Emocoes No Ensino Da Educacao Fisica

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”


INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO

BACHARELADO EM EDUCAÇÂO FÍSICA

FRANZ FISCHER

ESTADOS EMOCIONAIS E EDUCAÇÃO FÍSICA


ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES INICIAIS À LUZ DE
UMA PSICOLOGIA BIOECOLÓGICA

Rio Claro
2009
Franz Fischer

ESTADOS EMOCIONAIS E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES


INICIAIS À LUZ DE UMA PSICOLOGIA BIOECOLÓGICA

Orientador: Prof. Dr. Afonso Antonio Machado

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Instituto de Biociências da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –
Campus de Rio Claro, para obtenção do grau
de Bacharel em Educação Física.

Rio Claro
Estado de São Paulo – Brasil
2009
796.01 Fischer, Franz
F529e Estados emocionais e educação física escolar : considerações iniciais
à luz de uma psicologia bioecológica / Franz Fischer. - Rio Claro : [s.n.],
2009
63 f. : il.

Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado - Educação física) -


Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro
Orientador: Afonso Antonio Machado

1. Esportes - Aspectos psicológicos. 2. Educação física escolar. 3.


Estados emocionais. 4. Psicologia bioecológica. I. Título.

Ficha Catalográfica elaborada pela STATI - Biblioteca da UNESP


Campus de Rio Claro/SP
i

Dedicatória

Dedico este trabalho à Deus Pai pois só ele é


o caminho; aos meus pais, que me ensinaram
a sempre escolher o caminho certo, às
minhas irmãs, em especial Nana pelo
companheirismo e amor dedicado a mim, ao
Lê meu cunhado querido e a todos os que de
alguma forma contribuíram para mais uma
vitória.
ii

Agradecimentos

Primeiramente agradeço a Deus, pai, pela minha vida e pela luz depositada em
meu caminho, sem o apoio dele nada chega a lugar nenhum.
Minha mãe por ser essa guerreira que me ensinou os verdadeiros valores da vida,
e me manteve com muita luta e sacrifício no caminho do bem. Meu pai por ser um
grande homem, honesto e que apesar da distância sempre me mostrou valores essenciais
na vida de um homem e que apesar das diferenças me dá muito amor e carinho.
Tata minha linda, que é sem dúvida minha segunda mãe e que me apoiou nos
momentos mais difíceis, e riu comigo nas maiores trapalhadas.
Nanico, que tem um coração imenso e se tornou mais que um cunhado, quase
um pai pra mim.
A minha primeira moradia em Rio Claro, Rep. Caxa Baxa, Lê, Léo, Eli e Dé,
que fizeram com que o primeiro ano por aqui fosse muito mais fácil, uma amizade e
companheirismo que dificilmente vou encontrar em outro canto, já que formamos uma
nova família naquela casa.
Aos grandes amigos da Rep. Vegas que tornaram momentos tristes em grandes
piadas, que brigaram muito, mas que se divertiram muito, muito obrigado ao Duah,
Xande, Bera e Hamtaro, pois sem a ajuda de vocês eu não teria crescido e amadurecido
tanto nesses anos.
Ao Goldpirse Amagaluvers Gosmatchevers, que me deu o verdadeiro sentido do
amor sem interesse, o cachorro mais lindo do mundo que me divertiu muito, me
arrancando sorrisos, quando eu menos queria sorrir, principalmente com as besteiras
que ele faz.
Ao pessoal do 4ºBEF, que se tornou uma grande família, já que passávamos
mais tempo juntos, do que com nossas famílias, especialmente Pilla, PC, Mangava,
Bundão, Gui, Gustavão, Enthoni, Duah, Xande, Hamtaro, Marcão e Tikinha, que com
certeza apesar da distância de nossas vidas, estarão sempre nas minhas lembranças.
Ao Paulão, companheiro de tantas risadas e horas de academia sem muito que
fazer.
Ao pessoal do LEPESPE, principalmente os antigos, Marcelo, Rafa, Mauro,
Lucas, Ricardo e Thiago, por me ensinarem como encarar um grupo de estudos tão
qualificado como o nosso.
Ao meu querido amigo e professor Dr. Afonso Antonio Machado, que além de
orientador se tornou um grande amigo, só me resta agradecer pela paciência e
confiança, pela parceria que terá muitos frutos ainda, pelo tempo disponibilizado aos
meus problemas de graduação, sentimentais, emocionais, enfim grande amigo muito
obrigado.
Não podia terminar sem agradecer a todos os professores e funcionários do
Departamento de Educação Física, já que sem eles eu não teria alcançado esse objetivo.

Obrigado a todos!!!
iii

FISCHER, Franz. ESTADOS EMOCIONAIS E EDUCAÇÃO FÍSICA


ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES INICIAIS À LUZ DE UMA PSICOLOGIA
BIOECOLÓGICA. Rio Claro: DEF-IB-UNESP (monografia), 2009. [ Orient.
Afonso Antonio Machado]

A Educação Física Escolar, entre outros objetivos, deve propiciar o


desenvolvimento afetivo-social de seus alunos, e dentro desse domínio encontramos os
estados emocionais, freqüentemente pouco explorados nessas aulas. Sabemos que a
atividade física, em qualquer âmbito, atua sobre o indivíduo, modificando seus
componentes físicos, motores, sociais, psicológicos e afetivos. Sendo assim, através
desse estudo buscamos analisar qual importância tem sido atribuído ao desenvolvimento
afetivo-emocional nas aulas de Educação Física, em que contexto se manifestam as
emoções (em particular o medo, ansiedade, autoconfiança, vergonha, motivação, e
agressividade) durante as aulas, e como esse trabalho tem sido desenvolvido pelos
professores, sugerindo também algumas formas de atuação para os mesmos. Para isso,
foram entrevistados alunos e professores de Educação Física de duas escolas públicas de
Rio Claro. Após a análise e discussão dos dados, somados à revisão de literatura, ficou
evidente que o trabalho das emoções dentro do ambiente escolar tem sido pouco
explorado e que há uma grande dificuldade dos professores em incluir o
desenvolvimento emocional em seus conteúdos, objetivos e metodologias. Sugerimos
então uma maior estruturação nas grades curriculares vigentes, visando um melhor
preparo dos profissionais licenciados com relação à parte emocional de seus alunos,
tornando-se parte deste currículo a disciplina de psicologia do esporte, já poderíamos
observar algumas mudanças no modo de como o profissional encara as emoções e a
presença delas em sua aula. Outro importante ponto observado foi a diferença de
linguagem de professor e aluno, fato este que distancia o professor de seu aluno, talvez
uma reciclagem periódica destes profissionais seria um ponto a ser pensado, para que
estes possam cada vez mais se aproximar da linguagem, das manias e dos assuntos de
seus alunos, facilitando a interação entre eles.

Palavras-chaves: Educação Física Escolar, emoções, desenvolvimento humano.


iv

Sumário

Página

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................01

2. JUSTIFICATIVA....................................................................................................03

3. OBJETIVOS............................................................................................................03

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................04
4.1. Definição de Emoções......................................................................................04
4.2. Emoções e Educação........................................................................................05
4.3. Relação com a Educação Física.......................................................................08
4.4. Caracterizando as Emoções..............................................................................10
4.4.1. O Medo..........................................................................................................11
4.4.2. A Ansiedade...................................................................................................13
4.4.3. A Vergonha....................................................................................................15
4.4.4. A Motivação...................................................................................................16
4.4.5. A Agressividade.............................................................................................18
4.5. Relação professor-aluno....................................................................................21

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................24
5.1. Instrumento.......................................................................................................24
5.2. Participantes......................................................................................................24
5.3. Análise de Dados...............................................................................................24

6. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS...............................................................25

7. CONCLUSÃO..........................................................................................................44

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................47

9. ANEXO.....................................................................................................................50
1

1- Introdução

A Educação Física, como um componente educacional, se relaciona com os


aspectos fundamentais do ser humano, contribuindo assim para a sua formação nos
diferentes domínios: cognitivo, afetivo-social e motor. Dessa forma, através das atividades
propostas, deve propiciar a formação integral do indivíduo.
Em seus objetivos, além do desenvolvimento e conhecimento motor e físico, inclui-
se também o desenvolvimento da capacidade de transformação pessoal e social, o que
muitas vezes é esquecido. Marinho (1993 apud SCHREIBER et al, 2005) afirma que as
atividades de Educação Física podem atuar no comportamento do aluno, nas suas atitudes e
até mesmo em sua personalidade.
Através do movimento, da manipulação de objetos, da descoberta do próprio corpo
(de suas necessidades e emoções), a criança percebe e integra conceitos, relacionamentos
de espaço-tempo-forma, organiza seu esquema corporal e modifica hábitos e sentimentos.
Além disso, o movimento e a linguagem corporal permitem ao ser humano se comunicar e
expressar suas emoções, o que atribui á Educação Física uma responsabilidade ainda maior
sobre o desenvolvimento emocional dos alunos, já que nessas aulas o corpo se apresenta
com maior liberdade, diferente das outras disciplinas, nas quais os alunos encontram-se
“presos” em suas carteiras e impossibilitados de se expressarem. Além disso, as diversas
situações presentes nessas aulas favorecem o surgimento dos mais diferentes processos
emocionais.
A escola como instituição educadora deveria propiciar também o desenvolvimento
afetivo-social do aluno (sentimentos e emoções), e a Educação Física Escolar, juntamente
com as outras disciplinas, desempenha um importante papel nesse ponto, já que de acordo
com inúmeros autores o conteúdo emocional pode ser estimulado através de “treinamento,
de desenvolvimento e de educação”. (MOSCOVICI, 1997 apud PRODÓCIMO, 2002).
Segundo Gudín (2001) os processos afetivos podem ser moldados e educados, ou
2

seja, os sentimentos pessoais podem ser potencializados ou inibidos, porém nunca devem
ser ignorados e sim, favorecer nossas ações. As operações emocionais devem ajudar a
operação racional, ou seja, o homem em sua atuação necessita da cooperação do que sente.
Dessa forma, acreditamos que para o processo de ensino e aprendizagem, os
comportamentos desse domínio são importantes, uma vez que aspectos como motivação,
interesse, responsabilidades, cooperação e respeito ao próximo, além da manifestação de
diferentes emoções como vergonha, medo, ansiedade, agressividade, auto-estima, confiança
etc. estão presentes e devem ser trabalhados convenientemente, pois as dificuldades e
sucesso da aprendizagem estão associados a diversos fatores, dentre eles os fatores
emocionais.
Por isso, torna-se essencial a discussão sobre as emoções e a importância do ensino
e da educação (de forma geral) para um maior conhecimento e controle emocional dos
alunos. Nesse trabalho, levantamos questões referentes a alguns estados emocionais e sua
relevância na Educação Física Escolar, bem como o desenvolvimento dessas emoções
através dos conteúdos propostos, metodologias utilizadas e postura adotada pelo professor
frente aos alunos. Discutimos comportamentos como o medo, ansiedade, autoconfiança,
vergonha, motivação e agressividade nas aulas de Educação Física Escolar, abordando
conceitos e definições de cada um desses estados, pontuando as possíveis causas de sua
manifestação durante as aulas e atribuindo sua importância na educação escolar.
3

2- Justificativa

O presente estudo pode oferecer maiores subsídios para a ação docente na Educação
Física Escolar, uma vez que o desenvolvimento emocional se apresenta tão importante
quanto o desenvolvimento dos outros domínios do ser humano, porém pouco explorado.
O conhecimento do funcionamento das emoções, isto é, a compreensão de seu
mecanismo de ação, de sua interferência na aprendizagem e das formas de manejo das
mesmas, pode representar para o professor uma possibilidade de equilíbrio diante das
reações emocionais de seus alunos. Dessa forma, ele poderá observá-las, lê-las e interpreta-
las.
A atuação de profissionais na área pode se tornar mais eficiente, eficaz e
enriquecedora, se atribuída a devida importância aos fatores emocionais no processo de
ensino - aprendizagem na Educação Física Escolar, considerando, para isso, tanto a
influência desses fatores na aprendizagem, quanto o desenvolvimento dos mesmos, através
das aulas de Educação Física.

