Resumo: Infecção Pelo HPV Na Adolescente
Resumo: Infecção Pelo HPV Na Adolescente
Resumo: Infecção Pelo HPV Na Adolescente
Resumo
Francisca Lopes dos Santos Macêdo1
Elisvania Rodrigues da Silva2
O início sexual cada vez mais precoce propicia alta vulnerabilidade das
Lázaro Rogério Carvalho Soares3
Veronésia Maria de Sena Rosal4 adolescentes, desde problemas na esfera sexual, como doenças sexualmente transmissíveis (DST), incluindo
Nathacha Adriela Lima Carvalho5 a infecção pelo papilomavírus humano (HPV), até reprodutiva. Apesar de o risco de desenvolvimento de
Maria Gabrielle de Lima Rocha6 lesões pré‑malignas e malignas ser pequeno nessa população, as condutas a serem tomadas em relação ao
rastreamento, diagnóstico e tratamento são controversas. O câncer do colo do útero, em geral, tem evolução
Palavras-chave lenta, apresentando fases que, se diagnosticadas e tratadas adequadamente, podem ter cura. Entretanto, as
Adolescente taxas de morbimortalidade por câncer do colo do útero continuam altas. Em países como o Brasil, em que o
HPV combate depende quase exclusivamente do exame citológico, ainda são necessários outros esforços. O objetivo
Câncer do colo do útero
deste estudo foi levantar dados e informações sobre as consequências da infecção por HPV na adolescente, seu
Keywords diagnóstico e condutas a serem tomadas.
Adolescent
Papillomaviridae
Uterine cervical neoplasms
Trabalho realizado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCM-MG) – Belo
Horizonte (MG), Brasil.
1
Médica. Especialista em Ginecologia e Obstetrícia da Maternidade Dona Evangelina Rosa – Teresina (PI), Brasil.
2
Médica. Especialista em Ginecologia e Obstetrícia e em Mastologia da Clínica de Urologia e Ginecologia (UROGIN) – Teresina (PI), Brasil.
3
Médico. Especialista em Urologia do Hospital Getúlio Vargas – Teresina (PI), Brasil.
4
Psicóloga. Mestranda em Farmacologia Clínica pela Universidade Federal do Ceará (UFC) – Teresina (PI), Brasil.
5
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) – Teresina (PI), Brasil.
6
Farmacêutica Bioquímica. Doutora em Ciências Farmacêuticas. Professora de Citologia Clínica da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) – Belo Horizonte (MG), Brasil.
Endereço para correspondência: Francisca Lopes dos Santos Macêdo – Avenida Presidente Kennedy, 4.560, Condomínio Terra dos Pássaros,
Casa 39 – Morros – CEP: 640062-005 – Teresina (PI), Brasil – E-mail: fcalopes@ibest.com.br
Conflito de interesses: não há.
Macêdo FLS, Silva ER, Soares LRC, Rosal VMS, Carvalho NAL, Rocha MGL
Apesar de os adolescentes estarem aptos fisiologicamente, o Na adolescência, a atividade biológica cervical está em
início precoce da atividade sexual, associado a fatores biológicos, nível máximo. Nessa fase, a replicação celular e as substâncias
psíquicos e sociais, pode aumentar a vulnerabilidade a infec‑ presentes no meio cervical facilitam a infecção por HPV.
ções, tornando‑os alvo preferencial para as doenças sexualmente Após a adolescência, a frequência da infecção nas mulheres
transmissíveis (DST). Do ponto de vista biológico, destaca‑se diminui com a idade 2. Panisset e Fonseca 3 relatam que o
a fragilidade do epitélio do colo do útero, quando comparado colo uterino de adolescentes, na maioria das vezes, apresenta
ao colo mais maduro, tornando‑o mais susceptível a infecções. ectopia e zona de transformação imatura. Na menacme,
A cronicidade de processos agressivos ao colo uterino, associada apenas 20% das mulheres apresentarão essas alterações. Esse
a fatores de risco, pode originar perturbações na evolução dos processo de eversão expõe a mucosa glandular, que, por ser
diferentes estágios de maturação das células metaplásicas, pre‑ mais frágil, sofre agressão do pH ácido do meio vaginal,
sente na zona de transformação. Células do epitélio cilíndrico de microrganismos e/ou por traumas, contribuindo para
endocervical são expostas ao meio ambiente vaginal, cuja ex‑ o desenvolvimento de processos inflamatórios crônicos na
posição favorece a proliferação de células jovens (metaplásicas), cérvice. A presença de ectopia cervical pode ser considerada
mais receptivas à infecção1. O papilomavírus humano (HPV) é um fator de risco para várias DST, sendo a infecção pelo
muito frequente entre os adolescentes, uma vez que as relações HPV uma das mais comuns. Isso acontece porque, a partir
sexuais nessa população acontecem com um grande número de de microfissuras, o HPV pode atingir as células basais e
parceiros e muitas vezes sem preservativo, o que contribui para iniciar o processo de replicação viral e o desenvolvimento
o aumento da ocorrência da infecção. Na maioria dos casos, a de lesões cervicais pré‑neoplásicas ou neoplásicas4.
