Atlas Praguense de João Teixeira Albernaz

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Atlas Praguense de João

Teixeira Albernaz i – comparações


comentadas de alguns de seus mapas
Paulo Márcio Leal de Menezes*

Resumo
Em 1994, com a cooperação do Serviço Geográfico do Exército da Re-
pública Tcheca, foi possível apresentar pela primeira vez um manuscrito do
século xvii, descoberto na Biblioteca Nostitz, em Praga. Havia intenção de se
publicar uma edição em fac-símile, tendo sido copiada em microfilme para
fins de estudo. Ocorreu porém o roubo do documento, no Museu Nacional
de Praga, não tendo sido até hoje encontrado.
A obra é anônima, tendo sido comparado com amostras da cartografia
portuguesa antiga, deduzindo-se a sua autoria ao cartógrafo João Teixeira
Albernaz i. O Atlas não é cópia direta de nenhum outro publicado por Al-
bernaz i, mas uma obra independente. Sua datação leva aos anos de 1628
e 1640, devido a algumas características apresentadas nos diversos mapas.
Este trabalho tem por objetivo apresentar o Atlas Praguense, sua es-
trutura e documentos principais bem como as pesquisas realizadas sobre a
documentação, as quais caracterizaram a datação e autoria do Atlas. Em um
segundo momento apresentar-se-á um estudo comparativo entre o mapa da
Demostraçaõ do Rio de Janeiro, pertencente ao Atlas, com os demais mapas
elaborados por Albernaz, tais como: Carta do Rio de Janeiro, de 1626, Carta
do Rio de Janeiro, de 1627, Descrição do Porto do Rio de Janeiro de 1630,
Capitania do Rio de Janeiro, de 1631 e a Carta do Rio de Janeiro de 1640.
A análise comparativa será desenvolvida através da descrição gráfica, to-
ponímia atribuída, verificação de sinais característicos de João Teixeira Alber-
naz, bem como identificando o mapa apresentado no Atlas Praguense como
sendo de sua autoria. Desta forma o trabalho pretende acrescentar algumas
informações a mais sobre o trabalho deste proeminente cartógrafo português.

* UFRJ – IGEO – Departamento de Geografia – Laboratório de Cartografia - [email protected]

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Abstract
In 1994, with the cooperation of the Army Geographical Service of
Czech Republic, it was possible to present by the first time, a manuscript of
17th century discovered in the Nostitz Library, in Prague, Czech Republic.
There was intention of publishing a facsimile edition of this manuscript,
having it been copied in microfilm for development of researches. Unfor-
tunately it was happened the robbery of the document, in the National
Museum of Prague, and until today it was not found.
The work is anonymous, and it was compared with samples of the old
Portuguese cartography, and deduced it authorship to the cartographer João
Teixeira Albernaz i. The manuscript, as an Atlas, is not a direct copy of any
other one document published by Albernaz i, but it is an independent work.
The dating of the document takes to the years of 1628 and 1640, due to
some analyzed characteristics presented in several maps.
This paper aims to present the Atlas Praguense, its structure and main
documents, as well as the researches accomplished on the documentation,
which characterized the dating and authorship of the Atlas. In���������������
a second mo-
ment it will be presented a comparative study among the map of “Demostra-
çaõ of Rio de Janeiro”, belonging to the Atlas, with other maps elaborated by
Albernaz, such as: Carta do Rio de Janeiro, 1626; Carta do Rio de Janeiro,
1627; Descrição do Porto do Rio de Janeiro, 1630; Capitania do Rio de Ja-
neiro, 1631 and Carta do Rio de Janeiro, 1640.
The comparative analysis will be developed through the graphic descrip-
tion, attributed geographical names, verification of characteristic signs of
João Teixeira Albernaz, as well as, identifying the map presented in the Atlas
Praguense as being of his authorship. In this way this work intends to increase
some information more on this prominent Portuguese cartographer’s work.

