DEFESA - 056 - Layta Sena Ribeiro
DEFESA - 056 - Layta Sena Ribeiro
DEFESA - 056 - Layta Sena Ribeiro
PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
PETROLINA – PE
2021
LAYTA SENA RIBEIRO
PETROLINA – PE
2021
Ribeiro, Layta Sena
R484p Pesquisa-formação com atores escolares em ciclos de debate sobre
saúde, acolhimento e cuidado / Layta Sena Ribeiro. – Petrolina-PE, 2021.
xvi, 177 f.: il. ; 29 cm.
Inclui referências.
CDD 362.20981
Work carried out whit the support of the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior – CAPES
AGRADECIMENTOS
Para iniciar tão profunda sensação de congratulação, visto que o caminho de produção
científica muitas vezes me adoeceu com agruras relativas a prazos cronológicos que
desconsideram o tempo Kairós, relativo ao sentido que vibra o coração, gostaria de usar uma
metáfora ligada a experiência de Paulo na escrita a cristãos de Éfeso sobre a armadura da fé.
Pretendo fazer uma correlação, usando essa representação, para com minha família e amigos-
irmãos-amores que nessa trajetória foram instrumento para meu decurso de convalescência. Nada
mais justo, posto que este trabalho, dentro do campo das ciências psicológicas, sob o
entendimento da atenção psicossocial busca discutir a saúde como um processo de idas e vindas
situadas em um horizonte concreto e epocal, mediado, por sua vez, pelas relações que forjam a
construção de sentidos subjetivos, o que me colocou nesse lugar de pensar sobre minha própria
saúde estando pesquisadora em tempos que atravessaram uma pandemia. Bom, não pretendo ter
fins religiosos e/ou teológicos com o uso dessa figura de linguagem, mas apenas usá-la como
fonte de inspiração. Paulo utiliza itens que compõem uma armadura de guerra para sugerir
algumas características a esses acessórios. Os elementos são: um cinto da verdade, uma couraça
da justiça, sandálias da paz, um escudo da fé, um capacete da salvação e uma espada do espírito.
O cinto quero relacionar com meu orientador Marcelo Ribeiro a quem junto comigo buscou
infalível, mas como parte da construção de uma narrativa de um saber produzido coletivamente
entre pessoas do cotidiano da escola pública e pessoas da universidade. Não posso esquecer que
esse cinto articulador também se liga aos meus colegas do LEPPF e do mestrado que
compuseram sentido e alento a minha formação como psicóloga e pesquisadora. A couraça, peça
originalmente utilizada para proteger zonas peitorais e dos flancos em combates, quero oferecer a
todos da comunidade escolar que contribuíram com a pesquisa, visto que produzimos em
coletivo parâmetros justos e éticos forjados em colaboração para trabalharmos em meio a tantas
adversidades impostas pelo estado, tanto no que diz respeito a falta de recursos para pensar a
crise sanitária que ainda vivemos. Quanto as sandálias faço referência a minha mãe, meu
sustentáculo central, aquela que traz paz e conforto ao meu coração. Muito obrigada por tudo!
Pelo companheirismo, fidelidade, solicitude, zelo, apreço... e até mesmo pelo que é da ordem do
impossível de nomear. Ainda, com as sandálias agradeço a meus irmãos, Raabe e Elias e ao meu
pai, que sempre estiveram na díade herói/bandido nesse caminhar, mas são quem me dão alento
na hora do aperto. O escudo se liga a Jesus Cristo, autor e consumador da minha fé. Essa fé que
ainda que esteja abalada e em decurso de questionamentos, não deixa de ser referência para
minha rotina e projetos de vida. O capacete dedico aos meus amigos, fonte de camaradagem,
alegria, cuidado, esperança, desvelo, carinho e, finalmente, salvação. Vocês são muito
importantes, pois são refúgios e escapes, além de ordenadores de muitas bagunças que poderiam
me tirar do eixo que me alinha a saúde. O meu muito obrigada aos que acompanharam mais de
perto o processo de criação e as angústias envolvidas: Ana, Jamille, Wesley, Queila, Tainá,
Jayelen, Hellen, Silvio e Hatinna. Agradeço ainda aos demais amigos e colegas que pelos
recursos satíricos do meu “close friends” do Instagram muito me acolheram e fizeram sentir bem
finais do mestrado soprou no meu espírito fôlego, entusiasmo e leveza. Em tempos tão áridos e
desesperançosos, busco em Paulo Freire a mania teimosa de esperançar por um mundo mais
justo. Viva a escola pública! Viva o SUS! Viva a educação em saúde! Viva a classe trabalhadora
rumando a transformação da realidade!
“Estar ‘com’ os outros significa respeitar nos outros o direito de ‘dizer a sua palavra’.”
Paulo Freire
Ribeiro, L. S. (2021). Pesquisa-formação com atores escolares em ciclos de debate sobre saúde,
Francisco]. 177 p.
RESUMO
Este trabalho rompe com o paradigma científico positivista pela perspectiva da etnopesquisa e
da multirreferencialidade, viabilizando um processo formativo com professores, técnicos e
estudantes do ensino médio sobre temáticas de saúde mental de interesse da comunidade
escolar, além de ter evidenciado contextos de risco e proteção ligados a esses conteúdos. A
pesquisa aconteceu em uma escola pública estadual da Bahia, seguindo todo os preceitos
éticos necessários, com a ocorrência de três momentos que denominou-se por ciclos, no qual
em primeiro lugar realizou-se 5 encontros em formato de rodas de conversas, que versaram
sobre saúde, competências socioemocionais, o tempo e a vida autêntica, cuidado e bullying,
bem como se realizou uma pesquisa sobre as percepções relacionadas a estar na escola. Já no
segundo ciclo, com a incidência da pandemia, realizou-se encontros virtuais para acolher os
participantes e tecer sentidos sobre o isolamento social e as repercussões sociais e
educacionais geradas por ele. No terceiro ciclo, finalizando a pesquisa realizou-se entrevistas
narrativas que abarcaram a rememoração das histórias vividas na escola no período da
infância, da adolescência e nos momentos voltados a pandemia. Os dados foram colhidos por
meio de diários de bordo produzidos por todos os integrantes, pela observação participante,
pela dinâmica proveniente do grupo formativo e pelos materiais produzidos virtualmente, seja
via mensagem, videoconferências, fotos, poesias ou desenhos, que por sua vez, foram
analisados por meio da análise de conteúdo pautada na hermenêutica intercrítica proposta por
Macedo (2009) visando à compreensão das interlocuções oportunizadas, que foram transcritas
em sua literalidade e organizadas por meio do retorno as questões norteadoras através da
problematização desse material quanto a correspondência aos objetivos. Posteriormente
organizou-se os sentidos similares em considerações ainda que (in)conclusivas. Daí então, fez-
se a construção inicial do corpus empírico, direcionando a categorias analíticas, por intermédio
da redução fenomenológica. Notou-se que a partir da abertura dos participantes a proposta, a
dinâmica relacional do grupo pôde sair de um movimento hierárquico para dar lugar a posturas
mais respeitosas, compreensivas, autônomas e colaborativas. Percebeu-se ainda que a
implicação é um importante recurso para metodologias participativas que visam a
conscientização e emancipação de seus atores. Em relação a contextos de proteção, as relações
entre pares demonstraram ser imprescindíveis para a promoção de saúde, assim como viu-se
que para os estudantes os educadores exercem influência positiva para seu desenvolvimento,
além de serem referência para o enfrentamento de contextos de risco. A aproximação familiar
decorrente do isolamento social também suscitou um papel relevante para a proteção da saúde
mental. Evidenciou-se que a escola apresenta importância para a formação existencial e que a
pesquisa em questão pôde ser ponte para acolher o grupo frente ao sofrimento advindo das
angústias da pandemia e do distanciamento social. No que diz respeito aos contextos de risco,
vulnerabilidades socioeconômicas, questões institucionais e interacionais, representadas por
violências simbólicas foram elencadas como problemáticas para a saúde. Assim, reafirma-se a
importância da escola pública como lugar privilegiado para a criação de ações inventivas que
subvertam a lógica massificadora e capitalista para reprodução de injustiças, já que a educação
que paute componentes da vida pessoal, profissional, comunitária e cidadã pode potencializar
a luta na transformação das condições de vida humana.
This work breaks with the positivist scientific paradigm from the perspective of ethnoresearch
and multi-referentiality, enabling a training process with teachers, technicians and high school
students on mental health topics of interest to the school community, in addition to having
highlighted contexts of risk and protection related to those contents. The research took place in a
state public school in Bahia, following all the necessary ethical precepts, with the occurrence of
three moments called cycles, in which, in the first place, there were 5 meetings in the format of
conversation circles, which dealt with on health, socio-emotional skills, time and authentic life,
care and bullying, as well as a survey on perceptions related to being at school. In the second
cycle, with the incidence of the pandemic, virtual meetings were held to welcome participants
and make sense of social isolation and the social and educational repercussions it generates. In
the third cycle, at the end of the research, narrative interviews were carried out that encompassed
the recollection of the stories lived at school in the period of childhood, adolescence and in
moments related to the pandemic. Data were collected through logbooks produced by all
members, participant observation, dynamics from the training group and materials produced
virtually, whether via message, videoconferences, photos, poems or drawings, which in turn
were analyzed through content analysis based on the intercritical hermeneutics proposed by
Macedo (2009) in order to understand the possible dialogues, which were transcribed in their
literalness and organized by returning the guiding questions through the problematization of this
material regarding the correspondence to the objectives. Subsequently, similar meanings were
organized in considerations, although (in)conclusive. Then, the initial construction of the
empirical corpus was made, directing to analytical categories, through the phenomenological
reduction. It was noted that from the opening of the participants to the proposal, the relational
dynamics of the group could leave a hierarchical movement to give way to more respectful,
understanding, autonomous and collaborative postures. It was also perceived that involvement is
an important resource for participatory methodologies aimed at raising awareness and
empowering its actors. Regarding protective contexts, peer relationships proved to be essential
for health promotion, as it was seen that for students, educators exert a positive influence on their
development, in addition to being a reference for coping with risky contexts. The family
approach resulting from social isolation also played an important role in protecting mental
health. It was evident that the school is important for existential training and that the research in
question could be a bridge to welcome the group in the face of suffering arising from the
pandemic anguish and social distancing. With regard to risk contexts, socioeconomic
vulnerabilities, institutional and interactional issues, represented by symbolic violence were
listed as problems for health. Thus, the importance of the public school is reaffirmed as a
privileged place for the creation of inventive actions that subvert the massification and capitalist
logic to reproduce injustices, since education that guides components of personal, professional,
community and citizen life can enhance struggle to transform the conditions of human life.
Formação......................................................................................................................141
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
1. Introdução .................................................................................................................... 18
3.10 Potencialidades e dificuldades encontradas através da entrevista narrativa remota ........... 107
3.12 Revisitar a identificação com o trabalho docente: suas cores e dissabores ........................ 126
3.13 Ciranda estudantil e construção de afeto entre meninos e meninas .................................... 129
3.14 A relação entre professores e alunos entre duas vias: o autoritarismo e a autoridade
referencial ...................................................................................................................................131
6. Considerações finais..............................................................................................................144
Referências..................................................................................................................................147
Apêndices ...................................................................................................................................
epistemologicamente, dado que nos processos de produção histórica dos modos de vida se
científicas, uma variação de entendimentos sobre esse campo. Nesse sentido, há um desafio no
campo científico de que a saúde seja sistematizada gnosiologicamente, posto que buscar
conceituações sobre sua natureza, mesmo que não tentem esgotar sua amplitude é um
Sendo assim, a saúde vista como um problema pode ser encarada não só de um
ponto de vista prático, mas filosófico, político, fenomenal e metodológico. A saúde também pode
abordada como uma construção metafórica, simbólica e ideológica a partir da visão colocada
pela cultura. Em tempo, a saúde pode ser vislumbrada por intermédio de dados e indicadores
saúde pode ainda ser compreendida como um valor comunitário e social regulado pelo direito
social e intermediado por serviços públicos que visam o bem comum. Por fim, a saúde por ser
apreendida pela noção de práxis que a conforma em áreas e subáreas do saber que se ligam a
esclarecedora da noção de saúde adotada nesta investigação, já que essa compreensão articula os
tipos de práticas construídas ao longo da trajetória deste trabalho. Além disso, debate-se de qual
panorama epistemológico se percebe a adolescência e sua ocupação na escola, sua relação com a
comunidade escolar e com o professor, que em sua formação e exercício da profissão é imerso
em desafios próprios ao contexto educativo.
da sua compreensão, dado que a tentativa por essa apreensão se faz mediante a abertura do
olhar científico para a contribuição de diversas áreas do conhecimento. Destaca-se que tais
interfaces variam desde as ciências médicas às ciências humanas, políticas e sociais. Outro
apontamento que pode ser colocado é que as manifestações culturais, religiosas e ideológicas
das populações estudadas não podem ser excluídas dessa complexa análise (Amarante, 2007).
Apresentada essa noção, cabe mencionar também que a saúde mental não se perfaz
apenas como campo do conhecimento, mas como uma área de atuação consolidada e
fundamentada em paradigmas assinalados pelo saber biomédico. Ela ainda se manifesta como
um conjunto de práticas em construção, pois, no que diz respeito a visão psicossocial da saúde
mental, que vem cada vez mais se estabelecendo no cenário da saúde pública, há muito ainda
que se dimensionar pelo fato de que nessa perspectiva a existência humana é concebida como
concentrada em uma orientação psicopatológica da vida, no qual modos de vida que fugissem
saúde, visto que no trabalho em saúde há uma interlocução com a assistência social, a
educação, a justiça, entre outros setores que partilham desse entendimento de educação em
saúde, trazendo reverberações verticalizadas a sua prática.
por este trabalho será a experiência, isto é, a construção de uma realidade psicológica-
gerando com isso reflexões mais aprofundadas acerca dos significados presentificados pela/na
entanto, a experiência ainda que não simbolizada, por se dar no corpo, deixa resquícios e
contradições e tensões conscientes ou não. Por esta razão as relações dispostas em encontros
são necessárias para a produção de sentidos (Anéas & Ayres, 2011). Essa noção visa romper
homem e verdade com a introdução desse saber filosófico a sua práxis. A utilização do método
profissional desse campo produz/reproduz suas ações. Sabe-se que essas noções podem estar
ancoradas em relações de poder que propagam iniquidades sociais, e/ou ainda o menosprezo
pelas práticas populares, que muitas vezes, se dão como formas particulares de resistência as
A lógica de educação em saúde que será debatida no presente estudo é a que valoriza
uma visão de homem integral, ou seja, concebe a pessoa como um ser biopsicossocial, o que
exige uma atuação profissional crítico-reflexiva voltada à cidadania e a luta pela melhoria das
condições de vida das pessoas, pois as suas realidades estão, por seu turno, entranhadas em
Contudo, faz-se necessário discutir o modelo biomédico de saúde que ainda hoje
perpassa algumas concepções relativas aos modos de cuidado em saúde. Este parâmetro,
acima mencionado, detém suas práticas sob um viés higienista e biologicista, pois as suas
pode ser caracterizada pela sua função reguladora, se objetivando no controle sobre os corpos
Assim, o especialista apareceria como esse canal de orientações que poderia fomentar
debates que implementariam modificações de hábitos adoecedores, no que diz respeito, apenas
as práticas de cunho sanitarista (Renovato & Bagnato, 2012). Isso, por sua vez, influenciou o
trabalho de psicólogos na escola que tratavam do tema da saúde por um viés higienista,
seguindo tradições médico-organicistas, e que será descrito a seguir com mais propriedade.
campo de prática voltado à medição e avaliação de doenças nos escolares, motivada pela
interesses socioeconômicos. Dessa forma, existia um padrão claro do que seria considerado o
ideal de corpo saudável, e todo aquele que não participasse desse modelo deveria ser
A educação com o foco sanitarista concebe a escola como espaço privilegiado para o
dos anos cinquenta no Brasil, muitas propostas pensavam o insucesso escolar como uma
questão neurológica ou causada por desnutrição infantil, perspectivando a partir daí, práticas
num viés unicamente patológico e acrítico, pois as demais questões sociais de saúde eram
novas noções sobre saúde no debate na escola, pensando a mesma então, como uma agente de
que o desenvolvimento de saúde é uma prática de libertação das opressões, sejam elas
subjetivas, sociais, culturais ou relacionais. O que torna o papel do professor importante para o
incentivo do afloramento de posicionamentos críticos, pois ao dispor de uma atuação que leve
pode-se possibilitar uma consciência analítica dos fenômenos contextuais na vida dos sujeitos,
que poderão compreender-se como “refazedores permanentes” das suas realidades (Freire,
2018a).
dialógica no processo de construção da educação, uma vez que levando em consideração este
com isso, comprometimento com o desvelamento da realidade que é construída. Uma ideia de
sua teoria que aqui é relevante ressaltar é o de que a realidade se circunscreve de maneira
coletiva, pois todos possuem saberes. Sendo assim, pode-se ampliar essa ideia ao fato de que o
que, por sua vez, tem como proposição transformar condições de vida. Eles assinalam ainda,
que mudanças nos processos individuais de tomada de decisão devem ser orientadas por ações
saúde na escola, apresenta uma história marcada por visões e práticas hegemônicas, embora
parágrafos seguintes.
em perspectivas normatizantes, no qual alguns estudantes são tidos como saudáveis enquanto
outros não.
dessa área, no que diz respeito aos aspectos familiares, para incorrer em explicações de
considerar que seu nível socioeconômico pode estar envolto em desprivilégios, e, com isso,
O modelo crítico, por sua vez, representa uma preocupação com a contextualização
sócio-histórica dos atores nas realidades institucionais visando, com isso, a luta e superação de
um todo, haja vista serem pautadas pelas vivências históricas, econômicas, sociais, culturais e
1.4 A adolescência
fase da vida é um dos pontos centrais de discussão neste trabalho, que abarcará como público,
adolescência como uma construção sócio histórica, marcada por características e significações
mediadas pela cultura, não só no que diz respeito a questões biológicas, mas também sociais e
psicológicas, visto que essa simbolização se baseia em perspectivas da época em que se vive,
por meio dos atores sociais e as representações expressas na linguagem (Ozella & Aguiar,
2008).
Todavia, a noção que aqui se emprega não é consenso entre os estudiosos, que ainda,
transformação, pois na interação com o outro e a cultura, o sujeito se coloca e ressignifica suas
posições, ideias, valores e afetos em um nível interpsicológico. Com isso, rompe-se com
convicções individualistas e estanques, porque são nas tensões, conflitos e discrepâncias que
normativos, que se preocupam apenas com a transmissão de informações, visto que se baseiam
escolar são sujeitos a uma lógica econômica que intensifica e precariza condições de trabalho,
problematizador e colaborativo, dado que todos os atores da escola são tidos como autores da
1.5 O professor
ambiente escolar forjadas pelas experiências dos atores dessa comunidade, contribuindo com
isso, para práticas culturais imprimidas a escola. Sendo assim, um dos principais integrantes
do processo acima descrito são os professores, aqueles que expostos ao sofrimento dos
estudantes, são os mais imbricados na discussão dessas questões, por serem justamente as
conta da precarização do trabalho docente, que, pode ser percebida no ritmo acelerado de sua
recorrente, entre outras problemáticas que o docente enfrenta no seu cenário de prática (Silva
& Santos, 2016) influenciando por sua vez, nas suas condições de saúde.
docente, bem como também sofrimento psíquico, pelo fato de ser atribuído um caráter
requerido do mesmo uma formação continuada constante, com cada vez mais cursos que o
inserem, por sua vez em um viés burocrático, competitivo e alienado (Silva & Santos, 2016).
