Psicobiologia Psiclinica

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UNIDADE 1 - PSICOBIOLOGIA

1. Introdução

Com o aperfeiçoamento dos Microscópios ópticos, a observação e a descrição de


diferentes organismos foram preenchendo a literatura científica da época, recheada de
descrições minunciosas e muitas vezes expeluativa. O aparecimento dos microscópios
electrónicos de transmissão, dos microscópios electrónicos de varrimento
«scanning», dos microscópios electrónicos electrónicos integrados, entre outros, já
quase todos adaptados a sitemas cumpotorizados e de análise de imagem, constituem
uma substancial valorização no equipamento que se aplica ao estudo da célula.

A célula vegetal compartimentada pela sua parede, apresenta-se quase sempre de


forma poliédrica. A célula animal apresenta, pelo contrário um variado polimorfismo
exibindo diversos aspectos de especializações repartidas por mais de 200 tipos de
células distintas.

As chamadas células eucarióticas, que contêm uma zona bem individualizada, o


núcleo encerrando o genoma, contrastam com as células procarióticas, que apresentam
o seu genoma em contacto directo com a porção plasmática da célula. A clássica
subdivisão morfológica da célula eucariótica em membrana, citoplasma e núcleo,
continua válida ainda hoje pois assenta numa organização microscópia facilmente
observável, que delimita bem os respectivos compartimentos celulares.
Sede de toda a actividade metabólica do organismo, a célula está em constante
transformação ocorrendo nela os mais variados metabolismos celulares. Originadas da
célula mãe, todas as células do organismo sofreram ao longo do ciclo celular, um
complexo conjunto de transformações, inicialmente marcadas pelas divisões mitóticas
em que uma célula mãe se divide e dá origem a duas células filhas genéticamente
semelhantes à célula progenitora. Por outro lado, uma intensa actividade nuclear se
opera com a replicação do ácido desoxirribonucleico (DNA) e expressão dos genes.

As membranas biológicas constituem em todas as células eucarióticas,


estruturas limitantes quer dos contornos da própria célula, quer de diferentes organelos
celulares. Sistemas fluídos e altamente dinâmicos, as membranas delimitam os
diferentes compartimentos celulares especializados. Muitas células apresentam mebrana
celular do tipo «liso», isto é, membranas que não apresentam quaisquer particularidades
morfológicas ou especializações para funções específicas.

As microvilosidades, por exemplo, são especializações que permitem aumentar a


superfície de contacto da célula com o exterior, permitindo uma troca molecular entre o
meio e as células e vice-versa.Além disso muitas células para se manterem coesas entre
si, possuem estruturas de aderência, permitindo o contacto entre células vizinhas,
constituindo também diferenciações ou especializações da membrana celular.

O núcleo das diferentes células, uninucleadas ou polinucleadas, tem em muitos


casos, uma organização e distribuição da cromatina e organização nuclear tão peculiares
que permite, conjuntamente com uma análise ultraestrutural do citoplasma, a
identificação da célula do tecido a que pertence. Encerrando o DNA nuclear que
constitui a eucromatina e a heterocromatina, o invólcro nuclear delimita o núcleo, sede
de quase toda a informação genética da célula que está em permanente interacção com o
citoplasma através dos seus poros nucleares.
2. Membrana Celular

A membrana celular é a estrutura que faz o limite externo da célula e funciona


como filtro selectivo na troca de componentes e informação entre esta e o espaço
extracelular. A membrana celular é o local onde se expressam ou reconhecem os sinais,
moleculares ou conformacionais, de comunicação intercelular directa ou feita à
distância através de mediadores.

Invisível ao microscópio óptico, a membrana celular é facilmente detectável ao


microscópio electrónico. As diversas funções da membrana celular são resultado da
natureza, arranjo e dinâmica dos seus componentes.

2.1. Modelos de Estrutura aa Membrana:

As membranas são complexos lipoproteicos. As proporções relativas de lípidos e proteínas, variam, no


entanto, consoante o tipo de membrana. Grande número de membranas possuem ainda glícidos ou
hidratos de carbono.

Os componentes membranares, são mantidos em conjunto por ligações não covalentes, formando uma
fina lâmina. Os lípidos são essencialmente Fosfolípidos, existindo este tipo em todas as membranas até
agora estudadas. Os lípidos que constituem as membranas (fosfolípidos ou glicolípidos), possuem uma
extremidade polar - Hidrofílica (com afinidade para a água) e uma extremidade polar -Hidrofóbica
(sem afinidade para a água).
A membrana celular possui uma grande variedade de proteínas, muitas ainda desconhecidas, com funções
diversas:Þ Umas têm uma função estrutural e são encontradas em todas as membranas até agora
estudadas;

Þ Outras têm uma função enzimática;


Þ Algumas actuam como transportadoras de substâncias específicas através da membrana;
Þ Existem ainda algumas membranas proteicas com função contráctil.

A membrana aprese-nos sob a forma de três folhetos: são dois folhetos densos separados por um folheto
claro. Os folhetos densos são contudo, por vezes de espessura diferente, o quue indica que as duas faces
da membrana não são provávelmente idênticas:

3 folhetos:
1 mais electrodenso (com mais pontos) - espaço extracelular
1 menos electrodenso - intermédio
1 mais electrodenso (com mais pontos) - delimita o hialoplasma

Os lípidos localizam-se essencialmente na parte média, enquanto as proteínas nas partes mais periféricas.
Contudo, isto não significa forçosamente que as partes escuras consistam em proteínas e as claras em
lípidos... Existem proteínas externas e internas (extrínsecas e intrínsecas)

Na membrana celular há pois, assimetria entre a face virada para o hialoplasma e a que está virada
para o meio extracelular. Esta assimetria é devida a fibrillas na camada mais exterior. A camada fibrillada
chama-se “cell coat”, sendo mais comum nas células com função de absorção. A ultra-estrutura da
membrana plasmática é idêntica à de outras membranas da célula, pelo que se utiliza o termo de
“membrana unitária”

Na realidade, os lípidos apresentam grande mobilidade na membrana. Esta mobilidade é tanto de


rotação da molécula sobre si própria como de movimento lateral no plano da membrana. Lateralmente,
os lípidos difundem-se rapidamente, fazendo-se este movimento dentro de cada um dos dois folhetos da
bicamada, sendo raras as permutas destas moléculas entre os dois folhetos («flip-flop») devido à barreira
hidrofóbica que os separa.

