Este trabalho analisa as experiências de estagiárias do curso de Pedagogia da UFRGS sobre a Educação Física nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental em escolas estaduais. As estagiárias relatam que, sem um professor especializado, as aulas tendem a ser livres em vez de direcionadas. Além disso, a formação no curso de Pedagogia não prepara para ministrar aulas de Educação Física. Apesar de reconhecerem sua importância, as estagiárias se sentem limitadas pela falta de formação específica
Este trabalho analisa as experiências de estagiárias do curso de Pedagogia da UFRGS sobre a Educação Física nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental em escolas estaduais. As estagiárias relatam que, sem um professor especializado, as aulas tendem a ser livres em vez de direcionadas. Além disso, a formação no curso de Pedagogia não prepara para ministrar aulas de Educação Física. Apesar de reconhecerem sua importância, as estagiárias se sentem limitadas pela falta de formação específica
Este trabalho analisa as experiências de estagiárias do curso de Pedagogia da UFRGS sobre a Educação Física nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental em escolas estaduais. As estagiárias relatam que, sem um professor especializado, as aulas tendem a ser livres em vez de direcionadas. Além disso, a formação no curso de Pedagogia não prepara para ministrar aulas de Educação Física. Apesar de reconhecerem sua importância, as estagiárias se sentem limitadas pela falta de formação específica
Este trabalho analisa as experiências de estagiárias do curso de Pedagogia da UFRGS sobre a Educação Física nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental em escolas estaduais. As estagiárias relatam que, sem um professor especializado, as aulas tendem a ser livres em vez de direcionadas. Além disso, a formação no curso de Pedagogia não prepara para ministrar aulas de Educação Física. Apesar de reconhecerem sua importância, as estagiárias se sentem limitadas pela falta de formação específica
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE EDUCAO CURSO DE PEDAGOGIA - LICENCIATURA
Priscila Mentz
Educao Fsica nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: narrativas de estagirias do Curso de Pedagogia
Porto Alegre 2011
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PRISCILA MENTZ
Educao Fsica nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: narrativas de estagirias do Curso de Pedagogia
Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia da Faculdade de Educao da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial e obrigatrio para obteno do grau de licenciada em Pedagogia.
Orientadora: Dr. Darli Collares
Porto Alegre 2011
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(...) habilidades motoras no emergem naturalmente. Essas habilidades so a consequncia de oportunidades para experienciar atividades motoras apropriadas e sistemticas. (VALENTINI e TOIGO, 2006, p. 30)
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Dedico este trabalho ao meu bibliotecrio particular.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo minha famlia, tio Romeu, madrinha Ivone, Leandro, pai... pela possibilidade de morar em Porto Alegre e realizar um curso superior. Aos meus irmos Simone, William e principalmente Patrcia, futura bibliotecria, pelas conquistas ao longo desses anos e por estarem presentes em minha vida. Bea, minha prima, por ser um exemplo de professora e que contribuiu com minha formao docente desde o meu primeiro estgio. Ao Cssio, pelo incentivo e apoio tcnico durante vrios momentos do curso, que me fizeram continuar e acreditar que o trabalho valeu a pena. Por ser to companheiro e compartilhar comigo as boas ideias! famlia Immig, por me receber to bem e me emprestar o Cssio. s colegas da UFRGS, cujos laos foram se estreitando nos ltimos semestres, principalmente no estgio e TCC, pela troca de experincias e apoio. orientadora Darli Collares, fundamental neste trabalho de concluso de curso, que possibilitou manter os ps no cho, atravs de sua tranquilidade e das dicas norteadoras. s escolas E.M.E.I Paulo Freire (Porto Alegre Restinga) e Piazito (Porto Alegre Menino Deus), que me proporcionaram experincias diversas e enriquecedoras neste processo de formao.
Muito obrigada!
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RESUMO
Este trabalho aborda a Educao Fsica nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Objetiva compreender o espao dado s atividades de Educao Fsica no mbito escolar, a partir das experincias de estgio com professoras unidocentes. Discute a dicotomia estabelecida a respeito de quem deve ministrar este contedo curricular obrigatrio, se o professor unidocente ou o profissional de Educao Fsica. Expe a importncia da Educao Fsica para o desenvolvimento do aluno nesta etapa da Educao Bsica, destacando o desenvolvimento motor, social, afetivo e cognitivo. Realiza um Estudo de Caso a partir de narrativas de estagirias do curso de Pedagogia da UFRGS atuantes em escolas estaduais no semestre 2011/01, em que no h professor especfico de Educao Fsica, devido Gratificao de Unidocncia. Analisa e apresenta a interpretao dessas narrativas, articulando-as com o referencial terico. Conclui que as estagirias consideram a Educao Fsica importante para a formao do aluno, entretanto existe a tendncia aula livre nas prticas de estgio. Observa que a inexistncia de formao no Curso de Pedagogia sobre Educao Fsica aproxima este componente aos jogos e brincadeiras apresentados ao longo do curso e torna-a muitas vezes uma disciplina auxiliar de outras. As principais referncias utilizadas so: Parmetros Curriculares Nacionais, Joo Batista Freire, Ndia Valentini e Adriana Toigo e legislao estadual (Lei n. 10.576) e federal (LDB).
Palavras-chave: Educao Fsica. Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Professor unidocente. Escola estadual.
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SUMRIO
1 INTRODUO ......................................................................................................... 7 1.1 Da aluna professora-estagiria .......................................................................... 8 1.2 Justificativa .......................................................................................................... 10 1.3 Objetivo ............................................................................................................... 11 1.4 Problema de pesquisa ......................................................................................... 12 1.5 Metodologia ......................................................................................................... 12 2 EDUCAO FSICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ......... 14 2.1 Aulas de Educao Fsica ministradas por especialista ................................... 16 2.2 Aulas de Educao Fsica ministradas por unidocente ....................................... 17 2.3 Mudana no eixo de discusso: da legalidade para a competncia .................... 18 3 A IMPORTNCIA DA EDUCAO FSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL ......... 20 4 O QUE PENSAM PROFESSORAS - ESTAGIRIAS SOBRE A EDUCAO FSICA ...................................................................................................................... 24 4.1 Relao professora/estagiria escola Universidade ...................................... 24 4.2 Aula livre x aula direcionada ................................................................................ 26 4.3 Questo legal: a formao e a unidocncia ........................................................ 30 5 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 33 REFERNCIAS ......................................................................................................... 35 APNDICE A Termo de Consentimento ............................................................. 37 APNDICE B Questionrio .................................................................................. 38
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1 INTRODUO
Ao concluir o Curso de Pedagogia, reporto-me a algumas experincias escolares, que me fazem refletir sobre assuntos que ainda parecem inacabados ou que deveriam ser ao menos explorados. A Educao Fsica nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental parece-me pouco valorizada na formao docente, mesmo sendo este componente curricular obrigatrio. As dificuldades enfrentadas em uma aula de Educao Fsica, fazem-nos pensar em atender aos pedidos dos alunos de aula livre e futebol. Penso sobre as minhas experincias enquanto aluna e mesmo como professora estagiria de um 4 Ano, ambos os momentos em escolas estaduais. De que maneira eu poderia ter sido mais desafiadora com meus alunos e garantir o direito Educao Fsica? A Universidade poderia ter lanado um olhar atento que me desacomodasse e possibilitasse mudanas nesse perodo de formao docente? Inicio este trabalho com o sub-captulo Da aluna professora-estagiria, explicitando minhas vivncias relativas Educao Fsica nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, que de alguma forma me inquietam sobre sua importncia e me levam a refletir sobre o papel que adquire na escola. A partir destas memrias, justifico a elaborao do trabalho e estabeleo o objetivo e a pergunta norteadora. Em seguida, apresento a Metodologia utilizada na elaborao da pesquisa com alunas do curso de Pedagogia, estagirias de 7 semestre (estgio obrigatrio) em Anos Iniciais do Ensino Fundamental, atuantes em escolas estaduais. No captulo Educao Fsica nos Anos Iniciais, abordo a obrigatoriedade da Educao Fsica garantida por lei e a Gratificao de Unidocncia do Magistrio estadual, para legitimar o trabalho de professores unidocentes. Desdobro o tema em professores unidocentes e especialistas, ao tratar dos profissionais habilitados para trabalhar com este componente curricular nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e suas implicaes para a educao. No captulo A importncia da Educao Fsica, abordo a relevncia deste componente curricular obrigatrio na formao dos alunos, considerando principalmente os aspectos motor, social, afetivo e cognitivo. Analiso as respostas obtidas na pesquisa a partir de trs categorizaes: relao professora/estagiria - escola-Universidade, aula livre x aula direcionada 8
e a questo legal: a formao e a unidocncia. No ltimo captulo, exponho minhas consideraes a respeito da pesquisa, procurando articul-las com o referencial terico e sua relevncia para a prtica docente.
