Escola de Guerra Naval: Operações Navais No Século Xxi: Tarefas Básicas Do Poder Naval para A Proteção Da Amazônia Azul
Escola de Guerra Naval: Operações Navais No Século Xxi: Tarefas Básicas Do Poder Naval para A Proteção Da Amazônia Azul
Escola de Guerra Naval: Operações Navais No Século Xxi: Tarefas Básicas Do Poder Naval para A Proteção Da Amazônia Azul
Rio de Janeiro
2011
CMG (FN) RENATO RANGEL FERREIRA
Rio de Janeiro
2011
RESUMO
As perspectivas para o século XXI indicam que a importância do mar tende a crescer como
resultado da globalização, particularmente do desenvolvimento do sistema comercial
marítimo internacional. O futuro do Brasil está ligado ao mar. As Águas Jurisdicionais
Brasileiras possuem enorme potencial econômico e importância estratégica, cabendo à
Marinha do Brasil a responsabilidade de zelar por sua defesa e segurança. Devido às enormes
dimensões, riquezas e vulnerabilidades destas águas, elas são hoje conhecidas como
Amazônia Azul, em uma referência à região amazônica, igualmente extensa, rica e
vulnerável, e às águas azuis do mar. A prioridade da defesa e segurança das Águas
Jurisdicionais Brasileiras foi ratificada pela Estratégia Nacional de Defesa, assinada em 2008.
Os conceitos, princípios e Tarefas Básicas do Poder Naval brasileiro são indicados na
Doutrina Básica da Marinha, cuja versão em vigor foi editada em 2004, sendo, portanto,
anterior às orientações emanadas da Estratégia Nacional de Defesa. Esta monografia
investigou as Operações Navais no século XXI com o propósito de verificar se as atuais
Tarefas Básicas são adequadas à proteção da Amazônia Azul e, se for o caso, propor a
atualização destas tarefas. Para tanto, o trabalho foi iniciado a partir de pesquisas sobre os
conceitos básicos do emprego do Poder Naval e as origens e desenvolvimento das Tarefas
Básicas, na Marinha do Brasil e em outras importantes marinhas do mundo. A seguir,
procedeu-se a uma análise das demandas estratégicas da Amazônia Azul, assim como das
tendências para o futuro emprego das marinhas. Ao final, com base no conhecimento obtido,
constatou-se a necessidade de repensar a formulação atual das Tarefas Básicas do Poder
Naval. Foi, então, proposto um novo conjunto de Tarefas Básicas, que deverão contribuir para
o aperfeiçoamento da prontificação do Poder Naval brasileiro e, consequentemente, para o
fortalecimento da defesa dos interesses nacionais na Amazônia Azul ao longo deste século
XXI.
The perspective for twenty-first century indicates that the importance of the sea tends to
increase as a result of globalization, particularly the development of global maritime trading
system. Brazil’s future is closely related to the sea. Brazilian Jurisdictional Waters have
enormous economic potential and strategic importance, while Brazilian Navy is responsible
for ensuring its security and defense. Due to the large size, wealth and vulnerability of these
waters, they are now known as to the Blue Amazon, in a reference to the Amazon region,
equally great, rich and vulnerable, and the blue waters of the sea. The priority of defense and
security of Brazilian Jurisdictional Waters was ratified by the National Defense Strategy,
signed in 2008. The concepts, principles and Missions of the Navy are indicated at Brazilian
Naval Basic Doctrine, whose current version was issued in 2004, therefore, prior to the
guidelines from National Defense Strategy. This work has investigated the naval operations in
the twenty-first century, in order to verify whether the current missions are still appropriate
for the protection of Blue Amazon and, if necessary, to suggest a new set of Missions. For this
purpose, our activities started with researches on basics concepts of use of naval power, as
well as on the origins and development of the Missions in Brazilian Navy and other major
navies worldwide. Then, we carried out an analysis on the strategic demands of the Blue
Amazon, as well as on trends for future use of the naval power. Finally, on the grounds of the
knowledge obtained in the work, we verified a need to rethink the current formulation of the
Brazilian Navy’s Missions. Then, a new set of Missions was suggested. This proposal should
contribute to improve the readiness of Brazilian Naval Power, thus strengthening the defense
of national interests in the Blue Amazon throughout this century.
Keywords: Brazilian Navy, Blue Amazon, National Defense Strategy, Naval Basic Doctrine,
Naval Operations, Missions of the Navy.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 14 - As funções e tarefas da Marinha Canadense para o século XXI ............. 149
Quadro 4 - Tarefas Básicas do Poder Naval para a proteção da Amazônia Azul ....... 79
LISTA DE TABELAS
FA - Forças Armadas
MB - Marinha do Brasil
PN - Poder Naval
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 11
4 A AMAZÔNIA AZUL......................................................................................... 50
4.1 Mentalidade Marítima ........................................................................................ 50
4.2 Aspectos Estratégicos........................................................................................... 52
4.3 Síntese ................................................................................................................... 56
7 CONCLUSÃO...................................................................................................... 80
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 84
história, o mar desempenhou um papel vital como fonte de recursos e meio para o transporte e
atuam no mar acentuou ainda mais a capacidade que os Poderes Naval e Marítimo dos
Estados têm de influenciar eventos de seu interesse. Neste período, não por acaso, foram
alcance mundial é possibilitado por via marítima e facilitado pelas novas tecnologias da
planejamento para o desenho das marinhas e das operações navais futuras terá que lidar com
esta realidade: o mundo globalizado estará muito mais dependente do comércio marítimo. A
específico maior do que aquele que outrora tiveram (TILL, 2009, p.1-3).
exerce, também, um papel central para o Brasil. Foi o mar que trouxe o reino português, e a
comércio exterior. E, hoje, desponta como uma enorme fonte de recursos energéticos, o que
Comandante da Marinha, em seu artigo intitulado “Amazônia Azul”. Nele, foram ressaltadas
as enormes dimensões, riquezas e vulnerabilidades das AJB. O artigo inicia com um alerta
emblemático: “Toda riqueza acaba por se tornar objeto de cobiça, impondo ao detentor o ônus
Outro grande mérito deste artigo foi o de ter cunhado a feliz expressão “Amazônia
estratégicas da região amazônica e as das águas azuis de nossas AJB. O Almirante Guimarães
Carvalho, ao publicar seu artigo, estava, ao mesmo tempo, traçando o rumo e descortinando o
futuro da Marinha do Brasil (MB) para o Século XXI. A Amazônia Azul passou a ser, desde
sendo marcada pela grande proeminência desse país, e pela influência dos requisitos da guerra
fase caracteriza-se pela procura de autonomia no campo estratégico (VIDIGAL, 2002, p. 4).
uma mudança de postura e de mentalidade desta envergadura não ocorre da noite para o dia. É
______________
1
Para a MB, as AJB “compreendem as águas interiores e os espaços marítimos, nos quais o Brasil exerce
jurisdição, em algum grau, sobre atividades, pessoas, instalações, embarcações e recursos naturais vivos e não-
vivos, encontrados na massa líquida, no leito ou no subsolo marinho, para os fins de controle e fiscalização,
dentro dos limites da legislação internacional e nacional. Esses espaços marítimos compreendem a faixa de 200
milhas marítimas contadas a partir das linhas de base, acrescida das águas sobrejacentes à extensão da
Plataforma Continental além das 200 milhas marítimas, onde ela ocorrer.” (BRASIL, 2011).
13
neste contexto que se insere a relevância do debate sobre a Amazônia Azul. Se a prioridade
deixara de ser a guerra antissubmarino, qual seria o novo rumo? O artigo do Almirante
Guimarães Carvalho veio responder a questão. Desde então, e pelo século XXI adentro, o
Esta postura foi confirmada pela Estratégia Nacional de Defesa (END), que data
Atlântico Sul2. A END faz menção às Tarefas Básicas do Poder Naval (TBPN) que, por sua
vez, são estabelecidas na Doutrina Básica da Marinha (DBM). Este documento foi revisado,
pela última vez, em 2004, sendo, portanto, anterior às orientações emanadas da END.
A definição das capacidades das marinhas, traduzidas em TBPN, foi uma ideia
propósito de forçar a reflexão em termos daquilo que deve ser produzido pelas marinhas, o
seu output3. Em seu famoso artigo datado de 1974, e intitulado Missions of the U.S. Navy
planejado para uma determinada marinha. Nas palavras do próprio Almirante Turner, no
mesmo artigo: “As marinhas não tiveram sempre cada uma dessas tarefas [as TBPN] e nem é
provável que esta lista de tarefas seja definitiva” (TURNER, 1974, p. 3, tradução nossa).
______________
2
Para efeitos deste trabalho, o Atlântico Sul é a “área marítima de interesse direto do Brasil” sendo
geograficamente definido “do paralelo 16ºN até o Continente Antártico, abrangendo as margens oeste da África
e leste da América do Sul” (MOURA NETO, 2010, p. 452).
3
Neste trabalho, a palavra output será sempre empregada para fazer referência ao sentido adotado pelo
Almirante Turner, neste contexto, como sendo os efeitos ou ações produzidas pelas marinhas.
14
Como se pôde perceber nas palavras do Almirante Turner, novas demandas estratégicas
das atuais TBPN para a proteção4 da Amazônia Azul no século XXI e, se for o caso, sugerir a
embasavam o emprego do Poder Naval5 (PN) na época. A seguir, será efetuada uma
realidade nacional. Uma etapa importante na construção deste trabalho será a análise da
estratégicas para a sua proteção. Será procedida, então, a análise das tendências futuras para o
Por fim, de posse dos elementos coletados, será verificado se o conjunto das atuais
TBPN possibilita a adequada proteção das AJB e serão formuladas recomendações que
possibilitem o seu aprimoramento. Desta forma, o presente trabalho deverá contribuir para o
resumida.
Julian Stafford Corbett. O primeiro deles representa a doutrina do domínio do mar, enquanto
o segundo, a doutrina da guerra limitada. Além destes, foram analisadas a doutrina da guerra
de corso, vinculada à Jeune École , e a doutrina da guerra costeira que, em certa medida, se
contrapõem aos anteriores, mas que têm o mérito de espelhar o pensamento estratégico de
em 1840, Mahan graduou-se na United States Naval Academy, em 1859. Em 1890, publicou
seu mais famoso livro, intitulado “The influence of sea power upon history, 1660-1783”
(MAHAN, 1987), contendo a compilação de suas palestras acerca da relação entre a guerra
16
existência das marinhas. Ele destacava que o emprego do PN não deveria ficar restrito aos
preparo para o seu emprego efetivo, deveriam ser uma preocupação constante dos governos
desde os períodos de paz. A expressão Sea Power, cunhada por Mahan, foi usada por ele
algumas vezes com a atual acepção de poder marítimo e, em outras ocasiões, com o sentido
de PN.
que cooperassem entre si, em prol da segurança do comércio marítimo. Este conceito pode ser
claramente notado, ainda que com outra denominação, em recentes documentos estratégicos
da USN, como, por exemplo, a Estratégia Cooperativa de 2007 (EUA, 2007b). Esta
importância decorreria do fato de que é este comércio que possibilita a produção de riquezas,
razão pela qual sua proteção deve ser assegurada pelos governos que desejarem ver a
ofensiva e da concentração de meios navais na busca pela batalha decisiva que eliminaria a
força naval inimiga e conferiria ao vencedor o domínio do mar. Neste sentido, ele sustentava
o argumento de que a defesa de costa não deveria receber a atenção principal das marinhas.
17
Neste tipo de emprego, a força naval deveria ser empregada concentrada, operando
emprego do PN. Alguns deles, tais como a máxima “nunca divida a esquadra”, foram bastante
uma análise histórica, e composta por um conjunto de princípios que não tinham a intenção de
tempo, justamente da falta de uma teoria mais ampla que explicasse a guerra no mar. A
grandes distâncias sem que tal movimento simbolize uma ameaça ou agressão, ela é
foi o inglês Sir Julian Stafford Corbett (1854-1922). Em 1911, este advogado e historiador
publicou sua principal obra - Some Principles of Maritime Strategy (CORBETT, 2004).
Apesar de não pretender estabelecer regras rígidas, Corbett advogava que era
______________
7 Antoine-Henri Jomini (1799-1869) foi um militar e autor suíço que codificou as práticas militares napoleônicas
em um conjunto de regras e princípios. É considerado um dos fundadores do pensamento estratégico
contemporâneo (COUTAU-BÉGARIE, 2010, p. 165-166).
18
possível, e até mesmo necessário, compor um corpo doutrinário com bases históricas que, sem
retirar a iniciativa dos comandantes, servisse para homogeneizar as ações no mar e facilitar a
comunicação entre os oficiais, e entre estes e seus interlocutores civis no governo. Apesar do
- a construção de uma doutrina naval baseada em princípios - serem análogos aos de Mahan, o
Mahan, a marinha era, ao mesmo tempo, um fim em si mesma e uma condição essencial para
o sucesso dos Estados como potências internacionais. Corbett, com considerável influência de
Clausewitz, apresenta a questão sob outro ângulo: as marinhas são apenas um dos
instrumentos disponíveis para que os Estados coloquem em prática uma única estratégia para
atingir objetivos nacionais definidos pela política, o que deveria abranger tanto as forças do
mar, como as de terra e as ações diplomáticas. A razão, apresentada por Corbett como
Uma vez que os homens vivem na terra e não sobre o mar, as grandes questões entre
nações em guerra sempre foram decididas - exceto em raros casos - ou pelo o que o seu
exército pode fazer contra o território e a vida nacional de seus inimigos, ou pelo medo
do que a sua esquadra possibilita que seu exército faça (CORBETT, 2004, p. 14).
Corbett afirmava que a ênfase da guerra naval não podia se restringir às ações
ofensivas que buscassem obter o comando do mar. As forças navais deveriam possuir,
Outra razão apontada para a menor ênfase à obtenção do comando do mar foi a de
que, dificilmente, tal domínio poderia ser obtido em sua plenitude. Corbett relativiza o
limitadas, como um instrumento adequado para ações políticas que, devido à sua liberdade de
custos e os benefícios de seu emprego em diversas frentes de ação. Este tipo de emprego foi
exercido por certos navios, como cruzadores e fragatas, ou seja, que não integravam a linha de
batalha, na exploração do comando do mar. Esta diferenciação entre meios para a obtenção e
Outro ponto destacado foi o da importância tanto das operações conjuntas, com o
Expedicionárias e Anfíbias. Para a consecução dos objetivos nacionais que regiam a condução
no mar e, posteriormente, projetar estas forças em terra, apoiando suas ações, com o
Uma teoria significativa surgida foi a Jeune École, uma escola francesa de
pensamento, dita jovem (jeune em francês), que se desenvolveu ao longo da segunda metade
______________
8
Interessante registrar que o conceito de “Esquadra em Potência” para Corbett não se restringe ao de se manter a
esquadra em segurança em sua base e representar, apenas com sua mera presença, uma ameaça em potencial que
contestasse o pleno comando do mar pelo inimigo. Para Cobertt (2004, p. 167, 211), a esquadra com menos
poder de combate deveria negar a batalha decisiva ao inimigo, protegendo-se em sua base e realizando ações
dinâmicas da defesa, o que incluiria pequenos contra-ataques e o uso de armas como o torpedo.
20
do século XIX, contrapondo-se à forma vigente de pensar a guerra no mar, com batalhas
A ideia central era a de que um país com menor PN deveria sempre optar por
empregar sua marinha em uma guerra ao comércio inimigo - guerra de corso - pois o impacto
sobre a economia do país inimigo deveria conduzir, mais rapidamente, à vitória. Este conceito
foi expandido e aperfeiçoado, principalmente pelo Almirante francês Theophile Aube, sobre
dois principais eixos: a guerra de corso e o emprego de navios de flotilha9 contra os navios de
linha. Em 1886, quando Aube tornou-se Ministro da Marinha, a Jeune École ganha vida. A
construção dos grandes navios de linha é suspensa e substituída pela construção de cruzadores
dos navios de linha e das batalhas decisivas pelo controle do mar, além de liberar as forças
meios que protegiam os grandes navios, resgatando sua proeminência; o peso político de se
arcar com a guerra contra o comércio; e o fato de que a construção de uma esquadra dedicada
à guerra de corso impedia que a marinha pudesse cumprir outros tipos de tarefas necessárias
Um ponto importante que pode ser salientado em relação a este processo foi o do
tecnológica na guerra no mar, que pareça alterar os seus princípios mais fundamentais, pode
ser neutralizada pelo advento de novas táticas. Talvez uma das principais lições deixadas pela
Jeune École tenha sido a de que o pensamento estratégico naval não deva ser condicionado
longo do século XX confirmam sua validade. A doutrina da guerra de corso embasou as ações
tornando-se referência obrigatória, com seus erros e acertos, para o estudo do emprego do PN.
Além das teorias anteriores, outra forma significativa de refletir sobre o emprego
influenciam esta forma de emprego das forças navais, tanto em sua vertente ofensiva, que se
materializa por ocasião de sua projeção sobre terra, quanto do seu emprego defensivo, na
proteção da costa.
Uma das primeiras formulações desta doutrina ocorreu no século XIX, nos EUA,
com a preparação das defesas de sua costa leste. Este modelo, denominado de Fortress Fleet
O pensamento sobre a defesa de costa ganha força na União Soviética, nos anos
países com litorais extensos para proteger toda a sua costa, enquanto sua esquadra estava em
águas distantes, lutando pelo domínio do mar ou protegendo o seu comércio marítimo. Neste
22
sentido, destacou a importância de preservar certa capacidade local para a defesa da costa em
toda sua extensão. Tal defesa contaria com táticas e meios específicos e distintos daqueles
empregados em alto-mar, com o emprego conjunto de suas Forças Armadas (FA), e com
intrincado sistema de minas, artilharia de costa, submarinos e torpedeiros. Mais tarde, a 2ªGM
em vários países, a atenção para a necessidade de proteger seus interesses no mar, tornando
mais relevantes certos aspectos da teoria do emprego do PN na guerra costeira, por parte de
países cujas marinhas não tinham nem porte, nem interesse, além do regional.
Nos anos 1990, após o término da Guerra Fria, a USN não teve mais oponentes
para contestarem seu domínio no mar. Assim, ela divulgou duas publicações apresentando
uma nova concepção de emprego estratégico de seu PN: ... From the Sea (EUA, 1992) e
Forward ... From the Sea (EUA, 1994a). O ponto principal destes documentos é a mudança
de foco que buscou, alterando-se o propósito do emprego da força naval do mar (on the sea)
para a terra (from the sea), com vistas a influenciar eventos no litoral. Tratava-se de uma
minas e artilharia de costa. A força naval envolvida na defesa de costa usufrui das vantagens
propiciadas pela defensiva, tais como o prévio conhecimento e preparação do local de batalha,
______________
10
Os debates na Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Direito no Mar iniciaram-se nos anos 1930,
resultando na CNUDM, que foi concluída em 1973. O Brasil ratifica a convenção em 1988. Em 1994, a
CNUDM entra em vigor com 438 artigos e 9 anexos (BRASIL, 1995; RIBAS M., 2011).
