2-2014 Revista
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REVISTA
MARÍTIMA
BRASILEIRA
(Editada desde 1851)
v. 134 n. 04/06
abr./jun. 2014
R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 134 n. 04/06 p. 1-304 abr. / jun. 2014
A Revista Marítima Brasileira, a partir do 2o trimestre
de 2009, passou a adotar o Acordo Ortográfico de 1990,
com base no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
editado pela Academia Brasileira de Letras – Decretos nos
6.583, 6.584 e 6.585, de 29 de setembro de 2008.
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Artífice de Artes Gráficas Celso França Antunes
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Terceiro-Sargento-RM1-ES Mário Fernando Alves Pereira
Artífice de Artes Gráficas Celso França Antunes
Marinheiro-RC Pedro Paulo Moreira Cerqueira
Impressão / Tiragem
Meneghetti’s Gráfica e Editora Ltda. / 8.600
A REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA é uma publicação oficial da MARINHA DO BRASIL desde
1851, sendo editada trimestralmente pela DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMEN-
TAÇÃO DA MARINHA. A opinião emitida em artigo é de exclusiva responsabilidade de seu autor, não
refletindo o pensamento oficial da MARINHA. As matérias publicadas podem ser reproduzidas. Solicitamos,
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for do exterior, por vale postal
SUMÁRIO
9 nossa CAPA
9 A AMAZÔNIA AZUL: O Mar e seus Recursos e a Convenção das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar
Mucio Piragibe Ribeiro de Bakker – Contra-Almirante (Refo)
Uso do mar – breve panorama histórico – evolução do Direito do Mar. Regula-
mentação no Brasil – Margem Continental e Zona Econômica Exclusiva. O Atlântico e a
Amazônia Azul
204 NECRoLÓGIO
SUMÁRIO
Apresentação
Introdução
O uso do mar
Um breve panorama histórico
Novas perspectivas para o uso do mar
Uma nova disciplina jurídica para o uso do mar
Evolução do Direito do Mar – novos conceitos
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar – aspectos principais
Os novos conceitos e suas definições. A regulamentação no Brasil
A delimitação da Margem Continental. Os recursos biológicos da
Zona Econômica Exclusiva (ZEE)
A Amazônia Azul
Os recursos do mar – o Atlântico – a Amazônia Azul
Os recursos do mar – a importância dos oceanos
O Atlântico – A Amazônia Azul
O Atlântico
A Amazônia Azul
Considerações finais
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A AMAZÔNIA AZUL: O Mar e seus Recursos e a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
sobretudo para participar de seus princi- quanto foram capazes de usar o mar como
pais eventos, os quais, inevitavelmente, instrumento indispensável à sua segurança
ocorrerão nos oceanos. e ao seu desenvolvimento.
O Direito do Mar, resultante da con-
INTRODUÇÃO venção aprovada pela III Conferência das
Nações Unidas sobre o Direito do Mar,
Escrever sobre a Amazônia Azul obriga- de 1982, estabelece a estrutura da nova
nos, inicialmente, a escrever sobre o mar ordem jurídica internacional para o uso do
e seus recursos, especialmente na área do mar, consentânea com a atual conjuntura
Atlântico de interesse imediato do Brasil, política, estratégica, econômica, social e
e, ainda, sobre a nova realidade jurídica tecnológica do mundo contemporâneo. Ela
criada pela Convenção das Nações Unidas constitui o marco inicial para a exploração
sobre o Direito do Mar, que regulamenta as dos oceanos, de seu solo e subsolo, dentro
atividades humanas sobre uma área marítima da ordem jurídica internacional, inclusive
superior a 70% da superfície da Terra. De das áreas marítimas fora das jurisdições dos
acordo com os termos da convenção, o Brasil estados, consideradas patrimônio comum
poderá determinar, de- da humanidade.
finitivamente, as suas
fronteiras marítimas Todos os povos que Novas perspectivas
no Leste, incorporan- para o uso do mar
do às suas pretensões exerceram o poder, além de
uma área de mais de seus próprios territórios, Há pouco mais de
4,5 milhões de km2 – a cem anos, as nações
Amazônia Azul.
usaram o mar e o não exploravam o pe-
dominaram para poderem tróleo de suas plata-
O USO DO MAR influir sobre a vida de formas continentais
– porém os nódulos
Um breve panorama outros povos polimetálicos já consti-
histórico tuíam curiosidade cien-
tífica; a exploração dos
O mar, em todas as épocas, sempre recursos vivos do mar, em escala industrial,
teve decisiva influência sobre os povos, era quase inexistente; e o homem ainda não
constituindo-se em fator de capital im- tinha atingido profundidades muito maio-
portância para a sua sobrevivência e seu res do que 50 metros. Atualmente, com o
desenvolvimento. Todos os povos que desenvolvimento da ciência oceanográfica,
exerceram o poder, além de seus próprios com o correspondente avanço tecnológico
territórios, usaram o mar e o dominaram e com a invenção e o aperfeiçoamento
sucessivamente através dos séculos, para de submersíveis capazes de mergulhar
poderem influir sobre a vida de outros a profundidades bem maiores que 1.000
povos, de acordo com seus interesses. metros, o mar adquiriu novas dimensões e
Fenícios, gregos, cartagineses, romanos e, surge efetivamente como a última fronteira,
mais tarde, genoveses, venezianos, portu- a abranger mais de 70% da superfície do
gueses, espanhóis, holandeses, franceses planeta, e no qual os recursos vivos, mine-
e ingleses, principalmente, progrediram e rais e energéticos existem em escala nunca
engrandeceram suas respectivas nações, en- antes imaginada pelo homem.
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A AMAZÔNIA AZUL: O Mar e seus Recursos e a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
Terra. Segundo os cientistas, a presença do do mar vinha sendo feito livre e predato-
líquido nessa região de transição coincide riamente, sem o gerenciamento adequado e
com estudos sobre condutividade elétrica sem a preocupação de preservação dos seus
realizados nos últimos anos por geofísicos. recursos naturais. Além desses aspectos,
Ainda é impossível estudar detalhadamente outros fatores impunham a necessidade
as características dessa zona, porque não de se regulamentar o uso do mar de uma
existe tecnologia para se chegar a uma maneira global, como o dramático aumento
região tão profunda. Mas não há dúvidas da população e o consequente aumento da
de como o grande e oculto oceano pode demanda dos alimentos dele originários;
influenciar a dinâmica do planeta: a água o crescimento industrial em todos os
da zona de transição poderia dissolver o continentes; a concentração da população
magma e alcançar a parte inferior das pla- em áreas costeiras; o aumento da extração
cas continentais. Desta forma, ela criaria do petróleo e gás das plataformas conti-
regiões propensas a vulcões. A água retida nentais; a intensificação da navegação e o
pode explicar as posições irregulares de emprego de navios de tonelagem cada vez
algumas rochas vulcânicas. Além disso, a maior, inclusive com propulsão nuclear; e
súbita liberação de água, a partir desta zona, o crescente uso de substâncias químicas,
poderia enfraquecer as placas tectônicas, com significativa proporção lançada aos
ressaltam os cientistas. oceanos. A cada dia, uma nova perspectiva
de conflito poderia ocorrer na competição
Uma nova disciplina jurídica para o uso pelo uso do mar, conflito que nenhum país
do mar poderia enfrentar sozinho. De outra parte,
existe uma constante interação entre os vá-
Em face dessas novas perspectivas de rios usos do mar: a explotação dos recursos
uso do mar, de seu solo e subsolo, os esta- do seu leito poderá afetar o uso das águas
dos passaram então a tomar conhecimento sobrejacentes, e vice-versa; e atividades nas
de suas dimensões econômicas, as quais, áreas internacionais e nas áreas nacionais
por sua vez, começaram a influenciar costeiras adjacentes poderão afetar umas
definitivamente os antigos conceitos de as outras. O mar, com a atmosfera que o
segurança e defesa. Descobre-se, ainda, que cobre, constitui um imenso e grandioso
os recursos vivos não são inesgotáveis, ao ecossistema cujas interações requerem
contrário do que se pensava; que a sua ex- ações e perspectivas integradas, com es-
plotação nacional é uma necessidade vital pecial atenção ao meio ambiente marinho.
para o estado costeiro; que a antiga regra Foram essas possibilidades as respon-
de 3 milhas é absolutamente insuficiente sáveis, no âmbito internacional, por um
para protegê-los; que as novas técnicas de rosário de reuniões e conferências levadas
explotação podem resultar em devastação a efeito na tentativa de harmonização das
e destruição do equilíbrio ecológico; e que múltiplas e divergentes reivindicações dos
o grau diferente do desenvolvimento dos diversos países sobre seus usos, posses e
estados permite que uns poucos explotem direitos. Em essência, estavam em jogo
indevida e abusivamente recursos que interesses econômicos, políticos e militares
naturalmente deveriam pertencer a todos. influenciados basicamente por problemas
Por conseguinte, tornava-se necessário de segurança e desenvolvimento, binômio
que a atitude humana em relação ao mar que, independentemente de acepções, é a
sofresse fundamentais alterações. O uso meta que todos os países desejam alcançar.
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Tais perspectivas, visualizadas em sua ple- Plataforma Continental ao longo das costas
nitude, vieram impor uma nova disciplina americanas. A apropriação da Plataforma
jurídica que, finalmente, foi consubstan- Continental por uma nação em ato de so-
ciada na nova Lei do Mar, resultante da berania e a pronta aceitação desse ato pelo
III Conferência das Nações Unidas sobre Direito Internacional levaram outras nações
o Direito do Mar, oficialmente encerrada a fazer idênticas proclamações, inclusive
em 10 de dezembro de 1982, na Baía de sobre mares territoriais e espaços aéreos.
Montego, Jamaica. Assim, inúmeros países também afirmaram
seus direitos sobre a continuação geológica
Evolução do Direito do Mar – novos de seus respectivos territórios, estendida
conceitos sob as águas do mar adjacente, inclusive
o Brasil, que, pelo Decreto no 28.840 de
O Direito do Mar, por conseguinte, “for- 1953, declarava integrada ao território
mou-se lentamente nacional a plataforma
ao longo dos séculos, submarina que borda o
pela sedimentação de A apropriação da continente e ilhas, tendo
fatos e costumes na como limite máximo a
prática da navegação, Plataforma Continental profundidade de 200
da guerra e da pesca; por uma nação em ato metros.
nos choques de inte- Cerca de dois anos
resses nacionais; na
de soberania e a pronta após a Proclamação
expansão de impérios; aceitação desse ato pelo Truman, em 1947, Chi-
na longa elaboração Direito Internacional le e Peru, por meio de
jurisdicional das gran- respectivos atos unila-
des potências; na con- levaram outras nações terais, aumentaram para
tribuição silenciosa a fazer idênticas 200 milhas a largura de
e variada de eminen-
tes juristas” (Clovis
proclamações, inclusive suas águas territoriais,
incluindo solo e subso-
Ramalhete, em seu sobre mares territoriais e lo subjacentes, com o
Parecer de 30/12/69). espaços aéreos propósito de preservar
Entretanto, antes do para os seus nacionais
término da primeira os inúmeros recursos
metade do século passado, dois novos pesqueiros de suas águas costeiras. A
conceitos vieram juntar-se às velhas regras atitude chilena e peruana foi logo seguida
jurídicas sobre o uso do mar, constituindo- pelo Equador e, mais tarde, por Costa
se em fatos de relevo nas transformações Rica (1948), El Salvador (1950), Hondu-
por que passou o Direito do Mar: o de Pla- ras (1951), Nicarágua (1965), Argentina
taforma Continental e o de exclusividade (1966), Panamá (1967), Uruguai (1969) e,
de pesca, além do Mar Territorial. finalmente, pelo Brasil, por meio do De-
Esboçado vagamente desde o princípio creto-Lei no 1.098 de 1970. Já nessa época,
do século passado, o conceito de Plataforma havia ocorrido um generalizado emprego
Continental afirmou-se a partir da pioneira de atos unilaterais de estados, distendendo
proclamação do Presidente Truman, dos sua faixa marítima adjacente. Deve ser
Estados Unidos, em 1945, quando este rei- lembrado que medida semelhante, embora
vindicou a posse de recursos econômicos da provisória, havia sido tomada logo após o
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A AMAZÔNIA AZUL: O Mar e seus Recursos e a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
a expressão “Bandei-
Brasil
rantes das Longitudes
8.512.000 km2
Salgadas” para referir-
se aos especialistas da
Bacia Amazônica
3.900.000 km 2 Marinha, da Petrobras e
da comunidade científica
Mar Territorial e que permitiram alargar
Zona Econômica as fronteiras do Brasil
Exclusiva para o Leste, como o
3.600.000 km2 fizeram para Oeste os
antigos bandeirantes. A
Extensão da contribuição dos “Ban-
Plataforma Continental
deirantes das Longitudes
950.000 km 2
Salgadas” proporcionou
ao Brasil uma extensão
Figura 2 de área marítima maior
Marinha, da Petrobras e da comunidade do que a nossa Amazô-
científica, fez uma apresentação à Comis- nia terrestre, tanto em dimensão como em
são, na qual foram detalhados os argumen- biodiversidade, e seguramente em recursos
tos científicos e técnicos que serviram de essenciais ao desenvolvimento do Brasil.
base à proposição brasileira. Entretanto,
embora a CLPC tenha concordado integral- OS RECURSOS DO MAR – O
mente com a extensão ATLÂNTICO – A AMAZÔNIA AZUL
dos limites exteriores
da PC proposta para Os oceanos contêm 97% Os recursos do mar
– a importância dos
o Platô de São Paulo,
o mesmo não ocorreu da água da Terra e da oceanos
em relação a outras biosfera. A vida fervilha
áreas marítimas es- Os oceanos são hoje
pecíficas. Assim sen- da linha d’água às a grande fronteira da
do, o Brasil decidiu fossas hidrotermais das biodiversidade, do clima
enviar nova proposta e dos recursos minerais.
profundezas São as minúsculas plan-
à CLPC, insistindo
nos limites exteriores tas de fitoplâncton que
inicialmente apresentados e na coleta de no- produzem mais de 50% de todo o oxigênio da
vos dados oceanográficos para respaldá-la. Terra, como resultado de sua fotossíntese. No
Em qualquer dos casos, importa ressaltar, mesmo processo, elas absorvem entre 25%
estarão sendo construídas as bases para o e 30% de todo o CO2 emitido pelo homem.
traçado definitivo da fronteira leste do País, Os oceanos contêm 97% da água da
no Atlântico Sul. Terra e 97% da biosfera. A vida fervilha
O Editorial da Revista do Clube Na- da linha d’água às fossas hidrotermais
val, no 343, de jul/ago/set de 2007, então das profundezas. Está nos mares também
presidente do Clube, o saudoso Almirante a oportunidade das riquezas do pré-sal e
José Júlio Pedrosa, foi muito oportuno e de minérios, como o cobalto, de grande
elucidativo, e também muito feliz, ao usar importância para a indústria de eletrônicos.
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A AMAZÔNIA AZUL: O Mar e seus Recursos e a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
Período Triássico, há cerca de 190 milhões fossa de Porto Rico, que é o ponto mais
de anos, quando o supercontinente Pangeia profundo do Atlântico. No seu leito existe
se fragmentou em dois outros continentes uma cordilheira submarina, a Dorsal Me-
menores – Eurásia e Gondwana. O espaço soatlântica, que se estende da Islândia até
que se abriu entre eles foi então preenchido quase a Antártica (58ºS). Essa cordilheira
pelo Oceano Atlântico, ainda embrionário. assinala uma linha de falha onde as placas
No fim do Cretáceo, há 65 milhões de anos, na crosta terrestre estão se afastando uma
o mundo começou a se aproximar do que da outra, a uma velocidade de 2,5 cm por
é hoje, mas somente no início do Eoceno, ano. Por isso, o Atlântico está ficando maior
há 50 milhões de anos, o Oceano Atlântico à medida que o leito oceânico aumenta a
pôde apresentar uma configuração próxima partir da Dorsal Mesoatlântica.
de seus contornos atuais. O Atlântico tem os maiores cardumes de
O Atlântico era o Mar Oceano, ou Mar águas rasas do mundo. Existem reservas de
Tenebroso, na Idade Média, habitado, em petróleo e gás natural nas costas da África
suas profundezas, por seres monstruosos. e da América do Sul (Brasil), no Caribe
Antigamente, o ho- e no Golfo do México
mem se preocupava e reservas de minerais
mais com os céus, por- O grosso dos oceanos, cerca nas costas das Américas
que via os astros, do de 90%, as regiões centrais do Norte e do Sul e da
que com o mar, que África.
só conhecia por sua sobre as profundezas Certamente, mais
superfície. Ptolomeu, abissais, são estéreis, pela de 80% das riquezas
Copérnico, Galileu,
Newton, Laplace, Ke-
ausência de mecanismos biológicas dos oceanos
estão contidas no mar
pler e Einstein estu- naturais que façam subir as epicontinental, o mar
daram os astros, suas águas profundas raso que recobre a pla-
formas, suas leis e taforma continental e
seus movimentos no que é bastante diverso
espaço. Já o nascimento da Oceanografia, do oceano propriamente dito. A existência
como hoje é entendida, somente ocorreu das plataformas continentais possibilita
com a expedição do navio inglês Challen- a formação de uma zona de vida intensa,
ger, iniciada nos fins de 1872. O mar só que é, talvez, uma da mais densamente po-
era conhecido superficialmente, pelos seus voadas do planeta. Uma enorme massa de
ventos e suas correntes, que interessavam à animais pulula por essas águas, nadando ou
navegação. A pesca era costeira. Nos astros, rastejando, alimentando-se de uma popula-
somente o Sol para a altura e a estrela Polar ção ainda maior de algas que a zona produz.
para orientação. Essa zona costeira representa cerca de 10%
O Atlântico é o segundo maior oceano e da área oceânica e a ela se acrescenta 0,1%
cobre cerca de um quinto da superfície da de área em que condições naturais fazem
Terra, com uma área aproximada de 76,8 subir as águas profundas (ressurgência),
milhões de km2. Separa a África e a Europa extremamente ricas em nutrientes, como é
das Américas e tem duas grandes bacias: o exemplo o que ocorre na costa do Brasil,
Atlântico Norte e o Atlântico Sul, com uma na região de Cabo Frio (estado do Rio de
profundidade média de 3.660 metros e uma Janeiro), onde uma corrente proveniente
profundidade máxima de 8.605 metros, na da Antártica aflora. O grosso dos oceanos,
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A AMAZÔNIA AZUL: O Mar e seus Recursos e a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
portanto cerca de 90%, as regiões centrais reações químicas e parte dele se transfor-
sobre as profundezas abissais, são virtu- ma em ácido carbônico, responsável por
almente estéreis, pela ausência de meca- reduzir o pH (coeficiente que caracteriza
nismos naturais que façam subir as águas o estado ácido-básico de uma solução que
profundas, com os elementos necessários contém íons H+) da água, o que interfere
à vida marinha. Entretanto, elas poderiam nos organismos, com maior dificuldade na
ser fertilizadas por meio do bombeamento formação do esqueleto calcário; mas cada
para a superfície da água profunda, fria espécie tem uma resposta diferente para
e fértil, expondo-a à luz solar. Aliás, nas essas transformações. Por outro lado, o
grandes tempestades, como nos furacões, aumento médio da temperatura das águas
com o mar revolto e agitado, as águas pro- do oceano em 0,5 grau, em 2010, foi sufi-
fundas podem, às vezes, aflorar à superfície, ciente para provocar grande migração de
fertilizando-as; mas trata-se apenas de um espécies. Algumas que se limitavam aos
acontecimento eventual, sem continuidade trópicos chegaram a regiões temperadas;
e, portanto, sem maiores consequências. e aquelas que se estabeleceram ali estão
No artigo que publicamos na Revista chegando a regiões polares, competindo na
Marítima Brasileira busca de alimento com
(v. 132, no 01/3, jan./ animais que habitam
mar. 2012) sob o tí-
tulo “O mar e seus
O espectro das mudanças adeárea. A proliferação
espécies invasoras
recursos”, abordamos climáticas está presente é apontada como uma
detalhadamente os no oceano. Quanto mais das consequências das
recursos biológicos, mudanças climáticas.
minerais e energéticos carbono é emitido, mais Estudos realizados
existentes no oceano, CO2 é absorvido por ele pelo Instituto de Bio-
no seu solo e subsolo, geoquímica da Uni-
e enfatizamos a ne- versidade de Zurique
cessidade de o Brasil adotar uma política (Suíca) prevêem que a acidificação dos
agressiva na pesquisa e explotação desses oceanos resultará em uma redução do con-
recursos, inclusive com a criação de uma teúdo de carbonato de cálcio das águas, o
organização destinada a estudar os oceanos, que tornará a vida mais adversa para a flora
seus sistemas e suas interações com os e a fauna marinhas. Com menos calcário
sistemas antártico, atmosférico e costeiro, na água, corais, moluscos, crustáceos e
especialmente para um país que incorporou outros animais marinhos que desenvolvem
uma área marítima de cerca de 4,5 milhões conchas enfrentariam problemas para se
de km2, a Amazônia Azul. Na realidade, desenvolver e poderiam até desaparecer.
com a exceção honrosa da Petrobras, as A maior acidez também afetará os man-
atividades nacionais em relação ao uso do guezais, maiores produtores de matéria
mar, quando comparadas com outras áreas orgânica do mar, e o fitoplâncton, respon-
de atuação do País, são ainda modestas e, sável pela produção de cerca de metade do
em alguns setores, quase inexistentes. oxigênio que respiramos. De acordo com
Entretanto, o espectro das mudanças os estudos citados, a velocidade da acidi-
climáticas também está presente no oceano. ficação dos oceanos poderá causar enorme
Quanto mais carbono é emitido, mais CO2 desequilíbrio nos oceanos e, com isso, uma
é absorvido pelo oceano. No mar, ele sofre grande ameaça para a vida marinha.
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A AMAZÔNIA AZUL: O Mar e seus Recursos e a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
Quando o homem vier a realizar a fusão água do mar e nos organismos marinhos,
controlada, o fará em reações que envol- como as algas, vêm tendo cada vez maior
vam o deutério, isto é, o hidrogênio pesa- aceitação e uso na farmacologia.
do (o deutério, isótopo do hidrogênio, tem
o seu átomo com um próton e um nêutron A Amazônia Azul
no núcleo, enquanto o hidrogênio tem só
um próton; o outro isótopo do hidrogênio As necessidades de alimentação para uma
é o trítio, com dois nêutrons no núcleo). população em constante expansão, assim
Obtendo a fusão controlada e superando como de matérias-primas e energia para a
o obstáculo e o confinamento de altíssi- manutenção e ampliação de toda a ativida-
mas temperaturas, haverá necessidade de de econômica mundial, somente poderão
uma energia em forma portátil, que será ser atendidas por meio da explotação dos
certamente o hidrogênio líquido, também recursos encontrados nas áreas marinhas
extraído por eletrólise da água do mar. O do planeta. É indispensável, portanto, que o
Brasil já pertence ao grupo de países que Brasil se integre na nova visão mundial dos
integram o International Thermonuclear problemas marítimos, de modo a poder par-
Experimental Reactor ticipar decisivamente da
(Iter), que pretende exploração e explotação
não só investigar a É indispensável, que dos recursos do mar. A
fusão termonuclear o Brasil se integre na Amazônia Azul e as áre-
controlada, mas prin-
cipalmente verificar
nova visão mundial dos as marítimas na jurisdi-
ção internacional são as
a possibilidade de problemas marítimos, de partes principais des-
obtenção de nova modo a poder participar se desafio do mar que
fonte de energia – o lhe é veementemente
deutério. decisivamente da apresentado. E cabe ao
O u t r a p a r t e d e exploração e explotação dos Brasil, por sua posição
energia do mar é o hi- geográfica, aceitá-lo.
drogênio líquido, ex-
recursos do mar A busca de recursos,
traído de suas águas sobretudo alimentares
por eletrólise, e que está sendo empre- e minerais, é parte substancial da resposta a
gado como combustível para projetos esse desafio. Além disso, o desenvolvimento
espaciais. Provavelmente, o hidrogênio do País exige a pesquisa imediata, na área
líquido será a energia portátil que subs- marítima nacional – a Amazônia Azul –, de
tituirá os combustíveis fósseis, à medida fontes alternativas de minerais e matérias-
que os obstáculos tecnológicos para o primas que permitam manter a demanda do
seu emprego generalizado forem sendo parque industrial brasileiro e as necessidades
superados. da vida econômica da Nação, substituindo
Mas o interesse da humanidade sobre o as fontes existentes no território emerso do
mar não se refere apenas aos seus recursos. País que forem se aproximando do estado de
Muitas vezes, na História, o mar foi lem- esgotamento ou de exaustão ou, ainda, que
brado como fonte de medicamentos e de devam ser preservadas com reservas estraté-
tratamentos. Atualmente, a “talassoterapia” gicas, para uso em situações de emergência.
parece renascer na medicina moderna, da De outra parte, o deslocamento das
mesma forma que os elementos contidos na atividades econômicas e técnico-científicas
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A AMAZÔNIA AZUL: O Mar e seus Recursos e a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
2.: Esse imenso universo líquido pode ser dividido em quatro zonas: Zona Epipelágica – da superfície até 150
metros; Zona Mesopelágica – de 150 a 1.000 metros; Zona Batipelágica – até 4 mil metros; e Zona Abisssal
ou Abissopelágica – com as áreas mais profundas do leito oceânico. As zonas no interior das fossas abissais
são chamadas de Hadalpelágicas.
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A AMAZÔNIA AZUL: O Mar e seus Recursos e a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
timo que lhe foi outorgado, especialmente extraídas. A falta de uma organização
sobre o significado político, estratégico e nacional destinada ao estudo dos oceanos
econômico que eles representam. Talvez é apenas um sintoma.
não tenha havido a divulgação necessária Que o legado da Amazônia Azul seja
de tais conquistas, nem políticas públi- o ponto de partida para a caminhada do
cas voltadas para o aproveitamento dos Brasil para o Leste, para o Mar Oceano,
recursos e benefícios que dela podem ser para a retomada de sua vocação marítima!
BIBLIOGRAFIA
BAKKER, Mucio Piragibe Ribeiro de. “A humanidade conquista um patrimônio comum”. Revista
Brasileira de Tecnologia, vol. 15, n. 6, nov/dez 1984.
BAKKER, Mucio Piragibe Ribeiro de. “O mar: uma nova fronteira”. Revista Brasileira de Tecnologia,
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BAKKER, Mucio Piragibe Ribeiro de. “A Terra, o oceano e a atmosfera. O clima e o aquecimento
global (Apontamentos sobre)”. Revista Marítima Brasileira. V. 131, n. 01/03, jan/mar 2011.
CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR. Reproduzido da Diretoria
de Hidrografia e Navegação, 1990.
CEMBRA – Centro de Excelência para o Mar Brasileiro. 2a edição. Rio de Janeiro, 2012.
CEMBRA – Centro de Excelência para o Mar Brasileiro. Conceitos Básicos e Estratégia. 1/7/2010.
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Atlântico Sul e Amazônia Azul:
Um desafio geopolítico para a sociedade brasileira?
SUMÁRIO
Introdução
Um “espaço” marítimo e sua evolução
O multilateralismo geopolítico contemporâneo e o
desafio da sociedade brasileira
Conclusão
* Chefe do Departamento de Ensino da EGN, exerceu comandos nos diversos postos da carreira. Serviu no Comando
em Chefe da Esquadra (Operações) e no CAAML (chefe do Departamento de Instrução). Foi vice-diretor da
EGN e instrutor de Planejamento Militar e Jogos de Guerra. Autor de trabalhos para revistas especializadas e
capítulos em livros sobre estratégia; defesa e segurança; e relações internacionais. Recebeu o Prêmio Revista
Marítima Brasileira, em 2007.
Atlântico Sul e Amazônia Azul: Um desafio geopolítico para a sociedade brasileira?
modelos tradicionais para tentar dissecar os contribui para a perplexidade com que se
conflitos e as suas tendências não respon- deparam os analistas estratégicos. A estra-
dem aos múltiplos impactos produzidos, em tégia deve ser simples, mas não significa
grau variável de intensidade, pelos atores que ela seja fácil e simplista.
estatais e não estatais. Estes fazem a gera- A natureza dos conflitos pode não ser
ção de eventos geopolíticos cada vez mais volátil, mas a característica, o meio pelo
associados a uma construção arquitetada qual a natureza toma forma, muda frequen-
social e politicamente. temente. Hoje, diz-se que o contemporâneo
As lições da história precisam ser estuda- é um híbrido que mescla vários aspectos
das amplamente, profundamente e de acordo diferentes. No campo militar, isto se ma-
com o contexto. Entretanto, não se deve tomar nifesta por meio das “velhas” e “novas”
tais lições como verdades absolutas, uma vez ameaças. Portanto, agir estrategicamente
que as peculiaridades e singularidades do é cada vez mais difícil em um mundo
contexto em que ocorreram têm componentes crescentemente interdependente. Um
próprios e específicos, em especial no cam- problema de segurança e os aspectos de
po subjetivo. Deve-se poder a ele associados
sempre estar atento para hoje ocupam um amplo
não cair na “falácia da A Amazônia Azul espectro. Pense-se, por
projeção linear”. exemplo, nas consequ-
O olhar para representa o desafio ências das mudanças
o Atlântico Sul e a de projetar sonhos de climáticas. É algo que
Amazônia Azul re- afeta toda a socieda-
quer um breve recurso
desenvolvimento e de de, logo um problema
à História, adequado alcançar outros patamares de segurança. O pla-
aos limites de pági- para as futuras gerações nejamento estratégico
nas deste artigo. Para implicará alocar recur-
isso, ir-se-á recorrer de brasileiros sos para fazer face ao
aos primeiros passos problema. Um grande
da independência do desafio para os planeja-
Brasil e ao papel do poder marítimo e, em dores estratégicos. Mas tal tipo de desafio,
consequência, do poder naval. inerente à crescente interdependência, é
Daremos uma breve visão teórica e uma singularidade da nossa época? É um
apresentaremos as implicações estratégicas problema sem respostas? Ou o slogan de
de uma região que cresce economicamente, modismos atuais não foi percebido?
atraindo diversos atores de outras regiões. O auxílio da História ajuda em recompor
Ao final, pretende-se despertar um debate o sentido conceitual da estratégia, que alguns
que é de todo interesse daqueles que têm grandes pensadores nos legaram com um
consciência da amplitude do desafio geo- sentido tradicional: a arte do estratego. Ela
político do Atlântico Sul. é aplicada para conseguir criar poder de
modo a obter o objetivo político, usando
Um “espaço” marítimo e sua especialmente os meios militares de acordo
evolução com o modelo tradicional. Vamos verificar
tal aspecto em uma breve incursão histórica.
O alargamento do conceito de estraté- O ponto de partida para o périplo deve
gia, que também alcançou o de segurança, ser a saga portuguesa da Escola de Sagres.
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Tal como hoje, o Brasil descoberto revelou- e naval, antes e depois de Mahan. A linha é
se um locus de grandes oportunidades. baseada nos atributos do mar como:
Então, já naqueles tempos, despertou a a) fonte de recursos;
cobiça, e surgiram grandes ameaças ao b) meio para transportar e intercambiar
controle português, normalmente, no caso (não só material, mas também ideias e
brasileiro, vindo pelo mar. A Amazônia culturas);
Azul representa o desafio de projetar so- c) meio de projeção de poder, seja ele
nhos de desenvolvimento e de alcançar positivo ou negativo, porque são duas
outros patamares para as futuras gerações faces de uma mesma moeda. A projeção
de brasileiros. dar-se-á pela cooperação ou coerção; e
Um salto no tempo leva até a figura de d) meio de domínio.
José Bonifácio, que nos deixou as lições
de como utilizar o pensar estratégico não O poder naval não é um simples inventá-
somente no sentido do uso da força, mas rio de meios e sua capacidade de combate.
do controle das ações para conquistar os A vinculação ao poder marítimo está con-
interesses vitais dentro de objetivos polí- substanciada na frase de Walter Raleigh, no
ticos bem definidos. O livro magistral do século XVII: “Quem dominasse o comércio
Almirante Fernando Diégues, A Revolução mundial dominaria o mundo”. Uma outra
Brasílica: O Projeto Político e a Estratégia versão dessa frase foi adaptada por geopolí-
da Interdependência, é um estudo bem ticos como Mackinder e Spykman. Segundo
aprofundado do desafio daquela época. Geoffrey Till, Adam Smith identificou o
Segundo Diégues, “a Independência (...) mar como um elemento fundamental para
é um marco político notável na evolução a circulação das riquezas produzidas e, em
da sociedade brasileira, que se credencia a consequência, para o comércio e a economia
assumir livremente o deu destino”. (Till, p. 33). Seria a globalização uma Mari-
O mar foi o espaço estratégico por onde timização do mundo? Ou o reconhecimento
o Brasil avançou para consolidar o processo de que vivemos no “planeta Água”?
de sua independência. O emprego da Es- Till ainda deduz, das concepções es-
quadra foi uma forma inexorável de chegar tratégicas formuladas no campo histórico
a todos os propósitos do governo brasileiro até hoje, as seguintes funções clássicas do
para que o objetivo político de mais longo poder marítimo:
prazo fosse alcançado. a) assegurar o controle do mar;
O estudo da “Revolução Brasílica”, ex- b) projetar poder sobre terra, tanto na
pressão usada por José Bonifácio, permite paz quanto na guerra;
verificar como estão presentes elementos c) agir de modo a proteger ou atacar o
básicos de uma teoria do poder marítimo que tráfego marítimo; e
só ao final do século XIX foram explicitados d) manter a segurança de forma ampla,
por Alfred Thayer Mahan. Mahan não usou de acordo com as normas legais para que
a palavra geopolítica, mas, em sua obra, os haja uma “boa ordem” no mar.
termos “espaço” e “posição” em relação ao
controle do mar estão bem presentes. A sua As funções deixam sobressair os aspec-
análise geo-histórica enfatiza a importância tos econômicos, que são tanto motivo de
do mar para a humanidade. A visão de uma cooperação como competição. Essa pecu-
linha de referência permanente é consenso liaridade coloca ênfase no poder marítimo.
entre os estudiosos das estratégias marítima Em decorrência, isto acresce ao poder na-
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dos mísseis, em 1962) como se afigurava pelas diversas teorias, em especial no que
em potencial base para atuar nas LCM do diz respeito ao Atlântico Sul e ao subconti-
Atlântico Norte e no Canal do Panamá nente da América do Sul, é que estas áreas
(Coutau-Bégarie, 1985). seriam reservas estratégicas a serem usadas
As possibilidades que se abriram para para propiciar o suporte necessário aos
a Doutrina Gorshkov foram também fruto interesses vitais das potências principais.
das evoluções tecnológicas que, como no A segunda metade do século XX e
passado (vide a Escola de Sagres), permi- o inquietante início do século XXI não
tiram a manifestação do poder do Estado revelam mudanças claras e significativas
no mar por meio de outras concepções para do quadro histórico até aqui apresentado.
contemplar o emprego político do poder O Clube de Roma, embrião do G-7 (grupo
naval. Ontem como hoje, o conhecimento, dos países mais ricos), desde os anos 1960
decorrente da valorização da educação, mantém uma visão centro e periferia para a
permitiu alterar condições adversas. discussão dos temas da agenda dominante.
A diplomacia naval, dentro do amplo A proposta feita por Mackinder, em 1924,
espectro do conflito, oferece uma forma para a criação da Midland Ocean Alliance
ampla de variadas atuações graças ao que foi a base para o surgimento da própria
se convencionou chamar de características Organização do Tratado do Atlântico Norte
do poder naval: a mobilidade (deslocar-se (Otan). A força desta organização não foi
com os meios navais e estar presente em mitigada pelos ventos de unificação que
qualquer parte a partir do mar), a permanên- sopravam ao início dos anos 1990, com
cia (ao valer-se da mobilidade, fazê-lo por os avanços da União Europeia. No âmbito
um longo período graças ao apoio logístico do comércio mundial, as propostas que se
móvel), a versatilidade (adaptar-se às mais afiguram nos dias atuais potencialmente
variadas condições, ao passar de uma situ- significativas seriam aquelas oriundas
ação operacional em uma área-crise para dos EUA: a “transpacífico” como forma
levar o apoio de uma ação humanitária a um de “contenção” da China e uma Aliança
país amigo) e a flexibilidade (a graduação do Atlântico Norte reforçando os elos já
do emprego da força conforme a evolução existentes (Flint, 2006).
da situação de crise e ou conflito). O que resta aos países lindeiros ao
As características do poder naval, aliadas Atlântico Sul? A presença de outros ato-
aos avanços tecnológicos, permitiram que, res, como China e Índia, na África e na
nos anos 1940, um outro pensador geopo- Ámerica do Sul, em busca de recursos
lítico invertesse a visão de Mackinder. Foi primários para sustentar os respectivos
durante a Segunda Guerra Mundial que processos de desenvolvimento, repete ou
Nicholas Spykman, apesar de reconhecer a não as ações geopolíticas passadas? Como
existência de um “Heartland”, apresentou a gerar um pensamento político e estratégico
sua teoria do controle do “Rimland” (região marítimo brasileiro? Pensar conceitos e
intermediária entre o “Heartland” e os mares doutrinas adequados aos próprios interesses
ribeirinhos). As “franjas” seriam a zona pivô. vitais? Buscar, além das três autonomias
Posteriormente, a teoria irá tomar forma com seculares (alimentar, energética e militar),
a estratégia da “contenção” utilizada pelos a autonomia do conhecimento parece ser
EUA em oposição à então União Soviética. um caminho que pode ajudar a modificar
A observação em relação à periferia que a figura contemporânea abaixo: ela facilita
circunda os centros de poder apresentados entender o desafio das últimas fronteiras
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Faz sentido uma “defesa hemisférica”? lições que a história deixou para o nosso
O léxico esclarece de forma cristalina o aprendizado. Em verdade, a rivalidade
que é hemisfério: “metade de uma esfera” de interesses já nascia quando Thomas
ou “cada uma das duas metades em que Jefferson afirmou: “A América tem um
a Terra é imaginariamente dividida pelo hemisfério para si mesma”. A diretriz
círculo do Equador”. Como pode o conti- geopolítica emanada era bem objetiva e
nente americano, dentro de um conceito de deu base para que surgisse um mito de
“defesa hemisférica”, isolar-se das demais uma defesa “hemisférica” em oposição aos
partes do planeta Terra? atores estranhos ao continente americano.
