RMB 3T-2021 Completa
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REVISTA
MARÍTIMA
BRASILEIRA
(Editada desde 1851)
v. 141 n. 07/09
julho/setembro 2021
SECRETARIA-GERAL DA MARINHA
Almirante de Esquadra Marcelo Francisco Campos
Assessoria Técnica
Capitão de Mar e Guerra (RM1-T) Nelson Luiz Avidos Silva
Diagramação
Designer Gráfica Amanda Christina do Carmo Pacheco
Designer Gráfica Rebeca Pinheiro Gonçalves Baroni
Assinatura/Distribuição
Suboficial-RM1-CN Maurício Oliveira de Rezende
Marinheiro-RC André Oliveira Vidal
Impressão / Tiragem
CMI – Serviços Editoriais Eireli ME / 7.400
REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA
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em nome do Departamento Cultural do Abrigo do Marinheiro, CNPJ – 72.063.654/0011-47.
SUMÁRIO
8 NOSSA CAPA
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: Aplicações operativas e perspectivas para a
Marinha do Brasil
Ali Kamel Issmael Junior – Capitão de Fragata (EN)
Conceito de Inteligência Artificial. Perspectivas, reflexões e conclusões para a MB
43 AMAZÔNIA INCOMPARÁVEL
Milton Sergio Silva Corrêa – Capitão de Mar e Guerra (Refo)
Armando Vidigal, Gama e Silva e Aécio Pereira de Souza. A Flotilha do Ama-
zonas e os croquis de navegação. A Corveta Bahiana
246 NECROLÓGIO
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL:
Aplicações operativas e perspectivas para a Marinha do Brasil
ALI KAMEL ISSMAEL JUNIOR*
Capitão de Fragata (EN)
SUMÁRIO
Introdução
O que é Inteligência Artificial
Aplicações Operativas de IA na MB
Perspectivas e o futuro da IA: Reflexões e Conclusões para a MB
* Mestre em Engenharia Elétrica pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ)
e especialista em Análise do Ambiente Eletromagnético, pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), e
como Engenheiro Elétrico com ênfase em Sistemas Eletrônicos, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(Uerj). Serve atualmente no Instituto de Pesquisas da Marinha, como encarregado do Grupo de Sistema Digitais.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: Aplicações operativas e perspectivas para a Marinha do Brasil
1 Redes Neurais Artificiais são técnicas computacionais que apresentam um modelo matemático inspirado na
estrutura neural de organismos inteligentes e que adquirem conhecimento por meio da experiência. Uma
grande rede neural artificial pode ter centenas ou milhares de unidades de processamento; já o cérebro
de um mamífero pode ter muitos bilhões de neurônios (CARVALHO, 2021).
2 A lógica difusa, ou lógica fuzzy, é a forma de lógica multivalorada na qual os valores de verdade das vari-
áveis podem ser qualquer número real entre 0 (correspondente ao valor falso) e 1 (correspondente ao
valor verdadeiro), diferentemente do que se verifica na lógica booliana (também chamada, às vezes,
lógica nítida), segundo a qual os valores lógicos podem ser apenas 0 ou 1. A lógica difusa foi estendida
para lidar com o conceito de verdade parcial, em que o valor verdade se situa entre o completamente
verdadeiro e o completamente falso. Além disso, quando variáveis linguísticas são usadas, esses graus
podem ser manipulados por funções especificas (WIKIPEDIA, 2021).
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3 Computação Evolutiva é o termo empregado para designar o conjunto de técnicas de resolução de problemas
baseadas em princípios de evolução biológica, como a seleção natural e a herança genética, as quais
podem ser empregadas para a solução de uma grande gama de problemas, com aplicações práticas na
indústria e comércio. Dentre estas técnicas, destacam-se os algoritmos ditos genéticos, que empregam
princípios semelhantes ao da seleção natural para busca de soluções otimizadas (EIBEN e SMITH, 2003).
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BIBLIOGRAFIA
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https://sites.icmc.usp.br/andre/research/neural/. Acesso em: 25. abr. 2021.
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www.marinha.mil.br/noticias/diretoria-geral-de-desenvolvimento-nuclear-e-tecnologico-
-da-marinha-participa-da-ridex-e/. Acesso em: 25. abr. 2021.
EIBEN, A.E. & SMITH, J.E. Introduction to Evolutionary Computing. Berlin: Springer, 2003.
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da Marinha (Cepe-MB). Simpósio Inteligência Artificial − 2021. 9 abr. 2021. Disponível
em: https://www.marinha.mil.br/cepe/inteligencia-artificial-2021/. Acesso em: 25 abr. 2021.
VELLASCO, Mary. Panorama da Inteligência Artificial: Aplicações. Centro de Estudos Político-
-Estratégicos da Marinha (Cepe-MB). Simpósio Inteligência Artificial − 2021. 9 abr. 2021.
Disponível em: https://www.marinha.mil.br/cepe/inteligencia-artificial-2021/. Acesso em:
25 abr. 2021.
WIKIPEDIA. Lógica Difusa. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lógica_difusa/. Acesso
em: 25 abr. 2021.
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A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NAS OPERAÇÕES
ESPECIAIS: Possibilidades
SUMÁRIO
Introdução
O que é Inteligência Artificial?
Possibilidades de uso de IA na atividade de Operações Especiais
Conclusão
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A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NAS OPERAÇÕES ESPECIAIS: Possibilidades
Diagrama com a diferença entre Inteligência Artificial, Machine Learning e Deep Learning
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Marine Course Reconnaissance units”. Marine Corps Gazette, May 2018.
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de agosto de 2017. Disponível em: https://medium.com/@eliezerfb/intelig%C3%AAncia-
-artificial-499fc2c4aa79. Acesso em: 9 de abr. de 2020.
FREEDBERG JR, Sydney J. Artificial Intelligence: Will special Operators Lead the Way? Wa-
shington, 13 de fevereiro de 2019. Disponível em: https://breakingdefense.com/2019/02/
artificial-intelligence-will-special-operators-lead-the-way/. Acesso em: 31 mar. de 2020.
HELLER, Christian H. “Near-Term Applications of Artificial Intelligence: Implementation op-
portunities from Modern Business Practices”. Naval War College Review, Autumn 2019,
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LAVAGNOLI, Silvia. Machine learning ou deep learning? Setembro de 2019. Disponível em:
https://opencadd.com.br/machine-learning-ou-deep-learning/. Acesso em: 30 mar. de 2020.
LEE, Conie. Socom Plans New Artificial Intelligence Strategy. Florida, 2019. Disponível em:
https://www.nationaldefensemagazine.org/articles/2019/8/9/socom-plans-new-artificial-
-intelligence-strategy. Acesso em: 2 abr. de 2020.
SATELL, Grag. “Teaching an algorithm to understand right and wrong”. Harvard Business Review,
The Next Analytics Age: Machine Learning, 2016.
SCHWARTZ, Josh. “Machine learning is no longer just for experts”. Harvard Business Review,
The Next Analytics Age: Machine Learning, 2016.
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GUERRA E AGRESSIVIDADE HUMANA
SUMÁRIO
Introdução
Por que a guerra?
Agressividade humana
A guerra antes da civilização
Considerações Finais
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ma que ela passou a ser denominada como pela vida − ao criarmos laços afetivos en-
“A Grande Guerra”. tre nós, que nos liguem com os sentimen-
Dessa forma, em 1927, após quase tos de comunidade. Para isso, também irá
dez anos do término da Grande Guerra, contribuir o processo de evolução cultural,
Aristide Briand, ministro do Exterior da como mencionado anteriormente.
França, propôs ao secretário de Estado Os mais importantes e significativos
dos Estados Unidos da América (EUA), fatores psicológicos da cultura seriam o
Frank Kellogg, a assinatura de um pacto fortalecimento do intelecto e a interiori-
contra a guerra. zação das tendências agressivas, se bem
Em 27 de agosto de 1928, foi assinado que este último item tem consequências
por 15 países o Pacto Briand-Kellogg, tam- vantajosas e, também, perigosas (3:74).
bém chamado Pacto Multilateral Contra a Quanto aos perigos do controle da
Guerra. Os signatários foram: Alemanha, agressividade, é possível ilustrar este
EUA, França, Reino Unido, Itália, Japão, ponto com o filme Laranja Mecânica, de
Bélgica, Polônia, Canadá, Austrália, Nova Stanley Kubrick, baseado no livro Clo-
Zelândia, África do Sul, Irlanda, Índia (sob ckwork Orange, de Anthony Burguess,
mandato britânico) e Tchecoslováquia1. A no qual o líder sociopata de um bando
entrada em vigor deu-se em 28 de outubro de jovens cruéis se diverte com os seus
de 1929, quando se juntaram, entre outros, amigos em atos de extrema violência.
União Soviética, Portugal, Peru e China, Ele é, então, preso e submetido a uma
chegando-se a 50 signatários. O Brasil experiência para controle da violência
teve sua adesão promulgada pelo Decreto (Experiência Ludovico), que o transforma
24.557, em 3 de julho de 1934. Em 1971, em um ser incapaz de cometer qualquer
Barbados declarou adesão ao tratado2. ação violenta, pois isso lhe provoca terrí-
Dois pontos a observar: o primeiro é vel mal-estar físico e psicológico, o que o
adesão ao tratado de todos os participantes impede de dar vazão à sua agressividade,
da Segunda Guerra Mundial anos antes levando-o a distúrbios sérios, os quais
da deflagração do conflito; e o segundo é culminam com uma tentativa de suicídio.
que o tratado permanece em vigor. Fecho Este é um exemplo fictício e extremo
o parêntesis. de aplicação de terapia de controle psico-
Voltemos, então, à resposta de Freud lógico com consequências nefastas, mas
ao questionamento feito por Einstein no ele nos proporciona uma visão do que
ponto em que ele analisa o antagonismo poderia resultar na tentativa de sufocar
entre as pulsões eróticas e o desejo de inteiramente um instinto (ou pulsão), que
morte, ou seja, entre as tendências para a faz parte de nossa natureza.
vida e para a morte. Tanto Einstein como Freud alertavam
Freud chega à conclusão de que é uma para os cuidados a serem observados
ilusão buscar-se eliminar totalmente as quanto ao tratamento da agressividade hu-
tendências agressivas dos seres humanos mana. Einstein, em sua pergunta: “Existe
de modo a evitar-se a guerra. O que ele a possibilidade de dirigir a evolução psí-
considera possível é nos voltarmos para o quica dos homens de modo a tornarem-se
instinto opositor ao de morte − o instinto capazes de resistir às psicoses do ódio e
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4 MARANGONI, Afonso. "Fiocruz recebe bancos de células e vírus para produzir IFA". Disponível em:
https://revistaoeste.com/politica/fiocruz-recebe-bancos-de-celulas-e-virus-para-produzir-ifa/. Acesso
em: 2 jun. 2021.
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dera que Lorentz “afirmava que o homem “Lorentz/Margolin on the Ute”, de autoria
civilizado de hoje sofre de uma descarga de Omer C. Stewart, considerado a maior
insuficiente de seu impulso agressivo. É autoridade sobre essa tribo, publicado no
mais que provável que os efeitos nocivos livro Man and Agression.
dos impulsos agressivos humanos (...) Omer Stewart não aceita a afirmativa
derivem simplesmente do fato de a sele- de que a taxa de neuroses dos Utes é anor-
ção no interior da espécie ter criado no malmente alta e desafia que se prove isso
homem, nos tempos pré-históricos, uma (8:87). Além disso, ele se correspondeu
medida de agressividade para a qual ele com três pessoas que estiveram em con-
não encontra, na ordem social de hoje, tato próximo com os Utes − um superin-
uma vazão adequada” (8:85). tendente, um assistente de superintendente
À parte da tradução incorreta na edição e um médico −, as quais assinaram um
brasileira, no que não acreditamos, pode-se documento em que rebatem muitos fatos
comparar os dois parágrafos acima e cons- reproduzidos por Lorentz em On Agres-
tatar que não é bem isso que Lorentz disse, sion, como mencionados por Margolin.
pois ele acreditava (“I believe”) − não afir- Em resumo, Stewart diz: “As afirma-
mava − e convocava psicólogos e psicote- tivas de Margolin a respeito de fatos que
rapeutas a testarem sua proposição sobre estão sujeitos a testagem a respeito dos
a insuficiente vazão do instinto agressivo índios Ute não estão corretos. Outros são
no homem civilizado de hoje. Todo esse questionáveis” (9:107). Omer Stewart
período foi omitido por Montagu, assim destaca, ainda, que Lorentz não apresenta,
como suprimida a citação a Freud e ao na bibliografia, o trabalho de Margolin, que
instinto de morte, o que comprometeu o parece não ter sido publicado, podendo as
sentido do que Lorentz escreveu. informações que Lorentz utilizou terem
Em apoio à sua sustentação sobre des- sido obtidas em conversa particular em
carga insuficiente do instinto de agressão, uma palestra. Este autor não encontrou a ré-
Lorentz cita o exemplo dos índios Utes, plica de Lorentz às afirmações de Stewart.
da pradaria norte-americana, a partir de De qualquer maneira, a impressão que
estudos psicanalíticos e psicossociológicos fica é que Lorentz não foi suficientemente
realizados por Sydney Margolin. Nesses cuidadoso ao selecionar o exemplo dos
estudos foi identificada a insuficiente des- Utes sem submetê-lo à avaliação criterio-
carga de agressividade por parte dos Utes, sa. Deixemos essa discussão acadêmica e
devido às condições atuais reinantes nas re- voltemos à análise da agressividade.
servas dos índios norte-americanos. Muitos Elliot Aronson menciona um estudo
desses indígenas sentiam-se e descreviam- de Richard Lore e Lori Schultz no qual
-se como doentes e, quando questionados os autores sugerem, enfaticamente, que
sobre o que havia com eles, simplesmente a universalidade da agressividade entre
respondiam: “Eu sou um Ute!” (7:244). os vertebrados tem evoluído e se mantido
Essa extravasão de orgulho reprimido por seu valor para a sobrevivência. Os
mostra claramente o desenvolvimento autores também chamam a atenção para
de neurose, a qual levava ao desconforto o fato de muitos organismos terem de-
físico e psicológico dos Utes, sem que eles senvolvido mecanismos que propiciam a
pudessem identificar as suas causas. supressão da agressão, quando isso está de
O exemplo com os Utes foi contestado acordo com seus melhores interesses. Esse
por Montagu, que se utilizou do ensaio posicionamento de Lore e Schultz tem
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primitivo não era mais pacífico do que estão os seus filhos? Lá estão eles, de
o moderno, pois as guerras eram mais carga às costas, transportando comida,
frequentes nas sociedades não estatais do meus escravos.
que em sociedades estatais (6:97).
Sobre a violência nas sociedades pri- A citação acima, inicialmente men-
mitivas, Steven Pinker menciona as in- cionada por Keeley e depois por Pinker,
cursões tribais violentas pelos ianomâmis, refere-se ao episódio da caçoada do
com a descrição feita por Helena Valero, guerreiro maori após batalha, transcrita
sequestrada em 1930, do massacre de de Maori Warfare (1960), de A.Vayda.
mulheres e crianças capturadas (11:85). Quanto ao canibalismo, podemos dar
Outros fatos, apontados por Pinker, exemplo de nossa História com o que
referem-se ao emprego de armamentos e ocorreu com o Bispo Sardinha, bispo da
ao canibalismo nas sociedades sem estado. cidade de Salvador da Bahia de Todos
Quanto ao armamento, ele cita a utilização os Santos, que tomou posse do cargo em
de armas químicas, biológicas e anti- 1551. Em 1556 foi chamado à metrópo-
pessoais, o que não le, porém o navio
deixa de ser espan- em que viajava nau-
toso para nós e para As descobertas fragou a 6 léguas
aqueles que compar- arqueológicas demonstram do São Francisco,
tem da visão idílica quando, então, o
do mundo primitivo. claramente que não existe Bispo e todos os
Os exemplos são o associação possível entre demais passageiros
uso de veneno em
pontas de flechas ou
guerra e civilização, ou seja, ecapturados tripulantes foram
pelos ín-
de tecidos putrefatos de que foi a civilização que dios Caetés.
para infeccionar os nos trouxe a guerra Transcrevemos,
ferimentos (11:84). a seguir, o relato
O canibalismo desse fato como re-
foi comum na pré-história, segundo gistrado por Simão de Vasconcellos, em
mostra a arqueologia forense (11:86). Chronica da Companhia de Jesus de
De acordo com o relato feito por um dos Estado do Brasil5:
primeiros missionários na Nova Zelândia,
um guerreiro maori, ao caçoar da cabeça Em uma enseada, junto a este Rio,
preservada de um chefe inimigo, disse alguns anos depois, sucedeu o triste
(11:86,87): desastre do naufrágio do Bispo D.
Pedro Fernandes Sardinha, primeiro
Você queria fugir, não é? Mas mi- Bispo do Brasil, que, dando nela à
nha clava de guerra o pegou. E depois costa, foi cativo dos índios Caetens
de cozido você virou comida para a cruéis e desumanos, que conforme o
minha boca. E onde está seu pai? Foi rito de sua gentilidade, sacrificaram à
cozido. E onde está seu irmão? Foi gula, e fizeram pasto de seus ventres,
comido. E onde está a sua mulher? Ali não só aquele santo varão, mas tam-
sentada, uma mulher para mim. E onde bém a centena e tantas pessoas, gente
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de conta, a mais dela nobre, que lhe que não se devia eliminá-las, mas sim com
faziam companhia voltando ao Reino a possibilidade de dirigi-las de modo a
de Portugal. não se chegar à guerra. A maneira de se
Vasconcellos, Simão de. Chronica conseguir isso é pela evolução cultural ou
da Companhia de Jesus de Estado do processo civilizatório.
Brasil (...). Lisboa: na officina de Hen- O processo civilizatório é um longo
rique Valente de Oliveira impressor del caminho, cheio de percalços, avanços
Rey N.S, 1663, Livro I, no 46, p.32. e recuos. Sem dúvida, o impacto pro-
vocado pela Grande Guerra levou ao
O autor deste artigo tomou conheci- questionamento de “Por que a guerra?”,
mento do episódio acima relatado quando guerra que se desenrolou, com todo o seu
cursava o antigo ginásio, que hoje integra horror, quando a civilização ocidental já
o Ensino Fundamental. Tenho dúvidas se, alcançara extraordinários feitos em sua
nestes tempos do “politicamente correto”, evolução cultural.
os nossos livros de História do Brasil A agressividade é um componente
fazem menção a ele. intrínseco à natureza humana. Ela per-
As descobertas arqueológicas demons- mitiu à nossa espécie sobreviver diante
tram claramente que não existe associação de inúmeros “inimigos” naturais. Se isso
possível entre guerra e civilização, ou seja, nos tornou predadores de outras espécies,
de que foi a civilização que nos trouxe é uma outra discussão.
a guerra. Os achados arqueológicos, Os seres humanos desenvolveram, em
juntamente com análises antropológicas toda a sua existência, uma complexa rede
isentas, provam exatamente o contrário. de relações sociais, as quais são difíceis de
Em adição aos exemplos já citados, analisar e de reduzir a interações simples
mencionaremos apenas o massacre de e diretas:
Talheim, na Alemanha, ocorrido em 5.000 − Somos sempre agressivos? A res-
a.C., em que os corpos de 18 adultos e posta é não.
crianças foram atirados em cova coletiva. − A agressividade está presente, em
Não há registro conhecido da existência mesmo nível, em todos os seres huma-
de qualquer civilização ou Estado nesse nos? A resposta também é não; o com-
período histórico, em qualquer lugar de portamento agressivo pode ser reduzido.
nosso planeta (6:159). Além disso, temos exemplos de povos
Dessa forma, só podemos concordar pacíficos que desenvolveram relaciona-
com Lawrence Keeley: o bom selvagem mentos com outras comunidades também
não passa de um mito do bom selvagem. de maneira pacífica.
− A agressividade humana é inata e é
CONSIDERAÇÕES FINAIS ela que provoca as guerras? Sim, é inata,
mas se é que dá início ou é o principal fator
A eliminação das tendências agressivas motivador que nos leva à guerra é uma per-
das pessoas não é uma opção para que os gunta ainda não completamente respondida,
seres humanos evitem a guerra. Esse tipo apesar dos inúmeros esforços para fazê-lo.
de solução autoritária, além de ser difícil − A agressividade humana pode ser
(quase impossível) de implementar, só tra- contida ou, pelo menos, diminuída? Sim,
ria mais problemas e agravaria conflitos. o processo civilizatório poderá contribuir
Tanto Einstein como Freud concordam para isso.
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BIBLIOGRAFIA
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Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1991.
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− Uma herança incômoda: genes, raça e história humana. Nicholas Wade. São Paulo: Três
Estrelas, 2016.
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AMAZÔNIA INCOMPARÁVEL
SUMÁRIO
Introdução
Armando Vidigal e Gama e Silva
Aécio Pereira de Souza – comandante do NT Garcia D’ Ávila
Comando da Flotilha do Amazonas − CF Paulo Irineu Roxo de Freitas
Comando da Corveta Bahiana − CC Francisco Antônio Reis
Novo comandante da Flotilha do Amazonas
Novo comandante da Bahiana
Flotilha do Amazonas – Assistência às Populações
* Foi chefe de Máquinas da Corveta Bahiana, do Navio-Transporte de Tropas Barroso Pereira e do Navio
Mercante Siderúrgica Nove (na greve dos marítimos, em 1962/3); imediato do Rebocador de Alto-
-Mar Tridente e do Contratorpedeiro (CT) Espírito Santo; comandante do CT Marcílio Dias; delegado
da Capitania em São Francisco do Sul e capitão dos Portos do Paraná. Serviu na Revista Marítima
Brasileira por 20 anos.
AMAZÔNIA INCOMPARÁVEL
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AMAZÔNIA INCOMPARÁVEL
editora, e após algum tempo esta foi fe- AÉCIO PEREIRA DE SOUZA –
chada. Poucos exemplares chegaram às COMANDANTE DO NT GARCIA
mãos de Gama e Silva, que os distribuiu D’ ÁVILA
para amigos e colaboradores (cerca de 40).
Recebi um exemplar do próprio autor após Mas a participação de oficiais da
conversa reservada na sede da RMB. Ele Marinha continuou: o Capitão de Cor-
me relatou que havia retirado certidões veta Aécio Pereira de Souza, que foi
nos cartórios do Rio e de São Paulo para comandante do Navio-Tanque (NT)
comprovar o que afirmara e se precaver Garcia D’Ávila, lançou, em 2000 (Razão
de possíveis processos movidos por aque- Cultural Editora), o livro Fronteiras da
les que denunciara no livro. Eram e são Amazônia – uma guerra silenciosa. O
empresas poderosas e muito ricas. Seus acadêmico Murilo Melo Filho prefaciou
proprietários são influentes no País e no a obra, tendo afirmado: “O que melhor
exterior, donos de conglomerados domi- surge nestas páginas é o cenário da Ama-
nantes em negócios e na mídia. O “poder zônia, com sua floresta ciclópica, seus rios
absoluto” (como tal, corrupto) comprou caudalosos, suas fronteiras indefesas, seus
a tiragem quase inteira, não permitindo habitantes esquecidos, suas febres fatais,
chegar à sociedade “a divulgação de seus índios desamparados, suas feras
manobras venenosas, contendo uma infi- perigosas, seus mistérios insondáveis,
nidade de exemplos estarrecedores, capaz sua mata espessa, sua selva desafiadora,
de sacudir a opinião pública contra abusos sua escuridão absoluta, suas riquezas
praticados: autênticos crimes de lesa- inexploradas, seu ecossistema ameaçado.
-pátria” (trecho da quarta capa do livro). (...) Tudo isto envolvido num caldeirão
Antônio Carlos de Andrada Serpa de contrabando de madeiras, de peles, de
prefaciou este livro, conclamando o País ouro, de pedras preciosas e de sementes,
para defesa dos nossos minérios. Antônio (...) agravado com a corrupção, o desvio
Ermírio de Morais assinou o prefácio de de verbas e a exploração dos seringalistas.
São mesmo nossos os minerais não ener- (...) ao longo de um lustro, que ressalta
géticos?, escrevendo que “queremos ser de cada página deste relato, do qual nem
uma terra de homens comprometidos com sei o que mais admirei: se a autoridade
o futuro e com as gerações vindouras”. do narrador; se o seu texto escorreito e
Ouso dizer que as teses e conclusões límpido; se o seu cuidado na evocação de
de Gama e Silva podem, sem exagero, nomes e lugares; se o seu depoimento de
ser comparadas às que Monteiro Lobato testemunha presente e participante. Um
expôs em seu O escândalo do petróleo livro imperdível”.
(Companhia Editora Nacional, 1936). Aécio dedicou seu “humilde traba-
Nesta obra, Lobato narrou o seu empenho lho aos hansenianos que, abandonados
em descobrir o nosso óleo combustível, por todos, vivem na selva, a mais cruel
mas que acabou derrotado pelos inte- de todas as provações. À memória dos
resses de grupos estrangeiros, apoiados soldados do Pelotão de Fronteira do Içá,
pelo Governo Vargas. Algumas edições dizimados pelas febres, ignorados pelas
circularam nos anos de 1936 e 1937, até autoridades deste País, e que permanecem
sua proibição pelo Estado Novo, só retor- em seus postos, na região mais pestilenta
nando ao mercado editorial com a abertura do mundo, até a morte. Aos marinheiros
do regime político, em 1945. do Navio-Tanque Garcia D’Ávila, que
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com denodo e empenho permitiram que adequada aos culpados. As famílias das
transcendêssemos da Missão Militar para vítimas nada receberam como compensa-
uma outra, tão ou até mais importante ção, nem escusas por parte dos governos,
do que a primeira, a Missão Social de nem reconhecimento por ato simbólico.
assistência médica e medicamentosa às O Capitão-Tenente Aécio, no seu
populações ribeirinhas da Amazônia.” comando, realizou muitas viagens, des-
O Capitão-Tenente Aécio chegou de 1949 até 1954, e, por sua iniciativa
à região em 1949 para ser imediato da junto ao Comando do Distrito Naval,
Corveta Carioca, mas por circunstâncias iniciou a assistência constante e regular
materiais, isto é, inoperância das caldeiras às populações ribeirinhas, com médicos
da corveta, o comandante do 4o Distrito e dentistas. Da verba destinada à alimen-
Naval (Belém-PA) resolveu nomeá-lo tação, com absoluta concordância de sua
comandante do Navio-Tanque Garcia tripulação, em ato solidário de espíritos
D’Ávila, que tinha a tarefa de acompanhar elevados, reservou metade para sua
e dar apoio às corvetas em suas operações tripulação e a outra para adquirir e doar
de patrulha. alimentos aos ribeirinhos.
Quem teve o prazer e o privilégio de ler
A catástrofe do Navio-Gaiola Ajudante Aécio não pôde deixar de se surpreender e
emocionar pelos relatos que fez ao entre-
Três corvetas da classe Carioca ha- vistar moradores, seringalistas, doentes,
viam sido transferidas para a Flotilha do pescadores, índios e tantos outros. Muitos
Amazonas como resposta da Marinha e desses personagens foram responsáveis
do País ao incidente catastrófico com o pela manutenção de nossa soberania,
Navio-Gaiola Ajudante, do Serviço de Na- contrapondo-se a invasões estrangeiras
vegação da Amazônia e da Administração e atos de agressão, revelando a real e
do Porto do Pará, ocorrido na noite de 4 antiga cobiça internacional sobre nosso
de julho de 1949. O navio foi metralhado território. Há vários episódios relevantes
no Rio Solimões por moderna canhoneira e merecedores de atenção, reflexão e
colombiana, o que resultou no seu afunda- correspondente ação. Aécio, com tristeza,
mento e na morte de 112 pessoas das 120 manifesta alguns exemplos de desgoverno
que estavam a bordo. Pouca divulgação se e pouco caso de dirigentes de entidades
deu ao fato, e o Ministério das Relações governamentais e privadas. Escreve sobre
Exteriores recebeu as desculpas e expli- a importância devida ao prático dos rios,
cações do Governo de Bogotá, entre as com sua humildade e pobreza, sua com-
quais as de que a tripulação era formada petência, perícia e dedicação.
por soldados de cavalaria, incompetentes
e ignorantes em assuntos navais e que COMANDO DA FLOTILHA
estavam completamente bêbados. DO AMAZONAS − CF PAULO
Em Manaus, o povo revoltado amea- IRINEU ROXO DE FREITAS
çou destruir a sede do Consulado colom-
biano e linchar o cônsul e sua família. O O assunto praticagem serve para trazer
Exército Brasileiro fez a devida proteção, à baila outro personagem com primordial
evitando que um mal maior acontecesse. importância na ambiência amazônica.
A surpreendente e triste catástrofe não Aqui se sobressai um comandante da Floti-
teve consequências maiores, nem punição lha do Amazonas: Capitão de Fragata (CF)
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Paulo Irineu Roxo de Freitas (depois vice- oficiais da Bahiana1 como navegar noite
-almirante). Aproveitando o conhecimento e dia nos rios em que realizamos nossas
dos práticos dos rios, passou a copiar em comissões: Amazonas, Solimões, Javari
rascunho o caminho que as corvetas da e Madeira, além de parte do Canal Norte
classe Imperial Marinheiro percorriam do Amazonas.
na calha principal – Amazonas e Solimões Na primeira viagem, ao chegarmos à
− e nos afluentes, desde Belém até as Baía das Bocas, a qual tinha este nome
fronteiras com a Colômbia e o Peru, em porque, sendo muito ampla, apresentava
Tabatinga e Benjamim Constant. Trans- no horizonte várias entradas, o que iludia o
formava os rascunhos em croquis – rolos navegante novato, tínhamos que escolher
de papel mais resistentes que permitiam o acesso ao Estreito de Breves para che-
anotações, rabiscos e correções. Esses gar à calha principal no Rio Amazonas,
croquis nem sempre representavam a reali- contornando a Ilha de Marajó. O croqui
dade do momento, diante das alterações de indicava um farolete difícil de ser visto
bancos de areia, não tão constantes como de dia, na entrada do estreito. O Coman-
alguns gostam de afirmar. Outros dizem dante Reis o identificou para nós e, após
que os encalhes são frequentes e normais, entrarmos em Breves/Boiussu, mandou
com o que não concordo, por experiência que ficássemos no passadiço com as vigias
própria na Corveta Bahiana. Depois de fechadas, como se fosse de noite, e que
editados os croquis, os práticos não mais usássemos o croqui, ouvindo o marinheiro
foram utilizados pelos navios da Flotilha. no ecobatímetro, que “cantava” a profun-
O Comandante Roxo de Freitas em- didade, e consultássemos o radar, para
barcava na corveta e participava da fei- que então determinássemos ao timoneiro
tura dos croquis. Não retornava a Belém, o rumo a seguir. O comandante ficou no
pois ordenava que outra corveta viesse tijupá para corrigir eventuais erros nos-
encontrá-lo nos estreitos e iniciava a con- sos, que não houve. Foi realmente um
fecção de outro croqui, já no outro navio; “batismo” importante. Esta travessia dos
deste modo, ficava em viagem cerca de estreitos demorava cerca de 24 horas e
quatro meses. exigia atenção redobrada diante estreiteza
do rio, mudando o rumo quase a cada mi-
COMANDO DA CORVETA nuto para que não encostássemos no fundo
BAHIANA − CC FRANCISCO ou na margem, passando muito perto das
ANTÔNIO REIS árvores, com velocidade de 10 nós. Havia
uma passagem difícil – na Ilha de Vira
Cabe citar outro importante persona- Saia – que sempre trazia profundidade de
gem: Capitão de Corveta (CC) Francisco 0,5 metro abaixo da quilha, ou até menos,
Antônio Reis, comandante da Corveta obrigando-nos a “cheirar” (procurar maior
Bahiana. Ele foi auxiliar de Roxo de profundidade), buscando não encostar
Freitas antes de assumir o comando. Fran- no fundo. Mas nunca encostamos. Nós
cisco Reis ensinou ao imediato e aos três quatro – eficientes, com muito orgulho
1 N.A.: Imediato – Capitão-Tenente (CT) Osmar Reis da Silva; chefe de Máquinas – CT Milton Sergio Silva
Corrêa (o autor); encarregado do Convés – CT Gaspar de Souza Dias; e gestor – Primeiro-Tenente
Nelson Gallo. Também embarcavam o médico CT José de Santa Helena Correia, do Hospital Naval de
Belém, e o dentista José Alconir, da Prefeitura de Manaus. Ambos se integraram muito bem conosco,
participando ativamente da praça-d’armas e dos serviços a cumprir a bordo.
