35458-Texto Do Trabalho-157107-1-10-20240411

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 23

Cadernos de Estudos Africanos (2023) 45, 61-83

© 2023 Centro de Estudos Internacionais do Iscte - Instituto Universitário de Lisboa

Moçambique: O papel das eleições


na “transição inversa” (2009-2019)

Luca Bussotti
Universidade Técnica de Moçambique
Avenida Albert Luthuli, Maputo, Moçambique
Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL)
Centro de Estudos Internacionais
Av. das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal
[email protected]
ORCID: 0000-0002-1720-3571
CRedit: conceptualização, curadoria dos dados,
análise formal, aquisição de financiamento, investigação,
metodologia, administração do projeto, supervisão,
validação, visualização, redação do rascunho original,
redação – revisão e edição
62 Moçambique: O papel das eleições na “transição inversa” (2009-2019)

Moçambique: O papel das eleições na “transição inversa” (2009-2019)1


Mediante uma análise documental e bibliográfica, o texto procura demonstrar quanto
os processos eleitorais mais recentes – em particular a partir das eleições gerais de 2009
– influenciaram a aqui chamada de “transição inversa”, ou seja, a regressão democrática
de um país como Moçambique. Assim, os processos eleitorais mostram a deterioração
do sistema democrático moçambicano, constituindo o espelho mais evidente da fraqueza
institucional de um país que, além do mais, acentuou os elementos autoritários e o seu
aparato repressivo.

Palavras-chave: regressão democrática, autoritarismo, processos eleitorais,


fraqueza institucional

Mozambique: The role of elections in the “reverse transition” (2009-2019)


Through a documentary and bibliographical analysis, the text seeks to demonstrate
how much the most recent electoral processes – particularly since the 2009 general elec-
tions – have influenced the so-called “reverse transition”, i.e. the democratic regression
of a country like Mozambique. Thus, the electoral processes show the deterioration of the
Mozambican democratic system, constituting the most obvious mirror of the institution-
al weakness of a country that, moreover, has emphasised authoritarian elements and its
repressive apparatus.

Keywords: democratic regression, authoritarianism, electoral processes,


institutional weakness

Recebido: 3 de abril de 2023


Aceite: 19 de maio de 2023

1
Este artigo foi escrito antes das eleições autárquicas de 11 de outubro de 2023, que mudaram consideravelmente
parte do cenário político moçambicano.

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


Luca Bussotti 63

A regressão autoritária de Moçambique, que tem surpreendido vários obser-


vadores internacionais, não foi súbita nem inesperada. Aliás, ela tem sido cons-
tante desde as contestadas eleições de 1999, à ascensão de Guebuza à Presidência
da República, em 2004, até à introdução explícita da componente étnica como
elemento decisivo de governação pelo atual presidente, Filipe Nyusi, eleito pela
primeira vez em 2014. Com base nos dados da Freedom House, é possível intuir
esta tendência geral. Moçambique era considerado um país “partly free” em 2004,
com uma perspectiva positiva, de uma democracia incipiente, mas em consoli-
dação (Freedom House, 2003). Dez anos depois, em 2013, na prática o último ano
de governação plena de Guebuza antes das eleições gerais de 2014 que levarão
Nyusi ao poder, a Freedom House ainda classificava Moçambique como “partly
free”, mas com várias reservas: depois de ter sublinhado que os processos eleito-
rais, a partir de 2009, foram caracterizados por polémicas por parte da oposição,
em larga medida motivadas e até confirmadas pela CNE (Comissão Nacional de
Eleições), o relatório da Freedom House realça o autoritarismo guebuziano que,
inclusivamente, não conseguiu estancar a corrupção endémica que o presidente
tinha prometido combater aquando da sua primeira eleição, em 2004 (Freedom
House, 2013).
Em 2021, ou seja, no meio do segundo mandato de Nyusi, a Freedom House
continua a classificar Moçambique de “partly free”, mas com distinções neces-
sárias: com efeito, esta classificação deriva, em larga medida, da componente
“liberdades civis” (com uma pontuação de 20/60), ao passo que as “liberdades
políticas” registam um significativo recuo, pontuando apenas 14/40 (Freedom
House, 2021).
A mesma tendência é apontada por outros centros de pesquisa. Por exemplo,
o Statista assinala que Moçambique obteve uma pontuação de 4,9/10 em 2010 no
índice de democracia, posicionando-se entre os regimes “híbridos”. Dez anos de-
pois, em 2020, a pontuação tinha descido até 3,51, circunstância que fez com que
este país passasse a ser considerado “autoritário” (Kamer, 2022).
Segundo a Economic Intelligence Unit, a viragem de regime “híbrido” para au-
toritário teria ocorrido em 2017, conseguindo 3,85 pontos de 10 totais. O pior
indicador seria a funcionalidade governamental, com apenas 2,14 pontos de 10
totais (MozParks, 2019).
A partir destes primeiros dados – a que mais elementos poderiam ser acres-
centados, por exemplo os relativos aos direitos humanos (Nhaueleque, 2020), à
liberdade de expressão e de imprensa (Bussotti, 2015), todos eles em constante
deterioração no período aqui considerado – a questão norteadora deste breve
estudo é a seguinte: qual tem sido a importância dos processos eleitorais nesta

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


64 Moçambique: O papel das eleições na “transição inversa” (2009-2019)

regressão democrática de Moçambique e, portanto, no fim do processo de tran-


sição democrática?
O argumento é de que os processos eleitorais tiveram um papel decisivo no
recuo do país para um modelo autoritário. Estes processos devem ser encarados
no seio de um sistema de governação mais geral, em que estes processos eleito-
rais não podem ser analisados de forma isolada, mas sim colocados no seio de
uma aceitação superficial e “instrumental” do modelo liberal de democracia por
parte da elite política que sempre governou o país.
Se a gestão das eleições foi, em larga medida, pouco transparente, sectores-
-chave como a justiça, a comunicação pública, o poder legislativo, as forças ar-
madas e as forças de ordem e segurança, foram também caracterizados por um
controlo asfixiante por parte do partido hegemónico, de forma que a manipu-
lação dos resultados eleitorais foi uma lógica consequência de uma maneira de
governar o país, e não uma voz fora do coro.
A partir destas breves premissas, o estudo aqui apresentado tenciona de-
monstrar como os processos eleitorais em Moçambique contribuíram para a re-
gressão democrática deste país, mas dentro de um cenário generalizado de fraca
aceitação dos princípios fundamentais do liberalismo.
Depois desta breve introdução, o artigo apresenta uma sintética nota metodo-
lógica, seguida de um enquadramento teórico, e de três capítulos, cada um deles
dedicado aos pleitos eleitorais aqui analisados (de 2009, 2014 e 2019) e, finalmen-
te, de reflexões conclusivas.

Nota metodológica
Para alcançar o objetivo acima descrito, a opção metodológica foi analisar os
processos eleitorais ao longo dos últimos dez anos, ou seja, de 2009 até 2019,
considerando sobretudo as três eleições gerais (2009, 2014, 2019). Nestes 10 anos,
Moçambique efetuou a sua viragem de um país democraticamente “híbrido”
para um autoritário (como visto na introdução), facto pelo qual este período de
tempo resulta de extremo interesse para um estudo como este, embasado na aná-
lise política.
Entretanto, como já clarificado, a mera análise dos processos eleitorais não
seria suficiente para apreciar o tipo de regressão democrática que Moçambique
sofreu ao longo dos anos aqui considerados. Outros elementos de cunho político
e institucional devem ser averiguados, e foi por isso que o modelo de análise pro-
posto por Ronceray e Byiers me pareceu funcional para satisfazer este objetivo da
pesquisa. Com efeito, estes dois autores referem que são três os elementos cen-

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


Luca Bussotti 65

trais dos processos eleitorais, a saber: o próprio voto; os momentos pré-eleitorais,


relativos à preparação das eleições, e finalmente os momentos pós-eleitorais, de
gestão dos resultados (Ronceray & Byiers, 2019).
Tal análise, aplicada às eleições moçambicanas, permitiu verificar, por um
lado, a importância das mesmas no que diz respeito à “transição inversa”, por
outro, a contribuição de elementos “de contorno”, mas de fundamental relevân-
cia para que tal processo se efetivasse. Nesta senda, foram considerados os vários
posicionamentos da CNE (Comissão Nacional de Eleições), do Supremo Tribunal
e da comunidade internacional, que concorreram todos para a aceleração da re-
gressão democrática.