1.1 Da aluna professora-estagiria
Ao pensar sobre as aulas de Educao Fsica nos Anos 1 Iniciais do Ensino Fundamental, divido minha trajetria em trs momentos, uma como aluna e dois como professora-estagiria. Estudei em uma escola estadual em Porto, RS, durante a maior parte do Ensino Fundamental. Nas Sries Iniciais do Ensino Fundamental no havia professor especfico de Educao Fsica, todas as aulas eram planejadas pela mesma professora. Lembro de ter aula de Educao Fsica livre na maior parte das vezes, disponibilizando-se bola, corda e elstico (aprendi a pular elstico na escola e algumas brincadeiras de roda). As aulas no me desafiavam, pois eu no precisava interagir com meus colegas caso no quisesse. Em meu estgio do Curso Normal 2 com uma turma de 1 srie, em uma escola municipal de Porto - RS, havia um professor especfico de Educao Fsica. Como eu era estagiria, ficou combinado com a instituio de ensino em que eu estudava, que uma das aulas seria planejada e realizada por mim e a outra pelo professor. Os professores regentes eram liberados durante as aulas de Educao Fsica e de Projeto de Artes para fazer planejamento, o que impossibilitava o conhecimento por parte desses do desenvolvimento dos alunos nessas aulas. Na maior parte das vezes, esse encontro entre professor titular e especfico se dava no momento do conselho de classe, mesmo sendo importante o acompanhamento dos dois no trabalho. Dessa forma no havia grande integrao entre a Educao Fsica e os demais contedos, tornando a educao fragmentada.
1 A partir de 2006, com a instituio do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos (Lei n. 11.274), a denominao passa de Sries Iniciais (1 4 srie) para Anos Iniciais (1 ao 5 ano). 2 Curso Normal em nvel mdio, que habilita o professor para lecionar em Educao Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. 9
Durante meu Estgio de Docncia 3 do 7 semestre do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), eu me senti desafiada a repensar o significado das aulas de Educao Fsica. A turma de 4 ano em que fiz estgio, em uma escola estadual de Porto Alegre, RS, tinha uma professora titular que era responsvel por todas as disciplinas durante a semana. Os alunos do 4 Ano no tinham Educao Fsica com a professora titular, que mesmo tendo organizado as aulas em dois dias semanais na grade de horrios da turma, estava s no papel. Eles apenas tiveram algumas aulas quando houve uma estagiria de Educao Fsica na escola. Como a turma no havia tido aula de Educao Fsica durante as duas primeiras semanas do meu estgio, perodo em que apenas observei as aulas, assim que assumi a regncia da turma, criei uma caixa de sugestes para saber quais atividades de Educao Fsica gostariam de fazer. Entre outras coisas, sugeriram natao, basquete, patinao e informtica para a aula de Educao Fsica, atividades que no condiziam com a estrutura da escola. Frente a essas manifestaes, analisei todas as sugestes junto com a turma e conclumos que algumas eram inviveis ou incoerentes. Combinamos que procuraria realizar as atividades que fossem coerentes com o espao/tempo da aula de Educao Fsica e com a estrutura oferecida pela escola. Em um dos momentos em que nos preparvamos para ir ao ptio, a professora titular falou para mim com a turma presente se algum atrapalhar, pode mandar de volta [para a sala]. Dessa maneira, quem voltasse para a sala, provavelmente acabaria recebendo da professora titular alguns exerccios de Portugus ou Matemtica para responder. Na aula de Educao Fsica, uma aluna disse manda ele de volta, em relao a algum que no estava cumprindo a regra do jogo. Muitas vezes era difcil para alguns alunos cumprirem regras, entretanto mandar de volta no possibilitaria um aprendizado por parte do aluno, alm de reforar a ideia de que as outras disciplinas so mais importantes. Ou, que a Educao Fsica seria um prmio enquanto as demais disciplinas seriam um castigo. Em uma das minhas aulas de Educao Fsica, um aluno saiu correndo pela quadra, usando culos de festa de aniversrio e comendo pirulito. Quando fui dizer que ele no devia estar daquele jeito, ele me disse qu que tem sora, nem aula [sic], sendo que se estivesse na sala no viria com esse argumento. Expliquei que
3 Perodo de observao de aula da turma em que se realizou o estgio: de 16 a 26 de agosto de 2010. Perodo de planejamento e regncia: de 30 de agosto a 02 de dezembro de 2010. 10
aquelas atividades faziam parte da aula, s que aconteciam em um espao diferente da sala de aula, devido a suas caractersticas. s vezes parece para alguns alunos que o que envolve movimento e um pouco mais de discusso no aula, pois j tm uma concepo de escola em que apenas necessrio copiar, resolver as questes e corrigir. Das minhas experincias, a que teve maior quantidade de alunos e diversidade de idades, foi no Estgio de Docncia do Curso de Pedagogia, sendo 28 alunos entre 8 e 15 anos. Essas aulas exigiam bastante de mim, s vezes os alunos mais velhos no queriam fazer algumas atividades com a turma, principalmente quando outros alunos que estavam no ptio sem o acompanhamento dos professores ficavam observando e rindo. Os alunos se dispersavam e era preciso muito tempo para organizar as atividades, alguns resistiam a fazer par menino- menina ou com algum que considerassem menos capaz para a atividade. Como muitas vezes pediam aula livre ou futebol, em uma das aulas planejei um jogo de futebol em duplas, sendo estas escolhidas por mim, de modo que trouxesse um desafio novo turma. Na primeira vez que propus, no foi possvel ir alm das regras e diviso dos times e duplas. Somente na outra aula perderam um pouco da resistncia primeira vista e puderam ver que no era to chato. Com o tempo foram percebendo que poderiam dar sugestes para a aula, desde que fosse possvel com a estrutura da escola e que possibilitasse a participao da turma e no apenas de alguns alunos. A partir dessas experincias, enfatizando a ltima, vivida no meu Estgio de Docncia do Curso de Pedagogia, optei por abordar a Educao Fsica nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, pensando-se que este um dos componentes curriculares a que os alunos devem ter acesso e cujo direito garantido pela legislao vigente.
1.2 Justificativa
Este trabalho motivado principalmente pela minha experincia com as aulas de Educao Fsica do Ensino Fundamental, tanto como aluna, mas, sobretudo, como professora-estagiria. 11
Durante o Estgio de Docncia fomos orientados a permanecer na escola de segunda a quinta-feira, planejando e lecionando o que seria de responsabilidade da professora titular, levando em conta tambm o trabalho que esta desenvolvia com a turma. Qualquer atividade com a turma realizada por outro professor, aula, projeto, oficina, dependendo do planejamento da escola, no eram de nossa responsabilidade. Nas sextas-feiras, tnhamos reunio com as professoras orientadoras de estgio 4 , em que discutamos sobre o trabalho realizado e algumas questes pontuais sobre planejamento, conforme exigncias que os professores titulares faziam com suas listas de contedos. As orientadoras de estgio, com suas formaes diferenciadas, podiam nos auxiliar em vrias questes que surgiam e nos preocupavam como professores em formao. A disciplina (de estgio) mostrava-se um espao de aprendizagem para ns, estagirios, podendo trocar experincias na medida em que algumas necessidades se repetiam, e ao mesmo tempo, de retomada de disciplinas cursadas na UFRGS. Preocupa-me, entretanto, o fato de a Educao Fsica estar relegada a um papel de menor importncia dentro dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental a partir da pouca visibilidade que este componente curricular teve em meus planejamentos, observaes e discusses no Seminrio de Docncia, e com este trabalho pretendo elucidar algumas questes tambm a este respeito.
1.3 Objetivo
Compreender o espao dado s atividades de Educao Fsica no mbito escolar, a partir das experincias de estgio com professoras unidocentes.
