37-Texto Do Artigo-319-1-10-20220208
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RESUMO:
O presente artigo tem o fito refletir como as inovações tecnológicas impactaram o agronegócio frente à
disruptiva evolução da Indústria 4.0. Sob este prisma, tem-se que a Economia Digital é a tônica do novo
modelo de reprodução do capital contemporaneamente. Contudo, em que pese os avanços trazidos pela
nova modalidade, a implementação do referido modelo deverá atentar-se aos pilares do empreendedorismo
sustentável, sob os pilares ESG, quais sejam: da governança, da responsabilidade social e sustentabilidade,
sob pena de acarretar maior abismo e desigualdade econômica, social e cultural. Certos desta incongruência,
necessárias se tornam ainda, políticas públicas mais efetivas, a fim de tornar o compliance ambiental uma
obrigatoriedade na relação público-privada e prática comum no mercado empresarial. Pretende-se, também,
na parte final deste trabalho, gerar algumas provocações, considerando os vários desafios vindouros a serem
vivenciados pelos produtores rurais e comunidades locais diante a possível integração à Economia Digital.
PALAVRAS-CHAVE:
ESG; sustentabilidade; economia digital; tic s; agronegócio.
ABSTRACT:
This article aims to reflect how technological innovations impacted agribusiness in the face of the
disruptive evolution of Industry 4.0. From this perspective, the Digital Economy is the keynote of the new
model of contemporary capital reproduction. However, despite the advances brought by the new modality,
the implementation of this model should pay attention to the pillars of sustainable entrepreneurship,
under the ESG pillars, namely: governance, social responsibility and sustainability, otherwise it will lead
to a greater abyss and economic, social and cultural inequality. Certain of this incongruity, more effective
public policies are needed in order to make environmental compliance mandatory in the public-private
relationship and a common practice in the business market. It is also intended, in the final part of this
work, to generate some provocations, considering the various upcoming challenges to be experienced
by rural producers and local communities in the face of possible integration into the Digital Economy.
KEYWORDS:
ESG; sustentability; digital economy; itc s; agribusiness.
1 Professora no Curso de Direito da Strong Business School e no Mestrado Profissional em Direito da Faculdade CERS (PE). Pós-gradu-
ada em Direito Sanitário pela Universidade de Roma Ter. Mestre e Doutora em Direito Público pela Universidade do Vale do Rio dos
Sinos. Contato: [email protected]
2 Agente de Desenvolvimento (Banco do Nordeste do Brasil S. A.). Mestrando em Direito pela Faculdade CERS (PE). Contato: gernardes@
yahoo.com.br
3 Advogada e Empreendedora. Especialista (MBA) em Gestão Empresarial pela FGV. Mestranda em Direito pela Faculdade CERS (PE).
Contato: [email protected]
4 TURING, 1950. Computing Machine and Intelligence. Disponível em https://doi.org/10.193/mind/LIX.236.433. Acesso em 13 jun.
2021.
será relevante para os itens que não obtiveram os avanços em robótica, telecomunicações,
tratamento analítico. As fontes documentais nanotecnologia, química fina e transportes6.
podem ser documentos depositados em arquivos Ainda é neste estágio que se percebe a face
de órgãos públicos e instituições privadas finaceira do capitalismo e se desencadeia o
(associações científicas), regulamentos, ofícios, fenômeno da globalização.
boletins e outros congêneres. Com a celeridade das transformações
e avanços tecnológicos, a sociedade passou
2. A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA DO a se organizar sob uma nova perspectiva: a
AGRONEGÓCIO E A SOCIEDADE EM REDE sociedade em rede. Este modelo de organização
visualizado na transição para o terceiro milênio,
O capitalismo se consolidou mundialmente, passa a retratar uma nova era, que conforme
como uma nova base econômica, a partir explica Manuel Castells é uma era caracterizada
das transformações no sistema produtivo e por diversos nós , onde cada nó representa
refletidas nas relações de trabalho, acarretadas a congruência de informações, objetivos,
por uma série de Revoluções. negócios dentro do seu ecossistema.
