TEXTO 13 - STF Extradição Cláudia Sobral

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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 45

28/03/2017 PRIMEIRA TURMA

EXTRADIÇÃO 1.462 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


REQTE.(S) : GOVERNO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
EXTDO.(A/S) : CLAUDIA CRISTINA SOBRAL OU CLAUDIA
HOERIG OU CLAUDIA C. HOERIG OU CRISTINA
HOERIG OU CLAUDIA BOLTE OU CRISTINA
BOLTE OU CLAUDIA CRISTINA SOBRAL OU
CLAUDIA SOBRAL OU CRISTINA SOBRAL OU CRIS
OU CLAUDIA CRISTINA BOLTE
ADV.(A/S) : ADILSON VIEIRA MACABU
ADV.(A/S) : FLORIANO DUTRA NETO

Ementa: EXTRADIÇÃO INSTRUTÓRIA. REGULARIDADE


FORMAL. CRIME DE HOMICÍDIO QUALIFICADO. REQUISITOS
LEGAIS ATENDIDOS. DEFERIMENTO CONDICIONADO.

1. Conforme decidido no MS 33.864, a Extraditanda não


ostenta nacionalidade brasileira por ter adquirido nacionalidade
secundária norte-americana, em situação que não se subsume às exceções
previstas no § 4º, do art. 12, para a regra de perda da nacionalidade
brasileira como decorrência da aquisição de nacionalidade estrangeira
por naturalização.
2. Encontram-se atendidos os requisitos formais e legais
previstos na Lei n° 6.815/1980 e no Tratado de Extradição Brasil-Estados
Unidos, presentes os pressupostos materiais: a dupla tipicidade e
punibilidade de crime comum praticado por estrangeiro.
3. Extradição deferida, devendo o Estado requerente assumir
os compromissos de: (i) não executar pena vedada pelo ordenamento
brasileiro, pena de morte ou de prisão perpétua (art. 5º, XLVII, a e b, da
CF ); (ii) observar o tempo máximo de cumprimento de pena possível no
Brasil, 30 (trinta) anos (art. 75, do CP); e (iii) detrair do cumprimento de
pena eventualmente imposta o tempo de prisão para fins de extradição
por força deste processo.

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EXT 1462 / DF

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da


Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, na conformidade da ata de
julgamento, sob a presidência do Ministro Marco Aurélio, por maioria de
votos, em assentar a possibilidade de entrega da Extraditanda ao
Governo requerente, nos termos do voto do Relator, vencido o Ministro
Marco Aurélio, Presidente.
Brasília, 28 de março de 2017.

MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - RELATOR

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28/03/2017 PRIMEIRA TURMA

EXTRADIÇÃO 1.462 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


REQTE.(S) : GOVERNO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
EXTDO.(A/S) : CLAUDIA CRISTINA SOBRAL OU CLAUDIA
HOERIG OU CLAUDIA C. HOERIG OU CRISTINA
HOERIG OU CLAUDIA BOLTE OU CRISTINA
BOLTE OU CLAUDIA CRISTINA SOBRAL OU
CLAUDIA SOBRAL OU CRISTINA SOBRAL OU CRIS
OU CLAUDIA CRISTINA BOLTE
ADV.(A/S) : ADILSON VIEIRA MACABU
ADV.(A/S) : FLORIANO DUTRA NETO

RELATÓRIO:

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR):

1. Trata-se de pedido de extradição instrutória apresentado


pelo Governo dos Estados Unidos da América, por meio da Nota Verbal
nº 436/2016, contra Cláudia Cristina Sobral Alves Barbosa ou Cláudia
Cristina Hoerig.

2. O crime em razção do qual a extraditanda teve sua prisão


decretada pela autoridade norte-americana foi o de homicídio doloso,
praticado, em tese, contra o seu então marido, conforme os seguintes
fatos constantes da Nota Verbal nº 436/2016 (fls. 65):

“Em 10 de março de 2007, CLAUDIA HOERIG comprou


um revólver Smith and Wesson de calibre 357 com visor de
laser incorporado. Ela praticou tiro ao alvo em um polígono de
tiro que ficava próximo, fazendo perguntas sobre diferentes

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tipos de munição. Há provas que indicam que CLAUDIA


HOERIG comprou munição mais tarde naquele mesmo dia, que
coincide com o tipo discutido mais cedo no polígono de tiro.
Em 12 de março de 2007, um vizinho viu CLAUDIA HOERIG
sair de sua residência e nunca mais a viu retornar.
O corpo de Karl Hoerig foi descoberto na residência três
dias depois por um policial do Departamento de Polícia de
Newton Falls, após ter sido contactado por parentes,
preocupados com o bem-estar de Karl Hoerig. Um exame do
corpo de Karl Hoerig efetuado por peritos legistas revelou duas
feridas por arma de fogo nas costas e uma na cabeça.
Fragmentos de bala encontrados no corpo e nas áreas à sua
volta indicaram que vítima havia sido atingida pela mesma
arma que CLAUDIA HOERIG havia comprado dois dais antes
da morte de Karl Hoerig.
Provas indicaram ainda que em 10 de março de 2007
CLAUDIA HOERIG acessou um cofre pessoal em seu banco.
Dois dias depois, US$ 10.000,00 foram depositados em uma
conta em seu nome no mesmo banco, tendo a maior parte desta
quantia sido transferida em seguida para seu pai no Brasil. Em
12 março de 2007, CLAUDIA HOERIG pegou um vôo no
Aeroporto Internacional de Pittsburgh para Nova Iorque. Sabe-
se que ela chegou ao Brasil pouco tempo depois e informou aos
membros da família que lá residem, inclusive à sua irmã
Simone Batista Sobral da Silva, que KARL HOERIG estava
morto.“

3. O Ministro de Estado da Justiça encaminhou o pedido na


forma do art. IX do Tratado firmado entre Brasil e Estados Unidos da
América, assinado em 13 de janeiro de 1961 e promulgado pelo Decreto
nº 55.750, de 11 de fevereiro de 1965.

4. O pedido de extradição foi inicialmente apresentado por


meio da Nota Verbal 617/2013. Entretanto, indeferi tal pedido,
considerando que ainda não havia sido julgado o mandado de segurança
em que se discutia a perda da nacionalidade brasileira da extraditanda.

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(fls. 352/353 da PPE 694, anexa aos presentes autos).

5. Com o julgamento do mandado de segurança, em que a 1ª


Turma decidiu pela perda da nacionalidade brasileira da extraditanda,
decretei a sua prisão para fins de extradição, sendo o mandado de prisão
devidamente cumprido em 20 de abril de 2016 (fls. 415 da PPE 694, anexa
aos presentes autos).

6. Designado interrogatório da extraditanda, a Defesa


requereu o seu adiamento, em razão de o acórdão do Mandado de
Segurança 33.864 não ter sido publicado (fls. 122/123), o que foi
indeferido por mim (fls. 126/127).

7. A extraditanda foi interrogada pelo Magistrado Instrutor


deste Gabinete em 28.06.2016 (fls. 128/128v), ocasião em que a Defesa
requereu a suspensão do presente processo de extradição até o trânsito
em julgado do MS 33.864, cuja análise deixei para momento posterior à
apresentação da Defesa escrita (fls. 134).

8. Na Defesa escrita, sustenta-se, em caráter preliminar: (i) a


nulidade do julgamento do MS 33.864, em razão de usurpação da
competência do Superior Tribunal de Justiça para o seu julgamento, uma
vez que o ato coator fora praticado por Ministro de Estado, no caso, o
Ministro da Justiça, em face do que requer a devolução do mandado de
segurança ao STJ para julgamento pelo Ministro Napoleão Maia, prevento
para o caso; (ii) a ausência de sentença condenatória ou decisão penal
proferida por autoridade competente do Estado Requerente, não
satisfazendo o relatório do Promotor de Justiça responsável pelo caso os
requisitos do art. 80 da Lei nº 6815/1980; (iii) a ausência de autenticidade
dos documentos anexados, uma vez que não há qualquer carimbo ou
elemento que comprove a sua autenticidade; (iv) a ausência de tradução
oficial para o idioma português dos documentos anexados, conforme fls.
06, em que não consta a informação de que a tradução foi efetuada por

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tradutor juramentado; (v) a ausência de compromisso formal do Estado


requerente de computar o tempo de prisão cumprido pela extraditanda
no Brasil; (vi) a ausência de formalização do compromisso de comutar a
pena corporal ou de morte em privativa de liberdade. Requer, assim, a
extinção do processo sem julgamento de mérito, ou, no caso da ausência
de compromissos formais de detrair a pena cumprida no brasil e de
comutar a pena corporal ou de morte em privativa de liberdade, a
suspensão do processo até a juntada aos autos destes compromissos.

9. No mérito, a Defesa sustenta: (i) a ausência de vontade da


extraditanda em perder a nacionalidade brasileira, consubstanciada no
fato de que renovou seu passaporte em 2003 e entrou no Brasil em 2007,
utilizando seu passaporte renovado, sendo que aqui permanece
cumprindo todas as suas obrigações legais e no fato de que, conforme
parecer do Ministério da Justiça, a perda da nacionalidade brasileira só
poderia ocorrer com manifestação de vontade inequívoca neste sentido,
por meio do preenchimento de um formulário constante no site do
Ministério das Relações Exteriores; (ii) a manutenção da nacionalidade
brasileira da extraditanda, uma vez que se enquadra na exceção prevista
no art. 12, § 4º, II, b, da Constituição Federal, dispositivo este instituído
pela Emenda Constitucional de Revisão nº 03, de 1994, que, segundo
alega, não torna automática a perda da nacionalidade brasileira em caso
de aquisição de outra nacionalidade. Sustenta, ainda, com relação a esta
questão, que o greencard restringia a sua liberdade, pois não permite que
os seus portadores se ausentem do país por mais de 1 (um) ano, além de
não permitir o exercício pleno da carreira de contadora, uma vez que as
vagas de emprego de contador são destinadas apenas aos nacionais norte-
americanos, de modo que, antes de adquirir a nacionalidade norte-
americana, a extraditanda somente conseguia trabalhar como auxiliar
contábil, recebendo um valor correspondente a um quinto do valor
recebido por um contador.
10. Diante disso, a defesa alega que não se pode considerar
completamente voluntária a aquisição da nacionalidade norte-americana.

