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Estudos de Linguas Bíblicas

Latim e Grego
Material Teórico
História do Latim e sua Importância

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Fernando Ripoli

Revisão Textual:
Prof. Me. Sandra Regina Moreira
História do Latim e sua Importância

• História do Latim e sua Importância;


• A Origem do Latim;
• A Importância do Latim;
• A Formação das Línguas Romanas;
• História da Língua Portuguesa e a Influência do Latim;
• Considerações Finais.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Descrever a história do latim, suas origens, evolução e a importância
deste idioma para os períodos romanos e a construção de algumas
obras em latim na teologia cristã.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE História do Latim e sua Importância

História do Latim e sua Importância


Considerações Iniciais
Nesta unidade apresentaremos a história do latim e sua importância para os
estudos do idioma nos períodos antigo, moderno e contemporâneo.

Desta forma, iniciaremos apresentando a origem do latim, descrevendo de for-


ma específica a compreensão de alguns autores e especialistas do idioma como,
por exemplo: Cardoso e Rosário, que, na verdade, são pesquisadores que contri-
buíram muito para a ampliação e aprendizagem do idioma. Outros pesquisadores
que estudam a história antiga clássica também deram a sua contribuição, como o
pesquisador Marc Bloch1, entre outros.

Analisaremos o tronco indo-europeu e suas subdivisões para, em seguida, en-


trarmos nas questões linguísticas relacionadas com o idioma. Desta forma, é ne-
cessário apresentarmos a evolução do latim e seus pormenores na história antiga
e clássica. Com seus principais personagens e supostos autores, adentraremos na
árvore genealógica da família indo-europeia como relatamos anteriormente, apre-
sentando, assim, um mapa da expansão do latim no Ocidente para que os discen-
tes percebam tamanha influência do dialeto.

Após, descrevermos a importância do latim para os estudiosos antigos e moder-


nos, seu nascimento e sua difusão no mundo antigo. As características e formação
das línguas românicas também fazem parte desta unidade em estudo, e concluire-
mos nossa unidade relatando uma breve análise sobre a história da língua portugue-
sa e a influência que o latim teve, e tem, na construção do idioma.

Boa leitura!

A Origem do Latim
Podemos observar que o latim era uma língua falada em uma localidade chamada
Lácio (Latium), uma comarca da Itália central, local este em que por volta do século
VIII a.C., foi fundada a cidade de Roma. Desta forma, nota-se uma grande relação
do latim e dois outros idiomas falados, na antiguidade, na Península Itálica: o osco,
língua do Sâmnio (Samnium) e da Campânia (Campania), e o umbro, língua da
Úmbria (úmbria).

Cardoso (1989, p. 6) afirma que: “a grande semelhança entre esses três idiomas
fez supor a existência de uma língua única, a qual se convencionou denominar
“itálico” e que teria dado origem a eles”.

1. Pesquisador da história cultural dos Annales na França, no século XX.

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Roma foi fundada no século VIII a.C. e a partir daí temos o desenvolvimento
do latim por séculos e séculos. Portanto, é necessário que se saiba que latim
estudar. O latim clássico refere-se a um pequeno período - de 100 a.C. a
14 d. C. Dessa época temos a produção dos grandes nomes da literatura,
como Cícero e César. O que chamam de latim vulgar é a língua falada, não
menos importante do que a escrita. O importante é que nós entendamos
esse longo caminho da língua do Lácio (berço de Roma) até os nossos dias.

Rosário (2010, p. 12) afirma que “o Latim, língua indo-europeia, pertence ao


grupo itálico – osco, umbro, latim”. Desta forma, apresenta-nos abaixo algumas
particularidades das origens do idioma.

Figura 1 – Mapa do Lácio2


Fonte: vroma.org/

Falado primeiramente pela população de Roma e do Lácio, prevaleceu


sobre os outros idiomas da Itália (osco, umbro, grego, etrusco), difundiu-se
graças às conquistas e ao desenvolvimento do Império Romano, e tornou-
-se uma das duas principais línguas do mundo antigo. Começou a adquirir
forma literária apenas pelo início do século III a.C.

Costuma-se dividir a história do latim em períodos: 1. Período arcaico


(entre o século III e o início do século I a.C.), com Catão e, sobretudo,
com os dois grandes escritores cômicos, Plauto e Terencio. 2. Período
clássico (entre o início do século I a.C. e o início do Império), com Cíce-
ro, Cesar, Salustio, Horácio, Vergílio e outros. 3. Período pós-clássico
(a partir de nossa era) com Tito Lívio, Sêneca, Quinto Curcio, Plinio, o

2. Disponível em: https://goo.gl/q9GKEP. Acesso em: 19 mar. 2018., p. 23.

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UNIDADE História do Latim e sua Importância

Velho, Quintiliano, Plinio, o Moco, Suetônio e outros. 4. Período cristão


(a partir do século III de nossa era, aproximadamente), com Tertuliano,
Santo Agostinho, São Jeronimo e outros. Cumpre ressalvar que ao lado
da língua escrita ou literária existia uma língua falada que nos é conhecida
sobretudo pelos textos não literários e pelas inscrições. Essa língua se
transformava mais rapidamente que a outra. Foi ela que deu origem às
línguas românicas — português, espanhol, catalão, provençal, francês,
italiano, romeno (ROSÁRIO, 2010, p. 13).