23
apoio logístico. Por estas razões, apesar de a defesa de costa ser, muitas vezes, exercida por
marinha de menor envergadura, tal fato não impede que este PN seja capaz de infligir pesadas
perdas à marinha atacante, sobretudo se estiver em jogo algum objetivo nacional relevante.
vista os acordos, em andamento, entre os EUA e a União Soviética sobre a limitação de uso
2007, p. ix).
Zumwalt, que exerceu a função de Chefe de Operações Navais no período de 1970 a 1974.
Zumwalt enfrentou alguns grandes desafios: reduzir o número de navios das esquadras devido
fazer frente a uma Marinha Soviética cada vez mais forte e oceânica12. As linhas mestras para
______________
11
Como exemplo pode-se citar o Tratado de Mísseis Antibalísticos assinado em 1972, pelo Presidente norte-
americano, Richard Nixon, e o Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética, Leonid Brezhnev, e
que permaneceu em vigor até 2002 (HATTENDORF, 2007, p. x).
12
Em 1970, a Marinha Soviética, dando uma demonstração de seu alcance global, realizou o exercício “OKEAN
’70”, onde duzentos navios executaram manobras coordenadas e simultâneas nos Oceanos Atlântico, Pacífico,
Índico e no Mar Mediterrâneo (HATTENDORF, 2007, p. ix).
24
tinham criado nichos, onde preponderava o emprego isolado de aeronaves e submarinos que,
promovido. Em 1972, Turner foi indicado para assumir o Naval War College, recebendo a
tarefa de rever todo seu currículo, para aperfeiçoar o ensino do pensamento estratégico naval.
necessidade de organizar o emprego das forças navais pelos efeitos produzidos, ou seu output.
governo das atividades realizadas pela marinha facilitando, desta maneira, o diálogo entre
2009, p. 108-116; TURNER, 1974, p. 2-3). Na introdução do artigo, o almirante comenta que
“um exame da história demonstrará que os militares, algumas vezes, ficam tão hipnotizados
pelas armas necessárias, ou empregadas, em uma tática ou missão particular, que chegam a
negligenciar os novos requisitos que surgem” (TURNER. 1974, p. 3, tradução nossa). Assim,
logo na primeira página do artigo, abaixo do título, o almirante estampou uma figura
Estas missões elencadas por Turner não pretendiam ser universais, e apenas
atendiam aos requisitos estratégicos da USN, naquela época, e devendo evoluir com o tempo.
Em sua concepção original, Turner estabeleceu quatro missões: Controle de Área Marítima
(CAM), Projeção de Poder sobre Terra (PPT), Presença Naval, e Deterrência Estratégica
cunhada por Turner para o Project SIXTY. Ela pretendia substituir o conceito de Mahan,
conhecido como Comando do Mar (Command of the Sea), ou Controle do Mar (Control of the
Sea), por algo mais substantivo e que demonstrasse a limitação imposta pelo advento dos
(HATTENDORF, 2007, p. 31; SWARTZ, DUGGAN, 2009, p. 116; TURNER, 1974, p. 6-7).
mares para fins comerciais ou militares, quanto a negação de seu uso pelo inimigo. Embora o
novo conceito de Sea Control reduzisse o espaço e o tempo do controle, ele continuou a
______________
13
A expressão Controle de Área Marítima foi usada na primeira DBM (1979a), e será utilizada neste trabalho,
como tradução para Sea Control, sempre com o sentido concebido pelo Almirante Turner.
26
apresentar este caráter dual, pois nele as forças navais podiam ser empregadas tanto ofensiva
exploração do controle do mar por uma força, quanto as tentativas de negação deste controle
por parte do inimigo. Neste sentido, esta missão era apropriada para a condução ou a proteção
exterior; prover a economia nos tempos de guerra e suprir militarmente os aliados; prover
segurança para as forças navais envolvidas na PPT. E, para cumprir esta missão, havia seis
diferentes táticas: controle de saídas (sortie control) ou bloqueio, em que o inimigo devia ser
impedido de deixar sua base; controle de pontos críticos pois, caso o inimigo lograsse deixar
sua base, conviria atacá-lo em algum gargalo geográfico de passagem obrigatória; operações
em áreas abertas, com busca e vigilância, caso o inimigo também conseguisse passar pelos
estreitos; engajamentos locais, para combater o inimigo que tentasse executar um ataque sobre
a Força ou contra a costa; e duas táticas passivas, despistamento e intimidação, que, sem o
Terra, ao lidar com o impacto que as forças navais podiam exercer sobre a terra, vinculava-se
aos preceitos de Corbett, e consolidava todo o sucesso alcançado pelas Operações Anfíbias
durante a 2ªGM.
poderiam ser empregadas em proveito das demais missões, como para o CAM. Por meio
delas, poderiam ser conquistadas áreas em terra que apoiassem o desenvolvimento da guerra
27
seu aeródromo pelos japoneses, que poderiam usá-lo para interferir nas LCM entre Pearl
naval e a projeção aerotática. O bombardeio servia para prover apoio direto às tropas,
interditar o movimento de tropas inimigas e ameaçar suas operações. A projeção servia para
destruir o potencial bélico inimigo, para apoiar campanhas terrestres e dificultar as campanhas
A missão Presença Naval foi descrita por Turner como sendo o uso de forças
navais, em missões não-combativas, para conquistar dois tipos de objetivos políticos: impedir
ações hostis aos interesses dos EUA e seus aliados; e encorajar ações que fossem do interesse
dos EUA e de seus aliados. Duas principais táticas poderiam ser empregadas: desdobramentos
crises. No atendimento a estas duas táticas, cinco tipos básicos de operação podiam ser
conduzidas para ameaçar outro país: assalto anfíbio, ataque aéreo, bombardeio, bloqueio e a
Embora pareça envolver menor grau de violência, este tipo de missão possui uma
grande suscetibilidade de nível político. Assim, um ponto muito importante a ser considerado
de operação a ser realizada pela força a ser empregada. Uma missão bem orquestrada pode
complementar outras ações no campo da diplomacia e contribuir para que sejam obtidos
Por outro lado, na hipótese contrária, uma Presença Naval mal conduzida pode provocar
ataque, caso a União Soviética lançasse um ataque nuclear em massa contra os EUA; resposta
controlada, caso o ataque fosse parcial; dissuasão de terceiras potências que pudessem
ameaçar os EUA com armas nucleares; e construção de uma imagem de equilíbrio de poder
Operações Navais da USN. As missões da USN de então, com as devidas adaptações, vieram
campo da estratégia naval. Conforme visto anteriormente, a Guerra Fria entrava em fase de
______________
14
Classe de submarinos de propulsão nuclear, desenvolvida pela USN, que foi a primeira a incorporar a
capacidade de lançar mísseis balísticos Polaris com ogivas nucleares (HUGHES Jr., 2000, p. 145-146).
15
O Posture Statement é uma apresentação formal feita anualmente à Comissão de Serviços Armados do
Congresso Norte-americano (HATTENDORF, 2007, p. 53; SWARTZ, DUGGAN, 2009, p. 119).
29
relacionados à segurança coletiva do hemisfério. Esta postura culmina com a denúncia, por
Esta nova postura estratégica refletiu-se nos documentos de alto nível elaborados
destas duas tendências, as Políticas Básicas e Diretivas Setoriais da MB, a partir de 1975,
intervenção direta das superpotências (VIDIGAL, 1985, p. 103-104; BRASIL, 1971, p. II-2;
Armando Amorim Ferreira Vidigal, traçaram as linhas mestras para o emprego dos meios
navais da MB. Em suas formulações, buscavam retirar a ênfase das ações de proteção ao
Ora, apesar da ênfase que Mahan lhes atribuía, as comunicações marítimas nunca
foram a única inspiração da estratégia naval. Além dos dois propósitos estratégicos
relacionados com essas comunicações – a segurança das nossas e a interrupção das
do inimigo – as marinhas sempre se preocuparam também com o uso do mar como
via de projeção de poder – ou seja, com o ataque ao litoral inimigo e com a defesa
do seu próprio litoral.
Esses quatro grandes propósitos estratégicos navais continuam válidos hoje, mas as
injunções político-estratégicas e tecnológicas do mundo contemporâneo estão
enfraquecendo a posição da multissecular precedência dos dois primeiros – a
segurança do tráfego marítimo e a negação do uso do mar (FLORES, VIDIGAL,
1976, p. 64).
do litoral, que deveria ser conduzida por meio do emprego de aeronaves para esclarecimento,
30
pequenas, rápidas e bem armadas; este modelo se assemelha à concepção da Jeune École .
Outro propósito elencado era o de impor uma ameaça a território inimigo por meio de forças
completam o quadro que possibilitaria, ainda, o exercício da persuasão, que apesar de não ser
um propósito em si mesma, poderia ter uma utilidade política (FLORES, VIDIGAL, 1976, p.
66-67, 80-90).
inimigo, os autores denominam de tarefa as ações para a negação do uso do mar. Elas podem
ser classificadas em dois tipos: a minagem ofensiva, e o bloqueio dos portos ou bases
inimigas por submarinos. Neste sentido, a NUM, segundo os autores, deve ser conduzida em
o Ministério da Marinha publica a primeira versão da DBM (BRASIL, 1979a). Ela incorpora
algumas ideias do trabalho dos Almirantes Flores e Vidigal, embora sofra uma grande
A DBM adota a expressão “Tarefa Básica do Poder Naval” para representar o que
Turner chamou de missão, e Flores e Vidigal designaram como “propósito estratégico”, isto é,
“tarefa” enseja, a princípio, uma postura extrovertida, pois vincula a MB com as demais
Esta primeira DBM, conforme visto anteriormente, foi redigida para atender à
31
demanda pela fixação de uma nova postura estratégica autônoma. Neste sentido, os seus
autores pretendiam preparar a Força para enfrentar situações impostas pelo ambiente político
do final da Guerra da Fria. Para fazer frente a possíveis evoluções da conjuntura internacional,
Marítima. Esta solução para designar tal tarefa atendia ao propósito apontado por Turner:
O CAM, nesta DBM, servia para atingir aos seguintes propósitos: prover áreas de
exploração e a explotação dos recursos do mar; e dificultar, ou impedir, que o inimigo execute
as atividades anteriores. Fica clara, nesta DBM, a opção pela adoção do CAM na defesa de
procedentes do mar. Efetivamente, esse controle é a mais eficiente defesa que pode ser
montada contra a projeção do poder inimigo através do mar” (BRASIL, 1979a, cap. 3, p.5).
conceitualmente dos preceitos estabelecidos por Turner, que entendia que a NUM era apenas
uma variação no grau de controle a ser exercido sobre determinada área, sendo, portanto uma
modalidade de CAM e não uma missão per se. Convém lembrar que, por outro lado, os
Almirantes Flores e Vidigal, consideravam a NUM como sendo uma tarefa distinta da de
USN. Assim como na Jeune École, a NUM seria mais importante para PN de menor
expressão, vindo daí a razão para que a DBM a elevasse ao nível de TBPN.
para fins militares ou econômicos”, ficando claro que para a defesa da costa, a negação do uso
do mar “ao inimigo constitui uma segurança inferior que o controle de área marítima fronteira
propósitos também são semelhantes: conquistar área estratégica para a condução da guerra
naval ou aérea; negar ao inimigo área capturada; apoiar operações em terra; e destruir, ou
Turner como sendo uma TBPN. No entanto, juntou seus preceitos com os da missão de
Contribuir para a Dissuasão Estratégica, com a ressalva de que, apesar deste tipo de TBPN
dissuasão naval clássica poderia ser concretizada pela “existência de um Poder Naval
adequado, que inspire credibilidade quanto ao seu emprego e que evidencie essa credibilidade
por atos de presença ou demonstração de força, quando e onde for oportuno”. Cabe registrar a
ambiguidade da doutrina que classificou o ataque com mísseis estratégicos nucleares, tanto
nicho operacional desenvolvido em função da Guerra Fria, que forçava uma primazia do
emprego dos submarinos com propulsão e armamentos nucleares, a primeira DBM foi
Guerra Fria, a MB, na época, focava o seu emprego nas ações antissubmarino. Neste sentido,
Uma diferença importante, no entanto, foi a de que a USN fez questão de realçar a relevância
forças. A MB, apesar de ter se espelhado no artigo de Turner, não teve a mesma preocupação.
2.4 Síntese
Este capítulo buscou identificar alguns conceitos básicos. Com base em Mahan
Com Corbett, o vínculo do PN com as ações em terra, assim como a proteção do litoral. Com
a Jeune École, uma forma de atuar própria para marinhas de menor envergadura que
doutrina da guerra costeira, descreveu-se a forma como importantes países têm pensado o
década de 1970, para identificar as razões que levaram ao estabelecimento de suas missões.
Identificou-se que uma importante razão consistia em valorizar o emprego de outras forças
navais, e não apenas a submarina, ampliando o espectro de opções de emprego das forças
político e estratégico que provocou o seu surgimento, será realizada uma análise da evolução
dessas tarefas no tempo. Esse exame será conduzido, inicialmente, pela identificação de novas
abordagens surgidas sobre o uso do mar pelas marinhas. A seguir, será efetuada uma
comparação das mudanças doutrinárias ocorridas, assim como das circunstâncias estratégicas,
tanto no caso brasileiro, como no dos EUA. As doutrinas marítimas do Reino Unido e de
Um desses teóricos foi o britânico Ken Booth, que, em 1977, escreveu o livro
Navies and Foreing Policy. O autor inicia o livro suscitando uma questão fundamental que,
segundo ele, deveria ser reiterada periodicamente: por que precisamos de uma marinha? E ele,
então, procura fornecer, ao longo do livro, uma resposta à pergunta, destacando o papel das
Booth inicia sua análise definindo o que ele denominou de “trindade das funções
navais”, que categoriza as formas como as marinhas empregam seus meios, sendo composta
por uma vertente militar, outra diplomática e uma última policial. Os limites entre as vertentes
não são claros, o que dificulta a categorização de certas ações navais, como, por exemplo, a
vertente policial implica, muitas vezes, o uso militar do PN. Segundo o autor, a escolha deste
36
tipo de categorização foi influenciada, dentre outros, pelo artigo Missions of the U.S.Navy16,
contribuem para um mesmo fim: o uso do mar. O mar seria, então, empregado pelas seguintes
naval para fins diplomáticos ou para o combate “no mar”, ou a partir “do mar”. A última diz
para atingir um destes objetivos, de acordo com a política externa do país, ou, inversamente,
A “trindade das funções navais” pode ser representada graficamente por meio de
um triângulo como o da FIG. 2 (ANEXO A). A base do triângulo é constituída pelo papel
militar, por ser ele a essência das marinhas. A capacidade de exercer, ou de ameaçar exercer,
internacional. Durante a guerra, as funções de projeção de força seriam: fazer frente a algum
desafio no mar; comandar área marítima; desafiar, ou impedir que o inimigo use o mar; usar o
mar para o transporte de tropa e suprimentos; usar o mar para projetar força em terra; e apoiar
prestígio que possibilita projetar uma imagem favorável do país (BOOTH, 1977, p. 17-24).
Booth destaca, nas funções de projeção de força que demandam ações mais
capacidades e os interesses a serem defendidos por cada país. Assim, quando se pretende usar
o mar a seu favor, as marinhas devem buscar o “domínio do mar”, e quando bastar opôr-se ao
seu uso pelo inimigo, opta-se pela “negação do uso do mar” (BOOTH, 1977, p. 24).
de emprego das marinhas são, segundo ele próprio, semelhantes às que levaram o Almirante
Turner a conceber as missões para a USN. A explicitação das funções ajudam a justificar a
própria existência das marinhas, facilitam a alocação de recursos e a otimização dos sistemas
de armas, além de “assegurar que os componentes de uma marinha foquem mais em seu
conjunto do que em alguma de suas partes” (BOOTH, 1977, p. 24, tradução nossa).
do Almirante Turner, consiste no fato de que ela não pretende ser universal. Segundo o autor,
esta gama de funções não estará ao alcance da maioria das marinhas, e ele prossegue:
Devido a limitações de vontade ou de recursos, a maior parte das marinhas terá que
restringir-se a exercer apenas algumas das funções aludidas, que poderão variar de
acordo com o fluxo e o refluxo do desenvolvimento nacional, dos acontecimentos
mundiais e assim sucessivamente (BOOTH, 1977, p. 25, tradução nossa).
missões das marinhas foi o britânico Eric Grove, que escreveu o livro The Future of Sea
Power, em 1990. Nele, ao projetar o futuro das marinhas, Grove partiu da trindade de Booth
para desenhar o seu primeiro “triângulo do uso do mar”, FIG. 3 do ANEXO A, fazendo
38
Grove manteve a função militar como a base do triângulo, por considerar, assim
como Booth, que esta é a razão de ser das marinhas. Dividiu esta função em três missões:
projeção de poder sobre terra, controle de área marítima e negação do uso do mar. Restringiu
estas missões a apenas três, por considerar: que a missão de deterrência estratégica se inseria
O autor, assim como Turner e Booth, destaca o papel central da missão de CAM.
Ela é um pré-requisito para a maioria das missões de PPT, excetuando-se aquelas cujos meios
de projeção possuam uma capacidade de “CAM inerente”, como são os casos dos submarinos
Booth e adota as denominações propostas por Sir James Cable17: mostrar bandeira e
diplomacia das canhoneiras. Para Booth, todas as missões da função diplomática não
envolveriam o uso da força, que permaneceria restrito à função militar. Segundo Cable, a
função diplomática, na missão de “diplomacia das canhoneiras”, pode abranger certo nível de
uso de força, como aquela necessária para induzir uma ação inimiga ou criar um fato
consumado. As missões sem uso de força seriam as de mostrar bandeira. Cabe registrar que
uma missão pode iniciar mostrando bandeira e evoluir para “diplomacia da canhoneira”
______________
17
O diplomata britânico Sir James Cable escreveu, em 1971, o livro intitulado “Gunboat diplomacy: political
applications of limited naval force” (CABLE, 1971). Neste livro, o autor estabelece que a diplomacia das
canhoneiras refere-se ao uso, ou ameaça de uso, de força naval limitada, não como um ato de guerra, e tem o
propósito de garantir vantagem, ou evitar perdas, seja na promoção de um litígio internacional ou contra
cidadãos estrangeiros em seu próprio estado. Estas ações poderiam ser de quatro tipos: força definitiva, que
provoca um fato consumado, como a liberação de prisioneiros ou de navios capturados; força proposital, que é
deliberadamente usada para alterar a postura de um governo; força catalítica, para emprego em situações de crise
onde as características do poder naval de mobilidade,flexibilidade e permanência, possibilitariam a regulação do
nível de força ou ameaça a ser empregada; e força expressiva, que é empregada para enfatizar atitudes ou
provocar reações favoráveis, sem a conotação explícita de ameaça como quando do emprego da força proposital
(CABLE, 1971, p. 21-65).
