3-2013 Revista
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REVISTA
MARÍTIMA
BRASILEIRA
(Editada desde 1851)
v. 133 n. 07/09
jul./set. 2013
R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 133 n. 07/09 p. 1-320 jul. / set. 2013
A Revista Marítima Brasileira, a partir do 2o trimestre
de 2009, passou a adotar o Acordo Ortográfico de 1990,
com base no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
editado pela Academia Brasileira de Letras – Decretos nos
6.583, 6.584 e 6.585, de 29 de setembro de 2008.
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Artífice de Artes Gráficas Celso França Antunes
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Terceiro-Sargento-RM1-ES Mário Fernando Alves Pereira
Artífice de Artes Gráficas Celso França Antunes
Marinheiro-QPA Tierry Pinheiro Almeida
Impressão / Tiragem
Mangava Comércio Ltda / 8.500
A REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA é uma publicação oficial da MARINHA DO BRASIL desde
1851, sendo editada trimestralmente pela DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMEN-
TAÇÃO DA MARINHA. A opinião emitida em artigo é de exclusiva responsabilidade de seu autor, não
refletindo o pensamento oficial da MARINHA. As matérias publicadas podem ser reproduzidas. Solicitamos,
entretanto, a citação da fonte.
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em nome do Departamento Cultural do ABRIGO DO MARINHEIRO, no valor de R$ 36,00; se
for do exterior, por vale postal
SUMÁRIO
nossa CAPA
9
9 A NOVA FRONTEIRA: O MAR PROFUNDO
Carlos Feu Alvim – Professor-Doutor
Luiz Philippe da Costa Fernandes – Vice-Almirante (Refo)
Leonam dos Santos Guimarães – Capitão de Mar e Guerra (RM1)
Fundo do mar é desafio à humanidade – exploração científica. Camada pré-sal.
Veículos para pesquisa atingem profundidade de 6 a 10 mil metros. Veículos para socorro
e salvamento de submarinos. Submarinos nucleares de pequeno porte. Equipamentos pro-
jetados e construídos no Brasil – de controle remoto, sem tripulação. Esforço nacional para
exploração na Amazônia Azul
210 Necrológio
SUMÁRIO
Introdução
DSVs (Deep Submergence Vehicles)
DSRV (Deep Submergence Rescue Vehicle – EUA)
Submarinos nucleares de pequeno porte
Os ROV no Brasil
O Brasil na exploração do mar profundo
cutivo da Google (2011), Eric Schmidt, funda- Transcendendo a óbvia utilização dos
dor do Schmidt Ocean Institute. Não parece ser minissubmarinos para a localização de mi-
o interesse científico a motivação maior de tais nerais de interesse estratégico na plataforma
investimentos, mas o lucro. Cogita-se cobrar continental de cada país, há que se conside-
US$ 250 mil a quem se dispor a conhecer o rar, em termos da exploração dos recursos
que revelam as profundidades da Fossa das da Área, conforme previsto na Convenção
Marianas (10,9 km de profundidade em seu das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
ponto mais fundo, a Depressão Challenger). (CNUDM), que o seu emprego poderá faci-
De fato, são múltiplos os interesses rela- litar muito o equilíbrio, em termos de valor
cionados à exploração comercial, das duas áre-
do Mar Profundo, não as a serem estabelecidas
cabendo aqui esmiuçá- Por ocasião do acidente pelos países interessa-
los todos. Mas há que
se fazer menção às suas
de vazamento de petróleo dos em tal exploração,
visando à escolha, pela
óbvias aplicações mi- no Golfo do México, o Autoridade Internacio-
litares (por exemplo, mundo assistiu perplexo nal dos Fundos Ma-
operações de inteligên- rinhos, de uma delas
cia e de minagem) e até às enormes dificuldades para a exploração a seu
à sua utilidade na pesca dos meios governamentais cargo2. Note-se que, na
de fundo. No campo da
exploração científica
do mais poderoso país do atualidade, a Rússia, a
China, a Coreia e a Fran-
dos grandes fundos, a mundo em diagnosticar e ça já possuem áreas de
utilização de submersí- resolver o problema exploração de sulfetos
veis especiais pode ser polimetálicos, atribuídas
de grande importância pela Autoridade3.
para a localização e a exploração científica Por ocasião do acidente de vazamento de
das fontes hidrotermais – cujo descobrimento petróleo no Golfo do México, o mundo as-
é relativamente recente –, que remete bió- sistiu perplexo às enormes dificuldades dos
logos e químicos ao fascinante estudo dos meios governamentais do mais poderoso
organismos que, em temperaturas muitíssimo país do mundo em diagnosticar e resolver
elevadas, dependem para viver não mais da o problema. Parte disso se explica pelo fato
fotossíntese, mas da quimiossíntese. A pró- de o acidente ser de responsabilidade de
pria fauna pelágica de águas profundas, por uma empresa privada e que, portanto, por
suas peculiares adaptações, também é objeto ela deveria ser resolvido. Para a solução do
de grande interesse biológico. problema foi de grande valia a utilização
As profundezas do mar guardam, por de veículos e robôs telecomandados. Tais
outro lado, riquezas minerais que já estão robôs também são usados no Brasil em ta-
sendo objeto de pesquisas e, em alguns refas de exploração e pesquisa de petróleo
casos, de exploração comercial. e de manutenção de equipamentos.
2 Nos termos da CNUDM, Área significa “o leito do mar, os fundos marinhos e o seu subsolo, além dos limites da
jurisdição nacional”. A Área e seus recursos são considerados patrimônio comum da humanidade. A Autori-
dade é o sistema que organiza e controla as atividades na Área, particularmente com respeito a seus recursos.
3 O Brasil e o mar no século XXI – Relatório aos tomadores de opinião do País, Ed. Virtual em www.cembra.org.
br, Capítulo V – Recursos Minerais, p. V-12.
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A nova Fronteira: o Mar Profundo
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A nova Fronteira: o Mar Profundo
Trieste
7 An Estimate of Undiscovered Conventional Oil and Gas Resources of the World, 2012. http://pubs.usgs.gov/
fs/2012/3042/fs2012-3042.pdf
8 http://en.wikipedia.org/wiki/Bathyscaphe_Trieste
9 http://en.wikipedia.org/wiki/Project_Nekton
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A nova Fronteira: o Mar Profundo
Deepsea Challenger
10 http://en.wikipedia.org/wiki/File:Bathyscaphe_Trieste.jpg
11 http://www.hnsa.org/ships/triesteii.htm
12 http://www.infovisual.info/05/062_en.html
13 http://deepseachallenge.com
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A nova Fronteira: o Mar Profundo
Deepsea Challenger
14 http://deepseachallenge.com/the-expedition/rolex-deepsea-history/
15 http://en.wikipedia.org/wiki/Deepsea_Challenger
14 RMB3oT/2013
A nova Fronteira: o Mar Profundo
16 http://en.wikipedia.org/wiki/863_Program
17 http://news.xinhuanet.com/english/photo/2012-07/16/c_131718236_7.htm
18 http://pt.wikipedia.org/wiki/DSV_Alvin
19 http://en.wikipedia.org/wiki/1966_Palomares_B-52_crash
20 http://pt.wikipedia.org/wiki/USS_Scorpion_(SSN-589)
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A nova Fronteira: o Mar Profundo
Mir (Rússia)
Alvin Mir
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DSRV Deep
Submergence Rescue
Vehicle (EUA)
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25 http:/books.google.com.br/books/about/Dark_Waters.html?id=DMaMQgAACAAJ&redir_esc=y
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NR-1 (EUA)
26 Sound Surveillance System dos EUA, para monitorar, por meio de sinais sonoros, submarinos soviéticos.
http://en.wikipedia.org/wiki/SOSUS
27 http://www.rand.org/content/dam/rand/pubs/monograph_reports/MR1395/MR1395.ch2.pdf
28 http://www.globalsecurity.org/military/world/russia/210.htm
29 http://www.fugro-br.com/rov.asp
30 http://www.guiaoilegas.com.br/
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A nova Fronteira: o Mar Profundo
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A nova Fronteira: o Mar Profundo
As atividades do pré-sal propiciaram uma tâncias, cria todas as condições para que
intensa procura por ROVs, já estando em curso passemos a atribuir prioridade à solução do
esforços para produzi-los no Brasil. O primeiro problema: a construção (ou a obtenção, de
ROV parcialmente fabricado no País, tipo Li- forma mais ampla) de um submersível com
ght Work Class, alcançaria 30% de nacionali- capacidade para três ou quatro tripulantes/
zação.35 A expectativa é que tal ROV, chamado cientistas visando à realização de pesquisas
“Dragão do Mar”, possa executar até 60% das científicas/exploração mineral.
operações submarinas possíveis, como ativi- Uma etapa intermediária seria buscar
dades de montagem, inspeção e manutenção, uma participação no esforço atual de levar
coleta de materiais e pesca, entre outras. O veículos monotripulados a grandes pro-
equipamento, que é mais leve e possui meno- fundidades. A empreitada mostrou-se ao
res dimensões que os ROVs tradicionais, terá alcance de empreendedores privados (Na-
capacidade para operar em lâmina d’água de tional Geographic Society, Google e outras
até 3 mil metros de profundidade. A Armtec, empresas), como já ocorrera, 50 anos atrás,
uma das empresas responsáveis pelo projeto, na fabricação do Trieste, graças a iniciativa
já desenvolveu ROVs capazes de operar até suíço-italiana, com a participação da Rolex.
300 m e faz parte da incubadora de empresas Associar-se ou até mesmo comprar um
da Universidade Federal do Ceará. A empresa desses veículos (como fizeram os americanos
também está desenvolvendo um ROV-AUV quando se interessaram pelo Trieste) seria um
para a Marinha do Brasil, projeto orçado em caminho. No momento, parece que não existe
R$ 3 milhões, sendo R$ 2,6 milhões financia- um impedimento explícito a exportação ou
dos pela Financiadora de Estudos e Projetos transferências de tecnologia envolvendo
(Finep). O equipamento atuará na varredura projetos de menor porte de HOVs existentes,
de minas submarinas, mas também poderá ter embora os três outros anteriormente citados
aplicações na indústria de óleo e gás. (além do de Cameron) sejam americanos e
possivelmente sujeitos a algum tipo de restri-
O Brasil na Exploração do ção de transferência de tecnologia.
Mar Profundo Na área dos multitripulados, as dificulda-
des para obter tecnologia externa podem ser
O Brasil deveria criar um programa de maiores, pelo menos em relação aos EUA,
governo cujo objetivo maior fosse avançar mas existem alternativas, como o Mir russo e
na fronteira do conhecimento tecnológico no o Nautile francês. Este, quem sabe, poderia ser
Mar Profundo, com o propósito de explorar objeto de uma extensão do acordo já vigente
nossa plataforma continental e regiões da entre o Brasil e a França para construção de
Área, de nosso maior interesse. A atuação submarinos. O que não parece lógico é o Brasil
científica e a tecnologia brasileira na fronteira estar ausente nesta área de ponta tecnológica.
do Mar Profundo são ainda modestas em re- Esta iniciativa seria apenas uma, no con-
lação a seu interesse econômico e estratégico texto do grande esforço científico/tecnológico
para o País. No entanto, o Mar Profundo já é que se faz necessário para que o País avance no
uma prioridade econômica, na medida em que estratégico conhecimento das águas profundas
nosso petróleo vem e virá de águas profundas. e no domínio das tecnologias correlatas.
Esta é uma área tecnológica de ponta, e a Todos estes DSV têm contribuído para a
exploração do pré-sal, entre outras circuns- elaboração de milhares de trabalhos científi-
35 http://portalmaritimo.com/2012/06/01/rov-nacional-com-30-de-conteudo-local/#more-23148
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A nova Fronteira: o Mar Profundo
Localização geral da área mapeada pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – Serviço Geológico do
Brasil (CPRM) na Cordilheira Meso-Atlântica, visando à identificação de depósitos hidrotermais associados à
presença de sulfetos polimetálicos37
36 http://www.cembra.org.br/segundoprojeto.html
37 Op. cit. Cap. V – Recursos Minerais.
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A nova Fronteira: o Mar Profundo
38 http://en.wikipedia.org/wiki/Rubin_Design_Bureau
39 http://www.world-nuclear-news.org/NN_Deep_sea_fissiom_2001111.html
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O fortalecimento da Contrainteligência no
âmbito do Sistema de Proteção ao Programa
Nuclear Brasileiro (SIPRON)*
SUMÁRIO
Introdução
Espionagem e contraespionagem
Um conhecimento nacional a ser protegido
Mentalidade de contrainteligência no Brasil
A operacionalização da contrainteligência no Sipron
Conclusão
Apêndice
* Adaptação do Trabalho de Aplicação de Curso apresentado pelos autores à Escola Superior de Guerra.
** Analista de Contrainteligência do Centro de Inteligência da Marinha (CIM).
*** Analista de Relações Internacionais da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen).
a prática da Espionagem como um recurso Por sua vez, Conhecimento Sensível é:
empregado, ou passível de o ser, pelos Esta- “todo conhecimento, sigiloso ou estratégico,
dos na defesa de seus interesses, e como os cujo acesso não autorizado pode comprometer
alvos desta ação podem buscar se defender, a consecução dos objetivos nacionais e resultar
mediante a Contraespionagem. Constata- em prejuízos ao País, necessitando de medidas
remos a relevância do PNB como um alvo especiais de proteção” (BRASIL, 2009a).
do interesse estrangeiro – portanto deman- Quase dois milênios e meio após a
dante de medidas de proteção por parte citação que abre esta seção, percebemos
do governo brasileiro – e as deficiências que a Espionagem continua viva como um
de mentalidade de Contrainteligência no instrumento à disposição dos Estados nos
Brasil para a proteção deste conhecimento. conflitos ou disputas de interesses que se
Ao final, procuraremos apresen- verificam em todos os campos das relações
tar propostas para internacionais.
o fortalecimento da Na China de 1999,
Contrainteligência Dois milênios e meio após os igualmente estrate-
no âmbito do Sipron, Suntzu, a Espionagem gistas militares Qiao
na forma de subsídios Liang e Wang Xiangsui
para a sua regula- continua viva como um apontaram que, a partir
mentação, e também instrumento à disposição da Guerra do Golfo
conhecimentos que de 1990-1991, eviden-
poderiam ser de uti- dos Estados em todos ciou-se no mundo um
lidade para os seus os campos das relações aumento na violência
órgãos integrantes. internacionais política, econômica e
tecnológica, em con-
ESPIONAGEM E traste com uma relativa
CONTRAESPIONAGEM redução na violência militar. Isto levaria a
uma reformulação dos princípios da guerra
“Não há quaisquer áreas em que não se no sentido de que não prescreveriam mais
empreguem espiões” (SUN TZU e SUN “o emprego da força armada para compelir
PIN, 2002). um inimigo a submeter-se a nossa vontade”
Na transcrição dos ditos do estrate- (CLAUSEWITZ, 1984, p. 75), e sim “a
gista militar Sun Tzu, verifica-se um dos utilização de todos os meios, militares e
primeiros registros históricos a respeito não militares, letais e não letais, para com-
da utilidade da Espionagem. Definimo- pelir um inimigo a submeter-se aos nossos
la1, nos termos da proposta de Política interesses” (LIANG e XIANGSUI, 1999,
Nacional de Inteligência (PNI) para o p. 6). Assim, um Estado poderia desenca-
Estado brasileiro2, como: “a ação que visa dear “Operações de Guerra Não Militares”,
à obtenção de conhecimentos ou dados que incluiriam as seguintes modalidades:
sensíveis para beneficiar Estados, grupos comercial, financeira, terrorista em redes,
de países, organizações, facções, grupos ecológica, psicológica, de contrabando,
de interesse, empresas ou indivíduos” de mídia, de drogas, em redes interativas,
(BRASIL, 2009b). tecnológica, de maquinação3, de recursos,
1 Preferimos esta definição à constante do Glossário das Forças Armadas (BRASIL, 2007, p. 95).
2 Em 29 de junho de 2013, a proposta da PNI encontrava-se em tramitação no Poder Executivo/Congresso Nacional.
3 Criando uma falsa aparência de poder real aos olhos do inimigo.
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)
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O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)
o programa foi admitido pelo Presidente no realismo das relações internacionais esta
dos EUA, Barack Obama, que enfatizou a lógica não se aplica. Apesar do discurso
aquiescência do Congresso e do Judiciário politicamente correto8, empresas podem
estadunidenses. E o diretor de Inteligência se beneficiar da Espionagem estatal no
Nacional, James Clapper, além de confirmar, limite da Inteligência Competitiva – aquela
frisou que o programa seria direcionado voltada para o mundo dos negócios, ou
exclusivamente à “inteligência estrangeira”, seja, que busca a manutenção ou o desen-
e não aos cidadãos de seu Estado, estando volvimento de vantagem competitiva em
em conformidade com a Seção 702, parte do relação aos concorrentes (ABRAIC, 2013).
Título VII do Fisa (ROBERTS e ACKER- Além dos EUA9, França, Rússia, China e
MAN, 2013). Japão seriam Estados que empregariam
Destaque-se que o caso supramenciona- Inteligência estatal em apoio a empresas
do evidencia outro aspecto importante do nacionais (FILHO, 2000).
problema que estudamos: a possibilidade Em face do exposto, caberia a pergun-
de vazamento de Conhecimentos Sensíveis ta: seria o Brasil um alvo da espionagem
por funcionários dos estrangeira?
órgãos que os detêm. Bem, se já não for
É uma situação que
Em que pese a conotação centenária, essa ati-
se constata em nível negativa atribuída à vidade se verifica no
mundial, inclusive no Espionagem, e apesar do Brasil (como alvo)
Brasil, onde pesquisa há mais de 90 anos.
feita pela empresa Sy- discurso politicamente Jeffrey M. Dorwart
mantec entre outubro correto, empresas (1979, p. 137) apre-
e novembro de 2012 senta que, em 1918,
apontou, entre outras
podem se beneficiar da o Capitão de Mar e
constatações, que 62% Espionagem estatal Guerra (da Marinha
dos colaboradores que dos EUA) Frank K.
mudaram de emprego Hill, oficial de Inteli-
mantêm dados corporativos confidenciais, gência agindo sob cobertura diplomática
e 56% planejam usá-los na nova companhia de Adido Naval, operava a partir do Rio
para a qual trabalharão (SYMANTEC, de Janeiro uma rede de informantes e
2013). Voltaremos a este ponto quando agentes10 engajada no levantamento de
tratarmos mais adiante dos desafios à conhecimentos acerca das condições
implantação de uma mentalidade de Con- de trabalho nas minas de manganês de
trainteligência no Brasil. Minas Gerais, e de subsídios para que
Em que pese a conotação negativa que a companhia estadunidense Bethlehem
se pode perceber atribuída à Espionagem, Steel superasse a britânica Vickers and
como uma atividade antiética especialmen- Armstrong na disputa pelo lucrativo
te no campo empresarial, constatamos que contrato de modernização dos encoura-
8 “Sobre a espionagem, queremos acrescentar que, apesar do caráter totalmente antiético da atividade, as empresas
que cogitam praticá-la correm riscos demasiadamente grandes que podem conduzir à morte da organização.”
(CÂMARA DE COMÉRCIO FRANÇA-BRASIL, 2007, p. 8)
9 O que impediria o Prism de ser um instrumento, entre outros?
10 Integrariam esta rede um censor postal, três agentes de campo, um assistente no porto do Recife, dois funcio-
nários de escritório, um oficial de ligação com a Marinha do Brasil e representantes comerciais de empresas.
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O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)
çados São Paulo e Minas Gerais, entre Com relação à Segurança Ativa, limita-
1920 e 1922 (VIDIGAL, 1983, p. 92), remos nossa apreciação ao seu desdobra-
entre outros conhecimentos. Eis aqui um mento na Contraespionagem13, ou seja, o
exemplo cabal, conquanto já histórico, conjunto de medidas voltado para detecção,
de envolvimento estatal em Inteligência identificação, avaliação e neutralização das
Competitiva, e no Brasil. ações adversas de busca de conhecimento
Com efeito, a proposta da PNI aponta e dados sigilosos.
a Espionagem como a ameaça prioritária Allen Welsh Dulles (1963, p. 175)
para efeito de balizamento das atividades sintetiza de maneira bastante apropriada a
dos diversos órgãos que integram o Sisbin maneira como um serviço de Contraespio-
(BRASIL, 2009b, p. 10). nagem deve atuar eficientemente: “É claro
Retornamos então à importância das me- que se um país pretende proteger-se contra
didas de Contrainteligência, que se dividem a incessante invasão dos serviços de espio-
em dois segmentos: Segurança Orgânica e nagem hostis, tem de fazer mais qualquer
Segurança Ativa – esta de caráter proativo, coisa que vigiar os viajantes estrangeiros
aquela de caráter preventivo. No Glossário que atravessam suas fronteiras, que colocar
das Forças Armadas (BRASIL, 2007, p. guardas em volta de áreas ‘estratégicas’,
235-236), estão definidas da seguinte forma: ou que averiguar a lealdade dos seus em-
– A Segurança Orgânica visa obter pregados em posições de destaque. Tem
um grau de proteção ideal, por meio da também de descobrir o que procuram os
adoção eficaz e consciente de um conjunto serviços de espionagem das nações hostis,
de medidas destinadas a prevenir e obstruir como procedem, que espécie de agentes
as ações de qualquer natureza que ameacem usam e quem são.”
a salvaguarda de dados, conhecimentos e Disto depreendemos que uma proteção
seus suportes; e efetiva do Conhecimento Sensível não
– A Segurança Ativa, preconizando pode se dar somente com medidas de
a adoção de medidas de caráter proativo, Segurança Orgânica nos limites do terri-
destina-se a detectar, identificar, avaliar tório nacional. As medidas de Segurança
e neutralizar as ações da Inteligência ad- Ativa são igualmente fundamentais, e só
versa e outras ações de qualquer natureza, terão êxito se calcadas em atividade de
dirigidas contra os interesses da sociedade Inteligência no exterior. Shulsky e Schmitt
e do Estado. reforçam esta assertiva, ao se referirem à
No segmento Segurança Orgânica, Contraespionagem como “medidas que
destacamos a existência, no Brasil, do procuram entender como um serviço de
Programa Nacional de Proteção ao Conhe- Inteligência estrangeiro atua, a fim de
cimento (PNPC)11 e do Programa Nacional frustrá-lo, impedir suas ações, ou, no ex-
de Integração Estado-Empresa na Área de tremo, volver tais ações em nossa própria
Bens Sensíveis (Pronabens)12. vantagem” (2002, p. 108).
11 Para mais informações sobre a aplicação recente do PNPC, q.v. BALUÉ e NASCIMENTO, 2006, NOGUEIRA,
2012 e CRUZ, 2012.
12 Tendo em vista a adesão do Brasil aos principais regimes e às convenções internacionais estabelecidos pelos
países comprometidos com o desarmamento e a não proliferação nucleares, o Ministério da Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI) e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) conceberam o Pronabens.
13 A Segurança Ativa desdobra-se didaticamente em contraespionagem, contraterrorismo, contrassabotagem e
contrapropaganda.
30 RMB3oT/2013
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)
14 A Estratégia Nacional de Defesa atribui ao Ministério da Defesa (MD) e ao MCT, por intermédio do Departa-
mento de Ciência e Tecnologia do Exército, a promoção de ações que contemplem a multidisciplinaridade
e a dualidade das aplicações no setor cibernético (BRASIL, 2012a).
15 Os setores cibernético, nuclear e espacial são considerados estratégicos e decisivos para a Defesa Nacional
(BRASIL, 2012a).
16 O cientista nuclear Abdul Qadeer Khan, considerado o “Pai da Bomba Paquistanesa”, furtou a tecnologia de
enriquecimento de urânio da companhia Urenco, na Holanda, quando lá trabalhara entre 1972 e 1975, e a
aplicou na instalação da Usina de Kahuta, Paquistão. Posteriormente, liderou uma rede clandestina de venda
da tecnologia para Irã, Coreia do Norte e Líbia, que seria desmantelada em 2004 (OLIVEIRA, 2008, p. 4-5).
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O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)
17 “O Comando da Marinha, responsável pelas ultracentrífugas para enriquecimento de urânio, e as agências brasileiras
do setor advertiram o governo de que por trás das pressões da AIEA, atrás das quais o Departamento de Estado [dos
EUA] se movia, poderia existir o objetivo de espionagem da tecnologia de ponta desenvolvida pelo Brasil e consi-
derada superior à americana e à francesa.” (MONIZ BANDEIRA, 2005, p. 78) Os almirantes Othon Luiz Pinheiro
da Silva (2004) e Tiudorico Leite Barboza (2005, p.73), ambos engenheiros navais, endossaram esta possibilidade.
32 RMB3oT/2013
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)
18 Lembramos que em 2004 ocorreu o desmonte da rede de contrabando tecnológico nuclear do Dr. Khan, já citada.
19 Vide a reportagem da revista Veja de 19 de junho de 2013 (MARQUES e RANGEL, 2013), que expõe a
público, pejorativamente, a identidade de agentes e veículos da Abin empregados em missão de vigilância
no porto de Suape, e que, no mínimo, não leva em consideração a segurança pessoal ou familiar dos citados
servidores do Estado Brasileiro.
20 A atuação dos “órgãos de informações” militares naquele período, ao confundir a atividade de Inteligência com
a de Segurança, seria a responsável pela repulsa de parte da sociedade brasileira aos serviços de Inteligência
(ANTUNES, 2001, p. 193).
RMB3oT/2013 33
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)
sensível nacional ao destacar dois casos. Não resta dúvida de que esse é um
O primeiro é o do cupuaçu – fruta típica desenvolvimento importante. No entanto,
da Região Norte –, que teve seu nome pa- é forçoso reconhecer que, a despeito da
tenteado por empresa japonesa. O segundo existência do PNPC, há um longo cami-
caso é o da rapadura – doce tipicamente nho a ser percorrido, sobretudo no âmbito
brasileiro –, cuja tentativa de exportação da administração pública federal, para a
por produtores cearenses foi inviabilizada, efetivação de uma mentalidade de Con-
uma vez que empresa alemã já possuía a trainteligência. Consideramos que o PNPC,
patente do nome. como um instrumento demandante de co-
Apesar dos sérios operação das entidades
argumentos acima nacionais, públicas ou
mencionados, há que É imperativo que seja privadas, que geram
se reconhecer que, ou custodiam conheci-
desde 1980, o Brasil amplamente disseminada, mentos sensíveis para
vem desenvolvendo fortalecida e consolidada, o Brasil, não tem sido
atividades que visam suficiente para atingir
à proteção do conhe-
nos âmbitos da o propósito de proteção
cimento sensível. Em administração pública, do destes conhecimentos.
1983, a Escola Nacio- setor privado e do meio Nossa assertiva
nal de Informações de- respalda-se no levan-
senvolveu o primeiro acadêmico, a mentalidade tamento feito pela
Estágio de Proteção da da Contrainteligência, Controladoria-Geral
Informação Empresa- da União (CGU) até 14
rial, com o propósito
especialmente no seu de junho de 2013, so-
de oferecer instrumen- aspecto de proteção do bre os órgãos públicos
tos para auxiliar as ins- conhecimento sensível ligados à União que
tituições a protegerem usaram a classificação
informações empresa- para manter dados sob
riais sensíveis. Posteriormente, a partir da sigilo. Destacamos que, de todas as univer-
criação da Abin, e com base no artigo 4o da sidades federais, somente quatro21 fizeram
Lei 9.883/99, que atribui àquela Agência a uso de classificação sigilosa. Ou seja, uma
competência de “planejar e executar a pro- das medidas mais triviais de proteção de
teção de conhecimentos sensíveis, relativos conhecimento sensível, que é a atribuição
aos interesses e à segurança do Estado e da de classificação sigilosa 22, não estaria
sociedade”, coube ao seu Departamento sendo observada por uma série de órgãos
de Contrainteligência a responsabilidade responsáveis23.
de cumprir o disposto na lei, por meio da Na área nuclear, entre alguns exemplos
aplicação do PNPC. de vulnerabilidades que podem suscitar a
21 Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre - UFCSPA, Fundação Universidade
Federal do ABC – UFABC, Universidade Federal de Itajubá – Unifei e Universidade Federal de Santa
Catarina – UFSC (BRASIL, 2013b).
22 O artigo 23 da Lei 12.527/ 2011 relaciona as informações consideradas imprescindíveis à segurança da socie-
dade ou do Estado.
23 Um representante da comissão criada dentro da UFSC para analisar e classificar os dados em 2012 para que
nenhum trabalho seja usado inadequadamente (FELLTHAUS, 2013).
34 RMB3oT/2013
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)
RMB3oT/2013 35
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)
36 RMB3oT/2013
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)
RMB3oT/2013 37
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)
38 RMB3oT/2013
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)
País, experiência que poderia no futuro até Enfim, esperamos que este artigo seja
ser replicada, após a obtenção de resultados mais um incentivo à ruptura do paradigma
consistentes, em outros setores estratégicos brasileiro da “porta arrombada”, neste caso
do governo. com relação ao PNB.
REFERÊNCIAS
RMB3oT/2013 39
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)
APÊNDICE
TABELA 2 – Órgãos do Sipron que integram o Sisbin
Gabinete de Segurança Institucional da Órgão Central Órgão de coordenação das atividades de Inteligência
Presidência da República (GSI/PR) federal
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) Órgão de Coordenação Setorial, por por meio do Gabinete do Ministro de Estado
meio da Comissão Nacional de Energia
Nuclear (CNEN)
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) Órgão de Coordenação Setorial, por por meio da Secretaria Executiva
meio do Departamento de Segurança
e Saúde no Trabalho
Ministério da Integração Nacional Órgão de Coordenação Setorial por meio da Secretaria Nacional de Defesa Civil
Ministério do Meio Ambiente Órgão de Coordenação Setorial, por por meio do Ibama e da Secretaria Executiva
meio do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama)
Ministério da Justiça Órgão de Apoio por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública,
da Diretoria de Inteligência Policial do Departamento de
Polícia Federal, do Departamento de Polícia Rodoviária
Federal, do Departamento Penitenciário Nacional e do
Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação
Jurídica Internacional da Secretaria Nacional de Justiça
Ministério das Relações Exteriores (MRE) Órgão de Apoio por meio da Secretaria-Geral de Relações Exteriores
e da Coordenação-Geral de Combate aos Ilícitos
Transnacionais
Governos estaduais em cujos territórios Órgãos de Apoio poderão integrar mediante ajustes específicos e
se desenvolvam projetos ou atividades convênios
do PNB
40 RMB3oT/2013
Desarmamento e controle de armas*
sumário
emprego ou na dispo-
nibilidade de meios
militares, reduzindo o
risco de guerras pela
melhoria do conheci-
mento mútuo e pela
limitação das opções
disponíveis. No seu
conjunto, as medidas
Palácio das Nações, sede do escritório da Organização das Nações Unidas de desarmamento e
(ONU) em Genebra, que abriga a Conferência de Desarmamento controle de armas se
consolidam mediante
Desarmamento e controle acordos formalmente negociados entre
de armas Estados e alcançados livremente em tempo
de paz. Se até a Se-
Todos compreen- gunda Guerra Mundial
demos – militares e As medidas de a implantação desses
civis – que qualquer
limitação em arma-
desarmamento e controle acordos era baseada na
premissa de confiança
mentos coloca res- de armas se consolidam entre os Estados, após,
trições no alcance e mediante acordos em parte como fruto da
propósito das políticas corrida armamentis-
de defesa. De modo formalmente negociados ta nuclear, evoluiu-se
geral, o termo “desar- entre Estados e alcançados para sistemas formais
mamento” está ligado
à redução do nível
livremente em tempo de paz de verificação quanto
ao cumprimento das
da capacidade militar prescrições acordadas.
ou ao banimento de certas armas, tendo Por outro lado, cada vez mais o desarma-
por base o conceito de que a posse de ar- mento parece inspirar na diplomacia multila-
mamentos é a fonte principal de tensão e teral uma ênfase maior no impacto que certas
guerra. Por sua vez, o termo “controle de armas causam nos seres humanos do que na
armas” implica a colocação de restrições no própria razão de existência dos arsenais dos
Estados. Ou seja, os objetivos humanitários
passam a prevalecer sobre os temas de se-
gurança nacional e utilidade militar. Nesse
contexto, o entendimento prevalecente nas
discussões é que, se nenhum texto pode es-
pecificar antecipadamente as circunstâncias
que justificariam um comandante não cum-
prir as prescrições de dado acordo, nenhuma
circunstância poderia justificar a violação
dos princípios fundamentais das regras acor-
dadas, com ênfase nas que proíbem infligir
Acesso de pedestres ao Palácio das Nações, com
danos desnecessários a indivíduos e causar
bandeiras de todos os países integrantes da ONU destruição sem limites de propriedades.
