Reabilitação Afasia

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Efeitos da Terapia da Fala em Pacientes Internados

ARTIGO DE REVISÃO

com Disfagia Pós-Acidente Cerebrovascular: Revisão


Sistemática de Estudos Observacionais

Effects of Speech Therapy in Hospitalized Patients


with Post-Stroke Dysphagia: A Systematic Review of
Observational Studies
Joice Santos ANDRADE1, Wagner Walter Oliveira de Jesus SOUZA1, Luiz Renato PARANHOS2,
Danielle Ramos DOMENIS3, Carla Patrícia Hernandez Alves Ribeiro CÉSAR3
Acta Med Port 2017 Dec;30(12):870-881 ▪ https://doi.org/10.20344/amp.9183

RESUMO
Introdução: Como a disfagia pode ser uma das sequelas pós-acidente cerebrovascular encefálico, o objetivo deste estudo foi analisar
o tempo médio de recuperação de doentes com acidente cerebrovascular encefálico e disfagia submetidos à terapia da fala na beira
do leito hospitalar.
Material e Métodos: Revisão sistemática realizada a partir do Preferred Reporting Items is Systematic Reviews and Meta-Analyses.
A busca foi realizada em diferentes bancos de dados, sem restrição de tempo e idioma. Os estudos foram avaliados quanto à sua
qualidade metodológica.
Resultados: De 5671 registos rastreados, cinco estudos foram elegíveis. Obtiveram-se 176 doentes com acidente cerebrovascular
encefálico e disfagia (idades entre 22 e 91 anos - média: 68,95), sem prevalência quanto ao género. A melhora no quadro da disfagia
ocorreu em 84,26% dos sujeitos e o tempo de recuperação entre um e noventa dias (média: 22). Em nenhum estudo foi realizada a
randomização, o cegamento, o manejo de perdas, desistências e realizado com grupo controlo.
Discussão: O sucesso da reabilitação da disfagia orofaríngea como sequela pós-acidente vascular encefálico dependerá da extensão,
da localização da lesão neurológica e da intervenção precoce no leito hospitalar. Apesar do reconhecimento dos profissionais da saúde
sobre a importância da reabilitação da deglutição para esses doentes, há carência de estudos que suportem uma prática baseada em
evidências, embora os resultados apontem melhoras neste sentido.
Conclusão: A terapia da fala na beira do leito em doentes disfágicos pós- acidente cerebrovascular encefálico parece trazer resultados
satisfatórios em curto período de tempo, revelando a importância do diagnóstico e da intervenção da terapia da fala precoces.
Palavras-chave: Acidente Vascular Cerebral/complicações; Hospitalização; Perturbações da Audição; Perturbações da Deglutição;
Revisão; Terapia da Fala; Terapia da Linguagem

ABSTRACT
Introduction: Since dysphagia may be one of the brain post-stroke consequences, the objective of this study was to analyze the
average recovery time of patients with cerebrovascular accident and dysphagia subjected to speech therapy in a hospital bed.
Material and Methods: Systematic review performed following the ‘Preferred Reporting Items is Systematic Reviews and Meta-
Analyses’ instructions. The search was performed in different electronic databases, without restriction of time and language. The
studies were evaluated regarding their methodological quality.
Results: Of 5671 titles, five studies were included. 176 patients with stroke and dysphagia were obtained (aged between 22 and 91
years old – average: 68.95), with no preference regarding gender. Improvement occurred in 84.26% of the subjects and the recovery
time was between one and ninety days (average: 22 days). Randomization, blinding, loss to follow-up and withdrawal were not
performed with control group in any study.
Discussion: The success of rehabilitation of oropharyngeal dysphagia as a post-stroke sequela will depend on the extent, location of
the neurological lesion and early intervention in the hospital bed. Despite the recognition of health professionals about the importance
of swallowing rehabilitation for these patients, there is a lack of studies that support an evidence-based practice, although the results
point to improvements in this regard.
Conclusion: Speech therapy in hospital bed in post-stroke hospitalized patients with dysphagia seems to bring satisfactory results in
the short-term, revealing the importance of diagnosis and early intervention in these cases.
Keywords: Deglutition Disorders; Hearing Disorders; Hospitalization; Language Therapy; Review; Speech Therapy; Stroke/
complications

INTRODUÇÃO
O acidente cerebrovascular encefálico (AVE) ou cere- ração variável, sua gravidade varia de acordo com o local
bral (AVC) é definido como déficit neurológico súbito de- e a intensidade da lesão.1 Segundo o Ministério da Saúde
corrente de um dano cerebral. De instalação aguda e du- do Brasil,2 quase seis milhões de óbitos ocorrem por AVC,
1. Departamento de Disfagia e Fonoaudiologia Hospitalar. INCISA. Belo Horizonte. Brasil.
2. Departamento de Odontologia. Universidade Federal de Sergipe. Lagarto. Brasil.
3. Departamento de Fonoaudiologia. Universidade Federal de Sergipe. Lagarto. Brasil.
 Autor correspondente: Carla César. [email protected]
Recebido: 11 de maio de 2017 - Aceite: 17 de outubro de 2017 | Copyright © Ordem dos Médicos 2017

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representando a terceira maior causa de morte em todo adultos e idosos com acometimento cerebrovascular – de
mundo.3 preferência pela primeira vez e com disfagia orofaríngea

