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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 16

29/06/2020 PRIMEIRA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 1.250.467 R IO


DE JANEIRO

RELATORA : MIN. ROSA WEBER


AGTE.(S) : ISABEL DE ORLEANS E BRAGANCA
ADV.(A/S) : DIRCEU ALVES PINTO
AGDO.(A/S) : ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
AGDO.(A/S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : ESPÓLIO DE PEDRO DE ORLEANS E BRAGANÇA
REPRESENTADO POR AFONSO DE BOURBON DE
ORLEANS E BRAGANÇA
ADV.(A/S) : JOSE CARLOS DE ARAUJO ALMEIDA FILHO
INTDO.(A/S) : PEDRO HENRIQUE DE ORLEANS E BRAGANCA
ADV.(A/S) : GABRIEL JOSE DE ORLEANS E BRAGANCA
ADV.(A/S) : MARIO ALBERTO PUCHEU
ADV.(A/S) : SERGIO BERMUDES
ADV.(A/S) : HUGO MAURICIO SIGELMANN
INTDO.(A/S) : BERTRAND MARIA JOSE PIO DE ORLEANS E
BRAGANCA
ADV.(A/S) : RONALD CHRISTIAN ALVES BICCA

EMENTA

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. POSSE. RECURSO


EXTRAORDINÁRIO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO CPC/2015.
ALEGAÇÃO DE OFENSA AOS ARTS. 5º, I, XI, XXII, XXXVI, LIV E LV, E
93, IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. ART. 93, IX, DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. CONTRADITÓRIO E
AMPLA DEFESA. DEVIDO PROCESSO LEGAL. AUSÊNCIA DE
REPERCUSSÃO GERAL. EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO VIABILIZA O RECURSO

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http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código C888-3599-AFC5-3137 e senha AFA7-7102-7203-1544
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Ementa e Acórdão

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ARE 1250467 AGR / RJ

EXTRAORDINÁRIO. AGRAVO MANEJADO SOB A VIGÊNCIA DO


CPC/2015.
1. Inexiste violação do art. 93, IX, da Constituição Federal. A
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que o
referido dispositivo constitucional exige a explicitação, pelo órgão
jurisdicional, das razões do seu convencimento. Enfrentadas todas as
causas de pedir veiculadas pela parte capazes de, em tese, influenciar o
resultado da demanda, fica dispensado o exame detalhado de cada
argumento suscitado, considerada a compatibilidade entre o que alegado
e o entendimento fixado pelo órgão julgador.
2. Obstada a análise da suposta afronta aos preceitos constitucionais
invocados, porquanto dependeria de prévia análise da legislação
infraconstitucional aplicada à espécie, procedimento que foge à
competência jurisdicional extraordinária desta Corte Suprema, nos
termos do art. 102 da Magna Carta.
3. As razões do agravo não se mostram aptas a infirmar os
fundamentos que lastrearam a decisão agravada, principalmente no que
se refere à ausência de ofensa a preceito da Constituição da República.
4. Agravo interno conhecido e não provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do
Supremo Tribunal Federal em conhecer do agravo e negar-lhe
provimento, nos termos do voto da Relatora e por maioria de votos,
vencido o Ministro Marco Aurélio, em sessão virtual da Primeira Turma
de 19 a 26 de junho de 2020, na conformidade da ata do julgamento.
Impedido o Ministro Luiz Fux

Brasília, 30 de junho de 2020.


Ministra Rosa Weber
Relatora

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Relatório

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29/06/2020 PRIMEIRA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 1.250.467 R IO


