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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 18

26/06/2023 PRIMEIRA TURMA

AG.REG. NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS 227.261 S ANTA


CATARINA

RELATOR : MIN. LUIZ FUX


AGTE.(S) : CLAUDIO DOS SANTOS FUCK
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL
AGDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
AGDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA
CATARINA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
SANTA CATARINA

EMENTA: AGRAVO INTERNO NO RECURSO ORDINÁRIO EM


HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME DE
INJÚRIA RACIAL NO CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E
FAMILIAR. ART. 140, § 3º, DO CÓDIGO PENAL C/C ARTS. 5º, I, E 7°,
V, DA LEI Nº 11.340/06. REDISCUSSÃO DOS CRITÉRIOS DE
DOSIMETRIA DA PENA. CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL NEGATIVA.
IMPOSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO POR PENAS RESTRITIVAS
DE DIREITOS. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA PELAS INSTÂNCIAS
ORDINÁRIAS. DISCRICIONARIEDADE MOTIVADA DO JUÍZO.
REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO
ENGEDRADO NOS AUTOS. REITERAÇÃO DAS RAZÕES. AGRAVO
INTERNO DESPROVIDO.
1. A dosimetria da pena, bem como os critérios subjetivos
considerados pelos órgãos inferiores para a sua realização, são
insindicáveis na via estreita do habeas corpus, por demandar minucioso
exame fático e probatório inerente a meio processual diverso.
Precedentes: HC 114.650, Primeira Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de
14/8/2013; HC 141.167-AgR, Primeira Turma, Rel. Min. Roberto Barroso,
DJe de 16/6/2017; RHC 152.050-AgR, Segunda Turma, Rel. Min. Dias
Toffoli, DJe de 28/5/2018.
2. In casu, o paciente foi condenado à pena de à pena de 1 (um) ano,

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1 (um) mês e 16 (dezesseis) dias de reclusão , em regime inicial aberto,


bem como ao pagamento de 10 (dez) dias-multa pela prática do crime
tipificado no artigo 140, § 3º, do Código Penal.
3. O habeas corpus é ação inadequada para a valoração e exame
minucioso do acervo fático-probatório engendrado nos autos.
4. A impugnação específica da decisão agravada, quando ausente,
conduz ao desprovimento do agravo regimental. Precedentes: HC
137.749-AgR, Primeira Turma, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de
17/5/2017; e HC 133.602-AgR, Segunda Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia,
DJe de 8/8/2016.
5. A reiteração dos argumentos trazidos pelo agravante na petição
inicial da impetração é insuscetível de modificar a decisão agravada.
Precedentes: HC 136.071-AgR, Segunda Turma, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, DJe de 9/5/2017; HC 122.904-AgR, Primeira Turma Rel.
Min. Edson Fachin, DJe de 17/5/2016; RHC 124.487-AgR, Primeira Turma,
Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de 1º/7/2015.
6. Agravo interno DESPROVIDO.

ACÓRDÃO

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, na conformidade


da ata de julgamento virtual de 16 a 23/6/2023, por unanimidade, negou
provimento ao agravo, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 26 de junho de 2023.
Ministro LUIZ FUX - RELATOR
Documento assinado digitalmente

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AG.REG. NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS 227.261 S ANTA


CATARINA

RELATOR : MIN. LUIZ FUX


AGTE.(S) : CLAUDIO DOS SANTOS FUCK
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL
AGDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
AGDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA
CATARINA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
SANTA CATARINA

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX (RELATOR): Trata-se de agravo


interno, interposto por CLAUDIO DOS SANTOS FUCK, contra decisão de
minha relatoria que negou seguimento a pedido de habeas corpus e restou
assim ementada:

“RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PENAL


E PROCESSUAL PENAL. CRIME DE INJÚRIA RACIAL NO
CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR. ART.
140, § 3º, DO CÓDIGO PENAL C/C ARTS. 5º, I, E 7°, V, DA LEI
Nº 11.340/06. REDISCUSSÃO DOS CRITÉRIOS DE
DOSIMETRIA DA PENA. CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL
NEGATIVA. IMPOSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO POR
PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS. FUNDAMENTAÇÃO
IDÔNEA PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS.
DISCRICIONARIEDADE MOTIVADA DO JUÍZO.
REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO
ENGEDRADO NOS AUTOS. IMPOSSIBILIDADE DE
UTILIZAÇÃO DO HABEAS CORPUS COMO SUCEDÂNEO DE
RECURSO OU REVISÃO CRIMINAL.”