1 – Introduçâo
O documento conhecido como Atlas Praguense, foi encontrado nos
fundos da Biblioteca Nostitz, em Praga, República Tcheca. Este documento
já era conhecido, através do inventário dos livros da família Nostitz, porém
não era a ele dada uma importância maior, a qual só começou a ser mostrada,
através do historiador tcheco, Josef Polišenský, que juntamente com o Prof

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Dr Luis de Albuquerque, procuraram desenvolver um projeto para uma
edição em facsímile do Atlas, a qual seria denominada de Libro universal
de las navegaciones del mundo con las demostraciones de los puertos mas
principales del.
O Atlas Praguense original foi apresentado na Feira Internacional de
Livros de Frankfurt am Main, 1992, tendo sido logo após, em 1994, rouba-
do do Museu Nacional de Praga, não tendo sido possível então, a elaboração
da edição do seu facsímile.
A edição do Pražský Teixeirův Atlas, de 2004, editada por Simona
Binková, baseou-se nas cópias microfilmadas em preto e branco, as quais
foram efetuadas para fins de estudo do documento, com uma qualidade bas-
tante inferior e que fosse capaz de satisfazer e condizente com a importância
da obra. No entanto, devido a esta importância e a sua significância para a
Cartografia, notadamente a Cartografia Portuguesa do século xvii, o lança-
mento e a divulgação da obra, com certeza fez com que se a divulgasse, com
a esperança de sua rápida recuperação, o que infelizmente até o momento
não ocorreu.

1.1 – Descrição Geral do Atlas


O Atlas é composto de mapas e texto, trabalhado em papel com as di-
mensões de 463 mm x 360 mm, contendo 44 folhas, das quais a primeira e as
cinco últimas apresentam-se em branco. Uma encadernação em capa dura de
couro castanha e ornamentação dourada guarnece a documentação e textos
do documento. A folha de rosto apresenta o título, em letras douradas sobre
fundo avermelhado. Todos os mapas são apresentados em cores.
Os títulos dos mapas estão em espanhol, assim como o título do do-
cumento, porém os textos dos mapas são apresentados em português, com
exceção daqueles relativos aos territórios coloniais espanhóis na América.
O Atlas é composto de 114 mapas. Alguns ocupando duas folhas, tais
como: Mapa Vniversal, às folhas 3v e 4r; Oceanvs Septentri/-Onalis, às
folhas 5v e 6r; Brasil e Costa da Africa 13v e 14r; Africa Svl às folhas
20v e 21r; Peru, Chile, Rio de La Plata, Estrecho de Magallanes y de
Maire co Parte del Mar del Sul, 34v e 35r, entre outros.
Diversas folhas contêm mapas, apresentando detalhes de costas, portos

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ou de acessos. Alguns ocupam uma folha, como a Descripção dos Rios
Pará e Amazonas e a Descripção da Bahia de Todos os Santos, outros
em meia folha, como o mapa da Ilha de Tamaracá e de Pernaobvco.
Ainda, em diversas folhas, estão representados 4, 5, 6, 8 ou 10 pequenos ma-
pas, mostrando detalhes de locais, em descrições e demonstrações, de portos,
acessos, ilhas, fortificações e cidades.
A origem do mapa é tida como portuguesa, devido à alguns detalhes
que levam à esta conclusão, como por exemplo, por uma grande maioria dos
mapas apresentarem os topônimos em português; existência de notas expli-
cativas sobre navegantes portugueses, seus feitos e explorações; apresentação
de notícias sobre os vice-reinados na Índia, sobre a fundação de portos e
fortalezas, bem como descrições detalhadas dos demais territórios domina-
dos pelos portugueses, tais como a Foz do Rio Amazonas e a Capitania de
Pernambuco. Ainda são anotadas referências das lutas entre ingleses e holan-
deses, caracterizando-se assim a sua origem.
Por essas razões apresentadas, presume-se inicialmente que o Atlas te-
nha sido elaborado no período entre 1630 e 1640. No entanto, ao se fazer
uma análise mais profunda dos diversos mapas, bem como das informações
associadas, é possível estabelecer um período de tempo menor, entre 1631
e 1633 (Binková, 2004). Como exemplos, à folha 22r e 22v, aparece a data
explicita de 1622. É a única data realmente apresentada nos títulos, em toda
a documentação cartográfica. As demais indicações de datação têm de ser
buscadas nas informações que acompanham os diversos mapas.