O latim é, na verdade, um paralelo de raízes com muitos vocabulários existen-


tes no idioma, com raízes de muitas palavras pertencentes a algumas das antigas
línguas faladas na Índia, na Pérsia, na Grécia, na Gália, na Germânia e em outras
regiões. Há muitas semelhanças entre as línguas relatadas acima que, na verdade,
permitem aos estudiosos da temática construírem a hipótese de uma língua primi-
tiva, da qual se originaram estes tais idiomas. Portanto, deu-se o nome de “indo-
-europeu” a essa hipótese língua-mãe.
Supõe-se que o indo-europeu foi falado por um povo que se dispersou,
por razões até hoje desconhecidas, alguns milênios antes de Cristo, espa-
lhando-se pela Europa e pela Ásia. A dispersão do povo acarretou profun-
das modificações linguísticas no idioma, inicialmente uno. O indo-europeu
dividiu-se em numerosas línguas, cada uma das quais gerou posteriormen-
te outros idiomas. Essas línguas foram agrupadas, pela proximidade lin-
guística, em diversos ramos: itálico, helênico, céltico, germânico, báltico,
eslavo, indo-irânico e outros. Muitas dessas línguas acham-se hoje extintas
ou mortas. As remanescentes são faladas em grande parte do mundo oci-
dental e em algumas regiões do Oriente (CARDOSO, 1989, p. 6).

Notamos que o Latim é um idioma falado desde os tempos antes da escrita


consonantal, nascida entre os Fenícios. E a mesma começou a adquirir uma forma
literária apenas no século III a.C.

Portanto, a história antiga é uma amiga fiel das construções entre as escritas no
mundo ancestral, e, principalmente, a construção dos textos narrativos literários e
religiosos. Na apreciação de Marc Bloch, a história: “[...] é busca, portanto, esco-
lha. Seu objeto não é passado” (BLOCH, 2001, p. 24).

A própria noção segundo a qual o passado, enquanto tal, possa ser objeto de
ciência, é absurda. Seu objeto é o ‘homem’, ou melhor, ‘os homens’, e mais preci-
samente homens do tempo.

Desta forma, podemos notar que o homem é o responsável pelas transfor-


mações na história em quase todos os âmbitos da sociedade antiga. As mudan-
ças ocorreram através de várias manifestações na sociedade: em construções,
monumentos, cidades estados, clãs, organizações etc., homens e mulheres con-
tribuíram, e continuam contribuindo, para as evoluções na humanidade. Desta
maneira, temos a contribuição do homem na identificação da línguas, dialetos e
formas de escrita.

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Em relação ao nascimento do idioma latim, no século III, criou-se uma língua
escrita que se transformou lentamente. Queiroz (1986, p. 5) afirma que: “da
mesma forma que o português escrito por Camões não é o português de Vieira e
menos ainda o de Machado de Assis, assim também se distinguem certos períodos
na história do latim”. Percebemos, nas entrelinhas da argumentação de Queiroz,
os sujeitos históricos inseridos em sua argumentação, e o segue:
[...] essa possibilidade de agir enquanto sujeitos históricos é adquirida por
meio da construção do conhecimento histórico, pois “ajuda-nos a conhe-
cer quem somos, por que estamos aqui, que possibilidades humanas se
manifestam e, tudo quanto podemos saber sobre a lógica e as formas
de processo social”, uma vez que as três dimensões temporais (passado,
presente e futuro) são interdependentes e servem para orientar a vida e os
feitos do homem no tempo (THOMPSON, 1987 apud FRANÇA, 2009).

Como podemos observar, as possibilidades das construções de idiomas e escritas


no mundo antigo são muitas, mas não podemos deixar para trás as interpretações
da história como ciência. A história é uma ciência, na verdade, a história pode nos
auxiliar a entendermos como se deram as construções do nascimento dos idiomas
na antiguidade oriental. Rüsen leva-nos a entender que:
[...] a consciência histórica propicia os meios para que os homens cons-
truam um sentido de orientação que incorpora seu presente e suas ex-
pectativas de um futuro possível, contribuindo assim, para a formação da
consciência histórica crítica. O pesquisador pressupõe também, que por
meio da consciência histórica o passado orienta o presente na identifica-
ção das semelhanças, diferenças, permanências, mudanças e rupturas da
sociedade. Dessa forma, concebe-a como “um conjunto, ordenado tem-
poralmente, de ações humanas, no qual a experiência do tempo passado
e a intenção com respeito ao tempo futuro são unificadas na orientação
do tempo presente” (RÜSEN, 2001 apud FRANÇA, 2009).

Desta forma, a história necessita se ajustar em intervenções que propiciam


realizar uma ingerência intelectual, articulada com experimentos na vida prática,
em que o passado é ajustado como experiência, e proceda a ser compreendido
e contido no presente, bem como na constituição do futuro onde passaram a ser
rudimentos conformadores da consciência histórica (RIPOLI, 2017, p. 17).
O pesquisador que trabalha com a instrumentalização da história passa a
construir o conhecimento histórico, embasado em procedimentos, mé-
todos e análises de diferentes enfoques historiográficos. Este breve pa-
norama da construção histórica e do tempo histórico é importantíssimo
para entendermos a invenção da escrita ao longo dos séculos da evolução
humana, é claro, pensando num viés da história antiga.

