Jamille
Jamille
Jamille
São Carlos
2010
JAMILLE LAYS MARRARA
São Carlos
2010
DEDICATÓRIA
À minha querida mãe, pelo total apoio, carinho, compreensão e amor, essenciais para que eu
vencesse mais esta etapa da minha vida. Aos meus irmãos Kamilla e Douglas, e cunhado
Diego, pelo carinho e por sempre me apoiaram nas horas difíceis.
Ao meu pai (in memorian), pois sua presença vive em meu coração e viver no coração dos
que ficam não é partir.
Ao meu noivo Fábio, pelo amor, carinho, compreensão, incentivo e dedicação constante,
estando sempre ao meu lado em todas as situações.
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Prof. Dr. José Carlos Pereira, meu carinho e gratidão, por sua dedicação,
ensinamento e amizade, orientando-me com responsabilidade e companheirismo.
Ao Prof. Dr. Roberto Oliveira Dantas, por sua colaboração como pesquisador, além da
confiança e amizade.
Aos pacientes, que tiveram participação fundamental neste trabalho. Acolheram-me com
carinho, amizade e ajudaram-me a compreender suas dificuldades.
Marrara, JL. Padrão visual da dinâmica vocal como instrumento para o diagnóstico da
disfagia em pacientes com alterações neurológicas. 2010. Pgs 93. Dissertação (Mestrado)-
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2010.
Marrara, JL.. Vocal Dynamic Visual Patterns (VDVP) for swallowing dysfunctions
analysis in patients with neurological diseases. 2010. Pgs 93. M.Sc. Dissertation – Escola
de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2010
Key Words: Dysphagia and Voice; Vocal Dynamic Visual Patterns (VDVP); Acoustic
Analysis.
LISTA DE TABELAS
Tabela 11 - Valor médio e desvio padrão do jitter antes da deglutição, após a deglutição de
3ml e 7ml das consistências pastosa e líquida do grupo de
referência..........................................................................................................51
Tabela 29 - Grau da convergência do traçado dos pacientes com penetração e/ou aspiração
laringotraqueal..................................................................................................67
LISTA DE FIGURAS
Figura 2 - Imagens das pregas vocais em posição respiratória (A) e fonatória (B)...........19
Figura 7 - Exemplo de um sinal de voz completo (vogal /a/), excluindo-se o início e fim
do sinal..............................................................................................................34
Figura 8 - Tela do programa Voice Analysis 2009 utilizado para análise dos parâmetros
acústicos............................................................................................................36
Figura 10 - Exemplo de um sinal periódico com uma frequência fundamental (A); uma
frequência e uma harmônica (B); uma frequência e dois harmônicos (C); uma
frequência e três harmônicas (D) e na parte inferior o padrão visual da
dinâmica vocal do sinal. Adaptada de Dajer (2006).........................................38
Figura 11 - (A) Padrão Visual da Dinâmica Vocal com shimmer; (B) Padrão Visual da
Dinâmica Vocal com jitter. Adaptada de Dajer, 2006………………..………39
Figura 12 - Trecho selecionado do sinal de voz da vogal /a/ na parte superior (A). As
imagens B, C e D são os trechos selecionados em 50 milissegundos...............39
Introdução.................................................................................................................................15
Revisão da Literatura...............................................................................................................17
Laringe..........................................................................................................................17
Deglutição e Voz...........................................................................................................23
Avaliação do paciente neurológico...............................................................................25
Materiais e Métodos.................................................................................................................31
Materiais.......................................................................................................................32
Métodos........................................................................................................................33
Videofluoroscopia.............................................................................................33
Análise dos sinais de voz..................................................................................33
Análise perceptivo-auditiva..................................................................34
Análise acústica tradicional..................................................................34
Padrão Visual da Dinâmica Vocal (PVDV).........................................36
Resultados................................................................................................................................44
Videofluoroscopia da deglutição…………………………………………………….44
Análise Perceptivo-Auditiva…………………………………………………………46
Análise Acústica Tradicional.......................................................................................50
Análise qualitativa dos padrões visuais da dinâmica vocal.........................................56
Discussão.................................................................................................................................69
Conclusão................................................................................................................................76
Referências Bibliográficas ......................................................................................................78
Anexos......................................................................................................................................90
16
1- INTRODUÇÃO
Medidas como jitter e shimmer têm sido aplicadas como alguns métodos tradicionais,
mas quando aplicadas em vozes aperiódicas mostram-se contestáveis. Nos últimos anos,
diversas técnicas baseadas em modelos não lineares tem sido um meio valioso para a análise
destes sinais. Segundo Titze (1994) as técnicas não-lineares se apresentam como ferramentas
promissoras para analisar sinais com aperiodicidades como é o sinal de voz.
17
Uma dessas técnicas é a análise dos Padrões Visuais de Dinâmica Vocal (PVDV) que
permite a visualização da complexidade dinâmica do sinal de voz. Com esta técnica a
vibração das pregas vocais pode ser mostrada como trajetórias num espaço de fase
reconstruído evidenciando a dinâmica do sistema (DAJER; PEREIRA; MACIEL, 2005).
2- REVISÃO DE LITERATURA
2.1. LARINGE
A laringe também é formada por três cartilagens ímpares - epiglote, tireóide e cricóide
- e três cartilagens pares - aritenóides, corniculadas e cuneiformes - apresentadas em detalhe a
continuação:
- Epiglote: fina lâmina de cartilagem do tipo elástica, com formato de folha e com o eixo
maior vertical. Está localizada dorsalmente à base da língua e verticalmente ao adito laríngeo.