ARTIGO DE REVISÃO
A disfagia orofaríngea pode estar presente em 50% avaliados em estado de alerta, submetidos a terapia da fala
dos casos atendidos por consequências do AVC, sendo, no leito hospitalar.
na maioria das vezes, classificada como grave4 - que sem Os de exclusão foram: 1) Estudos fora do objetivo da
tratamento pode trazer sérios prejuízos ao paciente.5 Nos pesquisa; 2) Relatos de caso, carta ao editor e/ou editorial;
casos de envolvimento neurológico, é tida como disfagia 3) Revisões de literatura, índices e resumos; 4) Em doen-
neurogênica, sendo importante relembrar que a disfagia tes recém-nascidos, crianças e adolescentes; 5) Doentes
orofaríngea é a dificuldade em deglutir saliva ou alimentos6 com AVC sem disfagia ou disfágicos sem AVC e doentes
e o local de maior acometimento é a artéria cerebral mé- sindrômicos, com deficiência intelectual ou encefalopatias
dia.7 progressivas.
O doente com AVC necessita de atendimento multidisci-
plinar, com equipe hospitalar composta por Neurologistas, Fontes de busca
Geriatras, Médicos Intensivas, Cardiologistas, Pneumolo- Foram utilizadas as bases de dados PubMed (incluin-
gistas, Otorrinolaringologistas, Infectologistas, Fisiotera- do Medline), Scopus, Scientific Electronic Library Online
peutas, Nutricionistas, Enfermeiros, Terapeutas Ocupa- (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ci-
cionais, Psicólogos, Terapeutas da Fala,8 Geriatras entre ências da Saúde (LILACS), OpenGrey e Google Scholar. O
outros. PubMed foi selecionado por ser uma biblioteca virtual livre
A terapia da fala tem papel relevante no tratamento das que permite o acesso as pesquisas na língua inglesa na
disfagias orofaríngeas, possibilitando condições satisfató- área médica, o MedLine por disponibilizar acervo da área
rias e seguras de alimentação, minimizando engasgos e biomédica, sendo que tanto o PubMed quanto o Scopus
broncoaspirações.9 No ambiente hospitalar, a terapia da estão entre as maiores bases de dados da área da saúde.
fala pós-AVC tem como objetivos a avaliação, a orienta- A SciELO é um banco eletrônico de dados que engloba pu-
ção e a reabilitação. A intervenção deve acontecer preco- blicações de 14 países e com uma área específica para a
cemente (entre 24 e 48 horas pós-evento e com o doente saúde coletiva, além de favorecer a aquisição de literatura
clinicamente estável) para identificação rápida da disfagia brasileira publicada em revistas científicas divulgadas na
orofaríngea e prevenção de suas complicações, possibi- Internet. A LILACS por possibilitar a visualização de pesqui-
litando redução do tempo de internamento,10 do risco de sas latino-americanas e do Caribe. O OpenGrey e o Google
morte e a recuperação da qualidade de vida (QV) desses Scholar foram usados para pesquisar a literatura cinzenta e
doentes, pois há prejuízos na QV desses sujeitos em rela- evitar viés de seleção e publicação. Utilizou-se o OpenGrey
ção à fadiga, saúde mental e social, ao tempo de alimenta- por ser uma fonte de dados de literatura cinzenta europeia.
ção e medo de se alimentar.11 Especificamente do Google Scholar foram selecionados os
Observa-se ainda carência de estudos que possam 100 primeiros registos de cada combinação, excluindo pa-
responder se há diferença em dias, de recuperação da dis- tentes e citações. Quando necessário, foi tentado o contato
fagia orofaríngea de doentes que foram submetidos a tal por correio eletrônico com alguns autores.
intervenção quando comparados àqueles que não foram.
No entanto, se supõe que com a intervenção pode haver a Estratégia de pesquisa
minimização do índice de morbidades.12 Foram selecionados os descritores em português pelos
O objetivo desta pesquisa foi responder à questão clí- Descritores em Ciências da Saúde (DeSC) da Biblioteca
nica: “Qual o tempo médio de recuperação para introdução Virtual em Saúde (BVS): “transtornos de deglutição”,
de ingesta oral em doentes pós-AVC quando submetidos a “fonoaudiologia” e “acidente vascular cerebral”, verificando
terapia da fala no leito, independente do tipo (isquémico ou seus similares em espanhol: “disfagia”, “enfermedad
hemorrágico)?”. cerebrovascular” e “trastorno de la deglución”. Em inglês,
a partir do Medical Subject Headings (MeSH) do sistema
MATERIAL E MÉTODOS Medline-PubMed: “deglutition disorders”, “stroke” e “speech
Protocolo e registo therapy”. Os descritores foram utilizados com os operadores
Revisão sistemática realizada a partir das recomenda- booleanos “AND” e “OR”. A busca ocorreu em outubro de
ções do Preferred Reporting Items is Systematic Reviews 2015 e os registos obtidos foram exportados para o soft-
and Meta-Analyses (PRISMA - www.prisma-statement. ware Mendeley™ Desktop 1.13.3 (Mendeley™ Ltd, Londres,
org)13 e registada no PROSPERO com o protocolo número ING), para verificar duplicações.
CRD42016039734 (http://www.crd.york.ac.uk/PROSPE-
RO). Forma de seleção dos estudos
Inicialmente os revisores de elegibilidade (JSA e WWO-
Critérios de elegibilidade JS) foram calibrados para a realização da revisão siste-
Os critérios de inclusão utilizados no estudo foram: estu- mática por CPHARC e LRP. Após a calibração e retirada
dos transversais observacionais, sem restrição de período, de dúvidas, os títulos e resumos foram examinados por
idioma e status de publicação e, em relação aos doentes, dois revisores de elegibilidade (JSA e WWOJS), de forma

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independente, os quais não estavam cegos para o nome (LRP e CPHARC), de acordo com a recomendação PRIS-
dos autores e das revistas. Aqueles que apresentaram um MA.13 A avaliação priorizou a descrição clara das informa-
ARTIGO DE REVISÃO

