Emocoes No Ensino Da Educacao Fisica
Emocoes No Ensino Da Educacao Fisica
Emocoes No Ensino Da Educacao Fisica
FRANZ FISCHER
Rio Claro
2009
Franz Fischer
Rio Claro
Estado de São Paulo – Brasil
2009
796.01 Fischer, Franz
F529e Estados emocionais e educação física escolar : considerações iniciais
à luz de uma psicologia bioecológica / Franz Fischer. - Rio Claro : [s.n.],
2009
63 f. : il.
Dedicatória
Agradecimentos
Primeiramente agradeço a Deus, pai, pela minha vida e pela luz depositada em
meu caminho, sem o apoio dele nada chega a lugar nenhum.
Minha mãe por ser essa guerreira que me ensinou os verdadeiros valores da vida,
e me manteve com muita luta e sacrifício no caminho do bem. Meu pai por ser um
grande homem, honesto e que apesar da distância sempre me mostrou valores essenciais
na vida de um homem e que apesar das diferenças me dá muito amor e carinho.
Tata minha linda, que é sem dúvida minha segunda mãe e que me apoiou nos
momentos mais difíceis, e riu comigo nas maiores trapalhadas.
Nanico, que tem um coração imenso e se tornou mais que um cunhado, quase
um pai pra mim.
A minha primeira moradia em Rio Claro, Rep. Caxa Baxa, Lê, Léo, Eli e Dé,
que fizeram com que o primeiro ano por aqui fosse muito mais fácil, uma amizade e
companheirismo que dificilmente vou encontrar em outro canto, já que formamos uma
nova família naquela casa.
Aos grandes amigos da Rep. Vegas que tornaram momentos tristes em grandes
piadas, que brigaram muito, mas que se divertiram muito, muito obrigado ao Duah,
Xande, Bera e Hamtaro, pois sem a ajuda de vocês eu não teria crescido e amadurecido
tanto nesses anos.
Ao Goldpirse Amagaluvers Gosmatchevers, que me deu o verdadeiro sentido do
amor sem interesse, o cachorro mais lindo do mundo que me divertiu muito, me
arrancando sorrisos, quando eu menos queria sorrir, principalmente com as besteiras
que ele faz.
Ao pessoal do 4ºBEF, que se tornou uma grande família, já que passávamos
mais tempo juntos, do que com nossas famílias, especialmente Pilla, PC, Mangava,
Bundão, Gui, Gustavão, Enthoni, Duah, Xande, Hamtaro, Marcão e Tikinha, que com
certeza apesar da distância de nossas vidas, estarão sempre nas minhas lembranças.
Ao Paulão, companheiro de tantas risadas e horas de academia sem muito que
fazer.
Ao pessoal do LEPESPE, principalmente os antigos, Marcelo, Rafa, Mauro,
Lucas, Ricardo e Thiago, por me ensinarem como encarar um grupo de estudos tão
qualificado como o nosso.
Ao meu querido amigo e professor Dr. Afonso Antonio Machado, que além de
orientador se tornou um grande amigo, só me resta agradecer pela paciência e
confiança, pela parceria que terá muitos frutos ainda, pelo tempo disponibilizado aos
meus problemas de graduação, sentimentais, emocionais, enfim grande amigo muito
obrigado.
Não podia terminar sem agradecer a todos os professores e funcionários do
Departamento de Educação Física, já que sem eles eu não teria alcançado esse objetivo.
Obrigado a todos!!!
iii
Sumário
Página
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................01
2. JUSTIFICATIVA....................................................................................................03
3. OBJETIVOS............................................................................................................03
4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................04
4.1. Definição de Emoções......................................................................................04
4.2. Emoções e Educação........................................................................................05
4.3. Relação com a Educação Física.......................................................................08
4.4. Caracterizando as Emoções..............................................................................10
4.4.1. O Medo..........................................................................................................11
4.4.2. A Ansiedade...................................................................................................13
4.4.3. A Vergonha....................................................................................................15
4.4.4. A Motivação...................................................................................................16
4.4.5. A Agressividade.............................................................................................18
4.5. Relação professor-aluno....................................................................................21
5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................24
5.1. Instrumento.......................................................................................................24
5.2. Participantes......................................................................................................24
5.3. Análise de Dados...............................................................................................24
7. CONCLUSÃO..........................................................................................................44
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................47
9. ANEXO.....................................................................................................................50
1
1- Introdução
seja, os sentimentos pessoais podem ser potencializados ou inibidos, porém nunca devem
ser ignorados e sim, favorecer nossas ações. As operações emocionais devem ajudar a
operação racional, ou seja, o homem em sua atuação necessita da cooperação do que sente.