A diretriz geopolítica que amparou o O avanço tecnológico tem permitido
lançamento da Doutrina Monroe tinha em uma crescente importância do mar no
seu cerne interesses vitais dentro da ótica campo econômico. Isto não modifica a
de um país que dava os seus passos para um visão dos antigos pensadores em relação
lugar de destaque no cenário internacional, às questões marítimas. A Convenção das
como bem observou Alexis de Tocqueville. Nações Unidas sobre o Direito do Mar
A força de um tipo de patriotismo amalga- veio legalizar e legitimar a possibilidade
mava “os interesses do uso do mar como
próprios aos interesses via de interconexão do
do país”. A coerência Não basta ter acesso legal e comércio internacional
estratégica é tão ampla legítimo às áreas oceânicas; e, também, como fonte
que tomaria muitas de recursos para a busca
páginas para ser des- é preciso ter vontade das autonomias alimen-
crita. Sinteticamente, política para assegurar a tares, em energia e de
pode-se apontar o Co- insumos. A entrada em
rolário Polk, que serviu
jurisdição sobre elas vigor da Lei do Mar,
de justificativa para a em 16 de novembro
anexação de territórios mexicanos, indo até de 1994, criou, inclusive, discussões por
o período de Theodore D. Roosevelt, que parte de alguns países que não se tornaram
decide sustentar a ideia “da América para signatários. Em verdade, alguns estudiosos
os americanos”, lançada em 1823 (Silva, proclamam existir um confronto entre a
Almeida e Leão, 2013). antiga ideia do mare liberum e a do “mar
E qual a razão do surgimento do termo fechado”, em razão da existência da juris-
América Latina? Em verdade foi uma dição legal, por força da Lei do Mar, sobre
criação francesa para antepor-se à Doutrina áreas oceânicas.
Monroe. Os recursos primários existentes A estratégia marítima precisa ser pensada
tinham olhos sobre eles de cobiça há muito hoje de acordo com as oportunidades ofe-
orientados para a manutenção de algum recidas pela Convenção das Nações Unidas
grau de controle sobre uma periferia rica em sobre o Direito do Mar, a Lei do Mar. Não
matérias-primas. A experiência francesa de basta ter acesso legal e legítimo às áreas
Napoleão III no México, que chegou ao oceânicas; é preciso ter vontade política
auge ao ocupá-lo e impor como imperador para assegurar a jurisdição sobre elas. Não
o Arquiduque Maximiliano, configura um basta, de forma simplista, pensar que a in-
bom exemplo da rivalidade entre os centros terdependência cada vez maior irá impedir
de poder. Infelizmente, temos hoje o uso do a ocorrência de conflitos. Tal modismo foi
termo “América Latina” sem cuidarmos das desastroso no início do século passado.
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Atlântico Sul e Amazônia Azul: Um desafio geopolítico para a sociedade brasileira?
muito a credibilidade de o
Brasil agir com autonomia
no plano internacional. O
papel desempenhado até o
final do século XX é o de
seguir as agendas fixadas
pelos principais atores in-
ternacionais. Vê-se surgir
uma proposta interessante,
a Zona de Paz e Coope-
ração no Atlântico Sul
(Zopacas), porém sem a
percepção profunda que os
ventos da Guerra Fria per-
deram intensidade. É uma
lição a ser analisada com
detalhamento e profun-
didade para que se saiba
observar corretamente os
fatos portadores de futu-
ro. As tentativas atuais de
fazer crescer a semente da
Zopacas do século passado
Fonte: Coutau-Bégarie – Tratado de Estratégia, adaptado pelo autor não têm sido frutíferas.
são normalmente simbolizados pela queda Falta uma sintonia com os
do Muro de Berlim e pelo colapso da União novos tempos?
Soviética. Várias previsões feitas naqueles A iniciativa da integração regional,
tempos não se confirmaram. O mundo cujo principal projeto começou com o
atual, com suas novas e velhas crises, rea- Mercado Comum do Sul (Mercosul),
cende os temores quanto à possibilidade de está hoje cheia de incertezas. Tal ideia
conflitos de mais ampla abrangência, como mirava muito o aparente sucesso da
os do século XX. União Europeia (UE). Após a crise de
O Brasil, nos anos de 1980 e 1990, 2008, que se espalhou por todo o mundo
vivenciava uma série de turbulências e trouxe, até hoje, imensas dificuldades,
internas. As crises econômicas foram tão em especial para a UE, indica-se que a
fortes que hoje pode-se verificar a existên- integração precisa ser mais bem estuda-
cia de duas décadas perdidas em termos da. Não se trata aqui de pensar o proces-
de desenvolvimento. Somente a partir de so somente pela perspectiva comercial.
1993 e 1994, com o início de um processo É necessário ampliar o foco e verificar
de estabilidade econômica, foi possível que as tratativas para integração em
pensar-se algo além das contradições in- outros campos, como, por exemplo, em
ternas brasileiras. política externa, não tiveram os avanços
Não se pode deixar de apontar que a pretendidos. A crise de 2008, marcada
ação de suspender o pagamento da dívi- simbolicamente pela falência do Banco
da externa nos anos de 1980 afetou em Lehman Brothers, mostrou a importância
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Atlântico Sul e Amazônia Azul: Um desafio geopolítico para a sociedade brasileira?
de se ter autonomia para decidir sobre disso não são bem definidas. Entretanto,
políticas econômica e financeira. a visão de curto prazo impede que sejam
A mesma crise de 2008, que ainda conectadas as ações com os interesses
assola o mundo, não deixou de atingir nacionais, dentro de uma visão prospectiva
o Brasil. Ela fez ressurgirem incertezas de longo prazo sonhada por José Bonifácio
sobre a economia e, desse modo, acen- em sua “Revolução Brasílica”.
tuou as contradições internas que não O slogan de uma “nova ordem mundial”
têm permitido um processo consistente e não resistiu aos desafios da realidade da
durável para o desenvolvimento. O pleito dinâmica geopolítica. Um novo xadrez de
acalentado de um lugar no Conselho de interesses surge, com alguns atores bem
Segurança (CS) da ONU, advindo de distintos dos protagonistas do século XX.
uma adequação da organização a um Analistas de curto prazo ou conhecidos
novo cenário de reestruturação das rela- na área de pensadores anglo-saxões como
ções de poder no mundo, vê-se contido armchair strategists chegaram a questionar
em função do recuo do Brasil em ações a necessidade do poder militar. Os oráculos
mais afirmativas na cena internacional. do exterior eram decodificados aqui no
Evidentemente que Brasil, pondo em dúvi-
as vulnerabilidades da até a existência das
internas também con- Será que no Atlântico Forças Armadas. É o
tribuem para a fal- momento de questioná-
ta de sustentação da Sul não se precisa pensar los, diante do processo
demanda brasileira. em uma nova concepção de insegurança que se
Não se pode deixar
de constatar que a
diante do surgimento de espalha contempora-
neamente. Os projetos
ação de modificar o novos atores estatais e não de segurança coletiva
CS também contri- estatais? buscam novos modelos,
bui para minar a cre- inspirações e arranjos
dibilidade daquela que encontrem susten-
organização. tação para os novos desafios. Será que no
A visão cética acima não é de todo pre- Atlântico Sul não se precisa pensar em uma
dominante. Alguns projetos que nasceram nova concepção diante do surgimento de
nas duas últimas décadas do século passa- novos atores estatais e não estatais?
do têm resistido à inconstância do cresci- A União das Nações Sul-Americanas
mento brasileiro. A presença na Antártida (Unasul) teve o Tratado Constitutivo
é um exemplo da capacidade de enfrentar aprovado em 23 de maio de 2008. O
as adversidades, em especial por parte da processo de criação teve como embrião
Marinha do Brasil. A cooperação iniciada as movimentações e rupturas dos eventos
com a Namíbia e que começa a estender-se geopolíticos da última década do século
a outros países da África também fortalece XX. A Unasul ampliou os desejos de in-
a ideia de manter uma atitude positiva na tegração regional surgidos em 2004, com
concepção de uma estratégia marítima. Por a criação da Comunidade Sul-Americana
vezes, esta ação, necessariamente de longo de Nações (Casa), com a transformação
prazo, não tem sido contemplada com uma desta para Unasul em 2007. Dentro do
vontade política por parte de diversos processo ocorreram várias iniciativas e,
setores do governo brasileiro. As razões entre elas, pode-se enfatizar a criação, a
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Atlântico Sul e Amazônia Azul: Um desafio geopolítico para a sociedade brasileira?
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Atlântico Sul e Amazônia Azul: Um desafio geopolítico para a sociedade brasileira?
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ALÉM DA AMAZÔNIA AZUL: Crescimento econômico e
adequação do Poder Naval*
SUMÁRIO
Introdução
Percalços e armadilhas
Implicações para a Defesa
Estratégias de sobrevivência
Renovação do Poder Naval
Adequação e continuidade
Poder Naval polivalente
Duplicação da Esquadra
Cenários e tendências
Evolução dos meios
Reversão de expectativas
Conclusão
INTRODUÇÃO a “armadilha da renda média” e deixar de
ser emergente, ingressando no seleto grupo
população jovem depois de 2025, indica estando o Japão e a Coreia do Sul entre eles.
que – se não aproveitar esta última opor- Segundo alguns economistas, países cuja
tunidade – nosso país poderá envelhecer renda per capita está situada entre US$ 11
antes mesmo de enriquecer3. mil e 15 mil teriam maior propensão a pas-
A estratégia é influenciada pelos fatores de sar por um período de relativa estagnação
natureza econômica e, para ser exequível, deve econômica. Este fenômeno é denominado
manter-se dentro dos limites do possível4. No “armadilha da renda média”5.
futuro imediato, a execução dos projetos estra- Os países nesta situação teriam sérias
tégicos que constam do Plano de Articulação dificuldades competitivas. Por serem
e Equipamento da Marinha do Brasil (Paemb) exportadores de commodities, concorrem
pode ser dificultada por restrições de ordem com países mais pobres, que levam certa
orçamentária e política, vantagem por terem
tornando necessária a custos mais baixos de
adoção de medidas para O crescimento da renda produção. Ao mesmo
viabilizar o atendimento tempo, sua indústria
simultâneo das necessi-
nacional abaixo do não consegue produzir
dades de aparelhamento esperado, assim como o bens e serviços inova-
e funcionamento. envelhecimento progressivo dores e sofisticados,
O presente artigo comparáveis aos ofe-
examina as perspec- da população, são fatores recidos pelos países de
tivas de renovação do que deverão ser levados renda mais alta. Para
Poder Naval brasilei- superar esta armadilha,
ro, diante da possibili-
em consideração no tais países deveriam in-
dade de um cenário in- planejamento de nossa vestir em infraestrutura
certo de curto e médio defesa tecnológica, empre-
prazo, caracterizado endedorismo e educa-
por um crescimento ção superior, além de
econômico débil e por uma possível reto- incentivar a internacionalização de suas
mada das políticas de “austeridade fiscal”. empresas6.
O texto baseia-se em bibliografia e fontes O Brasil estaria preso na “armadilha da
de caráter ostensivo, sendo as opiniões de renda média”, apresentando baixos níveis
natureza estritamente pessoal. de crescimento econômico. Para chegar
ao nível dos países de renda alta, deveria
PERCALÇOS E ARMADILHAS crescer a um ritmo bem mais acelerado.
Nosso país teria apenas de 10 a 15 anos
Há 50 anos, o Brasil ingressou no grupo para atingir esse objetivo, pois a população
de países de renda média, cujo Produto In- de jovens na faixa etária de 15 a 24 anos
terno Bruto (PIB) por habitante se situa na continuará crescendo até 2025, tendendo
faixa de US$ 3 a 16 mil. Até hoje, poucos a se reduzir a partir daí. Cessarão então
países conseguiram superar este estágio, os efeitos do “bônus demográfico”, que
3 Cf. “Para não perder o ‘bonde da História’”, O Globo, Rio de Janeiro, 13/8/2013, p.16 (Editorial/Opinião).
4 Cf. Friedman, Op. cit., p. 271 et seq.
5 Cf. Ferrari, “O caminho para a riqueza”, Op. cit. Cf. também Eichengreen & Shin, “Um check-up do Brasil”, Op. cit.
6 Ibidem. Cf. também Ferrari, “Um plano para sair da armadilha”, Op. cit.
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ALÉM DA AMAZÔNIA AZUL: Crescimento econômico e adequação do Poder Naval
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ALÉM DA AMAZÔNIA AZUL: Crescimento econômico e adequação do Poder Naval
Tabela no 1:
Órgão 52000 – MINISTÉRIO DA DEFESA
LOA 2014 – Unidades Orçamentárias (UO)
Tabela no 2:
Órgão 52000 – MINISTÉRIO DA DEFESA
LOA 2014 – Grupos de Natureza de Despesa (GND)
Tabela no 3:
UO 52131 – COMANDO DA MARINHA
LOA 2014 – Grupos de Natureza de Despesa (GND)
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ALÉM DA AMAZÔNIA AZUL: Crescimento econômico e adequação do Poder Naval
13 Cf. Fábio Silva Souza, “Carry over: uma ferramenta para a continuidade dos projetos no âmbito do Ministério
da Defesa?”, Revista Marítima Brasileira 133 (01/03): 218-224 – Rio de Janeiro, jan./mar. 2013.
14 Cf. Eduardo Italo Pesce, “Guerra Naval do Futuro: cenários prospectivos”, Revista do Clube Naval 121 (368):
8-13 – Rio de Janeiro, out./dez. 2013.
50 RMB2oT/2014
ALÉM DA AMAZÔNIA AZUL: Crescimento econômico e adequação do Poder Naval
15 Cf. Eduardo Italo Pesce, “Gastos de Defesa na América do Sul: uma perspectiva”, Segurança & Defesa 30
(112): 28-33 – Rio de Janeiro, [out./dez]. 2013.
RMB2oT/2014 51
ALÉM DA AMAZÔNIA AZUL: Crescimento econômico e adequação do Poder Naval
16 Cf. Secretaria-Geral da Marinha, SGM-101 – Normas para a Gestão do Sistema do Plano Diretor, 3a revisão
(Brasília, 2009), p. 41. Publicação disponibilizada em <https://www.egn.mar.mil.br/arquivos/cursos/csup/
SGM-101-REV-3.pdf>. Acesso em 18/8/2013.
17 Ibidem.
18 Cf. Pesce, “Guerra Naval do Futuro”, Op. cit. Cf. também Pesce, “Projetos da MB no Paed”, Op. cit.
19 Ibidem. Cf. também Eduardo Italo Pesce, “Realismo orçamentário e renovação do Poder Naval”, Revista
Marítima Brasileira 132 (07/09): 57-74 – Rio de Janeiro, jul./set. 2012.
20 Ibidem. Cf. também Eduardo Italo Pesce & Iberê Mariano da Silva, “Buscando a autonomia tecnológica em
Defesa”, Monitor Mercantil, Rio de Janeiro, 14/12/2012, p. 2 (Opinião). Cf. ainda Eduardo Italo Pesce &
Mário Roberto Vaz Carneiro, “Cooperação com indústrias estrangeiras”, Segurança & Defesa 28 (108):
4-16 – Rio de Janeiro, [out./dez.] 2012.
52 RMB2oT/2014
ALÉM DA AMAZÔNIA AZUL: Crescimento econômico e adequação do Poder Naval
21 Cf. Pesce, “Projetos da MB no Paed”, Op. cit. Cf. também Pesce, “Realismo Orçamentário”, Op. cit. Cf. ainda
Ministério da Defesa, LBDN, Op. cit. – Anexo II, pp. 247-250.
22 Cf. Eduardo Italo Pesce, “A Marinha do Brasil no contexto estratégico do Hemisfério Sul”, Revista Marítima
Brasileira 132 (10/12): 115-132 – Rio de Janeiro, out./dez. 2012.
23 Cf. Pesce, “Guerra Naval do Futuro”, Op. cit.
24 Cf. Pesce, “Projetos da MB no Paed”, Op. cit. Cf. também Pesce, “Realismo Orçamentário”, Op. cit.
RMB2oT/2014 53
ALÉM DA AMAZÔNIA AZUL: Crescimento econômico e adequação do Poder Naval
tados às águas jurisdicionais que constituem mar; (2) projeção de poder sobre terra; e (3)
a “Amazônia Azul”, nosso país necessita de controle de áreas marítimas. A capacitação
uma verdadeira Marinha oceânica, capaz de para o desempenho de tais tarefas deve
operar em toda a extensão do Atlântico Sul, contribuir para a dissuasão27.
assim como em outros oceanos . 25
No contexto da END, o desenvolvimen-
Para justificar plenamente a manutenção to dos meios operativos deve ocorrer de
de uma Marinha com capacidade oceânica, é modo sequencial, priorizando inicialmente
preciso que suas unidades efetivamente ope- a negação do uso do mar. Apesar disso, o
rem no exterior, mesmo em tempo de paz. O preparo do Poder Naval brasileiro deve
Poder Naval é simultaneamente o componente visar ao desempenho de todas as tarefas,
militar do Poder Marítimo e o componente ma- na defesa de áreas estratégicas e instalações
rítimo do Poder Militar. Ainda que seus meios vitais na “Amazônia Azul”, bem como
operativos tenham ca- na proteção das rotas
pacidade para atuar em marítimas de interesse
situações nas quais o O preparo do Poder Naval para o País e na reali-
emprego da força não brasileiro deve visar ao zação de operações de
ocorre, a finalidade úl- paz no exterior28.
tima de uma Marinha desempenho de todas as A transformação
é o combate – pois, em tarefas, na defesa de áreas da Marinha do Brasil
última análise, é isso numa “réplica da Ma-
que a distingue de uma estratégicas e instalações rinha soviética do final
Guarda Costeira26. vitais na “Amazônia Azul” dos anos 50 do século
O Paemb visa XX” poderia motivar
orientar a renovação percepções errôneas
dos meios e a distribuição espacial das no exterior. O Brasil deve buscar sempre
forças, segundo prioridades estabelecidas ser percebido como aliado ou parceiro
pela END. Ao contrário do que ocorria confiável, jamais como provável adver-
anteriormente, esta estratégia passou a sário! Assim sendo, o sequenciamento de
admitir uma hierarquização de tarefas e prioridades deve ser visto apenas como
objetivos. A fim de cumprir sua destinação uma imposição temporária das limitações
constitucional, a Marinha do Brasil daria às orçamentárias, visando compatibilizar a
tarefas básicas do Poder Naval a seguinte aplicação dos recursos disponíveis com
ordem de prioridade: (1) negação do uso do as metas de curto, médio e longo prazo29.
25 Cf. Pesce, “Guerra Naval do Futuro”, Op. cit. Cf. também Pesce, “A MB no contexto estratégico do Hemisfério
Sul”, Op. cit. Cf. ainda Eduardo Italo Pesce, “Plano de Articulação e Equipamento da Marinha do Brasil (Paemb)
2010-2030: Perspectivas”, Revista Marítima Brasileira 130 (04/06): 73-88 – Rio de janeiro, abr./jun. 2010.
26 Cf. Pesce, “Guerra Naval do Futuro”, Op. cit.
27 Cf. Presidência da República, END, Op. cit., pp. 12-14. Cf. também Aurélio Ribeiro da Silva Filho, “Aula
inaugural dos Cursos de Altos Estudos da Escola de Guerra Naval”, Revista da Escola de Guerra Naval (13):
174-200 – Rio de Janeiro, jun. 2009. Cf. ainda Eduardo Italo Pesce, “Articulação do Poder Naval brasileiro:
dúvidas e comentários”, Revista Marítima Brasileira 130 (10/12): 50-61 – Rio de Janeiro, out./dez. 2010.
28 Cf. Presidência da República, END, Op. cit., pp. 12-14. Cf. também Pesce, “Articulação do Poder Naval bra-
sileiro”, Op. cit. Cf. ainda Eduardo Italo Pesce, “Uma segunda Esquadra para o Brasil?”, Revista Marítima
Brasileira 129 (01/03): 153-160 – Rio de Janeiro, jan./mar. 2009.
29 Cf. Pesce, “Articulação do Poder Naval brasileiro”, Op. cit. Cf. também Pesce, “Uma segunda Esquadra para
o Brasil?”, Op. cit.
54 RMB2oT/2014
ALÉM DA AMAZÔNIA AZUL: Crescimento econômico e adequação do Poder Naval
30 Cf. Eduardo Italo Pesce, “Além da Amazônia Azul: Projeção estratégica do Brasil no Atlântico Sul”, Revista
Marítima Brasileira 132 (01/03): 86-95 – Rio de Janeiro, jan./mar. 2012.
31 Cf. Gabinete do Comandante do Exército, Despacho Decisório no 157/2013 de 21/10/2013 – Processo PO no
900076 – Gab Cmt EB: 64536.023671/2013-14. Disponibilizado em <http://www.defesaaereaenaval.com.
br>. Acesso em 16/2/2014.
32 Cf. Eduardo Italo Pesce, “Reflexos da criação da 2a Esquadra e da 2a Força de Fuzileiros da Esquadra na estrutura
do setor operativo da Marinha do Brasil”, Revista Marítima Brasileira 133 (04/06): 33-47 – Rio de Janeiro,
abr./jun. 2013. Cf. também Pesce, “Articulação do Poder Naval brasileiro”, Op. cit.
33 Cf. “Navios”, Portal da Marinha em <http://www.marinha.mil.br/navios>. Acesso em 28/2/2014.
RMB2oT/2014 55
ALÉM DA AMAZÔNIA AZUL: Crescimento econômico e adequação do Poder Naval
QUANTIDADE/PERÍODO
TIPO DE NAVIO
2010-2014 2015-2022 2023-2030 2031-2047 TOTAL
Submarinos de propulsão convencional (SBR) –– 05 05 05 15
Submarinos de propulsão nuclear (SNBR) –– 01 01 04 06
Navios de propósitos múltiplos (NPM) –– 02 02 –– 04
Navios-aeródromo (NAe) –– –– 01 01 02
Navios de escolta (fragatas e corvetas) –– 06 15 09 30
Navios de apoio logístico (NApLog) –– 03 02 –– 05
Navios de socorro submarino (NSS) –– 02 –– –– 02
Navio-hospital (NH) –– –– 01 –– 01
Navio-transporte de apoio (NTrA) –– 02 02 –– 04
Navio-escola (NE) –– –– 01 –– 01
Navio-veleiro (NVe) –– –– 01 –– 01
NAVIOS TÍPICOS DE ESQUADRA (*) –– 21 31 19 71
(*) Observação: A tabela não inclui três rebocadores de alto-mar (RbAM) para apoio às unidades de superfície,
quatro navios caça-minas (NCM) para apoio aos submarinos e 56 embarcações de desembarque de grande porte.
Outros meios navais (145 navios e quatro diques flutuantes), cuja obtenção também está prevista no Paemb, não
integrarão a Esquadra, sendo destinados às Forças Distritais, aos serviços de hidrografia e navegação, à manuten-
ção e aos reparos do material e à instrução do pessoal. FONTES: Pesce, “Realismo orçamentário”, Op. cit./Pesce,
“Desafios para o reequipamento da MB”, Op. cit.
34 Cf. Pesce, “Articulação do Poder Naval brasileiro”, Op. cit. Cf. também Pesce, “Projetos da MB no Paed”,
Op. cit. Cf. ainda Eduardo Italo Pesce, “Desafios para o reequipamento da Marinha do Brasil”, Revista de
Marinha 77 (977): 25-27 – Lisboa, jan./fev. 2014.
35 Cf. Pesce, “Realismo Orçamentário”, Op. cit.
36 Ibidem.
56 RMB2oT/2014
ALÉM DA AMAZÔNIA AZUL: Crescimento econômico e adequação do Poder Naval
uma segunda Esquadra até 2030 ou pouco e outros ilícitos transnacionais – como tráfico
depois disso. de drogas, armas ou pessoas. O emprego
Pode-se adotar o mesmo pressuposto com de elementos do Poder Naval pode incluir
relação aos meios aeronavais e de fuzileiros também a fiscalização da pesca e a proteção
navais. A concretização da perspectiva de dos recursos naturais e do meio ambiente, nas
duplicação do núcleo principal de nosso águas jurisdicionais do próprio país38.
Poder Naval dependerá, em última análise, O predomínio das “novas ameaças” e dos
da disponibilidade de recursos e das decisões conflitos assimétricos no futuro imediato não
que forem tomadas, no curto e no médio elimina a possibilidade de conflitos interes-
prazo, para assegurar a continuidade dos tatais, motivados por interesses nacionais
programas de reequipamento da Marinha do em disputa. A escassez de recursos naturais
Brasil – sem prejuízo dos programas de lon- essenciais poderá levar a conflitos pelo con-
go prazo para pesquisa e desenvolvimento37. trole de tais recursos. No mar, poderão ocorrer
ações de emprego de força em decorrência
CENÁRIOS E TENDÊNCIAS de controvérsias entre Estados, a respeito de
limites de jurisdição sobre a Zona Econômica
As tendências da guerra naval para o Exclusiva (ZEE) e a Plataforma Continental,
futuro imediato são determinadas pela visando obter ou assegurar o acesso ao petró-
evolução do quadro geopolítico atual, ca- leo e a outros recursos aí existentes39.
racterizado pela incerteza e pela assimetria As tendências de prazo mais longo para a
do poder. Desde o fim da Guerra Fria, a evolução da guerra naval ainda não são claras,
conjuntura estratégica mundial caracteriza- mas as mudanças que certamente ocorrerão
se pela ausência de um antagonismo global devem se refletir também no Brasil. Os pro-
dominante e pelo predomínio dos conflitos jetos de nossa Marinha até 2031 constam do
regionais, locais ou irregulares, envolvendo Paemb e do Paed, embora os valores gerais
atores estatais e não estatais. A inexistência estimados, os cronogramas e os quantitativos
de antagonismos navais dominantes vem de meios previstos possam sofrer alterações40.
deslocando a ênfase no emprego do Poder As prioridades para a construção do núcleo do
Naval da guerra no mar para a “guerra lito- Poder Naval incluem o Prosub, o Prosuper,
rânea”, em operações de tipo expedicionário. o Pronanf e o Pronae, além da obtenção de
O apoio a operações de paz ou a interven- navios-patrulha (NPa) de 500 toneladas e de
ções “humanitárias” em países conflagrados, corvetas da classe Barroso41. Espera-se que
sob os auspícios da Organização das Nações os projetos e programas tenham continuidade
Unidas (ONU), passou a fazer parte do dia a a partir de 2032, quando deverão estar dis-
dia das Marinhas, ao lado das ações de salva- poníveis tecnologias que afetarão as caracte-
guarda contra o terrorismo no mar, a pirataria rísticas e o emprego dos meios operativos42.
37 Cf. Pesce, “Guerra Naval do Futuro”, Op. cit. Cf. também Pesce, “Desafios para o reequipamento da MB”, Op. cit.
38 Cf. Pesce, “Guerra Naval do Futuro”, Op. cit. Cf. também Pesce, “A MB no contexto estratégico do Hemisfério
Sul”, Op. cit. Cf. ainda Pesce, “Além da Amazônia Azul”, Op. cit.
39 Ibidem.
40 Cf. Pesce, “Guerra Naval do Futuro”, Op. cit. “Projetos da MB no Paed”, Op. cit. Cf. também Pesce, “Realismo
orçamentário”, Op. cit. Cf. ainda Pesce, “Paemb 2010-2030: Perspectivas”, Op. cit. Cf. também Ministério
da Defesa, LBDN, Op. cit. – Anexo II, pp. 247-250.
41 Cf. “Programa de Reaparelhamento”, Portal da Marinha em <http://www.marinha.mil.br/programa-de-reapa-
relhamento>. Acesso em 21/12/2013.
42 Cf. Pesce, “Guerra Naval do Futuro”, Op. cit.
RMB2oT/2014 57
ALÉM DA AMAZÔNIA AZUL: Crescimento econômico e adequação do Poder Naval
Além dos meios navais, aeronavais e Air Vehicles), assim como dirigíveis e ou-
de fuzileiros navais tradicionais, o Poder tras aeronaves não convencionais. Veículos
Naval poderá contar com diversos outros aéreos não tripulados (Vant) de asa fixa ou
componentes baseados em terra, no leito rotativa, baseados em terra ou a bordo de
marinho ou no espaço, interligados em navios, são atualmente empregados na vigi-
rede, e o domínio da informação será cada lância marítima e em várias outras missões
vez mais determinante. No século XXI, o de apoio a forças navais. Em futuro não
Poder Naval e o Poder Marítimo continu- muito distante, sistemas aéreos de combate
arão a desempenhar papel fundamental, não tripulados (Unmanned Combat Air
uma vez que a economia mundial circula Systems) poderão integrar os grupos aéreos
pelo mar43. Para que a Marinha do Brasil embarcados em navios-aeródromo (NAe)45.
seja capaz de atuar com independência no Fuzileiros navais de vários países já
cenário internacional, esta deverá dominar empregam veículos terrestres não tri-
as novas tecnologias críticas de interesse pulados (Unmanned Land Vehicles) em
naval. diversas missões, inclusive na localização
e na remoção de artefatos explosivos. O
EVOLUÇÃO DOS MEIOS uso de meios não tripulados, em especial
para desempenhar missões demasiada-
O papel dos submarinos, especialmente mente perigosas, longas ou cansativas, é
os dotados de propulsão nuclear, tende a ser uma tendência que tende a se ampliar. Os
ampliado. Armadas com torpedos e mís- futuros armamentos e sistemas de armas
seis capazes de atacar alvos no mar ou em incorporarão tecnologias de ponta, cujo
terra, tais unidades serão complementadas desenvolvimento autônomo requer grande
por veículos submarinos não tripulados esforço e recursos consideráveis. Os atuais
(Unmanned Underwater Vehicles), para países detentores costumam negar a outros
emprego em diversas missões. Tais veícu- países o acesso a tais tecnologias, lançando
los já vêm sendo usados há algum tempo mão de diversos mecanismos46.
na remoção de minas, operando a partir de
navios de contramedidas44. Navios de casco REVERSÃO DE EXPECTATIVAS
convencional serão complementados por
diferentes meios de superfície não conven- É certo que, num horizonte temporal
cionais – o que incluirá navios multicasco, superior a 20 anos, diversas tecnologias
hidrofólios e embarcações de colchão de avançadas – algumas das quais ainda se
ar, além de veículos de superfície não encontram em fase embrionária – modifica-
tripulados (Unmanned Surface Vehicles). rão e influenciarão a guerra naval, passando
Além de aviões e helicópteros, os meios a fazer parte do dia a dia das principais
aeronavais disponíveis no futuro incluirão Marinhas. O caminho natural de evolução
veículos aéreos não tripulados (Unmanned de uma Marinha como a nossa é procurar
58 RMB2oT/2014
ALÉM DA AMAZÔNIA AZUL: Crescimento econômico e adequação do Poder Naval
47 Cf. Pesce, “Guerra naval do futuro”, Op. cit. Cf. também Pesce, “Projetos da MB no Paed”, Op. cit. Cf. ainda
Pesce, “Realismo orçamentário”, Op. cit.
48 Cf. Norman Friedman, Network-Centric Warfare: How Navies Learned to Fight Smarter through Three World
Wars (Annapolis: Naval Institute Press, 2009), pp. 240-243.
49 Cf. Scott Cheney-Peters & Matthew Hipple, “Print me a Cruiser!” USNI Proceedings 139 (4/1,322): 52-55 –
Annapolis, April 2013.
RMB2oT/2014 59
ALÉM DA AMAZÔNIA AZUL: Crescimento econômico e adequação do Poder Naval
60 RMB2oT/2014
ALÉM DA AMAZÔNIA AZUL: Crescimento econômico e adequação do Poder Naval
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62 RMB2oT/2014
OPERAÇÕES NAVAIS NO SÉCULO XXI:
A Amazônia Azul*
(Parte 2)
SUMÁRIO
A Amazônia Azul
Mentalidade marítima
Aspectos Estratégicos
O Poder Naval – perspectivas
Marinhas modernas e pós-modernas
O continuun das tarefas básicas do Poder Naval
Estratégias antiacesso
A proteção da Amazônia Azul – perspectivas
A doutrina precisa mudar?
Tarefas básicas do Poder Naval no século XXI
Conclusão
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OPERAÇÕES NAVAIS NO SÉCULO XXI: A Amazônia Azul – (Parte 2)
1 A PDN estabelece, em sua Orientação Estratégica no 6.12, que “em virtude da importância estratégica e da
riqueza que abrigam, a Amazônia brasileira e o Atlântico Sul são áreas prioritárias para a Defesa Nacional”
e, na de no 6.14, que “no Atlântico Sul é necessário que o País disponha de meios com capacidade de exer-
cer a vigilância e a defesa das águas jurisdicionais brasileiras, bem como manter a segurança das linhas de
comunicações marítimas” (BRASIL, 2005).
RMB2oT/2014 65
OPERAÇÕES NAVAIS NO SÉCULO XXI: A Amazônia Azul – (Parte 2)
66 RMB2oT/2014
OPERAÇÕES NAVAIS NO SÉCULO XXI: A Amazônia Azul – (Parte 2)
Figure 11.1 The ‘use of the sea’ triangle I Figure 11.2 The ‘use of the sea’ triangle II
para confirmar sua soberania neste espaço tivam dissuadir, influenciar, coagir, ou
do território, seja para garantir o cumpri- mostrar seu alcance e sua presença. Neste
mento de leis e a manutenção da ordem, ou contexto, as características do PN tornam os
para combater as “novas ameaças”5. O PN meios navais particularmente apropriados
pode executar uma ampla gama de tarefas para a execução de diversas tarefas diplo-
constabulares, que o Almirante Vidigal máticas, que o Almirante Vidigal classifi-
(2006) designava de cava no mesmo grupo,
“emprego político do já citado, de “emprego
poder militar”, e que o As tarefas diplomáticas político do poder mi-
Almirante Moura Neto litar” (2006), dentre
(2010) englobou em
do PN envolvem, as quais destacam-se:
sete grupos de ativida- tradicionalmente, ações fazer-se presente em
des: garantia da salva- que objetivam dissuadir, portos amigos; exercer
guarda da vida humana ação de presença nas
no mar; segurança da influenciar, coagir, ou AJB; impor sanções
navegação aquaviária; mostrar seu alcance e sua e embargos; cooperar
prevenção e repressão com forças navais es-
da poluição ambiental;
presença trangeiras; e realizar
segurança orgânica das ações humanitárias.
plataformas de petróleo; prevenção e repres- Outro aspecto importante é o fato de
são às “novas ameaças”; garantia da sobera- que existe, nos dias atuais, uma demanda,
nia nacional nas AJB; e segurança da área por parte de organizações multinacionais,
marítima contra o tráfego não autorizado. pelo emprego do PN em operações para a
As tarefas diplomáticas do PN envol- imposição da lei no mar, para o combate ao
vem, tradicionalmente, ações que obje- narcotráfico e à pirataria. Estas atividades
5 Para efeitos deste trabalho, o termo “novas ameaças” engloba o terrorismo, o narcotráfico, o contrabando, a
pirataria no mar e o tráfico de pessoas e armas (MOURA NETO, 2010).
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OPERAÇÕES NAVAIS NO SÉCULO XXI: A Amazônia Azul – (Parte 2)
podem ser conduzidas fora das AJB, cons- proteção, pois o inimigo deve ser detido, ou
tituindo, neste caso, um exemplo de tarefa dissuadido, o mais longe possível da costa
ao mesmo tempo constabular e diplomática, brasileira. Estas ações devem envolver a
situação esta prevista por Grove. participação de aeronaves da Força Aérea
Apesar da crescente demanda e impor- Brasileira (FAB).
tância das tarefas executadas na paz, não Outra importante tarefa combativa do
se deve perder de vista que o principal PN é a proteção, aproximada ou distante, do
emprego do PN é o combate. tráfego marítimo. Esta é outra tarefa que se
A END apresenta como prioridade inicia em tempos de paz, envolvendo tanto
para uma “estratégia de defesa marítima ações diplomáticas quanto constabulares,
do Brasil” a negação do uso do mar “a mas que encontra nas ações de combate a
qualquer concentração de forças inimigas instância derradeira para garantir o necessá-
que se aproxime do Brasil por via maríti- rio fluxo comercial da economia brasileira.
ma” (BRASIL, 2008). Para efeitos deste Por fim, o PN deve, ainda, contribuir
estudo, esta priorização será observada nos para as ações de guerra na região amazô-
seus termos mais amplos, vislumbrando o nica. Trata-se de prioridade estabelecida na
emprego combativo do Poder Militar para PDN e na END e que encontra nos meios
negar o acesso através do Atlântico Sul navais um vetor imprescindível, dadas
de forças inimigas que ameacem a costa as características hidrográficas da região.
brasileira. Assim, negar o acesso é uma Aplica-se raciocínio semelhante, ainda
tarefa mais ampla que negar o uso do mar. que em menores dimensões, à região do
Neste sentido, a proteção das AJB apre- pantanal mato-grossense.
senta demandas estratégicas que envolvem
uma considerável variedade de sistemas de O PODER NAVAL – PERSPECTIVAS
armas, que devem ser integrados de forma
a complementar seus efeitos bélicos. Esta Nos itens anteriores, foram analisados a
proteção inicia-se, em tempos de paz, com origem e o emprego atual das TBPN, tanto
atividades diplomáticas e constabulares, na MB quanto nas principais Marinhas do
envolve monitoramento e controle cons- mundo. Também, foram identificadas as
tantes das possíveis ameaças e a posterior demandas estratégicas para a proteção da
pronta resposta, com o adequado nível de Amazônia Azul. Agora, serão analisadas as
violência, combinando os vetores subma- tendências futuras, apontadas por especialis-
rinos, de superfície, aéreos ou anfíbios. tas, para o emprego do PN no século XXI.
O conjunto destas atividades deve ter seu
emprego planejado para ocorrer de forma Marinhas modernas e pós-modernas
escalonada em linhas de defesa, aproxima-
da ou afastada, principalmente nas Áreas Dentre as principais tendências que
Vital e Primária6 (MOURA NETO, 2010). norteiam o desenvolvimento do pensa-
No interior das AJB, a patrulha naval mento estratégico com vistas ao emprego
deverá responder pela dupla demanda de do PN no século XXI, destaca-se a visão
fazer o Estado presente, nos tempos de concebida pelo britânico Geoffrey Till.
paz, e de constituir uma última linha de Ela incorpora os efeitos da globalização,
6 As áreas marítimas estratégicas de maior importância para o Poder Naval brasileiro são: Área Vital (Amazônia
Azul), Área Primária (Atlântico Sul), Área Secundária (Mar do Caribe e Pacífico Sul Oriental), e Demais
Áreas do Globo (MOURA NETO, 2010).
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7 Além da nova doutrina básica da USN (EUA, 2010a), do livro Seapower (TILL, 2009), da Doutrina Marítima
Australiana (AUSTRALIA, 2010) e da Estratégia da Marinha Canadense (CANADA, 2001), as seguintes
publicações norte-americanas consultadas fazem alusões a estratégias antiacesso: Naval Operations Con-
cept (NOC 2010): implementing the maritime strategy (EUA, 2010b); The National Military Strategy of the
United States of America: redefining America’s military leadership (EUA, 2011b); The National Strategy
for Marttime Security (EUA, 2005); AirSea Battle: a point-of-departure operational concept (TOL, et al,
2010); e Joint Publication (Draft) – Joint Operational Access Concept (EUA, 2011a). Cabe ainda registrar
que as doutrinas das seguintes Marinhas definem a Defesa de Costa, executada com a disposição de sistemas
de armas em camadas, como uma TBPN ou operação de vulto: África do Sul, Austrália, Chile, Coreia do
Sul, França, Índia e Rússia.
