Super Explain
Super Explain
Super Explain
tudo é periferia
as questões periféricas acabam por se instalar no vazio degradado
dos centros
I Ching/Taixuanxing
ciência
complexidade (neo-complexidade)
linguagem ética
sofistica o Mal
retórica (degradação e morte)
politica santidade
ficção athanatos
gymnásia ETHOS
pseudos MYTHOS
mesoptamia
agenben
leibnitz
Ciência/mito/linguagem
polo poético
mythos
polo ético-extático
engenho
polo tecnológico-cognitivo
teoria
ex-pli-cation
PPP
PP
1. Como Forma
a) Morfogénese (Thom)
b) Tempo das formas - maturidade/imaturidade (Kubler e
Gombrowicsz)
c) Modelos combinatórios (Pitágoras, Platão, Leibnitz, Topologia)
d) Rizomas e processos stokasticos (Deleuze/Bateson)
2. Como Linguagem
a)Eficácia/Magia/pregnancias
b)Caça/radiação
c)O uso da inutilidade
d) Sexo/amor/absoluto/extase
4. Como Sistema
10. Não vamos deixar a ética com o rabo de fora. A ética não é somente
a comezinha lógica que ilumina as responsabilidades e os deveres para
consigo ou para com os demais. Nem é somente a dietética dos prazeres,
a estrada para a tranquilidade, os exercicios de ascese, a integridade
moral, etc. De Nietzsche a Foucault e seus sequazes sabemos que a ética
forma e deforma, com os afectos e dispoditivos adjacentes, as
explicações. A nossa ética não pode deixar de incluir o extase, como algo
concreto, material e pragmático. O explicadismo leva ao extase
(acampanhado de um série de práticas tretatéricas)? Sim. Mas isso
depende de cada um.
COMO FAZER ARTE EXPLICADISTA
A arte explicadista é fácil de fazer. Grande parte dos professores quando desenham
esquemas nos quadros fazem explicadismo, embora não façam arte. Quando se tenta
imaginar uma tática qualquer não há nada como um desenho. Os organigramas são
explicadistas (vejam o organigrana do M. da Cultura Português). Alguns diagramas
também o são. Há cartoons, sobretudo os mais descuidados, que são teoricamente mais
certeiros que determinadas teses de doutoramento. As bandas desenhadas, àrvores
genealógicas e «mandalas» do Ad Reinhardt são exemplos contundentes desta forma de
arte. As suas pinturas só adquirem intensidade em função dos manifestos. Tornam-se,
mais do que um yantra, uma forma eliptica de explicadismo.
Há uma boa parte da arte conceptual que também parece ir nesta onda. Beuys, quando
desenha, e dá explicações nesses desenhos ou em quadros, com esquemas políticos,
antropológicos, semi-esotéricos, é o mais sintomático percursor do explicadismo. Os
esquemas são propostas de acção, teorias politicas para levar (e levadas) à prática, não
se limitam a ser obras de arte com as melhores intenções revolucionárias para alimentar
o consumo de mercadorias com a etiqueta revolucionária, sobretudo pelos museus, com
directores de «esquerda» cheios de má consciencia. (recordo a exposição de Serralves
em que os Homeostéticos, esse bando de reaccionários e machistas quiz dar um arzinho
de revolução à instituição – a mais sintomática forma de «controle» foi a imediata
supressão do som dos «insuportáveis» megafones do jardim).
Òbviamente que não há receitas para fazer arte explicadista, mas parece-me que há uma
ênfase, não-obrigatória, no caracter vectorial (que leva a acção) das imagens. As
imagens os esquemas e as palavras canalizam determinadas energias (como os devotos,
os apaixonados, os pais de familia), que possuem uma carga conceptual-perceptual-
afectiva (é impossivel desligar os 3 termos «deleuzianos»).
É certo que o poder é a gestão de forças multiplas que não se situam num só plano e em
que os dominadores não são apenas dominadores,. O explicadismo encena determinadas
forças, em quadros teatrais. Os suportes, novos ou velhos, on-line ou on the rocks, todos
servem. Os concertos do M. Vieira são òperas explicadistas e tendem para o comício-
concerto, assim como grande parte das cerimonias religiosas. Mas nós preferimos
formas desdomesticadas.
Por exemplo, o feto é modelizável, mas não podemos nem saber qual o
espermatozoide que é escolhido, nem quais os génes que vai combinar com
òvulo. Os momentos de decisão são os de dissimulação. O decisivo (o co-
participativo) é o dissimulacro.
erklären
Trialidade (alitoral)
Metamatemático
Indualidade
Crisomorfismo
Interstícial
Transtornável
Durismo
Nihilástico
Extratermo
Op-postos
Em-Onde
A Unidade sado-maso
O Alterne-Ego
O Absoluto-Vaca
A Vaca-Acuídade
O Vazio-Vaca
O Esvaziamento da Vaca
O Absoluto Vazio
O Relativo Vazio/Absoluto
Hipermediania
Agarrado
Pináculo
ortologia/totologia
Disponível
Rebaixas brejeiras
Fora-do-Mercado
Exterminismo
Cálculos Habilidosos
Mixórdia
Kaôntico
Desistência
Só os contracontrários se solicitam
Subparadoxos
Os opostos teatralizam
Representando o Irrepresentável
Solteirismo
Horigem
Sistemas Especiosos
Dissimulação dissipativa
Infrassistema
Abjunção
Excesso partilhável
Desperdício mutante
Circulo Viscoso
Desatino
Pãnifestação
Lougos
Phisolda
Ralatividade
Insantidade
Ninfoenergia
Ramificações enforcantes
«Sillylogism»
Entrutopia
Anihil
Recriação
Evento múltiplo
Padrões de Fornicação
Metaemergências
Arradicalismo
spieghare
Há obras de arte que são apenas afectivas – fazem companhia. Há as que são
terapeuticas, as que manipulam forças (mágicas), as que são decorativas, as
que querem exibir emoções, as que exprimem ideias, as que são icones de
uma revolta de consumo (arte politica).
Cristo usava parábolas para explicar as coisas. Por vezes fazia desenhos com
um pau na areia. Que desenhos eram? Não o sabemos. Cristo usava
claramente as mais básicas técnicas explicadistas. Quando queremos explicar
conceitos filosoficos percebemos que um esquema ou uma figura geométrica
nos elucidam mais do que o vocabulário abstracto. A imagem é mais concreta
e dá alguma arrumação e tranquilidade ao pensamento. Os textos de Platão
são explicadistas, no sentido acima apontado – encenam teorias, dando-lhes
imagens e um contexto favorável. Dante escrevia poemas enigmáticos e depois
escrevia tratados filosóficos a partir deles. No caso da Divina Comédia não
escreveu nenhum tratado. Assim como os textos de Platão são comédias
(todas as teorias que se exprimem teatralmente não podem ser trágicas, uma
vez que o trágico anula as teorias através de um simulacro da violência – logo,
toda a teoria é uma comédia), também o «poema» de Dante é uma comédia
sobre o divino, recorrendo a personagens e a geometrias. Camões rima nos
Lusiadas uma versão explicadista da história de Portugal, bem sucedida, mas
também faz fastidiosas descrições de geografia.
ANTIPHON
O futuro será impiedoso com a arte mediocre – como sempre! Só que em muito
maior escala.
Pois precisamos de uma arte que nos desvie de todas as coisas que não nos
deixam apanhar sol. É uma alegoria frique? Pois é!