Dessa forma, acreditamos que para o processo de ensino e aprendizagem, os
comportamentos desse domínio são importantes, uma vez que aspectos como motivação,
interesse, responsabilidades, cooperação e respeito ao próximo, além da manifestação de
diferentes emoções como vergonha, medo, ansiedade, agressividade, auto-estima, confiança
etc. estão presentes e devem ser trabalhados convenientemente, pois as dificuldades e
sucesso da aprendizagem estão associados a diversos fatores, dentre eles os fatores
emocionais.
Por isso, torna-se essencial a discussão sobre as emoções e a importância do ensino
e da educação (de forma geral) para um maior conhecimento e controle emocional dos
alunos. Nesse trabalho, levantamos questões referentes a alguns estados emocionais e sua
relevância na Educação Física Escolar, bem como o desenvolvimento dessas emoções
através dos conteúdos propostos, metodologias utilizadas e postura adotada pelo professor
frente aos alunos. Discutimos comportamentos como o medo, ansiedade, autoconfiança,
vergonha, motivação e agressividade nas aulas de Educação Física Escolar, abordando
conceitos e definições de cada um desses estados, pontuando as possíveis causas de sua
manifestação durante as aulas e atribuindo sua importância na educação escolar.
3
2- Justificativa
O presente estudo pode oferecer maiores subsídios para a ação docente na Educação
Física Escolar, uma vez que o desenvolvimento emocional se apresenta tão importante
quanto o desenvolvimento dos outros domínios do ser humano, porém pouco explorado.
O conhecimento do funcionamento das emoções, isto é, a compreensão de seu
mecanismo de ação, de sua interferência na aprendizagem e das formas de manejo das
mesmas, pode representar para o professor uma possibilidade de equilíbrio diante das
reações emocionais de seus alunos. Dessa forma, ele poderá observá-las, lê-las e interpreta-
las.
A atuação de profissionais na área pode se tornar mais eficiente, eficaz e
enriquecedora, se atribuída a devida importância aos fatores emocionais no processo de
ensino - aprendizagem na Educação Física Escolar, considerando, para isso, tanto a
influência desses fatores na aprendizagem, quanto o desenvolvimento dos mesmos, através
das aulas de Educação Física.
3- Objetivos
4- Revisão Bibliográfica
Nosso estudo teórico terá como estofo a literatura nacional e internacional adotada
para o estudo dos estados emocionais, dando preferência àquilo que mais se aproximar do
esporte como um fenômeno espetacular, que leva multidão aos campos ou a frente de
órgãos midiáticos, para acompanhá-lo. Esta escolha se deu em função de procurarmos tratar
do fenômeno esportivo com a propriedade adequada aos movimentos humanos de
repercussão no século XXI.
Lelord & André (2002) entendem a emoção como uma reação súbita de todo nosso
organismo, com componentes fisiológicos (o nosso corpo), cognitivos (o nosso espírito) e
comportamentais (as nossas ações).
Para Thomas (1983) é evidente que as emoções influenciam a ação, regulando-a
dirigindo-a e modificando-a, sendo em troca, também influenciadas pela ação. As emoções
podem determinar a ação de forma positiva, ativando e dirigindo as atividades da ação para
se alcançar o objetivo, porém também podem perturbar ou inibir a ação.
Dessa forma, o controle emocional é essencial para a vida. Saber expressar tanto
emoções positivas quanto negativas auxilia o convívio do indivíduo com seu meio social. A
repressão de emoções, principalmente negativas, pode tornar o sujeito mais pessimista,
depressivo, inseguro, dificultando seus relacionamentos interpessoais.
Devido às inúmeras definições encontradas para o termo existem muitas
divergências entre os autores. Para alguns a reação é o componente principal da emoção,
para outros esse componente é formado pelas percepções das situações ou efeitos da
emoção sobre o organismo. O fato é que as emoções, de uma forma ou de outra, estão
presentes diariamente nas nossas vidas e desempenham um papel importante no nosso
comportamento.
uma ansiedade diante do medo de fracassar. Já pais encorajadores, estimulam seus filhos a
serem mais confiantes e ultrapassarem suas dificuldades.
