PPP Dimensões Conceituais e Metodológicas

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UNIDADE II - Projeto Político Pedagógico (PPP)

dimensões conceituais e metodológicas


que norteiam o processo de elaboração

Nesta unidade discutiremos o Projeto Político- Pedagógico, abordando-o a par-


tir de duas dimensões: a conceitual e a metodológica. Na dimensão conceitual, procu-
ramos fornecer conceitos e apresentar concepções que possam orientar a construção do
PPP. Já na dimensão metodológica, nosso objetivo é fornecer informações, sugestões e
indicadores para o desenvolvimento efetivo do PPP. Sabemos da importância do PPP
para a gestão democrática da escola, contudo, o que a própria prática e as pesquisas
têm demonstrado é que nem sempre este é um “documento vivo” na escola, orientador
de sua prática pedagógica, espaço de participação efetiva da comunidade escolar.

Muitas vezes, tem se tornado um documento reproduzido a exaustão, toma-


do de empréstimo, ou esquecido nas gavetas. Mudar essa situação é tarefa de todos
aqueles que almejam resgatar o potencial democrático do PPP, compreendido como
instrumento fundamental para a realização efetiva da educação como direito social
inalienável, o que implica qualidade, democracia, autonomia e participação.

2.1 Projeto Político Pedagógico da Escola: Dimensões Con-


ceituais e Metodológicas

2.1.1 Introdução

A LDBEN, lei nº 9.394/96, no Artigo 12, inciso I, estabelece que, respeitadas as


normas comuns e as do seu sistema de ensino, os estabelecimentos de ensino terão a
incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica. Mas, na prática isso não
é tão fácil.

Elaborar o Projeto Político Pedagógico da escola envolve, entre outras questões,

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conhecimento sobre suas dimensões conceituais e metodológicas. Uma delas diz res-
peito ao significado da palavra projeto. Projeto vem do latim projectus, que significa
algo lançado para frente. Para Almeida (2002), significa pensar em algo que deseja
tornar real. A aquisição da casa própria, a formatura, a proposta pedagógica, etc. Bar-
bier (1996) chama a atenção para o fato de que o projeto é um planejamento referente
a uma intervenção futura que tem como referência os problemas vivenciados no pre-
sente.

No caso da proposta pedagógica da escola, essa definição de projeto é a que me-


lhor define o Projeto Político Pedagógico, ou seja, o PPP representa o desejo de tornar
real a melhoria da qualidade do ensino, a formação para a cidadania, para a inserção
no mundo do trabalho em constante transformação e para a vida.

Partindo da ideia de projeto como planejamento de algo a ser alcançado no fu-


turo, Vasconcellos (1995) considera o Projeto Político Pedagógico

“um instrumento teórico-metodológico que visa ajudar a enfren-


tar os desafios do cotidiano da escola, só que de uma forma refletida,
consciente, sistematizada, orgânica e, o que é essencial, participativa.
E uma metodologia de trabalho que possibilita resignificar a ação de
todos os agentes da instituição. “(VASCONCELLOS, 1995, p. 143)

Projeto é um empreendimento temporário que deve ser realizado de forma co-


ordenada, para alcançar objetivos específicos. O projeto tem um início e um fim bem
definidos, é importante lembrar que a educação é um fenômeno sócio-histórico-cultu-
ral, e por esse motivo, em constante transformação.

Além disso, no mundo globalizado, caracterizado entre outros aspectos, pela di-
fusão das tecnologias da informação e da comunicação que têm trazido maior dinamis-
mo para as diversas sociedades. Quando falamos que o projeto é temporário significa
que haverá metas e objetivos a serem atingidos em curto, médio e longo prazo.

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2.1.2 Gerenciamento do projeto

O gerenciamento de um projeto envolve conhecimento, habilidades e o empre-


go de técnicas e ou métodos necessários à execução e controle das atividades a serem
realizadas, sendo, portanto, considerado fator crítico. O gerenciamento do PPP cabe ao
gestor da escola, pois, é esse profissional que deverá conduzir o processo de elaboração
do PPP desde o seu início e avaliar o cumprimento das metas e objetivos estabelecidos.

Cabe, ainda, ao gestor escolar conciliar e atender às necessidades e expectativas


das partes envolvidas no desenvolvimento do projeto.

PARA SABER MAIS


Para saber mais sobre o assunto, consulte o Guia PMBOK® http://brasil.pmi.org/bra-
zil/PMBOKGuideAndStandards.aspx

O Guia PMBOK® é um documento que sintetiza o conhecimento produzido so-


bre as características e regras do gerenciamento de projetos, além de fornecer orienta-
ções às diversas organizações, incluindo as instituições de ensino, para a implantação
do processo de gerenciamento de projetos. De acordo com o Guia PMBOK, para o su-
cesso do projeto, qualquer que seja sua especificidade, é preciso que os gestores fiquem
atentos aos seguintes aspectos:

> Escopo: compreende os processos utilizados para identificar todo o trabalho


requerido para a construção do projeto e sua conclusão com sucesso;
> Tempo: processos requeridos para assegurar que os objetivos e metas do
projeto serão concluídos no prazo planejado;
> Custo: referente à gestão dos recursos financeiros e à sua adequação às metas
e objetivos do projeto. A gestão financeira é aspecto crítico em um projeto, pois garante
a concretização de grande parte das ações estabelecidas no projeto que dependem dos
recursos financeiros;
> Qualidade: processos necessários para assegurar que o projeto irá atender
aos requisitos de qualidade estipulados;
Recursos Humanos: processos requeridos para tornar mais efetivo o uso das pessoas

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envolvidas com o projeto;
> Comunicação: processos requeridos para assegurar o desenvolvimento, a
coleta, a disseminação, o registro e o descarte das informações do projeto;
> Riscos: processos necessários para, efetivamente, identificar, analisar e res-
ponder aos riscos do projeto;
> Aquisições: processos requeridos para orientar a contratação de produtos e
serviços externos à organização;
> Integração: processos necessários para assegurar que os vários segmentos
envolvidos no projeto sejam adequadamente coordenados.

Todo projeto tem seu ciclo composto pelas seguintes etapas: iniciação, plane-
jamento, execução, controle e avaliação. O ciclo de vida do projeto visa melhorar as
chances de um projeto obter sucesso. Veja esquema abaixo:

O ciclo de vida de projeto

O Projeto Político Pedagógico da escola possui princípios, dimensões e estru-


tura. São princípios do PPP: a participação, a gestão democrática, a autonomia e o
trabalho coletivo. Participar implica em assumir a responsabilidade em conjunto, pos-
sibilitar o diálogo, construir o consenso necessário à elaboração de um plano de ação
coletiva.

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Vasconcelos (2004) chama a atenção para a pseudoparticipação, ou seja, o fato
de estar apenas presente, mas sem engajamento ou envolvimento pleno com a constru-
ção da proposta política pedagógica da escola.

Cabe aos gestores escolares exercerem a liderança na condução da elaboração


e ou atualização do PPP e seu carisma para sensibilizar a comunidade escolar sobre a
importância da construção do PPP que seja, de fato, representativo da escola e de sua
comunidade e que possa promover as mudanças necessárias no espaço escolar rumo à
melhoria da qualidade do ensino e promoção da formação para a cidadania.

Como vimos, o projeto é um empreendimento que demanda postura colabora-


tiva entre os diversos segmentos envolvidos. O PPP constitui-se em um trabalho em
grupo e não do grupo, pois representa a proposta de trabalho da escola, demanda a
formação de uma equipe envolvida e compromissada na qual as pessoas, cada uma
com seus talentos, se relacionam em direção a um alvo em comum (PRADO, 2005, p.
57).

Para que a escola possa elaborar seu Projeto Político Pedagógico de forma de-
mocrática é preciso autonomia.

“A autonomia da escola é um exercício de democratização do es-


paço público: é delegar ao diretor e aos demais agentes pedagógicos a
possibilidade de dar respostas ao cidadão. A autonomia coloca na esco-
la a responsabilidade de prestar contas e aproximar escola e família.”
(NEVES, 1995, p. 23).

O PPP, como um projeto, implica a previsão de futuro, pois representa a propos-


ta de trabalho da escola. O PPP precisa ser flexível e aberto às mudanças, daí a neces-
sidade de ser atualizado anualmente.

Para que a escola obtenha sucesso nos processos de elaboração, execução e ava-
liação do PPP é preciso que todos os segmentos envolvidos na práxis educativa sejam
convidados e motivados a participarem ativamente e com igual poder de decisão.

É preciso também que o(s) problema(s) que será(ão) resolvido(s) seja(m) defini-
do(s) com clareza, bem como deve ser clara a solução para o(s) problema(s). É preciso

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que os gestores organizem os encontros e assegurem a concretização destes momentos
para que os envolvidos no processo de construção ou atualização do PPP possam dis-
cutir plenamente sobre como o(s) problema(s) poderão ser resolvido(s), garantindo,
portanto, que todos os segmentos possam ser ouvidos: professores, especialistas em
educação, corpo técnico-administrativo, comunidade e alunos.

