o

elenco convidado para discutir um tema tão importante quanto a introdução do ensino

profissionalizante no Ensino Médio, em debate transcorrido durante a conjuntura de

elaboração da “reforma” do segmento, em 2016.

Ana Inoue, assessora de Educação do Itaú BBA. Claudia Costin, diretora global
de educação do Banco Mundial (2014-2016). Claudio de Moura Castro, consultor.
Eduardo Deschamps, presidente do Conselho Nacional de Educação. Fernando
Henrique Cardoso, presidente da República do Brasil (1995-2003). Jorge Arbache,
secretário de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento, Orçamento
e Gestão. Júlio Gregório Filho, secretário de Estado de Educação do Distrito
Federal. Maria Helena Guimarães Castro, secretária executiva do Ministério da
Educação. Mendonça Filho, ministro de Estado da Educação. Rafael Lucchesi,

260 https://fundacaofhc.org.br/files/FFHC-Relatorio_Anual_2019_WEB.pdf
178
diretor-geral do Senai. Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto
Unibanco. Simon Schwartzmann, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho
e Sociedade261.

Em meio a tantos nomes, não houve quem apontasse as dificuldades de sobrecarregar

um currículo em si já saturado. Tampouco se apontou na medida um mecanismo capaz de

segregar a parcela mais pobre da sociedade ao trabalho manual. Possibilidade real se

considerado o texto da chamada Reforma do Ensino Médio, então conhecido, que

determinava a “flexibilização” dos “percursos formativos”, podendo as escolas montarem

seus próprios organogramas, com quais e quantas disciplinas quisessem, respeitado um

núcleo básico – o que naturalmente tende a prejudicar as escolas que padecem com o projeto

de sucateamento da educação pública; e os pobres, que fundamentalmente dependem desse

ensino. O texto que a entidade usou para apresentar o debate resumiu bem a ausência de

discussão efetiva:

Além das disciplinas da Base Nacional Comum Curricular, deve-se oferecer


aos jovens de 15 a 17 anos a opção de fazer uma formação técnica
profissionalizante para que, quando não quiserem ou não puderem cursar uma
universidade, terminem o ensino médio com um diploma de nível técnico
reconhecido pelo mercado.
Foi o que defendeu a unanimidade dos especialistas reunidos pela Fundação
FHC no seminário “A Educação Técnica e a Reforma do Ensino Médio”, em 22 de
novembro (de 2016).

Outros exemplos podem ser localizados em questões-chave da disputa política recente.

Em julho de 2017 o senado aprovaria a chamada Reforma Trabalhista, rapidamente

sancionada sem vetos pelo então Presidente da República, Michel Temer. Em fevereiro

daquele ano, o IFHC se reuniu para discutir o tema. Participaram do seminário intitulado A

Reforma Trabalhista: jogo de soma zero ou de soma positiva?

Helio Zylberstajn, professor associado sênior da FEA-SPP e pesquisador da


Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) (...), Ives Gandra Martins

261 https://fundacaofhc.org.br/files/RA%202016.pdf (p. 47)


179
Filho, presidente do TST e do conselho superior da Justiça do trabalho (...), Ricardo
Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT) e do sindicato dos
comerciários de são Paulo262.

Zylberstain se posicionou favorável à reforma. Para ele, no trato da questão, o

“movimento sindical” vinha apresentando “argumentos grosseiros”, com “erros

metodológicos imperdoáveis”263. Na ocasião e depois, defendeu a terceirização e sustentou

que, aprovada a medida, “não haveria eliminação nem redução e nenhum direito. Ao

contrário, a reforma oferece ganhos importantes aos trabalhadores” 264 . Zylberstain é

conhecido autor do Instituto Millenium, o que é bastante significativo da natureza de sua

atuação.

Ives Gandra Martins Filho dispensa apresentações. O então presidente do Tribunal

Superior do Trabalho, na conjuntura quente do debate e aprovação da Reforma, chegou a

defender que a Justiça do Trabalho poderia acabar, caso o texto não fosse aprovado pelo

Congresso265. No evento do IFHC, após bajular o ex-presidente e patrono da organização,

defendeu o projeto como forma de prevenir contra a “fragilização cada vez maior das

empresas”, que poderia colocar o Brasil no caminho da Venezuela266.

Para representar o interesse da classe trabalhadora, foi escalado Ricardo Patah, da

União Geral dos Trabalhadores (UGT), apesar da central sindical representar apenas 11,67%

dos trabalhadores, segundo dados de 2016, à época os mais recentes267 . Para piorar, O

Partido Social Democrático (PSD), vinculado à central sindical, defendeu a aprovação da

262 https://fundacaofhc.org.br/files/relatoriodeatividades2017.pdf (p. 21)


263 https://www.youtube.com/watch?v=PFsxKrFnhXM (aprox.. 7m30seg)
264 https://goassociados.com.br/helio-zylberstajn-quem-perde-com-reforma-trabalhista/
265 https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/05/justica-do-trabalho-pode-acabar-se-juizes-se-opuserem-
a-reforma-diz-ives-
gandra.shtml#:~:text=Para%20Ives%20Gandra%20Martins%20Filho,temo%20pela%20Justi%C3%A7a
%20do%20Trabalho.
266 https://www.youtube.com/watch?v=amIox6_eLyc (aprox. 3m00seg)
267 http://www.diap.org.br/index.php/component/content/article?id=17053
180
reforma em plenário do Congresso268. No encontro realizado pelo IFHC, Patah apresentou

a UGT como uma entidade “reformista”, que em seu último congresso teria até defendido as

reformas propostas pelo governo Temer269. Pautou sua fala mais na defesa do sindicalismo,

segundo ele atacado pela imprensa, do que na crítica ao texto. O problema central para Patah

seria o “açodamento” da discussão dos pontos da reforma, não ela em si. Sintetizando sua

intervenção em uma “brincadeira” com a plateia, defendeu que sua posição sobre a reforma

seria “certamente a mesma do nosso companheiro Aécio (Neves)”270.

O IFHC até enfrenta “temas sensíveis”, contanto que todas as posições em disputa no

fundo sejam a mesma. Por este expediente, a fundação circunscreve o terreno do debate

legítimo. Delimitado o campo da disputa, as posições de dentro podem se chocar à vontade.

Observa-se procedimento similar no programa “Fura-bolha”, em que a noção de “polarização”

– em si já um artifício para circunscrever nas posições predominantes a riqueza do debate

social – e de “confronto entre extremos” esterilizam o debate pela exclusão de pontos de vista

contra-hegemônicos.

Assim, parece claro que o potencial político da operação não deve ser negligenciado.

Especialmente porque o volume de atividade do tanque de pensamento tem crescido, e seu

potencial de acesso ao Estado se evidencia pela presença frequentemente de representantes

do poder político nos encontros que sedia. Apresentando as posições previamente

selecionadas como pareceres técnicos dos especialistas no assunto, o espaço de dissenso é

bem controlado, não importando tanto qual posição prevaleça. A paródia da noção de

268 https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2017-04/bancada-do-psd-decide-apoiar-reforma-
trabalhista-mas-pede-adiamento-da
269 https://www.youtube.com/watch?v=JIxVahEfCX4 (3m em diante)
270 https://www.youtube.com/watch?v=JIxVahEfCX4 (aprox. 14m45seg)
181
“liberdade de ideias em confronto”, por trás de tudo isso, acaba legitimando a imposição de

pontos de vista escolhidos a dedo e postos em um ambiente controlado.

Inventariar os palestrantes convidados a tomar partido nestes debates, portanto, é de

enorme importância. Quanto mais porque eles representam conexões estabelecidas pelo

IFHC com outras organizações do tipo, além de empresas e dos já citados representantes do

poder público (notadamente ministros, secretários, deputados, vereadores e senadores). Esse

estudo ilustra a amplitude das linhas políticas tornadas legítimas por sua inclusão no terreno

do aceitável pela entidade. Uma mirada global nos participantes convidados a tomar partido

no IFHC é possível em consulta aos anexos I, II, III e IV a esta tese.

Se, no Brasil, a entidade já conquistou corações e mentes suficientes para constar

frequentemente em listas de mais influentes tanques de pensamento da América Latina e do

país, são esses simulacros de debates que ela difunde271. Sua chegada aos meios eletrônicos

abre novos horizontes de influência. Dada a importância da arma política aqui apresentada,

entendo ser fundamental aprofundar os estudos sobre o alcance da iniciativa. Considero os

levantamentos apresentados no início da seção indícios significativos, mas francamente

insuficientes. É possível refinar a compreensão a fim de se obter dados mais seguros. Disso

trataremos a seguir.

2.5 Dentro do terreno: quem participa publicamente dos debates e


seminários do IFHC

271
Simulacro, aliás, teoricamente sustentado pelas observações de Habermas discutidas no capítulo 1, e que
pelo IFHCsão reivindicadas como fundamento de suas atividades.
182
Acima dei alguns exemplos de quem é convidado para tomar parte dos debates

travados no IFHC. Na ocasião foi importante para ilustrar meu argumento. Nesta seção,

tentaremos chegar mais fundo.

Na minha pesquisa, a fim de investigar a questão, procedi ao detalhamento das

conexões efetivadas naqueles eventos. “Conexão” é um termo empresarial, geralmente

utilizado para dimensionar a “networking” de firmas, gestores e “colaboradores”. Ele aparece

com frequência nas atividades do IFHC, por isso a opção por seu uso. Como pressuposto,

considerei a dialética produção-recepção do conteúdo gerado, entendendo que os palestrantes,

naqueles eventos e depois, poderiam tanto “refletir” construções ideológicas da “sociedade”

em geral quanto reproduzir, sobre esta, as tendências de debates travados no interior da

entidade, conferindo ao produto das discussões força de penetração derivada de sua posição

de prestígio. Levando em conta esse último apontamento, inclusive, mostrou-se necessário,

além de indicar a formação dos fios que atam IFHC e as sociedades civis e políticas, refletir

sobre a formação daquelas personagens, a fim de pensar sobre a capacidade de influência

majorada pelo “prestígio” por eles agregado aos produtos dessa rede. As informações

apuradas também constam nos anexos mencionados acima.

Considero importante insistir na potencialidade da conexão. Isso porque não

identifico na participação de um dado indivíduo em evento do IFHC, imediatamente, sua

inoculação pelas ideias defendidas no instituto. Se entendemos que a formação daquelas

disposições é um fenômeno em constante processo, cujos catalizadores são espaços de

sociabilidade diversos – dentre os quais os mais propriamente educativos, como o IFHC -,

devemos concluir que a organização em estudo é uma importante instância de difusão de uma

tal interação com o mundo, por meio da qual certos interesses sociais específicos são

183
tendencialmente espalhados, ainda que de incontroláveis maneiras – e, note-se, nem sempre

por intercâmbio de consciências, haja vista que aquelas disposições se fundam também em

aspectos da não-consciência daqueles que compõem o circuito de circulação das referidas

mensagens – compostas também por impressões, medos, expectativas irracionais.

Começaremos com uma observação impressionista. Nela separei os maiores grupos

possíveis de serem formados pelos participantes, sem que isso incorresse em alguma

distorção analítica grave. Tendo em vista a concepção gramsciana de unidade-distinção que

fundamenta a noção de Estado ampliado aqui esposada, segmentei sociedades civil e política,

mas inclui duas colunas a mais, uma originalmente do âmbito da sociedade civil, outra da

“esfera da produção”. Essa opção foi determinada pela significativa presença de

representantes de ambos nos debates referidos, o que, do meu ponto de vista, fez por merecer

o destaque.

O resultado está no quadro 5.

Quadro 5: Conexões do IFHC por tipo (2004-2019)

Universidades Sociedades Civis Sociedades políticas Empresas Total

2004 23 13 11 1 48

2005 10 18 6 3 37

2006 24 19 11 5 59

2007 77 46 16 6 145

2008 32 24 18 20 94

2009 8 21 14 7 50

2010 15 22 12 0 49

2011 12 27 15 8 62

184
2012 9 13 9 3 34

2013 11 19 9 8 47

2014 17 17 7 6 47

2015 12 19 15 20 66

2016 20 32 21 9 82

2017 25 36 33 21 115

2018 38 50 31 11 130

2019 34 42 23 7 106

Total 367 418 251 135 1.171

Fonte: elaboração própria a partir de dados coletados dos Relatórios Anuais de Atividades do IFHC

A tabela tenta segmentar essas conexões, a fim de revelar os principais caminhos de

circulação das ideias que vêm e vão do IFHC. As universidades (públicas e privadas), na

leitura gramsciana que lastreia nossa diferenciação entre sociedades civil e política,

poderiam ser entendidas como componentes da primeira. Aqui, entretanto, segreguei-as em

uma coluna específica a fim de evidenciar o alto número de participantes deste tipo de

organização nos circuitos em que o IFHC está presente. A coluna “sociedade civil” representa

o número de aparelhos privados de hegemonia articulados ao nosso objeto de pesquisa,

demonstrando a penetração da entidade nos circuitos associativos da burguesia em nível

nacional e internacional272. A coluna das “sociedade políticas”, por outro lado, indica as

conexões entre IFHC e os poderes políticos em escala nacional, nos diferentes níveis da

federação; e em escala planetária, comunicando-se com representantes de aparelhos políticos

272 Como mostra Virgínia Fontes, as diferentes sociedades civis são constituídas de entidades de classe e
frações de classe que ajustam, em nível nacional e/ou internacional, a ação política daqueles setores sociais
que se organizam por essas iniciativas. No caso dos APH’s empresariais, sua internacionalização é
tendencialmente maior, expressando o maior poder político, econômico e cultural da burguesia. Ver:
FONTES, Virginia. Op. Cit, 2018, p.225-226
185
de outros Estados na troca de tecnologias políticas273 . Por fim, a coluna “empresas” é

autoexplicativa, representando o número de intelectuais orgânicos vinculados a empresas

específicas e que, em nome delas, palestraram no IFHC, comunicando demandas

institucionais ou setoriais ao conjunto de intelectuais orgânicos e representantes de Estado

que acompanha a discussões.

A tabela assim compreendida nos mostra o número de conexões identificáveis nos

relatórios de atividades do IFHC desde 2004 até 2019. Tomando os números menos por sua

exatidão e mais como “tendências”, temos que a maioria dos palestrantes convidados a falar

no instituto é composta por universitários, de instituições públicas, privadas, brasileiras e

estrangeiras; de outros APH’s, contando, também aqui, nacionais e seus congêneres no

exterior; e representantes de sociedades políticas. Os dados coligidos, assim, podem indicar

a natureza do circuito de troca/produção de informações no qual o IFHC se insere, articulando

sociedades civil e política, tanto em nível nacional quanto global.

No primeiro capítulo, discutimos como, na análise gramsciana da articulação entre

sociedade civil e sociedade política, o conceito de Estado era ampliado precisamente para

dar conta das disputas que envolviam aqueles dois “momentos” das lutas de classes. Na

ocasião, argumentamos que os dados quantitativos produzidos por laboratório da

Universidade da Pensilvânia dedicado ao estudo do fenômeno auxiliavam a dimensionar

melhor o papel esperado dos tanques de pensamento, quedando destacada sua capacidade de

apresentar diretamente a setores do poder político demandas sociais específicas, contornando,

273 Incluímos nas colunas todos os representantes de aparelhos públicos, não importando o nível de sua atuação.
Assim, mesmo diretores de empresas estatais estão posicionados nesta coluna. Foi minha opção por
entender que a gestão “técnica” desses espaços representa o “ajuste” de interesses de classes e frações de
classes, conforme discutido no primeiro capítulo desta tese.
186
na prática, os canais tradicionais da democracia representativa. Nesse sentido, portanto,

interessou a esta pesquisa desvelar os canais de comunicação do IFHC com os poderes

políticos, descrevendo a natureza dessas conexões, a fim de atestar se e, em caso positivo, de

que modo essa entidade funciona como um canal de pressão empresarial sobre o Estado

(restrito). Se estes canais forem superpostos à trama de articulação no interior das sociedades

civis, temos o IFHC como um veículo de transmissão e reelaboração de interesses de classes

e frações de classe, inscritos frequentemente em código técnico. A importância de

compreender melhor a natureza das conexões com a sociedade política, portanto, prova-se

na tentativa de determinar o grau possível dessa influência.

À primeira vista, esse grau poderia ser aferido pelas tendências expostas na tabela 4.

Teríamos, assim, que extrair o percentual de conexões com a sociedade política do total

registrado anualmente. Uma taxa maior acima da calha média registraria, assim, a maior

capacidade de influência potencial do IFHC sobre o poder político. O resultado a que

chegaríamos é apresentado no quadro 6.

Quadro 6: percentual de conexões com representantes das sociedades políticas por ano

(2004-2019).

Ano 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Percentual 21,4 13,15 18,3 10,7 21,2 12,6 9,45 17,3 26,1 10,5

Ano 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Média

Percentual 6,5 16,6 21,2 19,3 13,2 11,2 15,7

Fonte: elaboração própria a partir de dados coletados dos Relatórios Anuais de Atividades do IFHC

187
Os resultados de uma investigação conduzida desta forma, entretanto, seriam

enganosos, por ignorarem as diferenças existentes no interior de cada tipo de conexão. Na

coluna da “sociedade política”, como informado, estão reunidos de delegados do poder

representativo, como deputados e senadores, a gestores de estatais e ministros de Estado. Há

também representantes de outros países, cuja conexão simboliza a troca de tecnologias

políticas, forma de influenciar as políticas públicas em outros Estados. Por isso, se as divisões

na tabela 4 são importantes por demonstrarem tendências gerais de articulação do IFHC com

representantes de diferentes espaços sociais, algumas de suas colunas merecem maior

detalhamento, a fim de capturar diferenças no circuito ao longo dos anos de história da

entidade.

No que diz respeito a essa coluna, diferenciamos, na tabela 6, os representantes em

novos nichos274 . Na primeira linha, estão dispostos secretários e Ministros de Estado,

entendidos como detentores de maior poder de Estado do que procuradores, assessores e

outros cargos que ficaram de fora desta lista. Na sequência, temos os detentores de poder de

Estado vinculados a São Paulo, tanto em nível municipal quanto estadual. A linha se justifica

por eu entender que o IFHC tem a manutenção do poder do PSDB em São Paulo como

objetivo estratégico, de sorte que a atuação na região se intensifica em momentos

eleitorais275 . A tabela indica, contudo, um movimento diferenciado entre 2015 e 2017,

274 Os dados condensados na tabela se referem à tabela do Anexo I.


275 É o caso do crescimento de representantes estatais na organização em 2012. Tomados os dados desse tipo
de conexão em termos percentuais, temos naquele ano o maior registro, representado por maior participação de
secretários estaduais tucanos. Convém lembrar que, naquela conjuntura, disputava-se acirrada eleição para a
prefeitura da cidade paulistana, com pesquisas apontando a liderança de Fernando Haddad (PT) no pleito. O
alto índice relativo desse tipo de representantes no IFHC, assim, ilustraria a tentativa de uma ala do partido em
cortejar a audiência da entidade, pela demonstração das capacidades políticas dos “técnicos” vinculados ao
partido, então a cargo do governo do estado no mandato de José Serra (PSDB). O mesmo esforço explicaria as
altas de 2004, 2008 e 2016 – com participação também prioritariamente registrada entre secretários tucanos e
aliados, com vistas ao reforço das candidaturas do partido nas eleições municipais daqueles anos. O movimento,
188
quando todos os indicadores cresceram, indicando maior atividade global da organização

durante a última conjuntura de crise política pela qual o país passou (e ainda passa). Na

sequência, a linha apresenta a conexão com outros Estados, por meio de representantes

convidados a palestrarem no IFHC, geralmente sobre casos de sucesso em gestão pública.

São os casos das participações, em 2006, de Mário Morel, presidente da comissão

encarregada da Reforma da Previdência Chilena, então em discussão no país, o que nos revela

que o “modelo chileno” já era acompanhado pela burguesia muito antes de se tornar

parâmetro para as reformas da área defendidas pelo bolsonarismo; do vice-ministro de saúde,

da Holanda, em debate sobre políticas públicas para “envelhecimento saudável”, realizada

em 2017; da ministra do mar, Ana Paula Vitorino, de Portugal, em reunião para discutir o

desenvolvimento da economia marítima, ao lado de representantes da Marinha brasileira; por

fim, de Luís Filipe Loureiro Góes Pinheiro, Secretário de Estado Adjunto e da Modernização

Administrativa de Portugal, que veio ao IFHC em 2019 falar dos usos da tecnologia, na

Europa, durante processos de reforma administrativa. Em comum nos três exemplos

fornecidos a tentativa de “aprender” com experiências consideradas positivas – o que sustenta

a tese desenvolvida nesta tese, qual seja, de que o IFHC funciona como veículo de articulação

burguesa em nível internacional, contribuindo com trocas de tecnologias políticas para

dominação e extração de valor da classe trabalhadora. Por fim, a tabela indica o número de

representantes do poder eletivo. São sobretudo deputados e senadores que comparecem ao

IFHC para, por um lado, oferecer relatórios sobre o panorama do Congresso; por outro, para

assim, diferiria do registrado a partir de 2016, com as conexões com a sociedade política se referindo a uma
incidência relativamente maior de contatos com representantes da União - expressão, na programação do IFHC,
do apoio ao PSDB ao governo Temer e, logo, da aproximação de alas do partido da administração federal. Para
mais detalhes, ver Anexo I desta tese.

189
apreender produtos técnicos, aportados à entidade pelos intelectuais orgânicos que por ela

transitam, a fim de, em um segundo momento, subsidiarem o debate de políticas públicas.

Nesse sentido, não foi raro identificar a participação de petistas na entidade, é verdade que

sobretudo antes de 2015. Sua presença pareceu indicar, sobretudo, a tentativa de reproduzir,

nas reuniões do IFHC, os principais argumentos esgrimidos pelos lados em disputa durante

o embate acerca de “reformas” de maior envergadura, como a trabalhista, do Ensino Médio,

previdenciária, etc. Ainda sobre este quesito, não passa despercebido, a partir de 2016, a

inversão da tendência registrada entre o número de secretários e ministros de Estado que

participavam do IFHC em relação ao de representantes eletivos. A partir de 2016, a

participação do primeiro grupo cresce muito em relação a do último, talvez indicando maior

capacidade de influência sobre os setores-chave de produção de políticas públicas –

expressão possível do apoio do PSDB ao governo Temer, no único momento em que o partido

foi governo na série retratada.

Quadro 7: Detalhamento das conexões com sociedades políticas – Instituto Fernando

Henrique Cardoso (2004-2019).

2004 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

Secretário/Ministros 2 - 1 - 1 1 1 1 1 - - 1 8 7 4 4

da União

Secretarias de SP 4 2 2 1 3 - - - 3 1 1 3 3 4 7 2

(Estado/município)

190
Representantes de - 1 1 1 - 5 4 5 - 1 - 1 4 7 3 1

outros países

Representantes 2 1 3 8 6 4 5 4 - 2 2 4 1 4 2 3

eleitos

Fonte: elaboração própria a partir de dados coletados dos Relatórios Anuais de Atividades do IFHC

Essa maior aproximação ao governo se evidencia a importância do detalhamento das

referidas conexões. Com efeito, o quadro 6 mostra um volume acima de média de

representantes do Estado no IFHC entre 2016 e 2017. Os índices ali expostos, entretanto, são

menores do que os verificados em 2004, 2008 e 2012. A melhor compreensão desses

representantes, pela especificação de suas atividades de Estado ou governo, porém, permite

que entendamos diferentemente o movimento verificado naquele biênio. Deste ponto de vista,

2016 e 2017 expressam a maior capacidade de influência da organização sobre o poder

político – indicativo, no mais, da participação do PSDB no governo Temer. Movimento que

recua a partir de 2018, com o enfraquecimento do apoio do partido ao mandato Temer, imerso

em acusações de corrupção pelo menos desde o vazamento de uma ligação entre o empresário

Joesley Batista e o presidente, articulando pagamento de propina.

Na interface da sociedade civil, articulam-se as classes e frações de classe

mobilizando seus aparelhos privados de hegemonia. Nesse sentido, o estudo dos relatórios

anuais de atividades do IFHC permite a identificação dos nós da rede associativa burguesa

com os quais a organização aqui estudada mais frequentemente estabelece contato público.

A análise dos dados do anexo II permitiu a elaboração da “nuvem de palavras” abaixo. É

próprio deste modelo de apresentação diferenciar as palavras por sua incidência no banco de

191
dados que lhe dá origem. Assim, o gráfico 1 é ilustrativo não apenas das conexões

identificadas do IFHC na sociedade civil, como também da relevância quantitativa das

mesmas276. Na imagem, alguns nomes chamam atenção, sobretudo aqueles vinculados aos

setores internacionais da burguesia – indicando o alto grau de internacionalização das

ligações da entidade.

Grafico 1: “nuvem de palavras” indicando volume das conexões do IFHC com

outros APH’s nas sociedades civis (2004-2019)277.

276 A lista completa dos APHs com os quais o IFHC interage durante os seminários e debates presenciais
sediados na fundação está disponível no Anexo II desta tese.
277 Gráfico ilustrativo construído a partir dos dados coligidos no Anexo II desta tese.
192
Dessas conexões internacionais, a que mais se destaca no gráfico é a efetivada com o

Banco Mundial (BM). Com efeito, ele seria melhor qualificado como um “grupo”, não como

uma única entidade. Por trás do Banco Mundial, articula-se um feixe de entidades, empresas

e representantes de governo com objetivo de reproduzir internacionalmente a estrutura social

adequada à expansão capitalista278. As conexões de seus agentes com o IFHC revelam, por

seu turno, a permeabilidade da organização em relação ao ordenamento internacional do

capitalismo. Iniciaram-se publicamente logo em 2005, um ano após a inauguração da

278 Em tese doutoral que virou livro, João Márcio Mendes Pereira destrincha o grupo Banco Mundial,
desvelando sua atuação política entre 1944 e 2008. Ver: PEREIRA, JOÃO MÁRCIO MENDES. O Banco
Mundial como ator político, intelectual e financeiro (1944-2008).
193
entidade, em debate sobre “agenda públicas” para desigualdade, pobreza e desenvolvimento

na América Latina279; seguiram em 2006, ainda com discussões sobre enfrentamento da

pobreza280; e em 2007, desta feita em reunião sobre os “desafios da educação” na América

Latina281. A reforma do sistema de saúde entrou em pauta mais recentemente, quando em

2014 e em 2019 foram sediados debates sobre a capacidade de financiamento do Sistema

Único de Saúde (SUS) brasileiro 282 . O Banco Mundial funciona nestes debates como

moderador das posições em confronto. Tendo em vista a discussão apresentada em seção

anterior, a observação é interessante por expressar a subordinação do IFHC à reconhecida

entidade da fração dominante da burguesia internacional.

De maneira similar atuam as conexões com o Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD) – braço importante da Organização das Nações Unidas para

promoção do desenvolvimento no capitalismo e para a gestão da miséria dele resultante. Na

última intervenção do órgão, em 2018, Francisco Gaetani criticou reflexos do lava-jatismo

sobre a administração pública, que, ao provocar a hipertrofia da fiscalização, obstou o livre

funcionamento de alguns aparelhos públicos – impactando negativamente na eficiência geral

do Estado283. Sinais dos representantes das frações dominantes internacionais contra os

“excessos” da purga do poder político provocados pela ascensão da extrema-direita no Brasil.

279 http://www.ifhc.org.br/files/relatorios/relatorio_de_atividades_2005.pdf (acessado em 23/10/2020 às


15h31)
280 http://www.ifhc.org.br/files/relatorios/relatorio_de_atividades_2006.pdf (acessado em 23/10/2020 às
15h31)
281 http://www.ifhc.org.br/files/relatorios/relatorio_de_atividades_2007.pdf (acessado em 23/10/2020 às
15h32)
282https://fundacaofhc.org.br/files/Relatorio%20Atividades%202014%20-%20Vers%C3%A3o%20digital.pdf
e https://fundacaofhc.org.br/files/FFHC-Relatorio_Anual_2019_WEB.pdf (acessado em 23/10/2020 às
15h33)
283 https://fundacaofhc.org.br/debates/eficiencia-da-gestao-publica-e-instituicoes-de-controle (acessado em
23/10/2020 às 15h32)
194
A partir desta interface internacionalizada do IFHC, creio ganhar força a suspeita de

que a organização estudada tentou constituir um ponto de centralização das principais

conexões burguesas no e do Brasil. Deste ponto de vista, as agências internacionais fariam

as vezes de moderadores oficiosos, nos seminários e debates, sobre as ações políticas das

burguesias internas, alertando-as da importância de seguir exemplos bem-sucedidos de

gestão social verificados ao redor do mundo. O objetivo de fundo, claro, é ajustar

constantemente o consórcio das classes e frações de classes dominantes, como sugeri no item

que discutiu financiamento da entidade.

Na face nacional da interface da sociedade civil, o IFHC se comunica com mais de

uma centena de aparelhos privados de hegemonia. A lista completa pode ser consultada nos

Anexos II desta tese. Por ora, convém sublinhar algumas organizações cuja constância em

seminários e fóruns de debate as torna os principais interlocutores nacionais no objeto

estudado. O gráfico 1 destaca o IETS, o Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, o Cebri e a

Fiesp.

O Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS) foi fundado pelo economista

André Urani em 1999. Segundo o site da organização,

A ideia surgiu da observação de que o nível de colaboração entre pesquisadores


de diferentes instituições, formuladores de políticas públicas e outros atores sociais,
comprometidos com o combate à pobreza e a diminuição da desigualdade, era
pequena284.

De acordo com a página virtual, o IETS se interessa sobretudo em debater

“crescimento demográfico; projetos socioeconômicos; de expansão da infraestrutura;

educação, trabalho; informalidade; micro empreendedorismo; renda; desigualdade e pobreza;

284 https://www.iets.org.br/spip.php?rubrique1 (acessado em 03/05/2019, às 17h46).


195
desenvolvimento territorial; políticas setoriais; e governança”285. Nos seminários do IFHC,

os representantes do IETS discutiram formas de combate à pobreza no Brasil, “soluções”

para os “impasses” da política educacional latino-americana, o futuro das grandes cidades, e

a “coesão social” no Brasil e na América Latina – objeto de atenção do terceiro capítulo desta

tese. Em algumas dos eventos, seus representantes se perfilaram ao lado de agentes de

entidades internacionais, como Banco Mundial e ONU, para defender a legalização de

propriedades dos pobres como forma de acesso ao crédito e ao mercado de consumo, para

debater as desigualdades na aplicação da justiça e a precariedade dos sistemas educacionais

no Brasil e em demais países latino-americanos. Dessa forma, o IETS e entidades

internacionais se reuniram no IFHC para discutir formas de ampliação e defesa da sociedade

de mercado, bem como para ajustar a gestão social da miséria e o apaziguamento das pontas

mais graves das contradições da sociabilidade burguesa286.

A proximidade com o Centro Edelstein de Pesquisas Sociais se explica pelo

lançamento conjunto da Plataforma Democrática, uma iniciativa para difundir a “cultura

democrática” pela América Latina – região entendida como de tendências autoritárias. O

projeto é importante e revelador da ambição das organizações que o lançam. Falarei dele

mais detidamente em uma seção específica, mais abaixo.

Já o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) é um dos maiores think

tanks da América Latina. A julgar pela lista produzida pela Universidade da Pensilvânia e

aqui referenciada, disputa com o próprio IFHC o posto de segunda organização mais influente

sobre as sociedades civil e política no Brasil, atrás apenas da gigante FGV. Como o nome da

285 Idem
286 https://fundacaofhc.org.br/debates/high-level-commission-on-legal-empowerment-of-the-poor (acessado
em 23/10/2020 às 15h51)
196
entidade sugere, o Cebri se especializou em produzir relatórios do ponto de vista das relações

internacionais, destacando os confrontos geopolíticos, os fluxos mundiais de mercadorias e

a formação de blocos interestatais. Não sem razão, seus representantes participam de eventos

no IFHC para discutir temas como a liderança brasileira na América Latina e o futuro do

Mercosul.

A relação entre o IFHC e o Cebri tem sido marcada por aproximações e

distanciamentos, os quais, aliás, podem ser indicativos da orientação política do primeiro.

Isso porque grande parte de seus convites aos representantes do Cebri se deu entre 2009 e

2012. Nesse período, ocorreram diversas iniciativas voltadas à discussão da capacidade de

liderança brasileira na América Latina – momento durante o qual o empresariado nacional

que investia na região participou ativamente, como palestrante e/ou financiadores, nas

atividades do IFHC. Por outro lado, a partir de 2013 e o início das turbulências sociais que

mergulhariam o Brasil em uma prolongada crise geral, as participações de representantes do

Cebri sofre claro refluxo, voltando a ocorrer apenas em 2016, em debate sobre a crise da

democracia liberal ao redor do mundo287.

Esse movimento pendular pode indicar que as atenções do IFHC se voltam, no interior

do grupo de entidades que compõem sua network, para as organizações entendidas como

mais capazes de enfrentar a questão exigida por sua agenda política. Como veremos quando

falarmos da Plataforma Democrática, uma parte importante dos financiadores do IFHC é de

setores do capital brasileiro transnacionalizado, invertido preferencialmente no entorno

latino-americano. De sorte que a defesa da “coesão social” na América Latina e a projeção

287 https://fundacaofhc.org.br/debates/democracias-turbulentas-o-que-acontece-na-europa-na-america-latina-
e-nos-eua (acessado em 23/10/2020 às 15h56)
197
da qualidade na liderança brasileira na região, para dizer em poucas palavras, parecem ser

uma bandeira geral desse grupo. Voltaremos a falar disso.

O que vimos até aqui foi o IFHC procurando com mais frequência entidades

prestigiadas pela representatividade de sua atuação em determinadas esferas da vida social.

Ocorre o mesmo com a FIESP e com os grandes veículos da mídia empresarial, destacados

setores de representação institucional das camadas sociais cujo apoio o IFHC procura cultivar,

como o empresariado e a pequena burguesia. Se a federação dos industriais é convocada para

discutir da chamada “reforma trabalhista”, efetivada durante o governo Temer, à debilidade

da produtividade da força de trabalho nacional, os principais jornais do país são convidados

a acompanharem e participarem de um amplo leque de debates, que vai dos grandes eventos

da geopolítica internacional (como as “primaveras árabes” e as tensões no Oriente Médio) às

polêmicas locais – assegurando, por outro lado, a extensão da influência do próprio IFHC

por meio dos canais de que a grande imprensa brasileira dispõe.

O empresariado não participa do IFHC apenas financiando as atividades do instituto.

Toma parte também dos debates e seminários, apresentando diretamente suas demandas para

plateias de políticos e representantes de Estado. O Anexo III apresenta, em lista, os

representantes do setor que falaram, ao longo dos 15 anos de história, em eventos da entidade.

Em comum, o fato de a maior parte desse grupo ser composta por grandes capitalistas, o que

reforça a qualificação, feita mais acima, do IFHC como uma agência do grande capital.

Alguns ramos produtivos, entretanto, destacam-se. São os casos dos banqueiros, do

agronegócio e, novamente, dos capitais brasileiros transnacionalizados. O primeiro e o

segundo grupo são convocados para comentar sobretudo eventos que discutem os “circuitos

financeiros mundiais” e os “desafios” do “novo mundo rural”, com o debate sobre segurança

198
alimentar em economia rural de escala. Representantes do Itaú, BTG Pactual e Citibank,

assim, são presenças identificáveis em debates sobre a economia brasileira; enquanto

diretores do agronegócio, como Marcos Jank, são personagens frequentes nas discussões que

interessam à área.

A associação à vanguarda do capital global, por sua vez, fica evidenciada pela

presença de agentes de firmas de prestação de serviços de “advisory”, com vistas à redução

de riscos de investimento e ao aperfeiçoamento da alocação de capitais. O setor, que tem se

tornado importante em um mundo dito “turbulento”, sujeito a “transformações”, é

representado pelo IFHC por duas empresas consideradas entre as quatro maiores da área: a

KPMG e a Price WaterHouse Coopers. Sua participação na organização pode ser entendida

como a de analisar e afiançar os investimentos de capital em áreas sob investigação nos

eventos e seminários do IFHC. Assim, em encontros realizados em 2016 e 2017 para discutir

as “oportunidades nacionais” para o setor de infraestrutura, James Stewart, representante da

KPMG, observou os riscos e as vantagens para investimento estrangeiro nas áreas em que o

governo Temer buscava atrair o capital externo, por meio da implementação de parcerias

público-privadas para gestão de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias. Em uma conjuntura

de retração dos investimentos públicos, o governo federal procurava estimular o crescimento

do país com base nas inversões da iniciativa privada, e para isso fazia propaganda de seu

novíssimo programa de gestão e aprimoramento da infraestrutura produtiva brasileira. O

IFHC, então apoiador do governo, tratou de convocar representantes das principais firmas de

avaliação de riscos de mercado, como a KPMG, para atraírem o volume de capital desejado,

em uma indicação do potencial político do nosso objeto de estudo.

199
Temos, assim, que as influências do IFHC sobre as sociedades civil e política têm um

claro corte de classe. A frequência da participação de acadêmicos nos eventos aqui analisados,

dessa forma, demonstra tanto a importância do conhecimento técnico para o balizamento das

discussões quanto o grau da imbricação da produção universitária com o desenvolvimento

do capitalismo. É claro que a academia em geral é composta também por pesquisadores que

combatem a dinâmica expansiva do capital e seus efeitos deletérios sobre a natureza e a classe

trabalhadora, mas o grande número de professores que, no nosso objeto de estudo, avalizam

os debates do ponto de vista do capital é ilustrativo do predomínio, também em nível

acadêmico, das ideias burguesas – elemento indicado nas discussões do primeiro capítulo.

Através de representantes das sociedades civis e políticas, empresários e acadêmicos, assim,

o IFHC se entrelaça à rede associativa burguesa, servindo de caixa de ressonância dos

interesses nascidos da estrutura produtiva por sobre outros aparelhos privados de hegemonia

e setores do poder político, convidados a integrarem os circuitos por meio da ação da entidade

sob nossa análise.

Em outras palavras, as pesquisas com dados seriais aqui realizada podem iluminar a

compreensão do sociometabolismo do IFHC, bem como seu papel renovado na democracia

e sua crise288. Ele seria um dos nós da rede associativa burguesa que envolve o Estado em

sentido ampliado, como um elo que busca conectar setores da sociedade civil aos centros

nevrálgicos de poder da sociedade política, representados pelo número de participantes do

“Estado” nos debates travados na organização. A pesquisa que se detenha nesse momento,

entretanto, perderá de vista outras dimensões importantes de sua atuação. Na próxima seção,

288 Assim como pode auxiliar na compreensão do que tem sido chamado de “crise de representatividade” nas
“democracias liberais”, conforme vimos na primeira seção do presente capítulo.
200
refletiremos, na medida do possível, sobre um aspecto que não pôde ser deslindado nesta

parte do trabalho, dada sua natureza “de bastidor”. Compreendendo que a interface “pública”

do IFHC é apenas uma das existentes, versaremos agora sobre a dinâmica “privada” da

entidade, lançando mão, para tanto, da documentação existente – diminuta, mas, ainda assim,

importante por permitir aproximações a esse lado menos conhecido de sua atuação.

2.6 O IFHC e o contra-ativismo político empresarial: uma visão dos


bastidores da entidade
Uma entidade do porte do IFHC não funciona apenas em sua interface pública. Há

mais para se analisar, sobretudo no que tange à sua dinâmica “privada”, isto é, às relações

sociais que se desenrolam em seu interior sem terem a pretensão de ser socialmente

conhecidas. Neste caso, a escassez ou mesmo ausência de fontes são um obstáculo aos

pesquisadores, que, contudo, não podem interromper sua análise no lado desvelado dessas

organizações, sob pena, por um lado, de parcializarem sua visão, perdendo de vista o

compromisso com a investigação da totalidade do objeto; por outro, de reproduzirem versões

do próprio analisado sobre si. Assim, tirei especial proveito dos documentos vazados pelo

Wikileaks. Alguns deles, tendo o IFHC como personagem, permitem-nos visões sobre a vida

nos bastidores da entidade. São vislumbres de ações políticas que inicialmente não eram

dadas a serem amplamente conhecidas. Vislumbres que nos fazem pensar que, aparentemente,

a vida privada dessas organizações é ao menos tão agitada quanto sua face pública. Dois

documentos permitem entrever um pouco desta movimentação.

O primeiro é de janeiro de 2011. Na ocasião, Sérgio Fausto recebeu um correio

eletrônico no seu endereço institucional. Ao diretor executivo do IFHC, chegava uma

201
mensagem, repassada pela secretaria da entidade, assinada por Paulo Gregoire, que se

identificou como “analista de geopolítica da Stratfor”289 . O texto tentava marcar uma

reunião no instituto a fim de discutir o “momento atual do Brasil”290. Após alguns acertos

de agenda, o encontro foi marcado para o dia 10 de janeiro naquele ano, na sede da entidade,

pela manhã.

Não há documentos sobre o que foi conversado naquela reunião. Indícios, porém,

apontam que ali tivera início uma parceria. Os documentos liberados pelo Wikileaks indicam

que Gregoire voltou a entrar em contato com Fausto quatro dias depois, primeiro

agradecendo a hospitalidade e oferecendo informações sobre “China ou qualquer outra parte

do mundo”, depois enviando dados pessoais tanto para cadastramento no mailing list da

entidade quanto para credenciamento aos debates realizados pelo IFHC291.

Ter em mente a natureza social da Stratfor nos dá pistas da importância da atividades

de bastidores do IFHC. Em trabalho importante, Gregoire Chamayou mostra como, entre os

anso 1970 e 1980, as corporações multinacionais enfrentaram nos Estados Unidos o que

então era uma forma renovada de ativismo político, com constante denúncia pública dos

289 Stratfor é um think tank estadunidense fundado em 1996, no Texas. Segundo seu site, surgiu a partir da
decisão de um “grupo de cientistas políticos e empresários” de transformar um grupo de estudos vinculado
à Universidade de Louisiana em uma empresa de análise geopolítica. Atuando desde então no setor privado,
a iniciativa se descreve, em seu website, como uma “plataforma de inteligência geopolítica líder mundial”.
Com sua atividade, a Stratfor interpreta eventos globais a fim de potencializar negócios, capacitar governos
e instruir indivíduos em um mundo “crescentemente complexo”. A iniciativa se assenta no princípio de que
eventos globais são previsíveis, e os atores sociais, se bem informados, podem se preparar para gerencia-
los adequadamente. O principal fundador da iniciativa é o empresário e cientista político George Friedman,
conhecido na esfera pública por previsões ousadas. Escritor, publica literatura sensacionalista com verniz
de estudos de política internacional – sua obra mais famosa se chama Os próximos 100 anos, lançada pela
editora Best Business, e lança apostas à primeira vista pouco verossímeis, como a de que o México pode
se transformar na próxima grande potência mundial. A aparência de bufão, todavia, recobre uma rotina bem
mais séria: coleta, processamento e distribuição de informações recolhidas a partir de conexões com outros
centros globais de produção de saber. Ver: https://www.stratfor.com/about-stratfor acessível às 15h42 do
09/11/2018
290 https://wikileaks.org/gifiles/docs/20/2034634_re-pedido-de-reuniao-.html (acessado às 09/11/2018 às
15h30)
291 https://wikileaks.org/gifiles/docs/20/2034634_re-pedido-de-reuniao-.html
202
impactos sociais das empresas e boicote aos seus produtos. O autor francês detalha o caso da

Nestlé. Segundo ele, “em 1974, ativistas britânicos publicaram um panfleto intitulado The

baby killer [O assassino de bebês]. Eles denunciavam os efeitos sanitários do substituto do

leite materno comercializado pela Nestlé em países do Terceiro Mundo”292. Após uma reação

intempestiva que piorou o problema, sempre seguindo Chamayou, a Nestlé resolveu “mudar

de abordagem”, recrutando um “especialista em gerenciamento de crise: Rafael Pagan,

homem de extrema direita, ex-agente da Inteligência Militar, conselheiro dos presidentes

Kennedy e Johnson, convertido no fim dos anos 1970 a consultor empresarial” 293. A chegada

de Pagan marcou a formação de uma “força-tarefa” especializada em nova forma de contra-

ativismo, cujo exemplo da Nestlé o autor elege como o mais notável.

Mas, poderíamos legitimamente perguntar, o que a Stratfor tem a ver com isso? “Em

meados dos anos 1980”, Chamayou responde,

membros dessa força-tarefa, parcialmente composta por antigos militares,


formariam a empresa de relações públicas PAgan International, transformada
depois na Mongoven, Duchin & Biscoe (MDB) para, enfim, resultar em 2000 na
empresa de inteligência Stratfor. Se o nome dessa plataforma soa familiar, é
porque o hacker Jeremy Hammond a expôs em 2011 na Wikileaks, ao vazar
milhares de mensagens eletrônicas pirateadas. Nesse meio-tempo, durante três
décadas, os especialistas em contra-ativismo teriam vendido seus serviços a preço
de ouro a multinacionais tão idôneas quanto a Shell (diante do boicote do
apartheid), a Union Carbide e ainda a Monsanto294 (grifo meu).

A tal “força-tarefa” teria se especializado em travar combates contra aquela “nova

forma de ativisimo”. Chamayou mostra como a orientação tática que passou a prevalecer

indicava a importância de se retirar as “bases de legitimidade” daquele ativismo político.

Seria preciso, portanto, conhecer o ambiente social de atuação das empresas-clientes, a fim

292
CHAMAYOU, Grégoire. A sociedade ingovernável. Uma genealogia do liberalismo autoritário.São
Paulo: Ubu, 2020. P. 190.
293
CHAMAYOY, Grégoire. Op. Cit. P. 190.
294
CHAMAYOY, Grégoire. Op. Cit. P. 192-3
203
de prever potenciais problemas e atuar preventivamente 295 . Participava da tática, aliás

fundamentada em princípios da ciência militar de Sun Tzu e Clausewitz, a constante

promoção de uma “boa imagem empresarial”, contra-atacando o ativismo político que estaria

corroendo as bases de legitimidade do mundo corporativo. Talvez esteja aqui uma das

explicações para o interesse em tanques de pensamento como o IFHC, ao mesmo tempo fonte

daquelas requeridas informações e análises do ambiente social e ponto de apoio para

propaganda positiva da iniciativa empresarial.

Tendo esse fundo histórico em mente é que devemos analisar o encontro dos

representantes da Stratfor e do IFHC. Além de Fausto e Gregoire, participou do evento a

“Diretora de Análise” da organização estadunidense, Reva Bhalla. Também ela entrou em

contato com o diretor executivo do IFHC, desta feita um dia depois da reunião, no 12 de

janeiro, agradecendo o convite de Fausto para comparecimento ao instituto. No texto, Bhalla

exalta a possibilidade de parceria entre a Stratfor e o IFHC no desenvolvimento de

conhecimento de muitos tópicos que teriam sido discutidos na reunião, dentre os citados,

migração brasileira pela América do Sul, o investimento brasileiro na região, o futuro do

Mercosul, o maior papel brasileiro na integração regional e a estratégia de pacificação das

favelas do país. A representante da Stratfor acrescenta que “adoraria” se consultar com Fausto

e seus colegas na coleta de informações e preparação de relatório sobre esses tópicos296.

Reva Bhalla já despertara atenção antes. Em sua viagem ao Brasil, naquele 2011, a

consultora esteve também no sistema nervoso da sociedade política nacional, circulando com

aparente liberdade pelo alto escalão da inteligência de Estado brasileira. Assim noticiou a

295
CHAMAYOY, Grégoire. Op. Cit
296 https://wikileaks.org/gifiles/docs/21/216480_re-muito-obrigada-.html
204
Agência Pública em 2012. Segundo a reportagem, que teve acesso a documentos internos da

Stratfor, “Bhalla foi recebida com entusiasmo pelo gabinete do ministro-chefe do GSI, o

general José Elito Siqueira, menos de um mês depois de chegar ao país para sua missão” em

nome da entidade297. Ainda de acordo com a Agência Pública, o relato indica que Bhalla foi

levada à “sala de situação”, onde militares e agentes de inteligência se reuniriam com a

presidência da república em momentos de crise de segurança nacional.

Segundo o relatório consultado pelo site, Bhalla teria dito que

todos, inclusive o General Elito Sequeiro (sic) – o chefe do GSI, o qual eu


encontrei mais tarde no seu escritório, conhecem e lêem os relatórios da Stratfor
regularmente. Eles estavam, literalmente, me dizendo sobre as notícias da Stratfor
que haviam lido nesta manhã, e que quase todos ali eram membros298.

A liberdade de circulação descrita por Reva Bhella impressiona. A consultora

teria estado, sempre de acordo com o documento, até na sala da então presidente Dilma

Rousseff, então em reunião que impediu o encontro. “Mais do que ser bem recebida”,

portanto, “Bhalla obteve informações confidenciais de funcionários do GSI que são negadas

até mesmo aos brasileiros”299.

O vazamento da documentação do Wikileaks atraiu a atenção da imprensa brasileira

para os fatos narrados. Reportagem de Carta Capital de março de 2012 também descreve os

eventos daquele janeiro de 2011, destacando a atuação de Reva Bhella – a quem o CEO da

Stratfor, George Fridman, teria aconselhado tentar assumir controle sobre suas fontes, por

297 http://apublica.org/2012/03/wikileaks-reva-bhalla-da-stratfor-
gsi/?fbclid=IwAR0oSsOD5YbncFW6KUZDYA3DcMMv-oHjaBqib1meiZRQNuCfrP7ASfvXq5M
298 http://apublica.org/2012/03/wikileaks-reva-bhalla-da-stratfor-
gsi/?fbclid=IwAR0oSsOD5YbncFW6KUZDYA3DcMMv-oHjaBqib1meiZRQNuCfrP7ASfvXq5M
299 Idem
205
vias financeiras, psicológicas ou sexuais300. De acordo com a publicação, na ocasião, Bhalla

relatara

aos colegas da Stratfor que naquela visita ao GSI chegou a se reunir com o
ministro-chefe, o general José Elito Siqueira. Foi até convidada a visitar um posto
militar na Amazônia. E durante a longa conversa com Macedo Soares, diz ter
ouvido que a Abin capturara “terroristas” em São Paulo, incluindo pessoas ligadas
aos ataques de 11 de setembro. O GSI confirmou a visita de Bhalla301.

Além de contatos com o pessoal do Estado brasileiro, a Stratfor tentou, também,

estabelecer parcerias de “colaboração” com a imprensa nacional – tendo obtido sucesso com

a Folha de S. Paulo, que teria assinado acordo para troca de informações302. A atração que

a Stratfor exerce, conforme reportagem da Carta Capital sobre a passagem de Reva Bhella

pelo Brasil, teria origem em sua acurácia na previsão da Guerra do Iraque. Segundo a

publicação, a agência acertou dia e hora do início do confronto, atraindo as atenções de

clientes interessados em “informações de dentro” do Estado estadunidense. A fórmula

exporia aquela capacidade de “controlar” fontes do interior de aparelhos públicos, conforme

orientação de Fridman, o que asseguraria à entidade uma receita de 12 milhões de dólares ao

ano, segundo especulações303. Trata-se, portanto, de um negócio, com os seus representantes

mapeando fontes a fim de obter informações preciosas que fundamentem suas “análises de

risco de mercado”, vendidas por preço alto.

Se tomarmos a Stratfor pela sua expressão na reportagem de Carta Capital, contudo,

tomaríamos a agência como uma obra de bufões. A empresa empregaria, afinal, sempre

segundo a revista, metodologia de “adolescente de 16 anos”. Avaliação que acompanha a

feita por Sérgio Fausto. Falando um ano depois àquele veículo sobre o encontro com

300 https://www.cartacapital.com.br/mundo/alunos-de-clouseau-2/
301 https://www.cartacapital.com.br/mundo/alunos-de-clouseau-2/
302 https://www.cartacapital.com.br/mundo/alunos-de-clouseau-2/
303 https://www.cartacapital.com.br/mundo/alunos-de-clouseau-2/
206
representantes da entidade, o diretor executivo do IFHC sustentou que a Stratfor não

mereceria maiores atenções no que diz respeito à política latino-americana, seja por falta de

“conexões importantes na região”, seja por falta de “expertise no assunto”304 . Posição

distinta do que se poderia esperar de um diretor executivo que convidou os representantes de

uma empresa de informação para reunião na sede do seu instituto305.

No mais, o desprestígio da Stratfor com a Carta Capital e com o IFHC contrasta com

a sua capacidade de coleta de informações e com o porte dos financiadores da iniciativa. No

primeiro caso, a empresa conseguiu colocar um representante na sala presidencial brasileira,

bem como, via Renato Whitaker, um dos analistas da Stratfor sediados no Brasil, “folhear o

esboço do Livro Branco de Defesa”, produzido pela Escola Superior de Guerra (ESG), antes

mesmo que um “documento chave da política nacional” fosse publicado306. No segundo, o

site da entidade indica como parceiras companhias suficientemente grandes para figurarem

na lista da Fortune 500, publicada anualmente pela revista Fortune ranqueando as 500

maiores corporações dos Estados Unidos, com base na receita total expressa em seus

respectivos anos fiscais. Para efeitos de ilustração, o top 10 de 2018 da lista ficou assim: 1-

Walmart, 2- Exxon Mobil, 3 – Berkshire Hathaway, 4 – Apple, 5 – UnitedHealth Group, 6 –

McKesson, 7 – CVS Health, 8 – Amazon.com, 9 - AT&T, 10 – General Motors. Tratam-se,

pois, de grandes empresas: a maior delas, a Walmart, tem arrecadação que supera o PIB de

países como a Áustria, a Noruega e o Chile307.

304 https://www.cartacapital.com.br/mundo/alunos-de-clouseau-2/
305 O e-mail vazado pelo Wikileaks deixa claro que o convite a Reva Bhalla partiu de Sérgio Fausto.
306 https://www.cartacapital.com.br/mundo/alunos-de-clouseau-2/
307 https://www.stratfor.com/about-stratfor acessível às 15h42 do 09/11/2018; http://fortune.com/fortune500/
acessível às 16h04 do 09/11/2018; https://noticias.r7.com/internacional/fotos/conheca-8-empresas-
poderosas-que-tem-faturamento-maior-do-que-o-pib-de-muitos-paises-27032016#!/foto/1
207
Para o que nos interessa, importa destacar tanto a posição do IFHC nas teias

associativas da burguesia quanto alguns elementos da ação política desta rede. Por um lado,

o fato de a Stratfor ter entrado em contato com o instituto que estudamos revela a importância

relativa da entidade na cadeia de troca de tecnologias políticas burguesas – enfatizada pelo

funcionamento da Stratfor, acima descrito. Com efeito, essa posição de prestígio do IFHC

tem sido destacada ao longo deste trabalho por meio da análise de fontes que atribuem ao

instituto importância na elaboração de políticas públicas no Brasil, mas aqui encontra forma

de expressão em outra área de atuação, relacionada à capacidade de coleta de informações e

processamento de análises sociais.

Por outro lado, as relações ora em análise revelam circuitos importantes de

informação, trocadas entre Estados e agentes de mercado por meio de associações como a

Stratfor. Sob a alcunha de “análise de risco para investimentos”, temos um mercado que

comercializa efetivamente informações privilegiadas, de bastidores de Estado, cujos agentes

repassam sem maiores dificuldades a matéria-prima do produto, conforme confirmou à Carta

Capital o responsável por, na ESG, apresentar ao representante da Stratfor um documento

reservado do Estado brasileiro 308 . Sendo o IFHC um dos elos desse circuito, conviria

perguntar se o instituto se apropria de parte dos valores que circulam por estas cadeias – por

meio de venda de conteúdo ou por meio do financiamento de atividades que incluem debates,

mas que podem incluir outros eventos de bastidores. Não há, entretanto, documentos que

evidenciem a existência de negociações do tipo. Os dados sobre as atividades privadas das

308 Renato Whitaker, representando a Stratfor, encontrou-se em novembro daquele 2011 com o diretor do
Centro de Estudos Estratégicos da escola e comandante da Artilharia Divisionária da 6ª Divisão de Exército,
o general-de-brigada João Cesar Zambão da Silva. Relembrando em 2012 o encontro, Zambão confirmou
que recebeu o “consultor” na ESG, como “costuma fazer com qualquer pessoa em situação similar”. Ver:
https://www.cartacapital.com.br/mundo/alunos-de-clouseau-2/
208
atividades são mesmo bastante restritos, de sorte que mais pesquisas são necessárias para

desbravar esta seara.

Com o material que dispomos, contudo, é possível identificar, na rede associativa

burguesa, nós com diferentes especializações, mas que, atuando juntos, fazem circular um

conjunto de informações que, dado seu uso, transformam-se em importante tecnologia

política a fim de garantirem maiores investimentos e, correlativamente, estabilidade sócio-

política para seu desenvolvimento. Assim, se a interface pública do IFHC privilegia o contato

de intelectuais orgânicos burgueses, empresários e representantes da sociedade política

nacional, sua interface privada esconde outro tipo de relação. O caráter reservado da atividade

talvez explique paradoxalmente o aparente desinteresse demonstrado por Sérgio Fausto em

entrevista à Carta Capital. Seja como for, a interface privada das atividades do IFHC parece

ao menos tão importante quanto sua face pública.

Isso porque, mesmo com a escassez de fontes, os dados de que disponho já me

parecem bastante interessantes e sinal de uma “vida privada” bastante ativa. Aos indícios

comentados acima, soma-se a correspondência do cônsul geral dos Estados Unidos no Brasil,

Thomas J. White, enviada confidencialmente a outros consulados estadunidenses na América

Latina – também vazada pelo Wikileaks. No telegrama, White narra um encontro entre

Clifford Sobel, embaixador dos Estados Unidos no Brasil, e Fernando Henrique Cardoso,

realizado na sede do IFHC em 15 de junho de 2009. Sempre de acordo com White, FHC

convidara o embaixador estadunidense para lhe apresentar o “trabalho do Instituto Fernando

Henrique Cardoso, um think tank criado por Fernando Henrique Cardoso para discutir e

analisar políticas públicas”309. A reunião discutiu a “falta de orientação estratégica de Estado”

309 https://wikileaks.org/plusd/cables/09SAOPAULO366_a.html
209
durante o mandato petista, com FHC entregando ao embaixador dos Estados Unidos seu

ponto de vista sobre os “erros” do PT na presidência.

Como anota o cônsul ironicamente ao fim do telegrama, ao longo da conversa, o ex-

presidente “claramente” considerava José Serra, pré-candidato pelo PSDB, o favorito nas

eleições presidenciais de 2010. Daí a reunião ter o caráter de “apresentação” de conselheiros

capazes de preparar o tucano para o exercício do mandato presidencial, no caso de se

confirmarem as previsões de FHC. White anota, ainda, que o IFHC foi apresentado como

um “parceiro” para contatos entre o grupo do futuro presidente e interlocutores

estadunidenses “sêniores” 310 . Participaram da reunião, além do ex-presidente e do

embaixador, o cônsul que assina a correspondência, o ex-ministro Celso Lafer, o aqui já

mencionado Jovelino Mineiro, o diretor do IFHC Sérgio Fausto, e a cientista política da

Universidade de São Paulo, Maria Hermínia Tavares.

O documento chama atenção principalmente por dois fatores. O primeiro, o papel que

o instituto joga na disputa eleitoral, apresentando o então pré-candidato à presidência pelo

PSDB a parceiros que, presumivelmente, deveriam apoiá-lo, como é o caso do pessoal de

Estado estadunidense. Sobre isso discutiremos mais longamente no capítulo 4. O segundo, a

capacidade – ainda que seja imaginada apenas por FHC e os membros da cúpula do instituto

– de que o mesmo pudesse se transformar em ponte direta entre governos diferentes, a saber,

de Estados Unidos e Brasil. A transformação do IFHC em “embaixada informal” foi sugerida

por mim pela análise de sua atuação por meio da Plataforma Democrática, discutida em item

abaixo. Passemos a ele antes de mais considerações.

310 https://wikileaks.org/plusd/cables/09SAOPAULO366_a.html
210
2.7 O IFHC e a América Latina: o caso da Plataforma Democrática
(2007-2019)
Em 2007, surgia a Plataforma Democrática. Iniciativa do IFHC em parceria com o

Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, tem o “objetivo de fortalecer a cultura e as instituições

democráticas no Brasil e na América Latina” 311. Desde então até 2013, o projeto adquiriu

contornos robustos e um alcance cada vez maior. Articulou-se a mais de 30 instituições da

América Latina, entre universidades, centros de pesquisas e ONG’s – conforme imagem

abaixo. Além de conferências presenciais, a iniciativa se insere na grande mídia latino-

americana e em espaços literários. Já não é raro encontrar em grandes livrarias volumes

estampados com o selo da Plataforma312.O projeto ainda publica revistas científicas digitais,

jornais e um curioso “Informe Cuba”, que tem como intenção acompanhar a situação política

da ilha.

Em números mais precisos, desde 2007, a organização já promoveu cerca de 150

eventos – entre palestras, entrevistas, debates. Os vídeos destes encontros estão disponíveis

em sítios virtuais da iniciativa e das fundações parceiras. Juntos, somam mais de 100 horas

de material.

Associados à Plataforma Democrática313

311Retirado de: http://www.plataformademocratica.org/quem-somos (acessado em 20/09/2019 às 03:15)


312 O site da iniciativa lista 14 livros publicados sob seu selo. A lista consta aqui:
http://www.plataformademocratica.org/publicacoes (acessado em 20/09/2019 às 06:25)
313 Retirada de versão anterior do site da Plataforma Democrática. Atualmente indisponível.
211
O endereço eletrônico da Plataforma Democrática também fornece acesso aos demais

produtos vinculados à iniciativa. Assim, em pesquisa prévia, catalogou-se 4184 artigos de

diversos autores disponíveis no site. Redigidos especificamente por membros do projeto, há

110 títulos disponíveis para download.

Ainda sobre o corpus documental, destaca-se uma versão em português do Journal

of Democracy, publicação do National Endowment for Democracy, criado no governo

Ronald Reagan para “reunir defensores da democracia pela e para a iniciativa privada”.

Representando a “articulação estratégica entre o Estado norte-americano, os dois partidos

212
dominantes, as empresas norte-americanas e a cúpula sindical”314 , o NED é um órgão

suprapartidário que defende regimes políticos pautados pelos interesses do capital e pela

incorporação à influência estadunidense. Segundo seu vice-presidente, a ideia é facilitar “o

intercâmbio entre o setor privado e os grupos democráticos no exterior”, a fim de “encorajar

o desenvolvimento democrático consistente com os interesses dos Estados Unidos”315 .

Agindo globalmente, o NED financia partidos, tanques de pensamento, “ONG’s”, etc. Nos

anos 1990, financiou 1754 organizações, com o custo de 150 milhões de dólares316. No

Brasil, vincula-se inclusive à Plataforma Democrática, que traduz suas publicações.

Falaremos mais dele no capítulo quatro, quando discutirmos os problemas derivados da

recente ascensão da extrema-direita. Aqui, basta estabelecer sua relação com a Plataforma

Democrática, que colabora com a agência estadunidense traduzindo e divulgando suas

publicações, que se juntam, assim, à produção exclusiva da iniciativa brasileira.

Neste material, duas temáticas são centrais. A questão da democracia, clara já no título

da iniciativa, é merecedora de ampla discussão dedicada a desenvolver um modelo que

assegure “estabilidade” e “desenvolvimento” – princípios que seriam enfeixados na noção de

coesão social, desenvolvida pelo IFHC, em estreita colaboração com a Plataforma

Democrática. Outro interesse destacado é sobre o papel do Brasil na América Latina. A

liderança do país na região é, ao mesmo tempo, debatida e projetada, inclusive com

receituários para se avançar na questão.

314 MINELLA, Ary César. Construindo a hegemonia na América Latina. Democracia e livre mercado,
associações empresariais e sistema financeiro. In: OLIVEIRA, Francisco; BRAGA, Ruy; RIZEK, Cibele
(orgs.) Hegemonia às avessas. Economia, política e cultura na era da servidão financeira. São Paulo:
Boitempo, 2010. P. 257-258.
315 LOWE, David. Idea to reality. A brief history of the National Endowment for Democracy, p. 8
Disponível em: http://www.ned.org/about/history (acesso às 11:28 de 09 de setembro de 2016)
316 SCOTT, james. WALTERS, Kelly. Supporting de Wave. Western political foundations and the promotion
of a global democratic society. Global Society. V. 14, n. , 2000. P. 243-244.
213
Estes dois temas, a saber, democracia “com coesão social” e liderança brasileira na

América Latina, foram especialmente marcantes de 2008 a 2013. Em 30 de junho de 2008,

um extenso seminário, intitulado “Repensando a Democracia na América Latina: desafios

políticos e intelectuais”, cujo objetivo foi entender as novas dinâmicas sociais da América

Latina, então passando por o que muitos viram como uma “guinada à esquerda”, dada a

eleição de diversos líderes considerados progressistas. As discussões daquele dia deram

origem a uma série de debates e eventos, que culminaram na edição de um livro. “O desafio

latino-americano: coesão social e democracia” foi lançado ainda em 2008, mas seguiu sendo

discutido e difundido pelas intervenções da Plataforma Democrática através de sua rede de

entidades parceiras – de tão extensa, acima foi apresentada em nota.

Em 20 de maio de 2009, resultados da pesquisa foram apresentados em evento

realizado no hotel Westin Camino Real, na Guatemala317, onde um dos presidentes eleitos

pela “onda rosada”, Álvaro Colom (2008-2012), governava. Em junho, foi a vez da

Universidad Nacional de San Martin, na Argentina, receber Bernardo Sorj, um dos autores

do trabalho, para falar sobre os desafios da “democratização” latino-americana318. Em 08

de junho de 2010, na Flacso do Equador, a Plataforma Democrática sediou debate sobre os

perigos do “populismo radical” – uma das preocupações já apresentadas em “O desafio

latino-americano”. Os governos que ameaçavam as regras do jogo geravam instabilidade,

sendo inimigos, portanto, da democracia perseguida. Na época, o alvo prioritário eram os

políticos “de esquerda”, só mais recentemente os de direita passaram a representar ameaça.

317 http://www.plataformademocratica.org/videoteca/14
318 http://www.plataformademocratica.org/videoteca/11
214
A questão da liderança do Brasil na América Latina surge com mais força a partir de

2010. Desde novembro daquele ano, quando na sede do IFHC falou-se sobre o estado da

democracia na América Latina, o debate sobre o papel do país na região ganha progressivo

destaque319. Em 05 de julho de 2011, uma mesa-redonda debate as mudanças geopolíticas,

geoeconômicas e o papel do Brasil na América Latina. A discussão é boa o suficiente para

virar livro lançado na Argentina, pela editora Siglo XXI em parceria com o selo da Plataforma

Democrática. No material, os autores Sérgio Fausto, do IFHC; e Bernardo Sorj, do Centro

Edelstein de Pesquisas Sociais, agradecem ao Open Society Institute, à Fundación Telefonica

e à Konrad Adenauer Stiftung, responsáveis por financiarem o projeto320. O Brasil deveria

liderar a América Latina, mas de acordo com os auspícios das organizações burguesas

internacionais321.

319 http://www.plataformademocratica.org/videoteca/21
320 http://www.centroedelstein.org.br/PDF/bsorj_America_Latina_Transformaciones_geopoliticas.pdf
321 Os presentes no encontro revelam a aproximação entre sujeitos políticos que se viam na oposição aos
governos progressistas da América Latina, bem como seu livre transito com empresários importantes da
região e com importantes líderes de organizações sociais do subcontinente. A lista completa dos
participantes é a que segue: Alberto Pfeifer, diretor-executivo do Conselho Empresarial da América Latina
(CEAL), Aluizio Araujo, conselheiro da Odebrecht, Amaury de Souza, diretor da MCM Consultores Associados,
Antônio Carlos Mendes Thame, deputado federal (PSDB-SP), Bernardo Sorj, diretor-executivo do Centro
Edelstein de Pesquisas Sociais, Bóris Fausto, historiador, presidente do Grupo de Análise da Conjuntura,
Internacional da USP (GACINT-USP), Brigida Scaffo, cônsul-geral do Uruguai, Bruno Soller, assistente
parlamentar da Câmara Federal, Carlos Mesa, ex-presidente da Bolívia, Celso Lafer, professor de Direito
da USP e presidente da Fundação de Amparo, à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) Cesário
Ramalho, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB) Constanza Moreira, senadora uruguaia da Frente
Ampla Décio Oddone, vice-presidente da Braskem Edgardo Riveros, presidente do Centro Democracia y
Comunidad Eduardo Graeff, assessor do PSDB Fausto Alvarado Dodero, ex-ministro do Peru Fernando
Henrique Cardoso Fernando Xavier Ferreira, conselheiro da Telefônica Gunther Rudzit, coordenador de
relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) Humberto Saccomandi, editor de
Internacional do jornal Valor Econômico Ignácio Walker, senador e presidente da Democracia Cristã
Chilena Ingo Ploger, presidente do CEAL Joel Edelstein, presidente do Centro Edelstein de Pesquisas
Sociais José Botafogo Gonçalves, presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) José
Geraldo Traslosheros, cônsul-geral do México Lourival Sant’Anna, repórter especial do jornal O Estado de
S. Paulo Luciano de Freitas Pinto, assistente da reitoria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Luiz Carlos Costa, assessor da Câmara Federal Maria Hermínia Tavares, professora do Instituto de Relações
Internacionais da USP (IRI-USP) Mariana Luz, coordenadora institucional do CEBRI Mauro Aguiar,
diretor-presidente do Colégio Bandeirantes Moisés Costa, relações governamentais do MAN Patricia
Villela Marino, conselheira do Instituto Ilhabela Sustentável (IIS) Pedro da Motta Veiga, diretor do Centro
de Estudos de Integração e Desenvolvimento (CINDES) Pedro Herz, diretor-presidente da Livraria Cultura
215
A lista segue já em novembro de 2012, com evento na sede do IFHC, intitulado

“liderança do Brasil na América do Sul”; vai adiante em 18 de abril de 2013, com “Brasil e

América Latina: que liderança é possível?”; e 08 de maio de 2013, quando Sérgio Fausto fala

do papel do Brasil na América Latina para o espanhol Real Instituto Elcano322; e 19 de

setembro de 2013, quando as uruguaias TV Ciudad323 e Televisión Nacional de Uruguay

discutem, com membros da Plataforma Democrática, “Brasil y América Latina: ¿qué

liderazgo es posible?”324.

Assim, por conferências, publicações e intervenções midiáticas, a Plataforma

Democrática se espraia pela América Latina, levava sua mensagem a um número cada vez

maior de pessoas. Tal constatação nos dá a dimensão de seu alcance, bem como sua inserção

na arena política regional. Emerge daí sua potencialidade na direção de políticas públicas e

de reformas estatais, vistas como fiadoras da “estabilidade” e do “desenvolvimento”

pretendidos.

Sendo a Plataforma Democrática uma iniciativa do IFHC, que aqui nos interessa mais

de perto, tornam-se pontos incontornáveis, em primeira aproximação, a análise de seus

quadros políticos; do conteúdo de sua produção, isto é, a tal democracia a ser “exportada”; e,

paralelamente, uma pesquisa sobre financiamento do projeto. Essas três perguntas de caráter

Raul Jungmann, presidente estadual do PPS Roberto Freire, presidente nacional do PPS Roberto Russell,
professor da Universidad di Tella (Argentina) Sandra Polonia Rios, diretora do CINDES Sérgio Amaral,
diretor da FAAP Sérgio E. A. Conforto, diretor da FAAP Sérgio Fausto, superintendente-executivo da
Fundação iFHC Sibele Martins, assessora de imprensa do gabinete do deputado federal Roberto Freire
Vinícius Camargo, coordenador do CEAL. Ver: IFHC, Relatório de atividades, 2011, p. 30-31. Acessível
em: https://fundacaofhc.org.br/files/Relatorio%20de%20atividades%202011.pdf
322 http://www.plataformademocratica.org/videoteca/27
323 http://www.plataformademocratica.org/videoteca/29
324 http://www.plataformademocratica.org/videoteca/30
216
inicial permitem a formulação de questões e hipóteses mais sofisticadas, indispensáveis para

reflexões ulteriores.

Atuando na Plataforma Democrática figuram grandes empresários, políticos e

profissionais das ciências humanas. No primeiro grupo, constam executivos de grupos como

Vorotantim, Itaú, Natura, além do onipresente Jorge Gerdau Johannpeter, dentre outros, não

coincidentemente grandes investidores na América Latina 325 . Entre os políticos estão

principalmente Fernando Henrique Cardoso e outros filiados do Partido da Social

Democracia Brasileira (PSDB). A última categoria listada é composta por gente como

Demétrio Magnoli, Bernado Sorj, Sérgio Fausto, o próprio FHC, enfim, adeptos de uma

perspectiva liberal e conservadora, o que fica evidente nos produtos que, por intermédio da

iniciativa, veiculam. Tive o cuidado de não chamar o último grupo de “intelectuais”,

preferindo, em vez disso, qualificação mais descritiva. Isso se deve à concepção de que todos

os quadros expostos são intelectuais, não no sentido do senso comum, mas na ótica sugerida

por Antônio Gramsci, antes comentada326. São, assim, operadores e organizadores da cultura,

organicamente vinculados a uma classe social ou fração, favorecida pela visão de mundo que

difundem. Por conseguinte, são intelectuais orgânicos, que articulam interesses materiais e

ideologia – naturalizando, dessa forma, uma formação social histórica.

É relevante ressaltar que outras personagens não listadas participam dos eventos

sediados pela Plataforma Democrática. Refiro-me aos associados às organizações vinculadas

325 Os grupos mencionados ocupam o ranking das 20 empresas brasileiras mais internacionalizadas pela
América Latina desde pelo menos 2007, ano de criação da Plataforma Democrática. Ver: SPOSITO, Eliseu;
SANTOS, Leandro. O capitalismo industrial e as multinacionais brasileiras. São Paulo: Outras
Expressões, 2012.
326 GRAMSCI, Antônio. Caderno 12 (1932). Apontamentos e notas dispersas para um grupo de ensaios sobre
a história dos intelectuais. In: ________. Cadernos do Cárcere. V. 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2014. P. 15-21.
217
ao projeto, acima expostas em nota. Articulada a instituições por quase toda a América Latina,

a Plataforma Democrática as instrumentaliza para promover seus eventos. Permite-se, de tal

modo, que aqueles intelectuais orgânicos ajam no interior de diversos tanques de pensamento

e outros aparelhos privados de hegemonia, influenciando sua produção, sua audiência, sua

formação de quadros políticos.

A Plataforma Democrática, por conseguinte, constitui um destacamento

extremamente móvel, que ocupa as organizações da América Latina, agindo por seu

intermédio. É importante, nesse momento, frisar que entendemos as instituições associadas

à Plataforma como aparelhos privados de hegemonia, tal qual conceituação de Gramsci. São,

assim, elementos classistas da sociedade civil que organizam vontades coletivas, buscando

generalização de projetos societários específicos, bem como concepções de realidade

convenientes327. Adotando tal perspectiva, a função da Plataforma Democrática ganha mais

nitidez. Ela não teria o fito de “colonizar” as sociedades civis do subcontinente? Ora, em seus

eventos, os intelectuais listados educam de acordo com os interesses classistas representados

pela Plataforma, cuja base social é composta por aqueles grandes capitais apresentados acima,

que têm na América Latina uma área de especial interesse para seus investimentos. Se os

aparelhos privados de hegemonia podem formar disposições adequadas à dominação

classista, ocupá-los e veicular, por meio deles, as práticas consideradas adequadas pela

Plataforma seria utilizá-los em benefício dos representados pela iniciativa brasileira.

Posto isso, aqui entendemos que a Plataforma Democrática serve a capitalistas

brasileiros preocupados com seus investimentos na região latino-americana. Além de

intelectuais orgânicos, representantes dessas frações burguesas são patrocinadores da

327 GRAMSCI. Antônio. Cadernos do cárcere, v. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 244
218
iniciativa. Sugerimos, pois, que a Plataforma Democrática age na América Latina ao sabor

dos interesses da classe que a anima, como uma embaixada transnacional. Seria um exemplo

do que René Dreifuss qualificou de frentes móveis de ação internacional, isto é, organizações

burguesas transnacionais de defesa da ordem do capital 328 . Em outras palavras,

consideramos que a Plataforma Democrática auxilia a costurar uma visão de mundo

adequada às transformações materiais operadas pelo capital brasileiro na região. Luta-se, por

meio dela, pela construção de um consenso acerca do papel de líder que o Brasil deve

desempenhar na América do Sul, daí ganhando sentido esse tema ser recorrente nas

produções da iniciativa – daí a importância revelada nas intervenções acima mencionadas.

De que modo se apresenta concretamente essa defesa? Ora, pela orientação de

políticas públicas, função declaradamente assumida pelos tanques de pensamento que a

sustentam e no site da própria iniciativa329, mas também pela circunscrição dos debates,

método caro ao IFHC, como acima debatido. Dessa forma, busca-se conformar na América

Latina condições sociais que assegurem a estabilidade política e o ambiente propício ao

florescimento de investimentos capitalistas. O exemplo da coesão social, investigado no

próximo capítulo, é certamente o mais completo neste ponto. Revela a profundidade da

crença no associativismo burguês e, por outro lado, em ações de contenção dos conflitos, por

meio da integração subalternizada de questões caras aos setores populares, sempre acolhidas

de modo a combinarem com os estreitos limites da ordem. Isso se revela com a pauta

328 O debate sobre o termo pode ser conferido em DREIFUSS, René. A internacional capitalista. Petrópolis:
Vozes, 1986. Virgínia Fontes também adota a conceituação. Ver: FONTES, Virgínia. Brasil e o capital
imperialismo. Teoria e História. Rio de Janeiro: UFRJ, 2010, p. 112. 6
329 Retirado de: http://www.ifhc.org.br/instituto/missao/,http://www.centroedelstein.org.br/QuemSomos.asp,
http://www.ifhc.org.br/wp-content/uploads/apresentacoes/1869.pdf (acessados em 09 de setembro, às
09h01
219
identitária ali perseguida, bem como o trato específico da questão do multiculturalismo,

sempre congregada com a “flexibilização” das regulamentações sobre a ação do capital.

Posto isso, não é sem razão que as atividades da Plataforma se intensificam em áreas

onde o investimento brasileiro é maior. Há uma relação de estreita continuidade entre os

interesses do capitalismo no Brasil e a difusão dessa democracia nos territórios que hospedam

suas inversões. É como se o modelo fosse fiador político dos interesses materiais daqueles

que bancam o projeto. A democracia pretensamente esterilizadora das lutas sociais é, então,

posta a serviço da burguesia brasileira também no exterior, a fim de assegurar a reprodução

ampliada de seu capital.

Já o projeto político defendido sob a alcunha de democracia merece análise mais

detalhada. Aqui destacaremos tão somente alguns elementos, reservando a discussão sobre o

sentido da coesão social na democracia projetada pelo IFHC e pela Plataforma Democrática

para o próximo capítulo – embora os elementos aqui constantes sejam fundamentais para seu

entendimento, notadamente o papel importante do capital com interesse na América Latina

no financiamento destas atividades.

Sobre isso, vamos acompanhar a intervenção de um importante capitalista brasileiro,

com sólidos investimentos no entorno latino-americano. Trata-se de Jorge Gerdau

Johannpeter. No dia 28 de novembro de 2012, na sede do Instituto Fernando Henrique

Cardoso (IFHC), em São Paulo, ele, presidente do conselho de administração do Grupo

Gerdau, tomou a palavra em daqueles eventos que debatia a “liderança do Brasil na América

Latina”. O empresário tinha tempo reservado para versar sobre a integração latino-americana

na perspectiva de um capitalista brasileiro. Iniciou sua fala demonstrando pesar. Uma

preocupação em especial lhe tirava o sono: sentia falta de previsibilidade política que

220
permitisse planejar investimentos de longo prazo no continente. “Nos ramos que investimos”,

arengou, “teoricamente deveríamos planejar hoje nossos negócios de daqui a dez anos, mas

não há estudos sobre integração regional em curso, não há meios de saber como estará a

região tanto tempo à frente”330. O lamento do empresário transparecia a preocupação com

seus capitais. A plateia composta por outros empresários, tecnocratas e governantes assentia

compreensiva.

Daí dar voz a Gerdau é dar voz a um dos maiores grupos de investimento na América

Latina, com 71% de seus capitais alocados na região 331 . Quando ele demanda maior

previsibilidade e estabilidade política na região, insinua que nem mesmo os melhores

esforços petistas conseguiram entregar o que esses setores do empresariado esperavam. Até

então, os esforços dos governos federais do Partido dos Trabalhadores (PT), principalmente

na figura do ex-presidente Lula, já eram reconhecidos como fundamentais para a expansão

transnacional das empresas brasileiras. Tanto pela política externa quanto pela linha de

crédito exclusiva do BNDES, fundamental na formação e promoção das “campeãs nacionais”.

Mesmo durante essa história, até ali de sucesso, Gerdau demonstra insatisfações e revela

fraturas no bloco governista. É uma brecha que o PSDB tenta aproveitar.

Dar voz a Gerdau é, assim, ouvir um importante representante da burguesia

imperialista. Na lógica da nossa exposição, convidá-lo a participar da iniciativa representa o

namoro entre partido e fração de classe. O significado do ato, contudo, é bem mais profundo.

Ora, Gerdau foi, ao longo das gestões petistas, o símbolo da aliança entre governo e

330 Citações retiradas de vídeos disponíveis no site da Plataforma Democrática. Ver:


http://www.plataformademocratica.org/VideotecaPopup.aspx?IdRegistro=26&IdVideo=339 (acessado em
21/09/2015, às 14:49)
331
221
empresariado. Foi ele um dos primeiros grandes burgueses a apoiar publicamente Lula na

campanha de 2002, defendendo sua candidatura em campanha televisiva. A partir de 2003,

foi convidado a compor estruturas de Estado, chegando a ser especulado como ministro de

Desenvolvimento, Indústria e Comércio. A estreita relação entre as partes, todavia, afrouxou-

se durante o mandato Dilma. Em 2011, o empresário se tornou espécie de líder da Câmara de

Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade (CPGDC), então recentemente criada

para ser um suporte ao capital brasileiro em sua agenda internacional. No programa de rádio

“Café com a Presidenta”, Dilma qualificou a câmara como “meio para diminuir a burocracia

que as empresas nacionais enfrentam no comércio com outros países”, e que, por meio da

CPGDC, “empresas e governo vão pensar juntos técnicas de boa administração” (ZIBECHI,

2012, p. 207). Ponto de articulação entre o Governo Federal e os interesses do imperialismo

brasileiro, a criação da câmara gerou expectativas, mas ela teve vida curta. Um ano após seu

surgimento já era considerada moribunda. Foi declarada morta em 2014, após 12 reuniões,

das quais a presidenta não compareceu a nenhuma.

Como vemos, a participação de Gerdau na Plataforma Democrática se dá

precisamente no período de ocaso da CPGDC. A maior parte dos eventos devotados a discutir

a liderança brasileira na região, acima apresentados em nota, ocorre no mesmo período.

Poder-se-ia argumentar que, em outras áreas, o governo petista manteve apoio à burguesia

brasileira, principalmente por meio do BNDES. No entanto, a queda da organização pensada

para estreitar laços de um setor do empresariado com o executivo, quando cotejada à

aproximação de seu chefe com o PSDB, adquire um simbolismo especial. Nessa ótica, as

críticas feitas por Gerdau no âmbito da Plataforma Democrática se investem de novo

significado.

222
Em outras palavras, de aliado petista, Jorge Gerdau passou a ser francamente bajulado

por tucanos, que dispensam atenção ao empresário e propõem, por meio da Plataforma

Democrática, uma solução para seus problemas. O sociólogo Sérgio Fausto, diretor do IFHC,

ilustrava a mudança então no horizonte. Em eventos da Plataforma Democrática, sediado em

2012, fala grosso contra a “instabilidade política de Equador, Venezuela e Bolívia”. “O

populismo desses países”, decreta, “ameaça a democracia na América Latina”332. Era a

maneira peessedebista de se diferenciar do petismo – mostrar capacidade de enfrentar os

governos e regimes que poderiam significar dificuldades para o capitalismo brasileiro na

região.

A Plataforma Democrática – e o IFHC por trás dela – tentou aproveitar este espaço. De

fato, através da iniciativa, aquela burguesia se relacionou com outras classes latino-

americanas nas instituições associadas à organização. Ao trocar dessa maneira experiências

sociais e tecnologia democrática, a iniciativa difunde paralelamente o senso comum que

interessa àquele empresariado nacional. Por tal intercâmbio se dar inclusive em aparelhos

privados de hegemonia, o capital brasileiro utiliza as casamatas dos Estados vizinhos para

defender suas ambições imperiais. Trata-se de um impulso colonizador das sociedades civis

latino-americanas, processo que se forma como o anverso da inversão de capital na região.

Claro que o produto final da relação não é necessariamente o desejado por aquela frente

expansionista, sendo antes o resultado das lutas intra e extraclasses que se verificam no

subcontinente, e que, no objeto aqui exposto, são exprimidas por embates entre os partícipes

dos eventos da Plataforma e pelas formas de sua recepção. Contudo, a presença de

332 http://www.plataformademocratica.org/videoteca/25
223
representantes do imperialismo nacional nesses espaços deve ser considerada como indício

do avanço de suas forças.

O estudo dos 12 anos de história da iniciativa, portanto, mostra algumas nuances

importantes por revelarem sua estreita relação com as transformações políticas em âmbito

nacional e planetário. Nesse sentido, o primeiro período da Plataforma Democrática buscou

replicar na América Latina estratégias de contenção social que tinham se mostrado bem

sucedidas no Brasil e no mundo. O know how adquirido pelas classes dominantes nas

contendas contra os trabalhadores é assim difundido para zonas de seus investimentos, por

meio das relações entre aparelhos privados de hegemonia, dentre eles tanques de pensamento

e suas iniciativas, como o IFHC e a Plataforma Democrática. A democracia para o capital,

passivada e contrarrevolucionária, torna-se o produto de exportação elaborado, formado pela

experiência de décadas de lutas de classes. Sua distribuição pela Plataforma Democrática

demonstra manobra tática de setores do empresariado brasileiro que tentavam assegurar a

realização de seus capitais pela construção de um ambiente adequado ao seu florescimento.

Mas a análise da Plataforma Democrática é, também, uma reflexão sobre a dinâmica

partidária e suas relações de classe no Brasil. Isso porque não se pode esquecer o quão

próximo o PSDB está do IFHC, e, por extensão, da iniciativa. Perceber, portanto, o

engajamento dos tucanos na expansão do imperialismo brasileiro levanta algumas questões.

A iniciativa representaria a busca pelo realinhamento da burguesia transnacionalizada? A

operação político-partidária atende a uma lógica própria, típica do campo em que está

inserida. Por conseguinte, na dinâmica daquela disputa, entendo que certas legendas buscam

liderar uma determinada classe ou fração de classe social, identificando nesta aliança como

224
meio de ascensão ao poder. Por isso, suas diretrizes sofrem modificações, representando a

relação entre os objetivos partidários e os interesses das classes e seus conflitos na sociedade.

A história da Plataforma Democrática, portanto, deve ser considerada à luz do relativo

sucesso conquistado pelo petismo em abrir mercados para empresas brasileiras. O papel

desempenhado pessoalmente por Lula não deve ser desmerecido. Mesmo livros-reportagens,

como os de Raul Zibechi e Renato Zanini, aquele muito melhor do que este, capturam a

importante participação do ex-presidente na promoção do capital nacional333. Nesse período

o capitalismo brasileiro avançou na América Latina, inclusive por iniciativa materiais, como

a formação dos “campeões nacionais”, via BNDES, exemplifica. Sem acesso a mecanismos

comparáveis de poder, o PSDB aposta desde 2007, com a Plataforma Democrática, em

instrumentos que demonstrem o interesse tucano em continuar a odisseia petista. Trata-se de,

nos limites do que é possível a um partido da oposição, fornecer uma embaixada para o

capitalismo brasileiro no subcontinente, demonstrando o engajamento do partido no caminho

trilhado pelas empresas.

Analisando a Plataforma Democrática à luz desse objetivo, o PSDB se põe à frente

da defesa dos interesses daqueles setores empresariais diante da nova realidade do século

XXI. Assim sendo, para lograr seu intento, os tucanos devem se mostrar adequados para

representar, no âmbito da política partidária, o objetivo desta fração da burguesia brasileira.

O que chamei de primeiro momento da Plataforma Democrática culmina com esta

disputa. Pensada para seguir os passos e mesmo ultrapassar o petismo na corrida pela

333 ZIBECHI, Raul. Brasil potência. Rio de Janeiro: Consequência, 2012; ZANINI, Fábio. Euforia e fracasso
do Brasil Grande. Política externa e multinacionais brasileiras na Era Lula. São Paulo: Contexto, 2017.
225
liderança da burguesia transnacionalizada brasileira, a iniciativa chega a 2014 cortejando

seus principais líderes, apresentando seu partido, o PSDB, como um candidato a dirigir seus

interesses na importante eleição daquele ano. A derrota de Aécio Neves em si não representa

a derrota do projeto. É o que ocorre a seguir que agrega novos elementos à história.