Todos esses sentimentos são transferidos diretamente para o meio escolar,
influenciando no processo de ensino-aprendizagem. Sendo assim, a escola representa um
segundo vínculo afetivo da criança, interferindo diretamente no seu comportamento
emocional.
De acordo com Arruda (2003) o ambiente escolar é um laboratório de vivências
para a infância e juventude, nele estão refletidos todos os padrões de experiências
emocionais - de amor, ódio, cooperação, competição, medo, raiva, amizade – que delineiam
a formação emocional das pessoas.
Segundo Sisto et al.(1996) a experiência escolar tem grande influência na imagem
que a criança faz de si mesma. À medida que a escola rotula suas experiências de fracasso,
por exemplo, provoca um número maior ainda de decepções. Muitas crianças acabam
apresentando falta de segurança, inibição, falta de interesse pela escola, desencadeando em
uma diminuição da auto-imagem e auto-estima, em isolamento muito grande da criança ou
em comportamentos agressivos com companheiros e professores.
Isso significa que a escola não só tem potencial para trabalhar com os sentimentos,
como também para incluí-los em seu contexto, nas metodologias adotadas e nos
conhecimentos transmitidos.
A sala de aula é uma ambiente onde as emoções se expressam. Como em qualquer
outro meio social, existem diferenças, conflitos e situações que provocam os mais variados
tipos de emoção, sendo assim cabe ao professor administra-las e coordena-las. É preciso
encarar o aspecto afetivo como parte do processo de conhecimento, já que ambos são
inseparáveis. A escola ignora a articulação entre os aspectos afetivos, cognitivos e motor
nas atividades escolares. Na sala de aula, os aspectos afetivos e motor são considerados
estanques, sem nenhuma relação com o processo de conhecimento (ALMEIDA, 2001).
Segundo Friedrich & Preiss (2006) quando as informações são marcadas pelo
sistema límbico, controlador das emoções, fixam-se na memória de forma bastante
duradoura e são reativadas com mais facilidade. Em conjunto, os sentimentos podem
estimular o aprendizado, intensificando a atividade de redes neurais e fortalecendo suas
conexões sinápticas. Quando o aluno se sente afetivamente protegido, mas também
8
sem perder a capacidade de ação pelas intensas emoções, deve ser aprendida, ainda assim,
depois de prolongados processos de aprendizagem e experiência, pode ser bastante
incompleta. Controlar cognitivamente as emoções, ou seja, aprender a ver as situações sob
diferentes ângulos e criar estratégias de pensamento, podem influenciar positivamente os
processos emocionais e limitar essas reações.
Assim, o professor deve interferir e trabalhar com o desenvolvimento emocional
durante as atividades, motivando o aluno a tentar, tornando a atividade prazerosa e
incentivando o respeito entre os alunos, não permitindo que, por exemplo, o erro de um
aluno seja motivo de vergonha para o mesmo. Além disso, as condutas e atitudes
desenvolvidas no esporte escolar desempenham um papel fundamental, não só no ambiente
esportivo, mas em outros meios de convivência do aluno.
É papel do professor de Educação Física compreender o aluno na sua dimensão
humana, na qual tanto os aspectos intelectuais quanto os aspectos afetivos estão presentes e
se interpenetram em todas as manifestações do conhecimento. Portanto, deve possibilitar ao
aluno o desenvolvimento pessoal juntamente com o desenvolvimento físico, motor e
cognitivo.
4.4.1- O medo
medo de objetos concretos, como animais, pessoas e sons, com a chegada da adolescência,
essas sensações passam a ter uma conotação social.
Uma vez que a pessoa aprende a se sentir amedrontada em relação á algo, tende a
associar um sentimento de pavor a essa experiência, que ficou armazenada na memória.
Porém, o contrário também pode ocorrer, ou seja, ao aprender a controlar esse sentimento,
saberá como reagir quando situações semelhantes acontecerem.
De acordo com Thomas (1983) os sentimentos de medo no esporte podem ter
múltiplas causas. O atleta pode ter medo do fracasso, que ameaça sua performance; medo
de contusão, em conseqüência de movimentos mal executados; medo do vexame social,
pois a prática do esporte geralmente se dá perante a observação de outras pessoas e
fracassos diante de observadores podem significar para o atleta uma diminuição de valor de
sua capacidade e, com isto, sua personalidade; entre outros fatores.