2.1.3 Gestão Democrática

Neste sentido, a gestão democrática da escola faz valer a participação de todos


os segmentos representativos da comunidade escolar, garante a autonomia e propicia
o exercício do trabalho coletivo uma vez que:

As decisões centralizadas no diretor cedem lugar a um processo


de resgate da efetiva função social da escola, através de um trabalho
de construção coletiva entre outros agentes da escola e, destes, com a
comunidade (…). O trabalho participativo não apenas descentraliza as
decisões, mas também sacode a reta da rotina e recria a senha das pes-
soas a cada dia. (CARNEIRO, 1998, p.78)

A gestão democrática possibilita a construção da escola como espaço aberto ao


diálogo no qual os diversos atores envolvidos na ação educativa têm voz ativa. Cabe ao
gestor efetivar um modelo de gestão comprometido com a busca de soluções para os
problemas e superação dos conflitos que fazem parte do cotidiano escolar.

Em uma escola verdadeiramente democrática, é preciso que os gestores estejam


atentos à diversidade sociocultural que permeia o espaço escolar, uma vez que a comu-
nidade escolar é composta por sujeitos com desejos, interesses e anseios em relação à
educação bastante diversos.

A gestão democrática é assegurada no PPP pelos princípios especificados no


esquema a seguir:

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As dimensões política e pedagógica do Projeto Político Pedagógico configuram a
base conceitual deste documento. Elas definem a organização administrativa e pedagó-
gica da escola e estão relacionadas à construção da identidade da escola, sua filosofia,
missão, valores, concepção de sociedade e de homem, de proposta curricular e defini-
ção da organização e utilização do espaço escolar.

A organização do espaço escolar a partir das dimensões política e pedagógica do


Projeto Político Pedagógico cria um espaço harmonioso onde mesmo os atores envolvi-
dos na práxis educativa exercendo funções diferentes se dão conta da importância des-
te e dos outros na conquista dos objetivos, metas e estratégias estipulados em comum
acordo. (LIBÂNEO, 2001)

2.1.4 Projeto Político Pedagógico

Estudo realizado pela Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina no


período de 2008-2009 sobre o PPP elaborado pelas escolas públicas deste Estado
apresentou diagnóstico consistente das dificuldades encontradas na construção deste
documento, sendo elas:

Estudo realizado pela Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina no


período de 2008-2009 sobre o PPP elaborado pelas escolas públicas deste Estado
apresentou diagnóstico consistente das dificuldades encontradas na construção deste
documento, sendo elas:

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> A maioria dos PPPs analisados não contemplavam a realidade e a função so-
cial da escola;
> O PPP não era utilizado como norteador das ações pedagógicas, administrati-
vas e financeiras da escola;
> Grande parte dos PPPs analisados não atendia às principais etapas de ela-
boração deste documento: Diagnóstico (o que temos); Identidade (o que queremos) e
Execução (o que faremos);
> Inadequação do PPP à legislação vigente;
> PPPs desatualizados;
> O PPP, muitas vezes, é elaborado sem discussões democráticas e raramente é
aprovado em assembleia com a comunidade escolar;
> Excesso de teorizações na descrição do papel da escola e dos objetivos educa-
cionais;
> Muitos PPPs eram cópias parciais ou integrais de PPPs de outras escolas;
> Quase a totalidade dos PPPs não apresentava espaço para a formação conti-
nuada e encontros para revisão/atualização no calendário escolar.
> As dificuldades mapeadas neste diagnóstico mostram que, de maneira geral,
os profissionais da escola, principalmente os gestores e a equipe pedagógica, têm dúvi-
das em relação à elaboração do Projeto Político Pedagógico.

> Assim, o PPP acaba se constituindo como uma obrigatoriedade legal, mas
que em nada modifica a condução do trabalho pedagógico na escola. Grande parte das
dúvidas em relação à construção do PPP está relacionada à definição da identidade da
escola e à compreensão da função social da escola.

> O Projeto Político Pedagógico tem como objetivo maior tornar real a função
social da educação e da escola. Para tanto, é preciso considerar a educação no seu
sentido ampliado, ou seja, enquanto prática social que se dá nas relações sociais, nas
diversas instituições e movimentos sociais (VEIGA, 2001). Cabe, portanto, à escola,
formar cidadãos críticos, reflexivos, autônomos, conscientes de seus direitos e deveres,
capazes de compreender e transformar a realidade em que vivem.

> É função básica da escola, assegurar a aprendizagem de conhecimentos e va-


lores necessários à socialização dos sujeitos. Ou seja, dar vida, incorporar à prática
pedagógica rotineira da escola os quatro pilares da educação: aprender a conhecer,
aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser.

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PARA SABER MAIS
Leia o livro: Educação: Um Tesouro a Descobrir ou acesse o Relatório para a UNESCO
da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenada por Jac-
ques Delors http://unesdoc.unesco.org/images/0010/001095/109590por.pdf

Diante da especificidade do projeto da escola, a concepção de um projeto peda-


gógico deve apresentar as seguintes características propostas por Veiga (2001):

> Ser processo participativo e ter como ponto de partida a realidade, tendo
como suporte a explicitação das causas dos problemas e das situações nas quais tais
problemas aparecem;
> Preocupar-se em implantar a forma de organização de trabalho pedagógico
que desvele os conflitos e as contradições;
> Estabelecer, de forma clara, princípios baseados na autonomia da escola, na
solidariedade e no estímulo à participação de todos os segmentos;
> Propor ações e conter opções explícitas na direção de superar problemas no
decorrer do trabalho educativo;
> Ser exequível e prever as condições necessárias ao desenvolvimento e à avalia-
ção;
> Ser construído continuamente.

Em um projeto, planejamos para alcançar objetivos que ainda não foram con-
quistados pela escola e para garantir que as ações que a escola tem adotado com bons
resultados continuem e sejam oficializadas, no PPP, como prática pedagógica da esco-
la.

Etapa fundamental da construção do Projeto Político Pedagógico da escola é de-


finir a identidade da escola. Quando refletimos sobre a palavra identidade, pensamos
nas características que definem ou especificam algo ou alguém.

Temos que considerar que a identidade não é estática, é construída e reconstru-


ída continuamente em um contexto social de interação entre sujeitos, compreendendo,
também, o autoconhecimento. A comunidade escolar precisa pensar refletir, discutir
sobre a missão, os valores, e sobre que sujeito pretende formar e para qual sociedade.

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A definição da identidade da escola é fundamental, pois a escola tem papel im-
portante na construção da identidade das crianças e jovens.

A construção da identidade da escola perpassa as dimensões política e pedagó-


gica do Projeto Político Pedagógico. A dimensão política se refere à visão de sociedade
e de homem. O PPP é político porque

Todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto po-


lítico por estar intimamente articulado ao compromisso sociopolítico
com os interesses reais e coletivos da população majoritária. É político,
no sentido de compromisso com a formação do cidadão para um tipo
de sociedade. A dimensão política se cumpre na medida em que ela se
realiza enquanto prática especificamente pedagógica. (SAVIANI, 1983,
p. 12).

Ao definir a visão de mundo, de sociedade, de homem que a escola (gestores,


professores, profissionais da escola, pais, familiares, comunidade) deseja para as crian-
ças e jovens, diante de inúmeras opções, a escola faz suas escolhas, o que representa
um posicionamento político.

A dimensão pedagógica corresponde à definição sobre a ação educativa, ou seja,


diz respeito ao trabalho da escola como um todo, principalmente, em relação ao pro-
cesso de ensino-aprendizagem. Envolve o planejamento das atividades realizadas em
sala e fora dela (abordagem curricular, processo avaliativo, acompanhamento do de-
sempenho dos alunos, projetos de intervenção e planos de ensino e de aula).

A dimensão pedagógica do PPP, de acordo com Libâneo (2004), pressupõe cer-


ta organização da escola nos seguintes aspectos:

> vida escolar: relacionada à organização do trabalho escolar em função da


especificidade de seus objetivos;
> processo de ensino e aprendizagem: refere-se basicamente aos aspec-
tos relacionados à organização do trabalho do professor e dos alunos na sala de aula;
> atividades de apoio técnico-administrativo: tem a função de fornecer
o apoio necessário ao trabalho docente;
atividades que vinculam escola e comunidade: refere-se às relações entre a escola e o

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ambiente externo.

A proposta curricular da escola, além da base nacional comum e da parte di-


versificada que está relacionada às especificidades da comunicade escolar atendida,
precisa considerar:

Interdisciplinaridade – que é a interdependência, interação e comunicação entre os


diversos campos do saber, o que possibilita a integração do conhecimento evitando a
sua fragmentação.

Transdisciplinaridade - que é a coordenação do conhecimento em um sistema lógico,


que permite o livre trânsito de um campo de saber para outro, ultrapassando a concep-
ção de disciplina e enfatizando o desenvolvimento de todas as nuances e aspectos do
comportamento humano.

