E-Book - Práticas Pedagógicas Na Pandemia

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SÉRIE

NÓS DA
ESCOLA 2

A ESCOLA DE
UM NOVO TEMPO:
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO
CONTEXTO DA PANDEMIA
ELABORAÇÃO:
CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas
em Educação, Cultura e Ação Comunitária
SÉRIE

NÓS DA
ESCOLA 2
A ESCOLA DE
UM NOVO TEMPO:
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO
CONTEXTO DA PANDEMIA

Elaboração:
CENPEC – CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS
EM EDUCAÇÃO, CULTURA E AÇÃO COMUNITÁRIA
Coordenação técnica
Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,
Cultura e Ação Comunitária – Cenpec

Presidente do Conselho de Administração


Anna Helena Altenfelder

Organização do material
Maria Amabile Mansutti

Produção dos textos


Juliana Gonçalves

Colaboração na produção dos textos


Adriana Vieira
Erica Catalani
Maria Amabile Mansutti
Thais Silva Mascarenhas

Consultoria técnica
Matheus Natal

Revisão
Hebe Ester Lucas
SUMÁRIO

Apresentação............................................................................................................................................. 04

1. A educação integral e inclusiva como princípio


para a formação cidadã............................................................................................................... 06

2. O valor da ciência para preservar a vida no planeta............................................ 18

3. O ensino híbrido: metodologias ativas como aliadas


no retorno gradual às aulas..................................................................................................... 27

4. A compreensão da pandemia e o conhecimento escolar:


construindo pontes entre o currículo e a vida.......................................................... 32

5. A avaliação diagnóstica das aprendizagens escolares


no retorno às aulas......................................................................................................................... 44

Referências.................................................................................................................................................. 59
APRESENTAÇÃO
“[...] eu quero ouvir
sobre as pequenas vidas
os pequenos instantes
de vida
que ainda resistem
aí”1

“Voltamos ao jardim
ao banco lavado pela chuva.
Pedimos o verde ao verde
a flor à flor
sem quebrar-lhe a haste [...]”2

CAROS GESTORES E PROFESSORES,


Em 2019 não poderíamos contar com o que estaria por vir. Mas foi em dezembro
desse ano que o governo chinês alertou a Organização Mundial da Saúde (OMS)
para a ocorrência de casos de uma pneumonia desconhecida registrada no país.
Desde então, a marcha acelerada do novo coronavírus infectaria milhões3 de
pessoas, em mais de 200 países ou territórios, com letalidade superior a de
desastres naturais e guerras. Tivemos que descer aos subterrâneos da resiliência
e da inventividade para continuar a construir e pensar no futuro.
Estudantes em casa, escolas vazias. Além da grave situação no âmbito da saúde
pública, a Covid-19 desafia o setor educacional em todo o mundo. De acordo com
a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)4,

1 Trecho do poema “Ouvir as pequenas vidas que resistem”, de Jarid Arraes, escritora, cordelista e poeta brasileira, autora dos livros
As lendas de Dandara, Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis, Um buraco com meu nome e Redemoinho em dia quente
2 Trecho do poema “Mulher e pássaro”, de Dora Ferreira da Silva, poeta e tradutora brasileira.
3 BBC, 2020.
4 UNESCO, 2020.

4
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

mais de 1,5 bilhão de estudantes, cerca de 90% da população mundial, foram


afetados pela pandemia. No Brasil, em meados de março, aulas presenciais
foram suspensas em escolas públicas e privadas de todo o país, impactando
o calendário escolar, a aprendizagem dos alunos e as potentes relações tecidas
no cotidiano das escolas.
O panorama inédito demandou esforços para mitigar efeitos negativos no curto
prazo. Muitas escolas recorreram ao uso de recursos tecnológicos para o envio de
atividades remotas e para a manutenção do vínculo com os estudantes. Dedicação
de grande valia foi empreendida. Mas a experiência de sistemas educacionais que
já enfrentaram fechamentos prolongados de escolas, como destacado pelo Todos
pela Educação5, indica que uma resposta efetiva só poderá ser dada com um bom
planejamento, tendo em vista o período de retorno das aulas.
Para contribuir com esse debate, a presente cartilha se propõe a sistematizar
algumas reflexões e sugestões de práticas pedagógicas, norteadas pela
concepção de educação integral e inclusiva. O primeiro capítulo destaca a
oportunidade de mobilizar conhecimentos e competências dos estudantes,
fundamentais para a vida pessoal e em sociedade, reafirmadas pelas mudanças
que a pandemia promoveu em nossos modos de estar no mundo. No segundo
capítulo, abordaremos o valor do conhecimento científico para preservar a vida
no planeta, evidenciado no atual contexto e como este pode ser percebido e
aproveitado pelas escolas. Na sequência, o foco estará no ensino híbrido que o
retorno gradual às aulas exigirá. O capítulo seguinte busca evidenciar a relação
entre o currículo e a vida dos estudantes. Por fim, serão apresentadas sugestões
para realização de avaliação diagnóstica dos alunos e para a recuperação
pedagógica necessária.
Sabemos que, dado o ineditismo e a extraordinária rapidez de disseminação da
Covid-19, ainda vivemos tempos de angústias e incertezas. No entanto, é urgente
sinalizar alguns pontos de referência para a organização do retorno às aulas
presenciais. Por isso, esperamos que o conjunto de proposições aqui apresentadas
possa contribuir com os esforços coletivos na busca de alternativas para apoiar
os profissionais da educação. Mas, principalmente, este é um convite a você,
professor, gestor, coordenador pedagógico, que está sentindo falta do ambiente
escolar e ansioso para trilhar o caminho dessa retomada. Que esse material possa
inspirar novos percursos!

5 TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2020.

5
1
A EDUCAÇÃO INTEGRAL E
INCLUSIVA COMO PRINCÍPIO
PARA A FORMAÇÃO CIDADÃ
• Que educação é possível coexistir com a pandemia?
• Que educação queremos nesse contexto?
• Por que a educação integral é importante para lidar com a pandemia e
suas decorrências?
• Por que desenvolver práticas pedagógicas para uma formação cidadã?

O mundo não será o mesmo após a pandemia da Covid-19, doença causada


pelo vírus Sars-CoV-2. A pandemia tem mudado hábitos e rotinas de todos os
habitantes do planeta, que precisam adaptar-se à necessidade de distanciamento
social, buscando ficar o máximo de tempo em casa, evitando saídas não
essenciais e realizando os cuidados necessários, como a frequente higienização
adequada das mãos e o uso de máscaras.

6
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

Essas mudanças vieram para ficar, ao menos por algum tempo. O mundo depende
do desenvolvimento científico de vacinas e tratamentos para a doença para que
as pessoas possam voltar a ter contato próximo entre si sem riscos, o que pode
levar um longo período. Assim, as pessoas terão que aprender a conviver tomando
os cuidados necessários para evitar o contágio da doença.
Com a educação não será diferente. Professores, estudantes, mães, pais,
familiares, diretores, técnicos e gestores da educação também terão que se
adaptar aos processos educacionais possíveis no contexto da pandemia. Após
um período inicial de mudanças abruptas, adaptações improvisadas e atividades
educativas totalmente remotas, será viável voltar às atividades educativas
cotidianas presenciais como antes? Ou será possível realizá-las de outra forma?
Que tipo de adequações será necessário realizar respeitando os cuidados diante
dos riscos de contágio?
As mudanças causadas pela pandemia no mundo são inúmeras. E, sem dúvida,
afetaram de forma diferente os países mais desenvolvidos e os menos
desenvolvidos, as regiões mais ou menos estruturadas, os territórios com
instituições e articulações mais ou menos consolidadas, as pessoas com condições
de vida melhores ou mais precárias. É inegável que a pandemia acentuou as
desigualdades já existentes. A falta de saneamento básico, que já era um
problema em muitas regiões, por exemplo, impossibilita a realização dos cuidados
básicos em muitas casas. E a falta de opção de trabalho remoto faz com que
muitas pessoas tenham de continuar saindo de casa para trabalhar, expondo-
se ao vírus. Dessa forma, as condições precárias de vida aumentam os riscos de
contágio. Outros estudos6 indicam ainda que a insegurança alimentar chegou aos
seus níveis mais elevados e que a riqueza dos mais ricos aumentou.
A pandemia torna ainda mais urgente repensar e reinventar a educação. Nesse
contexto, você parou para pensar em quais são os conteúdos importantes a serem
trabalhados? Quais são as formas possíveis e seguras de se fazer educação?
Como fazer uma educação que contribua para o enfrentamento das desigualdades
sociais, exacerbadas pela pandemia? Uma educação para a formação de cidadãos
que sejam atuantes na construção de uma sociedade mais justa, igualitária,
solidária e sustentável?
A educação integral não é uma proposta nova, mas se torna ainda mais
relevante nesse contexto em que as desigualdades são acentuadas, os
sujeitos precisam se adaptar a novas realidades e o que está dentro da
escola precisa urgentemente dialogar com o que está fora. As metodologias
precisam lançar mão de recursos diversificados para alcançar a diversidade
de sujeitos e seus territórios. As articulações com a família, a comunidade,
agentes e organizações precisam se expandir e fortalecer.
A educação integral parte do olhar para o sujeito em sua integralidade, da
valorização dos saberes comunitários, articulados aos atores e espaços da
comunidade (como famílias, moradores, lideranças locais, artistas, em ruas,
praças, escolas, associações, centros culturais, instituições públicas ou privadas),
trabalhados a partir de metodologias variadas, considerando a complexidade do

6 World Food Programme, 2020; South China Morning Post, 2020.

7
mundo contemporâneo e contribuindo para o enfrentamento das desigualdades
sociais. Dessa forma, a educação integral propõe ferramentas humanizadoras
para enfrentar a pandemia.

O QUE É EDUCAÇÃO INTEGRAL?


Educação integral não é apenas uma modalidade educacional que oferece
maior tempo de permanência na escola, mas sim:
• considera a multidimensionalidade dos sujeitos de forma integrada;
• reconhece que os conhecimentos desenvolvidos pela escola, embora
constituam importante parte do patrimônio cultural, não esgotam o
conjunto de saberes necessários para uma participação atuante na
sociedade contemporânea;
• entende que a variedade de oportunidades de aprendizagem
está na diversidade dos espaços e na ampliação de tempos, em
articulação com o território, com organizações da sociedade civil, com
a comunidade e a família.
Fonte: JIMENEZ, M. C. R. Educação integral: um conceito em busca
de novos sentidos. São Paulo: Cenpec Educação, 2016.

Nessa concepção, é fundamental


compreender o papel que tem o território.
Mas o que se entende como território?
Segundo o geógrafo Milton Santos, o
território é o espaço apropriado e
transformado pela atividade humana.
Em outras palavras, “tem que ser
entendido como o território
usado, não o território em si.
O território usado é o chão mais
a identidade. A identidade é o
sentimento de pertencer àquilo
que nos pertence. O território
é o fundamento do trabalho, o lugar
da residência, das trocas materiais
e espirituais e do exercício da vida”
(SANTOS, 1999, p. 8).

8
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

Há que se buscar possibilidades educativas no território dos estudantes e,


assim, trazer a cultura, as dinâmicas sociais e os saberes comunitários para
o processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, este passa a se configurar
como um “território educativo”.
Na pandemia, ampliar o olhar educativo para o contexto é fundamental para
alargar o alcance da prática pedagógica e buscar minimizar os efeitos da crise.
Tomando como referência o território onde sua escola está inserida, em
que condições a comunidade local está lidando com a pandemia e suas
consequências? Quais têm sido os principais desafios enfrentados? Quais
as possibilidades e limites para lidar com a crise encontrados? Quais saberes
comunitários podem ser mobilizados para lidar com a crise?
Com a necessidade do isolamento social, mães e pais têm sido demandados a
mediar processos de aprendizagem em casa. Entretanto, eles não são profissionais
da educação e não substituem os professores. Por outro lado, a casa do estudante
e os demais moradores constituem importantes elementos do território a serem
mobilizados para as atividades educativas.
Não se pode esquecer que os complexos desafios demandam ainda
articulações com organizações e agentes do território que possam se
fortalecer para esse enfrentamento. As parcerias e ações diversificadas e
intersetoriais precisam ser articuladas, mesmo a distância, levando em conta
todos os cuidados com a pandemia.
A educação integral está presente no documento que define as principais
diretrizes da educação básica brasileira, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC),
em seu início, onde se apresenta que:
[...] a Educação Básica deve visar à formação e ao desenvolvimento humano
global, o que implica compreender a complexidade e a não linearidade desse
desenvolvimento, rompendo com visões reducionistas que privilegiam ou a
dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva. Significa, ainda, assumir
uma visão plural, singular e integral da criança, do adolescente, do jovem e do
adulto – considerando-os como sujeitos de aprendizagem – e promover uma
educação voltada ao seu acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno,
nas suas singularidades e diversidades (BNCC, 2019a, p. 14).

Isso significa que a educação tem como objetivo o desenvolvimento pleno dos
estudantes, considerando-os não apenas em suas dimensões intelectual e
afetiva, mas sim como sujeitos multidimensionais. A educação integral busca
o desenvolvimento de múltiplas dimensões nos estudantes, como a física, a
emocional, a social, a cultural e a ética. Considerar a multidimensionalidade
do sujeito favorece o processo de ensino e aprendizagem, especialmente no
contexto da pandemia.
Almeja-se que o estudante, ao final da educação básica, tenha adquirido
conhecimentos e desenvolvido habilidades, atitudes e valores para que possa
integrar-se ativamente à vida contemporânea, lidando com novas demandas e
os diversos desafios da sociedade. Para isso, precisam desenvolver, por meio da
educação, as dez competências gerais.