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A defesa veiculou recurso ordinário em habeas corpus interposto


contra decisão acórdão do Superior Tribunal de Justiça no habeas corpus nº
775.608, cuja ementa transcrevo abaixo:

“AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS.


INJÚRIA RACIAL COMETIDA NO ÂMBITO DOMÉSTICO E
FAMILIAR CONTRA A MULHER. SUBSTITUIÇÃO DA PENA
CORPORAL POR PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS. ART. 7º
DA LEI N. 11.340/2006. VIOLÊNCIA MORAL. SÚMULA N.
588/STJ. HISTÓRICO CRIMINAL. ANTECEDENTES. ART. 44,
III, DO CÓDIGO PENAL. MEDIDA SOCIALMENTE NÃO
RECOMENDÁVEL.
1. Ao dispor no art. 7º da Lei n. 11.340/2006 acerca de possíveis
formas de violência domiciliar e familiar contra a mulher, o legislador
explicitou que o objetivo da norma é o de assegurar não somente a
integridade física da ofendida, mas salvaguardá-la de outras formas de
violência – como a psicológica, sexual, patrimonial ou moral – , que,
por vezes, podem ser tão ou mais agressivas e perturbadoras do que a
própria violência corporal.
2. Não se restringindo a violência praticada no âmbito
doméstico e familiar contra a mulher somente à modalidade física –
limitação essa que tampouco se extrai da Súmula n. 588/STJ – , é
possível afirmar que os crimes e contravenções penais, praticados sob
a égide da Lei n. 11.340/2006 e que envolvam qualquer forma de
violência, são insuscetíveis de substituição da pena privativa de
liberdade por penas restritivas de direitos.
3. A ressalva contida no art. 44, § 3°, do CP não é aplicável à
hipótese dos autos, pois as instâncias ordinárias afastaram a almejada
substituição com fundamento no art. 44, III, do CP, haja vista o
histórico criminal do réu.
4. O acusado ostenta maus antecedentes pela prática do crime de
ameaça, também cometido em âmbito doméstico contra a mulher, o que
evidencia a insuficiência da medida.
5. Agravo desprovido.”

Colhe-se dos autos que o paciente foi condenado à pena de à pena

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de 1 (um) ano e 2 (dois) meses de reclusão, em regime inicial aberto, bem


como ao pagamento de 29 (vinte e nove) dias-multa pela prática do crime
tipificado no artigo 140, § 3º, do Código Penal, na forma do artigo 5º, I, e
artigo 7°, V, da Lei nº 11.340/06.

No Tribunal de origem, a pena foi redimensionada para 1 (um) ano,


1 (um) mês e 16 (dezesseis) dias de reclusão e 10 (dez) dias-multa.

A defesa impetrou habeas corpus perante o Superior Tribunal de


Justiça, o qual foi julgado nos termos da ementa supratranscrita.

Sobreveio o presente recurso ordinário em habeas corpus, no qual a


defesa apontou constrangimento ilegal consubstanciado na dosimetria da
pena imposta ao paciente.

Aduziu que “não há que se falar na incidência da Súmula 588 do STJ,


visto que a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito,
em infrações praticadas no âmbito da violência doméstica, somente é vedada
quando o ilícito tenha sido praticado mediante violência ou grave ameaça à
pessoa, o que não ocorreu no presente caso, onde o crime apurado foi o de
injúria”. Alegou que “a r. Turma deixou de observar a exceção prevista no § 3º
do art. 44 do Código Penal”. Advogou que “a análise das circunstâncias é feita
em conjunto e, sendo apenas uma negativa, esta não tem o condão de, por si só,
obstar a substituição das penas”.

