Melo 2016

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R E V I S T A O N L I N E D E P E S Q U I S A

CUIDADO É FUNDAMENTAL R E V I S T A O N L I N E D E
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO . ESCOLA DE ENFERMAGEM ALFREDO PINTO
P E S Q U I S A

PESQUISA
CUIDADO É FUNDAMENTA DOI: 10.9789/2175-5361.2016.v8i4.5177-5183

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO . ESCOLA DE ENFERMAGEM ALFREDO PINTO

Perfil epidemiológico de mulheres com HPV atendidas em uma


unidade básica de saúde
Epidemiological profile of women with HPV treated in a basic health unit
Perfil epidemiológico de las mujeres con VPH assistido en una unidad
básica de salud

Túlio Felipe Vieira de Melo1, Héllyda de Souza Bezerra2, Dany Geraldo Kramer Cavalcanti e Silva3, Richardson
Augusto Rosendo da Silva4

Como citar este artigo:


Melo TFV; Bezerra HS; Silva DGKC, et al. Perfil epidemiológico de mulheres com hpv atendidas em
uma unidade básica de saúde. Rev Fund Care Online. 2016 out/dez; 8(4):5177-5183. DOI: http://dx.doi.
org/10.9789/2175-5361.2016.v8i4.5177-5183

ABSTRACT
Objective: To describe the epidemiological profile of women with HPV who treated in a Basic Health Unit.
Method: A survey of quantitative trait was performed in a district in the municipality of Santa Cruz/RN
through the individual records of 205 users of the Unit. Results: The epidemiological profile was characterized
by women with age between 19-30 years; married; white; schooling until the incomplete high school; income
up to a wage minimum; first intercourse among 15-17 years; with a partner. Conclusion: The same are in the
risk group for the involvement of HPV because they present themselves as young, married, low education and
income, and sexual initiation before age 18 years.

Descriptors: Neoplasms of the cervix; Primary prevention; Vaginal smear socioeconomic factors.

Enfermeiro da Estratégia Saúde da Família do Município de Currais Novos/RN, Brasil. Mestre em Biologia Estrutural e Funcional.
1

E-mail: [email protected]
Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN.
2

Professora substituta do Curso de Graduação em Enfermagem Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi/FACISA. Santa Cruz/RN,
Brasil. E-mail: [email protected]
Farmacêutico. Doutor em Engenharia Mecânica. Professor Adjunto II do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade de
3

Ciências da Saúde do Trairi/FACISA. Santa Cruz/RN, Brasil. E-mail: [email protected]


Enfermeiro. Doutor em Ciências da Saúde. Professor Adjunto VI do Curso de Graduação e do Programa de Pós-Graduação
4

(Mestrado Acadêmico e Doutorado) em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Natal/RN,
Brasil. Membro do Grupo de Pesquisa Práticas Assistenciais e Epidemiológicas em Saúde e Enfermagem/PAESE/UFRN.
E-mail: [email protected]

DOI: 10.9789/2175-5361 . 2016.v8i4.5177-5183 | Melo TFV; Bezerra HS; Silva DGKC, et al. | Perfil epidemiológico de mulheres com HPV...

J. res.: fundam. care. online 2016. out./dez. 8(4): 5177-5183 5177


ISSN 2175-5361. DOI: 10.9789/2175-5361.2016.v8i4.5177-5183
Melo TFV; Bezerra HS; Silva DGKC, et al. Perfil epidemiológico de mulheres com HPV...