A dimensão pedagógica do PPP possibilita a efetivação da intencionalidade da


escola, que é a formação do cidadão participativo, compromissado, responsável e críti-
co.

A proposta curricular deve conter a definição do que deve ser ensinado, como
ensinar e com qual finalidade, e precisa atender à base legal (LDBEN, 9394/96, as Di-
retrizes Curriculares Nacionais e a documentação oficial da Secretaria de Educação).

A base legal oferece orientações para a construção do currículo da escola que


deve ser composto por uma base nacional comum - os Parâmetros Curriculares Nacio-
nais (PCNs) – e uma parte diversificada para atender às especificidades da comunida-
de escolar.

Base comum e parte diversificada devem articular os vários aspectos da for-


mação para a cidadania (saúde, orientação sexual, meio ambiente, ética, trabalho e
consumo, pluralidade cultural, etc.) com as áreas de conhecimento (Língua Portugue-
sa, Matemática, Ciências, Geografia, História, Língua Estrangeira, Educação Artística,
Educação Física e Educação Religiosa/ Formação Humana e Cristã).

Aprofundaremos nossos conhecimentos sobre proposta curricular e currículo


na Sala Políticas de Gestão Escolar. No entanto, alguns aspectos exigem reflexão para

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melhor compreensão da dimensão pedagógica do PPP, sendo eles:

> Currículo como um documento legislativo, que consiste numa lista de objeti-
vos e conteúdos reguladores do ensino, um instrumento útil para determinar a avalia-
ção do alunado (CONTRERAS, 2000, p.88). Concepção essa que norteou a elaboração
da matriz curricular das escolas por muitos anos. Segundo o autor, essa concepção de
currículo envolve verticalidade e padronização presentes na base curricular nacional,
os PCNs;

> Currículo como definidor dos aspectos do trabalho escolar diretamente rela-
cionados à prática pedagógica, ao espaço e ao papel exercido pelos diferentes segmen-
tos envolvidos com o processo educativo: aproveitamento do tempo escolar, articula-
ção entre as diversas áreas do conhecimento, os conteúdos, entre a equipe pedagógica
e entre esta e a comunidade. (PINHEIRO, 2001)

> Currículo como espaço de lutas em torno dos diferentes significados sobre o
oscial e o político, como espaço por meio do qual os diferentes grupos sociais, princi-
palmente, os grupos dominantes, expressam sua visão de mundo, seu projeto social e
seus desejos e interesses em relação à formação dos indivíduos. (SILVA, 2001)

Componente importante da proposta curricular da escola, as práticas pedagógi-


cas precisam ser discutidas, escolhidas e assumidas pela equipe pedagógica da escola
que precisa assegurar e promover os meios para que sejam colocadas em prática. Para
que as opções didáticas possam ser definidas pela equipe pedagógica e se consolidarem
como práticas pedagógicas, vejamos alguns princípios que precisam ser considerados:

> O aluno como sujeito de sua própria aprendizagem;


> O conhecimento é construído, progressivamente, através da atividade própria
do aluno e das interações sociais;
> Superar a fragmentação do saber enfatizando a construção integrada de sabe-
res, competências e valores que perpassam, de forma transdisciplinar, o conjunto do
saber-fazer escolar;
> Partir das experiências e vivências do cotidiano do aluno;
> Organizar o trabalho pedagógico a partir de atividades que proporcionem o
prazer de conhecer e o estimulem ao processo de aprender a aprender;
> Estimular o desenvolvimento da autonomia do aluno.

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A Proposta Pedagógica deve nortear as ações da escola, devendo explicitar os
fundamentos teórico-metodológicos, objetivos, tipo de organização (série ou ciclos de
formação) e as formas de implementação e avaliação da escola.

A participação dos professores na elaboração e efetivação da proposta pedagógi-


ca da escola possibilita momento de reflexão, discussão, pesquisa referente às práticas
pedagógicas e às práticas educacionais a serem desenvolvidas pela escola.

Esse momento de diálogo entre os professores é fundamental para que a pro-


posta pedagógica da escola possa sair do papel e se efetivar na sala de aula e, assim,
contribuir para a melhoria da qualidade do ensino promovendo as mudanças necessá-
rias no cotidiano escolar.

Segundo a LDBE - Lei nº 9.394 de 20 de Dezembro de 1996 Art. 13. Os docentes


incumbir-se-ão de:

I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;


II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabele-
cimento de ensino;
III - zelar pela aprendizagem dos alunos;
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento;
V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integral-
mente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento pro-
fissional;
VI - colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comuni-
dade.

No contexto da escola democrática e da formação para a cidadania e para a


transformação social, cabe ao professor atuar como facilitador da aprendizagem do
aluno, gerenciador da informação, incentivador da percepção da sala de aula como
espaço privilegiado de reflexão e de situações de aprendizagem enriquecedoras.

A equipe pedagógica e os segmentos envolvidos na construção e ou atualização


do Projeto Político Pedagógico da escola precisam considerar os resultados das avalia-
ções em larga escala da escola, como o SAEB.

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Além do SAEB, alguns estados e municípios também já implantaram sistemas
de avaliação da qualidade da educação que precisam ser considerados no processo de
elaboração da proposta pedagógica, pois são bons indicadores da qualidade da educa-
ção da escola, e por apontar as áreas do conhecimento críticas que precisam de inter-
venção imediata.

A avaliação da aprendizagem na escola deve avaliar a capacidade do aluno em


dar sentido à informação, de mobilizar conhecimentos adquiridos para encontrar res-
postadas adequadas às diversas situações-problema.

O processo avaliativo deve ser formativo e diagnóstico das dificuldades identifi-


cadas no processo de ensino e aprendizagem, a fim de possibilitar intervenção pedagó-
gica em tempo hábil. Segundo Luckesi (1995):

A avaliação educacional, em geral, e a avaliação de aprendiza-


gem escolar, em particular, são meios e não fins, em si mesmas, estan-
do assim delimitadas pela teoria e pela prática que as circunstanciali-
zam. Desse modo, entendemos que a avaliação não se dá nem se dará
num vazio conceitual, mas sim dimensionada por um modelo teórico
de mundo e de educação, traduzido em prática pedagógica. (LUCKESI,
1995, p. 28)

A proposta pedagógica da escola deve considerar a avaliação da aprendizagem


escolar e as avaliações em larga escala da educação como processos auxiliares no desen-
volvimento cognitivo dos alunos e por conter práticas pedagógicas preocupadas com a
transformação; Nesta perspectiva, a avaliação será utilizada como um mecanismo de
diagnóstico da situação enxergando o desenvolvimento do educando e os problemas
que ainda precisam ser solucionados.

A matriz curricular, as práticas pedagógicas e a avaliação compõem a proposta


curricular da escola e estão descritas no plano de ensino e plano de aula. O plano de
ensino é elaborado pelo professor contendo sua proposta de trabalho para a disciplina.
Preferencialmente, o plano de ensino deve ser elaborado em conjunto com os profes-
sores da área para promoção da continuidade de estudos, evitar repetições desneces-
sárias de conteúdos, possibilitar melhor organização didática dos conteúdos, etc.

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Veiga (2001) chama a atenção para o fato de que o planejamento pedagógico da
escola precisa ser realizado de forma coletiva, ao mesmo tempo que deve considerar as
especificidades das diversas áreas do conhecimento e a individualidade do professor.
Para a autora,

“A metodologia que se faz coletiva e solidariamente é diferen-


te daquela que é determinada a priori, de cima para baixo, a respeito
de como devem ser realizadas as atividades em sala de aula” (VEIGA,
2001, p. 90).

O plano de aula se traduz no planejamento da aula para um determinado perío-


do de tempo. É de fundamental importância para que a escola possa obter sucesso no
processo de ensino-aprendizagem.

De acordo com Libâneo (2004, p. 35)

“O planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui tanto a


previsão das atividades didáticas em termos de organização e coorde-
nação em face dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequa-
ção no decorrer do processo de ensino”.

O plano de aula é, portanto, um instrumento fundamental para os professores


elaborarem sua metodologia conforme o objetivo a ser alcançado. Cabe ressaltar que o
plano de aula deve atender às especificidades de cada turma.

O tempo escolar é elemento constitutivo da organização do trabalho pedagógi-


co. O tempo escolar é marcado pelo calendário escolar, pelo tempo de cada aula, pelo
número de horas/aula por componente curricular e pela matriz curricular, pelo tempo
de ensinar, pelo tempo de avaliar e pelo número de dias letivos.

O tempo escolar também marca as relações de poder entre as diversas áreas de


conhecimento, uma vez que, como diz Enguita (1989, p.180),

“As matérias tornam-se equivalentes porque ocupam o mesmo


número de horas por semana, e vistas como tendo menor prestígio se

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ocupam menos tempo que as demais”.

Assim, ao se pensar sobre o sujeito e sobre o mundo que se deseja formar é pre-
ciso pensar sobre a organização curricular e sobre a importância e o lugar dos diversos
tipos de conhecimento na proposta pedagógica da escola.