Breve quadro teórico


Na tradição do liberalismo, em que Moçambique se colocou com a nova
Constituição de 1990 e a abertura ao pluralismo político, os processos eleitorais
representam os momentos centrais do funcionamento das instituições e da vida
pública em geral. O liberalismo parte de dois pressupostos fundamentais: por
um lado, uma democracia “vertical”, ou representativa – em que uma elite go-
verna em nome da massa de cidadãos –, e por outro, a escolha popular, mediante
eleições, para designar esta elite (Sartori, 1961). Sem o “banho eleitoral” nenhu-
ma elite, nem a mais fechada, terá legitimação num sistema democrático.
O princípio fundamental deste mecanismo é de tipo quantitativo: é a maio-
ria a ter mais direitos em termos de governação do que a minoria (a melior pars
coincide com a major pars); entretanto, o liberalismo garante que a minoria que
perdeu as eleições também tenha os seus direitos reconhecidos: acima de tudo,
os tipicamente políticos e civis, relativos à liberdade de expressão, associação,
crítica ao executivo; e em segundo lugar, os de tipo institucional e parlamentar.
Um sistema de checks-and-balances deveria permitir, às minorias com assento par-
lamentar, fiscalizar a atividade do governo, mediante regulamentos específicos,
servindo de importante etapa para implementar uma primeira, nítida, divisão de
poderes (Da Ros & Taylor, 2021).
Esta complexa arquitetura institucional encontra os mesmos princípios fora
do parlamento e das outras assembleias locais eletivas, com a preservação dos
direitos das minorias traçando limites claros ao exercício do poder da maioria.
Se Tocqueville, no seu estudo clássico sobre a divisão de poderes, sistematizou
esta necessidade, em tempos mais recentes outros autores têm falado de uma
“discipline of power” (Starr, 2007, p. 15). No seio dela se encontram não apenas
os aspetos legislativos formais, mas também a participação do cidadão na vida
pública, a proteção das minorias, e sobretudo a ideia de que um poder bem deli-

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


66 Moçambique: O papel das eleições na “transição inversa” (2009-2019)

mitado resulte mais forte e prestigiado do que um poder absoluto e sem limites
(Holmes, 1995).
A edificação de um sistema institucional tão complexo leva tempo e precisa
que as classes dirigentes o absorvam, propondo-o à opinião pública. O pressu-
posto é que as elites políticas estejam dispostas a deixar o poder, se os eleitores
assim o decidirem. No caso africano nem sempre houve tempo e vontade, por
parte das elites, de construir um tal sistema; e a mesma impaciência foi a carac-
terística dos parceiros internacionais ocidentais que apostaram na assinatura de
acordos de paz simbólicos entre as fações em luta em vários países do continente
(Angola e Moçambique são exemplo disso), querendo reduzir a introdução do
liberalismo à sua parte mais visível, a realização de eleições pluralistas (Bussotti,
2021; Vidal & Pinto de Andrade, 2008).
Além disso, raras vezes foi considerado que o liberalismo contém em si ele-
mentos conflituantes com a cultura não apenas política, mas africana tout court.
Por exemplo, o liberalismo enaltece o papel do indivíduo, em detrimento do gru-
po, tanto que os direitos em todos os Estados ocidentais são individuais, assim
como as responsabilidades em caso de infração da lei. Na cultura africana é o
mais das vezes o oposto, o indivíduo é sim respeitado, mas dentro de uma visão
holística que destaca mais a importância do grupo, da comunidade, até da etnia
(Sindima, 1990).
No âmbito político, também foram relevantes as dificuldades encontradas pe-
los doadores internacionais em impor os princípios liberais e democráticos aos
países africanos que foram alvo das políticas de ajustamento estrutural.
Na maioria dos casos, o princípio de que a maioria tem a prerrogativa de go-
vernar transformou-se num direito absoluto e incontestável, ao passo que líderes
despóticos tendem a confundir prerrogativas do poder com arbitrariedade, e in-
teresse público com interesses privados ou de grupos de fiéis (Teson, 2007). Há
autores que assinalaram o facto de os países africanos terem falhado, não tanto
na implementação da democracia, mas na implementação de um tipo específi-
co de democracia, a liberal, que, portanto, deveria ser ultrapassada e repensada
(Oduor, 2022).
Seja como for, o que resulta evidente e que faz convergir a opinião de muitos
estudiosos é que a vaga de democratização da década de 1990 que tocou o conti-
nente africano demonstrou todos os seus limites.
A partir de tais dificuldades, a pergunta que Chabal se colocava no meio deste
processo de transição africana para a democracia (“will the multi-party elections
now taking place usher in recognisably more democratic political systems?”) aponta-
va justamente para formas minimais de democracia em África, concluindo que

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


Luca Bussotti 67

“a political system in which the political opposition can form, organize, compete in free
and fair elections and take power if elected” já seria um resultado excelente, tendo
em consideração a história política da maioria dos países do continente (Chabal,
1996, p. 57).
As perguntas a que Chabal não conseguiu responder em 1996 podem ser sa-
tisfeitas hoje: nos países em África, assim como em quaisquer outros do mundo,
as eleições representam o epifenómeno de um processo de democratização mais
profundo e intenso, pelo que não é possível garantir o “mínimo”, representa-
do por processos eleitorais transparentes, sem que haja por detrás uma sólida
cultura política, instituições independentes e dialogantes, e sobretudo sem que
haja a vontade de os partidos historicamente hegemónicos aceitarem considerar
a possibilidade do seu afastamento do poder como algo normal, parte da regular
dinâmica política. Isto significa, a contrário, que, regra geral, os partidos hege-
mónicos vão antes fazer tudo para se manterem no poder, pelo que esta atitude
tem de estar inscrita, mesmo que de forma sub-reptícia, dentro das normas e dos
procedimentos permitidos pela lei.
Angola e Moçambique representam a encarnação de um modelo em que os
partidos hegemónicos aprovaram constituições democráticas e leis consequen-
tes, mas nunca considerando como possível a cedência do poder à oposição: nos
dois casos, as elites interpretaram a governação do país como um direito indis-
cutível, que se coloca além da vontade dos eleitores. Aliás, a fundamentação do
seu poder não assenta em processos eleitorais, mas sim numa narrativa derivante
das respetivas lutas de libertação, que o MPLA e a FRELIMO protagonizaram,
tornando-os “eternos”. Esta autoridade, suposta ou verdadeira pouco aqui inte-
ressa, funcionou durante o período do partido único; circunstância, porém, que
provocou duas guerras civis particularmente sangrentas e destruidoras das in-
fraestruturas fundamentais daqueles dois países.
Entretanto, uma vez estabelecidos regimes democráticos, a dificuldade con-
sistiu em manter o poder, mas passando pelo crivo das eleições, ou seja, por
uma forma diferente de legitimidade. Esta importante transformação nunca se
concretizou em pleno. No caso angolano, foi pouco disfarçada a ideia de que não
era o povo que dava a legitimidade às elites para governarem. O sistema eleitoral
que foi instaurado – depois do primeiro e único turno disputado em 1992, após
os Acordos de Bicesse – previa a eleição indireta do Presidente, carregando o
inteiro peso eleitoral nas listas dos partidos concorrentes (Bittencourt, 2016); mas
também se evitou qualquer forma de eleição local, de maneira que, até hoje, as
únicas eleições a que os cidadãos angolanos têm direito são as gerais, com listas
partidárias bloqueadas.

