E-Book - Pequeno Guia de Latim para Iniciantes
E-Book - Pequeno Guia de Latim para Iniciantes
E-Book - Pequeno Guia de Latim para Iniciantes
PARA INICIANTES
PEQUENO GUIA DE LATIM
PARA INICIANTES
PEQUENO GUIA DE LATIM PARA INICIANTES
SUMÁRIO
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CAPÍTULO I
O BÁSICO QUE NÃO SABEMOS
SOBRE LATIM.
9 CAPÍTULO II
VALE A PENA ESTUDAR LATIM?
15
CAPÍTULO III
LINGUA LATINA PER SE ILLUSTRATA
19
CAPÍTULO IV
APRENDA UM POUCO DE LATIM
24 CAPÍTULO V
O MÉTODO NATURAL E DICAS
DE ESTUDO
27 CAPÍTULO VI
LITERATURA ROMANA ANTIGA
55 CAPÍTULO VII
CONCLUSÃO
PREFÁCIO
Bem-vindo a este pequeno guia de latim para iniciantes. Este trabalho, uma iniciativa da Schola
Classica, se destina a todos os curiosos ou àqueles que tenham dúvidas mais gerais sobre a
língua latina e o estudo dela, pois traz informações básicas que podem ajudá-los em escolhas
importantes, quanto a exigências gerais desse aprendizado, motivações para buscá-lo e também
para que entendam melhor a importância cultural e os benefícios de se estudar o latim.
Tudo isso é apresentado em 7 capítulos, com diversos assuntos pertinentes: o primeiro deles,
para que os leitores tenham uma ideia melhor do que é o latim, trata da relação entre o latim
e as línguas modernas ocidentais. Já os capítulos 2 a 5 tratam muito mais de dicas de estudo
e justificação de sua importância, assim como de uma breve introdução ao latim pelo “método
natural”, que utilizamos na Schola Classica. No final, os últimos dois capítulos tentam resumir
a história da literatura latina até o décimo quinto século depois de Cristo, facilitando sua
divulgação, sobretudo em contexto de grande desconhecimento da disciplina.
Aqui não vamos abordar todas as respostas, objeções, contradições entre opiniões de latinistas
e professores. Se tivéssemos de fazer isso, não haveria espaço no que se destina a ser um
“pequeno guia”. No entanto, muitos alunos poderão se beneficiar desse trabalho de diversas
maneiras: de fato, sabemos quantas dúvidas podem surgir a quem medite, por pouco que
seja, sobre o que é o latim e se deveria esforçar-se por aprendê-lo. É grande a necessidade
de tais informações, uma vez que chega até nós enorme quantidade de relatos sobre pessoas,
já com ensino superior, ou mesmo mestres e doutores, que pensavam em estudar o latim e
não prosseguiram porque não havia respostas a suas dúvidas sobre esse estudo. Além disso,
certas informações contidas em livros e manuais satisfaziam aos que precisavam de maiores
esclarecimentos para, então, prosseguirem em seus estudos. Dessa maneira, grande é o número
de pessoas que, tristemente, deixaram os primeiros impulsos de lado e se privaram de estudo
tão importante como o da língua latina.
Com tudo isso, tomemos este guia como uma pequena janela de entrada ao vastíssimo
assunto representado por nossa língua mãe. Àqueles ainda indecisos entre estudar o latim
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PEQUENO GUIA DE LATIM PARA INICIANTES
ou outras línguas modernas, ou mesmo outras disciplinas, esperamos que não lhes restem
mais desconfianças do ganho intelectual decorrente de se dominar o latim em todos os seus
aspectos, o que, muitas vezes, ultrapassa as expectativas de nossa ambição.
Boa leitura!
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PEQUENO GUIA DE LATIM PARA INICIANTES
CAPÍTULO I
O BÁSICO QUE NÃO SABEMOS SOBRE LATIM.
O QUE É O LATIM
O latim é uma língua e, ao mesmo tempo, um caminho de formação com o qual tantos gêneros
literários se revelaram e tantos estudiosos puderam nomear fenômenos e descrever
acontecimentos, penetrando nas verdades da natureza.
Recebe o nome de “latim” por causa da região de sua origem, o Lácio - Latium, em latim -, onde
se encontra a cidade de Roma. Floresceu não só nos palácios dos governantes romanos, mas
também em fóruns, praças, no Senado e em templos sagrados, sempre ganhando mais fluidez,
beleza e acréscimos importantes em estilo e gêneros literários com o influxo dos gregos e
crescendo como fruto de um intercâmbio intenso entre povos Europeus, Indo Europeus, Africanos.
Região do Lácio
O LATIM SE ESPALHOU
A história do Latim está ligada ao poder de uma nação - a nação romana -, cuja grandeza
disseminou o latim para além dos seus limites territoriais, mesclando-o até mesmo com as
Tudo que era parte desse império, como regiões menores e províncias, ao menos por algum
tempo, aproximou-se da língua difundida pelos militares.
Essa língua falada nos acampamentos militares não poderia se limitar a esse espaço; de fato,
viria a levar sua luz a outros povos de linguagem rudimentar.
Um castro romano
A proximidade das línguas modernas se deve a diversos fatores, o mais importante dos quais
consiste em terem todas elas uma ancestral comum, a língua latina. Existem diversas obras que
tratam de vários períodos da formação de cada língua; similarmente, cada povo costuma ter a
história da própria língua bem mapeada. Como o intuito deste material é oferecer uma noção
de como podemos proceder no estudo do latim, basta sabermos que é muito fácil encontrar
semelhanças entre todas essas línguas, mostrando também o quanto se faz importante o estudo
do latim para uma compreensão linguística do ocidente e para uma escrita melhor. Nesse
contexto, a língua portuguesa pode ser chamada de um “latim vulgar” pois deve sua origem
ao latim falado pelos habitantes da Lusitânia, nome que os romanos deram ao que viria a ser o
atual Portugal.
CAPÍTULO II
VALE A PENA ESTUDAR LATIM?
Mas além de fazer-nos escrever melhor em qualquer língua moderna ocidental, fazer-nos
conhecer o vocabulário das ciências com muito mais clareza, melhorar ainda mais a nossa
memória e inteligência, o estudo do latim pode nos presentear de outro modo especial!
Primeiro de tudo, como já colocado acima, é nossa Língua Mãe e, sobretudo, uma língua
que surgiu para a eternidade: sendo morta, não está sujeita a novas mudanças, não sofrerá
alterações, seu vocabulário e gramática estão como que congelados, permitindo que as ideias,
as meditações, os conceitos, enfim, tudo o que pensaram os antigos possa ser compreendido,
compartilhado e empregado hoje em dia. Portanto, um poeta que versificasse em bom latim no
séc. XX estaria fazendo algo compreensível a qualquer escritor anterior ao advento de Cristo,
pois a comunicação usaria as mesmas figuras, termos, sistema gramatical, morfologia, sintaxe,
sentido etc., ainda que o estilo e a criatividade de cada escritor seja única e irrepetível.
Para entendermos melhor o valor disso, tomemos o exemplo de alguém que escreva com um
dialeto de determinado povoado do séc. XXI: essa pessoa apenas seria entendida no espaço
curto de emprego dessa linguagem. Algumas das palavras que escrevesse em seu texto seriam
oriundas de figuras de linguagem, de situações trágicas, cômicas, particulares dali, ou mesmo
de histórias de um herói regional, e com certeza todos os locais as entenderiam. Do mesmo
modo, seus leitores participariam imaginativamente dos fatos descritos, notando nuances,
imaginando e sentindo de modo compartilhado aquilo que as expressões indicassem. Mas qual
seria a diferença entre a língua latina e um dialeto como esse, ou um vocabulário restrito a uma
comunidade? A diferença é que o latim ganhou anos de aperfeiçoamento em questões sérias,
públicas, de grande projeção temporal e geográfica, em composições diversas, aprimorando-
se pela qualidade das letras gregas, enquanto certos dialetos ou línguas, tendo durado menos
tempo e em âmbito restrito, com pouca produção literária e depois caído em completo desuso,
não forneceriam vocabulário nem recursos para que histórias e acontecimentos fossem
narrados, questões humanas difíceis fossem respondidas, versificações mais complexas
elaboradas e assim por diante. A língua latina, enquanto língua “morta”, ainda comunica tudo o
que foi registrado em latim de forma especial pois, na antiguidade, fora usada para os assuntos
mais caros da humanidade, das profundezas da alma humana, de diversas ciências em sua
máxima complexidade; foi a língua com que os poetas expressaram paixões e sentimentos e
narraram fatos importantíssimos; foi usada para a eloquência, em memoráveis discursos, em
tantas outras situações, tornando-se, como a língua grega, muito rica e particularmente eficaz
na comunicação de ideias.
