Ciência e Conhecimento Conceitos e Características

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DISCIPLINA

DE
METODOLOGIA
CIENTÍFICA

1º semestre de 2022

Profª Dra. Marizete Santana dos Santos


2. CIÊNCIA E CONHECIMENTO: CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS

Já sabemos que a Ciência teve origem a partir da capacidade do ser


humano de desenvolver o pensamento crítico, racional e lógico sobre os
fenômenos da Natureza, o que constituiu o princípio do pensamento científico.
Por conseguinte, Ciência é o conhecimento refletido, assim, só podemos
pensar na Ciência em sincronia com o Pensamento científico como processos
de produção de conhecimento.
Dessa forma, quando produzimos algum conhecimento novo estamos
fazendo Ciência.
Nesse sentido, a Ciência (conhecimento refletido) é produzida, inventada
e reinventada pelo ser humano a partir da observação, do raciocínio, da
inteligência e espírito crítico, ou seja, a Ciência é produto do pensamento
científico.
A formação do pensamento científico, por sua vez, tem suas bases no
surgimento de uma mentalidade crítica, de anseio pelo conhecimento racional e
lógico dos fenômenos da Natureza, mas também nos interesses e nas
experiências do cotidiano e no saber que foi organizado e transmitido de
geração para geração.
Nesse sentido, tanto a Ciência quanto o pensamento científico foram
construídos com base nas verdades, nas certezas e nos interesses de quem os
produziu, e de acordo com o contexto político, cultural e social de cada período
da história.

2.1 SOBRE CIÊNCIA

De acordo com o que já estudamos, o conceito de ciência está


relacionado a sistematização de um conjunto de conhecimentos racionais,
indubitáveis e prováveis, obtidos metodicamente e passíveis de serem
verificados, e que fazem referência a objetos de uma mesma natureza. Esse
conjunto de conhecimentos obedece a princípios e proposições que estão
correlacionados de forma lógica (ROSA, 2012).
Nesse mesmo sentido, Saviani (2015) esclarece que ciência é o saber
metódico, sistematizado, o autor chama a atenção para o modo como os
gregos consideravam essa questão:

Em grego, temos três palavras referidas ao fenômeno do


conhecimento: doxa (δόξα), sofia (σοφία) e episteme (ἐπιστήμη).
Doxa significa opinião, isto é, o saber próprio do senso comum, o
conhecimento espontâneo ligado diretamente à experiência cotidiana,
um claro-escuro, misto de verdade e de erro. Sofia é a sabedoria
fundada numa longa experiência de vida. É nesse sentido que se diz
que os velhos são sábios e que os jovens devem ouvir seus
conselhos. Finalmente, episteme significa ciência, isto é, o
conhecimento metódico e sistematizado (SAVIANI, 2015, p. 288).

Mas temos outras definições para o que vem a ser Ciência. Segundo o
dicionário Aurélio, Ciência significa:

CIÊNCIA [Do latim scientia]


Conhecimento;
Saber que se adquire pela leitura e meditação; instrução, erudição,
sabedoria.
Conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado objeto,
especialmente os obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e
um método próprio.
Soma de conhecimentos práticos que servem a um determinado fim;
A soma dos conhecimentos humanos considerados em conjunto
(FERREIRA, 2004).

Para Oliveira (2002, p. 47), Ciência é entendida como:

Acumulação de conhecimentos sistemáticos;


Atividade que se propõe a demonstrar a verdade dos fatos experimentais e
suas aplicabilidades;
Conhecimento racional, sistemático, exato, verificável, e
consequentemente, falível;
Corpo de conhecimentos consistindo em percepções, experiência, fatos
certos e seguros;
Estudo de problemas solúveis, mediante método científico;
Forma sistematicamente organizada de pensamento objetivo, entre outros
conceitos.
Dessa forma, a compreensão dos conceitos de ciência, embora alguns
mais complexos que outros, nada mais são do que o entendimento da ciência
como uma forma de conhecimento humano, um modo de observar,
compreender, experimentar e analisar o mundo e a realidade que nos cerca,
sendo essa realidade composta por fenômenos naturais, sociais, biológicos,
matemáticos, físicos e químicos, e, consequentemente, a consciência acerca
desses fenômenos dá origem ao conhecimento científico.

2.2 SOBRE CONHECIMENTO

Quando pensamos em conhecimento logo nos reportamos aos conceitos


subjetivos que temos incorporados ao longo da vida: conhecimento é o que
sabemos sobre tudo aquilo que estudamos ou aprendemos; ou ainda, nos
referimos ao conhecimento como sendo um conjunto de informações.
De fato, há uma proximidade entre os conceitos de conhecimento e
informação, porém, informação não significa conhecimento.