4 Seminrio de Prtica Docente - EDU 02068 12
1.4 Problema de pesquisa
De que maneira a Educao Fsica constitui-se nas prticas de estgio docente do curso de Pedagogia da UFRGS, em contexto da rede pblica estadual de ensino?
1.5 Metodologia
Apresento a seguir as opes metodolgicas adotadas neste trabalho. Trata- se de um estudo de abordagem qualitativa, do tipo Estudo de Caso, aplicado a uma populao de 6 sujeitos, alunas do estgio docente do curso de Pedagogia da UFRGS, atuantes nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental em escolas estaduais de Porto Alegre durante o 1 semestre de 2011. A pesquisa qualitativa foi escolhida por se adequar melhor ao tema estudado e servir ao tipo de estudo. Uma pesquisa de abordagem qualitativa [...] envolve a obteno de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situao estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes. (LDKE; ANDR, 1988, p. 13). Quanto ao tipo de estudo, este trabalho enquadra-se como Estudo de Caso, pois: O interesse, portanto, incide naquilo que ele tem de nico, de particular, mesmo que posteriormente venham a ficar evidentes certas semelhanas com outros casos ou situaes. Quando queremos estudar algo singular, que tenha um valor em si mesmo, devemos escolher o estudo de caso. (LDKE; ANDR, 1988, p. 17)
Dessa forma, ao tentar compreender o espao dado s atividades de Educao Fsica no mbito escolar, a partir das narrativas de estagirias, fao um recorte de uma situao especfica, podendo nos remeter a outras. Neste tipo de estudo, A seleo de aspectos mais relevantes e a determinao do recorte , pois, crucial para atingir os propsitos do estudo de caso e para chegar a uma compreenso mais completa da situao estudada. (LDKE; ANDR, 1988, p. 22). 13
As alunas matriculadas no estgio no Ensino Fundamental em 2011/01 so ao todo 12, entretanto metade delas atuam em escolas municipais ou particulares. Como explicitado no Captulo 2, os professores de escolas estaduais recebem a Gratificao de Unidocncia, por determinao do estado, e por isso, na maioria das vezes, no trabalham com o auxlio de outros professores. Nas escolas em que h professor de Educao Fsica, as estagirias no precisam lecionar este componente curricular, como poderia acontecer em escolas municipais e particulares. Acredito ser importante para a pesquisa perceber como se d o planejamento de tais atividades e as concepes sobre a Educao Fsica, o que, abrangendo os 12 sujeitos matriculados, no ficaria to evidente. A entrevista aconteceu a partir de um questionrio escrito (Apndice B) com 6 perguntas abertas. Procurou-se contemplar alguns aspectos que considero importantes para o trabalho com Educao Fsica nas escolas a partir desse contexto: a estagiria (perguntas 1 e 5), os alunos (perguntas 2 e 3), professor titular/escola (pergunta 4) e a UFRGS (pergunta 6). A escolha pelo questionrio se atribui ao fato de os sujeitos da pesquisa estarem de segunda a quinta-feira no ambiente escolar e bastante envolvidas com a rotina e os afazeres do estgio obrigatrio e tendo apenas na sexta-feira de manh uma aula na Universidade. Desta forma, a falta de tempo livre coincidente entre eu e as estagirias impossibilitou uma entrevista presencial, que poderia proporcionar narrativas mais ricas e oferecer outras possibilidades de explorar o tema.
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2 EDUCAO FSICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
A Educao Fsica um dos componentes curriculares 5 obrigatrios da Educao Bsica (BRASIL, 1996), incluindo-se assim os Anos Iniciais do Ensino Fundamental, perodo ao qual me refiro neste trabalho. Desta forma, todos os alunos tm o direito, assegurado por lei, Educao Fsica em seus currculos, mesmo sem que esta se configure como uma disciplina em si (BRASIL, 2001b). Conforme a LDB Art. 26, 3 o , A educao fsica, integrada proposta pedaggica da escola, componente curricular obrigatrio da educao bsica [...] 6 (BRASIL, 1996). Realizou-se uma pesquisa (PICCOLI, 2007) sobre a Educao Fsica no Rio Grande do Sul, comparando-se os anos de 1984 e 2001. O autor observou que no primeiro perodo (1984), as Delegacias de Educao distribuam as aulas durante a semana, na maioria das vezes em trs dias na semana, pois estavam amparadas por um dispositivo legal (decreto- lei 705/1969, do Governo Federal). J no segundo perodo (2001), quanto frequncia semanal de aulas de Educao Fsica, o autor observa que:
Com a advento da nova LDB, tal procedimento no observado, permitindo que as escolas ofeream o nmero de aulas que acharem adequado, certamente, desde que estejam registrados em seus projetos polticos pedaggicos. No que se refere as quatro primeiras sries do ensino fundamental, as aulas de Educao Fsica estavam centradas em, pelo menos, uma vez por semana. (PICCOLI, 2007, documento no paginado).
Para lecionar nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental exige-se a formao mnima de magistrio em nvel mdio ou curso superior de Pedagogia. Estes profissionais so habilitados a ministrar todos os componentes curriculares, sendo chamados por isso professores generalistas, polivalentes (SILVA et al., 2008), multidisciplinares ou unidocentes (BRASIL, 2001b). Opto neste trabalho a me referir a professor unidocente e unidocncia. Os professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental do estado do Rio Grande do Sul, por atuarem em classes unidocentes, ou seja, sem outros
5 Refiro-me neste trabalho a componente curricular e no disciplina ao tratar de Educao Fsica, conforme a LDB (BRASIL, 1996) e o Parecer CNE/CEB 16/2001 (BRASIL, 2001b). 6 Redao dada pela Lei n. 10.793, de 1 de dezembro de 2003. 15
professores especialistas 7 , como o caso dos professores de Educao Fsica, recebem Gratificao de Unidocncia, conforme estabelecido na lei estadual n 10.576, de 14 de novembro de 1995:
Art. 100 - Os artigos 4 e 50 da Lei n 8.747, de 21 de novembro de 1988, passam a vigorar com a seguinte redao: Art. 4 - O valor da gratificao de que trata a alnea h, do item I do art. 70, da Lei n 6.672, de 22 de abril de 1974, fixada sobre o vencimento bsico do Quadro de Carreira do Magistrio Pblico Estadual, corresponder: I - a 50% para o professor com regime de trabalho de 20 ou 30 horas semanais, quando em exerccio na regncia de classe unidocente do currculo por atividades, educao pr-escolar ou classe especial; II - a 100% para o professor com regime de trabalho de 40 horas semanais, quando na regncia de duas das classes referidas no inciso anterior. Pargrafo nico - A hiptese do inciso II fica condicionada a que o professor, quando no mesmo estabelecimento de ensino, tenha pelo menos um total de 40 alunos do currculo por atividade ou pr-escola, ou ainda duas turmas de alunos em classe especial. Art. 50 - A gratificao prevista no artigo anterior determina o exerccio e remunera 2 horas-atividade para o professor com regime normal de 20 ou 30 horas semanais e 4 horas-atividade para o professor com regime normal de 40 horas semanais. (RIO GRANDE DO SUL, 1995).
Observa-se a partir da referida lei, que trata-se de uma questo econmica, que [...] tem se manifestado e acarretado a diminuio de despesas com professores e materiais. (PICCOLI, 2007). Com esta gratificao o estado no se compromete a contratar outros professores, deixando que todos os componentes obrigatrios fiquem a cargo dos professores unidocentes. Esta uma opo do estado, posto que em escolas municipais observa-se a presena de outros profissionais. Existe uma discusso a respeito de quem deve ministrar as aulas de Educao Fsica nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental (FREIRE, 2001; SILVA et al., 2008; FRAGA, 2002; BRASIL, 2001b), a LDB (1996), apenas denomina a Educao Fsica como obrigatria na Educao Bsica, entretanto no delimita o profissional responsvel para lecionar este componente curricular. Em mbito federal, o Parecer CNE/CEB 16/2001, do Ministrio da Educao, defende que:
[...] no assiste razo a quem evoca a lei para restringir o direito ao exerccio profissional do professor de atuao multidisciplinar em qualquer
7 Conforme mencionado na Lei n. 6.672, Art. 149, II para especialistas de educao: habilitao especfica obtida em curso superior, ao nvel de graduao, correspondente licenciatura plena, e, ainda, trs anos, no mnimo, de exerccio da docncia. Dessa forma, um professor formado em Pedagogia tambm seria chamado de especialista. Refiro-me especialista quando falo sobre professores de Educao Fsica, sendo esta a especificidade, pois essa tem sido a denominao recorrente em escolas e textos utilizados.