9
Quais são as dez competências gerais que devem ser desenvolvidas
de forma integrada aos componentes curriculares, ao longo de toda
a educação básica?

CONHECIMENTO
Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente

1
construídos sobre o mundo físico, social e cultural
PARA
entender e intervir na realidade, colaborando para
uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

PENSAMENTO CIENTÍFICO,

2
CRÍTICO E CRIATIVO
Exercitar a curiosidade intelectual, o pensamento
e análise crítica, a imaginação e a criatividade
PARA
investigar causas, elaborar e testar
hipóteses, problematizar e criar soluções
com conhecimentos multidisciplinares.

SENSO ESTÉTICO E

3
REPERTÓRIO CULTURAL
Valorizar e fruir as diversas
manifestações artísticas e culturais,
das locais às mundiais
PARA
participar de práticas diversificadas
da produção artístico-cultural.

COMUNICAÇÃO

4
Utilizar conhecimentos das linguagens verbal,
verbo-visual, corporal, multimodal, artística,
matemática, científica, tecnológica e digital
PARA
expressar-se e partilhar informações, ideias

5
e sentimentos, e, com eles, produzir sentidos
que levem ao entendimento mútuo.

CULTURA DIGITAL
Compreender e utilizar tecnologias digitais
de informação e comunicação de forma
crítica, significativa e ética
PARA
acessar e disseminar informações, produzir
conhecimentos e resolver problemas com protagonismo.

10
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

AUTOGESTÃO
Valorizar e compreender a diversidade de saberes,

6
entender o mundo do trabalho e construir seu
projeto de vida pessoal, profissional e social
PARA
fazer melhores escolhas com liberdade, autonomia,
responsabilidade e consciência crítica.

ARGUMENTAÇÃO

7
Argumentar com base em fatos,
dados e informações confiáveis
PARA
formular, negociar e defender ideias, pontos de vistas e
decisões que respeitem e promovam os direitos humanos
e a consciência socioambiental, com posicionamento ético
no cuidado consigo, com os outros e com o planeta.

8
AUTOCONHECIMENTO
E AUTOCUIDADO
Conhecer-se, apreciar-se, reconhecer suas
emoções e as dos outros e ter autocrítica
PARA
cuidar de sua saúde física e emocional, lidar
com suas emoções e com a pressão do grupo.

EMPATIA E COOPERAÇÃO

9
Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução
de conflitos e a cooperação
PARA
fazer-se respeitar e promover o respeito ao outro,
acolher e valorizar a diversidade sem preconceitos,

10
reconhecendo-se como parte de uma coletividade
com a qual deve se comprometer.

AUTONOMIA
Agir pessoal e coletivamente com autonomia,
responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação
PARA
tomar decisões segundo princípios éticos
democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

Fonte: Porvir (2017).

11
O desenvolvimento das dez competências gerais tem o propósito de “contribuir
para a construção de uma sociedade mais ética, democrática, responsável,
inclusiva, sustentável e solidária, que respeite e promova a diversidade e os
direitos humanos, sem preconceitos de qualquer natureza” (PORVIR, 2017). Assim,
visa que as crianças e adolescentes se tornem cidadãos atuantes no mundo
contemporâneo, preparados para lidar com os variados desafios e para construir
uma sociedade melhor. Você observa que, no contexto da pandemia, há
experiências oportunas para o desenvolvimento dessas competências?
Como sua escola poderia conversar com os pais sobre essas competências
e torná-los parceiros, na tarefa de desenvolvê-las junto aos estudantes? A
seguir, algumas sugestões.

NA PRÁTICA
Competências da BNCC e a vida na pandemia
Para lidar com a pandemia, por exemplo, são necessários diversos
conhecimentos sobre o vírus e como se pode minimizar os riscos de contágio,
pensamento científico e crítico para discernir as informações corretas
das chamadas fake news, cultura digital para acessar essas informações,
cooperação e empatia com as demais pessoas que também estão lidando com
a crise de diferentes formas, e responsabilidade e cidadania ao adotar uma
postura que não coloque em risco a própria vida nem a dos outros.

Segundo o Centro de Referências em Educação Integral, a educação integral parte


dos seguintes princípios:
• Contemporaneidade: alinha-se às demandas atuais, tendo como foco a formação
de sujeitos críticos, autônomos e responsáveis consigo mesmos e com o mundo;
• Inclusão: propõe-se como projeto educativo para todos e todas, considerando a
singularidade e a diversidade dos sujeitos;
• Sustentabilidade: pretende-se uma proposta permanente, comprometendo-se
com processos educativos contextualizados e com a interação entre o que se
aprende e o que se pratica;
• Equidade: reconhece o direito de todos e todas a aprender, o que inclui
promover o acesso a diferentes oportunidades educativas (com múltiplas
linguagens, recursos, espaços, saberes e agentes) para o enfrentamento das
desigualdades educacionais.
Essa concepção está alinhada, ainda, às proposições globais para a superação
da pobreza, a proteção do planeta e a garantia de paz e prosperidade para
todas as pessoas, conhecida como “Agenda 2030” e que contém os Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os ODS constituem 17 metas globais,
estabelecidas em 2015 pela Assembleia Geral das Nações Unidas e seus 193
Estados-membros, incluindo o Brasil, a serem atingidas até 2030. Os ODS
abrangem questões de desenvolvimento social e econômico, incluindo pobreza,
fome, saúde, educação, aquecimento global, igualdade de gênero, água,
saneamento, energia, urbanização, meio ambiente e justiça social.

12
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

Quais são os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)?

Fonte: Nações Unidas Brasil (2015).

13
Dentre esses objetivos, o ODS 4 tem como foco a educação de qualidade e
para todos, em que se busca “assegurar a educação inclusiva, equitativa e
de qualidade e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida
para todos” (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2015). O Brasil aprovou em 2014
seu Plano Nacional de Educação (PNE), que tem como objetivo orientar as
políticas públicas em educação até 2024. De modo geral, suas metas estão em
consonância com o que estabelece o ODS 4.
As metas do ODS 4 visam garantir que todos os jovens concluam a educação
básica, buscando o desenvolvimento das potencialidades dos sujeitos, desde
a primeira infância até a formação técnica e superior, incluindo a educação
de jovens e adultos, nos casos necessários. E ainda, eliminar as disparidades
de gênero na educação e garantir a igualdade de acesso a todos os níveis de
educação e formação profissional para os mais vulneráveis, incluindo as pessoas
com deficiência, os povos indígenas e as crianças em situação de vulnerabilidade.
No Brasil, o acesso à educação básica para todos foi inserido na Constituição
Federal (Emenda nº 59, de 2009). Essa perspectiva de inclusão faz parte
dos princípios da educação integral, uma vez que esta tem como objetivo o
desenvolvimento de todos de maneira integral, considerando as diversidades e
singularidades dos sujeitos. Com uma educação que seja para todos,
efetiva-se a educação integral.
Desenvolver práticas pedagógicas para uma formação cidadã é fundamental
nesse contexto da pandemia. Trabalhar a cidadania na escola sempre foi
importante. E, nesse período de pandemia, sua importância é ainda maior,
com as desigualdades se exacerbando, as condições precárias de vida
piorando e direitos não garantidos dificultando ainda mais a vida, inclusive
causando mortes.
É fundamental, então, que as práticas pedagógicas busquem desenvolver a
cidadania ativa e estimulem a mobilização social e o engajamento comunitário. É
por meio da cidadania que o sujeito pode exercer seu papel na sociedade e tem
seus direitos e deveres determinados.

NA PRÁTICA
Práticas pedagógicas e a cidadania ativa
A formação da cidadania em sala de aula pode ser trabalhada a partir de
diversos temas, no contexto da pandemia. Abordar a democracia e o sistema
político, incluindo seu funcionamento nas esferas nacional, estadual e municipal
e nos diferentes poderes (executivo, legislativo e judiciário) é fundamental
para entender quais são as responsabilidades de cada um e como é possível
realizar o controle social, ou seja, monitorar e cobrar as ações de políticas
públicas necessárias.
Em consonância estão os direitos humanos, que têm sido ainda mais violados
na pandemia. É possível olhar para a Declaração Universal dos Direitos Humanos
e discutir: de que forma pode ser aplicada no dia a dia; sua história; o contexto
brasileiro; sua relação com a democracia; entre outros. Alguns desses elementos

14
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

estão no jogo7 virtual Diário de Amanhã, desenvolvido pelo SENAC-SP, Associação


Palas Athena e UNESCO.
A pandemia pode ainda trazer para a pauta uma problematização sobre a
sociedade do consumo e o consumismo exacerbado, abrangendo sua relação
com as mudanças climáticas e quais efeitos da quarentena e da diminuição da
movimentação econômica têm sido observados no meio ambiente. Some-se
a isso as problemáticas da vida nas grandes cidades e no meio rural, os novos
fluxos migratórios e sua relação com o atual surto viral, como o agravamento das
desigualdades em seus múltiplos aspectos.
No âmbito econômico, as iniciativas coletivas de economia solidária podem ser
pesquisadas e incentivadas uma vez que partem da solidariedade e da cooperação
entre as pessoas. Algumas experiências de como trabalhar a economia solidária
nas escolas estão no livro “Economia solidária na escola”, de William Martins. E
o empreendedorismo social, em que são desenvolvidas atividades econômicas
que dão retorno para a sociedade, também pode ser estimulado, sobretudo com
estudantes do Ensino Médio.
Em tempos de enfrentamento do coronavírus, são muitas as iniciativas de
mobilização para a entrega de alimentos e outros itens de proteção para os mais
vulneráveis. A escola pode contribuir nesses processos por meio da articulação
comunitária. O projeto “Cidadania nas escolas”, do LABetinho (Laboratório Herbert
de Souza – Tecnologia e Cidadania, da COPPE-UFRJ), organiza uma jornada anual
sobre mobilização social e promoção da cidadania nas escolas e orienta, por meio
de cursos on-line, como realizar essa mobilização.
Essas são formas de trabalhar a empatia, a solidariedade e a cooperação bem
como a responsabilidade e a cidadania, a partir de diferentes estratégias, com
pesquisas, controle social, atividades econômicas ou articulações comunitárias,
para a discussão de problemas do território.

Utilizar metodologias ativas para essas atividades promove o protagonismo


dos estudantes. A Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) pode
ser utilizada para tratar dos temas apresentados. Nessa metodologia, a
construção do conhecimento ocorre a partir da discussão de um problema em
grupo. O estudante estuda individualmente sobre certo tema antes da aula,
anotando suas dúvidas e questões. Na aula (que pode ser virtual), acontecem
discussões em grupos sobre os problemas apresentados. Dessa forma, incentiva-
se o trabalho em grupo e se desenvolve a capacidade de argumentação, a
criatividade e a comunicação. Como continuidade, pode-se estimular que o debate
do problema se desdobre em iniciativas coletivas e colaborativas para o território.
Outra metodologia é o trabalho por projetos, em que teoria e prática
dialogam, com suas múltiplas perspectivas, de maneira interdisciplinar,
visando o desenvolvimento de um produto ou a criação de um artefato.

7 Disponível em: http://www1.sp.senac.br/hotsites/blogs/diariodeamanha/

15
A partir da escolha de temas geradores, inicia-se a experiência da aprendizagem,
trabalhando-se conceitos como o desenvolvimento de soluções criativas
para problemas reais. Pratica-se, então, o planejamento colaborativo com os
envolvidos (professores e estudantes), o diálogo, a construção coletiva para a
realização do projeto. A experiência de aprendizagem é vivida intensamente,
proporcionando-se sentidos à aplicação dos conceitos no fazer coletivo, tendo
os estudantes como protagonistas.
Os mapas conceituais também são um bom recurso para a sistematização
de muitas informações com diferentes interligações, como no caso de
planejamentos coletivos de atividades complexas. Também são conhecidos
como mapas mentais ou diagramas, e são bastante úteis para se entenderem
articulações complexas entre diversos elementos, sem comprometer a visão do
todo. A seguir, um exemplo de mapa conceitual com conceitos que costumam
estar no livro de Biologia do ensino médio.

COMO FAZER UM MUNDO


SUSTENTÁVEL?

PLANEJAR A RECUPERAR OS
SOCIEDADE COMO ECOSSISTEMAS
UM ECOSSISTEMA DEGRADADOS

NECESSIDADE NECESSIDADE
TÉCNICAS DE
DE FONTES DE DE RECICLAR OS
REFLORESTAMENTO
ENERGIA PRODUTOS

FLUXO DE CICLO DE SUCESSÃO


ENERGIA MATÉRIA ECOLÓGICA

ECOSSISTEMA

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A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

NA PRÁTICA
Mapas conceituais
Para a elaboração de um mapa conceitual, define-se seu objetivo e público-
alvo, para então escolher os conceitos e as ideias relevantes a serem inseridos
em caixas ou círculos. O próximo passo é refletir sobre a relação entre esses
conceitos, o que deve se desdobrar na organização visual do mapa, ou seja,
aproximando os conceitos similares ou colocando no centro ou na parte superior
os conceitos principais ou iniciais para o entendimento do mapa. Passa-se, então,
para a qualidade das relações, que podem ser representadas por traços ou flechas,
por exemplo, e podem ter palavras de ligação, se necessário, para evidenciar o
significado do vínculo. É possível experimentar diversas configurações para o
mapa nas ferramentas digitais disponíveis gratuitamente na internet.

O recurso dos mapas conceituais favorece a aprendizagem significativa dos


estudantes, podendo ser usado individual ou coletivamente, e é bastante
proveitoso para a organização e análise de conteúdos complexos, a compreensão
de conhecimentos novos relacionando-os a antigos, a construção de
planejamentos de ações articuladas, entre outros. E você, professor de outras
áreas do conhecimento, de que forma poderia aplicar a estratégia dos mapas
conceituais com a sua turma?