O medo das conseqüências do fracasso no desempenho, especialmente em forma de
castigos, notas baixas, desclassificação etc. desempenham papel relevante. Durante muito
tempo o medo foi utilizado como meio pedagógico: as crianças deviam ter medo de seus
pais para não fazerem tolices, dos professores para fazerem seus deveres etc., sabe-se que
esse processo de educação apenas reprime e aumenta o sentimento de medo, em vez de
desenvolvê-lo e trabalhá-lo.
De maneira geral, pode-se afirmar que quanto mais estranha for a situação do
desempenho esportivo, quanto mais incerto forem o desenrolar e o resultado da ação,
quanto mais importante for a obtenção do objetivo e quanto pior forem as conseqüências
dos fracassos para o atleta, tanto mais intenso será o sentimento de medo durante e,
eventualmente, depois da execução da ação. O prognóstico mental de uma possível
ocorrência produz medo. Este estado muitas vezes conduz á insegurança do movimento, á
inibição de execução do movimento e á perda de pré-requisitos reguladores e diretores
emocionais e cognitivos da performance. O que provoca uma perturbação no desenrolar da
ação e com isto, de fato, o fracasso.
O mesmo autor ainda diz que, sempre haverá uma certa dose de medo ligada à ação
desportiva, o objetivo do esforço pedagógico na Educação Física não elimina o medo
dessas aulas. O professor deve estar em condições de reconhecer os fatores e as condições
provocadoras do medo, dominando-o de tal modo que o medo do aluno não cresça a ponto
13
de torná-lo inapto e absorvê-lo. A intensidade do medo deve ser reduzida a um grau que
permita o aluno dominá-lo ao executar atividades planejadas e superar os fatores que o
provocam.
O professor pode permitir ao aluno medroso evitar os exercícios provocadores do
medo, pode incentivá-lo a praticar o exercício com especial energia, e pode também
analisar, juntamente com o aluno, os fatores provocadores do medo no desenrolar do
movimento, desenvolvendo um plano onde o aluno aprende a dominar e, aos poucos,
reduzir seu medo.
Propiciar que o aluno aceite, entenda, e tolere um certo grau de medo; desenvolver
junto com ele meios de controle desse processo emocional (através de informações,
métodos distintos, relaxamento etc.); estimulá-lo a enfrentar esse sentimento (pontuando os
riscos reais) de forma progressiva e voltar ás origens dessa emoção são condutas que
podem ajudar o aluno a gerir seu medo nas aulas.
4.4.2- A ansiedade
4.4.3- A vergonha
Segundo Lelord & André (2002) a vergonha vem a ser um sentimento penoso de
inferioridade, indignidade e de diminuição na opinião dos outros. Pode ser proveniente de
várias fontes, por exemplo, o sentimento de não ser como os outros são (fisicamente,
socialmente, profissionalmente etc.), sentir-se culpado por algum acontecimento
(culpabilidade), ser pego fazendo algo errado etc. Porém, a vergonha é um excelente
regulador de nossos comportamentos sociais, servindo para proteger a nossa identidade no
grupo, impedindo-nos de transgredir determinadas normas. Contudo, em níveis elevados,
assim como as outras emoções, esse sentimento também pode ser um grande empecilho
para a ação.
Por se tratar de uma emoção de auto-avaliação, a vergonha é um sentimento de
queda original, não porque se tenha cometido uma falta, mas simplesmente pelo fato de
“cair” frente aos outros. Trata-se de um sentimento de insegurança provocado pelo medo do
ridículo ou de uma situação embaraçosa, que compromete o relacionamento social do
indivíduo.
16
Esse processo se instala a partir do momento que somos observados e julgados pelos
nossos pares, ou então por nós mesmos, e que os resultados de nossas ações será a medida
para que estejamos sofrendo comparações com nossos rendimentos anteriores ou de outros.
Medo, ansiedade e vergonha se associam.
Em aulas de Educação Física, comumente os alunos sentem vergonha de fracassar
frente aos colegas, vergonha de não ser habilidoso como os outros alunos, vergonha de se
expor, vergonha de realizar determinada atividade, vergonha de se sentir humilhado etc.
evitando a prática das aulas para fugir dessas situações.