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PROJETO PILOTO DO SisGAAz E A EVOLUÇÃO DAS
CAPACIDADES DE DEFESA NO MAR − Parte III
SUMÁRIO
2 Espaço cibernético – Espaço virtual, composto por recursos computacionais conectados ou não em redes,
em que as informações digitais transitam e são processadas e/ou armazenadas.
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PROJETO PILOTO DO SisGAAz E A EVOLUÇÃO DAS CAPACIDADES DE DEFESA NO MAR − Parte III
até 7,5 vezes a velocidade do som. Nessas − nova geração de sistema de armas
armas não existe propelente químico, e Phalanx, considerado o único sistema
a velocidade é obtida por meio da tec- de armas de “defesa de ponto” capaz de,
nologia de pulso eletromagnético. São autonomamente, executar suas próprias
os chamados canhões eletromagnéticos funções de busca, detecção, avaliação,
− Railgun −, que, em vez de pólvora, rastreamento, engajamento e destruição;
empregam rajadas de energia eletromag- − mísseis antinavio mais sofisticados
nética. Tais armamentos podem abater tecnologicamente e com maior capacidade
mísseis balísticos, de cruzeiros, aerona- de destruição;
ves de alta velocidade etc. Por disparar − torpedos autônomos intercontinen-
projéteis que voam tão rápido, o alvo se tais, de propulsão nuclear, com armas
desintegra com o impacto. nucleares;
Diversos outros recursos também têm − tecnologia anti-jamming, aplicada
sido alvos de grande evolução tecnológica: em diversos tipos de armamento;
− porta-aviões com catapulta eletro- − sistemas de armas antiaéreo e anti-
magnética, com capacidade de lançar míssil para defesa de ponto;
aeronaves mais pesadas, impraticável − submarinos cada vez mais silencio-
em lançamento pelo skijump. Com isso, sos, com baixo nível de ruídos irradiados,
mais aeronaves poderão decolar em me- novos formatos hidrodinâmicos e maior
nos tempo, aumentando a capacidade de poder de armas incapacitantes ao inimigo
combate do navio; e com muito mais precisão; e
− navios de linha de última geração, − processos de geração de energia
como fragatas, corvetas, navios de com- elétrica a bordo de forma inovadora, deno-
bate litorâneo e destróieres com maior minados AIP (propulsão independente do
capacidade de fogo e menor exposição ar), baseados em células de combustível
eletromagnética; fosfórico (phosphoric acid fuel cell), que
− navios e aviões com tecnologia permitirão mais tempo submersos aos sub-
stealth; marinos convencionais, sem necessidade
− aviões AEW; de virem à cota periscópica para captação
− radares de vigilância aérea e de su- de oxigênio.
perfície em 3D, multifunções; Não podemos deixar de mencionar o
− sistemas de armas chamados de crescente aumento das capacidades de
LaWs (Laser Weapon System) vêm sendo defesa no mar de grande número de paí-
testados, com capacidade de disparo de ses nos dias atuais. Todos esses recursos
um feixe eletromagnético completamente mencionados, além de contribuírem para
invisível ao olho humano, na velocidade o estabelecimento de uma confiável e
da luz, sem que haja preocupação com o precisa CSM, agregam o incremento da
vento para a solução do tiro, e com bai- capacidade de defesa no mar.
xíssimo custo de utilização e operação.
Um desses sistemas, denominado Helios, CONCLUSÕES
dispara feixes de laser muito mais forte
do que qualquer outra arma já empregada “O mar sempre desafiou a mente e
pelas Marinhas. Tal sistema deverá subs- a imaginação dos homens e continua
tituir os armamentos designados CIWS sendo a última fronteira da terra até os
(Close in Weapon System); dias atuais.” (Rachel Carson)
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Com uma precisa CSM sobre a Ama- nidas e aprovando-as, com o intuito de
zônia Azul, teremos melhores condições incrementar a segurança marítima não só
para empregar eficientemente nossos da nossa região, mas também de forma
parcos meios navais. É importante realçar global. Considera-se ser essa a melhor
a importância que os Estados vêm dando maneira de se tratar, enfrentar e resolver
aos oceanos e mares em decorrência do as principais questões relacionadas com
aumento do tráfego marítimo, devido ao os oceanos e mares.
aumento das trocas comerciais entre os Cooperação e confiança mútuas entre
países, às riquezas que comportam os lei- as nações são o caminho que proporciona-
tos marinhos e ao ambiente marinho para rá maior segurança marítima no mundo. O
o equilíbrio climático do nosso planeta, Projeto Piloto do SisGAAz irá assegurar
além da segurança a eles relacionados, perspectivas à MB para emprego tanto
principalmente em decorrência das cha- no nível tático como no estratégico. Não
madas “novas ameaças”, como o tráfego só porque agrega sensores passivos e
de drogas, o contrabando de armas, a ativos, mas também pela nova doutrina
pirataria, o terrorismo e a imigração ile- operacional que apresenta, pela integra-
gal. O combate a essas novas ameaças, ção com outros centros de comando e
inicialmente na Baía de Guanabara, por controle, as Forças Armadas e agências
exemplo, é motivador, considerando o governamentais.
aspecto dual do sistema, para o aumento Imagina-se, assim, que o conceito
do prestígio da Marinha junto à sociedade. operacional do SisGAAz de ter capa-
É um grande desafio lidar com essas cidade de Guerra Centrada em Redes
novas ameaças. De acordo com o sistema possa ser alcançado. O primeiro passo
jurídico, tanto nacional quanto internacio- seria a padronização dos sistemas de
nal, é importante ter suporte para ações controle tático e de combate, a fim de
preventivas e de resposta. Questões de aumentar a interoperabilidade entre os
meio ambiente marítimo também se meios navais, aeronavais e de fuzileiros
encaixam nesse aspecto jurídico. Assim, navais. Como sugestão, tem-se o empre-
torna-se de suma importância o incremen- go do PP-SisGAAz no nível operacional
to de uma CSM com aplicações técnicas e o Sistema de Comando e Controle
sofisticadas de controle, acrescido de acor- Georeferenciado (SISC2Geo) no nível
dos regionais e transregionais capazes de tático, com a integração de armamento
conciliar as diferenças entre as tecnologias (canhões), torpedos e mísseis existentes
e capacidades das nações. ou em desenvolvimento.
O tráfego marítimo mundial apresenta O Programa SisGAAz tem sido muito
ameaças e desafios comuns, que não co- criticado, não por ser considerado não
nhecem fronteiras, tornando-se imperioso importante e necessário, mas sim pela sua
que os Estados construam uma relação esplendorosidade em termos financeiros,
mútua de confiança e estabeleçam uma em decorrência do seu alto custo, em um
interoperabilidade das informações neces- momento de grandes restrições orçamentá-
sárias para que, assim, possam enfrentá- rias do País. Além disso, um dos segmen-
-los com maior eficiência e eficácia. tos mais importantes, que seria a reação
O Brasil tem participação ativa nos com meios navais, deveria vir primeiro
foros regionais e mundiais, contribuindo ou, pelo menos, ter a capacidade que o
para as ações e resoluções neles defi- programa requer, e esta não é a realidade
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PROJETO PILOTO DO SisGAAz E A EVOLUÇÃO DAS CAPACIDADES DE DEFESA NO MAR − Parte III
BIBLIOGRAFIA
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO,
SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN
KNOX LAUGHTON – Parte X: Nelson encontra o seu
destino em Trafalgar
* Graduado em História (Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ), com mestrado e doutorado em
História Comparada (UFRJ) e pós-doutorado em Ciência Política pelo Instituto Superior de Ciências
Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos
Marítimos da Escola de Guerra Naval.
1 LAUGHTON, John Knox. Nelson. Op. cit., p. 208. Há nesta passagem uma premonição de Nelson sobre a
morte, que fatalmente ocorrerá.
HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN KNOX LAUGHTON
Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
não tinham o poder para amedrontar, nem “Lorde Nelson chegou! Uma grande ale-
converter alegria em desesperança”.2 gria geral foi a tônica, e muitos efeitos virão
Nelson tinha consciência de que Ville- de nossa mudança de sistema”5.
neuve só se faria ao mar a partir de Cádiz, Nelson ficou muito emocionado com
se tivesse superioridade tática local, e o a receptividade que recebeu de seus co-
que ele, Nelson, desejava era a total ani- mandados. Ele disse: “A recepção que en-
quilação da esquadra francesa e não apenas contrei ao me juntar à esquadra me causou
um encontro indefinido. Sua busca pela a mais doce sensação de minha vida. Os
batalha decisiva foi um fator importante oficiais que vieram a bordo [da Victory]
e fundamental para Mahan arquitetar o para me dar boas-vindas esqueceram o
conceito de “batalha decisiva” como uma meu cargo de comandante em chefe no
concepção estratégica naval clássica. A entusiasmo que me receberam6”.
chegada, inclusive, de seu grande amigo Logo ao chegar, Nelson convidou seus
Sir Edward Berry comandando seu antigo comandantes para jantar a bordo da Vic-
navio, o Agamemnon, trouxe a ele uma tory, de modo a discutir seus planos para a
grande satisfação. Exclamou Nelson pe- batalha que se avizinhava. Ele tratou todos
rante os oficiais da Victory quando Berry esses comandantes como irmãos de armas
se aproximava do capitânia comandando o e amigos pessoais e com toda a delicadeza
Agamemnon: “Aí vem Berry. Agora tere- de um gentleman e oficial. Todos ficaram
mos uma batalha !”3. Outros comandantes fascinados por seus modos e pelo tratamen-
que faziam parte de seu séquito de brothers to dispensado7. Um de seus subordinados, o
eram Fremantle, do Neptune; Israel Pellew, Capitão Codrington, lembraria anos depois
do Conqueror; Eliab Harvey, do Teme- a gentileza de Nelson com uma das cartas
raire; George Duff, do Mars; e Edward trazidas por ele da Inglaterra, escrita por sua
Codrington, do Orion. Em carta a sua esposa. Ao dar a carta a Codrington, Nelson
esposa, Codrington diria com satisfação: disse que ela havia lhe sido entregue por
“Está Lorde Nelson vindo para nós? Eu uma lady e que ele tomou como ponto de
ansiosamente desejo que ele venha (...) por honra entregá-la pessoalmente, em vez de
caridade envie-nos Lorde Nelson, vocês de enviar por outro portador8. Codrington
homens com poder!”4. Em 29 de setembro, ficou encantado com aquela gentileza.
Nelson finalmente se agregou à esquadra e No dia 9 de outubro, Nelson expediu
recebeu o comando de Collingwood, que um memorando detalhando sua ideia de
passou a ser seu segundo em antiguidade. manobra, o que ele chamou de Nelson´s
Codrington escreveria para sua mulher: Touch9, para combater os franceses, e
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN KNOX LAUGHTON
Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
esses jantares passaram a ser os pontos fronto. Era por certo uma ideia ousada e
de reunião com seus subordinados para ia contra as regras estabelecidas, nas quais
a discussão de seu plano. Em essência, a formação de uma linha contínua era a
a ordem de navegação dos navios seria a mais indicada. Nelson inovara e excedia-
ordem de batalha. A ideia era formar duas -se como um tático brilhante. Três fatores
linhas de navios com 16 e 17 navios cada seriam fundamentais para essa manobra
uma, a primeira sob o seu comando e a se- dar certo: a confusão que provocaria na
gunda sob o comando de Collingwood. A linha inimiga, a concentração em dois
linha de Nelson deveria atacar o centro da pontos da força de Villeneuve e o tempo
linha inimiga, em um ângulo de 90 graus, gasto para a manobra ofensiva10. Mahan,
deixando por bombordo a parte de vante em seu livro biográfico, descreveu deta-
de Villeneuve, enquanto Collingwood lhadamente a ideia de manobra tática de
deveria atacar a retaguarda inimiga a partir Nelson para enfrentar Villeneuve, porém,
do 12o da coluna, também em um ângulo por ser muito específica e fugir ao propó-
de 90 graus. Com esse plano, Nelson pre- sito deste artigo, preferiu-se não analisar
via que a parte de vante do inimigo não essa manobra em detalhe.
poderia retornar para o combate rapida- Enquanto isso ocorria, Napoleão enviara
mente, em razão da dificuldade de se gui- o substituto de Villeneuve via Madrid, o Vi-
nar 180 graus em um navio a vela e que, ce-Almirante Rosily, determinando, como
concentrando no centro e na retaguarda, uma forma de pressão, que Villeneuve
ele teria superioridade de meios em con- suspendesse de Cádiz e se dirigisse para
Toulon, de onde atacaria a costa italiana.
Apesar de todas essas ações, Napoleão
estava com os olhos voltados para a Ale-
manha e a propalada invasão da Inglaterra
estava ficando em segundo plano.
Nelson verificou que seus navios pre-
cisavam se abastecer de víveres e, assim,
determinou que um dos seus esquadrões,
sob o comando do Contra-Almirante Sir
Thomas Louis, se dirigisse para Gibraltar,
onde faria um abastecimento rápido, com
ordens para voltar imediatamente para a
esquadra, de modo a enfrentar Villeneuve.
Louis protestou, alegando que não queria
se afastar da ação, no entanto Nelson o
acalmou, afirmando que Gibraltar estava
próximo e que ele não perderia a batalha
por nada11. Louis, então, com seis navios,
Figura 1 – Almirante Sir Cuthbert Collingwood deixou a força principal e se dirigiu a toda
(1748-1810), segundo de Nelson em Trafalgar. velocidade possível para Gibraltar. Nelson
Pintura exibida no National Maritime Museum, agora permanecia com 27 navios de linha.
em Londres
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN KNOX LAUGHTON
Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
Antes de entrar em combate, Nelson seus corações por mostrar o seu próprio
deu ordens para que todos escrevessem coração12. Mahan fez questão de descrever
suas últimas cartas para as famílias. Os co- esse fato, para enaltecer ainda mais o seu
mandantes de unidades, então, recolheram herói Nelson.
toda a correspondência e a entregaram ao No dia 19 de outubro, Villeneuve sus-
comandante de um brigue, que a levaria pendeu com toda a sua força de Cádiz em
para a Inglaterra. Em sequência, o brigue direção ao Estreito de Gibraltar. Quase ao
suspendeu a toda velocidade para o Norte. mesmo tempo, a chalupa inglesa Weasel
No convés da Victory, Nelson percebeu percebeu a movimentação francesa e deu
uma agitação envolvendo seu ajudante de o alarme para Nelson, que se encontrava
ordens e oficial de sinais, Tenente Pasco. próximo.
Ao ver que Pasco gesticulava excessi- Em 21 de outubro, de manhã cedo, a
vamente no convés, Nelson o chamou. esquadra britânica se defrontou com a for-
Perguntou o que lhe afligia, no que foi dito ça de Villeneuve a cerca de dez milhas de
que nada que tirasse distância, próximo
a atenção de Nelson. ao Cabo Trafalgar.
Isso não o satisfez. Em 21 de outubro de Estava para come-
Voltou a perguntar çar a maior batalha
a Pasco o que era.
1805, de manhã cedo, a naval das Guerras
Constrangido, ele esquadra britânica se Napoleônicas. Se-
finalmente expli- defrontou com a força de gundo Laughton,
cou a sua agitação: “cada comandante
um contramestre da Villeneuve, próximo ao de navio da esqua-
Victory, que tinha Cabo Trafalgar. Estava dra sabia precisa-
se distinguido nas mente o que deveria
fainas marinheiras
para começar a maior fazer (...) somente
de bordo e que re- batalha naval das Guerras três sinais foram
colhera a corres- Napoleônicas içados ao se avis-
pondência de seus tar a força inimiga:
amigos, esquecera 1- formar ordem de
de enviar a sua própria carta, que estava navegação em duas colunas; 2- preparar
em um de seus bolsos. Nelson, imediata- para a batalha; 3- seguir em sucessão
mente, deu ordem a Pasco que chamasse o rumo estabelecido pelo almirante”13.
de volta o brigue para incluir a carta do Villeneuve já ordenara a formação de
modesto contramestre. O ajudante de uma coluna de navios, conforme prescrito
ordens, então, chamou por sinais o navio nas instruções de combate. Ao perceber a
de volta, para incluir a carta esquecida esquadra de Nelson, o almirante francês
de um simples contramestre da Victory. ordenou uma guinada para o Norte de
Pasco, já almirante, lembraria anos depois modo a alcançar Cádiz, uma vez que o
esse fato e explicou que, não sem razão, herói inglês se posicionou para atacá-
os marinheiros adoravam Nelson e que, ao -lo próximo a Gibraltar. A formatura da
sempre se lembrar deles, ele conquistou coluna franco-espanhola, com 33 navios
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN KNOX LAUGHTON
Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
de linha14, além das fragatas, demorou sul era comandada por Collingwood, na
para ser formada, em razão do pouco Royal Sovereign, com 15 navios, man-
vento reinante e do baixo adestramento tendo uma distância de uma milha entre
das tripulações, segundo Laughton15. A elas. O vento vinha na direção oeste/
formatura de cerca de cinco milhas,16 que nordeste, e a força de Villeneuve seguia
deveria ser uma linha contínua, ao final da na direção norte. Na coluna de Nelson
manobra, tornou-se uma lua crescente17. vinham, nas três primeiras posições, a
Os britânicos, então, formaram duas Victory, a Temeraire e a Neptune. Na
colunas e seguiram em um ângulo de 90 coluna de Collingwood seguiam, nas três
graus para interceptar os franco-espa- primeiras posições, a Royal Sovereign,
nhóis, sendo que a linha mais ao norte era a Belleisle e Mars18. A aproximação foi
comandada por Nelson, na Victory, com lenta, em virtude do fraco vento reinante.
12 navios, enquanto que a linha mais ao Nelson, então, desceu para a sua câmara
e fez o último lançamento em seu diário.
Escreveu ele o seguinte:
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN KNOX LAUGHTON
Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
19 Blackwood, um amigo pessoal de Nelson, se encontrava a bordo da Victory por solicitação dele, em
razão de Blackwood comandar as fragatas da esquadra. Nessa ocasião, Blackwood, aproveitando sua
amizade com o almirante, solicitou a assunção de comando de um dos navios de linha, o Ájax ou o
Thunderer, que estavam sob o comando de seus imediatos, Tenentes Pilfold e Stockham, em razão de
seus comandantes terem seguido com Calder para a corte marcial como testemunhas. Nelson sabia que
essa assunção não seria bem apreciada pelas duas tripulações e que esses tenentes tinham o direito, por
tradição, de comandarem esses navios na ausência de seus comandantes; dessa maneira, declinou de
indicar o amigo Blackwood para um dos navios, alegando que ambos tinham o direito natural a esses
comandos. A palavra usada por Nelson para justificar sua negativa a Blackwood foi “birthright”, que
não tinha o sentido de “direito hereditário”, como indicado nos dicionários, mas sim de “direito por
tradição”. Mahan considerou tal ato nobre e correto sob o ponto de vista naval. Fonte: MAHAN, Alfred
Thayer. The Life of Nelson, v. 2. Op. cit., p. 374.
20 Diário de bordo de Horatio Lorde Nelson, em 21 de outubro de 1805. Fonte: LAUGHTON, John Knox.
Nelson´ Letters and Despatches. Op. cit., p. 428.
21 Carta de Horatio Lorde Nelson para Emma Lady Hamilton, escrita da HMS Victory em 19 de outubro de
1805, e carta de Horatio Lorde Nelson para Horatia Nelson Thompson, escrita da HMS Victory em 19
de outubro de 1805. Fonte: WTJ. Letters and despatches of Horatio Nelson, October 15th through 21st
1805, letters XII e XIII.
22 Houve uma certa confusão no sinal. Seu ajudante de ordens, Tenente John Pasco, solicitou a mudança da
palavra confides (confia), como proposto por Nelson, para expects (espera), em razão de inexistir, no
código em vigor na ocasião, bandeira correspondente a confides, existindo, no entanto, bandeira para
expects. Fonte: LAUGHTON, John Knox. The Nelson Memorial. Op. cit. p. 293.
23 LAUGHTON, John Knox. Nelson. Op. cit., p. 221.
24 MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson, v. 2. Op. cit., p. 354.
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Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
25 Ibidem, p. 384.
26 Idem.
27 Ver Figura 2.
28 LAUGHTON, John Knox. Nelson. Op. cit., p. 226.
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN KNOX LAUGHTON
Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
29 Em caso da perda do timão do leme, existia o recurso de se governar o navio nas cobertas abaixo, sendo
que o comandante dava ordens pelo tubo acústico a um timoneiro, que ficava agindo diretamente no
leme, sem se expor.
30 Antes do combate, os oficiais da Victory se preocuparam com a segurança de Nelson ao vê-lo usar seu
principal uniforme com as medalhas e comendas. Sabiam que os franceses colocariam atiradores nos
mastros e certamente localizariam Nelson em razão de suas comendas. Pediram, então, cuidadosamente,
ao médico de bordo, doutor Beatty, que solicitasse a retirada das medalhas ao almirante, no entanto,
em razão da proximidade da ação, tal solicitação não foi atendida. Mahan acreditou que se pedissem a
Nelson a retirada das comendas, certamente ele ficaria ressentido. Fonte: MAHAN, Alfred Thayer. The
Life of Nelson, v. 2. Op. cit., p. 379.
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN KNOX LAUGHTON
Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
Beatty que nada podia ser feito por ele e finalmente, na tarde do dia 21 de outubro
que tinha pouco tempo de vida. de 1805, em frente ao Cabo Trafalgar. Suas
Enquanto as ações corriam, Nelson últimas palavras, às 16h30, foram: “Obri-
era informado por Hardy de suas conse- gado Deus, cumpri com o meu dever”34.
quências. Ele quis saber se algum navio Ele tinha 47 anos de idade.
britânico se rendera, o que foi negado por Enquanto isso ocorria, muitos oficiais
Hardy. Ao sentir que suas forças estavam e praças da Victory foram atingidos pelos
diminuindo, Nelson pediu que Hardy re- tiros dos mosqueteiros franceses nos mas-
zasse por Emma e que cortasse um pedaço tros do Redoutable, incluindo o Capitão
de seu cabelo para o dar a ela. Em seguida, Adair, dos reais fuzileiros navais. O pró-
pediu para não ser jogado pela borda no prio comandante do Redoutable, Capitão
mar, como era tradição na Royal Navy Lucas, considerou que teria condições de
(RN) para quem falecia em combate. No- abordar o navio britânico e determinou a
vamente pediu que Hardy tomasse conta um grupo de seus marinheiros que se pre-
de Emma e pediu parasse para tomar
um beijo de seu ami- por abordagem a
go, que prontamente Ao sentir que suas forças Victory. Nesse mo-
o beijou no rosto. mento surgiu celere-
“Agora estou satis- estavam diminuindo, Nelson mente o Temeraire,
feito”, disse Nel- pediu que Hardy rezasse sob o comando do
son. A todos pediu por Emma e que cortasse Capitão Harvey, que
que lembrassem que abriu fogo com as
ele deixava Lady um pedaço de seu cabelo caronadas e canhões
Hamilton e Hora- para dar a ela de bordo contra o
tia como legados ao Redoutable, matan-
Reino Unido 31 . A do ou ferindo mais
seu lado, em outra cama, encontrava-se de 200 franceses 35 . Esse ataque foi
também ferido o seu ajudante de ordens, decisivo, pois um grupo de abordagem
Tenente Pasco. Nesse instante, muitos britânico subiu a bordo e se apossou do
vivas foram escutados por todos na enfer- Redoutable sem grandes esforços. Quando
maria. Nelson perguntou a Pasco o que seu pavilhão foi arriado, encontravam-se
era aquilo. Pasco respondeu que eram mortos ou feridos 522 homens de uma
exclamações de alegria dos marinheiros tripulação de 64336.
da Victory pela rendição de mais um navio Na linha de Collingwood, o Fougueux
inimigo32. O almirante ficou satisfeito e encontrava-se bem avariado e derivava
virou para o lado. Nelson lutou alguns mi- para cima do próprio Temeraire, que não
nutos ainda contra a morte, permanecendo perdeu tempo para realizar outra grande
todo o tempo lúcido. Ao reverendo Scott, bordada de tiros, fazendo com que o
murmurou: “Deus e meu país”33. Faleceu, Fougueux praticamente se rendesse a
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Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
Figura 5 – A Morte de Nelson, pintado por Daniel Maclise, em 1864. Em exibição no Palácio de
Westminster. Vê-se Nelson sendo amparado por Hardy ainda no convés da Victory
outro grupo de presa do Temeraire, sob a os outros navios das linhas mais a retaguar-
chefia de seu imediato, Tenente Kennedy. da receberam menos tiros. Isso demonstra
Seu pavilhão foi logo arriado, e os britâ- que os primeiros navios foram os que
nicos se apoderaram do Fougueux, que abriram o caminho e que o engajamento
ao final teve mais de 400 homens mortos dos demais ocorreu em melhores circuns-
ou feridos37. tâncias e concentrado, quando os franco-
Ações individuais ocorreram entre os -espanhóis estavam praticamente batidos.
navios contendores. Os dez navios franco- O Santa Ana, com o Almirante Alava
-espanhóis de vante não participaram da gravemente ferido, o Monarca, Bahama,
ação, como Nelson previra. Laughton Algesiras, Swiftsure e Berwick arriaram
apontou que as colunas britânicas sofre- seus pavilhões, com cerca de 400 mortos
ram pouco porque o adestramento dos na- e feridos em cada um deles. O Bucentaure,
vios espanhóis e franceses era deficiente, de Villeneuve, foi terrivelmente atingido
conforme também imaginara Nelson.38 pelo fogo do Neptune, Leviathan e Con-
Em sequência, Victory, Temeraire queror, vindo a arriar o seu pavilhão. O
e Neptune, na linha de Nelson, e Royal Almirante Villeneuve e seu estado-maior
Sovereign, Belleisle e Mars, da linha de entregaram suas espadas ao Capitão
Collingwood, foram os navios que mais Atcherley, dos fuzileiros reais, do Con-
sofreram os efeitos do combate, enquanto queror, que abordara o capitânia. Atcherley
37 Idem.
38 Ibidem, p. 230.
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Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
considerou que não poderia receber essas foram os últimos navios a se renderem
espadas de oficiais mais graduados que no combate. Às 5 horas da tarde, a bata-
ele e os levou para o seu navio, que já se lha finalmente terminou. Dos 33 navios
afastava para engajar outro antagonista. franco-espanhóis que começaram a ação,
Assim Atcherley, em um pequeno barco, 18 se renderam aos britânicos, incluindo
levou Villeneuve e seus oficiais para o os navios capitânias de Villeneuve, o
navio britânico mais próximo, o Mars, Bucentaure; do contra-almirante francês
onde ficaram prisioneiros.39 Magon, o Algesiras; do contra-almirante
Os navios de vante da força franco- espanhol Cisneros, o Santíssima Trinidad;
-espanhola, sob o comando do Contra- e do vice-almirante espanhol Alava, o
-Almirante Dumanoir no Formidable, Santa Ana, um explodiu, o Achille, e os
ainda tentavam se aproximar do combate, outros fugiram da cena de ação. Foi uma
mas, em razão da dificuldade em guinar vitória esmagadora. A maior batalha naval
180 graus, só depois de muitas horas das Guerras Napoleônicas.
conseguiram engajar com os britânicos, Laughton fez algumas críticas a
o que nada adiantou, pois era muito tarde Collingwood, que deveria perseguir os
para se reverter a fugitivos, principal-
derrota. O San Au- mente a força fran-
gustino foi atacado A Batalha de Trafalgar cesa sob o comando
pelo Leviathan e destruiu completamente de Dumanoir. Disse
se rendeu. O In- ele que Collingwood
trepide foi atacado a coalizão naval franco- era um oficial bravo,
simultaneamente espanhola formada um bom marinheiro
pelo Africa, Orion, e um esplêndido se-
Ajax e Agamemnon, por Napoleão e afastou gundo em coman-
vindo também a se definitivamente a ameaça do; no entanto, não
render. Dumanoir, de invasão da Inglaterra tinha o gênio de um
vendo a futilidade grande comandan-
de suas ações, resol- te como Nelson e
veu, com os navios restantes, se evadir certamente estava sob intenso frenesi de
do combate e guinar para o sudoeste, combate no momento decisivo da vitória
afastando-se da ação. Laughton acreditou total. Nelson, para ele, teria perseguido os
que, se Dumanoir tivesse guinado com navios inimigos e os destruído um a um41.
maior velocidade e trouxesse seus navios Como um capricho do destino, os na-
em um só corpo, poderia causar estragos vios de Dumanoir que escaparam de Nel-
no lado britânico.40 son encontraram perto do Cabo Ortegal,
Um dos navios de Dumanoir, o Nep- em 4 de novembro, um esquadrão britâ-
tuno, não conseguiu se evadir e foi al- nico sob o comando do Contra-Almirante
cançado pelo Minotaur e pelo Spartiate Sir Richard Strachan e foram capturados
e, depois de um combate ferrenho, arriou facilmente. A vitória de Nelson foi total
seu pavilhão e se rendeu. Ele e o Intrepide e completa.
39 Ibidem, p. 232. O comandante do Mars, Capitão George Duff, havia morrido em combate; assim, Villeneuve
entregou sua espada a seu imediato.
40 Ibidem, p. 233.
41 LAUGHTON, John Knox. The Nelson Memorial. Op. cit., p. 305.
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Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
42 LAUGHTON, John Knox. Nelson. Op. cit., p. 238. O livro de Laughton foi escrito em 1895, cerca de
90 anos depois.
43 Lapenotiere acabou sendo promovido a mestre e comandante e a capitão em 1811. Fonte: LAUGHTON,
John Knox. The Nelson Memorial. Op. cit., p. 307.
44 LAUGHTON, John Knox. The Nelson Memorial. Op. cit., p. 319.
45 Ibidem, p. 311.
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Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
46 Idem.
47 Ibidem, p. 312.
48 Ibidem, p. 313.
49 Ibidem, p. 314.
50 Ibidem, p. 316.
51 LAUGHTON, John Knox. Nelson. Op. cit., p. 240.
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN KNOX LAUGHTON
Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
Como o seu hino funerário proclamou dos) e em outras dezenas de lugares. En-
enquanto a nação chorava, “seu corpo tretanto o mais significativo monumento a
está enterrado em paz, mas seu nome Nelson está localizado no centro da cidade
vive para sempre”. Guerras podem de Londres, em Trafalgar Square, próximo
acabar, mas a necessidade de heroísmo ao National Gallery e à bela igreja de Saint
não deve acabar nessa terra, enquanto Martin-in-the-Fields: a Coluna de Nelson.
o homem permanecer homem e o mal Em 1940, Adolf Hitler declarou, logo
existir para ser remediado. Onde quer após a vitória sobre a França, que, assim
que o perigo tiver que ser encarado ou que a Operação Leão do Mar tivesse su-
o dever ser realizado, ao custo de vidas, cesso, removeria a Coluna de Nelson de
homens terão inspiração no nome e nos Trafalgar Square para Berlim, para ser
feitos de Nelson... Ele não precisou e observada pelo povo alemão como um
não deixou nenhum sucessor. Para usar objeto de fetiche. Disse ele que “desde a
novamente as palavras de St. Vincent, batalha de Trafalgar, a Coluna de Nelson
“só há um Nelson”.52 representa para a Inglaterra um símbolo do
seu poder naval e domínio mundial. Seria
O LEGADO DE NELSON E O então uma forma expressiva de indicar a
SENTIDO DO HEROÍSMO vitória germânica se a Coluna de Nelson
fosse transferida para Berlim”54.