17
2
O VALOR DA CIÊNCIA PARA
PRESERVAR A VIDA NO
PLANETA
• Como surgiu a Covid-19?
• Como as pessoas são infectadas pelo coronavírus?
• Quais são os sintomas da doença?
• Qual é o melhor tratamento?
• Quando a pandemia do coronavírus vai terminar?
• Existe uma vacina para a Covid-19?

Vivemos uma situação que tem levado milhões de pessoas a fazerem muitas
perguntas. A resposta a cada uma delas é fundamental e decisiva para que todos
possam organizar suas vidas. Algumas dessas perguntas já têm respostas, outras
ainda não. Mas o que todos sabem, com certeza, é que as respostas serão
dadas pela CIÊNCIA!

18
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

O QUE É CIÊNCIA?
Conhecimento ou saber excessivo conseguido pela prática, raciocínio ou reflexão.
Reunião dos saberes organizados obtidos por observação, pesquisa ou pela
demonstração de certos acontecimentos, fatos, fenômenos, sendo sistematizados
por métodos ou de maneira racional: as normas da ciência [...] do latim
scientia.ae. (Dicionário Aurélio).

QUEM ESTÁ BUSCANDO AS RESPOSTAS?


Pesquisadores no mundo todo, incluindo especialidades médicas como
infectologistas, pneumologistas, clínicos gerais, anestesistas, medicina
laboratorial, medicina intensiva, cardiologistas, otorrinolaringologistas, pediatras,
sanitaristas, físicos, químicos, ecologistas, estatísticos e ainda profissionais de
muitas outras áreas que oferecem suporte para que as pesquisas aconteçam.
Em junho de 2020, 153 fármacos estavam sendo testados8 em pacientes para
combater a Covid-19, em vários países, incluindo o Brasil.

NO MUNDO: Vacinas para o combate à Covid-19


Por meio dos links abaixo, você poderá visualizar mapas e gráficos sobre o
desenvolvimento de vacinas no mundo todo.
Este mapa mostra onde as vacinas contra o coronavírus
estão sendo testadas em todo o mundo
https://www.cnbc.com/2020/06/05/this-map-
shows-where-coronavirus-vaccines-are-being-
tested-worldwide.html

Os ensaios de vacinas e tratamentos


para covid-19 em curso
https://www.nexojornal.com.br/
grafico/2020/05/22/Os-ensaios-de-vacinas-
e-tratamentos-para-covid-19-em-curso

No Brasil, vários centros de pesquisa estão tentando encontrar respostas, não só


para a vacina, mas também para tratar a Covid-19 com medicamentos. Muitas das
pesquisas são colaborações de vários países, como a vacina desenvolvida pelo
Instituto Butantan, em associação com o laboratório chinês Sinovac Biotech, ou
a vacina que está em teste pela Unifesp, em associação com a Oxford University.
Já a vacina que vem sendo desenvolvida pela Fiocruz é fruto da colaboração de
várias universidades brasileiras, como a Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), o Instituto Butantan, a Universidade de São Paulo (USP) e a Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto (FMRP).

8 JULIÃO, 2020.

19
COMBATE À COVID-19 NO BRASIL
Diversos hospitais, universidades e centros de pesquisa brasileiros estão
fazendo a diferença contra o coronavírus, tais como Instituto Adolfo Lutz,
Instituto Butantan, Fiocruz, entre outros.
Por meio dos links abaixo você poderá saber um pouco mais sobre alguns
dos trabalhos em curso:
Dez pesquisadores brasileiros contam o que estão estudando
sobre o coronavírus
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2020/04/11/dez-pesquisadores-brasileiros-contam-
o-que-estao-estudando-sobre-o-coronavirus

Covid-19 mobiliza mais de 140 pesquisadores apoiados pela


Fapesp
https://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/covid-19-mobiliza-mais-de-140-pesquisadores-
apoiados-pela-fapesp/

HCor apoia estudo mundial sobre o novo coronavírus


https://www.hcor.com.br/imprensa/noticias/instituto-de-pesquisa-hcor-apoia-estudo-
mundial-sobre-o-novo-coronavirus/

Fiocruz integra coalizão para acelerar pesquisa sobre Covid-19


https://portal.fiocruz.br/noticia/fiocruz-integra-coalizao-para-acelerar-pesquisa-sobre-
covid-19

Instituto Butantan pesquisa novo tratamento contra Covid-19


https://tvbrasil.ebc.com.br/reporter-brasil/2020/04/instituto-butantan-pesquisa-novo-
tratamento-contra-covid-19

Além desses, outros centros de pesquisa, hospitais e universidades estão


produzindo experiências e sistematizando conhecimentos sobre a Covid-19, que
são publicados em revistas especializadas e compartilhados com a comunidade
científica global. Hoje, essa comunidade tem como propósito comum o combate
ao coronavírus e, por isso, trabalha em cooperação. Muitas dessas revistas
disponibilizam com livre acesso os artigos que publicam. Da mesma forma, centros
de pesquisa estão criando plataformas temáticas, com softwares livres, para
apoiar as pesquisas e a adoção de medidas relacionadas.

PARA SABER MAIS


A plataforma mais completa lançada até agora é a da Johns Hopkins
University (JHU), que apresenta uma visão epidemiológica da situação
dos países em tempo real.
Painel COVID-19 do Center for Systems Science and Engineering
(CSSE) na Universidade Johns Hopkins (JHU)
https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/opsdashboard/index.
html?fbclid=IwAR2thWmundH5H9rH04BQ2_1XFVU0eusTvEw3aJnW1LjazJ0CykSMTGGpxdk#/
bda7594740fd40299423467b48e9ecf6

20
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

A Organização Mundial da Saúde (OMS), subordinada à ONU, é a principal


responsável pela cooperação internacional na área da saúde. Em relação à Covid-19,
a OMS foi responsável pela identificação do surto, por videoconferências com
médicos chineses da província de Wuhan, na China, onde a enfermidade surgiu. Por
meio da OMS são disseminadas informações sobre tratamentos recomendados e
os principais boletins que indicam geograficamente dados sobre a doença. O órgão
também esteve envolvido no combate de outros surtos como Sars, Mers, pólio, zika,
H1N1 e ebola, considerados casos de emergência internacional.
As organizações voltadas para a cooperação internacional em saúde vêm tendo e
terão papel importante na mitigação dos efeitos causados por essa nova doença, uma
vez que promovem articulação entre a comunidade científica, fornecem informações
confiáveis para os governos nacionais e combatem as fake news. Segundo a OMS,
“uma opinião pública bem informada e uma cooperação ativa por parte do público são
de suma importância para o melhoramento da saúde dos povos”.

PARA SABER MAIS


Em março de 2020, um importante estudo foi realizado no Brasil pela
biomédica Jaqueline Goes de Jesus, graduada pela Escola de Medicina e
Saúde Pública da Bahia e doutora em Patologia Humana. Ela coordenou uma
equipe de cientistas que publicou a sequência do genoma do coronavírus,
que recebeu o nome de Sars-CoV-2. Esse estudo ajuda a entender como
ocorre a disseminação do vírus, as suas mutações e, consequentemente,
colabora no desenvolvimento de testes de diagnósticos e de vacinas.
Segundo Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical da USP,
a sequência brasileira apresenta diferenças9 em relação ao genoma
identificado em Wuhan, epicentro da epidemia. Esse trabalho também
teve a participação de pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz e das
universidades de São Paulo (USP) e de Oxford (Reino Unido).
Fonte: Toledo (2020).

NA PRÁTICA
Oportunidade para propor aos alunos o estudo do Projeto
Genoma Humano (1990).

9 Segundo o biomédico Matheus Natal, isso significa que o vírus que chegou ao Brasil provavelmente veio da Europa. Já havia
muitas infecções por lá, o suficiente para que o vírus fosse um pouco diferente do original, que veio da região da China, muito
provavelmente de Wuhan. O mesmo aconteceu com a sequência genética feita nos EUA. Em março já havia “vários tipos do mesmo
vírus” em seu território nacional, o que sugere que o vírus primeiramente sequenciado em Washington veio de um lugar diferente do
que o sequenciado em Seattle. Isso é, na verdade, um grande achado epidemiológico, já que é possível concluir que o vírus já havia
chegado em países como nos EUA há mais tempo do que imaginávamos. Mais informações em: https://www.bloomberg.com/news/
articles/2020-03-24/how-did-covid-19-spread-viral-genetics-leave-trail-of-clues e https://www.nytimes.com/2020/04/08/science/
new-york-coronavirus-cases-europe-genomes.html

21
O QUE É GENOMA?
Genoma é a sequência completa do DNA, ou seja, o conjunto de todos os genes
de um ser vivo. Estudar o genoma é como estudar a anatomia molecular de uma
espécie.

POR QUE É IMPORTANTE CONHECER O GENOMA


DE UM ORGANISMO?
Conhecer os genes de uma espécie pode trazer informações valiosas sobre um
ser vivo, os processos normais que nele ocorrem e até mesmo os genes que
podem desencadear doenças. Além de encontrar possíveis doenças, conhecer os
conjuntos de genes ajuda na criação de medicamentos.
Fonte: Santos (2020).

PARA SABER MAIS:


ENFERMIDADES HISTÓRICAS
As grandes epidemias ao longo da História
https://super.abril.com.br/saude/as-grandes-epidemias-ao-longo-da-historia/

Pandemias na História: o que há de semelhante


e de novo na Covid-19
https://www.sanarmed.com/pandemias-na-historia-comparando-com-a-covid-19

As principais epidemias ao longo da História


http://arte.folha.uol.com.br/graficos/muYAQ/?w=620&h=455

PARA SABER MAIS:


CIENTISTAS BRASILEIROS QUE SE DESTACARAM
NA CURA DE ENFERMIDADES
Alguns dos principais nomes em combate a doenças no Brasil: Oswaldo Cruz,
Carlos Chagas, Ademar Paoliello, Adriana de Oliveira Melo, Emílio Ribas.
Cientistas da área da saúde que se destacaram: Juliano Moreira, Mares Guia,
Suzana Herculano-Houzel, Mauricio da Rocha e Silva, Vital Brazil, Mayana
Zatz, Henrique da Rocha Lima.

NA PRÁTICA
Que tal propor uma pesquisa para que os estudantes
conheçam melhor a vida e o trabalho destes cientistas?

22
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

Estamos vivendo um momento histórico que nos leva a repensar o nosso modo
de vida. A crise gerada pelo coronavírus nos tornou mais conscientes de que o
mundo está interligado e nos oferece uma grande oportunidade de mostrar aos
estudantes quanto esta pandemia exaltou o valor da ciência. A vida hoje depende
do conhecimento. Nesse sentido, mais do que nunca, são reconhecidas pela
sociedade a importância da escola e a relevância do professor como articulador
das relações entre o estudante e o conhecimento.

PARA SABER MAIS


O pensamento científico na escola estrutura uma das dez competências
da BNCC:
Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das
ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação
e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses,
formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com
base nos conhecimentos das diferentes áreas10.

A função primordial da escola é socializar o conhecimento e promover o pleno


desenvolvimento do indivíduo como cidadão. Quando temos uma pandemia
devastadora se alastrando, cabe à escola criar formas de construir, veicular e
aplicar conhecimentos fundamentais para que os estudantes compreendam o que
está acontecendo e possam atuar nessa situação.
A escola precisa ajudar os estudantes a avançarem de uma compreensão mais
reducionista para uma compreensão mais complexa, reflexiva e crítica sobre a
doença e os efeitos que ela tem produzido e continuará produzindo no âmbito
pessoal e na vida em sociedade de modo geral.
É preciso ajudá-los a desenvolver novos valores, atitudes e hábitos no cuidado de
si e dos outros. Uma das grandes necessidades neste momento é certamente o
desenvolvimento de uma vacina ou de outro tratamento específico. Mas, para isso,
é preciso tempo para se criar algo eficaz e seguro. Enquanto isso, os estudantes
terão que aprender a atuar na emergência, com responsabilidade e compromisso,
e isso só será possível apoiando-se na ciência.
Um levantamento11 sobre a percepção pública da ciência, realizado pelo Instituto
Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia
(INCT-CPCT), apontou que a maioria dos jovens brasileiros gosta de ciência e
acha que o governo deveria investir mais no setor. No entanto, poucos buscam
informações sobre ciência e tecnologia, e apenas a minoria sabe informar o nome
de alguma instituição de pesquisa nacional. “A maioria se informa sobre o assunto
pela internet, e confessa ter dificuldade para saber se uma notícia é verdadeira.”

10 BNCC, 2019b.
11 ESCOBAR, 2019.

23
NA PRÁTICA
I. Estudo envolvendo toda a escola:
O que já sabemos sobre a Covid-19.
Para realizar esse estudo, será necessário organizar um time integrado por
professores e estudantes dos ensinos fundamental e médio. Outros profissionais
da escola poderão participar. A ideia é fazer um trabalho integrado com a
participação de toda a escola. Esse time, espécie de “guardião do conhecimento”,
será responsável por coletar informações sobre a Covid-19, sobretudo no que
se refere ao avanço dos conhecimentos científicos sobre a doença. Para tanto,
os participantes irão registrar, por exemplo, o momento em que se recomendou
usar máscaras e as justificativas apresentadas, a polêmica travada sobre o uso da
cloroquina, a transmissão da doença por pessoas que são assintomáticas e pré-
sintomáticas, entre outras informações.
O período do estudo abrangerá desde o surgimento da doença em Wuhan, na
China, até dezembro de 2020: situando no Brasil a data do primeiro caso de
Covid-19, datas de fechamento e de reabertura das escolas, os períodos de
lockdown, de isolamento social, de flexibilização do isolamento na cidade ou
região em que se encontra a escola e as justificativas para a tomada dessas
medidas com base em estudos científicos.
A forma de apresentação será um infográfico digital. A primeira tarefa do time
será pesquisar diferentes tipos de infográficos e escolher o que melhor se adapta
à apresentação das informações coletadas. Na internet há muitas informações
sobre infográficos e instruções para construí-los.
Ele estará disponível para estudantes, professores e demais funcionários via
site da escola ou aplicativo no celular. Após ser publicado, será atualizado
semanalmente pelo time que o construiu. Além de buscar as informações, o time
será responsável por consultar e indicar fontes seguras.