1.2 – Confirmação da Época


O que pode ser procurado para confirmação da época de elaboração do
Atlas, virá através das descrições de acontecimentos históricos, descobertas
e anotações e inscrições consideradas importantes para a determinação da
datação. As análises realizadas por Binkova (2004), apresentam razões para a
confirmação do período de elaboração do Atlas. Considerando-se a data ex-
plícita de 1622, encontrada nas folhas citadas, verifica-se que às folhas 32v e
33r apresenta-se o Mapa marítimo do Pacífico Sul, com a presença da Nova
Guiné como uma ilha. Isto veio através da expedição de Pedro Fernandes
Queirós, capitão português a serviço da Espanha, em 1606. Esta represen-

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tação somente veio a aparecer no mapa de Manoel Godinho de Erédia, que
somente foi tornado público após a sua morte em 1623. Desta forma pode-se
acrescentar pelo menos um ano na data citada. Outra informação diz respeito
a referência na folha 16r à Antonio Vicente [Cochado], cuja carta serviu de
modelo para João Teixeira Albernaz traçar o delta do Rio Amazonas, como
Patrão Mor de Pernambuco, cargo que foi desempenhado a partir de 1624.
Um último ano identificável vem a ser o ano de 1631, devido às refe-
rências sobre a Fortaleza de Santa Cruz, construída pelos holandeses na Ilha
de Tamaracá (Itamaracá), além de apresentar suas posições na conquista de
Pernambuco, em 1630.
Por outro lado, a negação de datação pode ser verificada pela não apre-
sentação de evidências sobre a rendição da fortaleza dos Reis Magos, no Rio
Grande do Norte em 1633, assim como sobre os acontecimentos que ocor-
reram em época posterior, como, por exemplo, a queda da Paraíba em 1634.
Assim é possível restringir a época de sua elaboração entre 1631 e 1633.
Ao final deste trabalho, será apresentada uma comparação gráfica, que
corroborará com esta conclusão.

2 – João Teixeira Albernaz i (O Velho)


Antes de João Teixeira Albernaz, deve-se citar Luiz Teixeira, o qual se-
gundo Cortesão (1944), deveria ser o último dos grandes cartógrafos, cuja
atividade iniciada no século xvi, prolonga-se ainda por duas décadas no sé-
culo xvii. Como herdeiro de grandes tradições cartográficas de seu tempo,
cobre uma época de transição e surgimento da escola flamenga, substituindo
a escola portuguesa, mas ainda distinguindo-se através de suas obras.
O códice Roteiro de Todos os Sinais, Conhecimentos, Fundos, Alturas
e Derrotas que Há na Costa do Brasil, desde o Cabo Santo Agostinho até
o Estreito de Magalhães, é uma de suas mais conhecidas e proeminentes,
assumindo uma importância sem par na História da Cartografia, por ser um
documento que reúne as instruções náuticas e descrição de uma imensa área
do Brasil, em trechos e cartas separadas.
Luis Teixeira era filho, pai e avô de cartógrafos. Seguindo sua profissão,
formou-se em sua escola, seu filho João Teixeira, seguido por outros da mes-