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um dos contedos curriculares dos anos iniciais do ensino fundamental ou da educao infantil. Mesmo se o componente curricular configurar disciplina especfica, inclusive Educao Fsica, ela poder ser ministrada por profissional legalmente licenciado para o exerccio docente nos quatro primeiros anos do ensino fundamental. (BRASIL, 2001b, p.3).
Ao ler o referido parecer na ntegra, parece-me que o argumento baseia-se mais na longa tradio educacional (p.3) de se ter professor unidocente ou multidisciplinar, do que na capacitao desse profissional. Ao mesmo tempo em que no restringe qualquer componente curricular ao professor dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, o mesmo parecer no obriga os cursos de formao docente que tenham Educao Fsica em seus currculos, apenas Espera-se que os cursos de formao inicial e continuada de professores incluam, dentre seus temas de estudo e de prtica de ensino, os diversos componentes curriculares, inclusive Educao Fsica. (BRASIL, 2001b, p.2). Desse modo, caso o curso de formao no tenha includo este componente em seu currculo, pois ainda trata-se de uma recomendao, o profissional unidocente continua habilitado para a funo.
2.1 Aulas de Educao Fsica ministradas por especialista
Ao procurar trabalhos acadmicos acerca da Educao Fsica nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, no encontrei trabalho realizado por algum da Pedagogia e sim da Educao Fsica. Este tema ainda no foi abordado nos trabalhos de Concluso de Curso da Pedagogia da UFRGS, por no ter despertado o interesse ou talvez pelo fato de no haver no currculo disciplina obrigatria e eletiva especfica (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, 2009). Assim, geralmente os profissionais de Educao Fsica defendem a sua atuao na rea e escrevem sobre. Como se observa, Silva e Krug (2008), a partir dos planos poltico- pedaggicos do curso de licenciatura em Educao Fsica e do de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria, analisaram a formao que os cursos proporcionam para trabalhar com Educao Fsica nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. A pesquisa foi realizada porque os estudantes de Educao Fsica fazem estgio nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e por coexistirem 17
professores especialistas de Educao Fsica e professores unidocentes trabalhando com este componente curricular. Eles acreditam que o profissional da Educao Fsica est melhor preparado do que o da Pedagogia por estar mais inserido na Cultura Corporal do Movimento. Por outro lado, Freire (2001, p.78) aponta que, [...] por questes corporativistas, um setor da Educao Fsica brasileira defende, na organizao dos currculos escolares, a incluso de um especialista na rea. Tal argumento pode ser visto em uma pesquisa sobre quem deve ministrar as aulas de Educao Fsica, na qual os participantes formados em Educao Fsica se consideram mais aptos que os generalistas, sem fornecer um embasamento terico que justifique essa opinio (SILVA et al., 2008). Considera-se mais uma defesa de classe dos profissionais da Educao Fsica do que uma busca consciente pela melhora da educao. Paralelo a isto, flagrante que, nas escolas estaduais do Rio Grande do Sul, no existe professor de Educao Fsica nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental na maioria das vezes, indicado pelos acadmicos de Educao Fsica na pesquisa de Ilha et al (p.3) que [...] esta realidade desvaloriza os profissionais da rea. Eles consideram importante o trabalho do profissional da Educao Fsica, apesar de o estado do Rio Grande do Sul adotar a atuao do professor unidocente.
2.2 Aulas de Educao Fsica ministradas por unidocente
Conforme o Parecer CNE/CEB 16/2001 delineia, acredita-se que essa deva ser a funo do professor unidocente, sem ao menos antes garantir as condies adequadas para que o direito Educao Fsica seja contemplado. Freire (2001, p.78) relata que ainda [...] h os que defendem a permanncia da atual estrutura, alegando ser melhor para a criana o contato com um nico professor [...], partindo do pressuposto de que quanto mais professores, mais fragmentado o ensino. O mesmo autor entende que no a quantidade de profissionais que fragmenta o ensino, mas o encaminhamento que se d. Uma questo interessante apontada a respeito do professor unidocente, na tica da Educao Infantil, mas ainda assim na Educao Bsica, trata das Diretrizes Curriculares dos cursos de formao de Pedagogia e de Educao Fsica 18
(SILVA et al, 2008). Observa-se que existe orientao formal para que os cursos de formao dos licenciados em Pedagogia se preocupem com os conhecimentos referentes Educao Fsica, entretanto para os de Educao Fsica no se fala da especificidade da educao nesta fase. (SILVA et al, 2008). Os Parmetros Curriculares Nacionais de Educao Fsica (PCNs) no sinalizam qual o profissional responsvel, indicando tambm a possibilidade de um professor unidocente ministrar as aulas (BRASIL, 1997). Fica claro nos PCNs que as atividades de Educao Fsica, mesmo que se tenha um professor especialista de Educao Fsica na escola, podem ser realizadas pelo professor da turma em outros momentos que no os ditos aula de Educao Fsica.
2.3 Mudana no eixo de discusso: da legalidade para a competncia
Outras possibilidades se abrem a partir do momento em que se muda a discusso, da legalidade para a competncia (SILVA et al, 2008). Quando a discusso encerra-se em qual profissional o responsvel pela Educao Fsica, deixa-se [...] em segundo plano um elemento fundamental para a sobrevivncia dessa rea no currculo, ou seja, a dimenso pedaggica e cultural das prticas corporais nos projetos poltico-pedaggicos das escolas. (FRAGA, 2002, p.29). Conforme Freire, o mais importante e fundamental que a criana no seja privada da Educao Fsica a que tem direito (2001, p.79), o que demonstra que o foco da discusso est na sua garantia aos alunos (BRASIL, 1996). Freire ainda ressalta que os interesses gerais, que delineiam o percurso da Educao Fsica, como as questes corporativistas e os prprios interesses econmicos, o primordial o direito do aluno. Quanto competncia:
Se a pessoa mais competente para cumprir a tarefa aqui discutida for o profissional de Educao Fsica, ento deveria ser ele o indicado pelo poder pblico para realizar essa tarefa. Se ele no possuir essa competncia, e a professora de sala sim, no h dvidas de que ela seria a profissional mais indicada. (FREIRE, 2001, p.79)
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Fraga (2002) contribui com outra perspectiva que vai ao encontro do j exposto, e possibilita repensar o papel do professor unidocente na escola e do professor especialista isolado em sua docncia:
[...] temos professores/as de educao fsica comprometidos com os rumos da educao bsica que tambm defendem a presena de colegas da rea nessa fase da vida escolar, porm no se baseiam na mesma lgica, muito menos nos mesmos argumentos; propem a presena de especialistas sob forma de assessoria, atuando na elaborao de planejamentos e oferecendo subsdios metodolgicos para lidar com as prticas corporais na relao de ensino-aprendizagem; perspectiva compartilhada por parcela considervel de professores/as unidocentes. ( 2002, p.29).
Partindo da ideia de que tanto professores formados em Pedagogia como em Educao Fsica possuem conhecimentos importantes e especficos para o desenvolvimento do aluno, concordo com o posicionamento de Fraga (2002) ao falar diretamente sobre essa questo nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Dessa forma, um trabalho conjunto com esses professores, auxiliaria no planejamento das aulas, partindo das suas especificidades e desconstruindo a separao da escola entre corpo e mente, que devem ser entendidos como componentes que integram um nico organismo. (FREIRE, 2001, p.13).