24
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

O que é um infográfico
Infográfico é uma forma visual de apresentar informações e dados, geralmente
complexos, auxiliando na compreensão do leitor. É elaborado por meio de imagens
(ilustrações, gráficos, ícones) e textos. Em geral, transmite informações de forma
mais direta e eficaz do que textos.
A partir desse infográfico, professores poderão propor atividades como: rodas de
conversa entre estudantes para saber mais sobre a doença; produção de textos de
opinião; realização de estudos com os temas “O que é o Sistema Único de Saúde
(SUS) e como ele funciona?”, “Quais desafios precisam ser enfrentados até que
exista uma vacina contra a Covid-19 disponível para todos?”.

II. Campanha para divulgar o valor do conhecimento científico na


escola e na comunidade: Na pandemia do coronavírus, a vida de
milhares de pessoas depende do conhecimento científico.
A proposta é que a escola promova uma campanha comunitária, por meio da
qual será exaltado o valor do conhecimento científico para esclarecer e orientar
as pessoas sobre a situação de pandemia. A campanha será direcionada para
a comunidade interna da escola: alunos, professores, equipe pedagógica,
funcionários, e para a comunidade externa: famílias, bairro/território onde se
encontra a escola, ou seja, grupos de pessoas com os quais a escola mantém
contato. Para tanto, será organizado um time formado de professores, estudantes
e outros interessados — “os comunicadores”.
A primeira tarefa será compreender o que é uma campanha comunitária, traçar
seu objetivo e indicar recursos a serem utilizados. Certamente os professores
de língua portuguesa poderão orientar o grupo sobre o gênero textual
campanha comunitária.

PARA SABER MAIS


Uma campanha comunitária tem o objetivo de esclarecer e despertar a
atenção dos interlocutores de uma comunidade sobre determinado assunto.
Numa situação de pandemia, como a que estamos vivendo, com índices
alarmantes de contaminação e mortes, faz-se necessária e urgente uma
conscientização por parte das pessoas no sentido de ajudarem a mitigar
riscos que ameaçam a todos.
A campanha comunitária é um gênero textual cuja finalidade é persuadir,
convencer alguém a tomar uma atitude acerca de determinado assunto. Para
fazer uma boa campanha é preciso dispor de conhecimentos relacionados às
questões linguísticas que demarcam o gênero textual em questão.

25
Também é preciso saber que a finalidade expressa por essa comunicação
resulta na persuasão, ou seja, o objetivo principal é esclarecer a
população sobre determinado assunto e, ao mesmo tempo, mobilizá-la,
persuadi-la a colaborar. Dessa forma, os textos da campanha devem ser
compostos de verbos expressos no modo imperativo. Assim, a linguagem
utilizada tem de estar adequada ao contexto comunicativo, bem como ser
atrativa. Além de convencer, outro objetivo da campanha é instruir. Ao
conclamar a população para algo, também é importante instruí-la a como
proceder diante de dada situação.

Após compreender do que trata uma campanha comunitária, será preciso


organizá-la e divulgá-la, indicando estratégias e recursos físicos e digitais para
transmitir mensagens e informações para os públicos interno e externo da escola:
cartazes, boletins, redes sociais, podcasts produzidos pelos estudantes, situações
documentadas por meio de fotografias.
É importante fazer um cronograma para nortear as ações e estratégias. Ele
precisa ser de fácil acesso para todos da escola. Após traçar claramente o objetivo
da campanha, pode-se fixar uma meta, por exemplo, número de famílias, de
equipamentos, de estabelecimentos comerciais da região que se pretende atingir.
Outra tarefa é mapear e atribuir valor aos comportamentos positivos e negativos
em relação aos protocolos de saúde divulgados pelas autoridades sanitárias. Por
exemplo, avaliar como acontece a circulação de veículos públicos e particulares
na região; o respeito a horários; o comportamento das pessoas em espaços
públicos, condomínios, residências. Quanto aos aspectos positivos, é fundamental
conclamar as pessoas a fim de que se esforcem para mantê-los.
Para que a campanha atinja seus objetivos, é importante que toda a escola se
envolva nessa atividade, e não apenas o time responsável. Todos podem produzir
materiais e enviar sugestões, como, por exemplo, criar um símbolo alusivo ao foco
da campanha, informar sobre a Covid-19, orientar sobre formas de combatê-la,
publicar notícias sobre o território ou região, tirar dúvidas, sempre na perspectiva
de promover o conhecimento científico.
Para tanto, pode-se consultar o infográfico construído e orientar estudos que se
fizerem necessários. Cabe ao gestor e à equipe pedagógica, enquanto líderes
dessa ação, empreenderem esforços para garantir as condições para que a
campanha tenha sucesso.
Para avaliar os resultados, pode-se consultar famílias e pessoas da comunidade,
convidando-as para responderem a uma pesquisa expressando suas opiniões.
Apesar de ter um foco no momento, essa campanha poderá acontecer durante
todo o ano.

26
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

3
O ENSINO HÍBRIDO:
METODOLOGIAS ATIVAS
COMO ALIADAS NO
RETORNO ÀS AULAS
• Qual é o conceito de ensino híbrido e como ele funciona na prática?
• Como o ensino híbrido potencializa as metodologias ativas?
• Quais são as ferramentas essenciais, tecnológicas e pedagógicas para o
desenvolvimento do ensino híbrido?

Com quantos gigabytes se faz uma jangada, um barco que veleje? Na célebre canção
“Pela internet”, lançada em meados dos anos 1990, Gilberto Gil já nos convidava
para aproveitar a “vazante da infomaré”. De lá para cá, as tecnologias da informação
e comunicação (TICs) se fizeram ainda mais presentes em nossas vidas, pautando
as relações em uma sociedade cada vez mais conectada e imersa no mundo digital.

27
Hoje, o acesso e as habilidades para fazer uso das TICs configuram-se como pontes
para interagir, informar-se e exercitar a cidadania. Perante o distanciamento social,
as TICs ganharam relevância e as limitações de seu acesso no Brasil podem acentuar
desigualdades, comprometendo a garantia do direito à educação.
Escolas do mundo inteiro foram desafiadas a adaptar a relação de ensino-
aprendizagem e o uso das tecnologias digitais foi adotado como estratégia central
para dar sustentação à comunicação entre escolas e estudantes. Observando
experiências em países que iniciaram a retomada das aulas, nota-se um
movimento cauteloso e gradual, sugerindo que, mesmo com o restabelecimento
das aulas presenciais, as estratégias remotas devem continuar presentes. E se,
em meio às urgências impostas pelo distanciamento social repentino,
o ensino remoto se deu, em muitas situações, de modo improvisado, o
retorno às aulas exigirá uma etapa de planejamento e estruturação das
formas de trabalho, mais longa e detalhada. Que tal velejarmos por esse
“infomar” para conhecer um pouco mais sobre o conceito de ensino híbrido, suas
características, condições e possibilidades?

ENSINO HÍBRIDO: O QUE É?12


Prática que promove a integração entre o ensino presencial e propostas on-
line, valorizando as melhores formas de oferecer diferentes experiências de
aprendizado aos estudantes.

O ensino híbrido faz parte de um conjunto de estratégias reconhecidas


como práticas pedagógicas inovadoras, que apostam no desenvolvimento de
metodologias ativas, apoiadas pelas tecnologias digitais. Para utilizá-las, no
entanto, professores devem afastar-se da lógica transmissiva de conhecimento e
se aproximar da realidade e das características dos alunos, propondo atividades
que dialoguem com a diversidade que compõe a sala de aula. Isso porque a
presença da tecnologia, sem intencionalidade na proposição de atividades
significativas e contextualizadas, não é suficiente. Em outras palavras, o uso
das tecnologias não deve ter um fim em si mesmo, mas apresentar-se
como ferramenta conectada com os interesses dos sujeitos, contribuindo
para a promoção da autonomia e do pensamento crítico dos alunos. Nesse
âmbito, você pode, por exemplo, refletir junto aos alunos sobre aspectos como
privacidade, segurança de dados, vigilância e ética nas redes.

12 CENPEC, 2019a

NA PRÁTICA
Debate em movimento – Monitoramento da Covid-19 x Invasão
de privacidade
Uma discussão importante na atualidade trata dos riscos de compartilhamento de
dados nas plataformas e aplicativos destinados ao monitoramento do coronavírus
em todo o mundo. O uso de georreferenciamento, de câmeras de reconhecimento

28
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

facial e de drones, entre outros recursos, é um aliado no controle da disseminação


do vírus, mas pode gerar dúvidas quanto à utilização das informações coletadas.
Promover um debate junto aos estudantes a partir dessa problemática cabe como
estratégia para aproximá-los da discussão e incentivá-los a argumentar sobre uma
questão relevante do atual cenário.
Você pode apresentar a temática e lançar uma questão disparadora. Por exemplo,
“o uso das tecnologias digitais para monitoramento da Covid-19 é prejudicial?”. Na
sequência, solicite que os alunos coletem informações sobre o tema. Então, parte
da turma é convidada a defender uma posição e a outra parte deve defender a
posição contrária.
Durante a aula presencial ou virtual, o professor convida cada grupo a se
apresentar, em um jogo de argumentação e contra-argumentação.

Além de reconhecer os sujeitos, a incorporação do uso de tecnologias em sala de aula


exige um foco na integração com o currículo13, isto é, “torná-las parte do currículo,
íntegras, como elementos estruturantes”. As TICs passam a ser reconhecidas como
aliadas do currículo, configurando-se como instrumentos “do pensamento, das formas
de interlocução e de novas elaborações culturais”. Para tanto, é necessário superar
alguns paradigmas dos tempos e espaços da escola, potencializando novas formas
de construir conhecimento. Nesse movimento, é importante que você observe
sua atuação, para que se reconheça como mediador imprescindível para a
aprendizagem e sinta-se capaz de refletir de forma crítica sobre o papel do
uso das tecnologias no desenvolvimento de experiências educativas, levando
em conta a perspectiva dos multiletramentos.

O QUE SÃO MULTILETRAMENTOS14?


São as práticas de trato com os textos multimodais ou multissemióticos
contemporâneos – majoritariamente digitais, mas também impressos –, que
incluem procedimentos (como gestos para ler, por exemplo) e capacidades
de leitura e produção que vão muito além da compreensão e produção de
textos escritos, pois incorporam a leitura e (re)produção de imagens e fotos,
diagramas, gráficos e infográficos, vídeos, áudio etc.

O QUE SÃO NOVOS LETRAMENTOS?


Novos letramentos, ou letramentos digitais, são um subconjunto dos
multiletramentos, definido, segundo Lankshear e Knobel (2007, apud ROJO,
2017), pela “nova” tecnologia (digital) adotada, mas não principalmente.
O que define fundamentalmente os novos letramentos, segundo os
autores, é um novo “ethos”, isto é, uma nova maneira de ver e de ser no
mundo contemporâneo que prioriza a interatividade, a colaboração e a (re)
distribuição do conhecimento, em vez da hierarquia, da autoria e da posse
controlada e vigiada do conhecimento por diversas agências, como a escola,
as editoras e a universidade.

13 CENPEC, 2019b.
14 ROJO, 2017.

29
A adoção de tecnologias pelos professores requer um tempo de apropriação
e horas dedicadas ao estudo e ao planejamento coletivo. Nesse sentido, cabe
aos gestores e coordenadores pedagógicos apoiarem a formação continuada
dos docentes, bem como investirem na busca ou desenvolvimento de recursos
educacionais digitais para a escola.

RECURSOS EDUCACIONAIS DIGITAIS PARA FAVORECER O ENSINO HÍBRIDO

Exemplos de
Características Plataformas Conteúdos Hardware
ferramentas

Ferramentas, • Ferramenta • Sistema • Objeto Digital de • Dispositivos


plataformas gerenciadora gerenciador de Aprendizagem portáteis
e conteúdos de currículo sala de aula (ODA)
que viabilizem
que parte das • Ferramenta • Ambiente • Jogos educativos
atividades de autoria virtual de
seja on-line aprendizagem
• Ferramenta de
integradas apoio à aula • Plataforma
a atividades educacional
presenciais em • Ferramenta
sala de aula. de colaboração • Repositório
digital
• Ferramenta
de tutoria

Fonte: Guia prático para gestores educacionais: desenvolvimento


de competências digitais de professores, Cenpec (2019b).

Na prática do ensino híbrido, a inovação se dá na possibilidade de explorar com os


alunos conteúdos digitais, com o apoio da internet. Aqui você pode lançar mão de
diferentes técnicas, desde o acompanhamento individual até trabalhos em grupos
ou rotação por estações.

NA PRÁTICA
Rotação por estações
Trata-se de uma estratégia em que os alunos são organizados em pequenos
grupos com atividades diversificadas e, de tempos em tempos, os grupos se
revezam, até realizarem todas as atividades. Em geral, pelo menos uma das
estações envolve o uso de tecnologia, por meio de computadores, tablets ou
mesmo o celular do aluno.
Durante a pandemia, cabe desenvolver adaptações à proposta. Por exemplo, em
vez da divisão em subgrupos, a permanência em cada estação pode ser realizada
individualmente, a depender do número de alunos em sala. A estação que envolve
o uso de tecnologia pode ser vivenciada em casa, com uma parte da atividade
sendo realizada remotamente.