DE JANEIRO

RELATORA : MIN. ROSA WEBER


AGTE.(S) : ISABEL DE ORLEANS E BRAGANCA
ADV.(A/S) : DIRCEU ALVES PINTO
AGDO.(A/S) : ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
AGDO.(A/S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : ESPÓLIO DE PEDRO DE ORLEANS E BRAGANÇA
REPRESENTADO POR AFONSO DE BOURBON DE
ORLEANS E BRAGANÇA
ADV.(A/S) : JOSE CARLOS DE ARAUJO ALMEIDA FILHO
INTDO.(A/S) : PEDRO HENRIQUE DE ORLEANS E BRAGANCA
ADV.(A/S) : GABRIEL JOSE DE ORLEANS E BRAGANCA
ADV.(A/S) : MARIO ALBERTO PUCHEU
ADV.(A/S) : SERGIO BERMUDES
ADV.(A/S) : HUGO MAURICIO SIGELMANN
INTDO.(A/S) : BERTRAND MARIA JOSE PIO DE ORLEANS E
BRAGANCA
ADV.(A/S) : RONALD CHRISTIAN ALVES BICCA

RELATÓRIO

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): A decisão por mim


proferida, pela qual negado seguimento ao recurso extraordinário, restou
desafiada por agravo interno.
Na minuta, impugna-se a decisão agravada ao argumento de que
demonstrada, na hipótese, a afronta direta aos preceitos da Lei Maior
indicados nas razões recursais. Reitera-se a afronta aos arts. 5º, I, XI, XXII,
XXXVI, LIV e LV, e 93, IX, da Constituição Federal.
O Superior Tribunal de Justiça julgou a controvérsia em decisão cuja
ementa reproduzo:

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Relatório

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ARE 1250467 AGR / RJ

“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


AÇÃO DE FORÇA VELHA (DEMANDA POSSESSÓRIA,
PROCESSADA PELO RITO ORDINÁRIO) PROPOSTA EM
1895. DOTAÇÃO PARA A AQUISIÇÃO DE PRÉDIO
DESTINADO À HABITAÇÃO DA PRINCESA IMPERIAL
DONA ISABEL E SEU MARIDO. ATUAL PALÁCIO
GUANABARA. DIREITO DE HABITAÇÃO. OBRIGAÇÃO DO
ESTADO VINCULADA À MONARQUIA. PRÓPRIO
NACIONAL. PRESCRIÇÃO.
1. Caso em que a petição inicial de ‘ação de força velha’
(demanda possessória, processada pelo rito ordinário),
proposta em 1895 pelo Conde e pela Condessa d'Eu (Princesa
Isabel), discute a posse do Palácio Isabel (atual Palácio
Guanabara) e também a propriedade, repelindo a natureza de
próprio nacional declarada no Decreto n. 447, de 18.7.1891, e
afirmando a existência de esbulho e de confisco por parte do
Estado. Em tal contexto, a posse está sendo postulada,
igualmente, com fundamento no domínio.
2. Coisa julgada material descaracterizada quanto ao tema
de mérito relativo ao domínio, tendo em vista que, no
julgamento da Petição n. 100, ocorrido em 10.8.1895, o STF
indeferiu a ação de incorporação proposta pela União tão
somente diante de aspectos processuais afetos ao Decreto n.
447/1891, que não serviria como argumento para viabilizar a
utilização e o processamento do referido tipo de ação. Remeteu
as partes, então, às vias ordinárias.
3. O Palácio Guanabara, adquirido com recursos do
Tesouro Nacional a título de dote, com fundamento nas Leis n.
166, de 29.9.1840, 1.217, de 7.7.1864, e 1.904, de 17.10.1870,
destinava-se exclusivamente à habitação do Conde e da
Condessa d'Eu por força de obrigação legal do Estado
vinculada à monarquia e ao alto decoro do trono nacional e da
família imperial.
4. Com a proclamação e a institucionalização da
República, as circunstâncias fundamentais que justificavam a