19
Sua extremidade cranial ou base é livre e o extremo caudal é longo e estreito. A valécula ou
fossa glossoepiglótica é a depressão entre a epiglote e a base da língua. As áreas posterior e
inferior da epiglote são chamadas de vestíbulo laríngeo, que termina na superfície superior
das pregas vestibulares (MARCHESAN, 2004);
- Tireóide: maior cartilagem da laringe, composta de duas lâminas com disposição vertical,
fundidas ventralmente na linha média do pescoço, estabelecendo um ângulo diedro e
projetando a chamada proeminência laríngea;
- Cricóide: anel cartilaginoso, que forma os aspectos caudal e dorsal da laringe, e serve de
suporte para as demais cartilagens;
A laringe possui três funções básicas, sendo elas a função respiratória, a qual permite a
passagem do ar, função esfincteriana, que previne a aspiração de saliva e alimentos e função
fonatória por meio da vibração de lâminas elásticas devido à passagem do ar, produzindo o
som fundamental (DEDIVITIS, 2002). Para cada uma dessas funções, diferentes movimentos
das pregas vocais são requeridos: abertura máxima durante a respiração, abertura parcial
durante as consoantes surdas, como /s/, fechamento na linha média para a vibração das pregas
vocais durante a produção de voz e fechamento esfincteriano de ambas pregas vocais e pregas
ventriculares durante a deglutição (LUDLOW, 2005).
- Função Respiratória
A B
Figura 2 - Imagens das pregas vocais em posição respiratória (A) e fonatória (B)
21
- Função Esfincteriana
Na fase esofágica o alimento que passou pelo esfíncter superior é direcionado para o
esôfago por meio de ondas peristálticas e, posteriormente, para o estômago (MENEGHELLI;
OLIVEIRA; FERNANDES, 1996).
Shaker et al. (1993) refere que um perfeito sincronismo de eventos permite que ocorra
a deglutição sem aspirar às vias respiratórias o bolo alimentar e não permite o refluxo desse
bolo proveniente do esôfago, pois envolve a interação entre os tratos respiratório e digestório.
Complexos distúrbios podem ocorrer por alterações da deglutição, sendo um deles a disfagia,
denominada como dificuldade de deglutição (FURKIM; SILVA, 1999).
- Função Fonatória
Para que ocorra a produção vocal é necessário que o ar, vindo dos pulmões, passe
pelos brônquios e traquéia até atingir a laringe, onde estão localizadas as pregas vocais -
formadas pela porção cartilaginosa e outra membranosa - que ao serem ativadas pela pressão
subglótica de ar vibram em movimentos muco-ondulatórios sucessivos produzindo o som
laríngeo (COTES et al., 2001). Quando as pregas vocais se abrem, o ar passa entre as pregas
reduzindo a pressão entre elas (efeito Bernoulli) e a tensão retorna com o fechamento das
pregas na linha média, permitindo que este processo cíclico continue (TITZE, 1994),
conforme ilustrado na figura 4.
glótico ocorrer com extrema precisão, estando às pregas vocais aduzidas no momento do
início da produção das vogais e sons sonoros; e abduzidas para os sons surdos (COTES et al.,
2001).
Para Andrade e Camargo (2004), durante a produção da fala, as estruturas dos sistemas
respiratório e digestivo estão envolvidas em várias atividades, sendo que o sistema
respiratório exerce a função de gerar a fonte de energia devido a modulação do suporte
ventilatório e por sua vez, as estruturas do sistema digestivo desempenham o papel
fundamental na caracterização e na qualidade da fala, exercendo função articulatória e
ressonadora. Assim, o som básico da vibração da mucosa das pregas vocais será modificado
pelo fenômeno de ressonância provocado pelo trato vocal que consiste na amplificação de
certas faixas de freqüência e no amortecimento de outras dependendo das características de
cada ressonador, como mostra a figura 5 (STEVENS; HOUSE, 1961; TITZE, 2000). Desde o
ponto de vista de um sistema fonte-filtro, as pregas vocais serão a fonte sonora e o trato vocal
o filtro, tendo como resultante o sinal acústico da voz humana (RABINER; JUANG, 1993).
Segundo Andrade e Camargo (2004) a fonação é uma função adaptada que depende da
ação conjunta das estruturas dos sistemas respiratório e digestório, cuja interação pode estar
prejudicada no caso de disfagia.
Principalmente nos casos neurológicos, a disfonia tem sido associada com a disfagia,
pois muitas das condições que causam dificuldade de comunicação como as doenças
neurológicas e demências não-tratáveis, podem resultar em disfagia (CLARK, 1994). Isto
porque os processos fonoarticulatórios e de deglutição são dinâmicos e depende de vários
fatores, como a integridade do sistema nervoso central, além da mobilidade e sensibilidade
das estruturas orofaríngeas envolvidas (ANDRADE; CAMARGO, 2004).