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


68 Moçambique: O papel das eleições na “transição inversa” (2009-2019)

Em Moçambique, as coisas andaram aparentemente de forma diferente: du-


rante muito tempo o país foi considerado pela comunidade internacional como
um exemplo, quer quanto ao tipo de paz alcançado depois dos Acordos Gerais
de Roma de 1992, quer no que diz respeito à forma como conseguiu implemen-
tar processos democráticos com base em eleições pluralistas (Manning, 2002;
SADC, 2021). Com efeito, desde 1994, a cada cinco anos são realizadas eleições
gerais para escolher o parlamento e eleições presidenciais diretas para escolher o
Presidente da República; e desde 2009, na mesma altura em que ocorrem as elei-
ções gerais e presidenciais, os eleitores são chamados também a eleger as assem-
bleias provinciais (e, desde 2019, são também chamados, por via indireta, a ele-
ger os governadores de cada província); finalmente, desde 1998, são realizadas
eleições autárquicas, com eleição direta do Presidente do Conselho Municipal
(de forma indirecta desde 2018).
Em suma, temos aqui um quadro que aparenta ser promissor e sólido quanto
à natureza dos processos eleitorais. Contudo, estes processos estão longe de ser
transparentes, tanto que Moçambique partilha com muitos outros países africa-
nos, incluindo Angola, uma característica peculiar: o partido hegemónico não
aceita, a priori, ceder o poder a outras formações políticas, ignorando a vontade
popular derivante das urnas eleitorais, se esta for contrária aos seus interesses.
Consequentemente, uma série de medidas, preventivas ou a posteriori, foi imple-
mentada nas diferentes eleições para evitar que a vontade popular triunfasse.
Em Angola, assim como em Moçambique, pelo menos nas eleições gerais, os
mecanismos eleitorais têm assumido um papel de mera confirmação do partido
ou do presidente no poder, mais do que desempenhar uma função de escolha
efetiva de quem deveria governar, tal como aconteceu em outros contextos no
continente (Adejumobi, 2000).
Qualquer que seja a tipologia de alteração ou até inviabilização dos processos
eleitorais, o que vale a pena realçar é que o elemento decisivo para a instalação
de um sistema democrático – o respeito pela vontade dos eleitores – nunca po-
derá ser implementado sem uma prévia cultura democrática por parte das elites
dirigentes. Circunstância que, até hoje, nem em Angola nem em Moçambique se
verificou.

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


Luca Bussotti 69

As eleições de 2009 em Moçambique: as medidas preventivas


contra o MDM – Movimento Democrático de Moçambique

Existe uma constante nas eleições moçambicanas: nunca foram reconhecidas


pela oposição, que sempre alegou fraudes que o partido-Estado FRELIMO te-
ria supostamente protagonizado. Embora não constitua o objeto específico desta
pesquisa, vale a pena recordar que as eleições mais contestadas da história de
Moçambique foram as de 1999, quando Joaquim Chissano ganhou com uma mar-
gem muito reduzida de votos contra o seu principal rival, Afonso M. Dhlakama,
dando azo a manifestações de simpatizantes da RENAMO, sobretudo no norte
do país. Estas manifestações culminaram com a morte de cerca de 100 membros
do partido da perdiz: primeiro, foram encarcerados numa cela minúscula, no
distrito de Montepuez (província de Cabo Delgado), depois faleceram suposta-
mente por asfixia; mesmo assim, nenhuma figura institucional relevante passou
por uma investigação ou um processo-crime (Bussotti, 2018).
As eleições de 1999 demonstraram que a FRELIMO e o seu candidato não
podiam perder o poder, e que a democracia moçambicana se reduzia a um “au-
toritarismo competitivo”, em que as eleições desempenhavam um papel de con-
firmação do partido hegemónico (Levitsky & Way, 2002). Ficou claro que, em
Moçambique, o princípio fundamental das democracias liberais – a alternância
no poder – não seria ainda possível. A comunidade internacional não insistiu
muito neste aspeto, desistindo rapidamente de querer cooperar (ou “interferir”,
como diziam as autoridades políticas locais) nos processos eleitorais internos (De
Tollenaere, 2006).
Em 2004, depois do “grande medo” das eleições de 1999, Guebuza foi eleito
presidente, mas sem alcançar a maioria qualificada, com 63% dos votos válidos,
contra quase 32% da RENAMO. Foi um resultado julgado satisfatório, mas abai-
xo das expetativas da FRELIMO.
Entretanto, o dado a realçar tem a ver com a afluência às urnas: o entusiasmo
das primeiras duas eleições já se tinha evaporado, por razões que parecem ser
óbvias. Se, em 1994, foram votar quase todos os que tinham este direito (88%), e
em 1999 a percentagem manteve-se elevada (cerca de 70%), em 2004 a afluência
foi apenas de 43%. O recado enviado pelo eleitorado moçambicano foi claro: des-
confiança. O tipo de desconfiança é esclarecido, pelo menos parcialmente, por
algumas pesquisas realizadas naqueles anos pelo Afrobarometer. Por exemplo, à
pergunta sobre os níveis de compreensão do discurso político, apenas 14% dos
entrevistados afirmaram ter um entendimento (pleno ou parcial) dele, ao passo
que apenas 22% declararam abordar com os amigos os assuntos relativos à vida

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


70 Moçambique: O papel das eleições na “transição inversa” (2009-2019)

política do país, como se estes representassem ainda um tabu (Afrobarometer,


2012).
Numa outra pesquisa, o dado que sobressaía evidenciava um aspeto ain-
da mais significativo e, para os defensores da difusão da democracia em
Moçambique, preocupante: apenas 59% dos cidadãos moçambicanos declararam
preferir a democracia a qualquer outro sistema de governação, face a uma mé-
dia continental de 70%. A confirmação de uma cultura democrática ainda muito
fraca entre os cidadãos moçambicanos – que evidentemente teve um impacto em
termos de abstenção eleitoral – vem também da resposta a duas outras questões:
Moçambique foi o segundo país, depois do Lesoto, a concordar com a afirmação
de que apenas um partido tem legitimidade para governar (34% dos inquiridos),
e o primeiro (com 22%, contra uma média continental de 10%) a concordar com
a possibilidade de abolir o parlamento e as eleições, dando plenos poderes ao
Presidente (Afrobarometer, 2008).
Este cenário parece particularmente favorável a um partido hegemónico,
como a FRELIMO, que ainda tem traços evidentes da cultura de partido único,
tornando o autoritarismo um dos seus elementos norteadores, principalmente
nas práticas diárias e na sobreposição com as instituições do Estado.
Desta forma, os pleitos eleitorais que representam o foco deste estudo (2009,
2014 e 2019) foram enfrentados pelo partido-Estado mediante a ideia de mini-
mizar o risco de perder o poder, identificando, a cada eleição, os perigos mais
consistentes, e gerindo-os de forma eficaz, como demonstram os resultados elei-
torais. A diferença com os métodos utilizados nas eleições mais contestadas, as
de 1999, é evidente: se, no primeiro caso, assistimos à adoção de medidas admi-
nistrativas grosseiras, para que a RENAMO não ganhasse (não foi contabilizada
uma parte dos votos da Zambézia, uma província historicamente de influência
renamista), a partir de 2009 usaram-se métodos mais sistemáticos, sofisticados e,
em aparência, “limpos”, culminando com a reforma legislativa de 2018, como se
verá mais adiante.
As eleições de 2009 apresentaram uma nova ameaça: o Movimento
Democrático de Moçambique (MDM). Esta formação política foi fundada por
Daviz Simango em 2009, após a sua inesperada vitória nas eleições autárquicas
na cidade da Beira em 2008, quando concorreu com uma simples lista cívica in-
dependente, derrotando quer o partido com que tinha ganho as eleições em 2003,
a RENAMO, quer a FRELIMO.
O MDM estava fora da tradicional disputa entre os dois gigantes da política
moçambicana e constituía, portanto, uma ameaça para o partido hegemónico, e
que era necessário combater. Ainda que, eventualmente, não se tratasse de uma