título dentro do âmbito, mas os resumos não estavam dis- ções. Neste ponto, a revisão foi realizada às cegas, masca-
poníveis, também foram obtidos e analisados na íntegra. rando os nomes dos autores e revistas, evitando qualquer
Nesse momento foram excluídos estudos fora do âmbito, viés potencial e conflito de interesses.
relatos de caso, cartas ao editor e/ou editorial, revisões de Posteriormente, foi verificada a qualidade metodológica
literatura, índices, resumos e estudos em animais. (Tabela 1), assinalando-se a pontuação obtida, por meio
Posteriormente, os estudos elegíveis preliminarmente de um protocolo para pontuação qualitativa dos estudos
tiveram o texto completo obtido e avaliado. Em casos es- selecionados, modificado da literatura,14 com scores, sen-
pecíficos, quando o estudo com potencial de elegibilidade do categorizados como de alta qualidade - entre 13 e 11
apresentasse dados incompletos, os autores foram conta- pontos, moderada qualidade - entre 10 e 6 pontos e baixa -
tados por e-mail para mais informações. Na inexistência de aquém de 6 pontos (Tabela 1). Foram incluídos no trabalho
acordo entre os revisores, um terceiro (CPHARC) foi en- estudos que obtivessem pontuação ≥ a 6 pontos.
volvido para a decisão final. Os estudos rejeitados foram
registrados separadamente, juntamente com as razões da Resultado clínico
exclusão. O resultado clínico de interesse foi o tempo de inter-
namento de doentes com disfagia orofaríngea pós-AVC,
Dados coletados desde que submetidos a terapia da fala na beira do leito
Após a triagem, os textos dos artigos selecionados fo- hospitalar. Aqueles que não receberam terapia da fala no
ram revisados e extraídos de forma padronizada por dois momento do internamento hospitalar não fizeram parte da
autores (JSA e WWOJS) sob a supervisão de CPHARC e amostra da revisão de literatura.
DRD, identificando-se ano de publicação, local da pesqui- Sendo assim, os estudos foram analisados quanto ao
sa, idioma de publicação, tipo de estudo, amostra, método, tempo adotado para o procedimento até a alta do doente,
resultado e conclusão do estudo. realizando-se a síntese descritiva das pesquisas incluídas.
Estudo de metanálise foi planejado caso os procedimentos
Risco de viés fossem relativamente homogêneos.
A qualidade dos métodos utilizados nos estudos incluí-
dos foi avaliada pelos revisores de forma independente
Tabela 1 - Protocolo para pontuação qualitativa da metodologia, modificado de Pithon et al,14 com score máximo de treze pontosa
1. Caracterização do estudo (pontuação máxima: treze)
A. Descrição adequada da população (pontuação máxima: dois)
Itens analisados: idade, sexo e condição do doente:
Dois pontos quando todos os itens foram atingidos;
Um ponto quando dois itens foram atingidos;
Zero pontos quando um ou nenhum item foi atingido.
B. Descrição dos critérios de seleção (pontuação máxima: um) b
C. Tamanho da amostra (pontuação máxima: dois)
Item analisado: número de participantes:
Dois pontos quando a amostra foi igual ou maior do que 31 (*) participantes;
Um ponto quando a amostra esteve entre 30 e 19 participantes;
Zeros ponto quando houve menos do que 19 participantes.
D. Comparação com grupo controle (pontuação máxima: um) b
E. Randomização declarada (pontuação máxima: um) b
F. Descrição dos critérios de avaliação da deglutição (pontuação máxima: um) b
G. Descrição da avaliação do AVC (pontuação máxima: um) b
2. Descrição das medidas do estudo (pontuação máxima: dois)
H. Método apropriado ao objetivo do artigo (pontuação máxima: um) b
I. Estudo cego para os examinadores e estatística (pontuação máxima: um) b
3. Análise estatística (pontuação máxima: dois)
J. Teste estatístico adequado (pontuação máxima: um) b
K. Apresentação do p-valor (pontuação máxima: um) b
a: alta qualidade: entre 13 e 11 pontos; moderada qualidade entre 10 e 6 pontos; baixa qualidade abaixo de 6 pontos.
b: itens B, D, E, F, G, H, I, J, K: 1 ponto quando foi considerado adequado e 0 pontos quando não foi.
* número obtido a partir da quantidade de sujeitos de uma pesquisa brasileira.15

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Tabela 2 - Quantidade de acervo obtido a partir da consulta dos descritores nos bancos de dados Google Scholar, LILACS, PubMed,

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Scopus e OpenGrey
Descritores Nº Excluídos Motivos Selecionados Bancos de dados
Avaliação (37), faixa etária (5),
Transtorno de Deglutição AND revisão (7), outros temas (29),
100 99 1 Google Scholar
Acidente Vascular Encefálico duplicados (18), outras patologias (6)
AND Fonoaudiologia e dissertações (3)
0 0 - 0 SciELO
0 0 - 0 ScIELO

Transtorno de Deglutição AND Avaliação (11 artigos), faixa etária


Fonoaudiologia (8), revisão (6), outras patologias (3),
45 44 1
outros temas (12), capitulo do livro (3)
e duplicado (1) LILACS
Acidente Vascular Encefálico 15 15 Avaliação (3) e outros temas (12) 0 LILACS
AND Fonoaudiologia 4 4 Avaliação (1), outros temas (3). 0 SciELO
Revisão (4), avaliação (14), outros
Transtorno de Deglutição AND 34 30 temas (10), artigo duplicado (1) e 4 LILACS
Acidente Vascular Encefálico editorial (1)
0 0 - 0 SciELO
6 6 Avaliação (5) e duplicado (1) 0 LILACS
Avaliação (36), faixa etária (2), outras
86 85 patologias (9), outros temas (36) e 1 PubMed
protocolo (1)
0 0 - 0 OpenGrey
Deglutition Disorders AND
Stroke AND Speech Therapy 0 0 - 0 SciELO
Avaliação (2), outras patologias (2),
outros temas (21), protocolos (2),
73 72 revisão de literatura (15), resumo de 1 Scopus
congresso (1), editorial (1), estudo de
caso (1)
Avaliação (18), faixa etária (12),
revisão (4), outras patologias (10),
76 76 0 Lilacs
outros temas (28), capitulo de livro (1)
e duplicado (1)
Avaliação (40), faixa etária (31),
revisão (15), outras patologias (65),
429 428 1 PubMed
Deglutition Disorders AND outros temas (263), estudo de caso
Speech Therapy (14) e resumo (1)
0 0 - 0 OpenGrey
3 3 Revisão de literatura (3) 0 Scielo
Revisão (127), resumo de congresso
688 688 (27), editorial (10), carta (10), outros 0 Scopus
temas (514)

Avaliação (4), revisão (2), outros


22 22 0 LILACS
temas (14) e duplicados (2)

Avaliação (43), faixa etária (13),


revisão (39), outras patologias (187),
1026 1020 6 PubMed
outros temas (690), cap livro (7),
duplicados (41)
Stroke AND Speech Therapy
4 4 Teses (outros temas: 4) 0 OpenGrey
Avaliação (2) duplicado (2) outros
11 10 1 SciELO
temas (6)
Revisão (273), Resumo de Congresso
(56), Carta (37), resultados
1832 1831 1 Scopus
preliminares de pesquisa (32), outros
temas (1430), duplicado (3)
(A Tabela 2 continua na próxima página)