Nelson tem sido o mais festejado herói Além desses monumentos, o nome
britânico de todos os tempos. A cada ano, de Nelson tem sido reverenciado por
na noite do dia 21 de outubro, todos os colecionadores que procuram objetos
navios e estabelecimentos navais do Reino relacionados ao herói de Norfolk. A esse
Unido celebram com um jantar de gala a movimento de colecionadores dá-se o
vitória do almirante na batalha naval de nome de nelsonia. A nelsonia pode ser
Trafalgar. Essa noite é chamada de Tra- dividida em duas categorias distintas de
falgar Night. Mesmo algumas unidades coleções. A primeira inclui instrumentos
navais dos EUA celebram a Trafalgar e objetos que foram por ele tocados ou
Night como uma reverência a Nelson53. produzidos, tais como cartas, instruções
Não só na Trafalgar Night Nelson é para subordinados, objetos de casa, pratos,
lembrado. Monumentos em sua homena- canecas, garfos, facas, porcelanas e outros
gem se espalham pela Inglaterra, Escócia, produtos que a ele pertenciam. A segunda
Irlanda, Nova Zelândia, Austrália e em categoria inclui produtos comemorativos
muitos outros países. Existem estátuas de dos feitos de Nelson desde 1790 até os
Nelson na Catedral de St. Paul (Londres), dias atuais. A ele não pertenceram, porém
Liverpool, Castle Arch, Cork, Portsdown em sua homenagem foram produzidos,
Hill, Birmingham, Bristol, Norwich, tais como pinturas, quadros, porcelanas,
Yarmouth, Dublin, Edinburgh, Glasgow, selos, caixas comemorativas, revistas,
Portsmouth, Norfolk, Bridgetown (Barba- jornais, bustos e canecas55. Muitas vezes
52 MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson, v. 2. Op. cit., p. 397 e 398.
53 HAYWARD, Joel. Op.cit., p. VIII.
54 FRASER, Flora. “If you seek his monument”. In: WHITE, Colin (ed). The Nelson Companion. Glouces-
tershire: Bramley Books, 1995, p. 129.
55 RICHARDS, Clive. “The Nelson Collection of Clive Richards”. The Naval Review, v. 99, n. 4, London:
NR, november 2011, p. 395.
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN KNOX LAUGHTON
Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
esses objetos das duas categorias custam historiador em sua abordagem, em razão
milhares de libras em leilões britânicos. de sua atuação docente no King’s Col-
Afinal, o que leva milhares de pessoas lege. O autor inglês percebia a história
a até hoje se lembrarem de Nelson? Quais naval como uma parte da história geral e
as similaridades e discordâncias percebi- enaltecia o caráter acadêmico e científico
das de Nelson nas biografias escritas por dessa disciplina. Ambos, no entanto, pro-
Sir John Knox Laughton e Alfred Thayer blematizaram as suas biografias, fato que,
Mahan? Quais autor ou autores do século na obra completa de Mahan, não tivera
XIX que discutiram o papel do grande tanta relevância. Mahan via a providência
homem ou herói na história mais se apro- como a condutora do processo histórico,
ximam da visão de Laughton e Mahan a enquanto Laughton percebia a história
respeito de Nelson? como um processo contínuo, sem ser guia-
Tanto as trajetórias, como as percep- do pela vontade de Deus. Por certo que,
ções de se pesquisar e escrever a história tanto Mahan como Laughton, atuaram
naval, são distintas para Laughton e como juízes nas suas biografias, julgando
Mahan. Como grandes diferenças de o tempo todo a conduta de Nelson, no
percepção, podem-se apontar as dife- entanto Mahan foi muito mais crítico que
rentes formações entre os dois, sendo Laughton, que procurou limitar as críticas,
Laughton um produto da Universidade mantendo-se afastado de certos julgamen-
de Cambridge, com ênfase no método tos morais, tão caros para o seu colega
científico, enquanto Mahan era prove- norte-americano. Laughton foi vitoriano
niente da Academia Naval de Annapolis, em sua abordagem, apontando deslizes, no
com uma formação técnica voltada para entanto não enfatizou esses pontos como
a carreira do oficial de Marinha. Essas di- primordiais em sua biografia, preferindo
ferentes formações se refletiram no modo se ater ao que realmente interessava, indi-
de escrever a história, sendo Laughton um car a superioridade de Nelson perante seus
autor acadêmico, enquanto Mahan era um pares e adversários e sua importância para
historiador empírico. Os estilos também a história naval britânica.
eram diferentes, sendo Mahan mais emo- Ao se analisarem comparativamente
cional do que Laughton, que procurava as visões de Laughton e Mahan sobre
limitar, sempre que possível, seus adjeti- Nelson, deve-se dividir essa questão em
vos sobre Nelson. O uso de fontes parece dois pontos distintos: o primeiro o caráter
ter sido idêntico, pois, embora Mahan militar, e o segundo a conduta da vida
não apreciasse a pesquisa arquivística privada do herói de Burham Thorpe.
primária, no caso do Life of Nelson ele No ponto de vista militar, Nelson
fez questão de se valer de documentação era um herói reverenciado tanto por
primária para compor o seu biografado. Laughton como por Mahan, no entanto
Laughton apreciou a pesquisa arquivística alguns pontos não foram coincidentes
em toda a sua obra. Para Mahan, a história entre os dois historiadores. Como chefe
era prescritiva e uma ferramenta para a militar, tanto Laughton como Mahan
estratégia, o que se refletiu no texto, ao se tinham em Nelson um exemplo de ma-
concentrar, detalhadamente, nos aspectos rinheiro, comandante e almirante, e não
táticos e técnicos dos combates de Nelson, à toa ele era considerado o maior herói
fruto de sua formação militar, enquanto da RN de todos os tempos, suplantando,
Laughton foi menos “estratégico” e mais inclusive, ícones como Sir Francis Drake,
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN KNOX LAUGHTON
Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
Sir Walter Raleigh, Sir George Monck, bilidades, sem procurar imputar a outros
Lorde Howe e Lorde St. Vincent. os seus fracassos. Laughton também
Laughton não apreciou a indisciplina indicou essa característica de Nelson, no
de Nelson em relação a seus comandantes, entanto foi comedido em seus elogios, de
em especial sua postura perante o Almi- acordo com uma postura vitoriana típica
rante Hugues e o Capitão Moutray. Para em economizar adjetivos.
o autor inglês, Nelson deveria obedecer Sobre o caso Caracciolo, a posição de
a ordem e depois ponderar a conveniên- Nelson favorável ao enforcamento desse
cia daquela determinação. Essa postura nobre foi apoiada tanto por Laughton
indisciplinada de Nelson, de uma certa como por Mahan. Ambos consideraram
forma, se refletiu no ostracismo após seu que Caracciolo foi um traidor e passível
retorno à Inglaterra. Mahan, um defensor, da pena de morte. O que nenhum dos
procurou justificar essa conduta imprópria dois conseguiu explicar conveniente-
de Nelson com seus superiores afirmando mente foi por que Nelson não concedeu a
que ele possuía independência de pen- Caracciolo a possibilidade de ser fuzilado
samento e atitudes que apontavam uma em vez de ser enforcado, mais apropriado
genialidade inata e que, em certas situa- para um alto membro da corte napoli-
ções, essa postura foi fundamental para tana. Teriam Emma ou a Rainha Maria
indicar o caminho correto. Para Mahan, Carolina influenciado Nelson para essa
seu ostracismo se deveu mais a sua con- atitude extrema? Laughton não acreditou
duta de apoio ao Duque de Clarence em nessa possibilidade, no entanto Mahan,
relação ao Rei Jorge III do que a qualquer por ter uma antipatia natural por Emma,
outra atitude. Sua admiração por Nelson o apontou que as ideias de sua amante
cegou de sua formação militar que indica- podem ter sido decisivas para a atitude
va obedecer primeiro e ponderar depois, de Nelson. Assim, Emma pode ter sido,
como pretendido pelo historiador inglês. indiretamente, responsável por essa ati-
Nesse ponto percebe-se que essa admira- tude cruel de Nelson.
ção foi mais forte do que a formação mi- Dessa forma, pode-se concluir que
litar apreendida em Annapolis. Um caso, tanto Laughton como Mahan perceberam
entretanto, em que ambos concordaram e admiraram Nelson da mesma forma, um
foi a crítica e a desobediência de Nelson herói naval a ser reverenciado no Reino
em relação à ordem dada pelo Almirante Unido, diferindo apenas em intensidade e
Lorde Keith para que ele se dirigisse a em pontos específicos que não afetaram
Malta, ao invés de permanecer parado essas duas percepções, sendo Mahan
em Nápoles. Nelson não obedeceu a seu mais veemente em sua defesa do herói,
chefe, e tanto Laughton como Mahan cri- enquanto Laughton foi mais comedido
ticaram essa atitude insubordinada. Para em seus elogios.
ambos, Emma foi a razão dessa insubor- Quanto à vida privada de Nelson, as
dinação, e talvez por isso Mahan tenha diferenças foram mais acentuadas entre os
criticado o seu herói. Como se percebe, dois historiadores. Laughton apontou que
Mahan tinha grande antipatia por Emma Nelson não amava sua esposa Frances,
Hamilton. Mahan, sempre ávido por pois suas cartas eram distantes, centradas
justificar seu herói, indicou em Nelson, e sem arrebatamentos emotivos, indi-
além de independência de atitudes, uma cando mais uma ternura do que amor e
grande capacidade de assumir responsa- paixão. O autor inglês procurou comentar
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN KNOX LAUGHTON
Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
pouco a vida privada de Nelson, dentro uma mentirosa compulsiva e ávida por
do espírito vitoriano, no entanto certas fama, dinheiro e aventura.
posturas de Nelson não podiam ser igno- Para Mahan, por sua vez, Frances não
radas, e Laughton não pôde fugir desses despertava grande paixão em Nelson.
fatos. Para ele, Emma era uma mentirosa Além disso, ela não exaltava as glórias
contumaz, embora tivesse algumas qua- e realizações de seu marido, o que teria
lidades que não podiam ser desprezadas. provocado, em parte, o afastamento
Na visão de Laughton, Frances errou ao dele. Para o historiador norte-americano,
se manter contida e distante de Nelson, Emma encarnava o que havia de pior em
em uma ocasião em que ele vinha se en- um ser humano, embora reconhecesse
volvendo com a mulher do embaixador nela algumas qualidades, como beleza,
inglês no Reino das Duas Sicílias. Perce- charme e determinação. Para ele, Emma
beu o que ocorria e nada fez para mudar era uma aduladora contumaz, que não
aquela situação, principalmente diante da media esforços para convencer Nelson de
atitude de uma mulher que transpirava que ela era uma santa e que tudo faria por
sensualidade e desinibição como Emma. ele. Nelson era suscetível a adulações e
Além disso, Frances veio a se atritar com logo caiu nos braços daquela bela mulher,
Nelson em razão de seu filho Josiah não que era bem diferente de Frances. Mahan
ter a proteção de seu marido, que ela con- não poupou críticas a Emma e censurou
siderava necessária. Laughton indicou, Nelson severamente por se influenciar por
no entanto, que Josiah vinha tendo um ela. Esse relacionamento afetou a vida do
desempenho profissional abaixo da crí- herói como uma mácula em sua biogra-
tica após a proteção explícita de Nelson, fia. Emma, por sua conduta dominadora,
o que provocou um distanciamento dele expôs tanto Nelson como Sir William ao
para com Josiah e, por conseguinte, com ridículo, provocando comentários desairo-
Frances. Essas brigas entre ela e Nelson sos na sociedade inglesa do período sobre
aceleraram a separação. Frances teve, o relacionamento dos três, vivendo sob o
assim, sua parcela de culpa na atração mesmo teto. Ele foi adúltero e não teve
de seu marido por Emma e na posterior remorso em expor Frances a situações
separação. Laughton imputou o adultério escandalosas e constrangedoras. Isso,
de Nelson como um reflexo de sua própria para Mahan, foi uma mancha terrível em
personalidade passiva perante a adulação sua biografia. Não pode ser esquecido que
explícita de Emma e do convencimento, Mahan era excessivamente moralista e
por parte dela, de que tinha uma relação religioso, que não perdoava atitudes que
platônica com Sir William, atuando o fossem contra os seus princípios. Para ele,
último mais como um tio do que como Nelson era um herói genial, porém um
marido. Assim, para o historiador inglês, marido essencialmente adúltero, enquanto
Nelson não foi hipócrita ao enganar o Emma nunca amou realmente Nelson e o
seu amigo Sir William. Nelson era um que queria era conseguir fama, poder e
ingênuo e se envolveu com Emma por enaltecimento por meio dele. Para Mahan,
puro amor, considerando que Sir William Nelson enganou certamente seu amigo Sir
não a considerava sua esposa, mas apenas William tendo um caso com sua esposa, o
sua “sobrinha” que podia ser seduzida por que era imperdoável. O autor também, de-
ele. Para Laughton, Emma nunca amou fendeu Frances, ao apontar a sua bondade
Nelson verdadeiramente, sendo assim com todos os escândalos que a afetavam.
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN KNOX LAUGHTON
Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
Ela manteve uma atitude digna e enalteceu a sua extremada caridade, sendo, porém,
Nelson até o fim de seus dias, o que para um adúltero que maltratou sua esposa e
ele era notável. manchou sua reputação.
O que se pode concluir com essas O que Laughton e Mahan pretenderam
percepções é que ambos os autores repas- com suas biografias foi apresentar um
saram aos textos muito do que eles efeti- homem com grandes virtudes e falhas,
vamente eram como pessoas. Laughton, no entanto e especialmente, um herói em
comedido, científico e ascético, escreveu carne e osso, que se transformou em mito,
sua biografia procurando economizar nos um combatente patriota com grande lide-
adjetivos, agindo como um gentleman rança. Essa talvez tenha sido a principal
vitoriano, enquanto Mahan, moralista, mensagem dessas duas notáveis biografias
emocional e religioso, procurou apontar de Horatio Lorde Nelson e um exemplo
Nelson, em sua vida privada, como um ho- para todas as Marinhas do mundo, daí ser
mem com defeitos e qualidades, inclusive ele universal.
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN KNOX LAUGHTON
Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
ANONYMUS. “A Captain of the British Navy”: Memoirs of the life and achievements of the Right
Honourable Horatio Lord Viscount Nelson. H.D. Symonds & J. Hatchard & J. Ridgway,
London, 1805.
ANONYMUS. Histoire des Combats d´ Áboukir de Trafalgar de Lissa du Cap Finisterre et des
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN KNOX LAUGHTON
Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN KNOX LAUGHTON
Parte X: Nelson encontra o seu destino em Trafalgar
ORME, Edward & BLAGDON, Francis William. Orme's graphic history of the life, exploits, and
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Nile and Trafalgar. Longmans, Hurst, Rees & Orme, London, 1806.
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GESTÃO DO CONHECIMENTO NUCLEAR (GCN):
Lições Aprendidas
SUMÁRIO
Introdução
Referencial Teórico
Descrição e análise do projeto-piloto de GC, com base no PMBOK
Descrição e análise de dois projetos de GC, com base na metodologia
Basic Methodware
Descrição e análise da 1a Jornada do Conhecimento Amazul
Descrição e análise das influências do modelo organizacional e da cultura
Conclusões
* Especialista em Gestão do Conhecimento Nuclear. Mestre em Ciências do Mar pela Escola de Guerra Naval.
Prêmio Learning & Performance Brasil de Referência Nacional, do Institute for Learning & Performance
(2018), pelo trabalho “Projeto-Piloto de Gestão do Conhecimento no Departamento de Operação da
Unidade Piloto de Produção de Hexafluoreto de Urânio do CTMSP (Usexa).
GESTÃO DO CONHECIMENTO NUCLEAR (GCN): Lições Aprendidas
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GESTÃO DO CONHECIMENTO NUCLEAR (GCN): Lições Aprendidas
Neste modelo, verifica-se o papel con- Aqueles autores afirmam que as vantagens
ferido à GC para alavancar o negócio. Tor- competitivas não pesam mais do que os
na-se explícito o necessário alinhamento sonhos de uma borboleta e colocam o
estratégico da GC ao negócio, para a gerenciamento e a liderança no centro do
consecução dos objetivos organizacionais. palco. Nordström e Ridderstråle (2001, p.
Fica evidente que o perfil da cultura 139) continuam afirmando que os líderes
organizacional, o modelo de gestão em- devem assegurar a transferência contínua
pregado pela organização, a infraestrutura de conhecimento pelas fronteiras organi-
e a tecnologia disponíveis impactam di- zacionais, uma vez que a velocidade de
retamente no ambiente, tornando-o mais uma empresa é determinada não pelas
ou menos propício à gestão integrada e pessoas mais rápidas e mais espertas, mas
assertiva do negócio. pelas mais lentas e pelas menos talentosas.
Stewart (1998, p. 60) explica que a Ainda no modelo de referência da
gestão do capital intelectual, que abrange SBGC, verifica-se também o caráter mul-
a gestão integrada do capital humano, do tidisciplinar da GC.
capital estrutural e do capital do cliente, Biazzi (2018) nos alerta que os conhe-
amplifica as capacidades das empresas em cimentos estão com as pessoas e nos pro-
criar vantagem competitiva. Aquele autor cessos de negócio. Indica a necessidade de
afirma que o maior desafio dos líderes é: identificar e mapear os processos para, a
como transformar o capital humano em seguir, priorizá-los mediante emprego de
vantagem proprietária? Matriz B (impacto sobre o negócio) – Q
Pela perspectiva de Nordström e Rid- (qualidade), tendo por referência os obje-
derstråle (2001, p.20), o meio fundamental tivos estratégicos e a seleção de fatores-
de produção é pequeno, cinza e pesa em -chave. Biazzi (2018) enfatiza que, dentre
torno de 1,3 kg. É o cérebro humano. os processos selecionados, deve-se iden-
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GESTÃO DO CONHECIMENTO NUCLEAR (GCN): Lições Aprendidas
9 A Usexa faz a conversão do mineral urânio (sólido) em um giz (UF6 – hexafluoreto de urânio), vital para se
ter o combustível nuclear enriquecido para uso em reatores nucleares de potência do tipo PWR (Power
Water Reactor), responsáveis pela geração de eletricidade e propulsão naval.
10 Período de recesso em dezembro de 2015 e de férias em janeiro de 2016.
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GESTÃO DO CONHECIMENTO NUCLEAR (GCN): Lições Aprendidas
11 Em agosto de 2018, a CGGP foi alçada à Diretoria de Gestão do Conhecimento e Pessoas da Amazul.
12 De acordo com o Guia para o Gerenciamento de Processos de Negócio Corpo Comum de Conhecimento (BPM –
CBOK), empregando-se a Business Process Model and Notation (BPMN) e o software gratuito Bizagi Modeler.
13 Foi empregada a ferramenta DISC: modelo para examinar o comportamento dos indivíduos em um determinado
ambiente. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/DISC_%28psicologia%29. Acesso em: 23 out. 2017.
14 Consultora externa contratada por cerca de 12 meses.
15 Ver o Guia do Scrum. Disponível em: https://www.scrumguides.org/docs/scrumguide/v2017/2017-Scrum-
-Guide-Portuguese-Brazilian.pdf. Acesso em: 23 abr. 2020.
16 Ver: https://artia.com/kanban/.
17 Ver: https://amazon-c.unifacs.br/index.php/rsc/article/viewFile/2809/2364.
18 Ver: https://agilemanifesto.org/iso/ptbr/manifesto.html.
19 Divulgado às partes interessadas: Ofício no 129, de 30 out. 2017, da Amazul ao CTMSP.
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GESTÃO DO CONHECIMENTO NUCLEAR (GCN): Lições Aprendidas
25 Esta equipe teve por núcleo os integrantes da Coordenadoria de Gestão do Conhecimento da Diretoria de
GC e Pessoas da Amazul à época, composta por quatro pessoas.
26 Com a assistência de representantes da DGPM, da Cogesn, do CTMSP, da DDNM e do CINA.
27 Esta Coordenadoria foi idealizada para se tornar um centro de competência em GC, nos moldes de um
knowledge management office, de acordo com os conceitos de Leandro Pereira na obra Gestão de Co-
nhecimento em Projetos.
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GESTÃO DO CONHECIMENTO NUCLEAR (GCN): Lições Aprendidas
28 Ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/5S.
29 A Matriz GUT é uma ferramenta bastante utilizada, com o intuito de priorizar os problemas e, consequente-
mente, tratá-los, levando em conta suas gravidades, urgências e tendências. Auxilia na formação de estra-
tégias, na gestão de projetos e também na coleta de dados. A Matriz GUT complementa a análise SWOT.
Ambas analisam os ambientes internos e externos da organização. A Matriz GUT permite quantificar as
informações, pontuar os itens analisados de acordo com o seu grau de prioridade. Disponível em: http://
www.portal-administracao.com/2014/01/matriz-gut-conceito-e-aplicacao.html. Acesso em: 23 abr. 2020.
30 Ver: https://institutomicropower.com/referencia-nacional-projeto-piloto-de-gestao-do-conhecimento-usexa/.
31 Inicialmente, foram indicadas a Divisão de Monitoração Ambiental e a Divisão de Radioproteção, então perten-
centes ao Departamento de Segurança Nuclear da Superintendência da Qualidade do CTMSP. Em reestrutu-
ração do CTMSP, foi criada a Assessoria de Meio Ambiente, incorporando as atividades daquelas Divisões.
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32 Os prêmios do Programa Netuno têm periodicidade bienal e buscam reconhecer, destacar e certificar as
Organizações Militares (OM) da Marinha do Brasil que praticam e comprovam excelente desempenho
institucional, com qualidade em gestão. O Programa Netuno visa institucionalizar boas práticas de gestão,
permitindo que as OM busquem a melhoria contínua dos processos inerentes às suas atividades. Disponível
em: https://www.amazul.mar.mil.br/ctmsp-premiado-gestao-conhecimento. Acesso em: 28 abr. 2020.
33 Ver: https://www.amazul.mar.mil.br/amazul-ctmsp-promovem-jornada-conhecimento.
34 A Rede Marinha, plataforma colaborativa disponível somente na intranet da MB, integra os benefícios do
compartilhamento de informações e a colaboração.
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Ciclo do
Combustível Operação
Nuclear Coordenação das plantas
PNM DDNM
do PNM industriais e
LABGENE nucleares Gestão do
Conhecimento
e Pessoas
SN-BR
Coordenação
PROSUB CDS
do PROSUB
S-BR
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REFERÊNCIAS
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COMO A ADIÇÃO DE BIODIESEL PODERÁ
IMPACTAR O ÓLEO DIESEL MARÍTIMO DURANTE
A ESTOCAGEM?*
SUMÁRIO
Introdução
Material e Métodos
Resultados
Conclusão
* Baseado na Dissertação de Mestrado de Thais Livramento Silva, intitulada “Avaliação do impacto da adição
de biodiesel e misturas (B10 e B20) óleo diesel marítimo durante estocagem simulada” apresentada em
julho de 2020, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sob orientação da Prof. Dra.
Fátima Menezes Bento.
** Graduada em Biologia e mestre em Microbiologia Agrícola e do Ambiente pela UFRGS.
*** Graduada em Biologia, mestre e doutora em Microbiologia Agrícola e do Ambiente pela UFRGS.
**** Professor e orientador na UFRGS, com mestrado, doutorado e pós-doutorado em Química. Atua nas áreas
de Química e Engenharia, com ênfase em Quimiometria, Espectroscopia Molecular, Biocombustíveis
e Pesquisa Operacional.
***** Professora e orientadora na UFRGS, com mestrado, doutorado e pós-doutorado em Microbiologia de Com-
bustíveis. Atua nas áreas de Biodeterioração, Biodegradação, Biorremediação de Combustíveis e Biocom-
bustíveis. Atualmente, é professora associada da UFRGS, pesquisadora do CNPq e coordenadora do Labbio.
COMO A ADIÇÃO DE BIODIESEL PODERÁ IMPACTAR O ÓLEO DIESEL MARÍTIMO DURANTE A ESTOCAGEM?
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COMO A ADIÇÃO DE BIODIESEL PODERÁ IMPACTAR O ÓLEO DIESEL MARÍTIMO DURANTE A ESTOCAGEM?
produzir uma biomassa que pode compro- fase tratar (oleosa, aquosa ou interface),
meter a qualidade final do produto (sólidos eficiência no sistema óleo/água, compa-
suspensos) e provocar o funcionamento ina- tibilidade com o combustível, toxicidade
dequado dos equipamentos e peças, como e biodegradabilidade, entre outros (HILL
a saturação prematura de filtros e desgastes & HILL, 2008; KLINKSPON 2009;
no motor, (DAVIDOVA et al., 2012; SIEGERT, 2009; BENTO et al., 2010;
PASSMAN et al., 2013; BENTO et al., LUZ et al. 2018; FONSECA et al., 2019;
2016; 2020; DE SIQUEIRA et al., 2017). ZIMMER & BENTO, 2020).
As normas brasileiras ABNT NBR O óleo diesel é considerado um dos
15512-18 e 16732-19 trazem orientações produtos obtidos a partir da destilação
sobre diferentes medidas de controle para fracionada do petróleo, correspondendo à
prevenir a contaminação microbiana, vi- fração pesada, com elevado teor de carbo-
sando assegurar a integridade do combus- no, metais, asfaltenos, pequenas concen-
tível. Entre essas medidas podemos citar os trações de enxofre e menor estabilidade em
métodos físicos, que incluem procedimen- relação à fração mais leve. O óleo diesel é
tos de limpeza e drenagens regulares que composto de hidrocarbonetos com cadeias
dificultam o acúmulo da água formada no carbônicas na faixa de C15-C22, líquido
fundo dos tanques, impedindo a multiplica- e com ponto de ebulição entre 150° C e
ção microbiana. Como medidas de controle 400° C; possui cerca de 40% de alifáticos
químico, indica-se e alcanos cíclicos
o uso de compostos e cerca de 22% de
biocidas, que podem A adição de biodiesel confere aromáticos (com um
apresentar estruturas
químicas diversas
lubricidade ao óleo diesel, ou dois anéis), mais
os compostos sul-
em sua composição e garantindo desempenho e furados que podem
são responsáveis por vida útil ao motor variar entre 0,04 a
eliminar ou inibir o 6% (v/v) (ABBAD-
crescimento micro- -ANADLOUSSI et
biano. A utilização de biocidas em com- al., 2003; CYPLIK et al., 2011; AL-DE-
bustíveis é regulamentada pela Diretiva GS & AL-GHOUTI, 2015). No entanto,
de Produtos Biocidas (BDP, Diretiva 98/8/ dependendo da origem do petróleo, o óleo
EC) e pela Agência de Proteção Ambiental diesel pode ter características distintas
(EPA), na Europa e nos Estados Unidos da com relação à composição da mistura de
América, respectivamente (PASSMAN, hidrocarbonetos (BATHS & FATHONI,
2013). No Brasil, os biocidas podem ser 1991; MOHD et al., 2018).
encontrados na forma pura ou como parte No Brasil, o óleo diesel pode ser comer-
integrante de produtos multifuncionais cializado como rodoviário ou marítimo,
que combinam diferentes aditivos para dependendo da sua aplicação. O óleo die-
proteção da qualidade do combustível sel pode receber a adição determinada de
armazenado (FONSECA et al. 2019; biodiesel, que é caracterizado pela letra B
ZIMMER & BENTO, 2020). A seleção (óleo diesel B) e, em seguida, recebe o va-
de um biocida para uso em combustíveis lor de sua porcentagem de adição. A adição
envolve muitos aspectos, entre eles a defi- de biodiesel proporcionou ao óleo diesel
nição de seu espectro de ação (eliminação uma melhoria no parâmetro lubricidade,
de bactérias e/ou fungos), dosagens, qual e o biodiesel conta com outros aditivos
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COMO A ADIÇÃO DE BIODIESEL PODERÁ IMPACTAR O ÓLEO DIESEL MARÍTIMO DURANTE A ESTOCAGEM?
em sua composição, que melhoram seu residual de todos, com alta viscosidade e
desempenho e a vida útil do motor. Os exigindo um pré-aquecimento antes do uso.
aditivos, normalmente incorporados aos Um combustível é considerado estável
combustíveis (diesel e biodiesel), são antio- quando apresenta a tendência de manter
xidantes, antiespumantes, desemulsifican- suas propriedades ao longo do tempo. O
tes, dispersantes e inibidores de corrosão reconhecimento da formação de lodos
(ANP, 2009; CNT, 2012; SUFLITA et al., e das consequências para as embarca-
2012; ALLSOPP et al., 2016). ções já é recorrente no setor marítimo
Os combustíveis marítimos são produ- (HAGGETT & MOCHAT, 1991). Com-
zidos pela destilação de petróleo cru em bustíveis instáveis sofrem modificações
refinarias, sendo antes utilizado, normal- químicas em curto período de tempo,
mente estocado em áreas portuárias. Na in- provocando problemas operacionais, como
dústria naval, o óleo pesado é normalmente a formação de resinas, gomas e vernizes.
utilizado para abastecimento do motor Combustíveis residuais instáveis, tais como
principal, enquanto o óleo diesel marítimo asfaltenos e outros aromáticos, compostos
é normalmente utilizado em motores auxi- polares, podem se aglutinar, formando
liares (MOHD et al.,2018; CLUME et al., resíduos que podem se depositar no fundo
2019). Para o setor naval, a disponibilidade dos tanques. Estes lodos são caracteriza-
de combustíveis de baixo enxofre não é dos por serem viscosos e podem provocar
considerada o maior problema. Segundo o entupimento de filtros separadores e
Mohd et al., (2018), o grande desafio será mangueiras. Com isso, os motores marí-
entender o comportamento dos diferentes timos podem ficar sobrecarregados, com
tipos de combustíveis, como utilizá-los problemas de ignição e combustão, além
isoladamente ou em combinação com de haver risco permanente de danos aos
outros. Na literatura, são apresentados anéis dos pistons e às linhas dos cilindros.
cinco tipos, baseados em características Casos extremos podem provocar danos
das misturas possíveis e viscosidade: em motores auxiliares e trazer perigo à
1) óleo marítimo (Marine Gas Oil embarcação e à tripulação. Neste sentido,
- MGO) – é idêntico ao óleo diesel auto- é preciso considerar estudos para a previ-
motivo utilizado em veículos terrestres; são da estabilidade química de possíveis
2) óleo diesel marítimo (Marine Diesel misturas de combustíveis (WAYNICK,
Oil - MDO) – apresenta uma mistura de 2005; HOSHINO, 2007; ATADASHI et
óleo combustível pesado e óleo diesel al., 2010, MOHD et al., 2018).
marítimo, com baixa viscosidade e não
exige pré-aquecimento antes do uso; Biodiesel e o cenário brasileiro
3) óleo combustível intermediário (In-
termediate Fuel Oil- IFO) – é similar ao A tradição brasileira com biocombus-
óleo diesel marítimo, sendo uma mistura tíveis começou em 1975, com programas
de óleo residual (HFO com MGO); como o Proálcool. No entanto, em 1978,
4) óleo combustível marítimo (Mari- o engenheiro cearense Expedito Parente,
ne Fuel Oil- MFO) − é similar ao HFO, conduzindo pesquisas sobre a utilização
trata-se de uma mistura com MGO, mas de ésteres alquílicos de ácidos graxos em
contém menos MGO do que o IFO; e motores automotivos, alavancou uma nova
5) óleo combustível pesado (Heavy fase da matriz energética brasileira. A pri-
Fuel Oil- HFO) − considerado o tipo mais meira patente brasileira foi concedida em
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COMO A ADIÇÃO DE BIODIESEL PODERÁ IMPACTAR O ÓLEO DIESEL MARÍTIMO DURANTE A ESTOCAGEM?
limite máximo de enxofre é de 0,50% para conteúdo energético maior do que o die-
combustíveis marítimos (IMO, 2019). sel S500 e S10, podendo possuir cadeias
O óleo diesel marítimo, que no Brasil carbônicas mais longas. O óleo diesel
recebe as classificações de óleo diesel marí- marítimo apresentou as temperaturas mais
timo A (DMA), é um combustível destilado elevadas na destilação, exceto na faixa de
médio, e o óleo diesel marítimo B (DMB) 60-80% de recuperado, na qual o S500
é um combustível composto de destilados teve temperaturas levemente superiores.
médios, podendo conter pequenas quan-
tidades de óleos oriundos do processo de Contaminação microbiana em
refino; no entanto, ambos contêm até 5.000 combustíveis navais
ppm de enxofre (ANP, 2015).