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


Luca Bussotti 71

ameaça de vitória em relação à FRELIMO, era certamente uma ameaça credí-


vel de um sucesso eleitoral significativo, que poderia projetar o novo partido
na cena nacional como a verdadeira novidade da política moçambicana (as elei-
ções autárquicas de 2013 demonstraram quão “perigoso” era este novo partido
com a conquista da Beira, Quelimane, Nampula e a quase vitória de Venâncio
Mondlane em Maputo).
Identificada a ameaça, a FRELIMO passou à ação. Explorando as dobras for-
mais da lei (Lei 29/2009) e a benevolência dos chamados órgãos de controlo, prin-
cipalmente a CNE e o seu presidente, Prof. João Leopoldo da Costa, bem como a
habitual cumplicidade, passividade ou resignação dos parceiros internacionais,
o partido no poder e o seu governo avançaram para a eliminação preventiva de
vários candidatos e partidos políticos, que foram afastados da competição elei-
toral. De facto, 10 dos 29 candidatos à presidência foram excluídos das eleições
presidenciais e legislativas, enquanto o MDM, que era o verdadeiro alvo destas
medidas, foi excluído em 9 de um total de 14 círculos eleitorais, retirando qual-
quer hipótese de vitória deste partido nesses círculos.
Entre os observadores internacionais, foi sobretudo a União Europeia a tentar
expressar o seu descontentamento e a condenar a exclusão de candidatos e par-
tidos que parecia motivada apenas por razões de mera especulação de natureza
legal (Guente, 2009). Porém, quando se redigiu o relatório final, o processo eleito-
ral no seu todo foi julgado satisfatório (European Parliament, 2009).
Entre os atores internos, foi uma parte da imprensa privada a assinalar a in-
sensatez da apuração eleitoral que tinha como alvo privilegiado o MDM. O Prof.
João Leopoldo da Costa foi indigitado como o principal responsável desta esco-
lha e foi e reduzido a mero executor da vontade do partido no poder (Nhamirre,
2009). Entretanto, tais posicionamentos não serviram para fazer a FRELIMO re-
cuar do seu plano de preparar uma vitória búlgara para o seu candidato presi-
dencial, Guebuza.
Foi neste contexto que as eleições de 2009 foram preparadas, abrindo o cami-
nho para a inversão da transição democrática, através da utilização partidária
das principais instituições da república. Os resultados foram encorajadores, com
Guebuza a “esmagar” Dhlakama e a RENAMO, conseguindo 75% dos votos, e o
MDM com 8,6%.
Além do “antes”, foi igualmente bem gerido o “depois”, por parte da
FRELIMO: o resultado das eleições gerais de 28 de outubro foi proclamado pelo
presidente do Conselho Constitucional, Luís Mondlane, a 28 de dezembro. Os
votos saídos das urnas foram confirmados, apesar da abertura de 229 processos
contra 245 acusações de fraude eleitoral, a mais frequente das quais foi o enchi-

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


72 Moçambique: O papel das eleições na “transição inversa” (2009-2019)

mento das urnas com votos pré-preenchidos a favor de Guebuza e da FRELIMO


(Nhamirre, 2009a).
E assim, o processo eleitoral de 2009 foi fechado sem mais sobressaltos. A
máquina administrativa do partido-Estado tinha, desta vez, funcionado perfeita-
mente, evitando quer os riscos de 1999, quer os resultados abaixo das expetativas
de 2004.

As eleições de 2014: as medidas a posteriori contra a


RENAMO
A essência da gestão do processo eleitoral de 2014 foi que a FRELIMO
não conseguiu repetir aquela perfeita organização administrativa que, como
demonstrado acima, apostou em medidas preventivas com uma suposta base
legal, evitando demonstrações desnecessárias de força. Desta vez, dois fatores
objetivos impediram que isso acontecesse. Primeiro, porque as primeiras elei-
ções de um novo candidato representam sempre riscos maiores, e 2014 não foi
uma exceção; segundo, porque estas eleições decorreram num clima de guerra
com a RENAMO, e a possibilidade de um adiamento do pleito (que Guebuza
tentou, para se manter por mais tempo no poder) pareceu um cenário provável
até poucos meses antes das eleições. Tais circunstâncias distraíram, por assim
dizer, a máquina administrativa eleitoral da FRELIMO, com resultados bastante
evidentes.
Um novo clima de crescente tensão instaurou-se no país por volta de 2011-
2012, com uma escalada que culminou numa nova guerra entre o partido-Estado
e a RENAMO. Dhlakama acabava de sair das eleições gerais – as de 2009 – com
resultados péssimos: a RENAMO tinha chegado ao ponto mínimo de consensos,
com a agravante do bom resultado do seu novo e temível rival na disputa pelo
maior partido da oposição, o MDM de Simango.
Para a RENAMO, era então necessário encontrar uma nova orientação para
sair da crise e voltar a propor-se como alternativa teoricamente possível à
FRELIMO. Por ocasião do Conselho Nacional de Nampula de 2012, Dhlakama
remodelou todos os cargos principais do partido, apostando, pela primeira vez,
no mecanismo de descentralização para garantir ao seu partido o controlo, pelo
menos a nível provincial, dos territórios do centro e do norte do país, que costu-
mava dominar do ponto de vista eleitoral (RFI, 2012).
Do lado da FRELIMO, as eleições de 2014 foram preparadas segundo dois
momentos políticos distintos, que engendraram uma certa confusão: um pri-
meiro, em que Guebuza tentou forçar o parlamento a alterar a Constituição, no

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


Luca Bussotti 73

sentido de lhe permitir um terceiro mandato, tendo como apêndice a tentativa


deste de apresentar a sua esposa, Maria da Luz Guebuza, como candidata à sua
sucessão; e um segundo, depois do falhanço daquela tentativa, em que se abriu
espaço para um debate interno à FRELIMO, que culminou com a designação de
Nyusi como candidato a presidente pelo partido.
Estes dois momentos não são irrelevantes para a disputa das eleições com a
RENAMO e com o MDM. Com efeito, a única forma de Guebuza obter o aval para
um terceiro mandato era criar um clima de novas hostilidades com a RENAMO,
invocando assim o estado de sítio para se manter no poder e ganhar tempo. Foi
por isso que, no meio de negociações infinitas junto ao Centro Joaquim Chissano
em Maputo, com a delegação da RENAMO, em abril de 2013, Guebuza tentou
implementar a “solução final”, ou seja, o definitivo aniquilamento do partido de
Dhlakama e das suas bases militares.
Santunjira, uma localidade nas proximidades da Serra da Gorongosa onde
Dhlakama se tinha fixado com os seus homens, foi cercada por soldados do exér-
cito com equipamento de guerra completo, tornando praticamente impossível
para o líder da RENAMO sair de lá. As poucas vezes que o tentou fazer foi su-
jeito a duas emboscadas por soldados regulares do exército, uma em Manica, a
outra na sua casa na Beira, mas ambas falharam. Além disso, a polícia procedeu
à detenção de 15 homens armados da RENAMO, também em Manica, que forne-
ciam uma escolta armada ao secretário-geral do partido, Manuel Bissopo, que se
encontrava numa estância turística em Chimoio.
Tal iniciativa quebrou aquela tolerância mútua implícita, segundo a qual a
RENAMO mantinha um exército apenas como arma de pressão para obter re-
formas institucionais por parte da FRELIMO (Matias, 2013), iniciando-se oficial-
mente uma nova guerra em 2013.
Perante um novo cenário de conflito, vários mediadores internacionais acor-
reram à cabeceira do ex país-modelo, agora adoentado. Quem chefiava a dele-
gação de mediação da União Europeia era o italiano Mario Raffaelli, que tinha
sido um dos diplomatas (na altura vice-ministro dos Negócios Estrangeiros em
Roma) que conseguiu concluir o primeiro e longo conflito entre as partes, com o
Acordo Geral de Paz de 1992.
É deste modo que, a 5 de setembro de 2014, foi assinado um acordo de cessa-
ção das hostilidades por Guebuza e Dhlakama, para que as eleições pudessem ter
lugar no final de 2014, como previsto. A atmosfera de alta e prolongada tensão
fez com que a FRELIMO não conseguisse “preparar” adequadamente as eleições,
de forma que o tipo de fraude conseguido foi menos sistemático, se comparado
com o de 2009, voltando a metodologias mais grosseiras e menos refinadas.