A Procuradoria-Geral da República se manifestou pelo


desprovimento do recurso nos termos da seguinte ementa:

“Processo penal. Recurso ordinário em habeas corpus. Pleito de


substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direito.
Condenação por injúria. 1. A negativa da substituição não teve como
fundamento a reincidência penal genérica do agente, mas sim a
existência de circunstância a indicar não ser a medida socialmente
recomendável, em conformidade com o art. 44, III, do CP. Desse modo,

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rever o fundamento apresentado pelas instâncias ordinárias somente


seria possível com ampla incursão probatória, inviável na via do
habeas corpus. 2. Pelo desprovimento do recurso.”

Negado seguimento ao writ, sobreveio o presente agravo, no qual a


defesa reitera os argumentos aduzidos na petição inicial, formulando o
pedido recursal nos seguintes termos:

“Ante o exposto, requer seja exercido o juízo de reconsideração


por Vossa Excelência, com o conhecimento do recurso e a concessão da
ordem, declarando-se que apenas a violência ou grave ameaça no
ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos, conforme o princípio da estrita
legalidade em matéria penal; concedendo-se a ordem de habeas corpus
para ordenar a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos no caso concreto, posto que há apenas uma
circunstância judicial negativa e essa não tem o condão de, por si só,
obstar a substituição das pena, conforme precedentes da Corte: (HC
201163 AgR, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Relator(a) p/ Acórdão:
ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em
20/09/2021, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-248 DIVULG 16-12-
2021 PUBLIC 17-12-2021).
Requer, por derradeiro, seja efetivado o pedido de destaque que o
caso merece, nos termos do ART. 4º, II DA RESOLUÇÃO N. 642,
DE JUNHO DE 2019.
Pugna, ainda, pela intimação pessoal da Defensoria Pública-
Geral da União para a sessão de julgamento do writ.”

Há pedido de destaque, contudo, não há peculiaridade nos autos


que justifique a retirada do julgamento em ambiente eletrônico.

É o relatório.

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VOTO

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX (RELATOR): A presente irresignação


não merece prosperar.

Em que pesem os argumentos expendidos no agravo, resta


evidenciado que a parte agravante não trouxe nenhum argumento capaz
de infirmar a decisão hostilizada, razão pela qual deve ela ser mantida,
por seus próprios fundamentos.

Conforme assentado em decisão monocrática, inexiste situação que


autorize a concessão da ordem ante a ausência de flagrante ilegalidade ou
abuso de poder na decisão atacada.

In casu, inexiste excepcionalidade que permita a concessão da ordem


de ofício ante a ausência de teratologia na decisão atacada, flagrante
ilegalidade ou abuso de poder. Por oportuno, transcrevo a
fundamentação da decisão do Superior Tribunal de Justiça, naquilo que
interessa, in verbis:

“[...]
Como bem se vê, ao dispor em lei acerca de possíveis formas de
violência domiciliar e familiar contra a mulher, o legislador explicitou
que o objetivo da norma é o de não somente assegurar a integridade
física da ofendida, mas salvaguardá-la de outras formas de violência –
como a psicológica, sexual, patrimonial ou moral – , que, por vezes,
podem ser tão ou mais agressivas e perturbadoras do que a própria
violência corporal.
Com o fito de assegurar a eficácia social da norma, esta Corte
Superior editou o Enunciado Sumular n. 588/STJ, segundo o qual: "A
prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência

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ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição


da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos".
Considerando que a Lei n. 11.340/2006 explicitamente prevê que
a violência praticada no âmbito doméstico e familiar contra a mulher
pode assumir variadas formas, não se restringindo somente à
modalidade física – limitação essa que tampouco se extrai da Súmula
n. 588/STJ –, é possível afirmar que a prática de crimes e
contravenções penais, envolvendo qualquer modalidade de violência
doméstica e familiar contra a mulher, constitui fundamento idôneo a
obstar a substituição da pena privativa de liberdade por penas
restritivas de direitos.
De outro norte, o art. 44, § 3°, do CP não é aplicável ao presente
caso, pois as instâncias ordinárias afastaram a almejada substituição
com fundamento no art. 44, III, do CP, haja vista o histórico criminal
do réu.
Consta dos autos que o acusado ostenta maus antecedentes pela
prática do crime de ameaça, também cometido em âmbito doméstico
contra mulher, o que evidencia a insuficiência da medida.
Concluo que inexistem elementos suficientes para infirmar a
decisão impugnada, que, de fato, apresentou a solução que melhor
espelha a orientação jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça.
Assim, nenhuma censura merece o decisório agravado, que deve
ser mantido pelos seus próprios e jurídicos fundamentos.”

Com efeito, o Supremo Tribunal Federal fixou entendimento no


sentido de que “a dosimetria da pena, bem como os critérios subjetivos
considerados pelos órgãos inferiores para a sua realização, não são passíveis de
aferição na via estreita do habeas corpus, por demandar minucioso exame fático e
probatório inerente a meio processual diverso” (HC nº 114.650, Primeira
Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 14/08/2013). Nesse sentido, o seguinte
julgado:

PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM


HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. CONDENAÇÃO
TRANSITADA EM JULGADO. DOSIMETRIA DA PENA. 1. A
Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal consolidou

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entendimento no sentido da inadmissibilidade do uso da ação de


habeas corpus em substituição ao recurso ordinário previsto na
Constituição Federal (HC 109.956, Rel. Min. Marco Aurélio; e HC
104.045, Rel.ª Min.ª Rosa Weber). 2. O Supremo Tribunal Federal
não admite a utilização do habeas corpus em substituição à ação de
revisão criminal (RHC119.605-AgR, Rel. da minha relatoria; HC
111.412-AgR, Rel. Min. Luiz Fux; RHC 114.890, Rel. Min. Dias
Toffoli; HC 116.827-MC, Rel. Min. Teori Zavascki; RHC 116.204,
Rel.ª Min.ª Cármen Lúcia; e RHC 115.983, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski). 3. A dosimetria da pena é questão relativa ao
mérito da ação penal, estando necessariamente vinculada ao
conjunto fático probatório, não sendo possível, em habeas
corpus, a análise de dados fáticos da causa para redimensionar
a pena finalmente aplicada. Assim, a discussão a respeito da
dosimetria da pena cinge-se ao controle da legalidade dos
critérios utilizados, restringindo-se, portanto, ao exame da
“motivação [formalmente idônea] de mérito e à congruência
lógico-jurídica entre os motivos declarados e a conclusão” (HC
69.419, Rel. Min. Sepúlveda pertence). 4. A orientação
jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que, “Se
instâncias ordinárias concluíram que o ora agravante se dedicava à
atividade criminosa para negar a incidência da causa especial de
redução de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei de Drogas, para se
chegar a conclusão diversa, necessário seria o reexame de fatos e
provas, o qual o habeas corpus não comporta. Não há que se falar em
bis in idem, pois, embora haja simples referência à quantidade de
droga apreendida, ela não foi um fator preponderante na negativa de
aplicação da causa especial de redução de pena prevista no art. 33, §
4º, da Lei 11.343/06, já que se entendeu, em razão das circunstâncias
em que foi praticado o delito, que o agravante se dedicava à atividade
criminosa, o que, por si só, obsta a incidência do redutor de pena
pretendido” (HC 136.177-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli). 5. Agravo
regimental a que se nega provimento. (HC 141.167-AgR, Primeira
Turma, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de 16/6/2017)

Outrossim, há que se reconhecer que a dosimetria da pena é matéria

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sujeita a certa discricionariedade judicial, sindicável apenas em casos de


flagrante teratologia, ilegalidade ou abuso de poder. No mesmo sentido o
HC n.º 132.475, de relatoria da Min. Rosa Weber, Primeira Turma, DJe de
23/08/2016:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS.


SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. INADEQUAÇÃO
DA VIA ELEITA. REITERAÇÃO DE IMPETRAÇÃO ANTERIOR.
TRÁFICO DE DROGAS. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO.
DOSIMETRIA. FIXAÇÃO DA PENA-BASE. AFASTAMENTO
DA MINORANTE DO ARTIGO 33, § 4º, DA LEI 11.343/2006. 1.
Contra a denegação de habeas corpus por Tribunal Superior prevê a
Constituição Federal remédio jurídico expresso, o recurso ordinário.
Diante da dicção do art. 102, II, a, da Constituição da República, a
impetração de novo habeas corpus em caráter substitutivo escamoteia
o instituto recursal próprio, em manifesta burla ao preceito
constitucional. 2. A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal
no sentido de que “não se conhece de habeas corpus em que se reitera a
pretensão veiculada em writ anteriormente impetrado” (HC
112.645/TO, Rel. Min. Ayres Britto, 2ª Turma, DJe 08.6.2012). 3. A
dosimetria da pena é matéria sujeita a certa discricionariedade
judicial. O Código Penal não estabelece rígidos esquemas matemáticos
ou regras absolutamente objetivas para a fixação da pena. Pertinente à
dosimetria da pena, encontra-se a aplicação da causa de diminuição da
pena objeto do § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006. 4. Na hipótese,
adequada a exasperação da pena-base acima do mínimo legal dada
'a expressiva quantidade de droga apreendida – 57 kg de
maconha'. 5. A tese defensiva de aplicação da minorante do § 4º
do art. 33 da Lei 11.343/06, afastada pelas instâncias anteriores dada a
constatação de o paciente integrar organização criminosa e/ou dedicar-
se à atividades delitivas, demandaria o reexame e a valoração de fatos e
provas, para o que não se presta a via eleita. 6. Agravo regimental
conhecido e não provido.

A propósito, o Superior Tribunal de Justiça consignou que “as


instâncias ordinárias afastaram a almejada substituição com fundamento no art.

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44, III, do CP, haja vista o histórico criminal do réu”.

Nesse contexto, cabe referir que o Supremo Tribunal Federal perfilha


o entendimento no sentido de que havendo reconhecimento e valoração
negativa de circunstância judicial na primeira fase da dosimetria não é
possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de
direitos, ex vi do art. 44, III, do Código Penal. Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM


HABEAS CORPUS. PENAL. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA
PARA FIXAÇÃO DO REGIME INICIAL SEMIABERTO.
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS.
SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR
RESTRITIVA DE DIREITO: IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA
DOS REQUISITOS DO INC. III DO ART. 44 DO CÓDIGO
PENAL: PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL
SE NEGA PROVIMENTO. (RHC 164716-AgR, Segunda Turma,
Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe de 16/08/2019)

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. CRIME


DE ESTELIONATO. CONDENAÇÃO PENAL COM TRÂNSITO
EM JULGADO. WRIT SUCEDÂNEO DE RECURSO OU
REVISÃO CRIMINAL. DOSIMETRIA DA PENA.
CONTINUIDADE DELITIVA. REEXAME DE FATOS E PROVAS.
IMPOSSIBILIDADE. REGIME PRISIONAL. SUBSTITUIÇÃO
DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE. CIRCUNSTÂNCIA
JUDICIAL DESFAVORÁVEL. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
REVOLVIMENTO DO ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO.
INVIABILIDADE. MANIFESTA ILEGALIDADE OU
TERATOLOGIA NÃO IDENTIFICADAS. 1. Inadmissível o
emprego do habeas corpus como sucedâneo de recurso ou revisão
criminal. Precedentes. 2. Para desconstruir o substrato fático-
probatório estabilizado nas instâncias anteriores quanto à inexistência
dos requisitos objetivos e subjetivos para o reconhecimento da alegada
continuidade delitiva, imprescindíveis o reexame e a valoração de fatos
e provas, para o que não se presta a via eleita. Precedentes. 3. Inviável

