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2
Capítulo
MODELOS DE INOVAÇÃO
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Origem dos modelos de inovação
Produtos e serviços são cada vez mais valorizados pelo grau de co-
nhecimento neles contidos. Em outras palavras, quanto mais inova-
dores forem, quanto mais informação e conhecimento forem trans-
formados e incorporados em novas funcionalidades de um produto,
em novas formas de produção e de atendimento, entre outros,
maior será o valor agregado pela inovação para a empresa.
Com o aumento da importância da inovação em consequência
da economia baseada no conhecimento, a organização precisa ter
clareza quanto aos modelos de inovação a serem adotados. Esses
modelos tiveram sua origem
nas construções teóricas de
Joseph Alois Schumpeter
Joseph Alois Schumpeter (1883-
1950), o qual relacionou dire- Foi um dos mais brilhantes e im-
tamente o desenvolvimento portantes economistas do século
de produtos e processos pro- XX. Afirmou que a evolução eco-
nômica se caracteriza por rupturas
dutivos de uma empresa com
e descontinuidades em razão do
seu desempenho econômico,
surgimento de novidades na ma-
constituindo pela primeira vez neira como o sistema capitalista
a inovação como fator crítico funciona, introduzindo pela pri-
para transformações na esfe- meira vez o conceito de inovação
ra econômica de longo prazo aplicado à economia.
(SCHUMPETER, 1982).
Esse debate levou à formulação de uma diversidade de modelos
de inovação.
Mas, afinal, o que são modelos de inovação? O conceito de mo-
delos é utilizado para compreender os processos que levam à inova-
ção. As empresas se deparam com vários modelos no seu dia a dia,
como os financeiros que regulam o mercado de ações, os de com-
portamento do consumidor, os de planejamento estratégico, entre
tantos outros. Os modelos de inovação são constituídos por fases
que evoluem do mais simples para o mais complexo à medida que
se adquire maturidade de conhecimento.
Gestão da Inovação
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Modelo linear
Surgiu a partir da Segunda Guerra Mundial e orientou, durante muitos
anos, o pensamento sobre o papel da ciência e da tecnologia e a melhor
forma de realizá-las. A Figura 3 traz esse modelo de forma esquemática:
SCIENCE PUSH
CIÊNCIA Tecnologia MERCADO
MARKET PULL (Economia)
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O modelo science push, com base na teoria ofertista, funda-
menta-se no argumento de que a pesquisa provoca transformações
na produção e gera novos produtos ou processos. Nesse caso, os
investimentos iniciais se concentram na pesquisa científica básica,
cujos resultados poderiam ser transformados, ao final da cadeia de
transformação, em processos e produtos potencialmente úteis para
a sociedade. Um exemplo da aplicação desse modelo são os estudos
do nitrato de prata, cujas propriedades permitiram as primeiras apli-
cações na reprodução de imagens (fotografias). O precursor da apli-
cação desse processo químico de reprodução foi Hercule Florence
(1804-1879), francês radicado no Brasil.
O modelo market pull coloca o mercado e seu impacto na eco-
nomia e na sociedade como o grande demandante das necessidades
que influenciam as atividades de invenção, implementação e ade-
quado posicionamento mercadológico de novos produtos e serviços.
Essas atividades, em menor ou maior grau, aceleram a pesquisa e a
dinâmica de absorção de novas tecnologias e estimulam a ciência
básica. Um exemplo é o desenvolvimento do transistor, já que as
tecnologias de telecomunicações, em especial os aparelhos telefôni-
cos, demandavam aparatos menores e mais convenientes, o que fez
com que a Bell Labs investisse em P&D orientada pelas necessidades
desse mercado em expansão.
Cada uma das forças do modelo linear gerou controvérsias, pois
cada classe dominante – de um lado, a científica e, de outro, a go-
vernamental e empresarial – defendia seus interesses consideran-
do os resultados de uma ou de outra abordagem. Nesses debates
da eficácia do tipo de modelo, venceu o pesquisador Christopher
Freeman (1921-2010) (KLINE; ROSENBERG, 1986). Ele constatou que
os interesses desses grupos sociais “modelam” as perguntas a se-
rem feitas de forma a buscar resultados que os satisfaçam e que, se
as pesquisas tiverem por base dados quantitativos mal embasados
e/ou citados de forma incompatível, podem fornecer evidências frá-
geis da eficiência de cada um dos modelos.