42 RMB3oT/2013
Desarmamento e controle de armas
RMB3oT/2013 43
Desarmamento e controle de armas
rotativa de quatro semanas e realiza uma senso para implementá-lo. De 2010 a 2012,
sessão anual, dividida em três períodos, de também não se obteve sucesso, tendo o
dez, sete e sete semanas. É aberta a Estados Brasil, quando na Presidência, agora com o
observadores, porém fechada a organizações Embaixador Macedo Soares, em junho/julho
não governamentais, o que a torna mais de 2010, apresentado um novo programa,
imune a pressões da opinião pública. Suas vetado pelo Paquistão por não atender às
decisões são adotadas por consenso, enten- preocupações de segurança nacional rela-
dido como unanimidade, permitindo assim cionadas com possíveis negociações sobre
que, em plena igualdade de condições, os material físsil. Mesmo assim, é bastante
Estados membros possam exercer direito interessante destacar os ditos quatro temas
de veto, até mesmo no estabelecimento do centrais ali repetidamente discutidos:
programa de trabalho e no envio do relatório – Desarmamento nuclear – Na agenda
anual à ONU. desde 1979, com a primeira proposta já
No seu âmbito, as nações desenvolvem, contemplando negociações para término da
quando e como preciso, de forma proativa produção de todos os tipos de armas nucle-
ou reativa, suas formulações político-estra- ares e redução gradual de estoques até sua
tégicas de defesa. Ali, eliminação. Entre 1994 e
apreciam os meandros 1996, as negociações que
trilhados pelas demais Na Conferência de levaram ao Tratado de
nações, a serem apoia- Desarmamento se discute Banimento Compreen-
das ou confrontadas, a sivo de Testes Nucleares
depender de possíveis permanentemente o único dominaram as atividades
interferências com os tema que envolve a garantia da Conferência, sendo
interesses nacionais.
Ali discutem perma-
de sobrevivência das nações esse o único resultado
já obtido na área nuclear
nentemente o único (conquanto o tratado
tema que envolve, na realidade, a garantia ainda não tenha entrado em vigor). É tema de
de sobrevivência das nações. Por isso, vem interesse estratégico para o Brasil, de forma
ocorrendo um esforço internacional mais coerente com seus preceitos constitucionais.
concentrado, nos últimos anos, para sua – Controle de material físsil – Em 1993,
plena revitalização, sendo que o impasse a Assembleia-Geral da ONU recomendou
atual se evidencia pela repetida não apro- a negociação de um tratado para proibição
vação do Programa Anual de Trabalho. da produção de material físsil para fins
Vale destacar que o Brasil é membro da explosivos e, no ano seguinte, a Confe-
Conferência desde seus primórdios e man- rência iniciou discussões que desde logo
tém atuante representação específica junto se polarizaram sobre considerar apenas
a ela. Em 2000, quando, sob a Presidência a produção futura ou também incluir os
do Brasil, foi formulada uma proposta pelo estoques existentes.
então Embaixador Celso Amorim, que ten-
tava “organizar as diferenças”, prevendo a Em 2010, o Brasil, enquanto na Presi-
criação de quatro comitês independentes, dência, apresentou um novo arranjo para
focado em temas centrais. Em 2009, sob a um possível tratado, com um acordo bási-
presidência da Argélia, conseguiu-se apro- co, em contexto de desarmamento, e dois
var um programa de trabalho contemplando protocolos, lidando um com produção e
esses comitês, não se obtendo, porém, con- outro com estoques. A proposta, embora
44 RMB3oT/2013
Desarmamento e controle de armas
usada em diversas discussões, não prospe- quão complexa é a natureza dos compro-
rou. O tema possui particular motivação missos assumidos ou a serem assumidos
para o Brasil, por poder interferir com pelo Brasil, permeando as responsabilida-
os interesses nacionais e de defesa no que des do Estado defronte a comunidade in-
tange ao domínio autônomo do ciclo de ternacional, mas, no contexto humanitário,
combustível nuclear, no qual a Marinha atingindo também os indivíduos investidos
tem papel notável e essencial. da capacidade de mando, sujeitos desde
– Garantias negativas de segurança – As- 2002 também ao Tribunal Penal Interna-
pecto recorrente na agenda, objetiva proteger cional, por prescrição de emenda à nossa
os Estados não-nucleares contra o uso ou a Constituição Federal.
ameaça de uso de armas nucleares. Na prá- Se apreciarmos a história do desarma-
tica, ocorre uma resistência não exposta dos mento, constatamos que o Brasil sempre
Estados nucleares quanto a um instrumento esteve presente nas negociações relaciona-
internacional juridica- das com o tema, desde
mente vinculante, en- a Conferência de Haia
quanto os Estados não Na Assembleia-Geral de 1907, quando Rui
nucleares continuam a Barbosa contou com
se sentir sob a ameaça
da ONU, a posição assessores da Marinha
nuclear sem tal acordo. brasileira é de reiterar seu e do Exército. Parafra-
É tema de interesse es- entendimento de considerar seando o que foi bem
tratégico para o Brasil, dito pela delegação
em conformidade com a Conferência como a única brasileira na criação da
suas posturas regionais instituição constituída Liga das Nações, em
e internacionais. 1919, enquanto país
– Prevenção da cor-
pela comunidade pacífico, nada tendo de
rida armamentista no internacional para negociar imperialista, por força
espaço sideral – Desde desarmamento nuclear de seu considerável
1982 consta da agenda, território, suas extensas
porém nunca se conse- fronteiras e suas imen-
guiu passar das discussões para as negocia- sas águas jurisdicionais, o Brasil precisa ter
ções, por força de vistas divergentes quanto à Forças Armadas adequadas e bem prepara-
real necessidade desse acordo, que colocaria das. Daí é natural que busque uma atuação
restrições antes mesmo da ocorrência do determinada e contínua em todos os foros
emprego de armas ou de reflexos de cará- internacionais onde se discutem as limita-
ter humanitário. O tema possui particular ções na capacidade bélica das nações e se
motivação para o Brasil, que coordenou busca a prevenção dos danos humanitários
discussões temáticas em 2009 e 2010, por colaterais. Nessas oportunidades, logo se
poder interferir com os interesses nacionais identifica a completa opção nacional pela
e de defesa, postos as metas e os objetivos renúncia ao armamento de destruição em
do seu programa espacial. massa, seja nuclear, biológico ou químico,
devidamente formalizada pela adesão aos
O posicionamento do Brasil inúmeros tratados vigentes.
No foro da Conferência de Desarma-
Nos dois anos no exercício da função mento, a posição repetidamente expressa
de conselheiro militar, pude bem verificar pelo Brasil é de não haver alternativa, sendo
RMB3oT/2013 45
Desarmamento e controle de armas
de munições em cacho
(de forma resumida,
podendo ser descritas
como munições que
contêm outras muni-
ções de menor calibre
e as espalham na área
alvo, provendo efeito
de saturação).
Fora do âmbito da
Detalhe da Delegação Brasileira durante o período da Presidência da
ONU, por iniciativa
Conferência do Desarmamento em 2010, então composta pelo Embaixador de países insatisfeitos
Macedo Soares, ministro Tabajara, conselheiro Militar Castro Leal e pelos com compromissos já
conselheiros Júlio Laranjeira e João Marcelo alcançados ou com ne-
sua revitalização um passo firme no sentido gociações em curso, duas convenções sobre
de fortalecimento da abordagem multila- armas convencionais foram elaboradas. A
teral do desarmamento. Na Assembleia- Convenção sobre Minas Antipessoal, fruto
Geral da ONU, a posição brasileira é de do Processo de Ottawa, realizado sob forte
reiterar seu entendimento de considerar a influência de organizações não governa-
Conferência como a única instituição cons- mentais, bane totalmente a posse de minas
tituída pela comunidade internacional para antipessoal e promove a destruição dos
negociar desarmamento nuclear, apoiando estoques e limpeza de áreas, introduzindo,
a expansão no número de membros e maior pela primeira vez, a obrigação de assistência
participação da sociedade civil. a vítimas em tratados de armas. O Brasil ra-
Por outro lado, o Brasil participa de to- tificou essa Convenção e se destaca por par-
das as iniciativas desenvolvidas, no âmbito ticipação ativa no desminado humanitário
da ONU, relacionadas com o armamento na América Central e do Sul, sob a égide da
convencional e com medidas de construção Junta Interamericana de Defesa. A Conven-
de confiança. É membro pleno da Conven- ção sobre Munições em Cacho, resultante do
ção sobre Certas Armas Convencionais, Processo de Oslo, incluiu Estados, socieda-
entendidas essas armas como aquelas que de civil e o Comitê Internacional da Cruz
causam sofrimento desnecessário e têm Vermelha. Proíbe o uso, a armazenagem e
efeitos indiscriminados. Em detalhes, os a transferência de munições em cacho, com
protocolos da Convenção incluem proi- exceções, e trata também de assistência a
bição ou restrição ao uso de armas com vítimas, limpeza de áreas e destruição de
fragmentos que escapam à detecção por estoques. O Brasil, enquanto não partici-
raios X; minas, armadilhas e dispositivos pou do Processo de Oslo por considerar
improvisados; armas incendiárias; armas a inadequado o trato fora do âmbito da ONU
laser causadoras de cegueira; e obrigações e não envolver os principais produtores e
para reduzir os riscos e efeitos de restos utilizadores (entre os quais está incluso),
explosivos, em situações de pós-conflito. manteve ativa e permanente presença nas
De 2006 ao final de 2011, grupos de es- discussões no âmbito da Convenção sobre
pecialistas governamentais se reuniram Certas Armas Convencionais, que vieram
em Genebra na tentativa frustrada de a se revelar infrutíferas, por oposição dos
elaboração de protocolo referente ao uso próprios signatários de Oslo.
46 RMB3oT/2013
Desarmamento e controle de armas
Por último, no que se refere aos ins- análise de propostas de alterações. Como
trumentos ou iniciativas que, sem se con- cada acordo tem mecanismos próprios, é
figurarem como acordos entre as nações, imprescindível conhecimento específico
buscam regular o tema de desarmamento atualizado, preparo contínuo e participação
e controle de armas e contribuir para a proativa. Algumas das convenções, por
construção de medidas de confiança mú- sua complexidade, como a de Armas Bio-
tua, o Brasil está sempre presente. Cabe lógicas, envolvem inúmeros organismos
citar o Instrumento Padronizado da ONU governamentais, levando a pesados meca-
de Informação sobre Gastos Militares; o nismos internos de coordenação. Outras,
Regime de Controle de Tecnologias de em especial as relacionadas com armamento
Mísseis; o Registro da ONU sobre Armas convencional, afetam a indústria nacional de
Convencionais (abrangendo tanques, defesa, inclusive no que se refere a exporta-
blindados, sistemas de artilharia de grosso ções, como o recém-acordado Tratado sobre
calibre, aviões de combate, helicópteros de o Comércio de Armas.
ataque, navios de guerra, e mísseis e seus Mesmo expondo o tema de modo muito
sistemas de lançamento) e a Convenção sucinto, procurei deixar transparecer como
Interamericana sobre Transparência nas é preciso ser intensa e permanente a inte-
Aquisições de Armas Convencionais. ração entre o Ministério da Defesa e o das
Relações Exteriores, de modo a prover as
A atuação do Conselheiro delegações brasileiras, nos diversos foros,
Militar com os elementos requeridos para funda-
mentar as posições a serem manifestadas.
Pode-se depreender o intenso trabalho Exerci a função de conselheiro militar com
requerido em consequência desses atos inter- esse sentido em mente e atesto que foi uma
nacionais, todos contemplando a emissão de oportunidade extraordinária atuar junto à
relatórios, exames periódicos de conteúdo, nossa competente representação diplomática
medidas de verificação de cumprimento e em Genebra, participando ativamente, por
RMB3oT/2013 47
Desarmamento e controle de armas
dois anos, na elaboração e na formulação das das armas de destruição em massa, da regu-
posições brasileiras, quer na Conferência de lação do uso das armas de efeitos inumanos
Desarmamento, quer nos foros dos tratados e e de medidas equilibradas de construção de
convenções de que o Brasil faz parte. confiança e transparência, mas preservando
Porém, considero ser também necessário sua autonomia no processo decisório de bem
que a sociedade que sustenta as Forças Arma- e adequadamente equipar as Forças Arma-
das saiba que o Brasil tem sempre posicio- das, consideradas necessárias para a proteção
namento firme e claro em prol do banimento dos legítimos interesses nacionais.
48 RMB3oT/2013
A BUSCA DE GRANDEZA – (X)*
Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa
Elcio de Sá Freitas**
Vice-Almirante (Refo -EN)
SUMÁRIO
Cultura Militar
Desenvolvimento e defesa
Cultura Militar, desenvolvimento e defesa
Retrospecto Histórico
Transição
Atualidade
O imperativo da preparação
Preparação nas Forças Armadas
Preparação no Governo
Preparação na indústria de defesa
Preparação em órgãos técnico-científicos
Obstáculos
* Continuação da série publicada no 3o trim./2006; no 2o trim./2007; nos 1o, 2o, 3o e 4o trim./2011; e nos 2o, 3o e
4o trim./2012.
** Serviu na Diretoria de Engenharia Naval de dezembro de 1981 a agosto de 1990, tendo sido seu diretor de abril
de 1985 a agosto de 1990.
1 “Logística de Defesa é o provimento de meios para compor as Forças Armadas e sustentar suas operações em
quaisquer situações em que tenham que ser empregadas. Base Logística de Defesa (BLD) é o agregado de
capacitações tecnológicas, materiais e humanas necessárias para desenvolver e sustentar a expressão militar do
poder, mas também profundamente envolvida no desenvolvimento da capacidade e competitividade industrial
do país como um todo” [1]. A BLD tem oito componentes: indústria; ciência, tecnologia e inovação; apoio
logístico (manutenção e suprimentos); inteligência tecnológica; financiamento; mobilização; comercialização;
e arcabouço regulatório. Os três primeiros componentes constituem a Base Industrial de Defesa (BID) [1].
A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa
50 RMB3oT/2013
A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa
meios bélicos assim disponíveis e, em casos o mesmo ocorria na mídia, também sem
singulares, lançar bases para o futuro4. formação e informações úteis. E até mes-
Nesse ambiente histórico é que se for- mo nos cursos de altos estudos militares,
mou e consolidou a cultura militar nacio- questões sobre desenvolvimento e defesa
nal. Apesar de positiva evolução recente, não eram ainda objeto de estudos intensos e
seu substrato persiste. Dele, a parte mais contínuos. O foco das atenções era política
importante e insubstituível é a de valores internacional e estratégia — fundamental,
cívicos, a ser cuidadosamente preservada mas carente de uma BLD ainda a cons-
e fortalecida. truir em décadas de esforço inteligente e
incessante.
Transição Em dezembro de 2008 publicou-se a
Estratégia Nacional de Defesa (END),
Na década de 1970 iniciou-se uma destinada a tornar-se documento básico
transição. A implantação do PBDCT e de do Estado brasileiro sobre o poder militar
uma nascente indús- nacional. Ela declara,
tria de defesa criou logo ao início:
raízes. O PBDCT A Estratégia Nacional “A estratégia nacio-
evoluiu e originou o de Defesa é um impulso nal de defesa é insepa-
atual Sistema Nacional rável da estratégia de
de Desenvolvimento modernizante na cultura desenvolvimento. Esta
Científico e Tecno- militar nacional. Mas motiva aquela. Aquela
lógico e Inovação. A
incipiente indústria de
pode criar expectativas fornece escudo para
esta. Cada uma refor-
defesa, apesar de todas irrealistas. Desenvolvimento ça as razões da outra.
as dificuldades que e defesa é obra incessante Em ambas se desperta
enfrentou e enfrenta, para a nacionalidade
não sucumbiu. Algu- e gradual, para décadas. e se constrói a Nação.
mas universidades se Terá que superar duras Defendido, o Brasil
interessaram por as-
suntos de defesa. E os
contingências e dilemas terá como dizer não.
Terá capacidade para
militares ampliaram e construir seu próprio
aperfeiçoaram recursos humanos e centros modelo de desenvolvimento.”
tecnológicos; interagiram com indústrias e Ainda que discutível, a END é um marco
universidades; e em seus escassos progra- na evolução da cultura militar nacional:
mas de obtenção de meios, entre 1970 e pela primeira vez, o poder militar passou a
1995, procuraram desenvolver a indústria ser declaradamente preocupação do Estado
de defesa. Foi um início de evolução em Nacional; também pela primeira vez o
nossa cultura militar. Estado reconheceu que desenvolvimento e
No entanto, a cultura militar antiga ainda defesa são inseparáveis; e pela primeira vez
prevalecia: os altos escalões executivos e procurou traçar rumos para reforçarem-se
legislativos nacionais mantinham-se quase mutuamente. Foi um fato inédito, de alto
alheios a questões sobre o poder militar; alcance prático e político: procurou orientar
4 Aí se incluem a construção do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), moderno para a época, que logo
passou a produzir navios de guerra; e a criação do Instituto Militar de Engenharia (IME), do Instituto Tec-
nológico de Aeronáutica (ITA) e do Centro Técnico Aeroespacial (CTA).
RMB3oT/2013 51
A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa
esforços no presente e para o futuro; abriu para nós. Sem preparação, será impossível
caminho para cuidados com defesa no Con- realizá-la. A preparação terá que ser con-
gresso Nacional; atraiu atenções públicas tínua e caminhar pari passu com a grande
para problemas de defesa; e serviu e serve missão de desenvolvimento e defesa. Terá
de apoio aos que se dedicam a desenvolvi- que abranger desde os mais altos escalões
mento e defesa. do governo até os níveis mais básicos de
A Estratégia Nacional de Defesa é um execução nas Forças Armadas e na Base
impulso modernizante na cultura militar na- Industrial de Defesa.
cional. Mas pode criar expectativas irrealistas. Para toda grande missão é necessário
Desenvolvimento e defesa é obra incessante e “ter-se os homens certos nos lugares certos
gradual, para décadas. Terá que superar duras nas horas certas”. Em grandes organizações
contingências e dilemas. — civis ou militares, governamentais ou
não —, nem sempre o homem certo está no
Atualidade lugar certo. Ele pode ter sido bem preparado
para algumas funções, mas não para todas.
Continuamos em transição. Progredimos, Quanto mais elevado for o cargo, maior
mas ainda não temos cultura militar nacional será a possibilidade dessa ocorrência,
realmente motora de pois maior será a área
desenvolvimento e de- de conhecimentos e
fesa. Em organizações, Preparação é a obtenção experiências abrangida.
decisões e ações ainda de conhecimentos e Por isso, a preparação
influi a cultura militar experiências visando fins de dirigentes e seus
antiga, portadora de staffs é vital, mais ainda
valores inestimáveis específicos do que a dos demais
e permanentes5, mas níveis. Porém será inútil
insuficiente para concretizar as grandes aspi- caso se restrinja a generalidades.
rações nacionais e proteger nossa soberania e
patrimônio contra ameaças latentes. Torná-la Preparação nas Forças
apta não é só questão de tempo. Requer ade- Armadas
quada preparação. E esta tem que abranger até
os mais altos escalões de decisão nacionais Preparação dos militares
e seus staffs.
Conhecimento
O Imperativo da Preparação
Nossas carreiras militares são bem
Preparação é a obtenção de conhecimen- estruturadas. Têm quatro fases básicas de
tos e experiências visando fins específicos. provisão de conhecimentos: a de aspiran-
Nenhum país chegará à vanguarda se tes ou cadetes; a de oficiais subalternos; a
não se dedicar constantemente a desen- de oficiais intermediários; e a de futuros
volver-se e a operar e manter seus recursos almirantes, generais e brigadeiros. Em
bélicos presentes, projetar e construir os todas as quatro, os currículos são perio-
do amanhã e planejar os do futuro. Esta é dicamente revistos para atenderem às
uma grande e incessante missão, ainda nova necessidades presentes e futuras. Além
52 RMB3oT/2013
A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa
dessas fases, os oficiais obtêm conheci- cultura militar nacional. Sem eles, defesa
mentos operativos específicos ou graus e desenvolvimento se dissociam.
técnico-científicos avançados no Brasil e A terceira fase, preparando staffs aos
no exterior. altos escalões, deveria prover, além de
Nas duas primeiras fases básicas, as conhecimentos operativos, conhecimen-
atualizações resultam da evolução tecnoló- tos sólidos sobre Aparelhamento Con-
gica do País e da incorporação de escassos tínuo, BLD e CTI. Seu foco deveria ser
meios bélicos obtidos no exterior6. Além interno, voltado para a Força Armada, e
da formação acadêmica, o foco dessas externo, voltado para a BLD nacional e
fases é interno, pois elas visam essencial- a internacional.
mente a operação e A última fase pre-
manutenção primária cisa intensificar e am-
dos meios bélicos. Aparelhamento contínuo é pliar os dois focos, com
Aparelhamento Con- a constante atualização de os amplos propósitos
tínuo, BLD, e Ciência,
Tecnologia e Inova-
meios bélicos e de seu apoio. necessários aos altos
escalões militares. De-
ção (CTI) — elemen- É a grande atividade veria estudar integra-
tos indispensáveis ao promotora de damente estratégia, or-
poder militar — não ganização e o cenário
constam dessas fa- desenvolvimento e defesa. militar mundial, mas
ses. Devem ser objeto Mas será solapada se com grande ênfase em
importante das duas
seguintes.
ocorrerem obtenções não aparelhamento contí-
nuo. Este último tópico
A p a r e l h a m e n t o essenciais de meios bélicos ainda não se incorporou
contínuo é a constante ou de seus projetos no à nossa cultura militar.
atualização de meios Estratégia, orga-
bélicos e de seu apoio. exterior nização e exame do
Requer frequentes in- cenário mundial são
corporações de novos meios e periódicas elementos clássicos na vida e na cultura
modernizações. Demanda atividades inin- de militares em todos os países. Mas
terruptas de projeto, pesquisa, desenvolvi- aparelhamento contínuo de meios bélicos
mento, fabricação e avaliação. Depende de só existe em países de vanguarda. Para
criar-se, desenvolver-se e manter-se uma nós, ainda é quase uma abstração. Suas
apropriada BLD. É a grande atividade relações com desenvolvimento, BLD e
promotora de desenvolvimento e defesa. CTI são preocupações recentes, que ainda
Mas será solapada se ocorrerem obtenções não criaram força para suplantar antigos
não essenciais de meios bélicos ou de seus hábitos e ideias.
projetos no exterior. Torna-se inviável Alterar esse quadro, resultante de de-
sem programas contínuos e graduais de senvolvimento tardio, é alterar a cultura
aparelhamento, com orçamentos pluria- militar nacional. Culturas alteram-se gra-
nuais. Estes conceitos não existiam na dualmente, expostas a diferentes ideias.
6 No entanto, será necessário que na segunda fase muitos oficiais obtenham graus avançados em cursos técnico-
científicos. Isto ocorre em Marinhas de países de vanguarda. Será condição indispensável para melhor
desempenho operativo, para melhor apoio, para melhor aproveitamento nas fases seguintes de preparação e
para evolução apropriada da estrutura organizacional da Marinha.
RMB3oT/2013 53
A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa
Porém é indispensável que ideias assumam estudo e ação antes de surtos seguintes, e
forma escrita, para multiplicarem seu poder
não existe o hábito de a ela recorrer. Tudo
e perenizarem-se. recomeça no próximo surto, quase como
no anterior, numa sucessão de ciclos de
Experiência atraso crônicos. Esta é a situação de países
de desenvolvimento
Mais difícil do que tardio [3], [4], [5], [6].
prover conhecimentos Sem aparelhamento A partir da fase de
é prover experiências. transição iniciada em
Não se pode esperar
contínuo é impossível até 1970, temos tentado
que cada indivíduo ob- mesmo uma combinação nos libertar desses ci-
tenha experiências su- mínima de experiências clos crônicos. Mas,
ficientes para exercer pela própria natureza,
bem qualquer função. em desenvolvimento e eles tendem a perpe-
Bastará que em sua defesa. Este é o nó górdio tuar-se, pois em suas
equipe haja a neces-
sária combinação de
na preparação de civis e fases finais geram ob-
solescência e escassez
experiências. Isso é in- militares, tanto no governo extrema de meios bé-
dispensável, mormen- como no setor privado licos que demandam
te em staffs dos mais urgentes substituições,
altos escalões. Porém, somente possíveis por
sem aparelhamento contínuo é impossível novas obtenções no exterior.
até mesmo uma combinação mínima de Na longa duração de cada ciclo crônico,
experiências em desenvolvimento e defe- surge uma nova geração que não teve nem
sa. Este é o nó górdio mesmo a limitada experi-
na preparação de civis ência da que viveu o ciclo
e militares, tanto no Sem terem quadros anterior e que, portanto,
governo como no se- não conseguiu obter pre-
tor privado.
civis bem preparados, paração em desenvolvi-
Sem aparelhamen- remunerados e prestigiados mento e defesa. Apesar
to contínuo, o máximo será impossível às Forças das quatro cuidadosas
possível são surtos fases básicas de provisão
passageiros de obten- Armadas cumprirem sua de conhecimentos de sua
ção de meios bélicos missão de desenvolvimento carreira militar, só pôde
fornecidos pelo exte-
rior, com participação
e defesa. É necessário que estudar superficialmente
assuntos de desenvolvi-
mínima da BLD na- esta ideia se incorpore à mento e defesa. Diante de
cional. Quinze anos ou cultura militar nacional prementes necessidades
mais ocorrem entre os operativas, é natural que
inícios desses surtos. tenda a adotar soluções
No interregno, a pouquíssima experiência típicas da cultura militar antiga, com pequenas
obtida se perde, as equipes se desfazem, alterações. Mas o indispensável e possível é
os problemas logísticos se agravam e a conciliar urgências operativas com desenvol-
obsolescência sobrevem. Pouca ou nenhu- vimento e defesa, embora com prazos globais
ma documentação analítica é deixada para mais longos [8].
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A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa
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bilidade para desenvolver e sustentar a nossa defesa, a não ser que outra nacional
capacidade industrial e de inovação para a substitua. Vendida a estrangeiros, haveria
a nossa defesa” [1]. investimento direto do exterior e produtos
tecnológicos inicialmente mais avançados.
Preparação na Indústria de Mas esse progresso aparente seria um re-
Defesa trocesso real. Voltaríamos a ter o exterior
como nossa Base Industrial de Defesa.
Na indústria de defesa distinguem-se Tecnologias recentes ficariam no exterior
dois segmentos: o de produtos exclusiva- [8]. Em geral, pouco ou nenhum interesse
mente de defesa e o de produtos duais, isto haveria em projetar ou fabricar aqui com-
é, que servem tanto a aplicações militares ponentes críticos. Embora com produtos
como a civis. Da primeira, o governo é o inicialmente mais avançados, mas com par-
único cliente. ticipação nacional sem
alta densidade tecno-
Questão Capital A questão mais capital, lógica, cessaria nosso
urgente e complexa esforço para crescente
A questão mais ca- autonomia. Decisões
pital, urgente e com-
na preparação e no estratégicas sobre nos-
plexa na preparação e desenvolvimento da so desenvolvimento e
no desenvolvimento indústria de defesa é não defesa seriam feitas no
da indústria de defesa exterior. Por conveni-
é não desnacionalizá- desnacionalizá-la e decidir ências políticas ou eco-
la e decidir bem sobre bem sobre associações nômicas, seriamos cer-
associações tecnoló-
gicas com o exterior.
tecnológicas com o exterior ceados — contingência
sempre existente —,
Envolve a indústria mas sem ter cultivado
e o Governo. Requer análises sucessivas a capacidade de superar cerceamentos.
de casos, cada uma servindo de base às Haveria, enfim, uma aparência moderna
seguintes, em contínua acumulação de para uma dependência antiga. Todas estas
conhecimento e experiência. considerações também se aplicam, embora
Uma empresa tende a falir ou desna- abrandadas, a indústrias de defesa com
cionalizar-se quando a demanda de seus produtos duais.
produtos e as condições atuais são insu- A desnacionalização da indústria de
ficientes para cobrir custos de operação, defesa frustra as aspirações de desenvol-
fazer investimentos e gerar lucros. Se a vimento e garantia de nossa soberania e
indústria for exclusivamente de defesa, patrimônio. Porém, isolada, nossa indústria
cabe ao Governo — seu único cliente e de defesa não atingirá altos níveis. São
responsável pela defesa do país — detectar necessárias associações tecnológicas com o
tempestivamente essa situação, analisá-la e exterior. Que tipos de associações? Quando
tomar providências. Essa ação óbvia ocorre são necessárias? Como realizá-las? Res-
em países de vanguarda. postas a essas perguntas demandam análi-
Para agilidade e eficiência, a indústria ses em centros civis e militares de estudos
de defesa deve ser prioritariamente privada. de defesa, mas com participação direta da
Portanto, pode falir ou ser vendida a es- indústria de defesa. Cabe ao Ministério da
trangeiros. Se falir, se abrirá um flanco em Defesa solicitá-las. Alguns princípios são
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situações como essas e ter planos e ações para Preparação nos segmentos menos
superá-las é obter conhecimento indispensá- capacitados da indústria exclusivamente
vel. É uma preparação constante, somente de defesa
possível por ação conjunta do Ministério da
Defesa com a indústria e centros de estudos A capacidade de projeto e construção
de defesa. Ela terá que ocorrer sempre, pois de meios navais, armas pesadas e torpedos
a evolução tecnológica cria constantemente inclui-se no setor menos evoluído da indús-
novas necessidades e limitações. tria exclusivamente de defesa. Este é um
Também é possível formidável obstáculo,
que alguns componen-
tes em produtos atuais
A capacidade de projeto particularmente Marinha. Decorre de
para a
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Referências
[1] Base Industrial de Defesa. Eduardo Siqueira Brick, Seminário na Escola de Comando e Estado-
Maior do Exército (Eceme), Rio de Janeiro, 27 de março de 2013.
[2] Estratégia Nacional de Defesa. 2a Edição. Ministério da Defesa, Brasil, dezembro de 2008.
[3] “A Busca de Grandeza”. Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas, Revista Marítima Brasi-
leira. 3o trimestre de 2006.
[4] “A Busca de Grandeza II”. Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas, Revista Marítima
Brasileira. 2o trimestre de 2007.
[5] “A Busca de Grandeza III”. Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas, Revista Marítima
Brasileira. 1o trimestre de 2011.
[6] “A Busca de Grandeza IV”. Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas, Revista Marítima
Brasileira. 2o trimestre de 2011.
[7] “A Busca de Grandeza V”. Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas, Revista Marítima
Brasileira. 3o trimestre de 2011.
[8] “A Busca de Grandeza VI”. Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas, Revista Marítima
Brasileira. 4o trimestre de 2011.
[9] “A Busca de Grandeza VII”. Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas, Revista Marítima
Brasileira. 2o trimestre de 2012.
[10] Memórias de um Engenheiro Naval – Vice-Almirante (EN) Júlio Regis Bittencourt, Serviço de
Documentação da Marinha, 2005.
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CARTOGRAFIA: UM BREVE PANORAMA HISTÓRICO
2 Decreto no 95.480, de 13 de dezembro de 1987, alterado pelos Decretos no 937, de 23 de setembro de 1993, e no
1.750, de 19 de dezembro de 1995.
3 A forma mais antiga das Ordenanças encontrada são Ordinationes Ripariae, elaboradas pelos dirigentes marítimos
de Barcelona e confirmadas por Jaime I (Rei de Aragão), em 1258, tratando do armamento que deveriam
levar os marinheiros embarcados em suas naves. Pouco depois, surgiu o código de Las Siete Partidas (1265),
de Afonso X, o Sábio (Rei de Leão e Castela), que regulou como se deveria reger uma Marinha constituída
essencialmente de navios de guerra.
Mesmo após a Restauração Portuguesa, tal legislação quase sempre foi observada pela Armada lusi-
tana até quase o século XIX. De grande influência em nossa Marinha, foi também o documento The King’s
Regulations and Admiralty Instructions for the Government of Her Majesty’s Naval Service, ou seja, as
Ordenanças britânicas. Suas origens remontam, da mesma forma que as do Reino de Aragão, aos usos e
costumes navais do Mediterrâneo, possivelmente os estabelecidos nas Leis de Rodes (800 AC), preservadas
pelas compilações romanas sob a designação Lex Rhodia.
Em Portugal, país do qual nos ficaram as leis, usos e costumes navais, só muito tarde o vocábulo
ordenança foi utilizado para a legislação naval. Excetuando o período filipino, quando as Ordenanzas espa-
nholas nortearam a atuação das armadas comuns, foi notória a preferência lusa pela palavra regimento para
denominar procedimentos gerais. (OGSA, Título X – Histórico).
4 Quatro anos do Ciclo Escolar, acrescido de um ano do Ciclo Pós-Escolar, como guarda-marinha.
A HISTÓRIA MILITAR NA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DE MARINHA
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A HISTÓRIA MILITAR NA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DE MARINHA
tunidades para se trazer ao aspirante os no Colégio Naval e, por sua vez, tem prosse-
referenciais do passado. São exemplos: guimento na Escola de Guerra Naval.
as cerimônias alusivas à Batalha Naval Ao estudar a História Militar e seu com-
do Riachuelo (11 de junho) e ao Dia do ponente naval e conhecer as realizações
Marinheiro (13 de dezembro); visita anual do passado, o nosso aspirante assimila o
dos Veteranos de Guerra, inauguração do exemplo dos grandes líderes; sedimenta o
Memorial de Honra, em homenagem aos patriotismo, o civismo, o culto às tradições
oficiais e guardas-marinha falecidos em históricas, o compromisso com o legado
operações de guerra; resgate de marcos construído pelas gerações passadas, o espí-
históricos, como a “Canção da Divisão rito de corpo, o amor à profissão das armas
Naval em Operações de Guerra” (DNOG e o entusiasmo com que é exercida e a fé
– Primeira Guerra Mundial (IGM))5, visi- na missão elevada das Forças Armadas;
tas guiadas ao Museu Naval e ao Espaço bem como encontra motivação para o apri-
Cultural da Marinha etc. moramento técnico-profissional. Adquire
Como o Sistema de Ensino da Naval a convicção de que o mar sempre esteve
(SEN) é um processo de educação contínuo presente na história do Brasil: que o expôs
e progressivo, o estudo de História na Escola ao mundo, que lhe trouxe o progresso e as
Naval representa a continuidade do iniciado ameaças.