Assim, apresentam-se quatro momentos A somatória dos referidos nós refletem
de rupturas nos modelos tradicionais que na formação de redes, estas, dinâmicas, livres
impactaram significamente a produção e o e flexíveis, com ampla capidade de expansão
comportamento da sociedade face às alterações e transformação, à medida que as inovações
perpetradas. A Primeira Revolução Industrial, surgem e a sociedade de modifica, não abalando
ocorrida no início do século XVIII, restou seu equilíbrio. Ademais, para Castells:
impactada pela invenção do motor a vapor, que
facilitou significativamente o desempenho das Redes são instrumentos apropriados
tarefas manuais, como a própria lida no campo. para economia capitalista baseada na
Por sua vez, a Segunda Revolução Industrial, inovação, na globalização e concentração
do século XIX restou-se marcada pelo conceito descentralizada; para o trabalho,
de produção em massa com estudos de tempos trabalhadores e empresas para a
das atividades de trabalho e tecnologias de flexibilidade e adaptabilidade; para uma
mecanização substituindo a energia à vapor cultura de desconstrução e reconstrução
(sic) pela química e eletricidade aumentando o contínuas; para uma política destinada
desempenho das industrias .5 ao processamento instantâneo de novos
No que tange à Terceira Revolução valores e humores públicos; e para uma
Industrial, iniciada no final da década de 1960, organização social que vise a suplantação
esta foi representada pela automação dos do espaço e invalidação do tempo7 .
processos produtivos, também ainda como os
avanços científicos, a exemplo de computação Sob este prisma, reconhece-se a liberdade
e eletrônica, que tornou a época reconhecida de adaptabilidade e mutabilidade da da
como uma revolução técnico-científica. O sociedade em redes, comungando com o
referido período também foi de destaque para conceito da dinâmica não-linear8 da Teoria
5 SANTOS, J. P. dos; ANDRADE, A. A. de; FACÓ, J. F. B.; DOS SANTOS, E. B.; THIMÓTEO, A. C. de A. Industry 4.0 - Efforts to adjust man
the Revolution 4.0. Research, Society and Development, [S. l.], v. 9, n. 4, e125942949, 2020. p. 03. DOI: 10.33448/rsd-v9i4.2949.
Disponível em: https://www.rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/2949. Acesso em: 05 dec. 2020.
6 ROCHA, B. A. B.; LIMA, F. R. S.; WALDMAN, R. L. Mudanças no papel do indivíduo pós revolução industrial e o mercado de trabalho na
sociedade da informação. Revista Pensamento Jurídico, São Paulo, v. 14, n. 1, jan./jul. 2020, p. 298 ‒ 318. ISSN 2238-944X. Disponí-
vel em: <https://fadisp.com.br/revista/ojs/index.php/pensamentojuridico/article/view/202/262>. Acesso em: 01 mar. 2021.
7 CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura: a sociedade em rede. 6. ed. v. 1. 12 reimp. São Paulo: Paz e
Terra, 2009. p. 566.
8 A dinâmica não linear, então, representa uma abordagem qualitativa, e não quantitativa, da complexidade, e desse modo, incorpora a
mudança de perspectiva que é característica do pensamento sistêmico ‒ de objetos para relações, de medição para mapeamento de quanti-
dade para qualidade , cf. CAPRA, F.; LUISI, P. L. A visão sistêmica da vida: uma concepção unificada e suas implicações filosóficas, políticas,
socias e econômicas. Trad. Mayara Teruya Eichemberg; Newton Robervaval Eichemberg. 1. ed. 3. reimp. São Paulo: Cultrix, 2014. p. 135.
da Complexidade9 , uma vez que evolui em ligadas apenas a maior eficiência de máquinas e
direção a formatação de uma rede de acessos sistemas.