Assim, como relatamos anteriormente, a história nos apresenta questões


interessantes do aparecimento de idiomas e dialetos no mundo antigo, sendo que
alguns ainda permanecem até os dias atuais (QUEIROZ, 1986, p. 6). Por sua vez,

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UNIDADE História do Latim e sua Importância

o latim é oriundo de um tronco comum e linguístico chamado indo-europeu, e se


divide em cinco partes, conforme tabela abaixo:

Tabela 1
LATIM – TRONCO INDO-EUROPEU1
1 As línguas do grupo indo-irânico (sânscrito, antigo-persa etc.);
2 O grego;
O grupo ítalo-celta, que compreende, ao lado das línguas da Itália (osco, umbro, latim), os dialetos, célticos
3
(entre os quais o gaulês);
4 O grupo germânico (alemão, inglês, neerlandês ou flamengo, línguas escandinavas);
5 O grupo eslavo (russo, polonês, tcheco, búlgaro, servo-croata), ao qual importa juntar o grupo báltico (lituano).

O latim, falado primeiramente pela população de Roma e do Lácio, pre-


valeceu sobre os outros idiomas da Itália (osco, umbro, grego, etrusco), di-
fundiu-se graças às conquistas e ao desenvolvimento do Império Romano,
e tornou-se uma das duas principais línguas de civilização que dividiram
entre si o mundo antigo (QUEIROZ, 1986, p. 5).

Toda construção linguística do Latim está relacionada a outros dialetos e idiomas


do mundo antigo que, na verdade, são grandemente influenciados por outros dia-
letos, palavras, costumes etc.

No próximo tópico apresentaremos, portanto, a evolução do idioma.

A Evolução do Latim
Dentro das perspectivas que analisamos anteriormente, podemos salientar que
o latim foi um grande marco divisor no período arcaico, entre os séculos II e III
a.C., quando grandes escritores, como os cômicos Plauto e Terencio, utilizaram o
idioma em seus escritos.
Explor

Saiba mais sobre o Dramaturgo romano Titus Maccius Plautus no link: https://goo.gl/CvdGof

Todos os períodos relatados no primeiro tópico estão relacionados com os pe-


ríodos que apresentamos neste momento, como o período clássico3, o período
pós-clássico4 e o período cristão5. Desta forma, Queiroz (1986, p. 6) apresenta-nos
que: “ao lado da língua escrita ou literária existia uma língua falada, bem mais bre-
ve, que nos é conhecida, sobretudo, pelos textos não literários e pelas inscrições”.

3. Entre o início do século I a.C., e o início do Império, com Cícero, César, Salústio, Cornélio Nepos, etc.
4. A partir do início de nossa era, com Tito Lívio, Sêneca, Quinto Cúrcio, Plínio, o Antigo, Quintiliano, Tácito, Plínio,
o jovem, Suetônio, etc.
5. A partir do século III de nossa era, aproximadamente, com Tertuliano, Santo Agostinho, São Jerônimo, etc.

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Por sua vez, esse denominado idioma se transformou mais velozmente que os
outros, sendo o latim que deu origem às línguas românicas. As questões educacionais
do latim são importantes para compreendermos a formação educacional do idioma
no período antigo e moderno, pois, ao entendermos suas formas de educação e
aprendizagem no mundo antigo, poderemos nos habituar cada vez mais com o
idioma em estudo, mesmo que seja uma breve análise.
O habito da análise, o espírito de observação, a educação do raciocínio
dificilmente podemos, pobres professores, conseguir de um estudante
preocupado tão só com médias, com férias, com bolas, com revistas.
Muita gente há, alheia a assuntos de educação, que se admira com ver o
latim pleiteado no curso secundário, mal sabendo que ensinar não é ditar,
e educar não é ensinar. E ensinar é dar independência de pensamento ao
aluno, fazendo com que de per si progrida: o professor e guia. E educar
é incutir no estudante o espírito de análise, de observação, de raciocínio,
capacitando-o a ir além da simples letra do texto, do simples conteúdo
de um livro, incentivando-o, animando-o. No fazer do estudante de hoje
o cidadão de amanhã está o trabalho educacional do professor. Quando
o aluno compreender quanta atenção exige o latim, quanto lhe prendem
o intelecto e lhe deleitam o espírito as várias formas flexionais latinas, a
diversidade de ordem dos termos, a variedade de construções de um pe-
ríodo, terá de sobejo visto a excelente cooperação, a real e insubstituível
utilidade do latim na formação do seu espírito e a razão de ser o latim
obrigatório nos países civilizados. Ser culto não é conhecer idiomas diver-
sos. Não é o conhecimento do inglês nem do francês que vem comprovar
cultura no indivíduo. Tanto marinheiro, tanto mascate, tanto cigano há a
quem meia dúzia de idiomas são familiares sem que, no entanto, possuam
cultura (ALMEIDA, 2000, p. 11).

Desta forma, podemos analisar várias construções do idioma (latim) em estudo,


pois, como descreve Almeida, a cultura e a educação não estão limitadas a algumas
pessoas que se dizem cultas, a cultura e aprendizagem do idioma estão relacionadas
ao aprendizado do mesmo, ainda que haja dificuldades, o importante é vencermos
os obstáculos que aparecerão no aprendizado do idioma.

Estamos cientes de que o latim sofreu em um longo período várias transforma-


ções. Desde que era utilizado como língua viva, evidentemente sofreu profundas
transformações. Apresentamos a seguir uma árvore genealógica da família indo-
-europeia6:
Explor

Árvore genealógica da familia indo-européia: https://goo.gl/8Jz7GZ

Podemos observar uma grande diferença entre a língua dos primeiros documen-
tos escritos e a dos textos dos tabeliões portugueses que, segundo Cardoso (1989,
p. 7) nos descreve: “no século XII de nossa era, ainda se utilizavam do antigo idioma.
Há sensível dessemelhança entre o latim das obras literárias do século I a.C. e as
inscrições cristãs dos primeiros séculos”.