24
Segundo Zenner, Losinski e Mills (1995), durante a fase faríngea se a laringe não se
fecha apropriadamente pode-se ter a penetração e aspiração de alimento para as vias aéreas
inferiores, o que pode causar sons anormais como estridor, ¨som molhado¨ da respiração,
26
descarga de material antes ou durante a deglutição, além de tosse, limpeza da garganta e ¨voz
molhada¨. Um estridor pós-deglutição ou fonação com ¨som molhado¨ poderiam resultar de
penetração com ou sem aspiração (McKAIG, 1999). Para Andrade e Camargo (2004), estudos
examinaram a presença de tosse após a deglutição e/ou alteração de fonação, como a
rouquidão, que têm sugerido a variação de voz e distúrbios laríngeos como a possibilidade de
penetração laríngea.
Assim, visto que as complicações mais comuns que advêm da disfagia são queda no
estado nutricional e pneumonia aspirativa, podendo resultar em morte; e que freqüentemente
os pacientes com alteração neurológica aspiram durante o processo de alimentação ou até
mesmo a própria saliva; a detecção e caracterização da aspiração, que ocorre na fase faríngea,
são primordiais para o prognóstico e reabilitação destes pacientes.
- Avaliação perceptivo-auditiva
Segundo Hollien, Dew e Philips (1971) existem dados normativos para a freqüência
fundamental de homens (100 e 150Hz) e mulheres (180 a 250Hz). A perturbação refere-se à
irregularidade da vibração das pregas vocais, chamada jitter ou a variação na amplitude de
ciclo a ciclo é chamada shimmer (COLTON; CASPER, 1990), como demonstrado na figura 6.
Em falantes normais há pouca variação na perturbação, que pode representar massa nas
pregas vocais, tensão ou atividade muscular (BAER, 1979).
Quando as pregas vocais são afetadas por alterações patológicas sua vibração mostrará
aumento da aperiodicidade (HECHER; KREUL, 1971), como mudanças na mucosa, variação
na composição das pregas vocais, variação na função muscular e no controle motor da
musculatura que controla a vibração (COLTON et al., 1982).
Segundo Krom (1994), o sinal de voz pode ser analisado com estabilidade usando
vogais sustentadas. Considerando a não estacionariedade do sinal de voz deve-se buscar uma
forma de efetuar as análises sobre as amostras sendo consideradas, por um instante de tempo
(entre 100 a 200ms) as medidas desejadas permanecendo estacionárias, como na emissão da
30
vogal /a/ sustentada, que apresenta um modelo matemático a partir do trato vocal fixo e
totalmente aberto (ANDRADE et al., 2002).
como uma trajetória no espaço de fase com evolução no tempo. O método tradicional de
análise de voz pode ser incerto em vozes, que quando analisadas apresentam algum grau de
desordem (HERZEL; BERRY, 1994; GIOVANNI; OUKNINE; TRIGLIA, 1998). Assim,
considerando a voz um sistema não linear, pode ser usado a construção do espaço de fase para
descrever o comportamento do sistema (DAJER; PEREIRA; MACIEL, 2005).
No estudo de Rahn et al. (2005) aplicou-se à análise da dinâmica não linear e a análise
de perturbação em pacientes com doença de Parkinson. A correlação da dimensão (D2), jitter
e shimmer foram utilizadas para comparação da fonação da vogal sustentada destes sujeitos
com o grupo controle. Verificou-se aumento significativo do D2 em mulheres com doença de
Parkinson do que nas do grupo controle. Nos homens com doença de Parkinson verificou-se
um aumento estatístico do jitter comparados ao grupo controle, mas este não diferiu em D2 ou
shimmer. Assim observou-se que a análise dinâmica não linear pode ser um método valioso
no diagnóstico de patologia laríngea do Parkinsoniano.
32
3 - MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Materiais
Para esta pesquisa foram contemplados dois grupos de análise, sendo um grupo de
referencia com 5 indivíduos (1 do sexo masculino e 4 do sexo feminino), com idade média de
28 anos (de 22 a 35 anos), que não apresentam alteração neurológica como também queixas
de alteração vocal ou de deglutição; e o grupo de pacientes com alteração neurológica. Neste
grupo Foram incluídos indivíduos com idade acima de 15 anos, apresentando alteração
neurológica, os quais foram encaminhados ao setor de Fonoaudiologia na área de Neurologia
Adulto do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) –
USP para a realização da videofluoroscopia da deglutição, no período de dezembro de 2007 a
outubro de 2008. Ainda, foram observados todos os quesitos éticos e legais na participação
dos sujeitos nesta pesquisa através de assinatura do termo de consentimento.
Foram selecionados para o estudo vinte e seis pacientes de ambos os sexos (sendo 16
homens e 10 mulheres), diagnosticados com alterações neurológicas e com idade média de 53
anos (variando 21 a 77 anos). Como critério de exclusão para este grupo considerou-se
indivíduos gravemente comprometidos, cujo estado não permitia a emissão da vogal /a/ ou
não compreendia o que lhe era solicitado, bem como indivíduos que não apresentavam
comprometimento neurológico.
3.2 Métodos
Para a análise da deglutição e análise dos sinais de voz dos 26 pacientes foram
utilizados o estudo de videofluoroscopia e os métodos de análise perceptivo-auditiva, análise
acústica tradicional e análise de padrões visuais de dinâmica vocal (PVDV). Também
participou um grupo de referência de cinco indivíduos sem alteração neurológica e sem
queixa vocal e de deglutição.
alimento, bem como a correlação da voz após a oferta do alimento com presença ou não de
penetração ou aspiração laringotraqueal.