múltiplos e com as novas TIC s se tornaram um A Quarta Revolução Industrial, ou Indústria
dos fenômenos sociais mais proeminentes de 4.0, ou ainda Economia Digital, caracteriza-
nossa era .10 Além do que, o novo paradigma se como um agrupamento de tecnologias que
é permeado por características próprias quais consentem a fusão do mundo físico, digital e
sejam: i) a informação é matéria-prima; ii) biológico, que imprimirá impacto exponencial e
penetrabilidade das novas TIC s; iii) lógica de maior profundidade.13 Para Schwab14 , há três
concomitantemente estruturada e flexível; iv) razões que a diferenciam da revolução anterior,
flexibilidade dos processos e das organizações; quais sejam: velocidade (ritmo exponencial
v) progressiva convergência de determinadas e não-linear); amplitude e profundidade ( a
tecnologias para um sistema bastante revolução não está mudando o que e o como
integrado.11 fazemos as coisas, mas também quem somos );
Ante a complexidade do tema, Castells na impacto sistêmico (transformação de sistemas
obra A era da informação: economia, sociedade inteiros).
e cultura: a sociedade em rede prefere por não Ademais, a principologia da Quarta
dispor de respostas pré-fixadas e enclausuradas, Revolução é pautada em sistemas ciber-físicos15,
ao revés, adota o caminho da instigação e internet e tecnologias objetivando-se o futuro,
reflexão, no qual, se estabelece a tecnologia ainda como em sistemas inteligentes com
como ponto de partida, deixando o caminho protótipos aprimorados de interação entre o
para ser delimitado posteriormente, a partir de humano e computador (IHC). Tem por objetivo
observações futuras. lidar com necessidades personalizadas e desafios
Seguindo esta trilha evolutiva, desencadeia- globais para ganhar força competitiva, levando
se a Quarta Revolução Industrial, que desde em consideração a crescente globalização dos
2011, passou a ser reconhecida como mercados .16
Economia Digital, ou Indústria 4.012 em alusão Na mesma diapasão e trazendo à baila novas
a um novo escopo de reprodução do capital perspectivas acerca de outros atributos relacionados
que não se restringe às inovações tecnológicas a esta nova era, Cóbe et al. aduzem que:
9 A teoria da complexidade constitui um avanço teórico-metodológico que permitiu a operacionalização empírica de uma proposta
racional precursora, a teoria dos sistemas, interpretando os seus princípios para permitir a descrição, análise e criação através da
modelagem complexa de instrumentos interpretativos mais abrangentes. Nesse contexto, é possível considerar que a proposição do
pensamento complexo, enquanto postura epistemetodológica, é o racionalismo aplicado em ação , cf. CARVALHO, R. C.; FÁVERO, A.
A. A teoria da complexidade como referência epistemológico para a pesquisa em política educacional: (re)conhecendo seus princí-
pios e características. Revista de estúdio teóricos y epistemológicos e política educativa. v. 5, n. 2, p. 1-19, 2020. DOI: https://doi.
org/10.5212/retepe.v.5.15096.008. Disponível em: https://revistas.apps.uepg.br/index.php/retepe/article/view/15096. Acesso em:
13 dez. 2020, p. 4-5.
10 CAPRA, F. Vivendo Redes. In: DUARTE, F.; QUANDT, C.; SOUZA, Q. O tempo das redes. São Paulo: Editora Perspectiva, 2008, p. 18.
11 CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura: a sociedade em rede. 6. ed. v. 1. 12 reimp. São Paulo: Paz e
Terra, 2009. p. 108-109.