PORKY PRESS
WHYNOTSNEEZ.INC
EX-FINGE
5. O mundo é contrarepresentação.
6. A contemplação reprodutiva.
12. Heterosolipsismo.
A EKPRESSÃO
5. Os refluxos dissimulativos.
6. A «terna crueldade».
7. Teoria e arte como intrínsecas à natureza.
BABEL AO ESPELHO
6. Assuntos resplandecentes.
1. O intersticial.
2. Causa-alietoriedade.
5. Categorização do metamórfico.
6. A maleabilidade meditativa.
OS ANEXOS DA ABSTRACÇÂO
1. O inoriginante.
3. Geometria e máscara.
4. Os diagramas intoxicantes.
1ª parte
EXPLICAR A EXPLICAÇÃO
2ª parte
son
almendrados
strong opinions are great
il faut faire
l’amour
be zen at noon y blancos los
avec dientes
and expressionist at 9
la cumplicité de los más
bellos
de la complexité conceptos
form is more and less
than content
les images de
nôtre intensité enough se convertiran
en directores de
museus
después de
in fake we trust mañana
se convertiran
thou shall be the builder
en chistes
of the NEW BABEL
il faut
ridicularizer
breakfast
le plus sublime
brings
et sublimer
power
le ridicule
que le sublime
encore
el amor te
vuelve
piramidal
y el
explicadismo
se emplumó
en batalla de
azafran
PORTRAIT
OF THE
ARTIST
AS
MIDLE
AGE
EXPLICADIST
o explicadismo não é pedagógico nem procura explicar tintin por tintin, mas
despoleta forças conceptuais que invadem o mundo
fórmulas,
esquemas,
comentários,
intuições,
gracejos
Explicadismo já!
homeostetica
complexidades
porkis cocós
ases da paleta
vieira 2001
academia de
vanguarda
tretaterismo/neo-
complexidade
explicadismo
FEBRE EXPLICADISTA (CITAÇÕES)
Uma cidade desnuda-se mais rápidamente perante um turista curioso do que para um
autócne zeloso.
O artista exerce a sua sexualidade através da obra de arte. O crítico, mais realista e
consistente, fá-lo através do artista.
Num mundo em que a memória parece estar, mais do que nunca, salvaguardada
documentalmente, estamos entregues ao livre curso da amnésia.
A classe média europeia e americana tem hoje ao seu dispor, com a maior das
facilidades, coisas que nenhum grande imperador mítico se atreveria a desejar.
1. Os artomos
hipóteses
a) as microparticulas são já «artisticas»?
b) O caracter dissimulante de algumas microparticulas (porque é que
é
tão dificil encontrá-las? Será que existem mesmo todas?).
c)As cadeias de forças que articulam as microparticulas são a base de
todas as cadeias de forças - a base explicadista.
Hipóteses P. PORTUGAL
ARTOMOS
As Partículas da Arte
i. RECEPTOR
ii. CENTRAL (Artomos NICHT, Anti-Artomos, Artomos DOXA, etc)
iii. EFECTOR
BACK TO NARTURE
ARTOMOS
As Partículas da Arte
Há 3 tipos de Artomos:
i. RECEPTOR
ii. CENTRAL (Artomos NICHT, Anti-Artomos, Artomos DOXA, etc)
iii. EFECTOR
30. A secagem que a teoria opera sobre a visão das coisas dá-
nos o prazer das subtilezas, de algo erótico e borbulhante que a
natureza não sabe entregar senão através de ti e dos teus
semelhantes. A teoria é o êxtase como o outro do êxtase. É a
«paradoxa» que age empaticamente sobre a doxa.
43. Ter teorias não é dizer que se tem teorias. Uma teoria é
um modo de esquematizar relações no mundo através da
concentração da visão das operações do mundo em termos-
força.
O ESTADO DE GRAÇA
ETHOS:DYNAMIS
A ética é a potênciação. (Sêr ético é querer ser mais, daí a formula de N.:
vontade de poder)
Quando Jesus diz que o seu Reino não é deste mundo não quer dizer que
rejeite o mundo porque a passagem do Logos à Carne é a passagem do
Logomorfismo a algo en-carnante, físico. A ressurreição apenas sublinha, uma
segunda vez, essa vontade de participar na Físis. A morte do messias é, de
uma certa perspectiva, a aceitação da caducidade (cade como corpo morto
cade dizia Dante!). A caducidade é o que cai, o que aceita o seu peso. É o que
se torna algo de peso: kavod, ou doxa. Ortogononalidade. Per-
pendicularidade. Ortodoxologia.
Uma teoria como algo que establece nexos fluentes entre agregados de ideias.
DOXA = CHARIS
A frase de Picasso: «a arte é uma mentira que diz a verdade», pode ser,
parahermeneuticamente retraduzida em «grego»: a «arte» é poesis, a
«mentira» é apaté, o «dizer» é a acção do logos, e a «verdade» (pois claro!) é
a aletheia. Poesis: Logos/Apatê/Aletheia.
Esta defenição muito mais vigorosa de Arte, que põe em jogo quer a
persuação quer a autenticidade, quer a imagem (aparência e ilusão) e
palavra.
1
Não é a verdade e a mentira no sentido lógico que projectamos no mundo, mas o crédito e
descrédito no que nos parece. Deveria dizer-se «parece-me que» e «acho que não».
instigador do Iconoclasma. O Iconoclasma é a expressão anti-doxica que
acaba, usualmente, por caír em deliciosos axiomas da PARADOXA.
Hacking não caracteriza o sêr humano como faber, mas como Homo depictor:
«os seres humanos são representadores»(in Goody), e acrescenta: «a
pluralidade de representações incita necessáriamente ao cepticismo,á duvida,
e encontra-se ligada á fractura entre aparencia e realidade.» Mas há uma boa
parte do acto representativo que não é representação nem pretende ter uma
ligação vinculativa à realidade. É a própria linguagem representativa que se
explora na sua autossuficiência. A linguagem tem uma tendência a emancipar-
se de qualquer finalidade comunicativa para encontrar em si uma não-
finalidade, um modo de se perpétuar na multiplicação serial e no prazer
performativo.
Não consideramos estas duas tendências como excluindo-se uma à outra, mas
como contribuindo para o enriquecimento reciproquo não-dialético. A
multiplicidade de representações inclui a produção iconoclasta. Precisa dela
como um outro ou como um nucleo interior que a deforma. O iconoclasma é
um banho circunstancial. O jejum é também doxa.
(folha solta, não datada )
PENSAR É DOXAR
2
Divisivel mas não dividido. O Divisivel está indiviso, é a potência da divisão.
a doxa é pois o hedonismo e uma exercitação vigorosa
a) se o ser não fosse temporal, dado como tempo, não havia nenhuma
manifestação. Só o não-ser pode ser intemporal ou eterno. O termo
eterno não faz sentido senão como conjectura de uma temporalidade
indefenida sem princípio nem fim. Ninguém me garante que o ser não
tenha tido um princípio e que venha a ter um fim.
b) se o Ser não fosse divisivel nenhuma distinção seria possível – o facto
do Ser ser divisivel não implica descontinuidade, antes pelo contrário.
Também é certo que o ser não se dá obrigatóriamente como
divisibilidade, mas a divisibilidade é uma possibilidade que não anula a
omnipotência.
o ser é uma totalidade? Não sabemos, mas não cremos que isso seja
necessário. A totalidade é pensada em função de limites ou, caso seja
pensada como ilimitado, não passa de uma suposição. Por isso o ser só pode
ser entendido no tempo em que se dá.
DOXAR É PENSAR – esta é talvez a única certeza, mesmo aqui quando andamos
às voltas com a linguagem, a tentar por alguma arrumação no pensamento. A
propensão da doxa para a intensidade e o vigor da linguagem deve-se à sua
perseguição amorosa do ser.
Porque é que existe doxa e não apenas ser. Porque o ser é creativo, em
movimento, em busca de uma omnipotencia ainda mais forte, e a doxa é o
espelho das suas representações. E também pode ser que o ser seja uma
excepção no oceano do não-ser, algo que surgiu como um erro no absoluto da
nulidade. O universo dá-nos esse exemplo, apesar da agitação dos astros. A
consciência, ou doxa, ainda é algo mais infimo, quer no espaço quer no
tempo.
A doxa é uma prática: sem prática não há possibilidade de haver
possibilidades. A doxa é uma errância, é consciente das suas imperfeições e
incertezas e busca uma melhor forma.