3.2.1 Videofluoroscopia
Procedimento:
Após a coleta destes dados foi obtida uma amostra de voz. Posteriormente o indivíduo
foi submetido à videofluoroscopia da deglutição. A coleta da amostra de voz foi realizada
antes da administração dos alimentos (consistência pastosa e líquida) e após a primeira
deglutição da consistência pastosa e da consistência líquida, nos volumes de 3ml e 7ml.
Figura 7 - Exemplo de um sinal de voz completo (vogal /a/), excluindo-se o início e fim do
sinal
Figura 8 - Tela do programa Voice Analysis 2009 utilizado para análise dos parâmetros
acústicos
Neste estudo foi aplicado o teste ANOVA unilateral para analisar a variância dos
diferentes grupos (antes da deglutição, após a deglutição de 3ml e 7ml de pastoso e após a
deglutição de líquido administrado em 3ml e 7ml).
Nesta técnica o sinal de voz, devido suas características dinâmicas, pode ser
representado como uma série temporal simples (figura 9 – A) de comprimento N, registrado
como x(ti ), ti = t0+ i τ (i = 1, 2, … , N), onde x(ti) Є R, ti = t0+ i τ (i=1,2,...,N), e τ o
período de amostragem. Com o vetor do tempo de atraso pode-se reconstruir o espaço de fase,
que representa um gráfico bidimensional da reconstrução do espaço de fase (figura 9 - B),
proporcionando a representação da dinâmica do sistema.
38
(A)
(B)
B
A
CC DD
Figura 10 - Exemplo de um sinal periódico com uma frequência fundamental (A); uma
frequência e uma harmônica (B); uma frequência e dois harmônicos (C); uma frequência e
três harmônicas (D) e na parte inferior o padrão visual da dinâmica vocal do sinal. Adaptada
de Dajer (2006).
A B
Figura 11 - (A) Padrão Visual da Dinâmica Vocal com shimmer; (B) Padrão Visual da
Dinâmica Vocal com jitter. Adaptada de Dajer, 2006
Para este estudo foi realizado uma seleção de trecho dos sinais, utilizando amostras de
três segundos para cada sinal (figura 12); para análise mais detalhada dos mesmos, realizou-se
a seleção de um trecho de 50 milissegundos da parte inicial, medial e do final da amostra, nos
momentos em que apresentaram maior estabilidade na amplitude da onda, conforme
apresentado na figura 12. Foram consideradas as três características mais predominantes dos
três trechos escolhidos e foi selecionado para análise o PVDV considerado mais
representativo para os parâmetros avaliados.
Figura 12 - Trecho selecionado do sinal de voz da vogal /a/ na parte superior (A). As imagens
B, C e D são os trechos selecionados em 50 milissegundos
41
Na figura 13 observa-se que o sinal de voz pode ser representado através do PVDV,
mostrando a dinâmica ponto a ponto do sinal de voz.
Para melhor avaliação da dinâmica do sinal de voz, nesta pesquisa, foram observadas
diferentes características que possibilitam a classificação de: a) número de loops, b)
regularidade do traçado e c) convergência das órbitas. Com o objetivo de avaliar estes três
aspectos antes da deglutição, após a deglutição da consistência pastosa e da consistência
líquida, foram propostos 5 graus para cada um dessas características.
x(n-15)
x(n-9)
x(n) x(n) x(n)
A B C
x(n-7)
x(n-9)
x(n) x(n)
D E
x(n-9)
x(n-7)
x(n) x(n) x(n)
A B C
x(n-12)
x(n-8)
x(n) x(n)
D E
Para a convergência da trajetória das órbitas, foi proposta uma escala com 5 graus:
“forte” convergência para trajetórias sobrepostas ou muito próximas; “forte a média” para
pequena dispersão das trajetórias sempre observadas na configuração; 3) “média” para
trajetórias mais dispersas, mas que ainda permite distinguir a configuração; 4) convergência
“média a fraca” para trajetórias dispersas que desarranjam a configuração; e 5) “fraca”
convergência para órbitas muito dispersas que impossibilitam distinguir a configuração do
padrão visual. Na figura 16 estão representados os graus de classificação da trajetória das
órbitas de diferentes pacientes.
44
4 – RESULTADOS
- Grupo de referência
Tabela 2 - Relação de pacientes que apresentaram resíduo, penetração laríngea e/ou aspiração
laringotraqueal
Pacientes Pastoso 3ml Pastoso 7ml Líquido 3ml Líquido 7ml
1 PEN
2 EV EV RCO – EV RCO - EV - ASP
3 RCO
4 RCO - EV RCO – EV RCO - EV
5 RCO RCO - EV - ASP
6
7 RCO - EV
8 EV ASP
9 ASP
10 EV EV
11 RCO - EV EV EV EV - ASP
12 EV - RTFE EV - RTFE RCO - EV - RTFE - ASP
13 EV
14 RCO - RCP RCO RCO RCO - EV - ASP
15 RTFE EV - RTFE EV EV
16 EV RTFE PEN ASP
17 EV EV EV
18 EV - RTFE EV - PEN RCO PEN
19 EV EV - RRP RTFE
20
21
22 EV - RTFE EV - RTFE RTFE RTFE
23 EV - RTFE RTFE RV - RTFE
24 RCO
25 PEN
26 EV
Legenda: RCO- resíduo em cavidade oral; EV – estase em valécula; RRP – resíduo em
recessos piriformes; RTFE – resíduo transição faringoesofágica; PEN – penetração e ASP -
aspiração
Na tabela 3 pode-se verificar que para 3ml e 7ml da consistência pastosa, 34,61% e
50% (respectivamente) dos pacientes, apresentaram resíduo em valécula; e para 7ml de
pastoso também verificou-se dois episódios de penetração laríngea. Para 3ml da consistência
líquida, a maioria dos pacientes apresentaram estase valécula (23,07%), um episódio de
penetração e dois de aspiração laringotraqueal (sendo o exame interrompido devido a
presença da aspiração laringotraqueal). Para 7ml de líquido, observou-se 37,5% de pacientes
com presença de estase em valécula, três episódios de penetração e seis aspiraram o volume
de 7ml de líquido,
47
Foi realizada a análise perceptivo-auditiva das vozes dos pacientes com alteração
neurológica e cinco indivíduos do grupo de referência, sendo classificadas quanto ao grau de
rugosidade, soprosidade, tensão, instabilidade e qualidade vocal molhada, classificadas em
uma escala de 0 a 3 sendo que 0 foi utilizada para a voz que não apresenta esta alteração; 1
com leve alteração; 2 moderada e 3 severa alteração.