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3 A IMPORTNCIA DA EDUCAO FSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL
Apesar de muitas vezes acabar relegada ao se der tempo dentro de muitos contextos escolares, a Educao Fsica tem importncia para o desenvolvimento da criana nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, o que legitima sua obrigatoriedade. Como apresento a seguir neste captulo, a importncia da Educao Fsica no se restringe aos aspectos motores, proporciona o desenvolvimento do aluno tambm em outras dimenses: social, afetiva e cognitiva. Desenvolvo este captulo sobretudo a partir dos Parmetros Curriculares Nacionais de Educao Fsica, pois servem de referencial para o trabalho com Educao Fsica nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, por recomendao do Ministrio da Educao e do Desporto (BRASIL, 1997). Mesmo extrapolando o desenvolvimento de aspectos motores da criana, esta uma dimenso relevante da Educao Fsica no desenvolvimento dos alunos. Sobre a importncia da educao fsica para o desenvolvimento motor das crianas, encontramos em Valentini e Toigo que:
Em termos de desenvolvimento motor, pressupe-se que o aprendiz em idade escolar tenha tido oportunidade de praticar todas as habilidades motoras fundamentais (correr, saltar, arremessar, deslocar-se, receber, rebater, quicar, chutar, etc.) e que as mesmas estejam estruturadas no seu repertrio motor em um nvel de proficincia prximo ao maduro. As habilidades motoras fundamentais so consideradas indispensveis para o desenvolvimento de atividades de movimento em uma perspectiva de vida ativa e saudvel, bem como para a especializao de habilidades motoras especficas da dana e/ou de esportes. (VALENTINI; TOIGO, 2006, p.17).
Considera-se aqui como relevante para a aprendizagem das habilidades motoras no apenas as experincias escolares, mas as proporcionadas pelos contextos familiares e sociais. A criana comea a utilizar essas habilidades motoras em atividades variadas, entretanto ser necessria instruo apropriada para que possa ultrapassar tal proficincia. Esta instruo pode vir atravs da prtica de esportes (VALENTINI, TOIGO, 2006), pois dentro de contextos especficos que as habilidades, como chutar, devem ser aprendidas (BRASIL, 1997, p.33), como, por exemplo, em um jogo de futebol. Dessa forma, subentende-se que as aulas de Educao Fsica sejam dirigidas, ao contrrio das chamadas aulas 21
livres, em que os professores apenas oferecem material (bolas, cordas, etc.) e os alunos decidem o que fazer. Este tipo de aula, chamada abordagem recreacionista:
[...] tem como princpio os alunos decidirem o que vo fazer na aula, escolhendo as atividades e a forma como querem pratic-las. O papel do professor se restringe a oferecer o material e a controlar o tempo. Praticamente no existe interveno por parte do docente. Esse modelo no defendido de maneira aberta por professores, estudiosos ou acadmicos, no entanto bastante representativo no contexto escolar em qualquer que seja a fase de escolarizao, em especial na educao infantil. (SILVA et al., 2008, p.17-18)
Esta abordagem no se refere ao que entendo por Educao Fsica, por no levar o aluno a desenvolver as habilidades advindas dos ambientes extra-escolares. Conforme Valentini e Toigo (2006) pesquisas realizadas entre 1992 e 2002 sobre o baixo desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais em crianas do Ensino Fundamental, decorrentes da falta de oportunidades de atividades apropriadas. O que demonstra que dentro da escola h uma certa carncia de atividades fsicas direcionadas, que impedem a promoo dessas habilidades. A prtica escolar poderia ampliar esse desenvolvimento motor inicial, pois os alunos do Ensino Fundamental [...] esto deficitrios pela falta de interaes e, na medida em que puderem retomar a vivncia dessas atividades, podero desenvolver as habilidades e coordenaes prprias de tal conhecimento. (FONSECA, 1999, p.46). Freire (2001) estabelece uma viso mais ampla da Educao Fsica para alm do movimento, pois para ele significa [...] educao de corpo inteiro, entendendo-se por isso, um corpo em relao com outros corpos e objetos, no espao. (p.84). Observa-se esta melhora no apenas na qualidade dos movimentos, possibilita aos alunos outras relaes com seus pares, desenvolvendo aspectos sociais e afetivos: nessas prticas o aluno explicita para si mesmo e para o outro como , como se imagina ser, como gostaria de ser e, portanto, conhece e se permite conhecer pelo outro. (BRASIL, 1997, p.39). Conforme indicam os PCNs, as possibilidades de vivncia de situaes de socializao e desfrute de atividades ldicas, sem carter utilitrio, so essenciais para a sade e contribuem para o bem- estar coletivo. (BRASIL, 1997, p.29). Alm do mais, torna-se possvel expressar-se atravs do conhecimento do prprio corpo:
Quanto mais domnio sobre os prprios movimentos o indivduo conquistar, quanto mais conhecimentos construir sobre a especificidade gestual de determinada modalidade esportiva, de dana, ou de luta que exerce, mais pode se utilizar da mesma linguagem para expressar seus sentimentos, 22
suas emoes e o seu estilo pessoal de forma intencional e espontnea. (BRASIL, 1997, p.40)
medida que o aluno usa as regras em um jogo, participando com os colegas, explicitado por Valentini e Toigo seu papel na [...] mediao das interaes e a adequao de comportamentos, os quais so fundamentais para alcanar o sucesso na participao. ( 2006, p.32). As regras no precisam ser necessariamente escolhidas pelo professor, podem ser dadas linhas gerais aos alunos, deixando que decidam em grupo:
Sugere-se, no ensino das sries iniciais, incentivar, mediante estratgias especficas, a capacidade de elaborar e operar respostas adequadas aos problemas colocados pelas situaes aleatrias e diversificadas que ocorrem no jogo. Resolues de problemas so necessrias nos planos espacial e temporal, no plano de informao e no plano de organizao. Os esportes so vistos como espaos onde as experincias so imprevistas no nvel da freqncia, da ordem cronolgica e da complexidade, e, s quais, o jogador tem que responder, exigindo uma elevada adaptatibilidade, especialmente no que diz respeito dimenso ttico-cognitiva. (VALENTINI; TOIGO, 2006, p.26).
Dessa forma, alm de o aluno participar da construo de algumas regras, facilitando o processo de socializao, a resoluo de problemas durante a atividade, como descrito anteriormente, contribuem para uma questo importante para a Educao Fsica: o desenvolvimento cognitivo. Fonseca (1999) relata a partir de Emilia Ferreiro que o conhecimento surge a partir da ao. Dito de outra maneira, A criana transforma em smbolos aquilo que pode experienciar corporalmente: o que ela v, cheira, pega, chuta, aquilo que corre e assim por diante.(FREIRE, 2001, p.81). A partir do momento que o professor traz tudo pronto, sem deixar espao para que o aluno se defronte com questes que ele mesmo tenha que resolver, isso limita o aspecto cognitivo, como indica Freire: Na ao pedaggica, se a interferncia do professor subtrair ao aluno sua autonomia, impondo-lhe solues para os problemas surgidos, muito pouco se exigir de seu aparelho cognitivo. (FREIRE, 2001, p.129). Isso no significa o professor abster-se de seu papel no processo, limitando-se a dar aulas livres de Educao Fsica, [...] mas sim de capacitar o indivduo a refletir sobre suas possibilidades corporais e, com autonomia, exerc-las de maneira social e culturalmente significativa e adequada. (BRASIL, 1997, p.33). O professor precisa auxiliar o aluno a refletir sobre sua prpria ao. 23
Acredito que a Educao Fsica, a partir da leitura dos PCNs (BRASIL, 1997), trata a ideia de que estes aspectos devem ser contemplados ao longo de todo o Ensino Fundamental. Deve-se levar em conta que este componente curricular no representa a dicotomia corpo-mente, contemplando os aspectos motor, social, afetivo e cognitivo (FREIRE, 2001). A Educao Fsica tem um valor em si, que pelo j relatado, interfere e desencadeia o trabalho em sala de aula, auxiliando na estruturao adequada de noes lgico-matemticas (FREIRE, 2001). O mesmo autor (2001, p.24) refora que no devemos encarar a Educao Fsica como uma disciplina auxiliar de outras, e sim, como a prpria LDB (BRASIL, 1996) indica e reforado pelos PCNs (BRASIL, 1997), integrada proposta pedaggica da escola.