Desse modo, é possível compreender o motivo pelo qual, por tanto tempo, nada se fez no ensino
superior sem a língua latina: porque ela guarda o peso histórico de muitas conceitos em cada
termo seu. Um jovem que fosse para a academia faria um percurso tão grande de leituras em latim
que esta se tornaria a única língua com a qual poderia expressar os resultados de seus estudos.
Para ilustrar ainda melhor esse ponto, pensemos na escrita da língua portuguesa, que se compõe
muito do grego e do latim em seu vocabulário: vemos artigos e ensaios nos quais vários termos
utilizados acabam por fazer referências a conceitos latinos, como na utilização da palavra acto
ao invés de ato, fixando seu sentido mais ao modo “antigo”, filosófico, pois tem mais firmeza e
rijeza conceitual em determinada situação.
Nossa língua portuguesa, como tantas outras, é um dos frutos do latim. Como já vimos, além
da nossa, encontramos o italiano, espanhol, francês e o romeno, sem contar aquelas que têm
grande parte de seu vocabulário originada do latim mas não são consideradas latinas, como é
o caso da língua inglesa.
Camões enriquece a língua portuguesa com seu domínio da língua latina e dos clássicos.
Sabendo disso, podemos afirmar que estudar o latim nos ajuda a melhorar a escrita em nossa
língua, o português. Na verdade, essa afirmação não é tão óbvia, visto que, com a atual e
generalizada ideia de progresso constante da humanidade, das ciências e da inteligência do
homem, muitas vezes nos esquecemos de que todo o avanço técnico-científico só foi possível
graças ao domínio de uma mesma linguagem por parte de grandes cientistas, humanistas e
pensadores que nos antecederam. Devemos aprender de uma vez por todas que o que foi
escrito em latim por poetas, oradores, filósofos e cientistas dificilmente teria sido feito se a
língua, sendo pobre como muitas que já deixaram de existir, não o permitisse. Um segundo
argumento para provar a afirmação de tal benefício, a exemplo dos portugueses, seria dizer que
Camões não deve seu rico vocabulário à linguagem popular, mas sim ao Latim, fato que o fez
trazer vocábulos novos a sua língua materna, a tal ponto que, mais tarde, Olavo Bilac a chamaria
de “a última Flor do Lácio” em seu poema “Língua Portuguesa”. Caminho similar foi percorrido
pelas demais línguas modernas ocidentais, a exemplo do inglês de Shakespeare - cuja obra
muito deve ao conhecimento do latim - ou em temas científicos, como na Biologia, na Química,
Medicina, temas filosóficos, entre outros.
Como dito antes, Olavo Bilac descreve a língua portuguesa como fruto, amado e vulgar, da
região do Lácio:
“LÍNGUA PORTUGUESA”
Última flor do Lácio, inculta e bela
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
Mas lembremos que antes de pensarmos nesses benefícios práticos e imediatos do estudo
do latim, temos que reconhecer outro ainda maior: o latim é o acesso a outros tempos. Sim,
entrando em contato com a literatura latina abrimos uma janela que nos reporta a antigos
escritores, poetas, professores, cientistas, os quais não devemos de modo algum desclassificar
como autoridade, pois ainda nos podem ensinar muito. Ainda hoje aprendemos a escrever e a
pensar com eles. Pelos registros literários que temos, podemos obter imagens riquíssimas da
vida e do pensamento de tantos poetas e intelectuais, os quais nos reconduzem a um mundo já
bastante desconhecido. De fato, o desconhecimento a que nos referimos está justamente num
modo de ver a vida, com outra interpretação dos fenômenos internos e externos ao homem, de
ver a natureza das coisas. Se voltássemos a buscá-los como sábios e fôssemos capazes de
resgatar o que antigamente foi visto como verdadeiro, precioso, mas se perdeu, preencheríamos
muitos espaços vazios no interior do homem moderno. Teríamos assim o estudo do latim para
nos levar a uma cosmovisão bastante distinta dessa que nos é oferecida, quando não imposta,
atualmente.
Essa literatura que tem anos de formação, que se fez num processo lento, com o qual os latinos
aprenderam a pensar e escrever baseados nas culturas ao redor do mediterrâneo, é rica e
permite-nos pensar e meditar sobre toda a realidade. Muitos progressos das ciências modernas
não seriam possível sem esse tipo de intercâmbio, sem uma linguagem capaz de explicar tanto
da complexidade da natureza do universo todo, dos homens, dos seres e fenômenos, assim
como o estudo da nossa alma, espírito e, dentro disso, do intelecto!
Qualquer texto latino nos dá informações que não poderiam ser expressas de modo tão preciso
se tentássemos escrever com outra língua moderna. Um dos motivos do distanciamento é a
perda de significados e conotações de palavras “transportadas” de uma língua para outra, assim
como a densidade que cada palavra carrega por guardar maior poder de uso; então, ainda
que escritores modernos tentem guardar melhor o bom uso das línguas modernas, vemos
tantos exemplos de palavras distintas que têm a mesma a denotação como “ter” e “possuir”,
diferente de “tenere”, “habere” e “possidere”, para usos diferentes, que, no processo, se
empobrecem, porque cada uma tinha uma conotação específica. Compreende melhor isso
quem, por exemplo, prove da experiência de comparar dois textos distintos: um em latim e sua
tradução em português.
Mas por ter um modo de uso com certa complexidade a mais, o latim oferece mais dificuldade,
tanto de compreensão quanto para a criação escrita. As palavras se organizam de um jeito mais
claro e mais detalhado, a junção delas nos dá situações que eliminam diversas confusões. Desse
modo, podemos dizer que ela nos oferece um aparato de símbolos e regras que melhoram a
qualidade com que as ideias são expostas, com que as narrações são feitas, etc.
Para ficar mais claro, tomemos um exemplo sobre o uso da língua no seu modo de informar
como algo aconteceu ou de que jeito foi feito. Sabemos que um advérbio, regulando o verbo em
algum grau, como em “rapidamente viu-se em sua derrota”, é algo do qual bem dispomos em
nossa língua, mas no caso da frase “com a foice, colhe e pega os frutos da terra para comê-
los” em latim diríamos de uma maneira muito mais simples que nos permite montar esta cena:
falce metit tollitque fruges soli essendo; notemos que a frase tem menos partículas, seria mais
“enxuta”, as imagens se produzem na imaginação de um jeito próprio, o leitor não sobrepõe ou
acrescenta os elementos da frase do mesmo modo que faz lendo em português. Mas para que
alguém consiga usar a língua corretamente, precisa compreender e manipular as regras de uso
em cada situação. Além dessas vantagens apresentadas, há outras tantas que tornam a língua
muito fluida e bela em sua escrita de diferentes gêneros, assim como precisa para a análise.
Ainda teremos diversos exemplos em meio a todo tipo de frase que desejarmos construir, a
riqueza da língua não tem fim.
Outros educadores dirão sobre os ganhos e as vantagens em aprender latim por outros tantos
motivos. Napoleão Mendes é um dos gramáticos que, mostrando atitudes importantes em
relação à educação, cita o exemplo de europeus que não puderam iniciar seu ensino superior
em ciências exatas porque não tinham latim na sua formação inicial, assim como de educadores
que defenderam ferozmente o aprendizado do latim para alunos que desejassem cursar qualquer
ensino superior, pois eram exigidos 9 anos de latim, antes do ingresso em Engenharia. Defende
também todo o exercício que envolva o aprendizado da língua para entender a sua estrutura,
visto que seria como uma introdução ao raciocínio lógico formal. O Padre Milton Valente, famoso
como autor de gramáticas ginasiais, também enaltece muito a superioridade dos alunos alemães
do século passado que empenhavam-se no estudo das letras com muita força, de tal modo que,
mesmo falantes de uma língua germânica, colhiam enormes benefícios no estudo de latim.
CAPÍTULO III
LINGUA LATINA PER SE ILLUSTRATA
LIVROS E MÉTODOS:
Temos hoje a popularização do livro Familia Romana e, por conta disso, do método natural,
conhecidos por sua eficiência como material e método didáticos. Já temos resultados concretos
a serem discutidos sobre esta ferramenta e método de ensino, pois muitos alunos rumam de
diversos países à Europa a procura de uma educação humanista e o utilizam para o aprendizado
da língua latina; hoje em grande número podem comentar muito a respeito. De fato, é algo que
ajudou muitos e ainda há de provar mais da sua capacidade, até com relação a outros métodos
de ensino, pois diríamos que tem uma história ainda em curso. Por isso não deixemos de
conhecer bem o que todo o material da série Lingua Latina, que se inicia no Familia Romana,
nos oferece e tem de melhor.
