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Mapas e ficções: Séculos XVI a XVIII
Mapas e ficções: Séculos XVI a XVIII
Mapas e ficções: Séculos XVI a XVIII
E-book195 páginas2 horas

Mapas e ficções: Séculos XVI a XVIII

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Sobre este e-book

Dependendo da época e do lugar, os mapas fictícios desempenharam uma variedade de papéis. Eles representaram mundos virados de cabeça para baixo, satíricos, críticos ou utópicos; eles diluíram a distinção entre o mundo do livro e o do leitor; eles alimentaram a razão e os sonhos, mesmo além da letra do texto. Viajando de obra em obra, Roger Chartier oferece neste ensaio uma nova abordagem da mobilidade das ficções e de suas interpretações.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de mai. de 2024
ISBN9786557145593
Mapas e ficções: Séculos XVI a XVIII

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    Mapas e ficções - Roger Chartier

    MAPAS E FICÇÕES

    (Séculos XVI a XVIII)

    FUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP

    Presidente do Conselho Curador

    Mário Sérgio Vasconcelos

    Diretor-Presidente / Publisher

    Jézio Hernani Bomfim Gutierre

    Superintendente Administrativo e Financeiro

    William de Souza Agostinho

    Conselho Editorial Acadêmico

    Luís Antônio Francisco de Souza

    Marcelo dos Santos Pereira

    Patricia Porchat Pereira da Silva Knudsen

    Paulo Celso Moura

    Ricardo D’Elia Matheus

    Sandra Aparecida Ferreira

    Tatiana Noronha de Souza

    Trajano Sardenberg

    Valéria dos Santos Guimarães

    Editores-Adjuntos

    Anderson Nobara

    Leandro Rodrigues

    ROGER CHARTIER

    MAPAS E FICÇÕES

    (Séculos XVI a XVIII)

    TRADUÇÃO

    PEDRO PAULO PIMENTA

    Título original: Cartes et fictions (XVIe - XVIIIe siècle)

    © 2024 Editora Unesp, para esta tradução

    Direitos de publicação reservados à:

    Fundação Editora da Unesp (FEU)

    Praça da Sé, 108

    01001-900 – São Paulo – SP

    Tel.: (0xx11) 3242-7171

    www.editoraunesp.com.br

    www.livrariaunesp.com.br

    [email protected]

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD

    Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949

    C486m

    Chartier, Roger

    Mapas e ficções (Séculos XVI a XVIII) [recurso eletrônico]: Cartes et fictions (XVIe-XVIIIe siècle) / Roger Chartier ; traduzido por Pedro Paulo Pimenta. - São Paulo : Editora Unesp Digital, 2024.

    112 p. ; ePUB ; 3,4 MB.

    Tradução de: Cartes et fictions (XVIe-XVIIIe siècle)

    Inclui bibliografia.

    ISBN: 978-65-5714-559-3 (Ebook)

    1. Literatura. 2. História da literatura. 3. Crítica literária. 4. Iconografia literária. 5. Cartografia. I. Pimenta, Pedro Paulo. II. Título.

    2024-1551

    CDD 809

    CDU 82.09

    Editora afiliada:

    Sumário

    Introdução

    Dom Quixote de la Mancha, 1780 e 1797

    Sobre palavras e mapas

    Cronologia e geografia

    Genealogia inglesa

    Gulliver, 1726

    Robinson Crusoé, 1719

    Mundus Alter et Idem, 1605

    O mapa de lugar nenhum: a Utopia, 1516

    Na França: preciosismo e mística

    O Mapa de Ternura, 1654

    Os caminhos da alma: João da Cruz, 1621 e 1641

    Na França: querela de prioridade

    Preciosas, amor e coqueteria

    O país da Jansênia

    Primeiros mapas

    Orlando furioso, 1556

    Petrarca na Provença

    Écfrase e suplemento

    Agradecimentos

    Referências bibliográficas

    Créditos das imagens

    Introdução

    Como diz Franco Moretti, a geografia literária pode ter dois objetos diferentes: o estudo da literatura no espaço ou o estudo do espaço na literatura.¹ A primeira perspectiva permite a elaboração de mapas das edições das obras e de suas traduções; a segunda, o registro dos lugares das ações e deslocamentos dos personagens, diz respeito à geografia interna dos textos, não ao espaço de circulação dos livros. Em ambos os casos, uma cartografia é possível, mas, em ambos, é feita no presente. Assim como os espaços do comércio livreiro, os escolhidos e descritos pelas ficções ganham tradução visual. Produzidos por palavras, tornam-se mapas, itinerários ou atlas. Essa operação deixa escapar uma realidade, ínfima, mas nem por isso menos verdadeira: a presença dos mapas em edições de obras quando de sua primeira publicação.² Não falo aqui dos mapas traçados a posteriori, traduções visuais de espaços que permanecem exclusivamente textuais, mas daqueles que acompanharam os leitores em suas primeiras experiências.