Tenho amigos artistas que fogem com o rabo à seringa a qualquer doméstica
intervenção do domínio filosófico ou literário às suas idas e vindas ao
famigerado mundo da arte. Pensam, ou julgam que pensam, com as mãos,
com os olhos, ou com o corpo inteiro, incluindo as patas que já temos e
aquelas que advêm do precisarmos mais do que as que temos. Dir-se-ia que
esta ingénua animalidade é possível, com uma velha candura modernista e
com um horror declarado (ai credo!) aos espectros filosóficos, e também
comerciais, que andam à volta das obras de arte (e do restante mundo)
pondo-lhe irritantes etiquetas. A teoria é como a mioleira – é uma mixórdia
cinzenta. Eu compreendo essa genuína alergia aos «estrangeiros das letras»,
amantes bem intencionados de obras de arte ou mercenários com aspecto de
mercenário mesmo, que escarrapacham sentidos de difícil acesso ao que
parecia ser uma mensagem de corpo e alma ao pestanejar vulnerável do
freguês de ocasião.
Acontece que eu sou um dos tais fabricantes de delírios desse tipo. Escrevo
para afinar o olho. Ou para desfocá-lo. Ou para intoxicar de um modo o mais
intenso possível o que julgo que passa por aparências. Já as supostas essências
são para outro tipo de visões, e não sou grande frequentador dessas casas de
pasto de difícil acesso. É verdade, sempre escrevi, e como todos os escritores
aldrabo, sobretudo naquela cozinha subterrânea de citações em que fazemos
passar por um conhecimento certo e seguro as deambulações dos nossos
limitados conhecimentos. Ofuscar com uma catadupa de referências é fácil, e
tenho uma tendência quase inata para o fazer. O que só prova «esta»
artificialidade e superficialidade. Mas gosto da manipulação insensata do
Verbo. Ao dizer isto, estou a mais um passo de levar o leitor no engodo,
porque lhe parecerei assaz sincero. É, tu aí, que me lês, usa e abusa já das
tuas reticências mentais! Mas, apesar de incontinentes reticências, acabo por
simpatizar com a conversa dos artistas que escrevem, porque a sua escrita é
uma resistência militante a etiquetas alheias. Não que sejam melhores do que
os outros, mas esforçaram-se ou tiveram o dom de nos proporcionar uma
conversa que nalguns casos até pode ser enriquecedora. Ao invés desconfio
das obras de arte que apostam num só sentido, forte ou fraco, como num
cavalo de corrida. São um pouco como os cartoons políticos, passado o
contexto vai-se a eficácia.
(refutar e não-refutar)
Mais tarde os impressionistas (joie de vivre + bas fonds) que iam para o campo
que nem uns friques. A esse friquismo cheio de piqueniques e vinho opuseram
os futuristas a guerra e as máquinas. Uma boa parte dizimou-os a guerra. É
bem feito!
A guerra era a única saúde, diziam, seguindo o pior de Nietszche. Saúde na
morte? Os dadaístas eram uma espécie de futuristas cobardes com pelo menos
8 anos de atraso. Foi por isso que sobreviveram.
Conheceram-se na Suiça em festas num cabaré. Enquanto os outros se
matavam pelas puta da pátria, estes curtiam e celebravam o absurdo de ser
pró e contra ou o que quer que seja.
O urinol de Duchamp (que em 1912 fazia pinturas do género dos futuristas) é
consequência disto: enquanto os seus compatriatas estavam a ser
absurdamente dizimados só se podia responder ao patriotismo que leva à
guerra com urinois ao contrário. Depois emigrou para a América onde obteve
um sucesso simpático. Na guerra que se seguiu muitos outros artistas foram lá
parar sempre a fugir da destruição e dos seguidores de Hitler.
Picasso ficou em Paris. Os americanos não lhe perdoaram.
O imperialismo americano passou a dominar o mundo.
Duchamp ainda fez uma coisita ou outra no princípio dos anos 20 como os
vidros (acabado em 1923). Nos 50 anos seguintes fez umas graçolas
(exceptuando o Etant Donnés que é um fracasso) enquanto o Picasso pintava
que se desunhava.
A pintura americana dos anos 50 tentava libertar-se do Picasso mas o
fantasma continuava lá. Duchamp servia às mil maravilhas como alternativa e
é a arte que agora temos, mais de 100 anos depois do primeiro ready made.
A Doxa é como o budismo invertido.
Não caímos na tentação de reduzir estas condições a uma tríade. Há bem mais
versões.
As teses devem ser feitas em grupo (todos por todos e contra todos).
a)
1. a teoria como teoria
2. a teoria como arte
3. a teoria como dissolução da teoria
4. a teoria como dissolução da arte
5. a teoria como superação da teoria
6. a arte «entendida» como arte
7. a arte «como» teoria
8. a arte como dissolução da teoria
9. a arte como dissolução teórica da arte
10.a arte como recusa fundamentada da teoria
b)
1. A arte que é consciente de ser «arte»
2. A arte que é involuntáriamente «arte»
3. A arte que quer deixar de sêr «arte»
4. A inevitabilidade de algo que não é arte
passar a ser «arte»
Nunca ninguém foi artista. O que não quer dizer que não haja actores ou
autores de obras ditas de arte. O que se passa é que a inexistência destas
criaturas deve-se ao facto, aliás pouco preocupante, de que a arte não existe.
Fala-se de arte como (ai cono!) de um território onde «os dilemas, equívocos,
desordens,etc» (Beuys) encontram um local de acolhimento.
(blackbook e arredores)
O rei do hipnotismo
jesus de escabeche
os bisnetos de malevic
suck close
as mamas de gertrude stein são as mamas de gertrude stein são as mamas de gertrude
stein
liber caústico
amor…chocolates…arte…
O Contraestado
martiriologia em epitome
pornoecologia (basics)
fluxus puding
solidariedade pitagórica
anemic fictions
pump pulp
implantes de intiligência
caos permaturo
cirurgia escolástica
socialismo atópico
Quadro de explicadismo (muito provisório)
1. Como Forma
a)Morfogénese (Thom)
b) Tempo das formas - maturidade/imaturidade (Kubler e
Gombrowicsz)
c)Modelos combinatórios (Pitágoras, Platão, Leibnitz,Topologia)
d) Rizomas e processos stokausticos (Deleuze/Bateson)
2. Como Linguagem
a) Defenição (o prazer da defenição pela defenição)
b)Interpretação/Comentário
c)Refutação
(Filosofia, ética, retórica - Aristóteles, Nagarjuna, Gorgias,
Wittgenstein)
4. Como Sistema
«esse *swe é igualmente o tema das palavras gregas étés (aliado, parente) e hetaíros,
companheiro. (...) Pode-se identificar *swe em grego em muitos grupos de formas onde
ele é especializado por afixos distintos:
*swe-d- em ídios
*swe-t- em étés
*swe-dh- em éthos
a dissimulância
a assimilação
a dissimilação
o dessemelhante dissimulado
o dissimil in dissimil
a infrarealização
míopismo versus alta definição
a ninforealidade
catástrofe/simulacro = metacatástrofe/dissimulacro
Acontecimento/ Inacontecimento/Anacontecimento
Shakespeare
DOXA/DAIMON/KRATER
estratégias de explicação:
explicar o explicável
desexplicar o explicável
exprimir o explicável
explicar o exprimível
explicar o inexprimível
explicar o expressivo
explicar o inexpressivo
explicar o inexplicável
inexprimir o exprimível
explicar sem explicar
explicar sem exprimir
explicar o exprimivel do inexplicável
exprimir o inexplicável do inexprimível
explicar sem explicar o explicável
etc.
diagrama explicadista de Deleuze sobre Foucault.
A explicação é uma dobra desdobrando-se no de-fora
EXPLICADOR/EXPLICAÇÃO/EXPLICÁVEL
o-que-explica/explicação/o-que-é-explicado
«É sómente quando há o sim (de modo geral) e não o não, que o não
pode aparecer. Se origináriamente não existisse senão o não, não
existiria a possibilidade de separar o sim do não. O não não forma um
oposto complementar com o sim (tal como o pequeno e o grande se
definem um através do outro): o não é apenas a negação do sim.»