Mas ainda que pensemos hoje em casos de sucesso e de professores formados assim,
lembremos que o método nem sempre foi visto como as mil maravilhas, um caminho tortuoso
foi o que o originou. A pugna começou no século XIX, na Europa; muitos anos haviam passado
desde a última época de grandes humanistas, surgida pelo séc. XIV, destacados por suas obras
e estudos latinos, que tinham seu modo de ensino e seus grandes nomes espalhados por
escolas europeias. Já no período do qual tratamos agora, se trata de uma situação diferente,
havia poucos escritores ou humanistas com a mesma arte e interesse daqueles mais antigos
e, no entanto, muitos estudavam latim, crianças eram submetidas ao estudo de gramática e
tradução nas escolas, o que ainda não viria a ser mal, se não fosse por certas cobranças
exageradas, causa de controvérsias, também por uma falta de contato com a literatura latina: Os
professores, muitas vezes, viam o estudo como uma ferramenta externa ao seu fim comumente
difundido, quase que somente direcionada ao raciocínio lógico e abstrato, sem tratar tanto de
domínio prático de escrita.
De fato, alunos ganharam muita inteligência para a análise, filologia, avançaram em linguística,
assuntos gramaticais e daí por diante, mas para onde teria ido o impulso inicial desse estudo e
outros tantos aspectos cruciais da língua latina, tão relevantes quando o que a proposta vigente
apresentava, mesmo que evidentemente valiosa? Essa pergunta se fizeram muitos professores
da época e outros que vieram a repeti-la mais tarde.
A discussão caminhava para bem longe, alguns tentaram expor o quanto aquele ensino se
distanciava da proposta educacional antiga, mais relacionada às letras e à formação das
virtudes, outros propunham sempre soluções como aulas de latim apenas faladas, o que dentre
tantas outras respostas, nunca foi bem visto. Então, um pouco mais tarde, no início do século
XX, professores americanos reagiram a isso, o que culmina no uso do método direto, na época já
conhecido de longas pesquisas e experiências com línguas modernas, com o qual a língua latina
seria ensinada a partir de textos muito simples que, no avançar dos capítulos, se apresentariam
cada vez mais complexos, em meio a lições gramaticais e de escrita.
O personagem principal nesse meio foi Hans Ørberg, que cria a série Lingua Latina Per Se
Illustrata, modelo que, no seu desenvolvimento posterior, ganhou um corpo ainda maior do que
o comum visto para as línguas modernas. A série foi elaborada minuciosamente, ganhando
várias sugestões, e corrigida por latinistas de muitas escolas do mundo todo. Ørberg tinha
Na primeira imagem, Ørberg trabalha na série Lingua Latina Per Se Illustrata, na segunda está dando os últimos reparos na
edição de Ars Amandi, “A Arte de Amar”, de Ovídio.
O primeiro e o segundo livro da série compõem basicamente uma novela toda em latim, na
qual a escrita passa a ser mais complexa no segundo livro, Roma Aeterna, embora já no
Familia Romana tenhamos uma leitura mais áspera por volta do capítulo XX. O recurso principal
utilizado para o ensino é a própria história com toda sua complexidade e elementos muito
bem estruturados entre si, visto que nada do que acontece no início, mesmo nas partes de
vocabulário mais básico, sejam aleatórias na narrativa e nas lições seguintes como um todo.
Como recurso didático, há figuras e elementos lúdicos, principalmente nos primeiros capítulos,
para que novas palavras sejam aprendidas rapidamente, de modo que as margens contenham
as informações de tudo que é novo no texto, sem que seja necessário o uso de dicionários
a todo momento. Além disso, os recursos pedagógicos mais importantes, que implicam um
sólido conhecimento gramatical e das diversas situações e nuances encontradas no latim, se
equiparam a um ensino gradual de artes e filosofia das artes, no qual, seguindo essa analogia,
podemos ter inicialmente a exposição de formas geométricas muito simples, depois alteradas
em seus tamanhos, proporções, curvas, sempre mostrando como essas primeiras geometrias
compõem imagens mais complexas ao final, como a figura humana, fazendo o aluno comparar
formas, imagens, as interações de objetos com o espaço, aplicação de cores, as diferentes
composições possíveis ou harmônicas, por fim, compreendendo não só a técnica de pintura
ou escultura, mas também uma ampla apreensão estética e das artes como teoria. Feita essa
comparação, podemos compreender um pouco como o conhecimento profundo da língua e de
seu uso, portanto, é possível, principalmente pela organização didática do material, incessantes
exercícios de compreensão textual, escrita, tradução e gramática, de comparações entre
situações e quantidade grande de exemplos aos quais o aluno é exposto. Justamente pela busca
da excelência do material didático, a obra de Ørberg é composta de livros de exercícios, textos
adaptados e originais diversos, manuais que orientam o professor para diferentes situações e
técnicas, sobre como fazer exercícios em aula ou informar sobre práticas importantes que não
estão nos cadernos de exercícios, além de conter notas e explicações.
CAPÍTULO IV
APRENDA UM POUCO DE LATIM
Cena de uma escola em Trier, na Alemanha, em alto-relevo: um professor e dois alunos sentados, os quais desenrolam seus livros, e
um outro chega com seu material, na maleta de madeira.
O Latim é uma língua muito racional em seus mecanismos, um sistema complexo muito coerente,
com o qual podemos explicar questões difíceis com recursos de sobra, cuja superioridade
como língua se demonstrou pelo seu período áureo da literatura. Como, pelo parentesco e
pelo processo, a língua portuguesa está muito ligada ao latim, vemos parte grande da mesma
estrutura latina na língua portuguesa.
Para cumprir o objetivo deste capítulo, sobre conhecermos minimamente como é a estrutura do
latim, vamos usar algumas diferenças e semelhanças entre as duas línguas, assim aprendemos
melhor por comparação.
A MORFOLOGIA
A morfologia das palavras latinas pode também ser dita como partes da oração.
As orações são partes integrantes de períodos de textos e cada uma contém apenas um verbo.
Exemplo de período simples: ‘Dante escreveu poesias.’ É um caso de um período simples, pois
há apenas uma oração, contamos um verbo.
Exemplo de um período composto (dois verbos, duas orações): ‘Dante era poeta e escreveu
sobre o céu.’
Vemos que as orações são unidades menores formadas por um conjunto de palavras organizadas
em certa ordem, necessitando de, pelo menos, um verbo, vide o exemplo do período simples.
As orações podem expressar, na sua mensagem, ações, movimentos, coisas, pessoas, objetos,
idéias, conceitos, pensamentos, localizações, intensidades, atributos, dentre tantos tipos
possíveis.
Como introduzido neste texto, as partes da oração podem representar coisas da realidade, tudo
que é cognoscível pelo homem pode ganhar uma representação simbólica e ser incorporado à
língua, dos seres mais reais às imaginações e meras fantasias.
Dizemos que a língua latina tem oito partes que compõem as orações: Nome, pronome, verbo,
advérbio, particípio, conjunção, preposição e interjeição. Cada uma delas é conforme a palavra
tomada em si mesma. Por exemplo: canis (cão), nome; homo (homem), nome; qui, quae, quod,
pronomes; hic, nunc, (aqui, agora), advérbios.
Essas partes das orações são o que nos ajudam a compor o que queremos com a língua, são
como os tipos de “peças do quebra-cabeças inteiro”, cada uma com uma função morfológica
dentre as oito apresentadas.
Na morfologia, o latim é muito similar ao português, mas há diversas modificações que ocorrem
no uso, devido aos casos e suas declinações, assim como dos mecanismos da língua. Para
entender isso, precisamos ter uma melhor noção das funções de todos os elementos que estão
nos períodos dos textos, as funções sintáticas.
SINTAXE
A Sintaxe é a parte da gramática que diferencia as funções das palavras nos períodos. No
português, podemos formar frases sem muita consciência da função que as palavras têm,
simplesmente nos acostumamos ao uso delas e as combinamos mais facilmente numa certa
ordem até que dêem o sentido que queremos, mas no latim é um pouco diferente, não é
possível formular frases sem uma mínima consciência da função sintática que se dá em função
das flexões das palavras. Na língua portuguesa a função sintática será diferenciada muito
pelas preposições que usamos dependendo de regência verbal e nominal. Um exemplo vemos
quanto aos verbos transitivos e intransitivos, uns pedem preposições, outros não: Chaves deu
a maçã ao professor Girafales. ‘a maçã’ é o objeto colocado diretamente após o verbo sem
preposição (objeto direto); ‘ao professor Girafales’ é o objeto indireto, que não pode estar ali
sem a preposição ‘a’, sem isso a frase fica sem sentido: “Chaves deu a maçã o professor
girafales” não tem sentido, falta algo no modo como escrevemos a frase, portanto, precisamos
da preposição para garantir que o sentido - de que o professor recebeu a maçã - esteja
correto, sem mudarmos a desinência de nenhuma das palavras, ou seja, se Chaves recebesse
a maçã escreveríamos “maçã ao chaves” e não “maça Chavo” ou “maçã Chavi”, a exemplo do
que mais ou menos se vê em outras línguas. Firmando o que foi dito antes: dependendo do que
queremos dizer, numa língua nós diferenciamos a sintaxe por preposições e outros recursos,
na outra, principalmente com flexões, que alteram a forma das palavras pelas desinências.