12 A quarta revolução industrial, no entanto, não diz respeito apenas a sistemas e máquinas inteligentes e conectadas. Seu escopo é
muito mais amplo. Ondas de novas descobertas ocorrem em áreas que vão desde o sequenciamento genético até a nanotecnologia,
das energias renováveis à computação quântica. O que torna a revolução industrial fundamentalmente diferente das anteriores é a
fusão dessas tecnologias e a interação entre os domínios físicos, digitais e biológicos. Nessa revolução, as tecnologias emergentes e
as inovações generalizadas são difundidas muito mais rápida e amplamente do que nas anteriores, as quais continuam a desdobrar-se
em algumas partes do mundo , cf. SCHWAB, K. A Quarta Revolução Industrial. 1 ed. Trad. Daniel Moreira Miranda. São Paulo: Edipro,
2016. p. 19-20.
13 BRASIL. Ministério da Indústria Comércio e Serviços. Agenda brasileira para a indústria 4.0. Disponível em: <http://www.industria40.
gov.br/>. Acesso em: 05 dez. 2020.
14 SCHWAB, K. A Quarta Revolução Industrial. 1 ed. Trad. Daniel Moreira Miranda. São Paulo: Edipro, 2016. p. 15-16, grifos do autor.
15 Sistemas ciber-físicos sintetizam a fusão entre o mundo físico e digital. Dentro desse conceito, todo o objeto físico (seja uma máquina
ou uma linha de produção) (sic) e os processos físicos que ocorrem, em função desse objeto, são digitalizados. Ou seja, todos os obje-
tos e processos na fábrica tem um irmão gêmeo digital (INDÚSTRIA 4.0, [s. p.]).
16 ABREU, P. H. C. PERSPECTIVAS PARA A GESTÃO DO CONHECIMENTO NO CONTEXTO DA INDÚSTRIA 4.0. South American Development
Society Journal, [S.l.], v. 4, n. 10, p. 126 - 145, mar. 2018. ISSN 2446-5763. Disponível em: <http://www.sadsj.org/index.php/revista/
article/view/125>. Acesso em: 19 dez. 2020. doi: http://dx.doi.org/10.24325/issn.2446-5763.v4i10p126-145. p. 135.
17 CÓBE, R. M. O.; NONATO, L. G.; NOVAES, S. F.; ZIEBARTH, J. A. Rumo a uma política de Estado para inteligência artificial. Revista USP,
[S. l.], n. 124, p. 37-48, 2020. DOI: 10.11606/issn.2316-9036.v0i124p37-48. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/
article/view/167914. Acesso em: 20 dez. 2020. p. 42.
18 A IA atualmente compreende diferentes áreas que incluem aprendizado de máquina, visão computacional, processamento de lin-
guagem natural reconhecimento de padrões de imagens, robótica, entre outras. Os avanços recentes em IA tem viabilizado a criação
e o aperfeiçoamento de aplicações que vão desde veículos autônomos, diagnóstico médico, assistência física a deficientes e idosos, à
segurança pública, e indústria de entretenimento , cf. Ibid, p. 39).
19 A impressão em 3D, ou fabricação aditiva, consiste na criação de um objeto físico por impressão, camada sobre camada, de um mo-
delo ou desenho digital em 3D [...] em certo momento [...] a impressora será capaz de fazer aquilo que, anteriormente, somente seria
possível por meio de uma fábrica completa , cf. SCHWAB, K. A Quarta Revolução Industrial. 1 ed. Trad. Daniel Moreira Miranda. São
Paulo: Edipro, 2016. p. 152.
20 A Internet das Coisas é um termo abrangente para uma ampla gama de tecnologias e serviços subjacentes que, por sua vez, fazem
parte de um ecossistema mais amplo. A interconexão de dispositivos físicos com possibilidades de detecção e comunicação (por meio
de sensores e atuadores), não é um conceito novo, no entanto, no que cerne à Internet das Coisas, os endpoints físicos estão conecta-
dos através de endereços de IP exclusivos pelos quais dados podem ser reunidos e comunicados , cf. CARRION, P.; QUARESMA, M. J.