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Para reforçar a ausência de voluntariedade, argumenta que o ato solene


de juramento realizado nos Estados Unidos é semelhante a um contrato
de adesão, uma vez que, para sua formalização, se deve obedecer às
regras impostas sem possibilidade de alteração. Prossegue a sua defesa
de mérito alegando: (i) a nulidade da sessão de julgamento do MS 33.864,
em razão da ausência de intimação do advogado constituído à época, o
que lhe causou prejuízo, consubstanciado no apertado resultado do
julgamento, de modo que, a seu ver, uma sustentação oral poderia alterá-
lo; (ii) a necessidade de aguardar o trânsito em julgado do MS 33.864, que
sequer havia sido publicado, em razão de a questão aduzida no writ ser
prejudicial ao presente processo de extradição.

11. A Defesa sustenta, ainda, a existência de pressão política


exercida pelos Estados Unidos para a perda da nacionalidade brasileira
da extraditanda. Neste ponto, alega que o governo norte-americano vem
exercendo pressão sobre o governo brasileiro para que seja deferida a
extradição de Cláudia Sobral e efetivada a sua entrega aos Estados
Unidos. Como exemplos dessa pressão, cita a apresentação, pelo
Deputado Tim Ryan, de dois projetos de lei no Congresso dos Estados
Unidos, com o objetivo de suspender a assistência norte-americana ao
Brasil e a concessão de vistos a nacionais brasileiros, até que se
modificasse a regra constitucional que veda a extradição de brasileiros
(fls. 160 e fls. 217). Cita a notícia publicada no Blog do Pannunzio (fls. 161 e
fls. 218/219) de que o promotor americano responsável pelo caso, Denis
Watkins, estaria movendo uma cruzada junto ao governo Obama para
que pressionasse o governo brasileiro a mudar a Constituição e tornar
possível a extradição de nacional. Busca demonstrar, através do quadro
presente às fls. 160v e 161, que as principais decisões relativas a esse
processo tiveram estreita relação com visitas de governantes norte-
americanos ao Brasil e vice-versa. Sustenta que houve várias reuniões
entre oficiais dos Estados Unidos e autoridades do governo brasileiro, nas
quais se discutia se a lei brasileira permitiria a perda da nacionalidade
brasileira pela extraditanda. Por fim, alega que existe a possibilidade de

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que a extraditanda seja processada e julgada no Brasil, impedindo


eventual impunidade pelos atos praticados e que há uma questão
humanitária neste caso, semelhante àquela do caso Cesare Battisti, em
razão da ausência do compromisso formal assumido pelo Estado
Requerente de comutar a pena de morte em privativa de liberdade,
alegando que, se esta extradição for deferida, o Brasil romperia sua
tradição humanitária.

12. Após a apresentação da defesa escrita (fls. 142/244), novo


requerimento pela suspensão do processo de extradição foi protocolado
(fls. 247/248), o qual foi indeferido por mim. (fls. 250/251). Nesta mesma
ocasião, deferi a realização de entrevista da extraditanda pela empresa
Folha da Manhã S/A, conforme requerido às fls. 240/244. Determinei,
ainda, a remessa dos autos à Procuradoria-Geral da República para
manifestação.

13. Em 08.09.2016, a Juíza da Vara de Execuções Penais do


Distrito Federal informou que a extraditanda estaria articulando um
plano de fuga, segundo informações obtidas por meio das agentes
penitenciárias. Diante disso, remeti a referida petição ao Ministério
Público Federal para adoção de providências cabíveis. Na mesma data, a
magistrada autorizou entrevista da extraditanda a ser realizada pela TV
Record, o que obteve manifestação favorável do Ministério Público
Federal (fls. 255/256).

14. Em sede de alegações escritas, a Procuradoria-Geral da


República opinou pelo deferimento do pedido de extradição (fls. 255/282).

15. É o relatório.

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EXTRADIÇÃO 1.462 DISTRITO FEDERAL

VOTO:

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR):

I. ANTECEDENTES DESTA EXTRADIÇÃO: O MS 33.864

1. Consta dos autos que a ora extraditanda, nascida no Brasil


e de pais brasileiros, radicou-se nos Estados Unidos da América, onde se
casou, em 1990, com Thomas Bolte, razão pela qual obteve visto de
permanência naquele país, o denominado “green card”. Em 1999, quando
ainda casada com Thomas Bolte, requereu a nacionalidade norte-
americana, declarando “renunciar e abjurar fidelidade a qualquer Estado ou
soberania”.

2. Divorciada de Thomas Bolte, casou-se novamente com


Karl Hoerig. Investigações policiais realizadas no Estado de Ohio
revelaram que a extraditanda, em 10.03.2007, teria comprado um revólver
Smith & Wesson, calibre 357, com visor laser incorporado, tendo
praticado tiro ao alvo em polígono de tiro próximo ao seu local de
residência. Ainda de acordo com as mesmas investigações, em 12.03.2007,
um vizinho teria visto Cláudia deixar sua residência, não tendo ela jamais
sido vista novamente nos Estados Unidos da América.

3. O corpo de seu marido foi encontrado três dias após na


residência do casal com ferimentos à bala na cabeça e nas costas. Pouco
dias depois, Cláudia chegava ao Brasil, de onde não voltaria para os
Estados Unidos da América, país no qual foi formalmente acusada do
homicídio de Karl Hoerig.

4. Em 12.09.2011, foi aberto de ofício o Procedimento


Administrativo nº 08018.011847/2011-01, que culminou com a declaração

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de perda da nacionalidade brasileira, veiculada na Portaria Ministerial nº


2.465/13.

5. Impugnando esta decisão, a extraditanda impetrou o


Mandado de Segurança 33.864, julgado em 19.04.2016, em que foi denegar
a segurança, mantendo-se a decisão administrativa de perda da
nacionalidade brasileira.

6. Entendeu esta Primeira Turma, por maioria de votos, que


em se tratando de ato do Exmo. Sr. Ministro de Estado da Justiça,
praticado por delegação da Presidência da República que interfere,
diretamente, em matéria extradicional, competia ao Supremo Tribunal
Federal processar e julgar, originariamente, a impetração na medida em
que eventual concessão da ordem poderia restringir (ou obstar) o
exercício, pelo Supremo Tribunal Federal, dos poderes que lhe foram
outorgados, com exclusividade, em sede de extradição passiva, pela Carta
Política (CF, art. 102, I, g) nos termos do que já decidido no HC 83113/DF,
sob relatoria do Ministro Celso de Mello.

7. No mérito, entendeu a Turma que Constituição Federal, ao


cuidar da perda da nacionalidade brasileira, estabeleceu duas hipóteses:
(i) o cancelamento judicial da naturalização, em virtude da prática de ato
nocivo ao interesse nacional, o que só alcançaria brasileiros naturalizados
(art. 12, § 4º, I); e (ii) a aquisição voluntária de outra nacionalidade
secundária, o que alcançaria, indistintamente, brasileiros natos e
naturalizados. Nesta última hipótese – de aquisição de outra
nacionalidade –, não se perderia a nacionalidade brasileira em duas
situações que constituem exceção à regra: (i) tratar-se não de aquisição de
outra nacionalidade, mas do mero reconhecimento de outra
nacionalidade originária, considerada a natureza declaratória deste
reconhecimento (art. 12, § 4º, II, a); e (ii) ter sido a outra nacionalidade
imposta pelo Estado estrangeiro como condição de permanência em seu
território ou para o exercício de direitos civis (art. 12, § 4º, II, b), não se

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tratando a situação da então impetrante de qualquer delas.

8. Como se colheu dos autos daquela impetração, a ora


extraditanda já detinha, desde muito antes de 1999, quando requereu a
naturalização, o denominado “green card”, cuja natureza jurídica é a de
visto de permanência e que confere, nos Estados Unidos da América, os
direitos que alega ter pretendido adquirir com a naturalização, quais
sejam: a permanência em solo norte-americano e a possibilidade de
trabalhar naquele país.

9. Assim, entendeu a Turma desnecessária a obtenção da


nacionalidade norte-americana para os fins que constitucionalmente
constituem exceção à regra da perda da nacionalidade brasileira (alíneas
a e b do § 4º, II, do art. 12 da CF). Ao revés, pretendeu a extraditanda
integrar-se àquela comunidade nacional, o que justamente constitui a
razão central do critério adotado pelo constituinte originário para a perda
da nacionalidade brasileira, critério este, repise-se, não excepcionado pela
EC 03/1994, que introduziu as exceções previstas nas alíneas a e b do § 4º,
II, do art. 12 da CF.

10. Esse o quadro, não havendo razão para se falar em


qualquer ilegalidade ou abuso de poder que tenha ferido direito líquido e
certo da impetrante, na decisão administrativa, prolatada nos Autos do
Procedimento de Perda de Nacionalidade de Ofício nº 08018.011847/2011-
01. Como decidido por esta Turma, tudo se passou com observância do
que disposto nos arts. 5º, LV, da CF e 23 da Lei nº 818/1949 e nas normas
que regulam o processo administrativo federal, Lei nº 9.784/1999,
porquanto fundamentado em previsão constitucional expressa, qual seja,
a aquisição de outra nacionalidade, sem a subsunção a uma das exceções
constitucionalmente previstas (art. 12, § 4º, II, alíneas a e b) daí haver o
Tribunal denegado a segurança e revogado a liminar anteriormente
concedida.