RESUMO já identificados e classificados de acordo com a sequência de


Objetivo: Descrever o perfil epidemiológico de mulheres com HPV polinucleotídeos homólogos de seu DNA, e dependendo do
atendidas em uma Unidade Básica de Saúde. Método: A pesquisa de subtipo, podem provocar desde o aparecimento de lesões
caráter quantitativo foi realizada em um bairro no município de Santa genitais conhecidas como “cristas de galo” tanto no homem
Cruz/RN, por meio das fichas individuais de 205 usuárias da Unidade. quanto na mulher a problemas mais sérios, como o câncer
Resultados: O perfil epidemiológico foi caracterizado por mulheres com
genital.4-5 As lesões genitais são causadas, em 90% dos casos
idade entre 19-30 anos, casadas, brancas, com ensino médio incompleto,
pelos subtipos de baixo risco para neoplasia que são HPV-6 e
renda de até um salário mínimo, primeira relação sexual entre 15-17 anos
HPV-11. Alguns tipos podem induzir ao surgimento de cân-
e um parceiro. Conclusão: As mulheres se encontram no grupo de risco
para o acometimento do HPV, pois se apresentam como jovens, casadas,
ceres, como o cervical, que é causado por subtipos conside-
de baixa escolaridade e renda familiar e iniciaram a vida sexual antes dos rados de alto risco para a neoplasia que são HPV-16, HPV-
18 anos. 18, HPV-31 e HPV-45, sendo os subtipos HPV – 16 e HPV
Descritores: Neoplasias do colo do útero; Prevenção primária; Esfregaço – 18 responsáveis por 70% dos casos.5-6
vaginal; Fatores socioeconômicos. No Brasil, há uma incidência de 137 mil casos de HPV
por ano, e uma prevalência de 44,7%, sendo mais comum em
RESUMEN mulheres entre 15 e 25 anos socioeconomicamente desfavo-
Objetivo: Describir el perfil epidemiológico de las mujeres con el VPH
ráveis. O vírus é transmitido através da relação sexual com
que asistió a un método básico de salud. Método: Un estudio de carácter um indivíduo infectado, ocorrendo a transmissão mesmo
cuantitativo se llevó a cabo en un distrito en el municipio de Santa Cruz/ que a pessoa infectada seja assintomática, porém as chan-
RN a través de los registros individuales de 205 usuarios de la Unidad. ces são maiores quando há a presença de verrugas, que são
Resultados: El perfil epidemiológico se caracterizó por las mujeres con características da doença. Estima-se que a cada cinco mulhe-
edad entre 19 a 30 años; casadas; blancas; escolarización hasta la escuela res, uma seja portadora do HPV, podendo transmitir o vírus
secundaria incompleta; los ingresos de hasta un salario mínimo; la para o parceiro e para o filho no momento do parto.4,7,8
primera relación sexual entre los 15 a 17 años; con una pareja. Conclusión: O câncer de colo do útero, a principal repercussão clí-
La misma se encuentran en el grupo de riesgo para la participación de nica do HPV, apresenta uma incidência para o ano de 2012
VPH, ya que se presentan como joven, casado, el bajo nivel educativo y de
é de aproximadamente 17.540 novos casos, representando
ingresos, y la iniciación sexual antes de los 18 años.
uma taxa de 17,49 casos para cada 100.000 mulheres. Na
Descriptores: Neoplasias del cuello uterino; Prevención primaria; frotis
região Nordeste, o câncer cervical ocupa a segunda posição
vaginal factores socioeconómicos.
com 5.050 novos casos, uma taxa de 17,96 para cada 100.000
mulheres, índice maior do que o nacional. Para o estado do
Rio Grande do Norte, o câncer do colo uterino apresenta-se
com incidência de 230 casos para o ano de 2012 e a capital
INTRODUÇÃO Natal com 80, representando uma taxa, respectivamente, de
13,98 e 17,98 para cada 100.000 mulheres.9
As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) caracte-
Mesmo apresentando-se muito prevalente e incidente,
rizam como infecções ocasionadas por fungos, vírus, bacté-
o câncer de colo de útero, o HPV e outras DST podem
rias e protozoários que são transmitidas principalmente pela
ser detectadas através do exame citopatológico, principal
via sexual, mas que também envolve o contato oral com os
estratégia de rastreamento preconizado pelo Ministério da
órgãos genitais e o contato do sangue fetal com o da mãe
saúde.10 O exame citopatológico é utilizado para detecção de
infectada no momento do parto e na lactação.1 Essas infec-
câncer do colo de útero, infecções, lesões cervicais e vagi-
ções representam um sério problema de saúde pública, onde
nais. É realizado um raspado cérvicovaginal e o diagnóstico
o aparecimento de novos casos pode chegar a 333 milhões de
é confirmado pelo exame histopatológico, onde é feito uma
pessoas por ano.2 Geralmente são doenças de difícil detec-
biópsia do tecido lesionado. As alterações celulares podem
ção pelo fato de não gerarem sintomas na maioria dos indi-
ser confirmadas tanto pela citologia como pela histopatolo-
víduos infectados. Estima-se que a cada cinco pessoas que
gia, ambas também podem detectar as atipias celulares que
procuram o serviço de saúde, uma é por causa de alguma
são causadas pelo HPV de alto risco.11
DST, sendo constatado um elevado índice dessas patologias.
HPV mostra-se com maior prevalência em regiões
Caso não sejam diagnosticadas e tratadas precocemente,
pobres, marginalizadas e sem atendimento adequado à
essas doenças podem trazer agravantes, como malformações
saúde. Segundo a literatura, o principal alvo para a infec-
congênitas, abortos espontâneos, infertilidade e até mesmo
ção do vírus são mulheres jovens de escolaridade precária
o aumento das chances de contaminação pelo vírus HIV em
e estado socioeconômico baixo, falta de maturidade e de
até dez vezes.3
orientações acerca da saúde sexual.
A infecção por Papilomavírus Humano (HPV) é uma das
Em um estudo realizado em Rio Grande/RS encontrou,
mais prevalentes no mundo, sendo mais frequente em regi-
além da idade baixa entre as mulheres acometidas pelo HPV,
ões, onde o acesso à saúde e a educação é mais precário. Tra-
outros fatores relacionados à infecção do vírus. Neste caso
ta-se de um grupo de vírus que inclui mais de 100 subtipos
o HPV foi mais prevalente em mulheres que apresentaram

