1-Apostila Teórica de Metodologia Científica

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Metodologia de

Pesquisa
Material teórico
Epistemologia

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Dra. Ana Barbara Ap. Pederiva
Epistemologia

Ao final desta unidade o aluno será capaz de:

• identificar a natureza, os limites e os problemas do


conhecimento científico;
• diferenciar os variados tipos de conhecimento: senso
comum, filosófico, teológico e científico;
• conceituar “verdade” em ciência dentro dos critérios de
objetividade e subjetividade;
• compreender os critérios de cientificidade, espírito
científico: a função da curiosidade dentro da
Metodologia Científica;
• compreender o processo de evolução e divisão das
ciências;

• compreender a visão moderna da ciência sob as


análises sistêmica ou holística.

Atenção

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
Contextualização

Como a Epistemologia busca analisar a origem e o papel da ciência, e ainda, os


aspectos filosóficos quanto à origem e natureza do conhecimento, proponho a seguinte
questão para sua reflexão:

- O conhecimento existe somente no mundo acadêmico, nas universidades e centros de


pesquisa?
Material Teórico

Natureza, os limites e os problemas do conhecimento científico

É próprio do homem produzir conhecimento. Este conhecimento constitui o patrimônio


histórico-cultural da humanidade, resultante de um processo cumulativo, decorrente de toda a
história da vida humana. De fato, o homem vem, incessantemente, construindo
conhecimento, produzindo arte, ciência e tecnologia, organizando o espaço físico e social.

O domínio do conhecimento possibilita ao homem


não só conhecer o mundo, mas também compreender,
explicar e transformar sua própria realidade.

Todavia, para que a sociedade possa caminhar e desenvolver-se, é imprescindível que


todos tenham acesso a esse conhecimento, cuja apropriação pode dar-se de diversas
maneiras.
O conhecimento possui dois elementos básicos: um sujeito e um objeto. O sujeito é o
homem, o ser racional e cognoscente 1; o objeto é a realidade na qual vive. Existe relação
estreita entre o sujeito e objeto; o homem só é sujeito quando está conhecendo o objeto, e a
realidade só se torna objeto quando é conhecida pelo sujeito.
Tipos de conhecimento: senso comum, teológico (religioso), filosófico e
científico
Entre os conhecimentos que o homem produz na tentativa de explicar e compreender
o mundo, dar sentido para as coisas, destacam-se:
• o senso comum,
• o teológico (religioso),
• o conhecimento filosófico e
• o conhecimento científico.

Senso comum: é o modo espontâneo e pré-crítico de conhecer. Todo homem, no


percurso de sua existência, acumula conhecimentos e experiências daquilo que viveu, viu e
ouviu de outras pessoas, interiorizando as tradições da sociedade.
Assim, o senso comum refere-se a opiniões individuais e subjetivas das pessoas sobre
as coisas e os acontecimentos, como resultado de suas próprias experiências. É um

1
Cognoscente é o homem em processo de construção do conhecimento. (SILVA, 1998, p.29).
conhecimento que se adquire independentemente de estudos ou pesquisas, entendido como
sendo aquele que aborda os fatos sem lhes investigar as causas, sem recorrer à
fundamentação técnica, sistemática ou objetiva.
Também chamado de “vulgar”, “popular” e “empírico” é o
conhecimento do dia-a-dia, do cotidiano, da vida das pessoas (...) Faz
parte da tradição de uma comunidade e resulta de simples transmissão
de uma geração a outra. (BARBOSA, 2006, p. 45)

Tais características, entretanto, não devem fazer supor que este tipo de conhecimento
seja desprezível ou desprovido de significação. O senso comum:

(. . .) é a primeira compreensão do mundo resultante da herança fecunda


de um grupo social e das experiências atuais que continuam sendo
efetuadas. Pelo senso comum, fazemos julgamentos, estabelecemos
projetos de vida adquirimos convicções e confiança para agir. (ARANHA;
MARTINS, 1992, p.56).

Apesar do senso comum não poder ser desprezado, pois é a partir dele que o indivíduo
acumula conhecimento e experiências de vida, ele é muito subjetivo e pessoal. Uma opinião
pessoal não pode ser considerada como verdade, a menos que seja demonstrada
cientificamente.
Já os conhecimentos teológico (religioso) e filosófico são inexperimentáveis, pois
dependem do exercício do pensamento e advém da necessidade de transcendência que o
homem possui; é um exercício de pensar os acontecimentos além de suas aparências.

Conhecimento Teológico (religioso): é a crença em divindades, forças superiores,


manifestações divinas. Esse tipo de conhecimento não admite questionamentos, não se baseia
na razão e sim, na Fé. A “verdade” surge da revelação.

