Epistemologia

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Análise Fenomenológica do Conhecimento

A fenomenologia procura descrever os fenómenos que aparecem à consciência do


sujeito. Deste modo, a fenomenologia do conhecimento visa descrever e explicar o próprio ato
do conhecimento, evidenciando as suas ideias básicas: o que significa ser sujeito, o que
significa ser objeto e que tipo de relação ambos estabelecem entre si. Assim, podemos dizer
que a análise fenomenológica do conhecimento é a sua “descrição pura”.

No ato do conhecimento há sempre dois elementos necessários: o sujeito


(“cognoscente”) e o objeto (“cognoscível”). A relação tão íntima, em termos filosóficos, que se
estabelece entre estes é o próprio conhecimento.

A sua relação é recíproca, pois o sujeito só o é em função do objeto e o objeto só é


objeto em relação ao sujeito. Além disso, estes não são permutáveis, ou seja, a sua relação não
é reversível, uma vez que desempenham funções distintas: o sujeito pretende apreender as
determinações do objeto e este, por sua vez, deixa-se ser apreendido e pretende sê-lo,
efetivamente. Por fim, é necessário ressaltar a oposição entre estes dois elementos: ainda que
estabeleçam uma relação íntima, são independentes, isto é, o sujeito é exterior ao objeto e o
objeto é também exterior ao sujeito, por outras palavras, são transcendentes um ao outro.

Há três momentos do ato de conhecer: no primeiro momento, o sujeito sai da sua


esfera, sai de si mesmo em direção à esfera do objeto; de seguida, apreende as
determinações/qualidades do objeto; finalmente, regressa à sua esfera e introduz as
qualidades apreendidas na mesma, formando-se uma imagem do objeto na consciência do
sujeito.

Vale a pena ressaltar que, neste ato, as determinações do objeto não são retiradas ao
mesmo, apenas são apreendidas, sendo que o objeto não entra fisicamente na consciência do
sujeito, mas sim a imagem do objeto. Além disso, enquanto que o objeto é passivo nesta
relação, pois sai inalterado, o sujeito é enriquecido, pois introduziu na sua esfera as
características do sujeito. Por outras palavras, o conhecimento é a determinação do sujeito
pelo objeto.

Tipos de Conhecimento
Há três tipos de conhecimento: o conhecimento prático, o conhecimento por contacto
e o conhecimento proposicional.

O saber prático refere-se á capacidade que um indivíduo tem para realizar uma certa
atividade, sendo essa atividade o seu objeto.

O conhecimento por contacto adquire-se através de uma experiência direta: o sujeito


conhece diretamente o objeto, nomeadamente através dos sentidos externos (visão, audição,
tato, olfato, …). O seu objeto são lugares, pessoas ou coisas.

Por fim, o conhecimento proposicional tem a ver com saber que certas proposições
(pensamentos expressos for frases declarativas), são verdadeiras, sendo essas o seu objeto.

A Definição Tradicional de Conhecimento


Não se pode conhecer algo sem se acreditar no que se diz conhecer. Dizer que se
conhece uma crença, mas que não se acredita nela, é contraditório, pois uma crença é um
estado mental de adesão a uma ideia, e se não aderimos a essa ideia, então não a
conhecemos. Deste modo, para que haja conhecimento tem de haver uma crença, mas não só.

Embora, pensemos que as nossas crenças são verdadeiras, caso contrário não as
teríamos, elas podem não sê-lo efetivamente: temos de admitir que a falsidade das crenças é
uma possibilidade. Neste sentido, e sabendo que o objeto do conhecimento são proposições
verdadeiras e que não é possível conhecer o que é falso, a segunda condição obrigatória para
que haja conhecimento é a verdade das crenças: se é conhecimento, é verdadeiro. Mas, ainda
não é requisito suficiente.

O terceiro e último requisito do saber é a justificação adequada das crenças. Por outras
palavras, temos de justificar a veracidade das proposições em que acreditamos, com uma
justificação adequada e baseada na razão. Se dizemos que os átomos têm um núcleo com
cargas positivas e cargas neutras, simplesmente porque gostamos da ideia de o núcleo do
átomo ter carga positiva, então não temos conhecimento, pois embora a nossa crença seja
verdadeira, não é justificada adequadamente. No entanto, se afirmarmos a veracidade dessa
mesma proposição porque lemos artigos científicos que explicam e comprovam o assunto,
então temos uma crença verdadeira e justificada na razão, isto, é temos conhecimento.

Assim, segundo a definição tradicional de conhecimento, para que este exista é


necessário que hajam três condições obrigatórias, que, no seu conjunto, são condição
suficiente para o conhecimento: primeiro é necessário ter uma crença; esta tem, então, de ser
verdadeira; por último, precisa-se de uma justificação adequada e epistémica que a sustente.

Modalidades do Conhecimento Proposicional


Há dois tipos de conhecimento proposicional: “a priori” e “a posteriori”.

Por um lado, a priori significa “anterior à experiência”. Desta maneira, o conhecimento


“a priori” é aquele que pode ser obtido sem recorrer à experiência, pois é anterior a esta,
podendo ser alcançado através do pensamento, da razão. O conhecimento “a priori” é
universal e necessário: universal porque não admite qualquer exceção; necessário, pois é
verdadeiro em todo lado, para todos os seres vivos e sob quaisquer circunstâncias, tendo em
conta que negá-lo implica entrar em contradição.