A. Internet das coisas (IoT): definições e aplicabilidade aos usuários finais. Human Factors in Design ‒ Edição Especial ‒ P&D Design
2018, [S. l.], v. 8, n. 15 (2019), p. 49-66, mar. 2019. DOI: https://doi.org/10.5965/2316796308152019049. Disponível em: https://
www.revistas.usp.br/revusp/article/view/167914. Acesso em: 20 dez. 2020. p. 55.
21 O próximo passo é biologia sintética. Ela oferecerá a capacidade de criar organismos personalizados, escrevendo o DNA deles. Dei-
xando de lado as profundas questões éticas que isso levanta, essas mudanças não só causarão um impacto profundo e imediato na
medicina, mas também na agricultura e na produção de biocombustíveis cf. SCHWAB, K. A Quarta Revolução Industrial. 1 ed. Trad.
Daniel Moreira Miranda. São Paulo: Edipro, 2016. p. 32.
22 É a convergência de novos desenvolvimentos tecnológicos nas áreas de química, biologia, ciência da computação e engenharia,
permitindo o projeto e construção de novas partes biológicas tais como enzimas, células, circuitos genéticos e redesenho de sistemas
biológicos existentes cf. BRASIL. Ministério da Indústria Comércio e Serviços. Agenda brasileira para a indústria 4.0. Disponível em:
<http://www.industria40.gov.br/>. Acesso em: 05 dez. 2020. [s. p.].
23 Commodity é um termo próprio da área econômica, mas de fundamental importância na compreensão da preferência das nações
mundiais por esses produtos que influenciam no preço dos alimentos e até mesmo no direcionamento da elaboração de políticas
públicas. [...] Em linguagem mais popular, são matérias-primas os produtos brutos, que não sofrem, ou é baixíssimo, o processo de
transformação; não possuem valor agregado e podem ser comercializadas em qualquer país. [...] A agropecuária extensiva também
é uma atividade predatória na região, pois requer grandes quantidades de grãos para a alimentação dos animais, extensas áreas
de terras cultiváveis e elevado consumo de energia e água. Há ainda o problema referente à flutuação do mercado, porque, quanto
maior a dependência das commodities ao mercado especulativo, maior o risco entre o caminho entre produtor e o consumidor;
mais, quanto maior a maximização dos lucros das commodities, dentre algumas consequências agravantes, tem-se a desvalorização
Minério de ferro, alumínio, fumo, soja, café, mesmo sentido, internamente, o agronegócio
cacau, carne bovina, açúcar, suco de laranja, suplantou o patamar de 20% do PIB (Produto
algodão, entre outras, compõem a lista de Interno Bruto). Este mercado envolve, hoje, no
matérias-primas mais comercializadas no Brasil, grandes empresas e um volume anual de
mercado futuro. recursos de quase 1,2 trilhão de reais, divididos
Contudo, as práticas mecanizadas e em insumos agropecuários (11,7%), produção
intensivas ainda não se preocupam em agropecuária (29,6%), agroindústria (27,8%) e
dialogar com a sustentabilidade, pois seus distribuição (31,1%) 25.
preceitos fundam-se, antes de tudo, no aspecto Sob este cenário da economia rural,
econômico24. Sob este cenário, temas como depreende-se uma participação expressiva de
agroecologia, agricultura familiar, manejo commodities do agrobusiness. Contudo, observa-
sustentável, integração da comunidade local às se desta atividade que o objetivo econômico se
práticas econômicas são ignoradas ou tratadas sobressai sobre os demais. Aliás, tal repercute
de forma superficial em detrimento do lucro no âmbito da política, pois corrobora com a
por si só e quase sempre à qualquer custo. manutenção da secular estrutura colonial de
Diante desta drástica mudança de concentração de renda e oportunidades sob o
paradigma, necessário se faz refletir sobre poder de grupos minoritários e privilegiados.
os impactos futuros destas tecnologias no Para esta elite, remodelada ao sabor do tempo,
agronegócio, a despeito das implicações que aspectos baseados nas boas práticas de
pode causar à humanidade em seus diversos governança, a busca por um desenvolvimento
modos de organização (economia, sociedade, sustentável e a observância da responsabilidade
relações internas e internacionais, negócios e social empresarial eram prescindíveis nas suas
contatos interpessoais). pautas até o instante em que, nos últimos anos, se
torna irreversível26 a necessidade de debatê-los.27.