Segundo Thomas (1983):
como a ação desportiva é dirigida à obtenção de objetivos, muitas vezes provoca
sentimentos de auto-avaliação, como sentimentos de sucesso ou fracasso, orgulho
ou vergonha. Os sentimentos de sucesso ou fracasso surgem na comparação da
performance obtida com o próprio nível de exigência. Sentimentos de orgulho ou
de vergonha resultam da comparação entre o “eu-ideal” e o verdadeiro resultado
da ação. Havendo uma discrepância muito grande entre o “eu-ideal” ou as
expectativas do meio ambiente e os resultados da ação e as performances
realmente alcançadas, surge um sentimento de vergonha que é tanto maior quanto
menos se possa justificar estas discrepâncias (p.194).
Na verdade, o que deve ser considerado sempre é que as aulas de Educação Física
não devem ser excludentes, desmerecendo os não habilidosos, e muito menos seletivas,
exigindo performance dos alunos. O erro deve ser explorado como meio pedagógico,
reforçando que, o fracasso não é motivo para o surgimento de sentimentos de culpa,
fraqueza e insignificância.
É necessário que o professor estimule a participação de seus alunos frente às
situações que eles julguem vergonhosas, refletindo as causas de sua manifestação e
desenvolvendo sua autoconfiança, que se apresenta como um importante inibidor do
sentimento de vergonha, devendo assim ser explorada nas aulas.
4.4.4- A motivação
4.4.5- A agressividade
5- Metodologia
5.1- Instrumento
5.2- Participantes
Para a análise dos dados, as questões foram agrupadas de acordo com sua
abrangência, visando facilitar o entendimento das respostas. O primeiro grupo de perguntas
refere-se á presença e ao contexto em que se manifestam os estados emocionais em aulas de
Educação Física.
A questão 1 solicitou que os alunos descrevessem em que tipo de atividade surgiam
os sentimentos de medo e/ ou vergonha nas aulas de Educação Física, justificando suas
respostas.
Dos 25 alunos entrevistados, 6 citaram a presença da vergonha em diferentes
atividades, proveniente do fato de não saberem executar o que foi pedido; de se sentirem
mal realizando a atividade e da vergonha dos colegas por serem o centro das atenções.
Ainda nessa questão, 4 alunos expressaram que apresentam medo em executar algumas
atividades, entre as citadas temos o basquete, carrinho de mão, vôlei e alongamento, todas
essas situações causadas pelo medo de se machucarem, como vemos nos depoimentos a
seguir:
- “Eu tenho medo de jogar vôlei, porque eu não gosto de bater na bola, a
bola vem na cara, acertou uma vez meu rosto e cortou a minha boca. E
vergonha de fazer exercícios como flexão, polichinelo, porque me sinto
mal fazendo essas atividades”. (Aluno 9)
Outros 15 alunos afirmaram não sentir medo e/ou vergonha durante a aula.
Já para os professores, foi solicitado que identificassem a presença e as situações em
que ocorriam esses sentimentos em seus alunos, e buscassem uma justificativa para tal.
26
- “Sim. Tirar o tênis, eles têm vergonha. Coisas em duplas, eles ficam
com um pouco de vergonha. Ás vezes, pelo contato com o outro, ás vezes
por uma questão de higiene mesmo, de ter que tirar o tênis e o colega
ficar rindo, aí eles ficam com vergonha”. (Professor 1)
- “Sinto, porque sempre são coisas diferentes e tem que exigir da nossa
criatividade, da nossa capacidade, aí eu acho legal”. (Aluno 7)
Já os outros 3 alunos 2 afirmaram não gostar das aulas de educação física, por isso
se sentiam desmotivados e um disse que dependia da atividade.
Aos professores, foi pedido que descrevessem o que tornaria uma aula motivante
para seus alunos. Os 5 citaram que uma aula motivante é aquela em que todos participem e
aprendam, e um deles citou a presença de atividades que os alunos gostem, estimulando-os
para a prática.
- “Uma aula com atividades que os alunos gostam, fazem, que eles
cumpram o objetivo, que participem”. (Professor 3)
importante fator que motiva os alunos para a prática dessas aulas é a atenção dada pelo
docente e a relação entre eles, fator também citado na nossa pesquisa. Outro dado relevante
é quanto á perspectiva dos alunos em relação ás aulas, sendo que a maioria espera uma aula
ativa com novos aprendizados, sendo este ponto o mais citado pelos alunos aqui
entrevistados.
Nesse estudo verificamos que os professores identificam essa necessidade dos
alunos em aprenderem conteúdos novos, diferentes, que gostem e tenham interesse. Dessa
forma, como também já visto na literatura, fica clara a importância do professor como
chave para a motivação dos alunos, já que as atividades que prepara, a sua relação com os
mesmos entre outros fatores determinam o nível de motivação das crianças.