(Wang Fuzhi)
Cristo usava parábolas para explicar as coisas. Por vezes fazia desenhos com
um pau na areia. Que desenhos eram? Não o sabemos. Cristo usava
claramente as mais básicas técnicas explicadistas. Quando queremos explicar
conceitos filosoficos percebemos que um esquema ou uma figura geométrica
nos elucidam mais do que o vocabulário abstracto. A imagem é mais concreta
e dá alguma arrumação e tranquilidade ao pensamento. Os textos de Platão
são explicadistas, no sentido acima apontado – encenam teorias, dando-lhes
imagens e um contexto favorável. Dante escrevia poemas enigmáticos e depois
escrevia tratados filosóficos a partir deles. No caso da Divina Comédia não
escreveu nenhum tratado. Assim como os textos de Platão são comédias
(todas as teorias que se exprimem teatralmente não podem ser trágicas, uma
vez que o trágico anula as teorias através de um simulacro da violência – logo,
toda a teoria é uma comédia), também o «poema» de Dante é uma comédia
sobre o divino, recorrendo a personagens e a geometrias. Camões rima nos
Lusiadas uma versão explicadista da história de Portugal, bem sucedida, mas
também faz fastidiosas descrições de geografia.
Heraclito
Os Atomistas e Sofistas na Índia, Grécia e China
Sócrates e os Socráticos (Cirenaicos)
Cínicos
Cépticos
Epicuristas
Tchouang-Tseu
Petronio
Apuleio
S. Paulo
Luciano de Samosata
Abelardo
Cirano de Bergerac
Lewis Carrol
Rabelais
Nagarjuna e Ariadeva
Mestres Zen
Tantricos
Dogen
Max Stirner
Nietzche
Kafka
Dadaístas
Kurt Schwitters
Picabia
Gomez de La Cerna
Bill Waterson
Jarry
Montaigne
Michaux
Pittigrilli
Raymond Roussel
Pierre Leyris
Italo Calvino
Duchamp
Picasso
Pansaers
Luis Buñuel
Jean Cocteau
Borges
Savinio
Fernando Pessoa
Almada Negreiros
Irmãos Marx
Monthy Python
Woody Allen
John Cage
James Joyce
Eric Satie
Mozart
Rossini
Biber
Ives
Eckhart
Casanova
Voltaire
Diderot
Lautreamont
Deleuze
Bierce
Dubuffet
Shakespeare
Henry Miller
Blacke
Caneti
Lichtenberg
Kraus
Oscar Wilde
Morin
Hernry Miller
Ernesto de Sousa
Filosofia (segundo F. Sabedoria (segundo F. Explicadismo (segundo
Julien) Julien) «alguns» explicadistas)
Agarrada a uma ideia Nenhuma ideia é especial Relações entre ideias
especiais
A filosofia é histórica A sabedoria não tem Romanceamento dos
história acontecimentos
Progresso por A sabedoria tem que ser Produção e desfruto de
explicação/demonstração saboreada teorias enquanto arte e
exercitação
Generalização Globalização Multiplicação de
singularidades tentaculares
(generalizantes e
globalizantes)
Niveis de imanência Armazenamento de Redes complexas de
(cortando o caos) imanências imanência
Discurso (defenição) Observações (sugestões) Tagarelice inventiva
(diálogos)
Sentido O manifesto O co-
produzido/interpretado
Escondido porque retirado Escondido porque Escondido porque
manifesto dissimulado (natureza
carnavalesca)
Saber Realizar: tornar-se Co-participar: os sentidos e
consciente dos sentidos o saber desabroxam-se
reciprocamente
Revelação Regulação Entusiasmo e
diversificação
Dizer Nada a dizer Dizer pelo prazer de dizer
(ou porque há nada a dizer)
Verdade Congruência Teatralidade de doxas
Ser e sujeito Processo Serialização heteronimica
da «poesis»
Liberdade Espontaneidade Sprezzatura
Erro Parcialidade Prazer na Ilusão
O caminho é para a O caminho torna viável O caminho é entusiasmo e
Verdade ilusão
ALGUNS TERMOS EXPLICADISTAS
outros termos
1. psukhai
2. allelophagia - canibalismo
3. antron
4. daimons
5. topos
6. phugé – exilio
7. tekton
8. alêtheia
9. enthousiasmous
10. frené
11. métis
12. telos/atelos
13. mêden – nada
14. Kosmos
15. Chaos – fenda (cona)
16. Krisis – distinção
17. muthos
18. logos
19. moira
20. anagké
21. diké
22. thumos
23. òdos
TERMOS AVACALHADAMENTE EXPLICADISTAS
Julio Pontinha
Dissimulância
Ninforrealidade
Cosmeticologia
Dissimulacro
Infrarresalização/infrarrealidade
Miopísmo
Estétética
Pilosofia
Pentelhismo
Poliateismo
Urana – Visão dos corpos celestes como algo essencialmente femenino (tal
como os egípcios o conceberam). De acordo com esta versão transsexual da
mitologia grega era Urana que comia os seus próprios filhos. A ela opunha-se
Gaio (o alegre) que era obrigado a copular com ela permanentemente.
Bicopolis – Sistema politico em que o sexo oral, em todas as suas variantes faz
parte dos mais vulgares protocolos.
Neartoid (ou Neandertoid) – Artoide no seu estado inicial, glorioso. Ou, artoide,
no seu estado final, glorioso. Entenda-se por artoíde o artista que é objecto de
estudo na economia do artista desconhecido.
Mimética – noção que une a mimesis à ética. Cada situação especifica exige
uma atitude ética distinta. A mimética é uma percepção/absorção epidérmica
das complexidades num conjunto de coordenadas espacio-multiversais.
9=0 - Teoria rival e idêntica à de 6=0. Ao contrário desta última, que parte do
pressuposto da Doxa do Ângulo Recto ( definindo o universo como cúbico, e
utilizando analogias com o I Ching sobretudo na categorização em 64
mutações), o 9=0 parte do pressuposto que o universo é estruturado a partir de
estruturas ternárias (o universo equilátero?): é a chamada Doxa do Triângulo
Equitativo. Há para esta Doxa analogias com os nove rasas hindus ou com o
Tai Hsuang Xing (livro obscuro do sec II a.c. mas só recentemente editado
(1995) que estava previsto geometricamente no primeiro dos cadernos doxa e
foi desenvolvido por Proença no inicio da década de 90). Existe também o
bolismo (a Doxa da Curva Perfeita, desenvolvida por Brito e Vieira) cuja
equação é 0=0. Segundo a lógica post-paradoxológica, a estas 3 doxas
corresponde a expressão rigorosa 6=9=0.
ARTOIDE
DELEUZE
Num primeiro sentido não existe máquina abstracta, nem máquinas abstractas que sejam
como as ideias platónicas, transcendentes, universais, eternas. As máquinas abstractas
operam nos agenciamentos concretos: elas definem-se pelo quarto aspecto dos
agenciamentos, isto é, pelas pontas de de descodificação e de desterritorialização. Elas
traçam essas pontas; desse modo elas abrem o agenciamento territorial sobre outra
coisa, sobre agenciamentos de outro tipo, sobre o molecular, sobre o cósmico, e
constituem devires. Elas são sempre singulares e imanentes. Contrariamente ao que se
passa nos estratos, tal como nos agenciamentos considerados sobre os seus outros
aspectos, as máquinas abstractas ignoram as formas e as substâncias. É nisso que elas
são abstractas, mas também é esse o conceito rigoroso de máquinas. Elas excedem toda
a mecânica. Elas opõem-se ao abstracto no seu sentido corrente. As máquinas abstractas
consistem em matérias não formadas e em funções não formais. Cada máquina
abstracta é um conjunto consolidado de matérias-funções (philum e diagrama). Isso vê-
se bem num plano tecnológico. (...)