De fato, os eventos sediados pela iniciativa pós-eleição de 2014 ainda dialogam com

a realidade nacional com o objetivo de dirigi-la. Discutiremos mais detalhadamente no quarto

capítulo como, em 2015, reunião do IFHC decreta que o PSDB deve decisivamente apoiar a

formação de uma “alternativa de poder” no Brasil, alimentando a politização “das ruas”. A

Plataforma Democrática, então, passa a discutir as mobilizações sociais organizadas em

ambiente virtual. Colhe experiências latino-americanas e de outras partes do mundo.

Compara-as com a situação brasileira. Atua como o intelectual coletivo que se informa para

melhor agir na realidade prática. Os anos de 2015 e 2016 da Plataforma Democrática, assim,

são quase monocórdicos. Das eleições de 2014 à confirmação do impeachment de Dilma

Rousseff, há pouca atividade, mas nas restritas intervenções, só se fala de como a mobilização

virtual, um dos carros-chefes das grandes manifestações de rua no Brasil, poderia ser

politicamente virtuosa (ou danosa)334.

Até que chegamos no último dos eventos realizados pela Plataforma

Democrática. Ele marca o que pode ser um novo período de sua história – ou, pelo menos,

que marca o surgimento de novos desafios. Em 29 de novembro de 2018 – pouco mais de

334 São três conferências realizadas no período. Duas no auditório do IFHC (em 29 de abril de 2015 – ver aqui:
http://www.plataformademocratica.org/videoteca/31; e em 18 de maio de 2016 – ver aqui:
http://www.plataformademocratica.org/videoteca/32) e uma em Santiago (realizada em 11 de maio de 2016
– disponível aqui: http://www.plataformademocratica.org/videoteca/33)
226
um mês depois da eleição de Jair Bolsonaro – o IFHC, sob bandeira da Plataforma

Democrática e em parceria com o The German Marshall Fund of the United States (GMF) e

a Amcham-Brasil, realizou seminário para discutir a ascensão da extrema-direita e seus

desdobramentos globais. Intitulado “Democracias turbulentas e seus impactos no sistema

internacional”.

A fala de Bill Mcllhenny, “wide atlantic fellow” do GMF, é capaz de sintetizar os

debates por apresentar os temas de discussão. Mcllhenny advertiu contra os perigos do

“tribalismo”, representados pelo possível rompimento de laços de cooperação internacional.

Para ele, a ascensão de líderes “populistas” como Donald Trump, Boris Johnson e Jair

Bolsonaro, tenderia a colocar em xeque instâncias organizativas cuja história prova sua

importância para a manutenção de uma ordem internacional do interesse dos que presidem e

sustentam estas associações 335 . Destacou o uso das mídias sociais e o surgimento da

inteligência artificial como possíveis pontos de confronto social, contra os quais os

intelectuais e operadores de políticas públicas deveriam se guarnecer. Diante do panorama

de refluxo do que chama de padrões “liberais” de sociabilidade, urgiria “reconstruir a

democracia e nossos países”, sendo para tanto importante sustentar as relações de base da

“ordem mundial”. Para ele, os Estados Unidos já demonstravam então um caminho para a

reconstrução desses esforços, identificado pelo aparecimento de atores sociais dedicados à

superação do “hiperpartidarismo” e das “divisão sociais” que caracterizaram o país nos

últimos anos. O reforço dos laços entre associações “atlânticas” é, assim, projetado como

caminho para superar os obstáculos postos pela “mudança das placas tectônicas” da política

335 https://fundacaofhc.org.br/debates/democracias-turbulentas-e-seus-impactos-no-sistema-internacional a
partir dos 7m
227
global, e suas atividades deveriam ser pautadas pela superação da “polarização” social.

Mcllhenny lembra da coalizão de esforços nos Estados Unidos para barrar a ameaça de

Trump aos acordos de livre comércio, e mostra que este é o caminho para aqueles que

pretendem resistir às tais democracias turbulentas.

O IFHC parece ter aprendido com os conselhos de sua congênere estatunidense. Ato

contínuo, já em 2019 lançaria o “Programa fura-bolhas”, pensado precisamente para lutar

contra a tal “polarização social”, conforme acima comentado. O mesmo já é difundido pela

Plataforma Democrática e suas mídias, tornando-se na prática a única atividade atualmente

mantida pela iniciativa. Em outras palavras, a iniciativa, que já defendeu ativamente a

liderança brasileira na América Latina, hoje tem atuação bastante tímida, envolta nos

problemas internos do país.

Nestes 12 anos de história, a Plataforma Democrática tem se apresentado como

campeã da democracia. O sentido social de sua atuação, contudo, é melhor entendido pela

coalizão de esforços das frações burguesas que sustentam suas atividades e das manobras

estratégicas do PSDB, partido com a qual tem grande proximidade. De projeto de embaixada

informal do capitalismo brasileiro na América Latina, a Plataforma passou a figurar na luta

contra a ascensão da extrema-direita – por sua vez estimulada pelo próprio IFHC, como

veremos. Sua trajetória, assim, dialoga intimamente com o que se discutirá daqui para frente.

Se a busca por coesão social foi antes a senha da atuação do IFHC e de seus parceiros e

afiliados, no ambiente de profunda crise instaurado desde 2015, inclusive com ajuda da

entidade, o objetivo agora parece salvar o que for possível do associativismo construído no

228
último período histórico. Em meio às turbulências, assim como o IFHC, a Plataforma

Democrática ainda busca seu caminho.

229
3. Coesão Social e acomodação capitalista na Europa e América
Latina

Neste capítulo, analisaremos uma das balizas de ação do Instituto Fernando Henrique

Cardoso e da Plataforma Democrática. Trata-se da promoção da “coesão social” no Brasil e

na América Latina. Assim, debruçaremo-nos sobre o sentido histórico de tal esforço, a fim

de desvelar suas conexões com o financiamento e o caráter de classe da entidade e da

iniciativa. A reflexão nos levou a considerar a luta pela estabilidade social em seus vínculos

mais íntimos com a acumulação capitalista. Veremos, ainda, como, tornando-se espécie de

tecnologia política de base, a noção de coesão social enfeixou diretrizes de políticas públicas

intercambiadas entre classes e frações das classes dominantes em nível global.

O capítulo se estrutura sobre três eixos narrativos. Inicialmente refletimos sobre os

usos do conceito de coesão social na obra daquele apontado como o primeiro a utilizá-lo

sistematicamente: Émile Durkheim. A intenção, nesta seção, é resgatar a relação entre coesão

social e a divisão social do trabalho – notadamente a cisão entre os assim chamados trabalhos

intelectual e manual. Veremos como, na letra durkheimiana, a argumentação envereda pela

defesa da estruturação de uma relação de poder assentada na apropriação-expropriação do

saber, cuja expressão é a formação de polos de comando e de obediência. Em um segundo

momento, observaremos os usos em termos de políticas públicas do conceito de coesão social.

Esgrimido na arena de debates públicos inicialmente na Europa, a ideia se reformula ao longo

do século XX, enriquecendo-se de determinações oriundas da entificação do modo de

produção capitalista em formações históricas determinadas. Acompanhamos, portanto, como,

de princípios mais abstratos, a defesa das socieadades coesas passa a incluir políticas

230
econômicas mais concretas, circunscritas à formas de acumulação capitalista que despontam

como principais a partir da década de 1970.

Percebendo, assim, a íntima relação entre os usos de um conceito do quadro

sociológico com os interesses burgueses, vemos mais concretamente como as classes

dominantes utilizam-no a fim de assegurar solo social adequado à reprodução capitalista. Por

isso, seguimos a narrativa do desenvolvimento do capital espanhol que se transnacionaliza

rumo à América Latina a partir de 1980. Amparado pela ação empresarial e diplomática do

Estado espanhol, tais capitais financiam iniciativas latino-americanas que se associam aos

braços daquele aparelho estatal, com o objetivo de promover a coesão social pela América

Latina. Os rastros do caminho nos levam ao Instituto Fernando Henrique Cardoso e à

Plataforma Democrática, que tem a defesa da coesão social na democracia como sendo um

dos bastiões preferenciais de sua atuação, o que engendra a adequação da ideia de coesão às

realidades latino-americanas e, especialmente na produção das entidades citadas, brasileira.

Dessa forma, vemos como o debate sobre as identidades, o racismo e a questão indígena

estrutura o pensamento de prognósticos para uma sociedade coesa, desvelando novas

especificidades do conceito durkheimiano, adequadas às necessidades da sociabilidade

burguesa no capitalismo dependente latino-americano da quadra histórica que se abre nos

anos 2000.

Completa-se, assim, o circuito que pretende iluminar as razões da eleição deste

princípio como basilar das ações de nosso objeto de estudo. A relação em tela permite, ainda,

reflexões sobre a associação entre interesses das burguesias europeias com suas congêneres

latino-americanos – processo que se conhece bem pelo menos desde os anos 1960, mas que

231
aqui ganha uma luminosidade particular na medida em que uma iniciativa concreta é

analisada

3.1 Entre o socialismo e a barbárie: a matriz durkheimiana de


estabilização política em Da divisão social do trabalho

O final do século XIX foi terreno de embates acirrados sobre a natureza da sociedade

moderna. Enquanto as ciências sociais ainda firmavam seus pilares, a consistência do que,

em outro contexto, viria a ser conhecido como ser social era posta indiretamente em debate.

Prestigiado desde meados do século XIX, Herbert Spencer foi considerado uma das

principais vozes do período. Partia dele a associação entre o social e o natural no que diz

respeito ao ritmo da evolução da espécie, em uma leitura confusa do que seria a tese

darwinista. As virtudes do esforço individual, do trabalho e da competência, desse ponto de

vista, desdobrar-se-iam em uma vida de sucesso, expressa no conforto de quem foi capaz,

por mérito e pela iniciativa, de acumular riquezas. O individualismo e a competição que a

ordem econômica incentivava, assim, seriam os acicates do celebrado desenvolvimento

verificado desde o fim do século XVIII. A miséria, por outro lado, seria manifestação da

lassidão moral dos que trocavam voluntariamente o trabalho pela taverna, “parasitando” o

esforço alheio 336.

A importância de Spencer pode ser medida pelo número de seus seguidores e pela

virulência com que, assim como seu mestre, atacavam qualquer esforço de institucionalizar

336
SPENCER, Herbert. El individuo contra el Estado. Valência: Sempere, 1884, p. 44.
232
redes públicas de amparo social337. Com que repudiavam como “sentimentalismo” qualquer

ação mesmo daqueles que, preocupados com o potencial corrosivo das desigualdades,

defendiam alguma espécie de proteção, geralmente sustentada pelo Estado, aos que

dependiam do trabalho. De fato, para spenceristas como William Grahan Sumner, distinções

entre ricos e pobres, em uma sociedade de homens livres, seriam tão somente determinadas

pelo sucesso daqueles que aproveitam oportunidades; carecendo de base ética, portanto,

qualquer tipo de “favorecimento”, mesmo aos “derrotados” 338.

Em radical oposição a esta corrente estavam os comunistas. Para estes, o sangrento

século XIX havia revelado a outra face do desenvolvimento capitalista. Guerras, repressão,

exploração do trabalho tocadas pelas novas classes dominantes colocavam a questão da

emancipação humana, formulada como conceito-chave desta tradição por Marx e Engels339.

Com efeito, a ideia foi tomada como bandeira por aqueles que identificaram a etapa

progressista da burguesia se encerrar durante as conflagrações mundiais de 1848 340 . Na

metade final do século XIX, por conseguinte, o marxismo já era expressão teórica das lutas

da classe trabalhadora, então reconhecida como classe cuja tarefa histórica era revolucionar

a sociedade burguesa, suprimindo no processo as desigualdades sociais que impediam o

337
No citado O indivíduo contra o Estado, Spencer chega a identificar na proteção social o início de um
caminho para a escravidão – em argumento e terminologia muito similares aos que seriam repostos décadas
depois por Friedrich Hayek. Ver: SPENCER, Herbert. El individuo contra el Estado. Valência: Sempere,
1884; HAYEK, Friedrich. O caminho da servidão. São Paulo: Instituto Mises Brasil, 2010.
338
Essa discussão e uma importante síntese do debate acerca da desigualdade entre o fím do século XIX e
meados do século XX podem ser conferidas na interessante tese de doutorado de Pedro Ferreira de Souza.
Ver: FERREIRA DE SOUZA, Pedro. Uma história da desigualdade. A concentração de renda entre os
ricos no Brasil (1926-2013). São Paulo: Hucitec, 2017.
339
O primeiro trabalho neste sentido é de Karl Marx, ainda em sua “juventude”. Ver: MARX, Karl. A questão
judaica. São Paulo: Boitempo, 2009.
340
Para uma síntese básica, ver: HOBSBAWM, Eric. A era do capital. São Paulo: Paz e Terra, 2004.
233
florescimento das verdades diferenças – expressas pelas múltiplas formas diferentes de

exteriorização humana verificadas em uma sociedade de pessoas livres 341.

É neste ambiente intelectual e político que devemos inserir o trabalho de Emile

Durkheim. Tendo como horizonte de trabalho aquela amplitude política, o sociólogo francês

enxerga valores no socialismo, especialmente no “pré-científico”, que ele estudou mais e

entendeu como “um grito de dor e cólera lançado por homens que mais vivamente sentem

nosso mal-estar coletivo” 342 . Sua primeira grande obra de teoria social indica, contudo,

oferece soluções distintas para os problemas que ele reconhecia existir. Portanto, Da divisão

social do trabalho, lançada em 1893, acaba por expressar um outro campo de enfrentamento

aos problemas sociais. Nem a barbárie spenceriana, nem socialismo. Seria necessário dotar

um grupo dirigente de poder de intervir na realidade a fim de assegurar o que era visto como

seu funcionamento normal.

A legitimação desta função social e de seus executores vem do estudo dos efeitos

daquela divisão social do trabalho em “sociedades complexas”. Priorizando o seu estudo, o

problema de pesquisa básico de Da divisão social do trabalho é compreender a relação entre

indivíduo e sociedade naquelas condições de complexidade. Busca-se ali respostas para

importante enigma da sociedade moderna, a saber, como se explica o vínculo que mantém

pessoas unidas em colaboração. É a procura dos fundamentos dessa civilização, portanto, que

coloca Durkheim na defesa daquele setor social especializado, cuja responsabilidade é, em

última instância, mantê-los.

341
Trata-se do horizonte de futuro aberto com a organização do movimento comunista, cuja expressão da sua
vanguarda no período pode ser identificada na produção da obra de Marx.
342

234
O argumento do francês passa, claro, pelo esclarecimendo do que para ele é uma função

social. É assim que Émile Durkheim explica o uso da categoria343:

a palavra função é empregada de duas maneiras bastante diferentes. Ora designa


um sistema de movimentos vitais, fazendo-se abstração de suas consequências, ora
exprime a relação de correspondência que existe entre esses movimentos e algumas
necessidades do organismo. Assim, fala-se da funçao da digestão, de respiração,
etc; mas também se diz que a digestão tem por função presidir à incorporação no
organismo das substâncias líquidas ou sólidas destinadas a reparar suas perdas; que
a respiração tem por função introduzir nos tecidos do animal os gases necssários à
manutenção da vida, etc. É nessa segunda acepção que entendemos a palavra344

Mantendo a metáfora orgânica, cara à matriz durkheimiana, mas avançando para como

ele enxerga a função especial da divisão social do trabalho, diria que se trata do abastecimento

de órgãos vitais do corpo social. Assim, a função da divisão social do trabalho é, por um lado,

assegurar a diversidade dos trabalhos necessários à manutenção da solidariedade; por outro,

garantir que as diferentes partes se organizem do modo como ela determina. As divisões do

trabalho social, portanto, formam em seu conjunto a anatomia do corpo social assim

entendido.

Em outras palavras, Durkheim tenta desvendar o papel que essa função desempenha

no metabolismo do organismo social - e aqui a analogia aos seres vivos tem como

pressuposto a especialização das partes que, funcionando articuladamente, mantém a

normalidade e a coesão dos corpos, sejam animais, sejam sociais. O pressuposto é a

343
Ramesh Mishra é um dos que qualifica o funcionalismo como uma teoria que desta as funções sociais. Isso
não o impede, porém, de reconhecer a heterogeneidade interna deste campo, com o termo designando
diversos tipos de abordagem em áreas distintas. Há, portanto, funcionalismo na psicologia, na comunicação,
na sociologia. Mishra opina, contudo, que um mesmo grupo de pilares constitutivos alicerçam essas
abordagens – daí elas merecerem o nome de teoria. São eles: a explicação sistêmica da realidade, a análise
das partes sob o conceito de função e, por fim, a analogia orgânica, o que revela a influência das ciências
naturais sobre esse corpo teórico. Ver: MISHRA, Ramesh. Society and social policy: theories and practice
of Welfare. London: The Macmillan Press, 1981.
344
DURKHEIM, Émile. Da divisão social do Trabalho. São Paulo: WMF, 2013, p. 13.
235
possibilidade de equilíbrio funcional da sociedade – esta condição, aliás, sendo indício de

saúde do corpo social, sem conflitos representativos de disfunções345.

Durkheim, mais de cem anos depois, se opõe assim a Adam Smith e seus seguidores.

Com efeito, para estes a função da divisão social do trabalho seria acelerar a produção de

riquezas346. Sobre este juízo, Durkheim defendeu se tratar de uma avaliação superficial, que

se atém aos seus efeitos sobre o aumento da “força produtiva” e da “habilidade do

trabalhador”347. Para ir mais fundo no problema, haveria de se lembrar Heráclito em sua

defesa da “mais bela harmonia” que “nasce das diferenças”, investigando como um grupo de

dois ou mais indivíduos se articula 348. Segundo ele, quando assim procedemos,

somos levados (...) a considerar a divisão do trabalho sob um novo aspecto. Nesse
caso, de fato, os serviços econômicos que ela pode prestar são pouca coisa em
comparação com o efeito moral que ela produz, e sua verdadeira função é criar
entre duas ou várias pessoas um sentimento de solidariedade. Como quer que esse
resultado seja obtido, é ela que suscita essas sociedades de amigos, e ela as marca
com seu cunho349

A aposta aqui, contudo, não está na comumidade defendida então pelos comunistas.

A divisão social do trabalho aqui defendida prevê hierarquia entre funções. É, no mais,

principalmente com respeito ao poder de uns comandarem outros que se pode assegurar a

coesão social, com cada parte exercendo mais eficientemente o que dela se espera. O tema

usado para ilustrar isso é a divisão do “trabalho sexual”, apresentado com a carga de

preconceito de um machista de fins do século XIX.

345
É sugestivo como, neste sentido, a historiografia influenciada por estas colocações enxerga as revoluções
como estágios febris que revelam disfunções capazes de matar o corpo social se não enfrentadas a tempo.
Ver: BRINTON, Crane. The anatomy of revolution. Nova Iorque: Vintage, 1965.
346
Pelo menos os cinco primeiros capítulos de A riqueza das nações versam sobre a relação entre divisão
social do trabalho e a produção e distribuição de riquezas – o que é eloquente sobre o sentido atribuído
àquela divisão no plano da obra. Ver: SMITH, Adam. A riqueza das nações. Investigação sobre sua
natureza e suas causas. São Paulo: Abril, 1996, p. 65-100.
347
DURKHEIM, Émile. Op cit, p. 14
348
DURKHEIM, Émile. Op cit, p. 20
349
DURKHEIM, Émile. Op cit, p. 21
236
(…) o trabalho sexual tornou-se cada vez mais dividido. Limitado a princípio
apenas às funções sexuais, estrendeu-se pouco a pouco a vários outros. Faz tempo
que a mulher retirou-se da guerra e dos negócios públicos e que sua vida
concentrou-se inteira no interior da família. Desde então, seu papel especializou-
se cada vez mais. Hoje, entre os povos cultos, a mulher leva uma existência
totalmente diferente da do homem. Dir-se-ia que as duas grandes funçõas da vida
psíquica como que se dissociaram, que um dos sexos monopolizou as funções
afetivas e o outro as funções intelectuais 350.

Poder-se-ia dizer que a citação não deixa evidente a relação de poder entre as partes.

Neste caso, o argumento indicaria que a distinção de funções, via especialização, não

significa, por si mesma, relações de poder entre elas. Esta posição, contudo, seria debelada

pela mera sequência da leitura.

(…) essas diferenças funcionais são tomadas materialmente sensíveis pelas


diferenças morfológicas que determinaram. Não só a estatura, o peso, as formas
gerais são muito dessemelhantes entre o homem e a mulher, mas o Dr. Lebon
demonstrou, como vimos, que, com o progresso da civilização, o cérebro dos dois
sexos se diferencia cada vez mais. Segundo esse observador, esse hiato progressivo
dever-se-ia, ao mesmo tempo, ao considerável desenvolvimento dos crânios
masculinos e a um estacionamento ou mesmo uma regressão dos crânios
femininos351.

A passagem, além de grotesca aos nossos olhos, é prova contundente de que seu autor

defendia a direção social por uma elite cujos “crânios”, dadas as determinações sociais,

seriam “mais desenvolvidos”. A relação entre biologia e sociedade por ele tecida ajuda a

esclarecer a natureza desta elite. Trata-se de fazer a apologia de um conjunto de agentes do

trabalho social que, naquela divisão, exerce funções organizadoras, dirigindo a articulação

entre as partes e o todo, em uma escala amplíssima que vai da vida individual à social. É

luminosa, neste sentido, a analogia entre o homem, na vida privada; e o Estado, na pública352.

Ambas partes de um organismo social que, compreendendo as todas aquelas dimensões, tem

estruturas hierárquicas homólogas.

350
DURKHEIM, Émile. Op cit, p. 26
351
DURKHEIM, Émile. Op cit, p. 26
352
De sorte que poderíamos falar que o Patriarca é o Estado da vida familiar.
237
Durkheim não as via como objeto passível de críticas. Ao contrário, identifica nelas

os pilares daquela sociedade complexa que ele defendia. Espécie de natureza possível, sem

as quais essa forma social sequer existiria.

Em todos esses exemplos, o mais notável efeito da divisão do trabalho não é


aumentar o rendimento das funções divididas, mas torná-las solidárias. Seu papel,
em todos esses casos, não é simplesmente embelezar ou melhorar sociedades
existentes, mas tornar possíveis sociedades que, sem elas, não existiriam353.

Por essa compreensão, ainda tomando a divisão do “trabalho sexual” como ilustração

do todo, Durkheim chega a sustentar que a “regressão da diferenciação do trabalho sexual

além de certo ponto” poria em risco a sociedade conjugal, “deixando subsistir apenas relações

sexuais eminentemente efêmereas”. Elevando a contundência da tese, afirma que “se os sexos

não fossem em nada separados, toda uma forma de vida social sequer teria nascido”354.

Dukheim chama de solidariedade orgãnica a esse laço societal. Diferentemente da

solidariedade mecâmica – que se mantém por similitude das partes -, a solidariedade orgânica

vem da interdependência entre os componentes do organismo social. A peculiaridade deste

tipo de vínculo social, portanto, é a complementaridade entre partes diferentes. Por um lado,

isso permite sua combinação virtuosa, supostamente potencializando sua eficiência em nome

do melhor desenvolvimento do todo. Por outro, há a constante ameaça de que essa

diferenciação se desdobre em desagregação, ou, em seus termos, em anomia. É a invervenção

daqueles setores dirigentes que organiza as partes de cima a baixo do edifício social, fazendo-

as funcionarem à luz do todo355.

353
DURKHEIM, Émile. Op cit, p. 27
354
DURKHEIM, Émile. Op cit, p. 27
355
Daí decorreria, para muito dos seguidores de Durkheim, nomeadamente os funcionalistas, a justificativa
para a intervenção Estatal – a função desse órgão seria assegurar a reprodução do corpo social pelo
combate às tendências disfuncionais. Ver: MISHRA, Ramesh. Society and social policy: theories and
practice of Welfare. London: The Macmillan Press, 1981
238
Aqui reside uma proposta importante que distingue Durkheim dentre aquelas duas

correntes predominantes em seu tempo. Trata-se da concepção de um papel organizador que

tanto conserva a corrente divisão social do trabalho quanto postula um papel dirigente para

um dos termos da relação, a saber, aquele ocupado pelo trabalho dito intelectual. Sobre isso

Durkheim é bem claro.

O nosso método não tem, portanto, nada de revolucionário. É até, num certo
sentido, essencialmente conservador, uma vez que considera os fatos sociais como
coisas cuja natureza, por mais elástica e maleável que seja, não é, no entanto,
modificável à nossa vontade356

Essa postura política corresponderia à concepção científica do que é a realidade social:

coisa externa. Os fatos sociais assim concebidos são necessariamente alheios às

“consciências individuais”, sendo imutáveis pela ação de indivíduos que os encontram como

naturalmente dados. É a organização social, com suas hierarquias estruturais e estruturantes,

que age sobre a sociedade. A analogia aqui é com o cérebro, cuja função é comandar as partes

constitutivas do corpo social. Compreendido desta forma, esse polo de controle, lastreado na

divisão técnica do trabalho social, teria como finalidade a manutenção e o aperfeiçoamento

das partes. Deveria fazer com que elas funcionassem de modo adequado, funcionando da

melhor forma possível de acordo com o que determina aquele edifício social. O estágio de

equilíbrio, ponto ótimo das relações sociais, em que cada parte é mais verdadeiramente o que

dela se espera, passaria a ser conhecido como estágio da coesão social.

Aqui chegamos à questão que intitula este capítulo. Entendo que Durkheim não versa

sobre outra sociedade que não aquela nascida sob a égide do capital, ainda que para ele esta

forma social apareça de outro modo. Sua “sociedade de economia complexa” aqui é

356
DURKHEIM, Emile. As regras do método sociológico. São Paulo: Abril, 1978, p. 74
239
considerada como sendo o capitalismo, para mim evidente ao serem conservadas, no seu

arranjo teórico, as relações de poder derivadas da diferente inserção no processo produtivo.

Se analisada à luz das disputas de seu tempo, a ação social conservadora representada

pela publicação de Da divisão social do trabalho defende a manutenção da forma social que

analisa, para tanto postulando um sujeito conservador; organizador por excelência das

funções de cada parte desta sociedade. Camada social fiadora daquela divisão social do

trabalho porque surgida dela. Grupo de “intelectuais” que assegura a ordem e seu bom

funcionamento. Em uma escala do maior poder ao menor, claro que no topo está o Estado,

cuja ação coesiva foi valorizada pelos funcionalistas; mas Durkheim não parece ignorar a

importância dos poderes menores, dada a observação da desigualdade prevalecente mesmo

em uma relação tão privada quanto a família.

Aqui entendo, portanto, que Durkheim formula bases para o estudo das relações de

poder na sociedade derivadas da desigual distribuição do trabalho social. Não por ser contra

elas, mas por querer defende-las. Mantendo a recorrente metáfora do corpo humano, a divisão

social do trabalho teria permitido o surgimento de um grupo de funções diretivas dentro de

cada órgão, além daquele órgão cuja própria essência é a direção. E é essa divisão, logo essa

configuração de poder, que permite que a sociedade se reproduza. Não estamos aqui perante

uma mera defesa da ordem em geral, mas mais especificamente diante da apologia das

funções diretivas encarnadas por pessoas que, posta a posição em que são inseridas na divisão

social do trabalho, têm literalmente “crânios mais desenvolvidos”357.

Claro que a sociedade assim organizada tende a produzir desigualdade. Ocorre que

isso não é um problema nem do ponto vista político-social, porque há pessoas naturalmente

357
DURKHEIM, Émile. Op cit, p. 26
240
formadas para a direção, nem do econômico. Michael Lowy capturou bem a posição de

Durkheim sobre a matéria.

da mesma maneira que em um corpo vivo certos órgãos recebem mais


sangue, mais nutrição – por exemplo, o sistema encefálico é mais irrigado
porque as suas funções são mais importantes -, certas camadas que recebem
o papel de cérebros da sociedade são privilegiadas, portanto, isso é um
fenômeno natural, necessário. A desigualdade social se explica
naturalmente358.

Lowy concluiu daí que Da divisão social do trabalho era uma obra “marcada pela

visão do mundo social-darwinista da burguesia na época do capitalismo concorrêncial”359.

Embora acredite que isso esteja correto, como acima apresentamos, quero aqui destacar outro

elemento, que apesar de imbricado e pressuposto nos argumentos anteriores, neles não é

explicitado. Trata-se da identificação de um grupo de posições responsáveis pela direção do

corpo social –aquelas cujo papel social supostamente aprimoraria a inteligência dos que o

exercem. Expressão, no plano ideal, da defesa de sua própria posição como intelectual e

cientista social, cujas faculdades o habilitariam para funções de mando. Claro que estas

funções tendem a se concentrar no Estado, aquele órgão diretivo por excelência, mas, como

vimos, não estão apenas ali. Elas podem ser identificadas em muitas formas cujo conteúdo é

o trabalho intelectual em geral.

Quando colocamos aquela sociedade complexa na história, essas funções revelam seu

caráter conservador. As correntes funcionalistas reconhecem a necessidade de

transformações e adaptações, mas não revoluções 360. Assim, toda evolução deve ser mediada

pela conservação da estrutura básica que fundamenta a solidariedade orgânica, isto é, a

divisão social do trabalho. O “método conservador”, portanto, deve se equilibrar nesta fina

358
LOWY, Michael. Ideologia e ciências sociais. São Paulo: Cortez, 1985, p. 53.
359
LOWY, Michael. Marxismo contra positivismo. São Paulo: Cortez, 2018, p. 19.
360
PEREIRA, Camila. Proteção social no capitalismo. São Paulo: Cortez, 2016.
241
lâmina: reafirmar as bases constitutivas da sociedade ao passo que atualiza constantemente

as formas de sua manifestação. Em poucas palavras: trata-se de defender o essencial de forma

suficientemente maleável para que se adeque às novidades do devir.

Creio estar em Durkheim, portanto, tensionada entre prognóstico e projeto social, a

tese do papel fundamental de um setor de elite na atualização-conservação da sociedade.

Talvez por este motivo seja o sociólogo funcionalista tão mencionado por aqueles que

debateram sobre a coesão social; de fato, um conceito nascido de suas interpretações da

sociedade. Pessoas cujo trabalho é dirigir, organizar e aperfeiçoar a produção e extração de

mais-valor, e que viram nas teses durkheimianas uma forma de legitimar sua posição social

e sua ação política.

Como projeto político, por outro lado, a luta pela coesão social, já em Durkheim,

expressa uma postura que não é equidistante em relação ao socialismo e à barbárie

spenceriana. Se o dianóstico do sociólogo francês o faz um crítico do spencerismo, ele

também expressa a emergência de uma camada social que faz o capitalismo funcionar

normalmente, naquele sentido durkheimiano. Trata-se de amplo grupo que incorpora a

função de organização da sociedade para o capital; tarefa que o capitalismo livra da burguesia,

alojando-a no polo do trabalho intelectual361 . Seu horizonte na estabilidade social – esse

estágio indicativo de que cada função social está sendo exercida conforme o esperado - a

coloca em oposição à guerra aberta aos trabalhadores preconizada pelo spencerismo, pelo

menos em tese.

Não chega a surpreender, portanto, que Da divisão social do trabalho seja recuperado

por organizações que tentam atualizar as formas de dominação burguesa no calor das lutas

361
Nisso diferindo substancialmente do modo de produção imediatamente anterior na Europa ocidental.
242
de classes. Na próxima seção, mostraremos como a ideia de coesão social foi eixo

estruturante de novas políticas de estabilização, formuladas à luz da ameaça lançada pelo

proletariado europeu no pós-guerra. Os tanques de pensamento tiveram participação

importante neste processo. De sorte que nossa atenção se volta novamente a eles.

3.2. A integração europeia e a importância da coesão social e econômica

A noção de coesão social foi instrumental em âmbito escolástico. Com efeito, na

academia, sobretudo os sociólogos preocupados em pensar e assegurar, por via da ciência, a

reprodução da ordem, viram-se mais ou menos implicados na defesa da integração funcional

das partes, a qual era entendida precisamente como expressão de uma sociedade coesa.

Indício do sucesso desses intelectuais, esse princípio transcende, ao longo do século XX, os

muros acadêmicos, tornando-se lugar-comum de políticas públicas na Europa. Essa história,

porém, é a história de uma marcha longa, que encontra seu apogeu na década de 1990, e que

caminha pari passu com a trajetória de integração econômica europeia. Entendemos que a

análise desse desenvolvimento é fundamental para o que segue: compreender como as

políticas públicas inspiradas livremente na rubrica da coesão social podem servir para a

manutenção do capitalismo. Será, portanto, necessário não apenas acompanhar a história da

integração europeia, enfatizando as determinações políticas presentes à época da edição dos

documentos oficiais. Busca-se, dessa forma, identificar os efeitos das necessidades do

sistema, compreendido de modo amplo, tanto política quanto economicamente, sobre os

ritmos e os padrões de integração. Para tanto, tomaremos os tratados comunitários produzidos

e divulgados pela União Europeia sempre como marco de referência. Não por acreditar que

243
eles sejam espécie de fiel depositários dos acontecimentos transcorridos no século XX, mas

por identificar neste corpus documental pistas importantes para se verificar em que medida

a ideia de coesão social, já nos anos 1990, é reivindicada pelas autoridades e

instrumentalizada para legitimar determinadas políticas públicas.

Os tratados de integração europeia contam a história das políticas públicas para gestão

do capitalismo europeu. Com isso não queremos dizer que a instância econômica é a

determinante das ações humanas, mas que não se pode analisar a ação de uma instituição da

importância dos Estados sem relação com o metabolismo socionatural que estrutura as vidas

nas sociedades que erigem quais instituições. A seleção da documentação ganhará sentido na

parte final da seção, quando versaremos sobre a institucionalização da preocupação com a

coesão social no continente. Ela é, portanto, o principal elo de ligação com as demais partes

do capítulo, que buscam refletir mais propriamente sobre a elaboração das políticas públicas,

bem como sobre os interesses classistas que presidem essa formulação.

Isso posto, nossa História tem início em 9 de maio de 1950, data da Declaração

Schuman. Editado à luz do terror da Segunda Guerra Mundial – que, na prática, reduziu a

maior parte do continente a escombros -, o texto propunha a criação da Comunidade Europeia

do Carvão e do Aço (CECA), com vistas a criar um mercado comum desses produtos entre

os países signatários (França, República Federal da Alemanha, Itália, Países Baixos, Bélgica

e Luxemburgo). O sítio da União Europeia dedicado a contar a história do tratado relembra

um dado essencial.

Em 1950, cinco anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, as nações


europeias continuavam a braços com a devastação causada pelo conflito. Os
governos europeus, determinados a evitar que se repetisse uma guerra tão terrível,
chegaram à conclusão de que a colocação em comum da produção de carvão e de
aço iria tornar a guerra entre a França e Alemanha, países historicamente rivais,
“não só impensável mas materialmente impossível” (Declaração Schuman).
244
Pensou-se, e com razão, que a fusão dos interesses econômicos contribuiria para
melhorar o nível de vida e constituiria o primeiro passo para uma Europa mais
unida. A adesão à CECA foi, assim, aberta a outros países362 (grifos meus).

A preocupação dos autores da declaração se anuncia clara já no princípio do texto. A

integração europeia, inclusive pelo intercâmbio institucionalizado de recursos estratégicos,

era vista como meio para se assegurar a paz em um contexto de profundo trauma pelas chagas

da Grande Guerra. A partir daí, desdobram-se argumentos com verniz histórico sobre a busca

constante do governo francês – Schuman era, afinal, um ministro francês – de buscar a

construção da Europa pela via pacífica. Vamos assim até o ponto alto do texto, destacado no

site da UE.

(…) A solidariedade de produção assim alcançada revelará que qualquer guerra


entre a França e a Alemanha se tornará não apenas impensável como também
materialmente impossível. O estabelecimento desta poderosa unidade de produção
aberta a todos os países que nela queiram participar, que permitirá o fornecimento
a todos os países que a compõem dos elementos fundamentais da produção
industrial em idênticas condições, lançará os fundamentos reais da sua unificação
econômica363.

Na lógica da argumentação, a integração econômica tinha um objetivo pacífico – à

primeira vista compreensível em um contexto de pós-guerra, especialmente se levarmos em

conta os efeitos dos conflitos que se estenderam de 1939 a 1945. Deve-se, entretanto, lembrar

das relações internacionais do período. Na lógica da Guerra Fria, interessava às burguesias

europeias algum grau de crescimento econômico coletivo, especialmente nesse primeiro

momento de reconstrução do continente. Era essa a forma de se evitar revoluções socialistas,

ou o avanço da esfera de influência soviética para além da Alemanha Oriental. A troca de

produtos-chave para a reconstrução e o desenvolvimento dos parques industriais da Europa

362https://europa.eu/european-union/about-eu/symbols/europe-day/schuman-declaration_pt (acessado
27/11/2018 às 11h22).
363https://europa.eu/european-union/about-eu/symbols/europe-day/schuman-declaration_pt (acessado
27/11/2018 às 11h27).
245
Ocidental, portanto, pode ser interpretada também como formas de reprodução do

capitalismo no continente. (AZEVEDO, 2014)364

O próximo documento da série de tratados que constituem o patrimônio histórico

oficial da formação da União Europeia é o Tratado de Roma. Editado em 25 de março de

1957, seus objetivos centrais declarados eram instituir a Comunidade Econômica Europeia

(CEE) e a Comunidade Europeia de Energia Atômica (CEEA). Reconhecido como marco

inicial da União Europeia, os textos (são, na prática, dois, um para cada objetivo assinalado

acima), já trazem novidade no que diz respeito à cooperação econômica. O viés

declaradamente antibelicista recua frente as crenças liberistas e os fins desenvolvimentistas.

No documento, são instituídas a União Aduaneira, tornando a CEE uma área de “mercado

comum”; e a Política Agrícola Comum (PAC), que determinou a livre circulação dos produtos

agrícolas dentro da CEE, assim como a adoção de políticas protecionistas, que permitiram

aos agricultores europeus evitar a concorrência de produtos procedentes de outros países não

pertencente à CEE, e de insumos agrícolas, que buscavam aprimorar a produtividade do setor

primário. Diante do objetivo deste texto, o que mais chama atenção no Tratado de Roma é a

restrição da livre circulação às mercadorias; pessoas e capitais teriam de esperar o Ato Único

Europeu (AUE), de 1986, e, finalmente, o Tratado de Maastricht, que abriu este artigo, para

poderem circular “livremente” pela comunidade.

Novamente, os acordos devem ser entendidos como normas gerais que regulamentam

o capitalismo na parte ocidental do continente. Proíbem monopólios, concedem incentivos

comerciais às “regiões periféricas” da Europa e versam sobre a integração das comunicações

364AZEVEDO, Mário Luiz Neves de. A Integração Regional, a Estratégia Europeia de Desenvolvimento e
algumas comparações com o Mercosul. Revista latinoamericana de educación comparada. Buenos Aires:
SAECE, pp 29-40 / relec / Año 5 Nº5 / 2014
246
e dos transportes – vista como necessária para a formação efetiva de um mercado comum.

Se a lógica mais propriamente econômica subjacente às medidas ajuda na sua compreensão,

a mesma não pode desconsiderar as disputas que marcam a Guerra Fria, bem como as

ameaças reais vividas pelos sujeitos históricos da época, quando a revolução não era uma

panaceia distante, mas parecia espreitar nas esquinas da História.

É levando em consideração esse contexto que se deve compreender não apenas o

chamado modo de regulação keynesiano, que ajudou a estruturar Estados de Bem-Estar

Social de cariz francamente contrarrevolucionário. Também a acelerado desenvolvimento

econômico registrado no período só pode ser explicado, primeiro, pela destruição criadora

da Grande Guerra, segundo, pelas sombras lançadas sobre a Europa a partir do Leste. A

ameaça comunista, vividamente sentida, reforçou a posição do proletariado europeu, que

então arrancava à burguesia local uma série de concessões históricas que permitiram nomear

o período com sua alcunha mais famosa: Anos Dourados. A forma de expressão dessas lutas

sociais nos frios dados da economia foi a curva ascendente no produto interno bruto dos

países industrializados da Europa Ocidental, todos com recordes de crescimento batidos

(HOBSBAWM, 1994, p. 254).

O debate sobre a questão, todavia, é gigantesco. A julgar dados que levam em

consideração os números da Alemanha Ocidental e da França, o capital fixo e a produtividade

do trabalho tiveram importante crescimento entre 1950 e 1973, para logo se retraírem a níveis

similares aos anteriores a partir da década de 1970 (CRAFTS e TONIOLO, 1996). Nesse

sentido, a expansão capitalista daí oriunda encontra apenas uma explicação na política

progressiva de abertura econômica a que os países da Europa Ocidental aderiram (ANDRÉS,

DOMÉNECH, MOLINAS, 1993), haja vista que ela seguiu, inclusive com fôlego renovado,

247
após 1980. A explicação que relaciona os anos dourados com a reconstrução europeia após a

guerra, assim, parece mesmo um ponto incontornável – o que ganha ainda mais força quando

comparamos as taxas de crescimento europeu às margens muito menores dos Estados Unidos,

que tiveram seu território continental preservado (HOBSBAWM, 1994, p. 254). Assim sendo,

a abertura econômica em contexto de reconstrução do mundo – e grandes investimentos

externos, lembremos do Plano Marshall – criou um período de crescimento que implicou

mesmo em compromissos entre empresários e setores do proletariado europeu (BIHR, 1999).

Sobre essa história, portanto, os tratados europeus têm muito a dizer.

O esgotamento do desenvolvimento capitalista assentado no compromisso fordista

criou uma situação nova. Passada a década de 1970, o período áureo ficava inegavelmente

para trás. A reconfiguração do capitalismo – com a hipertrofiação de sua instância dita

financeira – pretendia lançar as bases para uma nova etapa de acumulação, bem como

preparar o terreno para novos padrões de relações internacionais, após o fim da Guerra Fria.

Nesse nova etapa histórica, a construção da União Europeia teria favorecido a

formação de uma comunidade forte o suficiente para rivalizar, do ponto de vista econômico,

com os Estados Unidos (VASAPOLLO, CASADIO, MARTUFI, CARARO, 2004). Na

lógica citada, ter-se-ia, então, forjado o “maior mercado financeiro do mundo”, tendo o euro

como veículo principal de sua integração. Assim,

Depois do Ato Único de dezembro de 1985, no qual foram formuladas as


premissas da livre circulação de pessoas, serviços e capitais no espaço comum, a
oficialização da moeda foi considerada por seus criadores como a premissa
indispensável para a integração europeia e para a criação do maior mercado
financeiro do mundo (p.32).

O processo acima descrito permitiu a ampliação dos investimentos especulativos e,

no mais, favoreceu a concentração dos recursos sociais de produção no interior da Europa –

ao extinguir barreiras cambiais entre países europeus. Paul Krugman demonstra como o
248
continente se caracteriza por um “esquema centro-periferia” interno, que tem como motor a

tendência de se buscar áreas de menor nível salarial – utilizando, para tanto, a livre

movimentação dos capitais instituída a partir de 1985 (KRUGMAN apud, VASAPOLLO,

CASADIO, MARTUFI, CARARO, 2004). Veremos mais abaixo como esse mesmo processo

acaba, em um primeiro momento, forçando sobretudo, mas não somente, empresas menos

competitivos a migrarem para fora do Velho Mundo – especialmente para a América Latina,

no caso sob análise.

Até aqui, pudemos perceber como as determinações do capital podem nos ajudar a

entender as formulações de políticas públicas, notadamente na área da integração regional.

No ambiente social de edição do próximo tratado a ser analisado, o de Maastricht,

buscaremos na mesma fonte, isto é, nas especificidades do capitalismo, razões para se

entender a sua adoção de uma noção discutida na primeira parte deste capítulo: a ideia de

coesão social.

Publicado em 7 de fevereiro de 1992, o Tratado de Maastricht lançou as bases para a

criação da União Europeia, no ano seguinte. Além disso, pela primeira vez um texto de

integração europeia versa sobre “coesão”. O Artigo 2º do texto se refere exatamente ao

princípio, dessa vez acompanhado de outro adjetivo além de “social”: “econômica”.

A Comunidade tem como missão, através da criação de um mercado


comum e de uma União Econômica e Monetária e da aplicação das políticas
ou ações comuns a que se referem os artigos 3.° e 3.°-A, promover, em toda a
Comunidade, o desenvolvimento harmonioso e equilibrado das atividades
econômicas, um crescimento sustentável e não inflacionista que respeite o
ambiente, um alto grau de convergência dos comportamentos das economias,
um elevado nível de emprego e de proteção social, o aumento do nível e da
qualidade de vida, a coesão econômica e social e a solidariedade entre os
Estados-membros. (TRATADO DA UNIÃO EUROPEIA, 1992, p. 11, grifos meus)

Partindo da metodologia aqui proposta, entendemos que se tratava de assegurar o

desenvolvimento harmonioso e equilibrado diante de uma nova realidade potencialmente


249
conflitiva. A redução do ritmo de crescimento bem como a incorporação de novas áreas à

lógica social europeia, após a queda do chamado socialismo real, trouxe novos desafios. A

noção de coesão social é uma resposta a essa nova realidade.

Agora, porém, urge destacar que o bloco europeu, muito longe de homogêneo, abriga

áreas periféricas que são exploradas pelas classes dominantes dos principais países –

nomeadamente a Alemanha. A crise de 2008-2009 e a solução projetada pela chamada Troika,

cujo epicentro foi uma ortodoxa “política de austeridade”, desvelou essa realidade com

nitidez. Nesta toada, os autores lembram que Maastricht tem uma particularidade: a aceitação

da insuperabilidade dos diferentes ritmos das economias europeias, tomadas como entidades

autônomas determinadas por suas condições sociais específicas.

Também está implícito no Tratado de Maastricht a legitimidade de uma Europa


que apresenta diversas velocidades, deixando transparecer que, em uma
comunidade de iguais, há alguns que são ‘mais iguais do que outros’. Com esse
perfil, Maastricht não é a continuação do Tratado de Roma, senão uma evidente
contradição do polo geoeconômico europeu (VASAPOLLO, CASADIO,
MARTUFI, CARARO, 2004, p. 33).

Não causa surpresa, nesta altura, constatar que este tratado versa pela primeira vez

explicitamente sobre o problema da coesão social. O metabolismo do capitalismo europeu

em sua relação centro-periferia intensifica contradições no interior do continente – as quais,

em outras épocas históricas e fases de desenvolvimento do capitalismo, tenderam a ser

deslocadas para outros espaços mundiais. A busca pela harmonia das partes parece ser

imaginada como cuidado preventivo à maturação das incontornáveis contradições.

Isso, porém, não é tudo. A acentuação do elemento econômico no tradicional conceito

de coesão social – elemento que Durkheim explicitamente secundariza como não-essencial

– traz embutido em si determinações ao ser social e ao devir. Ora, a coesão, aqui, não é apenas

o mínimo grau de consenso que vertebra qualquer forma de sociabilidade que conte com

250
divisão social do trabalho; mas demanda a aplicação de políticas econômicas bastante

específicas, identificadas umbilicalmente com formas de reprodução assentadas no capital

monetário. Basta lembrar a necessidade de se observar os princípios orientadores descritos

no artigo 3-A da Carta de Maastricht.

Artigo 3.°-A
1. Para alcançar os fins enunciados no artigo 2.°, a ação dos Estados-
membros e da Comunidade implica, nos termos do disposto e segundo o
calendário previsto no presente Tratado, a adoção de uma política econômica
baseada na estreita coordenação das políticas econômicas dos Estados-
membros, no mercado interno e na definição de objetivos comuns, e conduzida
de acordo com o princípio de uma economia de mercado aberto e de livre
concorrência.
2. Paralelamente, nos termos do disposto e segundo o calendário e os
procedimentos previstos no presente Tratado, essa ação implica a fixação
irrevogável das taxas de câmbio conducente à criação de uma moeda única,
o ECU, e a definição e condução de uma política monetária e de uma política
cambial únicas, cujo objetivo primordial é a manutenção da estabilidade dos
preços e, sem prejuízo desse objectivo, o apoio às políticas econômicas gerais
na Comunidade, de acordo com o princípio de uma economia de mercado
aberto e de livre concorrência.
3. Essa ação dos Estados-membros e da Comunidade implica a observância
dos seguintes princípios orientadores: preços estáveis, finanças públicas e
condições monetárias sólidas e balança de pagamentos sustentável. (Idem, p.
13)

Preços estáveis, finanças públicas e condições monetárias sólidas, balança de

pagamentos sustentável. Eis os elemetos que agora estão presentes no que se entende como

espécie de receituário para a coesão econômica e social. Quando em 1992 se cria

juridicamente a União Europeia, portanto, tem-se o coroamento de uma longa história de

“integração econômica” no continente. O uso do conceito de coesão atrelando-o a o que seja

“a economia” exemplifica a importância da questão. Se em seu uso primevo na esfera

acadêmica a ideia era assegurar a reprodução da ordem por meio da sociologia funcionalista,

o desenvolvimento do capitalismo trouxe novas determinações ao que se pode compreender

por harmonia social. A estabilidade agora demanda a incorporação de políticas econômicas

adequadas à forma de reprodução do capital, em suas mais diversas manifestações, inclusive

251
em seu circuito iniciado em instâncias monetárias. Desvela-se, pois, como a integração

econômica da Europa não pode ser entendida sem as devidas determinações políticas; e se

compreende, então, como a noção de coesão social é recuperada, mas de forma de

diferenciada, adequada, por conseguinte, às novas necessidades do metabolismo socionatural

do capitalismo moderno.

Como forma de manifestação do conceito, porém, a ideia de coesão social é

enriquecida por novas determinações que dizem respeito a políticas econômicas específicas,

adequadas aos desafio dessa “nova fase” do capitalismo. Ainda se trata de uma forma de

naturalização de determinada sociabilidade - a burguesa – ou, ainda, trata-se de sua imposição

como mínimo comum de toda sociabilidade possível; mas não se pode negligenciar o fato de

que, se antes convinha valorizar o mercado como forma de integração de partes diferentes,

agora há mais: orientações específicas sobre como agir na gestão da chamada política

financeira. Parece óbvio que isso limita a soberania, não só a popular, mas a própria ideia de

democracia como expressão da vontade dos eleitores. Trata-se também, no entanto, de uma

forma de lubrificar as engrenagens de uma nova forma de acumulação sustentada pela lógica

do capital monetário. Isso nos interessará particularmente mais abaixo. Agora, no entanto,

convém destacar como agentes das classes dominantes europeias “redescobrem” a América

Latina nas décadas de 1980 e 1990, trazendo consigo um novo inventário de tecnologias

políticas e econômicas – inclusive a ideia de coesão social.

3.3 A redescoberta da América pelos espanhois

É consenso entre os economistas a ocorrência de mudanças no capitalismo espanhol

na década de 1990. Caracterizada historicamente por ser grande receptora de investimentos,

252
a Espanha passaria, então, a exportar capitais, inclusive como política ativa de Estado. As

explicações para o fato tendem a articular um conjunto de fatores internos e externos. Os de

ordem mais propriamente “econômica” são geralmente os que seguem: a) a influência da

União Europeia sobre a dinâmica empresarial espanhola, ressalvando-se a expectativa de

concorrência com grupos de maior força vindos sobretudo da Alemanha (SÁNCHES DÍEZ,

2002); b) as aberturas, desregulamentações e liberalizações econômicas realizadas na

América Latina a partir dos anos 1980, no conjunto de medidas que passou à história como

“ajuste neoliberal”, cuja capacidade de atração serviu para fornecer a capitais forâneos

oportunidades de ganhos facilitados, funcionou como polo de atração aos investimentos

externos diretos vindos da Espanha, sobretudo pela proximidade cultural entre as regiões

(BEJAR, 2002); c) a já aludida atuação promotora do Estado, responsável por medidas tais

quais linhas de créditos específicas para a internacionalização do capital, pela capacitação de

“recursos humanos” com fins naquela atividade, por programas de instrução empresarial

sobre os desafios da internacionalização de empresas, e, finalmente, pela instituição de

agências estatais que funcionaram como espécies de postos avançados do capitalismo

espanhol em terras distantes (RUPPERT e BERTELLA, 2012; RUPPERT e LIMA, 2011); d)

a dinamicidade do setor de serviços no mercado doméstico espanhol e a relativa limitação

populacional, razão, no primeiro caso, da muscularidade de empresas desse nicho de mercado

e, no segundo, do descompasso entre expectativa de crescimento e capacidade de realização

interna (GUILLÉN, 2005); e) a concentração e a centralização de capital no setor de serviços

– principal grupo dentre as empresas transnacionalizadas (SÁNCHES DÍEZ, 2002)365; f) o

365 Relatório da CEPAL revela que as empresas espanholas que puxaram os IED na região concentram suas
atividades básicas no setor de serviços. São elas: Telefónica de España, Banco Santander, Banco Bilbao
Vizcaya Argentaría (BBVA), Repsol – YPF, Endesa España, Iberdrola, Unión Fenosa. (CEPAL, 2001, p.
253
tamanho do mercado potencial da América Latina e sua potencialidade de crescimento, sendo

este importante fator de atração de investimentos externos diretos (IED) (RUESGA e BEJAR,

2008).

O movimento ora estudado se tornou significativo para as economias latino-

americanas a partir dos anos 1990. Dados da Comissão Econômica para a América Latina e

o Caribe (CEPAL) detalham o processo em tela. No balanço lançado em 2001, detalha-se a

penetração desses capitais na região, demonstrando a liderança espanhola no processo que

envolveu mais Estados europeus.

Principalmente las inversiones europeas em América Latina se han originado


em España, Reino Unido, Países Bajos, Francia, Italia, Portugal y Alemania. Entre
1992 y 2000, cerca del 50% de las inversiones comunitarias hacia la región
provinieron de España, convirtiendo a este país em el mayor inversionista
extranjero de América Latina (…) Las privatizaciones latinoamericanas de
principios de los años noventa fueron el canal a través del cual se inició tal proceso.
(CEPAL, 2001, p. 111)

A participação do capitalismo espanhol em quase metade do IED europeu na América

Latina é impressionante. Os dados, por conseguinte, conseguem capturar claramente o

esforço do empresariado espanhol discutido acima.

Como via regra, as transações no mercado internacional são também determinadas

por movimentos internos na economia das nações. No caso em tela, a crise capitalista que

atinge a Espanha pelo menos a partir de 2007 causa importante impacto no volume de

investimentos entre aquele país e a América Latina, como vemos abaixo no relatório da

CEPAL produzido em 2008, o qual apresenta um panorama dos IED entre 2005-2007,

período que compreende a crise espanhola mencionada.

Cerca de 41% dos ativos acumulados de IED na região (o acervo de IED)


são de empresas europeias, e esta presença é particularmente importante na
América do Sul. O IED europeu é dominado principalmente pela Espanha,

112). Dessas, as duas maiores, têm atuação destacada no financiamento do Instituto Fernando Henrique
Cardoso (IFHC) – sobre o qual falaremos mais abaixo.
254
que representou 29% dos investimentos europeus em projetos novos na
região e 29% do valor das fusões e aquisições europeias no período 2005-
2017. Alemanha (16%), Reino Unido (13%), Itália (12%) e França (11%)
são os outros países investidores mais destacados em projetos novos na
região. (CEPAL, 2018, p. 11)
Em que pese a crise ter sido severa na Espanha – cujos resultados políticos debilitaram,

sobretudo, a capacidade empresarial do Estado -, a participação do país na região

permaneceu sendo a maior dentre os europeus, com montantes que chegaram a ser quase

duas vezes maiores do que os invertidos pelo segundo colocado - a Alemanha. Isso se deve

não apenas à continuidade da ação dos aparelhos estatais – ainda que de modo mais

diplomático do que propriamente “econômico” -, mas também à atuação cada vez mais

destacada de think tanks que fertilizam solo social latino-americano para as inversões de

frações da burguesia internacional, dentre elas a espanhola.

Como vimos, uma das ações do Estado espanhol no fomento de trasnacionalização de

empresas foi a criação de aparelhos que defenderam os negócios espanhóis no além-mar.

Muito provavelmente o primeiro deles terá sido a Agência Española de Cooperación

Internacional para el Desarrollo (AECID). Fundada em 1988, ela foi vinculada ao

Ministério de Assuntos Exteriores e de Cooperação da Espanha e formada através da

Secretaria de Estado de Cooperação Internacional e para a Íberoamérica (SECIPI). Sua

criação marca, assim, o primeiro esforço de latoamericanização do capital espanhol.

De acordo o site do órgão estatal,

Como establece la Ley 23/1998 del 7 de julio, el órgano de gestión de la política


española de cooperación internacional para el desarrollo. Hace parte de la acción
exterior del Estado Español y se fundamenta en una concepción interdependiente
y solidaria de la sociedad internacional. Su objeto es el fomento, la gestión y la
ejecución de las políticas públicas de cooperación internacional para el desarrollo,
dirigidas a la lucha contra la pobreza y la consecución de un desarrollo humano
sostenible en los países en desarrollo, particularmente los recogidos en el V Plan
Director de la Cooperación Española.
La AECID trabaja en más de 30 países del mundo. En 2015 se adoptó la
nueva Agenda 2030 para el Desarrollo Sostenible, que regirá los planes de

255
desarrollo mundiales durante los próximos 15 años. Se plantean 17 Objetivos de
Desarrollo Sostenible (ODS) que incluyen poner fin a la pobreza en el
mundo, erradicar el hambre y lograr la seguridad alimentaria; garantizar una vida
sana y una educación de calidad; lograr la igualdad de género; asegurar el acceso
al agua y la energía; promover el crecimiento económico sostenido; adoptar
medidas urgentes contra el cambio climático; promover la paz y facilitar el acceso
a la justicia366.

A pauta de atuação do AECID, assim, é auxiliar na promoção do desenvolvimento da

“comunidade ibero-americana” – em outras palavras, no conjunto das nações latino-

americanas. Com suporte de empresas, principalmente espanholas; de chamadas

“organizações não-governamentais” (ONGs); e de think tanks, a AECID age com o fito de

normalizar o ambiente de negócios na América Latina. Para tanto, atribui-se a defesa da

coesão social, sendo este assunto frequente em suas intervenções no debate público.

Criada em 2004, a Secretaria General Iberoamericana (SEGIB) é outra ação do Estado

espanhol em relação à América Latina. Tem como meta reunir chefes de Estado da

“comunidade iberoamericana” a fim de debater os problemas da região e prepará-la para o

“desenvolvimento” com “assessoria técnica” de experts em políticas públicas para a coesão

social. As “cúpulas” celebradas pela secretaria teriam como horizonte, portanto, a

perseguição do desenvolvimento e a projeção internacional das nações signatárias da assim

nomeada comunidade ibero-americana.

O site da organização descreve sua missão e suas atividades.

Con sede central en Madrid, la SEGIB fue creada con los objetivos de:
-Contribuir al fortalecimiento y la cohesión de la Comunidad Iberoamericana e
impulsar su proyección internacional.
-Colaborar en la preparación de las Cumbres de jefes de Estado y de Gobierno,
en estrecha cooperación con la Secretaría Pro Tempore, que recae en el país
anfitrión de la cita.
-Fortalecer la labor desarrollada en materia de cooperación en el marco de la
Conferencia Iberoamericana, de conformidad con el Convenio de Bariloche.
-Promover los vínculos históricos, culturales, sociales y económicos entre los
países iberoamericanos, reconociendo y valorando la diversidad de suspueblos.

366 Ver em: https://www.aecid.org.co/index.php?idcategoria=2463 (acessado às 02/10/2018 às 12:39)


256
-Ejecutar los mandatos que reciba de las Cumbres y reuniones de ministros de
Relaciones Exteriores iberoamericanos.
-Coordinar las distintas instancias de la Conferencia Iberoamericana con los demás
organismos de la comunidad367.

Enfatizam-se aqui, pois, duas preocupações, a saber, a promoção de “vínculos

históricos, culturais, sociais e econômicos entre os países ibero-americanos”; e, novamente,

da coesão no espaço de sua atuação. Se os tais “vínculos” de várias naturezas, inclusive

econômica, podem indicar mais claramente o favorecimento da atuação de transnacionais

espanholas na comunidade, é a tal coesão social novamente evocada. Logo debateremos sua

função política. Por ora, convém destacar que a SEGIB, a despeito de ter sido criada por

iniciativa do Estado espanhol, hoje se desenvolve como organismo multilateral de

cooperação entre os países iberoamericanos. A partir de 2014, sua presidência foi

desempenhada pela costa riquenha Rebeca Grynspan, o que nos dá importante indício da

associação de importantes intelectuais da burguesia endógena ao projeto em tela.

O EUROsociAL também é uma ação que conta com o apoio do Estado espanhol, por

meio da Fundación Internacional y para Iberoamérica de Administración y Políticas Públicas

(FIIAPP). Em execução desde 2005, trata-se, novamente, de

um programa de cooperação entre América Latina e a União Europeia que


busca contribuir com a melhora da coesão social nos países latino-americanos,
assim como com o seu fortalecimento institucional, mediante o apoio aos
processos de elaboração, reforma e implementação de políticas públicas,
focalizando sua ação em áreas de gênero, governança e políticas sociais368

A iniciativa é financiada pela Comissão Europeia, que de acordo com o sítio do

projeto oferece, ao longo de 10 anos de trajetória, recursos de aprendizagem entre pares e

intercâmbio de experiências entre instituições homólogas da Europa e da América Latina.

367 Ver em:


www.exteriores.gob.es/Portal/es/PoliticaExteriorCooperacion/Iberoamerica/Paginas/SEGIB.aspx (Acessado
em 02/10/2018 às 12:51).
368http://eurosocial.eu/es/pagina/el-programa (Acessado em 23/01/2019, às 10h46).
257
Vê-se novamente aqui, por conseguinte, a disposição de consultorias europeias para auxiliar

os Estados latino-americanos a enfrentarem aquilo que se identifica como problemas sociais.

O princípio da coesão, igualmente, é destacado na agenda, sendo, inclusive, um dos

princípios basilares de ação.

Por fim, convém destacar outro ramo de atuação das agências do Estado espanhol,

qual seja, o patrocínio de think tanks na América Latina. Já discutimos em capítulo

precedente tanto a origem da noção quanto o uso que aqui empregamos para conceituá-la.

Tratam-se, pois, de aparelhos privados de hegemonia (APH’s), que, sob uma roupagem

pretensamente técnica, buscam difundir interesses de classe, apresentando-os como

interesses do conjunto dos cidadãos (GRAMSCI, 2014c). Dessa forma, a associação do

Estado espanhol com APH’s latino-americanos não pode ser entendida de modo ingênuo, isto

é, como ação interessada no “desenvolvimento” - entendido aqui como melhoria da qualidade

de vida em geral. Em vez disso, compreendemos a luta pelo “desenvolvimento” levada a

cabo por tais entidades como a defesa do aprofundamento de relações capitalistas369. Sob

essa ótica, o financiamento espanhol da CIEPLAN merece algum destaque.

A Corporación de Estudios para Latinoamerica (CIEPLAN), nascida Centro de

Estúdios de Planificación Nacional (CEPLAN), tem papel importante na história chilena,

desde sua fundação em 1976. Um interessante material comemorativo dos 40 anos da

organização, lançado em 2016, detalha a participação da entidade na política chilena desde

então, não sem idealizações. De acordo com a obra, aqui fonte de nossa pesquisa, a CIEPLAN

369A noção de desenvolvimento não é neutra. O trabalho de Bianca Imbiriba Bonente sobre o assunto politiza
o conceito, ao demonstrar como ele é utilizado para legitimar a reprodução ampliada do capital. Ver:
BONENTE, Bianca Imbiriba. Desenvolvimento em Marx e na teoria econômica: por uma crítica negativa
do desenvolvimento capitalista. Niterói: Eduff, 2016.
258
nasce como fruto de um projeto esboçado ainda no primeiro ano do governo socialista da

Unidad Popular (UP), dirigido por Salvador Allende e que seria golpeado em 1973.

Idealizada pelo então reitor da Universidad Catolica do Chile, Fernando Castillo Velasco, e

organizada pelo economista Alejandro Foxley, que se tornaria seu principal quadro e

intelectual, a organização buscou contribuir “propositivamente” com o debate público em

torno da “via chilena ao socialismo” – identificado como caminho democrático para a

revolução anticapitalista. A contribuição dos cieplanes, intelectuais vinculados ao APH

referido, deveria se dar a partir de um ponto de vista dito “econômico”, com foco no

planejamento de um “novo modelo de socialismo”.

En esa época se discutía en los círculos intelectuales cómo diseñar un


socialismo democrático y CEPLAN intentaba aportar al debate desde una
mirada económica. Después de un viaje a Yugoslavia, Foxley y otros
economistas organizaron un seminario para discutir sobre los distintos
modelos de socialismo que existían en el mundo. Con las ponencias de ese
seminario surgió el primer libro de CEPLAN, llamado Chile, búsqueda de
un nuevo socialismo, editado por Foxley y publicado por la Universidad
Católica; (CIEPLAN, 2016, p. 16, grifos do documento)

A entidade passaria à oposição meses depois, por “divergências no planejamento

econômico” e nas formas de lidar com o “défice público” (idem, p.16).

Pasaron los meses y los miembros de CEPLAN comenzaron a criticar


las políticas del gobierno de la Unidad Popular, basado en la estatización
de grandes empresas, expropiación de industrias y predios agrícolas,
control de la banca, al mismo tiempo que impulsaba aumentos del gasto
público y controles de precios que resultarían insostenibles. Desde su punto
de vista, ese era el camino equivocado. (idem. p.16)

Sempre de acordo com a fonte, o desnível entre gastos e receitas nas contas do
governo foi o principal causador da queda dos níveis salariais frente à inflação de 300%.
Outra consequência teria sido o estouro da dívida pública (Idem, p. 16).
O golpe de 11 de setembro de 1973 deu início à intervenção da ditadura no meio
universitário. Na Universidad Catolica, o reitor foi substituído por um almirante da reserva
que levou a cabo uma operação limpeza nos quadros acadêmicos. O resultado foi a demissão

259
de muitos professores, o que forçou a CEPLAN a se tornar independente da instituição. A
entidade, então, agregou uma letra “I” em seu nome, a fim de enfatizar sua independência
em relação à Universidad Catolica e à ditadura (Idem, p. 17).
Do tempo de vida da entidade durante a ditadura, a Cieplan relembra confrontos
entre “cieplanes” e “chicabo boys” - porta-vozes do “experimento liberal ortodoxo de
orientação neoclássica e monetarista” (Idem, p. 18)

En artículos publicados a partir de 1977 las críticas a las políticas


implementadas en aquelentonces apuntaban a que no se solucionarían
automáticamente los graves problemas que tenía el país, como el excesivo
endeudamiento, la baja capacidad productiva, la dependen - cia de los
mercados externos, la escalada del desempleo y la pobreza. Había que
intervenir aquello que la mano invisible no resolvería de un plumazo. (Idem,
p. 18)

Censurado durante a ditadura, a influência do think tank no Estado chileno se


efetivaria com a redemocratização. Participando ativamente da campanha plebiscitária contra
a ditadura, a CIEPLAN denunciou, em artigos, a pobreza existente no Chile e a necessidade
da retomada democrática. A vitória do “Não” no plebiscito de 1988 preparou o caminho para
novas eleições. A entidade, então, surgiu como a articuladora do programa de governo da
Concertación de Partidos por la Democracia, frente ampla de opositores ao regime ditatorial.
Nas palavras do texto investigado,
había llegado el momento en que el think tank tendría la oportunidad
histórica de diseñar e implementar las políticas públicas que el país requería
en un momento en que la sombra del militarismo se negaba a desaparecer.
(Idem, p. 42).

Com efeito, no governo de transição, a CIEPLAN teve papel central – inclusive com
seus membros ocupando postos no Estado. O trabalho de análise produzido durante a ditadura
e a formação de redes de conexões com dirigentes sociais, sindicais, empresariais, políticos
e acadêmicos, também durante os anos de Pinochet, ajudam a explicar a força e a legitimidade
política da organização no momento de transição democrática. Nesse momento, a política
econômica defendida pela CIEPLAN, então, girou em torno de um paradigma: continuidade
e mudança.
Continuidad en las políticas de profundización de la apertura
económica hacia el exterior. Y cambio, esencialmente en las políticas
sociales. El objetivo era combatir la pobreza resguardando el
260
equilibrio fiscal y sin caer en el populismo de satisfacer todas las
demandas sociales acumuladas por la vía de aumentar el gasto fiscal.
(Idem, p. 44)

Urgia, pois, aprofundar a abertura econômica, incluindo nas demandas do governo de


Patrício Aylwin a preocupação com o “crescimento com equidade”. Era a defesa de uma
“economia social de mercado”, que, de acordo com o documento, reduziu as taxas de inflação,
desemprego e elevou o “gasto” social – resultados que deram legitimidade às políticas
públicas, que passaram a ser reiteradas nas sucessivas administrações da Concertación.
Ao se debruçar sobre a História oficial do Cieplan, o pesquisador se pergunta em que
medida as idealizações sobre o passado projetaram para trás no tempo convicções que são
típicas da atuação da Cieplan durante a redemocratização – e sobretudo durante os governos
da Concertación. Ou, ainda, de que forma o contexto ditatorial chileno – que estabeleceu o
grupo de economistas reunidos na Cieplan como oposição consentida – influenciou o
pensamento sobre a história do grupo – inclusive com exagero de posições cujo interesse é
demarcar posição contrária ao regime autoritário. Com efeito, datando de 2006, e tendo em
vista a história posterior da Cieplan, especialmente importante para a compreensão do objeto
de nosso estudo, o documento parece carregar um amálgama de experiências passadas e
determinações políticas do seu tempo de produção.
Glen Biglaiser, estudioso da Universidade de Chicago que estuda a influência das
doutrinas da escola de economia da instituição sobre a América Latina, defende certo
“exagero” na distinção entre a base das políticas econômicas defendidas pelos cieplanes em
relação àquela que orientava as ações dos chicago boys – vale lembrar, espécie de núcleo
duro da política econômica da ditadura chilena encabeçada por Augusto Pinochet.
While these economists wrote prolifically on their opposition to neoliberal
policies, it would be difficult to argue that deep divisions in ideas separated the
economists in Chile in the 1970s and 1980s. Based on a survey of articles in the
principal academic journals, economists used the same research methods and
techniques of analysis.44 Moreover, economists at CIEPLAN magnifiedtheir
differences with the Chicago Boys from an economic standpoint because the
military government tolerated no other form of opposition (BIGLAISER, 2002, p.
276).

Em que pese a avaliação acima ser tão comprometida politicamente quanto a

publicada pel Cieplan, essa posição encontra eco maior na historiografia. Fundamentada na

261
interpretação de um dos principais trabalhos dos cieplanes censurados no período ditatorial,

a saber, Modelo econômico chileno: trajetória de una crítica, a avaliação de Patrício Silva

(1991) – a primeira discussão mais profunda e propriamente acadêmica do conflito entre

cieplanes e chicago boys, atesta que as diferenças eram muito menores do que desejariam

admitir aqueles intelectuais. Os fundamentos da política econômica dita neoliberal, assim,

não teriam feito parte da trajetória da crítica – a qual teria se atido aos aspectos formais e ao

ritmo de implementação do tripé da “modernização econômica”, a desregulamentação, a

liberalização e a abertura econômica, bem como à relativa falta de preocupação com

fortalecimento de políticas sociais que garantissem amparo aos “perdedores” dessa

“revoluçaõ econômica”. A Cieplan, assim, orgulhosa de sua luta contra os Chicago Boys,

diferia pouco no essencial: assegurar nova vitalidade ao metabolismo do capital, por nova

rodada de expropriações que oxigenasse a reprodução capitalista na região.

Não custa lembrar que, dentre os investidores da organização estava a AECID,

importante guarda-chuva que abrigava, sob escolta do Estado espanhol, um pool de capitais

transnacionalizados interessados na política de abertura econômica e nas privatizações que

ocorreram no Chile a partir dos anos 1970. Assim, a abertura econômica que funcionaria, na

ótica dos especialistas de dedicados a estudar os rumos do capitalismo espanhol desde os

anos 1990, como polo de atração de IED para a América Latina, encontra precisamente na

AECID, via Cieplan, uma de suas apoiadoras de primeira hora.

A Cieplan voltará a receber atenção neste capítulo, quando falarmos, mais à frente,

da defesa da Coesão Social pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso. Agora, porém, cumpre

destacar como a noção chega à América Latina de modo a balizar políticas públicas na região.

É importante destacar o que até aqui se tem tentado demonstrar: a defesa da coesão social

262
não pode ser entendida sem referência aos interesses econômicos que perpassam as relações

entre Europa e América Latina, sobretudo a partir dos anos 1990. Isso posto, sua defesa da

coesão aparece como meio de se atingir o que seria um nível adequado de gestão de conflitos,

a fim de assegurar estabilidade social e institucional desejada para a garantia de IED que

passam, então, a chegar à região.

3.4. “Coesão social e sentido de pertencer” na América Latina e no Caribe

Em 2006 foi realizado o XVI Cume Iberoamericano, organizado pela SEGIB e pela

CEPAL, em Montevideo, Uruguai. Na ocasião, concordou-se que o tema da coesão social

seria central no encontro do ano seguinte, a ser celebrado no Chile. Como forma de preparar

os debates, um pool de agências internacionais organizou um livro, chamado Cohesión Social:

inclusión y sentido de pertenencia em América Latina y el Caribe, cujo objetivo era balizar

temas essenciais à discussão. A AECID também está entre as instituições apoiadoras. O

prólogo é, ainda, assinado pelo secretário geral da SEGIB, Enrique V. Iglesias, ex-consultor

da CIEPLAN. Vemos, pois, como algumas das instituições aqui descritas participam da

elaboração do documento. Convém, então, sua análise, a fim de identificar que tipo de

políticas públicas são sugeridas, bem como sua possível conexão com determinações do

capitalismo na região.

No prólogo de Enrique V. Iglesias, o conceito de coesão social, que ajuda a intitular

o documento, tem sua história lembrada, sobretudo o modo como transitou do âmbito

escolástico para a arena do debate e das políticas públicas.

Cabe recordar que la Unión Europea há sido pioneira em identificar este


elemento y em prestarle especial atención. Podria decirse que em su primera etapa,
desde el Tratado de Roma em 1957, el avance em el processo de integración estuvo
263
basado em el supuesto de que la liberalización de los intercâmbios económicos
condurciría a mejoras importantes del bienestar general y a la reducción de las
diferencias regionales. Sin embargo, en cierto momento hubo el convencimiento
de que se requería de políticas activas para reducir las diferencias regionales, lo
que dio lugar a la creación del Fondo Europeo de Desarrollo Regional (1975)
destaco la necesidad de la “Cohesión Económica y Social” que, em 1992, se
convirtió en un objetivo de la Unión, com la creación del Fondo Social Europeo y
que luego de Maastrich, pasó a considerarse um eje de la política comunistaria.
(COHESIÓN SOCIAL, 2007, p. 10)

Assim, ressalta-se a estreita associação entre o que passa a ser chamado de coesão
social e o desenvolvimento econômico, para o qual já há receita de “estabilidade financeira”.
A correlação entre os conceitos fica evidente mais abaixo.
No es necessário insistir sobre la importância que tiene la cohesión para el
funcionamento estable de las sociedades en general y de las latinoamericnas em
particular y, sobre todo, para em afianzamiento y perfeccionamiento de la
institutcionalidad democrática.
Sin embargo, conviene enfatizar esa relevância porque em muchas ocasiones el
razonamiento dominante tende a centrarse em el crecimiento económico – sin duda
de enorme importancia – dejando en un cono de sombra la relación de mutua
realimentación que él tiene com los processos de naturaliza social que explican el
fortalecimento de lo que acertadamente la CEPAL denomina el ‘sentimiento de
pertenencia’ como expresión de la cohesión social. (COHESIÓN SOCIAL, 2007,
p. 9)

O documento, portanto, será fundamental para refletirmos sobre o papel da noção de

coesão social nos espaços de formulação de políticas públicas na América Latina. Tendo

desenvolvido essa perspectiva na Europa, as burguesias do velho continente transitam, com

apoio de aparelhos de Estado e de chamados think tanks, para o continente latino-americano.

Esse translado coincide com o crescimento de IED na região, do que depreendemos algum

nível de correlação entre os movimentos. Convém investigar a fonte, portanto, à de razões

para refletir mais aprofundadamente sobre a hipótese que vertebra este capítulo, qual seja, a

do significado político de uma sociedade coesa em que reina o modo de produção capitalista.

Para fins de organização desta parte do texto, dividimos o que segue em subseções, as quais

versam sobre as questões presentes no documento e sobre o sentido e a forma de sua produção.

i. “Uma época de mudanças”?


264
Editado em maio de 2007, o documento ora analisado traz informações sobre a visão

de empresas e grandes entidades multilaterais sobre o que é considerado como uma época de

transformações. A revolução tecnológica, o avanço das comunicações e o advento da

globalização marcariam uma “profunda mudança de ciclo na história da humanidade”. A

importância histórica do momento justificaria a própria existência do material analisado,

dedicado a formular elementos para a construção e manutenção da coesão social na América

Latina. Na letra da fonte,

A coesão social surge como tema prioritário quando a humanidade passa por
uma mudança de época e as próprias bases da vida em comum começam a ser
questionadas e corroídas. Há boas e objetivas razões para crer que nos encontramos
em um período de importante transição histórica e vivenciando uma profunda
mudança de ciclo na história da humanidade. (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 7)

Nesse sentido, depreende-se que as questões tratadas como novas no documento,

mencionadas de modo geral no parágrafo que abriu esta seção, surgem ou ganham novo

sentido em tal conjuntura, legando como desafio aos produtores do material a tarefa de

assegurar o mínimo de estabilidade necessário para a reprodução da sociedade. Embora fosse

sem dúvida interessante investigar as próprias “transformações”, por ora nos interessa mais

refletir sobre a natureza das análises sobre transformações sociais, ou, em outras palavras,

sobre o porquê de se anunciar uma épocas de transformação, independentemente de sua real

existência.

O parágrafo seguinte do texto nos dá pistas para desenvolver melhor a questão.

A sociologia clássica estudou as mudanças por que passou a humanidade em


conseqüência da instalação da sociedade industrial. Cabe às atuais gerações
observar as mutações sociais que transtornam a humanidade devido à revolução
tecnológica, das comunicações, e da globalização. (COESÃO SOCIAL, 2007, p.
7).

265
A trilha percorrida pelos produtores do conhecimento aqui enformado em cartilha

concede sentido e legitimidade ao seu trabalho. São continuadores da sociologia clássica, em

seu próprio tempo capaz de estudar e instruir sobre transformações provocadas pelo advento

da sociedade industrial. Essa “nova” época que é a nossa demandaria, por conseguinte, se

não uma nova sociologia, pelo menos contribuição científica com potencial político

semelhante, qual seja, a de fornecer elementos para a construção da coesão social, este “tema

prioritário” em época de mudança.

Esse raciocínio aparecer no início do documento indica não apenas o recurso dos

autores para reforçar sua própria posição, mas aponta também para o potencial legitimador

da própria ciência – no caso, uma ciência social, qual seja a sociologia -, bem como se seu

papel orgânico na formação e constituição de políticas públicas – e, por conseguinte, do

próprio Estado (POULANTZAS, 1978). Importa, neste espaço, destacar a forma como se

articulam práticas e interesses de think tanks e das classes sociais que são as razões últimas

de sua existência. Assim, é através do discurso científico e por meio de constantes apelos aos

representantes de sua classe que os think tanks extraem o sentido de sua prática, conforme

discutimos no primeiro capítulo.

Uma reflexão que busque analisar documentos como os produzidos por essas

entidades, assim, deve estar atenta aos critérios e ao ambiente que pautam e vivificam seu

conteúdo e sua forma de produção. Do ponto de vista desses intelectuais, não interessa apenas

fornecer interpretações sociais. Interessa convencer os receptores de que essa interpretação é

a mais adequada para os fins propostos - no caso, a garantia da estabilidade social. O

metabolismo do campo científico e o interesse de classe, aqui, fundem-se com

266
direcionamento eminentemente prático: formar e reformar Estados, elaborar e redesenhar

políticas públicas.

A presença de empresários ladeando políticos “de carreira” e intelectuais dá o tom do

circuito que, nos think tanks estudados, forma-se: a dinâmica científica está ali presente, mas

os interesses práticos do capital – que jamais estão excluídos da ciência – aparecem em um

tom significativamente maior, haja vista a presença física e a participação ativa de capitalistas

propriamente ditos nas discussões.

Fora essa particularidade, a produção do documento atende aos requisitos comumente

exigidos no âmbito acadêmico: há uma fundamentação teórica; há o recurso ao debate

externo, dialogando com parte da bibliografia consagrada aos temas destacados no texto.

Figuram na lista de referência autores como Manuel Castells, Martins Hopenhayn, Gøsta

Esping-Andersen, John Rawls e Albert Hirschman. O estudo desses autores com quem se

abre o diálogo, bem como a concepção de sociedade e de Estado subjacente ao texto, revelaria

muito do seu propósito, como que determinando de modo indireto o rumo das discussões –

e, por conseguinte, das políticas públicas propostas pelo documento. Além disso, o recurso à

discussões produzidas por uma das entidades apoiadoras do evento e, por conseguinte, do

documento, é destacado, Essas citações endógenas, isto é, ao trabalho produzido pelos

próprios intelectuais vinculados à iniciativa demonstra a importância de se prestigiar a prática

de uma entidade que, como outras tantas que competem com ela, procura oferecer assessoria

a governos e formuladores de políticas públicas.

B. Coesão social: significado e modo de usar

267
Neste documento, talvez pela sua finalidade – que preside a seleção tanto de objetivos

principais quanto a limitação de seu tamanho -, não se analisa com profundidade a história

do conceito de coesão social. Argumenta-se brevemente, contudo, que o ele foi pensado com

base “na tradição de cidadania das sociedades europeias” (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 23-

24). A ideia, assim entendida, referir-se-ia ao estágio de plena integração dos indivíduos à

sociedade – cuja expressão seria a solidariedade de grupo.

A leitura do prólogo e da apresentação da fonte, assinadas, respectivamente, por

Enrique V. Iglesias, secretário-geral Íbero Americano, e José Luís Machinea, secretário

executivo da Cepal, dão-nos mais algumas pistas para se compreender a noção. O texto de

Iglesias considera que, historicamente, a dinâmica da política europeia teve grande

importância na transposição da ideia do campo científico para o debate público e a

fundamentação de políticas de integração regional, culminando com o debate, já entre 1975

e 1985, sobre “a necessidade da ‘coesão econômica e social’” (IGLESIAS, 2007, p.14). Esta

se converteria em um objetivo da União Europeia a partir de 1992, com a criação do Fundo

Social Europeu e a edição do Tratado de Maastricht. Diante dessa experiência histórica,

portanto, Iglesias defende não ser necessário

insistir na importância que a coesão reveste para o funcionamento estável das


sociedades em geral – e das latinoamericanas em particular – e, principalmente, para
a garantia e o aperfeiçoamento da institucionalidade democrática” (IGLESIAS,
2007, p. 13).

Há já aqui uma proposta importante para se compreender a funcionalidade do que se

entende por coesão: a estabilidade social. Sendo as sociedades produtos históricos, com

variadas demandas e específicas dinâmicas, a coesão, sendo indicadora de estabilidade, é

historicamente determinada. Assim, é razoável sustentar que as balizas para se alcançar um

grau desejado de coesão social devem necessariamente ser historicizadas, isto é, pensadas

268
em acordo com as vicissitudes de uma determinada formação social. Assim, partindo do

pressuposto da época de transformações acima apontado, o secretário-geral da SEGIB

entende que, em seu tempo, a coesão social não pode mais ser atingida somente por táticas

que considerem os aspectos econômicos, “sem dúvida de enorme importância”, mas há

também de se considerar “os processos de natureza social que explicam o fortalecimento do

que a CEPAL chama, com acerto, de ‘sentido de pertencimento’, como expressão da coesão

social” (idem).

De acordo com Machinea, representante da Cepal, o sentido de pertencimento

estrutura a integração social, especialmente a percepção de gozo da cidadania numa ética

democrática (MACHINEA, 2007, p. 10). Assim, em que pese não haver “uma acepção clara

do conceito de coesão social”, o sentido mais aceito busca dar conta da sensação de “pleno

pertencimento à sociedade” (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 23-24), o que na análise do texto,

é desdobramento de uma sociedade percebida como mais justa e solidária, sem grandes

distorções entre expectativas e realidades e disparidades entre contribuições individuais e

retribuições coletivas.

Nesse sentido, já no corpo principal do documento, vemos que o sentido de

pertencimento “constitui um eixo fundamental das diversas definições de coesão social. Esse

sentido é, em última instância, um componente subjetivo feito de percepções, apreciações e

disposições dos que integram a sociedade” (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 26). Em outras

palavras, trata-se sobretudo da expressão cultural que indica a existência de um grau mínimo

de integração na sociedade. É por isso possível, portanto,

a coexistência de um arraigado sentido de pertencimento em escala micro com


uma situação macro crítica em matéria de menor coesão social. Em outras palavras,
pode haver coesão no nível da comunidade e, ao mesmo tempo, desestruturação no
nível da sociedade (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 26-27).

269
É o caso de formações sociais povoadas por comunidades menores com sentido de

solidariedade mais forte do que o atingido pelo Estado-nação. Na América Latina, as

microssociedades indígenas são o exemplo paradigmático, inclusive em Estados

plurinacionais e plutiétnicos como é o caso da Bolívia. Na ótica do documento, o sentido de

integração grupal em micro-escala não pode sobrepujar os verificados em sua relação com o

Estado-nação, sob pena de se incorrer em um estágio de desagregação social –

potencialmente prejudicial ao desenvolvimento perseguido, sobretudo pelo desrespeito ao

código de leis, às normas sociais e às autoridades constituídas que daí usualmente é derivado.

A coesão social, posto isso, é um horizonte almejado para a região. Isso por ser

fundamentalmente útil. O tom de sua utilidade é dado pelo secretário executivo da Cepal.

A CEPAL vem, desde o início dos anos noventa, estruturando uma visão do
desenvolvimento adequado a um mundo globalizado de economias abertas. O
objetivo é propiciar sinergias positivas entre crescimento econômico e eqüidade
social no contexto da modernização produtiva. Também se atribui especial
importância aos objetivos orientados para o aumento da competitividade, o zelo
pelos equilíbrios macroeconômicos e o fortalecimento de uma democracia política
participativa e inclusiva. Nesse contexto, a reflexão que a CEPAL faz neste livro
traduz o propósito de dar à coesão social maior representação, identidade e
profundidade, permitindo que se torne um importante guia das políticas públicas
(MACHINEA, 2007, p. 9-10)

O exposto, portanto, evidencia a importância das políticas direcionadas ao objetivo:

“além da sua inegável relevância ética em razão da equidade, tal coesão também é importante

para determinar a solidez do Estado de direito, da ordem social democrática e da

governabilidade” (idem). Machinea destaca, assim, a concepção que preside sua análise da

ordem social democrática e o desenvolvimento econômico: são pares que, embora não andem

necessariamente juntos, caminham melhor quando unidos. O corpo do documento reforça,

ainda, a correlação entre coesão social e desenvolvimento econômico aludida acima. É de tal

270
articulação que se perceber mais claramente sua finalidade: ser um meio para maiores e mais

seguros níveis de crescimento econômico.

(...) definida nos termos descritos, a coesão social é, ao mesmo tempo, um fim
e um meio. Como fim, é objetivo das políticas sociais na medida em que estas
visam a que todos os membros da sociedade sintam que são parte ativa dela, como
contribuintes para o progresso e seus beneficiários. Numa inflexão histórica de
mudanças rápidas e profundas precipitadas pela globalização e pelo novo
paradigma da sociedade da informação (Castells, 1999), a recriação e a garantia do
sentido de pertencimento e de inclusão são, em si mesmas, um fim. Mas a coesão
social também é um meio, e em mais de um sentido. Por um lado, porque as
sociedades que ostentam os níveis mais altos de coesão proporcionam um melhor
marco institucional para o crescimento econômico e agem como fator de atração
de investimentos por oferecerem um ambiente de confiança e regras claras
(Ocampo, 2004). Por outro, porque as políticas de longo prazo destinadas a igualar
oportunidades requerem um contrato social que lhes dê força e continuidade, e um
contrato de tal natureza supõe o apoio de uma vasta gama de atores dispostos a
negociar e alcançar amplos acordos. Com essa fi nalidade, os atores devem sentir-
se parte do todo e dispostos a ceder em seus interesses pessoais em benefício do
conjunto. A maior disposição dos cidadãos de apoiar a democracia, participar em
assuntos públicos e espaços de deliberação e confi ar nas instituições, bem como o
maior sentido de pertencimento à comunidade e de solidariedade com os grupos
excluídos e vulneráveis facilitam a celebração dos pactos ou contratos sociais
necessários para respaldar políticas orientadas para a consecução da eqüidade e da
inclusão” (p. 26).