Na pergunta 3, levantamos a presença da agressividade (verbal e/ou física) nas aulas
de Educação Física e em que situações ela comumente aparece, na visão de alunos e
professoras.
Para 9 alunos, não há manifestação de comportamentos agressivos durante as aulas.
Já, 7 alunos citaram que raramente ou ás vezes ocorrem um ato de agressão e que
geralmente ocorre no jogo de futebol, sendo que 1 deles referiu-se á conflitos entre meninos
e meninas. No entanto, 8 alunos confirmaram a presença da agressividade, 6 deles
apontaram o jogo de futebol, mais uma vez, como uma situação conflitante, e um deles
citou a agressão com estagiários.
- “Quando ocorre é mais entre os alunos, mas não é nada sério. Mais no
futebol, essas coisas assim”. (Aluno 7)
- “Sim. Quando estão em fila eles ficam batendo no outro, quando você
está propondo uma coisa que eles acham que não é de acordo com o que
eles querem, porque, ás vezes, eles só querem futebol. Então, você
propõe uma coisa diferente, mesmo que eles gostem num segundo
momento, no primeiro momento eles ficam reclamando, xingam... Eu
acho que é isso, quando eles são contrariados e quando estão na fila. No
jogo também”. (Professor 5)
passa essa confiança através da boa explicação por exemplo, citada por um desses alunos; e
9 por gostar de fazer as atividades se sente confiante em realizá-las.
- “Assim, a gente incentiva eles a fazerem, mesmo que não faça perfeito.
A gente procura estar corrigindo, incentivando, procurando melhorar”.
(Professor 2)
Esses dados mostram que o trabalho feito pelos professores e os métodos utilizados
para o desenvolvimento da confiança, têm surtido efeito nos alunos, já que a maioria se
sente confiante nas aulas. Porém, ainda falta trabalhar com alguns casos específicos, como
o trabalho com o medo. Através de um trabalho conjunto dessas duas emoções é possível
administrar a manifestação das mesmas nas atividades.
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- “Fico bastante ansiosa. Pra sair da sala de aula, vim e jogar, ás vezes
eu fico com vontade de jogar e não tenho tempo de jogar em casa, aí na
escola dá pra jogar, tem algum campeonato fora das aulas”. (Aluno 2)
-“ (...) Mas, na Educação Física eles têm pressa de vim pro pátio, de
jogar, de correr, de fazer atividade, né. Agora, no geral, em relação a
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Dos outros 3 alunos, 2 disseram que se sentem cansados e um disse que fica com
raiva, tanto por não ser escolhido, quanto por perder, por ninguém passar a bola ou por
simplesmente não gostar da atividade.
Os professores também relataram que se sentem bem e realizadas ministrando aulas,
por gostarem do que fazem. Ainda um deles, ressaltou a responsabilidade de ensinar e fazer
da Educação Física mais que um momento de lazer, mas também um momento de aprender.
depoimentos. Apenas 8 alunos acreditam que não há relação entre emoções de professores/
alunos e processo de aprendizagem
- “Interfere, porque se você não tem aquele contato legal com ela, você
vai emburrar não vai querer fazer. Então você tem que ter uma amizade
com ela pra acontecer tudo legal. (...) Porque se ela está com a auto-
estima bem baixa, está cansada, não está a fim de dar aula naquele dia, a
maioria dos alunos também vai ficar desanimado e não vai querer fazer.
Ou se ela estiver contente, incentiva os alunos e reanima”. (Aluno 3)
- “Ah, isso é cem por cento. Porque quando o aluno tem uma
simpatia pelo professor ele vai se dedicar mais, ele vai dar mais
atenção, não vai conversar, tem interesse em perguntar coisas
sobre o esporte, sobre a disciplina. Quando ele tem uma antipatia,
aí, geralmente, ele vai sempre contra o que o professor está
propondo. Então, você se simpatizar, se dar bem com a classe,
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passar coisa boa pra classe é até fundamental, pra você poder
adquirir a confiança deles, pra puxar eles, pra puxar os alunos pra
vocês e até poder deslanchar legal numa aula. (...) Porque aí entra
até uma parte de energia, então quando você não ta com aquela
energia, você não está disposto, eu acho que até eles sentem, eles
já percebem. E a gente acaba sendo, ás vezes, “agressiva”, mais
exigente numa determinada hora que nem precisava tanto, então
você dá uma bronca muito além do que deveria ter dado”.
