BRITO Et Al., 2022 Maranhão
BRITO Et Al., 2022 Maranhão
BRITO Et Al., 2022 Maranhão
com
ABSTRATO
Fundo. A alta prevalência e incidência de tumores de cabeça e pescoço fazem do Brasil o
terceiro país com maior número de casos dessas neoplasias malignas. Os principais fatores de
risco são o tabagismo e o consumo de álcool; no entanto, o número de casos relacionados
com o papilomavírus humano (HPV) triplicou, demonstrando uma mudança no perfil da
doença. Estudos relataram que a prevalência de HPV no carcinoma espinocelular de laringe
(LSCC) varia entre 8% e 83%. O papel do HPV como um importante fator causador do LSCC
permanece obscuro.
Métodos. Este estudo retrospectivo incluiu 82 pacientes com CECE diagnosticados entre 2014
e 2019 em dois hospitais oncológicos de São Luís, Brasil. Os dados sociodemográficos, clínicos
e as características histopatológicas dos tumores foram coletados diretamente dos
prontuários. O material genético foi extraído de amostras embebidas em parafina por meio de
Submetido8 de março de 2022
reação em cadeia da polimerase (PCR) e sequenciamento automatizado para detecção e
Aceitaram14 de junho de 2022
Publicados12 de julho de 2022 genotipagem do HPV. Os resultados por variáveis sociais e clinicopatológicas foram então
comparados por meio do teste qui-quadrado e análise multivariada.
autor correspondente
Flávia Castello Branco Vidal, Resultados. As análises sociodemográficas demonstraram que a maioria dos pacientes eram
[email protected] homens (87,8%), pardos (75,6%) e residentes na capital (53,7%). Eles geralmente tinham baixa
Editor acadêmico escolaridade (53,7%), possuíam apenas o ensino fundamental (completo/incompleto) e 51,2%
Vladímir Uversky trabalhavam por conta própria em ocupações como agricultura ou pesca. Hábitos de tabagismo e
Informações adicionais e consumo de álcool foram observados em aproximadamente metade dos pacientes. Com relação às
declarações podem ser características clínicas, 39% dos pacientes apresentavam estadiamento T1/T2, 51,2% não
encontradas na página 9
apresentavam metástase à distância e 30,5% apresentavam invasão linfonodal. O DNA do HPV foi
DOI10.7717/peerj.13684 detectado em metade das amostras (50%), sendo o tipo 16 altamente oncogênico o mais prevalente.
Não houve relação significativa observada entre os aspectos econômicos, educacionais e
direito autoral
2022 Brito et al. ocupacionais com o HPV LSCC nos dados apresentados, embora a análise multivariada tenha
demonstrado que o DNA do HPV tinha maior probabilidade de estar presente em tumores T3-T4 (p
Distribuído sob
=0.002).
Creative Commons CC-BY 4.0
ACESSO ABERTO S
Como citar este artigoBrito C, Cossetti RD, de Souza DA, Catanha M, de Matos Monteiro P, Vidal FCB. 2022. Prevalência de genótipos de HPV e
avaliação de sua relevância clínica no carcinoma espinocelular de laringe em um estado do Nordeste do Brasil – um estudo retrospectivo.PeerJ10
:e13684http://doi.org/10.7717/peerj.13684
assuntosBiologia Molecular, Virologia, Doenças Infecciosas, Oncologia
Palavras-chaveInfecções por papilomavírus, Neoplasias laríngeas, Carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço,
Prevalência
INTRODUÇÃO
A alta incidência e prevalência do carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço fazem do Brasil o
país com o terceiro maior número de casos dessa neoplasia maligna (Johnson et al., 2020). A
mortalidade por esta doença é elevada dependendo do estágio da lesão no momento do
diagnóstico, sendo a doença a sexta causa de morte no mundo (Cohen et al., 2019; Johnson et al.,
2020).
O carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço constitui um grupo diversificado de cânceres
com diferentes comportamentos e prognósticos, necessitando de diferentes abordagens de
tratamento. A doença pode ocorrer em vários locais, como cavidade oral, orofaringe, nasofaringe,
hipofaringe, laringe, seios paranasais e glândulas salivares.Cohen et al., 2019). A exposição a
agentes cancerígenos, incluindo tabaco e álcool, é o factor causal dominante. Na última década,
descobriu-se que o papilomavírus humano (HPV) desempenha um papel na carcinogênese
orofaríngea, e o envolvimento do HPV em outros locais da cabeça e pescoço tornou-se mais
proeminente.Amit et al., 2016).