39
de Booth, ao substituir a função policial pela constabular18. As missões que a compõem são:
também já havia sido identificada por Booth: uma dada missão, ou operação naval, pode
abranger mais de uma função, ou, visto por outro ângulo, as funções seriam interdependentes.
centrados nos vértices do triângulo. Este segundo triângulo, mostrado na FIG. 3 do ANEXO
A, consegue representar melhor algumas situações reais. Cabe salientar que os diâmetros dos
círculos devem variar de marinha para marinha, de acordo com a importância que cada função
representa para seus respectivos países. Ao denominar estes círculos, a função diplomática
passou a ser “interesse nacional”, a constabular, “lei e ordem”, e a militar, “confronto Leste-
Oeste”. Esta última denominação deveu-se ao fato de o triângulo ter sido concebido sob o
Tendo sido realizada a análise constante no item 2.3 – A Primeira Doutrina Básica
indicavam que o Estado-Maior da Armada (EMA) estava cumprindo o que estava prescrito na
própria doutrina, naquilo que se refere a proceder atualizações periódicas de seu conteúdo de
sua primeira versão em 1979, apenas um pequeno ajuste foi realizado na tarefa de Contribuir
para a Dissuasão Estratégica, que na DBM de 1997 passou a ser designada como Contribuir
para a Dissuasão. Com exceção desta alteração, até mesmo os textos explicativos de cada uma
das TBPN sofreram poucas alterações textuais e, praticamente, nenhuma evolução conceitual.
A seguir serão apresentados, de forma resumida, outros aspectos de relevo identificados pelo
demais TBPN;
- um aspecto que quase não sofreu alteração, em todas as edições, foi o emprego
do mar”. Segundo as DBM, esse controle é a “mais eficiente defesa que poderá
ser articulada contra a projeção do poder inimigo por mar.” (BRASIL, 1979a,
qual, esta TBPN é, geralmente, a opção de emprego adotada pelos PN que não
vista da defesa [do litoral] contra a projeção de poder sobre terra, negar o uso do
nenhuma delas fez menção ao principal ponto destacado pelo Almirante Turner: a
artigo Missions of the US Navy (1974), do Almirante Turner. Conforme visto no item 2.2, este
texto possui uma importância crucial, pois foi nele que se divulgou o conceito de missões, ou
Tarefas Básicas, das marinhas. O último documento analisado foi o Naval Doctrine
Publication 1 – Naval Warfare, de 2010, que contém a doutrina naval em vigor na USN.
Neste período de quarenta anos, entre 1970 e 2010, a USN publicou um total de
41 documentos estratégicos e/ou doutrinários, sendo 38 até 2009 (ver FIG. 8) e mais dois em
2010. Dentre estes, um total de 13 promoveram alterações nas Tarefas Básicas da USN. A
sendo reduzida para três ou aumentada até 13. Ao todo, 29 diferentes missões
foram enunciadas;
estratégicas;
A missão de CAM (Sea Control) sempre ocupou um papel central e, muitas vezes,
documentos “... From the Sea” e “Foward ... from the Sea” marcaram um ponto de inflexão
no emprego da USN, que, com o fim da Guerra da Fria mudou sua postura baseada em
preceitos mahanianos de domínio do mar para uma abordagem como a de Corbett, que
apontado como uma missão que habilitava a ocorrência de todas as outras. Esta ideia pode ser
percebida ainda nos documentos mais recentes: “o Controle de Área Marítima é a base da
PPT foi bastante impulsionada a partir do fim da Guerra Fria. A USN buscaria se engajar mais
em problemas regionais buscando mitigar crises antes que elas se transformassem em guerras.
como uma instância do próprio CAM. Nos documentos mais recentes, desde o A Cooperative
Strategy for 21st Century Seapower, de 2007, até o Naval Operations Concept, e o Naval
Doctrine Publication 1 – Naval Warfare, ambos de 2010, o conceito de NUM foi expandido e
substituído pelo de “Antiaccess - Area Denial”19, também conhecido por A2/AD. Estes novos
conceitos abrangem o uso de sistemas diversificados de armas para impedir o acesso, pelo
ameaça terrorista sobre a doutrina marítima, sendo um bom exemplo da necessidade constante
de atualização das Tarefas Básicas, conforme previsto por Turner em seu artigo.
______________
19
O Naval Operations Concept estabelece que uma tarefa de antiacesso ocorre quando “um adversário visa
prevenir ou retardar a capacidade dos EUA e seus aliados de se aproximarem e acessarem o Teatro de
Operações, especialmente em áreas litorâneas, a partir do mar aberto” e a tarefa de negação de área ocorre
quando “um adversário visa a degradar ou negar a eficácia operacional ou a liberdade de ação dos EUA e seus
aliados dentro do Teatro de Operações, negando a capacidade dos EUA de conduzir operações no interior e em
vários domínios, ou a capacidade dos EUA de projetar poder sobre terra” (EUA, 2010b, p. 54, tradução nossa).
44
três TBPN coincidentes: CAM, PPT e Deterrência Estratégica. As doutrinas diferem apenas
na quarta tarefa: Presença Naval para a USN; e NUM na DBM. As semelhanças apontadas
DBM, menos flexível, não alterou suas TBPN no decorrer do período considerado; a doutrina
da USN, mais flexível, introduziu diversas alterações, conforme já havia sido identificado na
TAB. 1.
vigor na MB e na USN. Ele indica que a categorização adotada pela USN representa uma
fundamentais, são as seguintes: Presença Naval Avançada; Deterrência; CAM (Sea Control);
Maritime Doctrine substituiu o The Naval War Manual que continha a doutrina anterior. Nos
anos de 1999 e 2004, foram publicadas as segunda e terceira edições desta publicação, que
passaram a ser denominadas: British Maritime Doctrine (Reino Unido, 1995, 1999, 2004).
primeiro deles é que todas as edições são enfáticas em registrar que doutrina não é dogma, e
que ela precisa evoluir à medida que os fundamentos estratégicos que a embasam se alteram.
funções militares semelhante aos triângulos de Booth e Grove (FIG. 2 e 3), e que abrange
tarefas constabulares, benignas e militares, sendo que esta última se divide em CAM (Sea
interdependência necessária entre estas tarefas e funções, explicando que muitas missões
abrangem mais de uma função, podendo ser, por exemplo, ao mesmo tempo militar e
constabular. Neste sentido, a tarefa de CAM é pré-requisito para quase todas as demais tarefas
as descrições dos conceitos que as embasam evoluíram com o tempo, na busca de uma
adequação às mudanças estratégicas. Em todas as versões, a NUM não constitui uma tarefa
isolada, sendo considerada parte integrante da tarefa de CAM, da qual não pode se distinguir.
deterrência estratégica como parte da PPT, em posição diversa das funções elencadas pelo
Almirante Turner, que considerava estas duas atividades como sendo duas missões distintas.
denominação, que fazem referência aos triângulos dos estrategistas britânicos Booth e Grove
militar à comunidade civil; e assistência militar a outros países. Esta categorização adotada foi
criticada pelas demais FA britânicas pelo uso da palavra “benigna”, que leva ao entendimento
britânico pode ser vista no quadro da FIG. 9, apresentando as seguintes tarefas: Militar de
Após a análise da evolução das TBPN nas MB, USN e RMB, passou-se a
47
investigar as doutrinas navais dos seguintes países: África do Sul, Austrália, Canadá, Chile,
Coreia do Sul, Espanha, França, Índia, Portugal e Rússia. O estudo destes documentos
influência dos estrategistas navais britânicos – Ken Booth e Eric Grove – sobre a maior parte
das doutrinas estudadas. As Marinhas da África do Sul (FIG. 10), Austrália (FIG. 11), Canadá
(FIG. 12 e 14), Chile, Índia (FIG. 15) e Portugal (FIG. 16), além da própria RMB (FIG. 9),
adotam variações dos triângulos do uso do mar de Booth (FIG. 2) e Grove (FIG. 3).
também, o emprego da terminologia usada pelo Almirante Turner. Assim, as missões de PPT
e de CAM (Sea Control), são empregadas, respectivamente, por oito e sete das 10 marinhas
estudadas (excetuando-se nesta conta a MB, a USN e a RMB). A missão de Presença Naval e
a de Deterrência são empregadas por cinco marinhas. Cabe a ressalva, no entanto, que, dentre
os países que preveem a tarefa de deterrência, quatro (França, Índia, Reino Unido e Rússia)
demais tarefas e missões das marinhas, constatou-se que esta ideia está presente, de forma
explícita, nas doutrinas da RMB, Austrália e África do Sul, e de forma implícita nas demais.
Tarefa Básica, ou como conceito estratégico, possuindo, sempre, um vínculo estreito com o
desde as praticadas nos tempos de paz até aquelas de combate. Neste contexto, destacam-se as
como, por exemplo, pirataria, narcotráfico, poluição, resposta a crises e desastres, ações
doutrinas. As diferenças são, tanto de denominação apenas, quanto de seleção sobre quais
Espanhola possui apenas duas Tarefas Básicas, CAM e PPT, enquanto a Marinha Francesa
possui cinco funções, divididas em 19 tarefas, e a Marinha do Chile possui três funções e 34
Austrália, Canadá, Chile, Índia e Portugal possuem uma diagramação amigável e fotos e
gráficos bem elaborados, nos moldes dos documentos doutrinários da USN e da RMB.
3.5 Síntese
representadas na forma de “triângulos do uso do mar” (FIG. 2 e 3). Esta categorização serviria
para justificar a existência das marinhas, além de facilitar a alocação de recursos e assegurar
que seus integrantes foquem mais em seu conjunto do que em alguma de suas partes. Estas
funções, assim como suas tarefas e missões, seriam interdependentes entre si e não deveriam
ser fixas nem universais, ao contrário, elas deveriam adaptar-se ao perfil de cada marinha.
outros países revelaram, de imediato, que as TBPN não são universais, pois cada país as
adapta às suas demandas estratégicas. Cabe ressaltar, também, outros pontos de divergência:
(1974), após sua definição na primeira DBM (1979) elas não mais evoluíram, ao contrário do
representam uma parcela das atividades de combate realizadas pelas marinhas e, além disso,
Canadá) consideram a NUM como sendo uma TBPN, as demais doutrinas ou não a citam ou a
embutem no CAM. Outro ponto importante é o fato de as DBM não fazerem referência à
interdependência das tarefas e nem ao papel central do CAM em relação às demais TBPN, o
que contribuiu para a formação de nichos operacionais estanques, com sistemas de armas
dedicados a cada uma das TBPN, em vez de cogitar-se do uso complementar e integrado dos
aplicação atual pela MB e por diversas marinhas do mundo, este capítulo apresentará aspectos
conceito de Amazônia Azul e a identificação das demandas estratégicas para a sua proteção.
extenso litoral nacional desprovido de estradas ou outras linhas de comunicação que não as
marítimas. Pelo mar, também, floresceu a economia colonial nos sucessivos ciclos
interior do país, confirmando as fronteiras terrestres. Pesaram, também, os impactos das duas
Grandes Guerras e das crises do petróleo, nos anos 1970, sobre o comércio marítimo e a
estabelecimento da soberania sobre suas águas territoriais, de acordo com o previsto pela
Diversas são as riquezas que podem ser exploradas, tais como os recursos
marinhos vivos e não-vivos, a energia das ondas e das marés, e o uso do mar como fonte de
divisas originadas do lazer, esporte e turismo. Em todos estes aspectos, a geografia da costa
Uma das principais riquezas, que já é explorada nas AJB, mas que apresenta
Além das riquezas contidas ou obtidas a partir das AJB, um fator muito relevante
sob o aspecto econômico é o comércio marítimo que cruza estas águas. Cerca de 95% do
comércio internacional brasileiro se faz pelo mar. Cabe salientar que foi a importância
econômica deste tipo de comércio para todos os países que fez crescer, a partir da 2ªGM, a
demanda por este tipo de segurança, visando a reduzir a vulnerabilidade dos vetores do
comércio marítimo e proteger o meio ambiente (VIDIGAL et al., 2006, p. 30, 105, 239).
paralelo de referência com a região amazônica, permitiu salientar aspectos atinentes à sua
dimensão e riqueza. Sua associação visual com o mapa do Brasil possibilita identificar
claramente seus limites físicos21: a fronteira marítima do mar que nos pertence.
______________
21
O ANEXO B apresenta o mapa do Brasil com os limites da Amazônia Azul (FIG. 17).
52
Outro aspecto de relevo que aflorou neste processo foi a importância da vertente
soberania da Amazônia Azul, alertando-se para o fato de toda riqueza gerar cobiça e, via de
consequência, criar demandas estratégicas para a sua defesa. Portanto, cumpre destacar as
litoral; comércio exterior dependente de extensas LCM; e existência de ilhas oceânicas sem
história, um importante vetor de projeção sobre o território nacional, por onde ocorreu a maior
parte das ameaças à soberania e à integridade do país após sua independência (FIG. 18 -
Citando o General Meira Mattos: “O Brasil ocupa uma posição estratégica adicional
no Atlântico que é projetar-se nesse oceano em sua parte mais estreita [...] e ainda,
por possuir sua imensa costa voltada tanto para o Atlântico Norte quanto para o
Atlântico Sul; se as costas africanas caírem sob influência de forças inimigas,
crescerá ainda mais a importância estratégica da posição geográfica do Brasil.”.
Posteriormente, a autora conclui que “de todos os países banhados pelo Atlântico
Sul é o Brasil o que mais necessita de consciencioso desenvolvimento marítimo e
correspondente influência transatlântica para base de sua expansão econômica e
garantia de desafogada liberdade de movimento no seu tráfego através dos mares
(CASTRO, 1996, p. 15-16, 42-43).
estratégicos para a defesa do território nacional: a Amazônia e o Atlântico Sul 22. Com relação
a esta orientação, cabe salientar que o PN brasileiro, apesar da clara precedência que confere à
______________
22
A PDN estabelece em sua orientação estratégica nº 6.12 que “Em virtude da importância estratégica e da
riqueza que abrigam, a Amazônia brasileira e o Atlântico Sul são áreas prioritárias para a Defesa Nacional” e na
de nº 6.14 que “No Atlântico Sul, é necessário que o País disponha de meios com capacidade de exercer a
vigilância e a defesa das águas jurisdicionais brasileiras, bem como manter a segurança das linhas de
comunicações marítimas” (BRASIL, 2005, p. 6).
53
sua participação no Atlântico Sul, tem sido empregado, e cumprido tarefas, na região
amazônica desde o ano de 1728, quando da criação da Divisão Naval do Norte, sediada em
Pode-se depreender que, para a MB, a proteção das AJB merece atenção
Atlântico Sul, ainda que além das AJB, e na região amazônica. Além disso, o estabelecimento
explotação de seus recursos marinhos, aliado ao fato de que as marinhas do mundo têm
estratégicas para a defesa da Amazônia Azul podem ser divididas em dois grupos: paz e
guerra. Esta distinção, no entanto, não deve ensejar uma bifurcação operacional, pois na
54
realidade deve ser compreendida como um continuum23 entre as ações na paz e na guerra.
(ou policiais) e diplomáticas, dentro do conceito desenhado por Booth e Grove (FIG. 2 e 3).
Cabe salientar a complementaridade existente entre as funções de paz e de guerra, pois são
executadas, em parte, pelos mesmos meios, além de contribuírem, em alguns casos, para o
adestramento e prontificação dos meios navais (VIDIGAL et al., 2006, p. 282). Esta
Autoridade Marítima25, com o propósito de garantir a presença do Estado nas AJB, seja para
confirmar sua soberania neste espaço do território, seja para garantir o cumprimento de leis e
ampla gama de tarefas constabulares, que o Almirante Vidigal (2006, p. 268-269) designava
de “emprego político do poder militar”, e que o Almirante Moura Neto (2010, p. 455-456)
soberania nacional nas AJB; e segurança da área marítima contra o tráfego não autorizado.
______________
23
Um continuun é uma “série longa de elementos numa determinada sequência, em que cada um difere
minimamente do elemento subsequente” (HOUAISS; VILLAR; 2009). Este conceito é aplicado na doutrina
marítima para representar que as TBPN são interconectadas, formando um todo indissociável (KEARSLEY,
1992, p. 189).
24
Para efeitos deste trabalho, prefere-se a expressão constabular à policial, pois evita-se a associação deste tipo
de atividade com as executadas por forças policiais federais ou estaduais.
25
A Lei Complementar nº 117/2004, em seu artigo 17, designa o Comandante da Marinha como “Autoridade
Marítima” e estabelece que é de sua competência o trato das seguintes atribuições subsidiárias da MB: “orientar
e controlar a Marinha Mercante e suas atividades correlatas, no que interessa à defesa nacional; prover a
segurança da navegação aquaviária; contribuir para a formulação e a condução de políticas nacionais que digam
respeito ao mar; e implementar e fiscalizar o cumprimento de leis e regulamentos, no mar e nas águas interiores,
em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, federal ou estadual, quando se fizer necessário, em
razões de competências específicas” (VIDIGAL et al., 2006, p. 279-280).
26
Para efeitos deste trabalho, o termo “novas ameaças” engloba o terrorismo, o narcotráfico, o contrabando, a
pirataria no mar e o tráfico de pessoas e armas (MOURA NETO, 2010, p. 453).
55
citado, de “emprego político do poder militar” (2006, p. 268), dentre as quais destacam-se:
fazer-se presente em portos amigos; exercer ação de presença nas AJB; impor sanções e
Outro aspecto importante é o fato de que existe, nos dias atuais, uma demanda,
imposição da lei no mar, para o combate ao narcotráfico e à pirataria. Estas atividades podem
ser conduzidas fora das AJB, constituindo, neste caso, um exemplo de tarefa ao mesmo tempo
Brasil” a negação do uso do mar “a qualquer concentração de forças inimigas que se aproxime
do Brasil por via marítima” (BRASIL, 2008, p. 12). Para efeitos deste estudo, esta priorização
será observada nos seus termos mais amplos, vislumbrando o emprego combativo do Poder
Militar para negar o acesso através do Atlântico Sul de forças inimigas que ameacem a costa
brasileira. Assim, negar o acesso é uma tarefa mais ampla que Negar o Uso do Mar.
Neste sentido, a proteção das AJB apresenta demandas estratégicas que envolvem
uma considerável variedade de sistemas de armas, que devem ser integrados de forma a
complementar seus efeitos bélicos. Esta proteção inicia-se, em tempos de paz, com atividades
vetores submarinos, de superfície, aéreos ou anfíbios. O conjunto destas atividades deve ter
56
seu emprego planejado para ocorrer de forma escalonada em linhas de defesa, aproximada ou
afastada, principalmente nas Áreas Vital e Primária27 (MOURA NETO, 2010, p. 458-461).
No interior das AJB, a patrulha naval deverá responder pela dupla demanda de
fazer o Estado presente, nos tempos de paz, e de constituir uma última linha de proteção, pois,
o inimigo deve ser detido, ou dissuadido, o mais longe possível da costa brasileira. Estas
tráfego marítimo. Esta é outra tarefa que se inicia em tempos de paz, envolvendo tanto ações
diplomáticas quanto constabulares, mas que encontra nas ações de combate a instância
Por fim, o PN deve, ainda, contribuir para as ações de guerra na região amazônica.
Trata-se de prioridade estabelecida na PDN e na END e que encontra nos meios navais um
4.3 Síntese
as demandas estratégicas para a sua proteção, ressaltando que as tarefas envolvidas neste
processo representam um continuum, que se inicia nos tempos de paz e estende-se à guerra.
ser exercidas tanto no interior das AJB quanto no oceano aberto e na região amazônica.
______________
27
As áreas marítimas estratégicas de maior importância para o Poder Naval brasileiro são: Área Vital (Amazônia
Azul); Área Primária (Atlântico Sul); Área Secundária (Mar do Caribe e Pacífico Sul Oriental); e Demais Áreas
do Globo (MOURA NETO, 2010, p. 461).