As dimensões política e pedagógica devem ser compreendidas de forma arti-


culada e integrada, pois são permeadas pelos aspectos social, econômico e cultural
característicos da comunidade da qual a escola faz parte. O Conhecimento sobre essa
realidade é fundamental para a transformação e consolidação da escola como espaço
democrático e de mudança. Essas dimensões, segundo Veiga (2001), são indissociáveis
e devem coexistir harmoniosamente.

A dimensão administrativo-financeira do Projeto Político Pedagógico diz respei-


to aos aspectos gerais de organização da escola (gerenciamento, registros, patrimônio
físico etc.) e às questões de captação e aplicação dos recursos financeiros. O PPP conta,
também, com uma dimensão jurídica, que trata da legalidade das ações e relaciona-
mentos com outras instâncias e instituições. Os processos administrativos possibilitam
o desenvolvimento das condições para a concretização da proposta político-pedagógica
da escola, envolvendo a gestão financeira, manutenção e conservação do espaço físico
da escola e administração de pessoal.

RESUMINDO
DIMENSÕES DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

POLÍTICA
Compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade;
Formulação de mecanismos de participação da comunidade local e escolar na
construção e consolidação do PPP;
Tipo de relações estabelecidas entre a escola com o sistema de ensino e com a
sociedade.

PEDAGÓGICA
Definir as ações educativas da escola, visando a efetivação de seus propósitos e
sua intencionalidade;
Gestão do currículo;

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Gestão do tempo pedagógico;
Gestão da equipe docente;
Formação continuada;
Recursos didáticos;
Desenvolvimento de projetos educativos.

ADMINISTRATIVA-FINANCEIRA
Desenvolvimento das condições para a concretização da proposta educativa da
escola;
Gestão financeira e do patrimônio da escola,manutenção e conservação do es-
paço físico;
Administração do pessoal da escola.

JURÍDICA
Relação da escola com outras instâncias do sistema de ensino:
> Municipal
> Estadual
> Federal
Atendimento à legislação educacional vigente.

Em relação à estrutura do PPP, ao analisarmos a literatura sobre essa temáti-


ca, percebemos não há consenso sobre a estrutura do PPP, ou seja, sobre os itens que
devem compor este documento. Isso porque o PPP é processual e específico de cada
escola que é única, inserida em uma comunidade com demandas, interesses e anseios
em relação à educação que são muito particulares. No entanto, há convergências entre
os estudiosos do tema a respeito da estrutura básica de um PPP que compreende os
seguintes componentes:

Marco Referencial
Representa um conjunto dos valores nos quais a comunidade escolar acredita e
das aspirações que têm em relação à aprendizagem dos alunos. O marco referencial de-
fine a identidade da escola. Para sua elaboração, os segmentos envolvidos no processo
de construção do PPP precisam responder às perguntas: Para nós, o que é Educação?
Que aluno queremos formar? E, para qual sociedade?

Para a definição do Marco Referencial é preciso considerar os seguintes aspec-

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tos:

Filosóficos: referem-se à visão de mundo, de sociedade, de homem, de infância, de


juventude, de educação, de educador;
Socioantropológicos: dizem respeito à visão do contexto sociocultural da família,
concepções sobre as diversas relações sociais com a família, com a comunidade, com
os movimentos sociais, etc.;
Psicopedagógicos: visão de desenvolvimento infantil, do processo de ensino apren-
dizagem, do processo de construção do conhecimento.

Marco Situacional
Caracterização da escola e da comunidade escolar. Representa a percepção dos
segmentos envolvidos na construção do PPP em torno da realidade da escola e da co-
munidade na qual está inserida.

Marco Conceitual
Corresponde à definição dos pressupostos e à fundamentação teórica que nor-
tearão o trabalho pedagógico da escola. O processo de elaboração do Marco Conceitual
possibilita a todos os atores envolvidos na elaboração do PPP, tanto a explicitação,
quanto o debate e a busca de consenso mínimo em torno de conteúdos epistemológi-
cos, éticos, políticos-pedagógicos, metodológicos que assegurarão a formação de sujei-
tos críticos, participativos, transformadores da realidade na qual vivem.

Marco Operacional
Ações a serem desenvolvidas. Diz respeito às ações que deverão ser implemen-
tadas para que a escola possa atingir os objetivos e metas propostos no PPP. No Marco
Operacional também constam as funções de controle e avaliação do PPP, que se refe-
rem à proposição de mecanismos de monitoramento das atividades e ações realizadas,
com o propósito de garantir que os objetivos, metas e estratégias previstas no Projeto
Político Pedagógico serão atingidos dentro do prazo estipulado e de mecanismos que
assegurem a implantação de ações corretivas.

Ao analisarmos as diversas orientações para a elaboração do PPP, podemos per-


ceber que alguns elementos são comuns, sendo eles:

Introdução ou Apresentação: apresentação do Projeto. Comentários sucintos so-

Projeto Vivencial Unidade II 18


bre os objetivos de sua elaboração, circunstâncias em que foi elaborado, ideias cen-
trais, relevância etc.;

Diagnóstico: Ambiente social, cultural e físico, situação socioeconômica e educacio-


nal da comunidade, situação física da escola, recursos humanos e materiais, organiza-
ção da escola e do ensino, relações entre a escola e a comunidade;

Caracterização da escola: Definição da identidade da escola (missão, filosofia, va-


lores);

Proposta Pedagógica: resultados do diagnóstico da escola em relação às avaliações


do SAEB e do desempenho dos alunos mapeados pela escola; concretização da Política
Educacional do Sistema de Ensino no âmbito da unidade escolar; concepções, concei-
tos e princípios que fundamentarão o trabalho da escola: conceito de educação, papel
da educação, papel da escola pública, concepção de aprendizagem, concepção de ava-
liação, perfil do cidadão a ser formado etc.; concepção de currículo (objetivos gerais e
específicos a atingir: Base comum; definição da parte diversificada; definição da forma
de composição curricular; definição de conteúdos curriculares e sua distribuição no
tempo; definição da orientação pedagógica a ser adotada; definição de parâmetros, cri-
térios e formas de avaliação da aprendizagem; definição de critérios para elaboração,
escolha e uso de material didático; definição de espaços pedagógicos interdisciplinares
e temas transversais e aspectos ou áreas prioritárias no que diz respeito à aprendiza-
gem);

Plano de Atividades: Seleção das prioridades (os problemas mais urgentes ou mais
graves detectados no diagnóstico, em relação a: contexto da escola, características da
escola, resultados educacionais e convivência na escola); definição dos objetivos, me-
tas e estratégias a serem adotadas e previsão e provisão de recursos financeiros e hu-
manos; prever o modo pelo qual a equipe de gestão deverá acompanhar a execução do
Plano de Atividades, bem como o trabalho dos professores; avaliação contínua para
permitir o atendimento de situações imprevistas; correção de desvios e ajustes das
atividades propostas. Podem ser previstos momentos de avaliação (semestral, anual,
bianual), com participação de toda a comunidade escolar.

Aprovação do PPP: O Projeto Político Pedagógico precisa ser aprovado em assem-

Projeto Vivencial Unidade II 19


bleia pela comunidade e ou Conselho Escolar. As Secretarias de Educação também
precisam validar o documento quando elaborado e a cada atualização.

Existem vários roteiros e orientações para a elaboração do PPP, muitas delas


elaboradas pelas Secretarias de Educação. Destacamos aqui uma sugestão interessan-
te de roteiro de elaboração do PPP que é a de Libanêo (2004), que inclui um tópico
referente à proposta de formação continuada de professores e outro, referente a uma
proposta de trabalho com pais, comunidades e outras escolas.

Quando falamos sobre a estrutura do Projeto Político Pedagógico, sobre os itens


que esse documento precisa contemplar, precisamos também falar em operacionalida-
de, ou seja, em como dar vida, como efetivar na prática, na rotina da escola o que foi
estabelecido no PPP.

Pensar a operacionalização do PPP é ponto fulcral uma vez que ele sintetiza o
planejamento da escola, dá um rumo, um norte para a condução da gestão administra-
tivo-financeira e pedagógica da escola. O papel dos gestores neste processo envolve o
emprego de

Estratégias, onde a comunicação exerce papel fundamental,


como ponto de partida para que todos se entendam. Assim é importante
ao gestor discutir soluções possíveis e promover negociações, assumir
responsabilidades e deixar que os outros também assumam; ser ouvido,
mas também ouvir, valorizar os aspectos positivos do grupo, deixando
claras as suas intenções para com a escola e zelar pela total transparên-
cia de todas as ações.(VASCONCELOS, 2004, p.62)

Assim, a consolidação do Projeto Político Pedagógico será conquistada por meio


da implantação de um processo de tomada de decisões de forma coletiva, assegurando
o comprometimento e firmando um compromisso entre os segmentos integrantes da
escola. Neste processo, cabe aos gestores atuarem como motivadores das comunidades
interna e externa, para a consolidação da gestão democrática.