6. Disponível em: https://goo.gl/q9GKEP. Acesso em: 19 mar. 2018., p. 24.

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UNIDADE História do Latim e sua Importância

Roma e todo o seu império não tinham preocupações com sua própria
língua em relação às políticas de imposição aos novos povos dominados
por eles. As tropas romanas não se deslocavam para divulgar a língua
latina. Eles estavam interessados, na maioria das vezes, em conquistar
mais terras para aumentar seu poder econômico e político. O latim vai,
por assim dizer, na bagagem dos conquistadores e colonizadores. Essa
língua que saía de Roma junto com seus soldados, funcionários da admi-
nistração, comerciantes, artesãos era a língua popular, o sermo vulgaris
em oposição ao sermo urbanus, ou seja, o falar das classes eruditas, dos
escritores e oradores, conhecido e utilizado por um número limitado de
habitantes. Como se percebe, já existiam variações dentro do próprio la-
tim e foi esse latim das classes populares que se espalhou pelos domínios
de Roma. Da mesma forma, percebemos essas variações em nossa língua
atual. Tanto você pode dizer “nós vamos”, como “a gente vai”. As duas
formas estão corretas sob o ponto de vista do uso padrão da língua por-
tuguesa. Mas sabemos que a forma “a gente vai” é mais popular, é mais
coloquial do que a forma “nós vamos”.7

Não obstante, é evidente caracterizar o latim conforme o período, as circunstân-


cias e a época em que ele foi utilizado pelos cidadãos no mundo antigo, portanto,
pelas características do idioma podemos compreender minuciosamente como se
estivéssemos no ambiente onde ele estava sendo utilizado.
Para melhor entendermos a transformação progressiva do latim, é necessário
conhecermos as diversas fases ou momentos classificados de acordo com os perí-
odos históricos de sua evolução. A primeira delas é o período pré-histórico. Essa
denominação foi dada ao momento em que a língua latina fora usada nos primeiros
tempos, ou seja, por volta do séc. VIII a.C. Depois, ela foi suplantando os outros
falares da região e estendeu-se por toda a península itálica.
Seguimos com um pequeno gráfico informativo sobre a expansão do latim
no Ocidente:

Figura 2 – A expansão do latim no Ocidente8

7. Disponível em: https://goo.gl/q9GKEP. Acesso em: 19 mar. 2018., p. 25.


8. Disponível em: https://goo.gl/q9GKEP. Acesso em: 19 mar. 2018., p. 25.

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Assim, podemos caracterizar o latim conforme algumas circunstâncias ele sofreu
ao longo da história humana, como havíamos relatado anteriormente. A primeira
característica seria o Latim pré-histórico9 que, na verdade, é o idioma dos primeiros
habitantes de Lácio, anterior ao aparecimento da escrita na história entre os Fení-
cios, como relatamos anteriormente (CARDOSO, 1989, p. 7).
Desenvolvendo as características do Latim, a segunda delas seria o latim proto-
-histórico10, a que aparece nos primeiros documentos do dialeto. Uma outra carac-
terística seria o latim arcaico, idioma este utilizado entre os séculos III e I a.C., este
latim foi utilizado em diversos textos literários como, por exemplo, nas obras de
Névio, Plauto, Ênio e Catão.
Bem como em epitáfios e textos legais, inicialmente pobres, com voca-
bulário reduzido e estruturas morfossintáticas não rigorosamente determi-
nadas, a língua tende, com o passar do tempo, a firmar-se, enriquecer-se
e aperfeiçoar-se, graças, sobretudo, ao desenvolvimento da literatura e à
influência da cultura helênica (CARDOSO, 1989, p. 7).

Além do mais, temos o latim clássico, que vai aparecer a partir do segundo quar-
tel do século I a.C., segundo Cardoso. O autor apresenta-nos que este período do
latim é descrito e escrito em várias obras em prosa e poesia lírica que marcaram a
fase deste dialeto.
O latim vulgar era a língua falada pelo povo, e como qualquer outro idioma,
esteve repleto de transformações e mudanças ao longo do seu desenvolvimento,
fatores estes que estão relacionados a épocas, delimitações geográficas, influências
estrangeiras, níveis culturais dos falantes etc.
E, em último lugar, está o latim pós-clássico, no qual encontraremos obras literárias
compostas entre os séculos I e V de nossa era. Portanto, embora neste período come-
cem a surgir textos de grande importância, o idioma, infelizmente, começa a perder a
perfeição que o havia caracterizado no período anterior (CARDOSO, 1989, p. 8)
Assim, qualquer dialeto que já era falado pelas comunidades invadidas pe-
los romanos era denominado de substrato, quer dizer, a língua de base de
uma população, pois, em nenhum dos territórios conquistados, os roma-
nos teriam encontrado um povo mudo, sem qualquer expressão linguística
de suas comunicações. O latim, por sua vez, aparece como superstrato,
a língua que vem de fora, de cima, falada por um menor número de pes-
soas, mas com grande poder político e econômico, o que leva a superar
paulatinamente os idiomas nativos. Do contato da língua do invasor ro-
mano com cada substrato, vão surgir os romanos ou romances, as novas
línguas filhas do latim, dentre elas, o português. Muitas vezes, observa-se
uma convivência natural e sem atritos entre idiomas, situação em que
perduram contribuições paralelas com elementos que vêm de ambos os
lados. A isso denomina-se de adstrato, persistindo, num mesmo ambien-
te linguístico, características diferenciadas nas quais se percebem origens
distintas como tantas vezes aconteceu no contato do latim com o grego11.