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OPERAÇÕES NAVAIS NO SÉCULO XXI: A Amazônia Azul – (Parte 2)
pelo mar (Homeland Defense) (EUA, retardar o acesso inimigo ao Teatro de Ope-
2007a). Por sua vez, a vertente de ataque rações. A “negação de área” visa degradar a
prevê ações ofensivas de “entrada forçada”8 eficácia operacional, ou a liberdade de ação,
como forma de garantir acesso operacional do inimigo dentro do teatro (EUA, 2011a).
em suas áreas de interesse, a despeito de Pode-se citar como capacidades an-
estratégias antiacesso de seus potenciais tiacesso: mísseis balísticos e de cruzeiro,
oponentes (EUA, 2011a; TOL, et al, 2010). lançados do ar, da superfície ou de sub-
As capacidades Antiaccess – Area marinos; sistemas de vigilância e reco-
Denial (A2/AD) têm crescido não apenas nhecimento de longo alcance; submarinos
devido a aspectos vinculados ao desenvol- nucleares; e sistemas de ataque cibernético
vimento tecnológico, mas também pelo uso e espacial. As capacidades de negação de
inovador de armas e táticas convencionais. área são: forças navais, aéreas e terrestres
As atuais estratégias antiacesso preveem integradas; sistemas de defesa antiaérea;
o emprego de armas combinadas9 das FA mísseis antinavio de médio e curto alcance,
do país, dispostas em camadas de forma a lançados do ar, mar ou terra; submarinos
conferir profundidade à defesa e de acordo a diesel; munições inteligentes; sistemas
com os conceitos de A2/AD. No conceito de guerra eletrônica; e lanchas de ataque
de “antiacesso”, as FA buscam impedir ou (EUA, 2010a).
Figura 5 – Capacidades antiacesso e de negação de área em uma defesa integrada. A capacidade antiacesso abrange,
do mais distante para o mais próximo da costa a ser defendida: ataques não convencionais aos locais de apoio
ao embarque, emprego e manutenção de forças em combate; ataques cibernéticos e espaciais às redes e sistemas
de apoio ao embarque, emprego e manutenção destas forças; mísseis balísticos de teatro e submarinos; mísseis
balísticos antinavio e navios de superfície; mísseis de cruzeiro antinavio e aeronaves de asa fixa; e embarcações de
ataque, mísseis superfície-ar, aeronaves de asa rotativa, e sistema de veículos aéreos não tripulados. As camadas
da capacidade de negação de área se superpõem às duas últimas da de antiacesso; ao todo a capacidade de negação
de área possui as seguintes camadas: mísseis de cruzeiro antinavio e aeronaves de asa fixa; embarcações de ataque,
mísseis superfície-ar, aeronaves de asa rotativa, e sistema de veículos aéreos não tripulados; e artilharia, morteiros,
foguetes guiados e mísseis, unidades terrestres de manobra e artilharia antiaérea. Fonte: EUA, 2011a, p. 9
8 As operações de “entrada forçada” visam à conquista e manutenção de uma área em face de oposição armada
(EUA, 2010b).
9 O conceito de armas combinadas busca maximizar o poder de combate por meio da completa integração das
armas, de modo que, quando o inimigo tente reagir aos efeitos de uma delas, ele se torne mais vulnerável
à outra. Visa-se confrontar o inimigo não apenas com um problema, mas com um dilema de difícil decisão
(EUA, 1997).
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Figura 6 – Sistema de defesa em camadas. A escala de cores (do amarelo para o vermelho) indica a intensificação
do poder de combate à medida que uma força adversa se aproxima do núcleo da defesa. No círculo mais afastado
estão as forças de operações especiais e de ataque cibernético. No próximo círculo estão os mísseis balísticos de
teatros e intercontinentais e os submarinos. Nos dois círculos que se seguem estão os mísseis antinavio balísticos e
de cruzeiro e os submarinos. No quinto círculo estão artilharia de costa com munições guiadas de precisão, aviação,
mísseis antinavio de cruzeiro e mísseis superfície-ar. O último círculo dispõe de minas, pequenas embarcações e
artilharia antiaérea. Fonte: EUA, 2010c, p. 7
10 Segundo o Almirante Reis, o termo outerspace poderia ser traduzido como “espaço cósmico”, mas esta ex-
pressão “não revela os meandros do termo” que foi incorporado pelo tratado de 1967 (Outerspace Treaty) e
cujas atividades “têm dado margem a uma série de avanços” tecnológicos de uso civil e militar (REIS, 2010).
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Figura 7 – Sistema antiacesso e negação de área da China. Percebe-se o emprego combinado de satélites, mísseis
lançados de terra, mar e ar, submarinos e aeronaves. A variação de cor, do laranja (mais distante da costa) para o
vermelho (mais próximo), indica que a intensidade da resistência deve crescer à medida que a ameaça se aproxima
da costa. No círculo mais afastado, nota-se o alcance dos SSN da classe Shang com mísseis YJ-82, satélites de
pesquisa oceânica, baterias de mísseis superfície-superfície (CSS-5) e mísseis balísticos antinavio Dong Feng
(DF-21). Numa segunda linha de defesa, notam-se submarinos convencionais da classe Kilo e Song com mísseis
SS-N-27, destróieres da classe Sovremenny com mísseis SS-N-22, aeronaves Sukhoi SU-30 e Xian H-6, com mísseis
HY-4A e AS-18, e baterias de mísseis superfície-superfície (CSS-6) e mísseis balísticos antinavio (DF-15). O
círculo interno de defesa é coberto pelas mesmas baterias de mísseis (CSS-6, DF-15 e SS-N-27), por lanchas de
ataque rápidas com mísseis SS-N-22 e por radares de alcance além do horizonte. Fonte: TOL, 2010, p. 10
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desejados das TBPN são complementares, A análise desses fatos, tanto os passa-
este conceito não foi acolhido. Ao contrá- dos quanto os atuais, indica que já haveria
rio, com o passar do tempo, formaram-se motivo suficiente para alguma atualização
nichos operacionais relacionados a cada das TBPN. Passa-se agora, no entanto, a
uma das TBPN (Controle de Área Ma- observar as necessidades de mudança sob
rítima – CAM e navios aeródromos e de a perspectiva das tendências para o futuro
superfície; Negação do Uso do Mar – NUM emprego do PN.
e submarinos; e PPT e fuzileiros navais), Uma das tendências identificadas é a
devido a uma interpretação segundo a qual do balanceamento do perfil do PN entre
as tarefas são estanques e cumpridas por os conceitos de Marinha moderna e pós-
meios navais dedicados. Este conceito de moderna. Por esta classificação, a leitura
interdependência das TBPN também está da DBM permite categorizar a MB como
inserido nas teorias uma Marinha moder-
de Booth e Grove, e na, pois suas TBPN
na doutrina marítima A MB precisa atualizar enfatizam o emprego
da RMB e de outras
Marinhas, como as da
suas TBPN para adaptar-se bélico do Poder Naval.
Na prática, no entanto,
África do Sul, Aus- às demandas do futuro. a MB já desempenha
trália, Canadá, Chile, A formulação de tarefas típicas de Ma-
Índia e Portugal. rinhas pós-modernas
Outro aspecto re- recomendações que possam (segurança marítima,
levante diz respei- balizar a atualização das missões diplomáticas,
to ao fato de que a
prioridade atribuída
TBPN deve buscar atender de combate às novas
ameaças, de Autoridade
à defesa da região à necessidade de capacitar Marítima, operações
amazônica, tanto na o PN brasileiro a proteger a expedicionárias e de
PDN quanto na END, manutenção da boa or-
não está devidamente Amazônia Azul dem no mar), sem, no
respaldada pela DBM, entanto, denominá-las
que apenas prevê a atuação da MB nesta de TBPN, como sugere Geoffrey Till e
região por meio da execução de Operações como é o caso nas demais Marinhas es-
Ribeirinhas, no contexto das Operações tudadas. Segundo este autor, haverá uma
em Teatros Não Marítimos e de ações de tendência a aumentar a demanda pelo em-
Autoridade Marítima. Considerando-se prego do PN em atividades que garantam a
que é crucial proteger e atuar na Amazô- segurança do sistema de comércio marítimo
nia, talvez fosse interessante caracterizar internacional.
este tipo de emprego tão específico, em A outra tendência consiste em conside-
termos de meios navais e doutrina, como rar as TBPN como um conjunto integrado
uma Tarefa Básica. Conforme visto, a de tarefas interdependentes que formam
classificação do emprego do PN em ou- um continuum. Este conjunto abrange,
tputs, como as TBPN, serve não apenas além das tarefas concebidas pelo Almi-
para padronizar a doutrina para o público rante Turner (CAM, PPT, Presença Naval
interno, mas também para justificar, jun- e Deterrência Estratégica), a Diplomacia
to ao governo e à população em geral, o Marítima, a Manutenção de Domínio e a
emprego das Marinhas. Armadilha Marítima. Estas TBPN englo-
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bam um amplo espectro que inclui tarefas deve buscar atender, em primeiro plano, à
de combate, diplomáticas e constabulares, necessidade de capacitar o PN brasileiro a
representando o perfil que as Marinhas proteger a Amazônia Azul. No entanto, ou-
devem apresentar no futuro. tras demandas estratégicas dizem respeito
Além destes indícios de que a MB à atuação da MB na região amazônica e ao
precisa atualizar suas TBPN para adaptar- seu emprego como Autoridade Marítima.
se às demandas do futuro, vale salientar Com relação à defesa das AJB, este
que esta necessidade de mudança tem trabalho baseou-se na prioridade estabele-
sido apontada por representantes de cida pela END para a MB, de “negar o uso
alto nível da administração naval. No do mar a qualquer concentração de forças
Seminário Amazônia Azul, ocorrido inimigas que se aproxime do Brasil por via
em outubro de 2010 na Escola Naval, marítima” (BRASIL, 2008). Esta tarefa
o então comandante-geral do Corpo de estratégica foi compreendida em termos
Fuzileiros Navais, Almirante de Esquadra amplos, extrapolando a mera execução da
(FN) Alvaro Augusto Dias Monteiro, e o TBPN de NUM, pois, para que a Marinha
então Vice-Almirante Elis Treidler Öberg cumpra o estabelecido na END, no sentido
expuseram sugestões de atualização das de articular a “estratégia de defesa marítima
TBPN. O Almirante Monteiro (2010b) do Brasil” (BRASIL, 2008), precisa ser
apresentou um diagrama onde destacava planejado um conjunto de outras atividades.
a interdependência necessária das TBPN Além disso, esta estratégia de defesa
e a centralidade do CAM e acrescentava marítima deve estar alinhada com as prin-
as tarefas de Diplomacia Naval e de Se- cipais tendências de evolução do emprego
gurança Marítima. O Almirante Öberg do PN, particularmente com o conceito de
(2010), por sua vez, buscou salientar a A2/AD. Assim, deve espelhar o que alguns
interdependência das tarefas apresentando estrategistas têm denominado de estratégia
uma proposta baseada nos dois triângulos antiacesso.
do uso do mar de Grove, com a seguinte Conforme visto, a A2/AD implica proje-
alteração: substituição da função consta- tar uma defesa do litoral, disposta em cama-
bular por “fiscalizador da soberania”. das sucessivas, em que diferentes sistemas
Por fim, pode-se concluir que existe mo- de armas interdependentes combinam seus
tivação suficiente para uma atualização das efeitos e alcances, de forma a enrijecer a de-
TBPN. Assim, o próximo tópico formulará fesa, à medida que o adversário se aproxima
um novo conjunto de Tarefas Básicas que da costa. Este conceito se alinha e amplia o
atenda às demandas especificadas. Este de defesa aproximada, afastada e aleatória
processo de formulação, no entanto, levará (MOURA NETO, 2010).
em consideração o caráter tradicionalmente As camadas apresentadas a seguir (fi-
conservador da DBM e o fato de as atuais gura 8), assim como suas análises, servirão
TBPN já estarem, há muito, arraigadas no de linha mestra para a formulação de um
conhecimento coletivo da MB. novo conjunto de TBPN para a MB. Neste
processo, as atuais TBPN serão validadas,
Tarefas básicas do Poder Naval no ou alteradas, ou ainda, se for o caso, novas
século XXI tarefas serão formuladas.
A primeira camada a ser considerada é
A formulação de recomendações que a diplomática. Seu alcance deve ser amplo,
possam balizar a atualização das TBPN mas deve ter seu foco voltado para o entor-
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11 A Área Primária, uma área marítima estratégica para a MB, “é a região abrangida pelo Atlântico Sul, onde o
esforço da Marinha é fundamental, por envolver questões essenciais de interesse nacional” (MOURA NETO,
2010). O Atlântico Sul que caracteriza a Área Primária abrange, conforme definido anteriormente, os países
lindeiros a este oceano, tanto os da margem leste da América do Sul quanto os da margem oeste da África.
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12 Segundo o Glossário das FA, o Conjugado Anfíbio é o “conjunto de meios navais, aeronavais e de fuzileiros
navais prontos para cumprir missões relacionadas à projeção do poder sobre terra” (BRASIL, 2007b).
13 O conceito de consciência situacional marítima está vinculado ao de Maritime Domain Awareness (MDA),
que, segundo o Naval Operations Concept: Implementing The Maritime Strategy, pode ser compreendido
como “o entendimento eficaz de qualquer coisa associada ao domínio marítimo que possa impactar a defesa,
a segurança, a economia ou o ambiente estratégico de uma nação” (EUA, 2010b, p. 15, tradução nossa).
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OPERAÇÕES NAVAIS NO SÉCULO XXI: A Amazônia Azul – (Parte 2)
Nesta camada defensiva, além do trato Apesar destas ressalvas, a NUM, na dou-
do conhecimento, devem ser realçadas pre- trina da MB, encontra-se já completamente
ocupações relativas à defesa física e lógica estabelecida, com táticas e detalhamento
dos sistemas cibernéticos e espaciais. O doutrinário bastante arraigados, razão pela
domínio desta dimensão estratégica possi- qual optou-se por conservá-la como uma
bilita, ainda, o emprego ofensivo, buscando TBPN válida para o século XXI.
degradar o poder de combate oponente, e No entanto, torna-se necessário fle-
interferindo na capacidade deste de coman- xibilizar sua compreensão, ampliando o
dar e controlar suas forças e armas e seus espectro de ações que contribuem para a
equipamentos. Nas palavras do Almirante NUM e, no sentido inverso, que podem ser
Reis (2010), “a Amazônia Azul requer complementados por ela. Assim a NUM
muito da Quarta Dimensão Estratégica pode contribuir para o CAM e para a PPT
para ser conservada como patrimônio da e vice-versa, representando a interdepen-
sociedade brasileira”. dência vislumbrada pelo Almirante Turner.
A camada defensiva que se segue, na Neste contexto, insere-se o emprego de
teoria, seria palco da ação de submarinos forças anfíbias para negar o uso de ilhas
de propulsão nuclear, de aeronaves de oceânicas como bases para forças navais
longo alcance e de mísseis balísticos, ou adversas. Esta ação já se encontra prevista
de cruzeiro, antinavio (lançados do mar, do na DBM em vigor (2004): “Para a conse-
ar ou da terra). A conjugação dessas armas cução dessa tarefa [NUM], deve-se visar
visaria negar o acesso marítimo de adver- à destruição ou neutralização das forças
sários que tencionassem se aproximar da navais inimigas e ao ataque [...] aos pontos
costa. No caso brasileiro, segundo a END, de apoio”.
existe apenas a previsão de emprego de Prosseguindo na análise do sistema de
submarinos cumprindo a Tarefa Básica de defesa da costa, identifica-se que a próxima
Negação do Uso do Mar. No futuro, talvez camada deve ser centrada e envolver duas
os demais sistemas de armas possam vir a áreas do litoral brasileiro: a faixa que vai
ser contemplados e desenvolvidos com esta de Santos a Vitória e a área em torno da
orientação estratégica. foz do Rio Amazonas. Estas áreas foram
O estudo realizado, tanto dos conceitos definidas pela END. Formam-se aí, então,
básicos quanto das teorias dos principais duas camadas não concêntricas e de mesmo
estrategistas navais do passado e do pre- nível de proteção, centradas nestas áreas e
sente e, ainda, das doutrinas marítimas com alcance coerente com os sistemas de
de diversos países, indica que a NUM é armas disponíveis. Na teoria, empregar-
indissociável do CAM, sendo, apenas, se-iam, de forma conjunta, forças navais,
uma tarefa na qual se observa um grau aéreas e terrestres, com mísseis, munições
de controle menor, exercida em alguma guiadas e aeronaves de ataque, alguns dos
frente marítima do Teatro de Operações quais baseados em terra. Forças anfíbias
onde não se pretenda, ou não se necessite, poderiam ser empregadas para obter o con-
obter seu pleno controle. Além disso, a trole de ilhas oceânicas ou para “a conquista
análise da evolução da Jeune École, onde de áreas terrestres que controlam áreas de
se encontra a raiz da NUM, denuncia o trânsito ou onde estão localizadas as bases
risco que a ênfase na construção de meios inimigas” (BRASIL, 2004). Na prática,
navais dedicados a este fim representa para existe a previsão apenas de emprego de
o necessário balanceamento do PN. meios navais e de aeronaves da Força Aérea
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Brasileira para vigilância. Os meios navais a NUM. Além disto, cabe ressaltar o fato
exerceriam o Controle de Área Marítima, de que os meios navais, aeronavais e de
uma ação mais positiva e forte que a NUM fuzileiros navais empregados no CAM são
da camada anterior. os mesmos, e a conduta tática é semelhante
Desde a primeira DBM, e em todas as às empregadas em outras atividades, como
demais versões, a importância do CAM as policiais, diplomáticas e de Autoridade
para a proteção do litoral brasileiro foi des- Marítima.
tacada em termos praticamente idênticos A END contraria uma tendência unâ-
àqueles apresentados a seguir, e retirados nime observada no espectro bibliográfico
de sua última versão: consultado, ao priorizar a NUM em detri-
No quarto efeito desejado [impedimento mento do CAM. Cabe lembrar que, dentre
ao inimigo do uso de área marítima para as 13 Marinhas investigadas, apenas quatro
projetar seu poder sobre território ou (África do Sul, Austrália, Brasil e Cana-
área que se deseja proteger], destaca- dá) colocam a NUM como uma tarefa ou
se a importância do controle da área missão apartada do CAM. Todas as outras
marítima lindeira Marinhas, assim como
ao território que os estrategistas con-
se deseja proteger, A END contraria uma sultados, não se refe-
como, por exem- rem à NUM como uma
plo, a defesa contra tendência unânime TBPN, pois apenas a
invasão e ataques observada no espectro consideram como parte
procedentes do
mar. Efetivamente,
bibliográfico consultado, integrante do CAM, ou
como o efeito negativo
esse controle é a ao priorizar a NUM em e inverso deste controle.
mais eficiente de- detrimento do CAM Uma última camada
fesa que poderá ser defensiva prevista na
articulada contra teoria envolveria o em-
a projeção do poder inimigo por mar prego de lanchas de ataque com lançadores
(BRASIL, 2004, cap. 3, p. 3). de mísseis antinavio e de baterias de mís-
seis, antinavios e antiaéreos, lançados de
Um ponto que merece destaque com terra. O Plano de Articulação e Equipagem
relação ao CAM consiste no fato de que a da Marinha do Brasil prevê a aquisição de
pesquisa realizada nas doutrinas de outras um modelo de lancha de combate utilizado
Marinhas, assim como nas teorias dos prin- por algumas Marinhas na defesa de costa.
cipais pensadores da guerra do mar, indica No entanto, neste plano, a finalidade desta
o papel central desta TBPN em relação às lancha consiste no emprego em ambiente
demais. Apesar de o CAM não ser um fim ribeirinho, e não na defesa de costa. Assim,
em si mesmo, ele constitui uma ferramenta na prática, as ações defensivas nesta cama-
flexível, em relação ao grau de exercício do da seriam cumpridas pelos navios distritais
controle, e versátil em termos de finalidade, que atuam na defesa aproximada.
o que possibilita a consecução das outras A TBPN de Projeção de Poder sobre
TBPN e de outras atividades de interesse Terra continuará a ser um instrumento
do PN. Da mesma forma, no conceito da fundamental para o fortalecimento do
interdependência das Tarefas Básicas, o PN brasileiro. Observa-se uma demanda
CAM pode contribuir para a PPT e para crescente pelo emprego de forças expe-
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14 Segundo a DBM, o CAM envolve a execução de operações que visem, dentre outros objetivos, ao “ataque às
forças inimigas em suas bases e à conquista de áreas terrestres que controlam áreas de trânsito ou onde estão
localizadas as bases inimigas”, como as ilhas oceânicas do Atlântico Sul. Para a consecução da tarefa de
NUM, por sua vez, deve-se visar “à destruição ou neutralização das forças navais inimigas” e ao ataque aos
seus “pontos de apoio”. Em ambas as TBPN, esses objetivos podem ser alcançados com a contribuição da
PPT, seja com bombardeio naval, bombardeio aeronaval, ou operações anfíbias (BRASIL, 2004).
15 A estratégia da Dissuasão, segundo a Doutrina Militar de Defesa, caracteriza-se “pela manutenção de forças
militares suficientemente poderosas e prontas para emprego imediato, capazes de desencorajar qualquer
agressão militar” (BRASIL, 2007c). A Dissuasão, sendo um efeito desejado a ser alcançado pelo desenco-
rajamento do agressor, pode ser conquistada, em melhores condições, pelo Poder Militar como um todo,
mais do que pelas suas partes isoladamente.
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e seu efeito desejado são abrangidos, e são realizadas com o propósito de “obter e
atendidos, em melhores condições pela manter o controle de parte ou de toda uma
estratégia da Dissuasão. Área Ribeirinha (ARib), ou para negá-la
As TBPN acima citadas contribuem de ao inimigo” (BRASIL, 2004), podendo,
forma direta para a defesa da Amazônia também, visar à “conquista e manutenção
Azul. No entanto, também há influências de objetivos em terra” (BRASIL, 2005a).
indiretas. As AJB que precisam ser pro- Como já prevê a própria doutrina, esta
tegidas em sua totalidade incluem, dentre TBPN representaria a fusão das tarefas de
outros, o estratégico ambiente ribeirinho CAM, PPT e NUM em ambiente ribeirinho,
da região amazônica, que consiste em área demonstrando toda sua especificidade e
de alta prioridade para a defesa nacional, reforçando a justificativa para a sua cate-
segundo a PDN e a END. Apesar da im- gorização como uma Tarefa Básica.
portância destacada nestes documentos, Além do exercício das TBPN acima
a DBM não reserva comentadas, de cunho
nenhuma categoria de predominantemente
TBPN para atender a O peso estratégico e militar, as Marinhas
esta demanda. Cabe serão cada vez mais
relembrar que a razão doutrinário desta parcela instadas a exercer ou-
de ser das Tarefas Bá- do PN brasileiro indica a tras funções, de caráter
sicas, desde sua con- necessidade de criar uma constabular e diplomá-
cepção pelo Almirante tico, em prol da garantia
Turner, é o intuito de categoria à parte de TBPN da segurança marítima,
organizar as atividades para este conjunto de da boa ordem no mar
executadas pelo PN ou em apoio à política
em termos de output, atividades, denominando-a externa nacional. Esta
isto é, de produtos que de Controle de Área crescente demanda por
devam atender às de- Ribeirinha este tipo de emprego
mandas estratégicas do PN já foi percebida
nacionais e, em última por diversas Marinhas e
análise, as da própria sociedade. incorporada em suas doutrinas marítimas,
No entanto, a lacuna acima destacada constituindo uma Tarefa Básica específica,
é apenas conceitual, pois, na prática, o PN que pretende canalizar esforços, normatizar
brasileiro atua nesta região há muito tempo. procedimentos e equipamentos, de modo a
Cabe frisar que o conjunto de operações gerar o output demandado pela sociedade.
e ações realizadas em Áreas Ribeirinhas Geoffrey Till destacou que a Seguran-
envolve o emprego de meios e doutrina dedi- ça Marítima é responsável pela garantia
cados. O peso estratégico e doutrinário desta de quatro das cinco razões para o uso do
parcela do PN brasileiro indica a necessidade mar. O homem se vale do mar para obter
de criar uma categoria à parte de TBPN para recursos, transportar e comercializar, trocar
este conjunto de atividades, denominando-a informações, preservar o meio ambiente
de Controle de Área Ribeirinha. e exercer domínio. Dentre estas razões,
Esta nova TBPN seria executada, preci- apenas o exercício do domínio demanda
puamente, por meio de Operações Ribeiri- ações combativas; as demais se valem de
nhas realizadas nos baixos e médios cursos ações que visam, apenas, preservar o meio
dos rios. Estas operações, segundo a DBM, marítimo e garantir sua segurança.
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RMB2oT/2014 89
O Mito da Eleição Direta para
Presidente dE Tribunais
Reis Friede*
Desembargador
SUMÁRIO
Introdução
Uma breve análise da PEC 187/2012
Critérios para o acesso e exercício da presidência de
tribunais em outros países
A situação atual das eleições para a presidência dos tribunais brasileiros
A esfera do poder legislativo: as eleições para a presidência das
casas do congresso nacional
O clamor pela democratização do poder judiciário
Conclusões
* Mestre e doutor em Direito, é desembargador federal e membro da Associação de Juízes Federais – Ajufe.
O Mito da Eleição Direta para Presidente dE Tribunais
todavia, que os resultados colhidos até a artigo um parágrafo único, dispondo sobre
presente data indubitavelmente nos dão a eleição dos órgãos diretivos dos tribunais
conta, em maior ou menor medida, de um de 2o grau. Destarte, o texto do artigo 96 pas-
elevado grau de criticável politização do saria a ostentar a seguinte redação, verbis:
Poder Judiciário local, além de um relativo “Art. 96. Compete privativamente:
comprometimento da recomendável isen- I – aos Tribunais:
ção (corolário do princípio basilar da efi- a) eleger seus órgãos diretivos, por
ciência) na administração destes tribunais. maioria absoluta e voto direto e secreto,
Ainda assim, salta aos olhos a tramita- dentre os membros do tribunal pleno,
ção, no Congresso Nacional, da Proposta de exceto os cargos de corregedoria, por
Emenda Constitucional – PEC 187/20121, todos os magistrados vitalícios em ati-
que sugere simplesmente alterar a Consti- vidade, de primeiro e segundo graus,
tuição para permitir, de forma muito mais da respectiva jurisdição, para um
elástica, a eleição livre para os órgãos mandato de dois anos, permitida uma
diretores de todos os tribunais de 2o grau. recondução.
Em linhas gerais, a chamada “PEC de b) Elaborar seus regimentos internos,
Democratização do Judiciário” estabelece com observância das normas de pro-
que os tribunais intermediários deverão cesso e das garantias processuais das
passar a eleger os integrantes dos seus partes, dispondo sobre a criação, a
cargos de direção (à exceção do cargo de competência, a composição e o fun-
corregedor) por maioria absoluta de todos cionamento dos respectivos órgãos
os magistrados vitalícios, e não apenas de jurisdicionais e administrativos;
seus membros. c) .......... (redação da atual alínea “b”);
O argumento central repousa no frágil d) .......... (redação da atual alínea “c”);
entendimento de que a administração dos e) .......... (redação da atual alínea “d”);
tribunais “mantém suas decisões concen- f) ........... (redação da atual alínea “e”);
tradas nas mãos de poucos, sem a devida g) ........... (redação da atual alínea “f”);
justiça, e que sua concepção é baseada na Parágrafo único: “Não se aplica ao Su-
hierarquia militar, reflexo dos tempos de premo Tribunal Federal, aos Tribunais
regime militar, e que, por esta razão, sua Superiores e aos Tribunais Regionais
escolha não deveria pertencer à Corte” Eleitorais o disposto no inciso I, “a”,
(Bollmann, 2013). competindo-lhes eleger os seus órgãos
diretivos na forma dos seus regimentos
Uma Breve Análise da PEC internos, observado o previsto no § 2o
187/2012 do artigo 120”. (Grifos nossos)
1 A PEC 187/2012 teve sua origem encabeçada pelo Deputado Wellington Fagundes, congressista filiado ao
Partido da República (PR) e eleito pelo Estado de Mato Grosso. Foi apresentada em 5/6/2012, tramitando
sob o regime especial, sendo a última ação legislativa referente a ela a aprovação de parecer pela Comissão
de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) em 15/10/2013.
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O Mito da Eleição Direta para Presidente dE Tribunais
2 A Constituição de 1937, outorgada por Getúlio Vargas logo após o início do período ditatorial do Estado Novo
e que ficou conhecida vulgarmente como a “Polaca”, em virtude de sua grande semelhança com a contem-
porânea Constituição autoritária da Polônia, simplesmente extinguiu a Justiça Federal, bem como retirou
poderes dos tribunais pátrios, entre eles o de elegerem seus próprios dirigentes, restando apenas o disposto
em seu art. 93, verbis:
“Art 93 - Compete aos tribunais:
a) elaborar os Regimentos Internos, organizar as Secretarias, os Cartórios e mais serviços auxiliares, e propor
ao Poder Legislativo a criação ou supressão de empregos e a fixação dos vencimentos respectivos;
b) conceder licença, nos termos da lei, aos seus membros, aos juízes e serventuários, que lhes são imediata-
mente subordinados.”
3 Constituição de 1946: art. 97, I; Constituição de 1967: art. 110, I; Constituição de 1988: art. 96, I, “a’’.
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O Mito da Eleição Direta para Presidente dE Tribunais
– inéditas disputas político-eleitorais que PEC em comento, haja vista a atual realidade
não somente poderiam vir a paralisar o bom pátria, em que muito tem sido conseguido,
andamento de seus trabalhos, a envolver lamentavelmente, por meio do “compadrio”.
seus membros em intensas campanhas elei- Em necessária adição argumentativa,
torais por vários meses anteriores ao pleito deve ser consignado, em tom de sublime
(se assemelhando, em muito, ao que ocorre advertência, que tal alteração, uma vez
nas Seccionais da Ordem dos Advogados conduzida a efeito, seria de monta suficien-
do Brasil/OAB), mas também abrir um te para causar graves danos à imagem de
verdadeiro leque de possibilidades inima- imparcialidade do Poder Judiciário, com
gináveis, como a de que desembargadores o consequente e eventual surgimento de
advindos do quinto constitucional e recém- possíveis lobbies de empresários e políticos
empossados, sem qualquer conhecimento por trás das chapas concorrentes aos cargos
sobre o funcionamento administrativo de diretivos dos tribunais, tudo com vistas a
um tribunal – mas com excelente trânsito verem seus interesses privilegiados.
político –, possam ser eleitos para a alta Dessa feita, verifica-se, a toda evidên-
administração do tribunal e, inclusive, para cia – especialmente pelas várias possíveis
a sua Presidência, pondo muitas vezes a consequências derivadas –, que a proposta
perder, por seu conhecimento incipiente sub examen é por demais complexa para ser
da função, uma organização eficiente reduzida a uma simples identidade democrá-
construída ao longo de décadas e forjada tica; afinal, entre os vários poderes de um
em vigorosa experiência e maturidade que presidente de tribunal, encontra-se não so-
somente o tempo efetivamente propicia. mente a prerrogativa de estabelecer a pauta
Igualmente, ao excluir dos novos cri- de julgamento5, como ainda a própria ordem
térios propostos o cargo de corregedor, dos trabalhos, influenciando sobremaneira o
poderia vir a ocorrer a esdrúxula situação destino temporal dos julgamentos.
factual em que o cargo de corregedor,
eventualmente ocupado por desembargador Critérios para o Acesso e
mais antigo, teria uma certa ascendência Exercício da Presidência de
sobre o presidente, em sinérgica subversão Tribunais em Outros Países
hierárquica não somente da estrutura do
próprio tribunal, mas também em relação A título comparativo, vale, neste mo-
à organização vertical do Poder Judiciário4. mento, trazer à baila como funcionam o
Temerariamente, parece que tais situações acesso e o exercício da Presidência nos
pontuais encontram-se, ainda que de maneira tribunais em alguns países com governo
implícita, na justificação para a propositura da reconhecidamente democrático.
4 É conveniente lembrar que toda a estrutura corporativa – seja no contexto interno dos tribunais, ou mesmo de todo
o Poder Judiciário – encontra-se indubitavelmente construída sobre os pilares do critério da antiguidade na
carreira. Assim, a própria organização da disposição física (assentos) no plenário é por ordem de antiguidade,
bem como, nos juízos monocráticos, o acesso à titularidade das varas judiciárias é realizado por antiguidade,
sendo certo que, quando providas (quer a titularidade dos juízos, quer a promoção ao tribunal) pelo critério
alternativo de merecimento, os juízes precisam figurar necessariamente na quinta parte da lista de antiguidade.
5 É de se pensar refletidamente que a aprovação da PEC 187/2012 abriria um importante precedente para se
promover, em uma segunda etapa, a ampliação da medida supostamente “democratizante” para os tribunais
superiores – e mesmo para o STF –, permitindo-nos questionar, neste momento, que, caso tal hipótese já
se constituísse em uma realidade e, consequentemente, se houvesse eleições para a Presidência do STF, a
Ação Penal no 470 (“Mensalão”) já teria sido julgada com os excepcionais (e inéditos) resultados alcançados.
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O Mito da Eleição Direta para Presidente dE Tribunais
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O Mito da Eleição Direta para Presidente dE Tribunais
desagrada aos mais novos, alguns com uma da PEC 187/2012, que não tem qualquer ca-
enorme vontade (e mesmo vocação) em bimento a pretensão de que todos os juízes
atuar como presidentes. votem para presidente, pois isto culminaria
Assim, são os tribunais de porte médio em campanhas pelo interior, promessas
(20 a 49 desembargadores) e os de grande de favores, animosidade entre facções em
porte (50 ou mais desembargadores, caso disputa e outros tantos problemas.
dos Tribunais de Justiça (TJ) de Santa Nessa linha, no estado do Rio de Janeiro,
Catarina, Paraná, Minas Gerais, Rio de por exemplo, cujo Tribunal de Justiça possui
Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo) 180 desembargadores, com 25 fazendo parte
que não têm aceitado a antiguidade como do Órgão Especial, a escolha da Presidência
critério único de escolha8, ainda que não a se dá por votação secreta pela maioria dos
tenham renegado por completo. membros do Tribunal, podendo concorrer
DE FREITAS (2011), desembargador apenas os membros efetivos do Órgão Es-
federal aposentado do Tribunal Regional Fe- pecial, cuja metade é provida pelo critério
deral (TRF) 4a Região, onde foi presidente, e de antiguidade. Assim, constata-se, neste
consagrado professor universitário, entende ente federativo, a adoção de um critério de
que “o anseio de presidir um tribunal é uma eleição que poderia ser considerado misto,
aspiração legítima e nada tem de errado. Pelo haja vista o fato de, entre os desembargadores
contrário, é ótimo que quem assuma tão difí- elegíveis, metade ser composta dos membros
cil posição esteja preparado e disposto, física mais antigos do tribunal, mas, ainda assim,
e psicologicamente, a dedicar dois anos de excluídos, em qualquer hipótese, os juízes de
sua existência à causa pública”. 1o grau como sujeitos eleitorais ativos.
Aduz o douto colega, ademais, que a Presi- Analisando a questão no âmbito da Jus-
dência de um tribunal intermediário (TJ, TRF tiça Federal, cabe salientar que o Tribunal
ou Tribunal Regional do Trabalho – TRT) é Regional Federal da 2a Região, em seu Re-
onde se pode fazer mais pela efetividade da gimento Interno, deixa claro que a eleição
Justiça, posto serem os presidentes destes tri- para sua Presidência dar-se-á por votação
bunais quem dão a política da gestão judiciá- de seus 27 desembargadores, recaindo a
ria no estado ou na região, que pode incentivar escolha, preferencialmente, sobre os de-
os juízes e servidores, instalar varas, realizar sembargadores federais mais antigos, ou
concursos, conduzir a construção de fóruns, seja, utiliza-se do critério de antiguidade.
implementar o processo eletrônico, estimular Tal critério é o que também é utilizado,
a conciliação e pôr em prática tantas outras tradicionalmente, por nossa Corte máxima, o
importantíssimas medidas. STF. Assim, nem todos os ministros chegam
DE FREITAS menciona também, con- à Presidência do Supremo. Nas eleições, atu-
trariamente ao pensamento dos defensores almente feitas a cada dois anos, é respeitada a
8 Recentemente, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais foi palco de movimentação em favor da adoção de eleições
diretas. De acordo com o desembargador Nelson Missias de Morais, as eleições democráticas, nas quais todos
possam participar, são um forte instrumento de aperfeiçoamento do Poder Judiciário, em razão dos debates
acerca das questões institucionais e compromissos de cada candidato. Ainda segundo ele, “dessa forma, com
vontade política e atitude, Minas se antecipará ao legislador e, de maneira pioneira, reconhecerá o juiz de 1a
instância como membro de poder, e o é, tal qual os desembargadores”.
Já em São Paulo, onde o Tribunal de Justiça é composto de 350 desembargadores, a eleição para a
Presidência do órgão já ocorre sem se atentar especificamente para o critério da antiguidade, havendo atu-
almente uma forte movimentação política no sentido de que não apenas os desembargadores, mas todos os
magistrados, possam participar da escolha.
RMB2oT/2014 95
O Mito da Eleição Direta para Presidente dE Tribunais
antiguidade, tendo prioridade o ministro que País inteiro presididos por juízes de 1o grau
entrou há mais tempo na Corte, com o presi- com menos de cinco anos de carreira, ou seja,
dente sendo eleito por seus pares em plenário, com pouquíssima experiência no que pertine
por voto secreto9. à administração complexa que envolve a
Igualmente, é o critério adotado pelo estrutura de um tribunal, além de uma idade
STJ, desde a sua criação e instalação, em cronológica em que a própria maturidade
1989, em repetição ao idêntico critério humana – essencial à função judicante e
aplicado historicamente, desde sempre10, administrativa – ainda não se encontra ple-
ao Tribunal Federal de Recursos – TFR, namente assentada.
quando de sua criação, em 1946, durante
o importantíssimo processo de redemocra- A Esfera do Poder
tização do Brasil. Legislativo: as Eleições
Uma das anunciadas temeridades no caso para a Presidência das Casas
de uma eventual aprovação da PEC 187/2012 do Congresso Nacional
recai exatamente no fato de que, como a base
da pirâmide hierárquica do Judiciário é muito É interessante destacar que, no âmbito
maior do que a sua cúpula, na prática, seriam do Poder Legislativo – no que concerne ao
os juízes vitalícios com menos de cinco anos fato de não recair na massa da população
na carreira, muitos com menos de 30 anos de com capacidade eleitoral ativa a escolha
idade e pouquíssima experiência judicante, de seus cargos diretivos –, a eleição para
quem, de fato, decidiriam as eleições. E ainda a Presidência da Câmara dos Deputados
– o que é mais grave –, para que estes, em um igualmente não inclui os senadores, que
segundo “momento democratizante”, passem também são congressistas, sendo certo que,
de simples eleitores (sujeitos eleitorais ati- inclusive, para eleição da Mesa Diretora
vos) a membros elegíveis (sujeitos eleitorais do Senado Federal – incluindo o cargo de
passivos)11 seria relativamente simples, do Presidente do Senado e de todo o Congres-
ponto de vista político, permitindo o risco de so Nacional –, não votam os deputados
começarmos a ver tribunais espalhados pelo federais 12, mesmo sendo fato que, nos
9 Vale salientar que muitos ministros do STF se aposentam antes de chegarem ao topo da lista de mais antigos,
como foi o caso recente do Ministro Eros Grau, que completou 70 anos e foi aposentado compulsoriamente,
sendo à época o quarto mais moderno do STF.