Projeto Vivencial Unidade II 20


2.2 O Planejamento do Trabalho Pedagógico: Da Organiza-
ção Administrativa à Organização Pedagógica da Escola

2.2.1 Introdução

Muitas são as dificuldades dos gestores escolares em relação à gestão democrá-


tica da escola que envolve conhecimentos sobre as bases legais da educação e sobre a
organização administrativa e pedagógica da escola.

O conhecimento sobre os aspectos da organização administrativa e pedagógica


é necessário para a condução dos processos de elaboração e ou atualização do Projeto
Político-Pedagógico, do Regimento Escolar e, mais recentemente, do PDE-Escola, do-
cumentos que traduzem o planejamento estratégico da escola em prol da melhoria dos
serviços prestados à comunidade e da qualidade da educação.

Bem, esse é o objetivo deste texto, ou seja, propiciar, aos gestores escolares,
conhecimentos sobre a organização administrativa e pedagógica das instituições de
ensino.

2.2.2 Afinal o que é Projeto Político-Pedagógico, Regimento


Escolar e Plano de Desenvolvimento da Escola?

Uma vez que já aprendemos sobre as bases conceituais do Projeto Político-Pe-


dagógico, prosseguiremos com a organização do trabalho pedagógico. O gestor esco-
lar, no desempenho desta função, precisa conhecer as bases legais que normatizam o
trabalho pedagógico e a organização da escola, principalmente, sobre os documentos
que auxiliam a gerência da escola, sendo eles: Projeto Político-Pedagógico (PPP), Regi-
mento Escolar e Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).

O art. 12 da Lei de Diretrizes e Bases, Lei nº 9394/96, estipula a elaboração e


execução da proposta pedagógica da escola em consonância com as normas comuns e
a dos respectivos sistemas de ensino e, no inciso I do art. 14, estabelece a “participação
dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola”.

Projeto Vivencial Unidade II 21


O conhecimento da base legal que fundamenta a organização escolar e o traba-
lho pedagógico é fulcral para a melhoria da qualidade da educação. Vale lembrar que
no caso da educação, a Lei nº 9394/96 e as Diretrizes Curriculares Nacionais estabe-
lecem normas mandatárias para todas as escolas brasileiras, ou seja, todas as institui-
ções de ensino privadas e públicas, da Educação Básica ao Ensino Superior deverão
obedecê-las.

2.2.3 O que precisamos buscar na legislação?

Na atual LDB, podemos encontrar as diretrizes para a organização da proposta


curricular; diretrizes para o processo avaliativo, determinações para o trabalho esco-
lar; objetivos de cada nível e modalidade de ensino; princípios e finalidades da edu-
cação, responsabilidades dos governos federal, estadual e municipal e formação dos
profissionais da educação.

As orientações didático-pedagógicas constam nas diretrizes curriculares e na


proposta pedagógica de cada sistema de ensino. Já no Estatuto da Criança e do Ado-
lescente, os direitos das crianças e jovens brasileiros, direitos e deveres da família,
principalmente, em relação à educação.

Vocês já sabem que o Projeto Político-Pedagógico é o documento que orienta a


concepção e a organização do trabalho educativo, estabelece os objetivos da escola, o
perfil de sociedade e de cidadão que pretendem formar.

É, portanto, um documento norteador da ação educativa e não pode abster-se


da definição dos pressupostos teóricos que irão respaldar e subsidiar os trabalhos pe-
dagógicos e as relações na escola. O Projeto Político-Pedagógico deve ser compreendi-
do como documento de reflexão que tem como objetivo maior, a busca da qualidade do
ensino.

Segundo Veiga (1995), a possibilidade de construção do PPP

[...] passa pela autonomia da escola, de sua capacidade de deli-


near sua própria identidade. Isto significa resgatar a escola como es-
paço público, lugar de debate, de diálogo, fundado na reflexão coletiva.

Projeto Vivencial Unidade II 22


[...] é preciso entender que o PPP da escola dará indicações necessárias
à organização do trabalho pedagógico, que inclui o trabalho do profes-
sor na dinâmica da sala de aula (p. 14).

Nesta concepção, o PPP é um documento orientador do trabalho pedagógico re-


alizado pela escola, e para a organização deste documento, a dinâmica da sala de aula e
o trabalho do professor são os grandes referenciais. Nele estão estabelecidos os pilares
e as ações para que a escola possa desempenhar sua função social, além dos direciona-
mentos administrativos e financeiros.

A construção do PPP bem como o processo de atualização deste documento é


marcada por contradições e conflitos, uma vez que, a participação efetiva dos profissio-
nais da escola, alunos e seus familiares, comunidade externa e órgãos públicos trazem
para as discussões diversas concepções, crenças, práticas, demandas, convicções, inte-
resses que precisam ser aglutinados para a elaboração de um compromisso político e
pedagógico coletivo.

2.2.4 Se o PPP é tudo isso. O que é, então, o Regimento Es-


colar?

O Regimento Escolar estabelece a organização administrativa, didático-peda-


gógica e disciplinar da escola. Nele estão descritas as formas de trabalho, as normas
dentro das quais o trabalho será realizado, os direitos e deveres dos profissionais da
escola, dos alunos e dos pais.

Cada sistema de ensino estipula as normas para a elaboração deste documento.


Ao contrário do PPP que não possui um modelo padrão para orientar sua elaboração,
o Regimento Escolar possui, sendo ele:

> identificação e objetivos da escola;


> etapas da educação básica que a escola oferece;
> organização administrativa e técnico-pedagógica (atribuições da direção, o
corpo técnico-pedagógico, a secretaria, os serviços auxiliares, o corpo docente e discen-
te);
> organização e função dos órgãos colegiados (conselho escolar, associação de

Projeto Vivencial Unidade II 23


pais e mestres, grêmio estudantil etc.);
> estrutura de ensino: orientações didático-pedagógicas, processo avaliativo
(definição clara dos instrumentos, critérios e formas de comunicação dos resultados),
acompanhamento do rendimento escolar e seus aspectos didáticos, promoção do alu-
no (cálculo de notas e médias, organização de boletins, certificados etc.), recuperação
paralela, reuniões pedagógicas e de pais, etc.;
> organização da vida escolar (calendário, matrícula, transferência, cancela-
mento de matrícula, frequência);
> normas de convivência escolar: as sanções para alunos e funcionários da esco-
la.

O Regimento Escolar é

[...] um documento que, por natureza, reclama elaboração cole-


tiva, envolvendo toda comunidade escolar. Exatamente por ser a tradu-
ção formal do projeto político-pedagógico da escola [...] não é documen-
to que se elabore às pressas, mas exige que se disponha de certo tempo,
para permitir que o processo participativo – moroso quase sempre -
possa acontecer. (CEED/RS, 1998, p. 7)

Assim, para que o processo de construção do Projeto Político-Pedagógico e do


Regimento Escolar da escola e a consolidação do texto final destes documentos não
se resumam a uma atividade burocrática, com o propósito de cumprir uma exigência
legal, é preciso que os gestores escolares viabilizem as condições necessárias para a
sua construção, execução, acompanhamento, avaliação e (re)construção. São algumas
dessas condições:

> a delimitação e organização do tempo para a discussão, elaboração e acompa-


nhamento do projeto;
> estabelecimento de possibilidades e de limitações do trabalho da escola e de-
finição de prioridades;
acompanhamento da execução da proposta pedagógica.

É necessário, ainda, que os envolvidos neste processo tenham acesso às infor-


mações necessárias à elaboração destes documentos e que compreendam os impactos

Projeto Vivencial Unidade II 24


e a abrangência das decisões tomadas para a escola, para a comunidade e, principal-
mente, para a vida das crianças e jovens atendidos pela escola.

De maneira geral, o processo de elaboração desses documentos envolve nego-


ciações, consensos, expectativas, idas e vindas, impasses, conflitos. Isso porque supõe

[...] rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar


significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atra-
vessar um período de instabilidade em função da promessa que cada
projeto contém de estado melhor que o presente. [...] As promessas tor-
nam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e
autores. (GADOTTI, 1994, p.579).

Resumindo, o Projeto Político-Pedagógico contempla a concepção, realização e


avaliação do projeto educativo da escola. Ele é político, pois, representa um compro-
misso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade e pedagógico no sentido
de definir as ações pedagógicas necessárias à efetivação da intencionalidade da escola,
que é a formação do cidadão participativo, responsável, crítico e criativo, capaz de atu-
ar como agente de transformação da sociedade.

O Regimento Escolar é um instrumento, uma ferramenta que dá vida ao PPP.


Nele ficam estabelecidos os procedimentos metodológicos, avaliativos, disciplinares,
as relações estabelecidas na ação educativa que a escola validou por meio da gestão
democrática. Enfim,

Projeto Vivencial Unidade II 25


2.2.5 Qual a relação entre o PPP, o Regimento Escolar e o
PDE?

O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) foi criado pelo governo fe-


deral e inserido nas escolas públicas de ensino fundamental das consideradas Zonas
de Atendimento Prioritário (ZAPs) das regiões norte, nordeste e centro-oeste. Inicial-
mente, o PDE era um programa inserido no âmbito do Fundescola, do Ministério da
Educação (MEC) e financiado pelo Banco Mundial.