3- Objetivos

Este estudo tem por interesse:

• Identificar em que contexto ocorre a manifestação dos estados emocionais


na Educação Física Escolar, especificamente do medo, ansiedade,
autoconfiança, vergonha, motivação, e agressividade na situação de aula.
• Verificar a intervenção docente quando da manifestação desses estados.
• Analisar a visão de alunos e professores em relação ás emoções e a
Educação Física.
• Sugerir, aos professores, algumas formas de atuação, no desenvolvimento
emocional de seus alunos.
4

4- Revisão Bibliográfica

Nosso estudo teórico terá como estofo a literatura nacional e internacional adotada
para o estudo dos estados emocionais, dando preferência àquilo que mais se aproximar do
esporte como um fenômeno espetacular, que leva multidão aos campos ou a frente de
órgãos midiáticos, para acompanhá-lo. Esta escolha se deu em função de procurarmos tratar
do fenômeno esportivo com a propriedade adequada aos movimentos humanos de
repercussão no século XXI.

4.1- Emoções: O que são?

Os aspectos psicossociais e emocionais do ser humano, assim como outros aspectos,


são fundamentais na determinação da qualidade de vida e na relação do indivíduo com o
mundo. O controle e a estimulação devida de determinadas emoções e sentimentos são de
suma importância para o bem-estar do indivíduo, e a educação escolar pode propiciar essas
ações.
Mas, o que é uma emoção?
Boutcher (1991 apud REBUSTINI et al., 2005) define a emoção como um processo
complexo que possui componentes cognitivos, psicológicos, comportamentais e
experimentais, e diz que a emoção é um fenômeno multidimensional que exerce inúmeras
influências sobre o funcionamento humano. As conseqüentes reações impostas pela emoção
acarretam em melhoria ou não da condição do indivíduo.
De acordo com Machado e Calabresi (2003) uma emoção é provocada por um
estímulo externo. Estes autores ainda abordam que uma função relevante da emoção é seu
efeito regulador sobre o comportamento. As emoções influenciam nossa ação como reação
e estímulo desencadeantes da ação, e as emoções provocam ações com objetivos de
diminuição da tensão emocional.
5

Kleniginna e Kleniginna (apud BOUTCHER, 1991) citados por Rebustini et al.


(2005) definem o termo de uma forma multidimensional:
Emoção é um complexo de interações entre fatores subjetivos e objetivos,
mediada pelo sistema neural/hormonal o qual pode (a) elevar as experiências
afetivas como as sensações de ativação, prazer/desprazer; (b) processos
cognitivos gerais como a percepção dos efeitos de emoções relevantes; (c)
ativação expressiva dos ajustamentos fisiológicos para condição de ativação; e (d)
conduz ao comportamento freqüente, mas não permanente, expressivo, objetivo e
de adaptação. (p.800).

Lelord & André (2002) entendem a emoção como uma reação súbita de todo nosso
organismo, com componentes fisiológicos (o nosso corpo), cognitivos (o nosso espírito) e
comportamentais (as nossas ações).
Para Thomas (1983) é evidente que as emoções influenciam a ação, regulando-a
dirigindo-a e modificando-a, sendo em troca, também influenciadas pela ação. As emoções
podem determinar a ação de forma positiva, ativando e dirigindo as atividades da ação para
se alcançar o objetivo, porém também podem perturbar ou inibir a ação.
Dessa forma, o controle emocional é essencial para a vida. Saber expressar tanto
emoções positivas quanto negativas auxilia o convívio do indivíduo com seu meio social. A
repressão de emoções, principalmente negativas, pode tornar o sujeito mais pessimista,
depressivo, inseguro, dificultando seus relacionamentos interpessoais.
Devido às inúmeras definições encontradas para o termo existem muitas
divergências entre os autores. Para alguns a reação é o componente principal da emoção,
para outros esse componente é formado pelas percepções das situações ou efeitos da
emoção sobre o organismo. O fato é que as emoções, de uma forma ou de outra, estão
presentes diariamente nas nossas vidas e desempenham um papel importante no nosso
comportamento.

4.2 Emoção e Educação

Nossos processos emocionais, durante toda a vida, são moldados, estimulados e


inibidos de acordo com o contexto e ambiente em que vivemos. A família e a escola, com
certeza, são responsáveis por boa parte dessa formação emocional, pois nesses ambientes
sofremos influências de diferentes agentes: pais, colegas, professores etc. e nessas relações
sociais as emoções são modificadas, transformadas, através das trocas e interações que se
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dão entre os indivíduos.


Durante o desenvolvimento das emoções o contexto familiar é essencial, pois é o
primeiro ambiente de convívio da criança. Desde o nascimento são atribuídas aos
indivíduos emoções diretamente ligadas ao seu gênero e este fato pode ter forte
interferência nas relações futuras deste indivíduo com o mundo. Por exemplo, as meninas
são tratadas como mais sensíveis, mais ansiosas, mais carinhosas, os meninos como mais
agressivos, mais fortes, e esses estereótipos culturais são atribuídos ao longo dos anos.
De acordo com Braconnier (1996) muitos estudos, com diferentes faixas etárias,
demonstraram essa diferenciação entre as emoções apresentadas por cada gênero. Desde o
tipo de brincadeira escolhida por cada grupo até a convivência com companheiros do
mesmo sexo influenciam no desenvolvimento emocional do indivíduo. Para este autor, o
peso da educação e dos estereótipos culturais reforça a diferença da manifestação das
emoções entre os sexos e atualmente deve-se buscar uma maior homogeneidade dos
princípios educativos e das normas sociais.
Estudos comprovaram que a diversificação das atividades e a co-educação pode ser
um caminho para o trabalho das emoções, já que as crianças sofrem grande influência dos
estereótipos culturais já citados, e as próprias aderem a essas representações sociais. A
convivência com crianças do mesmo sexo reforça e consolida certas emoções não
permitindo o desenvolvimento de emoções atribuídas ao outro sexo. Por isso, é de suma
importância que as crianças dos dois sexos sejam educadas em conjunto, que participem
das mesmas brincadeiras e façam parte do mesmo grupo de amigos, cabendo aos pais e aos
professores permitirem e estimularem essa interação.
Os fatores afetivo-emocionais possuem uma grande influência na vida do ser
humano. Alguns são passageiros, porém outros são duradouros e podem interferir até
mesmo no processo de ensino-aprendizagem, por isso a educação familiar é um fator
crucial.
A família é o primeiro vínculo afetivo e social da criança e a “matriz dos pré -
requisitos necessários para a aprendizagem e adaptação escolar”(FICHTNER apud SCOZ,
1987). Por exemplo, a dependência extrema dos filhos dificulta sua individualização e isto
prejudica seu desenvolvimento afetivo, cognitivo e motor. Pais excessivamente severos nas
punições e nas exigências podem provocar uma diminuição na auto-imagem do aluno e
7

uma ansiedade diante do medo de fracassar. Já pais encorajadores, estimulam seus filhos a
serem mais confiantes e ultrapassarem suas dificuldades.
Todos esses sentimentos são transferidos diretamente para o meio escolar,
influenciando no processo de ensino-aprendizagem. Sendo assim, a escola representa um
segundo vínculo afetivo da criança, interferindo diretamente no seu comportamento
emocional.
De acordo com Arruda (2003) o ambiente escolar é um laboratório de vivências
para a infância e juventude, nele estão refletidos todos os padrões de experiências
emocionais - de amor, ódio, cooperação, competição, medo, raiva, amizade – que delineiam
a formação emocional das pessoas.
Segundo Sisto et al.(1996) a experiência escolar tem grande influência na imagem
que a criança faz de si mesma. À medida que a escola rotula suas experiências de fracasso,
por exemplo, provoca um número maior ainda de decepções. Muitas crianças acabam
apresentando falta de segurança, inibição, falta de interesse pela escola, desencadeando em
uma diminuição da auto-imagem e auto-estima, em isolamento muito grande da criança ou
em comportamentos agressivos com companheiros e professores.
Isso significa que a escola não só tem potencial para trabalhar com os sentimentos,
como também para incluí-los em seu contexto, nas metodologias adotadas e nos
conhecimentos transmitidos.
A sala de aula é uma ambiente onde as emoções se expressam. Como em qualquer
outro meio social, existem diferenças, conflitos e situações que provocam os mais variados
tipos de emoção, sendo assim cabe ao professor administra-las e coordena-las. É preciso
encarar o aspecto afetivo como parte do processo de conhecimento, já que ambos são
inseparáveis. A escola ignora a articulação entre os aspectos afetivos, cognitivos e motor
nas atividades escolares. Na sala de aula, os aspectos afetivos e motor são considerados
estanques, sem nenhuma relação com o processo de conhecimento (ALMEIDA, 2001).
Segundo Friedrich & Preiss (2006) quando as informações são marcadas pelo
sistema límbico, controlador das emoções, fixam-se na memória de forma bastante
duradoura e são reativadas com mais facilidade. Em conjunto, os sentimentos podem
estimular o aprendizado, intensificando a atividade de redes neurais e fortalecendo suas
conexões sinápticas. Quando o aluno se sente afetivamente protegido, mas também
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desafiado a aprender, ocorrem mudanças químicas em sinapses que facilitam o acolhimento


e a reconstrução das informações adquiridas.
Esses autores ainda dizem que, quando o ambiente de ensino é emocionalmente
agradável, a aprendizagem se torna melhor, pois o objeto de aprendizado apresenta
conteúdo emocional, utilizando-se deste e de outros recursos o educador pode causar
maiores impressões no aluno, incentivando assim sua aprendizagem.
Assim, se torna clara a importância das emoções na educação escolar, inclusive
como facilitadoras da aprendizagem. Por isso, a escola, tendo uma função educadora, deve
desenvolver e envolver convenientemente os processos emocionais, através de atividades e
condutas que estimulem o trabalho e a manifestação adequada das emoções. Dessa forma,
desde o conteúdo proposto até a relação entre professor e aluno podem propiciar e auxiliar
o desenvolvimento do domínio afetivo-social das crianças.

4.3- E a Educação Física com isso?

A aprendizagem ocorre da integração entre corpo e mente, por isso movimento e


emoção são considerados, por muitos estudiosos, os pilares da educação. A Educação
Física tem como principal objetivo o movimento humano nas suas diferentes
manifestações. Porém, nenhum movimento ocorre sozinho, toda ação tem uma intenção
seja ela expressiva ou funcional, não podemos ignorar as múltiplas dimensões do ato motor.
Emoção e movimento apresentam uma relação de reciprocidade, assim a atividade do tônus
muscular permite, além da exteriorização dos estados emocionais, a tomada de consciência
dos mesmos pelo sujeito (ARRUDA, 2006).
Para Almeida (2001), o corpo é, por assim dizer, o instrumento de trabalho das
emoções. Ele tem a propriedade de absorver as formas imprimidas pela emoção. Portanto,
com essa sensibilidade para expressar as reações de ordem afetiva, o corpo assume a função
de veículo das emoções no meio social. Essa autora ainda cita que, de acordo com Wallon
(1971) os movimentos, como expressões de natureza afetiva, podem gerar emoções e ser
resultado delas. Os movimentos podem ser indicadores de estados emocionais que devem
ser levados em conta no contexto de sala de aula, tanto o excesso quanto a ausência deles
podem revelar a presença de determinadas emoções.
9