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II. A QUESTÃO DISCUTIDA NA EXTRADIÇÃO

11. Como relatado, trata-se de pedido de extradição


instrutória formulada pelo Governo dos Estados Unidos da América (fls.
2-106), com fundamento no Tratado de Extradição Brasil-Estados Unidos,
de janeiro de 1961, internalizado pelo Decreto nº 55.750/1965,
encaminhado pela via diplomática, com o objetivo de processar e julgar a
extraditanda pela prática do crime de homicídio doloso supostamente
cometido no dia 12 de março de 2007, que tramita no Tribunal de Causas
Comuns do Tribunal Distrital do Condado de Trumbull, Estado de Ohio.

12. O documento consular contém mandado de detenção


internacional, descrição dos fatos imputados à extraditanda, identificação
da extraditanda e cópias dos textos legais relativos aos delitos e à
prescrição (fls. 22/23, tradução às fls. 69/70). Conforme art. 9º do Tratado,
instruem o presente processo de extradição os documentos que integram
o Processo-crime 07-CR-269 (fls. 08/57, tradução às fls. 76/106), entre eles
o mandado de prisão emitido pelo Tribunal de Causas Comuns do
Tribunal Distrital do Condado de Trumbull, Estado de Ohio (fls. 29,
tradução fls. 76) e a acusação formal contra a extraditanda (fls. 25/26,
tradução às fls. 72/73).

13. A conduta imputada à extraditanda é tipificada no Brasil


no art. 121, § 2º, IV, do CP (“homicídio qualificado em razão de ter sido
cometido à traição, de emboscada ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido”) e encontra
correspondência nas Seções 2903.01 (A) e (F), do Código Revisado de
Ohio. Atende, por igual, ao disposto no art. II, item 1 do Tratado de
Extradição1. Assim, está atendido o requisito da dupla tipicidade,
1 “Serão entregues, de acordo com as disposições do presente Tratado, para serem
processados quando tiverem sido inculpados, os indivíduos que hajam cometido qualquer
dos seguintes crimes ou delitos:

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previsto no art. 77, II, da Lei nº 6815/80.

14. Há, também, o preenchimento do requisito da dupla


punibilidade, nos termos do art. 77, VII, da Lei nº 6.815/1980, tendo em
vista que não ocorreu a prescrição consideradas as legislações norte-
americana e brasileira.

15. De acordo com a legislação norte-americana, Seção 2901.13


(A) (2), do Código Revisado de Ohio, o crime em questão é imprescritível
(fls. 63).

16. Nos termos da legislação brasileira, a pena máxima


cominada é de 30 (trinta) anos, considerada a qualificadora, e prescreve
em 20 (vinte) anos (art. 109, I, do CP), prazo ainda não transcorrido desde
a data do fato (12.03.2007).

17. Conclui-se, portanto, que permanece hígida a pretensão


punitiva estatal, nos termos de ambos os ordenamentos jurídicos.

18. Observa-se, ainda, que não há qualquer óbice ao


deferimento da extradição, entre aqueles fixados pelo art. 77 da Lei nº
6.815/1980: (i) a extraditanda, como se viu, não é nacional brasileira, (ii)
sua extradição foi requerida por Estado que mantém Tratado de
Extradição com o Brasil, (iii) a pena máxima prevista para os crimes
comuns, pelo qual responde, é superior a 01 (um) ano de privação de
liberdade (art. III, do Tratado de Extradição 2), (iv) a prisão foi decretada

1. Homicídio doloso inclusive os crimes designados como parricídio, envenenamento e


infanticídio, quando previstos como figuras delituosas autônomas;”
2 Salvo disposição em contrário do presente Tratado, o Estado requerido só extraditará
o indivíduo acusado ou condenado por qualquer crime ou delito enumerado no Artigo II
quando se verifiquem ambas as condições seguintes:
1. A lei do estado requerente, em vigor no momento em que o crime ou o delito foi cometido,
comina pena de privação da liberdade que possa exceder de um ano; e
2. A lei em vigor no Estado requerente comina, em geral, para o mesmo crime ou delito,

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

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por Juízo regularmente instituído (fls. 29, tradução fls. 76), (v) o Brasil não
é competente para julgamento do crime; e (vi) o crime não possui
conotação política.

19. Ressalta-se que, no exame de delibação próprio das


decisões proferidas em processos de extradição, somente é possível a
análise da legalidade extrínseca do pedido, sem o ingresso no mérito da
procedência da acusação, da ordem de prisão instrutória ou executória.
Vejam-se, nessa linha, os seguintes julgados: Ext 541, Redator para o
acórdão o Ministro Sepúlveda Pertence, em 07.11.1992; Ext 703, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, em 10.12.1997; e Ext 669, Rel. Min. Celso de Mello,
em 03.03.1996.

20. Quanto à alegação defensiva de que não fora apresentada


tradução juramentada para o português dos documentos que instruem o
pedido, tem-se que a locução “tradução oficial”, utilizada pelo art. 80 do
Estatuto do Estrangeiro refere-se à tradução cuja autenticidade é
certificada pelas autoridades do Estado requerente e que seu
encaminhamento se dê por órgãos oficiais, o que confere a mencionada
autenticidade. É o que se colhe do art. IX do Tratado (“Os documentos que
instruem o pedido de extradição serão acompanhados de uma tradução,
devidamente certificada, na língua do Estado requerido”) e da jurisprudência
desta Corte (Ext 1.100, Rel. Min. Marco Aurélio; Ext 1.171, Rel. Min. Celso
de Mello).

21. No caso dos autos, a tradução foi certificada pelo


Departamento de Estado dos Estados Unidos da América (fls. 8 e 58) e os
documentos, encaminhados a esta Corte pelo Ministério da Justiça e pela
via diplomática, não havendo falar-se em defeito de tradução.

22. Por fim, necessário salientar que não pode prosperar a


cooperação quando houver o risco de imposição ao extraditando de
quando cometido em seu território, pena de privação da liberdade que possa exceder de um
ano.

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

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penas não admitidas no ordenamento jurídico brasileiro. Assim, pode o


Estado que coopera em matéria penal exigir o compromisso formal de
que tais penas não serão eventualmente aplicadas ao extraditando
entregue ao Estado requerente.

23. Por tais razões, defiro o pedido de extradição condicionada


a entrega ao Estado requerente ao compromisso formal de: (i) não aplicar
penas interditadas pelo direito brasileiro, em especial a de morte ou
prisão perpétua (art. 5º, XLVII, a e b, da CF); (ii) observar o tempo máximo
de cumprimento de pena previsto no ordenamento jurídico brasileiro, 30
(trinta) anos (art. 75, do CP); e (ii) detrair da pena o tempo que a
extraditanda permaneceu presa para fins de extradição no Brasil.

24. É como voto.

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Debate

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28/03/2017 PRIMEIRA TURMA

EXTRADIÇÃO 1.462 DISTRITO FEDERAL

DEBATE

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Senhor Presidente, só uma


observação. Na verdade, o eminente Advogado, meu Colega de Tribunal
e do Superior Tribunal de Justiça, Adilson Macabu, fez uma brilhante
sustentação.
Nós estamos diante de uma questão prejudicial. Qual é a questão
prejudicial? O art. 5º dispõe que o brasileiro nato não será extraditado e,
mais adiante, no capítulo referente à perda da nacionalidade brasileira,
no art. 12:
"Art. 12
...
§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do
brasileiro que:
...
II - adquirir outra nacionalidade por naturalização
voluntária.'"

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (PRESIDENTE) – Vossa


Excelência me permite?
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Claro.
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (PRESIDENTE) – Há
dois tipos de brasileiros: o naturalizado e o nato.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Sem dúvida, sem dúvida.
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (PRESIDENTE) – E a
Constituição veda tratamento diferenciado, tendo em conta o nato e o
naturalizado, exceto relativamente ao que nela previsto. Tem-se a
cláusula vedadora da extradição do brasileiro nato. No tocante ao
naturalizado, é preciso, para haver a extradição, até quanto a ele, que o
crime seja anterior à naturalização ou de tráfico de drogas.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Exato. Mas o que eu queria

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Debate

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EXT 1462 / DF

talvez destacar é essa questão prejudicial, que é muito importante. A


Constituição fala "nenhum brasileiro será extraditado". Na naturalização,
nesse caso... Depois, no outro capítulo, diz assim: "perde a nacionalidade
brasileira, o brasileiro que adquire"...
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (PRESIDENTE) – Não
precisava aludir ao nato.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Mas quem perde a
nacionalidade brasileira é brasileiro?
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (PRESIDENTE) – Perde
o naturalizado. Colo interpretação sistemática à Constituição,
considerados os vários dispositivos, concluindo que, nessa perda
mencionada por Vossa Excelência, não está incluído o brasileiro nato.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Ah! Entendi.
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (PRESIDENTE) – É uma
concepção. Agora, digo – disse mais, na assentada – que a qualificação de
brasileiro nato é indisponível, não pode ser colocada em segundo plano
pela vontade do detentor.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR)
- Essa foi a posição defendida pelo Ministro Marco Aurélio no mandado
de segurança. Mas a Constituição e a doutrina são pacíficas, a meu ver,
com todas as vênias, no sentido de que qualquer pessoa tem o direito de
adquirir uma nova nacionalidade e perder a nacionalidade originária. Faz
parte da vida, faz parte do Direito Internacional. Ninguém está
condenado a ter uma nacionalidade que não deseja se optar por adquirir
outra. Portanto, o entendimento do Ministro Marco Aurélio é que
ninguém nunca pode perder a nacionalidade brasileira.
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (PRESIDENTE) – Longe
de mim condenar Vossa Excelência, caso renuncie à condição de brasileiro
nato!
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR)
- Pois, então, as pessoas têm o direito de fazer escolhas. Eu conheço
muitas pessoas que adquiriram novas nacionalidades. Eu acho que faz
parte da autonomia da vontade pessoa. A Constituição, claramente, diz

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Debate

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qual é o efeito da aquisição de uma nova nacionalidade: é perder a


originária.
O SENHOR ADILSON VIEIRA MACABU (ADVOGADO) - Não.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR)
- Doutor, nós não estamos em debate.
O SENHOR ADILSON VIEIRA MACABU (ADVOGADO) - Eu sei,
Excelência.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Na Carta anterior, inclusive,
quem se incorporasse a um exército estrangeiro perdia a nacionalidade.
O SENHOR ADILSON VIEIRA MACABU (ADVOGADO) - É uma
matéria de fato.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR)
- Presidente, tenho todo apreço pelo Advogado, mas não vou debater
com o Advogado, da tribuna.
O SENHOR ADILSON VIEIRA MACABU (ADVOGADO) - Eu não
estou debatendo com Vossa Excelência.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR)
- Então, Vossa Excelência, por favor.
O SENHOR ADILSON VIEIRA MACABU (ADVOGADO) - Pois não.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Bom, nós estamos
debatendo...
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR)
- Nós estamos debatendo aqui.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - É o nosso mister.
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (PRESIDENTE) – Não
estamos debatendo, estamos trocando ideias. E afirmei, quando fiz a
saudação ao ministro Alexandre de Moraes, que nos completamos
mutuamente. O Colegiado é um somatório de forças distintas. Por isso,
ele existe.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Eu só quis colocar para nós
começarmos a debater com base nessa prejudicial.