5 O PODER NAVAL – PERSPECTIVAS
Nos capítulos anteriores, foram analisados a origem e o emprego atual das TBPN,
demandas estratégicas para a proteção da Amazônia Azul. Neste capítulo, serão analisadas as
estratégico com vistas ao emprego do PN no século XXI, destaca-se a visão concebida pelo
comércio marítimo, sobre a forma de atuação das forças navais. A crescente interdependência
econômica entre os países, aliada aos custos dos fretes e às vulnerabilidades do ambiente
marinho, tornaram ainda mais importante a segurança marítima. Esta segurança é necessária
para possibilitar o uso do mar. Segundo esse autor, o homem usa o mar como: fonte de
Esta forte tendência mundial fez com que o Geoffrey Till identificasse dois tipos
as marinhas aos tipos de Estados hoje existentes, que, de acordo com a forma como lidam
defesa do Estado e de sua soberania, por meio de grandes conflitos no mar contra o PN ou
Marítimo de outros Estados. Deverá haver um contínuo e crescente foco nas operações no
58
litoral. Este classe de marinha possuirá as seguintes TBPN: Deterrência Nuclear; Controle
de Área Marítima, nos moldes tradicionais com ênfase no enfrentamento entre esquadras;
arranjos bilaterais do que soluções de cooperação global e multilateral (TILL, 2009, p. 14-16).
mundial, pois, sendo este um dos pilares da globalização, garantiriam, assim, a paz e a
estabilidade global. Desta forma, os pós-modernistas buscam preparar suas marinhas para a
execução de uma gama mais ampla de tarefas diplomáticas e constabulares: ações de ajuda
cooperação no mar.
marítimo, conforme já apontado no item 2.1.1, já havia sido prevista por Mahan ao final do
século XIX, quando ele sugeriu a formação de “consórcios navais” transnacionais (SUMIDA,
1997, p. 107-109). No entanto, após o fim da Guerra Fria, com a redução da ênfase dada ao
combate no mar, pela falta, talvez, dos antigos e claros antagonismos, este conceito passou a
ocupar lugar de destaque crescente nas agendas das principais marinhas. A USN em
particular, conforme visto no item 3.3 e no APÊNDICE C, tem feito alusão a esta atividade
detrimento da capacidade combativa das marinhas, que confiariam esta atividade à própria
mais próximas ao litoral, contra as “novas ameaças” e em proveito de um mar mais seguro
manutenção da boa ordem a partir do mar, que se distinguem das tradicionais PPT por serem
mais politizadas e por terem o propósito de proteger o sistema de comércio marítimo atuando
em ameaças localizadas em terra; Manutenção da Boa Ordem no Mar, por meio de tarefas
Consenso Marítimo, cooperação para a segurança marítima internacional articulada por meio
distribuição de seus Poderes Navais entre os dois polos de referência para fazer frente a uma
será dependerá de condicionantes, como aqueles descritos por Mahan (item 2.1.1):
população. Importará, também, o fato de o país dispor de guarda costeira, ou se sua marinha
acumula tais funções. Algumas marinhas já vêm adotando este modelo balanceado, como é o
caso de Portugal, com a sua “Marinha de Duplo Uso” (PORTUGAL, 2010a; 2010b;
relação à terra e a crescente influência recíproca entre os dois domínios. Ressalta, ainda, o
60
marítimo internacional.
aos Estados “um continuum de orientações náuticas interconectadas que servissem para lidar
com todos os aspectos políticos de seus interesses marítimos” (KEARSLEY, 1992, p. 189,
tradução nossa). A exemplo das missões interdependentes concebidas pelo Almirante Turner
(FIG. 1), a ideia de um continuum de tarefas interconectadas visava a salientar que nenhuma
TBPN pode ser executada isoladamente. Assim, Kearsley dispôs sua concepção de TBPN em
para tornar claro que, partindo-se dos meios navais disponíveis em uma determinada marinha
de Domínio, que visa a preservar a soberania e a boa ordem nas águas jurisdicionais dos
países, tenderá a ser uma das principais TBPN para todas as marinhas. A Presença Marítima
complementará os efeitos psicológicos das duas anteriores, sendo empregada tanto interna
atividades cada vez mais variadas. A Deterrência Náutica será respaldada pela clara
sinalização dos Estados com relação à vontade e motivação para executar as demais tarefas. A
emprego de força, normalmente adotada por Poderes Navais mais fracos contra oponentes
elevados apesar da desproporção de forças. Por fim, a Projeção de Poder Naval terá um
emprego ainda maior, pois, além das tradicionais projeções ofensivas, passará a haver uma
econômico) em outros litorais. Este caráter de coerção por meio da projeção indica que esta
continuum preconizado.
uma terceira, não conflitante com as anteriores, mas que se mostra particularmente apropriada
à adoção por países que possuam a demanda estratégica de proteção do seu litoral de ameaças
pelo mar. Estes casos indicam a necessidade de projetar estratégias antiacesso, que são, em
A USN está estudando o assunto em suas duas vertentes: defesa e ataque. A forma
ameaças pelo mar (Homeland Defense) (EUA, 2007a). Por sua vez, a vertente de ataque,
prevê ações ofensivas de “entrada forçada”29, como forma de garantir acesso operacional em
eficácia operacional, ou a liberdade de ação, do inimigo dentro do teatro (EUA, 2011a, p. 12).
capacidades de negação de área são: forças navais, aéreas e terrestres integradas; sistemas de
defesa antiaérea; mísseis antinavio de médio e curto alcance, lançados do ar, mar ou terra;
em camadas (ANEXO D). Nota-se que a camada mais distante, a que primeiro interfere com o
inimigo, é aquela relacionada aos sistemas cibernéticos e espaciais. Na realidade, esta camada
ultrapassa as três dimensões convencionais (Mar, Terra e Ar), pois atua em uma quarta
______________
30
O conceito de armas combinadas busca maximizar o poder de combate por meio da completa integração das
armas, de modo que quando o inimigo tente reagir aos efeitos de uma delas, ele se torne mais vulnerável à outra.
Visa-se a confrontar o inimigo não apenas com um problema, mas com um dilema de difícil decisão (EUA,
1997, p. 93).
31
Segundo o Almirante Reis o termo outerspace poderia ser traduzido como “espaço cósmico”, mas esta
expressão “não revela os meandros do termo” que foi incorporado pelo tratado de 1967 (Outerspace Treaty) e
cujas atividades “têm dado margem a uma série de avanços” tecnológicos de uso civil e militar (REIS, 2010, p.
45).
63
de armas, combinando a geografia de sua costa e o alcance e efeito das armas dos meios
navais, aéreos e terrestres disponíveis, para que, à medida que o adversário se aproximar do
núcleo, a resistência ao seu avanço se torne maior. Os mísseis antinavio e antiaéreo (lançados
2000, p. 290).
desenvolvido estratégias A2/AD fez com que se desenvolvesse, nos EUA, o conceito AirSea
Battle, que prevê o uso integrado da USN e da Força Aérea Norte-Americana (VEGO, 2011).
Para viabilizar este estudo, considerou-se a hipótese de que suas FA tenham que executar uma
operação de “entrada forçada” na China (TOL et al, 2010, p. 17-48). Neste contexto,
21 (ANEXO D).
5.4 Síntese
definindo três tendências: o balanceamento das marinhas entre tarefas de segurança marítima
frente às atividades cada vez mais variadas e numerosas que se impõem às marinhas; e o
emprego do conceito de A2/AD para a defesa de costa. No próximo capítulo serão avaliadas
atual das TBPN pela MB e pelas principais marinhas do mundo, a identificação das demandas
estratégicas da Amazônia Azul e a análise das tendências futuras para o emprego dos PN.
doutrina em vigor, são adequadas para atender às demandas estratégicas identificadas e, se for
o caso, se deverão ser formuladas as atualizações das TBPN para que capacitem o PN
necessário mudar as atuais TBPN para proteger a Amazônia Azul no século XXI?
Geoffrey Till, “as circunstâncias estão sempre mudando, o que significa que a doutrina
precisa ser versátil e adaptável e tem que ser constantemente revista e desenvolvida” (TILL,
2009, p. 47, tradução nossa). Mahan, Corbett, Turner e a doutrina marítima da RMB também
frisam a importância desta atualização. Conforme visto (itens 2.2 e 2.3 e QUADRO 1), as
TBPN da MB, quando de sua formulação, na DBM de 1979, guardavam uma considerável
semelhança com as missões da USN, formuladas pela primeira vez em 1974. Embora as
primeiras três versões da DBM contenham um item que recomendava, explicitamente, sua
65
atualização periódica, o seu texto pouco se alterou, e as TBPN, em particular, não sofreram
modificações até hoje. Neste mesmo período, as missões da USN já foram alteradas 13 vezes.
Duas principais razões poderiam ter contribuído para este imobilismo doutrinário: a não-
estratégicas.
Ora, a virada do século foi marcada, para a MB, pela retomada da mentalidade
processo veio conferir uma identidade estratégica a uma Marinha que, recentemente (década
de 1970), havia se tornado independente dos ditames operacionais, com ênfase na guerra
Por outro lado, o estudo realizado nos capítulos 4 e 5 indica que as TBPN não
possuem um caráter universal e que cada marinha busca adaptar as duas principais fontes de
referência neste assunto – as missões da USN concebidas pelo Almirante Turner e o triângulo
Outro fator favorável à atualização das TBPN diz respeito à interdependência das
TBPN. Cabe relembrar que uma das principais razões que levou o Almirante Turner a
conceber as missões da USN foi a atrofia operacional de parcela das forças navais norte-
Deterrência Estratégica. Foi com o intuito de destacar a importância das demais forças navais
com setas superpostas (FIG. 1). Buscava, assim, indicar que as missões eram igualmente
importantes e que elas deveriam interagir entre si de forma complementar. Na MB, a ideia da
66
interdependência não foi transposta para a DBM. Embora a leitura de todas as versões da
doutrina permita subentender que os efeitos desejados das TBPN são complementares, este
conceito não foi acolhido. Ao contrário, com o passar do tempo, formaram-se nichos
operacionais relacionados a cada uma das TBPN (CAM e navios aeródromos e de superfície;
NUM e submarinos; e PPT e fuzileiros navais), devido a uma interpretação segundo a qual as
tarefas são estanques e são cumpridas por meios navais dedicados. Este conceito de
interdependência das TBPN também está inserido nas teorias de Booth e Grove, e na doutrina
marítima da RMB e de outras marinhas, como as da África do Sul, Austrália, Canadá, Chile,
Índia e Portugal.
Outro aspecto relevante diz respeito ao fato de que a prioridade atribuída à defesa
da região amazônica, tanto na PDN quanto na END, não está devidamente respaldada pela
DBM, que apenas prevê a atuação da MB nesta região por meio da execução de Operações
interessante caracterizar este tipo de emprego tão específico, em termos de meios navais e
outputs, como as TBPN, serve não apenas para padronizar a doutrina para o público interno,
mas também para justificar, junto ao governo e à população em geral, o emprego das
marinhas.
A análise destes fatos, tantos os passados quanto os atuais, indica que já haveria
motivo suficiente para alguma atualização das TBPN. Passa-se agora, no entanto, a observar
(capítulo 5).
permite categorizar a MB como uma Marinha Moderna, pois suas TBPN enfatizam o
no mar), sem, no entanto, denominá-las de TBPN, como sugere Geoffrey Till e como é o caso
nas demais marinhas estudadas. Segundo este autor, haverá uma tendência a aumentar a
de tarefas interdependentes que formam um continuum. Este conjunto abrange, além das
tarefas concebidas pelo Almirante Turner (CAM, PPT, Presença Naval e Deterrência
Estas TBPN englobam um amplo espectro que inclui tarefas de combate, diplomáticas e
Além destes indícios de que a MB precisa atualizar suas TBPN para adaptar-se às
demandas do futuro, vale salientar que esta necessidade de mudança tem sido apontada por
Marítima (FIG. 5 – ANEXO A). O Almirante Öberg (2010), por sua vez, buscou salientar a
nos dois triângulos do uso do mar de Grove (FIG. 3 – ANEXO A), com a seguinte alteração:
68
Por fim, pode-se concluir que existe motivação suficiente para uma atualização
das TBPN. Assim, o próximo item formulará um novo conjunto de Tarefas Básicas que
Com relação à defesa das AJB, este trabalho baseou-se na prioridade estabelecida
pela END para a MB, de “negar o uso do mar a qualquer concentração de forças inimigas que
se aproxime do Brasil por via marítima” (BRASIL, 2008, p. 12). Esta tarefa estratégica foi
compreendida em termos amplos, extrapolando a mera execução da TBPN de NUM, pois para
marítima do Brasil” (BRASIL, 2008, p. 12), precisa ser planejado um conjunto de outras
atividades.
Além disto, esta estratégia de defesa marítima deve estar alinhada com as
A2/AD. Assim, deve espelhar o que alguns estrategistas têm denominado de estratégia
costa. Este conceito se alinha e amplia o de defesa aproximada, afastada e aleatória (MOURA
mestra para a formulação de um novo conjunto de TBPN para a MB. Neste processo, as atuais
TBPN serão validadas, ou alteradas, ou, ainda, se for o caso, novas tarefas serão formuladas.
amplo, mas deve ter seu foco voltado para o entorno estratégico brasileiro, e, particularmente,
para a Área Primária33. Neste espaço, que abrange os países lindeiros ao Atlântico Sul, aí
com marinhas amigas. A construção de parcerias é um processo lento, que envolve atividades
ensino.
______________
32
A FIG. 22 do ANEXO D apresenta um esboço gráfico e teórico de um sistema de defesa em camadas do litoral
brasileiro. Este diagrama, fora de escala, pretende apenas exemplificar graficamente a sucessão de camadas
defensivas necessárias a uma estratégia de A2/AD.
33
A Área Primária, uma área marítima estratégica para a MB, “é a região abrangida pelo Atlântico Sul, onde o
esforço da Marinha é fundamental, por envolver questões essenciais de interesse nacional” (MOURA NETO,
2010, p. 461). O Atlântico Sul que caracteriza a Área Primária abrange, conforme definido anteriormente, os
países lindeiros a este oceano, tanto os da margem leste da América do Sul, quanto os da margem oeste da
África.
70
países da Área Primária. Neste contexto, o emprego do Conjugado Anfíbio34 representa uma
versatilidade e permanência dos Fuzileiros Navais e dos navios anfíbios podem contribuir
A escolha deste título para esta TBPN prende-se a algumas razões. Esta atividade
compreendida na MB. Diversas marinhas estudadas (África do Sul, Austrália, Canadá, EUA,
Índia, Portugal e Rússia) empregam esta denominação. Além disto, trata-se de uma das
materializa a quarta dimensão estratégica, a ser ativada desde os tempos de paz, e que deve
marítima35.
que o PN brasileiro exerça controle e influencie eventos neste ambiente. Em termos de defesa
mais afastado possível do litoral brasileiro, confere profundidade a todo o sistema defensivo.
______________
34
Segundo o Glossário das FA, o Conjugado Anfíbio é o “Conjunto de meios navais, aeronavais e de fuzileiros
navais prontos para cumprir missões relacionadas à projeção do poder sobre terra” (BRASIL, 2007b, p.64).
35
O conceito de consciência situacional marítima está vinculado ao de maritime domain awareness (MDA), que,
segundo o Naval Operations Concept: Implementing The Maritime Strategy, pode ser compreendido como “o
entendimento eficaz de qualquer coisa associada ao domínio marítimo que possa impactar a defesa, a segurança,
a economia, ou o ambiente estratégico de uma nação” (EUA, 2010b, p. 15, tradução nossa).
71
2011), com a ressalva de que seu alcance deve ser ampliado, pois tudo o que ocorrer na Área
arquitetura deste sistema deve possibilitar a execução completa do ciclo de obtenção, análise
interesses no Atlântico Sul. Para viabilizar essa interação com outros países, torna-se
necessário construir um elo de confiança mútua com eles, o que deve ocorrer por meio das
domínio desta dimensão estratégica possibilita, ainda, o emprego ofensivo, buscando degradar
forças, armas e equipamentos. Nas palavras do Almirante Reis (2010, p. 61) “a Amazônia
Azul requer muito da Quarta Dimensão Estratégica para ser conservada como patrimônio da
sociedade brasileira”.
Básica de Negação do Uso do Mar. No futuro, talvez os demais sistemas de armas possam
O estudo realizado, tanto dos conceitos básicos quanto das teorias dos principais
países, indica que a NUM é indissociável do CAM, sendo, apenas, uma tarefa na qual se
Operações onde não se pretenda, ou não se necessite, obter seu pleno controle. Além disto, a
análise da evolução da Jeune École, onde se encontra a raiz da NUM, denuncia o risco que a
ênfase na construção de meios navais dedicados a este fim representa para o necessário
balanceamento do PN.
razão pela qual optou-se por conservá-la como uma TBPN válida para o século XXI.
espectro de ações que contribuem para a NUM e, no sentido inverso, que podem ser
complementados por ela. Assim a NUM pode contribuir para o CAM e para a PPT, e vice-
Neste contexto, insere-se o emprego de forças anfíbias para negar o uso de ilhas
oceânicas como bases para forças navais adversas. Esta ação já se encontra prevista na DBM
em vigor (2004, cap. 3, p. 4): “Para a consecução dessa tarefa [NUM], deve-se visar à
destruição ou neutralização das forças navais inimigas e o ataque [...] aos pontos de apoio”.
camada deve ser centrada, e envolver duas áreas do litoral brasileiro: a faixa que vai de Santos
a Vitória e a área em torno da foz do rio Amazonas. Estas áreas foram definidas pela END
73
(BRASIL, 2008, p. 12). Formam-se aí, então, duas camadas não concêntricas36 e de mesmo
nível de proteção, centradas nestas áreas e com alcance coerente com os sistemas de armas
com mísseis, munições guiadas e aeronaves de ataque, alguns dos quais baseados em terra.
Forças anfíbias poderiam ser empregadas para obter o controle de ilhas oceânicas ou para “a
conquista de áreas terrestres que controlam áreas de trânsito ou onde estão localizadas as
bases inimigas” (BRASIL, 2004, cap. 3, p. 3). Na prática, existe a previsão apenas de
emprego de meios navais e de aeronaves da Força Aérea Brasileira para vigilância (BRASIL,
2008). Os meios navais exerceriam o Controle de Área Marítima, uma ação mais positiva e
para a proteção do litoral brasileiro foi destacada em termos praticamente idênticos àqueles
Um ponto que merece destaque com relação ao CAM consiste no fato de que a
pesquisa realizada nas doutrinas de outras marinhas, assim como nas teorias dos principais
pensadores da guerra do mar, indica o papel central desta TBPN em relação às demais. Apesar
de o CAM não ser um fim em si mesmo, ele constitui uma ferramenta flexível, em relação ao
consecução das outras TBPN e de outras atividades de interesse do PN. Da mesma forma, no
conceito da interdependência das Tarefas Básicas, o CAM pode contribuir para a PPT e para a
______________
36
Para uma melhor compreensão da disposição desta camada, ver a FIG. 22, do ANEXO D.