Dessa forma, a Educação Física representa um enorme campo de manifestação das


emoções, uma vez que trabalha com a educação do movimento, pelo o movimento e para o
movimento. Além disso, o esporte é capaz de promover a manifestação e surgimento de
diversas emoções em todos os envolvidos nesse fenômeno.
De acordo com Thomas (1983) pode-se constatar que o esporte representa um
campo de ação rico em processos emocionais onde as emoções podem alcançar
intensidades extremamente elevadas. Isso se aplica tanto ao esporte de competição de alto
nível como á Educação Física ou ao esporte de lazer. A forma específica da personalidade
da vivência e absorção das emoções, a importância do objetivo da ação almejada, a situação
da ação e a avaliação subjetiva dos resultados da ação determinam o tipo e a intensidade
dos processos emocionais ocorrentes.
Para o mesmo autor, a Educação Física oferece possibilidades de vivenciar
processos emocionais e de aprender a manejá-los, por isto vem ser um importante campo de
aprendizagem, dificilmente aplicado a outras áreas escolares, e que ainda é pouco
explorado. Como já discutido, as atividades propostas nas aulas podem afetar e modificar
os comportamentos e atitudes frente às situações e até mesmo a personalidade dos alunos.
Por se tratar de um ambiente que envolve diversas interações entre alunos, alunos e
professor, atividades em e entre equipes, alcance de metas e objetivos as aulas de Educação
Física propiciam a manifestação de diferentes estados emocionais, que muitas vezes
interferem no comportamento do aluno, impedindo-o até mesmo de realizar essas
atividades.
No tratamento dos processos emocionais pensa-se que as ocorrências se sucedem
somente no próprio indivíduo, de modo que são importantes apenas para quem vivencia as
emoções. Esquece-se de que os processos emocionais, muitas vezes, só ocorrem em
situações em que haja interações entre várias pessoas, cujo comportamento pode influenciar
a mencionada situação (THOMAS, 1983, p. 187). Isso é o que geralmente ocorre nas aulas
de Educação Física, onde as relações pessoais se tornam mais presentes, o julgamento e
avaliação social se tornam mais claros e as ações realizadas por um aluno mais evidentes
para os outros alunos.
A capacidade de manter suas ações sob controle, mesmo com o aparecimento de
ocorrências totalmente inesperadas, saber reagir de forma adequada á situação e aos fatos,
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sem perder a capacidade de ação pelas intensas emoções, deve ser aprendida, ainda assim,
depois de prolongados processos de aprendizagem e experiência, pode ser bastante
incompleta. Controlar cognitivamente as emoções, ou seja, aprender a ver as situações sob
diferentes ângulos e criar estratégias de pensamento, podem influenciar positivamente os
processos emocionais e limitar essas reações.
Assim, o professor deve interferir e trabalhar com o desenvolvimento emocional
durante as atividades, motivando o aluno a tentar, tornando a atividade prazerosa e
incentivando o respeito entre os alunos, não permitindo que, por exemplo, o erro de um
aluno seja motivo de vergonha para o mesmo. Além disso, as condutas e atitudes
desenvolvidas no esporte escolar desempenham um papel fundamental, não só no ambiente
esportivo, mas em outros meios de convivência do aluno.
É papel do professor de Educação Física compreender o aluno na sua dimensão
humana, na qual tanto os aspectos intelectuais quanto os aspectos afetivos estão presentes e
se interpenetram em todas as manifestações do conhecimento. Portanto, deve possibilitar ao
aluno o desenvolvimento pessoal juntamente com o desenvolvimento físico, motor e
cognitivo.

4.4- Características das emoções e possibilidades da Educação Física Escolar

A ação esportiva, tanto escolar quanto competitiva, propicia a manifestação de


diversas emoções. O simples fato de ouvir, por exemplo, um jogo de futebol pelo rádio
desperta diferentes sensações em seus ouvintes. No decorrer do jogo, o narrador é capaz de
transmitir ansiedade, agressividade, estresse, angústia aos que estão escutando o evento
esportivo. O mesmo ocorre em aulas de Educação Física, onde o aluno ao se expor aos
colegas, durante a realização de um exercício, por exemplo, manifesta diversos
sentimentos, como a vergonha, medo de errar entre outros.
Classificar os processos emocionais é um trabalho difícil, uma vez que vários
autores apresentam distintos critérios para isso. Utilizaremos aqui a forma sugerida por
Krech/ Crutchfield (1986 apud THOMAS, 1983) que classificam as emoções de acordo
com as características típicas da situação em que se baseiam. As emoções estudadas nesse
trabalho são classificadas da seguinte forma:
• Sentimentos primários: medo (ansiedade);
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• Sentimentos com base na auto-avaliação: vergonha, autoconfiança;


• Sentimentos dirigidos a outras pessoas: agressividade; disposição;
motivação.
A seguir, baseados em diferentes autores, definimos e discutimos cada um desses
estados emocionais, analisando sua importância e sua influência na ação esportiva, bem
como o papel da Educação Física Escolar no trabalho e desenvolvimento dos mesmos.

4.4.1- O medo

O medo é caracterizado como uma emoção fundamental (primária) e de perigo, de


forte impacto fisiológico (ativa o sistema nervoso simpático e aumenta os níveis de
adrenalina e noradrenalina), que prepara o indivíduo para uma ação física, e muitas vezes é
uma emoção inconsciente. O medo apresenta uma dupla contrariedade: não ter medo
suficiente torna a vida muita arriscada, mas o medo em excesso também limita as
probabilidades de sobrevivência. Mais que um estado de espírito, o medo é químico. Desde
que seja real e direto, é perfeitamente normal e ajuda a nos protegermos.
O medo surge freqüentemente em contextos sociais onde não se pode simplesmente
fugir da fonte de medo, e ameaça não o bem-estar individual (a integridade do ser como um
organismo), mas o bem-estar social (a integridade do ser relativamente à posição dos
outros). A sua causa deve ser entendida dentro do contexto em que essa emoção surge.
A origem do medo está associada à insuficiência de poder ou excesso de poder dos
outros. A crença que a falta de poder do sujeito resulta das suas próprias incapacidades é
concomitante com um sentimento de impotência ao qual se encontra associada à fuga como
comportamento de medo. Quando o responsável, pela insuficiência de poder do sujeito, é o
outro é provável que se verifique luta em vez de fuga (KEMPER, 1978 apud BARBALET,
1998).
O medo é uma reação a uma perspectiva de um acontecimento indesejável. Os
aspectos disposicionais do medo são largamente imaginados em termo de evitar ameaça ou
perigo físicos. Porém, em populações humanas, a origem ou objeto específico do medo é
tipicamente social e não física, principalmente na fase adulta. Enquanto as crianças sentem
12

medo de objetos concretos, como animais, pessoas e sons, com a chegada da adolescência,
essas sensações passam a ter uma conotação social.
Uma vez que a pessoa aprende a se sentir amedrontada em relação á algo, tende a
associar um sentimento de pavor a essa experiência, que ficou armazenada na memória.
Porém, o contrário também pode ocorrer, ou seja, ao aprender a controlar esse sentimento,
saberá como reagir quando situações semelhantes acontecerem.
De acordo com Thomas (1983) os sentimentos de medo no esporte podem ter
múltiplas causas. O atleta pode ter medo do fracasso, que ameaça sua performance; medo
de contusão, em conseqüência de movimentos mal executados; medo do vexame social,
pois a prática do esporte geralmente se dá perante a observação de outras pessoas e
fracassos diante de observadores podem significar para o atleta uma diminuição de valor de
sua capacidade e, com isto, sua personalidade; entre outros fatores.
O medo das conseqüências do fracasso no desempenho, especialmente em forma de
castigos, notas baixas, desclassificação etc. desempenham papel relevante. Durante muito
tempo o medo foi utilizado como meio pedagógico: as crianças deviam ter medo de seus
pais para não fazerem tolices, dos professores para fazerem seus deveres etc., sabe-se que
esse processo de educação apenas reprime e aumenta o sentimento de medo, em vez de
desenvolvê-lo e trabalhá-lo.
De maneira geral, pode-se afirmar que quanto mais estranha for a situação do
desempenho esportivo, quanto mais incerto forem o desenrolar e o resultado da ação,
quanto mais importante for a obtenção do objetivo e quanto pior forem as conseqüências
dos fracassos para o atleta, tanto mais intenso será o sentimento de medo durante e,
eventualmente, depois da execução da ação. O prognóstico mental de uma possível
ocorrência produz medo. Este estado muitas vezes conduz á insegurança do movimento, á
inibição de execução do movimento e á perda de pré-requisitos reguladores e diretores
emocionais e cognitivos da performance. O que provoca uma perturbação no desenrolar da
ação e com isto, de fato, o fracasso.
O mesmo autor ainda diz que, sempre haverá uma certa dose de medo ligada à ação
desportiva, o objetivo do esforço pedagógico na Educação Física não elimina o medo
dessas aulas. O professor deve estar em condições de reconhecer os fatores e as condições
provocadoras do medo, dominando-o de tal modo que o medo do aluno não cresça a ponto
13

de torná-lo inapto e absorvê-lo. A intensidade do medo deve ser reduzida a um grau que
permita o aluno dominá-lo ao executar atividades planejadas e superar os fatores que o
provocam.
O professor pode permitir ao aluno medroso evitar os exercícios provocadores do
medo, pode incentivá-lo a praticar o exercício com especial energia, e pode também
analisar, juntamente com o aluno, os fatores provocadores do medo no desenrolar do
movimento, desenvolvendo um plano onde o aluno aprende a dominar e, aos poucos,
reduzir seu medo.
Propiciar que o aluno aceite, entenda, e tolere um certo grau de medo; desenvolver
junto com ele meios de controle desse processo emocional (através de informações,
métodos distintos, relaxamento etc.); estimulá-lo a enfrentar esse sentimento (pontuando os
riscos reais) de forma progressiva e voltar ás origens dessa emoção são condutas que
podem ajudar o aluno a gerir seu medo nas aulas.

4.4.2- A ansiedade

Entendemos que a ansiedade é a resposta emocional determinada de um


acontecimento, que pode ser agradável, frustrante, ameaçador, entristecedor e cuja
realização ou resultado depende não apenas da própria pessoa, mas também de outros ou de
situações. Ela inclui manifestações somáticas e fisiológicas do organismo. Outras
abordagens a relacionam com uma expectativa de perigo, insegurança, ameaça ou desafio
de um objeto por vezes vago, criado no psicológico do indivíduo.
A ansiedade pode muitas vezes ser confundida com o medo, ambas emoções
envolvem padrões fisiológicos e psicológicos que são desagradáveis e provocam tensões,
porém a ansiedade é um estado emocional de antecipação do perigo, o qual não se
apresenta de forma clara, sendo uma emoção mais difusa. Uma pequena ansiedade tem
características construtivas, estimulando a criatividade, enquanto uma grande ansiedade
provoca uma sensação de desamparo, tornando a pessoa ineficaz (CALHOUN apud
MACHADO, 2006).
A ansiedade está tipicamente relacionada ao desempenho de uma atividade, sendo
que diferentes níveis de ansiedade ou nervosismo têm efeitos diferentes no desempenho de
uma pessoa em tal situação. Segundo Maggil (1984) a ansiedade afeta a aprendizagem e o
14

desempenho de acordo com a relação entre o nível de ansiedade do indivíduo e a


complexidade da tarefa, e pode ser considerada como uma forma específica de ativação.
A ansiedade deve ser considerada um traço sendo esta uma característica da
personalidade do indivíduo de forma permanente, ou um estado, que se refere a como uma
pessoa reage a uma situação, se caracteriza por reações temporárias dela, isto é, o estado
emocional de um indivíduo que experimenta sentimentos de apreensão, tensão, nervosismo,
preocupação ou medo, como em competições esportivas. A relação entre essas duas formas
de ansiedade deve ser considerada ao relacionar ansiedade com desempenho motor. A
pessoa que apresenta um alto nível de ansiedade de traço apresenta também um maior nível
de ansiedade de estado perante diferentes situações.
A ansiedade de traço parece interagir com duas variáveis importantes: a
importância da situação para o indivíduo e a incerteza do resultado da situação. Quanto
maior a importância que o indivíduo atribui a uma situação, maior será a possibilidade de
que ele exiba um alto nível de ansiedade de estado. Temos também que à medida que
aumenta a incerteza quanto ao resultado de uma tarefa, o nível esperado de ansiedade de
estado também aumenta. Dessa forma, essas duas variáveis interagem com o nível de
ansiedade de traço do indivíduo na produção de um nível determinado de ansiedade de
estado, sendo também a complexidade da tarefa outro fator de influência nos níveis de
ansiedade.
A relação entre nível de ansiedade e desempenho se baseia na teoria do U
invertido, isto é, tanto os níveis muito baixos como os níveis elevados de ansiedade
resultam em um desempenho igualmente reduzido.
Por isso, a informação acerca dos níveis individuais de ansiedade se torna útil à
medida que permite aos professores tentarem determinar o que é necessário se aplicar em
um indivíduo em certas situações. Se o nível de ansiedade for muito elevado, poderiam ser
aplicados procedimentos para acalmarem o indivíduo ou atividades mais simples, ao
contrário se os níveis forem excessivamente baixos é necessário estimular o indivíduo para
a tarefa em questão como, por exemplo, com atividades mais complexas.
Conhecer os motivos prévios que alteram a ansiedade possibilita um manejo
maior e mais eficiente, através das técnicas adequadas, o que ameniza o efeito desta
ansiedade em situações específicas.
15

Para tentar diminuir o nível de ansiedade, o técnico ou professor de Educação


Física precisa, antes de qualquer coisa, identificar o indivíduo ansioso e posteriormente
localizar os motivos prévios da ansiedade. Somente a partir daí, utilizar algumas estratégias
práticas.
Uma forma de desenvolver um nível equilibrado de ansiedade é trabalhando a
autoconsciência, conhecimento do próprio corpo, que permite ao indivíduo definir
claramente os valores sob os quais deseja viver, sendo que um alto ou baixo nível de
ansiedade de traço existe em função da identificação pessoal do indivíduo, o que
influenciará na ansiedade de estado.
Sendo assim, o professor deve ter como objetivo o desenvolvimento de um nível
de ansiedade ótimo para a tarefa em questão, otimizando o desempenho de seus alunos,
intervindo adequada e precisamente para garantir um estado emocional favorável ao grupo,
de modo que seus alunos possam analisar os fatos e estabelecer comparações e critérios.