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Antecipação ao Voto

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28/03/2017 PRIMEIRA TURMA

EXTRADIÇÃO 1.462 DISTRITO FEDERAL

VOTO
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES -
Cumprimentando o Doutor Adilson Vieira Macabu, defensor público,
magistrado e professor de Direito Constitucional, que aqui ainda não foi
lembrado, parabenizando-o pela brilhante sustentação.
Eu gostaria, inicialmente, de fazer um comentário. Já antecipo o meu
posicionamento em relação ao que foi discutido no mandado de
segurança. No mandado de segurança, do qual eu não participei - não
havia tomado posse -, houve dois embargos de declaração...
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (PRESIDENTE) – Vossa
Excelência me permite?
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Por favor.
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (PRESIDENTE) – O
Código atual repete regra do Código de Processo Civil anterior:
fundamento não faz coisa julgada.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Aí, eu vou
ao fundamento. A Constituição, entendo eu, como disse o Ministro
Barroso, prevê, no § 4º do art. 12, duas hipóteses de perda de
naturalidade. A primeira é a chamada perda-sanção, que é o
cancelamento da naturalização, conforme diz o inc. I do § 4º do art. 12. É
uma sanção àquele brasileiro naturalizado que - ele era estrangeiro,
tornou-se brasileiro naturalizado -, por um ato ofensivo ao Brasil - e o
estatuto do estrangeiro define quais são -, como sanção numa ação
movida, inclusive, pelo Ministério Público Federal, perde a
nacionalidade.
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (PRESIDENTE) – Vossa
Excelência me permite um aparte? Pego gancho no que Vossa Excelência
acaba de dizer para constatar algo interessante. Que algo é esse? O
naturalizado apenas perde, por sanção, essa condição por sentença
judicial.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Nessa

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Antecipação ao Voto

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primeira hipótese, Presidente. A Constituição traz a perda-sanção, e a


perda voluntária, quando qualquer brasileiro, nato ou naturalizado,
voluntariamente, pretende uma outra nacionalidade. E essa espécie de
perda de nacionalidade não é uma jabuticaba, como se fala; não é uma
criação brasileira. O Direito comparado tem várias exposições
semelhantes, exatamente porque isso - alguém querer deixar de ser
nacional para adquirir uma outra nacionalidade -, tradicionalmente,
muitas vezes, ocorria no mundo todo, principalmente para não precisar
servir às Forças Armadas em países mais belicosos, e, no Brasil, durante o
Regime Militar, muitas vezes ocorreu também. Aquele que,
voluntariamente, solicitar - não basta ele solicitar, mas solicitou e teve
êxito, adquiriu outra nacionalidade -, essa pessoa perde a nacionalidade
brasileira indistintamente, acredito eu, seja brasileiro nato, seja
naturalizado.
Havia um grande problema até a Constituição de 88, que persistiu
até a Emenda Constitucional de Revisão nº 3, em 93, um grande problema
daquelas pessoas, como citado pelo Ministro Barroso, que tinham a
chamada dupla cidadania: a pessoa nasceu em território nacional, mas
tem pais italianos, avós italianos - para o Brasil, jus solis, a pessoa é
brasileira nata; para a Itália, jus sanguinis, ela é italiana. A emenda de
revisão constitucional modulou isso e permitiu que, no caso de, não uma
aquisição voluntária simplesmente, mas um reconhecimento de algo que
já existisse anteriormente, o reconhecimento de outra nacionalidade
originária, não se perderia mais e também no caso de obrigatoriedade do
país estrangeiro, para que o brasileiro ficasse em seu território ou para
exercer determinada função, precisasse ele, brasileiro, adquirir outra
nacionalidade .
O leading case no Brasil é um caso, à época, que o então Ministro da
Justiça, Nelson Jobim...
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (PRESIDENTE) –
Nelson Jobim. Posso dizer, inclusive, o primeiro nome da pessoa:
Heloísa.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES -

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Antecipação ao Voto

Inteiro Teor do Acórdão - Página 21 de 45

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Exatamente.
É o leading case, para exercer um cargo nos Estados Unidos. Esse, ao
meu ver, é o parâmetro constitucional. O Direito norte-americano - se
fôssemos discutir, a fundo, a questão - não exige, para que brasileiro case
com norte-americano, que adquira a nacionalidade norte-americana -
chamado ius communicatio, que a Suíça, por exemplo, exige. O brasileiro
que casa com suíço obrigatoriamente adquire a nacionalidade, senão o
casamento não é válido - para que ele possa, segundo as leis suíças,
exercer todos os direitos decorrentes do casamento e o pátrio poder. Aí é
uma obrigação imposta, não é algo voluntário - o que não existe nos
Estados Unidos.
Então, entendo eu que situação trata-se de uma pessoa estrangeira,
que foi brasileira nata e perdeu a nacionalidade, por decisão
administrativa do Ministério da Justiça. Ela foi ao Judiciário, pleiteando -
eu não diria a reaquisição -, mas a nulidade dessa decisão. O Supremo
Tribunal Federal entendeu que não lhe cabia esse direito, então a situação
dela é de estrangeira.
Enquanto estrangeira, entendo como o Ministro Barroso, que todos
os requisitos para a extradição estão presentes, inclusive o que bem
pontuado pelo Advogado, em alguns tópicos. A decisão é uma extradição
instrutória, então não há a necessidade, obviamente, do título penal
condenatório - às folhas 76 a 90 -, a cópia do mandado de prisão
expedido, autoridade competente e a descrição do crime. Nos termos do
tratado internacional Brasil-Estados Unidos, a tradução é uma tradução
admitida - há inúmeros precedentes não só na Turma, mas na Corte - e a
questão dos compromisso também já está assente. Eu mesmo, como
Ministro da Justiça, tive a oportunidade de, várias vezes, ter contato com
os embaixadores e autoridades estrangeiras - depois, aqui, no Tribunal -,
para acertar os compromissos, para, só então, poder efetivar a extradição.
Os compromissos devem ser assumidos, mas os compromissos não
precisam estar presentes no momento do deferimento da extradição, e,
sim, no momento do cumprimento da extradição.
Com essas considerações, parabenizando novamente o douto

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Antecipação ao Voto

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EXT 1462 / DF

Advogado, eu sigo o Relator.

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Tipo Texto 524

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28/03/2017 PRIMEIRA TURMA

EXTRADIÇÃO 1.462 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


REQTE.(S) : GOVERNO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
EXTDO.(A/S) : CLAUDIA CRISTINA SOBRAL OU CLAUDIA
HOERIG OU CLAUDIA C. HOERIG OU CRISTINA
HOERIG OU CLAUDIA BOLTE OU CRISTINA
BOLTE OU CLAUDIA CRISTINA SOBRAL OU
CLAUDIA SOBRAL OU CRISTINA SOBRAL OU CRIS
OU CLAUDIA CRISTINA BOLTE
ADV.(A/S) : ADILSON VIEIRA MACABU
ADV.(A/S) : FLORIANO DUTRA NETO

V O T O - VOGAL

O Senhor Ministro Alexandre de Moraes: 1. O Governo dos Estados


Unidos da América apresentou ao Estado brasileiro, pela via diplomática,
pedido de extradição instrutória de CLÁUDIA CRISTINA SOBRAL, com
base no Tratado de Extradição celebrado entre os respetivos Estados
soberanos e promulgado no Brasil pelo Decreto nº 55.750, de 11 de
fevereiro de 1965 (Nota Nº 436, fl. 04/05; tradução fls. 05/06), a fim de
submetê-la, naquele país, a processo penal pela prática do crime de
homicídio qualificado.
O pedido de prisão preventiva para fins de extradição foi solicitado
nos autos da PPE 694, tendo sido efetivado em 20 de abril de 2016 (fl. 415
da PPE 694). Notificado da custódia da extraditanda, o Estado requerente
encaminhou, em 07/6/2016, o presente pedido extradicional, atendendo
ao prazo de 60 (sessenta) dias previsto no art. VIII do Tratado bilateral
acima mencionado.
Ao receber o pedido, o Min. Relator, em obséquio ao disposto no art.
85, caput, da Lei 6.815/1980, designou o dia 28/6/2016 para o interrogatório
da extraditanda, que foi efetivamente realizado, conforme Termo de
Assentada constante dos autos (fl. 128).