74
NUM. Além disto, cabe ressaltar o fato de que os meios navais, aeronavais e de fuzileiros
marinhas investigadas, apenas quatro (África do Sul, Austrália, Brasil e Canadá) colocam a
NUM como uma tarefa ou missão apartada do CAM. Todas as outras marinhas, assim como
os estrategistas consultados, não se referem à NUM como uma TBPN, pois apenas a
consideram como parte integrante do CAM, ou como o efeito negativo e inverso deste
controle.
defesa de costa (BRASIL, 2009, p. I – 1.3.12 - 1). No entanto, neste plano, a finalidade desta
prática, as ações defensivas nesta camada seriam cumpridas pelos navios distritais que atuam
Conjugado Anfíbio permite que ele contribua para outras TBPN, em consonância com o
caráter de interdependência destas tarefas. Sua vertente mais combativa pode ser explorada
75
Por outro lado, forças anfíbias expedicionárias têm sido, cada vez mais, projetadas
em terra para mitigar crises, para engajar-se em problemas regionais, aliviar os efeitos de
Tarefas Básicas, estes casos exemplificam a relação existente entre a PPT e ações
constituindo uma peça central, tanto para as marinhas de perfil moderno quanto para as de
presença do Poder Naval no Atlântico Sul, seus contornos e ilhas oceânicas” (MONTEIRO,
2010a, p.31).
Dissuasão. Esta TBPN surgiu na MB por ocasião da primeira DBM (1979a), quando possuía a
mísseis nucleares. Apesar da nomenclatura e deste vínculo conceitual com as armas nucleares,
a doutrina de então explicava a existência de uma “dissuasão naval clássica”, que poderia ser
concretizada pela “existência de um Poder Naval adequado, que inspire credibilidade quanto
expressão “estratégica”. Na edição da DBM de 2004, foi acrescentado o conceito que vincula
______________
37
Segundo a DBM, o CAM envolve a execução de operações que visem, dentre outros objetivos, ao “ataque às
forças inimigas em suas bases e a conquista de áreas terrestres que controlam áreas de trânsito ou onde estão
localizadas as bases inimigas” como as ilhas oceânicas do Atlântico Sul. Para a consecução da tarefa de NUM,
por sua vez, deve-se visar "a destruição ou neutralização das forças navais inimigas” e o ataque aos seus “pontos
de apoio”. Em ambas as TBPN, esses objetivos podem ser alcançados com a contribuição da PPT, seja com
bombardeio naval, bombardeio aeronaval, ou operações anfíbias (BRASIL, 2004, cap. 3, p. 3-4).
76
esta Tarefa Básica às outras três, indicando que ela é o resultado da capacidade de se
concretizar o CAM, a PPT e a NUM. Desta forma, ela consiste, na verdade, em um efeito
Além da falta de objetividade desta TBPN, tão necessária para uma adequada
tradução em atividades operacionais ou táticas a serem executadas pelas forças navais, ela é
como uma TBPN, vez que seu conceito e seu efeito desejado são abrangidos, e atendidos, em
Azul. No entanto, também há influências indiretas. As AJB que precisam ser protegidas em
sua totalidade incluem, dentre outros, o estratégico ambiente ribeirinho da região amazônica,
que consiste em área de alta prioridade para a defesa nacional, segundo a PDN e a END.
Apesar da importância destacada nestes documentos, a DBM não reserva nenhuma categoria
de TBPN para atender a esta demanda. Cabe relembrar que a razão de ser das Tarefas Básicas,
desde sua concepção pelo Almirante Turner, é o intuito de organizar as atividades executadas
pelo PN em termos de output, isto é, de produtos que devam atender às demandas estratégicas
brasileiro atua nesta região há muito tempo. Cabe frisar que o conjunto de operações e ações
______________
38
A estratégia da Dissuasão, segundo a Doutrina Militar de Defesa, caracteriza-se “pela manutenção de forças
militares suficientemente poderosas e prontas para emprego imediato, capazes de desencorajar qualquer agressão
militar” (BRASIL, 2007c, p. 98). A dissuasão, sendo um efeito desejado a ser alcançado pelo desencorajamento
do agressor, pode ser conquistada, em melhores condições, pelo Poder Militar como um todo, mais do que pelas
suas partes isoladamente.
77
Área Ribeirinha.
Ribeirinhas realizadas nos baixos e médios cursos dos rios. Estas operações, segundo a DBM,
são realizadas com o propósito de “obter e manter o controle de parte ou de toda uma Área
Ribeirinha (ARib), ou para negá-la ao inimigo” (BRASIL, 2004, cap.5, p. 2), podendo,
3). Como já prevê a própria doutrina, esta TBPN representaria a fusão das tarefas de CAM,
militar, as marinhas serão cada vez mais instadas a exercer outras funções, de caráter
ou em apoio à política externa nacional. Esta crescente demanda por este tipo de emprego do
constituindo uma Tarefa Básica específica, que pretende canalizar esforços, normatizar
quatro das cinco razões para o uso do mar. O homem se vale do mar para obter recursos,
Dentre estas razões, apenas o exercício do domínio demanda ações combativas, as demais se
______________
39
A DBM define Área Ribeirinha como “a área interior compreendendo hidrovia fluvial ou lacustre e terreno,
caracterizada por linhas de comunicações terrestres limitadas e pela existência de extensa superfície hídrica ou
rede de hidrovias interiores, que servem como via de penetração estratégica ou rotas essenciais ou principais para
o transporte de superfície” (BRASIL, 2004, cap. 5, p. 2).
78
valem de ações que visam, apenas, a preservar o meio marítimo e garantir sua segurança.
conjunto destas atividades, não relacionadas à defesa do mar, mas que teriam que ser geridas
pela MB (VIDIGAL, et al., 2006, p. 273). O Almirante Moura Neto (2010, p. 454)
O Almirante Monteiro (2010b), por sua vez, seguiu a direção sinalizada pelo
Almirante Moura Neto e sugeriu transformar este conjunto em uma nova TBPN, denominada
marinhas como a da África do Sul, Austrália, Chile, EUA, Índia, Portugal e Reino Unido.
Uma capacidade efetiva de atender a esta nova TBPN, além de contribuir para o
condições para melhor se projetar no Atlântico Sul” (VIDIGAL, et al., 2006, p. 292).
revelou a preocupação de todas elas em apresentar sua doutrina marítima em publicações com
edições apuradas, bem acabadas e com diagramações amigáveis. Este procedimento contribui
para transmitir, tanto para seu público interno quanto para o externo, a mensagem de que o
documento apresentado está sendo mantido atualizado e compatível com as novas demandas
6.3 – Síntese
Por fim, encerrando este capítulo, e a pesquisa como um todo, pode-se afirmar
que as atuais TBPN não são adequadas para a proteção da Amazônia Azul no século XXI.
79
Esta afirmação repousa sobre a constatação de que esta proteção demanda, pelas razões
apresentadas, a revisão dos conceitos que conformam as atuais TBPN, e a criação de novas
TBPN. A nova taxonomia sugerida pretende espelhar, em sua plenitude, toda a capacidade e
que foi especificado com o intuito de atender, em melhores condições, às múltiplas demandas
produto final: Tarefas Básicas do Poder Naval para a proteção da Amazônia Azul.
QUADRO 4
.. Segurança Marítima
oferecidas pelo mar. As perspectivas para o século XXI indicam que sua importância tende a
considerações também são válidas para o Brasil. Com uma história marcadamente marítima, o
país tem seu futuro ligado ao mar. Neste contexto, as AJB possuem enorme potencial
e segurança.
adequabilidade das atuais TBPN para a proteção da Amazônia Azul no século XXI,
O estudo realizado com este intuito foi sendo construído por blocos que se
sobrepuseram e se complementaram, para que, ao final, se pudesse ter base suficiente para
limitada, guerra de corso e guerra costeira. Ainda neste capítulo, investigou-se a origem das
TBPN. Surgidas em 1974, no artigo do Almirante Turner, intitulado Missions of the Navy,
estas tarefas visavam a destacar o papel e a importância de todas as forças navais norte-
americanas. Naquela época de Guerra Fria, havia uma primazia das Forças de Submarinos que
executavam a Deterrência Estratégica. A MB, por sua vez, na mesma época, após a denúncia
missões da USN.
doutrinas marítimas das marinhas dos seguintes países: África do Sul, Austrália, Canadá,
Chile, Coreia do Sul, Espanha, França, Índia, Portugal, Reino Unido e Rússia. Outro prisma
empregado foi o dos autores britânicos Ken Booth e Eric Grove. A análise efetuada apontou,
de imediato, que nenhum país adotava o mesmo grupo de TBPN da MB. Havia certa
britânica, cujas doutrinas baseavam-se nos triângulos de uso do mar de Booth e Grove. Outros
pontos de convergência entre as marinhas, e que contrastavam com as tarefas da MB, foram: a
ênfase na interdependência das TBPN; o seu caráter evolutivo de acordo com as demandas
identificadas as demandas estratégicas para a sua proteção, por meio da análise da PDN e da
END. Revelou-se que as tarefas envolvidas neste processo deviam iniciar-se no período de
paz e estender-se à guerra. Este espectro deveria ser preenchido por tarefas diplomáticas,
defensiva e o papel da MB, no interior das AJB, no oceano aberto e na região amazônica.
perscrutar o futuro. Três tendências foram identificadas: as marinhas do futuro teriam dois
82
modelos que tenderiam a influenciar seus perfis: as Marinhas Modernas, com foco no
Ele se vale das observações extraídas das pesquisas efetuadas para, inicialmente, basear sua
sugestões de aperfeiçoamento. As razões para a atualização passam pelo fato de que as atuais
presente e, menos ainda, o espectro demandado no futuro visualizado. A defesa das AJB
que garantam o bom uso do mar, e diplomáticas que construam parcerias no entorno
Assim, a pesquisa atingiu o seu propósito, ao constatar que o conjunto das atuais
TBPN não é adequado para a proteção da Amazônia Azul, e ao sugerir o seu aprimoramento.
Neste sentido, o conceito das Tarefas Básicas de CAM, NUM e PPT precisaria ser revisto,
para que fosse destacada a necessária interdependência entre elas. A Contribuição para a
Dissuasão, por sua vez, deveria deixar de ser considerada uma TBPN, pois seu efeito desejado
só é alcançado, em última instância, pelo país como um todo, por meio da implementação da
de três novas TBPN (Controle de Área Ribeirinha, Presença Naval e Segurança Marítima),
Mais do que sugerir nomes para estas novas TBPN, o trabalho pretendeu apontar direções e
83
pontos a ponderar que merecessem estudos mais aprofundados pelos devidos setores da MB.
- Presença Naval; e
- Segurança Marítima.
Esta atualização das TBPN, assim como o próprio estudo do tema devem
para o fortalecimento da defesa dos interesses nacionais na Amazônia Azul, ao longo deste
século XXI.
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APÊNDICE A - CONCEITOS BÁSICOS DO EMPREGO DO PODER NAVAL
Julian Stafford Corbett. O primeiro deles representa a doutrina do domínio do mar, enquanto
450).
dele, o enfoque dos pensadores da guerra no mar era sempre de nível tático, com vistas apenas
p. 111-112).
vindo a servir embarcado durante a Guerra de Secessão. Presidiu, por duas vezes, o Naval
War College, nos período de 1886 a 1889 e de 1892 a 1893, onde era responsável pela
disciplina de História Naval e Tática, o que lhe possibilitou aprofundar suas pesquisas
históricas. Em 1890, publicou seu mais famoso livro, que veio a lhe conferir renome
1987), contendo a compilação de suas palestras acerca da relação entre a guerra naval e as
93
continuou a produzir copiosamente até o final de sua vida, em 1914 (PARET, 1986, p. 444-
o desenvolvimento do pensamento naval em todo o mundo pode ser medida pelo fato dele ter
2010, p. 435). O sucesso alcançado, tanto pelo autor quanto por sua obra, pode ser creditado à
crescente atenção dada, em sua época, pela classe política, e pelo público em geral, à
defesa. Foi para capitalizar a importância das marinhas que ele cunhou a expressão Sea
Power, algumas vezes empregada com a atual acepção de poder marítimo e outras com o
sentido de PN. Sua extensa obra compreende ao todo 19 livros e materializa a base teórica da
Exercer o domínio, ou comando, do mar era para Mahan a razão precípua das
marinhas. De acordo com suas pesquisas, o sucesso britânico, nos períodos por ele estudados,
deveu-se à sua capacidade de exercer este domínio, por meio do emprego de seu PN para
vencer guerras e prosperar durante a paz. Um de seus principais argumentos foi o de que o
emprego do PN não deveria ficar restrito aos tempos de guerra, pelo contrário, o planejamento
para o seu desenvolvimento, e o preparo para o seu efetivo emprego, deveriam ser uma
preocupação permanente dos governos desde os períodos de paz (TILL, 2009, p. 52).
O comércio marítimo ocupa uma posição central neste argumento. É este tipo de
comércio que possibilita a produção de riquezas para os países e, portanto, sua proteção deve
ser provida pelos governos que desejem ver seus países prosperarem. Por outro lado, a
provavelmente, provenientes do próprio comércio marítimo. Para que este ciclo entre
94
comércio e defesa se torne virtuoso é necessário haver interferência dos governos, que
e de seus portos; a extensão de seu território, com ênfase na proporção entre as extensões de
suas fronteiras terrestres e marítimas, pois países com grandes e sensíveis fronteiras terrestres
tendem a se preocupar menos com suas marinhas; a dimensão de sua população, onde se
denota sua capacidade produtiva; e o caráter desta população, particularmente o seu nível de
ofensiva, concentrando os meios navais na busca da batalha decisiva que eliminaria a força
naval inimiga e conferiria ao vencedor o domínio do mar. Neste sentido, ele defendia que a
defesa de costa não devia receber a atenção principal das marinhas. O pleno aproveitamento
ações ofensivas que disputem o controle do mar, por meio de uma batalha decisiva. A defesa
de costa, quando necessária, não deveria ser conduzida dividindo-se a esquadra e colocando
pequenas embarcações em cada um de seus portos. Pelo contrário, a força naval deveria ser
litoral (SUMIDA, 1997, p. 48; THIBAULT, 1984, p. 128-129). Em suas palavras: “a esfera de
atuação de uma esquadra está no mar aberto, ela deve atuar mais na ofensiva do que na
defensiva, seu objetivo devem ser os navios inimigos onde quer que eles estejam” (MAHAN,
positivos obtidos nas duas grandes guerras, por parte das duas marinhas que mais haviam
então, a obtenção do comando do mar passou a ser o paradigma de emprego para muitas
marinhas. Esta postura estratégica e operacional continuou a ser adotada durante a Guerra
Fria, pautando marinhas como as dos EUA e Reino Unido, ou mesmo a Marinha Soviética,
mesmo as esquadras menores podem exercer algum poder sobre um adversário mais forte, em
suas palavras (1899, p. 203, tradução nossa): “não é necessário possuir uma marinha igual às
maiores, para gerar o temor necessário a dissuadir um rival [...]. Uma força muito menor,
recentemente, nos documentos doutrinários produzidos pela USN. Uma versão ostensiva de
sua Estratégia Marítima de 1986 foi publicada para influenciar a percepção do público a
respeito da importância de se ter uma marinha de seiscentos navios, somente com os quais
PN forte o suficiente para, por meio de ações ofensivas, conquistar e manter o domínio do
______________
40
Nestas duas guerras, a Alemanha adotou uma modalidade de emprego do poder naval distinta das teorizadas
por Mahan, conhecida como Guerra de Corso. Apesar de ter obtido considerável êxito inicial, a Alemanha
acabou sendo derrotada no mar em ambas as ocasiões, vindo a perder as duas guerras. A Guerra de Corso será
estudada no item 3 deste APÊNDICE A.
41
O Almirante Sergei Gorshkov exerceu o cargo de Comandante-em-Chefe da Marinha Soviética de 1956 a
1985 (HATTENDORF, 2004, p. 297).
96
marítimo internacional. Sendo a marinha uma força com capacidade de se deslocar a grandes
distâncias sem que isto simbolize uma ameaça ou agressão, ela é naturalmente propensa a
benefícios simultâneos a vários países e que seu alcance possui dimensões globais, para
deduzir que sua proteção não pode, nem deve, ficar restrita à ação do PN de apenas um país.
Este conceito de consórcio naval pode ser claramente notado, ainda que com outra
apresenta as diretrizes para a sua implementação - Naval Operatios Concept - de 2010. Este
Conceito de Operação estabelece que os desafios e as ameaças no mar “não poderão ser
vencidos apenas com a atuação isolada do Serviço Naval norte-americano, o que demanda
que os EUA desenvolvam parcerias com países que compartilhem de seus interesses na
segurança marítima global e em sua subjacente prosperidade” (EUA, 2010b, p. 36, tradução
nossa).
Alguns críticos de sua obra apontam para uma excessiva influência de Antoine-
Henri Jomini, particularmente na aparente tendência que Mahan tinha de formular princípios
destes princípios, como as máximas “nunca divida a esquadra” e “números aniquilam”, foram
bastante questionados por outros autores e contrapostos por teorias que serão abordadas mais
adiante nesta monografia. O que, no entanto, torna-se importante salientar, dentro do escopo
97
conceitos teria decorrido, ao longo do tempo, justamente da falta de uma teoria mais ampla
que explicasse, e pudesse ser ensinada, sobre a guerra no mar. A escassez bibliográfica sobre
a função das Escolas de Guerra Naval como local para o estudo e a disseminação de um corpo
em combate. Destaca, porém, que esta doutrina é meio e não um fim em si própria; importaria
mais, portanto, o desenvolvimento da capacidade decisória dos oficiais do que a mera e fiel
observância dos preceitos nela contidos (MAHAN, 1912, p. 201; SUMIDA, 1997, p. 68).
O que Mahan não pretendia com suas “verdades fundamentais” era retirar a
Apesar da forma com que redigia sua obra ser semelhante às análises, com grande
morais e intelectuais dos comandantes para que estes pudessem decidir em meio à fricção e à
névoa do combate (SUMIDA, 1997, p. 24, 109-111). Mahan comenta da seguinte forma esta
A ciência descobre e ensina verdades que ela não tem poder para mudar; a arte, parte
de materiais encontrados nela mesma, para criar novas formas com uma variedade
______________
42
Clausewitz (1780- 1831) foi um militar e autor prussiano. Sua obra “Da Guerra” é uma referência para o
estudo da estratégia militar e da teoria da guerra (COUTAU-BÉGARIE, 2010, p. 167-168).
98
infinita. [...] A arte reconhece princípios e regras, mas estas não funcionam como
correntes ou trilhos, que obrigam a certos movimentos obrigatórios, ou como guias
que avisam quando algo de errado está acontecendo. Neste sentido, a condução da
guerra é uma arte, que brota na mente humana, lida com variadas circunstâncias,
admitindo certos princípios; mas que pode ter múltiplas manifestações, conforme a
genialidade do artista e a têmpera do material empregado. [...]
As máximas de guerra, portanto, não são regras postivas, uma vez que são o
desenvolvimento e aplicação de alguns princípios gerais. [...]