4.4.3- A vergonha

Segundo Lelord & André (2002) a vergonha vem a ser um sentimento penoso de
inferioridade, indignidade e de diminuição na opinião dos outros. Pode ser proveniente de
várias fontes, por exemplo, o sentimento de não ser como os outros são (fisicamente,
socialmente, profissionalmente etc.), sentir-se culpado por algum acontecimento
(culpabilidade), ser pego fazendo algo errado etc. Porém, a vergonha é um excelente
regulador de nossos comportamentos sociais, servindo para proteger a nossa identidade no
grupo, impedindo-nos de transgredir determinadas normas. Contudo, em níveis elevados,
assim como as outras emoções, esse sentimento também pode ser um grande empecilho
para a ação.
Por se tratar de uma emoção de auto-avaliação, a vergonha é um sentimento de
queda original, não porque se tenha cometido uma falta, mas simplesmente pelo fato de
“cair” frente aos outros. Trata-se de um sentimento de insegurança provocado pelo medo do
ridículo ou de uma situação embaraçosa, que compromete o relacionamento social do
indivíduo.
16

Esse processo se instala a partir do momento que somos observados e julgados pelos
nossos pares, ou então por nós mesmos, e que os resultados de nossas ações será a medida
para que estejamos sofrendo comparações com nossos rendimentos anteriores ou de outros.
Medo, ansiedade e vergonha se associam.
Em aulas de Educação Física, comumente os alunos sentem vergonha de fracassar
frente aos colegas, vergonha de não ser habilidoso como os outros alunos, vergonha de se
expor, vergonha de realizar determinada atividade, vergonha de se sentir humilhado etc.
evitando a prática das aulas para fugir dessas situações.
Segundo Thomas (1983):
como a ação desportiva é dirigida à obtenção de objetivos, muitas vezes provoca
sentimentos de auto-avaliação, como sentimentos de sucesso ou fracasso, orgulho
ou vergonha. Os sentimentos de sucesso ou fracasso surgem na comparação da
performance obtida com o próprio nível de exigência. Sentimentos de orgulho ou
de vergonha resultam da comparação entre o “eu-ideal” e o verdadeiro resultado
da ação. Havendo uma discrepância muito grande entre o “eu-ideal” ou as
expectativas do meio ambiente e os resultados da ação e as performances
realmente alcançadas, surge um sentimento de vergonha que é tanto maior quanto
menos se possa justificar estas discrepâncias (p.194).
Na verdade, o que deve ser considerado sempre é que as aulas de Educação Física
não devem ser excludentes, desmerecendo os não habilidosos, e muito menos seletivas,
exigindo performance dos alunos. O erro deve ser explorado como meio pedagógico,
reforçando que, o fracasso não é motivo para o surgimento de sentimentos de culpa,
fraqueza e insignificância.
É necessário que o professor estimule a participação de seus alunos frente às
situações que eles julguem vergonhosas, refletindo as causas de sua manifestação e
desenvolvendo sua autoconfiança, que se apresenta como um importante inibidor do
sentimento de vergonha, devendo assim ser explorada nas aulas.

4.4.4- A motivação

A motivação é um fenômeno presente no processo de ensino-aprendizagem que interfere


no comportamento de professores e alunos. Maggil (1984) define a motivação como as causas
que afetam o início, a intensidade e a manutenção de um comportamento, sendo que estes três
17

fatores são influenciados por diferentes aspectos, como o estabelecimento de objetivos, a


ansiedade e o reforço, tendo a motivação um papel importante para a aprendizagem.
Quando não estamos interessados por alguma tarefa/ atividade, não sentimos prazer, nem
vontade de realizá-la. O contrário também é verdadeiro: quando realizamos uma tarefa e
sentimos prazer ou satisfação (emoções positivas e bem-estar), a tendência é voltarmos a
executar esta ação. Assim funciona o mecanismo da motivação; a busca pelo prazer/satisfação
das necessidades individuais. Cirulli (1994) afirma que o indivíduo pode começar a aprender
determinada atividade com um nível baixo de motivação, porém, a medida que progride, que
apresenta êxito, seu nível de motivação pode aumentar.
Temos que esse mesmo mecanismo ocorre no processo de ensino- aprendizagem nas
aulas de Educação Física, uma vez que, freqüentemente, problemas referentes à motivação são
encontrados, já que nem todos os alunos encontram prazer ou estão interessados nas atividades
oferecidas durante as aulas e muitas vezes são obrigados a freqüentá-las.
Há uma relação de reciprocidade entre aprendizagem e motivação, ou seja, não só a
motivação gera a aprendizagem, mas também a aprendizagem gera motivação para querer
aprender mais, tendo assim a motivação um importante papel tanto no início como na
manutenção do comportamento.
De acordo com Meinel (1984, apud CIRULLI, 1994), a atividade de aprendizagem e
a motivação da aprendizagem é muito importante, devendo-se considerar a situação inicial
do aluno, e a partir daí, criar ou reforçar e mantê-las no decurso de toda a fase de
aprendizagem.
Sendo assim, é necessário que o professor esteja constantemente preocupado com a
motivação do aluno, induzindo-o a querer aprender o que está sendo ensinado, iniciando
assim seu comportamento, que deve ser mantido durante toda a atividade para o aluno seja
estimulado a aprender até o limite de sua capacidade, determinando a intensidade do
comportamento.
Blair et al. (1967, apud CIRULLI, p. 13) ainda cita que o professor deve criar uma
atmosfera que proporcione ao aluno a oportunidade de satisfazer as necessidades certas,
através de incentivos certos como, por exemplo, tratar as necessidades e interesses de cada
criança como um grupo peculiar de características para planejar as atividades; ajudar a
18

criança a ter uma impressão de êxito e confiança, elogiando-a quando necessário,


fornecendo feedback e ajudando-a a descobrir suas capacidades; entre outros incentivos.
Dessa forma, o professor deve fazer o possível pra criar valores de estímulos
positivos e atraentes ao maior número de alunos, despertando maior interesse e desafio. A
utilização de diferentes materiais e recursos, as propostas adequadas de atividades de
acordo com os interesses dos alunos e um bom relacionamento entre professor - aluno são
pontos fundamentais para estimular a participação dos alunos nas aulas de Educação Física.

4.4.5- A agressividade

A agressividade está freqüentemente presente nas escolas, em especial nas aulas de


Educação Física, e a manifestação desse sentimento no meio escolar vem sendo estudada
por muitos pesquisadores.
De acordo com Mussem et al (apud SILVEIRA, 2003) citado por Schreiber et al.
(2005), a agressão pode ser definida como um comportamento que ofende ou tem o
potencial para ofender uma outra pessoa ou objeto. Pode ser um ataque físico (bater, dar
pontapés, morder), ataque verbal (gritar, xingar, depreciar), violação dos direitos alheios. A
agressão está relacionada com a intenção de causar danos à outra pessoa ou objeto, levando
em conta a intenção do agente. Este comportamento nocivo aos outros é considerado
agressão, principalmente quando a criança está consciente da sua capacidade de ferir
alguém.
Para Schreiber et al. (2005) os fatores que desencadeiam as brigas e discussões
surgem muito cedo entre as crianças, seja no ambiente familiar ou escolar. Estes fatores são
considerados manifestações espontâneas da vontade de apropriar-se de objetos ou de um
território, de impor suas idéias e com freqüência à maneira mais comum que a criança
encontra para mediar seus conflitos; surge então o comportamento agressivo.
Esse processo emocional é determinado por diferentes fatores. A desestruturação
familiar, rejeição dos pais e convívio com conflitos diários entre parentes desencadeia em
problemas no relacionamento do indivíduo com o mundo em que vive, interferindo até
mesmo no processo de aprendizagem, já que ao manifestar atitudes de agressividade a
criança acaba por tornar o ambiente menos receptivo à busca do conhecimento, por meio da
prática educativa. No ambiente escolar é comum a manifestação de comportamentos
19

agressivos, devido á insatisfação ou descontentamento do aluno com alguma situação, por


isso o professor deve estar preparado para solucionar este tipo de problema.
Nas aulas práticas de Educação Física, naturalmente ocorrem situações em que
expectativas e opiniões costumam divergir, muitas vezes o próprio contato físico resulta em
agressão. Atitudes como, o desinteresse pela aula, a revolta diante de situações de derrota
em jogo competitivo, ou rebeldia e agressividade são comuns, porém não devem ser
ignorados, e sim questionados e discutidos. O professor deve conhecer as limitações e
condições de cada aluno e não julgá-lo ou puni-lo por suas atitudes, que muitas vezes são
reflexos do ambiente que ele convive.
A teoria da aprendizagem social confirma que a criança apresenta uma forte
tendência a reproduzir o que ela observa e vivencia no meio. Então, além da influência
familiar e escolar, temos que a mídia representa uma grandiosa determinante para a
manifestação da agressividade, já que cenas de violência, inclusive no esporte, são
comumente assistidas por todos nós.
Para Witter (1991 apud MACHADO, 2006) a agressividade física e verbal tem sido
associada à exposição dos adolescentes da televisão, particularmente quando essa
exposição se faz de modo reiterado, continuamente ao longo de certo tempo. A maior parte
da literatura sobre o assunto, afirma que a televisão não só transmite e perpetua os
comportamentos de agressão aceitos pela sociedade, como também é possível que funcione
no sentido de relação causal, geradora de maior número de eventos agressivos exibidos pelo
indivíduo e de um aumento de intensidade nessas manifestações agressivas (RUBINSTEIN,
1983 apud MACHADO, 2006).
O esporte, sem dúvidas, é um ambiente propício para o aparecimento do
comportamento agressivo e violento, não só entre atletas, mas também entre torcedores e
outros envolvidos. Isto está diretamente ligado à importância emocional que a competição
representa para cada desportista e seu envolvimento emocional com a atividade. Deve
também ser levada em conta a participação direta das expectativas que cada torcedor leva
para a competição, influenciando assim o comportamento agressivo de cada atleta na
competição. Quando há uma platéia e/ou uma torcida esta também influencia o emergir e a
manutenção da agressão, tanto entre os que estão diretamente envolvidos na atividade
esportiva, como nos que a assistem.
20

O professor deve estar ciente que essas manifestações agressivas (pancadarias,


torcidas organizadas, a polícia, invasões dos campos etc.) tão vistas nos eventos esportivos,
com certeza, serão levadas pelos alunos às aulas de Educação Física e deverão ser
trabalhadas adequadamente.
Sendo assim, Rubinstein (1983) citado por Machado (2006) sugere que estes casos e
os demais de igual proporção devam ser tratados no momento exato em que ocorram, não
permitindo uma repetição, em especial dentro do circuito escolar. Segundo sua
fundamentação, existe a questão do haver aprendido, pela exposição do fato, na mídia, seja
ela qual for; no entanto, a imitação e a falta de limite nessa ação, sem um comentário
acertado e direto do professor, podem ser a origem de maiores atos de agressividade, junto
aos escolares.
Um estudo realizado por Machado (1993), analisando o esporte escolar durante um
campeonato em cidades de médio porte, concluiu que a atitude pontual e assertiva do
professor, no momento da balburdia, tem poder de transformação do clima ostensivo
reinante, numa forma mais amena e menos constrangedora, para os grupos envolvidos no
momento esportivo. A intervenção adequada e imediata do professor no aparecimento do
comportamento agressivo é essencial.
Outra forma de se trabalhar a agressividade e violência nas aulas é debater e assistir
aos jogos, junto com os alunos, atribuindo a eles a função de elaborar comentários técnicos
e análises do jogo, em questão. Além disso, considerar e valorizar os alunos, suas opiniões,
necessidades e limitações, parece ser um meio de evidenciar o ser por inteiro, modificando
a visão excludente e discriminatória da Educação Física como capacidade motora.
Tais fatores podem favorecer um desenvolvimento crítico do aluno, transformando
suas atitudes agressivas. Assim, em conjunto, é possível elaborar idéias que se
transformarão em práticas esportivas saudáveis dentro, e fora, das próprias aulas de
Educação Física.
21