Sobre as flexões latinas: as palavras latinas, dependendo das suas funções morfológicas,
podem ter flexão de gênero (masculino, feminino e neutro); número (singular e plural); de caso
(nominativo, acusativo, genitivo, ablativo, dativo e vocativo); tempo (pretérito, presente, futuro),
a exemplo de verbos e particípios; graus de comparação (positivo, comparativo e superlativo)
dentre outras flexões possíveis para verbos.
Só algumas das funções morfológicas que vimos acima, podem sofrer mudanças de caso:
Nomes, pronomes e particípios. Isso já faz com que latim e português se tornem bem diferentes.
Mas como escolhemos os casos ao escrever? Ou como sabemos o que eles representam de
fato? Justamente nessas perguntas é que reside uma das maravilhas e dificuldades do latim: a
escolha do caso, ou também, a compreensão dos casos.
Essa compreensão pode receber algumas chaves de leitura que não são tão complicadas.
Para o caso nominativo, pensemos primeiramente que todo o nome nesse caso é de quem faz
uma ação numa oração. Em “Iulia cantat: ‘lala! lalla!’”, Iulia está no caso nominativo - aquele ou
aquilo que age em determinada situação; é o sujeito da frase.
Já o caso acusativo, nos leva a um segundo elemento na mesma frase, a algo que se encontra
logo após à ação do sujeito, ou diretamente depois da ação, assim como pode aparecer depois de
verbos sem preposição entre eles na língua portuguesa, como vimos antes, sendo objeto direto. A
grosso modo, podemos dizer que forma escrita das palavras no acusativo é reconhecida facilmente
pelas desinências -am, -um, -em. Na frase “Iulius Aemiliam vocat”. Temos Iulius, nominativo;
Aemiliam, acusativo e vocat, verbo (chamar). Aemili-a (nominativo), Aemili-am (acusativo).
O caso genitivo indica uma relação entre dois ou mais elementos em que, de algum modo, um
possui o outro, é como falar em pertencimento de elementos a conjuntos: servus domini, servo do
senhor; dominus servi, senhor do servo; regina caeli, rainha do céu; malum Marci, maçã do Marcos.
O caso dativo pode ser pensado como um elemento final do acontecimento expresso na frase,
normalmente é a personagem que aparece depois da ação do sujeito e do acusativo. A função
sintática paralela ao dativo, em português, é o Objeto Indireto, aquela que pede uma preposição
antes da palavra para ser identificada: Marcos dá a bola para a Júlia; Marcus dat pilam Iuliae.
Para Júlia e Iuliae são exemplos da mesma função sintática; em português as palavras não
ganham a identificação do caso pela desinência “-ae”, mas sim com o uso da preposição para
ou a e, seguindo o exemplo e a explicação, devemos notar também que Marcus está no caso
nominativo (sujeito), dat é o verbo, a ação, pilam está no caso acusativo (objeto direto). Para
mostrar um pouco mais da flexibilidade do latim, vejamos outros modos com os quais podemos
escrever a mesma frase: Marcus pilam dat Iuliae. Iuliae dat Marcus pilam. Pilam dat Marcus
Iuliae. Podemos fazer todas as combinações possíveis dentro de um período e a função sintática
das palavras não se altera. Em alguns casos a ordem é importante apenas quando pode gerar
algum tipo de confusão e ambiguidade.
Sabendo tudo isso, notemos como funciona no modo de escrita, pois a língua latina foi feita para
que notássemos facilmente como cada palavra flexiona. Por exemplo, temos fluvius, no caso
nominativo, assim como Iulius e notamos de cara a semelhança das desinências em ‘-us’, que
já nos ajudam a perceber que são duas palavras masculinas no singular. Sabendo, por exemplo,
que o caso genitivo das duas é fluvii e Iulii, com a mudança da desinência de ‘-us’ para ‘-i’,
também podemos dizer que pertencem à primeira das declinações, das quais diremos mais
na continuação, que nos aponta para a semelhança dos casos; fazendo essas comparações, e
conhecendo os mecanismos da língua, já podemos concluir que as duas palavras se comportarão
semelhantemente em todos os casos: fluvius, fluvium, fluvii, fluvio, fluvio; Iullius, Iulium, Iulii,
Iulio, Iulio.
Sabemos que é uma rápida explicação, não tem o intuito de formar gramáticos, mas sim de
matar um pouco a curiosidade, ou criar ainda mais curiosidade, quem sabe. O fato é que cada
palavra latina, com a sua declinação, carrega em si possibilidades de leitura que nos dão uma
sensação diferente enquanto lemos. Quando compreendemos melhor estes casos e os usamos
podemos sentir um pouco disso, um novo tipo de liberdade e compreensão do que escrevemos
que nossas línguas modernas não nos oferecem.
CAPÍTULO V
O MÉTODO NATURAL E DICAS DE ESTUDO
O latim pelo método natural vem sem dúvida demonstrando seu sucesso, sua eficácia é
engenhosa. Apenas o conhecimento de sua estrutura já nos dá uma compreensão da língua de
grande vantagem.
O primeiro livro, Familia Romana, da série Lingua Latina Per Se Illustrata, nos dá um mapa do
conteúdo intermediário de latim sendo completo no que se propõe a fazer. Por auxiliar o estudo
de latim como língua e demonstrar seus mecanismos internos, atende a muitas condições
e restrições, com as quais foi montada a sua estrutura e textos para um objetivo ainda hoje
muito mal esclarecido popularmente: pois o método propõe ao aluno um estudo fluido da língua
que faça sentido ao longo de todo seu curso, e não meramente uma atividade sem dor. Na
verdade, exige tanta dedicação quanto qualquer outro, mas segue uma linha a qual lhe atribui
continuidade e unidade de forma inédita.
Os objetivos do livro vão sendo aos poucos satisfeitos conforme avançamos, como se vê nas
primeiras lições do primeiro capítulo, que nos apresenta o mapa simplificado da Europa e logo
depois as sentenças, tais que podem ser facilmente entendidas: Roma in Italia est, por exemplo,
é a primeira delas, que diz o óbvio “Roma fica na Itália”. Depois segue com: Italia in Europa est.
Graecia in Europa est. Italia et Graecia in Europa sunt. Evidentemente sunt é o mesmo verbo est
no plural. Assim como esta demonstração, os textos do livro propõem tantas mais comparações
e lições. O aluno deve exercitar, portanto, sua capacidade de análise da língua que se apresenta,
por meio de muitos exercícios na própria leitura; pois, é importante que ele inicie o método
instruído para o que está fazendo, para que seu estudo seja o mais perfeito possível.
Ao longo dos capítulos, são ensinadas inúmeras palavras, um vocabulário inicial de grande valor,
também são destacados detalhes sobre cada vocábulo que nos ajudam na sua compreensão, a
morfologia e a sintaxe da língua, explicadas nos textos e cobrada nos exercícios. Logo de cara,
com pouco tempo de estudo, percebemos a eficiência do primeiro par, livro texto e exercícios,
como manual, com o qual guardamos o histórico do nosso aprendizado e tomamos como mapa
dos assuntos. Para qualquer aluno que tenha completado a leitura do Familia Romana, ainda
poderá se valer do livro para exercitar composições em latim, poderá refazer a leitura e se
familiarizar sempre mais com a língua, e até mesmo fazendo uso de outros manuais e cadernos
de exercício.
Entender como funciona o método é sempre bom, assim o aluno já tem algo que o ajude na
organização pessoal, de modo que estruture seus estudos para tirar o maior proveito possível
desde o início. Por isso, é necessário considerar a série Lingua Latina Per Se Illustrata completa
como um todo, assim como as suas instruções diversas contidas em parte do material e tudo o
mais que possa nos auxiliar.
Até então, colocamos aqui uma montanha de assuntos e materiais que podem se tornar pesados
principalmente àqueles que estão conhecendo essa face das humanidades pela primeira vez,
mas se cada um, a partir do que já conhece, buscar o esclarecimento das suas dúvidas, pode
encontrar boas dicas no leque de temas já abertos. Do mesmo modo, pode ser que com todas
estas informações o leitor não se satisfaça e por isso vão algumas dicas de vídeos e sites.