A fluidez da bicamada depende da natureza química dos seus componentes. Assim, um


incremento de moléculas de colesterol produz diminuição da fluidez da bicamada fosfolipídica devido à
interacção destes componentes com as regiões polares dos fosfolípidos. De igual modo, a maior
concentração de fosfolípidos saturados no folheto externo (exoplasmático) da membrana torna este
folheto menos fluído do que o folheto interno (protoplasmático ou citoplasmático).

A desigual composição química dos fosfolípidos nos dois folhetos da bicamada, implica a
natureza assimétrica da membrana. Os dois folhetos fosfolipídicos apresentam também diferenças de
carga eléctrica, sendo o folheto citoplasmático o de maior carga negativa. No entanto a assimetria não é
regra universal para todas as moléculas da membrana. Os glicolípidos, estão distribuidos com total
assimetria na membrana: só se encontram no folheto externo (exoplasmático) da bicamada.

A maior parte das funções específicas da membrana são desempenhadas pelas proteínas,
nomeadamente a formação de canais para a passagem de água e para o transporte activo de iões de
pequenas moléculas, a expressão de receptores envolvidos na activação celular ou em fenómenos de
endocitose, a ancoragem da membrana a elementos do citosqueleto, etc.

As membranas biológicas, são compostas por uma bicamada contínua de lípidos. As membranas
possuem pequenas partículas salientes. Constitui-se assim o conceito de proteína intercalar da membrana,
ficando estabelecido que o plano hidrofóbico da bicamada fosfolipídica é atravessado por número
significativo de proteínas da membrana. Prevê-se que as proteínas estabeleçam continuidade unimolecular
entre o espaço extracelular e citoplasmático, deste modo oferecendo fundamento topológico para o papel
central que as proteínas de membrana têm na comunicação entre o meio intracelular e o espaço exterior à
célula.

Outras proteínas com uma função periférica relativamente à bicamada fosfolipídica, foram
também identificadas. Estas proteínas, não atravessando o plano hidrofóbico da membrana, não induzem
a formação de partículas nas faces de fractura da membrana. As proteínas de membrana são assim
sistematizadas em integrais, as que atravessam o plano hidrofóbico, podendo estas ainda ser subdivididas
em proteínas transmembranares ou não) e em proteínas periféricas, aquelas que não atravessam o plano
hidrofóbico.
O modelo actualmente considerado para descrever a estrutura da membrana celular denomina-se
por Modelo do Mosaico Fluído. Este modelo considera a existência de um mosaico de moléculas
proteicas inseridas numa dupla camada fluída de lípidos.As moléculas da bicamada estão organizadas
com as cadeias apolares hidrofóbicas voltadas para o interior da membrana, enquanto que as zonas
hidrofílicas ficam viradas para o meio extracelular e para o citoplasma respectivamente.

Admite-se que as moléculas lipídicas individuais têm mobilidade lateral dotando a camada de
grande fluidez e flexibilidade. Mas raramente podem existir movimentos de moléculas de camada para
camada (movimentos flip-flop). As proteínas não formam um arranjo rigído; elas podem deslocar-se no
plano da membrana. As proteínas membranares classificam-se em:

Proteínas INTEGRADAS ou INTRÌNSECAS- estão fortemente ligadas aos lípidos formando


com eles complexos funcionais

Proteínas PERIFÉRICAS ou EXTRÍNSECAS- Estão à superfície e podem ser fácilmente


isoladas da membrana sendo obtidas puras, livres de lípidos.

Na superfície externa da membrana existem moléculas de hidratos de carbono ligadas às proteínas


e aos lípidos.

3. Núcleo

As células eucarióticas distinguem-se das procarióticas por conterem núcleo, ou seja por
possuirem um compartimento próprio onde se localiza o genoma. O núcleo desempenha importantes
funções na coordenação das actividades metabólicas, na divisão e transmissão da informação genética de
célula para célula ao longo das gerações, na regeneração e na sobrevivência das células.

A maioria das células possuem um núcleo, contudo existem células com mais do que um núcleo -
células polinucleadas (sínciais). A forma do núcleo é geralmente esférica podendo porém apresentar
outras formas.

Em contraste com os organelos citoplasmáticos, o núcleo não é delimitado por uma simples
membrana, mas por uma estrutura complexa denominada invólucro núclear.
3.1. Estrutura do Núcleo:

Os principais constituintes do núcleo são: Membrana nuclear, Suco nuclear ou nucleoplasma,


Nucléolos, Cromatina

3.1.1.MEMBRANA NUCLEAR:No invólucro nuclearidentificam-se duas membranas: a


membrana nuclear externa, em relação com o citolpasma e a membrana nuclear interna em relação ao
nucleoplasma. As duas membrans delimitam um espaço, a cisterna perinuclear, que comunicam com as
cisternas do retículo endoplasmático. Tal como no retículo, observam-se ribossomas associados à
membrana nuclear externa.