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ARE 1250467 AGR / RJ

manutenção da posse do palácio deixaram de existir, tendo em


vista que foram extintos os privilégios de nascimento, os foros
de nobreza, as ordens honoríficas, as regalias e os títulos
nobiliárquicos. Em decorrência, as obrigações do Estado
previstas nas leis da época perante a família imperial foram
revogadas ipso facto pela nova ordem imposta, dentre as quais
a posse de que trata a ação.
5. A legislação editada durante a monarquia (Leis n.
166/1840 e 1.904/1870) expressamente conferiu aos imóveis
adquiridos para a residência da família imperial natureza de
próprio nacional, ou seja, bens de propriedade da Fazenda
Nacional.
6. Durante o regime imperial, não se cogitava da abolição
da monarquia, razão pela qual a instituição da república,
extinguindo o anterior regime, qualificou nova hipótese de ‘fim
da sucessão’ dos privilégios dos membros da família imperial
relacionados aos imóveis adquiridos a título de dote com
dinheiro público.
7. Prejudicado o recurso adesivo do Estado do Rio de
Janeiro, tendo em vista que o pedido de decretação da
prescrição foi subordinado, pelo próprio recorrente, ao efetivo
acolhimento da pretensão dos herdeiros do Conde e da
Condessa d'Eu. No julgamento, todavia, os referidos recursos
especiais não foram providos.
8. Recursos especiais interpostos por Pedro Henrique de
Orleans e Bragança e outros e por Isabel de Orleans e Bragança
e outros conhecidos parcialmente e desprovidos, e recurso
adesivo interposto pelo Estado do Rio de Janeiro prejudicado.”

Recurso extraordinário e agravo manejados sob a égide do


CPC/2015.
É o relatório.

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Voto - MIN. ROSA WEBER

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AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 1.250.467 R IO


DE JANEIRO

VOTO

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Preenchidos os


pressupostos genéricos, conheço do agravo interno e passo ao exame do
mérito.
Irrepreensível a decisão agravada.
Inicialmente, alega a agravante prevenção em relação à distribuição
do AI 764.855/RJ.
Destaco que a decisão monocrática da minha lavra, pela qual negado
seguimento ao recurso, prorroga a competência, nos termos do art. 69, §
1º, do RISTF, verbis:

“O conhecimento excepcional de processo por outro


Ministro que não o prevento prorroga-lhe a competência nos
termos do § 6º do art. 67.”

De mais a mais, o citado recurso foi interposto contra acórdão do


Tribunal de Regional Federal da 2ª Região e inicialmente distribuído ao
Min. Ricardo Lewansowski, que deu provimento ao agravo de
instrumento para admitir o recurso extraordinário e determinar a
devolução dos referidos autos ao Tribunal de origem, a fim de que se
aguarde o final do julgamento de recurso especial admitido no STJ.
Nesse sentido, transcrevo o teor da decisão, in verbis:

“Trata-se de agravo de instrumento contra decisão que


negou seguimento a recurso extraordinário interposto de
acórdão, cuja ementa segue transcrita:
‘CONSTITUCIONAL E CIVIL - AÇÃO
POSSESSÓRIA - PRELIMINAR DE PRESCRIÇÃO -
PALÁCIO GUANABARA É BEM PRÓPRIO
NACIONAL - LEI 166 DE 29.09.1840 - DECRETO Nº 447,

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ARE 1250467 AGR / RJ

DE 18.07.91 - Ordem de julgamento das ações


possessória e reivindicatória obedece ao art. 923, do
CPC, que afirma que 'na pendência do processo
possessório é defeso, assim ao autor como ao réu,
intentar ação de reconhecimento do domínio.' - A
possessória foi proposta em 1895, ao passo que a
reivindicatória só foi ajuizada em 1955. Enquanto não
fosse aquela julgada, não seria possível a abertura
desta. - Preliminar de prescrição não conhecida
(...)” (fls. 287).
No RE, fundado no art. 102, III, a e c, da Constituição,
alegou-se violação aos arts. 5º, XXXV e LV, e 93, IX, da mesma
Carta.
Em pesquisa ao sítio eletrônico do Superior Tribunal de
Justiça, constatei a existência de recurso especial interposto pela
agravante (REsp 1.149.487/RJ, Rel. Min. Antônio Carlos
Ferreira), ainda pendente de julgamento.
Isso posto, preenchidos os pressupostos de
admissibilidade, dou provimento ao agravo de instrumento
para admitir o recurso extraordinário, e uma vez que há recurso
especial admitido no STJ (REsp REsp 1.149.487/RJ), determino a
devolução destes autos ao Tribunal de origem para que seja
observado o disposto no art. 543, § 1º, do CPC, a fim de que se
aguarde o final do julgamento do referido recurso pelo STJ.
Publique-se.
Brasília, 31 de maio de 2012.”

