Descobrimento Do Rio Amazonas PDF
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Descobrimento Do Rio Amazonas PDF
ª *B R A S I L I A N A
BIBLIOTECA P EDAGÓGICA BRASILEIRA
* Vol. 203
GASPAR DE CARVAJAL, ALONSO DE ROJAS
E
CRISTOBAL DE ACU~A
Descobrimentos
.do
Rio das -Amazonas
Traduzidos e anotados
por
C. de Melo-Leitão
1941
Bl ~l - O TECA
N · ·· 7 9 -------~-----
19 ·72
INDICE
Prefacio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Relação que escreveu Frei Gaspar Carvajal 11
Descobrimento do Rio de Orellana . . . . . . . 1.3
Descobrimento do Rio das Amazonas e suas
dilatadas províncias . . . . . . . . . . . . . . . . • . . 81
Novo descobrimento do Grande Rio diiS
Amazonas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
Pref áci o
vam em suas casas, sem fazer mal nem dano, antes nos
davam do que tinham. Desse povoado seguiam muitos
caminhos para o interior, porque o senhor não reside à
beira do rio, e os índios nos disseram que fôssemos até
lá, pois o senhor se alegraria muito com a nossa presen-
~a. Nessa terra possue tal senhor muitas ovelhas das do
Perú ( 17) e é muito rico em prata, segundo nos diziam
os índios. A terra é muito alegre e aprazível e abundan-
te em todas as comidas e frutas, tais como pinhas e peras,
que na lingua da Nova E spanha se chamam abacates, e
ameixas, guanas e muitas outras frutas excelentes. ( 18)
Saímos desse povo e fomos caminhando sempre por
um território muito povoado, pois houve dias de passar-
mos por mais de vinte aldeias, isso pela margem que
acompanhávamos, pois do outro lado não podíamos ver
mais que a vastidão do rio. Assim iamos dois dias pela
banda di reita e depois atravessávamos e íamos outros
dois dias pela esquerda, pois quando seguíamos por um
lado não víamos o outro.
Na segunda feira da Páscua do E spírito Santo, pas-
sámos à vista de uma aldeia muito grande e populosa,
com muitos bairros, cada qual com um desembarcadouro
no rio. Nesses portos ha~ia índios aos magotes, esten-
dendo-se esta aldeia por mais de duas léguas e meia.
Sendo tantos os índios, mandou o Capitão que passásse-
(17) Os antigos cronistas espanhois chamavam ovelhas ou
carneiros da terra ou d o P erú à lhama (Lama glama) e à alpaca
(Lama g!ama pacos), tJUC eles encontraram já como animais do-
méstic os e11tre os autóctones do P erú . A ser vercla(le este trecho
da narrativa de Carvaj al, os fndios deviam referir-.se a alguma
região do Perú, pois nunca se encontraram os lhamas em ne-
nhuma parte do Brasil.
(18) Aqu i va i o bom frade dominicano dando ás frutas o
nome das que com as mesmas mais se pareciam com as que eram
suas conhecidas cm espanha. Para os abacates ele dá o nome "da
língua da Nova Espanha". Quanto ás outras é impo_ssivel agora
saber quais fossem.
50 CARVAJAL, RoJAs E AcuNA
mos adiante, sem lhes fazer mal nem atacá-los. Mas eles,
vendo que passávamos sem lhes fazer mal, embarcaram
em suas canoas e nos atacaram, mas para seu dano, pois
as balhestas e arcabuzes os fizeram voltar para as suas
casas, deixando-nos ir rio abaixo.
Nesse mesmo dia tomámos uma pequena aldeia, onde
achámos comida, e aqui terminou a província de Pagua-
na, e entrámos em outra província muito mais belicosa e
de muita gente que nos fazia guerra incessante. Não sou-
bemos como se chamava o seu senhor, mas é de gente
meã de corpo, muito bem tratada, com seus pavezes de
pau e que defendem as suas pessoas com bravura.
No sábado, véspera da Santíssima Trindade, mandou
o Capitão fundear em i,Jma povoação onde os índios se
puzeram em defesa. Apesar disso os expulsámos de
casa e nos ·provimos de comida, achando ainda algumas
galinhas. Nesse mesmo dia, saindo d'ali, prosseguindo
a nossa viagem, vi mos uma boca de outro grande rio, à
mão esquerda, que entrava no ·que navegávamos, e de água
negra como tinta, e por isso lhe puzemos o nome de Rio
Negro. ..Corria ele tanto e com tal ferocidade que em
mais de vinte léguas fazia uma faixa na outra água, sem
misturar-se com a mesma.