Aposta à membrana nuclear interna existe uma camada de material fibrilar designada lâmina
nuclear.A lâmina é constituída por um conjunto de proteínas. As lâminas interagem com proteínas
intrínsecas na membrana nuclear interna, formando um esqueleto perinuclear, extremamente resistente,
que se admite conferir forma ao núcleo e servir de encoragem à cromatina (croamtina=cromossomas -
apenas os estados fisiológicos são diferentes. O nucleoplasma não contacta directamente coma
membrana interna mas sim com a lâmina nucler (ou lâmina fibrosa). Só depois da lâmina fibrosa aparece
a cromatina.

3.1.2. CROMATINA e CROMOSSOMAS: Nas células eucarióticas, mais complexas, a parte


não nucleolar do núcleo é formada, na sua maior parte por uma estrutura fibrosa, a que se deu o nome de
cromatina. Esta é constituída por DNA associado a uma quantidade igual de proteínas básicas, as
histonas , e proteínas não histónicas. Em interfase, a cromatina encontra-se dispersa e é neste estado que
é possível ocorrer a síntese do RNAm. É porém impossível visualizarem-se os cromossomas.

A cromatina apresenta-se pois sob a forma de filamentos finos e longos dispersos no nucleoplama.
A cromatina é o único componente nucleolar dos procariontes. Nos núcleos das células eucarióticas,
encontram-se dois tipos de cromatina que se distinguem pelo grau de condensação e pela actividade de
transcrição do RNAm: a Eucromatina e a Heterocromatina.
A Cromatina activa ou eucromatina, encontra-se descondensada, correspondendo às regiões do
genoma que são capazes de transcrição e são sensíveis à DNase.

A heterocromatina, mantendo o seu grau de condensação durante todo o ciclo celular, é visível no
núcleo em interfase . apresentando-se como regiões densas e fortemente coradas, os cromómeros. Quanto
à sua disposição, a cromatina está dispersa irregularmente pelo nucleoplasma, sob a forma de massas mais
ou menos densas. A heterocromatina localiza-se ao longo do interior do invólucro nuclear enquanto a
eucromatina se situa nos bordos dessas regiões. Encontra-se também cromatina a rodear o nucléolo
formando a cromatina perinuclear.

Nucleossomas: Os nucleossomas são considerados o primeiro nível de compactação do DNA. O


nível seguinte consiste na concentração dos nucleossomas justapostos, com enrolamento helicoidal
posterior, formando uma longa fibra. Com o prosseguimento do ciclo celular, a fibra de cromatina,
organiza-se em níveis sucessivos de complexidade, ainda hoje pouco conhecidos, até formar o corpo do
cromossoma em metafase.

A morfologia e o número de cromossomas é muito variável nos vários organismos diferentes. O


número de cromossomas é característico de cada espécie;a sua organização em grupos, de acordo com as
normas de classificação e nomenclatura internacionalmente acordadas constitui o cariotipo.

3.2. Ácidos Nucleicos:

Inicialmente pensava-se que setes ácidos se encontravam exclusivamente


no núcleo (daí a designação), contudo, sabe-se hoje que se podem encontrar
noutros organitos. Os ácidos nucleicos, Ácido Desoxirribonucleico (ADN) e
Ácido Ribonucleico (ARN), são macromoléculas muito importantes no controlo
das actividades celulares.

Constituição geral dos ácidos nucleicos: A análise química dos ácidos


nucleicos, mostra que estes ácidos são constituídos por moléculas de: Ácido
Fosfórico: que confere carácter ácido; Pentose: glícido simples com cinco
átomos de carbono; Base Azotada: classificam-se em:Púricas: Guanina e
Adenina -> com anel duplo ou Pirimídicas: Timina, Citosina, Uracilo -> anel
simples. A Adenina, Timina, Citosina, Guanina, fazem parte da molécula de
ADN. A Adenina, Uracilo, Citosina, Guanina, fazem parte da molécula de
RNA.

Os nucleótidos unem-se através de ligações entre a molécula de pentose e o grupo fosfato do


nucleótido seguinte formando as cadeias polinucleotídicas.

Watson e Crick, admitiram que a molécula de DNA é composta por duas cadeias
polinucleotídicas enroladas em Dupla hélice, á volta de um eixo central. A ligação entre as duas cadeias
faz-se por pontes de hidrogénio, que se estabelecem entre as bases complementares dessas cadeias. As
duas cadeias de dupla hélice, dispõem-se em sentido oposto uma em relação à outra - são antiparalelas.
O DNA localiza-se essencialmente no núcleo, nas mitocôndrias e nos cloroplastos. De notar que o
DNA do núcleo é diferente do das mitocôndrias.

4. Replicação do DNA

O DNA constitui o suporte universal de toda a informação genética que define as características do
organismo vivo . Baseado nas observações de emparelhamento obrigatório das bases constituintes dos
nucleótidos que compõem o DNA, A-T, G-C, e no dado entretanto já adquirido das respectivas porções
constantes características de cada espécie. Francis Crick avançou a hipótese de que o DNA genómico de
cada célula contém em si a capacidade de se auto-duplicar.

Desta forma , e através da replicação do DNA, cada célula ao dividir-se dá origem a duas células
cujo equipamento genético é em tudo idêntico ao da célula original. A expressão fenotípica dos genes
resulta da síntese do conjunto único das proteínas e respectivas proporções relativas que definem cada
tipo celular.

O DNA, detentor de toda a informação genética da qual dependem em última análise todas as
características estruturais e funcionais de cada espécie viva, contém em si a capacidade de se auto-
duplicar , assegurando desta forma a conservação do património genético próprio de cada espécie viva.

A replicação do DNA corresponde a uma cópia integral de cada uma das cadeias constituintes do
genoma da célula original através da polimerização ordenada dos nucleótidos em obediência à regra da
complementaridade de bases que desta forma conduz a produção de das moléculas rigorosamente
idênticas à molécula original.