- Grupo de Referência
Tensão
0 1 2 3
Antes 30,7% (8) 19,3% (5) 34,6% (9) 15,3% (4)
Pastoso 3ml 15,3% (4) 23% (6) 46,1% (12) 15,3% (4)
Pastoso 7ml 27% (7) 27% (7) 27% (7) 19,3% (5)
Líquido 3ml 24% (6) 24% (6) 40% (10) 12% (3)
Líquido 7ml 16,6% (4) 37,5% (9) 33,3% (8) 12,5% (3)
Instabilidade
0 1 2 3
Antes 19,3% (5) 42,3% (11) 30,7% (8) 7,6% (2)
Pastoso 3ml 7,6% (2) 38,4% (10) 34,6% (9) 19,3% (5)
Pastoso 7ml 7,6% (2) 38,4% (10) 42,3% (11) 11,5% (3)
Líquido 3ml 4% (1) 56% (14) 32% (8) 8% (2)
Líquido 7ml 8,4% (2) 33,3% (8) 37,5% (9) 20,8% (5)
Molhada
S N
Antes 0 100%
Pastoso 3ml 11,5% (3) 88,4% (23)
Pastoso 7ml 3,8% (1) 96,2% (25)
Líquido 3ml 12% (3) 88% (22)
Líquido 7ml 20,8% (5) 79,2% (19)
- Grupo de Referência
3ml variaram de 195 Hz a 211,7Hz, com média de 205,6Hz; e para o volume de 7ml, o valor
médio para o pastoso foi de 207.3Hz, variando para as mulheres de 201,5Hz a 210,6Hz.
Tabela 10 – Valores em média e desvio padrão da Frequência Fundamental (Fo) para o sexo
feminino do grupo de referência
Na tabela 11 pode-se verificar a média e o desvio padrão do jitter nos cinco momentos
de coleta dos dados. Os valores de jitter antes da deglutição variaram 0,16% a 0,24%, após a
deglutição de 3ml de pastoso variou de 0,16% a 0,38% e após 7ml os valores apresentaram-se
entre 0,16% a 0,30%. Após a deglutição de 3ml de líquido verificou-se variação entre 0,16% a
0,35% e para 7ml da consistência líquida de 0,14% a 0,38%.
Tabela 11 – Valor médio e desvio padrão do jitter antes da deglutição, após a deglutição de
3ml e 7ml das consistências pastosa e líquida do grupo de referência.
Jitter (%)
Antes Pastoso Líquido
3ml 7ml 3ml 7ml
Média 0,9 0,24 0,21 0,24 0,25
Desvio padrão 0,014 0,107 0,04 0,044 0,055
53
Tabela 12 – Valor médio e desvio padrão do shimmer antes da deglutição, após a deglutição
de 3ml e 7ml das consistências pastosa e líquida para o grupo de referência
Shimmer (%)
Antes Pastoso Líquido
3ml 7ml 3ml 7ml
Média 1,38 1,67 1,63 1,67 1,80
Desvio padrão 0,055 0,052 0,149 0,214 0,314
O volume de 7ml foi administrado somente para 24 pacientes (nove mulheres e quinze
homens), observando-se os valores de máximo e mínimo foram de 148,7Hz a 280,9Hz (média
de 208,7Hz).
Tabela 13 – Valores em média e desvio padrão da Frequência Fundamental (Fo) para o sexo
feminino
Fo Paciente Feminino (Hz)
Antes Pastoso Líquido Pastoso Líquido
3ml 7ml 3ml 7ml p p
Média 215,9 196,8 199,2 217,2 208,7
0,684 0,984
Desvio padrão 22,1 14,09 20,94 11,29 16,69
54
A B
C D
Na tabela 15 pode-se verificar a média e o desvio padrão do jitter nos cinco momentos
de coleta dos dados. Os valores de jitter antes da deglutição variaram de 0,15% a 1,18%, após
a deglutição de 3ml de pastoso variou de 0,17% a 1,59% e após 7ml os valores apresentaram-
se entre 0,17% a 1,15%. Após a deglutição de 3ml de líquido verificou-se variação entre
0,17% a 3,48% e para 7ml da consistência líquida de 0,16% a 1,62%.