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


74 Moçambique: O papel das eleições na “transição inversa” (2009-2019)

Dentro da FRELIMO, a decisão sobre a sucessão de Guebuza foi muito com-


plicada. Uma vez feita a opção pela descontinuidade em relação à governação de
Guebuza, o problema consistia em quem indigitar para desafiar um Dhlakama
ressuscitado. Após três presidentes originários do sul do país, todos Ronga, seria
a vez de um Makonde, de acordo com a forte e antiga aliança entre estes dois
grupos étnicos, que tinha conduzido à independência do país em 1975. A pes-
soa indicada foi o general Alberto Chipande, líder dos Makonde, que, contudo,
renunciou, principalmente por razões de idade, indicando em seu lugar um dos
seus familiares, o então ministro da Defesa, Filipe Nyusi, como candidadto à
Presidência. Eleições internas, que hoje sabemos terem sido manipuladas, deram
vantagem a Nyusi contra a outra candidata, a antiga primeira-ministra, a econo-
mista Luísa Diogo, de Tete (Pinto, 2014).
Em termos de procedimentos de conduta eleitoral e de incerteza quanto ao
desfecho, as eleições de 2014 foram ainda piores do que as de 2009. O clima
de tensão político-militar no país reavivou a polarização entre a FRELIMO e a
RENAMO e seus respetivos candidatos, deixando o MDM à margem, perdendo
grande parte do seu appeal inicial por conta daquela reavivada polarização.
Os resultados eleitorais deram a vitória a Nyusi, que obteve 57% dos votos,
quase 20 pontos abaixo do que Guebuza tinha conseguido em 2009, seguido por
Dhlakama, com 36,6%, e Simango, com 6,3%. No parlamento, a FRELIMO per-
deu 47 lugares, principalmente a favor da RENAMO (+31) e, em certa medida,
do MDM (+9 em relação a 2009, com um total de 17 deputados). A RENAMO
obteve uma larga maioria nas eleições legislativas e provinciais (na Zambézia e
em Sofala), e conseguiu vencer, embora de forma menos esmagadora, em todas
as outras províncias a norte do Rio Save, excepto Cabo Delgado. Apesar deste re-
sultado, a vitória nas eleições gerais foi atribuída à FRELIMO e ao seu candidato,
Nyusi, e todos os recursos apresentados (23 no total), tanto pela RENAMO como
pelo MDM, foram rejeitados por razões formais (essencialmente por terem sido
apresentados após as 48 horas permitidas pela lei). Em vez disso, o único recurso
feito pela FRELIMO, em Tsanago, na província de Tete, foi aceite, provocando a
repetição das eleições, uma vez que os membros da RENAMO tinham destruído
as instalações onde a votação deveria ter ocorrido (Hanlon, 2014).
A gestão eleitoral para garantir a certeza da vitória de Nyusi e da FRELIMO
foi, desta vez, construída essencialmente a posteriori, e com técnicas grosseiras,
que apenas entidades como a União Europeia não conseguiram (ou não qui-
seram) notar (UE, 2014). Pelo contrário, organizações locais da sociedade civil,
como o Centro de Integridade Pública, evidenciaram os mecanismos de fraude
que beneficiaram Nyusi, nisso corroboradas pelo próprio STAE (Secretariado

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


Luca Bussotti 75

Técnico da Administração Eleitoral, braço operacional da CNE), que admitiu que


os votos de 330 assembleias não foram contabilizados – sobretudo na Zambézia
e, em menor medida, em Tete e Nampula – e que houve enchimento de urnas em
casos específicos, devidamente detetados (Voice of America, 2014).
A representação da FRELIMO como partido hegemónico, mas que procura-
va projetar a sua imagem para o modelo de democracia com base em eleições
razoavelmente justas e transparentes, começou a partir de 2014 a ser muito ques-
tionada, pelo menos internamente. A gestão desta vitória, manchada por fraudes
significativas e evidentes, foi até mais difícil do que a própria manipulação dos
resultados eleitorais. A FRELIMO precisava gerir esta meia-derrota, procurando
outra forma de aniquilar a RENAMO, que não a de Guebuza, de tipo bélico.
A tarefa não era simples, pois Dhlakama, revigorado pelos resultados eleito-
rais, falava agora de governo de gestão (ou seja, de unidade nacional), divisão do
país, federalismo e, em última instância, de querer governar nas sete províncias
onde o seu partido tinha conseguido a maioria nas respetivas assembleias pro-
vinciais.
O novo timoneiro do partido-Estado, Nyusi (que a partir de 2015 assumiu
também a presidência da FRELIMO), jogou esta difícil partida em duas mesas: na
primeira, mostrou grande abertura em querer encerrar o conflito com a RENAMO,
negociando com Dhlakama; na segunda, manteve a linha dura – depois de uma
aparente disponibilidade – quanto às exigências imediatas da RENAMO, como
a nomeação de governadores indicados por Dhlakama naqueles territórios onde
a RENAMO tinha conseguido a maioria nas assembleias provinciais (Mapote,
2016; Matias, 2016).
Ao mesmo tempo, abriu-se um novo período de terror. Apesar de nenhuma
investigação ter sido levada a cabo, é provável que os assassinos do jurista fran-
co-moçambicano Jilles Cistac, professor na Universidade Eduardo Mondlane, em
plena Maputo, em março de 2015, tenham de ser procurados dentro dos esqua-
drões da morte governamentais. A mesma sorte foi reservada a personagens po-
líticas de relevo da oposição, como o deputado da RENAMO Jeremias Pondeca,
morto em outubro de 2016 com as mesmas modalidades, assim como jornalistas
da imprensa privada: só para recordar alguns casos, Paulo Machava foi assassi-
nado a 28 de agosto de 2015, Ericino de Salema foi raptado em março de 2018 e
teve os membros inferiores quebrados, Matias Guente, editor do semanário Canal
de Moçambique, escapou milagrosamente a uma tentativa de sequestro a 31 de
dezembro de 2019, enquanto em agosto de 2020 a sede deste jornal foi completa-
mente incendiada (Amnesty International, 2019; Savana, 2016).

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


76 Moçambique: O papel das eleições na “transição inversa” (2009-2019)

Com a nova governação o país entrava num clima de normalização com acen-
tuado autoritarismo, que irá culminar – paradoxalmente – com os acordos de paz
de 2019 entre o governo e a RENAMO, e com a aprovação, pelo parlamento, do
pacote legislativo eleitoral.