5 Na Primeira Guerra Mundial, tornou-se muito conhecida a marcha britânica “It’s a long way to Tipperary”. O
Capitão de Corveta Benjamim Goulart (comandante do Navio-Tênder Belmonte e, mais tarde, do Cruzador
Bahia) criou versos para serem cantados com a música dessa marcha. A Canção da DNOG foi muito cantada
pelas guarnições da Divisão Naval e recentemente recuperada para emprego em cerimônias na Escola Naval.
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A HISTÓRIA MILITAR NA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DE MARINHA
Combate dos galeões holandeses Utrecht e Huys Grupo de Visita e Inspeção da Fragata União em
Van Nassau contra o português Nossa Senhora do treinamento de abordagem a viva força, em águas
Rosário (Bahia – setembro de 1646)10 libanesas
6 Tal observação nos remete ao conceito de “áreas vitais”, onde se encontra maior concentração de poder político
e econômico, conforme define o subitem 4.3 da Política de Defesa Nacional (Decreto 5.484/2005).
7 Esporão – Protuberância pontuda e muito resistente na proa dos navios de guerra, destinada a perfurar o casco
dos navios adversários.
8 Galé – Navio de guerra da antiguidade impelido por remos, podendo ou não possuir vela como recurso de
propulsão auxiliar.
9 O abalroamento foi empregado pelo Almirante Barroso na Batalha Naval do Riachuelo (11 de junho de 1865),
ainda que a Fragata Amazonas, seu capitânia, não fosse equipada com esporão. Os navios encouraçados do
tipo monitor, construídos à época, incorporariam o esporão no seu projeto.
10 Os navios holandeses aferraram-se ao português, cujo comandante decidiu explodi-lo levando com ele o Utrecht e
avariando seriamente o Huys Van Nassau, que, posteriormente, foi recuperado e incorporado à Armada portuguesa.
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11 JUKES. p. 21.
12 Os navios japoneses possuíam recursos muito limitados de controle de avarias comparativamente aos norte-
americanos. Os aviões japoneses eram dotados de tanques de combustível rígidos, que explodiam quando
atingidos, em função da concentração de gases de evaporação; já os norte-americanos desenvolveram
modelos com tanques colapsáveis.
13 Exemplos: confrontos navais nas linhas de comunicação marítimas entre a América e as metrópoles europeias;
ocupação holandesa de Angola (25/8/1641) e sua retomada por Salvador Correia de Sá e Benevides, à frente
de uma expedição que partira do Rio de Janeiro (maio de 1648).
14 Tela de Juan de la Corte (1597-1660), Museu Naval, Madrid. (HIERRO, p. 46). Na manhã de 12/9/1631, uma
esquadra luso-espanhola, comandada pelo Almirante D. Antônio de Oquendo (19 navios de guerra, escol-
tando 23 navios mercantes com destino à Europa e 12 caravelas transportando tropas para Pernambuco),
foi atacada por uma esquadra holandesa (16 navios). No fim da tarde, os holandeses estavam em fuga, com
severas baixas, inclusive de seu comandante, Almirante Andriaan Janszoon-Pater. Do ponto de vista tático,
a vitória foi indecisa, mas foi uma vitória estratégica, visto que Oquendo conseguiu cumprir a sua missão,
pois o comboio seguiu incólume.
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A HISTÓRIA MILITAR NA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DE MARINHA
15 No início da Guerra da Tríplice Aliança, o Almirante Joaquim Marques Lisboa, Marquês de Tamandaré, foi
o comandante em chefe da Esquadra Imperial; O General Manuel Luís Osório, Marquês do Erval, foi o
comandante do Exército Imperial. Mais adiante, o perfeito entendimento entre Luís Alves de Lima e Silva,
o Duque de Caxias, comandante do Teatro de Operações, e o Almirante Joaquim José Inácio de Barros,
Visconde de Inhaúma, que sucedera Tamandaré, contribuiria efetivamente para o sucesso das operações.
16 Este comentário está incluso em correspondência do ministro da Guerra ao Presidente da República, datada
de 27 de janeiro de 1942, que trata dos preparativos do Exército com relação à Segunda Guerra Mundial,
conforme reproduzido em: LEITE, NOVELLI. 1983, p. 367.
17 Além da Divisão Naval, enviou-se uma missão médica, composta por civis e militares, para a França; um
grupo de aviadores navais, acrescido de um oficial do Exército, foi incorporado à Real Força Área britânica.
Oficiais da Marinha e do Exército foram destacados na Marinha norte-americana, na Marinha Real britânica
e no Exército Francês.
18 Em 23 de agosto de 1942, foi assinado um acordo de cooperação entre o Brasil e os EUA em que se traçavam
as normas e condições destinadas a regular o concurso das forças militares e econômicas dos dois países. Por
este acordo, o Comando da Força do Atlântico Sul (Marinha do EUA) detinha o comando operacional das
forças navais e aéreas do Brasil. A 4ª Esquadra possuía uma Ala Aérea, composta de esquadrões de aviões
e de blimps. (Lavenère-Wanderley, 1966, p. 354 e 355)
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19 Como exemplo, o período entre guerras é internamente conflituoso: Revolta da Escola Militar do Realengo e
do Forte de Copacabana (1922); Revolução de 1923 (Rio Grande do Sul); Revoluções em São Paulo (1924
e Constitucionalista de 1932); Coluna Prestes (1925 a 1927); Revolução de 1930, que culminou com a
deposição do Presidente da República, Washington Luís, e o impedimento da posse do Presidente eleito,
Júlio Prestes, e pôs fim à República Velha; Intentona Comunista (1935); golpe de Estado de 1937 (instituiu
o Estado Novo); Levante Integralista (1938); movimento anarquista etc.
20 “Globo News Painel”. 24 de abril de 2011.
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Personalidades civis também fazem jus a destaque na História Militar. No Brasil, entre outros, merecem
destaque dois grandes personagens, por vezes antagônicos em suas concepções, os quais constituem refe-
rências para o nosso tempo: José Maria da Silva Paranhos Júnior – o Barão do Rio Branco – e Rui Barbosa.
O Barão, em sua gestão na pasta das Relações Exteriores, para apoiar a política externa, procurou
obter o respaldo do poder militar, que então era insuficiente e necessitava ser ajustado para um nível que
conferisse credibilidade. Nessa época, o tema Defesa virou motivo de discussão nacional, sendo debatido
na mídia e no Congresso. O Barão defendia a tese de que era necessário ser forte para ser pacífico.21
Rio Branco, em seus importantes escritos, assinalou:
Não depende da vontade de uma nação evitar conflitos internacionais.22
Os povos que, ... desdenham as virtudes militares e se não preparam para a eficaz defesa
de seu território, dos seus direitos e da sua honra, expõem-se às investidas dos mais fortes e aos
danos e humilhações consequentes da derrota.23
Entende-se entre nós que só depois de começada a guerra se aprende a guerra.24
Nota-se que o Barão evoluía com desenvoltura nos quatro campos clássicos do poder25: não apenas
guiava-se com base no culto ao Direito e no poder coercitivo, pois se escudava em seu profundo conheci-
mento e capacidade de persuasão (inclusive por meio da imprensa), além de recorrer ao poder econômico,
pois, de outra forma, não viabilizaria as compensações acordadas nas negociações.
Rui Barbosa, o grande e polêmico jurista, político, diplomata e escritor brasileiro, foi um dos intelectuais
mais brilhantes do seu tempo. Muito citado – mais que lido –, deixou importantes escritos relacionados
à Defesa Nacional, entre outros temas, os quais devem fazer parte da cultura militar. Em Cartas de
Inglaterra, citando Spencer Wilkinson, argumentou:
Um escritor inglês, (...), traduziu uma verdade memorável nestas palavras: “As nações
anuem ao arbitramento em desavenças triviais, mas nunca se submetem a ele em pendências,
que sejam , ou se acredite serem de importância vital para elas. Uma nação que confia nos seus
direitos, em vez de confiar nos seus marinheiros e soldados, engana-se a si mesma e prepara a
sua própria queda”.
Especificamente quanto ao Poder Naval, acrescentou:
A defesa de um Estado é o mais importante dos seus problemas. E nesse problema, o mais
imperioso é a defesa marítima. Esta requer uma longa antecipação de trabalhos, uma aturada
preparação técnica, um concurso de meios que não se apuram na ocasião da necessidade. (....)
As fronteiras terrestres não raro têm na sua própria natureza, nos rios, nos montes, nos acidentes
do solo as condições da sua guarda, ao passo que a fronteira oceânica é uma porta escancarada
a todas as incursões.
(.............................................................................................................................)
(...). esquadras de guerra não se evocam de improviso, nem se atamancam entre apuros
com invenções engenhosas de momento.
21 Mas não se pode ser pacífico sem ser forte, como não se pode, senão em intenção, ser valente sem ser bravo.
Discurso de agradecimento do Barão do Rio Branco, por ocasião de homenagem no Clube Militar, sem data
indicada (ANTUNES, 1942, p. 102.)
22 Discurso pronunciado no Palácio do Itamaraty, Rio de Janeiro, em 10 de novembro de 1906. (Discursos, p. 104).
23 Discurso pronunciado no Clube Militar, Rio de Janeiro, em 15 de outubro de 1911. (Discursos, p. 279).
24 Carta a Joaquim Nabuco (24/8/1892), conforme citado pelo Vice-Almirante (Ref-EN) Armando de Senna
Bittencourt, ao discorrer sobre o tema “O emprego do poder militar como estratégia de Rio Branco”, no
“Seminário Internacional ‘Barão do Rio Branco – 100 anos de memória”’, Palácio do Itamaraty, Rio de
Janeiro, em 8 de maio de 2012.
25 Aqui nos referimos aos poderes político, econômico, militar e psicossocial como componentes clássicos do
Poder Nacional, conforme conceituação adotada pela Escola Superior de Guerra no passado. Posteriormente,
agregou-se um quinto poder componente: o cientifico-tecnológico. Esta conceituação, com cinco componentes,
foi acolhida na Doutrina Militar de Defesa.
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A HISTÓRIA MILITAR NA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DE MARINHA
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A HISTÓRIA MILITAR NA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DE MARINHA
REFERÊNCIAS
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Brasília, em 18 de junho de 2007, por ocasião do seminário “As Forças Armadas na Defesa
da Amazônia”, promovido pelo Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) e pela
Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), em parceria com a Escola Superior de Guerra.
ABREU, G. “A Importância Geoestratégica do Atlântico Sul: Variável Defesa”. Conferência apre-
sentada no seminário “Segurança e a Defesa do Atlântico Sul”, organizado pela Associação
dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (Adesg), no Instituto Histórico-Cultural da
Aeronáutica (Incaer), Rio de Janeiro, em 28 de abril de 2011.
ABREU, G. “Política Externa e Defesa na primeira metade do século XX”. Rio de Janeiro: Revista
da Escola de Guerra Naval no 14 (dezembro de 2009).
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Guerra, 1942.
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SILVA, L. ARMARIA. Revista Marítima Brasileira jan, fev, mar 1980. Rio de Janeiro: Serviço de
Documentação da Marinha, 1980.
RMB3oT/2013 75
A Família Real não saía sem ela
Ela navegava soberana pela Baía de
Guanabara. Viveu dias de glória e pom-
pa. A Família Real não passeava sem
ela – a Galeota Imperial. Construída em
1808, em Salvador, na época da vinda de
D. João VI para o Brasil, esteve em uso
até os primeiros governos republicanos.
Modelo sem similar em toda a
América, ainda conserva a sua realeza.
A Galeota Imperial foi detalhadamente
restaurada para compor o acervo do
Espaço Cultural da Marinha.
(Parte I)
SUMÁRIO
1 Graduado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre e doutor em História Com-
parada, UFRJ. Instrutor de Estratégia e História Naval da Escola de Guerra Naval, ex-diretor do Serviço de
Documentação da Marinha.
2 REYNOLDS, Clark. Command of the Sea. The History and Strategy of Maritime Empires. New York: William
Morrow, 1974, p. 211.
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)
nunca se põe e cujas fronteiras a natureza táticas de combate, muitas das quais fize-
ainda não determinou”3, segundo palavras ram Nelson se sobressair entre seus pares.
de Sir George Macartney4.
Horatio Nelson foi o principal expoente A Marinha Real britânica no
da Marinha Real britânica (RN) no final do século XVIII: organização e
século XVIII e início do XIX. Ele nasceu os meios de combate
em 1758, na cidade de Burham Thorpe, em
Norfolk, na Inglaterra, dois anos depois do A GB era uma monarquia constitucio-
início da Guerra dos Sete Anos, o que para nal, sendo o seu rei Jorge III, que não exer-
Paul Kennedy foi a mais decisiva vitória cia o poder absoluto, dependendo, assim,
da GB em guerra como estado-nação. 5 de um primeiro-ministro apontado por ele
Com 12 anos de idade entrou para a RN e e um gabinete para as funções executivas.
lá permaneceu até sua morte, em combate Desde que assumiu o trono, em 1760, Jorge
na Batalha de Trafalgar, em 1805. Nelson III fazia questão de interferir nos assuntos
viveu o auge do poderio naval britânico. do gabinete, o que complicava a administra-
Ele conviveu em uma comunidade com ção, uma vez que ele alternava períodos de
seus costumes, tradições e linguagens pró- insanidade, o que se tornou permanente em
prios, algumas vezes contrastantes com a 1811. Esse gabinete possuía um primeiro
chamada sociedade “civil”6 inglesa. Nesse lorde do Almirantado, normalmente um
mundo ele se criou, viveu, amou e acabou político escolhido pelo primeiro-ministro
morrendo gloriosamente em combate, de- e referendado pelo rei. Podia ser também
fendendo o seu país. um almirante elevado ao pariato. A esse
O que se pretende discutir nesta série político cabia a condução política da RN.
de artigos é a constituição da RN, de for- A House of Commons (Câmara dos Co-
ma a se compreender o universo no qual muns), composta de elementos conduzidos
Nelson estava inserido e entender de que pelo sufrágio distrital, representantes da
forma esse instrumento de poder atendeu pequena burguesia, votava a aprovação de
às políticas navais britânicas do período. recursos destinados à Marinha, ao mesmo
Essa discussão será dividida em quatro tempo em que, junto com a House of Lords
artigos temáticos. O primeiro abarca a (Câmara dos Lordes), ou “casa superior”,
organização naval, seus meios de combate, debatia assuntos específicos relativos à
órgãos de apoio e construção naval. Em se- condução política da RN. A House of
guida, pretende-se discutir em dois artigos Lords era mais poderosa que a House of
distintos os recursos humanos, os modos Commons, sendo composta de um número
de entrada de oficiais e praças na RN, o pequeno de membros, geralmente pares e
recrutamento e as tarefas a bordo. Por fim, ricos detentores de terras.
no último artigo da série serão apresentadas A responsabilidade por organização,
a vida cotidiana nos navios da armada e as planejamento, estratégia e designação das
3 FERGUSON, Niall. Império. Como os britânicos fizeram o Mundo Moderno. São Paulo: Planeta, 2010, p. 58.
4 Sir George Macartney, primeiro Conde Macartney, nasceu em 1737 e morreu em 1806, tendo sido um diplomata
e administrador britânico competente. Ficou conhecido por essa expressão.
5 KENNEDY, Paul. The Rise and Fall of British Naval Mastery. London: Penguim, 2004, p. 97.
6 Segundo Ronald Jacobs, “sociedade civil” se refere a todos os lugares em que indivíduos se reúnem para con-
versar, defender interesses comuns e ocasionalmente tentar influenciar a opinião ou as políticas públicas. Em
muitos aspectos, a sociedade civil é onde as pessoas passam o tempo quando não estão no trabalho ou em
casa. Fonte: SCOTT, John. Sociologia: conceitos-chave. Rio de Janeiro: Zahar, 2010, p. 199.
78 RMB3oT/2013
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)
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A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)
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A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)
vam; no entanto, a principal era a proteção nas Bermudas, com efetivos variados, che-
dos comboios de navios mercantes que tra- gando a ter três navios de linha em 1795;
ziam madeira do Báltico, além de “mostrar a e, por fim, uma divisão no Atlântico Sul,
bandeira” aos estados bálticos. Assim, pode- nas costas do Brasil, que em 1808 chegou
se considerar que essa esquadra variava de a ter cinco navios de linha e três fragatas22.
tamanho conforme a missão a ela atribuída.
Em 1801, por exemplo, era constituída por Tipos de navios que
21 navios de linha e 11 fragatas19. compunham as esquadras da
A quinta esquadra da RN foi a Esqua- RN
dra das Índias Ocidentais, localizada em
Antigua, em Barbados e na Jamaica. Efeti- Os navios de guerra básicos no século
vamente essa esquadra foi dividida em dois XVIII eram os navios de combate a vela,
comandos, um nas Ilhas de Sotavento e outro isto é, os navios que compunham a linha de
em Port Royal, na Jamaica. Sua importância batalha, e as fragatas. Eles eram construídos
variava conforme o tipo de ameaça. Suas ta- de madeira, carvalho na maior parte, com
refas básicas eram a proteção aos comboios algumas seções de metal, incluídas aí uma
que saíam das Antilhas para a GB e o ataque parte submersa de cobre nos cascos que
aos corsários franceses e espanhóis que servia como atrativo eletrolítico, ao mesmo
assolavam a região. Em 1795 essa esquadra tempo em que congregavam micro-orga-
possuía cinco navios de linha e sete fragatas, nismos, impedindo a acumulação desses
aumentando em 1805 para três navios de animais em outras partes mais vulneráveis
linha, 14 fragatas e 24 chalupas.20 submersas dos navios.
A sexta esquadra da RN foi a Esquadra Os conveses dos navios eram mantidos
das Índias Orientais e do Cabo, cujas ta- tão baixos quanto possível, de modo a
refas básicas eram a proteção dos interesses manter o centro de gravidade o mais pró-
britânicos na Índia e na África do Sul e o ximo da linha-dágua, melhorando o seu
apoio aos comboios que provinham des- desempenho e sua estabilidade. Os grandes
sas regiões. Suas bases eram na região da navios de linha possuíam até três conveses,
Cidade do Cabo e em Madras e Bombaim, enquanto os menores, como as fragatas,
na Índia. Em 1797 ela era composta de dez possuíam apenas um convés corrido.
navios de linha e 17 fragatas. Em 1805 Todos os navios de combate possuíam
atingiu oito navios de linha21. três mastros principais. O mais de vante era
Existiam esquadrões menores no Mar chamado de mastro traquete23. O mastro
Irlandês, na Base de Cork, no sul da Irlanda, localizado no centro do convés principal era
com cerca de um navio de linha e fragatas e chamado de mastro grande24 e, por fim, o
brigues, dependente da Esquadra do Canal; mastro mais de ré era chamado de mastro da
na América do Norte, em Halifax, Nova gata ou mezena.25 Todos esses três mastros
Escócia, Terra Nova e, eventualmente, possuíam mastaréus e vergas que suporta-
19 Ibidem, p. 16.
20 Ibidem, p. 17.
21 Ibidem, p. 20.
22 Ibidem, p. 13.
23 Em inglês, the fore mast. Fonte: LIMA, Alexandre de Azevedo. Termos Náuticos. Inglês-Português. V1. 5a
ed. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1981, p. 313.
24 Em inglês, main mast. Fonte: Ibidem, p. 472.
25 Em inglês, mizzen mast. Fonte: Ibidem, p. 481.
RMB3oT/2013 81
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)
26 A altura do mastro grande do HMS Victory, do convés até o tope do mastro, era de 78 pés, ou 24 metros. O
mastro traquete tinha 21 metros; e a mezena, 20 metros. Fonte: LONGRIDGE, Nepean. The Anatomy of
Nelson’s Ships. Hertfordshire: Model and Allied Publications, 1977, p. 190 e 157.
27 Um livro pequeno, porém interessante, que descortina a navegação a vela é o de Alberto Piovesana Júnior,
Noções Básicas sobre Navios a Vela, publicado em 2006 pela Fundação de Estudos do Mar.
28 A expressão rate foi traduzida como classe, no entanto, em inglês, class significa navios de desenhos idênticos,
o que não era o caso para os rated ships. Assim, na falta de expressão mais condizente em português, optou-
se por classe para rate em relação à quantidade de canhões e conveses. Fonte: LAVERY, Brian. Nelson’s
Navy. op. cit., p. 40.
29 A tripulação era composta da oficialidade (os oficiais de bordo e da guarnição), dos suboficiais e de marinheiros.
30 Os navios de 64 canhões não eram os mais queridos entre os oficiais de Marinha ingleses, pois não possuíam as
qualidades de manobrabilidade e eficiência em combate dos de 74 canhões; no entanto, foram navios muito
construídos na RN. Fonte: Ibidem. p. 48.
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A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)
31 LAVERY, Brian. Life in Nelson’s Navy. Gloucestershire: Sutton Publishing, 2007, p. 17.
32 Lorde Thomas Cochrane, Conde Dundonald, nasceu em 1775, foi promovido a capitão em 1801 e a contra-
almirante em 1832. Foi o primeiro-almirante e organizador da Marinha Imperial brasileira em 1823, contratado
por Dom Pedro I. Sir Philip Bowes Vere Broke nasceu em 1776, foi promovido a capitão em 1801 e a contra-
almirante em 1830. Ficou famoso por capturar o navio norte-americano USS Chesapeake em 1812, quando
comandava a Fragata HMS Shannon. Recebeu o pariato em 1813, com o título de barão. Fonte: TRACY,
Nicholas. Who is who in Nelson´s Navy. London: Chatham, 2006, p. 77 e 61.
33 Comandantes como posto hierárquico, em inglês commander. Será apresentada à frente a escala hierárquica
dos oficiais da RN.
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A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)
84 RMB3oT/2013
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)
uma guarnição de 16 homens para efetuar correntes lançadas tanto dos canhões como
o tiro. O canhão mais utilizado na RN foi o de caronadas. Os franceses preferiam atirar
de 32 pounder. Os canhões se localizavam nos mastros de modo a diminuir a velocidade
nos conveses corridos, tanto a bombordo dos britânicos, enquanto os últimos preferiam
como a boreste do costado, em seteiras39 a atirar na linha ou abaixo da linha-d’água, de
serem abertas por ocasião do combate. Pela modo a afundar o navio adversário.41
localização dos canhões pode-se perceber É importante mencionar que existia uma
que a maior eficiência destes provinha grande probabilidade de acidentes quando se
exatamente em colocar-se lado a lado com trabalhava com pólvora negra a bordo dos
o navio adversário, de modo a descarregar navios. Era estritamente proibida a utilização
uma bordada de tiros contra o navio inimigo. de objetos metálicos próximos à munição, de
Outro canhão de menores dimensões era modo que não houvesse uma centelha que
a caronada, que foi inventada pelo General provocasse a explosão do paiol onde estava
Robert Melville em 1752 e primeiramente estocada a pólvora negra. Esse paiol42, por
usada na RN em 1779.40 Ele era menor e uma questão de segurança, ficava localizado
usava uma carga explosiva restrita, podendo ao centro e ao fundo do navio, de modo a se
disparar projéteis esféricos de até 64 libras. afastar dos tiros inimigos, de pontos de ilu-
Era o armamento disponível nos tombadilhos minação e de centelhas, ao mesmo tempo em
das fragatas e a principal artilharia nos brigues que era monitorado para impedir vazamentos
e nas chalupas e escunas. Tinha a vantagem de água salgada que inutilizariam a munição.
de causar grandes baixas entre os adversários Se fosse observado fogo no paiol de munição,
quando utilizado contra o madeirame do ini- as chances de explosão eram altíssimas, com
migo, pois provocava grande quantidade de a consequente destruição do navio.
lascas de madeira, que penetravam nos corpos Essa pólvora negra provocava grande
dos combatentes. Tais ferimentos eram os quantidade de fumaça, que poderia obscu-
mais críticos em combate, pois evoluíam, na recer tanto a pontaria dos canhões como a
maior parte das vezes, para infecções graves. visibilidade do inimigo. Com falta de vento
Deve-se lembrar que nesse período ainda no combate, a fumaça poderia demorar mi-
não existiam as sulfas e os antibióticos, que nutos para ser dispersada, e muitos combates
viriam a combater as infecções. Essas armas tiveram que ser interrompidos em virtude da
disparavam também outros tipos de projéteis falta de visibilidade. A expressão “nuvem
antipessoal de formas diversas, que provoca- de guerra”43 derivou-se exatamente desse
vam grandes baixas em adversários que se fenômeno, embora depois de 1815 tenha
encontravam a descoberto nos conveses. As alterado seu significado na teoria da guerra.44
caronadas normalmente se localizavam nos O efeito da pólvora negra sobre os artilhei-
castelos à vante. ros era perigoso, pois, além das queimaduras
Alguns projéteis tinham a função de nas mãos, braços e faces provocadas pelo ma-
avariar os mastros e o velame do inimigo, nuseio da munição, ela tinha o efeito colateral
geralmente duas bolas de ferro ligadas por de provocar sede, dores de cabeça e enjoos.
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A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)
APÊNDICE
86 RMB3oT/2013
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)
ANEXO A
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A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)
ANEXO B
(1) – Existem diversos tipos de canhões com esses calibres; escolheu-se o de maior peso
e alcance.
(2) – Valores aproximados de peso.
(3) – Número variável de municiadores.
(4) – Alcance a tiro tenso.
(5) – Alcance máximo a 6 graus de elevação.
Fonte: FREMONT-BARNES, Gregory. The Royal Navy 1793-1815. Oxford: Osprey, 2007,
p.61 e LAVERY, Brian. Nelson’s Navy. The ships, men and organization, 1793-1815. An-
napolis: United States Naval Institute, 1989, p. 83 e 84.
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O regime das águas na Amazônia*
90 RMB3oT/2013
O regime das águas na Amazônia
Igarapé de Educandos, em Manaus, na época da seca. Observa-se nas palafitas a marca da última cheia e o lixo
acumulado nas margens. Esta população utiliza a água do próprio igarapé para usos diversos
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O regime das águas na Amazônia
As imagens acima mostram, no Rio Negro, o porto de Manaus e o cais flutuante do Rodway. Na foto à esquerda vemos,
na cheia, navios atracados no paredão, e, à direita, na seca, o paredão e a praia que se forma até o cais flutuante.
Estas fotos do cais do Rodway e do Igarapé de Educandos, que cortam Manaus, mostram que até a capital do
Estado é afetada pelos períodos de seca e cheia
Estas imagens são comuns e mostram o isolamento em que vivem os ribeirinhos. Uma choupana no meio de
grande área alagada a quilômetros de distância de alguma comunidade, ou mesmo cidade, onde poderiam obter
algum tipo de auxílio
92 RMB3oT/2013
O regime das águas na Amazônia
Acima, fotos de uma casa isolada na margem do Rio Amazonas à jusante de Parintins, na cheia de maio de
1989. Na frente da casa, couro de pirarucu secando. Na choupana do lado direito, uma “maromba”, onde estão
os cães e pequenos animais para consumo, como porcos e galinhas
Na foto à esquerda, uma “maromba” para o gado, pertencente à casa anteriormente citada. O ribeirinho tenta
preservar as suas poucas cabeças de gado confinando-as sobre a maromba, visando proteger o casco do animal
da umidade e para que ele não se desgarre em busca de pasto.
Conforme já fiz referência, a Amazônia é uma planície que se alaga, e o ribeirinho, nesta situação, encontra muita
dificuldade para proteger o seu gado e conseguir capim para alimentá-lo. A foto da direita mostra o esforço do
caboclo, que muitas vezes tem que remar horas e horas para conseguir o alimento para o seu precioso animal
Uma família que se desloca em sua montaria em busca de auxílio do Navio-Patrulha Fluvial (NaPaFlu) Amapá
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O regime das águas na Amazônia
NPaFlu Amapá atracado, em maio de 1989, no cais de Parintins, durante o período de cheia que assolou a
região. A atracação é sui generis, pois ele está atravessado ao cais, recebendo forte correntada. Observa-se a
água passando sobre a calçada do porto
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Modal Marítimo – um desafio
SUMÁRIO
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Modal Marítimo – um desafio
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Modal Marítimo – um desafio
convincente, alguns desses projetos custam seria encaminhada a três triportos de des-
para sair do papel e se tornar realidade. tino: em Itaquaquecetuba, Carapicuíba e no
Nesse particular, vamos nos ater aos dique da Billings da Rodovia Anchieta, em
projetos existentes em São Paulo e no Rio São Bernardo do Campo. O nome triportos
de Janeiro. vem de trimodal, por conta da integração
prevista, nesses pontos, com o Rodoanel e
Em São Paulo o futuro Ferroanel.
De acordo com Alexandre Delijaicov,
Há muitos estudos mostrando a possibi- professor da FAU e coordenador do grupo
lidade de São Paulo se tornar uma cidade responsável pelo projeto, “a meta é acabar,
capaz de explorar o transporte fluvial em em até 30 anos, com os aterros sanitários e
seus dois principais rios: Pinheiros e Tietê. lixões da região metropolitana”.
Os estudos mais antigos têm 110 anos, e o No entanto, as embarcações devem
mais recente deles (2012), desenvolvido também transportar passageiros – mo-
no âmbito da Faculdade de Arquitetura e radores e turistas – e carga comercial,
Urbanismo da Universidade de São Paulo como hortifrutigranjeiros e material de
(FAU-USP), prevê a criação de um hidro- construção civil.
anel de 117 km de extensão que aliaria ao Com o hidroanel, estima-se, haveria
transporte hidroviário obras para tratamen- redução na quantidade de caminhões,
to de lixo, despoluição das águas, combate responsáveis por cerca de 440 mil viagens
a enchentes, criação de parques e aumento por dia na região metropolitana. Dessa
da capacidade do abastecimento de energia maneira, São Paulo conseguiria cumprir a
e de água em São Paulo. meta, prevista em lei estadual, de reduzir
Para interligar a rede fluvial seria neces- até 2020 as emissões de gás carbônico em
sária a construção de um canal com 17 km 20% em relação aos níveis de 2005.
de extensão. O estudo estima o custo da Até sair do papel, o projeto ainda tem
empreitada em cerca de R$ 3 bilhões, inves- pela frente pelo menos quatro etapas: es-
tidos ao longo de até 30 anos. Concluído, o tudo de viabilidade, anteprojeto, projeto
hidroanel teria a função de transportar lixo básico e projeto executivo. No estágio
e outros resíduos urbanos, como entulho atual, o orçamento de R$ 2,5 bilhões a R$
de construção, sedimento de dragagens, 3 bilhões inclui investimentos como cons-
terra de escavações e lodo das estações de trução do canal para conexão das represas,
tratamento de água e esgoto. Essa carga 20 eclusas, lagos e áreas de manobra.
98 RMB3oT/2013
Modal Marítimo – um desafio
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Modal Marítimo – um desafio
Fatos geradores
do estudo
Os fatos geradores do
estudo são similares aos de
projetos outros citados neste
artigo. Considerando a nossa
especificidade, destacamos:
a vulnerabilidade do abaste-
Toda a estrutura de abastecimento da MB no RJ se encontra às margens da Baía cimento, em razão da depen-
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PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE
NO GOLFO DA GUINÉ
SUMÁRIO
Introdução
A ONU e as organizações locais estão preocupadas com a presente situação
A Nigéria é o país do Golfo da Guiné mais afetado pela pirataria marítima
A pirataria está se expandindo para as águas do Benim e do Togo
É necessário agir para fazer face à pirataria marítima no Golfo da Guiné
A Marinha portuguesa volta pela sexta vez ao Corno da África
* Colaborador costumeiro da Revista Marítima Brasileira, em especial sobre Pirataria Marítima (2o e 4o trim./2008;
3o trim./2010; e 3o trim./2011).
1 De acordo com a International Hydrographic Organization.
PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ
106 RMB3oT/2013
PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ
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PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ
atenção ao seu mar. Como resultado, as suas turada, que inclua a troca de informações
forças navais estão mal equipadas, pouco e o desenvolvimento de mecanismos de
treinadas e subfinanciadas para poderem coordenação operacionais.
assegurar, nas suas águas, a autoridade do Em nível local, a apreensão também
Estado no mar. Na África Central e Ocidental existe, quer por parte dos Estados quer das
existem menos de 25 embarcações com mais organizações aí existentes. Essa preocupa-
de 25 metros para patrulhar o mar territorial ção com a insegurança na região levou à
dos países ali situados. Estas situações, entre realização de uma Conferência Ministerial
muitas outras, têm contribuído decisivamente com o apoio da ONU, no Benim, em 19 de
para a proliferação de um grande número de março de 2013. Esta contou com a presen-
redes criminosas, as quais começaram a se de- ça de representantes de três organizações
dicar também à pirataria marítima. Estas, nos sub-regionais – Comunidade Econômica
últimos anos, têm operado essencialmente na dos Estados da África Central6 (CEEAC),
costa da Nigéria, contudo têm gradualmente Comunidade Econômica dos Estados da
estendido a sua área de atuação às costas da África Ocidental7 (CEDEAO) e a Comissão
Costa do Marfim, do Benim, do Togo, dos do Golfo da Guiné8 (CGG) – que, juntas,
Camarões, da Guiné Equatorial e de São representam 25 Estados africanos. Desta
Tomé e Príncipe. Conferência resultaram três documentos,
cujo principal objetivo é o combate à pira-
A ONU e as organizações taria e ao crime organizado neste Golfo, os
locais estão preocupadas quais terão que ser submetidos à aprovação
com a presente situação dos chefes de Estado e de Governo dos
países da África Central e Ocidental.