infecção se manifesta na forma latente e não existe o desenvolvi‑ Nas mulheres, a prevalência máxima de infecções transitórias
mento de lesões, o que dificulta o diagnóstico. Sem informação e por tipos carcinogênicos do HPV se apresenta na adolescência; as
sem prevenção, o vírus pode ser disseminado de um adolescente lesões pré‑cancerosas se manifestam aproximadamente 10 anos
para o outro, aumentando o número de pessoas contaminadas, mais tarde; e a de doença invasiva, na faixa de 40 a 50 anos de
sendo essa situação um problema de saúde pública. Cerca da idade5. A Figura 1 mostra que nas mulheres, a prevalência má‑
metade de todas as mulheres diagnosticadas com câncer do colo xima de infecções transitórias por tipos carcinogênicos do HPV
do útero tem entre 35 e 55 anos de idade e muito provavelmente (linha verde) ocorre na adolescência. A prevalência máxima de
foi exposta ao HPV na adolescência. O entendimento sobre a lesões pré‑cancerosas se apresenta aproximadamente 10 anos mais
importância da infecção por HPV e os riscos de desenvolvimento tarde (linha lilás) e a de doença invasiva, nomeadamente câncer
de lesões pré‑malignas e malignas nessa população é pequeno. do colo uterino (CCU), por volta dos 40 a 50 anos (linha azul).
Há muitas controvérsias quanto às condutas, em relação ao A prevenção baseia-se em um programa de rastreio citológico,
rastreamento, ao diagnóstico e ao tratamento dessas alterações.
O objetivo deste estudo foi levantar dados e informações sobre
as consequências da infecção por HPV na adolescência, seu
diagnóstico e condutas a serem tomadas.
Persistência viral
Colo e progressão
Colo infectado Lesão pré-
Metodologia normal com HPV Regressão cancerosa Invasão
Cancro
referido, bem como a pertinência com os descritores selecionados. Figura 1 - História natural da infecção pelo papilomavírus humano
incluindo o teste de Papanicolau (Pap) e a colposcopia (setas gênicos (alto risco) têm o potencial de evolução para carcinoma
marrons)5. Embora o vírus HPV possa acometer pessoas de invasivo. O câncer cervical é raro em adolescentes, com apenas
qualquer idade, é mais frequente em mulheres jovens, no cerca de 0,2% dos casos diagnosticados em idade inferior a
período de maior atividade sexual. Na adolescência, as taxas 20 anos. Portanto, o rastreamento por citologia cervical não é
de prevalência cumulativa da infecção são altas, chegando recomendado nessa população11. Triagem em mulheres com
a atingir 82% das adolescentes em populações seletas. idade inferior a 25 anos pode levar ao tratamento de lesões
No Brasil, os dados estatísticos são escassos e não traduzem que podem regredir espontaneamente, além de o rastreio
a verdadeira magnitude da infecção induzida pelo HPV. excessivo poder causar danos físicos e psicológicos e resultar
No entanto, confirmam a tendência mundial de avanço 3. em gastos desnecessários de saúde. A alta prevalência da
As alterações frequentemente encontradas em adolescentes infecção por HPV faz da vacina importante ferramenta de
são as lesões de baixo grau, que, na maioria das vezes, regri‑ prevenção primária com potencial de impactar significativa‑
dem espontaneamente mesmo sem tratamento. Entretanto, mente no desenvolvimento de lesões cervicais de alto grau,
não se pode ignorar o risco de progressão para lesão de alto inclusive o câncer.
grau e carcinoma se não tratadas as lesões provocadas por
HPVs de alto risco 6. A primoinfecção ocorre no início da Conclusão
atividade sexual e tem acontecido em idades precoces, de
forma que a janela temporal entre o início da infecção e as Na adolescente, alguns aspectos quanto ao rastreamento e
alterações citológicas e histológicas é variável, associando‑se tratamento das lesões do colo uterino ainda são controversos.