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ma família. A carta de ofício de “mestre de fazer cartas de navegar” foi rece-
bida em 1602, tendo exercido sua profissão até a segunda metade do século
xvii. João Teixeira apresenta em seu período de atividade, uma vastíssima
literatura cartográfica sobre o Brasil, entre as quais:
- “Razão do Estado do Brasil”, 1613, Biblioteca do Porto, refletindo a
influência de Luis Teixeira.
- Atlas Universal, chamado da Duqueza Du Berry, c. 1620;
- “Livro que da Rezão ao Estado do Brasil”, c. 1626, Biblioteca do
Instituto Histórico e Geográfico, Rio de Janeiro;
- “Descripção de toda a Costa do Brasil”, 1627, Biblioteca de Paris;
- Folhas de Atlas Universal (6), Biblioteca Nacional, c. 1630;
- Folha Atlas do Brasil, 3 cartas, Biblioteca Nacional, ?;
- Atlas de Washington, 1630;
- Atlas “Estado do Brasil Coligido das mais certas notícias ~q se pode
ajuntar Dõ Jerônimo Ataíde, 1631;
- Quatro Atlas com 31 ou 32 cartas “Descripção de todo o marítimo da
Terra de Santa Cruz”, de 1640;
- Atlas com 23 cartas (2), Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, 1642;
Adicione-se à esta vasta bibliografia cartográfica, o Atlas Praguense ora
apresentado e pode-se ter uma idéia da contribuição dada por João Teixeira
Albernaz i (O Velho), à cartografia portuguesa e brasileira, bem como à mun-
dial, com suas demais obras.
São conhecidas outras obras avulsas sobre a América Meridional e cos-
ta do Brasil, sem data determinada, mas com a autoria reconhecida.
A análise da datação da bibliografia cartográfica, mostra que ocorreram
dois períodos de intensa produção: um entre 1626 e 1631 e outro entre 1640
e 1642, havendo uma grande lacuna entre os dois. Cortezão (1944) relaciona
o primeiro período, com a invasão holandesa na Bahia, recuperação em 1625
e a invasão de Olinda em 1630. O segundo período relaciona-se com a res-
tauração da Independência de Portugal. O vazio cartográfico entre esses dois
períodos, pode ser perfeitamente correlacionado a não se fornecer quaisquer
tipos de informações para o invasor. Uma análise da cartografia holandesa
sobre a área invadida indica que as informações dos Atlas eram perfeitamente
conhecidas por eles.

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Assim o Atlas Praguense pode ser enquadrado perfeitamente na época
delimitada. Apesar de oferecer algumas informações sobre a costa brasilei-
ra, essas informações não são extensas, mas localizadas. Em contraposição,
verifica-se uma atuação sobre as demais áreas do domínio português, jus-
tificando-se assim o afastamento do cartógrafo do mapeamento do Brasil.

3 – Os Mapas da Baía de Guanabara - 1626-1640


Praticamente em todos os seus códices, João Teixeira Albernaz i repre-
sentou com diferentes objetivos, a Baia de Guanabara, em alguns deles de
uma forma que chega a impressionar em termos de detalhes da área, como as
representações de 1626, a melhor de todas em termos geográficos, e a de 1627,
na qual se verifica a grande influência da primeira. No entanto a representação
deste local degrada-se, a medida que os anos avançam, mostrando uma baia
totalmente diferente entre suas representações, não obstante, as descrições es-
critas estarem bastante ricas.
Aproveitando-se da representação do Atlas Praguense, foi desenvolvida
uma pesquisa comparativa entre os mapas referentes à Baia de Guanabara,
existentes nas obras de João Teixeira Albernaz I. Assim serão apresentados
detalhes dos mapas de 1626, 1627, 1630, 1631 e 1640.
Como elementos de comparação foram estabelecidos o traçado gráfico,
anotações sobre a área no mapa, riqueza de detalhes e toponímia existente.