Assim, é impossível dissociar todas as questões que aparecem no documento

analisado - quais sejam a luta pela igualdade de gênero e raça; a defesa da cidadania ampla;

o combate à miséria, etc – do fundamento político que lastreia sua construção como

problemas sociais e encaminha uma forma específica para sua resolução: a preocupação com

a coesão social em um mundo globalizado de economias abertas. Entender a defesa dessa

estrutura econômica sem levar em conta a genuína preocupação social que dela vem a

reboque seria um erro; mas o seu contrário, isto é, considerar a política social sem

dimensioná-la de acordo com a reprodução do capitalismo na região também seria.

O sentido prático do termo é salientado na análise sobre as determinações mútuas

entre direitos sociais instituídos e solidariedade social internalizada – aqui significando a

271
introjeção das normas sociais e uma ação prática correspondente com esses valores. A partir

de Albert Hirschman (1977), o documento explica que,

(…) por conseguinte, o cruzamento entre cidadania e pertencimento também


supõe um cruzamento entre direitos sociais instituídos e solidariedade social
internalizada. A coesão social exorta, pois, o fortalecimento da disposição dos
atores de ceder benefícios com vistas a diminuir a exclusão e a vulnerabilidade de
grupos em piores condições. Trata-se não só de um valor ético, mas também de um
valor prático, na medida em que as pessoas consideram que seu benefício é maior
quando aderem mais ao “nós” e que o benefício revertido para a comunidade benefi
cia as pessoas porque lhes dá a garantia de maior segurança e proteção no futuro.
(COESÃO SOCIAL, 2007, p. 28).

A coesão social é, dessa forma, uma poderosa engrenagem na lógica da reprodução

social. Considerá-la como um “mecanismos de integração e bem-estar” (idem) é lhe atribuir,

também, importância na construção e na reconstrução da ordem social, inclusive com suas

hierarquias mais ou menos implícitas, seus padrões de relações sociais, suas normas vigentes.

Não se pode considerar a ideia de coesão social desvinculada do sentido de enquadramento

social, que significa basicamente a internalização da exterioridade que é uma sociedade

determinada. Tampouco se pode considerar que tal forma social é neutra, do que se extrai seu

sentido eminentemente político como amostra da adequação das interações sociais à

reprodução capitalista.

Para atingir esse objetivo, políticas públicas devem ser pensadas para atuarem sobre

pontos percebidos como desagregadores: os desencontros entre direito teórico e direito de

fato, as distâncias entre expectativas sociais e capacidade de sua realização, o agastamento

entre representantes e representados, etc. O folheto ora analisado tem como finalidade,

portanto, proceder “à exploração mediadora de algumas dimensões da coesão social em cujos

casos se requerem recursos e vontade política que possam diminuir as lacunas em matéria de

exclusão” (idem).

272
A análise pormenorizada da realidade latino-americana, por conseguinte, não

corresponde unicamente às idiossincrasias do metabolismo social típico dos think tanks. Diz

respeito também à aplicabilidade de um aporte de tecnologia social a um ambiente diferente

daquele de onde ela foi originada – diz, ainda, muito sobre os interesses daqueles que

importam tal tecnologia. A noção de coesão social, assim, embora desenvolvida na Europa,

pode ser aclimatada ao ambiente social latino-americano, a fim de se atingir a estabilidade

que ela expressa e garante. Para isso, entretanto, é necessário respeitar as especifidades da

região. Daí a importância do seu conhecimento.

Assim sendo, as balizas para dimensionar o grau de hamornia social, a qual seria

expressão de uma sociedade coesa, derivam das especificidades de uma realidade concreta.

Em outras palavras, a ideia-força que é coesão social, tal qual formulado na Europa, serve

de inspiração e mesmo orientação, mas jamais como definição acabada do que se deve fazer

para se atingir determinado padrão de sociabilidade – porque, por óbvio, as sociedades em

tela são qualitativamente distintas. É também daqui que se extrai a importância do estudo

sistemático das questões latino-americanos, bem como dos desafios que elas interpõem aos

mecanismos de solidariedade.

C. A especificidade da América Latina

Como vimos, por requisitos específicos do discurso científico, uma visão prestigiada

sobre a dada realidade social demanda diálogo bibliográfico com os pares. É dessa forma que

se deve entender o recurso, no documento, às análises de outros interpretes. No caso, a obra

de Martín Hopenhayn, America Latina, desigual y desconcentrada, é reivindicada como base

para o escrutínio da especificidade latino-americana nessa “época de mudanças”. É dela que

273
se extraem o que se consideram condições necessárias para a coesão social na região. Como

as questões aqui apontadas estruturam a integralidade da obra, dedicaremo-nos a indicar o

que se entende por particular do ambiente latino-americano e seus desafios para a coesão

social (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 18-21).

i. Aspectos ditos econômicos: A realidade do continente seria marcada pelo

descompasso entre crescimento e igualdade de renda. Sofrer-se-ia, ainda de insuficiência de

crescimento no que toca à elevação do bem-estar. O “desenvolvimento econômico”

historicamente analisado seria “volátil”, o que, sempre de acordo com o documento,

“incrementa” a pobreza e a vulnerabilidade social, ambas com efeito socialmente

desagregador. O resultado seria o descompasso entre expectativas e realidade, sobretudo por

conta do advento de novas tecnologias de informação – que, ao melhorar o conhecimento e

a integração global, elevaria o nível de expectativas sociais na região.

ii. Aspectos laborais. Novas relações trabalhistas e a heterogeneidade estrutural

histórica da região colocam desafio ao potencial agregador do mundo do trabalho. Visto como

fiador de pactos sociais, a esfera produtiva em suas novas realidades poderia servir ao seu

contrário, isto é, ao esgarçamento do tecido social. Isso porque “(…) o desemprego crescente,

o aprofundamento da lacuna salarial, a expansão da informalidade e diferentes formas de

instabilidade, entre outras”, são vistos como limitadores da coesão social na região

(COESÃO SOCIAL, 2007, p. 18).

iii. Aspectos simbólicos. Ressalta-se a “dissociação entre ativos materiais e

simbólicos” na região (idem). Entende-se dessa forma a disjunção entre, de um lado, o

aperfeiçoamento educacional e a expansão das possibilidades de comunicação e, de outro, as

possibilidades de remuneração equivalente às expectativas geradas por esses ganhos. Em

274
outras palavras, identifica-se como um óbice potencial à coesão social latino-americana a

impossibilidade de realização, pela estrutura produtiva, das esperanças desenvolvidas pela

globalização e animadas pelo aumento de investimentos educativos.

iv. A cidadania incompleta. A cidadania na região seria incompleta devido a um

conjunto de fatores que vão do legado histórico aos aspectos culturais que fundamentam os

mais modernos preconceitos. Assim, “os processos de conquista, colonização e

desenvolvimento estão unidos a uma persistente negação de plenos direitos a grupos

marcados pela diferença racial, étnica e cultural” (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 19). O

problema fica especialmente agravado por ser essa região intensamente “pluriétnica e

pluricultural”, com indígenas, afrodescendentes e outros grupos sociais sofrendo “diferentes

formas de discriminação ou exclusão” (idem). Por outro lado, a questão de gênero mereceria

atenção, sobretudo por práticas sociais consolidadas que discriminam e sobrecarregam, no

âmbito do trabalho reprodutivo, as mulheres. Tais grupos atingidos pela desigualdade oriunda

de padrões específicos de identidade, assim, sofrem com menor ingresso de renda, mas

também com a falta de “reconhecimento político e cultural de seus valores” (idem). Uma

sociedade com cidadania completa e inclusiva e que esteja atenta a essas questões, portanto,

seria potencialmente mais coesa - do que se depreende o encaminhamento propositivo

favorável àquelas metas vistas como “de inclusão”.

v. Os perigos do individualismo. As mudanças econômicas e culturais estimulam e

seriam estimuladas pelo individualismo montante nessa época de transformações. Assim, de

acordo com a publicação, “o fato de o privado exercer maior influência do que o público e a

autonomia pessoal impor-se à solidariedade coletiva é acelerado tanto pela economia quanto

pela cultura midiática e pelo papel mais relevante do consumo na vida social” (COESÃO

275
SOCIAL, 2007, p. 19). Disso decorrem dúvidas sobre “como recriar o vínculo social, desde

o microambiente familiar até a sociedade em seu conjunto” (COESÃO SOCIAL, 2007, p.

19-20). Esse laço seria especialmente importante para a integração social que impediria, na

lógica da argumentação, a desintegração da solidariedade.

vi. A fragmentação das instâncias de representação. Na América Latina, assim como

em outras regiões, as articulações políticas e sociais que formam o fundamento da coesão

teriam sido tecidas por instâncias organizativas “tradicionais”: sindicatos e associações de

classe. A volatilização das identidades teria gerado, segundo a publicação, o enfraquecimento

relativo do potencial integrador daqueles atores coletivos tradicionais. A formação de grupos

sociais com base em identidades variadas, tais quais “mulheres, grupos étnicos, jovens,

camponeses sem-terra, ecologistas, grupos de bairro, entre outros”, teriam tornado o vínculo

entre política e cultura tanto mais “candente” quanto “problemático” (COESÃO SOCIAL,

2007, p. 20-21). A tarefa, portanto, é observar essas novas formações grupais, sobretudo em

suas instâncias de representação, a fim de identificar formas de estabelecer acordos

“adequados” a essa realidade emergente.

vii. Corrosão da ordem simbólica. O documento se refere à consciência do abismo

realmente existente entre a ordem simbólica – isto é, as leis e as normas oficiais – e a ordem

de fato. Percebe-se que o poder de fato substitui corriqueiramente o ordenamento político e

jurídico na região. Para o texto, nota-se, ainda, o acesso discriminatório à justiça, aos

benefícios sociais, às políticas públicas, etc. Tais fatores degradariam “a ordem simbólica,

isto é, a clara adesão da cidadania a um marco normativo de reciprocidade e de respeito à

legalidade” (COESÃO SOCIAL, 2017, p. 20).

276
Disso se desdobra também a existência de lacuna entre o “de jure e o de facto”. Na

América Latina, “a igualdade é uma norma jurídica e um valor, não um fato e tampouco uma

asserção” ( COESÃO SOCIAL, 2017, p. 20-21). A consequência é, novamente, o surgimento

de obstáculos à conquista e à manutenção da coesão social. Nesse caso específico, pela erosão

continuada dos valores e das normas jurídicas fundamentadas em um princípio que não se

verifica na prática. A reforma dos aparelhos do Estado, portanto, caminha junto com a

perspectiva de inclusão e representação efetiva da sociedade – vistas como formas de

ultrapassar esse gargalo no “sentido de pertencimento” entre cidadãos e Estados na região.

O esquadrinhamento do que se entende por realidade latino-americana é

fundamental para se formar um índice específico de coesão social para a região. A experiência

política europeia, contudo, também deve ser levada em conta, sobretudo pelo histórico de

sucesso alcançado na região, no que diz respeito aos objetivos principais a serem perseguidos,

quais sejam o

progresso econômico e social equilibrado e sustentável, mediante


principalmente a criação de um espaço sem fronteiras interiores, o fortalecimento
da coesão econômica e social, e o estabelecimento de uma união econômica e
monetária (…) (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 29).

Na Europa, o ano 2000 marcou os esforços mais explícitos para a formulação de

políticas públicas para a coesão social. Dadas as condições do continente, considerou-se

então que o padrão a ser alcançado para se assegurar estabilidade social era determinado pela

“erradicação da pobreza” (idem). Esse princípio lançou as bases para, já no século XXI, se

formularem critérios de aferimento da coesão social. Reunidos em Laeken, membros do

Conselho Europeu elaboram, em dezembro de 2001, uma lista com 18 indicadores de

sociedades coesas (logo ampliados para 21, em 2006). As balizas abrangem quatro áreas

temáticas centrais: renda, emprego, educação e saúde. A importância da formulação desse

277
quadro é atribuída, no documento, à inspiração de políticas públicas e agendas sociais daí

advindas (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 30). O quadro abaixo, produzido a partir de dados da

fonte, mostra o resultado a que se chegou – e que ficou conhecido como indicadores de

Laeken.

Indicadores de Laeken – parâmetros para medir a coesão social

Indicadores Primários Indicadores Secundários


Taxa de renda baixa depois das transferências Dispersão em torno do limiar de renda baixa.
(limiar fi xado em 60% da renda média)
Taxa de renda baixa depois do recebimento de Taxa de renda baixa em determinado momento.
transferências (valores ilustrativos).
Distribuição da renda Taxa de renda baixa antes das transferências.
Persistência de renda baixa. Coeficiente de Gini.
Lacuna da renda baixa média. Persistência de renda baixa (tomando por base
50% da renda média).
Coesão regional (dispersão das taxas regionais de Trabalhadores em risco de ingresso na pobreza.
emprego).
Taxa de desemprego prolongada. Proporção do desemprego prolongado.
Número de pessoas que vivem em unidades Taxa de desemprego muito prolongado
familiares nas quais nenhum dos membros
trabalha.
Número de pessoas que abandonam Pessoas com baixos níveis educacionais
prematuramente a escola e não buscam nenhum
tipo de educação ou formação.
Estudantes de 15 anos de idade, com baixo
rendimento nas provas de leitura.
Esperança de vida ao nascer.
Lacuna de emprego dos imigrantes.
Elaboração própria a partir de COESÃO SOCIAL. Inclusão e sentido de pertencer na América Latina e no Caribe 2007, P. 32)

A proposta cepalina – e do pool de entidades internacionais que se associaram a Cepal

– prevê a aclimatação desses princípios ao ambiente latino-americano, dada a “grande

complexidade” que impediria uma simples mimetização dos dados (COESÃO SOCIAL,

2007, p. 32). De forma semelhante ao ocorrido no caso europeu, a estruturação de indicadores

de coesão social direcionariam políticas públicas, sobretudo voltadas para a chamada

278
“política social”. Os mesmos indicadores, ainda, permitiriam sua constante avaliação, a fim

de se verificar sua efetividade – uma das palavras mágicas do documento.

Reconhecendo estarem diante de “universos socioeconõmicos distintos”, os autores

do texto avaliam assim as distancias entre as regiões, cuja diferença deve ser destacada para

se ponderar a aplicabilidade dos preceitos europeus à dinâmica social latino-americana

(COESÃO SOCIAL, 2007, p. 32).

Por um lado, há na América Latina mais de 650 povos originários que têm
culturas, religiões e modos de vida próprios. Por outro, segundo dados do Banco
Mundial,6 a União Européia tinha, em 2005, um PIB per capita calculado em
paridade de per capita calculado em paridade de per capita poder aquisitivo (PPA)
de 26.038 dólares, ao passo que esse mesmo PIB, na América Latina, era de apenas
7.575 dólares. Ao mesmo tempo, enquanto a União Européia apresenta um coefi
ciente de Gini relativo às rendas provenientes do trabalho da ordem de 0,32, esse
coeficiente é, na América Latina, da ordem de 0,53. Falamos, então, de uma região
rica e igualitária e de outra de rendas médias e mal distribuídas. (idem)

Reconhece-se, pois, diferenças tanto de fundo econômico – em termos de geração de

riqueza e sua distribuição – quanto de cariz cultural, sobretudo no que tange aos povos

originários ainda existentes em solo latino-americano. Avança-se também um determinante

que é menos regional e mais temporal, isto é, diz mais respeito à nova conjuntura histórica

que marca o contexto de análise. Assim, reconheceram os autores a necessidade de

acrescentar, “ à medida de lacunas objetivas existentes na sociedade – entre as quais as de

renda, emprego, educação e saúde, outros elementos, “como as de habitação, pensões e hiato

digital. Isso significa admitir que a distribuição do bem-estar e das oportunidades transcende

a mera distribuição da renda proveniente do trabalho” (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 32). Há,

portanto, preocupação com a formulação de vínculos sociais que perpassem não apenas a

satisfação das necessidades mais imediatas, mas também aquelas construídas pelo “estágio

de desenvolvimento” da região.

279
Aqui a interpretação que se faz da América Latina – acima exposta – ganha um sentido

especialmente prático. A elaboração desse arcabouço avaliativo diz muito sobre a

interpretação que se faz sobre a realidade latino-americama. É particularmente elucidativa,

no entanto, sobre os critérios e os objetivos a serem atingidos com a coesão social, os quais

quedam expostos no quadro abaixo (idem, p. 33).

Dada a coesão social ser determinada tanto no tempo quanto no espaço, pode parecer

uma tarefa complicada a separação entre os elementos regionais – isto é, as especificidades

propriamente latino-americanas – e as particularidades da época – advindas, por conseguinte,

do tempo histórico. Aqui, pela falta de dados cabais que dividam os elementos novos listados,

pode-se arriscar uma tentativa de aproximação, ressaltando que em muitos casos,

especificidades regionais e temporais aparecem combinadas. Ora, é o caso das questões que

envolvem o regime e a participação política. Tratam-se de elementos que parecem estar

evidentemente presentes nas especificidades da América Latina – dada a tradicional

interpretação do défice democrático na região. Dela não podemos, no entanto, retirar o

substrato histórico, haja vista que a conjuntura vivida durante a produção do documento só

pode ser entendida como sendo produto de uma época marcada pelo passado recente de

regimes autoritários, da qual a região começou a emergir a partir dos anos 1980. Assim, a

importância conferida aos fundamentos da democracia e às instituições de Estado revelam a


280
crença, por parte dos formuladores das balizas de medição da coesão social, na relativa

fraqueza, tanto do que é usualmente chamado de cultura democrática quanto das instituições

políticas – e a fraqueza destas últimas deve ser entendida, claro está, pela sua capacidade de

gerar consensos sociais formadores de coesão.

Dentre os temas do universo político, a preocupação com a forma democrática de

governo talvez seja a principal. O regime é entendido como elemento necessário para a

construção de uma sociedade coesa, cujo resultado, por fim, seria o desenvolvimento

econômico e social perseguido. Assim, os autores recorrem aos dados coletados em pesquisas

do Latinobarômetro para avaliar o índice de desconsolidação democrática na região.

“A informação proporcionada pelo Latinobarômetro, com base em uma série de indicadores

incorporados na rodada de censos do ano 2002 e dados de 1996, ressalta a diminuição de 61%

para 57% do índice dos entrevistados que manifestaram preferir a democracia a qualquer

outro regime. De acordo com o IAD, Índice de Apoio à Democracia (PNUD, 2004, pp. 132

e 133), 43% dos latino-americanos definiram-se como democratas, 26,5% como não-

democratas e 30,5% como ambivalentes.” (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 57)

Após argumentar a favor da correlação entre nível educacional e disposição

democrática, no sentido de quanto maior um, maior necessariamente o outro, o texto se

encaminha para avaliar as causas do decrescimento de prestígio da democracia entre latino-

americanos. Aqui, o “desinteresse pela política” e o “repúdio aos partidos” ganha sentido

especial como instrumento de ataque ao regime democrático. Os dados esgrimidos no texto,

assim, indicam um crescente e “preocupante” desinteresse pela política e uma igualmente

crescente falta de representatividade dos partidos políticos (COESÃO SOCIAL, 2007, p.

58-9).

281
Se as causas do desinteresse pela política podem ser atribuídas à pouca

permeabilidade do Estado às reivindicações populares,

a baixa apreciação dos partidos políticos, que são a principal instância


mediadora entre as aspirações e interesses dos cidadãos, e a possibilidade de
expressá-los no Estado, está estreitamente relacionada com a manifestação de
muito pouca proximidade com eles. Em 2003, 58% dos latino-americanos
indicaram não se sentir próximos a nenhum partido político, índice que aumentou
12% em comparação com o de 1997, ano em que alcançou seu nível mais baixo.
(COESÃO SOCIAL, 2007, p. 60)

Com uma democracia “desacreditada” e uma população pouco afeita à participação

política, a sociedade latino-americana perde poder de coesão social, na avaliação dos autores

do documento. Isso demonstra uma das potencialidades do Estado no continente: agir como

meio de integração social e conservação da ordem. Ao contrário do tradicional debate sobre

a crise dos Estados, por conseguinte, o que se vê aqui é a confiança em seu potencial político,

tanto que se lamenta a baixa integração entre poder político e sociedade. Eis mais um dos

elementos que deve ser trabalhado na América Latina, a fim de se dirimir óbices a sociedades

mais coesas. Na letra do documento, a construção de Estados mais representativos espelha

uma sociedade com maior poder de pertencimento, na qual as partes se identifiquem

efetivamente nas instâncias de expressão de seu todo.

A exclusão social e a falta de civismo refletidas nessas atitudes de repúdio e


marginalização da política não contribuem para o fortalecimento do sentido de
pertencer à sociedade, mas são, antes, fenômenos que difi cultam a
governabilidade democrática e a celebração de acordos e pactos sociais estáveis”
(idem).

Outro fator de destaque é o multiculturalismo. Para os autores do documento, o tema

chega à região principalmente por influência das lutas dos povos originários por direitos e

reconhecimento político.

A projeção do tema do multiculturalismo na Região – entendido como uma


manifestação da diversidade e da coexistência numa sociedade de grupos com
diferentes códigos culturais – está vinculada a dois fenômenos sociais
relativamente recentes e relacionados entre si, que incidem na coesão social dos
países: a constituição dos povos indígenas em atores sociais e a conseqüente e
282
rápida extensão dos conflitos associados à sua maior visibilidade e às
reivindicações feitas aos Estados nacionais (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 52).

A compreensão do fenômeno na região é necessariamente “complexa”, devido às suas

“raízes históricas e culturais” (idem). As políticas públicas devem tratar com atenção a

questão, entretanto, sobretudo pelo potencial disruptivo que delas emerge. Com efeito,

argumenta o texto,

as práticas de exclusão e de discriminação em qualquer de suas formas (das


mulheres, das populações indígenas, dos idosos, dos deficientes, dos pobres, das
minorias religiosas ou étnicas, dos que manifestam preferências não
heterossexuais), em função de características quase sempre aditadas em termos de
representações simbólicas e culturais sobre o que constitui “a diferença”, quebram
a identidade de uma sociedade, afetam o sentimento de pertencer a essa
coletividade dos que são alvo de tais práticas e minam, conseqüentemente, a
coesão social (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 52).

A análise acima com o respectivo trato do problema revela o potencial pacificador

tanto da democracia e suas instituições quanto do multiculturalismo. Que fique bem claro:

não se trata, aqui, de considerar tais questões como essencialmente contrarrevolucionárias;

compreendemo-las como sujeitas a disputa, e sua conversão, para um lado ou para outro,

pode representar tanto desafios à ordem quanto mecanismos facilitadores de sua reprodução.

D. Coesão social e políticas públicas: o que fazer?

O sexto capítulo do documento analisado trata de questões mais concretas. O assunto

aqui é propriamente a formulação de políticas públicas. A lógica da apresentação textual

atende aos seguintes requisitos: apresenta-se o que se considera o problema e, em seguida,

são propostas soluções. As atenções mais destacadas se direcionam para “três pilares da

coesão social”: oportunidades, habilidades e proteção. Eles se referem, mais diretamente, ao

mundo do trabalho, à educação e à proteção social. Tais áreas da sociedade são entendidas

como nevrálgicas na definição do nível de integração e consensos sociais. A seleção dessas

283
áreas como alvo da elaboração de políticas públicas para a coesão, por conseguinte, revela a

sua importância para o que se entende como sociedade coesa.

i. Oportunidades produtivas e coesão social: o que fazer ante a informalidade e a


precariedade do mercado de trabalho?

A centralidade das preocupações com o mundo do trabalho reside na crença de seu

potencial coesivo. O emprego é visto como meio de integração social não só por seus efeitos

mais propriamente econômicos, isto é, por possibilitar a participação do trabalhador na

distribuição da renda socialmente produzida, mas também por seus efeitos “culturais”, isto é,

pela criação de disposições positivas para com a sociedade.

O emprego é o vínculo mais importante entre o desenvolvimento econômico


e o desenvolvimento social, por ser a principal fonte de renda das famílias –
cerca de 80% da renda total em nossa Região. As possibilidades de acesso ao
emprego, a remuneração, a cobertura e a proteção social dos trabalhadores
incidem de forma decisiva no nível e na distribuição do bem-estar material da
população. A exclusão e a segmentação social decorrentes da falta de acesso a
empregos de qualidade são, portanto, fatores determinantes da pobreza e das
desigualdades sociais que se reproduzem ao longo do tempo e estão expressas na
elevada e persistente concentração da renda prevalecente na Região (CEPAL,
2000) (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 63-64).

Há, assim, genuína preocupação com o prejuízo social derivado da informalidade no

trabalho. A partir de dados da Cepal (2001, 2002, 2003), lembra-se que “cerca de 70% dos

novos empregos gerados na Região durante a década de 1990 corresponderam ao setor

informal”, o que na avaliação do panfleto “constitui um fato preocupante” (COESÃO

SOCIAL, 2007, p. 64). Diante disso,

uma análise da coesão social na Região não pode deixar de considerar a


segmentação em termos de inserção produtiva e laboral, a extensão da
informalidade no seu sentido amplo e o fato de os sistemas de proteção social e
trabalhista adotarem a inserção laboral como base dessa proteção, bem como a
legislação trabalhista e a seguridade social como instituições-chave (idem).

Tendo como horizonte a coesão social, crê-se ser necessário agir sobre o trabalho

informal, a fim de definir sua natureza jurídica, propor formas de organização e expressão

284
desses trabalhadores e elaborar novas formas de proteção social que os inclua (COESÃO

SOCIAL, 2007, p. 64). Assim, atua-se

atendendo à necessidade de modificar a configuração dos sistemas de proteção


social, a fim de recuperar o universalismo, pelo menos no que se refere a
determinados limiares de benefícios, em consonância com a perspectiva de direitos
e de solidariedade.31 Essa medida pode ser complementada com diversos canais
de representação, por meio tanto da incorporação dos trabalhadores informais em
organizações corporativas, quanto de formas próprias de organização ou associação
destinadas a realçar seu desempenho econômico e que podem converter-se em
plataformas de reivindicação e negociação. Nesse sentido, são fundamentais as
políticas não só destinadas a conciliar o trabalho produtivo e reprodutivo, como
orientadas para facilitar uma inserção mais promissora da mulher pobre no
mercado de trabalho mediante, por exemplo, uma adequada cobertura da educação
pré-escolar e de creches (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 65).

Atacando a informalidade se atinge também, na lógica do documento, “a insegurança

e a precariedade do trabalho”, cujos efeitos são deletérios para uma sociedade que aspira à

coesão. Essas características, entretanto, não são apanágio exclusivo da informalidade

laboral.

(…) também são encontradas em empresas organizadas ou mesmo em empresas


informais que se vinculam a empresas formais por meio de relações de
subcontratação ou intermediação.32 Essa prática costuma traduzir-se em uma
percepção de insegurança dos que transitam nesses âmbitos. Tal percepção afeta o
sentido de pertencer à sociedade e deteriora a coesão social (COESÃO SOCIAL,
2007, p. 65).

Estão inclusas contratações temporárias, terceirizações ou subcontratações – todas

modalidades laborais que, segundo o texto, aumentam a sensação de insegurança dos

trabalhadores. Diante dessa situação, uma proposta de pensadores da Cepal é relembrada.

Os mecanismos destinados a compensar a perda de rendas em conseqüência do


aumento do desemprego deveriam ser um componente-chave da proteção social,
o que permitiria evitar o agravamento da pobreza em períodos de recessão.
Embora esses mecanismos tenham consistido principalmente em sistemas de
subsídios, também cabe considerar a criação de sistemas baseados em seguros e
poupança obrigatória que não compensam integralmente a perda de rendas, mas
mantêm a continuidade tanto do acesso aos serviços de saúde como das
contribuições para a previdência social, além de facilitarem a permanência dos fi
lhos no sistema escolar e o pagamento do domicílio familiar (Machinea e
Hopenhayn, 2005) (COESÃO SOCIAL, 2009, p. 66).

285
Com esse problema em tela, alguns prognósticos são propostos. O que primeiro

destacaremos é a defesa de políticas públicas de requalificação do trabalhador, entendidas

como mecanismos de reinserção no mercado laborativo em “conjunturas de transição”, isto

é, de crise econômica ou de períodos de desemprego – estes definidos em nível individual,

sem necessariamente remeter a ciclos econômicos recessivos em nível macro. A política de

qualificação, na visão do texto, “reduz, consequentemente, a massa de trabalhadores mais

vulneráveis”, atuando como incrementadora da sensação de segurança laboral (CEPAL, 2007,

p. 67-68).

Uma estratégia para lidar com o mesmo problema, mas que recebe maior atenção no

segurança é a “flexisegurança”. De acordo com o texto, ela

já foi incorporada com resultados satisfatórios nos países desenvolvidos. Ela


consiste em incrementar a fl exibilidade do mercado de trabalho – uma necessidade
em economias mais abertas e competitivas – com uma segurança que compense o
custo humano do ajuste econômico. Essa segurança supõe a aplicação de políticas
passivas e ativas ao mercado de trabalho, isto é, seguros-desemprego e normas de
reeducação profi ssional e intermediação trabalhista que evitem a perda de renda
durante o processo de transição, abreviando sua duração. A adequação da proteção
trabalhista constante da transferência da titularidade da proteção do posto de
trabalho para a pessoa também pode contribuir para a manutenção dos níveis
preexistentes de proteção social (idem).

Não se argumenta, aqui, pelo fim da insegurança, deduzindo-se daí “rigidez

institucional” que assegure o direito ao trabalho – e, por conseguinte, à renda. Fala-se, ao

contrário, “de margens aceitáveis de segurança e flexibilidade oportuna para fazer frente a

novas situações” (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 66-67). Em outras palavras, importa mais a

sensação de segurança do que a segurança efetiva, demonstração da centralidade da

manutenção do tecido social na lógica da argumentação – mais do que propriamente a

melhoria de vida efetiva dos trabalhadores. Nesse sentido, defende-se espécie de ajuste fino

286
que flexibilize o trabalho tanto quanto possível, sendo um limite da flexibilidade o nível de

desemprego e desesperança que ameace a ordem.

As margens, assim, são definidas pela sensação de insegurança pelos trabalhadores.

Em alguns países que servem de amostra para a reflexão, a baixa quantidade e qualidade da

proteção trabalhista é compensada pela dinamicidade da economia, que assegura rápida

reinserção no mercado laboral (idem). No outro extremo, há o modelo de proteção que a

Dinamarca é o exemplo mais acabado: com alto grau de proteção e assistência. O curioso é

a relativa omissão das razões que permitem à Dinamarca a adoção do modelo: se uma

economia ainda mais dinâmica do que à estadunidense, se uma maior produtividade do

trabalho, etc.

O fato é que o mote da argumentação se evidencia na sequência do texto, quando se

reflete sobre a necessária compatibilização de segurança – que proporciona maior

estabilidade social – e competitividade – que permite maiores níveis de crescimento

econômico (idem). Em outras palavras, a reflexão se debruça sobre o problema laboral com

o fito de estabelecer um ajuste adequado à articulação entre estabilidade social e crescimento

econômico, que, na argumentação do documento, tendem à retroalimentação. Como aqui

insistimos, a coesão social aparece, mais uma vez, como fiadora do desenvolvimento

capitalista, inclusive quando atua sobre áreas críticas objetivando melhora na sensação de

bem-estar dos trabalhadores.

ii. Desenvolvimento de habilidades: educação e coesão social

A educação é vista como fundamental para a coesão social, por difundir normas e

valores, além de internalizar disposições e estruturas sociais. Ela, entretanto, é

287
potencialmente contraditória, haja vista que em situações muito específicas pode funcionar

como catalizadora de movimentos disruptivos. O documento alude, assim, à “complexidade

das relações entre educação e coesão social”, de modo que aqui tentaremos capturar essa

ambiguidade pela expressão das duas posições sobre o assunto que perpassam o texto

estudado.

Do ponto de vista favorável à coesão, a estrutura educacional teria a potencialidade

de redução da pobreza, a capacidade de preparar para a cidadania e de proteger os grupos

socialmente mais vulneráveis, por sua inclusão no mercado de trabalho. Nessa ótica,

promoveria maiores oportunidades de acesso aos instrumentos de bem-estar, facilitaria a

adaptação às mudanças produtivas e a inserção em espaços decisórios da vida pública. Todos

fatores capazes de aumentar o nível de integração do educando à sociedade (COESÃO

SOCIAL, 2007, p. 68-9). Assim,

No plano sociopolítico, a educação pode contribuir efetivamente para


fortalecer a democracia no tecido social. Cabe recordar que o protagonismo
crescente do conhecimento e da educação para o desenvolvimento incidem signifi
cativamente na dinâmica de uma ordem democrática. Isso ocorre porque a base
material e simbólica das democracias já não está alicerçada exclusivamente em um
tipo de economia ou de institucionalidade política, mas se sustenta também no uso
ampliado do conhecimento, na informação e na comunicação. O civismo já não
está limitado apenas ao exercício de direitos políticos, civis e sociais, mas se
estende à participação, em condições de maior igualdade, no intercâmbio
comunicativo, no consumo cultural, no manejo da informação e no acesso aos
espaços públicos (Hopenhayn e Ottone, 2000) (COESÃO SOCIAL, XXXX, p. 69).

Ainda na avaliação de seus aspectos positivos para a coesão, a educação é vista como

importante colchão de proteção à competitividade no mercado de trabalho, sobretudo por

dotar o educando de instrumentos que facilitem seu aproveitamento na esfera produtiva em

constante transformação.

No plano socioeconômico, quanto maior é o nível da educação formal e da


qualidade do ensino ministrado, menor a probabilidade de que quem a recebe seja
pobre ou venha a sê-lo. Além disso, a educação é o principal recurso para a
superação tanto da pobreza quanto das causas estruturais que a reproduzem: baixa

288
produtividade no trabalho, escasso acesso às ferramentas da vida moderna,
marginalidade sociocultural, maior vulnerabilidade das famílias em matéria de
saúde, e descontinuidade e baixos resultados da educação dos filhos (COESÃO
SOCIAL, 2007, p. 69)

A educação, entretanto, também pode servir à desagregação social. Isso porque,

malgrado os esfeitos positivos inegáveis, o processo educacional assume papel desarticulador

quando convertido a polo de crise em uma dada sociedade. São listados três possíveis causas

específicas para tanto:

Educação e igualdade de oportunidades. O grande potencial coesivo decorrente da

educação é assentado na forma de distribuição dos “ativos simbólicos” (entre outros,

conhecimentos e habilidades) em uma sociedade (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 70). Na letra

do documento, uma maior distribuição desses bens asseguraria, tendencialmente e no futuro,

uma equivalente distribuição de bens materiais – isto é, de “capital econômico”. Do que

decorre, por conseguinte, a distribuição de bem-estar e, paralelamente, o incremento do

sentido de pertencimento à sociedade, com consequente maior adesão à rede social.

O polo de contradição embutido nesse primeiro item, portanto, está na incapacidade

de distribuição dos tais ativos simbólicos. A orientação para as políticas públicas passa,

portanto, pelo ajuste entre qualidade e equidade, significando que as melhores instituições

promotoras de conhecimento e capacitadoras de habilidades devem promover a sensação de

acesso universal, indiscriminado por renda. Segundo o texto,

As mudanças na gestão do sistema educacional devem orientar-se para a


combinação de melhoras de qualidade com avanços da eqüidade. Por exemplo, a
combinação público-privada na provisão de serviços faz sentido quando são
utilizados mecanismos de mercado que melhorem a qualidade da oferta. Isso,
entretanto, não deve, em nenhum caso, redundar em maior segmentação da
qualidade, porque acaba por premiar os que podem pagar e punir os demais. Se a
última hipótese ocorrer, a educação não contribui para a coesão social, mas, antes,
acentua as diferenças de capital humano e com isso perpetua as lacunas entre
gerações (COESÃO SOCIAL, 2007, p.71).

289
Do que se depreende que a subsunção das instituições de ensino à lógica do capital

não é apenas admitida como projetada, desde que acompanhada por instrumentos de inclusão

que minimizem a disparidade de acesso oriunda dos ativos econômicos desigualmente

distribuídos. Essa é precisamente a preocupação que guia a crítica aos sistemas duais na

região:

é preocupante que em países da Região se consolidem sistemas educativos


duais em que a qualidade do ensino público se deteriora em comparação com a
educação particular e a concorrência entre escolas, nos sistemas subvencionados,
termina por colocar barreiras de admissão que discriminam os alunos mais
vulneráveis. (COESÃO SOCIAL, 2007, p.71).

Uma solução seria a descentralização do controle sobre o sistema público, a fim de

permitir que os municípios “tomem iniciativas” para adequar “oferta e demanda” local. Da

forma como entendemos, o exposto busca legitimar o ingresso do mercado também na esfera

da educação pública, pelo menos no controle sobre os mecanismos de gestão. Na lógica do

texto, uma otimizada alocação de recursos contribuiria com o fim das disparidades do sistema

dual. Nas palavras do texto,

(...) a descentralização do sistema educacional é muito útil para ampliar a


capacidade que os municípios e as escolas têm de tomar iniciativas e adequar a
oferta a condições e necessidades específicas da demanda local. Para que a
descentralização também seja proativa em termos distributivos, deverá prever a
transferência de recursos técnicos e financeiros às entidades descentralizadas em
zonas de menores recursos, o que permite a focalização de esforços com critério de
eqüidade. Evita-se com isso o círculo vicioso que supõe a existência de “escolas
ruins para municípios pobres” (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 71)

Não há, por evidente, qualquer vestígio de entendimento da educação como direito.

Ela é tratada, ao contrário, como mercadoria cujos recursos para a produção deveriam ser

alocados de acordo com a criticidade do estágio do serviço. Essa é a ideia por trás do processo

de focalização. No limite, teríamos os esforços ainda públicos direcionados para focos

problemáticos do sistema. Ao restante, então carentes de recursos, restaria o auxílio de outras

290
modalidades de financiamento. E então ganha sentido a alternativa mercantil defendida nesta

seção do documento.

O elo entre educação e emprego. Para além de problemas derivados do desigual

acesso à educação, o documento também fala sobre a potencialidade diluidora de laços

sociais das expectativas frustradas. Assim, um alto “investimento educacional”, quando

desacompanhado de equivalente oportunidades de emprego, pode gerar comportamentos

disruptivos. Nesse sentido,

sob o prisma da coesão social, o maior problema está no fato de que uma
educação mais ampla gera maiores expectativas de acesso a melhores empregos à
saída do sistema educacional. O risco, por conseguinte, é que essas expectativas
se frustrem caso persista ou se prolongue a assincronia assinalada entre mais
educação e menos opções para capitalizá-la. Isso pode provocar maiores tensões
entre adultos e jovens, bem como uma percepção mais ampla de falhas na
meritocracia e uma confiança menor tanto no futuro quanto nas instituições de
integração social (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 72).

A solução consistiria na superação da desesperança. O que poderia ser atingido por

uma estrutura educacional atrelada ao mercado de trabalho, na qual a formação privilegiaria

a instrução de mão-de-obra. Por outro lado, os processos educativos devem estar vinculados

às transformações produtivas – o que significa o incentivo a “jovens empreendedores de

baixos recursos”.

A formação profissional, a capacitação para o trabalho e o apoio a jovens


empreendedores de baixos recursos são fundamentais e exigem investimentos mais
vultosos destinados a realçar a qualidade e a cobertura desses programas. Trata-se
de um salto qualitativo na adequação da formação e da capacitação para novas
demandas do mercado de trabalho e para a mudança tecnológica, além da
participação de múltiplos atores, como universidades, grupos de empresários e
empregadores e agentes de fi nanciamento, entre outros (COESÃO SOCIAL, 2007,
p. 72)

Na avaliação do documento, a coesão social está ameaçada sempre que a lacuna entre

a formação e a aplicação dos conhecimentos no mercado de trabalho for grande demais, há a

possibilidade de a educação se converter em polo de desagregação social, não só pela

291
conhecida “fuga de cérebros”, como também pelo desmanche do tecido social por ação

daqueles que permanecem no país sem, contudo, obterem formas de ingresso no mundo

produtivo. A solução, assim, passa pela disciplinação da educação pelo mercado de trabalho,

do que decorre a formação coadunada com as necessidades da reprodução do capitalismo. O

apoio à mentalidade empreendedora deve ser entendida também nessa chave, como forma

de estímulo àqueles possivelmente capazes de converter investimento educacional em

aprimoramento de tecnologia dedicada à geração e extração de valor. Sai de cena, portanto,

qualquer vestígio de educação humanista, bem como qualquer espaço de reflexão que leve

em consideração as possibilidades de um ser social diferenciado.

Educar para a igualdade, educar com a diferença. Outro elemento potencialmente

prejudicial à coesão é o afloramento e a propagação de intolerância com a heterogeneidade

do corpo social. A educação, por essa razão, deve se voltar para as diferenças, a fim de ensinar

a convivência coletiva sob os valores da igualdade. Igualdade aqui entendida, claro está,

como a igualdade de direitos e oportunidades, não uma igualdade social mais substantiva.

Nessa área, destaca-se a defesa do multiculturalismo como paradigma para a

formação de jovens. Entende-se, pois, a educação como forma de construção de consciência

e disposições para com a sociedade que aprofundem a união dos laços sociais,

compreendendo que o mesmo se dá quando as diferenças não são pontos de disputa entre um

padrão de comportamento. Para os autores do texto, portanto,

É importante que, tanto a partir dos códigos implícitos de relação na escola


como dos conteúdos ministrados, os educandos interiorizem a avaliação positiva
da igualdade de direitos e do respeito às diferenças em função de gênero, etnia,
raça, cultura e lugar de origem (…). Com essa finalidade, é importante pôr em
prática um enfoque multicultural que não só promova o respeito às diferenças, mas
também infunda maior consciência sobre o modo como a negação histórica do
outro, mediante a discriminação e a exclusão por razões adstritas ou culturais, deu
origem a profundas assimetrias nas oportunidades de aprendizado para a vida e
para o trabalho. É necessário, por conseguinte, que no acesso a maiores

292
oportunidades de aprendizado se dê prioridade aos grupos que secularmente têm
sido mais discriminados e excluídos (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 73).

Conforme defendemos ao longo do capítulo, a coesão social no capitalismo significa,

do ponto de vista político, conformação à ordem. É a expressão de uma disposição

eminentemente conservadora, nesse nível de análise. Assim, a finalidade dessa orientação

educacional não deve ser pensada de modo desarticulado aos objetivos políticos e

econômicos anunciados mais acima no documento.

O multiculturalismo, nos usos prescritos pela fonte ora em análise, reveste-se de

potencial apassivador, ao restringir o trato da diferença ao trato das identidades. Com isso, é

bom que se esclareça, não queremos defender que tal conjunto de ideias e metodologias de

pesquisa seja necessariamente conservador ou, pior, reacionário; mas que, quando funcional

à harmonia social em uma formação histórica onde reina o modo de produção capitalista,

seu papel passa a ser eminentemente contrarrevolucionário.

Coesão e proteção social. A proteção social no capitalismo é um tema debatido

especialmente por pesquisas vinculadas a programas de pós-graduação em serviço social.

Elaine Behring e Ivanete Boschetti, a partir de uma chave interpretativa marxista, entendem

as políticas sociais como “respostas e formas de enfrentamento” às expressões das lutas de

classe cujo fundamento é a exploração do capital sobre o trabalho (BEHRING, BOSCHETTI,

2008, p. 51). Dessa perspectiva, sobretudo desde o fim do século XIX a burguesia adota

medidas para apassivar a potencialidade de revolta do proletariado, sendo o caso alemão

particularmente exemplar, inclusive por cunhar a noção de “política social” a partir de 1873

(PIANA, 2009, p. 23). A questão social atinge novo patamar, ainda de acordo com as autoras,

na Europa do pós-guerra, quando a “ameaça” comunista e a força dos trabalhadores

organizados força recuos do empresariado, dos quais a constituição do welfare state é o seu
293
principal produto (BEHRING, BOSCHETTI, 2008). Desde então, essas vitórias proletárias

estimularam reivindicações análogas em outras partes do mundo, culminando em alguns

casos, como o brasileiro da década de 1980, com a instituição na forma de norma de medidas

similares às arrancadas à burguesia europeia – cuja aplicação efetiva, no entanto,

transformou-se numa batalha acirrada na década de 1990 (NETTO, 1999)370.

No debate sobre pontos específicos da política social, há quem que enxergue nos

programas, para além de seus elementos mais propriamente de assistência, uma forma de

integração social. Se a vertente marxista dessa perspectiva privilegiará a seguridade social

classista como forma de despertar a consciência de um nós trabalhadores (GRANEMANN,

XXXX), outras linhas trabalham com a perspectiva da integração da sociedade enquanto tal.

Fernando Filgueira adota precisamente esta abordagem, cujos fundamentos teóricos tem

como suposta a necessidade de ação do Estado para reverter tendências de desagregação

social expressas no individualismo montante da sociedade capitalista. Nessa linha de

abordagem, portanto, o autor, no documento usado como fundamento de análise, ressaltará a

função do financiamento solidário no reforço da coesão social.

Um aspecto fundamental da coesão social é o financiamento solidário dos


sistemas de proteção social. Riscos como o desemprego, o subemprego, a doença,
a perda ou diminuição radical da renda na velhice, entre outros, são fatores
determinantes do bem-estar presente e futuro das pessoas que, ao se sentirem
protegidas diante desses riscos, também sentem que a sociedade atende a
contingências que as afetam sem que elas possam individualmente controlá-las A
capacidade de integrar as pessoas em um marco normativo comum depende, em
boa medida, da percepção que elas têm de pertencer a um sistema conjunto de
interação, cooperação, negociação e solução de conflitos que, ao menos
parcialmente, as protege de certos riscos fundamentais por meio de sistemas de
proteção social (Filgueira, 2006). (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 73-74).

370 BEHRING, Elaine Rosseti; BOSCHETTI, Ivanete. Política Social: fundamentos e história. São Paulo:
Cortez, 2008 – 5. Ed. – (Biblioteca Básica do Serviço Social).
José Paulo Netto. FHC e a política social: um desastre para as massas trabalhadoras. In: O desmonte da nação
- balanço do governo FHC. Petrópolis, Vozes, 1999, p. 79.
PIANA, MC. A construção do perfil do assistente social no cenário educacional. São Paulo: Editora UNESP;
São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009
294
Do exposto acima, extrai-se que a seguridade social é dínamo criador de vínculos

entre pessoa e sociedade, já que desta se extraem formas de assistência social em fases de

dificuldades individuais. Não se trata, porém, apenas de avaliar o suprimento de serviços

sociais para os cidadãos em estado de vulnerabilidade: é importante também destacar as

formas de financiamento. Ora, segundo o argumento do autor, precisamente por ser solidária,

a reunião de recursos enseja a criação simbólica de uma comunidade que transcende os

esforços dos indivíduos isolados, fabricando uma coletividade na qual o cidadão pode se

sentir amparado. O sentido político da proteção é, aqui, evidente. Funciona como espécie de

amarra que, ao atrelar destinos individuais e coletivos, torna os cidadãos mais dispostos a

sustentar a sociedade, funcionando como dínamos de sua reprodução.

Voltando ao documento, defende-se que a proteção financiada socialmente teria como

aspecto positivo a potencialidade de reverter a sensação de existirem lacunas sociais entre

grupos de cidadãos distintos. Para isso, mecanismos de redistribuição de riqueza deveriam

primar pela excelência de seu funcionamento. Este processo tornaria a distribuição de renda

também mecanismos de coesão, na medida em que reforçaria os laços entre indivíduos e

comunidade – minimizando, inclusive, impactos negativos oriundos das diferenças reais na

cidadania – expressa, dentre outros, por aplicação desigual da justiça.

A coesão social vê-se ameaçada quando se generaliza a percepção de que os


riscos são transmitidos de uma geração para outra, ou seja, quando as pessoas
entendem que, em relação à proteção contra os riscos, há uma cidadania social de
“primeira” e “segunda” classe, e que essa hierarquia, por se perpetuar entre
gerações, reveste certo caráter estatutário. Em contraposição, quando o Estado e a
sociedade conseguem criar mecanismos de transferência que diminuem as lacunas
no tocante ao impacto de acontecimentos catastrófi cos sobre a segurança das
famílias, especialmente em relação ao futuro, a consciência de pertencer à
sociedade se fortalece (COESÃO SOCIAL, 2007, p.74).

295
Como importam mais as sensações dos cidadãos do que a realidade social efetiva, o

modelo de proteção social não pode se basear no padrão clássico verificado nos Estados de

Bem-Estar Social radicado na Europa. A correspondente expectativa de direitos que este

engendra, não pode ser atendida pela estrutura social latino-americana, do que se concluí

que, em vez de instrumento de coesão, como o fora na Europa, a lógica social-democrata

referida é geradora de óbices à pacificação social, precisamente por gerar expectativas

incapazes de serem atendidas. (COESÃO SOCIAL, 2007, p.75)

A recusa ao modelo do welfare state abre uma brecha que não pode ser preenchida

pelo modelo clássico do que se convencionou chamar de neoliberalismo. Com efeito, na

visão do texto, as reformas pró-mercado dos anos 1990 falharam em criar “novos marcos de

integração social”, exacerbando a iniquidade dos sistemas de proteção social (COESÃO

SOCIAL, 2007, p.75). O documento conclui, assim, que

a curto e médio prazo, o emprego remunerado e formal não pode ser o único
mecanismo de acesso à proteção social. Um esquema que permita melhor
equilíbrio entre os mecanismos de incentivos e de solidariedade é necessário, e
medidas devem ser tomadas para fazer frente às mudanças demográficas,
epidemiológicas e da estrutura familiar (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 75).

Diante desse quadro, propõe-se

Um modelo de proteção social baseado em direitos, direcionado para a coesão,


[a] ser ressaltado sobre estes quatro elementos essenciais da política social: a
determinação dos níveis e das fontes de financiamento contributivo e não
contributivo; a extensão da solidariedade no financiamento; o desenvolvimento da
institucionalidade social para uma gestão eficiente da política de oferta de
benefícios, e a identificação dos direitos explícitos que podem ser garantidos e
exigidos em termos de acesso a benefícios sociais (COESÃO SOCIAL, 2007, p.
75-76).

Temos, pois, que a proteção social idealizada deve, ao mesmo tempo, combinar

mecanismos de capitalização com financiamento individual, mecanismos de integração com

financiamento solidário e, no que diz respeito aos fundos por essa forma de contribuição,

uma gestão empresarial que assegure eficiência na identificação e na distribuição dos


296
benefícios sociais. A ideia de direito, nesse parágrafo, não é suprimida: é subsumida,

entretanto, à lógica da otimização dos “ganhos”, o que não chega a ser surpreendente. Diante

disso, a proteção social aqui proposta se enquadra naquela que defende a lógica societal

burguesa, com a diferença – em relação sobretudo ao sistema previdenciário estritamente

pautado pela capitalização – de incorporar mecanismos de financiamento solidário. Não por

qualquer influência de universalismo ou de concepção de unidade classista, como no

argumento de Granemann, mas como mecanismo de acomodação à ordem capitalista.

Os problemas do financiamento da proteção social na América Latina. A

arrecadação dos Estados latino-americanos é vista como problemática pelos redatores do

documento. Com efeito, a pirâmide tributária “invertida”, isto é, assentada na contribuição

pelo consumo; os gargalos estruturais devido à baixa produtividade; e a histórica dívida

externa da região são vistos como potencialmente problemáticos para o estabelecimento de

um sistema de proteção social universal. Respondendo a essa limitação, os governos

ofereceram respostas variadas.

A incapacidade de concretizar a universalidade da proteção social nos países


da Região deu lugar a três tipos fundamentais de benefícios: os que são
diretamente subsidiados e prestados pelo setor público, a fim de atender à
população mais pobre; os que estão vinculados a sistemas de seguridade social
financiados por contribuições dos trabalhadores, destinados a protegê-los e às
suas famílias; e os que são financiados por particulares para a provisão de
serviços de melhor qualidade. Essa forma de organização segmentou o
financiamento destinado à proteção social e à qualidade da assistência
proporcionada que se refletem em diferenças acentuadas em termos de qualidade,
custos e prazos para o acesso aos benefícios (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 78)

A multiplicidade desses subsistemas, assim, é um risco à coesão social, precisamente

pelas diferenças sociais a que ela dá origem. Por outro lado, diante da debilidade das contas

públicas na região, a financiamento diferenciado é visto como uma forma possível de

oferecer algum grau de proteção aos cidadãos, com seus efeitos políticos coesivos daí

297
derivados. A solução para a questão, portanto, passaria pelo estabelecimento de um sistema

integrado, cujo financiamento fosse integrado e determinado pela capacidade de pagamento

dos cidadãos, combinando, por conseguinte, contribuições públicas.

A segurança proporcionada por uma combinação entre a assistência pública


gratuita, as contribuições para a seguridade social e os planos privados baseados
em co-pagamentos não deve necessariamente conduzir a uma seleção ou
“depuração” da população beneficiária que torna a cobertura e a qualidade da
assistência prestada dependentes da capacidade de pagamento. Esse problema
poderia ser evitado se em lugar de múltiplos subsistemas que diferem segundo a
instituição seguradora ou prestadora de que se trate (de assistência pública,
previdência social ou seguro privado) houvesse uma integração consoante uma
lógica comum que estruturasse o financiamento, a assistência e a regulação do
sistema de proteção social. A falta de um sistema integrado dessa natureza tem sido
um problema recorrente na América Latina. Por sua vez, as reformas orientadas
para a incorporação dos subsistemas em um sistema integrado de proteção social
também devem regular as opções de mercado e da esfera privada, com normas que
zelem por uma combinação adequada das iniciativas públicas e privadas, a fi m de
realizar os objetivos sociais e públicos (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 79).

Esse tipo de proteção social não resolveria, por si mesma, as limitações da cobertura

social no continente – a informalidade do trabalho é ressaltada como outro aspecto limitador

da assistência, posto que os benefícios sociais são em parte limitados a empregos formais.

Neste espaço, no entanto, convém destacar a insuficiência do trato de um problema crônico

na região, que é precisamente o défice das contas públicas. Assim, ainda tendo em vista a

proteção social e, portanto, e a capacidade do Estado em agir para a coesão, sobretudo em

épocas contracíclicas, os formuladores de políticas públicas avançam propostas de reforma

tributária. Esta deveria atacar o problema central do financiamento público no continente: a

estrutura regressiva dos impostos.

[Um] aspecto crucial das finanças públicas é a carga tributária que tanto permite
ao Estado cobrir lacunas de proteção diante de riscos em setores mais vulneráveis
como, de modo geral, lhe proporciona recursos para aplicar em políticas sociais
que contribuam para maior coesão. Na América Latina a carga tributária ascende
em média a 17% do PIB, índice muito inferior ao de 41% da União Européia, 36%
da OCDE e 26% dos Estados Unidos (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 79-80).

298
A avaliação é de que a América Latina taxa pouco a renda e a propriedade, com a

maior parte do tributo sendo de natureza indireta, incidindo no consumo. Há que se alterar a

pirâmide tributária rumo a um modelo mais progressivo, que assegure a capitalização do

governo.

Dois corolários centrais emanam da análise da situação tributária da América


Latina e do Caribe. O nível da carga tributária global da maioria dos países é, em
média, um terço menor do que deveria ser, em função dos respectivos níveis de
renda per capita. Em termos absolutos, implica que a carga tributária na Região
deveria superar a atual em 3%-4% do PIB. Esse maior nível de recursos proveria
os fundos necessários ao fi nanciamento de programas sociais e sistemas de
seguridade social não contributivos. Foram realizados exercícios de simulação das
mudanças nas estruturas tributárias e das curvas de concentração que mostram o
quanto o desenvolvimento de um sistema progressivo é difícil nas atuais
circunstâncias (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 81).

Qualquer reforma nessa área, entretanto, não pode atacar a capacidade de reprodução

do capitalismo, na forma de entraves à competitividade.

Em qualquer circunstância, é fundamental velar pela qualidade da imposição


tributária e não obstar a competitividade das economias pela imposição de taxas
excessivas ou por uma tributação insuficiente”(COESÃO SOCIAL, 2007, p. 81).

O dilema analisado se resolve pela chave da eficiência. Deve-se ponderar sobre

programas que combinem o menor custo com a máxima qualidade. Para tanto, alguns fatores

são observados:

(i) modalidade de arrecadação e oportunidade do gasto dos recursos; (ii) sua


alocação a grupos destinatários, procurando imprimir um sentido de eqüidade aos
resultados, e (iii) intertemporalidade de seus efeitos (COESÃO SOCIAL, 2007, p.
82)

Desdobrando os parâmetros, o documento indica, respectivamente, que i) a política

social deve ter “prioridade contracíclica”, recebendo maiores recursos em fases de contração

econômica a fim de diminuir o ritmo de retração do mercado – na mesma lógica, usa-se o

período de expansão da acumulação para poupar recursos a serem disponibilizados para a

área durante períodos de crise; ii) a seletividade ou focalização é vista como forma de se

respeitar “o princípio de universalidade da política social”, através da alocação de recursos


299
com diretrizes que permitam “superar formas específicas de exclusão ou barreiras de acesso”

(CEPAL, 2000, p. 32 e 33); iii) o último aspecto destacado é o caráter “intertemporal” das

finanças públicas, cujo orçamento é sujeito a oscilações que impõem atenção ao manejo de

recursos, a fim de assegurar a efetividade e a qualidade da assistência de forma continuada.

Sobre o último aspecto, o documento é particularmente enfático ao alertar acerca dos

riscos advindos de desagregações pela descontinuidade da assistência social. A “ausência de

uma adequada previsão dos compromissos fiscais futuros”, por conseguinte, poderia

“sacrificar a qualidade das contribuições para fins sociais, a fim de cobrir passivos que com

o tempo se vão tornando efetivos e crescentes, com o conseqüente efeito negativo na coesão

social” (COESÃO SOCIAL, 2007, p. 83). Em outras palavras, os compromissos assumidos

pelo governo podem comprometer o orçamento dedicado à política social, sobretudo se forem

crescentes e direcionados a verbas constantes, como gasto com pessoal. O ajuste fiscal, assim,

é visto como condição necessária para a reprodução continuada das políticas sociais e,

indiretamente, para a coesão social.

Uma saída para evitar os problemas oriundos do desabastecimento dos cofres


públicos é diminuir a imobilidade de uma grande porcentagem do gasto total, o que
nem sempre é factível, devido à falta de flexibilidade inerente ao orçamento fi scal,
especialmente no que respeita aos gastos com previdência e pessoal. Essa política
permitiria um crescimento do gasto total consentâneo com a previsão do PIB,
simultaneamente com um aumento contracíclico do gasto social focalizado
(COESÃO SOCIAL, 2007, p. 83)

No caso brasileiro, a fixação constitucional de percentuais do orçamento para

educação e previdência social funcionou como mecanismo de defesa de investimento

públicos nessas áreas. A proposta do texto, ainda que declaradamente mirando objetivos

similares, vai em outra direção. A fim de liberar o orçamento para o gasto social, defende-se

a desvinculação das receitas públicas. Essa proposta revela como a política social é

importante também para a burguesia, uma vez que, entendendo o orçamento como resultado
300
das disputas sociais, conclui-se que sua desvinculação abre campos de disputa pelas fatias de

receita outrora destinadas constitucionalmente a áreas específicas. Crer que que um

orçamento “flexível” seja benéfico para a chamada questão social é admitir sua incorporação

também às pautas políticas defendidas pela burguesia.

3.5 O IFHC e a coesão social: um “desafio latino-americano”

A assim chamada coesão social é um tema caro ao IFHC, sendo essa importância

revelada pelo tempo e espaço dedicados à questão: nas intervenções realizadas pelo instituto,

o tema é frequente, sendo, inclusive, objeto de um livro lançado pela organização. Fruto de

um debate realizado sobre o tema na sede do instituto, em São Paulo, o produto foi um dos

primeiros esforços de sistematização e divulgação das ideias da organização, do que se

depreende tanto a relevância quanto a urgência da questão para seus dirigentes.

Esse comentário introdutório serve para evidenciar a extensão das interpretações

sobre o tema nos marcos da iniciativa, do que se conclui que a presente reflexão padecerá de

diversos limites, principalmente da restrição de espaço. Assim, decidi me dedicar mais

detalhadamente precisamente ao livro editado por Bernardo Sörj e Danilo Martuccelli (2008),

acima mencionado. Ainda assim, o esforço de análise deste material específico está longe de

ser exaustivo, dada sua amplitude. De toda forma, ele constitui fonte improtante

Nas páginas de O desafio latino-americano: coesão social e democracia, somos

informados de que o conceito de “coesão social” foi “elaborado pela União Europeia” a partir

de 1990 em um sentido “normativo-evocativo”, isto é, “que busca definir um horizonte

301
desejável para a sociedade” (SÖRJ E MARTUCCELLI, 2008, p. 287), que se converteria em

realidade ao fundamentar políticas públicas. Para os autores,

O conceito de coesão social é definido como “the capacity of a society to ensure


the welfare of all its members, minimizing and avoiding polarization. A cohesive
society is a mutually supportive community of free individuals pursuing these
commom goals by democratic means”371. (Idem, ibidem)
É tendo esse horizonte de expectativa que os autores do documento proclamam a

necessidade de uma forma de sociabilidade que absorva os conflitos nos limites da ordem.

Em outras palavras, uma sociedade “coesa” deve estar apta a acomodar oposições – desde

que estas se pautem pelo respeito ao estabelecido, descartando os grandes debates daquilo

que Antônio Gramsci chamou de grande política (GRAMSCI, [1932] 2014). Assim sendo,

mesmo os conflitos são mecanismos de integração, na medida em que, ao discutirem sobre o

que é acidental, reafirmam o essencial.

A coesão social nos tempos modernos não pode ser dissociada da mudança e
do conflito social. As sociedades modernas estão em mutação constante, o que
implica que elas geram permanentemente processos de desintegração das formas
de sociabilidade, abrindo lugar ao mesmo tempo para novos mecanismos de
integração nos quais a participação das demandas dos cidadãos desempenha um
papel central. (Idem, p. 291).

Há, no fragmento acima, a ideia de que o dissenso pode existir, desde que haja

igualmente a expectativa de solução das demandas em disputa pelas instituições. No

seguimento da argumentação, admite-se que a ideia de coesão social defendida pela União

Europeia foi elaborada em um contexto de “transformações da base produtiva” na sociedade

europeia, dadas a inserção do continente nos processos de globalização, com seus conhecidos

impactos na geração de empregos e distribuição de riquezas, e as mudanças no Estado de

bem-estar. Nas palavras de Sörj e Martuccelli, a “coesão social” europeia “supõe uma

371 Em tradução livre, o conceito de coesão social é definido como a capacidade de uma sociedade assegurar
bem-estar a todos os seus membros, minimizando e evitando polarização. Uma sociedade coesa é uma
comunidade de ajuda mútua de indivíduos livres perseguindo interesses comuns por meios democráticos.
302
representação do passado imediato que, de alguma forma, pretende-se preservar” (idem.

ibidem). A absorção daqueles conflitos, potencializados por abalos nas estruturas econômica

e social, assim, aparece como de suma importância nos marcos de uma iniciativa

essencialmente conservadora, claramente dedicada a manter o estabelecido, inclusive

evitando-se “polarizações” que possam esgarçar demasiadamente o “tecido social”.

A inserção dessa noção de coesão social no horizonte de expectativas europeu foi de

tal ordem que logo se estabeleceram parâmetros para dimensionar o avanço naquela direção.

Surgiam em 2001 os indicadores de Laeken, que, ao apurarem índices de emprego, renda e

acesso a serviços públicos, pretendiam qualificar o grau de “coesão” dos diversos Estados do

continente. Para Sorj e Martuccelli, assim, o conceito “ganhou um caráter operacional e,

portanto, pode se transformar em objeto de políticas públicas, que têm como meta incidir

sobre esses indicadores” (idem, p. 288).

Concordo em termos gerais com essa observação. Acrescentaria, no entanto, que a

operacionalização do conceito de coesão social faz com que uma interpretação da realidade

europeia passe a ser vista como o horizonte de interesses coletivos dos participantes daquela

sociedade – e, supondo o intercâmbio de formas políticas pelo mundo, também de outras.

Disso parecem discordar os autores do documento analisado, haja vista que consideram que

“a coesão social não se propõe a ser um marco interpretativo da realidade, no sentido de

mobilizar uma teoria e um marco analítico da dinâmica social” (idem, p. 288, grifo meu). Em

sua visão, tratar-se-ia, por conseguinte, de “uma referência normativa associada a critérios

operacionais em torno de indicadores (emprego, saúde, etc.) que são selecionados pelo debate

público, pelos políticos e pelos tecnocratas”. Poder-se-ia replicar que, dada as condições do

“debate público” - no qual a participação é frequentemente restrita e ideologicamente

303
comprometida -, a universalização de pressupostos, como os contidos na noção de coesão

social, inevitavelmente impõe um marco interpretativo da realidade que supõe uma teoria

social ou uma tradição teórica dessa natureza, especialmente quando eles se convertem em

balizas de ação governamental – processo então em curso, como admitem os autores do texto.

É esse projeto que Sorj e Martuccelli importam para analisar a realidade latino-

americana, projetando ao mesmo tempo um futuro para a região. Para justificar a adoção

desse conceito normativo, assim, argumentam que essa interpretação sobre a América Latina

tenderia a colocar no centro do debate suas dinâmicas sociais e culturais, tão negligenciadas

por “décadas de hegemonia de um pensamento orientado por temas econômicos” (Idem, p.

289). Em que pese a aceitação desse objetivo, isso não significaria, para os autores do

documento, “transportar mecanicamente” o “instrumental operacional”, tampouco as

expectativas e diagnósticos adequados à realidade europeia. Ao contrário, dever-se-ia atentar

às diferenças da realidade latino-americana, o que “exige um esforço de tradução tanto

analítico quanto político do conceito de coesão social para nossa região” (idem, p. 288),

inclusive abrindo espaço para a criação de indicadores de coesão originais.

Assim, a aposta é na possibilidade de se traduzir e recriar essas orientações mais

gerais do que seja coesão social para uma rubrica latino-americana. Em outras palavras, trata-

se de analisar a realidade da região por meio de diálogos interdisciplinares (fala-se em

debates e seminários entre sociólogos, economistas, historiadores e cientistas políticos), a

fim de se diagnosticar “problemas” próprios da América Latina, que certamente não seriam

os mesmos que balizaram o desenvolvimento de indicadores como os de Laeken, mas

tampouco os negariam. Sobre as contribuições da produção europeia acerca da coesão social,

por conseguinte, acrescentar-se-ia a originalidade latino-americana, trazendo à luz

304
indicadores próprios para fundamentar a ação estatal “adequada”. A orientação dos

intelectuais em estudo, portanto, é a construção de um modelo de coesão social que seja

próprio da América Latina, ainda que seguindo “parâmetros similares aos elaborados pela

União Europeia” (idem, 289). Dessa forma,

o tema da coesão social pode ser visto como uma oportunidade


para introduzir no debate público uma visão renovada dos rumos de
nossas sociedades e novas abordagens sobre a elaboração das
políticas públicas e a consolidação de nossas democracias. (Idem,
ibidem)

Se cotejarmos a aceitação desses “parâmetros” aos estudos da “realidade latino-

americana”, perceberemos que essa “tradução” aceita alguns cânones interpretativos, como,

por exemplo, a ideia de que o crescimento do produto é sinônimo de melhoria geral da

qualidade de vida, ou mesmo um indicador relevante desse processo - proposição que não

está isenta de carga ideológica, como parecem entender Martuccelli e Sörj. Assim sendo, o

estudo da especificidade de um modelo de coesão social latino-americano não parte do nada

– e nem poderia -, mas sim de um conjunto de valores consagrados como indicadores de uma

ideia específica de “desenvolvimento social”. O lado obscuro da iniciativa é esconder essas

seleções a priori, que na prática significam a introdução indiscutidas de premissas sobre

modos de vida “adequados” feitas de “cima” para “baixo”. Por trás da proposta de “diálogo”

e “construção coletiva”, por conseguinte, há dogmas que pautam as discussões como

cláusulas pétreas, invioláveis porque inalcançáveis por qualquer debate.

O endurecimento da discussão aparece com clareza quando do estabelecimento do

que seria o “objetivo” a presidir a idiossincrasia da concepção de coesão social na América

Latina – sem o qual os autores corretamente não veem sentido na discussão. O horizonte

almejado, assim, é significativamente qualificado como o de uma coesão social na

305
democracia. Se a coesão social significa, em outras palavras, a manutenção do estabelecido,

o meio para se alcançar tal meta, entre nós, passaria pela consolidação democrática. Restaria,

claro está, perguntar aos partícipes da iniciativa o que eles consideram democracia, já que

esse conceito é polissêmico. De toda forma, ainda que nesse espaço não se possa detalhar

esse ideal democrático, podemos considerar que o regime pretendido passará

necessariamente pela manutenção e naturalização da ordem, dado que se vincula a um projeto

de coesão social.

Evidencia-se, assim, a preocupação com o redesenho das instituições sociais, haja

vista que elas devem ser pensadas tendo aquele objetivo. Igualmente, também há esboçada a

preocupação com a formação das disposições políticas dos cidadãos. Dito de outra forma,

espera-se que suas expectativas sejam pautadas nos limites do estabelecido, de modo que a

instituições possam absorvê-las, resolvendo assim os conflitos que delas derivam.

Na América Latina, a análise da coesão social deve, portanto, incluir a


compreensão dos processos de mudança e conflito social, assim como seus
mecanismos de expressão e resolução. A análise da coesão social com democracia
tem como foco central as transformações sociais em curso e os desafios que elas
dirigem às instituições democráticas. Isso implica expandir o horizonte analítico e
o normativo da coesão social para além das (mas sem dúvida incluindo) políticas
públicas, em direção ao funcionamento dos sistemas políticos e culturais. (Idem, p.
291-292).

A tipicidade latino-americana, assim, seria a inclusão da preocupação com os

“sistemas políticos e culturais” na agenda de uma democracia com coesão social. Tendo em

vista os objetivos do projeto acima mencionados, essa seria certamente uma forma de

contenção dos processos disruptivos ainda no seu leito de nascimento. Isso, porém, não é

tudo. Não se trata, aqui, apenas das expectativas revolucionárias e insurrecionais que

eventualmente possam se formar diante de condições materiais particularmente difíceis, mas

também das consequências advindas dos processos de “transformação social” em curso.

306
Essas mudanças no continente seriam identificadas por “análises sobre coesão social

nas sociedades contemporâneas” que enfatizam “as mudanças que estão dando lugar a um

mundo fragmentado e de individualização autocentrada” (Idem, p. 14). Esse processo estaria

se associando à

perda de sentido de pertencimento à comunidade nacional e à falta de


sensibilidade para o bem comum, à erosão das referências tradicionais, à expansão
dos sistemas de informação e ao desejo de acesso a uma gama cada vez maior de
bens de consumo (Idem, ibidem).

Assim, a maior individualização implicaria “aumento de autonomia e iniciativa

individual”, desdobrando-se também em processos fragmentadores e diluidores do tecido

social. Assim, essa “opacidade geradora de angústia”, seria, ao mesmo tempo, um motor de

desenvolvimento desejado e uma ameaça à sociedade. (Idem, p. 16)

Aqui se encontra talvez o núcleo central do drama das sociedades latino-


americanas contemporâneas: na medida em que o social, cada vez mais penetrado
pelo mercado, não se sustenta mais nos laços sociais de dependência, favoritismo,
paternalismo e hierarquia, o Estado deve assumir o papel de fiador do pacto social
entre cidadãos livres e iguais, através da imposição da lei e da proteção social. Mas
a resposta do Estado a essa nova realidade social se realizou em geral muito mal
na maioria dos países do continente. Não só a transformação social foi mais rápida
e profunda do que a do Estado, mas também, em muitos países, inclusive as
instituições públicas e o sistema político parecem ser o principal refúgio da tradição
clientelística e nepotista (Idem, p. 17).

No fragmento acima, esclarece-se o que há de ameaçador nesse processo de “perda

das referências”: a possibilidade de captura desses indivíduos por formas associativas

pretensamente novas, mas vistas como portadoras das tradições clientelísticas e nepotistas

“tipicamente” latino-americanas. Em outras palavras, o processo de transformações poderia

ser barrado por uma reinvenção de sistemas políticos tradicionais, impedindo o

aprofundamento democrático, a reforma das instituições e a criação de um novo padrão de

coesão social. A batalha a se travar, portanto, seria sobretudo contra essa “tradição latino-

americana”.

307
Diante dessa individualização em curso, a sociabilidade patrimonialista
enraizada no Estado possui ainda uma enorme força, o que coloca em risco a
credibilidade das instituições democráticas, pois por um lado gera apatia,
frustração e repúdio pela política, e, por outro, fortalece em certos setores a visão
de que o Estado é um grande cofre, e que a única coisa que se deve esperar é a
chegada de algum líder com discurso de Robin Hood que proponha dividir uma
parte da pilhagem com os pobres. Em todo o caso, o reverso dessa incapacidade do
Estado de regular as relações sociais se expressa (...) na expansão de um enorme
espaço de atividades econômicas não legais que favorecem uma cultura de state
failure. E essas estratégias orientadas para a ilegalidade ou para a apatia diante da
política têm efeitos corrosivos igualmente importantes sobre a democracia (Idem,
ibidem).

Eis as alternativas em confronto: desintegração social, recuo patrimonialista ou

aprofundamento democrático. Essa encruzilhada histórica instaria os esforços coletivos

daqueles que são preocupados em “promover” a democracia no continente, a fim de que as

‘transformações sociais em curso” dessem forma a novas instituições e sistemas políticos –

marcados pela gestão participativa e democrática. A coesão social na democracia, assim, é

o recurso para se garantir a “ação individual”, participativa e até crítica – desde que nos

limites da ordem.

Igualmente, o apelo à união dos esforços nesse sentido vem de encontro às

necessidades de “redesenho” das instituições. Acima, esboçamos que a historicidade

institucional é uma varável importante na formação dos Estados e regimes políticos. Nesse

sentido, o movimento de “reforma” carreia em si um pressuposto: a necessidade de se extirpar

as tendências tradicionais latino-americanas do inventário de recursos políticos. Ao que me

parece, portanto, temos aí um exemplo claro de como a luta por uma sociedade “coesa” pode

ensejar transformações na estrutura política a serem operadas por setores sociais organizados

– não só pelo que se quer construir, mas também destruir.

Os formuladores da noção de coesão social na democracia latino-americana parecem

ter em mente um modelo bastante específico de regime político a ser evitado. Tanto é que,

mais à frente no documento, argumentam sobre a importância de se extirpar modelos políticos


308
antidemocráticos do inventário de alternativas políticas. A atenção fundamental, portanto,

recai sobre os elementos políticos e culturais que permitem a “instrumentalização” da

pobreza na região por “agentes antidemocráticos”. Assim, atentar aos modelos políticos

formulados na América Latina é fundamental para

compreender a realidade política do continente, pois se as condições


socioeconômicas estruturais podem conduzir ao surgimento de tendências
antidemocráticas, elas só se realizam através da presença de modelos políticos
concretos, que são promovidos por atores precisos. Não podemos assim esquecer
que, embora a pobreza e a desigualdade social sejam políticas, o que destrói as
democracias em última instância são os movimentos, as ideologias e os líderes
políticos antidemocráticos – que mobilizam e polarizam a imaginação e o debate
político. (Idem, p. 293).
Aqui cabe ressaltar que, para a audiência da Plataforma Democrática, seus

intelectuais e financiadores, não resta qualquer dúvida dos “movimentos, ideologias e

políticos” qualificáveis como “antidemocráticos”. Uma breve mirada sobre a produção

divulgada pela iniciativa mostra a preocupação em atacar os governos de Bolívia, Equador e

Venezuela, por vezes caracterizados como populistas, neopopulistas, totalitários,

autoritários, socialistas, dentre outros epítetos que, se observada a composição do campo

semântico, certamente têm muito a dizer (Idem, p. 231). No caso venezuelano, é o fenômeno

do chavismo que mais desperta interesse. Não tanto como “modelo a ser exportado para

outros países da América do Sul”, “ameaça” descartada por Sörj e Martuccelli, por

entenderem que o único Estado capaz de servir de guia para o subcontinente seja o Brasil,

mas por identificarem nos adventos da “revolução bolivariana” e no “socialismo do século

XXI” indícios de falhas na geração da “coesão social na democracia” presentes em toda a

região. Assim, enquanto persistirem essas “brechas”, a “coesão social efetiva e sustentável”

seria mais difícil de ser alcançável (idem, ibidem).

Mas, enfim, -quais seriam as tais “brechas”? A “crise de representação” partidária,

que dilata a distância entre representantes e representados, facilitando a emergência de saídas


309
não-institucionais; a “crise das alturas”, isto é, das lideranças políticas tradicionais, que

enfraquecem o bloco dirigente; e as falhas das democracias na América Latina, que não

permitiram a inclusão “econômica e simbólica” dos mais pobres, tornando possível o avanço

de “retóricas autoritárias” presentes no sistema cultural latino-americano (Idem, p. 235-242).

Respondendo a essa situação de crise democrática, o populismo permitiria a criação de “uma

unidade em torno de um pólo, ‘o povo’, que fala com uma só voz, a do ‘líder’, ao mesmo

tempo que se situa em uma relação de forte e irreconciliável antagonismo com o restante das

expressões polícias, o pólo do ‘antipovo’”. (Idem, p. 235).

Na contraface do que é considerado como falha temos detalhes do que seria uma

democracia coesa. Além de representantes mais próximos dos representados, evidencia-se a

necessidade de maior articulação “nas alturas”. Ambas as propostas são abarcadas no âmbito

de atuação da Plataforma Democrática, que tanto organiza os dominantes e dirigentes quanto

os educa para maior “diálogo” com a “sociedade”372.

Entendemos que essas propostas buscam atender demandas empresariais já aqui

expostas, notadamente a questão da estabilidade e previsibilidade políticas. Isso porque, ao

supostamente negar a institucionalidade, os regimes “autoritários” tornariam a relação com

o mundo empresarial dependentes de princípios “ideológicos”, como argumenta Carlos Mesa,

ex-presidente da Bolívia entre 2003 e 2005, naquele evento dedicado a debater a “liderança”

do Brasil na América Latina, acima mencionado. Com efeito, a discussão gira em torno da

necessidade de se desenvolverem políticas estatais em substituição às políticas

372 FHC insistiu, durante a elaboração das contrarreformas do governo Temer, na importância de se “contar à
sociedade” o que se pretende, a fim de se “construir consenso”. O conselho aparece com frequência em
suas preleções nos eventos da Plataforma Democrática. Ver mais em:
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2016/10/09/internas_polbraeco,552476/entrevis
ta-exclusiva-com-fhc.shtml (acessado em 15 de julho de 2017, às 19:07)
310
governamentais, isto é, de se garantir maior perenidade e previsibilidade na ação pública. Ao

analisar mais detalhadamente o caso boliviano, assim, Mesa critica a política voluntarista dos

governos da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba), entendida como

ilógica, porque pautada em outros princípios que não aqueles tidos como “econômicos”.

Os bolivianos vivem em um mundo exótico. Em que lógica empresarial


vivemos? Em que mundo vivem os países da Alba? Há alguma possibilidade de
discutir desde a perspectiva ideológica da Alba este cenário que vocês debateram?
Isso me produz um grande assombro. Seria desejável que esse debate sobre
mercado, impostos, integração via liberalização fizesse parte de nossas reflexões.
Mas nossa reflexão nega os tratados de livre-comércio. Entendemos processos de
integração baseados nos povos que se integram, e, portanto, temos uma
extraordinária relação com Antígua e Barbuda... não sei se Antígua e Barbuda
fazem parte da Alba, se não são parte da Alba, São Cristóvão e Neves certamente
fazem parte. Imaginem vocês a relação extraordinariamente importante entre
Bolívia e São Cristóvão e Neves, ou a que temos com Nicarágua, com Cuba. O
intercâmbio econômico que temos com esses países é praticamente zero373.

O tom debochado do ex-presidente evidencia a importância primária concedida à

lógica capitalista na política externa de uma democracia coesa. Não deve haver espaço para

outros tipos de integração que não a “empresarial”. Na mesma fala, fica claro ainda o

antagonismo existente entre a política interna dos países da Alba e a lógica empresarial

adequada, tida como “exótica” naqueles Estados.

Fica evidente, assim, que a defesa dos valores democráticos recobre o combate a

alternativas políticas potencialmente antissistêmicas. E o meio de se conter no nascedouro

qualquer movimento, ideologia e modelo político desviante é o avanço sobre os meios de

reprodução da retórica autoritária – outro atributo dos governos antidemocráticos,

apresentados mais atrás. Chega-se, aqui, à proposta mais destacada da Plataforma

373 Vídeo da fala de Carlos Mesa disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=81fhQuvCkHQ&list=PL96A06A14773DF840 (acessado em 18 de
julho de 2017, às 12:55)
311
Democrática para assegurar a coesão social: uma nova gestão dos “mecanismos de

mobilização simbólica e política”.

Entendemos que não se enfrenta a coesão social somente com propostas de políticas
públicas mais adequadas ou eficazes – sem dúvidas centrais, e que não deixamos de
mencionar neste trabalho -, mas supõe também questionarmos sobre os mecanismos de
mobilização simbólica e política dos cidadãos, que são uma das condições de possibilidade
(ou impossibilidade) das políticas públicas e reformas do Estado (Idem, p. 293-294).

Quaisquer que sejam os mecanismos, eles devem ser expurgados de tendências

antidemocráticas. Entendemos, pois, que o projeto de coesão social na democracia abre

espaço para “reformas” educacionais, universitárias, midiáticas, enfim, de todos os meios de

produção cultural capazes de eventualmente influenciar na formação de interpretações da

realidade. Sabemos que, nos últimos tempos, têm crescido a atuação mais propriamente

empresarial na “gestão” desses serviços (FONTES, 2010), o que tende a bloquear o

crescimento de impulsos disruptivos nesses “mecanismos”. Há, portanto, a crença que uma

“tradição paternalista” na “cultura” latino-americana pode ser “modernizada” por meio da

criação de “modelos políticos democráticos” (SÖRJ e MARTUCCELLI, 2005), cujo vértice

principal seria uma nova forma de gestão pública.

Jaz acima, portanto, uma das diretrizes da atuação política da Plataforma

Democrática e suas instituições promotoras. São propostas como essa que circulam pelos nós

de atuação da Plataforma Democrática. Neles, reproduzem-se interpretações da realidade,

ideologicamente comprometidas, que tendem a oferecer aos empresários a estabilidade

política já supracitada. Estabilidade essa só alcançável por um regime de normalidade

democrática pautado pelos interesses do capital que seja capaz, ainda, de se reproduzir

estavelmente.

312
A relação do projeto com aqueles que o patrocinam pode ser aqui vislumbrada. Não

seria a tentativa de manutenção da ordem uma forma de se garantir as necessidades dos

negócios? Com efeito, arece-nos particularmente claro que o apelo à noção de “coesão social”

casa perfeitamente com o cacoete conservador das classes dominantes latino-americanas. Ver

que o livro é, conforme sua folha de rosto, apoiado, dentre outras, precisamente pela CEPAL

e pela AECID, acima mencionadas, dá-nos um importante indício do trânsito desses

interesses que, oriundos do Velho Mundo, chegam à América Latina, atingindo o IFHC, que,

então, o amplifica pela rede de organizações empresariais da região, coligadas à Plataforma

Democrática. Se recuperarmos a reflexão que abriu este capítulo, teríamos que essa

democracia coesa seria um produto por meio do qual o consórcio dos dominantes na América

Latina – que não conta, obviamente, apenas com latino-americanos, mas também com a

burguesia imperialista - asseguraria sua posição e o estabelecido no continente, sobretudo

pelo reforço e pela reprodução da divisão social do trabalho que é estruturante do capitalismo.

Não surpreende, portanto, o projeto contar com o apoio, inclusive financeiro, esboçado mais

acima. É, ao contrário, lógico que os interesses materiais dos patrocinadores sejam

defendidos no bojo da construção de um modelo de sociabilidade para a América Latina.

Trata-se, pois, de tentar assegurar um solo social fértil para a reprodução ampliada do

capitalismo latino-americano. Processo que encontra, dentre outros espaços, no IFHC um

locus privilegiado de elaboração e amplificação.

313
4. O IFHC e o antipetismo (2014-2019)

A história que acompanhamos até aqui é a seguinte. O primeiro capítulo desta tese

versou sobre a natureza social dos tanques de pensamento e sua integração no Estado

capitalista. Ali pretendi demonstrar como, surgindo como condição de possibilidade das

divisões existentes nas relações sociais de produção sob o jugo do capital, aquelas entidades

constituem um novo canal de interação entre classes sociais e frações de classes dominantes

com o poder político.

No segundo capítulo desta tese, mencionei que o IFHC era uma entidade

condicionada por duas forças principais. A dos grandes capitais, sem dúvidas. São eles que

pagam as contas da fundação. Mas também de sua proximidade ao PSDB. O terceiro capítulo

teve como tarefa demonstrar a troca de tecnologias políticas entre os nós da teia associativa

da burguesia. Vimos como o IFHC busca se tornar o principal agente de difusão, pelo Brasil

e pela América Latina, das políticas públicas concebidas sob o imperativo da coesão social.

Esta meta representa a busca por estabilidade política desejável ao capital, em uma era de

conflituosidade sistêmica.

Neste capítulo baixamos a escala da análise e veremos o IFHC se posicionar no chão

quente da disputa política. Essa forma de inserção condicionará, por sua vez, tanto sua

atuação como tanque de pensamento – cujos aspectos mais gerais tentamos captar no

primeiro capítulo – quanto a adaptação que se fará às pautas da coesão social. É bem verdade

que, mundo a fora, a busca por sociedades coesas no capitalismo enfrentou dois constantes

adversários, a saber, os que pretendiam revolucionar a sociedade durante a busca por

condições sociais que assegurem a emancipação humana; e os que ansiavam por ver sua
314
dimensão de barbárie eclodir na guerra aberta. Aqui no Brasil os parâmetros da coesão social

tentaram organizar a construção daquela sociedade estável, onde a governança do capital

suplantasse a politização, sobretudo dos subalternos. Ocorre, porém, que as disputas

particulares travadas pelos seus promotores limitaram não apenas o alcance, mas a própria

agenda coesiva.

Começaremos, assim, vendo os esforços do IFHC em disputar o legado das “políticas

sociais” de transferência de renda, cujo domínio simbólico do PT então era claro. Aqui

apresento como os tucanos decidiram, em Congresso, que as eleições de 2014 deveriam se

tornar campo desta batalha. Reivindicaram a autoria das políticas de integração racial.

Convocaram representantes petistas e novas personagens da extrema direita para discutir o

tema em seminários realizados pela fundação. Na tentativa de construir uma forte base de

antagonismo com o Partido dos Trabalhadores, acabaram abdicando de qualquer tentativa de

construir um equilíbrio entre aquelas partes – tomando como suas posições francamente

reacionárias em relação à assim chamada questão racial.

A derrota obtida na eleição de 2014 parece ter aprofundado este caminho. Seria

impreciso, contudo, defender que o PSDB tomou o rumo da extrema-direita após as eleições

de 2014. É verdade que a aproximação já ocorria antes, como revelara Xico Graziano nesse

ano374 - ele próprio tomaria aquele rumo com sua adesão ao bolsonarismo. Entre 2015 e

2016, a união foi quase celebrada. De fato, a derrota de Aécio Neves deixou o IFHC, no ano

seguinte, elaborando maneiras de encerrar imediatamente o mandato de Dilma Rousseff.

374 https://jornalggn.com.br/partidos/xico-graziano-recoloca-psdb-no-caminho-da-legalidade/
315
Veremos, então, como a entidade planejou a construção de uma “alternativa de poder”,

contando para tanto com apoio das “ruas” e da “Justiça”.

Mas após ser atingido gravemente pelo lava-jatismo, os tucanos perderam

progressivamente apoio dos extremistas de direita. Bolsonaro passou a surgir como sua

principal liderança. O IFHC reagiu à conjuntura tentando unir o partido, apresentando

alternativas aos “extremos” PT e Bolsonaro. Não foi bem sucedido, e desde então, tanto

entidade quanto legenda tentam procurar um novo rumo. Este tatear tucano veremos nas

últimas seções deste último capítulo da tese.

4.1 O IFHC e a “base social petista”: a “questão racial” e a disputa pelo


legado das políticas sociais durante a eleição de 2014

No capítulo anterior, vimos como o horizonte da coesão social ensejava enfrentar os

principais pontos de conflito em uma dada formação histórica. O conceito seria, assim,

eminentemente operacional. Demandaria reflexão global constantemente atualizada sobre a

sociedade, sobre sua história, identificando os potenciais elementos disruptivos e

encaminhando análise motivada pela perspectiva de sua resolução. Esta tem como traço

distintivo, ainda, a incorporação dos opositores, com o fito de normalização das contradições.