O PDE tinha como objetivos: melhorar a gestão escolar, a qualidade do ensino e


a aumentar o tempo de permanência das crianças na escola (SAVIANI, 2007).

Na atualidade, o PDE passou a se chamar PDE- Escola e consiste em um instru-


mento estratégico dirigido às escolas com IDH mais crítico. É uma importante ferra-
menta de aperfeiçoamento da gestão escolar que se desenvolve em três etapas:

> Diagnóstico da Escola


> Síntese do Diagnóstico da Escola
> Plano de Ação da Escola.

O PDE-Escola é disponibilizado no SIMEC – Sistema Integrado de Planejamen-


to, Orçamento e Finanças. A escola, a partir do PPP e do Regimento Escolar, tendo
como base as etapas especificadas no PDE, devem elaborar plano de ação, com a parti-

Projeto Vivencial Unidade II 26


cipação das comunidades interna e externa, para a melhoria dos seus resultados.

O PDE viabiliza o plano de ação da escola por meio do apoio técnico e financeiro
do MEC.

Os três documentos estudados nesta unidade, o Projeto Político-Pedagógico,


Regimento Escolar e PDE-Escola, estão interligados e constituem o planejamento
estratégico da gestão escolar. Muitas dificuldades estão relacionadas ao processo de
construção e ou atualização destes documentos, uma delas está relacionada à falta de
referências e diretrizes claras necessárias à formação do indivíduo crítico, reflexivo,
criativo, consciente, capaz de interagir em uma sociedade dinâmica e com as diversas
interfaces do mundo laboral. Outra dificuldade enfrentada é a definição da práxis pe-
dagógica, pois, ela se define e se delineia nas estratégias de aprendizagem e nos meios
empregados para se atingir as metas estipuladas pelas escolas e, para defini-la é preci-
so um processo coletivo, participativo, dialógico e reflexivo (GADOTTI, 1994).

É preciso que os envolvidos no processo de elaboração desses documentos par-


ticipem em condições de igualdade e que cada segmento – gestão, equipe pedagógica,
família e comunidade, alunos - possa contribuir para a ampliação do diálogo em prol
da melhoria da qualidade do ensino e da formação para a cidadania. Os documentos
estudados são as ferramentas da gestão democrática, pois, contemplam todos os eixos
do planejamento de uma instituição de ensino sendo eles: organização administrativa,
organização pedagógica e avaliação institucional.

2.2.6 Organização Administrativa da Escola

Os gestores de uma instituição de ensino precisam ter conhecimento sobre a


organização administrativa e pedagógica de uma escola e sobre como utilizar os resul-
tados das avaliações em larga escala da educação para a melhoria da qualidade do en-
sino. Pensar a organização administrativa de uma escola é considerar a especificidade
da gestão escolar, ou seja, a sua função pedagógica.

Assim, a compreensão da especificidade da escola enquanto instituição social


bem como das finalidades da educação e dos objetivos sociais da escola é fundamental
para todos os envolvidos no processo de gestão da uma instituição de ensino uma vez

Projeto Vivencial Unidade II 27


que a educação escolar não é toda a educação, conforme a atual LDBEN, a educação
ocorre nos mais variados espaços, na escola onde é uma atividade sistemática e inten-
cional, na família, nas diversas relações sociais.

Diversos são as dificuldades enfrentadas pelos gestores escolares em relação à


organização administrativa e pedagógica de uma escola, sendo elas:

> dificuldades na compreensão das bases legais da educação, principalmente,


em relação à organização dos sistemas de ensino, construção da proposta pedagógica,
avaliação da aprendizagem e institucional, financiamento;
> falta de unidade que se traduz na dificuldade em articular, em prol da propos-
ta política e pedagógica da escola, os profissionais dos diversos turnos de trabalho da
escola;
> dificuldades no estabelecimento de parcerias com a família e com a comuni-
dade;
> dificuldades na articulação entre o planejamento administrativo, pedagógico
da escola e os recursos financeiros;
> dificuldades na implantação da proposta político-pedagógica.

Vamos então, compreender como está estruturado o Sistema Nacional de Ensi-


no. Veja o esquema abaixo:

O Sistema Nacional de Ensino é integrado e cada ente federativo, União, Esta-


dos, Distrito Federal e Municípios podem organizar seus respectivos sistemas de en-

Projeto Vivencial Unidade II 28


sino. Além disso, as instâncias administrativas precisam trabalhar em regime de co-
laboração na oferta, financiamento e garantia da qualidade da educação. No entanto,
ainda não há definição de como correrá plenamente a articulação e dos mecanismos de
colaboração entre as esferas de poder.

PARA SABER MAIS


Quer saber mais sobre a estrutura e organização do Sistema Nacional de Ensino? Con-
sulte a Constituição Federal e a LDB, Lei n. 9.394/96.

As concepções de gestão escolar se refletem nas posições políticas e nas concep-


ções de homem e de sociedade. O modo como a escola se organiza e se estrutura tem
um caráter pedagógico e, na gestão democrática, são priorizados modelos de gestão
que valorizam o trabalho coletivo e a participação de todos. A estrutura organizacional
das escolas se diferencia conforme a legislação dos Estados e Municípios e com as con-
cepções de organização e gestão adotadas, mas, de modo geral, podemos perceber uma
estrutura básica conforme modelo a seguir:

Projeto Vivencial Unidade II 29


O Conselho Escolar tem atribuições consultivas, deliberativas e fiscais em ques-
tões definidas na legislação estadual ou municipal e no Regimento Escolar.

Essas questões, de modo geral, envolvem aspectos pedagógicos, administrativos


e financeiros. Gestores e representados dos docentes, dos especialistas em educação,
dos funcionários, dos pais e dos alunos devem compor o Conselho Escolar observando,
em princípio, a paridade dos integrantes da escola (50%) e usuários (50%).

A Gestão da Escola é o núcleo executivo que planeja, organiza, coordena, avalia


e integra todas as atividades desenvolvidas no âmbito da unidade escolar. São algumas
das atribuições da equipe de gestão:

> gerir a escola, cumprindo e fazendo cumprir a legislação em vigor, bem como
os regulamentos, diretrizes e normas emanadas dos órgãos superiores e as disposições
do Projeto Político-Pedagógico e do Regimento Escolar, de modo a garantir a consecu-
ção dos objetivos do processo educacional;
> coordenar e garantir a elaboração, a execução e a avaliação da proposta peda-
gógica da escola;
> garantir o funcionamento da organização escolar;
> zelar pelo patrimônio físico e cultural da escola e da comunidade;
> promover a administração do pessoal da escola e dos recursos
materiais e financeiros necessários para o aperfeiçoamento do trabalho educacional.

A Equipe Pedagógica compreende as atividades de coordenação pedagógica e


orientação educacional. As funções dos especialistas em educação variam conforme
a legislação estadual e municipal, sendo que em muitos lugares suas atribuições ora
são unificadas em apenas um profissional, ora são desempenhadas por professores.
De modo geral a equipe pedagógica tem a função de proporcionar apoio técnico aos
docentes e discentes, relativos a:

> elaboração, desenvolvimento e avaliação da proposta pedagógica;


> coordenação técnica e pedagógica;
> acompanhamento e avaliação do processo de ensino-aprendizagem;
> promover a coordenação, o acompanhamento, controle e avaliação das ativi-
dades educacionais da escola;
> participar da elaboração e execução da proposta pedagógica e do plano de

Projeto Vivencial Unidade II 30


ensino;
> acompanhar, avaliar e controlar a execução do Plano de Trabalho dos docen-
tes;
> prestar assistência técnica aos professores, visando ao cumprimento da pro-
posta pedagógica, e do plano de ensino e assegurar a eficiência e a eficácia do desem-
penho dos docentes para melhoria dos padrões de ensino;
> prover, juntamente com os professores, meios para a recuperação de apren-
dizagem dos alunos, acompanhando sua aplicação e avaliando cada professor em sua
atuação nesse processo; socializar o saber docente, estimulando a troca de experiências
entre os segmentos da comunidade escolar, a discussão e a sistematização da prática
pedagógica, viabilizando o trânsito teoria-prática, de forma a qualificar a prática do-
cente;
> cuidar do atendimento e do acompanhamento escolar dos alunos e também
do relacionamento escola-pais-comunidade.

A formação específica de supervisores ou coordenadores pedagógicos e dos


orientadores educacionais tem sido motivo de bastante polêmica entre os educadores.
Em muitos sistemas de ensino, as funções de coordenação, supervisção e orientação
educacional podem ser exercidas por diferentes profissionais.

Para melhor conhecimento do assunto, leia o artigo: LIBÂNEO, José Carlos. “O


sistema de organização e gestão da escola” In: LIBÂNEO, José Carlos. Organização e
Gestão da Escola - teoria e prática. 4ª ed. Goiânia: Alternativa, 2001.