O papel do HPV no carcinoma espinocelular de orofaringe está bem estabelecido; no entanto,
seu papel no carcinoma espinocelular de laringe (LSCC) permanece obscuro. A prevalência
relatada de HPV no LSCC varia muito entre os estudos, variando de 8% a 83% (Zhang et al., 2016;
Erkul et al., 2017;Tong et al., 2018;Vázquez-Guillen et al., 2018; Yang et al., 2019). O tipo de HPV
mais frequentemente isolado em tumores de laringe é o tipo 16, geralmente seguido pelo tipo 18.
Kariche et al., 2018;Dogantemur et al., 2020).
O LSCC é o segundo carcinoma espinocelular mais comum de cabeça e pescoço (Vázquez-Guillen et
al., 2018). É altamente metastático, com uma taxa de sobrevivência de 5 anos que não excede 50% para
tumores em estágio IV.Kariche et al., 2018). Ocorre principalmente entre a quinta e a sétima década de
vida e afeta predominantemente homens (Instituto Nacional do Câncer do Brasil, 2020). No Brasil, a taxa
de incidência anual padronizada por idade por 100.000 homens é de 5,33, em comparação com 4,18 na
América do Sul e 3,59 em todo o mundo (OIC, 2016). A incidência de mortalidade também é maior no
Brasil, de 4,45 em comparação com 3,21 na América do Sul e 2,17 em todo o mundo (OIC, 2016)
Tal como no cancro da cabeça e pescoço, o HPV é um importante factor prognóstico no LSCC,
considerado como possivelmente influenciando o prognóstico e as decisões de tratamento.Huang e
O'Sullivan, 2017). Existem poucos estudos brasileiros sobre câncer de laringe associado à infecção por
HPV e nenhum incluiu pacientes do estado do Maranhão, que fica em uma região muito pobre do Brasil.
Nosso objetivo no presente estudo foi, portanto, realizar uma análise retrospectiva da prevalência do
HPV e seus genótipos como fatores no desenvolvimento do câncer de laringe na população afetada na
região Nordeste do Brasil.
Critério de inclusão
Os pacientes foram incluídos quando blocos de parafina e lâminas histológicas de carcinoma de laringe,
provenientes de biópsia ou de tratamento cirúrgico em qualquer fase do seguimento, estavam disponíveis nos
arquivos dos serviços de patologia.
Critério de exclusão
Os pacientes foram excluídos caso seus prontuários e/ou blocos tumorais de parafina não fossem
encontrados ou não fossem suficientes para análise laboratorial no estudo.
Análise estatística
As variáveis categóricas são apresentadas como porcentagens e o teste qui-quadrado foi utilizado para
comparações entre grupos. A significância estatística foi fixada emp <0.05. Após análise univariada,
variáveis significativas (p <0.05) foram selecionados para análise de regressão logística binária para
avaliar sua relação com a infecção pelo HPV.
RESULTADOS
A análise mostrou que a maioria dos pacientes eram homens (87,8%), pardos (75,6%) e procedentes da
capital do estado (53,7%). Além disso, 53,7% tinham apenas o ensino fundamental (completo/incompleto)
e 51,2% trabalhavam por conta própria em ocupações como agricultura ou pesca. Os dados de
estadiamento do câncer de laringe mostraram que 29,3% apresentavam doença em estágio N0; 39%,
estágio T1/T2; e 51,2%, estágio M0. Por fim, 51,2% eram não fumantes e 57,3% não alcoólatras (tabela 1).
Análises de HPV por nested PCR demonstraram que metade das amostras foram positivas para
o vírus. Os pacientes foram, portanto, divididos em dois grupos: HPV+ e HPV–.
Na análise univariada do qui-quadrado entre os dois grupos, apenas a localização residencial, o
estágio T e o tabagismo foram estatisticamente significativos (p <0.05,tabela 1). Uma análise de
regressão logística binária multivariada foi então realizada para verificar as relações entre essas
variáveis e a presença de HPV.
Na análise multivariada, a localização residencial não foi significativa em termos de sua relação
com a infecção pelo HPV, e o tabagismo não foi uma variável explicativa para a infecção pelo HPV.