Entende-se, pois, a luta pela coesão como forma de prevenção do desenvolvimento de

conflitos que podem ameaçar a estabilidade social – sendo esse o principal ponto de contato

com os interesses burgueses comentados o capítulo anterior, embora não o único.

No caso brasileiro, um elemento importante do partido da coesão social é o esforço

em debruçar-se sobre o racismo, entendido como dínamo gerador de desigualdades raciais

que ameaçam a harmonia e a paz social. O trato da questão pelo IFHC, entretanto, enfatizará
316
a incorporação dos negros e negras à ordem do capital – o que se depreende pela total

ausência de interpretações revolucionárias no debate aberto pelo instituto sobre o que se

entende por questão racial.

Novamente, O desafio latino-americano foi importante por mostrar uma visão

sistemática sobre o posicionamento da entidade em relação ao tema da “racialização” do

Brasil. No livro, uma seção desenvolve análise do problema, evidenciando seus impactos

sobre antagonismos sociais. No trato da “questão racial” pelo documento, está enfocada uma

política pública então em amplo debate na arena pública nacional: a política de cotas, e

sobretudo sua inclusão no Estatuto da Igualdade Racial, que tramitava no Congresso

Nacional desde 2000, mas então entrava em fases decisivas para sua aprovação e posterior

sanção. Vista pelo texto como potencialmente produtora de “particularismos” na sociedade,

a reserva de vagas no ensino superior e no serviço público – conforme apensado ao texto

originalmente proposto por Paulo Paim, deputado pelo Partido dos Trabalhadores - é

duramente criticada. Com o fito de apreciar o ponto de vista do IFHC sobre o problema, além

do encaminhamento para sua superação, convém recuperar o debate público que marca a

conjuntura de produção do livro ora analisado. A política de cotas versa sobre indígenas e

negros, mas nesta seção, por questão de recorte de pesquisa, analisaremos a questão sob o

prisma dos segundos, reservando o debate sobre a “questão indígena” para outro momento.

A polêmica sobre as cotas raciais estoura, no Brasil, a partir de 2001. Fora realizada,

então, a III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia

e Intolerância Correlata, em Duban, na África do Sul. O evento reuniu mais de 2,5 mil

representantes de 170 países, incluindo 16 chefes de Estado e 4 mil representantes de 450 mil

das chamadas Organizações não-governamentais. A declaração de Durban, documento

317
surgido com encaminhamentos do encontro, sistematiza ações a serem adotadas por Estados

interessados em combater o racismo e a discriminação racial. Alberti e Pereira, responsáveis

pelo acervo documental com entrevistas de membros do movimento negro constituído pelo

CPDOC/FGV, mostram que o debate sobre cotas raciais ganha fôlego nas rodadas de

seminários e reuniões de preparação para aquele grande encontro. Pelos depoimentos,

identificam na ação midiática – balizada por duas críticas à proposta – importante veículo da

transformação do assunto em polêmica nacional, com sua consequente captura como

bandeira por movimentos negros.

De acordo com nossas pesquisas e nossas entrevistas, a questão das cotas


ganhou a atual dimensão em 2001, quando da preparação do relatório brasileiro
para a III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, ,
Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada em Durban, Africa do Sul, em
setembro daquele ano. Segundo alguns depoimentos, a proposta de cotas para
negros nas universidades foi inserida no documento na última hora, resumindo-se
a uma linha apenas, entre diversas outras proposições. Curiosamente, ainda
segundo nossos entrevistados, este foi o item mais destacado pela mídia naquela
ocasião, trazendo, assim, a questão ao debate nacional. Graças a esse quase "acaso",
O tema das cotas acabou adquirindo um significado central no debate sobre a
questão racial, e hoje muitos dos nossos entrevistados o identificam como
verdadeiramente revolucionário, pois provocou aquilo que as lideranças do
movimento procuravam suscitar há décadas: uma discussão ampla sobre a questão
racial no Brasil, envolvendo diferentes setores da sociedade (ALBERTI e
PEREIRA, 2006, p. 145).

Assim, embora não tenha sido uma das principais pautas da agenda do novo

movimento negro brasileiro, a questão das cotas raciais é abraçada, influenciando a ação

política desse segmento social, a partir de então375. Seria um equívoco, entretanto, atribuir

somente à repercussão midiática da Conferência sul-africana a emergência dos debates sobre

375O movimento negro remonta ao período colonial da história brasileira, mas é sobretudo a partir dos anos
1970 que a interpretação benevolente da integração entre as raças, marca da suposta democracia racial que
existiria no Brasil, passa a ser contestada. O período da transição política da ditadura para a Nova República
marcaria, assim, uma virada para o movimento negro, não apenas nas suas concepções de Brasil, mas também
na sua forma de atuação, rumo à formação de organizações na sociedade civil com o fito de influenciarem o
processo de escolhas políticas no seio do Estado. Nessa conjuntura, a luta por ações afirmativas ganharia espaço
entre as lideranças negras (GOMES, 2012).
318
as cotas no Brasil. Isso porque a questão já era desenvolvida em meio à lideranças negras,

como Edna Roland e Ivanir dos Santos, cujas entrevistas disponíveis no acervo documental

do CPDOC reivindicam a responsabilidade pela inclusão da proposta na “Carta do Rio”,

documento brasileiro enviado à conferência (ALBERTI e PEREIRA, 2006, p. 147).

Fora o reconhecimento das condições desiguais entre os seres humanos em países

marcados pelo racismo, como é o caso brasileiro, que lastreou a luta de parte significativa do

movimento negro pela adoção das cotas como instrumento de combate à segregação informal

nas estruturas de poder da sociedade. Parte significativa dessas condições desiguais é

considerada como derivada da representatividade diferencial entre negros/negras e

brancos/brancas em posições socialmente prestigiadas. As razões do fenômeno remontariam

a uma longa história no mundo ocidental, marcada pela escravidão. Esse legado traria marcas

sobre as estruturas sociais em diferentes aspectos, inclusive simbólicos, com a efetivação de

condições de existência díspares. Estudos que buscam entender a questão para além do

maniqueísmo enfatizam a interiorização, no (in)consciente dos sujeitos da relação, de

padrões de existência que legitimam as condições dadas. Estaria aqui a origem do chamado

“sentimento de inferioridade” africano. Abdias Nascimento relembra as agências direta ou

indiretamente responsável pelo estado da coisa. Além da escravidão, cujo lugar de destaque

é inquestionável, citam-se outras práticas e instituições, como a Igreja, que teria contribuído

para aceitação e a justificação da brutalidade e desumanização dos negros (NASCIMENTO,

2017, p. 61).

A defesa das cotas raciais, assim, visaria à transformação da usual identificação entre

negros/negras e posições sociais subalternas, entendendo que o aspecto simbólico tem

importante papel na definição das hierarquias societárias. A lógica subjacente, portanto, é a

319
da inclusão, isto é, a de propiciar, no interior do sistema existente, mecanismos de

aproximação das condições de disputa entre os diferentes. Nesse sentido, o pensamento de

Florestan Fernandes é recuperado por autores que discutem o tema de um ponto de vista

favorável às ações afirmativas. De acordo com o sociólogo, o desenvolvimento de

mecanismos para a participação racial igualitária nas estruturas de poder era um imperativo

na luta contra a reprodução do racismo.

as estruturas raciais da sociedade brasileira só poderão ser ameaçadas e


destruídas quando ‘a massa de homens de cor’, ou seja, todo elemento negro, puder
usar o conflito institucionalmente em condições de igualdade com o branco e sem
nenhuma discriminação de qualquer espécie, o que implicaria em participação
racial igualitária nas estruturas de poder da comunidade política nacional.
(FERNANDES, 1979, p.72).

O debate sobre as cotas, assim, representa a tentativa de “elevação simbólica” de

negros e negras, criando representações suas em espaços tidos como privilegiados, a fim de

ressaltar a democratização do acesso a setores-chave da sociedade. Não questiona, entretanto,

a existência per se desses espaços de poder. Assim, embora entendida como principal

bandeira dos movimentos negros a partir de 2001, a questão das cotas raciais não é ponto

pacífico entre os que lutam contra o racismo, sobretudo pelo seu aspecto reformista e

socialmente limitado. No acervo documental levantado pelos especialistas Amílcar Pereira e

Verena Alberti há também espaço para críticas à matéria, seja por seu moderado alcance

transformador, seja por sua limitação aos grandes centros urbanos – ainda que estes pontos

de vista corroborem a importância da política. São os casos dos depoimentos de Flávio da

Silva e de Maria Raimunda do Araújo.

Flávio Jorge Rodrigues da Silva, primeiro secretário da Secretaria Nacional de

Combate ao Racismo do Partido dos Trabalhadores, criada em 1995, e uma das principais

lideranças da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), embora enfatize ser

320
favorável às cotas, não só não as vê como solução para a questão racial, como também como

um possível ardil para a construção de consciências individualistas entre as lideranças negras,

o que favorecia a dissolução dos laços de solidariedade grupal. Isso porque a cota, ao

encaminhar negros para a vida acadêmica, poderia reforçar o mito do esforço individual e da

educação como mecanismo de ascensão social – características que o entrevistado enxerga

como típicas do pensamento conservador representado por pessoas como Condoleeza Rice e

Colin Powell. (ALBERTI e PEREIRA, 2006, p.157). Por outro lado, o tema das cotas, nas

entrevistas produzidas pelo acervo da FGV, é considerado ainda como uma questão que não

alcança as “terras de pretos”. É a visão da maranhense Maria Raimunda Araújo, cuja fala

lembra que a população negra das zonas rurais não era, então, atingida pela medida – ao

contrário dos “negros da cidade”, que teriam, historicamente, melhores condições de vida.

Assim, embora defenda as cotas, enfatiza a limitação de sua aplicação e de sua efetividade

para o trato da questão racial brasileira (ALBERTI e PEREIRA, 2006, p. 158-9).

Contra as cotas raciais, entretanto, perfilaram-se, na análise de importante entidade

do Movimento Negro, a grande mídia empresarial; intelectuais orgânicos do

conservadorismo brasileiro, casos de Demétrio Magnoli e Peter Fry; e ruralistas liderados no

Congresso pelo então deputado Onyx Lorenzone (DEM-RS), preocupados com elementos

que favoreceriam a demarcação de terras quilombolas376. Segundo Tatiana Dias Silva (2012,

p.19-20), do IPEA, a reação desses setores sociais enfatizava os supostos riscos da

“racialização” do Brasil, com a consequente cisão interna do país pelo confronto entre raças

distintas (SILVA, 2012, p. 19-20).

376FRANÇA, Edson. O Estatuto da Igualdade Racial. Em: https://www.geledes.org.br/o-estatuto-da-


igualdade-racial/ (acessado em 08 de junho de 2019, às 10:03)
321
Não sem razão, o título da seção do livro divulgado pelo IFHC, que aqui compõe o

corpus documental de nossa pesquisa, traz exatamente o questionamento sobre a tal

racialização do país. O texto é apoiado, conforme apresentado em nota de rodapé do livro,

em trabalhos de Bernardo Sorj, sobre “a política de vitimização na América Latina” e sua

relação com a “desconstrução e a reinvenção da nação”; além de trabalhos do próprio

Demétrio Magnoli, acima arrolado entre os intelectuais conservadores opositores da matéria

(MARTUCCELLI E SORJ, 2008, p. 260). Pode-se inferir, dessa forma, que, na conjuntura

marcada pela discussão do Estatuto de Igualdade Racial e um aspecto muito concreto de sua

redação, a saber, a política de cotas, o IFHC toma partido da oposição às cotas, sendo essa a

luz que delineia a discussão sobre a questão racial apresentada no texto. Se aquele horizonte

na coesão social pode explicar o posicionamento, o antagonismo forçado com o PT, de Paulo

Paim, responsável pela edição inicial do Estatuto de Igualdade Racial, não deve ser esquecida,

pois também compõe a dinâmica conflitiva em tela.

Assim, o argumento dos autores contra a política então prevista no Estatuto de

Igualdade Racial se inicia por uma reflexão acerca da construção de identidades das classes

dominantes brasileiras do século XX. Na letra dos autores, elas não teriam associado “suas

origens com a Europa para se distinguir do resto da população nativa ou

imigrante”(MARTUCCELLI E SORJ, 2008, p. 260). Somado a fatores culturais, com grande

ênfase na migração e no cosmopolitismo de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, o fato

indicaria menores tendências xenófobas e de “romantização do passado”, o que explicaria,

no período republicano, a relativa marginalização da “ideologia racial”, marca das fases

colonial e imperial de nossa história. “Embora na prática se mantenha vigente o ideal de

‘branquear’ a sociedade”, argumentam os Sorj e Martuccelli, “seu discurso de fundamentação

322
ideológica deixou de ser legítimo e foi substituído por uma cultura brasileira que afirma a

multiplicidade de suas raízes” (MARTUCCELLI E SORJ, 2008, p. 261).

Todavia, por ação de “ONG’s” e “militantes que se definem como representantes do

movimento negro”, essa leitura estaria sendo agora alvo de questionamentos.

Atualmente, essa visão da formação de uma nova civilização tropical, orientada


para o futuro e integradora de diversas tradições culturais, está sendo questionada
por ONGs e por grupos de militantes que se definem como representantes do
movimento negro, com forte apoio de fundações internacionais, em particular da
Fundação Ford. Esses grupos defendem políticas de cotas para favorecer a
população negra, que estaria concentrada majoritariamente entre as camadas mais
pobres, e criticam a ideia de democracia racial como mistificação. Seu propósito é
reescrever a história brasileira eliminando as referências aos complexos processos
de mestiçagem, sincretismo cultural e valorização da cultura africana, que
deixaram uma forte marca na História do século XX. Para esses grupos, é
necessário reconstruir a memória nacional enfatizando o período escravista, o
sofrimento da população negra e as vantagens que supostamente gozaram os
imigrantes europeus no começo do século XX (MARTUCCELLI E SORJ, 2008, p.
261).

O trecho acima apresenta duas questões que gostaríamos de desenvolver um pouco

mais. Em relação às críticas direcionadas à Fundação Ford, entendemos que se trata de uma

afirmação da posição contra as cotas raciais que, insistimos, atravessa o texto. Isso porque a

referida entidade se destaca na promoção desse tipo de ação afirmativa pelo mundo, com o

fito de resolver, por meio da ampliação da participação negra em posições de mando, os

conflitos sociais surgidos a partir das desigualdades raciais. Isso não significa, todavia, que

as posições entre IFHC e Fundação Ford – e “ONGs afiliadas” - sejam radicalmente distintas,

mas tão somente se posicionam em espaços distintos no acervo de alternativas de gestão

política burguesa – cuja vitalidade secular se radica precisamente na diversidade e no conflito

entre essas diferentes alternativas, responsáveis pelo constante aggiornamento das formas de

dominação no capitalismo377. Assim, no que diz respeito às duas entidades, a saber, o IFHC

377Do mesmo ponto de vista de manutenção do capitalismo, há outras posições críticas – talvez ainda mais
duras – ao papel desempenhado pela Fundação Ford, aqui também invisibilizadas. Refiro-me ao
movimento contra o assim chamado globalismo, supostamente representado por movimentos feministas,
323
e a Fundação Ford, consideramos que se tratam de divergências táticas para uma mesma

orientação estratégica, qual seja, a de normalizar a sociabilidade burguesa pela incorporação

de elementos potencialmente disruptivos – um exemplo, no que diz respeito à Fundação Ford,

é o seu esforço, em conjunto com a The Open Society e a Kellogg e Ibirapitanga, de doação

de 10 milhões de reais para o Fundo Obaobá em homenagem a Marielle Franco (PSOL-RJ),

cujo objetivo era, menos de mês depois de seu brutal assassinato, formar lideranças a partir

do “legado” da ativista; o que entendemos ser uma tentativa de captura apassivada das

bandeiras que a psolista representava, enfatizando seus aspectos mais palatáveis à

sociabilidade burguesa e ocultando os traços mais antissistêmicos378.

Já o combate contra a ideia de democracia racial estaria na base da luta pela

construção simbólica de um Brasil “racializado”, representado por parte do movimento negro

e seus aliados, dentre eles o PT, na defesa da política de cotas raciais, dentre outras ações

afirmativas do mesmo tipo. Os autores de O desafio latino-americano enxergam aqui a

tentativa de se “construir um novo ator histórico, afro-brasileiro, com sua memória própria

de vítima da história, imitando o modelo dos Estados Unidos”, algo criticável por imputar

supostas distorções à história brasileira, “apagando a maior integração cultural” dos

elementos de origem africana na prática social no país. Para além do hipotético falseamento

da história brasileiro, problema maior seria a dificuldade de se diferenciar, no Brasil,

negro e LGBTQI+, cujo objetivo seria “atacar as bases da civilização ocidental” e do “Estado-nação”. Ver
a esse respeito: ABDO, Camila. Interesse da Ford Foundation (e os valores investidos) nos coletivos
feministas. Disponível em: https://politicaedireito.org/br/2017/03/14/interesse-da-ford-foundation-e-os-
valores-investidos-nos-coletivos-feministas-imagens-e-videos/
378Ver, a esse respeito, FORDFOUNDATION, Fundos investidores internacionais e brasileiro se unem para
financiar a criação de lideranças políticas como Marielle Franco. Em:
https://www.fordfoundation.org/the-latest/news/fundos-investidores-internacionais-e-brasileiro-se-unem-
para-financiar-a-criacao-de-liderancas-politicas-como-marielle-franco/ (acessado em 12/06/2019, às
11:09).
324
objetivamente “brancos”, “negros”, “índios” e “miscigenados”. Tal dificuldade constituiria

óbice irremovível que tornaria qualquer política afirmativa direcionada a um daqueles grupos

em si mesma injusta e ilegítima.

(...) a miscigenação, um processo de longa duração que começou com o início


da colonização, (…) produziu uma sociedade na qual a maioria da população
possui ancestrais negros, índios e europeus. O que em outros países pode ser óbvio,
como nos Estados Unidos, onde o princípio da gota de sangue define a ‘raça’ à qual
se pertence, no Brasil é a cor da pele (mas também do cabelo ou dos olhos) que
organiza uma ampla nomenclatura, com dezenas de nomes que mudam de acordo
com a região e na qual as fronteiras entre cada categoria não são claras. A
miscigenação funcionou como´principal mecanismo de ascensão social (no sentido
de aceitação social mais do que de mobilidade econômica). Mas se a expectativa
de casar com alguém mais branco foi a expressão de uma ideologia racista, o seu
resultado prático levou a uma efetiva mistura racial que em boa medida diluiu a
oposição branco/negro (MARTUCCELLI E SORJ, 2008, p. 262).

A crítica à interpretação racializante da história do Brasil, assim, tem estreitas

conexões com as críticas ao projeto social defendido, na letra do documento, por “ONGs e

militantes do movimento negro”, bem como à principal materialidade de sua atuação: as

políticas públicas petistas derivadas de ações afirmativas contra o racismo, notadamente as

cotas raciais em universidades, no Parlamento e no serviço público. Dessa forma, reabilitar

a democracia racial, ainda que com atenuantes, mostra-se interessante por supostamente

retirar as bases históricas que fundamentam a defesa daquela agenda política. Por conseguinte,

ainda que como um “mito”, defende-se que aquele discurso “fez com que no Brasil não se

formem grupos do tipo Ku Klux Klan, ou formas institucionalizadas de apartheid”. O

resultado teria sido a maior harmonia social, o que tornaria tanto difícil quanto perigoso opor

brancos e negros (MARTUCCELLI E SORJ, 2008, p. 262).

Como é possível que o Parlamento brasileiro esteja discutindo uma lei que vai
na direção oposta da construção de uma identidade nacional aparentemente
consolidada? Exitem sem dúvida, como indicamos antes, distintos grupos de
interesse (intelectuais que acreditam que na falta de uma luta de classes é bom
recorrer à luta de raças, ONGs que alimentam esse discurso graças ao qual obtêm
recursos e status social, pessoas no governo que pensam que o custo desse tipo de
política é nulo e que o benefício político é alto), mas, por mais importante que seja

325
sua ação, é certamente um erro reduzir a presença dessa temática unicamente à
desses fatores. Na realidade, esse conjunto de demandas e atitudes reflete um
humor crescente da opinião pública que perdeu a confiança no futuro por falta de
crescimento econômico e baixa mobilidade social. Em resumo, e por paradoxal que
pareça, os questionamentos atuais sobre a nação brasileira não se alimentam tanto
de um passado oculto como provavelmente de um futuro incerto.
(MARTUCCELLI E SORJ, 2008, p. 262-3).
O racismo não é diretamente negado no documento. Ao contrário, reconhece-se sua

existência e a sua influência na produção de desigualdades sociais. O ponto central do texto

é a crítica à adoção de “políticas particularistas”, em prejuízo dos “direitos universais”, o que

tenderia a fracionar o tecido social em grupos de interesse distintos, potencialmente

conflituosos. Do ponto de vista da coesão social, principal preocupação do documento, as

cotas raciais representariam obstáculo à construção de uma sociedade mais harmônica,

derivada da integração pacífica (e apassivadas) de “múltiplas culturas”.

As discrepâncias se organizam ao redor da maneira mais eficaz de superar as


desigualdades que atentam contra certos grupos sociais. Para uns, isso implica
colocar em prática políticas particularistas de ação afirmativa, e para legitimá-las
propor uma revisão da memória e da história nacional. Para outros, pelo contrário,
é necessário apoiar-se na memória da democracia racial, indissociavelmente
projeto utópico e experiência cotidiana, para repensar hoje políticas universalistas
que alcancem uma redução eficaz das desigualdades (…) Se por um lado se
reconhece a existência de preconceitos raciais e a necessidade de combatê-los, por
outro se afirma que a introdução da categoria de raça como critério para políticas
sociais é uma aberração, não só porque isso implica introduzir a raça (que só existe
para visões racistas de mundo) como categoria classificatória, mas também poque
esse recurso destruirá o longo e difícil processo de construção de uma democracia
racial, que é tanto um horizonte utópico quanto uma dinâmica efetiva da realidade
brasileira. Se prosperarem no Brasil as políticas de ação afirmativa, pode estar em
jogo a futura coesão social brasileira organizada em torno da tolerância
multicultural, e a capacidade de integração da diversidade e do sincretismo
(MARTUCCELLI E SORJ, 2008, p. 263).

Os argumentos defendidos pelo instituto são similares aos esgrimidos, em 2010, pela

relatoria de Demóstenes Torres (então DEM-GO) ao Estatuto da Igualdade Racial, em sua

passagem pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal379. Após evocar a

379 A proposta para criação de um Estatuto da Igualdade Racial foi oferecida, em 2000, pelo então deputado
Paulo Paim, do Partido dos Trabalhadores (PT-RS). Apresentada como fruto do debate do movimento negro, a
redação original do PL no 3.198/2000 reunia, em 36 artigos, encaminhamentos para as áreas da saúde, educação,
trabalho, cultura, esporte, lazer, acesso à terra e à justiça. Uma das novidades do PL foi a instituição de “cotas
326
prevalência do mérito em seleções públicas, o senador despacha contra as cotas, alegando

impossibilidade objetiva de definição racial no Brasil, dadas, por um lado, a sua inexistência

do ponto de vista biológico, e, por outro, a dificuldade de se demarcar linha clara de separação

entre brancos e negros, sobretudo pela indefinição do que seria o brasileiro “pardo” (SILVA,

2012, p. 16). Demóstenes também se mostrou preocupado com o “acirramento da questão

racial no Brasil”380. Entendemos, assim, que a exclusão das cotas raciais do resultado final

do Estatuto representa vitória relativa do movimento descrito como “conservador”, do qual

o IFHC tomou partido, auxiliando a formular, inclusive, alguns de seus principais argumentos.

As disputas a favor da institucionalização, em âmbito federal, da política de cotas não

pararam por aí. Isso porque a sua exclusão do Estatuto da Igualdade Racial não interrompeu

a tramitação de diversos projetos de lei que pretendiam legislar sobre a matéria 381 . A

conjuntura que marca a tramitação final, e a consequente aprovação, da lei 12.771, de 29 de

agosto de 2012, assim, recoloca na ordem do dia a polêmica que envolveu aquela ação

afirmativa382.

de 30% a 70% para afrodescendentes” em partidos e coligações para candidatura a cargos eletivos, medida que
seria ampliada para outras áreas a partir de 2002, com o apensamento, pelo deputado Pompeo de Matos (PDT-
RS), de cotas, em Universidades Públicas Federais e Estaduais, para estudantes negros e índios (SILVA, 2012,
p. 11).
380 Senado aprova Estatuto da Igualdade Racial, mas retira cotas para negros nas escolas. Ver:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2010/06/16/senado-aprova-estatuto-da-igualdade-racial-mas-
retira-cotas-para-negros-nas-escolas (acessado em 10/05/2019, às 08:01)
381São os casos dos Pls 180/08, proposto pela deputada Nice Lobão, que pretendia a criação de cotas raciais,
para negros e pardos, nas universidades federais e estaduais e nas instituições federais de ensino técnico de
nível médio; 3627/04, de autoria do poder executivo, que pretendia reservar 50% das vagas para estudantes
que tivessem cursado Ensino Médio em instituições públicas de ensino; e 613/05, do deputado Murilo
Zauith, que pretendia estabelecer reserva de vagas para índios e seus descendentes. Desses, é o texto de
Lobão que prossegue em sua tramitação, incorporando as demais matérias até a sua aprovação, em agosto
de 2012.
382Vale exemplificar a virulência do debate sobre a questão por uma ação do então deputado Jair Bolsonaro
(PP-RJ). Então acusado de racismo após comentário, em rede de televisão, sobre Preta Gil, o parlamentar
reapresentou na câmara federal PL que pretendia reservar 50% das 513 cadeiras da casa para a população
negra e parda. Segundo o próprio, o objetivo da proposta era “ironizar” o que considerava a “indústria de
cotas no país”. Ver: CAMPANERUT, Camila. Acusado de racismo, Bolsonaro reapresenta projeto de cotas
327
Nessa conjuntura, em 24 de novembro de 2011, é realizado o debate “Raça e

cidadania no Brasil: a questão das cotas”, no IFHC. O evento reuniu, na sede do instituto,

em São Paulo, a Ministra de Estado Chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da

Igualdade Social (Seppir) Luiza Barrios; Antônio Sérgio Alfredo Guimarães, professor da

Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador vinculado ao Cebrap; Fabiano Dias

Monteiro, professor da Universidade Federal Fluminense, pesquisador do Viva Rio e ex-

coodernador do Disque Racismo no Rio de Janeiro; e Roberta Kauffman, procuradora do

Distrito Federal e pesquisadora do Instituto Millenium; além de Fernando Henrique Cardoso.

Não chega a surpreender, em um evento destinado a debater cotas raciais e o problema da

desigualdade de negros e negras do Brasil, a ausência de representantes daqueles críticos às

cotas que se posicionam em um ponto de vista anticapitalista – argumentando sobre os limites

das políticas afirmativas na transformação das condições desiguais, sobretudo por

entenderem o racismo como a confluência de condições de raça e classe. Com efeito, os

debates realizados pelo instituto polemizam com posições mais ou menos assemelhadas no

espectro político, isto é, que, ainda que divergentes, concordem com o essencial, qual seja, a

necessidade de se aprimorar e desenvolver o capitalismo no Brasil e na América Latina383.

Fabiano Dias Monteiro esteve presente para, além de representar o Viva Rio, APH

associado ao iFHC, comentar a aplicação e o resultado do Disque Racismo no Rio de Janeiro,

para negros na Câmara "para ironizar"... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-


noticias/2011/03/31/acusado-de-racismo-bolsonaro-reapresenta-projeto-de-cotas-para-negros-na-camara-
para-ironizar.htm?cmpid=copiaecola (acessado em 10/05/2019, às 08:45)
383Por outro lado, a ausência de representantes de uma extrema-direita crítica ao que chama de globalismo é
indício da posição que o iFHC busca ocupar no interior dos APHs burgueses: a de polo civilizador, defensor
da formação de consensos e pactos sociais mais amplos, contrário, portanto, às entidades que investem na
hipertrofia da coerção e na resolução dos problemas do metabolismo capitalista pelo acirramento dos
conflitos sociais. Caso, por exemplo, do movimento representado em nosso próprio tempo por Jair
Bolsonaro, cuja ação política já se desenvolvia no contexto analisado, com impactos inclusive aqui aludido
em nota mais à frente.
328
ressaltando em sua fala o que então enxergava como um recuo da efetividade da política de

denúncia de crimes vinculados ao preconceito de raça. Já Antônio Sérgio Alfredo Guimarães

tentou oferecer um panorama dito acadêmico dos problemas suscitados pelas cotas raciais,

inclusive o que identificou como o principal dificuldade, isto é, a identificação objetiva do

público-alvo do programa. Os destaques do encontro foram mesmo a Ministra Luiza Barrios,

representando o Seppir e as políticas públicas da gestão petista para combater o “racismo

estrutural” no Brasil, e Roberta Kauffman, com fala contra as cotas raciais. Sobre a

participação das duas nos debruçaremos, bem como sobre os posteriores comentários de

Fernando Henrique Cardoso, a fim de melhor entender a atuação do iFHC no debate sobre

as cotas raciais.

A fala da ministra é a principal do debate, levando mais de meia hora – enquanto

as demais intervenções giram em torno de 10 minutos cada. A chefe da Seppir informa

pretender, ali, apresentar um “pano de fundo” que, segundo ela, é necessário ser

considerado em quaisquer discussões sobre cotas raciais. A partir daí, ressalta a

naturalização do racismo, em sua visão traço típico da sociabilidade brasileira. Uma das

consequências da normalização da desigualdade racial seria a negação do racismo como

eixo estruturante da hierarquia social brasileira.

naturalização desse processo de subordinação das pessoas negras. Ao


naturalizar isso se impede que se desenvolva uma reflexão mais séria e profunda
de como essas realidades são efetivamente criadas por práticas racistas que nós
acumulamos ao longo da História do Brasil. Dessa perspectiva de negação da
influência do racismo sobre as hierarquias na sociedade, você teria a ideologia
racial que, na verdade, pelo menos de nossa perspectiva, ocupou um lugar central
na formação colonial, como se isso tivesse sido desfeito completamente, como se
hoje não se recorre mais a esse tipo de ideologia. (…) Disso em muito decorre a
persistência negra nos lugares de desvantagem social, por causa dessa escolha
interpretativa que recusa aceitar a importância das ideias de superioridade racial
que ainda existem entre nós (BARRIOS, Luíza).

329
O apagamento discursivo do racismo engendraria alguns “sérios problemas” para o

negro e sua integração na sociedade. O primeiro seria a atribuição de seus eventuais fracassos

à falta de esforço ou de mérito. O segundo colocaria a questão racial como problema

suscitado pelo negro. Nesse caso, a insistência no mito da igualdade racial serviria para

considerar os afrodescendentes como responsáveis pela cisão do país em raças distintas –

como se a contradição fosse uma criação ideal, e não a interpretação de práticas sociais

efetivas.

Nós negros somos vistos como aqueles que constroem uma realidade falsa do
ponto de vista histórico e cultural, e consequentemente todo esforço que temos feito
nos últimos anos para pensar as políticas públicas fosse também um esforço
derivado de algo que não existe, ou esforço derivado de mera cópia de iniciativas
tomadas em outros países (idem).

A intervenção da Ministra se pauta, assim, na defesa da existência do racismo

histórico no Brasil, com suas conhecidas consequências sobre as desigualdades sociais e nas

interdições ao que seria o pleno exercício da cidadania no país. De acordo com ela, “se não

considerarmos o racismo como estruturantes das desigualdades nós teríamos políticas

públicas [contra desigualdade] cronicamente insuficientes, porque não conseguiriam tratar

da realidade para qual se direcionam”.

A história particular do negro no Brasil, por conseguinte, é fundamento das ações

afirmativas levadas a cabo pelas gestões petistas, com ampla participação da Seppir. O que

considera como “contradição entre racismo e democracia”, nesse sentido, conduziria os

esforços públicos para a superação da “questão negra”, a fim de aprimorar a participação

popular nas instâncias de poder, inclusive de negros. Esse papel enxergado como sendo da

Seppir, qual seja, o de analisar os problemas brasileiros do ponto de vista dos negros, é o

330
veículo que legitima os esforços de defesa das cotas raciais, inclusive para a representação

parlamentar.

Nós da Seppir fomos forçados a pensar, com ajuda de movimentos negros, a


influência do negro na reforma política que está sendo pensada (...). Em uma
sociedade com população de 190 milhões, com cerca de 95 milhões de negros,
termos 21 negros no parlamento nacional. (…) É uma realidade que precisa ser
mudada.

Assim, em que pesem os “avanços nos últimos anos (de gestão do PT)”, faltariam

“pontos estruturantes do racismo para serem combatidos”, sobretudo o discurso contra a

“racialização do país’, que pressuporia um “universalismo branco”. Por trás da resistência

conservadora anticotas, assim, restaria uma face do racismo brasileiro, que resiste em

considerar os privilégios de brancos.

Avançamos nos últimos anos (gestão do PT), mas ainda faltam pontos
estruturantes do racismo para serem combatidos. (…) Analisadas no conjunto, as
forças políticas do Brasil ainda são pouquíssimo inclinadas a considerarem os
limites do universalismo, da forma como ele se apresenta no nosso processo
democrático. E eu diria que esse universalismo ainda toma o sujeito branco como
o universal. (…) Por isso ser importante questionar esses argumentos a favor da
desracialização do Brasil; são argumentos sempre evocados quando se trata de
desconstruir os avanços que temos tido na inclusão dos negros. Até porque na base
desse discurso está a defesa do mando e do controle de setores que não querem
alterar essa ordem política que se constituiu com base em privilégios raciais dos
brancos. Vivemos no Brasil um tipo de discussão sobre a questão racial como se
grupo racial fôssemos nós negros e nenhum outro mais. As pessoas brancas não se
constituem enquanto grupo racial, e nesse sentido elas são invisibilizadas no que
toca à raça. Por isso surge esse universalismo que toma o branco como sujeito
universal “arracializado”, quando os racializados seríamos nós (negros). (…)
Todos os cientistas sociais sabem que os negros não poderiam ter constituído uma
identidade negra se não houvesse uma identidade branca, porque a construção da
identidade é relacional.

A fala ministerial, por fim, busca reafirmar os avanços do governo – e deve ser lida

sendo considerada a apologia que faz do próprio trabalho. Convém destacar, contudo, o fato

de ressaltar a persistência do racismo, então expresso nos discursos contra a “interpretação

racial da história brasileira”, que tomariam somente o ser negro como sujeito racial, como se

a interpretação alternativa, dominante, lastreada no mito da democracia racial não fosse,

331
também ela, uma análise racializada, mas pelo viés dos brancos. Tal análise desvela dura

crítica aos argumentos – e aos esforços práticos – dos setores “resistentes à mudança” das

desigualdades raciais, incorporados pelos combatentes das cotas raciais e de outras medidas

afirmativas levadas a cabo pela Seppir.

Coube a Roberta Kaufmann defender a posição contrária. Promotora federal e

militante contra as cotas raciais, a advogada é autora do Instituto Millenium384, entidade na

qual divulga textos criticando ações afirmativas direcionadas especificamente para

negros 385 . Seu ingresso no APH se deu precisamente na conjuntura aqui analisada,

sobretudo por seu engajamento e destaque público na crítica ao programa de cotas, que então

se desdobrava em ações concretas, com inclusão de vagas reservadas a negros e pardos na

Universidade de Brasília (UnB) e adoção de critério racial para reservar àqueles grupos 20%

das vagas no serviço público do Estado do Rio de Janeiro, na época de governo de Sérgio

Cabral Filho (PMDB-RJ). Seu destaque na área, todavia, deve ser mensurado considerando

a polêmica, deflagrada em 2011, sobre suposta “perseguição ideológica” de militantes

anticotas na UnB, com consequente convocação para prestar esclarecimentos à comissão do

Senado do reitor da universidade, José Geraldo de Souza Júnior – convocação disferida por

Demóstenes Torres (então DEM-GO), precisamente o relator contrário à inclusão das cotas

384O Instituto Millenium foi fundado em 2005, com o nome de Instituto da Realidade Nacional. Chegou a ser
avaliado como o 33º mais relevante think tank da América Latina (MCGANN, 2015, p. 72), atuando,
segundo a sua fundadora, Patrícia Carlos de Andrade, para abrigar “formadores de opinião (...) apoiados
por empresários que querem defender o avanço de certas ideias. E estas ideias, elas só vão avançar se elas
se transformarem de alguma forma em política” (IMIL, 06.10.13: s./p). A entidade tem sido objeto de
interesse de historiadores e cientistas sociais por defender sistematicamente interesses empresariais na
“sociedade civil”. Sobre o Instituto Millenium, ver: .PATSCHIKI, Lucas. Organizar-se contra o povo: a
criação do Instituto Millenium (2005-2007) in ANAIS do XXIII ENCONTRO ESTADUAL DE
HISTÓRIA. Por quê e para quem?. São Paulo, 2016; PATSCHIKI, Lucas. Quem organiza a classe
dominante? Uma análise sobre os financiadores do Instituto Millenium (2013). In: Anais XII Semana de
História: Tempo, história e mundo da vida, Goiás, 2013.
385Ver: https://www.institutomillenium.org.br/etiqueta/roberta-fragoso-kaufmann/ (acessado em 11/05/2019,
às 11:23)
332
raciais no Estatuto da Igualdade Racial, acima comentado. Kaufmann teria sido uma das

“perseguidas”, ao lado de, dentre outros, Demétrio Magnoli, outro opositor ferrenho da

programa, aqui já referenciado386.

Durante sua fala, Kauffman centra sua apresentação em um binônio: auto-elogio,

pelos esforços meritórios que a colocaram na posição em que se encontrava; e trato da

questão racial pelo viés da biologia, com o fito, em ambos os casos, de contestar a

constitucionalidade – e a justiça – das cotas raciais. Afirmando “não ser culpada por ser

branca” e ter “muitas amigas e dois ex-namorados negros”, a advogada enfileira frases de

efeito usuais aos defensores do mito da meritocracia, como o elogio do “esforço sobrenatural”

e a desvalorização da raça como determinante de condições sociais desiguais. “Tenho

aparência da cor errada”, dispara, “não quero pensar minha vida a partir da minha cor, mesmo

porque tenho familiares negros e isso na minha família sempre foi muito natural”. A falácia

do argumento indutivo – cuja expressão aqui é a tentativa de reduzir os impactos sociais do

racismo por uma suposta igualdade de condições no interior de sua família - deve ser

conhecida pela promotora federal, de modo que a colocação pode ser entendida como efeito

retórico para buscar simpatia do público, em sua maioria composto de brancos de posições

de destaque na sociedade, como empresários e intelectuais prestigiados.

Enfatizando não desconhecer “a existência de racismo, de discriminação e

preconceito”, insiste que a “constituição de direitos humanos não precisa passar pela

polarização. Pode-se criar direitos humanos universais sem negar preconceitos e o racismo”.

386GOULART, Nathalia. Reitor da UnB deve ir ao Senador em agosto para explicar perseguição ideológica
na universidade. Ver em: https://veja.abril.com.br/educacao/reitor-da-unb-deve-ir-ao-senado-em-agosto-
para-explicar-perseguicao-ideologica-na-universidade/ (acessado em 11/05/2019, às 11:31).
333
Isso evitaria, assim, o perigo do surgimento de um suposto “racismo institucionalizado”, com

a definição de um ordenamento jurídico específico para negros no corpo das regras universais.

o perigo da criação do racismo institucionalizado é a ideia de criar identidade


paralela. Em todos os países que fizeram políticas públicas a partir da ideia de taça
a consequência foi a criação de identidades paralelas. Isso aconteceu nos Estados
Unidos, na Alemanha, (…) em Ruanda.

Os ataques à política de cotas, comparadas a medidas segregacionistas como as

verificadas nos Estados Unidos das leis jim crow e na Alemanha do Terceiro Reich, são

sustentados, cientificamente, em uma perspectiva que considera raça a partir do ponto de

vista biológico.

É óbvio para todos aqui (no auditório do IFHC) que raças não existem. (…)
São apenas 10 genes que definem cor de pele de um grupo de 25 mil genes. Então
é perfeitamente possível que o mesmo pai e a mesma mãe tenham filhos de cores
diferentes. (…) Mostra-se que a cor de pele não quer dizer diante das
características gerais das pessoas.

Dessa forma, mistifica toda a discussão, ao ocultar o processo de formação e

reprodução efetivo do racismo, cuja discriminação é tanto causa quanto efeito dos traços

fenotípicos. Com base nisso, intelectuais vinculados ao movimento negro que estudam a

questão não derivam suas análises de raça de argumentos biológicos, mas enfatizam fatores

de identificação extraídos de características físicas – por óbvio, socialmente mais relevantes

na formação dos preconceitos387. Com efeito, mesmo entre intelectuais brancos do século

passado o conceito de raça não considera apenas as eventuais implicações biológicas. É o

caso de Henri Vallois que, ainda em 1966, considerava “raça” o “agrupamento natural de

homens, que apresentam um conjunto de caracteres físicos hereditários comuns, quaisquer

387GELEDÉS. O que é raça? https://www.geledes.org.br/o-que-e-raca/ (acessado em 09/06/2019, às 14:20).


334
que sejam, por outro lado, as suas línguas, os seus costumes ou as suas nacionalidades”

(VALLOIS, 1966, p. 8).

Aparentemente alheia a essa discussão, Kaufmann insiste que a biologia impõe um

óbice insuperável à formação de políticas de cotas para negros – insinuando, inclusive, que

se o critério de DNA para a determinação racial fosse adotado, o resultado poderia ser inverso,

com o que considera brancos sendo favorecidos pela reserva de vagas em instituições de

ensino superior e em seleções para o serviço público.

Uma pesquisa excelente feita por Sérgio Danilo Pena (…) chamada Retrato
Molecular do Brasil. Essa pesquisa me salva e salva eventuais pessoas que se
considerem branca da culpa de terem escravizado os hoje negros. Porque essa
pesquisa mostra análise de DNA que as pessoas que aparentemente são negras hoje
não necessariamente descendem daqueles que outrora foram escravizados, essa
pesquisa mostra (…) que negros hoje tenham ancestralidade genômica europeia
muito maior do que os brancos, já que só 10 genes definem a cor de pele. Então é
possível que brancos hoje descendam de escravos, e é possível que negros
descendam de senhores de engenho. Então o único critério objetivo para definir
uma política como essa é o critério de DNA, ou você eventualmente assumir os
ônus e os riscos da autodeclaração.

O objetivo de retirar os fundamentos históricos das cotas raciais parece acima bastante

explícito. Outro alvo é a formação dos assim chamados tribunais raciais, comissões de

conferência de candidatos às cotas raciais, responsáveis, na visão de Kaufmann, por fazerem

“ressurgir as ideias de Hitler”.

Quando você cria políticas públicas com base em raças, você tem de inventar
um critério para poder legitimar essa política. É óbvio que quando eu faço de
inventar um critério, é muito fácil você se distinguir o 7,61% de pretos no Brasil,
o problema é identificar no Brasil quem são os 44% que são pardos. E aí que
estamos percebendo, na minha visão de uma maneira totalmente inconstitucional,
a criação de tribunais raciais, de composição secreta, em que a própria Sociedade
Brasileira de Antropologia lançou um comunicado que isso é o cúmulo do absurdo
você ter uma héteroidentificação, que a própria convenção de Direitos Humanos
da ONU disse que não é possível criar comissões para identificar a raça de alguém,
mesmo porque raça não existe. (Querer os Tribunais Raciais) é o cúmulo porque é
fazer ressurgir as ideias de Hitler das leis de Nuremberg de 1935, quando você
inventava critérios para definir quem é de uma cor, quem é de uma etnia, ou quem
é de uma origem e outra.

335
A proposta da advogada, que, insistamos, não nega a existência do racismo, ainda que

reduza seu impacto social, é a formação de cotas sociais – cujos principais beneficiários,

segundo ela, seriam os negros. A superioridade dessa medida, assim, justificar-se-ia por tratar

do problema das desigualdades raciais sem, contudo, acirrar contradições entre brancos e

negros.

Quando eu proponho cotas sociais, não é cota social para resolver os problemas
dos pobres no Brasil. A minha proposta de cota social é para resolver o problema
da falta de integração dos negros no Brasil, sem criar a polarização e o risco da
criação de identidades paralelas, porque esse risco existe, e o recrudescimento do
ódio e o discurso de revanche (também existem).

Roberta Kaufmann dá, assim, vazão a uma das principais preocupações demonstradas

no livro do iFHC, acima discutido: a formação de cisões no tecido social, motivadas pelas

contradições de fundo racial. As políticas públicas para a superação da desigualdade oriunda

do racismo, nesse sentido, deveriam enfatizar a formação de veículos de harmonização entre

aqueles que comporiam, de fato, as “raças” – já que a própria ideia de raça e as coletividades

que ela enseja são negadas como grupos componentes da que seria cidadão em geral. A chave

do sucesso seria a efetivação de políticas universalistas enquanto tais, ou seja, a orientação é

a efetivação da universalidade dos direitos do cidadão, e não a formação de um conjunto de

direitos particulares, que reafirmem e reforcem divisões sociais. No debate acima comentado,

por conseguinte, as posições da representante do Instituto Millenium parecem mais próximas

àquelas defendidas por FHC e seu instituto, como delineado na intervenção final de Fernando

Henrique Cardoso no evento analisado.

A luta é para garantir que hajam direitos universais. Não é para garantir que
hajam particularismos juntos. É para garantir que, havendo desigualdades,
produzam-se situações em que se possa alcançar a igualdade, até na lei. O medo
que tenho não é o debate (…), não há uma só forma de solucionar o problema, por
isso temos de ter criatividade. Mas tribunal racial é inaceitável porque reforça o
racismo, e a proposta é combater o racismo. (…) É importante que nesse embate
vejamos sempre os limites. É inaceitável negar a desigualdade racial. Por outro
lado, me parece que colocar na lei certas questões que impliquem critério de raça,
336
é perigoso. No dia em que se legalizar a raça entramos no caminho complicado
(FHC, 2011).

Por outro lado, é importante destacar a correlação de forças partidárias vigente em

2011. O petismo vivia, então, seu auge, tendo apresentado robusto crescimento no ano

anterior (aceleração de 7,5 do PIB) e gozava de altas taxas de popularidade – com Dilma

Rousseff ultrapassando os picos de popularidade registrados sob Lula e também FHC388.

Representado no encontro pela Ministra, aos tucanos conviria marcar distância do

posicionamento petista sobre o tema, reafirmando-se como alternativa. O afastamento,

contudo, não poderia representar um caminho radicalmente distinto. A tarefa, então, era

reafirmar especificidade em um mesmo campo de lutas – no caso, contra a desigualdade

racial.

Dois anos mais tarde o ex-presidente voltaria ao tema. Em 2013, foi convidado a

discursar no encontro que comemorava o décimo aniversário do Tucanafro, ala negra do

PSDB, que na ocasião se lançava como grupo nacional. Ao avaliar a questão racial brasileira,

os horizontes da luta dos negros e negras e sua própria trajetória pessoal no enfrentamento

do problema, FHC reapresenta, eivada de racismo, a versão de integração entre as raças,

presentes no documento acima discutido.

Com o tempo cheguei à presidência da República e não ia esconder a minha


história, minha experiência. Disse que essa distinção entre negro e branco no Brasil
é muito fugaz. Se você for ler o livro do Gilberto Freyre, aqueles que ele considera
como amarelinhos, escurinhos, mulatinhos, mirradinhos são os heróis nacionais.
Quase todo tem lá o sanguinho meio estranho (FHC, 2013).

A luta, portanto, seria pela efetivação da democracia racial no Brasil, que o ex-

presidente reconhece, no mesmo discurso, só existir no plano das ideias nacionais. Isso,

388 https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/valor/2011/09/30/cniibope-popularidade-de-dilma-supera-as-
de-lula-e-fhc.jhtm
337
contudo, passaria pela já afirmada superação das particularidades derivadas das raças, com

a integração de brancos e negros em um sujeito universal. Enfatizar-se-ia, dessa forma, o

desejo de “viver junto”, contra formação de “qualquer racismo”.

(…) Quando você vê um branco de verdade, nós não somos brancos. Nossa
questão fundamental é que somos outra coisa. E temos de assumir que somos outra
coisa e com orgulho dizer que pertencemos a um país que é formado por uma
mistura muito grande, que não implica esconder identidade, mas implica dizer que
temos identidades variadas mas uma é maior: somos brasileiros e queremos viver
juntos (…) Martin Luther King, em seu discurso famoso, não faz uma pregação a
favor da separação, mas a integração. (…) A grande obra de Mandela foi, em um
país racista, tremendamente racista, num sentido pleno (…) afirmar a negritude,
mas também diz que tem de viver junto. Essa é a grandeza do Mandela. Não foi
formar um racismo, mas dissolver os racismos todos, principalmente dos brancos,
que são os mais racistas (FHC, 2013).

A participação de Fernando Henrique Cardoso no seminário do Tucanafro ressalta

uma questão que já aparece no seminário e no documento acima discutidos, mas que, a partir

de 2013, ganha destaque: o autoelogio de sua trajetória como pesquisador e presidente,

sobretudo no que diz respeito aos esforços para a “integração do negro”. Se acima ele

reivindica “a sua experiência” na discussão da questão racial mais à frente a reabilitação de

sua história na presidência se torna clara, quando são listadas suas realizações como

presidente.

O primeiro título de terra dado aos quilombolas dei eu, lá no Paraná. (…) Assim
como, quando Ministro do Exterior, eu vi que o Itamaraty à época era formado só
por brancos. (…) Criamos uma bolsa para preparar negros para entrar no Itamaraty.
(…) Também fiz um decreto para que no serviço público houvesse um espaço para
negros. (…) Então eu sempre apoiei que tivéssemos políticas compensatórias, que
houvesse um estímulo para que os negros pudessem participar. (…) Eu e o Hélio
Silva (na verdade, Hélio Santos) fizemos um longo trabalho, quando estávamos no
PMDB, para promover candidatos negros a vereador em todos os lugares que
pudéssemos, para capitalizar para o Hélio votos para deputado estadual. (…) O
PSDB tem a obrigação de defender essas teses (de integração racial). Não só uma
obrigação do ponto de vista racial, mas político, porque nós fomos os primeiros a
defender essas coisas, os primeiros a declarar publicamente que nós temos um
compromisso com os negros (FHC, 2013)389.

389Hélio Santos, importante liderança do movimento negro, evocado na fala de FHC, apesar do equívoco sobre
seu sobrenome, parece não ter juntado esforços ao ex-presidente na tentativa de construção da imagem de
um PSDB afro. Um ano depois deste evento, nos momentos quentes da eleição de 2014, Santos não só
declarou voto em Dilma Rousseff (PT), como ressaltou que o candidato tucano, Aécio Neves, não “tocava
no assunto” da questão racial. Ver: GELEDÉS. Hélio Santos diz que para negros ‘Dilma é melhor” Em:
338
Em que pese ser, então, ainda 2013, a preocupação com a eleição presidencial do ano

seguinte já era clara, haja vista a entrevista coletiva concedida pelo ex-presidente na saída do

encontro, quando as perguntas dos jornalistas tiveram no pleito o seu eixo comum. Discutia-

se, na ocasião, sobretudo quem seria o candidato do PSDB à corrida presidencial: Aécio

Neves (PSDB-MG) ou José Serra (PSDB-SP). A preferência pelo mineiro ficava evidente

nas palavras de FHC, que o tratava como escolhido “natural” do partido. Uma estratégia para

ampliar as bases de apoio ao tucano também já era esboçada: a tentativa de reivindicar a

“frente” da luta pela “compensação aos negros”. Mais abaixo, veremos que, na mesma

conjuntura, mas na área da “questão social”, o IFHC agiu de modo parecido, tentando

disputar as bases sociais petistas.

Assim, ao longo desta pesquisa, insisti que o IFHC, embora, por óbvio, não se

apresente como tal, deve ser analisado como um APH, ao mesmo tempo, empresarial e

partidário – no sentido estrito da noção de partido, isto é, como órgão do PSDB, cujas ações

são também influenciadas pela direção estratégica da legenda. Assim, no livro e no seminário

analisados nesta seção, as posições do instituto, mais ou menos evidentes, têm nas posições

petistas o seu grande outro390 , o que fundamenta uma de nossas hipóteses iniciais de

investigação, qual seja, a de que o IFHC se apresenta à burguesia – classe que o financia e

para a qual ele se dirige prioritariamente – como alternativa para dirigir, no plano da

institucionalidade política, o país e seu projeto de aprofundamento capitalista.

https://www.geledes.org.br/helio-santos-diz-que-para-negros-melhor-e-dilma/ (acessado em 12/06/2019 às


09:34).
390diferentemente de outras linhas estratégicas, como a da parte do movimento negro que une os diagnósticos
e prognósticos da questão racial à luta de classes e, por conseguinte, atam o ataque ao racismo ao combate à
sociabilidade burguesa, que não aparecem nem como o diferente, mas são silenciadas.
339
Assim, FHC volta à carga um ano depois, em 2014, em novo encontro com lideranças

do Tucanafro, dessa vez de modo mais explícito. Em bate-papo com Juvenal Araújo,

presidente nacional da secretaria de militância negra do PSDB, Eduardo Sol, presidente do

secretariado de militância negra do Rio de Janeiro e Ivan Lima, presidente do secretariado de

militância negra do São Paulo, o ex-presidente reitera a necessidade de ações afirmativas que

integrem o negro sem despertar “particularismos”. Opina que no Brasil faltam “respeito” com

os negros e combate às “injustiças” derivadas das desigualdades raciais. Até aqui nada de

muito novo em relação ao utras intervenções de FHC no debate. Cabe a Juvenal Araújo, então,

expor aquela que talvez seja a principal razão da grande atenção dada à questão negra naquela

conjuntura, com inclusive a gravação de um programa do Tucanafro com a maior liderança

do partido, isto é, o próprio FHC: reafirmar o PSDB como alternativa ao PT, inclusive no que

diz respeito ao trato da questão racial. Diz-nos Araújo,

O PSDB passou a nos enxergar de outra forma desde a sua palestra (de FHC)
nos dez anos do Tucanafro (acima comentada). O que é importante para nós agora
pensarmos é essa questão do resgate. O PT nos roubou, usurpou muitas bandeiras
nossas. Essa do negro precisamos resgatar. Em 1995 o senhor (FHC) criou o grupo
interministerial para tratar da questão da população negra, e logo no ano seguinte
foi criado o Programa Nacional de Direitos Humanos, mas com uma ênfase forte
na população negra. Ali naquele momento as ações afirmativas começaram a se
pensar muito fortemente a reparação, as políticas compensatórias...11 anos depois
a gente vê o PT fazendo decreto e piorando a forma de pensar...o senhor deixou
uma frase que a gente tá usando com muita lucidez, que é a ‘luta não é do negro, é
nossa’, mencionando a social-democracia...o próprio Franco Montoro criou o
conselho da comunidade negra, o primeiro órgão...então a gente tá vivendo um
momento de resgate da história maravilhosa (…) que o senhor deu para o país, não
só para o negro, mas o Plano Real, que nós entendemos que é um dos melhores
programas para a igualdade de oportunidades (ARAÚJO, 2014).

FHC reforça o discurso, demonstrando competência em elogiar seu governo.

Quando assumi o governo criei logo uma comissão para tratar da questão dos
negros. Em seguida, medidas a favor dos direitos humanos voltados para negros e
para índios. (...) E o PSDB não pode perder essa bandeira. É preciso que o PSDB
entenda que isso é a formação de um Brasil democrático. É preciso maior
integração. (…) O PSDB não pode ficar acovardado perdendo bandeira para o PT.
Criamos o bolsa-escola. Eles formaram o bolsa-família, mas a origem fomos nós,
(…) nós começamos os programas de bolsa para compensar os mais pobres. Nós

340
criamos os programas de integração racial. Eu fui a Alagoas para comemorar o dia
de Zumbi, e foi colocado Zumbi no panteão da História Nacional, e eu fui lá
simbolicamente, para mostrar importância da referência negra. Como que o PSDB
não vai tomar isso com orgulho? (…) O Brasil nasceu para melhorar a condição
social do Brasil, e o Plano Real não foi para pobre ou rico, foi para todos, e foi bom
para todos, foi condição para que depois pudéssemos avançar em outras áreas. (…)
Essas bandeiras têm de ser do país, mas nós iniciamos esse movimento de resgate
do negro no Brasil (FHC, 2014).

A conexão entre essa elaborada história de lutas tucanas pela igualdade racial e os

problemas mais urgentes da época é realizada por Ivan Lima, com intervenção que elogia a

atuação de Aécio Neves, não apenas na promoção do Tucanafro, mas no trato do racismo em

Minas Gerias, quando governador. A esse respeito, defende Lima.

Em Minas, Aécio Neves, quando era governador, ele então fez o primeiro e o
segundo seminário estadual de promoção da igualdade racial. Criou o primeiro
conselho estadual de promoção da igualdade racial, que tantos outros estados
depois criaram. Minas hoje é o único estado que tem uma diretoria de vilas e favelas,
que realmente trabalha em comunidades onde a maioria ainda é do povo negro.
Esse trabalho de Aécio Neves, enquanto governador, também criou programas
juntos aos quilombos, para que professores pudessem ser oriundos das
comunidades e pudessem lecionar para os quilombolas. Essa é a nossa realiadade
em Minas, (…) mas o senador Aécio sempre buscou essa igualdade racial, é o
principal entusiasta do Tucanafro. (LIMA, 2014)

O bate-papo termina com um explícito elogio ao presidenciável, identificado como

a encarnação da luta pela igualdade e democracia.

Nossa oportunidade com Aécio é grande, não só por ter sido um bom
governador, mas por ter essa visão (a favor da igualdade racial). (…) Aécio tem de
demonstrar que a luta é a mesma, pela igualdade, pela democracia, e ele quem mais
encarna isso como muito vigor e com muita força. (…) Desde o século XIX tem
luta do movimento negro. Agora chega, né? Temos de completar isso aí. Acho que
o Aécio é o nome mais indicado para ajudar o Brasil nessa caminhada rumo a mais
igualdade e democracia” (FHC, 2014).

Os documentos aqui analisados, assim, apresentam uma tensão que atravessa o

Instituto Fernando Henrique Cardoso. A defesa da coesão social busca incorporar, ao projeto

social em desenvolvimento, sujeitos de contradições que ameaçavam a integridade do “tecido

social”. A manutenção da estabilidade, pois, está no horizonte da ação política do iFHC,

sendo a linha-mestra que guia o princípio de suas diversas frentes táticas. É por isso que
341
convém incorporar setores e bandeiras do movimento negro em sua agenda política, desde

que de modo apassivado, isto é, esterelizado de seu potencial transformador e apresentado

como dínamo de resolução de uma contradição social, com sua consequente aclimatação aos

padrões da ordem do capital. Certa vertente do multiculturalismo se mostrou, aqui,

potencialmente contrarrevolucionária, sobretudo quando da sua articulação com o conceito

de coesão social.

No processo, contudo, outros determinantes surgem na prática desempenhada pela

entidade; estas, por sua vez, condicionadas pela oposição ao partido do governo no Brasil,

então o Partido dos Trabalhadores (PT). Desse conflito, surge o objetivo de se apresentar

como alternativa viável à condução do país pela via da institucionalidade política. A interface

em tela, por conseguinte, articula interesses de duas naturezas distintas; um, mais

propriamente de classe, quando os interesses empresariais mais fundamentais são defendidos;

outro, partidário, que, embora possa também ter contornos classistas, atende a critérios

específicos do conflito típico da arena político-eleitoral, como a disputa por votos e a

tentativa de se apresentar como legítimo representante de certos setores sociais. É o caso do

PSDB analisado acima, no que diz respeito ao movimento negro. Há clara tentativa de

capitalizar votos em cima da agenda deve ser entendida como um esforço do partido para

disputar o eleitorado em um nicho populacional que se constituiu como reduto petista ao

longo dos anos 2000. Demandas de classe e especificamente partidárias, assim, imiscuem-se

no iFHC, sendo difícil a sua total separação. Melhor é entender a trajetória do instituto pelo

viés da articulação entre tais elementos. Se no capítulo anterior enfatizamos mais a atuação

da entidade na arena de classe, neste é a dinâmica da luta interpartidária que conduz a ação.

342
Neste sentido, a disputa pela questão racial não foi o único campo de predomínio

petista no qual os tucanos decidiram travar disputa pelas bases sociais. Em paralelo a trama

acompanhada acima, disputa similar seria travada pelo legado das políticas sociais – campo

no qual o predomínio petista ficou consagrado no debate público. Após um período

claramente defensivo, que coincidiu com o auge dos governos do PT, os representantes

tucanos têm disputado a autoria das políticas de transferência de renda em uma narrativa que

colocaria as origens do Programa Bolsa Família (PBF) nos programas setorizados lançados

pelo governo Fernando Henrique Cardoso, como o Bolsa-Escola, Bolsa-Alimentação e o

Vale-Gás.

O ponto alto do confronto se deu nas eleições de 2014. Os debates entre os candidatos

que transcorreram durante a preparação para o pleito formaram cenário da disputa, às vezes

encarniçada, entre, por um lado, Dilma Rousseff, que reivindicava o mérito petista pela

criação de mecanismos de transferência de renda e de proteção social, como o PBF, por outro,

Aécio Neves, que defendia ter sido o governo de Fernando Henrique Cardoso o verdadeiro

“pai” daquele sistema391. Nas hostes tucanas, a preparação para aquele confronto começou,

pelo menos, no ano anterior, com o IFHC tendo um papel importante no processo.

Em fevereiro de 2013, Dilma Roussef foi lançada candidata à reeleição pelo PT, em

pleito a ser realizado em 2014. Na ocasião, a petista argumentou que o partido “não herdou

nada” das gestões tucanas, mas sim “construiu” os pilares que sustentaram a boa fase vivida

pelo país. Na semana seguinte, FHC subiu o tom das críticas à presidenta e à sigla rival,

disparando que Dilma teria “cuspido no prato que comeu” e o PT, “usurpado os programas

391 https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,aecio-defende-paternidade-de-fhc-sobre-bolsa-
familia,1576919
343
sociais do PSDB”392. Poucos meses depois, em maio daquele ano, às vésperas da convenção

que elegeria Aécio Neves presidente da sigla com mais de 97% dos votos393 , o IFHC

divulgou texto entre os filiados defendendo o protagonismo de Fernando Henrique Cardoso

na construção dos programas de proteção social394. Cito o documento, escrito por Xico

Graziano.

As políticas sociais no Brasil mudaram de paradigma durante o período


governamental de FHC. Antes, predominavam auxílios variados, quase sempre
intermediados pelo poder público local: doações de cestas básicas, entrega de leite,
distribuição de água na seca. Depois, estruturou-se uma rede de proteção social
para combater a pobreza, introduzindo ações públicas coordenadas contra suas
causas estruturais e transferências diretas de renda aos cidadãos.
A arquitetura da rede de proteção social construída no período governamental
de FHC dependeu, inicialmente, da estabilização da economia. Com o fim do
“imposto inflacionário”, que penalizava fortemente os mais pobres, pôde-se
alcançar um novo patamar de combate à exclusão social, atacando as fontes
geradoras da miséria395.
O esforço do instituto foi reconhecido pela mídia empresarial. Em nota do Valor

Econômico reproduzida pelo portal de notícias G1, do grupo Globo, o IFHC é colocado como

o protagonista dos esforços para derrubar tese de que Lula seria o pai de programas

sociais396. A reportagem indica que a ideia seria “unificar um discurso que rebata a tese

petista com precisão de datas e acontecimentos”397. Discurso que já estaria sendo “ensaiado”

por Aécio Neves, que, em declaração dada em março daquele ano, defendeu ser preciso “que

se respeite o passado. O Bolsa Família, quando foi criado em decreto de 2004, dizia claramente o

392 https://oglobo.globo.com/brasil/dilma-ingrata-cospe-no-prato-que-comeu-diz-fernando-henrique-7670460
393 http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/05/aecio-neves-e-eleito-presidente-do-psdb-com-973-dos-
votos-do-partido.html
394 https://oglobo.globo.com/brasil/instituto-divulga-texto-no-qual-diz-ser-legado-de-fh-protecao-social-
8403905
395 http://www.ifhc.org.br/fhc/fhc-hoje/políticas-sociais-no-brasil-pequena-história-dos-programas-de-
transferência-de-renda/
396 http://g1.globo.com/economia/noticia/2013/05/ifhc-quer-derrubar-tese-de-que-lula-e-o-pai-de-programas-
sociais.html
397 Programas como o de erradicação do Trabalho Infantil (PETI), em 1996, deram à transferência monetária
a famílias carentes, defende o texto. Na sequência, vieram ações como o Programa Bolsa Escola (1999),
Bolsa Alimentação (2001), depois unificados em um mesmo cadastro (CadUnico).
344
seguinte: estamos aqui unificando os programas de transferência de renda existentes, herdados do

governo do presidente Fernando Henrique”398.

4.2 “Um outro bloco capaz de sustentar o poder”: o IFHC, a derrota de


2014 e a derrubada do petismo (2014-2015)

A natureza da derrota em 2014 não frearia os esforços do PSDB em retomar o poder. A

conjuntura de crise que emergiu mais decisivamente após a reeleição de Dilma Rousseff, contudo,

imporia transformações ao partido, tanto no plano organizativo, com fragmentação ocasionada

pela atração de setores tucanos para a extrema-direita, como João Dória; quanto no plano da tática

política. Com efeito, sobretudo a crise econômica, mas também a crise de hegemonia evidenciada

a partir de 2015, mudaram o tom da ação política tucana. Aécio Neves abraçou francamente o

golpismo. Não reconheceu o resultado das urnas, exigindo recontagem de votos e, quando os

números se mantiveram substancialmente os mesmos, passou a denunciar suposta fraude operada

pelas urnas eletrônicas, em claro flerte com o conspiracionismo de extrema-direita que então era

difundido por organizações como o Movimento Brasil Livre (MBL)399.

A leitura tucana da situação parecia clara. Se em 2013 e 2014 importava disputar

eleitoralmente a base popular do partido, como ficou evidenciado pelo combate em torno da

autoria das políticas de “inclusão social” acima comentadas, as manifestações dirigidas pela direita

a partir de 2015, a adoção de uma agenda econômica ortodoxa, expressa pela indicação do

banqueiro Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, e o consequente desgaste da popularidade

de Dilma Rousseff, contando, inclusive, com o apoio de sempre da mídia empresarial,

398 http://g1.globo.com/economia/noticia/2013/05/ifhc-quer-derrubar-tese-de-que-lula-e-o-pai-de-programas-
sociais.html
399 http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/04/aecio-defende-urna-eletronica-com-recibo-para-conferir-
votos-em-eleicoes.html
345
demonstraram ao partido uma oportunidade histórica poderia ter sido aberta. Para uns, como

Aloysio Nunes, importava fazer Dilma sangrar, minando as bases de apoio petista, criando um

horizonte de vitória tucana em 2018400. Assim a popularidade da presidenta se conservaria baixa

e, em comparação, o “capital político” do PSDB cresceria401 . FHC, entretanto, sem apoiar

declaradamente os esforços do senador Aécio Neves em encerrar o ciclo petista por quaisquer

meios, não descartava a necessidade de se aproveitar o momento para criar uma “alternativa de

poder”. As posições de Aloysio Nunes e de FHC se encontraram em um evento que debateu o

novo mandato presidencial petista. Era 09 de março de 2015, e a presidenta eleita um ano antes

recém-iniciara o terceiro mês de seu novo governo.

Aparecia ali, pela primeira vez com clareza, a tese que então passaria a ser repetida pelo

ex-presidente: o PT teria operado um “presidencialismo de cooptação”, em referência indireta à

tese do cientista político Sérgio Abranches sobre o “presidencialismo de coalizão” que marcaria a

Nova República brasileira. Se este era determinado pela dispersão de siglas no espectro partidário

brasileiro, o que, por sua vez, forçaria a formação de grandes coalizões para conquista da

“governabilidade”, o modelo de organização do poder inaugurado pelo “lulopetismo” teria como

marca a engrenagem que uniria, no polo do poder político, frentes partidárias por meio da

corrupção; e, no polo da sociedade, a sujeição dos campeões nacionais ao governo, em uma

relação em que se transacionaria financiamento público por meio do BNDES em troca de

financiamento partidário402 . No primeiro caso, crimes teriam sido cometidos; no segundo,

400 Assim se expressou o senador e ex-candidato à vice-presidência na chapa de Aécio Neves, derrotada em
2014, Aloysio Nunes, em evento sediado pelo IFHC. Ver: https://fundacaofhc.org.br/debates/avaliacao-
das-perspectivas-do-novo-governo
401 Assim Sérgio Fausto, diretor executivo do IFHC, expressou-se em entrevista concedida a BBC, em 2018,
ao recordar a conjuntura em tela. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-42713238
402 A fala completa de FHC no evento está disponível neste link: https://www.youtube.com/watch?v=w-V-
fz6_LFk
346
embora uma manobra considerada legal, o mecanismo teria feito renascer uma espécie de

nacional-estatismo, com o poder petista e seus interesses partidários determinando a alocação de

recursos públicos403 . As múltiplas crises que teriam irrompido em 2015, defende Fernando

Henrique Cardoso, não seriam, assim, casuais, nem tampouco produtos de flutuações da economia

internacional, conforme defendia Dilma Rousseff404. Seriam produtos necessários do jeito petista

de governar, expresso no presidencialismo de cooptação.

FHC falar de lulopetismo é interessante. A criação do termo é atribuída ao jornalista

Reinaldo de Azevedo, e seu uso pelo ex-presidente busca qualificar os governos petistas como

partes da montagem de um sistema de cooptação, estruturalmente corrupto e corruptor, centrado

em espécie de culto à personalidade de Lula. Naquela quadra histórica, o termo também era usado

largamente por setores da extrema-direita, representando espécie de bandeira em torno da qual se

reuniriam as hostes da reação. Deste ponto de vista, se, por um lado, conviria qualificar os anos

petistas à frente do governo federal como um todo homogêneo – do que se tiraria a conclusão

lógica que a crise então vivida era produto direto e necessário do elogiado governo Lula -, por

outro, interessaria aos tucanos próximos a FHC a reabilitação de seu governo. Assim, o ex-

presidente criticou ainda, no mesmo evento, a versão que interpreta seu mandato como

“neoliberal”.

De acordo com ele, vivia-se então o reordenamento das relações internacionais, com a

globalização acelerada e o recém-desmantelamento do “mundo socialista”. Neste cenário, havia

de se reorganizar a estrutura econômica nacional, atrelando-a às cadeias e aos circuitos globais de

403 As considerações sobre o “nacional-estatismo” redivivo, que parecem ecoar avaliações de historiadores
conhecidos, também foram tecidas por Sérgio Fausto, na entrevista acima referenciada em nota. Ver:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-42713238
404 http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/03/dilma-pede-paciencia-e-diz-que-sociedade-precisa-dividir-
esforco.html
347
valor. Esta orientação geral se traduziu, concretamente, em uma série de medidas de estabilização

monetária e abertura econômica, conduzidas tanto por ele quanto por Gustavo Franco, ex-

presidente do Banco Central e um dos “pais” do Plano Real. O “choque de capitalismo”, já

antevisto pelo senador tucano Mário Covas em 1989, tinha como objetivo aumentar a

competitividade para “sanear” a matriz produtiva nacional, forçando a adequação do empresariado

ao modelo produtivo predominante internacionalmente. “O choque” sofreu oposição mesmo de

setores da burguesia brasileira. O caso mais conhecido foi o conflito entre FIESP e setores do

governo FHC, sobretudo os que se agrupavam em torno de Gustavo Franco em defesa da sua

política monetária. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo de 1998, a central patronal, contando

com o apoio inclusive de setores da CUT e da Força Sindical, então pressionava o governo por

uma “política mais voltada à produção”, e o consequente abandono da política de defesa do valor

do Real, levada a cabo por Franco, que na prática tornava difícil a vida dos industriais brasileiros,

dada a competição internacional tornada ainda mais forte pelo baixo preço do dólar. Abaixo

transcrevo a fala de FHC sobre o tema.

Na verdade, já desde a década de 1980 estava claro que nós estávamos numa
situação complicada no Brasil. A nossa constituição foi aprovada em 1988, o muro
de Berlim caiu em 1989, aqui tinha uma confusão bastante grande, não havia muita
clareza sobre o que fazer e o que não fazer. De fato, a década de 1990 mostrou que
a chamada globalização estava aí, e as pessoas custaram muito entender... em 1990
estava claro, mas as pessoas custaram muito a entender que era um desafio de novo
tipo. Coube a nós [do PSDB] em parte tentar equacionar a situação... que que você
faz com o país que que cuja raiz fundamental da sua cultura é fechar economia... é
dar mais força ao Estado e o Estado dar a mão para o empresário por que ele cresça...
e aumentar o consumo... o que você faz um país quando ele de repente não pode
mais ser assim? Porque tem que abrir economia... a economia está toda inter-
relacionada, o setor financeiro nem se fala... as redes, não só sociais, mas
financeiras também... então o desafio era esse, e isso foi difícil de fazer... as pessoas
entenderem... aí qual foi a reação? Ah, vocês são neoliberais. Neoliberais coisa
nenhuma. Mudou o processo produtivo, mudou a tecnologia, mudaram os meios
de comunicação e você tem de se situar nesse novo mundo, não no mundo do
passado. A duras penas isso foi avançando, conseguimos alguma coisa...
trabalhamos com dificuldade, aqui é sempre com dificuldade, mas a coisa foi indo,
com várias crises, etc, com vários erros, etc, mas foi indo...foi indo405

405 https://www.youtube.com/watch?v=w-V-fz6_LFk
348
A crítica, então, volta-se para a chamada “nova matriz econômica”. Em operação já

conhecida no seu discurso, FHC relaciona os elementos positivos do governo Lula à

manutenção dos instrumentos construídos nos seus anos à frente do Governo Federal. Os

elementos negativos, porém, seriam origem da crise então vivida. A concretização do

processo teria sido operada por Dilma Rousseff, quando se tentou mudar as bases da estrutura

econômica brasileira. FHC diz assim:

Veio o Lula e a sensação de que entenderam qual é o desafio... fizemos aquela


transição preparada, Palocci levou três meses como ministro sem pasta no meu
governo para poder receber as instruções da situação e tal... o Palocci entendeu
bem... votamos o orçamento que eles queriam ...aquilo foi, dava a impressão de
que finalmente o Brasil tinha um rumo, vai aí e tem o tripé, essa coisa toda...tem
símbolos dessas coisas que vão funcionar... disciplina fiscal e tal e coisa... as coisas
iam bem... ai sai o Palocci...mas não é o Palocci... a situação permitia...eles
entenderam qual era a questão... ai vem a crise...deu a sensação que você tinha que
fazer uma coisa anticíclica, né.... e deu a sensação ao governo, Dilma à frente,
porque o Guido não estava à frente de nada, a Dilma à frente dizendo “não, agora
vamos fazer o que é bom mesmo, não é isso que tem sido feito até agora”...e
começaram a destruir paulatina e progressivamente os instrumentos que nós
tínhamos posto em prática para modernizar o Brasil406.
Arriscando a análise mais profunda do que a mera descrição, enviesada, da história

dos dois governos, FHC destaca que a base daquela nova política econômica foi a construção

de um “novo bloco no poder” que, em suas palavras, configurou “gramscianamente, um

bloco hegemônico”. Tratava-se do uso de dinheiro público para, do lado dos pobres, via PBF,

conquistar apoio eleitoral; e, do lado de “algumas empresas” (as “campeãs nacionais”), sua

“cooptação” via dinheiro público por meio de instrumentos do Estado – inclusive

possivelmente de maneira criminosa, como é sugerido pela referência truncada ao Mensalão,

logo interrompida e substituída pela expressão “Lava-Jato”. A tese de que o BNDES teria

sido usado como mecanismo de “repasse de dinheiro para ditaduras” ou “compra de apoio

de empresários corruptos” já era, então, uma bandeira da extrema-direita, posteriormente

406 https://www.youtube.com/watch?v=w-V-fz6_LFk
349
capturada pelo bolsonarismo e desmentida recentemente por apurações de auditorias sobre a

atuação do banco407. O recurso de FHC ao tema, aqui, já prefigurava a tentação que as armas

do bolsonarismo exerceria sobre seu combate ao “lulopetismo” e sua tentativa de

reconstrução do PSDB como partido da burguesia. Segue o ex-presidente.

Houve também um novo pacto sócio-político no Brasil. Por quê? Porque, na


verdade, houve decisão também de colocar o BNDES e todo instrumental público
a serviço das empresas. Ao mesmo tempo que a bolsa família alimentava alguns
setores mais pobres, o grosso dos recursos foi dado às empresas... algumas delas....
Quando foi nomeado presidente do banco central um amigo meu, Luciano
Coutinho, conheço desde jovenzinho...BNDES... eu dei uma entrevista à ISTOÉ
dinheiro dizendo “Agora é um perigo”... Porque o Luciano acredita nisso... era o
modelo coreano... (eu disse) ah, então vai escolher os campeões nacionais e vão
solidificar um bloco de poder... esse bloco de poder solidificado não só pelo
BNDES... fundo de pensão, Caixa Econômica, Banco do Brasil... deu aquela
alegria a todo empresariado brasileiro, à classe média também... era Lula é Deus...
aquele bloco de apoio real. Aneis burocráticos, como eu chamava...bom, isso,
gramscianamente, era um bloco hegemônico...esse bloco se partiu...se partiu e qual
foi a percepção? Bom, no começo era Lula era bom e Dilma era má. Não é nem
uma coisa, nem outra. O bloco se partiu porque se esgotou o modelo econômico...se
esgotou... as primeiras reações da sociedade foram... “ah, bom era o tempo do
Lula”... não perceberam que o tempo do Lula levaria a isso e levou a isso... (...)
então o bloco se arrebentou, e arrebentação final tá sendo agora, que tá se revelando
o custo disso tudo em termos de dinheiro público, de financiamento não
controlado...de uma maneira concreta deu mens... deu lava-jato408
Nesta passagem, FHC faz referência aos anéis burocráticos, importante elemento de

sua discussão sobre o Estado na América Latina dos anos 1960409. É intrigante, porque a

impressão que fica naqueles que estudam a história da sua fundação, marcada pelo convite

para que membros do Estado participem das reuniões, atravessada pelo contato direto com o

setor empresarial, inclusive via financiamento; liderada por intelectuais orgânicos da

burguesia, enfim, a impressão é que a Fundação Fernando Henrique Cardoso funciona, na

407 https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1985; https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/01/27/A-


ideia-da-‘caixa-preta’-do-BNDES-mais-de-6-anos-depois
408 https://www.youtube.com/watch?v=w-V-fz6_LFk
409 A discussão está desenvolvida em diferentes obras escritas pelo ex-presidente. Ver principalmente:
CARDOSO, Fernando Henrique. A construção da democracia. Estudos sobre política. São Paulo:
Siciliano, 1993; CARDOSO, Fernando Henrique. O modelo político brasileiro. São Paulo: DIfel, 1973
350
prática, como candidata ao cargo de anel burocrático, e, se assim for, a crítica seria mais ao

conteúdo do que à forma.

A impressão ganha força quando ouvimos a sequência de sua fala. Demonstrando

confiança em que seria o momento de agir para a construção de uma “alternativa de poder”

ao PT, então empossado para mais quatro anos na presidência, FHC parece contornar mesmo

as recomendações de maior prudência, feitas por Aloysio Nunes. A conjuntura presente

lembraria, segundo ele, a que sucedeu imediatamente o impeachment de Fernando Collor de

Mello, quando, então tornado Ministro da Fazenda, teria enfrentado resistência no Congresso

às suas medidas. “Parlamentares diziam”, sempre de acordo com FHC, que “não existia ainda

um governo consolidado”. O tucano apresenta assim sua resposta dada na ocasião.

Eu digo: olha, a única possibilidade de fazer alguma coisa é agora. Quando tem
governo, quer dizer, quando está organizado tudo, os interesses organizados não
deixam eu controlar inflação... (...) mas aí nós tivemos uma vontade política, uma
visão de que tinha que fazer e um programa... então empurramos goela abaixo, não
goela abaixo do país, mas goela abaixo do Congresso uma série de medidas que
em situações normais não seriam votadas.
“Goela abaixo” foi introduzido, entre 1993 e 1994, um conjunto de medidas que ficou

conhecido na época como Plano FHC, preparatórias para o lançamento de uma nova moeda:

o Real. A primeira delas foi o Programa de Ação Imediada (PAI), por meio do qual o

Executivo enviou um pacote de cortes de investimentos sociais com o fito de equilibrar as

contas públicas. Depois, veio o fim da renegociação do processo de moratória internacional,

iniciado na década anterior, reativando, por este expediente, o serviço da dívida externa. Mais

próximo da implementação do Plano Real, veio ainda o Fundo Social de Emergência (FSE),

atual Desvinculação de Receitas da União (DRU), que permitiu ao governo o confisco de 20%

dos recursos constitucionalmente destinados à saúde e educação para atender “situações

351
emergenciais”, na tentativa de formação do superávit primário defendido como necessário

para o lançamento da nova moeda410.

Chama atenção o argumento proferido por alguém que dedicou bastante tempo a

criticar no PT o suposto pouco apego democrático do partido – imputando à singla, inclusive,

“tendências leninistas”, para ele sinal de autoritarismo. Seria metodologicamente inadequado

deduzir da composição do Congresso expressão da pluralidade social e, logo, da democracia,

tornando mecânico, por este expediente, o princípio da representação. É sabido que a

correlação de forças eleitorais nem sempre se adjudica na composição relativa das classes e

frações de classe de uma sociedade – observação que deveria ser elementar em um país com

população predominantemente trabalhadora e representação predominantemente empresarial.

Se aqui este destaque é feito, porém, é porque o protagonista da narrativa é conhecido por se

apresentar como defensor da democracia liberal e de suas instituições – a ponto de ter

fundado um instituto para sua defesa.

Segue FHC
agora é mesma coisa, só que falta quem faça isto. O ministro Levy (Joaquim
Levy, então ministro da fazenda) é um técnico, não é um líder político, não vai
fazer isso, não vai... eu me lembro, Aloysio também se lembra, outros aqui
presentes também...eu era ministro da fazenda e era senador, líder do PSDB e do
PMDB, então tinha autoridade moral para enfrentar o debate no congresso... não
é... tem que fazer isso. Quero ver algum tecnocrata enfrentar os senadores... não
enfrenta. (...) a situação agora é imprevisível, mas haverá... a opinião pública vai
ter peso... vai ter peso nisso, porque a desmoralização simultânea do sistema
econômico e do político faz com que as pessoas.... começa essa coisa de bater
panela... vai ter peso, e em algum momento isso acaba afetando os que conduzem
a política. Não é que seja fatal que aconteça isso, mas não se pode minimizar essa
questão. Aloysio também disse com muita propriedade que a quem tem
responsabilidade política também não cabe acirrar um processo se não sabe onde
vai dar, mas você não pode também se eximir da responsabilidade de certos
momentos, dizer: “olha, tem que tomar tais e tais medidas, tem de juntar tais e tais
forças”... depende do clima que vai se criando. (...) Oxalá os próprios políticos

410 José Paulo Netto mostra como a implementação do Plano Real foi preparada por um conjunto de medidas
que retiraram recursos de proteção social, fragilizando a capacidade do Estado em perseguir
determinações constitucionais celebradas em 1988. NETTO, José Paulo. FHC e a política social. Um
desastre para as massas trabalhadoras. In: LESPAUBIN, Ivo (org.) O desmonte da nação. Balanço do
governo FHC. Petrópolis: Editora Vozes, 1999.
352
percebam que têm que mudar as coisas...Oxalá entendam que têm que mudar as
coisas....e que alguma liderança política assuma o processo (...) que alguém ou
alguéns reajam contra isso... e refazer o que arrebentou agora...um outro bloco
capaz de sustentar o poder, e não é um bloco dentro do congresso, é na sociedade
com o congresso, e a justiça e a rua precisam botar mais pressão...mas a sociedade
e o congresso precisam refazer seu caminho para que seja construída uma nova
situação de poder....Quer dizer, tira e presidente da república... não adianta nada,
vai fazer o que depois? Você tem de construir um polo e ter uma visão do que dá
para fazer411.
A conjuntura ajuda a entender melhor a arenga de FHC às ruas, à Justiça e às panelas.

Em 2014, diversos grupos de extrema-direita foram criados. MBL, Revoltados On-Line, Vem

Pra Rua, alguns deles claramente golpistas, lideraram manifestações maciças, atraindo

setores sociais que reivindicavam mesmo intervenção militar412. Na arena de atuação da

Lava-Jato, o escândalo do Petrolão vinha à tona, com o STF tendo ordenado abertura de

investigação criminal de acusados de envolvimento no esquema na semana realização do

evento comentado. Na noite anterior à fala de FHC, 8 de março, dia Internacional das

Mulheres, Dilma Rousseff defendera, em cadeia nacional defendendo o “ajuste fiscal” e

pedira “paciência” com situação econômica do país, sendo recebida na sequência por

panelaço nas grandes cidades413.

Se o partido da Lava-Jato e os setores sociais que participaram das manifestações das

direitas, nas ruas e nas janela e varandas, devem compor o “outro bloco no poder”, isso não

basta para compreende a natureza social deste novo arranjo. Fernando Henrique Cardoso é

um sociólogo experimentado, “amigo” de Poulantzas no período em que este prepara seus

principais trabalhos414 . Sabe que “blocos no poder”, conceito utilizado largamente pelo

franco-grego, refere-se sobretudo a classes e frações de classes sociais. As “camadas

411 https://www.youtube.com/watch?v=w-V-fz6_LFk
412 https://www.istoedinheiro.com.br/vem-pra-rua-faz-mobilizacao-em-recife-contra-decisao-do-stf/
413 https://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,cronologia-protestos-2015-a-2016,12157,0.htm
414 A referência à amizade está em entrevista concedida pelo ex-presidente e disponível aqui:
http://desigualdadediversidade.soc.puc-
rio.br/media/05%20DeD%20_%20n.%209%20-%20Entrevista%20FHC.pdf
353
intermediárias” certamente são um setor importante da pequena burguesia, aliada histórica

do PSDB e base importante de apoio ao governo FHC. Já a pergunta sobre quais setores

dominantes deveriam dirigir o bloco é importantíssima, e creio serem os patrocinadores do

instituto um importante indício para se construir uma resposta. Sobre isso refleti mais

demoradamente no capítulo 3, ainda que no espaço tenha evitado conclusões por falta de

provas contundentes.

Restaria entender melhor quem deveria representar o “outro bloco” no nível político-

partidário. Aqui o céu desanuvia e as respostas parecem ganhar mais precisão. No evento

descrito, FHC instigava a “opinião pública”, as ruas, a justiça, além do próprio partido, a

forçarem a construção de uma nova alternativa de poder, alijando o PT não só da presidência,

mas também da liderança daquele “bloco” que apoiava e constituía o governo – substituindo-

o por outro. Do que se depreende a possibilidade de ser o próprio IFHC candidato ao cargo.

Não seria novidade. Anos antes, quando do lançamento da entidade, o ex-presidente alertava

seu partido sobre a necessidade de “reconquistar as bases históricas do PSDB”, referindo-se

não apenas à pequena burguesia, mas também aos setores empresariais. A crise do

“lulopetismo”, assim, parece ter indicado ao tucano a oportunidade há muito aguardada. Era

09 de março de 2015. Dilma Rousseff iniciara seu novo mandato há pouco mais de dois

meses.

4.3 Governo Temer: o IFHC entre a representação empresarial e a


fragmentação partidária
A consolidação do golpe de 2016 com o afastamento definitivo de Dilma Rousseff,

em agosto daquele ano, impôs ao comando do país a coligação partidária derrotada em 2014,

354
mantendo o PMDB no governo, desta feita à frente. A identidade de projetos do plano de

governo pemedebista, a famigerada “Ponte para o Futuro”, e a agenda tucana foi reconhecida

por setores da imprensa e pelos principais representantes do próprio governo. A posse de

Michel Temer, assim, para muitos significou a implementação do programa derrotado nas

urnas em 2014 – agravando o “estelionato eleitoral” cometido pelos petistas que, após

defenderem uma plataforma de governo nas eleições, praticaram outra no início do seu quarto

mandado presidencial415.