9. Falado entre os séculos XI, VII ou VI a.C.


10. As questões da escrita estão relacionadas no século VII ou VI a.C., ou possivelmente no século IV a.C.
11. Disponível em: https://goo.gl/q9GKEP. Acesso em: 19 mar. 2018., p. 26.

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UNIDADE História do Latim e sua Importância

A Importância do Latim
Temos ciência de que o latim deve a sua importância na antiguidade clássica ao
prestigio do Império Romano. Esta localidade era uma pequena aldeia, segundo
Cardoso, inaugurada por pastores albanos no coração do Lácio, em meados do
século VIII a.C (CARDOSO, 1989, p. 9).
Roma se tornou, sucessivamente, a principal cidade de uma confederação
itálica, a grande metrópole do Mediterrâneo e a capital de um dos maiores
impérios cujos limites se estendiam da distante Lusitânia ao Oriente, dos
areais da Líbia às terras da Britânia e da Germânia, ao Ponto e à Cítia.
No mundo romano, cuja extensão só se definiu na época do imperador
Trajano (séc. II d.C.) e que abrangeria grande parte da Europa, o norte da
África e a parte da Ásia ocidental, o latim era a língua de comunicação.
Nos locais culturalmente menos desenvolvidos, a língua de Roma, divul-
gada por soldados e ensinada nas escolas, foi implantada sem maiores
dificuldades. Nas regiões onde a vida cultural já era intensa e tinha carac-
terísticas próprias bem solidificadas não houve, a rigor, a latinização. O
latim, todavia, mesmo sem ser uma língua “oficial” do Império, foi sempre
uma espécie de língua comum, cujo papel a Igreja se encarregou de acen-
tuar. Desnecessário seria falar da importância do latim durante a Idade
Média e o início dos tempos modernos, quando foi a língua da comuni-
cação universal, da política, da religião, da cultura e da ciência. E hoje?
Poderíamos perguntar, como o fizemos no começo de nossa exposição:
qual o interesse do conhecimento do latim? (CARDOSO, 1989, p. 8-9).

O termo Antiguidade clássica refere-se a um longo período da História da Europa que se es-
Explor

tende aproximadamente do século VIII a.C., com o surgimento da poesia grega de Homero,
à queda do Império Romano do Ocidente no século V d.C., mais precisamente no ano 476.
No eixo condutor desta época, que ao contrário de outras anteriores ou posteriores, estão os
fatores culturais das suas civilizações mais marcantes, a Grécia e a Roma antigas.

Fonte: https://goo.gl/YcVsuT

Dentro desta perspectiva, podemos caracterizar dois aspectos que podem ser
arguidos na resposta da questão acima.

Podemos observar, em primeiro lugar, a vasta e rica literatura deixada pelo


mundo romano que, na verdade, permite-nos desfrutar de autênticas obras de arte,
como também se estende para outras áreas do conhecimento humano, como, por
exemplo: pela área da historiografia pela filosofia, pela antropologia, pela teoria
literária em todas as suas dimensões das áreas da pesquisa acadêmica e literária
sobre a temática, pela ciência e pelo teatro (CARDOSO, 1989, p. 10).

16
Não obstante, muitas destas obras podem ser traduzidas, mas como já citamos
anteriormente em nossas primeiras unidades da disciplina, a tradução compromete
muito do que realmente a obra estava querendo transmitir para nós, quando nas
devidas traduções, muitas palavras e conteúdos podem mudar em relação a obra
original, somente os “deuses” que podem nos dizer o que realmente aconteceu nas
obras literárias, líricas e poéticas do mundo antigo, que foram escritas em latim.

Historiografia é o registro escrito da história. Podemos dizer que é a arte de escrever e


Explor

registrar os eventos do passado. O termo historiografia também é utilizado para definir


os estudos críticos feitos sobre aquilo que foi escrito sobre a História. Um exemplo: se um
historiador faz um estudo crítico sobre o trabalho feito por Heródoto (historiador que viveu
na Grécia Antiga e escreveu sobre o período), então ele está produzindo um trabalho de
historiografia. Disponível em: https://goo.gl/wEoCqu. Acesso em: 19 mar. 2018.
Filosofia é uma palavra grega que significa “amor à sabedoria” e consiste no estudo de
problemas fundamentais relacionados à existência, ao conhecimento, à verdade, aos valores
morais e estéticos, à mente e à linguagem. Filósofo é um indivíduo que busca o conhecimento
de si mesmo, sem uma visão pragmática, movido pela curiosidade e sobre os fundamentos da
realidade. Disponível em: https://goo.gl/HXsveM. Acesso em: 19 mar. 2018.
Antropologia deriva das palavras gregas “anthropos” (ser humano) e “logos” (ciência, estudo,
conhecimento) e significa o estudo do ser humano. O objetivo da Antropologia é buscar
um entendimento amplo, comparativo e crítico dos seres humanos, seus conhecimentos
e formas de ser. A antropologia abrange o estudo do ser humano como ser cultural,
fazedor de cultura. Investiga as culturas humanas no tempo e no espaço, suas origens e
desenvolvimento, suas semelhanças e diferenças. Tem seu foco de interesse voltado para
o conhecimento do comportamento cultural humano, adquirido por aprendizado social. A
partir da compreensão da variedade de procedimentos culturais dentro dos contextos em
que são produzidos, a antropologia, como o estudo das culturas, contribui para erradicar
preconceitos derivados do etnocentrismo, fomentar o relativismo cultural e o respeito à
diversidade. Disponível em: https://goo.gl/c3oXr9. Acesso em: 19 mar. 2018.
A Teoria Literária consiste no estudo e sistematização da Literatura como área do conheci-
mento, bem como os modos de análise deste campo. Assim como a Literatura Comparada,
consiste em um campo bastante recente. Antes da popularização do termo, seu estudo era
realizado no campo da Estética, que compreende todas as Artes. Até o início do século XX,
quando a teoria literária se estabeleceu, a literatura não tinha um tratamento priorizado
em relação às outras artes. Todavia, seus estudos remontam à Aristóteles e sua Poética,
que analisava as manifestações literárias da época. Disponível em: https://goo.gl/RNxMpH.
Acesso em: 19 mar. 2018.
Ciência representa todo o conhecimento adquirido através do estudo ou da prática, base-
ando em princípios certos. Esta palavra deriva do latim scientia, sujo significado é “conheci-
mento” ou “saber”. Em geral, a ciência comporta vários conjuntos de saberes nos quais são
elaboradas as suas teorias baseadas nos seus próprios métodos científicos. A metodologia
é essencial na ciência, assim como a ausência de preconceitos e juízos de valor. A ciência
tem evoluído ao longo dos séculos. Galileu Galilei é considerado o pai da ciência moderna.
Disponível em: https://goo.gl/edJ9P7. Acesso em: 19 mar. 2018.