4.5 - Relação professor-aluno: interferências na formação emocional

Como já citado, a família forma o primeiro vínculo afetivo da criança. A princípio,


os pais serão os grandes responsáveis pela formação de seus filhos, e serão por eles vistos
como líderes (referência) da interação social estabelecida ali.
A interação social é definida como uma relação entre pessoas, de maneira que o
comportamento de uma constitui ou serve de estímulo para o comportamento da outra
(CUNHA, 1996; ULRICH, 1975 apud DARIDO & RANGEL). Isso ocorre nas relações
entre pais e filhos, professores e alunos, atletas e técnicos, colegas de turma etc.
No momento em que a criança em idade escolar, por meio das ações do professor e
das novas amizades, desliga-se das interferências familiares e rompe com o modelo de
educação que recebia em casa, por conseqüência passa a sofrer as influências desse novo
núcleo de convivência que é a escola (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 1995).
Nesse meio, passará a respeitar novas regras e limites, ter novas interações sociais,
liderados por outras pessoas, e não mais pelos pais. Na escola, o aluno terá como modelo de
referência para a sua formação o professor, que representará a instituição educacional,
porém é importante ressaltar que pais e mestres se completam na educação da criança. O
primeiro é responsável pela educação ampla, irrestrita enquanto ao segundo cabe a
educação escolarizada, acompanhada de seus valores morais e sociais.
No ambiente escolar, a relação professor- aluno representa um aspecto fundamental
no processo de ensino–aprendizagem e na formação pessoal do aluno. O sucesso e o
insucesso desse processo dependem da interação entre os dois agentes em sua prática
pedagógica.
É possível distinguir dois aspectos interacionais na prática docente: aquele que se
relaciona com os aspectos cognitivos ou intelectuais e ao que se relaciona ao aspecto
emocional e social, ambos se ligam, se entrelaçam e determinam como os alunos lidarão
com os conhecimentos. Isso significa que, além da capacidade de ensinar conhecimentos
específicos, é também papel do professor transmitir, de forma consciente ou não, valores,
normas, maneiras de pensar e padrões de comportamento para se viver em sociedade.
Portanto, faz-se necessário um plano de trabalho em que se contemple esses dois aspectos
(DARIDO & RANGEL, 2005).
22

A relação professor-aluno depende dos anseios, desejos, objetivos e necessidades de


cada um, podendo então haver um nível de interação muito alto até simplesmente não haver
interação, se um não conseguir suprir os interesses do outro, por diversos motivos. Quando
isso ocorre, há apenas um relacionamento profissional, que permite um avanço técnico-
pedagógico, ou seja, que garante a transmissão e recepção do conhecimento, porém
compromete o avanço no aspecto humano da relação.
Sobrinho, Mello e Peruggia (1997) afirmam que a personalidade do professor tem
uma importância relevante para estabelecer uma boa relação com as pessoas que dirige,
uma vez que suas atitudes serão incorporadas às vidas dos alunos. As maneiras de
encararem os problemas e buscarem soluções, as formas de se estabelecerem análises e
estratégias e as formas de perceberem limites e transpô-los serão aprendidas no contato
com o professor.
De acordo com Sisto et al. (1996), o grau de abertura que o professor oferece às
perguntas e indagações dos alunos e o respeito que lhes proporciona podem criar situações
de aprendizagem muito diferenciadas. Os alunos sentem quando a aula está sendo dada com
entusiasmo e seriedade e não com displicência. É mais provável que se envolvam com os
ensinamentos transmitidos se perceberem que o professor se envolve também e os aceitam
como são, com suas dificuldades e limitações.
Segundo Resende (1994b apud DARIDO & RANGEL, 2005) a aula de Educação
Física encontra-se repleta de conflitos, inerentes a qualquer forma de interação social, que,
nesse caso, emergem da interação do aluno como meio social e cultural da aula.
O movimento humano é uma das formas mais fundamentais de interação social e
requer uma relação íntima das pessoas entre si e o universo. Dessa forma, em aulas de
Educação Física as relações sociais se fortalecem e se manifestam com maior
expressividade. Professor e alunos interagem de forma mais direta e aproximada,
influenciando um na ação e reação do outro.
Sendo assim, fica clara a relevância da interação entre professor-aluno, onde a ação
de um determina o comportamento do outro, em uma relação mútua. Quando o professor
adota uma postura negativa (raiva, agressividade etc.) influenciará negativamente seus
alunos e vice-versa. O mesmo ocorre com as condutas positivas (alegria, motivação etc.).
23

Não só a relação professor-aluno determina o processo de aprendizagem, a escola


também é um fator determinante. Além da instituição escolar, outros aspectos intra-
escolares como inadequação de currículos, de programas, de sistemas de avaliação, de
métodos de ensino interferem diretamente no potencial de aprendizagem do aluno. É
comum, em nossas escolas, a utilização de materiais desestimulantes, de métodos
ultrapassados e aplicação de atividades sem significado para as crianças, desconsiderando
suas expectativas, suas possibilidades e limitações e as diferenças individuais.
Dessa forma o processo de ensino-aprendizagem é prejudicado, dificultando ao
aluno a assimilação do conhecimento. Tornar as aulas prazerosas se faz necessário para que
ocorra o aprendizado. Reconhecer cada aluno como único e criar estratégias para cada
necessidade e situação, respeitando suas dificuldades e particularidades é um importante
passo no ensino.
24

5- Metodologia

Além da revisão bibliográfica, para realizarmos a pesquisa de campo, adotamos os


procedimentos de uma pesquisa qualitativa. Dessa forma, optamos pela aplicação de
entrevistas semi-estruturadas, totalizando 10 questões para cada sujeito. As entrevistas
foram gravadas e transcritas para análise dos dados obtidos.

5.1- Instrumento

De acordo com Bonow (1972) a entrevista é uma técnica de obtenção direta de


dados que permite não só uma visão geral das características do indivíduo (atitudes,
sentimentos, interesses, necessidades, aspirações etc.) como também de seu ambiente social
(família, escola, trabalho etc.). Ainda por meio dessa técnica dinâmica poderá se comprovar
as observações já realizadas e estabelecer correlação entre as atitudes do indivíduo e as
condições ambientais em que ele vive. Nosso instrumento foi balizado por um conjunto de
três professores doutores do Departamento de Educação Física da UNESP- Rio Claro, que
deu aval à aplicação da mesma, atendendo aos padrões de pesquisas científicas.

5.2- Participantes

Participaram desse estudo 25 alunos e 5 professores do Ensino Fundamental,


especificamente 8ª séries, de duas escolas públicas da cidade de Rio Claro, interior do
Estado de São Paulo, à 150 km de distância de Campinas e 32 km de Piracicaba, os grandes
centros regionais. Os sujeitos tiveram seus nomes preservados, como exigência de padrões
vigentes nos comitês de ética.

5.3- Análise de dados

Após a coleta, os dados foram tabulados e categorizados, isto é agrupados em


proximidades temáticas, em suas convergências ou mesmo divergências, tendo como
25

suporte a literatura utilizada na pesquisa. Assim, as respostas foram classificadas de acordo


com seus graus de incidência e importância.

6- Análise e discussão dos resultados

Para a análise dos dados, as questões foram agrupadas de acordo com sua
abrangência, visando facilitar o entendimento das respostas. O primeiro grupo de perguntas
refere-se á presença e ao contexto em que se manifestam os estados emocionais em aulas de
Educação Física.
A questão 1 solicitou que os alunos descrevessem em que tipo de atividade surgiam
os sentimentos de medo e/ ou vergonha nas aulas de Educação Física, justificando suas
respostas.
Dos 25 alunos entrevistados, 6 citaram a presença da vergonha em diferentes
atividades, proveniente do fato de não saberem executar o que foi pedido; de se sentirem
mal realizando a atividade e da vergonha dos colegas por serem o centro das atenções.
Ainda nessa questão, 4 alunos expressaram que apresentam medo em executar algumas
atividades, entre as citadas temos o basquete, carrinho de mão, vôlei e alongamento, todas
essas situações causadas pelo medo de se machucarem, como vemos nos depoimentos a
seguir:

- “Tenho vergonha de fazer alongamento, porque a gente tem que fazer


algumas atividades que a gente não sabe muito”. (Aluno 1)

- “Eu tenho medo de jogar vôlei, porque eu não gosto de bater na bola, a
bola vem na cara, acertou uma vez meu rosto e cortou a minha boca. E
vergonha de fazer exercícios como flexão, polichinelo, porque me sinto
mal fazendo essas atividades”. (Aluno 9)

Outros 15 alunos afirmaram não sentir medo e/ou vergonha durante a aula.
Já para os professores, foi solicitado que identificassem a presença e as situações em
que ocorriam esses sentimentos em seus alunos, e buscassem uma justificativa para tal.
26

Os cinco professores entrevistados afirmaram a presença dessas emoções em seus


alunos. Os cinco citaram a vergonha da exposição frente aos colegas, e uma citou o contato
físico, como situações de manifestação, visto na declaração abaixo. O medo de se machucar
foi citado por uma das professoras.

- “Sim. Tirar o tênis, eles têm vergonha. Coisas em duplas, eles ficam
com um pouco de vergonha. Ás vezes, pelo contato com o outro, ás vezes
por uma questão de higiene mesmo, de ter que tirar o tênis e o colega
ficar rindo, aí eles ficam com vergonha”. (Professor 1)

Comparando os dados de alunos e professores, podemos verificar que há uma


concordância entre ambos, já que citaram situações semelhantes para a manifestação das
emoções em questão, mostrando que, de certa forma, os docentes conseguem identificar a
presença desses estados em seus alunos.
Em relação á vergonha, La Taille (2006) a define como um sentimento de
desconforto afetivo, causado pela exposição do sujeito (pelo fato de se sentir exposto ou
observado), ou pela sensação de perda real ou virtual de valor (autojuízo negativo, ferindo a
“boa imagem” que se tem de si). Tal descrição assemelha-se ás situações citadas pelos
alunos e professores, nas quais a vergonha se manifesta pelo simples fato da criança estar
sendo observada, realizando ou não alguma ação, e por se sentir fora de um padrão, como,
por exemplo, ser menos habilidoso.
Já o medo de lesões, mais citado pelos alunos e também lembrado pelo professor, é
uma manifestação comum entre atletas de rendimento e praticantes de atividades físicas.
Machado (2006) menciona que o próprio sentimento de medo pode causar lesões em atletas
e pode prejudicar a recuperação do indivíduo e o seu retorno à prática da modalidade
esportiva. Isto porque o mesmo pode vir a sentir medo de fazer novamente o(s)
movimento(s) que propiciou a lesão.
Transportando essa afirmação para a Educação Física Escolar, é possível
estabelecermos certas relações, uma vez que muitos alunos ao se lesionarem realizando
alguma atividade se sentem receosos ou até se afastam da prática da mesma, como visto na
declaração de um dos alunos. Tais dados demonstram que maiores cuidados devem ser
tomados nestas situações, nas quais os alunos manifestaram as emoções em questão,
27

cabendo ao professor identificá-las e solucioná-las, como agente facilitador do processo de


aprendizagem.
A questão 2 referiu-se á motivação nas aulas. Quando questionados sobre seu nível
de motivação e o porquê de sua manifestação, 22 alunos afirmaram que se sentem
motivados a fazer as aulas de Educação Física, por motivos distintos: 4 citaram as
atividades diferentes como um fator determinante; 18 por gostarem da aula se sentem
motivados a fazê-la; ainda foram citados uma vez a prática de esportes, a companhia dos
colegas (maior contato), o incentivo da professora e o momento de lazer/ descontração
como aspectos motivadores.

- “Sim. Porque são atividades diferentes das que fazemos”. (Aluno 4)

- “Sinto, porque sempre são coisas diferentes e tem que exigir da nossa
criatividade, da nossa capacidade, aí eu acho legal”. (Aluno 7)

Já os outros 3 alunos 2 afirmaram não gostar das aulas de educação física, por isso
se sentiam desmotivados e um disse que dependia da atividade.
Aos professores, foi pedido que descrevessem o que tornaria uma aula motivante
para seus alunos. Os 5 citaram que uma aula motivante é aquela em que todos participem e
aprendam, e um deles citou a presença de atividades que os alunos gostem, estimulando-os
para a prática.