3. 1 – Carta do Rio de Janeiro (Baía de Guanabara) de 1626


Pertencente ao códice existente no Instituto Histórico Geográfico, “Livro
que da Rezão ao Estado do Brasil”, esta carta é a terceira do documento. Sem
termos de comparação, é uma das melhores, senão a melhor de suas representa-
ções da área, a qual está bem próxima da realidade. A entrada da barra, a ilha de
Villegaignom, o Saco de Jurujuba, Ilha do Governador, denominada de Ilha do
Gato nesta época. São bem representadas as duas lagoas no litoral, Piratininga e
Maricá (Pertininga e Maricahá). A toponímia é fracamente representada, com
apenas 16 nomes atribuídos ao longo de todo o mapa.
Ao lado de representações bem realistas, são omitidas ou apresentadas
erradamente, por exemplo, as posições das fortalezas de Santa Cruz e São

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João, em contraposição ao forte São Thiago, que deveria constar na base do
morro do Castelo e é representado em uma ilha na frente da ponta do Cala-
bouço. Tanto o morro do Castelo e de São Bento, também não são represen-
tados, como a ilha das Cobras é apenas uma pequena marca.
Poucos rios são denominados: Carioca, Pacoíbe (Guapi-açu), Macuco
(Macacú), Vraiube (Guaxindiba) e Esteiro (Cachoeira). A figura 1 apresenta
a Carta da Baía de Guanabara.

Figura 1 – Carta do Rio de Janeiro, 1626

3.2 – Carta do Rio de Janeiro (Baía de Guanabara) de 1627


Existente na Bibliothèque Nationele de France, em Paris, está o códice
datado de 1627 e assinado por João Teixeira Albernaz. Contem dezenove
cartas sobre o Brasil e a quarta carta corresponde uma carta sobre o Rio de
Janeiro.

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Figura 2 – Carta do Rio de Janeiro de 1627 – Bibliotèque Nationele de France, Paris

Conforme pode ser visto na figura 2, o mapa é uma cópia de menor qua-
lidade a carta de 1626. Praticamente não há melhoramentos no documento
em relação ao seu aspecto. Alguns locais deixam de ser representados, como a
Cidade Velha, o Pão de Açucar e continuam os mesmos erros da carta anterior,
em relação aos morros de São Bento, Castelo, Forte São Thiago e Ilha das Co-
bras. O topônimo Pacocoy identifica um rio e uma povoação, a qual é a atual
Magé. A atual Itaboraí é vista como Vrajuba. São apresentados 16 topônimos.
As Ilhas Maricahas, assinaladas na parte inferior direita da carta, eram
à época realmente assim conhecidas, mas representam as atuais ilhas do Pai
e da Mãe, em frente à lagoa do mesmo nome.
Após esta representação, os demais mapas que João Teixeira Albernaz
produziu, apresentam a Baia de Guanabara bastante deformada, em um
flagrante retrocesso no processo de desenho cartográfico.

3.3 – Carta de 1630


Na Biblioteca do Congresso, em Washington, eua, encontra-se o
documento “Taboas geraes de toda a navegação / divididas e emenda-
das por Dom Ieronimo de Attayde com todos os portos principaes das
conquistas de Portugal delineadas por Ioão Teixeira cosmographo de

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Sua Magestade, anno de 1630”, composto de 72 páginas e 31 documentos
cartográficos. Algumas páginas inseridas em espanhol no início do Atlas mos-
tram anotações da época que esteve em mãos do Rei de Espanha.
O quinto documento, à página nove, apresenta os mapas e planos dos
portos do Brasil e Rio da Prata. Corresponde a uma página com onze pla-
nos, inclusive o da Baia da Guanabara.
O plano apresentado representa a “Descripção do Porto do Rio de
Janeiro No estado do Brasil e altura de 23G”.
Nada se parecendo com os mapas elaborados anteriormente, a Baia de
Guanabara é representada em uma forma alongada, retilínea do lado direito
e com dois sacos ao lado esquerdo, um ao início, na Enseada de Botafogo,
e outro ao fundo da Baia. A Cidade é colocada entre estes dois sacos, vista
na figura 3.