Nosso site:
https://www.scholaclassica.com/
Sobre os clássicos:
https://www.youtube.com/watch?v=7VOkyPRlO6c
CAPÍTULO VI
LITERATURA ROMANA ANTIGA
O que temos hoje, no século XXI, na verdade, é um empobrecimento completo disso que tantos
gregos e latinos tiveram como centro do interesse intelectual: o amor a verdade e ao que
é profundamente humano, lembrando aqui a famosa frase “conhece-te a ti mesmo”. O que
se evidencia dentre mais ainda em costumes, pregações, poemas ressaltando as belezas de
técnicas, mistérios sobrenaturais de cultos etc. Pois, o que se vê nessa literatura é a tentativa
nobre de conhecer a vida humana e trazer a verdade ao mundo, salvos os tempos de formação
da língua, afetação e decadência cultural. Os poetas tentavam retratar aos homens e leitores
a sua própria expressão interior, a exemplo da época dos hymnos, quando música, poesia e
sacerdócio não eram coisas separadas, era mais viva a ideia de representar o que há de melhor
da humanidade com a própria vida! Fizeram-no também no ímpeto de serem chamados sábios,
da análise aguçada da filosofia, por questões que não vêm de outro lugar senão dessas luzes
dos poetas, visto que necessitamos da linguagem para sermos inteligentes, de um conjunto de
símbolos para que tenhamos algum poder que nos leve à liberdade.
Nem mesmo poderíamos falar nesse enorme avanço tecnológico atual sem a língua grega e
sem a língua latina na construção do ocidente. Muitos dos vocábulos que usamos hoje vêm, por
exemplo, do gênero didático da literatura, outros tantos vêm de epístolas; outros, de discursos
retóricos apoiados em doutrinas baseadas em conteúdos antes poéticos e muitas vezes
ritualísticos, dada a tamanha importância que lhes era atribuída.
É certo que, se não reconhecemos que há este tipo de dívida com os antigos, negamos a nossa
própria origem. Não neguemos isso, conheçamos pelo menos uma brevíssima pincelada da
literatura romana, que apresentamos neste capítulo.
PRIMEIRO PERÍODO
Diz-se que nos primeiros anos da formação de Roma, entre guerras com os Gallos e Cartagineses,
os Romanos não produziram algo tão relevante, sendo tão primitivo quanto o que se vê nos
primórdios das produções em grego antigo e o que nos sobrou foi apenas alguns esboços
de poesias. Temos basicamente, nesse primeiro período, cantos líricos, peças dramáticas e
epopeias históricas.
Primeira Classe: Hinos religiosos dos Sálios (examenta), e os cantos convivaes (celebração de
feitos dos antepassados, estes pareciam ser dos próprios romanos).
Segunda Classe: poesias fesceninas (improvisos cômicos satíricos), as atelanas (peças jocosas
de temas eróticos, originárias do país dos Oscos , Atella), teriam origem estrangeira. O período
acaba com a introdução da poesia grega. Desse tipo de registro não sobra quase nada, apenas
as informações de que existiram e alguma descrição do que foram.
SEGUNDO PERÍODO
Depois das conhecidas dominações do império romano, nas primeiras guerras púnicas,
os Romanos conhecem a literatura grega com profundidade. Nesse começo, ao invés de
considerada entre o que fosse benéfico ao patriotismo romano, a poesia foi vista como algo
ocioso e vagabundo, arte ligada apenas ao luxo, os próprios romanos não acreditavam na sua
importância. No entanto, alguns romanos guardaram e preservaram essa poesia grega dando-
lhe de algum modo a sua devida importância.
Livio Andronico, uma peça importante nesse caminho, foi um precursor grego do gênero dramático
em Roma, ainda que não tenha conseguido fazer florescer o mesmo que se tinha na Grécia.
TRAGÉDIA
Andrônico: fez algumas traduções rústicas
de títulos gregos, num latim que se entendia
até o tempo de Cícero.
COMÉDIA
Traduziu algumas comédias gregas. Do mesmo modo, Ennio foi outro dentre os tradutores.
Névio, romano, tentou trazer a Roma peças de mesma inspiração, mas o espírito aristocrático
dos romanos não permitiu que o tom zombeteiro ganhasse força.
Plauto
Plauto e Terêncio foram os precursores da
comédia latina. Fizeram grandes imitações do
teatro grego. Plauto ganhou dinheiro, depois
perdendo devido a especulações monetárias,
acabou vagando pelo império romano. Mesmo
assim acaba produzindo muitas comédias, das
quais nos chegam 20 de 130 ao todo. Plauto teria
tido preferência por falar das classes mais pobres.
Plauto
Terêncio
Depois de vindo de Carthago a Roma como
escravo, tornando-se amigo de Cipião e de Lélio,
os quais o ajudaram nas suas comédias, Terêncio
marcou o gênero da comédia com imitações
livres dos teatros gregos. Essencialmente imitava
Mennandro, do qual obteve o apelido, pelo César,
de meio-Menandro, e diferenciou-se de Plauto
por ter um estilo mais solene, mais decente e
uma coerência maior nos seus enredos.
Terêncio
Cecílio Estácio
Foi pouco imitador dos Gregos, não reproduziu suas belezas literárias. Escreveu comédias, das
quais sobraram 45. Suas obras primeiro retratavam os costumes gregos e depois passaram a
retratar o costume dos romanos.
ATELLANAS
L. Pomponio, etc.
Aqui há a composição de farsas, pequenos dramas que se constituem entre tragédias e comédias.
GEN. ÉPICO
O gênero encontrou um terreno favorável, pois já
havia muitos feitos de guerra e conquistas para se
narrar e enaltecer no império Romano. Foi
Andrônico que trouxe as primeiras traduções de
Heródoto para Roma, mas não metrificadas, que
depois ganharam nova metrificação com outro
poeta. Nessa época, no entanto, o espírito da
poesia foi mais declamatório, pois não conseguiam
os latinos organizar os fatos poeticamente
Aquiles contra Heitor
produzindo alguma sensação de uma dimensão
divina que os gregos já conseguiam fazer tão bem.
Ennio
Ennio teria sido o pai da poesia épica, o que fez a epopeia histórica, remontando a história
de Roma desde o início até o seu tempo, o que não se pode confundir com historiografia. Os
historiógrafos estarão mais adiante, nas últimas partes deste resumo de literatura latina.
Sátira
Ennio também escreveu sátiras, mas Lucílio é que prosseguiu melhorando o gênero, o qual
alguns escritores de épocas posteriores dizem ser algo propriamente romano.
DIDÁTICO
Lucrécio
Lucrécio abraçou a filosofia de Epicuro nesse período, caso não entenda o que significa, procure
algo sobre epicurismo, que se tornou um tema recorrente dos nossos tempos. Ele escreveu
algo que nada tinha de visão divina de eternidade, mas sim materialista. Embora tivesse textos
metrificados, não o consideraríamos poeta, e sim filósofo. Lembramos aqui que, nesse tempo,
quase tudo se fazia com metrificação, pois não fazia sentido um texto que não se encaixasse
confortavelmente na memória e no exercício de memorização.
TERCEIRO PERÍODO
Época em que as guerras ganhavam um caráter ainda mais forte de agressividade e tensão
entre os Romanos, em que se via uma república à ruir. No entanto, mesmo num cenário político
complicado há o crescimento da literatura, surgem muitos poetas, muitos homens de letras,
assim como bibliotecas públicas e recitais públicos.
MIMOS
Os mimos têm pinturas dos caracteres da vida comum. Como ainda visto nas épocas anteriores,
com a imitação dos gregos, apoiados na literatura grega e não necessariamente a imitando em
tudo.
Os autores de mimos tinham como fim básico incitar o riso nos seus ouvintes, davam a sua
poesia um caráter cômico e não necessariamente com uma arte belíssima escrita como se
via nos gregos. Não perdiam a ocasião de dizer a verdade, mas sempre rindo-se, se vê aí algo
próprio do poder das palhaçadas.
DRAMA REGULAR
L.Vario, etc
Vario, junto a Ovídio, representa a fase trágica aqui neste período no século de Augusto.
Quintiliano, em seus estudos literários, mais tarde, identifica como muito similares os textos do
período a qualquer dos trágicos gregos já conhecidos.
Gen. Épico
Aqui foi uma época de grande imitação da poesia grega, de grande produção, ainda com novas
traduções mais sofisticadas da Ilíada. Essa prática de traduções é um exercício tanto técnico
como espiritual ou intelectual, em que o poeta tenta expressar em sua língua o que ainda não
pôde ser bem escrito. No entanto, estes homens engajados desse tempo perderam a visibilidade
para o grande nome: Virgílio.
Virgílio
A Eneida
Na poesia épica de Virgílio, temos o ápice da
técnica latina, pois o poema contém descrições
de personagens e de vidas incríveis de grande
Virgílio valor simbólico e espiritual, cujo assunto é o
estabelecimento de Eneias na Itália. O herói faz uma longuíssima viagem por todo Mediterrâneo,
saindo de Tróia a busca da terra onde vai reedificar o seu povo.
Eneias fugindo das muralhas de Tróia com o pai nas costas, sua esposa e filho.
Cátulo – Ovídio
Cátulo se destacou com as núpcias de Tetis e Peleu, tendo ainda outros poemas de outros tantos
temas e gêneros, sempre se expondo a realidade para descrevê-la. Porém o mais distinto de
todos no gênero é Ovídio, nascido a 44 antes de Cristo. Cedo foi enviado a Roma e recebeu
uma fortíssima educação, que foi aperfeiçoada depois com viagens à Grécia e Ásia. O caráter
poético de Ovídio é a sua riquíssima capacidade de composição, sua criatividade é inteiramente
viva em espírito.