O aumento da pirataria no Golfo de Mais recentemente, em 24 e 25 de junho,
Guiné fez com que a Organização das Na- realizou-se em Yaoundé, nos Camarões, a
ções Unidas (ONU) passasse a acompanhar Cimeira de Chefes de Estado e de Governo
regularmente, e com grande preocupação, da CEEAC, da CEDEAO e da CGG sobre a
esta situação. A comprová-lo está a apro- segurança marítima no Golfo da Guiné. Nesta
vação, pelo seu Conselho de Segurança, foi adotado um Código de Conduta para a pre-
de duas resoluções relacionadas com esta venção e a repressão de atos ilícitos, tais como
temática, a Resolução 2.018 (2011), de 31 a pirataria, os assaltos a mão armada contra
de outubro, e a Resolução 2.039 (2012), navios, o crime organizado transnacional ma-
de 29 de fevereiro, nas quais deixou bem rítimo, o terrorismo marítimo, a pesca ilegal,
clara a necessidade de uma ação concer- entre outros, quer na África Central, quer
tada dos países da região para lidar com a na Ocidental. Este Código, que incorporou
pirataria, por meio do desenvolvimento de elementos do Código de Conduta do Djibuti,
uma estratégia regional abrangente e estru- já está em vigor nos 22 países9 que o assina-
6 É constituída por dez países-membros: Burundi, Camarões, República Centro-Africana, Chade, Congo, Guiné
Equatorial, Gabão, São Tomé e Príncipe, República Democrática do Congo e Angola.
7 Os 15 países-membros são: Benim, Burkina Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-
Bissau, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo.
8 É constituída por oito países: Angola, Camarões, República Democrática do Congo, Congo, Gabão, Guiné
Equatorial, Nigéria e São Tomé e Príncipe.
9 Os países são: Angola, Benim, Camarões, Cabo Verde, Chade, Congo, Costa do Marfim, República Democrática
do Congo, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Libéria, Mali, Níger, Nigéria,
Senegal, Serra Leoa, São Tomé e Príncipe e Togo.
108 RMB3oT/2013
PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ
ram. Foi redigido em conformidade com as vir a permitir ações de patrulha marítima
Resoluções 2.018 (2011) e 2.039 (2012) do conjuntas, assim como o direito de perse-
CSNU, as quais, como já foi mencionado, guição para além das fronteiras marítimas.
refletem uma grande preocupação com a A CGG é, de todas estas organizações,
pirataria e com os assaltos a mão armada no aquela cujo mandato lhe confere especial
Golfo da Guiné, atendendo ao fato de estes abertura para poder tratar especificamente
atos estarem-se tornando uma forte ameaça das questões marítimas. Esta Comissão
para a navegação, para a segurança em geral tem estado muito ativa. Da sua reunião em
e para o desenvolvimento econômico dos Luanda, em novembro do ano passado,
países da região. Foi assinado, durante esta resultou a assinatura de uma declaração
Cimeira, um Memorando de Entendimento para paz e segurança na região do Golfo
no qual está prevista a criação de um Centro da Guiné, na qual foi vertida a necessidade
de Coordenação Inter-Regional de segurança da existência de diálogos interestaduais
marítima para a África e de uma cooperação
Central e Ocidental, se- regional.
diado em Yaoundé. Os Uma boa colaboração Algumas das po-
Estados que estiveram tências ocidentais com
representados nesta Ci-
entre as comunidades da interesses na região
meira comprometeram- África Central e Ocidental têm-se mostrado dispo-
se também a elaborar e poderia, no futuro, vir a níveis para apoiar estas
implementar legislação iniciativas quer finan-
nacional para fazerem permitir ações de patrulha ceiramente quer com a
face a estas novas ame- marítima conjuntas, troca de conhecimentos
aças, assim como a criar
políticas nacionais de
assim como o direito de na área da segurança.
Todas as políticas de
luta contra elas. perseguição para além das cooperação adotadas
As várias organi- fronteiras marítimas estão ainda numa fase
zações sub-regionais muito embrionária e,
têm-se mostrado mui- se não forem acompa-
to disponíveis para ajudar a combater, de nhadas de perto por uma presença contí-
uma forma ou de outra, os vários tipos de nua no mar, não passarão de meras ações
atividades ilegais da região. A CEEAC está simbólicas.
receptiva a colaborar com os Estados deste
Golfo no sentido de estabelecer uma estra- A Nigéria é o país do Golfo
tégia de segurança marítima e de apoiar a da Guiné mais afetado pela
melhoria das suas Marinhas. A CEEAC está pirataria marítima
também disposta a auxiliar na organização
de alguns exercícios conjuntos, de forma a Esse país é, neste momento, o maior
poderem fazer face a esta nova realidade gigante econômico da África subsaariana,
nas suas costas. Por outro lado, a CEDEAO depois da África do Sul, e o mais populoso
também tem-se mostrado interessada em do continente africano, com 152 milhões
colaborar, contudo a sua ajuda é vista com de habitantes. Sua população é bastante
algumas reservas pelos Estados vizinhos jovem, com média de idade de 19 anos. A
da Nigéria. Uma boa colaboração entre a Nigéria tem desempenhado um papel vital
CEEAC e a CEDEAO poderia, no futuro, na manutenção da segurança regional, de-
RMB3oT/2013 109
PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ
vido ao seu poder militar e ao emprego das grupos étnicos – e religiosas, que se fazem
suas forças na cooperação regional e global. sentir há décadas, tem contribuído signifi-
É neste momento o maior produtor de pe- cativamente para a frequência e intensidade
tróleo da África e o 13o em nível mundial, dos conflitos no país.
sendo também o 29o maior produtor de gás Só na região do delta do Rio Níger vi-
natural do planeta. vem cerca de 30 milhões de pessoas, das
A exploração de petróleo nesse país quais cerca de 30% estão desempregadas,
começou em meados da década de 50 do a maioria jovens, o que, associado à gran-
século passado, quando a Shell descobriu de proliferação de armas ilegais existente
petróleo no Oloibiri, no delta do Rio Níger. neste país, faz com que a opção pelo crime
Essa descoberta transformou, desde então, organizado seja uma realidade muito ape-
a Nigéria num dos maiores produtores de tecível e de fácil recrutamento. Em agosto
petróleo do mundo. Paradoxalmente, o de 2009, com vistas a reduzir e melhor
ouro-negro que tem permitido a esse país controlar a atividade dos grupos rebeldes,
arrecadar largos mi- o Governo concedeu-
lhões de dólares, tem lhes uma anistia. Esta
sido também o princi- Paradoxalmente, o ouro- iniciativa fez com que
pal responsável pela negro que tem permitido cerca de 15 mil mili-
grande pobreza entre tantes depusessem as
sua gente. O petróleo à Nigéria arrecadar largos suas armas, munições e
representa atualmente milhões de dólares, tem muitos outros materiais
cerca de 80% da recei-
ta desse país; contudo,
sido também o principal bélico. Foram, assim,
entregues 10 cerca de
devido à corrupção responsável pela grande 2.760 armas e 287.445
existente e à precária pobreza entre sua gente munições de diferentes
gestão dos seus go- calibres. Apesar destes
vernantes, apenas uma números terem alguma
pequena minoria da população tem tirado expressão, são muito diminutos se tivermos
partido deste dinheiro. Essa situação tem em conta que poderão existir entre 8 e 10
feito crescer as tensões sociais ao longo dos milhões de armas ilegais na região do Golfo
últimos anos, assim como tem contribuído da Guiné, admitindo-se que só em território
para o aumento das atividades ilícitas. Entre nigeriano existam entre 5,6 e 7 milhões de
elas está o roubo de petróleo dos oleodutos, armas em circulação.
a criação de um mercado paralelo quer de A presença de tantos fatores de desta-
venda de combustível roubado quer de bilização na Nigéria contribuiu de forma
refinação clandestina e a pesca predatória, significativa para o crescimento da pirataria
que traz graves consequências para os marítima nas suas águas, principalmente
pescadores artesanais da região e para os na região do delta do Rio Níger, que tem
estoques de peixe. O governo ruim, que tem registrado, desde o início deste século, um
dado origem a altas taxas de desemprego e considerável número de atos de pirataria.
a muita pobreza, associado a um conjunto O ano de 2007, com 42 ilícitos desse gê-
de tensões étnicas – existem mais de 250 nero, foi o pior das últimas duas décadas.
10 Piracy and Maritime Security in the Gulf of Guinea. Disponível em: <http://webcache.googleusercontent.
com/search?q=cache:http://studies. aljazeera.net/en/reports/2012/06/2012612123210113333.htm&hl=pt-
PT&rlz=1T4ADSA_pt-PTPT457PT458&prmd=ivns&strip=0>. Acesso em: 13 mar. 2013.
110 RMB3oT/2013
PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ
Entre 2009 e 2011, houve um decréscimo ilícitos já ter alguma expressão, acredita-se
neste tipo de atividade devido ao processo que mais de 50% dos ataques não sejam
de anistia então em curso. O aumento do reportados às autoridades competentes,
número de ataques em 2012 pode em muito pelo fato de os armadores não quererem
estar relacionado com a renúncia à anistia, mostrar as fragilidades de segurança dos
em 2011, por parte de uma facção do Mend seus navios, assim como para não ficarem
(Movement for the Emancipation of the sujeitos a aumentos dos prêmios de seguro
Niger Delta), o maior e mais perigoso grupo ou mesmo para não sofrerem represálias em
rebelde a operar no país. futuros deslocamentos para a região.
Entre 2003 e 2012, Os piratas nigeria-
ocorreram 261 atos nos utilizam diversos
de pirataria marítima Entre 2003 e 2012, modus operandi, que
nas águas da Nigéria, vão desde ataques de
dos quais 131 em na-
ocorreram 261 atos de ocasião, perpetrados
vios fundeados, 102 pirataria marítima nas por um só elemento
em navios navegando águas da Nigéria, dos quais ou por pequenos gru-
e 28 em atracados. pos, em que empregam
Os piratas nigerianos 131 em navios fundeados, normalmente barcos
costumam atacar os 102 em navios navegando e de madeira, facas e
navios onde quer que bastões, e cuja tática
estejam, ou seja, junto
28 em atracados consiste em roubar e
à costa, nos rios, nos fugir, a ataques mais
fundeadouros ou nos portos, e roubam bem organizados que levam entre 30 e 40
essencialmente dinheiro, objetos de valor minutos para se consumarem, efetuados
do navio e/ou dos tripulantes, telemóveis, por elementos já equipados com barcos
carga, combustível, comida, roupa, che- rápidos, com armas de assalto e com
gando por vezes a sequestrar elementos Rocket Propelled Grenade (RPG). Os
da tripulação para depois obterem bons ataques costumam ser muito violentos
resgates. Apesar do quantitativo destes atos e frequentemente acabam com mortos e
RMB3oT/2013 111
PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ
feridos. Existem diversos grupos rebeldes Príncipe, Benim, Togo, Congo, Costa do
operando nestas águas, os quais não se Marfim, França, Espanha, Bélgica, Brasil,
dedicam com exclusividade à pirataria Holanda e EUA.
marítima. Desses, o Mend é o que se tem Nos últimos anos, os EUA têm estado
mantido mais ativo. Começou por fazer muito atentos aos problemas desta região,
os seus ataques junto a terra, na região tendo já gasto mais de US$ 35 milhões com
do delta do Rio Níger; no entanto, tem o treino do pessoal pertencente às Armadas
estendido seu raio de ação. Existe mesmo dos países deste Golfo, em especial com
um registro de um ataque seu, no dia 19 de os marinheiros da Nigéria. Têm também
julho de 2008, a uma plataforma holandesa participado, com as suas forças navais, em
da Shell, no campo petrolífero de Bonga, exercícios conjuntos com as Marinhas da
situado a 75 milhas de costa, que levou região.
à interrupção momentânea da produção.
O aumento da criminalidade marítima A pirataria está se
tem obrigado o governo nigeriano a tomar expandindo para as águas
diversas medidas para combater este surto. do Benim e do Togo
Salienta-se entre elas a substituição, em
janeiro de 2012, da Operação Restaurar a A criminalidade marítima na região do
Esperança (Restore Hope), cujo objetivo Golfo da Guiné esteve muitos anos confi-
principal era combater a militância do nada às águas da Nigéria; contudo, ultima-
delta do Rio Níger, pela operação Pulo mente, tem-se alastrado até as águas dos
Shield. Esta última, além de contar com países vizinhos, nomeadamente as do Togo
a participação de uma força conjunta, que e do Benim. Este último, situado entre a Ni-
integra militares da Marinha, do Exército, géria e o Togo, e com uma costa de apenas
da Força Aérea e, ainda, elementos da Po- 120 km, registrou 20 atos de pirataria em
lícia, tem uma área de atuação mais vasta 2011, dos quais 19 ocorreram junto à cidade
e um propósito diferente do da primeira. costeira de Cotonou, a maior deste país, o
Destina-se a proteger as instalações de que representou 5% da totalidade dos atos
petróleo e de gás, a combater o vandalis- registados em nível mundial. Existem fortes
mo nos gasodutos, o roubo de petróleo e indícios de que os piratas que atuaram nas
a pirataria marítima, assim como todas as águas do Benim em 2011 possam não ter
outras formas de crime no mar dentro da sido só de origem beninense, mas também
sua área de responsabilidade. nigeriana. Independentemente da sua na-
Com o objetivo de aumentar a capaci- cionalidade, esses piratas sequestraram, ao
dade de resposta à pirataria ou a qualquer longo do ano de 2011, um número consi-
outro tipo de criminalidade marítima por derável de tripulantes, mais precisamente
parte das Marinhas do Golfo da Guiné, por 140, o que representou 17,5% do total de
meio da melhoria da interoperabilidade das indivíduos sequestrados em todo o mundo.
comunicações e da partilha de informações, Já no que se refere ao ano de 2012, houve
realizou-se, em fevereiro de 2013, o exercí- uma redução drástica do número de ilícitos
cio anual Obangame Express. Este ano foi de pirataria nas águas deste país, existindo
organizado pelos Camarões e juntou forças apenas registro de dois atos, o que denota
navais africanas, europeias e dos EUA, uma certa redução neste tipo de crimes.
num total de 15 países: Nigéria, Camarões, Para isso poderá ter contribuído o sistema
Gabão, Guiné Equatorial, São Tomé e de patrulhas marítimas conjuntas, criado
112 RMB3oT/2013
PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ
em outubro de 2011, entre a Nigéria e o Be- as suas políticas sociais sejam de fato efe-
nim, designado por Operação Prosperidade tivas e permitam reduzir o desemprego e,
(Prosperity). Esta cooperação bilateral foi consequentemente, a pobreza, dificultando,
a primeira do gênero na região, e espera- assim, o aliciamento e o recrutamento de
se que futuramente, na sequência desta, jovens para a criminalidade. Torna-se tam-
as Marinhas de Togo e de Gana também bém necessário que os países deste Golfo
possam vir a se associar a estas patrulhas, assumam, desde já, que a luta contra a pira-
tendo em vista o aumento da vigilância e taria marítima tem que ser uma prioridade
da segurança nas suas costas. dos seus Estados. Para tal, têm que desen-
No que se refere à pirataria nas águas do volver e implementar estratégias marítimas
Togo, país com apenas 56 km de costa, lo- que permitam pelo menos, a curto prazo,
calizado entre o Gana e o Benim, há registro minimizar a ação dos grupos criminosos
de seis ocorrências durante o ano de 2011 e que atuam no mar. Para combater esses
de 15 no ano de 2012, o que representou 5% grupos de malfeitores, estes países têm que
do total mundial. Nes- edificar ou melhorar
te último ano, o porto as suas forças navais
e os fundeadouros da Torna-se também e as suas autoridades
cidade de Lomé, a ca- portuárias, equipan-
pital do país, foram necessário que os países do-as com meios que
os mais afetados com deste Golfo assumam, desde permitam dissuadir e
14 ilícitos deste gê- combater todo o tipo
nero. Foram também
já, que a luta contra a de atividade ilícita nas
sequestrados quatro pirataria marítima tem que águas desta região.
navios e 79 tripulantes ser uma prioridade dos seus De forma a ter a cri-
no Togo durante o ano minalidade marítima
de 2012. Estados controlada, é indispen-
sável a existência de um
É necessário patrulhamento naval
agir para fazer face à diário, com o possível auxílio do compo-
pirataria marítima no nente aéreo, com aeronaves tripuladas ou
Golfo da Guiné não, à semelhança do que já vem sendo
feito no Corno da África. Esta vigilância
Apesar do número de ataques já ter dificilmente será efetiva se não houver a
alguma expressão, a situação neste Golfo presença permanente de meios navais da
está ainda longe de poder ser considerada comunidade internacional.
crítica, contudo torna-se necessário agir Para repor a ordem, é também neces-
o quanto antes, para que esta não fique sário começar a deter e julgar, à luz dos
completamente descontrolada. Compete, instrumentos jurídicos internacionais, todos
sem dúvida, em primeira instância, aos os piratas que forem apanhados em flagran-
governos da região a definição e implemen- te, sendo de todo conveniente a existência
tação de medidas conducentes à redução de acordos interestaduais que venham a
das atividades ilícitas que vêm ocorrendo agilizar os processos.
nas suas águas. Essas medidas, entre outras Para dissuadir as atividades ilegais na
possíveis, passam pela aplicação de refor- região, é também indispensável que se as-
mas no seu modo de governação, para que segure uma boa cooperação inter-regional
RMB3oT/2013 113
PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ
entre a CEEAC e a CEDEAO no âmbito da março último da Base Naval de Lisboa para
segurança marítima regional, quer por meio participar da Operação Atalanta, da União
da definição de estratégias marítimas, quer Europeia. A cerimônia de transferência
na organização de patrulhas conjuntas, quer de comando realizou-se em 6 de abril, no
ainda na organização de exercícios navais Djibuti, tendo o comodoro português Novo
conjuntos. Palma, que se encontrava embarcado neste
navio, assumido o Comando da Força Na-
A Marinha portuguesa val da União Europeia – Eunavfor – por um
volta pela sexta vez ao período de quatro meses. A Álvares Cabral
Corno da África passou, desde então, a ser o capitânia desta
força. Esta é a terceira participação da
O combate à pirataria marítima no Corno Marinha portuguesa na Operação Atalanta,
da África continua a ser uma preocupação tendo já participado também por três vezes
da Marinha portuguesa. Esta sexta presença em operações da Organização do Tratado
nesta região foi assegurada pela Fragata do Atlântico Norte (Otan), nesta mesma
NRP Álvares Cabral, que largou dia 21 de região do globo.
REFERÊNCIAS
Piracy and Armed Robbery Against Ships: Annual Report 2011. United Kingdom: ICC International
Maritime Bureau [2012].
Piracy and Armed Robbery Against Ships: Annual Report 2012. United Kingdom: ICC International
Maritime Bureau [2013].
International Maritime Bureau. Disponível em: <http://www.icc-ccs.org>. Acesso em: 10 mar. 2013.
114 RMB3oT/2013
MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARTAS
NÁUTICAS – BANCOs DE DADOS
SUMÁRIO
Introdução
Produção por meio de bancos de dados
Banco de dados batimétricos
Banco de dados cartográficos
Conclusão
ser mantidas atualizadas. As modificações/ está sendo impulsionado pela necessária atu-
atualizações são divulgadas por Avisos aos alização dos documentos náuticos advinda
Navegantes. do aprofundamento dos canais de acesso aos
Até o ano de 2007, a DHN produzia portos promovido pelo Programa Nacional
somente cartas náuticas em papel. Porém, de Dragagem Portuária e Hidroviária (PND)
com a evolução da navegação exigindo do Governo Federal. Conforme apresenta-
maior precisão e dados em tempo real, a do na figura 2, enquanto, até o momento,
Organização Hidrográfica Internacional somente 15 portos foram contemplados
(OHI), órgão consultivo da Organização com recursos para dragagem, por meio do
Marítima Internacional (IMO) para carto- PND-1, a partir de 2014 espera-se que 35
grafia, passou a exigir de seus membros, portos públicos sejam beneficiados por essas
entre os quais a DHN, a confecção de car- obras, ocasionando aumento ainda maior da
tas digitais que atendessem aos modernos demanda de atualizações das cartas náuticas
sistemas de navegação especificados pela nos próximos anos. Somam-se a estes diver-
IMO e adotados por diversos tipos de em- sos portos e terminais privados que estão
barcações. Dessa forma, novas demandas sendo construídos no País.
surgiram e fez-se necessária a produção em Em face desses desafios, buscou-se
novos formatos raster e eletrônico (ENC). identificar possíveis melhorias dos proces-
Desde então, a quantidade das cartas do sos que permitissem atender ao aumento
portfólio da DHN praticamente dobrou, da demanda, garantindo-se que fossem
ocasionando um significativo aumento de mantidas a confiabilidade e a qualidade das
1.400% no número de confecções e atuali- informações de segurança da navegação.
zações de novas cartas, como pode ser visto Nesse escopo, foi necessário imple-
no gráfico da figura 1. mentar um amplo projeto de gestão de
Ressalta-se que esse incremento nas qualidade, que incluiu o mapeamento, a
atividades de produção cartográfica também reavaliação e a modernização dos processos
116 RMB3oT/2013
MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARTAS NÁUTICAS – BANCOs DE DADOS
Figura 2 – Portos contemplados pelo Programa Nacional de Dragagem Portuária e Hidroviária (PND)
RMB3oT/2013 117
MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARTAS NÁUTICAS – BANCOs DE DADOS
dução advindo das cartas raster e digital, A solução adotada para ambos os banco
vislumbrou-se que a continuidade desse de dados foi proposta pela empresa cana-
processo não suportaria, em questão de dense Caris, pois esta vem sendo empre-
anos, as necessidades vindouras. gada por outros serviços hidrográficos. Ela
A partir de 2009, buscou-se então uma permite a compatibilidade entre os bancos
solução em que os dados necessários à con- batimétrico e cartográfico, otimizando o
fecção da carta náutica estivessem centrali- esforço de produção. Neste caso, o formato
zados em uma base de dados. Dessa forma, dos dados mantém-se homogêneo durante
independentemente da escala da carta ou de todas as etapas, diminuindo a possibilidade
seu levantamento de origem, seria possível de erros. A seguir serão descritos, para
efetuar-se uma seleção mais rápida dos maior detalhamento, ambos os bancos de
dados, que estariam concentrados em uma dados: batimétrico e cartográfico.
única base, ao invés de os mesmos serem
feitos isoladamente para cada carta náutica. Banco de Dados
Nesse escopo, diante da complexidade Batimétricos
e da quantidade dos dados existentes, e
considerando-se as soluções adotadas por O Banco de Dados Batimétricos foi
outros países e os recursos computacionais a solução encontrada para administrar,
disponíveis no mercado, vislumbrou-se a armazenar e recuperar grandes massas de
utilização de dois bancos de dados: dados batimétricos.
– Banco de Dados Batimétricos – para Ao nível operacional, o banco possui
armazenar os dados de profundidade em ferramentas que permitem ao hidrógrafo
alta resolução; e realizar tarefas comuns à sua atividade,
– Banco de Dados Cartográficos – para tais como criar isóbatas, realizar seleção de
armazenar a base de dados necessária para a profundidades que deverão ser representa-
construção da carta náutica. Destacando-se das na carta náutica, combinar superfícies
aqui que os dados batimétricos deste banco, batimétricas, entre outras. Tudo isso em
que são representados nas cartas, são ape- conjunto com os metadados dos levanta-
nas uma amostragem do banco de dados mentos, ou seja, as informações sobre os
batimétricos de alta resolução. Neste ban- levantamentos que deram origem ao dado,
co também estão armazenados os demais possibilitando consultas futuras sobre o
componentes da carta náutica, tais como histórico e a qualidade dos levantamentos
tenças, cascos soçobrados e sinais náuticos. hidrográficos.
É possível trabalhar com dados prove-
Considerando-se a complexidade da nientes de vários sensores, tais como eco-
implementação dessa solução, uma vez que batímetros monofeixe e multifeixe, além de
demanda a revisão de todos os levantamen- levantamentos com aeronaves usando sen-
tos e informações antes de sua inserção de sores Lidar (Light Detection And Ranging).
forma confiável nos bancos de dados, e que Outra possibilidade, e destacadamente
a mesma poderia comprometer os proces- uma das mais importantes ferramentas do
sos e a produção em curso para garantir a banco, é a sua capacidade de combinar e
segurança do navegante, decidiu-se realizar comparar superfícies batimétricas prove-
este processo de forma paulatina, conforme nientes de diversas fontes, sendo possível
a necessidade de atualizações e a demanda usar simultaneamente batimetrias antigas
da navegação do País. e recentes. Como exemplo, é possível usar
118 RMB3oT/2013
MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARTAS NÁUTICAS – BANCOs DE DADOS
RMB3oT/2013 119
MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARTAS NÁUTICAS – BANCOs DE DADOS
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MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARTAS NÁUTICAS – BANCOs DE DADOS
RMB3oT/2013 121
FRETE MARÍTIMO E SEU IMPACTO NA ARRECADAÇÃO
TRIBUTÁRIA E NA INFLAÇÃO
Arrecadação Tributária
Gráfico 2
Gráfico 3
124 RMB3oT/2013
FRETE MARÍTIMO E SEU IMPACTO NA ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA E NA INFLAÇÃO
Gráfico 4
Verifica-se que somente até o mês de total de operações dessa natureza no País,
abril do presente ano os valores pagos a o que demanda certo cuidado e atenção
título de frete marítimo quase alcançaram das autoridades, pois é um fator que pode
o total pago no ano de 2009. significar progresso e desenvolvimento ou
Segundo os valores acima demons- prejuízo nacional.
trados, verifica-se que o frete marítimo Ainda nesse viés, há de se ressaltar que
representou o montante aproximado de as importações brasileiras totalizaram US$
US$29,5 bilhões, entre o ano de 2009 e 620,76 bilhões entre 2009 e abril de 2013,
abril de 2013. correspondentes a 515,60 milhões de to-
Em dados obtidos pelo Sistema Ali- neladas de mercadorias, a um preço médio
ceWeb2, do Ministério do Desenvolvi- de mercadoria importada por tonelada de
mento, Indústria e Comércio Exterior US$ 1.203,96.
(MDIC), percebe-se que as importações A fim de demonstrar o exposto nesta
por via marítima representam 95% do página, têm-se os dados da tabela abaixo.
RMB3oT/2013 125
FRETE MARÍTIMO E SEU IMPACTO NA ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA E NA INFLAÇÃO
Gráfico 5
126 RMB3oT/2013
FRETE MARÍTIMO E SEU IMPACTO NA ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA E NA INFLAÇÃO
sobre importações foi majorada em US$ este gera na arrecadação fiscal nacional e
5,51 bilhões, ou R$ 10,55 bilhões. Assim, na inflação.
aumentando-se o cus- Portanto, conclui-se
to do frete, consequen- que a atividade portuá-
temente aumenta-se a De 2009 a 2012, o IPCA ria deve ser vista com
base de cálculo dos significativa atenção,
tributos incidentes nas subiu 1,82% devido ao pois, tendo relevan-
importações e também aumento do frete marítimo te importância no co-
o preço dos produ- mércio internacional
tos, mercadorias e/ou
sobre importações. As e, principalmente, no
serviços prestados ao operações nos portos têm desenvolvimento na-
consumidor. o condão de sucesso ou cional, as operações ali
Desta forma, entre realizadas têm o condão
2009 e 2012, o IPCA fracasso para a população de interferir positiva
subiu 1,82 ponto por- ou negativamente na
centual, em virtude do economia brasileira,
aumento do frete marítimo sobre importa- podendo ser fator de sucesso ou de fracasso
ções, demonstrando o nítido impacto que à população.
RMB3oT/2013 127
Aspectos Gerais dos Afretamentos de
Embarcações Estrangeiras na Marinha
Mercante
SUMÁRIO
Disposições iniciais
Da Constituição Federal
Da ordenação infraconstitucional do transporte aquaviário
Sobre o órgão competente para autorizar o afretamento de embarcações estrangeiras no Brasil
Dos diplomas regulatórios
Do instituto da Circularização e do instituto do Bloqueio
Elementos Gerais do Afretamento, disposto por regimes de navegação
Navegação de Longo Curso
Navegação de Cabotagem
Navegação de Apoio Marítimo
Navegação de Apoio Portuário
Conclusão
1 Constituição Federal de 1988, Art. 21, XII, d – Os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos
brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território.
2 Constituição Federal de 1988, Art. 22 – Compete privativamente à União legislar sobre: (grifo nosso)
I – Direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho
…
X – Regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial.
Aspectos Gerais dos Afretamentos de Embarcações Estrangeiras na Marinha Mercante
3 Empresa Brasileira de Navegação – pessoa jurídica constituída segundo as leis brasileiras, com sede no País, que
tenha por objeto o transporte aquaviário, autorizada a operar pelo órgão competente.
4 No caso de afretamento a casco nu, a embarcação tem o direito de arvorar a Bandeira brasileira (condicionado
à suspensão provisória de bandeira no país de origem).
5 Lei no 10.233/2001, Art. 27: Cabe à Antaq, em sua esfera de atuação:
...
XXIV – autorizar as empresas brasileiras de navegação de longo curso, de cabotagem, de apoio marítimo,
de apoio portuário, fluvial e lacustre o afretamento de embarcações estrangeiras para o transporte de carga,
conforme disposto na Lei no 9.432, de 8 de janeiro de 1997 (incluído pela Medida Provisória no 2.217-3, de
4/9/2001).
130 RMB3oT/2013
Aspectos Gerais dos Afretamentos de Embarcações Estrangeiras na Marinha Mercante
RMB3oT/2013 131
Aspectos Gerais dos Afretamentos de Embarcações Estrangeiras na Marinha Mercante
6 Art. 20. São objetivos das Agências Nacionais de Regulação dos Transportes Terrestre e Aquaviário:
(...)
II – regular ou supervisionar, em suas respectivas esferas e atribuições, as atividades de prestação de serviços
e de exploração da infraestrutura de transportes, exercidas por terceiros, com vistas a:
(...)
b) harmonizar, preservado o interesse público, os objetivos dos usuários, das empresas concessionárias,
permissionárias, autorizadas e arrendatárias, e de entidades delegadas, arbitrando conflitos de interesses e
impedindo situações que configurem competição imperfeita ou infração da ordem econômica. (grifo nosso)
132 RMB3oT/2013
Aspectos Gerais dos Afretamentos de Embarcações Estrangeiras na Marinha Mercante
7 Considerando o indicador Tonelada por Quilômetro Útil (TKU), que corresponde ao peso transportado multi-
plicado pela distância percorrida pelo modal.
8 É limitado ao dobro da TPB das embarcações de tipo semelhante, encomendadas a estaleiro brasileiro (com
contrato de construção em eficácia) pela interessada no afretamento – adicionado de metade da TPB das
embarcações brasileiras de sua propriedade. Ressalvado o afretamento de, pelo menos, uma embarcação de
porte equivalente.
9 Vide nota 8.
RMB3oT/2013 133
Aspectos Gerais dos Afretamentos de Embarcações Estrangeiras na Marinha Mercante
10 Art. 5o – A empresa de navegação de apoio marítimo postulante de autorização de afretamento deverá circularizar
consulta a todas as empresas brasileiras de navegação de apoio marítimo.
(…)
§5o O prazo de mobilização da embarcação não poderá ser inferior a 60 dias corridos, podendo o início de sua
operação ser antecipado caso não haja embarcação de bandeira brasileira apta a atender ao apoio pretendido
ou a empresa de navegação de apoio marítimo declinar do prazo.
11 Resolução no 192-Antaq (alterada pela Resolução no 495-Antaq, de 13/9/2005), em seu Art. 7o: “A empresa
de navegação interessada em fretar a embarcação, que atenda ao objeto da consulta, poderá opor bloqueio
ao pedido de afretamento mediante manifestação junto à consulente, com cópia à Antaq, dentro do prazo
de sete dias corridos...”.
12 Resolução no 191-Antaq (alterada pela Resolução no 494-Antaq, de 13/9/2005), em seu Art. 6o: “A empresa de
navegação de apoio portuário interessada em fretar a embarcação que atenda ao objeto da consulta poderá
opor bloqueio ao pedido de afretamento mediante manifestação junto à consulente, com cópia à Antaq,
dentro do prazo de seis horas úteis...”.
13 Para efeitos do prazo para oposição de bloqueios aos pedidos de afretamento de embarcações estrangeiras na
navegação de apoio portuário, considera-se “hora útil” a hora compreendida entre 8h00min às 18h00min, de
segunda-feira a sexta-feira – excetuados os dias em que não haja expediente nas repartições públicas federais.
14 Nesse sentido, embora não muito utilizado, temos o que consta do Capítulo VIII (Art. 15) da Lei no 9.432/97,
in verbis logo abaixo:
Capítulo VIII
Das Infrações e Sanções
Art. 15. A inobservância do disposto nesta lei sujeita o infrator às seguintes sanções:
I – multa, no valor de até R$ 10,00 (dez reais) por tonelada de arqueação bruta da embarcação;
II – suspensão da autorização para operar, por prazo de até seis meses.
134 RMB3oT/2013
Aspectos Gerais dos Afretamentos de Embarcações Estrangeiras na Marinha Mercante
Referências
RMB3oT/2013 135
Aspectos Gerais dos Afretamentos de Embarcações Estrangeiras na Marinha Mercante
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Disponível em: <http://www.antaq.gov.br/Portal/pdfSistema/Publicacao/PublicacoesAntigas/
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BRASIL. Resolução no 495-Antaq, de 13 de setembro de 2005. Aprova alterações da norma para o afre-
tamento de embarcação por empresa brasileira de navegação na navegação de apoio marítimo.
Disponível em: <http://www.antaq.gov.br/Portal/pdfSistema/Publicacao/PublicacoesAntigas/
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BRASIL. Resolução no 496-Antaq, de 13 de setembro de 2005. Aprova alterações da norma para o
afretamento de embarcação por empresa brasileira de navegação na navegação de cabotagem.