Em todas as células vivas esta reacção é catalisada por enzimas designadas por DNA polimerase
que embora variando entre si, apresentam diversas características comuns, nomeadamente a de utilizarem
a de necessitarem de um molde de DNA, e de catalisarem a polimerização ordenada dos percursores de
forma sequencial e unidireccional, já que a reacção se processa exclusivamente na direcção 5’P -» 3’OH.
A designação semi-conservativa, advém do facto de cada uma das duas moléculas resultantes da
replicação ser constituída por uma cadeia proveniente da molécula original de DNA molde e por uma
cadeia complementar e antiparalela neo-sintetizada durante o próprio processo da replicação.

A replicação ocorre em ambos os lados da origem, sendo as duas cadeias do DNA copiadas em
paralelo e de forma simultânea, até ao ponto de terminação da replicação, também ele correspondente a
uma região específica do genoma.

A replicação do DNA processa-se em cada cromossoma de forma simultânea mas independente


para cada um deles. Efectivamente verifica-se que o DNA de cada cromossoma comporta múltiplos sítios
de iniciação da replicação.

a) Iniciação da Replicação

A iniciação da replicação implica o reconhecimento de cada sítio de origem no DNA pelos


elementos intervenientes no processo que constitui o aparelho de replicação nas células vivas.

O DNA nativo, em cadeia dupla helicoidal terá que sofrer uma desnaturação localizada, com o
afastamento das duas cadeia complementares, ser então estabilizado na forma de cadeia simples ao nível
da origem, a fim de permitir que cada uma das cadeias seja iniciada por acção das enzimas capazes de
catalisar a polimerização dos percursores em obediência à ordem ditada pela cada molde de DNA.

Os elementos que determinam a iniciação da replicação - factores de iniciação - consistem em


proteínas dotadas de grande afinidade para o DNA em cadeia simples, e de especificidade para as
sequências.

Em termos genéricos, observa-se que a origem é definida por sequências de consenso constituídas
por um mínimo de onze pares de bases designadas por ars (autonomus replicating sequence) que são
rodeadas de um e outro lado por segmentos de DNA ricos em Adenina e Timina.

Ao nível dos ars, dá-se a ligação dos factores proteicos de iniciação da replicação, que.
Competindo com as cadeias complementares do DNA obrigam à sua separação, dando entrada às
moléculas de proteína que se fixam à matriz do DNA monocatenário.

Várias das proteínas intervenientes neste processo têm vindo a ser identificadas:

DNA girase -Esta enzima, uma topoisomerase, catalisa o corte da molécula de DNA em cada
cadeia dupla nas regiões sujeitas a tensão, por hidrólise simultânea das duas cadeias e imediata
reconstituição das ligações fosfodiester entre os mesmos resíduos nucleotídicos após rotação das
cadeias.

Orissoma - O conjunto formado ao nível do sítio de origem do DNA com os diversos factores
proteicos que intervêm na iniciação da replicação é por vezes designado por orissoma, e pode em certos
casos ser visualizado por técnicas de microscopia electrónica.
B) Elongamento o DNA:

A cópia do DNA molde de cada cadeia é iniciada com a síntese de um fragmento de RNA
catalisada por uma RNA polimerase específica, de pequenas dimensões. O fragmento de RNA
sintetizado, vai seguidamente ser utilizado como primer ou iniciador, sendo a cadeia polinucleotídica
sintetizada a partir do grupo 3’OH do último resíduo ribonucleotídico do iniciador, ao qual se vem ligar o
resíduo 5’P do primeiro desoxirribonucleótido da cadeia do DNA que será elongada por cópia do molde,
catalisada pela DNA plimeraseDNA dependente III.

O processo de iniciação dá-se simultaneamente sobre as duas cadeias moldes do DNA afastadas
uma da outra como descrito. Uma dessas cadeia oferece um molde cuja orientação é 3’ -» 5’ é propícia ao
crescimento da cadeia nascente na direcção 5’ -» 3’, tal como se dá efectivamente a reacção de
polimerização sequencial dos nucleósidos trifosfato, catalisada pelas polimerases.

A cadeia complementar do DNA parental, apresentando uma orientação 5’ -» 3’ é copiada por um


processo mais complexo que é iniciado apenas à medida que essa cadeia designada lagging, vai sendo
libertada pelo próprio processo de cópia da cadeia directora, exigindo portanto intervenção mais
frequente de fenómenos de iniciação. A identificação deste aspecto particular da replicação do DNA e sua
demonstração conseguida por Okasaki, justifica o nome de fragmentos de Okasaki, que se atribui às
moléculas formadas pelo iniciador de RNA continuado pelo DNA nascente até ao ponto em onde novo
iniciador é sintetizado sobre o segmento de DNA entretanto exposto pela abertura progressiva do DNA
molde. O crescimento simultâneo das duas cadeias neo-sintetizadas vai assim progredindo e obrigando ao
afastamento das duas cadeias de DNA molde , designando-se por forquilha de replicação o ponto de
pregressão do fenómeno.

A síntese completa do DNA implica que as sequências de RNA iniciador de cada fragmento de
Okasaki sejam eliminadas e substituídas por DNA. Este processo ocorre sob a acção da DNA polimerase
I, dotada de actividade exonucleásica 5’ -» 3’ que lhe permite degradar o iniciador de RNA a partir da sua
extremidade 5’P.

A mesma enzima que como o nome indica catalisa a polimerização dos percursores do DNA,
preenche as regiões correspondentes ao iniciador de RNA degradado, utilizando os nucleósidos trifosfato
da desoxirribose em formação da primeira ligação fosfodiester sob o grupo 3’OH do fragmento de
Okasaki imediatamente anterior, e por cópia do mesmo molde antes utilizado pela primase.