Em relação ao óleo diesel automotivo A contaminação microbiana em com-
ou rodoviário, o diesel marítimo pode bustíveis navais foi avaliada e reconhecida
ser diferenciado por seu ponto de fulgor desde a década de 60, quando ocorreram os
mais elevado, atendendo às demandas de primeiros estudos, abordando a presença de
maior segurança nas bactérias redutoras
embarcações marí- de sulfato (grupo
timas. Para o óleo As condições em tanques microbiano produtor
diesel marítimo, o de H2S) no lodo ava-
ponto de fulgor é a
de armazenamento de liado (NEIHOF &
menor temperatura combustíveis navais, KLEMME;1969).
que o óleo diesel especialmente pela presença O levantamento
vaporiza em quanti- da composição da
dade suficiente para de água e pelo tamanho comunidade micro-
formar com o ar uma dos tanques, influenciam biana, utilizando a
mistura explosiva,
capaz de se infla-
a variabilidade de micro- abordagem clássica,
foi conduzida por
mar quando incidir organismos e o seu Hettige & Sheridan
uma chama. O valor crescimento (1989), com amos-
fixado é de 60° C, tras de óleo diesel
enquanto o ponto de retiradas do lastro
fulgor do diesel automotivo está fixado a de tanques de estocagem de embarcações.
um valor de 38º C (PETROBRAS, 2013). Foram identificadas 31 espécies de fungos
Em um estudo realizado por Peixoto et filamentosos, cinco isolados de bactérias,
al. (2015), foram verificadas que as carac- entre elas bactérias redutoras de sulfato
terísticas físico-químicas do óleo diesel (produzem H2S-metabólito corrosivo).
rodoviário e marítimo estão de acordo Entre as espécies de fungos, as mais
com as especificações vigentes da Agên- frequentes foram Hormoconis resinae,
cia Nacional do Petróleo, Gás Natural e Penicillium corylophilium e Paecilomyces
Biocombustíveis (ANP), estabelecidas variotti. Em um estudo de caso isolado em
por meio de metodologias convencionais e um navio da costa da Califórnia, a con-
da técnica de destilação simulada. A partir taminação microbiana predominante foi
desse estudo foram observadas algumas atribuída ao fungo Clasdosporium resinae
diferenças entre o MDO e o diesel rodo- (atual Hormoconis resinae), que, devido
viário, indicando que o MDO apresenta à biomassa produzida, causou danos às
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COMO A ADIÇÃO DE BIODIESEL PODERÁ IMPACTAR O ÓLEO DIESEL MARÍTIMO DURANTE A ESTOCAGEM?
com o banco de dados GenBank (ferra- à fase aquosa, foi utilizada a condição
menta online disponível em: http://blast. denominada ideal com o meio mínimo
be-md.ncbi.nlm.nih.gov/. As sequências mineral Bushnell & Haas (1941), pH 7,2, e
foram depositadas no GenBank. a condição real, que corresponde à água de
lastro pH de 5,9, coletada diretamente do
Combustível utilizado tanque de armazenamento da embarcação.
Após a montagem dos microcosmos, fo-
Foram utilizadas amostras de biodie- ram adicionados os fungos Paecilomyces
sel produzido a partir de soja comercial, dactylethromorphus, Curvularia luneta
cedido por uma usina produtora. O óleo e Pseudallescheria boydii e a levedura
diesel marítimo foi coletado diretamente Exophiala oligosperma.
do tanque de uma embarcação no Rio Outra condição avaliada foi com a
de Janeiro, acondicionado e enviado ao inoculação da comunidade microbiana pre-
Labbio-RS em galões próprios para o ar- sente no lodo biológico (conforme Norma
mazenamento de combustível. A mistura ASTM E1259-16), oriundo diretamente
de biodiesel (20%) com diesel naval foi do tanque de estocagem de óleo diesel
preparada no laboratório. O combustível marítimo de uma embarcação no Rio de
de um dos galões foi separado, com funil Janeiro. Os experimentos foram identifi-
de separação, da fase aquosa com o lodo cados quanto à fase oleosa utilizada, óleo
biológico, e esse lodo foi armazenado em diesel marítimo puro ou a mistura com 20%
frascos na temperatura ambiente. de biodiesel. O experimento foi realizado
em triplicata, mantido sob a temperatura de
Esterilização 24ºC com repetições destrutivas. Para com-
paração dos experimentos, foi utilizado um
Os combustíveis e a água de lastro controle (sem adição do inóculo) estéril.
foram esterilizados por filtração em mem-
brana filtrante de acetato de celulose de Inóculo
0,22 µm, da Millipore, com o auxílio da
bomba de vácuo e de um conjunto Kitasa- Foi utilizado 150 µL de um inóculo não
to previamente esterilizado, em condições caracterizado (conforme preconizado na
assépticas. Depois foram acondicionados Norma ASTM E1259-16) de um biofilme
em frascos de vidro âmbar de 1 litro e formado na interface da amostra enviada
armazenados em geladeira (4ºC) para diretamente de um tanque de estocagem
uso posterior. de uma embarcação com óleo diesel
marítimo. O isolado fúngico Exophiala
Montagem de microcosmos oligosperma foi selecionado e utilizado,
pois obteve a maior biomassa entre os iso-
Para avaliar a capacidade deteriogênica lados em um estudo preliminar. Culturas
dos micro-organismos, foram montados com sete dias de cultivo do fungo em ágar
microcosmos (frascos estéreis de vidro) batata (BDA) receberam água destilada
contendo 5 mL de fase aquosa e 2 mL de estéril e 2 mL de um surfactante (Tween
fase oleosa. Os experimentos foram clas- 80, preparado na concentração de 0,01%),
sificados quanto à fase oleosa utilizada, para facilitar a remoção dos esporos.
óleo diesel marítimo puro ou a mistura A concentração do inóculo fúngico
com 20% de biodiesel (B20). Quanto foi determinada pela contagem dos espo-
RMB3oT/2021 109
COMO A ADIÇÃO DE BIODIESEL PODERÁ IMPACTAR O ÓLEO DIESEL MARÍTIMO DURANTE A ESTOCAGEM?
110 RMB3oT/2021
COMO A ADIÇÃO DE BIODIESEL PODERÁ IMPACTAR O ÓLEO DIESEL MARÍTIMO DURANTE A ESTOCAGEM?
Fourier acoplada a um acessório de re- dos sete fungos puderam ser identifica-
flectância total atenuada (FT-IR/ATR) no dos por meio de técnicas moleculares,
espectrofotômetro Agilent Cary 630 com chegando a nível de gênero ou espécie.
um cristal de seleneto de zinco (ZnSe). Os isolados que obtiveram identificação
Os espectros foram obtidos na faixa de por meio de técnicas moleculares foram:
4000-900 cm-1, com uma resolução de 4 Paecilomyces dactylethromorphus, Exo-
cm-1 e 32 scans em temperatura ambiente. phiala oligosperma, Pseudallescheria
Os dados obtidos foram analisados no boydii, Penicillium sp, Curvularia lunata
software Chemostat. e Fusarium sp. Apenas um dos isolados
não pôde ser identificado, mas, por meio
Análise estatística do microcultivo e da observação, foi iden-
tificado como Paecilomyces sp.
O tratamento estatístico dos valores
de crescimento, pH e tensão superficial Aspecto da biomassa formada durante
(análise de variância; teste de Tukey p estocagem simulada
5%) foi realizado com o programa Origin
(versão 2018). Durante os 45 dias de experimento,
foi avaliado, a cada 15 dias, o aspecto
RESULTADOS da biomassa formada na interface óleo-
-água, com registro fotográfico no tempo
Prospecção de micro-organismos e inicial do experimento, sem a presença
identificação de biomassa (Figura 1). Aos 15 dias de
experimento, verificou-se a presença de
Foram isolados sete fungos a partir das um biofilme nos tratamentos MDO-B0
técnicas de prospecção e três bactérias, da BH BR, MDO-B20 BH BR e MDO-B20
amostra de óleo diesel utilizado em uma BH EX. Os demais tratamentos, que con-
embarcação e do lodo coletado. Os fungos tinham água de lastro como fase aquosa e
foram identificados ao nível de gênero por também o tratamento MDO-B0 BH EX,
técnicas de microcultivo e confirmados não apresentaram formação de biomassa
por técnicas moleculares (Tabela 1). Seis (Figuras 1 e 2).
LABBIO_MDO3 Penicillium sp
LABBIO_MDO4 Exophiala oligosperma
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COMO A ADIÇÃO DE BIODIESEL PODERÁ IMPACTAR O ÓLEO DIESEL MARÍTIMO DURANTE A ESTOCAGEM?
Figura 2 − Aspecto dos microcosmos montados aos 15 dias de experimento. As setas indicam a biomassa
que se forma na interface óleo-água
112 RMB3oT/2021
COMO A ADIÇÃO DE BIODIESEL PODERÁ IMPACTAR O ÓLEO DIESEL MARÍTIMO DURANTE A ESTOCAGEM?
Figura 3 − Aspecto dos microcosmos montados aos 30 dias de experimento. As setas indicam a biomassa
que se forma na interface óleo-água
Figura 4 − Microcosmos montados aos 45 dias de experimento. Tratamentos com Bushnell Haas MDO-B0,
MDO-B20 e inóculo de lodo biológico e Exophiala oligosperma. As setas indicam a biomassa que se
formou na interface óleo-água
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COMO A ADIÇÃO DE BIODIESEL PODERÁ IMPACTAR O ÓLEO DIESEL MARÍTIMO DURANTE A ESTOCAGEM?
Figura 5 − Microcosmos montados aos 45 dias de experimento. Tratamentos com água de lastro MDO-B0,
MDO-B20 e inóculo de lodo biológico e Exophiala oligosperma As setas indicam a biomassa que se
formou na interface óleo-água
114 RMB3oT/2021
COMO A ADIÇÃO DE BIODIESEL PODERÁ IMPACTAR O ÓLEO DIESEL MARÍTIMO DURANTE A ESTOCAGEM?
Figura 6 − Medidas dos valores de biomassa (mg) obtidas nos tempos amostrais 15, 30 e 45 dias para os
tratamentos com Bushnell Haas e água de lastro
RMB3oT/2021 115
COMO A ADIÇÃO DE BIODIESEL PODERÁ IMPACTAR O ÓLEO DIESEL MARÍTIMO DURANTE A ESTOCAGEM?
Tratamentos Tratamentos
Meio BH 30 dias 45 dias Água de lastro 30 dias 45 dias
T0: 7,2 T0: 5,9
MDO-B0 BH CT 7,0±0,0 6,8±0,4 MDO-B0 AL CT 5,8±0,0 5,9±0,4
Tabela 2 – Valores de pH para os tratamentos com fase aquosa constituída de meio Bushnell Haas e água
de lastro no tempo inicial, 30 dias e tempo final
1 Diferiu significativamente quando comparado ao seu controle negativo no mesmo tempo de tratamento.
2 Idem.
116 RMB3oT/2021
COMO A ADIÇÃO DE BIODIESEL PODERÁ IMPACTAR O ÓLEO DIESEL MARÍTIMO DURANTE A ESTOCAGEM?
Tratamento Tratamento
Meio BH Tensão superficial Água de lastro Tensão superficial
Tempo inicial: após 45 dias Tempo inicial: após 45 dias
61±0,0 mN-m-1 59±0,0 mN-m-1
Tabela 3 – Valores das medidas de tensão superficial para os tratamentos com fase aquosa constituída de
meio Bushnell Haas e água de lastro nos tempos iniciais e finais (45 dias)
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COMO A ADIÇÃO DE BIODIESEL PODERÁ IMPACTAR O ÓLEO DIESEL MARÍTIMO DURANTE A ESTOCAGEM?
Figura 7 − Dendrograma obtido a partir dos dados de infravermelho das amostras de MDO-B20 no tempo
final do experimento 45 dias. Em destaque, a separação dos grupos
Figura 8 − Escores de PCA obtidos por meio dos dados de infravermelho das amostras de MDO-B20 no
tempo final do experimento 45 dias
Amostras com Bushnell Haas como fase aquosa – cinza; Amostras com água de lastro como fase aquosa –
preto. Em destaque, as amostras que sofreram degradação
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COMO A ADIÇÃO DE BIODIESEL PODERÁ IMPACTAR O ÓLEO DIESEL MARÍTIMO DURANTE A ESTOCAGEM?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANGOLA, UMA NAÇÃO ATLÂNTICA? − Sua atuação
nos espaços estratégicos de interesse nacional no mar
SUMÁRIO
Introdução
A centralidade do mar nas relações econômicas internacionais
Os espaços estratégicos de interesse nacional no mar
Angola e sua atuação nos espaços estratégicos de interesse
nacional no mar
Considerações finais
* Professor associado convidado da Academia Diplomática Venâncio de Moura (Luanda, Angola). Pós-
-graduado em Guerra de Informação/Competitive Intelligence pela Academia Militar Portuguesa. Mestre
em Ciências Navais pela Escola Naval Portuguesa e doutor em Ciências Políticas pela Universidade
Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa. Docente, pesquisador e consultor em Estudos
Estratégicos. Autor de artigos em revistas de Portugal e do Brasil.
ANGOLA, UMA NAÇÃO ATLÂNTICA? − Sua atuação nos espaços estratégicos de interesse nacional no mar
se garantam muito para além dos limites Nacional no Mar (EEINM). Tratando-se
marítimos administrativos dos Estados de uma temática de ampla abrangência,
(DUARTE, 2011, p. 5). seguiu-se uma abordagem interdisciplinar,
Na verdade, pela sua natureza, os espa- com recurso à revisão bibliográfica e aná-
ços marítimos permitem maior fluidez na lise documental, mediante um raciocínio
transferência de ameaças e benefícios de dedutivo. Esta abordagem reveste-se de
um ponto para outro do globo, porquanto crucial importância para Angola, sobretu-
Alfred Mahan1 defendeu que, numa ótica do atendendo ao contexto de atraso quanto
histórica da ascensão ou queda dos im- às questões de defesa, segurança, proteção
périos, o Poder Marítimo sempre esteve e exploração dos oceanos, ao longo das
associado à prosperidade das nações, últimas décadas, porquanto ajuda a refletir
quer em tempos de paz como em tempos sobre a sua atuação em prol de uma maior
de guerra, sublinhando a importância das afirmação enquanto nação do Atlântico2,
Marinhas e do seu sistema de forças para tendo como base o seu posicionamento
a manutenção do poder dos Estados e re- geoestratégico e as sinergias de coopera-
conhecendo a centralidade dos oceanos no ção que o país deve privilegiar.
cenário internacional (MAHAN, 1889).
Portanto, nos próximos anos, prevê-se A CENTRALIDADE DO MAR
que a centralidade dos oceanos no sistema NAS RELAÇÕES ECONÔMICAS
internacional e a maior competição oceâ- INTERNACIONAIS
nica continuarão a ser determinadas pelos
seus novos usos e pelas novas ameaças e Embora a concretização de uma lei
carências mundiais, entre as quais a atual global para os oceanos tenha surgido
pandemia da Covid-19, que tem impactado apenas no final do século XX, houve
fortemente no comércio marítimo mundial desde muito cedo a tentativa de regular
(UNCTAD, 2020). Este reconhecimen- os domínios deste espaço, destacando-se
to geoestratégico continuará a elevar a as “leis marítimas de Rodes”, as regras
dimensão dos Assuntos dos Oceanos na de domínio e controle durante a longa
política internacional, especialmente por- vigência da República Romana ou, ainda,
que a dependência que a economia global as reivindicações por espaços marítimos
tem em relação aos espaços líquidos vem pelos Estados, durante as várias etapas da
aumentando com o passar dos anos. história da humanidade (RIBEIRO, 1992,
O presente artigo visa, assim, abordar a p. 2). De fato, apesar das diferentes mani-
centralidade dos oceanos nas relações da festações relativas à ocupação do mar, foi
política internacional, por meio da descri- a obra Mare Liberum, de Hugo Grócios
ção sobre a atuação de Angola nos consi- (1609), que, durante a Idade Moderna,
derados Espaços Estratégicos de Interesse surgiu como a grande percussora do Di-
1 Na sua obra The Influence of Sea power upon History, 1660-1783, Alfred Mahan defende que o domínio
do mar, em termos tanto comerciais como militares, traduz uma condição necessária para dominar o
mundo, atribuindo importância do Poder Marítimo na expansão e desenvolvimento dos Estados, onde
o Poder Naval é um elemento fundamental.
2 Considerado por Therezinha de Castro como “o mais intercontinental dos oceanos”, o Oceano Atlântico,
segundo maior oceano do planeta, cobre uma área de 80.657.008 km2, sendo o que recebe o maior
volume de águas fluviais. A ampla comunicação marítima que estabelece entre as duas regiões polares
distingue-o dos demais grandes oceanos (CASTRO, 1998).
RMB3oT/2021 121
ANGOLA, UMA NAÇÃO ATLÂNTICA? − Sua atuação nos espaços estratégicos de interesse nacional no mar
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ANGOLA, UMA NAÇÃO ATLÂNTICA? − Sua atuação nos espaços estratégicos de interesse nacional no mar
climáticas, quer de origem antrópica, quer garantes da defesa dos interesses imperiais,
associadas aos ciclos geodinâmicos do pla- representando um catalisador de riqueza e
neta, faz com que se generalize a ideia da poder (GINGA, 2014, p. 89).
necessidade de uma gestão e governação Por outro lado, a crescente relevância
sustentável dos oceanos e das zonas ribei- a nível planetário começa cada vez mais
rinhas de forma integrada e abrangente, a estar associada ao chamado “resource
em que se incluem as atividades humanas stress” (pressão ou escassez dos recur-
aí desenvolvidas (GOVERNO DE POR- sos), nomeadamente de naturezas hídrica,
TUGAL, 2013, p. 13). No âmbito militar, econômica, política e demográfica, o que
a importância do mar como plataforma tem obrigado os Estados costeiros, como
de projeção de forças já data há séculos, Angola, a se alinharem a essa realidade,
sendo importante sublinhar as decisivas sob pena de serem dominados pelo am-
batalhas do Atlântico, travadas entre o biente global complexo. Prevê-se, assim,
poder continental e o poder marítimo, na que, ao longo das próximas décadas, a
Segunda Guerra Mundial (MAWDSLEY, centralidade dos oceanos no sistema in-
2020). Ademais e como resultado, na pre- ternacional continuará a ser determinada
sente ordem mundial, a hierarquização dos pelos novos usos, pelas novas ameaças e
Estados continua de- carências mundiais,
pendente da menor o que deverá resul-
ou maior capacidade Na presente ordem tar em maior com-
destes em projetar
poder e influência
mundial, a hierarquização plexidade costeira
(LEANDRO, 2009,
a longas distâncias, dos Estados continua p. 140-143).
pelo que os espaços dependente da menor ou Assim sendo,
marítimos e a com- há um renovado
ponente naval são maior capacidade destes em interesse pelas re-
peças-chave neste projetar poder e influência giões marítimas do
processo. continente africa-
Tudo isso, asso-
a longas distâncias no, quer numa ótica
ciado ao fator de- de exploração de
mográfico, encerra as dimensões de cen- matérias-primas ou oportunidades de-
tralidade que se atribuem cada vez mais correntes das fragilidades locais, quer
aos oceanos, designadamente devido ao numa visão de impedir a proliferação de
crescimento exponencial da população em ameaças complexas e difusas nesta região,
várias regiões litorâneas, sendo que a es- que faz parte da rede global do comércio
magadora parte da população mundial vive internacional. Esse vasto interesse pelos
a uma distância inferior a 100 km da zona espaços marítimos africanos torna-os
costeira, o que coloca os oceanos no centro uma plataforma essencial de projeção dos
de todas as dinâmicas mundiais. Neste interesses dos players internacionais, em
particular, ao longo da história das relações que se destacam, por um lado, as grandes
internacionais, o mar foi preponderante na potências, interessadas na exploração das
construção e no declínio de diversos impé- matérias-primas, e, no outro extremo, os
rios, tendo servido como meio de transporte agentes do crime organizado transnacio-
e comunicação para o comércio marítimo nal, que usam os oceanos como fonte de
gerador de riqueza e para os meios navais recursos e teatro de atuação criminosa.
RMB3oT/2021 123
ANGOLA, UMA NAÇÃO ATLÂNTICA? − Sua atuação nos espaços estratégicos de interesse nacional no mar
Com efeito, pelas suas caraterísticas ao mar contribuíram para o atual estado
diferenciadas, traduzidas na maior fluidez e dormente do setor marítimo, sobretudo
nas dificuldades para afixação humana per- porque Angola transformou-se num poder
manente, os oceanos devem ser objeto de assumidamente militar continental, fican-
uma projeção de soberania dos Estados de do no esquecimento os 1.650 km de exten-
natureza diferenciada à exercida em terra, são de costa e o enorme potencial marítimo
particularmente por aqueles Estados cujas que agrega (WEIGART, 2011). Todavia a
capacidades internas são consideravelmen- forte ligação do mar com a história ango-
te limitadas, como é o caso de Angola5. lana, tanto em termos de posicionamento
Em suma, não cabe no âmbito deste geográfico quanto de dependência econô-
texto descrever a totalidade dos aspetos mica, deve servir de catalisador para uma
científicos e objetivos dos oceanos, que nova abordagem nacional aos Assuntos do
se perfilam para a centralidade do mar Mar, na medida em que Angola faz parte
nas relações internacionais, e a respectiva do grupo de países que têm a sua realidade
mais-valia para Angola, sendo que importa e sua história associadas à importância dos
antes salientar que oceanos, porquanto
a maior atuação de a sua economia con-
Angola nos EEINM A guerra civil e a falta tinua fortemente de-
deve ser entendida pendente da explo-
numa perspectiva de de políticas públicas ração e exportação
reforço da sua cen- eficazes ligadas ao mar do petróleo offshore.
tralidade no Atlânti- contribuíram para o atual Na verdade, a
co Sul, impulsionan- soberania una e in-
do as parcerias no estado dormente do setor divisível do Estado
quadro dos assuntos marítimo em Angola angolano é exercida
marítimos e fomen- sobre a totalidade do
tando a competitivi- território nacional,
dade do seu sistema marítimo-portuário e a compreendendo, nos termos da Consti-
sua participação nas questões securitárias e tuição da República, da Lei e do Direito
econômicas continentais, elegendo, assim, Internacional (DI), a extensão do espaço
os oceanos como área de especialização e terrestre, das águas interiores e do mar
um fator de afirmação nacional. territorial, bem como o espaço aéreo,
solo, subsolo, fundo marinho e os leitos
OS ESPAÇOS ESTRATÉGICOS DE correspondentes, demonstrando, desta
INTERESSE NACIONAL NO MAR forma, o compromisso do Estado com o
DI e sobretudo com a CNUDM. Parale-
Em relação, concretamente, ao caso lamente, o Estado exerce soberania e/ou
angolano, considera-se que a guerra civil e jurisdição material na Zona Contígua, na
a falta de políticas públicas eficazes ligadas Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e na
5 O Sistema de Forças Navais angolano precisa ser redimensionado, porquanto é composto por um Sistema
de Defesa Costeira (defesa antimíssil) SS-C-1B Sepal, três navios-patrulha de vigilância e investigação
pesqueira da classe Ngola Kiluange, cinco lanchas de fiscalização rápidas PVC-170, três lanchas de
fiscalização rápida da classe HSI, quatro navios-patrulha da classe Rei Mandume, cinco navios-patrulha
da classe Imperial Santana, navios-patrulha costeira da classe Bula Matadi e duas aeronaves de patrulha
marítima (Fokker F-27-200 MPA e C-212 Aviocar, da Força Aérea) (Ginga, 2014; IISS, 2017).
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ANGOLA, UMA NAÇÃO ATLÂNTICA? − Sua atuação nos espaços estratégicos de interesse nacional no mar
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ANGOLA, UMA NAÇÃO ATLÂNTICA? − Sua atuação nos espaços estratégicos de interesse nacional no mar
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ANGOLA, UMA NAÇÃO ATLÂNTICA? − Sua atuação nos espaços estratégicos de interesse nacional no mar
7 A reativação da IV Esquadra norte-americana, em 2008, veio criar alguma tensão nessa região assumidamente
desmilitarizada, designadamente porque deixa a descoberto os elevados interesses estratégicos nas regiões
do Atlântico Sul. A IV Esquadra está integrada o Southern Command dos Estados Unidos da América
(EUA) e é responsável pelas operações da Marinha norte-americana na área de interesse do Southcom
(Comando do Sul dos EUA), pelo que a sua reativação, na ótica estadunidense, deve-se sobretudo a razões
de caráter humanitário, embora em 2009 o General Douglas Fraser, então comandante do Southcom,
tenha defendido que a esquadra dava aos EUA maior atuação no Atlântico Sul, que constitui uma área
de valor geoestratégico, pela sua importância para os transportes e rotas marítimas e pela sua riqueza
em recursos naturais. Deste modo, o então Presidente do Brasil, Lula da Silva, defendeu que, “quando
os EUA estabelecem como prioridade reforçar a Quarta Frota do Atlântico, obviamente temos que nos
preocupar” (FONSECA, 2010, p. 81).
8 O ministro da Defesa Nacional à época, Cândido Pereira dos Santos Van-Dúnem, durante visita do seu ho-
mólogo Celso Amorim, enfatizou que Angola pretendia contar com a ajuda do Brasil para a criação da
Indústria Militar Nacional e para o fortalecimento da indústria de Defesa, a fim de reduzir a dependência
que as Forças Armadas tinham na aquisição de meios logísticos do exterior, sendo que a componente
naval faz parte das prioridades deste projeto. De fato, a atuação política do ministro Celso Amorim,
enquanto responsável pela pasta da Defesa, teve um impacto positivo no que diz respeito ao estreitamento
de relações entre o Brasil e os Estados africanos.
9 Disponível em: https://www.gov.br/defesa/pt-br/arquivos/2014/mes09/memorandoa_dea_entendimen-
toa_brasila_angola.pdf. Acesso em: 20 jan. de 2021.
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ANGOLA, UMA NAÇÃO ATLÂNTICA? − Sua atuação nos espaços estratégicos de interesse nacional no mar
10 O conceito de “Maritime Angolan Ownership”, traduzido por “Propriedade Marítima Angolana” ou “Causa
Marítima Angolana”, de criação do autor, pode ser entendido como o conjunto de instrumentos, fatores
e valores, ligados aos assuntos dos oceanos e não só, que direta e indiretamente contribuem para a va-
lorização, o posicionamento e a afirmação de Angola enquanto Estado costeiro.
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ANGOLA, UMA NAÇÃO ATLÂNTICA? − Sua atuação nos espaços estratégicos de interesse nacional no mar
11 O Grand African Nemo é um exercício que acontece uma vez por ano, e sua vocação é de envolver os
países da região do GoG e outros países parceiros. O primeiro Exercício Nemo aconteceu em setembro
de 2013, com a participação do Togo e da França. Disponível em: http://jornaldeangola.sapo.ao/politica/
marinhas_de_guerra_fazem_treino_conjunto/. Acesso em: 20 fev. 2021.
12 A preservação da paz e a manutenção da segurança marítima são dois domínios em que a França quer
muito trabalhar com Angola, porquanto os dois países precisam atuar juntos no GoG, para a garantia de
um mundo melhor e seguro. O adido da Defesa da França em Angola considerou positivos os resultados
dos exercícios navais realizados entre as Marinhas dos dois países. Para ele, “estes exercícios foram um
grande sucesso para a França e Angola” na medida em que, agora, os militares angolanos e franceses
estão em melhores condições de trabalhar em conjunto no domínio da segurança marítima, com destaque
para a planificação. Disponível em: http://jornaldeangola.sapo.ao/politica/franca_destaca_papel__estra-
tegico_de_angola. Acesso em: 10 nov. 2020.
13 Disponível em: https://jornaldeangola.ao/ao/noticias/detalhes.php?id=416845. Acesso em: 18 fev. 2021.
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ANGOLA, UMA NAÇÃO ATLÂNTICA? − Sua atuação nos espaços estratégicos de interesse nacional no mar
cartas de intenção para encomendas no va- intervenção nos EEIMN. Neste espírito, a
lor de 220 milhões de euros em construção partir do ano 2019, Angola passou a inte-
naval e infraestruturas associadas14. grar o Programa Militar dos EUA (Capsto-
De igual modo, ainda no quadro de ne 20-1), que visa preparar novos oficiais
atuação do GoG, as relações de coope- generais selecionados para futuras missões
ração entre Angola e os Estados Unidos de responsabilidade interinstitucionais,
de América (EUA) nos últimos anos têm intergovernamentais e multinacionais de
assumido um papel mais relevante, con- alto nível. O Programa está igualmente
cretamente no que diz respeito às matérias voltado para as questões ligadas à seguran-
de segurança marítima. A integração de ça marítima e à formação, uma vez que a
Angola nos exercícios militares navais cooperação é feita a nível dos dois Estados
Obangame Express15 (EMNoe), a partir do e entre instituições acadêmicas e militares.
ano de 2014, e nos exercícios combinados Por ocasião da visita de uma delegação de
(Angola-EUA) MED-Flag16, reflete este oficiais superiores do Ministério da Defesa
novo alinhamento geoestratégico entre os dos EUA a Luanda, no quadro do Caps-
dois Estados. Neste particular, em março tone 20-1, em agosto de 2019, o antigo
de 2015, durante a visita do navio militar ministro das Relações Exteriores, Manuel
USNS Spearhead, a embaixadora Helena Domingos Augusto, asseverou que, na
La Lime realçou a importância do reforço qualidade de um dos parceiros estratégicos
da cooperação no domínio da segurança dos EUA na África, Angola “tem adotado
marítima com Angola, defendendo a ne- mecanismos de prevenção e combate ao
cessidade de se aprofundar a cooperação crime transnacional, nomeadamente a
bilateral e internacional em matéria de imigração ilegal, o terrorismo, a pirataria
segurança marítima para o reforço da marítima, o tráfico de seres humanos e o
segurança marítima no GoG17. narcotráfico […] elementos que colocam
Esta ligação aos EUA é de subliminar em risco a soberania nacional em particular
importância para a construção de uma e dos Estados em geral”18.
doutrina naval e o fortalecimento da ca- Na verdade, a preocupação de Angola
pacidade de interoperabilidade para maior com a segurança regional tem sido marca-
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ANGOLA, UMA NAÇÃO ATLÂNTICA? − Sua atuação nos espaços estratégicos de interesse nacional no mar
da sobretudo pela sua atuação no âmbito regionais, sendo que a conferência visou
da região do GoG, na medida em que, com examinar e recomendar linhas de atuação
a parceria do Secretariado Executivo da para desenvolver uma capacidade de
CGoG, realizou a Conferência Internacio- implementação integrada das estratégias
nal sobre a Paz e Segurança na Região do locais no âmbito da segurança marítima.
Golfo da Guiné, de 27 a 29 de novembro A participação de Angola como parte
de 2012, sob a matriz de que sem paz e se- ativa no quadro das principais iniciativas
gurança não há desenvolvimento regional, regionais de cooperação no domínio da
pelo que foi assinada a Declaração de Lu- segurança marítima constitui, por isso,
anda sobre a Paz e Segurança e decidido interesse nacional (REVISTA GOLFO
transformar a região do GoG em Zona de DA GUINÉ, 2015).