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4 O QUE PENSAM PROFESSORAS - ESTAGIRIAS SOBRE A EDUCAO FSICA
Seguindo o proposto na metodologia e buscando atingir o objetivo do trabalho, utilizei como instrumento de coleta de dados um questionrio com 6 perguntas abertas (Apndice B), que foi aplicado a 6 alunas de estgio obrigatrio (7 semestre) do Curso de Pedagogia da UFRGS. O questionrio foi entregue pessoalmente a 3 delas e enviado por e-mail para as demais. A partir das respostas obtidas atravs do questionrio, volto ao meu problema de pesquisa como se configura a prtica de Educao Fsica no estgio de docncia e fao ento algumas inferncias. As respostas utilizadas na anlise foram reproduzidas conforme a escrita das prprias entrevistadas e seus nomes no foram identificados de acordo com o Termo de Consentimento (Apndice A). Para a apresentao da anlise e interpretao das respostas obtidas, dividi em trs eixos, cada um focado em aspectos anteriormente discutidos (a relao professora/estagiria, escola e Universidade; a dicotomia entre aula livre e aula dirigida; e a questo legal entre a formao e a unidocncia).
4.1 Relao professora/estagiria escola Universidade
Ao analisar as respostas, tentei verificar a relao que envolve o trabalho com Educao Fsica, considerando-se trs pontos fundamentais no contexto de estgio: estagiria, escola e Universidade. Estes pontos fundamentais se relacionam a partir do momento em que o trabalho da estagiria se d em um contexto, a escola, mas ele s se efetiva quando h um retorno da Universidade, nesse caso, a orientao de estgio. Posto isso, questiono, frente s respostas obtidas, se o trabalho da estagiria modificou ou continuou o trabalho desenvolvido na escola, e em que medida a orientao de estgio contribuiu com isso. Neste aspecto, acho importante destacar que uma das entrevistadas a prpria titular da turma, e que sua nica orientao na escola sobre Educao Fsica foi o horrio (Eu sou a titular da minha turma [...] 25
[A] escola destina 1 dia na semana com 1 hora de durao para ed. fsica). Da mesma forma, verifica-se que o mesmo ocorre com outras trs entrevistadas, que no tiveram orientao da escola/professora titular sobre as aulas de Educao Fsica, apenas indicao do(s) horrio(s). Outra entrevistada informou apenas que a professora titular solicitou atividades dirigidas, entretanto no definiu quais. Por fim, uma das entrevistadas respondeu que inicialmente os alunos no tinham Educao Fsica (por conta de uma reforma na quadra de esportes) e quando este componente curricular foi retomado [...] a professora titular me informou que no era responsabilidade minha a prtica na Educao Fsica. Isso se justificaria se a professora titular fizesse uma aula de Educao Fsica no dia em que s ela est com a turma, isto , sexta-feira. Porm, como expressado em outra resposta, o horrio estabelecido para isso [...] na segunda-feira das 17:00 s 17:45, sendo este momento visto como hora livre., portanto um horrio em que a estagiria est na escola, destinado sua docncia. Assim, conclui-se que a aula de Educao Fsica, neste caso, no responsabilidade de ningum. Corroborando com este indcio, [...] a principal barreira encontrada pelos professores parece ser a tendncia da escola (intencional ou no) de ignorar a Educao Fsica, a qual percebida como suprflua para a aprendizagem da criana, levando o professor a assumir uma postura marginalizada. (VALENTINI; TOIGO, 2006, p.14). Quanto aos trabalhos j desenvolvidos nas escolas pelas professoras titulares e ao das professoras-estagirias, observa-se que h uma tentativa de realizar um trabalho dirigido, com exceo de um caso, j relatado no pargrafo anterior, mesmo com as poucas diretrizes indicadas pelas professoras titulares. A presena da Universidade, atravs da orientao de estgio e das disciplinas cursadas ao longo do curso, considerada importante para a formao, entretanto h uma percepo de haverem lacunas significativas quanto aos contedos de Educao Fsica. Esta percepo expressa nas narrativas de algumas entrevistas em respostas como: Apesar de termos contato com algumas atividades a serem propostas, acredito que as orientaes em relao Educao Fsica poderiam ser mais predominantes e enfatizadas no estgio [...] e Infelizmente, durante todo o curso, no contamos com aulas ministradas por licenciados em educao fsica. Busco em livros ideias de jogos e atividades. Outra entrevistada ressaltou ter cursado uma disciplina na Escola Superior de Educao 26
Fsica da UFRGS (ESEF) que contribuiu para sua prtica docente, posto que [...] o Curso de Pedagogia deve muito 8 s aulas de Educao Fsica. Houve ainda uma respondente que considera possvel suprir a ausncia de conhecimentos especficos sobre Educao Fsica ao longo do curso recorrendo literatura existente, considerando esta suficiente e no sentindo necessidade de um suporte formalizado no currculo ou nas orientaes de estgio. Nesse mesmo sentido, outra respondente afirmou ser necessrio ao professor uma atitude de pesquisador, para complementar sua formao nesta e em outras eventuais carncias. Finalmente, uma respondente expressou No creio que seja necessrio incluirmos algo nesse sentido, pois essa no a nossa formao., mas ao mesmo tempo afirmou [...] ser importante que no passe em branco. Uma relao entre estagiria e escola, sem a interveno da Universidade, pode reforar a tendncia de apenas seguir o contexto (escola), impossibilitando refletir sobre a prpria prtica. O estgio no pretende mudar tudo o que feito na escola, mas proporcionar s estagirias a prtica docente e refletir sobre esta.
4.2 Aula livre x aula direcionada
A questo da dicotomia entre aula livre e aula direcionada de Educao Fsica foi recorrente ao longo deste trabalho e tambm apareceu nas respostas das entrevistadas. Acredito ser importante ressaltar este aspecto da prtica docente, pois os PCNs (BRASIL, 1997) em nenhum momento recomendam aulas livres no espao das aulas de Educao Fsica, sugerindo alguns contedos a serem trabalhados. Da mesma forma, Valentini e Toigo (2006) enfatizam a importncia de aulas de Educao Fsica direcionadas, medida que:
Crianas somente aprendem quando existe um programa elaborado com metas e objetivos a serem alcanados a curto e longo prazos, com atividades apropriadas a seu desenvolvimento, com estratgias voltadas para maximizar as oportunidades de prtica e com um sistema avaliativo de acordo com os objetivos inicialmente propostos. (VALENTINI; TOIGO, 2006, p.15)
8 Grifo da respondente. 27
Ainda sobre aula de Educao Fsica direcionada, os PCNs indicam que Esse um dos aspectos que diferencia a prtica corporal dentro e fora da escola. (BRASIL, 1997, p.39). O quadro a seguir representa resumidamente a dicotomia aula direcionada X aula livre, apresentando a aula direcionada como a prtica apropriada:
Componente: Educao Fsica e recreio Prtica Apropriada As aulas so planejadas e organizadas para oferecer s crianas oportunidades para a aquisio dos benefcios fsicos, emocionais, cognitivos e sociais da Educao Fsica. Prtica Inapropriada Brinquedo livre ou recreio usado para substituir diariamente aulas de Educao Fsica organizadas. Brinquedo livre, nesse caso, caracterizado pela falta de objetivos, de organizao, de planejamento e de instruo. (COUNCIL ON PHYSICAL EDUCATION PRACTICE FOR CHILDREN, 1992 9 apud VALENTINI; TOIGO, 2006, p.103)
Assim, esta seo analisa as respostas que expressam, em algum grau, esta relao. As respondentes foram unnimes em atribuir importncia Educao Fsica, entendida como aula direcionada, como denotam as narrativas transcritas a seguir: [A Educao Fsica ] Importante tanto para a socializao, aceitao de regras, como para o desenvolvimento corporal; Acredito que alm do desenvolvimento motor, importante lembrar/aprender a importncia das regras dos jogos; Alm de ter novas experincias, acho importante para [os alunos] explorarem formas diferentes de movimentao e motricidade; Atravs da Educao Fsica o aluno tem a possibilidade de desenvolver suas habilidades motoras, e tambm a socializao visto que atravs de jogos, brincadeiras, dana e esporte [...] precisar seguir regras especficas [...] [e] interagir com outros indivduos [...]; Acredito que, alm dos aspectos fsicos, tambm sejam importantes as atividades para os momentos de convivncia, concentrao, relaxamento, desenvolvimento das motricidades fina e ampla , [...] alm de desenvolver a coordenao motora tanto motricidade fina quanto ampla pode-se incluir nestes momentos jogos que proporcionem outras aprendizagens como a noo espacial, o