30
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

Abordamos o ensino híbrido considerando o estudante no centro


de seu processo de aprendizagem. Os alunos são convidados
a realizar pesquisa na sala de aula ou em casa, utilizando
computadores, smartphones ou tablets, mas também a trocar
com os colegas e com o professor, em tempo real. A ideia é
que a tecnologia funcione como aliada do ensino presencial,
proporcionando formas de construir a aprendizagem, ora
individuais ora colaborativas.
Para organizar a rotina, a cada semana o professor identifica as
necessidades de aprendizagem da turma e planeja suas aulas,
tendo em vista os conteúdos e também as mídias que favoreçam
a construção dessas aprendizagens. Após o planejamento,
propõe atividades e acompanha o desenvolvimento de cada
aluno para então planejar novamente.

O QUE É NECESSÁRIO?
• Organizar conteúdos digitais para trabalho on-line.
• Computador e/ou dispositivos móveis para os alunos
e para o professor, em sala e/ou no laboratório de
informática da escola e em casa para as
atividades remotas.
• Conexão com internet no local onde as atividades
forem realizadas.

No entanto, ao planejar suas aulas, uma vez que parte das


atividades será realizada remotamente, dada a condição
de retorno gradual no contexto do coronavírus, a pedagoga
Anna Helena Altenfelder afirma15 que é preciso considerar
as condições objetivas, como equipamentos tecnológicos
adequados e a conectividade de internet, mas também “aspectos
subjetivos, como a idade e maturidade dos estudantes, a
organização do espaço domiciliar, o tempo e o capital cultural
das famílias”.
Vimos que a proposta do ensino híbrido será de extrema
relevância, uma vez que o retorno às aulas presenciais não irá
prescindir das estratégias remotas. Nesse sentido, caberá a
formulação de políticas e protocolos para a volta à escola, tendo
em vista as necessidades e realidades distintas, para que todos
tenham seu direito à aprendizagem assegurado. E na sua escola,
esse planejamento está sendo considerado?

15 Presidente do Conselho do Cenpec (CENPEC, 2020).

31
4
A COMPREENSÃO
DA PANDEMIA E O
CONHECIMENTO ESCOLAR:
CONSTRUINDO PONTES ENTRE
O CURRÍCULO E A VIDA
• Como as atualidades chegam à sala de aula?
• O que é fundamental que o aluno aprenda na escola?
• As mudanças em nosso modo de estar no mundo transformarão a escola?
• Como os conhecimentos escolares podem ajudar a entender a Covid-19?

Já é sabido que, para promover uma aprendizagem significativa, precisamos


reconhecer as experiências prévias dos sujeitos e estar atentos aos fatos. Ocorre
que, ao localizarmos os fatos que nos acometem no presente, verificamos uma

32
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

grande onda de dificuldades, perdas e privações que exige rápida adaptação e


interrompe planos e expectativas em curso. Seria possível repensarmos formas de
favorecer as aprendizagens, diante de um cenário tão desolador?
Decerto que nem sempre aplicamos os conhecimentos escolares na resolução
dos problemas cotidianos. Mas, no atual contexto, arriscamos assumir que os
estudantes talvez estejam, como nunca, expostos e atentos aos problemas
do mundo e que, para compreender e se comportar na pandemia, precisamos
dos conhecimentos que aprendemos na escola. Nesse sentido, convidamos
você a transitar por algumas áreas do conhecimento, evidenciando
possíveis relações com a pandemia. Ao final, apresentamos uma proposta
metodológica com foco na integração curricular e no estímulo às habilidades
indagadoras dos alunos.

MATEMÁTICA
Gráficos, funções logarítmicas, progressão geométrica, raiz e proporção,
estatística. De acordo com matéria16 publicada no Portal do Cenpec, esses
são exemplos de conceitos matemáticos que podem ajudar os estudantes,
considerando os diferentes níveis de complexidade para cada etapa de ensino, a
compreenderem a pandemia.
Tomando a análise das representações gráficas como ilustração, ainda de acordo
com a matéria citada, em um gráfico que apresenta a evolução do número de
infectados ao longo do tempo, há questões para serem discutidas com os alunos,
além dos cálculos necessários para a sua criação. “É necessário saber: o que o
gráfico significa? Por que ele tem essa forma? De onde vêm esses números?
Que pergunta foi feita e que dados foram organizados para se chegar a essa
representação gráfica?”, aponta Silvia Longato, especialista entrevistada.

GRÁFICO 1. Como se achata a curva da epidemia?

Número
Transmissão
de casos
fora de controle

Transmissão controlada para


reduzir a disseminação da
infecção e reduzir a pressão
sobre o sistema de saúde

Capacidade
do sistema
de saúde

Tempo desde o primeiro caso


Esther Kim, Carl T. Bergstrom, Universidade de Washington
Fonte: BBC (2020b).

16 CENPEC, 2020.

33
Para analisar um gráfico também é necessário desenvolver
habilidades de leitura e interpretação de dados. “Os alunos
precisam compreender que os gráficos apresentados na
mídia são resultado de um processo que envolve habilidades
para coletar, organizar e representar informações”, completa
Silvia. Para ela, é importante que os alunos tenham acesso,
compreendam uma variedade de gráficos e percebam que
alguns modelos podem ser mais adequados para representar
resultados de pesquisas em resposta a um problema, por
exemplo: “Se lemos no jornal que a meta de isolamento social
é de 70%, vale discutir com os alunos: como chegaram a esse
número? Quais informações ou dados são importantes
coletar para que seja possível chegar a esse número?”,
finaliza a especialista.
Outro exemplo explorado na matéria aborda os conhecimentos
estatísticos, previstos na BNCC para o final do ensino
fundamental e, de forma mais aprofundada, no ensino médio.
Trabalhando a distância com seus alunos, André Ruivo, professor
de matemática do Colégio Guilherme Dumont Villares, em São
Paulo (SP), organizou uma pesquisa sobre a doença, que deveria
ser feita por ligação ou mensagem de texto.
Cada aluno deve entrevistar cinco pessoas e perguntar se elas
foram infectadas com o vírus. Vamos organizar as respostas
em categorias: quem foi infectado, fez o teste e o resultado
foi positivo; quem apresenta os sintomas, mas não foi testado;
quem apresenta sintomas, mas o resultado do teste foi negativo
para a Covid-19; e quem não apresentou nenhum sintoma de
gripe e, portanto, não tem ou não sabe se pode ter tido a doença
(André Ruivo, para a matéria do Cenpec, 2020).

Os dados coletados pelos alunos alimentam uma planilha comum.


Posteriormente, devem tabular os dados, cruzar informações e
analisar os números. Então poderão levantar hipóteses e discutir
aspectos relacionados com a pandemia: taxa de isolamento,
testes, subnotificação, entre outros.
Acreditamos que, para estimular as aprendizagens e aumentar
o interesse dos alunos pelas temáticas estudadas, devemos
apostar no desenvolvimento de um currículo integrado. A
abordagem interdisciplinar do estudo dos gráficos pode ser
favorecida com a apresentação de diferentes possibilidades
estéticas para as representações gráficas. Um exemplo
inspirador é o trabalho com pictogramas realizado pela jornalista
Mona Chalabi17, de 32 anos, que, com ascendência iraniana,
nasceu na Inglaterra e mora em Nova York.

17 MONA CHALABI, 2020.

34
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

GRÁFICO 2. Covid-19 Vaccination Projects

PROJETOS DE VACINAÇÃO COVID-19


Número de Projetos

Estágio inicial de Pré-clínico Fase 1


planejamento (teste em um pequeno
(confirmado) (não confirmado) grupo de pacientes)

Estágio Atual de Desenvolvimento


Nature Journal, Thanh le et al, abril 2020.
Fonte: Instagram de Mona Chalabi (2020). (Traduzido)

A jornalista desenha tabelas, números e gráficos com muita criatividade. Por meio
do seu trabalho, informações técnicas transformam-se em conteúdos coloridos,
belos, críticos e acessíveis para os leitores.

As informações contidas nos gráficos também têm sido de grande valia


para a compreensão dos efeitos das desigualdades sociais no contexto da
pandemia. Dar centralidade a essas questões, torná-las objeto de estudo,
entender como elas se configuram é fundamental para a problematização
da construção do conhecimento na escola. Um exemplo a ser trabalhado
na escola pode partir do recorte de raça. A Agência Pública18 apresentou em
seu site diversos gráficos indicando que de 11 a 26 de abril de 2020 o número de
pessoas negras que morreram por Covid-19 no Brasil quintuplicou. Os dados foram
analisados a partir dos boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde.

BIOLOGIA
No campo das Ciências da Natureza, a Biologia é um prato cheio para ajudar a
compreender a atual pandemia. Sabemos que cabe aos professores auxiliar os

18 MUNIZ; FONSECA; PINA, 2020.

35
estudantes na elaboração, interpretação e aplicação de modelos
explicativos para compreender os fenômenos naturais e que,
no atual cenário, certamente devem estar recebendo inúmeras
perguntas de suas turmas. Que tal aproveitar essa curiosidade
genuína sobre o vírus, suas características e como se
comporta, para promover engajamento em pesquisas e
projetos nos quais os alunos serão protagonistas de seu
processo de aprendizagem na busca de respostas?
A competência específica 2 da BNCC19 do ensino médio,
para a área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias,
dialoga diretamente com o atual contexto: “Analisar e utilizar
interpretações sobre a dinâmica da Vida, da Terra e do
Cosmos para elaborar argumentos, realizar previsões sobre o
funcionamento e a evolução dos seres vivos e do Universo, e
fundamentar e defender decisões éticas e responsáveis”.

NA PRÁTICA
Pelas ondas da web
Nessa jornada investigativa, professores podem lançar mão
de referências do mundo virtual para auxiliá-los. No YouTube,
recentemente, o canal20 (https://www.youtube.com/channel/
UCSTlOTcyUmzvhQi6F8lFi5w) do biólogo Atila Iamarino ganhou
significativa visibilidade. O espaço dedica-se a veicular vasto
conteúdo sobre a Covid-19. Nele, o especialista busca dialogar
com seu público apresentando dados sustentados por evidências
científicas, em lives com temáticas como: “OMS declara
pandemia”; “O que o Brasil precisa fazer nos próximos dias”; “Por
que é importante ficar em casa”; “A situação do mundo e do
Brasil”; “Como são os sintomas da Covid-19”; entre outras.

O pesquisador e biólogo Rodrigo Travitzki, em seu site21, aponta


que há diversas questões interessantes para os professores de
biologia explorarem. “O que é um vírus? Existe antibiótico contra
vírus? O que é uma vacina?”. Travitzki também chama a atenção
para um olhar do ponto de vista ecológico, questionando por
que as epidemias podem ser tão prejudiciais ao ser humano
atualmente. Indica ainda que é possível estudar sobre o
parasitismo (uma das interações ecológicas) e sua relação com a
densidade populacional do hospedeiro. Finaliza acrescentando
outra possível abordagem que considere a saúde, nos níveis
individual e público, e provoca indagando por que é importante
ficar em casa, do ponto de vista da saúde pública.

19 BNCC, 2019.
20 IAMARINO, 2020.
21 TRAVITZKI, 2020.

36
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

FIGURA 1. Imagem do vírus

Fonte: Goes (2020).

Ainda na BNCC, há uma importante ponderação a ser feita:


Cabe considerar e valorizar, também, diferentes cosmovisões – que englobam
conhecimentos e saberes de povos e comunidades tradicionais –reconhecendo que
não são pautadas nos parâmetros teórico-metodológicos das ciências ocidentais,
pois implicam sensibilidades outras que não separam a natureza da compreensão
mais complexa da relação homem-natureza (BNCC Ensino Médio, 2019).

Nesse sentido, recorrer aos saberes indígenas pode ser tão instigante quanto
surpreendente. Sabe-se que o isolamento, como estratégia para conter doenças,
é usado há séculos por essas populações. Uma matéria22 do site Outras Palavras
aponta que até hoje tribos inteiras deslocam-se e reformulam seus modos de vida,
assim como faziam seus antepassados.
Em texto23 intitulado “Ouvir os índios”, o antropólogo Pedro Cesarino avalia
que a pandemia viral não pode ser compreendida apenas em uma chave
antropocêntrica, uma vez que suas origens e desdobramentos são tão
complexos que não permitem compreender o humano como uma entidade
independente. E acrescenta:
O xamanismo ameríndio, esse território tão desconhecido quanto estigmatizado, é
exatamente uma arte da diplomacia transespecífica: uma forma de mediação entre
agências e subjetividades que atravessam os corpos humanos, para garantir a vida
saudável entre parentes. Partindo do pressuposto de que corpos humanos são
por natureza vulneráveis, xamãs negociam com entidades análogas àquelas que
chamamos de vírus ou de bactérias, pois sabem que disso depende o futuro de suas
comunidades (CESARINO, 2020).

O pesquisador finaliza o texto sugerindo que “apenas um modo de existência de


baixo impacto e a permanente negociação entre agências humanas e mais do

22 VEIGA, 2020.
23 CESARINO, 2020.

37
que humanas poderiam dar conta das instabilidades que vieram para ficar”. Essa
investigação sobre os modos de lidar com as doenças, pelos povos indígenas, pode
ser trabalhada de modo interdisciplinar, pois também é matéria importante no
campo das Ciências Humanas e Sociais. Que outras relações interdisciplinares
você identifica como potenciais para abordar essa temática?