Desse modo, não prospera a afirmação dos ora agravantes no


sentido de que nessa decisão “reconheceu-se a repercussão geral e a presença
da ofensa à preceitos da Constituição Federal”.
Não há, portanto, que se falar em prevenção, segundo depreende-se
dos §§ 1º e 2º do art. 69 do RISTF:

“Art. 69.
[…]
O conhecimento excepcional de processo por outro

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ARE 1250467 AGR / RJ

Ministro que não o prevento prorroga-lhe a competência nos


termos do § 6º do art. 67.
§ 2º Não se caracterizará prevenção, se o Relator, sem ter
apreciado liminar, nem o mérito da causa, não conhecer do
pedido, declinar da competência, ou homologar pedido de
desistência por decisão transitada em julgado.”

Noutro giro, o presente agravo em recurso extraordinário foi


interposto contra acórdão do Superior Tribunal de Justiça, cuja ementa
transcrevo:

“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


AÇÃO DE FORÇA VELHA (DEMANDA POSSESSÓRIA,
PROCESSADA PELO RITO ORDINÁRIO) PROPOSTA EM
1895. DOTAÇÃO PARA A AQUISIÇÃO DE PRÉDIO
DESTINADO À HABITAÇÃO DA PRINCESA IMPERIAL
DONA ISABEL E SEU MARIDO. ATUAL PALÁCIO
GUANABARA. DIREITO DE HABITAÇÃO. OBRIGAÇÃO DO
ESTADO VINCULADA À MONARQUIA. PRÓPRIO
NACIONAL. PRESCRIÇÃO.
1. Caso em que a petição inicial de ‘ação de força velha’
(demanda possessória, processada pelo rito ordinário),
proposta em 1895 pelo Conde e pela Condessa d'Eu (Princesa
Isabel), discute a posse do Palácio Isabel (atual Palácio
Guanabara) e também a propriedade, repelindo a natureza de
próprio nacional declarada no Decreto n. 447, de 18.7.1891, e
afirmando a existência de esbulho e de confisco por parte do
Estado. Em tal contexto, a posse está sendo postulada,
igualmente, com fundamento no domínio.
2. Coisa julgada material descaracterizada quanto ao tema
de mérito relativo ao domínio, tendo em vista que, no
julgamento da Petição n. 100, ocorrido em 10.8.1895, o STF
indeferiu a ação de incorporação proposta pela União tão
somente diante de aspectos processuais afetos ao Decreto n.
447/1891, que não serviria como argumento para viabilizar a
utilização e o processamento do referido tipo de ação. Remeteu

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as partes, então, às vias ordinárias.


3. O Palácio Guanabara, adquirido com recursos do
Tesouro Nacional a título de dote, com fundamento nas Leis n.
166, de 29.9.1840, 1.217, de 7.7.1864, e 1.904, de 17.10.1870,
destinava-se exclusivamente à habitação do Conde e da
Condessa d'Eu por força de obrigação legal do Estado
vinculada à monarquia e ao alto decoro do trono nacional e da
família imperial.
4. Com a proclamação e a institucionalização da
República, as circunstâncias fundamentais que justificavam a
manutenção da posse do palácio deixaram de existir, tendo em
vista que foram extintos os privilégios de nascimento, os foros
de nobreza, as ordens honoríficas, as regalias e os títulos
nobiliárquicos. Em decorrência, as obrigações do Estado
previstas nas leis da época perante a família imperial foram
revogadas ipso facto pela nova ordem imposta, dentre as quais
a posse de que trata a ação.
5. A legislação editada durante a monarquia (Leis n.
166/1840 e 1.904/1870) expressamente conferiu aos imóveis
adquiridos para a residência da família imperial natureza de
próprio nacional, ou seja, bens de propriedade da Fazenda
Nacional.
6. Durante o regime imperial, não se cogitava da abolição
da monarquia, razão pela qual a instituição da república,
extinguindo o anterior regime, qualificou nova hipótese de ‘fim
da sucessão’ dos privilégios dos membros da família imperial
relacionados aos imóveis adquiridos a título de dote com
dinheiro público.
7. Prejudicado o recurso adesivo do Estado do Rio de
Janeiro, tendo em vista que o pedido de decretação da
prescrição foi subordinado, pelo próprio recorrente, ao efetivo
acolhimento da pretensão dos herdeiros do Conde e da
Condessa d'Eu. No julgamento, todavia, os referidos recursos
especiais não foram providos.
8. Recursos especiais interpostos por Pedro Henrique de
Orleans e Bragança e outros e por Isabel de Orleans e Bragança