9 COUNCIL ON PHYSICAL EDUCATION PRACTICE FOR CHILDREN. Developmentaly Appropriate Physical Education Practice for Children: a position statement of the Council on Physical Education Practice for Children (COPEC). Reston: National Association for Sport and Physical Education, 1992. 28
senso de cooperao, ateno, concentrao, o controle dos sentimentos, equilbrio, preocupao e cuidado com o seu corpo e o corpo do outro, etc. Observa-se que a escolha dos contedos pelas entrevistadas se d a partir do que trabalhado em sala de aula e da necessidade desses alunos, principalmente [...] em funo das dificuldades de convivncia [...] e das possibilidades de envolvimento por parte dos alunos. Tambm De acordo com o projeto em andamento [...] e [...] que eu possa encaixar dentro do meu planejamento semestral [...]. Quatro entrevistadas fizeram afirmaes que fundamentam o acima descrito, uma no respondeu porque s realiza atividade livre e a outra disse apenas que escolhe arbitrariamente as atividades a serem propostas. Uma das quatro entrevistadas que indicaram como escolhe seus contedos para a aula de Educao Fsica informou que, havendo dois dias por semana destinados a este componente curricular, Em um deles, a educao fsica livre. No outro, direcionada [...] devido a uma [...] combinao estabelecida anteriormente, com a professora titular. Dentro das aulas direcionadas, atividades realizadas pelas entrevistadas foram: [...] rodas cantadas, jogos cooperativos[...]; brincadeiras; [...] dinmicas, jogos cooperativos, competies, etc.[...] Incluo, ainda, momento de alongamento, treino de passes de esportes e relaxamento na volta para sala.; [...] O alongamento e treino de passes incluo, pois acredito serem preparaes necessrias a posterior realizao de jogo especfico (futebol, vlei, etc.).; jogos cooperativos. As atividades listadas so coerentes com os contedos dos PCNs (BRASIL, 1997), entretanto percebe-se que so pouco variadas e h recorrncia dos jogos cooperativos. Este tipo de jogo importante, estimula a cooperao ao invs da competio, talvez com o intuito de trabalhar problemas de relacionamento entre os alunos. Cabe ressaltar que ao se fazer apenas um tipo de atividade, limita-se o aluno a utilizar apenas uma forma de estratgia e resoluo de problemas. De acordo com os PCNs (BRASIL, 1997, p.33), [...] fundamental a participao em atividades de carter recreativo, cooperativo, competitivo, entre outros, para aprender a diferenci-las. As aulas de Educao Fsica nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental passaram a ter uma frequncia menor nas escolas, a partir da justificativa nos seus planejamentos pedaggicos (PICCOLI, 2007). Nenhuma das entrevistadas mencionou essa justificativa, mas observa-se que as escolas tm carga horria 29
diferenciada para este componente curricular. Das 6 entrevistadas, metade tem em sua grade de horrios duas aulas semanais de Educao Fsica e as demais apenas uma aula. O que h de comum entre todas o fato de proporcionarem aos alunos pelo menos um momento por semana de aula livre:
Dentro deste cenrio, o componente curricular parece ter perdido a sua especificidade, de modo que qualquer atividade realizada na escola que priorize o movimento acaba sendo considerada educao fsica. (SILVA et al, 2008,p.17)
As entrevistadas do alguns indcios que levam a esse quadro de aula, em que os alunos podem movimentar-se livremente, entre eles o pouco envolvimento dos alunos em atividades dirigidas, fruto de um histrico escolar: Pouqussimas vezes se interessam e a brincadeira no dura muito tempo: desistem, cansam, enjoam...; Eles pedem muito pelo momento livre, se eu no deixo esse momento, reclamam e ficam bravos. Gostam das brincadeiras, principalmente as de competio, contudo no sabem perder, ficam angustiados, irritados, gritam e at choram.; [...] senti vontade de desistir e deix-los livres[...]. Existe tambm o pedido frequente por parte dos alunos para jogar futebol, situao encontrada tambm em meu estgio docente (2010/2) e ressaltado em duas entrevistas: Normalmente solicitam momentos livres, em que os meninos jogam futebol e as meninas conversam. e [...] os meninos insistem para apenas jogar bola. No futebol os movimentos esto automatizados, ou seja, so realizados sem que se pense sobre eles. Por isso uma nova proposta, um novo desafio, que no sempre a mesma atividade, constitui um problema a ser resolvido que chama a ateno do aluno para a reorganizao de gestos que j estavam sendo realizados de forma automtica. (BRASIL, 1997, p.36). De acordo com uma das estagirias, existe uma tentativa de possibilitar outras atividades para alm dos movimentos automatizados, [...] para que eles [os alunos] conheam outras coisas que no so futebol. Uma das entrevistadas disse que os alunos acolhem bem as propostas, mas ainda [...] alterno atividades dirigidas com perodos para brincadeiras livres com bola e corda. Parece haver essa flexibilidade da aula livre, como um espao em que o professor pode conquistar os alunos e possibilitar ... liberdade desses corpos j quase sempre disciplinados demais.; Tambm, atravs da Educao Fsica a criana pode expressar suas emoes, o que muitas vezes no possvel na sala 30
de aula., infiro que no espao de sala de aula as exigncias da escola e da prpria professora titular em relao aos outros contedos seja maior, e que a Educao Fsica, ou melhor, o espao que se d a ela, supriria a necessidade de expresso, socializao e liberdade. Para finalizar: [...] o tempo perdido fora da atividade se estabelece como uma grande dificuldade a ser superada. Dar-se conta da perda de tempo fora da atividade fsica ou do esporte e da repercusso negativa desse fato na motricidade das crianas, e criar estratgias para superar essa dificuldade so desafios emergentes a serem enfrentados por professores e aprendizes. Somente uma atitude conjunta de valorizao da Educao Fsica surtir efeito no respeito ao pouco tempo destinado prtica esportiva. (VALENTINI e TOIGO, 2006, p.58).
Relaciono esse tempo perdido fora da atividade com as atividades no direcionadas para a Educao Fsica, sem objetivos e avaliao, deixando de desenvolver habilidades especficas, posto que nas atividades livres os alunos procuram atividades j automatizadas. Com atividades planejadas pelo professor, torna-se possvel refletir sobre as aes que espontaneamente no surgiriam e assim desenvolver aspectos cognitivos.
4.3 Questo legal: a formao e a unidocncia
A partir das respostas das alunas, procurei indcios sobre a questo legal da Educao Fsica. Como j foi esboado, este um componente curricular obrigatrio nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e a lei no delimita quem necessariamente o responsvel por ministr-la. De tal modo, sendo o grupo pesquisado de professoras-estagirias unidocentes, entende-se que o componente curricular Educao Fsica seja tambm de responsabilidade delas, bem como Matemtica, Lngua Portuguesa, Cincias, etc. Conforme mencionado por uma das respondentes, No temos, ao longo do curso, nada muito especfico sobre educao fsica.[...]. Existe apenas a disciplina Jogo e educao, EDU 1049, (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, 2009), em que trabalha-se com alguns jogos e brincadeiras, sendo o que mais 31
se aproxima das atividades realizadas quanto Educao Fsica, entretanto seu foco no este componente curricular propriamente dito. A partir de algumas respostas, parece haver desconhecimento da obrigatoriedade da Educao Fsica e do que significa ser professor unidocente no estado. Conforme infere-se em duas respostas: Em muitas escolas um profissional habilitado quem ministra as aulas. Mas, [...] em muitas escolas o pedagogo o responsvel por todas as reas nos anos iniciais [...] e [...] sei que iremos nos deparar com situaes assim fora do estgio tambm [...], as professoras- estagirias no expressam diretamente que esta uma condio do estado, ao qual esto vinculadas nesse perodo de formao e que mesmo que no tenham tido formao especfica, so responsveis por este componente curricular, juntamente com as professoras titulares. A Universidade, mais precisamente o Curso de Pedagogia da UFRGS:
[...] adota a denominao ESTGIO DE DOCNCIA, em conformidade com o 3 artigo da Deciso n27/2007 CEPE/UFRGS os estgios de docncia so atividades de ensino de carter terico-prtico, obrigatrias integralizao de qualquer um dos cursos de licenciatura da UFRGS, conforme projeto pedaggico de cada curso, e compreendem um conjunto de atividades para a atuao do professor, envolvendo interao com a comunidade escolar, compreenso da organizao e do planejamento escolar, o planejamento, a execuo e avaliao de atividades docentes de acordo com a legislao vigente. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, 2009, documento no paginado).