Conhecimento filosófico: busca respostas na reflexão dos homens sobre si mesmos


e sobre a realidade. Os temas de reflexão filosóficos mudam na medida em que o contexto
histórico se transforma.

Quanto ao objeto de conhecimento da filosofia, pode-se indicá-lo como


sendo o tudo. Procura-se conhecer o ser e o não ser, o bem e o mal, o
mundo dos seres, dos homens. As proposições filosóficas são situadas
em um contexto cultural que considera o homem inserido na história.
A filosofia é, pois, uma reflexão crítica também da sociedade, da
política, do direito e da educação, e é o seu fundamento. (BARROS;
LEHFELD, 2000, p.35)
Pode-se pensar filosoficamente a ciência, a arte, a religião, o homem etc. e quando
assim se procede, procura-se conhecer as causas primeiras dos fenômenos, contrariamente ao
que sucede com o conhecimento científico, que fica restrito às causas próximas, às suas
particularidades.
Ao mesmo tempo em que produz conhecimentos, o homem interroga-se a respeito de
sua validade: o que é a verdade? Pode-se confiar na capacidade cognitiva do ser humano?
Quando os conhecimentos advindos dela podem ser considerados verdadeiros?
Historicamente, desde os primeiros filósofos até os nossos dias, debate-se o problema:
a verdade está no objeto ou na relação do sujeito com o objeto? Este debate é fecundo,
fazendo com que surjam diversas interpretações sobre a questão da verdade e da validade do
conhecimento. Cada pensador, cada corrente filosófica, cada cientista responde a essas
questões de maneira diferente.

Nem todos os pensadores e cientistas chegam às


mesmas conclusões sobre as questões que
envolvem as “verdades”.

E é até bom que não seja assim, para que os conceitos e achados científicos sejam
exaustivamente testados, comprovados, reduzindo as margens de erros.
Toda essa polêmica, tratada aqui de maneira bastante ligeira, na medida em que
desafia o espírito humano e provoca divergências aparentemente inconciliáveis, é benéfica e
só tem estimulado o aprofundamento de questões ligadas à epistemologia e à filosofia da
ciência.
Conhecimento científico: o conhecimento científico, ao contrário do conhecimento
comum:

Busca compreender a realidade de maneira racional, descobrindo


relações universais e necessárias entre os fenômenos, o que permite
prever acontecimentos e, conseqüentemente, também agir sobre a
natureza (ARANHA; MARTINS, 1992, p.89)

O conhecimento científico não atinge simplesmente os fenômenos em sua manifestação


global, mas investiga sua causa, sua constituição íntima, caracterizando-se, desta forma, pela
capacidade de analisar, de explicar, de desdobrar, de justificar, de induzir ou
aplicar leis, de predizer eventos futuros.
A “verdade” em ciência: objetividade e subjetividade
Ao contrário do uso pouco rigoroso que o homem comum faz da palavra ciência em
seu cotidiano, no meio acadêmico, esta palavra é tomada no seu sentido estrito: trata-se de
uma forma de conhecimento sistemático dos fenômenos naturais, sociais, biológicos,
matemáticos, físicos e químicos, pelos quais se pode chegar a um conjunto de conclusões
lógicas, demonstráveis por meio de pesquisas.

(...) a ciência busca um ideal de comunicação universal: a linguagem


científica comunica informação a quem quer que possa entende-la,
mercê de um treinamento anterior (...) a comunicação dos resultados e
das técnicas da ciência serve não apenas para divulgar, mas também
para multiplicar as possibilidades da confirmação ou refutação do
conhecimento que está sendo comunicado por parte da comunidade
científica (...)” (MOREIRA, 2004, p. 10)

Por mais que a mensagem, ou a ciência seja "objetiva", não devemos esquecer que,
no momento exato em que a pessoa - o sujeito - toma consciência de sua existência, esta se
torna também, "subjetiva".

Cada ser possui sua própria visão de realidade, seu modo de guardar informações,
baseado em sua experiência de vida. Ou seja, todos os esforços buscando a objetividade e
caráter universal do conhecimento tornam-se nulos no momento em que atingem seu
objetivo, a divulgação. Isso ocorre, pois, milhares de pessoas com milhares de experiências
de vida diferentes irão criar interpretações pessoais das mais variadas categorias.

Assim, as verdades científicas são provisórias, pois são datadas, ou seja, com as
transformações sociais, políticas, econômicas e culturais nos diferentes contextos históricos, as
ciências se transformam e, consequentemente, as verdades também sofrem alterações.