10 Deve ser consignado que o texto do art. 8o da Lei no 33/47, que dispõe sobre a criação do Tribunal Federal
de Recursos – TFR, expressamente previu que o referido tribunal seria instalado sob a Presidência do mais
velho de seus titulares.
11 É importante ressaltar que tal previsão normativa não se encontra prevista no texto da PEC 187/2012. Toda-
via, após sua aprovação, seria um natural desdobramento de sua aplicação prática, posto que, em qualquer
sistema eleitoral, o direito de eleger encontra-se irremediavelmente adstrito à potencialidade eleitoral de
também poder ser eleito.
12 Na Câmara dos Deputados, seu Regimento Interno dispõe, no artigo 7o, que a eleição dos membros de sua Mesa
Diretora far-se-á em votação por escrutínio secreto e pelo sistema eletrônico, exigida maioria absoluta de votos,
em primeiro escrutínio, e maioria simples, em segundo escrutínio, presente a maioria absoluta dos deputados.
O Senado Federal é igualmente dirigido pela Mesa, composta pelo presidente, primeiro e segundo
vice-presidentes e quatro secretários. São indicados também quatro suplentes de secretários para substituir
os titulares em caso de impedimento. Os senadores se reúnem em sessão preparatória para eleger os compo-
nentes da Mesa, sendo a votação realizada de maneira secreta, por maioria de votos, presente a maioria dos
senadores e assegurada, tanto quanto possível, a participação proporcional das representações partidárias ou
dos blocos parlamentares com atuação na Casa (Regimento Interno, artigos 3o e 46).
Vale lembrar que o presidente do Senado Federal acumula a função de presidente do Congresso Nacional.
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O Mito da Eleição Direta para Presidente dE Tribunais
RMB2oT/2014 97
O Mito da Eleição Direta para Presidente dE Tribunais
Todavia, nos tribunais intermediários, por insta salientar, são exclusivamente providas
uma herança da Era Vargas14 (até hoje não por livre escolha do chefe do Executivo,
objeto de necessária correção democratizante), excluída qualquer vinculação à necessária
apenas 80% das vagas de desembargadores nomeação de juízes de carreira17.
(juízes de 2 grau) são destinadas aos magistra-
o
O clamor por mais democracia no Poder
dos de carreira e, ainda assim, apenas metade Judiciário, portanto, preconiza, em tom
destas, ou seja, 40% do total, são reservadas sublime, maior defesa pelo fortalecimento
aos juízes de 1o grau pelo critério de anti- da carreira, o que se traduz pelo reforço dos
guidade, sem qualquer critérios meritórios e,
ingerência política15. consequentemente, por
Nos tribunais su- Democratizar não significa, cada vez menos ingerên-
periores a situação é necessariamente, tornar cias políticas de outros
ainda mais desafiadora, poderes e, sobretudo,
posto que no Tribunal todas as funções do Estado menor politização inter-
da Cidadania, o STJ, elegíveis e, de igual forma, na corporis, reafirmando
órgão de cúpula das
justiças comuns locais
ampliar irrestritamente o odepreceito democrático
amplo acesso de seus
(estadual e distrital) e Colégio Eleitoral daquelas membros exclusiva-
federal, o quinto consti- em que se faz pertinente o mente por critérios de
tucional é transformado antiguidade, que melhor
em terço constitucional, critério de escolha. traduzem os esforços
ou seja, o percentual de Em verdade, é muito mais o naturais de desempenho
80% de acesso de juízes
de carreira é reduzido
princípio do amplo acesso na carreira judicante.
para 67%, sendo certo Conclusões
que todas as vagas são providas por critérios
políticos de formação da lista tríplice com É importante salientar que, nos últimos
posterior escolha discricionária e soberana tempos, o verbo “democratizar” ganhou
pelo chefe do Poder Executivo16. uma notável importância, que, entretanto,
No STF, órgão de cúpula de todo o Po- não tem sido acompanhada de sua corres-
der Judiciário, todas as vagas (11 no total), pondente e correta interpretação.
14 A implementação, nos tribunais pátrios, do chamado quinto constitucional, ideia corporativista do governo
Getúlio Vargas, ocorreu com a inserção desta no art. 104, § 6o, da Constituição de 1934.
15 As demais vagas (40% do total) são providas pelos magistrados de carreira, porém pelo critério político do
“merecimento”, em que a escolha final, entre uma lista tríplice constituída pelos integrantes do tribunal, é
submetida ao chefe do Executivo (estadual – governador; ou federal – presidente da República, conforme o
caso) para sua livre escolha. Vale registrar que o próprio presidente do STF já se manifestou contrariamente
a tal critério (O Globo, ed. digital, 20/12/2012), defendendo a exclusividade do critério de antiguidade para
a promoção de juízes aos tribunais, que é objetivo.
16 Deve ser registrado, por oportuno, que das 22 vagas (entre um total de 33) destinadas a desembargadores
estaduais ou distritais (11 vagas) e federais (11 vagas), as mesmas incluem os desembargadores oriundos
do quinto constitucional, o que, na verdade, reduz, por vias transversas, o percentual real de magistrados de
carreira a menos de 50% do total. Apenas no Tribunal Superior do Trabalho tal anomalia foi corrigida pelo
disposto no art. 111-A da Constituição Federal, que não somente manteve o critério do quinto constitucional,
mas tornou exclusivo o acesso de 80% das vagas aos desembargadores do trabalho de carreira.
17 O critério de acesso ao STF, previsto no art. 101 da Constituição, preconiza exclusivamente o “notável saber
jurídico”, o que implica dizer que não somente é possível não nomear nenhum juiz de carreira, como ainda
nomear um juiz de 1o grau, em virtual subversão da própria carreira da magistratura nacional.
98 RMB2oT/2014
O Mito da Eleição Direta para Presidente dE Tribunais
Democratizar não significa, necessaria- dentes dos tribunais pátrios, como medida
mente, tornar todas as funções do Estado de salutar equilíbrio e não politização do
elegíveis e, de igual forma, ampliar irres- Poder Judiciário nacional, seguindo os
tritamente o Colégio Eleitoral daquelas em melhores e mais diversos exemplos pre-
que se faz pertinente o critério de escolha. sentes nos países mais democráticos da
Em verdade, é muito mais o princípio atualidade, bem como do próprio processo
do amplo acesso – ainda que por critérios de democratização do Judiciário, inaugu-
distintos da eleição, tais como o concurso rado a partir de 1946, que buscou sepultar
público – o caminho que se revela mais em definitivo o “populismo” da ditadura
democrático para o preenchimento dos car- Vargas, que permitiu curvar todos os tri-
gos e funções do Estado, em praticamente bunais sobreviventes (é importante lembrar
todos os seus níveis, notadamente nos que que a Constituição de 1937 simplesmente
se exercem à margem da política e que se extinguiu a Justiça Federal) às suas ordens
afirmam por desempenho técnico. e interesses, por meio, e sobretudo, da apli-
No caso específico cação do amplo critério
da função judicante, eletivo (e eleitoreiro) de
não é possível deixar O verdadeiro caminho seus presidentes.
de reconhecer que, Não é por outra sor-
hodiernamente, esta para a democratização te de considerações,
se perfaz por meio do Judiciário passa pelo portanto, que deve-
de um viés no qual a
experiência de vida
fortalecimento da própria mos sempre ter em
mente que o verda-
permite uma interpre- carreira pela sinérgica deiro caminho para
tação crescentemente efetividade do poder a democratização do
mais justa das leis, Judiciário passa não
tornando-se cada vez jurisdicional inerente aos pela politização tanto
melhor quanto maior magistrados de 1o grau de sua estrutura como
for o tempo em ati- de seus membros, mas
vidade. Relembre-se, sim (e principalmente)
neste sentido, que, na antiguidade, os jul- pelo fortalecimento da própria carreira
gamentos eram efetuados por conselhos de (exclusivamente composta de magistrados
anciãos, ou seja, a “justiça” era proporcio- concursados), como ainda, e fundamental-
nada pelos indivíduos mais experientes no mente, pela sinérgica efetividade do poder
seio social, reconhecendo-se a maturidade, jurisdicional inerente aos magistrados de
a experiência de vida e o conhecimento 1o grau, o que implica dizer em restringir
prático e teórico acumulado ao longo do os inúmeros recursos e a ampla gama de
tempo como essenciais ao mister da função nefastos efeitos suspensivos que vêm
jurisdicional e administrativa correlata. transformando, na prática, os juízos mo-
É exatamente por esta razão que não é nocráticos em simples juízos de instrução,
possível que se cogite faltar democracia no como bem assim seus respectivos julga-
fato de continuarmos a seguir o consagrado dores em meros magistrados de iniciação
critério de antiguidade na eleição de presi- processual18.
18 É exatamente esta esdrúxula e condenável situação que clama pelo urgente resgate da própria dignidade da
magistratura e do necessário orgulho de ostentar a condição de magistrado.
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O Mito da Eleição Direta para Presidente dE Tribunais
Referências Bibliográficas
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O Mito da Eleição Direta para Presidente dE Tribunais
MANDEL, Gabriel. “CNJ bloqueia Sartori e afeta processo eleitoral em São Paulo”. Consultor
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selias.blogspot.com.br/2011/10/regimento-interno-trf-2-regiao-titulo-i.html> Acessado em <1
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Disponível em: <http://oglobo.globo.com/pais/presidente-do-stf-defende-fim-da-promocao-por-
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HOUAISS, A. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.
RMB2oT/2014 101
EM TEMPOS DE GUERRA*
Este não é um discurso. É um depoimen- tros. No caso da guerra, não podia haver er-
to que vocês devem conhecer. ros, atrasos, falta de atenção. Tudo tinha de
Meus colegas de Marinha – estou cha- ser executado para garantir o cumprimento
mando vocês de colegas. Para mim são, das ordens de operações e a segurança dos
embora já esteja com navios e de suas pró-
90 anos. E quando me prias tripulações.
desliguei do serviço Em agosto de 1942, foram O nível de prepa-
ativo, vocês ainda não afundados seis navios e ro para essas ações
tinham nascido. era tal que ninguém
Nossa Marinha tem
morreram mais de 600 precisava dar ordens.
um espírito de corpo brasileiros. O Brasil Tudo era feito automa-
extraordinário, que foi declarou guerra ticamente no subcons-
muito reforçado na Se- ciente. Todos sabiam o
gunda Guerra Mundial. que fazer. Graduação,
O navio é um só. O risco é de todos. Essa títulos, nada representavam. Os 24 a bordo
condição faz o cérebro de toda a guarnição eram todos solidários. Para mim, repito,
comandar as ações, ajudando uns aos ou- vocês são colegas. A Marinha é uma só.
* O texto é a alocução do autor ao Corpo de Aspirantes da Escola Naval, em 6 de novembro de 2013, durante a
visita dos Ex-Combatentes Veteranos da Marinha do Brasil na Segunda Guerra Mundial. O texto nos foi
enviado pelo Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas.
EM TEMPOS DE GUERRA
N.R.: * O caça-pau era um caça-submarino de casco de madeira (95 toneladas), para diferenciar do caça-ferro (280
toneladas). Caça-submarino (CS) é navio de pequeno porte (menos de 300 toneladas) e grande mobilidade,
desenvolvido pelos EUA durante a Segunda Guerra Mundial e destinado a atacar submarinos em imersão
(Dicionário Marítimo Brasileiro).
RMB2oT/2014 103
EM TEMPOS DE GUERRA
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A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE
HORATIO NELSON: A vida cotidiana e as táticas de combate
(Parte IV – final)
SUMÁRIO
* Graduado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre e doutor em História Com-
parada, UFRJ. Instrutor de Estratégia e História Naval da Escola de Guerra Naval. Ex-diretor do Serviço de
Documentação da Marinha. Colaborador assíduo da RMB.
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A vida cotidiana e as táticas de combate – (Parte IV – final)
atividades realizadas a bordo, principalmente grupo de serviço. No total, esse grupo variava
os trabalhos em mastros, velas e canhões, que entre 7% e 10% da guarnição.2
demandavam grandes guarnições. Naquela Outro conjunto de marinheiros era o dos
época não existia nenhuma automação, e gajeiros3, com mais adestramento e composto
todos os serviços eram realizados manual- de marujos com melhores condições físicas
mente, daí a demanda por grandes efetivos. e técnicas. A esse grupo cabia a manobra de
Os marinheiros e suboficiais eram divi- velas nos três mastros principais do navio, o
didos em grupos de serviço e designados traquete à vante, o grande no centro e a me-
para tarefas específicas. Eles poderiam zena à ré. Por serem os melhores marinheiros
servir em certos mastros, abrindo e fer- disponíveis, trabalhavam as velas nesses três
rando velas, ou em certos canhões, como mastros, a 20 ou 25 metros de altura, muitas
carregadores e municiadores. Ao primeiro- vezes em mares bravios e em condições adver-
tenente competia designá-los para essas sas. Requeriam-se coragem, sangue frio, boas
tarefas, de acordo com as suas aptidões ou condições físicas e arrojo para essas funções.
as necessidades do navio. Geralmente ele Os mais jovens normalmente guarneciam as
dividia a tripulação em dois ou três grupos vergas4 mais altas dos mastros. Seus números
de serviço, sendo o primeiro sistema, o de variavam conforme a classe do navio. Em uma
dois grupos, o mais comum; assim, para fragata com 36 canhões, existiam 12 gajeiros
cada tarefa existiam sempre dois homens, no traquete, 13 no grande e nove na mezena
um em atividade e outro descansando. em cada grupo de serviço. Existiam suboficiais
Os suboficiais e auxiliares não concorriam que eram os encarregados do traquete, do
a esses grupos de serviço. Eram os chamados grande e da mezena.5
“permanentes”1, pois suas funções eram fixas Outro conjunto era o dos gajeiros6 dos gu-
e eles podiam ser requisitados a qualquer rupés7 que, por serem mais velhos e pesados,
momento, independentemente dos grupos trabalhavam na parte de vante do navio, sem
de serviço. Normalmente não trabalhavam ter que subir nos mastros como os gajeiros
à noite, a não ser que fossem requisitados do conjunto anterior. Eram considerados
em emergência ou quando fossem tocados bons marinheiros, no entanto não possuíam
“postos gerais” para a tripulação. Faziam as virtudes e o vigor dos jovens. Além dos
parte desse corpo o mestre disciplinador e gurupés, trabalhavam também nas âncoras
seus auxiliares, o armeiro, o mestre do navio, do navio. Seu número variava: em uma fra-
o carpinteiro chefe, cozinheiros, secretários gata de 36 canhões existiam dez gajeiros dos
de oficiais e alguns outros suboficiais com gurupés para cada grupo de serviço.
tarefas específicas. Em uma fragata de 36 Outro conjunto de marinheiros era o dos
canhões existiam 12 permanentes para cada marinheiros de ré8 que, por sua pouca experiên-
1 Em inglês, idlers.
2 FREMONT-BARNES, Gregory. The Royal Navy 1793-1815. Oxford: Osprey, 2007, p. 21.
3 Em inglês, topmen.
4 Vergas eram pedaços grandes de madeira que se fixavam nos mastros em ângulos retos para suportar as velas
do navio.
5 FREMONT-BARNES, Gregory. The Royal Navy 1793-1815. op. cit. p. 21.
6 Em inglês, forecastle men.
7 Gurupés é considerado também um mastro. Prolonga-se pela proa do navio, em uma inclinação aproximada de
35 graus. Fonte: PIOVESANA, Alberto. Noções Básicas sobre Navios a Vela. Rio de Janeiro: Fundação de
Estudos do Mar. p. 35.
8 Em inglês, afterguard.
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A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A vida cotidiana e as táticas de combate – (Parte IV – final)
RMB2oT/2014 107
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A vida cotidiana e as táticas de combate – (Parte IV – final)
seus auxiliares. Logo depois era servido o gosto. Algumas vezes se utilizavam man-
jantar, por volta das 14 horas, e essa oca- teiga e queijo, dependendo da extensão das
sião era a mais agradável parte do dia. As viagens. Frutas eram bem-vindas quando se
mesas eram servidas pelos cozinheiros, e as chegava em portos nas Índias Ocidentais, na
conversas durante a refeição levavam cerca América, na África e nas Índias Orientais,
de uma hora. Nessa ocasião servia-se rum, pois evitavam doenças.12
o que era uma esperada oportunidade para As principais diversões dos marinheiros
relaxarem. Os dois ou três grupos jantavam eram contar estórias navais, principalmente
juntos, com exceção daqueles serviços que para os landsmen que embarcavam pela
não podiam ser rendidos, como timoneiro e primeira vez, e cantar canções populares
vigias. Existia, ainda, às 16 horas, uma sopa acompanhadas de violinos13, fato que po-
servida à tripulação, acompanhada de uma deria ocorrer inclusive no período noturno.
pequena dose de rum. Depois do jantar, o na-
A comida a bordo vio era preparado para
dos navios da RN era A saúde era fundamental a navegação noturna,
a principal preocupa- ocorrendo o silêncio às
ção de toda a tripula- para manter tanto o moral 20 horas, no verão, e às
ção, além das doses como a eficiência do navio 21 horas, no inverno14.
de cerveja e de rum. Todas as luzes eram ex-
De uma maneira ge-
em combate tintas à noite, de modo
ral, a comida era ruim. a se evitar incêndio e
Às segundas-feiras, A medicina do período era a indicar a posição do
terças-feiras, quintas- navio aos inimigos. O
feiras e domingos, os rudimentar e muitas vezes mestre disciplinador era
marinheiros comiam bárbara o responsável em enfa-
uma libra de porco ou tizar esse requisito. Os
carne, sempre salgados grupos de serviço eram
para conservação. Nos demais dias servia-se rendidos à 0 hora e às 4 horas, e a rotina
peixe seco. Existiam também biscoitos se- cumprida logo após esse horário e um novo
cos duros feitos de pão, no qual era comum dia recomeçava. Essa era a rotina básica de
encontrarem-se vermes, em razão do tempo um navio da RN na época de Nelson.
de exposição dessas guloseimas. Esses bis-
coitos, por serem duros demais, irritavam a A medicina a bordo dos
gengiva e amoleciam os dentes dos tripulan- navios da RN
tes. Servia-se também pequena quantidade
de cerveja, vinho, brandy ou rum por dia. A saúde era fundamental para manter
A água era racionada e logo se deteriorava. tanto o moral como a eficiência do navio
O que normalmente se fazia era filtrá-la, a em combate. O próprio Nelson disse que
cada vez que fosse usada, em pedras levadas “a grande coisa em todo o serviço militar
nos barris, o que melhorava um pouco o seu é a saúde”15. O maior responsável pela
12 HICKOX, Rex. All you wanted to know about the 18th Century Royal Navy. Bentonville: Rex Publishing,
2005, p. 17.
13 LAVERY, Brian. Life in Nelson´s Navy. Gloucestershire: Sutton Publishing, 2007, p. 49.
14 LAVERY, Brian. Nelson’s Navy. op. cit. p. 200.
15 Ibidem, p. 212.
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A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A vida cotidiana e as táticas de combate – (Parte IV – final)
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A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A vida cotidiana e as táticas de combate – (Parte IV – final)
muns, e o remédio era um cinto de metal cias. O temor das deserções suplantava a
usado pelo doente para pressionar o local preocupação com doenças.
afetado24. Pode-se imaginar a dor desses so- Ocorriam muitos acidentes a bordo dos
fredores com tal expediente! Reumatismo navios, principalmente quedas de mastros
era também comum, em razão, principal- e vergas, com fraturas e hemorragias inter-
mente, das difíceis condições a bordo, além nas. Se as fraturas fossem graves, muitos
de doenças psicossomáticas, que atingiam preferiam a amputação do membro afetado.
um a cada mil homens no mar, sete vezes Faziam-se suturas de cortes no corpo, no
mais que a média inglesa no período, em entanto não existia a assepsia, o que podia
razão principalmente do estresse e das con- provocar infecções. Para ferimentos perfu-
dições insalubres e perigosas25. Os cirurgi- rantes, normalmente aumentava-se a área
ões utilizavam intensivamente “sangrias” atingida, provocando hemorragia local, de
para “limpar” o sangue, pois acreditavam modo a “retirar o sangue contaminado” e
que o sangue contaminado era substituído depois se procurava retirar o objeto perfu-
por outro limpo pelo próprio organismo. rante. Se a perfuração fosse no abdômen,
As doenças vené- pouco o cirurgião po-
reas também eram co- dia fazer, em razão da
muns, principalmente Em combate, a enfermaria contaminação fecal,
depois de se atracar advindo a morte por
em portos estrangei- era um teatro de horror infecção generalizada.26
ros. Por muito tempo o Em combate, a en-
Almirantado acreditou fermaria era um tea-
que os marinheiros
Nelson, depois de sua tro de horror. No piso,
procuravam se conta- morte em Trafalgar, foi colocava-se areia para
minar para fugir dos mantido em um tonel de absorver o sangue dos
embarques, e os mul- feridos e evitar tro-
tava a cada contami- brandy para ser enterrado peços. Geralmente os
nação. Essa prática na Inglaterra ferimentos eram pro-
terminou somente em vocados por tiros de
1795. O tratamento mosquetes, que entra-
para gonorreia e sífilis constava de um vam no corpo trazendo sujeira e pedaços
preparado de sulfato de mercúrio a ser de roupa do atingido, contaminando o
tomado por 25 dias, complementado por marinheiro. Outro ferimento comum era o
purgantes. Muitos comandantes permitiam de farpas de madeira que voavam em todas
a entrada de prostitutas a bordo, de modo a as direções quando um mastro ou convés
manter os marinheiros nos navios e evitar as era atingido por tiros de canhão. Também
constantes deserções. Muitas dessas pros- evoluíam para contaminação e infecção.
titutas mantinham relações sexuais com Muitos desses ferimentos requeriam
diversos marinheiros dias a fio, agravando amputações. O paciente recebia rum,
a transmissão de doenças e infecções. Os uísque ou láudano como anestésico, e o
cirurgiões tinham dificuldades em manter cirurgião tinha poucos minutos para rea-
o controle das doenças nessas circunstân- lizar a amputação de um membro. Quanto
24 Em inglês, trusser.
25 Idem.
26 HICKOX, op. cit. p. 41.
110 RMB2oT/2014
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A vida cotidiana e as táticas de combate – (Parte IV – final)
mais rápido agisse, melhor, pois diminuía a Os Articles of War podiam ser divididos
possibilidade de choque e de maior perda de em quatro grandes grupos. O primeiro abar-
sangue. Colocava-se também um pedaço de cava artigos que atentavam contra Deus e a
couro na boca do paciente para ele morder, religião, incluindo ofensas contra o Criador,
e uma serra era utilizada no procedimento. linguagem ofensiva e profana. O segundo
Algumas amputações levavam no total de grupo incluía artigos que puniam contra
quatro a cinco minutos no máximo. Muitos crimes atentatórios ao poder executivo do
feridos desmaiavam de dor ou morriam rei e do governo – nesse grupo estavam lis-
de infecção dias depois. As artérias eram tados crimes como espionagem, negligência
cauterizadas. do dever e manter contato com o inimigo;
Durante o combate, os mortos e os muitas dessas faltas eram punidas com a
membros amputados eram simplesmente pena de morte. O terceiro grupo apresenta-
lançados ao mar para dar espaço a outros va artigos que puniam atos que violavam e
feridos serem operados, com exceção para transgrediam os direitos e as tarefas que os
os oficiais mais graduados, cujos corpos “homens deviam a seus iguais”, incluindo aí
eram conduzidos a seus camarotes para assassinato, roubo e furto, muitos passíveis
serem sepultados no mar posteriormente. de pena de morte. Por fim, o último grupo
Nelson, depois de sua incluía as ofensas mili-
morte em Trafalgar, tares, tais como recusa
foi mantido em um to- A disciplina naval se de combater o inimigo,
nel repleto de brandy baseava nos The Articles of negligência ou covardia,
para ser enterrado na também passíveis de
Inglaterra. War, que foram formulados pena de morte27.
A vida a bordo de no reinado de Carlos II Existiam diversas
um navio da RN no brechas nessa legislação
período era bem di- que permitiam a livre
fícil. Basta ver que as deserções eram interpretação do comandante do navio, que
endêmicas. De que maneira os oficiais era o único que poderia imputar uma pena
conduziam a disciplina dos marinheiros a qualquer membro da tripulação. A ele
nesses navios? competia o julgamento e a intensidade da
pena. Se fosse um comandante justo, a sorte
Disciplina e punições nos seria da guarnição. Se fosse injusto, azar para
navios da RN todos. A liberdade e o poder imputados a um
comandante eram enormes, e isso tinha uma
O arcabouço legal para a disciplina na- explicação interessante e pertinente. Muitas
val se baseava nos chamados The Articles vezes um navio da RN encontrava-se afastado
of War, que foram formulados no período de sua base por muitos meses, e até anos,
de reinado de Carlos II após a Restaura- submetido apenas à disciplina dos oficiais
ção, sofrendo alterações em 1749 e após sob a direção do comandante. As comuni-
a morte do Almirante Byng na Guerra dos cações do século XVIII eram precárias, e a
Sete Anos, modificando-se, inclusive, o disciplina tinha que ser imposta de qualquer
artigo que reiterava a pena de morte para maneira em tripulações geralmente rudes e
as circunstâncias que o atingiram. brutas, pois, caso contrário, degeneraria em
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A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A vida cotidiana e as táticas de combate – (Parte IV – final)
confusão, desordem e caos. Pode-se com- infligia dor ao punido era cruel; no entanto,
preender essa liberdade de ação, e poucas naquele período toda a comunidade naval
vezes o Almirantado interferiu nas decisões dos oficiais e marinheiros considerava
desses comandantes, interpretando que eles esse expediente normal e muitas vezes até
agiram corretamente nos melhores interesses necessário. Muitos marinheiros viam a chi-
da GB e do rei. bata como a única forma de controlar maus
De forma a manter um navio com eficiên- elementos que eram negligentes e covardes,
cia, era necessária uma disciplina estrita. Rex expondo suas vidas à morte a todo o mo-
Hickox considerava como disciplina em um mento. A chibata, segundo os marinheiros
navio da RN no século XVIII a soma de obe- do período, não era ruim por si só. Ela se
diência, competência, transformava em instru-
lealdade e confiança mento cruel se fosse
mútua28. Quando um Um ponto importante utilizada em qualquer
marinheiro era punido, era o tipo de punição por falta por comandantes
ele o era porque colo- insensíveis, o que não
cara seus companheiros chibatadas que era imposto era incomum. Existiam
em perigo e, dessa ma- à guarnição: dura, brutal e marinheiros que eram
neira, o próprio navio. contumazes em receber
Todos dependiam de
rápida chibatadas e eram nor-
todos para conduzir o malmente indiferentes
navio e lutar no mar. Geralmente não existia a essa punição30.
prisão a bordo, prendendo-se o culposo em A tripulação gostava de comandantes
ferros e diminuindo suas rações de comida que fossem justos na punição, que fossem
e bebida. Dessa maneira, a chibata29 era o bravos, bons marinheiros e intransigentes
instrumento mais efi- com a negligência. Esses
ciente utilizado naquele marinheiros suportariam
período. qualquer punição pro-
Um ponto impor- vindo desse capitão e o
tante era o tipo de pu- acompanhariam a qual-
nição por chibatadas quer ação, pois, para eles,
que era imposto à guar- seus atos eram sempre
nição: dura, brutal e justos. Esses marinhei-
rápida. Hoje, ao discu- ros, por outro lado, de-
tirmos a chibata como testavam comandantes
Imagem de uma faina de chibatadas conduzida em
um instrumento puni- um navio de guerra inglês do século XVIII pouco exigentes que não
tivo cruel e desumano, exigissem o melhor da
estamos analisando sob tripulação, pois sabiam
o ponto de vista do século XXI, com valores que esses capitães os deixariam, na hora do
e cultura ocidental do tempo presente, de perigo, em situações perigosas, perdoando
respeito aos direitos humanos. Realmente, os faltosos e negligentes. Pior ainda, eles
utilizar-se um instrumento de castigo que detestavam os comandantes tiranos que
112 RMB2oT/2014
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A vida cotidiana e as táticas de combate – (Parte IV – final)
chibatavam todos por pequenas infrações e bora não fosse tão comum como imaginado.
arbitrariamente. Eles eram não só temidos, Sua aplicação requeria uma formatura geral
mas odiados.31 assistida por todos. Os
Muitos comandan- chapéus eram retirados
tes não gostavam de da cabeça, o coman-
utilizar a chibata para dante lia a sentença a
corrigir seus faltosos. ser aplicada ao faltoso,
Um desses casos foi o indicando o artigo do Ar-
do capitão, depois al- ticle of War referenciado
mirante, Collingwood, na punição, passando a
segundo de Nelson em palavra ao faltoso para
Trafalgar. Disciplinador qualquer justificativa,
severo, Collingwood normalmente declinada.
exigia o máximo de O marinheiro, então,
seus homens. Todos era preso ao mastro, e
o temiam. Ele trazia sua camisa era retirada.
seu navio em perfeita O contramestre, então,
ordem, disciplina e total aguardava ordem do
fidelidade de sua guar- comandante, que deter-
nição, utilizando a chi- minava “cumpra o seu
bata o mínimo possível. dever”33, e as chibatadas
Dizia ele que os seus Imagem do Almirante Cuthbert Collingwood, Barão eram aplicadas ao falto-
de Collingwood, disciplinador severo e brilhante
marinheiros iriam bater chefe naval so até o máximo de 12
continência para um no dia34. A chibata então
uniforme que estivesse secando no convés se era limpa pelo contramestre, retirando-se
assim ele determinasse, tal o nível de confian- carne e sangue do punido, e o cirurgião se
ça e respeito que seus aproximava para ver
homens tinham por ele. as condições do falto-
Ele raramente chibatava Existiam cortes marciais so. Normalmente eram
mais que um marinheiro colocados vinagre e sal
por mês e punia apenas para faltas graves, tais nos ferimentos, de modo
faltas graves, tais como como as que requeriam a evitar infecções35. O
bebedeira a bordo, in- cerimonial então estava
citamento ao motim e
penas de morte terminado. Logo que
roubo, com seis, nove possível, o marinheiro
e, no máximo, 12 chibatadas.32 voltava às suas funções rotineiras. O pro-
O uso da chibata, assim, era o método mais cedimento tinha um efeito intimidador e
usual a bordo para controlar a guarnição, em- dissuasório para a tripulação.
31 Idem.
32 Ibidem. p. 72.
33 Em inglês, a ordem era do your duty.
34 Muitos comandantes aplicavam mais de 12 chibatadas. Se existisse mais de uma falta, poderia ser transferida
a punição para outros dias, até o máximo de cem chibatadas. Fonte: LAVERY, Brian. Life in Nelson´ Navy.
op. cit. p. 52. e HICKOX, op. cit. p. 107.
35 HICKOX, op. cit. p. 24.
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A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A vida cotidiana e as táticas de combate – (Parte IV – final)
Existiam cortes marciais para faltas graves, decididas por corte marcial, o que era
tais como as que requeriam penas de morte, um sofrimento atroz para o faltoso. Um
como motim, considerado a pior de todas e en- marinheiro no século XVIII havia pedido,
volvendo oficiais, iniciadas normalmente por inclusive, para ser morto em vez de sofrer
uma parte circunstanciada do comandante do tal martírio, dizendo: “Estou certo que não
navio. Essa corte, depois de reunida, congre- poderei passar por essa tortura; preferiria
gava, pelo menos, de cinco até 13 capitães ou ser sentenciado à morte por fuzilamento
almirantes para definir as punições, depois de ou enforcado na verga”.37 Geralmente essa
ouvir a parte ou partes envolvidas no crime. Se punição requeria as chibatadas à prestação
o acusado fosse considerado culpado, ele era em diversos navios da RN, 20 em cada
enforcado, normalmente em seu próprio navio. um, tomando diversos dias e servindo
Na ocasião, os outros como fator inibidor para
navios surtos no porto outros recalcitrantes.
enviavam representan- Muitos marinheiros que
tes oficiais e marinhei- sofreram essa punição
ros para testemunhar morreram no processo.
a execução. Antes de As deserções eram
qualquer punição, a sen- faltas crônicas nos na-
tença de pena de morte vios da RN. Presume-se
precisava ser confirma- que cerca de 25% das
da pelo Almirantado. tripulações desertaram
Existia a possibilidade naquele período. Entre
da pena ser perdoada maio de 1803 e junho
pelo rei, o que ocorria de 1805, ocorreram na
algumas vezes. Nor- RN 5.662 deserções de
malmente levava-se o marinheiros especiali-
acusado para o convés zados, 3.903 deserções
para ser enforcado, e, no de marinheiros ordiná-
último instante, o perdão rios e 2.737 deserções
do rei era lido para todas de landsmen38, núme-
Imagem de um comandante típico do século XVIII,
as testemunhas. Pode-
36
capitão Thomas Baillie em quadro pintado por
ros impressionantes.
se imaginar a agonia e Nathaniel Hone em 1779 Esse tipo de falta podia
desespero do acusado corresponder de chi-
aguardar até o último momento para o perdão batadas até a pena de morte, no caso de
real, que era mantido em segredo até aquele reincidências.
instante. O Almirante Byng não obteve o espe- As punições aplicadas normalmente
rado perdão em 1757. Para o caso de oficiais, a eram as seguintes: bebedeira a bordo, a
sentença de morte era por fuzilamento. mais comum, 12 chibatadas; reincidência,
Existiam casos esporádicos de puni- 12 chibatadas a mais; roubo, 36 chibatadas;
ções envolvendo deserções ou agressões sujeira contumaz, 18 chibatadas; dormindo
a oficiais em que não se aplicava a pena em serviço, seis chibatadas; urinando na
de morte, mas sim cem a mil chibatadas, popa, 12 chibatadas; ações libidinosas com
36 LAVERY, Brian. Nelson´s Navy. op. cit. p. 217.
37 Idem.
38 LEWIS, Michael. A Social History of the Navy 1793-1815. London: Chatham, 2004, p. 134.
114 RMB2oT/2014
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A vida cotidiana e as táticas de combate – (Parte IV – final)
jovens marinheiros39, 48 chibatadas e dois entanto, ele servia para prender com cor-
meses de confinamento40. rentes o pé ou a perna daqueles faltosos que
Existia uma punição que envolvia a aguardavam o julgamento do comandante.
própria tripulação como executora. O Pode-se observar que as punições eram
comandante, em vez de mandar aplicar geralmente severas, assim como a vida a
chibatadas no faltoso, transmitia a punição bordo era dura. A severidade das punições
para ser aplicada pela própria tripulação41. variava de navio a navio, dependendo da
Normalmente envolvia casos de furto. O autoridade maior a bordo, o seu coman-
ladrão era colocado amarrado e sentado em dante. Alguns comandantes foram acusa-
uma banheira puxada no convés principal. dos de brutalidade; no entanto, suas penas
Duas filas de marinheiros eram colocadas foram brandas em relação ao sofrimento
nesse convés, todos munidos de chicotes de infligido a seus subordinados. No ano de
três pontas, e o faltoso passava sentado por 1881, finalmente a chibata foi abolida na
essas duas filas apanhando com os chicotes, RN, depois de forte oposição da opinião
em um verdadeiro corredor de chicotadas. pública na GB43.
A severidade da punição variava com os
sentimentos dos tripulantes contra esse A tática e o modo britânico
ladrão. Esse tipo de de combater
punição foi abolido em
180642. No ano de 1881, finalmente As tarefas alocadas
Outras punições a chibata foi abolida à RN no século XVIII
menos drásticas en- eram: fustigar as co-
volviam redução da na RN, depois de forte lônias dos adversários
quantidade de comida oposição da opinião pública apresando seus navios
e da ração de rum a mercantes e atacando
bordo (muito temida,
na GB suas bases coloniais;
pois a bebida era muita defender a ilha contra
apreciada pela guarnição), rebaixamento a ameaça de invasão pelo mar; proteger
de posto e diminuição do soldo. Outro as linhas de comunicação britânicas e dos
sistema muito antipático utilizado a bordo aliados contra ataques inimigos; proteger
era o uso de pequenas varas de bambu ou nacionais estacionados em diversas pos-
cabos solteiros por oficiais, midshipmen e sessões no império; e mostrar a bandeira
suboficiais para chicotear marinheiros que em defesa dos interesses britânicos nos
eram lentos ou negligentes nas atividades mares e oceanos.
rotineiras a bordo. Houve alguns casos de Normalmente as fragatas, em razão de sua
marujos e até midshipmen que, por terem maior velocidade e flexibilidade, atacavam as
sido indolentes, foram amarrados no ma- linhas de comunicação inimigas, protegiam
çame de bordo durante algumas horas. O os comboios de navios mercantes britânicos
confinamento também foi utilizado; no e engajavam em combates individuais as
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A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A vida cotidiana e as táticas de combate – (Parte IV – final)
44 HUGHES JR, Wayne. Fleet Tactics. Theory and Practice. Annapolis: Naval Institute Press, 1986, p. 48.
45 Vice-almirante relativo ao grupo de navios de vante (van), provindo a expressão vice-admiral em inglês.
46 Contra-almirante relativo ao grupo de navios de ré (rear), daí a expressão em inglês rear-admiral.
47 Direção de onde vem o vento ou bordo da embarcação voltado para a direção de onde vem o vento.
48 Direção contrária de onde vem o vento ou bordo contrário de onde o vento sopra.
49 Em inglês, doubling the enemy.
50 Em inglês, break the line.
51 O livro de história naval que melhor descreve a evolução das Fighting Instructions a partir de 1530 até 1816
foi escrito por Sir Julian Corbett cujo título é Fighting Instructions 1530-1816 publicado em 1905 pelo Navy
Records Society, volume 29.