C) Terminação da síntese do DNA:

A continuidade da cadeia de DNA neo-sintetizada é então assegurada pela ligação entre o último
3’ OH da desoxirribose introduzido pela DNA polimerase I e o primeiro grupo monofosfato 5’P
remanescente na cadeia de DNA sintetizada pela DNA polimerase III, após eliminação do iniciador de
RNA do fragmento de Okasaki seguinte.
No Homem, efectivamente, e tal como nos outros vertebrados, apenas durante as fases de
desenvolvimento embrionário e de crescimento ou de proliferação celular se assiste a fenómenos de
replicação do DNA.

MECANISMOS DE TRANSCRIÇÃO DOS RNA’S

Os ácidos ribonucleicos são constituintes universais de todas as células vivas, onde existem em
concentrações muito superiores às do DNA. Qualquer que seja o tipo ou função fisiológica que
desempenham os RNA são sempre sintetizados por cópia de regiões específicas e bem delimitadas do
DNA que constitui o genoma de cada espécie, obedecendo a sua síntese ao processo de
complementaridade de bases.

A transcrição consiste essencialmente na polimerização orientada e sequencial dos percursores do


RNA que são os nucleósidos trifosfato de ribose. A molécula de RNA é pois a cópia de uma região bem
delimitada do genoma celular, identificável a nível molecular, o que permite traçar os chamados mapas
genéticos, nos quais se faz figurar a posição relativa de cada gene.

A transcrição dos genes é em todos os casos um processo assimétrico, já que apenas uma das
cadeias do DNA molde é copiada em RNA. Foi convencionado designar-se cadeia (-) e cadeia (+) do
DNA, respectivamente a que é copiada em RNA e cuja sequência é complementar do produto e a cadeia
não transcrita cuja estrutura é idêntica à do RNA transcrito.

4.1. Mecanismos de Transcrição

A transcrição dos genes processa-se sob a acção de enzimas designadas por RNA polimerases
dependentes do DNA que catalisam a condensação orientada e sequencial dos ribonucleótidos por cópia
de um molde de DNA, baseada na complementaridade estrutural das bases.

A) Iniciação da Transcrição: A cópia do gene é iniciada pela RNA polimerase ao nível do


primeiro nucleósido que irá ser copiado em RNA e designado por nucleósido +1. Para tal é necessário que
esta enzima desenvolva uma interacção com o molde de DNAque deverá apresentar-se “aberto”, ou seja,
com as cadeias separadas, de forma a que a polimerase possa copiara cadeia (-) que deve estar liberta da
sua cadeia complementar. Isto significa que as sequências a montante do gene devem dar entrada à
polimerase, promovendo assim a sua transcrição. Essas sequências responsáveis pelo controlo da
actividade dos genes, são designadas por promotor. Existem vários tipos de promotor que se relacionam
com o tipo de gene, codificando para as diversas espécies de RNA, ribossomal ou outro, revelando-se
alguns deles mais fortes, isto é, favorecendo a transcrição mais activa do gene adjacente.

A afinidade manifestada pelas regiões específicas do DNA, situadas imediatamente a montante do


gene, é-lhes conferida pelas suas propriedades estruturais, verificando-se que na maior parte dos casos a
mesma sequência nucleotídica está presente dos diversos genes. Estas designam-se por sequências de
consenso. De entre estas é particularmente interessante a região rica em nucleósidos de Timina e Adenina,
TATAAT..., designada por TATA box.

O facto de ser constituída por resíduos de A e T confere-lhe uma relativa fragilidade, permitindo a
ruptura das pontes de hidrogénio entre os pares A-T das cadeias complementares do DNA, dando
passagem à RNA polimerase que se posiciona sob o molde de DNA apto a ser transcrito. Esta constitui a
etapa de pré-iniciação. Nesta fase o DNA encontra-se desnaturado numa extensão de 18 pares de bases
que apresenta uma estrutura aberta (transcription bubble). Na transcrição de cada gene participa uma
única RNA polimerase dependente do DNA que é portanto dotada de várias propriedades específicas.

A iniciação da transcrição dá-se efectivamente quando os dois primeiro ribonucleósidos trifosfato


são posicionados e condensados entre si, sob a acção da RNA polimerase.

B) Elongação das cadeias de RNA: A elongação da cadeia de RNA nascente, já iniciada, resulta
da polimerização sequencial de resíduos nucleotídicos ordenados segundo a sequência do DNA do molde,
por complementaridade de bases, sendo a reacção catalisada pela RNA polimerase.

O super-enrolamento do DNA induzido pela abertura localizada, resultante da separação das duas
cadeias complementares com a entrada da RNA polimerase é resolvido durante a elongação, através da
acção de topoisomerases. Estas enzimas dotadas de propriedades de endonucleases e ligases, cortam
transitoriamente o DNA em cadeia dupla, nas regiões super-enroladas, ligando-o de novo após rotação, e
reconstituindo a estrutura nativa.

C) Terminação da Transcrição: A terminação da transcrição é determinada pelas características


de regiões específicas do DNA genómico de que é paradigma a estrutura palindrómica rica em G e C
precedendo sequências ricas em A e T, que marca o fim do operon lac, em E. Coli. Estruturas deste tipo
dão origem à formação de uma região do RNA transcrito que adquire uma estrutura dobrada sobre si
mesma em gancho formada por emparelhamento da bases G-C transcritas do palindroma.

Noutros casos conhecidos, a terminação da transcrição depende da intervenção de um factor


constituído por uma proteína hexamérica dotada de actividade ATPásica. É o chamado factor rho que
actua ligando-se ao RNA neosintetisado, de estrutura em cadeia simples e que, utilizando a energia
libertada pela hidrólise do ATP, como que arranca a molécula do RNA nascente do complexo de
transcrição em que se encontra integrada.

NOTA: A síntese de cada tipo de RNA, RNAt, RNAr, RNAm, apresenta no entanto,
particularidades que, além do mais diferem entre procariotas e eucariotas.