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Tabela 2 - Quantidade de acervo obtido a partir da consulta dos descritores nos bancos de dados Google Scholar, LILACS, PubMed,
Scopus e OpenGrey
ARTIGO DE REVISÃO

Descritores Nº Excluídos Motivos Selecionados Bancos de dados


Avaliação (24), revisão (3), outras
39 38 patologias (2), outros temas (2) e 1 LILACS
duplicados (2)
Avaliação (91), faixa etária (22),
Deglutition Disorders AND revisão (37), outras patologias (73),
Stroke 1063 1059 outros temas (802), estudo de caso 4 PubMed
(6), capítulo de livro (3), duplicados
(25)
0 0 - 0 Scielo
1 1 Tese (outro tema) 0 OpenGrey
Disfagia, enfermedad 1 1 Outro tema (1) 0 LILACS
cerebrovascular, trastorno
0 0 - 0 OpenGrey
de la deglución and
fonoaudiologia 0 0 - 0 SciELO
Outros temas (27), faixa etária (3),
Avaliação (10), revisão (3), outras
patologias (10), duplicados (3),
78 78 0 LILACS
monografia/tese (13), comentário (1),
cap de livro/livro (6), estudo de caso
Disfagia and fonoaudiología (2)
0 0 - 0 OpenGrey

Outros temas (22) Avaliação (4),


31 31 Revisão de literatura (2) outra 0 SciELO
patologia (3)

1 1 Outro tema (1) 0 LILACS


Enfermedad cerebrovascular
0 0 - 0 OpenGrey
and fonoaudiología
0 0 - 0 SciELO
3 3 Outros temas (2), avaliação (1) 0 LILACS
Enfermedad cerebrovascular
0 0 - 0 OpenGrey
and trastorno de la deglución
0 0 - 0 SciELO
Total 5.671 5.649 22

RESULTADOS (WSO) o ‘Dia Mundial de Combate ao AVC’ - 29 de outubro.


A partir dos descritores eleitos, os bancos de dados fo- Dentre várias das consequências do AVC está a disfa-
ram consultados e foram obtidos os resultados disponibili- gia, que pode acometer entre 30% e 90% dos casos, sendo
zados na Tabela 2. que sua gravidade dependerá do tamanho e localização da
Como pode ser observado na Fig. 1, de 5671 pesqui- lesão. As consequências são a pneumonia19 por broncoas-
sas, foram lidos 22 integralmente e destes, descartados 17 piração de saliva ou alimentos20 e a desnutrição.19 Tais fa-
por não responderem ao objetivo proposto. tores podem prejudicar o quadro clínico do doente, levando
Dos cinco que atenderam ao objetivo proposto, anali- inclusive a óbito.12
sou-se a qualidade metodológica, obtendo-se classificação Assim, a instauração de medidas interdisciplinares é
moderada e, portanto, lidos integralmente, sintetizados e necessária para melhor atenção em saúde tanto ao doen-
disponibilizados na Tabela 3. te quanto à sua família, incluindo a ação do terapeuta da
fala na beira do leito hospitalar. Neste sentido, o presente
DISCUSSÃO estudo teve como proposta analisar, por meio de revisão
O AVC é a terceira causa de morte nos países indus- sistemática, o efeito da terapia da fala no leito hospitalar
trializados e a principal causa de incapacidade funcional em doentes disfágicos pós-AVC e, se possível, em quantos
entre toda a população mundial. No Brasil são registrados dias esses benefícios, caso encontrados, poderiam ser ob-
aproximadamente 100 000 óbitos por ano e, segundo a tidos. A pesquisa não tinha limite de ano, porém só a partir
Sociedade Brasileira de Neurologia, uma pessoa falece a de 2008 foram obtidos artigos que pudessem responder à
cada cinco minutos no País em decorrência deste acometi- pergunta clínica.
mento,18 evidenciando a necessidade de atenção em ações Como a maioria dos estudos foi retrospectivo,9,10,15-16 ou
preventivas no combate ao AVC. Tamanha é sua importân- seja, a partir do estudo de pastas, a comparação poderia
cia, que em 2010 foi criado pelo World Stroke Organization ter sido realizada analisando-se a quantidade de dias de

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PubMed SCieLo LILACS Google Scholar OpenGrey Scopus
(n = 2604) (n = 49) (n = 275) (n = 100) (n = 5) (n = 2593)
Identificação

Registos depois de removidos os estudos duplicados (n = 99)


Blindagem

Registos excluídos pela


análise de títulos e resumos
Registos blindados (n = 5671)
(n = 5649)
Elegibilidade

Artigos completos avaliados pela elegibilidade (n = 22)


Artigos não aprovados
(n = 17)
Incluídos

Artigos incluídos para síntese qualitativa (n = 5)

Figura 1 – Fluxograma com a estratégia de busca e seleção dos artigos

internamento antes da inserção do terapeuta da fala no ser- fala realizada na beira do leito hospitalar e que o Brasil
viço e após, não infringindo os aspectos éticos que regem desponta como um país que vem se preocupando com o
as pesquisas com seres humanos. Porém, pela impossibili- assunto.
dade desta variável de análise, foram considerados os dias Apesar da preocupação, os estudos necessitam de
médios de internamento a partir da terapia da fala na beira maior qualidade metodológica, como a inserção de parâ-
do leito hospitalar. Apenas uma pesquisa17 realizou pesqui- metros para minimizar o risco de viés, tais como a rando-
sa experimental ‘antes-depois’ com um único grupo, porém, mização com amostras aleatórias, controladas, bem como
foram estipuladas as quantidades de sessões de terapia da cegadas para o tratamento e estatística.
fala de quinze sessões, por um prazo médio de um mês, Dos 151 doentes com AVC e disfagia que fizeram par-
para a avaliação dos benefícios obtidos a partir da respec- te da amostra dos estudos, não houve prevalência quanto
tiva intervenção, sendo evidenciados ganhos na qualidade ao género acometido (embora a amostra feminina tenha
da alimentação, no aporte nutricional e na diminuição da sido ligeiramente maior: 63 doentes), evidenciando que
ansiedade – embora estes dois últimos sem relevância es- tanto homens quanto mulheres podem apresentar fatores
tatística. de risco para a disfagia pós-AVC. Alguns estudos17,21-24
De 5671 títulos possíveis, apenas cinco estudos foram apontaram aumento de ocorrência de disfagia pós-AVC
incluídos (0,88% do total), todos publicados no idioma por- no género masculino (aproximadamente 20% a mais do
tuguês, realizados no Sul ou no Sudeste brasileiro, eviden- que no feminino) – contrariando os achados encontrados,
ciando que há carência de estudos relacionados à prática em que o inverso ocorreu (com percentual de diferença
baseada em evidências científicas relativas à terapia da de 16,67% a mais para as mulheres). Cabe ressaltar, no