LÍNGUA PORTUGUESA
A pandemia abalou as estruturas de relações das mais variadas naturezas. De
acordo com reportagem24 do jornal Folha de S.Paulo, o coronavírus pode mudar
até o nosso jeito de falar português. Termos que antes não eram usuais passaram
a fazer parte do nosso cotidiano: isolamento social; quarentena; achatamento da
curva de contágio. Assim como novos hábitos foram incorporados em nosso
dia a dia, como o uso de máscara e a higienização constante de objetos,
será que os novos termos que utilizamos para nos referir à pandemia
vieram para ficar? Valorizar termos da Medicina e da Biologia supõe que
o conhecimento baseado em uma racionalidade científica também será
valorizado? São questões para os professores suscitarem com suas turmas.
Se as palavras que escolhemos usar, em determinados contextos, trazem consigo
uma fotografia da realidade, a literatura também é terreno fértil para isso. Uma
matéria25 publicada na revista especializada em literatura Quatro Cinco Um
investiga como Shakespeare representava em suas peças as pestes e epidemias
que assolaram a Inglaterra. O dramaturgo nasceu em 1564 e, ao longo da sua
existência, atravessou períodos de epidemia. Eram períodos de distanciamento
social, nos quais os teatros também foram fechados.
Das obras de Shakespeare, talvez a mais popular seja Romeu e Julieta. Se não a
mais popular, certamente a mais romântica das tragédias. Eis que é revelada uma
curiosidade sobre este romance: quem se lembra que a morte dos amantes foi
causada pela epidemia que então grassava na Itália?
Romeu foi parar por engano na festa em que se apaixonou por Julieta. Julieta,
adormecida em seu túmulo, tomou a poção que a faria parecer morta, num
estratagema para superar o ódio entre os Capuleto e os Montecchio.
Mas é preciso avisar Romeu.
Havia peste em Verona, Frei João estava em quarentena. Na peça, os corpos
começaram a ser enterrados apenas em lençóis ou mortalhas, pela alta do preço dos
caixões. O fato de que os mortos eram envolvidos em lençóis brancos, afirma um
estudioso, pode até ter influenciado a cor dos nossos fantasmas.
Frei João tenta ir a Mântua para contar a Romeu que a morte de Julieta é apenas
fingida, mas fracassa em sua missão. Ao voltar, relata a Frei Lourenço que, por
causa da epidemia, não pôde entregar a carta a Romeu: — Fui procurar um frade de
nossa ordem de pés descalços, que visita os doentes, para ir comigo a Mântua, mas
os guardas da cidade, pensando que tivéssemos estado numa casa dominada pela
pestilência, logo fecharam as portas, não deixando que saíssemos. Desta arte minha
pressa de ir a Mântua ficou parada (Shakespeare em meio à peste.
In: Revista Quatro Cinco Um).

24 PORTO, 2020.
25 MUYLAERT, 2020.

38
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

Ainda segundo a matéria, nenhuma das peças de Shakespeare trata


diretamente da peste. O mais próximo é o incidente que acarreta
a morte de Romeu e Julieta. O dramaturgo usa a peste, em geral,
apenas como metáfora ou força de expressão. Em Macbeth, por
exemplo, “a Inglaterra não está sob o drama da doença, mas sob o
jugo de um rei tirano”.
Em sua coluna26 para o Nexo Jornal, a historiadora Lilia Schwarcz
também tratou sobre a relação entre literatura e pandemia. A
professora enaltece a literatura em tempos de coronavírus, afirmando
que com um livro na mão, nunca se está “isolado”, uma vez que
um livro nos permite viajar sem ter que enfrentar rodoviárias ou
aeroportos lotados. Os exemplos literários que estabelecem paralelo
com situações de epidemias, destacados por Schwarcz, ficam por
conta de obras como O alienista (1881), de Machado de Assis; A
peste, de Albert Camus (1947); Ensaio sobre a cegueira, de José
Saramago (1995); Amor nos tempos do cólera, de Gabriel García
Márquez (1985) e Chão de ferro, do mineiro Pedro Nava (1976).

NA PRÁTICA
A reintegração será um ponto-chave para a retomada na escola, após o
período de quarentena. Propor que os alunos se expressem, explorando
os diferentes gêneros textuais, pode ser uma boa atividade de
acolhimento. O professor deve fazer uma pesquisa prévia, compilando
textos que têm sido produzidos neste período, para inspirar os alunos.
Veja a seguir um registro27 do escritor Gregório Duvivier:

Fazer faxina
Gregório Duvivier
Fazer a cama, faça chuva ou faça sol. Fazer a mesa. Fazer faxina. Fazer
anos. Se fizer aniversário. Fazer um zoom. Fazer hora. Fazer dia. Fazer
mês. Fazer um hangout. Fazer live. Fazer a fama. Deitar na cama. Fazer
das suas as minhas palavras. Fazer faxina. Fazer a barba. Fazer faxina.
Fazer a bainha das calças. Fazer faxina. Fazer a egípcia. Fazer a louca.
Fazer a Teresinha – assustada, dizer não. Fazer amanhã o que você
pode fazer hoje. Fazer hoje o amanhã. Fazer questão de fazer as pazes.
Fazer tempestade em copo d’água. Fazer fermento, fermentar farinha,
fazer o pão que o diabo amassou. Fazer desfeita. Fazer a festa. Fazer
faxina. Fazer de conta que faz as malas. Fazer vista grossa que não fez
faxina. Fazer exercício. Fazer nas coxas. Fazer um fuzuê. Fazer faxina.
Fazer vaquinha. Fazer por onde. Fazer faxina. Fazer jus, fazer justiça.
Com as próprias mãos, fazer sentido. Fazer a cama. Fazer faxina.

26 SCHWARCZ, 2020.
27 DUVIVIER, 2020.

39
HISTÓRIA
Para compreender o presente, precisamos buscar elementos
no passado. Em meio à pandemia, algumas perguntas nos
atravessam e sua relação com a história é evidenciada a todo
momento: Como as doenças viajam pelo mundo? Como as
epidemias marcaram a História? Há semelhança entre os efeitos
da pandemia atual e outras epidemias ao longo da História?
Provocar os alunos a refletirem sobre o passado e o
presente e a pesquisarem sobre a história das epidemias
pode ser uma oportunidade para o professor estabelecer
conexões entre o currículo e o que seus alunos têm
vivido, além de dialogar sobre como essa experiência está
reverberando e deixando marcas em cada um e em todos
nós. Promover junto aos estudantes a ideia de que pesquisar é
uma maneira de fazer boas perguntas torna-se um aquecimento
para, posteriormente, a turma analisar e registrar dados sobre as
epidemias e, ao final da jornada, compartilhar os achados.
Em uma recente matéria da revista Nova Escola28 há
orientações para apoiar professores dos anos finais do ensino
fundamental. A proposta sugere que abordar o impacto de
diferentes epidemias no Brasil ajuda a refletir sobre distintos
momentos da nossa História. As interações entre diferentes
etnias, a distribuição territorial da população, em cada época,
os processos de modernização e seus respectivos impactos são
elementos para investigar a partir da temática proposta. Como
ponto de partida, a matéria propõe o recorte de três epidemias
que assolaram o Brasil em diferentes períodos: varíola, febre
amarela e gripe espanhola.
Tomando como exemplo a gripe espanhola, sugere-se que
o professor busque relacionar os impactos da pandemia de
1918 com os limites da modernização do país no período da
Primeira República. Estima-se que o vírus tenha matado até 50
milhões de pessoas em todo o mundo. “No Brasil, 8% a 10% da
população pode ter morrido por complicações relacionadas à
gripe.” Também é possível traçar relações entre a atual pandemia
e a gripe espanhola, afinal, uma das primeiras medidas tomadas
no Brasil, na época, foi a suspensão das aulas, seguida de
banimento de aglomerações em festas, teatros, entre outros.
Algumas questões problematizadoras podem estimular
os estudantes a relacionar passado e presente: Como
estaríamos no combate à Covid-19 se não tivéssemos
Ministério da Saúde e um Sistema Único de Saúde (SUS),
como não havia na época da gripe espanhola?

28 MARTINS, 2020.

40
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

NA PRÁTICA
Escola como espaço de escuta, um ambiente
pedagógico estimulante
Assumimos aqui que, ao partir de questões que consideram o mundo e suas
interações, somos capazes de identificar problemas a serem investigados.
Acreditamos que essa investigação, como fio articulador entre as diferentes
áreas do conhecimento, contribui para engajar estudantes no processo de ensino-
aprendizagem e chamar a atenção para os riscos do coronavírus. Mas, além
dos conteúdos, é importante considerar as metodologias intencionais para a
construção do saber.
Nesse sentido, compartilhamos uma estratégia metodológica que foi elaborada
considerando os alunos do ensino médio, mas que pode ser adaptada para outras
etapas de ensino. Trata-se das Ambiências Criativas29.
A metodologia apresenta-se como estratégia para promover a construção de
um currículo envolvendo estudantes e professores, idealmente de diferentes
disciplinas, a partir de problemas do mundo atual que afetam os estudantes e as
comunidades escolares.

De acordo com a apresentação da metodologia, relatada no livro organizado pelo


Cenpec que sistematiza uma experiência de trabalho com a Secretaria Estadual de
Educação de Minas Gerais, as Ambiências Criativas são constituídas por três
principais estratégias:
I) Levantamento e escuta das percepções, saberes e desejos juvenis;
II) Encontro entre essas percepções, saberes e desejos com as percepções,
saberes e desejos dos professores;
III) A eleição de problemáticas que podem ser organizadoras do
planejamento curricular.

A escola é assumida como um espaço criativo onde o pensamento crítico pode


ser exercitado por meio de um olhar para o contexto, através do qual extraímos
problemas que possam ser reconhecidos e investigados. A proposta pretende
acessar os desejos dos alunos, “articulá-los às questões do mundo e aos
conteúdos curriculares, de modo a criar pontes entre os conteúdos disciplinares
e o mundo que habitamos e que nos habita”. Os jovens são convidados a circular
por quatro ambientes temáticos: O mundo natural irá nos suportar?; O que é amar
hoje?; O futuro tecnológico já chegou?; Eu, você e todos nós: como viver juntos?.
Os ambientes temáticos devem ser preparados previamente pelos professores
com materiais, explorando diferentes linguagens, que apresentem informações
correspondentes aos temas. A partir dessa circulação, os participantes devem
escolher o assunto que mais lhes interessa. Após a escolha, iniciam-se rodadas de
conversa apoiadas por um conjunto de instrumentais.

29 CENPEC, 2018.

41
No instrumental 1, cada estudante é convidado a registrar individualmente as
primeiras impressões sobre a temática escolhida: o que mais chamou a atenção e
por que; se lembram de algum acontecimento dos dias de hoje ou mais antigo que
se relacione com a temática; sentimentos ou inquietações que a temática provoca.

FIGURA 2. Exemplo de instrumental

INSTRUMENTAL 1 (1 POR ALUNO)

Nome:

Temática escolhida:

Dos materiais expostos neste canto, o que mais te chamou a atenção? Por quê?

Você se lembra de algum acontecimento que tenha se passado com você ou de que
você se lembre, dos dias de hoje ou mais antigo, que relacione a esta temática?

Que sentimentos ou inquietações esta temática provoca?

Fonte: Itinerário para as juventudes (CENPEC, 2018).

Em paralelo, no instrumental 2, os professores são convidados a fazer seus


registros, apontando: É possível colocar o conhecimento escolar das disciplinas
para compreender as temáticas?; Observe os estudantes trabalhando e registre
suas impressões. Formados os subgrupos a partir das temáticas escolhidas, o
professor atua como mediador para as rodadas seguintes.
No material que está disponível para download gratuito no livro, há sugestões
de perguntas disparadoras para cada eixo temático, bem como modelo dos
instrumentais. Além disso, foi elaborado um vídeo (https://www.youtube.com/watch?v
=nZQEM9Dlc98&list=PLs6zb6IF5WSvqu6TXK7S66fQ1IicKOqtJ&index=6) com o exemplo de uma
Ambiência Criativa na prática.

42
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

Para cada eixo, são propostas algumas perguntas provocadoras.


A partir delas, iniciam-se quatro rodadas de discussão para
aprofundamento sobre a temática escolhida. Sugerimos que
uma pergunta seja escolhida pelo grupo. O instrumental 3 é o
material de apoio para registro dos destaques, no qual se devem
anotar, considerando a pergunta provocadora eleita: Rodada 1 –
fatos encontrados; Rodada 2 – inquietações; Rodada 3 – saberes;
Rodada 4 – descobertas.
Ressalta-se que cada professor deve apropriar-se do material a
sua maneira e promover adaptações nas temáticas e formatos
propostos de acordo com o que for conveniente para a realidade
de sua turma e escola.
O trabalho de cada subgrupo é finalizado com espaço para
uma síntese em que o professor recupera as problemáticas e
provoca: Como acham que o assunto poderia ser trabalhado na
escola? Que disciplinas podem ajudar a compreender melhor o
assunto? Após a síntese de cada subgrupo, sugere-se que seja
realizada uma plenária organizada em dois grandes momentos: a
socialização dos desejos dos estudantes e dos professores. Aqui,
é importante haver uma discussão sobre como as sugestões
mapeadas podem ser incorporadas às atividades pedagógicas
na escola. Por fim, o instrumental 4 sistematiza a proposta de
um pacto coletivo, evidenciando as “ideias e comentários dos
professores” e os “desejos e comentários dos estudantes”.
Em que pesem as atuais dificuldades no campo educacional,
decorrentes da pandemia, que espaço seria mais adequado
que a escola para situar o mundo entre os sujeitos, no
conjunto de sua diversidade e provocá-los a pensar,
dialogar? Que espaço seria mais oportuno para articular essa
busca dos sujeitos pela compreensão de si e do mundo, com
as áreas do conhecimento, para emergirem reflexões que
coloquem passado, presente e futuro em perspectiva? Nosso
pressuposto é o reconhecimento das capacidades de uma
escola potente. Ambiente do acolhimento e da mediação,
onde diferentes pontos de vista têm lugar de expressão
e podem ser movimentados a favor da produção de
convergências. E na sua escola, há espaços que propiciam
a escuta dos estudantes?