GÊNERO LÍRICO
Para os gregos a poesia lírica se desenvolveu rapidamente, ao natural, estava associada a ritos
religiosos e nunca aparece desacompanhada de música. Mas os romanos, nesse mesmo gênero
não se saíram do mesmo modo, talvez por um tipo de trato diferente com a imaginação, uma
certa dureza de sensibilidade e vida menos aberta à delicadeza e harmonia do que os gregos.
Cátulo
Cátulo
Horácio
Horácio
GEN. DIDÁTICO
Da obra de Virgílio, no gênero didático, entram as suas Geórgicas, versando sobre agricultura,
plantação de árvores, cuidado dos rebanhos e criação das abelhas – um poema admirável por tudo,
mas destaca-se pela linguagem e metrificação. Os fins desse modelo de composição foram de instruir
e de guardar o conhecimento na memória, simultaneamente. Ao mesmo gênero pertencem epístolas
de Horácio e muitos poemas de Ovídio, como A Arte de Amar e Haliêuticos, sobre a pesca. Nesse
período ainda temos Emilio Macro, com poemas sobre aves e também M. Manilio, sobre Astronomia,
além de outros.
SÁTIRA
Varrão, etc.
Neste gênero, inicialmente se destaca Varrão, que tira seu modelo de escrita de um filósofo grego da
seita dos Cínicos, inventor de uma espécie de sátira. Além de Varrão, temos Valério Catão, com as
Imprecações, que seriam fórmulas para maldição; e a Íbis de Ovídio.
Horácio
Horácio nos dá em sua sátira o princípio fundamental de sua filosofia. Ensina-nos, como que em
conversas, num diálogo amigável, a amar a virtude, a pátria, as belas artes e tantas das maravilhas
que devem ser contempladas.
EPÍSTOLA
Horácio e Ovídio
A essência do gênero está nas cartas de Horácio que as escreve colocando a sua filosofia, ou
doutrina, destinadas a determinadas pessoas. A graça e estilo se equipara a escrita de suas
sátiras. Entram aqui também alguns versos elegíacos de Ovídio, demarcando uma vontade em
mover os afetos de seus leitores.
ELEGIA
A elegia só toma algum espaço entre os romanos quando se mesclam, pelos costumes, com os
gregos. Têm caráter erótico ou de tristeza. As elegias de Catulo não são mais do que traduções.
O gênero se desenvolve mais com Tibulo.
Tibulo
Propércio
Propércio, contemporâneo de Ovídio, tem um estilo mais quente e apaixonado do que Tibulo.
Seus poemas não são tão delicados, expressa uma paixão quase dramática.
Ovídio
GÊNERO BUCÓLICO
Virgílio
A arte de Virgílio em suas Éclogas é especial, pela descrição viva dos campos, e até pela
idealização da natureza bucólica. Seria ele, nesse gênero, um imitador de Teócrito, grego de quem
absorve a forma e tema da poesia, mas o qual não imita com simplicidade e, consequentemente,
se afasta em certos momentos, principalmente quando versa sobre conhecimentos políticos de
sua época, do olhar voltado ao cenário bucólico.
QUARTO PERÍODO
O império começa a decair muito e a literatura também. Declina visivelmente o espírito dos
romanos, certamente nos costumes. Sêneca é um personagem importante nessa decadência,
pelo seu próprio estilo.
DRAMA
Sêneca
Sêneca
EPOPEIA
Lucano
Sílio Itálico
Escreveu A Púnica em 17 livros, narrando a história da segunda guerra púnica até o triunfo de
Cipião Africano. Foi um imitador de Virgílio nesse gênero e, no da eloquência, de Cícero.
Valério Flaco
Trata-se de uma missão em que Jasão é o encarregado de unir uma tripulação de heróis
(Argonautas, porque viajam com a nave Argo) para o desafio de encontrar e trazer a lã sagrada
do carneiro. Dentre os destacados heróis da viagem alguns continuam a ter seu protagonismo
na mitologia Greco-Romana.
Estácio
Estácio
SÁTIRA
Pérsio
Pérsio, de Volterra na Etrúria, foi educado em Roma por um estoico Aneu Cornuto, para si um
amigo inseparável. Escreveu sátiras com assuntos análogos aos de Horácio. Seu estilo é cheio
de força; pois, o que caracteriza suas sátiras, mais declamatórias, é o estoicismo, doutrina
filosófica que mais tarde se identifica como ascese religiosa, centrada, resumidamente, em
extinguir vícios e viver uma moralidade reta num destino já determinado.
Juvenal
Tem 16 sátiras, dentre as quais se distinguem: acerca das mulheres, sobre a nobreza, a respeito dos
votos. O caráter da sua sátira é um sentimento fortíssimo de ódio contra tantos vícios de seu século.
POESIA LÍRICA
Estácio
O entretenimento diário das pessoas instruídas desse período era a versificação. É pelas silvas
e miscelâneas poéticas de Estácio que notamos o empenho em consequência do gosto por
versificação da época.
APÓLOGO
Pedro de Macedônia
Para os romanos, o apólogo não era um gênero distinto, mas apenas um que aparecia em obras
de outros poetas como Horácio. No entanto, nessa época aparece uma Coleção de Fábulas de
Esopo em cinco livros que são atribuídos a Pedro de Macedônia. Lembrando que os apólogos são
fábulas cujo fim é dar avisos, uma lição de moral, usando-se de seres e coisas personificadas.
EPIGRAMA
Estilo criado na Grécia Clássica, que expressa verdades em poucas palavras, podendo ser
satíricos ou festivos, como que textos impressos sobre determinados assuntos.
Marcial
No reinado de Nero, Marcial veio a Roma e se assinalou como um dos principais Epigramistas.
Dele temos uma coleção de 14 livros de Epigramas. Suas composições traziam também muito
do gosto da época com muitas obscenidades.
Neste período, há uma barbárie acontecendo ao império Romano, as coisas não são como antes,
a intelectualidade se reduz a uma situação de calamidade geral. O período vai do império de
Adriano, tempo no qual restava certa paz, até Rômulo Augusto, em 476.
EPOPEIA
Claudiano
POEMA DIDÁTICO
Terêncio compôs uma métrica ou tratado das letras, sílabas, pés e metros. Já outro, Sereno
Samônico, contemporâneo de Terenciano, escreveu sobre medicina; Nemesiano, sobre a caça;
Sexto Rufo Ariano traduziu poemas didáticos dos gregos; Prisciano tratou de pesos e medidas
num poema; Rutilio Numaciano escreveu um poema que narra sua viagem às Gálias; Dionísio
Catão deixou uma instrutiva Coleção de sentenças morais em dísticos.
POEMA BUCÓLICO
Ausonio, etc
Ausônio deixou Coleção de poesias e vinte idílios. No mesmo gênero, temos Calpurnio, que
escreveu 11 idílios.
SÁTIRA
Petrônio
Petrônio nos apresenta um quadro satírico dos costumes romanos. Petrônio faz um uso belo da
língua, retratando numa pintura bem feita da sociedade romana e sua degradação moral.
POESIA LYRICA
Prudencio, etc.
Aqui temos os hinos cristãos de Prudêncio, que tem um forte caráter religioso e de piedosos
sentimentos. Célio Sedúlio, sacerdote e poeta lírico, também atribui valor religioso aos seus
escritos , mas não o mesmo valor poético.
ELOQUÊNCIA
Primeiro Período
A retórica não fora algo bem recebido, principalmente pelos anciãos, na chegada do retórico
grego Carnéades em Roma. Então mesmo com tantas regras e expulsões de filósofos e retóricos
gregos, eles se mantiveram em Roma e montaram uma escola de eloquência latina.
Catão, etc.
Citemos os mais célebres oradores desse tempo:
Cornélio Cetego, dito por Ennio como suaviloquens,
Catão, de Túsculo, homem duro nos seus costumes,
célebre contra os Cartagineses; Ciprião Africano e
seu amigo Lélio; Tibério e Caio Graccho, tribunos
populares, cuja palavra era tão poderosa que o
senado só triunfou sobre eles pela espada; Licínio Crasso; Antônio e outro tantos oradores.
Distinguiram-se todos por um talento natural da palavra do que pela aplicação de regras da arte.
Segundo Período
Começa o desenvolvimento da prosa judiciária e política e, por ela, a prosa em geral. Os nomes
destacados aqui são Hortêncio, Caesar e Cícero, que situam a eloquência na sua mais alta
perfeição.
Q. Hortêncio
Hortêncio nasceu em Roma numa família plebeia elevando-se à nobreza pela sua eloquência.