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Tabela 3 - Síntese dos cinco estudos obtidos de acordo com a autoria, local de publicação e idioma de publicação.
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Autoria, ano, local de realização do estudo e Tipo do estudo e caracterização Método de avaliação do Método de avaliação da disfagia
idioma de publicação da amostra AVC

Furkim; Sacco (2008),16 São Paulo, idioma: Estudo retrospectivo com o Clínico Avaliação clínica da terapia da fala
português. levantamento dos prontuários (valor da FOIS pré-terapia) e no dia
de doentes, com diagnóstico de da alta da terapia da fala (valor da
disfagia orofaríngea de janeiro de FOIS pós-terapia).
2007 a maio de 2008.
A amostra contou com 49 doentes,
34 (69,4%) do sexo feminino e
15 (30,6%) do masculino. Idade
mínima foi de 22 anos e a máxima
de 91 anos e média de idade de
69,43. Não foi relatado o grau de
severidade da disfagia.

Abdulmassih et al (2009),10 Curitiba/PR, Estudo clínico não randomizado e Diagnóstico médico Estudo endoscópico da deglutição e/
idioma: português. não controlado, com 39 doentes, clínico ou videofluroscopia.
sendo 24 (61,54%) do sexo
masculino e 15 (38,46%) do
feminino, na faixa etária entre 35 e
90 anos, (média de 66 anos).
14 doentes (36%) com disfagia
leve, 16 moderada (41%) e 9
severa (23%).

Silvério; Hernandez; Gonçalves (2010),15 Estudo retrospectivo, com 50 Não relatado Presença de sintomatologia de
São Paulo, Brasil, idioma: português. doentes adultos, dividido em três disfagia, com observação da evolução
grupos, de acordo com a patologia das consistências ingeridas pela
de base, sendo 31 (62%) com escala FOIS.
diagnóstico de AVC. Média de
idade de 73 anos. Não foi indicado
o grau de severidade da disfagia
orofaríngea neurogênica, nem o
género e idade dos participantes.

Drozdz et al (2014),17 Santa Maria, Rio 12 doentes com idade mínima: 38 e Diagnóstico médico Uso de protocolos: Protocolo de
Grande do Sul, Brasil, idioma inglês máxima: 85 - média de idade: 64,6. confirmando o AVC Avaliação do Risco para a Disfagia
Nenhum doente com deglutição hemorrágico e isquémico (PARD), avaliação do sistema
normal; Deglutição funcional: dos doentes estomatognático, ausculta cervical,
16,7%, disfagia média: 25%, oxímetro e a Escala de Ingesta Oral
de média para moderada: 33,3; Funcional (FOIS)
moderada para severa: 25%. Na
Escala de Ingesta Oral Funcional
(FOIS) 88,2% apresentaram score
1 e 11,8%, score 2.

Inaoka; Albuquerque (2014)9, Rio de De 161 doentes, 20 adultos foram Não relatado Presença de sintomatologia de
Janeiro, Brasil, idioma: português. selecionados. disfagia.
14 do sexo feminino (70%), idade
mínima: 38 anos e máxima: 88 -
média de idade de 71,85 anos (±
14,41). Não foi indicado o grau de
severidade da disfagia orofaríngea.

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ARTIGO DE REVISÃO
Proposta da terapêutica da fala à beira Resultado clínico (tempo e motivo de alta) Conclusão do estudo
do leito

Exercícios miofuncionais orofaciais, 36 (73,5%) doentes melhoraram na FOIS pós- O estudo permitiu observar que a maioria dos
de elevação laríngea, manobras de terapia, 11 doentes (22,4%) mantiveram o mesmo doentes que realizou um programa de reabilitação
reabilitação e estimulação térmica. nível na escala FOIS pré e pós terapia da fala, da disfagia no período de internação se beneficiou
enquanto que 2 doentes (4,1%) apresentaram piora deste, conseguindo evoluir o nível de ingestão de
na FOIS durante o processo terapêutico. A piora alimento por via oral, aferido pela escala FOIS.
desses dois doentes foi associada à piora clínica da
doença de base.
Tempo de tratamento entre 3 e 90 dias.

Promoção de uma deglutição eficiente e 1. No diagnóstico clínico da terapia da fala 100% 95% tiveram alta hospitalar com alimentação
segura e de acordo com a necessidade apresentaram quadro de disfagia. por via oral (estado bom) e bom prognóstico de
de cada doente, com orientações básicas. 2. Quanto ao grau de disfagia inicial houve retorno à via oral (estado regular), garantindo uma
Terapia da fala com manobras posturais; prevalência do grau moderado, seguida pelo grau boa qualidade de vida, efetividade e segurança
para proteção da via aérea e manipulação leve. dessa alimentação, aporte nutricional e emocional
de alimentos. 3. Nas condutas da terapia da fala, o uso do doente. Somente 5% não apresentaram estado
concomitante das manobras posturais, protetivas e clínico satisfatório, permanecendo com sonda
manipulação de alimentos apresentaram excelente gástrica ou enteral.
resultados.
4. Na alta hospitalar a prevalência foi de sujeitos
que apresentaram estado clínico de nível bom,
alimentando-se por via oral, com algumas
modificações posturais e/ou da consistência
alimentar sem o uso de sonda.
Tempo de tratamento variável: sete doentes (17%)
permaneceram de um a cinco dias, quinze (39%)
permaneceram de cinco a dez dias, dois (5%)
permaneceram de dez a quinze dias e quinze (39%)
permaneceram tempo superior a quinze dias.