É que a matéria não formada, o philum, não é uma matéria morta, bruta, homogénea,
mas uma matéria-movimento que comporta as singularidades ou hiceidades das
qualidades ou mesmo das operações (linhagens tecnológicas itinerantes). Também a
função não formal, o diagrama, não é uma metalinguagem inexpressiva e sem sintaxe,
mas antes uma expressividade-movimento que comporta sempre uma lingua estrangeira
na lingua e categorias não linguísticas na linguagem (linhas poéticas nómadas). Então,
escreve-se identicamente o real de uma matéria não formada, ao mesmo tempo que essa
matéria atravessa e estica a linguagagem não formal como um todo: um devir-animal
como os ratinhos de Kafka, as ratazanas de Hofmannsthal e os vitelos de Moritz? Uma
máquina revolucionária, tanto mais abstracta quanto ela é real. Um regime que já não
passa pelo significante nem pelo subjectivo.(...)
(«atribuído» ao Pseudo-Aristóteles)
1. Se há qualquer coisa (diz Melissus), o que há é sem-tempo, uma vez que nada pode
provir do nada. Dado que tudo provém, ou, pelo contrário, que todas as coisas não
provêm de qualquer coisa, em ambos os casos elas são incongruentes, uma vez que
aquelas de entre elas que proviessem de qualquer coisa deveriam provir de nada.
Assim sendo, se todas as coisam provêm de qualquer coisa, nada poderá prexistir. E se
algumas tivessem uma existência permanente e outras fossem produzidas
adicionalmente, o sendo tornar-se-ia mais numeroso e maior. Ora, aquilo através do
qual o mais numeroso e maior provêm, é-o do nada, uma vez que o que é menos não
contem o que é mais e o menor não encerra o maior.
2. Sendo sem-tempo, essa qualquer coisa é sem-limites, dado que não comporta uma
origem de onde provenha, nem de fim que constituiria o termo do seu devir.
3. Mas esse todo é Um, ainda que sem-limites, dado que em caso de ser dois ou mais,
estes limitar-se-iam uns para os outros.
Aforismo – o que ferra sem rima não forra senão com frases
de estribo
F
Fama - é o que ama o fútil sabendo que não há essencialidade
I
Ilimitado - imitação de mitos
A arte é um tema obscuro. A arte não é algo que tenha uma origem ou um
fim. A cada momento a suposta arte se imagina como uma coisa particular.
Cada obra particulariza o seu significado na sua forma e contexto. Ao
contrário de determinadas coisas dotadas de constância, das quais se pode
deduzir ou induzir uma característica, a arte é polimorfa e demasiado
diversificada. Pelo menos neste momento. Suportes, práticas, etc, não a
unificam. O seu conceito é demasiado vago para ser um conceito. O seu
denominador comum ou é o mercado ou o museu. Arte é tudo o que se
vende como arte. Ou arte é tudo o que se expôe como arte. Estes dois
casos abragem clássicos objectos como o famoso urinol e a enlatada merda
de artista. Há uma justificação porventura mais significativa que é o facto de
haver um «corpus» histórico da arte com uma lógica sequêncial, e que tudo
o que entre dessa lógica e se refira a essa lógica é arte. Essa lógica é
imparável. A história da arte é abrangente. Classifica como arte coisas
anteriores anteriores ao aparecimento da história, ou marginais a esta. O
que significa que a existência de produção de história não é
necessáriamente contemporânea da produção da hipotética arte. Vou mais
longe. Considero sobrevalorizado o papel histórico da emergência de
determinadas obras. O pioneirismo, a novidade, têm à luz das vulgatas algo
de vedetismo das pop-stars. A emergência de novidades deve ser
entendida de um ponto de vista mais formal, como o fez Kubler. O novo é o
que ínicia uma série. Ou que retoma uma série há já muito esquecida. A
história de arte moderna foi apocaliptíca no sentido em que o Novo seria o
seu objecto predilecto. Objecto demasiado consumível. Transgressão,
descontinuidade, vanguarda, etc. É de admirar como é que estes termos
tiveram uma história tão longa. Os limites parecem já esgotados nos
primeiros ready-mades de Duchamp e nos manifestos futuristas. Ou ainda
antes, nas doutrinas de Nietzsche e seus derivados. O drama da origem e
da morte da Arte estava bem anunciado um século antes das vanguardas
com as tiradas da morte da arte esgrimidas por Hegel. Ou ainda mais atrás,
na ideia de decadência da arte subjacente às vidas dos artistas de Vasari.
Podemos ainda ir mais longe e dizer que desde que a arte é consciente de
ser arte e o faz de uma forma teórica e sistemática que a sua morte está
presente nos enunciados. Se recuarmos a Plinio, ou às tiradas irónicas de
Petrónio, estamos longe de qualquer exaltação heroica. Pergunto-me se os
melhores tempos terão sido os da Grécia? Mas se lermos Platão o seu
olhar sobre a «arte» é tudo menos grandiloquente, antes pelo contrário.
Compreende-se logo que há um desejo intrinseco à teoria de a
marginalizar, de a dar como algo acabado, sem futuro, sem surpresas, sem
possibilidades. As exaltações circunstânciais vêm de personagens
ingénuos, mais interessados em legitimar um artista ou um grupo deles do
que aceitar o devir inevitável de uma coisa que, ainda por cima, para
sobreviver precisa de variar. A terrivel evidência é que a arte sobrevive
como um virus que se metamorfoseia demasiado. É certo que há
sociedades que graças a férreos constrangimentos éticos sobrevivem sem
arte apesar desta parecer satisfazer algo que parece essêncial à espécie
humana. Há um fundo biológico, eventualmente lúdico, mas que não está
ainda suficientemente desenvolvido. A maior parte dos homens sobrevive
bem sem arte. Esta não é uma necessidade básica. Mas é a situação de
suplemento que lhe dá o interesse. Para uns a arte é a finalidade da
espécie. Como Mallarmé. A finalidade do mundo seria um poema ou algo
parecido. Seremos mais prudentes quanto a propor finalidades para o
mundo ou para a espécie, mas o certo é que a arte, tal como a ciência, é
um excelente tema para projectarmos as nossas ânsias de sentido. Ora, no
estado actual das coisas é difícil encontrar muito mais coisas onde a dita
humanidade se goste de projectar como num espelho de virtudes e
obscenidades. A arte persiste, boa ou má, decadente ou resistente, com ou
sem legitimidade. Os artistas continuam a produzir, as galerias vendem, os
criticos criticam e os teóricos cumprem o seu papel militante de a declarar
morta ou post-morta, porque isso é mais fácil. Esta evidência deve ser
compensada por alguma humildade quanto ao devir. O que irá ser da arte
não o sabemos. A sua história só pode ir enriquecendo a cada dia que
passa, porque a história não se apaga. Vivemos num mundo de
acumulação. A impossibilidade do esquecimento traz o ruído de uma
overdose de história e memória. Os artistas continuam a ser excitados pelas
obras do passado e pelas narrativas que se fazem à sua volta. A situação
apresenta-se crítica para os produtores. Mas é isso que faz dela uma coisa
excitante e aventurosa. Há sempre uma opacidade a cada momento que
não torna evidente o futuro. O tempo, por norma, acabou sempre por
refutar, essas perniciosas aporias.
32 Edulcoração. Acidismo.
50 Enigma de não-enigmático.
O enigma funciona mais como um isco do que como qualquer coisa que
exista. O enigma do enigma é o facto de nada ter de enigmático. É a
falsidade do enigma que condena Tebas e Édipo. Os cidadãos ao
acreditarem na potência enigmática acendem calamidades. Édipo dá-se
como enigma. O enigma é o espelho do òbvio. O enigma supostamente
condena Homero e protege Heráclito. São Paulo invoca o espelho e o
enigma como metáforas messianicas. Abelardo responde à letra – nada de
espelhos, nada de enigmas. S. João de Damasco falará do icone como um
espelho enigmático. O icone corresponde às nossas espectivas
enigmáticas. Mas a decepção (e quiçá a plenitude) é a presença que
antecede o icónico (e toda a representação), o cara a cara com o hipotético
absoluto. Mas enquanto o absoluto é adiado resta-nos o enigma como
pseudos, como camuflagem do não-enigmático.
