04-2024 - Atualização Da Recomendação HPV
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04-2024 - Atualização Da Recomendação HPV
08/04/2024
O HPV é um vírus com DNA de fita dupla, pertencente à família Papillomaviridae, com mais
de 200 tipos descritos; infecta pele e mucosas e atinge mulheres e homens. As infecções pelo
HPV variam, na sua maioria, de infecção clinicamente inaparente a verrugas genitais e lesões
mucosas, nos seus vários graus, podendo evoluir até o câncer. Dentre os 12 genótipos
oncogênicos do vírus HPV descritos, os tipos 16 e 18 são responsáveis por cerca de 71% dos
casos de câncer de colo de útero e por mais da metade dos casos de outros cânceres relacionados
ao HPV, enquanto os tipos 6 e 11 são responsáveis por cerca de 90% dos casos de verrugas
genitais.
A importância da infecção pelo HPV como problema de saúde pública em todo o mundo se
dá pela sua elevada frequência e associação com vários tipos de neoplasias como câncer de colo
de útero, pênis, vulva, canal anal e boca e em orofaringe. A infecção pelo HPV também está
associada ao desenvolvimento de verrugas anogenitais e papilomatose respiratória recorrente
(PRR), patologias classificadas como benignas, do ponto de vista oncogênico, mas que causam
grave comprometimento clínico e psicológico nos indivíduos afetados.
É bem conhecida a relação entre o vírus HPV e o câncer do colo do útero, sendo uma das
causas mais comuns de morte para as mulheres, ocupando a quarta posição dentre os cânceres
que mais afetam o sexo feminino em todo o mundo. Em 2020, as estatísticas globais aumentaram
para mais de 340.000 óbitos anuais e é provável que continuem a crescer, especialmente em
comunidades carentes e mais vulneráveis. Sem novas medidas, o número de novos casos deve
aumentar de 570 mil para 700 mil até 2030. E as mortes deverão subir para mais de 400 mil a
cada ano. No Brasil, é a quarta neoplasia maligna mais comum entre as mulheres, sendo superado
apenas pelo câncer de pele não melanoma, mama e colorretal, e a quarta causa de morte por
câncer em mulheres. Estima-se cerca de 16.050 novos casos e uma média de 6.500 mortes/ano.
Um estudo realizado em 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal (Estudo Epidemiológico sobre
a Prevalência Nacional da Infecção HPV/POP Brasil), que incluiu homens e mulheres entre 16 e
25 anos de idade, identificou taxas de prevalência de 52,3% a 63,5% de qualquer tipo de HPV, e
taxas de HPV de alto risco de 39,8% a 53,1%.
Ano Público-alvo
2014 Adolescentes do sexo feminino de 11 a 13 anos de idade
Meninas e adolescentes do Meninas e mulheres de 9 a 26 anos de idade vivendo
2015 sexo feminino de 9 a 13 com HIV/Aids
anos de idade
Meninas e adolescentes do Adolescentes do sexo Meninos e homens de 9 a 26
2017 sexo feminino de 9 a 14 masculino de 11 e 14 anos de idade vivendo com
anos de idade anos HIV/Aids.
Meninos, meninas, homens e mulheres de 9 a 26 anos, vivendo com HIV/Aids,
2018 transplantados de órgãos sólidos e de medula óssea e pacientes oncológicos
Meninas e mulheres de 9 a 45 anos, vivendo com HIV/Aids, transplantados de órgãos
2021 sólidos e de medula óssea e pacientes oncológicos
Meninos e adolescentes do Meninos, meninas, homens e mulheres de 9 a 45 anos,
2022 sexo masculino de 9 a 14 vivendo com HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos
anos de idade e de medula óssea e pacientes oncológicos
Até o momento 137 países em todo o mundo adotaram a vacinação contra HPV em seus
programas de imunizações. No entanto, 4 países implantaram de forma parcial e 53 países
localizados na Ásia e África, e 3 no continente americano, ainda não iniciaram essa vacinação.
Apesar da vacina HPV ser segura e muito efetiva na prevenção dos desfechos desfavoráveis
da infecção pelo vírus HPV, visto que os países com altas coberturas vacinais já conseguiram
diminuir o risco do câncer de colo do útero em mais de 80% e quase eliminar as verrugas genitais,
sua cobertura global é muito baixa, atingindo somente 12% das meninas de 9 a 14 anos. Tal
situação, sugere a existência de obstáculos ao sucesso da implementação dessa vacina, tais como:
restrições financeiras, falta de disponibilidade da vacina e dificuldades logísticas decorrentes das
iniquidades existentes entre os países de média e baixa renda. No Brasil, a coberturas vacinal
para meninas com a primeira dose atinge 76%, no entanto, para a segunda dose não alcança
60%. Em relação aos meninos, a cobertura com a primeira dose é de 42% e a segunda de 27%.
A cobertura vacinal no estado de São Paulo é de 77,1% (1ª dose) e 60,6% (2ª dose) para
meninas, já para os meninos a cobertura vacinal atingida é de 53,2% (1ª dose) e 33,7% (2ª
dose).