Análise dos seguintes aspectos: Foi observada evolução satisfatória na escala Todos os doentes hospitalizados com disfagia
progressão das consistências alimentares (FOIS) nos três grupos do estudo (AVC, doentes orofaríngea, nas três patologias estudadas,
pela escala FOIS; das ocorrências de com traumatismo crânioencefálico e demência), tiveram aumento na ingestão oral e maior número
broncopneumonias (BCP) antes e durante com aumento da ingestão oral evoluindo da escala de consistências ingeridas quando submetido s à
a atuação da terapia da fala, o números 1 FOIS para escala 5 nos doentes pós-AVC em terapia da fala a beira do leito como também uma
de atendimentos e os motivos de sua período menor quer 14 dias, bem como a maioria redução das BCP, porém o grupo com AVC ainda
interrupção. Não foram descritos os diminuiu a ocorrência de BCP (de 80,65% para necessitaria de maior tempo de intervenção para
métodos terapêuticos adotados. 6,45%), embora a alta hospitalar tenha sido o maior atingir maior eficácia para deglutição segura.
motivo de alta dos doentes do grupo com AVC.
Sessões diárias. Número de atendimentos: entre
três e 47 (média: 15,84 ± 10,57).

Uso da terapia direta e indireta, sendo Após 15 sessões de intervenção (40 minutos cada) Houve evolução estatisticamente significante
esta última para melhorar a fisiologia da na beira do leito, houve diminuição do grau da do nível de disfagia e da ingestão oral após
deglutição. Para tanto, foram realizados disfagia orofaríngea, com valores estatisticamente a intervenção da terapia da fala na beira do
exercícios isotônicos, crioestimulação significantes. Após o procedimento: Deglutição leito. Apesar de não ter sido revelado índices
e o sabor amargo. Manobras posturais normal: 16,7%, deglutição funcional: 25%; disfagia estatisticamente significantes, houve um
utilizadas: de limpeza e de Masako. média: 33,3%, disfagia média para moderada: progresso também em relação à ansiedade e ao
16,7% e disfagia severa: 8,3% e os escores FOIS estado nutricional dos doentes disfágicos pós-
escore 7: 41,7%, escore 5: 25%; escore 4: 8,3%; AVC.
escore 3: 16,7% e escore 1: 8,3%. Tempo médio de
permanência dos doentes no hospital: 30 dias.

Análise da efetividade na progressão As análises realizadas revelaram que 15 (75%) Verificou-se a efetividade da atuação da terapia
da alimentação por via oral, em doentes melhoraram na ingesta oral, 4 (20%) não evoluíram da fala beira leito na evolução das consistências
pós-AVC pela escala ASHA-NOMS, e 1 (5%) piorou. No primeiro grupo, foi possível alimentares na grande maioria dos doentes. A
com intervenção da terapia da fala na retirar a via alternativa de alimentação em piora clínica e a queda no nível de consciência
beira do leito, porém sem descrição dos 76,9% (10 doentes) e em 92,3% (12 sujeitos) foi interferem diretamente na intervenção da terapia
procedimentos adotados. reintroduzida a alimentação via oral – ambos em da fala, interferindo na evolução terapêutica pelo
menos de 10 dias (média: 3 dias ± 2). uso da escala ASHA-NOMS.

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entanto, que dentre os estudos da amostra utilizados para o -, que classifica o doente quanto ao nível de alimentação
cálculo, um deles não citou a quantidade de sujeitos quanto por via oral, tais como: nível I: nada por via oral, ou seja,
ARTIGO DE REVISÃO