57 O inconciliavel conectivo.
58 O Sublime na discoteca.
62 Inatenção e sensibilia.
69 As efemérides do efémero.
70 Géneses dilacerantes.
A culpa, por mais feliz que seja, não absolve o passado. A absolvição
confessional é decerto propulsora da felicidade, uma vez que disseca as
culpas, e dissecar é matar os agentes que imploram uma expiação de
crimes cometidos. A Feloix Culpa é, porém, um excelente refúgio, uma doce
ascese no meio dos desertos ideológicos. Nada mais aguerridamente
ideológico do que qualquer tipo de totalitarismo. As ideologias são
culpabilizantes, mas são-no pelo motivo errado. A culpa perante a agressão
ideológica é a felicidade possível, mascarada ou não de subtil transgressão.
E é na transgressão dos vinculos à cultura romana, mais do que no
arrependimento perante Deus, que podemos perceber esta feliz, e culpada,
expressão agostiniana.
81 Revolução ou Paraíso?
1. Acção/inacção/contracção/retracção/concentração/passividade.
2. Encontro/desencontro/fuga/escape/procura
3. Crueldade/generosidade/admiração/Sadismo/Masoquismo
4. Geometria/circulo/elipse/triangularidade/quadratura/topologia/yantras/neolítico/
elipse/doxa-kavod/espiral
5. Amizade/infidelidade/fidelidade/constância/indiferença/traição
6. Dialógica/polilógica/tautológica/monológica
7. Besta/homem/bestiário/totémismo/homunculo/deus/símio/robot
8. Identidade/dês-identidade/genes/génio/engenho/tabula rasa/património
9. Crise/estabilidade/equilíbrio/estagnação
10. Guerra/paz/polémica/disputa/consenso/estagnação/adversidade/cumplicidade
11. Animalidade/monstruosidade/zoomorfismo/mimetismo
12. Música/silêncio/ruído/melodia/ritmos/modal/tonal/atonal
13. Desafio/neutralidade/indiferença/conformismo/aventura
14. Intelectual/bestial/sensual/bronco/institivo/intuitivo/apolínio/dionisíaco
15. Paraíso, infelicidade, nostalgia,/inferno/purgatório/melancolia/alegre/sério
16. Messianismo/pragmatismo/adiamento/fractalidade
17. Compreensão/confusão/desfruto/adivinha
18. Linguagens/interdisciplina/babel/interlinguas/polilógica
19. Complexidades/estupidezes/stokaustico/concorrência/co-organização/caos
20. Bárbarie/hiperciviliuzado/hipercomplexo/sofisticado/poliglota/provinciano
21. Sabedoria/prudência/excesso/cepticismo/convicção/competência/expert/métis/so
fismas/sofista
22. Eu/uni-multi-inter-extra-des-co-subjectividades
23. Mentira/fraude/fraude-de-fraude/ilusões/magias/persuasões
24. Racionalidade/desregramento/incomensurabilidade
25. Sonho/vago/minúcia/concreto/preciso/delirante/fantasia
26. Exotismo/orientes/ocidentes/rico/pobre/sul/norte/primitivo
27. Liberdade/disciplina/perguiça/opressão/resistência/dependência/servidão/nirvana
28. Conhecimento/Fausto/ansiedade/desconhecido/conhecido/inconhecível/obtuso/e
nigmático
29. Sexualidades/mulher/homem/criança/homossexual/assexual/misógeno
30. Vida/mortalidade/ressurreição/moribundo/nato
31. Cinema/montagem/teatralidade/narrativa/poética/montagem/fragmento/stasis
32. Loucura/normalidade/esquizonormalização/sensatez/psicose
33. Mestiçagem/hibridismo/puritanismo/racismo/minimalismo
34. Caminho/percursos/Tao/etapas/erros/desvios
35. Beijo/táctil/superfície/eros/penetração
36. Olhar/visual/invisual/predação/luz/sombra/cor/representação
37. Método/experiência/enamoramento/controle/categorização/análise/consciência
38. Universos/caosmologias/microemergências/entropias
39. Utopia/fábulas/totalitarismo/democracia/autonomia/falhanço/modelo
40. Tempos/histórias/eterno retorno/irreversível
41. Acaso/kairos/estratégias
42. Civilização/barbarização/naturalização/harmonização/ecossistema
43. Verdade/falsificação/interpretação/plausibilidade
44. Viagem/iniciação/mudança/familiaridade/desconhecido
45. Amor/canibalismo/exploração/ódio/poder/desejo/reciprocidade
46. Poesia/previsível/imprevisível/monotonia/perturbação/consolação/katharsis
47. Culpabilidade/ousadia/cuidado/orgulho/pudor
48. Sabor/prova/digestão/maneiras/educação/manducação/voracidade/absorção
49. Contradicção/doxas/paradoxas/lógica/post-paradoxológico
50. Rito/repetição/controle/descontrole/regularidade
51. Ignorância/lucidez/aprendizagem/insuficiências/carências
52. Estética/ética/percepção/responsabilidade/contemplações/desprezos
53. Mistério/evidência galante/gramática de suposições/adivinhação/opacidade
54. Demónios/génios/enthousiasmous/divino
55. Exclusão/inclusões/sobras/simplificações/confusões
56. Solidariedade/liquidação/gazozidade/rizomação/pulverização/vegetalidade
57. Idade/moda/modernidade/eternidade/intemporalidade/intempestividade
58. Terra/enraizamento/céu/fossilização/vegetarianização
59. Literatura/fala/escrita/tecido/rede/metáfora
60. Cultura/domesticação/delicadeza/repressão/sodificação/inclassificável
61. Surpresa/epifania/declínio/espectativa/tédio
62. Sujeito/predicados/auto-refutação/heteronomia/anónimo/serial
63. Emoções/sensações/variações/tranquilidade/apatia/abstracção
64. Nada/tudo/nihil/negação//afirmação/apofático/assertivo
THE NATURAL
HISTORY
Marx, ao dizer que a natureza se transforma no homem, não está a dizer que a
natureza se transforma nela própria. A transformação do homem noutro
homem, quem sabe se para melhor ou pior, é uma variante da transformação
da natureza na natureza.
A arte como algo indissociável quer da natureza quer da história natural – a
natureza como algo artístico. A animalidade do artista e da arte. A animalidade
do artificial.
A cultura é a excepção natural que mais retroage sobre a natureza, ainda que
de um modo absurdo.
A arte cura e educa não porque queira ser curativa e educativa, mas
porque arrasta com ela inumeros poderes, e porque ilumina, graças a
estados excepcionais, os processos normativos e repressivos.
A arte dissolve-se no mundo graças a uma espécie de contra-loucura que a habita e que
se distingue em tudo da vontade da verdade e dols impetosa normalizadores.
O poder é o conjunto de tipos forças que articulam os fluxos que circulam como uma
espécie de causalidade complexa. Mas num sentido mais acutilante o poder só realiza na
singularidade do prazer como potência que não se dissipa na sua acção. Neste sentido o
corpo é o único local onde o poder e o prazer são reais, como conjunto de táticas e
práticas sensíveis, extremamente sensíveis. Ao se socorrer dos artificios da
legitimização o poder torna-se degradante, desencarnado.
6
O homem é carne (ressurrecta). A consciência é uma aberração abstracta que
distrai a carne da dor. A abstracção finge que desencarna. Essa desencarnação
fingida tem saudades da carne. A saudade, a nostalgia, é apenas o equívoco
dessa alienação do corpo. Podemos dizer que a abstracção é uma
particularidade da carne que procura negá-la. O homem é «artista». Resiste
ao environment criando um anti-environment. Está em transição não para um
meio mas para uma mediação activa. Anda a pastar criativamente na sua
acção-reacção à estranha mistura entre a sua criatividade particular e natural
(mas generalizante) e a criatividade geral e particularizante da natureza.