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ISSN 2175-5361. DOI: 10.9789/2175-5361.2016.v8i4.5177-5183
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baixo nível socioeconômico, múltiplos parceiros sexuais, UBS para a realização do exame citopatológico de colo do
higiene sexual precária, abortos (principalmente induzidos), útero. Foram excluídos do estudo, mulheres abaixo de 18
alcoolismo, tabagismo e uso de contraceptivos orais. Outro anos, que não faziam parte da área adscrita, as que não assi-
dado relevante do estudo, foi o fato de que as mulheres que naram o TCLE e as que nunca realizaram o exame preven-
estavam nesse grupo, foram as mesmas que apresentaram tivo. A pesquisa foi desenvolvida no período entre abril e
mais rejeição a não realização do exame citológico.12-13 junho de 2011.
Diante da problemática apresentada, o presente estudo Como instrumento para a coleta de dados utilizou-se
teve por objetivo, descrever o perfil epidemiológico de um roteiro estruturado a ser preenchido através da análise
mulheres com HPV atendidas em uma Unidade Básica documental dos prontuários seguindo os critérios de inclu-
de Saúde. são e exclusão já mencionados anteriormente. As variáveis
do roteiro foram baseadas em Novais e Teresa acerca das
características socioeconômicas das usuárias da UBS e pela
MÉTODOS presença ou não da infecção pelo HPV tais como: idade, cor,
Tratou-se de uma pesquisa exploratória descritiva e situação conjugal, escolaridade, renda mensal, idade da pri-
documental, com uma abordagem quantitativa, que abran- meira relação sexual, número de parceiros, uso de contra-
geu informações pertinentes acerca das variáveis relaciona- ceptivos hormonais e diagnóstico de HPV.16
das à infecção do HPV em mulheres atendidas na Unidade O banco de dados do estudo foi construído através do
Básica de Saúde (UBS) de maior demanda, localizada em um programa Microsoft Excel 2010, com posterior verificação
Bairro da periferia da Cidade de Santa Cruz, interior do Rio de consistência da digitação. Após a estruturação do banco
Grande do Norte. A UBS atende, dentre outros programas de dados, foi realizada inicialmente uma análise descritiva
do Ministério da Saúde, mulheres para a coleta do exame de de todos os dados relativos às variáveis socioeconômicas da
Papanicolau, sendo esse procedimento realizado pelo enfer- presença da infecção do HPV ou não.
meiro (a) do serviço. O estudo foi apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
Foram consideradas como objetos do estudo as informa- (CEP) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
ções contidas nas fichas individuais contidas no prontuário (UFRN), sob o Protocolo de Aprovação nº 188/10, mediante
da família das usuárias do serviço tais como faixa etária, CAAE de número 0205.0.051.000-10, recebendo parecer
cor, renda mensal, escolaridade, idade da primeira relação favorável a sua execução sob o Protocolo apresentando-se de
sexual, estado civil, utilização de contraceptivos e ocorrência acordo com a resolução 466/2012 do Conselho Nacional de
de HPV. Essas informações eram referentes aos anos de 2008 Saúde. Neste estudo houve a utilização de Termo de Con-
a 2010. Foram analisados os registros de mulheres adultas sentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que foi entregue às
quanto à ocorrência do HPV. usuárias para assinatura e efetivação do desejo em participar
A amostra teórica foi calculada sendo adotado o nível do estudo pelas participantes. Todos os sujeitos da pesquisa
de confiança em 5% e o grau de precisão em 95% para as foram totalmente esclarecidos quanto à natureza, os riscos e
estimativas e/ou generalizações. Tomando-se por base o os objetivos inerentes da pesquisa. A privacidade e o sigilo
número de 728 prontuários da referida UBS, foi calculado das informações coletadas foram rigorosamente respeitados,
o tamanho da amostra teórica de 259 prontuários. Para isso sendo os dados somente utilizados para fins deste estudo e
tomou-se como referência as estimativas de Israel e Barbetta, os nomes das mesmas foram trocados por números, preser-
conforme representações dos cálculos abaixo.14-15 vando seus aspectos éticos.
Após a autorização do CEP/UFRN foi realizado um
onde: n0 é a primeira apro- estudo piloto com um grupo amostral visando ajustes no
ximação do tamanho da instrumento de pesquisa. Esses prontuários foram excluídos
amostra;
da pesquisa e ao término do teste não houve necessidade de
E0 é o erro amostral tolerá- alterar o roteiro da pesquisa.
vel (Ex.: 5% = 0,05)