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e outros conhecidos parcialmente e desprovidos, e recurso


adesivo interposto pelo Estado do Rio de Janeiro prejudicado. ”

Irrepreensível a decisão agravada.


Tal como consignado, inexiste violação do art. 93, IX, da Constituição
Federal de 1988. Na compreensão desta Suprema Corte, o texto
constitucional exige a explicitação, pelo órgão jurisdicional, das razões de
seu convencimento. Na hipótese em apreço, enfrentadas todas as causas
de pedir veiculadas pela parte capazes de, em tese, influenciar o resultado
da demanda, considerada a compatibilidade entre o que alegado e o
entendimento fixado pelo órgão julgador. Cito precedentes:

“Questão de ordem. Agravo de Instrumento. Conversão


em recurso extraordinário (CPC, art. 544, §§ 3º e 4º). Alegação
de ofensa aos incisos XXXV e LX do art. 5º e ao inciso IX do art.
93 da Constituição Federal. Inocorrência. O art. 93, IX, da
Constituição Federal exige que o acórdão ou decisão sejam
fundamentados, ainda que sucintamente, sem determinar,
contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações
ou provas, nem que sejam corretos os fundamentos da decisão.
Questão de ordem acolhida para reconhecer a repercussão
geral, reafirmar a jurisprudência do Tribunal, negar provimento
ao recurso e autorizar a adoção dos procedimentos relacionados
à repercussão geral” (AI 791.292-QO-RG, Rel. Min. Gilmar
Mendes, Tribunal Pleno, por maioria, DJe 13.8.2010).

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO MATÉRIA FÁTICA E


LEGAL. O recurso extraordinário não é meio próprio ao
revolvimento da prova, também não servindo à interpretação
de normas estritamente legais. RE LEGAL CURSO
EXTRAORDINÁRIO PRESTAÇÃO JURISDICIONAL DEVIDO
PROCESSO. Se, de um lado, é possível ter-se situação concreta
em que transgredido o devido processo legal a ponto de se
enquadrar o recurso extraordinário no permissivo que lhe é
próprio, de outro, descabe confundir a ausência de
aperfeiçoamento da prestação jurisdicional com a entrega de

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forma contrária aos interesses do recorrente. AGRAVO


ARTIGO 557, § 2º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
MULTA. Se o agravo é manifestamente infundado, impõe-se a
aplicação da multa prevista no § 2º do artigo 557 do Código de
Processo Civil, arcando a parte com o ônus decorrente da
litigância de má-fé” (ARE 721.783-AgR/RS, Rel. Min. Marco
Aurélio, 1ª Turma, Dje 12.3.2013).

Não prospera a insurgência pelo prisma dos incisos XXXVI, LIV e LV


do art. 5º da Carta Política, consagradores dos princípios da proteção ao
direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada, bem como ao
devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa, uma vez que o
Plenário Virtual desta Suprema Corte negou a existência de repercussão
geral da questão no julgamento do ARE 748.371-RG, Rel. Min. Gilmar
Mendes, DJe 1º.8.2013, e do RE 956.302-RG, Rel. Min. Edson Fachin, DJe
16.6.2016, assim ementados:

“Alegação de cerceamento do direito de defesa. Tema


relativo à suposta violação aos princípios do contraditório, da
ampla defesa, dos limites da coisa julgada e do devido processo
legal. Julgamento da causa dependente de prévia análise da
adequada aplicação das normas infraconstitucionais. Rejeição
da repercussão geral.”