Disponível em: <http://www.antaq.gov.br/Portal/pdfSistema/Publicacao/PublicacoesAntigas/
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Janeiro, 2005.
136 RMB3oT/2013
A NAVAMAER E O ESPORTE NO MEIO MILITAR
PROMOVENDO FORMAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO,
INTEGRAÇÃO E CULTURA DE PAZ
SUMÁRIO
Introdução
Propósito
Metodologia
O advento da Navamaer
As dimensões do esporte e da Navamaer
A Navamaer e as Ciências
A Navamaer e os esportes militares
A Navamaer e as tendências
Conclusão
* Doutorado pela Escola de Guerra Naval (EGN, 2004). Mestrado em Educação Física (UGF, 1996). Pós-graduação
Lato sensu em Treinamento Desportivo (UGF, 1980). MBA em Gestão Internacional pela (UFRJ-Coppead,
2004). Graduado em Licenciatura Plena em Educação Física (UGF, 1978). Professor de Educação Física da
Escola Naval desde 1980.
** Pós-Doutorado em Educação, Sustentabilidade e Responsabilidade Socioambiental pela Universidade Federal
Fluminense – UFF (2012). Doutor em Educação e Sustentabilidade pela Universidade Federal do Rio Grande
do Norte – UFRN (2011). Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
(2004). MBA em Gestão com Impactos Ambientais pela Universidade Plínio Leite – Unipli (2007). Atual-
mente é Instrutor de Educação Física na Escola Naval.
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Por conseguinte, o esporte no meio militar Educação, Moral, Cívica, Social e Militar
adquire maior relevância e visibilidade no de 1959 e pode ser compreendida pelo
meio civil, o que proporcionou o aumento das seguinte pensamento:
competições de caráter nacional e internacional Na época hodierna não se pode pensar
e, ainda, a formação de representações mili- em valorização e em seleção sem se
tares nacionais disputando eventos mundiais considerarem as qualidades físicas
programados pelo Cism. A melhoria constante e espirituais. É a cultura física que
da performance física proporcionou resultados desenvolve essas qualidades, cria, em
satisfatórios e novos recordes que se tornaram verdade, o ambiente espiritual e moral
recorrentes, o que garantiu ao esporte militar para a educação integral da juventude,
maior visibilidade na sociedade civil. para o completo desenvolvimento do
Num verdadeiro culto olímpico, atletas homem, do cidadão, da personalidade
expõem suas forças, habilidades e técni- humana. Não prepara o homem apenas
cas, defendendo com garra e dedicação para atividades técnico-profissionais,
o estandarte de sua Escola, tendo como mas para a vida na sua mais completa e
fundo um clima de profundo respeito e infinita complexidade. Cultivemos, pois,
cordialidade. Constata-se que o preparo a Educação Física, tão salutar, principal-
físico e a competitividade devem estar mente na conservação e no preparo de
a serviço da defesa das cores da nossa uma prole sadia e no aperfeiçoamento
Escola. (GALERA, 1988, p. 62) da raça. (VILLAR, 1959, p. 135)
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INTEGRAÇÃO E CULTURA DE PAZ
ingresso de atletas do meio civil nas escolas jogos universitários e na Navamaer. Alguns
de formação de oficiais vieram favorecer o dos novos métodos passaram a contribuir
aumento da frequência na quebra de recor- de forma decisiva na constante melhoria
des nos esportes individuais. da condição física, entre eles o Teste de
No período entre 1985 e 1987, a Na- Cooper – um dos mais conhecidos em nível
vamaer, até então realizada no eixo Rio/ mundial –, circuit-training e o interval-
São Paulo, adquire visibilidade nacional training.
com sua nova sede em Brasília, DF. As Ademais, a primeira Organização
competições acontecem no Colégio Militar, Militar a implantar o Teste de Cooper de
Ginásio Cláudio Coutinho e Estádio Mané proveniência norte-americana foi a MB. O
Garrincha. Nesse momento, o espírito es- Teste de Cooper, criado para acompanhar
portivo da Navamaer vinha se prospectando a saúde do militar americano, apoiado
de forma a evidenciar a importância e o sobre o controle da frequência cardíaca,
desenvolvimento do esporte (GALERA, foi aplicado pela primeira vez no Brasil
1988). nos aspirantes da Escola Naval, em 1970.
Com a redemocratização do País, o es- A criação de centros de treinamento
porte alcança o status constitucional, o que físico-esportivo militares, como o Centro
lhe assegurou o renovado conceito de direi- de Educação Física Almirante Adalberto
to de todos, sob o respaldo de estudiosos e Nunes (Cefan), em 1972, determinava o de-
de documentos internacionais e, ainda, so- senvolvimento do esporte na sociedade bra-
fre a imediata diminuição das competições sileira e na MB. Uma série de iniciativas da
esportivas das FA e entre escolas militares MB e do Ministério da Educação e Cultura
no meio civil (GARRIDO, 2004). (MEC) contribuía para o desenvolvimento
do esporte, entre elas a vinda de estudiosos
A NAVAMAER E AS CIÊNCIAS e palestrantes estrangeiros e nacionais para
realizar cursos e congressos de promoção
A adoção de treinamento desportivo e da difusão dos saberes da área. Concor-
de bases científicas para os militares, que ria, ainda, para a valorização do esporte a
aconteceram desde a década de 30 com utilização do Cefan, referência no cenário
atletas da natação, consolidava o pioneiris- esportivo nacional, para hospedagens e
mo da MB na área. Na década seguinte, a treinamentos de delegações nacionais e
difusão de testes físicos de caráter científico internacionais e a implantação de convê-
aplicados de forma periódica permitiu a ca- nios de iniciação esportiva ofertados aos
talogação, o acompanhamento e a confron- alunos das escolas públicas. Daí advinha
tação dos efeitos do treinamento dos atletas o aumento das publicações nacionais, a
da MB e de aspirantes da Escola Naval. tradução de livros estrangeiros e a criação
A chegada de novos métodos de treina- de cursos de nível superior na área.
mentos desportivos no Brasil, fundamen- Além disso, o esporte nas FA passava a
tados sobre bases científicas no final dos servir de contraponto aos males (aspectos
anos de 1960 em diante, contemplou uma negativos) do esporte moderno e da socie-
realidade mundial por implantar-se no meio dade atual: doping, racismo, suborno e in-
militar e ser aplicada na MB. Garantia-se clusão social. De forma decisiva, o esporte
um melhor condicionamento físico aos atuava no ajustamento do comportamento
atletas e às equipes militares nos eventos humano, em especial do militar, adaptando-
esportivos civis, como campeonatos locais, o ao meio social e entre seus pares, em
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do, reportamo-nos a Norbert Elias (1992, micos, mentais e sociais que, relacionados,
p. 16), que afirma serem “o esporte e a demonstrem a melhoria dos níveis de
guerra formas de conflito que se encontram aptidão física para a saúde, a qualidade de
entrelaçadas de maneira sutil, com formas vida, o desempenho profissional e o bem-
de interdependência, de cooperação e com a estar geral, de acordo com atributos de cada
formação do nosso grupo e do grupo deles”. corpo e quadros militares.
Ainda, tanto o esporte quanto a guerra apre- Entre o final do século XX e o início do
sentam características teóricas comuns ao século XXI aparecem grandes transforma-
serem compreendidos como um confronto ções promovidas pelos avanços da ciência,
entre dois oponentes ou dois grupos com da tecnologia, da economia globalizada e
o objetivo de um sobrepujar o outro. Um das mídias, gerando em alta velocidade
ou outro desencadeiam quer emoções de mudanças em variados setores. Esse quadro
prazer quer de sofrimento, misturas de concorre para o desmonte do estado do
comportamentos racionais e irracionais. bem-estar social e da liberalização total dos
O mesmo autor sinaliza a existência de mercados determinado por um capitalismo
ideologias diametral- avançado, pela valo-
mente opostas, poden- rização das empresas
do o esporte se consti- A importância do teste de multinacionais e pela
tuir em um substituto avaliação passa a ser um elevação do consumo.
da guerra e, por isso, Essas mudanças que
num veículo ideal de pré-requisito à ascensão na ocorrem, principal-
treino militar, devido à carreira militar e deveria mente, nas áreas de
dureza e à agressivida- comércio, transporte,
de demonstradas pelos
ser acompanhado de meio ambiente e de
que dele participam, pesquisa científica comunicação levam à
daí o caráter homólogo saturação das informa-
e da inter-relação das ções, de diversões e de
duas esferas. Não obstante, o objetivo da serviços programados no dia a dia das pes-
guerra é vencer o oponente, que é conside- soas, tornando-as mais sedentárias e obesas
rado inimigo, dominá-lo, prendê-lo e até e favorecendo a degradação ambiental e o
mesmo feri-lo ou matá-lo, caso seja neces- aumento do custo social de empresas pri-
sário. Entretanto, no esporte o oponente é vadas, organizações públicas e governos.
considerado o adversário a ser combatido
e vencido, devendo ser dominado sem que A NAVAMAER E AS TENDÊNCIAS
o mesmo tenha que ser ferido ou morto no
confronto. O surgimento de novas tendências,
Daí a importância do teste de avaliação necessidades, consumos, estilos de vida,
física, que, por essa época, passa a ser um gostos e prazeres orienta os rumos da nova
pré-requisito à ascensão na carreira militar economia, focada na grande quantidade de
e deveria ser acompanhado de pesquisa produtos, e de serviços com preços redu-
científica. Objetivava-se traçar o perfil zidos numa sociedade caracterizada pelas
físico dos militares. E, neste sentido, a tecnologias da informação.
Navamaer e o TFM servem de objetos de A vida social, agora em sintonia com
estudos e de pesquisas científicas apoiados as viagens, as imagens, as mídias, os
sobre parâmetros físicos, orgânicos, bioquí- comportamentos e as atitudes diversas,
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INTEGRAÇÃO E CULTURA DE PAZ
ções de vela dos 5o Jogos Mundiais Mili- perseverança, espírito de equipe, coopera-
tares – Cism 2011, o qual teve como lema: ção, superação, solidariedade, controle da
“Promover, por intermédio do esporte, a violência, tolerância, respeito mútuo, ética,
paz entre as nações”. prazer, liderança e justiça.
O que se constata é que a Navamaer Para tanto, tais atributos convergem-se
amplia sua abrangência a partir de 1998, para consolidar a cultura de paz tão ne-
independentemente da supremacia dos cessária à sociedade contemporânea, cada
resultados esportivos de uma escola sobre vez mais competitiva, embora não peculiar
as demais ao longo dos seus 73 anos, e desta cultura, mas extremamente necessá-
que acontece, princi- ria para se demandar
palmente, em razão de estratégias na busca
orientação de cunho No lema da Navamaer – de melhor convivência
filosófico adotada na “Amizade pelo Esporte” diante das adversidades
Educação Física e no oriundas do mundo glo-
esporte, do grande nú-
– a tese do esporte, um balizado.
mero de militares e de dos maiores fenômenos da
atletas que ingressam sociedade contemporânea, CONCLUSÃO
nas instituições.
A visão do esporte ser um expressivo Portanto, a Navama-
se fortalece em decisão instrumento que se er, assim como o TFM
soberana do Cism sob nas escolas militares,
o slogan “Amizade
relaciona com diversas vem reforçar a tese do
pelo Desporto”. Nesse áreas de conhecimentos uso do esporte, simu-
sentido, a não realiza- e setores da atividade lacro da guerra, como
ção de contagem de ferramenta estratégica
pontos para determinar humana, sempre de valor à preparação
o vencedor no esporte empreendendo habilidades, integral e permanente
militar em nível mun-
dial passa a ser uma
atitudes, valores e ética do militar, indepen-
dentemente do empre-
referência na Nava- go cada vez maior de
maer ao nortear a conduta esportiva. Isso tecnologias avançadas aplicadas à arte
determina a valorização, acima de tudo, da da guerra. Atuando, ainda, como fator de
celebração e da confraternização no esporte mudança de hábitos e de comportamen-
para todos, pois, independentemente dos re- tos, a Navamaer pode servir no auxílio ao
sultados esportivos alcançados, há grandiosa diálogo e na construção de processos de
contribuição proporcionada pela Navamaer cooperação, antes de se tornarem guerras e
para os cadetes e aspirantes, que devem ser destruições, contribuindo para a paz.
bem preparados na defesa dos interesses de Por conseguinte, o emprego do esporte
nossa nação. se fortalece, utilizado quer na formação, no
A Navamaer, no limiar do século XXI, desempenho ou no lazer, com foco na pre-
de acordo com princípios positivos orienta- paração do militar para atuar nas missões
dores do esporte contemporâneo, contribui e intervenções militares (humanitárias, de
para o enfrentamento de desafios diante garantia da lei e da ordem [GLO] das For-
da nova visão de vida, por constituir-se ças Armadas brasileiras, de fazer e manter
em uma escola de atributos como honra, a paz, iniciadas desde a década de 1950),
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INTEGRAÇÃO E CULTURA DE PAZ
sob a égide da ONU e da Organização dos tese do esporte, um dos maiores fenômenos
Estados Americanos (OEA). da sociedade contemporânea, ser um ex-
O que deve se compreender é que a pressivo instrumento que se relaciona com
Navamaer, ao contemplar variada gama diversas áreas de conhecimentos e setores
de modalidades, se converte numa es- da atividade humana, sempre empreenden-
tratégia de promoção sustentável para se do habilidades, atitudes, valores e ética. Por
repensar os conceitos de atividade física isso, ele contribui na formação integrada
e performance física, mental e intelectual, do militar por seus atributos referenciarem
sempre com a intenção de prover maior o desenvolvimento da cultura de paz, da
responsabilidade socioambiental a partir saúde, do desempenho profissional e da
do esporte. qualidade de vida, favorecendo-o no aten-
Finalmente, evidencia-se no lema da dimento de seus iminentes enfrentamentos
Navamaer – “Amizade pelo Esporte” – a e futuros desafios do século XXI.
BIBLIOGRAFIA
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VILLAR, F. Breviário da Educação Moral, Cívica, Social e Militar. Rio de Janeiro: Ministério da
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RMB3oT/2013 149
A COMPETÊNCIA DO JULGAMENTO DE CRIMES
DOLOSOS CONTRA A VIDA DE CIVIS QUANDO
COMETIDOS NA DEFESA DA LEI E DA ORDEM
SUMÁRIO
Introdução
Da Justiça Militar
Da Divisão da Justiça Militar
Da Lei nº 9.299, de 7 de agosto de 1996
Do emprego das Forças Armadas na Defesa da Lei e da Ordem
Da Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999
Da garantia da lei e da ordem em sentido estrito
Do Decreto nº 3.897, de 24 de agosto de 2001
Instrumentalização da decisão do Presidente da República no emprego das
Forças Armadas na Defesa da Lei e da Ordem
Lei Complementar nº 136, de 25 de agosto de 2010, evolução legal e
aparente conflito de normas
Conclusão
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A COMPETÊNCIA DO JULGAMENTO DE CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA DE CIVIS QUANDO COMETIDOS
NA DEFESA DA LEI E DA ORDEM
2 A Constituição vigente abre a elas um capítulo do Título V sobre a defesa do Estado e das instituições democráticas
com a destinação acima referida, de tal sorte que sua missão essencial é a da defesa da Pátria e a garantia dos
poderes constitucionais, o que vale dizer defesa, por um lado, contra agressões estrangeiras em caso de guerra
externa e, por outro lado, defesa das instituições democráticas, pois a isso corresponde a garantia dos poderes
constitucionais, que, nos termos da Constituição, emanam do povo (art. 1º, parágrafo único). Só subsidiária
e eventualmente lhes incumbe a defesa da lei e da ordem, porque essa defesa é de competência primária das
forças de segurança pública, que compreendem a Polícia Federal e as Polícias Civil e Militar dos Estados
e do Distrito Federal. Sua interferência na defesa da lei e da ordem depende, além do mais, de convocação
dos legítimos representantes de qualquer dos poderes federais: presidente da Mesa do Congresso Nacional,
Presidente da República ou presidente do Supremo Tribunal Federal (grifos do autor).
RMB3oT/2013 153
A COMPETÊNCIA DO JULGAMENTO DE CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA DE CIVIS QUANDO COMETIDOS
NA DEFESA DA LEI E DA ORDEM
que se faça a análise desta hipótese de em- da operação, prevista nos parágrafos 5º e 6º,
prego, pois tal situação ocasiona um maior só ocorrerá quando necessária.
risco de que os militares federais venham a
responder judicialmente por cometimento de Do Decreto nº 3.897, de 24 de
crimes dolosos contra a vida de civis. agosto de 2001
No que tange ao emprego das Forças
Armadas na Garantia da Lei e da Ordem As diretrizes baixadas em ato do Presi-
em sentido estrito, doravante denominada dente da República, previstas no parágrafo
Garantia da Lei e da Ordem (GLO), a LC 2º, estão no Decreto nº 3.897, de 24 de agosto
97/99, elaborada com fundamento no art. de 2001 (Decreto 3.897/2001), que trata da
142, § 1º, da CRFB, em seu art. 15, do § 1º GLO. Assim, a análise dos dispositivos mais
ao § 6º, regulamenta esse emprego. importantes do referido decreto deve ser
A LC 97/99, em seu art. 15, parágrafos realizada, haja vista que o mesmo detalha a
1º ao 3º, dispõe que, quando os órgãos de aplicação das normas previstas na LC 97/99.
segurança pública encontrarem-se esgota- O parágrafo 2º, artigo 2º, do Decreto
dos (indisponíveis, inexistentes ou insu- 3.897/2001 prevê a hipótese de solicita-
ficientes), o emprego ção de governador de
das Forças Armadas Estado para o emprego
na GLO dar-se-á por Um mito que deve ser das Forças Armadas
determinação do Pre- expurgado é o de que, para em GLO. Tal solicita-
sidente da República, ção ficou clara tanto na
por iniciativa própria configurar emprego na operação realizada nos
ou em atendimento a GLO, as Forças Armadas Complexos da Penha
pedido dos represen- e do Alemão (Diretriz
tantes legítimos dos deverão desenvolver Ministerial nº 14/2010)
outros poderes cons- atividades de polícia quanto na do Morro de
titucionais. Ressalta- ostensiva São Carlos (Diretriz
se que o legislador Ministerial nº 02/2011),
infraconstitucional ambas realizadas no
considera como representantes do Poder Estado do Rio de Janeiro.
Legislativo tanto o presidente da Câmara Um mito que deve ser expurgado é o
dos Deputados quanto o presidente do de que, para configurar emprego na GLO,
Senado Federal. as Forças Armadas deverão desenvolver
O parágrafo 4º estabelece que as ações de atividades de polícia ostensiva. Estas só
caráter preventivo e repressivo das Forças irão atuar desta forma quando for neces-
Armadas ocorrerão de forma episódica, em sário, conforme previsto no art. 3º do Dec.
área previamente estabelecida e por tempo 3.897/2001. Desse modo, uma mera coo-
limitado; porém, curiosamente, não estabelece peração já configuraria atuação das Forças
um limite máximo de tempo. Não se vislumbra Armadas em GLO. O art. 7º, I, f, do Dec.
nenhuma inconstitucionalidade, pois as insti- 3.897/2001 explicita esta hipótese.
tuições democráticas não foram atingidas e não Esta possibilidade de cooperação previs-
há restrição ou suspensão de nenhuma garantia ta no Decreto de GLO é a solução jurídica
constitucional. Observa-se que a transferência aplicável às Forças Armadas para que co-
do controle operacional dos órgãos de segu- operem com órgãos de todas as esferas da
rança pública para a autoridade encarregada administração pública envolvidos.
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NA DEFESA DA LEI E DA ORDEM
res da Força Aérea Brasileira, quando em analisar-se-á a natureza jurídica das ati-
atuação na atribuição subsidiária particular, vidades de polícia acima explicitadas.
prevista no art. 18, inciso VII, da LC 97/99, Neste ponto é relevante trazer ao estudo a
não estão sujeitos a serem processados pela brilhante e didática lição de José Afonso
Justiça Comum. Já na norma inserida no § da Silva (2002:754-755):
7º, do art. 15, da LC 97/99, os militares da A palavra polícia correlaciona-se com
União envolvidos em situações de preparo e a segurança. Vem do grego polis, que
situações de emprego das Forças Armadas, significava o ordenamento político do
exceto nas ações de cooperar com o desen- Estado. ‘Aos poucos [lembra Hélio
volvimento nacional, não estão sujeitos à Tornaghi], polícia passa a significar
competência da Justiça Comum. a atividade administrativa tendente a
Quando houve a opção de alterar o texto assegurar a ordem, a paz interna, a har-
do § 7º, do art. 15, da LC 97/99, de “para monia e, mais tarde, o órgão do Estado
fins de aplicação do art. 9o, inciso II” por que zela pela segurança dos cidadãos.’
“para os fins do art. 124 da Constituição Acrescenta que polícia, sem qualificati-
Federal”, o operador do Direito ficou li- vo, ‘designa hoje em dia o órgão a que
berado de analisar a adequação ao art. 9º se atribui, exclusivamente, a função
do CPM para verificar a competência da negativa, a função de evitar a alteração
JMU. O objetivo atual é complementar o da ordem jurídica’.
mandamento constitucional previsto no art. A atividade de polícia realiza-se de vá-
124 da CRFB diretamente pela LC 97/99. rios modos, pelo que a polícia se distin-
Soluciona-se também a questão por meio gue em administrativa e de segurança,
da hermenêutica jurídica, pela utilização esta compreende a polícia ostensiva e a
dos métodos de interpretação teleológico polícia judiciária. A polícia adminis-
e sistemático, tendo em vista as lições de trativa tem ‘por objeto as limitações
Luís Roberto Barroso (2001:135, 137-138). impostas a bens jurídicos individuais’
Em relação ao primeiro, observa-se que o (liberdade e propriedade). A polícia de
fim buscado pela norma foi o de, conforme segurança, que, em sentido estrito, é a
demonstrado acima, englobar, sem exceção, polícia ostensiva, tem por objetivos a
todas as hipóteses previstas no art. 15, § 7º, preservação da ordem pública e, pois,
LC 97/99. Em relação ao método de intepre- ‘as medidas preventivas que em sua
tação sistemático, é teratológico imaginar prudência julga necessárias para evitar o
que um militar da Força Aérea Brasileira dano ou o perigo para as pessoas’. Mas,
(FAB) que vier a cometer um crime contra apesar de toda vigilância, não é possível
a vida de civil numa operação de medidas evitar o crime, sendo, pois, necessária a
de controle aéreo seja julgado pela JMU e existência de um sistema que apure os
o mesmo tratamento não seja conferido ao fatos delituosos e cuide da perseguição
militar da Marinha do Brasil envolvido em aos seus agentes. Esse sistema envolve
situação semelhante, durante uma operação as atividades de investigação, de apu-
de implementação e fiscalização de leis ração das infrações penais, a indicação
e regulamentos no mar (Patrulha Naval), de sua autoria, assim como o processo
quando ambas as hipóteses estão previstas judicial pertinente à punição do agente.
como sendo objeto da competência da JMU. É aí que entra a polícia judiciária, que
Visando tornar o raciocínio mais claro, tem por objetivo precisamente aquelas
sob o viés da interpretação sistemática, atividades de investigação, de apuração
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NA DEFESA DA LEI E DA ORDEM
REFERÊNCIAS
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Moral e Ética:
apresentação e consolidação desses conceitos nas atividades
que envolvem a liderança militar no Colégio Naval
sumário
Introdução
Desenvolvimento
Conclusão
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Moral e Ética: apresentação e consolidação desses conceitos nas atividades que envolvem a liderança militar no Colégio Naval
algumas questões pertinentes que mere- uma via de mão dupla que permite uma
cem ser mencionadas. Para ele, o termo permanente comunicação. Nesse caso, a
ethos, quando analisado em sua origem ética funcionaria como base de avaliação
semântica, apresenta duas acepções que de um determinado comportamento social.
o definem. Assim, a primeira acepção Como expõe Vázques, “a ética é uma te-
seria ethos, como costume: “O ethos oria de investigação ou explicação de um
designa a morada do homem. Ethos é a tipo de experiência humana ou forma de
casa do homem. O homem habita sobre comportamento dos homens, o da moral,
a terra acolhendo-se ao recesso seguro considerando, porém na sua totalidade,
[...]. Este sentido de um lugar de estada diversidade e variedade” (VÁZQUES,
permanente e habitual de um abrigo 1982, p. 11).
protetor [...] que dá Em síntese, pode-
origem à significação se dizer que a ética
do ethos como cos- A ética investiga, explica, investiga, explica, re-
tume” (VAZ, 1988,
p.12 e 13).
recomenda e prescreve; comenda e prescreve;
porém não determina,
Na segunda acep- porém não determina, não pretende apresen-
ção, o autor carac- não pretende apresentar tar soluções objetivas
teriza ethos como o dos problemas da prá-
comportamento que soluções objetivas dos tica moral, tampouco
resulta de uma cons- problemas da prática propõe conceitos uni-
tante repetição dos
mesmos atos. Dessa
moral, ela dá forma, orienta versais e absolutos,
no entanto pode ser
forma, o ethos se es- e gera hábitos que podem se usada para justificar
trutura em um movi- tornar costumes uma ação social. Ela
mento circular, entre dá forma, orienta e gera
o costume e o hábito, hábitos que podem se
desembocando numa práxis. Em sua defi- tornar costumes, identificados como o
nição, ethos aparece como a experiência ethos/moral do grupo.
vivida na concretude. Observa-se, ainda, no EMA-137, que a
Paralelo à discussão conceitual dos ter- ética militar naval consolida o conjunto dos
mos ética e ethos, também aparece o termo princípios, valores, costumes, tradições,
moral, que vem do vocábulo latino mores5, normas estatutárias e regulamentos que
como o julgamento que o homem faz das regem o juízo de conduta do militar da
ações que ocorrem no mundo concreto; Marinha. Enquanto que a moral trata-se
por isso, às vezes, o termo se confunde de um atributo do líder que se relaciona ao
com ethos. cumprimento das regras de conduta compa-
Na análise de Vázques, utilizada neste tíveis com o comportamento militar naval
trabalho, ética é a teoria reflexiva da rea- desejado, balizado pela ética.
lidade concreta. O ethos, e/ou moral, é o Vale mencionar, ainda, que se encon-
campo das realizações concretas. Entre tram inseridos, nesse conjunto de princípios
a ética e o ethos/moral estabelece-se amalgamados pela ética militar, o código de
5 MORAL (lat. Moralia; in. Morals; fr. Morales, al. Moral; it. Morale) – objeto da ética, conduta dirigida ou
disciplinada por normas, conjunto de mores.
162 RMB3oT/2013
Moral e Ética: apresentação e consolidação desses conceitos nas atividades que envolvem a liderança militar no Colégio Naval
honra da “Rosa das Virtudes”6 e os dizeres lidade, sendo mais flexível e amigável a
do juramento à Bandeira7. mudanças. Assim, a absorção dos valores
basilares àqueles que se lançam à profissão
Aspectos inerentes à transmissão das armas, destacando-se os conceitos en-
dos conceitos de ética e de moral na volvidos da ética militar-naval e da moral,
formação do cidadão e do futuro oficial ocorre com significativa aceitação. Dessa
forma, o trabalho realizado em valorizar
O CN é um estabelecimento de ensino e exigir tais conceitos éticos e as condutas
cujo propósito é selecionar alunos para o morais para a formação do futuro oficial,
Curso de Graduação de Oficiais da Escola inserido no exercício da liderança entre
Naval (EN). O curso conduzido é desti- as turmas, encontra, na estrutura do CN,
nado ao ensino básico em nível médio, as ferramentas necessárias para que o
além do ensino militar-naval (no qual futuro aspirante possa ser orientado com
encontra-se inserida a disciplina de Ins- princípios que o nortearão, indubitavel-
trução Militar-Naval). A missão do CN é mente, ao longo dos próximos 30 anos de
assegurar aos alunos o preparo intelectual, serviço ativo.
físico, psicológico, moral e militar-naval Ademais, nota-se que, na faixa etária
e incentivá-los para a carreira naval, a dos alunos, as peculiaridades envolvendo
fim de prepará-los e selecioná-los para o a rigidez no cumprimento de rotinas e
ingresso na EN. tarefas; a distância dos familiares, em
Dentre as condições exigidas para a consequência do regime de internato; e
inscrição no Concurso Público de Admis- o ritmo intenso das atividades do dia a
são ao CN (CPACN), ressalta-se que o dia são superadas de maneira gradual,
canditado deve possuir 15 anos completos tornando possível o costume a elas. Essas
e menos de 18 anos de idade no primeiro peculiaridades serão vivenciadas pelo fu-
dia do mês de janeiro do ano da matrícula, turo oficial, pois fazem parte do cotidiano
caso aprovado. Nesse aspecto, identifica- de indivíduos que serão submetidos a
se uma das consideráveis responsabilida- situações de pressão, em que as decisões,
des que o referido Ensino Médio da MB incontestavelmente, deverão ser tomadas
possui e que muito irá contribuir para a diante da responsabilidade da manutenção
formação dos nossos futuros oficiais: a de vidas humanas e de material. Ressalta-
de apresentar conceitos e valores para se que, imerso nesse universo de conceitos
indivíduos que possuem uma faixa etária apresentados na rotina do CN, o jovem
entre 15 e 19 anos. Nessa idade, o jovem aluno é apresentado à necessidade de
ainda consolida seus traços de persona- possuir uma conduta moral e profissional
6 Trata-se a Rosa das Virtudes de uma analogia à Rosa que possui as orientações dos Sinais Cardinais (Norte, Sul,
Leste e Oeste). Da mesma forma que eles fornecem a referência de direção ao navegante, a Rosa das Virtudes
baliza os atributos que devem ser presentes nas ações dos militares da MB. São eles: Honra, Lealdade, Ini-
ciativa, Cooperação, Espírito de Sacrifício, Zelo, Coragem, Ordem, Fidelidade, Fogo Sagrado, Tenacidade,
Decisão, Abnegação, Espírito Militar, Disciplina e Patriotismo.
7 Juramento prestado pelos brasileiros incorporados, por ocasião da prestação do compromisso do serviço mi-
litar, de acordo com a Lei no 4.375 de 17 de agosto de 1964 (Lei do Serviço Militar). Tem como dizeres:
“Incorporando-me à Marinha do Brasil, prometo cumprir rigorosamente as ordens das autoridades a que
estiver subordinado, respeitar meus superiores hierárquicos, tratar com afeição meus irmãos de armas e
com bondade meus subordinados e dedicar-me inteiramente ao serviço da Pátria, cujas honra, integridade e
instituições defenderei com o sacrifício da própria vida”.
RMB3oT/2013 163
Moral e Ética: apresentação e consolidação desses conceitos nas atividades que envolvem a liderança militar no Colégio Naval
irrepreensível, imposta pelo sentimento sobre a carreira naval. Assim, faz-se mister
do dever, honra pessoal, pundonor militar que, cada vez mais cedo na carreira, eles
e pelo decoro da classe (Estatuto dos Mi- sejam apresentados ao que a Marinha pode
litares, 1980, Art. 28). Essas orientações lhes reservar em termos de oportunidades
são praticadas diariamente, de forma in- e experiências. Ou seja, na atualidade, o
consciente, diante do ambiente hierárquico CN possui também o importante papel
que envolve as turmas, forçando o aluno a de divulgar os nossos Planos de Carreira,
perceber a importância da observação dos fazendo uma propaganda positiva da MB
conceitos morais no ato de liderar. no que tange às excelentes oportunidades
Nesse complexo espectro que o conceito oferecidas àqueles que a ela se dedicam.
de ética possui, envolvendo as normas, os Essa propaganda precisa ser disseminada,
costumes e as experiências somados pelos diante da magnitude de informações sobre
indivíduos em um grupo social, percebe- outras profissões disponíveis em um mundo
se a vultosa necessidade que os jovens de globalizado, a fim de garantir o ingresso e
hoje, integrantes da chamada “geração Z”8, a manutenção da matrícula de uma elite
apresentam em relação à prática do relacio- acadêmica, que será forjada para enfrentar
namento interpessoal. Essa geração, que os desafios inerentes a uma Marinha que
cresce “mergulhada” se propõe detentora de
no ambiente virtual, inúmeras tecnologias.
acostumada com um No CN, a geração Z, que No escopo de agir
convívio baseado em cresce mergulhada no com o sentimento do
sítios de relaciona- dever, um dos precei-
mento social, é, de ambiente virtual, é exposta tos da ética militar já
certa forma, carente de a um novo cenário de mencionado, insere-se
experiências vividas o preparo intelectual,
em situações nas quais relacionamento moral e físico do futuro
as fluências verbais, oficial. Desse modo,
corporais (gestos e expressões) e emocio- com um adequado planejamento, esse cur-
nais apresentarão um forte peso para que so prévio à EN busca garantir ao jovem a
suas expectativas sejam atendidas. Essa assimilação de conteúdos acadêmicos que
prática de interação social é fundamental serão exigidos, indiretamente, no exercício
ao exercício da liderança, em conformidade dos cargos e das funções de um oficial.
com os códigos de ética impostos pela MB, Ressalta-se que, como representante de um
forçando-nos a expor os jovens a um novo segmento formador de opinião da socieda-
cenário de relacionamento, justificando, de, o oficial externará inúmeras vezes suas
assim, uma importante contribuição do opiniões e argumentos sobre os assuntos
CN no forjar do cidadão e do futuro oficial. da atualidade e do passado histórico em
Em consonância com o imediatismo consonância com os interesses da Marinha,
e por conta da facilidade que possuem ou seja, regulamentado pela ética militar
de acesso à informação via internet e da naval, em que a necessidade de uma “cul-
familiarização com recursos ligados à in- tura geral” absorvida, proporcionada pelo
formática, esses alunos detêm uma intensa professar em um alto nível de qualidade
necessidade de obter mais e mais dados das matérias do Ensino Médio, será algo
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Moral e Ética: apresentação e consolidação desses conceitos nas atividades que envolvem a liderança militar no Colégio Naval
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Moral e Ética: apresentação e consolidação desses conceitos nas atividades que envolvem a liderança militar no Colégio Naval
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Moral e Ética: apresentação e consolidação desses conceitos nas atividades que envolvem a liderança militar no Colégio Naval
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Moral e Ética: apresentação e consolidação desses conceitos nas atividades que envolvem a liderança militar no Colégio Naval
liza a importância e a prioridade renovadas tando que o CN, “berço” da maior parte da
pela Alta Administração Naval com essa oficialidade da MB, continue cumprindo a
histórica Organização Militar, possibili- sua nobre missão.