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A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A vida cotidiana e as táticas de combate – (Parte IV – final)
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A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A vida cotidiana e as táticas de combate – (Parte IV – final)
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A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A vida cotidiana e as táticas de combate – (Parte IV – final)
e Taylor, que nos legaram parte dessa A Marinha do Brasil é fruto do que foi
tradição naval. Somos filhos desse tem- apresentado, e assim esse assunto muito
po histórico. nos interessa.
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EM BUSCA DA ARETÉ: A Rosa das Virtudes na formação
militar naval*
SUMÁRIO
Introdução
A importância da areté para a cultura clássica
A relação entre a ética e a educação
A emblemática Rosa das Virtudes
Conclusão
Um dos maiores desafios quando se faz Sabe-se que Platão estava inserido em um
a tradução de uma língua é o de apreender contexto histórico de embate com os sofistas,
os sentidos que determinadas palavras pos- que se apresentavam como os “mestres da
suíam na época em que foram escritas. Isto virtude”, pois tinham no ensino sua atividade
porque, inevitavelmente, qualquer língua intelectual mais importante. Esse ambiente
traz subjacente uma pesada carga histórica e de confronto levou o ilustre filósofo a uma
simbólica. Este parece ser o caso da palavra relevante problematização: a virtude seria
areté, que, de acordo com Zingano, possuía inata ao homem ou ela poderia ser ensinada?
para os gregos um campo semântico cuja No diálogo Menon, a resposta platônica é
aplicação seria mais ampla do que o contexto negativa: a virtude não pode ser ensinada,
especificamente moral. Não por acaso, areté uma vez que ela é inata, muito embora se
parece, em muitos casos, traduzido como encontre adormecida em cada pessoa. O
excelência no “realizar bem as funções”. papel do filósofo consiste em despertá-la
Nesse sentido, o ferreiro que trabalha bem pela prática da reminiscência, ou anamnese.
e o cavalo que é veloz são considerados A questão da virtude em Platão, enseja-
virtuosos e excelentes. Como se pode per- da pela sua posição antagônica aos sofistas,
ceber, o termo grego em questão engendrava serviu de base à futura teoria aristotélica
múltiplos significados, denotando qualidade, acerca do mesmo tema. De acordo com
e também um sentido de “excelência moral” Ross, para Aristóteles “a virtude constitui a
(ZINGANO, 2008, p.78). raiz donde decola a ação conforme o bem, o
Quanto à excelência moral, seria opor- prazer é o seu acompanhamento natural e a
tuno também considerar as origens da prosperidade a sua condição prévia normal”
ética aristocrática no contexto histórico da (ROSS, 1987).
Grécia antiga. Observa-se que os padrões Aristóteles divide a virtude em duas
éticos eram imutáveis, naturais e externos espécies (ARISTÓTELES, 1973, I, 13,
ao homem. Daí se depreende que tal uni- 1103a 5 a 10): a virtude moral, cujo objeto
verso denotava a ideia de uma profunda principal refere-se aos atos da vida prática
estrutura de segurança, fazendo com que e desenvolve-se a partir de hábito, e a vir-
Platão associasse virtude à tradição: tude intelectual, que necessita de tempo e
Muito antes de Platão, uma tradição bem experiência para se estruturar, tendo como
difundida do pensamento ético grego as- objeto a contemplação e o saber. A virtude
severava que acordos e práticas éticos são intelectual, como não poderia ser de outro
baseados em padrões eternamente fixos modo, desenvolve-se por meio do ensino
na natureza das coisas. Com frequência e, diferentemente dos sentidos inatos no
(embora nem sempre), é isso que se quer ser humano, concretiza-se pelo exercício.
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EM BUSCA DA ARETÉ: A Rosa das Virtudes na formação militar naval
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EM BUSCA DA ARETÉ: A Rosa das Virtudes na formação militar naval
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EM BUSCA DA ARETÉ: A Rosa das Virtudes na formação militar naval
PAT
como também a conduta, a ação e
DE
RIO
HONRA
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a prática das rotinas marinheiras.
TIS
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Dentre esses princípios nor-
DI
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teadores, a honra ganha lugar
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TO ÇÃ
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RA de destaque ao coroar a Rosa
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das Virtudes. E não poderia ser
ABNEGAÇÃO
ESPÍRITO DE de outro modo, pois sem ela os
SACRIFÍCIO
demais princípios não existiriam.
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Se voltarmos nosso olhar para
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o passado, verificaremos que
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nos poemas homéricos (Ilíada
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124 RMB2oT/2014
EM BUSCA DA ARETÉ: A Rosa das Virtudes na formação militar naval
Em nossos dias, a honra para um militar Pátria, pela qual não hesitará em sacrificar sua
não será encontrada necessariamente na própria vida; e, finalmente, na compreensão,
glória que alcançará com a morte, muito por meio de uma honesta humildade, de que
embora às vezes esta chegue sem pedir nunca será um bom militar se não for antes
licença, em razão da natureza específica de um bom homem.
suas atividades. O código de honra, concre-
tizado na Rosa das Virtudes, constitui-se Conclusão
em um exercício silencioso e solitário que o
militar deve se dispor a realizar diariamente Seria oportuno lembrar que a honra,
em suas ações, condutas e práticas. em muitas situações, ultrapassa a barreira
A honra anelada por qualquer militar é, da pouca idade. É o caso, por exemplo, do
na verdade, um processo de conquista que Guarda-Marinha João Guilherme Gree-
tem início no momento nhalgh, que entregou
em que, ainda jovem, sua vida em sacrifício
escolhe e abraça com A honra, em muitas à Pátria, justamente
orgulho sua carreira, até situações, ultrapassa a por defender o pavilhão
o momento em que pre- nacional. Morreu al-
cisará se despedir dela. barreira da pouca idade. guns dias depois de ter
Ela se traduz no cul- É o caso do Guarda- completado 20 anos de
tivo das tradições navais
construídas por homens
Marinha João Guilherme idade, em pleno comba-
te naval contra as forças
que viveram as mesmas Greenhalgh, que entregou paraguaias.
agruras e alegrias pelas sua vida em sacrifício Não por acaso foi
quais passará enquanto alçado à condição de
aluno e futuro oficial de à Pátria, justamente herói nacional, pois
Marinha; na disciplina por defender o pavilhão tanto a sua coragem e
que impõe a si próprio tenacidade foram tes-
em detrimento, muitas
nacional tadas e aprovadas numa
vezes, de seu conforto violenta refrega – não
pessoal; no orgulho pela farda, uma espécie podemos esquecer que a Batalha Naval do
de “segunda pele”, que o acompanhará e o Riachuelo definiu o rumo da Guerra do Pa-
distinguirá onde estiver; no cavalheirismo e raguai, favoravelmente, à Tríplice Aliança,
na polidez em suas ações, sem deixar de lado e por isso tornou-se a maior referência para
a austeridade e sobriedade em sua conduta; na a Marinha do Brasil –, quanto também a sua
honestidade de propósitos e na busca incessan- honra permaneceu intacta quando colocada
te pela verdade a qualquer preço; na fidelidade à prova no momento mais difícil de sua
e confiança depositadas em seus superiores, vida. Diante das circunstâncias desfavorá-
reconhecendo neles a experiência que às veis que acabaram por ceifar sua preciosa
vezes pode lhe faltar; na camaradagem com vida, não hesitou em cumprir a ordem direta
seus pares de farda, construída e amalgamada de seu superior, o Almirante Francisco
pelos anos de convivência cujo início remonta Manuel Barroso da Silva: “O Brasil espera
aos bancos escolares; no amor e na devoção à que cada um cumpra o seu dever”.
RMB2oT/2014 125
EM BUSCA DA ARETÉ: A Rosa das Virtudes na formação militar naval
Referências
ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, trad. Leonel Vallandro e Gerd Bornheim, Coleção Os Pensadores,
vol. IV, Ed. Abril Cultural, São Paulo, 1973.
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia: 12. ed. São Paulo: Ática, 2002.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. 22. ed. Rio de
Janeiro: 2002.
JAEGER, Werner (1986). Paideia. São Paulo, Martins Fontes.
LA TAILLE, Y. Moral e ética: dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre: Artmed, 2006.
NUSSBAUM, Martha. A fragilidade da bondade: fortuna e ética na tragédia e na filosofia grega.
São Paulo: Martins Fontes, 2009.
ROSS, David. Aristóteles. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1987.
ZINGANO, Marco Estudos de ética antiga. São Paulo: Paulus, Discurso Editorial, 2009.
126 RMB2oT/2014
AZUL COM A TORRE*
50 anos de operações de navio-aeródromo, (NAeL) Minas Gerais. Este fato, aliado aos
fato que eleva a responsabilidade em se intercâmbios na US Navy e aos exaustivos
manter e perpetuar esse conhecimento ope- adestramentos, foi responsável pelo suces-
racional que somente é adquirido a bordo. so no início das operações aéreas do A-12.
Este artigo não pretende apontar uma Treze anos desde sua incorporação, e
solução ou subsidiar a criação de uma nor- após um longo período em manutenção, nos
ma, mas evidenciar a necessidade de que deparamos com a retomada das operações
medidas preventivas devam ser adotadas aéreas em um cenário muito diferente, em
para uma condição latente relacionada ao que os oficiais mais experientes, detentores
fator humano, principal fator contribuinte de grande conhecimento, e que participa-
na sequência de eventos que levam aos ram das diversas catrapos1, já não se encon-
acidentes – nesse caso, a concentração de tram disponíveis. Nesse contexto, um dos
conhecimentos e experiência em operação aspectos mais relevantes para a retomada
de porta-aviões em um número reduzido de das operações aéreas com segurança é a
oficiais aviadores navais. capacitação do oficial aviador naval nas
O Navio-Aeródromo (NAe) São Paulo, funções a bordo do NAe São Paulo. E, em
ao iniciar sua vida operativa na MB, contou conjunto com a capacitação, a garantia da
com a experiência e o adestramento de um passagem dos conhecimentos por meio da
número considerável de oficiais e praças rotatividade de oficiais.
do Departamento de Aviação e do Grupo A questão a ser analisada refere-se ao
de Operações Aéreas com longo tempo tempo que um aviador naval deve permane-
de bordo no Navio-Aeródromo Ligeiro cer a bordo e como gerenciar a rotatividade
1 N.R.: As Comissões Catrapo servem para adestramento das operações do navio com aeronaves de asa fixa e
dos seus pilotos.
128 RMB2oT/2014
AZUL COM A TORRE
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AZUL COM A TORRE
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O tabuleiro de Midway*
java finalizar o que havia começado poucos al, advinda do grande número de sistemas,
meses antes, no ataque a Pearl Harbour, oca- equipamentos e procedimentos, verifica-se
sião em que os porta-aviões estadunidenses a importância de um bom planejamento,
escaparam por estarem em alto-mar. Desta com atenção à análise de riscos e, princi-
vez, o alvo seria a base militar de Midway – palmente, à capacitação dos profissionais
que servia para reabastecimento dos navios que atuam no cenário aeronaval. Bons
norte-americanos – e seu entorno. pilotos são tão necessários quanto bons
O Almirante Nagumo pretendia bombar- mecânicos, controladores de voo, equipes
dear a ilha e atrair os porta-aviões inimigos de crache etc. A difícil e necessária gestão
para, em um confronto direto, afundá-los. de competências e de talentos corrobora
A Marinha japonesa, que vencera todos para manutenção do nível de aprestamento
os combates nos últimos seis meses, com adequado, colocando o profissional certo no
seus oficiais treinados no Bushido2, não local certo e premiando os que demonstram
temia nenhum adversário, sobretudo os maior comprometimento e competência.
EUA, que haviam perdido seus principais Voltando a 1942, os EUA captaram
encouraçados em Pearl Harbour. e decifraram comunicações nipônicas
No comando naval estadunidense estava que sinalizavam um eminente ataque a
o Almirante Frank um local referido como
Fletcher. Seu prin- “AF”. Suspeitando ser
cipal porta-aviões, o Um equívoco na conduta a Base de Midway, os
USS Yorktown, estava dos japoneses era sua norte-americanos cria-
avariado devido a um ram uma falsa notícia
ataque japonês reali- excessiva confiança no de que os condensado-
zado algumas semanas sucesso res da usina de dessa-
antes, na Batalha do linização de Midway
Mar de Coral. estavam quebrados, o
Um equívoco na conduta dos japoneses que prejudicaria o abastecimento de água
era sua excessiva confiança no sucesso. potável. Deixaram que os adversários inter-
Quando atacados, preocupavam-se muito ceptassem suas comunicações e verificaram
mais em revidar do que em consertar os da- que, após isso, os japoneses passaram a
nos, havendo poucos marinheiros treinados trocar mensagens dizendo que levariam
para fainas de reparo. A capacitação dos dessalinizadores para “AF”. Estava confir-
EUA era diametralmente oposta, possuin- mado o local! O Almirante Fletcher pôde,
do equipes de manutenção e reparo bem então, posicionar melhor os seus meios.
treinadas, como atesta o fato de, em um O tabuleiro e as peças estavam montados,
momento decisivo, mil e quatrocentos ho- aguardando a próxima jogada do oponente.
mens colocarem o Yorktown em condições Abrindo novo parêntesis, percebemos
de combate no período recorde de vinte e como técnicas de Guerra Eletrônica, em es-
quatro horas (tido como o conserto mais pecial na faixa de comunicações, já eram de
importante da Segunda Guerra Mundial). suma importância há mais de setenta anos.
Em um breve paralelo entre passado e Com os recentes processos de aquisição
presente, considerando a complexidade atu- de modernos meios pela MB, que inclui-
2 O Bushido, que significa “o caminho do guerreiro”, consiste em um código de conduta herdado da época dos
Samurais (estes compunham a classe guerreira do Japão feudal ou bushi). Tal código lhes ditava o modo de
viver e de morrer com honra, buscando sempre a vitória e não tolerando a rendição.
132 RMB2oT/2014
O tabuleiro de Midway
rão em breve aeronaves não tripuladas de lançou mais que o triplo, para cobrir uma
reconhecimento (Vant), e que possuem área cinco vezes maior e, ao contrário de
enorme versatilidade de uso, reforça-se Nagumo, conseguiu localizar os porta-
um questionamento sobre os potenciais aviões inimigos.
recursos de monitoramento e interceptação. Os aviões torpedeiros estadunidenses
Como explorar adequadamente o espectro decolaram de Midway e passaram ao largo
eletromagnético em prol da segurança das dos bombardeiros lançados por Nagumo,
operações pelo uso de tais meios? Uma indo direto para o ataque aos porta-aviões
outra preocupação que deve permear o deste. Entretanto, ao se aproximarem de
planejamento das operações sob a ótica da seus alvos, adotando o voo rasante para
segurança: estando os software presentes lançamento, tornaram-se presas fáceis
em todos os equipamentos de controle e para os “Zeros” dos habilidosos pilotos
nas redes que os abarcam, estarão estes de caça japoneses. Em contrapartida, o
sistemas e redes protegidos contra ações ataque japonês à ilha fracassou frente à
de Guerra Cibernética? artilharia antiaérea de Midway, e os aviões
Em 4 de junho de 1942, os navios tiveram que retornar aos porta-aviões para
japoneses já estavam ao alcance de Mi- recarregar as aeronaves com mais bombas.
dway. Nagumo enviou sete aviões de Neste ínterim, um avião de reconhecimento
reconhecimento, cobrindo quinhentos mil de Nagumo descobriu um porta-aviões
quilômetros quadrados de oceano. Fletcher inimigo, e o almirante se viu diante de um
RMB2oT/2014 133
O tabuleiro de Midway
dilema. Para mudar o alvo, da ilha para o caças e bombardeiros foi eficaz. Havia uma
porta-aviões norte-americano, teria que falha no projeto dos tanques dos “Zeros”,
ordenar o ataque imediato de suas aero- pois a medida que o combustível ia sendo
naves que já estavam no ar, porém com o consumido abria espaço para os gases
armamento inadequado para aquela missão. altamente explosivos, deixando as aero-
A alternativa seria ordenar o pouso de suas naves mais frágeis ao impacto de qualquer
aeronaves para rearmar seus bombardeiros projétil. Mais uma vez, a segurança ficava
com torpedos, o que demandaria uma faina em segundo plano. Uma bexiga de borracha
de cerca de uma hora. nos caças Wild Cats estadunidenses, por
Seguindo as normas japonesas, Nagumo sua vez, evitava a formação de vapores
optou pela substituição das bombas por inflamáveis, tornando as aeronaves menos
torpedos. A jogada foi fatídica para os suscetíveis a explosões decorrentes de um
japoneses, definindo os rumos da batalha. ataque. Em formações duplas, as manobras
Nos hangares, a soma de bombas retiradas, destes caças exploraram estas vantagens,
aeronaves com torpedos e combustível de abateram vários “Zeros” e abriram caminho
aviação altamente volátil transformara os para o ataque dos bombardeiros aos porta-
porta-aviões japone- aviões japoneses. Du-
ses em gigantescas rante toda a história da
armadilhas explosivas Fatores humanos e aviação, a necessidade
flutuantes. operacionais mostram de adoção de combus-
A antiga tríade ho- tíveis menos voláteis e
mem x ambiente x que a capacitação deve ser de formas mais seguras
máquina, tão atrelada aprimorada pela gestão de de armazenagem levou
à segurança e à pre-
venção de acidentes
competências e de talentos, os engenheiros de volta
aos seus laboratórios
aeronáuticos, é alvo alocando-se corretamente e pranchetas, em be-
de permanente estudo os profissionais nefício do aumento da
e reflexão. A liderança segurança.
do almirante japonês, Além de três porta-
baseada em sua rígida formação, não con- aviões, centenas de aeronaves e milhares de
siderou os riscos de sua decisão. Talvez a militares japoneses sucumbiram. Xeque! O
própria identificação das vulnerabilidades vencedor do jogo, naquele imenso tabuleiro
estivesse comprometida diante das normas no meio do Pacífico, parecia despontar.
de conduta seguidas por Nagumo e seus Na sequência, o Yorktown também foi
oficiais. atingido três vezes por bombardeiros japo-
De fato, não foi a primeira nem a última neses, mas a tripulação, mais bem treinada,
vez que o excesso de confiança levou os inundou o sistema de combustível com
decisores à exploração dos limites da situa- dióxido de carbono, expulsando o oxigênio
ção, não avaliando adequadamente o perigo e diminuindo assim os riscos de explosão.
associado às circunstâncias específicas de Porém, logo depois, o porta-aviões foi
operação, fruto de uma deficiente doutrina atingido por dois torpedos, ficando fora de
de segurança. combate. Xeque para os japoneses. Fletcher
A primeira ofensiva aérea de Fletcher foi transladado para outro navio.
fracassou, sendo seus aviões abatidos pelos No entanto, antes de deixar o Yorktown,
caças japoneses. Mas a segunda leva de Fletcher ordenara a partida de aviões que
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O tabuleiro de Midway
RMB2oT/2014 135
COMO A FERRAMENTA MAINTENANCE RESOURCE
MANAGEMENT (MRM) PODE CONTRIBUIR PARA
MELHORAR A SEGURANÇA DE VOO*
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COMO A FERRAMENTA MAINTENANCE RESOURCE MANAGEMENT (MRM) PODE CONTRIBUIR
PARA MELHORAR A SEGURANÇA DE VOO
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COMO A FERRAMENTA MAINTENANCE RESOURCE MANAGEMENT (MRM) PODE CONTRIBUIR
PARA MELHORAR A SEGURANÇA DE VOO
ações positivas que cada empregado pode assinatura e correta redação de documentos
adotar, enfatizando o profissionalismo. São e uso de manuais.
conhecidos como Magnificent Seven. Segue 5) Todos somos partes de um time – to-
uma breve descrição: dos os acertos são resultados de uma boa
1) Segurança não é um jogo, pois o preço comunicação, resultando em moral elevada
da perda é muito alto – o que faz lembrar o e baixo índice de erros.
velho jargão: “Se você acha caro investir 6) Todos trabalhamos para reforçar o
em segurança, experimente um acidente”. positivo e eliminar o negativo – se um erro
2) Nossa assinatura é nossa palavra, acontece e não se aprende nada com ele, há
e vale muito mais que ouro – deve-se possibilidade de se repetir.
valorizar a importância dos registros dos 7) Erro zero, só por hoje – ao se adotar
serviços de manutenção e as suas conse- a prevenção de erros diariamente, com
quentes assinaturas pelos profissionais que pequenos passos, após algum tempo
os realizaram. conseguem-se grandes realizações.
3) Nós todos fazemos nossa parte para E qual seria a melhor forma de fazer
evitar que Murphy tenha sucesso – quando a mensagem do MRM alcançar todos os
se investigam todos os fatores que con- envolvidos na manutenção? Por meio da
duziram a um acidente, descobre-se uma comunicação. Observa-se uma grande mu-
cadeia de eventos estabelecida, com fatores dança no comportamento dos envolvidos
contribuintes e causas do acidente. quando sabem que serão responsabilizados,
4) Nós sempre trabalhamos com uma elogiados publicamente pelos esforços e
rede de segurança – são as precauções ou perguntados por sugestões. A comunicação
contramedidas que tomamos no dia a dia ocorre quando há o debriefing, em que cada
para prevenir que os erros e fatores huma- um pode opinar para que o próximo projeto
nos afetem nosso julgamento. Inclui a du- seja mais bem executado. Deve haver o
plicidade nas inspeções, uso de check-lists, envolvimento das pessoas, escutando-se o
RMB2oT/2014 139
COMO A FERRAMENTA MAINTENANCE RESOURCE MANAGEMENT (MRM) PODE CONTRIBUIR
PARA MELHORAR A SEGURANÇA DE VOO
140 RMB2oT/2014
O desenvolvimento de mísseis
na Marinha do Brasil e seus óbices:
Como tomar uma boa decisão?
SUMÁRIO
Introdução
Breve histórico do míssil
Introdução do míssil no Brasil
Conceituação do míssil
Classificação dos mísseis
Propósitos deste trabalho
Tipos de mísseis utilizados pela Marinha do Brasil
Míssil ar-superfície
Míssil ar-ar
Míssil superfície-ar
Míssil superfície-superfície
Míssil superfície-submarino
O desenvolvimento de mísseis no Brasil
MAA-1 Piranha, o primeiro míssil brasileiro
Antecedentes do desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil
Situação atual e perspectivas
O Parque Industrial Brasileiro
O período 1960-1990
Principais empresas parceiras da Marinha do Brasil no Projeto ManSup
A Lei no 12.598/2012
Tecnologia
Velocidade da evolução
Dificuldades para acompanhar a evolução tecnológica
As tecnologias duais
Como tomar uma boa decisão?
Aquisições de defesa
O caso do Brasil
Considerações finais
* Mestrando em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi vencedor do concurso
Marquês de Tamandaré, do Clube Naval, em 2012 e 2013.
O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
1 Épico clássico da Índia, cuja autoria é atribuída a Krishna Dvapayana Vyasa, visto por alguns autores como o
texto sagrado de maior importância no hinduísmo.
2 Wernher Magnus Maximilian von Braun foi um engenheiro e físico alemão. Antes e durante a Segunda Guerra
Mundial, trabalhou no programa alemão de foguetes e mísseis, alcançando progressos memoráveis. Ao fim
da guerra, entregou-se voluntariamente e foi naturalizado cidadão norte-americano, tendo ido trabalhar na
National Aerospatiale Space Agency (Nasa). Fonte: Wikipedia.
3 Força Aérea da Alemanha nazista.
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O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
Contratorpedeiro D-26 Mariz e Barros. No detalhe, o lançador quádruplo do MAS Sea Cat.
(Fonte: revista Segurança e Defesa)
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O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
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O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
Lançamento do míssil Sea Skua pela aeronave AH-11 (Fonte: revista Poder Naval)
agosto de 2012 ao 1o Esquadrão de Helicóp- Ford and Raytheon, foi utilizado durante
teros Antissubmarino (HS-1), destinadas a a Guerra do Vietnã pelas forças norte-
substituir as Sea King. Também poderá ser americanas. No Brasil, foram adquiridos
lançado pelos AH-11 Super Lynx. O contrato em 1998 para emprego pelas aeronaves
para aquisição do primeiro lote de oito mísseis AF-1 Skyhawk. O armamento de guiagem
foi assinado em 22 de dezembro de 2008. Ori- passiva a infravermelho pesa 85,3 kg (9,4
ginalmente desenvolvido no início da década kg da cabeça de combate) e mede 3,02 m
de 1970, possui as seguintes características: de comprimento por 0,127 m de diâmetro.
385 kg (120 kg da cabeça de combate), 3 m Em 10 de julho de 2010, durante a Ope-
de comprimento, 0,28 m de diâmetro, alcance ração Missilex, o Sidewinder foi lançado
máximo de 34 km, guiagem a pulsos de laser pela primeira vez tendo na equipagem
e altitude de voo sea skimming*. envolvida no lançamento somente pessoal
da Marinha do Brasil (WILTGEN, 2010).
Míssil ar-ar (MAA)
Míssil superfície-ar (MSA)
AIM 9H Sidewinder – Esta versão do
bem-sucedido míssil ar-ar de curto alcance Sea Cat – Primeiro míssil empregado pe-
foi desenvolvida pela US Navy (Marinha las Forças Armadas brasileiras. Suas caracte-
norte-americana) no início da década de rísticas foram supramencionadas no tópico da
1970. Fabricado pelo consórcio Philco- introdução do míssil no Brasil. Acrescenta-se
* N.R.: Sea skimming – atitude do míssil que na fase de cruzeiro voa a cerca de 100 m de altitude, mergulhando
para 2 a 15 m na fase final de aproximação do alvo.
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O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
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O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
dimensões são: comprimento de 1,84 m, o de 0,9 Mach. Durante a fase de cruzeiro, voa
diâmetro de 0,09 m, envergadura de 0,19 a cerca de 100 m de altitude, mergulhando
m e o seu peso total alcança 24 kg. para 2 a 15 m na fase final. Por este motivo,
O alcance eficaz mínimo é de 300 m, e é caracterizado como sendo sea skimming.
a altitude mínima de engajamento é de 15 Na MB, as fragatas classe Greenhalg
metros. (FONTOURA, 2003). O sistema possuem cada quatro lançadores deste tipo
de guiagem é infravermelho. de míssil, dois em cada bordo.
Cabe ressaltar que todos os mísseis Exocet MM 40 – Armamento muito
superfície-ar utilizados na Marinha do similar ao MM38. As principais diferenças
Brasil destinam-se à defesa de ponto. são nas dimensões (5,79 m de comprimento
e 875 kg), no maior ângulo de busca do
Míssil superfície-superfície (MSS) radar e na cabeça de combate, com menor
potencial destrutivo. O alcance máximo
Exocet MM38 – Versão antinavio do também é maior (até 70 km). Empregados
AM39, foi o primeiro da família Exocet, nas corvetas classe Inhaúma, construídas
desenvolvido no início da década de 1970. no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro
Tem 0,35 m de diâmetro, 5,21 m de com- (AMRJ) e incorporadas a partir de 1989,
primento, 735 kg (165 da cabeça de guerra), bem como nas fragatas classe Niterói e na
alcance de até 42 km e velocidade subsônica Corveta Barroso.
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O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
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O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
O desenvolvimento de
Lançamento do Exocet MM40 (Fonte: MBDA) mísseis no Brasil
Cerimônia de recebimento do MSS 1.2 AC. Lançador do míssil anticarro RBS 56 Bill
(Fonte: Marinha do Brasil) (Fonte: Marinha do Brasil)
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O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
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O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
Com relação à MB, verificamos que a perecível mais crítica do míssil, deixando
ideia do desenvolvimento de um MSS não claro que a empresa poderia aceitar cola-
é recente. No final da década de 1970, foi borar no desenvolvimento e ser contratada
formada uma equipe de oficiais no âmbito para isso, ou se negar a fazê-lo, o que não
da antiga Diretoria de Armamento e Comu- impediria que a MB prosseguisse no seu
nicações da Marinha (DACM), cujo diretor intuito. Felizmente, a MBDA resolveu
era o Almirante Raphael de Azevedo Bran- colaborar, o que tem feito com grande
co, para estudar o assunto. Vários deles competência e dignidade até o presente
foram, naquela época, enviados para fazer momento.
cursos no exterior. Um deles foi o Vice- O auxílio tem sido na capacitação das
Almirante (RM1) Ronaldo Fiúza de Castro, empresas nacionais dentro dos rigorosos
gerente do projeto de desenvolvimento padrões da área de mísseis e na introdução
do míssil nacional superfície-superfície, a modernas ferramentas de gerenciamento.
que, em 1980, foi cursar mestrado em Entretanto, a transferência de tecnologia só
Engenharia Aeronáutica no Massachussets está ocorrendo porque há profissionais com
Institute of Technology (MIT), nos EUA, grande conhecimento a respeito de mísseis
na área de controle, navegação e guiagem não só na MB, como também nas empresas
de mísseis. nacionais envolvidas.
Em 1982, a Israel Aerospace Industries Somente em 2007, com a aprovação do
propôs montar uma fábrica para produzir o Programa de Reaparelhamento da Mari-
míssil Gabriel III no Brasil. Contudo, como nha (PRM), estabelecendo cronogramas
era apenas uma transferência de know-how de trabalho para o período 2006-2012,
e não de know-why, ou seja, não havendo a posteriormente atualizado para 2008-
transferência de tecnologia, a MB decidiu 2014, o projeto de Desenvolvimento de
não prosseguir com as negociações. Míssil Nacional Antinavio tornou-se uma
No ano de 2001, a MB foi comunicada prioridade real.
pela MBDA, fabricante dos mísseis Exocet, A Ares ficou encarregada de produzir
de que o míssil tipo MM38 teria seu apoio e desenvolver o lançador. Os sensores
descontinuado. Além disso, a empresa ten- inerciais foram contratados junto ao
tou “pressionar” as autoridades brasileiras, Centro Tecnológico da Marinha em São
informando as “inúmeras vantagens” de Paulo (CTMSP), e a plataforma inercial
seus novos mísseis, com especificações seria produzida pelo Instituto de Pes-
mais sofisticadas do que as necessidades quisas da Marinha (IPqM). A Omnisys,
brasileiras, e cujo custo era cerca de três empresa da área de radiofrequência, ficou
vezes o de um do modelo MM 38. Nessa responsável pelo projeto do seeker para
ocasião, diante da sensação de impotência substituir o antigo radar Adac. O Centro
da MB, que percebeu que não poderia mais Tecnológico do Exército (CTEX) pro-
continuar dependendo das condições de duziria as pilhas térmicas, e a carga útil
lucratividade de empresas estrangeiras em seria produzida pela Fábrica Almirante
relação a sua arma mais letal, decidiu-se Jurandyr da Costa Muller de Campos
que o projeto do míssil nacional finalmente (FAJCMC), a fábrica de munições da
seria retomado. MB. A Fundação Atech faria o geren-
Mesmo tendo aceitado descartar os ciamento complementar. Também havia
mísseis MM 38, a MB disse à MBDA que a intenção de montar uma raia de testes
iria nacionalizar o motor foguete, parte adequada no Brasil.
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O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
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O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
7 A Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (Zopacas) foi estabelecida em 27 de outubro de 1986, por meio
de uma iniciativa do Brasil, da qual extraiu-se uma resolução, a 41/11 da Organização das Nações Unidas
(ONU). A Zopacas foi criada com o intuito de promover a cooperação regional e a manutenção da paz e da
segurança no entorno dos 24 países que aderiram a tal projeto. Fonte: Agência Brasileira de Estudos de Defesa.
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O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
Desde então, o setor vem ensaiando uma e) Omnisys Engenharia Ltda. – Parte do
longa e gradual recuperação, e, apesar de Grupo Thales, fundada em 1997 e locali-
todas as dificuldades, o Brasil é o único zada em São Bernardo do Campo (SP), é
país latino-americano com uma produção tradicional parceira do IPqM e se destaca
de armas significante (DREYFUS, 2005). como único fornecedor nacional capacitado
no desenvolvimento e na fabricação de
Principais empresas parceiras da Sistemas de Guerra Eletrônica, na moda-
Marinha do Brasil no Projeto ManSup lidade de não comunicações. Forneceu
os equipamentos de Medidas de Apoio à
a) Mectron Engenharia, Indústria e Comér- Guerra Eletrônica e Contramedidas Ele-
cio S. A. – Fundada em 1991, agora parte da trônicas para as corvetas classe Inhaúma.
Odebrecht Defesa e Tecnologia, esta empresa Responsável pelo seeker do ManSup.
localiza-se no cinturão industrial que se desen- f) Opto Eletrônica S.A. – Fundada em
volveu na área no entorno do ITA (interior 1994, e já declarada pelo ministro da De-
do estado de São Paulo) a partir da década de fesa como sendo “estratégica para o País”,
1960. Atua nos mercados de defesa e aeroes- produz sistemas optoeletrônicos.
pacial, desenvolvendo e fabricando produtos
de alta tecnologia, como o MSS 1.2, utilizado A Lei no 12.598/2012
pelo Corpo de Fuzileiros Navais (CFN).
b) Avibras Indústria Aeroespacial – Funda- A fim de incentivar e proteger a indústria
da em 1961, possui atualmente quatro unidades de defesa nacional, a Lei no 12.598, de 22
fabris, todas localizadas no interior do Estado de março de 2012, estabeleceu normas es-
de São Paulo. Pioneira no desenvolvimento e peciais para as compras, as contratações e o
na produção de mísseis brasileiros, vem par- desenvolvimento de produtos e de sistemas
ticipando ativamente do projeto ManSup, no de defesa e dispôs sobre regras de incentivo
desenvolvimento e em produção e integração à área estratégica de defesa.
de motores-foguete de propelente sólido. De acordo com a definição legal,
c) Ares – Atua no segmento de defesa, de- Produto Estratégico de Defesa (PED) é
senvolvendo atividades na área de planejamen- qualquer produto utilizado nas atividades
to, fabricação, manutenção e comercialização finalísticas de defesa, que, pelo conteúdo
de produtos para aplicações civis e militares, tecnológico, pela dificuldade de obten-
atendendo às demandas do mercado nacional ção ou pela imprescindibilidade, seja de
e internacional. Na área naval, desenvolve interesse estratégico para a defesa nacio-
sistemas integrados para navios com moni- nal, tais como recursos bélicos navais,
tores de correção de rumo que auxiliam na terrestres e aeroespaciais e serviços téc-
interceptação e no ataque do alvo selecionado, nicos especializados na área de projetos,
lançador de torpedo e alça óptica. Também pesquisas e desenvolvimento científico e
atua na automatização de comando e disparo tecnológico.
e em sistemas de combates a submarinos. A mesma lei, no inciso IV do seu artigo
d) Atech Negócios em Tecnologias 2o, estabelece as condições para o cre-
S.A. – Integrante do Grupo Embraer, for- denciamento de empresas como Empresa
nece sistemas de gerenciamento e outras Estratégica de Defesa, in verbis:
soluções tecnológicas. Localizada em São “IV – Empresa Estratégica de Defesa
Paulo, é parceira da MB no gerenciamento – EED – toda pessoa jurídica credencia-
do projeto ManSup. da pelo Ministério da Defesa mediante
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O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
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O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
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O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
Muitas outras tecnologias que utiliza- observa-se este tipo de barreiras na impor-
mos em nossas rotinas, e que aparentemente tação de compostos químicos e biológicos,
não têm nenhuma relação com artefatos dada a crescente preocupação da comuni-
bélicos, são derivadas de pesquisas com dade internacional com o desenvolvimento
emprego militar, tais como o leite conden- de agentes CBW (chemical and biological
sado, a margarina, o forno de microondas, warfare – guerra química e biológica,
as panela de teflon, entre muitos outros tradução livre).
produtos (JORGE, 2012).
A partir do exposto, podemos definir Como tomar uma boa
tecnologias de emprego dual como sendo o decisão?
desenvolvimento de sistemas, tecnologias,
materiais e produtos de duplo emprego, Aquisições de defesa
que tanto serão úteis à indústria bélica,
voltada para utilização militar, quanto Ensina-nos Brandão (2005, p. 798) que
para aproveitamento pelas indústrias e pela os armamentos são produtos de alto valor
sociedade civil. agregado, longo prazo de desenvolvimen-
Portanto, temos diferentes pontos de to, produção em baixa escala e intensivo
vista a partir dos quais podemos consi- emprego de tecnologias inovadoras. Por
derar as tecnologias duais. Analisando os esses motivos, eles demandam tratamento
aspectos econômicos, observamos que, diferenciado quanto ao sigilo e à expor-
para a indústria, certamente a possibilidade tação, e somente podem ser “concebidos,
de duplo emprego de novas tecnologias é desenvolvidos e produzidos por países
bastante vantajosa. Além da possibilidade tecnologicamente avançados, com poder
da comercialização de produtos tanto para de embargo sobre potenciais interessados
o segmento militar, cuja produção carac- nestes produtos”.
teristicamente é de pequena escala, quanto A aquisição de produtos de defesa
para o grande público, em que a produção pode ser definida como um processo
de larga escala poderia ampliar os lucros, de gestão, por meio do qual uma nação
temos ainda o bônus de poder dividir os provê tempestivamente às forças armadas
custos de pesquisa e desenvolvimento sistemas de defesa necessários, efetivos
com órgãos governamentais ligados à e confiáveis (MOREIRA, 2012, p. 5).
defesa, interessados nos novos sistemas. O conceito abarca, além da compra, a
A esta influência mútua, contagiando toda concepção e o projeto; a engenharia; os
a comunidade envolvida com pesquisa e testes e as avaliações; produção; opera-
desenvolvimento, denominamos “arrasto ções e apoio aos sistemas de defesa, até
tecnológico”. o descarte do equipamento, incluindo
Porém o lado negativo ocorre na hipó- processos de engenharia reversa.
tese de, inversamente, tecnologias criadas K. Subramanian (2010 apud Moreira
originalmente para uso civil apresentarem 2012) defende a necessidade de uma estra-
possibilidades de aproveitamento no setor tégia abrangente para aquisições de defesa,
bélico. A simples desconfiança da mínima e que não se paute em termos de itens ou
chance de ocorrência deste tipo de desvio equipamentos individuais, mas pela obten-
indevido da finalidade da tecnologia já é ção das tecnologias para construí-los, o que
suficiente para dificultar sobremaneira a aponta para a importância da transferência
transferência de tecnologias. Atualmente, de tecnologia.