Toda a vida é do passado. Toda a vida é do presente, ainda que não saibamos
exactamente o que ocorre ou ocorreu quer no passado quer no presente. O
que regressa regressa diferido.
Há uma memória activa na vida que complementa a nossa memória individual.
É a memória individual que se excita com os feedbacks e que cria padrões que
deformam a apreensão da memória activa. O esquecimento é o pai das
formas.
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Uma referência é uma alergia provocada pela mudança. Quando o meio muda,
o meio que está a desaparecer parece-nos um mosaico que articula citações
de outros meios que desapareceram.
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A insanidade é a irregularidade que não se ajusta à higiene do presente.
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Penso para fingir que sou. Não sei bem se sou. Há uma intermitência que não
é bem experiência. A consciência vagueia na selva neurológica.
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A soma das partes produz um excesso sobre a própria soma. Qualquer todo é
menos que a soma das suas partes. O todo é a prisão das partes. As partes em
conjunto também são menos que a interacção das suas singularidades. O que
é singular nunca é absorvido na conjunção.
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Interessam-nos os processos, colmo vibração e vivência, mas estamo-nos nas
tintas para esse conceito. Já há muito que desconfiamos das intenções das
nossas operações, e das tautologias que nos empurram para as obras.
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Os pontos de vista não existem como um olhar prévio, mas criam-se enquanto
processo. Os processos estão sujeitos a permanentes feedbacks, mas movem-
se mais depressa do que a sua capacidade de assimilação.
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O homem tem uma vontade adaptativa que não se contenta com o seu
ambiente. Por isso cria espaços de inadaptação, com os quais enceta lutas
absurdas. As cidades são complexos esquemas que satisfazem um certo desejo
de auto-agressão. O homem, porém ainda não se deixou derrotar ou morrer.
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Forjamos as nossas pastagens como uma memória que nos inclui. É o ambiente
que nos interpreta ao interpretar as nossas crípticas interpretações. Somos
terminais de descargas amorosas. Os astros continuam a informar-nos de
acontecimentos demasiado distantes.
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Isto não é um exercício. As definições acontecem-nos como ficções que
iluminam instantaneamente a percepção. A percepção é apenas uma parcela
da experiência. São as coisas mais vulgares que nos vão acabar por
surpreender. As definições são como muletas nesta caminhada.
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A vida é um processo, mas não fazemos nenhuma ideia se tem fim ou não. Nós
somos diagonalmente atravessados por vários estilos processuais. As mutações
acontecem quando os estilos se cruzam.
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A propriedade é uma extensão antes de ser um roubo. Crescer para fora dos
limites do corpo é tornar-se proprietário. Não é repugnante ser autor. Tudo o
que é forte procura continuar-se além do seu espaço. Não é uma necessidade
de comunicação mas de crescimento: produção e reprodução mais do que
intencionalidade ou informação.
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O que acontece não é silencioso. A não ser que sejamos surdos. Mas pode-se
admitir alguma descontinuidade perceptiva. Nem tudo é processado como um
glissando. Experimentar é focar numa coisa. Focar uma coisa implica desfocar
ou ignorar quase todas as outras.
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Faltam-nos dimensões. O passado é a radiação de algo arquivado, de uma
informação repetível e redundante. O passado não pode tomar conta do
presente mas deforma-o estilisticamente. O presente é o hábito que nos
habita.
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É um contra-senso pensar no autor quer como normatividade estilística quer
como algo conceptualmente uniforme. As atribuições autorais dos textos
antigos têm-se entretido a desmontar camadas de autores em textos que
parecem ser palimpsestos, como é o caso de grande numero de livros
bíblicos. Mas a perplexidade surge em autores estilisticamente ricos como
Empédocles ou Antifonte.
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Os factos são bifurcações no sentido de humor que sustenta o mundo.
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As palavras não são coisas mas exercem alguma eficácia nas nossas relações
com as coisas. Daí que pareçam mágicas.
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Não podemos deixar de aceitar o que se apresenta como mais ilusório, mais
quebradiço, mais falível. Rejeitamos a rejeição do mundo através de uma
amizade cega. Sabemos que o desencantamento é a norma e que o
encantamento é um dom capaz de enganar as forças do desencantamento.
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O mundo é algo que se vai fazendo por desfasamentos. É isso que nos provoca
uma certa afazia.
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Cansamo-nos de negar as realidades internas ou externas. Relativizamo-nos
até à náusea. Sentimo-nos importantes na forma como assumimos a
desimportância. Tudo isto é bonito, mas não queremos para já morrer já.
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O autor é importante como alguém que convida para a festa. Por mais que a
sua existência seja duvidosa ele pode marcar-nos para sempre. O autor existe
nessa generosidade fantasmática que se pode tornar tirânica ou libertadora.
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A massa surge como uma energia que suprime o centramento de cada homem.
A massa arrasta como algo magnético. O que a arrasta não é uma pulsão, mas
uma propulsão.
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O universo está por aí. Nós tentamos dar o salto fora. Queremos construir algo
à margem do universo sem cair na morte. A morte integra-nos no universo.
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(Renato Ornato)
XVI. O prazer arma as suas tendas. Aqueles que se deixam tragar na guerra dos
simulacros ignoram do autêntico prazer a indecência e o pudor, e a forma
como os astros favorecem os animais que em tudo dissimulam.
XVIII. Mas a vida não passa de má montagem cinematográfica. Tal como os sonhos
e todas as bizarrias psicológicas.
XIX. Ele viu os cedros como uma concisão absoluta, como a gramática do extase.
XXIX. Se puseres nas palavras as pequenas coisas não darás a entender que a tua
ambição procura ter filhos.
XXXV. O que escrevo é para arrasar a minha vontade. Mas ela sabe resistir.
XXXVII. A nudez mitológica de Adão e Eva é que encena a fraude – a criatura que
se veste é uma simuladora. A pele edénica é uma máscara. Uma máscara
inocente. É só através da censura sexual que as partes baixas se tornam
obscenas.
XLVI. As verdades até acabam por ser bonitas quando vistas em contrapicado.
L. O intelecto procura repouso nas coisas, como quem chega num dia
tempestuso a um lar aconchegante.
LII. Os pensamentos nobres têm a sua gravidade, o seu peso interno, mas gostam
de andar em bicos dos pés. Não necessitam de holofotes, porque isso só os
tornaria vulneráveis. Surgem da espuma das ondas divinas, como algo
burbulhante, arrastando oráculos desfeitos e fósseis de deuses pré-históricos.
LX. A imprudência calculada... a gaffe como uma arte de dar nas vistas. Há
também a falsa imprudência como uma espécie de estilo que serve para
desfazer as aparências das prudências alheias dando um ar de naturalidade e
de imprevisibilidade.
LXV. Crisípo foi censurado por descrever as obscenidades sexuais entre os deuses.
Mas a acção divina é quase sempre obscena. O inexplícito na acção tem um
fundo repugnante. Ou atraente?
LXVI. O ornamento, e todo o tipo de adorno, tem uma razão mais forte que os
conceitos, uma vez que emerge da natureza directamente, sem raciocínios
fraudulentos. Podemos dizer que essa razão é táctil, como a atracção
amorosa de uma pele. É pelo estilo que essa racionalidade táctil se
manifesta. Para chegarmos a qualquer conteúdo temos que escarafunchar
muito.
LXVII.Há um estilo directo, possante, curto, claro, sem rodeios. É nessa sobriedade
estilistica que se fazem os apelos maís hipócritas. É um estilo doce como
uma guerra. Ou rápido quanto uma revolução.