Tabela 15 - Valor médio e desvio padrão do jitter antes da deglutição, após a deglutição de
3ml e 7ml das consistências pastosa e líquida
Jitter (%)
Antes Pastoso Líquido Pastoso Líquido
3ml 7ml 3ml 7ml p p
Média 0,45 0,50 0,45 0,57 0,55
0,7701 0,645
Desvio padrão 0,27 0,34 0,28 0,68 0,40
Shimmer (%)
Antes Pastoso Líquido Pastoso Líquido
3ml 7ml 3ml 7ml p P
Média 3,33 3,40 3,87 3,78 4,35
0,648 0,357
Desvio padrão 2,40 1,62 2,46 2,14 2,85
O teste ANOVA unilateral verificou que o jitter dos grupos antes da deglutição e após
a deglutição de 3ml e 7ml de pastoso serem semelhantes apresentam probabilidade de 77%; e
de 64,87% para o shimmer. Também verificou a probabilidade do jitter de antes da
deglutição com após a deglutição de 3ml e 7ml de líquido serem semelhantes é de 64,56%; e
35,72% para o shimmer. Na figura 19, pode-se observar a distribuição das amostras dos
parâmetros de jitter (A e B) e shimmer (B e C).
A B
C D
Figura 19 – Gráficos de Distribuição para jitter e shimmer
57
A voz é única em cada pessoa, e consequentemente este PVDV também será único.
Para a análise dos dados foram utilizadas as categorias de loops, regularidade do traçado e
convergência das trajetórias.
- Loops
- Grupo de Referência
Pacientes Antes Pastoso 3ml Pastoso 7ml Líquido 3ml Líquido 7ml
2 4 3 0 0 3
3 0 3 3 3 3
4 1 3 3 3 3
5 0 0 0 0 1
7 2 0 2 0 0
8 0 0 0 0
10 3 2 3 0 2
11 3 3 4 4 4
12 2 0 4 0
13 4 3 3 3 0
14 1 0 0 0 0
15 3 2 2 3 3
16 3 0 0 0 0
17 3 3 3 3 3
18 3 3 2 2 0
19 0 0 3 0 0
22 0 0 0 0 0
23 3 0 0 0 0
24 1 3 0 3 3
26 0 0 3 0 0
Tabela 20 - Número de loops dos pacientes com penetração e/ou aspiração laringotraqueal
Loops
Antes P7 L3 L7
1 0 0 0 0
2 4 0 0 3
5 0 0 0 1
8 0 0 0
9 3 0 0 2
11 3 4 4 4
12 2 4 0
14 1 0 0 0
16 3 0 0 0
. 18 3 2 2 0
25 4 0 0 0
- Regularidade do traçado
A classificação utilizada para avaliar o traçado foi: “0) “regular” para órbitas
completamente lisas, sem irregularidades; 1) “regular com uma porção irregular” órbitas
lisas com uma área delimitada de irregularidade 2) “ irregularidade intermitente” para
órbitas lisas com áreas delimitadas de irregularidades; 3) “levemente irregular” para órbitas
irregularmente leve em todo o percurso; e 4) “irregular” para órbitas com o traçado
completamente imperfeito.
- Grupo de Referência
Para o traçado, verificou-se que a maioria dos pacientes estão categorizados em P0,
seguido por P+, com aumento da irregularidade do traçado, e somente um indivíduo (20%),
com melhora da irregularidade do traçado (tabela 21).
Traçado
A, P3 A, P7 A, L3 A, L7 P3, P7 L3, L7 P3, L3 P7, L7
P0 100 60 80 80 60 100 80 80
P+ 0 40 20 20 40 0 20 0
P- 0 0 0 0 0 0 0 20
Legenda: (A) antes; (P3) pastoso 3ml; (P7) pastoso 7ml; (L3) líquido 3ml e (L7) líquido 7ml.
Na tabela 23, esta o grau de regularidade do traçado somente dos pacientes que
apresentaram resíduo em hipofaringe, verificando-se que de 44 episódios, 20 (45,4%)
mantiveram o mesmo grau, seguido por 15 (34,1%) com aumento da irregularidade, e 9
(20,4%) com menor grau de irregularidade embora apresentem resíduo em hipofaringe.
Tabela 23 – Grau da regularidade dos traçados dos pacientes com resíduo em hipofaringe,
Pacientes Antes Pastoso 3ml Pastoso 7ml Líquido 3ml Líquido 7ml
2 1 2 3 2 3
3 2 2 2 2 2
4 2 2 2 2 2
5 3 3 3 3 4
7 2 4 4 4 4
8 4 3 4 4
10 3 4 3 3 4
11 2 1 1 2 2
12 4 2 1 3
13 2 2 2 2 2
14 4 4 4 4 4
15 3 3 2 2 3
16 2 2 3 3 3
17 1 2 2 2 2
18 3 2 3 3 3
19 4 4 3 3 4
22 2 3 3 4 4
23 1 1 2 2 2
24 4 1 4 1 1
26 2 2 2 2 2
Tabela 24 - Grau do traçado dos pacientes com penetração e/ou aspiração laringotraqueal
Traçado
Antes P7 L3 L7
1 2 4 4 3
2 1 3 2 3
5 3 3 3 4
8 4 4 4
9 2 3 3 2
11 2 1 2 2
12 4 1 3
14 4 4 4 4
16 2 3 3 3
18 3 3 3 3
25 2 3 3 3
- Convergência
Para a análise da convergencia foi utilizada uma escala com 5 graus: “forte”
convergencia para trajetórias sobrepostas; “forte a média” para pequena convergência das
trajetórias sempre observadas na configuração; 3) convergência “média” para trajetórias mais
espalhadas, mas que ainda permite distinguir a configuração; 4) convergência “média a fraca”
para trajetórias dispersas que desarranjam a configuração; e 5) “fraca” convergência para
órbitas muito espalhadas que impossibilitam distinguir a configuração do padrão visual.