“O trabalho docente é uma atividade intencional, planejada


conscientemente visando a atingir objetivos de aprendizagem. Por isso
precisa ser estruturado e ordenado”. (LIBÃNEO, 1994, p. 96)

O corpo docente compõe a equipe pedagógica e tem com funções:

> participar da elaboração da proposta pedagógica e do plano de ensino;


> planejar, elaborar e cumprir o plano de trabalho, segundo a proposta pedagó-
gica da escola;
> zelar pela aprendizagem dos alunos;
> estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento;
> cumprir carga horária de efetivo trabalho escolar, além de participar efeti-

Projeto Vivencial Unidade II 31


vamente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento
profissional;
> colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comu-
nidade.

Os Setores Técnico-Administrativos respondem pelas atividades-meio que as-


seguram o atendimento dos objetivos e funções da escola. No caso, destacaremos as
atribuições da Secretaria Escolar, pois, é o órgão administrativo encarregado da execu-
ção dos trabalhos pertinentes à escrituração, correspondência e aos arquivos da escola.

A Secretaria deverá se organizar de modo a permitir a verificação da identidade


de cada aluno, a autenticidade e regularidade de sua vida escolar, bem como a qua-
lificação profissional do pessoal docente, técnico e administrativo. São algumas das
atribuições da secretaria escolar:

> esponder perante a gestão, pelo expediente e execução dos serviços gerais da
secretaria;
> organizar, superintender e realizar serviços de escrituração escolar e os regis-
tros relacionados com a administração do pessoal;
> organizar e manter sob guarda os prontuários dos alunos, fichários e arquivos
zelando pela sua ordem e conservação;
> promover e manter atualizados os registros de aproveitamento escolar e fre-
quência dos alunos, a escrituração dos livros e dos documentos de sua responsabilida-
de;
> prestar informações e esclarecimentos referentes à escrituração e legislação,
ao pessoal docente, técnico e administrativo;
> fazer expedir toda a correspondência da escola.

A biblioteca e os laboratórios são espaços de aprendizagem que prestam as-


sessoria e suporte ao trabalho pedagógico. São ambientes pedagógicos destinados às
atividades teórico-práticas disponibilizadas para os professores e alunos e acessíveis à
comunidade interna e externa.

A Família e a Comunidade segmentos importantes para a consolidação da ges-


tão democrática nas escolas públicas e para a garantia da implementação da práxis
pedagógica. A legislação educacional atual coloca a família como corresponsável pela

Projeto Vivencial Unidade II 32


educação das crianças e jovens. São funções da família e da comunidade:

> zelar juntamente com seus filhos pela conservação de todos os espaços físicos,
bem como de materiais existentes na escola e que são patrimônio de uso coletivo;
> comprometer-se com o processo de aprendizagem e assiduidade de seu filho;
> participar do processo de eleição dos pais / mães ou responsáveis represen-
tantes por turma, processo este disciplinado no Plano Anual da escola.

Todos os segmentos que compõem a organização administrativa da escola –


gestão, equipe pedagógica, conselho escolar, setor técnico-administrativo, família e
comunidade – deverão trabalhar de forma integrada, pois, o processo de gestão de-
mocrática das escolas públicas é sinônimo de processo coletivo de tomada de decisões,
tanto na construção e ou atualização do Projeto Político-Pedagógico como na definição
do destino dos recursos financeiros recebidos pela escola.

O processo de instrumentalização da comunidade sobre o sentido de sua parti-


cipação é legítimo e função da equipe de gestão da escola.

É importante consolidar a escola como espaço de instrumentalização e socia-


lização do conhecimento (SAVIANI, 1991), conhecimento que passa pela tomada de
consciência da comunidade sobre o seu papel na construção de uma proposta de gestão
que, de fato, contribua para a solução dos problemas enfrentados pela escola e para a
melhoria da qualidade do ensino.

As escolas precisam gerir diversos recursos financeiros que devem ser empre-
gados na aquisição de material permanente; manutenção, conservação e pequenos re-
paros da unidade escolar; aquisição de material de consumo necessário ao funciona-
mento da escola; avaliação de aprendizagem; implementação de projeto pedagógico; e
desenvolvimento de atividades educacionais.

Os recursos financeiros, de modo geral, são repassados às escolas uma vez por
ano, é calculado a partir do número de alunos relatado pela escola no censo escolar do
ano anterrior. As escolas devem prestar contas anualmente dos recursos financeiros.
Uma escola pode receber recursos financeiros do FNDE, PDDE, PDE-ESCOLA, etc.

Projeto Vivencial Unidade II 33


PARA SABER MAIS
Acesse: http://www.fnde.gov.br/programas/dinheiro-direto-escola/dinheiro-direto
-escola-funcionamento e http://www.fnde.gov.br/fnde/institucional/perguntas-fre-
quentes

2.2.7 Organização Pedagógica da Escola

A organização pedagógica da escola deve articular-se à organização administra-


tiva. Compete à equipe pedagógica a interlocução com o corpo docente para efetivação
de uma prática pedagógica que cumpra os pressupostos conceituais e práticos expostos
no Projeto Político-Pedagógico.

Podemos considerar a prática pedagógica, com atividade complexa e dinâmica


que se efetiva em um ambiente social particular, ou seja, na escola e que tem como fi-
nalidade a formação de um sujeito crítico, reflexivo capaz de exercer sua cidadania e se
inserir no mercado de trabalho.

Não é tarefa fácil, segundo Borges (2003), a função da Equipe Pedagógica en-
contra-se maximizada no processo educativo agindo em todos os espaços para a garan-
tia da efetivação de um projeto de escola que cumpra com sua função política, pedagó-
gica e social. Ainda sobre as dificuldades enfrentadas pelos pedagogos, Saviani (1994)
afirma que esses profissionais, enquanto especialistas em pedagogia escolar cabe-lhes
a tarefa de trabalhar os conteúdos de base científica, organizando-os nas formas e mé-
todos mais propícios à sua efetiva assimilação por parte dos alunos.

A equipe pedagógica deve, portanto, contruir uma proposta pedagógica atenda


a demanda do contexto sócio-econômico-cultural atual, com a proposição de ações que
possibilite a formação de cidadãos críticos, capazes de lidar, conscientemente, com a
realidade científica e tecnológica na qual estão inseridos.

Assim, é de responsabilidade da equipe pedagógica – coordenadores, super-


visores, orientadores educacionais e professores – construírem, juntamente com os
demais segmentos da escola, a proposta curricular que norteará o trabalho pedagógico

Projeto Vivencial Unidade II 34


e a práxis educativa da escola. Para isso se faz necessário conhecimento das diretrizes
curriculares nacionais para cada nível e modalidade de ensino ofertado pela escola e
sobre o sistema de avaliação em larga escala.

PARA SABER MAIS


Para saber mais sobre as diretrizes curriculares nacionais consulte as bibliotecas da
Sala PV, FDE e PPGE. Boa leitura!

Além da observância das diretrizes curriculares e das bases legais referentes à


construção da proposta pedagógica da escola, é necessária a formação continuada do
corpo docente para a melhoria da prática pedagógica e da melhoria da qualidade do
ensino.

A formação continuada, principalmente, diante da difusão das tecnologias da


informação e da comunicação (TICs) que têm impactado fortemente a prática peda-
gógica e, consequentemente, a organização do trabalho pedagógico, abre novo leque
de possibilidades de metodologias e práticas de ensino, novas formas de acesso ao co-
nhecimento, novos conhecimentos, novas formas de aprender e superação de barreiras
físicas em relação ao conhecimento e espaços de aprendizagens.

Cabe à coordenação pedagógica ou ao profissional que desempenha essa função


na escola oportunizar momentos de estudo e discussão sobre temáticas relacionadas

Projeto Vivencial Unidade II 35


ao trabalho docente, ao processo de ensino-aprendizagem, à educação de maneira ge-
ral, trocas de experiências, estabelecimento de parcerias a fim de possibilitar a forma-
ção destes profissionais no ambiente de trabalho.

Muitos sistemas de ensino, cientes da importância da formação continuada e


troca de experiências, estabeleceram, dentro da carga horária dos profissionais da es-
cola, momentos para os encontros da equipe pedagógica. Tais momentos recebem no-
mes diversos sendo ‘Reunião de Módulo’ o mais comum.

No entanto, as funções são as mesmas: fórum permanente de discussão das


concepções de educação, das metodologias de ensino, sobre os conhecimentos teóricos
e experiências que desenvolvam as competências profissionais do professor, estabele-
cimento de grupos de estudos e pesquisas, discussões sobre os problemas enfrentados
na sala de aula e fora dela, estabelecimento de parcerias para a realização de projetos,
avaliação da proposta pedagógica e das práticas de ensino, análise das avaliações em
larga escala, dentre outras (LIBÂNEO, 2001; SAVIANI, 2007; VEIGA, 1995).