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O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
Cada país deve delinear um modelo prias aquisições. Desta forma, o segmento
próprio para o seu sistema de aquisições militar ficava responsável não apenas
de defesa. A experiência internacional pode por estabelecer os requisitos técnicos,
ser de grande utilidade, principalmente mas tinha, ainda, que se envolver com
para países de desenvolvimento tardio, os aspectos político-estratégicos e com
sem tradição de grandes e continuados o planejamento financeiro. Porém essas
investimentos em defesa. aquisições estanques tiveram fim em 1999,
Neste processo, os principais fatores com a criação do Ministério da Defesa.
a serem considerados no planejamento A partir de então, o MD passou a ser
devem ser: a natureza das tarefas vislum- responsável por estabelecer as diretrizes
bradas para as Forças Armadas no período para formulação das políticas nacionais de
considerado; a sofisticação da tecnologia Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) de
de defesa disponível; a potencialidade da defesa, da indústria de defesa e de compras
base logística de defesa; a dependência de de produtos de defesa.
importações de bens e serviços; requisitos Recentemente, no âmbito do MD, foi
de interoperabilidade em operações con- criada a Secretaria de Produtos de Defesa
juntas, bem como com nações aliadas; e, (Seprod), tendo três departamentos: um
por fim, como principais condicionantes, de produtos de defesa, outro de ciência e
a regularidade e a magnitude dos recursos tecnologia industrial e um terceiro voltado
econômicos disponíveis. para a catalogação.
O sistema de aquisições de defesa deve Com as mudanças supramencionadas,
ser dotado de estrutura apropriada e recur- cada força, a despeito de ainda ter a res-
sos humanos qualificados e experientes em ponsabilidade de subsidiar o MD em todos
diversas áreas transdisciplinares. Entre elas os aspectos das aquisições, passou a poder
podemos citar a prospecção tecnológica; concentrar suas atenções nos aspectos
projetos e engenharia; produção; pro- técnico-operacionais.
priedade intelectual; economia de defesa; Diversos atores participam do processo
logística; gestão de projetos; compras; de aquisição de produtos de defesa: políti-
auditorias; e contratos, inclusive interna- cos, diplomatas, militares, industriais, co-
cionais (MOREIRA, 2012). merciantes, lobistas, técnicos e burocratas,
entre outros. Esta variedade de envolvidos,
O caso do Brasil de diferentes interesses, ocasiona uma série
de dificuldades, como falta ou mudança de
Na segunda década do século XXI, o vontade política, derivada da alternância
Brasil intensificou o esforço pelo salto natural de poder ou de conflitos de inte-
tecnológico que tornasse sua economia resses técnicos, ideológicos e financeiros.
mais competitiva no mundo globalizado. Reconhecer a existência desses óbices é
A pressa em atenuar a distância para os importante para tratá-los e prevenir seus
países desenvolvidos reavivou o debate efeitos.
sobre “transferência de tecnologia”, vista A Estratégia Nacional de Defesa (END)
como um valioso instrumento para acelerar representou um avanço, na medida em que
a capacitação da indústria, em áreas de associou defesa a desenvolvimento e esti-
interesse estratégico. mulou a geração de tecnologia autóctone,
Durante décadas, no Brasil, cada força condicionando grandes aquisições de pro-
armada conduziu isoladamente suas pró- dutos de defesa no exterior à transferência
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O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
8 De acordo com a Política de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica (DCA 360-1, de 13 de dezembro
de 2005), offset é “toda e qualquer prática compensatória acordada entre as partes, como condição para a
importação de bens e/ou serviços, com a intenção de gerar benefícios de natureza comercial, industrial e
tecnológica”. Fonte: Instituto de Fomento e Coordenação Industrial.
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O desenvolvimento de mísseis na Marinha do Brasil e seus óbices: Como tomar uma boa decisão?
Bibliografia
160 RMB2oT/2014
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ZALOGA, Steven. V-2 Ballistic Missile 1942-52. Reading: Osprey Publishing, 2003.
RMB2oT/2014 161
Parcerias Público-Privadas na Marinha do
Brasil: um breve panorama
SUMÁRIO
Introdução
A origem das Parcerias Público-Privadas
Parcerias Público-Privadas no Brasil
Características das PPP no Brasil
Metodologia
PPP na Marinha do Brasil
Os projetos de PPP da Marinha do Brasil
Arsenal de Marinha no Rio de Janeiro
Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes
Residências para militares em Itaguaí
Considerações finais
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à eficiente prestação de dado tipo de ser- custear tal construção e operá-los, forne-
viço” (RIBEIRO e PRADO, 2007, p. 81). cendo os serviços demandados. Assim,
No que se refere à contraprestação pe- sendo responsável pelo projeto, construção,
cuniária devida pela administração pública financiamento e operação desses ativos, “o
ao parceiro privado, após a disponibilização particular é incentivado a adotar uma visão
do serviço objeto do contrato de PPP e vari- integrada do ciclo de vida do empreendi-
ável em função do desempenho contratual mento, o que estimula, além da eficiência,
previamente estabelecido, o Art. 6o da Lei melhor qualidade na prestação do serviço”
no 11.079/2004 dispõe que a mesma poderá (BRITO e SILVEIRA, 2005).
ser feita da seguinte maneira: (I) ordem ban- No sítio do Ministério do Planejamento,
cária; (II) cessão de créditos não tributários; Orçamento e Gestão (MP) estão relaciona-
(III) outorga de direitos em face da adminis- dos outros esquemas de PPP compatíveis
tração pública; (IV) outorga de direitos sobre com a legislação brasileira, como o Design-
bens públicos dominicais; e (V) outros meios Build-Finance-Maintenance (DBFM)
admitidos em lei (BRASIL, 2004). – Projetar-Construir-Financiar-Manter, o
Tais contraprestações da Administração Build-Own-Operate-Transfer (BOOT) –
Pública podem ser garantidas mediante: (I) Construir-Gerenciar-Operar-Transferir,
vinculação de receitas, (II) instituição ou e o Refurbish-Operate-Transfer (ROT) –
utilização de fundos especiais previstos Recuperar-Operar-Transferir.
em lei, (III) contratação de seguro-garantia De toda forma, a avaliação quanto à
com companhias seguradoras não controla- conveniência e à oportunidade da utilização
das pelo poder público, (IV) organismos in- das PPP para a realização do serviço dese-
ternacionais ou instituições financeiras não jado, bem como à viabilidade econômico-
controladas pelo poder público, (V) fundo financeira do projeto, é realizada a partir
garantidor ou empresa estatal criada para dos estudos identificados na Figura 1.
essa finalidade, e (VI) outros mecanismos Tais avaliações envolvem desde “as
admitidos em lei (BRASIL, 2004). análises preliminares de identificação da
Por intermédio da Lei no 12.766, de 27 necessidade de realização do projeto, pas-
de dezembro de 2012, alguns dispositivos sando pela comparação do projeto com as
foram incluídos na Lei no 11.079/2004, demais alternativas à sua realização, até à
dentre os quais se destaca a possibilidade justificativa de sua eleição”, bem como à
de aporte de recursos em favor do parcei- verificação dos “impactos fiscais da reali-
ro privado para a realização de obras e zação do projeto, considerando não apenas
aquisição de bens reversíveis. Tais aportes os compromissos pecuniários a serem
podem ser excluídos da base de cálculo da assumidos pelo parceiro público, mas tam-
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido bém os riscos envolvidos na contratação”
(CSLL) e da Contribuição para o Finan- (RIBEIRO e PRADO, 2007, p. 55).
ciamento da Seguridade Social (Cofins)
(BRASIL, 2004). Metodologia
As PPP seguem ao esquema Design-
Build-Finance-Operate (DBFO) – Proje- Uma pesquisa pode ser caracterizada
tar-Construir-Financiar-Operar, em que quanto aos fins e meios (Vergara, 2013).
o órgão público especifica os serviços Quanto aos fins, este estudo pode ser de-
desejados, cabendo ao parceiro privado finido como exploratório, por apresentar
projetar e construir os ativos requeridos, brevemente a ascensão do processo de PPP
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Governo Federal (CGP), MP, para o en- das tratativas pertinentes no âmbito extra-
quadramento do projeto como prioritário MB, visando obter o apoio necessário para
para execução pelo regime de PPP. viabilizar a execução do projeto por meio
Após esta etapa, a OM proponente de PPP, bem como a coordenação de tais
constituirá um Comitê Gestor de PPP para, tratativas nas fases anteriores ao encami-
com a assessoria técnica da DAdM, adotar nhamento da PPI.
as medidas pertinentes relacionadas à via-
bilização do projeto de PPP. Os projetos de PPP da Marinha do
Importante destacar que a SGM definiu Brasil
a área de atuação das Diretorias Especia-
lizadas envolvidas no processo das PPP: à Decorrente da Cooperação Técnica Não
DAdM, como Centro de Referência de Co- Reembolsável ATN/MT-9587-BR firmada
nhecimento do assunto PPP, caberá o apoio entre a República Federativa do Brasil e o
técnico necessário às OM proponentes; e Banco Interamericano de Desenvolvimento
à COrM, como interlocutora extra-MB no (BID)/Fundo Multilateral de Investimentos
que se refere às PPP, caberá a realização (Fumin), denominada “Programa Nacional
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ção Física e, de acordo com a disponibilidade empresa de consultoria, que irá elaborar os
de suas instalações, apoiar outras instituições estudos de viabilidade do projeto de PPP do
governamentais ou não governamentais na Cefan, o Programa das Nações Unidas para
realização de atividades de educação física e Desenvolvimento (PNUD), responsável pela
desportos, bem como conduzir projetos sociais gestão desses recursos no País, publicou no
ligados ao esporte, tais como o Programa For- Diário Oficial da União (DOU) de 4 de outubro
ças no Esporte, que tem como ponto basilar a de 2011 o Aviso de Manifestação de Interesse
inclusão social, por meio do esporte, assegu- no 14.176, dando início à referida seleção.
rando a sua prática a crianças e adolescentes Em julho de 2012, analisadas as pro-
carentes, contribuindo, assim, para o processo postas apresentadas sob a ótica de técnica e
de desenvolvimento e formação do cidadão. preço, o PNUD firmou contrato com o con-
No período de 16 a 24 de julho de 2011, sórcio, constituído pelas empresas Ernst &
as instalações do Cefan foram utilizadas Young Terco Assessoria Empresarial Ltda
para sediar as competições dos V Jogos (líder); Concremat Engenharia e Tecnologia
Mundiais Militares (V JMM), realizados no S.A.; e Manesco, Ramires, Perez, Azevedo
Rio de Janeiro. O sucesso dessa participa- Marques Sociedade de Advogados, para o
ção acarretou a seleção de suas instalações, desenvolvimento desses estudos.
pelo Comitê Organizador dos Jogos Olím- A contar dessa data, o consórcio observa-
picos e Paraolímpicos Rio 2016, como um rá o cronograma de atividades estabelecido
dos locais de treinamento dos pré-jogos. no TR para entrega dos produtos contratados
Todavia, suas instalações remontam à (estudo de demanda, arquitetura e engenha-
década de 70. Algumas foram reformadas ria, socioambiental, avaliação econômica,
para a realização dos V JMM, mas outras se avaliação financeira e minutas de edital e
encontram obsoletas, necessitando de obras de contrato). Os pagamentos devidos são
estruturais. Assim, em fevereiro de 2011, a realizados pelo MP e estão condicionados à
Secretaria-Geral da Marinha encaminhou para entrega e ao aceite de cada produto pela MB.
o Ministério do Planejamento Orçamento e De posse de todos os estudos realizados
Gestão, via Ministério da Defesa, a descrição pelo consórcio, caberá à MB decidir sobre
preliminar do projeto de PPP para ampliação e a oportunidade e a conveniência de reali-
modernização das instalações do Cefan. zação do procedimento licitatório para o
Considerando a natureza das atividades projeto de PPP do Cefan, uma vez que tais
desenvolvidas e o enquadramento favorável estudos não vinculam à Força a realização
pelo Banco Interamericano de Desenvol- da concorrência.
vimento, a fase de estudos de viabilidade
do projeto de PPP do Cefan será custeada Residências para militares em Itaguaí
com recursos da Cooperação Técnica Não
Reembolsável ATN/MT-9587-BR firmada Em 23 de dezembro de 2008, o Brasil
entre a República Federativa do Brasil celebrou vários acordos de natureza políti-
e o BID/Fumin, denominada Programa ca, técnica e comercial com a França, nos
Nacional de Desenvolvimento Industrial quais foram estabelecidas condições gerais
de Parcerias Público-Privada. Caberia, para uma parceria entre os dois países, com
assim, a contratação de uma empresa de vistas a viabilizar o Programa de Desen-
consultoria para realização de tais estudos. volvimento de Submarinos (Prosub), que
Após a conclusão do Termo de Referência permitirá ao País construir o seu primeiro
(TR), a ser utilizado para a seleção de uma submarino com propulsão nuclear.
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Como parte desse programa, estão pre- Brasil Participações Ltda (líder), Reso-
vistas as construções de um estaleiro e de lutions Consultoria e Gestão Patrimonial
uma base naval em Itaguaí. O estaleiro na- Imobiliária Ltda, Miguel Saraiva + PMA
val é dedicado à construção e à manutenção Arquitetura Ltda, Prime Yield Consultoria
de submarinos convencionais e nucleares, e Avaliação Patrimonial e Sociedade de
enquanto a base naval destina-se a abrigar Advogados Barbosa e Spalding Advo-
a frota brasileira de submarinos, bem como gados; e Queiroz Galvão Tecnologia em
a receber o efetivo profissional vinculado Defesa e Segurança S/A.
às atividades afetas a esses meios. Os estudos deverão ser apresentados
Considerando a quantidade de Orga- de acordo com os prazos estabelecidos no
nizações Militares, que serão sediadas no Termo de Referência e serão ressarcidos
interior dessa base naval, necessárias para exclusivamente pelo vencedor da licitação,
prover o adequado apoio às operações com desde que selecionados, nos termos do De-
os submarinos, espera-se que ocorra uma creto no 5.977, de 1o de dezembro de 2006, e
movimentação de cerca de 2.600 militares e efetivamente utilizados no eventual certame.
servidores civis da MB para aquela região.
A oferta de residências próximas a essas Considerações Finais
instalações não atende a essa demanda pre-
vista. Assim, o projeto de PPP de Itaguaí É possível dizer que, ao considerar a con-
tem como objeto a construção e a manu- tratação de PPP, o órgão público interessado
tenção de um empreendimento residencial, deve comparar os custos de um simples
destinado a atender, no mínimo, a 2.000 investimento público, associado à provisão
famílias de militares e servidores civis pública do serviço que se deseja, com os
que irão compor as Organizações Militares custos desse investimento e serviço ofertado
situadas na base naval. por intermédio de PPP. Uma ferramenta
Como o projeto não é passível de aporte amplamente utilizada no exterior para tal
financeiro pela Cooperação Técnica Não comparação, mas pouco aplicada no País,
Reembolsável ATN/MT-9587-BR, a Secre- é o Public Sector Comparator (PSC), não
taria Executiva do Comitê Gestor de Parce- abordada neste artigo, mas que serve de base
rias Público-Privadas (CGP) publicou, no para futuros trabalhos nesta área.
DOU de 4 de março de 2013, o Aviso de Assim, há de se ter em mente, e efeti-
Solicitação de Propostas no 01/2013 para vamente colocar em prática, que PPP bem-
convocação de consultoria visando à estru- sucedidas devem proporcionar serviços
turação do primeiro módulo desse projeto, de alta qualidade aos seus beneficiários e
composto por 788 unidades habitacionais, custos menores do que aqueles em que a
das quais 396, já construídas, deverão so- Administração Pública iria incorrer caso
frer manutenção e 392 serão construídas e esses investimentos e serviços fossem por
mantidas pela futura concessionária. ela providos. Além disso, para que esse
Ato contínuo, em 22 de maio de 2013, sucesso seja atingido, alguns fatores críti-
foi publicado no DOU, pela Secretaria cos devem ser observados, tais como a boa
Executiva do CGP, o Termo de Autorização elaboração dos estudos de viabilidade, a
no 01/2013 que autoriza as seguintes em- criação de indicadores de desempenho com
presas a elaborar os estudos pertinentes do metas atingíveis, a perfeita delimitação do
projeto em questão: Consórcio Vila Naval, objeto do projeto e a adequada redação do
constituído pelas empresas Rockbuilding contrato a ser firmado entre as partes.
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Parcerias Público-Privadas na Marinha do Brasil: um breve panorama
No entanto, as PPP não devem ser en- ro e dois do Ministério do Meio Ambiente),
tendidas como um meio de solução para o Governo Federal espera poder assinar em
todos os grandes projetos públicos, muito breve mais projetos de PPP, incentivando
menos como a panaceia para as mazelas a adoção de sua prática em outros setores
públicas, mas sim como uma possibilida- da economia nacional.
de de melhora e avanço, com capacidade Todavia, é importante ressaltar que,
de atrair capital pri- como mencionam Ri-
vado para projetos beiro e Prado (2007,
que normalmente não As PPP não devem ser p. 15), “a implantação
seriam de interesse
desse setor.
entendidas como um meio proficiente de proces-
sos de desestatiza-
O desafio na esfera de solução para todos os ção requer mudanças
federal ainda é gran- grandes projetos públicos, culturais”. As PPP,
de, tendo em vista fundamentadas em
que, muito embora a muito menos como a “choque de gestão”
legislação específica panaceia para as mazelas na Administração Pú-
de PPP date de 2004,
até os dias de hoje
públicas, mas sim como blica, revestem-se de
uma profunda mudan-
somente um contrato uma possibilidade de ça cultural, sobretudo
de PPP foi firmado melhora e avanço quando aplicada na
no âmbito federal: o área militar. Assim,
complexo Data Cen- apesar da reconhecida
ter, do Banco do Brasil e da Caixa Eco- capacidade gerencial e administrativa
nômica Federal. das Forças Armadas, deve-se levar em
No enfrentamento desse desafio, consi- consideração que a sua adoção encontrará
derando os projetos constantes na Resolu- também barreiras de ordem cultural, mas
ção no 03, de 14 de dezembro de 2011, do este é um assunto a ser abordado em outro
CGP (três da MB, três do Exército Brasilei- trabalho.
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Parcerias Público-Privadas na Marinha do Brasil: um breve panorama
Bibliografia
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GESTÃO DE EXCELÊNCIA EM RESÍDUOS DE SERVIÇO
DE SAÚDE: Um estudo no Pamesq*
SUMÁRIO
Introdução
Revisão bibliográfica
Métodos da pesquisa
Resultados e discussão
Análise do PGRSS
Análise dos resíduos gerados pelo Pamesq
Tratamento dos resíduos
Considerações finais
* Artigo resultante da monografia apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) como
requisito de conclusão do MBA em Gestão e Tecnologias Ambientais. Versão preliminar do artigo foi apre-
sentada no XVI Seminário em Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
(FEA)/USP – 2013. Pamesq – Posto de Atendimento Médico da Esquadra.
1 Biólogo, especialista em Gestão Ambiental pela Universidade Cândido Mendes, mestre em Geografia pela
Universidade Federal do Pará (UFPA) e doutorando em Administração pela Universidade Nove de Julho
(Uninove). Atualmente, exerce a função de assessor da Gerência de Apoio ao Licenciamento Ambiental da
Coordenadoria-Geral do Programa de Desenvolvimento de Submarino com Propulsão Nuclear (Cogesn).
2 Doutora e mestra em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da
Fundação Getúlio Vargas (Eaesp/FGV). Atualmente é professora do Programa de Mestrado e Doutorado –
PPGA do Centro Universitário da Faculdade de Engenharia Industrial – FEI (SP).
3 Pós-doutorada pela Universidade do Estado do Arizona (EUA). Doutora em Engenharia Civil e Ambiental pela
Universidade de Sherbrooke (Canadá), mestre em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). Bióloga pela Universidade de Caxias do Sul. Professora do Programa de Pós-Graduação em
Administração da Universidade Nove de Julho (Uninove) e pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecno-
lógicas de São Paulo (IPT).
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GESTÃO DE EXCELÊNCIA EM RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE: Um estudo no Pamesq
padrões, sendo aqueles descartados como lações. Assim, o Pamesq reúne condições de
lixo doméstico. Observou, ainda, que os ser estudado por se mostrar um caso decisivo,
resíduos líquidos são encaminhados para o de acordo com Yin (2005), e satisfazer as
sistema municipal de esgoto sem tratamento condições para testar os objetivos propostos.
prévio; tal fato corrobora com a pesquisa Para a realização deste trabalho, utili-
realizada por Uysal & Tinmaz (2004). Ab- zaram-se diversas fontes de evidências,
dulla et al. (2008) mencionam que 57% dos possibilitando o desenvolvimento de linhas
hospitais pesquisados na Jordânia também convergentes de investigação por meio de
descartam os resíduos líquidos diretamente um processo de triangulação de informações
na rede de esgoto do município. de fontes de dados (YIN, 2005). Os instru-
Taghipour e Mosaferi (2009a) observam mentos de coletas de dados utilizados foram:
que não existem instruções práticas, ou de documentos, registros em arquivos, entre-
supervisão adequada, sobre os diferentes vistas e observação direta e participativa.
níveis de gestão de resíduos nos hospitais Na pesquisa documental e nos registros
do Irã. Todavia, registram que em quase em arquivos foram utilizados o Programa
todos os hospitais há um gestor para a de Gestão Ambiental da BNRJ; os Planos
Gestão de Resíduos, porém o programa de Gerenciamento de Resíduos de Serviço
de treinamento de pessoal não é eficiente. de Saúde (PGRSS) dos anos de 2008, 2009,
Ressaltam também que não são satisfatórias 2010 e 2011; Normas Técnicas Ambientais
as condições de armazenamento temporário da MB; Ordens Internas e cartazes.
dos resíduos, assim como os equipamentos
de proteção para o pessoal envolvido em RESULTADOS E DISCUSSÃO
manuseio e transporte do material.
Neste item estão apresentados os resul-
MÉTODOS DA PESQUISA tados obtidos na pesquisa. Os resultados
mostram uma análise do PGRSS, a classi-
Essa pesquisa exploratória foi desen- ficação e os tipos de resíduos gerados pelo
volvida por intermédio da abordagem de Pamesq, além das estratégias empregadas
estudo de caso único. Esse tipo de pes- para o tratamento dos resíduos pela OM.
quisa facilita a compreensão do fenômeno
investigado, pela natureza e magnitude do Análise do PGRSS
fenômeno (YIN, 2005).
Dada a natureza heterogênea e diversifica- O Plano de GRSS do Pamesq está de
da do setor de serviços, a questão ambiental se acordo com as diretrizes da RDC no 306/2004.
apresenta como um desafio, e, nesse sentido, Foi implantado em 2004 e tem sido revisado
os setores hoteleiro, bancário e hospitalar são anualmente. Neste trabalho foram analisados
os que demonstram os maiores avanços em os PGRSS de 2008, 2009, 2010 e 2011.
relação ao levantamento e à avaliação dos im- Em relação ao aspecto segregação, os
pactos ambientais (DEMAJOROVIC, 2006). resíduos são separados de acordo com a
A escolha do Pamesq, localizado na Base classificação apresentada na Tabela 1. Para
Naval do Rio de Janeiro, como unidade de a identificação e o reconhecimento visual
análise deve-se ao fato de ser a primeira da Ma- dos recipientes de acondicionamento e
rinha do Brasil a obter certificação ambiental armazenamento temporário, são utilizadas
pela Diretoria de Portos e Costas (DPC), em etiquetas, em consonância com a simbolo-
2010, após auditoria ambiental em suas insta- gia citada na RDC no 306/2004, da Anvisa.
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GESTÃO DE EXCELÊNCIA EM RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE: Um estudo no Pamesq
Tabela 1: Classificação dos Resíduos de Serviço de Saúde (RSS) nos setores do Pamesq
SETORES DO
GRUPO CARACTERÍSTICAS
PAMESQ
Resíduos com a possível presença de agentes biológicos que, por suas
características de maior virulência ou concentração, podem apresentar
Emergência,
risco de infecção. Esse grupo divide-se em A1 (descarte de vacinas de
Odontologia,
microrganismos, bolsas transfusionais, resíduos laboratoriais), A2 (resíduos
A Ambulatório,
provenientes de animais), A3 (peças anatômicas de ser humano), A4 (filtros
Laboratório e
de ar e gases aspirados de área contaminada, resíduos de tecido adiposo),
Esterilização
A5 (materiais perfurocortantes provenientes de seres contaminados com
príons – agente infeccioso composto por proteínas).
Resíduos que contenham substâncias químicas que podem apresentar
Emergência,
risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas caracte-
Odontologia,
rísticas de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. Nesse
Ambulatório,
grupo, encontram-se os produtos hormonais, produtos antimicrobianos,
B Laboratório, Far-
imunomoduladores, resíduos e insumos farmacêuticos dos medicamentos
mácia, Radiolo-
controlados, resíduos de saneantes, desinfetantes, resíduos contendo metais
gia, Esterilização
pesados e reagentes para laboratório, inclusive os recipientes contaminados
e Copa
por estes.
Todo material resultante de atividades humanas que contenham radionu-
clídeos em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados
nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e para os
C quais a reutilização é imprópria ou não prevista. Fazem parte desse grupo Radiologia
quaisquer materiais resultantes de laboratórios de análises clínicas, nuclear
e radioterapia que contenham radionuclídeos em quantidade superior aos
limites de eliminação.
Resíduos que não apresentem risco biológico, químico ou radiológico à Emergência,
saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domi- Odontologia,
ciliares. Enquadram-se nesse grupo papel de uso sanitário e fralda, resto Ambulatório,
D alimentar de paciente, material utilizado em antissepsia, equipo de soro, Laboratório, Far-
resíduos provenientes das áreas administrativas, resíduos de varrição, mácia, Radiolo-
jardins e resíduos de gesso provenientes de assistência à saúde. gia, Esterilização
e Copa
Resíduos perfurocortantes ou escarificantes, tais como: agulhas, escalpes, Emergência,
ampolas de vidro, limas endodônticas, lâminas de bisturi, lancetas, tubos Odontologia,
capilares, micropipetas, lâminas e lamínulas, espátulas e os utensílios de Ambulatório,
E vidro quebrados no laboratório. Laboratório,
Farmácia,
Radiologia e
Esterilização
Fonte: Elaborada em consonância com a Resolução Conama no 358/2005.
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GESTÃO DE EXCELÊNCIA EM RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE: Um estudo no Pamesq
de: segregação, acondicionamento, identi- Análise dos resíduos gerados pelo Pamesq
ficação, transporte interno, armazenamento
intermediário, armazenamento temporário, Todos os resíduos sólidos gerados pelo
tratamento, armazenamento externo, coleta Pamesq são quantificados em litros, e os
e transporte externo e destinação final. dados consolidados em planilhas de con-
Desta forma, o PGRSS do Pamesq visa trole mensal que constam como anexo dos
minimizar a produção de resíduos, tratá-los PGRSS. Os dados referentes aos anos de
e encaminhá-los de forma segura ao destino 2008, 2009, 2010 e 2011 são apresentados
final e, deste modo, prevenir e controlar na Tabela 3.
riscos ocupacionais à saúde pública e ao De acordo com os dados da Tabela 3,
meio ambiente. Apesar de o PGRSS ter houve uma redução na geração de resíduos
sido implementado em 2004, foram dis- no período de 2008 a 2010 e um aumento
ponibilizados para este estudo dados de em 2011. Registra-se que não foi possível
2008 a 2011. estabelecer correlação entre a quantidade de
Fonte: Autores
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GESTÃO DE EXCELÊNCIA EM RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE: Um estudo no Pamesq
Fonte: BNRJ
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GESTÃO DE EXCELÊNCIA EM RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE: Um estudo no Pamesq
Fonte: Autores
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GESTÃO DE EXCELÊNCIA EM RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE: Um estudo no Pamesq
Fonte: Autores
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GESTÃO DE EXCELÊNCIA EM RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE: Um estudo no Pamesq
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188 RMB2oT/2014
NAVEGAR É PRECISO, RESGUARDAR É OBRIGATÓRIO*
SUMÁRIO
Introdução
Costa nacional e águas interiores
Convenções internacionais
Papel ambiental da MB
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NAVEGAR É PRECISO, RESGUARDAR É OBRIGATÓRIO
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NAVEGAR É PRECISO, RESGUARDAR É OBRIGATÓRIO
parte de lixo e esgoto sanitário seja despe- significância da Marinha do Brasil (MB) e
jada em águas internacionais pelas embar- qual é o seu papel nesse sentido?
cações antes de as mesmas demandarem Embora a sua principal missão seja a de-
aos portos de países não desenvolvidos, fesa da Pátria, incumbências a fim de cola-
visto que é a maneira mais conveniente e borar com a qualidade do que nos pertence
mais barata. As únicas alternativas possí- adquirem peculiar atenção, sobretudo em
veis para solucionar tal questão seriam a épocas de relativa tranquilidade e de paz,
cobrança obrigatória de uma taxa de lixo como a observada atualmente. Assim, a
incorporada à taxa de utilização portuária MB se faz presente em diversas iniciativas,
e a coleta diária por uma empresa terceiri- assumindo papéis de fiscalização e proteção
zada. Somente assim há possibilidade para da nossa Amazônia Azul, visando atender
que esse processo retroceda. às necessidades da população. Essas ini-
Finalmente, explanamos a problemática ciativas agregam valor ainda maior e in-
da água de lastro. Muitas embarcações, de crementam ainda mais a credibilidade desta
forma a regular seu calado e sua estabili- Autoridade Marítima no Brasil. Portanto,
dade, utilizam-se desse recurso próximo suas atividades transcendem a atuação
aos portos para compensar o peso perdido militar da MB, e o seu significado perante
pelo descarregamento a sociedade brasileira é
de cargas. Entretanto, enorme e evidente nas
o que acontece é que Oficiais da MB são diversas oportunidades
organismos são cap- em que há o contato di-
turados junto com a formados desde cedo reto com a população.
água e são transporta- para que desenvolvam Um exemplo disto é a
dos para outras áreas uma mentalidade de Regata Ecológica da
portuárias, provo- Escola Naval.
cando desequilíbrios preocupação com o meio Oficiais da MB são
ecológicos, dissemi- ambiente formados desde cedo
nação de doenças e para que desenvolvam
prejuízos a atividades uma mentalidade de
econômicas. Um exemplo emblemático no preocupação com o meio ambiente. Evi-
Brasil foi a inserção de populações de mexi- dências desta função ambiental que a MB
lhão dourado por embarcações estrangeiras, desempenha são testemunhadas por meio
as quais subiram o Rio Paraná e lá não en- da Regata Ecológica, realizada anualmente
contraram predadores. Essa espécie acabou na Escola Naval. Neste evento singular, os
se reproduzindo, afetando a biodiversidade, “Sentinelas dos Mares” zarpam com seus
e incrustando nas turbinas de Itaipu, o que veleiros, juntamente com a população civil,
passou a exigir uma manutenção periódica em uma alegre competição, para descobrir
que envolve a interrupção de seu funciona- qual embarcação retira mais lixo da Baía de
mento para retirar esses organismos. Guanabara durante uma tarde. Trata-se de
um modelo bem-sucedido de um esforço
PAPEL AMBIENTAL DA MB conjunto que contribui de maneira signifi-
cativa para a segurança da navegação dentro
Após explicitarmos as principais ques- da Baía, assim como para reduzir a poluição
tões que envolvem a navegação sustentável, que infelizmente a atinge. Assim sendo, essa
é fundamental questionarmos: qual é a parceria desponta com duas finalidades:
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NAVEGAR É PRECISO, RESGUARDAR É OBRIGATÓRIO
BIBLIOGRAFIA
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VELEJANDO NO MEDITERRÂNEO*
SUMÁRIO
Introdução
24 intercâmbios em um
O Trofeo Accademia Navale e Città di Livorno
A Academia Naval Italiana
Turismo
Conclusão
Delegações participantes
Christian, que no decorrer do evento foi cana italiana, possui uma população aco-
substituído pelo Cadete Enrico. Logo após lhedora aos visitantes. Durante o período
deixarmos nossas malas no alojamento das do evento, a cidade realiza algumas feiras
delegações, nos dirigimos para o Iate Clube temáticas, como a Tutto Vela, com a venda
Circolo Velico Antignano (CVA), ponto de de artigos náuticos; apresentações teatrais
partida das regatas. Ainda de terno, visita- e um desfile militar com as delegações
mos o nosso barco e recebemos as velas de estrangeiras.
competição do circuito, fato que surpreen- O contato, em diversas ocasiões, com
deu as outras delegações. Depois de um dia as Marinhas amigas durante os eventos
agitado, enfim, havíamos iniciado o nosso nos fez perceber o quanto as Marinhas
intercâmbio, que posteriormente perceberí- são parecidas, muitas delas com tradições
amos não se tratar de um intercâmbio com bem similares à nossa. A proximidade do
um único país, e sim com 24 países. convívio, seja no alojamento, nas regatas,
nas festas ou nos passeios promovidos pela
24 INTERCÂMBIOS EM UM Marina Militare, fez desse um período úni-
co para nós, pois, além dos bons momentos
Ao todo, 24 delegações estrangeiras vividos, trouxemos uma vasta experiência
participaram, sendo a maior parte delas sobre a rotina, a marinharia e as tradições
formadas por aspirantes e algumas por de vários países diferentes.
velejadores profissionais. O evento supe- Uma das coisas que mais nos impres-
rou, em número de nações competindo e sionou foi o respeito dos outros países
veleiros no mar, os últimos Jogos Mundiais com a Marinha do Brasil e o nosso país,
Militares no Brasil. notório nas palavras do Almirante Cavo
O Trofeo é um evento ímpar, que difere Dragone em agradecimento às lembranças
dos demais pela participação ativa da cida- que entregamos, declarando, diante dos
de de Livorno, que, além das características diversos oficiais chefes de equipe, que o
marinheiras deste lugar pitoresco da Tos- evento se tornava global com a participa-
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VELEJANDO NO MEDITERRÂNEO
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VELEJANDO NO MEDITERRÂNEO
Preparando o barco para mais uma regata Velejando em uma regata de fleet race
O fator determinante foi o frio para o qual dir um novo modelo de regatas, o Theatre
não estávamos preparados – a temperatura Styling Race, a comissão de prova decidiu
da água em torno de 13 graus e a falta de usar as Marinhas como experiência.
um uniforme adequado para submersão nos O Theatre Styling Race é um nova mo-
impossibilitaram de continuar. dalidade de competição com quase três anos
Após esse fatídico dia, compramos roupas desde o seu surgimento, entretanto pouco
térmicas adequadas. As condições climáticas conhecida. Consiste em uma regata de barla-
continuaram ruins, havendo dias em que sota em um espaço reduzido entre as marcas
as provas foram canceladas devido ao mau de contorno, onde só é possível velejar dentro
tempo. Nosso desempenho foi melhorando ao de um canal delineado por boias. As regatas
longo das regatas de fleet race (regata comum nesse modelo ficam com uma duração em
de flotilha), mas sem surpreender. Essa mo- torno de 15 e 20 minutos, tornando as dispu-
dalidade foi dominada pela China, que depois tas muito mais acirradas. A classificação, ao
perderia no modelo de competições que se contrário do fleet race, ocorre por chaves, por
seguiu. Terminamos o fleet race em 24º de 33 meio de um sistema de play-off. Grupos de
veleiros participantes, incluindo civis. oito veleiros competem duas vezes entre si,
A competição teve duas modalidades: formando uma série. Os quatro melhores de
uma regata geral com a participação de cada grupo se classificam para próxima fase,
civis, que foi o fleet race, e uma regata de e os demais são eliminados. Os classificados
Marinhas amigas. Com o intuito de difun- formam novas chaves, avançando, assim,
das oitavas até a final, que é disputada pelo
melhor grupo de velejadores. A final é cons-
tituída de três séries, e o melhor classificado
nesse match é o campeão.
As delegações tiveram 30 minutos para
ler as instruções e regras desta modalidade
e, após uma breve palestra de apresentação
e esclarecimento, fomos finalmente para o
mar. Nesta segunda fase de competições,
nossa delegação terminou na 4a colocação.
Já dominávamos o barco e fizemos excelen-
tes largadas e regatas. Impressionamos as
Aproximando-se da marca de contravento demais delegações ao utilizar a vela balão e
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VELEJANDO NO MEDITERRÂNEO
ir para o mar mesmo em condições adversas, movimenta toda a Academia, que funcio-
fatos que nos levaram à final. Embora não na como coordenadora-geral do evento,
tivéssemos ganhado, tínhamos a certeza de executado pelos Iates Clubes da região,
um bom trabalho, pois passamos por adver- ficando sob sua responsabilidade apenas
sários fortes, como a China, vice-campeã do a compilação de resultados, premiação e
fleet race, e a Itália, dona da casa. atividades na Academia e relacionadas às
Marinhas amigas.
A ACADEMIA NAVAL ITALIANA
TURISMO
Obviamente, além dos ganhos esportivos,
das técnicas e do aprendizado de um novo Apesar do tempo limitado para o turismo,
modelo de competição, o intercâmbio foi tivemos a grande oportunidade de conhecer
extremamente proveitoso para conhecer a dois países: Inglaterra e Itália. Embora a
Marina Militare (Marinha italiana). Duran- Inglaterra não estivesse em nossos planos,
te uma semana, visitamos as instalações, fomos contemplados por essa maravilhosa
conhecemos sobre o serviço e descobrimos escala. Nossa estada nesse país foi de 24
mais sobre aqueles que decidiram servir à horas muito bem aproveitadas. Visitamos a
Marinha do outro lado do Atlântico. Oxford Street, importante rua comercial de
A rotina deles é muito semelhante à Londres, onde fizemos compras; conhecemos
nossa, com paradas e cerimônias diversas. a Trafalgar Square e vários outros marcos
Os aspirantes do 1o e do 2o ano correm pelos históricos; passeamos às margens do Rio
corredores quando não estão com o uniforme Tamisa; tiramos fotos do Parlamento e, por
de inverno (jaqueta azul). Os do 3o ano já fim, andamos na London Eye.
são considerados oficiais, apesar de perma- Não obstante o tempo na Itália ser
necerem na Academia. Para todos os efeitos, maior, passamos grande parte dos dias em
os terceiranistas são oficiais e já ganham competições ou representações da Acade-
como tais. Os do 4o ano ocupam algumas mia; portanto, o nosso tempo destinado a
funções administrativas, como secretário conhecer os locais era limitado. Tivemos
de companhias e ajudante de departamento, uma visitação guiada e promovida pela
entre outras. Estes assistem a algumas aulas, Marina Militare Florença, em que fica-
entretanto é comum não ficarem a bordo, mos deslumbrados com a arquitetura e as
devido a estágios profissionais. obras de Michelangelo. Na volta, ficamos
A escolha de Corpo é feita no 1o ano. em Roma um dia, no qual conhecemos o
Eles têm cinco opções: Armada, Intendên- Coliseu, as Piazza Navona e di Spagna e a
cia, Fuzileiro, Médico e Guarda Costeira. famosa Fontana di Trevi. À noite, visitamos
Eles possuem um currículo básico muito a Torre de Pisa e comemos as tradicionais
curto, comum a todos os aspirantes. Logo pizzas italianas. Todo o tempo que passa-
após terminarem essas matérias básicas, mos nesses dois países foi incrível, com
começam a estudar a matéria específica de recordações para toda a vida e experiências
seus respectivos corpos. de valor inestimável.