- “Uma aula com atividades que os alunos gostam, fazem, que eles
cumpram o objetivo, que participem”. (Professor 3)

Nesse caso, observamos a importância da motivação nas aulas de Educação Física.


Os dados nos mostraram que os alunos, quase que em sua totalidade, se sentem motivados a
participar da aula e que os professores identificam a necessidade dessa estimulação, apesar
de não descreverem com clareza os reais motivos dos alunos. Tal fator poderia auxiliá-las
na preparação das aulas, considerando os aspectos motivadores para as crianças.
Em estudo realizado por Cirulli (1994) á respeito da motivação em aulas de
Educação Física, no qual foram entrevistados alunos e professores, detectou-se que um
28

importante fator que motiva os alunos para a prática dessas aulas é a atenção dada pelo
docente e a relação entre eles, fator também citado na nossa pesquisa. Outro dado relevante
é quanto á perspectiva dos alunos em relação ás aulas, sendo que a maioria espera uma aula
ativa com novos aprendizados, sendo este ponto o mais citado pelos alunos aqui
entrevistados.
Nesse estudo verificamos que os professores identificam essa necessidade dos
alunos em aprenderem conteúdos novos, diferentes, que gostem e tenham interesse. Dessa
forma, como também já visto na literatura, fica clara a importância do professor como
chave para a motivação dos alunos, já que as atividades que prepara, a sua relação com os
mesmos entre outros fatores determinam o nível de motivação das crianças.
Na pergunta 3, levantamos a presença da agressividade (verbal e/ou física) nas aulas
de Educação Física e em que situações ela comumente aparece, na visão de alunos e
professoras.
Para 9 alunos, não há manifestação de comportamentos agressivos durante as aulas.
Já, 7 alunos citaram que raramente ou ás vezes ocorrem um ato de agressão e que
geralmente ocorre no jogo de futebol, sendo que 1 deles referiu-se á conflitos entre meninos
e meninas. No entanto, 8 alunos confirmaram a presença da agressividade, 6 deles
apontaram o jogo de futebol, mais uma vez, como uma situação conflitante, e um deles
citou a agressão com estagiários.

- “Isso sempre tem, querendo ou não, principalmente entre os meninos.


Quando ela dá futebol, eles sempre se xingam, mas é coisa boba, nada
sério”. (Aluno 3)

- “Quando ocorre é mais entre os alunos, mas não é nada sério. Mais no
futebol, essas coisas assim”. (Aluno 7)

Todos os professores identificaram a agressão nas aulas, em situações distintas das


citadas pelos alunos. Um apontou que em atividades que envolvam maior contato (como
em fila) os alunos se agridem fisicamente; e dois citaram que quando propõem atividades
diferentes daquelas que os alunos querem, ou seja, quando são contrariados, os alunos
apresentam esse comportamento agressivo, em especial através de xingamentos.
29

- “Sim. Quando estão em fila eles ficam batendo no outro, quando você
está propondo uma coisa que eles acham que não é de acordo com o que
eles querem, porque, ás vezes, eles só querem futebol. Então, você
propõe uma coisa diferente, mesmo que eles gostem num segundo
momento, no primeiro momento eles ficam reclamando, xingam... Eu
acho que é isso, quando eles são contrariados e quando estão na fila. No
jogo também”. (Professor 5)

Como já ressaltado nesse trabalho o ambiente escolar, em especial a Educação


Física, é um meio comum de manifestação de comportamentos agressivos, devido a
diversos fatores como: insatisfação ou descontentamento do aluno com alguma situação,
divergência de expectativas e opiniões, desinteresse pela aula, contato físico com outros
colegas, revolta diante de situações em jogo entre outros.
Alguns desses aspectos foram citados pelos professores entrevistados como
situações de manifestação da agressividade; porém a agressão proveniente da contradição
foi lembrada por dois deles, confirmando a afirmação de Bee (apud JAEGER, 1997 citado
por Schreiber et al., 2005) que diz que, as crianças, independente de sua faixa etária ao
serem contrariadas sentem-se frustradas e em seguida manifestam o comportamento
agressivo.
Porém, para os alunos, a forma que se manifestam quando contrariados, através da
agressão verbal, não parece para eles uma forma de agressão (não sendo citada por nenhum
deles). O fato de xingarem a professora ou um colega, baterem nos companheiros de classe
etc. também não representa um ato agressivo, o que já se tornou comum para muitos,
inclusive no momento esportivo (jogo de futebol). Essas questões nos fazem pensar na
maior necessidade de diálogo entre ambas as partes e quando da ocorrência dessas
situações, já que pontuando e discutindo esses acontecimentos o professor pode
desenvolver o senso crítico de seus alunos, evitando o ressurgimento desse comportamento.
A questão 4 indagou os alunos sobre sua autoconfiança em realizar as atividades
propostas em aulas, dando seus motivos para tal. Dos 25 alunos, 22 confirmaram que se
sentem confiantes, destes, 2 indicaram que o fato de saberem que podem contar com a
ajuda da professora determina seus níveis de confiança; 5 citaram que a própria professora
30

passa essa confiança através da boa explicação por exemplo, citada por um desses alunos; e
9 por gostar de fazer as atividades se sente confiante em realizá-las.

- “Sim, porque a professora passa essa confiança, a aula é bem


tranqüila. Não é uma assim... lá dentro, séria e tal. E também uma
matéria assim, que tem que levar a sério, Educação Física também é
importante, mas é mais descontraído, porque você sai da sala de aula,
tem direito de opinar, eu gosto de tal esporte, aí vê qual a maioria tem
opinião pra gente fazer”. (Aluno 2)

- “Sinto. Porque sempre há uma explicação bem feita, sempre os detalhes


são citados e, com certeza, a gente desce confiantes e motivados a fazer
as atividades”. (Aluno 10)

Já 3 alunos apontaram que nem sempre se sentem confiantes, pelo medo de


realizarem alguns exercícios propostos.
Para os professores foi perguntado se há preocupação em trabalhar a confiança de
seus alunos e de que forma o fazem. Todos responderam que procuram trabalhar essa
emoção nas aulas, citando algumas formas de atuação como incentivo aos alunos e correção
dos mesmos quando necessário. Ainda foram citados uma vez o fato de fazer junto com os
alunos a atividade e de não exigir perfeição deles (performance) e sim, que executem
dentro de suas possibilidades, o que se apresenta como um aspecto muito importante.

- “Assim, a gente incentiva eles a fazerem, mesmo que não faça perfeito.
A gente procura estar corrigindo, incentivando, procurando melhorar”.
(Professor 2)

Esses dados mostram que o trabalho feito pelos professores e os métodos utilizados
para o desenvolvimento da confiança, têm surtido efeito nos alunos, já que a maioria se
sente confiante nas aulas. Porém, ainda falta trabalhar com alguns casos específicos, como
o trabalho com o medo. Através de um trabalho conjunto dessas duas emoções é possível
administrar a manifestação das mesmas nas atividades.
31

Como visto na literatura, a confiança está diretamente relacionada á aceitação e


reconhecimento, uma vez que o número de sucessos e fracassos obtidos pelo indivíduo irão
determinar seu nível de confiança para realizar determinada ação. Tal fato ressalta a
importância do professor como encorajador e fornecedor de reforço para o aluno. Além
disso, uma educação que favoreça e estimule o potencial dos alunos produz um estado de
segurança que proporciona o desenvolvimento adequado da auto-estima, fator também
importante na formação do indivíduo.
A questão 5 tratou da presença da ansiedade nas aulas de Educação Física,
esperando que alunos e professoras identificassem em que momentos esse estado
emocional se manifestava nas crianças. Seis, dos 25 alunos entrevistados, responderam que
não se sentem ansiosos em momento algum das aulas. Já 19 alunos se sentem ansiosos,
sendo que 3 manifestam essa emoção no momento de ir pra aula (sair da sala) e 5 citaram o
fato de quererem jogar e fazer as atividades, 8 citaram o fato de um lance decisivo como
um pênalti, lance livre, como situação onde a ansiedade aparecia. Ainda uma aluna
respondeu que dependendo da atividade há a presença desse estado.

- “Fico bastante ansiosa. Pra sair da sala de aula, vim e jogar, ás vezes
eu fico com vontade de jogar e não tenho tempo de jogar em casa, aí na
escola dá pra jogar, tem algum campeonato fora das aulas”. (Aluno 2)

- “A gente não vê a hora de sair da sala, de fazer alguma coisa diferente


e está sempre mudando um pouco a nossa rotina, ainda mais período
integral, porque cansa, você copia, estressa e, com certeza, a gente fica
ansioso pra descer fazer alguma atividade diferente, falar sobre temas
diferentes”. (Aluno 10)

Os cinco professores identificaram a ansiedade dos alunos para sair da sala e


fazerem as atividades propostas, o que demonstra certa convergência entre eles, já que
esses tópicos foram citados pelas crianças.

-“ (...) Mas, na Educação Física eles têm pressa de vim pro pátio, de
jogar, de correr, de fazer atividade, né. Agora, no geral, em relação a
32

minha aula, eu não sei te dizer, exatamente, se a Educação Física deixa


eles mais ansiosos, que no geral eles são ansiosos (...)”. (Professor 5)

No entanto, percebeu-se nessa questão a dificuldade de, tanto alunos quanto


professores, definirem o que seria a ansiedade e perceberem sua manifestação. Também
ficou evidente que não reconhecem a ansiedade como uma emoção determinante para ação,
sendo que níveis adequados desse estado emocional definem o desempenho do aluno em
determinada tarefa, como citado por Maggil (1984). Se os alunos apresentam níveis muito
baixos dessa emoção é necessário estimula-los com atividades mais desafiadoras, se
apresentam níveis altos de ansiedade é preciso fornecer atividades mais simples.
Esse manejo permite que os alunos atinjam os objetivos da tarefa em questão, já que
tanto o excesso dessa emoção quanto sua ausência prejudica o processo de aprendizagem.
A ansiedade, por ser uma emoção com diferentes abordagens e manifestada por distintas
razões, apresenta uma difícil identificação, porém é extremamente importante na realização
de qualquer tarefa, em especial em tarefas motoras.
Finalizamos aqui o primeiro grupo de questões, passando-se a seguir para o segundo
grupo que relaciona as emoções á diferentes fatores da Educação Física Escolar. A questão
6 propôs que alunos e professores respondessem como se sentiam durante as aulas,
justificando suas respostas. 22 alunos participantes se sentem bem nas aulas de Educação
Física, por diferentes motivos: 4 pela presença de atividades diferentes; 4 por ser um
momento de descontração e lazer; 10 porque gostam da aula; 2 por sair da sala de aula; 2
porque são aulas que melhoram seus estados de humor.

- “Me sinto bem. Porque é um horário gostoso, a gente se distrai, faz


esportes”. (Aluno 2)

- “Me sinto bem, porque como é período integral, eu acho que é um


momento de lazer que a gente tem aqui na escola, então é um momento
raro que a gente tem na semana, então a gente se diverte se descontrai,
melhora nosso humor”. (Aluno 8)
33

Dos outros 3 alunos, 2 disseram que se sentem cansados e um disse que fica com
raiva, tanto por não ser escolhido, quanto por perder, por ninguém passar a bola ou por
simplesmente não gostar da atividade.
Os professores também relataram que se sentem bem e realizadas ministrando aulas,
por gostarem do que fazem. Ainda um deles, ressaltou a responsabilidade de ensinar e fazer
da Educação Física mais que um momento de lazer, mas também um momento de aprender.