É importante realçar que o conhecimento a priori pode se obter também através da


experiência. Por exemplo, na infância, toda a gente teve de ir à escola aprender a adicionar,
subtrair, multiplicar, etc., apesar se serem conhecimentos anteriores à experiência.

Por outro lado, a posteriori significa “posterior à experiência”. Este é o tipo de saber
proposicional que só se pode adquirir pela experiência: empírico. Estes conhecimentos não são
universais, pois admitem exceções, nem são necessários, mas sim contingentes, isto é, podem
ser verdadeiros ou falsos e negá-los não implica entrar em contradição (exemplo do avião no
céu e na terra).

O Problema da Possibilidade do Conhecimento


“Será o conhecimento possível?” – “Será que o sujeito pode apreender o objeto de forma
efetiva?” Dogmatismo – Sim! Ceticismo – Não!

Ceticismo:

Perspetiva filosófica que duvida da possibilidade do conhecimento. Há duas vertentes


do ceticismo: o ceticismo moderado e o radical.

Os céticos moderados consideram que há certas áreas do saber proposicional que não
são possíveis de conhecer, efetivamente, mas há outras áreas nas quais consideram ser
possível o conhecimento. Por exemplo, um cético moderado pode duvidar da possibilidade do
conhecimento na Estética e na Arte, mas na Biologia e na Matemática não.

Já os céticos radicais são mais extremistas, tal como indica o nome (ceticismo radical).
Estes põem em causa a possibilidade de todo e qualquer conhecimento, ou seja, o ceticismo
radical é global.

Pirro, o primeiro cético radical, acreditava que, como não é possível o sujeito
apreender efetivamente o objeto, devemos recorrer à suspensão de juízo, isto é, não acreditar
nem deixar de acreditar numa ideia. Deste modo, alcançaremos a ataraxia, ou seja, a
tranquilidade da alma, a ausência de perturbação.

Os céticos radicais acreditam que o conhecimento não é possível porque:

1 – Podemos crer que as nossas crenças são verdadeiras, quando, na verdade são
falsas;

2 - As nossas crenças, apesar de verdadeiras, não possuem uma justificação adequada.

Em suma,

Se as nossas crenças não são justificadas, então não são conhecimento.

As nossas crenças não são justificadas.

Logo, não temos conhecimento.

Para sustentar a sua posição, utilizam argumentos como:

 Argumento da regressão infinita da justificação: ao tentarmos justificar uma


crença, essa justificação precisa da sua justificação, e essa justificação da sua, e
por aí em diante. Basicamente, nunca conseguimos alcançar a justificação
adequada e com valor epistémico das nossas crenças, não estando nem essa
nem as outras justificadas. Assim, não havendo uma crença verdadeira
justificada, não há conhecimento.
 Argumento dos enganos sensoriais: os nossos sentidos são enganadores
(exemplo do avião, geocentrismo, …), pode suceder então que sejamos sempre
enganados pelos sentidos. Deste modo, a justificação das nossas crenças fica
comprometida.» Se os sentidos são enganadores, então não conseguimos
obter uma justificação adequada e com valor epistémico para as nossas
crenças.
Objeção ao Ceticismo: Quando os céticos radicais afirmam que o conhecimento é impossível,
estão a dizer que têm conhecimento disso, ou seja, pelo menos esse conhecimento é possível.
Além disso precisam de ter outros conhecimentos como saber o significado das palavras que
usam e algumas regras de gramática. Mas, isto contradiz a sua tese, ou seja, o ceticismo radical
é autorrefutante.

A Questão da Origem do Conhecimento


“Qual é a origem/fonte principal do conhecimento humano?”
Racionalismo: Razão!
 O racionalismo defende que a fonte principal do conhecimento é a razão e que
este é seguro e verdadeiro, isto é, necessário: é verdadeiro sob todas as
circunstâncias e negá-lo implica entrar em contradição, e universal: não admite
exceções. Esta conceção do conhecimento tem como modelo a matemática.
 Segundo os racionalistas, os humanos possuem as ideias inatas, isto é, noções
que trazem consigo na sua consciência que constituem o conhecimento. No
entanto, para alcançá-las é necessário utilizar o método – dúvida, que guia a
nossa razão e nos permite conhecê-las. Podem ser descobertas por intuição ou
dedução – as duas operações do espírito.
 O sujeito sobrepõe-se ao objeto pelas noções que traz consigo.
 Há uma relação direta entre o pensamento e realidade: através da razão bem
orientada podemos conhecer a realidade – visão otimista do conhecimento.
Empirismo: Experiência!
 O empirismo é a tese que diz que o conhecimento é adquirido através da
experiência sensível, ou seja, através dos sentidos. Assim sendo, o
conhecimento não é seguro nem verdadeiro, mas sim subjetivo e relativo, uma
vez que depende da forma como cada um experiencia a realidade.
 Todas as ideias têm uma base empírica, ou seja, não existem ideias inatas.
Quando nascemos somos uma “tábula rasa”, uma folha de papel em branco, e à
medida que vamos experienciando a realidade, vamos adquirindo ideias.
 O objeto sobrepõe-se ao sujeito, qua não traz noções nenhumas consigo
(“tábula rasa”).

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