O embarque do PSDB no novo governo, contudo, não se deu sem revelar algumas

cisões internas, ainda que o partido então ainda se mantivesse razoavelmente coeso. As

disputas evidenciavam as contradições entre uma agenda de Estado, marcada pelo apoio ao

“reformismo” de Michel Temer, sobretudo na área “econômica”; o reforço da posição do

IFHC como centro de articulação entre setores sociais dominantes e a sociedade política

brasileira; e a luta partidária, já tendo as eleições de 2018 no horizonte. De acordo com Eliseu

Padilha, então ministro chefe da Casa Civil, coube a FHC o papel de “maior entusiasta e

defensor do apoio do PSDB” a Temer416. Com efeito, em entrevista concedida antes da

reunião de cúpula que selaria o embarque do partido no governo, FHC defendeu a ocupação

de ministérios por membros do partido, reforçando, por este expediente, o grupo tucano

próximo a José Serra, que aspirava ter peso no governo417. Na conjuntura, por medo da

contaminação do partido pela impopularidade do governo, Aécio Neves e Geraldo Alckmin

415 https://theintercept.com/2016/08/28/o-romance-entre-psdb-e-pmdb-na-ponte-de-volta-para-o-futuro/
416 https://www.nsctotal.com.br/noticias/fhc-foi-entusiasta-do-apoio-ao-governo-temer-afirma-padilha-0
417 https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,fhc-apoia-entrada-do-psdb-em-eventual-governo-temer-e-
reforca-posicao-de-serra,10000027977
355
defendiam tese contrária, alegando que o PSDB deveria apoiar a agenda econômica

“reformista” de Temer, mas sem aceitar cargos418.

A solução do dissenso com o partido aceitando compor a base de apoio de Temer

reduziu a intensidade das disputas internas. Aécio Neves ainda era a figura pública da legenda,

e, em sua avaliação do ano de 2016 publicada no sítio virtual do partido, curiosamente

assinada como “Ponte para o Futuro”, o senador e candidato derrotado à presidência da

República em 2014 apelava à união das forças políticas419 . Segundo ele, para além do

“ajuste fiscal” então implementado pelo governo pemedebista, era urgente avançar em

“Reformas Constitucionais” que haviam sido “descontinuadas” pelo “ciclo de poder” anterior,

então “vencido”420. A fala reforça, assim, aqueles que defendem ter sido o golpe de 2016

espécie de efetivação de “Ponte para Passado”, por pretender restaurar ataques mais incisivos

contra os direitos previstos na Constituição de 1988; período de ataques cujo maior símbolo,

para José Paulo Netto, teria sido precisamente o governo Fernando Henrique Cardoso421.

Por outro lado, ter sido Aécio Neves o responsável por assinar espécie de memorial tucano

do ano que se encerrava revela a posição de prestígio da qual o senador então ainda desfrutava.

O IFHC também teve seu butim no novo governo. Xico Graziano, que atuava na

comunicação e na edição de conteúdo da organização – abastecendo, inclusive, a página do

Facebook Observatório da Política, ligada à entidade – foi designado para a equipe de

comunicação virtual da Presidência da República422. A ocupação de postos do Estado por

parte de membros da organização, contudo, não foi o principal esteio de apoio à agenda

418 Idem
419 https://www.psdb.org.br/pe/ponte-para-o-futuro-por-aecio-neves/
420 Idem
421 NETTO, José Paulo. Op. Cit.
422 https://painel.blogfolha.uol.com.br/2016/05/16/ministro-da-industria-tentara-resgatar-poderes-da-pasta-
no-congresso/
356
governamental de Michel Temer. Concordando com as bases da “Ponte para o Futuro”, o

IFHC estimulou a discussão sobre melhorias no ambiente de negócios brasileiro, e o apoio

às medidas de Temer deram o tom de eventos que reuniram empresários interessados em

investir no país e quadros da administração federal responsáveis por franquear o país ao

capital externo.

Um eloquente exemplo é o evento realizado 28 de outubro de 2016. Pouco mais de

um mês antes, em 13 de setembro, a Presidência listara os primeiros 34 projetos de

infraestrutura que seriam concedidos à iniciativa privada como parte do Programa de

Parcerias e Investimentos (PPI), anunciado pelo presidente no primeiro dia de governo, ainda

durante seu mandato interino. Tratava-se de um generoso pacote incluindo portos, aeroportos,

rodovias, ferrovias, setores do complexo energético e empresas de mineração423. De acordo

com o secretário-executivo do programa, Moreira Franco, o governo planejava arrecadar

R$ 24 bilhões com concessões e privatizações só em 2017424.

Naquele outubro, O IFHC realizou um seminário para discutir o tema425. Contando

com patrocínio de um pool de empresas financiadoras das atividades do instituto426 , o

evento, mediado por Sérgio Fausto, um dos principais porta-vozes do IFHC, reuniu James

423 http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/09/governo-temer-anuncia-concessao-ou-venda-de-25-
projetos-de-infraestrutura.html
424 http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/09/governo-quer-arrecadar-r-24-bilhoes-com-concessao-e-
privatizacao-em-2017.html
425 https://fundacaofhc.org.br/iniciativas/debates/investimento-em-infraestrutura-no-brasil-primeiras-
medidas-do-governo-temer
426 Na ocasião, o debate contou com financiamento da Ambev, Cosan, BM&FBovespa, CPFL Energia,
Bunge, Alfa Seguradora, Itaú, Pepsico, Natura, Telefônica-Vivo, IBM, ESPM e Votorantim; e com o
apoio da Rádio BandNews, Grant Thornton e da Livraria Cultura. Ver:
https://fundacaofhc.org.br/iniciativas/debates/investimento-em-infraestrutura-no-brasil-primeiras-
medidas-do-governo-temer
357
Stewart, diretor global da Área de Infraestrutura da KPMG, multinacional de auditoria e

consultoria; e Marcelo Allain, secretário de Articulação e Parcerias do PPI427.

Marcelo Allain detalhou o funcionamento do PPI, considerada pelo IFHC como “uma

das principais apostas do governo Temer para o país retomar o crescimento econômico após

dois anos de recessão”. Segundo ele, “o programa parte do diagnóstico de que, além do

esforço de fazer o ajuste fiscal, precisamos avançar em iniciativas que tragam investimentos,

melhorem a infraestrutura e a qualidade dos serviços do país”428 . A ideia do governo

apresentada pelo secretário, era utilizar “pouco” o BNDES, com financiamento nunca

superando a casa dos 50% do montante total. A ideia, assim, era privilegiar os capitais com

capacidade de autofinanciamento, reforçando o papel da iniciativa privada na “reconstrução”

da infraestrutura brasileira. Como forma de assegurar qualidade positiva do serviço, o

governo reforçaria o papel das agências reguladoras, bem como criaria mecanismos para

garantir o andamento e o término das obras no tempo previsto em contrato. Os leilões

estavam planejados para serem realizados entre cem dias e um ano após o lançamento dos

editais429.

Na sequência, foi a vez do “consultor” James Stewart, representando a KPMG. O sítio

virtual brasileiro da empresa anuncia assim, na aba “institucional”, a sua missão:

A KPMG é uma rede global de firmas independentes que prestam serviços


profissionais de Audit, Tax e Advisory. (...) Orientada pelo seu propósito de
empoderar a mudança, a KPMG tornou-se uma empresa referência no segmento
em que atua. Compartilhamos valor e inspiramos confiança no mercado de capitais
e nas comunidades há mais 100 anos, transformando pessoas e empresas e gerando
impactos positivos que contribuem para a realização de mudanças sustentáveis em
nossos clientes, governos e sociedade civil430.

427 https://fundacaofhc.org.br/iniciativas/debates/investimento-em-infraestrutura-no-brasil-primeiras-
medidas-do-governo-temer
428 https://fundacaofhc.org.br/iniciativas/debates/investimento-em-infraestrutura-no-brasil-primeiras-
medidas-do-governo-temer
429 Idem.
430 https://kpmgbrasil.com.br/news/list?id=40
358
Trata-se, como se vê, no que diz respeito à sua interface de consultoria, de espécie de

agência de investimentos, calculando riscos, traçando panoramas e gerando “confiança” no

mercado, apontando destinos e formas mais desejáveis para alocação de capitais. Faz sentido,

portanto, que a fala de Stewart suceda do representante do governo que disponibilizava, então,

uma nova carteira de investimentos ao “mercado”.

O agente da KPMG elogiou o projeto do governo Temer. No entanto, alguns

problemas foram apontados à plateia. “Quando se trata de atrair investimento externo”, disse,

“o Brasil tem sido um mercado fechado”. Para mudar o quadro, conviria ao governo avançar

“mais reformas”, “dando apoio e correndo mais risco” para conseguir atrair investimento

estrangeiro. Stewart se referiu especificamente o que chamou de unsolicited bids”,

equivalente ao Procedimento de Manifestação de Interesse, usual no Brasil. De acordo com

o sítio do IFHC,

Nos últimos dez anos, a maioria dos governos (federal, estaduais e municipais)
recorreu aos PMIs para estruturar e licitar projetos de concessão e PPPs (parcerias
público-privadas). Isso tende a favorecer proponentes e “players” locais, mais
informados sobre os projetos, enquanto os estrangeiros só ficam sabendo das
oportunidades durante “road shows” ou quando os editais são publicados431.
A página virtual do IFHC destaca outros trechos da fala do britânico. Para Stewart,

“as ‘unsolicited bids’ são um pesadelo para os investidores estrangeiros. Eles não entendem

esta prática, que tem sido uma grande barreira ao investimento externo no Brasil”. Segundo

o IFHC, seriam ainda obstáculos para investimentos externos as altas taxas de juros

praticadas no Brasil, os esquemas de corrupção e o mau estado geral da economia. A crise

política também assusta, por isso o consultor sugeriu a criação, por parte do governo, de

431 https://fundacaofhc.org.br/iniciativas/debates/investimento-em-infraestrutura-no-brasil-primeiras-
medidas-do-governo-temer
359
mecanismos de garantias de investimento432. Tomando de volta a palavra, o representante

do governo concordou com a observação do britânico, mas argumentou que o ajuste fiscal,

motivado pela deterioração das contas públicas, dificultava a adoção de algumas medidas

sugeridas.

Alguns outros elementos sugestivos podem ser extraídos da análise da plateia433.

Destaco, aqui, a participação de um empresário – que pode ser notado porque, no momento

do debate, dirigiu uma pergunta à mesa. Trata-se de Juan Santos, representante de consórcio

espanhol para investimento em infraestruturas, composto pelas estatais Renfe e Adif, além

das empresas privadas Consultrans, Ineco e OHL. Apresentando-se como “consultor” do

grupo que somaria mais de 7 bilhões de euros em capacidade de investimento, então

parcialmente vertidos em obras como a do trem de alta velocidade que ligaria Meca à

Medina434, Santos declarou estar acompanhando de perto o projeto brasileiro lançado pelo

governo Temer, e, possivelmente temendo concorrência ou insegurança jurídica, interessou-

se por saber, do representante do governo, os rumos do acordo assinado, ainda à época da

presidenta Dilma Rousseff, que previa inversões de 10 bilhões de dólares em infraestrutura

por parte de empresas chinesas435.

432 https://fundacaofhc.org.br/iniciativas/debates/investimento-em-infraestrutura-no-brasil-primeiras-
medidas-do-governo-temer
433 Não tive acesso à listagem dos que compareceram ao encontro como ouvintes. Assim, só posso apresentar
os que fizeram perguntas à mesa na hora dedicada ao debate. Se de alguma forma, este grupo puder ser
considerado representante do todo, então teríamos que compareceram à reunião, além dos empresários,
políticos e intelectuais tucanos, representados por Andrea Calabi, ex-presidente do BB e do BNDES
durante governo FHC, e Alberto Goldman; além de porta-vozes de organizações sociais, principalmente
vinculadas à defesa das pautas ambientas, como exemplificado por Ana Carolina, da Nature Conservancy,
que, na ocasião, interessou-se por saber como o mercado enxergava a relação entre transformações nas
matrizes infraestruturais e as mudanças climáticas em curso. Ver em:
https://www.youtube.com/watch?v=mrd9T1WPBHM&t=1080s
434 O consórcio dirigiu todas as etapas de construção da via, do planejamento à execução da obra. Além
disso, adquiriu a concessão de exploração do serviço por 12 anos.
435 https://www.youtube.com/watch?v=mrd9T1WPBHM&t=1080s
360
A dinâmica da discussão apresentada, creio, é bastante reveladora de uma das funções

do IFHC, já discutida no capítulo 1. A entidade, nesse evento, constituiu importante interface

de contato entre empresários e quadros do governo, responsáveis pela gestão de políticas e

do patrimônio públicos. Organização da sociedade civil, o instituto se tornou capaz de

representar as demandas do empresariado, inclusive internacional, conectando-as

diretamente aos responsáveis no governo pelo atendimento das solicitações, contornando, na

prática, as instituições de representação social mais propriamente democráticas. A capacidade

de influência nas políticas públicas, demonstrada pelo IFHC, é endossada pelas pesquisas

quantitativas levadas a cabo pela Universidade da Pensilvânia, que aqui utilizo como

termômetro do potencial político das instituições arroladas – ainda que rejeite as conclusões

e mesmo a concepção de think tank esgrimidas pelo laboratório de pesquisas. Atendo-se aos

dados, verifica-se que, de 2013 em diante, o IFHC passa a constar na lista dos think tanks

com maior capacidade de influência sobre as políticas públicas no mundo todo. A partir de

2014, alcança a segunda posição entre os brasileiros, superando o Cebri, mas mantendo-se

bem atrás da FGV, líder de longe em nível nacional e uma das mais importantes em nível

mundial436.

É tentador argumentar, diante dos dados acima expostos, que, a partir de 2013, a crise

de hegemonia do petismo abre espaço para a emergência do IFHC como um dos novos líderes

da burguesia brasileira, em suas tentativas de captura domínio exclusivo sobre o Estado.

Creio que mais pesquisas seriam necessárias para que esta hipótese pudesse ser efetivamente

testada. A mera presença da entidade naquela lista, contudo, é reveladora da sua capacidade

436 O índex com todos os relatórios produzidos pela Universidade da Pensilvânia, de 2008 a 2019, está
disponível neste endereço eletrônico: https://www.gotothinktank.com/global-goto-think-tank-index
361
de influência nas políticas públicas – em outras palavras, de seu potencial de ação sobre o

sociometabolismo político do Estado brasileiro. Diante destes dados, o posicionamento do

instituto na disputa política nacional deve ser considerado relevante, do que os quadros da

iniciativa devem ter consciência, dado o volume crescente da sua produtividade437. Ainda

com os dados em mente, ganha outro peso a articulação realizada por FHC em favor de um

“poder alternativo” ao “lulopetismo”, comentada na seção acima; bem como se torna mais

importante o engajamento do instituto em defender as pautas econômicas do governo Temer

– favorecendo, inclusive, setores da burguesia internacional, que compareceu aos eventos da

entidade e, por meio deles e do IFHC, apresentou suas demandas a representantes do poder

político brasileiro.

Não seria exagerado, assim, considerar o IFHC um dos centros de articulação da tática

político do PSDB, não apenas em eventos públicos, mas também em reuniões a portas

fechadas – sobre as quais tudo que se pode fazer é especular438. Entender este think tanks

em questão nesta interface entre política para a sociedade e política para o partido é também

compreender que sua ação não se resume às suas atuações públicas, ainda que também nestas

haja tentativa de construção de consensos sobre determinadas políticas públicas e da

generalização de interesses particulares. Ainda que também nestes seminários se vejam

indícios da articulação entre setores da sociedade civil, principalmente organizações e

representantes de extratos de frações das classes dominantes, e a sociedade política,

simbolizada pelos diálogos travados entre empresários, intelectuais orgânicos e políticos.

437 Falei disso no capítulo 2.


438 A discussão é igualmente encontrada no capítulo 2.

362
Se assim for, o estudo do papel do IFHC na conjuntura de crise interna no PSDB pode

ser útil para que se compreenda melhor as disputas que ameaçaram rachar o partido a partir

de 2017. Não que tudo tenha começado com a irrupção de uma série de denúncias de

corrupção – e crimes ainda mais graves... – que tinham em Aécio Neves o alvo principal. O

marco é arbitrário, pois as contradições que emergem com força neste momento já estavam

maturando havia longo tempo; processo ocasionado, em parte, pelas sucessivas derrotas de

tucanos históricos em eleições disputadas contra os o PT. O “Novo PSDB” já crescia nas

entranhas do velho, mas foi preciso uma ocasião de grande impacto como aquela série de

denúncias para agilizar o trabalho de parto.

4.4 O IFHC e a emergência do “Novo PSDB” após a derrota nas eleições


de 2018
A narrativa contra o “sistema de corrupção do PT”, que vimos aparecer com mais

frequências nas intervenções tucanas durante a crise do petismo, deu o tom das eleições de

2014. Pesavam contra o partido inúmeras denúncias, apresentadas não sem sensacionalismo

pela mídia empresarial e replicadas com voracidade pelas redes sociais e aplicativos de

mensagens instantâneas. Do Mensalão ao Petrolão, o PT viu sua imagem de bastião da

moralidade, outrora cultivada, talvez definitivamente arranhada ao sabor das incursões da

Operação Lava-Jato. O pleito que marcaria a reeleição de Dilma Rousseff, assim, foi cenário

de embates encarniçados, no qual um Aécio Neves virulento tentava construir para si a

imagem de cruzado anticorrupção. FHC, avaliando positiva a tática, estimulava os ataques,

363
defendendo que “casos de corrupção no governo PT tem sido quase a regra”439. O PSDB

também pareceu referendar o posicionamento dos ícones tucanos. Na convenção partidária

que o lançou candidato à presidência, Aécio Neves teve espaço para disparar contra os

governos petistas, acusando-os de terem protagonizado “os casos mais vergonhosos de

corrupção da nossa história”440. Depreende-se, portanto, que, já em 2014, o partido tentou

capturar a insatisfação difusa provocada por aqueles escândalos de corrupção, ao enxerga-

los como novo caminho dos tucanos ao Planalto.

Vimos que a estreita derrota sofrida naquele pleito paradoxalmente fortaleceu o PSDB

e Aécio Neves. Reeleito presidente do partido em 2015, o senador jamais abandonou a

campanha, forçando o que chegou a ser considerado “terceiro turno eleitoral” mesmo por

intelectuais orgânicos conservadores 441 . A tática de Aécio Neves era, declaradamente,

“trabalhar para pôr fim ao governo” da presidenta Dilma Rousseff o mais rapidamente

possível442, ainda que, no interior do PSDB, posições diversas poderiam ser identificadas,

como acima ilustrado. A sedução do golpismo, entretanto, tornava Aécio Neves candidato

natural à sucessão de Michel Temer no pleito que seria realizado em 2018.

A situação mudou drasticamente em 2017. É verdade que denúncias de corrupção

contra o senador já circulavam antes, ainda que reprimidas pela parca cobertura midiática

prestada443. Mas o patamar dos indícios apresentados pela justiça contra o ex-candidato foi

elevado subitamente pelo vazamento de um áudio, em maio daquele ano, entregue por

439 https://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/09/1513301-fhc-diz-que-casos-de-corrupcao-no-governo-pt-
tem-sido-quase-uma-regra.shtml
440 https://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/06/1470506-aecio-neves-diz-que-promovera-reencontro-do-
brasil-consigo-mesmo.shtml
441 https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/aecio-vence-dilma-no-8220-terceiro-turno-8221/pagina-
comentarios-2/
442 https://exame.abril.com.br/brasil/aecio-sinaliza-vai-trabalhar-para-por-fim-ao-governo-dilma/
443 Falar do caso do aeroporto.
364
Joesley Batista à Justiça por acordo de delação premiada. A fita evidenciava um repasse

realizado pelo empresário ao político mineiro da ordem de 2 milhões de reais em propina444.

Na parte mais chocante da gravação, Aécio Neves afirmara que o intermediador da negociata

deveria ser escolhido dentre pessoas que poderiam ser mortas antes de delatar o esquema445.

A represa da mídia empresarial que muitos enxergaram na contenção de escândalos de

corrupção envolvendo o tucano cedeu. Daquele maio em diante, manchetes de jornal

atacaram duramente o líder do PSDB. O afastamento do Senado determinado pelo Supremo

Tribunal Federal foi considerado o dobre de sinos de sua vida pública, selando “seu obituário

político”446.

A suposta queda de Aécio Neves, naturalmente, abriu um vácuo de poder no interior

do PSDB. João Dória Jr. foi quem mais se aproveitou deste espaço. Negando ser político e

se afirmando “gestor”, Dória ganhou fama após bater, em primeiro turno, o então candidato

à reeleição à prefeitura de Sâo Paulo, Fernando Haddad, do PT447. As novas organizações

da direita demonstraram grande capacidade de mobilização nas ruas desde 2015 até a

campanha do impeachment de Dilma Rousseff, como o Movimento Brasil Livre (MBL),

abraçaram o tucano, declarando apoiá-lo em candidatura à presidência nas eleições de

2018448. Na ausência de Aécio Neves, o novo prefeito de São Paulo parecia o candidato

mais capaz de capitalizar o antipetismo virulento que ganhou a cena com a dinâmica de

444 https://g1.globo.com/politica/noticia/audio-aecio-e-joesley-batista-acertam-pagamento-de-r-2-
milhoes.ghtml
445 https://oglobo.globo.com/brasil/grampo-revela-que-aecio-pediu-2-milhoes-dono-da-jbs-21353924
446 https://veja.abril.com.br/brasil/a-queda-de-aecio-neves/
447 http://g1.globo.com/sao-paulo/eleicoes/2016/noticia/2016/10/joao-doria-do-psdb-e-eleito-prefeito-de-sao-
paulo.html
448 https://blogdarose.band.uol.com.br/kim-kataguiri-diz-que-doria-sera-o-candidato-do-mp-a-presidente/
365
múltiplas crises instaurada a partir de 2015. Dória era considerado o perfeito “anti-Lula”

pelos porta-vozes do antipetismo na grande imprensa449. Tratava-se de um “furacão”450.

Enquanto Dória era alçado campeão da direita, Geraldo Alckmin trabalhava nos

bastidores. Sem o mesmo carisma do prefeito de São Paulo, o então governador do Estado

buscava apoio político no seio da burguesia brasileira. Na conjuntura em que a mídia

empresarial trabalhava antecipadamente a candidatura de Dória à sucessão de Temer,

Alckmin apresentava-se como pré-candidato à presidência no Grupo de Líderes Empresariais

(Lide)451. Em meados de 2017, era inegável a disputa entre os dois tucanos em torno da

candidatura pelo partido, conforme reconhecia FHC452.

A peleja pela nomeação tucana encontrou o IFHC ao lado do pré-candidato

considerado mais moderado. Se João Dória Jr. se mostrava agressivo em 2017, dialogando

estreitamente com os movimentos da extrema-direita que tinham ocupado as ruas do país

desde 2015, Geraldo Alckmin adotava tom conciliatório, sendo preferido pelos “caciques da

sigla” frente a outros tucanos tradicionais, como José Serra e o próprio Aécio Neves, vistos

como mais expostos à ação da Lava-jato453. Pelo menos assim defendeu o diretor do IFHC,

Sérgio Fausto, para quem o governador de São Paulo iria “bem na partida mesmo jogando

sem bola”, deixando claro o candidato da entidade, mas também do partido.

O Alckmin está na vida política há 40 anos, é um protagonista em São Paulo há


mais de 20 anos. O prefeito tenta reduzir essa vantagem deliberadamente buscando
uma exposição intensa, sobretudo nas mídias sociais, e viajando pelo país. (...) O

449 https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,doria-o-anti-lula,70001779856
450 https://istoe.com.br/o-furacao-doria/
451 O Grupo de Líderes Empresariais (Lide) reúne os CEO’s e diretores das principais empresas brasileiras,
que juntas somam 50% do PIB nacional Ver: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/03/1864021-
doria-diz-que-e-grato-a-alckmin-e-que-governador-e-seu-candidato-a-presidente.shtml e
http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/alckmin-faz-palestra-aos-empresarios-do-lide-sobre-
crescimento-economico/

452 https://noticias.r7.com/brasil/fhc-e-natural-disputa-entre-alckmin-e-doria-por-candidatura-11092017
453 https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/10/politica/1507647757_113301.html
366
fato do governador ser o pole position do partido obriga o prefeito a fazer manobras
arriscadas. Ele acaba se tornando mais conhecido nacionalmente do que um
prefeito novato seria, mas isso gera um desgaste454.
Era outubro de 2017, e a faltava pouco menos de dois meses para a convenção do

partido que anunciaria o candidato à presidência na corrida eleitoral do próximo ano. Naquele

mês, pesquisas de opinião haviam revelado que os eleitores de São Paulo entendiam que o

prefeito viajava menos do que deveria, em alusão crítica às incursões de Dória pelo país para

participar de eventos a fim de angaria apoio à sua própria candidatura à cabeça da chapa

tucana em 2018.

A convenção do PSDB, em dezembro de 2017, indicou, com feito, Geraldo Alckmin

candidato à presidência. Em discurso, FHC reforçou a orientação predominante no partido.

Relembrou aos correligionários a importância de “ouvir o povo”, reconectar-se “com as ruas”,

de fazer pelos mais pobres e não perder de vista as demandas de uma sociedade “plural”, em

que questões de raça e gênero ainda restariam por ser resolvidas455. Buscando demarcar

distância em relação aos setores da extrema-direita que exigiam prisão imediata de Lula,

então em julgamento por suspeita de corrupção, FHC reforçou a linha seguida pela legenda

na conjuntura, destacando que preferia ver o petista derrotado nas urnas456. Sobre o PSDB,

o ex-presidente “festejou a união tucana”, revelando, em contraste, que os meses anteriores

foram menos harmônicos457. Aécio Neves, isolado, foi ausência sintomática no palco do

evento, onde ficaram sentados os principais nomes do partido458.

454 454 https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/10/politica/1507647757_113301.html


455 https://www.youtube.com/watch?v=mzNxEaAsscA
456 https://oglobo.globo.com/brasil/em-discurso-fhc-diz-que-prefere-vencer-lula-nas-urnas-ve-lo-na-cadeia-
22171778
457 Idem
458 https://oglobo.globo.com/brasil/aecio-chega-sozinho-convencao-do-psdb-entra-por-lado-oposto-aos-
caciques-tucanos-22171674
367
Do lado do IFHC, a conjuntura de crise do petismo, aberta em 2014, demonstrou a

potencialidade das redes sociais na mobilização política. A capilaridade permitida pela

internet já havia sido debatida, em evento realizado pelo instituto sob o nome da Plataforma

Democrática, em maio de 2016. Ocasião em que, com apoio do Open Society Institute e

fomento do National Endowment for Democracy (NED), a fundação recebeu dentre outros

especialistas, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São

Paulo. O pesquisador lembrou que, embora a internet tenha surgido no ambiente

universitário, no qual a comunidade acadêmica trabalhava de forma horizontal, colaborativa

e pautada pelas regras da democracia, alguns dos serviços online mais populares, como

Twitter, Flikr e Craigslist, foram idealizados por ativistas antiglobalização. De acordo com

Ortellado, assim, o desafio dos democratas frente à expansão e as ameaças do mundo virtual

seria “preservar o potencial democrático dessas novas formas de comunicação que já

rivalizam com a televisão e outras mídias tradicionais”, cuja regulação já estava estabilizada,

minimizando, portanto, seu uso como ferramenta antissistêmica459.

A compreensão da internet como um campo de enorme potencialidade comunicativa

– mas também como uma arena sujeita à captura por instituições ou grupos que, mais

organizados, podem tentar centralizar em determinados temas e visões de mundo a circulação

de mensagens – aparece na fala de Ortellado no evento 460 . A título de exemplo, o

pesquisador citou indicação de que 80% das mensagens que circularam na internet na semana

que antecedeu a votação do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados se

459 https://fundacaofhc.org.br/debates/ativismo-politico-em-tempos-de-internet
460 https://fundacaofhc.org.br/debates/ativismo-politico-em-tempos-de-internet
368
alinhava “a duas narrativas de campanha”: ‘É golpe!’ ou ‘É corrupção!’. “Essas duas

mensagens afogaram qualquer tipo de reflexão mais independente ou matiz”, disse461.

A reflexão realizada em um evento produzido pelo IFHC parece ter consolidado a

percepção da importância de atuar nos circuitos virtuais. Como vimos no capítulo 2, desde

2011 a entidade já esticava seus braços sobre a rede, com o lançamento do site Observador

Político, com página na rede social Facebook destinada à “jogar um papel grande” nos

debates políticos em ambiente virtual462. Desde 2017, contudo, a atuação do instituto nas

redes sociais se intensificou com o lançamento da iniciativa Diálogo na Web, em parceria

com a popular página de Facebook Quebrando o Tabu463. O projeto ganhou importância

destacada na preparação para as eleições de 2018, com encontros pensados para discutir a

situação da democracia na América Latina, bem como temas considerados polêmicos – o que

funciona como espécie de termômetro da movimentação social sobre tópicos tidos como

sensíveis.

No primeiro destes eventos dedicados a discutir, em 2018, a importância das eleições

presidenciais a serem realizadas naquele ano em alguns países da América Laitna – dentre

eles o Brasil - Sério Fausto, representando a voz do IFHC, analisa que a região vive

historicamente “ciclos” que expressam os países indo em uma ou outra direção. Após

mencionar os anos 60 e 70, marcados por ditaduras; 0s 80, pela crise da dívida e os 90 por

“reformas liberais” de estabilização econômica, Fausto declara que a América Latina viveu

um ciclo “mais à esquerda”, com, todavia, diferentes tipos de regime político, dos mais

461 https://fundacaofhc.org.br/debates/ativismo-politico-em-tempos-de-internet
462 https://www.tribunapr.com.br/noticias/politica/instituto-fhc-lanca-site-de-debates-na-internet/
463 Os dados referentes à iniciativa, a articulação do IFHC com outras ferramentas de interação virtual e
potencial capilaridade da organização foram discutidos no capítulo 2.
369
autoritários, como Bolívia e Venezuela, até os mais democráticos, como Chile e Uruguai,

passando pelos que oscilavam entre dois polos, como Brasil, do PT, e Argentina. O último

ciclo teria chegado ao fim com a “catástrofe humanitária” do “socialismo do século XXI”

Venezuelano e, no caso brasileiro, com a crise dos governos petistas, revelando o fracasso do

método de incorporação dos mais pobres ao mercado e ao consumo de massas. Para Fausto,

contudo, o tema da inclusão social foi “cravado” na agenda política da região. Novo ciclo:

correção liberal do excesso de estatismo, mas com a inclusão do tema social.

Não se ganha eleição na América Latina se o social não está no centro da agenda.
O social tem mais importância que o tema da corrupção. (...) Para o grosso do
eleitorado, os dois temas que mobilizam são econômico-social, basicamente
emprego e renda, e segurança pública. Corrupção é um tema da opinião pública, é
um tema das classes médias, é um tema importante, mas que não é central464.
O diretor do IFHC, assim, ressaltava que a agenda potencialmente vitoriosa nas

eleições presidenciais de 2018 deveria unir crescimento econômico, segurança pública e

inclusão social. Tratava-se da linha que a entidade assumiria no pleito seguinte, considerada

por Fausto como “uma eleição decisiva”. Geraldo Alckmin, ainda no início da campanha,

refletiu a preocupação tática da entidade. No momento do lançamento oficial de sua

candidatura à presidência, em março de 2018, o governador de São Paulo destacou

precisamente os temas da segurança pública e do “crescimento com inclusão social”465.

Vimos no capítulo 3, ainda, que a segurança pública já havia sido tema de evento no IFHC –

ocasião que reforçaria a tese de que o IFHC caminhou mais para a direita do espectro político

desde a crise do petismo, senão abandonando o mantra da coesão social em uma sociedade

harmônica e democrática, ao menos enriquecendo o projeto social defendido com o discurso

464 https://fundacaofhc.org.br/dialogo-na-web/eleicoes-2018-para-onde-vai-a-america-latina
465 http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/03/psdb-lanca-pre-candidatura-de-alckmin-presidencia-
da-republica.html
370
punitivista introduzido mais largamente no senso comum pelas práticas e discursos do lava-

jatismo.

Havia, contudo, mais do que o PT para ser derrotado. Ciente de que o bolsonarismo

era uma ameaça real para as pretensões tucanas no pleito, FHC tomou para si a

responsabilidade de orientar o “centro democrático” contra os perigos dos “extremos” –

representados por Jair Bolsonaro, então candidato pelo Partido Social Liberal (PSL), e

Fernando Haddad (PT). No dia 20 de setembro de 2018, o ex-presidente lançou uma carta

pública endereçada aos “eleitores e eleitoras” no Brasil. Tratava-se, enfim, de uma tática que

seria repetida pelas hostes tucanas desde então: apresentar o PSDB como espaço da

moderação em uma época de altíssima polarização política. Assim escreveu o ex-presidente,

referindo-se ao atentado que, no mesmo mês, foi dirigido contra o candidato da extrema-

direita após um comício no Espírito Santo.

A gravidade de uma facada com intenções assassinas ter ferido o candidato


que está à frente nas pesquisas eleitorais deveria servir como um grito de alerta:
basta de pregar o ódio, tantas vezes estimulado pela própria vítima do atentado. O
fato de ser este o candidato à frente das pesquisas e ter ele como principal opositor
quem representa um líder preso por acusações de corrupção mostra o ponto a que
chegamos466
A exortação em favor do “centro democrático”, claro, era uma figura de linguagem

para pedir votos em Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à presidência, então quarto

colocado nas pesquisas eleitorais, com a taxa de votação estagnada em torno de 8%. Os

demais presidenciais considerados pelo PSDB como ocupando o “centro”, como João

Amoedo, Marina Silva e Henrique Meirelles, também não viam suas campanhas decolarem,

o que abriu espaço para que os tucanos pedissem a retirada das candidaturas e posterior união

466 https://exame.abril.com.br/brasil/em-carta-divulgada-nas-redes-sociais-fhc-defende-uniao-contra-
extremos/
371
em torno do nome do governador de São Paulo – proposta prontamente rechaçada pelos

presidenciáveis mencionados467.

O reforço à imagem de moderado acompanhou a tática de campanha de “desmontar”

Jair Bolsonaro. Na TV, no Rádio e em comícios, Alckmin passou a atacar duramente o

representante da extrema-direita, considerando-o “despreparado” e o “pior candidato”468.

O esforço parecia expressar a tentativa de capturar a bandeira do antipetismo, até então tão

bem manejada pelo bolsonarismo.

Nesta conjuntura, o IFHC compôs a estratégia tucana de idealização de um “campo

democrático” liderado por Alckmin. É esse o tom da fala de FHC após a palestra de Steven

Levitsky sobre seu livro Como as democracias morrem?. Após o palestrante descrever Jair

Bolsonaro como um candidato autoritário e profundamente ameaçador à democracia, o ex-

presidente elogia as instituições brasileiras, capazes, segundo ele, de conter arroubos

autoritários; mas também critica o “radicalismo” dos “extremos” que enxergariam a

“conciliação política” como algo negativo469. A chave para, em época de esgarçamento do

tecido social por conta de influxos autoritários, construir a “coesão”, nas palavras de FHC,

estaria na ampliação do diálogo, elemento necessário para superar as múltiplas dimensões da

crise brasileira: moral, ética, econômica, política. Já tendo apresentado ao público Geraldo

Alckmin como seu candidato à presidência, a avaliação de FHC e seu instituto sobre o pleito,

claro, identificam implicitamente no tucano os aspectos positivos que aparecem na fala do

especialista.

467 https://www.terra.com.br/noticias/brasil/politica/fhc-diz-que-carta-e-destinada-a-eleitores-nao-a-
candidatos-e-partidos,4e1e9b80667eb1eaa3b53963dc9fe2cdt7tey6j0.html
468 https://veja.abril.com.br/politica/alckmin-diz-que-bolsonaro-e-o-pior-candidato-e-o-mais-despreparado/
469 https://www.youtube.com/watch?v=sNsFx6eEqbo
372
A tática não surgiu efeito. Alckmin saiu da disputa ainda no primeiro turno, e o

embate decisivo foi mesmo entre Haddad e Bolsonaro. Apesar dos esforços do petista na

construção de uma “frente ampla” contra o bolsonarismo – e contra as advertências de

Levitsky, que prevenira os ouvintes de sua palestra no IFHC contra os riscos da corrosão da

democracia que a eleição de Bolsonaro representaria -, o IFHC decidiu não decidir, e entre

os dois “polos”, seguiu insistindo no dito caminho do meio. Primeiro, em entrevista

concedida na sede da entidade, o ex-presidente não diferenciou Haddad e Bolsonaro,

afirmando considerar os dois igualmente perigosos para a institucionalidade democrática470.

Segundo, às vésperas da decisão da eleição presidencial, cobrou respeito à Constituição dos

dois candidatos ainda postulantes ao cargo – ressaltando que, fosse eleito quem fosse,

consideraria o país ameaçado da mesma forma471.

A dinâmica da luta de classes, em sua expressão partidária, nas horas decisivas do

pleito de 2018 esmagou os titubeantes. Não fosse o bastante ficar fora da disputa pela

presidência, o PSDB amargou encolhimento de suas bancadas no congresso e a quase

extinção de sua representação entre governadores – significando um horizonte sombrio

também para as eleições municipais de 2020 e, principalmente, presidenciais de 2022, dada

a redução de palanques a serem disponibilizados aos eventuais candidatos por aliados eleitos.

O resultado apocalíptico para a legenda reverberou na mídia empresarial – que chegou a trata-

lo como a “maior derrota da história” do PSDB472 . Novos tempos haviam chegado ao

partido de Covas, Montoro e FHC. Dória, por um lado, e a sedução da extrema-direita, por

470 https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/10/08/fhc-desmente-boato-nas-redes-de-
que-apoiara-haddad-no-segundo-turno.htm
471 https://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2018-10-28/respeito-constituicao-fhc-eleicoes.html
472 https://www.gazetadopovo.com.br/politica/republica/eleicoes-2018/ofim-da-revoadapor-que-o-psdb-
sofreu-a-maior-derrota-da-historia-0gaj9cey6u50jtxux3czqx0c6/

373
outro, despontavam no horizonte como chamariz para tucanos sem rumo. Era a época do

nascimento do “Novo PSDB”, nas palavras de FHC e Dória após encontro amistoso473. O

último, eleito governador de São Paulo, despontava como nova liderança partidária,

representando mais um passo à direita dos tucanos no espectro político.

4.5 Mapeando as bases do bolsonarismo: o IFHC e o estudo do levante


político evangélico
Em 2018, um fenômeno há muito presente na arena política emergiu ao primeiro

plano. Apelidado de bolsonarismo, o “tsunami eleitoral” da extrema-direita no Brasil aturdiu

os analistas políticos mais atentos ao plano eleitoral do que às disputas de mais longa duração

e de menor relevo, mas que são fundamentais para advento de qualquer terremoto. Se a

debilidade do jornalismo político da grande mídia expressa sua dependência de análises

presas à superfície caótica do mar da história, os aparelhos produtores de tecnologia política

conseguem entregar investigações mais profundas. Assim, o IFHC já se debruçava sobre o

problema desde, pelo menos, 2012, ano em que começou a publicar no Brasil e em português

as edições do Journal of Democracy, publicação do National Endowment for Democracy

(NED), criado no governo Ronald Reagan para reunir defensores da democracia pela e para

a iniciativa privada, conforme vimos no fim do capítulo 2.

Pela troca de tecnologias política através da rede de associações burguesa, por

conseguinte, a ascensão da extrema-direita não pegou a entidade desprevenida. Isso porque

a publicação do NED, traduzida e republicada pelo IFHC, alerta sobre o risco da

“desconsolidação democrática” com ênfase pelo menos desde 2016, quando da eleição de

473 https://istoe.com.br/doria-discute-o-novo-psdb-com-fernando-henrique-cardoso/
374
Donald Trump. Em edição daquele ano, a revista divulgou um artigo assinado por Roberto

Stefan e Yascha Mounk debatendo o problema. Os autores demonstravam como a eleição do

republicano sinalizou o crescente número de estadunidenses descontentes com a democracia.

Alguns elementos alarmavam a dupla. Em primeiro lugar, é destacada a quantidade de jovens

que não considerava o regime democrático como “fundamental” em um país – em 30%,

índice bastante menor do que os 70% registrados após a Segunda Guerra Mundial. Os mais

jovens, pois, não compartilhariam o apego democrático verificado em surveys aplicados à

geração baby boomer. Em segundo, aparecia a desconfiança em relação às “instituições

liberais”. Os autores ressaltaram, com evidente preocupação, a proporção crescente de jovens

que apoiavam líderes fortes que não precisassem lidar com deputados, senadores e eleições.

Por último, os autores destacavam o apelo, sobretudo entre os mais jovens, de líderes

políticos e partidos que declaradamente responsabilizavam o “sistema político” por

problemas como “corrupção” e “degeneração” nacional. Além do já mencionado Donald

Trump, nos Estados Unidos; foram também acusados de serem “ameaças à democracia”

Viktor Orban, na Hungria; Rodrigo Duterte, nas Filipinas; Marine Le Pen, na França; e o

“falecido” Hugo Chávez, na Venezuela. Na síntese da análise presente no documento, o

sucesso dos “populistas” - tal é a categoria que reúne personagens tão distintos entre si –

poria em dúvida a confiança de cientistas sociais em democracias liberais “consolidadas”474.

474 O texto republicado pelo IFHC levanta críticas à tese da “consolidação democrática”, defendida, entre
outros, pelos clássicos Linz e Stepan. De acordo com eles, no mais, citados no artigo acima citado como
tese a ser combatida, democracias consolidadas seriam aquelas em que os cidadãos passaram a ver nas
regras do “jogo democrático” o único mecanismo de disputa política possível. Elas seriam consolidadas,
sempre segundo os autores, porque a fé nas instituições liberais do tipo seria algo cumulativa, contendo, no
seu trajeto, um ponto a partir do qual não haveria retorno. Democracias consolidadas, assim, seriam estáveis
precisamente por não poderem mais regredir a “estágios” autoritários. Para Stefan e Mounk, entretanto, os
dados que indicam o baixo apelo do regime democrático entre os mais jovens pode indicar que, afinal, a
consolidação democrática pode não ser uma via de mão única. A “desconsolidação democrática”, assim,
poria em risco a “pluralidade” em nome de alternativas políticas que declaradamente seriam responsáveis
375
O artigo brevemente apresentado foi apenas um da lista de textos publicados pelo

Journal of Democracy a versarem sobre o tema475 . Nas últimas edições, com efeito, a

questão se torna recorrente, indicando a elevação da tensão provocada pela ameaça de

“partidos antissistemas” no mundo. A preocupação com os “populismos” presente nas

publicações do NED republicadas pelo IFHC, nesse sentido, colocam-nos em um mesmo

campo, a saber, o que se declara contra “as ameaças antidemocráticas” de quaisquer matizes;

revelando, por sua vez, as contradições existentes não só entre aparelhos de classes opostas,

mas também entre seções e instituições da mesma classe dominante476. Republicando e

por contornar os canais democráticos assentados no diálogo e na conciliação. A fim de evitar o “perigo”, a
dupla recomenda a construção de um “sistema de detecção de falhas geológicas”; espécie de campo de
estudos sobre a democracia capaz de indicar, previamente, os descaminhos de uma sociedade que tende a
deixar de seguir as regras do afamado “jogo”. Faria parte desses esforços a detecção prévia de pontos nódais
sobre os quais o discurso “populista” - e, portanto, autoritário – pode se estabelecer, erigindo uma
plataforma de desenvolvimento cuja evolução poderia desestabilizar democracias mesmo as mais
“consolidadas”. Há aqui, portanto, recomendações acerca tanto da alimentação contínua de entidades
dedicadas aos estudos e a produção de tecnologia política quanto exortação à execução de reformas por
“políticos verdadeiramente comprometidos com a democracia liberal”, especialmente em sociedades em
que partidos “antissistemas” estivessem próximos de assumir o governo. Ver:
https://medium.com/fundação-fhc/os-sinais-de-desconsolidação-d0fcec29b47b
475 Citar os outros
476 No caso em tela, a atuação do NED parece mirar, no que toca ao autoritarismo considerado de direita, os
representantes modernos do que é também eventualmente chamado de “Nova Direita estadunidense”,
nomeadamente Donald Trump e as alas republicanas que orbitam me torno dele. Para a cientista política Marina
Basso Lacerda, Trump, por sua vez, seria espécie de atualização de um movimento que irrompeu como força
política com Ronald Reagan (LACERDA, 2019). Teria sido na presidência deste republicano que uma agenda
“neoliberal na economia e conservadora nos costumes” teria sido imposta, articulando defensores do livre
mercado, direita cristã e grupos militaristas. Debruçando-se sobre o mesmo problema, Sebastião Velasco e Cruz
enxerga as origens do movimento um pouco antes, na década de 1970, mas vê no governo Reagan a capacidade
de “operar a síntese” de elementos contraditórios presentes naquela ampla frente: empresários contra regulações
estatais, epígonos do livre mercado com todo seu proselitismo, eclosão de movimentos conservadores do ponto
de vista moral e favoráveis à agenda “Pro-Life”, defensores do punivismo e da “política de tolerância zero”
(como mais tarde, Rudolph Giuliani, o famoso prefeito de Nova Iorque) na área da segurança pública, o
surgimento espetacular do ativismo de ONG’s favoráveis aos direitos humanos e de associações de defesa da
democracia, estas últimas interferindo mesmo na política externa dos Estados Unidos, com seu apoio aos
"movimentos democráticos” na América Latina nos anos 1970 e 1980 e a justificativa retórica da política de
intervenção militar estadunidense nas chamadas “guerras humanitárias” do pós-Guerra Fria (VELASCO E
CRUZ, 2015, p. 42-43).
Entender a formação do NED como parte deste movimento, e, por sua vez, o governo Trump como
espécie de retorno da agenda neoconservadora, portanto, nos revela um traço específico da atual fase de
ativismo político da nova “Nova Direita” estadunidense, agora mais frequentemente chamada alt-right: a
negação, no plano do discurso, de uma das correntes que compuseram o movimento em sua fase ainda
embrionária. Isso porque se as associações para defesa da democracia e a intensa politização de ONG’s
376
difundindo a discussão, o IFHC se coloca em posição equidistante às expressões de direita e

esquerda do fenômeno, construindo imagem de oposição aos riscos do “populismo” tanto

pelas ações do governo de Donald Trump quanto pelo “bolivarianismo venezuelano”,

conforme visto no capítulo 3. Nesta altura da pesquisa, contudo, interessa-me analisar a

reação do IFHC à expressão de direita deste fenômeno político – que, no Brasil, foi enfeixado

no bolsonarismo.

Compreender a ascensão de Jair Bolsonaro como expressão nacional de um fenômeno

internacional mobilizou o instituto a estudar as suas bases sociais. Discussões, assim, sobre

a crise da democracia liberal foram travadas na sede da entidade, com especialistas

relacionando o bolsonarismo aos limites deste regime político477 . A comparação com a

ascensão de Donald Trump também mobilizou a entidade ao estudo da influência da direita

cristã na sociedade brasileira – entendida, assim como sua congênere estadunidense, como

um dos pilares de apoio àqueles governos.

Assim, no dia 09 de maio, o IFHC sediou evento para debater a influência evangélica

na política e na sociedade brasileiras. Protagonizado por Ricardo Mariano, professor do

internacionais surgiram sob o guarda-chuva “neoconservador”, membros de ambos setores já não encontram a
mesma guarida sob Trump e a direita alternativa. Para além dos frequentes ataques ao chamado “globalismo”,
no caso específico do NED, Donald Trump tem representado uma concreta ameaça de corte de financiamento.
A preocupação com a ascensão de governantes homólogos ao redor do mundo, evidenciada pela política
editorial do jornal of democracy, assim, pode expressar as contradições internas de um movimento conservador
que, todavia, esfacelou-se ainda durante o governo Reagan, com essa desagregação aparecendo como disputas
palacianas (NORRIS, 1996). Ver: https://www.bostonglobe.com/opinion/2018/03/14/trump-gutting-national-
endowment-for-democracy-and-that-good-thing/fKxkRFVIC6F9wLIw4WsUzL/story.html e NORRIS, Pippa.
Conservatism in disarray? The Brown Journal of World Affairs, 1996.

477 Em evento intitulado “Populismo e Democracia: ameaça ou corretivo?”, Jan Werner Mueller, especialista
alemão no tema, foi convidado para analisar a relação entre democracia liberal e “populismo” – oferendo
como explicação críticas ao antipluralismo característico dos regimes liberais. Debaterei mais
detalhadamente esse evento nas considerações finais desta tese.
377
Departamento de Sociologia da USP e pesquisador do CNP, e Ronaldo de Almeida, professor

do Departamento de Antropologia da Unicamp e diretor científico do CEBRAP, a discussão

se deu sobre um pano de fundo: a avaliação da impossibilidade de discutir os rumos atuais

da democracia brasileira sem considerar a crescente influência do ativismo político

evangélico.

Anota o sítio da entidade como síntese do evento:

No censo do IBGE de 2010, os evangélicos e protestantes representavam 22%


da população brasileira e hoje já devem estar perto de um terço, sendo que os
pentecostais protagonizam a expansão em curso. Ao mesmo tempo, há diminuição
do número de brasileiros que se dizem católicos: em 2010, eram 65%, mas esse
percentual deve apresentar nova queda no censo programado para 2020.
À medida que se tornam mais numerosos nas periferias das capitais e regiões
metropolitanas, em cidades de pequeno e médio porte do interior e nas novas
fronteiras agrícolas das regiões Norte e Centro-Oeste, os evangélicos estão mais
ativos politicamente, não somente na disputa de cargos legislativos e executivos
nos três níveis de governo, mas também na busca por influenciar a pauta político-
social em temas morais, comportamentais e até mesmo econômicos.
Com efeito, os dados apresentados sobretudo por Ronaldo de Almeida parecem

legitimar a preocupação em discutir o movimento e sua influência sobre a política nacional.

Segundo ele, com base na evolução dos censos de 2000 a 2010, o Brasil passa por uma

“transição na religiosidade”, com ascensão evangélica e regressão católica. O palestrante

especula que a transição se completará em meados da década de 2030, com a população

neopentecostal se tornando a corrente líder não só entre os cristãos, mas também a principal

religião do país478.

478 https://fundacaofhc.org.br/debates/os-evangelicos-na-sociedade-e-na-politica-efeitos-e-
significados-de-uma-influencia-crescente
378
Retirado https://fundacaofhc.org.br/debates/os-evangelicos-na-sociedade-e-na-politica-

efeitos-e-significados-de-uma-influencia-crescente

As consequências políticas são perceptíveis na paisagem urbana. O palestrante

enxerga esse crescimento da influência evangélica sobretudo nas periferias e nos grotões do

país, onde os religiosos criam instituições de apoio para atuar nas áreas em que o Estado se

mostraria ausente. A organização de base neopentecostal teria reflexos sobre a escolha dos

representantes populares – dada a máxima “irmão vota em irmão”, presente nas igrejas pelo

menos desde a Constituinte de 1988 – mas também, e talvez principalmente, desdobrar-se-ia

na construção de uma “hegemonia conservadora”, expressa na “imposição” de uma pauta

moral “conservadora” à sociedade.

Isso decorre da atuação neopentecostal, que Ronaldo de Almeida enxerga assentada

em quatro eixos assim explicados:

Teologia da prosperidade – que difunde a “busca pela prosperidade” como algo

desejável do ponto de vista religioso. Dois reflexos sociais são apontados pelo pesquisador

como frutos daquela doutrina: A) a ênfase no “empreendedorismo”, expressão da crença em

379
que o sucesso na vida depende do esforço individual – diluindo, portanto, qualquer tendência

associativista ou coletivista. B) a reafirmação da desigualdade social como fruto das

diferenças de mérito entre cidadãos.

O eixo da teologia da prosperidade, assim, apontaria aos neopentecostais alguns

inimigos políticos: no primeiro caso, todos os defensores de um “Estado assistencialista”,

que premiaria a lassidão, inclusive com desdobramentos morais indesejáveis. No segundo,

há clara oposição aos cânones da “teologia da libertação”, cuja orientação apontava para a

necessidade de construção, ainda neste mundo, da igualdade de um Reino de Deus.

Discurso securitário. Um dos temas frequente dos cultos e pregações é a segurança

pública. Em um cenário em que a ação do Estado parece ineficiente para dar conta da

sensação de insegurança predominante, os neopentecostais têm engrossado o coro dos

punitivistas dos defensores do Estado Penal. Ainda Ronaldo de Almeida lembra que a maioria

dos evangélicos defendeu a Pena de Morte e a redução da “maioridade penal”, inclusive tendo

votado favorável à última matéria no plenário da Câmara Federal. Assim, sintetiza que o

discurso militarista “pegou” entre os neopentecostais – que já são favoráveis mesmo ao

armamento civil. Posto isso, os neopentecostais do Parlamento frequentemente fazem às

vezes de linha auxiliar da bancada da bala. A aliança da bancada da bíblia com o militarismo,

para Ronaldo de Almeida, indica uma “virada” nacional para uma “linha americana” de

conservadorismo, construída sobretudo a partir dos anos 1970 nos Estados Unidos.

Moralização religiosa. Ronaldo de Almeida enxerga na atuação dos principais

representantes evangélicos o exercício de “conservadorismo regressivo”. Assim, líderes

religiosos enfatizam a defesa de costumes pelo prisma da religiosidade. A tentativa de

transbordamento da orientação moral para fora da religião, argumenta Almeida, é um fator

380
novo na política brasileira. Tem como fundamento a crença em uma “maioria” silenciada

pelo “politicamente correto”, mas que, finalmente, rebelou-se contra essa espécie de ditadura.

Como essa maioria ainda não é demográfica, assentam seu discurso na defesa de uma suposta

moral “judaico-cristã”, tentando atrair, assim, judeus e católicos conservadores.

Neste aspecto, a política evangélica é marcadamente contrária aos chamados direitos

das minorias, aos direitos de gênero, ao feminismo, à pauta LGBTQI. Opõem-se frontalmente

ao aborto – com algumas instituições evangélicas, como a Assembleia de Deus, não aceitando

a prática nem mediante estupro ou risco de morte da mãe.

Intolerância. A atuação, enfim, é pautada pela intolerância acerca do “desviante”.

Neste sentido, trata-se de uma ameaça para os progressistas; para as religiões de matrizes

diversos da “civilização judaico-cristã”, sobretudo as de origem africana, “demonizadas”;

para as “minorias sociológicas” com pauta de ampliação de direitos.

Ronaldo de Almeida avalia que os eixos sobre os quais se dão as atividades políticas

dos evangélicos são consubstanciados na “defesa da ordem”. Defesa da ordem moral, das

hierarquias sociais, da sociedade de mercado, do homem sobre a mulher. O crescimento

evangélico, assim, tenderia a fortalecer o polo conservador do espectro político, elevando

líderes religiosos, inclusive, a cargos importantes na política. Isso se explicaria sobretudo

pela hierarquia presente nas práticas religiosas, com o “missionário” sendo o “pastor do

rebanho”.

O tom da apresentação, assim, aponta para uma ameaça para os valores civilizacionais

defendidos por um campo “progressista”, entendido aqui de forma suficientemente ampla

preocupar o IFHC. A fala do palestrante, nesse sentido, marca claramente a alteridade entre

o instituto e o movimento evangélico – sobretudo na questão dos costumes, haja vista que a

381
pauta econômica, em seu núcleo duro de defesa da sociedade de mercado, por óbvio não é

rechaçada pela entidade. Assim, parece que estamos de frente a uma disputa entre candidatos

distintos a líder das classes dominantes brasileiras, com o IFHC tentando representar uma

posição mais central, em meio aos “extremos” de esquerda e de direita – estes simbolizados,

em parte, pelos evangélicos.

O caminho do argumento do palestrante aponta para os riscos da politização

evangélica. A análise da participação neopentecostal na última eleição mostra com

eloquência um dos elementos de preocupação para todos que são arrolados como adversários

do movimento. Apresentando dados da Folha de S. Paulo, Almeida demonstra que o voto

evangélico foi decisivo para a vitória do candidato da extrema-direita em 2018.

382
Assim, parece claro que o setor evangélico é suficientemente plural para que não possa

ser enquadrado em um único campo da disputa política. Ocorre, porém, que, como mostra

Almeida, os setores conservadores têm sido hábeis em impor sua hegemonia no interior do

movimento, capturando sua força e a instrumentalizando para fins políticos. Na prática,

portanto, por mais que existam progressistas entre os evangélicos, estes são minoria e,

atualmente, tem pouca capacidade de mobilização com base em suas bandeiras. Para Almeida,

os evangélicos, especialmente em sua variável neopentecostal, seriam terreno “árido” para o

afloramento de ideias progressistas, de sorte que sua análise do crescimento de sua

importância na sociedade se torna, para os “progressistas”, uma ameaça ainda maior.

O evento contou, ainda, com participação de Ricardo Mariano, professor da USP e

pesquisador do Cebrap. Sua fala destacou espécie de arqueologia da atividade evangélica na

arena política – o que revela a preocupação com a atuação institucional dos representantes

das variadas seitas que compõem aquela religião. O palestrante destaca que o Brasil é um

dos países em que os evangélicos se destacaram na sua capacidade de alcançar o poder

383
político – algo significativo no contexto regional da América Latina, região “mais cristã” do

globo na atualidade.

Concordando com o ponto de vista de Almeida, Mariano avalia como uma das forças

do evangelismo a capacidade de agir onde o poder público não agiria. Os serviços ofertados

pelos neopentecostais (apoio emocional, terapêutico e assistencial aos fiéis) carregariam uma

visão de mundo compatível com o projeto estratégico de evangelização da sociedade, sendo

na prática, portanto, espécie de ministério de conversão ao evangelismo. O crescimento

evangélico, nesta chave de análise, seria produto da eficiência organizacional dos

neopentecostais, que criam redes de sociabilidade em zonas carentes e formam fronteiras

identitárias que atuam ora como grupos de conforto em épocas de transformações culturais

profundas e aceleradas, ora como demarcação de distinção em relação ao narcotráfico

presente nas comunidades.

O pesquisador enriquece sua fala com dados comparativos extraídos de pesquisas

quantitativas sobre o posicionamento de católicos e evangélicos acerca da religião e de temas

“morais” debatidos publicamente. Os resultados alcançados são apresentados na tabela

abaixo.

Pauta Católicos Evangélicos


Envolvimento congregacional 13% 36%
Observância religiosa 23% 60%
Compromisso religioso 14% 43%
Doação financeira 39% 70%
Oposição ao casamento gay 43% 66%
Aborto ilegal em todos ou na maioria 76% 84%
dos casos
Concorda totalmente ou 62% 76%
majoritariamente com a afirmação de
que a esposa deve obedecer ao marido

384
Por envolvimento congregacional, Mariano se refere a membros de conselhos, líderes

de grupos congregacionais ou religiosos que atuam como professores em escolas dominicais.

A atuação de evangélicos em relação aos católicos, nestes casos, demonstra maior

engajamento do religioso em atividades institucionais, que tornam, por conseguinte, os

evangélicos mais bem servidos de quadros de liderança.

No quesito “observância religiosa” a relação evangélicos-católicos se mantém

próxima do verificado percentualmente acima. Os hábitos de oração, a frequência em cultos

ao menos uma vez por semana, ou a consideração da religião como um elemento central da

vida é quase três vezes maior em evangélicos do que entre católicos. Os dados, portanto,

revelam a força de mobilização da religião entre os participantes do primeiro grupo, bem

como a capacidade da religiosidade orientar escolhas, inclusive na arena política.

O “compromisso religioso” se refere ao compartilhamento da fé, ao menos uma vez

por semana, fora das igrejas que habitualmente frequentam. O número três vezes maior entre

os evangélicos revela que eles evangelizam muito mais do que os católicos – o que pode ser

um traço arrolado para explicar a expansão do fenômeno.

Enquanto a linha de doação financeira revela a forma sistemática de apoio pecuniário

dos evangélicos às suas igrejas – normalmente na forma do dízimo, os itens restantes

expressam o posicionamento na agenda do “conservadorismo moral”. Em todos os casos, os

evangélicos são “vanguarda” nas pautas regressivas de supressão de direitos de mulheres e

grupos LGBTQI+. Isso não deve ocultar, entretanto, o também grande percentual de católicos

avessos aos avanços nas áreas.

Mariano apresenta, ainda, outro dado que não entrou na contabilidade acima. Segundo

o pesquisador, os evangélicos estariam mais expostos às autoridades pastorais do que os

385
católicos. Dito de outra forma, as lideranças evangélicas teriam mais condições de influenciar

seu “rebanho” nos aspectos éticos, morais e políticos, precisamente pela maior prevalência

da hierarquia no interior dessa igreja – que, no caso da elevação destes líderes a cargos na

política institucional, transbordaria o campo religioso para o direcionamento mais geral da

vida social.

Outro dado socioeconômico importante é o da “barreira de classe”, conforme Mariano

o denomina. O neopentecostalismo, um dos braços dos evangélicos que mais cresce, teria, na

argumentação do palestrante, uma espécie de teto. Isso porque a religião não encontraria

aceitação equivalente entre os setores mais escolarizados e enriquecidos da sociedade – mais

impregnados pelo individualismo e pelo relativismo moral. Assim, a base de apoio deste tipo

de evangelismo seria composta pelos setores pauperizados, geralmente moradores de

periferias urbanas ou de regiões do país onde a influência do poder público em forma de

assistência social chega pouco.

Assim, para Mariano, em que pese não formarem um bloco coeso, os evangélicos

foram hegemonizados pelos seus setores conservadores – geralmente reunidos nas diversas

congregações neopentecostais. Na avaliação do pesquisador, não há mais como discutir a

democracia brasileira sem considerar o ativismo político deste grupo. Não são mais

considerados “outsiders”, ou ainda adeptos da máxima “crentes não se metem em

política”479.

Com efeito, o grupo, desde 1988, atuaria principalmente com o lema de irmão vota

em irmão. Mais recentemente, os evangélicos criaram frentes parlamentares; aliaram-se a

479 Ver em: https://fundacaofhc.org.br/debates/os-evangelicos-na-sociedade-e-na-politica-


efeitos-e-significados-de-uma-influencia-crescente
386
outras frentes e grupos políticos, incluindo o dos católicos carismáticos; ocuparam cargos no

Estado. Na atual legislatura, contabilizam 90 deputados federais e 9 senadores. Em épocas

de eleição, mobilizam a comunidade religiosa a favor da eleição de pastores, bispos,

autoridades religiosas. São estes que geralmente protagonizam o ativismo político.

Sua luta política tem um sentido claro. Tentam transformar a ética e a moral religiosas

em prisma de orientação de políticas públicas, sempre assentados na suposta defesa dos

valores “da maioria”. Assim, lutaram a favor do Estatuto do nascituro; a favor do Estatuto da

família – isto é, pela restrição do conceito de família à união entre homem e mulher; pleiteiam

a proibição da adoção de crianças por homossexuais; querem incluir “atividades de família”

nas escolas, como educação religiosa, além da observância ao estatuto do “Escola sem

Partido”.

Mais recentemente, sempre segundo o pesquisador, aliaram-se taticamente a

movimentos de direita, como o Movimento Brasil Livre (MBL); ao “olavismo cultural” e,

em geral, assumiram-se bolsonaristas. Mariano enxerga o neopentecostalismo, assim, como

importante base da “direita liberal na economia e conservadora nos costumes”, sendo a

polarização uma das razões de seu fortalecimento.

FHC sabe o que o apoio evangélico é capaz de fazer em uma eleição. Em setembro

de 1997, cerca de 300 mil evangélicos receberam o então presidente da república e pré-

candidato à reeleição em evento religioso realizado no Campo de Marte, aeroporto da zona

norte de São Paulo. Aos gritos de “Jesus te ama”, os presentes saudaram o discurso do tucano,

realizado após fala de apoio ao político feita por José Wellington Bezerra da Costa, então

presidente da Convenção das Assembleias de Deus do Brasil. Na ocasião, o pastor elogiou o

programa Comunidade Solidária, liderado pela primeira dama Ruth Cardoso.

387
Reportagem de Xico Sá, publicada na Folha de S. Paulo, anota ainda outras passagens

emblemáticas do encontro entre as duas autoridades.

O presidente da Convenção das Assembléias de Deus do Brasil contou como a


igreja tem ajudado o governo federal a reduzir o número de sem-terra no país. Cada
irmão que entra (na igreja) é um sem-terra a menos, pois nós gostamos da terra,
mas queremos mesmo é o céu", disse. Com um cenário patriótico -pessoas
formavam a bandeira brasileira-, o presidente agradeceu o apoio e destacou a forma
de convivência pacífica de pessoas de diferentes religiões e crenças no país. "O
Brasil é um país de paz e de amor", disse.
Entusiasmado com a multidão, FHC seguiu os pastores e finalizou o seu discurso
com um grito de "aleluia"480.
Se a Assembleia de Deus ficou claramente ao lado de FHC em 1998, o mesmo não se

pode dizer da Igreja Universal. Pesquisadores da área afirmam mesmo que a congregação

iniciou uma aproximação tímida à candidatura de Lula naquele ano, superando, na prática,

anos de afastamento derivado do receio que o “comunismo” infundia entre os evangélicos

que se viam como “perseguidos”, sobretudo pelas esquerdas (CAMPOS, 2006;

GONÇALVES, 2011). A politização evangélica contrasta com a “neutralidade crítica”

dos católicos, que não declararam voto a nenhum presidenciável no pleito de 1998. Jornais

especularam, à época, que a Igreja estaria “apoiando informalmente” a “frente das esquerdas”

liderada por Lula, mas o bispo d. Demétrio Valentini, então líder da Pastoral Social da

Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), insistia que a Igreja manteria

equidistância de todos os presidenciáveis481.

Agora passemos a alguns apontamentos sobre o caráter geral do evento. O interesse

do IFHC no tema parece natural, diante do fortalecimento evangélico nos últimos anos

somado à experiência vivida nas eleições anteriores, quando a politização religiosa já ficava

evidente – e, nesse sentido, contrastando com o catolicismo não apenas no grau de exposição

480 https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc290907.htm

481 https://www.folhadelondrina.com.br/politica/fhc-agora-diz-que-representa-os-pobres-96761.html
388
das alianças, muito mais declaradas, mas também na capacidade de mobilização do eleitorado,

que, conforme defendeu Ricardo Mariano, é muito maior entre as diversas seitas evangélicas.

Na dialética entre motivações de classe e frações de classe e interesses partidários,

creio que a atenção prestada aos evangélicos atende sobretudo ao segundo grupo. Não há

contradições significativas entre a atuação evangélica e o sociometabolismo capitalista – pelo

contrário482 . A teologia da prosperidade e seu culto à acumulação inculca importantes

disposições pró-capital entre setores mais fragilizados organizacionalmente da classe

trabalhadora. Por outro lado, a rede de apoio social formada pelas congregações

neopentecostais proporciona importante esteio de segurança relativa em conjunturas de

retrocesso no mercado de trabalho, fomentando, à sua maneira, espécie de coesão social

discutida no capítulo 3 desta tese. Finalmente, a legitimação da desigualdade social e a

construção de pânico moral em relação a qualquer proposta de transformação radical da

sociabilidade permitem o arrefecimento das contradições centrais no capitalismo. Não é,

portanto, mera casualidade que a direita cristã tenha se aliado aos epígonos do neoliberalismo

em época de ofensiva do capital, nos Estados Unidos e, mais recentemente, também no

Brasil483. Assim, não chega a surpreender a ausência de empresas patrocinadoras do evento

482 Lyndon de Araújo Santos destaca a importância da Assembleia de Deus durante a ditadura iniciada em
1964. Para ele, a Igreja seria “tão radicalmente anticomunista quanto os militares”. SANTOS, Lyndon de
Araújo. O púlpito, a praça e o palanque. Os evangélicos e o regime militar brasileiro. In: FREIXO, Adriano
de; MUNTEAL FILHO, Oswaldo. A ditadura em debate: Estado e sociedade nos anos do autoritarismo.
Rio de Janeiro: Contraponto, 2005
483 Como mostra o informativo trabalho de Marina Basso Lacerda, a direita cristã teve papel fundamental na
articulação política que sustentou o governo de Ronald Reagan. Aliando-se ao presidente republicano,
organizações religiosas e missionárias atuaram, nos Estados Unidos e na América Latina, de modo a combater
os influxos progressistas; atuaram em nome da expansão da palavra de Deus, do combate ao comunismo, em
uma guerra espiritual do bem contra o mal (LACERDA, 2019, p. 58). Atuando na América Latina desde os anos
1970, a autora identifica o período de ascensão do republicano como sendo o cenário em que os grupos
religiosos passam a atuar mais incisivamente ao lado da direita nacionalista na região, infundindo, inclusive,
visões de mundo “neoliberais” entre os fiéis (LACERDA, 2019, p. 34-35). Com atuação específica na América
Central, aparecem destacadamente organizações como o Comitê de Açao Pró-Vida, cuja agenda era o combate
às legislações de legalização do aborto; e a Maioria Moral. Sua atuação passava pela arrecadação de dinheiro e
389
na Fundação Fernando Henrique Cardoso. As organizações que viam com bons olhos

discussões como a da Reforma da Previdência, da Reforma Trabalhista e sobre mudanças na

administração da Justiça com a irrupção da Lava-Jato, discutidas em capítulo anterior e

também realizadas na sede da entidade, não parecem estar dispostas a empenharem seu

dinheiro neste tipo de atividade.

O conhecimento produzido no evento, todavia, certamente desperta a atenção de

intelectuais orgânicos burgueses vinculados ao Partido da Social Democracia Brasileira

(PSDB), que, não apenas pensam em organizar a dominação de classe, mas também em

apresentar o partido como um dos mais capazes a liderar a burguesia no Brasil. Não é sem

razão que o tema atrai interesse da entidade na conjuntura de predomínio do bolsonarismo

como alternativa burguesa para a gestão do Estado nacional. Da forma como entendo, a

mobilização de recursos para o dimensionamento e compreensão da atuação evangélica na

sociedade cumpre o papel de instruir as lideranças do IFHC para lidar com o fenômeno.

doações que eram então repassadas a áreas estratégicas, junto com o envio de bíblias e missionários (LACERDA,
2019, p. 37). Neste processo, eram apresentadas cosmovisões que defendiam a luta do bem contra o mal, na
conjuntura apresentados, respectivamente, como o mundo livre e o comunismo. Tratava-se do que então se
convencionou chamar de “guerra espiritual” contra o comunismo ateu, a Teologia da Libertação, muito influente
na América Latina desde os anos 1960; e mesmo o modos de vida diferentes do padrão anglo-saxão branco
protestante, como os indígenas. Assim, embora institutos e fundações tenham cumprido papel importante na
transferência da agenda neoconservadora, não se pode desprezar o papel de igrejas483 e missionários, estes
agindo, inclusive, por meio de programas de TV – como o folclore em torno da figura do televangelista expressa.
Para Diamond (1989, p.42-43), “a transmissão ideológica não se deva apenas aos fiéis nos cultos e não se
restringiu à América Central. Os veículos mais visíveis eram os programas de televisão, que oferecia, uma
mistura harmoniosa de patriotismo, capitalismo e anticomunismo. Por exemplo: o pregador Jummy Swaggart,
ligado à Assembleia de Deus, tinha seus programas transmitidos em três mil estações espalhadas por mais de
140 países, alcançando meio bilhão de pessoas. No Brasil, seu programa era apresentado pela Rede
Bandeirantes às manhãs de sábado. A National Religious Broadcasters, rede de radiodifusão evangélica, tinha
várias filiais na América Latina. Uma das maiores ficava no Brasil, onde, na década de 1980, a NRB financiou
construção de estações de rádio cristãs brasileiras, uma escola de treinamento técnico para radiodifusores
cristãos e um transmissor de ondas curtas”. Para Lacerda, entidades como o Institute for Christian Economics
expressaram essa aliança entre “neoliberalismo” e neopentecostalismo, na medida em que, no processo de
difusão do evangelho, acabavam por naturalizar as desigualdades sociais, ampliadas pelo “ajuste neoliberal”.
Ver: LACERDA, Marina Bessa. O novo conservadorismo brasileiro. Rio de Janeiro: Zouk, 2019;

390
O recado que fica é claro. As organizações evangélicas fortalecidas colocaram na

ordem do dia a pauta de um conservadorismo moral secular no Brasil. Os debates radicados

neste terreno se tornaram escaramuças ferrenhas, que opuseram aos conservadores todos os

identificados com a “perversão da moral dominante” pela defesa dos direitos das “minorias”.

De sorte que, aos que se viram, em relação ao levante evangélico, do outro lado do campo de

batalha, resta a conciliação ou a desarticulação do movimento. Se a reabilitação do Estado

como provedor de serviços sociais em uma agenda pública positiva pode minar as bases do

associativismo evangélico tal qual ele hoje se dá, por outro lado, a adoção, na arena pública,

de posturas que se amoldam às teses conservadoras pode servir aos políticos que desejam

capturar o movimento ascendente. O fato do bolsonarismo ter se antecipado na segunda

opção restringe o leque de opções disponíveis àqueles que lutam por um “liberalismo mais

consequente”, tanto na economia como nos costumes. Nesse sentido, o combate à polarização

expressa a tentativa de reconstruir um “centro democrático e civilizado” que assegure ao

PSDB um lugar no espectro político para chamar de seu. Para tanto, saber dialogar com os

setores evangélicos, em franca expansão demográfica, como demonstrado no evento, parece

um imperativo incontornável, da mesma forma como o fora aprender a lidar com os pobres

e os negros – elementos debatidos em seção mais acima neste mesmo capítulo.

4.6 O IFHC e a disputa pelas terras indígenas

Como vimos, as eleições de 2018 revelariam o claro refluxo do PSDB, reduzido ao

governo de três Estados da Federação (Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e São Paulo)

e com participação no Parlamento encolhida, na câmara baixa, de 54 para 29 deputados

391
federais; e, na câmara alta, de 12 para 8 senadores484. Houve quem especulasse o fim do

partido485. O que se viu, a partir daí, foi o acirramento das disputas internas e a consequente

ascensão de João Dória, eleito governador de São Paulo, como o principal nome da sigla –

processo concluído com a eleição do novo presidente do PSDB, Bruno Araújo, em 31 de

maio de 2019, com apoio do governador de São Paulo.

Essa ascensão, contudo, ameaçou reorientar o partido que um dia se pretendeu da

social democracia brasileira. Era João Dória, afinal, um líder que reivindicava para si a clara

identificação com o empresariado486 , rejeitando, na prática, a oscilação entre capital e

trabalho que sempre marcou a autoimagem que o PSDB tinha de si mesmo ao longo de sua

história487. FHC, atento às flutuações da disputa interna no PSDB, já havia prevenido contra

candidatos que se colocariam como representantes exclusivamente dos ricos 488 . O ex-

presidente alertava, então, sobre a necessidade de capturar a representação dos mais pobres,

maioria do eleitorado – ilustrando um traço que marcaria as campanhas do PSDB pelo menos

desde 2014, como vimos acima.

Em 2019, portanto, a conjuntura mudara. Eleito com mais de 57 milhões de votos,

Jair Bolsonaro governava. Dória, tornado governador se aliando ao bolsonarismo, afirmava-

se como liderança tucana, abrindo as portas do partido ao que muitos consideraram um

484 https://static.poder360.com.br/2018/10/Novo-Congresso-Nacional-em-Numeros-2019-2023.pdf
485 GONÇALVES, Anderson. "O fim da revoada: por que o PSDB sofreu a maior derrota da história"
Em: https://www.gazetadopovo.com.br/politica/republica/eleicoes-2018/ofim-da-revoadapor-que-o-psdb-
sofreu-a-maior-derrota-da-historia-0gaj9cey6u50jtxux3czqx0c6/
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486 https://jovempan.com.br/programas/nao-sou-politico-sou-empresario-diz-candidato-joao-doria-jr.html
487 Em entrevista ao site Nexo, em 2018, FHC definiu o partido como de centro. Isso porque, segundo o ex-
presidente, no espectro brasileiro, o PSDB teria como marca não ser representante do capital e nem do
trabalho. Nas palavras dele, a legenda “fica um pouco ‘entre les deux, mon cœur balance” [entre os dois,
meu coração balança]’” Ver: https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2018/03/03/%E2%80%98O-
pensamento-liberal-sempre-foi-fr%C3%A1gil-no-Brasil%E2%80%99-diz-FHC.
488 https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2018/03/03/%E2%80%98O-pensamento-liberal-sempre-foi-
fr%C3%A1gil-no-Brasil%E2%80%99-diz-FHC
392
projeto “ultraliberal”489. O PT, derrotado, tentaria se rearticular, desta vez como líder da

oposição ao governo de extrema-direita. À ala tucana simbolizada por FHC e agrupada em

torno de seu instituto, restaria tentar se afirmar como terceiro polo daquela relação –

afastando-se, portanto, da linha “bolsodória” – mais tarde abandonada pelo próprio

governador de São Paulo, de olho tanto em 2022 quanto em negar a pecha de “reacionário”

que o próprio FHC ajudou a colar em Bolsonaro.

Neste cenário, o ex-presidente se equilibrava em críticas ao bolsonarismo e ao

“lulopetismo”.Em entrevista concedida no início de 2019, após ser perguntado sobre o

porquê de, no Brasil, não ter sido formada uma “frente democrática” contra a extrema-direita,

o ex-presidente ignora os vaticínios de intelectuais que alertam para o risco da corrosão

interna da democracia – palestra, inclusive, realizada no próprio FHC – avaliando que, se,

por um lado, o PT não se esforçou para formar uma frente ampla, por outro, o bolsonarismo

não representaria um risco às instituições. Em opinião que constrastava com a avaliação dos

governos petistas 490 , FHC, após a eleição de Bolsonaro, preferia acreditar na forças

institucionais para conter arroubos de autoritiarismo.

Não houve esforço. O PT não se mostrou aberto para isso. Fizeram tantas
escolhas erradas...será quem eu voto não vai fortalecer o que está errado? Também
não vou votar naquele outro. (...) Não avaliei que o novo governo ameaçasse a
democracia. Senão seria diferente491.
A linha-mestra de seu posicionamento permanecia sendo, contudo,

fundamentalmente antipetista. A própria ascensão do bolsonarismo aparece aqui como

resultado do “desastre” que houve no Brasil em função dos “erros do PT”. A corrupção

489 https://www.cartacapital.com.br/politica/o-que-pretende-joao-doria-ao-se-tornar-o-
novo-lider-do-psdb/
490 https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0411200905.htm
491 491 https://www.youtube.com/watch?v=aENlwhAx9Mw
393
“organizada como fundamento do poder” pelo partido, portanto, teria parido a ascensão da

extrema-direita.

Não achei que valia a pena comprometer a minha posição de pensamento em


função de uma candidatura (Haddad) que se dizia progressista, mas que tinha atrás
de si as marcas do desastre que houve no Brasil, da estagnação da economia, da
pauperização, não digo que intencionada, mas como consequência de muitos mal
feitos havidos...e de muita corrupção. Corrupção não era pessoal, mas das
instituições, o que é mais grave. (...) Você pode dizer que sempre houve corrupção
e sempre haverá (no Brasil), não é isso, não. A organização da corrupção como base
do poder. Não é a corrupção de A, de B ou de C que é má conduta pessoal. Tá
errado, mas além disso, você tem aqui, a organização de um sistema que passava
pela utilização de empresas públicas para financiar empresas privadas que
financiava partidos. Isso de maneira sistemática. Isso é algo contra a democracia,
contra a liberdade. Eu não posso escolher esse lado contra o outro492.
Um ano depois, a avaliação de FHC fica menos abstrata. Ainda tentando justificar o

relativo alheamento no segundo turno das eleições de 2018, o ex-presidente evidencia o

interesse partidário por trás da conduta. Em nova entrevista, desta vez concedida à BBC

Brasil a partir de Londres, o ex-presidente explica com mais detalhes o porquê de não ter se

unido a Fernando Haddad no que muitos considerariam como uma “frente democrática”.

Segundo ele, o PSDB estava em disputa com o PT em segundos turnos para governadores de

“vários estados”, de sorte que ficaria “complicado” firmar uma aliança em plano federal.

Em vários estados o PSDB ainda lutava com o PT, Como é que eu vou fazer?
Vou manifestar pelo PT? (...) É verdade que minha ligação com o PSDB é simbólica,
sou presidente de honra, não tenho uma ligação orgânica e nem estou de acordo
com muita coisa que é feita, nem sou responsável por isso. Ainda assim tenho uma
certa simbologia, eu não podia toda hora ficar desconsiderando o PSDB... ah, vou
votar no PT. Meu estado é PSDB contra PT, como faz?493
No front interno, a tentativa de se equilibrar em um espectro político polarizado

também era perceptível. Se, por um lado, como vimos no capítulo 3, o IFHC sediou eventos

elogiosos à Lava-Jato, malgrado o desrespeito às leis e às instituições pela operação, tornadas

evidentes, no mais, em série de reportagens conhecida como Vaza-Jato, produzidas pelo site

The Intercept Brasil em parceria com veículos da grande imprensa; por outro, debates sobre

492 https://www.youtube.com/watch?v=aENlwhAx9Mw
493 https://www.youtube.com/watch?v=E3jCH-_NHDI
394
pontos específicos do programa de governo bolsonarista foram travados na entidade, com

claro acento crítico.

É o caso de evento sediado em outubro de 2019 sobre os direitos indígenas, no qual

foi debatida a exploração econômica das terras de povos nativos. Uma das promessas de

campanha de Jair Bolsonaro foi olhar com mais atenção para as demandas do garimpo,

flexibilizando regulamentações ambientais e autorizando a mineração em terras indígenas e

quilombolas494. A procura por apoio de garimpeiros se deu ao longo da campanha com base

em promessas e no corpo-a-corpo, feito por um de seus filhos junto a representantes da

Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada495. Após o segundo turno das

eleições presidenciais de 2018, sacramentada a vitória de Bolsonaro, reportagem do The

Intercept Brasil investigou as relações da família com o garimpo, revelando que o agora

presidente eleito, em julho daquele ano, havia recebido abaixo-assinado com mais de 500

nomes de garimpeiros da Serra Pelada, pedindo o fim das restrições ambientais para a prática

mineradora. O texto indicava, inclusive, o temor acerca de uma “nova corrida do ouro”, dada

a crença de que as florestas nativas ainda esconderiam toneladas de metais preciosos em seu

subsolo. Por isso, o encontro realizado no IFHC tem importância particular. A entidade, afinal,

levou representantes indígenas e de setores produtivos – sobretudo do grande capital – para

discutir o assunto então em voga no debate público brasileiro. O tom geral do encontro foi

crítico à truculência do governo no trato da questão.

Participaram do evento Joênia Wapichana, advogada e primeira deputada federal

indígena, eleita em 2018 pela Rede Sustentabilidade em Roraima; Mario Luiz Bonsaglia,

494 https://oglobo.globo.com/brasil/bolsonaro-promete-liberar-garimpo-em-terras-quilombolas-22884565
495 https://theintercept.com/2018/11/05/passado-garimpeiro-bolsonaro/
395
subprocurador geral da República e membro titular da 6ª Câmara do Ministério Público

Federal, responsável por defender os direitos das populações indígenas e comunidades

tradicionais; o geólogo Elmer Prata Salomão, ex-presidente da Associação Brasileira de

Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM); o biólogo Ismael Nobre (Projeto Amazônia 4.0); o

ambientalista Márcio Santilli (Instituto Socioambiental) e o engenheiro agrônomo Rodrigo

Justus de Brito (Confederação da Agricultura e Pecuária no Brasil).

A fala mais incisiva foi mesmo da deputada Wapichana. Opondo-se à liberação da

exploração econômica do subsolo do território indígena, a parlamentar da Rede rejeitou a

tese de que os direitos dos povos originários representam entraves ao desenvolvimento no

Brasil, relembrando que as tradições nativas devem ser preservadas, sobretudo no que diz

respeito à ligação desses povos com a terra496.

Houve espaço também para a defesa da exploração das reservas indígenas, mas com

os povos nativos protagonizando a solução da questão, com regulamentação que atenda aos

interesses dos indígenas. Segundo Elmer Prata Salomão, representando as empresas de

pesquisa mineral,

(...) não é de hoje que as terras indígenas são invadidas por garimpeiros,
madeireiros e grileiros. Os direitos indígenas, apesar de protegidos na Constituição
de 1988, na prática continuam a ser violados. Por isso, é fundamental regulamentar
a mineração empresarial e outras atividades produtivas nas reservas. Uma coisa é
certa: o índio tem que estar no centro da solução.
A posição da ABPM expressa no evento difere do posicionamento do governo, como

ficaria claro em reportagem de O Globo, divulgada em 11 de janeiro de 2020, a qual afirmaria

que, segundo o governo, as comunidades contrárias à mineração poderiam apenas manifestar

sua oposição, e não ter poder de veto. O dissenso se fundamenta juridicamente em uma

496 https://fundacaofhc.org.br/iniciativas/debates/direitos-indigenas-entrave-ao-desenvolvimento-ou-parte-
da-riqueza-nacional
396
interpretação distinta do artigo 231 da Constituição Federal de 1988, cujo parágrafo 3

determina que

o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a


pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser
efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades
afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da
lei497.
Ainda no encontro realizado no IFHC, o subprocurador geral da República, Mário

Luiz Bonsaglia lembrou que o Brasil ratificou a Convenção º 169 da Organização

Internacional do Trabalho, sobre Povos Indígenas e Tribais em Estados Independentes, que

determina a consulta aos povos indígenas com vias de obter consentimento para exploração

econômica de suas terras498.

Já a CNA defendeu na ocasião que não há embates reais entre o agronegócio e a

demarcação de terras indígenas. Segundo Rodrigo Justus de Brito, representante do setor

agropecuário no painel,

Os direitos indígenas não representam entrave e suas reservas não fazem


falta para o agronegócio elevar sua produtividade. Há muitas terras degradadas que
podem ser recuperadas para a agricultura e a pecuária, utilizando modelos de
exploração mais sustentáveis, sem prejuízo à floresta499
À primeira vista, as contradições em tela parecem opor à liberação do garimpo, além

das comunidades nativas e ambientalistas, também o grande capital representado em

associações como a CNA – que, além de razões mais evidentes envolvendo disputas pela

terra, veriam na atividade garimpeira a devastação do meio-ambiente que tornaria mais dura

a fiscalização sobre suas próprias atividades, além de prejudicar a produção agrícola a longo

497 https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_08.09.2016/art_231_.asp
498 https://fundacaofhc.org.br/iniciativas/debates/direitos-indigenas-entrave-ao-desenvolvimento-ou-parte-
da-riqueza-nacional
499 https://fundacaofhc.org.br/iniciativas/debates/direitos-indigenas-entrave-ao-desenvolvimento-ou-parte-
da-riqueza-nacional

397
prazo pela restrição de mercados internacionais500. Com feito, sobretudo na região do rio

Cupixi, no Amapá, onde uma liderança indígena dos Wajãpi foi assassinada em 2019 pelo

acirramento das lutas na floresta501, o terreno acidentado dificultaria operações com grande

uso de maquinaria – favorecendo, em tese, o pequeno garimpo 502 . Outro indicativo

importante das contradições entre garimpeiros ilegais e o grande capital foi a situação na

fazenda Dardanellos, no Mato Grosso, em novembro de 2018, quando foram deflagradas

disputas entre garimpeiros ilegais, que acreditavam encontrar ouro em grande quantidade na

região; o empresário do agronegócio que arrendou a fazenda e a mineradora Votorantim,

concessionária da exploração do território por 25 anos, com alvará cuja data de início

marcaria dezembro daquele ano503.

As contradições entre o grande capital e o garimpo ilegal, entretanto, não são

absolutas. Os garimpeiros, atualmente reunidos frequentemente em cooperativas, dada a

necessidade de utilização de ferramentas e máquinas pela dificuldade contemporânea em se

localizar ouro de aluvião, isto é, na superfície do solo, contam com uma margem de tolerância

por parte das grandes empresas que centralizam a atividade mineradora504. Isso porque os

500 Estes elementos foram discutidos em visita do Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a CNA,
em setembro de 2019, portanto um mês antes do evento comentado. Na ocasião, Maia defendeu a
convergência de interesses entre ambientalistas e o agronegócio – sobretudo no que diz respeito à garantia
de mercado pela preservação das florestas, evitando embargos de outros países. No encontro, representantes
da CNA afirmaram, ainda, se preocupar com o desmatamento ilegal, mas insistiram que a crise da Amazônia
abria uma janela de oportunidades para forjar consenso entre o agronegócio e pauta ambiental pelo alcance
de um meio termo entre os interesses potencialmente conflitantes de ambos. Ver:
https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2019/09/03/interna_nacional,1082107/na-cna-maia-diz-que-
havera-um-texto-convergente-sobre-licenciamento-a.shtml
501 https://brasil.elpais.com/brasil/2019/07/28/politica/1564324247_225765.html
502 https://www.bbc.com/portuguese/brasil-49133192
503 https://istoe.com.br/repetindo-serra-pelada/
504 O Estatuto do Garimpeiro, ratificado em 2008 pela Lei Nº 11.685, evidencia o associativismo da atividade,
considerando, em seu Art. 2º, por garimpeiro: “toda pessoa física de nacionalidade brasileira que,
individualmente ou em forma associativa, atue diretamente no processo da extração de substâncias minerais
garimpáveis”. Ver:
398
garimpeiros são considerados eficientes exploradores do território, auxiliando a encontrar

importantes reservas de minerais a serem exploradas pelo grande capital. Por outro lado, o

cooperativismo, que surgiu no setor mineral brasileiro nos anos 1980 com o fito de controlar

a massa garimpeira e favorecer a regulação e a formalização da garimpagem, nem sempre

são sociedades de indivíduos em que os membros detém participação equitativa. Há mesmo

cooperativas controladas por um único indivíduo ou família, que ditam as regras, os projetos

a serem implementados e os investimentos da organização (COELHO, WANDERLEY,

COSTA, 2017)505.