Ainda nesse dia vimos outras povoações não muito
grandes. No domingo da Santíssima Trindade descan-
sou o Capitão com a sua gente nos pesqueiros de um po-
voado que estava numa lomba, encontrando-se aí muito
peixe, que foi socorro e grande alegria para os nossos es-
panhois, pois havia dias que não descansávamos. Estava
esta povoação situada em uma lomba afastada do rio, como
em fronteira de outros povos que lhe faziam g·uerra, pois
estava fortificada por uma muralha de grossos troncos.
Quando os nossos companheiros subiram para tomar co-
mida, os índios a quizeram defender e se fizeram fortes
dentro daquela cerca, que não t inha mais de uma porta,
DESCOBRIMENTOS DO RIO DAS AMAZONAS 51
6
64 CARVAJAL, RoJAS E AcuNA
cisa, mas que não concorda com o seu relatório. A festa da Trans-
figuração de N. S. Jesus Cristo passa a seis de agosto. Diz ele
que chegaram a essa praia no dia da Transfiguração, que aí esti-
veram quatorze dias e que tornaram a partir a oito de agosto.
Uma das duas datas é, portanto, errada.
(31) Ainda aqui não é passivei ter a menor idéia sobre esses
caracois e ca ranguejos vermelhinhos, do tamanho de rans.
D ESCOBRIMENTOS DO RIO DA S AMAZONAS 77
(32) A 29 de Agosto.
DESCOBRIMENTOS oo RIO DAS AMAZON AS 79
6
DESCOBRIMENTO
DO
RIO DAS AMAZONAS
E
SUAS DILATADAS
PROVINCIAS (*)
EXCMO. SENHOR :
Chegou a minhas mãos, pela via de Quito, a relação
e planta do rio das Amazonas, tão dilatado q ue, segun-
do nele se vê, continua a sua corrente por mil e seiscen-
tas léguas, desembocando nas províncias do Brasil; e
juntamente a intenção dos portuguêses continuarem esta
navegação à s províncias c.Je Quito, aonde chegaram al-
guns. Fiz reparo, Senhor, nos inconvenientes que se po-
deriam seguir com os que se experimentam no rio Ori-
noco e outros navegáveis das Indias, tendo tanta diver-
sidade de nações, tão inimigas <la monarquia de Sua
Magestade, infestado as suas costas. E o escrevi ao
Vice-rei <le Lima e ao 1)residente da Audiência de Quito
a Sua Magestade, cuja carta junto por cópia a esta re-
lação. E foi tal minha advertência, que correspondeu
com uma real cédula sobre a matéria, que encontrei de
Sua Magestade, mandada observar pelo conde de Chin-
chon, como ele e o presidente me escreveram. Ainda
que o atrativo da fertilidade do desc.oberto fosse maiór,
comparada com o dano, não é apetecível. Dedico a V.
Excia. esta relação como ministro superior da América
e como tão capaz, pelo talento que Deus se serviu de
84 CARVAJAL, RoJ As E AcuNA
SENHOR:
Embora, pelo ofício em que estou servindo a V. M.,
não me toque o que lhe suplico mande ver nesta, eu, por
minhas ob rigações em seu real serviço e pelo contí nuo
desvelo que por elas tenho e em que vivo, não pude dei-
xar de representar o que me pareceu do descobrimento
que .se fez para a navegação do rio das Amazonas ou
Maranhão, desde o g-overno dos Q ueijos e da Canela,
perto da cidade de Quito, até desembocar no mar e pa-
ragem do Brasil, com g rande 'quantidade de ilhas em sua
entrada, povoadas por diversas nações, algumas de qua-
tro e seis léguas de circuito. As circunstâncias deste
descobrimento e as utilidades que se prometem naquela
província, diz a Relação que chegou a minhas mãos e
remeto a V . M., e outras cartas que vi de particulares e
quasi concordam todas na substância. Confesso a V. M.