Relacionando novamente, com o espor-
te, a prática de vela é obrigatória nos dois CONCLUSÃO
primeiros anos, portanto todos sabem vele-
jar. O Trofeo Accademia Navale é o evento Sem sombra de dúvida, foi uma opor-
mais esperado do ano pelos aspirantes e tunidade ímpar que a Marinha do Brasil e
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VELEJANDO NO MEDITERRÂNEO
a Escola Naval nos deram com este inter- do Grêmio de Vela da Escola Naval, que,
câmbio. Apreendemos muito em diferentes apesar de todas as dificuldades, demonstra-
áreas, fizemos excelentes amizades, apri- ram superação e atingiram uma excelente
moramos nosso inglês, que era o idioma colocação em uma competição de expres-
oficial da Regata, e, ao regressarmos ao sivo significado internacional, tendo em
Brasil, nos sentíamos mais brasileiros, vista a quantidade e a diversidade de países
nosso sentimento de pátria se fortaleceu, participantes.
pois percebemos nesse período não só o Estar em um lugar novo, desejado por
reconhecimento do Brasil no âmbito inter- milhares de pessoas como local para se via-
nacional, mas também o reconhecimento jar, definitivamente não tem preço. Portan-
da nossa Marinha perante vários países. to, não só foi uma honra como também um
Mesmo diante dos imensos desafios imenso prazer participar dessa competição
a serem superados, o Brasil está em um e ostentar em nossa vela mestra o Pavilhão
importante patamar internacional, sendo Nacional, levando o nome do nosso país e
muito bem representado pelos aspirantes da Marinha do Brasil mais longe.
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ARTIGOS AVULSOS
Número de páginas: 7
Identificação: AV 055/14 – # 2140 – RMB 2o/2014
CIR: <SAÚDE>; Orientação ao homem; Sociologia; Assistência médica; Assistência Social;
Número de páginas: 4
Identificação: AV 056/14 – # s/no – RMB 2o/2014
CIR: <EDUCAÇÃO>; Instrução; Preparo do homem; Ensino profissional;
O artigo descreve como a Marinha do Brasil, por meio da instrutoria, capacita seus
militares da melhor forma, conforme é o seu dever constitucional. A política de ensino da
Marinha favorece que o Sistema de Ensino Naval seja o mais adequado para o cumprimento
dessa missão. Dessa forma, não somente a instrutoria, como também o elemento executor
direto do ensino, o instrutor, ganha destaque e reconhecimento. Nessa direção é apresentada
uma nova tendência pedagógica que pode contribuir ainda mais para essa questão.
Número de páginas: 9
Identificação: AV 057/14 – # s/no – RMB 2o/2014
CIR: <FORÇAS ARMADAS>; Poder Naval; Energia nuclear; Submarino nuclear; Amazônia
Azul; Prosub;
RMB2oT/2014 201
ARTIGOS AVULSOS
Número de páginas: 17
Identificação: AV 058/14 – # 2143 – RMB 2o/2014
CIR: <HISTÓRIA>; História do Brasil; História de Portugal; Agricultura;
202 RMB2oT/2014
necrológio
A RMB expressa o pesar às famílias pelo falecimento dos seguintes colaboradores e assinantes:
CMG Ney Parente da Costa 28/02/1922 † 22/02/2014
CMG (CN) Geraldo Gomes da Silva 06/11/1932 † 03/03/2014
CMG Luiz Carlos Rodrigues Pereira 16/01/1944 † 28/12/2013
CMG (Md) Luiz Carlos da Silva Alves 09/12/1944 † 30/12/2013
CMG Ronaldo Pereira Villaça 08/06/1942 † 31/01/2014
CF Renato Frederico Corrêa Vaz 23/10/1939 † 01/02/2014
CF Jorge Berutti da Cunha 04/10/1939 † 19/02/2014
CF Wilmar Albeche Coelho 05/12/1945 † 03/11/2013
CT Celio Marins Roberge de Queiroz 07/08/1937 † 31/12/2013
O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
Assim como deixou claro o Marechal O soldado molda seu ambiente alteran-
Montgomery, os marinheiros são diferen- do seus contornos, explorando o terreno,
tes dos seus camaradas da Força Aérea e dominando-o com o poder de fogo ou,
do Exército. Eles falam uma linguagem quando tudo mais falha, movimentando-se
própria, fazem perguntas diferentes, dão para outro ambiente.
respostas diferentes, suportam fainas pesa- O piloto é um acrobata que desafia a
das com alegria e formam um clã especial. gravidade. O ar é um meio para a liberdade.
Suas vidas são definidas por uma su- De sua posição vantajosa acima de seus
cessão de comissões, e eles formam um colegas guerreiros, ele dá grande ênfase na
intrigante amálgama de tradição. superioridade e no controle.
Como podemos perceber a diferença O marinheiro, por outro lado, está cons-
entre os guerreiros das três forças? Por que tantemente na presença de uma força maior
os marinheiros são tão diferentes? do que ele mesmo. Ele sente o tempo por
Mesmo aqueles marinheiros que tam- meio do balanço e do caturro de seu navio.
bém são pilotos são diferentes de seus Uma vez no mar, não é uma questão sim-
colegas da Força Aérea. Também mesmo ples voltar para terra, não há passeios no
aqueles marinheiros que também são solda- shopping, não existe energia de terra, não há
dos – e chamados de fuzileiros navais – são telefone para saber notícias, não há carteiro
diferentes de seus camaradas do Exército. diariamente ou jornal para se manter em
As respostas a estas questões têm suas contato com o mundo, não existe licença
raízes no ambiente no qual vivem e lutam para aliviar as tensões de um dia, e nem há
os marinheiros. a presença nem o conforto da família.
O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
O piloto conquista seu ambiente, o ma- especial atenção no trato com os subalter-
rinheiro sobrevive nele. O soldado molda nos, sem, no entanto, deixar de corrigir
e explora seu ambiente, o marinheiro deve as falhas que apareçam, é imediatamente
se ajustar a ele. considerado um herói para todos. Um mari-
O soldado depende de “armas combi- nheiro a bordo não pode deixar de participar
nadas”, o marinheiro precisa confiar em si das fainas, ao contrário de alguns pilotos,
mesmo e no mundo limitado pelo seu navio. que colocam suas aeronaves “indisponí-
O soldado deve avançar ou retrair, o mari- veis” na inspeção pré-voo.
nheiro deve permanecer e lutar. Em tempos Um marinheiro deve estar preparado
modernos, mesmo a opção de se render está para as vicissitudes da natureza e do inimi-
além do alcance dos marinheiros; ele luta go, e, em consequência, ele deposita um
e morre com o navio – mesmo se o navio grande crédito na prontidão e na prudência.
for um casco soçobrado em chamas abaixo Ele se prepara para o improvável e até
de seus pés. mesmo para o impossível. Para seus pares
Tais forças incutem no marinheiro uma de terra e ar, ele parece muito conservador.
combinação única de Para ele, as coi-
qualidade: autoconfian- sas importantes sim-
ça, respeito e atenção O marinheiro está feliz plesmente precisam
ao seu comandante, e quando o único navio, de funcionar, e por isso
um acentuado senso de horizonte a horizonte, é o precisam ser simples.
responsabilidade. Ele ainda acha que os
O comandante está seu. É ele contra o ambiente, mastros são apêndices
na frente de batalha, e o inimigo, ou mesmo contra úteis – mesmo após
não nos quartéis-ge- ter passado o tempo da
nerais da retaguarda; o navio irmão Marinha a Vela – para
ele deve enfrentar o estender seu horizonte
inimigo, pois está tão exposto como o mais e como lugar para colocar seus equipa-
moderno marinheiro a bordo. Não existe re- mentos mais usados.
taguarda para um navio em combate. Almi- Ele aceitou o cabo de náilon, mas ainda
rantes e marinheiros dividem igualmente o existe um lugar especial no seu coração
risco de enfrentar o fogo inimigo ou a fúria para o cabo de manilha. Aceitou a tur-
de um temporal, pois estão, literalmente, no bina a gás na propulsão de seus navios,
mesmo barco. mas guarda ainda um lugar especial para
Os espaços limitados de um navio de o vapor. Realmente, suas veias parecem
guerra – mesmo de um grande navio – estar cheias de vapor – no preparo do
forçam a amizade entre seus tripulantes. rancho, na transformação de água salgada
Não existe lugar para se esconder. As for- em água doce, para o aquecimento e, em
ças ou as fraquezas são logo descobertas alguns casos, para o lançamento de aero-
e conhecidas. A capacidade profissional naves. Quase todos os navios de guerra
do comandante está à vista de todos, têm vapor em seus sistemas para o apoio
todos os dias. à vida de bordo.
Uma atracação malfeita simplesmente Por ser navio uma entidade completa, o
não pode ser escondida dos subordinados. marinheiro dá grande importância em mol-
Da mesma maneira, um comandante que dar suas ações de maneira independente dos
mostra zelo pelo profissionalismo, que tem outros navios e das bases. Ele se ressente
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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
que porque é velho é que deve ser bom, tradições são as mesmas: tradições cultivadas
e aqueles que pensam que se é novo deve pela Marinha a Vela.
ser melhor. Na medida em que ingressamos na era
Na verdade, ele confia nas coisas ve- das operações conjuntas e combinadas, os
lhas, mas reconhece marinheiros terão que
o valor do novo. O fazer alguma conces-
radar, a turbina a gás, O radar, a turbina a gás, o são aos companheiros
o avião, a propulsão das outras forças, po-
nuclear e a comunica- avião, a propulsão nuclear e rém a natureza única
ção por satélite revo- a comunicação por satélite da profissão naval e de
lucionaram o mundo
no qual o marinheiro
revolucionaram o mundo seu ambiente peculiar
certamente marcará
vive, mas o mar ainda no qual o marinheiro vive, de forma indelével a
está lá. Os navios são mas o mar ainda está lá forma e o conteúdo
ainda danificados ou dos planejamentos e
afundados pelo mar, das operações.
navios ainda se chocam em um mar sem Os soldados e os pilotos certamente
sinais de trânsito ou vias expressas. aprenderão que os aparentemente ex-
As mesmas características são divididas cêntricos e tradicionais marinheiros são,
entre Marinhas. na verdade, profissionais moldados pela
Os marinheiros geralmente têm simpatia água salgada.
por seus colegas estrangeiros. Eles enfrentam “Onde o espírito não teme, a fronte não
os mesmos perigos e respondem aos desafios se curva.”
de maneira semelhante. Eles comungam reve-
rências às tradições e aos costumes da mesma James Alexander Winnefeld, Jr*
forma, e, em muitos casos, até as fontes das Almirante de Esquadra (EUA)
* Aviador naval. Exerce atualmente a função de Vice-Chairman do Joint Chiefs of Staff. Comandou o Esquadrão
de Combate 211, o USS Cleveland e o USS Enterprise. Participou das operações Enduing Freedom, Iraqi
Freedom e de interceptação marítima no Golfo Pérsico. Mais recentemente, comandou a Sexta Esquadra,
o Comando Conjunto Aliado em Lisboa e o Joint Forces Maritime Component, na Europa, entre outros.
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DOAÇÕES À DPHDM
ABRIL A JUNHO DE 2014
DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECA DA MARINHA
DOADORES
BRASIL
História da vida privada no Brasil – no 1 – livro/1997
Equador – livro/2003
O Império em Brasília – 190 anos da Assembléia Constituinte de 1823 – livro/2013
Forte de Coimbra – História e Tradição – livro
Revista do Exército Brasileiro – v. 148, 1o/2o semestre/2012 – 2 ex., periódico; v. 149,
2o semestre/2013, periódico
A Defesa Nacional – v. 97, no 820, 2o/3o quadrimestre/2012 – 2 ex., periódico; v. 101, no
822, 2o semestre/2013 – 2 ex., periódico
Revista Militar de Ciência e Tecnologia – v. 29, 1o trimestre/2013, 2 ex., periódico; v.
30, 2o trimestre/2013, 2 ex., periódico
Memória, Museu e História: Centenário de Max Wolff Filho e o Museu do Expedicionário
– livro/2012, 2 ex.
Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia Universidade de São Paulo – Utensílios
Líticos revelam sua História e a da Pre-História a propósito de Coleção do MAE-
USP – Inventário das Coleções Limur & Mediterrâneo e Oriente Médio
Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia Universidade de São Paulo – Olímpia e
os Olímpieia – A origem e difusão do culto de Zeus Olímpio na Grécia dos séculos
VI e V a.C.
Modern Guerrilla Warfare – livro/1962
Centenário da Passagem do Humaitá – livro/1968
Subsídios para a História Marítima do Brasil – v. 22 – livro/1966
Aplicação da Lei, da Força & Diplomacia no Mar – livro/1989
Homens Contra o Mar – livro
A Educação Cívica das Mulheres – livro/1967
O Comunismo no Brasil – 3o v. – livro/1967
Uma Página Esquecida da História da Marinha Brasileira – livro/1961
Curso de História da Náutica – Comemoração do Centenário do Almirante Gago
Coutinho – 1869-1969 – livro/1971
A Defesa Nacional – 3o trimestre/1977, periódico; no 736, mar-abr/88, periódico; no 719
mai-jun/85, periódico;
A Defesa Nacional – Edição da Comissão de Comemoração do Centenário de Nascimento
de Olavo Bilac – livro/1965
João Severiano – livro/1989
Desafios na Atuação das Forças Armadas – v. 4, livro/2005
Mina R Narrativa – livro/1995
Porta-Aviões a Arma Majestosa – livro/1974
Arthur Oscar Soldado do Império e da República – livro/1965
Sylvio de Norona – livro/1986
A Militarização da Zona de Ocupação Soviética da Alemanha – livro
História Marítima Argentina – vols. 7, 8, 9 e 10 – livro/1993
Cadernos do CHDD – v. 12, no 23, 2o sem./2013 – periódico, 3 ex.
Portos e Navios – v. 56, no 639, periódico
210 RMB2oT/2014
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDoS
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ACONTECEU HÁ 100 ANOS
HYDRO-AVIAÇÃO NA MARINHA
(RMB, abr./1914, p. 1.687-1.694)
Capitão de Corveta M. C. Gouvea Coutinho
Indubitavelmente é indispensavel essa hydroplanos e por isso estes são e serão os
nova especialidade na marinha de guerra, e esclarecedores por excellencia nas guerras
estamos certos de que, uma vez sanadas as navaes, do mesmo modo que os aeroplanos já
difficuldades administrativas, tratadas com o são nas guerras terrestres, em substituição
afinco pelas nossas autoridades dirigentes, se- á cavallaria e aos balões captivos.
rão iniciados os estudos praticos sobre tão util O argumento de tonelagem bruta ascen-
especialidade. Os elementos que entram já nos cional nos aeroplanos para transporte de
modernos hydroplanos de guerra os tornam passageiros dá-nos uma prova bastante se-
verdadeiras armas seguras de ataque e defesa gura do augmento rapido dos hydroplanos,
contra os torpedeiros e submersiveis e tambem porque, si actualmente um aeroplano pode
futuramente contra os proprios couraçados. conduzir cerca de 20 passageiros deslocando
As velocidades dos esclarecedores (scouts) em sua ascenção cerca de tres toneladas bru-
e cruzadores ficam muitissimo aquem da dos tas, um hydroplano poderá igualmente dis-
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
SOCCORRO MARITIMO
(RMB, abr./1914, p. 1.707-1.713)
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
brazileiro, ao egregio presidente da Liga qualquer um dos tres elementos que o com-
Universal de Salvamento Maritimo, S. M. põem para ficar desde logo estabelecida a
o imperador Guilherme II. sua coordenação e technica de utilisação.
Afim de dar uma idéa perfunctoria São os seguintes:
sobre o alludido Systema, basta estudar (...)
214 RMB2oT/2014
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
ra, recahindo de preferencia a sua nefasta varios titulos, eminente, a quem a patria deve
escolha sobre diversos officiaes das mais al- inolvidaveis serviços na paz e na guerra.
tas graduações. A sua perda é extremamente sensivel
Assim é que, não satisfeita ainda com as para todos os corações patrioticos. O seu pa-
vidas ainda ha pouco ceifadas, acaba de ar- pel na guerra do Paraguay foi o de um heroe,
rebatar-nos quasi simultaneamente nada me- e a sua carreira de marinheiro constitue uma
nos de tres almirantes dos mais estimados da longa serie de serviços meritorios prestados
classe, e cujos nomes aqui citamos pela ordem com intelligencia e com a maior dedicação.
em que se foram da vida: Pinheiro Guedes, De sua longa e brilhante fé de officio,
Arthur de Jaceguay e Polycarpo de Barros. que pode ser comparada ás dos mais notaveis
Si bem que differentes no seu valor pes- officiaes de qualquer outra marinha, copia-
soal e na somma de serviços prestados á Ma- mos o seguinte:
rinha e á Nação, a ponto de ser difficil es- O almirante Arthur Silveira da Motta
tabelecer uma justa comparação entre estes, (Barão de Jaceguay) era filho legitimo do con-
os enfeixamos comtudo nesta mesma lutuosa selheiro e senador do Imperio José Ignacio Sil-
noticia, como igualmente dignos dos senti- veira da Motta e natural da provincia de S.
mentos de verdadeiro pesar que nos causa- Paulo, tendo nascido em 26 de maio de 1842.
ram os seus fallecimentos. Entrou para a Marinha em 4 de março
Afastados embora, desde algum tempo já, de 1858, com praça de aspirante a guarda-
do serviço activo da Armada, o primeiro sim- marinha.
plesmente pela pertinaz molestia que acaba Por aviso da Secretaria de Marinha, foi
de victimal-o – pois que ainda fazia parte elogiado em 10 de junho do mesmo anno,
do quadro activo – e os outros dois por já pelos serviços prestados na extincção de um
se haverem reformado, nem por isso nos são incendio na rua da Saude.
menos sensiveis a sua perda e a grande la- Embarcou no lúgar Maranhão a 4 de
cuna que nos deixa o seu desapparecimento. dezembro e foi em viagem de instrucção até
Como merecida homenagem aos seus me- Montevidéo, de onde regressou em 18 de feve-
ritos excepcionaes lhes consagramos hoje as reiro de 1859, desembarcando no mesmo dia.
primeiras paginas da presente Revista, sen- Em 10 de dezembro embarcou na corveta
tindo ter de restringir-nos ao simples histori- Jequitinhonha, em viagem de instrucção, e re-
co de suas vidas militares, por completa defi- gressou em 1 de fevereiro de 1860. Foi promo-
ciencia de tempo e, sobretudo, da capacidade vido a guarda-marinha em 30 de novembro.
literaria indispensavel para devidamente Em 7 de fevereiro de 1861 passou para a
engrinaldar seus nomes com a profusão de corveta Bahiana, indo á Europa em viagem
flores de que tão dignos se tornaram. de instrucção, sendo ao regressar approvado
(...) plenamente em todas as materias do 4o anno.
Almirante Arthur de Jaceguay Passou para a corveta Beberibe em 19 de
No dia 9 de junho, falleceu em sua resi- junho, indo á Bahia, de onde passou para
dencia, nesta capital, o almirante reformado a corveta Dois de Junho. Teve successiva-
Arthur de Jaceguay, uma das maiores glorias mente embarque no vapor Cruzeiro do Sul,
da nossa Marinha de guerra e cidadão por brigues Itamaracá e Ypiranga, navio este em
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
Foi promovido a capitão de mar e guerra titulo de Barão de Jaceguay e nomeado com-
em 2 de dezembro de 1869. mandante em chefe da esquadra de evoluções.
Commandou a corveta Nictheroy em via- Foi dispensado do commando em chefe
gem ao cabo da Boa Esperança. Foi membro da esquadra em evoluções em 16 de novem-
do Conselho Naval. Foi nosso addido mili- bro, por ter sido esta dissolvida.
tar em Londres. Foi membro da commissão Por decreto de 25 de junho foi agraciado
de vistoria no couraçado Independencia, que com a Grã-Cruz da Real Ordem Militar Por-
era apontado como defeituoso. tugueza de S. Bento de Aviz.
Foi-lhe ordenada em 7 de março de 1887 Reformou-se, a pedido, no posto de vice-
a compra da artilharia para a corveta Gua- almirante, em 31 de outubro de 1887.
nabara e canhoneira Parnahyba. Deu pare- Era possuidor da medalha commemorati-
cer favoravel á substituição da artilharia do va da guerra do Paraguay.
couraçado Independencia, sendo approvado Em 1896 foi nomeado director da Biblio-
esse seu parecer. theca e Museu da Marinha.
Fez importantes estudos sobre assump- Foi louvado pelo desempenho que deu
tos relativos ao meio de evitar o escapamen- á commissão para que foi encarregado de
to dos gazes da polvora entre o projectil e a homenagear a divisão chilena commanda-
alma da peça, e propoz a construcção de um da pelo almirante Goni, que nos visitou
pequeno canhão, em que fosse introduzido o em 1897.
melhoramento que apresentou. Em 28 de abril de 1899, foi de novo no-
Foi promovido em 1878 ao posto de chefe meado director da Bibliotheca e Museu da
de divisão. Marinha.
Foi nomeado em 9 de agosto de 1879 mi- Em 10 de outubro 1900 foi reintegrado,
nistro plenipotenciario na China. no posto de vice-almirante, no serviço activo
Fez a viagem de circumnavegação da da Armada, sendo nomeado director da Es-
corveta Vital de Oliveira, em outubro do cola Naval em 14 do mesmo mez.
mesmo anno, com destino á China, onde che- Em 31 de outubro de 1902 foi promovido
gou a 27 de junho do anno seguinte. a almirante.
Em 29 de agosto do mesmo anno de 1880 Em 2 de abril de 1907 foi nomeado direc-
foi nomeado inspector do Arsenal de Marinha. tor da Repartição da Carta Maritima.
Foi promovido a chefe de esquadra em 3 Foi o ultimo cargo exercido pelo illustre al-
de março de 1883. mirante, no qual prestou os mais assignala-
Em 21 de março de 1884, teve permissão dos serviços, determinando o balisamento de
para usar a insignia da ordem da Aguia Ver- portos e construindo pharóes e postes illumi-
melha de 2a classe com que foi agraciado pelo nativos ao longo da nossa costa, sendo tam-
rei Guilherme da Prussia, em attenção aos bém durante a sua direcção no referido cargo
serviços prestados á corveta allemã Olga, levantadas varias plantas hydrographicas.
então em nosso porto. Reformou-se a 15 de fevereiro de 1911,
Foi exonerado, a pedido, do cargo de ins- contando mais de 48 annos de serviço.
pector do Arsenal, em 19 de agosto do mesmo Terminando a necrologia do illustre al-
anno e na mesma data foi agraciado com o mirante, transcrevemos a ordem do dia do
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MISCELLANEA
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A Europa não se faz mais illusões. mandante Luiz Gomes, sobre o seu ideal
Quanto a nós, isto é, aos sul-americanos, da E. F. Transcontinental.
a nossa contemporisação, a nossa indiffe- Esse plano gigantesco da arteria equato-
rença ante a campanha de progresso, a luta rial do Recife ao Pacifico está sendo agora
altruistica do sr. Luiz Gomes, o nosso proce- estudado seriamente pelo sr. ministro da
der ainda é mais estranhavel. Viação, e ainda a 2 do corrente s. ex. ouvio
O plano do sr. Luiz Gomes é de uma con- attentamente e por longo tempo o propagan-
cepção vasta e elle atirou-o á publicidade, dista, que offereceu ao ministro preciosas
desde o advento do regimen republicano. informações e dados.
Os portos extremos dos dois continentes, Sabemos que foi motivo da conferencia
isto é, Recife e Cadiz, seriam apparelhados a leitura de um estudo substancioso, feito
de docas, e a estrada de ferro, partindo do pelo eminente engenheiro francez Eduardo
Pacífico, vincularia rapida e directamente a Quéllennec, e que o sr. Luiz Gomes obtivera,
America do Sul e a Europa. para ser officiosamente apresentado ao nos-
A luta diaria, por annos e annos, do sr. so governo.
Luiz Gomes pelas docas de Pernambuco e Aquelle profissional francez, depois de
Cadiz, é um facto inapagavel e a proxima salientar ponto por ponto as vantagens da
inauguração desses emprehendimentos vem arteria equatorial e de considerar altamente
pôr mais em evidencia a necessidade de com- remunerativo o traçado, diz textualmente
pletar o seu plano genial com a construcção que se considerará muito feliz si for chama-
da E. F. Transcontinental. do a elaborar na sua execução.
Executado esse plano na integra, então Realmente esse projecto grandioso do
sim, este seculo será o seculo da America La- nosso patricio faz-nos recordar o que ocor-
tina. O eixo do mundo passará a ser na linha reu na America do Norte, quando se tratou
meridiana das Americas. da construcção da sua arteria equatorial ou
As dez nações que compõem o continente seja de New York a S. Francisco.
sul-americano terão nessa arteria equatorial Foi o presidente Abraham Lincoln que
o seu indestructivel laço de união e a vida de referendou, a 1 de julho de 1862, o decreto
cada uma dessas unidades politicas vibrará autorisando a construcção dessa linha.
intensa no coração das outras. A sua extensão seria de 6600 kilometros
O sr. Luiz Gomes, neste momento, por e o praso calculado para a construcção de 14
um appello muito suggestivo das Republicas annos, isto é, até 1876. Pois sete annos an-
latino-americanas, vae dar um grande im- tes, em 1869, já estava prompta, e a America
pulso, uma nova fórma á sua propaganda, do Norte poude ter então a visão nitida do
e o ‘fac-simile’ de um novo postal que junto seu portentoso futuro.
publicamos é uma prova do ser esforço para A linha foi construida simultaneamente
‘A grande propaganda’.” pela ‘Union Pacific-Railroad’, partindo de
* Omaha, no territorio de Nebraska, a léste,
“Como já dissemos, entrou em uma até Ogden no territorio de Utah; e a ‘Cen-
phase verdadeiramente febril ‘a grande tral Pacific Railroad’, de Ogden a Sacra-
propaganda’ do nosso compatriota com- mento, na California.”
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
NOTICIARIO MARITIMO
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cias financeiras, a caminho do morro de S. Em vez da náo ‘D. Pedro II’ ou fra-
Bento poderão ser construidas outras tan- gata ‘Constituição’, já improprias para
tas para os professores da Escola, que as os trabalhos de viagem, poderia ter sido
alugarão por preço modico. um outro o navio escolhido para séde da
Á frente principal do edificio corre uma Escola, navio este que caberia receber or-
avenida de 17 metros de largura, a qual é dem de navegar e fundear onde quer que
limitada pelo lado do mar por um caes e pa- se lhe mandasse.
rapeito de cimento armado, com um desen- Quanto á supposta inamovibilidade que
volvimento de mil e duzentos metros; ligada os docentes vitalicios pensem em allegar
a este caes ha uma ponte de atracação para contra este acto de V. Ex. em pról dos inte-
os serviços da Escola, que tem 92 metros de resses da Marinha, não creiam possam elles
comprimento e 7 de largura, dando calado basear-se em nenhum fundamento juridico,
até 14 pés. e nem haver magistrado que lhe dê ganho de
O fundeadouro é safo e permite facilmen- causa, no caso de se apresentarem em juizo a
te o movimento dos navios que forem desti- pleitear essa especie de direito.
nados para os trabalhos do estabelecimento. O governo continua a consideral-os vita-
Não ha disposição de lei, Exm. Sr. Presi- licios e inamoviveis no exercicio dos cargos
dente, que impeça semelhante transferência, que têm na Escola; e tanto assim é que, uma
que, si for agora levada a affeito por V. Ex., vez que seja decretada a sua transferencia,
grandes e reaes beneficios trará para os ser- fornecerá a todos elles, como aos demais, os
viços da Armada. meios de se poderem transportar logo para a
Desde o alvará de 5 de maio de 1808, em nova séde do estabelecimento, de onde abso-
que o Visconde de Anadia, então ministro lutamente não se os poderá afastar por mo-
da Marinha, e em nome do Principe Regente, tivo mesmo dessa inamovibilidade que é, de
mandou estabelecer a Academia, hoje Escola facto, inherente ao cargo ou á funcção que
de Marinha, nas hospedarias dos Religiosos ahi exercem.
Benedictinos, no Mosteiro de S. Bento, até o O corpo docente continuará no goso dos
regulamento actualmente em vigor, não ha, direitos, regalias e vantagens que lhe assegu-
não se encontra um só artigo, uma só clau- ra o regulamento ora em vigor, e o governo
sula que determine a obrigatoriedade da séde não foge ao dever de assegurar isso que lhe
da Escola aqui no porto ou na cidade do Rio compete por lei.
de Janeiro. Não ha mudança, não ha alteração de or-
Estabelecida em terra primeiramente; dem alguma naquillo que lhe compete, embo-
depois transferida para bordo da náo ‘D. ra a escola mude de séde: na Tapera, aqui no
Pedro II’; passada depois para terra nova- Rio, ou em qualquer outro lugar para onde o
mente, no largo da Prainha, e em seguida Governo a transfira, elle continuará, como
mandada para bordo da fragata ‘Constitui- sempre, em plena posse de tudo quanto a lei
ção’; transferida outra vez para terra, no lhe garante.
Arsenal, e dahi para a ilha das Enxadas, Sem fundamento algum, os interessados
ella tem funccionado sempre como e onde em não se afastarem aqui da capital dizem
tem determinado o Governo. haver uma série de inconvenientes na mu-
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
dança da Escola Naval para a enseada da Uma vez que esteja feita a mudança da
Tapera, e entre estes apontam como sendo de escola, os negociantes de Angra serão os pri-
maior importancia os que se referem: meiros a fazer provisão – farta e boa – de
1o, a difficuldade de se encontrar na tudo quanto precise esta nova clientella.
localidade, ou em Angra dos Reis, casas O porto de Angra dos Reis está ligado
em numero sufficiente para moradia dos ao porto do Rio de Janeiro quasi que quo-
professores e grande parte do pessoal da tidianamente por vapores do Lloyd e por
Escola, pelo menos até que o governo or- um grupo de pequenas embarcações á vela e
dene as construcções que projecta nesse a vapor pertencentes a outras companhias
sentido; nacionaes.
2o, ao perigo, demora e fadiga nas via- Veja agora V. Ex. quaes as convenien-
gens successivas a que serão forçados aquel- cias que poderão provir para o Estado com a
les que obtenham consentimento para ir ao mudança da Escola.
estabelecimento unicamente nos dias em que A educação e a instrucção dos aspirantes,
tiverem de dar lição; bem como a manutenção da disciplina entre
3o, ao afastamento dos professores civis, elles, tornar-se-ão mais proficuas, mais cui-
que hão de procurar por todos os meios evi- dadas e menos arduas, uma vez que ali não
tar a perda dos seus interesses naturalmente existam as causas externas que no centro das
muito ameaçados por essa mudança; grandes cidades costumam pertubal-as ou,
4o, finalmente, á difficuldade de encon- pelo menos, difficultal-as.
trar recursos, mórmente os de alimentação, Longe das distracções perigosas e per-
para o grande numero de familias que natu- niciosas que se encontram commummente
ralmente tem de acompanhar os seus chefes, nesses centros, tanto os alumnos como os
após essa mudança. professores, ver-se-ão forçados a cuidar ex-
Nada disso é exacto. clusivamente daquillo que for concernente
Angra dos Reis é uma cidade em decaden- aos estudos e aos seus deveres.
cia, e de onde, portanto, a população tende A vigilancia e a solicitude dos officiaes
sempre a decrescer; tem para mais de 338 ca- e professores, sendo assim sempre constan-
sas terreas e cerca de 76 sobrados, dos quaes tes, não será mais possivel negar que com o
uns trinta são bastante confortaveis. aproveitamento dessas, aliás, preciosissimas
A viagem até á Tapera não é tão fati- qualidades do seu corpo de ensino e pessoal
gante como parece; em menos de tres horas é da administração, não seja certo o lucro que
possivel fazel-a; metade deste tempo gasta- se ha de provir ao espirito de ordem, á ca-
se para ir a Itacurussá, pela estrada de ferro, pacidade para o trabalho e á applicação ao
e a outra metade vai-se a vapor desse porto á estudo que se querem hoje ininterruptos, a
enseada onde está a Escola. cada um dos aspirantes de per si.
Os professores civis serão facilmente O estado de saude dos alumnos, em geral,
substituidos por militares ou outros que lucrará muito com essa mudança.
não tenham receio das difficuldades de tra- A área em que está collocada a Escola
vessias por mar, ou que não tenham outros tem extensão mais que sufficiente para os
interesses a perder. exercicios militares e sport do corpo de alu-
RMB2oT/2014 223
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
mnos; ella tem superficie e accommodações mais ninguem que não se renda á evidencia
apropriadas á installação dos apparelhos, dos fortes e persuasivos argumentos que, nes-
machinismos e officinas que porventura se ta ligeira exposição, eu tenho a honra de sub-
julguem uteis para ministrar aos alumnos metter á justa consideração de V. Ex.
toda essa série de conhecimentos praticos A Escola Naval, Exm. Sr. Presidente,
de que tanto necessitam para comprehen- não deve ser considerada somente como um
são facil dos phenomenos que, em aula, os centro de estudos technicos proprio para a
professores lhes expliquem. formação da nossa officialidade do mar;
Todas as escolas de marinha dos paizes ella deve tambem ser considerada como um
em que se cuida com interesse destas ques- verdadeiro templo de civismo, em que a todo
tões que se prendem á instrucção da officia- momento se ministre ao corpo de alumnos
lidade estão sempre situadas longe de suas o amor, o respeito e o devotamento ás mais
capitaes, e em logares onde seja possivel e fa- bellas qualidades que ornam a alma huma-
cil se obterem as condições de tranquilidade na: bravura, calma no perigo, dedicação pelo
a que acima me referi. cumprimento do dever,
Na Inglaterra os sentimento de justiça,
estabelecimentos de A Escola Naval não deve ser grandeza de alma e
educação estão em considerada somente como um sacrificio de vida pela
Osborne e Darmouth; centro de estudos technicos felicidade da Patria.
nos Estados Unidos Todas essas virtu-
em Annapolis; na proprio para a formação da nossa des o bravo contra-
Austria em Fiume; e officialidade do mar; ella deve almirante Baptista das
na Italia em Livor- tambem ser considerada como um Neves as enfeixava em
no, pontos estes todos seu caracter diamanti-
completamente afas-
verdadeiro templo de civismo no; e como eu supponho
tados dos centros de chegado o momento
maior movimento desses paizes. opportuno para que o Governo, como uma
Accrescente-se a isso, Exm. Sr. Presiden- homenagem á corporação a que elle em vida
te, a constancia dos trabalhos diarios; as tanto honrou, lhe tribute um culto todo es-
manobras seguidas em escaleres ou lanchas pecial, que sirva, d’ora em diante, de exem-
a vapor; os exercicios graciosos em embarca- plo a esses que elle sempre amou, eu propo-
ções de recreio; a faina obrigatoria a bordo nho a V. Ex. que ao nome indigena com que
dos torpedeiros e navios em serviço da Es- até agora tem sido designada essa enseada,
cola, não interrompidos nunca, por falta de para onde desejo transferir a Escola Naval,
divertimentos que os animem á transgressão se substitua, desde já, o desse digno, inte-
do cumprimento de seus deveres; e, si consi- merato e illustrado companheiro de armas,
derar-se sobretudo o progresso e vantagens gloriosamente morto no convés do ‘Minas’
economicas que hão de resultar para a loca- em holocausto á disciplina, no cumprimento
lidade, com esse commercio e sopro de vida do mais nobre dos deveres militares.
nova que forçosamente lhe ha de trazer todo Sendo assim, Exm. Sr. Presidente, nada
esse movimento animador, não poderá haver mais me resta que solicitar a assignatura de
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
V. Ex. para o decreto que, junto a esta, te- funccionar a Escola Naval, passe a cha-
nho a honra de passar ás vossas mãos, e com mar-se “Almirante Baptista das Neves”.
promulgação do qual o Governo presidido
por V. Ex. terá, de certo, prestado á nossa MAIO – 1914
Marinha serviço dos mais assignalados.
Gabinete do Ministro da Marinha, 15 de MARINHA NACIONAL
abril de 1914.”
ESCOLA NAVAL – Convenientemente
ACQUISIÇÃO DE UM TRANSPOR- installada no novo edificio construido na
TE – Foi adquirido, depois de convenien- enseada Baptista das Neves, em Angra dos
temente examinado e vistoriado, o paquete Reis, começará a funccionar no dia 1o de ju-
Piratininga, destinado ao serviço de trans- nho, sob a direcção do sr. capitão de mar e
porte de carvão para a esquadra. guerra João Carlos Mourão dos Santos.
Este navio desloca 3000 toneladas e tem Uma divisão naval mixta, constituida
uma marcha media de 11 milhas. pelo navio escola Tamandaré, transporte
Incorporado ao serviço da esquadra nacio- Carlos Gomes, um contra-torpedeiro e o pa-
nal, passou a chamar-se “Sargento Albuquer- tacho Caravellas, ficará a disposição da Es-
que”, em homenagem ao valoroso sargento, cola para exercicios dos alumnos, facilitan-
victima de sua dedicação e lealdade durante do o ensino pratico das materias ensinadas
as tristes occurrencias de novembro de 1910. naquelle estabelecimento.
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REVISTA DE REVISTAS
SUMÁRIO
(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)
ADMINISTRAÇÃO
COMEMORAÇÃO
Escola de Guerra Naval – Revista comemorativa do centenário (227)
APOIO
MODERNIZAÇÃO
Recebimento do oitavo MPA Orion modernizado (227)
ARTES MILITARES
JOGO DE GUERRA
As tendências dos jogos de guerra (227)
CIÊNCIA E TECNOLOGIA (C&T)
ELETRÔNICA
Reflexões sobre o Soft Power (228)
EDUCAÇÃO
PREPARO DO HOMEM
Fortalecendo nossa profissão naval por meio de uma cultura de desenvolvimento de líderes (228)
PODER MARÍTIMO
DIREITO
Regime jurídico do mar: A regulação das águas e Plataforma Continental no Brasil (229)
PORTO
Vale realiza primeiro teste com carga no maior navio mineraleiro do mundo em novo píer
no Maranhão (229)
POLÍTICA
POLÍTICA NACIONAL
Defesa: O Brasil em dois tempos (230)
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
DIPLOMACIA
Cadernos do Centro de História e Documentação Diplomática (CHDD) (231)
REVISTA DE REVISTAS
Segundo esta notícia, o Brasil recebeu, ficação por radar e de um novo sistema Flir
em 23 de dezembro passado, o oitavo avião (Forward Looking Infrared).
de patrulha marítima (MPA) P-3 Orion A aeronave, segundo finaliza a ma-
modernizado para o padrão AM. téria, após seu regresso ao Brasil será
Essa aeronave, que possui matrícula empregada em missões de vigilância e
FAB 7205, recebeu modernizações inte- proteção da Zona Econômica Exclusiva e
grantes do contrato existente com a fábrica dos recursos naturais da Amazônia, além
Airbus Military, em Sevilha. Dentre elas se de apoiar missões de Busca e Salvamento
destaca a dotação de um sistema de identi- no Atlântico Sul.