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17
UNIDADE História do Latim e sua Importância

O teatro teve sua origem no século VI a.C., na Grécia, surgindo das festas dionisíacas realiza-
Explor

das em homenagem ao deus Dionísio, deus do vinho, do teatro e da fertilidade. Essas festas,
que eram rituais sagrados, procissões e recitais que duravam dias seguidos, aconteciam uma
vez por ano na primavera, períodos em que se fazia a colheita do vinho naquela região. O
teatro grego que hoje conhecemos surgiu, segundo historiadores, de um acontecimento in-
usitado. Quando um participante desse ritual sagrado resolve vestir uma máscara humana,
ornada com cachos de uvas, sobe em seu tablado em praça pública e diz: “Eu sou Dioní-
sio!”. Todos ficam espantados com a coragem desde ser humano colocar-se no lugar de um
deus, ou melhor, fingir ser um deus, coisa que até então não havia acontecido, pois um deus
era para ser louvado, era um ser intocável. Este homem chamava-se Téspis, considerado o
primeiro ator da história do teatro ocidental. Ele arriscou transformar o sagrado em profano,
a verdade em faz-de-conta, o ritual em teatro, pela primeira vez, diante de outros, mostrou
que poderíamos representar o outro. Este acontecimento é o marco inicial da ação dram-
ática. Disponível em: https://goo.gl/nbRFoJ. Acesso em: 19 mar. 2018.

Por outro lado, há um interesse muito grande pelo latim, sendo ele um idioma
indo-europeu e uma das mais antigas línguas, ao qual podemos ter mais informações
através da documentação escrita, e pela pesquisa historiográfica da história antiga,
obviamente do período da antiguidade clássica registrado por alguns historiadores do
período contemporâneo como por exemplo: Pedro Paulo Abreu Funari12, professor
de História na Universidade Estadual de Campinas. (CARDOSO, 1989, p. 10).
Em nosso século, em que imperam a eletricidade e a velocidade, parece
de fato estranho e até anacrônico, à primeira vista, o estudo do latim.
Qual a utilidade de uma língua morta, que requer atenção, dedicação e
esforço? Em que isso vai ajudar a mudar minha vida, fazendo-me galgar
posições mais elevadas da sociedade? Tudo depende de como se encara
o problema. Com o latim, aprenderemos a compreender melhor o nosso
idioma, que contém mistérios interessantíssimos. O latim serve-nos de
trampolim para mergulhos mais profundos na nossa visão de mundo,
no nosso modo de pensar, na nossa vida. Aquele que entende bem a
mensagem que o latim passa em seus textos se questionará melhor e
verá que antes de nossos valores, havia outros, muito distintos, mas
perfeitamente coerentes, que merecem nossa admiração e respeito.
Longe de ser retrógrado, o estudo do latim associado ao estudo da vida
social em Roma nos faz vislumbrar quanta coisa mudou e quanta coisa
ainda continua surpreendentemente do mesmo jeito que era, muitas vezes
apenas com os nomes trocados. Sim, porque o que se herdou do Império
Romano ao longo desses vinte e sete séculos de uso do latim escrito
não foi pouco. Resumindo, eu responderia à pergunta do título com uma
outra pergunta: por que não estudar o latim?13