Assim, enquanto o bolsonarismo parece se apoiar mais destacadamente em capitais

de menor porte – representados aqui pelas cooperativas de garimpo, ainda que, como vimos,

essa classificação seja passível de relativizações -, o IFHC corteja os capitais tradicionais dos

setores, como as grandes mineradoras – dentre elas a Votorantim, que financia a entidade.

Tentando buscar um espaço próprio no campo político desde a ascensão da extrema-direita,

o instituto busca apoio até de lideranças indígenas que defendem as tradições originárias, que,

no passado, foram vistas como adversárias da modernização em publicação da entidade506.

O equilíbrio instável que marca a atuação do IFHC em 2019 é sinal dos novos tempos para o

PSDB, cada vez mais afetado por um espectro político com polaridades que o excluem. A

tentativa de reconstrução deste espaço, com vistas ao estabelecimento da multipolaridade, é

um desafio que tem sido enfrentado pela entidade. Dele falaremos na última seção deste

capítulo.

505 Sobre isso, ver o trabalho de Maria Célia Coelho, Luiz Jardim Wanderley e Reinaldo Costa, intitulado
“Garimpeiros de Ouro e Cooperativismo no século XXI. Exemplos nos rios Tapajós, Juma e Madeira no
Sudoeste da Amazônia Brasileira”, disponível aqui: https://journals.openedition.org/confins/12445
506 Ver livro coesão social desafio latino-americano.
399
Considerações finais

A tese investigou a história do IFHC à luz das contradições da democracia. Com

marcos temporais que se estendem de 2004, ano de fundação da entidade, a 2019, ano em

que a ascensão do bolsonarismo provocou mudanças na sua atuação, a pesquisa se interessou

pelos seguintes pontos: a) compreender um pouco mais o que são os tanques de pensamento;

b) entender a história particular do IFHC na trama geral do desenvolvimento desse tipo de

organização; c) identificar os setores sociais que animam as atividades da fundação; d)

compreender sua relação com a política brasileira, certamente no nível partidário, dada sua

associação com o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), mas também no nível do

que Gramsci chamou de Grande Política, que embora eventualmente possa se confundir com

aquele, a ele não se identifica. Da compreensão das raízes sociais dos tanques de pensamento

ao entendimento do papel do IFHC no aguçamento/apaziguamento das contradições da

democracia, o presente texto transcorreu apresentando algumas questões que considerei

incontornáveis para o melhor conhecimento do objeto. Estas considerações finais tentam

destacar a linha narrativa que, creio, nem sempre ficou clara neste processo.

O desenvolvimento da obra começa por uma análise dos elementos gerais de um

tanque de pensamento. Consultei a literatura disponível, a fim de identificar linhas constantes

de análise que auxiliassem a identificar características gerais do objeto. As pesquisas da

ciência burguesa, notadamente as de ciência política, chamaram a minha atenção para a

importância da tecnicalidade no papel desempenhado por esse tipo de organização.

Rejeitando o pressuposto de neutralidade da técnica dominante no pensamento liberal,

busquei entender o conjunto de determinantes que marcam seu advento na gestão do

400
capitalismo. Retornei, assim, ao estudo de O Capital, obra máxima de Marx, investigando

principalmente a forma capitalista de divisão social do trabalho. Acompanhamos a fase de

predomínio da manufatura, quando a especialização dos ofícios hipertrofiou tendências,

imanentes ao capital, de isolamento político-ideológico entre trabalho intelectual e trabalho

manual. Com efeito, essa cisão arbitrária entre os dois tipos de trabalho fundamenta o

nascimento de um tipo específico de circuito de mando-obediência, assentado no domínio de

um saber dominante.

Abria-se espaço para a compreensão da tecnologia como trabalho intelectual morto,

ensejando, portanto, para sua melhor compreensão, a pesquisa sobre as condições de

realização desse trabalho – entendidas como determinantes de sua transformação final em

tecnologia. A técnica que se radica no capital, compondo seu conjunto de forças produtivas,

não é neutra, como querem os liberais. É, em vez disso, consolidação, no âmbito dos saberes

técnicos, das práticas de maximização produtiva e de apropriação de valor, bem como de

reprodução ampliada do capitalismo. A este interesse respondem as técnicas de gestão. Em

última instância, para o alcance daquele objetivo se dirigem os esforços das ciências

burguesas, mesmo na área das humanidades – seara em que o IFHC se destaca. A divisão

social do trabalho no capitalismo permitiu o surgimento de um tipo particular de trabalho

intelectual, e sua associação à reprodução ao capital se tornou progressivamente mais

umbilical, na medida em que a grande indústria requisitava mais e mais tecnologia, mais e

mais domínio de uma ciência específica sobre a natureza e a sociedade.

É este o arco histórico em que se desenvolvem os tanques de pensamento.

Compreendendo-os dessa maneira, rejeitei a pretensa “neutralidade” de instituições que

queriam “suprir gaps” do Estado, e considerei-os como aparelhos privados de hegemonia,

401
em conceito cunhado a partir da obra carcerária de Antônio Gramsci, a fim de chamar atenção

para o fato de que as análises técnicas levadas a cabo por aquelas entidades não são expressão

de uma razão pura, improfanável por interesses mundanos, mas a tentativa de generalização

de interesses particulares. Considerando os tanques de pensamento como APHs, tentei

identificar as classes e/ou frações de classe que apoiavam sua produção buscando transformar

em valores universais a visão de mundo privada, radicada, por sua vez, nas demandas da

posição específica ocupada nas relações sociais de produção. O solo da “economia”, assim,

ajudaria a entender o sentido social dos tanques de pensamento em geral, e do instituto em

particular. Sua atuação e produção deveriam ser entendidas sob o prisma extraído da

compreensão de suas determinações de classe.

O conhecimento sobre essas entidades avançou sobremaneira com as contribuições

de René Dreifuss, interessado em entender como uma classe “traduz suas capacidades

estruturais (o predomínio econômico na esfera da produção, sua formação intelectual e seu

acervo cultural, suas ligações pessoais e vínculos familiares) em capacidades político-

organizacionais” (1986, p. 21). O resultado dos seus estudos conferiu corpo histórico às

classes dominantes do século XX, demonstrando como entre 1918 e 1986, as “elites

orgânicas” pautaram a ação coletiva de classe, transformando-a, dinamicamente, em um

coletivo articulado, orientado politicamente para dar respostas aos desafios postos por uma

sociabilidade inerentemente contraditória. Se hoje compreendemos que a dominação

“econômica” não é garantia de direção política; ou, ainda, se entendemos que a posição

dominante na “estrutura econômica” não municia mecanicamente a burguesia com os

melhores instrumentos de gestão do capitalismo, isso devemos também à importante

contribuição de Dreifuss.

402
Virgínia Fontes procurou entender a explosão do associativismo burguês à luz dos

seus estudos do capital-imperialismo, forma de capitalismo “impregnada de imperialismo”

surgida “sob o fantasma atômico e a Guerra Fria” (FONTES, 2010, p. 149). Assim, associado

ao acelerado processo de concentração e associação de capitais em curso desde o Pós-Guerra,

o associativismo burguês se expandiu enquanto tentava conter ameaças à ordem partindo

principalmente do “bloco socialista” e de seus agentes, mas também das próprias rivalidades

inter-imperialistas, agora reforçadas pela ameaça atômica. Na conjuntura em tela, portanto,

a organização de classe se tornou um imperativo de sobrevivência, sem descurar das

tendências expansionistas inerentes ao capital.

Em 2007, o IFHC chega a este mundo. Embora o tenha identificado como aparelho

do grande capital, não esqueci sua origem tucana. Embora se apresente como “independente

do PSDB”, a história aqui analisada demonstra as diversas vezes em que o vínculo se impôs

na agenda de atividades da entidade, em âmbito público e privado. O IFHC é, por conseguinte,

um APH, mas de tipo específico: não se pode analisa-lo sem lembrar que ele funciona como

um dos mais importantes tanques de pensamento do Brasil, mas também como um órgão do

PSDB que, em última instância, defende eleitoralmente o partido como o mais apto a

conduzir o enfrentamento aos desafios à ordem capitalista no Brasil. Se o PSDB já foi o

Moderno Príncipe da burguesia brasileira, com a ajuda do IFHC ele reiteradamente se

recandidata ao cargo507.

Temos, pois, o instituto em interfaces de ação pública e privada, voltadas para a

sociedade civil e para a sociedade política. Na face privada, o IFHC estabelece contatos com

507
Guiot, André Pereira (2006). Um “moderno príncipe” para a burguesia brasileira: O PSDB (1988-2002).
Niterói, UFF (Dissertação de mestrado).
403
agências de “avaliação de mercado”, ajudando a tecer nós da vasta teia de circulação de

tecnologias burguesas, como ilustrou o caso da Stratfor. Uma informação que favorece

alocação “eficiente” de capital e sua reprodução não seria uma parte das forças produtivas do

negócio? No mesmo circuito, transitam avaliações constantes sobre o grau de estabilidade

social, funcionando como aparelhos detectores de abalos sociais capazes de pôr em risco a

ordem. A partir daí, atua-se preventivamente para assegurar solo social adequado à

germinação dos investimentos. É bem verdade que o mesmo é verificado em sua face pública,

mas o vazamento das conversas eletrônicas que revelam a visita da Stratfor à sede do instituto

para fazer negócios indica que há muito mais o que saber. Outro indício importante é a

correspondência do Cônsul Geral dos Estados Unidos no Brasil, ironizando o encontro do

embaixador estadunidense no país, na sede do IFHC, em 2009, com FHC e José Serra,

apresentado na ocasião como futuro presidente brasileiro e aliado em potencial dos Estados

Unidos na América do Sul. As fontes nos permitem saber muito pouco desta vida privada,

mas dão uma medida do tipo de relação que nela se desenvolve. É preciso mais pesquisas,

mas também a sorte de encontrar documentos específicos sobre esta face, que pode esconder

qualquer coisa.

Publicamente, o IFHC é uma “fundação” de debates sobre democracia e

desenvolvimento social, além de local de conservação do acervo do ex-presidente, como

intelectual e como chefe de Estado. Nesta face pública, ainda, o IFHC disputa o consenso na

sociedade civil, bem como tenta funcionar como parceiro de conexão entre membros da

classe dominante e representantes de Estado. No primeiro caso, lembremos que, como ensina

Gramsci, um dos objetivos táticos dos APHs é disputar a guerra de posições, travando a

“batalha das ideias”, muito mais concreta do que meramente um confronto de discursos. Para

404
tanto mobiliza seus recursos financeiros, técnicos, políticos, tudo o que for necessário para

generalizar, como senso comum, interesses específicos. A hegemonia, estágio final do avanço

de um dos lados em confronto, pode ser antecedida por etapas anteriores, de predomínio de

uma visão “ético-política” sobre outras. Ao longo dessa “guerra”, travar batalhas pela defesa

de pontos específicos no nível do planejamento social é parte fundamental, e a série de

“eventos” sediados pelo IFHC não deve ser entendida sem consideração a este ponto. Ocupar

posições, inclusive no Estado, talvez seja uma das fases decisivas daquela guerra, e disso o

instituto se encarregou à sua maneira. Se não ocupando de fato postos do Estado – o único

caso que a documentação aponta é o de Xico Graziano no Governo Temer -, ao menos

servindo de plataforma para a conexão entre membros da classe dominante e setores vistos

como chave do aparelho político.

Articulando ainda esta face pública aos elementos tratados quando da análise do papel

dos tanques de pensamento na democracia, sugeri que dois elementos centrais, sem os quais

a atuação política do IFHC não seria bem entendida, eram:

a) a capacidade de se conectar, mais ou menos diretamente, aos aparelhos da

sociedade política – via conexões com seus representantes eleitos ou com seu “pessoal do

Estado” – a fim de contornar os mecanismos clássicos de representação democrática,

nomeadamente o Congresso e seu sociometabolismo interno. Apontei ainda o fenômeno

como uma da manobras de contenção da democracia.

b) A prerrogativa de circunscrever o terreno do debate legítimo, por meio do filtro de

convidados aos debates que, na lógica de atuação dos tanques de pensamento, servem de

pontos de conexão entre os representantes de classes e/ou frações de classes e os

representantes do poder político.

405
No primeiro caso, vaza-se a soberania popular, posto que se insulam aparelhos de

Estado da ação democratizante. No segundo, constrói-se formidável aparelho político, na

medida em que o tanque de pensamento seleciona previamente as posições postas em

confronto no espaço consagrado para a finalidade. Mostrei como o O IFHC não hesitou em

lançar mão desta arma em momentos politicamente cruciais, como o que antecedeu a

aprovação da “Reforma Trabalhista”.

Faz lembrar a declaração de Ronaldo Cézar Coelho durante a redemocratização dos

anos 1980, recuperada por Dreifuss. Diz o então presidente da Associação Nacional dos

Bancos de Investimentos e Desenvolvimento: “no regime fechado, defendíamos nossos

interesses com dois ou três ministros; mas num regime aberto temos de nos acostumar a falar

para uma audiência muito mais ampla”(COELHO apud DREIFUSS, 1989, p. 43). Eleito

deputado federal constituinte pelo PMDB antes de ingressar nas fileiras do PSDB, Coelho se

referia então às campanhas eleitorais, prevendo as especificidades da gestão empresarial da

política em uma democracia. Hoje parecemos estar presenciando algo diferente, ainda que

com similaridades. A tendência de captura da representação política pela burguesia

permanece a mesma. Os mecanismos, contudo, multiplicaram-se. O apoio a candidaturas, via

financiamento, permanece; mas formas mais diretas de influência têm crescido,

impulsionadas pela proliferação dos tanques de pensamento. De acordo com as fontes

produzidas por laboratório da Universidade da Pensilvânia, espera-se desse tipo de entidade

406
precisamente a iniciativa de influenciar “positivamente” as políticas públicas, não raro

produzindo-as elas mesmas508.

O IFHC parece seguir os mandamentos do TTCSP. Orgulha-se de exibir as boas

colocações obtidas em seus rankings – sempre impulsionadas por suposta ingerência sobre

as políticas públicas no Brasil. Como os relatórios produzidos pelo “tanque de pensamento

dos tanques de pensamento” não esclarece quais são suas fontes e qual é a base de dados

utilizada para a formação das listagens, não temos como saber qual é sua efetiva influência

sobre as políticas públicas – e nem se ela existe de fato. Pode-se especular que talvez o

suposto poder atribuído ao IFHC derive da posição proximidade com o PSDB, e do

predomínio deste partido sobre o governo daquele estado. Mas são só especulações. Não há

como saber.

Por isso é melhor entender o ranqueamento como meta a ser alcançada, isto é, como

manual de instruções proposto por esta entidade que se entende como tanque de pensamento

dos tanques de pensamento – e, portanto, de acordo com a definição deste tipo de entidade

por seu diretor, James McGann, como organização devotada à instrução técnica para a melhor

ação do ente por ela instruído. Entendo as edições anuais da Global Go to Think Tanks como

a constante balizador da ação dos tanques de pensamento, percebe-se uma das razões

possíveis para que o IFHC busque sempre se relacionar com o representantes do Estado.

O número deste tipo de participante nas atividades do IFHC cresceu entre 2014 e

2018, acompanhando a maior participação do PSDB no governo federal. Nesta tese, alguns

eventos foram comentados. Um deles, discutido no último capítulo, apresenta claramente um

empresário interessado em investir no setor de infraestrutura apresentando demandas

508
Como vimos no capítulo 1, por meio dos chamados white papers.
407
diretamente ao secretário de Estado dedicado à gestão da área. A realidade da democracia da

“Nova República” já impunha uma revisão da conduta do empresariado; o amadurecimento

do desenvolvimento dos tanques de pensamento dominantes e expressões do seu próprio

sucesso no deslocamento de opositores (como o triunfo da ortodoxia de mercado no senso

comum, responsável por minar a aceitação social de modos alternativos de gestão pública 509)

parece ter transformado a política em uma questão de eficiência. Nesta nova fase de “regime

político aberto”, os tanques de pensamento se tornam veículos importantes na comunicação

com o Estado restrito, inclusive porque são estimulados a perseguirem este objetivo. Não

sem razão os empresários se interessam tanto por eles.

Sobre este conjunto de indícios empíricos, sugeri que uma das características que

melhor iluminaria o sentido social do IFHC seria a capacidade de se conectar, mais ou menos

diretamente, aos aparelhos da sociedade política – via conexões com seus representantes

eleitos ou com seu “pessoal do Estado” – a fim de contornar os mecanismos clássicos da

democracia representativa, nomeadamente o Congresso e seu sociometabolismo interno.

Apontei ainda o fenômeno como uma das contradições da democracia liberal que, no discurso,

estimula o livre associativismo, mas, ao não confrontar a cisão entre trabalho intelectual e

trabalho manual, elemento medular do capital, favorece a proliferação desigual de

organizações, com algumas delas demonstrando capacidade superior de arregimentação e

mobilização de interesses – pela maior preparação intelectual, pelo maior domínio do acervo

cultural além de, é claro, do predomínio econômico dos setores sociais que financiam as

509
Refiro-me ao que alguns chamaram de nova razão do mundo, em análise competente, mas que falha em não
investigar os veículos práticos de imposição dessa racionalidade “neoliberal”, caindo em fetiche ardiloso
da história das ideias que a entende como expressão, quando muito, das disputas entre grandes intelectuais
distintos, sem jamais versar sobre os determinantes do prestígio de cada pensador e/ou corrente de ideias.
Ver: DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo. Ensaios sobre a sociedade neoliberal.
São Paulo: Boitempo, 2016.
408
entidades dos dominantes 510 . A democracia “representativa” que se ergue sobre tais

fundamentos porta em si, contraditoriamente, as tendências da crise de representação, pois

os despossuídos não podem se reconhecer nos possuidores. De qualquer forma, o cenário

acima descrito favoreceu o advento de mais e mais tanques de pensamento. Seu papel na

república chamou atenção mesmo dos partidos para a ferramenta.

Sempre próximo do PSDB, devemos entender o esforço do IFHC em apoiar a

expansão das empresas brasileiras sobre a América do Sul, por meio do lançamento da

Plataforma Democrática, que objetiva “aprofundar a cultura democrática na região”.

Conectando-se a mais de uma centena de APHs da região, a Plataforma tenta reproduzir as

condições sociais adequadas ao desenvolvimento capitalista do subcontinente. Não estranha,

por conseguinte, que por trás da iniciativa estejam grandes empresas brasileiras com capital

alocado nos países que compõem o entorno geopolítico do Brasil. Fruto de condições

econômicas surgidas no governo FHC, notadamente o “choque de concorrência” produzido

na conjuntura de lançamento do Plano Real, que impulsionou investimentos externos por

capitais que viam a concorrência no mercado interno dificultada. É bem verdade que os

governos petistas incentivaram ativamente a internacionalização de capital nacional,

principalmente na América do Sul, na lógica do privilégio às relações Sul-Sul. Se a

Plataforma Democrática, criada em 2007, mira a região, é também porque interessa ao PSDB

oferecer uma resposta ao avanço petista no apoio à burguesia transnacionalizada.

510
Sendo este um dos elementos da desigualdade de representação. Outros tantos passam pelo que Virgínia
Fontes chamou de “ampliação seletiva do Estado”, inclusive com a repressão pura e simples do aparelho
coercitivo sobre as organizações proletárias. Ver: FONTES, Virgínia. Brasil e o capital-imperialismo. Teoria
e História. Rio de Janeiro: UFRJ, 2010.
409
Trata-se, portanto, de aparelho capaz de responder às flutuações da cena política

brasileira. Assim, o IFHC investiu desde cedo em novas tecnologias, ciente de que ali estava

importante fronteira de disputa para alcançar os objetivos acima comentados. Convidou

Manuel Castells para falar a respeito da sociedade em rede, publicou livro sobre a internet e

os “novos movimentos sociais”, mas, principalmente, atuou no setor 511 . No Facebook,

associou-se ao Quebrando o Tabu, página com mais de dez milhões de seguidores, que

divulga visões políticas moderadamente progressistas, mas com clara defesa da ortodoxia

econômica. Em associação com a página, lançou a iniciativa chamada “Diálogos na Web”,

reunindo especialistas próximos à sua orientação política de defesa rebaixada das pautas

identitárias para debater temas polêmicos em ambiente virtual, com participação de

internautas. Temendo a desmedida da ascensão bolsonarista, investiu no YouTube, lançando

o “Projeto Fura-Bolha”. Sua intenção anunciada é “furar as bolhas sociais” formadas no

Brasil da afamada “polarização política”. Polarização de um polo, dada a ausência de projetos

de extrema-esquerda no debate público, mas entendida como fermento do crescimento da

extrema-direita que ameaça deixar o PSDB, mais uma vez, alijado de poder no Estado.

Que a fachada progressista não deixe ninguém se enganar sobre suposto apoio

intransigente a uma agenda “socialdemocrata”, mesmo empalidecida, porque o instituto tem

na ambiguidade a principal característica de seu mais recente posicionamento político. Na

internet, fomentou também outra página naquela rede social, intitulada O observador político,

esta em claro flerte com a extrema direita. Sob o pretexto de “debater política com qualidade

nas redes”, o OP, tocado por uma equipe encabeçada pelo já mencionado Xico Graziano,

511
FAUSTO, Sério; SORJ, Bernando (org.). Internet e mobilizações sociais. Transformações do espaço público
e da sociedade civil. São Paulo: Edições Plataforma Democrática, 2015.
410
atacou duramente o “lulopetismo”, defendeu intransigentemente o uso de agrotóxicos,

debochou das pautas progressistas sobre a questão das identidades, embarcou no extremismo

de João Dória e acabou nos braços do bolsonarismo. Nos veículos da grande imprensa, FHC

traduz a indecisão de um partido que se viu sem base eleitoral: mesmo passada a eleição de

2018, com o desmantelamento da esquerda parlamentar, FHC voltou à carga sobre o

“lulopetismo”, ainda disputando a representação de setores desta direita mais raivosa que se

fortaleceu no pleito. No início de 2020, após a emergência de uma coleção de fatos que

demostram o ataque aos limites da democracia pelo Presidente da República como tática de

governo, o tucano voltaria a se pronunciar sobre a política brasileira, alertando, contudo, que

seu partido havia privilegiado a ofensiva sobre Jair Bolsonaro, quando, em sua avaliação, o

petismo deveria seguir como alvo preferencial. Ainda em janeiro deste ano, FHC trocou

amenidades em encontro com governador de São Paulo, João Dória Jr., buscando

reaproximação com aquele que, dentro do partido, chegou a tentar disputar a liderança da

ascensão da direita.

São tempos de um “Novo PSDB”, na fala de Dória. Seu nascimento parece estar

transcorrendo, em parto doloroso, desde a derrota histórica nas eleições de 2018. Flertes com

a energia reacionária que foi galvanizada em torno do bolsonarismo houve, com vários

acenos ao lava-jatismo já desde, pelo menos, o malogro de Aécio Neves no pleito de 2014.

Em reunião de balanço do novo mandato de Dilma Rousseff, ainda em início naquele março

de 2015, FHC vociferou contra o governo. Defendeu união “das ruas” (isto é, dos

movimentos sociais de extrema-direita que então desafiavam a capacidade de governar do

PT, preparando o caldo de cultura golpista que passaria a grassar no país), da sociedade civil

(outras entidades, do perfil do IFHC) e a “Justiça” (leia-se: Lava-Jato) a favor da criação de

411
uma “alternativa de poder” ao “lulopetismo” que teria, em sua visão, açambarcado a

“verdadeira democracia” por um “projeto de poder”.

O udenismo redivivo marcou um giro importante no posicionamento político do

instituto, e talvez mesmo do PSDB, com o recurso ao lawfare dando o tom da novíssima

estratégia partidária 512. Confundindo-se com a autoimagem do partido, o IFHC até então

privilegiava o que chamou de coesão social na democracia. No capítulo 3, vimos como a

organização tentou ser o veículo brasileiro de um conjunto de orientações políticas de

contenção de “populismos”, de direita e esquerda, pela manutenção de um “tecido social”

harmônico. A série de debates fomentada pelo instituto sobre o tema deu origem mesmo a

um livro assinado pela entidade. Nas páginas, a questão das identidades era vista com cuidado,

como polo gerador de tensões emanadas por abordagens tanto à esquerda quanto mais à

direita do problema. A defesa da coesão, neste panorama, não era mais do que a estratégia

conservadora de enfrentamento das pressões sociais, a fim de pensar em válvulas de escape

que contivessem as insatisfações no interior da ordem, com o mínimo ruído possível sobre a

sociabilidade burguesa. A ideia de coesão social na democracia seria, ainda, a “atualização

democrática” de uma cultura entendida como originalmente autoritária, derivada do

“iberismo” de nascimento, em recuperação de interpretação de nossa história tão comum a

autores que reportam a um suposto patrimonialismo Ibérico toda sorte de contradições

vigentes em nossa sociedade de capitalismo periférico. Expressão, essa defesa da harmonia,

de um verniz social-democrático que o partido então ainda gostava de ostentar, mas cujo

512
Em evento realizado no IFHC, Steven Levitsky, autor do best-seller Como as democracias morrem, preveniu
contra a postura de “liberais” que, atuando nas brechas das leis, acabam por deslegitimar as “regras do jogo”
que juraram defender. Ver: https://fundacaofhc.org.br/enfotografias/como-morrem-as-democracias-por-
steven-levitsky
412
padrão dramaticamente rebaixado ficava evidente no encaminhamento das questões. O

PSDB da “terceira via”, claro, influenciou o IFHC da coesão social, e a relação de

proximidade entre as duas ideias foi neste trabalho aludida.

Não é que o partido tenha rompido de vez com a ideia de representar uma terceira via.

Em 2018, o “Manifesto do partido efeagacista” - o apelido tosco de texto de análise de

conjuntura, lançado em livro em que o ex-presidente especula as razões da crise pela qual

passa o país - atacou o “ultramercadismo” e cortejou a abordagem “libertária” dos costumes,

defendendo a legalização das drogas e a descriminalização do aborto 513 . Por outro lado,

disparou também contra a “velha esquerda estatista”, da qual ele procurava se distanciar, é

verdade que sem serem necessários muitos esforços. O “partido efeagacista”, assim,

“requentaria” a velha terceira via dos anos 1990, com sua defesa da “harmonia” entre Estado

e Mercado em busca do “desenvolvimento e da justiça social” 514 . Também no nível da

segurança pública, novo campo de batalhas sobretudo à direita, o IFHC ainda tenta se

equilibrar na velha fórmula de coerção somada a medidas de proteção social. Foram estes os

tons de palestras realizada no instituto por Raul Jungmann, sobre o crime organizado no país,

e por Armínio Fraga, sobre desigualdade social, ambas em 2019. Não há, contudo, nada

diferente da repetição da velha cantilena de que, no primeiro caso, “não adianta apenas

reprimir”, no segundo, “a desigualdade entrava o desenvolvimento”, sem apontar qualquer

medida prática efetiva tanto para reinserção social de marginalizados quanto para redução do

descompasso entre renda do capital e do trabalho 515. É como se a extrema-direita, que foi em

513
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/04/ex-presidente-lanca-manifesto-do-partido-efeagacista-em-
novo-livro.shtml (acessado em 17/09/2020 às 17h21)
514
https://www.brasildefato.com.br/2018/05/24/novo-livro-de-fhc-requenta-ideia-de-terceira-via-dos-anos-90
515
Ver: https://fundacaofhc.org.br/iniciativas/debates/seguranca-publica-e-crime-organizado-o-pais-sabe-
como-enfrentalo e https://fundacaofhc.org.br/iniciativas/debates/politica-social-reformas-e-reducao-da-
desigualdade-social-no-brasil (acessados em 05 de março de 2020, às 14:24)
413
alguma medida cativada pelo IFHC quando do movimento para derrubada de Dilma Rousseff,

lançasse um desafio aos membros da entidade, mas que eles não podem enfrentar

coerentemente, por ainda estarem de alguma forma presos aos esquematismos da velha

“direita para o social”516.

Essa debilidade do IFHC parece ser a expressão nacional de um drama global.

Sobretudo após a vitória de Donald Trump em 2016, muita tinta foi usada em análises dos

“novos populismos” em ascensão ao redor do mundo. Nos círculos liberais, fala-se em

“colapso da democracia liberal”, em parte motivada pela “crise de representação” resultante

de instituições que privilegiam o “poder cristalizado” na sociedade, inclusive por manobras

que reduzem o impacto eletivo sobre a institucionalidade – desde mecanismos de isolamento

de setores do Estado em relação à ação democrática a regras eleitorais que deixam em

segundo plano a vontade popular517; em parte pelo crescimento da “política do medo”, com

terrorismos e a intensificação da guerra às drogas e seus corolários de violência social. Fala-

se em uma “grande regressão”518, representada pela “fadiga da democracia”, que tem se

demonstrado incapaz de governar a sociedade em tempos de capitalismo “neoliberal”519; e

expressão da revolta dos “derrotados da globalização”, nomeadamente aqueles vitimados

pelo desemprego estrutural produzido por uma economia “interconectada às cadeias globais

de valor”520. Chave interpretativa que, claro, retira o debate sobre os elementos imanentes ao

516
MARTINS, André. A direita para o social. A educação da sociabilidade no Brasil contemporâneo. Juiz de
Fora: UFJF, 2009.
517
CASTELLS, Manuel. A Ruptura. A crise da democracia liberal. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
518
Trata-se do nome de uma coletânea que reúne diversos autores para um “debate internacional sobre os
novos populismos e como enfrenta-los”. Ver: GEISELBERGER, Heinrich (org). A grande regressão.
São Paulo: Edições Liberdade, 2019.
519
APPADURAI, Arjun. Fadiga da democracia. In: GEISELBERGER, Heinrich (org). A grande regressão.
São Paulo: Edições Liberdade, 2019.
520
GEISELBERGER, Heinrich. Prefácio. In: ______ A grande regressão. São Paulo: Edições Liberdade,
2019.
414
capital da discussão, deslocando-a para os efeitos da mundialização da economia, com a

defesa de maior ou menor controle sobre os fluxos de capital, mas jamais sobre o capital em

si. No primeiro caso, trata-se do cansaço com a democracia pela incapacidade de o Estado

controlar efetivamente os rumos do capitalismo e suas consequências sociais, resultado

potencial de revolta anticapitalista que, contudo, é capturada pelos “novos populistas” e

redirecionada contra o multiculturalismo e seus efeitos sociais, como a política de migração

considerada “de portas abertas”. No segundo, tenta-se entender a crise atual em sua

confluência entre neoliberalismo e globalização, com os efeitos da reestruturação produtiva

de cariz neoliberal sendo amplificados pelas ondas migratórias e, por sua vez, sendo

impulsionadores de ressentimentos eficientemente capitalizados pela extrema-direita na

ausência de uma alternativa à esquerda.

Zeloso com a produção de seus congêneres internacionais, o IFHC esteve atento às

discussões pelo menos desde 2008, quando o livro sobre coesão social já alertava sobre os

riscos do “populismo” capaz de emergir pela combinação do “esgarçamento do tecido social”

e da ascensão da “retórica autoritária”. Em 2019, após o fiasco nas eleições majoritárias no

ano anterior e a tomada do Brasil pelo bolsonarismo, sediou debate sobre o tema. Sem

caracterizá-lo a priori, todavia, como ameaça à democracia, o evento propôs discutir as

possibilidades de considera-lo, ao contrário, um “corretivo democrático”, por expressar o

afastamento da institucionalidade em relação às reivindicações dos setores populares. Coube

a Jan-Werner Mueller, professor de Ciência Política na Universidade de Princeton (EUA),

defender que esse “populismo” sempre mal definido seria uma reação aos “tecnocratas” que,

por supostamente deterem um saber específico, interditam o debate democrático sobre

415
problemas econômicos e sociais521. A eventual potencialidade de “corrigir” a democracia,

assim, viria da capacidade de reabrir discussões que refluíram frente ao avanço do discurso

liberal globalizante.

Alertas são feitos, mas a resposta não vem, principalmente porque talvez não possa

vir. Aqui entra o problema que o IFHC, como instituição, não parece ser capaz de superar

sem negar elementos que lhe são constitutivos. Os tanques de pensamento, como “supridores

de gaps de racionalidade no Estado”, como reza a vulgata liberal, ou como APH’s burgueses,

como defende o marxismo, reforçam tendências de garroteamento da participação popular

na democracia. Se é verdade que a ascensão da extrema-direita é também resultado da crise

de representatividade dos Estados, provocada, em parte, pela dificuldade de reconhecimento

em aparelhos que funcionam com códigos inacessíveis aos proscritos do saber técnico

legítimo, as organizações em tela são uma das forças que atuam no aprofundamento do

quadro. O anti-intelectualismo e o antiglobalismo, idealmente encarnados em instituições de

saber e em filantropos supostamente dedicados a imporem uma “nova ordem mundial’,

parecem ser tanto sintomas de maturação daquele processo quanto do relativo

enfraquecimento, em nível planetário, de uma esquerda que desde a Queda do Muro não se

mostra capaz de oferecer um novo horizonte social, a ponto de o novo tempo do mundo ser

considerado o primeiro, desde 1789, a não se desdobrar sob o signo da revolução e do

progresso522.

521
Ver: https://fundacaofhc.org.br/iniciativas/debates/populismo-e-democracia-ameaca-ou-corretivo
522
ARANTES, Paulo. O novo tempo do mundo e outros estudos sobre a era da emergência. São Paulo:
Boitempo, 2014.
416
Anexo I. Tabela com conexões nas sociedades civis, nacional e
internacional, por ano (2004-2019)

Ano Palestrante Conexão Debate


2004 Bill Clinton Clinton Foundation Inauguração do IFHC
(USA)
2004 Rubens Ricupero Unctad Por uma governança
global democrática
2004 John Clark Organização das Por uma governança
Nacões Unidas global democrática
2004 Ruth Cardoso Comunitas Por uma governança
global democrática
2004 Karl Sauvant Unctad Tendências atuais do
investimento direto
estrangeiro: uma
perspectiva global
2004 Renato Baumann Cepal Tendências atuais do
investimento direto
estrangeiro: uma
perspectiva global
2004 Cláudio de Senna Associação São Paulo: desafios da
Frederico Nacional de dinâmica metropolitana
Transportes
Públicos
2004 Miguel Diaz Center for Strategic Perspectivas das relações
International entre Brasil e Estados
Studies (USA) Unidos
2004 Bolivar Instituto Millenium, As eleições de 1974 e a
Lamounier Augurium construção da democracia
Consultoria no Brasil
2004 Fábio Wanderley FGV As eleições de 1974 e a
Reis construção da democracia
no Brasil
2004 Alfredo Caldeira Fundação Mário Documentos privados e
Soares (Portugal) titulares de cargos
públicos
2004 Perrine Conselho Documentos privados e
Canavaggio Internacional de titulares de cargos
Arquivos (França) públicos
2004 Marcos Sawaja Ícone consultoria Perspectivas das
Jank principais negociações
comerciais em curso

417
2005 Dominique Moisi editorialista do Colóquio com Dominique
jornal Financial Moisi
Times.
2005 Bill Clinton Clinton Foundation Jantar com Bill Clinton
2005 Hans Blix presidente da OS DESAFIOS DA
Comissão de Armas SEGURANÇA E DO
de Destruição em CONTROLE DE
Massa. ARMAMENTOS NA
AGENDA
INTERNACIONAL
CONTEMPORÂNEA
2005 Michael Fritsche assessor do Projeto DESIGUALDADE,
de Políticas POBREZA E
Econômicas e DESENVOLVIMENTO
Sociais da NA AMÉRICA LATINA:
Fundação Konrad BALANÇO E AGENDA
Adenauer DE POLÍTICAS
2005 Simon presidente do DESIGUALDADE,
Schwartzman Instituto de Estudos POBREZA E
do Trabalho e DESENVOLVIMENTO
Sociedade (IETS) NA AMÉRICA LATINA:
BALANÇO E AGENDA
DE POLÍTICAS
2005 Francisco Ferreira Banco Mundial DESIGUALDADE,
POBREZA E
DESENVOLVIMENTO
NA AMÉRICA LATINA:
BALANÇO E AGENDA
DE POLÍTICAS
2005 André Urani diretor executivo do DESIGUALDADE,
IETS POBREZA E
DESENVOLVIMENTO
NA AMÉRICA LATINA:
BALANÇO E AGENDA
DE POLÍTICAS
2005 Wilhelm representante da DESIGUALDADE,
Hofmeister Fundação Konrad POBREZA E
Adenauer no Brasil DESENVOLVIMENTO
NA AMÉRICA LATINA:
BALANÇO E AGENDA
DE POLÍTICAS
2005 Wanda Engel especialista do DESIGUALDADE,
Banco POBREZA E
Interamericano de DESENVOLVIMENTO
NA AMÉRICA LATINA:

418
Desenvolvimento BALANÇO E AGENDA
(BID). DE POLÍTICAS
2005 Francisco Perez pesquisador DESIGUALDADE,
Calle associado da POBREZA E
Fedesarrollo DESENVOLVIMENTO
NA AMÉRICA LATINA:
BALANÇO E AGENDA
DE POLÍTICAS
2005 Ruth Cardoso Comunitas DESIGUALDADE,
POBREZA E
DESENVOLVIMENTO
NA AMÉRICA LATINA:
BALANÇO E AGENDA
DE POLÍTICAS
2005 Jailson de Sousa e coordenador geral DESIGUALDADE,
Silva do Observatório de POBREZA E
Favelas DESENVOLVIMENTO
NA AMÉRICA LATINA:
BALANÇO E AGENDA
DE POLÍTICAS
2005 Carlos Lopes representante do DESIGUALDADE,
PNUD no Brasi POBREZA E
DESENVOLVIMENTO
NA AMÉRICA LATINA:
BALANÇO E AGENDA
DE POLÍTICAS
2005 Juan Luis Bour economista-chefe DESIGUALDADE,
da Fundación de POBREZA E
Investigaciones DESENVOLVIMENTO
Económicas NA AMÉRICA LATINA:
Latinoamericanas BALANÇO E AGENDA
(FIEL). DE POLÍTICAS
2005 Luiz Gylvan quadro das Nações MUDANÇA
Meira Filho Unidas sobre CLIMÁTICA E
Mudança do Clima DESAFIOS DO
DESENVOLVIMENTO
2005 Laura Tetti assessora de meio MUDANÇA
ambiente da União CLIMÁTICA E
da Agroindústria DESAFIOS DO
Canavieira de São DESENVOLVIMENTO
Paulo (Unica)
2005 Eliana Cardoso Colunista do Valor RELAÇÕES BRASIL-
Econômico ESTADOS UNIDOS:
ASSIMETRIAS E
CONVERGÊNCIAS

419
2005 Bolivar Instituto Millenium, O SISTEMA POLÍTICO
Lamounier Augurium BRASILEIRO:
Consultoria EVOLUÇÃO E
TENDÊNCIAS ATUAIS
2006 Moisés Naím editor da Revista Ilícito: o ataque da
Foreign Policy. pirataria, da lavagem de
dinheiro e do tráfico à
economia global
2006 Renato Guerreiro Guerreiro Desafios das
Consultoria telecomunicações no
Brasil: cenários e
políticas de longo prazo
2006 Ceres Prates diretora Desafios das
administrativa do telecomunicações no
Instituto Via Brasil: cenários e
Pública e sócia da políticas de longo prazo
Acesso Consultoria
2006 Naresh Singh High Level High Level Commission
Commission on on legal empowerment of
legal empowerment the poor
of the poor
(HLCLEP).
2006 Edgardo especialista sênior High Level Commission
Mosquiera do Setor Público em on legal empowerment of
Gerenciamento the poor
Econômico e
Redução da
Pobreza do Banco
Mundial.
2006 Miguel Darcy de assessor de High Level Commission
Oliveira Fernando Henrique on legal empowerment of
Cardoso e diretor da the poor
Comunitas
2006 Joaquim Falcão Conselho Nacional High Level Commission
de Justiça on legal empowerment of
the poor
2006 Oscar Vilhena Sou da Paz e High Level Commission
Vieira Conectas on legal empowerment of
the poor
2006 André Urani diretor executivo do High Level Commission
Instituto de Estudos on legal empowerment of
de Trabalho e the poor
Sociedade (IETS)

420
2006 Wanda Engel Divisão de High Level Commission
Programas Sociais on legal empowerment of
do Departamento de the poor
Desenvolvimento
Sustentável do
Banco
Interamericano de
Desenvolvimento
2006 Ivo Imparato representante High Level Commission
regional do Caribe e on legal empowerment of
da América Latina the poor
da Associação de
Cidades (Cities
Alliance)
2006 Liliana de Riz Coordenadora da High Level Commission
equipe de on legal empowerment of
Desenvolvimento the poor
Humano do
Programa das
Nações Unidas para
o Desenvolvimento
(Argentina).
2006 Joel Edelstein presidente do Sociedade civil e
Conselho do Centro democracia na América
Edelstein de Latina: crise e reinvenção
Pesquisas Sociais da política
2006 Bernardo Sorj Diretor do Sociedade civil e
Conselho do Centro democracia na América
Edelstein de Latina: crise e reinvenção
Pesquisas Sociais da política
2006 Ernesto Ottone secretário executivo Sociedade civil e
adjunto da democracia na América
Comissão Latina: crise e reinvenção
Econômica para da política
América Latina e
Caribe - CEPAL
(Chile)
2006 Fernando assessor especial Sociedade civil e
Calderon em democracia na América
Desenvolvimento Latina: crise e reinvenção
Humano do da política
Programa das
Nações Unidas para
o Desenvolvimento
- PNUD (Bolívia)

421
2006 Francine Jacome diretora do Instituto Sociedade civil e
Venezuelano de democracia na América
Estudos Sociais e Latina: crise e reinvenção
Políticos da política
(Venezuela)
2006 Mauricio Archila pesquisador Sociedade civil e
Neira associado e democracia na América
coordenador da Latina: crise e reinvenção
equipe sobre da política
Movimentos
Sociais do Centro
de Investigación y
Educación Popular
- CINEP
(Colômbia)
2006 Miguel Darcy de assessor do Sociedade civil e
Oliveira Presidente democracia na América
Fernando Henrique Latina: crise e reinvenção
Cardoso e diretor da da política
Comunitas (Brasil).
2007 Maria Ignez EXPOMUS Arquivos pessoais de
Mantovani Franco (Exposições, titulares de cargos
Museus, Projetos públicos: curadoria e
Culturais) tratamento técnico
2007 Bolívar Instituto Millenium, Voto distrital: a reforma
Lamounier Augurium política que interessa ao
Consultoria Brasil
2007 Jairo Nicolau FGV Voto distrital: a reforma
política que interessa ao
Brasil
2007 João Carlos Ferraz pesquisador da Inovação e
Comissão competitividade
Econômica para a
América Latina e o
Caribe (CEPAL)
2007 Laura Golbert pesquisadora da Programas de
área de políticas transferência de renda
sociais do Centro de condicionada
Estudios de Estado
y Sociedad
(CEDES-Argentina)
2007 Donald Winkler economista-sênior Impasses e soluções para
do Research uma política educacional
Triangle Institute para a América Latina
(RTI International)

422
e consultor do
Banco Mundial
2007 Norman Gall Instituto Fernand Impasses e soluções para
Braudel de uma política educacional
Economia Mundial para a América Latina
2007 Patrícia Guedes Instituto Fernand Impasses e soluções para
Braudel de uma política educacional
Economia Mundial para a América Latina
2007 Rose Neubauer Instituto de Impasses e soluções para
Protagonismo uma política educacional
Jovem e Educação para a América Latina
2007 Simon diretor-presidente Impasses e soluções para
Schwartzman do Instituto de uma política educacional
Estudos do para a América Latina
Trabalho e
Sociedade (IETS).
2007 Olavo Monteiro presidente da A reinvenção do futuro
de Carvalho Associação das grandes metrópoles e
Comercial do Rio a nova agenda de
de Janeiro (ACRJ). desenvolvimento
econômico e social da
América Latina
2007 André Urani diretor-executivo do A reinvenção do futuro
Instituto de Estudos das grandes metrópoles e
do Trabalho e a nova agenda de
Sociedade (IETS) desenvolvimento
econômico e social da
América Latina
2007 Joe Chan Downtown A reinvenção do futuro
Brooklyn das grandes metrópoles e
Partnership a nova agenda de
desenvolvimento
econômico e social da
América Latina
2007 Carmenza Saldias Centro A reinvenção do futuro
Iberoamericano de das grandes metrópoles e
Desarrollo a nova agenda de
Estratégico Urbano desenvolvimento
(CIDEU) econômico e social da
América Latina
2007 Julio Cotler Instituto de A reinvenção do futuro
Estudios Peruanos das grandes metrópoles e
a nova agenda de
desenvolvimento

423
econômico e social da
América Latina
2007 Sérgio Besserman presidente do A reinvenção do futuro
Vianna Instituto Pereira das grandes metrópoles e
Passos a nova agenda de
desenvolvimento
econômico e social da
América Latina
2007 Pedro da Motta Centro de Estudos A reinvenção do futuro
Veiga de Integração e das grandes metrópoles e
Desenvolvimento a nova agenda de
(CINDES) desenvolvimento
econômico e social da
América Latina
2007 Simon diretor-presidente A reinvenção do futuro
Schwartzman do IETS das grandes metrópoles e
a nova agenda de
desenvolvimento
econômico e social da
América Latina
2007 Francisco Gaetani assessor especial do A reinvenção do futuro
Programa das das grandes metrópoles e
Nações Unidas para a nova agenda de
o Desenvolvimento desenvolvimento
(PNUD) econômico e social da
América Latina
2007 José Brakarz analista econômico A reinvenção do futuro
do Banco das grandes metrópoles e
Interamericano de a nova agenda de
Desenvolvimento desenvolvimento
(BID) econômico e social da
América Latina
2007 Cezar Vasquez diretor do IETS A reinvenção do futuro
das grandes metrópoles e
a nova agenda de
desenvolvimento
econômico e social da
América Latina
2007 Sérgio Abranches diretor da Meio ambiente
associação O Eco e
comentarista do
boletim Ecopolítica,
da Rádio CBN

424
2007 Francine Jácome Instituto Coesão social em
Venezoelano de democracia na América
Estudios Sociales y Latina
Políticos (INVESP-
Venezuela)
2007 Julio Cotler pesquisador do Coesão social em
Instituto de democracia na América
Estudios Peruanos Latina
(Peru)
2007 Pablo Dreyfus Viva Rio Coesão social em
democracia na América
Latina
2007 Rubem César pesquisador do Coesão social em
Fernandes Instituto Superior democracia na América
de Estudos da Latina
Religião (ISER) e
diretor-executivo do
Viva Rio
2007 Simon diretor-presidente Coesão social em
Schwartzman do Instituto de democracia na América
Estudos do Latina
Trabalho e
Sociedade (IETS).
2007 Rubens Barbosa presidente do Brasil e México: o desafio
Conselho Superior do crescimento acelerado
de Comércio
Externo da
Federação das
Indústrias de São
Paulo (FIESP)
2007 Edward Glaeser John F. Kennedy Um novo repertório de
School of estratégias frente ao crime
Government e à violência na América
Latina
2007 Andrew Morrison Banco Mundial Um novo repertório de
estratégias frente ao crime
e à violência na América
Latina
2007 Rodrigo Guerrero criador do Um novo repertório de
Programa estratégias frente ao crime
Desarollo, e à violência na América
Seguridad y Paz Latina
(DESEPAZ),
Colômbia

425
2007 Rubem César diretor-executivo da Um novo repertório de
Fernandes ONG Viva Rio estratégias frente ao crime
e à violência na América
Latina
2007 Norman Loyaza economista do Um novo repertório de
Banco Mundial estratégias frente ao crime
e à violência na América
Latina
2007 Linn Hammergren especialista em Um novo repertório de
administração estratégias frente ao crime
pública do Banco e à violência na América
Mundial Latina
2007 André Franco Instituto Brasileiro Cultura das transgressões
Montoro Filho de Ética no Brasil: lições da
Concorrencial história. Superar essa
(ETCO) cultura é condição para o
desenvolvimento?
2007 Marcílio Marques presidente do Cultura das transgressões
Moreira Conselho no Brasil: lições da
Consultivo do história. Superar essa
ETCO cultura é condição para o
desenvolvimento?
2007 Bolívar Instituto Millenium Cultura das transgressões
Lamounier no Brasil: lições da
história. Superar essa
cultura é condição para o
desenvolvimento?
2007 Joaquim Falcão Escola de Direito da Cultura das transgressões
Fundação Getúlio no Brasil: lições da
Vargas do Rio de história. Superar essa
Janeiro (FGV-RJ) cultura é condição para o
desenvolvimento?
2007 José Guilherme economista sênior São Paulo: declínio ou
Reis do Banco Mundial reinvenção da metrópole?
2007 André Urani economista, diretor- São Paulo: declínio ou
executivo do reinvenção da metrópole?
Instituto de Estudos
do Trabalho e
Sociedade (IETS).
2007 Cynthia Arnson diretora do Mesa-redonda com
Programa Latino- representantes do Wilson
Americano do Center
Wilson Center
(EUA)

426
2007 Samuel Wells diretor-associado do Mesa-redonda com
Wilson Center e representantes do Wilson
diretor de Estudos Center
da Europa
Ocidental;
2007 Alan Wright assistente de Mesa-redonda com
programa do Brazil representantes do Wilson
Institute do Wilson Center
Center;
2007 Antônio Carlos Opinião do jornal O Mesa-redonda com
Pereira Estado de S.Paulo; representantes do Wilson
Center
2007 Paulo Sotero diretor do Brazil Mesa-redonda com
Institute do Wilson representantes do Wilson
Center Center
2007 Rubens Barbosa presidente do Mesa-redonda com
Conselho Superior representantes do Wilson
de Comércio Center
Externo da
Federação das
Indústrias de São
Paulo (FIESP).
2008 André.Skaf Novos Líderes Mesa Redonda do Projeto
Plataforma Democrática

2008 Bernardo.Sorj Centro.Edelstein Mesa Redonda do Projeto


Plataforma Democrática

2008 Daniela .Instituto.Geração Mesa Redonda do Projeto


Nascimento Plataforma Democrática
Fainberg
2008 Denis.Mizne diretor-executivo do Mesa Redonda do Projeto
Instituto Sou da Paz Plataforma Democrática

2008 Guilherme Instituto de Mesa Redonda do Projeto


Malzoni Rabello Formação e Plataforma Democrática
Educação
2008 Marcos Flávio Presidente do Mesa Redonda do Projeto
Corrêa Azzi Instituto Azzi Plataforma Democrática

2008 Maria Porto Paes Voluntária do Mesa Redonda do Projeto


Barreto Grupo Cultural Plataforma Democrática
AfroReggae,
membro do Grupo
de Investimento
427
Nova Geração e do
Instituto Geração
2008 Tatiana Piva Instituto Geração Mesa Redonda do Projeto
Sartori Plataforma Democrática

2008 Rubens.Ricupero Presidente do “As NEGoCiAçÕEs


Instituto Fernand soBrE o ClimA Em FAsE
Braudel de DECisiVA: o QuE Está
Economia Mundial Em JoGo, o QuE
QuErEm os GrANDEs
JoGADorEs E Como
DEVE JoGAr o BrAsil”
2008 Alexandre ABTA “o Futuro DAs
Annemberg (tElE)ComuNiCAçÕEs
No BrAsil”
2008 Daniel Slaviero ABERT “o Futuro DAs
(tElE)ComuNiCAçÕEs
No BrAsil
2008 Ercio Zilli ACEL “o Futuro DAs
(tElE)ComuNiCAçÕEs
No BrAsil
2008 Joel Edelstein Centro Edelstein Repensando a democracia
na América latina
2008 Bernardo Sorj Centro Edelstein Repensando a democracia
na América latina
2008 Maria Hermínia Associação Repensando a democracia
Tavares de Brasileira de na América latina
Almeida Ciência Política
(ABCP)
2008 Gilberto Dupas IEEI Repensando a democracia
na América latina
2008 Simon IETS Repensando a democracia
Schwartzman na América latina
2008 Antônio Lavareda Ipespe Repensando a democracia
na América latina
2008 Luiz Garcia O Globo Repensando a democracia
na América latina
2008 Francine Jacome Invesp (Venezuela) Repensando a democracia
na América latina
2008 Demétrio Magnoli Estado de S. Paulo Repensando a democracia
e O Globo na América latina
2008 BID imPACtos Dos Custos DE
trANsPortE soBrE A
iNtEGrAção rEGioNAl

428
2008 Maria Odete IASP DEmoCrACiA E EstADo
Duque Bertasi DE DirEito: o JuDiCiário
Em FoCo
2008 Maria Odete IASP usos E ABusos Dos
Duque Bertasi GrAmPos tElEFÔNiCos
2009 Fernando Solana Comexi ii ENCoNtro iFHC-
ComEXi
2009 Luiz Alberto Bid NuEVos DEsAFíos DE lA
Moreno DEmoCrACiA y DEl
DEsArrollo EN AmériCA
lAtiNA
2009 Alejandro Foxley Cieplan (Chile) NuEVos DEsAFíos DE lA
DEmoCrACiA y DEl
DEsArrollo EN AmériCA
lAtiNA
2009 Patricio Meller Cieplan (Chile) NuEVos DEsAFíos DE lA
DEmoCrACiA y DEl
DEsArrollo EN AmériCA
lAtiNA
2009 Santiago Levy BID NuEVos DEsAFíos DE lA
DEmoCrACiA y DEl
DEsArrollo EN AmériCA
lAtiNA
2009 Mário Morel BID NuEVos DEsAFíos DE lA
DEmoCrACiA y DEl
DEsArrollo EN AmériCA
lAtiNA
2009 Maurício Brooking Institute NuEVos DEsAFíos DE lA
Cardenas DEmoCrACiA y DEl
DEsArrollo EN AmériCA
lAtiNA
2009 Ricardo Markwald FUNCEX O futuro do mercosul
2009 Roberto Gianetti FIESP O futuro do mercosul
da Fonseca
2009 José Botafogo CEBRI O futuro do mercosul
Gonçalves
2009 Danny Leipziger Banco Mundial “DEsAFios Do
CrEsCimENto E Do
DEsENVolVimENto:
liçÕEs DA HistóriA
rECENtE E
PErsPECtiVAs PArA o
Futuro
2009 Maureen Lewis Banco Mundial “DEsAFios Do
CrEsCimENto E Do
429
DEsENVolVimENto:
liçÕEs DA HistóriA
rECENtE E
PErsPECtiVAs PArA o
Futuro
2009 André Medici Banco Mundial “DEsAFios Do
CrEsCimENto E Do
DEsENVolVimENto:
liçÕEs DA HistóriA
rECENtE E
PErsPECtiVAs PArA o
Futuro
2009 Geraldo Biasoto Diretor da “DEsAFios Do
FUNDAP CrEsCimENto E Do
DEsENVolVimENto:
liçÕEs DA HistóriA
rECENtE E
PErsPECtiVAs PArA o
Futuro
2009 André Franco ETCO CulturA DAs
Montoro Filho trANsGrEssÕEs: VisÕEs
Do PrEsENtE
2009 Marcílio Marques ETCO CulturA DAs
Moreira trANsGrEssÕEs: VisÕEs
Do PrEsENtE
2009 Ann Bersnstein Center for soutH AFriCA 15 yEArs
Development and AFtEr tHE END oF
Enterprise (África APArtHEiD – A
do Sul) DEmoCrACtiC AND
EmErGiNG CouNtry
2009 Victor IMEMO (Rússia) russiA AND BrAzil:
Krasilshchikov DiVErGiNG
DEVEloPmENt PAtHs?
2009 Joaquim Falcão FGV os triBuNAis Em
DEBAtE: mANDAtos,
PoDErEs E EstruturAs
2009 Maria Odete IASP os triBuNAis Em
Duque Bertasi DEBAtE: mANDAtos,
PoDErEs E EstruturAs
2009 Paulo Skaf FIESP Pré-sAl: VAlE A PENA
muDAr o mArCo
rEGulAtório?
2010 Bernardo Sorj Edelstein a estratégia nacional de
defesa

430
2010 Malak Poppovic Conectas Mesa-redonda reforma da
onu
2010 Pedro Paulo Conectas Mesa-redonda reforma da
Poppovic onu
2010 Camila Asano Conectas Mesa-redonda reforma da
onu
2010 Guilherme L. da representante Mesa-redonda reforma da
Cunha regional do Alto onu
Comissariado das
Nações Unidas;
2010 Bernardo Sorj Edelstein dinâmicas geopolíticas
globais e o futuro da
democracia na américa
latina
2010 Pedro da Motta diretor do Centro de dinâmicas geopolíticas
Veiga Estudos de globais e o futuro da
Integração e democracia na américa
Desenvolvimento latina
(CINDES
2010 Peter Fischer- representante da dinâmicas geopolíticas
Bollin Konrad-Adenauer- globais e o futuro da
Stiftung (KAS) no democracia na américa
Brasil; latina
2010 Hildegard chefe de Política dinâmicas geopolíticas
Stausberg Internacional do globais e o futuro da
jornal Die Welt democracia na américa
latina

2010 Bernardo Sorj Edelstein seminário de lançamento


do livro As FARC. Uma
guerrilha sem fins?
2010 Luiz Felipe diretor-geral da seminário de lançamento
Lampreia Lampreia do livro As FARC. Uma
Consultores guerrilha sem fins?
Internacionais
2010 Marcos Sawaya presidente da União agricultura vs. meio
Jank da Indústria de ambiente? um debate
Cana-de-Açúcar sobre o código Florestal
(UNICA Brasileiro
2010 Ophir Filgueiras presidente da a modernização do
Cavalcante Junior Ordem dos processo judicial: o que a
Advogados do sociedade pode esperar?
Brasil (OAB –
Conselho Federal)
431
2010 Marcus Antonio presidente do a modernização do
de Souza Faver Colégio Permanente processo judicial: o que a
de Presidentes de sociedade pode esperar?
Tribunais de Justiça
do Brasil.
2010 Martin Wolf principal c the world economy: what
comentarista lies ahead?
econômico do
jornal britânico
Financial Times
2010 Maurício BID índia: uma nova china
Mesquita Moreira para as economias do
Brasil e da américa latina?
2010 Bernardo Sorj Edelstein o estado da democracia na
américa latina
2010 Marcos Sawaya presidente da União Mesa-redonda código
Jank da Indústria de Florestal Brasileiro
Cana-de-Açúcar
(UNICA
2010 José de Sampaio SRB Mesa-redonda código
Góes Florestal Brasileiro
2010 Kátia Abreu CNA Mesa-redonda código
Florestal Brasileiro
2010 Gerd Sparovek Fundação Florestal Mesa-redonda código
de São Paulo Florestal Brasileiro
2010 Angela Elaine Instituto Manancial Mesa-redonda código
Pereira Garcia de Sustentabilidade Florestal Brasileiro
Socioambiental
2011 Ann Bersnstein Centre for Democratic emerging
Development and countries: what they can
Enterprise (CDE) learn from each other
(Índia) Seminário de lançamento
de parceria com think
tanks da África do Sul e
da Índia
2011 Pratap Bhanu Presidente do Democratic emerging
Mehta Centre for Policy countries: what they can
Research (Índia) learn from each other
Seminário de lançamento
de parceria com think
tanks da África do Sul e
da Índia
2011 Paul Singer secretário nacional Cultura das transgressões
de Economia no Brasil: cenários do
amanhã Lançamento do
432
Solidária livro com título
(Senaes/MTE) homônimo
2011 Moisés Naím senior associate of A América Latina em um
Carnegie mundo em transformação
Endowment for Seminário
International Peace
2011 Manuela Bolivar diretora da A América Latina em um
Rivas Fundação Futuro mundo em transformação
Presente Seminário
2011 Sara Hanna fundadora do A América Latina em um
Georges movimento Um mundo em transformação
Mundo sem Seminário
Mordaças
2011 Leonam dos Agência Energia nuclear no Brasil:
Santos Guimarães Internacional de vale a pena ter mais?
Energia Atômica Seminário
(AIEA)
2011 Alberto Pfeifer Conselho Mudanças geopolíticas e
Empresarial da geoeconômicas e o papel
América Latina do Brasil na América do
(CEAL) Sul Seminário
2011 Bernardo Sorj Centro Edelstein de Mudanças geopolíticas e
Pesquisas Sociais geoeconômicas e o papel
do Brasil na América do
Sul Seminário
2011 Cesário Ramalho presidente da Mudanças geopolíticas e
Sociedade Rural geoeconômicas e o papel
Brasileira (SRB) do Brasil na América do
Sul Seminário
2011 Edgardo Riveros presidente do Mudanças geopolíticas e
Centro Democracia geoeconômicas e o papel
y Comunidad do Brasil na América do
Sul Seminário
2011 Humberto editor de Mudanças geopolíticas e
Saccomandi Internacional do geoeconômicas e o papel
jornal Valor do Brasil na América do
Econômico Sul Seminário
2011 Joel Edelstein presidente do Mudanças geopolíticas e
Centro Edelstein de geoeconômicas e o papel
Pesquisas Sociais do Brasil na América do
Sul Seminário
2011 Ingo Ploger presidente do Mudanças geopolíticas e
CEAL geoeconômicas e o papel
do Brasil na América do
Sul Seminário
433
2011 José Botafogo presidente do Mudanças geopolíticas e
Gonçalves Centro Brasileiro de geoeconômicas e o papel
Relações do Brasil na América do
Internacionais Sul Seminário
(CEBRI)
2011 Mariana Luz coordenadora Mudanças geopolíticas e
institucional do geoeconômicas e o papel
CEBRI do Brasil na América do
Sul Seminário
2011 Moisés Costa relações Mudanças geopolíticas e
governamentais do geoeconômicas e o papel
MAN do Brasil na América do
Sul Seminário
2011 Patricia Villela conselheira do Mudanças geopolíticas e
Marino Instituto Ilhabela geoeconômicas e o papel
Sustentável (IIS) do Brasil na América do
Sul Seminário
2011 Pedro da Motta diretor do Centro de Mudanças geopolíticas e
Veiga Estudos de geoeconômicas e o papel
Integração e do Brasil na América do
Desenvolvimento Sul Seminário
(CINDES)
2011 Sandra Polonia diretora do Mudanças geopolíticas e
Rios CINDES geoeconômicas e o papel
do Brasil na América do
Sul Seminário
2011 Vinícius Camargo coordenador do Mudanças geopolíticas e
CEAL geoeconômicas e o papel
do Brasil na América do
Sul Seminário
2011 Lourival repórter especial do Mudanças geopolíticas e
Sant’Anna jornal O Estado de geoeconômicas e o papel
S. Paulo do Brasil na América do
Sul Seminário
2011 Mauro Aguiar diretor-presidente Mudanças geopolíticas e
do Colégio geoeconômicas e o papel
Bandeirantes do Brasil na América do
Sul Seminário
2011 Edmar Bacha diretor do Instituto Transição incompleta e
de Estudos de dilemas da (macro)
Política Econômica economia brasileira
Casa das Garças Seminário
2011 André Nassar diretor-geral do Código florestal: avanço
Instituto de Estudos ou ameaça? Seminário
do Comércio e
434
Negociações
Internacionais
(Icone)
2011 Fernando de biólogo e diretor do Código florestal: avanço
Castro Reinach Fundo Pitanga ou ameaça? Seminário
2011 Marina SIlva Pesquisadora e Código florestal: avanço
professora ou ameaça? Seminário
vinculada à
Fundação Dom
Cabral
2012 Marcus Fuchs representante Como Ampliar a
regional da Transparência e o
Fundação AVINA Controle na Gestão de
Grandes Cidades
2012 Marilene Ramos presidente do Inea – Desafi os da Gestão
Instituto Estadual Ambiental nas Metrópoles
do Ambiente, Rio Brasileiras
de Janeiro
2012 Claudio de Senna diretor da ANTP – Mobilidade Urbana: Esse
Frederico Associação Problema tem Solução?
Nacional de
Trânsito e
Transporte Público
2012 Luís Antônio diretor-presidente Mobilidade Urbana: Esse
Lindau da EMBARQ Brasil Problema tem Solução?
2012 Maria Helena diretora da Educação: Como Garantir
Guimarães de Fundação Seade a Efi ciência do Ensino
Castro em Regiões
Metropolitanas
2012 Gurcharan Das colunista do The India Grows at Night
New York Times, when Government Sleeps
Wall Street Journal
e Financial Times
2012 Ann Bernstein diretora executiva Brazil, India and South
do CDE – Centre Africa: Democracy,
for Development Development, and
and Enterprise Emerging Middle Classes
2012 Bolívar Instituto Millenium Brazil, India and South
Lamounier e Augurium Africa: Democracy,
Consultoria Development, and
Emerging Middle Classes
2012 Pratap Bhanu presidente do Brazil, India and South
Mehta CPRIndia – Centre Africa: Democracy,
for Policy Research Development, and
Emerging Middle Classes
435
2012 Frederico consultor do IDELT Integração Metropolitana:
Bussinger – Instituto de Novos Desafi os em
Desenvolvimento, Saneamento e Gestão de
Logística, Recursos Hídricos
Transporte e Meio
Ambiente
2012 André Liohn trabalha para as Retratos da Primavera
revistas Der Árabe
Spiegel, Newsweek
e Time
2012 Lourival repórter especial do Retratos da Primavera
Sant’Anna jornal O Estado de Árabe
S. Paulo e analista
internacional da
rádio
Estadão/ESPN
2012 José Botafogo ex-embaixador A liderança do Brasil na
Gonçalves extraordinário para América do Sul – Visões
assuntos do de Empresários,
Mercosul e vice- Diplomatas e Políticos
presidente Nato do
CEBRI – Centro
Brasileiro de
Relações
Internacionais
2013 Clodoaldo embaixador e China: the challenges of
Hugueney presidente doC the new leadership
Conselho
Empresarial Brasil-
China (CEBC)
2013 Fernando reinach sócio gestor do empreendedorismo e
Fundo Pitanga sistemas de inovação:
como superar os desafios
brasileiros
2013 Caio luiz de EnrEr o legado (?) dos grandes
Carvalho eventos esportivos
2013 Magic Paula diretora executiva o legado (?) dos grandes
do instituto Passe eventos esportivos
de Mágica
2013 Silvio Meira cientista-chefe do a cultura empreendedora
C.E.S.A.r no Brasil: riscos e
oportunidades
2013 lourival Sant’anna repórter especial do turkey: domestic and
jornal O Estado de foreign policy in a
S. Paulo convulsed Middle east

436
2013 Caio Koch-Weser presidente do Climate Change:
European Climate Sustainable development
Fundation and responsible
investment
2013 lidia Goldenstein membro do São Paulo, entre o
Conselho da passado e o futuro:
Desenvolve SP, iniciativas presentes para
diretora da a reinvenção da metrópole
Fundação Bienal,
atua na área de
Economia Criativa
2013 Moisés naim colunista A Crise do Poder: por que
internacional dos hoje se tornou mais difícil
jornais El Pais exercê-lo?
(Espanha) e La
Reppubblica (itália)
e associado sênior
do Programa
internacional de
Economia da
Carnegie
Endowment for
international Peace
2013 rubens ricupero ex-secretário-geral taming the american
da UnCTAD Power: US Foreign Policy
in a Multipolar World
2013 Federico Burone international Participação do Setor
Development Privado na oferta de Bens
research Centre Públicos
(iDrC)
2013 Haroldo torres hoje diretor-adjunto Participação do Setor
do SEADE Privado na oferta de Bens
Públicos
2013 vera Monteiro sócia da Sundfeld Participação do Setor
Advogados – Privado na oferta de Bens
Consultores em Públicos
Direito Público e
regulação
2013 ricardo Markwald real instituto Elcano os novos acordos
regionais de Comércio e
Investimentos: desafios
para Brasil e europa
2013 Sandra rios real instituto Elcano os novos acordos
regionais de Comércio e

437
Investimentos: desafios
para Brasil e europa
2013 lia valls Pereira real instituto Elcano os novos acordos
regionais de Comércio e
Investimentos: desafios
para Brasil e europa
2013 rafael estrella real instituto Elcano os novos acordos
regionais de Comércio e
Investimentos: desafios
para Brasil e europa
2013 Carlos Malamud real instituto Elcano os novos acordos
regionais de Comércio e
Investimentos: desafios
para Brasil e europa
2013 Milton Braga Curador do Urbem São Paulo, entre o
passado e o futuro:
iniciativas presentes para
a reinvenção da metrópole

2014 Ashraf El-Sherif pesquisador do EGITO: A


programa DEMOCRACIA AINDA
Democracy and TEM UMA CHANCE?
Rule of Law do
Carnegie
Endowment for
International Peace
2014 Victor diretor do Centro de O QUE É E O QUE
Krasilshchikov Estudos sobre o QUER A RÚSSIA DE
Desenvolvimento, PUTIN
do Instituto de
Economia Mundial
e Relações
Internacionais de
Moscou
2014 Ian Bremmer Presidente ASSESSING GLOBAL
Fundador do RISKS IN TIMES OF
Conselho Agenda ECONOMIC AND
Global do Fórum GEOPOLITICAL
Econômico UNCERTAINTY
Mundial [Davos]
2014 Douglas Paal vice-presidente de EUA E CHINA:
estudos do Fundo CHANCES DE
Carnegie para a Paz CONFLITO E
Internacional COOPERAÇÃO NA

438
RELAÇÃO ENTRE AS
DUAS POTÊNCIAS
2014 André Medici Banco Mundial OS DESAFIOS DE
FINANCIAMENTO À
SAÚDE PÚBLICA NO
BRASIL
2014 Paulo Modes Instituto Brasileiro OS DESAFIOS À
de Direito Público GESTÃO DA SAÚDE
NO BRASIL
2014 Lilia Cristina colaboradora do El PARA ONDE VAI A
Marcano País da Espanha e VENEZUELA?
coautora de Hugo
Chávez sem
uniforme , primeira
biografi a
documentada do
presidente
venezuelano
2014 Gro Brundtland enviada especial ENCONTRO COM GRO
para as Alterações BRUNDTLAND E O
Climáticas da ONU EX-PRESIDENTE
FERNANDO
HENRIQUE CARDOSO
2014 Antonio Jiménez El País O BRASIL PELO
Barca OLHAR DE
CORRESPONDENTES
ESTRANGEIROS
2014 Brian Winter Reuters O BRASIL PELO
OLHAR DE
CORRESPONDENTES
ESTRANGEIROS
2014 Simon Romero The New York O BRASIL PELO
Times OLHAR DE
CORRESPONDENTES
ESTRANGEIROS
2014 Verônica ABC O BRASIL PELO
Goyzueta OLHAR DE
CORRESPONDENTES
ESTRANGEIROS
2014 Peter Hakin fundador e COMO OS ESTADOS
presidente emérito UNIDOS VEEM A
do Inter-American RELAÇÃO COM O
Dialogue, BRASIL NO PRÓXIMO
colaborador em MANDATO
periódicos PRESIDENCIAL?

439
especializados
( Foreign Policy e
Foreign Affairs ) e
em jornais como
The New York
Times e Financial
Times
2014 Pedro Parente membro do OPORTUNIDADES E
Conselho do AVANÇOS NA
Instituto Sou da Paz SEGURANÇA PÚBLICA
BRASILEIRA
2014 Lanxin Xiang é fundador do CHINA: DESAFIOS
Fórum Trilateral INTERNOS E
PROJEÇÃO GLOBAL
2014 Fernando jornalista trabalhou O BRASIL NO NOVO
Rodrigues na Folha de S.Paulo MANDATO
como repórter, PRESIDENCIAL (2015-
editor de Economia, 2018)
correspondente em
Nova York, Tóquio
e Washington, e
como colunista e
repórter na Sucursal
de Brasília
2014 André Liohn Revistas Der CRIME ORGANIZADO
Spiegel, Newsweek, E JOVENS DA
Time PERIFERIA
2015 Bernardo Sorj Edelstein os ATenTADos De PAris:
signiFiCADos e
ConseQUÊnCiAs Dos
ATos De Terror
2015 Gloria Alvarez Representando o venCenDo o PoPUlisMo
MCN - Movimento CoM As ArMAs DA
Cívico Nacional DeMoCrACiA: UM
enConTro CoM gloriA
AlvAreZ
2015 Moreira Franco presidente da reForMA Do sisTeMA
Fundação Ulysses eleiTorAl: o QUe É
Guimarães, do Melhor PArA A
PMDB DeMoCrACiA
BrAsileirA?
2015 Bernardo Sorj Edelstein inTerneT e
MoBiliZAÇÕes soCiAis:
TrAnsForMAÇÕes Do

440
esPAÇo PÚBliCo e DA
soCieDADe Civil
2015 Rudá Ricci membro do inTerneT e
Observatório MoBiliZAÇÕes soCiAis:
Internacional da TrAnsForMAÇÕes Do
Democracia esPAÇo PÚBliCo e DA
Participativa. soCieDADe Civil
2015 Alexandre Global Alliance of DesAFios e
Kalache International oPorTUniDADes Do
Longevity Centres envelheCiMenTo
PoPUlACionAl
2015 Ruy Salvari diretor da Fiesp. inovAÇÃo e sAÚDe no
Baumer BrAsil: iDenTiFiCAnDo
DesAFios e BUsCAnDo
solUÇÕes
2015 Aziz Mekouar membro da OCP TrADe, FooD, energY
Policy Center AnD ChAnges in The
inTernATionAl sYsTeM:
vieWs FroM norTh AnD
soUTh ATlAnTiC
nATions
2015 Cheikh Tidiane presidente do TrADe, FooD, energY
Gadio Institut PanAfricain AnD ChAnges in The
de Stratégies inTernATionAl sYsTeM:
vieWs FroM norTh AnD
soUTh ATlAnTiC
nATions
2015 Eckart Woertz Barcelona Centre TrADe, FooD, energY
for International AnD ChAnges in The
Affairs inTernATionAl sYsTeM:
vieWs FroM norTh AnD
soUTh ATlAnTiC
nATions
2015 John Yearwood editor internacional TrADe, FooD, energY
na Miami Herald AnD ChAnges in The
inTernATionAl sYsTeM:
vieWs FroM norTh AnD
soUTh ATlAnTiC
nATions
2015 Ezana Bocresian membro do OCP TrADe, FooD, energY
Policy Center AnD ChAnges in The
inTernATionAl sYsTeM:
vieWs FroM norTh AnD
soUTh ATlAnTiC
nATions

441
2015 José Goldemberg presidente da TrADe, FooD, energY
Fapesp AnD ChAnges in The
inTernATionAl sYsTeM:
vieWs FroM norTh AnD
soUTh ATlAnTiC
nATions
2015 Sandra Rios Centro de Estudos TrADe, FooD, energY
de Integração e AnD ChAnges in The
Desenvolvimento inTernATionAl sYsTeM:
vieWs FroM norTh AnD
soUTh ATlAnTiC
nATions
2015 Vera Songwe e membro da OCP TrADe, FooD, energY
Policy Center AnD ChAnges in The
inTernATionAl sYsTeM:
vieWs FroM norTh AnD
soUTh ATlAnTiC
nATions
2015 Pedro C. B. de pesquisador do A ConTrovÉrsiA eM
Paula Internet Lab. Torno DA UBer: CoMo
regUlAr inovAÇÕes
DisrUPTivAs
2015 Armínio Fraga Casa das Garças PolÍTiCA e eConoMiA
nA DinÂMiCA DA Crise
2015 Sérgio Abranches CBN PolÍTiCA e eConoMiA
nA DinÂMiCA DA Crise
2015 Maria Alice socióloga e PlAno nACionAl DA
Setubal presidente do eDUCAÇÃo: UMA
Conselho de AvAliAÇÃo De seUs
Administração do oBJeTivos,
Centro de Estudos e insTrUMenTos e
Pesquisas em PossiBiliDADes De
Educação, Cultura e FinAnCiAMenTo
Ação Comunitária
(CENPEC) e da
Fundação Tide
Setuba
2016 Sérgio Abranches CBN mudança climática: paris
Foi um divisor dE águas?
2016 Manuel Cuesta Membro do Comité atÉ ondE podEm cHEgar
Morúa Ciudadanos por la as mudanças Em cuBa?
Integración Encontro com o
Racialembro do dissidEntE cuBano
Comité Ciudadanos manuEl cuEsta morÚa

442
por la Integración
Racial
2016 Marcos de Barros presidente do Insper crEscimEnto, dEmocracia
Lisboa E distriBuição da rEnda:
Em Busca dE um novo
modElo
2016 Luis Norberto membro do HomEnagEm a JosÉ
Pascoal conselho roBErto magalHãEs
deliberativo do tEiXEira (1937-1996)
Insper
2016 Yavuz Baydar Cofundador da P24, a turQuia soB alta tEnsão
plataforma de
Jornalismo
Independente.
Publica artigos no
New York Times,
The Guardian,
Süddeutsche
Zeitung, El Pais e
no Al Jazeera.
Escreve para o
Özgür Düşünce e
para o site do
Haberdar
2016 Uzi Rabi diretor do Moshe a gEopolÍtica do oriEntE
Dayan Center para mÉdio E as cHancEs dE
Estudos do Oriente uma solução dE dois
Médio e áfrica e Estados
pesquisador sênior
do Centro de
Estudos Iranianos
2016 Jorge quiroga presidente da os dEsaFios para a
Fundemos desde conclusão do acordo
2002 mErcosul / união
EuropEia
2016 Bernardo Sorj diretor do Centro lançamEnto E-BooK
Edelstein de ativismo polÍtico Em
Pesquisas Sociais e tEmpos dE intErnEt
codiretor da
Plataforma
Democrática
2016 Marco Aurélio do Instituto de lançamEnto E-BooK
Nogueira Pesquisa de ativismo polÍtico Em
Relações tEmpos dE intErnEt

443
Internacionais
(IPPRI)
2016 Carlos Pagni colunista político argEntina: um Balanço
do jornal La Nación dos primEiros sEis mEsEs
e colunista do govErno macri
internacional do
jornal El País
2016 Jussara Carvalho Cetesb para as águas no tErritÓrio das
Mudanças grandes cidadEs: um
Climáticas dEsaFio Às polÍticas
pÚBlicas
2016 Stela Goldenstein águas Claras do Rio as águas no tErritÓrio das
Pinheiros grandEs cidadEs: um
dEsaFio Às polÍticas
pÚBlicas
2016 Claudia Costin vice-presidente da Educação no Brasil: o
Fundação Victor QuE podEmos aprEndEr
Civita com o mundo?
2016 Naercio Menezes consultor da Educação no Brasil: o
Filho Fundação Itaú QuE podEmos aprEndEr
Social. com o mundo?
2016 Rafael Fernández ditor da Foreign Brasil E mÉXico:
de Castro Medina Affairs em espanhol traJEtÓrias distintas E
e colunista da dEsaFios comuns
revista Proceso
2016 Pedro da Motta diretor do Cindes e Brasil E mÉXico:
Veiga sócio-diretor da traJEtÓrias distintas E
Ecostrat dEsaFios comuns
Consultores,
consultor regional
da Agência Suíça de
Cooperação para o
Desenvolvimento e
consultor
permanente da
Confederação
Nacional da
Indústria,
coordenador no
Brasil e membro do
Latin American
Trade Network
(LATN)

444
2016 Rubens Barbosa presidente de HomEnagEm aos 100
conselho de anos dE nascimEnto dE
comércio exterior andrÉ Franco montoro
da Fiesp
2016 Bernardo Sorj Edelstein dEmocracias turBulEntas:
o QuE acontEcE na
Europa, na amÉrica latina
E nos Eua?
2016 Christian Leffler European External dEmocracias turBulEntas:
Action Service o QuE acontEcE na
Europa, na amÉrica latina
E nos Eua?
2016 Jorge G. Co-presidente do dEmocracias turBulEntas:
Castañeda Conselho o QuE acontEcE na
Estratégico Franco- Europa, na amÉrica latina
Mexicano e E nos Eua?
conselheiro da
Human Rights
Watch
2016 José Botafogo embaixador e vice- dEmocracias turBulEntas:
Gonçalves presidente emérito o QuE acontEcE na
do Cebri Europa, na amÉrica latina
E nos Eua?
2016 Kori Schake Instituição Hoover dEmocracias turBulEntas:
participa dos o QuE acontEcE na
conselhos do Orbis Europa, na amÉrica latina
Journal e do Centro E nos Eua?
para a Reforma
Europeia
2016 Mathew J. diretor do Atlantic dEmocracias turBulEntas:
Burrows Council’s Strategic o QuE acontEcE na
Foresight Initiative Europa, na amÉrica latina
no Brent Scowcroft E nos Eua?
Center
2016 Lanxin Xiang CSIS a cHina soB Xi Jinping: o
QuE QuEr E o QuE podE
o lÍdEr cHinês?
2016 Andreas Dombret Basel Comittee on os dEsaFios dos Bancos
Banking EuropEus num amBiEntE
Supervision dE taXa dE Juros
nEgativos
2016 James Stewart membro da cEnário gloBal E
infraestrutura do invEstimEnto Em
Conselho da inFraEstrutura no Brasil
Agenda Global do

445
Fórum Econômico
Mundial e
presidente do
conselho consultivo
para a united
Nations Economic
Commission for
Europe (UNECE
PPP
2016 Ana Inoue assessora de a Educação tÉcnica E a
Educação do Itaú rEForma do Ensino
BBA mÉdio
2016 Rafael Lucchesi diretor-geral do a Educação tÉcnica E a
Senai rEForma do Ensino
mÉdio
2016 Ricardo Henriques superintendente a Educação tÉcnica E a
executivo do rEForma do Ensino
Instituto unibanco mÉdio
2016 Simon pesquisador do a Educação tÉcnica E a
Schwartzmann Instituto de Estudos rEForma do Ensino
do Trabalho e mÉdio
Sociedade.
2017 Helio Zylberstajn Fundação instituto A REFORMA
de Pesquisas TRABALHISTA: JOGO
econômicas (FiPe) DE SOMA ZERO OU DE
SOMA POSITIVA?
2017 Ricardo Patah presidente da união A REFORMA
geral dos TRABALHISTA: JOGO
trabalhadores (ugt) DE SOMA ZERO OU DE
e do sindicato dos SOMA POSITIVA?
comerciários de são
Paulo. graduado em
direito pela
universidade são
Judas tadeu (usJt) e
em administração
pela Puc-sP.
2017 Bernardo Sorj Edelstein DIREITO À
PRIVACIDADE E
LIBERDADE DE
EXPRESSÃO NO
MUNDO DIGITAL
2017 Dennys Antonialli diretor do DIREITO À
internetlab PRIVACIDADE E
LIBERDADE DE

446
EXPRESSÃO NO
MUNDO DIGITAL
2017 Francisco Cruz diretor do DIREITO À
internetlab PRIVACIDADE E
LIBERDADE DE
EXPRESSÃO NO
MUNDO DIGITAL
2017 Francisco Inácio Fundação oswaldo DESCRIMINALIZAÇÃO
Bastos cruz DO USO DE DROGAS:
UM DEBATE
INADIÁVEL
2017 Antonio Carlos instituto brasileiro POLÍTICA
Migliari de Petróleo, gás e INDUSTRIAL PARA
Guimarães biocombustíveis PETRÓLEO E GÁS:
(ibP) QUAL O RUMO A
SEGUIR?
2017 Eloi Fernández y organização POLÍTICA
Fernández nacional da INDUSTRIAL PARA
indústria do PETRÓLEO E GÁS:
Petróleo QUAL O RUMO A
SEGUIR?
2017 Felix Peña Fundação icbc BRASIL E
ARGENTINA: DEVEM
OS DOIS PAÍSES
ATUAR JUNTOS NUM
MUNDO EM
FRAGMENTAÇÃO?
2017 Larry Diamond coeditor e fundador HÁ UM DECLÍNIO
do mundialmente GLOBAL DAS
respeitado Journal DEMOCRACIAS
of democracy. LIBERAIS?
2017 Alexandre copresidente da POLÍTICAS PÚBLICAS
Kalache international PARA O
longevity centre ENVELHECIMENTO
global alliance e SAUDÁVEL: O QUE O
presidente do centro BRASIL PODE
internacional de APRENDER COM A
longevidade do HOLANDA?
brasil.
2017 Bas van den diretor da POLÍTICAS PÚBLICAS
Dungen associação nacional PARA O
de cuidados ENVELHECIMENTO
domiciliários SAUDÁVEL: O QUE O
BRASIL PODE

447
APRENDER COM A
HOLANDA?
2017 Enrique V. Iglesias copresidente do BRASIL:
ciPc PRODUTIVIDADE E
COMPETITIVIDADE
2017 Enrique García copresidente do BRASIL:
ciPc PRODUTIVIDADE E
COMPETITIVIDADE
2017 Pedro presidente do iedi BRASIL:
Wongtschowski PRODUTIVIDADE E
COMPETITIVIDADE
2017 Roberto Teixeira conselheiro emérito BRASIL:
da Costa do cebri PRODUTIVIDADE E
COMPETITIVIDADE
2017 Claudio Sales presidente do REESTRUTURAÇÃO
instituto acende DO SETOR ELÉTRICO
brasil
2017 Jean-François conselheiro científi CIDADES
Soupizet co do Futuribles “INTELIGENTES”:
International PROJETOS, AÇÕES E
DESAFIOS PARA A
REINVENÇÃO DA
DEMOCRACIA, DO
GOVERNO E DA
EXPERIÊNCIA
URBANA
2017 Martín Tanaka pesquisador do PERU: UM MODELO
instituto de estudos PARA A AMÉRICA
Peruanos, colunista LATINA?
semanal do jornal
La República
2017 Laura Diniz sócia-fundadora do AS LIÇÕES DA LAVA
portal jurídico Jota. JATO E OS AVANÇOS E
É vice-presidente DESAFIOS NO
do instituto não COMBATE À
aceito corrupção CORRUPÇÃO
2017 Marcos Vinícius fundador e diretor FINANCIAMENTO DE
executivo da rede CAMPANHAS: QUE
de ação Política MODELO O BRASIL
pela DEVE ADOTAR?
sustentabilidade
(raPs)
2017 Robert Atkinson a Fundação de INOVAÇÕES
tecnologia da DISRUPTIVAS E O
informação e FUTURO DO
448
inovação EMPREGO: AMEAÇAS
(information E OPORTUNIDADES
technology and
innovation
Foundation - itiF)
2017 Fernando Mello diretor do urbeM A IMPORTÂNCIA DOS
Franco PARQUES PÚBLICOS
NAS GRANDES
CIDADES
2017 Philip Yang fundador do urbeM A IMPORTÂNCIA DOS
PARQUES PÚBLICOS
NAS GRANDES
CIDADES
2017 Rafael Birmann presidente do A IMPORTÂNCIA DOS
conselho da PARQUES PÚBLICOS
Fundação birmann NAS GRANDES
CIDADES
2017 Martin Wolf editor associado e A RECUPERAÇÃO DA
comentarista chefe ECONOMIA GLOBAL
de economia do
jornal britânico
Financial Times
2017 Ian Bremmer É presidente OS EFEITOS DO
fundador do QUADRO POLÍTICO
conselho agenda INTERNACIONAL
global do Fórum SOBRE A
econômico Mundial RECUPERAÇÃO DA
(davos) e autor de ECONOMIA GLOBAL
diversos livros
sobre geopolítica
global
2017 Alfredo Romero diretor executivo da A LUTA PELA
Foro Penal, ong DEMOCRACIA NA
venezuelana VENEZUELA E O QUE
O BRASIL PODE
FAZER
2017 David Smolansky ex-prefeito da A LUTA PELA
cidade de el hatillo DEMOCRACIA NA
e integrante e VENEZUELA E O QUE
cofundador do O BRASIL PODE
partido voluntad FAZER
Popular
2017 Manuela Bolivar deputada A LUTA PELA
venezuelana, DEMOCRACIA NA
também do partido VENEZUELA E O QUE