43
5
A AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA
DAS APRENDIZAGENS
ESCOLARES NO RETORNO
ÀS AULAS
• O tempo longe da escola terá impactado as aprendizagens?
• Por que é importante retomar as aulas com o olhar voltado
para o desempenho dos estudantes?
• Como a avaliação diagnóstica pode potencializar o
processo de aprendizagem?
• O que fazer com os resultados da avaliação?

DE ONDE PARTIMOS
As atividades escolares presenciais foram suspensas, no Brasil e no mundo,
impactando as relações tecidas em seu interior. E, ainda que as estratégias
remotas tenham tentado mitigar os efeitos negativos causados, sabemos que a

44
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

aprendizagem de crianças, adolescentes e jovens foi prejudicada com o tempo


em sala de aula reduzido, em 2020, em função das medidas de distanciamento
social. Medidas que surpreenderam a todos e não ofereceram tempo para um
planejamento adequado.
Agora, a retomada das atividades presenciais exigirá das escolas brasileiras
um olhar amplo e o entendimento de que será necessário um plano de ação
em diferentes frentes. Alguns dos principais pontos a serem considerados
abrangem: a atenção à saúde emocional e física da comunidade escolar;
elaboração de protocolos sanitários; ajustes no calendário escolar; formação
continuada para a equipe docente; articulação intersetorial e com a comunidade
local; comunicação assídua com pais e responsáveis dos alunos; além de
avaliação diagnóstica e recuperação da aprendizagem. Neste texto, voltaremos
nossos olhares para este último ponto.
Sabemos que os efeitos adversos da pandemia deverão afetar as múltiplas
dimensões que constituem os estudantes. Em contextos de maior
vulnerabilidade, a interrupção das aulas compromete seriamente a rede de
proteção social e até a segurança alimentar e nutricional dos estudantes. No
entanto, é sabido que haverá desdobramentos no campo das aprendizagens
escolares, acentuando defasagens.
De acordo com nota técnica do Todos pela Educação30, análises indicam que
alunos que passam por situações traumáticas podem ter “maior dificuldade em
desenvolver competências numéricas e de leitura, além de demonstrarem menor
desempenho em disciplinas que exigem maior concentração”. Ainda nesse sentido,
conforme destacado no primeiro volume desta coleção de cartilhas, que trata dos
aspectos emocionais pós-quarentena, após situações de estresse o ambiente
escolar também é afetado pela queda no desempenho escolar. Tal situação se
manifesta nas notas, na desatenção, na diminuição da motivação, na ausência
e, no limite, na evasão escolar. A ansiedade, fruto do estresse gerado pela
vivência na pandemia, pode impactar o desempenho escolar, tanto quanto
outras dificuldades de aprendizagem.
Em documento31 da Unesco também é reforçada a conclusão de que experiências
traumáticas afetam o potencial de aprender. O estudo indica que, no âmbito
das perdas cognitivas, o desempenho acadêmico pode ser comprometido por
dificuldade em prestar atenção, inabilidade para processar informações e
problemas de memória.
Partindo do comprometimento com a promoção do direito à aprendizagem, a
avaliação diagnóstica se apresenta como uma estratégia importante, por se tratar
de instrumento que permite localizar o grau de aprendizagem dos estudantes em
relação às expectativas preestabelecidas, e que, portanto, pode contribuir para
dirimir essa lacuna de tempo sem contato com o ambiente escolar, subsidiando a
revisão curricular necessária e estratégias de recuperação da aprendizagem.

30 TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2020.


31 UNESCO, 2019.

45
PARA SABER MAIS
O ato de avaliar importa coleta, análise e síntese dos dados que configuram
o objeto da avaliação, acrescido de uma atribuição de valor ou qualidade,
que se processa a partir da comparação da configuração do objeto avaliado
com um determinado padrão de qualidade previamente estabelecido para
aquele tipo de objeto. O valor e qualidade atribuídos ao objeto conduzem
a uma tomada de posição a seu favor ou contra ele. E o posicionamento a
favor ou contra o objeto, ato ou curso de ação, a partir do valor ou qualidade
atribuídos, conduz a uma decisão e ação novas: manter o objeto como está
ou atuar sobre ele.
A avaliação, diferentemente da verificação, envolve um ato que ultrapassa
a obtenção de configuração do objeto, exigindo decisão do que fazer ante
ou com ele. A verificação é uma ação que “congela” o objeto; a avaliação,
por sua vez, direciona o objeto numa trilha dinâmica de ação.
Fonte: Luckesi (2010).

Em síntese, a avaliação diagnóstica no retorno às aulas implicará algumas etapas:

1. C
 oletar, analisar e sintetizar os 2. A
 tribuir uma qualidade para a
resultados apreendidos. configuração da aprendizagem
encontrada a partir de uma
expectativa preestabelecida.

3. T
 omar decisões sobre o planejamento 4. Planejar e implementar
e a intervenção docente, em sala de estratégias complementares, por
aula, considerando a reorientação da exemplo, a recuperação paralela.
aprendizagem, nos casos em que os
resultados se apresentem abaixo
do esperado.

O exercício da avaliação diagnóstica possui especificidades para cada faixa


etária. A seguir, buscaremos detalhar aspectos que envolvem o planejamento, a
elaboração e a implementação de avaliação diagnóstica, considerando as etapas
do ensino fundamental e médio.
Desde que a prática pedagógica passou a ser foco da pesquisa científica, a
aprendizagem significativa tem sido assumida, mesmo que por diferentes
perspectivas e pressupostos, por teóricos de peso no campo educacional. A
aprendizagem significativa, proposta inicialmente por David Ausubel (1918-
2008), nos colocou diante da percepção de que ideias expressas simbolicamente
interagem de maneira substantiva e não arbitrária com aquilo que o aprendiz já
sabe (MOREIRA, 2012, p. 2). Essa percepção colocou em evidência a necessidade
de interação entre conhecimentos prévios e conhecimentos novos na experiência
educativa. É certo que inúmeros aportes se juntaram à aprendizagem significativa,

46
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

entre eles o conceito de zona de desenvolvimento proximal32, reafirmando, entre


outros aspectos, a importância das experiências prévias e os processos interativos
para a ampliação de conhecimentos. Sem a possibilidade de aprofundar esses
conceitos, entende-se que estão implicados diretamente na avaliação diagnóstica,
conferindo a ela o papel potencializador do processo de aprendizagem.
Esse papel potente ganhou força no retorno às aulas presenciais em contexto de
pandemia, visto que o afastamento do ambiente escolar no período do isolamento,
mesmo nas situações mais favoráveis de implementação do ensino remoto,
incidirá em perdas nos processos de aprendizagem escolar.
Se a utilização da avaliação com caráter diagnóstico já era um desafio,
agora, esse desafio ganha novos contornos. Explicamos melhor. Se já era
desafiador identificar os diferentes domínios e proporcionar práticas pedagógicas
inclusivas, que admitiam as diferenças nos ritmos e modos de aprender, agora,
com a possibilidade de aprofundamento das desigualdades, um número maior de
estudantes dependerá do compromisso da escola com ações coordenadas pelos
gestores pedagógicos, voltadas para a articulação dos docentes em torno da
importância tanto desse diagnóstico inicial quanto de práticas que tenham como
pressuposto o avanço de todos.
Como organizar a escola para uma avaliação de caráter diagnóstico
comprometida com o avanço das aprendizagens cognitivas?
A avaliação diagnóstica é definida como aquela que proporciona informações
sobre a aprendizagem antes que um processo de ensino planejado seja
implementado33 (ano, ciclo, etapa), tornando transparente quais habilidades
e competências os estudantes já dominam e quais ainda precisam
desenvolver, ampliar e consolidar. Para que um instrumento de avaliação
possa oferecer ao educador essa identificação, ele precisa atender a alguns
aspectos, descritos a seguir.

Quatro dicas para um bom instrumento diagnóstico:


I. Estabelecimento das habilidades que queremos mapear, ou seja, que são
reconhecidamente pontos de partida para o trabalho pedagógico de um
ano de escolaridade, um ciclo ou uma etapa.
O ano letivo sofreu impactos que não temos como mensurar ainda. Para mitigar
esses efeitos, o trabalho no retorno às aulas presenciais vai requerer que
tenhamos um olhar focado quanto às habilidades que queremos desenvolver
e clareza quanto aos conhecimentos prévios dos estudantes em relação a elas.
Sendo assim, devemos organizar cuidadosamente o mapa de aprendizagem e
com base nele selecionar o conjunto de habilidades consideradas essenciais para
organizar o instrumento que permitirá o diagnóstico.
A identificação das habilidades exige um criterioso trabalho de seleção de
habilidades estruturantes e essenciais. O importante é preocupar-se em

32 UFMG, 2020.
33 BLASIS; GUEDES, 2013, p. 18.

47
justificar as escolhas pautando-as em critérios
de relevância. Em situações como essas, é comum usar
como critérios:
• ser de grande uso social;
• estar implicado no desenvolvimento de modos de pensar e
organizar o conhecimento;
• estar relacionado às temáticas essenciais para a atuação
cidadã (dez competências da BNCC ou Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável [ODS]);
• ter caráter interdisciplinar; e
• ser considerado fundamental ao prosseguimento dos estudos.
Atenção, não se trata de eliminar as habilidades que
não atendam aos critérios, mas de entender que serão
desenvolvidas em períodos e momentos seguintes. O
instrumento para o diagnóstico será elaborado a partir de
situações em que os estudantes manifestam as habilidades
destacadas para o trabalho.

48
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

Mapas de foco
O Instituto Reúna lançou os Mapas de Foco, que são uma
seleção das habilidades da BNCC para apoiar a elaboração de
avaliações diagnósticas, entre outros usos. Estão organizados
por etapa (anos iniciais e anos finais) para componentes do
ensino fundamental em Língua Portuguesa, Matemática,
Ciências, História e Geografia.
No site do instituto você encontrará informações
detalhadas sobre os mapas e orientações para
apropriação do material.
https://institutoreuna.org.br/projeto/mapas-de-foco-bncc/

No mapa de foco de cada ano é possível visualizar:

MAPA DE FOCO - 6O ANO

Conhecimento
prévio Código da Texto da Objetivos de Competências
(habilidades de Classificação aprendizagem Relacionadas Comentários
habilidade habilidade
anos anteriores e
do mesmo ano)

PASSO 1 PASSO 2 PASSO 3 PASSO 4 PASSO 5 PASSO 6 PASSO 7

Aqui esão Nesta coluna, é Em texto da Em classificação, Cada uma das Nesta coluna, é Aqui estão
elencados os possível ver o habilidade, pode-se localizar habilidades possível ver a alguns
códigos de todas código referente você pode ler o rapidamente classificadas competência da comentários
as habilidades à habilidade, que texto completo quais daquelas como área com a qual gerais obre a
que o estudante a localiza no ano das habilidades habilidades foram aprendizagem a aprendizagem classificação,
precisa ter e componente, previstas pela classificadas como foco foi foco da coluna feitos pelos
desenvolvido conforme a BNCC. BNCC para aprendizagem detalhada em 3 se relaciona. autores, sobre
para poder iniciar aquele ano. foco (AF), objetivos de determinada
o processo de aprendizagem aprendizagem. habilidade.
aprendizagem complementar Fizemos isso
da habilidade (AC) e expectativa para apoiá-lo no
classificada como de fluência (EF). entendimento
foco. Elas podem da habilidade
ser de anos e em como
anteriores ou do transformá-la
mesmo ano. em aulas.

Fonte: Instituto Votorantim - PVE (2020).

II. Estabelecimento do nível de complexidade com que cada habilidade será


requerida no instrumento de avaliação
Não basta identificar as habilidades foco para o trabalho. O domínio de
competências e habilidades pode ocorrer em diferentes níveis, que dependem
de múltiplos fatores.

49
O domínio de uma dada habilidade depende: do eixo do conhecimento, que são
os objetos de conhecimentos envolvidos, do eixo cognitivo operação mental
envolvida (reconhecer, analisar ou avaliar) e dos diferentes contextos em que
habilidade será exigida (situação do contexto cotidiano ou científico).
(Cf. BRASIL, 2019, p. 64)
Assim, ao mapa das habilidades, será necessário associar os diferentes
níveis de complexidade que serão atribuídos às situações em que a habilidade
será requerida.

NA PRÁTICA34
Para a habilidade - Resolver problemas com números naturais, envolvendo a
operação de multiplicação, indicada para estudantes dos anos iniciais do ensino
fundamental, a depender das ideias envolvidas nas situações-problema, maior
complexidade para os estudantes.
Ideia de configuração retangular: Quantos estudantes há ao todo em uma sala
organizada em três fileiras com seis estudantes em cada uma?
Ideia de comparação entre razões (proporcionalidade): Um chocolate custa
dois reais. Quanto gastarei para comprar quatro chocolates?
Ideia de combinatória: Carmem tem duas saias, uma preta e outra azul, e tem
duas blusas, uma vermelha e outra amarela. Quais combinações ela pode fazer
com essas roupas?
Você já deve ter percebido que poderemos ter que lançar mão de um instrumento
muito extenso para o diagnóstico. Sim, é bem provável termos como resultado
um instrumento com muitas situações propostas para os estudantes. Isso nos
faz pensar que será necessário ponderar para quais habilidades serão propostas
situações no nível difícil, e um caminho para ajudar nessa decisão é ponderar
que exigimos maior nível de complexidade para habilidades que já estão
consolidadas por terem sido desenvolvidas em diferentes momentos, anteriores,
da escolaridade (currículo desenvolvido em espiral).