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Supremo Tribunal Federal
Tipo Texto 524

Inteiro Teor do Acórdão - Página 24 de 45

EXT 1462 / DF

Na sequência, a extraditanda apresentou defesa escrita (fls. 142 a


168), na qual sustentara, em síntese: a) a usurpação da competência do
STJ para processar e julgar mandado de segurança contra ato de Ministro
de Estado; b) ausência de apresentação, pelo Estado requerente, de
certidão da sentença penal condenatória ou de decisão penal proferida
por juiz ou autoridade competente, nos termos do art. 80 da Lei
6.815/1980; c) inexistência de autenticidade e de tradução oficial para o
idioma português dos documentos anexados ao pedido de extradição; d)
falta de formalização do compromisso, pelo Governo americano, de
computar o tempo de prisão preventiva que lhe foi imposto no Brasil e,
ainda, de comutar em pena privativa de liberdade a pena corporal ou de
morte que eventualmente lhe seja cominada; e) a perda da nacionalidade
brasileira só pode ocorrer quando houver manifestação expressa do
interessado nesse sentido, circunstância que não se lhe aplica, uma vez
que jamais cogitou a possibilidade de perder a sua condição de brasileira
nata; f) que requereu a naturalização americana para garantir o pleno
exercício da profissão de contadora, razão por que incide na exceção
prevista no art. 12, §4º, II, “b”, da CF/1988; g) a nulidade da decisão
adotada, pelo STF, no MS 33.864/DF, uma vez que o advogado da
impetrante não foi intimado da data da sessão de julgamento,
inviabilizando-lhe, assim, a possibilidade de sustentação oral; h) que
tramita, no Ministério da Justiça, processo administrativo no qual
manifesta expressamente a sua vontade pela manutenção da cidadania
brasileira e tal fato não foi veiculado no mandado de segurança referido;
i) a necessidade de suspensão do julgamento da presente extradição até
que haja o trânsito em julgado da decisão prolatada no MS 33.864/DF, que
ainda se encontra pendente de publicação; j) a existência de pressão
política exercida pelos Estados Unidos em relação ao seu pedido de
extradição; l) a possibilidade de ser processada ou de cumprir pena no
Brasil, uma vez que o Poder Judiciário nacional seria o competente para
processar e julgar a acusação, haja vista a incidência do art. 7º, II, “b”, e
§2º, do CP, c/c o art. V.1., do Tratado de Extradição Brasil-Estados Unidos.
A Procuradoria-Geral da República ofereceu parecer, no qual se

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Supremo Tribunal Federal
Tipo Texto 524

Inteiro Teor do Acórdão - Página 25 de 45

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manifesta pelo deferimento do pedido (fls. 257 a 282).


É o breve relato do essencial.
Hipótese constitucional presente. O presente pedido
extradicional encontra respaldo no texto constitucional, que em seu artigo
5º, inciso LII, autoriza – como regra – a extradição de estrangeiros,
condição suportada pela extraditanda, desde a edição da Portaria
Ministerial nº 2.465, de 03/07/2013 (publicada no DOU de 04/07/2013),
referente ao Processo Administrativo nº 08018.011847/2011-01, que
decretou a perda de sua nacionalidade brasileira.
Importante destacar a plena validade da referida decisão
administrativa de perda de nacionalidade, que, inclusive, já foi debatida
por esta Primeira Turma no julgamento do MS 33864/DF (Rel. Min.
ROBERTO BARROSO, julgado em 19/4/2016), cuja segurança foi
denegada. Eis a ementa do julgado:

Ementa: CONSTITUCIONAL. MANDADO DE


SEGURANÇA. BRASILEIRA NATURALIZADA AMERICANA.
ACUSAÇÃO DE HOMICÍDIO NO EXTERIOR. FUGA PARA O
BRASIL. PERDA DE NACIONALIDADE ORIGINÁRIA EM
PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO REGULAR. HIPÓTESE
CONSTITUCIONALMENTE PREVISTA. NÃO OCORRÊNCIA
DE ILEGALIDADE OU ABUSO DE PODER. DENEGAÇÃO DA
ORDEM. 1. O Supremo Tribunal Federal é competente para o
julgamento de mandado de segurança impetrado contra ato do
Ministro da Justiça em matéria extradicional. (HC 83.113/DF,
Rel. Min. Celso de Mello). 2. A Constituição Federal, ao cuidar
da perda da nacionalidade brasileira, estabelece duas hipóteses:
(i) o cancelamento judicial da naturalização (art. 12, § 4º, I); e (ii)
a aquisição de outra nacionalidade. Nesta última hipótese, a
nacionalidade brasileira só não será perdida em duas situações
que constituem exceção à regra: (i) reconhecimento de outra
nacionalidade originária (art. 12, § 4º, II, a); e (ii) ter sido a outra
nacionalidade imposta pelo Estado estrangeiro como condição
de permanência em seu território ou para o exercício de direitos
civis (art. 12, § 4º, II, b). 3. No caso sob exame, a situação da

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Tipo Texto 524

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impetrante não se subsume a qualquer das exceções


constitucionalmente previstas para a aquisição de outra
nacionalidade, sem perda da nacionalidade brasileira. 4.
Denegação da ordem com a revogação da liminar concedida.

O acórdão do julgado acima referido foi publicado no DJe em


20/9/2016. Contra ele foram interpostos dois embargos de declaração,
ambos rejeitados por esta Primeira Turma em 22/11/2016 e 10/3/2017,
respectivamente, nos quais foram discutidas inclusive as alegações de
nulidade constantes da peça defensiva carreada aos presentes autos pela
extraditanda. Ou seja, a matéria em apreço não comporta rediscussão
nesta seara, devendo a extraditanda se utilizar dos mecanismos recursais
adequados para impugnar a sobredita decisão que, acentue-se, examinou
o mérito da demanda, em sede de cognição exauriente, e, portanto,
revela-se apta à formação da coisa julgada.

Atendimento dos requisitos formais legais. Estando presente uma


das hipóteses constitucionais que autoriza a extradição, compete a essa
Corte Suprema verificar se o Estado estrangeiro requerente observou as
exigências legais estabelecidas na Lei nº 6.815/80.
O Governo dos Estados Unidos da América indicou, em síntese
objetiva e articulada, todos os fatos subjacentes à extradição, tendo
limitado o âmbito temático de sua pretensão, como se exige para análise
pelo Supremo Tribunal Federal (Plenário, Ext. 667-3, Rel. Min. CELSO DE
MELLO, DJU, 29 set. 1995, p. 31.998).
Inexiste a alegada irregularidade formal sustentada pela
extraditanda, sob o fundamento de que os documentos anexados ao
pedido não foram autenticados e nem vertidos para a língua portuguesa
por tradutor juramentado. Isso porque a Lei 12.878/2013, em sintonia com
a jurisprudência remansosa do Supremo Tribunal Federal, alterou o §2º
do art. 80 da Lei 6.815/1980, para dispor que encaminhamento do pedido
pela via diplomática – tal qual se deu, in casu – confere autenticidade aos
documentos. Também não se há falar na necessidade de profissional
juramentado para a tradução dos documentos à língua pátria, à míngua

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de imposição legal nesse sentido. Note-se que o Tratado de Extradição


Brasil-Estados Unidos, em seu art. IX, não contempla tal exigência, ao
dispor que “Os documentos que instruem o pedido de extradição serão
acompanhados de uma tradução, devidamente certificada, na língua do Estado
requerido.” O Estatuto do Estrangeiro tampouco reclama tal predicado, ao
exigir, no §2º do art. 80, que os documentos instrutórios sejam
acompanhados de versão oficial para o idioma português. Tal arcabouço
normativo se encontra, ademais, em total harmonia com a jurisprudência
desta Corte. Nesse sentido, confira-se, dado o seu teor pedagógico,
precedente deste Tribunal:

A transmissão da Nota Verbal por via diplomática basta


para conferir-lhe autenticidade, sendo dispensável a tradução
por profissional juramentado. Ademais sequer cabe discutir
eventual vício na Nota Verbal se os documentos que a
acompanham contêm narração dos fatos que deram origem à
persecução criminal no Estado requerente, viabilizando-se,
assim, o exercício da defesa. (Ext 1.114, Rel. Min. Carmem
Lúcia, julgamento em 28-2-2008, Plenário, DJE de 6-3-2008.) No
mesmo sentido: Ext 1.255, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento
em 5-6-2012, Primeira Turma, DJE de 28-6-2012; Ext 951, Rel.
Min. Marco Aurélio, julgamento em 1º-7-2005, Plenário, DJ de 9-
9-2005.

Acresça-se que a alegação, por parte da extraditanda, de que o


Estado brasileiro estaria sofrendo pressão dos Estados Unidos em relação
ao seu pedido de extradição, além de não estão comprovada nos autos,
não ostenta coloração jurídica que permita interferir no julgamento do
presente pedido.
A análise do presente pedido de extradição, portanto, aponta o
cumprimento de todos os requisitos necessários ao seu deferimento, pois
o crime de homicídio se insere entre aqueles que autorizam a extradição
entre os Estados Unidos e o Brasil, na forma do art. II. 1, do Tratado
celebrado entre as partes.

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Reciprocidade. O pedido extradicional somente poderá ser atendido


quando o Estado estrangeiro requerente se fundamentar em tratado
internacional ou quando, inexistente este, prometer reciprocidade de
a
tratamento ao Brasil (STF – Ext nº 1.351/DF – Rel. Min. Luiz Fux; STF – 1
o
T – Ext. n 1206/República da Polônia – Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
o
decisão: 28-06-2011; STF – Pleno – Ext. n 1.120 – República Federal da
o
Alemanha – Rel. Min. Menezes Direito e STF – Pleno – Ext. n
1.122/Estado de Israel – Rel. Min. Carlos Britto, decisão: 28-8-2009). Os
documentos necessários à instrução do pleito foram juntados aos autos,
nos termos do art. IX do referido Tratado de Extradição celebrado entre os
respetivos Estados soberanos e promulgado no Brasil pelo Decreto nº
55.750, de 11 de fevereiro de 1965, abaixo transcrito, in verbis:

ARTIGO IX
O pedido de extradição será feito por via diplomática ou,
excepcionalmente, na ausência de agentes diplomáticos, por
agente consular, e será instruído com os seguintes documentos:
1. No caso de indivíduo que tenha sido condenado pelo
crime ou delito em que se baseia o pedido de extradição: uma
cópia, devidamente certificada ou autenticada, da sentença final
do juízo competente;
2. No caso de indivíduo que é meramente acusado do
crime ou delito em que se baseia o pedido de extradição: uma
cópia, devidamente certificada ou autenticada, do mandado de
prisão ou outra ordem de detenção expedida pelas autoridades
competentes do Estado requerente, juntamente com os
depoimentos que servirem de base à expedição de tal mandado
ou ordem e qualquer outra prova julgada hábil para o caso.
Os documentos relacionados neste Artigo devem conter
indicação precisa do ato criminoso do qual o indivíduo
reclamado, acusado ou pelo qual foi condenado e do lugar e
data em que o mesmo foi cometido, e devem ser acompanhados

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de cópia autenticada dos textos das leis aplicáveis do Estado


requerente, inclusive as leis relativas à prescrição da ação ou da
pena, e dados ou documentos que provem a identidade do
indivíduo reclamado.
Os documentos que instruem o pedido de extradição
serão acompanhados de uma tradução, devidamente
certificada, na língua do Estado requerido.