Critérios de cientificidade
Um dos requisitos primordiais para um assunto ou fato estudado alcançar o estatuto da
ciência é a utilização de métodos científicos 2. O entendimento do método passou a ser
condição necessária ao estabelecimento de limites, na demarcação do que se considera
científico ou não.

2
Os diferentes métodos científicos serão estudados na Unidade Instrucional III.
Nos dias de hoje, muitas áreas da ciência se sobrepõem de tal forma que
estudiosos de áreas diferentes podem se dedicar a um mesmo tipo de
problema, com pontos de vistas distintas (OLIVEIRA, 1997, p.48).

Se diversos são os enfoques, diversos também os modos de se levantar fatos e de se


produzir idéias. Ou seja, as formas de procedimentos técnico e lógico do raciocínio científico
são variadas, como vários são os métodos 3 para o desenvolvimento da ciência. O método
guia o trabalho intelectual (produção das idéias, experimentos e teorias) e avalia os resultados
obtidos.

No processo de produção do conhecimento, o pesquisador elege o método que lhe


parece mais apropriado à natureza do assunto que vai estudar. Método e conteúdo devem
estar relacionados, uma vez que, tão importante quanto o conhecimento, é a maneira como se
chegou a ele.

Todo trabalho científico, seja de natureza


teórico-conceitual ou de natureza empírica,
deve esclarecer o caminho percorrido para
sua efetivação.

O estudante pesquisador deve compreender que se existem diversos métodos para a


realização de pesquisas que buscam contribuir para o desenvolvimento das ciências, algumas
questões são fundamentais e devem ser respondidas para uma maior compreensão do que é
ciência e da importância da ciência, tais como:

• Afinal, quais são os critérios de cientificidade?

• O que diferencia teorias científicas de outros tipos de teoria (teorias metafísicas e


especulativas)?

• O que leva cientistas a considerar uma teoria melhor do que a outra, quando
ambas se propõem a explicar os mesmos fenômenos?

Para responder estes dilemas, a própria comunidade científica / acadêmica estabelece


critérios para que uma teoria, estudo ou descoberta tenha valor científico, tais como:
coerência, consistência, originalidade e objetividade, aplicabilidade, replicabilidade, além de

3
O método é constituído por um conjunto de procedimentos que devem ser observados na busca do
conhecimento e transformação da realidade. Em resumo: “em seu sentido mais geral, o método é a
ordem que se deve impor aos diferentes processos necessários para atingir um fim dado ou um
resultado desejado” (CERVO; BERVIAN, 1996, p.23).
se submeter, necessariamente, à apreciação crítica da comunidade científica, após sua
imprescindível divulgação.

Espírito científico: a função da curiosidade


A história humana é a história das lutas pelo conhecimento da natureza para
interpretá-la e para dominá-la. Cada geração recebe um mundo interpretado
por gerações anteriores. Esta história está constituída por interpretações
místicas, proféticas, filosóficas, científicas, enfim, por ideologias. Cada
indivíduo que vem ao mundo já o encontra pensado, pronto: regras morais
estabelecidas, sociedade organizada, religiões estruturadas, leis codificadas,
classificações preparadas. No entanto, tal estruturação do mundo não justifica
a alguém se sentir dispensado de repensar este mundo, porque caso contrário
tem-se o lugar comum, a mediocridade e, o que é pior, a alienação.
(BASTOS; KELLER, 2000, p.54)

A ciência experimental surgiu e desenvolveu-se no início do século XVII, sempre imersa


nas discussões filosóficas que tratavam sobre os limites do raciocínio científico, sobre o que a
ciência considerava como verdade e questionava a capacidade do homem em conhecer o
universo através dos seus falhos instrumentos pessoais. Havia uma urgente necessidade de
aperfeiçoar os sentidos físicos: visão, audição e tato, bem como amplificar o poder por meio
das máquinas.

O espírito humano, sempre curioso e duvidando de tudo, tentava se apoiar nas


variadas filosofias, na tentativa de encontrar soluções para os problemas humanos. Apesar de
todos os avanços nos campos das ciências, foi somente no século XX que a filosofia científica
ganhou autonomia como disciplina. A ciência passou a ser um fator de história e de cultura
entrelaçando-se com concepções de ordem moral, política e ética.

A curiosidade passa a ter função especial para o


cientista, uma vez que é fundamental para o
desenvolvimento da própria ciência obter o
perfeito entendimento de determinada teoria,
estabelecendo-se por vezes o confronto com
outras teorias no passado ou no presente.
A evolução constante do homem, por meio do conhecimento científico tem aumentado
a longevidade, solucionado problemas seculares e, conseqüentemente, levará a humanidade a
padrões de vida cada vez melhores. Pelo menos é este o objetivo da ciência.