III. O instrumento construído deve ter validade e boa cobertura


das habilidades
O instrumento de diagnóstico precisa contemplar as habilidades nos diferentes
níveis de complexidade e cada situação proposta aos estudantes deve passar pela
revisão de pares. Isso evita que ocorram equívocos e ambiguidades nas situações
propostas. Esse olhar deve principalmente assegurar que a situação proposta
envolve o domínio da habilidade em foco. Também é importante recorrer a tipos
de questões conforme o tipo de habilidade que queremos diagnosticar.

34 INEP, 2016.

50
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

Questões de múltipla escolha são mais indicadas para situações em que


queremos observar o domínio na identificação ou interpretação de fatos e
conceitos. Mas há situações em que precisamos da questão de resposta
construída, por exemplo, quando queremos diagnosticar a produção de texto,
exemplificações e aplicação de procedimentos e regras. Há ainda situações que
exigem que o estudante coloque em ação, ou seja, seja formulada uma questão
que envolva uma performance, por exemplo, realização de um experimento
científico, apresentação de uma pesquisa ou estudo realizado.

PARA SABER MAIS


Dicas de como elaborar questões de múltipla escolha.
https://revistaensinosuperior.com.br/10-dicas-de-como-elaborar-bons-itens-de-
multipla-escolha/

Como interpretar os dados?


IV. Constituir uma descrição categorizada das informações advindas
dos instrumentos
Constituir roteiros com informações claras sobre os estudantes é um desafio
para os educadores. Uma ferramenta que facilita muito esse trabalho são
as rubricas. As rubricas podem ser usadas para descrever as expectativas
de aprendizagem, organizando a informação de maneira direta e clara para
subsidiar o acompanhamento do professor. Adicionalmente elas fornecem
feedback para o educando.

51
FIGURA 3. Quadro usado como uma rubrica – indicador de diferentes
níveis de apropriação da leitura e do texto produzido

SÍNTESE DO DIAGNÓSTICO DE LEITURA E ESCRITA FASE 1


(Referencial de Expectativas para o Desenvolvimento da Competência Leitora
e Escritora no Ciclo II do Ensino Fundamental)

Indicadores A leitura em voz alta revela que: O texto produzido revela:

Escrita Escrita com


Escrita
Não alfabética controle
Leu com Leu com com bom
conseguiu Leu com Escrita não com pouco satisfatório
muita alguma controle das
ou não fluência alfabética domínio das das
dificuldade fluência convenções
quis ler convenções convenções
da escrita
da escrita da escrita
Alunos

Fonte: Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (2020).

As rubricas explicitam os critérios usados na interpretação das informações


coletadas. Se de um lado as rubricas exigem um esforço maior para sistematizar
todos os níveis de desempenho que os estudantes podem manifestar diante
das situações e tarefas propostas nos instrumentos diagnósticos, por outro,
elas oferecem informações preciosas, pois explicitam os níveis de desempenho
em uma dinâmica cumulativa, ou seja, ao identificar o nível em que o estudante
se encontra, identifica-se também o avanço que podemos proporcionar na
perspectiva dos conhecimentos prévios.
Cada professor pode e deve desenvolver seu diagnóstico, mas se o objetivo
é o acompanhamento do gestor pedagógico, esse instrumento requer uma
padronização. Um instrumento padronizado é comumente conhecido por avaliação
externa35. Uma avaliação padronizada externa pode fornecer informações ao
docente e ao gestor que, a depender do uso que farão dos resultados obtidos,
poderão conferir-lhe o caráter de diagnóstico.
Os resultados, das diferentes turmas, em um instrumento padronizado podem
ser interpretados de modo detalhado, com a análise de como os estudantes
respondem à questão, quantos acertam e quantos erram e, quanto a esses
últimos, qual alternativa marcaram, pois as alternativas erradas representam
níveis de aproximação da habilidade aferida.

35 Pois na visão de alguns autores, a avaliação externa é aquela que não é planejada pelo professor da sala de aula.

52
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

FIGURA 4. Quadro com registro de como os


estudantes responderam uma questão

Fonte: Saresp em Revista (2019).

A ideia é construir as pontuações em porcentagens para cada questão e para


cada alternativa. Guardadas as proporções, seria construir um quadro por questão,
como no exemplo acima. Ou podem ser identificados, no instrumento, níveis de
acertos que demarcam diferentes domínios. Por exemplo, para um instrumento
(prova) com 30 questões organizadas por nível de dificuldade, os especialistas da
área podem identificar três ou quatro níveis diferentes para os acertos na prova,
à semelhança da Provinha Brasil. Reiteramos que não se trata de levantar os
acertos ou os níveis de desempenho para atribuir nota, mas para identificar
os conhecimentos prévios, ou seja, diagnosticar os saberes dos estudantes
que nortearão o planejamento pedagógico.
O instrumento padronizado pode contemplar de forma mais efetiva a atuação
do gestor, pois permitirá a construção de verdadeiros mapas dos níveis de
desempenho dos estudantes, possibilitando monitoramento dos avanços e das
intervenções pedagógicas implementadas.

53
Instrumental para registro dos resultados para o gestor
Como vimos anteriormente, o instrumento diagnóstico padronizado muitas vezes
perde na riqueza e especificidade das informações coletadas, por envolver maior
número de questões de múltipla escolha, mas ganha por oferecer informações que
permitem ao gestor realizar a supervisão pedagógica. Para esse monitoramento,
planilhas por classe auxiliam o acompanhamento do planejamento pedagógico
previsto para proporcionar avanços. Nessa direção, criar uma grade de registro dos
resultados pode ser o primeiro passo para a análise.
A análise pode partir do percentual de estudantes que acertam as situações
propostas para as habilidades. Uma grade que explicite os percentuais por
classe pode ajudar o gestor a verificar os percursos necessários para o avanço
de cada turma.
À semelhança da análise que o professor pode fazer da sua classe, organizando
níveis a partir dos acertos, com a interpretação pedagógica destes, o gestor
pode estabelecer quadros comparativos com as diferentes turmas da escola,
permitindo a análise dos percentuais. Um exemplo dessa análise é apresentado
a seguir, com base nos resultados da Provinha Brasil.

FIGURA 5. Interpretação dos resultados da Provinha Brasil

54
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

Em Matemática, os alunos que estão no Em relação ao eixo Geometria, o aluno:


NÍVEL DE DESEMPENHO – 3 tiveram de
• reconhece o conjunto de figuras utilizadas
8 a 11 acertos.
para compor um desenho;
Em relação ao eixo Números e Operações,
• reconhece o nome de figuras geométricas
além das habilidades dos níveis 1 e 2,
planas, apresentadas isoladamente ou na
o aluno neste nível de alfabetização
composição de um desenho.
consegue:
Em relação ao eixo Grandezas e Medidas, o
• comparar quantidade de objetos iguais
aluno tem as mesmas habilidades dos níveis
ou diferentes em disposições variadas;
1 e 2:
• reconhecer números maiores que 20,
• reconhece em uma cédula do sistema
lidos pelo professor, no sistema de
monetário o valor lido pelo professor;
numeração decimal;
• identifica a maior quantia entre cédulas
• completar o número que falta em uma
do sistema monetário.
sequência numérica ordenada, crescente ou
decrescente, de números maiores que 10; Em relação ao eixo Tratamento da
Informação, o aluno:
• resolver problemas de adição e subtração
que demandam ações de juntar ou • identifica a informação associada ao
acrescentar com total maior que 10; maior/menor valor em uma tabela simples;

• resolver problemas de adição e subtração • identifica a informação associada à menor


com ação de retirar envolvendo números coluna de um gráfico;
até 20. • identifica em gráfico a informação
No entanto, os alunos ainda não apresentam associada a uma frequência lida
habilidades que sejam relacionadas às pelo professor.
operações de multiplicação e divisão.

Fonte: Blasis (2014).

55
Nessa análise, o resultado quantitativo deve estar alinhado
a uma interpretação pedagógica que explique o que cada
nível (número de acertos) significa em termos de domínio
dos estudantes. Somente assim o gestor pode atribuir
sentido às distribuições percentuais dos estudantes e discutir
coletivamente as práticas pedagógicas essenciais para mobilizar
o avanço a níveis mais adiantados.

O que fazer depois do diagnóstico


Já vimos que o ato de avaliar não se encerra na atribuição de
nota, ao contrário, demanda uma decisão de ação.

NA PRÁTICA
Corrigindo as rotas
Para organizar a tomada de decisão a partir dos resultados
obtidos, por meio da avaliação diagnóstica, pode-se:
• Propor pauta de trabalho coletivo, entre equipe docente
e dupla gestora, para compartilhamento dos resultados e
definição de ações que visem a melhoria das aprendizagens
dos estudantes.
• Registrar os encaminhamentos em plano de recuperação de
aprendizagens com indicação das necessidades e sugestões,
detalhando seus objetivos, descrição das ações, datas, prazos
de execução e os responsáveis pela execução.
• Definir como será a devolutiva para os estudantes.
Divulgação dos resultados e debate das ações a serem
realizadas na escola.
• Adotar estratégias na busca do apoio das famílias no
acompanhamento escolar dos filhos.
• Repactuar quais serão as estratégias de monitoramento das
aprendizagens, ao longo do ano letivo, a partir do diagnóstico
inicial, preservando o caráter processual da avaliação das
aprendizagens.

Dentre as ações a serem adotadas, visando a recuperação da


aprendizagem, podemos considerar o trabalho dentro da sala de
aula, mas não só. Em sala, o professor não deve perder de vista
o compromisso em atender a heterogeneidade dos estudantes,
e para isso precisará lançar mão de estratégias diversificadas,
por exemplo, promover espaços para esclarecimento de
dúvidas, ou seja, colocar em prática o exercício da escuta.
Quanto à recuperação paralela, pode-se considerar um espaço
no contraturno, com atividades presenciais ou remotas, visto

56
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

que o retorno às aulas presenciais deve ocorrer de forma


gradual, com foco em habilidades priorizadas e material
didático correspondente. Em ambas as estratégias, deve-se
considerar a necessidade de promover observações específicas
e individualizadas sobre os alunos, para não deixar nenhuma
para trás.

NA PRÁTICA
Planejando o futuro
De acordo com nota do Todos pela Educação, alguns aspectos
precisam ser considerados no plano de recuperação de
aprendizagens. Idealmente, deve-se organizar grupos de
recuperação constituídos por turmas pequenas, de modo que
os professores tenham maior facilidade em personalizar e
customizar as atividades, segundo as necessidades individuais
de cada aluno:
• Em momentos específicos, formados por turmas de alunos com
níveis de aprendizado semelhantes;
• Pautados por material específico e diversificado, como jogos
educativos;
• Conduzidos por professores com formação específica e ampla
experiência profissional, que sejam capazes de identificar as
diferentes necessidades dos alunos e buscar solucioná-las de
forma personalizada.

Cinco dicas para inovar no reforço escolar


Em matéria, o site Porvir reúne um conjunto de dicas para a
implementação do reforço escolar:
• Transforme o reforço em uma jornada gamificada;
• Pense em atividades para os alunos colocarem a mão
na massa;
• Invista em estratégias personalizadas que respeitem o ritmo
de cada aluno;
• Aposte no trabalho colaborativo para superar dificuldades;
• Trabalhe com diferentes ferramentas on-line.
Para conhecer o conteúdo completo, acesse:
5 dicas para inovar no reforço escolar.
https://porvir.org/5-dicas-para-inovar-reforco-escolar/

57
É importante ressaltar a importância da dupla gestora, diretor e coordenador
pedagógico, para dar sustentação a essas estratégias. Ao diretor cabe assegurar
as condições materiais e de infraestrutura para que o trabalho se desenvolva.
Além da gestão dos recursos humanos, deve viabilizar o uso de espaços,
equipamentos e materiais didáticos adequados, articulando esse conjunto de
recursos de modo que possam responder às estratégias de ensino sugeridas pelo
coletivo docente em seus planos, rotinas e sequências didáticas.
Ao coordenador pedagógico cabe acompanhar de perto o trabalho dos professores
e apoiá-los, sobretudo, por meio de formação que não deverá ser pontual,
mas continuada. “Saber que a coordenadora acompanha meu trabalho me dá
segurança” é uma frase recorrente entre professores. O atual cenário de crise
é uma oportunidade para a escola discutir sobre concepções e estratégias de
avaliação com os professores e estimular a produção de novos conhecimentos.
Os caminhos para o enfrentamento dos desafios gerados em decorrência da
pandemia não estão dados e deverão englobar múltiplas estratégias, além de
muito diálogo, perante a complexidade do momento que vivemos. Promover um
clima de acolhimento, parceria e corresponsabilização no ambiente escolar será
uma das chaves para percorrer essa trilha.

58
A ESCOLA DE UM NOVO TEMPO:
práticas pedagógicas no contexto da pandemia

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TRAVITZKI, Rodrigo. Como aproveitar a pandemia do corona para aprender
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crises-covid-19-poses-new-risks-vulnerable. Acesso em: 24 junho 2020.

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O Programa Crescemos incorpora ao currículo acadêmico
o desenvolvimento das 21 habilidades e competências
socioemocionais necessárias para formar o cidadão do século XXI!
Na prática, ele propõe atividades colaborativas, reflexivas, reais e
significativas com o objetivo de preparar pessoas para assumir seu
protagonismo por meio do desenvolvimento do pensamento crítico,
do equilíbrio, do olhar empreendedor e da cooperação.
Tudo isso alinhado com a construção do currículo proposto pela Base
Nacional Comum Curricular e com os pilares da Educação da Unesco.

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