É preciso que o coordenador pedagógico planeje, antecipadamente, esses mo-


mentos de encontro da equipe pedagógica e conduza o processo. Como a organização
pedagógica e administrativa deve estar integrada, o gestor escolar pode participar dos
encontros da equipe pedagógica, mas, é preciso ter cuidade para que esses encontros
não se torme momentos de mera prestação de contas de reivindicações diversas. O
Conselho de Classe, também, se configura como momento de encontro da equipe peda-
gógica, mas, não deve ser confundido com os momentos de formação e discussão sobre
o trabalho pedagógico.

O Conselho de Clásse é constituído para discussão das vivências em sala de aula


e envolve todos os atores participantes do processo de ensino-aprendizagem. O Conse-
lho de Classe, de modo geral, ocorre logo após a finalização de cada etapa pedagógica
– bimestre ou trimestre – e pressupõe avaliação do desenvolvimento dos aprendentes
e da prática pedagógica dos professores. (SILVA, 1999).

A proposta pedagógica da escola deve partir do pressuposto que o conhecimen-


to é uma construção coletiva mediada pelo diálogo (FREIRE, 2004). O procecesso de
construção do conhecimento deve partir da realidade dos sujeitos, de seus interesses
sem deixar de lado o conhecimento técnico-científico e cultural produzido pelas socie-

Projeto Vivencial Unidade II 36


dades ao longo dos anos e os conteúdos previtos nas diretrizes curriculares nacionais e
a dos respectivos sistemas de ensino.

É preciso, além da seleção da concepção de aprendizagem que norteará o traba-


lho pedagógico da escola, da seleção de conteúdos, da especificação do processo avalia-
tivo é necessário a escolha e utilização de metodologias de ensino que favoreçam o diá-
logo, a interação com o objeto de estudo, a experimentação (consulte a obra de Dewey),
que seja desafiadoras e que permitam a (re)criação do conhecimento pelos sujeitos.

Freire (2004) chama a atenção para o fato de que a escola precisa ressignifi-
car o processo de ensinar e aprender de forma a possibilitar, ao sujeito aprendente,
o estabelecimento de conexções e relações entre os conhecimentos produzidos pela
humanidade e a realidade na qual está inserido. Para o autor, os conhecimentos signi-
ficativos promovem o diálogo, provocam questionamentos e discussões, propiciando a
interação entre sujeito e conhecimento.

Para dar conta de tudo isso, a proposta pedagógica e a organização curricular


devem ser flexíveis, deve prever a possibilidade de mudança e alterações e propor uma
seleção intencional, sistemática e criteriosa de conteúdos.

A proposta pedagógica da escola como parte integrante do PPP representa uma


determinada concepção de educação e de sociedade e deve ser construída pelos profes-
sores dos diversos compontentes curriculares, mediada pela equipe pedagógica. Para a
elaboração da proposta pedagógica e da organização curricular da escola, os docentes e
a coordenação pedagógica precisa lançam mão dos fundamentos curriculares. Para dar
vida à proposta pedagógica da escola e à organização curricular, é preciso a elaboração
dos planos de ensino e de aula que sistematizam o planejamento do trabalho pedagó-
gico.

O currículo escolar não é neutro. Ele sintetiza a concepção de homem, de mundo


e de sociedade que se deseja formar. A organização curricuar estabelece a organização
dos espaços e tempos em que a escola vai desenvolver os diferentes conhecimentos e
valores. A escola pode, conforme a atual LDBEN, se organizar em regime seriado (or-
ganização curricular exclusivamente temporal) ou regime cilcado (dividido em tempos
que variam de dois a três anos e consideram as variações evolutivas dos alunos e seus
ritmos de aprendizagem).(SILVA, 1999).

Projeto Vivencial Unidade II 37


Esses documentos devem contemplar recorte dos conteúdos selecionados para
cada período educativo, apresentar a intencionalidade da proposta pedagógica e do
professor em relação às competências e habilidades a serem desenvolvidas junto aos
educandos e traduzidas a partir dos objetivos de ensino e critérios avaliativos.

Para que a proposta pedagógica se efetive no cotidiano escolar e, portanto, se


consolide como uma rotina pedagógica da escola se faz necessário a participação ativa
da equipe pedagógica na construção do PPP e que os professores tenham pleno conhe-
cimento da organização curricular da escola: conteúdos (intencionalidade-objetivos),
metodologias a serem utilizadas para que se possa atingir os objetivos de aprendiza-
gem e como os aprendentes serão avaliados (critérios e instrumentos de avaliação) e
sobre as possibilidades de intervenção para aqueles que não conseguiram alcançar os
objetivos de aprendizagem.

Aspecto importante da organzação pedagógica e também da organização ad-


ministrativa, a avaliação em larga escala, no caso da Educação Básica, o Sistema de
Avaliação da Educação Básica (SAEB), mostra os resultados sobre os índices de apren-
dizagem e servem, para os gestores escolares, como sensor da qualidade da educação
oferecida.

O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) foi implantado


em 1990 e é coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (INEP). Consiste na sistematização e análise de dados sobre o ensino
fundamental e médio. O SAEB fornece subsídios para a formulação de politicas e dire-
trizes educacionais para as escolas de todo o país.

O SAEB é composto por duas avaliações complementares, a Avaliação Nacional


da Educação Básica (Aneb), avalia os estudantes matriculados no 5º e 9º anos do en-
sino fundamental e no 3º ano do ensino médio e a Avaliação Nacional do Rendimento
Escolar (Anresc), mais conhecida como Prova Brasil, que avalia alunos de 5º e 9º anos
do ensino fundamental público, nas redes estaduais, municipais e federais em escolas
que tenham no mínimo 20 alunos matriculados na série avaliada. As avaliações do
SAEB ocorrem a cada dois anos, a Aneb é amostral e a Anresc, censitária.

Projeto Vivencial Unidade II 38


PARA SABER MAIS
Ficou curioso? Quer saber mais?
Acesse: http://provabrasil.inep.gov.br

Como vimos, a avaliação é parte integrante da proposta pedagógica da escola


e, a avaliação em larga escola possibilita que a escola identifique suas fragilidades em
relação ao processo de ensino-aprendizagem, as competências e habilidades que preci-
sam ser desenvolvidas e reveja suas estratégias de ensino.

A avaliação em larga escala possibilita, também, que a escola se localize em re-


lação à qualidade do ensino em relação às escolas do município, do estado e do país e a
partir dos índices de desempenho dos alunos, estabelecer estratégias que possibilitem
a melhoria do ensino e, consequentemente, o rendimento dos alunos.

A adoção de metodologias de ensino mais adequadas ao contexto da escola e da


comunidade atendida e que foram selecionadas a partir de uma análise criteriosa dos
resultados obtidos pela escola no SAEB e fruto do diálogo e da reflexão da equipe pe-
dagógica sobre a proposta pedagógica da escola propiciam a aprendizagem dos alunos
com consequente melhoria dos indicadores de rendimento escolar da escola.

Aprofundaremos nossos conhecimentos sobre a avaliação em larga escala na


Sala Políticas e Práticas de Gestão Escolar (PPGE), no momento, é importante que te-
nham a coompreensão de que se faz necessário que a equipe pedagógica e os gestores
escolares interpretem e analisem as avaliações do SAEB para de fato implementarem
as mudanças necessárias no espaço escolar e na comunidade, principalmente, para
subsidiar mudanças das açoes pedagógicas nas salas de aula.

A gestão escolar envolve a organização administrativa e pedagógica de uma es-


cola e deve garantir que todos os segmentos envolvidos na práxis educativa consquis-
tem seu lugar na construção do Projeto Político-Pedagógico da escola. Lagarde (1993)
chama a atenção para o fato de que poder se faz presente nas relações cotidianas, em
ações, em gestos, na linguagem, na capacidade de decidir sobre a vida do outro.

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As relações de poder permeiam todas as relações sociais presentes na escola e,
ao contruirmos a proposta político-pedagógica da escola, estamos tomando decisões
que impactarão a vida das crianças e jovens que passarão pela escola, ou seja, estamos
tamando decisões que impactarão a vida do outro, seja esse outro, o aluno, o professor,
os pais, a comunidade...

Ao elaborarmos coletivamente o PPP da escola e ao abrirmos espaços para o


diálogo nas esferas administrativas e pedagógicas da gestão escolar, estaremos contri-
buindo para a formação de sujeitos críticos, refleximos, criativos, pensantes. O gestor
escolar é figura central neste processo, pois, define, planeja, organiza, coordena, avalia
e integra todas as atividades desenvolvidas no âmbito da unidade escolar

PARA SABER MAIS


São muitos os termos e vocábulos de uso corrente no campo da Educação e para saber
um pouco mais sobre os termos que utilizamos e conhecer outros, consulte o Glossário
de Termos e Expressões de Educação e Cultura, elaborado pelo Departamento de En-
sino e Pesquisa do Exército Brasileiro no link: http://www.decex.ensino.eb.br/pdfs/
educacao/glossario.pdf Bons estudos!

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