O ser humano vive em constantes questionamentos sobre a própria existência e deseja


ansiosamente encontrar respostas e, para isso, cria representações da realidade que percebe e
a isso chama de conhecimento. Esse conhecimento sistematizado, comprovado por outras
pessoas, chama-se conhecimento científico.

O conhecimento científico é aquele que resulta da investigação científica, seus métodos


e técnicas. Deriva da necessidade de achar soluções para os diversos problemas do dia-a-dia e
também de explicar de modo sistematizado e comprovado, teorias capazes de replicação,
testagem e de comprovação empírica.

Desta forma, o conhecimento científico surge não apenas da necessidade de encontrar


soluções para problemas de ordem prática da vida diária, mas do desejo de fornecer
explicações sistemáticas que possam ser testadas e criticadas por meio de provas empíricas.

Essa busca do ser humano para achar solução para os seus problemas levou ao
desenvolvimento do conhecimento científico, que ajuda na solução dos problemas.
Paradoxalmente, muitos homens têm criado problemas no uso de muitas descobertas e
invenções. Mas é o mau uso que traz conseqüências indesejáveis. Certamente o bom uso das
descobertas e criações humanas traz bem-estar, saúde e conforto. Dê uma olhada ao seu
redor: a luz elétrica, o celular, o computador, o avião, a Internet, não são boas soluções?

A investigação científica se inicia quando se descobre que os conhecimentos existentes


originários, quer do senso comum, quer do corpo de conhecimentos existentes na ciência, são
insuficientes para explicar os problemas surgidos. O conhecimento prévio que nos lança a um
problema pode ser tanto do conhecimento ordinário quanto do científico.

Quando o homem sai de uma posição meramente passiva, de testemunha dos


fenômenos, sem poder de ação ou controle dos mesmos, para uma atitude racionalista e
lógica, que busca entender o mundo por meio de questionamentos, é que surge a necessidade
de se propor um conjunto de métodos que funcionem como uma ferramenta adequada para
essa investigação e compreensão do mundo que o cerca. O homem quer ir além da realidade
imediatamente percebida e lançar princípios explicativos que sirvam de base para a
organização e classificação que caracteriza o conhecimento.

Por meio desses métodos se obtêm enunciados, teorias, leis, que explicam as condições
que determinam a ocorrência dos fatos e dos fenômenos associados a um problema, sendo
possível fazer predições sobre esses fenômenos e construir um corpo de novos enunciados,
quiçá novas leis e teorias, fundamentados na verificação dessas predições, e na
correspondência desses enunciados com a realidade fenomenal.

A ciência se vale da crítica persistente que persegue a localização dos erros, por meio
de procedimentos rigorosos de testagem que a própria comunidade científica reavalia e
aperfeiçoa constantemente. Esse método crítico de constante identificação de dificuldades,
contradições e erros de uma teoria, garante à ciência uma confiabilidade.

O que se opõe ao espírito científico é o dogma 4, que bloqueia a crítica por se julgar
auto-suficiente e clarividente na sua compreensão do mundo, e acaba por impedir eventuais
correções e aperfeiçoamentos, muitas vezes induzindo ao erro, fraudes, ignorância e
comportamento intolerante. É, portanto, errôneo achar que a dogmatização de um
conhecimento é superior só porque é imutável.

O verdadeiro espírito científico consiste, justamente,


em não dogmatizar os resultados de uma pesquisa,
mas em tratá-los como eternas hipóteses que merecem
constante investigação.

A curiosidade que leva ao desenvolvimento do espírito científico é uma busca


permanente da verdade, com consciência da necessidade dessa busca, expondo as suas
hipóteses à constante crítica, livre de crenças e interesses pessoais, conclusões precipitadas e
preconceitos.

Embora não se possam alcançar todas as respostas, o esforço por conhecer e a busca
da verdade continuam a ser as razões mais fortes da investigação científica.

4
Dogmas são doutrinas que nos são apresentadas como inquestionáveis e indiscutíveis.
Referências

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Loyola, 2000.

BARBOSA, Derly. Metodologia de estudos e elaboração de monografia. São Paulo:


Expressão & Arte, 2006.

BARROS, Aidil Jesus da Silveira.; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de


metodologia científica: um guia para a iniciação científica. São Paulo: Pearson
Makron Books, 2000.

BASTOS, Cleverson; KELLER, Vicente. Aprendendo a aprender: introdução à


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SEVERINO, A. Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 21ª Ed. São Paulo: Cortez,
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Anotações

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