(Professor 3)
maior facilidade, a simpatia e confiança dos alunos. Dessa forma, fica claro que a forma
como o professor se dirige e trata seus alunos é tão importante quanto o conteúdo que ele
transmite e as atividades que ele planeja, para que a aula seja proveitosa e instrutiva.
Na questão 8 foi pedido para que alunos e professores apresentassem de que forma
as aulas de Educação Física trabalhavam os aspectos emocionais das crianças. Dos 25
alunos entrevistados, 4 responderam que as atividades em grupo estimulam uma maior
interação social, trabalhando assim com as emoções; 5 citaram que a prática de esportes,
jogos e através das competições muitas emoções são desenvolvidas; 4 levantaram que as
atividades propostas nas aulas melhoram (trabalham) seus estados de humor; 3 ressaltaram
a importância da Educação Física como auxílio no manejo das emoções; 5 sugeriu que
através das atividades são trabalhadas tanto emoções positivas, quanto negativas; e mais 1
entendeu que a aulas de Educação Física permitem uma maior liberdade de expressão,
apresentando-se assim importante para o desenvolvimento emocional.
- “Eles se sentem mais motivados, as aulas são diferentes, não ficam sentados,
tem contato físico... Eu acho que trabalha as emoções á medida que o aluno
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está exposto, eles têm que fazer atividades em grupo e na sala de aula eles
ficam cada um nas suas carteiras e aqui no pátio, não. Eles têm que se
misturar, fazer alongamento, ginástica, então isso desperta neles vários
estados emocionais”. (Professor 4)
De forma geral, alunos e professores vêem as aulas de Educação Física como meio
de desenvolvimento emocional muito grande, pois fornecem situações diferenciadas das
vividas em outras disciplinas, como reforçado por Prodócimo (2002) quando afirma que a
Educação Física é um momento da vida escolar repleto de amplas possibilidades de
trabalho com as questões emocionais. Para a autora, a ludicidade presente nas propostas, as
competições, o contato entre os participantes etc. são fatores que permitem que o prazer, a
cooperação, a amizade, a frustração, a tristeza, o carinho, a agressividade, entre tantas
outras emoções se manifestem.
Além disso, como já ressaltado anteriormente, é através do corpo que as emoções se
expressam, o que atribui á Educação Física um meio de identificação dessas manifestações,
podendo assim atuar de forma mais direta sobre os processos emocionais, uma vez que
muitas vezes, em outras disciplinas, o controle excessivo do corpo não permite que as
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emoções sejam manifestadas e a escola ainda tem negligenciado a emoção como um fator
importante.
A pergunta 9 indagou os alunos e professores sobre a influência das emoções nas
aulas de Educação Física, na qual obtemos os seguintes resultados: 16 alunos entrevistados
acreditam que suas emoções interfiram na aula, destes, 7 relataram que o seu estado de
humor determina sua ação e comportamento nas aulas; 4 citaram que seu estado de humor
influencia diretamente no professor e 5 colocaram que as emoções que expressam
interferem também nos outros alunos. Já 9 alunos não acreditam nas influências entre
emoção e aula.
- “Não influencia, eu acho que a aula é uma coisa o outro lado é o outro
lado, não tem nenhuma influência”. (Aluno 6)
- “Se eu tiver triste eu não vou querer fazer uma atividade, mas se eu
estiver alegre com disposição vou fazer qualquer atividade, até uma que
eu não gostar”. (Aluno 9)
- “Se preocupa, observando cada um, o jeito de cada um, eu vejo que
sempre que ela olha, ela anota, então ela tem uma noção do jeito de cada
um. Até o jeito dela trabalhar com cada aluno, por exemplo, ‘Vou
colocar ele em tal lugar porque se eu colocar ele pra lá vai dar
problema’”. (Aluno 2)
- “Se preocupa. A primeira coisa é ela chegar disposta pra aula, porque
o aluno já se modifica por dentro mentalmente e com o sentimento de
cada aluno. (...) ela pára a aula, vê o que está acontecendo, ela faz o
exercício, motiva a classe pra motivar aquele aluno, então ela trabalha
bastante com isso”. (Aluno 8)
que os professores acreditavam que os alunos sentiam muito mais emoções negativas do
que eles próprios relataram.