- Grupo de Referência
Neste aspecto, quando analisado antes da deglutição, após a deglutição de 3ml e 7ml
das consistências pastosa e líquida, observou-se que 80% (4 indivíduos) dos pacientes foram
classificados com forte a média convergência, seguido por 20% (1 indivíduo) com forte
convergência.
x(n-6)
x(n-5)
x(n) x(n) x(n)
A B C
x(n-6)
x(n-5)
D x(n) E x(n)
Pastoso Líquido
Convergência Antes
% 3ml % 7ml % 3ml % 7ml
Forte 3,84% 1 0 0 0% 0 0 0 10 0
Forte a Média 34,61% 9 38,46% 10 42,4% 11 34,61% 9 29,16% 7
Média 30,76% 8 23,1% 6 7,7% 2 19,23%% 5 20,83% 5
Média a Fraca 26,92% 7 19,23% 5 30,76% 8 30,76% 8 41,6% 10
Fraca 3,84% 1 19,23% 5 19,23% 5 15,3% 4 8,33% 2
Legenda: valores me vermelho indicam grau de maior concentração de pacientes.
Convergência
A, P3 A, P7 A, L3 A, L7 P3, P7 L3, L7 P3, L3 P7, L7
P0 34,61 38,46 42,30 29,16 65,38 58,33 50 62,5
Legenda: (A) antes; (P3) pastoso 3ml; (P7) pastoso 7ml; (L3) líquido 3ml e (L7) líquido 7ml.
Pacientes Antes Pastoso 3ml Pastoso 7ml Líquido 3ml Líquido 7ml
2 1 2 3 2 3
3 2 2 1 1 1
4 2 1 1 2 1
5 3 4 4 3 3
7 1 3 3 4 3
8 4 4 4 4
10 2 3 3 3 3
11 2 2 2 1 2
12 1 3 1 3
13 1 1 1 2 3
14 3 4 4 4 4
15 2 1 1 1 1
16 2 3 3 2 3
17 0 1 1 1 1
18 1 1 1 1 2
19 3 4 2 3 3
22 2 4 4 4 4
23 3 3 3 3 3
24 3 1 4 1 1
26 3 1 1 2 2
Legenda: os valores de graus em itálica são de pacientes com resíduo.
Na tabela 29, esta a relação de pacientes que apresentaram penetração e/ou aspiração
laringotraqueal categorizados quanto à convergência do traçado, verificou-se que para os
pacientes com penetração, 3 mantiveram-se na mesma categoria de antes da deglutição e 2
aumentaram a convergência do traçado. Para aspiração laringotraqueal, 3 permaneceram na
mesma categorização e 5 aumentaram o espalhamento do traçado.
68
Tabela 29 - Grau da convergência do traçado dos pacientes com penetração e/ou aspiração
laringotraqueal
Convergência
Antes P7 L3 L7
1 2 3 3 2
2 1 3 2 3
5 3 4 3 3
8 4 4 4
9 1 1 1 3
11 2 2 1 2
12 1 1 3
14 3 4 4 4
16 2 3 2 3
18 1 1 1 2
25 1 3 3 3
x(n-5)
x(n-6)
C
x(n) x(n) x(n)
x(n-7)
x(n) x(n)
D E
Figura 21 - Padrão Visual da Dinâmica Vocal com amostras de 50 milissegundos; (A) antes
da deglutição; (B) após deglutição de 3ml de pastoso; (C) após deglutição de 7ml de pastoso;
(D) após a deglutição de 3ml de líquido e (E) após a deglutição de 7ml de líquido
70
5- DISCUSSÃO
- Videofluoroscopia da deglutição
Raut, McKee e Johnston (2001) referem que indivíduos com disfunção faríngea, o
aumento da pressão requerida para a transferência do bolo viscoso pode não ser
adequadamente gerada, resultando em resíduo faríngeo e aspiração. Como neste estudo que
houve resíduo principalmente em valécula, sendo um estudo realizado com pacientes que
71
apresentam alterações neurológicas, onde ocorrem lesões no sistema nervoso central que
podem afetar o controle neuromotor da deglutição (ZAFFARI,2004)
Andrade (2004) referiu que com o aumento do volume ofertado, os indivíduos com
disfagia pós AVC apresentaram maior dificuldade em realizar a limpeza faríngea acarretando
no aumento do resíduo em valéculas e recessos piriformes e, apresentando a fonação
sustentada com voz molhada em toda emissão, na parte central da avaliação videoendoscópica
da deglutição. Neste estudo a alteração mais relacionada com os pacientes que apresentaram
resíduos foi a instabilidade durante a emissão da vogal /a/ sustentada. Para os pacientes com
AVC agudo, verifica-se que muitos deles apresentam mais problemas na deglutição de líquido
do que de semi-sólidos, assim é essencial avaliar a capacidade de deglutição de semi-sólidos
antes do líquido, pois este procedimento passo-a-passo diminui o risco de aspiração durante o
teste e identifica pacientes que toleram a ingesta de semi-sólidos e não de líquidos (TRAPL et
al. 2007). Esta dificuldade maior com a consistência líquida também foi verificada neste
estudo, sendo que para esta consistência houve maior porcentagem de aspiração
laringotraqueal.