Paz e Segurança (CHATHAM HOUSE, Outrossim e no quadro de atuação ex-
2012; CGoG, 2012). Esta noção fortalece terna (out of area), a sub-região da África
a perspectiva defendida por Alfred Mahan, Central surge também como uma região
que, em sua obra The influence of sea po- de vital importância para o país, nomea-
wer upon History − 1660-1783, defendeu damente por ser muito importante para a
a necessidade de um poder naval forte para economia nacional, mais concretamente
o progresso das nações (MAHAN, 1889). para a indústria petrolífera, o que faz com
Mais tarde, entre 7 e 9 de outubro de que Angola continue a ser uma parte
2015, Angola realizou a Conferência ativa na resolução e gestão de conflitos
Internacional sobre Segurança Marítima dos países dessa região. Assim e em linha
e Energética no Golfo da Guiné, na qual com a sua estratégia de atuação, Angola
juntou parceiros públicos e privados dos tem aumentado sua participação militar na
setores marítimos e da energia ao nível região da CEEAC, por meio dos exercícios
global, tendo permitido a partilha de militares da série Kwanza, tendo organi-
informações sobre as boas práticas inter- zado o exercício militar anual no ano de
nacionais no quadro da Agenda Africana 2010 (Kwanza 2010), aquele que foi um
2063, para que os Estados africanos pu- dos principais exercícios militares realiza-
dessem melhorar a coordenação ao nível dos na região, com o país envolvendo um
da segurança regional e reforçassem as número significativo de efetivos e meios
parcerias público-privadas nas matérias militares (BERNARDINO, 2011, p. 113).
dos Assuntos dos Oceanos 19 . Neste No que diz respeito à manutenção
certame foram analisadas as respostas à do seu status quo, ao nível da região da
insegurança marítima, bem como a coope- SADC, Angola tem participado nos exer-
ração internacional entre as organizações cícios militares das séries Dolphin, Blue20
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ANGOLA, UMA NAÇÃO ATLÂNTICA? − Sua atuação nos espaços estratégicos de interesse nacional no mar
21 O exercício é uma Operação de Apoio à Paz conduzida pelos Estados-membros da SADC. Seu propósito
é garantir a prontidão operacional das forças de acordo com o programa das Stand by Forces da União
Africana (UA). É uma demonstração do compromisso dos Estados da SADC com a participação no
treinamento regional de apoio à paz e espera obter melhor cooperação regional no campo das Operações
de Apoio à Paz. Disponível em: https://www.defenceweb.co.za/land/land-land/troops-arriving-for-
-exercise-golfinho/. Acesso em: 13 mar. 2021.
22 Em declarações à Agência Angola Press, o chefe da Direção das Operações do Estado-Maior da Marinha,
Joaquim João Gouveia, sublinhou que as manobras conjuntas de busca e salvamento integrariam meios
como helicópteros da Força Aérea, destacamento de mergulhador da MGA, serviços de emergência médica
dos bombeiros e meios da Capitania do Porto de Luanda. Disponível em: http://m.portalangop.co.ao/
angola/pt_pt/mobile/noticias/politica/2011/1/9/Cidade-acolhe-exercicios-militares-conjuntos-Angola-
-Namibia,902fa2bd-f917-4bb6-8049-6113ecea02da.html?version=mobile. Acesso em: 22 dez. 2020.
23 A União Europeia criou as Rotas Marítimas Críticas (CMR) programadas para enfrentar o desafio da segu-
rança e proteção marítima em diferentes regiões, como o Sudeste Asiático, o Oceano Índico Ocidental e
o GoG. As rotas marítimas críticas são, assim, as rotas consideradas cruciais para o comércio marítimo,
o transporte, a pesca e outras atividades marítimas essenciais. O relevo do CMR é na capacitação, por
meio de prestação de assistência jurídica e formação a nível regional, para o intercâmbio de informação e
experiência, posterior à sua implementação a nível nacional. As intervenções concentram-se em ampliar
o poder das guardas costeiras, reforçando a aplicação da lei marítima nestes espaços. Os Estados são
selecionados considerando o quadro de ameaças recentes e frequentes e a escassez dos recursos. A ação
atual consiste em seis projetos, dois dos quais em duas regiões principais: o Oceano Índico e a África
Ocidental. O propósito dos projetos CMR é formar progressivamente uma ação conjunta global que
contribuirá para criar sinergias entre regiões, e aumentar a segurança marítima. Disponível em: https://
criticalmaritimeroutes.eu. Acesso em: 12 fev. 2021.
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ANGOLA, UMA NAÇÃO ATLÂNTICA? − Sua atuação nos espaços estratégicos de interesse nacional no mar
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ANGOLA, UMA NAÇÃO ATLÂNTICA? − Sua atuação nos espaços estratégicos de interesse nacional no mar
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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(regula o exercício de poderes e define os limites dos espaços marítimos sob soberania e
jurisdição de Angola). Diário da República, I Série n. 131, 2010, 1.396-1.397.
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ECONOMIA AZUL: O Programa Oceanos, Zona Costeira
e Antártica na Política de Governança da Administração
Pública Federal*
SUMÁRIO
Introdução
Pressupostos teóricos
(Re) Pensando o papel da MB na agenda
de Governo
O Programa Oceanos, Zona Costeira e
Antártica no PPA 2020-2023
Considerações finais
* Artigo adaptado de monografia apresentada à Escola de Guerra Naval (EGN) como requisito para a conclusão
do Curso Superior (C-Sup 2019).
** Mestre em Gestão pela Universidade do Minho (Portugal). Subcoordenador Adjunto do Orçamento na
Coordenadoria do Orçamento da Marinha − Secretaria-Geral da Marinha (SGM/COrM) e pesquisador
do Centro de Estudos Estratégicos do Planejamento Espacial Marinho (Cedepem).
*** Doutorando do Programa de Pós-Graduação de Estudos Estratégicos da Defesa e da Segurança da Uni-
versidade Federal Fluminense (PPGest-UFF). Instrutor de Relações Internacionais da EGN. Professor
colaborador de Relações Internacionais da UFF e coordenador executivo do Cedepem.
ECONOMIA AZUL:
O Programa Oceanos, Zona Costeira e Antártica na Política de Governança da Administração Pública Federal
1 Ver Constituição Federal de 1988: art. 84, XXIII, art. 166, §6o e art. 35, §2o, I da ADCT.
2 Entende-se como moderno, equilibrado e balanceado, sendo capaz de cumprir as tarefas básicas da Marinha.
3 Ameaças tradicionais são aquelas oriundas de outros Estados. Novas ameaças são, comumente, pirataria,
terrorismo, roubo armado, tráfico ilegal de drogas, de armas e humano, descaminho, contrabando e
outros ilícitos transnacionais.
4 Ver art. 17 da Lei Complementar no 97, de 1999.
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ECONOMIA AZUL:
O Programa Oceanos, Zona Costeira e Antártica na Política de Governança da Administração Pública Federal
Cardoso Jr. (2014, p.19) defende que na economia global5. Assim, percebe-se
planejamento se trata de “processo tec- um claro aumento do interesse no plane-
nopolítico (contínuo, coletivo e cumula- jamento do uso do mar, com particular
tivo), por meio do qual se dá concretude ênfase no ordenamento do espaço marí-
a projetos oriundos da própria sociedade, timo, assim como no seu enquadramento
canalizados por grupos que disputam, de jurídico e político internacional, o que
forma legítima e democrática, a condução passa pela elaboração de um processo
das ações de governo”. Dessa maneira, que vise à integração de políticas públicas
expectativas de contribuições oriundas ligadas ao mar, que pode ser chamado de
do contemporâneo conceito de Economia Planejamento Espacial Marinho (PEM).
Azul sugerem sua inserção no contexto Assim, o PEM ganha importância ao
da nova agenda de condução dos rumos “criar e estabelecer uma organização
do País, por meio de políticas públicas mais racional do uso do espaço marinho
consoantes à transformação do status quo e as interações entre seus usos, para
dessa atividade em prol da geração de equilibrar demandas de desenvolvimento
renda, emprego e bem-estar social (IPEA, com a necessidade de proteger o meio
2015; MARRONI, 2014; SECCHI, 2017). ambiente e alcançar objetivos sociais e
econômicos de forma aberta e planejada”
Da Economia Azul ao Planejamento (DOUVERE, 2008, p.766).
Espacial Marinho As principais áreas de estudo do PEM
englobam o Transporte Marítimo, as Ener-
A Economia Azul se baseia no uso sus- gias Renováveis, a Conservação/Proteção
tentável dos oceanos e de seus recursos, Marinha, a Mineração, a Pesca, a Aquicultu-
voltado ao crescimento econômico, à se- ra e Exploração de Óleo e Gás, o que aflora
gurança alimentar, à geração de emprego a percepção da necessidade de integração,
e à preservação do meio ambiente marinho em um processo contínuo e cíclico – que é
(PATIL et al. 2016). São “atividades eco- o Planejamento Espacial Marinho.
nômicas que apresentam influência direta Da experiência internacional, Beirão,
do mar, incluindo aquelas que não têm o Marques e Ruschel (2018) destacam o
mar como matéria-prima, mas que são ano de 2007 como o início da Política
realizadas nas suas proximidades” (CAR- Marítima Integrada da União Europeia,
VALHO, 2018, p. 34) e cuja importância a partir do lançamento do “Livro Azul”,
pode ser resumida na constatação de ser que, além de tornar público o reconhe-
“inadequado chamarmos esse planeta cimento dos espaços marítimos e das
de Terra quando claramente é Oceano” costas como essenciais ao bem-estar e
(EHLERS, 2016, p. 203). à prosperidade e fator de integração da
Tem-se a expectativa de crescimento comunidade, alertou quanto ao desafio
do setor para os próximos anos, haja vis- da rápida globalização e das alterações
ta a presença de cerca de três bilhões de climáticas no horizonte, abrangendo
pessoas vivendo em zonas costeiras, além políticas transversais como: crescimen-
das 13 maiores megametrópoles do setor to azul, conhecimento e dados sobre o
pesqueiro gerando US$ 100 bilhões/ano meio marinho, ordenamento do espaço
5 Por exemplo, o Mar da China respondeu por 10% do seu PIB em 2014, segundo projeções da OCDE sobre
mudanças na Economia Azul para 2030 (OCDE apud PATIL et al. 2016, p. 69).
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6 Detalhamento dos Planos Setoriais. Disponível em: https://www.marinha.mil.br/secirm. Acesso em: 5 nov. 2020.
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Figura 4 b – Modelo lógico: Informações finais pactuadas entre os representantes dos órgãos presentes na
Oficina PPA 2020-2023 do Programa Oceanos, Zona Costeira e Antártica
Fonte: Elaboração própria, a partir de BRASIL, 2019c
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O Programa Oceanos, Zona Costeira e Antártica na Política de Governança da Administração Pública Federal
isso não impediu uma análise maior da certezas, atreladas a falhas na capacidade
fase qualitativa do processo de elaboração de análise dos stakeholders (participantes
do PPA 2020-2023, no momento em que da montagem da ferramenta). Daí a im-
foram definidos os atributos da política portância da Secirm na coordenação do
pública constantes da nova agenda go- grupo, nas discussões sobre tais vulnerabi-
vernamental. Portanto, não houve interfe- lidades (alta, média ou baixa), com possí-
rência no objetivo principal de discutir o veis efeitos combinados de probabilidade
protagonismo da MB na cooperação para e impacto, buscando atenuar tais incerte-
o desenvolvimento nacional, emprestan- zas e potencializar seu protagonismo na
do visibilidade e valor público às suas gestão da política pública.
atribuições subsidiárias, visando maior Registra-se, também, que a definição
estabilidade, regularidade e previsibili- de indicadores de desempenho tornou-se
dade de recursos orçamentários perante a peça fundamental dentro da nova meto-
sociedade brasileira. dologia proposta ao PPA 2020-2023, pois
Diferentemente do processo do PPA “se os produtos e resultados não estiverem
2016-2019, em que os empreendimen- bem definidos e se as informações forem
tos foram individualizados pelo valor precárias, de forma que mensurações
de referência8, para o processo do PPA inapropriadas sejam realizadas, o moni-
2020-2023 houve a definição, no âmbito toramento da execução poderá levar a
do Comitê Interministerial de Governança decisões equivocadas” (CASSIOLATO;
(CIG), de critérios de seleção e priori- GUERESI, 2010; FERREIRA; CASSIO-
zação daqueles que comporiam o anexo LATO; GONZALEZ, 2009, p. 25).
específico da Lei do PPA, a princípio Dentro dessa lógica, de modo a miti-
denominado “Anexo de prioridades do gar um recorrente histórico de execução
Governo Federal”. de programas multissetoriais, marcado
Simplificação metodológica, realismo pela duplicidade de esforços e conse-
fiscal, integração entre planejamento e ava- quente perda de efetividade das ações
liação, visão estratégica e foco em resulta- governamentais, tem-se, na capacidade
dos são os pilares que resultaram na decisão de coordenação da MB (conforme relato
de constar do instrumento legal apenas da elaboração do Programa Oceanos,
os empreendimentos compatíveis com a Zona Costeira e Antártica), assentada
agenda proposta pelo Poder Executivo, nos instrumentos de apoio à tomada de
ou seja, aquilo que se julgou prioritário e decisão (alinhamento do Sispem com o
passível de execução ao longo do mandato. SPD), a consistência e a estrutura metodo-
Destaca-se a análise de vulnerabilidade logicamente esperadas pelo governo para
das hipóteses assumidas na estruturação a execução de sua agenda – planejada e
lógica do Programa, que pode ser patroci- orçada a partir do PPA 2020-2023.
nada nos moldes da Oficina Enap. Assim, Portanto, o arranjo institucional da
como na definição de seus atributos, por se política pública do PPA 2020-2023,
tratar de uma aferição qualitativa, tem-se voltada às demandas da Economia Azul,
no grau de subjetividade a geração de in- propõe como objetivo central promover
8 Valor de Referência: parâmetro financeiro utilizado para fins de individualização de empreendimento como
iniciativa de anexo próprio da lei do PPA, estabelecido por Programa Temático e especificado para as
esferas Fiscal e da Seguridade Social e para a esfera de Investimentos das Empresas Estatais (Inc. IV,
art. 6o, Lei no 13.249, de 13 de janeiro de 2016 – Institui o Plano Plurianual para o período 2016-2019).
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O Programa Oceanos, Zona Costeira e Antártica na Política de Governança da Administração Pública Federal
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O Programa Oceanos, Zona Costeira e Antártica na Política de Governança da Administração Pública Federal
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O Programa Oceanos, Zona Costeira e Antártica na Política de Governança da Administração Pública Federal
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO POLICIAMENTO
AQUÁTICO BRASILEIRO − 1808-1945*
SUMÁRIO
Introdução
Policiamento nas Águas Brasileiras no Brasil Império (1808-1889)
Primeira República (1889-1930)
República na Era Vargas (1930-1945)
Análise Qualitativa
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO POLICIAMENTO AQUÁTICO BRASILEIRO − 1808-1945
comercial. O País também possuía uma tado e não oferecíamos uma navegação
navegação de cabotagem e litorânea, des- internacional com grande volume de
de a criação da Companhia de Navegação negócios. Não se tinha a ambição de am-
a Vapor para a Região Norte, em 1836. pliar a Marinha de Guerra para resguardar
Em 1839, a Academia teve sua primei- o comércio de longo curso, deixando-a
ra reforma como fator importante para a nas sombras da Marinha de Comércio; a
análise da conjuntura em que se tentava primeira ficou atrofiada pela limitação de
formar uma educação militar com admis- navegação da segunda, e ambas ficaram
são em caráter mais moderno, retirando-se à mercê da política.
o requisito do título de nobreza. Podemos O governo, sob a liderança do Barão
supor que, a partir daquele ano, brasi- do Rio Branco, por meio de regulamento,
leiros natos começaram a ingressar na em 1873, com o propósito de incentivar
instituição e, então, proteger o País e o a Marinha Mercante, isentou homens
meio aquático. do serviço ativo da Guarda Nacional
A primeira aparição do termo “polícia” (criada em 1824) para que tripulassem
foi no Decreto no 447/1846, com o regu- em serviço ativo, em tempos de paz, nos
lamento de criação das Capitanias dos estabelecimentos nacionais de construção
Portos, que menciona o termo ora como e embarcações civis e coordenava o em-
Polícia Naval do Porto, ora como Polícia barque de guardas-marinha nos vapores
dos Portos. Quatro anos mais tarde, surgiu para aprendizado da arte marinheira. A
o Código Comercial, que aborda, em sua Lei 2.348 daquele ano informava que
Segunda Parte, o comércio marítimo, com os capitães, mestres e pilotos poderiam
ênfase na melhoria econômica da época. ser nacionais ou estrangeiros, contanto
Logo após a Independência, o Brasil que um terço da tripulação, pelo menos,
não fixou seus limites no mar como fron- fosse de brasileiros. Vale lembrar que o
teira. Só o fez em 1850, informando o mercado inglês possuía quase metade da
limite de três milhas marítimas, que era o tonelagem de carga de toda a indústria dos
alcance máximo com que um canhão em transportes marítimos no País.
terra poderia atingir uma nau. A Flotilha do Em 1874 dispúnhamos de uma esqua-
Amazonas foi criada em 1868 para garantir dra composta por cinco navios pequenos
o controle das áreas de fronteiras fluviais mistos, empregados para serviço de
do que hoje conhecemos como Amazônia correios e policiamento da costa para
Ocidental. Esse conflito de interesses ser- coibir o tráfico de escravos. Dois anos
viu de alerta para a fragilidade de controle mais tarde, criou-se a Flotilha do Mato
das nossas fronteiras aquáticas. Grosso, em decorrência da Guerra do
A Companhia Brasileira de Navegação Paraguai, e o País teve como experiência
surgiu em 1872, porém já era permitido os males resultantes de um deficiente
contratar navios nacionais e estrangeiros aparelhamento marítimo.
para navegação de cabotagem. O Bra-
sil, com grandes interesses marítimos, PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
não pôde dispensar a existência de uma
Marinha Mercante com sua bandeira, e, A República foi instituída em 1889 e,
naquela época, a Marinha recomendada com ela, houve uma grande mudança de
só poderia ser a de cabotagem, porque regime governamental, com a disputa de
tínhamos um comércio marítimo limi- novos atores políticos pelo poder e forte
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO POLICIAMENTO AQUÁTICO BRASILEIRO − 1808-1945
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO POLICIAMENTO AQUÁTICO BRASILEIRO − 1808-1945
não sendo possível encontrar reservas lise do drama vivido pelos homens que
de pessoal que poderiam ser cedidas à tinham como tarefa proteger nosso tráfego
Marinha de Guerra sem graves prejuízos marítimo de exportação e importação,
aos serviços intensos e exaustivos que essencial para manter o desenvolvimento
competiam à frota mercante durante o do País, que procurava se industrializar
período de hostilidades. Durante os tem- e se modernizar na cabotagem para o
pos difíceis que enfrentamos, a Marinha abastecimento do Norte e do Nordeste,
norte-americana ficou a cargo de batalhas e, ainda, prover uma Marinha Mercante
em alto-mar, combates mais ostensivos; capaz de se tornar forte e independente.
já o Brasil, sem material bélico de grande O problema da formação de uma reser-
montante, deixava a Marinha brasileira va naval de pessoal para uso da Marinha
mais na defensiva, devido às suas poucas de Guerra, a fim de atender a uma mobi-
embarcações, executando ações subsi- lização militar, irrompeu com a Primeira
diárias, como a proteção dos comboios Guerra Mundial. A administração naval
mercantes, guardando as linhas de comu- percebeu que a falta de homens mercantes
nicação mercantil. para o contínuo tra-
Uma consequência balho embarcado e
da influência dos O problema da formação para servir a ambas
pensamentos ingle- Marinhas era um
ses sobre o Poder de uma reserva naval problema. Precisá-
Naval sul-america- de pessoal para uso da vamos nos adequar à
no foi uma guerra grandeza econômica
regional, de caráter
Marinha de Guerra, a e territorial do País.
defensivo apenas, fim de atender a uma O policiamento era
tornando verdadeiro mobilização militar, feito de duas for-
o pensamento de mas: com oficiais
Lorde Cochrane. irrompeu com a Primeira militares licencia-
Nos anos seguin- Guerra Mundial dos do serviço ativo
tes ao término do em navios mercan-
conflito armado, foi tes para manter a
estabelecido um sistema de defesa do proteção do tráfego marítimo e com
nosso litoral com cinco bases navais e embarcações oficiais da Marinha como
um porto militar e foi criada a Diretoria Polícia Naval.
de Pesca e Saneamento do Litoral, subor- Em 1924, o Decreto no 16.486 regu-
dinada à Inspetoria de Portos e Costas. lamentou a Diretoria de Portos e Costas
A inexistência de um programa per- (DPC) com atribuições de administra-
manente de renovação e ampliação de ção naval, inspeção e superintendência
material flutuante compatível com as dos serviços concernentes ao material
possibilidades econômico-financeiras flutuante não pertencente à Marinha
do País e com uma política marítima de de Guerra, ao pessoal, oficinas navais,
governo difusa tornou-se, muitas vezes, estaleiros, carreiras, pesca, estiva de
nociva aos interesses nacionais. embarcações e praticagem dos portos,
É importante, para entendimento da rios, lagoas e canais, inscritos na reserva
postura naval brasileira no período pós- naval, além do balizamento de portos,
-guerra, que nos detenhamos numa aná- rios, lagoas e canais.
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO POLICIAMENTO AQUÁTICO BRASILEIRO − 1808-1945
No Porto de Santos foi criada a Inspe- São Paulo e Minas Gerais se revezavam
toria de Polícia Marítima para o referido na presidência do País, e trouxe consigo
local, sob ordens da Delegacia de Polícia outro fato que marcou a história da jus-
Marítima, composta por mercantes. No tiça marítima brasileira: o bombardeio
final dos anos 20, foi feita uma organi- do Navio Mercante Baden na Baía de
zação para regulamentar os transportes Guanabara, em 1930.
marítimos e normatizar o conhecimento Se fosse possível, após uma breve
desse transporte de mercadorias. reflexão, tal fato histórico poderia ser
renomeado como “O desrespeito ao
REPÚBLICA NA ERA VARGAS policiamento marítimo brasileiro”, uma
(1930-1945) vez que foi o navio de passageiros Baden
que decidiu prosseguir viagem do Rio de
O governo provisório, constituído por Janeiro para o sul do País sem autorização
homens republicanos com diferentes for- das polícias marítima e naval.
mações e contraditórias interpretações da O caso teve repercussão internacional,
legislação, caracterizou-se por sérios con- por ser um navio estrangeiro. Na inexis-
flitos ao tentar homogeneizar as soluções. tência de uma corte marítima no Brasil,
Com a Constituição de 1891 cancelada foi julgado por um tribunal marítimo
e o Congresso Nacional fechado desde alemão − o país de origem do navio. O
outubro de 1930, o chefe do Governo, veredicto dado pelo Tribunal Marítimo
numa tentativa de alavancar a economia de Hamburgo foi o de que a Fortaleza de
do País, criou a Diretoria da Marinha Santa Cruz não teria obedecido às exigên-
Mercante. A navegação prestava uma cias internacionais.
multiplicidade de serviços públicos e era Era um momento de reformulação po-
submetida à jurisdição de quase todos os lítica e de possibilidade de reestruturação
ministérios, e o governo considerou que dos órgãos e ministérios, facilitada pelos
interferências administrativas seriam pre- fatos recentes da navegação no Brasil,
judiciais aos interesses dessa navegação e incluindo, com destaque, o Caso Baden.
aos próprios interesses da defesa nacional. Como resultado, foi criado o Tribunal
Assim, levou-se em consideração que, por Marítimo (TM), um ato corretivo sobre o
grande parte da natureza dos serviços ter policiamento marítimo nas águas jurisdi-
correlação com a Marinha de Guerra, era cionais brasileiras, assim como a Diretoria
vantajoso, sob o ponto de vista da defesa de Marinha Mercante, em substituição à
nacional, que a repartição ficasse direta- DPC, em 1931, e o Conselho da Marinha
mente ligada ao Ministério da Marinha. Mercante (CMM), informando que a Po-
No meio internacional, na Convenção lícia Naval era competência da Marinha.
de Haia, a delegação brasileira foi favo- Já a Polícia Aduaneira era parte do Mi-
rável a uma expansão do mar territorial nistério da Fazenda, e a Polícia Marítima
de 3 para 6 milhas. No entanto, a Con- ficava sob ordens do Ministério da Justiça.
ferência de Haia de 1930 não conseguiu No inverno seguinte, ocorreu o inci-
obter consenso em torno da largura do dente militar conhecido como Questão
mar territorial. Letícia, entre o Peru e a Colômbia, o qual
O término do governo do Presidente teve como objeto o controle de uma área
Washington Luís pôs fim à chamada Re- do extremo sul do território colombiano
pública Velha, em que as oligarquias de fronteiriço ao Peru e ao Brasil e na qual se
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO POLICIAMENTO AQUÁTICO BRASILEIRO − 1808-1945
localiza a cidade de Letícia. A ocorrência ensino volta a ser na Escola Naval, sendo
de choques armados na proximidade da este outro fator que limitou o crescimen-
fronteira com o Brasil chamou a atenção to do setor e, com isso, da Marinha de
do governo para os riscos à soberania do Guerra (ainda vista exclusivamente como
País, envolvendo as Relações Exteriores, protetora do tráfego marítimo). O gover-
com o policiamento naval nas águas ad- no criou uma “zona de pesca costeira”,
jacentes aos territórios. Ainda em 1932, aprovando o Código de Caça e Pesca, com
a criação do Fundo Naval foi um impulso distância de até 12 milhas, aumentando a
para renovação de material flutuante da jurisdição brasileira para a fiscalização.
Marinha de Guerra, pois havia preocupa- A nova Constituição de 35 reformulou
ção com as situações da época. o Regulamento para as Capitanias dos
Os recursos alocados à Marinha pelo Portos ou, como chamavam, Regulamento
Governo Federal, expressos em percen- do Tráfego Marítimo (RTM). Esse texto
tuais da despesa geral da União, foram já contempla a Polícia Naval, a Polícia
minguando de ano para ano, conforme Marítima e a Alfândega como atores dife-
se reduzia o medo e aumentava-se o pe- rentes e sob diferentes órgãos ministeriais.
ríodo de paz ou entre conflitos. Isso não No relatório de 1935, o ministro volta
obstante o fato de a tratar do assunto
que se mantiveram naval em termos de
numerosos os encar- Quanto menos desenvolvido serviços esparsos
gos atribuídos à Ma-
rinha em setores não
é o país, maior é a utilização pela costa e pelos
rios e que deveriam
vinculados direta- de suas Forças Armadas ser agrupados sob
mente às funções de como instrumento de a autoridade de um
defesa e segurança. pequeno número de
Via de regra, quanto execução de serviços não chefes autônomos,
menos desenvolvido relacionados diretamente à equiparando-se aos
é o país, maior é a países mais adian-
utilização de suas
defesa e à segurança tados. Essa medida,
Forças Armadas imposta também
como instrumento de execução de certos pela expansão e importância internacional
serviços não relacionados diretamente à do nosso litoral e pelos serviços marítimos
defesa e à segurança, situados em áreas de guerra (defesa do litoral brasileiro) e de
geográficas ou em setores de atividades paz (fiscalização), viria ainda descentrali-
não atendidos pelos demais órgãos dos zar o ministro de providências que pertur-
governos regionais e nacional, como o bam a ação administrativa. A Delegacia
policiamento marítimo. Regional de Santos ficou responsável pela
A Constituição de 1934 aparece com Superintendência da Polícia Marítima
uma nova roupagem para o policiamento, Civil, com a reforma do serviço policial.
como a Polícia Marítima e Portuária sob As atividades de exploração de petró-
competência da União, sem prejuízo dos leo começaram. Na Constituição de 1937,
serviços policiais dos Estados. Ela não houve uma nova definição nos conceitos,
menciona mais o termo Polícia Naval; no surgindo mais atores, como a Polícia
mesmo ano, é extinta a Escola de Marinha Marítima, a Polícia Portuária e a Polícia
Mercante do Rio de Janeiro (EMMRJ) e o das Vias Fluviais. Houve, então, uma
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO POLICIAMENTO AQUÁTICO BRASILEIRO − 1808-1945
separação entre a antiga Polícia Marítima são de Marinha Mercante, como órgão
e Portuária e a polícia e a segurança das regulamentador do setor normativo e de
fronteiras, mas não se menciona a Polícia política, autarquia do governo, não rece-
Naval como a do Regulamento das Capi- bendo orientação político-administrativa
tanias dos Portos. de outros ativos.
O Conselho Nacional do Petróleo Com a entrada do Brasil na Segunda
(CNP) foi criado em 1938, com a per- Guerra Mundial, após uma série de navios
furação do primeiro poço de petróleo, mercantes nacionais terem sido alvos de
DNPM-163, no Campo de Lobato, Bahia. ataques do submarino alemão U-507, foi
Com a Segunda Guerra Mundial, em 1o emitido o decreto-lei relativo à reserva
de setembro de 1939, sob sentimento de naval a ser utilizada para a defesa naval
receio com a história mercante brasileira da Nação (tripulações armadas), a bordo
na última situação de crise internacional, de navios militares, suprindo as baixas do
foi recriada a Escola de Marinha Mer- pessoal da ativa. Mas isso somente nos
cante, nas instalações da empresa Lloyd casos de emergência, para não atrapalhar
Brazileiro, numa tentativa de prover o tráfego mercantil.
pessoal suficiente para reserva naval A zona de guerra para o Brasil foi de-
caso o Estado entrasse em guerra, na limitada, com as águas do Atlântico Sul
intenção do controle do tráfego marítimo compreendidas como Faixa de Segurança
e da manutenção da frota mercantil, com estabelecida na Declaração do Panamá,
metas de policiamento na repressão ao aprovada em setembro de 1939, que
contrabando e descaminho durante o pe- instituía uma zona neutra nas Américas e
ríodo hostil. Enquanto isso, a Marinha de propunha medidas para a defesa territorial
Guerra poderia, de fato, deixar as ações do comércio e da navegação. Já no segun-
subsidiárias e combater como as grandes do ano da década de 40, foi decretada a
Marinhas da época. instituição da Polícia Marítima no período
Os crimes percebidos nas águas bra- de guerra, em que lanchas do serviço de
sileiras foram abarcados pelo Código saúde dos portos faziam o policiamento,
Penal de 1940, nos artigos 261 e 334, cabendo ao pessoal de Marinha Mercante
porém não se viam limites territoriais de a vigilância do litoral.
soberania brasileira. Ainda sobre o Estado Na ausência de homens para patrulhar
de Neutralidade perante o conflito interna- nossas águas, fosse em relação à defesa
cional, em 1940 tivemos um novo RTM nacional ou à segurança pública, já que
para as Capitanias dos Portos, atuando estávamos em guerra, em 1944 foi criado
como Polícia Naval e Patrulha Costeira, o Departamento Federal de Segurança
na segurança nacional, ambas atividades Pública – nomeado de Polícia Federal −,
abrangendo todas as águas em que o País órgão responsável pela Polícia Marítima,
exercia algum grau de soberania. Aérea e de Fronteiras.
Ainda sob alarme com a questão fron- Em 1946, foram criados os Centros de
teiriça entre os nossos vizinhos, expressa Instrução de Oficiais da Reserva da Ma-
pela guerra entre Peru e Equador, a qual rinha (Ciorm), embasados na carência de
resultou que o Peru deixasse de fazer fron- oficiais civis brasileiros adestrados e com
teira com o Brasil, foi criado o Comando tempo de mar suficiente para comandar.
Naval do Amazonas, a fim de policiar as Este foi outro aprendizado obtido pelo
águas locais em 1941, além da Comis- governo (o primeiro foi a necessidade
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RMB3oT/2021 167
O FUTURO SUBMARINO NUCLEAR DA
REPÚBLICA DA COREIA
THIAGO NASCIMENTO*
Capitão de Corveta (EN)
SUMÁRIO
Introdução
Força de Submarinos
O Futuro Submarino Nuclear
Conclusão
* Graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Viçosa (UFV/MG). Master of Science-M.Sc
(mestrado) em Nuclear Power Plant Engineering. Kepco International Nuclear Graduate School. Republic
of Korea. Serve atualmente no Centro de Instrução e Adestramento Nuclear de Aramar, em Iperó (SP).