Esses autores ainda colocam que essa discrepância pode ser um indício de prejuízo
na aprendizagem, pois pode interferir tanto no planejamento, como nos procedimentos de
ensino do professor e até também em sua própria motivação da prática docente. Tais dados,
somados aos resultados de nosso estudo, mostram que é importante para o professor não
apenas identificar as emoções dos alunos, mas saber trabalhá-las e utilizá-las como
conteúdo das aulas, incluindo esse objetivo em seu planejamento.
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7- Conclusão
excessivo do corpo não permite que as emoções sejam manifestadas e a escola ainda tem
negligenciado a emoção como um fator importante.
Ainda, deve adotar uma postura que favoreça um ambiente educacional agradável,
estando ciente de que suas próprias emoções vão influenciar no comportamento de seus
alunos. Ao proporcionar que o aluno se expresse e aprenda a manejar suas emoções, o
professor demonstrará que se preocupa com o desenvolvimento integral dos mesmos.
Atividades onde se estimula a participação ativa dos alunos como solução de problemas,
criação de brincadeiras, ou alternativas para brincadeiras podem ser um caminho alternativo
interessante para que isto aconteça.
Os dados aqui levantados nos mostraram que muitas dificuldades surgem no
tratamento das emoções no ambiente escolar, em especial na Educação Física. Nas
entrevistas coletadas vimos que alunos e professores concordam, de certa forma, em que
situações se manifestam as emoções durante as aulas. Porém, não reconhecem claramente a
importância de fatores como: a relação entre aluno e professor, influência das aulas sobre
os aspectos emocionais e vice-versa, e papel do professor como facilitador para o
desenvolvimento emocional.
A ansiedade é outro ponto de grande alerta já que os professores não sabem detectar
nem trabalhar com esse estado emocional, isso se torna ruim quando sabemos que este é um
estado emocional diretamente ligado com a performance da ação. Outro ponto importante
que pode ser levantado através do estudo é a falta de afinidade entre professores e alunos,
fato este que acaba proporcionando uma discordância em certos aspectos, já que o professor
conhecendo um pouco mais os alunos, conseguem agregar as preferências deles em sua
seqüência pedagógica, motivando seus alunos em todas as atividades propostas.
É importante que a escola e seus professores busquem que o aluno desenvolva um
maior conhecimento de si próprio, possibilitem diversificadas formas de atuação dos
mesmos, propiciem a expressão de suas próprias emoções e também das do outro, que
permitam que os alunos conheçam suas possibilidades de ação, conheçam as emoções e
formas de manifestações das mesmas (em si e no outro). É necessário que, acima de tudo, o
professor acompanhe e respeite cada um desses passos.
Educando desta forma poderá trabalhar com as mais diferentes manifestações
emocionais de seus alunos, assumindo seu papel por completo no processo de ensino-
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aprendizagem. O estudo das emoções dentro do ambiente escolar ainda se apresenta muito
incompleto, é preciso investigar e analisar mais profundamente as relações existentes entre
aprendizagem e emoção, em particular, nas aulas de Educação Física, que é o campo de
nosso interesse.
Sugerimos então uma maior estruturação nas grades curriculares vigentes, visando
um melhor preparo dos profissionais licenciados com relação à parte emocional de seus
alunos, tornando-se parte deste currículo a disciplina de psicologia do esporte, já
poderíamos observar algumas mudanças no modo de como o profissional encara as
emoções e a presença delas em sua aula. Outro importante ponto a ser levantado é a
diferença de linguagem de professor e aluno, fato este que distancia o professor de seu
aluno, talvez uma reciclagem periódica destes profissionais seria um ponto a ser pensado,
para que estes possam cada vez mais se aproximar da linguagem, das manias e dos assuntos
de seus alunos, facilitando a interação entre eles.
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8- Referências Bibliográficas:
ALMEIDA, A. R. S. A emoção na sala de aula. 2ª ed. São Paulo: Papirus, 2001. 112p.
CIRULLI, A. A. A motivação nas aulas de Educação Física Escolar. 1994. 74f. Trabalho
de Conclusão de Curso (Graduação em Educação Física)- Instituto de Biociências,
Universidade estadual Paulista, Rio Claro, 1994.
FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da educação física.
2.ed. São Paulo: Scpione, 1991.
FRIEDRICH, G.; PREISS, G. Educar com a cabeça. Viver: mente e cérebro. Revista de
psicologia, psicanálise, neurociência e conhecimento. Ano XVI, n. 159, p. 50-57, Abr.
2006.
Anexo