Informação é o conjunto organizado de dados, que compõem uma


mensagem sobre um determinado fenômeno ou evento, pode ser transmitida
de pessoa para pessoa, de maneira escrita (livros, cartas, etc.) ou
armazenada eletronicamente (arquivos de computador ou dispositivos
móveis), nesse caso pode ser transmitida infinitamente. A informação
também pode ser transmitida por meio de conversar ou através de filmes,
documentários, etc.
Fonte: https://www.significados.com.br/informacao/

Portanto, a informação pode ser considerada um meio pelo qual o


conhecimento é levado a público. Mas, quanto ao conhecimento?
O conceito de conhecimento é bastante amplo. Se buscarmos a origem
da palavra vamos encontrar o seguinte:

A palavra conhecimento tem origem no latim, da palavra cognoscere,


que significa "ato de conhecer". Conhecer, no latim, também advém do
mesmo radical "gno", presente na língua latina e no grego antigo, da palavra
"gnose", que significa conhecimento, ou "gnóstico", que é aquele que
conhece. Conhecimento é basicamente olhar para o mundo e os seus
elementos e representá-los a partir de ideias.
Fonte: https://www.significados.com.br/conhecimento/
A partir de uma informação podemos chegar ao conhecimento. Mas,
para que o processo de conhecimento se efetive é necessário estabelecermos
relações conceituais com o objeto que pretendemos conhecer, ou seja,
precisamos identificar, reconhecer e refletir sobre os elementos que compõem
o objeto do nosso conhecimento para que possamos representá-lo a partir de
ideias e novos conceitos.
Em outros termos, há necessidade que exista uma relação entre o
sujeito que pretende adquirir o conhecimento e o objeto que se pretende
conhecer, para que dessa relação resulte uma representação, ou entendimento
sobre o objeto por parte do sujeito. Dessa forma, o conhecimento é composto
por esses três elementos básicos, conforme aparece na figura 1:

Assim, o conhecimento é constituído a partir de uma relação dinâmica


entre o sujeito e objeto, onde o sujeito é aquele que possui capacidade
cognitiva, ou a capacidade de conhecer e o objeto é aquilo que se manifesta à
consciência do sujeito, o objeto é apreendido e transformado em conceito
(COLLAÇO, 2016).

A Ciência que estuda a relação entre o sujeito e o objeto de conhecimento é


a Epistemologia, também chamada de Ciência do Conhecimento.

Assim, podemos dizer que “o conhecimento é o ato, o processo pelo


qual o sujeito se coloca no mundo e, com ele, estabelece uma ligação. Por
outro lado, o mundo é o que torna possível o conhecimento ao se oferecer a
um sujeito apto a conhecê-lo” (ARANHA; MARTINS, 1999, p. 48).

Todos queremos conhecer o mundo que nos rodeia, buscamos compreender


e dar sentido à realidade e buscar formas de viver e estar no mundo que nos
proporcionem o desenvolvimento integral de nossas potencialidades. Essa
busca, que é essencialmente humana, se dá pelo conhecimento.

2.2.1 OS TIPOS DE CONHECIMENTO

Cotidianamente é comum as pessoas discorrerem sobre aquilo que


conhecem, cada uma dentro da sua especificidade descreve suas experiências
pessoais, profissionais, acadêmicas entre outras, e as definem como
conhecimentos.
Assim sendo, podemos afirmar que o conhecimento pode ocorrer de
diversas formas, o que quer dizer que um determinado objeto de conhecimento
pode ser entendido e interpretado considerando diversos pontos de vista e
diversos contextos.
É importante ressaltar que cada um dos conhecimentos está presente e
ocupa lugar na vida das pessoas, uns de forma mais elaborada, outros não.
De acordo com Cervo e Bervian (2002, p. 8-12), podemos classificar o
conhecimento em, pelo menos, quatro níveis:
Conhecimento empírico
•O conhecimento Empírico ou conhecimento popular, é o conhecimento do
senso comum, que adquirimos no cotidiana e/ou ao acaso, também adquirido
por meio do conhecimento e experiência do outro e pela observação e
interação humana, social e com o ambiente. Esse conhecimento é subjetivo (o
próprio sujeito que organiza suas experiências) e assistemático, está
relacionado com as crenças e os valores, faz parte de antigas tradições, sendo
passado de geração para geração. Exemplos: saberes práticos: uso de plantas
medicinais, não deixar o chinelo virado pois traz má sorte, etc.

Conhecimento científico
•É o conhecimento real e sistemático, de aquisição intencional e consciente,
resulta de investigação metódica e sistemática da realidade (atividades
científicas que envolvem experimentação e coleta de dados). Está em
constante processo de construção, revisões e reavaliações dos resultados e é
fundamentado num método, em provas e demonstrações. Nesse
conhecimento há análise dos fatos e dos fenômenos de forma a descobrir suas
causas e concluir as leis gerais que os regem. O conhecimento científico resulta
da interrelação entre o sujeito e o objeto do conhecimento (fenômenos da
realidade empírica).