Competência exclusiva do Estado estrangeiro. Inexiste competência


do Poder Judiciário brasileiro para processar e julgar a acusação
formulada contra a extraditanda, devendo ser afastada a tese defensiva
nesse sentido, pois inaplicável o art. 7º, II, “b”, c/c o §2º do CP. Isso
porque o suporte fático da norma evocada pressupõe, para a sua
configuração, a condição de brasileiro do sujeito ativo do crime praticado
em solo alienígena. Não é o que se tem na espécie, conforme já
amplamente debatido por esta Turma. Há mais, porém. É que, ainda que
houvesse o concurso de jurisdições entre Brasil e Estados Unidos para a
repressão do fato criminoso em apreço – o que não é o caso da
controvérsia sub judice, reitere-se –, a inexistência de deflagração da
persecutio criminis no território nacional traduziria circunstância
autorizadora do deferimento do pedido ora formulado, na linha de
precedentes desta Corte:
"Concurso de jurisdição e inexistência, no Brasil, de
procedimento penal-persecutório contra o extraditando:
possibilidade de deferimento do pleito extradicional. Mesmo
em ocorrendo concurso de jurisdições penais entre o Brasil e o
Estado requerente, torna-se lícito deferir a extradição naquelas
hipóteses em que o fato delituoso, ainda que pertencendo,
cumulativamente, ao domínio das leis brasileiras, não haja
originado procedimento penal-persecutório, contra o
extraditando, perante órgãos competentes do Estado brasileiro.
Precedentes." (Ext 683, rel. min. Celso de Mello, julgamento em
20-11-1996, Plenário, DJE de 21-11-2008.) No mesmo sentido:
Ext 652, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 13-6-1996,

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Plenário, DJE de 21-11-2008.


“Extradição – Inquérito policial no Brasil – Neutralidade.
A simples possibilidade de instauração de inquérito policial no
Brasil não é óbice ao deferimento da extradição.” (Ext 1.100, rel.
min. Marco Aurélio, julgamento em 11-9-2008, Plenário, DJE de
3-10-2008.) Vide: Ext 1.197, rel. min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 25-11-2010, Plenário, DJE de 13-12-2010.

Existência de título penal condenatório ou de mandado de prisão


emanados de juiz, tribunal ou autoridade competente do Estado
estrangeiro. A presente hipótese contempla pedido de extradição
instrutória, autorizada pelo item 2 do tratado Brasil – Estados Unidos,
razão por que não se impõe a juntada de cópia de sentença penal
condenatória, tal qual sugerido pela defesa. Faz-se necessária apenas a
remessa de cópia do mandado de prisão expedido por autoridade
competente do Estado acreditante, juntamente com os depoimentos que
serviram de base à expedição de tal mandado, o que foi feito, na espécie
(fls. 76 a 90). Ademais, a jurisprudência desta Suprema Corte é pacífica
quanto à admissibilidade da extradição instrutória. Confira-se, a título
ilustrativo, excerto da ementa publicada na Ext 652 (Rel. Min. CELSO DE
MELLO, Tribunal Pleno, DJe de 21/11/2008):

INEXISTÊNCIA DE SENTENÇA PENAL


CONDENATÓRIA CONTRA O EXTRADITANDO: FATO QUE
NÃO OBSTA A ENTREGA EXTRADICIONAL. PEDIDO
EXTRADICIONAL DE CARÁTER INSTRUTÓRIO (LEI Nº
6.815/80, ART. 78, II). - O sistema extradicional brasileiro
admite, ao lado da extradição executória (que supõe sentença
penal condenatória), a figura da extradição de caráter
instrutório, que pressupõe - para efeito de sua efetivação - a
mera existência de procedimento persecutório instaurado no
exterior, desde que exista ordem de prisão emanada de
autoridade competente do Estado requerente (Lei nº 6.815/80,
art. 78, II). (...)

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Dupla tipicidade e não sujeição do extraditando a julgamento, no


Estado requerente, perante tribunal ou juízo de exceção. O deferimento
do pedido extradicional exige a presença do requisito da dupla tipicidade
(STF – Ext 1196/Reino da Espanha – Rel. Min. Dias Tóffoli, decisão: 16-6-
2011), pois como definido por essa Corte Suprema, “revela-se essencial,
para a exata aferição do respeito ao postulado da dupla incriminação, que
os fatos atribuídos ao extraditando – não obstante a incoincidência de sua
designação formal – revistam-se de tipicidade penal e sejam igualmente
puníveis tanto pelo ordenamento jurídico doméstico quanto pelo sistema
o
de direito positivo do Estado requerente” (STF – Pleno – Extradição n
669/EUA – Rel. Min. Celso de Mello – Diário da Justiça, Seção I, 29 mar.
1996, p. 9.343).
A acusação formal apresentada no Tribunal de Causas Comuns, do
Condado de Trumbull, Estado de Ohio (fls. 25/26, tradução às fls. 72/73),
órgão jurisdicional competente para o processo e julgamento da causa,
aponta que a extraditanda causou efetiva e premeditadamente a morte de
seu marido, Karl Hoering. Consta do processado a descrição detalhada
dos fatos (fl. 65):

22. Em 10 de março de 2007, CLAUDIA HOERIG comprou


um revólver Smith and Wesson de calibre 357 com visor de
laser incorporado. Ela praticou tiro ao alvo em um polígono de
tiro que ficava próximo, fazendo perguntas sobre diferentes
tipos de munição. Há provas que indicam que CLAUDIA
HOERIG comprou munição mais tarde naquele mesmo dia, que
coincide com o tipo discutido mais cedo no polígono de tiro.
Em 12 de março de 2007, um vizinho viu CLAUDIA HOERIG
sair de sua residência e nunca mais a viu retornar.
23. O corpo de Karl Hoerig foi descoberto na residência
três dias depois por um policial do Departamento de Polícia de
Newton Falls, após ter sido contactado por parentes,
preocupados com o bem-estar de Karl Hoerig. Um exame do
corpo de Karl Hoerig efetuado por peritos legistas revelou duas
feridas por arma de fogo nas costas e uma na cabeça.

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Fragmentos de bala encontrados no corpo e nas áreas à sua


volta indicaram que a vítima havia sido atingida pela mesma
arma que CLAUDIA HOERIG havia comprado dois dias antes
da morte de Karl Hoerig.
24. Provas indicam ainda que em 10 de março de 2007
CLAUDIA HOERIG acessou um cofre pessoal em seu banco.
Dois dias depois, US$10.000,00 foram depositados em uma
conta em seu nome no mesmo banco, tendo a maior parte desta
quantia sido transferida em seguida para seu pai no Brasil. Em
12 de março de 2007, CLAUDIA HOERIG pegou um vôo no
Aeroporto Internacional de Pittsburgh para Nova Iorque. Sabe-
se que ela chegou ao Brasil pouco tempo depois e informou aos
membros de sua família que lá residem, inclusive à sua irmã
Simone Batista Sobral da Silva, que KARL HOERIG estava
morto.

Assim, infere-se que o requisito da dupla tipicidade foi respeitado,


na espécie. Isso porque o crime de homicídio qualificado encontra-se
tipificado tanto na legislação do Estado requerente (Seção 2903.01. (A) e
(F) do Código Revisado de Ohio), quanto no estatuto repressivo pátrio,
em seu art. 121, §2º, IV. Confira-se ambos os preceptivos:

Código Revisado de Ohio


Seção 2903.01. Homicídio Qualificado.
(A) Nenhuma pessoa poderá intencional e
premeditadamente causar a morte de outra ou o término ilícito
da gravidez de outrem.
***
(F) Toda pessoa que violar esta seção será considerada
culpada por assassinato qualificado e será punida segundo o
estabelecido na seção 2929.02 do Código Revisado.

Código Penal Brasileiro:


§ 2° Se o homicídio é cometido:
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou
outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do

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ofendido;

Inocorrência de prescrição da pretensão punitiva ou executória.


O requisito da dupla punibilidade, por seu turno, também se revela
atendido. No Estado requerente, não há prazo para que se deflagre a
persecução penal em relação à prática do crime de homicídio qualificado,
conforme consta da norma hospedada na seção 2901.13 (A) (2), do Código
de Ohio: “Não há prazo prescricional para instauração de processos de casos de
acusação de violação da seção 2903.01 ou 2903.02 do Código Revisado.” Na
legislação pátria, por sua vez, o prazo seria de 20 anos, nos termos do art.
109, I, do CP. Como a consumação do delito ocorreu em abril de 2007, não
se há falar em prescrição.

Ausência de caráter político da infração atribuída ao extraditando.


Previsão pela legislação brasileira de penal superior a um ano de
prisão. Não se verifica a configuração de nenhuma das circunstâncias
previstas nos incisos do art. 77 da Lei 6.815/80 e do art. V do Tratado de
Extradição Brasil-Estados Unidos, cuja presença impediria o deferimento
da extradição solicitada. Com efeito, não se trata, em quaisquer dos
países: de crime político; de crime puramente militar (art. V.5, do Tratado
de Extradição); e nem de crime punido com pena inferior a 01 (um) ano.

