Avaliação Da Escala de Epworth em Pacientes Com A SAOS
Avaliação Da Escala de Epworth em Pacientes Com A SAOS
Avaliação Da Escala de Epworth em Pacientes Com A SAOS
Resumo / Summary
Muitos pacientes procuram o médico com queixa de O estudo foi realizado a partir da análise de prontuá-
ronco, principalmente quando desencadeia conflitos matri- rios de pacientes com queixa de ronco do serviço especi-
moniais e familiares insustentáveis. O barulho excessivo é o alizado em otorrinolaringologia do hospital CEMA no perío-
que realmente os incomoda, não se atentando para outros do de junho de 1999 a junho de 2003. Os critérios de inclu-
quadros associados. Em geral, as queixas de fadiga, sonolên- são foram: adultos, ambos os sexos, com queixa de ronco,
cia diurna, alterações comportamentais e cognitivas são pouco submetidos a procedimento cirúrgico de uvulopalatofarin-
valorizadas pelo próprio paciente que as atribui a desgastes goplastia (UPFP) pela técnica de Fairbanks modificada com
físicos, emocionais e/ou envelhecimento. No entanto, uma e sem abordagem nasal (septoplastia e/ ou turbinectomia
avaliação adequada pode diagnosticar que o ronco faz parte inferior parcial); com avaliação polissonográfica pré e pós-
de um dos distúrbios do sono: a síndrome da apnéia e cirúrgica e questionário de avaliação de sonolência – Escala
hipopnéia obstrutiva do sono (SAHOS). Estimativas mos- de Epworth (ESE) (Quadro 1) – pré e pós-cirúrgicos. Todos
tram que a prevalência de ronco em adultos na 5º-6º é de os prontuários constavam de exame físico completo realiza-
40-60% e que 90-95% de pacientes com SAHOS apresen- do por um otorrinolaringologista.
tam roncos1. Foram excluídos os casos de dados incompletos, com
Esta síndrome é, atualmente, considerada um proble- doenças concomitantes – cardiopatia, tireoidopatias, diabete
ma de saúde pública por causar aumento de acidentes de mellitus e doença pulmonar crônica –, os casos de
trânsito e trabalho, bem como, da morbi-mortalidade dismorfismo crânio-facial ou retrognatia; os paciente já pre-
cardiovascular. Sua prevalência varia de acordo com a popu- viamente operados de UPFP em outros serviços. É impor-
lação, sendo estimada nos Estados Unidos em torno de 4% tante mencionar que os dados pós-cirúrgicos foram todos
em homens e 2% em mulheres entre 30-60 anos, predomi- obtidos pelo menos 6 meses após o procedimento. Todas
nando em obesos. Porém, tais dados são subestimados, sen- as cirurgias foram realizadas pela mesma equipe.
do que em torno de 95% dos pacientes com distúrbio do As polissonografias, realizada no próprio serviço ou
sono não são diagnosticados1,2. Haponik et al.3 constataram no Instituto Paulista do Sono, estavam de acordo com os
em seu estudo que nenhum médico de atendimento primá- padrões mínimos exigidos exposto na Atualização Otorrino-
rio investigava sobre o distúrbio do sono. Em contrapartida, laringológica em Cirurgia do Ronco e Apnéia do Sono da
quando previamente instruídos sobre a doença, 82% de mé- SBORL 20024.
dicos passaram a investigar. Desta forma, é importante que o Utilizou-se a classificação da Academia Americana de
profissional da saúde, e sobretudo o otorrinolaringologista, fa- Medicina do Sono7 para os graus da doença, como segue no
miliarize-se com esta doença para não retardar o diagnóstico Quadro 2.
e o tratamento, evitando suas graves conseqüências. A escala de Epworth foi aplicada, sendo respondida
Atualmente, a polissonografia assistida é o padrão ouro pelo próprio paciente, havendo interferência do médico
para o diagnóstico da SAHOS. Os registros de eletroencefa- somente em casos de dúvidas ou má interpretação.
lograma, eletrooculograma, eletromiografia, eletrocardiogra- Desta forma, obtivemos 66 casos que se enquadra-
ma, oximetria, fluxo aéreo e esforço respiratório fornecem ram nos critérios supracitados. Foi utilizado o valor de 10
dados fidedignos da gravidade da doença. No entanto, é um como divisor de normalidade da escala de Epworth assim
exame oneroso, de difícil acesso fora dos grandes centros como em sua versão original.9
urbanos e que nem sempre tem uma boa aceitação pelo A análise estatística foi realizada pelo teste de igual-
paciente.4,5 dade de duas proporções e teste de independência de Qui-
A escala de Epworth, apesar de ser um método sub- quadrado. O intervalo de confiança foi constituído com 95%
jetivo, pode contribuir para a avaliação do quadro. É de fácil de confiança e o p valor foi de 0,05.
aplicação, rápida e sem qualquer custo.6
Assim, este estudo se propõe a avaliar a pontuação RESULTADOS
da escala de Epworth e o índice de apnéia e hipopnéia
(IAH) da polissonografia de pacientes com SAHOS e verifi- O grupo estudado consistiu de 66 pacientes com
car se há correlação entre estes parâmetros. roncopatia submetidos à cirurgia. Foi realizada UPFP sem
abordagem nasal (septoplastia e/ou turbinectomia) em so-
OBJETIVO mente 08 pacientes sendo, no restante, realizados os dois
procedimentos. A média de idade foi de 42,47 (±10,7) com
Avaliar a pontuação da escala de Epworth e o IAH a mínima de 17 e a máxima de 67 anos. Do grupo, 06 eram
pré e pós-operatórios de pacientes com SAHOS submeti- mulheres e 60 homens.
dos a procedimento cirúrgico e verificar se há correlação No pré-operatório, 72,7% (48) sujeitos obtiveram
entre estes parâmetros. valores anormais (>10 pontos) na pontuação da ESE, en-
DISCUSSÃO