Em contrapartida, o estágio da doença T3/T4 diminuiu as chances de o paciente pertencer ao
grupo HPV em 0,234 (IC 0,066 a 0,837,p <0.05;mesa 2) e aumentou as chances do paciente
pertencer ao grupo HPV+.
figura 1mostra os tipos de HPV encontrados em amostras de câncer de laringe HPV+. Os tipos 16, 45
e 33 de alto risco oncogênico foram observados na maioria dos pacientes (68,3%). O tipo 6, um HPV de
baixo risco, foi encontrado em 1 paciente. Em 12 amostras não foi possível a determinação do tipo de
HPV pela técnica de sequenciamento automático. O HPV 16 foi o tipo mais prevalente nesta coorte (n=22,
53,65%).
DISCUSSÃO
De acordo com publicações recentes, a idade média dos pacientes com câncer de laringe é de 65
anos, com maior proporção de homens do que de mulheres (Kariche et al., 2018;Tong et al., 2018;
Koroulakis e Agarwal, 2022). Nossos pacientes eram predominantemente homens e eram um
pouco mais jovens, com idade média de 62 ou 63 anos (grupos HPV+ e HPV-).
Analisando a distribuição geográfica, os pacientes com câncer de laringe HPV+ vieram principalmente
da capital, enquanto os pacientes com câncer de laringe HPV+ vieram principalmente do interior do
estado. A diferença foi estatisticamente significativa pelo teste qui-quadrado, mas essa significância foi
perdida quando a regressão logística binária foi aplicada. Diferenças entre
pacientes dependendo das regiões geográficas em que vivem são possivelmente atribuíveis a
diferentes hábitos sociais e sexuais (Hoffmann e Quabius, 2021).
O tabagismo é um importante fator de risco na patogênese dos tumores laríngeos.Zhang et al.,
2016;Erkul et al., 2017;Tong et al., 2018;Koroulakis e Agarwal, 2022). Geralmente, os pacientes não
fumantes são em sua maioria HPV+ e os fumantes são em sua maioria HPV–(Xu et al., 2014;
Papilomavírus humano
Estadiamento T
Fumar
Sim 0,484 (0,191–1,230) 2.325 0,127
Não Referência
Notas.
Os dados foram avaliados por análise de regressão logística binária. A significância estatística foi fixada emp <0.05. OR, razão
de chances; IC, intervalo de confiança.
figura 1Distribuição de pacientes com câncer de laringe (n=41) estratificado por tipo de HPV.
DOI em tamanho real: 10.7717/peerj.13684/fig-1
Hoffmann e Quabius, 2021). Uma distribuição semelhante foi observada em nossa população de estudo.
No grupo HPV+ predominaram os não fumantes, enquanto no grupo HPV a maioria dos pacientes eram
fumantes.p<0,05). Contudo, a significância estatística desta variável foi perdida quando a regressão
logística binária foi aplicada.
Em outros estudos, não foi encontrada relação significativa entre tabagismo e presença de
HPV; ambas as variáveis devem, portanto, ser consideradas como fatores independentes no
processo oncogênico da laringe (Sánchez Barrueco et al., 2017;Dogantemur et al., 2020).
Estudos epidemiológicos relataram que as taxas de infecção por HPV no câncer de laringe variam de
8% a 83% (Zhang et al., 2016;Erkul et al., 2017;Tong et al., 2018;Vázquez-Guillen et al., 2018;Yang et al.,
2019). Estas diferenças nos resultados podem ser atribuídas a uma variedade de factores, tais como
diferenças na distribuição geográfica da população, grupo étnico (diferentes culturas), tipo de material
biológico analisado (fresco ou fixado em formalina) e sensibilidade e especificidade dos métodos de
teste utilizados. (Gama et al., 2016).
Em nosso estudo, metade das amostras continha DNA do HPV. Para detecção do HPV foram
utilizadas amostras fixadas em formalina e nested PCR com primers PGMY09/11 e GP5+/6+ (Gravitt
et al., 2000). A sensibilidade deste método e a sua capacidade de amplificar e detectar mais de 25
genótipos de HPV levaram-no a ser considerado um “padrão ouro” para a detecção de HPV (Abreu
et al., 2012;Li et al., 2013;Hoffmann e Quabius, 2021).
Vázquez-Guillen et al. (2018)relataram uma prevalência de DNA de HPV de 47,7% em suas 195
amostras de LSCC fixadas em formalina de uma população mexicana. Eles usaram um método molecular
baseado na hibridização reversa (Vázquez-Guillen et al., 2018).Tong et al. (2018) analisaram 211 pacientes
chineses com LSCC. Eles também usaram o método nested PCR para detectar DNA do HPV e
encontraram uma prevalência um pouco maior que a nossa, 62,6% (Tong et al., 2018).