Sabe-se que o âmbito escolar pode ser favorável à promoção de saúde por também
poder funcionar, na contramão das questões acima levantadas, ou seja, como um espaço de
evoluem apenas com intervenções que visem à cognição, mas também com estratégias que
fortalecidos e emancipados (Longarezi & Silva, 2014). Para tanto, os professores e os demais
facilitadoras que possam auxiliar na criação de uma escuta sensível e/ou de ações que
suplantem essas questões tão desafiadoras, mas que por vezes não estão presentes nas matrizes
curriculares e pedagógicas do ensino a docentes. (Tomé et al., 2017; Santana & Neves, 2017).
críticos que se atentam aos contextos sociais que circundam os educandos e que delimitam a
pesquisadores da educação, mas que deve estar interligada com a verdadeira transformação da
Tendo em vista, que o viés educativo adotado neste trabalho considera o processo de
são vistos como agentes de contribuição elucidativo nas discussões que possam vir a surgir no
âmbito escolar. Dessa maneira, a participação dos mesmos é fundamental para a construção
respeito da saúde mental, que, por sua vez, circundam o ambiente educativo. Para, e, além
disso, se investigou quais compreensões se desvelaram acerca desse campo, nas narrativas
visto que parte da noção de que os sujeitos devem estar implicados no processo dessas ações,
Para tanto, optou-se pela abordagem da pesquisa qualitativa a partir da orientação teórica-
pressupostos que apresenta e sua pertinência em relação ao tipo de estudo preconizado. O cunho
2007).
Sendo assim, o presente estudo se propôs a propiciar uma formação em saúde mental
Juazeiro-BA objetivando fomentar debates sobre práticas e temáticas que envolvessem condições
de proteção e entendimento sobre risco a saúde. Além de investigar a dinâmica relacional que
seria disposta através de encontros periódicos, tanto na modalidade presencial, como virtual, com
1.7 Justificativas
relação a noções e temáticas de saúde mental que atravessam o contexto escolar, uma vez que
essa demanda se mostrou recorrente nas experiências de extensão ocorridas ainda na graduação
Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) que apresentavam em suas explanações indícios empíricos da
necessidade formativa da comunidade escolar sobre assuntos referentes a saúde mental.
estudos que unam discussões sobre o campo da saúde mental, em uma perspectiva psicossocial,
no universo escolar por parte de psicólogos escolares em exercício de função. Percebeu-se, por
meio de uma revisão integrativa da literatura, que os trabalhos acadêmicos no âmbito da escola,
em sua maioria, se devem aos universitários, o que pode estar atrelado a uma lacuna duradoura
de políticas públicas que insiram o psicólogo nesse contexto (Ronchi et al., 2018). É importante
mencionar que a lei 13.935 promulgada em 11 de dezembro de 2019 que dispõe sobre a
prestação de serviços de Psicologia e de Serviço Social nas redes públicas de educação básica é
uma conquista atual, ainda em fase de cumprimento e que impulsionará a produção de pesquisas
ações, discussões educativas e promoção da saúde (Carvalho, 2015; Fontenele et al., 2017), pelo
acesso a essa instituição se apresentar como um direito que deve ser resguardado pelo Estado e
Nacional (LDB) preveem para as crianças e adolescentes garantias como a saúde, educação e o
respeito a suas ideias, valores e subjetividades em desenvolvimento (Lei n. 8069, 1990; Lei n.
9394, 1996). Dessa maneira, o mote proposto por este estudo se coloca como pertinente, na
idiossincráticas.
que, esse tipo de estudo se propõe a promover discussões em colaboração, a partir das vivências
pessoais, quebrando, assim, dicotomias excludentes e viabilizando a participação emancipatória
dos agentes escolares sobre a sua realidade (Longarezi & Silva, 2014). Esse tipo de pesquisa
intenta a participação efetiva dos seus colaboradores, entendendo que desde a configuração do
maneira conjunta. Em outras abordagens de pesquisa têm-se procedimentos, muitas vezes, que
não interessam ao integrante, ou ainda, que não contribuem de forma concreta na sua realidade.
Isso pode acontecer pelo projeto ser tecido de maneira unilateral ou ainda por não pensar em uma
escola pública, como já mencionado, traz à tona, a urgência em discutir temas em saúde mental
(Grolli et al., 2017; Lopes et al., 2016). O que faz da presente proposta, uma importante
sobre a pesquisa-formação e a saúde mental no contexto escolar, sob o viés multirreferencial, que
1.8 Objetivos:
Geral: Como o estudo se refere a uma pesquisa-formação exige-se com isso um duplo
a saúde mental que sejam de interesse da comunidade escolar como um todo, além de
Específicos:
que farão parte do grupo de formação, intervenções que visem abordar as temáticas
do processo formativo.
2. Sobre o método e seus sentidos
popular na produção de saberes. Assim, esse novo modo de fazer ciência pauta suas práticas na
diversos atores envolvidos nas realidades sociais distintas (Longarezi & Silva, 2014).
Neste molde de pesquisa, apreende-se também que o pesquisador não deve ignorar a sua
problemáticas que se inserem com a sua participação, ou seja, seus interesses e racionalidade
cartesiana. Assim, este modo de pensar a pesquisa, insere uma visão dialógica a ciência, pois
pesquisado, que impõe, por sua vez, lugares rígidos a esse processo (Perreli et al., 2013).
pressuposto que constitui esse tipo de práxis. Acredita-se que a pesquisa-formação congrega
perspectivando a mesma em sentido relacional, cotidiano e plural, saindo assim de uma noção de
2009).
A multirreferencialidade se estreita com a bricolagem cientifica em um ato gerador de
saber/fazer ciência, da qual se utilizam linhas de pesquisa e conceitos teóricos múltiplos no ato
possibilita leituras amplas sobre os fenômenos, por suscitar no pesquisador uma visão crítico e
capacidade interpretativa dos fenômenos, que nunca se configuram, nessa perspectiva como
estanques, pois os processos de pesquisa devem abranger uma complexidade de olhares diversos
elucidação do objeto cognoscível que aponta para uma não neutralidade e o seu compromisso
social, político e ideológico, pois há uma escolha deliberada de inter-relações mais significativas
2.1 Participantes
mostraram assíduos ou não ao longo do processo, dentre eles estudantes do ensino fundamental 2
e médio, entre 14 e 17 anos, de ambos os sexos; a pesquisadora proponente (uma vez que a
estudante de ensino médio de outra instituição como bolsista em iniciação científica, professores,
integrantes da comunidade escolar, que por sua vez, abarcam a realidade vivida no
escola, com o auxílio da pesquisadora proponente e por livre adesão dos participantes e seus
responsáveis, obedecendo todos os regulamentos éticos. Este grupo teve um caráter semiaberto,
considerando que o estudo abarcou um tempo prolongado e perdeu integrantes durante seu
apesar de que esse número diminuiu consideravelmente. Essa questão em específico será melhor
detalhada nos resultados que demonstram o processo de forma mais detalhada, visto que esses
por dois grupos: estudantes e educadores, a fim de que se resguardassem suas identidades, de
acordo com as prerrogativas da Resolução CNS nº 510 de 2016. Referente aos colaboradores foi
possível receber suporte psicológico da pesquisadora a fim de minimizar danos causados durante
a realização do estudo, o que não ocorreu motivado por essa questão, mas sim por conta de
Juazeiro. A escola funciona nos períodos matutino, vespertino e noturno (também estendido ao
distrito de Massaroca localizada no km 52), com atendimento a cerca de 1100 alunos, de idade
entre 12 a 40 anos, ambas não somente pertencentes ao bairro em que está localizada, mas
também de bairros circunvizinhos. A escola possui uma equipe administrativa composta por 1
pedagógica com uma coordenadora pedagógica, 39 professores, com escolaridade variando entre
especialização e mestrado. A escolha por este local se deu por conta de uma sugestão do
perspectiva de cada integrante do grupo sobre as atividades e produtos concretizados por meio
a reflexão sobre a prática do pesquisador, facilitando, por sua vez, o contato com as afetações
história de vida do informante. Através desse diálogo é possível compreender quais versões
subjetivas fazem sentido para aquele sujeito, dentro da perspectiva histórico-temporal de que
Além disso, é necessário compreender que a dinâmica dos próprios encontros do grupo
e os materiais produzidos por este, que foram explanados no decorrer do estudo pressupõe
uma construção horizontal, participativa e autônoma dos integrantes, o que indica também um
detalhamento desses produtos mediadores dos debates estão na sessão dos resultados, visto
que a cada encontro a proposição indicava a necessidade de matérias distintos, bem como pelo
fato de que a pesquisa-formação aponta seus frutos pela descrição do seu processo.
2.4 Ambiente
deu por se tratar de um ambiente público, que pôde ser oportunizado pela instituição,
consequentemente para a realização do trabalho. Nesse sentido, foi utilizada para a realização
cadeiras, quadro branco, estantes e armários com livros, já que a mesma ficava disponível para
o debate conjunto.
2.5 Riscos e benefícios
riscos no decorrer de sua realização. Como risco, destaca-se: a sensação de eventual desconforto
diante do tempo dispensado aos encontros ou ainda, a discussão dos conteúdos que poderiam vir
a ser sensíveis para os participantes. Dessa forma, com a sinalização de algum integrante sobre
algum possível incômodo, o mesmo podia se retirar da pesquisa sem nenhum prejuízo e solicitar
se comprometeu a prestar assistência imediata, integral e pelo tempo que fosse necessário aos
Quanto aos benefícios, propôs-se a oportunidade de reflexão sobre a saúde mental na escola,
além dos produtos a serem desenvolvidos de maneira conjunta com o grupo, a exemplo de
cartilhas, folders, livretos, oficinas, entre outros. Contudo, a todo tempo ressaltou-se que não
Assentimento (em apêndice) junto àqueles que colaboraram com o estudo, além de assinatura de
Termo de Confidencialidade e Sigilo e Declaração de Compromisso (em apêndice) por parte dos
dos dados e entrega do trabalho foi a devolutiva dos resultados à escola participante, além da
criação de materiais em conjunto a partir dos encontros proporcionados pelo estudo. Além disso,
fazem de forma linear, já que suas bases epistemológicas, políticas e ideológicas creem no
processo dinâmico e relacional como parte da investigação. Desse modo, não seria possível
descrever seu passo-a-passo de maneira estritamente ordenada, já que seu caráter não se fecha
em uma sequência seriada. Assim, para melhor compreensão se utilizarão quadros que visem
Universidade Federal do Vale do São Francisco. Somente após a sua aprovação, sob protocolo
acerca dos objetivos da pesquisa através de uma leitura prévia em conjunto, no qual todos
de 2016 para a conduta de pesquisas com seres humanos. Os adolescentes, por sua vez,
levaram para casa o TCLE para leitura e anuência de seus responsáveis, para que na próxima
reunião entregassem, o que assim se realizou. Após isso, foi conversado com o grupo a
como também o seguimento de regras relativas ao tempo limite de entrada no grupo após o seu
Logo mais foi requisitado aos participantes, por meio de questionamento direto ao
coletivo, temas em saúde mental que interessavam aos mesmos para o debate nos grupos
formativos. Também foi explicado para o grupo como se faria a construção dos diários de
bordo, apontado para eles sua funcionalidade e cedendo um material já pronto, em um formato
de caderneta para suas respectivas anotações após cada encontro realizado. Os diários ficaram
com os colaboradores, sendo requisitados pela pesquisadora proponente sempre que necessário
para avaliação das reuniões e ao final dos encontros presenciais decorridos em 2019.
menos uma hora e meia a duas horas. O número de encontros escolhido se deu pela
do projeto, bem como listou-se o número do telefone celular dos participantes para a criação
2019, que ocorreram semanalmente - tento em vista a resposta do comitê de ética que saiu já
partir de rodas de conversa, que poderiam por sua vez, em um movimento dialético
participação atuante em debates de temas pretendidos pela comunidade escolar. Apesar de não
poder ter havido mais encontros presenciais em 2020, os encontros virtuais possibilitaram a
complexidade, usando como suporte para sua compreensão noções psicossociais e também a
importância do “cuidado” para a sua produção. Para suscitar o debate, utilizou-se o texto
relacionamentos. O interesse para esse primeiro encontro foi questionar quem estava habilitado a
desempenhar tais comportamentos, bem como discutir sobre sua relevância e reconhecer as
habilidades acima relatadas. Por fim, projetou-se uma animação para validar a importância
No quarto encontro dialogou-se sobre o tempo como ponte para discussões sobre modos
de vida autênticos, utilizando como recurso a escuta da música “Paciência” do cantor Lenine
através de uma caixa de som portátil e um telefone celular com a função bluetooth. Ao final, pela
atmosfera de cuidado gerada através das reflexões, uma das professoras sugeriu e realizou um
de escuta entre os integrantes do coletivo formativo, no qual se deram instruções para ouvir sem
interventivas para o que quer que fosse apresentado. Logo depois, realizou-se a discussão da
Como resposta a dinâmica das reuniões e demandas que eram percebidas, ocorreram três
investigação da demanda dos estudantes da escola como um todo foi o questionário com uma
escala do tipo Likert sobre condições de saúde dos estudantes, que abarcava questões como a
percepção e vinculação dos alunos com relação a escola, os professores e colegas, para analisar
acomodação do pesquisador ao campo, bem como também dos outros atores implicados, dado
que o olhar que vem de fora do contexto pesquisado, muitas vezes é recebido com receio até que
haja de fato uma anuência e sinergia do grupo, objetivando assim que ambos se organizem para
pensar sobre os problemas e suas possíveis soluções. Assim, a planificação pretende levantar as
intercorrências originadas pelo ano de 2020, no que diz respeito a pandemia, e no caso do
trabalho em questão, a falta de aula nas escolas públicas, consequência do distanciamento social
proposto como maneira de prevenção à doença, dado que o estado da Bahia se organizou para
ofertar ferramentas de estudo de acesso remoto, mas com a pouca aderência estudantil, culminou
na junção dos anos letivos de 2020-2021, no ano que vigora. A seguir se apresenta um quadro
Com os rumos extemporâneos que a pesquisa foi levando, novos desígnios foram
precisos de serem tomados. Porém, com o início dessas eventualidades, ainda muito incertas,
acordou-se que os encontros com o grupo se formariam esporadicamente por via remota, em
alguma plataforma de encontros virtuais, variando entre Zoom e Google Meat. Isso acabou sendo
um obstáculo para a adesão de muitos estudantes com problemas de conexão com a internet e
com as novas demandas domésticas e trabalhistas que se formavam, mediante as dificuldades
interpostas pela pandemia. Nesse interim, a grande maioria dos professores também tiveram
dificuldades para engajarem-se na nova proposição de trabalho, dado que muitos sentiram forte
impacto na percepção dos seus processos de saúde-doença, como relatado por eles e pela
Assim, essas reuniões que objetivaram, inicialmente, não perder a vinculação com a
escola e com o grupo formativo, perfazendo cinco encontros durante o ano de 2020 e um último
em 2021, somando seis momentos com o grupo, puderam construir um espaço significativo para
imperava no começo desse flagelo que mudou a cadência da vida como outrora conhecida.
participantes do coletivo formativo - que iam aderindo cada vez menos as proposições, deixando
mesmo de participar ativamente, no qual 11 integrantes ainda mantinham contato, apesar de que
minutos a uma hora e meia, com uma periodicidade que variou entre mensal a bimestral, a
depender das condições afetivas e ocupacionais dos participantes. Ao final dessas reuniões
coletivo, mesmo antes dessa mudança na pesquisa, nos quais eram relatados os sentimentos,
Nos intervalos entre esses encontros e a incerteza sobre o regresso às aulas e a criação
de uma vacina que proporcionasse uma volta, mesmo que progressiva, a vida usual, se é que
ainda podemos mencionar isso, houve um momento da vida acadêmica da pesquisadora dedicado
a participação em cursos de formação, a presença em lives no Instagram do Laboratório de
Estudos e Práticas em Pesquisa-Formação (LEPPF), conduzido, por sua vez, pelo orientador
desta pesquisa, para tratar de temas ligados a saúde mental e a pandemia, como também a
dos encontros que aconteceram em 2019 e as afetações produzidas por estes, bem como o outro
relatou brevemente os resultados de entrevistas feitas com estudantes sobre a vivência pandêmica
fora da escola. No que diz respeito aos artigos, um descreveu de maneira mais detalhada como os
encontros de 2019 acarretaram além do contato inicial com a escola, transformações nos modos
de subjetivação dos participantes, como relatado por eles, o outro objetivou compreender o
estado de saúde mental dos adolescentes no período de isolamento social, buscando conhecer os
contextos de risco e proteção que envolviam a vida desses estudantes durante esse período a
partir da entrevista narrativa e por fim, um que versava sobre a experiência de ser pós-graduanda
objetivos da pesquisa, mas que não deixaram de se relacionar com o escopo geral da investigação
(Ribeiro & Ribeiro, 2020abc; Ribeiro & Ribeiro, 2021). Dessa maneira, esses conteúdos têm
relação com a dissertação, mas não vão ser trabalhados diretamente nessa construção
hermenêutica.