- “Eu sinto que tenho uma grande responsabilidade com esses


adolescentes, principalmente, né. Eles gostam muito da aula, mas
eu acho que eu não posso só pensar no que eles gostam, mas na
importância da Educação Física, o que eu tenho que passar.
Então, eu me sinto bem, eu gosto, mas eu acho que a minha
responsabilidade é muito grande com eles também, de eu passar
um conteúdo, de eu ensinar alguma coisa realmente, e não só ficar
com brincadeiras. Não é brincadeira bem a palavra, seria... como
se fosse lazer, né. Eu acho que eu tenho mais coisas pra passar do
que só o lazer e eu me sinto bem, eu gosto de dar aula”. (Professor
2)

Essa questão se apresenta importante á medida que o primeiro passo para a


aprendizagem é estar em um ambiente favorável, tanto para professores quanto para os
alunos. Como já citado, quando o processo de ensino - aprendizagem está envolvido com os
processos emocionais há um maior estímulo e facilitação da aquisição de conhecimento,
proporcionando assim um maior aprendizado.
A questão 7 solicitou a opinião de alunos e professoras a respeito dos sentimentos
estabelecidos e demonstrados por ambos e a influência dos mesmos nas aulas. Para 17
alunos, os sentimentos entre esses dois agentes interferem diretamente nas aulas, de
diversas formas: 10 alunos apontaram que o estado de humor da professora influencia no
aluno, tanto positivamente quanto negativamente; 3 alunou citou que a boa relação com a
professora aumenta a confiança deste nas aulas; e 4 alunos sugeriram que a boa relação
entre professor e aluno estimula a participação dos mesmos nas aulas, como citado nos
34

depoimentos. Apenas 8 alunos acreditam que não há relação entre emoções de professores/
alunos e processo de aprendizagem

- “Interfere, porque se você não tem aquele contato legal com ela, você
vai emburrar não vai querer fazer. Então você tem que ter uma amizade
com ela pra acontecer tudo legal. (...) Porque se ela está com a auto-
estima bem baixa, está cansada, não está a fim de dar aula naquele dia, a
maioria dos alunos também vai ficar desanimado e não vai querer fazer.
Ou se ela estiver contente, incentiva os alunos e reanima”. (Aluno 3)

- “Influencia, porque se o professor chega alegre na sala a classe vai


ficar alegre, se o professor estiver meio triste, bravo a classe fica mais
quieta, já muda bastante o comportamento dos alunos”. (Aluno 8)

Os 5 professores afirmaram a influência da relação estabelecida entre aluno e


professor, sendo que todos levantaram que o estado de humor do professor e do aluno
influencia no comportamento de ambos; e uma ainda citou que a boa relação entre os dois
motiva os alunos nas aulas.

- “Acho que sim, porque você já vem cansado, desmotivado, eles


começam a também ficarem desmotivados, aí começam a aprontar.
Então, você tem que estar sempre... fazer de tudo para estar bem,
para poder a aula fluir bem. E eles também, quando não estão bem
em casa eles vêm com problema, ás vezes, qualquer coisa que você
fala ou faz também influencia. Tem os dois lados”. (Professor 1)

- “Ah, isso é cem por cento. Porque quando o aluno tem uma
simpatia pelo professor ele vai se dedicar mais, ele vai dar mais
atenção, não vai conversar, tem interesse em perguntar coisas
sobre o esporte, sobre a disciplina. Quando ele tem uma antipatia,
aí, geralmente, ele vai sempre contra o que o professor está
propondo. Então, você se simpatizar, se dar bem com a classe,
35

passar coisa boa pra classe é até fundamental, pra você poder
adquirir a confiança deles, pra puxar eles, pra puxar os alunos pra
vocês e até poder deslanchar legal numa aula. (...) Porque aí entra
até uma parte de energia, então quando você não ta com aquela
energia, você não está disposto, eu acho que até eles sentem, eles
já percebem. E a gente acaba sendo, ás vezes, “agressiva”, mais
exigente numa determinada hora que nem precisava tanto, então
você dá uma bronca muito além do que deveria ter dado”.
(Professor 3)

Os dados mostram que alunos e professores identificam que as emoções


estabelecidas e demonstradas determinam os comportamentos e atitudes adotadas por
ambos, apesar dos alunos não citarem a influência de suas próprias emoções sobre seus
professores, o que também ocorre, como lembrado pelos professores entrevistados e
confirmado em estudos já realizados.
Figueiredo & Prodócimo (2005) mostraram que, em aulas de Educação Física, a
maioria das vezes a atitude dos professores influencia na reação dos alunos, assim como
uma única ação do aluno desencadeia diferentes atitudes nos professores. As atitudes dos
professores consideradas socialmente negativas desencadearam em reações emotivas
negativas nos alunos e a maioria das atitudes consideradas socialmente positivas
desencadeou em reações positivas nos alunos. Os professores apresentaram para cada ação
dos alunos diferentes atitudes, sendo que as atitudes em decorrência das ações dos alunos
foram consideradas, em sua maioria, socialmente negativas.
Esses dados nos mostram a importância que deve ser atribuída aos aspectos
atitudinais de alunos e professores nas aulas, já que essa relação determina e influencia no
comportamento de ambos, podendo ser, ou não, um forte motivador e estimulador. De
acordo com Cirulli (1994) “ o comportamento do professor frente aos seus alunos e a
relação entre os mesmos são fortes estimuladores de motivos, aumentando assim o
interesse, a freqüência e o gosto dos alunos pelas aulas de Educação Física.
Sendo assim, quando o professor assume uma personalidade onde é prático,
sociável, inteligente, realista, seguro, criativo, democrático etc. poderá conseguir, com
36

maior facilidade, a simpatia e confiança dos alunos. Dessa forma, fica claro que a forma
como o professor se dirige e trata seus alunos é tão importante quanto o conteúdo que ele
transmite e as atividades que ele planeja, para que a aula seja proveitosa e instrutiva.
Na questão 8 foi pedido para que alunos e professores apresentassem de que forma
as aulas de Educação Física trabalhavam os aspectos emocionais das crianças. Dos 25
alunos entrevistados, 4 responderam que as atividades em grupo estimulam uma maior
interação social, trabalhando assim com as emoções; 5 citaram que a prática de esportes,
jogos e através das competições muitas emoções são desenvolvidas; 4 levantaram que as
atividades propostas nas aulas melhoram (trabalham) seus estados de humor; 3 ressaltaram
a importância da Educação Física como auxílio no manejo das emoções; 5 sugeriu que
através das atividades são trabalhadas tanto emoções positivas, quanto negativas; e mais 1
entendeu que a aulas de Educação Física permitem uma maior liberdade de expressão,
apresentando-se assim importante para o desenvolvimento emocional.

- “Por exemplo, se estou jogando e não acontece como eu quero eu fico


nervosa, quero parar, ou então fico discutindo. Ou se acontece um
elogio: “Valeu, jogou bem”, tem os dois lados tanto o negativo quanto o
positivo”. (Aluno 2)

- “Porque a gente trabalhando em grupo, entrando em algumas


competições, perdendo tudo isso faz com que a gente trabalhe, saiba em
certos momentos ser mais calmo ou se tem que acelerar”. (Aluno 10)
Três alunos afirmaram que as aulas de Educação Física não trabalham o seu aspecto
emocional de forma alguma.
Os professores também apresentaram diferentes formas de atuação da Educação
Física sobre o aspecto emocional dos alunos, são elas: o tipo de atividade proposta em aulas
que interfere no estado de humor do aluno, inibindo-o ou estimulando-o; atividades em
grupo que proporcionam maior interação entre eles; e a maior exposição e motivação dos
alunos nessas aulas, que propiciam o trabalho desse domínio.

- “Eles se sentem mais motivados, as aulas são diferentes, não ficam sentados,
tem contato físico... Eu acho que trabalha as emoções á medida que o aluno
37

está exposto, eles têm que fazer atividades em grupo e na sala de aula eles
ficam cada um nas suas carteiras e aqui no pátio, não. Eles têm que se
misturar, fazer alongamento, ginástica, então isso desperta neles vários
estados emocionais”. (Professor 4)

- “Quando você dá uma atividade, por exemplo, um relaxamento, o aluno


tende a ficar mais tranqüilo no restante do período, né. Se nesse caso
você tem alguns alunos que já estão tristes ou que não estão muito bem
naquele dia porque brigou com a mãe, com o namoradinho, então eles
vão abaixar mais ainda a bola. Agora, se a gente dá uma atividade muito
estimulante, ás vezes acontece do aluno que não tava muito legal, que
tava meio pra baixo, você levantar o astral dele, isso acontece bastante.
Então, o psicológico depende muito do momento de cada aluno e com
que você está propondo, eu entendo que é assim, eu não sei se eu
respondi. A mesma coisa acontece comigo, se eu não estou muito legal e
eu ficar fazendo coisa mais pra baixo ainda, vai piorar a minha situação
e eu ainda vou passar uma energia negativa pro aluno, então tem que
tentar sempre subir, nunca descer”. (Professor 2)

De forma geral, alunos e professores vêem as aulas de Educação Física como meio
de desenvolvimento emocional muito grande, pois fornecem situações diferenciadas das
vividas em outras disciplinas, como reforçado por Prodócimo (2002) quando afirma que a
Educação Física é um momento da vida escolar repleto de amplas possibilidades de
trabalho com as questões emocionais. Para a autora, a ludicidade presente nas propostas, as
competições, o contato entre os participantes etc. são fatores que permitem que o prazer, a
cooperação, a amizade, a frustração, a tristeza, o carinho, a agressividade, entre tantas
outras emoções se manifestem.
Além disso, como já ressaltado anteriormente, é através do corpo que as emoções se
expressam, o que atribui á Educação Física um meio de identificação dessas manifestações,
podendo assim atuar de forma mais direta sobre os processos emocionais, uma vez que
muitas vezes, em outras disciplinas, o controle excessivo do corpo não permite que as
38

emoções sejam manifestadas e a escola ainda tem negligenciado a emoção como um fator
importante.
A pergunta 9 indagou os alunos e professores sobre a influência das emoções nas
aulas de Educação Física, na qual obtemos os seguintes resultados: 16 alunos entrevistados
acreditam que suas emoções interfiram na aula, destes, 7 relataram que o seu estado de
humor determina sua ação e comportamento nas aulas; 4 citaram que seu estado de humor
influencia diretamente no professor e 5 colocaram que as emoções que expressam
interferem também nos outros alunos. Já 9 alunos não acreditam nas influências entre
emoção e aula.

- “Sim, porque você está em grupo, você acaba influenciando todo


mundo. E a professora também, porque ela mesma sente que você, por
exemplo, não consegue fazer aquilo e muitas vezes o que você tem medo,
você nega e não fala, fica meio receoso”. (Aluno 5)

- “Não influencia, eu acho que a aula é uma coisa o outro lado é o outro
lado, não tem nenhuma influência”. (Aluno 6)

- “Se eu tiver triste eu não vou querer fazer uma atividade, mas se eu
estiver alegre com disposição vou fazer qualquer atividade, até uma que
eu não gostar”. (Aluno 9)

Os cinco professores colocaram que as emoções influenciam na aula de diferentes


formas: refletindo no comportamento do aluno; determinando sua resposta à atividade e
interferindo nos outros alunos, na aula e no próprio professor, como declarado por um
deles:

- “Muito. Eles extravasam isso o tempo todo na aula, ás vezes eu


penso numa coisa e a aula flui que é uma beleza, porque a turma
está integrada, a turma está num astral legal. Ás vezes, eu
proponho uma coisa, chego aqui e aí não acontece nada do que eu
39

propus, aí eu me decepciono, porque eu achei que ia ser legar, eu


pensei que o aluno ia responder e ele não respondeu e a turma te
pra baixo. Porque nessa faixa etária eles são muito influenciados
uns pelos outros, muito, então o que dois, três estão manipulando
na classe, estão conversando, se tem uma discussão todos ficam
influenciados, eles não separam. Então, se dois, três brigaram, a
classe inteira fica bicuda. Se o pessoal está mais alegre, se ta a
coisa fluindo bem desde cedo, aí a aula vai que é uma beleza. Mas,
eles se influenciam muito, e isso influencia na minha aula e isso
influencia eu na aula com eles também, eu passo pra eles isso. E
na Educação Física eles extravasam, por exemplo, no jogo, os
meninos eles xingam, eles dão gargalhada, daqui a pouco um
chuta a canela do outro, mas depois vai e abraça e beija. Quando
eu dou ginástica, relaxamento é uma coisa mais individualizada,
mas quando é o coletivo a atitude de um do grupo influencia todo
mundo, eu acho que é isso daí”. (Professora 2)

Podemos observar a coincidência das respostas entre alunos e professores, de forma


que todos os aspectos citados pelos alunos também foram citados pelos professores. Isso
nos mostra que ambos estão cientes da influência dos estados emocionais nas aulas, apesar
de relatarem a mesma de uma forma mais geral e não específica sobre as emoções, suas
origens e conseqüências sobre o comportamento. Thomas (1983) nos deixa claro que as
emoções podem regular, dirigir e até modificar nossas ações, tanto de forma positiva, nos
estimulando para a ação, quanto de forma negativa, nos inibindo para a mesma.
Além disso, as emoções expressadas por um aluno influenciam diretamente outros
agentes envolvidos no ensino (professores e colegas), podendo determinar a ação e
comportamento de ambos. O professor deve ter habilidade de lidar com as emoções, pois as
crises emotivas das crianças podem transformar-se num meio de ação sobre a sala de aula,
podendo gerar a redução ou a multiplicação das explosões emotivas dos alunos
(ALMEIDA, 2001).
40

Um estudo realizado por Prodócimo (2003) sobre a manifestação das emoções em


aulas de Educação Física demonstrou que emoções negativas, como a raiva, são
comumente manifestadas na relação entre os alunos. Esse dado nos mostra a importância
da intervenção docente, que deve propiciar interações positivas nas relações estabelecidas
durante a aula, favorecendo o processo de aprendizagem e evitando que as ações dos alunos
sejam impedidas por essas emoções negativas. Dessa forma, os alunos se sentem mais
estimulados a participarem das aulas.
A última questão solicitou aos alunos que descrevessem se suas professoras se
preocupavam em trabalhar com suas emoções durante as aulas e de que forma era feito esse
trabalho. Dos 25 entrevistados, 15 perceberam essa preocupação por parte dos professores,
sendo que 4 citaram o fato da professora realizar junto à atividade; 6 através da conversa; 3
pela motivação dada aos alunos individualmente e à classe, 3 pela observação e
individualidade atribuída a cada aluno e 3 pelo contato entre professor e aluno, como nas
declarações abaixo. Porém 10 alunos colocaram que raramente ocorre esse trabalho com as
emoções.