que, vendo o cuidado que o rio Arinoco dá neste reino
e as populações que na sua boca possui o ini migo, que
86 CARVAJAL, RoJAS E AcuNA
§ 1.º
A cidade de S. Francisco de Quito nos reinos do
Perú, não só famosa por sua situação e por estar edi-
ficada sobre montes, na mais alta cordilheira que corre
por todo êste novo orbe, como tambem por cabeça de
sua provinda e assento da real Audiência, é hoje, por
(2) Diz F r. Laureano da Cruz o seguinte: "Despachada
pelo governador do Maranhão a armada que deixámos apres-
tando, com 40 canoas de bom tamanho, 1200 indios remeiros
e de combafe, sessenta e tantos portuguêses e mais quatro caste-
lhanos dos seis que desceram com os religiosos, tudo a cargo
do general Pedro Teixeira, pessoa de toda satisfação, levan.do
por guia a Deus Nosso Senhor e ao irmão fr. Domingo Brieva,
e por cap-elão ao P. fr. Agostinho das Chagas, filh o de uma
das provi ncias de Nosso Pai S. F rancisco de Portugal e Pre-
sidente do convento de Santo A ntonio do Grão Pará ; pre-
paradas todas as coisas necessárias pa ra tão comprida viagem,
e reunidos na praça do Curupá, que é a última que tem aquele
Estado e está mais próxima da boca do nosso grande rio, -
que já não tem outro nome senão o que os portuguêses com
muita razão lhe puzeram de São Francisco de Quito, por o terem
descoberto e navegado os religiosos filhos de Nosso Pai S.
Francisco e da provincia de Quito, e já daqui em diante não
o chamaremos de outra maneira, pois tão justamente lhe
convém o nome de rio de S. Francisco de Quito, - aos 17
dias de outubro de 1637 saiu a armada por tuguêsa da praça
de Curupá".
DESCOBRIMENTOS no Rro DAS AMAZONAS 91
§ 2.º
§ 3.º
§ 4.º
§ S.º
§ 6.º
7
96 CARVAJAL, RoJAs E AcuNA
§ 7.º
E' este o famoso rio das Amazonas que corre e 'ba-
nha as terras mais fe rteis e povoadas que possui o reino
do P erú e sem usar de hipérboles, o podemos qualificar
pelo maior e mais célebre rio do Orbe. Porque se o
Ganges rega toda a India e por caudaloso escurece o mar
quando nele desagua, fazendo com que se chame Sinus
Gangeticus e· por outro nome golfo de Bengala; se o
E ufrates, como rio caudaloso da Síria e parte da Pérsia
é a delicia daqueles reinos; se o Nilo rega a maior parte
da África, fecundando-a com as suas correntes, o rio
das Amazonas rega extensos reinos, fecunda mais veigas,
§ 8.º
§ 9.º
§ 10.º
Foi bem claro que Deus favorecia esta viagem, por-
que os ajudou com alguns sucessos milagrosos.
O primeiro foi que, na dú vida de (!uai a margem do
rio que seguiriam, deitaram sortes com muitos santos. es-
critos em papel e por duas veses saiu S. Jorge à mão
direi ta, que dá para as bandas do sul.
(10) Esta viagem, conhecida por Viagem dos L eigos, deu
lugar a azeda disputa entre a Companhia de Jesus e os Fran-
ciscanos sobre o mérito do descobrimento do rio das Amazonas.
Em 1641 o padre Fr. Jo,é 1.faldonado, natural de Quito e Comis-
sário geral de tod as as í ndias pela Ordem Franciscana, fez im-
pri mir em Madrid um opúsculo, contando a viagelll dos dois
irmãos leigos franciscanos, com título l?elaçõo do Desco brimento
do rio das A111a.w11,1s, po,· outra 110-me do M aranhão, feit o pela
Religião de nosso Pai S . Francisco par intermédio das Religiosos
da Província de S. F rancisco de Quilo. Para- informe da Católica
Magestade do R ei Nosso S c11hor e seu Rtal Conselho das fodi,.1s.
A esta relação de Fr. Ma!donado contestou o Provincial cios
jesuitas em Quito, cm 1643, com outra, intitul ada Rc/a.ção a.polo-
gétiw, tanto do cwtigo como do 11ovo desco/1rimcnto do ria das
Ama.zonas ou Ma.ranhão, feita pelos religiosas da Companhia. de
J crns de Quito, e 11ova 111c11/c adeantado pelos da Seráfica relig ião
da m esma. Provinria, escrita pelo padre Barnuevo.