Quadro 3. Ciclo 3: Entre(vistas) on-line e discussões afetivas: rememoração e
contato entre pessoas e, portanto, de continuar com o formato da pesquisa proposto ainda em
2019, resolveu-se partir para um outro viés formativo, com a realização de entrevistas narrativas
também por via remota, foram: 1. Memórias de infância sobre a escola: Como foi sua infância na
escola? O que você recorda de bom ou de ruim? 2. Memórias da adolescência na escola: Como
foi a sua adolescência no colégio? Quais os desafios que você enfrentou nesse período? O que a
foi pra você ter passado/estar passando por uma pandemia em pleno período letivo? Quais os
esclarecimentos sobre a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), no que diz respeito a noções
sobre níveis de atenção dos serviços, adoção de estratégias no cuidado e atenção aos estudantes e
Tendo isso em vista, a nível de descrição, compreensão e análise, o trabalho será dividido
em três ciclos, que, por sua vez, terão seus processos de exame de forma separada, apenas para
fins explicativos, no qual nesse jogo de vai-e-vem sempre se fará referência a quais objetivos
foram sendo atendidos ao longo da investigação e do processo formativo. Portanto, esses ciclos
serão nomeados como: 1. Cirandas formativas: saúde e cuidado em debate; 2. Janelas virtuais,
do WhatsApp, das videoconferências e das entrevistas narrativas, no qual tudo foi transcrito em
sua literalidade, fazendo-se correções de pontuação, bem como modificações de algumas orações
que apontavam a necessidade de concordância verbal, para uma melhor compreensão por
Nesse sentido, inicialmente o pesquisador se volta sobre suas questões norteadoras para
avaliar a relevância dos dados colhidos na investigação, isto é, faz uma leitura e problematização
desse material quanto a sua correspondência aos objetivos. Posteriormente vão se organizando os
sentidos similares em considerações ainda que (in)conclusivas. Daí então, a construção inicial do
corpus empírico, ia se direcionando a categorias analíticas, por intermédio da redução
as vivências e materiais produzidos tanto de maneira presencial como virtual como desenhos,
fotografias, poesias, entre outros foram analisados por meio da análise de conteúdo pautada na
investigação, o pesquisador deve questionar-se sobre a pertinência dos seus dados, voltando-se
reflexivamente para suas questões norteadoras e, ainda, para outros assuntos relevantes e que
sejam derivados do seu contato com o fenômeno estudado. Essa etapa indica a “saturação dos
dados” e o começo das análises do corpus empírico, o que não invalida o retorno ao campo, por
mais vezes.
e síntese das totalizações relacionais de final aberto, que apontará para um desfecho nas
método fenomenológico via recurso da redução fenomenológica, no qual são separadas as partes
experiência que trás significados afetivos e cognoscíveis ao pesquisador, para daí refletir sobre
reflexivas.
rica e heuristicamente compreensível. Esse corpo teórico deve ser moldado em um esforço para
Desde que as noções subsunçoras, salientem para respostas condizentes com os objetivos
da pesquisa em encontro com a densidade dos dados e suas elaborações, bem como figurem
relações entre as noções subsunçoras e seus componentes. A partir disso, devem-se organizar as
considerações conclusivas por meio de uma síntese que provoque a contribuição de diferentes
partir das leituras dos materiais colhidos, transcritos e dispostos em arquivos à parte, a depender
de qual ciclo de pesquisa se referiam, no qual ia se delineando, com base na marcação de texto
pesquisa. Daí em diante, após uma releitura desse material já pré-selecionado, aquilo que
“saltava aos olhos” da pesquisadora era parafraseado, formando, por sua vez, um conjunto de
simbolizações, que posteriormente foram divididas por associação significativa de assuntos, isto
noções subsunçoras, que englobam determinados momentos dos ciclos, aqui já mencionados e
longo desses súbitos um ano e meio de estudo, é preciso ratificar ainda da exequibilidade dessas
nesse percurso, por conta do método escolhido para o trabalho abarcar a multirreferencialidade e
a possibilidade de várias formas de investigação a partir de multimétodos que, por sua vez,
tem como uma de suas fortes características privilegiar o processo acontecimental (Macedo,
2016) do desdobramento da própria pesquisa. Sendo assim, muito embora os elementos que aqui
serão delineados tenham proximidade com a dimensão do método, estes se configuram ainda
todo, além de tornar conhecidos os contextos de risco e proteção a esses conteúdos, bem como
andamento dos encontros e as resoluções formuladas por estes. Sendo assim, cada ciclo abaixo
contará com a descrição e análise dos dados colhidos em momentos diferentes da pesquisa, cada
um dividido, por sua vez, em categorias analíticas que desenvolverão as interpretações possíveis
Relembrando, cada ciclo diz respeito a uma fase da pesquisa, no qual o primeiro
trabalhou com os achados referentes aos encontros presenciais em formato de rodas de conversa
realizados em 2019, e os dados, por seu turno, foram colhidos a partir dos diários de bordo que
formularam as categorias analíticas que serão descritas mais à frente. Já o segundo ciclo, foi
referente aos encontros virtuais, tanto por bate-papo no grupo de diálogo do WhatsApp, como
por videoconferências e que foram realizados durante o período da pandemia, que abrange 2020-
2021. Sendo, portanto, transcritas e analisadas as conversas realizadas pelo aplicativo, além de
inclusos os conteúdos debatidos pelo grupo acerca dos significados dos desenhos, fotografias e
demais itens compartilhados, além dos diários de bordo após os encontros por videochamada.
Essas análises geraram as categorias analíticas que serão descritas logo mais. Quanto ao terceiro
ciclo, que ocorreu em 2021 a partir de entrevistas narrativas individuais e reuniões coletivas com
o grupo formativo, as análises desses achados se organizaram em categorias analíticas que serão
Contudo, para facilitar a orientação em relação ao modo como os resultados e discussão foram
organizados, segue aqui um “quadro mapa”, repartido em figuras com a organização dos ciclos
ou momentos da pesquisa:
Ciclo 1 – Cirandas
formativas: saúde e
cuidado em debate
Ciclo 2 – Janelas
virtuais, abertura
e acolhimento
na pandemia
Ciclo 3 -
Entre(vistas) on-line
e discussões
afetivas:
rememoração e
esperança em
tempos pandêmicos
encontrados a partir dos encontros presenciais realizados em 2019. Além de trazer os dados
obtidos por meio do formulário sobre a percepção dos estudantes sobre saúde a partir das
relações escolares, como também se falará sobre o olhar dos psicólogos sobre as rodas de
conversa sobre o bullying. As discussões que serão empreendidas visão expressar o processo de
delineamento dos objetivos atendidos, que abarcaram os que se referem a facilitar um processo
intervenções em relação ao temas de saúde mental, por meio de estudos sobre os conteúdos
que farão parte do grupo de formação, intervenções que visem abordar as temáticas selecionadas
Desse modo, pôde-se notar que nesta etapa da investigação o aglutinamento dos achados
ligados aos encontros realizados correspondeu a algumas categorias analíticas, que por sua vez,
noções subsunçoras serão destrinchadas a seguir. Antes, importa mencionar que a análise desse
material partiu da leitura exaustiva dos diários de bordo confeccionados pela pesquisadora e
mesmo, por conta do fim do ano escolar e da retomada que foi impedida por meio da pandemia),
como também dos aspectos observados nos momentos realizados em grupo.
realidade do cotidiano escolar, bem como nas várias implicações em torno disso, principalmente
Dito isto, para um trabalho que pretenda pesquisar a dinâmica relacional e formativa de
um grupo é necessário que haja abertura e aceitabilidade a proposta como uma condição para que
esse processo flua de maneira efetiva, o que de fato foi possível notar desde o início em que se
propôs a investigação até o encontro com o coletivo formativo que demonstrou interesse e
colaborou ativamente nos encontros. Isso pode ser demonstrado através das narrações a seguir:
“Bom, quando eu soube que a escola estava em busca de voluntários para ajudar na escola,
expectativas em aprender a lidar com a saúde emocional dos jovens (alunos) e também com a
estudantes foi um sinalizador importante para o bom andamento das discussões grupais.
distanciamento entre técnicos e estudantes, porém isso será abordado com mais profundidade na
próxima categoria. O que é de interesse agora debater foi o estabelecimento das ligações entre os
participantes do grupo que a cada encontro demonstrava estar mais conectado, dialogante e
aproximado, dado que se utilizou para isso recursos como a amorosidade, o incentivo a
implicação pessoal, o respeito a experiência, seja de si quanto do outro e a disposição à escuta
como facilitadores na formação dos vínculos intergrupais, que por sua vez, produziram e
desiguais, dado que reproduzem nas formas de se relacionar com o mundo posturas voltadas a
garantia de interesses e necessidades privadas, fica evidente que as relações criadas e fortalecidas
formativos que exigem comportamentos mais equitativos e cooperativos ao revés do status quo
(Longarezi & Silva, 2014). Isso foi notado pelos próprios integrantes, como se vê na narrativa
que se segue: “Preciso registrar que... observei os colegas e percebi as conexões” (educadora 05).
Conforme o que foi discutido acima, por meio da mediação política ideológica que se
participantes, tanto nos momentos de condução dos debates, como na proposição de atividades e
bem-estar. Pode-se notar algumas dessas noções por meio das seguintes asserções: “Eu achei a
primeira conversa muito legal, pois eu aprendi a escutar... eu consegui me expressar, além de
opinar nas conversas... dizer o que senti.” (estudante 04); “Ao sair daquela sala, sentir-me
ligeiramente mais leve. Entendi que de vez em quando é importante refletir sobre o verdadeiro
A questão supracitada ficou evidente na reunião com a temática do tempo, no qual foi
demandado pelos técnicos ferramentas ou métodos que auxiliassem a uma melhor produção e
deste pedido, desenvolveu-se uma reflexão baseada em Martin Heidegger (1889-1976) com
para tecer essas noções é o Dasein (ser-aí) que representa o ainda-não, ou seja, o encontro com as
morte. Essas condições existenciais implicam na angústia de cair na impropriedade, o que gera a
Assim, ao ouvir a música “paciência” do artista Lenine, a reação dos professores foi
imediata, sem nem mesmo utilizar questões norteadoras para a discussão, a maioria apontou a
importância de ter tempo para parar, pois seu cotidiano se mostra muito corrido. Alguns falaram
sobre a dificuldade em organizar o tempo. Outros sobre a disposição do tempo não ser o
suficiente, ainda que sendo organizados, pois as tarefas se mostram muitas. A grande maioria dos
sobre cuidado, sentido, trabalho, autenticidade e menos cobranças pessoais. A atmosfera desse
encontro revelou a apropriação do mesmo como um momento formativo, pois pautou para eles, a
Isso se nota a partir da narrativa de uma das profissionais: “Essas discussões nos levam a refletir
sobre a importância de dar valor ao que fazemos, como fazemos, com quem, o que priorizamos...
as rodas de conversa nos levam a refletir sobre nossas ações como profissionais e pessoas”
(educadora 03).
Uma outra indicação de emancipação crescente por meio dos encontros foi a sugestão,
acolhida pelo grupo, de realizar momentos como os proporcionados pela pesquisa de forma
momentos em que cada um deles mediasse uma reunião. Essa ideia surgiu após uma das
professoras que também é dançarina, fazer um alongamento ao final da reunião, o que empolgou
a todos os presentes. Os estudantes que ao longo do encontro pareceram não se identificar muito
com a temática, apesar de apontarem reflexões nos diários de bordo, sugestionaram que algum
debate tratasse da relação professor-aluno. O que foi significativo para uma análise mais acurada
da dinâmica interacional entre eles, dada a postura mais silenciosa dos mesmos, bem como os
comentários irônicos feitos sobre sua “não participação” por parte de alguns professores.
relações tipicamente escolares, marcadas pelo poder disciplinar, que serão tratadas mais adiante
com mais acurácia. Entretanto, apesar da maneira com a qual os estudantes eram vistos, isto é,
como letárgicos, ou mesmo submissos e apáticos, mesmo que de uma forma inconsciente por
parte dos técnicos, por meio das falas aparentemente despretensiosas e que deixavam
despeito dessa compreensão, estarem atentos as reflexões fomentadas, por meio dos seus
registros nos diários de bordo, bem como com a sua procura ativa após as reuniões a mediadora
para expressar gratidão ou até para inquirir mais sobre o processo da pesquisa, além de buscar
você, uma pessoa maravilhosa que me passou muita confiança... eu aprendi e gostei muito do
que foi falado... ansiosa para o ano que vem.”
psicologia e psicanálise que abordavam esse período como uma fase do desenvolvimento
marcada por conturbações. Por seu turno, essas ideias foram integradas pela cultura ocidental e
absorvidas pelas pessoas, através, primordialmente, dos meios de comunicação de massa (Ozella,
2002). Porém, a leitura que se deve fazer acerca desse momento da vida sempre deve estra
assumidos pelos jovens enquanto características que compartilham desse mesmo espaço de
interação e fabricação social. Infelizmente, esse foi um aspecto do qual não se pôde trabalhar de
maneira profunda, dada a finalização da pesquisa de modo presencial e a demora ao seu retorno,
por conta da irrupção da pandemia e o consequente isolamento social que criou algumas lacunas
Apesar disso, nas dinâmicas relacionais provocadas pelos encontros, outros aspectos
reflexões ligadas as aprendizagens formativas, no que tange a experiência existencial que abarca
conscientização dos fenômenos vividos (Josso, 2004). Além disso, houve a formulação de
elocubrações ao longo das reuniões, tanto no que diz respeito ao âmbito particular no
sobre o cuidado enquanto uma marca ontológica humana, da educadora 01, datados,
reaprender... com o outro e com a gente mesmo. Mas... é preciso que cada um conheça, respeite
o seu limite, para estar disponível ao outro. É bem difícil saber a fronteira.”; “As pessoas querem
ser compreendidas e tenho a impressão que elas também desejam que apontemos possíveis
soluções ou opiniões sobre o que foi dialogado. E nem sempre temos o que dizer. Ouvir é um
outros, visto que em um primeiro momento expressou-se a dúvida quanto ao manejo dessa
atitude, que é mais que uma habilidade, é uma disposição afetiva e constitutiva de amorosidade,
respeito, compaixão, solidariedade, desvelo e preocupação (Boff, 2017). Esse desvelamento foi
possível diante da paulatina discussão sobre essa temática, uma vez que aspectos vivenciais
novamente seu caráter formativo. Isso pode ser visto através das asserções que se seguem:
“Ousei fazer com meus filhos uma nova dinâmica de comunicação” (educadora 05); “A leitura
do texto de Rubem Alves foi incrível. Pretendo trabalhar com ele em várias turmas minhas”
(educadora 01). A medida em que se narram as histórias sobre si, em uma contação junto com
cotidianas. Nesse ínterim, a narrativa ganha espaço e corpo em diferentes registros (Josso, 2004),
reflexiva e prática da autora, frente a inovação desse tipo de pesquisa que abarca condutas
ou não de assuntos ligados a pesquisa. Assim, tanto no que diz respeito a saber ouvir e mediar os
processos relacionais, como lidar com as demandas individuais que pareciam ser exteriores a
pesquisa e que podiam representar uma necessidade de escuta psicoterapêutica, dado a posição
dignos de amplas ponderações e enviesamentos, mas que foram, contudo, postos a todo tempo
em perspectiva com os integrantes do grupo. Esse ponto expressa o olhar das pessoas em relação
mental. Todavia, fez-se um jogo de escuta dessas questões, apontando para as dimensões sócio-
noções sobre essas problemáticas, bem como a responsabilização coletiva para um movimento
de “autoração” existencial.
estabelecidos pelas pessoas nas configurações coletivas. Nesse sentido, como já afirmado em
outro momento deste trabalho, a adoção compreendida deste conceito pelos autores é a de que a
produção das subjetividades, tanto pelas relações de poder que estabelece entre professores e
(Prata, 2005).
professores em seguida e os estudantes abaixo. Isso pode ser demonstrado tanto por elementos
quando dirigiam olhares aos professores com posturas submissas e expectantes, e ainda quando
professores apontaram estar alegres em participar do “curso” que estava sendo proposto, como
por questões concretas como a disposição das cadeiras nas reuniões iniciais que eram
organizadas com uma cadeira apontada para um semicírculo, sugerindo lugar de destaque a
pesquisadora proponente.
mecanismos enclausuradores, tanto em um nível prático, como simbólico. Para exemplificar essa
para isso, regras temporais para a realização de atividades, o arranjo espacial com cadeiras
enfileiradas e demarcadas por sujeito, entre outros dispositivos que preconizam a obediência e o
criativa. Isso pode ser expresso nas narrativas dos participantes que aos poucos iam se
conscientizando desse processo: “Foi realizada a atividade de escuta! Fiquei chocada. Não sei
ouvir... Preciso pensar e também ouvir além do obvio” (educadora 05); “Senti falta de uma maior
participação por parte do alunado, pareciam estar intimidados e não expressaram muito sua
escuta, parece ter sido decisivo a mudança de olhar entre os participantes, bem como a
elaboração de novas posturas interacionais. Porém, esse processo já estava em curso, dado que a
proposta de trabalho sempre esteve guiada por apostas ao respeito as alteridades, dado que a
colocado. Para confirmar essas asserções, segue-se: “... Enquanto ela me contava o que estava
acontecendo com ela, minha única vontade foi abraçá-la. Pois bem, essa dinâmica me mostrou
que os professores são gente como a gente e também tem problemas.” (estudante 03)
Uma outra questão que aconteceu foi após algumas habilidades serem desveladas
formação pode-se dar também no olhar sobre as potencialidades. Este movimento parece
ter sido tão significativo que algumas das pessoas presentes começaram a repeti-lo.
(pesquisadora proponente)
não eram tão participativos como poderiam, apesar das falas que, muitas vezes, mesmo sem uma
intenção consciente por parte dos técnicos, os intimidavam, como alguns alertas e piadas de que
na sala de aula falavam mais do que deveriam e no espaço de compartilhamento não faziam o
mesmo, os adolescentes revelaram participação atuante nos diários de bordo, com relatos que
demonstravam clareza e consciência das discussões, bem como quando nesse material, ou em
alguns momentos de fala se declaravam ávidos por serem escutados e legitimados, e ainda em
momentos que solicitavam conversar com a pesquisadora após os encontros, ou mesmo quando
aguardavam o fim das reuniões para fazerem comentários e sugestões. Isso pode ser evidenciado
no relato a seguir:
a importância do grupo para ela, pois a mesma relatou a necessidade de haver a interação
entre professores e alunos de maneira mais afetiva, o que me deu indícios de que mesmo
ensimesmamento que não eram condizentes com a realidade que se apresentava, dadas as suas
demandas por atenção, validação e compreensão que não eram entendidas em sua complexidade
expressa em todo o tempo. Um ponto que vale a pena mencionar como uma possível
interpretação para essas manifestações foi a maneira com que todos os estudantes que
produziram seus diários de bordo decoraram os mesmos com figuras coloridas, expressando-se
uma reformulação de sentidos e para uma relocalização de papéis sociais, visto que
período de desenvolvimento que estão passando, bem como quanto as questões experienciadas
na escola e nas suas famílias. Pode-se tomar como exemplo a narrativa abaixo:
professora que mais admiro... esse foi um dos temas que eu mais gostei, pude contar o
organização do grupo em termo de adesão ao trabalho foi notório que mesmo dinâmicas
psicossocial, que se pauta por conteúdos culturais, sociais, econômicos, simbólicos, imaginários,
espacialidade, entre tantas outras interseccionalidades que são possíveis de tecer dentro desse
campo (Amarante, 2007). Sendo assim, a escolha pelo fomento de discussões pela via da
pois com o uso desse viés psicossocial abarca-se a complexidade que a temática da saúde
circunscreve.
Nas discussões sobre “o que é saúde?” fez-se um breve passeio histórico sobre as noções
de saúde advindas da Grécia Antiga em Aristóteles, que compreendia esse conceito não como
um estado de oposição a doença, mas como uma outra qualidade afirmativa sobre o homem,
colocando o debate sobre como ela seria atribuída ao corpo (matéria) e a alma (forma) (Borghi,
cartesiana, de cisão entre mente e corpo, bem como na significação da díade saúde-doença como
contrapostos entre si, alinhando o diálogo com a clássica definição da Organização Mundial da
Saúde (OMS) de 1948. E, por fim, a concepção da psiquiatria de Canguilhem para alargar as
concepções sobre estar saudável ou não e sobre a construção de normas particulares que indicam
uma análise perceptual das próprias condições de saúde, bem como a postura de superação de
Outras noções indicaram ideias relativas ao equilíbrio dentro de todas as esferas da vida,
próximas a concepção da OMS, também se falou sobre a capacidade de lidar com problemas e
saber diferenciar condutas quanto a determinados contextos e relações, além de ajudar os outros
empaticamente. Além disso, ainda apareceu, a saúde em uma concepção integral, em que mente
e corpo não se apresentavam cindidos, dado que uma das professoras se dispôs a fazer uma
pesquisa anterior a discussão e achou por bem compartilhar suas descobertas sobre o assunto.