a imunidade, carga viral do HPV e fatores ambientais 7. A maioria dos dados existentes na literatura não recomenda
A maioria das infecções pelo vírus HPV é benigna, desapa‑ a realização do exame preventivo nessa população, já que a
recendo espontaneamente em um período entre 1 e 5 anos. maioria dos processos infecciosos regride espontaneamente
Pelo menos 80% dos casos regridem espontaneamente, sem e a maior parte das pacientes que apresentam alterações
evoluir para infecção persistente ou com potencial para possui lesões simples, não precursoras do câncer. Todavia,
o câncer 8. Apesar de na maioria das vezes a infecção por a iniciação sexual cada vez mais precoce tem preocupado
HPV ser transitória, alguns indivíduos terão persistência os profissionais de saúde e antecipado o aparecimento de
da infecção e essa persistência está fortemente associada ao lesões mais graves. Mas, mesmo assim, a literatura sugere
câncer e ao HPV de alto risco9. Acredita‑se que o vírus pode uma conduta expectante, recomendando o acompanhamento
permanecer por muitos anos nesse estado latente e que as da evolução da lesão com repetições anuais do exame cito‑
recidivas de lesões estão relacionadas à saída do vírus dos patológico. A vacina contra HPV pode ser um importante
“reservatórios” ou ainda à possível infecção por outros tipos instrumento de prevenção do câncer do colo do útero.
virais. Os fatores que determinam a persistência da infecção Entretanto, trata‑se de um investimento em saúde em longo
e sua progressão para lesões intraepiteliais de alto grau são prazo, considerando que é administrada em adolescentes e
os tipos virais presentes e cofatores, entre eles, o estado cujo benefício só será percebido na idade adulta. Também,
imunológico, o tabagismo, entre outros. As mulheres mais não se deve esquecer de que a vacina servirá apenas para
jovens, menores de 21 anos, não devem ser selecionadas para os tipos virais mais frequentes, os HPVs 16, 18, 31 e 45,
realização de rastreio, independentemente da idade em que responsáveis pela maioria dos casos de câncer do útero; e os
começaram a ser sexualmente ativas. Apesar das elevadas HPVs 6 e 11, responsáveis por 90% dos casos de condiloma
taxas de infecção e reinfecção, a progressão ao câncer cer‑ acuminado, o que ainda não descarta a necessidade de rea‑
vical em adolescentes é desprezível. Assim, o foco para a lização de exames preventivos periódicos. Embora a vacina
prevenção do câncer do colo do útero em adolescentes deve seja considerada um importante avanço científico, ela não
estar na vacinação contra o HPV antes do início da atividade substitui os modelos preventivos adotados até agora para o
sexual10. Embora a taxa de infecção em adolescentes seja alta, controle das DST. Ressalta‑se a necessidade de programas
de até 82% em algumas populações, a maioria das infecções por de educação sexual para os adolescentes reforçando a im‑
HPV é compensada pelo sistema imunológico em um período portância do sexo seguro, o risco de DST ao se ter grande
de 2 a 3 anos. Somente infecções persistentes com tipos onco‑ número de parceiros e a importância do uso de preservativo.
Leituras suplementares
1. Eleutério R, Oliveira M, Jacyntho C, Eleutério Junior J, Freitas Junior. Identificação 7. Zimmermmann J, Machado T, Bastos D, Santos H, Simão R. Aspectos ginecológicos
de DNA-HPV em adolescentes e mulheres jovens sem coito vaginal. DST - J Bras e frequência de infecções do trato genital inferior em pacientes adolescentes e
Doenças Sex Transm. 2011;23(2):66. adultas: existem diferenças? Rev HCPA. 2012;32(2):169-76.
2. Pinto A, Rodrigues H. Percepção de saúde e doenças sexualmente transmissíveis em 8. Nagakawa J, Schirmer J, Barbieri M. Vírus HPV e câncer de colo de útero. Rev
escolares. Belém (PA): Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Bras Enferm. 2010;63(2):307-11.
da Amazônia; 2009.
9. Fernandes M, Novaes H, Andrade C. Câncer de colo de útero: a vacina para
3. Panisset K, Fonseca V. Patologia cervical na gestante adolescente. Adolescência
prevenção do HPV e o desafio para a melhoria da qualidade do rastreamento
e Saúde. 2009;6(4):33-40.
no Brasil. Boletim Brasileiro de Avaliação de Tecnologias em Saúde – BRATS.
4. Coser J, Fontoura S, Belmonte C, Vargas V. Relação entre fatores de risco e lesão
2011;6(17):1-16.
precursora do câncer do colo do útero em mulheres com e sem ectopia cervical.
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6. Cirino FMSB, Nichita LYI, Borges ALV. Conhecimento, atitude e práticas na prevenção adolescent women: implications in management of a positive HPV test. Pathology
do câncer de colo uterino e HPV em adolescentes. Esc Anna Nery. 2010;14(1):87-95. Research International. 2014;4:1-4.