12. Disponível em: https://goo.gl/pWPP68. Acesso em: 19 mar. 2018.


13. VIARO, Mário Eduardo. A importância do latim na atualidade. São Paulo: UNISA, 1999, p. 2.

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A Formação das Línguas Romanas
Observamos que a formação das línguas românicas são o resultado de formação
territorial da antiga cidade de Roma. Alguns especialistas em história antiga
inserem sua fundação no ano 753 a.C., que, na verdade, houve uma dominação
das cidades vizinhas neste período: primeiro foram conquistadas as terras italianas
continentais, e em segundo lugar, as ilhas do Mar Mediterrâneo14.
Evidentemente, à expansão territorial correspondeu um aumento enorme
de povos dominados não apenas pela força de exércitos formidáveis, mas
também pela maior cultura e melhor organização política. A necessidade
de se manterem obrigou esses povos a se tornarem bilíngues apesar de
serem a maioria em suas terras, acarretando a princípio de uma evolução
por estarem duas línguas, em contato direto. Houve somente duas terras
que foram dominadas, mas não vencidas, porque se submeteram ao go-
verno romano, mas mantiveram as suas tradições por serem altamente
civilizados e conscientes do seu poder intelectual. O maior desses derro-
tados foram os gregos, que terminaram por se tornarem professores dos
seus inimigos, a que legaram uma tradição da arte da ciência que obrigou
os vencedores a estudarem e dominarem a língua grega: poucos eram
os romanos cultos que continuaram monolíngues. Entre esses, a história
conservou o nome de Marcus Porcius Cato (234-149 A.C.,), em nossa
língua, Márcio Pórcio Catão, homem austero e moralista, que firme na
sua romanidade se negou por anos a fio a deixar-se embriagar pelo en-
cantamento grego, mas ao fim da vida capitulou. Além dessa rendição e
mais que ela, ficou conhecido por seus discursos incitando os romanos à
nova guerra contra a cidade de Cartago. Discursava em todas as sessões
do Senado Romano e terminava cada uma das suas orações com a mes-
ma frase: Caeterum censeo Carthaginem esse delendam [De resto eu
opino que Cartago deve ser destruída] (BERLITZ, 1988, p. 12).

Desta forma, sabemos que são chamadas línguas românicas os dialetos oriundos
do latim, e que, na verdade, conservam na íntegra os vestígios no vocabulário,
na sintaxe e sobretudo na morfologia. Nosso léxico português é constituído por
mais ou menos 100.000 vocábulos, dos quais 80% destes são de origem latina.
Segue abaixo uma tabela identificando as línguas românicas.

14. Disponível em: https://goo.gl/NwCtWu. Acesso em: 19 mar. 2018.

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UNIDADE História do Latim e sua Importância

Línguas Românicas ou Novilatinas


LATIM
populu

Francês Castelhano Catalão Galego Italiano Português


peuple pueblo poble pobo popolo povo

Castelhano; Galego
Catalão; Português } Península
Ibérica

LATIM

}
Francês
Italiano Europa
Romeno
Figura 3 – Línguas Românicas15

Dentro dos idiomas oriundos das línguas românicas, estão sinalizados o


Português, o Espanhol, o Galego, o Catalão, o Francês, o Italiano, o Romeno e
o Latim. Alguns especialistas apresentam-nos que o idioma Provençal, o Sardo
e o Reto-Romano também entram nesta lista dos idiomas classificados como
oriundos das línguas românicas.
O termo romanus foi usado originalmente como sinônimo de habitante
da cidade de Roma. Mais tarde, com a expansão do império, o termo foi
estendido a todos os cidadãos romanos sob proteção do imperador, em
todas as províncias. Com o tempo, o termo passou a significar “aquele
que não é bárbaro”, ou seja, todos os não estrangeiros. O império atingiu
seu apogeu no início do século II d.C., como se pode ver no mapa da
página 21, Capítulo 2. Após esse período, por vários motivos, que inclu-
íam a própria vastidão do império, os romanos passaram a ser atacados
frequentemente por povos de origem germânica que vinham do norte da
Europa, pressionados pela invasão de outro império ao leste, o dos hu-
nos. Ao conjunto de províncias que constituíram o Império Romano neste
período dá-se o nome de România Antiga.

Com as invasões germânicas no Ocidente e eslavas no Oriente, ocorreu


uma grande fragmentação política e linguística, e os povos falantes de
latim localizados em províncias tão distantes como a Dácia e a Lusitânia
mantiveram traços de romanização em graus variados, que dependiam,
basicamente, da antiguidade da romanização, do período em que ficaram
submissas ao Império, e da profundidade dos contatos; essas províncias,

15. Palavras em Latim. Disponível em: https://goo.gl/A36h52. Acesso em: 19 mar. 2018.

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então, acabaram desenvolvendo dialetos mais ou menos próximos ao latim
vulgar. O desenvolvimento da România posterior, ou România Medieval,
deu-se em parte por causa desses fatores, mas também dependeu dos
contatos linguísticos com os povos falantes de outras línguas que já se
encontravam nos territórios conquistados (falantes das chamadas línguas
de substrato), com os falantes das línguas dos povos que vieram a
conquistar os territórios romanizados (falantes das línguas de superstrato)
e com os povos falantes de línguas como o grego, que conviveram com os
falantes de latim em várias regiões em situação de bilinguismo por muito
tempo (falantes de línguas de adstrato)16.

Figura 4 – Mapa - O Império Romano no seu apogeu


Fonte: iStock/Getty images

História da Língua Portuguesa


e a Influência do Latim
Observamos que o nascimento da língua portuguesa está relacionado com o
português arcaico, ou seja, o nascimento da língua portuguesa está relacionado a
meados do século XII e início do século XIII d.C., data esta que vai até as grandes
navegações do século XV d.C. (1415) (GONÇALVES, 2010, p. 78).

16. Gonçalves, Rodrigo Tadeu. História da Língua. Florianópolis: UFSC, 2010, p. 21-44.

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UNIDADE História do Latim e sua Importância

Assim, o português clássico nasce no período de 1415 d.C., e consolida-se com


a obra Os Lusíadas, de Camões, datada de 1572 d.C. Neste período, ocorreram
várias mudanças na língua portuguesa. Na verdade, é o idioma que prevalece
até os dias atuais na modernidade que foi alvo de mudanças e aperfeiçoamentos
(GONÇALVES, 2010, p. 79).