449
voluntad Popular e O BRASIL PODE
fundadora da FAZER
organização Futuro
Presente
2017 Tamara Taraciuk pesquisadora sênior A LUTA PELA
Broner da divisão das DEMOCRACIA NA
américas da human VENEZUELA E O QUE
rights Watch O BRASIL PODE
FAZER
2017 Dominique diretor-geral da MACRON FRENTE À
Reynié Fundação para a AMEAÇA DO
inovação Política NACIONALISMO
(Fondapol) XENÓFOBO E À
ESPERANÇA DE
RENOVAÇÃO DO
PROJETO EUROPEU
2017 Clemente Ganz diretor técnico do REFORMA
Lúcio departamento TRABALHISTA: O QUE
intersindical de MUDA, O QUE DEVE
estatística e estudos MUDAR
socioeconômicos
(dieese) desde 2004
2017 Eduardo Pastore advogado REFORMA
trabalhista, TRABALHISTA: O QUE
consultor da MUDA, O QUE DEVE
confederação MUDAR
nacional da
indústria (cni/Pda) e
membro do
conselho de
relações do trabalho
da Fecomércio e
Fiesp.
2017 Adilson Araújo presidente nacional REFORMA
da central dos TRABALHISTA: O QUE
trabalhadores e MUDA, O QUE DEVE
trabalhadoras do MUDAR
brasil (ctb) nos
mandatos 2013-
2017 e 2017-2021
2017 Manuel participa de INOVAÇÕES
Trajtenberg conselhos DISRUPTIVAS E O
consultivos da FUTURO DO
organização para a EMPREGO: AMEAÇAS
cooperação e E OPORTUNIDADES

450
desenvolvimento
econômico (ocde)
2018 Eduardo Pastore advogado RELAÇÕES
trabalhista, TRABALHISTAS PÓS-
consultor da REFORMA: COMO
Confederação FICAM AS
Nacional da NEGOCIAÇÕES ENTRE
Indústria EMPREGADOS E
(CNI/PDA) e EMPREGADORES?
membro do
Conselho de
Relações do
Trabalho da
Fecomércio e da
Fiesp
2018 Fausto Augusto coordenador de RELAÇÕES
Junior educação e TRABALHISTAS PÓS-
comunicação do REFORMA: COMO
Departamento FICAM AS
Intersindical de NEGOCIAÇÕES ENTRE
Estatística e EMPREGADOS E
Estudos EMPREGADORES?
Socioeconômicos
(DIEESE) e
professor da Escola
DIEESE de
Ciências do
Trabalho
2018 Juvandia Moreira vice-presidente da RELAÇÕES
Leite Confederação TRABALHISTAS PÓS-
Nacional dos REFORMA: COMO
Trabalhadores do FICAM AS
Ramo Financeiro NEGOCIAÇÕES ENTRE
(Contraf-CUT) EMPREGADOS E
desde 2016. EMPREGADORES?
2018 Embaixador CTBTO 50 ANOS DO TRATADO
Rafael Grossi DE NÃO
PROLIFERAÇÃO DE
ARMAS NUCLEARES:
IMPASSES E
PERSPECTIVAS
2018 Embaixador conselheiro emérito 50 ANOS DO TRATADO
Marcos Azambuja do Centro DE NÃO
Brasileiro de PROLIFERAÇÃO DE
Relações ARMAS NUCLEARES:

451
Internacionais IMPASSES E
(CEBRI) PERSPECTIVAS
2018 Dr. Marco Marzo secretário-geral da 50 ANOS DO TRATADO
Agência Brasileiro- DE NÃO
Argentina de PROLIFERAÇÃO DE
Contabilidade e ARMAS NUCLEARES:
Controle de IMPASSES E
Materiais Nucleares PERSPECTIVAS
(ABACC).
2018 Embaixador representante do 50 ANOS DO TRATADO
Marcel Fortuna Brasil junto à AIEA DE NÃO
Biato e CTBTO PROLIFERAÇÃO DE
ARMAS NUCLEARES:
IMPASSES E
PERSPECTIVAS
2018 Dra. Renata Superintendente de 50 ANOS DO TRATADO
Dalaqua Projetos do CEBRI DE NÃO
PROLIFERAÇÃO DE
ARMAS NUCLEARES:
IMPASSES E
PERSPECTIVAS
2018 Embaixador presidente da 50 ANOS DO TRATADO
Sérgio Eduardo Fundação DE NÃO
Moreira Lima Alexandre de PROLIFERAÇÃO DE
Gusmão ARMAS NUCLEARES:
IMPASSES E
PERSPECTIVAS
2018 Roberto SRB SEGURANÇA
Rodrigues ALIMENTAR GLOBAL:
UMA POLÍTICA DE
ESTADO
2018 Arthur R. Kroeber membro do Comitê APRENDENDO A
Nacional de VIVER COM A
Relações EUA- RIVALIDADE
China ESTRATÉGICA ENTRE
OS ESTADOS UNIDOS
E A CHINA
2018 Kenarik Boujikian co-fundadora e O JUDICIÁRIO: ENTRE
Felippe presidente da OS PERIGOS DA
Associação Juízes IMPUNIDADE E OS
para a Democracia RISCOS DO
PUNITIVISMO
2018 Bernardo Sorj Edelstein LANÇAMENTO -
SOBREVIVENDO NAS

452
REDES: GUIA DO
CIDADÃO
2018 Pedro Dória CBN LANÇAMENTO -
SOBREVIVENDO NAS
REDES: GUIA DO
CIDADÃO
2018 Edmar Bacha é diretor do DESENVOLVIMENTO
Instituto de Estudos
ECONÔMICO - POR
de Política QUE FICAMOS PARA
Econômica/Casa TRÁS?
das Garças (IEPE/
CdG
2018 Bernard Appy diretor do Centro de A DIFÍCIL REFORMA
Cidadania Fiscal TRIBUTÁRIA:
DESAFIOS POLÍTICOS,
CONCEITUAIS E
PRÁTICOS
2018 Everardo Maciel presidente do A DIFÍCIL REFORMA
Conselho TRIBUTÁRIA:
Consultivo do DESAFIOS POLÍTICOS,
ETCO (Instituto CONCEITUAIS E
Brasileiro de Ética PRÁTICOS
Concorrencial)
2018 Marcos Jank fundador do PESQUISA E
Instituto de Estudos INOVAÇÃO NO
do Comércio e das AGRONEGÓCIO: OS
Negociações DESAFIOS DO
Internacionais FUTURO BATEM À
(ICONE) PORTA
2018 Pedro de Camargo pecuarista e PESQUISA E
Neto agricultor, foi INOVAÇÃO NO
presidente da AGRONEGÓCIO: OS
Sociedade Rural DESAFIOS DO
Brasileira (SRB FUTURO BATEM À
PORTA
2018 Dmitri Trenin dirige o Centro O OCIDENTE DEVE
Carnegie de TEMER A RÚSSIA?
Moscou
2018 João Augusto médico, é desde UM DIÁLOGO SOBRE
Castel-Branco 2005 diretor-geral AS POLÍTICAS DE
Goulão do Serviço de COMBATE ÀS
Intervenção nos DROGAS
Comportamentos
Aditivos e nas
Dependências

453
(SICAD) e
coordenador
Nacional para os
Problemas da
Droga, das
Toxicodependências
e do Uso Nocivo do
Álcool, em
Portugal.
2018 Mauro Teixeira Instituto Rio REVITALIZAÇÃO DE
Patrimônio da CENTROS
Humanidade HISTÓRICOS
METROPOLITANOS
2018 José Roberto membro do 4º REVOLUÇÃO
Mendonça de Conselho INDUSTRIAL: O
Barros Consultivo da BRASIL VAI PERDER
FEBRABAN e ESSE TREM?
fundador da
empresa de
consultoria
empresarial MB
Associados (1978)
2018 Ricardo Paes de Instituto Ayrton COMO VOLTAR A
Barros Senna no Insper; REDUZIR A POBREZA
especialista em EM ANOS DE APERTO
questões FISCAL?
relacionadas à
pobreza,
desigualdade e
política social.
2018 Cecilia Machado Institute for the REDUÇÃO DA
Study of Labor POBREZA E DA
DESIGUALDADE:
QUAIS AS POLÍTICAS
SOCIAIS MAIS
EFICAZES?
2018 Naercio Menezes iNSTITUTO REDUÇÃO DA
Filho MIllenium POBREZA E DA
DESIGUALDADE:
QUAIS AS POLÍTICAS
SOCIAIS MAIS
EFICAZES?
2018 Sergio Firpo economista, é REDUÇÃO DA
professor titular da POBREZA E DA
Cátedra Instituto DESIGUALDADE:

454
Unibanco no Insper QUAIS AS POLÍTICAS
e pesquisa SOCIAIS MAIS
economia do EFICAZES?
trabalho e do
desenvolvimento.
2018 Bernardo Sorj Edelstein AMÉRICA LATINA:
CENÁRIO DE UMA
DISPUTA
ESTRATÉGICA ENTRE
ESTADOS UNIDOS E
CHINA?
2018 Jakeline Pereira pesquisadora do OS DESAFIOS DA
Instituto do Homem INDÚSTRIA MINERAL
e Meio Ambiente da BRASILEIRA
Amazônia - Imazon
2018 Roberto Waack diretor-presidente OS DESAFIOS DA
Fundação Renova INDÚSTRIA MINERAL
BRASILEIRA
2018 Walter Alvarenga presidente do OS DESAFIOS DA
IBRAM - Instituto INDÚSTRIA MINERAL
Brasileiro de BRASILEIRA
Mineração
2018 Alan J. Berkeley American Law ACORDOS DE
Institute Continuing LENIÊNCIA: TEORIA E
Legal Education PRÁTICA NO BRASIL E
(ALI CLE) NOS ESTADOS
UNIDOS
2018 Caio Farah professor Senior ACORDOS DE
Rodriguez Fellow no Insper LENIÊNCIA: TEORIA E
PRÁTICA NO BRASIL E
NOS ESTADOS
UNIDOS
2018 Tamara Taraciuk Human Rights A CRISE
Broner Watch’s Americas HUMANITÁRIA NA
Division VENEZUELA E O
PAPEL DO BRASIL
2018 Maria Beatriz chefe do escritório A CRISE
Bonna Nogueira do ACNUR HUMANITÁRIA NA
(Agência da ONU VENEZUELA E O
para Refugiados) PAPEL DO BRASIL
em São Paulo
2018 Lourival repórter na Exame, INTERNATIONAL
Sant’Anna colunista no POLITICS AT A
Estadão e CROSSROADS:
comentarista de JAPAN’S DIPLOMATIC

455
assuntos AND SECURITY
internacionais da STRATEGY IN THE
Rádio CBN. INDO-PACIFIC REGION

2018 Francisco Gaetani coordenador-geral EFICIÊNCIA DA


do Programa das GESTÃO PÚBLICA E
Nações Unidas para INSTITUIÇÕES DE
o Desenvolvimento CONTROLE: COMO
(PNUD) no Brasil MAXIMIZAR OS DOIS
TERMOS DA
EQUAÇÃO?
2018 Luis Rubio presidente do BRASIL E MÉXICO
Conselho Mexicano NOS GOVERNOS DE
de Assuntos JAIR BOLSONARO E
Internacionais ANDRÉS MANUEL
(COMEXI) e do LÓPEZ OBRADOR:
thinktank México RELAÇÕES
Evalúa-CIDAC BILATERAIS E
DESAFIOS
PRESIDENCIAIS
2018 Embaixador secretário de BRASIL E MÉXICO
Salvador Arriola Cooperação Ibero- NOS GOVERNOS DE
Americana na JAIR BOLSONARO E
SEGIB (Secretária- ANDRÉS MANUEL
Geral Ibero- LÓPEZ OBRADOR:
Americana). RELAÇÕES
BILATERAIS E
DESAFIOS
PRESIDENCIAIS
2018 Bernardo Sorj Centro Edelstein de DEMOCRACIAS
Pesquisas Sociais TURBULENTAS E
SEUS IMPACTOS NO
SISTEMA
INTERNACIONAL
2018 Elena Lazarou analista política DEMOCRACIAS
sênior, European TURBULENTAS E
Parliamentary SEUS IMPACTOS NO
Research Service SISTEMA
(EPRS) INTERNACIONAL
2018 Adriana Erthal coordenadora da DEMOCRACIAS
Abdenur Divisão de Paz e TURBULENTAS E
Segurança, Instituto SEUS IMPACTOS NO
Igarapé. SISTEMA
INTERNACIONAL

456
2018 Lilian Hofmeister fundou e preside a DISCRIMINAÇÃO
Austrian Women CONTRA A MULHER:
Judges Association DESAFIOS A SUPERAR
(AWJA) NO MUNDO E NO
BRASIL
2018 Sílvia Pimentel membra fundadora DISCRIMINAÇÃO
do Conselho CONTRA A MULHER:
Consultivo do DESAFIOS A SUPERAR
Comitê Latino- NO MUNDO E NO
Americano e do BRASIL
Caribe para a
Defesa dos Direitos
das Mulheres
(CLADEM).
2018 Maria Beatriz chefe do escritório A CRISE
Bonna Nogueira do ACNUR HUMANITÁRIA NA
(Agência da ONU VENEZUELA E O
para Refugiados) PAPEL DO BRASIL
em São Paulo.
2018 Ana Marisa Instituto Butantan INOVAÇÃO EM
Chudzinski SAÚDE: ONDE
Tavassi ESTAMOS E AONDE
PODEMOS CHEGAR?
2018 Bill Mcllhenny membro sênior DEMOCRACIAS
Wider Atlantic TURBULENTAS E
Fellow, The SEUS IMPACTOS NO
German Marshall SISTEMA
Fund of the United INTERNACIONAL
States, GMF.
2018 Ian Lesser vice-presidente, The DEMOCRACIAS
German Marshall TURBULENTAS E
Fund of the United SEUS IMPACTOS NO
States, GMF SISTEMA
INTERNACIONAL
2018 Bill Mcllhenny membro sênior DEMOCRACIAS
Wider Atlantic TURBULENTAS E
Fellow, The SEUS IMPACTOS NO
German Marshall SISTEMA
Fund of the United INTERNACIONAL
States, GMF.
2019 Toshihiro professor de Opções do Japão em um
Nakayama política mundo turbulento
norteamericana e
política externa na
Keio University

457
(Tóquio), é
pesquisador
visitante do
Woodrow Wilson
International Center
for Scholars, em
Washington (EUA).
2019 Eduardo Salcedo diretor da Scientific Os desafios À paz na
Vortex Inc. e do Colômbia
Global Observatory
of Transnational
Criminal Networks.
2019 Beatriz Cardoso presidente do Formação de professores:
Laboratório da o que o Brasil tem a
Educação, aprender com a
Finlândia?
2019 Enrique V. Iglesias Cepal O Lugar da América
Latina em um mundo em
transformação
2019 Carlos Malamud Real Instituto América Latina e União
Elcano (Madri) Europeia: história
entrelaçada, mas e o
futuro?
2019 Rubens Barbosa Representante América Latina e União
Permanente do Europeia: história
Brasil junto à entrelaçada, mas e o
Associação Latino futuro?
Americana de
Integração
(ALADI)
2019 Eric Glen Weyl pesquisador Mercados radicais: uma
principal na resposta criativa à crise do
Microsoft Research capitalismo liberal e da
New York City, é democracia representativa
fundador e
presidente da
RadicalxChange
Foundation
2019 Fausto Augusto é coordenador de Educação: os desafios
Junior educação e para implementar a
comunicação do reforma do Ensino Médio
Departamento e renovar o Fundeb
Intersindical de
Estatística e
Estudos

458
Socioeconômicos
(DIEESE).
2019 Emma Harrington, gerente sênior do Despoluição do Pinheiros:
programa de o que pode significar para
voluntariado, na a cidade?
Thames21
2019 Roberval Tavares Presidente Nacional Despoluição do Pinheiros:
de Souza da Abes o que pode significar para
a cidade?
2019 Ronaldo Camargo presidente do Despoluição do Pinheiros:
EMAE e o que pode significar para
coordenador do a cidade?
Projeto Novo
Pinheiros.
2019 Stela Goldenstein consultora do Despoluição do Pinheiros:
Banco Mundial o que pode significar para
para programas a cidade?
voltados à
universalização do
saneamento no
Brasil.
2019 Catherine Wihtol advogada, é doutora Migrações internacionais
de Wenden em Ciências em um mundo
Políticas pela globalizado
Sciences Po (Paris).
Foi consultora de
várias organizações,
incluindo OCDE,
Comissão Europeia,
ACNUR e
Conselho da
Europa. Pesquisa
fluxos migratórios,
políticas de
migração e
cidadania.
2019 John Collins diretor-Executivo Mercados ilícitos e
da International desenvolvimento no
Drug Policy Unit e Brasil: as drogas não são
editor do Journal of uma questão isolada
Illicit Economies
and Development
(LSE)

459
2019 Leonardo Silva coordenador de Mercados ilícitos e
Projetos no Instituto desenvolvimento no
Sou da Paz. Brasil: as drogas não são
uma questão isolada
2019 Luiz Guilherme co-editor da edição Mercados ilícitos e
Paiva brasileira do desenvolvimento no
Journal of Brasil: as drogas não são
democracy uma questão isolada
2019 Maurício Fiore pesquisador do Mercados ilícitos e
Centro Brasileiro de desenvolvimento no
Análise e Brasil: as drogas não são
Planejamento uma questão isolada
(Cebrap).
2019 Sabrina Martina fundadora do Mercados ilícitos e
Movimentos-RJ desenvolvimento no
Brasil: as drogas não são
uma questão isolada
2019 Andre Cezar economista sênior O futuro do sus: desafios
Medici do Banco Mundial, e mudanças necessárias
dedica-se há mais
de 30 anos a temas
relacionados à
saúde.
2019 Cesar Abicalaffe é presidente do O futuro do sus: desafios
IBRAVS (Instituto e mudanças necessárias
Brasileiro de Valor
em Saúde)
2019 Claudio é presidente do O futuro do sus: desafios
Lottenberg UnitedHealth e mudanças necessárias
Group Brasil e ex-
presidente do
Hospital Israelita
Albert Einstein
2019 Edson Correia economista sênior O futuro do sus: desafios
Araujo do Banco Mundial. e mudanças necessárias
2019 José Cechin engenheiro e O futuro do sus: desafios
economista, foi e mudanças necessárias
ministro
da Previdência e
Assistência Social
(Governo FHC) e é
superintendente
executivo do
Instituto de Estudos
de Saúde

460
Suplementar
(IESS).
2019 Leandro Fonseca economista, é O futuro do sus: desafios
da Silva diretor-presidente e mudanças necessárias
da Agência
Nacional de Saúde
Suplementar
(ANS).
2019 Sergio Bitar engenheiro civil, foi Transições democráticas:
senador e ministro ensinamentos dos líderes
de três diferentes políticos
governos
democráticos
chilenos e é vice-
presidente do
Conselho
Consultivo do
IDEA International.
2019 Daniel Zovatto advogado ítalo- Transições democráticas:
argentino, é diretor ensinamentos dos líderes
regional para a políticos
América Latina e o
Caribe do IDEA
International.
2019 Gary Banks economista, liderou Inovação em políticas
a Comissão de públicas: o exemplo da
Produtividade Austrália
australiana (1998-
2012). Preside o
Comitê de Política
Regulatória da
OCDE.
2019 Ronaldo Lemos advogado, é Desafios e oportunidades
professor da da inteligência artificial
Columbia SIPA e para o direito e a justiça
pesquisador do MIT
Media Lab (EUA),
fundou e dirige o
Instituto de
Tecnologia e
Sociedade (Rio)
2019 Bernardo Sorj diretor do Centro A América Latina frente
Edelstein de às transformações globais:
Políticas Sociais como navegar águas
(Rio de Janeiro). turbulentas?

461
2019 Daniel Zovatto diretor do IDEA A América Latina frente
International para às transformações globais:
América Latina e como navegar águas
Caribe. turbulentas?
2019 Ignacio Walker pesquisador sênior A América Latina frente
da CIEPLAN às transformações globais:
(Chile). como navegar águas
turbulentas?
2019 Manuel Marfán ex-ministro das A América Latina frente
Finanças do Chile, às transformações globais:
é diretor do como navegar águas
Programa turbulentas?
CIEPLAN-
UTALCA
2019 Elmer Salomão geólogo, é Direitos indígenas:
presidente da entrave ao
Associação desenvolvimento ou parte
Brasileira de da riqueza nacional?
Empresas de
Pesquisa Mineral
2019 Ismael Nobre pesquisador do Direitos indígenas:
INPE (Instituto entrave ao
Nacional de desenvolvimento ou parte
Pesquisas da riqueza nacional?
Espaciais)
2019 Marcio Santili sócio-fundador do Direitos indígenas:
ISA (Instituto entrave ao
Socioambiental). desenvolvimento ou parte
da riqueza nacional?
2019 Rodrigo Justus assessor técnico Direitos indígenas:
sênior da entrave ao
Confederação da desenvolvimento ou parte
Agricultura e da riqueza nacional?
Pecuária do Brasil
(CNA).
2019 David ex-diretorgeral da Desafios e oportunidades
Zylbersztajn Agência Nacional para as energias
do Petróleo renováveis no Brasil
2019 Elbia Gannoum presidente da Desafios e oportunidades
Associação para as energias
Brasileira de renováveis no Brasil
Energia Eólica.
2019 Flávio Antônio presidente da Desafios e oportunidades
Neiva Associação para as energias
Brasileira das renováveis no Brasil

462
Empresas
Geradoras de
Energia Elétrica
(ABRAGE).
2019 Giovani Vitória diretor da Empresa Desafios e oportunidades
Machado de Pesquisa para as energias
Energética (EPE). renováveis no Brasil
2019 Newton José presidente Desafios e oportunidades
Leme Duarte executivo da para as energias
Associação da renováveis no Brasil
Indústria de
Cogeração
de Energia
2019 Rodrigo Lopes presidente Desafios e oportunidades
Sauaia executivo da para as energias
Associação renováveis no Brasil
Brasileira de
Energia Solar
Fotovoltaica
(ABSOLAR).

463
Anexo II. Tabela com conexões com representantes dos poderes
políticos por ano (2004-2019).

Ano Nome Conexão Debate


2004 Juarez Brandão Emplasa São Paulo: desafios da
Lopes dinâmica metropolitana
2004 Luiz Augusto de Embaixador do O futuro da China:
Castro Neves Brasil na China aspectos econômicos e
políticos
2004 Antônio Barros de Assessor especial Ciência, tecnologia e
Castro do Ministério do inovação na agenda do
Planejamento desenvolvimento
2004 Diana Meirelles Secretaria de Experiência de
da Motta Habitação e desenvolvimento da
Urbanismo do Terceira Itália: o que
Distrito Federal temos a aprender
2004 Andrea Calabi Secretaria de Experiência de
Planejamento do desenvolvimento da
Governo do Terceira Itália: o que
Estado de Sâo temos a aprender
Paulo
2004 John Danilovich Embaixador dos Perspectivas das relações
EUA no Brasil entre Brasil e Estados
Unidos
2004 Marco Maciel Senador pelo As eleições de 1974 e a
DEM construção da democracia
no Brasil
2004 Alberto Goldman Deputado Federal As eleições de 1974 e a
pelo PSDB construção da democracia
no Brasil
2004 Antônio Barros de Assessor especial Ciência, tecnologia e
Castro do Ministério do inovação na agenda do
Planejamento desenvolvimento
2004 Juarez Brandão Emplasa A segregação das
Lopes metrópoles:
características, tendências
e políticas
2004 José Fernando Fapesp Pesquisas com células-
Perez tronco: aspectos
científicos, éticos e
sociais
2005 Ricardo Paes de diretor de Estudos DESIGUALDADE,
Barros Sociais do IPEA POBREZA E
DESENVOLVIMENTO
464
NA AMÉRICA LATINA:
BALANÇO E AGENDA
DE POLÍTICAS
2005 Gonzalo Ministério do DESIGUALDADE,
Hernández Licona Desenvolvimento POBREZA E
Social do México DESENVOLVIMENTO
NA AMÉRICA LATINA:
BALANÇO E AGENDA
DE POLÍTICAS
2005 Jeroen Klink secretário de DESIGUALDADE,
Desenvolvimento POBREZA E
e Ação Regional DESENVOLVIMENTO
de Santo André NA AMÉRICA LATINA:
BALANÇO E AGENDA
DE POLÍTICAS
2005 José Goldemberg secretário do Meio MUDANÇA
Ambiente do CLIMÁTICA E
Estado de São DESAFIOS DO
Paulo DESENVOLVIMENTO
2005 Paulo Roberto de ministro- RELAÇÕES BRASIL-
Almeida conselheiro da ESTADOS UNIDOS:
Embaixada em ASSIMETRIAS E
Washington CONVERGÊNCIAS

2005 Paulo Delgado Deputado Federal O SISTEMA POLÍTICO


pelo PT-MG BRASILEIRO:
EVOLUÇÃO E
TENDÊNCIAS ATUAIS
2006 Rubens Ricupero embaixador América Latina e Estados
Unidos em uma nova era
2006 Sergio Amaral embaixador América Latina e Estados
Unidos em uma nova era
2006 Alberto Goldman Deputado Federal Desafios das
pelo PSDB telecomunicações no
Brasil: cenários e
políticas de longo prazo
2006 Cibele Riva perita em High Level Commission
Rummel Planejamento on legal empowerment of
Urbano do the poor
Governo do
Estado de São
Paulo
2006 Paulo Teixeira Vereador da cidade High Level Commission
de São Paulo pelo on legal empowerment of
PT-SP the poor
465
2006 Luiz Carlos presidente da Energia e crescimento:
Correia de Câmara Setorial da cenários para a economia
Carvalho Cadeia Produtiva mundial e oportunidades
do Açúcar e do para o Brasil
Álcool, do
Ministério da
Agricultura,
Pecuária e
Abastecimento
2006 Antonio Carlos de deputado federal Energia e crescimento:
Mendes Thame pelo PSDB-SP, cenários para a economia
titular da mundial e oportunidades
Comissão de Meio para o Brasil
Ambiente e
Desenvolvimento
Sustentável
2006 Ronaldo Porto promotor de Regras do jogo e
Macedo Junior Justiça-SP investimento no Brasil:
onde estamos e para onde
vamos?
2006 Jérson Kelman Agência Nacional Regras do jogo e
de Energia Elétrica investimento no Brasil:
onde estamos e para onde
vamos?
2006 Maurício Lopes Embrapa Oportunidades para o
avanço da biotecnologia
no Brasil: impactos
econômicos e sociais
2006 Mario Marcel economista e Caminhos para a reforma
presidente da da Previdência Social no
comissão Brasil
encarregada da
atual reforma da
Previdência Social
no Chile.
2007 Jorge Bornhausen senador (DEM- Voto distrital: a reforma
SC) política que interessa ao
Brasil
2007 José Eduardo deputado federal Voto distrital: a reforma
Cardozo (PT-SP) política que interessa ao
Brasil
2007 Miro Teixeira deputado federal Voto distrital: a reforma
(PDT-RJ) política que interessa ao
Brasil

466
2007 Arnaldo Madeira deputado federal Voto distrital: a reforma
(PSDB-SP) política que interessa ao
Brasil
2007 Arnaldo Jardim deputado federal Voto distrital: a reforma
(PPS-SP). política que interessa ao
Brasil
2007 Fernando Gabeira deputado federal Voto distrital: a reforma
(PV-RJ) política que interessa ao
Brasil
2007 Raul Jungmann deputado federal Voto distrital: a reforma
(PPS-PE) política que interessa ao
Brasil
2007 Maria Helena secretária de Impasses e soluções para
Guimarães Castro Educação do uma política educacional
Distrito Federal para a América Latina
2007 Juarez Brandão Emplasa A reinvenção do futuro
Lopes das grandes metrópoles e
a nova agenda de
desenvolvimento
econômico e social da
América Latina
2007 Luiz Paulo deputado federal A reinvenção do futuro
Vellozo Lucas (PSDB-ES) das grandes metrópoles e
a nova agenda de
desenvolvimento
econômico e social da
América Latina
2007 Sérgio Ruy secretário de A reinvenção do futuro
Planejamento do das grandes metrópoles e
Governo do a nova agenda de
Estado do Rio de desenvolvimento
Janeiro econômico e social da
América Latina
2007 Luiz Eduardo secretário Coesão social em
Soares municipal de democracia na América
Valorização da Latina
Vida e Prevenção
da Violência de
Nova Iguaçu (Rio
de Janeiro);
2007 Sergio Amaral embaixador Brasil e México: o desafio
do crescimento acelerado
2007 Carlos Henrique Embratel Brasil e México: o desafio
Moreira do crescimento acelerado

467
2007 Salvador Arriola cônsul-geral do Brasil e México: o desafio
México em São do crescimento acelerado
Paulo
2007 Lídia Goldenstein economista, São Paulo: declínio ou
membro do reinvenção da metrópole?
Comitê para o
Desenvolvimento
do Município de
São Paulo
2008 Tereza.Cruvinel diretora-presidentesEmiNário “tV PúBliCA
da Empresa Brasil E DEmoCrACiA: Por
de Comunicação QuE E PArA QuE A tV
BrAsil?”
2008 Eugênio.Bucci Membro do “As NEGoCiAçÕEs
Conselho Curador soBrE o ClimA Em FAsE
da Fundação DECisiVA: o QuE Está
Padre Anchieta Em JoGo, o QuE
(TV Cultura de QuErEm os GrANDEs
São Paulo) JoGADorEs E Como
DEVE JoGAr o BrAsil”
2008 Paulo.Markun diretor-presidente “As NEGoCiAçÕEs
da Fundação Padre soBrE o ClimA Em FAsE
Anchieta (TV DECisiVA: o QuE Está
Cultura de São Em JoGo, o QuE
Paulo) QuErEm os GrANDEs
JoGADorEs E Como
DEVE JoGAr o BrAsil”
2008 José Domingos secretário- “As NEGoCiAçÕEs
Gonzalez Miguez, executivo da soBrE o ClimA Em FAsE
Comissão DECisiVA: o QuE Está
Interministerial Em JoGo, o QuE
sobre Mudanças QuErEm os GrANDEs
Climáticas JoGADorEs E Como
DEVE JoGAr o BrAsil”
2008 Francisco Secretário do Meio “As NEGoCiAçÕEs
Graziano Neto Ambiente do soBrE o ClimA Em FAsE
Estado de São DECisiVA: o QuE Está
Paulo Em JoGo, o QuE
QuErEm os GrANDEs
JoGADorEs E Como
DEVE JoGAr o BrAsil”
2008 Luiz Guilherme ANATEL O Futuro das
Schymura telecomunicações no
Brasil

468
2008 Renato Navarro ANATEL O Futuro das
Guerreiro telecomunicações no
Brasil
2008 Julio Semeghini Deputado Federal O Futuro das
pelo PSDB-SP telecomunicações no
Brasil
2008 Jorge Bittar Deputado Federal O Futuro das
pelo PT-RJ telecomunicações no
Brasil
2008 Paulo Bornhausen Deputado Federal O Futuro das
pelo DEM-SC telecomunicações no
Brasil
2008 Paulo Renato Deputado Federal sEmiNário
Souza PSDB-SP “rEPENsANDo A
DEmoCrACiA NA
AmériCA lAtiNA:
DEsAFios PolítiCos E
iNtElECtuAis”
2008 Fernando Gabeira Deputado Federal sEmiNário
PV-RJ “rEPENsANDo A
DEmoCrACiA NA
AmériCA lAtiNA:
DEsAFios PolítiCos E
iNtElECtuAis”
2008 Clifford Sobel Embaixador dos As eleições americanas
Estados Unidos no
Brasil
2008 Luiz Augusto de Embaixador do PErsPECtiVAs DAs
Castor Neves Brasil na China rElAçÕEs BrAsil-CHiNA

2008 Mairan Gonçalves Desembargador usos E ABusos Dos


federal GrAmPos tElEFÔNiCos
2008 Marcelo Itagiba Deputado Federal usos E ABusos Dos
PMDB-RJ GrAmPos tElEFÔNiCos
2008 Gilmar Mendes Presidente do STF DEmoCrACiA E EstADo
DE DirEito: o JuDiCiário
Em FoCo
2008 José Adércio Leite Secretário-geral do DEmoCrACiA E EstADo
Sampaio Conselho Nacional DE DirEito: o JuDiCiário
do Ministério Em FoCo
Público
2009 Alfredo Elfas Comissão Federal II Encontro IFHC-
Ayub de Eletricididade COMEXI
do México

469
2009 Alejandro Werner Secretaria da II Encontro IFHC-
Fazenda e do COMEXI
Crédito Público no
México
2009 Gerônimo Subsecretario para II Encontro IFHC-
Gutierrez América Latina e COMEXI
o Caribe da
Secretaria de
Relações
Exteriores do
México
2009 Rosário Green II Encontro IFHC- II Encontro IFHC-
COMEXI COMEXI
2009 Juan Pablo de la AECI NuEVos DEsAFíos DE lA
Iglesia DEmoCrACiA y DEl
DEsArrollo EN AmériCA
lAtiNA

2009 Antônio.Palocci Deputado Federal “DEsAFios Do


PT-SP CrEsCimENto E Do
DEsENVolVimENto:
liçÕEs DA HistóriA
rECENtE E
PErsPECtiVAs PArA o
Futuro
2009 Alberto Beltrame Secretário do “DEsAFios Do
Ministério da CrEsCimENto E Do
Saúde DEsENVolVimENto:
liçÕEs DA HistóriA
rECENtE E
PErsPECtiVAs PArA o
Futuro
2009 Antônio Barros de Assessor da “DEsAFios Do
Castro presidência do CrEsCimENto E Do
BNDES DEsENVolVimENto:
liçÕEs DA HistóriA
rECENtE E
PErsPECtiVAs PArA o
Futuro
2009 Flávio Dino Deputado Federal os triBuNAis Em
PC do B-MA DEBAtE: mANDAtos,
PoDErEs E EstruturAs
2009 Gilson Dipp STJ os triBuNAis Em
DEBAtE: mANDAtos,
PoDErEs E EstruturAs

470
2009 Arlindo Chinaglia PT-SP Pré-sAl: VAlE A PENA
muDAr o mArCo
rEGulAtório
2009 Luiz Paulo Velloso PSDB-ES Pré-sAl: VAlE A PENA
Lucas muDAr o mArCo
rEGulAtório
2009 Fabio.Giambiagi Chefe de o BrAsil Pós-CrisE: umA
Departamento do AGENDA PArA A
BNDES PróXimA DéCADA
2009 Michel Rocard Membro do CoNFErêNCiA DE são
parlamento PAulo
europeu
2010 Nelson Jobim ministro da Defesa a estratégia nacional de
defesa
2010 Nicholas Hopton chefe do reforma da onu
Departamento de
Organizações
Internacionais do
Ministério das
Relações
Exteriores do
Reino Unido
2010 Edwin Samuel , primeiro- reforma da onu
secretário da
Embaixada do
Reino Unido no
Relatório de
Atividades 2010
43
Brasil
2010 Constanza senadora da dinâmicas geopolíticas
Moreira república do globais e o futuro da
Uruguai democracia na américa
latina
2010 Celso Lafer Presidente da dinâmicas geopolíticas
Fapesp globais e o futuro da
democracia na américa
latina
2010 Ignacio Walker senador da dinâmicas geopolíticas
República e ex- globais e o futuro da
ministro das democracia na américa
Relações latina
Exteriores do
Chile

471
2010 Raul Jungmann Deputado Federal seminário de lançamento
PPS-PE do livro As FARC. Uma
guerrilha sem fins?
2010 Luiz Felipe Embaixador seminário de lançamento
Lampreia do livro As FARC. Uma
guerrilha sem fins?
2010 Aldo Rebelo deputado federal Mesa-redonda código
(PCdoB-SP) Florestal Brasileiro
2010 José Aníbal Deputado Federal Mesa-redonda código
PSDB-SP Florestal Brasileiro
2010 Antônio Carlos Deputado Federal Mesa-redonda código
Pannunzio PSDB-SP Florestal Brasileiro

2010 Nilson Pinto de Deputado federal Mesa-redonda código


Oliveira pelo PSDB-PA Florestal Brasileiro

2011 María Corina membro do A América Latina em um


Machado Parlamento, mundo em transformação
Assembleia Seminário
Nacional da
Venezuela
2011 Leonam dos Eletronuclear Energia nuclear no Brasil:
Santos Guimarães vale a pena ter mais?
Seminário
2011 Brigida Scaffo cônsul-geral do Mudanças geopolíticas e
Uruguai geoeconômicas e o papel
do Brasil na América do
Sul Seminário
2011 Celso Lafer presidente da Mudanças geopolíticas e
Fundação de geoeconômicas e o papel
Amparo à do Brasil na América do
Pesquisa do Sul Seminário
Estado de São
Paulo (FAPESP)
2011 Constanza senadora uruguaia Mudanças geopolíticas e
Moreira da Frente Ampla geoeconômicas e o papel
do Brasil na América do
Sul Seminário
2011 Ignácio Walker senador e Mudanças geopolíticas e
presidente da geoeconômicas e o papel
Democracia Cristã do Brasil na América do
Chilena Sul Seminário
2011 José Geraldo cônsul-geral do Mudanças geopolíticas e
Traslosheros México geoeconômicas e o papel

472
do Brasil na América do
Sul Seminário
2011 Luiz Carlos Costa assessor da Mudanças geopolíticas e
Câmara Federal geoeconômicas e o papel
do Brasil na América do
Sul Seminário
2011 Raul Jungmann presidente estadual Mudanças geopolíticas e
do PPS e deputado geoeconômicas e o papel
federal do Brasil na América do
Sul Seminário
2011 Roberto Freire presidente Mudanças geopolíticas e
nacional do PPS e geoeconômicas e o papel
deputado federal do Brasil na América do
Sul Seminário
2011 Sibele Martins assessora de Mudanças geopolíticas e
imprensa do geoeconômicas e o papel
gabinete do do Brasil na América do
deputado federal Sul Seminário
Roberto Freire
2011 Cezar Peluso Presidente do STF As razões da emenda
Peluso
2011 Aloysio Nunes senador (PSDB- As razões da emenda
Ferreira SP) Peluso
2011 Roberta promotora pública Raça e cidadania no
Kaufmann federal Brasil: a questão das cotas
Seminário
2011 Luiza Bairros ministra de Estado Raça e cidadania no
chefe da Secretaria Brasil: a questão das cotas
de Políticas de Seminário
Promoção da
Igualdade Racial
2012 Jean Caris subsecretário de Como Ampliar a
Planejamento e Transparência e o
Modernização da Controle na Gestão de
Gestão, Casa Civil Grandes Cidades
da Prefeitura do
Rio de Janeiro
2012 Diana Motta diretora de Gestão Habitação e Usos do Solo:
de Projetos da Entre o Mercado
Emplasa – Imobiliário, a Segregação
Empresa Paulista e a Favela
de Planejamento
S/A
2012 Maria Cláudia superintendente de Habitação e Usos do Solo:
Pereira de Souza Planejamento Entre o Mercado
473
Habitacional na Imobiliário, a Segregação
CDHU – e a Favela
Companhia de
Desenvolvimento
Habitacional e
Urbano
2012 Elisabete França superintendente de Habitação e Usos do Solo:
Habitação Popular Entre o Mercado
e secretária- Imobiliário, a Segregação
adjunta de e a Favela
Habitação da
Prefeitura do
Município de São
Paulo na gestão de
Gilberto Kassab
(2006-2012)
2012 Claudia Costin secretária de Educação: Como Garantir
Educação do a Efi ciência do Ensino
Município do Rio em Regiões
de Janeiro Metropolitanas
2012 Hans Dohmann secretário de Saúde Municipal: Os
Saúde do Desafi os do SUS e o
Município do Rio Papel das Parcerias
de Janeiro Público-Privadas
2012 Januario Montone secretário de Saúde Municipal: Os
Saúde do Desafi os do SUS e o
Município de São Papel das Parcerias
Paulo na gestão de Público-Privadas
Gilberto Kassab
(2006-2012)
2012 Bruno subsecretário de Segurança Metropolitana:
Bondarovsky Planejamento da Qual é o Papel dos
Secretaria de Municípios na Prevenção
Ordem Pública da Criminalidade?
(SEOP) do
Município do Rio
de Janeiro
2012 Joaquim Monteiro subsecretário de Integração Metropolitana:
de Carvalho Conservação da Novos Desafi os em
Prefeitura do Rio Saneamento e Gestão de
de Janeiro Recursos Hídricos
2013 Narcís Serra Vice-presidente do a espanha e a crise na
governo da europa: uma visão de
Espanha e ministro dentro
da Defesa nos

474
governos de Felipe
González
2013 Sergio amaral Embaixador China: the challenges of
the new leadership
2013 antonio anastasia Governador lideranças inovadoras na
PSDB-MG Gestão Pública, com
antonio anastasia
2013 Sérgio Cabral Governador pelo diálogo com o
PMDB-RJ Governador Sérgio Cabral
2013 Maria Silvia (presidente da o legado (?) dos grandes
Bastos Marques Empresa Olímpica eventos esportivos
Municipal do Rio
de Janeiro, foi
presidente da CSN
e diretora
financeira e de
planejamento do
BnDES)
2013 Fernando de (secretário de Desafios ao Planejamento
Mello Franco Desenvolvimento Urbano na Grande
Urbano da Metrópole: o caso de São
Prefeitura de São Paulo
Paulo)
2013 aurea Maria representantes da Desafios ao Planejamento
queiroz davanzo Emplasa Urbano na Grande
Metrópole: o caso de São
Paulo
2013 lucia Figueiredo representantes da Desafios ao Planejamento
Bueno de Emplasa Urbano na Grande
Camargo Metrópole: o caso de São
Paulo
2013 Celso lafer FApesp taming the american
Power: US Foreign Policy
in a Multipolar World
2014 Celso lafer FApesp AS AMÉRICAS NO
SÉCULO 21: AS
PERSPECTIVAS DO
BRASIL E DOS
ESTADOS UNIDOS
2014 Januário Montone secretário OS DESAFIOS DE
municipal da FINANCIAMENTO À
Saúde de São SAÚDE PÚBLICA NO
Paulo BRASIL
2014 Arnaldo Jardim Deputado Federal GESTÃO DE
PPS RESÍDUOS SÓLIDOS
475
2014 Carlos Vinícius de presidente da GESTÃO DE
Sá Roriz COMLURB RESÍDUOS SÓLIDOS
2014 José Mariano secretário de OPORTUNIDADES E
Beltrame Segurança Pública AVANÇOS NA
do Rio de Janeiro SEGURANÇA PÚBLICA
BRASILEIRA
2014 Antonio Carlos Prefeito de A LEI DA POLÍTICA
Pannunzio Sorocaba pelo NACIONAL DE SAÚDE
PSDB MENTAL (L10216/01) E
A IMPLANTAÇÃO DA
REDE DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL NO
ESTADO DE SÃO
PAULO
2014 Marcio Fernando procurador geral A LEI DA POLÍTICA
Elias Rosa de Justiça NACIONAL DE SAÚDE
MENTAL (L10216/01) E
A IMPLANTAÇÃO DA
REDE DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL NO
ESTADO DE SÃO
PAULO
2015 Aloysio Nunes senador do PSDB- AvAliAÇÃo DAs
Ferreira Filho SP PersPeCTivAs Do novo
governo
2015 Henrique Fontana deputado federal reForMA Do sisTeMA
do PT-RS eleiTorAl: o QUe É
Melhor PArA A
DeMoCrACiA
BrAsileirA?
2015 Marcus Pestana deputado federal reForMA Do sisTeMA
do PSDB-MG eleiTorAl: o QUe É
Melhor PArA A
DeMoCrACiA
BrAsileirA?
2015 Jerson Kelman presidente da o enFrenTAMenTo DA
Sabesp - Crise hÍDriCA: UM
Companhia de DeBATe CoM Jerson
Saneamento KelMAn, PresiDenTe DA
Básico do Estado sABesP
de São Paulo.
2015 José Manuel presidente da TrADe, FooD, energY
Durão Barroso Comissão AnD ChAnges in The
Europeia inTernATionAl sYsTeM:
vieWs FroM norTh AnD

476
soUTh ATlAnTiC
nATions
2015 Luís Roberto ministro do ConsTiTUiÇÃo, DireiTo
Barroso Supremo Tribunal e PolÍTiCA: o sTF e os
Federal PoDeres DA rePÚBliCA
2015 Rubens embaixador eConoMiA, PolÍTiCA e
RicupERO DiPloMACiA: o BrAsil
eM BUsCA De UMA
novA AgenDA
inTernACionAl
2015 Carlos Henrique diretor científico A eConoMiA Do MAr:
Britto Cruz da Fapesp DesAFios Ao
DesenvolviMenTo
sUsTenTÁvel Do BrAsil
2015 Almirante de comandante da A eConoMiA Do MAr:
Esquadra Eduardo Marinha desde DesAFios Ao
Bacellar Leal 2015 DesenvolviMenTo
Ferreira sUsTenTÁvel Do BrAsil
2015 José Augusto contra-almirante A eConoMiA Do MAr:
Vieira da Cunha DesAFios Ao
de Menezes DesenvolviMenTo
sUsTenTÁvel Do BrAsil
2015 Rodrigo Mendes diplomata e chefe A eConoMiA Do MAr:
Carlos de Almeidada Divisão do DesAFios Ao
Mar, da Antártida DesenvolviMenTo
e do Espaço do sUsTenTÁvel Do BrAsil
Ministério das
Relações
Exteriores
2015 Maria Helena de conselheira do PlAno nACionAl DA
Castro Conselho Estadual eDUCAÇÃo: UMA
de Educação de AvAliAÇÃo De seUs
São Paulo e oBJeTivos,
diretora executiva insTrUMenTos e
da Fundação PossiBiliDADes De
Seade FinAnCiAMenTo
2015 Mansueto Almeida Técnico de PlAno nACionAl DA
Jr. pesquisas no IPEA eDUCAÇÃo: UMA
AvAliAÇÃo De seUs
oBJeTivos,
insTrUMenTos e
PossiBiliDADes De
FinAnCiAMenTo
2015 Antonio Anastasia senador (PSDB- reMoÇÃo De
MG) oBsTÁCUlos Ao

477
invesTiMenTo eM
inFrAesTrUTUrA: UMA
ConTriBUiÇÃo Ao
DeBATe PÚBliCo e À
AgenDA De PolÍTiCAs
2015 Jim Knight membro da inovAÇÃo nA
Câmara dos eDUCAÇÃo: UMA
Lordes desde 2010 ConTriBUiÇÃo DA
eXPeriÊnCiA inglesA
2016 Carlos Nobre doutor em mudança climática: paris
Meteorologia pelo Foi um divisor dE águas?
MIT e presidente
da CAPES do
Ministério da
Educação e
Cultura (MEC)
2016 General Óscar ministro- o QuE podEmos EspErar
Naranjo conselheiro da do acordo dE paZ com as
Presidência para Farc: a visão do gEnEral
temas relacionados Óscar naranJo, da
ao pós-conflito, comissão dE
direitos humanos e nEgociaçÕEs com o
segurança; grupo guErrilHEiro
representante do
governo da
Colômbia na
discussão para
término do
conflito e
construção de paz
estável e
duradoura
2016 Sérgio Besserman presidente do crEscimEnto, dEmocracia
Instituto E distriBuição da rEnda:
Municipal Pereira Em Busca dE um novo
Passos, da Câmara modElo
Técnica de
Desenvolvimento
Sustentável da
Prefeitura da
Cidade do Rio de
Janeir
2016 Maria Helena secretária HomEnagEm a JosÉ
Guimarães Castro executiva do roBErto magalHãEs
Ministério da tEiXEira (1937-1996)

478
Educação e
Cultura (MEC)
2016 Sidney Beraldo membro do HomEnagEm a JosÉ
Tribunal de Contas roBErto magalHãEs
do Estado tEiXEira (1937-1996)
(TCESP)
2016 João Gomes embaixador da os dEsaFios para a
Cravinho União Europeia conclusão do acordo
em Brasília mErcosul / união
EuropEia
2016 Claudia Costin secretária de Educação no Brasil: o
Cultura do Estado QuE podEmos aprEndEr
de São Paulo com o mundo?
2016 José Serra ministro das HomEnagEm aos 100
Relações anos dE nascimEnto dE
Exteriores do andrÉ Franco montoro
governo do
presidente Michel
Temer
2016 Luis Felipe ministro e membro 20 anos da lEi E o Futuro
Salomão da 2ª Seção, da 4ª da arBitragEm no Brasil
Turma e da Corte
Especial do STJ,
presidente da
Comissão de
Regimento Interno
do STJ e da
comissão de
juristas
2016 Ana Carla Abrão secretária de os Estados E o aJustE
Costa Estado da Fazenda Fiscal: pontE para o
de Goiás Futuro ou volta para o
passado inFlacionário?
2016 Janes Vescovi secretária do os Estados E o aJustE
Tesouro Nacional Fiscal: pontE para o
e mestre em Futuro ou volta para o
Economia do Setor passado inFlacionário?
Público pela UnB
e em
Administração
Pública pela FGV
(EBAP-RJ).
2016 Maria Elena ministra para as mudar a itália, para mudar
Boschi Reformas a Europa: palEstra com a
Constitucionais e ministra das rEFormas

479
as relações com o constitucionais, maria
Parlamento do ElEna BoscHi
governo do
primeiro ministro
Matteo Renzi
2016 Marcelo Allain secretário de cEnário gloBal E
Articulação para invEstimEnto Em
Investimentos e inFraEstrutura no Brasil
Parcerias do PPI
do governo federal
e coordenador-
geral de Política
Monetária e
Financeira da
Secretaria de
Política
Econômica do
Ministério da
Fazenda.
2016 Eduardo presidente do a Educação tÉcnica E a
Deschamps Conselho Nacional rEForma do Ensino
de Educação mÉdio
2016 Jorge Arbache secretário de a Educação tÉcnica E a
Assuntos rEForma do Ensino
Internacionais do mÉdio
Ministério do
Planejamento,
Orçamento e
Gestão
2016 Claudia Costin Secretaria de a Educação tÉcnica E a
Cultura de São rEForma do Ensino
Paulo mÉdio
2016 Maria Helena secretária a Educação tÉcnica E a
Guimarães Castro executiva do rEForma do Ensino
Ministério da mÉdio
Educação
2016 Mendonça Filho ministro de Estado a Educação tÉcnica E a
da Educação rEForma do Ensino
mÉdio
2016 Randolfe senador (REDE) a polÍtica Em crisE: como
Rodrigues virar o Jogo?
2016 Joëlle Milquet ministra da a intEgração dos
Educação, da imigrantEs na Europa:
Cultura, da dEsaFios E oportunidadEs
Infância e da

480
Federação
Valônia-Bruxelas
desde 2014
2016 René van der Plas Ministério gEstão portuária
holandês da EFiciEntE: o modElo dE
Infraestrutura rotErdã
2017 Ives Gandra presidente do tst e A REFORMA
Martins Filho do conselho TRABALHISTA: JOGO
superior da Justiça DE SOMA ZERO OU DE
do trabalho SOMA POSITIVA?
2017 Bruno Araújo ministro das MORADIA E ESPAÇO
cidades e PÚBLICO: UMA
advogado pela DISCUSSÃO SOBRE O
universidade MINHA CASA MINHA
Federal de VIDA
Pernambuco
(uFPe).
2017 Elisabete França diretora de MORADIA E ESPAÇO
Planejamento da PÚBLICO: UMA
cdhu e doutora em DISCUSSÃO SOBRE O
arquitetura e MINHA CASA MINHA
urbanismo pelo VIDA
Mackenzie.
2017 Maria Henriqueta secretária nacional MORADIA E ESPAÇO
Arantes Alves de habitação e PÚBLICO: UMA
graduada em DISCUSSÃO SOBRE O
arquitetura e MINHA CASA MINHA
urbanismo pela VIDA
universidade
Federal de Minas
gerais (uFMg).
2017 John Halligan ministro do A IRLANDA SOB O
treinamento, IMPACTO DO BREXIT:
habilidades e UMA PALESTRA DO
inovação, membro MINISTRO IRLANDÊS
independente do JOHN HALLIGAN
Parlamento da
irlanda, foi
membro da aliança
dos deputados
independentes
(2015) e da
delegação
irlandesa para o
conselho da

481
europa (2013-
2015).
2017 Luís Roberto ministro do stF, DESCRIMINALIZAÇÃO
Barroso professor titular da DO USO DE DROGAS:
uerJ e professor UM DEBATE
visitante da INADIÁVEL
universidade de
brasília (unb).
2017 Ana Paula ministra do Mar de A ECONOMIA DO MAR
Vitorino Portugal EO
DESENVOLVIMENTO
FUTURO DE
PORTUGAL E DO
BRASIL
2017 Almirante de diretor-geral de A ECONOMIA DO MAR
Esquadra Paulo navegação da EO
Cezar de Quadro Marinha do brasil. DESENVOLVIMENTO
Küster FUTURO DE
PORTUGAL E DO
BRASIL
2017 Guiomar Namo de membro do A EVOLUÇÃO DE
Mello conselho estadual PORTUGAL NA
de educação de EDUCAÇÃO: O QUE O
são Paulo e BRASIL TEM A
consultora da APRENDER?
secretaria
executiva do Mec.
Pedagoga pela usP,
mestre e doutora
em educação pela
Puc-sP.
2017 Hussein Kalout secretário de BRASIL E
assuntos ARGENTINA: DEVEM
estratégicos da OS DOIS PAÍSES
Presidência da ATUAR JUNTOS NUM
república (Brasil) MUNDO EM
FRAGMENTAÇÃO?
2017 Rogelio Frigerio ministro do BRASIL E
interior, obras ARGENTINA: DEVEM
Públicas e OS DOIS PAÍSES
habitação da ATUAR JUNTOS NUM
argentina MUNDO EM
FRAGMENTAÇÃO?
2017 Bas van den vice-ministro da POLÍTICAS PÚBLICAS
Dungen saúde da holanda. PARA O

482
Foi membro do ENVELHECIMENTO
conselho da royal SAUDÁVEL: O QUE O
dutch Kentalis e BRASIL PODE
diretor da APRENDER COM A
associação HOLANDA?
nacional de
cuidados
domiciliários
(landelijke
vereniging voor
thuiszorg).
2017 Andrés Rozental embaixador O MÉXICO FRENTE A
eminente vitalício DONALD TRUMP:
do México. Foi QUAIS OS PRÓXIMOS
vice-ministro de ROUNDS?
negócios
estrangeiros,
embaixador no
Reino Unido e na
Suécia e
representante
permanente do
México junto às
Nações Unidas em
genebra.
2017 General de chefe do gabinete DEFESA NACIONAL,
Divisão Tomás do comandante do VIGILÂNCIA DE
Miguel Miné exército FRONTEIRAS E
Ribeiro Paiva SEGURANÇA
PÚBLICA: O PAPEL
DAS FORÇAS
ARMADAS
2017 General Eduardo comandante do DEFESA NACIONAL,
Dias da Costa exército brasileiro VIGILÂNCIA DE
Villas Bôas FRONTEIRAS E
SEGURANÇA
PÚBLICA: O PAPEL
DAS FORÇAS
ARMADAS
2017 Fábio Bechara promotor de DEFESA NACIONAL,
Justiça do estado VIGILÂNCIA DE
de são Paulo. FRONTEIRAS E
SEGURANÇA
PÚBLICA: O PAPEL

483
DAS FORÇAS
ARMADAS
2017 João Manoel chefe da assessoria BRASIL:
Pinho de Mello especial de PRODUTIVIDADE E
reformas COMPETITIVIDADE
Microeconômicas
do Ministério da
Fazenda.
2017 Jorge Arbache secretário de BRASIL:
assuntos PRODUTIVIDADE E
internacionais do COMPETITIVIDADE
Ministério do
Planejamento
2017 Jerson Kelman presidente da OS DESAFIOS DO
sabesP SANEAMENTO
AMBIENTAL PARA A
PRÓXIMA DÉCADA
2017 Daniel Annenberg secretário CIDADES
municipal de “INTELIGENTES”:
inovação e PROJETOS, AÇÕES E
tecnologia. DESAFIOS PARA A
comandou a REINVENÇÃO DA
reestruturação do DEMOCRACIA, DO
detran -sP e é um GOVERNO E DA
dos idealizadores EXPERIÊNCIA
do programa URBANA
Poupatempo.
Formado em
administração
Pública pela
Fundação getúlio
vargas (Fgv) e
ciências sociais
pela universidade
de são Paulo (usP)
2017 Elmer Cuba diretor do banco PERU: UM MODELO
Bustinza central do Peru PARA A AMÉRICA
(bcrP), professor LATINA?
da Pontifícia
universidade
católica do Peru,
sócio da
Macroconsult e
mestre em
economia pela

484
Pontifícia
universidade
católica do chile
2017 Silvana Batini procuradora AS LIÇÕES DA LAVA
Cesar Góes regional da JATO E OS AVANÇOS E
república do DESAFIOS NO
Ministério Público COMBATE À
Federal (MPF) no CORRUPÇÃO
rio de Janeiro e
professora da Fgv
na mesma cidade.
2017 Alessandro Molon deputado federal FINANCIAMENTO DE
(rede) pelo rio de CAMPANHAS: QUE
Janeiro desde 2014 MODELO O BRASIL
DEVE ADOTAR?
2017 Bruno Carazza servidor público FINANCIAMENTO DE
dos Santos federal especialista CAMPANHAS: QUE
em Políticas MODELO O BRASIL
Públicas e gestão DEVE ADOTAR?
governamental
2017 Tadeu Alencar deputado federal FINANCIAMENTO DE
(Psb) por CAMPANHAS: QUE
Pernambuco. MODELO O BRASIL
DEVE ADOTAR?
2017 Tereza Cristina deputada federal, REGULARIZAÇÃO
Correia da Costa vice-presidente da AMBIENTAL E
Frente Parlamentar AGROPECUÁRIA DE
da agropecuária BAIXO CARBONO:
(FPa) e líder do AMEAÇAS OU
Partido socialista OPORTUNIDADES
brasileiro (Psb) na PARA O
câmara dos AGRONEGÓCIO?
deputados.
2017 Brigadeiro Márcio Presidente da DESENVOLVIMENTO
Bruno comissão TECNOLÓGICO E
coordenadora do COOPERAÇÃO
Programa INTERNACIONAL: O
aeronave de PROJETO GRIPEN EM
combate (coPac). PAUTA
2017 Jorge Arbache secretário de DESENVOLVIMENTO
assuntos TECNOLÓGICO E
internacionais do COOPERAÇÃO
Ministério do INTERNACIONAL: O
Planejamento PROJETO GRIPEN EM
PAUTA

485
2017 Tarcísio Freitas consultor OPORTUNIDADES
legislativo da GLOBAIS E
câmara dos NECESSIDADES
deputados e NACIONAIS EM
secretário de INFRAESTRUTURA
coordenação de
Projetos do
Programa de
Parcerias de
investimentos da
Presidência da
república.
2017 Manuela Bolivar deputada A LUTA PELA
venezuelana, DEMOCRACIA NA
também do partido VENEZUELA E O QUE
voluntad Popular e O BRASIL PODE
fundadora da FAZER
organização
Futuro Presente
2017 Embaixador ministro de A LUTA PELA
Tarcísio de Lima primeira classe e DEMOCRACIA NA
Ferreira Fernandes diretor do VENEZUELA E O QUE
Costa departamento da O BRASIL PODE
américa do sul FAZER
setentrional e
ocidental do
Ministério das
relações
exteriores.
2017 Alexandre de ministro do A DELAÇÃO
Moraes supremo tribunal PREMIADA: UMA
Federal (stF) e COMPARAÇÃO ENTRE
professor de OS ESTADOS UNIDOS
diversas E O BRASIL
instituições, entre
elas a Faculdade
de direito da usP, a
escola superior do
Ministério Público
de são Paulo e a
escola Paulista da
Magistratura.
2017 Cristovam senador da BRASIL, BRASILEIROS
Buarque república desde - POR QUE SOMOS
2003, professor ASSIM?

486
universitário,
engenheiro
mecânico e
economista.
2018 Monica Porto secretária adjunta FÓRUM MUNDIAL DA
de Saneamento e ÁGUA 2018: DESAFIOS
Recursos Hídricos DA GESTÃO HÍDRICA
do Estado de São NA GRANDE SÃO
Paulo e presidente PAULO
do Comitê de
Integração da
Bacia Hidrográfi
ca do Rio Paraíba
do Sul (CEIVAP).
2018 Kenarik Boujikian desembargadora O JUDICIÁRIO: ENTRE
Felippe do Tribunal de OS PERIGOS DA
Justiça de São IMPUNIDADE E OS
Paulo. Foi co- RISCOS DO
fundadora e PUNITIVISMO
presidente da
Associação Juízes
para a Democracia
2018 Nino Toldo desembargador no O JUDICIÁRIO: ENTRE
Tribunal Regional OS PERIGOS DA
Federal da 3ª IMPUNIDADE E OS
Região, foi RISCOS DO
presidente da PUNITIVISMO
Associação dos
Juízes Federais do
Brasil (Ajufe) de
2012 a 2014
2018 Zander Navarro, Embrapa PESQUISA E
INOVAÇÃO NO
AGRONEGÓCIO: OS
DESAFIOS DO
FUTURO BATEM À
PORTA
2018 Bruno Covas Prefeito de SP REVITALIZAÇÃO DE
CENTROS
HISTÓRICOS
METROPOLITANOS
2018 Heloisa M. Salles secretária REVITALIZAÇÃO DE
Penteado Proença municipal de CENTROS
Urbanismo e HISTÓRICOS
METROPOLITANOS

487
Licenciamento de
São Paulo
2018 José Armênio de Presidente da SP REVITALIZAÇÃO DE
Brito Cruz Urbanismo CENTROS
HISTÓRICOS
METROPOLITANOS
2018 Jorge Arbache é secretário de 4º REVOLUÇÃO
Assuntos INDUSTRIAL: O
Internacionais do BRASIL VAI PERDER
Ministério do ESSE TREM?
Planejamento do
Brasil e secretário
executivo do
Fundo de
Investimento
Brasil-China
2018 Evan Ellis é professor- AMÉRICA LATINA:
pesquisador no CENÁRIO DE UMA
Instituto de DISPUTA
Estudos ESTRATÉGICA ENTRE
Estratégicos da ESTADOS UNIDOS E
Escola de Guerra CHINA?
do Exército dos
EUA. Especialista
em questões
relacionadas à
segurança na
América Latina e
relação com a
China, é autor de
China on the
Ground in Latin
America (2014).
2018 Regina Silvia administradora e REFORMA DO
Pacheco urbanista, é ESTADO: UMA
secretária adjunta AGENDA PARA O
de Governo do PRÓXIMO MANDATO
Município de São PRESIDENCIAL
Paulo; foi
Presidente da
Escola Nacional
de Administração
Pública (ENAP).
2018 Janaína Lima advogada, é REINVENÇÃO DA
vereadora em São POLÍTICA: COMO

488
Paulo pelo Partido RECONECTAR
Novo INDIVÍDUOS,
SOCIEDADE E
ESTADO?
2018 Vicente Lobo secretário de OS DESAFIOS DA
Geologia, INDÚSTRIA MINERAL
Mineração e BRASILEIRA
Transformação
Mineral do
Ministério de
Minas e Energia -
MME
2018 Júlio Cesar Maciel superintendente da OS DESAFIOS DA
Ramundo Área de Indústria e INDÚSTRIA MINERAL
Serviços do BNDE BRASILEIRA
2018 joão Fernando diretor-presidente OS DESAFIOS DA
Gomes de Oliveira do EMBRAPII - INDÚSTRIA MINERAL
Empresa Brasileira BRASILEIRA
de Pesquisa e
Inovação
Industrial
2018 João Carlos de secretário de OS DESAFIOS DA
Souza Meirelles Energia e INDÚSTRIA MINERAL
Mineração do BRASILEIRA
Estado de São
Paulo
2018 Ricardo Villas ministro do ACORDOS DE
Bôas Cueva Superior Tribunal LENIÊNCIA: TEORIA E
de Justiça (STJ) PRÁTICA NO BRASIL E
desde 2011 NOS ESTADOS
UNIDOS
2018 Bruno Dantas ministro do ACORDOS DE
Nascimento Tribunal de Contas LENIÊNCIA: TEORIA E
da União desde PRÁTICA NO BRASIL E
2014; foi NOS ESTADOS
Consultor-Geral UNIDOS
do Senado de 2007
a 2011 e membro
do Conselho
Nacional do
Ministério Público
(CNMP) entre
2009 e 2011 e do
Conselho Nacional

489
de Justiça (CNJ)
de 2011 a 2013.
2018 Vladimir Aras procurador ACORDOS DE
regional da LENIÊNCIA: TEORIA E
República (MPF) PRÁTICA NO BRASIL E
em Brasília, é NOS ESTADOS
membro do UNIDOS
Ministério Público
do Brasil desde
1993; foi
secretário de
Cooperação
Jurídica
Internacional da
Procuradoria Geral
da República
(2013-2017).
2018 General Eduardo general de Brigada A CRISE
Pazuello desde 2014, é HUMANITÁRIA NA
coordenador da VENEZUELA E O
Força Tarefa PAPEL DO BRASIL
Logística
Humanitária no
Estado de Roraima
2018 Viviane Esse engenheira civil, é A CRISE
assessora especial HUMANITÁRIA NA
da Casa Civil da VENEZUELA E O
Presidência da PAPEL DO BRASIL
República, onde
coordena projetos
considerados
prioritários
2018 Fernanda de Negri IPEA INOVAÇÃO EM
SAÚDE: ONDE
ESTAMOS E AONDE
PODEMOS CHEGAR?
2018 Samantha Chantal procuradora EFICIÊNCIA DA
Dobrowolski regional da GESTÃO PÚBLICA E
República da 3ª INSTITUIÇÕES DE
Região e membro CONTROLE: COMO
suplente da 5ª MAXIMIZAR OS DOIS
Câmara de TERMOS DA
Coordenação e EQUAÇÃO?
Revisão do
Ministério Público

490
Federal (MPF),
onde também
coordena a
Comissão
Permanente de
Assessoramento
em Leniência e
Colaboração
Premiada
2018 Marcelo Barros auditor federal de EFICIÊNCIA DA
Gomes Controle Externo GESTÃO PÚBLICA E
do Tribunal de INSTITUIÇÕES DE
Contas da União CONTROLE: COMO
desde 1995 e MAXIMIZAR OS DOIS
coordenador-geral TERMOS DA
da área de EQUAÇÃO?
Resultados de
Políticas Públicas
do TCU.
2018 Kelps Lima deputado estadual CAMINHOS E
no Rio Grande do DESCAMINHOS DA
Norte, foi POLÍTICA: DA CRISE
secretário de NASCERÁ UMA
Mobilidade DEMOCRACIA
Urbana da MELHOR?
Prefeitura de Natal
2018 Adriana professora de CAMINHOS E
Vasconcellos Geografi a no DESCAMINHOS DA
ensino POLÍTICA: DA CRISE
fundamental da NASCERÁ UMA
rede pública, é DEMOCRACIA
assessora MELHOR?
parlamentar na
Câmara Municipal
de São Paulo
2018 Murilo Xavier secretário de CAMINHOS E
Flores Estado de DESCAMINHOS DA
Planejamento de POLÍTICA: DA CRISE
Santa Catarina. NASCERÁ UMA
Foi presidente da DEMOCRACIA
Embrapa, da MELHOR?
Sociedade de
Economia e
Sociologia Rural
(SOBER) e

491
secretário nacional
de
Desenvolvimento
Rural.
2018 Horacio Aragonés responsável por A INDÚSTRIA 4.0 NA
Forjaz Relações ALEMANHA: HÁ
Institucionais da LIÇÕES ÚTEIS PARA O
FAPESP; foi vice- BRASIL?
presidente
executivo da
Embraer.
2018 Xie Chuntao bacharel em A CHINA SOB A
Educação e mestre LIDERANÇA DE XI
e doutor em JINPING: UMA VISÃO
Direito, é vice- DE DENTRO
presidente da
Escola Central do
Partido Comunista
da China (Escola
Nacional de
Administração).
Foi representante
no 19º Congresso
Nacional do PC
chinês (2017) e
vice-prefeito de
Jinhua (Zhejiang).
É autor de dezenas
de artigos e
coordenou a
edição de obras
como History of
Socialism with
Chinese
Characteristics,
Turning China:
1976-1982 e The
Track of History:
Why the
Communist Party
of China can?.
2018 Zhang Zhongjun bacharel, mestre e A CHINA SOB A
PhD em Direito, LIDERANÇA DE XI
desde 1999 atua JINPING: UMA VISÃO
como professor na DE DENTRO

492
Escola Central do
Partido Comunista
da China, onde
ocupou os cargos
de diretor-geral do
Departamento de
Educação
Continuada e vice-
Secretário.
2018 Ministro Michel diplomata de BRASIL E MÉXICO
Arslanian Neto carreira, é diretor NOS GOVERNOS DE
do Departamento JAIR BOLSONARO E
de Integração ANDRÉS MANUEL
Econômica LÓPEZ OBRADOR:
Regional do RELAÇÕES
Ministério das BILATERAIS E
Relações DESAFIOS
Exteriores. Serviu PRESIDENCIAIS
nas missões do
Brasil junto à
União Europeia, à
ALADI, ao
MERCOSUL e à
Organização dos
Estados
Americanos.
2018 Embaixador subsecretário de DEMOCRACIAS
Thomas A. Estado para TURBULENTAS E
Shannon Assuntos Políticos SEUS IMPACTOS NO
(2016-2018) e SISTEMA
subsecretário de INTERNACIONAL
Estado para o
Hemisfério
Ocidental do
Departamento de
Estado dos EUA
(2005-2009).
2019 Antonio Anastasia Senador PSDB Os Estados por um fio:
Como sairão do fundo do
poço?
2019 Aloysio Nunes bacharel em O lugar do Brasil num
Ferreira Direito e mundo incerto: desafios
Economia, foi da política externa
ministro das
Relações

493
Exteriores (2017-
2019), senador,
deputado federal e
vicegovernador de
São Paulo.
2019 Arthur Maia advogado, é Reforma da Previdência:
deputado federal entre o necessário e o
(DEM-BA), possível
reeleito em 2018.
Foi relator da Lei
de
Responsabilidade
das Estatais e da
Reforma da
Previdência.
2019 Silvana Batini procuradora Combate à corrupção e
Cesar Góes, Regional da mudanças no direito penal
República do
Ministério Público
Federal (MPF) no
Rio de Janeiro
2019 Capitão de Mar e professor do A economia e a
Guerra André Programa de Pós- geopolítica do mar
Panno Beirão graduação em
Estudos Marítimos
da Escola de
Guerra Naval
(EGN) da Marinha
do Brasil.
2019 Conselheiro diplomata de A economia e a
Rodrigo Mendes carreira, é chefe da geopolítica do mar
Carlos de Almeida Divisão do Mar,
da Antártida e do
Espaço (DMAE)
do Ministério das
Relações
Exteriores.
2019 ContraAlmirante secretário da A economia e a
Sergio Gago Comissão geopolítica do mar
Guida, Interministerial
para os Recursos
do Mar (CIRM).
2019 Barjas Negri Prefeito Piracicaba Educação: os desafios
PSDB para implementar a

494
reforma do Ensino Médio
e renovar o Fundeb
2019 Maria Helena conselheira do Educação: os desafios
Guimarães de Conselho Nacional para implementar a
Castro de Educação/CNE reforma do Ensino Médio
e renovar o Fundeb
2019 Embaixador diretor de As visões de Moscou
Aleksandr Departamento da sobre as relações com a
Valentinovitch América Latina do América Latina e o Brasil
Schetinin Ministério dos
Negócios
Estrangeiros da
Federação da
Rússia (desde
2012)
2019 Benedito Braga presidente da Despoluição do Pinheiros:
SABESP. o que pode significar para
a cidade?
2019 Raul Jungmann membro Segurança pública e crime
consultivo do organizado: o país sabe
Conselho Nacional como enfrenta-lo?
de Justiça (CNJ)
2019 Sergio Etchegoyen general da reserva, A participação das Forças
foi chefe do Armadas no governo: um
Estado-Maior do novo normal?
Exército (2015-16)
e ministro chefe
do Gabinete de
Segurança
Institucional
(2016-18).
Formado na
Academia Militar
das Agulhas
Negras, comandou
a Escola de
Comando e
Estado-Maior do
Exército.
2019 Embaixadora chefe do Escritório Para onde vão as duas
Débora Vainer de Representação coreias?
Barenboim-Sale do Ministério de
Relações
Exteriores (MRE)
em São Paulo

495
2019 Luís Filipe secretário de O uso da tecnologia na
Loureiro Goes Estado Adjunto e reforma do Estado
Pinheiro da Modernização
Administrativa de
Portugal.
2019 Daniel Annenberg ecretário O uso da tecnologia na
municipal de reforma do Estado
Inovação e
Tecnologia de São
Paulo, foi um dos
idealizadores e
superintendente do
programa
Poupatempo
(1996-2006).
2019 Denizar Vianna médico, é O futuro do sus: desafios
secretário de e mudanças necessárias
Ciência,
Tecnologia,
Inovação e
Insumos
Estratégicos do
Ministério da
Saúde.
2019 Erno Harzheim médico, é O futuro do sus: desafios
secretário de e mudanças necessárias
Atenção Primária
à Saúde do
Ministério da
Saúde. Foi
secretário
municipal de
Saúde de Porto
Alegre (2017-
2018).
2019 Paulo de Tarso ministro do Desafios e oportunidades
Sanseverino Superior Tribunal da inteligência artificial
de Justiça. para o direito e a justiça
2019 Mario Luiz geólogo, é Direitos indígenas:
Bonsaglia presidente da entrave ao
Associação desenvolvimento ou parte
Brasileira de da riqueza nacional?
Empresas de
Pesquisa Mineral.

496
2019 Joenia Wapichana advogada, foi a Direitos indígenas:
primeira mulher entrave ao
indígena eleita desenvolvimento ou parte
deputada federal da riqueza nacional?
(REDERR).
2019 Hélvio Neves secretário–adjunto Desafios e oportunidades
Guerra de Planejamento e para as energias
Desenvolvimento renováveis no Brasil
Energético.
2019 Wilson Ferreira presidente da Desafios e oportunidades
Junior Eletrobras desde para as energias
2016. renováveis no Brasil

497
Anexo III. Tabela com conexões em universidades, nacionais e
internacionais, públicas e privadas, por ano (2004-2019)

Ano Palestrante Conexão Debate


2004 Celso Lafer Universidade de Por uma governança
São Paulo global democrática
2004 Manuel Castells Universidade da Por uma governança
California (EUA) global democrática
2004 Mary Kaldor London School of Por uma governança
Economics and global democrática
Political Science
(Inglaterra)
2004 Regina Meyer Universidade de São Paulo: desafios da
São Paulo dinâmica metropolitana
2004 Paolo Gurissati Universidade de O desenvolvimento
Pádua (Itália) industrial e territorial na
terceira Itália
2004 Demétrio Magnoli Universidade de O futuro da China:
São Paulo aspectos econômicos e
políticos
2004 Hélgio Trindade UFRGS As eleições de 1974 e a
construção da
democracia no Brasil
2004 Carlos Henrique Reitor da Unicamp Ciência, tecnologia e
de Brito Cruz inovação na agenda do
desenvolvimento
2004 João Furtado Poli/USP Ciência, tecnologia e
inovação na agenda do
desenvolvimento
2004 Suzana Pasternak FAU/USP A segregação das
metrópoles:
características,
tendências e políticas
2004 Paolo Gurissati Universidade de A experiência de
Pádua (Itália) desenvolvimento da
terceira Itália: o que
temos a aprender
2004 Ferrucio Bresolin Universidade de A experiência de
Veneza (Itália) desenvolvimento da
terceira Itália: o que
temos a aprender

498
2004 Boris Fausto USP Documentos privados e
titulares de cargos
públicos
2004 Celso Lafer USP Documentos privados e
titulares de cargos
públicos
2004 Roberto DaMatta PUC-RJ Documentos privados e
titulares de cargos
públicos
2004 Ernesto Villanueva Universidade Documentos privados e
Nacional titulares de cargos
Autônoma do públicos
México
2004 Richard Cox Universidade de Documentos privados e
Pittsburgh (EUA) titulares de cargos
públicos
2004 Alicia Casas de Universidade da Documentos privados e
Barrán República de titulares de cargos
Uruguai públicos
2004 Alzira Alves de CPDOC/FGV Documentos privados e
Abreu titulares de cargos
públicos
2004 Marcos Sawaja FEA/USP Perspectivas das
Jank principais negociações
comerciais em curso
2004 Marco Antônio USP Pesquisas com células-
Zago tronco: aspectos
científicos, éticos e
sociais
2004 Lygia da Veiga USP Pesquisas com células-
Pereira tronco: aspectos
científicos, éticos e
sociais
2004 Marcos Sagre USP Pesquisas com células-
tronco: aspectos
científicos, éticos e
sociais
2005 Dominique Moisi conselheiro Colóquio com
especial do Institut Dominique Moisi
Français des
Relations
Internationales
(IFRI), titular da
cadeira de
Geopolítica
499
Européia do
Collège D’Europe
2005 Walter Bender Massachusetts O FUTURO PRÓXIMO
Institute of DA TECNOLOGIA
Technology (MIT). DIGITAL: IMPACTOS
SOBRE A ECONOMIA
E A SOCIEDADE
2005 David Cavallo Massachusetts O FUTURO PRÓXIMO
Institute of DA TECNOLOGIA
Technology (MIT). DIGITAL: IMPACTOS
SOBRE A ECONOMIA
E A SOCIEDADE
2005 Celso Lafer USP OS DESAFIOS DA
SEGURANÇA E DO
CONTROLE DE
ARMAMENTOS NA
AGENDA
INTERNACIONAL
CONTEMPORÂNEA
2005 Sérgio Abranches UFRJ DESIGUALDADE,
POBREZA E
DESENVOLVIMENTO
NA AMÉRICA
LATINA: BALANÇO E
AGENDA DE
POLÍTICAS
2005 Sebastian Galiani Universidad de San DESIGUALDADE,
Andrés (Argentina) POBREZA E
DESENVOLVIMENTO
NA AMÉRICA
LATINA: BALANÇO E
AGENDA DE
POLÍTICAS
2005 Eliana Cardoso EESP-FGV RELAÇÕES BRASIL-
ESTADOS UNIDOS:
ASSIMETRIAS E
CONVERGÊNCIAS

2005 Richard Nelson professor da INOVAÇÃO


Universidade de TECNOLÓGICA E
Columbia (EUA) DESENVOLVIMENTO:
O QUE NOS ENSINA A
EXPERIÊNCIA
INTERNACIONAL

500
2005 Carlos Américo Unicamp INOVAÇÃO
Pacheco TECNOLÓGICA E
DESENVOLVIMENTO:
O QUE NOS ENSINA A
EXPERIÊNCIA
INTERNACIONAL
2005 Wilson Suzigan Unicamp INOVAÇÃO
TECNOLÓGICA E
DESENVOLVIMENTO:
O QUE NOS ENSINA A
EXPERIÊNCIA
INTERNACIONAL
2006 Raul Velloso Yale University Esgotamento e
perspectivas do ajuste
fiscal
2006 Abraham F. professor da Bridging the gap
Lowenthal Faculdade de between ideas and
Relações power: the role and
Internacionais da development of think
University of tanks
Southern
California (EUA)
2006 Abraham F. professor da América Latina e
Lowenthal Faculdade de Estados Unidos em uma
Relações nova era
Internacionais da
University of
Southern
California (EUA)
2006 Carlos Américo professor do Desafios das
Pacheco Instituto de telecomunicações no
Economia da Brasil: cenários e
Unicamp políticas de longo prazo
2006 Murilo Ramos professor da Desafios das
Universidade de telecomunicações no
Brasília Brasil: cenários e
políticas de longo prazo
2006 Luiz Cesar pesquisador em High Level Commission
Queiroz Planejamento on legal empowerment
Urbano do of the poor
IPPUR/UFRJ
2006 Juarez Brandão professor da High Level Commission
Lopes Universidade de on legal empowerment
São Paulo of the poor

501
2006 José Pastore professor da High Level Commission
Universidade de on legal empowerment
São Paulo of the poor
2006 José Márcio professor da High Level Commission
Camargo Faculdade de on legal empowerment
Economia da PUC- of the poor
RJ
2006 Joaquim Falcão diretor da High Level Commission
Faculdade de on legal empowerment
Direito da of the poor
Fundação Getúlio
Vargas
2006 Luiz Eduardo professor da High Level Commission
Soares Universidade on legal empowerment
Cândido Mendes of the poor
2006 José Roberto presidente do Energia e crescimento:
Moreira Conselho Nacional cenários para a
de Referência em economia mundial e
Biomassa (USP) oportunidades para o
Brasil
2006 Marcelo Paiva professor titular do A política externa
Abreu Departamento de brasileira para a América
Economia da PUC- do Sul no período
RJ recente: balanço e
perspectivas
2006 Sérgio Amaral diretor da A política externa
Faculdade de brasileira para a América
Economia da do Sul no período
Fundação recente: balanço e
Armando Álvares perspectivas
Penteado (FAAP).
2006 Catalina diretora do Sociedade civil e
Smulovitz Departamento de democracia na América
Ciência Política e Latina: crise e
Estudos reinvenção da política
Internacionais da
Universidade
Torcuato Di Tella
(Argentina);
Ernesto Ottone,
secretário
executivo adjunto
2006 Celso Campilongo professor da USP e Regras do jogo e
da PUC/SP investimento no Brasil:

502
onde estamos e para
onde vamos?
2006 Luiz Guilherme diretor do Instituto Regras do jogo e
Schymura Brasileiro de investimento no Brasil:
Economia onde estamos e para
(IBRE)/FGV onde vamos?
Ronaldo Porto Faculdade de Regras do jogo e
Macedo Junior Direito da FGV-SP investimento no Brasil:
onde estamos e para
onde vamos?
2006 Samuel Pessoa professor da FGV- Regras do jogo e
RJ investimento no Brasil:
onde estamos e para
onde vamos?
2006 José Maria da IE/Unicamp Oportunidades para o
Silveira avanço da biotecnologia
no Brasil: impactos
econômicos e sociais
2006 Leila Oda USP Oportunidades para o
avanço da biotecnologia
no Brasil: impactos
econômicos e sociais
2006 Albert Fishlow Universidade de tendências e cenários da
Columbia (EUA) economia mundial e
seus impactos sobre o
Brasil
2006 André Portela professor da FGV- Caminhos para a
Souza SP reforma da Previdência
Social no Brasil
2006 Hélio Zylberstajn professor da Caminhos para a
FEA/USP reforma da Previdência
Social no Brasil
2006 Luís Eduardo FGV/EAESP e Caminhos para a
Afonso ESPM reforma da Previdência
Social no Brasil
2007 Bruno Delmas École Nationale Arquivos pessoais de
des Chartes titulares de cargos
(França) públicos: curadoria e
tratamento técnico
2007 Ana Maria de Faculdade de Arquivos pessoais de
Almeida Camargo Filosofia, Letras e titulares de cargos
Ciências Humanas públicos: curadoria e
da Universidade de tratamento técnico
São Paulo
(FFLCH-USP)
503
2007 Bruno Delmas École Nationale Arquivos pessoais de
des Chartes titulares de cargos
(França) públicos: curadoria e
tratamento técnico
2007 Luciana Quillet pesquisadora do Arquivos pessoais de
Heymann Centro de Pesquisa titulares de cargos
e Documentação públicos: curadoria e
de História tratamento técnico
Contemporânea do
Brasil da Fundação
Getúlio Vargas
(CPDOC-FGV) e
professora da
Escola Superior de
Ciências Sociais da
FGV.
2007 Heloísa Liberalli professora de pós- Arquivos pessoais de
Bellotto graduação em titulares de cargos
História Social da públicos: curadoria e
FFLCH e do curso tratamento técnico
de especialização
em Organização de
Arquivos do
Instituto de
Estudos Brasileiros
da Universidade de
São Paulo (IEB-
USP).
2007 Martin Grossmann professor titular da Arquivos pessoais de
Escola de titulares de cargos
Comunicações e públicos: curadoria e
Artes da tratamento técnico
Universidade de
São Paulo (ECA-
USP) e diretor do
Centro Cultural
São Paulo (CCSP)
2007 Regina Abreu professora e Arquivos pessoais de
pesquisadora no titulares de cargos
Programa de Pós- públicos: curadoria e
Graduação em tratamento técnico
Memória Social da
Universidade
Federal do Estado

504
do Rio de Janeiro
(UNIRIO).
2007 Carl Dahlman professor da Inovação e
Georgetown competitividade
University (EUA)
2007 Carlos Américo professor do Inovação e
Pacheco Instituto de competitividade
Economia da
Unicamp
2007 Carlos Henrique professor do Inovação e
de Brito Cruz Instituto de Física competitividade
da Unicamp
2007 João Furtado professor do Inovação e
Departamento de competitividade
Engenharia de
Produção da
Escola Politécnica
da Universidade de
São Paulo (POLI-
USP)
2007 Mario Cimoli professor do Inovação e
Departamento de competitividade
Economia da
Università di
Venezia (Itália)
2007 Dagmar Raczinski professora da Programas de
Universidad transferência de renda
Católica de Chile e condicionada
pesquisadora da
Asesorías para el
Desarrollo (Chile)
2007 Ernesto Cohen professor da Programas de
Faculdad transferência de renda
Latinoamericana condicionada
de Ciencias
Sociales
(FLACSO-Chile)
2007 Rolando Franco professor da Programas de
Faculdad transferência de renda
Latinoamericana condicionada
de Ciencias
Sociales
(FLACSO-Chile)

505
2007 Sônia Draibe professora do Programas de
Núcleo de Políticas transferência de renda
Públicas (NEPP) condicionada
da Unicamp.
2007 Creso Franco professor da Impasses e soluções para
Pontifícia uma política educacional
Universidade para a América Latina
Católica do Rio de
Janeiro (PUC-RJ)
2007 Cristián Cox professor da Impasses e soluções para
Universidad uma política educacional
Católica de Chile para a América Latina
2007 Denise Vaillant coordenadora do Impasses e soluções para
programa GTD- uma política educacional
PREAL, da para a América Latina
Universidad ORT
(Uruguai)
2007 Eunice Durham professora da Impasses e soluções para
Universidade de uma política educacional
São Paulo (USP) para a América Latina
2007 Gilbert Valverde professor da Impasses e soluções para
University of New uma política educacional
York (Albany, para a América Latina
EUA)
2007 Maria Ligia professora da Impasses e soluções para
Barbosa Universidade uma política educacional
Federal do Rio de para a América Latina
Janeiro (UFRJ)
2007 Naércio Aquino professor da Impasses e soluções para
Menezes Faculdade de uma política educacional
Economia e para a América Latina
Administração da
Universidade de
São Paulo (FEA-
USP)
2007 Rose Neubauer professora da Impasses e soluções para
Universidade de uma política educacional
São Paulo (USP) para a América Latina
2007 Michael Storper professor da A reinvenção do futuro
London School of das grandes metrópoles
Economics and e a nova agenda de
Political Science desenvolvimento
(Reino Unido) e da econômico e social da
University of América Latina

506
California (Los
Angeles, EUA)
2007 Matteo Bocci professor da A reinvenção do futuro
London School of das grandes metrópoles
Economics and e a nova agenda de
Political Science desenvolvimento
(Reino Unido) econômico e social da
América Latina
2007 Giuseppe Cocco Universidade A reinvenção do futuro
Federal do Rio de das grandes metrópoles
Janeiro (UFRJ) e a nova agenda de
desenvolvimento
econômico e social da
América Latina
2007 Miguel Lengyel pesquisador da A reinvenção do futuro
Facultad das grandes metrópoles
Latinoamericana e a nova agenda de
de Ciencias desenvolvimento
Sociales econômico e social da
(FLACSO- América Latina
Argentina)
2007 Pablo Sanguinetti professor da A reinvenção do futuro
Universidad das grandes metrópoles
Torcuato di Tella e a nova agenda de
(Argentina) desenvolvimento
econômico e social da
América Latina
2007 Gonzalo Chavez professor da A reinvenção do futuro
Universidad das grandes metrópoles
Católica de La Paz e a nova agenda de
(Bolívia) desenvolvimento
econômico e social da
América Latina
2007 Fernando Abrúcio professor da A reinvenção do futuro
Fundação Getúlio das grandes metrópoles
Vargas (FGV-SP) e e a nova agenda de
da Pontifícia desenvolvimento
Universidade econômico e social da
Católica de São América Latina
Paulo (PUC-SP)
2007 Eduardo Viola professor da Meio ambiente
Universidade de
Brasília (UnB)
2007 Myanna Lahsen Centro de Meio ambiente
Pesquisas sobre