Figura 3 – Plano do Porto do Rio de Janeiro – 1631 – Biblioteca do Congresso, eua

A toponímia é simplificada, sendo apresentados os seguintes topônimos:


Barra, Forte de S. J., Carioca, Fortificação, Forte S. Tiago, Cidade de S,.
Sebastião, I. das Cobras, Viragalhão, Lage e Fortaleza de S. +. Não existe
escala associada à representação.

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3.4 – Carta da Capitania do Rio de Janeiro de 1631
Fazendo parte do Atlas do “Estado do Brasil, coligido das mais ser-
tas noticias q. pode aivntar Dõ Ierônimo de Ataíde. por João Teixeira
Albernas, Cosmographo de Sva Mag.de/ anno 1631”, a Carta da Capi-
tania do Rio de Janeiro é a décima segunda das 36 cartas que o compõem.
Considerando-se o estilo do plano de 1630 como um esboço, já neste Atlas,
que tem por objetivo realmente a cartografia, mostra o retrocesso em seu
trabalho, pelo menos em relação ao contorno e detalhamento geográfico da
Baia de Guanabara, figura 4.

Figura 4 – Carta da Capitania do Rio de Janeiro, 1631

Um detalhe interessante é definido pela faixa azul que mostra o canal de


acesso ao porto, a partir da entrada da barra, sendo um dos primeiros mapas
portugueses a apresentar este tipo de convenção.
A esquerda da carta é apresentada uma descrição da “Fortaleza De
Santa Crvx”, bastante completa, mas equivocada sobre sua data de constru-
ção, ocorrida em 1568. Abaixo desta descrição, é apresentado um plano da
fortaleza em uma escala de braças.
Contrapondo-se a pobreza, ou a má representação da área, coloca-se a
riqueza de descrições existentes. No verso da carta, utilizando-se de todas as

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letras do alfabeto, João Teixeira descreve os principais pontos de interesse, de
uma forma bem completa. Os seguintes locais são descritos e posicionados na
carta: A- Descrição da Fortaleza de Santa Cruz; B- Forte de São João; C- Ba-
teria de São Martinho, no Forte São João; D- Pão-de-Açucar; E- Rochedo da
Lage; F- Ilha de Villegaignon (Vira Galhão); G- Praia Vermelha; H- Praia da
Olaria (trecho da praia de Botafogo); I- Foz do Rio Carioca, Praya da Carioca
(agoada Carioca); L- Rochedo do Iriripe (morro da Glória); M- Forte São
Tiago; N- Cidade de São Sebastião; O- Montanheta, onde se situa o situa
o Morro de São Bento; P- Bateria instalada na base do Morro de São Bento
(para defender o ancoradouro da cidade ; Q- Na Ponta de São Bento; R- Ilha
das Cobras; S- Banco de areia em frente à cidade; T- A See Matriz, Igreja de
São Sebastião, na base do Morro do Castelo; V- Mosteiro de São Francisco,
no antigo Morro de Santo Antonio; X- Trincheirões, baluartes construídos
por Martim de Sá, para a proteção dos flacos do Morro do Castelo e Santo
Antônio; Y- Colégio dos Jesuítas, situado no Morro do Castelo; Z- Ermida
de N. As da Ajuda.
A cada uma das compreendia uma descrição mais ou menos detalhada
do local, configurando-se esta obra, como uma das mais completas em ter-
mos de informações sobre a cidade se suas fortificações.
São apresentadas na carta 21 topônimos, muitos dos quais não apresen-
tados nos mapeamentos anteriores.