    Em nossos dias, a presença dos mapas em livros tornou-se comum e mesmo obrigatória, como no gênero da epic fantasy, geralmente traduzido como fantasia épica ou alta fantasia. O livro fundador do gênero deu o exemplo. Três mapas foram inseridos na primeira edição das três partes de O senhor dos anéis, de Tolkien, publicadas em 1954 e 1955.³ Impressos a partir de desenhos do filho de Tolkien, Christopher, dois deles se encontram no primeiro volume, A sociedade do anel, e exibem a Terra-Média e Uma Parte do Condado. O terceiro, que representa os reinos de Gondor, Rohan e Mordor, é incluído em O retorno do rei, que fecha a trilogia.⁴ Com esses três mapas, que reúnem informações geográficas e dados onomásticos, a primeira edição de O senhor dos anéis oferece referências à leitura sem com isso interferir nela. Os mapas de Tolkien constroem um mundo imaginário que convida para além das peripécias do relato, a tantas viagens quantos forem os leitores.⁵ As três cartas de 1954-1955 não limitaram a imaginação geográfica que se apoderou da obra e levou à proliferação de mapas, atlas e pôsteres que m os espaços das histórias.⁶ O senhor dos anéis apresenta a cartografia da ficção sob as duas modalidades que nos interessam aqui: os mapas presentes na primeira edição de uma obra (no caso de Tolkien, impressos a partir de esboços que acompanharam ou precederam a escrita da história), e os mapas inspirados pela obra após a sua publicação, e que muitas vezes se afastam do próprio relato.

    Em seu livro anterior, Tolkien incluíra dois mapas que ele mesmo desenhou. Publicado em 1937, o Hobbit, traz um mapa das Terras Ermas e outro de Thror.⁷ À diferença do primeiro mapa e daqueles publicados em O senhor dos anéis, este último, que traça o plano da Montanha, é conhecido pelos protagonistas da ficção, Bilbo, Gandalf e os anãos, bem como pelo leitor: consulte o mapa de Thror no início deste livro e verá as ruínas em vermelho.⁸ Nesse caso, o mapa é supostamente contemporâneo à história. Traz, inclusive, a sua marca, duas inscrições em escrita rúnica, uma na margem esquerda e outra no centro. A presença de mapas em O Hobbit situa a obra no universo dos livros para crianças ou para uma juventude que, desde o século XIX, propôs representações visuais dos lugares em que a história transcorre.⁹

    Os primeiros mapas inseridos em livros de língua inglesa destinados aos jovens foram publicados em 1883. A primeira edição d’A ilha do tesouro, de Robert Louis Stevenson, traz no frontispício um mapa da ilha em questão. As instruções crípticas e as três cruzes vermelhas indicadas deverão conduzir os protagonistas e os leitores à descoberta do tesouro escondido.¹⁰ Do outro lado do canal da Mancha, um mapa de outra ilha veio antes daquele de Stevenson. A primeira edição de A ilha misteriosa, de Júlio Verne, publicada por Hetzel em 1874-1875, trazia um mapa da ilha de Lincoln tanto em folhetim, na revista Le Magasin d’Éducation et de Récréation, quanto em livro, na edição em três volumes. O plano da ilha, desenhado pelo próprio Júlio Verne, está impresso ao fim da primeira parte, "Os náufragos do ar".¹¹ A tradução inglesa, publicada em folhetim na St. James’ Magazine a partir de março de 1874, ressurge no ano seguinte como livro em Londres e em Nova York, mas sem qualquer mapa da ilha.¹²

    Há dois mapas ingleses que antecederam a publicação d’O Hobbit. Em 1926, um mapa do Bosque dos Cem Acres desenhado por Ernest H. Shepard, mostra os lugares das aventuras de do Ursinho Pooh e Alan Alexander Milne.¹³ Cinco anos mais tarde, o mesmo Shepard desenha o mapa desdobrável inserido em O vento nos salgueiros, livro de Kenneth Grahame publicado sem mapa em 1908.¹⁴ O mapa a que nos referimos aparece em 1931, na 38a edição da obra.¹⁵ Após a Segunda Guerra, pouco antes de A Terra-Média, de Tolkien, um outro mundo imaginário foi cartografado. Refiro-me ao inventado por Clive Staples Lewis em As crônicas de Nárnia. É verdade que o primeiro volume, publicado em 1950, O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, não trazia nenhum mapa, mas, no ano seguinte, a ilustradora Pauline Baynes desenha um mapa para o segundo tomo, O príncipe Caspian.¹⁶ Vinte anos mais tarde, em 1970, será dela também o mapa da Terra-Média vendido pela editora George Allen & Unwin,¹⁷ seguido em 1971 por outro incluído em O Hobbit.¹⁸