Surgiram também entendimentos sobre a saúde como algo provindo das emoções, ou seja, a
partir da interpretação das vivências pessoais como positivas ou negativas e que requerem
controle, deixando de pensar a vulnerabilidade como uma condição humana para vê-la como
como um estado regulável. Esse ponto é possível de se notar a partir da narrativa abaixo:
Eu acho que a depressão atinge mais hoje as pessoas por causa das emoções.
Quando se termina um relacionamento e a pessoa fica muito mal... se essa tristeza não
caráter científico e transdisciplinar, não é debatido apenas nos espaços formais, dado que o senso
educação em saúde, muitas vezes, essas percepções não são ampliadas e transformadas, o que
revela a importância da promoção desse tipo de debate (Beraldi & Queiroz, 2020).
Outra noção que foi manifestada pelos participantes foi a dicotômica, através da binômio
mente-corpo, visto que para alguns existe um trânsito que se dá entre um lugar ou outro, mas não
uma vivência que se dá paralela e integralmente, como se pode notar no trecho a seguir: “Pra
mim saúde é quando você está bem emocionalmente, porque quando você tá bem
A visão demonstrada acima não é atribuída pelo grupo sem explicações, já que a
história desse conceito abriga, por meio do advento da modernidade a partir do racionalismo
cartesiano, uma compreensão de que o corpo funcionaria como uma máquina e que por isso
deveria ser analisado de maneira compartimentada, o que produziu grande influência para a
doenças endêmicas e epidêmicas, a estatística ganha espaço para medir e criar estratégias de
prevenção, fortalecendo ainda mais a ideia de saúde como contraposição a doença enquanto
populacionais, por médicos sanitaristas. Tudo isso viabilizou que movimentos político-
trabalhadoras que seriam as mais afetadas pelos agravos em saúde, intensificando discussões
América iniciam mudanças com a criação de políticas públicas de saúde que visavam a
acerca dessa temática, após a Segunda Guerra Mundial, com a criação da Organização das
que foram sendo construídas por eles ao longo de suas vidas, bem como da explanação analítico-
percepções mais simplistas, biomédicas e mecanicistas da saúde deram lugar a uma noção
psicossocial que ficou evidente por meio de insights e colocações dos integrantes sob suas
Por fim, a ideia que surgiu como síntese da discussão ocasionada pela reunião foi de que
a saúde é um processo complexo e multifacetado, representado pela época, lugar e pela classe
social. Pode-se notar isso na seguinte narração:
Bom, eu achei que saúde é quando você está bem, sem nenhuma doença..., mas
veja só... saúde não é só quando você não tem doença, saúde é o bem estar que nos
situações do nosso dia-a-dia... A saúde também está na forma como pensamos, sentimos e
empiricamente de maneira acessível, dado que a mesma se faz notar nos modos e condições de
Essa tomada de consciência pode refletir em avanços ainda mais significativos, como a luta por
garantia de direitos nos espaços institucionais e relacionais, no que diz respeito ao âmbito da vida
que combatam desigualdades e injustiças sociais (Amarante, 2007), por fim, mais não menos
importante, tudo isso pode ainda compor a reprodução, ampliação e intensificação dos saberes
produzidos no espaço escolar para outros setores da sociedade, a exemplo da família e das
instituições religiosas, que apresentam grande relevância social para a garantia e luta por
cidadania.
3.4 Atividades adicionais
Para fins de apresentação e discussão de outros dados que foram coletados, houve
que iam desde “discordo totalmente” a “concordo totalmente” intitulado “Minha Escola é o
pra escola porque sou obrigado(a); 8. Eu me sinto solitário(a); 9. Aprendo na escola coisas que
julgo relevantes para minha vida; 10. Eu me sinto motivado(a) a estudar; 11. Eu gosto dos meus
professores. Além disso, havia algumas instruções nesse material que sinalizava o interesse pela
participação dos estudantes como uma contribuição para uma pesquisa sobre a saúde mental na
escola, indicando que não era necessário identificar-se, portanto não houve como discriminar o
No ano de 2019, correspondente ao primeiro ciclo da pesquisa, aqui debatido, uma caixa
foi deixada no pátio com 116 formulários para serem respondidos de forma manual pelos
estudantes do ensino médio por um período de aproximadamente três semanas, já que o ano
letivo estava finalizando. Houve 81 respostas, que com o decorrer do ano de 2020 e a incidência
do fechamento das escolas foram somadas a mais 5 respostas, pois esse material foi digitalizado
com a intenção de haver ainda mais participação da escola. Esse formulário “online” foi
do WhatsApp, mas apesar disso não houve uma adesão significativa por parte de outros
possibilita.
Com relação ao primeiro item descrito acima pelo questionário, 31% das pessoas
indicaram não se sentirem deslocados e outros 31% avaliaram não estarem certos dessa questão.
Outros 69,1% apontaram fazer amigos com facilidade. Com respeito a 59,3% dos respondentes,
houve a sinalização de sentir-se à vontade na escola. Já outros 45,35 dos estudantes expressaram
sentir-se entediados na escola, somados a 25,6% que demonstraram incerteza para avaliar esse
item. Outros 57,3% dos adolescentes disseram não apresentarem incômodos na sua relação com
a escola. No tocante a 36,8% dos estudantes avaliaram-se dúvidas quanto a sentirem-se bem
quistos, somados a 31,6% que também não estavam certos sobre esse ponto. Quanto a ir à escola
por livre e espontânea vontade, 54,7% dos respondentes afirmaram isso. Em relação a 63,5% dos
estudantes afirmou-se não se sentirem solitários no ambiente escolar. Houve a indicação de que
os aprendizados proporcionados pela escola são relevantes para a vida dos estudantes, mais
precisamente 56,5% dos respondentes. Outros 57,7% dos estudantes relataram ainda sentir-se
motivados a estudar. Para finalizar, 60,5% dos participantes informaram gostar dos seus
professores, alguns estudantes chegaram até mesmo a identificar suas predileções nos
investigação no WhatsApp, por conta da dificuldade em conseguir horário em comum para uma
reunião. Esse fato impossibilitou um aprofundamento nas afetações dos participantes, apesar de
tanto no WhatsApp, como na pesquisa sobre sua vivência no isolamento social realizada próxima
a esse debate, percebe-se que para os estudantes respondentes há um olhar para a escola como
contexto protetivo que a mesma oferece, bem como para a potencialidade que essa instituição
pode fomentar no desenvolvimento e fortalecimento de relações mais saudáveis e colaborativas,
já que pode integrar a promoção de habilidades para o bem viver, como a corresponsabilização e
2017).
Contudo, a despeito das potencialidades que podem ser geradas a partir da escola, uma
das sinalizações interessantes proporcionadas por esta investigação em particular foi o tédio
sentido pelos alunos dentro do ambiente escolar, como também a falta de sentido aos conteúdos
debatidos na sala de aula, apontando para uma possível falta de articulação com a vivência dos
estudantes, bem como para a falta de contextualização de suas necessidades. O que evidencia
transformados de acordo com a realidade desses estudantes (Freire, 2018a). Com relação a esse
ponto, não houve manifestação pública dos estudantes ou dos professores no grupo, sugerindo
um possível desconforto por parte dos mesmos em discutir isso naquele espaço.
relação positiva com a identidade, está ligado a interação estabelecida com os pares, que nesse
autonomia e percepção sobre si (Carvalho et al., 2017). Nesse sentido, a escola em questão
parece apresentar dificuldades para trabalhar essa temática de forma efetiva, apesar de seu
engajamento sempre expresso nas ideias e eventos realizados. Porém, apesar de que mesmo sem
generosamente oportunizaram três rodas de conversa sobre bullying na escola, tema pedido pelo
grupo formativo ao final das reuniões em 2019, como resultado da dinâmica pensada anterior ao
coronavírus. Elas aconteceram simultaneamente e foram analisadas por meio de diários de bordo
produzidos pelos psicólogos. Segundo as pontuações dos profissionais, duas rodas foram
conduzidas através de dialogações vivenciais, a outra por sua vez, usou o recurso do teatro do
ao bullying.
ainda, uma demanda de fala por parte dos adolescentes que solicitaram que mais proposições
como essas fossem possíveis, o que demonstra uma noção já trabalhada em outro ponto desse
estudo, a necessidade de espaços para conversação e cuidado. Um outro dado interessante foi a
escolha dos estudantes para os grupos, que foram denominados pela técnicos da escola como
possíveis agressores, ou ainda aqueles que eram tidos como comportados, o que constata a
discussão aqui já desenvolvida, de que a escola é uma das instituições responsáveis pela
Apesar disso, como apontou um dos psicólogos, a vivência oportunizada pela pesquisa
possibilitou reflexões importantes e teve a capacidade inclusive de convocá-lo a refletir sobre sua
própria formação:
urbano. Fiquei me questionando sobre o que pode o psicólogo em contextos tão diversos
e desafiadores presentes na cidade e de como devo levar minha coerência ética e minha
postura política.
Os resultados até aqui debatidos representam o primeiro ciclo que foi orientado
educação.
dos encontros realizados por via remota no período de 2020 e 2021, que por seu turno, teve
apenas um encontro para encerrar essa proposição. Os elementos de análise levantados para uma
registros escritos nos diários de bordo (que nesse momento se deram on-line) ou em forma de
desenhos e fotos que eram enviadas para a pesquisadora de maneira privada ou compartilhadas
a partir da descrição e exame das vivências constituídas por intermédio dos encontros no período
já mencionado, bem como relatar o acolhimento e partilha proporcionados por este momento da
pesquisa. Além disso, almeja-se tornar evidente quais objetivos foram alcançados através dessas
ocasiões, que segundo a percepção dos autores correspondeu aos seguintes: analisar os contextos
de risco e de proteção em relação aos temas investigados, via estudos desenvolvidos no espaço
processo formativo.
Para uma melhor compreensão dos objetivos, no que diz respeito a análise se fez
embora através dos relatos foi possível empreender discussões alinhadas a arcabouços teóricos
próprios aos participantes. No que se refere ao outro objetivo, as compreensões de saúde mental
foram sendo percebidas através das percepções dos integrantes do coletivo formativo via
Nesse viés, o conjunto dos achados propiciaram algumas noções subsunçoras designadas
emocionais e sociais, que impactam diretamente a saúde e as expectativas de curto prazo que
guiam a criação de projetos de vida e a relação das pessoas com o mundo (Carpallo, 2021).
necessárias, o que refletiu em interações peculiares tanto para a pesquisadora, como para os
demais participantes da investigação proposta e que serão trabalhadas nesse ponto em questão.
Uma das mais importantes mudanças no seguimento da pesquisa foi a relação que
se estabeleceu de forma virtual e não mais de modo presencial, por conta do distanciamento
social enquanto uma medida de prevenção ao contágio da Covid-19 e, também para evitar o
esgotamento ao acesso a serviços de saúde. Essa questão, segundo a literatura vem demonstrando
socialmente.
O estudo realizado por Primo (2020) constata que no início da pandemia as redes
sociais passaram a ter ainda mais centralidade na manutenção das relações afetivas. Além disso,
uso das redes sociais não se deu diferente, pois com o boom de notícias que circulavam as mídias
estar em casa para evitar aglomerações, as formas de interlocução que restaram foram as virtuais.
WhtasApp, como aponta também Primo (2020) em sua investigação. O WhatsApp funcionou
line, da escola ou ligados a pós-graduação, bem como conteúdos informais como “memes” e
de recursos lúdicos como desenhos, fotografias, poesias e músicas, que eram compartilhados
para estimular o diálogo e a elaboração experiencial. O uso desses artifícios também serviu à
análise da pesquisa.
tempo de exposição, como também com a alta circularidade de notícias que envolvem a temática
do coronavírus, sejam elas falsas ou não, e a característica inédita desse tipo de experiência
coletiva vivida nessa proporção trouxe algumas consequências negativas a saúde como alto nível
de estresse, ansiedade e depressão. Além disso, houve agravos a saúde de quem já apresentava
problematização e cuidado por parte dos profissionais da saúde nesse contexto (Primo, 2020;
Nesse viés, apesar da web ser um recurso que viabiliza a comunicação e pode
mitigar efeitos concernentes ao afastamento presencial gerado pela pandemia, esse uso da
internet e a sua exposição de maneira desinformada pode causar prejuízos como já exposto.
Porém, outro importante fenômeno que se fez manifesto a essa pesquisa, como em tantas outras
no âmbito da educação foi a exclusão digital e a vulnerabilidade no acesso à internet. Esse ponto
interferiu na baixa do número de participantes do grupo formativo, principalmente por parte dos
conhecimento parco relacionado a utilização dessas mídias, além da sobrecarga trazida a partir
da reconfiguração do seu trabalho, que em muitos casos não se reduzia ao ensino apenas na
daqueles que tem acesso a direitos básicos e fundamentais e, portanto, conseguem adaptar-se
ainda que com dificuldade a diferentes cenários e daqueles que se fecham na “quarentena da
quarentena” segundo a expressão do Boaventura de Sousa Santos (2020). Esse termo estaria
marginalizados e excluídos de processos decisórios e, para além disso, daqueles que sofrem com
muitos outros direitos que advém desse alcance. Um desses direitos é caracterizado pela
educação, que no contexto pandêmico só é possível através da via remota, apesar de que o ensino
(Martins, 2020).
Dessa forma, assim como a literatura aponta, devido aos preços das taxas de
eletrônicos, muitos brasileiros não têm esse acesso facilitado, o que os impede de atender as
pandemia (Martins, 2020; Souza & Guimarães, 2020). Com isso, muitos estudantes, advindos da
periferia, território marcado por iniquidades sociais e restrição de oportunidades concedidas pelo
videoconferências, o que exige banda larga e não o que de fato tinham acesso, a um pacote de
dados do tipo 3G ou 4G, recurso também defasado no país em relação a sua qualidade. Isso
também parece ter desmotivado a integração mais ativa desses adolescentes no WhatsApp, já que
apesar de ter acesso mais abrangente, não era o foco de participação do grupo, mas mais um
pesquisa, vê-se que a aderência a métodos virtuais foi uma dificuldade relevante, e que sondava
não só a investigação proposta, mas a remodelação nas questões de ensino. A literatura aponta
professores. Com a pandemia, esse processo se deu de maneira abrupta e o uso de ferramentas
digitais foi se dando sem preparo e com base na improvisação, dados os recursos limitados
(Martins, 2020).
escolas e agenciarem as mesmas demandas que aqueles que assim o fazem, o esgotamento e a
sobrecarga de trabalho sempre foram marcantes na vida desses educadores. Dessa forma, a
trabalhistas, para outros a angústia por ter que especializar-se em um outro tipo de modalidade de
ensino e ter que lidar com uma grande acumulação de tarefas antes não previstas. Assim, a falta
Cabe discutir que as mesmas queixas apontadas por professores e gestores dessa
educação, mas para manutenção, ainda que extenuante de suas práticas curriculares (Martins et
al., 2021). Essas queixas eram relatadas brevemente, por meio de mensagens instantâneas no
poder participar, tanto porque estariam em outras reuniões, como também por não se sentirem
bem e dispostos.
integrantes que conseguiram permanecer junto a formação apontaram os momentos vividos pela
experiência virtual como momentos de leveza, alegria, cuidado e esperança, além de uma
reconexão com a escola, já que o distanciamento impôs o afastamento dos sentidos positivos que
integrantes, dado que a experiência pandêmica traz novas e imprevisíveis demandas no âmbito
pessoal ou profissional, porém, esses momentos sempre expressavam uma ligação de afeto
amoroso entre o coletivo. A despeito de no primeiro encontro virtual, ocorrido em abril de 2020,
que para a autora sinalizou um deslocamento nos momentos iniciais e aparentemente para o
estudante também, já que os técnicos usaram o espaço para congratular-se após um longo
período sem aulas, houve a oportunidade para fortalecer os vínculos, bem como partilhar sobre
como estava a relação com a escola com o advento da pandemia. Esse e outros sentidos
dada a troca no estilo de vida cosmopolita pela centralização do ambiente doméstico. Nesse
interim, não só as práticas de trabalho tiveram que se adaptar, mas também as interações
com o grupo formativo, tanto da pesquisadora com eles, como dos outros integrantes entre si,
dada a situação calamitosa que se irrompia e a consternação provinda dessa situação inédita que
gerou também uma infodemia. Esse termo advém do fenômeno de grande circularidade de
informações acerca de um determinado tema, que por sua vez, pode comprometer a qualidade de
oferta desses conteúdos, gerando desinformação e sobrecarga emocional (Garcia & Duarte,
2020).
em abril de 2020 ficou acordado que independente das incertezas quanto a duração da pandemia,
seria necessário manter a vinculação com o grupo formativo. E isso se daria por meio de
reuniões por videoconferência com aqueles participantes que pudessem e que estivessem
dispostos a aderir essa proposição. Assim, no mesmo mês realizou-se o primeiro momento
virtual mais diretivo com o grupo, já que a comunicação estava ocorrendo até então no
pandêmico, que até a finalização desse ciclo da pesquisa trouxe à tona sentimentos em comum
nesse processo de espera pela volta as aulas e retorno a vida usual, tornando possível a criação de
sentimentos que variavam entre ócio, angústia, ansiedade, medo, preocupação, estresse, saudade
da escola e da pesquisa, saudade de contato físico, percepção de novos aprendizado pelo desafio
vivido, sentimentos conflitantes entre produtividade e procrastinação gerando, com isso, culpa,
tristeza em não poder comemorar datas significativas como aniversários e celebrações festivas,
entre muitas outras vivências como esperança, gratidão pela saúde da família, alegria e satisfação
em compartilhar experiências.
quais comprometimentos a saúde foram se desenvolvendo por conta das imposições para um
novo modo de vida que abarca restrições relacionais, como medo, tristeza, ansiedade, tédio e
raiva. Algumas dessas questões são manifestadas pelos agravos em condições de sofrimento pré-
transtornos mentais (Lima et al., 2020). Essa é uma preocupação importante para a saúde pública
e foi demonstrada inclusive a partir de relatos dos estudantes do grupo através de uma pesquisa
vivência dos adolescentes na pandemia a partir de suas narrativas, como se pode observar:
Bom, tá sendo bem entediante quase não faço nada. A saudade da escola e dos
amigos é grande, mas estamos levando como a vida quer. Às vezes tristes, outras felizes,
mas nada fora do comum... dificilmente eu fico triste, mas quando fico é por conta de
saudades, pensando quando essa quarentena vai acabar... e alguns desentendimentos com
que se intensificaram com a pandemia foram os transtornos mentais comuns (TMC) que são
especificidades como a classe social, a existência ou não de uma rede de apoio, a renda, a
escolaridade e o gênero que demarca alta incidência em grupos populacionais de todo o mundo
Esses transtornos são possíveis de se notar nas narrativas que foram desenvolvidas a partir da
sofrimento psíquico já esperado nesse cenário: “Tudo isso tem me deixado extremamente
ansiosa, preocupada e com bastante medo do futuro. Medo de que nunca volte ao normal.