Como formadora de docentes, que podem atuar em sistemas pblicos e privados de ensino, a Universidade pretende atuar em conformidade com a legislao vigente, conforme j explicitado. Observa-se, no entanto, que mesmo sendo a Educao Fsica obrigatria nos Anos iniciais do Ensino Fundamental (BRASIL, 1996), no existe uma orientao formal para esta prtica a partir das disciplinas obrigatrias e eletivas do Curso de Pedagogia. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, 2009). De modo geral, as alunas entrevistadas percebem a necessidade de maior formao na rea de Educao Fsica, devido a sua importncia para o desenvolvimento do aluno e da ausncia do professor especialista em parte dos contextos escolares, cabendo assim ao pedagogo assumir tambm este componente curricular. Nesse contexto, quem deseja desenvolver um trabalho alm da aula livre, ao deparar-se com a no aceitao por grande parte dos alunos, que j naturalizaram esse tipo de aula, isola-se em sua prtica, apenas procurando 32
literatura que auxilia na escolha e planejamento das atividades. Isso faz com que, sem formao e apoio na escola, conforme disse uma das entrevistadas, [...] o trabalho dependa muito de um professor pesquisador, dedicado e dinmico.
33
5 CONSIDERAES FINAIS
Algumas questes ficaram evidentes para mim e outras ainda podem ser mais exploradas. Por eu no ter tido disciplina especfica sobre Educao Fsica, nem um direcionamento sobre sua especificidade, percebo como se torna difcil falar sobre o que ela e qual a sua importncia. Uma disciplina ao menos traria algumas pistas nesse leque de possibilidades, pois existe a possibilidade de se trabalhar em uma escola sem professor especialista, o que depende do sistema de ensino ao qual se est vinculado. De qualquer maneira, mesmo que exista o chamado professor especialista, nada impede que o professor unidocente utilize-se da Educao Fsica em suas aulas. Considerando-se que no decorrer do Curso de Pedagogia existem lacunas em diferentes reas do conhecimento, que de certa forma foram supridas por uma demanda imediata no perodo de estgio docente, parece haver uma desvalorizao da Educao Fsica, ao ignor-la nas discusses, privilegiando outros componentes curriculares obrigatrios. Mesmo nas escolas, a Educao Fsica parece estar marginalizada, a partir do momento em que perde sua especificidade e qualquer movimento considerado como tal. Tudo isso evidencia a pouca importncia atribuda a este componente curricular obrigatrio, apesar do reconhecimento de sua relevncia para o desenvolvimento do aluno quanto aos aspectos motor, social, afetivo e cognitivo. Ressalta-se a necessidade de um trabalho dirigido pelo professor responsvel, em conformidade com os PCNs, no sentido de fazer da Educao Fsica efetivamente um componente curricular relevante e no relegado s aulas livres que pouco desafiam e favorecem o desenvolvimento da proficincia motora. Atravs desta pesquisa, analisou-se o modo como a Educao Fsica se apresenta nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, tendo como perspectiva as narrativas de professoras-estagirias atuantes em escolas estaduais. Ainda que todas tenham mencionado a aula dirigida em suas prticas docentes e reconheam aspectos importantes para o desenvolvimento da criana, todas as entrevistadas em algum momento utilizam a aula livre. Quanto s aulas dirigidas, demonstram utilizar algumas das atividades mencionadas pelos PCNs, buscando em livros e outros materiais, bem como em disciplinas cursadas, jogos e brincadeiras que possam 34
contemplar a aula de Educao Fsica. Percebe-se que o estgio no enfatiza a Educao Fsica, nem as escolas estaduais em que se faz estgio, e que algumas vezes demonstra ser um espao de liberdade para os corpos. A Universidade pretende em seu planejamento pedaggico formar docentes em consonncia com a legislao vigente, entretanto no Curso de Pedagogia no h disciplinas obrigatrias nem eletivas sobre esse componente. No compete a este trabalho dizer se o Curso de Pedagogia prepara ou no o professor unidocente plenamente, entretanto acredito que o estgio de docncia deva possibilitar repensar algumas prticas escolares e no apenas reproduzi-las, mesmo que se parta da premissa de que a formao constante e que depende tambm do empenho do prprio docente na busca por informaes. Concluindo o trabalho, o ttulo do livro de Freire (2001), Educao de corpo inteiro, permite ressaltar que a Educao Fsica faz parte dessa educao, tanto quanto os outros componentes curriculares, apesar de no ser to mensurvel. Este trabalho no pretende esgotar o tema, visto que se encontra pouca publicao a seu respeito, principalmente quanto aos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. A questo a se ressaltar, a partir deste trabalho, o modo como os conhecimentos da rea da Educao Fsica podem auxiliar na formao de pedagogos, colocando em discusso um trabalho conjunto entre esses profissionais.
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REFERNCIAS
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educao nacional. Braslia, 1996. Disponvel em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 01 abr. 2011.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE EDUCAO DEPARTAMENTO DE ESTUDOS BSICOS
Porto Alegre, 13 de maio de 2011. Termo de Consentimento O presente termo de consentimento diz respeito realizao de pesquisa para a culminncia do Trabalho de Concluso de Curso da aluna Priscila Mentz, vinculada ao Curso de Pedagogia da Faculdade de Educao da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A pesquisa produzida para anlise fundamentadora de seu Trabalho de Concluso de Curso (TCC) e tem como objetivo compreender o espao dado s atividades de Educao Fsica no mbito escolar, a partir das experincias de estgio com professores unidocentes. Para tal sero realizadas entrevistas individuais atravs de questionrio com alunos/as do 7 semestre do Curso de Pedagogia desta Universidade. Tu ests convidado/a participar deste estudo. Assim, teu consentimento solicitado para que a pesquisadora possa obter dados para a realizao de tal anlise e posterior elaborao de seu TCC. Os dados e resultados destas entrevistas sero analisados e utilizados APENAS para essa pesquisa. Os nomes dos/as entrevistados/as no sero mencionados no trabalho escrito e na apresentao oral do TCC. Desde j agradeo a tua participao nesta pesquisa! Eu, .................................................................................., pelo presente Termo de Consentimento, declaro que conheo os objetivos e as finalidades da pesquisa e concordo em participar da mesma. _____________________________________________ Entrevistado/a
QUESTIONRIO DE PESQUISA DE TRABALHO DE CONCLUSO PEDAGOGIA/UFRGS
1) Teu planejamento contempla atividades de Educao Fsica? Se afirmativo, de que forma?
2) Como os alunos acolhem essas propostas?
3) Qual a importncia dessas atividades para o desenvolvimento do aluno?
4) Durante o perodo de observao e entrevista no Estgio de Docncia, o professor titular informou a relevncia ou necessidade das atividades de Educao Fsica? Apresentou horrios especficos para essas atividades? Quais dias/horrios?
5) Como decides que atividades sero propostas?
6) Em relao ao Curso de Pedagogia e orientao de estgio, como essas atividades so vistas e contribuem para tua formao docente?
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Reitor: Carlos Alexandre Netto Vice-Reitor: Rui Vicente Oppermann
FACULDADE DE EDUCAO Diretor: Johannes Doll Vice-Diretor: Denise Maria Comerlato
DEPARTAMENTO DE ENSINO E CURRCULO Chefe: Russel Teresinha Dutra da Rosa Vice-chefe: Sergio Andrs Lulkin
COMISSO DE GRADUAO DO CURSO DE PEDAGOGIA Coordenadora: Maria Bernadette Castro Rodrigues
Catalogao Internacional na Publicao
M549 Mentz, Priscila Educao Fsica nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: narrativas de estagirias do Curso de Pedagogia / Priscila Mentz. Porto Alegre, 2011. 38 f.
Monografia (Licenciatura em Pedagogia) Faculdade de Educao, UFRGS. Orientadora: Dr Darli Collares.
1. Ensino fundamental anos iniciais 2. Educao Fsica I. Ttulo
CDU 372.4:796
Ficha catalogrfica elaborada pelo Bibliotecrio Cssio Felipe Immig, CRB10/1852
Departamento de Ensino e Currculo Endereo: Rua Paulo da Gama, s/n, Farroupilha, Porto Alegre, RS Brasil.