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Supremo Tribunal Federal
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o abrandamento do regime prisional fixado pela instância anterior,


considerada a circunstância judicial desfavorável, nos termos do art.
33, § 3º, do Código Penal. Precedentes. 4. As instâncias anteriores
negaram a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva
de direitos forte na existência de circunstância judicial desfavorável,
não sendo recomendável a substituição nos termos do art. 44 do
Código Penal. Precedentes. 5. Agravo regimental conhecido e não
provido. (HC 216.728-AgR, Primeira Turma, Rel. Min. Rosa
Weber, DJe de 19/08/2022)

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS.


DECISÃO INDIVIDUAL DE MINISTRO DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. PENA. DOSIMETRIA. REGIME DE
CUMPRIMENTO. SUBSTITUIÇÃO. RESTRITIVA DE
DIREITOS. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. 1. O pronunciamento
impugnado está alinhado com a jurisprudência do Supremo no sentido
de que a dosimetria da pena é matéria sujeita a discricionariedade
judicial relativa ao mérito da ação penal, estando necessariamente
vinculada ao conjunto fático-probatório, não sendo possível às
instâncias extraordinárias a análise de dados fáticos da causa para
redimensionar a pena finalmente aplicada. Precedentes. 2. Não há
constrangimento ilegal na definição do regime inicial semiaberto,
consideradas as circunstâncias judiciais negativas. Inteligência do art.
33, §§ 2 º e 3º, do CP. Precedentes. 3. A conversão da pena privativa
de liberdade em restritiva de direitos, conforme o art. 44, inciso III, do
Código Penal, impõe que as circunstâncias judiciais indiquem ser a
substituição suficiente. 4. Agravo regimental a que se nega
provimento. (HC 210.549-AgR, Segunda Turma, Rel. Min. André
Mendonça, DJe de 26/05/2022)

A propósito, destaco que o Supremo Tribunal Federal, por meio de


sua composição plenária, no exame da ADC nº 19, Rel. Min. Marco
Aurélio, ao reconhecer a constitucionalidade do artigo 1º da lei nº
11.340/06, registrou que a “norma também é corolário da incidência do
princípio da proibição de proteção insuficiente dos direitos fundamentais, na
medida em que ao Estado compete a adoção dos meios imprescindíveis à efetiva

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concretização de preceitos contidos na Carta da República. A abstenção do Estado


na promoção da igualdade de gêneros e a omissão no cumprimento, em maior ou
menor extensão, de finalidade imposta pelo Diploma Maior implicam situação da
maior gravidade político-jurídica, pois deixou claro o constituinte originário que,
mediante inércia, pode o Estado brasileiro também contrariar o Diploma Maior”.
Ressoa inequívoco, portanto, a imperiosidade de se garantir às mulheres
agredidas o acesso efetivo aos meios de reparação, proteção e Justiça, de
sorte que devem ser materializados na maior medida possível o objetivo
da norma de reprimir e impedir a violência doméstica e familiar contra a
mulher. Por oportuno, transcrevo a ementa do referido julgado:

“VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 –


GÊNEROS MASCULINO E FEMININO – TRATAMENTO
DIFERENCIADO. O artigo 1º da Lei nº 11.340/06 surge, sob o
ângulo do tratamento diferenciado entre os gêneros – mulher e homem
–, harmônica com a Constituição Federal, no que necessária a proteção
ante as peculiaridades física e moral da mulher e a cultura brasileira.
COMPETÊNCIA – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06
– JUIZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
CONTRA A MULHER. O artigo 33 da Lei nº 11.340/06, no que
revela a conveniência de criação dos juizados de violência doméstica e
familiar contra a mulher, não implica usurpação da competência
normativa dos estados quanto à própria organização judiciária.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER –
REGÊNCIA – LEI Nº 9.099/95 – AFASTAMENTO. O artigo 41 da
Lei nº 11.340/06, a afastar, nos crimes de violência doméstica contra a
mulher, a Lei nº 9.099/95, mostra-se em consonância com o disposto
no § 8º do artigo 226 da Carta da República, a prever a
obrigatoriedade de o Estado adotar mecanismos que coíbam a violência
no âmbito das relações familiares.” (ADC 19, Tribunal Pleno, Rel.
Min. Marco Aurélio, DJe de 28/04/2014)