Preocupada com tudo que está acontecendo e o caos do mundo.” (estudante 03); “Irritada...
Quanto ao sofrimento psíquico denunciado pelo mal estar relatado em comum por
procrastinação o que gerava uma culpa extenuante. Como se pode perceber nos relatos
que se seguem: “tenho trabalhado em dobro nessas aulas on-line pelo município... e
também tenho tentado concluir a leitura de dois livros. Ao menos um cheguei na metade
Às vezes eu me sinto culpada por ter tempo livre. Minhas amigas professoras
estão tão cansadas com essa nova rotina delas e desabafam comigo... tenho feito cursos e
ando cozinhando, mas tem dias que eu não faço nada de produtivo... isso me incomoda
(educadora 01)
Esse isolamento está sendo bem agitado, além de me dedicar aos afazeres
julgamentos de mim mesmo pelo tempo ocioso, mas tá sendo uma coisa que preciso lidar.
(pesquisador auxiliar)
de Byung-Chul Han (2015) que avalia que a estrutura social que se assentava na negatividade
seu potencial contemplativo oportunizado pelo tédio e o ócio, devido à grande proporção de
Esse arranjo de operação neoliberal causou transformações nos modos de pensar, sentir,
psíquico causado por atividades laborais. Por conta, dessas motivações a culpa é uma
consequência de uma postura não crítica diante do perverso panorama capitalista. Em vista disso,
há um movimento ontológico, para além das imposições biológicas de descanso que gera a
necessidade de lentificação para acessar uma via de atenção reflexiva, que quando não atendida
potencialidade, como se pode notar na seguinte narração: “Acredito que este momento é tenso e
intenso... estou no extremo da falta de liberdade e isso é muito angustiante” (educadora 05).
medo ante o quadro pandêmico, visto que um novo mundo se apresentou para a sociedade
controle sobre os fenômenos da vida a partir da virada cultural, filosófica e ideológica que
entronizou a ciência como um aporte para transformações no mundo no século XVIII. Tudo isso
sugere que existe a certeza de domínio das coisas no mundo, tanto no que diz respeito aos
recursos naturais, como o que se relaciona a manipulação de seres vivos ou não, sejam eles
Por esse ângulo, acima descrito, a cosmovisão que as pessoas apresentam na relação
indissociável com a sua práxis, que por seu turno é formulada a partir dos inúmeros avanços
científicos implica em perceber o mundo como controlável e tudo aquilo que foge aos projetos
al., 2020). Esse ponto se visualiza nas narrativas que mostram, consecutivamente, tanto a
percepção clara de um sofrimento face a essa conjuntura, como aquelas que revelam um
silenciamento paralisador que ainda demandavam a criação de novos sentidos: “Estou sentindo
um misto de emoções que oscilam muito... sentindo medo, vazio, pessimismo, raiva do nosso
desgoverno... estou tão emotiva que já chorei assistindo o Jornal Nacional.” (educadora 01); “No
momento não tenho palavras para descrever o que estou sentido.” (educadora 07)
caminhos de expressão do dito e do não dito, dos conteúdos manifestos e latentes que
permeavam a experiência de vivenciar a iminência da própria morte e a dos seus pares, bem
como o luto pela vida até então conhecida, abarcando os projetos barrados e em casos mais
psicoemocionais.
sentidos sobre a experiência de adequação ao novo estilo de vida, foi disposto ainda aos
integrantes momentos de escuta particulares, que ocorreu em poucas ocasiões, sendo duas vezes
com dois estudantes e a outra com uma profissional, cada momento em instantes distintos. Uma
peculiaridade sobre essas escutas é que quando eram solicitadas por estudantes ocorriam pelo
adolescentes eram mais breves e pontuais e demandavam mais atenção do que um encadeamento
de significações.
Apesar disso, houve espaço no grupo de acolhimento não só para queixas relativas ao
sofrimento, mas para tomadas de consciência, avaliação da maneira como se estava vivendo a
fragmento de uma poesia criada por um dos participantes e alguns pontos podem ser expressos
nas seguintes asserções: “Espero que está poesia com tão pouca expressão/ traga para meus
colegas alguma reflexão/ percebi simplicidade/ e muita humanidade/ num momento de aflição.”
(educador 06)
Sobre o encontro de hoje foi como sempre é: leve, cheio de esperança e parece
que eu estou me reconectando com a pessoa que sempre fui: ligada ao trabalho e a escola.
Às vezes, me sinto vazia sem isso... Encontrar pessoas tão queridas e tão parceiras no
trabalho, que lutam por uma educação pública de qualidade nos dá um gás. Foi ótimo!
(educadora 01)
...sempre vivi a pressa... agora quero me dar o direito de fazer outras coisas e
intensificar minhas relações e amores, ainda que reclusa e sob a pressão de um ser
invisível... agora é família e saúde, o resto fica pra quando chegar o tempo de decidir
(educadora 05)
realidade em que se vive (Josso, 2007) e quando apoiada pelo cuidado, enquanto condição
no que concerne a sua presença no mundo e a relação que se estabelece para cuidar de si e do
outro (Sousa & Ribeiro, 2021). Assim, vê-se que as reuniões virtuais que se consagraram, ainda
que sem pretensões, como um espaço de acolhimento ao longo de sua co-produção significativa,
pois foram envolvidas pelo cuidado como uma possibilidade formadora, a partir de relações de
desvelo, carinho, preocupação, atenção e amor.
extraordinário trouxe inúmeras mudanças na vida corrente, sendo elas ligadas ao isolamento
social como medida principal, acarretando transformações no trabalho, no ensino, nas relações
domésticas e/ou afetivas, nas instituições, na mídia, nas políticas públicas e mesmo no trabalho
desenvolvido por órgãos governamentais ou não. Tudo isso exigiu das pessoas um processo de
temática da tentativa de ajustamento frente ao cenário atípico foi uma elaboração co-construída
sensação de indulto, isto é, enxergar a oportunidade de parada da vida usual por conta do
coronavírus, como um momento provisório de descanso. Houve também logo após esse
causado pela pandemia prevaleceu a narração de experiências como o choque e reações anímicas
durante o período de reclusão, como a apatia (Medeiros et al., 2020). Esse enclausuramento,
bolsonaristas, que revelam a necropolítica estatal preconizada por seu cerco político, mesmo
choque”; “a apatia, adaptação e sentido da vida nos campos” e “depois de libertados”. Aqui
interessa discutir a relação da experiência do grupo formativo com os primeiros dois pontos.
Com relação a primeira etapa, é natural que perante questões atípicas as pessoas teçam
ideias apaziguadoras, para sentirem-se reconfortadas diante do período difícil que se apresenta,
conhecida (Medeiros et al., 2020). Assim, muitos comentários nas reuniões faziam menção a
possibilidade de folga, que eram inclusive reflexo das notícias que ainda supunham que a
pandemia seria breve e que era uma gripe destinada a apenas um grupo etário. A ideia que
circulava também era a de que o momento oportunizava focar em projetos adormecidos, baseada
em falas midiáticas ou ainda aquelas relativas a discursos desavisados e acríticos por parte de
algumas personalidades que sugeriam que a pandemia seria uma oportunidade de auto
crescimento pessoal, profissional e familiar. Isso se nota nas narrativas adiante: “Tenho feito
cursos e ando cozinhando.” (educadora 01); “tenho tentado incluir novas atividades... como
cozinhar, praticar a leitura, praticar o meu inglês” (estudante 01); aproveito para deixar o lar
difícil que se entrepõe, em que o mecanismo de proteção a saúde acionado psiquicamente seria a
apatia, com o objetivo da redução da percepção factual (Medeiros et al., 2020). Esse tipo de
vivência pode ser visto em falas como: “...entediada dentro de casa, só dormindo, comendo e no
sofá” (pesquisadora auxiliar 01); “tenho o sentimento de agonia, pois me sinto com muito tempo
coletiva de sentidos, alguns ajustes criativos foram com um tempo sendo perceptíveis, tanto por
meio de insights do cotidiano em que a adaptação ia surgindo e sendo compartilhada nesse lugar,
como também através dos momentos viabilizados no grupo que, por sua vez, suscitava reflexões
Algumas elocubrações passaram a ser concebidas de maneira mais crítica e iam ganhando
reconfiguração do papel profissional junto com angústia para com o aprendizado dos estudantes
com relação aos desafios tecnológicos e relacionais que advém da educação remota, mas do
dado que o Governo do Estado da Bahia (2021) não retomou as atividades curriculares em 2020,
de maneira assertiva e organizada a realidade institucional e contextual das escolas, mas decidiu
Portaria n° 343, que a substituição das aulas presenciais deveria ocorrer por meios digitais
sinalizava uma condução singular de aplicação de atividades curriculares nas casas dos
estudantes por meio da utilização de material didático impresso, digital ou mesclada com ambos
Apesar dessas tentativas, a educação que já enfrenta desafios para se consolidar como um
direito de todos, não se efetivou utilizando dessas estratégias na escola da pesquisa em questão,
tampouco em muitas outras do estado, realizando apenas algumas atividades parciais, para não
perder o vínculo com os estudantes e nem os deixar desassistidos, como também aponta a
pesquisa de Moreira e Santos (2021). Como se nota através da asserção descrita em um diário
...retomando sobre a escola, vou guardar umas propostas de ação, mas nada será
(comunidade escolar). Acredito que só será significativo se for para e com eles e elas.
Assim... deixa voltar para gerarmos juntos uma nova ordem. (educadora 05)
escolar o papel profissional foi ganhando novos sentidos, sem deixar de apoiar-se sobre
princípios éticos relativos ao saber-fazer, visto que os profissionais estavam sempre comentando
sobre o cuidado afetivo que eles estavam tendo no contato, mesmo que virtual ou por via
desafio, mediante a falta de recursos da instituição e dos adolescentes, que em sua grande
maioria não tem acesso a recursos tecnológicos como celulares, tablets e notebooks ou ainda não
Mesmo diante dessa preocupação constante dos profissionais, o cuidado na relação com
os estudantes, que antes já se apresentava como um eixo de seu trabalho, acabou por se
intensificar, revelando que a pandemia, por mais que seja um grande problema sanitário, social,
político e econômico e que revelou mais notoriamente as desigualdades no campo da educação,
proporcionou que as práticas educacionais estivessem envoltas em mais afeto, diálogo, carinho,
atenção e zelo, na tentativa de aplacar as faltas curriculares, que muitas vezes, centralizam a
Quando escolhi ser professora, foi porque durante a minha vida como estudante, o espaço
conhecimento... nunca faltava aula, literalmente nem doente (só se fosse algo muito sério
maior, porque me sinto útil em ajudar os alunos a conquistar seus objetivos, a aprender
Dentro desse novo molde de trabalho, tanto para os estudantes, como para os
mortalidade é um assunto distante e que pode ser prorrogado com inúmeras técnicas
medicalistas. Todavia, a vida traz imprevisto que fazem o homem colidir com o desemparo
radical trazido pela finitude, evocado, por seu turno, pela angústia no tratamento com
significados não dados simplesmente pela posição de existir (Dantas et al., 2009). Há nisso, um
paralelo interessante com a pandemia, posto que a ciência não trouxe, prontamente, respostas
mais própria de existir. Assim, nas reuniões e nos chats provocados pela investigação-formativa
não foram poucas as vezes em que se houve reclamações acerca do estilo de vida corrido e pouco
reflexivo que antecedeu a pandemia, bem como a expressão de narrativas que reposicionavam o
modo de ser-no-mundo (Dantas et al., 2009). Isso se pode notar através de elaborações
...é curtir, com calma cada situação ocorrida no dia-a-dia da família. É uma
sensação importante de que me sentia mal antes... Agora é uma realidade. Para este fim,
sinto honrada e muito feliz! Sem contar que queria muito dormir mais. E estou
A escola sempre teve um grande significado em minha vida, estar distante é complicado,
mas entendo que esse afastamento é mais que necessário, ainda mais para mim, pai de
primeira viagem e que estou aproveitando a oportunidade para auxiliar minha esposa nos
demonstram ter revisado o olhar sobre a existência, que se colocava por meio de um fluxo de
atualizações em que o presente ocuparia a centralidade entre o passado (não mais agora) e o
futuro (ainda não agora), para uma concepção em que o tempo é qualitativo e emergente na crise.
Revelando, com isso, a abertura para o novo, para o não programado, em que não há garantias,
mas a possibilidade de ligar o passado, o presente e o futuro de maneira ativa historicamente
privado para o convívio com a família, para o descanso, lazer e ocupações relativas à
“mudança radical da relação casa-cidade como definidora dos espaços-tempos onde se desenrola
o cotidiano” (Carlos, 2020, p. 12), já que o local de produção passou a se emaranhar com o
espaço doméstico, dando ao capitalismo uma vantagem na exploração do trabalho, que antes
resvalava no espaço privado, mas que hoje, por intermédio das circunstâncias, centraliza-se em
dignas de apreciação e reflexão, como o aumento das jornadas de trabalho, que com o
funcionamento remoto e tecnológico trás demandas formativas voltadas aos recursos digitais,
bem como com a alta exposição a telas que leva a prejuízos cognitivos, para além dos que se
relacionam as mudanças nos modos de subjetivação. Nesse interim, o tédio causado pelo novo
modo de vida fora de outros cenários urbanos fomenta o desfrute ainda mais intenso do
espetáculo produzido pelas mídias sociais, tidas como via para entretenimento, que por sua vez,
construção de sentidos positivos com base no olhar para as modificações no estilo de vida e
daqueles que aderiram a esse modo de trabalho foi possível investigar mais detalhadamente as
peculiaridades da vida dos estudantes e dos profissionais que tinham a escola como único local
de trabalho, que diga-se de passagem, estava operando de maneira parcial e, portanto, sem as
cobranças produtivas tão acentuadas como as mencionadas no início dessa categoria. O que não
quer dizer que essas vivências tenham tido menos impactos a saúde nas condições
atribuição de papéis de gênero, no que diz respeito a divisão de tarefas e as relações de cuidado
que são estabelecidas. Portanto, observou-se nos grupos de acolhimento, relatos que
trazidas pela pandemia, mas que enfrentavam rotinas diferenciadas das dos homens. Nota-se
essas discrepâncias, nas narrativas colhidas dos diários de bordo a seguir: “...elaboro e distribuo
tarefas, organizo a família, mas, ainda não dá... Para isso exige todo uma dinâmica. Tenho metas
diárias e neste esforço, nem sempre são conquistadas. É realmente a extorsão capitalista de várias
e intensas jornadas.” (educadora 05); “A minha rotina de quarentena talvez não tenha mudado
dos dias normais... ajudo em atividades domésticas...” (estudante 01) e “...não tenho pra onde
sair ou com quem ir. Eu fico um pouco ocupada com Netflix, jogando ou arrumando a casa.”
(estudante 07)
Em uma das reuniões, com a presença apenas do público feminino, mas sem a
grupal, já que a formulação desse tipo de espaço facilita a receptividade a reflexão e cuidado
para com essas demandas. Isso foi inclusive pontuado pela professora que estava evitando
participar desses momentos, segundo a mesma disse, por conta justamente desse atarefamento
em sua rotina.
sexo biológico delimitariam o lugar de ocupação das pessoas em sociedade. Porém, a partir de
discussões e lutas feministas pela igualdade de direitos civis, políticos e trabalhistas, essas
cultural.
familiar não é um processo natural, mas construído e sustentado pela lógica capitalista que prevê
o ordenamento e funcionamento das estruturas produtivas. Assim, desde o Brasil colônia, existe
um claro recorte de classe, raça e gênero em relação as posições de trabalho. Nesse sentido, o
somadas a outros âmbitos, como os que se referem a criação dos filhos e a vida profissional.
Evidenciando, que apesar do cenário mundial estar mudando com a inserção de mulheres no
acolhimento, ele pôde experimentar estar na posição de quem assume os vários papéis que são
orientados as mulheres, visto que como pai de primeira viagem e em situação de trabalho parcial
como professor foi capaz de responsabilizar-se pelas questões de cuidado familiares e relativas
ao lar. E esse ponto de assunção dessas tarefas, provavelmente não aconteceria com a mesma
pandemia, dadas as diferenças no trato de licença trabalhista, revelando mais uma vez as
disparidades de gênero.
reelaboração de conduta com o trabalho doméstico, posto que houve narrativas que afirmaram
que o trabalho em casa foi reorganizado com o parceiro e com os pares. Além de que essas
foram revistas pelas participantes, que começaram a refletir sobre a real indispensabilidade
dessas tarefas.
vida dos participantes do coletivo formativo foi a dificuldade em estudar por parte dos
estudantes, em virtude da ausência de suporte mais diretivo no ensino, bem como por conta da
falta de autonomia em seu próprio processo de aprendizado e também pelos impactos psíquicos
provocados pela pandemia. Nos relatos estão contidas as realidades não só dos estudantes da
escola investigada pela pesquisa, mas também a da instituição de uma pesquisadora auxiliar,
evidenciam nas seguintes asserções: “Minha relação com a escola está bastante parada. Tenho o
sentimento de agonia, pois me sinto com muito tempo livre e não sei como usar esse tempo,
dificilmente pego no caderno para revisar um assunto.” (estudante 02); “...é difícil
entender quando não tem professor explicando as atividades, mas é compreensível com toda
essa pandemia. Eles ainda se preocupam com aula, atividades para que não nos prejudique nos
educacionais em que estão submetidos os alunos de escolas públicas, que sem os devidos
recursos já operavam com fragilidades e que no cenário de hoje atravessam ainda mais
fortalecer iniquidades sociais e suprimir direitos que deveriam estar sendo assegurados a esses
adolescentes, tanto no que diz respeito a mediação no atravessamento das barreiras simbólicas,
como no auxílio ao enfrentamento de violências, como nas factuais que são formadas por
questões socioeconômicas e políticas que provocam agravos a saúde, mas que são perpetuadas
Por essa razão importa que trabalhos como esse, realizados a partir de um viés
intervenções que democratizem de maneira mais profunda o saber autônomo sobre o processo de
saúde e doença que é entremeado por compreensões de acesso e barreira a complexas redes de
cuidado sejam elas, formais ou informais, e que, por sua vez, constituem direitos humanos e
com atividades prazerosas, antes suprimidas pela correria hodierna que afastava o coletivo
formativo de situações que abarcassem sentido aos seus projetos existenciais, que por seu turno,
precisaram ser revistos por conta da pandemia. Como se pode ver na narrativa seguinte: “...tenho
tentado incluir novas atividades... como cozinhar, praticar a leitura, praticar o meu inglês, assistir
séries, brincar com os meus cachorros.” (estudante 01). Além disso, houve menções a realização
nesse local. Esses arranjos não foram feitos apenas no âmbito privado, mas houve toda uma
nas redes sociais e reprises de conteúdos diversos nas mídias televisas, além de ajustamentos de
voltas ao lazer e prática do ócio produtivo no lar podem fomentar novas reflexões sobre as
condições de vida das pessoas, já que o tempo oportunizado por essas vivências podem suscitar a
criação de novos valores, formas inéditas e criativas de se relacionar com o mundo e com as
pessoas, além de resgatar uma participação mais ativa no debate público, visto o engajamento
digital que vem ocorrendo em debates sociais (Clemente & Stoppa, 2020).