Cognominado o rei do foro. Pela moderação de caráter, atravessou, sem ser perseguido, os
perigosos tempos de guerras civis, ditadura e do triunvirato. Sempre é descrito como um grande
orador, de físico preparado para isso.
Cícero
Terceiro Período
Sêneca
Quintiliano
Plínio foi educado com as lições de Quintiliano, desse modo tendo uma educação maravilhosa.
De caráter declamatório e sofístico, seus discursos eram panegíricos, de louvor. A parte mais
importante que restou de sua obra foram suas cartas, em 10 livros, as quais nos mostram
muito do seu real jeito de pensar e, além disso, nos revelam muito de como fora a história, da
jurisprudência, da administração pública, dos usos, da literatura e artes daquele tempo de Roma.
Entre os Panagiristas também temos Eumênio e seu contemporâneo Cláudio Mamertino.
ELOQUÊNCIA SAGRADA
Enquanto a Eloquência profana vai decaindo, os Cristãos vão dominando as mesmas técnicas
para uso da Igreja. Aqui o gênio dos artistas já não tem mais a inspiração nas atitudes dos
deuses pagãos, mas refere-se mais às citações das escrituras sagradas.
Tertuliano
São Cipriano
Arnóbio
Para ser aprovado entre os cristãos, Arnóbio escreveu sete livros contra os Gentios, Adversus
Gentes, demonstrando muito conhecimento e eloquência apologética.
Lactâncio
Lactâncio foi discípulo de Arnóbio, testemunho da perseguição dos Cristãos sob Diocleciano
(284-305 d.C.), assim como do triunfo sob Constantino. Escreveu tratados de moral, sete livros
de instituições divinas, obras de apologética, com um estilo puro e eloquente, devido a sua boa
imitação à antiguidade clássica.
Quarto Período
A este ponto havia uma nítida decadência entre os romanos, com a qual a arte da boa eloquência
torna-se um exercício de pouquíssima valia. Tal momento da literatura nos traz tratados de
retórica muito inferiores ao que se vira antes.
DA ELOQUÊNCIA SAGRADA
Santo Hilário
Santo Hilário foi comparado ao Rio Ródano, de um curso impetuoso, uma corrente com força de
arrastar a todos pelo seu delinear! Entre os cristãos é que a Eloquência vivia, entre eles é que se
atualizava o bom uso da língua. Dentre os feitos de Santo Hilário, está o combate ao arianismo
e o tratado que deixou-nos, sobre a Trindade.
Santo Ambrósio
São Jerônimo
Santo Agostinho
HISTORIOGRAFIA
Os primeiros arquivos da história romana foram os comentários dos reis; as árvores genealógicas
que ficavam no átrio dos patrícios, listas dos cônsules com a indicação dos acontecimentos mais
notáveis e os anais máximos ou pontifícios.
Catão e outros
Foi depois da segunda guerra púnica que a história romana teve seus primeiros escritores. Fábio
foi o primeiro que escreveu em prosa latina, nesse caso, precisamente sobre a segunda guerra
Púnica. Encontramos muitos detalhes históricos posteriores que são citações dos anais de Fábio.
Mas a primeira vez que um se fez história num sentido mais crítico, foi com o sensor, Catão
(234-149 a.C.). A principal obra desse historiador foi “As Origens”, escrita em sete livros, com
investigações sobre a história primitiva de Roma, e sobre os antigos acontecimentos políticos da
Itália. Catão também escreveu sobre sua expedição para a Hispânia. Tem obras sobre o direito,
tática militar, provérbios engenhosos, muitos discursos e um tratado de agricultura.
NO ESPLENDOR DO IMPÉRIO
Esse período da liberdade romana produziu muitos historiadores que, no entanto, de muitos
deles só nos chegam seus nomes e de alguns outros que diremos mais aqui.
CAPÍTULO VI - LITERATURA ROMANA ANTIGA 47
PEQUENO GUIA DE LATIM PARA INICIANTES
J. Cesar
Salústio
Salústio Crispo (86-35 a.C.) se entregou ao estudo em Tibur, depois de ter passado por vários
cargos públicos e ter acumulado dinheiro na Numídia. Nasceu e morreu próximo ao advento de
Cristo. De suas obras temos fragmentos de uma História Romana desde a morte de Sylla até
a conjuração de Catilina, temos duas obras inteiras sobre a conjuração de Catilina e sobre a
guerra de Jagurta. Salústio imita o estilo de Tucídides possuindo enormes qualidades.
Cornélio Nepos
Tito Lívio
Trogo Pompeu
Trogo Pompeu teria vivido no século de Augusto. É contado entre os grandes historiadores romanos.
Escreveu Philippica imitando o estilo de Theopompo, uma história do reino de Macedônia, em
44 livros, desde Filipe o Grande até a conquista dos romanos. De sua grande História Universal,
que também teria escrito, nada nos restou, mas apenas um epitome (composição com resumos
das narrativas) das mãos de Justino.
NA DECADÊNCIA DO IMPÉRIO
A historiografia, assim como os outros gêneros literários sofreu da decadência de Roma, pois o
período se reconhece por pouca coisa feita para a verdade, sendo o resto todo um emaranhado
de sofismo, bajulações e fingimento. Os escritores que felizmente mantiveram a história viva
são Aufídio Basso, com uma obra histórica sobre a Guerra da Germânia e sobre a guerra civil;
Cremúcio Cordo; Servílio Rufo, que foi equiparado a Salústio e Tito Lívio, mas não temos nenhuma
de suas obras. Seguem-se os outros historiógrafos que podemos citar:
Valeio Paterculo
Natural de Nápolis (19 a.C. – 30d.C.), antes de escrever destacou-se nas armas. Esteve com
Valério Máximo
Assim como muitos outros romanos, Valério tem escritos que são compilações de anedotas, cujo
título é Fatos e Ditos Memoráveis. A obra traz uma descrição de virtudes e vícios dos romanos
e outros povos. Os exemplos morais nos seus nove livros são o que dão valor ao que escreveu.
Tácito
Suetônio
Suetônio Tranquilo foi um historiador e biógrafo importante, além de gramático e retórico, nascido
no ano 110 a.C.. Tem uma obra sobre a vida pública e privada dos imperadores Romanos,
intitulada de Vidas dos Doze Primeiros Césares de Roma.
Com sua obra historiográfica podemos entender como o passado preparou a decadência do
império Romano; além disso ainda tem obras sobre antiguidades e literatura.
Floro
Q. Cúrcio
Escreveu num estilo oratório a história de Alexandre o Grande, em 10 livros, considerada até
como um estilo de romance. Ao que tudo indica, procurou a sua inspiração na historiografia
grega. Ele apresenta pontos descritivos importantes, faz observações de costumes do povo.
Embora tudo esteja bom e tenha tentado imitar o estilo de Tito Lívio, a eloquência dos seus
discursos é bem inferior.
Justino
Justino é dito dos tempos dos Antoninos, em seu nome tem o Epítome da História de Trogo
Pompeu. Produziu muitas narrações pequenas que se ligam a algumas notas complementares,
produzidas desordenadamente. O Compêndio de História Universal destaca Justino na
historiografia, trazendo notícias interessantes sobre a Ásia.
Sexto Aurélio Victor (320-390 d.C.) escreveu a história dos Imperadores desde Augusto até
Constâncio. Aurélio era africano e foi revestido de vários cargos consideráveis por Juliano,
imperador da sua época. É atribuído a ele também um escrito sobre a origem do povo romano e
outras sobre homens ilustres de Roma, que seria um resumo da obra de Cornélio Nepos (de viris
illustribus). Já Eutrópio, teria sido secretário de Constantino e posteriormente companheiro do
imperador Juliano na expedição contra os Persas e, por fim, procônsul na África. Escreveu um
resumo da história de Roma, em 10 livros, a pedido de Valente, imperador de 364 até 378 d.C..
Amiano Marcelino
Amiano Marcelino (330-400 a.C.) foi um grego de Antioquia. Escreveu em latim a história dos
acontecimentos mais notáveis desde Nerva até a morte de Valente em 31 livros. O seu estilo não
é o que torna a obra importante, mas sim o amor a verdade.
São dois historiadores do quinto século. Paulo Orósio é de Espanha e viveu na África no tempo
de Santo Agostinho. Ele compôs uma História Universal desde a criação do mundo até o ano
417. Orósio cria esta obra principalmente em ataque aos argumentos de que o Cristianismo
teria destruído o império romano. Ele prova que a decadência não necessariamente tem esses
tipos de causas e que teriam sido quaisquer outras.
Outro historiador é reconhecido como o Salústio cristão: Suplício Severo, da Gália. Escreveu
além da vida de São Martinho, alguns opúsculos, uma versão sua da História Sagrada, em dois
livros. O destaque da sua obra se dá pela sinceridade e pureza que não se via com facilidade
no século quinto.