LXVIII. O caracol é discreto, não partilha a sua intimidade. Isso parece-nos òbvio.
LXXIII. Ele encontra satisfação na floresta de apelos das obras mais subterrâneas.
LXXIV. Devorar a natureza é estar com ela. É na degustação dos seus pastos que
ela desvela a sua cruel mecânica.
LXXV. Tornar o corpo àgil é mais urgente e importante do que fazer o exame da
consciência ou da inconsciência.
LXXX. Dar tempo ao tempo é útil para sarar feridas ou deixar-se morrer, mas é
péssimo para convencer alguém.
LXXXIII. O bem presente também é um exílio, talvez o mais duro. Os herois épicos
preferem a recordação dos males passados.
LXXXV. Os antigos não admitiam que qualquer coisa pudesse gerar o vazio, mas o
vazio é o mais artificial dos produtos naturais.
XC. O mundo e a sua variedade são demasiado estreitos para a amplidão dos
nossos ânseios. Mas o anseio não basta. Há uma cobardia no ânseio. Por isso
há que rectificar a balbuciante ânsiedade com actos. Nem que sejam
picarescos.
XCV. O fingimento é uma arte que tenta iludir a mortalidade com argumentos
convincentes.
CII. As falácias indicam o caminho para as falésias. Ajudam a que nos desviemos
delas.
CV. A sua concisão era como o baixo continuo – dava alguma margem de
manobra para improvisos.
CXIII. Há algo de pernicioso nas alegorias que as torna mais frescas e saborosas.
CXX. As coisas não querem ser vistas tal e qual como são. Daí a necessidade de
máscaras e véus. Não que haja algo de realmente arrepiante debaixo das
máscaras e dos véus. Antes pelo contrário. Mas as coisas querem ser vistas
«disfarçadas», para sua protecção, para que não pereçam engolidas pelas
outras coisas. Daí que a contrafacção do pensamento seja sempre estratégica
e teatral.
CXXIX. Pedes a beleza mortal, ou o doce tormento, mas o que te dão são
palavrosas batalhas onde a inconstância dos sentimentos é salva por uma
subterrânea música de harmonias sem freios.
CXXXI. A divindade vive do terror de nada ser fiável. É o último recurso das
nossas esperanças. Entregamo-nos a ela como se quisessemos ser devorados
pelo engano dos enganos.
CXXXII. O facto de ele ser versado no bom-gosto não o obrigava a fixar-se nesse
paladar. Porquê? Porque o que ele pretendia era a variação, mais do que uma
ética que lhe caísse no goto.
CXXXVII. Pode-se mostrar algum desprezo para com a razão, mas não
podemos ser insensíveis a conjunturas e raciocinios que nos permitam
orientar e tomar decisões. A razão é aquilo que nos permite fazer projecções
e projectos – um alicerce frágil, enganador, mas imprescindível.
CXXXVIII. É da impossibilidade do similar, e das analogias profundas, que
faz nascer a convicção de que é o inidentificável (e não a diferença) que
governa a natureza – a dissimulação no dissemelhante.
CXLI. Uma notícia é apelativa graças ao seu teor de violência. Procuro extraír o
apelo do não-apelo, a frágil crueldade da não-crueldade.
CXLIII. O tolo acredita que ele pode ser o artifíce de uma conduta prudente.
CXLV. Quem aposta no cavalo do inefável não deve abusar de metáforas dúbias.
CLI. Uma opinião superficial é mais maravilhosa do que uma filosofia com
demasiadas profundesas.
CLIV. Para um pensamento andar sobre rodas precisa de ter bons pneus.
CLX. Deitou fogo a todas as suas convicções e agora nem sequer encontra as suas
cinzas.
CLXI. Ama o mundo como se este fosse um vaudeville. Era bom que fosse?
CLXIV. O mal que o amor esconde acabará por florescer noutras primaveras.
CLXVI. A ira move-se com os seus navios ao longo das margens da ambição.
CLXXIII. Um erro evidente para todos será bem disfarçado se assumido com lata e
humor.
CXC. Suspeitamos que cada criatura tem uma sabedoria (ou várias) que a procura e
que se lhe ajusta, e que as sabedorias e remédios para todos são mais
assassinas que os canibais.
CXCIII. A maioria das vezes a mais bela das ordens ofende a vista.
CXCIV. Os ornamentos inactivos são ferramentas da espontaneidade.
CC. Uma ética decente, por mais vaga que seja, tem que alicerçar-se na exclusão
do máximo de crueldade.
CCIX. As obras mais sublimes não têm pudor em mostrar as suas partes traseiras.
CCXIX. Tinha a essência divina mesmo à sua frente mas era demasiado míope
para a ver.
CCXXI. Alourava-se nos refugados. Ou na àgua oxigenada? Nem tudo o que luz
é...
A maioria dos homens sai-se relativamente mal naquilo que se deixou ser
quando se poderia saír muito melhor naquilo que não tive coragem de ser.
O...(um nome qualquer) era um génio que preferiu ser um idiota de sucesso.
Não podemos esperar consolo daquilo que não nos queremos dar.
ORATÓRIAS MENTAIS
As dificuldades são como nozes que querem ser esmigalhadas pela astúcia.
A virtude que nos precede é uma ratoeira, a que nos sucede, uma baboseira.
Apesar de não haver emenda, mas meros remendos, deve-se reconhecer que o erro está
em toda a parte.
O mais poderoso é o que sabe que o poder está práticamente fora de controle.
Todas as oportunidades são boas, mas não sabemos exactamente para quê.
O forte procura o confronto com o mais forte e não perde tempo em espezinhar os
fracos.
TRATACTUS PSICOLOGICUS-AMOROSUS
7. Saber que a sua paixão se vai diluir até me transformar no seu pastor-alemão, no
seu caniche ou num pussy-cat.
11. O amor é uma das formas mais engenhosas de combater o tédio e de perlongar o
tempo.
17. Quem ama à primeira vista sofre de uma invejável miopia mental.
22. O amor verdadeiro é capaz de gerar mais mentiras que o amor falso.
23. O amor é de borla, embora atinja preços exorbitantes.
25. A dádiva sem retorno é mais recompensante do que ter que carregá-la aos
ombros.
26. Quem tem várias almas pode amar muitas criaturas ao mesmo tempo.
28. O amor platónico quer ser traído pelo amor físico. E o físico pelo platónico.
29. É mais frequente o amor entrar pelos olhos do que pelo cu.
30. O infinito não é amor por mais que o amor seja infinito.
31. Quem ama várias pessoas é porque tem uma invulgar capacidade de dádiva.
32. Os amores divinos são uma embriagante recompensa para quem falha nos
amores terrenos.
53. Uma amada é uma deusa, embora não saibamos muito bem porquê.
59. Um só tipo de amor é pouco para uma vida, por mais forte e perfeito que seja.
72. O sexo mais javardo pode tornar belas coisas de que a poesia é incapaz.
73. Os homens que perdem tempo a discutir pormenores de carros são geralmente
maus amantes.
76. O amor começa por ser aceitação, mas só se consolida pela manipulação.
79. O sexo é o limiar do canibalismo. Isto explica a ânseadade que nos provoca o ser
amado.
POP-ARISTOTELIS
(...)
(61) A alma gostaria de ser mais autonoma nas suas andanças, mas o
que a enriquece é a interface entre a sua autonomia volitiva e a
vulnerabilidade perante as coisas e as ocasiões.
(78) Nenhuma coisa consegue ser alheia às vozes, mesmo que seja
surda.
(85) As bocas dos animais são como famintas raízes que tentam
devorar tudo que é apetecível ao olhar.
(160) Todo ser é sensível por mais que seja filtrado pelas comédias do
inteligível.
4. Algo que rasteja nas palavras mas que prefere ficar aquém
destas.
10. O ego, assim como o que nos distingue dos demais, não
pretende confundir-se com a vulgaridade da verdade. O que é
mais nosso é uma fibrosa variação.
65. O que deve ser feito é o que não deve ser feito, sobretudo
quando parece que é para ser feito.