Portanto, o português moderno nasce em 1572 d.C.,17 e segue o seu destino


até os dias atuais, ainda que já ocorreram várias modificações no idioma. Mas,
como notamos anteriormente, a língua portuguesa foi altamente influenciada pelo
latim, e podemos notar isto claramente nos mais de 100.000 vocábulos inseridos
em nossos léxicos de língua portuguesa.
Vale sempre lembrar que, apesar de usar consistentemente essa periodi-
zação, ela não é a única alternativa possível e, a depender dos objetivos
em questão, ela pode nem sequer ser a mais adequada. Essa e outras
características formam o caminho das pedras de quem quer estudar a
história de uma língua e servem para exemplificar como é complexa a
interação entre fatores linguísticos e extralinguísticos ao longo do desen-
volvimento histórico de uma língua18.

Desta forma, as mudanças que o idioma sofreu são facilmente percebidas nos
dias atuais, e essas mudanças foram feitas notavelmente em Portugal, e somente
algumas delas são compartilhadas pelo português brasileiro.

Considerações Finais
Nesta unidade apresentamos a história do latim e importância para os estudos
do idioma nos períodos antigo, moderno e contemporâneo.

Iniciamos apresentando a origem do latim, descrevendo de forma específica


a compreensão de alguns autores e especialistas do idioma como, por exemplo:
Cardoso e Rosário, que na verdade são pesquisadores que contribuíram muito para
a ampliação e aprendizagem do idioma. Portanto, pesquisadores que estudam a
história antiga clássica, também deram a sua contribuição como o pesquisador
Marc Bloch19 e entre outros.

Analisamos o tronco indo-europeu e suas subdivisões, para após, entrarmos nas


questões linguísticas relacionadas com o idioma. Desta forma, fez-se necessário
apresentar a evolução do latim e seus pormenores na história antiga clássica, com
seus principais personagens e supostos autores. Adentramos na árvore genealógica

17. Em 1572, durante a batalha de Alcácer-Quebir, parte de uma campanha frustrada de conquistar o Marrocos,
Portugal perdeu seu rei, Dom Sebastião, sem deixar herdeiros. Devido aos meandros dos direitos da sucessão de Dom
Sebastião, oito anos depois, o rei Felipe II da Espanha reivindicou a sucessão real portuguesa e fez de Portugal uma
província espanhola de 1580-1640. A independência foi devolvida a Portugal somente com o movimento conhecido
como “Restauração”, sob o domínio da dinastia de Bragança, tendo Dom João IV à frente.
18. Ibid., Cit., GONÇALVES, 2010, p. 79.
19. Pesquisador da história cultural dos Annales na França, no século XX.

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da família indo-europeia, como relatamos anteriormente, apresentando, assim, um
mapa da expansão do latim no Ocidente para que os discentes localizem a tamanha
influência do dialeto e possam perceber a força deste idioma até os dias atuais.

Após, descrevemos a importância do latim para os estudiosos antigos e


modernos, descrevemos também o seu nascimento e sua difusão no mundo antigo.
Além disso, as características e formação das línguas românicas também fizeram
parte desta unidade em estudo. Finalmente, concluímos nossa unidade relatando
sobre uma breve análise da história da língua portuguesa e a influência que o latim
teve e tem na construção do idioma.

Concluímos está unidade cientes de que estamos somente começando a


adentrar nas observações educacionais do latim nos mundos antigo, moderno
e contemporâneo.

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UNIDADE História do Latim e sua Importância

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
LATIM PARA PRINCIPIANTES, 1-1: ALFABETO; SONS DAS VOGAIS
https://youtu.be/B2oXtxj0vEI
LATIM PARA PRINCIPIANTES, 1-2: DITONGOS; SONS DAS CONSOANTES
https://youtu.be/Rq2W0cf2Qns
LATIM PARA PRINCIPIANTES, 1-3: SÍLABAS; QUANTIDADE DAS VOGAIS
https://youtu.be/yiJSXorSbTU
LATIM PARA PRINCIPIANTES, 1-4: QUANTIDADE DAS SÍLABAS; ACENTUAÇÃO
https://youtu.be/lRerpLp5s7Y

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Referências
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática do Latim. São Paulo: Saraiva, 2000.

BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro:


Jorge Zahar, 2001.

BERLITZ, Charles. As Línguas do Mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.

CARDOSO, Zélia de Almeida. Iniciação ao Latim. São Paulo: Universidade de


São Paulo – USP/Ática, 1989.

COMBA, Júlio. Gramática latina. São Paulo: Salesiana, 1981.

GONÇALVES, Rodrigo Tadeu. História da Língua. Florianópolis: Universidade


Federal de Santa Catarina, 2010.

MONTAGNER, Airto Ceolin. Língua Latina I. Rio de Janeiro: Universidade


Castelo Branco, 2008.

QUEIROZ, T.A. Gramática Latina. São Paulo: Universidade de São Paulo –


USP, 1986.

ROSÁRIO, Miguel Barbosa do. Latim Básico. São Paulo: Produção própria,
[2010 ou 2011].

SOARES, João S. Latim 1 – Iniciação ao latim e à civilização romana. Coimbra:


Almedina, 1999.

TARALLO, Fernando. Tempos linguísticos. São Paulo: Ática, 1994.

VIARO, Mário Eduardo. A importância do latim na atualidade. São Paulo:


UNISA, 1999.

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