A idade ideal para a vacinação contra o HPV é 9 e 10 anos, no início da adolescência, antes
da exposição ao HPV.
Nos últimos 10 anos, diversos estudos realizados mostram evidências robustas de que uma
dose da vacina HPV, pode fornecer proteção igual a duas ou três doses (a depender da idade),
em áreas com altas coberturas vacinais. Tais resultados, somados as dificuldades enfrentadas por
muitos países na incorporação da vacinação contra o HPV, motivou a OMS em 2022, e a
Organização Pan-Americana da Saúde ( OPAS) em 2023, após minuciosa análise dos seus comitês
técnico-científicos (Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas em Imunização/SAGE/OMS)_e
Grupo Consultivo Técnico/TAG/OPAS), o posicionamento favorável à adoção de um esquema
vacinal de dose única da vacina HPV até 20 anos de idade; de duas doses com intervalo de 6
Av. Dr. Arnaldo, 351, 6º andar | CEP 01246-000 | São Paulo, SP
Fone: (11) 3066-8741
meses, a partir de 21 anos, e de 3 doses para pessoas imunocomprometidas, deixando a critério
dos países a adoção ou não essa recomendação.
Nos estudos de controle randomizados avaliando vacinação de dose única versus não
vacinação, a dose única demonstrou ser altamente eficaz na prevenção de infecções persistentes
pelos HPV oncogênicos relacionados ao tipo contidos na vacina. Foi demonstrado que dose única
da vacina HPV fornece um nível de proteção semelhante ao esquema de vacinação de 3 doses na
prevenção de infecções por HPV-16/18; o nível de proteção foi mantido até pelo menos 10 anos
após a vacinação. Dados de dose única foram gerados em diferentes regiões geográficas, inclusive
em meninas e mulheres jovens africanas. A imunogenicidade após uma única dose é semelhante
em meninos e meninas. Os dados em pessoas vivendo com HIV e Aids (PVHA) são limitados.
Outro estudo realizado na Escócia, sobre a incidência do câncer de colo de útero por idade,
número de doses e situação sócio-econômica com a vacina bivalente, demostrou que em meninas
com 12 e 13 anos de idade, vacinada com 1 ou 2 doses da vacina HPV, tiveram zero casos de
câncer cervical. Naquelas vacinadas com idade entre 14 a 22 anos houve redução significativa
desse câncer e as mulheres com privação sócio econômica foram as que tiveram a maior redução.
Segundo a OMS, a adoção da dose única, para a faixa etária de 9 a 20 anos de idade traria
as seguintes vantagens: uma maior adesão à vacinação, aumento da cobertura vacinal e
consequentemente imunidade de rebanho, oportunidade para a inclusão de outros públicos
prioritários, melhor logística e facilitação da introdução da vacina HPV em programas de
imunizações nos países de média e baixa renda, e aceleração da eliminação do câncer de colo do
útero, não só no Brasil, mas em nível mundial.
Relação dos países que adotaram a dose única está disponível pelo link
https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiNDIxZTFkZGUtMDQ1Ny00MDZkLThiZDktYWFlYTdkOGU
2NDcwIiwidCI6ImY2MTBjMGI3LWJkMjQtNGIzOS04MTBiLTNkYzI4MGFmYjU5MCIsImMiOjh9.
Em qualquer um dos cenários a eliminação do câncer de colo do útero pode ser alcançada.
O impacto da vacinação nas coortes vacinadas é de uma redução da incidência de câncer de 69-
79% e o tempo de eliminação depende das taxas de prevalência de HPV em cada estado ou região
e da cobertura vacinal. A região norte do Brasil seria a última região a alcançar a eliminação do
câncer de colo uterino, e o sudeste, a primeira. Logo, a adesão do esquema de dose única, bem
como a introdução do screening com DNA/HPV no país, aceleraria o alcance das metas. Ressalta-
se que o IARC fará essa modelagem em todos os estados, o que será importante para o
redirecionamento das ações nessa área.
Diante do exposto acima e ainda considerando que a menor evidência de proteção da dose
única para cânceres em outros sítios e nos homens, não significa que não haja eficácia, visto que
a imunidade para o HPV funciona em nível celular, e que não haveria razão para não gerar
proteção nos dois sexos, o PEI recomenda em consonância com o DPNI:
Quadro 2 - Especificações das condutas frente à situação vacinal contra o HPV econtrada.
Adolescentes de 9 a 14 anos
Situação Conduta Observação
Não vacinados (0 doses) Aplicar dose única Registrar como D1 nos sistemas de
informação enquanto o Mistério da Saúde
realiza ajustes no e-SUS e SI-PNI.
Vacinado com 1 dose, Considerar vacinado A partir da publicação da Nota Técnica nº
independente da idade 41/2024-CGICI/DPNI/SVSA/MS considerar
que recebeu a dose esquema completo com dose única.
Vacinado com 2 doses Considerar vacinado Esquema recomendado antes da
publicação da Nota Técnica.
Quadro 3- Especificações das condutas frente à situação vacinal contra o HPV econtrada.
Referências
Divisão de Imunização/CVE/CCD/SES-SP