Com efeito, sendo certo que “o acusado ostenta maus antecedentes pela
prática do crime de ameaça, também cometido em âmbito doméstico contra
mulher, o que evidencia a insuficiência da medida”, não se identifica

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constrangimento ilegal. Deveras, uma Constituição que assegura a


dignidade humana (art. 1º, III) e que dispõe que o Estado assegurará a
assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando
mecanismos para coibir a violência no âmbito das suas relações (art. 226,
§ 8º), não se compadece com a realidade da sociedade brasileira, em que
salta aos olhos a alarmante cultura de subjugação da mulher. A
impunidade dos agressores acabava por deixar ao desalento os mais
básicos direitos das mulheres, submetendo-as a todo tipo de sevícias, em
clara afronta ao princípio da proteção deficiente (Untermassverbot).

Sob prisma diverso, o exame das questões de fato suscitadas pela


defesa, além de não ter sido realizado pelo Superior Tribunal de Justiça,
demanda uma indevida incursão na moldura fática delineada nos autos.
Com efeito, o habeas corpus é ação inadequada para a valoração e exame
minucioso do acervo fático probatório engendrado nos autos. Destarte,
não se revela cognoscível a insurgência que não se amolda à estreita via
eleita. Nesse sentido:

“AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL


E PROCESSUAL PENAL. CRIME DE HOMICÍDIO
DUPLAMENTE QUALIFICADO. HABEAS CORPUS
SUBSTITUTIVO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
INADMISSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL PARA JULGAR HABEAS CORPUS:
CRFB/88, ART. 102, I, D E I. HIPÓTESE QUE NÃO SE AMOLDA
AO ROL TAXATIVO DE COMPETÊNCIA DESTA SUPREMA
CORTE. REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-
PROBATÓRIO. INADMISSIBILIDADE NA VIA ELEITA.
INÉPCIA DA DENÚNCIA. NÃO CARACTERIZADA.
CUSTÓDIA PREVENTIVA DEVIDAMENTE
FUNDAMENTADA. ELEMENTOS CONCRETOS A
JUSTIFICAR A MEDIDA. ALEGADO EXCESSO DE PRAZO.
INOCORRÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO”.
(HC 130.439, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe de
12/5/2016).

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Por oportuno, ante a pertinência de suas alegações, colaciono trecho


do parecer elaborado pela Procuradoria-Geral da República:

“No caso, diversamente do que alega a defesa, as instâncias


ordinárias fundamentaram a negativa de substituição da sanção
corporal por penas alternativas, com fulcro no art. 44, III, do CP,
“como consignado na sentença resistida, o Apelante ostenta maus
antecedentes pela prática de ameaça, também cometida em âmbito
doméstico (autos 00015286620188240011)” (fl. 222).
Verifica-se, portanto, que a negativa da substituição não teve
como fundamento a reincidência penal genérica do agente, mas sim o
fato de o recorrente ter praticado novamente um crime em âmbito
doméstico, circunstância indicadora de não ser socialmente
recomendável a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direito. Sendo assim, rever o fundamento apresentado
pelas instâncias ordinárias somente seria possível com ampla incursão
probatória, inviável na via do habeas corpus.”

Impende registrar, ainda, que esta Corte sufraga o entendimento de


que a reiteração dos argumentos aduzidos na petição de habeas corpus, os
quais já foram objeto de exame pelo relator, não possuem o condão de
infirmar os fundamentos da decisão agravada. Nesse sentido, in verbis:

“AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS.