Não há falar, por seu turno, em afronta aos preceitos constitucionais


indicados nas razões recursais, porquanto, no caso, a suposta ofensa
somente poderia ser constatada a partir da análise da legislação
infraconstitucional que fundamentou o acórdão recorrido (Leis nºs
166/1840, 1.217/1864 e 1.904/1870 e Decreto nº 447/1891), o que torna
oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, portanto, de viabilizar o
conhecimento do recurso extraordinário.
Dessarte, desatendida a exigência do art. 102, III, “a”, da Lei Maior,
nos termos da remansosa jurisprudência deste egrégio Supremo Tribunal
Federal. Nesse sentido:

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“AGRAVO INTERNO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. DEMARCAÇÃO
NÃO CONCLUÍDA. OFENSA CONSTITUCIONAL REFLEXA.
REEXAME DE FATOS E PROVAS. SÚMULA 279/STF. 1. Tendo
o acórdão recorrido solucionado as questões a si postas com
base em preceitos de ordem infraconstitucional, não há espaço
para a admissão do recurso extraordinário, que supõe matéria
constitucional prequestionada explicitamente. 2. O acolhimento
do recurso extraordinário passa necessariamente pela revisão
das provas. Incide, portanto, o óbice da Súmula 279/STF (Para
simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário). 3.
Agravo interno a que se nega provimento” (RE 1060701 AgR,
Relator(a): Min. Alexandre De Moraes, Primeira Turma,
julgado em 18.5.2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-111
DIVULG 05.6.2018 PUBLIC 06.6.2018).

“Agravo regimental em recurso extraordinário com


agravo. 2. Direito Administrativo. 3. Invasão de propriedade
por particulares. Imissão de posse. Justa indenização. 4. Matéria
infraconstitucional. Ofensa reflexa à Constituição Federal.
Necessidade de reexame do acervo probatório. Súmula 279 do
STF. Precedentes. 5. Ausência de argumentos capazes de
infirmar a decisão agravada. 6. Agravo regimental a que se nega
provimento” (ARE 1063991 AgR, Relator(a): Min. Gilmar
Mendes, Segunda Turma, julgado em 23.3.2018, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-066 DIVULG 06.4.2018 PUBLIC 09.4.2018).

“DIREITO CIVIL. POSSE. PROPRIEDADE. COISA


JULGADA. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 5º, II, XXXVI e
LXXVIII, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
LEGALIDADE. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA.
DEVIDO PROCESSO LEGAL. INAFASTABILIDADE DA
JURISDIÇÃO. DEBATE DE ÂMBITO
INFRACONSTITUCIONAL. EVENTUAL VIOLAÇÃO
REFLEXA DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO
VIABILIZA O MANEJO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO.

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ROSA WEBER

Inteiro Teor do Acórdão - Página 13 de 16

ARE 1250467 AGR / RJ

ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 13.8.2015. 1. O


exame da alegada ofensa ao art. 5º, II, XXXVI e LXXVIII, da Lei
Maior, observada a estreita moldura com que devolvida a
matéria à apreciação desta Suprema Corte, dependeria de
prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à
espécie, o que refoge à competência jurisdicional extraordinária
prevista no art. 102 da Magna Carta. 2. As razões do agravo
regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos
que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à
ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da
República. 3. Agravo regimental conhecido e não provido”
(ARE 944003 AgR, da minha lavra, Primeira Turma, julgado em
12.4.2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-088 DIVULG
02.5.2016 PUBLIC 03.5.2016).

Nesse sentido, constato que as razões do agravo não se mostram


aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada.
Agravo interno conhecido e não provido.
É como voto.