Com isso, fica consolidada a noção de sistemas de inovação em
Gestão da Inovação
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considera como elemento transformador na economia é a diversi-
dade das fontes de ciência e tecnologia e o grau de difusão dessas
inovações.
Atenção
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Modelo paralelo
Resulta da evolução do modelo linear em razão de constatações da
existência de várias outras formas de relacionamento entre as diver-
sas fases e as diferentes organizações que trazem à tona a dinâmica
de um processo gerador de inovação.
A relação entre a ciência (básica e aplicada) e o mercado surge
em razão das interferências do sistema econômico em que deter-
minada organização está inserida. Os avanços do conhecimento po-
dem ser aproveitados pelas empresas para gerar produtos e serviços
(com ou sem tecnologia) ou para retroalimentar a ciência com con-
tribuições de avanços tecnológicos. Portanto, a relação entre ciên-
cia, tecnologia e inovação ocorre em diferentes sentidos.
Um processo de desenvolvimento de um novo produto ou ser-
viço significativamente melhorado (processo de inovação) pode ser
gerado considerando demandas da sociedade traduzidas em opor-
tunidades, tendo ou não processos inventivos precedentes. Estes
são gerados na própria empresa ou adquiridos/negociados com
instituições de pesquisa, universidades ou até mesmo outras orga-
nizações. Instituições de ensino e pesquisa beneficiadas com os co-
nhecimentos e tecnologias possibilitam gerar novos conhecimentos,
pesquisas básicas e aplicadas e, assim, aumentar o grau de conheci-
mento científico em temas de interesse para a sociedade. A Figura 5
mostra o esquema do modelo de inovação paralelo:
Capacidades
tecnológicas Tecnologia
Conhecimentos científicos e tecnológicos absorvida
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duto e reconhecem seu caráter evolutivo e complexo; devendo ser
adaptado para a correta tomada de decisões.
Originado pelo modelo paralelo, o chain-linked model evi-
dencia os estágios descritos por meio de interações e feedbacks
entre atividades iniciadoras e finalizadoras de um ciclo
(KLINE; ROSENBERG, 1986), conforme Figura 6:
Pesquisa
Conhecimento 3 S
3 3
K K K
D
2 4 2 2
1 1 4 1 4
C C C C
f
f
F
C: ligações em cadeia; D: projeto básico; K: conhecimentos; S: ligação; F: feedback longo; f: feedback curto
Exemplo
Estações-tubo de Curitiba: uso do modelo paralelo
Tudo começou com um pro-
Orangestock/Marco Andras
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Em seguida, criou e desenhou o projeto arquitetônico com a
concepção de estações-tubo; utilizou conceitos de design dos
componentes; testou; produziu; e, por fim, aplicou os pilotos em
pontos específicos da cidade.
Cada etapa interativa descrita foi retroalimentada com feed-
backs curtos (f) e, ao final, o ciclo reiniciou com um feedback
longo (F), para ajustar todo o processo de produção das peças
que culminaram em tubos de bordas arredondadas com estru-
turas metálicas e plásticas e plataformas automatizadas para
acesso aos ônibus posicionadas em estações predeterminadas.
As ligações em cadeia (Cs) representam as relações entre a práti-
ca e a ciência, que efetivam a produção de conhecimentos rele-
vantes que levam à inovação.
É interessante observar que ciência e mercado andam juntos e
interagem ao longo das diversas etapas do desenvolvimento das
peças, sendo estas integradas em todo o processo de planeja-
mento urbano de transporte de maneira bastante abrangente.
A ligação (S) demonstra que, nesse caso, a inovação pôde ser
utilizada mais tarde na melhoria dos processos de produção, na
utilização mais eficiente de máquinas, equipamentos e ferra-
mentas tecnológicas e ainda na implementação de novos pro-
gramas científicos e de pesquisa para ampliar o atendimento das
necessidades da população.
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Dica
Tempo
Aprender
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Esse modelo pode ser utilizado por toda e qualquer organização,
seja na produção de bens, seja na produção de serviços, de maneira
ampla e genérica, já que considera as seguintes fases:
■■ Buscar – Levantamento de novas oportunidades consideran-
do necessidades de mudanças impostas pelo mercado, pres-
sões políticas, concorrentes e competidores.