4.2. Biossíntese do rRNA


Os rRNA encontram-se nas células vivas como constituintes essenciais dos ribossomas associados
a proteínas em edifícios ribonucleoproteicos. Cada uma das subunidades ribossomais integra moléculas
de RNA distintas, que são os RNA 23S e o 5S da subunidade grande e o RNA 16S da subunidade
pequena para os procariotas, sendo um, caso de eucarionte os RNA 28S, 5,8S, e 5S da subunidade grande
e o 18S da pequena.

Em qualquer um dos casos, estas espécies moleculares são transcritas sob a forma de RNA
percursores de maiores dimensões, que são posteriormente processados através de clivagens sucessivas,
endo e exonucleotídicas.

A elevada actividade da RNA polimerase I, responsável pela transcrição do rDNA nas células
eucarióticas, associada às características dos respectivos promotores fortes, favorecem a transcrição dos
genes ribossomais. Este facto é bem, evidenciado nas imagens de transcrição de genes ribossomais
obtidas por Miller, e conhecidas como Árvore de Natal de Miller.

O rDNA, a NOR e a Síntese do RNA:

Os cromossomas nucleolares, apresentam uma região específica correspondente a uma sequência


nucleotídica do rDNA a que foi dado o nome de região do organizador nucleolar (NOR). A NOR destes
cromossomas, localiza-se no centro fibrilar e no componente fibrilar denso do nucleolo, local onde o
rDNA sintetiza os rRNA’s. O organizador nucleolar, corresponde a uma sequência nucleotídica
específica, que é activa, isto é transcreve, apenas numa só cadeia da molécula do rDNA.

O rDNA tem numa das cadeias da sua molécula grupos de sequências nucleotídicas repetitivas ao
longo da NOR chamadas unidades de transcrição as quais correspondem a aos genes ribossómicos que
são transcritos na molécula de rRNA de 45S. Quando citoquimicamente isoladas por meio de isolamento
diferencial dos constituintes nucleolares, as unidades de transcrição apresentam-se com a forma de
“Árvore de Natal”.

Estas unidades estão fisicamente separadas por sequências nucleotídicas observáveis por métodos
citoquímicos, as unidades não transcricionais

A síntese do rRNA resulta de um complexo mecanismo em que a RNA polimerase I se liga à


sequência nucleotídica promotora do DNA, situada a montante do sítio de iniciação da síntese e em
interacção com factores de iniciação.

Na etapa de iniciação, as duas cadeias de rDNA são separadas por acção da DNA topoisomerase
I. O rDNA nessa zona activada perde a sua organização nucleossómica. O complexo desloca-se ao longo
da molécula do rDNA havendo libertação do factor de iniciação e entrada dos factores de elongação. A
síntese do rRNA ocorre apenas, por cópia, numa só das duas cadeias do rDNA. A cadeia que serve de
molde, é copiada no sentido 3’ -» 5’, sendo a molécula de rRNA transcrita no sentido 5´-» 3’.

Quando o RNA polimerase I e o factor de enlongação atingem a sequência nucleotídica


correspondente ao sítio de terminação, estes libertam-se da cadeia do rDNA originando a terminação da
síntese. O rRNA transcrito, rRNA de 45S, é libertado acumulando-se no nucléolo até se iniciar o processo
de maturação.

MATURAÇÃO DOS rRNA’S:

A molécula de rRNA de 45s é processada através de reacções catalisadas por endonucleases,


originando por perda de uma pequena sequência nucleotídica, da extremidade 5’, uma molécula de rRNA
de 41S. As endonucleases cindem, subsequentemente, o rRNA de 41S em duas moléculas; rRNA de 20S
e rRNA de 32S.

A molécula de rRNA de 20S é processada em rRNA de 18S, enquanto que o rRNA de 32S é
clivado, já no nucleopalsma durante o seu processo de migração, originando a molécula de rRNA de 28S.
A esta associa-se o rRNA 5,8S também proveniente da clivagem do rRNA de 32S.

As moléculas de rRNA de 28S e de 5,8S, sob a forma de uma RNP de 60S que inclui ainda uma
molécula de rRNA de 5S atravessam os poros nucleares para o citoplasma e vão constituir a grande
subunidade ribossomal. A molécula de rRNA de 18S associada a proteínas forma uma RNP de 40S que
tem igual trajecto, constituindo a pequena subunidade ribossomal. Esta subunidade, conjuntamente com
a grande subunidade ribossomal forma os ribossomas.

A molécula de rRNA de 5S, pequena molécula que contém cerca de 120 nucleótidos, é
transcrita dum gene do DNA, diferente do que codifica para qualquer dos outros rRNA’s.

4.3. Biossíntese do tRNA

O número de espécies moleculares de tRNA nas células vivas é muito superior à do rRNA. A
função do tRNA consiste em conduzir os aminoácidos ao local da síntese proteica onde serão ordenados
segundo a sequência ditada pelos codons constituintes da região codificada dos mRNA.

Como já referido, alguns dos tRNA são transcritos como parte integrante das regiões do rDNA,
libertando-se durante o processo de maturação endonucleotídica dos produtos primários da sua
transcrição. A acção dos promotores nos casos referidos, resulta da ligação de factores de transcrição
específicos para cada classe de genes e que participam na formação dos complexos de pré-iniciação da
transcrição.