Compromissos formais do Estado requerente perante o Brasil. Não


merece acolhida a alegação da defesa que aponta a inviabilidade do
deferimento do pedido, porquanto o Estado requerente não teria
assumido o compromisso formal de promover a detração e nem de
comutar, em pena privativa de liberdade, a pena corporal ou de morte
que eventualmente lhe seja cominada. Consoante entendimento pacífico
desta Suprema Corte, a ausência de tais compromissos nesta fase do
procedimento extradicional não embaraça a possibilidade de deferimento
do pleito, uma vez que se trata de requisito exigido tão somente para a
entrega do extraditando à custódia da soberania alienígena:

Os compromissos inerentes à detração (Decr-Lei 941/69,

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art. 98, inciso II) e à comutação da eventual pena de morte


(idem, ibidem, inciso III) devem ser prestados pelo Estado
requerente ao governo da República, constituindo pressupostos
da entrega do extraditando, e não do deferimento da extradição
pelo Supremo Tribunal Federal. (Ext 342, rel. min. Cordeiro
Guerra, julgamento em 24-8-1977, Plenário, DJ de 21-10-1977.)
Extradição — Pena de morte — Compromisso de
comutação. — O ordenamento positivo brasileiro, nas hipóteses
de imposição do supplicium extremum, exige que o Estado
requerente assuma, formalmente, o compromisso de comutar,
em pena privativa de liberdade, a pena de morte, ressalvadas,
quanto a esta, as situações em que a lei brasileira — fundada na
Constituição Federal (art. 5º, XLVII, a) - permite a sua aplicação,
caso em que se tornará dispensável a exigência de comutação.
Hipótese inocorrente no caso. A Convenção de Viena sobre
Relações Diplomáticas - Artigo 3º, n. 1, a - outorga, à Missão
Diplomática, o poder de representar o Estado acreditante (État
d'envoi) perante o Estado acreditado ou Estado receptor (o
Brasil, no caso), derivando, dessa função política, um complexo
de atribuições e de poderes reconhecidos ao agente diplomático
que exerce a atividade de representação institucional de seu
País. Desse modo, o Chefe da Missão Diplomática pode
assumir, em nome de seu Governo, o compromisso oficial de
comutar, a pena de morte, em pena privativa de liberdade. Esse
compromisso pode ser validamente prestado antes da entrega
do extraditando ao Estado requerente. O compromisso
diplomático em questão traduz pressuposto da entrega do
extraditando, e não do deferimento do pedido extradicional
pelo Supremo Tribunal Federal. (Ext 744, rel. min. Celso de
Mello, julgamento em 1º-12-1999, Plenário, DJ de 18-2-2000.) No
mesmo sentido: Ext 1.176, rel. min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 10-2-2011, Plenário, DJE de 1º-3-2011; Ext 633,
rel. min. Celso de Mello, julgamento em 28-8-1996, Plenário, DJ
de 6-4-2001.

Não é outra a inteligência que se extrai da dicção do art. 91, II e III,

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da Lei 6.815/1980, que exige o empenho de tais compromissos apenas


para a entrega do extraditando ao Estado requerente. Eis o seu teor:

Art. 91. Não será efetivada a entrega sem que o Estado


requerente assuma o compromisso: (Renumerado pela Lei nº
6.964, de 09/12/81)
(...)
II - de computar o tempo de prisão que, no Brasil, foi
imposta por força da extradição;
III - de comutar em pena privativa de liberdade a pena
corporal ou de morte, ressalvados, quanto à última, os casos em
que a lei brasileira permitir a sua aplicação;

Detração penal e comutação de pena de morte ou de prisão


perpétua em pena privativa de liberdade com o prazo máximo de 30
anos. Por fim, verifico que a Seção 2929.02, do Código Revisado de Ohio,
comina pena de morte ou de prisão perpétua para aqueles que forem
declarados culpados pela prática do crime de homicídio qualificado.
Assim, deve o Estado requerente assumir o compromisso, por ocasião da
entrega do extraditando, de – além de assegurar a detração – comutar tais
penalidades em pena privativa de liberdade com o prazo máximo de 30
anos, conforme assentado na jurisprudência desta corte, explicitada no
precedente abaixo transcrito:

“O Supremo Tribunal Federal, em recente revisão da


jurisprudência, firmou a orientação de que o Estado requerente
deve emitir prévio compromisso em comutar a pena de prisão
perpétua, prevista pela legislação argentina, para a pena
privativa de liberdade com o prazo máximo de trinta anos. Esse
entendimento baseia-se na garantia individual fundamental
prevista pelo art. 5º, XLVII, b, da Constituição Federal do
Brasil.” (Ext 985, rel. min. Joaquim Barbosa, julgamento em 6-4-
2006, Plenário, DJ de 18-8-2006.) No mesmo sentido: Ext 1.197,
rel. min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 25-11-2010,

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Plenário, DJE de 13-12-2010.

Isso posto, defiro o pedido de extradição, com os condicionamentos


acima discriminados.
É como voto.

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Voto - MIN. ROSA WEBER

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28/03/2017 PRIMEIRA TURMA

EXTRADIÇÃO 1.462 DISTRITO FEDERAL

VOTO

A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER - Senhor Presidente, eu


peço desculpas ao Ministro Luís Roberto, porque me afastei durante o
voto de Sua Excelência, mas, além de estar com a cópia do voto aqui, eu
segui ouvindo – foi em função da tosse. Saúdo o Doutor Adilson pela bela
sustentação oral.
O tema é de uma delicadeza ímpar – e, confesso, difícil para mim –,
mas eu assumi uma posição, ao julgamento do mandado de segurança, e,
de lá até aqui, a leitura que faço do texto constitucional é exatamente na
linha proposta pelo eminente Relator, ou seja, o texto constitucional
contempla, como hipótese de perda da nacionalidade brasileira, a
aquisição voluntária de outra nacionalidade. Essa hipótese abrange tanto
o brasileiro nato quanto o brasileiro naturalizado. E ela implica, como
regra, o quê? Ela implica a perda da nacionalidade brasileira, exceto em
duas hipóteses que a Constituição explicita e em que, sequer se alega, se
insere a extraditanda.
Por isso eu peço vênia às compreensões contrárias e acompanho o
voto do eminente Relator.

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Voto - MIN. LUIZ FUX

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28/03/2017 PRIMEIRA TURMA

EXTRADIÇÃO 1.462 DISTRITO FEDERAL

VOTO

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Senhor Presidente, eu suscitei


a questão exatamente para que nós tivéssemos a oportunidade desse
debate.
Então, pelo princípio da unidade da Constituição os seus
dispositivos não são colidentes. Uma coisa é dizer: não se extradita
brasileiro; e outra coisa é dizer: perde-se a nacionalidade brasileira pela
aquisição voluntária de outra nacionalidade. O que significa dizer, no
fundo, um desprezo cívico do cidadão pela sua nacionalidade.
A ratio legis da Constituição Federal é exatamente essa. É uma
Constituição baseada na cidadania e que prestigia o brasileiro que quer
ser brasileiro. Agora, o brasileiro que vai para o exterior, abdica de sua
nacionalidade, adquire, voluntariamente, a nacionalidade estrangeira,
para que fim for, esse cidadão está abdicando daquilo que a Constituição
garante a ele.
Na verdade, o que está por detrás dessa regra constitucional da
perda da nacionalidade brasileira é exatamente motivar o cidadão
brasileiro a ter amor ao seu País. E quem tem amor ao seu País não abre
mão da sua nacionalidade.
E este caso tem uma peculiaridade, porque o resgate dessa
nacionalidade brasileira tem como finalidade algo que não é desejável,
porque é possível, obviamente, que, por ideologia, haja - o que deve ser
muito difícil - hoje um brasileiro apaixonado pela moderna ideologia
americana inaugurada há pouco meses. E ele chegue lá e, bom, agora eu
quero optar por essa nacionalidade - difícil, mas eventualmente. Mas
nesse caso estaria aí - digamos assim- uma pureza ética da aquisição de
outra nacionalidade.
Aqui, essa discussão da nacionalidade, mutatis mutandis, visa a
empreender aquilo que, por exemplo, o STJ nunca admitiu em termos de
pessoa jurídica, ou seja, pessoa jurídica lavra um compromisso arbitral,

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 39 de 45

EXT 1462 / DF

compromete-se alhures e depois vem se esconder por detrás da Justiça


brasileira, dizendo que não pode cumprir aquele compromisso arbitral,
porque fere a ordem pública.
E o que ocorre no caso específico, infelizmente? Nós estamos diante
de um caso em que houve a aquisição da nacionalidade americana;
posteriormente - se não me falha a memória, na época do julgamento do
mandado de segurança -, essa ex-nacional foi processada, acusada da
prática de um homicídio contra seu consorte - até a palavra não combina
bem. Agora, ela pretende readquirir a nacionalidade brasileira, no meu
modo de ver, com esse escopo.
É verdade, o Código Penal dispõe que o brasileiro que comete crime
no estrangeiro pode responder aqui no Brasil. Só que ele, brasileiro,
responde perante a Justiça brasileira por crime cometido no estrangeiro
desde que ele não tenha optado por outra nacionalidade; porque, se ele
optar por outra nacionalidade, ele não cumpre a pena no Brasil, ele é
extraditável. E é assim que os penalistas analisam a situação dos
brasileiros que cometem o crime no exterior.
De sorte, Senhor Presidente, eu também votei no mandado de
segurança, a questão delicada, talvez nós pudéssemos adotar o
entendimento do nosso querido Mestre Barbosa Moreira: "só não muda
de opinião quem já morreu"; e nós quereremos viver muito.
Na verdade, eu vou manter o que eu já decidi no mandado de
segurança com esses fundamentos, pedindo vênia aos entendimentos
contrários, e acompanhar o voto do eminente Relator, sem prejuízo da
magnífica sustentação oral lavrada da tribuna.