- Análise perceptivo-auditiva
Rambaldi (1998) também refere que um gesto motor alterado, como a projeção
anterior de língua nas deglutições atípicas, podem contribuir com o aumento da tensão
muscular na laringe, provocando um desequilíbrio funcional e um sistema hipercinético,
atuando especificamente na coaptação entre as pregas vocais e na pressão sub-glótica.
Neste estudo a qualidade vocal molhada foi considerada em alguns pacientes que
apresentaram resíduo, penetração e/ou aspiração laringotraqueal, podendo-se concordar com
Vale-Prodomo, Carrara-de-Angelis e Barros (2009) que referem que as secreções não
necessariamente estão localizadas sobre as pregas vocais, mas podem estar em todo trato
vocal, caracterizando a produção vocal como “molhada”. Para Murray et al (1996), o acúmulo
de secreção no vestíbulo laríngeo produz a qualidade vocal molhada. E segundo Kendall,
Leonard ( 2001) com a identificação de voz molhada, o clínico deve estar atento aos sinais de
redução da freqüência de deglutição combinada com a fraqueza faríngea, como também deve
prestar atenção à pobre limpeza faríngea após sua constrição incompleta.
videofluoscopia da deglutição, revelou que não houve associação da voz molhada com
resíduo ou ingestão de material na área orofaríngea. Não sendo a voz molhada considerada
como indicativa para a detecção de penetração e/ou aspiração laringotraqueal, argumentando-
se que a qualidade “úmida” poderia ser um sinal de estase de saliva e/ou secreção na via aérea
e não indicativo de bolo alimentar na mesma. Os autores salientaram que a dúvida ainda
permanece, questionando qual condição fisiológica causaria a característica da voz molhada.
Vale-Prodomo, Carrara-de-Angelis e Barros (2009), referem que a presença de secreção ou
saliva durante a produção vocal é outro fator importante a ser observado, pois é o que
caracteriza a qualidade vocal “molhada”.
Segundo Andrade e Camargo (2000), a entrada de alimento nas vias aéreas afeta a
atividade do sistema respiratório, prejudicando o suprimento aéreo necessário para
desencadear os mecanismos de ação laríngea, o que favorece a redução de loudness vocal,
com produção de voz astênica, e escape maior de ar, com produção de voz soprosa, o que não
foi observado neste estudo como um parâmetro sensível para evidenciar estas alterações.
Com relação à análise do padrão visual da dinâmica vocal, neste estudo pode-se
verificar o comportamento de toda a amostra através da presença de irregularidades no
traçado, alteração no número de loops e na convergência das órbitas, pois esta ferramenta nos
75
possibilita visualizar de forma dinâmica o sinal de voz, analisando-o ponto a ponto, o qual
apresenta melhor resolução quando comparada com a análise acústica, que é realizada através
dos valores médios do sinal que muitas vezes mascaram os resultados.
Dajer, Pereira e Maciel (2005) referem que em sinais de voz com jitter elevado
apresentam – em um plano bidimensional – trajetórias que mudam de direção sobre elas
mesmas mostrando-se alternativamente dispersas e concentradas em algumas regiões do
PVDV. Os autores também referem que um sinal de voz periódico produz o espaço de fase
com trajetórias fechadas, quando o sinal é aperiódico observamos irregularidades e trajetórias
confusas. Comparando com este estudo, a maioria das vozes dos pacientes com alteração
neurológica, foram classificadas na categoria de irregularidade intermitente, devido a
presença de ruído nos sinais, assim também como foram classificadas com convergência de
média a fraca devido a alteração de shimmer.
No estudo de Rahn et al. (2005), os achados da análise da dinâmica não linear nos
sujeitos com doença de Parkinson apresentaram um significativo aumento dos valores do
jitter em relação ao grupo controle.
6- CONCLUSÃO
- O PVDV apresenta-se como uma técnica que possibilita a visualização ponto a ponto
das alterações do sinal de voz. A análise qualitativa dos PVDV associada à análise
perceptivo-auditiva e a videofluoroscopia da deglutição fornece informações representando
uma ferramenta não-invasiva e útil para a avaliação e clínica fonoaudiológica para pacientes
com transtornos neurológicos.
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7- ANEXOS
ANEXO 1
92
ANEXO 2
93
ANEXO 3
____________________________________
Assinatura do Responsável ou Paciente
94
ANEXO 4
Protocolo
I- Identificação:
Nome: RG:
DN: Idade: HD:
Utensílios utilizados:
Líquido ( ) copo ( ) canudo ( ) colher
Pastoso
Pastoso Líquido
Antes Após - 3ml Após - 7ml Após – 3ml Após - 7ml
Jitter
Shimmer
SFR
SFF
PA
Ex
Fo
Pastoso Líquido
3ml 7ml 3ml 7ml
Resíduo em cavidade oral
Estase em valécula
Resíduo em recessos piriformes
Penetração laríngea
Aspiração laringotraqueal
Resíduo em TFE