Cabe à habilidade do artista na guerra, aplicar corretamente os princípios e regras
em cada caso (MAHAN, 1991, p. 209-301, tradução nossa).
semelhança deste, também integrou o corpo docente da Escola de Guerra Naval de seu país, a
Royal Naval War College, fundada em 1900 em Greenwich. Em 1911, este advogado e
historiador publicou sua principal obra - Some Principles of Maritime Strategy (CORBETT,
Seu objetivo como professor era o de utilizar a história para ensinar a importância
seu relacionamento com a política nacional. Sua audiência, formada basicamente por oficiais
de marinha com grande experiência prática, era cética, inicialmente, com a origem acadêmica
de Corbett. Outro ponto de divergência era a convicção, que muitos de seus alunos
não pretender estabelecer regras detalhadas e rígidas, Corbett advogava que era possível, e
mesmo necessário, compor um corpo doutrinário com bases históricas que, sem retirar a
razão de existir das marinhas e de se empregar o PN. Para Mahan a marinha era, ao mesmo
tempo, um fim em si mesma e condição essencial para o sucesso dos Estados como potências
outro ângulo: as marinhas são apenas um dos instrumentos disponíveis para que os Estados
coloquem em prática uma única estratégia para atingir os objetivos nacionais definidos pela
política, o que deveria abranger tanto as forças do mar, como as de terra e as ações
Uma vez que os homens vivem na terra e não sobre o mar, as grandes questões entre
nações em guerra sempre foram decididas - exceto em raros casos - ou pelo o que o
seu exército pode fazer contra o território e a vida nacional de seus inimigos, ou pelo
medo do que a sua esquadra possibilita que seu exército faça (CORBETT, 2004, p.
14, tradução nossa)
naval não podia se limitar apenas às ações ofensivas que buscassem procurar e destruir a
esquadra inimiga para obter o comando do mar. Principalmente porque a guerra no mar não
termina com estas ações. As forças navais deveriam possuir, também, a capacidade de exercer
e desfrutar do comando alcançado, usando o mar em proveito de uma estratégia militar, e não
apenas naval, mais ampla. Conforme verificado anteriormente, os objetivos nacionais em uma
guerra situam-se, muitas vezes, em terra e, assim, importaria mais o exercício do comando do
mar do que a sua conquista (BRASIL, 2007a, cap. 4, p. 17-18; TILL, 2009, p. 61-62).
Outra razão apontada para a menor ênfase à obtenção do comando do mar foi a de
que ele, dificilmente, poderia ser obtido em sua plenitude. Corbett relativiza o conceito de
100
Algumas razões concorriam para a dificuldade do pleno comando do mar: a esquadra inimiga
Potência”; e mesmo que a esquadra na ofensiva obtivesse algum êxito inicial, o fato dela estar
concentrada em um único local implicava que outros pontos, na imensa dimensão do mar,
Estas guerras marítimas limitadas chamaram a atenção de Corbett, que viu nelas
um instrumento adequado para ações políticas que, devido a características intrínsecas do PN,
paz, constitui a raiz do que viria a ser praticado como “Diplomacia Naval”, além de contrariar
duas máximas mahanianas, uma que afirmava que o mar seria uno e indivisível e outra que
aconselhava nunca dividir a esquadra (GROVE, 1990, p. 23; TILL, 2009, p. 58, 60).
fundamental exercido por navios, como cruzadores e fragatas, que não integravam a linha de
batalha, na exploração do comando do mar. Assim, uma esquadra organizada para obter o
comando do mar, talvez não apresentasse a melhor conformação para exercer este comando, o
Esta diferenciação entre obtenção e exercício do comando do mar foi uma importante
apresenta acidentes capitais, não possuindo valor militar intrínseco, o que importa neste meio
é controlar LCM, seja com propósito comercial ou militar (CORBETT, 2004, p. 89-90,
KEARSLEY, 1992, p. 16). Para se obter este controle, Corbett não considerava necessário a
importância tanto das operações conjuntas, com o emprego complementar entre as forças
navais e terrestres, quanto das Operações Expedicionárias e Anfíbias. Para a consecução dos
objetivos nacionais que regiam a condução da guerra, as marinhas deveriam ter a capacidade
terra, apoiando suas ações, com o transporte de suprimentos ou pelo fogo (GIBSON, 1998, p.
posição acerca do uso de comboios, durante a Primeira Guerra Mundial, como forma de
proteger o comércio marítimo das ações da guerra de corso. Sua argumentação baseava-se na
drenaria importantes meios da esquadra. Além disto, a guerra de corso estava em desuso e a
RMB já dispunha do telégrafo sem fio, o que possibilitaria a tempestiva troca de informações
______________
43
Segundo o Glossário das Forças Armadas, acidente capital é “qualquer acidente de terreno ou área cuja
conquista, manutenção ou controle proporcione acentuada vantagem a qualquer das forças oponentes” (BRASIL,
2007b, p. 18).
102
cap. 4, p. 34-35).
Apesar da precisão de sua análise, o que ele não previu foi o uso que seria feito
pelos alemães da arma submarina, pois o ataque a navios mercantes era condenado pela
Declaração de Paris44, de 1856. Corbett não contava que a Alemanha adotasse o que ficou
conhecido como guerra submarina irrestrita, uma decisão política, e não militar, que alterou o
uso desta arma, que passou a ser empregada, não para capturar navios mercantes, conforme o
contemporâneos, das demais ideias e conceitos por ele formulados. Foi preciso o afastamento
do tempo e a análise isenta de sua obra para que toda a importância de seu pensamento fosse
resgatada, vindo, hoje, a ocupar papel central na formulação de qualquer pensamento sobre o
emprego do PN.
estratégico marítimo tiveram origem em autores – Mahan e Corbett - de países que já eram,
haviam sido, ou viriam a ser potências navais. A lógica empregada em seus argumentos,
portanto, trazia embutida, em certa medida, tanto uma necessidade de meios navais apenas
almejavam uma projeção de poder de alcance global. Apesar da predominância destas teorias,
que se mostraram acertadas em diversos momentos ao longo do século XX, outras ideias
______________
44
A Conferência de Paris teve como propósito proscrever a guerra de corso, um tipo de pirataria oficial em que
navios particulares recebiam autorização de seus Estados para realizar ações navais contra a navegação mercante
de outro Estado. Espanha, México e Estados Unidos votaram contra a proscrição da guerra de corso alegando
que ela constituía a “única reação importante dos países pouco dotados de recursos contra as grandes potências
navais” (BRASIL, 2007a, cap. 4, p. 30).
103
emergiram, ao longo tempo, trazendo soluções de emprego de força no mar por países com
Uma das mais significativas teorias surgidas com este intuito foi a que ficou
conhecida como Jeune École . Uma escola francesa de pensamento, dita jovem (jeune em
forma vigente de se pensar a guerra no mar, com batalhas navais decisivas e bloqueios. O
predecessor desta nova escola foi o Barão Richard Grivel, que em seu livro De La Guerre
Maritime, em 1869, propôs que as tradicionais formas de emprego das marinhas eram
inadequadas para a França. Um país com menor PN deveria sempre optar por empregar sua
marinha em uma guerra ao comércio inimigo - guerra de corso -, pois o impacto sobre a
prosperidade do outro país seria bem maior, o que deveria conduzir, mais rapidamente, à
francês Theophile Aube, sobre dois principais eixos: a guerra de corso e o emprego de navios
de flotilha contra os navios de linha. Em 1886, quando Aube torna-se Ministro da Marinha, a
Jeune École ganha não só impulso, como vida. A construção dos grandes navios de linha é
e ao desenvolvimento da arma submarina (BRASIL, 2007a, cap. 4, p. 32; TILL, 2009, p. 68).
soe ocorrer com o pensamento estratégico naval, ele sofreu o impacto destas evoluções. A
guerra no mar torna o pensamento naval mais sensível às mudanças tecnológicas do que o
terrestre.
Assim, o surgimento e aperfeiçoamento dos torpedos, das minas e, mais tarde, dos
104
dos navios de linha e das batalhas decisivas pelo controle do mar, além de libertar a forças
navais de menor envergadura da condição de “Esquadra em Potência” por meio de uma clara
estratégia de negação do uso do mar (GROVE, 1990, p. 15). Neste contexto, os bloqueios
britânicos aos portos franceses poderiam ser facilmente rompidos por torpedos. Pequenas
embarcações torpedeiras e minas seriam suficientes para bloquear os navios ingleses em suas
bases. Poucos navios costeiros defenderiam o litoral francês. Cruzadores executariam a guerra
ao comércio (TILL, 2009, p. 69). O Almirante Aube passa a questionar os ensinamentos das
batalhas navais históricas ante o advento das novas armas e propõe que cada país, de acordo
com seus interesses, capacidades e geografia, adaptassem suas estratégias para o emprego das
Declaração de Paris, e se preparou para conduzir ataques a navios mercantes. Anos mais
tarde, conforme visto no subitem anterior, esta prática seria, efetivamente, adotada, com
considerável êxito, pela Alemanha durante as duas guerras mundiais (TILL, 2009, p. 69).
Segundo a Jeune École, o objetivo da guerra de corso não era apenas estrangular o
comércio, mas levar pânico à população e desestabilizar a economia. Esta desproporção entre
classificar seus métodos como os de uma guerra assimétrica45 (TILL, 2009, p. 69).
política entre França e Inglaterra. O próprio desenvolvimento tecnológico, que embasou suas
protegiam os grandes navios, resgatando sua proeminência. O peso político de se arcar com a
______________
45
Segundo o Glossário das Forças Armadas, a guerra assimétrica é “o conflito armado que contrapõe dois
poderes militares que guardam entre si marcantes diferenças de capacidades e possibilidades. Trata-se de
enfrentamento entre um determinado partido e outro com esmagadora superioridade de poder militar sobre o
primeiro. Neste caso, normalmente o partido mais fraco adota majoritariamente técnicas, táticas e procedimentos
típicos da guerra irregular.” (BRASIL, 2007b, p. 123).
105
guerra contra o comércio que infligia danos, inaceitáveis para muitos governos, contra civis e
contra países neutros, correndo o risco do país infrator tornar-se um pária internacional. A
construção de uma esquadra dedicada à guerra de corso foi considerada um desperdício pela
França, pois ela não poderia cumprir outros tipos de tarefas necessárias à consecuções dos
Um ponto importante que pode ser denotado deste processo foi o do impacto da
guerra no mar, que pareça alterar os seus princípios mais fundamentais, pode ser neutralizada
pela advento de novas táticas. Este foi o caso dos torpedeiros e dos contratorpedeiros, os
preponderância dos navios de linha e do conceito de controle do mar. Talvez uma das
principais lições deixadas pela Jeune École foi a de que o pensamento estratégico naval não
deva ser condicionado por questões tecnológicas (BRASIL, 2007a, cap. 4, p. 32).
longo do século XX, confirmam sua validade. A doutrina da guerra de corso embasou as
ações da Marinha Alemã, tanto na primeira como na Segunda Guerra Mundial, tornando-se,
portanto, referência obrigatória, com seus erros e acertos, para o estudo do emprego do PN
Além das teorias anteriores, uma outra significativa forma de se pensar o emprego
influenciam esta forma de emprego das forças navais, tanto em sua vertente ofensiva, que se
106
materializa por ocasião de sua projeção sobre terra, quanto do seu emprego defensivo, na
Uma das primeiras formulações desta doutrina ocorreu no século XIX, nos EUA,
com a preparação das defesas de sua costa leste. Este modelo, denominado de Fortress Fleet
O pensamento sobre a defesa de costa ganha força na União Soviética, nos anos
extensos litorais tinham para proteger toda a sua costa, enquanto sua esquadra estava em
águas distantes, lutando pelo domínio do mar ou protegendo seu comércio marítimo. Neste
sentido, destacou a importância de se preservar certa capacidade local para a defesa da costa
em toda sua extensão. Defesa esta que seria feita com táticas e meios específicos e distintos
A solução soviética para a defesa de sua costa passava pelo emprego conjunto de
suas FA, com a centralização de suas ações sendo possibilitada por um eficaz sistema de
proteger interesses internacionais mais amplos, alterou-se a postura de sua marinha que voltou
defesa de costa. As aeronaves de patrulhas baseadas em terra tiveram bastante êxito nesta
guerra, em parte porque seu emprego evitava revelar o posicionamento dos navios
aeródromos, mas, também, devido ao seu maior alcance (HUGHES Jr., 2000, p. 142-143).
107
1995) despertou o interesse marítimo de vários países. Com isto, a necessidade de proteger
guerra costeira, por parte de países, cujas marinhas não tinham nem porte, nem interesse, além
Noruega e de Israel. A Noruega, após o fim da Guerra Fria, transformou o planejamento para
o emprego de suas FA com foco na defesa de sua costa. Valeu-se do recorte hidrográfico de
seu litoral, para planejar o emprego conjunto de suas forças. Israel, por sua vez, projetou uma
envolvida na defesa de costa usufrui das vantagens propiciadas pela defensiva, tais como o
mesma área em que será empregado e a proximidade do apoio logístico. Por estas razões,
apesar da defesa de costa ser, muitas vezes, exercida por marinha de menor envergadura, este
fato não impede que este PN seja capaz de infligir pesadas perdas à marinha atacante
particularmente se estiver em jogo algum relevante objetivo nacional (HUGHES Jr., 2000, p.
Outro fator que exerceu forte influência na guerra costeira foi o término da Guerra
Fria. A vitória norte-americana deixou sua marinha sem oponente à altura, para contestar seu
domínio no mar. Decorrente desta imposição estratégica a USN divulgou duas publicações
apresentando uma nova concepção de emprego estratégico de seu PN: ... From the Sea (EUA,
108
1992) e Forward ... From the Sea (EUA, 1994a). O ponto principal destas estratégias é a
mudança de foco que se tentou dar, alterando-se o propósito do emprego da força naval do
mar (on the sea) para a terra (from the sea), com vistas a influenciar eventos no litoral, com
emprego de meios adaptados para este ambiente. Uma mudança de Mahan para Corbett,
A doutrina da guerra costeira merece, portanto, atenção por parte dos estudiosos
da guerra no mar. Um desses, o Capitão, da USN, Wayne P. Hughes Jr. apresenta, após
alcance e da letalidade dos armamentos está conduzindo a uma maior interação entre terra e
mar. As batalhas navais cada vez mais incluirão forças baseadas em terra” (HUGHES Jr.,
2000, p. 225). Neste sentido, a defesa de costa demanda operações conjuntas e uma
conjugação específica de sensores, mísseis e meios navais, todos integrados por uma mesma
Neste apêndice será analisada a evolução das TBPN na MB. Para tanto, serão
DBM em 1981, e a terceira em 1983. Esta reedição, em intervalos de dois anos, indicava que
xiii; 1981, p. xiii; 1983, p. xiii). Este procedimento visava a manter a doutrina atualizada e
TBPN são as mesmas. Uma das poucas mudanças ocorreu no item que define o conceito de
CAM, nele, além de indicar que este controle significa obter um certo grau de garantia de
emprego de áreas marítimas pelas forças, a nova DBM acrescentou que ao inimigo deveria
corresponder uma certa dificuldade de utilização da mesma área (BRASIL, 1981, cap. 3, p. 3).
missões distintas a serem cumpridas em áreas marítimas distantes entre si. Tanto o conceito
demonstram a influência de Mahan nas duas doutrinas (BRASIL, 1981, cap. 3, p. 7).
pouca monta. Os textos referentes à PPT e à Contribuição para a Dissuasão Estratégica não
sofreram qualquer alteração. Com relação ao CAM, alterou-se a redação de um dos quatro
propósitos para a execução deste controle. No tópico que antes estabelecia que o CAM
serviria para dificultar, ou impedir que o inimigo usasse uma área marítima para “projetar
poder sobre terra, ou para prover segurança às suas comunicações marítimas, ou para permitir
controle serviria apenas para “impedir que o inimigo utilize área marítima para projetar seu
poder sobre território ou área que deseja proteger” (BRASIL, 1981, cap. 3, p. 2; 1983, cap. 3,
p. 4). Enfatizou-se, desta forma, o emprego do CAM para interferir nas operações militares
para “hostilizar o tráfego marítimo inimigo”, por “atacar as LCM inimigas”. Excluiu-se,
também, outra referência ao emprego da NUM para impedir que o inimigo explore o controle
A quarta edição da DBM só veio ocorrer em 1997. Passaram-se 14 anos sem que a
doutrina fosse atualizada. Embora esta nova versão tenha reestruturado o documento,
retirando e reordenando seus capítulos, uma análise cuidadosa revela que, particularmente em
existência da doutrina e descrevia-se sua relação com outros documentos doutrinários, foi
bastante reduzida. Neste processo, foi excluída a menção à necessidade de “reajustes que a
Poder Militar - das doutrinas anteriores. Era neste capítulo que a doutrina enfatizava a
importância da dissuasão, que podia incluir “atos de presença e demonstração de força, para
cuja execução os meios da Marinha sobressaem entre os demais pela sua adequabilidade,
6). Este conceito substituiu o anterior que vinculava esta tarefa ao emprego de submarinos
com “mísseis estratégicos nucleares” (BRASIL, 1983, cap. 3, p. 2). Na TBPN de PPT,
(BRASIL, 1983, cap. 3, p. 6; 1997, cap. 3, p. 6). Estas alterações retiraram a ambiguidade46
mesmas da quarta edição. Na realidade, são as mesmas da edição de 1979, com o pequeno
ajuste da tarefa de Contribuir para a Dissuasão, introduzido em 1997. Com exceção desta
alteração, até mesmo os textos explicativos de cada uma das TBPN, sofreram poucas
______________
46
Esta ambiguidade foi identificada no item 2.3 A Primeira Doutrina Básica da Marinha, e refere-se ao fato dos
ataques com misseis estratégicos nucleares serem classificados tanto como PPT quanto como Contribuição para
a Dissuasão Estratégica (BRASIL, 1979a, cap. 3, p. 2-3, 7).
112
TBPN, pois, em um país dependente do mar e vulnerável a agressões vindas dele, o CAM
merece atenção constante e prioritária” (BRASIL, 1979a, cap. 3, p. 7-8; 1981, cap. 3, p. 6;
Outro ponto importante que quase não sofreu alteração, em todas as edições, foi o
emprego do CAM para a defesa da costa brasileira contra “invasão e ataques procedentes do
mar”. Segundo a DBM, esse controle é a “mais eficiente defesa que poderá ser articulada
contra a projeção do poder inimigo por mar. Ele [o CAM] reduz a necessidade de empenhar,
em toda a extensão do litoral protegido, forças terrestres e aéreas, liberando-as para emprego
em outras áreas ou missões” (BRASIL, 1979a, cap. 3, p. 5; 1981, cap. 3, p. 4; 1997, cap. 3, p.
mesmo texto, segundo o qual, esta TBPN é, geralmente, a opção de emprego adotada pelos
PN que não têm condições de estabelecer o CAM. A doutrina destaca que sob “o ponto de
vista da defesa [do litoral] contra a projeção de poder sobre terra, negar o uso do mar ao
inimigo constitui uma segurança inferior ao controle efetivo da área marítima fronteira ao
território que se deseja proteger” (BRASIL, 1979a, cap. 3, p. 6; 1981, cap. 3, p. 5; 1997, cap.
demais versões, aos atos de presença naval e de demonstração de força. Além disto, a doutrina
incorpora, nesta edição de 2004, um conceito que a vincula diretamente às outras três tarefas:
nenhuma delas fez menção ao principal ponto destacado pelo Almirante Turner, por ocasião
complementaridade destas tarefas. O que existe, em todas as versões, é uma referência ao fato
(BRASIL, 1979a, cap. 3, p. 8; 1981, cap. 3, p. 6; 1997, cap. 3, p. 1; 2004, cap. 3, p. 1), mas
Neste apêndice será analisada a evolução das TBPN na USN, desde 1970, até os
dias atuais. O propósito deste estudo é ampliar o conhecimento destas tarefas e de seus
Navais no período de 1970 a 1974, que com seu Project SIXTY, buscou balancear a
fazer frente às novas demandas estratégicas do pós Guerra Fria. Nesta época, a predominância
2009, p. 96-100).
