Etica Conocimento
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Etica Conocimento
section=8&edicao=19
Artigos Responder a essa pergunta é aceitar o segundo desafio acima mencionado e que
Ser ético, ser herói poderíamos chamar de desafio tecnológico. Para enfrentar essa tarefa, própria do
Renato Janine que também se convencionou chamar economia ou sociedade do conhecimento,
deveríamos estar preparados, entre outras coisas, para cumprir todo um ciclo de
Ecologia, economia e
evoluções e de transformações do conhecimento. Ele vai da pesquisa básica,
ética
produzida nas universidades e nas instituições afins, passa pela pesquisa aplicada
Jean-Pierre Leroy
e resulta em inovação tecnológica capaz de agregar valor comercial, isto é, resulta
As ONGs e as políticas em produto de mercado.
neoliberais
Joana A Coutinho Os atores principais desse momento do processo do conhecimento já não são mais
Terceiro setor: as universidades, mas as empresas. Entretanto, para que a atuação das empresas
conceito e práticas seja eficaz, é necessário que tenham no seu interior, como parte de sua política de
Cíntia Liesenberg desenvolvimento, centros de pesquisa próprios ou consorciados com outras
empresas e com laboratórios de universidades. O importante é que a política de
Uma ética para a
guerra do futuro?
pesquisa e desenvolvimento seja da empresa e vise às finalidades comercialmente
competitivas da empresa. Sem isso, não há o desafio do mercado, não há avanço
Francisco Teixeira Da
Silva tecnológico e não há, por fim, inovação no produto.
O controle social sobre Um dos pressupostos essenciais da chamada sociedade ou economia do
a publicidade infantil conhecimento é, pois, para muito além da capacidade de produção e de
Edgard Rebouças reprodução industriais, a capacidade de gerar conhecimento tecnológico e, por
Metas do Milênio: meio dele, inovar constantemente para um mercado ávido de novidades e nervoso
enormes desafios nas exigências de consumo.
Antonio Martins
Na economia tipicamente industrial, a lógica de produção era multiplicar o mesmo
Resenha produto, massificando-o para um número cada vez maior de consumidores.
Obrigado por fumar Costuma-se dizer que na sociedade do conhecimento essa lógica de produção tem
André Gardini o sinal invertido: multiplicar cada vez mais o produto, num processo de constante
Entrevista diferenciação, para o mesmo segmento e o mesmo número de consumidores. Daí,
Alberto Dines
entre outras coisas, a importância para esse mercado, da pesquisa e da inovação
tecnológicas.
Poema
Proposituras A ser verdade essa troca de sinais, a lógica de produção do mundo contemporâneo
Carlos Vogt seria não só inversa, mas também perversa, já que resultaria num processo
sistemático de exclusão social, tanto pelo lado da participação na riqueza
produzida, dada a sua concentração – inevitável para uns e insuportável para
muitos –, quanto pelo lado do acesso aos bens, serviços e facilidades por ela
gerados, isto é, o acesso ao consumo dos produtos do conhecimento tecnológico e
inovador.
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Com Ciência - SBPC/Labjor http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=19
utilitarismo prático de tudo converter em valor econômico, tal qual um Rei Midas
que na lenda tudo transformava em ouro pelo simples toque, não percamos de
vista os fundamentos éticos, estéticos e sociais sobre os quais se assenta a própria
possibilidade do conhecimento e de seus avanços. Verdade, beleza e bondade, no
mínimo, dão ao homem, como já se escreveu, a ilusão de que, por elas, ele
escapa da própria escravidão humana.
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Com Ciência - SBPC/Labjor http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=19
Quer dizer, são orgulhosos porque querem a verdade definitiva e por serem
dotados dessa ambição de conhecimento vivem tropeçando em si mesmos sem se
dar conta do jardim que está ao alcance da vida de cada um para se cultivar.
Para que se tenha medida da permanência desse tema, e num outro campo de
produção intelectual, vale lembrar o episódio da resenha publicada em 1915 no
The Times Literary Supplement sobre o livro A servidão humana, de Somerset
Maugham, lançado no mesmo ano, e na qual se afirmava que o herói do romance,
Philip Carey, do princípio ao fim da narrativa, “estava tão ocupado com seus
anseios pela lua que jamais conseguia ver os seis vinténs a seus pés”.
O livro, de 1919, teve seu título - The moon and six pence (Um gosto e seis
vinténs, no Brasil) - tirado da resenha do The Times Literary Supplement, aceita
quase como uma provocação a que responde o narrador autobiográfico do
romance com uma forte simpatia pela saga do herói que despreza os apelos
materiais e as obrigações sociais de seus compromissos e vai em busca da lua e
da realização de seus sonhos. Solução em tudo contrária à do desfecho de
romântico prosaísmo que caracteriza a paz e a tranqüilidade do jardim de
amor-afeição (loving-kindness) que o casamento de Philip Carey e Sally Altheny
constitui ao final da saga de formação e de amadurecimento do protagonista.
Esses dois romances de Somerset Maugham poderiam ser tomados como que
representando as duas pontas da tensão por que se estende nossa existência no
mundo e o conhecimento do mundo de nossa existência. É como se fossem tótens
epistemológicos entre os quais ressoa a pergunta que o homem não deixará de
fazer enquanto durar sua humanidade: “Qual o sentido da vida, se é que a vida
tem algum sentido?”
Penso que o sentido da vida é o conhecimento que, desse modo, é ilimitado pela
amplitude da pergunta, e é, ao mesmo tempo, limitado e útil pelo alcance de
nossa capacidade de resposta.
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