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 14 de 16

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 1.250.467 R IO


DE JANEIRO

RELATORA : MIN. ROSA WEBER


AGTE.(S) : ISABEL DE ORLEANS E BRAGANCA
ADV.(A/S) : DIRCEU ALVES PINTO
AGDO.(A/S) : ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
AGDO.(A/S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : ESPÓLIO DE PEDRO DE ORLEANS E BRAGANÇA
REPRESENTADO POR AFONSO DE BOURBON DE
ORLEANS E BRAGANÇA
ADV.(A/S) : JOSE CARLOS DE ARAUJO ALMEIDA FILHO
INTDO.(A/S) : PEDRO HENRIQUE DE ORLEANS E BRAGANCA
ADV.(A/S) : GABRIEL JOSE DE ORLEANS E BRAGANCA
ADV.(A/S) : MARIO ALBERTO PUCHEU
ADV.(A/S) : SERGIO BERMUDES
ADV.(A/S) : HUGO MAURICIO SIGELMANN
INTDO.(A/S) : BERTRAND MARIA JOSE PIO DE ORLEANS E
BRAGANCA
ADV.(A/S) : RONALD CHRISTIAN ALVES BICCA

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – O ato jurídico perfeito,


a coisa julgada e o direito adquirido – artigo 5º, inciso XXXVI, da
Constituição Federal –, é cláusula pétrea, medula do Estado Democrático
de Direito. Tem proteção constitucional.

A par deste aspecto, a prestação jurisdicional prevista no artigo 93,


inciso IX, da Constituição Federal, considerado o artigo 489, § 1º, do
Código de Processo Civil, pressupõe o enfrentamento, pelo órgão
julgador, de todas as causas de pedir veiculadas, exceto quando,
assentada uma premissa, ocorre o prejuízo de certo enfoque. Provejo o
agravo para que o extraordinário tenha regular sequência.

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Voto Vogal

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ARE 1250467 AGR / RJ

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Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 29/06/2020

Inteiro Teor do Acórdão - Página 16 de 16

PRIMEIRA TURMA
EXTRATO DE ATA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 1.250.467


PROCED. : RIO DE JANEIRO
RELATORA : MIN. ROSA WEBER
AGTE.(S) : ISABEL DE ORLEANS E BRAGANCA
ADV.(A/S) : DIRCEU ALVES PINTO (7570/RJ)
AGDO.(A/S) : ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
AGDO.(A/S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : ESPÓLIO DE PEDRO DE ORLEANS E BRAGANÇA REPRESENTADO
POR AFONSO DE BOURBON DE ORLEANS E BRAGANÇA
ADV.(A/S) : JOSE CARLOS DE ARAUJO ALMEIDA FILHO (071627/RJ)
INTDO.(A/S) : PEDRO HENRIQUE DE ORLEANS E BRAGANCA
ADV.(A/S) : GABRIEL JOSE DE ORLEANS E BRAGANCA (200450/MG, 132374/
RJ, 282419/SP)
ADV.(A/S) : MARIO ALBERTO PUCHEU (8447/RJ, 131342/SP)
ADV.(A/S) : SERGIO BERMUDES (02192/A/DF, 10039/ES, 177465/MG,
17587/RJ, 64236A/RS, 33031/SP)
ADV.(A/S) : HUGO MAURICIO SIGELMANN (006695/RJ, 131337/SP)
INTDO.(A/S) : BERTRAND MARIA JOSE PIO DE ORLEANS E BRAGANCA
ADV.(A/S) : RONALD CHRISTIAN ALVES BICCA (18851/GO)

Decisão: A Turma, por maioria, conheceu do agravo e negou-lhe


provimento, nos termos do voto da Relatora, vencido o Ministro
Marco Aurélio. Impedido o Ministro Luiz Fux. Primeira Turma,
Sessão Virtual de 19.6.2020 a 26.6.2020.

Composição: Ministros Rosa Weber (Presidente), Marco Aurélio,


Luiz Fux, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.

Luiz Gustavo Silva Almeida


Secretário da Primeira Turma

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