3.5 – Carta do Rio de Janeiro de 1640


O livro “Descripção de todo o marítimo da Terra de S. Crvz cha-
mado vulgarmente o Brasil. Feito por Ioão Teixeira, Cosmógrapho de S.
Magestade. Anno de 1640”, composto de 31 folhas, encontra-se no Mi-
nistério das Finanças em Portugal, onde a Carta do Rio de Janeiro é a nona
em ordem no Atlas.
Inicialmente deve-se alertar para a diferença de datas entre este docu-
mento e o anterior, de 1631, fato já chamado a atenção, devido aos proble-
mas das invasões no território do Brasil.
Conforme pode ser visto na figura 5, a representação da Baia é bastante
semelhante a Carta de 1631, ainda apontando semelhanças na conformação
da Enseada de Botafogo e da Fortaleza de Santa Cruz.

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Figura 5 – Carta do Rio de Janeiro de 1640

Alguns dos erros que podem ser apontados nesta representação, são a
identificação das “Ilhas do Senhor meupay”, com o arquipélago das Cagarras, a
posição da Ilha de Villegaignon ao sul do Morro do Castelo, a identificação da
Ilha do Governador como Ilha de Martim de Sá, bem como a sua colocação des-
locada, quase junto ao continente, assim como a sua má representação gráfica.
O lado direito da Baia está mal delineado, praticamente como nos ante-
riores, mostrado como uma linha reta, sem detalhes aparentes, como o Saco
de Jurujuba e São Francisco,
Neste mapa, no entanto, aparece a representação da Pedra da Gávea, os
rios localizados no fundo da Baia, têm seus nomes corretos e na ordem certa,
embora outros rios importantes não tenham sido representados.
Em relação a toponímia, é a mais rica apresentada entre todas as demais
cartas da Baia, apresentando cerca de 35 (trinta e cinco) topônimos.

3.6 – Demostraçaõ do Rio de Janeiro – Atlas Praguense – 1633 (?)


A “Demostraçaõ do Rio de Janeiro. Em altura de 23 graos”, represen-
tado à folha 18v, juntamente com a Demostraçaõ do Porto do Spo Santo, no
Atlas Praguense, possuí as mesmas características dos últimos mapas, a partir de
1630, 1631 e 1640. A figura 6 apresenta o mapa relativo à Baia de Guanabara.

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Figura 6 – Demonstração do Rio de Janeiro – Atlas Praguense – 1633 (?)

A Baia de Guanabara é representada de forma alongada, com dois sacos


ao lado esquerdo da baia, o primeiro situando a Enseada de Botafogo, com
as praias da Olaria e da Carioca, o segundo situado após a área edificada da
Cidade, representando São Cristovão, Inhaúma e Irajá. O fundo da Baía
apresenta os rios, mas não os identifica, só acontecendo ao lado direito, com
o Macaquer e Guaguandiua. O Rio Mirigui possuí a mesma indicação do
mapa de 1631 (Marigui). A costa é traçada praticamente como uma reta, sem
outras indicações geográficas, de S. Gonçalo até a Fortaleza de Santa Cruz.
Junto à Fortaleza, existe uma indicação da existência de um fosso, o qual
também é indicado no mapa de 1631.
A atual Ilha do Governador continua a ter os mesmos problemas de
representação, tanto pelo tamanho e forma, como pelo topônimo associado
erradamente como Ilha de Martim de Saa.
Em termos de topônimos, em relação ao mapa de 1631, existe a coin-
cidência de 20 (vinte) topônimos e ela praticamente se iguala em núme-
ro, 32 (trinta e dois), sendo que 26 (vinte e seis) coincidem com a carta
de 1640. No entanto, deve-se prestar atenção às variações de escrita entre
alguns deles, como Irayá e Iraja, Cidade de São Sebastião e Cidade de S.
Sebastiaõ, Intiama e Inhauma, Guaguanduva e Guaguandiua, entre outros.
Pode-se estabelecer, através do Anexo I - Tabela de Topônimos dos Mapas da
Baia de Guanabara, uma análise comparativa dos topônimos existentes em
todos os mapas, principalmente os apresentados nos mapas de 1631, 1640 e
Praguense, o que permite verificar a semelhança entre eles.
Por outro lado, a função deste Atlas é apresentar navegações, portos e