ao género15 e outro17 citou apenas a quantidade inicial, an- o doente que se alimenta exclusivamente por via alterna-
tes da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, com tiva de alimentação; nível II: dependência de via alterna-
amostra inicial de quatorze homens e quatro mulheres, per- tiva, com mínima oferta de via oral de alimento ou líquido.
fazendo amostra final de doze sujeitos. São os doentes que se alimentam por via alternativa de
Quanto à faixa etária, as amostras foram constituídas alimentação e recebe estímulos gustativos ou ofertas de
com doentes entre 22 e 91 anos (média: 68,97). Alguns pequeno volume por via oral; nível III: dependência de via
fatores de risco como distúrbio da coagulação, doenças alternativa, com oferta consistente de via oral de alimento
inflamatórias, imunológicas e uso de drogas podem con- ou líquido. Representam os doentes nutridos por via alter-
tribuir para que o AVC ocorra precocemente. Pesquisa- nativa, mas também ingerem via oral, geralmente de uma
dores25 demostraram incidência de 10% em doentes com única consistência, mais para prazer alimentar; nível IV: via
idade inferior a 55 anos e 3,9% com idade inferior a 45 oral total, mas limitada a uma única consistência. Quando o
anos, evidenciando maior concentração em idosos, como indivíduo recebe somente alimentação por via oral, sendo
o observado na amostra total da literatura consultada. esta constituída somente por uma consistência; nível V: via
Muito provavelmente porque indivíduos acima de 60 anos oral total, com mais de uma consistência, mas com neces-
apresentam maiores chances de apresentarem alterações sidade de preparo especial. Compreendem os indivíduos
cardiovasculares e metabólicas ligadas à idade, segundo a que podem ingerir mais de uma consistência de alimento,
literatura. 26 porém ainda há necessidade de preparo especial ou com-
Em relação aos diagnósticos do AVC e da disfagia, a pensação como, por exemplo, ser bem cozido ou batido;
maioria dos estudos utilizou o diagnóstico clínico. Essa nível VI: via oral total, com mais de uma consistência, sem
avaliação é, geralmente, soberana e preponderante à labo- necessidade de preparo especial, porém com restrição de
ratorial e de imagens, porém, para que ocorra o diagnóstico alguns alimentos. Quando o doente por ingerir múltiplas
etiológico do AVC, alguns exames podem e devem ser so- consistências sem preparo especial, mas apresenta algu-
licitados, como o uso de imagens (radiografia, ressonância mas restrições, como por exemplo, líquidos somente gasei-
e tomografia), contrastados ou não, para a verificação das ficados ou restrição de grãos secos e nível VII: via oral total,
condições anatomofuncionais do sistema nervoso central e sem restrições, englobando os indivíduos que apresentam
periférico. Como os sintomas do AVC incluem paralisia de oferta livre de alimento. Essa gradação pode ser aplicada
membros, dificuldades de fala e comunicação, problemas ao longo de todo o processo terapêutico.
de memória, raciocínio e dificuldades de visão, testes clíni- Em relação à utilização desse protocolo, três15-17 (60%)
cos também são utilizados para fechar o diagnóstico. 27 publicações fizeram uso desse instrumento, evidenciando
Para a avaliação e diagnóstico da disfagia exames ob- sua importância no uso clínico na beira do leito hospitalar.
jetivos podem ser realizados, complementando a avaliação Quanto à reabilitação, deve ser realizado de acordo
clínica. A videofluoroscopia da deglutição28 é considerada com a necessidade de cada doente, com o planejamento
padrão-ouro, pois permite a visualização simultânea das de um programa de reabilitação da deglutição, composto
fases oral, faríngea e esofágica da deglutição e a interação por avaliações, análise da gravidade dos casos e risco de
entre elas em tempo real. Neste procedimento há radiação disfagia em uma perspectiva gerencial.34
por meio da oferta de contraste de bário misturado a ali- Na literatura são descritas algumas técnicas na reabi-
mentos líquidos, pastosos e sólidos, em volumes crescen- litação da deglutição como: estimulação térmica e gusta-
tes, permitindo também testar manobras posturais facilita- tiva,35 manobras posturais, gerenciamento de volumes e
doras e alterações dietéticas (consistência), detectando a consistências e exercícios miofuncionais.36
presença e o tempo de aspiração. Porém, o inconveniente Na amostra selecionada três estudos9,16-17 fizeram refe-
desse exame é o posicionamento do doente, havendo con- rência quanto ao uso das estimulações térmica e gustativa
traindicações em doentes acamados em virtude da sobre- como procedimentos da terapia da fala para reabilitação da
posição de imagens. Assim, na beira do leito utiliza-se, com deglutição, em especial, o frio e o amargo.17
maior frequência, a videoendoscopia. Quanto ao estímulo gustativo, estudos mostraram que
Tal procedimento consiste na avaliação funcional da de- nos indivíduos pós-AVC o tempo de resposta motora farín-
glutição por nasofibroscopia, que simula uma refeição, com gea é menor quando o bolo alimentar com sabor azedo é
oferta de alimentos em diferentes consistências e quantida- deglutido. As vias neuronais do sabor, quando estimuladas
des, sob visão direta pelo nasofibroscópio. 29 com forte sabor, como o azedo, podem servir como estímu-
A possibilidade de se visualizar a presença de resíduos lo de alerta para o tronco cerebral e centros corticais da de-
faríngeos e a ocorrência de penetração são importantes, glutição, explicando a mudança significativa nas medidas
tendo em vista que há associação entre ambos, acarretan- de tempo em relação às fases da deglutição.37
do em aspiração laringotraqueal em indivíduos pós-AVC.30 Estudo38 com 22 indivíduos com história de um ou mais
Podem também ser utilizados protocolos para avaliar episódios de disfagia pós-AVC, analisou a dinâmica de de-
a eficácia da terapia da fala na reabilitação da via oral,31 glutição pela videofluoroscopia e aplicou estimulação térmi-
como o functional oral intake scale (FOIS)32-33 – validado ca (fria) no pilar das fauces com espelho laríngeo antes do

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indivíduo deglutir o bolo e, em outro momento, não houve Da amostra selecionada, três estudos9,16-17 citaram os
aplicação térmica. O grupo que recebeu a referida aplica- exercícios miofuncionais como uma das estratégias de