Referências
BRASIL. Lei no 6.880, de 9 de dezembro de 1980. Dispõe sobre o Estatuto dos Militares. Diário
Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 11 dez. 1988.
ESPÍNDOLA, Marilene Lima Ferreira. “O desenvolvimento de líderes militares com foco no cenário
atual”. Revista Marítima Brasileira (RMB): V. 132 n. 01/03 – jan./mar. 2012.
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137, 1a ed. 2004.
PASSARINHO, Jarbas. Liderança Militar. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1987.
TAVARES, Kleber da Silva. A ética castrense e a intervenção militar como recurso de manutenção
da ordem institucional. Disponível em: http://www.historia.ufes.br/sites/www.historia.ufes.br/
files/Kleber_da_Silva_Tavares.pdf. Acesso em: 03 ago. 2012.
VAZ, Henrique C. de Lima. Escritos de Filosofia II: ética e cultura. São Paulo: Loyola, 1988.
VÁZQUES, Adolfo Sánchez. Ética. 15. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995.
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HEGEMONIA E CONFLITO NO PÓS-GUERRA FRIA:
A construção do inimigo e a
perpetuação da guerra1
1 Adaptação de trabalho acadêmico apresentado à Escola de Guerra Naval como requisito parcial para a conclusão
do Curso de Estado-Maior para Oficiais Superiores.
2 Diplomata soviético referindo-se aos EUA após a queda do Muro de Berlim. Ver em CONESA, Pierre. “O
pensamento estratégico europeu.” Disponível em:<http://www.diplomatique.org.br/artigo.phd?id=570>
HEGEMONIA E CONFLITO NO PÓS-GUERRA FRIA: A construção do inimigo e a perpetuação da guerra
poder no cenário internacional, permitindo amplo emprego dos meios bélicos dispo-
o surgimento de novos atores, tais como: níveis, os EUA levam a cabo uma política
grupos criminosos transfronteiriços, ter- internacional que oscila entre “ações de
roristas e os chamados “Estados falidos”, segurança” do próprio território e a su-
que são aqueles que se prestam, por meio posta “punição” de tiranos não alinhados
do uso da violência (inclusive da ameaça com seus interesses. Sempre na tentativa
nuclear), a confrontar e desafiar a política de legitimar suas ações militares por meio
intervencionista norte-americana[3]. das resoluções e dos mandatos emitidos
Nesse mesmo contexto, os EUA ocupam pelo Conselho de Segurança da Organi-
a posição de potência hegemônica, fazen- zação das Nações Unidas (ONU) ou pela
do prevalecer seus interesses por meio do Organização do Tratado do Atlântico Norte
emprego da força bélica e da retórica da (Otan), os EUA passam a exercer aquilo
“segurança nacional”. Com isso, tentam que Philipe Leymarie chamou de “guerra
justificar, em uma era de múltiplas trans- por procuração”.[6]
formações, a inevita- Outra necessidade
bilidade dos conflitos surge da ausência do
para a consecução dos Com a afirmação da inimigo soviético: é a
seus objetivos políti- hegemonia norte- criação de um inimi-
cos e econômicos. go que justifique um
Segundo o General
americana e o término sistema de defesa já
francês Eric de La da disputa nuclear com existente, minuciosa-
Maisonneuve[4], a a URSS, inclusive com mente delineado por
URSS possuía todas uma meticulosa análise
as qualidades de um a dissolução desta, o de riscos. Assim, os
bom inimigo: sólido, mundo se fragmentou norte-americanos fo-
constante, coerente. ram ao Iraque em 1991
Além do mais, era
ideologicamente e libertaram o Kwait.
militarmente parecida Parecia que a questão
com os países do ocidente (EUA e seus já estava resolvida: a ameaça viria do
aliados europeus), uma vez que seguia Oriente Médio, em substituição àquela que
o modelo clausewitziano[5] de guerra. antes vinha do leste europeu. Uma simples
Portanto, apesar de imprevisível, era um reorientação geográfica parecia permitir
inimigo conhecido. É dessa forma que eram a manutenção de um quadro estratégico
vistos os soviéticos e seus aliados durante e de meios idênticos ao anterior. Porém,
a Guerra Fria. a grande diversidade cultural existente
Com a afirmação da hegemonia norte- naquela região, inclusive com a presença
americana e o término da disputa nuclear de alguns aliados dos EUA, como a Arábia
com a URSS, inclusive com a dissolução Saudita, mostrou que a criação do inimigo
desta, o mundo se fragmentou ideologica- pelo simples posicionamento geográfico
mente. Os EUA surgiram então como uma não era tarefa tão simples assim. Portanto,
potência única, hegemônica, com capaci- aquilo que Samuel Huntington chamou de
dade militar e econômica para intervir em “choque de civilizações” não se sustentava
qualquer parte do planeta. Desse momento como a única justificativa plausível para
em diante, a potência norte-americana o emprego do poderio bélico norte-ame-
impõe uma nova ordem mundial. Com o ricano. A substituição da URSS no papel
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HEGEMONIA E CONFLITO NO PÓS-GUERRA FRIA: A construção do inimigo e a perpetuação da guerra
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HEGEMONIA E CONFLITO NO PÓS-GUERRA FRIA: A construção do inimigo e a perpetuação da guerra
econômicas mediatas que podem ser nela que chamam de santa (Jihad) e que vê na
obtidas. Porém não se pode alegar como política externa norte-americana a maior
justa uma guerra fundamentada na apro- expressão do mal na vida terrena.
priação de riquezas alheias. Então surgem Não importa o quanto o mundo mude ou
os dilemas de segurança, da necessidade da seja interligado por redes de informação e
democracia como elemento pacificador do comércio. A evolução das sociedades altera
mundo[10], da luta pelo respeito aos direi- todo o tempo as dinâmicas de poder no
tos humanos etc. Tenta-se de toda forma contexto mundial. Da disputa pelo controle
fundamentar o início de uma guerra com de um país, surgem dois novos Estados; é
base nos princípios e nos valores aceitos da garantia do abastecimento de energia
pelo direito internacional, vistos como que surge a intervenção em nome da de-
legítimos para o emprego da força. mocracia ou dos direitos humanos; é das
Tanto os grupos infranacionais crimi- nações sem governo e deixadas à margem
nosos quanto os Estados delinquentes têm da comunidade internacional que surgem
um objetivo em comum, que é enfraquecer os grupos criminosos, as armas nucleares
a soberania dos Estados e a hegemonia glo- ou químicas sem controle e, com elas, a
bal dos EUA, inclusive destruindo-o[11]. ameaça à ordem mundial vigente. São essas
Isso pode ser entendido como uma das mudanças no contexto global pós-Guerra
consequências do fim da Guerra Fria. Os Fria, tendo guerra e conflito como suas
países que pertenciam ao bloco soviético, inevitáveis consequências, que nos fazem
ao se encontrarem fora do controle da afirmar a perenidade dos conflitos, pois
URSS, viram a possibilidade de reavivarem como bem nos ensina Marwan Bishara, ao
antigas disputas que não eram passíveis de referir-se aos atentados de 11 de setembro
demanda no âmbito da bipolaridade. Si- de 2001, não são os conflitos que mudam
multaneamente, grupos religiosos radicais o mundo, eles apenas “refletem as trans-
assumem o desígnio de lutar, por todos os formações de um mundo que muda e que
meios possíveis e imagináveis, uma guerra é preciso tentar entender”.[12]
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HEGEMONIA E CONFLITO NO PÓS-GUERRA FRIA: A construção do inimigo e a perpetuação da guerra
REFERÊNCIAS
[1] Cf. Glossário das Forças Armadas – define-se a Guerra Fria como a situação de confrontação
aberta entre duas nações ou grupos de nações, não caracterizada como guerra limitada, guerra geral
ou total, mas como a adoção de medidas de hostilidades (restritivas, punitivas e coativas) em todos
os campos do poder, exceto no poder militar. Pode ser usada na luta pela hegemonia entre Estados
ou coligações de Estados.
[2] CONESA, Pierre. “La fabrication de l’ennemi. Manière de voir”. Le Monde diplomatique.
Paris, no 126, dez. 2012 – jan. 2013.
[3] BISHARA, Marwan. “Um inimigo difuso”. Le Monde diplomatique. Brasil, São Paulo, out.
2001. Disponível em: <www.diplomatique.org.br>. Acesso em: 22 mar. 2013.
[4] CONESA, Op. cit., p. 48.
[5] Luigi Bonanate conceitua a guerra clausewitziana como sendo um ato de violência com o qual
se pretende obrigar o nosso oponente a obedecer a nossa vontade. BONANATE, Luigi. A guerra. São
Paulo: Estação Liberdade, 2001, p. 30.
[6] LEYMARIE, Philippe. “Par procuration. Manière de voir”. Le Monde diplomatique. Paris, no
126, dez. 2012 – jan. 2013.
[7] BISHARA, Op. cit., p. 2.
[8] BOUTHOL, Gaston. Tratado de Polemologia. Madrid: Ediciones Ejército, 1984. p. 65.
[9] BONANATE, Luigi. A guerra. São Paulo: Estação Liberdade, 2001. p. 106.
[10] Ibidem, p. 145-148.
[11] BISHARA, Op. cit., p. 3.
[12] Ibidem, p. 5.
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Reflexões acerca da Fertilização dos Oceanos
SUMÁRIO
Introdução e comentários
Princípio da precaução e princípio da prevenção
Conclusão
1 LC 33/4: Report of the 3rd Meeting of the Intersessional Working Group on Ocean Fertilization.
2 As Partes Contratantes da LC e do LP concordam que atividades como a fertilização dos oceanos estão no escopo
do Protocolo 1996 e têm potencial de causar danos ao meio ambiente marinho.
3 33a Reunião das Partes Contratantes da Convenção de Londres e 5a Reunião das Partes Contratantes do Protocolo
1996.
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Reflexões acerca da Fertilização dos Oceanos
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Reflexões acerca da Fertilização dos Oceanos
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Reflexões acerca da Fertilização dos Oceanos
se discute a pesca, uma vez que a gestão do acúmulo de emissões de CO2 de origem
dos estoques pesqueiros leva em conta tal antropogênica absorvidas pelos oceanos,
abordagem. Conforme explicado pelo do- representando por si só uma ameaça que
cumento técnico da Food and Agriculture também decorre das mudanças climáticas.
Organization (FAO), de 19967: Mais importante: essa ameaça não pode ser
“(...) A necessidade de precaução na mitigada por meio de alguns dos sistemas
gestão tem-se refletido no princípio da pre- de geoengenharia que buscam reduzir os
caução e no princípio da prevenção, dois efeitos sem, no entanto, diminuir a emissão
conceitos por vezes difíceis de distinguir de gases de efeito estufa8.
perfeitamente. O princípio da precaução Nesse sentido, podemos deduzir sem
tem sofrido com a falta de definição e inter- dificuldade que, mais uma vez, estamos
pretações extremas que levam à moratória pensando em soluções para minimizar
e à falta de consideração dos custos eco- os impactos e não para parar ou reduzir a
nômicos e sociais decorrentes de sua apli- causa/fonte, e mais uma vez estamos diante
cação. O princípio da prevenção foi mais de uma ameaça aos oceanos e à sua com-
intimamente associado com o conceito de posição química já alterada. O oceano não
desenvolvimento sustentável e uso susten- pode ser mais visto como um “poço sem
tável, reconhecendo que a diversidade de fundo” de emissões de CO2. O Interacade-
situações ecológicas e socioeconômicas my Panel on International Issues destacou
de cada atividade pode exigir estratégias recentemente que a acidez dos oceanos
diferentes. Este conceito tem, portanto, aumentou 30% nos últimos 200 anos.
uma ‘imagem’ mais aceitável nos vários O fato é que os custos de ações preven-
setores de desenvolvimento e gestão e é tivas são geralmente tangíveis, claramente
considerado mais facilmente aplicável à identificados e frequentemente em curto
gestão da pesca (...)”. prazo, ao passo que os custos de não agir
são menos tangíveis, menos claros e, ge-
Conclusão ralmente, de longo prazo, apresentando
problemas específicos de governança. Sem
O documento da UN-Desa no 26, de esquecer que é difícil conciliar todos os
dezembro de 2009, aborda a acidificação aspectos relacionados com os prós e contras
dos oceanos, assunto este relacionado da ação, ou omissão, e há considerações
com a fertilização e que ilustra o que de sociais, econômicas e éticas importantes
fato já acontece nos oceanos em função envolvidas na matéria (EEA, 2001).
7 FAO FISHERIES TECHNICAL PAPER 350/2 (SWEDISH NATIONAL BOARD OF FISHERIES – Food and
Agriculture Organization of the United Nations Rome, 1996© FAO).
8 UN-DESA Policy Brief no 26. United Nations Department of Economic and Social Affairs.
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Reflexões acerca da Fertilização dos Oceanos
Referências
Buesseler, K.O et al. (2008). Ocean Iron Fertilization—Moving Forward in a Sea of Uncertainty.
Science, Vol 319. Downloaded from www.sciencemag.org on January 7, 2013.
European Environment Agency (EEA). (2001). Late lessons from early warnings: the precautionary
principle 1896–2000. Luxembourg: Office for Official Publications of the European Communities.
Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO). FAO FISHERIES TECHNICAL
PAPER 350/2. Disponível em <http://www.fao.org/docrep/003/W1238E/W1238E03.htm>
Acesso em 3/1/2013.
Nodari, R.O. (2005). Pertinência da Ciência Precaucionária na identificação dos riscos associados aos
produtos das novas tecnologias. Disponível em < http://www.ghente.org/etica/principio_da_pre-
caucao.pdf>. Acesso em 26/4/2013.
Strong, A.L; Cullen, J.J; Chisholm, S.W. (2009). Ocean Fertilization: Science, Policy, and Com-
merce. Oceanography. Vol.22, no 3. http://www.tos.org/oceanography/issues/issue_archive/
issue_pdfs/22_3/22-3_strong.pdf. Accessed on 2/1/2013.
The Royal Society. (2009). Geoengineering the climate: science, governance and uncertainty. London:
The Royal Society, 2009.
Thiratangsathira, U. (2010). The Precautionary Principle in International Environmental Law (with a
Special Focus on the Marine Environment of Thailand). PhD Thesis. Queen Mary, University
of London.
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Armas Químicas, uma Breve Revisão para um
Assunto Atual
SUMÁRIO
Introdução
Histórico
Definição
Classificação
Considerações finais
te fáceis de produzir, inclusive por nações Alemanha, no ano de 1915, lançou o gás
pouco desenvolvidas economicamente ou mostarda sobre as tropas aliadas na cidade
até mesmo por grupos paramilitares (EVI- de Ypres, na Bélgica, durante a Primeira
SON ET AL. 2002). Diante dos eventos de Guerra Mundial.
grande porte que estão a se realizar no País A partir daquele momento houve uma
e da maior participação brasileira no cená- série de esforços na produção de agentes
rio mundial, inclusive com operações de químicos para fins bélicos, principalmente
paz como as do Haiti e do Líbano, o assunto os agentes asfixiantes neurotóxicos. Na
defesa química/biológica/nuclear passa a década de 30, na Alemanha, foram desen-
ser de grande importância, o que pode ser volvidos estudos que resultaram nos agentes
observado no item “Segurança Nacional” neurotóxicos do tipo G (pouco persistentes).
da Estratégia Nacional de Defesa: Curiosamente, não há relato de uso de
“Todas as instâncias do Estado deverão arma química no campo de batalha durante
contribuir para o incremento do nível de a Segunda Guerra Mundial.
Segurança Nacio- Na década de 50,
nal, com particular foram desenvolvidos
ênfase sobre: Em 13 de janeiro de 1993, compostos de toxici-
– as medidas de 170 países, entre eles o dade mais elevada e de
defesa química,
bacteriológica e
Brasil, assinaram em Paris grande persistência no
ambiente, denominados
nuclear, a cargo a Convenção Internacional agentes do tipo V. A
da Casa Civil da Mundial sobre a Proibição maioria desses agentes
Presidência da Re- são ésteres fosfóricos
pública; dos Minis- do Desenvolvimento, e possuem estruturas
térios da Defesa, da Produção, Armazenamento e mecanismos de ação
Saúde, da Integra-
ção Nacional, das
e Uso de Armas Químicas similares aos inseticidas
e pesticidas. (DOMIN-
Minas e Energia e GOS E COLS., 2003).
da Ciência e Tecnologia; e do GSI-PR, O agente laranja foi usado como desfo-
para as ações de proteção à população lhante pelo Exército dos Estados Unidos da
e às instalações em território nacional, América (EUA) na Guerra do Vietnã, entre
decorrentes de possíveis efeitos do em- 1962 e 1971. Os constituintes do agente la-
prego de armas dessa natureza.” ranja eram utilizados na agricultura, porém
durante a Guerra do Vietnã foi produzido com
O presente artigo faz uma revisão das inadequada purificação, apresentando teores
principais armas químicas utilizadas até o elevados de um subproduto cancerígeno, e
momento, dos seus efeitos e das medidas seu uso deixou sequelas terríveis na popu-
disponíveis no enfretamento das mesmas. lação daquele país e nos próprios soldados
norte-americanos. Esta arma química alterava
Histórico o habitat natural e provocou enfermidades
irreversíveis, sobretudo malformações con-
Dados históricos indicam que o primei- gênitas, câncer e síndromes neurológicas em
ro uso de arma química se deu quando a crianças, mulheres e homens do país1.
1 (http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/08/vietna-e-eua-iniciam-enfim-descontaminacao-de-agente-laranja-1.html)
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Armas Químicas, uma Breve Revisão para um Assunto Atual
2 (http://www.alunosonline.com.br/geografia/oscurdos.html)
(http://news.bbc.co.uk/onthisday/hi/dates/stories/march/16/newsid_4304000/4304853.stm)
RMB3oT/2013 183
Armas Químicas, uma Breve Revisão para um Assunto Atual
hh hh
iiii h
ii hhh
h hhhh
hhhhh hhhhh
FONTE: Dados adaptados de Anderson, P. D. (2012). Emergency management of chemical weapons injuries.
Journal of pharmacy practice, 25(1), 61-8. doi:10.1177/0897190011420677
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Armas Químicas, uma Breve Revisão para um Assunto Atual
sob investigação” do FDA. A concen- instáveis (radicais livres) que agem com
tração é de 30 mg a cada oito horas, ini- moléculas biológicas, como proteínas e
ciada horas antes à exposição ao soman. ácidos nucleicos.
Forças militares americanas a utilizam nos Em conflitos, foram utilizados para in-
kits Mark 1 destinados a algumas tropas. capacitar um grande número de soldados,
Esses kits incluem autoinjeções de atro- o que decorre da formação de feridas. Sua
pina intramuscular e pralidoxima. Alguns mortalidade é baixa, embora o efeito psi-
serviços médicos de emergência também cológico seja devastador.
utilizam kits similares ao Mark 1. Sinais e sintomas clínicos decorrentes
da exposição incluem eritema, formação
FIGURA KIT MARK 1 de vesículas (bolhas) na pele, possíveis
AUTO – INJECTOURS USED BY danos à córnea, vômitos e supressão medu-
THE U.S. ARMED:
lar (resultando em discrasias sanguíneas).
Deve-se ressaltar que os sintomas não
se manifestam imediatamente, podendo
TRAINING DEVICES ocorrer em até oito horas após a exposição
INJECTOURS
(ANDERSON, 2012).
Kehe e Cols. descreveram 12 casos de
pacientes iranianos expostos a mostarda
de enxofre em 1984 a 1985. Os primeiros
sintomas relatados foram oculares. Ou-
tras manifestações comuns foram lesões
MARK I NERVE AGENT ANTIDOTE
no trato respiratório (brônquios) e pele.
NERVE AGENT AMTIDOTE KIT TRAINIG KIT. MARK I Os sintomas oculares específicos foram
ardência e lacrimejamento. Sinais na
FONTE: http://en.wikipedia.org/wiki/Mark_I_NAAK
derme incluíam ulcerações e edema. Um
paciente apresentou hiperpigmentação.
Metade dos pacientes apresentou hipó-
Agentes vesicantes xia. Um paciente morreu em decorrência
de septicemia, secundária à supressão
Os principais representantes desta classe medular.
são: gás mostarda, mostarda de enxofre, Medidas de controle devem ser adotadas
levisita e fosgênio oxima (ANDERSON, no sentido de promover uma rápida des-
2012). São assim chamados pela sua contaminação dos indivíduos e remoção
propriedade em formar bolhas (vesículas) do local de exposição. Não há nenhum
após o contato com a pele (COLASSO E antídoto específico para o gás mostarda.
AZEVEDO, 2012). Tratamento de suporte deve ser realiza-
O gás mostarda é um líquido oleoso do de forma a evitar complicações, sendo
amarelo em temperatura ambiente, com indicados o uso de antibióticos oftálmicos e
odor característico de mostarda ou alho. Em tópicos e a lavagem com solução fisiológica
recipientes fechados permanece líquido, dos locais afetados. Em caso de sintomas
porém em ambientes abertos volatiliza-se respiratórios, o uso de oxigênio, ventilação
rapidamente. mecânica e fisoterapia respiratória estão
Seu mecanismo de ação se dá principal- prescritos (ANDERSON, 2012; EVISON
mente por meio da formação de compostos ET. COLS; 2002).
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Armas Químicas, uma Breve Revisão para um Assunto Atual
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Armas Químicas, uma Breve Revisão para um Assunto Atual
3 http://oglobo.globo.com/mundo/qual-tamanho-do-arsenal-quimico-de-bashar-al-assad-5517850#ixzz241MAthFI
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Armas Químicas, uma Breve Revisão para um Assunto Atual
REFERÊNCIAS
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DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E POLÍTICAS
PÚBLICAS*
sumário
Introdução
Direitos humanos e os novos paradigmas
Acessibilidade como direito
Avanços das políticas públicas
Conclusão
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DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E POLÍTICAS PÚBLICAS
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DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E POLÍTICAS PÚBLICAS
surgindo, assim, o conceito de “Normali- o acesso aos serviços públicos, aos bens
zação”, que não significa tornar a pessoa culturais e aos avanços políticos, econô-
“normal” ou forçar as práticas de “coisas micos e tecnológicos da sociedade, o que
normais” e sim contribuir para a valoriza- efetivamente significa a equiparação de
ção dessas pessoas e para que os serviços oportunidades para todos.
prestados tragam respeito e dignidade, fa-
zendo com que as pessoas com deficiência Acessibilidade como direito
sejam valorizadas pela sociedade.
De acordo com Canziani (2006), com a O ano de 1981 foi declarado pelas Na-
normalização confere-se ênfase aos direi- ções Unidas como o Ano Internacional das
tos das pessoas com deficiência, como: o Pessoas com Deficiência, e em 1982 foi
direito de viver em condições normais, o aprovada a Resolução 37/82 da Assembleia
direito à educação e ao trabalho, o direito Geral das Nações Unidas, o Programa de
de tomar suas próprias decisões e o direito Ação Mundial para Pessoas com Deficiên-
à dignidade. cia, que ressalta seus direitos de terem as
A nova maneira de “pensar a deficiên- suas necessidades atendidas como qual-
cia” inclui um novo conceito de “reabi- quer cidadão. Inicia-se então a luta pela
litação”, com medidas que levam a uma acessibilidade em espaços construídos sem
redução do impacto da deficiência sobre barreiras, ou seja, uma luta com o meio.
o indivíduo, capacitando-o a conseguir Um dos conceitos definidos pela OMS
independência e melhor qualidade de vida, é a equiparação de oportunidades, em que
e levando em conta sua opinião, suas esco- o sistema geral da sociedade deve ser aces-
lhas e suas decisões, reduzindo, assim, as sível a todos. É então que se verifica que o
desigualdades sociais. E essa nova forma impedimento está no meio e não na pessoa,
de pensar a deficiência afasta a ótica da pois, ao não se proporcionar acesso, não
patologia e da etiologia e, assim, leva-se lhes é permitida essa equiparação.
em conta que a incapacidade causada por De acordo com Prado (2006), o objetivo
uma deficiência é agravada ou minimizada da acessibilidade é permitir ganho de auto-
conforme sua relação com a sociedade. nomia e de mobilidade a um número maior
Esta deve oferecer apoios facilitadores para de pessoas, até mesmo àquelas que tenham
que as pessoas com deficiência tenham as reduzida a sua mobilidade ou que tenham
mesmas oportunidades que qualquer outro dificuldades em se comunicar, para que
cidadão. usufruam os espaços com mais segurança,
Sendo assim, nessa nova abordagem confiança e comodidade.
vem sendo substituída a prática da integra- No Brasil, a acessibilidade é prevista
ção pelo termo inclusão social, pois assim nos artigos 227 e 244 da CF, os quais ga-
parte-se do princípio que a sociedade deve rantem acesso adequado às pessoas com
ser modificada para atender às necessidades deficiência, com adaptações de edifícios,
de todos os seus membros. Uma sociedade transportes, sinalização, sistemas de co-
inclusiva não aceita preconceitos, discri- municação, circulação de pedestres e até
minações, barreiras sociais, culturais ou mesmo habitação.
pessoais. Para implantar um processo de democra-
A inclusão das pessoas com deficiência tização da sociedade brasileira que priorize
significa possibilitar a elas, respeitando a inclusão de pessoas, principalmente as
as necessidades próprias de sua condição, com deficiências, é necessário pensar em
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DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E POLÍTICAS PÚBLICAS
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DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E POLÍTICAS PÚBLICAS
CONCLUSÃO
inclusiva traz às pessoas do Estado quanto da
sociedade, baseando-se
com deficiência em todas no princípio da igual-
Apesar de todas as esferas da vida social, dade e pautando-se no
as medidas garanti- exercício da cidadania e
das pela CF, ainda econômica e política na dignidade da pessoa
persistem fatores que humana. A real inclu-
dificultam melhores resultados devido à são acontece quando há a união dos dois
desinformação da sociedade, à visão li- processos, em que o Estado viabiliza a
mitada dos serviços voltados para pessoas integração e a sociedade aceita a inclusão.
REFERÊNCIAS
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VIAGEM À ANTÁRTICA*
SUMÁRIO
Introdução
Continente Antártico: breve comentário
A viagem
Punta Arenas
Antártica
Atividades no Navio Polar Almirante Maximiano
Conclusão
pesquisa científica por uma instituição cuja fauna de marsupiais. Há 40 milhões de anos,
finalidade é a defesa nacional. a Austrália, unida à Nova Guiné, separou-se
Indubitavelmente, as experiências por da Antártica e o gelo começou a aparecer.
que passamos nos agregaram uma série de Por volta de 23 milhões de anos atrás, o
valores profissionais, culturais e morais surgimento da Passagem de Drake, entre
difíceis de serem expostos e descritos em a Antártica e a América do Sul, resultou
palavras. Neste artigo, o objetivo é transmi- no aparecimento da Corrente Circumpolar
tir um pouco do que, com grande prazer e Antártica. O gelo propagou-se, substituindo
satisfação, foi aprendido e vivenciado nesse as florestas que cobriam o continente. O
período peculiar de nossas vidas. continente está coberto de gelo desde 15
milhões de anos atrás.
CONTINENTE ANTÁRTICO: Possui uma extensão de 14 milhões de
BREVE COMENTÁRIO quilômetros, dos quais cerca de 98% do
território permanece congelado, e no inver-
A formação geológica da Antártica este- no sua extensão chega a aumentar até mil
ve em geral ligada à dos continentes ou das quilômetros de largura por causa do gelo.
porções continentais situadas no Hemisfério As calotas de gelo possuem uma espessura
Sul do globo terrestre, com seus primeiros de até 4 mil metros e um volume estimado
desdobramentos resultantes da formação da em 25 milhões de km³, equivalente a 70%
massa continental original e unificada, mais das reservas de água doce do planeta.
conhecida como Pangeia. A África separou- Devido às baixas temperaturas regis-
se da Antártica por volta de 160 milhões de tradas (a temperatura média varia de 0°C
anos atrás, seguida pela Índia no início do no verão no litoral a -65ºC no inverno no
Cretáceo (aproximadamente 125 milhões de interior), a Antártica é o continente mais
anos). Há 65 milhões de anos, a Antártica inóspito, frio e seco do planeta e, por isso,
(ainda conectada à Austrália) tinha um clima possui muitas regiões ainda não exploradas
entre tropical e subtropical, somado a uma pelo homem. Em 21 de julho de 1983, foi
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VIAGEM À ANTÁRTICA
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VIAGEM À ANTÁRTICA
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VIAGEM À ANTÁRTICA
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VIAGEM À ANTÁRTICA
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SUBMARINO NUCLEAR: PODER DE DISSUASÃO NO MAR*
SUMÁRIO
Introdução
Histórico
Funcionamento da planta de propulsão e vantagens em
relação aos convencionais
Programa Nuclear da Marinha (PNM)
Benefícios
Conclusão
submarinos nucle-
ares, com enfoque
no futuro submarino
brasileiro, enfatizan-
do o valor agregado
que tal empreitada
bem-sucedida con-
cederia ao Brasil no
cenário mundial.
Dessa forma,
primeiramente será
apresentado um bre-
ve histórico sobre o
submarino de propul-
são nuclear.
Em seguida, será
descrito o funcio-
namento da planta
Entretanto, é importante ressaltar que, nuclear e serão relacionadas as vantagens
mesmo com todas as dificuldades en- dos submarinos de propulsão nuclear em
frentadas até o momento para levar este relação aos convencionais.
projeto adiante, as autoridades navais não Será apresentado também um resumido
hesitaram na manutenção da essência do histórico do PNM, no qual serão apontados
projeto original, visto que sempre houve um os estágios necessários para que a construção
consenso de que se tratava de um assunto do submarino nuclear se concretize, assim
de suma importância para a defesa do País. como as etapas concluídas até os dias atuais.
Em 2008, os cofres públicos puderam Serão expostos, ainda, os benefícios de
realimentar as expectativas com a aprova- um submarino nuclear no âmbito político,
ção do Programa Nacional de Defesa e com tecnológico e econômico.
o anúncio da parceria
tecnológica e estraté-
gica com a França, na
qual este país se com-
prometeria a fabricar
quatro submarinos
de tipo Scorpène e a
dar auxílio no desen-
volvimento no que
se refere à parte não
nuclear do projeto de
submarino a propul-
são nuclear brasileiro.
O objetivo deste
artigo é apresentar
Fonte: http://www.defenseindustrydaily.com/Scorpenes-Sting-Liberation-
informações sobre Publishes-Expose-re-Malaysias-Bribery-Murder-Scandal-05347/
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SUBMARINO NUCLEAR: PODER DE DISSUASÃO NO MAR
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SUBMARINO NUCLEAR: PODER DE DISSUASÃO NO MAR
grande parte da população é: quais são secundário. A parte secundária é uma ins-
as diferenças do submarino nuclear para talação de propulsão de turbina a vapor,
o convencional que justifiquem tanto na qual o vapor faz as turbinas girarem,
entusiasmo despendido num projeto tão produzindo a energia elétrica para que os
oneroso para os cofres públicos? É justa- motores elétricos funcionem, assim como
mente essa questão que iremos tratar nesta toda a aparelhagem eletrônica que está
seção deste artigo. instalada a bordo.
De acordo com a definição1, o termo É importante fazer um esclarecimento
submarino nuclear significa “embarcação pertinente neste momento, que diz respeito
movida pela energia gerada por um reator à verdadeira capacidade de submersão do
nuclear capaz de emergir e submergir submarino nuclear, sob o ponto de vista
quando desejado”. Como se pode perceber, do tempo. A mídia divulgou, em várias
a diferença principal reside no sistema oportunidades, que esse tipo de meio de
de propulsão dos submarinos. Na figura guerra só precisaria emergir após períodos
abaixo, está representada uma planta de maiores que um ano, o que não é verdade.
propulsão que seria implantada no pri- De fato, o submarino nuclear tem um adi-
meiro submarino nuclear brasileiro. Ela cional de tempo submerso em relação aos
é composta de dois circuitos: primário e submarinos convencionais; porém, em vir-
secundário. O processo de obtenção de tude da saúde psicológica dos tripulantes,
energia para os fins da embarcação co- eles ficam no máximo cinco ou seis meses
meçam no circuito primário, com a fissão em comissão.
do combustível formado por isótopos do De qualquer forma, impressiona pelo
Urânio-235 nos reatores, provocando o tempo que fica operativo. Isso se deve a um
aquecimento da água que entra na rede. fator preponderante justamente no reator
Após isso, essa água é mantida pressurizada nuclear, o qual cria uma reação em cadeia,
para não vaporizar até passar pelo trocador que produz calor em grande quantidade,
de calor, que nada mais é do que o gerador sem fazer uso do oxigênio. Uma vez que
do vapor que é encaminhado para o circuito não carece de oxigênio, não necessita
Fonte:http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/submarino/submarino-5.php
1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Submarino_nuclear
204 RMB3oT/2013
SUBMARINO NUCLEAR: PODER DE DISSUASÃO NO MAR
2 Os espaços marítimos brasileiros atingem aproximadamente 3,5 milhões de km² e são denominados Amazônia
Azul.