As eleições de 2019: negociar para aniquilar


É possível dizer que todo o processo de negociação e pacificação entre o par-
tido-Estado FRELIMO e a RENAMO foi uma longa preparação para que as elei-
ções de 2019 – e todas as seguintes – eliminassem da mesa a hipótese de uma
vitória da RENAMO, tornando esta formação política num sparring partner, mais
do que um verdadeiro competitor da FRELIMO. Na versão governamental de
Nyusi e dos Makonde, a RENAMO devia ser aniquilada, não por via das armas,
mas sim esvaziada a partir do seu interior, e com agressões pontuais a membros
da oposição ou da sociedade civil que incomodassem particularmente o governo.
Por isso é que as eleições de 2019 são diferentes de todas as outras: elas não
foram preparadas apenas para ganhar naquele pleito eleitoral específico, mas
sim para tornar sistemática a superioridade eleitoral da FRELIMO, eliminando
assim qualquer possibilidade de cedência do poder por este partido. Em suma,
os princípios do liberalismo deviam, na substância, ser ultrapassados, dando lu-
gar a um cenário de quase-partido único, confirmado por eleições escassamente
competitivas.
O acordo de paz procurou traduzir esta perspetiva em termos formais. A
ideia era pôr fim à RENAMO como partido armado, capaz de condicionar o ce-
nário político moçambicano usando a chantagem de um retorno à guerra. Sem
Dhlakama, entretanto falecido em maio de 2018, este projeto não teve dificulda-
des em se realizar. A nível político, foi alcançado um acordo sobre reformas cons-
titucionais e eleitorais que favorecia a posição da FRELIMO (depois traduzidas
na Lei 1/2018, Lei de Revisão Pontual da Constituição); a nível militar, a situação
correu ainda melhor para a FRELIMO (Sebastião, 2019); o processo de desmo-
bilização, desarmamento e reintegração (DDR), que consistia no encerramento
de todas as bases militares da RENAMO e na desmobilização do exército deste
partido, tornou-se possível graças à boa vontade e colaboração do novo líder da
RENAMO, Ossufo Momade.
Uma onda de descontentamento atravessou a RENAMO, com a formação de
uma junta militar autónoma, chefiada pelo general Nhongo, que não reconhecia
os acordos assinados por Nyusi e Momade, e exigia a abertura de novas negocia-
ções para conseguir condições melhores para os desmobilizados da RENAMO.

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


Luca Bussotti 77

Esta tentativa, ao mesmo tempo heroica e desajustada do ponto de vista do con-


texto político, culminou com a morte de Nhongo, em outubro de 2021, e o fim
da sua junta militar. Não obstante, o descontentamento na RENAMO continuou,
assim como as eliminações supostamente operadas pelos esquadrões da morte
(Miguel, 2023). As acusações dirigidas contra Momade, de ter sido comprado pela
FRELIMO, obrigaram-no a conceder uma entrevista a um semanário nacional,
procurando acalmar os ânimos internos, particularmente agitados (Mucandze &
Tchambule, 2023).
A preparação das eleições gerais de 2019 passou, portanto, por um conjun-
to de medidas e constrangimentos prévios que a FRELIMO conseguiu impor à
RENAMO, dentro de um acordo que já tinha sido alcançado, mas que depois foi
revisto, com condições ainda mais favoráveis ao partido no poder. Em síntese, as
novas cláusulas eleitorais resumem-se a três grandes áreas:
• A eleição dos governadores provinciais, que anteriormente eram nomea-
dos pelo Presidente da República. Esta aparente vitória da RENAMO foi mini-
mizada através de duas medidas complementares: a primeira tem a ver com o
método de eleição, que passou a ser indireto, ao contrário do que as duas dele-
gações tinham acordado inicialmente; a segunda está relacionada com a lógica
da máxima redução do risco por parte da FRELIMO, ao introduzir uma figura
completamente nova no sistema jurídico moçambicano – o Secretário de Estado
Provincial. Esta figura passa a representar o poder central nas províncias e é no-
meada pelo Presidente da República, assumindo maiores prerrogativas do que o
Governador eleito pelos cidadãos.
• A alteração das modalidades de eleição de vários cargos do poder local,
dos governadores aos presidentes dos conselhos municipais, que passaram do
modelo de eleição direta para o modelo de eleição indireta, dando ainda mais
força aos partidos políticos do que às individualidades que eventualmente pu-
dessem ganhar as eleições locais.
• A eleição dos administradores distritais, com processos eleitorais que, pela
primeira vez, deveriam ocorrer em 2024. Entretanto, de forma unilateral, a FRE-
LIMO resolveu, em 2023, adiar sine die os processos eleitorais para o nível distri-
tal, rompendo o acordo com a RENAMO e alterando uma das cláusulas constitu-
cionais que tinham sido mudadas em parceria com o maior partido da oposição.
O primeiro teste do novo pacote legislativo foi constituído pelas eleições au-
tárquicas de 2018 e, logo a seguir, em 2019, pelas eleições gerais e provinciais. Em
2018 a oposição conquistou nove municípios, entre os quais estavam algumas ci-
dades importantes como Beira (com Simango do MDM), Nampula, Quelimane e
a antiga capital, Ilha de Moçambique. A RENAMO esteve muito perto de ganhar

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


78 Moçambique: O papel das eleições na “transição inversa” (2009-2019)

na Matola, assim como em Maputo, onde a contagem dos votos foi manchada
por gravíssimas irregularidades (CIP, 2018).
As eleições autárquicas foram uma chamada de atenção para a FRELIMO:
os resultados demonstraram que a oposição era forte, quer nas suas áreas tradi-
cionais, quer em outras, por exemplo nos grandes centros urbanos do sul, onde
historicamente a FRELIMO dominava do ponto de vista eleitoral. Assim, Nyusi
e o seu governo tiveram tempo para preparar as eleições gerais de 2019, oleando
uma máquina administrativa que por demasiado tempo estivera mergulhada na
gestão da crise e nas negociações com a RENAMO.
Foi montada uma verdadeira operação pelo partido-Estado, designada “Não
falha nada”.2 Nyusi conseguiu 73% dos votos, Momade quase 22% e Simango
4,3%. A FRELIMO ganhou em todos os círculos eleitorais do país e em todas
as províncias, deixando apenas migalhas para a oposição. Os mecanismos de
fraude generalizada, com o condimento de confrontos e ataques (incluindo o as-
sassinato de um representante da mesa eleitoral da sociedade civil na província
de Gaza, Anastácio Matavele, cujos assassinos foram identificados como sendo
seis polícias das forças especiais, já condenados), levaram a RENAMO e o MDM
a queixarem-se pela enésima vez.
Numa reunião dramática da CNE, o resultado foi aprovado com nove votos a
favor e oito contra, arriscando-se, pela primeira vez, uma repetição das eleições
por fraude eleitoral comprovada. Joseph Hanlon, o maior especialista internacio-
nal em processos eleitorais em Moçambique, disse à imprensa que as eleições de
2019 tinham de ser consideradas como as piores na história do país, tanto devido
à fraude maciça como ao facto de mais de 3.000 observadores não terem sido
acreditados, tornando impossível o trabalho paralelo de contagem de votos que
normalmente era feito (Issufo et al., 2019).
Desta vez, a delegação da UE em Moçambique também identificou numero-
sos casos de irregularidades, antes, durante e depois do processo eleitoral. Entre
eles, o preenchimento de urnas com votos pré-impressos, a votação múltipla por
diferentes pessoas, a não validação deliberada de pacotes de votos em detrimen-
to da oposição e a alteração dos resultados em várias urnas, acrescentando votos
extra (Lusa, 2019, 2019a).

2
Os contornos desta operação, assim como a sua denominação, foram relatados ao autor deste artigo por um
membro da Força de Intervenção Rápida que foi envolvido neste processo de fraude sistemática das eleições de
2019. A ordem era que a FRELIMO não devia perder em nenhuma província, a fim de evitar a governação de
membros da RENAMO em territórios extensos como, justamente, os das províncias.