507
Ciências e
Tecnologia da
University of
Colorado (EUA)
2007 Adalberto Moreira professor do Coesão social em
Cardoso Instituto democracia na América
Universitário de Latina
Pesquisas do Rio
de Janeiro
(IUPERJ);
2007 Ana María professora da Coesão social em
Mustapic Universidad democracia na América
Torcuato Di Tella Latina
(Argentina);
2007 Angelina Peralva professora da Coesão social em
Université de democracia na América
Toulouse (Le Latina
Mirail-França);
2007 Antonio Mitre professor da Coesão social em
Universidade democracia na América
Federal de Minas Latina
Gerais (UFMG)
2007 Ari Pedro Oro professor da Coesão social em
Universidade democracia na América
Federal do Rio Latina
Grande do Sul
(UFRGS)
2007 Bernardo Sorj professor da Coesão social em
Universidade democracia na América
Federal do Rio de Latina
Janeiro (UFRJ)
2007 Catalina diretora do Coesão social em
Smulovitz Departamento de democracia na América
Ciência Política e Latina
Estudos
Internacionais da
Universidad
Torcuato Di Tella
(Argentina)
2007 Danilo Martuccelli professor da Coesão social em
Université de democracia na América
Sciences et Latina
Technologies de
Lille (França);

508
2007 Demetrio Magnoli pesquisador do Coesão social em
Grupo de Análise democracia na América
da Conjuntura Latina
Internacional
(GACINT-USP);
2007 Denise Vaillant coordenadora do Coesão social em
programa GTD- democracia na América
PREAL, da Latina
Universidad ORT
(Uruguai);
2007 Enrique Larreta diretor-executivo Coesão social em
do Instituto de democracia na América
Pluralismo Latina
Cultural da
Universidade
Candido Mendes
(UCAM)
2007 George Yudice professor da Coesão social em
University of New democracia na América
York (EUA) Latina
2007 Juan Carlos Torre professor da Coesão social em
Universidad democracia na América
Torcuato Di Tella Latina
(Argentina)
2007 Leon Zamosc professor da Coesão social em
University of democracia na América
California (San Latina
Diego-EUA)
2007 Luis Alberto diretor do Coesão social em
Quevedo programa de democracia na América
Comunicação da Latina
Faculdad
Latinoamericana
de Ciencias
Sociales
(FLACSO-Chile)
2007 Luiz Cesar de professor da Coesão social em
Queiroz Ribeiro Universidade democracia na América
Federal do Rio de Latina
Janeiro (UFRJ)
2007 Nizar Messari professor da Coesão social em
Pontifícia democracia na América
Universidade Latina
Católica do Rio de
Janeiro (PUC-RJ);

509
2007 Ruben Kaztman diretor do Coesão social em
Programa de democracia na América
Investigação sobre Latina
Pobreza,
Integração e
Exclusão Social da
Universidad
Católica del
Uruguay
2007 Eduardo Giannetti economista e Brasil e México: o
da Fonseca professor titular do desafio do crescimento
IBMEC São Paulo acelerado
2007 Timothy Garton historiador The world crisis of
Ash britânico, professor democratic leadership
de Estudos and how Brazil can
Europeus da contribute to addressing
University of it
Oxford (Reino
Unido), Isaiah
Berlin Professorial
Fellow do St.
Antony’s College
(Oxford-Reino
Unido) e Senior
Fellow da Hoover
Institution, da
University of
Stanford (EUA)
2007 Celso Lafer professor da The world crisis of
Universidade de democratic leadership
São Paulo (USP) and how Brazil can
contribute to addressing
it
2007 Edward Glaeser John F. Kennedy Um novo repertório de
School of estratégias frente ao
Government crime e à violência na
América Latina
2007 José Alexandre professor da Um novo repertório de
Scheinkman Princeton estratégias frente ao
University (EUA) crime e à violência na
América Latina
2007 Per-Olof professor da Um novo repertório de
Wikström Cambridge estratégias frente ao
University (Reino crime e à violência na
Unido) América Latina

510
2007 Maurício Rúbio professor da Um novo repertório de
Universidad de los estratégias frente ao
Andes (Colômbia) crime e à violência na
América Latina
2007 Leandro Piquet professor do Um novo repertório de
Carneiro departamento de estratégias frente ao
Ciência Política e crime e à violência na
pesquisador do América Latina
Núcleo de Pesquisa
de Políticas
Públicas (NUPPS),
da Universidade de
São Paulo (USP)
2007 Ana Maria professora da Um novo repertório de
Sanjuan Universidad estratégias frente ao
Central de crime e à violência na
Venezuela América Latina
2007 Claudio Beato professor da Um novo repertório de
Universidade estratégias frente ao
Federal de Minas crime e à violência na
Gerais (UFMG) América Latina
2007 Keith Krause professor da Um novo repertório de
University of estratégias frente ao
Oxford (Reino crime e à violência na
Unido) América Latina
2007 Christopher professor da Um novo repertório de
Winship Harvard University estratégias frente ao
(EUA) crime e à violência na
América Latina
2007 Hugo Fruhling professor da Um novo repertório de
Universidad de estratégias frente ao
Chile crime e à violência na
América Latina
2007 Rodrigo Soares professor da Um novo repertório de
Maryland estratégias frente ao
University (EUA) crime e à violência na
e da Pontifícia América Latina
Universidade
Católica do Rio de
Janeiro (PUC-RJ)
2007 Regina Madalozzo professora do Um novo repertório de
IBMEC São Paulo estratégias frente ao
crime e à violência na
América Latina

511
2007 Archon Fung professor da Um novo repertório de
Harvard University estratégias frente ao
(EUA) crime e à violência na
América Latina
2007 Paulo Mesquita professor da Um novo repertório de
Universidade de estratégias frente ao
São Paulo (USP) crime e à violência na
América Latina
2007 José Miguel Cruz professor da Um novo repertório de
Universidad estratégias frente ao
Centro Americana crime e à violência na
(El Salvador) América Latina
2007 Joaquim Falcão diretor da Escola Cultura das
de Direito da transgressões no Brasil:
Fundação Getúlio lições da história.
Vargas do Rio de Superar essa cultura é
Janeiro (FGV-RJ) condição para o
desenvolvimento?
2007 José Murilo de professor do Cultura das
Carvalho Departamento de transgressões no Brasil:
História da lições da história.
Universidade Superar essa cultura é
Federal do Rio de condição para o
Janeiro (UFRJ) desenvolvimento?
2007 Leandro Piquet professor do Novas estratégias frente
Carneiro Núcleo de Pesquisa ao crime e à violência no
de Políticas Brasil e na América
Públicas (NUPPS) Latina
da Universidade de
São Paulo (USP)
2007 Regina Madalozzo professora do Novas estratégias frente
IBMEC São Paulo ao crime e à violência no
e superintendente Brasil e na América
do Instituto Futuro Latina
Brasil (IFB)
2007 Rodrigo Soares professor da Novas estratégias frente
University of ao crime e à violência no
Maryland (EUA) e Brasil e na América
da PUC-RJ Latina
2007 Christopher Stone na John F. Políticas de combate ao
Kennedy School of crime: experiências e
Government, da lições internacionais
Harvard University
(EUA)

512
2007 Ernesto Ph.D em economia Políticas de combate ao
Schargrodsky pela Harvard crime: experiências e
University e lições internacionais
decano da Escola
de Negócios da
Universidad
Torcuato Di Tella
(Argentina).
2007 Leandro Piquet professor do Políticas de combate ao
Carneiro departamento de crime: experiências e
Ciência Política e lições internacionais
pesquisador do
Núcleo de Pesquisa
de Políticas
Públicas (NUPPS),
da Universidade de
São Paulo (USP),
2008 Eduardo.Viola UNB sEmiNário “As
NEGoCiAçÕEs soBrE o
ClimA Em FAsE
DECisiVA: o QuE Está
Em JoGo, o QuE
QuErEm os GrANDEs
JoGADorEs E Como
DEVE JoGAr o BrAsil”
2008 Celso Lafer USP Repensando a
Democracia na América
Latina
2008 Bernardo Sorj UFRJ Repensando a
Democracia na América
Latina
2008 Maria Hermínia USP Repensando a
Tavares de Democracia na América
Almeida Latina
2008 Gilberto Dupas USP Repensando a
Democracia na América
Latina
2008 Danilo Martuccelli Universidade de Repensando a
Lille 3 Democracia na América
Latina
2008 Manuel Mora y Universidad Repensando a
Araujo Torcuato di Tella Democracia na América
(Argentina) Latina

513
2008 Gonzalo Chavez Universidad Repensando a
Catolica Boliviana Democracia na América
(Bolivia) Latina
2008 Boris Fausto USP Repensando a
Democracia na América
Latina
2008 Demetrio Magnoli USP Repensando a
Democracia na América
Latina
2008 Ricardo Steinfus UFSM Repensando a
Democracia na América
Latina
2008 Kenneth.Rogoff Harvard tHE CurrENt
FiNANCiAl Crisis AND
its imPACt oN tHE
GloBAl ECoNomy: is
tHis timE DiFFErENt?”
2008 Rubens Ricupero FAAP As eleições americanas
2008 Sérgio Amaral FAAP As eleições americanas
2008 Luiz Gonzaga Unicamp A CrisE E o rEméDio: o
Beluzzo sistEmA FiNANCEiro
iNtErNACioNAl
PrECisA DE mAis
rEGulAção?”
2008 Claudio Haddad Ibmec “mAis PolíCiA E mAis
Prisão: BoNs rEméDios
PArA o CoNtrolE Do
CrimE?”
2008 José Alexandre Princeton “mAis PolíCiA E mAis
Scheikman University Prisão: BoNs rEméDios
PArA o CoNtrolE Do
CrimE?”
2008 Aloisio Pessoa de FGV “mAis PolíCiA E mAis
Araújo Prisão: BoNs rEméDios
PArA o CoNtrolE Do
CrimE?”
2008 Mauricio Mesquita BID “imPACtos Dos Custos
Moreira DE trANsPortE soBrE A
iNtEGrAção rEGioNAl
2008 Pedro de Camargo ABIPECS “imPACtos Dos Custos
Neto DE trANsPortE soBrE A
iNtEGrAção rEGioNAl
2008 Paul Kennedy Yale University muDANçAs NA
BAlANçA Do PoDEr
GloBAl: PErsPECtiVAs
514
ECoNÔmiCAs E
GEoPolítiCAs
2008 Nayan Chanda Yale University muDANçAs NA
BAlANçA Do PoDEr
GloBAl: PErsPECtiVAs
ECoNÔmiCAs E
GEoPolítiCAs
2008 Zhiwu Chen Yale University muDANçAs NA
BAlANçA Do PoDEr
GloBAl: PErsPECtiVAs
ECoNÔmiCAs E
GEoPolítiCAs
2008 Sérgio Amaral FAAP muDANçAs NA
BAlANçA Do PoDEr
GloBAl: PErsPECtiVAs
ECoNÔmiCAs E
GEoPolítiCAs
2008 Rubens Ricupero FAAP muDANçAs NA
BAlANçA Do PoDEr
GloBAl: PErsPECtiVAs
ECoNÔmiCAs E
GEoPolítiCAs
2008 Roberto Macedo FAAP muDANçAs NA
BAlANçA Do PoDEr
GloBAl: PErsPECtiVAs
ECoNÔmiCAs E
GEoPolítiCAs
2008 Célio Borja UERJ DEmoCrACiA E
EstADo DE DirEito: o
JuDiCiário Em FoCo
2008 Joaquim Falcão FGV DEmoCrACiA E
EstADo DE DirEito: o
JuDiCiário Em FoCo
2008 Miguel Reale Jr USP DEmoCrACiA E
EstADo DE DirEito: o
JuDiCiário Em FoCo
2008 Tércio Sampaio USP DEmoCrACiA E
Ferraz EstADo DE DirEito: o
JuDiCiário Em FoCo
2008 Joaquim Falcão FGV usos E ABusos Dos
GrAmPos tElEFÔNiCos
2008 Tércio Sampaio USP usos E ABusos Dos
Ferraz GrAmPos tElEFÔNiCos
2009 Albert Fishlow Columbia NuEVos DEsAFíos DE
University lA DEmoCrACiA y DEl
515
DEsArrollo EN
AmériCA lAtiNA

2009 Michael Petin Universidade de The Global Crisis Seen


Pequim fron Chine

2009 Fábio Wanderley UFMG CulturA DAs


Reis trANsGrEssÕEs:
VisÕEs Do PrEsENtE
2009 Celso Lafer USP CulturA DAs
trANsGrEssÕEs:
VisÕEs Do PrEsENtE
2009 Joaquim Falcão FGV os triBuNAis Em
DEBAtE: mANDAtos,
PoDErEs E EstruturAs
2009 René Passet Sorbonne CoNFErêNCiA DE são
PAulo
2009 Victor Shih Northwestern CHiNA Post-Crisis:
University ECoNomiC AND
PolitiCAl CHAllENGEs
2009 Minxin Pei Caremont College CHiNA Post-Crisis:
ECoNomiC AND
PolitiCAl CHAllENGEs
2010 Boris Fausto USP lançamento do livro
Judaísmo para todos
2010 Renato Janine SUP lançamento do livro
Ribeiro Judaísmo para todos
2010 Linda Lorimer Yale University digital Yale: sharing
information and
knowledge in an
increasingly digital
world
2010 Alexandre Uehara USP Mesa-redonda reforma
da onu
2010 Flávia de Campos PUC-SP Mesa-redonda reforma
Mello da onu
2010 Joseph Nye Harcard University obama and the future of
american powe
2010 Carlos Romero professor da dinâmicas geopolíticas
Universidad globais e o futuro da
Central de democracia na américa
Venezuela latina
2010 Antonio Mitre , professor da Mesa-redonda dinâmicas
Universidade geopolíticas globais e o

516
Federal de Minas futuro da democracia na
Gerais (UFMG); américa latina
2010 John Wilkinson , professor da Mesa-redonda dinâmicas
Universidade geopolíticas globais e o
Federal Rural do futuro da democracia na
Rio de Janeiro américa latina
(UFRRJ);
2010 Daniel Pécaut pesquisador da seminário de lançamento
École des Hautes do livro As FARC. Uma
Études en Sciences guerrilha sem fins?
Sociales de Paris
2010 Gerd Sparovek professor da Escola agricultura vs. meio
de Agronomia Luiz ambiente? um debate
de Queiroz sobre o código Florestal
(ESALQ-USP). Brasileiro
2010 Manuel Castells professor de seminário sobre o livro
Sociologia da Communication power
Universidade
Aberta da
Catalúnia
(Barcelona) e da
University of
Southern
California (Los
Angeles)
2010 Antônio Delfim , ex-ministro do índia: uma nova china
Netto Planejamento, para as economias do
professor emérito Brasil e da américa
da Faculdade de latina?
Economia e
Administração da
Universidade de
São Paulo (USP)
2010 Antônio Barros de professor emérito índia: uma nova china
Castro do Instituto de para as economias do
Economia da Brasil e da américa
Universidade latina?
Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) e
membro do
Institute for
Advanced Study da
Universidade de
Princeton (EUA).

517
2010 Henry Pease professor da o estado da democracia
Garcia Universidade na américa latina
Católica de Lima
2011 Renato Janine professor de Ética Cultura das
Ribeiro e Filosofia Política transgressões no Brasil:
da Universidade cenários do amanhã
de São Paulo Lançamento do livro
(USP) com título homônimo
2011 Ricardo economista e A América Latina em
Hausmann diretor do Center um mundo em
for International transformação
Development, de Seminário
Harvard (EUA)
2011 José Goldemberg professor da USP Energia nuclear no
Brasil: vale a pena ter
mais? Seminário
2011 Celso Lafer professor de Mudanças geopolíticas e
Direito da USP geoeconômicas e o
papel do Brasil na
América do Sul
Seminário
2011 Bóris Fausto presidente do Mudanças geopolíticas e
Grupo de Análise geoeconômicas e o
da Conjuntura papel do Brasil na
Internacional da América do Sul
USP (GACINT- Seminário
USP)
2011 Gunther Rudzit coordenador de Mudanças geopolíticas e
relações geoeconômicas e o
internacionais da papel do Brasil na
Fundação América do Sul
Armando Alvares Seminário
Penteado (FAAP)
2011 Luciano de Freitas assistente da Mudanças geopolíticas e
Pinto reitoria da geoeconômicas e o
Universidade papel do Brasil na
Estadual de América do Sul
Campinas Seminário
(Unicamp)
2011 Maria Hermínia professora do Mudanças geopolíticas e
Tavares Instituto de geoeconômicas e o
Relações papel do Brasil na
Internacionais da América do Sul
USP (IRI-USP) Seminário

518
2011 Roberto Russell professor da Mudanças geopolíticas e
Universidad di geoeconômicas e o
Tella (Argentina) papel do Brasil na
América do Sul
Seminário
2011 Jorge Castañeda professor O fracasso da guerra às
catedrático da New drogas na América
York University Latina e no México
Seminário
2011 Dominique Moïsi professor da Encontro com
Harvard University Dominique Moïsi
2011 Antônio Sérgio professor titular do Raça e cidadania no
Alfredo Departamento de Brasil: a questão das
Guimarães Sociologia da cotas Seminário
Faculdade de
Filosofia, Letras e
Ciências Humanas
(FFLCH-USP)
2012 Fernando Abrucio professor da Como Ampliar a
Fundação Getúlio Transparência e o
Vargas Controle na Gestão de
Grandes Cidades
2012 Ronaldo professor da Mobilidade Urbana:
Balassiano COPPE/UFRJ Esse Problema tem
Solução?
2012 Thomas Kane professor e diretor Educação: Como
do Centro de Garantir a Efi ciência do
Pesquisas em Ensino em Regiões
Políticas Metropolitanas
Educacionais da
Universidade de
Harvard
2012 Barry Eichengreen economista da The Global Financial
Universidade da Crisis: Currencies and
Califórnia, Future Scenarios
Berkeley
2012 Sônia Fleury professora titular Saúde Municipal: Os
da FGV- Desafios do SUS e o
RIO/EBAPE – Papel das Parcerias
Escola Brasileira Público-Privadas
de Administração
Pública e de
Empresas, da
Fundação Getúlio
Vargas

519
2012 Cláudio Beato professor titular do Segurança
Departamento de Metropolitana: Qual é o
Sociologia da Papel dos Municípios na
UFMG e Prevenção da
coordenador do Criminalidade?
CRISP – Centro de
Estudos em
Criminalidade e
Segurança Pública
2012 Leandro Piquet professor do Segurança
Instituto de Metropolitana: Qual é o
Relações Papel dos Municípios na
Internacionais da Prevenção da
Universidade de Criminalidade?
São Paulo e
coordenador do
programa de
pesquisa em
segurança e
criminalidade do
NUPPs – Núcleo
de Pesquisa em
Políticas Públicas
da mesma
universidade
2012 Antonio Delfi m economista e Keynes, Crise e Política
Netto professor-emérito Fiscal: um debate
da Faculdade de necessário sobre um
Administração, tema mal compreendido
Economia e
Contabilidade da
USP.
2012 Ricardo Toledo professor titular de Integração
Silva Infraestrutura Metropolitana: Novos
Urbana da Desafi os em
Faculdade de Saneamento e Gestão de
Arquitetura e Recursos Hídricos
Urbanismo da USP
2013 Celso lafer porfessor emérito Brasil e américa latina:
do instituto de que liderança é possível?
relações
internacionais da
USP

520
2013 Fernando rezende economista, State vs. Market: a
professor titular da contemporary
EBAPE - FgV Perspective
2013 david Shambaugh (diretor do China: the challenges of
programa sobre a the new leadership
China da
Universidade de
george
Washington),
2013 Manuel Castells Crise na europa: protesto
social e mudança
política
2013 eduardo viola (professor titular os limites planetários do
do instituto de crescimento econômico
relações
internacionais da
Universidade de
Brasília
2013 roberto lotufo (professor titular a cultura empreendedora
na Faculdade de no Brasil: riscos e
Engenharia oportunidades
Elétrica e de
Computação da
Unicamp)
2013 Silvio Meira professor titular de a cultura empreendedora
Engenharia de no Brasil: riscos e
Software do Centro oportunidades
de informática da
UFPE
2013 Sahin alpay professor de turkey: domestic and
ciência política e foreign policy in a
relações convulsed Middle east
internacionais da
Universidade de
Bahcesehir em
istambul
2013 Stephen Walt professor de taming the american
relações Power: US Foreign
internacionais da Policy in a Multipolar
Universidade de World
Harvard
2013 Fernanda pesquisadora do Participação do Setor
Meirelles Centro de Privado na oferta de
Pesquisas Jurídicas Bens Públicos
Aplicadas da

521
Escola de Direito
da FgV-SP
2013 Carlos américo reitor do iTA - empreendedorismo e
Pacheco instituto sistemas de inovação:
Tecnológico de como superar os
Aeronáutica desafios brasileiros
2014 Ashraf El-Sherif professor de EGITO: A
ciência política da DEMOCRACIA AINDA
American TEM UMA CHANCE?
University, no
Cairo
2014 James Stavridis reitor da Escola AS AMÉRICAS NO
Fletcher de Direito SÉCULO 21: AS
e Diplomacia da PERSPECTIVAS DO
Universidade de BRASIL E DOS
Tufts ESTADOS UNIDOS
2014 Celso Lafer professor emérito AS AMÉRICAS NO
do Instituto de SÉCULO 21: AS
Relações PERSPECTIVAS DO
Internacionais da BRASIL E DOS
USP ESTADOS UNIDOS
2014 Danilo Martuccelli Professor de PARTICIPAÇÃO,
sociologia da ESPAÇO PÚBLICO E
Universidade Paris JUVENTUDE NA
Descartes, membro AMÉRICA LATINA
do Institut
Universitaire de
France e
investigador no
Cerlis-CNRS
2014 Carlos Ary professor da Escola PROGRAMA
Sundfeld de Direito da FGV- FEDERAL DE
SP INVESTIMENTOS EM
LOGÍSTICA: ONDE
ESTAMOS, PARA
ONDE VAMOS?
2014 Sam Zhao (diretor-executivo EUA E CHINA:
do Centro de CHANCES DE
Cooperação China CONFLITO E
EUA da COOPERAÇÃO NA
Universidade de RELAÇÃO ENTRE AS
Denver DUAS POTÊNCIAS
2014 Sam Zhao (diretor-executivo REFORMAS,
do Centro de POLÍTICA EXTERNA
Cooperação China E NACIONALISMO

522
EUA da NA CHINA PÓS-
Universidade de COMUNISTA: O QUE
Denver ESPERAR DA NOVA
LIDERANÇA
CHINESA?
2014 José Roberto pesquisador do OS DESAFIOS DE
Afonso FGV/IBRE FINANCIAMENTO À
SAÚDE PÚBLICA NO
BRASIL
2014 Paulo Modesto professor de direito OS DESAFIOS À
administrativo da GESTÃO DA SAÚDE
Universidade NO BRASIL
Federal da Bahia
2014 John Wilkinson especialista em O NOVO MUNDO
estudos RURAL E O
agroalimentares e DESENVOLVIMENTO
professor da DO BRASIL
Universidade
Federal Rural do
Rio de Janeiro
2014 Antônio Márcio (professor do O NOVO MUNDO
Buainain Instituto de RURAL E O
Economia da DESENVOLVIMENTO
Unicamp e DO BRASIL
pesquisador do
Instituto Nacional
de Ciência e
Tecnologia em
Políticas Públicas,
Estratégia e
Desenvolvimento
(INCT/PPED
2014 Valdir Schalch professor da GESTÃO DE
UFSCAR e RESÍDUOS SÓLIDOS
coordenador do
Núcleo de Estudo e
Pesquisa em
Resíduos Sólidos
[NEPER)
2014 Leandro Piquet professor da USP e OPORTUNIDADES E
coordenador do AVANÇOS NA
programa de SEGURANÇA
pesquisa em PÚBLICA
segurança e BRASILEIRA
criminalidade do

523
Núcleo de
Pesquisas em
Políticas Públicas
[NUPPs] da USP
2014 Renato Sergio de professor da FGV OPORTUNIDADES E
Lima e membro do AVANÇOS NA
Fórum Brasileiro SEGURANÇA
de Segurança PÚBLICA
Pública BRASILEIRA
2014 Lanxin Xiang (professor do CHINA: DESAFIOS
Graduate Institute INTERNOS E
of Geneva e da PROJEÇÃO GLOBAL
School of
Advanced
International
Studies da Johns
Hopkins
University
2014 José Roberto economista, foi O BRASIL NO NOVO
Mendonça de professor da MANDATO
Barros Faculdade de PRESIDENCIAL (2015-
Economia da USP 2018)
2014 Leandro Pique USP CRIME
ORGANIZADO E
JOVENS DA
PERIFERIA
2015 Renato Janine professor titular de os ATenTADos De
Ribeiro Ética e Filosofi a PAris: signiFiCADos e
Política da ConseQUÊnCiAs Dos
Universidade de ATos De Terror
São Paulo
2015 Ronaldo Lemos professor e inTerneT e
pesquisador, MoBiliZAÇÕes
leciona na soCiAis:
Faculdade de TrAnsForMAÇÕes Do
Direito da esPAÇo PÚBliCo e DA
Universidade do soCieDADe Civil
Estado do Rio de
Janeiro, UERJ
2015 Alfredo Valladão professor na TrADe, FooD, energY
Sciences Po AnD ChAnges in The
(PSIA) inTernATionAl sYsTeM:
vieWs FroM norTh AnD
soUTh ATlAnTiC
nATions

524
2015 Esther Brimmer professor no TrADe, FooD, energY
International AnD ChAnges in The
Affairs George inTernATionAl sYsTeM:
Washington vieWs FroM norTh AnD
University soUTh ATlAnTiC
nATions
2015 John Wilkinson professor da TrADe, FooD, energY
Universidade AnD ChAnges in The
Federal do Rio de inTernATionAl sYsTeM:
Janeiro vieWs FroM norTh AnD
soUTh ATlAnTiC
nATions
2015 José Goldemberg reitor da TrADe, FooD, energY
Universidade de AnD ChAnges in The
São Paulo inTernATionAl sYsTeM:
vieWs FroM norTh AnD
soUTh ATlAnTiC
nATions
2015 Luís Roberto professor titular da ConsTiTUiÇÃo, DireiTo
Barroso Universidade do e PolÍTiCA: o sTF e os
Estado do Rio de PoDeres DA rePÚBliCA
Janeiro (UFRJ).
2015 Carlos Henrique professor titular no inovAÇÃo e sAÚDe no
Britto Cruz Instituto de Física BrAsil: iDenTiFiCAnDo
da Unicamp DesAFios e BUsCAnDo
solUÇÕes
2015 Giovanni Cerri professor titular de inovAÇÃo e sAÚDe no
Radiologia da BrAsil: iDenTiFiCAnDo
FMUSP DesAFios e BUsCAnDo
solUÇÕes
2015 Henrique professor da As relAÇÕes enTre
Cymerman Universidade isrAel e PAlesTinA: A
Israelita IDC e visÃo e o TesTeMUnho
correspondente do De UM grAnDe
Médio Oriente para JornAlisTA
La Vanguardia,
Antena 3, SIC e
Globo News
2015 Luigi Zingales professor de o CAPiTAlisMo PArA o
Empreendedorismo Povo e o PAPel Do
e Finanças na esTADo
University of
Chicago Booth
School of Business
e autor do livro

525
Saving Capitalism
from Capitalists.
2015 Carlos Ari professor titular da reMoÇÃo De
Sundfeld FGV Direito SP e oBsTÁCUlos Ao
presidente da invesTiMenTo eM
Sociedade inFrAesTrUTUrA: UMA
Brasileira de ConTriBUiÇÃo Ao
Direito Público DeBATe PÚBliCo e À
(SBDP). AgenDA De PolÍTiCAs
2016 Sérgio Besserman, presidente do crEscimEnto,
Instituto Municipal dEmocracia E
Pereira Passos, da distriBuição da rEnda:
Câmara Técnica de Em Busca dE um novo
Desenvolvimento modElo
Sustentável da
Prefeitura da
Cidade do Rio de
Janeiro e professor
de economia e
engenharia
ambiental da PUC-
RJ
2016 Luis Vicente León Professor no vEnEZuEla: Há luZ no
Instituto de Fim do tÚnEl do
Estudios cHavismo?
Superiores de
Administración
(IESA) e
Universidad
Católica Andrés
Bello (UCAB).
Membro do
Conselho da
UCAB e
conferencista.
2016 Uzi Rabi diretor do Moshe a gEopolÍtica do oriEntE
Dayan Center para mÉdio E as cHancEs dE
Estudos do Oriente uma solução dE dois
Médio e áfrica e Estados
pesquisador sênior
do Centro de
Estudos Iranianos,
ambos da
Universidade de
Tel Aviv

526
2016 David doutor em o Fim do triunFalismo
Zylbersztajn Economia da pEtrolEiro E a
Energia pela dEFinição dE novos
Universidade de rumos para a EnErgia no
Grenoble - França Brasil
2016 Isidoro Cheresky professor de Teoria lançamEnto E-BooK
Política ativismo polÍtico Em
Contemporânea na tEmpos dE intErnEt
Universidade de
Buenos Aires e
pesquisador
principal
contratado do
Consejo Nacional
de Investigaciones
Científicas y
Técnicas (Conicet).
2016 Marco Aurélio professor de Teoria lançamEnto E-BooK
Nogueira Política e ativismo polÍtico Em
coordenador tEmpos dE intErnEt
científico do
Núcleo de Estudos
e Análises
Internacionais
2016 Pablo Ortellado professor doutor do lançamEnto E-BooK
curso de Gestão de ativismo polÍtico Em
Políticas Públicas e tEmpos dE intErnEt
orientador no
programa de pós-
graduação em
Estudos Culturais
da USP
2016 Carlos Pagni Professor de argEntina: um Balanço
História e dos primEiros sEis
pesquisador na mEsEs do govErno
universidad macri
Nacional de Mar
del Plata e
pesquisador na
universidad de
Buenos Aires
2016 Ernesto Ricardo professor de direito argEntina: um Balanço
Sanz na Facultad de dos primEiros sEis
Ciencias mEsEs do govErno
Económicas da macri

527
Universidad
Nacional de Cuyo
e no Instituto de
Seguridad Pública
2016 Nicolas Dujovne professor da argEntina: um Balanço
Universidad de dos primEiros sEis
Buenos Aires e da mEsEs do govErno
Universidad Di macri
Tella
2016 Pablo Gerchunoff professor emérito argEntina: um Balanço
da universidad dos primEiros sEis
Torcuato Di Tella, mEsEs do govErno
professor de honra macri
da universidad de
Buenos Aires e
pesquisador do
Instituto de
Estudios
Latinoamericanos
da universidad de
Alcalá de Henares.
2016 Paulo Portas Professor a Europa Em sua Hora
convidado de mais gravE
Economia e
Geopolítica nas
Relações
Internacionais na
universidade Nova
de Lisboa
2016 Claudia Costin É professora da Educação no Brasil: o
Faculdade de QuE podEmos aprEndEr
Educação de com o mundo?
Harvard.
2016 Naercio Menezes professor Educação no Brasil: o
Filho associado da USP QuE podEmos aprEndEr
com o mundo?
2016 Juan Gabriel sociólogo e dEmocracias
Tokatlian professor de turBulEntas: o QuE
Relações acontEcE na Europa, na
Internacionais na amÉrica latina E nos
universidad Di Eua?
Tella (uTDT), em
Buenos Aires

528
2016 Flávio Luiz professor de 20 anos da lEi E o
Yarshell Direito na uSP Futuro da arBitragEm no
Brasil
2016 Marcelo José professor de 20 anos da lEi E o
Magalhães graduação e de Futuro da arBitragEm no
Bonizzi pós-graduação da Brasil
USP, autor de
livros e artigos e
procurador do
Estado de São
Paulo
2016 Lanxin Xiang professor de a cHina soB Xi Jinping:
História o QuE QuEr E o QuE
Internacional e podE o lÍdEr cHinês?
Política do
Graduate Institute
of International
and Development
Studies (IHED)
2016 Heizo Takenaka Professor Japão: a polÍtica
honorário na Keio EconÔmica dE sHinZo
university, em aBE Em QuEstão
Tóquio, onde
lecionou por
muitos anos.
2016 Fernando Limongi professor titular da a polÍtica Em crisE:
uSP como virar o Jogo?
2017 David Held diretor do DIREITOS HUMANOS
university college, E DEMOCRACIA: O
da universidade de MUNDO ESTÁ EM
durham (reino MARCHA A RÉ?
unido), onde
também é
professor de
ciência Política e
relações
internacionais e
diretor do institute
of global Policy.
2017 Eduardo Augusto professor titular do POLÍTICA
Guimarães instituto de INDUSTRIAL PARA
economia da uFrJ PETRÓLEO E GÁS:
QUAL O RUMO A
SEGUIR?

529
2017 Eloi Fernández y pesquisador do POLÍTICA
Fernández departamento de INDUSTRIAL PARA
engenharia PETRÓLEO E GÁS:
Mecânica da Puc- QUAL O RUMO A
rio e diretor-geral SEGUIR?
da organização
nacional da
indústria do
Petróleo (oniP,
2002-2017).
2017 Nuno Crato Professor A EVOLUÇÃO DE
catedrático de PORTUGAL NA
Matemática e EDUCAÇÃO: O QUE
estatística no O BRASIL TEM A
instituto superior APRENDER?
de economia e
gestão. licenciado
em economia,
mestre em
Métodos
Matemáticos para
gestão de empresa
pela universidade
técnica de lisboa e
doutor em
Matemática
aplicada pela
universidade de
delaware
2017 Larry Diamond, pesquisador sênior HÁ UM DECLÍNIO
na hoover GLOBAL DAS
institution, da DEMOCRACIAS
universidade de LIBERAIS?
stanford
2017 Dino Cofrancesco professor emérito EUROPA: PASSADO,
da Universidade PRESENTE E
de Gênova FUTURO DE UMA
IDEIA
2017 Carlos Antonio diretor do ceMec BRASIL:
Rocca – centro de PRODUTIVIDADE E
estudos do COMPETITIVIDADE
instituto ibMec e
membro do
conselho do ibgc

530
2017 Marcos Troyjo codiretor do BRASIL:
briclab na PRODUTIVIDADE E
columbia COMPETITIVIDADE
university
2017 Elmer Cuba professor da PERU: UM
Bustinza Pontifícia MODELO PARA A
universidade AMÉRICA
católica do Peru LATINA?
2017 Martin Tanaka professor da PERU: UM
Pontifícia MODELO PARA A
universidade AMÉRICA
católica do Peru LATINA?
2017 Pierpaolo Cruz dvogado, professor FINANCIAMENTO
Bottini livre-docente da DE CAMPANHAS:
usP e membro da QUE MODELO O
comissão de BRASIL DEVE
Jurados do Prêmio ADOTAR?
innovare
2017 Beto Ferreira professor de FINANCIAMENTO
Martins direito da Fgv-rJ e DE CAMPANHAS:
Vasconcelos pesquisador QUE MODELO O
visitante na BRASIL DEVE
universidade ADOTAR?
columbia (nY)
2017 Silvana Batini professora da Fgv FINANCIAMENTO
Cesar Góes na mesma cidade DE CAMPANHAS:
QUE MODELO O
BRASIL DEVE
ADOTAR?
2017 Marcos Vinícius professor na FINANCIAMENTO
Fundação armando DE CAMPANHAS:
alvares Penteado QUE MODELO O
(FaaP) e fundador BRASIL DEVE
e sócio da campos ADOTAR?
& antonioli. Sergio
Fausto, cientista
político e
superintendente da
Fundação
2017 Pablo Gerchunoff professor emérito ELEIÇÕES
da universidad PARLAMENTARES
torcuato di tella, NA ARGENTINA:
professor de honra NOVOS
da universidad de HORIZONTES
buenos aires e ECONÔMICOS E

531
pesquisador do POLÍTICOS PARA
instituto de O GOVERNO DE
estudios MAURÍCIO
latinoamericanos, MACRI?
da universidad de
alcalá de henares.
2017 Manuel leciona economia INOVAÇÕES
Trajtenberg na universidade de DISRUPTIVAS E O
tel aviv, é membro FUTURO DO
de institutos de EMPREGO:
pesquisa nos AMEAÇAS E
estados unidos e OPORTUNIDADES
na europa,
participa de
conselhos
consultivos da
organização para a
cooperação e
desenvolvimento
econômico (ocde).
especialista em
economia da
tecnologia e da
inovação
2017 Mikael Román também é DESENVOLVIMENTO
professor TECNOLÓGICO E
associado do COOPERAÇÃO
centro de ciência INTERNACIONAL: O
climática e PROJETO GRIPEN
Pesquisa Política EM PAUTA
na universidade
de linköping, na
suécia. cientista
social, ph.d. em
ciência Política e
pós-doutor pelo
centro de estudos
internacionais no
instituto de
tecnologia de
Massachusetts
(Mit).
2017 Patrícia Sampaio professora da Fgv A IMPORTÂNCIA
direito rio e da DOS PARQUES
Unirio

532
PÚBLICOS NAS
GRANDES CIDADES
2017 David professor de O 19º CONGRESSO E
Shambaugh estudos asiáticos,
O FUTURO DO
ciência Política e
PARTIDO
assuntos COMUNISTA DA
internacionais e CHINA
diretor fundador
do Programa de
Política da china
na universidade
george
Washington.
2017 Alfredo Romero professor da A LUTA PELA
universidade DEMOCRACIA NA
central da VENEZUELA E O
venezuela. David QUE O BRASIL PODE
Smolansky FAZER
2017 Dominique Reynié professor MACRON
associado de FRENTE À
ciência Política do AMEAÇA DO
instituto de estudos NACIONALISMO
Políticos de Paris XENÓFOBO E À
(sciences Po) e ESPERANÇA DE
diretor-geral da RENOVAÇÃO DO
Fundação para a PROJETO
inovação Política EUROPEU
(Fondapol).
2017 Marc Lazar ofessor de história MACRON
e sociologia FRENTE À
Política na AMEAÇA DO
sciences Po, na NACIONALISMO
qual é também XENÓFOBO E À
presidente do ESPERANÇA DE
centro de história, RENOVAÇÃO DO
diretor do PROJETO
departamento de EUROPEU
História e
presidente do
Conselho Científi
co. É professor
associado e
presidente da
School of
government na

533
universidade luiss-
guido carli, em
roma.
2017 André Portela professor da escola REFORMA
de economia de TRABALHISTA:
são Paulo da Fgv, O QUE MUDA, O
coordenador do QUE DEVE
centro de MUDAR
Microeconomia
aplicada e diretor
do centro Fgv
eesP.
2017 Gustavo Badaró professor A DELAÇÃO
associado de PREMIADA:
direito Processual UMA
Penal da usP COMPARAÇÃO
ENTRE OS
ESTADOS
UNIDOS E O
BRASIL
2017 Peter Messitte juiz federal do A DELAÇÃO
distrito de PREMIADA:
Maryland, estados UMA
unidos e diretor do COMPARAÇÃO
Programa brasil- ENTRE OS
eua de estudos ESTADOS
legais e Jurídicos UNIDOS E O
na american BRASIL
university
Washington
college of law.
2018 Matias Spektor professor e 50 ANOS DO
coordenador do TRATADO DE
Centro de Relações NÃO
Internacionais da PROLIFERAÇÃO
FGV-SP DE ARMAS
NUCLEARES:
IMPASSES E
PERSPECTIVAS
2018 José Caixeta Filho professor titular da SEGURANÇA
Escola Superior de ALIMENTAR
Agricultura Luiz GLOBAL: UMA
de Queiroz POLÍTICA DE
(ESALQ) da USP ESTADO
e coordenador do

534
Grupo de Pesquisa
e Extensão em
Logística
Agroindustrial
(ESALQ- LOG)
2018 Roberto Rodrigues agrônomo e SEGURANÇA
agricultor, é ALIMENTAR
coordenador do GLOBAL: UMA
Centro de POLÍTICA DE
Agronegócios da ESTADO
FGV-EESP
(Fundação Getulio
Vargas). Foi
ministro da
Agricultura,
Pecuária e
Abastecimento
(2003-2006) e
presidente da
Sociedade Rural
Brasileira.
2018 Oscar Vilhena professor de O JUDICIÁRIO:
Vieira Direito ENTRE OS PERIGOS
Constitucional e DA IMPUNIDADE E
Direitos Humanos OS RISCOS DO
e diretor da Escola PUNITIVISMO
de Direito de São
Paulo da
Fundação Getulio
Vargas (FGV
DIREITO SP).
2018 Samuel de Abreu economista, é DESENVOLVIMENTO
Pessoa sócio da Reliance ECONÔMICO - POR
(SP) e QUE FICAMOS PARA
pesquisador do TRÁS?
Instituto
Brasileiro de
Economia da
2018Fundação
Getulio Vargas
(FGV IBRE).
2018 Pascal Perrineau Professor do BALANÇO DE 1 ANO
Instituto de DA PRESIDÊNCIA DE
Estudos Políticos EMMANUEL
de Paris, mais MACRON: A

535
conhecido como MUDANÇA ESTÁ EM
Sciences Po. MARCHA?
2018 Danilo Igliori professor da FEA- REVITALIZAÇÃO DE
USP CENTROS
HISTÓRICOS
METROPOLITANOS
2018 João Fernando é professor titular 4º REVOLUÇÃO
Gomes de Oliveir da Escola de INDUSTRIAL: O
Engenharia de São BRASIL VAI
Carlos (USP) PERDER ESSE
TREM?
2018 Marta Arretche cientista política, é COMO VOLTAR A
professora titular REDUZIR A
da USP e diretora POBREZA EM
do Centro de ANOS DE
Estudos da APERTO FISCAL?
Metrópole
(CEM/Cepid);
pesquisa
desigualdade e
sistemas de
proteção social.
2018 Cecilia Machado economista, é REDUÇÃO DA
professora POBREZA E DA
assistente da DESIGUALDADE:
EPGE-FGV QUAIS AS
(Escola Brasileira POLÍTICAS
de Economia e SOCIAIS MAIS
Finanças, Rio de EFICAZES?
Janeiro) e research
aff iliate do
Institute for the
Study of Labor
(IZA, Alemanha).
2018 Naercio Menezes é professor titular REDUÇÃO DA
Filho (Cátedra IFB) e POBREZA E DA
coordenador do DESIGUALDADE:
Centro de Políticas QUAIS AS
Públicas do Insper POLÍTICAS
SOCIAIS MAIS
EFICAZES?
2018 Sergio Firpo , economista, é REDUÇÃO DA
professor titular da POBREZA E DA
Cátedra Instituto DESIGUALDADE:
Unibanco no QUAIS AS

536
Insper e pesquisa POLÍTICAS SOCIAIS
economia do MAIS EFICAZES?
trabalho e do
desenvolvimento
2018 Fábio Bechara promotor de DROGAS E
Justiça do Estado SEGURANÇA
de São Paulo, é PÚBLICA: É HORA
professor na USP DE
(pós-graduação) e DESCRIMINALIZAR?
na Universidade
Presbiteriana
Mackenzie;
leciona na Escola
Superior do
Ministério Público
de São Paulo.
2018 Gorete Marques pesquisadora do DROGAS E
Núcleo de Estudos SEGURANÇA
da Violência da PÚBLICA: É HORA
USP (NEV/ USP). DE
DESCRIMINALIZAR?
2018 Leandro Piquet economista e DROGAS E
cientista político, é SEGURANÇA
professor do PÚBLICA: É HORA
Instituto de DE
Relações DESCRIMINALIZAR?
Internacionais
(IRI) e
pesquisador do
Núcleo de
Pesquisa de
Políticas Públicas
da USP.
2018 Steven Levitsky cientista político COMO MORREM
norte-americano e AS
professor na DEMOCRACIAS,
Universidade PALESTRA DE
Harvard (EUA), é STEVEN
autor de How LEVITSKY
Democracies Die:
What History
Reveals About Our
Future (Penguin
Random House,
2018), em

537
coautoria com
Daniel Ziblatt.
2018 Jairo Nicolau cientista político REINVENÇÃO
especializado em DA POLÍTICA:
sistemas eleitorais, COMO
é professor titular RECONECTAR
da Universidade INDIVÍDUOS,
Federal do Rio de SOCIEDADE E
Janeiro (UFRJ). ESTADO?

2018 Roberto Castello diretor do Centro OS DESAFIOS


Branco de Estudos em DA INDÚSTRIA
Crescimento e MINERAL
Desenvolvimento BRASILEIRA
Econômico da
FGV e professor
afi liado da
FGV/EPGE.
2018 Flávio Yarshell advogado, é ACORDOS DE
professor nos LENIÊNCIA:
cursos de TEORIA E
graduação e pós- PRÁTICA NO
graduação na BRASIL E NOS
Faculdade de ESTADOS
Direito da USP. UNIDOS
Foi Juiz do
Tribunal Regional
Eleitoral de São
Paulo (2007-
2012).
2018 Prof. Dr. Gustavo sociólogo, é A SOCIEDADE
S. Mesch professor e reitor ISRAELENSE:
da Universidade de DINÂMICAS DE
Haifa (Israel); MUDANÇA E O
pesquisa temas FUTURO DA
relacionados à DEMOCRACIA
relação entre
tecnologia e
sociedade, como
impactos sociais
das novas mídias.
2018 José Eduardo Faria Professor titular do OS 30 ANOS DA
Departamento de CONSTITUIÇÃO
Filosofi a e Teoria E OS DESAFIOS
Geral do Direito da

538
Faculdade de PARA O BRASIL
Direito da SAIR DA CRISE
Universidade de
São Paulo e da
Fundação Getúlio
Vargas. É autor de
O Brasil Pós-
Constituinte
(Editora Graal).
2018 Fernando Abrucio cientista político, é OS 30 ANOS DA
professor da CONSTITUIÇÃO
Fundação Getulio E OS DESAFIOS
Vargas (SP), onde PARA O BRASIL
chefi a o SAIR DA CRISE
Departamento de
Gestão Pública
2018 Maria Paula professora da OS 30 ANOS DA
Dallari Bucci Faculdade de CONSTITUIÇÃO
Direito da USP, foi E OS DESAFIOS
secretária de PARA O BRASIL
Educação Superior SAIR DA CRISE
do Ministério da
Educação (2008-
2010).
2018 Oscar Vilhena professor de OS 30 ANOS DA
Vieira Direito CONSTITUIÇÃO
Constitucional e E OS DESAFIOS
Direitos Humanos PARA O BRASIL
e diretor da Escola SAIR DA CRISE
de Direito de São
Paulo da Fundação
Getulio Vargas
(FGV DIREITO
SP).
2018 Toshihiro professor de INTERNATIONAL
Minohara Diplomacia e POLITICS AT A
Estudos de CROSSROADS:
Segurança da JAPAN’S
Faculdade de DIPLOMATIC
Direito e Política AND SECURITY
da Universidade de STRATEGY IN
Kobe desde 1999; THE INDO-
leciona também na PACIFIC REGION
Faculdade de
Estudos de

539
Cooperação
Internacional da
mesma
universidade.
2018 Oliver Stuenkel professor adjunto INTERNATIONAL
de Relações POLITICS AT A
Internacionais na CROSSROADS:
FGV-SP, onde JAPAN’S
também coordena DIPLOMATIC
a Escola de AND SECURITY
História e Ciências STRATEGY IN
Sociais e o MBA THE INDO-
em RI. PACIFIC REGION
2018 Carlos Ari professor titular da EFICIÊNCIA DA
Sundfeld Escola de Direito GESTÃO
de São Paulo da PÚBLICA E
Fundação Getúlio INSTITUIÇÕES
Vargas (FGV DE CONTROLE:
Direito SP) e sócio COMO
fundador de MAXIMIZAR OS
Sundfeld DOIS TERMOS
Advogados; DA EQUAÇÃO?
presidente da
Sociedade
Brasileira de
Direito Público e
autor de Direito
Administrativo
para Céticos (Ed.
Malheiros, 2014).
2018 Francisco presidente da EFICIÊNCIA DA
Gaetani Escola Nacional GESTÃO PÚBLICA E
de Administração INSTITUIÇÕES DE
Pública (ENAP) CONTROLE: COMO
desde junho de MAXIMIZAR OS
2016. Atuou como DOIS TERMOS DA
secretário- EQUAÇÃO?-
executivo nos
ministérios do
Planejamento
(MP) e do Meio
Ambiente (MMA)
e como
coordenador-geral
do Programa das

540
Nações Unidas
para o
Desenvolvimento
(PNUD) no Brasil.
2018 Salvatore Settis arqueólogo e DESAFIOS À
historiador de arte MEMÓRIA
italiano, é HISTÓRICO-
professor CULTURAL EM
catedrático de SOCIEDADES
arqueologia grega CONTEMPORÂNEAS
e romana. Entre
2008 e 2009,
presidiu o
Conselho Superior
do Patrimônio
Cultural da Itália
2018 Fernando Nieto cientista político, é ESTADO E
Morales professor e DEMOCRACIA NO
pesquisador no MÉXICO SOB A
Centro de Estudos PRESIDÊNCIA DE
Internacionais do AMLO: MUDANÇAS
Colégio de SIGNIFICATIVAS OU
México; pesquisa MAIS DO MESMO?
organização e profi
ssionalização do
setor público,
corrupção e
patologias
burocráticas.
2018 Simone Diniz cientista social, é CAMINHOS E
professora da DESCAMINHOS DA
Universidade POLÍTICA: DA
Federal de São CRISE NASCERÁ
Carlos (UFSCar); UMA DEMOCRACIA
coordena o projeto MELHOR?
de pesquisa
“Promessas de
Campanha
Eleitoral e Agenda
de Governo -
Análise da Gestão
dos ex-Presidentes
Fernando
Henrique Cardoso
e Luiz Inácio Lula

541
da Silva”, fi
nanciado pela
FAPESP
2018 Giowana professora- CAMINHOS E
Cambrone orientadora nas DESCAMINHOS DA
Faculdades POLÍTICA: DA CRISE
Integradas Hélio NASCERÁ UMA
Alonso (FACHA), DEMOCRACIA
no Rio, é MELHOR?
especialista em
democracia
participativa e
movimentos
sociais (UFMG)
2018 Pedro Floriano cientista político, CAMINHOS E
Ribeiro é professor da DESCAMINHOS DA
Universidade POLÍTICA: DA CRISE
Federal de São NASCERÁ UMA
Carlos (UFSCar) e DEMOCRACIA
editor associado MELHOR?
da Brazilian
Political Science
Review.
2018 Tomoo professor do A EXPANSÃO
Marukawa Instituto de ECONÔMICA DA
Ciências Sociais CHINA E O SEU
da Universidade IMPACTO NA
de Tóquio, foi ECONOMIA
pesquisador do GLOBAL
Institute of
Developing
Economies (IDE);
é autor de vários
livros sobre a
indústria e a
economia chinesa,
como O Sonho
Chinês: o
Capitalismo de
Massa Muda o
Mundo (Chikuma
Shinsho, 2013) e
A Economia
Contemporânea
Chinesa

542
(Contemporary
Chinese Economy,
Yuhikaku, 2013).
2018 Magna Inácio professora CRISE DO
associada do PRESIDENCIALISMO
Departamento de DE COALIZÃO: OS
Ciência Política DESAFIOS DA
da UFMG, faz GOVERNABILIDADE
pesquisas DEMOCRÁTICA NO
comparadas e PRÓXIMO PERÍODO
sobre o Brasil, PRESIDENCIAL
com foco em
relação Executivo-
Legislativo,
exercício das
presidências e
governos de
coalizão; recebeu
o prêmio da
Associação
Americana de
Ciência Política-
APSA pelo artigo
The Institutional
Presidency in
Latin America: A
Comparative
Analysis, em
coautoria com
Mariana Llanos.
2018 Bruno P. W. Reis vice-diretor e CRISE DO
professor da PRESIDENCIALISMO
Faculdade de DE COALIZÃO: OS
Filosofi a e DESAFIOS DA
Ciências Humanas GOVERNABILIDADE
da Universidade DEMOCRÁTICA NO
Federal de Minas PRÓXIMO PERÍODO
Gerais (UFMG), PRESIDENCIAL
pesquisa o fi
nanciamento de
campanhas
eleitorais desde
2011.

543
2018 Eduardo Viola professor titular de DEMOCRACIAS
Relações TURBULENTAS E
Internacionais, SEUS IMPACTOS NO
SISTEMA
INTERNACIONAL
2018 Sílvia Pimentel professora doutora DISCRIMINAÇÃO
na Faculdade de CONTRA A
Direito da MULHER: DESAFIOS
Pontifícia A SUPERAR NO
Universidade MUNDO E NO
Católica de São BRASIL
Paulo – PUC-SP,
integrou entre
2005 e 2016 o
Comitê sobre a
Eliminação da
Discriminação
contra as Mulheres
da Organização
das Nações Unidas
(CEDAW/ONU),
tendo presidido o
órgão no biênio
2011-2012. Além
disso, é membra
fundadora do
Conselho
Consultivo do
Comitê Latino-
Americano e do
Caribe para a
Defesa dos
Direitos das
Mulheres
(CLADEM).
2019 Toshihiro professor de Opções do Japão em
Nakayama política um mundo turbulento
norteamericana e
política externa na
Keio University
(Tóquio), é
pesquisador
visitante do
Woodrow Wilson
International

544
Center for
Scholars, em
Washington
(EUA).
2019 Paulo Tafner professor e Reforma da
pesquisador da Previdência: entre
Fundação Instituto o necessário e o
de Pesquisas possível
Econômicas
(FIPE/USP), autor
e organizador de
“Reforma da
Previdência: a
visita da velha
senhora” (2015).
2019 Prof. Jan-Werner professor de Populismo e
Mueller Ciência Política na democracia:
Universidade de ameaça ou
Princeton (EUA) e corretivo?
cofundador do
Colégio Europeu
de Artes Liberais
(ECLA; hoje: Bard
Berlin). Seu livro
mais recente é
“What is
Populism?”
(University of
Pennsylvania
Press, 2016).
2019 Prof. Dr. Wolfgang diretor do Populismo e
Merkel programa de democracia:
pesquisa ameaça ou
“Democracia e corretivo?
Democratização”
do Centro de
Ciências Sociais
WZB (Berlim) e
professor de
Ciência Política na
Humboldt
University em
Berlim. É autor e
editor de
“Democracies and

545
Crisis: Challenges
in Turbulent
Times” (Springer,
2018).
2019 Luís Greco professor Combate à
Catedrático de corrupção e
Direito Penal, mudanças no
Direito Processual direito penal
Penal, Direito
Penal Estrangeiro e
Teoria do Direito
Penal na
Universidade
Humboldt de
Berlim.
2019 Alaor Leite mestre e Doutor Combate à
em Direito pela corrupção e
Universidade mudanças no
Ludwig- direito penal
Maximilian
(Munique), é
assistente
científico junto à
cátedra de Direito
Penal da
Universidade
Humboldt de
Berlim
2019 Theo Dias advogado criminal, Combate à
é professor da corrupção e
Escola de Direito mudanças no
de São Paulo da direito penal
FGV e conselheiro
da Conectas
Direitos Humanos.
2019 Minna Mäkihonko professora Formação de
universitária professores: o que
especializada em o Brasil tem a
educação infantil e aprender com a
de pessoas com Finlândia?
necessidades
especiais, é chefe
de educação
inclusiva na
Tampere

546
University
(Finlândia)
2019 Professor biólogo, é A economia e a
Alexander Turra professor titular do geopolítica do mar
Instituto
Oceanográfico da
Universidade de
São Paulo
(IOUSP).
2019 Professor Jose oceanógrafo, é A economia e a
Angel Alvarez professor do curso geopolítica do mar
Perez, de Oceanografia e
do mestrado e
doutorado em
Ciência e
Tecnologia
Ambiental da
Universidade do
Vale do Itajaí
(UNIVALI).
2019 Ricardo Mariano professor do Os evangélicos na
Departamento de sociedade e na
Sociologia da USP, política
é pesquisador do
CNPq e autor de
“Neopentecostais:
sociologia do novo
pentecostalismo no
Brasil” (Ed.
Loyola, 2018).
2019 Ronaldo de professor do Os evangélicos na
Almeida Departamento de sociedade e na
Antropologia da política
UNICAMP, é
diretor científico
do CEBRAP e
autor de “A Igreja
Universal e seus
demônios” (Edit.
Terceiro Nome,
2009).
2019 Profª Kyung-Ae presidente da Para onde vão as
Park Fundação Coreana duas coreias?
na Escola de
Políticas Públicas

547
e Assuntos Globais
da Universidade de
British Columbia
(Canadá) e
coautora de “North
Korea in
Transition:
Politics, Economy,
and Society”
(2012).
2019 Cristiane Lucena professora do Para onde vão as
Carneiro Instituto de duas coreias?
Relações
Internacionais da
Universidade de
São Paulo
2019 Kate Raworth economista, é Os limites
professora e ecológicos do
pesquisadora crescimento: em
visitante do busca do
Environmental desenvolvimento
Change Institute sustentável e
(Universidade de inclusivo
Oxford) e
associada sênior
do Institute for
Sustainability
Leadership
(Cambridge). É
uma das autoras do
Human
Development
Report da ONU.
2019 Carolina Grillo Professora e Mercados ilícitos e
pesquisadora da desenvolvimento
Universidade no Brasil: as
Federal drogas não são
Fluminense. uma questão
isolada
2019 Marcella Araújo professora e Mercados ilícitos e
pesquisadora da desenvolvimento
Universidade no Brasil: as
Federal do Rio de drogas não são
Janeiro. uma questão
isolada

548
2019 Ana Maria Malik médica, é O futuro do sus:
professora titular desafios e
na FGV EAESP, mudanças
onde coordena o necessárias
Centro de Estudos
em Gestão e
Planejamento em
Saúde
(FGVsaúde).
2019 Abraham F. cientista político, é Transições
Lowenthal professor emérito democráticas:
da University of ensinamentos dos
Southern líderes políticos
California. Foi
diretor do Inter-
American
Dialogue
(Washington,
EUA).
2019 Dra. Giovanna historiadora da Lugares de
Rosso Del Brenna arte, é professora memória e
da Scuola di mudanças urbanas
Specializzazione in em grandes
Beni Storico- cidades: outro
Artistici dell’ caminho possível?
Università di
Genova
2019 Prof. Paulo Julio arquiteto, é Lugares de
Valentino Bruna professor memória e
colaborador da mudanças urbanas
Universidade de em grandes
São Paulo e cidades: outro
representante da caminho possível?
Área de
Arquitetura e
Urbanismo da
Fapesp (Fundação
de Amparo à
Pesquisa do Estado
de São Paulo).
2019 Carlos Alba Vega sociólogo, é Desigualdades
professor e sociais no Brasil e
pesquisador no El no México
Colegio de México

549
2019 Laura Flamand cientista política, é Desigualdades
professora do sociais no Brasil e
Centro de Estudios no México
Internacionales (El
Colegio de
México), onde
pesquisa políticas
públicas,
instituições
políticas
comparadas e
estatística aplicada
2019 Marta Arretche cientista social e Desigualdades
política, é diretora sociais no Brasil e
do Centro de no México
Estudos da
Metrópole
(CEM/Cepid) e
professora da
FFLCH-USP, onde
pesquisa
desigualdade e
análise comparada
dos sistemas de
proteção social.
2019 José de Souza sociólogo, é A questão racial no
Martins professor titular Brasil: como
aposentado da USP enfrenta-la?
e membro da
Academia Paulista
de Letras. Foi
membro da Junta
de Curadores do
Fundo Voluntário
da ONU contra as
Formas
Contemporâneas
de Escravidão.
2019 Carlos Pagni professor de Eleições na
História da Argentina: o futuro
Universidad do país vizinho e
Nacional de Mar do Mercosul
del Plata, foi
escolhido pelo
terceiro ano

550
seguido como o
jornalista mais
respeitado da
Argentina pela
consultoria
Poliarquía.
2019 Tanja A. Börzel cientista política, é A crise da ordem
professora do liberal no mundo:
Otto-Suhr-Institut qual o papel das
da Freie alianças e acordos
Universität Berlin, regionais?
onde detém a
Cátedra de
Integração
Europeia e dirige o
cluster de pesquisa
Contestations of
the Liberal Script
(SCRIPTS). É co-
editora das obras
“The Oxford
Handbook of
Comparative
Regionalism”
(Oxford University
Press, 2016) e
“European
Integration
Theory” (Oxford
University Press
2019).
2019 Thomas Risse professor e A crise da ordem
pesquisador, é liberal no mundo:
diretor do Center qual o papel das
for Transnational alianças e acordos
Relations, Foreign regionais?
and
Security Policy da
Freie Universität
Berlin. É autor de
“The Oxford
Handbook of
Comparative
Regionalism”

551
(Oxford University
Press 2016).
2019 Peter Messitte juiz federal do Desafios e
Distrito de oportunidades da
Maryland (EUA), inteligência
é diretor do artificial para o
Programa Brasil- direito e a justiça
EUA de Estudos
Legais e Jurídicos
na American
University
Washington
College of Law.
2019 Oscar Vilhena professor de Desafios e
Vieira Direito oportunidades da
Constitucional e inteligência
Direitos Humanos, artificial para o
é diretor da Escola direito e a justiça
de Direito de São
Paulo da Fundação
Getulio Vargas
(FGV DIREITO
SP)
2019 Pablo Gerchunoff professor emérito A América Latina
da Universidad frente às
Torcuato Di Tella transformações
(Argentina). globais: como
navegar águas
turbulentas?
2019 Jeremy Adelman professor da A América Latina
Universidade de frente às
Princeton (EUA). transformações
globais: como
navegar águas
turbulentas?
2019 Lindsay Gorman bacharel em Física Ameaças e
(Princeton oportunidades das
University) com novas tecnologias
mestrado em para o
Física Aplicada desenvolvimento
(Stanford da democracia
University), é
fellow de
tecnologias
emergentes da

552
Alliance for
Securing
Democracy
2019 Dominique Reynié professor do Democracias sob
Instituto de tensão: uma
Estudos Políticos pesquisa sobre o
de Paris (Sciences estado da
Po), é diretor do democracia em 42
think tank francês países.
Fondation pour
l’innovation
politique e diretor
da publicação
Démocraties sous
tension (Fondapol,
2019).

553
Anexo IV . Tabela com conexões com empresas por ano (2004-
2019).

Ano Palestrante Empresa Debate


200 Carlos Kawall Citibank Tendências atuais do
4 investimento direto
estrangeiro: uma
perspectiva global
200 Pedro Moreira Salles presidente do Unibanco DESIGUALDADE,
5 POBREZA E
DESENVOLVIMENT
O NA AMÉRICA
LATINA: BALANÇO
E AGENDA DE
POLÍTICAS
200 Marco Patuano diretor geral da Telecom DESIGUALDADE,
5 Itália América Latina POBREZA E
DESENVOLVIMENT
O NA AMÉRICA
LATINA: BALANÇO
E AGENDA DE
POLÍTICAS
200 Marco Antônio Fujihara Pricewaterhouse Coopers MUDANÇA
5 CLIMÁTICA E
DESAFIOS DO
DESENVOLVIMENT
O
200 Ronaldo Iabrudi presidente da Telebrasil Desafios das
6 telecomunicações no
Brasil: cenários e
políticas de longo prazo
200 Manoel Felix Cintra Neto presidente do Conselho Energia e crescimento:
6 de Administração da cenários para a
Bolsa de Mercadorias & economia mundial e
Futuros (BM&F) oportunidades para o
Brasil
200 Manoel Felix Cintra Neto Conselho de Oportunidades para o
6 Administração da Bolsa avanço da
de Mercadorias & Futuros biotecnologia no
(BM&F). Brasil: impactos
econômicos e sociais
200 Joaquim Machado Syngenta Oportunidades para o
6 avanço da
biotecnologia no
554
Brasil: impactos
econômicos e sociais
200 Fernando de Castro Votorantim Novos Oportunidades para o
6 Reinach Negócios avanço da
biotecnologia no
Brasil: impactos
econômicos e sociais
200 Michel Pébereau presidente da Federação A evolução do sistema
7 dos Bancos Europeus e financeiro mundial e os
presidente mundial do desafios da integração
BNP Paribas para os bancos
brasileiros e europeus
200 Bernard Mencier presidente do BNP A evolução do sistema
7 Paribas do Brasil financeiro mundial e os
desafios da integração
para os bancos
brasileiros e
europeus2007
200 Orlando Lima Vale do Rio Doce A reinvenção do futuro
7 das grandes metrópoles
e a nova agenda de
desenvolvimento
econômico e social da
América Latina
200 Jorge Gerdau Johannpeter presidente do Conselho Brasil e México: o
7 de Administração do desafio do crescimento
Grupo Gerdau acelerado
200 Marcos de Barros Lisboa diretor do Unibanco. Políticas de combate ao
7 crime: experiências e
lições internacionais
200 Renato Diniz Junqueira vice-presidente do Políticas de combate ao
7 Conselho de crime: experiências e
Administração da Bolsa lições internacionais
de Mercadorias & Futuros
(BM&F)
200 Ângelo.Lisboa banco.JPMorgan Mesa Redonda do
8 Projeto Plataforma
Democrática
200 Antônio Hermínio de Vice presidente da Mesa Redonda do
8 Moraes Neto Votorantim Projeto Plataforma
Democrática
200 Fábio Messer Z3M Participações Mesa Redonda do
8 Projeto Plataforma
Democrática

555
200 Gabriel.Felix.Saldiva.Cintr Banco.Indusval.Multistoc Mesa Redonda do
8 a k Projeto Plataforma
Democrática
200 Guilherme.Pacheco Mundi Mesa Redonda do
8 Projeto Plataforma
Democrática
200 isabel.Farah Schwartzman .Editora.Moderna Mesa Redonda do
8 Projeto Plataforma
Democrática
200 Joana.Lee.Ribeiro Brasil.Wealth.Manageme Mesa Redonda do
8 nt Projeto Plataforma
Democrática
200 Luiza Nascimento Assistente de Mesa Redonda do
8 Marques da Cruz comunicação da área de Projeto Plataforma
sustentabilidade da. Democrática
Construtora Camargo
Corrêa
200 Fábio Luis Chateaubriand Financeiras da Solví Mesa Redonda do
8 Guedes Borba Participações Projeto Plataforma
Democrática
200 Mário Dias Ripper F&R Engenheiros o Futuro DAs
8 Consultoria (tElE)ComuNiCAçÕEs
No BrAsil
200 Antonio Lavareda APPM e MCI-Estratégia Repensando a
8 Democracia na América
Latina

200 Edmar Racha Consultôr Sênior do Itaú “tHE CurrENt


8 FiNANCiAl Crisis
AND its imPACt oN
tHE GloBAl
ECoNomy: is tHis timE
DiFFErENt?”
200 Gilberto Mifano BM&FBOVESPA A CrisE E o rEméDio:
8 o sistEmA
FiNANCEiro
iNtErNACioNAl
PrECisA DE mAis
rEGulAção?”
200 Edemir Pinto BM&FBOVESPA A CrisE E o rEméDio:
8 o sistEmA
FiNANCEiro
iNtErNACioNAl
PrECisA DE mAis
rEGulAção?”
556
200 Gustavo Loyola Tendências Consultoria A CrisE E o rEméDio:
8 o sistEmA
FiNANCEiro
iNtErNACioNAl
PrECisA DE mAis
rEGulAção?”
200 Ilan Goldfain Ciano A CrisE E o rEméDio:
8 o sistEmA
FiNANCEiro
iNtErNACioNAl
PrECisA DE mAis
rEGulAção?”
200 Gilberto Mifano BM&FBOVESPA PErsPECtiVAs DAs
8 rElAçÕEs BrAsil-
CHiNA
200 Marcos Vinicius Pratini de Grupo.JBS.Friboi PErsPECtiVAs DAs
8 Moraes rElAçÕEs BrAsil-
CHiNA
200 Mario.Marconini ManattJones Marconini imPACtos Dos Custos
8 Global Strategies DE trANsPortE soBrE
A iNtEGrAção
rEGioNAl
200 Pedro Malan Unibanco muDANçAs NA
8 BAlANçA Do PoDEr
GloBAl: PErsPECtiVAs
ECoNÔmiCAs E
GEoPolítiCAs
200 Armínio Fraga Gávea Investimentos “FiNANCiAl rEForm:
9 A FrAmEwork For
FiNANCiAl stABility
200 Artur Wichmann Credit Suisse The Global Crisis Seen
9 fron Chine
200 Gustavo Franco Diretor da Rio Bravo “DEsAFios Do
9 Investimentos CrEsCimENto E Do
DEsENVolVimENto:
liçÕEs DA HistóriA
rECENtE E
PErsPECtiVAs PArA o
Futuro
200 Ilan Goldfajn Itaú Unibanco DA CrisE Ao
9 CrEsCimENto: As
NoVAs rElAçÕEs
ENtrE EstADo E o
sEtor PriVADo No
BrAsil

557
200 Pérsio Arida BTG Invest DA CrisE Ao
9 CrEsCimENto: As
NoVAs rElAçÕEs
ENtrE EstADo E o
sEtor PriVADo No
BrAsil
200 Edemir Pinto BM&FBOVESPA DA CrisE Ao
9 CrEsCimENto: As
NoVAs rElAçÕEs
ENtrE EstADo E o
sEtor PriVADo No
BrAsil
200 Luiz Carlos Mendonça de Quest Investimentos o BrAsil Pós-CrisE:
9 Barros umA AGENDA PArA A
PróXimA DéCADA
201 Aluizio Araujo conselheiro da Odebrecht Mudanças geopolíticas
1 e geoeconômicas e o
papel do Brasil na
América do Sul
Seminário
201 Décio Oddone vice-presidente da Mudanças geopolíticas
1 Braskem e geoeconômicas e o
papel do Brasil na
América do Sul
Seminário
201 Fernando Xavier Ferreira conselheiro da Telefônica Mudanças geopolíticas
1 e geoeconômicas e o
papel do Brasil na
América do Sul
Seminário
201 Pedro Herz diretor-presidente da Mudanças geopolíticas
1 Livraria Cultura e geoeconômicas e o
papel do Brasil na
América do Sul
Seminário
201 André Lara Resende sócio-diretor da Lanx Transição incompleta e
1 Capital dilemas da (macro)
economia brasileira
Seminário
201 Gustavo Franco sócio-diretor da Rio Transição incompleta e
1 Bravo Investimentos dilemas da (macro)
economia brasileira
Seminário
201 Pérsio Arida chairman do Banco BTG Transição incompleta e
1 Pactual dilemas da (macro)

558
economia brasileira
Seminário
201 Pedro Malan presidente do Conselho Transição incompleta e
1 Consultivo Internacional dilemas da (macro)
do Itaú Unibanco economia brasileira
Seminário
201 Louis-Vincent Gavel CEO da Gavekal The Key Investment
2 Trends for 2012:
especialistas em China
apontam as novas
tendências da economia
chinesa e seus efeitos
para a economia global
201 Arthur Kroeber Dragonomics Research The Key Investment
2 and Advisory Trends for 2012:
especialistas em China
apontam as novas
tendências da economia
chinesa e seus efeitos
para a economia global
201 Jorge Gerdau Johannpeter presidente do Conselho A liderança do Brasil na
2 de Administração do América do Sul –
Grupo Gerdau Visões de Empresários,
Diplomatas e Políticos
201 Fernando reinach Fundo Pitanga empreendedorismo e
3 sistemas de inovação:
como superar os
desafios brasileiros
201 luiz eduardo rezende diretor industrial da empreendedorismo e
3 Prática Technicook - sistemas de inovação:
Technipan como superar os
desafios brasileiros
201 andré lara resende sócio-diretor da Lanx os limites planetários
3 Capital do crescimento
econômico
201 Bento Koike fundador da Tecsis - a cultura
3 Tecnologia e Sistemas empreendedora no
Avançados Brasil: riscos e
oportunidades
201 Caio Koch-Weser vice-presidente do Climate Change:
3 conselho do Deutsche Sustainable
Bank development and
responsible investment

559
201 Wilson Poit (diretor presidente da SP São Paulo, entre o
3 negócios e fundador da passado e o futuro:
Poit Energia iniciativas presentes
para a reinvenção da
metrópole
201 daniel Kliman senior advisor do german Global Swing States:
3 Marshall Fund) Brazil, india, indonesia,
turkey and the future of
international order
201 Lidia Goldenstein Desenvolve SP São Paulo, entre o
3 passado e o futuro:
iniciativas presentes
para a reinvenção da
metrópole
201 Ian Bremmer presidente do Eurasia ASSESSING GLOBAL
4 Group, consultoria líder RISKS IN TIMES OF
global de risco político ECONOMIC AND
GEOPOLITICAL
UNCERTAINTY
201 Jerson Kelman Presidente Light ÁGUA, RECURSO
4 ESCASSO: DESAFIOS
DE
DESENVOLVIMENT
O, GOVERNANÇA E
GESTÃO
201 Hélcio Tokeshi economista e codiretor de PROGRAMA
4 infra-estrutura na GP FEDERAL DE
Investments INVESTIMENTOS
EM LOGÍSTICA:
ONDE ESTAMOS,
PARA ONDE VAMOS?
201 Gonzalo Vecina Neto superintendente do OS DESAFIOS À
4 Hospital Sírio Libanês GESTÃO DA SAÚDE
NO BRASIL
201 Marcos Jank engenheiro agrônomo, O NOVO MUNDO
4 diretor-executivo global RURAL E O
para assuntos DESENVOLVIMENT
corporativos da BRF O DO BRASIL
201 Manoel Antonio Amarante presidente da Arcadis GESTÃO DE
4 Avelino da Silva Logos RESÍDUOS SÓLIDOS
201 Ilan Goldfajn Economista chefe do Itaú AvAliAÇÃo DAs
5 Unibanco. PersPeCTivAs Do novo
gove
201 Ian Bremmer presidente do Eurasia PAnorAMAs Dos
5 Group risCos geoPolÍTiCos
560
gloBAis e seUs
reFleXos soBre o
BrAsil
201 Cynthia Catlett Forensic Investigations & novos rUMos DA
5 Disputes Services da eConoMiA e DA
Grant Thornton Brasil PolÍTiCA eXTernA
ChinesAs: CoMo e Por
QUe isso iMPorTA
PArA o BrAsil
201 Paulo Funchal sócio de Transaction novos rUMos DA
5 Advisory Services na eConoMiA e DA
Grant Thornton Brasil. PolÍTiCA eXTernA
ChinesAs: CoMo e Por
QUe isso iMPorTA
PArA o BrAsil
201 Marcos Caramuru de Paiva sócio e gestor da KEMU novos rUMos DA
5 Consultoria de Negócios eConoMiA e DA
PolÍTiCA eXTernA
ChinesAs: CoMo e Por
QUe isso iMPorTA
PArA o BrAsil
201 Daniel Mangabeira diretor de Políticas da eConoMiA, PolÍTiCA e
5 Uber DiPloMACiA: o BrAsil
eM BUsCA De UMA
novA AgenDA
inTernACionAl
201 Pedro Passos empresário e sócio eConoMiA, PolÍTiCA e
5 fundador da Natura DiPloMACiA: o BrAsil
eM BUsCA De UMA
novA AgenDA
inTernACionAl
201 Ruy Salvari Baumer presidente da Baumer S.A inovAÇÃo e sAÚDe no
5 BrAsil:
iDenTiFiCAnDo
DesAFios e
BUsCAnDo solUÇÕes
201 André Dorf presidente da CPFL CoMo ACelerAr o
5 Renováveis DesenvolviMenTo Do
negÓCio De energiAs
renovÁveis no BrAsil?
201 Luiz Eduardo F. do Amaral vice-presidente jurídico e CoMo ACelerAr o
5 Osorio de Relações Institucionais DesenvolviMenTo Do
da CPFL Energia negÓCio De energiAs
renovÁveis no BrAsil?

561
201 Wilson Ferrreira Jr. diretor-presidente da CoMo ACelerAr o
5 CPFL. DesenvolviMenTo Do
negÓCio De energiAs
renovÁveis no BrAsil?
201 Anthony Blow presidente e COO da TrADe, FooD, energY
5 Global Energy USA, Inc AnD ChAnges in The
inTernATionAl
sYsTeM: vieWs FroM
norTh AnD soUTh
ATlAnTiC nATions
201 Barry Lowenkron VP executivo e COO na TrADe, FooD, energY
5 German Marshall Fund of AnD ChAnges in The
the United States inTernATionAl
sYsTeM: vieWs FroM
norTh AnD soUTh
ATlAnTiC nATions
201 Donna Hrinak Boeing Brasil Boeing TrADe, FooD, energY
5 Company AnD ChAnges in The
inTernATionAl
sYsTeM: vieWs FroM
norTh AnD soUTh
ATlAnTiC nATions
201 Douglas Hengel German Marshall Fund of TrADe, FooD, energY
5 the United States AnD ChAnges in The
inTernATionAl
sYsTeM: vieWs FroM
norTh AnD soUTh
ATlAnTiC nATions
201 Ezana Bocresian cofundador e CIO da TrADe, FooD, energY
5 Copia Agribusiness AnD ChAnges in The
inTernATionAl
sYsTeM: vieWs FroM
norTh AnD soUTh
ATlAnTiC nATions
201 Ian Lesser diretor executivo na TrADe, FooD, energY
5 Transatlantic Center e AnD ChAnges in The
diretor-geral na German inTernATionAl
Marshall Fund of the sYsTeM: vieWs FroM
United States norTh AnD soUTh
ATlAnTiC nATions
201 Karim El Aynaoui presidente do OCP Group TrADe, FooD, energY
5 AnD ChAnges in The
inTernATionAl
sYsTeM: vieWs FroM

562
norTh AnD soUTh
ATlAnTiC nATions
201 Ricardo Veluttini Presidente da DuPont TrADe, FooD, energY
5 Brazil AnD ChAnges in The
inTernATionAl
sYsTeM: vieWs FroM
norTh AnD soUTh
ATlAnTiC nATions
201 Marcos Caramuru de Paiva sócio e gestor da KEMU novos rUMos DA
5 Consultoria de Negócios eConoMiA e DA
PolÍTiCA eXTernA
ChinesAs: CoMo e Por
QUe isso iMPorTA
PArA o BrAsil
201 Samuel de Abreu Pessoa sócio da Reliance crEscimEnto,
6 dEmocracia E
distriBuição da rEnda:
Em Busca dE um novo
modElo
201 Wilson Ferreira presidente da CPFL HomEnagEm a JosÉ
6 Energia roBErto magalHãEs
tEiXEira (1937-1996)
201 Luis Vicente León Presidente da Datanalisis vEnEZuEla: Há luZ no
6 e diretor na Tendencias Fim do tÚnEl do
Digitales, Corporación cHavismo?
Grupo químico e na
Gold’s Gym.
201 David Zylbersztajn Sócio e Diretor da DZ o Fim do triunFalismo
6 Negócios com Energia pEtrolEiro E a
dEFinição dE novos
rumos para a EnErgia
no Brasil
201 Luiz Henrique Guimarães presidente da Raízen o Fim do triunFalismo
6 pEtrolEiro E a
dEFinição dE novos
rumos para a EnErgia
no Brasil
201 Emilio Lozoya Austin fundador e CEO da Brasil E mÉXico:
6 Makech Capital, foi CEO traJEtÓrias distintas E
da estatal de petróleo dEsaFios comuns
mexicana Pemex,
cofundador e membro do
conselho executivo de
diversos fundos de
investimento

563
201 Michael Leigh GMF dEmocracias
6 turBulEntas: o QuE
acontEcE na Europa, na
amÉrica latina E nos
Eua?
201 William McIlhenn GMF dEmocracias
6 turBulEntas: o QuE
acontEcE na Europa, na
amÉrica latina E nos
Eua?
201 James Stewart diretor global da área de cEnário gloBal E
6 Infraestrutura da KPMG invEstimEnto Em
inFraEstrutura no Brasil
201 Cesar Prata presidente do conselho de POLÍTICA
7 Óleo e gás da associação INDUSTRIAL PARA
brasileira da indústria de PETRÓLEO E GÁS:
Máquinas e equipamentos QUAL O RUMO A
(abiMaQ). SEGUIR?
201 Miguel Marques partner da A ECONOMIA DO
7 Pricewaterhousecoopers, MAR E O
responsável pelo projeto DESENVOLVIMENT
economia do Mar em O FUTURO DE
Portugal e licenciado em PORTUGAL E DO
economia pela BRASIL
universidade do Porto
201 Antonio Juan Sosa vice-presidente de BRASIL:
7 infraestrutura do caF PRODUTIVIDADE E
COMPETITIVIDADE
201 Dan Ioschpe vicepresidente da iochpe- BRASIL:
7 Maxion s/a e membro do PRODUTIVIDADE E
conselho do instituto de COMPETITIVIDADE
estudos para o
desenvolvimento
industrial (iedi)
201 Blanca Treviño presidente da soFtteK BRASIL:
7 PRODUTIVIDADE E
COMPETITIVIDADE
201 Eliane Lustosa diretora da área de BRASIL:
7 Mercado de capitais na PRODUTIVIDADE E
bndespar. COMPETITIVIDADE
201 Gustavo Grobocopatel presidente do grupo los BRASIL:
7 grobo PRODUTIVIDADE E
COMPETITIVIDADE

564
201 Luiz Furlan membro do conselho de BRASIL:
7 administração da brasil PRODUTIVIDADE E
Foods COMPETITIVIDADE
201 Pedro Passos presidente do grupo BRASIL:
7 natura PRODUTIVIDADE E
COMPETITIVIDADE
201 Roberto Teixeira da Costa membro do conselho de BRASIL:
7 administração da sul PRODUTIVIDADE E
américa s/a COMPETITIVIDADE
201 Octávio de Barros sócio-diretor da b3a BRASIL:
7 inovação PRODUTIVIDADE E
COMPETITIVIDADE
201 José Manuel Durão presidente do conselho do PARA ONDE VAI A
7 Barroso banco goldman sachs EUROPA? - COM
international. JOSÉ MANUEL
DURÃO BARROSO
201 Elmer Cuba Bustinza sócio da Macroconsult PERU: UM MODELO
7 PARA A AMÉRICA
LATINA?
201 Rodrigo Lima diretor-geral da agroicone REGULARIZAÇÃO
7 AMBIENTAL E
AGROPECUÁRIA DE
BAIXO CARBONO:
AMEAÇAS OU
OPORTUNIDADES
PARA O
AGRONEGÓCIO?
201 Catherine Bromilow membro associada do CYBERSECURITY:
7 governance insights RISCO PARA AS
center da Pwc, coordena o EMPRESAS E PARA A
grupo de estudos PRIVACIDADE DAS
supervisão de riscos. PESSOAS
201 Armando Carbonari vice Presidente do DESENVOLVIMENT
7 Programa gripen da O TECNOLÓGICO E
embraer COOPERAÇÃO
INTERNACIONAL: O
PROJETO GRIPEN
EM PAUTA
201 Bengt Janér diretor do Projeto gripen DESENVOLVIMENT
7 no brasil O TECNOLÓGICO E
COOPERAÇÃO
INTERNACIONAL: O
PROJETO GRIPEN
EM PAUTA

565
201 Ian Bremmer presidente do eurasia OS EFEITOS DO
7 group, consultoria líder QUADRO POLÍTICO
global de risco político. INTERNACIONAL
criou o primeiro índice de SOBRE A
risco político mundial de RECUPERAÇÃO DA
Wall street (dPri). É ECONOMIA GLOBAL
presidente fundador do
conselho agenda global
do Fórum econômico
Mundial (davos) e autor
de diversos livros sobre
geopolítica global.
201 James Stewart diretor global da área de OPORTUNIDADES
7 infraestrutura da KPMg, GLOBAIS E
membro do conselho NECESSIDADES
global de infraestrutura NACIONAIS EM
do Fórum econômico INFRAESTRUTURA
Mundial e presidente do
conselho consultivo para
a unece PPP centro de
excelência.
201 Armin Wuzella diretor presidente da ENSINO TÉCNICO: O
7 villares Metals s.a., QUE PODEMOS
empresa do grupo APRENDER COM A
austríaco voestalpine, ÁUSTRIA E A SUÍÇA?
maior produtora de aços
especiais não planos de
alta-liga da américa latina
e que implementou um
sistema de educação profi
ssional inspirado no
sistema austríaco.
201 Dirceu Fumach trabalha no rh da bobst ENSINO TÉCNICO: O
7 group, da suíça, com QUE PODEMOS
desenvolvimento de APRENDER COM A
liderança, integração ÁUSTRIA E A SUÍÇA?
global e Multicultural
para gestores, além de
desenvolvimento de
novos talentos.
201 Marta Bacchi gerente jurídica de RELAÇÕES
8 Contencioso Trabalhista e TRABALHISTAS
Cível na Nexa Resources PÓS-REFORMA:
(antiga Votorantim Metais COMO FICAM AS
Zinco S.A) e NEGOCIAÇÕES

566
coordenadora do Grupo ENTRE
Disciplinar Trabalhista da EMPREGADOS E
Votorantim. EMPREGADORES?
201 Marcos Jank presidente da Aliança PESQUISA E
8 Agro Ásia-Brasil (Asia- INOVAÇÃO NO
Brazil Agro Alliance – AGRONEGÓCIO: OS
ABAA) e fundador do DESAFIOS DO
Instituto de Estudos do FUTURO BATEM À
Comércio e das PORTA
Negociações
Internacionais (ICONE).
201 José Tomé engenheiro químico, é co- PESQUISA E
8 fundador e CEO da INOVAÇÃO NO
AgTech Garage, hub de AGRONEGÓCIO: OS
conexão e inteligência DESAFIOS DO
focado em startups do FUTURO BATEM À
agronegócio PORTA
201 Mauro Teixeira sócio da TPA REVITALIZAÇÃO DE
8 Empreendimentos e CENTROS
membro do Conselho HISTÓRICOS
Fiscal da SECOVI – SP METROPOLITANOS
201 Ana Carla Abrão Costa sócia da consultoria REFORMA DO
8 Oliver Wyman ESTADO: UMA
AGENDA PARA O
PRÓXIMO
MANDATO
PRESIDENCIAL
201 Luiz Eduardo Fróes do diretor-executivo de OS DESAFIOS DA
8 Amaral Osorio Sustentabilidade e INDÚSTRIA
Relações Institucionais da MINERAL
Vale. BRASILEIRA
201 Juarez Saliba de Avelar, diretor de Estratégia, OS DESAFIOS DA
8 Exploração, Novos INDÚSTRIA
Negócios e Tecnologia da MINERAL
Vale BRASILEIRA
201 Otávio Cavalheira diretor-presidente da OS DESAFIOS DA
8 Alcoa World Alumina INDÚSTRIA
Brasil Ltda MINERAL
BRASILEIRA
201 Tito Botelho Martins diretor-presidente da OS DESAFIOS DA
8 Júnior Nexa Resources INDÚSTRIA
MINERAL
BRASILEIRA
201 Zeina Latif economista-chefe da XP OS 30 ANOS DA
8 Investimentos. CONSTITUIÇÃO E

567
OS DESAFIOS PARA
O BRASIL SAIR DA
CRISE
201 Embaixador Thomas A. subsecretário de Estado DEMOCRACIAS
8 Shannon para Assuntos Políticos TURBULENTAS E
(2016-2018) e SEUS IMPACTOS NO
subsecretário de Estado SISTEMA
para o Hemisfério INTERNACIONAL
Ocidental do
Departamento de Estado
dos EUA (2005-2009).
201 Miguel Marques economista, é sócio da A economia e a
9 PwC Portugal e líder do geopolítica do mar
Centro de Excelência
Global da PwC para os
Assuntos do Mar.
201 José Sampaio de Souza empresário, é membro do A economia e a
9 Filho, Conselho Gestor do geopolítica do mar
Fundo de Inovação
Tecnológica do Estado do
Ceará (Cogefit).
201 Armínio Fraga sócio fundador da Gávea Estado e desigualdade
9 Investimentos, foi no Brasil: um apanhado
presidente do Banco e algumas respostas de
Central (1999-2003), do políticas públicas
conselho da B3 e diretor
do Soros Fund
Management. Doutor em
economia pela
Universidade Princeton
(EUA), foi professor da
PUC-Rio, da FGV-EPGE,
da Columbia University e
da Wharton School
(EUA).
201 Edouard Cukierman fundador da Catalyst O vale de Israel: o
9 Investments e do novo escudo tecnológico da
fundo de Private Equity inovação
Catalyst CEL (Israel-
China), é presidente da
Cukierman & Co.
Investment House e
criador da conferência
Go4Israel. É co-autor de
“O Vale de Israel: O

568
Escudo Tecnológico da
Inovação” (Best Business,
2019).
201 Antonio Simões Rodrigues diretor Executivo da Desafios e
9 Raízen. oportunidades para as
energias renováveis no
Brasil
201 Filipe Domingues, diretor-presidente da EDP Desafios e
9 Renováveis Brasil oportunidades para as
energias renováveis no
Brasil
201 Richard Threlfall chefe global de O investimento privado
9 infraestrutura da KPMG, em infraestrutura no
é membro da Instituição Brasil: uma visão
de Engenheiros Civis global
(Reino Unido) e do
Conselho de
Infraestrutura da
Confederação da Indústria
Britânica. Possui
experiência nos setores
público nas áreas de
estratégia, regulação,
financiamento e
governança

569
Referências

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Sociologia e Política, v.21, n.47, setembro de 2013
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570
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BRUNO, R. Senhores da terra, senhores da guerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
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