3. OS REFLEXOS DAS INOVAÇÕES Tal reflexão se torna imperiosa,
TECNOLÓGICAS NO AGRONEGÓCIO especialmente, neste suposto caso de sucesso,
considerando-se a equação custo x benefício,
O agronegócio é uma das maiores bases a partir do ponto de vista da sustentabilidade.
produtivas no Brasil, tanto quando se analisa A sustentabilidade é um termo que expressa
o cenário econômico externo, quanto o interno. a preocupação com a qualidade de um sistema
Sob a ótica externa, o Brasil figura como um dos que diz respeito à integração indissociável
maiores expoentes das últimas duas décadas. No (ambiental e humano), e avalia suas
do salário médio do trabalhador e uma pressão desmedida aos produtores agrícolas, que não os permitem questionar o preço das cul-
tivares, acarretando assim a imposição de valores irrisórios aos produtos, especialmente aos alimentos básicos. Além disso, contribui
para o efeito estufa, pois é um dos setores de maior emissão de gases, contribui para o processo de desertificação do solo, da perda da
biodiversidade e da poluição hídrica , cf. ZUIN, Aparecida Luzia Alzira; AMARAL, Jorge Luiz de Moura Gurgel do. Direito alimentar e
risco na sociedade moderna: a Amazônia e o agronegócio. Rev. Direito e Práxis, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 417-442, Mar. 2018. Avai-
lable from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2179-89662018000100417&lng=en&nrm=iso>. Acessado em
15 jan. 2021. https://doi.org/10.1590/2179-8966/2018/32713. p. 430-431.
24 As técnicas agrícolas tidas como as mais modernas e avançadas são, portanto, aquelas que permitem um aumento nos lucros, mesmo
que os danos ambientais (e humanos) sejam imensos, quiçá irreversíveis. Caso mais grave ainda é o dos Organismos Geneticamente
Modificados-OGM, que são objeto de grande controvérsia no meio científico [...] Outro resultado nada inesperado de tanto progresso é
que o Brasil tornou-se o maior consumidor mundial de agrotóxicos (aos quais as variedades transgênicas são resistentes) , cf. GUHUR,
D. M. P. Questão ambiental e agroecologia: notas para uma abordagem materialista dialética. In: NOVAES, H. T.; MAZIN, D.; SANTOS,
L. (Org.). Questão agrária, cooperação e agroecologia E.BR. v. 1, 3. ed. Marília: Lutas Anticapital, 2019. p. 266-267.
25 EMBRAPA. Mercado de cultivares. Disponível em: <https://www.embrapa.br/tema-mercado-de-cultivares/sobre-o-tema>. Acesso em:
29 nov. 2020. [s. p.]
26 A questão ambiental aparece como sintoma da crise da razão da civilização moderna, como uma crítica da racionalidade social e do
estilo de desenvolvimento dominantes, e como uma proposta para fundamentar um desenvolvimento alternativo , cf. LEFF, E. Episte-
mologia ambiental. Trad. Sandra Valenzuela 5. ed. 1. reimp. São Paulo: Cortez, 2010. p. 138.
27 Hoje, precisamos de uma nova era de crescimento econômico, um crescimento vigoroso e, ao mesmo tempo, social e ambientalmente
sustentável , cf. ACSELRAD, H; LEROY, J. Novas premissas de sustentabilidade democrática. Rio de Janeiro: Projeto Brasil Sustentável
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