3 Apresentado nos slides da palestra ministrada pelo próprio vice-almirante (EN) Bezerril na inauguração do
Grêmio de Engenharia, na Escola Naval, em 3 de agosto de 2010.
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SUBMARINO NUCLEAR: PODER DE DISSUASÃO NO MAR
A primeira etapa está concluída e consistiu já ocorreu no passado, ser mais difícil,
no controle completo do ciclo do combus- visto que isso acarretaria a quebra de uma
tível extremamente instável como esse em espécie de contrato internacional, trazendo
questão. O ciclo de combustível se inicia uma imagem que nenhuma nação busca
com a prospecção da matéria-prima, urânio. perante a comunidade internacional. Além
O concentrado de urânio, conhecido como disso, as tecnologias que estão sendo ali
yellow cake, sofre a conversão para o gás he- desenvolvidas transcendem a aplicação
xafluoreto de urânio, que é o insumo utilizado puramente militar.
nas ultracentrífugas. Uma vez enriquecido, ou
seja, tendo atingido a marca de 4% de U235, BENEFÍCIOS
o gás é reconvertido ao estado sólido em
forma de pastilhas que serão introduzidas em Não há dúvida de que o submarino nu-
varetas chamadas de zircalloy. Estas varetas clear irá trazer benefícios no âmbito militar,
formarão o elemento combustível que será já que, além de outras vantagens, serviria de
queimado no reator, finalizando a etapa do inspiração para uma possível revitalização
ciclo combustível. É importante comentar da indústria bélica no Brasil. Entretanto,
sobre a instalação da Unidade Piloto para é importante expor as consequências po-
Produção de Hexafluoreto de Urânio (Usexa), sitivas que não dizem respeito somente
mostrado na figura abaixo, que permite pro- ao setor militar, de modo que o PNM
duzir 40 toneladas do hexafluoreto de urânio ganhe um contexto de projeto nacional, o
necessário para abastecer as usinas e o reator. que sempre foi o intuito da MB. Portanto,
serão apresentadas nesta seção as virtudes
principais do PNM nos campos da política,
tecnologia e economia.
Atualmente, o poder político é exercido
por aqueles com experiência em dissolução
de conflitos, em nome de um bem comum,
por meio de sua força coercitiva. Esta
tem como um de seus componentes mais
Fonte: http://www.mar.mil.br/menu_h/noticias/ eficazes o Poder Naval, o qual é de valia
dia_marinheiro/13dez2005/exposicoes.htm inimaginável para política internacional.
Nenhum país do mundo poderá exercer
A segunda etapa busca o desenvol- posição de destaque no cenário mundial
vimento e a construção, com tecnologia sem ter uma Marinha forte, vide Estados
própria, de uma planta nuclear de geração Unidos da América, Inglaterra e outros.
de energia elétrica, incluindo um reator Um submarino nuclear contribuiria de tal
nuclear. Essa instalação servirá para a maneira para a confirmação e eficácia desse
formação de centrais energéticas espalha- poder que se tornaria, consequentemente,
das pelo País, além de suprir as demandas meio de dissuasão para impor os objetivos
estratégicas na área de defesa. fundamentais do Estado brasileiro.
É importante enfatizar que esse projeto O Brasil sempre foi um país pacífico e
é caro e exige, para a sua finalização, cons- sempre priorizou bastante o uso do recurso
tante fluxo de caixa. O acordo Brasil-França diplomático, adotando postura apenas dis-
trouxe novas expectativas devido ao fato da suasória. Entretanto, não se pode afirmar
interrupção de recursos financeiros, como que isso permanecerá para dias vindouros.
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SUBMARINO NUCLEAR: PODER DE DISSUASÃO NO MAR
Tanto na vertente preventiva quanto Para se ter uma noção do significado do co-
na ofensiva, o submarino nuclear emana mércio através do mar, basta dizer que cerca
incerteza para seus inimigos devido a sua de 95% de todo o montante comercial que
capacidade de ocultação e superioridade entra ou sai do País ocorre pelo mar, e que
militar. Sua autonomia e velocidade o o País lucra mais de 200 bilhões de dólares
tornariam, dentre todos os nossos meios, anualmente com essa atividade. O Brasil é
inclusive o Navio-Aeródromo São Paulo, extremamente dependente do seu comércio
nosso maior poder de dissuasão e de ataque, exterior, exigindo, para que não entre em co-
já que poderia permanecer operativo, de- lapso, uma força naval à altura, uma vez que
fendendo a nossa costa por longos períodos. o meio em que atua é estratégico para o País.
No âmbito tecnológico, podemos citar Com relação ao petróleo, sabemos que
as parcerias com instituições federais e os navios mercantes utilizam como com-
privadas, que permitiram ganho no que diz bustível os derivados do petróleo, e este
respeito à capacitação técnica, contribuindo produto é considerado um royalty do qual
para o amadurecimento nuclear do Brasil, muitos países usufruem. Portanto, consi-
tais como a Universidade de São Paulo derando as extensas áreas de extração de
(USP), o Instituto Alberto Luiz Coimbra de petróleo no Brasil e ainda unindo-se isso à
Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia descoberta do pré-sal, este produto coloca
da Universidade Federal do Rio de Janeiro o País na condição de um grande produtor,
(Coppe-UFRJ), o Instituto de Engenharia além de gerar riquezas por meio das ex-
Nuclear (IEN) e tantas outras instituições. portações. Para que o uso e a exploração
Além disso, vale ressaltar que já domina- ilegais de nosso petróleo não ocorram, é
mos o ciclo de combustível, o que permite, imprescindível a sensação da presença da
por meio deste conhecimento técnico, Marinha do Brasil, algo que seria conse-
sua aplicação como fonte alternativa de guido com maior facilidade com uma força
energia, diversificando a matriz energética dotada de um submarino nuclear. Sob um
brasileira, extremamente dependente de ponto de vista futuro, pode-se comentar que
usinas hidrelétricas. O mais importante aqui o petróleo eventualmente irá se esgotar e
é comentar os desenvolvimentos alcança- se tornará muito caro mesmo antes de este
dos durante o projeto que incorporam valor fato chegar a se consumar; logo, novas
agregado, permitindo ao Brasil obter uma alternativas de obtenção de energia deve-
crescente independência tecnológica em rão ser estudadas. O projeto do submarino
relação do exterior, abrindo novos espaços nuclear poderia proporcionar o domínio
e perspectivas para a indústria nacional. da tecnologia nuclear, permitindo, caso
Sob a égide econômica, auxilia começar fosse necessário, a adaptação da mesma
apresentando alguns dados importantes para navios mercantes e também para o
sobre a vasta área marítima brasileira. O fornecimento básico civil no futuro.
Brasil possui jurisdição sobre uma extensão Por fim, pode-se comentar a matéria
marítima de aproximadamente 4.451.766 “Superbélicas verde-amarelas”, recente-
km², o que corresponde a 52% do território mente divulgada pelo jornal O Globo, a
brasileiro. Nesta região, encontra-se uma qual discorre sobre uma parceria, entre
grande parte das atividades econômicas muitas previstas por um projeto do governo,
geradoras de divisas para o País, entre as da MB com grandes empresas da área de
quais podemos citar: o comércio exterior, a construção civil (Andrade Gutierrez, Ca-
pesca, a exploração de petróleo e o turismo. margo Corrêa, Odebrecht) na participação
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SUBMARINO NUCLEAR: PODER DE DISSUASÃO NO MAR
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SUBMARINO NUCLEAR: PODER DE DISSUASÃO NO MAR
de novas tecnologias, assim como a institui- naturais exploráveis presentes no mar. Por isso,
ções de pesquisa. O projeto do submarino torna-se conveniente uma arma para defender
nuclear utilizou a atuação de várias empresas essas riquezas, e nada melhor do que o subma-
governamentais e particulares de modo a rino a propulsão nuclear, cuja área de atuação
conseguir conquistar seus objetivos. Isso impressiona até mesmo aqueles adeptos de
gerou empregos indireta e diretamente, fato conceitos de meios submarinos futuristas.
observado também com a inserção cada vez Não há dúvidas de que o Programa de
maior de engenheiros na Marinha. Desenvolvimento de Submarinos (Prosub)
E, finalmente, sob o escopo econômico, é um projeto nacional que exige apoio de
é interessante comentar que o Brasil possui todos brasileiros, porque o submarino não
atualmente uma economia altamente robusta, representa apenas um meio extraordinário
fruto, em grande parte, do vigoroso fluxo de guerra, mas também é uma amostra da
comercial que depende do mar. Além disso, capacidade técnica do País. Ele é um sím-
foram descobertas novas jazidas de petróleo e bolo, um estandarte de um país. Por isso,
do pré-sal, aumentando ainda mais as riquezas que venha o “Senhor dos Mares”.
referências
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Janeiro, v. 126, n. 10/12, p. 93-107, out./dez. 2006.
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Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) no Centro Experimental Aramar, em 27 de
junho de 2007.1 CD-ROM.
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Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) no Auditório Amazônia Azul, na
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4/6, p. 115-120, abr./jun. 2003.
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necrológio
A RMB expressa o pesar às famílias pelo falecimento dos seguintes colaboradores e assinantes:
Ministro das Comunicações Euclides Quandt de Oliveira 16/01/1924 † 18/05/2013
VA Dilmar de Vasconcellos Rosa 02/12/1923 † 28/05/2013
VA (IM) Flávio Lúcio Cortez de Barros 09/05/1941 † 05/05/2013
CA Roberto Gama e Silva 01/01/1932 † 08/05/2013
CA Antônio Eduardo Cezar de Andrade 12/02/1934 † 08/06/2013
CA Roberto de Lorenzi Filho 18/12/1936 † 06/06/2013
CMG Aécio Pereira de Souza 23/11/1919 † 19/07/2013
CMG (EN) José Luiz Lunas de Mello Massa 15/09/1936 † 09/06/2013
CMG (IM) José Alves Fernandes Netto 01/05/1938 † 20/07/2013
CMG Armando de Oliveira Filho 11/06/1939 † 09/06/2013
CMG José Duarte de Figueiredo Filho 10/04/1940 † 27/04/2013
CMG (CD) Helcio José Moreira 21/02/1942 † 25/06/2013
CMG Manoel Cotta da Silva Filho 29/07/1942 † 03/08/2013
CMG (IM) Antônio Carlos Teixeira Martins 15/01/1942 † 25/05/2013
CF (MD) Almir José de Sales 29/07/1925 † 18/06/2013
CC (T) Francisco de Sales Souza 22/05/1942 † 12/05/2013
UM EXEMPLO AO PAÍS
Reprodução parcial de texto obtido na internet a respeito do Ministro das
Comunicações, Comandante Euclides Quandt de Oliveira, de autoria do
Vice-Almirante (Refo) Luiz Sérgio Silveira Costa.
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NECROLÓGIO
texto para conservar a Tese Principal, alte- literatura brasileira e contribuiu de modo
ramos e criamos o título, com o “Tsunami invulgar para disseminar teses de variado
Verde-Amarelo”, mantendo a “Visão Na- teor. Prestigiou a Marinha do Brasil, com
cionalista”. Esforçamo-nos para ficar à altu- seu raro e perspicaz intelecto. Enriqueceu
ra de Gama e Silva, pois esta foi a intenção a intelligentsia nacional, e – sorte minha
dos quatro que se dedicaram à tarefa. Em – tive o prazer de conhecê-lo e de com ele
verdade, não era possível perder a oportu- conviver.
nidade de divulgar texto tão significativo, Gama e Silva! Que suas ideias persistam
quiçá dos mais importantes já publicados ajudando o País.
pela nossa sesquicentenária revista.
Por fim, considero que o Almirante Milton Sergio Silva Corrêa
Gama e Silva enriqueceu as páginas da Capitão de Mar e Guerra (Refo)
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NECROLÓGIO
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de medida. Alguns foram de uma enorme pedido dos pais do Lorenzi – que vieram
brutalidade (reveladora de recalques). Ou- de Mogi para a cerimônia – aos pais da
tros apenas buscavam diversão conosco, os Jude, que moravam no Grajaú, foi feito
calouros assustados. na casa da Tivó. Uma festa modesta, mas
Alguém descobriu que, passando a pal- inesquecível.
ma da mão aberta sobre a ponta do nariz do Estreitamos mais ainda nossa amizade,
Lorenzi, ele espirrava. Fizeram isso tantas agora de Lysette e eu com Jude e Lorenzi.
vezes que o Lorenzi passou mal e teve que Lysette e ele tinham em comum uma fer-
baixar à enfermaria. vorosa militância católica. Ele sagrou-se
Os colegas paulistas usavam um sota- ministro da Eucaristia.
que diferente dos demais. Na época a TV Lysette morreu há dois anos, numa
engatinhava, e a Globo ainda não divulgara Sexta-Feira Santa. Não se conseguia um
um modo de falar e de pronunciar meio padre para a bênção final, e eu não queria
uniforme. O sotaque dos paulistas con- que ela, tão piedosa, recebesse essa bênção
trastava com o da maioria, cariocas. Os de um padre que não a conhecesse e não
do interior, como Lorenzi, que vinha de soubesse como ela era especial. Convidei
Mogi das Cruzes, tinham o sotaque ainda Lorenzi para a espinhosa missão. Ele de-
mais carregado. Mais que colegas de turma, clinou, dizendo que ia se emocionar muito,
ficamos amigos. que não conseguiria falar. Mas acabou
Os aspirantes que não tinham familiares aceitando e nos comoveu com belas e
no Rio às vezes ficavam na Escola Naval apropriadas palavras diante do corpo de
(EN) nos fins de semana. Mas, frequente- minha inesquecível companheira, com
mente, os “locais” convidavam os “laran- quem convivi por 60 anos.
jeiras” (gíria antiga da EN para esses “de Neste julho, Lorenzi sofreu um fulmi-
fora”) para irem às suas casas. Foi assim nante infarto. Jude pediu socorro ao filho
que os pais do Sieberth, numa atitude in- médico (o Capitão de Mar e Guerra André)
comum de generosa hospitalidade, abriam e ainda tentou reanimá-lo com massagens
sua casa para alguns “laranjeiras”, Lorenzi no tórax. Não conseguiu, e quando o socor-
inclusive. Quando a adorável Esther, tia- ro chegou não havia nada a fazer. Meia hora
avó do Sieberth, a saudosa Tivó, resolveu depois do trágico acontecimento, Judith me
alugar um apartamento no Grajaú, fomos liga. Fiquei estarrecido.
todos pra lá, transformando a casa dela em Não consegui, nessas toscas lembranças,
uma alegre república. dar uma imagem sequer pálida de quem era
Nessa época alguns de nós já ficávamos nosso querido Lorenzi.
noivos. Quando conheceu a bela norma-
lista Judith, Lorenzi ficou “com os quatro Luiz Antônio de Queiroz Mattoso
pneus arriados”. Queriam ficar noivos. O Capitão de Fragata (IM-Refo)
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NECROLÓGIO
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NECROLÓGIO
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NECROLÓGIO
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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
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DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDoS
DOAÇÕES À DPHDM
ABRIL A JUNHO DE 2013
DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECA DA MARINHA
DOADORES
Construtora Odebrecht
FEMAR
Editora da Universidade Federal da Bahia
UNIFA
José Bechara
Diretoria de Saúde da Marinha
CHILE
Revista de Marina (Armada de Chile) – v. 98, no 6, nov./dez. 1982; v. 98, no 1, jan./
fev. 1983; v. 99, no 1, jan./fev. 1984; v. 99, no 2, mar./abr. 1984; v. 100, no 4, jul./ago.
1984; v. 100, no 5, set./out. 2 ex. 1984; v. 100, no 6, nov./dez. 2 ex. 1984; v. 100, no 2,
mar./abr. 1985; v. 100, no 4, jul./ago. 1985; v. 100, no 6, nov./dez. 1985; v. 101, no 1,
jan./fev. 1986; v. 107, no 5, set./out. 2 ex. 1991; v. 110, no 5, set./out. 1994;
CUBA
Revista Bimestre Cubana – no 37, jul./dez 2012
FRANÇA
Études Marines – L’Histoire D,Une Révolution – no 4, 2013
BRASIL
A Defesa Nacional – v. 75, no 729, 1987; v. 75, no 730, 1987;
Arquivos Brasileiros de Medicina Naval – vol. 49, no 3, 1996; vol. 69, no 1, jan/dez, 2
ex. 2008; vol. 70, jan/dez, 2009; vol. 72 jan/dez, 2011;
Cadernos do CHDD – v. 11, no 20, primeiro semestre, 2012; v. 2, no 21, segundo
semestre, 2012; v. 2, no especial segundo semestre;
Ideias em Destaque – no 38, mai/ago, 2012, 2 ex.; no 39, set/dez, 2012, 2 ex; no 40, jan/
abr, 2013;
Informativo Marítimo – v. 20, no 2, abr/jun, 2012; v. 20, no 3, jul/set, 2012; v. 20, no 4,
out/dez, 2012;
Mar Vela Motor – A. 9, no 101; A. 9, no 105; A. 10, no 107; A. 9, no 111;
Navio Tanque Almirante Gastão Motta
Revista Científica FAESA – v. 8, no 1;
RMB3oT/2013 229
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDoS
230 RMB3oT/2013
ACONTECEU HÁ 100 ANOS
Relatorio apresentado pelo dr. Theophilo pois diz respeito áquelles que vestem uniforme
Nolasco de Almeida, lente da Escola Naval militar e disto se orgulham, sem melindrar nin-
guem, porém, vaidosos do que são e não do que
Exmo. Sr. contra-almirante Adelino Mar- podem parecer. É assim que, durante o trajecto,
tins, director da Escola Naval. fui confundido nas estações com os conductores
de trem, por não levar divisas e sim dolman, que
Cumprindo o gratissimo dever de referir a v. mais se apropriava á viagem; e, ao chegarmos a
ex. o que de mais importante occorreu e obser- S. Paulo, os srs. Aspirantes foram julgados guar-
vei na viagem de estudos que fiz á capital de S. das civis, evidenciando-se que o Brazil é assaz
Paulo e á Fabrica de Polvora sem Fumaça do grande e já em S. Paulo esta distancia se mani-
Piquete com a turma de aspirantes do 2o anno de festa. Assim os seus distinctivos carecem de um
ambos os cursos, que me foi confiada, consinta fundo destaque marinheiro, o que não exprimem
v. ex. inicie este relatorio com assumpto estra- nem o dolman nem a singelesa do bonet.
nho aos mesmos fins, mas de opportunidade, (...)
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
REVISTA DE REVISTAS
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
NOTICIARIO MARITIMO
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
cujos unicos constructores são os mesmos srs. 3.300 metros cubicos: é construido de um
Schneider & C., em Chalons sur Marne. duplo casco em fórma de U, fechado em sua
O casco do navio é composto de tres par- parte superior por série de paineis moveis.
tes principaes: O espaço comprehendido entre os cascos é
1a – A parte posterior, contendo machi- constituido de tanques dagua na parte infe-
nas, bombas, alojamentos, etc., cujo aspecto rior e caixas de ar nas lateraes.
é identico aos dos navios communs; Por effeito de um jogo de valvulas e bom-
2a – A parte central, verdadeiramente um bas póde-se encher ou esvasiar esses compar-
dique fluctuante, destinada a receber o sub- timentos.
mersivel; Na parte anterior
3a – A parte ante- encontra-se o tunel por
rior, munida de dispo- onde é introduzido o
sitivos especiaes, em submersivel, fechado
parte, para introduzir internamente por uma
o submersivel, e em porta estanque e exter-
parte, para o equili- namente pelas chapas
brio do navio. desmontaveis cravadas
O Kanguroo tem em cavernas de aço que
um comprimento total constituem a proa do
de 94 metros; bocca de Um submersivel entrando no Kanguroo navio.
12 metros; calado de Por uma manobra
5,m95, correspondente a um deslocamento muito interessante e semelhante a de um
de 5.540 toneladas. dique fluctuante, faz-se o embarque e o de-
Construido inteiramente de aço, é movido sembarque do submersivel sem a minima di-
por machina alternativa de triplice expan- fficuldade e com toda segurança.
são de 850 cavallos, com uma velocidade de Pela sua disposição especial, presta-se
cerca de 10 nós, e podendo conter um peso elle ao transporte de quaesquer outros objec-
util de 3.830 toneladas. tos de grande volume, taes como: locomoti-
A parte onde é alojado o submersivel tem vas, caldeiras, turbinas, etc.
58 metros de comprimento e capacidade de (...)
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REVISTA DE REVISTAS
SUMÁRIO
(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)
ARTES MILITARES
ESTRATÉGIA
Para a terra ou para o mar – O trem de alta velocidade e a estratégia da China (238)
Defesa naval contra mísseis (239)
ATIVIDADES MARINHEIRAS
SALVAMENTO
Ainda o Costa Concórdia (240)
FORÇAS ARMADAS
ARMAMENTO
Armamentos navais – Parte II: Sistemas de canhões navais (242)
INFORMAÇÃO
ESPIONAGEM
O flagelo da espionagem cibernética (243)
PESSOAL
RECURSOS HUMANOS
Agressão sexual: Um problema para a prontidão da Esquadra (244)
PODER MARÍTIMO
DIREITO
O incidente da Flotilha de Gaza e a lei de bloqueio contemporânea (245)
REVISTA DE REVISTAS
238 RMB2oT/2013
REVISTA DE REVISTAS
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REVISTA DE REVISTAS
não serão suficientes para impedir que o distâncias maiores, na faixa de 5 km (2,7
navio seja atingido por estilhaços resultan- milhas náuticas) e analisa diversos tipos
tes do engajamento dessas armas. Por isso, existentes – RAM, Barak etc. –, ressaltando
aborda a necessidade de sistemas de defesa a necessidade de sua integração com os
antimísseis com capacidade de engajar em sistemas de Guerra Eletrônica.
* [email protected].
N.R.1: O naufrágio ocorreu em janeiro de 2012. A manobra de sua recolocação sobre sua quilha, fundamental
para a retirada total da embarcação da água, aconteceu com um ano de atraso (o previsto era para setembro
de 2012). O Costa Concórdia, de 290 m de comprimento e 114,5 mil toneladas, foi apoiado em plataformas
submarinas de 18 mil toneladas de cimento, em 17 de setembro último.
N.R.2: Há fontes que estimam o valor da reflutuação em aproximadamente US$ 632 milhões.
240 RMB2oT/2013
REVISTA DE REVISTAS
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REVISTA DE REVISTAS
definitivamente outros
acidentes, mas afirma
que elas os potenciali-
zam e que a “flexibili-
dade” deve ser evitada.
Afinal, assevera, a ren-
tabilidade do negócio
deve ser buscada sim,
mas tendo-se em conta
que “o lucro não pode
ser obtido a qualquer
preço, nomeadamente
quando estão em causa
vidas humanas”. A reflutuação do Costa Concórdia
Nesta era em que a guerra de superfície dos mísseis. Entretanto, argumenta que,
é dominada por mísseis ou torpedos, o para a operação do míssil, ele deve so-
autor observa que o mercado de canhões frer um processo de programação antes
navais permanece ativo e que navios das de ser lançado, enquanto que o canhão
Marinhas do mundo possuem canhões possui rapidez de reação maior, bastando
em vez de mísseis.
Diante dessa consta-
tação, Hooton, neste
artigo, se propõe a
responder por que
este aparente anacro-
nismo segue prospe-
rando e é encontrado
nos mais sofisticados
navios de guerra das
maiores Marinhas.
Em sua aborda-
gem, o autor reco-
nhece que canhões
não podem pretender
obter a letalidade e
Canhão naval Oto Melara 127mm. Com o uso do Vulcano
os mesmos alcances poderá atingir alvos a mais de 100 km
* Colaborador regular do Mönch Publishing Group em assuntos variados. É também historiador militar especia-
lizado em Operações Aéreas.
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REVISTA DE REVISTAS
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REVISTA DE REVISTAS
cibernética, afirma. Os investimentos são real contra esses ataques é a dissuasão: “De-
feitos para incrementar a segurança, mas a vemos tratar um ataque cibernético como
corrupção de indivíduos e o acesso a seus tratamos um ataque físico, retaliando pelos
computadores são formas eficazes de se mesmos meios”. O cerne dessa defesa será
romper a segurança, alerta ele. Executivos a habilidade em identificar o atacante para
em viagens e seus computadores portáteis, que possa ser responsabilizado.
por exemplo, são portas abertas a dados Ao finalizar, Friedman afirma que nunca
confidenciais de suas companhias, poden- ocorrerá retaliação contra a espionagem
do afetar acordos, segredos comerciais e cibernética simplesmente porque os EUA já
também dados de defesa. estarão nela engajados tanto quanto seus ini-
A vulnerabilidade é um fato, conclui migos. Para ele, a questão passa então a ser
Norman Friedman, aduzindo que a defesa se conseguirão ser mais eficazes do que eles.
244 RMB2oT/2013
REVISTA DE REVISTAS
Este artigo realiza estudo de caso abor- os que participam de operações marítimas
dando tema legal internacional que tem de manutenção da paz.
desdobramento em vários níveis e que No nível da estratégia, debate a questão
pode ser de interesse para a comunidade do limite da tolerância da comunidade
naval de países com interesses marítimos internacional à imposição de bloqueios e à
além de suas fronteiras, em especial para interferência com o direito de livre navega-
* Oficial de Logística da Marinha Real inglesa, desde 1998. Serviu embarcado em operações antipirataria, de
patrulha no Golfo Arábico e em três evacuações de civis na Líbia, em 2011. Especializou-se na lei do mar
e na lei do conflito armado.
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REVISTA DE REVISTAS
246 RMB2oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
SUMÁRIO
(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)
ADMINISTRAÇÃO
ATIVAÇÃO
Amazul é ativada (251)
BATISMO
Batismo, Mostra de Armamento e Transferência para o Setor Operativo do AvHoFlu
Rio Negro (252)
CONTRATO
DEN assina contrato de construção de embarcações de apoio (253)
HOMENAGEM
NAsH Soares de Meirelles e NPaFlu Raposo Tavares homenageiam componentes
do Projeto Rondon (254)
INAUGURAÇÃO
Cooperação MB-Coppe/UFRJ – Inaugurado Laboratório de Tecnologia Sonar (254)
Inauguração do Salão de Leitura Almirante Max Justo Guedes da Biblioteca da
Marinha (255)
INCORPORAÇÃO
AvHoFlu Rio Solimões é incorporado à Armada (256)
NPaOc Araguari é incorporado à MB (257)
LANÇAMENTO AO MAR
França lança maior cargueiro de contêineres do mundo (258)
POSSE
Assunção de cargos por almirantes (258)
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
APOIO
ABASTECIMENTO
Translado de combustível para helicópteros da MB no Rio Solimões (274)
MODERNIZAÇÃO
CTecCFN entrega Viaturas Blindadas Especiais modernizadas à FFE (275)
ÁREAS
ANTÁRTICA
Marinha contrata avaliação do impacto ambiental da EACF (276)
ATIVIDADES MARINHEIRAS
BUSCA E SALVAMENTO
Capitania Fluvial do Pantanal resgata ribeirinhos (277)
NPaFlu Rondônia reboca iate à deriva (277)
NPa Macaé resgata pessoas no mar (278)
Resgatado tripulante de navio das Bahamas (278)
Ribeirinho é resgatado no Pantanal (279)
Salvamar Norte presta apoio de saúde a navio (279)
HIDROGRAFIA
Assinado termo para levantamento hidrográfico de Santos (280)
AvHoFlu Rio Tocantins realiza levantamento hidrográfico no Rio Amazonas (281)
Levantamento hidrográfico na Amazônia (281)
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
CONGRESSOS
CONFERÊNCIA
IV Conferência Naval Interamericana Especializada em Interoperabilidade (286)
CONGRESSO
VI Congresso Internacional de Software Livre e Governo Eletrônico (287)
ENCONTRO
X Encontro de Bioincrustação, Ecologia Bêntica e Biocorrosão (287)
EXPOSIÇÃO
Exposição “Missões de Paz” (288)
FEIRA
Brasil Offshore 2013 (288)
InfraPortos South America – Investimentos em novos terminais privados (289)
Navalshore 2013 (290)
REUNIÃO
Marinha participa da 65a Reunião Anual da SBPC (291)
Reunião de diretores-gerais de pessoal e ensino das Forças Armadas (292)
SEMINÁRIO
Seminário Brasil Portugal (292)
SIMPÓSIO
1o Workshop de Sensoriamento Remoto para Inteligência & Defesa (293)
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação promove III Simpósio CT&I (294)
PALESTRA
CIAW recebe o diretor da RMB (294)
EDUCAÇÃO
CURSO
Criação do Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos (295)
Curso Gestão Arquivística de Documentos (295)
Marinha ministra curso especial para o Bope (296)
ESPORTE
Marinheira Sarah Menezes é bronze em Mundial de Judô (296)
Resultados esportivos (297)
FORÇAS ARMADAS
AVIAÇÃO NAVAL
Comandante da Marinha acompanha voo experimental do Skyhawk AF-1B
modernizado (297)
Encerrada a qualificação das aeronaves MH-16 (298)
Primeiro pouso de aeronave MH-16 Seahawk a bordo do NAe São Paulo (299)
EMBARCAÇÃO
AMRJ entrega a terceira EDVM (299)
Entrega da EDVM Comandatuba (300)
MB transporta cruz da Jornada Mundial da Juventude (300)
SAbM incorpora a CTOC Garça (301)
EXERCÍCIO MILITAR
Batalhão de Controle Aerotático e Defesa Antiaérea realiza exercício operativo (301)
Submarino Tapajó lança torpedos em águas americanas (302)
FORÇA DE PAZ
Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil conduz Curso de Proteção de
Civis (302)
RMB3oT/2013 249
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
HISTÓRIA
GUERRA DO PARAGUAI
Programa Memória do Mundo da Unesco – Guerra da Tríplice Aliança concorre (308)
INFORMÁTICA
INTERNET
DHN lança novo sistema de comercialização de documentos náuticos pela
internet (309)
PODER MARÍTIMO
APRESAMENTO
NPa Gravataí apresa embarcação pesqueira (310)
CONTRABANDO
Embarcação apresada com contrabando no Amazonas (311)
HIDROVIA
60o Comitê Técnico da Hidrovia do Tietê-Paraná (311)
PORTO
Portonave bate recorde de movimentação (312)
Portos precisarão aumentar capacidade em 40% (313)
TCP atinge a marca de terminal de contêineres mais produtivo do Brasil (313)
SEGURANÇA DA NAVEGAÇÃO
DPC e Prefeitura Naval Argentina assinam Memorando de Entendimentos (315)
TRÁFEGO MARÍTIMO
Bell Buoy 2013 – Exercício de Controle Naval do Tráfego Marítimo (315)
PSICOSSOCIAL
AJUDA HUMANITÁRIA
Marinha apoia vítimas da enchente em Careiro da Várzea (AM) (316)
ASSISTÊNCIA SOCIAL
NAsH Doutor Montenegro atende a comunidades no Amazonas (317)
NAsH Soares de Meirelles realiza Asshop no Pará e Amapá (318)
LANÇAMENTO DE LIVRO
Lançamento de livro – Competitividade e a Indústria Brasileira (318)
RELIGIÃO
Diversidade religiosa na Escola Naval (319)
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
AMAZUL É ATIVADA
RMB3oT/2013 251
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
252 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
254 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
RMB3oT/2013 255
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
RMB3oT/2013 257
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
O navio francês Jules Verne é hoje o de transportar de uma só vez 16 mil contê-
maior cargueiro de contêineres do mundo. A ineres de 20 pés cada. Como comparação,
embarcação foi lançada ao mar em junho últi- para se ter uma ideia do seu gigantismo,
mo, em comemoração aos 35 anos do grupo o navio de passageiros Titanic tinha 269
francês CMA CGM. A cerimônia aconteceu metros de comprimento, o Vale Brasil (o
em Marselha, sul da França, com a presença maior navio de transporte de minério do
do presidente francês, François Hollande. mundo) tem 362 metros e a Torre Eiffel
O Jules Verne tem 396 metros de com- mede 324 metros.
primento e 54 metros de largura e é capaz (Fonte: economia.terra.com.br)
Jules Verne
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
TRANSMISSÃO DE CARGO DA
DIRETORIA-GERAL DO MATERIAL DA MARINHA
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
260 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
com carinho o Cabo (HN) Xavier, meu fiel Que Deus abençoe a todos!
auxiliar de Navegação. ‘Material da Marinha: nossa soberania
Ao comandante da Marinha, Almirante em talento, aço e tecnologia’.”
de Esquadra Julio Soares de Moura Neto,
agradeço pela confiança com que sempre AGRADECIMENTO E BOAS-VINDAS
me distinguiu, pela liberdade de manobra DO COMANDANTE DA MARINHA
que me proporcionou, pela honra que me
concede ao presidir esta cerimônia e, es- “Hoje, temos a oportunidade de home-
pecialmente, por permitir que eu continue nagear o Almirante de Esquadra Arthur
trabalhando em prol da Marinha. Pires Ramos, que está passando o timão da
Aos membros do Almirantado, agradeço Diretoria-Geral do Material da Marinha,
o apoio com que trataram os assuntos do após um período de aproximadamente três
Setor do Material, assim como a convivên- anos de profícuos e intensos trabalhos. Além
cia fidalga e amiga. disso, esta data envolve um algo a mais, pelo
Aos chefes navais aqui presentes, fato de ele estar também deixando o Serviço
Almirante de Esquadra Alfredo Karam e Ativo, após 47 anos e meio de notórias con-
Almirante de Esquadra Mauro Cesar Ro- tribuições à Marinha e ao Brasil.
drigues Pereira, ex-ministros da Marinha; Momentos como este são sempre re-
Almirante de Esquadra Arnaldo Leite Pe- vestidos de grande emoção, pois trazem à
reira, ex-ministro-chefe do Estado-Maior lembrança as incontáveis alegrias vividas
das Forças Armadas, e Almirante de Es- em diversas praças-d’armas, o espírito de
quadra Roberto de Guimarães Carvalho, camaradagem, as ocasiões felizes, os desafios
ex-comandante da Marinha, pelo prestígio superados, a satisfação pelo serviço bem exe-
que trazem a esta cerimônia. cutado, as amizades conquistadas, as lições
Aos companheiros da Turma Visconde aprendidas e o reconhecimento e o respeito
de Ouro Preto, agradeço a amizade e o dos superiores, pares e subordinados.
incentivo constante. Para nós, que tivemos o prazer de sua
Aos empresários e aos representantes companhia, resta apresentar-lhe as despe-
das empresas, agradeço a convivência amis- didas, rememorando um pouco da sua bri-
tosa e o salutar relacionamento profissional. lhante trajetória, iniciada em 1966, quando
Enalteço em especial o relacionamento com cruzou os portões do Colégio Naval.
os parceiros franceses, pelo elevado nível Pouco depois, colocou em prática os
de confiança desenvolvido no âmbito do ensinamentos colhidos nos bancos escolares
Comitê de Cooperação Conjunto. de Angra dos Reis e de Villegagnon e nos
Agradeço, enfim, a todos os amigos aqui conveses do Navio-Escola Custódio de Mello,
presentes, em especial às senhoras que em- principiando a sua singradura, como oficial,
prestam brilho especial à nossa cerimônia. no Contratorpedeiro Piauí, tendo cumprido
Ao Almirante de Esquadra Gusmão, todos os requisitos atinentes aos diversos
parabenizo pelo desafiante cargo que ora postos, cabendo ressaltar os comandos do
assume, desejando sucesso e grandes re- Navio-Varredor Albardão, do Navio-Patrulha
alizações, e formulo votos de felicidades Fluvial Pedro Teixeira e da Escola de Apren-
pessoais, extensivos à digníssima família. dizes-Marinheiros de Santa Catarina, além
Ao meu vigilante Anjo da Guarda e à mi- da direção da Capitania dos Portos de Santa
nha talentosa Fada Madrinha, atribuo a sorte Catarina, comissões nas quais pôde aprimorar
de levar a sensação da missão cumprida. as suas qualidades de líder.