* Brightman é professor e diretor de análises e pesquisas aplicadas do Departamento de Jogos de Guerra do Naval
War College (NWC). Dewey serviu como pesquisadora assistente no NWC, de 2011 a 2013, e possui mestrado
em aconselhamento holístico pela Salve Regina University, de Newport, EUA.
RMB2oT/2014 227
REVISTA DE REVISTAS
Quem são os líderes em nossa Marinha? diretrizes e processos por meio dos quais a
Esta pergunta inicia este artigo que, na Marinha dos Estados Unidos da América
opinião do editor da Naval War College (EUA) prepara seus líderes em todos os
Review, aborda aquela que pode ser a níveis hierárquicos.
iniciativa mais importante tomada nos Se a resposta à questão tiver sido “os
últimos anos para rever, alinhar e fortalecer almirantes quatro estrelas”, ela está errada,
* Colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Escola de Guerra Naval (Cepe-EGN) e da Revista
Marítima Brasileira.
** Reitor do College of Operational and Strategic Leadership (COSL). O COSL foi fundado em 2007, como com-
ponente do Naval War College (NWC), com o propósito de incrementar o foco nas atividades educacionais
em apoio direto à esquadra. Aviador Naval. Exerceu vários comandos em sua carreira, tanto de navios quanto
de esquadrões de aeronaves e grupos-tarefa.
228 RMB2oT/2014
REVISTA DE REVISTAS
afirma o autor, indicando que a resposta cor- dade no aprendizado de liderança que seja
reta é: todo marinheiro é um líder, na medida sistemática, integrada e abrangente. Para
em que ele é responsável por outros mari- ele, o que se reconhece atualmente como
nheiros. E acrescenta: “Do marinheiro mais “treinamento de liderança” é, em verdade,
moderno ao oficial de maior antiguidade, um sistema desestruturado e episódico.
todos são parte da ‘equação da liderança’.” A partir desse reconhecimento, Kelly indica
Com esse enfoque no fator humano, Ja- os caminhos que visualiza para se criar uma
mes Kelly busca identificar as propriedades cultura de desenvolvimento de líderes navais,
da atual sistemática de formação, atuação e cujo primeiro passo seria o estabelecimento
desenvolvimento do pessoal de sua Mari- de um “Continuum para Desenvolvimento de
nha e destaca a ausência de uma continui- Líderes” que dure por toda a carreira.
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REVISTA DE REVISTAS
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REVISTA DE REVISTAS
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REVISTA DE REVISTAS
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
SUMÁRIO
(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)
ADMINISTRAÇÃO
ATIVAÇÃO
Ativação do Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais – Maré II (236)
30o Aniversário do IEAPM (236)
Aniversário da Batalha Naval do Riachuelo – Data Magna da Marinha (239)
INCORPORAÇÃO
Incorporação do Aviso Hidroceanográfico Fluvial Caravelas (242)
Incorporação do Navio-Transporte Fluvial Almirante Leverger (243)
POSSE
Assunção de cargos por almirantes (246)
Transmissão do cargo de Coordenador da Área Marítima do Atlântico Sul (247)
Transmissão dos cargos de Comandante de Operações Navais e de Diretor-Geral de
Navegação (247)
PRÊMIO
CAAML entrega troféus (253)
Comandante do 6o DN recebe prêmio por trabalhos sociais (253)
PROMOÇÃO
Promoção de almirantes (254)
VISITAÇÃO
LabOceano é visitado por representantes da DPC (254)
APOIO
MODERNIZAÇÃO
Modernização do Parque Industrial Gráfico da BHMN (256)
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
ÁREAS
ANTÁRTICA
NPO Almirante Maximiano apoia pesquisa no Estreito de Drake (257)
Operantar XXXII – Ary Rongel e Almirante Maximiano concluem suas participações
(257)
ARQuipélago de São PEDRO E São PAULO
NPaOc Araguari apoia expedição científica ao Arquipélago de São Pedro e São
Paulo (259)
ATIVIDADES MARINHEIRAS
BUSCA E SALVAMENTO
HU-4 realiza Evacuação Aeromédica no Pantanal (260)
HU-4 realiza Evam de militar do EB (260)
NAsH Doutor Montenegro socorre vítima de picada de cobra (261)
NAsH Carlos Chagas resgata criança indígena (261)
NPa Graúna resgata embarcação (262)
Salvamar Sul resgata tripulante ferido em pesqueiro (262)
UH-15 realiza Evam de navio grego (263)
UH-15 Super Cougar realiza Evacuação Aeromédica (264)
COMUNICAÇÕES
COMUNICAÇÕES VIA INTERNET
Nova página da DPMM tem navegação facilitada (265)
CONGRESSOS
FEIRA
Intermodal South America 2014 (265)
Rio Boat Show (266)
SEMINÁRIO
“A Minustah e o Brasil – Dez anos pela paz no Haiti” (267)
Cembra realiza seminário sobre submersíveis (269)
Seminário “O Papel da Marinha no Atlântico Sul” (270)
EDUCAÇÃO
ESPORTE
Resultados esportivos (270)
X Jogos Sulamericanos de Santiago (271)
FORÇAS ARMADAS
AERONAVE
Protótipo de aeronave VF-1 modernizada realiza primeiro voo à BAeNSPA (271)
234 RMB2oT/2014
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
FUZILEIROS NAVAIS
Secretário agradece apoio da MB na ocupação do Complexo da Maré (272)
OPERAÇÃO
Ágata 8 - Operação nas fronteiras registra recorde (273)
PATRULHA NAVAL
4o DN realiza ação conjunta com Ibama e Receita Federal (274)
GT do 4o DN realiza Patrulha e Aciso no interior do Pará (274)
Militares da MB descobrem depósito clandestino de combustível (275)
MEIO AMBIENTE
MEIO AMBIENTE
CPRJ participa de operação contra baloeiros na Baía de Guanabara (275)
PODER MARÍTIMO
APRESAMENTO
Marinha apreende pescado ilegal no Amazonas (276)
Marinha apresa embarcação de passageiros no Pará (276)
NPa Bocaina apreende três barcos pesqueiros (277)
NPaFlu Amapá apreende carregamento de madeira ilegal (277)
NPa Guaporé apreende embarcação na Baía de Guanabara (278)
NPaOc Amazonas apreende embarcações irregulares (278)
CONSTRUÇÃO NAVAL
“Guerra submarina” entre alemães e suecos (279)
POLÍCIA NAVAL
CFPN notifica comboio que obstruía Rio Paraguai (280)
PORTO
BTP inicia operação de carga geral solta (280)
BTP revê projeção de movimentação de carga conteinerizada em 2014 (281)
SISTEMA PORTUÁRIO
Complexo logístico portuário será inaugurado em Pernambuco (281)
Navio de bandeira brasileira opera pela primeira vez com cargas de projeto (282)
PSICOSSOCIAL
AJUDA HUMANITÁRIA
AvTrFlu Piraim participa de ação emergencial na Barra de São Lourenço (282)
NAsH Soares de Meirelles apoia Humaitá durante cheia histórica (283)
ASSISTÊNCIA SOCIAL
9o DN participa da Ação Global 2014 (284)
NAsH Doutor Montenegro na Acre 2014 (284)
NAsH Tenente Maximiano atende ribeirinhos em suas embarcações (286)
Navios da Flotilha do Amazonas nas comunidades do Rio Javari (286)
CULTURA
IX RioHarpFestival na Ilha Fiscal (287)
PINTURA
Acervo da MB recebe registro no Programa Memória do Mundo da Unesco (288)
RMB2oT/2014 235
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
236 RMB2oT/2014
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
mercado, tintas para cascos de navios e estudo do oceano. Esse Projeto, instalado
plataformas de petróleo com eficaz ação em Arraial do Cabo-RJ, visava desenvol-
anti-incrustante e isentas de substâncias ver a fertilização das enseadas fronteiriças
nocivas ao meio ambiente marinho. a Arraial do Cabo para a produção de
O Instituto encontra-se também com peixes, mariscos e camarões e, principal-
perspectivas reais de implantação do seu mente, funcionar como uma verdadeira
primeiro curso de Mestrado, na área da ‘Universidade do Mar’, disseminando
Biotecnologia Marinha. Atualmente, o para jovens estudantes e pesquisadores a
IEAPM vem passando por uma revitaliza- importância do oceano para a vida e para
ção, com a construção de nova infraestru- o futuro, despertando, então, a verdadeira
tura e modernização de seus laboratórios, mentalidade marítima.
que possibilitarão ampliar a realização de Em 26 de abril de 1984, foi criado no
pesquisas de ponta e aprimorar a quali- mesmo local o Instituto Nacional de Es-
dade do conhecimento científico gerado, tudos do Mar (Inem), que, aproveitando
permitindo que suas pesquisas alcancem os trabalhos realizados, os pesquisadores
nível internacional e con- e as instalações do Projeto,
tribuam ainda mais para o destinava-se a assegurar e
melhor conhecimento e a racionalizar os estudos ne-
eficaz utilização do ambiente cessários ao conhecimento e
marinho, tanto no interesse à utilização do oceano e das
da Marinha do Brasil, mas águas interiores nacionais.
também em benefício do Em março de 1985, em ho-
desenvolvimento socioeco- menagem ao seu idealizador,
nômico do País. falecido em 1983, o Instituto
A seguinte Ordem do recebeu a denominação atu-
Dia, emitida pelo diretor do al, estando hoje diretamente
Instituto, foi lida durante a subordinado à Secretaria de
cerimônia militar realizada Ciência, Tecnologia e Inova-
em Arraial do Cabo: ção da Marinha.
“Por ocasião do 30o ani- Única instituição de pes-
versário do Instituto de Estu- quisa da Marinha do Brasil
dos do Mar Almirante Paulo direcionada exclusivamente
Moreira, cabe ressaltar o Brasão do IEAPM para a busca do conheci-
relevante e contínuo aporte mento e da utilização do
do Instituto à pesquisa, ao desenvolvimento ambiente marinho, o IEAPM é fundamental
e à inovação na área de ciências do mar ao para a tão almejada ‘conquista’ da nossa
longo de sua existência, contribuindo para ‘Amazônia Azul’, no sentido de conhecer
a ampliação do conhecimento e a eficaz profundamente, difundir, vigiar, defender e
utilização do meio ambiente marinho, no preservar, explorando-a em sua plenitude,
interesse da Marinha do Brasil e do desen- estratégica e economicamente, de maneira
volvimento socioeconômico do País. racional e sustentada.
O IEAPM teve origem em 1971 com o O exercício continuado da pesquisa
Projeto Cabo Frio, idealizado pelo Almi- oceanográfica básica e aplicada por um
rante Paulo de Castro Moreira da Silva, instituto da Marinha com a credibilidade
cuja vida foi dedicada intensamente ao do IEAPM é condição necessária para a
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mes transnacionais, nos dando a convicção classe Macaé, com 500 toneladas, já em
de que qualquer país que pretenda ser andamento, privilegiando os estaleiros bra-
livre, seguro e soberano deverá dispor de sileiros; o início da fase de contratação do
Forças Armadas com credibilidade e que Sistema de Gerenciamento da ‘Amazônia
sejam capazes de contrapor-se a quaisquer Azul’ (SisGAAz), que permitirá incremen-
atitudes hostis. tar o monitoramento e o controle das águas
A Marinha segue, graças ao empenho sob nossa responsabilidade; e as tratativas
de seus componentes, contribuindo para o com vista à aprovação dos Programas de
progresso do Brasil, provendo a assistên- Obtenção de Navios-Aeródromos (Pronae),
cia hospitalar às populações ribeirinhas e de Meios de Superfície (Prosuper) e de
tomando parte nos programas sociais do Navios Anfíbios (Pronanf).
Governo. Ela está presente nas Operações Marinheiros, fuzileiros navais e servi-
de Paz no Líbano e no Haiti e, quando dores civis!
determinado, tem atuado na garantia da lei A vocês, meus comandados, homens e
e da ordem, no apoio à segurança pública mulheres possuidores de muita garra e de-
e nos grandes eventos que aqui têm sido terminação, registro o meu reconhecimento
realizados. No entanto, para cumprir essas pelas dedicação, correção e tenacidade com
tarefas e, principalmente, estar preparada as quais, vencendo os diversos obstáculos,
para dar a necessária proteção à ‘Amazônia vêm executando, com esmero, as atividades
Azul’ e às nossas hidrovias, torna-se vital a bordo dos navios e organizações de terra,
que ela conte com um Poder Naval que seja em nosso território ou no exterior, dignifi-
moderno, balanceado e equilibrado, prio- cando e honrando as biografias daqueles
rizando a obtenção de unidades e sistemas que nos antecederam.
autóctones, fomentando o desenvolvimento Exorto-os, uma vez mais, a renovar
de uma indústria de Defesa competitiva e o entusiasmo e a perseverança para que,
tecnologicamente avançada. inspirados nos exemplos de Riachuelo,
Os desafios são complexos. Entretanto, continuemos juntos a trabalhar para o
não cabe esmorecer, e sim iniciar ou dar aperfeiçoamento da nossa instituição, de
continuidade aos projetos estratégicos modo que ela esteja permanentemente
previstos no nosso Plano de Articulação pronta para agir na plenitude de suas
e Equipamento, e que obtiveram a devida potencialidades.
aprovação do Ministério da Defesa. Por fim, aos promovidos e agraciados
Dentre eles, releva mencionar que as com a Ordem do Mérito Naval transmito
obras do Estaleiro e da Base em Itaguaí os meus agradecimentos pela colaboração
seguem no ritmo adequado, assim como a e pelo apoio prestados, cumprimentando-
construção do primeiro dos quatro submari- os pela importante condecoração que
nos convencionais e o projeto do submarino irão receber, e concito-os a continuar no
com propulsão nuclear, cumprindo corre- trabalho de fortalecimento da mentalidade
tamente as etapas do Prosub. marítima junto à sociedade, ressaltando
Quanto aos demais empreendimentos a indiscutível relevância da ‘Amazônia
de modernização e de reaparelhamento, Azul’ e das hidrovias para um país pre-
destaco a construção de quatro corvetas destinado a ser reconhecido no cenário
classe Barroso, ainda por ser iniciada, o internacional.
que é fundamental para a revitalização da Parabéns a todos!”
Esquadra, e de cinco navios-patrulha da (Fonte: Bono Especial no 403, de 10/6//14)
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INCORPORAÇÃO DO
NAVIO-TRANSPORTE FLUVIAL ALMIRANTE LEVERGER
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Cisplatina. Por sua bravura e desenvoltura seu envolvimento na guerra, foi consagrado
demonstradas em combate, recebeu do go- herói, sendo laureado com as honras de
verno imperial a distinção de Cavaleiro da Barão de Melgaço, com grandeza.
Ordem do Cruzeiro. Em outubro de 1829, Deixou um legado invejável de serviços
foi-lhe determinado demandar a longínqua militares, administrativos, diplomáticos e
província do Mato Grosso, com a missão de científicos, que agregaram valores inesti-
comandar as barcas canhoneiras destinadas máveis à elucidação de nossas questões de
à defesa da fronteira no Rio Paraguai. Em limites com o Paraguai e a Bolívia.
1837, no posto de capitão-tenente, promoveu Ao finalizar, permito-me copiar os ver-
acurados estudos hidrográficos dos rios des- sos iniciais do poema ‘Águas’, de autoria
sa bela região, entregando-se com ardor às do poeta pantaneiro Manoel de Barros,
explorações dos rios Cuiabá, Paraguai e São que bem expressa a conformação dessas
Lourenço. Tornou-se belas plagas, pois, do-
profundo conhecedor ravante, altivo passa
da província de Mato a estar nelas inserido
Grosso. Em reconhe- o NTrFlu Almirante
cimento, foi nome- Leverger.
ado cônsul-geral do Diz o poeta:
Império do Brasil na ‘Desde o começo
República do Para- dos tempos águas e
guai, tendo a missão chão se amam
de estabelecer boas Eles se entram
relações com aque- amorosamente
le país, sobretudo no Navio-Transporte Fluvial Almirante Leverger E se fecundam
tocante à navegação Nascem formas ru-
do Rio Paraguai e ao estabelecimento de dimentares de seres e de plantas
fronteiras. Em 1844, prestou juramento de Filhos dessa fecundação
cidadão brasileiro, dando provas da escolha Nascem peixes para habitar os rios
definitiva do Brasil para sua pátria. Em 1850, E nascem pássaros para habitar as
no posto de capitão de mar e guerra, foi árvores
nomeado presidente da província de Mato Águas ainda ajudam na formação das
Grosso e, quatro anos depois, conquistou as Conchas e dos caranguejos
platinas douradas de almirante. As águas são a epifania da natureza...’
Mais tarde, já na inatividade, informado Almirante Leverger, sob a égide e bên-
de que tropas paraguaias haviam invadido çãos do Nosso Senhor dos Navegantes a
o sul do estado, tomando Corumbá, e que a iluminar os seus caminhos, singre essas
linha de defesa da capital havia debandado, águas tão bem descritas em prosa e ver-
apressou-se o Almirante Leverger em se so. Doravante, na placidez dos meandros
oferecer para reorganizá-la. Foi nomeado, desses belos rios da Bacia Pantaneira,
então, comandante superior da Guarda Na- que o ‘Gigante do Pantanal’ cumpra com
cional da Província, bem como das forças elegância sua elevada missão, exaltando o
terrestre e fluvial, para garantir e defender a seu lema: ‘Estamos sempre prontos’. Que
posição de Melgaço, morro situado a jusan- assim seja!”
te de Cuiabá. Por ter impedido que as tropas (Fontes: www.mar.mil.br e Bonos nos
invasoras atingissem a capital e devido ao 316 e 318, de 30/4/2014)
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cargo do qual hoje me despeço com o perguntei qual deles era meu pai, posto
indisfarçável júbilo de tê-lo exercido. que não o conhecia após um ano em que
Comandar o Setor Operativo da Marinha estivera em comissão hidrográfica na Foz
e a Diretoria Geral de Navegação, por do Rio Amazonas. Não com tal intensi-
todas suas abrangências e capacidades, dade, mas certamente com semelhantes
configurou-se como um nobre coroamento angústias, cresceram minhas filhas durante
da carreira de um jovem que entrou para a tantos anos em que estive embarcado ou
Marinha pretendendo alcançar tão somente devotado inteiramente ao serviço. Assim,
o posto de capitão de fragata, aquele que é chegado o momento de externar o meu
representava o sonhado comando de um sincero muito obrigado a uma família (aqui
contratorpedeiro. A todos os que estiveram presente nas pessoas da minha mulher Gra-
comigo nesta última singradura, almirantes, ça e das minhas filhas Carolina, Cristina e
oficiais, praças e funcionários civis, mani- Isabela) que sempre entendeu, sem nada
festo meus sinceros agradecimentos e ex- nunca cobrar, serem meus afastamentos
presso meu orgulho em tê-los comandado. parte de uma carreira escolhida e de uma
Cumprimento a todos na pessoa do meu realização desejada.
chefe de Estado-Maior, Vice-Almirante Aos amigos de diversas épocas, de
Lima Filho, oficial dedicado, competente, dentro e de fora da Marinha, alguns aqui
leal e marinheiro, que a todos contagia presenciando este momento para mim tão
com seu entusiasmo. Aos oficiais e praças significativo, externo minha gratidão pelo
do meu gabinete, que desde há muito me permanente incentivo.
acompanham, meu emocionado muito No instante em que passo o governo do
obrigado pela lealdade, atenção e paciência Comando de Operações Navais e da Dire-
e pelas demonstrações de amizade. Foi toria-Geral de Navegação (CON/DGN) ao
sempre muito bom tê-los por perto. Eu os Almirante de Esquadra Wilson Barbosa
saúdo na pessoa do dedicado, competente e Guerra, o faço com a convicção de que o
leal Capitão de Mar e Guerra Batista, meu timão passa a ser guarnecido por oficial
chefe de Gabinete. cuja vasta experiência nas lides operativas,
Exprimo aos almirantes de esquadra aliada a seus reconhecidos atributos morais
membros do Almirantado minha satisfação e profissionais, proporcionará ao setor uma
e orgulho em ter podido compartilhar com navegação segura e precisa. Prezado Al-
os senhores profícuos momentos de dis- mirante Guerra, o CON/DGN não poderia
cussões dos relevantes temas da Marinha. estar em melhores mãos. Desejo-lhe muitos
Manifesto meu especial agradecimento bons ventos!
ao ministro da Defesa, Embaixador Celso Por fim, um último agradecimento a esta
Amorim, cuja presença nesta cerimônia querida instituição. Como é bom pertencer
muito nos honra. à Marinha! Com é bom sentir o orgulho de
Meu ingresso na Marinha se fez, desde fazer parte de uma casa na qual a merito-
o início, em um ambiente naval protago- cracia sempre foi o critério de ascensão. Na
nizado por meus pais, a quem devo, mais qual a honra, a lealdade, a hierarquia e a
que tudo, a honra, e de quem herdei o amor disciplina são virtudes sempre observadas.
a uma instituição que eles viveram tão Na qual o respeito mútuo, independente do
intensamente. Foi neste ambiente que, aos grau hierárquico, da cor da pele e do cre-
3 anos de idade, no molhe da Ilha Fiscal, do, é fielmente observado e em que todos
aproximei-me de três capitães-tenentes e somos iguais nas oportunidades. Uma casa
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na qual reconhecemos e louvamos o legado ção, sendo, com toda a certeza, merecedor
deixado pelos que nos antecederam, e com dos maiores agradecimentos.
eles constituímos uma só Marinha. Como O princípio da sua longa caminhada
é bom pertencer a uma instituição cujo remonta ao ano de 1966, quando ingressou
único compromisso é para com a Pátria! no Colégio Naval, seguindo, em 1968,
Foi muito bom servi-la por 48 anos! Muito para a Escola Naval, estabelecimentos
obrigado!” de ensino onde lhe foram ministrados os
conhecimentos iniciais da carreira, tendo
AGRADECIMENTO E BOAS-VINDAS sido declarado guarda-marinha em 17 de
DO COMANDANTE DA MARINHA dezembro de 1971 e complementado sua
formação na Viagem de Instrução a bordo
“Hoje, a bordo do Navio-Aeródromo do Navio-Escola Custódio de Mello.
São Paulo, temos a oportunidade de ho- Já como oficial, a sua primeira comis-
menagear o Almirante de Esquadra Luiz são foi no Navio Hidrográfico Canopus, o
Fernando Palmer Fonseca, que está pas- qual, anos mais tarde, teria o privilégio de
sando o timão do Comando de Operações comandar, tendo servido em diversas outras
Navais e da Diretoria-Geral de Navegação, Organizações Militares, cabendo destacar
após pouco mais de um ano de profícuas os seguintes comandos: Navio-Balizador
realizações. Mestre João dos Santos, Navio-Hidrográ-
Uma cerimônia de transmissão de cargo fico Orion, do já citado Canopus, Centro de
é sempre revestida de profunda emoção, Sinalização Náutica e Reparos Almirante
trazendo à mente as boas recordações das Moraes Rêgo, Corpo de Aspirantes da
amizades forjadas; o reconhecimento e o Escola Naval e Navio-Escola Brasil, além
convívio com os chefes, pares e subordina- da direção do Serviço de Relações Públicas
dos; e a satisfação pelo sucesso alcançado da Marinha.
em cada tarefa bem cumprida. Quando tal Como resultado do seu excelente
evento está associado à ocasião da trans- desempenho e coroando uma brilhante
ferência para a reserva, os sentimentos se trajetória, recebeu as platinas douradas
tornam ainda mais fortes. de almirante em 31 de março de 2002, o
A labuta diária nos navios e nas OM de que foi motivo de orgulho e alegria para
terra, muitas vezes longe de casa, faz com seus amigos, entes queridos e todos os que
que os marinheiros formem uma outra famí- lhe eram próximos. Como oficial-general,
lia, a naval, baseada na comunhão de valores teve passagens marcantes como titular das
e nos esforços em prol do cumprimento da seguintes OM: Comando do 6o Distrito
missão. Assim, o momento de deixar o Ser- Naval, Instituto de Estudos do Mar Almi-
viço Ativo é sempre marcado por sensações rante Paulo Moreira, Centro de Instrução
de perda e de sentidas despedidas. Almirante Wandenkolk, Diretoria de Hi-
Dotado de incontestáveis atributos, drografia e Navegação, Diretoria-Geral do
dentre os quais destaco lealdade, lideran- Pessoal da Marinha, além dos cargos que
ça, competência, criatividade, inteligência ora transmite.
e objetividade, associados a uma sólida Do seu produtivo período à frente
bagagem profissional, amealhada durante do Comando de Operações Navais e da
mais de 48 anos de dedicação à Força, e a Diretoria-Geral de Navegação, quando
um modo afável de ser, o Almirante Palmer soube conduzir de forma irretocável as
soube granjear o nosso respeito e admira- complexas e abrangentes atividades afetas a
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Aos meus familiares – mãe, irmãos, profissional e objetiva com que me transmitiu
cunhados, sobrinhos e genros aqui presen- o cargo. Aceite em meu nome e no de todos
tes–, obrigado pelo constante apoio. os oficiais, praças e servidores do Comando
À minha esposa Regina, minhas filhas de Operações Navais e da Diretoria-Geral de
Flávia, Karla e Caroline e ao meu neto Jo- Navegação os votos de muitas felicidades e
aquim, é o amor e o carinho de vocês que de bons ventos nessa nova etapa de sua vida,
alimentam o meu espírito. extensivos à esposa Graça, filhas e neta.
Por fim, dirijo-me ao Almirante de Es- Rogo ao Senhor dos Navegantes que nos
quadra Luiz Fernando Palmer Fonseca, e proteja em mais essa singradura.
agradeço pela fidalga acolhida e pela maneira Viva a Marinha!”
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
PROMOÇÃO DE ALMIRANTES
Foram promovidos, por Decreto Presi- – Corpo de Fuzileiros Navais: ao posto
dencial, contando antiguidade a partir de de Contra-Almirante (FN), o Capitão de
31 de março de 2014, os seguintes oficiais: Mar e Guerra (FN) Jonatas Magalhães
– Corpo da Armada: ao posto de Almi- Porto.
rante de Esquadra, o Vice-Almirante Sergio – Corpo de Engenheiros da Marinha: ao
Roberto Fernandes dos Santos; ao posto posto de Contra-Almirante (EN), o Capitão
de Vice-Almirante, os Contra-Almirantes de Mar e Guerra (EN) Álvaro Luís de Souza
Luís Antônio Rodrigues Hecht, Antonio Alves Pinto.
Carlos Soares Guerreiro e Almir Garnier – Corpo de Saúde da Marinha: ao
Santos; ao posto de Contra-Almirante, os posto de Vice-Almirante (Md), o Contra-
Capitães de Mar e Guerra Paulo Ricardo Almirante (Md) Paulo Cesar de Almeida
Finotto Colaço, Sérgio Ricardo Segovia Rodrigues; ao posto de Contra-Almirante
Barbosa, Claudio Henrique Mello de Al- (Md), o Capitão de Mar e Guerra (Md)
meida, Newton Calvoso Pinto Homem, Marco Antonio Gomes de Freitas.
Luiz Octávio Barros Coutinho e Valter (Fonte: Bono Especial n o 229, de
Citavicius Filho. 28/3/2014)
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desenvolvimento de
tecnologia para ex-
ploração em águas
profundas.
O LabOceano in-
corpora à prática da
engenharia oceânica
nacional um apoio
experimental dispo-
nível apenas em pou-
cos outros centros
mundiais. Os progra-
mas nele executados
contribuem para o
Funcionários da DPC e representante do desenvolvimento de
LabOceano Coppe/UFRJ (com paletó) durante a visita novas tecnologias
para os projetos de
visita foi conhecer as funcionalidades e equipamentos e estruturas oceânicas e
a estrutura do laboratório. padrões de estruturas marítimas, agre-
O LabOceano, operacional desde 2003, gando eficiência, maiores níveis de
foi projetado para realizar ensaios de mo- confiabilidade e menores riscos ao meio
delos de estruturas e equipamentos usados ambiente oceânico.
nas atividades de exploração e produção Instalações, serviços e equipamentos:
de petróleo e gás offshore, cujas operações – tanque de ensaio com 15 metros de pro-
avançam para regiões de até 3 mil metros fundidade e dimensões de 30 x 40 metros;
de profundidade. – gerador de ondas com 75 painéis
Entre suas facilidades, encontra-se o articulados movidos por motores elétricos
tanque oceânico, com 15 metros de profun- individuais. Esses painéis são capazes de
didade e poço central com 10 metros adicio- simular quaisquer condições climáticas ou
nais. O tanque é equipado com sofisticados ambientais;
sistemas geradores
de ondas multidire-
cionais e, em breve,
receberá geradores
de correntes e ventos,
permitindo simulação
realista das princi-
pais características do
meio ambiente ma-
rinho, dentro do alto
padrão de exigência
da indústria offshore.
Ele representa para o
Brasil a consolidação
Tanque oceânico Coppe/UFRJ, onde as
de sua liderança no condições ambientais offshore podem ser reproduzidas
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MODERNIZAÇÃO DO
PARQUE INDUSTRIAL GRÁFICO DA BHMN
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
constante naquele continente por meio (Uruguai), serviu como plataforma de pes-
da Estação Antártica Comandante Ferraz quisa para 108 pesquisadores de 15 projetos
(EACF) e de seus navios, sob a coordena- distintos, que usaram os vários recursos de
ção de diversas organizações, com destaque bordo, como os seus cinco laboratórios,
para a Comissão Interministerial para os seus guinchos oceanográfico e geológico
Recursos do Mar (Cirm), responsável pelo e demais equipamentos científicos em toda
Programa. sua potencialidade.
Assim, tendo saí- Dentre as principais
do do Rio de Janeiro atividades realizadas
em 6 de outubro de pelo navio, destaca-
2013 rumo à Antár- ram-se a coleta de da-
tica, os navios ope- dos em 120 estações
raram no continente oceanográficas (a mais
com as principais profunda já executada
tarefas de dar apoio atingiu 5.600 metros
logístico e reabas- de profundidade, em
tecer os Módulos uma posição a leste das
Antárticos Emergen- Ilhas Malvinas) e em
ciais (MAE), cons- 70 estações geológicas
truídos durante o último verão, na EACF, (a mais profunda atingiu 3.850 metros, a
bem como apoiar projetos de ciência e maior já realizada desde a sua incorporação,
tecnologia nas mais diversas áreas, como ao norte da Ilha Elefante). O Almirante Ma-
Oceanografia, Hidro- ximiano lançou, ainda,
grafia, Biologia, Ge- 15 boias de deriva e 16
ologia, Antropologia radiossondas; iniciou
e Meteorologia, rea- a aquisição de dados
lizando sondagens e com gravímetro, equi-
levantamentos oce- pamento este instalado
anográficos, obser- no último período de
vações de animais e manutenção; e coletou
coleta de amostras água na Travessia do
NPo Almirante Maximiano
de solo e água. As Drake, momento em
atividades científicas envolveram profis- que manteve posição por aproximadamente
sionais de diversas instituições de ensino dez horas em uma região de grande instabi-
e pesquisa do País que desenvolvem lidade climática e sujeita a inúmeras frentes
trabalhos utilizando os nossos “Navios frias. Além disso, realizou o apoio à EACF
Vermelhos” como plataformas de coleta com a transferência de óleo combustível e
de dados ou de apoio para o estabele- gêneros, bem como levantou dados bati-
cimento de diversos acampamentos na métricos e geológicos da Enseada Martel e
região polar austral. do interior da Ilha Deception, com o Sub-
Nesta oportunidade, o Navio Polar Botton Profile e o ecobatímetro multifeixe.
Almirante Maximiano (em sua quinta Estes dados são de suma importância para
comissão), que, além da região antártica, a atualização das cartas náuticas da região.
também visitou os portos de Punta Arenas O Navio de Apoio Oceanográfico Ary
(Chile), Ushuaia (Argentina) e Montevidéu Rongel, que realizou sua vigésima viagem
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“A MINUSTAH E O BRASIL –
DEZ ANOS PELA PAZ NO HAITI”
A Marinha do Brasil, por meio do anos pela paz no Haiti”. O evento lembrou
Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros o aniversário de dez anos de presença do
Navais e em parceria com a Organização Brasil no Haiti e o Dia Internacional dos
das Nações Unidas (ONU) e a Pontifícia Mantenedores da Paz.
Universidade Católica do Rio de Janeiro O seminário foi aberto pelo comandante
(PUC-RJ), realizou, em 30 de maio último, da Marinha, Almirante de Esquadra Julio
na Escola de Guerra Naval (Rio de Janeiro), Soares de Moura Neto; pelo coordenador
o seminário “A Minustah1 e o Brasil – Dez residente do Sistema da ONU no Brasil,
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RESULTADOS ESPORTIVOS
4a ETAPA DA COPA DO MUNDO DE Terceiro-Sargento Martine Soffiatti Grael,
VELA (ISAF) – 45o TROFÉU PRINCESA da Equipe de Vela da Marinha do Brasil,
SOFIA conquistou a Medalha de Ouro na competi-
Realizada em Palma de Mallorca, ção, permanecendo em 1o lugar no ranking
Espanha, de 31 de março a 5 de abril. A mundial da Classe 49er/FX.
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COMPETIÇÃO DE TRIATHLON
LONG DISTANCE
A 3o SG Fernanda Garcia e a 3o SG
Carolina Galvão, atletas do Programa
Olímpico da Marinha do Brasil (Prolim),
conquistaram, respectivamente, o 1o e o 2o
lugares da competição, realizada em 6 de
abril, em Caiobá, Paraná. O percurso foi
de 1,9 km de natação, 81 km de ciclismo e
21 km de corrida. Lago de Garda, na Itália
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Militares da Marinha do Brasil loca- nados de forma ilegal, perto de uma estação
lizaram, em 10 de maio último (primeiro de captação de água, nas proximidades do
dia da Operação Ágata 8), um depósito Porto Geral de Corumbá (MS).
clandestino de combustível às margens do Após a lavratura do auto de apreensão,
Rio Paraguai. No local, foram encontrados agentes da Polícia Militar Ambiental
cerca de 2.600 litros de óleo diesel armaze- encaminharam o combustível ilegal à Po-
lícia Civil, para a realização de perícia no
material e de diligências para investigação
do caso. Os suspeitos do ilícito deixaram o
esconderijo antes da chegada dos militares.
A ação foi conduzida pela Capitania
Fluvial do Pantanal e pelo Grupamento
de Fuzileiros Navais de Ladário (MS), em
conjunto com o 15o Batalhão de Polícia
Militar Ambiental da região.
A Operação Ágata 8 terminou em 21
de maio.
Depósito clandestino de combustível (Fontes: www.mar.mil.br e www.
no Rio Paraguai operacoes.defesa.mil.br)
A Capitania dos Portos do Rio de Ja- últimos, órgãos da Polícia Militar do Estado
neiro (CPRJ) participou, em 23 de abril do Rio de Janeiro.
último, de operação organizada pela Co- (Fonte: www.mar.mil.br)
ordenadoria Integrada de
Combate aos Crimes Am-
bientais, órgão da Secreta-
ria de Estado do Ambiente
do Rio de Janeiro, com o
intuito de reprimir o crime
de soltar balões na Baía de
Guanabara.
Também integraram a
operação o Instituto Estadual
do Ambiente, a Polícia Civil,
o Grupamento Marítimo e
Fluvial e o Grupamento Aé-
reo e Marítimo – esses dois Inspeção Naval na Baía de Guanabara
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tinham adquirido a empresa sueca não para Até o momento, 200 funcionários da
expandir sua capacidade, mas para eliminar ThyssenKrupp foram para o Grupo Saab, e
um concorrente. Em 2013, o Kockums ainda existem mais interessados. Para parar
passou a chamar-se ThyssenKrupp Marine o sangramento, os alemães fizeram então a
Systems (TKMS). oferta de bônus, com a condição de que pelo
Recentemente, houve rumores de que o menos 40 por cento de seus empregados
Grupo Saab estaria interessado em comprar fiquem na empresa.
o Kockums, trazendo-o de volta para as (Fonte: Defesa Aérea & Naval, em tra-
mãos da Suécia, o que não foi confirmado. dução/adaptação do Digital Journal)
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Até meados deste ano a empresa vai importação ou de exportação, que exigem
inaugurar, ainda, uma Estação Aduaneira alfandegamento, poderão ser movimen-
de Interior (Eadi) integrada ao CL, ambos tadas, armazenadas e distribuídas para o
instalados no município de Ipojuca, a 1 km mercado doméstico dentro de um mesmo
da entrada do porto. A Wilson Sons foi complexo (CL+Eadi).
a ganhadora da concorrência aberta pela A Eadi Suape terá capacidade de movi-
Receita Federal para implantar um porto mentar 29 mil TEUs ao ano. Sua área total
seco na região de Suape. Atualmente, será de 78.726 metros quadrados. Já o CL
a área está passando por adequações e conta com um armazém com 8 mil metros
deve ser submetida à aprovação do órgão. quadrados de área coberta.
Com a abertura da Eadi Suape, cargas de (Fonte: Textual Comunicação)
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A “Coleção Edu-
ardo De Martino/
Guerra da Tríplice
Aliança”, do acervo
da Marinha do Bra-
sil, recebeu, em 27
de março último, o
diploma de registro
regional da Memória
do Mundo da Unes-
co. Essa coleção faz
parte de um conjunto
iconográfico e car-
tográfico proposto
por nove instituições Cena de combate, por Eduardo de Martino. Óleo sobre papel.
arquivísticas e mu-
seus nacionais, que
se reuniram no Museu Naval (RJ), sede desenhos e aquarelas do artista Eduardo
da Diretoria do Patrimônio Histórico e de Martino, que esteve na linha de frente
Documentação da Marinha. daquela guerra.
Pertencente ao acervo da Marinha do Este é o quarto registro de acervos
Brasil, a coleção reúne um conjunto de documentais da Marinha no Programa
Memória do Mundo
e o primeiro que as-
cendeu à relevância
regional aprovado
pelo Comitê Regio-
nal para a América
Latina e Caribe.
As mais de 40 ima-
gens multimídias da
Coleção podem ser
vistas no Museu Naval
(Rua Dom Manuel,
15, Centro do Rio),
sala 6 da exposição
“O Poder Naval na
Formação do Brasil”.
(Fontes: www.
mar.mil.br e Bono no
Certificado do Programa Memória do Mundo concedido à DPHDM 297/2014)
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nossos artistas
Vista da Exposição
Antessala da Exposição
Inauguração da mostra
Vera Braga
Largo do Boticário
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Eleonora Brandão
Ruína italiana
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Prisioneiro 2
Era uma vez...
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