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


Luca Bussotti 79

Conclusões
A longa transição inversa, como aqui foi chamada, de um incipiente modelo
democrático para um modelo autoritário no contexto moçambicano, completou-
-se com as eleições de 2019, antecedidas pela aprovação de um pacote eleitoral
que concentra cada vez mais o poder nas mãos dos partidos políticos, enfraque-
cendo as possibilidades de escolha dos eleitores. Os três momentos eleitorais
aqui considerados (2009, 2014, 2019) foram caracterizados, todos eles, por ele-
mentos peculiares, mas com uma intenção comum: ultrapassar os vestígios de
pluralismo efetivo que se tinham concretizado na vida pública moçambicana nos
primeiros anos de vigência do sistema democrático, para voltar a uma configura-
ção política semelhante à do partido único.
Ao longo da transição, os riscos que a FRELIMO teve de enfrentar foram di-
versificados: ora a RENAMO, com mais frequência, ora o MDM, ora uma reno-
vada situação de guerra, ora a necessidade de negociar um novo acordo de paz.
Entretanto, a FRELIMO tem-se mostrado sempre capaz de enfrentar estes riscos
com flexibilidade, embora com formatos diferentes e com maior ou menor eficá-
cia. Em 2014, por exemplo, as condições objetivas fizeram com que a gestão pré-
via do pleito eleitoral tivesse sido descurada, coisa que obrigou o partido-Estado
a concentrar mais a sua atenção na gestão a posteriori.
De momento, o auge de um processo que procurou estabelecer um novo mo-
nopólio, de facto, do cenário político local por parte da FRELIMO, deu-se com
as normativas aprovadas em 2018, com o desaparecimento da ala militar da
RENAMO e com as eleições gerais de 2019. O controlo total do Estado por parte
do Presidente Nyusi, do partido FRELIMO e dos seus representantes de etnia
Makonde, que acabaram ocupando os lugares-chave da administração moçambi-
cana, tais como o de diretor-geral da polícia, de chefe dos serviços de segurança,
do ministério da Defesa, e de altas patentes do exército, representou a premissa
para que o partido dominante continuasse a ganhar as eleições, com todos os
formalismos jurídicos do caso, sem uma verdadeira oposição.
Este estudo procurou demonstrar que uma hipótese minimalista de adoção
dos princípios típicos do liberalismo, embasada na simples aceitação dos meca-
nismos eleitorais pluralistas, resulta impossível num contexto como o moçambi-
cano.
A hipótese esconde por detrás o que a elite política, que desde a indepen-
dência dominou Moçambique, sempre quis evitar: a cedência do poder a uma
formação alternativa, da oposição. Até hoje, a FRELIMO não tem mostrado tal
disponibilidade, passando por cima da vontade dos eleitores, quando estes deci-
dem votar maioritariamente a favor de um partido da oposição.

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


80 Moçambique: O papel das eleições na “transição inversa” (2009-2019)

Apenas em eleições autárquicas, e graças ao esforço da oposição empenhada


em organizar brigadas para a contagem paralela dos votos, é que a FRELIMO tem
aceite fazer algumas, limitadas, concessões. Concessões que, até hoje, pararam a
norte do Rio Save, uma vez que no sul do país, em nenhum caso, a FRELIMO
aceitou ceder a governação municipal à oposição. Nas últimas eleições autárqui-
cas de 2023 o único município do sul entregue à RENAMO foi o de Vilankulos,
na província de Inhambane.
A nível provincial, como visto no ponto anterior, a operação “Não falha nada”
de 2019, assim como a introdução de figuras institucionais improváveis, como
a do Secretário de Estado provincial, demonstram que territórios extensos não
podem ser administrados pela oposição.
Todos estes elementos confirmam a hipótese inicial de que Moçambique
rumou para uma transição inversa àquela que tinha sido feita no início da dé-
cada de 1990. E, para garantir o sucesso desta operação, foi necessário moldar
todos os sectores do Estado à imagem e semelhança da FRELIMO. Foi clara a
postura de entidades, em princípio independentes, como a CNE ou o Conselho
Constitucional, face a resultados eleitorais em muitos casos abertamente viciados
por fraudes massivas e evidentes, assim como a timidez – usando uma expressão
benigna – de organizações internacionais como a União Europeia na avaliação
dos processos eleitorais.
A questão que esteve na base deste trabalho – qual o papel das eleições na
transição inversa de Moçambique? – encontrou uma resposta articulada: por um
lado, os processos eleitorais desempenharam um papel fundamental para testar
a qualidade da democracia no país, em constante regressão; por outro, eles não
esgotaram a essência da democracia moçambicana, antes pelo contrário, estão
inseridos num contexto de fraqueza institucional, onde os principais sectores do
Estado são controlados pelo partido no poder.
Deste modo, é uma utopia sem possibilidade de se concretizar, pelo menos
rebus sic stantibus, a ideia de ter eleições livres e transparentes diante de um con-
trolo apertado das instituições públicas, assim como de uma parca sensibilidade
dos cidadãos aos princípios liberais – segundo os dados acima reportados do
Afrobarometer.

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


Luca Bussotti 81

Referências
Adejumobi, S. 2000. Elections in Africa. A fading shadow of democracy? International
Political Science Review, 21(1), 59-73.
Afrobarometer. (2008). The quality of democracy and governance in Africa: New results from
Afrobarometer Round 4. Working Paper 108. www.afrobarometer.org
Afrobarometer. (2012). Survey in Mozambique 2012. Centro de Pesquisas sobre Governação
e Desenvolvimento. https://www.afrobarometer.org
Amnesty International. (2019, 17 de setembro). Virar a página! A human rights manifesto for
Mozambican political parties and candidates, October 2019 election. Author. https://www.
amnesty.org/download/Documents/AFR4110192019PORTUGUESE.PDF
Bittencourt, M. (2016). As eleições angolanas de 1992. Revista TEL, 7(2), 170-192. https://
webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:da1pXZPzgLwJ:https://revistas.
uepg.br/index.php/tel/article/download/9465/6064/37763&cd=21&hl=pt-BR&ct=clnk&
gl=br&client=avast-a-2
Bussotti, L. (2015). Media freedom and the “transition” era in Mozambique: 1999-2000. In
L. Bussotti, M. De Barros, & T. Grätz, T. (Eds.), Media freedom and right to information in
Africa (pp. 45-71). ISCTE. https://books.openedition.org/cei/145
Bussotti, L. (2018). Os media e os direitos humanos em Moçambique: Os casos dos jornais
Savana, Notícias e O País (1994-2009). In L. Bussotti (Ed.), Os direitos humanos e a imprensa
nos PALOP (pp. 187-301). Minerva.
Bussotti, L. (2021). La transizione fallita. Dieci anni di politica mozambicana (2009-2019).
Il Politico, Rivista Italiana di Scienze Politiche, 255(2), 73-101. https://www.pagepress.org/
socialsciences/ilpolítico/article/view/623
Chabal, P. (1996). The transition to multi-party politics in Lusophone Africa. Lusotopie, p.
57-69. http://lusotopie.sciencespobordeaux.fr/chabal96.pdf
CIP (Centro de Integridade Pública). (2018, 17 de outubro). Votar Moçambique. Posicionamento
sobre as eleições autárquicas de 10 de Outubro de 2018. https://cipmoz.org/wp-content/
uploads/2018/10/Posicionamento-Votar-Moc%CC%A7ambique.processo-eleitoral_-
Revisto-3.pdf
Da Ros, L., & Taylor, M. (2021). Checks and balances: The concept and its implications for
corruption. Revista DireitoGV, 17(2), 1-30. https://www.scielo.br/j/rdgv/a/4RS7DBhrzgc
9Bn8K6drZQwG/?format=pdf&lang=en
De Tollenaere, M. (2006). Democratic assistance to post-conflict Mozambique: Intentions and
outcomes. Working Paper 37. Netherlands Institute of International relations. https://
www.clingendael.org/sites/default/files/pdfs/20060500_cru_working_paper_37_
en.pdf
European Parliament - Election Observation Delegation. (2009). Presidential, parliamentary
and provincial elections in Mozambique. Report by Cristian Dan Preda, European Union
in Mozambique. www.europarl.europa.eu
Freedom House. (2003, 18 de dezembro). Freedom in the world 2004 - Mozambique. https://
www.refworld.org/docid/473c54ac23.html
Freedom House. (2013, 9 de maio). Freedom in the world 2013 - Mozambique. https://www.
refworld.org/docid/5194a2f459.html
Freedom House. (2021). Freedom in the world 2021 - Mozambique. https://freedomhouse.org/
country/mozambique/freedom-world/2021