- “Se preocupa, observando cada um, o jeito de cada um, eu vejo que
sempre que ela olha, ela anota, então ela tem uma noção do jeito de cada
um. Até o jeito dela trabalhar com cada aluno, por exemplo, ‘Vou
colocar ele em tal lugar porque se eu colocar ele pra lá vai dar
problema’”. (Aluno 2)

- “Se preocupa. A primeira coisa é ela chegar disposta pra aula, porque
o aluno já se modifica por dentro mentalmente e com o sentimento de
cada aluno. (...) ela pára a aula, vê o que está acontecendo, ela faz o
exercício, motiva a classe pra motivar aquele aluno, então ela trabalha
bastante com isso”. (Aluno 8)

- “Mais ou menos, raramente ela conversa, mas não muito, só com as


pessoas que ela já gosta”. (Aluno 9)
41

Já para os professores foi questionado como era desenvolvido os aspectos


emocionais em suas aulas. Ambos colocaram que se preocupam com o trabalho emocional
das seguintes formas: as duas citaram a conversa como forma de desenvolver esse trabalho
e colocaram que procuram motivar os alunos através das atividades; uma citou a utilização
de exercícios holísticos como instrumento de trabalho das emoções, além da descrição dos
alunos sobre o que sentem. Ainda um dos professores relatou que muitas vezes não percebe
essa necessidade emocional dos alunos e deixa de lado o desenvolvimento afetivo-
emocional dos mesmos.

- “Pra diminuir a parte emocional, através de exercícios holísticos,


assim que vejam o aluno como um todo: yoga, respiração, exercícios que
trabalhem essa parte do medo... Não dá pra falar especificamente, mas
toda essa parte que vê o aluno como um todo, trabalha as emoções.
Agora, pra motivar eu uso o conteúdo das aulas: jogos, brincadeiras,
jogos cooperativos, músicas, coisas que eles gostem. Então, tem que ter
os dois lados. Mas, essa parte de respiração, yoga, meditação na aula,
exercícios com os olhos fechados, eles vão perdendo o medo... conversa
informal, o escrever como eles se sentem, tudo isso é fundamental”.
(Professor 1)

- “Aí já é complicado. Ás vezes, eu passo por cima sem perceber o que


está acontecendo e... mas, geralmente, a gente percebe com o passar do
tempo. Conhecendo a classe você já consegue perceber quando entra
como ta a situação, quando você já conhece o aluno. Quando eu
comecei, eu não conhecia ninguém, então quando a gente começa, a
gente já começa assim, com um pé atrás, sempre tem uma barreira, tal.
Quando você conhece, entra no meio do aluno, você já percebe como
eles estão. Aí, eu converso com eles quando tem alguma coisa que ta
tendo problema, quando é no coletivo a gente senta e conversa, né.
Depende muito da gravidade do problema, ás vezes não convém
conversar. (...) Não, eu não penso muito nesse lado. Quando vou montar
uma aula eu penso mais em como os alunos vão receber isso, né. Vai
estimular? Geralmente, eu penso na parte de estímulo. Será que vai ser
42

interessante, estimulante? Porque eles estão numa escola que no período


da tarde eles já estão cansados, então é diferente daquela turma que fica
ou só de manhã ou só á tarde. Então, como eles ficam o dia todo aqui,
eles ficam desestimulados, no segundo período, então eu penso mais em
uma coisa que vai estimular, que vai fazer eles se mexerem. Mas eu,
realmente, deixo um pouco de lado essa parte emocional, só se no
momento acontecer, aí eu me tocar e vê que não ta dando certo, parar
pra conversar e ver o que ta errado. Mas, quando eu tô montando uma
aula, planejando, eu penso mais no que vai ser estimulante, no que eles
vão aprender, numa coisa diferente que eles não viram ainda”.
(Professora 5)

Pelos depoimentos dos professores pudemos observar que há certa preocupação em


trabalhar os aspectos emocionais durante as aulas, inclusive a utilização de exercícios
holísticos, citada por um dos professores, tem sido estudada como forma de controle, em
especial, da agressividade em escolares. Porém, o desenvolvimento emocional, além de
pontual, deve ser contínuo. Isso significa que, é válido trabalhar com as emoções quando
elas se manifestam durante as aulas, mas será que também não é preciso desenvolvê-las dia
a dia através das atividades propostas? Pensar em maneiras de estimular e inibir certas
emoções? Até mesmo, o professor adotar posturas e comportamentos que favoreçam o
desenvolvimento emocional?
Nossos dados confirmam a afirmação de Prodócimo (2005) de que a falta de
conhecimento sobre as emoções, por parte dos professores, é um dos pontos que dificultam
uma solução mais efetiva nos casos; as dificuldades de lidar com as manifestações das
emoções expressas pelas crianças (e até mesmo por nós, adultos), assim como trabalhar
com este aspecto do ser humano no ambiente escolar são questões relevantes que permeiam
a prática educacional.
Estudos realizados por Nista-Piccolo e Winterstein (1997 apud PRODÓCIMO,
2002) mostraram que muitas vezes os professores identificam quais emoções ocorrem em
seus alunos durante as aulas, sendo as emoções positivas mais presentes que as negativas.
Porém, em relação á freqüência que se manifestam as emoções houve uma discordância, já
43

que os professores acreditavam que os alunos sentiam muito mais emoções negativas do
que eles próprios relataram.
Esses autores ainda colocam que essa discrepância pode ser um indício de prejuízo
na aprendizagem, pois pode interferir tanto no planejamento, como nos procedimentos de
ensino do professor e até também em sua própria motivação da prática docente. Tais dados,
somados aos resultados de nosso estudo, mostram que é importante para o professor não
apenas identificar as emoções dos alunos, mas saber trabalhá-las e utilizá-las como
conteúdo das aulas, incluindo esse objetivo em seu planejamento.
44

7- Conclusão

Depois de apresentados os resultados e as discussões dos dados, podemos chegar a


algumas considerações finais:
A revisão de literatura permitiu que levantássemos informações importantes
referentes ás emoções de interesse a esse estudo; suas características principais; papel da
educação no desenvolvimento emocional e, principalmente, a importância da Educação
Física, enquanto componente curricular obrigatório, sobre a estimulação e trabalho dessas
emoções. Foi possível também verificar o quanto tem sido negligenciado os aspectos
emocionais do ser humano, dentro da escola, mantendo uma visão segregada do indivíduo.
A escola ainda privilegia o trabalho cognitivo dos alunos, atribuindo maior
importância às inteligências lógico-matemática e verbal-linguística, esquecendo-se que
emoção e cognição caminham junto e se ajudam mutuamente. A Educação Física também
tem se preocupado mais com o desenvolvimento de habilidades físicas e motoras, não
percebendo a relação existente entre corpo e mente, entre manifestação emocional e
domínio corporal.
No entanto, ficou claro que tanto a escola quanto a Educação Física têm potencial
para trabalhar os aspectos relativos ás emoções, uma vez que as interações e situações
vividas nesses ambientes favorecem a manifestação emocional.
Ficou evidente também o papel do professor como peça fundamental para o trabalho
das emoções, facilitando e estimulando o processo de ensino-aprendizagem. O professor,
além de identificar as emoções expressadas pelos seus alunos, deve conhecer de que forma
trabalhá-las e não menosprezá-las ou ignorá-las, pois como já ressaltado anteriormente, é
através do corpo que as emoções se expressam, o que atribui à Educação Física um meio de
identificação dessas manifestações, podendo assim atuar de forma mais direta sobre os
processos emocionais, uma vez que muitas vezes, em outras disciplinas, o controle
45

excessivo do corpo não permite que as emoções sejam manifestadas e a escola ainda tem
negligenciado a emoção como um fator importante.
Ainda, deve adotar uma postura que favoreça um ambiente educacional agradável,
estando ciente de que suas próprias emoções vão influenciar no comportamento de seus
alunos. Ao proporcionar que o aluno se expresse e aprenda a manejar suas emoções, o
professor demonstrará que se preocupa com o desenvolvimento integral dos mesmos.
Atividades onde se estimula a participação ativa dos alunos como solução de problemas,
criação de brincadeiras, ou alternativas para brincadeiras podem ser um caminho alternativo
interessante para que isto aconteça.
Os dados aqui levantados nos mostraram que muitas dificuldades surgem no
tratamento das emoções no ambiente escolar, em especial na Educação Física. Nas
entrevistas coletadas vimos que alunos e professores concordam, de certa forma, em que
situações se manifestam as emoções durante as aulas. Porém, não reconhecem claramente a
importância de fatores como: a relação entre aluno e professor, influência das aulas sobre
os aspectos emocionais e vice-versa, e papel do professor como facilitador para o
desenvolvimento emocional.
A ansiedade é outro ponto de grande alerta já que os professores não sabem detectar
nem trabalhar com esse estado emocional, isso se torna ruim quando sabemos que este é um
estado emocional diretamente ligado com a performance da ação. Outro ponto importante
que pode ser levantado através do estudo é a falta de afinidade entre professores e alunos,
fato este que acaba proporcionando uma discordância em certos aspectos, já que o professor
conhecendo um pouco mais os alunos, conseguem agregar as preferências deles em sua
seqüência pedagógica, motivando seus alunos em todas as atividades propostas.
É importante que a escola e seus professores busquem que o aluno desenvolva um
maior conhecimento de si próprio, possibilitem diversificadas formas de atuação dos
mesmos, propiciem a expressão de suas próprias emoções e também das do outro, que
permitam que os alunos conheçam suas possibilidades de ação, conheçam as emoções e
formas de manifestações das mesmas (em si e no outro). É necessário que, acima de tudo, o
professor acompanhe e respeite cada um desses passos.
Educando desta forma poderá trabalhar com as mais diferentes manifestações
emocionais de seus alunos, assumindo seu papel por completo no processo de ensino-
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aprendizagem. O estudo das emoções dentro do ambiente escolar ainda se apresenta muito
incompleto, é preciso investigar e analisar mais profundamente as relações existentes entre
aprendizagem e emoção, em particular, nas aulas de Educação Física, que é o campo de
nosso interesse.
Sugerimos então uma maior estruturação nas grades curriculares vigentes, visando
um melhor preparo dos profissionais licenciados com relação à parte emocional de seus
alunos, tornando-se parte deste currículo a disciplina de psicologia do esporte, já
poderíamos observar algumas mudanças no modo de como o profissional encara as
emoções e a presença delas em sua aula. Outro importante ponto a ser levantado é a
diferença de linguagem de professor e aluno, fato este que distancia o professor de seu
aluno, talvez uma reciclagem periódica destes profissionais seria um ponto a ser pensado,
para que estes possam cada vez mais se aproximar da linguagem, das manias e dos assuntos
de seus alunos, facilitando a interação entre eles.
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Anexo

Artigo originado da pesquisa em questão, publicado em Revista Indexada

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