Fr. L a u rea no da Cruz conta co mo estavam os r eligiosos
em compan hia elo Capitão J oão de Palácios na província dos
Encabelados, e com o uma imprudência desse capitão fo i causa
d o ressent imento desses índ ios, "gente tão fidalga, que nem
dos próprios pais toleram u m pipar ote". E assim resume a
viagem dos do is irmãos leigos da sua re ligião:
"Postos já a saldo e dando graça~ a Nosso Senhor, tra-
t ám os de ir para o real de Anete, por ser melho r sítio have ndo
ali casas e comida, coisa que não hav ia na ilha ( onde se
tinham refug ia do depois do ataque dos índios e morte de
Palácios) . Estávamos já de partida, quando s urgiram a lguns
100 CARVAJAL, RoJAs E A cu NA
indicio, a meu ver claro, de que Deus quer dil atar sua fé
entre aquelas gentes.
§ 11 .°
§ 12.0
\
Subindo o rio acima 40 léguas, há outra povoação pe-
quena de portuguêses, do lado do Sul, que chamam Camu-
tá, a qual não tem defesa nem forte.
Mais acima, a cem léguas dele, está o castelo dos por-
tuguêses, onde chegaram os dois religiosos e seis soldados,
que dissemos que desceram pelo rio. Está construida essa
fortaleza cm um lugar alto, à margem do rio, com plata-
for ma e nela ·q uatro peças de artilharia de ferro coado,
urna de quatro, outra de cinco, outra de sete e out ra de
oito libras ele bala, postas em carretas de madeira, baixas
e voltadas para o rio, com parapeitos até aos peitos.
Logo se segue a praça d'armas e uma casa de muni-
ção, oncle vive o condestavel da artilharia. Todo o sitio
está cercado por uma muralha com cimentos de pedra.
Pela parte de fora tem fosso, e na entrada ponte le-
vadiça de madeira, de modo que, levantada a ponte, está
bem defendido o for te.
F ora dele vivem os soldados portuguêses e os índios
amigos, e ali perto do forte ha outras povoações de índios,
sujei tos aos soldados.
Até êste castelo chegou muitas vezes o inimigo holan-
dês e se fort ificou na margem contrária, que fica da 'ban-
da do Norte; e quando os soldados portuguêses os viram
alojados, deram sobre eles mais de dez vezes em diversos
,nnos e os venceram e tiraram os fortes que haviam cons-
tn1ido, fazendo prisioneiros os que ficaram vivos. De
modo que houve ocasiões em qtte tiveram em seu poder,
cativos, mais de 1. 600 holandêses.
Entre os despojos colheram uma nau grande com 20
peças de artilharia, onde vi nha o grande piloto Matanwti-
yo, que por ordem dos governadores das ilhas rebeldes
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§ 13.º
§ 14.0
§ 15.0
§ 16.º
§ 17.°
§ 18.º
§ 19.0
8
112 CARVAJAL, ROJAs E AcuNA
§ 20.0
§ 21.º
§ 22.0
§ 23.0
§ 24.0
§ 25.0
§ 26.º
§ 27. 0
'§ 28.º
De V. Excelência criado
Comissário,
FREI PEDRO DE SANTA MARIA E DE LA RUA
CLÁUSULA
NUMERO I
10
NUMERO V
11
160 CARVAJAL, ROJAS E Acmh
JZ
NUMERO XXIII
Clima e temperatura do no
13
NUMERO XXXI
14
NUMERO XLI
Outras entradas
Rio de Napo
ló
224 CARVAJAL, RoJAs E AcuNA
RIO TUNGURAGUA
for tes e tidos por todos por valentes e assim são temidos de
todos os índios comarcanos. Governam-se por Principais nas al-
deias ; e no meio <lesta prnvincia, que é dilatada, há um principal,
ou rei deles, a que todos obedecem com grandíssima suj eição, e Ih-!
chamam Turucari, que quer dizer o seu Deus; e ele por tal se tem.