Stansfield Turner, que, em 1974 publicou seu importante artigo - Missions of the U.S. Navy -
razão para esta categorização era a necessidade de organizar o emprego das forças navais pelo
seu produto, ou seu output, o que deveria facilitar a formulação de planejamentos estratégicos
das atividades realizadas pela marinha. Outra razão importante era promover a integração do
estratégicos, como pode ser constatado na FIG. 8 (SWARTZ, DUGGAN, 2009, p. 12).
115
L. Holloway, Jr., publicou o Strategic Concepts of the U.S. Navy. Este documento sofreu duas
revisões, feitas pelo mesmo almirante, nos anos de 1977 e 1978. A versão de 1978 passou a
alterações visavam a preparar a marinha para lidar com as flutuações orçamentárias e uma
possível futura elevação da quantidade de meios navais de 468 para 600. Havia, também, uma
proteção das LCM do Atlântico. Uma das principais mudanças foi a valorização do CAM, que
- Projeção de Poder.
2000. Um volumoso estudo que deveria servir de base para os planejamentos navais e apontar
a relevância da possibilidade de conflitos com uma crescente frota soviética. Apesar de ter
sido distribuído no mesmo ano – 1978 - do Strategic Concepts of the U.S. Navy, apresentava
uma categorização diferente, com três Objetivos de Segurança Nacional, vinculados a sete
a) Manutenção da Estabilidade:
b) Contenção de Crises:
- Superioridade no Mar
Operações Navais de 1978 a 1982, publicou o documento The Future of U.S. Sea Power. Da
mesma forma que seu antecessor, o Almirante Hayward tencionava priorizar as atividades de
Entre os anos 1982 e 1990, a USN publicou oito Estratégias Marítimas. O foco
delas continuou a ser o combate naval contra os soviéticos. Elas desempenharam um papel
importante ao servirem de argumento para a Estratégia dos 600 Navios, que pretendia elevar a
quantidade de meios navais da USN para este patamar. O argumento para se ter uma marinha
deste porte era fortemente baseado em Mahan, onde um PN teria que ser forte o suficiente
para conquistar o controle do mar em qualquer parte do globo. Apesar desta ênfase, a missão
de PPT passou a ter, gradativamente, nestas estratégias, mais importância que o CAM (Sea
Em 1991, elaborou-se o documento The Way Ahead, que foi assinado pelo
Secretário da Marinha, Sr. H. Lawrence Garrett III, pelo Comandante de Operações Navais,
118
Almirante Frank B. Kelso II, e pelo Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais Norte-
americano (USMC), General Alfred M. Gray Jr. Este documento visava a reposicionar a USN
para fazer frente à nova realidade advinda do fim da Guerra Fria e à redução do número de
navios para 450. Enfatizou a importância das ações de Presença Naval e a necessidade da
Marinha, Sr. H. Lawrence Garrett, III, e pelo Comandante de Operações Navais, Almirante
Frank B. Kelso, II. Neste documento as quatro missões de Turner foram retomadas, sendo que
a prioridade entre elas passou a ser a PPT (SWARTZ, DUGGAN, 2009, p. 330, 334).
Mais tarde, no mesmo ano de 1992, foi publicado o documento denominado “...
From the Sea”. Assinaram o Secretário da Marinha, Sr. Sean O’Keefe, o Comandante de
Carl E. Mundy Jr. Apesar de possuir poucas páginas, este documento teve grande poder de
argumento, como o seu título já prenunciava, era a mudança de postura da USN de uma força
voltada para o emprego “no mar”, para uma força a ser empregada “a partir do mar” (From
the Sea). Um ponto de inflexão doutrinária de uma marinha mahaniana, para uma que se
espelhasse em Corbett. A PPT passava a ser mais importante que o CAM (Sea Control), pois
não havendo mais ameaças de porte no mar, devido ao fim da Guerra da Fria, o PN deveria
Na medida em que as forças navais mudam de uma estratégia de Guerra Fria, mar
aberto e águas azuis, para uma com foco regional, no litoral, e expedicionária, as
organizações navais vão mudar, a resposta a crises no futuro vai exigir uma grande
flexibilidade e novas maneiras de empregar nossas forças (EUA, 1992, p. 6,
tradução nossa).
Esta mudanças ficaram caracterizadas na nova série de missões da USN, que este
119
- Deterrência Estratégica;
- Resposta a Crises;
- Transporte Marítimo.
Cabe registrar que o “,,, From the Sea” não cita nenhuma vez a expressão cunhada
pelo Almirante Turner – Sea Control -, optando pelas expressões Control of the Seas
última denominação expressa melhor o efeito desejado que se pretende obter nestes casos,
pois o espaço de batalha compreende a superfície dos mares, as águas subjacentes, a área do
litoral que se pretende influenciar e o espaço aéreo acima destas áreas. Outro registro
o Naval Doctrine Publication – Naval Warfare (NDP-1), o primeiro de uma série de seis
USN havia sido reduzido para 388 navios. Esta doutrina apresentava as seguintes funções
demonstração de força;
parcerias estratégicas;
e) Operações Conjuntas; e
- proteção de LCM;
USMC, General Carl E. Mundy Junior assinaram o documento “Foward ... From the Sea”.
Este documento atualizou e reforçou os conceitos constantes em “,,, From the Sea”,
121
entrada forçada contra litorais defendidos, por meio de manobras “a partir do mar” que
eventos em terra. Apesar, de reforçar a ideia de ter que operar a partir do mar, mais do que no
mar, resgatou conceitos do Almirante Turner como Sea Control e Supremacia Marítima.
Apresentava as seguintes funções (EUA, 1994a, p. 1, 6, 10; TILL, 2009, p. 68; SWARTZ,
- PPT;
- Deterrência Estratégica;
- Projeção de Poder;
- Deterrência; e
- Presença.
122
assinados pelo Almirante Jay L. Johnson, expandiram o conceito de CAM, para o de Domínio
Operações Navais, Almirante Vern Clark, publicou o documento Sea Power 21. Houve um
reforço da ideia do emprego conjunto das FA na proteção do país contra ameaças externas e o
do conceito de CAM e Controle de Área em um campo de batalha que unificava suas cinco
O Sea Power 21 (EUA, 2002) apresentava três novos conceitos – Sea Strike, Sea
Shield, e Sea Basing - que ofereciam nova categorização e visavam a transformar a forma de
- PPT;
- Deterrência Estratégica;
- Resposta a Crises;
- Deterrência;
- Operações Civis-Militares;
- Contrainsurgência;
- Contraterrorismo;
- Contraploriferação;
- Operações de Informação.
for 21st Century Seapower” (EUA, 2007b). Pela primeira vez, uma estratégia norte-
americana incluía sua Guarda Costeira, considerada fundamental para prover segurança
marítima e proteção do território contra ameaças “no mar” e “a partir do mar”. Este
Marítimo (Maritime Domain Awareness – MDA) como parte fundamental nesta defesa. Outro
países, para a segurança marítima em um mundo cada vez mais globalizado. Esta estratégia de
124
2007 era um detalhamento, para a implementação da The National Strategy for Maritime
Security, de 2005, em particular de temas como o da cooperação e MDA (EUA, 2005, p. 14-
previu o embarque de Fuzileiros Navais em navios nas operações de interdição marítima. Deu
- Deterrência;
- PPT;
- Segurança Marítima; e
Costeira, Almirante Thad W. Allen, assinaram dois documentos: um novo “Naval Operations
Concept”, que substituiu a versão de 2006, e uma nova edição do Naval Doctrine Publication
conflitos e vencer guerras. Em ambos os documentos, houve uma redução das 13 missões da
USN da versão do Naval Operations Concept - 2006, para seis capacidades fundamentais
- Deterrência;
- PPT;
- Segurança Marítima; e
eles, no capítulo referente ao CAM, introduziu-se as formas como outras forças navais podem
conjunto de conceitos seria adotado por marinhas que pretendem defender seu litoral (EUA,
2010b, p. 53-54).
Naval Warfare conclui-se o estudo da evolução doutrinária da USN. Alguns dados coletados
acerca da evolução das missões da USN serão confrontados com os do estudo das DBM,
A TAB. 1, a seguir apresentada, mostra a evolução das missões da USN desde sua
Naval Warfare de 2010. A tabela torna evidente a flexibilidade doutrinária da USN e a busca
para adaptar suas missões às demandas estratégicas surgidas com o passar do tempo.
diferenças. Três TBPN coincidiram: CAM, PPT e Deterrência Estratégica. A diferença entre
as TBPN é que a USN considerava a Presença Naval como uma TBPN, enquanto a MB
inseriu alguns aspectos desta tarefa na de Deterrência Estratégica. No lugar desta Tarefa
ano de 2011. Este quadro possibilita identificar uma diferença de postura doutrinária: a DBM,
menos flexível, não alterou suas TBPN no decorrer do período considerado; a doutrina da
USN, mais flexível, introduziu diversas alterações, conforme já havia sido identificado na
TAB. 1.
vigor na MB e na USN. Ele indica que as TBPN da USN representam uma gama mais ampla
Superioridade no Mar
Deterrência Estratégica
CLASSE DOCUMENTO ANO
Desdobramento Avançado
Uso Gradual de Força contra Terra
..
..
..
..
x
x
x
x
Missão Mission of the US Navy 1974
..
..
x
x
x
..
x
x
1975
Função the USN
x
x
x
x
..
..
..
..
Missão Sea Plan 2000 1978
1982
..
..
..
..
..
..
x
x
..
..
..
..
x
x
x
x
Função 1994
Sea
Evolução das Missões da Marinha Norte-Americana de 1974-2010
..
..
..
..
x
x
x
..
Naval Operations
..
..
..
..
..
x
x
x
Missão 2006
Concept
A Cooperative Strategy
Capacidade
..
..
..
..
..
x
x
x
ANO
1974
1975
1978
1982
1990
1992
1992
1994
1994
1997
2002
2006
2007
2010
Reforço aos Aliados .. .. x .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..
Pressão sobre os Soviéticos .. .. x .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..
Limitar as incertezas do futuro distante .. .. x .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..
Transporte Marítimo .. .. .. x .. x x x .. x .. .. ..
Deterrência Convencional .. .. .. .. .. .. x .. .. .. .. .. ..
Operações Navais de Não-Guerra .. .. .. .. .. .. x .. .. .. .. .. ..
Operações Conjuntas .. .. .. .. .. .. x .. .. .. .. .. ..
Negar o uso do mar .. .. .. .. .. .. x .. .. .. .. .. ..
Proteção de Apoio Logístico Naval .. .. .. .. .. .. x .. .. .. .. .. ..
Controle de Mar e de Área .. .. .. .. .. .. .. .. x .. .. .. ..
Resposta a Crises .. .. .. .. .. x .. .. .. .. x .. ..
Segurança Marítima .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. x x x
Deterrência .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. x x x
Cooperação para a Segurança .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. x .. ..
Operações Civis-Militares .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. x .. ..
Contrainsurgência .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. x .. ..
Contraterrorismo .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. x .. ..
Contraploriferação .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. x .. ..
Defesa Aérea e de Míssil .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. x .. ..
Operações de Informação .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. x .. ..
Assistência Humanitária e Resposta a Desastres .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. x x
Fonte: SWARTZ, DUGGAN, 2009, p. 115, 132, 149, 246, 249, 334, 349, 384, 416, 532, 606, 646; EUA, 1994b, p. 26-35; EUA, 2010a, p.25.
129
QUADRO 1
Marinha Norte-americana
MB USN
OBSERVAÇÕES
1979 1974
Refere-se, principalmente, à
Contribuir para a Dissuasão
Deterrência Estratégica capacidade de lançar
Estratégica
armamento nuclear
Na DBM, os conceitos
referentes à Presença Naval
foram inseridos na
.. Presença Naval
descrição da TBPN de
Contribuir para a Dissuasão
Estratégica
Fonte: BRASIL, 1979a; TURNER, 1974.
130
QUADRO 2
Comparação da Evolução das Tarefas Básicas do Poder Naval da Marinha do Brasil e da Marinha Norte-americana
QUADRO 3
Marinha Norte-americana
MB USN
2004 2010
.. Segurança Marítima
Assistência Humanitária e
..
Resposta a Desastres
Fonte: BRASIL, 2004; EUA, 2010a.
APÊNDICE D - AS TAREFAS BÁSICAS DA REAL MARINHA BRITÂNICA
A análise das TBPN da RMB será conduzida por meio do estudo das três últimas
Doctrine substituiu o The Naval War Manual que continha a doutrina anterior. Apesar da
consequente referência, ao ano da Batalha Naval de Trafalgar48, que ocorreu em 1805, mas,
principalmente, para demonstrar o alcance das raízes dos conceitos doutrinários britânicos
Esta publicação, ao definir a função da doutrina, alerta para o fato de que após a
desencoraje mudanças. Neste sentido, torna-se importante que se impeça que a doutrina se
políticos e estratégicos se alteram, e à luz das novas tecnologias, das lições da experiência e
das revelações originárias de análises operacionais” (REINO UNIDO, 1995, p. 13, tradução
nossa).
muito similar à prevista por Eric Grove em seu primeiro triângulo do uso do mar (FIG. 3 do
ANEXO A). Ela agrupa as formas de aplicação do Poder Marítimo em três grandes
As tarefas militares se subdividem nas que ocorrem “no mar” ou de CAM (Sea
______________
48
A Batalha Naval de Trafalgar é a de maior renome na história naval britânica, sendo um claro exemplo de
batalha decisiva. Nela consagraram-se o nome de Lord Horatio Nelson e as Instruções para o Combate (Fighting
Instructions). A origem destas instruções remonta o ano de 1672, elas foram aperfeiçoadas e amplamente
empregadas por Nelson, servindo de base para o desenvolvimento da doutrina naval britânica. Estas instruções
foram sendo atualizadas ao longo do tempo e, hoje, constituem o principal documento doutrinário de nível tático
da marinha britânica (REINO UNIDO, 2004, p. vi; TILL, 2009, p. 159).
133
Control); e as que “vêm do mar” ou de “projeção de poder”. Esta distinção, no entanto, nem
sempre é clara, pois qualquer operação no mar demanda o exercício de certo grau de CAM
the Sea) e CAM (Sea Control), nos termos previstos por Corbett e Turner, como sendo um
intensidade, desde ações de presença naval até a eliminação de outra força naval que ameace a
exploração deste controle. O CAM (Sea Control), segundo esta doutrina, não deve ser um fim
em si mesmo, pois este controle é necessário para possibilitar o uso do mar com outros
propósitos (REINO UNIDO, 1995, p. 67-68, 96). Este tipo de ação foi denominado na MB,
desde a primeira DBM, como CAM. A doutrina britânica, no entanto, além de empregar as
expressões Sea Control e Sea Denial, utiliza a expressão Area Sea Control Operations, que
poderia, também, ser traduzida para Operações de Controle de área Marítima. O trecho a
A tarefa de NUM (Sea Denial) faz parte do CAM: “Sea Denial não é um conceito
distinto do Sea Control, pois negar a liberdade de ação inimiga é um aspecto do Sea Control”
(REINO UNIDO, 1995, p. 68, tradução nossa). No nível operacional e tático, o Sea Denial
134
pode ser usado em determinadas áreas em complementação a uma campanha mais ampla de
CAM. No nível estratégico, é usado na guerra de corso e no ataque as LCM que apoiem o
proteção ao tráfego marítimo, cada uma destas tarefas se subdivide em vários tipos de
estratégica como parte da PPT, em posição diversa das funções elencadas pelo Almirante
Turner, que considerava estas duas atividades como sendo duas missões distintas. As DBM de
1979, 1981 e 1983, por sua vez, apresentavam o emprego de misseis nucleares, de forma
ambígua49, tanto como PPT como Contribuição para a Dissuasão Estratégica. Outra
divergência notada na doutrina da RMB refere-se ao triângulo de Grove (FIG. 3): a doutrina
incluí as operações de apoio à paz50 na PPT, enquanto Grove às classificava como sendo uma
duas opções de denominação, que fazem referência, respectivamente, aos triângulos dos
estrategistas britânicos Booth e Grove (FIG. 2 e 3). Apesar dos dois autores restringirem as
______________
49
Estas DBM apresentavam o emprego de armas nucleares a partir do mar de forma ambígua, conforme o
destacado no item 3.2 Marinha do Brasil. Esta possibilidade de emprego do Poder Naval que somente algumas
marinhas possuíam era classificado, ao mesmo tempo, tanto como Contribuição para a Dissuasão Estratégica
quanto como PPT (BRASIL, 1979a, cap. 3, p. 2-3, 7).
50
A doutrina britânica define operações de apoio à paz (peace support operations) como sendo uma “operação
que faz uso imparcial de meios diplomáticos, civis e militares, normalmente em busca de princípios e propósitos
da Carta das Nações Unidas, para restaurar ou manter a paz. Estas operações podem incluir a prevenção de
conflitos, a promoção da paz, a manutenção da paz, a consolidação da paz, a imposição da paz, e as operações
humanitárias” (REINO UNIDO, 2004, p. 282, tradução nossa).
135
publicação da British Defence Doctrine (1996) e da Strategic Defence Review (1998). Estes
documentos confirmaram a direção que a política militar britânica vinha adotando desde o fim
doutrina conjunta britânica. Neste contexto, destaca o fato do ambiente marítimo ser
no litoral em apoio às operações em terra. Ela explicita, ainda, a diferença de uma doutrina
naval para uma doutrina marítima, como é o seu caso, abordando aspectos que envolvem o
emprego das demais FA e não apenas da marinha. Com relação à natureza da doutrina, esta
______________
51
A doutrina britânica estabelece as operações de manutenção da paz (peacekeeping) como sendo aquelas que
“se seguem a um acordo ou cessar-fogo, que tenha estabelecido um ambiente permissivo onde o nível de
consentimento e confiança é alto e o risco de ruptura é baixo. O uso da força é normalmente limitado à
autodefesa” (REINO UNIDO, 1995, p. 231, tradução nossa).
136
para não limitar a iniciativa dos comandantes, quanto para acomodar suas necessárias
as operações em militar, constabular e benigna. Esta classificação foi criticada pelas demais
FA, pois elas não previam o emprego de militares em ações constabulares ou policiais. Esta
forma de atuação, atípica para forças terrestres ou aéreas, vem sendo, tradicionalmente,
narcotráfico e na proteção à pesca. Outra crítica recebida pela categorização adotada foi
quanto ao uso da palavra “benigna”, que denota o emprego da marinha de forma filantrópica,
tendo, ainda, o efeito adverso de que as operações não benignas seriam, consequentemente,
consideradas como malignas. Apesar das críticas, esta edição de 1999 manteve a
Na função militar, esta edição continuou a classificar a NUM (Sea Denial) como
sendo parte integrante do CAM (Sea Control): “A negação da liberdade de ação inimiga é
risco inaceitável para as forças de superfície inimigas” (REINO UNIDO, 1999, p. 35,
tradução nossa).
crescente importância das operações de garantia da lei e da ordem no mar a ser exercida nas
águas jurisdicionais. A função benigna, por sua vez, não sofreu alterações de vulto.