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Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

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28/03/2017 PRIMEIRA TURMA

EXTRADIÇÃO 1.462 DISTRITO FEDERAL

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (PRESIDENTE) – A esta


altura estou mais tranquilo, porque vejo que os Colegas distinguem entre
nacionalidade e cidadania. E eu já estava pensando em recuar no que
venho buscando junto ao país irmão, Portugal, a minha cidadania
portuguesa. E, talvez, pudesse ser ameaçado quanto a perda da cadeira
de Ministro do Supremo, já que se exige, para a ocupação, que seja
brasileiro nato.
Uma primeira vez tem que ser a primeira vez, até pela própria
nomenclatura. Vejo que este Colegiado - que não é o colegiado maior, que
realmente personifica o Supremo - está para inaugurar a entrega de uma
brasileira nata, ante extradição, a um governo irmão.
Repito o que eu disse quanto aos fundamentos que levaram o
indeferimento da ordem no Mandado de Segurança nº 33.864.
O Código de Processo Civil em vigor repetiu norma do Código de
Processo Civil anterior, revelando que não fazem coisa julgada os
motivos, ainda que importantes, para determinar o alcance da parte
expositiva da sentença - entenda-se, aqui, sentença como decisão, gênero,
apanhando também acórdãos - e a verdade dos fatos estabelecida como
fundamento da sentença.
Por isso se sustentou, da tribuna, a impossibilidade de se reconhecer,
como viável, a entrega da extraditanda, pelo Executivo, ao Governo
americano.
A matéria está em aberto. Não estou querendo tornar prevalecente o
que veiculei quando votei no mandado de segurança a que me referi. E,
àquela altura, sustentei, em primeiro lugar, que a competência para julgar
aquele mandado de segurança - porque dirigido contra ato do Ministro
de Estado da Justiça - seria do Superior Tribunal de Justiça, e não do
Supremo. Fiquei vencido. Mas, nesses vinte e seis anos, diria, nos trinta e
oito anos de judicatura, acostumei-me a ficar vencido. E há sempre falar

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Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

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que o ofício judicante não me deixa estressado. Que entro numa sessão e
saio da sessão com o mesmo sorriso, já que não disputo nada, apenas
veiculo uma forma de pensar quanto ao Direito posto, quanto ao Direito
positivo.
A Constituição - para utilizar um vocábulo do Ministro Sepúlveda
Pertence - decaída o que previa quanto à perda da nacionalidade por
brasileiro?
"I - por naturalização voluntária, adquirir outra nacionalidade;
II - sem licença do Presidente da República, aceitar comissão,
emprêgo ou pensão de govêrno estrangeiro;
III - em virtude de sentença judicial, tiver cancelada a naturalização
por exercer atividade contrária ao interêsse nacional.
Parágrafo único. Será anulada por decreto do Presidente da
República a aquisição de nacionalidade obtida em fraude contra a lei”

Sem dúvida alguma, esse dispositivo sempre se referiu ao brasileiro


naturalizado, e não ao brasileiro nato.
Por que posso afirmar isso? Porque, numa interpretação sistemática,
constato que essa mesma Constituição, ela brecou a extradição de
brasileiro nato em qualquer situação. Deixe-me ver o preceito respectivo -
já que, matando a cobra, eu devo mostrar o pau com que a matei - da
Constituição decaída. É o § 19 do art. 160 da Constituição pretérita:
"Não será concedida a extradição do estrangeiro por crime político
ou de opinião," - aí vem a cláusula final - "nem em caso algum," - nem
em caso algum - "a de brasileiro."
Aqui, evidentemente, na interpretação sistemática, o brasileiro nato,
e não o naturalizado.
Volto à Carta de 1988, que foi apontada por um grande homem
público paulista, Ulysses Guimarães, como uma Carta cidadã, uma Carta
que, pela primeira vez, versou - consideradas as Constituições
republicanas - os direitos sociais antes de versar a própria estrutura do
Estado, tamanha a ênfase dada à cidadania. Essa Constituição realmente
prevê que será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:

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"I - tiver cancelada sua naturalização," - aí nós temos a perda-sanção


- "por sentença judicial," - exige-se, portanto, pronunciamento judicial
para que até mesmo o brasileiro naturalizado perca essa condição - "em
virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei
estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao
brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para
permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis."
Posso alargar o que se contém nesse dispositivo? Não. Não posso
partir para uma interpretação ampliativa, muito menos restritiva.
Considero esse dispositivo interpretado, tendo em conta o grande todo
que é a Constituição Federal. E, logicamente, busco o sentido dessa alusão
à perda da nacionalidade brasileira no rol das garantias sociais, o
principal rol da Carta de 1988, ou seja, no artigo 5º, e aí chego ao inciso LI.
Não me impressiona a arma "Magnun" 357 colt, referida pelo Ministro-
Relator, não sou muito entendido em armamento. O que se contém nesse
dispositivo?
"LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em
caso de crime comum, praticado antes" - ele busca a naturalização como
se ela fosse um verdadeiro escudo, considerada uma entrega a um país
irmão - "da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins"(...) - segunda exceção.
E aí pouco importa se praticado esse crime antes ou depois da
naturalização. O tráfico sempre é móvel para concluir-se pela
possibilidade de entrega de um brasileiro naturalizado a um governo
requerente da extradição.
E vem aí a conclusão. Essa especificação que se segue ao óbice à
extradição de brasileiro, salvo naturalizado, encerra que o brasileiro nato
- estou há 26 anos no Supremo e até aqui eu não vi julgamento algum
concluindo-se pela entrega de brasileiro nato em extradição ou a
viabilidade de entrega, já que a entrega fica a cargo do Chefe do Poder

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Executivo.
Em síntese, não há como se cogitar da entrega de um brasileiro nato
a um governo requerente para que responda a uma persecução criminal,
nada impedindo, considerado o Tratado, considerado até o princípio da
reciprocidade, que se remeta peças ao Ministério Público para que, aqui
no território brasileiro, seja processado por um possível crime cometido
alhures, cometido no estrangeiro.
Dir-se-á que ela renunciou à extradição. E o primeiro caso envolveu
uma pessoa que conheci na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, que era
até vizinha dos pais da minha atual e sempre - porque se eu falar atual
mulher podem pensar que fui casado anteriormente, jamais fui -, que era
a Heloísa, que buscou a nacionalidade americana para ser promotora, e é
promotora, em Nova Iorque.
Não há como o brasileiro nato, porque não estamos aqui diante de
direito disponível, renunciar ao fato de ser brasileiro nato, consideradas
uma das hipóteses previstas no artigo 12, inciso I, da Constituição
Federal:
"a) os nascidos na República Federativa do Brasil," - é o caso - "ainda
que de pais estrangeiros," - parece que não é o caso - "desde que estes não
estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro" - também não é o
caso - "ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da
República Federativa do Brasil;"
E por último:
"c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira,
desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou
venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer
tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;"
Nós devemos estimular o casamento, mas o casamento com o
estrangeiro não conduz, implicitamente, à perda da condição de
brasileiro ou brasileira nata; não, não conduz.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Mas Vossa Excelência citou
um dispositivo onde Vossa Excelência dizia o seguinte: adquire a

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nacionalidade estrangeira por força da lei de lá, que passa a considerá-lo


também nacional daquele país. É uma ex lege. Quer dizer, há brasileiros
que também podem ter outra nacionalidade, por força da lei estrangeira.
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (PRESIDENTE) –
Ministro, longe de mim submeter a ordem jurídica brasileira à legislação
estrangeira; longe de mim!
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Claro. Mas é possível ter um
brasileiro que, pela lei de outro país, adquire também aquela
nacionalidade. Esse não perde.
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (PRESIDENTE) – Em
primeiro lugar está documento que precisa ser um pouco mais amado – a
Constituição Federal. E não sei por que tiraram do Código Civil o
vocábulo "amor" que nele se continha, quanto à atuação do procurador.
Será que não houve, antes deste caso, situação semelhante a esta
apreciada pelo Plenário, nesses anos todos? Vamos inaugurar, num
precedente, a meu ver, extremado, a possibilidade de entrega pelo
Governo brasileiro de brasileiro nato a um país amigo, a um país irmão?
O passo, para mim, é demasiadamente largo. E, tendo em conta a
compreensão da Lei Básica do País, não consigo dá-lo.
Reitero o que tive oportunidade de veicular em termos de
fundamentos, no que, julgado o mandado se segurança não para mim,
fizeram coisa julgada. Reitero o que tive oportunidade de consignar e,
com base nessa circunstância de persistir a condição de brasileira nata, da
extraditanda, porque aqui nascida e de pais brasileiros, indefiro a
extradição.

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Extrato de Ata - 28/03/2017

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PRIMEIRA TURMA
EXTRATO DE ATA

EXTRADIÇÃO 1.462
PROCED. : DISTRITO FEDERAL
RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO
REQTE.(S) : GOVERNO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
EXTDO.(A/S) : CLAUDIA CRISTINA SOBRAL OU CLAUDIA HOERIG OU CLAUDIA
C. HOERIG OU CRISTINA HOERIG OU CLAUDIA BOLTE OU CRISTINA BOLTE OU
CLAUDIA CRISTINA SOBRAL OU CLAUDIA SOBRAL OU CRISTINA SOBRAL OU
CRIS OU CLAUDIA CRISTINA BOLTE
ADV.(A/S) : ADILSON VIEIRA MACABU (47808/DF)
ADV.(A/S) : FLORIANO DUTRA NETO (20499/DF)

Decisão: Por maioria de votos, a Turma assentou a


possibilidade de entrega da Extraditanda ao Governo requerente,
nos termos do voto do Relator, vencido o Senhor Ministro Marco
Aurélio, Presidente. Falou o Dr. Adilson Vieira Macabu, pela
Extraditanda. Primeira Turma, 28.3.2017.

Presidência do Senhor Ministro Marco Aurélio. Presentes à


Sessão os Senhores Ministros Luiz Fux, Rosa Weber, Luís Roberto
Barroso e Alexandre de Moraes.

Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo Gustavo Gonet


Branco.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Secretária da Primeira Turma

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