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


82 Moçambique: O papel das eleições na “transição inversa” (2009-2019)

Guente, M. (2009, 02 de novembro). Missão da Observação da União Europeia inconformada


com a exclusão dos partidos pela CNE. Canalmoz.
Hanlon, J. (2014, 02 de novembro). Eleições nacionais 2014. Boletim sobre o processo
político em Moçambique, EN 75. https://www.open.ac.uk/technology/mozambique/
sites/www.open.ac.uk.technology.mozambique/files/files/Elei%C3%A7%C3%B5es_
Nacionais_75-2deNovembro-2015_comentarios_dados.pdf
Holmes, S. (1995). Passions and constraint: On the theory of liberal democracy. University of
Chicago Press.
Issufo, N., Leonel, M., & Da Silva, R. (2019, 17 de outubro). “Foram as piores eleições de
sempre de Moçambique”, diz investigador britânico. Deutsche Welle. https://www.dw.com/
pt-002/foram-as-piores-elei%C3%A7%C3%B5es-de-sempre-de-mo%C3%A7ambique-
diz-investigador-brit%C3%A2nico/a-50876399
Kamer, L. (2022, 15 de dezembro). Democracy index in Mozambique 2010-2020. Statista.
https://www.statista.com/statistics/1239388/democracy-index-in-mozambique/
Levitsky, S., & Way, L. (2002). The rise of competitive authoritarianism. Journal of
Democracy, 13(2), 51-65. https://scholar.harvard.edu/levitsky/files/SL_elections.pdf
Lusa. (2019, 27 de outubro). Moçambique: Filipe Nyusi reeleito Presidente com 73% dos votos,
oposição alega fraude. Deutsche Welle. https://www.dw.com/pt-002/mo%C3%A7ambique-
filipe-nyusi-reeleito-presidente-com-73-dos-votos-oposi%C3%A7%C3%A3o-alega-
fraude/a-51008391
Lusa. (2019a, 08 de novembro). Moçambique: Missão da UE deteta “más práticas”
nas eleições. Deutsche Welle. https://www.dw.com/pt-002/miss%C3%A3o-da-ue-
deteta-irregularidades-e-m%C3%A1s-pr%C3%A1ticas-nas-elei%C3%A7%C3%B5es-
mo%C3%A7ambicanas/a-51170551
Manning, C. (2002). The politics of peace in Mozambique: Post-conflict democratization, 1992-
2000. Praeger.
Mapote, W. (2016, 17 de agosto). Moçambique: Nyusi nomenará governadores indicados pela
Renamo. VOA Português. https://www.voaportugues.com/a/mocambique-nyusi-
nomeara-governadores-indicados-renamo/3468799.html
Matias, L. (2013, 02 de maio). Negociações entre RENAMO e Governo moçambicano marcadas
por finca-pé. Deutsche Welle. https://www.dw.com/pt-002/negocia%C3%A7%C3%B5es-
entre-renamo-e-governo-mo%C3%A7ambicano-marcadas-por-finca-p%C3%A9/a-16786583
Matias, L. (2016, 17 de agosto). Maputo desmente acordo sobre nomeação de governadores
da RENAMO. Deutsche Welle. https://www.dw.com/pt-002/governo-
mo%C3%A7ambicano-desmente-nomea%C3%A7%C3%A3o-de-governadores-
provis%C3%B3rios-da-renamo/a-19480852
Miguel, R. (2023, 10 de fevereiro). Renamo diz que oficial morto em Tete foi vítima de “esquadrão
da morte”. VOA Português. https://www.voaportugues.com/a/renamo-diz-que-oficial-
morto-em-tete-foi-vitima-de-esquadr%C3%A3o-da-morte-/6957770.html
MozParks. (2019, 10 de janeiro). Mozambique falls in democracy index, gets classified
as ‘authoritarian’. Club of Mozambique. https://clubofmozambique.com/news/
mozambique-falls-on-democracy-index-gets-classified-as-authoritarian/
Mucandze, N., & Tchambule, R. (2023, 21 de fevereiro). “Não fui comprado” – Ossufo
Momade. Evidências, nº 97, pp. 2, 3, 18, 19.
Nhamirre, B. (2009, 08 de setembro). CNE provoca terramoto político. Canalmoz.
https://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2009/09/cne-provoca-terramoto-
pol%C3%ADtico.html

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83


Luca Bussotti 83

Nhamirre, B. (2009a, 29 de dezembro). Validação da vitória da Frelimo e de Guebuza. Canalmoz.


https://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2009/12/valida%C3%A7%C3%A3o-
da-vit%C3%B3ria-da-frelimo-e-de-guebuza.html
Nhaueleque, L. A. (2020). Os direitos humanos na polícia moçambicana. Surgimento e
fortalecimento do modelo autoritário: da independência ao regime democrático
(1975-2019). Debates Insubmissos, 3(8), 62-92. https://periodicos.ufpe.br/revistas/
debatesinsubmissos/article/view/243948/35092
Oduor, R. (Ed.) (2022). Africa beyond liberal democracy. Rowman & Littlefeld.
Pinto, M. J. (2014, 10 de fevereiro). Sucessão de Guebuza mergulha FRELIMO numa crise
interna. Deutsche Welle. https://www.dw.com/pt-002/sucess%C3%A3o-de-guebuza-
mergulha-frelimo-numa-crise-interna/a-17422706
RFI (Radio France Internationale). (2012, 7 de julho). RENAMO discute estratégias para
as próximas eleições em Moçambique. https://www.rfi.fr/br/africa/20120707-renamo-
quer-que-os-jovens-de-mocambique-relancem-o-partido-para-os-proximos-trinta-a
Ronceray, M., & Byiers, B. (2019). Elections in Africa – Playing the game or bending the rules?
Discussion Paper 261, Ecdpm. https://ecdpm.org/wp-content/uploads/Elections-
Africa-Playing-Game-Bending-Rules-ECDPM-Discussion-Paper-261.pdf
SADC. (2021). Success stories. Mozambique. https://www.giz.de/de/downloads/2021-sadc-
success-stories.pdf
Savana. (2016, 11 de março). Há esquadrões de morte para abater opositores - revela agente da
Polícia da República de Moçambique. Scribd. https://pt.scribd.com/document/388531854/
SAVANA-1157-Text-marked#
Sartori, G. (1961). Le élites politiche. Laterza.
Sebastião, A. (2019, 01 de agosto). Moçambique: Nyusi e Momade assinam acordo de paz na
Gorongosa. Deutsche Welle. https://www.dw.com/pt-002/mo%C3%A7ambique-nyusi-
e-momade-assinam-acordo-de-paz-na-gorongosa/a-49845768
Starr, P. (2007). Freedom’s power: The true force of liberalism. Princeton University Press.
Sindima, H. (1990). Liberalism and African culture. Journal of Black Studies, 21(2), 190-209.
Teson, F. (2007). A defence of liberal democracy for Africa. Cambridge Review of International
Affairs, 13(1), 29-40.
UE – Missão de Observação Eleitoral da União Europeia – Moçambique. (2014, 17
de outubro). Eleições gerais – 15 de Outubro de 2014. Declaração preliminar. Votação
ordeira após uma campanha eleitoral desequilibrada. https://macua.blogs.com/files/ue-
declaracaopreliminar.pdf
Vidal, N., & Pinto de Andrade, J. (Orgs.) (2008). O processo de transição para o multipartidarismo
em Angola. Firmamento.
Voice of America-VOA Português. (2014, 13 de novembro). Estudo revela fraude eleitoral
de “enchimento de urnas” em Moçambique. https://www.voaportugues.com/a/estudo-
revela-fraude-eleitoral-de-enchimento-de-urnas-em-mocambique/2519129.html

Cadernos de Estudos Africanos • janeiro-junho de 2023 • 45, 61-83

Você também pode gostar