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demonstrações de portos e pequenas descrições. À folha 15r, pode ser lido
o título “Descripcio./ Delas Cvtro Oias/ Qve Se Sigven/ Contiene Los
Poertos Principaes/ Del Estado Del Br.Il/ Asta El Rio De La Plata”,
onde são apresentados todos os mapas referentes ao Brasil: Demonstração
dos Rio Pará e Amazonas, à folha 16r, Maranhão, Rio Grande[do Norte]
da banda do Sul e Parahíba, à folha 16v, Ilha de Tamaracá (Itamaracá) e
Pernaõbuco (Pernambuco), Bahia de Todos os Santos, à folha 17v, Ilhéus,
Morro de São Paulo e Porto Seguro, à folha 18r, Espírito Santo e Rio de
Janeiro, à 18v e São Vicente e Rio da Prata à folha 19r, Todos os mapas têm
a mesma estrutura de apresentação resumida, da mesma forma que o mapa
do Rio de Janeiro.
Algumas comparações podem ser vistas nas figuras 7, 8 e 9, que
mostram os elementos comuns entre o mapa Praguense e os demais.

Figura 7 – Comparação de elementos comuns entre o mapa de 1630 e Praguense

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Figura 8 – Comparação de elementos comuns entre o mapa de 1631 e Praguense

Figura 9 – Comparação de elementos comuns entre o mapa de 1640 e Praguense

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4 – Conclusões
Inicialmente a principal conclusão versa sobre a autoria do Atlas. O
estilo, informações e representações, não só em relação aos mapas repre-
sentativos do Brasil, mas aos de outras partes do mundo, dominado pelos
portugueses, coloca a autoria para João Teixeira Albernas i (o Velho).
Sobre a datação, também não de se divergir muito das conclusões já
definidas por Binková (2004), no entanto, a análise dos topônimos registra-
dos no Anexo i – Tabela de Topônimos dos Mapas da Baia de Guanabara,
mostra a proximidade entre os mapas de 1631 e 1640, surgindo um ques-
tionamento de qual deles serviu de modelo para o outro. Os mapas de 1626
e 1627 pouco contribuem para a análise toponímica.
Na comparação geométrica, descartam-se os mapas de 1626 e 1627, que
apesar de serem os mais próximos da realidade, diferem inteiramente dos de-
mais, levando-se a acreditar em uma possível mudança radical nos desenhistas
a serviço de Albernaz. Existem semelhanças bastante evidentes nos mapas da
Baía de Guanabara de 1630, 1631, 1640 e o Praguense. Em comum a forma
geral alongada, com a margem direita retilínea, o fundo da Baía com a indi-
cação dos rios e a margem esquerda apresentando a cidade do Rio de Janeiro,
imprensada entre os dois sacos. A entrada da Baía é bastante semelhante em
todos os quatro mapas, mais uma vez confirmando a autoria.
Desta forma, lamentando não se ter os originais para trabalhar, ou pelo
menos uma edição facsimilarisada como tantos outros existentes, fica a Car-
tografia Portuguesa e a Brasileira, sem um documento importantíssimo para
sua História. Pode-se inclusive argumentar e questionar, quantos documen-
tos cartográficos, mapas, plantas e cartas, que deveriam pertencer ao acervo
cultural brasileiro, encontram-se “extraviados”.
Conhece-se apenas o acervo que existe catalogado, mas não se tem um
levantamento final e detalhado ao longo de todos os detentores, criando-se
assim condições para a ocorrência de extravios e mesmo perdas pelo desco-
nhecimento da existência deste material.

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Referências Bibliográficas
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(Coleção Histórica e Cultural do Rio de Janeiro).

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Anexo 1

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