■■ Selecionar – Priorização de acordo com definições estraté-
gicas da empresa levando em conta sinais de oportunidades
tecnológicas e de mercado, capacitação tecnológica e consis-
tência com a estratégia da organização.
■■ Implementar – Aplicação de etapas necessárias ao desenvol-
vimento e lançamento da ideia de algo novo que possa ser
aceito pelo mercado-alvo, por meio da execução de projetos
e atendendo a critérios de prazo, custos e qualidade.
■■ Aprender – Reflexão sobre o processo de inovação, por meio
do registro das lições aprendidas, estimulando o reinício do
processo e aplicando as mudanças necessárias em novos pro-
dutos e serviços.
Assim como ocorre com os demais modelos, diversas influências
de contexto precisam ser consideradas. Por exemplo, empresas in-
seridas em setores intensivos em tecnologia – caso das tecnologias
de informação e comunicação, em que a capacidade inovadora é es-
sencial para as etapas do modelo fluírem com êxito – necessitam ter
consciência de sua maturidade para inovar. Igualmente importante
é o contexto estratégico em que estão, pois o mercado não é mais
localizado, podendo estar ao lado de qualquer concorrente em uma
página da web.
Diferentemente das organizações intensivas em tecnologias, os se-
tores dinâmicos de serviços – que ampliam cada vez mais o leque de
opções apresentado aos seus diferentes clientes – devem estar aten-
Gestão da Inovação
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Na adoção do modelo Tidd
Orangestock/Marco Andras
Dica
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Indicação de leitura
Internalização de Spin-offs
Internalização de patentes/know-how
Gestão da Inovação
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No modelo de inovação aberta, entre as várias formas de intera-
gir com o ambiente externo para pesquisar, desenvolver ou comer-
cializar, destacam-se:
■■ Internalização de ideias e tecnologias – Buscar em empresas
ou instituições de ensino e pesquisa conhecimentos, ideias
ou tecnologias de seu interesse e iniciar seu próprio processo
de pesquisa, desenvolvimento e comercialização.
■■ Internalização de patentes/know-how para desenvolvimento
– Adquirir patente ou know-how para desenvolver um produto
e posteriormente comercializá-lo.
■■ Internalização de protótipos
para scale-up – Buscar em
Scale-up
empresas protótipos de pro-
Migração de um processo ou
dutos de seu interesse e iniciar
produção de laboratório para um
processo de planta piloto, possibi- um processo de produção em
litando a escalabilidade de produ- larga escala, desde que tenha
ção (volume). condições para tanto.
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Princípios da Princípios da
inovação fechada inovação aberta
A empresa precisa trabalhar
As pessoas competentes traba- com pessoas competentes, que
lham para a própria empresa. podem estar dentro e fora da
organização.
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Outras práticas comuns à inovação aberta são:
■■ Clientes-chave – Estudos realizados com consumidores para
entender se houve deslocamento de função no produto, ou
seja, se ele o utiliza de maneira diferente da prevista, assim
como avaliar a atribuição de valor ao produto e estabelecer
uma rede de confiança mútua com esse grupo de clientes.
■■ Corporate venture (investimento de risco em negócios po-
tencialmente promissores) – Investimento em empresas
pequenas e de crescimento rápido e busca de modelos de
negócios inovadores.
O Quadro 3 apresenta algumas práticas com as respectivas fon-
tes que podem apoiar o processo de inovação aberta:
Formas de acesso
Fontes de informação
à inovação aberta
Brokers de inovação www.innocentive.com
www.utfpr.edu.br/estrutura-universitaria/
Agências de
pro-reitorias/prorec/diretoria-da-agencia-
inovação
de-inovacao-1
Propriedade www.ipvalue.com
intelectual www.redetec.org.br/redestematicas/repict
www.accelovation.com
Base de dados
www.portalinovacao.mct.gov.br/pi/
Prestadores de www.battelle.org
serviço www.cits.br
Quadro 3 – Fontes de informação da inovação aberta. Fonte: os autores.
Broker
Atua como intermediário ou agenciador da inovação
que facilita etapas do processo de inovação.
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