O FUTURO SUBMARINO NUCLEAR DA REPÚBLICA DA COREIA
A classe de submarinos
Jang BoGo (antes chamada
Chang BoGo) foi adquiri-
da como parte da primeira
fase do Programa KSS, que
Figura 1 − Minissubmarino classe Dolgorae contemplava a aquisição de
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O FUTURO SUBMARINO NUCLEAR DA REPÚBLICA DA COREIA
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O FUTURO SUBMARINO NUCLEAR DA REPÚBLICA DA COREIA
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O FUTURO SUBMARINO NUCLEAR DA REPÚBLICA DA COREIA
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O FUTURO SUBMARINO NUCLEAR DA REPÚBLICA DA COREIA
é capaz de operar submerso por até 20 dias 2020, e o SS-086, Lee Dong-nyeong, está
sem necessidade de vir à superfície. [20] atualmente em construção no estaleiro da
O sistema de combate conta com oito Hyundai. O SS-087, Lee Bong-chang, já
tubos de torpedos de 533 mm e seis tubos possui contrato assinado e será fornecido
verticais de lançamento de mísseis VLS pela Daewoo. [21][22]
(Vertical Launch System). O VLS irá aco- Ao final do programa, em 2029, a Co-
modar o míssil de cruzeiro Cheon Ryong, reia do Sul terá 27 submarinos de ataque
que possui alcance de até 1.500 quilôme- convencionais.
tros. O primeiro lote de submarinos utili-
zará o sistema de defesa (ESM) espanhol O FUTURO SUBMARINO
Pegaso. Os sonares de flanco serão forneci- NUCLEAR
dos pela LIG Nex, e o sistema de combate
pela empresa Hanwha. Os submarinos do A Coreia do Sul busca formar uma
segundo lote serão maiores, aproximando Armada de águas azuis com navios de
de 4.000 toneladas, e terão dez VLS, além guerra de alta tecnologia, como destróie-
de baterias de lítio e motor de propulsão res Aegis, porta-aviões leves e subma-
com tecnologia de supercondutor de alta rinos, inclusive com propulsão nuclear.
temperatura (HTS). [21] Este último, aliás, foi uma promessa de
O primeiro contrato foi assinado campanha do atual Presidente coreano,
também com as empresas Daewoo e a Moon Jae-in. [23]
Hyundai Heavy Industries, sendo os dois Ao longo das últimas três décadas, a
primeiros fornecidos pela Daewoo e o Marinha coreana obteve imenso sucesso
terceiro pela Hyundai. Em setembro de não apenas na aquisição de novos sub-
2018, o SS-083, Dosan Ahn Chang-ho, marinos, mas também na independência
foi lançado, se encontrando em testes de na construção. O know-how adquirido
mar no presente momento. O SS-085, permitiu a ampliação da Força de Sub-
Ahn Mu, foi lançado em novembro de marinos e exportação de meios altamente
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O FUTURO SUBMARINO NUCLEAR DA REPÚBLICA DA COREIA
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O FUTURO SUBMARINO NUCLEAR DA REPÚBLICA DA COREIA
O projeto do Submarino
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O FUTURO SUBMARINO NUCLEAR DA REPÚBLICA DA COREIA
semelhante com a Coreia do Sul tornará Planos estratégicos são elaborados para
o submarino nuclear uma realidade em períodos de 30 anos e são cumpridos com
futuro muito breve. [29][30] rigor. Os desafios orçamentários e tecno-
lógicos são enfrentados com praticidade
CONCLUSÃO e, principalmente, agilidade.
Esta agilidade coreana é bem represen-
A Coreia do Sul apresenta um forte tada na popular expressão “bali-bali”, que
modelo de organização e estratégia na significa algo como “rápido-rápido”. A
busca do fortalecimento econômico e mi- pressa coreana é usada como regra na so-
litar. A exemplar dedicação à formação de ciedade para tudo, desde a travessia de uma
qualidade e o consistente investimento em avenida até o reparo de um buraco na rua.
educação – não apenas governamental – Portanto, ao ritmo que se desenvolve
resultam na aplicação de métodos técnicos a Marinha de Guerra da Coreia do Sul,
ancorados nas melhores práticas em todos o lançamento de um submarino com
os ramos de atividade no país. propulsão nuclear não será surpresa. A
A Marinha da República da Coreia capacidade tecnológica e a necessidade de
(ROK Navy) é beneficiada com um fazer frente às ameaças são catalizadores
quadro de pessoal altamente qualificado. para o projeto.
REFERÊNCIAS
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O FUTURO SUBMARINO NUCLEAR DA REPÚBLICA DA COREIA
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[12] The Diplomat. South Korea goes “all-in” on Submarines. Disponível em: https://thediplomat.
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[14] Wikiwand. Type 214 submarine. Disponível em: https://www.wikiwand.com/en/Type_214_
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[15] The Diplomat. South Korea Launches New Stealth Submarine. Disponível em: https://thedi-
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[16] Namu. Hand over from Sohn Won-il Class. Disponível em: https://namu.wiki/w/손원일급%20.
[17] Defense Review Asia. Regional “surge” in Submarines and Technologies. Disponível em:
https://defencereviewasia.com/regional-surge-in-submarines-technologies/.
[18] Naval News. ROK Navy’s 1st 3000 tons KSS-III Submarine Dosan Ahn Chang-ho Passes Max
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-1st-3000-tons-kss-iii-submarine-dosan-ahn-chang-ho-passes-max-depth-test/.
[19] Wikiwand. Dosan Ahn Chang-ho Class Submarine. Disponível em: https://www.wikiwand.
com/en/Dosan_Ahn_Changho-class_submarine.
[20] The Diplomat. South Korea Launches First of Class 3000 ton KSS-III Diesel Electrick Attack
Submarine. Disponível em: https://thediplomat.com/2018/09/south-korea-launches-first-of-
-class-3000-ton-kss-iii-diesel-electric-attack-submarine/.
[21] Naval News. ROK Navy’s 1st 3000 tons KSS-III Submarine Dosan Ahn Chang-ho Started
Sea Trials. Disponível em: https://www.navalnews.com/naval-news/2019/06/rok-navys-
-1st-3000-tons-kss-iii-submarine-dosan-ahn-chang-ho-started-sea-trials/.
[22] Korea Times. South Korea to Launch New 3000 tons Submarine. Disponível em: https://
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[23] Korea Times. Korea Accelerates Submarine Development Project. Disponível em: https://
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[28] Smart Power Co Ltd. Development History. Disponível em: http://smart-nuclear.com/
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[29] The Strategist. The Strange Submarine Saga: Nuclear-Powered Poser. Disponível em: https://
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RMB3oT/2021 177
JET LAG SOCIAL: Conhecendo para prevenir
SUMÁRIO
Introdução
Conceito
Cronotipos
Consequências do Jet Lag Social
Erros e Acidentes
Prevenção
Considerações Finais
* Graduado em Medicina pela Escola Superior de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de Vitória
(Emescam). Curso Básico de Perícia Médica na Aviação Civil – CBPM/Anac (2018). Serve atualmente
no Departamento de Medicina de Aviação da Policlínica Naval de São Pedro da Aldeia (RJ).
** Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Campos (FMC). Curso Especial de Medicina de
Aviação para Oficiais da MB (2016). Preside a Junta Regular de Saúde da Policlínica Naval de São
Pedro da Aldeia, onde serve.
JET LAG SOCIAL: Conhecendo para prevenir
ritmo circadiano biológico (TAVARES, ser compensado nos fins de semana, oca-
2019), tendendo, com isso, a desencadear sionando, com isso, um padrão irregular
uma restrição mais contínua do sono, piora do ciclo sono-vigília (ROENNEBERG
na performance acadêmica (HARASZTI et al., 2012).
et al., 2014), abuso de substâncias e disfun- Para caracterizar o JLS, usa-se a dife-
ções metabólicas (ROENNEBERG et al., rença entre o tempo médio de sono nos
2012; WITTMANN et al., 2006). Soma- dias de semana (trabalho/estudo) e o tem-
-se a isso o fato de estudos populacionais po médio de sono nos finais de semanas
demonstrarem uma alta prevalência de (folga), conforme demonstra a Figura 1.
JLS, variando de 33 a 69 %, dependendo Indivíduos com diferenças absolutas entre
da metodologia e da população avaliada os pontos médios de sono entre os dias de
(RUTTERS et al., 2014; WITTMANN et semana e os dias livres maiores que duas
al., 2006; ROENNEBERG et al., 2012). A horas tendem a apresentar o JLS com
grande diferença entre o JLT e o JLS é que prejuízos laborais (TAVARES, 2019).
o primeiro tende a ser transitório e
preocupa relativamente poucas pes-
soas, enquanto o último é crônico e
diz respeito à maioria da população
de países industrializados (WITT-
MANN et al., 2006).
Portanto, torna-se fundamental
que a Aviação Naval se familiarize
com esse novo conceito, buscando
disseminar o conhecimento nas
mais diferente unidades aéreas
e, com isso, prevenir ocorrências
aeronáuticas.
CONCEITO
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JET LAG SOCIAL: Conhecendo para prevenir
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JET LAG SOCIAL: Conhecendo para prevenir
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JET LAG SOCIAL: Conhecendo para prevenir
ou, caso não seja possível, ativar a fun- Estudos demonstram que o JLS pode de-
ção “luz noturna”, que bloqueia a luz sencadear queda do rendimento profissio-
azul emitida pelo equipamento e gera nal e, consequentemente, contribuir para
um menor prejuízo do ciclo do sono ocorrências aeronáuticas. Difundir seus
(ZERBINI et al., 2018). conceitos básicos, formas de identificação
precoce e meios de prevenção contribuem
CONSIDERAÇÕES FINAIS para que a Aviação Naval busque moder-
nizar os conhecimentos do aspecto médico
O JLS é um conceito relativamente do Fator Humano e, com isso, possa con-
novo na Medicina, ainda pouco difundido tribuir de forma ainda mais efetiva para a
no âmbito operativo da Marinha do Brasil. segurança das operações aéreas.
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JET LAG SOCIAL: Conhecendo para prevenir
RMB3oT/2021 183
BARROSO PEREIRA − Herói mineiro da Marinha do Brasil
SUMÁRIO
Introdução
Origens e Grupo Familiar
A Intendência dos Diamantes
Início da carreira em Portugal
Regresso ao Brasil
Seu último comando
Conclusão
Diamantina
Fonte: Wikipédia
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BARROSO PEREIRA − Herói mineiro da Marinha do Brasil
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BARROSO PEREIRA − Herói mineiro da Marinha do Brasil
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BARROSO PEREIRA − Herói mineiro da Marinha do Brasil
pela cidade de Santarém e seu entorno, obtida nos embates contra a Marinha fran-
próxima de Lisboa. cesa. Participando das ações da Esquadra
Sofrendo vários reveses, as tropas fran- portuguesa nas lutas no sul do país, Barro-
cesas iniciaram sua retirada de Portugal so Pereira destacou-se por sua tenacidade,
a partir de março de 1811. A atuação das perícia e galhardia e por seu fino trato,
canhoneiras nas ações contra os franceses conforme palavras de Rodrigo Lobo. Foi,
foi muito reconhecida pelo Alto Comando então, indicado ao General Lecor para ser
da Marinha de Portugal. seu representante junto aos dirigentes de
Buenos Aires nas negociações para o fim
REGRESSO AO BRASIL do conflito, que foram bastante espinho-
sas. De oficial da Marinha a diplomata!
Solucionado o impasse das lutas contra E dessa missão saiu-se, mais uma vez, de
Napoleão na Península Ibérica, Portugal forma impecável. Permaneceu no Sul do
pôde se dedicar com mais afinco aos pro- Brasil até as vésperas da declaração da
blemas militares nos territórios no Novo Independência, quando, já estando no Rio
Mundo. Em 1816, enviou tropas para o de Janeiro, aderiu na primeira hora à sepa-
Brasil sob o comando do General Carlos ração de Portugal. O imperador D. Pedro
Frederico Lecor, embarcadas na Esqua- I, ciente da necessidade de fortalecer a
dra portuguesa, comandada pelo Chefe Marinha em formação, contratou oficiais,
de Divisão Rodrigo José Ferreira Lobo. na sua maioria ingleses, que comandaram
No País, ocorriam conflitos relacionados seus principais navios e designou oficias
com a Província Cisplatina, que, além de brasileiros natos para os demais cargos
Brasil e Portugal, envolviam a Argentina importantes. Desta forma, Barroso Perei-
e a região do atual Uruguai. ra, com duas experiências de guerras na-
Nosso herói teve, então, a oportunidade vais, foi designado segundo comandante
que tão ansiosamente aguardava: voltar (imediato) da Fragata Nictheroy, sob o
à sua pátria natal para prestar serviços comando de John Taylor, oficial oriundo
ao Brasil. E já com bastante experiência, da Marinha britânica.
Fragata Nictheroy
Fonte: Wikipédia
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BARROSO PEREIRA − Herói mineiro da Marinha do Brasil
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BARROSO PEREIRA − Herói mineiro da Marinha do Brasil
juntamente com a Fragata Nictheroy, que deixando cerca de dez marinheiros que
estaria em “fabrico” (expressão usada estavam sob seu comando e que morreram
por Rio Branco), possivelmente fazendo na indigitada empreitada.
algum reparo ou manutenção. Barroso Pereira, abatido em comba-
Em 24 de abril de 1826, o Almirante te, com a valentia e o desassombro que
Brown, oficial britânico, adentrou ao por- demonstrara em toda a sua vida, tanto na
to, seguido de outros navios da Esquadra Marinha de Portugal quanto na Marinha
argentina, sob seu comando. Como a For- do Brasil, passou para a História como
ça Naval do Brasil estava a uma distância exemplo edificante de dedicação, até o
que não lhe permitia controlar com eficá- sacrifício da sua própria vida.
cia a entrada e a saída do porto e tendo a
ação se desenrolado na madrugada, com CONCLUSÃO
o propósito de despiste e surpresa, foi o
oficial de quarto da Fragata Imperatriz No infeliz episódio da tentativa frus-
quem deu o sinal de “navio à vista”, pelo trada de sequestro da Fragata Imperatriz,
que seus tripulantes foram colocados em perdeu-se também um dos comandantes
“postos de combate”. pioneiros da Marinha do Brasil, no ápice
Próximo à meia-noite, os navios argen- da sua experiência em combates, aos
tinos, liderados pela Corveta Veinte y Cin- 40 anos de idade. O Capitão de Fraga-
co de Mayo, abriram ta Barroso Pereira,
fogo contra a Fraga- que tombou lutan-
ta Imperatriz. A in- Dando exemplo de luta, do por sua pátria,
tenção do Almirante por certo teria um
Brown era abordar a Barroso Pereira ficara de futuro promissor
Fragata Nictheroy. pé, liderando a resistência. na recém-formada
Desejava capturar o Até que, atingido Marinha do Império
navio e incorporá-lo do Brasil, mercê do
à Armada argenti- mortalmente, deu as últimas seu preparo, de sua
na. Mas tudo indica ordens de manter o fogo grande experiência,
que se confundiu de apesar de novo, e de
alvo e, mais ainda, sua bravura.
que não contava com a pronta reação da Junte-se a tudo o que foi dito o fato
Imperatriz e de sua tripulação. Foram marcante de o nosso herói estar entre um pe-
infrutíferas as tentativas de abordagem. queno número de brasileiros natos com que
A resistência da Fragata Imperatriz Armada do Brasil contava naqueles tempos
impediu a sua captura, mas a custo da vida idos, no início da consolidação do Império,
de um marinheiro e do seu comandante. quando boa parte dos oficiais da Marinha
Dando exemplo de luta para todos, Bar- era de origem portuguesa ou inglesa.
roso Pereira ficara de pé, liderando a re- Uma breve síntese da história de
sistência. Até que, atingido mortalmente, Barroso Pereira pode ser apresentada na
deu as últimas ordens de manter o fogo. sequência seguinte:
A Esquadra brasileira, ouvindo os tiros − quando criança, em Minas Gerais,
de canhão, suspendeu. Esta movimentação três anos;
fez com que o Almirante Brown abando- − estudo e preparação para a Marinha,
nasse a luta, fugindo com seus navios, mas no Rio de Janeiro, 12 anos;
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BARROSO PEREIRA − Herói mineiro da Marinha do Brasil
BIBLIOGRAFIA
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CRIPTOGRAFIA MILITAR E OS CODE TALKERS
NAVAJOS
Faça com que seus planos sejam obscuros e impenetráveis como a noite
e quando se mover caia como um relâmpago.
Sun Tzu
SUMÁRIO
Introdução
Criptografia, Códigos e Cifras
A escolha do idioma Navajo
Preparação para o combate
Entrando em ação
Legado
Conclusão
* Mestre e Graduado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Campina Grande (PB). Perito
Criminal da Polícia Civil do Estado de Pernambuco.
CRIPTOGRAFIA MILITAR E OS CODE TALKERS NAVAJOS
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CRIPTOGRAFIA MILITAR E OS CODE TALKERS NAVAJOS
Figura 1 – Máquina de cifragem japonesa Datilógrafo Alfabético ‘97 ou, como foi apelidada pelos norte-
americanos, Púrpura, fechada (à esquerda) e com seu mecanismo interno exposto (à direita). Fonte: [3]
1 Vale destacar que transmitir comunicações sigilosas em inglês estava totalmente fora de cogitação, visto que
esse idioma era amplamente conhecido pelos japoneses, italianos e alemães, que dominavam inclusive
os regionalismos e as gírias, pois muitos dos seus oficiais estudaram em universidades americanas antes
da Segunda Guerra Mundial.
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CRIPTOGRAFIA MILITAR E OS CODE TALKERS NAVAJOS
mensagem tinha que ser datilografada Após levar sua ideia ao Camp Elliott,
na máquina de cifragem, letra por letra. base dos Fuzileiros Navais em San Die-
O texto cifrado, então, era anotado, letra go, Califórnia, Johnston realizou uma
por letra, e transmitido, letra por letra, magnífica demonstração da eficiência do
pelo operador de rádio. Por sua vez, outro método de comunicações que ele sugeria,
operador de rádio recebia a mensagem e foi então aprovado um projeto-piloto
cifrada e a anotava cuidadosamente, letra baseado em sua ideia.
por letra, e a passava para o especialista O primeiro passo do projeto-piloto era
em cifras, que a datilografava na máquina a seleção da tribo indígena nativa ameri-
de cifragem, letra por letra, decifrando-a. cana mais apta para a tarefa. Os requisitos
Esse processo exigia considerável tempo, básicos eram que a tribo pudesse fornecer
além de um espaço mínimo adequado para grande quantidade de homens que fos-
o uso da máquina de cifras, não sendo sem fluentes em seu idioma nativo e em
problema para os centros de comando a inglês (falado e escrito) e que o idioma
bordo de navios ou quartéis, mas sendo da tribo fosse totalmente desconhecido
totalmente inviável para os ambientes por alemães, italianos e japoneses. Em
hostis e dinâmicos das selvas do Pacífico. uma pré-seleção, foram escolhidas qua-
A solução para tro tribos: Navajo,
o problema estava Sioux, Chippewa e
surgindo no início A língua Navajo equivalia Pima-Papago.
de 1942, quando Ao final, a gran-
o engenheiro civil a um código secreto e de escolhida foi a
Philip Johnston co- podia ser utilizada para tribo Navajo, com
meçou a formular sua língua de mes-
um sistema de có-
comunicações militares mo nome. O Navajo
digos baseado na rápidas e seguras era a língua ideal,
língua indígena Na- visto que era muito
vajo. Johnston era complexa, comple-
filho de um missionário e cresceu nas tamente incompreensível para todas as
reservas indígenas Navajo, no estado outras tribos americanas, não tinha raiz,
americano do Arizona, sendo uma das nem similaridade estrutural com línguas
poucas pessoas fora da tribo a dominar europeias ou asiáticas, sendo totalmente
o seu idioma. Johnston imaginou que incompreensível também para esses
um idioma indígena nativo americano povos e não tinha forma escrita2. Outro
seria um sistema de códigos ideal, em ponto importante era de que essa tribo
que cada unidade americana no Pacífico não recebera visitas de estudantes de An-
poderia usar um par de índios para prover tropologia alemães nos últimos 20 anos,
comunicações seguras via rádio. Para se como ocorrera com outras tribos, sendo
ter ideia, uma mensagem de três linhas que sua língua, então, totalmente inacessível
antes levava cerca de 30 minutos para ser às potências do Eixo. De fato, a língua
transmitida de forma criptografada podia Navajo equivalia a um código secreto e
ser repassada em apenas 20 segundos poderia ser utilizada para comunicações
usando os Navajos. militares rápidas e seguras.
2 Atualmente o idioma Navajo possui uma forma escrita difundida e é falado por cerca de 170 mil pessoas.
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CRIPTOGRAFIA MILITAR E OS CODE TALKERS NAVAJOS
Figura 2 – Primeira turma de code talkers Navajos. Na foto há três instrutores não-indígenas. Fonte: [4]
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CRIPTOGRAFIA MILITAR E OS CODE TALKERS NAVAJOS
análise de frequências3 bem feita, seria poderia ser soletrado também como apple
possível, em algum tempo, deduzir todo (maçã) ou axe (machado), ou, em Navajo,
o alfabeto fonético codificado. Assim, os be-la-sana e tse-nihl, respectivamente.
americanos introduziram homófonos para Isso dificultava, ou mesmo inviabilizava,
letras mais comuns; por exemplo, “a” a análise de frequências.
Figura 3 – Página da apostila de treinamento em comunicações militares usada pelos Navajos. Fonte: [5]
3 Análise de frequências é uma técnica utilizada por criptoanalistas que pode ser definida, de forma simplificada,
na correlação dos percentuais de aparições das letras do texto criptografado com os percentuais médios
de aparições das letras em textos de um determinado idioma. Por exemplo, se sabemos (ou supomos)
que o texto criptografado está em inglês e verificamos que o termo “wol-la-chee” consiste em 8% das
aparições em uma mensagem longa ou em um conjunto de mensagens curtas, podemos supor com
razoável certeza que ele se refere à letra “a”, que consiste em 8% das aparições em textos em inglês.
A análise de frequências foi criada no século IX pelo cientista e filósofo árabe Abu Yusef Ya’qub ibn
Is-haq as-Sabbah ibn omran ibn Ismail al-Kindi.
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CRIPTOGRAFIA MILITAR E OS CODE TALKERS NAVAJOS
Os Navajos fizeram
seu batismo de fogo jun-
to à Primeira Divisão
de Fuzileiros, em 7 de
dezembro de 1942, na
invasão americana de
Guadalcanal, uma das
Ilhas Salomão, na época
colônia britânica (Figura
4). Rapidamente, cam-
panha após campanha,
os Navajos mostravam
eficiência no desem-
penho de suas funções Figura 5 – Militares Navajos operando rádio na Ilha de Bougainville, hoje
território de Papua-Nova Guiné. Fonte: [4]
(Figura 5). Mensagens
eram transmitidas com velocidade e clare- conhecidos por serem extremamente
za, além de serem consideradas imunes a calmos, mesmo sobre condições críticas,
falsificações. Os japoneses não conseguiam como em um ataque inimigo4, errando
sequer transcrever os sons produzidos pouquíssimo em suas transmissões. Além
pelos Navajos, quanto mais reproduzi-los. disso, em prol do cumprimento do dever
Toda a comunicação que circulava em como militares, os índios passavam por
Navajo era entendida automaticamente cima de suas próprias crenças. Os Navajos
pelos americanos como autêntica. acreditavam que os espíritos dos mortos
Há que se destacar a postura dos mi- habitavam o local de sua morte até que
litares Navajos diante da batalha. Eram uma cerimônia fosse realizada no corpo.
4 Vale ressaltar que operadores de rádio, como os code talkers Navajos, oficiais e socorristas eram alvos prefe-
renciais nos ataques japoneses. Esses militares corriam um risco de morte maior que o restante da tropa.
198 RMB3oT/2021
CRIPTOGRAFIA MILITAR E OS CODE TALKERS NAVAJOS
Enquanto isso não acontecia, o local onde cifrar alguns códigos usados pelos america-
esse corpo se encontrava era tido como nos, mas não avançaram nada na quebra do
impuro. Obviamente, as condições de código Navajo. Sem dúvida, podemos dizer
combate nas selvas das ilhas do Pacífico que a cultura, sob a forma de sua língua,
não permitiam enterros de imediato, e daquelas tribos isoladas nos rincões dos
muitas vezes os índios tinham que passar Estados Unidos, muitas vezes marginaliza-
longos períodos ao lado de cadáveres, das e inferiorizadas, foi fundamental para
executando suas funções, mesmo diante a vitória em muitas batalhas no Pacífico.
do desrespeito a uma tradição tribal. Os O povo americano tem uma dívida eterna
Navajos colocaram seu dever para com a com o povo Navajo (Figura 6).
pátria acima de suas tradições seculares.
CONCLUSÃO
LEGADO
Conforme exposto, o uso do idioma
Ao final da Segunda Guerra Mundial, Navajo para codificação de mensagens
foram empregados 420 code talkers Na- militares na Segunda Guerra Mundial
vajos. Seu emprego como codificadores foi fundamental para a vitória americana
militares foi definido como informação no Pacífico, impondo aos japoneses a
classificada pelo Alto-Comando ameri- surpresa.
cano. O público só foi ter conhecimento De fato, uma guerra se torna drama-
sobre sua contribuição para a vitória na ticamente mais fácil de ser vencida se
guerra em 1968 quando o código Navajo você tem pleno acesso às comunicações
foi desclassificado. Em 1982, o governo do seu adversário, conhecendo seus
americano batizou o dia 14 de agosto como planos e acompanhando em tempo real
o Dia Nacional dos Codificadores Navajos. sua situação, enquanto mantém as suas
Anos depois de findada a guerra, os próprias comunicações blindadas contra
japoneses admitiram que conseguiram de- os ouvidos do seu inimigo.
RMB3oT/2021 199
CRIPTOGRAFIA MILITAR E OS CODE TALKERS NAVAJOS
REFERÊNCIAS
[1] SINGH, S. O Livro dos Códigos. 12a edição. Rio de Janeiro: Editora Record, 2020.
[2] Navajo Code. Disponível em: https://navajocodetalkers.org. Acesso em: 9 de fev. 2021.
[3] Cipher Machines. Disponível em: https://ciphermachines.com/purple. Acesso em: 18 de fev.
2021.
[4] AZ Central. Disponível em: https://www.azcentral.com/story/news/local/arizona/2018/07/11/
navajo-code-talker-facts-unbreakable-code/460262002/. Acesso em: 8 de fev. 2021.
[5] Northern Arizona University Digital Library. Disponível em: http://archive.library.nau.edu/
digital/collection/cpa/id/44806. Acesso em: 22 de fev. 2021.
[6] Guadalcanal Campaign. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Guadalcanal_campaign.
Acesso em: 18 de fev. 2021.
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A COMUNICAÇÃO SOCIAL NA VERSÃO DAS
OPERAÇÕES PSICOLÓGICAS
SUMÁRIO
Introdução
Operações de Informação versus Operações Psicológicas
Comunicação Social versus Operações Psicológicas
Considerações Finais
1 Aptidões requeridas para afetar a capacidade de oponentes ou potenciais adversários de orientar, obter,
produzir e difundir informações, em qualquer uma das três perspectivas da dimensão informacional
(física, cognitiva ou lógica).
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A COMUNICAÇÃO SOCIAL NA VERSÃO DAS OPERAÇÕES PSICOLÓGICAS
2 Field Manual 3-53, Military Information Support Operations (Washington, DC: U.S. Government Publishing
Office [GPO], 2013).
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A COMUNICAÇÃO SOCIAL NA VERSÃO DAS OPERAÇÕES PSICOLÓGICAS
cia do alvo, com o propósito de mudar Uma das formas clássicas de expressão
comportamento e impor metas que não de OpPsc é a propaganda, a qual encon-
estão entre os interesses do objeto, bem tramos largamente mencionada durante a
como a proteção contra tais influências Segunda Guerra Mundial. Assim sendo,
(KIKHTAN V. V.; KACHMAZOVA exemplificaremos, por meio de alguns
Z.N., p. 231), a tendência natural, em ocorridos no mundo, o poder destruidor
última análise, é perceber as OpPsc como que as OpPsc possuem.
viés principal da Guerra da Informação.
Desta forma, no que se refere à Guer- Suicídio da Alemanha Nazista
ra da Informação, cabe acrescentar que
esta é associada ao uso extensivo de Como era de se esperar, o povo
tecnologias da informação para alcançar alemão também sofreu com as agruras
sua efetividade e eficiência, de modo a das OpPsc, as quais não eram voltadas
impactar todas as dimensões do ambiente somente para os inimigos. Na pequena
operacional3. Assim, como se pode obser- cidade alemã de Demmin, a nordeste
var, o entendimento sobre OpPsc é muito da Alemanha, houve uma consequência
próximo à definição de OpInfo postulado notória desse tipo de operação.
pelo EMA-335. Entretanto, o conceito Em Demmin, entre 30 de abril e 2 de
de OpPsc guarda uma certa amplitude maio de 1945, ocorreu o maior suicídio
por incluir ações políticas, diplomáticas, coletivo da história da Alemanha devido
econômicas e militares. ao início da chegada do Exército Ver-
Figura 1 – Russos descobrindo alguns habitantes locais que cometeram suicídio em Demmin
Fonte: Internet4
3 BRASIL, 2018a.
4 Disponível em: http://elcadenazo.com/index.php/mayor-suicidio-masivo-la-historia-europea/. Acesso em:
10 set. 2020.
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A COMUNICAÇÃO SOCIAL NA VERSÃO DAS OPERAÇÕES PSICOLÓGICAS
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A COMUNICAÇÃO SOCIAL NA VERSÃO DAS OPERAÇÕES PSICOLÓGICAS
Figura 2 – Soldado vietcongue suspeito carregando um rifle de fabricação russa, aguardando interrogatório
Fonte: Internet6
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A COMUNICAÇÃO SOCIAL NA VERSÃO DAS OPERAÇÕES PSICOLÓGICAS
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A COMUNICAÇÃO SOCIAL NA VERSÃO DAS OPERAÇÕES PSICOLÓGICAS
COMUNICAÇÃO
SOCIAL VERSUS
OPERAÇÕES
PSICOLÓGICAS
Geralmente, a Com-
Soc é de particular in-
teresse para o pesquisa-
dor de OpPsc. De fato,
qualquer campanha no
campo da ComSoc pode
ser considerada como
uma miniguerra de infor-
mações e até confundida
com OpPsc, pois contém,
Figura 5 – A realidade pode ser distorcida pelo interesse
guardadas as devidas Fonte: Internet10
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A COMUNICAÇÃO SOCIAL NA VERSÃO DAS OPERAÇÕES PSICOLÓGICAS
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A COMUNICAÇÃO SOCIAL NA VERSÃO DAS OPERAÇÕES PSICOLÓGICAS
Do lado prático, a análise mostra que alguns dos fatores decisivos para a vitória
a ComSoc, de modo aprimorado, poderia são o estado/humor psicológico e o moral
perfeitamente se concentrar na contrapro- do alvo, e obviamente esses indicadores
paganda, protegendo a instituição ou inte- podem ser facilmente influenciados por
resses dela contra influências inescrupulo- atividades sutilmente planejadas, parti-
sas internas ou externas, considerando que cularmente nos dias atuais.
REFERÊNCIAS
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UM BREVE ENSAIO SOBRE O TRIBUNAL MARÍTIMO
SUMÁRIO
Introdução
Breve apresentação histórica e da estrutura administrativa do
Tribunal Marítimo brasileiro
Competência do Tribunal Marítimo para o julgamento dos
acidentes e fatos de navegação
Funções Cartorárias do Tribunal Marítimo
Conclusão
* Hidrógrafo graduado em Ciências Navais pela Escola Naval. Pós-graduado em Direito Militar pela Universi-
dade Estácio de Sá e em Direito Público pela Faculdade Legale. Graduando em Direito pela Universidade
Federal Fluminense (UFF).