    Este ensaio não tem o propósito de acompanhar a multiplicação dos mapas depois de Tolkien, no gênero épico fantástico ou nos livros para jovens.¹⁹ Esse caminho nos levaria a Harry Potter e a Guerra dos Tronos. O percurso que propomos vai em sentido inverso. Nosso objetivo é realizar uma genealogia histórica da presença dos mapas em histórias de ficção. Como nos dicionários antigos, o termo ficção designa aqui invenções fabulosas²⁰ ou produtos da imaginação.²¹ É quase sinônimo de fábula, que o Dicionário da Academia Francesa define como coisa feita, inventada para instruir ou divertir. Ou também, ainda, o tema ou argumento de um poema épico, de um poema dramático ou de um romance.²² Essa definição, que pressupõe a partilha de uma convenção entre o autor, o editor e o leitor, leva à exclusão dos mapas que se apresentem como simples representações de um espaço real, mesmo que o território cartografado seja imaginário.²³ As cartas escolhidas para esta investigação acompanham romances, sátiras, utopias ou distopias, mesmo que, ou principalmente se, essas fábulas pertençam a gêneros que supostamente contam a verdade, como os relatos de viagem, por exemplo.

    O primeiro mapa de nossa investigação retrospectiva não foi concebido e muito menos desenhado pelo autor cujo livro ele ilustra. Foi introduzido na obra nada menos que 165 anos após a sua publicação. Não representa um território fabuloso, mas, de maneira mais prosaica, um país que existe de fato. Não deveria constar aqui, pois tudo nele parece real; tudo, exceto pelos viajantes que tomam os caminhos nele traçados.

    1 Moretti, Atlas du roman européen 1800-1900. Ver também do mesmo autor, Graphes, cartes et arbres: modèles abstraits pour une autre histoire de la littérature.

    2 Padrón, Mapping Imaginary Worlds, em Akerman; Karrow Jr. (orgs.), Maps: Finding our Place in the World, p.255-87. Ver também Stahl, Imaginary Maps and Beyond, Library of Congress, 25 maio 201630 ago. 2016. Disponível em: https://blogs.loc.gov/ maps/2016/05/imaginary-maps-in-literature-andbeyond-introduction/. Acesso em: 30 nov. 2021.

    3 Tolkien, Lord of the Rings. Part 1: The Fellowship of the Ring. Part 2: The Two Towers. Part 3: The Return of the King [O senhor dos anéis. v.1: A sociedade do anel. v.2: As duas torres. v.3: O retorno do rei]. A primeira tradução francesa, feita por Francis Ledoux, foi publicada por Christian Bourgois em 1972-1973, em três volumes: La Communauté de l’anneau, Les Deux Tours e Le Retour du roi. Christian Bourgois publicou uma nova tradução, estabelecida por Daniel Lauzon, em 2014-2015, com um novo título para o primeiro volume: La Fraternité de l’anneau.

    4 Pantin, Inventer, visualiser, dessiner des mondes, em Ferré; Manfrin (orgs.), Tolkien: voyage en Terre du Milieu, p. 43-8.

    5 Garel-Grislin, Les Coordonnées de la fiction: ce que la carte fait au récit, Revue de la Bibliothèque Nationale de France, n.59, p.22-30, 2019, aqui, p.29.

    6 Fonstad, The Atlas of Tolkien’s Middle Earth; e Stratchey, Journeys of Frodo: An Atlas of J. R. R. Tolkien’s The Lord of the Rings. Ver Crowe, Celebrating Christopher Tolkien’s Cartographic Legacy, Tor.com, 22 jan. 2020. Disponível em: https://reactormag.com/celebratingchristopher-tolkiens-cartographic-legacy/. Acesso em: 30 nov. 2021.

    7 Tolkien, The Hobbit [O Hobbit].

    8 Ibid.

    9 Crowe, Where do Fantasy Maps Come from, Tor.com, 23 set. 2020. Disponível em: https:// reactormag.com/where-do-fantasy-maps-come-from/. Acesso em: 30 nov. 2021.

    10 Stevenson, Treasure Island [A ilha do tesouro].

    11 Verne, L’Île mystérieuse [A ilha misteriosa], em Les Voyages

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