137
reforça o conceito de que a NUM faz parte do CAM: “estas operações não são mutuamente
excludentes” (REINO UNIDO, 2004, p. 43, tradução nossa). Outro ponto destacado é o da
tarefas militares, aproximando-as das redefinidas pela British Defence Doctrine. Neste
legal que abrange atividades como: Imposição da Lei no Mar, segurança Interna,
- Diplomacia Naval, que faz parte da Diplomacia de Defesa, mas não se restringe
- Operações de Contra-insurgência;
1 Introdução
A presente análise será conduzida para buscar identificar como outras marinhas do
mundo organizam sua doutrina naval em termos de TBPN, levando em consideração seus
países: África do Sul, Austrália, Canadá, Chile, Coreia do Sul, Espanha, França, Índia,
Portugal e Rússia.
2 África do Sul
a primeira doutrina desta marinha. Ela apresenta suas Tarefas Básicas tanto em termos de
missões, nos moldes concebidos pelo Almirante Turner, como em termos de funções,
Real Marinha Australiana, apresentado no próximo item, demonstra que esta marinha exerce,
também, forte influência sobre a Marinha Sul-africana (ÁFRICA DO SUL, 2006, p. 3, 26-35).
envolver” (2006, p. 27, tradução nossa). A Negação do Mar estaria vinculada ao CAM,
______________
52
Esta doutrina está disponível em: http://www.navy.mil.za/SANGP100/SANGP100_CH03.pdf
53
A estratégia marítima da Marinha Sul-africana explica este conceito da seguinte forma: “O embaçamento
gradual dos limites do combate no mar, na terra e no ar tem conduzido a uma maior integração de todos os
elementos de combate para se conquistar o Domínio do Espaço de Batalha. Isto envolve o controle de todos os
141
triângulo do uso do mar de Ken Booth (FIG. 2), acrescido do detalhamento concebido pela
Anfíbias;
Naval” junto com outros conceitos como o de Domínio do Mar, Esquadra em Potência,
Domínio do Espaço de Batalha e LCM. As Tarefas Básicas são (ÁFRICA DO SUL, 2006, p.
______________
ambientes deste espaço de batalha, superfície, submarino, ar, terra, informacional e o espectro eletromagnético.
A conquista do Domínio do Espaço de Batalha em uma área terá necessariamente de passar pelo Controle do
Mar. Este conceito é de relevância em operações conjuntas, especialmente no litoral” (ÁFRICA DO SUL, 2006,
p. 30-31, tradução nossa).
142
28-32):
- CAM;
- Negação do Mar; e
3 Austrália
podendo ser acessada pela internet54 e sendo apresentada em diagramação moderna e com
muitas fotos. Já em seu primeiro capítulo ela explicita a influencia recebida da RMB e de
estrategistas navais britânicos, dentre os quais destacam-se Ken Booth, Eric Groove e
______________
54
http://www.navy.gov.au/w/images/Amd2010_prelim.pdf
143
Geoffrey Till. Apesar desta explícita influência, esta doutrina aproxima-se, também, da norte-
americana, pois faz referência a tarefas similares às missões criadas pelo Almirante Turner
A adoção de uma forma de categorização das funções de sua marinha (FIG. 11)
nos moldes dos triângulos de Booth e Grove é justificada por ser esta uma sistematização de
entre as diversas funções e tarefas, tendo sempre como base a função militar:
operações na qual a Austrália esteja envolvida” (AUSTRÁLIA, 2010, p. 71, tradução nossa).
controle da superfície do mar, suas águas subjacentes, espaço aéreo sobrejacente e parcela da
com relação ao papel das marinhas está subordinado aos acontecimentos em terra. Nesta
medida, controla-se o mar para se obter vantagem em terra (AUSTRÁLIA, 2010, p. 72-73).
144
realidade da Real Marinha Australiana. Cada uma de suas três funções apresenta as seguintes
subdivisões:
influência norte-americana. Em seu capítulo oito, descreve três Tarefas Básicas, apresentadas
- CAM;
- Negação do Mar; e
4 Canadá
denominado Leadmark: The Navy’s Strategy for 2020. Este documento encontra-se disponível
visualmente, o que denota o profissionalismo com que a doutrina é tratada. Assim como na
Reino Unido quanto dos EUA. A classificação das atividades realizadas por seu PN é
descritas no formato sugerido por Booth e Grove, mas utiliza denominações similares às
do triângulo do uso do mar, faz uma análise de sua história e prospecta seu futuro. A FIG. 13
147
apresenta um diagrama no qual são descritas as relações entre as funções e tarefas desta
marinha com os cenários de emprego. A própria doutrina destaca que algumas funções são
habilitadoras para outras, como: Comando do Mar, Domínio do Campo de Batalha, Manobra
A doutrina canadense prossegue sua análise para conceber como deverá ser o
futuro emprego de sua marinha em 2020. Esta concepção está representada no diagrama da
FIG. 14, que é uma evolução do da FIG. 12, onde foram introduzidas adaptações próprias da
5. Chile
fotos e gráficos bem elaborados, nos mesmos moldes dos documentos doutrinários da USN e
muito similar à britânica. Ela reuniu todas as tarefas em três grandes grupos:
de ações de caráter militar, policial ou benéfico. Como se pode notar, a mesma classificação
- CAM;
- Desdobramento Preventivo;
- Operações de Coerção57;
- Defesa de Costa; e
elevação ao nível de função do Transporte Marítimo Estratégico, nos mesmos moldes das
doutrinas da USN e da RMB. A Deterrência e a Dissuasão não são comentadas nesta doutrina.
São aquelas [tarefas] que visam a alcançar a condição que existe quando há
suficiente liberdade de ação para o uso do mar para seu próprio benefício ou para
______________
57
Segundo a Doutrina Marítima chilena, as Operações de Coerção são aquelas que visam a “quebrar a vontade
do adversário usando força gradual ou a ameaça de usá-la” (CHILE, 2009, p. 92, tradução nossa).
151
prejudicar essa liberdade ao adversário ao negar a sua utilização. Assim, o seu efeito
é dual: positivo para a própria força e negativo para o oponente (CHILE, 2009, p.
89, tradução nossa).
Políticas Especiais de Estado. Esta classe de tarefas, também, apresenta atividades que
______________
58
Segundo a Doutrina Marítima chilena, as Operações de Extração são aquelas que “compreendem o apoio
necessário fornecido por força marítima, ou outra força militar, para dar segurança à retirada de forças
combatentes de uma região em crise” (CHILE, 2009, p. 99, tradução nossa).
59
Segundo a Doutrina Marítima chilena, as Operações de Recuperação são aquelas que “consideram a busca,
localização, resgate e recuperação de pessoal, restos humanos, equipamentos sensíveis à segurança, ou material
valioso, de uma região de crise” (CHILE, 2009, p. 99, tradução nossa).
152
Proteção da Identidade e Cultura nacional. Da mesma forma que as funções anteriores, esta
6 Coreia do Sul
país, deve proteger os interesses nacionais, por meio da defesa de costa e da proteção de suas
LCM e de seus recursos marítimos. Sua doutrina categoriza suas operações nas seguintes
- Controle Marítimo;
______________
60
O Livro Branco de Defesa da República da Coreia encontra-se disponível em:
http://merln.ndu.edu/whitepapers/SouthKorea_English2008.pdf
153
7 Espanha
armada é garantir o livre uso de rotas marítimas, tendo em vista ser a Espanha um país com
marítimos. A outra missão citada é o exercício de influência, a partir do mar, sobre áreas de
operações costeiras, distantes do território nacional. A Armada Espanhola teria, portanto, duas
8 França
Manter a soberania sobre esta área é uma das principais funções da Marinha Francesa. Em seu
site oficial62 apresenta as seguintes missões para o seu PN (FRANÇA, 2011; BAUZON,
2010):
______________
61
O Livro Branco da Defesa da Espanha encontra-se disponível em:
http://merln.ndu.edu/whitepapers/Spain_English2000.pdf
62
http://www.defense.gouv.fr/english/navy/missions2
154
prestar apoio à política externa francesa, bem como para permanecer nas
ameaças, a mobilidade dos meios navais que podem ser empregados em áreas
executar embargos; e
9 Índia
Marítima, que foi publicada em 2007 e que substituiu a versão anterior de 1989. Por meio
deste documento, a Marinha Indiana passou a adotar a postura concebida por Corbett, na qual
a principal função da marinha é influenciar eventos em terra. Antes, sua estratégia previa
como atividades principais: a NUM em águas distantes, o CAM (Sea Control) em águas
155
afastadas ou próximas à costa; e a proteção do tráfico e das plataformas costeiras. Nesta nova
postura operacional, a estratégia prescreve duas formas de atuação, a indireta, com a negação
estratégica de commodities, ou a direta, com ataques contra a terra a partir do mar. Para tanto
a Marinha Indiana pretende reforçar sua capacidade expedicionária, que passou a ser sua
importância, pois são elas que possibilitam, junto com o MDA, tanto as operações
- Militar;
- Diplomática;
- Constabular; e
- Benigna.
Este tipo de categorização guarda certa semelhança com a da RMB, apesar de usar
quatro, ao invés de três, grupos. Ela faz uma diferenciação entre a função benigna e a
de LCM; e
- Coerção;
dissuadir inimigos.
hidrografia; e
Não-combatentes.
A Guarda Costeira Indiana foi estabelecida em 1978. Desde esta data, a marinha
transferiu para ela a maioria das tarefas constabulares dentro da Zona Marítima Indiana. Nesta
região a marinha tem a tarefa de garantir a defesa dos ativos econômicos marítimos. A função
Narcotráfico.
157
Costeira Indiana, como o controle da poluição e Busca e Salvamento. Outras tarefas são da
- Pesquisa Hidrográfica;
- Evacuação de Não-combatentes; e
são incluídas em nenhuma das funções da Marinha Indiana, constituindo categorias à parte. A
estratégia faz referência ao fato de que a guerra no mar ocorre em quatro dimensões:
várias tarefas e missões que, segundo sua estratégia marítima, podem ser realizadas pelas
ser acessada pela internet63. Possui uma diagramação amigável, com muitas fotos.
______________
63
http://indiannavy.nic.in/maritime_strat.pdf
158
10 Portugal
uma representação triangular (FIG. 16) que se assemelha aos triângulos de Booth e Grove.
triângulo original, decompondo cada um de seus lados em outros três triângulos. As funções
Portuguesa;
- Investigação Científica; e
por dimensões essenciais das operações da Marinha, entre as quais se salientam a projecção
interdependência entre as tarefas, ela salienta que a Projeção de Força visa a influenciar os
12 Rússia
(RÚSSIA, 2011):
- Deterrência;
Continental;
______________
64
http://eng.mil.ru/en/structure/forces/navy.htm
162
- Presença Naval; e
podem ser executadas em períodos de paz, crise ou guerra. A Defesa de Costa é uma das
13 Síntese
categorização do emprego do PN, de acordo com a doutrina marítima dos países analisados
neste apêndice, acrescido do Reino Unido. Ao apresentar de forma tabular as diversas funções
TABELA 2
CORÉIA DO SUL
ÁFRICA DO SUL
REINO UNIDO
AUSTRÁLIA
PORTUGAL
PAÍS
ESPANHA
CANADÁ
FRANÇA
MARINHA
RÚSSIA
CHILE
ÍNDIA
Triângulo de Booth e Grove ou similares* x x x x .. .. .. x x x ..
Militar – CAM (no mar) x x x .. .. .. .. x .. x ..
Militar – PPT (a partir do mar) x x x .. .. .. .. x .. x ..
Militar de Guerra .. .. .. x .. .. .. .. .. .. ..
Militar de Não Guerra .. .. .. x .. .. .. .. .. .. ..
Diplomática x x x .. .. .. .. x .. .. ..
Policial x .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..
Constabular .. x x .. .. .. .. x .. x ..
Funções** Contribuição para o
Desenvolvimento Nacional
.. .. .. x .. .. .. .. x .. ..
(Desenvolvimento econômico,
científico e cultural)
Benigna .. .. .. .. .. .. .. x .. x ..
Defesa militar e apoio à política
.. .. .. .. .. .. .. .. x .. ..
externa
Segurança e autoridade do Estado .. .. .. .. .. .. .. .. x .. ..
164
CORÉIA DO SUL
ÁFRICA DO SUL
REINO UNIDO
AUSTRÁLIA
PORTUGAL
PAÍS
ESPANHA
CANADÁ
FRANÇA
MARINHA
RÚSSIA
CHILE
ÍNDIA
CAM (Sea Control) x x x x x x .. x .. x ..
Projeção de Poder x x x x x x x x x x ..
Presença Naval x x x .. .. .. .. x x .. x
Missões***
Deterrência (Nuclear ou
Convencional) (Estratégica ou .. .. .. .. x .. x x .. x x
Subestratégica)
Negação do Uso do Mar x x x .. .. .. .. .. .. .. ..
Esquadra em Potência .. .. x .. .. .. .. .. .. .. ..
Interdição e Ataque Marítimo
x x x .. .. .. .. .. .. x ..
(Ataque a Forças Navais)
Defesa de Costa (em Camadas) x x .. x x .. x x .. .. x
Proteção do Tráfego Marítimo
(Segurança Marítima - Controle
x x .. x .. .. .. x x x ..
Tarefas**** Naval - Plataforma de Petróleo e
Gás) (Transporte Marítimo)
Apoio a Operações em Terra e no Ar x x .. .. .. .. .. .. .. x ..
Busca e Salvamento x x x x .. .. .. .. x x ..
Assistência a Forças Estrangeiras
Aliadas (Contribuição à Confiança x x x x .. .. .. x .. x ..
Mútua – Cooperação)
Assistência Humanitária e Resposta
x x x x .. .. .. x .. x ..
a Desastres
165
CORÉIA DO SUL
ÁFRICA DO SUL
REINO UNIDO
AUSTRÁLIA
PORTUGAL
PAÍS
ESPANHA
CANADÁ
FRANÇA
MARINHA
RÚSSIA
CHILE
ÍNDIA
Diplomacia Naval (Preventiva) (Uso
.. x x .. .. .. x .. x .. ..
Simbólico)
Sanções, Embargos e Quarentena x x .. x .. .. .. .. .. x ..
Proteção da Soberania Marítima .. .. x .. x .. .. .. .. .. x
Intervenção .. .. .. .. .. .. x .. .. .. ..
Manutenção da Boa Ordem no Mar
(Operações Contra Ameaças
Assimétricas – Operações Marítimas
de Baixa Intensidade - Antipirataria -
Contranarcotráfico) (Ações de
x x .. x .. .. x x x x ..
Tarefas**** Estado no Mar) (Aplicação da Lei
contra Delitos) (Vigilância,
Fiscalização e Policiamento)
(Prevenção e Combate à Poluição do
Mar) (Plataforma de Petróleo e Gás)
Coerção x x x x .. .. .. x .. x ..
Vigilância e Coleta de Inteligência x x .. .. .. .. .. .. .. .. ..
Cobertura x x .. .. .. .. .. .. .. .. ..
Operações de Força Avançada x x .. .. .. .. .. .. .. .. ..
Contenção e Despistamento x x .. .. .. .. .. .. .. .. ..
Operações de Barreira (Bloqueio) x x .. .. .. .. .. .. .. .. ..
166
CORÉIA DO SUL
ÁFRICA DO SUL
REINO UNIDO
AUSTRÁLIA
PORTUGAL
PAÍS
ESPANHA
CANADÁ
FRANÇA
MARINHA
RÚSSIA
CHILE
ÍNDIA
Assistência à Comunidade Civil
(Estados de Exceção e Proteção x x x .. .. .. .. .. x .. ..
Civil) (Cooperação Civil-Militar)
Proteção e Gerência de Recursos e
do Meio Ambiente (Segurança das
Atividades Econômicas Marítimas,
x x x x x .. x .. .. x x
Proteção da Pesca) (Gerência de
Oceanos) (Promoção de Interesses
Nacionais Marítimos)
Contribuição para a Paz
x x x x x .. .. x .. x x
Tarefas**** (manutenção, imposição, construção)
Desdobramento Preventivo .. .. x x .. .. .. .. .. .. ..
Operação de Evacuação de Não-
x x x x .. .. .. x x x ..
combatentes
Consolidação de Políticas Especiais
.. .. .. x .. .. .. .. .. .. ..
de Estado
Apoio à Antártica .. .. .. x .. .. .. .. .. .. ..
Alerta de Tsunamis .. .. .. x .. .. .. .. .. .. ..
Apoio a Áreas Isoladas e Ilhas .. .. .. x .. .. .. .. .. .. ..
Desenvolvimento da Indústria Naval
.. .. .. x .. .. .. .. x .. x
(Fomento Econômico)
167
CORÉIA DO SUL
ÁFRICA DO SUL
REINO UNIDO
AUSTRÁLIA
PORTUGAL
PAÍS
ESPANHA
CANADÁ
FRANÇA
MARINHA
RÚSSIA
CHILE
ÍNDIA
Proteção da Identidade e Cultura
.. .. .. x .. .. .. x x .. ..
nacional (Mentalidade Marítima)
Prevenção de Conflitos (Antecipação
.. .. .. .. .. .. x .. .. x ..
e Conhecimento)
Pesquisa Hidrográfica (Investigação
Tarefas**** .. .. .. .. .. .. .. x x x ..
Científica)
Defesa militar própria e autónoma .. .. .. .. .. .. .. .. x .. ..
Defesa coletiva e expedicionária .. .. .. .. .. .. .. .. x .. ..
Assistência a Refugiados .. .. .. .. .. .. .. .. .. x ..
Descarte de Artefatos Bélicos .. .. .. .. .. .. .. .. .. x ..
Fonte: ÁFRICA DO SUL, 2006; AUSTRÁLIA, 2010; CANADÁ, 2001; CHILE, 2009; COREIA DO SUL, 2008; ESPANHA, 2000; FRANÇA,
2011; BAUZON, 2010; ÍNDIA, 2007; PORTUGAL, 2010b; REINO UNIDO, 2004; RÚSSIA, 2011.
Nota: (*) Esta linha apresenta as marinhas cujas doutrinas marítimas foram influenciadas pelos estrategistas navais britânicos Booth e Grove;
(**) Funções do Poder Naval nos moldes concebidos por Booth e Grove ou com adaptações introduzidas pelas doutrinas dos países;
(***) Missões do Poder Naval nos moldes concebidos pelo Almirante Turner; e
(****) Tarefas do Poder Naval consideradas pelas marinhas, não devem ser confundidas com Operações ou Ações de Guerra Naval.
ANEXO A - DIAGRAMAS REPRESENTATIVOS DE TAREFAS BÁSICAS DO
PODER NAVAL
Extensão da Plataforma
Continental
2
proposta 960 mil km
3ª
4ª 1ª
2ª
2ª
1ª 5ª
4ª
5ª
2ª
3ª