Biossíntese do tRNA em células eucarióticas:

O DNA genómico encontra-se confinado ao núcleo e a tradução dos mRNA de origem nuclear
ocorre exclusivamente no citoplasma. O DNA genómico dos organismos superiores comporta um número
de unidades de transcrição muito elevado, cuja a expressão obedece a complexos mecanismos de
regulação.
ESTRUTURA DAS UNIDADES DE TRANSCRIÇÃO NO GENOMA EUCARIÓTICO:

As unidades de transcrição do DNA genómico, em que se encontram codificadas as proteínas são


em geral muito longas sendo transcritas em precursores de dimensões muito superiores às dos mRNA
fisológicamente activos Os produtos primários de transcrição sofrem no interior do núcleo processos de
maturação muito complexos , que consistem essencialmente em modificações covalentes das
extremidades da molécula, através da adição de um resíduo de guanina em posição invertida na
extremidade 5’ trifosfato, seguida de metilações em nucleótidos vizinhos e da adição de múltiplos
resíduos de adenina na extremidade 3’OH , catalisada pela poliA polimerase. São os fenómenos
chamados de capping e de poliadenilação respectivamente.

Simultaneamente assiste-se ao processo designado por splicing do produto primário da transcrição


que consiste na excisão de determinadas porções do RNA sob a acção de endonucleases específicas, as
maturases, seguida da reparação dos cortes pelas ligases. As sequências retiradas do mRNA por este
processo, designam-se introns, enquanto que as restantes que permanecem no mRNA, tal como é
exportado do núcleo para o citoplasma, constituem os exons. A maturação é um processo sequencial pelo
que no interior do núcleo se encontra para cada mRNA uma população mista de moléculas poliadeniladas
precursoras, de diversos tamanhos que se designa por RNA heterogéneo nuclear hnRNA.

Além das modificações covalentes acima resumidas, os precursores nucleares do mRNA


associam-se a proteínas, à medida que vão sendo transcritos, apresentando-se sob a forma de partículas
ribonucleoproteicas. Essa ligação às proteínas contribui para a estabilidade dos mRNA que igualmente
ocorre sob a forma de partículas ribonucleoproteicas (RNP).

5. Ribossomas

O microscópio electrónico é o único que permite a observação destes organitos descritos pela
primeira vez por Palade, em 1953. Os ribossomas aparecem como partículas esféricas que apresentam
maior densidade óptica, representando assim uma barreira maior aos electrões.

Os ribossomas existem em todas as células, mas a sua localização intracelular pode variar de uma
região para outra. São encontrados livres no hialoplasma ou presos às membranas do retículo
endoplasmático. Quando são livres, podem apresentar-se isolados ou em rosários de 5 a 40 ribossomas
que constituem agrupamentos aos quais se deu o nome de polissomas. Quando os polissomas estão presos
Às membranas do retículo, o conjunto formado por polissomas e retículo é chamado ergastoplasma.

Nos ribossomas, para além da existência de rRNA, foi constatada a presença de numerosas
proteínas, pelo que a referida estrutura passou a constituir quimicamente uma ribonucleoproteina (RNP).
Os ribossomas são unidades ultraestruturais onde se sintetizam as proteínas sendo cada ribossoma,
constituído por 2 subunidades independentes designadas por pequena subunidade ribossomal e grande
subunidade ribossomal que funcionalmente se apresentam aderentes entre si.

Nas células eucarióticas, a pequena subunidade é quimicamente formada por uma molécula rRNA
de 18S (designamos correntemente as subunidades pelo seu coeficiente de sedimentação medido por
ultracentrifugação e expresso em unidades Svedberg), rodeada por cerca de 30, proteínas diferentes,
constituindo no seu conjunto uma estrutura ribonucleoproteica com o coeficiente de sedimentação de 40S
(RNP 40S). A grande subunidade ribossomal é também quimicamente uma ribonucleoproteina com o
coeficiente de sedimentação 60S. Esta última é formada por 3 moléculas de rRNA’s: uma de rRNA de
28S, outra de rRNA de 5,8S, e ainda outra de rRNA de 5S e por cerca de 50 proteínas diferentes. No seu
conjunto, cada ribossoma constitui uma RNP de 80S.

Na pequena subunidade ribossomal (RNP 40S) a molécula de rRNA 18S corresponde a 2 terços
da sua massa, enquanto que as cerca de 30 proteínas diferentes equivalem ao outro terço da massa. Na
grande subunidade ribossomal (RNP 60S) as três moléculas dos rRNA’s (28S, 5,8S e 5S) constituem
também aproximadamente dois terços da massa da subunidades.

ACTIVIDADE FUNCIONAL: No citoplasma das diferentes células eucarióticas existem duas


populações de ribossomas, que se encontram aderentes à porção externa da membrana do RER e
interligados por uma molécula de mRNA. Estas estruturas são responsáveis pela síntese das proteínas
translocadas para a cisterna do RER. A outra população é constituída por grupos de ribossomas livres no
hialopasma (não associados a qualquer outra estrutura membranar). Estes ribossomas livres, em certas
condições fisiológicas, podem interligar-se por meio de uma molécula de mRNA, ficando a constituir um
polirribossoma (ou polissoma). Cada polirribossoma é assim constituído por uma organização
ultraestrutural em que os ribossomas se associam formando uma espécie de rosário, espaçados uns dos
outros de uma distância equivalente ao comprimento da sequência de cerca de 80 nucleótidos.

Os polissribossomas livres, sintetizam proteínas livres que migram para o hialoplasma, atravessam
os poros nucleares e vão para o nucleoplasma para se incorporarem no esqueleto do DNA ou dos RNA’s,
constituindo as proteínas nucleares e nucleolares que ficam a fazer parte da cromatina, dos cromossomas
e dos nucléolos. Além disso, muitas dessas proteínas interferem como enzimas na síntese dos ácidos
nucleicos. Ambas as populações de ribossomas livres ou associados ao RER são idênticas apresentam a
mesma morfologia e composição química.

Apesar da complexidade ultraestrutural e molecular do ribossoma, foi possível constatar a


presença de três zonas específicas de ligação para as moléculas de RNA’s localizadas na pequena
subunidade ribossomal, a que foram dados o nome de centros(também chamados locais ou «sites») Um
centro para o mRNA, que corresponde à zona ribossomal em que o mRNA penetra no ribossoma e por
onde este se desloca ao longo do mensageiro.