Conhecimento filosófico
•O conhecimento filosófico é o tipo de conhecimento estruturado a partir da
reflexão e construção de conceitos e ideias, a partir do uso do raciocínio lógico
em busca do saber. Por meio desse conhecimento se procura conhecer a
realidade em seu contexto universal, com base na reflexão, sem soluções
definitivas para a maioria das questões. o conhecimento filófico conduz o ser
humano à reflexão por meio de suas faculdades para compreender o sentido
da vida. Esse conhecimento pode ser adquirido independentemente de
estudos, pesquisas ou aplicações de métodos e investigações. O conhecimento
filosófico não é passível de observações sensoriais; utiliza o método racional,
método dedutivo; não exige comparação experimental, mas coerência lógica, a
fim de procurar conclusões sobre o universo e as indagações do espírito
humano. Utiliza-se da razão, porém não há exigência da verificação científica,
haja vista que os seus objetos de estudo são os próprios conceitos.

Conhecimento teológico
•Esta forma de conhecimento está relacionado aos estudos sobre as questões
da divindade, baseado na fé religiosa, a partir da crença sobre verdades
absolutas e incontestáveis, as quase representam as explicações para os
mistérios que rondam a mente humana. Não há a necessidade de verificação
científica acerca de certas "verdades", explicadas pela vertente religiosa. Esses
conhecimentos encontram-se registrados em escrituras sagradas (Bíblia, a
Torá, o Alcorão, etc.) e estão intimamente relacionados a "um Deus" (Jesus
Cristo, Buda, Maomé, etc.) invisível, uma entidade tida como ser supremo,
conforme a cultura de cada povo.

Fonte: Elaborado pela autora com base em Cervo e Bervian (2002).


Vejamos uma síntese das características de cada um dos
conhecimentos no quadro abaixo:

Quadro 1: Características dos conhecimentos


Conhecimentos
Empírico Cientifico Filosófico Teológico
Valorativo Real Valorativo Valorativo
Reflexivo Contingente Racional Inspiracional
Falível Falível Infalível Infalível
Assistemático Sistemático Sistemático Sistemático
Verificável Verificável Não-verificável Não-verificável
Inexato Exato Exato Exato
Fonte: Oliveira (2003, p. 37).

SUGESTÃO DE FILMES

O NOME DA ROSA: O filme “O Nome da Rosa” é baseado no livro, de


mesmo nome, de Umberto Eco. A trama se passa em um remoto
mosteiro no norte da Itália em plena Idade Média. William de
Baskerville, um monge franciscano, e o seu ajudante noviço Adso de
Melk começam a investigar a misteriosa morte de monges no local. O
filme retrata a ciência como o caminho que leva à verdade e ao
conhecimento. A investigação de William e Adso é baseada em
evidências, na lógica e no pensamento racional – bem ao modo do
método científico.
Conta a história de um dos maiores físicos do mundo, Stephen Hawking,
desde sua entrada para o doutorado na universidade de cambridge,
inglaterra, até seu reconhecimento como um dos grandes cientistas de
todos os tempos. Apesar de ter um enfoque maior na vida pessoal do
físico e na superação de sua doença, (esclerose lateral amiotrófica), a
história aborda questões como o método científico, o desenvolvimento
de uma teoria e o quanto a tecnologia contribuiu também para a
melhoria na qualidade de vida do próprio Hawking. Além de suas teorias
importantíssimas para a física, Hawking escreveu livros em que explica
teorias complexas em linguagem acessível, qual a importância da
divulgação científica?
REFERÊNCIAS:

ARANHA, Maria cia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de


filosofia. . ed. rev. S o a lo: Moderna, 1999.

CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica. 5. ed.


São Paulo: Prentice Hall, 2002. 242 p.

COLLAÇO, Gabriel Henrique. Concepções e formas de conhecimento. In:


QUERIQUELLI, Luiz Henrique; LEONEL, Vilson; MARQUES, Carlos Euclides.
Teoria do conhecimento: livro didático. Palhoça: UnisulVirtual, 2016.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua

OLIVEIRA, Antônio Benedito Silva (Coord.). Métodos e técnicas de pesquisa


em contabilidade. São Paulo: Saraiva, 2003. 177 p.

OLIVEIRA, Silvio Luiz de. Tratado de metodologia científica: projetos de


pesquisa, TGI, TCC, monografias, dissertações e teses. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2002. 320 p.

ROSA, Carlos Augusto de Proença. História da Ciência:


da antiguidade ao renascimento científico. 2a. ed. Brasília: FUNAG, 2012.

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