onde: RESULTADOS
N é o número de elementos Dos 259 TCLE entregues as usuárias, apenas 205 foram
da população
devidamente assinados e recolhidos, sendo este o número,
n é o tamanho da amostra efetivo de prontuários analisados, inferior à amostra cal-
culada. Isso se deve ao fato de algumas usuárias terem se
Fonte: Barbetta, 2002. recusado a participar da pesquisa. Observando-se então,
um percentual de 80% de aceitação por parte das usuárias.
Como critério de inclusão utilizou-se: usuárias do sexo Um ponto que dificultou o estudo foi a falta de registro de
feminino, com faixa etária acima de 18 anos, atendidas na algumas informações em determinados prontuários, sendo
utilizado neste estudo o termo Não Registrado (NR) para

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fins de identificação. A Tabela 1 faz referência à distribuição Tabela 2 – Características socioeconômicas principais da
das mulheres que compuseram o estudo, em função da faixa amostra estudada. Santa Cruz, RN, Brasil, 2011

etária, estado civil, renda, cor e escolaridade. Variável Categoria N %


Primeira relação sexual 11-17 125 61
Tabela 1 –
­ Características socioeconômicas da amostra estu- (anos)
dada. Santa Cruz, RN, Brasil, 2011 18-24 70 34,1
25-35 10 4,9
Variável Categoria N %
Número de parceiros Um parceiro fixo 149 72,7
Idade (anos) 18 – 25 40 19,5
Sem parceiro fixo 37 18
26 – 32 45 21,9
33 – 39 33 16,2 Nenhum parceiro 19 9,3