1 Paquete era a denominação dada aos antigos navios de luxo de grande velocidade, geralmente movidos a vapor.
UM BREVE ENSAIO SOBRE O TRIBUNAL MARÍTIMO
Enquanto na Alemanha o caso foi jul- geral, a competência do órgão para julga-
gado pelo Tribunal Marítimo do país, no mento dos acidentes e fatos de navegação,
Brasil foi instaurado um inquérito admi- e, por fim, suas funções cartorárias. Ao
nistrativo. Na solução, o tribunal alemão final, será feita uma breve conclusão,
constatou que os erros foram mútuos, com exposição do juízo de valor do autor
tanto por parte do comandante do paquete acerca do tema.
quanto das fortalezas envolvidas no caso.
O desenrolar dessa história provocou BREVE APRESENTAÇÃO
grande comoção nacional e internacional HISTÓRICA E DA ESTRUTURA
para com o tema, fazendo com que as au- ADMINISTRATIVA DO
toridades brasileiras voltassem seus olhos TRIBUNAL MARÍTIMO
para a importância da existência de um BRASILEIRO
órgão nacional especializado, de forma a
não ficar o Brasil à mercê das decisões de Em 21 de dezembro de 1931, por meio
órgãos estrangeiros. do Decreto no 20.829, foram criados a
Este artigo visa analisar, de maneira Diretoria de Marinha Mercante, substi-
breve, as atribuições do Tribunal Maríti- tuindo a Diretoria de Portos e Costas, e,
mo, tribunal administrativo responsável no seu artigo 5o, os Tribunais Marítimos
pelos julgamentos dos acidentes e fatos Administrativos. Porém estes últimos,
de navegação, manutenção dos registros embora previstos na legislação, não foram
gerais de propriedade e hipoteca navais efetivados, permanecendo apenas o Tribu-
e armadores de navios brasileiros e a nal Marítimo do então Distrito Federal2.
atividade cartorária, com os propósitos Hoje, a atual legislação3 prevê apenas
de disseminar e incentivar os estudos um TM, com jurisdição em todo o territó-
ligados ao Direito Marítimo, pouco rio nacional. Como consta no próprio sítio
abordado, de maneira geral, na forma- eletrônico do órgão4, é uma instituição
ção jurídica pátria. O desenvolvimento autônoma, vinculada ao Comando da
desta pesquisa contribuirá para análise Marinha, que auxilia o Poder Judiciário,
e estudo de um tema de forte impacto tendo competência para julgar os aci-
administrativo e econômico no cenário dentes e fatos da navegação marítima,
nacional e internacional. fluvial e lacustre e manter o Registro da
A metodologia utilizada foi a pesquisa Propriedade Marítima, de armadores de
bibliográfica, enriquecida com algumas navios nacionais, do Registro Especial
fontes eletrônicas, como sites, em que Brasileiro (REB) e do ônus que incidem
dados foram analisados quantitativa e sobre as embarcações brasileiras. O TM
qualitativamente, a fim de aprofundar o tem, em sua composição, sete juízes5,
conhecimento acerca dos fatos que influen- conforme explicitado a seguir:
ciam diretamente o objeto investigado.
O artigo está organizado de forma a a) Um Presidente, Oficial-General
realizar uma introdução histórica e legal do Corpo da Armada da ativa ou na
do TM, abordando em seguida, de forma inatividade;
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UM BREVE ENSAIO SOBRE O TRIBUNAL MARÍTIMO
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UM BREVE ENSAIO SOBRE O TRIBUNAL MARÍTIMO
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UM BREVE ENSAIO SOBRE O TRIBUNAL MARÍTIMO
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UM BREVE ENSAIO SOBRE O TRIBUNAL MARÍTIMO
bruta inferior a 20 toneladas e as des- por sua própria natureza, transita pelo
tinadas à navegação fluvial e lacustre, mundo” (GRECCO, 2015)13. Essa resolu-
construídas no País e com arqueação ção garante o reconhecimento e a execução
bruta inferior a 50 toneladas, sendo, de hipotecas, penhores e gravames reais,
entretanto, exigida sua inscrição na passíveis de inscrição, constituídos sobre
Capitania dos Portos competente. as embarcações de navegação marítima,
nos Estados partes, porém, segundo
Dessa feita, é função do órgão central Grecco, isso só pode ser feito mediante
deste artigo a realização e manutenção dos inscrição desses institutos em um registro
seguintes tipos de registro12: que obedeça à legislação do Estado em que
a) Registro da Propriedade Marítima, esteja registrado o navio.
explicado acima como registro em que se Em notícia publicada no jornal digi-
define a nacionalidade da embarcação, que tal Petróleo Hoje14, a partir da qual são
possui o efeito da publicidade, ou seja, que baseados os próximos parágrafos, foi
garante à embarcação a validade contra analisado o acórdão do Resp 1.705.222/
terceiros; SP (2017/0065899-5)15, em que a Quarta
b) Registro de Hipoteca Naval e demais Turma do Supremo Tribunal de Justiça
ônus sobre embarcações brasileiras; (STJ) reconheceu, por unanimidade, a va-
c) Registro de Armadores; e lidade de uma hipoteca naval constituída
d) Registro Especial Brasileiro (REB). de acordo com as leis da Libéria sobre a
No que tange aos três últimos tipos de embarcação OSX-3. Essa foi a primeira
registro, vale dedicar uma parte para cada oportunidade em que o STJ enfrentou
um, em exclusividade. o tema da validade de hipotecas navais
estrangeiras no Brasil com profundidade.
Registro de Hipoteca Naval e demais Segundo os advogados Marcelo Frazão,
ônus sobre embarcações brasileiras Patrícia Winter e Daniel Becker, redato-
res da nota, entre os argumentos trazidos
Segundo a Resolução 46/213 da Orga- pelo Banco BTG, que iniciou a disputa,
nização Marítima Internacional (IMO), estava o de que não haveria no Brasil
órgão das Nações Unidas, a hipoteca naval previsão legal para reconhecer os efeitos
é uma forma de garantia de pagamento extraterritoriais de hipoteca marítima
de dívidas relacionadas ao navio ou a sua constituída no estrangeiro, exceto para
carga, principalmente, pela certeza da aquelas constituídas em países signatários
execução das medidas que asseguram essa da Convenção de Direito Internacional
quitação. Isso ocorre mesmo que o bem Privado de Havana de 1928 (Código de
dado não esteja em seu país de origem, Bustamante) e da Convenção de Bruxe-
de forma que a proteção dos direitos de las de 1926, e, ainda assim, neste rol de
crédito ganha “proporção internacional países signatários, não estaria incluída a
típica de um bem dado em garantia que, República da Libéria.
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UM BREVE ENSAIO SOBRE O TRIBUNAL MARÍTIMO
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UM BREVE ENSAIO SOBRE O TRIBUNAL MARÍTIMO
população, mostra sua importância e seu maior ênfase nas instituições de ensino
sucesso inegável como relevante tribunal civis e militares ligadas ao tema, o que
administrativo nacional. ensejaria ricos debates interdisciplinares,
Em virtude da imprescindibilidade do de forma que, por meio da produção
mar para nosso País, as disciplinas ligadas científica, impactariam nos processos le-
ao Direito Marítimo poderiam possuir gislativos quanto ao mar e à sua utilização.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANJOS, Haroldo dos; GOMES, Carlos Rubens Caminha Gomes. Curso de Direito Marítimo,
FGV, Direito Rio, 1992.
BIOLCHINI, Monique Calmon de A. “A nacionalidade no registro da Propriedade Marítima
no Brasil”. Revista de Ciência Política. Rio de Janeiro, 32(1/2): 64-100. 1o/2o trim. 1989.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Brasília: Senado Federal, 1988.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 23a edição, São Paulo: Atlas, 2010.
MARTINS, Eliane Maria Octaviano. Curso de Direito Marítimo, volume I, 2008.
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OS NAVIOS DE ASSISTÊNCIA HOSPITALAR DA
MB E A EFETIVIDADE NO ATENDIMENTO ÀS
COMUNIDADES RIBEIRINHAS DO PANTANAL
E DA AMAZÔNIA*
SUMÁRIO
Introdução
Do Direito Universal à Saúde e ao Bem-Estar Social
A Marinha brasileira e suas atribuições subsidiárias
O ribeirinho, cidadão de direitos, humanidades
Navegação solidária: do Pantanal à Região Amazônica,
uma nobre missão
O Colosso Amazônico e os Navios da Esperança
Considerações Finais
* Publicado originalmente na Revista GeoPantanal, v. 15, n. 29, 2020. Editora UFMS. Disponível em: https://
periodicos.ufms.br/index.php/revgeo/issue/view/606.
** Supervisor da Divisão de Finanças do Centro de Intendência da Marinha em Ladário (CeIMLa), historiador,
bacharel em Direito e especialista em Direito Militar.
*** Mestre em Estudos Fronteiriços, perita da Coordenadoria-Geral de Perícias da Secretaria de Justiça e
Segurança Pública do Mato Grosso do Sul.
OS NAVIOS DE ASSISTÊNCIA HOSPITALAR DA MB E A EFETIVIDADE NO ATENDIMENTO ÀS
COMUNIDADES RIBEIRINHAS DO PANTANAL E DA AMAZÔNIA
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OS NAVIOS DE ASSISTÊNCIA HOSPITALAR DA MB E A EFETIVIDADE NO ATENDIMENTO ÀS
COMUNIDADES RIBEIRINHAS DO PANTANAL E DA AMAZÔNIA
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1 Desencostar do cais onde esteve atracado é “desatracar”; e largar a boia onde esteve é “desamarrar ou largar”.
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2009 a
603 22.734 11.737 23.574 41.826 1.110.571 1.218
2020
2 Os dados e as informações a respeito dos convênios e os dados de atendimento podem ser requeridos por
meio do que preconiza a Lei 12.527, Lei de Acesso à Informação.
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Codrasa, Volta do Mirim, Ilha Santana, Volta do Formigueiro, Volta Barros, Ilha
Miguel Henrique, Carandazal, Ilha Tira Catinga, Ilha Piraputanga, Saladeiro
Otila, Porto Manga, Estirão Cambará Ferrado, Ilha Caraguatá, Albuquerque,
Ilha Caraguatá, Porto Morrinho, Ponte Rodoviária, Porto Esperança, Volta
Acurizal, Ilha Nabileque, Passo Gaivota, Ilha Ferradura, Porto Passagem dos
Bugres, Fazenda Sapucaia, Ilha Piuval, Forte Coimbra, Fazenda Primavera,
TRAMO Estirão da Baía Verde, Passo Rebojo Grande, Ilha Santa Fé, Fazenda Bela
SUL Vista e Estância, Fazenda São Tomé, Fazenda Jassanã, Porto Vitória, Porto
Carem, Porto Clevelândia, Porto Kalipá, Fazenda Sombrerão, Fazenda Volta
Rápida, Fazenda Nu Guazu, Prox. Ilha Algodão, Hotel Americano, Hotel
Sonho de Nabileque, Barranco Branco, Volta do Genipapo, Estância Santa
Ana, Porto São Francisco, Tereré, Fazenda Chuvisquinho, Porto Conceição,
Ilha Florinda, Fazenda Tarumã, Fazenda Ilha Maria, Retiro Paraguaio, Porto
Murtinho, Fazenda Três Garras, Fazenda Flores e Ilha Santa Maria
Fazenda Boa Esperança, Porto Benica (Porto Dona Bélica), Porto Santa
Marta, Mangueiral, Fazenda 7 de Setembro, Sítio 13 de Junho, Porto Bananal,
Porto Horizonte, Porto Zé Viana, Ilha do Alegre, Porto Santo Amaro, Porto
da Fazenda São Jorge, Porto da Fazenda Recreio, casa localizada em frente
à Ilha, próximo ao Porto Jofre, Porto Jofre, Fazenda São Bento Rio Bananal,
Fazenda Camargo Carreia, Vila São João, Porto da Fazenda Exu, Porto da
Fazenda São Miguel, Pindorama ou Porto Santa Maria, Porto Santa Luzia,
Barranco Azul, Volta M. de Paula, Fazenda Natureza, Rancho Pouso do
TRAMO Mutum, Porto da Fazenda Borba, Porto São Gonçalo, próximo ao Porto São
NORTE Gonçalo, Porto Novo Paraíso, Riacho Porto Fede, Porto Cassange, Porto
CUIABÁ do Plácido, Porto São Luís, antes do Braço do Morto, depois do Braço do
Morto, Porto Biguaçal, Porto Santo, Porto Santo, Fazenda Jatobá, Fazenda
Bocaiuva, Porto ABC, Porto Jatobá, Pesqueiro Jacaré, Porto São Benedito,
Sapé Pantanal Lodge, Pesqueiro Santa Rose, Rancho Tucum, Porto das
Conchas, Porto Emiliano, Cuiabá Mirim, Porto Cuiabá Mirim, Porto da
Fazenda Flecha, Boca do Manoel Isaac, Porto Brandão ou Porto Cardal,
Estirão Comprido, Rio Piraim, Barão de Melgaço, Piúva, Croará, Fazenda
Santa Maria, Fazenda Tamandaré, Fazenda Itaici, Fazenda Itaicizinho,
Barra do Aricá, Porto Acaia, Fazenda Santa Luzia, Cooperativa Pequenos
Agricultores e Santo Antônio de Leverger
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3 Os dados e as informações a respeito dos convênios e dos dados de atendimento podem ser requeridos por
meio do que preconiza a Lei 12.527, Lei de Acesso à Informação.
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REFERÊNCIAS
AMAZÔNIA. Estudo aponta que ecossistemas de água doce da Amazônia são vulneráveis à
degradação ambiental. Disponível em: http://amazonia.org.br/2013/02/estudo-aponta-que-
-ecossistemas-de-%c3%a1gua-doce-da-amaz%c3%b4nia-s%c3%a3o-vulner%c3%a1veis-
-%c3%a0-degrada%c3%a7%c3%a3o-ambiental/. Acesso em: 23 set. 2020.
ASSEMBLEIA-GERAL DA ONU (1948). Declaração Universal dos Direitos Humanos (217
A). Paris. Disponível em: http://www.un.org/en/universal-declaration-human-rights/.
Acesso em: 1o set. 2020.
BLOG DA FLORESTA. Ribeirinhos. Disponível em: https://blogdafloresta.com.br/tags/ribeiri-
nhos. Acesso em: 23 set. 2020.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência
da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
Constituiçao.htm. Acesso em: 28 ago. 2020.
BRASIL. Estratégia Nacional de Defesa, Decreto no 6.703, de 18 de dezembro de 2008, Bra-
sília: Casa Civil, 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2008/Decreto/D6703. htm. Acesso em: 1o set. 2020.
BRASIL. Lei no 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a informações previsto no
inciso XXXIII do art. 5o, no inciso II do § 3o do art. 37 e no § 2o do art. 216 da Constituição
Federal; altera a Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei no 11.111, de 5 de
maio de 2005, e dispositivos da Lei no 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras provi-
dências. 2011. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/
lei/l12527.htm. Acesso em: 5 set. 2020.
BRASIL. Marinha do Brasil. Estado-Maior da Armada. EMA-322. O posicionamento da Marinha
do Brasil nos principais assuntos de interesse naval. 2a.Rev., Brasília: EMA, 2017.
BRASIL. Marinha. Disponível em: https://www.marinha.mil.br/comflotam/node/8. Acesso em:
23 out. 2020.
CASTRO, Celso. Textos Básicos de Sociologia, de Karl Marx a Zygmunt Bauman. Rio de Janeiro:
Zahar, 2016.
CHAVES, Maria R.; BARROSO, Silvana C.; LIRA, Talita M. “Populações tradicionais: manejo
dos recursos naturais na Amazônia”. Revista Praia Vermelha, Rio de Janeiro, v. 19, n. 2,
p. 111-122, jul./dez. 2009.
COM6oDN. Disponível em: https://www.marinha.mil.br/com6dn/. Acesso em: 2 fev. 2021.
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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
LONA E AREIA*
Era uma faina divertida, e penso que Da noite para o dia seguinte, o barro
não mais existe, pois não há mais navios absorvia a mancha, e o convés, depois de
com convés coberto de tábuas. esfregado, ficava perfeitamente limpo.
Que eu me lembre, os últimos foram os Neste dia, não havia a rotineira parada
cruzadores Tamandaré e Barroso, o Salda- quando o imediato dá as ordens do dia
nha e o Guanabara e, depois de um grande para os encarregados de divisão. Não
hiato, o Navio-Veleiro Cisne Branco. Mas, havia tempo a perder!
no meu tempo de Barroso, era rotina. O pessoal envolvido diretamente na
A faina animava a guarnição; todos, de faina não usava sapatos nem botinas. Os
uma maneira ou de outra, participavam dela. pés descalços entravam por um pedaço de
Os preparativos começavam na quinta- mangueira velha, rasgado apropriadamen-
-feira, véspera da faina propriamente dita. te para casar com o dedão do pé. O novo
Havia uma mistura densa de água e “chinelo” não saía do pé. O marinheiro
barro jogada sobre as manchas de óleo ou sabia como segurá-lo.
graxa deixadas, durante a semana, caídas, O raspar do convés de madeira era pre-
por acaso, sobre o convés. cedido de um marinheiro que jogava areia
*Texto integrante do livro Minhas Travessuras (Editora Luz, 2021), de autoria de Luiz Edmundo
Brígido Bittencourt.
O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
grossa pelo convés. O atrito conseguia Depois, vinha o pessoal do rodo que
verdadeiros milagres: um convés branco deixava o convés praticamente seco.
e reluzente! Mas não poderia haver “regime de
Mas é neste raspar do convés com areia sexta-feira” sem outra faina de longa
que residia o encanto da faina! tradição e ainda atual: a limpeza dos ama-
Os marinheiros, em grupos de seis ou relos. Um ou dois marinheiros tomavam
oito, entrelaçavam seus braços por cima conta da faina, e tome Kaol, que deixava
do pescoço formando um bloco único. os metais como se fossem ouro!
Arrastavam o pé direito e batiam com Dizem as más línguas que um amarelo
o esquerdo, entoando cantigas antigas, reluzente ofusca qualquer sujeira num raio
talvez com origem no tempo dos navios de três metros!
a vela. Era divertido. Num momento se- Depois da faina, vinha o prêmio: licen-
guinte, outros marinheiros, empunhando ciamento geral às 13 horas e um bom fim
mangueiras velhas do controle de avarias, de semana, como bem o mereciam.
escoavam a areia que levava a sujeira para
o mar, saindo pelos embornais; pequenas Luiz Edmundo Brígido Bittencourt
cachoeiras caíam ao mar. Vice-Almirante (Refo)
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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
eu, naquele momento incorporando a ati- estávamos nos aproximando da famosa Isla
vidade profissional de um “nauta alado” La Tortuga. Agucei meu principal equi-
em direção ao Mar do Caribe, famosa área pamento de busca, a visão. Busquei uma
de operação da “pirataria internacional”. posição favorável, evitando o reflexo dos
Atracamos em La Guaira, porto prin- raios solares na água do mar. Rodeamos
cipal da Venezuela, sede da Marinha toda a ilha e grande decepção: não havia
venezuelana, onde encontramos os navios nenhum navio de guerra escondido em
daquela Armada que formariam os GT suas margens, apenas um pequeno veleiro
que participariam da Operação Venbras. atracado num barranco. Frustrado, resolvi
Fomos ao briefing da missão e soubemos não perder a oportunidade de sobrevoar
que seria um exercício simples, que visava a famosa e desértica ilha. Qual não foi a
apenas à cooperação entre nossas Forças, nossa surpresa, minha e do copila Wilson
buscando estreitar laços de amizade e co- Rocha, quando vimos um pequeno mono-
operação mútua. Nosso Lynx a bordo da motor pousado numa área plana perto do
Constituição faria voos de esclarecimento veleiro atracado. Constatamos que havia
em busca de uma fragata venezuelana, uma movimentação de caixas transporta-
acompanhado pelo nosso Marcílio Dias, das nos ombros por alguns homens entre
e, caso a identificassem, transmitiríamos a o veleiro e o pequeno avião. Percebemos
posição para um engajamento tipicamente que, ao ouvirem o barulho do helicóptero,
naval entre os navios envolvidos. houve uma desordenada correria dos ho-
Fiquei emocionado quando recebi a mens largando as caixas. “Bode Wilson”
informação de que a área onde o exercício e eu nos entreolhamos, e comentei pela
se desenvolveria incluía a Isla La Tortuga, fonia interna: “Acho que achamos alguma
famoso porto de reunião de piratas cari- coisa irregular na ‘Ilha dos Piratas’ e não
benhos. Eu estaria voando em busca de podemos fazer nada. Somos militares es-
um inimigo fictício (pirata ou não) para trangeiros em terra estrangeira”.
mostrar a superioridade da Marinha de Bode Wilson, como mais antigo e
Cochrane, séculos depois. chefe do DAE, decidiu: “Fragata Cons-
Os navios envolvidos se fizeram ao mar tituição, Falcão 22. Movimento suspeito
na área determinada para cada GT, cerca entre veleiro e avião de pequeno porte na
de 100 milhas náuticas a nordeste de La costa leste da Isla La Tortuga. Solicito
Guaira, na região da Bacia La Cochila. informar Marinha venezuelana. Aguar-
Depois de alguns exercícios de passagem damos instruções”.
de carga leve, o freeplay começou. Decolei “Falcão 22. Constituição. Mantenha
para um plano de esclarecimento durante observação e aguarde instruções”, foi a
o dia, em condições totalmente visuais. resposta.
Sem encontrar sinais dos navios inimigos, A correria em terra era grande. Nos
resolvi tentar a sorte nas proximidades de afastamos um pouco, procurando sair do
uma ilha que despontava no horizonte. Os alcance de armas leves, que pareciam
navios poderiam estar utilizando a ilha estar sendo buscadas pelos envolvidos em
para, com a proximidade, camuflar nosso terra. Depois de alguns minutos, ouvimos
radar de busca. Em 1984, nossos SAH 11 no rádio: “Falcão 22. Fragata Constitui-
não tinham o modernismo tecnológico ção. Helicóptero H1H venezuelano se
dos atuais Wildcats de hoje. Constatei aproximando da posição. Exercício encer-
pela carta náutica (não havia GPS) que rado. Regressar ao navio-mãe”.
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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
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DOAÇÕES À DPHDM
JUNHO A AGOSTO DE 2021
DOADORES
ALEMANHA
Naval Forces, v. 40, n. 3; n. 4; n. 5; n. 6, 2019
Naval Forces, v. 41, n. 1; n. 5, 2020
Tecnologia Militar, v. 42, n. 1; n. 2; n. 3, 2020
CHILE
Revista de Marina, n. 974, Jan/Fev; n. 975, Mar/Abr; n. 976, Mai/Jun; n. 977, Jul/Ago;
n. 978, Set/Out, 2020
ESPANHA
Revista General de Marina, n. 277, Dez, 2019
Revista General de Marina, n. 278, Jan/Fev; n. 278, Abr; n. 278, Jun; n. 279, Ago/Set;
n. 279, Nov, 2020
Cuadernos de Pensamiento Naval, n. 28, 1o Semestre; n. 29, 2o Semestre, 2020
Guerra e Pace Nel Pensiero Contemporaneo, Mar, 2020
Il Sistema di Comando delle Forze Armate, Out, 2020
Revista de Historia Naval, v. 38, n. 148; n. 149; n. 150, 2020
Revista de Historia Naval, Suplemento, v. 37, n.150, 2020
Revista de Historia Naval, v. 39, n. 151, 2021
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS
EUA
Naval War College Review, v. 73, n. 01, Winter; n. 4, Autumn, 2020
Proceedings, v. 145, n. 1392, Fev; n. 1393, Mar; n. 1394, Abr; n. 1395, Mai; n. 1396,
Jun; n. 1397, Jul; n. 1398, Ago; n. 1399, Set; n. 1400, Out; n. 1401, Nov; n. 1402, Dez, 2019
ITÁLIA
Rivista Marittima, v. 153, n. 11, Dez, 2019
Rivista Marittima, v. 153, n. 2, Fev; n. 3, Mar; n. 4, Abr; n. 5, Mai; n. 7, Jul/Ago; n. 9,
Out, 2020
Glossario di Diritto del Mare, Nov, 2020
Rivista Marittima, Suplemento Especial, Mar; Suplemento Especial, Abr; Suplemento
Especial, Out, 2020
PORTUGAL
Revista da Armada, v. 48, n. 533, Set/Out; n. 534, Nov; n. 535, Dez, 2018
Revista da Armada, v. 48, n. 536, Jan; n. 537, Fev; n. 538, Mar; n. 539, Abr; n. 540, Mai;
n. 541, Jun; n. 542, Jul; n. 543, Ago; n. 544, Set/Out, 2019
Revista da Armada, v. 49, n. 547, Jan; n. 548, Fev, 2020
Revista da Armada, v. 50, n. 554, Ago, 2020
Revista da Armada, v. 50, n. 562, Mai, 2021
Anais do Clube Militar Naval, Jul /Dez, 2019
Revista de Marinha, v. 83, n.1014, Mar/Abr, 2020
BRASIL
10 bilhões, 2013
18 princípios de uma vida espiritual, 2013
Art Nouveau em Belém, 2019
Arroz de palma, 2017
Azulejaria em Belém do Pará: Inventário – Arquitetura civil e religiosa – século XVII
ao XX, 2016
Bracolper Naval– 40 anos, 2014
Cadernos da Salvaguarda de Bens Registrados, n.1, 2020
Capitania Fluvial do Rio Paraná – 80 anos, 2021
Cerâmicas arqueológicas da Amazônia: rumo a nova síntese, 2016
Como o segredo mudou minha vida, 2016
O combate dos chefes, 2015
Contos do dia a dia, 2013
Da cartografia do poder aos itinerários do saber, 2014
A descoberta da criança: pedagogia científica, 2017
Diálogos com Reggio Emilia: escutar, investigar e aprender, 2017
Diversidade linguística indígena: estratégias de preservação, salvaguarda e fortaleci-
mento, 2020
Dois irmãos, uma guerra, 2014
As espiãs do dia D, 2015
O evangelho segundo o espiritismo, 2018
Fool me once, 2016
Gestão do Patrimônio Mundial Cultural, 2016
240 RMB3oT/2021
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS
Insurgente, 2013
Intervenções em Bens Culturais Móveis e Integrados à Arquitetura, 2019
A invenção da Superquadra, 2020
Jesus no lar, 2017
O lado obscuro da Primeira Guerra Mundial: as frentes sangrentas de combate russas, 2021
A magia, 2014
Manual de uso e aplicação do emblema do Patrimônio Cultural Brasileiro, 2017
Maritime Studies Visions and Perspectives, 2021
Matrizes do Samba no Rio de Janeiro, 2014
Os miseráveis, 2016
Mobilidade e Acessibilidade Urbana em Centros Históricos, 2014
O morro dos ventos uivantes, 2016
Mudar: caminhos para a transformação verdadeira, 2014
Pântano de sangue, 2014
Paraty e Ilha Grande: Cultura e Biodiversidade na lista do Patrimônio Mundial Misto, 2019
Paulo e Estevão, 2017
Meu pequeno evangelho, 2014
Poluição das águas, 2013
Propósito: a coragem de ser quem somos, 2016
Preservação do Patrimônio Edificado, 2016
Quinhentos anos de História do Brasil – Tomo I/II, 2020
Qual a medida do seu amor?, 2013
Se eu ficar, 2014
O segredo, 2015
Serviços de referência e informação em bibliotecas universitárias da América Latina:
análise de seus websites, 2020
Sítio Arqueológico Cais do Valongo – Rio de Janeiro, 2017
The girl on the train, 2015
O valor do mar: uma visão integrada dos recursos do oceano do Brasil, 2020
Viagens de um marujo, 2017
A vingança veste Prada, 2013
Anais do Clube Militar Naval, 2o Semestre, Jul/Dez, 2020
Âncoras e Fuzis, v. 21, n. 51, 2020
Boletim do Clube Naval, Jun/Jul/Ago, 2021
Brasil Nuclear, v. 26, n. 50, Out, 2019
Centro de Decisão de Alcance Global em Contexto Marítimo, n. 49, Jul/Set, 2018
O conhecimento científico do oceano. Instituto Hidrográfico, conhecer o mar para que
todos o possam usar, n. 57, Jul/Set, 2020
Integrando a Amazônia, n. 60, 2021
LAQFA: Laboratório Químico-Farmacêutico da Aeronáutica, n. 61, 2021
Legado Caderno de Leitura – Alerj, v. 1, n. 2, Mai, 2021
Liga da Defesa Nacional/RJ, v. 1, n. 1, Out/Dez, 2019
O mar em perspectiva, n. 50, Out/Dez, 2018
Marinha em Revista, v. 10, n. 14, Set, 2020
Metodologia dos Estudos Marítimos, n. 54, Out/Dez, 2019
Navigator, v. 17, n. 33, Jun, 2021
Nomar, v. 56, n. 944, Mar/Abr; n. 945, Mai/Jun, 2021
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DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS
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A MARINHA DE OUTRORA
Corveta Jaceguai
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A MARINHA DE OUTRORA
A primeira passagem pelo Equador será afundado, gerando, até o seu fim,
nos ficou gravada no coração. Netuno ensinamentos à Marinha.
embalou o batismo de sal, e os ventos O costado da ex-Jaceguai já tem se-
quentes nos trouxeram bons presságios de tores pintados de vermelho e de amarelo,
sucesso em nossas missões no mar. Havia sobre o cinza que sempre ostentou, e ela
o sentimento de que a Jaceguai chegava será rebocada até o horizonte, onde o mar
para continuar a vigilância pela paz, que encontra o céu...
para nós se vestia de branco e azul, as Imagino como será a emoção de seu
cores de nossos uniformes. afundamento.
Nessa viagem, sucederam-se inúmeras Netuno virá à superfície e comandará:
operações e a Jaceguai foi sempre a pri- “Em continência, um!”.
meira a dar o alarme e a combater ataques As águas do mar entrarão nas entranhas
aéreos e de submarinos, expressando a da nossa Jaceguai (ex-V 31), e o ar será
vocação oceânica da MB. expulso como o ruído de um apito, um
Não éramos gigantes, mas era como suspiro que será homenageado pelo apito
nós, todos os 134 tripulantes, nos sentíamos dos demais navios na área de sua despe-
no mar. Sucederam-se muitas e intensas dida, em profundo respeito.
emoções e experiências vividas, ricas em A Jaceguai iniciará a sua derradeira
relacionamentos e em ensinamentos. viagem...findando 28 anos de excepcio-
E como tudo tem seu fim, chegou o nal carreira.
dia da baixa da V-31 do serviço ativo da Seu Comandante Afonso Barbosa a
Marinha, com a assinatura de seu termo aguardará e lhe dirá: “Corveta Jaceguai,
de desarmamento, em 16 de outubro sua alma não é pequena!”.
de 2019. Netuno: “Em continência, dois!”