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
262 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
264 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
rães Carvalho; aos ex-diretores-gerais do esposa Vera, desejamos, Maria Teresa e eu,
Material da Marinha; senhores almirantes; muitas felicidades e bons ventos.
oficiais; amigos; senhoras e senhores, A minha esposa Maria Teresa e aos
agradeço pelas presenças que fazem esta nossos filhos Diego, Daniela e Débora,
cerimônia ter um brilho especial. agradeço o permanente incentivo à minha
Aos amigos e companheiros de jor- profissão, o carinho e o apoio, sempre
nada na Marinha, por mais de 43 anos, presentes em todas as ocasiões de nossas
da Turma Aspirante Cesar Henriques, vidas e que sempre me revitalizaram nos
sinto-me lisonjeado por suas presenças momentos difíceis.
e amizades. Aos integrantes da Diretoria-Geral
Ao Almirante de Esquadra Arthur Pires do Material da Marinha, transmito uma
Ramos, agradeço as gentilezas e a recepção mensagem de otimismo e confiança, que
dispensada a mim e aos meus familiares, todos continuaremos a transpor obstáculos,
assim como o esforço para transmitir-me transformar óbices em desafios e superá-
todos os assuntos afetos à nossa Diretoria- los, contribuindo para o lema do Material
Geral de modo completo e detalhado. Ao da Marinha: Nossa soberania em talento,
casal amigo Almirante Pires Ramos e sua aço e tecnologia. Muito obrigado.”
TRANSMISSÃO DO CARGO DE
SECRETÁRIO-GERAL DA MARINHA
de Exército Araken, e
seus assessores, agra-
deço pela integração
institucional sempre
buscada. Consegui-
mos defender com
ardor as nossas po-
sições e os interesses
de cada Força, mas
mantivemos um trato
amigo e respeitoso. Tansmissão do cargo de SGM
Como já tive opor-
tunidade de fazê-lo em outras ocasiões çamentária da estrutura interna da DAdM,
menos formais, não posso deixar de apre- evidenciando, também, a segregação da
sentar formalmente meus sinceros agrade- área orçamentária e de abastecimento,
cimentos ao secretário-geral do Ministério com dois vice-almirantes intendentes da
da Defesa, Dr. Ari Matos, e à secretária do Marinha à frente destas áreas.
Orçamento Federal, Dra. Célia Corrêa, pela Manifesto meu reconhecimento a todos
amizade, pelo convívio e pela atenção aos os integrantes do Corpo de Intendentes
diversos assuntos afetos à Força. Estendo da Marinha, que, com extremo profissio-
esses agradecimentos formais aos demais nalismo, capacidade técnica e trabalho
membros da área orçamentária e financeira silencioso, dão suporte à consecução dos
do Ministério da Defesa e da Secretaria do objetivos da Marinha, através das ativida-
Orçamento Federal, pelo atencioso relacio- des logística, administrativa, orçamentária
namento técnico-funcional. e financeira.
Aos membros do Tribunal de Contas da Dirijo-me, agora, aos integrantes da
União, o meu muito obrigado pelas orien- Secretaria-Geral, que, com a integral de-
tações pontuais e precisas, que permitem à dicação de fazer bem feito, fizeram com
Marinha trilhar o caminho de transparência que o trabalho que vislumbrava difícil, ao
e regularidade. início da jornada, na verdade tenha se tor-
Aos membros da Advocacia-Geral da nado mais fácil e prazeroso, pela maneira
União, agradeço o auxílio na busca de profissional com que as senhoras e os se-
soluções jurídicas, que vêm atender às nhores se comportaram, reagindo pronta e
demandas dos processos considerados positivamente às minhas ordens. Sou-lhes
estratégicos à Força. grato pela amizade, que tenho a pretensão
Aos meus almirantes subordinados de ter cultivado, e pela assessoria sempre
e demais almirantes intendentes, que segura e precisa.
interagiram comigo, apresento a todos Por fim, aos integrantes de meu gabi-
minha profunda gratidão pela diuturna nete, oficiais e praças, que, com lealdade,
busca da qualidade nos trabalhos e estudos dedicação e entusiasmo, conduziram a
conduzidos, pela assessoria leal e franca execução de suas tarefas, peço que recebam
prestada, que possibilitaram superarmos minha gratidão.
as adversidades e, ainda, alcançarmos E foi assim, apoiado e ajudado por
aprimoramentos, como a reestruturação chefes, pares, amigos e subordinados, que
no setor SGM, desvinculando a área or- procurei honrar as tradições e o comporta-
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
mento correto que me foram legados pelos anos e oito meses como titular desse impor-
ex-secretários-gerais e chefes navais que, tante Órgão de Direção Setorial.
no passado, me ensinaram a usar a régua Graças à sua capacidade administrativa
e o compasso com os quais procurei traçar e à sua liderança, superou os desafios ine-
os meus rumos. rentes ao cargo, cujas dimensão, complexi-
É hora de atracar e desembarcar, após dade e responsabilidade são indiscutíveis,
um intenso e desafiador período. Levo tendo em vista os múltiplos e diversificados
comigo apenas as lembranças dos bons mo- compromissos que a nossa instituição tem
mentos e a certeza de ter cumprido a missão assumido nestes últimos tempos.
e trazido o navio de volta com segurança, Mercê de sua atuação segura, a Força
contando com a ajuda e a indispensável logrou alcançar patamares orçamentários
companhia de todos os que fizeram este que permitiram atender às suas necessi-
barco navegar, flutuar e combater. dades prioritárias, dando continuidade a
Ao Almirante de Esquadra Airton, diversos projetos estratégicos, cabendo
meu sucessor, apresento as boas-vindas citar o Programa de Desenvolvimento de
e manifesto os meus sinceros votos de Submarinos (Prosub) e o Programa Nuclear
sucesso e felicidade ao assumir o cargo de da Marinha, ambos inseridos no Programa
secretário-geral da Marinha, na certeza de de Aceleração do Crescimento (PAC), o
que seus meritórios atributos garantirão a que lhes proporciona a preservação dos re-
continuidade e o aperfeiçoamento das ativi- cursos alocados na Lei Orçamentária Anu-
dades desenvolvidas pela SGM. A tristeza al, evitando eventuais contingenciamentos.
da despedida é largamente compensada Seus incontestáveis atributos, dentre
pela alegria de deixar a manobra com o os quais destaco lealdade, competência,
competente e velho amigo, companheiro do perspicácia, inteligência e objetividade,
solo sagrado de Villegagnon. Bons mares nortearam o seu posicionamento, sempre
e bons ventos. ponderado e correto, proporcionando uma
Despeço-me, neste exato momento, adequada assessoria ao comandante da Ma-
desta prazerosa singradura, contando com rinha, o que facilitou importantes tomadas
o apoio de minha inestimável família, em de decisão.
especial da minha querida esposa Neilda, Dessa forma, e sem a pretensão de
e com a proteção da Virgem de Nazaré. abranger o muito que foi feito, gostaria
Continuo seguindo, agora, a desafiante de ressaltar algumas de suas principais
jornada como chefe do Estado-Maior da realizações:
Armada. Espero continuar contando com – a internalização das práticas de Par-
a ajuda e a amizade de todos. ceria Público-Privada (PPP) como nova
Muito obrigado!” ferramenta de gestão, elaborando a primeira
norma interna sobre o assunto e logrando a
AGRADECIMENTO E BOAS- aprovação inicial de três grandes projetos,
VINDAS DO COMANDANTE DA que permanecem em discussão;
MARINHA – a busca por um novo modelo de fi-
nanciamento, por meio do Banco Nacional
“O Almirante de Esquadra Eduardo de Desenvolvimento Econômico e Social
Monteiro Lopes despede-se, na presente (BNDES), de caráter inovador no âmbito do
data, da Secretaria-Geral da Marinha, após Ministério da Defesa, visando à construção
um profícuo período de pouco mais de dois e à manutenção de vinte navios-patrulha de
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PROMOÇÃO DE ALMIRANTES
Foram promovidos por Decreto Presi- Antonio Reginaldo Pontes Lima Junior e
dencial, contando antiguidade a partir de Glauco Castilho Dall’Antonia;
31 de julho de 2013, os seguintes oficiais – ao posto de Contra-Almirante, os
do Corpo da Armada: Capitães de Mar e Guerra Alfredo Martins
– ao posto de Almirante de Esquadra, Muradas, Gilberto Cezar Lourenço, Marcos
os Vice-Almirantes Airton Teixeira Pinho Lourenço de Almeida, Jorge Henrique Ma-
Filho e Luiz Guilherme Sá de Gusmão; chado e André Luiz Silva Lima de Santana
– ao posto de Vice-Almirante, os Mendes.
Contra-Almirantes Alipio Jorge Rodrigues (Fonte: Bono Especial n o 540, de
da Silva, Wilson Pereira de Lima Filho, 31/7/2013)
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Brasileiro, capacitará o M113MB1 moder- Navais, por uma equipe composta de téc-
nizado a cumprir suas tarefas em melhores nicos da empresa israelense, militares do
condições de emprego. A viatura-protótipo CTecCFN e do Batalhão de Blindados de
foi montada e testada pela empresa Israel Fuzileiros Navais, e prevê a transferência
Military Industries (IMI), em Israel, e a via- de tecnologia para a Marinha do Brasil. O
tura-piloto, quase que simultaneamente, foi processo de modernização também propor-
modernizada nas instalações do CTecCFN. ciona aos militares da Marinha ganho de
A entrega técnica prosseguirá pelos conhecimento e experiência, principalmen-
próximos meses, lote por lote, até ser con- te nos assuntos relacionados a soldagem,
cluída em julho de 2014, quando o Corpo manutenção e mecânica.
de Fuzileiros Navais contará com todas Após a cerimônia de entrega, os pre-
as suas Viaturas M113MB1 operacionais, sentes visitaram o mostruário exposto,
em condições de pleno emprego pelas participaram do deslocamento embarcado
próximas duas décadas. A sua execução e assistiram a uma demonstração das
está sendo desenvolvida nas instalações do M113MB1.
Centro Tecnológico do Corpo de Fuzileiros (Fonte: www.mar.mil.br)
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Marinha, que, por via telefônica, passou tes, após serem medicados, apresentaram
orientações à profissional técnica em en- melhora e tiveram seus quadros de saúde
fermagem que se encontrava a bordo. Até estabilizados.
então, o estado de saúde dos tripulantes era Em terra, a Capitania dos Portos do
estável. Em 2 de junho, contudo, houve Maranhão e a Agência Oceanus, agente
agravamento do quadro. Por isso, a Mari- marítimo do Ocean Stalwart, viabilizaram
nha do Brasil, por meio do Hospital Naval a atracação do navio no porto de Itaqui
de Belém, providenciou medicamentos e (MA). Todo o aporte médico de emergência
materiais adequados ao restabelecimento também foi ali montado para a chegada
dos tripulantes adoentados a bordo do do navio.
Ocean Stalwart. A Marinha do Brasil, por intermédio do
Com o apoio do Salvaero Amazônico, Salvamar, recebe rotineiramente solicitações
na manhã do dia 3 de junho, uma aeronave- de resgate (SAR – Search and Rescue) e
patrulha do I Comando Aéreo Regional sempre empenha meios, homens e recursos
(I Comar) partiu de São Luís ao encontro para o cumprimento de suas atribuições e
do navio, que estava a cerca de 500 km competências constitucionais no que tange
daquela cidade, realizando com sucesso à segurança da navegação e à salvaguarda
o lançamento dos medicamentos ao mar, da vida humana nas vias navegáveis.
próximo ao navio. A bordo, os tripulan- (Fonte: www.mar.mil.br)
A Marinha do Brasil, por meio da Dire- entre a Força e a SEP. O Termo foi assinado
toria de Hidrografia e Navegação, e a Secre- pelo chefe da Secretaria Especial de Portos
taria Especial de Portos (SEP) assinaram, da Presidência da República, Ministro José
em 9 de julho último, Leônidas de Menezes
Termo de Coopera- Cristino; pelo diretor
ção que viabilizará a de Hidrografia e Nave-
execução de um com- gação, Vice-Almirante
pleto levantamento Marcos Nunes de Mi-
hidrográfico no canal randa; e pelo diretor
de acesso ao Porto presidente da Compa-
de Santos. O traba- nhia Docas do Estado
lho visa atualizar os de São Paulo, Renato
documentos náuticos Ferreira Barco.
pertinentes e reali- Na ocasião, foi en-
zar um projeto para Cerimônia de assinatura do Termo de Cooperação fatizada a relevância
a implantação de um do porto de Santos,
moderno sistema de sinalização náutica. considerado o maior e mais importante porto
A cerimônia de assinatura foi presidida da América Latina, que movimenta mais de
pelo diretor-geral de Navegação, Almirante 60 milhões de toneladas de cargas diversas
de Esquadra Luiz Fernando Palmer Fonse- por ano. Desde sua inauguração, em 1892, o
ca, que enfatizou a importância da parceria porto de Santos já ultrapassou a cifra de um
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O barco solar inaugurado em 5 de julho Ali, o barco solar será utilizado principal-
último, na Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio mente para buscar crianças em suas casas
de Janeiro (RJ), é uma alternativa para o e levá-las à escola que atende à localidade.
transporte escolar na Amazônia com baixo Ao fim das aulas, também levará os alunos
custo de operação. O projeto foi concebido de volta para casa. Concomitantemente, po-
e desenvolvido pelo Grupo Fotovoltaica- derá ser usada para transportar a produção
UFSC (Grupo de Pesquisa Estratégica em local (como pescado e outros alimentos
Energia Solar da Universidade Federal de perecíveis). Quando necessário, este trans-
Santa Catarina) e financiado pelo Minis- porte fluvial poderá também se deslocar até
tério da Ciência Tecnologia e Inovação e Belém, levando apenas 30 minutos.
pelo Conselho Nacional de Desenvolvi- A comunidade de Santa Rosa localiza-
mento Científico e Tecnológico (CNPq). se no Furo do Nazário, Ilha das Onças,
Conta, ainda, com o apoio institucional município paraense de Barcarena, a apro-
e/ou técnico das seguintes instituições: ximadamente 12 km da sede municipal e a
Eletrobras, Instituto Ideal, Weg, Holos, 4 km de Belém.
Instituto Nacional de Ciência e Tecnolo- Os alunos que estudam na escola da
gia de Energias Renováveis e Eficiência comunidade cursam da 1a à 9a série do
Energética da Amazônia (INCT-Ereea) e Ensino Fundamental, nos turnos matutino
Grupo de Estudos e Desenvolvimento de e vespertino. Atualmente, o trajeto escola-
Alternativas Energéticas da Universidade casa-escola tem sido realizado por cerca de
Federal do Pará (Gedae-UFPA). 40 pequenas embarcações a diesel contra-
Após a inauguração, a embarcação se- tadas pela Prefeitura local.
guiu para a comunidade ribeirinha de Santa O barco solar tem as seguintes carac-
Rosa, nas proximidades de Belém (PA). terísticas:
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O primeiro barco a energia solar a científica, pelo menos durante este verão do
circundar o globo, o Turanor Planetsolar, Hemisfério Norte. Com seus 510 metros
está se transformando em uma embarcação quadrados de células fotovoltaicas e oito
1 N.R.: Centistokes (cSt). Expressa a unidade física da viscosidade cinemática no Sistema CGS, cujo nome provém
de George Gabriel Stokes, físico irlandês que se distinguiu pelas suas contribuições na dinâmica de fluidos.
(Fonte: http://pt.wikipedia.org)
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VI CONGRESSO INTERNACIONAL DE
SOFTWARE LIVRE E GOVERNO ELETRÔNICO
A Marinha do Brasil, por meio da Se- tação da formação dos oficiais da Marinha
cretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Corpo da Armada.
(SECCTM), participou, de 13 a 15 de O Consegi teve como tema “Portabili-
agosto último, do Congresso Internacional dade, Colaboração e Integração”. Este é o
de Software Livre e Governo Eletrônico maior evento de tecnologia do Governo Fe-
(Consegi) 2013, realizado na Escola de deral, cujo foco é o seu avanço tecnológico e
Administração Fazendária (Esaf), em o da sociedade, com integração e cooperação
Brasília (DF). a partir do uso do software livre. O evento
Na ocasião, a SECCTM apresentou um apresentou à sociedade as soluções desen-
de seus mais recentes desenvolvimentos: volvidas, que poderão ser copiadas, alteradas
um Simulador de Navegação, desenvol- e distribuídas gratuitamente, por meio dos
vido pelo Centro de Análises de Sistemas princípios básicos de software livre.
Navais (Casnav), destinado à complemen- (Fonte: www.mar.mil.br)
X ENCONTRO DE BIOINCRUSTAÇÃO,
ECOLOGIA BÊNTICA E BIOCORROSÃO
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do País caminhe para a Região Norte com e legislação e eficiência portuária. Também
a conclusão da BR-163, distribuindo me- serão discutidas a nova Lei – MP 612, as
lhor a demanda proveniente dos estados novas concessões, segurança e automação.
produtores de soja, milho e açúcar, que A InfraPortos South America conta com
atualmente escoam a produção pelos portos o apoio da Associação Brasileira de Ter-
de Santos (SP) e de Paranaguá (PR). minais e Recintos Alfandegados (Abtra),
A primeira edição da InfraPortos South da Associação Brasileira dos Terminais
America – Feira e Conferência Internacio- Retroportuários e das Empresas Transpor-
nal sobre Tecnologia e Equipamentos para tadoras de Contêineres (ABTTC), da Asso-
Portos e Terminais reunirá cerca de 50 ciação Brasileira dos Terminais Portuários
empresas dedicadas a desenvolver soluções (ABTP), do Sindicato Nacional das Em-
em equipamentos e serviços para a ativida- presas de Transporte e Movimentação de
de portuária em geral. Em paralelo à feira, a Cargas Pesadas e Excepcionais (Sindipesa)
UBM Brazil também organiza conferências e da Associação Brasileira da Indústria de
para os profissionais do setor, que aborda- Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
rão temáticas relacionadas a infraestrutura, (Fonte: Conteúdo Empresarial – Comu-
construção e investimentos, meio ambiente nicação Integrada)
NAVALSHORE 2013
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A Marinha do Brasil (MB) esteve presente, nambuco (UFPE), em Recife. O evento tem
em 21 de julho último, na abertura da 65a Reu- como propósito mostrar aos participantes o
nião da Sociedade Brasileira para o Progresso panorama atual da ciência no Brasil.
da Ciência (SBPC), realizada no Centro de Coordenada pela professora doutora He-
Convenções da Universidade Federal de Per- lena Nader, a SPBC contou com expressiva
participação de autoridades da comunidade
científica brasileira, entre elas o ministro de
Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação,
Marco Antonio Raupp; o secretário de Ci-
ência, Tecnologia e Inovação da Marinha,
Almirante de Esquadra Wilson Barbosa
Guerra; e o presidente do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnoló-
gico (CNPQ), Glaucius Oliva.
Na ocasião, o Ministro Raupp ressaltou
a importância da parceria com a Marinha e
Autoridades na SBPC
destacou que a ciência é o caminho para o
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
desenvolvimento sustentável do País, com da que é visível que a sociedade tenha uma
parcerias não só entre as instituições públicas grande expectativa com relação ao desenvol-
e centros de pesquisa, mas também com as vimento científico e tecnológico do Brasil.
organizações privadas. O ministro disse ain- (Fonte: www.mar.mil.br)
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A palestra faz parte das apresentações desde 1851, sendo editada trimestralmente
que são feitas anualmente na Escola Naval, pela Diretoria do Patrimônio Histórico e
para os aspirantes do 1o ano, e no CIAW, Documentação da Marinha (DPHDM).
para os oficiais-alunos dos cursos de Escritos por colaboradores, os artigos
formação. Todos que assistem à palestra enviados podem ser de autoria de civis
recebem um exemplar e, gratuitamente, as ou militares e, para publicação, precisam
edições do ano. tratar de assuntos de interesse marítimo e
A Revista Marítima Brasileira é uma ser aprovados pelo Corpo Editorial.
publicação oficial da Marinha do Brasil (Fonte: www.mar.mil.br)
CRIAÇÃO DO PROGRAMA DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS MARÍTIMOS
O Conselho Técnico-Científico do Ensino homem com os espaços marítimos e as
Superior (CTC), órgão máximo de avaliação águas interiores. O Programa criado se
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes- estrutura em torno da área de concentração
soal de Nível Superior do Ministério da Edu- “Segurança, Defesa e Estratégia Marítima”,
cação (Capes-MEC), homologou, em 16 de contando com três Linhas de Pesquisa:
julho último, a criação do Programa de Pós- I – Política e Estratégia Marítimas; II –
Graduação em Estudos Marítimos (PPGEM), Regulação do uso do mar e Cenarização;
em nível de Mestrado Profissional (stricto e III – Ciência, Tecnologia & Inovação e
sensu), a ser ministrado na Escola de Guerra Poder Marítimo.
Naval (EGN). O novo curso passa a integrar o Assim como os demais cursos de pós-
Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG), graduação ministrados em instituições civis
a ser regularmente acompanhado e avaliado (extra-MB), o PPGEM terá duração de dois
por aquela Coordenação. anos letivos, para civis e militares. O ano
Os Estudos Marítimos conformam um letivo do novo programa terá início em
campo acadêmico interdisciplinar que 2014, ano do centenário da EGN.
abrange as relações políticas e sociais do (Fonte: Bono no 608, de 27/8/2013)
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RESULTADOS ESPORTIVOS
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tado pela Embraer, as aeronaves receberão seus meios integrados aos últimos avanços
novos sistemas de navegação e de geração tecnológicos.
de energia, armamentos, computadores e Este programa é resultado da parceria en-
sensores. Tais equi- tre Marinha e Embraer
pamentos, aliados à e vem sendo conduzi-
verificação estrutural do desde abril de 2009,
realizada, possibilita- visando contribuir para
rão ao AF-1B operar o desenvolvimento da
até o ano de 2025. Indústria Nacional de
O AF-1B moderni- Defesa. A entrega das
zado passou por uma primeiras aeronaves
série de testes em voo, modernizadas está pre-
iniciada em 17 de julho vista para março de
último nas instalações 2014, e o recebimen-
Comandante da Marinha (em pé, ao centro)
da Embraer, visando acompanhado de civis e militares to dos novos meios
à sua prontificação. O agregará significativo
Programa de Modernização das Aeronaves incremento na capacidade operativa do
é um dos muitos projetos realizados pela Poder Naval.
Marinha do Brasil com intuito de manter (Fonte: www.mar.mil.br)
Foi encerrado, em 5 de junho último, horas de voo, sendo estas divididas em voos
o período de qualificação das novas ae- de familiarização, IV, PTM, carga externa,
ronaves MH-16, conduzido pela empresa missões anti-submarinos (ASW) noturno e
Sikorsky e iniciado em 7 de agosto de diurno, pouso a bordo, exercício de reabas-
2012. Com o término desta etapa, aviadores tecimento em voo (HIFR) e atividade de
navais, operadores de sensores e mecânicos busca e salvamento (SAR) diurna e noturna.
tornaram-se capacitados a operar e realizar (Fonte: www.mar.mil.br)
a manutenção dos novos meios, dando
continuidade ao processo de aquisição de
experiência e transmissão dos conhecimen-
tos aos demais militares do 1o Esquadrão de
Helicópteros Anti-Submarinos.
Durante o período de qualificação,
foram realizados adestramentos teóricos
e práticos para oito aviadores navais, 55
mecânicos e oito operadores de sensores.
Foram qualificados oito oficiais como Pilo-
tos Qualificados no Modelo (PQM), sendo
que os quatro aviadores mais experientes
também se qualificaram em Instrutores de
Voo (IV) e Pilotos de Teste de Manutenção
(PTM). Foi cumprido um total de 577,2 Aeronave MH-16
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MB TRANSPORTA CRUZ DA
JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
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Massot; o deputy force commander da Uni- A F45 foi o primeiro navio a compor a
fil, General Patrick Phelan; e o comandante FTM-Unifil, em 2011. Sua missão será ba-
da Força-Tarefa Marítima da Força Interina seada em dois pilares: fomentar o adestra-
das Nações Unidas no Líbano, Contra- mento da Marinha libanesa e desenvolver
Almirante Joése de Andrade Bandeira ações marítimas que impeçam a entrada de
Leandro. Também estiveram presentes ofi- materiais relacionados a armamentos não
ciais do Ministério da Defesa, como o che- autorizados pelo governo daquele país. O
fe do Estado-Maior comandante da Fragata
Conjunto das Forças União, Capitão de Fra-
Armadas (EMCFA), gata Gustavo Calero
General de Exército Garriga Pires, revelou
José Carlos de Nardi; que 100% da tripula-
o chefe de Gabine- ção foi voluntária para
te do Estado-Maior servir no Líbano.
Conjunto, General de A Unifil foi criada
Divisão Roberto Se- pela Organização das
vero Ramos; o vice- Nações Unidas em
chefe de Operações 1978, com o objetivo
Bandeiras do Líbano, da ONU e do Brasil,
Conjuntas, General de respectivamente de manter a estabili-
Divisão Eduardo Jose dade durante a reti-
Barbosa; e o vice-chefe de Logística, Vice- rada das tropas israelenses do território
Almirante Paulo Mauricio Farias Alves. libanês, além de trabalhar na garantia da
Das Organizações Militares da Marinha paz internacional. Atualmente, possui
do Brasil (MB), estiveram presentes o um contingente de aproximadamente
comandante em chefe da Esquadra, Vice- 13.500 pessoas, entre militares e civis de
Almirante Sergio Roberto Fernandes dos mais de 30 países, inclusive o Brasil. A
Santos; o diretor do Centro de Comunica- FTM-Unifil, estabelecida em 2006, é a
ção Social da Marinha, Contra-Almirante primeira Força-Tarefa Marítima, criada
José Roberto Bueno Junior; e o subchefe para integrar uma Missão de Manutenção
do Comando de Operações Navais, Contra- de Paz da ONU.
Almirante Renato Batista de Melo. (Fonte: www.mar.mil.br)
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lado à Organização das Nações Unidas para ções, planos de operações e mapas, como
Educação, Ciência e Cultura (Unesco). O elementos essenciais para o entendimento
Programa Memória do Mundo da Unesco do maior conflito travado entre nações no
premia anualmente acervos documentais continente americano e que se aproxima
e bibliográficos de relevância cultural nos dos seus 150 anos.
âmbitos nacional, regional (América Latina Durante muito tempo, especialistas que
e Caribe) e mundial, se debruçaram sobre
nominação que con- a história da Guerra
corre para a preser- da Tríplice Aliança
vação e a divulgação contra o Paraguai
desses patrimônios. utilizaram documen-
A candidatura do tos iconográficos e
Brasil em 2013 re- cartográficos como
úne a Diretoria do mera ilustração, pois
Patrimônio Histórico seus estudos vinham
e Documentação da apoiados na docu-
Marinha (DPHDM), mentação es cr ita.
o Arquivo Históri- Contudo, nos dias de
co do Exército, o Arquivo e Mapoteca hoje, a imagem vem ganhando nova signi-
do Itamaraty, o Arquivo Nacional, a ficação nos textos históricos por meio de
Fundação Biblioteca Nacional, o Museu métodos analíticos específicos, desenvol-
Histórico Nacional, o Museu Imperial, o vidos para alcançar informações inéditas
Museu Nacional de Belas Artes e o Ins- sobre os fatos históricos na análise de
tituto Histórico e Geográfico Brasileiro. fotografias, desenhos e mapas.
Foram elencados 402 documentos, entre (Fonte: Divisão de História Marítima e
fotografias, desenhos, plantas de fortifica- Naval da DPHDM)
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Chile, Cingapura, Coreia do Sul, Estados Entre os eventos realizados estão: de-
Unidos da América (EUA), Nova Zelândia sastre natural, encalhe de navio, ações de
e Reino Unido. Também esteve presente, na pirataria, distúrbios civis em portos e inci-
qualidade de observador, um oficial repre- dentes de navegação, todos focados para o
sentando o coordenador da Área Marítima planejamento de operações de emergência
do Atlântico Sul. de ajuda humanitária, a emissão de Avisos
A MB iniciou as tratativas para parti- aos Navegantes e a orientação à navegação
cipar do Grupo no final da década de 90 comercial e militar. Cabe salientar que foi
e, em janeiro de 2012, foi nomeada como criado um grupo que atuou como oficial
seu 10 o membro permanente. A parte orientador, visitando navios mercantes nos
prática desse grupo portos para esclarecer o
de trabalho é testada propósito do exercício.
durante o exercício A participação de
anual Bell Buoy, em um representante da
que se emprega a dou- MB nesse evento, em
trina Naval Coopera- especial de um oficial
tion and Guidance for do Comando do Con-
Shipping (NCAGS). trole Naval do Tráfego
A Marinha Real Marítimo, foi impor-
da Nova Zelândia, tante por permitir o
aproveitando a sua Cerimônia de Abertura do Bell Buoy 2013
adestramento e a aqui-
localização geográ- sição de experiência
fica e a responsabilidade por uma grande na aplicabilidade da doutrina NCAGS,
área marítima no Pacífico, criou um cená- que poderá ser empregada nos exercícios
rio fictício em uma área situada a sudoeste de Controle Naval de Tráfego Marítimo
desse oceano. Os eventos conduzidos du- conduzidos no âmbito da Área Marítima
rante o exercício foram, em grande parte, do Atlântico Sul (Amas).
baseados em acontecimentos recentes em A Marinha, por compromisso assumido
diferentes partes do mundo, o que possi- pelo País ao se tornar Membro Permanente do
bilitou a definição realista dos desafios Pacioswg, sediará a reunião desse Grupo de
e obstáculos enfrentados para manter as Trabalho e a execução do Exercício Bell Buoy
linhas de comunicação marítimas seguras em 2017, seguindo o rodízio estabelecido.
naquela área. (Fonte: www.mar.mil.br)
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
O Doutor Montenegro, um dos conheci- nais de saúde. Por suas características estru-
dos como “Navios da Esperança”, conta com turais, como o baixo calado, o navio possui
uma equipe de saúde embarcada composta versatilidade para abarrancar em águas rasas
por oficiais médicos, cirurgiões-dentistas e e, com isso, alcançar as comunidades mais
farmacêuticos; praças enfermeiros; e técni- remotas da bacia amazônica.
cos em Radiologia, totalizando 16 profissio- (Fonte: www.mar.mil.br)
relatadas a atuação e as experiências Antonio Didier Vianna opina que “os re-
industriais em setores-chave de nossa sultados econômicos brasileiros não estão
economia, de modo a explicitar o que indo mal apenas por sofrerem o efeito das
é possível realizar no País. “Este livro crises mundiais”. Em sua análise, procura
detalha as razões por que o Brasil está comprovar que o cenário atual do País “é
deixando de ser competitivo, embora o resultado de diversas decisões e atitudes
muitos setores ainda sejam excepcio- equivocadas e cuja solução – talvez por sua
nais”, explica, na Introdução à obra. impopularidade – é continuamente adiada”.
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