Em relação à distribuição geográfica, revisões sistemáticas e estudos de meta-análise demonstraram
que a prevalência do HPV é significativamente maior na América do Sul, em comparação com a Ásia,
América do Norte e Europa (Kreimer et al., 2005;Li et al., 2013). Dois estudos turcos revelaram uma
prevalência de DNA do HPV de 12,2% e 26,02% (Erkul et al., 2017;Dogantemur et al., 2020), semelhante a
um estudo espanhol em que o DNA do HPV foi detectado em 22,76% das amostras (Sánchez Barrueco et
al., 2017).Hernández et al. (2014)observaram uma prevalência de DNA do HPV de 21% em uma
população americana.
CONCLUSÕES
Nossos achados demonstram uma importante prevalência de HPV em uma amostra de tumores
epidermóides de laringe em uma população do Nordeste do Brasil, sendo o tipo altamente oncogênico
16 o genótipo de HPV mais prevalente. Além disso, pacientes com LSCC HPV+ apresentaram maior índice
de tumores T3-T4. Nosso estudo é o primeiro no Brasil a incluir apenas tumores de laringe em uma
população nordestina. Esses dados são importantes para melhorar nosso conhecimento sobre o papel e
as consequências da infecção pelo HPV nos tumores de laringe. As limitações incluem o esclarecimento
do efeito do HPV no prognóstico do LSCC, visto que alguns dados importantes estavam ausentes nos
prontuários. Mais estudos para avaliação de marcadores moleculares como a expressão de p16 e p53
são necessários para esclarecer as modificações proteicas que o HPV pode causar no CEC de laringe.
RECONHECIMENTOS
Agradecemos ao Instituto Maranhense de Oncologia Aldenora Belo e ao Hospital Geral Tarquínio Lopes
Filho pelo acesso aos blocos de parafina, lâminas histológicas e dados clínicos e anatomopatológicos dos
pacientes com CEC de carcinoma de células de células e amostras para a pesquisa.
Financiamento
Este estudo foi financiado por bolsas da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento
Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) UNIVERSAL-00634/18. Os financiadores não
tiveram nenhum papel no desenho do estudo, na coleta e análise de dados, na decisão de
publicação ou na preparação do manuscrito.
Divulgações de subvenções
Interesses competitivos
Os autores declaram que não há interesses conflitantes.
Contribuições do autor
• Charlles Brito realizou os experimentos, analisou os dados, preparou figuras e/ou
tabelas, escreveu ou revisou a versão do artigo e aprovou a versão final.
• Rachel D. Cossetti concebeu e projetou os experimentos, foi autora ou revisou os
rascunhos do artigo e aprovou a versão final.
Ética Humana
As seguintes informações foram fornecidas em relação às aprovações éticas (ou seja, órgão de aprovação e
quaisquer números de referência):
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do
Maranhão (registro número 3.023.486).
Deposição de DNA
As seguintes informações foram fornecidas sobre a deposição de sequências de DNA:
As sequências estão disponíveis no GenBank:
11L:MG850215.1; 14L:MG850244.1; 18L:MN542782.1; 2L:AF548835.1; 23L:
MK716218.1; 24L:MG849618.1; 30L:MG849618.1; 31L:MK387724.1; 32L:EF140818.1; 33L:
MG849618.1; 35L:MG850334.1; 36L:DQ422750.1; 37L:HE798674.1; 38L: KU707481.1; 39L:
MG849618.1; 40L:MK387724.1; 42L:KY595153.1; 43L:HE798668.1; 44L:DQ218252.1; 48L:
LC155251.1; 50L:MG849618.1; 51L:MG849618.1; 53L: MG849618.1; 62L:DQ422750.1; 63L:
MG850720.1; 64L:MK387724.1; 65L:HE798674.1; 66L:MK387724.1; 69L:KJ571159.1; 71L:
JN617898.1; 72L:LC456609.1; 73L:MG848363.1; 75L:MG847721.1; 76L:MG850288.1; 81L:
MG848784.1; 82L:LC155238.1; 83L: MK716218.1; 88L:LC155240.1; 104L:MG848784.1.
Disponibilidade de dados
Informação complementar
Informações complementares para este artigo podem ser encontradas online emhttp://dx.doi.org/
10.7717/peerj.13684#supplemental-information.
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