40 – 46 31 15,1 Contracepção Injetável 15 7,3


Hormonal
>46 56 27,3 Oral 60 29,3
Estado civil Casada 147 71,7 Não Registrado 130 3,4
Solteiro 50 24,4 Total 205 100
Viúva 8 3,9
Raça/cor Branca 88 43 A Tabela 3 demonstra as variáveis socioeconômicas da
Negra 55 26,8 amostra com dados relativos às mulheres acometidas pelo
Parda 62 30,2 HPV. O predomínio neste caso ocorreu em mulheres com
Escolaridade Ensino Superior 1 0,5 idade entre 19 a 30 anos (52,6%), casadas (57,9%), brancas
Completo (42,1%), que estudaram até o ensino médio incompleto
Ensino Superior 1 0,5 (52,7%) e com renda mensal de até um salário mínimo
Incompleto (42,1%). Nessa tabela observou-se nas variáveis escolari-
Ensino Médio Completo 25 12,2 dade e renda mensal o NR em 26,3% e 42,1% dos prontuá-
Ensino Médio 35 17 rios respectivamente.
Incompleto A Tabela 4 mostra as variáveis socioeconômicas princi-
Ensino Fundamental 25 12,2 pais da amostra que foi acometida pelo HVP onde o predo-
Completo
mínio foi em mulheres que tiveram a primeira relação sexual
Ensino Fundamental 43 21
antes dos 18 anos (52,6%) e que tem apenas um parceiro fixo
Incompleto
(57,9%). Já na variável acerca do uso de métodos contracep-
Analfabeta 12 5,9
tivos hormonais observou-se na maioria do prontuário ana-
Não Registrado 63 30,7
lisados a presença da falta de registro (63,1%).
Renda Mensal Um salário mínimo 58 28,3
>01 salário mínimo 15 7,3 Tabela 3 – Características socioeconômicas da amostra aco-
Não Registrado 132 64,4 metida pelo HPV. Santa Cruz, RN, Brasil, 2011
Total 205 100
Variável Categoria N %
Idade (anos) 19-30 10 52,6
De uma maneira geral houve um predomínio de mulhe- 31-44 5 26,3
res jovens de 18 a 39 anos (57,6%), casadas (71,7%), bran- 45-61 4 21,1
cas (43%), que estudaram até o ensino médio incompleto Estado Civil Casada 11 57,9
(56,1%) e que ganham até um salário mínimo (28,3%). Nessa Solteira 7 36,8
tabela, as variáveis escolaridade e renda mensal apresentam Viúva 0 0
com altos percentuais de dados não registrado (NR), respec- Raça/cor Branca 8 42,1
tivamente 30,7% e 64,4%. Negra 7 36,8

A Tabela 2 evidencia as variáveis socioeconômicas prin- Parda 4 21,1


cipais de toda a amostra do estudo, apresentando uma pre- Escolaridade Ensino Superior Completo 1 5,2
dominância em mulheres que tiveram sua primeira relação Ensino Superior Incompleto 0 0
sexual antes dos 18 anos (61%) e que tinham apenas um Ensino Médio Completo 3 15,8
parceiro fixo (71,7%). Já na variável acerca do uso de méto- Ensino Médio Incompleto 4 21,1
dos contraceptivos hormonais o percentual de NR elevado Ensino Fundamental Completo 2 10,5
(63,4%), observando assim a falta de um registro tão signi- Ensino Fundamental Incompleto 4 21,1
ficativo e importante para as medidas preventivas de DST e
Analfabeta 0 0
planejamento familiar do bairro.
Não Registrado 5 26,3

(Continua)

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(Continuação) vou descrever o perfil dessas mulheres acometidas pelo vírus