As armas que usam são arcos, frechas e palhetas, e lanças grandes
com que vão dar guerra aos naturais da terra firme, e deles sa.cri-
ficam alguns e dos mais se servem em suas lavouras. Conservam
os naturais os dentes sãos e sem dor, com uma erva, que entre si
têm, com que os untam. Fazem grandes canoas de cedro, em que
vão dar guerra aos índios naturais da terra firme. Os instrumen -
tos com que fazem suas festas, sacrifícios e baile.s, a que são muito
inclinados, são trombetas de tristíssimo som, feitas de tabocas <!
uns tambores de pau cavado por dentro, e com un.s paus cobertos
de resina os tocam como atabales, que se ouvem muito longe".
228 CARVAJAL, RoJAS E AcvNA
Minas de Ouro
16
NUMERO LIX
Lago D ou rado
Provincia de Y oriman
Rio Negro
17
256 CARVAJAL, RoJAS E AcuNA
18
268 CARV.t\JAL, RoJAS E AcuNA
Curupatuba
Rio Genipapo
Rio Paranaíba
Dez léguas abaixo do Genipapo desagua da banda
do sul um rio mui bonito e caudaloso que, com duas
léguas de boca, entra rendendo párias ao principal. Cha-
nam-no os naturais Paranaíba. Estão em suas ribeiras
algumas povoações de Indios amigos que, situados em
suas primeiras entradas, obedecem às ordens dos Portu-
guêses, que os governam. E mais para o interior vêm
outros muitos, dos quais, e do mais que contém este rio,
ainda não há suficientes notícias. (91)
Rio Pacaxá
Desde duas léguas abaixo do Genipapo começa o
Rio das Amazonas a dividir-se em grandes braços, que
formam a multidão de ilhas que nele se conhecem até
desembocar no Oceano, todas povoadas de diferentes na-
ções e línguas, se bem que na maioria entendem a geral
daquela costa. (92)
São estas ilhas tantas, e as nações que as habitam tão
diversas, que só para elas era precisa uma nova história.
Contudo nomearei aqui algumas das mais conheci-
das, como são as dos Tapuias, Anaxiates, Mayanazes,
Engaíbas, Bocas, Juanes e a dos valentes Pacaxás que
teem sua residência nas ribeiras do Rio de que tomaram
o nome, e que desemboca a oitenta léguas do Paranaíba.
Possuem numero tão grande de aldeias e de moradores,
segundo afirmam os Portuguêses que lá estiveram, como
qualquer outra das mais povoadas de nosso Rio.
Povoação de Comutá
A quarenta léguas do Pacaxá está situada a aldeia
de Comutá que foi, em tempos passados, de grande fama
naquelas conquistas, tanto por seus muitos moradores como
por ser ali que de ordinário se aprestavam as armas quando
tinham de fazer suas correrias.
Mas já não lhe ficaram nem gente, por se ter mu-
dado para outras terras, nem mantimentos, por não ha-
ver quem os cultive, nem outra coisa mais que o sítio
antigo, sempre bom, com poucos naturais, e que, com sua
capacidade e linda vista, está brindando formosura e co-
modidades aos que a quizerem povoar. (93)
O Pará
A trinta léguas do Comutá tem sua séde a fortale-
za do Grão Pará, povoada e governada pelos Portuguê-
ses. (94)
Há nela um Capitão Mor, que comanda todos os
daquela Capitania, e a quem estão sujeitos outros tres
Capitães de infantaria, que aí de ordinário assistem com
as suas companhias, para a defesa daquela praça.
Mas tanto estes como aquele obedecem em tudo ao
Governador do Maranhão, que tem a sua séde a mais de
cento e cincoenta leguas, costa acima, para o Brasil, o
que traz graves inconvenientes ao Governo do Pará.
Se este rio se povoar, fique este como seu dono, como
quem tem na mão a chave de tudo.
Posto que em verdade o sítio onde está presente-
mente não seja, na opinião de muitos, o melhor que se
podia escolher, tendo de ir este descobrimento adiante,
será facil mudá-lo para a Ilha do Sol, quatorze léguas
mais para o mar, situação na qual todos teem os olhos
pela muita comodidade que oferece para a vida humana,
tanto de capacidade como de bondade da terra para o
sustento da _população, como também para a comodidade
i9
284 CARVAJAL, RoJAs E AcuNA
SENHOR
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T raduzidos e anota.dos
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C. DE MELO - LEITÃO _-)
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'· Serie 5." .' .' B R A S I L I A N A V ol. 203
B i b 1 i ;o t e e a P e d a g o g i e a B r a s i 1 e i r a
Descobrimentos
do
Rio das Amazonas