O lazer pode, por essa via, ser palco para manifestações ético-estéticas
importantes diante da crise civilizacional que está posta. Apesar disso, muitos lares não tem
estrutura para essas adaptações, ora por questões físicas ambientais, ora por competências
socioemocionais para lidar com esse convívio intenso e abrupto. Porém, a partir dessa
investigação, não foi citado como um problema a aproximação intrafamiliar, mas sim como um
pandemia. Essa questão foi apontada tanto por estudantes, como pelos técnicos, que apesar de
interacionais rotineiros, vislumbravam como positiva essa proximidade com seus pares.
qualquer atividade que se caracteriza como lazer, dado que o capitalismo impõe jornadas cada
vez mais extenuantes e fragilizadoras de acesso a direitos que potencializam a existência, e com
a inserção da tecnologia, as ocupações laborais vem a passos largos se fixando ao espaço privado
tecidos de maneira coletiva, por meio do grupo de acolhimento, puderam auxiliar na construção
de narrativas de compreensão dessas experiências que vem constituindo novos modos de vida,
discutidas largamente, apesar das dificuldades e desafios que o coletivo encontrou nesse novo
pelos chats no WhatsApp foi possível catalogar estratégias de cuidado em saúde para minimizar
Nas conversações em que se faziam menções a passar por essa situação adversa de
maneira problemática ou de forma angustiante, os participantes sempre apoiavam uns aos outros
empaticamente, ouvindo atentamente e sugerindo métodos que tinham descoberto nesse cenário
Eram ilustradas formas de vivenciar esse processo a partir de alternativas como manter o
contato virtual com pessoas queridas, a exemplo do conselho que uma professora deu a outra,
referente a almoçar acompanhada por uma companhia online, já que a mesma sentia-se só e se
incomodava por isso; intensificar o olhar afetivo para o contato com animais de estimação; ter
hábitos de leitura; evitar o uso prologando do celular por meio de aplicativos que medissem o
tempo de emprego da internet; praticar meditação, ioga e outros tipos de exercícios físicos;
doméstica; confortar os pares sobre poder não conseguir produzir diante de um contexto tão
avassalador, além de compartilhar palavras de motivação e esperança. Pode-se notar algumas
falas nesse sentido a seguir: “semana passada comecei a fazer meditação e tem me ajudado
bastante a filtrar coisas boas, a me sentir melhor.” (educadora 01); “...entendo que é por um
período só. Vai passar! Por mais demorado que seja, vai passar...” (educadora 04).
de terem perpassado 2020 e 2021, se deram com mais intensidade nos primeiros meses, no qual
saúde no acareamento dos problemas que irromperam essa nova realidade. As demais reuniões
sempre tiveram uma tônica acolhedora, embora não focassem sempre diretamente na pandemia e
as questões sanitárias como foco, mas sim nas reverberações explícitas e implícitas no cotidiano
momento, como esperado, já que em quadros imprevisíveis como esses não há claramente como
saber em que rumo se chegará nos âmbitos de segurança, do ensino, econômico, familiar, social,
entre tantos outros. De todo modo, face a esta conjuntura, e tantas outras que abarcam desafios é
importante se mostrar resiliente e apto a modificar a realidade que se apresenta, pois sem a
dimensão de futuro, a elaboração de projetos de sentido para a vida desabastece e não enrique as
Assim, a resiliência, segundo Alarcão e Sotero (2020) está sendo discutida amplamente
pela literatura, já que este conteúdo se mostra significativo mediante o contexto pandêmico e
vem demonstrando abertura para dimensões abrangentes como em níveis que vão do individual e
A resiliência pode ser compreendida em ações em que nos momentos de crise sejam
feitos ajustamentos criativos para dar sentido a experiência de acordo com a cosmovisão da
pessoa ou grupo, ou ainda com a formação de novos paradigmas. A resiliência requer uma visão
positiva para que seja possível extrair aprendizados da situação vivenciada, bem como é
adversidades. Ser resiliente é entender que não há volta ao passado e a realidade antes conhecida,
existe a construção de uma realidade possível, que deve ser celebrada e compartilhada com os
formativo o fortalecimento dos laços afetivos criados e recriados a partir da pesquisa, bem como
estimulou a resiliência em tempos de crise, por meio da partilha de sentidos, vitórias, tristezas,
tempos pandêmicos
entrevistado em questão, em que se podia responder via texto, mas preferencialmente por áudio,
Além disso, os resultados que serão discutidos nesse ciclo são referentes a outras duas
os profissionais.
Todos as ocasiões citadas acima forma gravadas e transcritas em sua literalidade para
contaram com o recurso do próprio aplicativo de exportação do conteúdo para cópia e com
relação aos áudios, estes também foram transcritos, mas de forma manual como as entrevistas.
a relação com essa instituição. É por meio da narrativa que o informante pode (re)contar e
Nesse tocante, intenciona-se tornar claro a partir do debate que será trazido os objetivos
aventados nesse ciclo investigativo, que segundo a compreensão dos autores alcançou os
narrativa remota; pandemia em foco e suas vicissitudes; revisitar a identificação com o trabalho
docente: suas cores e dissabores; ciranda estudantil e construção de afeto entre meninos e
meninas e a relação entre professores e alunos entre duas vias: o autoritarismo e a autoridade
remota
situada no horizonte epocal do sujeito. Essa conversa deve ser estimulada através de uma
maneira a entrevista narrativa como uma ferramenta colaborativa e reflexiva (Muylaert et al.,
2014).
epistemológico com a pesquisa-formação, que por sua vez, apresenta como especificidade uma
nas pesquisas tidas como qualitativas, mas que nesse trabalho prefere-se nomear como
interpretativas.
Nesse viés, para além das entrevistas narrativas, em que tomadas de consciência e
a propiciação de um espaço grupal após essa colheita, em que tanto professores, como estudantes
particularidades de se fazer essa investigação no modo remoto, mas também a dissertação dos
educação infantil reverberou como significativa para o coletivo formativo, ganhando, por sua
vez, contornos singulares relativos não mais ao espaço, mas ao lugar, um conceito com outros
atributos. O espaço dispõe da estrutura física e ambiental a ser explorada pelos sentidos
com/no espaço (Souza, 2020). É possível notar esses pontos através da memória abaixo:
para casa e voltava para escola... não tinha ninguém, não funcionava no período da tarde.
Mas, eu ficava lá conversando com o pessoal que trabalhava na limpeza que eu chamava
Os eventos no pátio, eu lembro. Tenho fotos... A piscina, que era uma coisa que todo
mundo amava. Então a gente, toda sexta-feira, praticamente, ia tomar banho de piscina.
afetivas tão significativas para o grupo, já que o brincar e as interações construídas são um
importantes para toda a vida. Em vista disso, a afetividade é uma importante mediação para esses
em outros níveis de ensino e, por conta disso, o espaço/lugar não foi citado como significativo
em outros níveis de ensino, a não ser quando se referiam ao brincar como uma atividade em
E outra parte boa... que eu gosto até hoje é a aula de educação física na escola,
que… é algo que a pessoa se sente livre, pra correr. Pra fazer tudo, entendeu? Sim, eu
acho que poderia tipo... ter aulas assim... mudar mais o conteúdo, entendeu? Tipo...
porque é sempre aquela mesma coisa. Sempre batendo na mesma tecla. Livro, livro, livro,
livro, livro e acho que deveria tipo... usar outras coisas, pra ensinamentos, entendeu?
(estudante 02)
panóptico que a instituição escolar toma como ideologia, já que mesmo invisível ou inverificável
grades, muros altos, câmeras, corredores e cadeiras enfileiradas em frente a uma bancada com o
professor, a vigilância e o poder a que estão submetidos os estudantes (Santos et al., 2020). A
ludicidade e o brincar, por sua vez são dissonantes dessa perspectiva educativa, dado que trocam
como o cerne das lembranças educativas, a despeito do teor conteudista de um currículo formal,
o que predominou como significativo para o coletivo formativo foram as atividades lúdicas
provindas do espaço escolar, como apontado pela estudante 03: “...uma memória boa na escola
foi realmente a creche... acho que eu gostava muito de brincar no pátio, com outras crianças. Eu
gostava muito de brincar na terra”. Essa ludicidade também foi recordada e sinalizada, por meio
de atividades extracurriculares produzidas pela escola. Como se pode perceber através das
sentenças abaixo:
puxavam muito para esse lado da gente se expressar através de dança, através de música.
Juntavam várias turmas... tinha um teatro que a gente sempre ia também. Que mais? é....
as formaturas eram coisas maravilhosas. Os desfiles de Sete de Setembro que ainda tinha
naquela época, com carros alegóricos também é uma coisa esplêndida. (educadora 01)
Eu tenho uma lembrança de ter sido o noivo no casamento caipira de São João...
Eu tenho lembranças das brincadeiras que a gente fazia. Nessa escola mesmo, tinha uma
área verde assim... então, foi onde eu aprendi a subir em árvore. Lá eram árvores
grandes... Brincava de pular na árvore. A escola... tinha uma área verde muito legal.
Tenho lembranças dos jogos escolares. Eu tenho lembranças das gincanas, né? De toda
medida em que alguns deles, começaram a compartilhar fotos para demonstrar suas memórias
em relação ao período escolar infantil, que ao que tudo indica reverberou em momentos
identidade:
…tem muitos programas que... ajudam as pessoas... a saber quem ela é, entendeu?
Tipo, tem o Mais Educação que é a parte do esporte, que pode descobrir talentos. Tem a
parte da Pesquisa-Formação... Sua pesquisa. E tipo, ajudou bastante, né? Então, eu acho
que a escola hoje em dia tem uma base grande para poder formar pessoas. Tipo, formar o
caule, entendeu?... Na verdade, nos projetos da escola eu gosto da liderança. Tipo, através
dos projetos da escola eu me descobri líder. Tipo, aquela pessoa de frente. Exemplo...
teve uma gincana da escola. Eu fui líder... Então, tipo assim…toda coisa que tem na
escola, eu sempre procuro ser líder para ver como eu vou me sair...
muitas reuniões, já que o mesmo era quem solicitava os encontros, se mostrando sempre
motivado a estar no coletivo se encontrando com todos. Apesar de se mostrar tímido, sempre que
houve espaço para colocar-se, esse estudante demonstrou estar construindo sua autonomia e
práticas mais inventivas do que direcionadas, mais estimuladoras do que repressoras, mais
que as que prezam pela reprodução uni discursiva, determinista, utilitarista, colonialista e contra
esse tipo de radicalidade pretendida, visto que através das trocas dialogais e relacionais se
estabelecem vínculos respeitosos que abrem vias para a produção cooperativa e grupal. Assim,
no contexto desse ciclo da pesquisa, por meio da partilha das histórias de vida houve entre os
Gosto muito da frase de Djamila que diz... sobre essa minha infância, né?... ela
disse assim: “o falar não se restringe ao ato de emitir palavras, mas de existir”. Eu acho
que isso traduz a minha infância escolar. Existir! O direito de existir e não permitir que
igual, rotulada ou passiva. Então eu lutei ao meu modo, mesmo criança, pelo direito de
existir. E eu acho que isso é da vida de todas as mulheres, né? Todos os dias a gente luta
por isso, agora. Por isso que isso reflete tanto a nossa infância. Nas nossas escolhas da
cuidado essencial traduz a necessidade societária de mudança nas relações com as pessoas e com
o planeta Terra, o que, por seu turno reverberaria na construção de ideologias e instituições mais
terapêuticos nesse processo. A escuta, apesar de ser usada como sinônimo do ouvir, é diferente,
pois não é uma mera experiência sensorial, mas, na verdade, comporta uma abertura ao que outro
fala produzindo novos significados a partir do encontro entre as alteridades que dialogam de
Ainda que não fosse o objetivo primário das entrevistas, a sensação terapêutica causada
pela mesma se dá pela oportunidade de contar sobre sua história de vida, acentuada pelo contexto
pandêmico onde não há tantas possibilidades interativas de qualidade, bem como pode ter sido
visualizar essas questões na narrativa a seguir: “Queria agradecer a escuta. Hoje estou mais
pesquisadora enquanto partícipe do quadro escolar era realidade, já que a mesma aos poucos foi
se tornando referência para o coletivo formativo. Isso foi sendo evidenciado no acolhimento
desse trabalho, nas trocas realizadas a partir da investigação em curso, mas também em
ambientações que não eram relativas diretamente da pesquisa, isto é, na retirada de dúvidas
integrantes, bem como em convites para participar de eventos da escola e para realizar
CAPES, os participantes foram apresentando seus feedbacks positivos com relação à pesquisa e
demonstrando sua já presente saudade quanto a relação estabelecida, deixando claro o laço
Eu torço que mais universidades olhem para escola, a história da extensão mesmo.
Eu torço para que nós nos encontremos em breve, por isso que eu não estou com essa
coisa de “olha tchau”, porque no meu sentimento, o cordão não foi cortado, o desmame
não foi feito. Eu tenho uma sensação de que as coisas ainda tem muita consequência e a
gente ainda vai experimentar dessas consequências positivas desse trabalho e é claro que
a gente vai tá socializando com vocês esse resultado, então a gente vai se encontrar
muito, hein? De uma forma ou de outra, a nossa escola está de portas abertas para você
experiências passadas vividas na escola em diálogo com a vivência atual. Segundo Josso (2007),
todo projeto que visa a formação atravessa questões de identidade, tanto a que acessa
compreensões de si, como o olhar pessoal na relação com os outros. Na investigação não foi
diferente, já que os participantes vislumbraram essas noções quando tiveram momentos para
insights e tecendo narrativas sobre essas retrospectivas. Como se pode notar a seguir:
me relaciono com a escola, hoje como professor, na forma como me relaciono com o
saber. Na forma como eu me relaciono com as pessoas, na forma como eu observo meus
alunos, tá? Em muitos deles eu me vejo. Nas variadas fases da vida. E naquilo que eu sou
realmente. Nas decisões que eu tomo. Nos meus defeitos, nas minhas virtudes. Eu acho
que a escola é um ambiente onde todo mundo se desenvolve... para além da questão
pedagógica, sabe? A escola... ela é o primeiro ambiente onde a gente vai conviver com
pessoas absolutamente diferentes da gente... então é ali que você começa a se relacionar
com o mundo, muitas vezes, sem saber, porque o aluno… uma criança não vai ter esse
entendimento. Mas, hoje eu vejo que lá atrás, né? Lá nas minhas primeiras experiências,
com isso, na escola, eu comecei a fomentar a minha relação com as pessoas, como ser
humano, com o mundo. Então, o impacto da escola, na minha infância, né? Ele é muito
problematizar as vivências promoveu. Isso também foi possível diante das proposições
opressões institucionais. Quanto a isso, sempre havia menções a falas como “eu acho que vou
passar a noite pensando nisso” (educadora 05); “você me pegou com essa pergunta, viu? Eu
nunca parei pra pensar nisso” (estudante 02); “eu não tinha parado pra pensar” (estudante 03).
situações violentas e, além disso, a necessidade da criação de uma postura autônoma, com o
devido suporte de uma rede de apoio, para o enfrentamento de agravos a saúde. Pode-se verificar
este ponto com a reflexão trazida pela educadora 05, que inclusive enumerou suas elaborações:
tem preconceito não precisa de um elemento, apenas o tem e vomita sobre as pessoas seus
problemas; 6. Que muita coisa que eu passei não dizia respeito a mim e sim as pessoas
mal resolvidas; e 7. Nunca mais deixar ninguém dizer como devo ser.
dificuldades vividas ao longo das experiências escolares, além de desafios quanto ao contexto
operacional de colheita na investigação. Já foi discutido aqui, que com a mudança do processo de
pesquisa, o acesso e a conexão com a internet são uma questão problemática para a adaptação
nessa nova realidade marcada pela pandemia. Essa situação não abarca somente a vida dos
trabalho da mesma foram modificadas, exigindo até a mudança de rede com a compra de um
maior pacote de dados em um outro provedor de internet. Assim, esse ciclo da pesquisa-
já que requereu ajustes produtivos e o estabelecimento de uma postura serena, resiliente e atenta
as transformações nas condições de vida.
pode-se compreender que essa instituição promoveu ou foi conivente com situações opressoras,
tanto no que diz respeito a questões de aprendizagem não associadas a realidade do estudante,
ambiente. Ela pode ocorrer através de expressões físicas, simbólicas, sexuais, entre outras, o que
evidencia práticas opressivas institucionais que podem ser expressas pelo autoritarismo, pelas
uma força simbólica. A violência contra a escola é aquela cometida no ataque ao patrimônio da
instituição seja por atos de vandalismo, roubo, furto ou destruição física de seus materiais
Por meio da colheita promovida pelas entrevistas narrativas notou-se que uma das
violências da escola que mostrou ser significativa para os integrantes foi a disposição curricular,
o formato das aulas, o tipo de didática utilizada e as formas de avaliação escolhidas, bem como
pode ver a seguir, inclusive na exposição de uma crítica estudantil a esse modelo: “Tipo a
educação, ela não evolui. Ela sempre fica no mesmo lugar ali. Acho que por isso não tem uma
absorção melhor, entendeu?” (estudante 02)
Então, sobre a questão da forma dos conteúdos era... entrar numa caixinha... eu
não podia errar. Eu sempre tinha que tirar notas boas, porque eu era grandona. Então a
grandona não podia errar, porque... até a frase assim: “nossa uma ‘jegona’ dessa não
sabe?”, quando tinha algum questionamento oral, né? Então, isso ia me reprimindo.
(educadora 05)
civilizacional em um sentido cultural, ético-político e estético, muitas vezes funciona como uma
reflexivo de terem sido impactadas pelas dinâmicas construídas da/pela escola, já que o bullying,
enquanto uma violência relacional tem ligação com o exercício de poder desigual, hostil e
deletério que a própria instituição fomenta. Em vista disso, o bullying apresentou caracterizações
notadamente racistas, um substrato da organização societária que, por sua vez, manifestou-se no
ambiente escolar. Apenas um dos entrevistados, enquanto pessoa branca, não trouxe nenhum tipo
de narração em que tivesse sofrido bullying quanto a suas características físicas. Uma dessas
Por que você vem com cabelo assim pra escola? Arruma esse cabelo direito...
quando eu cortei, ele nem definia direito, porque tinha umas partes meio lisas.