Variável Categoria N % e traçar um perfil socioeconômico da amostra estudada.
Renda Um salário Mínimo 8 42,1 Conforme a Tabela 3 a pesquisa mostrou que o predo-
Mensal
mínio da infecção ocorreu em mulheres jovens com idades
>01 salário Mínimo 3 15,8
entre 19 e 30 anos, observando-se um declínio da infecção
Não Registrado 8 42,1
após os 45 anos. Assim, a prevalência por faixa etária está
Total 19 100 de acordo com um estudo realizado em 2008 em Campinas/
SP e São Paulo/SP onde foi observada alta prevalência do
Tabela 4 – Características socioeconômicas principais da HPV em mulheres jovens e a diminuição dessa ocorrência
amostra acometida pelo HPV. Santa Cruz, RN, Brasil, 2011
no decorrer da idade.18 Além dos hábitos sociais relacio-
Vaiável Categoria N % nados com a infecção do HPV em mulheres jovens, outro
Primeira relação sexual 15-17 10 52,6 fator pode está relacionado. Mulheres jovens apresentam alta
(anos) atividade biológica e alta replicação celular cervical, favore-
18-20 7 36,9
cendo a entrada do vírus na hospedeira.19 Estudo transversal
27-38 2 10,5
realizado em seis capitais revelou que a prevalência do HPV
Número de parceiros Um parceiro fixo 11 57,9
tanto em homens quanto em mulheres ocorreu na faixa etá-
Sem parceiro fixo 8 42,1 ria entre 15 e 19 anos, mostrando que a infecção por esse
Nenhum parceiro 0 0 vírus acontece predominantemente no inicio da vida sexual.8
Contracepção hormonal Injetável 3 15,9 No que se refere ao estado civil, à prevalência do HPV
Oral 4 21
foi entre mulheres casadas. Portanto, a presente pesquisa foi
bastante similar a um estudo realizado em fortaleza, onde
Não Registrado 12 63,1
observou-se que essa prevalência estava associada a maior
Total 19 100
exposição das mulheres as DST, por confiarem em seus par-
ceiros e com isso não usam métodos preventivos.20 E em um
estudo realizado em duas cidades no Japão e uma no Bra-
DISCUSSÃO sil acerca da realização do exame preventivo, notou-se um
As Doenças Sexualmente Transmissíveis representam predomínio por parte de mulheres casadas. Acredita-se que
atualmente uma das principais causas pela procura do ser- essas mulheres aderem mais facilmente ao exame como pro-
viço de saúde, de cinco pessoas que vão a um serviço de cedimento de rotina pelos programas de planejamento fami-
saúde uma está com alguma DST. O Papilomavírus Humano liar e de pré-natal.21
apresenta-se como a DST mais prevalente atualmente no A prevalência do HPV em relação a variável cor foi mais
mundo, sendo o responsável pela maioria dos casos de cân- predominante em mulheres brancas do que negras. Segundo
cer de útero, aparecendo também mais incidente em regiões a literatura esse resultado pode está associado a não reali-
carentes de escolaridade e socioeconomicamente. zação do exame por parte das mulheres pardas e negras,
Estudos relacionados à prevalência da infecção pelo podendo assim contribuir para um dado não fidedigno em
HPV e ao perfil socioeconômico da população acometida relação a prevalência do HPV a esse grupo.22
despertam o interesse da comunidade científica, profissio- Em relação à escolaridade e a renda salarial mensal das
nais da saúde e da população em geral. Em virtude da inci- mulheres acometidas pelo HPV observou-se um predo-
dência dessa enfermidade, tal fato consiste em um problema mínio entre mulheres que estudaram até o ensino médio
de saúde pública, posto que diagnósticos tardios e progra- incompleto e que tem renda salarial mensal de até um salá-
mas de prevenção fragilizados levam a resultados clínicos rio mínimo. De acordo com a literatura existe uma afinidade
desfavoráveis, implicando em prejuízo na saúde feminina e muito próxima entre baixo nível de escolaridade e renda
até a morte. salarial. Pessoas dentro desse grupo estão mais suscetíveis à
A necessidade de compreender e analisar os fatores rela- infecção do HPV. Sendo assim, analisa-se que essas usuárias
cionados ao desenvolvimento da doença remete ao conheci- estão sujeitadas a um maior risco da infecção, por usarem
mento das condições socioeconômicas, ambientais e políti- com menor periodicidade os serviços de promoção da saúde
cas, determinantes do processo saúde-doença de uma dada e à prevenção de doenças.23
coletividade. Desta forma, ao invés de considerar apenas o No que se refere à idade da primeira relação sexual, mais
conceito de fatores etiológicos e de risco, os quais se restrin- da metade das mulheres infectadas pelo HPV iniciaram ati-
gem aos aspectos biológicos, de caráter individual, os estu- vidade sexual antes dos 18 anos. De acordo com um estudo
dos devem se voltar para as características de determinantes transversal mulheres que iniciam a vida sexual muito cedo
nas coletividades.17 podem implicar em uma maior exposição, uma maior fre-
A prevalência do HPV em mulheres atendidas em uma quência de relações sexuais e maior número de parceiros.18
unidade básica de saúde do munícipio foi de 9,26%, ou seja, Já em relação à quantidade de parceiros sexuais, não
19 casos em 205 prontuários analisados. A pesquisa objeti- houve uma diferença significativa em relação às mulheres