Dois anos se passaram, e agora a
Jaceguai servirá de alvo na Missilex/ José Alberto Cunha Couto
Torpedex, operação em que nosso navio Capitão de Mar e Guerra (Refo)
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NECROLÓGIO
A RMB expressa o pesar às famílias pelo falecimento dos seguintes colaboradores e assinantes:
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
Cada homem á bordo tem seo posto de nado; pode ter sido apenas uma simples
combate, os próprios taifeiros dão a sua interrupção na batalha; só a “retirada”
ajuda na passagem das munições; á parte indica o fim; o “rancho” segue de perto.
alguns raros marinheiros expostos em virtu- Os canhões são peados, as munições re-
de de suas funcções todo mundo está por trás enviadas para os paióes e estes fechados
de uma couraça ou abaixo da fluctuação. á chave. Alguns homens são dispensados,
(…) a machina recebe ordem para velocida-
(...) Um outro accidente que é neccessa- de de navegação, alguns foguistas são
rio não deixar passar em silencio é aquelle mandados repousar e o serviço de alguns
que os marinheiros chamam "tomar uma carvoeiros supprimido.
ducha que não custa caro", accidente (...)
que se reproduz frequentemente quando Finalmente sobrevem o completo esgo-
um obus de grosso calibre, atirado com tamento physico e moral, não se tem senão
o máximo alcance, cahe no mar proximo um único desejo “comer-beber-dormir” e
do navio e levanta uma espessa columna um único pensamento: “Emfim a guerra
de agua, algumas vezes de 60 a 80 metros está terminada”.
de altura. Nas Falklands foi-se frequente- (...)
mente molhado; os homens da direcção Aquelles a quem o serviço forçara a
do tiro empoleirados nos cestos de gavea, ficar de quarto no convés ou nas machinas
no alto das tripedes de nossos cruzadores tinham o maior trabalho do mundo para
de batalha, se queixavam de não terem conservarem-se de olhos abertos.
podido se utilisar convenientemente de O periodo de surmenage passado, a
seos instrumentos em consequencia dos tensão cahe e é preciso mesmo fazer um
numerosos borrifos que elles recebiam. grande esforço para não se deixar ir e
Pode-se facilmente conceber que estado mesmo para não morrer de fome.
de esgotamento segue uma acção desta sor- Honra áquelles que não arriaram e
te: no momento a maioria dos homens não continuaram seo serviço dominando a
se apercebe disso e não sente esta depressão fadiga; elles tambem anceavam pelo mo-
senão depois do combate. Na marinha cada mento bemdito em que seo navio ancoras-
official, cada homem tem sua parte de res- se em um porto interdito aos submarinos
ponsabilidade e muitas vezes está em suas pelas redes; em que as guarnições das
mãos a existencia de seos camaradas; pode peças não fossem obrigadas a ficar em pé
ter que executar uma manobra das mais em seo posto, ou em que os fogos fossem
importantes, tal como o fechamento de uma afinal apagados.
porta estanque, a extincção de um incendio Desde que o serviço de carvoar termi-
produzido por um projectil ou qualquer nou concedeo-se ás equipagens um longo
outra operação desse genero.(…) periodo de descanso durante o qual pude-
(...) ram dormir e recobrar as horas perdidas
O toque de “Cessar fogo” não signifi- e “a paz”, a “paz integral” reinou á bordo
ca necessariamente que tudo está termi- durante algum tempo.
248 RMB3oT/2021
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
REVISTA DE REVISTAS
(RMB, julho/1921, pp. 235-237)
RMB3oT/2021 249
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
Julgamos, pois, que, ao par de maior do-se-lhes a respectiva area, seja dotando-a
desenvolvimento da artilharia anti-aerea de conveniente couraçamento ou, melhor,
dos navios, se deve ter na melhor conta a adoptando-se simultaneamente estas duas
protecção horizontal d’estes, seja diminuin- providencias, em justas proporções.
Aos alumnos da Escola Naval de Guerra por outra” – é o princípio geral da Tacti-
ca, ao qual se subordina toda a concepção
Uma nação no concerto de seus inte- da arte de combater, dando o maior ex-
resses com outra age por “convenção” poente ao vocabulo “Força”, que domina
ou “accôrdo”, por “arbitragem” ou pela toda a philosophia da Guerra, pois que é
“força”, isto é pela − guerra. a razão, o fim e o sucesso.
O emprego da força obedece a um – O Almirante francez Duquesne já sen-
objectivo político. tia que nenhum meio de preencher a sua
O preparo para a guerra se consegue missão era mais certo que o de destruir
pelos meios logísticos. a força naval inimiga (…)
O conduzir os elementos combatentes Tourville, o segundo afamado almi-
ao theatro de operaçõe nos é dado pela rante, que no dizer dos seus biographos
– Strategia. teve a fortuna de reunir a maior somma
Quando e onde deve ser empenhado o de qualidades, desde o 6o sentido ma-
combate,− a ella o devemos. ritimo – o golpe de vista, até o sangue
frio, o julgamento, a intuição das de-
COMO? cisões a tomar, o sentimento profundo
É do dominio da Tactica. das opportunidades sem fallar da sua
_____ coragem natural, queria a destruição
O engajamento entre duas forças ad- da força do inimigo e dizia que, desde
versas é o leitmotiv da Tactica. que duas forças se achassem em pre-
Toda a preparação scientifica, poli- sença, o combate não podia ser evitado.
tica, organica, logistica, strategica das (…)
forças navaes (particularisando) tem Segundo Mahan: A concentração re-
aquelle escopo supremo. sume em si todos os factores, o completo
_____ alphabeto da efficiencia militar. O seu
“Ser forte”− para poder combater; objectivo é ser superior ao inimigo no
“Ser superior ao inimigo”− para ponto decisivo, qualquer que seja a força
reduzi-lo á impotencia: são principios relativa das duas partes sobre o todo.
a que a Strategia empresta todo o seu (...)
engenho. Esse governo tactico de uma força
“Operar com forças superiores um naval se dará quando ella obedece a uma
esforço combinado sobre o inimigo n’um só cabeça, achando-se á ella entregue o
ponto decisivo, de modo a aniquilar parte desenvolvimento da acção.
ou todo, sem que aquella seja auxiliada Isso quer dizer centralisação.
250 RMB3oT/2021
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
A força naval deve ser tida como um 8o – No caso de falta de ordens cada
instrumento perfeito, manejado por mão navio tomar a parte que lhe deve caber
de mestre. na acção;
Para tal é mister procurar-se a maxima 9o – O inimigo ser perseguido e an-
utilisação das armas, afim de ser obtido o niquilado.
maximo rendimento tactico. Esses principios ahi estabelecidos são
(…) a summula dos applicados e estabelecidos
Na celebre batalha de Trafalgar (21 pelo Grande Almirante Inglez, os quaes
outubro 1805) que serve de marco á nova nas suas linhas gerais consistem:
era da Historia Naval, de accôrdo com a) Objectivo principal – destruição
o plano e com a exposição de Nelson, completa da esquadra inimiga. A destrui-
seu lugar-tenente Collingwood conduzio ção parcial é insufficiente.
a sua divisão para as proximidades da b) Factor-tempo – cinco minutos de
retaguarda inimiga formada em linha tempo determinam a differença entre a
desigual de marcação para evitar a for- victoria e a derrota (phrase de Nelson).
matura em T e atacou com todo o vigor os c) Concentração – a das forças con-
11 navios da retaguarda alliada. tra as fracções inimigas em tempo. É
O que mais notabilisa Trafalgar é o fundamental.
facto de ser a acção de grandes frotas em- d) Acção cerrada e decisiva – quanto
penhadas, na qual foi fielmente executado menos manobra, melhor. Os navios se
o plano delineado antes. devem proteger mutuamente apertando
(...) o inimigo.
Do “Memorandum” de Nelson foram e) Signaes – são de inutilidade uma vez
extrahidos os seguintes pontos, que ser- começada a acção.
vem de principios tacticos e maximas de f) Acção do Commandante em Chefe
combate naval: – Attrahir o inimigo para o combate nos
1o – Impossibilidade de trazer uma termos mais favoraveis; inicial-o segundo
frota de 40 navios em acção decisiva em os planos por elle dados os quaes devem
simples linha; ser simples.
2o – A ordem de navegação é a ordem g) Papel dos Commandantes em sub-
de batalha; -ordens – o desfecho da acção naval
3o – Dividir a frota de 40 navios em 3 di- depende da autonomia destes.
visões, duas de 16 e uma de 8 navios rapidos; h) Ordem de batalha – deve ser a de
4o – Concentrar o ataque em uma parte navegação.
da força do inimigo; i) Factor moral – é de grande im-
5o – Effectuar um ataque coordenado portância, quer o obtido pelo desen-
simultaneo por divisões; volvimento das qualidades moraes dos
6o – Visar de preferencia o navio ini- chefes, quer pela observação das do
migo de pavilhão; inimigo.
7o – Terem iniciativa os commandantes j) Alguma cousa deve ser entregue á
de divisão; Sorte.
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REVISTA DE REVISTAS
SUMÁRIO
(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)
ADMINISTRAÇÃO
COMEMORAÇÃO
A Hidrografia na Marinha nos últimos dois séculos (253)
ARTES MILITARES
ESTRATÉGIA NAVAL
Vai à guerra com a China? Ignore Corbett. Tire a poeira de Mahan! (253)
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
ENERGIA ALTERNATIVA
DTOceanplus (255)
FORÇAS ARMADAS
MOBILIZAÇÃO
Suponha que estamos em guerra e a Marinha Mercante não veio (255)
INFORMAÇÃO
SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO
Um dissuasor com credibilidade contra ataques cibernéticos chineses (257)
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
OTAN
A defesa como motor da integração europeia (258)
PROBLEMA DE FRONTEIRA
Tráfico no Mediterrâneo Ocidental: situação, evolução e implicações para
a Marinha (259)
REVISTA DE REVISTAS
Para marcar as comemorações dos seus que as Missões, inclusive porque a Missão
60 anos, o Instituto Hidrográfico (IH) apre- tinha um navio especializado para a faina
senta, neste artigo, um resumo da história de construção da carta náutica”. E comen-
da Hidrografia em Portugal. O texto infor- ta a expansão do trabalho das Missões e
ma que a gênese da instituição remonta Brigadas para as colônias, quando, “curio-
aos tempos dos descobrimentos e da ex- samente, estas ficam não mais sob a pasta
pansão marítima e que sua organização à da Marinha, mas passam para o Ministério
época ainda não era bem clara − o Serviço das Colônias/Ultramar”.
Hidrográfico se resumia em depósitos de A síntese chega a 1960, quando foi
instrumentos e documentos náuticos, aí criado o Instituto Hidrográfico, com o
inclusas as cartas náuticas e os roteiros. propósito principal de garantir a unidade
Com o passar do tempo, surgiu a de orientação, de terminologia e de mé-
necessidade de formalização dos conhe- todos, centralizando os serviços nacionais
cimentos de construção de cartas náuticas, de hidrografia, oceanografia e de nave-
em especial devido ao desenvolvimento gação. Acrescenta, ainda, que, apesar de
da Geodésia, decorrendo, então, no apa- haver, durante algum período, lideranças
recimento do Corpo de Engenheiros Hi- distintas, o produto cartográfico e o conhe-
drógrafos e, na organização da Marinha, cimento da coluna d’água acompanharam
da Seção Hidrográfica, em 1849. as evoluções tecnológicas do mundo. E
O resumo histórico nos fala das Missões conclui: “O IH de hoje, inspirado por uma
e Brigadas Hidrográficas: “Suas divisões herança histórica monumental deixada por
eram muito mais uma questão de dimensão todos os que nos antecederam, continua a
dos meios e de pessoal do que de diferença ser uma organização ambiciosa e de refe-
no trabalho a ser realizado. As Brigadas rência internacional não só na hidrografia,
eram organizações de trabalho menores mas nas ciências do mar em geral”.
Inúmeras são as referências que in- tudo comparativo entre Corbett e Mahan,
dicam um futuro engajamento entre os discutindo as formas como o poder naval
Estados Unidos da América (EUA) e a americano deve se preparar para este
China. Suarez faz, em seu artigo, um es- enlace. Em sua introdução, explana: “O
* Do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA. Graduado em História. Atualmente, cursa Aviação Naval.
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REVISTA DE REVISTAS
254 RMB3oT/2021
REVISTA DE REVISTAS
DTOceanplus
Francisco Correa da Fonseca*
(Revista de Marinha, Portugal, jul/ago 2020, pp. 72-73)
RMB3oT/2021 255
REVISTA DE REVISTAS
1 N.R.: Jones Act – Lei de 1917 que proíbe embarcações estrangeiras de transportarem combustíveis entre
portos norte-americanos.
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REVISTA DE REVISTAS
* Analista naval. É autor de mais de 30 livros, incluindo The Fifty-Year War: Conflict and Strategy in the
Cold War.
** Disponível em: https://www.usni.org/magazines/proceedings/2021/june.
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REVISTA DE REVISTAS
258 RMB3oT/2021
REVISTA DE REVISTAS
RMB3oT/2021 259
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
SUMÁRIO
(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)
ADMINISTRAÇÃO
ATIVAÇÃO
Ativação do Grupo de Embarcações de Operações Ribeirinhas do Norte (264)
Mostra de Ativação do Grupo de Embarcações de Operações Ribeirinhas do
Amazonas (265)
BAIXA DE SERVIÇO
Mostra de Desarmamento da Fragata Greenhalgh (266)
Mostra de Desarmamento do Navio-Varredor Albardão (267)
COMEMORAÇÃO
70o Aniversário do Colégio Naval (268)
POSSE
Assunção de cargos por Almirantes (270)
MB assume comando da Combined Task Force 151 (270)
PRÊMIO
BHMN recebe prêmios Qualidade Águia Americana e Quality Awards 2021 (271)
NPaOc Araguari é condecorado com diploma (271)
Vencedor do Concurso de Arquitetura para o Museu Marítimo é anunciado (272)
PROGRAMA ANTÁRTICO BRASILEIRO
DHN participa de Conferência da Comissão Hidrográfica para a Antártica (273)
PROGRAMA NAVAL
Emgepron inaugura Escritório Técnico em Itajaí (274)
RECEBIMENTO
Marinha recebe aeronave UH-15 Super Cougar (274)
TRANSFERÊNCIA
Comando da Força de Submarinos é transferido para o Complexo Naval de
Itaguaí (275)
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
APOIO
MANUTENÇÃO
Aeronave AF-1B volta a operar em homenagem ao CC Igor (278)
ÁREAS
ÁRTICO
Cirm cria o Grupo Técnico Ártico (278)
CABO VERDE
Missão Naval em Cabo Verde recebe visita da ministra da Defesa Nacional (279)
PARAGUAI
MB participa de evento sobre Rota Bioceânica Brasil-Chile (280)
ARTES MILITARES
JOGO DE GUERRA
EGN participa do 47o Interamerican War Game (280)
ATIVIDADES MARINHEIRAS
SALVAMENTO
Marinha resgata tripulante de navio mercante (281)
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
ENERGIA ALTERNATIVA
Secirm assina Acordo de Cooperação com Cepel (282)
NAVEGAÇÃO
Sinergia entre ICT gera avanços em Sistemas de Informação para Navegação (282)
OCEANOGRAFIA
CHM lança boia ondógrafo do Projeto Remo Observacional (283)
Radar Oceanográfico HF Codar é inaugurado na Ilha do Cabo Frio (284)
CONGRESSOS
CONFERÊNCIA
Brasil participa de eventos da Unesco (285)
Fuzileiros Navais apresentam suas capacidades ao UNPCRS (286)
Marinha representa o Brasil em Conferência Internacional de Desminagem
Humanitária (286)
REUNIÃO
1oBtlOpRib promove 1o Workshop de Cinotecnia Militar (287)
Camas realiza 1a Reunião Operativa de Monitoramento Marítimo (288)
DHN participa da IRCC (288)
Marinha participa da reunião do GTI do Setor Cibernético (289)
MB promove Sessão Ordinária da ComTecPolÓleo com comunidade científica (290)
SEMINÁRIO
1o Webinar Economia de Defesa no Brasil (291)
SIMPÓSIO
Simpósio Marinha do Brasil: o mar e a sociedade (292)
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
EDUCAÇÃO
ESCOLA DE GUERRA NAVAL
Integrante da EGN é convidado para lecionar no King's College London (293)
ESPORTE
CDM participa da Reunião da Alta Direção do Desporto Militar (293)
ComFFE divulga programas do Ministério da Defesa (294)
CTecCFN reinicia as atividades presenciais do Profesp (295)
Resultado Esportivo – Mundial de Canoagem Eletrônica (296)
VIAGEM DE ADESTRAMENTO
Ciaga realiza Mercantex 2021 (296)
FORÇAS ARMADAS
ADESTRAMENTO
Meios da Esquadra realizam tiro real contra alvo de superfície (297)
EXERCÍCIO
Batalhão de Combate Aéreo realiza Exercício de Fogo de Artilharia Antiaérea (298)
Brasil, Peru e Colômbia realizam exercícios táticos nos rios Solimões e Marañon (298)
Comando da Flotilha de Mato Grosso realiza AdeFase e Exercício de Tiro 2021 (299)
EsqdHS-1 lança míssil contra ex-Corveta Jaceguai (299)
MODERNIZAÇÃO
Marinha recebe a quarta aeronave modernizada MK-21B (300)
MEIO AMBIENTE
OCEANO
Marinha celebra Dia Mundial dos Oceanos (300)
POLUIÇÃO DO MAR
Plano Decorrente de Combate ao Lixo no Mar (301)
PODER MARÍTIMO
APRESAMENTO
Delegacia Fluvial de Uruguaiana apreende soja no Rio Uruguai (302)
MB e PF interceptam veleiro com haxixe (302)
ORLA MARÍTIMA
CFAOC apoia a primeira Feira Flutuante do Brasil (303)
PATRULHA NAVAL
NPaFLu Rondônia apreende mineral raro em Patrulha Naval (303)
POLÍCIA NAVAL
Agência Fluvial de Itacoatiara apreende empurrador sem documentação (304)
PORTOS E COSTAS
CPAOR acompanha teste de transbordo de granéis com guindaste flutuante
no Pará (305)
Formalização da parceria para o Corredor Centro-Norte (305)
Terminal de Contêineres de Rio Grande registra sua maior operação de transbordo
(306)
262 RMB3oT/2021
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
SEGURANÇA DA NAVEGAÇÃO
CFT e EsqsHU-91 atuam em acidente ambiental no Amazonas (306)
Inaugurada nova estação DGNSS no Farol da Ilha Rasa (307)
SEGURANÇA NO MAR
Cismar realizará Estágio Básico de Segurança Marítima a Distância (308)
PSICOSSOCIAL
AJUDA HUMANITÁRIA
CPAOR recebe doação de coberturas de eixos (308)
ASSISTÊNCIA
Marinha presta apoio logístico ao Exército (309)
ASSISTÊNCIA SOCIAL
MB promove Aciso em Barcarena (309)
NAsH Oswaldo Cruz realiza sonho infantil (310)
CINEMA
Lançamento da série documental Luzes da Amazônia Azul (311)
SAÚDE
ASSISTÊNCIA MÉDICA
NAsH Carlos Chagas atende ribeirinhos e indígenas no Rio Javari (311)
NAsH Doutor Montenegro encerra 21a Operação Acre (312)
EVACUAÇÃO
8o DN coordena Evam de tripulante de navio maltês (313)
Comando do 6o DN realiza resgate no Pantanal (313)
PANDEMIA
MB segue com ações de combate à Covid-19 (314)
PESQUISA
Fundação Amarcílio (317)
PRIMEIROS SOCORROS
Batalhão Tonelero recebe certificação em atendimento a vítimas de combate
tático (317)
VALORES
LIDERANÇA
Liderança Naval – Rosa das Virtudes (318)
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
264 RMB3oT/2021
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
MOSTRA DE DESARMAMENTO DA
FRAGATA GREENHALGH
266 RMB3oT/2021
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
em apoio aos Jogos Olímpicos e Paralím- forjar a alma deste navio com espírito de
picos do Rio de Janeiro, no período com- sacrifício, abnegação, fogo sagrado, pa-
preendido entre 6 e 18 de agosto de 2016, triotismo e, acima de tudo, camaradagem.
contribuindo para a segurança dos Jogos, A sua singradura vitoriosa permanecerá
elevando o nome do Brasil perante o mundo. viva nas lembranças dos seus tripulantes.
Ao término do Cerimonial à Bandei- Ao Lobo Guerreiro, Bravo Zulu!
ra, ato que encerra a sua vida operativa, Marinha Forte! Brasil Soberano!”.
exaltamos todos os marinheiros, verda- (Fontes: Bonos nos 740, de 9/8/2021,
deiros heróis anônimos, que ajudaram a e 748 de 10/8/2021)
MOSTRA DE DESARMAMENTO
DO NAVIO-VARREDOR ALBARDÃO
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
268 RMB3oT/2021
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
RMB3oT/2021 269
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
270 RMB3oT/2021
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
O Departamento Cultu-
ral do Abrigo do Marinheiro
(DCAMN), em parceria com
a Marinha do Brasil (MB) e o
Instituto de Arquitetos do Brasil
no Rio de Janeiro (IAB/RJ),
anunciou, em 9 de julho último,
o projeto vencedor do Concurso
de Arquitetura para o Museu
Marítimo do Brasil. A equipe
conjunta formada por Messina/
Projeto do Museu Marítimo do Brasil
Rivas Arquitetos, de São Paulo,
e Ben-Avid Studio, com base em Córdoba, ceitual inédita e de caráter nacional, é
Argentina, conquistou o primeiro lugar no estimular o conhecimento sobre a história
certame. O grupo tem o arquiteto e urba- marítima que está intrinsecamente ligada
nista Rodrigo Quintella Messina como à formação do País, destacando o mar e
responsável técnico. os rios como instâncias culturais, simbó-
Ao todo, 191 equipes, distribuídas por licas e míticas. O museu fará parte de um
17 estados do País, candidataram-se para complexo de centros culturais existentes
enviar projetos – um recorde na história na área central do Rio, como o Museu
das chamadas públicas do IAB/RJ. Além Histórico Nacional, o Centro Cultural do
do vencedor, foram anunciados os premia- Banco do Brasil, a Casa França-Brasil, o
dos com as segunda e terceira posições, Museu de Arte do Rio (MAR) e o Museu
sob a liderança de Nonato Veloso (Brasília do Amanhã.
– DF) e Álvaro Puntoni (São Paulo – SP), O Projeto Museu Marítimo do Brasil
respectivamente. (Fase 1) é realizado pelo DCAMN, pela
O Museu Marítimo do Brasil será cons- MB e pelo IAB/RJ, por meio da Lei Fede-
truído no Espaço Cultural da Marinha, ral de Incentivo à Cultura, da Secretaria
localizado no Centro do Rio de Janeiro, Especial de Cultura do Ministério do Tu-
próximo à Praça XV. A finalidade deste rismo. O projeto conta com o patrocínio
novo espaço, que tem uma proposta con- da Empresa Gerencial de Projetos Navais
(Emgepron), da Wilson
Sons, da Qualicorp, da
Companhia de Navega-
ção Norsul e da Granado
Pharmacias, além do
apoio do Conselho Na-
cional de Praticagem do
Brasil (Conapra).
“Pretendemos trazer
O projeto retoma a proximidade com o mar. Os visitantes essa bela história que
terão que atravessar a água para entrar acompanha o nosso País
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
mas somente unidos traduzem poder que, no momento que representa todos os
único. São corajosos, competentes, com- submarinistas, é guardião de nosso ethos.
prometidos e disponíveis. Foram, todos, A Força de Submarinos veio por mar e
forjados no aço de Mocanguê Grande. por terra, atracando em sua nova Base.
São todos submarinistas, os responsáveis No mar, veio protegida pela Alta Admi-
pelas façanhas fantásticas abaixo d’água. nistração Naval; em terra, foi recebida
Com a Amazônia Azul enorme e de pelos chefes navais, de ontem, de hoje e
futuro promissor e um Entorno Estraté- de sempre, com quem é honra combater
gico superlativo, o Brasil desencadeou ombro a ombro.
Programa de Estado de longo prazo, para, É muito bem recebida pelo Setor de
em complemento ao Programa Nuclear da Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico
Marinha, dotar o Poder Naval de subma- da Marinha, com percebido cuidado e
rino convencional de propulsão nuclear. zelo. Aqui encontra instalações que, de
O Programa de Desenvolvimento de pronto, oferecem modernidade, opera-
Submarinos (Prosub) produz entregas cionalidade e conforto compatível com o
anuais, obedecendo seu cronograma. A da adorada casa. Sob notável esforço de
formatura dos novos submarinos para a apoio da Marinha, nosso maior patrimônio
atracação na Base de Submarinos da Ilha chega bem assistido.
da Madeira está no visual. Ativada em Muito há, ainda, por fazer. Os subma-
2020, recebeu submarinos no primeiro rinos classe Riachuelo recuperam capa-
semestre de vida e, no primeiro aniversá- cidades e agregam outras inéditas para a
rio, vem abrigar o Comando da Força de Força de Submarinos, que segue, como de
Submarinos. O Estado-Maior se transfere hábito, em processo evolutivo. Os desafios
para o Complexo Naval de Itaguaí, lhe detectados pelo sonar representam, para
conferindo a devida importância e utili- os aguerridos submarinistas, um futuro
zando-se do êxito do Prosub. animador! Após 107 anos, os Marinheiros
A Força de Submarinos não abando- Até Debaixo D’Água firmam, uma vez
na Mocanguê Grande; começa a operar mais, posição como pioneiros, prontos
desdobrada a partir de duas posições. Em para escrever mais um capítulo na história
Itaguaí estarão sediados os submarinos e o da gloriosa Flotilha de Submarinos.
Ciama, que, pioneiro neste Complexo Na- Usque Ad Sub Acquam Nauta Sum!
val, dará prosseguimento à transferência Glória à Flotilha! Viva a Marinha!”
em futuro próximo, com o
andamento do cronograma
de obras civis. Em Mo-
canguê, permanecerão a
escafandria e o mergulho
de combate – formação e
operação –, sob o mesmo
Comando de Força.
A despedida de Mocan-
guê Grande contou com o
suporte do submarinista
mais antigo, Almirante de
Esquadra Alfredo Karam, Vista aérea do Complexo Naval de Itaguaí
276 RMB3oT/2021
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
e do turismo naquela região, bem como possíveis efeitos sobre o transporte mundial
à relevância do Ártico para fenômenos de carga. Além disso, parte dos fundos
climáticos globais, somados à ampliação marinhos do Oceano Ártico estão em áreas
das rotas marítimas no Oceano Ártico e aos fora de jurisdição nacional dos Estados
árticos e tem status de “patri-
mônio comum da humanidade”,
de acordo com a Convenção das
Nações Unidas sobre o Direito
do Mar (CNUDM).
O GT tem a finalidade de
avaliar a conveniência e oportu-
nidade de o Governo brasileiro
participar mais ativamente das
atividades da comunidade in-
ternacional no que diz respeito
ao Ártico, podendo, ao final dos
seus trabalhos, realizar propostas
sobre como poderia ocorrer even-
tual participação do País.
Geleira no Oceano Ártico (Fonte: www.marinha.mil.br)
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
A Marinha do Brasil (MB), por meio do de dólares e faz parte da Rota Bioceânica,
Comando do 6o Distrito Naval (Ladário- que ligará o Oceano Pacífico ao Atlântico.
-MS), participou de evento visando divul- A bordo de embarcação regional, nas
gar a licitação para a construção de ponte proximidades do local de construção da
internacional sobre o Rio Paraguai, entre ponte, e com a presença do governador
Porto Murtinho (MS) e Carmelo Peralta, no de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azam-
Paraguai. A obra é orçada em 82 milhões buja, e de autoridades civis e militares,
o presidente da Itaipu Paraguai, Manoel
Cáceres, declarou o compromisso do
Paraguai com a continuidade do projeto,
marcando a divulgação da licitação para
julho deste ano.
A Rota Bioceânica será uma ligação
estratégica para os países, em função da
competitividade que trará para as expor-
tações e importações, especialmente para
a Ásia. Fomentará, também, o desenvol-
vimento de Porto Murtinho, onde a MB
possui uma Agência Fluvial subordinada
Autoridades durante evento de divulgação à Capitania Fluvial do Pantanal.
da licitação para construção da
Rota Bioceânica (Fonte: www.marinha.mil.br)
280 RMB3oT/2021
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
282 RMB3oT/2021
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
for the Sea, na Itália, em 2020. Os resul- ção acadêmica do grupo de pesquisa do
tados obtidos a partir do desdobramento Curso de Segurança da Informação, dos
dessa pesquisa, iniciada no Curso de Computadores, das Comunicações e do
Aperfeiçoamento Avançado em Segu- Espaço Cibernético (SICCCiber), da UFF.
rança da Informação e Comunicações A interação entre os especialistas
(CApA-SIC 2019/2020), do CIAW, do Casnav, os alunos do CApA-SIC
obteve seu conceito expandido para os do CIAW e o corpo acadêmico da UFF
sistemas integrados AIS/ECDIS (Auto- motivou o reconhecimento da publicação
científica Sensors, jornal clas-
sificado pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (Capes)
como nível A1, considerada a
classificação mais proeminente
no sistema brasileiro de avalia-
ção de periódicos, na área de
ciência da computação.
Esse trabalho reitera o po-
tencial do Setor de Ciência
e Tecnologia e Inovação da
Marinha, por meio do CTMRJ,
Exemplo de uma tela ECDIS exibindo dados AIS recebidos
para catalisar as pesquisas em
matic Identification System/Electronic curso no âmbito das instituições civis e
Chart Display and Information System), militares em benefício do processo de
com design e cenários desenvolvidos inovação dos projetos científicos e tecno-
pelo Casnav, demonstrando o valor e a lógicos da Marinha, por meio de soluções
aplicabilidade do trabalho de referência. tecnológicas autóctones.
O artigo também contou com a colabora- (Fonte: www.marinha.mil.br)
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ficos nacionais, como Avisos aos Nave- A MACHC atua na região do Caribe,
gantes e Avisos-Rádio Náuticos, além da na América Central e no norte da América
produção e validação de Cartas Náuticas do Sul, ao norte do Equador, e conta com a
Eletrônicas, criação de capacidades, cer- participação de representantes de serviços
tificação e acreditação da formação de hidrográficos nacionais de relevância,
hidrógrafos e cartógrafos náuticos e ma- como é o caso da França, dos Estados
peamento oceânico. Unidos da América, da Holanda e do Rei-
no Unido. O Brasil é membro
pleno do órgão e estará na sua
presidência até 2023.
A DHN participa também
de outras duas Comissões
Hidrográficas Regionais como
membro pleno: para o Atlânti-
co Sudoeste, com os serviços
hidrográficos da Argentina e
Reunião virtual do Comitê da Organização do Uruguai, e para a Antártica.
Hidrográfica Internacional (Fonte: www.marinha.mil.br)
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duais e coletivas) para conter o avanço tes que residem em áreas localizadas no en-
da Covid-19. torno do Complexo Naval Parada de Lucas
O CTecCFN disponibiliza pessoal e ins- (Parada de Lucas, Vigário Geral, Quitungo,
talações para oferecer atividades esportivas Cordovil e Cidade Alta), beneficiados pelo
a crianças e adolescentes que vivem em convênio com a Arquidiocese do Rio de
áreas de vulnerabilidade social. O Profesp Janeiro (Pastoral do Menor).
do CTecCFN atende crianças e adolescen- (Fonte: www.marinha.mil.br)
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O Navio-Patrulha Fluvial (NPaFlu) tipo ferry boat que vinha de Santa Isabel
Rondônia apreendeu, em 25 de maio últi- do Rio Negro, também no Estado do Ama-
mo, 260 quilos de um mineral raro durante zonas, com destino a Manaus.
Patrulha Naval no Rio Negro, nas proxi- Durante a abordagem, os inspeto-
midades de Barcelos (AM). O minério foi res navais identificaram duas caixas
encontrado dentro de uma embarcação do de propriedade de um dos passageiros
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atividades de conscientização
sobre a prevenção da Covid-19
e distribuíram kits de saúde bu-
cal às comunidades ribeirinhas
e aldeias indígenas da calha do
Rio Javari, contabilizando 433
atendimentos realizados.
Durante as atividades, o navio fi-
cou abarrancado nas proximidades
de Estirão do Equador, em Atalaia
NAsH Carlos Chagas navega no Rio Javari
durante comissão do Norte (AM). A ação contou com
o apoio do 4o Pelotão Especial de
Ao longo de cinco dias, os profissio- Fronteira do 8o Batalhão de Infantaria de
nais do navio proporcionaram atendi- Selva, do Exército Brasileiro.
mento médico e odontológico, realizaram (Fonte: www.marinha.mil.br)
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