REITERAÇÃO DOS ARGUMENTOS EXPOSTOS NA INICIAL
QUE NÃO INFIRMAM OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO
AGRAVADA. WRIT CONTRA DECISÃO LIMINAR DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. POSTERIOR
JULGAMENTO DO MÉRITO: PREJUDICIALIDADE DA
IMPETRAÇÃO. AGRAVO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.
I - O agravante reitera os argumentos anteriormente expostos na
inicial do habeas corpus, sem, contudo, aduzir novos elementos
capazes de afastar as razões expendidas na decisão agravada. II - A
superveniência do julgamento do mérito de habeas corpus pelo
Superior Tribunal de Justiça torna prejudicada a impetração que ataca

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a decisão que indeferiu a liminar. III – Agravo ao qual se nega


provimento.” (HC 136.071-AgR, Segunda Turma, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, DJe de 9/5/2017)

“AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS.


PROCESSO PENAL. DECISÃO MONOCRÁTICA.
INEXISTÊNCIA DE ARGUMENTAÇÃO APTA A MODIFICÁ-
LA. MANUTENÇÃO DA NEGATIVA DE SEGUIMENTO.
DELITO DE TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS. RITO ESPECIAL.
RESPOSTA À ACUSAÇÃO. PRESCINDIBILIDADE. PRISÃO
PREVENTIVA. MOTIVAÇÃO IDÔNEA. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO. 1. A inexistência de argumentação apta a infirmar o
julgamento monocrático conduz à manutenção da decisão recorrida. 2.
O artigo 396 do CPP, que assegura ao acusado a apresentação de
resposta à acusação após a admissão da imputação, não se aplica ao
rito disciplinado na Lei 11.343/06, hipótese em que a defesa escrita
precede ao recebimento da denúncia. Ademais, ambas as defesas são
direcionadas a evitar a persecução criminal temerária, de modo que,
forte no princípio da especialidade, não há direito subjetivo à
acumulação das oportunidades de defesa. 3. Não há ilegalidade na
decisão que impõe prisão preventiva com lastro em argumentos que
evidenciam o fundado receio de reiteração delituosa. 4. Agravo
regimental desprovido.” (HC 122.904-AgR, Primeira Turma, Rel.
Min. Edson Fachin, DJe de 17/5/2016)

“Direito Penal e Processo Penal. Agravo Regimental. Recurso


Ordinário em Habeas Corpus. Ação Penal. Desobediência. Coação no
Curso do Processo. Nulidade do Processo em que Ocorreu o Crime. 1.
O crime de coação no curso do processo é formal. Sua consumação
independe de resultado naturalístico, bastando a simples ameaça
praticada contra qualquer pessoa que intervenha no processo, seja
autoridade, parte ou testemunha. É irrelevante que a conduta produza
o resultado pretendido. 2. A conduta foi praticada quando o processo
se encontrava em curso, o que atende à descrição típica do art. 344 do
Código Penal. 3. A reiteração dos argumentos trazidos pelo agravante
na inicial da impetração não é suficiente para modificar a decisão

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agravada (HC 115.560-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli). 4. Agravo


regimental a que se nega provimento.” (RHC 124.487-AgR,
Primeira Turma, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de 1º/7/2015)

Ex positis, DESPROVEJO o agravo interno.

É como voto.

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Extrato de Ata - 26/06/2023

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PRIMEIRA TURMA
EXTRATO DE ATA

AG.REG. NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS 227.261


PROCED. : SANTA CATARINA
RELATOR : MIN. LUIZ FUX
AGTE.(S) : CLAUDIO DOS SANTOS FUCK
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL
AGDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
AGDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA
CATARINA

Decisão: A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo


interno, nos termos do voto do Relator. Primeira Turma, Sessão
Virtual de 16.6.2023 a 23.6.2023.

Composição: Ministros Luís Roberto Barroso (Presidente),


Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux e Alexandre de Moraes.

Disponibilizaram processos para esta Sessão os Ministros Dias


Toffoli e Edson Fachin.

Luiz Gustavo Silva Almeida


Secretário da Primeira Turma

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