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que tem um parceiro ou as que não têm parceiro fixo. Sendo (SIAB), sistema que apresenta todos os dados relacionados à
que o predomínio ocorreu em mulheres com apenas um saúde no Brasil. Dentro do SIAB existe o Sistema de Infor-
parceiro fixo. De acordo com um estudo realizado no Rio mação do câncer do colo do útero (SISCOLO), onde estão
de Janeiro, a prevalência de DST ocorre em mulheres que todas as informações acerca do exame preventivo no Brasil.
apresentam mais de dois parceiros, pois as mesmas apresen- Esse sistema gera informações das prevalências e incidências
tam uma maior exposição.24 Com isso a variabilidade de par- do câncer de colo do útero, como também a população mais
ceiros citados na literatura científica não se confirmou em acometida e a mais susceptível. Observa-se então a impor-
nossa amostra. tância desse registro para gerar informações relacionadas à
Também não houve diferença significativa entre as saúde e a doença da população.
mulheres com HPV que fazem uso de métodos contracepti-
vos hormonais. Principalmente pelo fato do não registro do
prontuário (63,1%). Há certa controvérsia acerca da impor-
tância dos anticoncepcionais em relação a incidência do
HPV, isso abre uma vasta discussão sobre o assunto. Alguns
autores acreditam que o método contraceptivo hormonal
é um fator que aumenta a incidência para o HPV devido a
alterações hormonais na mulher.19 Existem outros que afir-
mam que o anticoncepcional aumenta a atividade do vírus,
desde que a infecção já esteja instalada, estimulando a trans-
formação das oncogêneses virais.25

CONCLUSÕES
O estudo se mostrou relevante por caracterizar o per-
fil epidemiológico das usuárias atendidas em uma unidade
básica de saúde, onde foi observado que as mesmas se encon-
tram vulneráveis para o acometimento do HPV, pois se apre-
sentam como: jovens, casadas, de baixa escolaridade e renda
familiar e que iniciaram a vida sexual antes dos 18 anos.
Com isso, se faz essencial a introdução de práticas educa-
tivas em saúde no Bairro em questão, uma vez que a maioria
das fichas analisadas era de usuárias de baixa escolaridade e
consequentemente pouco conhecimento a cerca do assunto.
A educação em saúde deve ser implantada de forma recí-
proca entre a comunidade e a UBS que oferece esse serviço,
de forma a correlacionar a teoria e a prática vivenciada de
ambos os lados, sem autoritarismo do saber do profissional
de saúde. Contudo, com a tal inserção haverá uma maior
aproximação das usuárias com a temática DST visando à
conscientização dos os métodos de prevenção.
Entretanto, não se pode falar em práticas educativas sem
discorrer sobre o planejamento familiar que também deve
ser realizado nas UBS. Esse planejamento é uma ação rea-
lizada principalmente pelo enfermeiro da atenção básica
objetivando, além da gravidez não planejada e gestações
de alto risco, uma melhor qualidade de vida entre o casal a
família. No planejamento são oferecidos todos os métodos
contraceptivos, desde os hormonais que impede apenas a
gravides e os de barreira que, além disso, protege também
contra as DST. Então, entende-se que o fortalecimento do
planejamento familiar é de suma importância para manter
o número de filhos dentro do esperado pelas famílias e tam-
bém para a prevenção de infecções sexuais.
Outro ponto crucial é o registro correto das informações
para alimentar o Sistema de Informação da Atenção Básica

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