Pesquisadora: Ah. Tu tinhas alisado? É. Antes eu o alisava. Eu decidi cortar em 2017, que
era quando eu estava no sexto ano. E aí quando eu decidi ir com ele no outro dia para
escola foi bem ruim, porque recebi muitos olhares e falas também. (estudante 03)
Apesar desse cenário de violências, nas rememorações trazidas não houve relatos
intervenções e diálogos assertivos, a não ser nas vivências atuais dos estudantes na escola
violências tem ganhado cada vez mais espaço na contemporaneidade, ainda que a passos curtos.
levantamento dessa questão no debate grupal, dado que muitos nunca tinham vislumbrado a
“normais”, chegando mesmo a sugerir que isso os auxiliou a serem fortes e independentes,
experiências de sofrimento. A partir disso é possível perceber como a mesma estudante parte de
uma fala individualizada para estabelecer novas elaborações sobre o mesmo fenômeno, como
expresso:
O meu caso era muito complicado. Porque, eu acho que eles não auxiliaram,
justamente porque, achavam que eu poderia perder o foco que eu tinha. Eu tinha muito
foco. Mas, não sei. Realmente eu não penso nisso. Eu não tinha parado para pensar. Mas,
se tivessem me auxiliado de alguma forma, eu acho que teria sido melhor pra mim. Tanto
nessa época, tanto hoje em dia ... eu acho que… me ajudou a me virar, muito mais
sozinha, sabe? Sem precisar muito da ajuda de ninguém. E... Eu acho que isso vai me
ajudar no futuro. Eu ainda não sei direito como, mas vai. (estudante 03)
...as Escolas que estudei faltaram. Quando a gente sofre bullying na escola a gente
sente vergonha, não só de falar com os professores, mas da sala em si, porque você meio
que vira uma piada e quanto mais você fala aquilo pior fica. Então ou você vira o
queridinho do professor, ou você aceita aquilo e deixa que com um tempo alguém vai
violências, também possibilitou conforto ao sofrimento causado por essas situações. Apesar
disso, a escola e a família não aparecem nas narrativas como integradas no combate a essas
opressões, a despeito dos apontamentos positivos já discutidos largamente sobre essa interação
por meio da literatura, o que poderia facilitar transformações mais amplas e eficazes.
Passei por esse processo de autoaceitação (se referindo ao cabelo) e hoje eu faço
isso com outras pessoas... eu lembro que na escola, em 2019, teve uma coisa que marcou
bastante, foi no São João. Uma aluna ia dançar com um rapaz, um menino lá da escola... e
ela ficou super triste, porque ele não... dançou com ela... Ensaiou com ela um dia e no
outro dia disse que não ia ensaiar com ela, porque ela era feia. E ela ficou super mal.
Então eu tive que conversar muito, mas muito com ela. E hoje... ela posta assim… fotos
muito triste na hora, mas ela conseguiu assim... vê a mensagem em pouco tempo, coisa
que eu demorei bastante para perceber. Mas, eu tento fazer isso, porque eu sei que isso é
Porque a cada dia que eu passava lá (na escola), eu sentia que me matava um
pouquinho. Isso deve ter acontecido com muitas pessoas que não conseguiram se
perceber, mas eu acho que eu consegui, pela mãe que eu tenho que é uma pessoa de uma
adolescentes é iniciado para o crescimento cada vez mais autônomo desses indivíduos em
sociedade. É preciso desde já resgatar valores que pensem a responsabilidade da educação como
uma questão coletiva e comunitária, em que todos estejam cientes dos limites e possibilidades no
desenvolvimento de jovens.
global, devido as novas exigências sanitárias que transformaram as interações. Nesse contexto, a
ensino-aprendizagem.
participantes a sensação inicial que mais aflorou, principalmente na realidade dos educadores foi
conjunção familiar, já que não se sabia ao certo como a Covid-19 funcionava. Com um tempo, o
coletivo formativo já afastado da escola, como medida estabelecida pelo governo, mostraram
estar mais adaptados a esse novo cenário, embora a expectativa de vacinação imperasse para a
Contudo, isso não foi possível em tempo curricular hábil, pois as medidas de
contenção a essa questão se definiram em direção ao ensino remoto, que no contexto dessa
investigação não ocorreram de maneira efetiva pelos motivos aqui já discutidos. Ainda que os
professores e demais técnicos demonstrassem tristeza frente a esse quadro, em que eles se viam
posicionamento político ficou demarcado como a importância da vida na defesa pelo isolamento
envolvessem riscos a comunidade escolar. Esse ponto é compreendido pela narrativa a seguir:
“poxa! se eu voltar a trabalhar hoje, eu vou estar botando a minha vida em risco e
botando a vida dos meus alunos em risco, a vida da minha família em risco, a vida da
ficaram em situação de aulas suspensas por um ano completo, sem os devidos ajustes
Inclusive sob o olhar dos participantes, o governo se mostrou negligente na operação de medidas
que visassem o retorno as aulas de forma justa e participativa. Como se pode notar a partir da
fala seguinte:
tenham condições diferentes, que é o caso dos alunos que não têm acesso à tecnologia. Aí
diz “não, a escola vai oferecer o material, vai imprimir, vai entregar”. Sim, mas quem vai
explicar? Como é que usa? Como é que faz? Só explica isso pelo aparelho, porque a
gente não pode estar presente com a pessoa, até pelo contágio, não pode. (educadora 05)
O anúncio tão esperado de retorno as aulas acabaram por ser uma mescla dos anos letivos
2021). Nessa perspectiva, os professores expressaram sua tristeza e indignação diante dos
escola e das possibilidades de estímulo ao desenvolvimento como um todo que ela promove,
bem como da proteção dos direitos integrais como alimentação, cuidado, saúde, respeito e
equânime que o ensino remoto pode propor, dado as distintas condições de vulnerabilidade:
Só que eu acho que aquele que não apareceu está carente de muito mais, porque
talvez não tenha nem o que comer, quem dirá ter um celular para assistir à aula?! Então
assim, isso é triste, porque parece que a gente está sendo conivente com coisas que traem
a minha ideologia, traem as coisas que eu acredito. E fora assim, tá saindo bonzinho,
estamos conseguindo fazer? Estamos. Tá tendo uma boa participação, mas 30% está fora
Os estudantes, por sua vez, também demonstraram a partir de suas realidades, seus
receios frente a esse novo modelo educativo. É importante demarcar, assim como fez a
educadora no excerto acima que por meio dessa investigação temos apenas o relato de estudantes
com acesso à internet e instrumentos de mediação a ela, o que amplifica o abismo ainda maior
que outros educandos estão enfrentando nesse ínterim. Pode-se observar por meio da narrativa da
estudante 03 suas preocupações com as aulas remotas: “...eu não sei se eu vou me adaptar... em
casa é totalmente diferente da escola. Tipo, nem sempre você está prestando atenção... sabe?”.
educação pública já defasada, os profissionais realizaram criativamente ajustes que visam formas
O desafio é manter algum tipo de conexão com o alunado. Alguns alunos que a
gente se identifica de primeira é muito fácil você manter essa conexão. Eu tenho alunos e
alunas que a gente se dá bem. A gente conversa no Instagram, troca figurinhas. Eu indico
algumas coisas que eu posso. Então assim... é mais fácil. Mas, aquele aluno que é muito
tímido. Aquele aluno novato... Então, como manter uma conexão com ele? Se eu nem sei
o rosto dele, sabe? É muito estranho... Então é um desafio enorme manter essa conexão
com os alunos, sabe? Manter eles persistindo... porque vão aparecendo dificuldades... que
vão desestimulando-os. Então você tá sempre ali “não desista. Não desista. Não desista!”
... Ontem mesmo também eu dei aula numa turma, que duas alunas esperaram todo
mundo sair... uma delas disse que queria falar comigo, né? E eu esperei e perguntei “é
quando foi do meio para o fim as duas abriram a câmera. (educadora 01)
estruturais no acesso a direitos fundamentais como a educação que, parafraseando Freire (2018b)
não pode tudo, mas pode muito. Nesse viés, é possível perceber as diferenças entre as
vezes, a questões de gênero, econômicas e/ou sociais (Soares & Baczinski, 2018). Como se nota
Que a gente sabe que a realidade é muito complicada, tanto com acesso à internet,
como o acesso ao próprio aparelho. Às vezes é um celular para todo mundo da casa. É...
devido a pandemia muitos alunos estão trabalhando. Estão com outras realidades. Ontem
mesmo eu dei aula para um aluno enquanto ele trabalhava. E eu sei que ele trabalhava,
porque ele me avisou e pelo áudio eu percebi que ele não tava em casa. Mas, mesmo
assim ele ficou de 3:45 até às 6:15 comigo. E no final eu até mandei uma mensagem para
ele, porque eu vejo quanto ele tá se dedicando, mesmo nessa questão tão difícil. Não era
Com o retorno das aulas, no modelo remoto, a sobrecarga de trabalho já experienciada e relatada
mensagem 11 horas da noite no WhatsApp. Eu acordo super cedo para dar conta de casa,
de trabalho, de escola. E eu me vejo indo dormir tarde e parece que eu não dei conta do
que deveria. Então... tá sendo difícil, mas eu tento encarar que isso é passageiro, que vai
passar e fazer o nosso melhor. Fazer o que dá para fazer, né? (educadora 01)
trazidas pelos campos políticos, espirituais, afetivos, sociais, econômicos, culturais, filosóficos,
ideológicos e tantos mais que compõem a vida. Esse bailar existencial, entre toda integralidade e
Nesse sentido, o espaço proporcionado pela contação das histórias de vida, ainda mais
nesse cenário de restrição de construção dialogal pode fortalecer significados pessoais e plurais
do pensar, sentir e agir de formas fecundas (Josso, 2007). E mesmo com tantos desafios que aqui
já foram debatidos, a narrativa pôde pelo menos possibilitar a escuta de si para a elaboração de
compreensões possíveis diante dessa conjuntura tão emblemática. E esse ponto em específico já
despeito dos discursos coloniais oportunistas não tenha se reestruturado ao ponto de transformar-
lobistas, já que mesmo diante de arranjos tecnológicos reproduz por meio de suas práticas
priorizam outros modos de ensino-aprendizagem, que revelam apesar dos dissabores da profissão
docente, o caráter progressista, esperançoso e mesmo utópico, que delineia processos de trabalho
comprometidos com a transformação que pode ser ofertada pelo campo da educação.
Nesse sentido, através das entrevistas narrativas foi possível por meio da
pedagógico, abarcando as proficuidades que essa profissão pode oferecer através da formação
como centralidade operativa dos processos de ensino, ao revés do seu caráter instrucional que
não adentra as condições de (re)produção de vida cotidiana dos discentes. Como se pode notar a
Eu fiquei pensando, né? No que essa saudade pode contribuir. Eu acho que a
saudade dela (infância na escola) pode contribuir na crença que eu tenho hoje, de que as
pessoas que estão ao meu redor, elas podem ser o que elas quiserem ser, sabe? E eu vou
com isso, quando eu vou para sala de aula. Eu entro lá e eu acredito em cada aluno... e
aluna que eu tenho... E eu falo isso com muita certeza, muita convicção para eles. E eu
acho que isso ajuda muito na autoestima deles. Mas... eu não falo isso da boca para fora...
Eu falo porque eu realmente acredito em... todos e todas. No potencial de todo mundo.
A escola para esses profissionais, que na sua prática desnudam suas concepções
com o mundo (C. S. Santos, 2020). Assim, os interesses individuais e sociais devem ser o cerne
qual configuração vir a ser é uma temática que atravessa a contação da história de vida (Josso,
2007). Assim, essas noções, puderem ser aventadas a partir da elocubração docente a partir das
formação da minha personalidade, ela foi toda pautada em cima daquilo que eu vivenciei
na escola... eu vivenciei a escola com uma intensidade muito grande e ela tem uma
intensidade muito grande dentro da minha formação. Minha formação de cidadão, minha
formação de ser humano. Então o que eu trago da minha vida de estudante para minha
vida pessoal é muito grande... hoje, na minha atividade profissional… eu tenho esse
sentimento de liberdade. Eu tenho esse sentimento de pertencimento. Dar aula para mim
não é um fardo, pelo contrário, dar aula para mim é onde eu me sinto útil. É onde eu me
sinto vivo. É onde eu me sinto feliz... por mais que existam “N” problemas na perspectiva
da atividade profissional, a escola onde eu dou aula é o lugar onde eu me sinto livre para
Por meio das entrevistas narrativas ratificou-se o que já era notório na observação
das relações compostas no coletivo formativo, a equipe escolar consegue promover um trabalho
crítico, reflexivo e engajado em prol da transformação das condições de vida dos estudantes, pois
é unida pelos mesmos objetivos educacionais, o que torna, segundo o relato dos entrevistados, o
trabalho mais prazeroso e acolhedor, bem como facilita a adesão de propostas interprofissionais
A equipe diretiva, a coordenação, não só para mim, mas como para outros
professores, tem muita liberdade. Então a gente se sente à vontade no ambiente, porque a
escola não é só a sala de aula, a escola é todos os ambientes. Então, desde o porteiro, que
me recebe na porta de entrada da escola até o aluno do fundo da sala, todo esse conjunto
faz…. passando pelas meninas da cozinha, passando pelas meninas da limpeza, todo esse
como pensar em extrapolações aos seus limites em direção a uma rede integrada que se utilize de
gestões democráticas e participativas, seja ela no âmbito das políticas públicas, privadas e/ou
comunitárias. Nesse sentido, o cotidiano escolar deve ser permeado por incentivos concretos ao
construção coletiva dialogal, o interesse desse ciclo de pesquisa se deu por tornar conhecido
algumas memórias que compunham/compõem o universo escolar, assim como evidenciar, dentre
outras questões, quais contextos protetivos são viabilizados pela inserção nesse âmbito.
relações pode causar impactos positivos ou negativos a saúde, e essas relações são atravessadas
pelo contexto institucional e sua dinâmica, tal como dependem de aspectos políticos, culturais,
históricos, sociais e econômicos. O bullying ressaltado como uma violência que acontece no
contexto educacional, mas sob várias configurações, a exemplo do racismo, surgiu nessa etapa de
de sofrimento das gerações entrevistadas, caracterizando com isso, um contexto de risco a saúde
contexto de proteção a saúde, isto é, elementos subjetivos que diminuem a produção de riscos.
Vale levantar o conceito de construção de redes de conexões existenciais para dialogar com esse
ponto, na medida em que exprime o movimento de produção da vida diante do acesso ou das
barreiras aos modos de cuidado ofertados no território, seja ele, geográfico ou simbólico e que
abarque serviços de saúde ou demais redes afetivas, como família, amigos, vizinhos, colegas,
A amizade na escola foi uma experiência em comum citada por todos do grupo em
suas respectivas entrevistas, mostrando a potência que a escola dispõe para a construção de
vínculos. A escola, como já sabido, é um lugar de relevância para a socialização das pessoas,
visto que é um espaço que abarca boa parte do tempo de vida de crianças e adolescentes. Nesse
sentido, a amizade demonstrou ser uma importante fonte para a integração social, bem como uma
...depois da prova, todo dia a gente saía da escola mais cedo, e juntava o grupinho
da gente e ia andar pela cidade. Ia para orla, ia pra Lan House, lanchava. Essa parte que
eu tenho mais saudade. De… tipo... foi a maior parte que eu interagi na minha vida. Foi
muito sólidos e foi tudo no ambiente escolar. Aquele mesmo grupinho de trabalho, aquele
Ah… eu já sofri bullying por causa que minha orelha é grande, tal. E eu era
gordinho e me chamavam de elefante. Mas, eu não levei muito a sério essa parte não,
porque senão eu ia acabar me aborrecendo... A parte boa, tipo... foi o grupo que andava
comigo, sempre me levantando. Não me deixava ficar triste, sempre brincando e tal.
(estudante 02)
Assim, as relações intraescolares, por mais que abranjam conflitos, que também
capacidade protetiva e fortalecedora da saúde, visto que como espaço de socialização intermedia
autoridade referencial
discutido no primeiro ciclo a maneira pela qual professores e estudantes interagiam, que de certa
forma, apresentava uma distância e mesmo uma diferenciação hierárquica. Contudo, a partir das
apresentando mudanças.
Nesse ciclo da pesquisa, por meio das entrevistas narrativas buscou-se conhecer
com base na rememoração da trajetória escolar dos participantes da investigação, como eram as
relações entre professores e estudantes, para fomentar reflexões sobre a postura docente frente a
educação de jovens, bem como possibilitar considerações sobre como essas formas de interação
autoritarismo e a licenciosidade são importantes temáticas para abrir o debate sobre essa
e habilidades imprescindíveis para a atuação docente, dentre elas está a autoridade que se revela
na prática educativa referencial para educandos, já que o professor trabalha orientado pela
liberdade, pela criticidade, pelo respeito aos saberes dos estudantes, pelo impulsionamento da
autonomia, pelo vínculo amoroso e dialógico, e principalmente pelo confronto contratual, aberto,
temor a castração do outro, falseada pela ideia de uma democratização na relação, o que
professores no recolhimento dos dados. Com relação a fala dos entrevistados, apesar de
enfocarem nas recordações positivas das experiências escolares surgiram em todos os relatos
Nas relações... sempre tem um professor que a gente não gosta, né? Ele também
não gostava de mim e eu também não gostava dele. Então na matéria dele eu não prestava
atenção. Tipo, meio que atrapalhava a aula conversando, porque como eu era da galera do
emancipação dos estudantes, o que aparenta conferir-lhe um caráter democrático. Todavia, por
meio da transmissão de conteúdo, essa instituição, em seus moldes hierárquicos funciona muito
mais como (re)produtora das condições sociais estruturais de injustiça, visto que utiliza de
(Miranda, 2019).
construção conjunta do conhecimento (Freire, 2018b). Assim, relatos ligados a essas questões
deixar uma marca positiva na vida dos entrevistados, como se pode notar na narrativa da
estudante 03 a seguir:
então quando… sei lá, sabe? Quando você… até quando você nem fez nada e o seu
A gente quer cuidar e também não sabe como, e, às vezes, até cuida e acha que tá
percebendo que tá entrando muito na intimidade do outro... que cada um tem um jeito de
lidar com situações. Em algumas situações eu achei que... eu quis cuidar. Ou talvez eu
tenha invadido a privacidade daquela pessoa, então eu recuei, mas sempre deixei claro, eu
estou aqui se você quiser agora, se você quiser depois, mas eu não vou sair, eu estou aqui
condutas, autoritários, invasivos e/ou desrespeitosos. Porém, o autor chama atenção para a
seriedade de estabelecer limites no espaço pedagógico, visto que a prática docente requer uma
delimitação ética em prol da liberdade. Desse modo, a ênfase em uma postura que visa a
aprendizagens significativas no contexto da vida pragmática. A escola tem, por sua vez, o
potencial para estimular, por meio dos educadores, habilidades relacionais profícuas no
4. Conteúdos adicionais
emergentes das reuniões realizadas após as entrevistas, uma vez que após os momentos de
conversar sobre aspectos excedentes, isto é, que não eram o foco da investigação, mas
dialogavam com os objetivos da pesquisa, por terem como pano de fundo a saúde mental e a
escola. E ainda, essas questões foram consideradas relevantes para discussão no trabalho pela
alguns tópicos que ultrapassavam as perguntas disparadoras surgiram através do relato dos
momentos coletivos provocou-se a conversação sobre esses pontos, a fim de tonar consciente
essas questões, já que o grupo da pesquisa-formação parecia não estar atento a essas
relação entre os problemas escolares e familiares, que por conta de estarem atrelados, afetaram,
Na minha geração, da minha turma eu era um dos poucos, hoje talvez seja mais
comum, mas eu era um dos poucos a ter pais separados, então isso influenciava também,
né? Você vê que o outro fala, o colega fala, o amigo fala do pai, da mãe, da relação dos
dois e você não tem isso dentro de casa, você tem ao contrário briga, discussão,
desentendimento, enfim. Foi muito, muito complicado nessa época, entendeu? (educador
02)
âmbito familiar refletidas no aprendizado dos educandos é possível, visto que a criança ou o
meio de problemáticas familiares de alguns integrantes do grupo, as questões que foram trazidas
unicamente por uma perspectiva individualista foram sendo percebidas como pontos comuns
entre a experiência coletiva, que sobrepõe inclusive o grupo da investigação, por conta dessa
escolar, que foi justificada, assim como o ponto supramencionado, como uma característica
personalidade não é um constructo dado e a-histórico, como afirma o senso comum entremeado
2008).