ARTIGO DE REVISÃO
ção apresentou tempo de trânsito faríngeo e orofaríngeo reabilitação da deglutição, porém nos outros estudos os
menor que o que não recebeu o estímulo. autores relataram que os doentes selecionados foram sub-
Isto porque na estimulação térmica a frio há a facilitação metidos à terapia da fala, sem descrever os procedimentos
da contração muscular, podendo ser utilizada para estimu- utilizados, limitando a interpretação desses dados.
lar as células intraorais que apresentam um grande número Os exercícios miofuncionais orofaciais são utilizados no
de termorreceptores para tal estímulo, além de a sensação tratamento das disfagia orofaríngeas para preparar a mus-
tender a permanecer por mais tempo.39 culatura para a organização do alimento na cavidade oral,
As manobras posturais citadas pelos autores consulta- formação do gradiente pressórico, ejeção e propulsão do
dos10,16-17 foram consideradas eficazes na reabilitação da bolo alimentar, considerando-se a dinâmica da deglutição.40
deglutição. Uma pesquisa10 apenas citou sua utilização, já A melhora no quadro de disfagia orofaríngea de ordem
outra16 descreveu as manobras posturais utilizadas para neurogênica ocorreu em todos os estudos incluídos,9,10,15-17
proteção da via aérea em doentes com disfagia orofarín- sendo possível constatar média de melhora em 84,26%
gea, como: deglutir com a cabeça inclinada com o queixo dos casos. Sendo assim, a terapia da fala no leito hospita-
para baixo ou com cabeça inclinada para o lado não afeta- lar contribui para diminuir os riscos de broncopneumonias
do, como também deglutição supraglótica, com orientação aspirativas e favorecem a oferta de alimentação com se-
prática sendo direcionada ao doente e cuidador. Pesqui- gurança, proporcionando menor desequilíbrio nutricional e
sadores17 citaram as manobras de limpeza – também co- melhora da QV desses doentes.10
nhecida como double swallow, utilizada pelos doentes com No Brasil e no mundo faltam estudos que evidenciem o
alteração no controle do bolo alimentar dentro da cavidade tempo gasto por atividade desenvolvida e o tempo médio
oral, auxiliando na organização dos movimentos para a de- de melhora dos doentes a partir da descrição detalhada das
glutição e na limpeza oral, sendo solicitado ao doente que técnicas utilizadas em prontuários. Autores41 descreveram
faça, sempre, deglutição dupla ao engolir os alimentos - e as Recomendações Canadenses para a Intervenção em
a de Masako (deglutir com a língua entre os dentes), que Doentes com AVC, apontando que o tempo mínimo gasto
propicia o aumento da constrição das paredes laterais e com cada profissional (terapeuta ocupacional, terapeuta da
posteriores da faringe, beneficiando a propulsão do bolo fala e fisioterapeuta) deveria ser, no mínimo, uma hora por
alimentar. dia, sendo verificado que, na prática, o tempo é inferior ao
As mudanças de postura podem ser as seguintes: a) recomendado. No caso da Terapia da Fala Canadiana, o
Cabeça para baixo: objetiva proteger a via aérea inferior; b) gasto médio tem sido de 19,2 minutos/dia/doente, englo-
Cabeça para trás: auxiliar na propulsão do bolo; c) Cabeça bando a consulta, a avaliação e a terapia.
virada para o lado comprometido: isola comprometimentos Resolução brasileira do Conselho Federal de Fono-
laterais de parede faríngea e prega vocal; d) Cabeça audiologia Nº 48842 apresenta o dimensionamento de oito
inclinada para o lado bom: facilitar a descida do bolo pelo doentes/período quando adultos e de seis, quando idosos,
lado mais preservado e e) Deglutição supraglótica: que no âmbito hospitalar para consulta. Recomenda 40 minutos
tem o objetivo de proteger a via aérea maximizando o para a avaliação endoscópica da deglutição e 1h20 para o
fechamento das pregas vocais – nesta situação, o doente videodeglutograma ou videofluoroscopia. Para terapia hos-
deve inspirar, segurar a inspiração, deglutir e tossir após a pitalar, recomenda até sete clientes por período no caso de
deglutição. 4 adultos e seis, se idosos, porém não estipula o tempo da
Como pode ser observado, as manobras posturais, im- sessão.
portantes para a proteção das vias aéreas e manipulação Apenas uma pesquisa17 realizou investigação antes-de-
de alimentos objetivam a promoção de uma deglutição efi- pois da terapia da fala porém sem análise da quantidade
ciente, segura e devem ser adequadas para a situação de de dias ou sessões necessárias para a melhora no ato da
cada doente, devendo o profissional realizar uma avaliação deglutição, sendo observado que a quantidade de 15 inter-
minuciosa para sua eleição. venções possibilitou melhoras. Outra limitação encontrada
É essencial, no trabalho com o doente disfágico, o ge- foi a falta de descrição da gravidade da disfagia orofaríngea
renciamento com relação às consistências alimentares,10 nos estudos (exceto uma pesquisa17), bem como do local e
tais como: ofertar os alimentos na consistência orientada, extensão do AVC, que favoreceria discussão sobre a com-
com aparência, aroma e sabor agradáveis e que promo- posição das amostras (homogêneas ou não) e os limites
vam o prazer do doente; ofertar pequenas quantidades de terapêuticos no âmbito hospitalar.
alimento na colher, observando a aceitabilidade, a prepara- A depender da etiologia, dos territórios encefálicos
ção e a deglutição do alimento. Além disso, durante a oferta atingidos pelo AVC e da extensão da lesão há melhores
da dieta, atenção deve ser dada ao ambiente, que deve ser ou piores prognósticos para a recuperação da deglutição.
tranquilo para não dispersar a atenção, bem como orientar Além disso, de acordo com a literatura,43 múltiplas regiões
o doente a não falar enquanto mastiga e deglute o alimento corticais e subcorticais, o tronco encefálico e o cerebelo
e ofertar líquidos em pequenas quantidades e, se necessá- estão envolvidos no processo da deglutição, tornando esta
rio, em uma colher. função de ordem complexa.

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A recuperação do doente está sujeita, portanto, a uma tes pós-AVC disfágicos podem sugerir resultados satisfató-
série de fatores, como já mencionados anteriormente: das rios em curto período de tempo, revelando a importância do
ARTIGO DE REVISÃO

condições prévias de saúde do doente, da gravidade do diagnóstico e da terapia da fala precoces, porém estudos
acometimento neurológico, do seu estado de consciência com grupos controles necessitam ser realizados para ve-
e compreensão, dos medicamentos utilizados, da interven- rificar se a terapia da fala acelera ou não a recuperação
ção interdisciplinar o mais precocemente possível, do aten- espontânea.
dimento por profissionais competentes e especializados na
área, da motivação e das condições socioeconômicas do PROTECÇÃO DE PESSOAS E ANIMAIS
doente, da colaboração da família, das condições e dispo- Os autores declaram que os procedimentos seguidos
nibilização dos equipamentos clínicos para o diagnóstico estavam de acordo com os regulamentos estabelecidos
entre outros. Assim sendo, muitas são as variáveis que po- pelos responsáveis da Comissão de Investigação Clínica
dem interferir para a reabilitação de um doente pós-AVC e Ética e de acordo com a Declaração de Helsínquia da
com disfagia orofaríngea e estes aspectos devem ser leva- Associação Médica Mundial.
dos sempre em consideração.
Como os autores utilizados nesta pesquisa não apre- CONFIDENCIALIDADE DOS DADOS
sentaram todas as variáveis supracitadas, esta é uma limi- Os autores declaram ter seguido os protocolos do seu
tação que deve ser considerada. centro de trabalho acerca da publicação de dados. Foi de-
Apesar do exposto, em relação à recuperação da de- vidamente obtido o consentimento informado do doente.
glutição, a Terapia da Fala na beira do leito com doentes
disfágicos pós-AVC tem evidenciado melhoras nos quadros CONFLITOS DE INTERESSE
clínicos, em curto período de tempo (próximo a um mês), Os autores declaram não terem qualquer conflito de in-
porém maior amostra de pesquisas poderiam ratificar ou teresse relativamente ao presente artigo.
não os resultados encontrados.
FONTES DE FINANCIAMENTO
CONCLUSÃO Os autores declaram não ter recebido subsídios ou bol-
A terapia da fala na beira do leito hospitalar com doen- sas para a elaboração do artigo.

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Revista Científica da Ordem dos Médicos 881 www.actamedicaportuguesa.com

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