IDADE MÉDIA
Diz-se que o início da Idade Média é demarcado por um momento obscuro no meio intelectual,
mesmo levando-se em conta as tentativas de São Gregório Magno de renovação do gosto
pelos estudos, mas, por outro lado, temos controvérsias importantes quanto a esse ponto de
vista. Atribui-se a causa principal a invasão dos bárbaros no fim do império romano, que teriam
roubado os meios de ascensão das letras, aniquilando bibliotecas. A situação teria chegado a
tal calamidade que os monges isolados nos seus mosteiros tentavam dar alguma continuidade
ao que se tinha de tradição de estudos ou de gêneros literários, assim como avançar no que
pudessem e, mesmo desse modo, não chegavam a maior grau de conhecimento além do que
lhes permitia o ofício religioso nas funções de seu ministério, sem terem noção dos mais simples
elementos da gramática. Um argumento para se sustentar isso é o de que, para serem admitidos
os religiosos, testavam-lhes apenas o conhecimento necessário à leitura do Evangelho e do
Saltério. Nessa mesma época, seria difícil de ser encontrado qualquer exemplar antigo no qual os
medievais pudessem aprender a escrever em bom estilo, e acabavam se espelhando em outros
escritores bárbaros, pois a grande custo se encontraria na França algum exemplar de Cícero ou
de Virgílio. Mas, como colocado anteriormente, há controvérsias, pois outros estudiosos dizem
terem existido muitos tipos de escritores e intelectuais nesse tempo, nessa mesma continuidade
do século V. Sustenta-se que esses intelectuais eram de um tipo muitíssimo variado, muitos
eram cristãos. As leis e a confusão estabelecida na época desestabilizou muito da cultura, os
homens, naturalmente, teriam encontrado menos tempo para estudo. Entre os bárbaros, agora
mesclados com a cultura anterior, dos quais falamos, muitos eram cristãos, por mais que se
descuta a respeito de doutrinas heréticas que tenham trazido, e aceitavam o que se escrevia,
mas não recebiam as letras com muita animosidade, justamente por não compreenderem a
língua latina. Por isso, escritores teriam pensado duas vezes antes de produzir o que quer que
fosse em latim, poucos entenderiam alguma coisa. Nesse segundo ponto de vista, o qual parece
mais aceitável, apresenta uma amálgama de escritores de todo tipo, e em todos os gêneros
antigos, como a epopeia e poesia lírica, entre eles, terríveis, ruins, médios e bons escritores.
Uma visão simplificada e contraditória de um processo tão complexo é realmente difícil de se
aceitar, pois como poderiam ressurgir do nada períodos de composições literárias de tão grande
prestígio, como o que é atribuído ao renascimento?
Do século X ao XV tem-se algum surgimento de escritores, cujos esforços da época não existiam
senão para sustentar a literatura antiga que resgatavam; também havia atitudes que não eram
tão nobres, algumas disputas teológicas e científicas mas que muitas vezes enquadravam-se
como exercícios repetitivos e estéreis.
Algum renascimento de atividade literária teria existido entre os séculos X e XIV, quando
passavam trovadores de castelo em castelo celebrando a bravura de heróis, caso no qual
destaca-se Guilherme de Poitiers. No décimo quarto século é que nos aparece um gênio em
literatura com Petrarca, Dante e Boccacio, dando a sua língua um grau de força como antes
não existira.
Após esse período é que temos outros estudiosos colhendo informações em Constantinopla.
Por fim, é importante perceber a magnificência do que se fez em latim durante esses séculos
todos, é uma imensa produção que uma vida não dá conta. Há ainda, em meio a todos os
assuntos desses estudiosos e literatos, teses, descrições, ensaios, documentos, notas de
aulas, inúmeras contribuições às vezes completamente desconhecidas de importância extrema.
Sabemos muito bem o quanto nossos professores universitários carecem de uma consciência
histórica da ciência que supostamente estudam, dos agentes históricos, da origem de suas
teorias e mesmo da base simbólica que seus estudos carregam ainda hoje e é desprezada.
Portanto, o latim que se encontra nesse oceano de registros não é apenas uma língua com a
qual tudo fora escrito, mas é o modo com o qual tantas verdades e tantos fenômenos foram
contemplados e alcançados, é um tipo de alicerce da nossa cultura ao qual deveríamos honrar
todos os dias!
CAPÍTULO VII
CONCLUSÃO
Passado o século XX, catastroficamente a imaginação popular sobre o que é a língua latina
não alcança o mínimo esclarecimento necessário para que este estudo volte a cumprir seu
verdadeiro papel educacional. Mas sabemos o quanto é necessário recolocar, até entre os
opinadores mais despreocupados, a ideia de que estudar latim é uma condição básica para os
estudos superiores.
Vemos a total despreocupação com a educação superior no Brasil por parte dos docentes, que
se torna evidente a qualquer aluno ou leitor de teses universitárias. Paralelamente, opiniões
que vemos nos colégios, universidades e até mesmo em seminários são espantosas. Não é
difícil nos depararmos com frases do tipo “estudavam latim porque era tradição e tinham medo
de desrespeitar”, nas universidades dizem “latim é pra quem quer ser padre”, também vemos
“já tem traduções de tudo que desejamos aprender”. Essas opiniões são sempre repetidas por
pessoas que nunca pensaram mais do que cinco minutos sobre a gravidade do assunto.
A ignorância concretiza-se ainda além da mera opinião, pois quem já passou pelo ensino
universitário deve ter presenciado pelo menos um episódio de algum professor, que se diga de
humanidades ou de ciências exatas, distorcendo inúmeros conceitos de sua própria área sem
a mínima noção do resultado catastrófico dos pressupostos que afirma, ou ainda aqueles que
não conhecem nem mesmo a língua portuguesa e asquerosamente tentam corrigir de inúmeras
maneiras estúpidas as monografias de seus pobres “aprendizes”. Já aqueles que têm alguma
experiência com a língua latina, sabem dizer que, em pouco tempo de estudo, nossa noção
sobre a língua portuguesa e sobre o uso de qualquer linguagem muda completamente.
Evidentemente que este manual foi feito como propaganda do estudo de latim, por isso tenta
integrar noções muito básicas sobre a língua, de modo que todos possam daqui para frente
procurar suas dúvidas mais específicas, assim como perder a timidez para iniciar seus estudos.
Tendo lido até aqui, podemos ligar muitos dos fatos históricos mal explicados em nossas escolas
que vão da educação do império romano até a formação da língua portuguesa, assim como
compreender a força da estrutura e dos mecanismos da língua latina. A intenção aqui é que esses
pontos tenham elucidado ao leitor obscuridades originadas em nossa educação moderna, pois
deixamos impresso, neste pequeno manual, a noção gramatical que torna as línguas modernas
ocidentais muito mais claras e a linguística algo bastante tangível. Como visto em nosso resumo de
história da literatura romana, as composições latinas evoluíram em função das buscas humanas
práticas, intelectuais e espirituais. Vimos que alguns dos intelectuais dedicaram suas vidas
somente por manter na cultura preciosidades literárias antigas, a exemplo de medievais e mesmo
dos primeiros latinos que traduziram as principais obras gregas que lhes eram valiosíssimas para
fins pedagógicos e outros que transcendem as motivações das quais temos conhecimento hoje.
Desse modo, mais claramente percebemos o débito que temos com todos estes homens.
A partir dessas informações, dicas e notas, desmistificado o estudo de latim, pelo menos em
certos pontos objetivos que tenhamos lido aqui, podemos prosseguir com mais conforto na vida
de estudos. Os leitores agora podem procurar informações mais específicas, como gramáticas
e métodos, já com o intuito de estudá-los até o fim; podem também esclarecer suas dúvidas
sobre o valor dessa língua, que se sobrepõe ao de outras matérias menos importantes, hoje
ditas como essenciais, mas que às vezes não passam de conhecimentos superficiais floreados
com todo tipo de recurso visual e retórico.
Por conta de tantas distrações oferecidas hoje, que possam nos tornar inaptos, mais uma vez,
reforçamos que o estudo de latim é importante para todos que desejam ter uma formação
superior. Pois é uma língua que conserva e amplia o funcionamento do nosso intelecto, nos
tornando aptos a pensar e resolver problemas com capacidade e imaginação privilegiadas.
Em defesa desse estudo, apontamos que a língua latina nos direciona a uma linguagem completa
e universal: permite a fluidez do pensamento, por conter a proximidade com um modo “limpo”
de dizer as coisas, de expressar tudo que é possível com a riqueza do vocabulário, estrutura
e diversos mecanismos, entre morfologia e flexões, transformações e recursos importantes
construídos na língua etc.
Por fim, indicamos a todos, curiosos ou interessados, que mergulhem sem objeções no estudo
de latim porque só assim é que vão iniciar uma nova vida de estudos, redescobrir parte valiosa
da cultura ocidental e se, por bem acontecer, influenciar seus próximos e oferecer alguma
contribuição intelectual.