Nesse sentido, a timidez, por mais que não se possa afirmar somente com base nessa
investigação que foi originária de experiências escolares, o que também não é a perspectiva dos
diversos ambientes, marcando, por sua vez, a personalidade, a escola se mostrou negligente no
trato com essa questão, chegando mesmo a demonstrar satisfação por meio do corpo escolar,
segundo a narrativa do grupo, pelo fato dos estudantes serem docilizados. As causas e
reverberações desse debate, já há muito discutido no texto desse trabalho, foi empreendido com o
coletivo que acabou se dando conta da dimensão social e histórica da timidez originada pela
opressão da criatividade, proatividade e interatividade do estudante, repercutindo na gestão
pessoal do processo de saúde-doença. Esse ponto fica claro a partir da explanação a seguir:
seleção para ser oradora de todas as turmas da faculdade, né? E eu fui eleita, passei no
teste para oradora. E na hora que eu estava fazendo discurso... eu só conseguia ver duas
pessoas na minha frente: a minha mãe que sempre me colocou para cima e sempre me
encorajou. E a minha professora da alfabetização que nunca me deu voz. Então eu ficava
pensando assim: “será se ela hoje tivesse aqui no plenário, ela ia acreditar que aquela
menina que ela não deixava nem falar na sala de aula, tivesse fazendo discurso aqui de
pós? acho que ela não ia acreditar que aquela menina tímida seria a oradora de todas as
Uma outra aparição interessante por meio das narrativas do grupo foi a contraposição
entre relatos de admiração e preconceito com a escola pública. Foi possível principalmente
E foi super tranquilo. Gostei demais... antes da gente sair da escola particular eu ficava
com medo... porque na escola lá: “tomara que você encontre aquele menino de rua, que
vão fazer coisa com você”. Então quando eu via alguém assim... mais ‘estranho’, eu já
ficava com medo. Com medo da pessoa e tentava não demonstrar isso, porque era um
paradigma. E com um tempo eu fui vendo “que nada!”. E aí pronto. Foi Tudo muito
tranquilo. Estudei, gostei. Só tenho recordações boas. As amizades estão até hoje em
Eu acho que se eu… não tivesse, aos 12 anos de idade, tomado a decisão de não
ficar mais naquela escola (privada), eu seria outra pessoa hoje. E, talvez, não uma pessoa
que tivesse sido uma líder sindical. Não pessoa que tivesse em um movimento de
mulheres. Não uma pessoa que pudesse, talvez, contribuir mais... E de lá para cá essa
história na educação. Sempre que trabalhei, eu procurava trabalhar com turmas com
destinado como ponto comum a sociedade, para direcionar a perspectiva coletiva a uma
aprovação dos recursos comunitários a empresas privadas, como uma falsa garantia de
responsabilizar funcionários públicos e estudantes a uma lógica de fracasso escolar, visto que o
educacional.
qual o foco de ensino se dá pelo desvelamento consciente das iniquidades sociais enquanto uma
pedagogia que adentra ações críticas, políticas e transformadoras da realidade (Freire, 2018b).
Nesse viés, essa temática foi manifesta em debate para reafirmar a posição reflexiva e formativa
dos educadores que encaram a escola pública como uma política de ampla importância, o que
reverberou em falas de uma identificação positiva dos estudantes para com a escola. Isso se pode
notar a seguir:
O pai dele (estudante 02) tinha sugerido para ele ir para uma escola ‘x’ e ele disse
que não ia nem a pau. Isso porque ele estudava em escola particular e perdeu o ano. Aí a
avó achou que coloca ele lá (na escola atual) seria o castigo por ele ter perdido ano. E na
reunião eu conversei... ela (vó) disse que Gustavo nunca tinha sido tão bem acompanhado
nas escolas particulares que ele tinha estudado... que não ia tirar mais ele de lá... que ela
tinha achado aquilo diferente, porque era uma escola pública e ela achava que não ia ter
esse tipo de posicionamento... e ele também super se identifica com a escola... que... ele
sociais introjetadas como conteúdos subjetivistas, que foi rememorado para o grupo, com a
autorização deles, fragmentos de suas percepções realizadas nas entrevistas narrativas, em que
maneira acrítica por esses sofrimentos. E para fazer um paralelo com essas lembranças, a
problematizar a dinâmica empreendida nas relações educacionais, o que parece ter feito sentido
para o grupo que começou a destacar a importância de uma escola respeitosa, amorosa e
solidária, ao revés de opressiva, sem sentido e sem aplicação crítica e cidadã de seus conteúdos.
A última reunião que contou apenas com a participação dos professores, abordou a
problematização do que seria, mais uma vez, a saúde em um sentido psicossocial, já que
Atenção Psicossocial foram o objetivo da videochamada, como também sobre como resgatar o
professores já haviam buscado a rede de acordo com seus saberes. Apesar disso, eles trouxeram
que havia barreiras para referenciarem-se com esses serviços, já que a maioria das equipes se
médico de uma Unidade Básica de Saúde do bairro que, apesar de sua correria cotidiana, quis
Sendo assim, nos esclarecimentos sobre a rede, seus níveis de atenção, encaminhamentos,
enlaces e objetivos, tornou-se a incentivar que se procurasse os serviços assim que possível, visto
que há uma grande rotatividade das equipes de saúde nos serviços públicos, o que poderia
das parcerias estabelecidas, como também houve espaço para agradecimentos, elogios,
Para fins de elaboração de um compêndio das informações aqui há muito discutidas, foi
criado como síntese um quadro que abarca os contextos de risco e de proteção a saúde
percebidos em relação a instituição escolar e o seu território comunitário e que será demonstrado
a seguir:
que influenciam o processo de saúde-doença em muitos âmbitos da vida cotidiana, o que alega a
que subverte a lógica de subordinação do pesquisado ao pesquisador, dado que se pauta pela
ética e metodológica alguns princípios orientam o compromisso desse tipo de investigação com a
formação integral, que por sua vez, abarca muito mais que os conhecimentos formais escolares,
discriminatórias, excludentes e opressoras nos âmbitos onde se queira atuar, pois em seu âmago
objetiva-se que haja a conscientização e emancipação de seus atores. É por conta disso que a
conjuntura social que apresenta marcas históricas, culturais, ideológicas e econômicas como o
retirada de direitos e sua consequente desumanização, entre tantas outras questões, que precisam
e mesmo ataques a escola pública e aos educadores com a divulgação de fake news, a presente
Psicologia que acreditam que o agente da investigação é um objeto incólume, já que o olhar
da pandemia do coronavírus foi possível vislumbrar que houve através da proposição da pesquisa
de operação simbólica tanto no grupo de pesquisa-formação, como nos relatos sobre as demais
desvelamento dessas práticas, causando um movimento de análise dialética com o grupo, que por
foram agravadas pela pandemia denunciaram que no corpo da escola pública existe um recorte
claro de gênero, raça e classe que não pode deixar de ser problematizado, já que sinalizam quais
grupos ainda sofrem com iniquidades sociais e enfrentam desafios estruturais para adentrar em
condições de vida mais justas. Isso evidencia a importância política de uma ciência psicológica
escola pública, mesmo com a aprovação recente da Lei 13.935/2019 que dispõe da prestação de
serviços da psicologia e serviço social na educação básica, essa pesquisa pôde auxiliar a
formação em saúde mental dos atores escolares envolvidos direta ou indiretamente na pesquisa
com a proposição de rodas de conversa, lives, entrevistas, questionários e debates na esfera
virtual.
história nesse campo apresentar-se clínica e/ou classificatória sugere-se ainda mais estudos com
a vertente qualitativa e participativa com teor formativo em educação em saúde sob um olhar
psicossocial, dada a dificuldade de encontrar estudos nessa área e motivada também pela
necessidade institucional que esses ambientes apresentam. Acredita-se que já que a RAPS não
consegue dar conta dessas demandas, a ponte entre a universidade e os serviços públicos deve-se
Ainda importa falar que a pandemia impôs ainda mais percalços e que exigiram,
curiosidade metodológica, resiliência e ética para a continuação da pesquisa sob outros moldes,
epistemológicos.
Por fim, reafirma-se a importância da escola pública como lugar privilegiado para
a criação de ações inventivas que subvertam a lógica massificadora e capitalista dessa instituição
como corpo para reprodução de injustiças, já que a educação focada em uma formação
existencial que paute componentes da vida pessoal, profissional, comunitária e cidadã pode
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Apêndice
Apêndice 2
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) PARA
PROFESSORES
1. Nome do participante: .
Data de Nascimento: / / . Telefone (s): _
Você está sendo convidado(a) a participar desta pesquisa: “Dialogando sobre saúde mental na
escola sob o olhar da pesquisa-formação”. O objetivo dessa pesquisa é viabilizar um processo
formativo sobre temas de saúde mental que envolve os adolescentes no contexto escolar e que
sejam de interesse da comunidade escolar como um todo, além de tornar conhecidos os contextos
de risco e proteção a esses tópicos. Além de disso pretende-se analisar a dinâmica e os
desdobramentos do processo formativo, no que diz respeito ao andamento dos encontros e as
resoluções formuladas por estes. Sua participação é importante e acontecerá de modo voluntário.
Ressalta-se que esse projeto somente será iniciado após aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa. Além disso, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) será feito em 02
(duas) vias, na qual uma via ficará com o participante, após a assinatura. Leia atentamente as
informações abaixo e faça, se desejar, qualquer pergunta para esclarecimento e/ou modificações.
Sobre a exposição dos dados – garantia de sigilo e privacidade: os dados obtidos nessa
pesquisa, inclusive aqueles fornecidos por você, poderão ser publicados em livros e/ou
periódicos especializados e/ou divulgados em eventos científicos assegurando, contudo, o sigilo
e privacidade obrigatória a respeito de sua identificação.
Armazenamento dos dados colhidos: os dados dessa pesquisa serão armazenados em forma de
arquivos digitalizados em banco de dados formato Word nos arquivos do computador do
professor orientador.
Despesas: você declara ter ciência de que não será remunerado para participar dessa pesquisa.
Declara ainda que todas as despesas que venham a ocorrer com a pesquisa serão custeadas
exclusivamente pelos pesquisadores responsáveis. Não é previsto nenhum tipo de despesa
material com transporte ou alimentação, mas se ocorrer algum dano proveniente de sua
participação na pesquisa, você terá direito ao ressarcimento de gastos pontuais relacionados às
condições mínimas de sua participação e não terá nenhum dispêndio financeiro. Caso você sofra
algum dano durante a sua participação, terá cobertura material (indenização) para reparação do
dano. Você tem a liberdade de recusar-se a participar e ainda se recusar a continuar participando
em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo ou dano.
Declaro que, após ter sido convenientemente esclarecido sobre os objetivos desta investigação e
procedimentos a serem adotados, permito a minha participação sob minha responsabilidade na
presente pesquisa. Informo ainda que o termo foi assinado e rubricado todas as páginas em duas
vias, uma ficando comigo e outra com os pesquisadores.
Juazeiro de de 2019.
Assinatura do participante
Assinatura do pesquisador
Pesquisadora proponente: Layta Sena Ribeiro.
Fone: (74)9 8824-1773
e-mail: [email protected]
Pesquisador orientador: Marcelo Silva de Souza Ribeiro. Av. José de Sá Maniçoba S/N,
Colegiado de Psicologia, CEP 56304-205, Centro, Petrolina-PE. Fone (87) 2101 6868.
1. Nome do participante: .
Data de Nascimento: / / . Telefone (s): _
Você está sendo convidado(a) a permitir a participação do seu filho a esta pesquisa: “Dialogando
sobre saúde mental na escola sob o olhar da pesquisa-formação”. O objetivo dessa pesquisa é
viabilizar um processo formativo sobre temas de saúde mental que envolve os adolescentes no
contexto escolar e que sejam de interesse da comunidade escolar como um todo, além de tornar
conhecidos os contextos de risco e proteção a esses tópicos. Além de disso pretende-se analisar a
dinâmica e os desdobramentos do processo formativo, no que diz respeito ao andamento dos
encontros e as resoluções formuladas por estes. A participação do seu filho é importante e
acontecerá de modo voluntário. Ressalta-se que esse projeto somente será iniciado após
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. Além disso, o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) será feito em 02 (duas) vias, na qual uma via ficará com você, após a
assinatura. Leia atentamente as informações abaixo e faça, se desejar, qualquer pergunta para
esclarecimento e/ou modificações.
Sobre a exposição dos dados – garantia de sigilo e privacidade: os dados obtidos nessa
pesquisa, inclusive aqueles fornecidos por seu filho, poderão ser publicados em livros e/ou
periódicos especializados e/ou divulgados em eventos científicos assegurando, contudo, o sigilo
e privacidade obrigatória a respeito de sua identificação.
Armazenamento dos dados colhidos: os dados dessa pesquisa serão armazenados em forma de
arquivos digitalizados em banco de dados formato Word nos arquivos do computador do
professor orientador.
Despesas: você declara ter ciência de que seu filho não será remunerado para participar dessa
pesquisa. Declara ainda que todas as despesas que venham a ocorrer com a pesquisa serão
custeadas exclusivamente pelos pesquisadores responsáveis. Não é previsto nenhum tipo de
despesa material com transporte ou alimentação, mas se ocorrer algum dano proveniente de sua
participação na pesquisa, seu filho terá direito ao ressarcimento de gastos pontuais relacionados
às condições mínimas de sua participação e não terá nenhum dispêndio financeiro. Caso seu filho
sofra algum dano durante a participação na pesquisa, terá cobertura material (indenização) para
reparação do dano. Você tem a liberdade de recusar a participação do seu filho e ainda recusar a
continuidade da sua participação em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo ou dano.
Declaro que, após ter sido convenientemente esclarecido sobre os objetivos desta investigação e
procedimentos a serem adotados, permito a participação sob minha responsabilidade do meu
filho, na presente pesquisa. Informo ainda que o termo foi assinado e rubricado todas as páginas
em duas vias, uma ficando comigo e outra com os pesquisadores.
Juazeiro de de 2019.
Assinatura do participante
Assinatura do pesquisador
Pesquisador orientador: Marcelo Silva de Souza Ribeiro. Av. José de Sá Maniçoba S/N,
Colegiado de Psicologia, CEP 56304-205, Centro, Petrolina-PE. Fone (87) 2101 6868.
TERMO DE ASSENTIMENTO
, de de 20
Em caso de dúvidas com respeito aos aspectos éticos deste estudo, você poderá consultar:
Apêndice 5
TERMO DE CONFIDENCIALIDADE E SIGILO
(PESQUISADORA RESPONSÁVEL)
Petrolina, 31/05/19.
Apêndice 6
TERMO DE CONFIDENCIALIDADE E SIGILO
(PESQUISADOR ORIENTADOR)
Petrolina, 31/05/19.
Apêndice 7
Eu, Abdiel Ferreira Oliveira, brasileiro, solteiro, estudante, inscrito no CPF sob o n°
119.964.454-48, assumo o compromisso de manter confidencialidade e sigilo sobre
todas as informações técnicas e outras relacionadas ao projeto de pesquisa intitulado
“Dialogando sobre saúde mental na escola sob o olhar da Pesquisa-Formação”. Por este
termo de confidencialidade e sigilo comprometo-me:
1. A não utilizar as informações confidenciais a que tiver acesso, para gerar benefício
próprio exclusivo e/ou unilateral, presente ou futuro, ou para o uso de terceiros;
2. A não efetuar nenhuma gravação ou cópia da documentação confidencial a que tiver
acesso;
3. A não se apropriar para si ou para outrem de material confidencial e/ou sigiloso da
tecnologia que venha a ser disponível;
4. A não repassar o conhecimento das informações confidenciais, responsabilizando-se
por todas as pessoas que vierem a ter acesso às informações, por seu intermédio, e
obrigando-se, assim, a ressarcir a ocorrência de qualquer dano e / ou prejuízo oriundo de
uma eventual quebra de sigilo das informações fornecidas.
Petrolina, 04/10/19.
Apêndice 8
DECLARAÇÃO DE COMPROMISSO
(PESQUISADOR ORIENTADOR)
Petrolina, 31/05/19.
Apêndice 9
DECLARAÇÃO DE COMPROMISSO
(PESQUISADORA ORIENTANDA)
Eu, Layta Sena Ribeiro, brasileira, solteira, estudante de pós graduação, inscrita no
CPF sob o n° 038.184.015-86, assumo o compromisso de anexar os resultados
referentes a pesquisa intitulada “Dialogando sobre saúde mental na escola sob o olhar
da Pesquisa-Formação” na Plataforma Brasil, garantido o sigilo relativo às propriedades
intelectuais e patentes industriais dos envolvidos em sua realização.
Declaro, também, que esta pesquisa está pautada nos critérios de ética em pesquisa com
Seres Humanos, conforme Resolução nº 510 de 2016 do Conselho Nacional de Saúde e
suas complementares, de modo que me responsabilizo pelo andamento, realização e
conclusão deste projeto e me comprometo a enviar ao Comitê de Ética em
Pesquisa/Universidade Federal do Vale do São Francisco, relatório do presente projeto
quando da sua conclusão, ou a qualquer momento, se o estudo for interrompido.
Petrolina, 31/05/19.
Apêndice 10
DECLARAÇÃO DE COMPROMISSO
(PESQUISADOR COLABORADOR)
Eu, Abdiel Ferreira Oliveira, brasileiro, solteiro, estudante, inscrito no CPF sob o n°
119.964.454-48, assumo o compromisso de anexar os resultados referentes a pesquisa
intitulada “Dialogando sobre saúde mental na escola sob o olhar da Pesquisa-Formação”
na Plataforma Brasil, garantido o sigilo relativo às propriedades intelectuais e patentes
industriais dos envolvidos em sua realização.
Declaro, também, que esta pesquisa está pautada nos critérios de ética em pesquisa com
Seres Humanos, conforme Resolução nº 510 de 2016 do Conselho Nacional de Saúde e
suas complementares, de modo que me responsabilizo pelo andamento, realização e
conclusão deste projeto e me comprometo a enviar ao Comitê de Ética em
Pesquisa/Universidade Federal do Vale do São Francisco, relatório do presente projeto
quando da sua conclusão, ou a qualquer momento, se o estudo for interrompido.
Petrolina, 04/10/19.