Os outros dois centros recebem os tRNA’s e localizam-se em zonas bem distintas na pequena
subunidade ribossomal. Um deles é o chamado centro P ou centro peptidil («site» de ligação do tRNA-
peptidil) que recebe a molécula do tRNA que se liga à extremidade da cadeia polipetídica em
crescimento. O outro, chamado centro A ou centro aminoacil («site» de ligação do tRNA-aminoacil),
recebe a molécula de tRNA que contém o aminoácido correspondente ao codão do mRNA.

Recentemente têm sido discutidos os possíveis trajectos das proteínas sintetizadas pelos
ribossomas do RER através da sua membrana. Têm sido sugeridos dois trajectos possíveis: uma dessa
possibilidades reside na hipótese da cadeia polipéptídica passar para o interior do RER através das
moléculas lipídicas; a outra hipótese sugerida é a de que o polipeptídeo atravessa a membrana do RER
através de “poros” formados entre as proteínas integrais que fazem parte da membrana. Em certos
estados fisiológicos é possível verificar que os ribossomas, após a síntese proteica, se desagregam, com a
separação das duas subunidades.

6. Síntese Proteica

A sequência de aminoácidos de uma proteína é determinada pela sequência de bases do DNA


correspondente. Esta correspondência é conseguida pela utilização de grupos de três bases denominados
codões que correspondem a um único aminoácido. Deste modo, pela utilização de 4 bases combinadas é
possível obter 43 arranjos diferentes , ou seja, 64 codões diferentes. Se a cada codão corresponder um
aminoácido diferente e considerando os 20 aminoácidos normalmente utilizados para a síntese das
proteínas, teríamos que 44 das combinações não codificam para qualquer aminoácido. No entanto muitos
dos aminoácidos podem ser codificados por mais de uma combinação - ou seja, o código é degenerado.

A informação contida numa sequência nucleotídica de cadeia de DNA correspondente á zona


codificante para a proteína, é transmitida ao respectivo mRNA. Porém, o mRNA não reconhece
directamente nenhum aminoácido. A correspondência do codão do mRNA com o aminoácido é mediada
pela interacção do mRNA com um tRNA específico, transportador do aminoácido codificado. Cada tRNA
contém uma sequência de 3 nucleótidos complementares ao codão do mRNA que se designa anticodão, e
cada tRNA com anticodão diferente transporta um aminoácido distinto. Deste modo, cada codão por
intermédio do anticodão codifica para o aminoácido respectivo.
O código genético pode pois em princípio, ser deduzido a partir da sequência de nucleótidos do
mRNA por correspondência com a sequência de aminoácidos do polipéptido resultante da respectiva
tradução.

Recorrendo a polirribonucleótidos com sequências conhecidas foi possível deduzir a


correspondência do código genético e estabelecer a tabela que se pode considerar como “padrão”. O
código genético apresentado, revela que o código é degenerado, pois com excepção da metionina e
triptofano, todos os outros aminoácidos são codificados por vários tripletos sinónimos.

A universalidade do código genético tem como base o facto de que o mRNA de células
diferencialmente distintas pode ser traduzido em sistemas heterólogos, como, por exemplo, o mRNA
humano pode ser traduzido na E. Coli.. No entanto presentemente conhecem-se limites à universalidade.

Esta diversidade aplica-se também aos tripletos que não codificam para nenhum aminoácido e que
correspondem a sinais de paragem da tradução do mRNA. Nas células de mamíferos, o codão AGA ou
AGG corresponde a um tripleto de terminação, enquanto em Drosophila o codão AGA é utilizado como
código para a serina.

FASES DO CICLO CELULAR

Interfase- fase de repouso, fase de replicação -> Síntese proteíca


- Dividida em 3 periodos:
1. G1 - despiralização do cromossoma e reorganização do invólucro nuclear
2. S - replicação do DNA
3. G2 - preparação para a mitose

Mitose -fase de divisão celular:

1. Profase
2. Metafase (separação dos 2 cromatídeos)
3. Anafase
4. Telofase

Cromossoma: 2 cromatídeos + 1 cemntrómero


Codon Iniciação = Promotor

A enzima só é capaz de fazer a transcrição para RNA no sentido 5’»3


Quando a enzima se solta, solta-se o RNA pré-mensageiro -»
libertado no nucleopalsma onde vai “amadurecer”

INTRONS- intrões - sequências de nucleótidos que não vem a ser


traduzidos em proteína, são eliminados, ficando no nucleopalsma,
degradados e tornam-se nucleótidos livres.

EXONS- exões - vão ser traduzidos em proteínas que vai passar para o
citioplasma é o RNA só constituído por exões.

O mecanismo de síntese proteica é um processo longo e complexo, no qual


intervêm o DNA, o RNAm, o RNAt, RNAr, enzimas e ATP. Basicamente este
processo consiste na passagem da informação do DNA para as moléculas do RNAm
- Transcrição -e deste para as proteínas -tradução.

DNA ------------------------» RNAm --------------------------» PROTEÍNA


transcrição tradução

A células vivas, através de reacções químicas de Anabolismo, conseguem produzir as suas


próprias substâncias a partir dos nutrientes que chegam às células. Deste modo, são formadas as proteínas
a partir de moléculas de aminoácidos provenientes do meio externo. Através do processo de síntese
proteica, formam-se cadeias de aminoácidos, originando peptídeos ou proteínas com sequências de
aminoácidos determinadas pelos tripletos da molécula de DNA.

6.1 Transcrição da Informação genética: síntese do RNAm:

O DNA não sai do núcleo celular, logo é necessário copiar a informação para o RNAm que é
sintetizado através da cadeia de dupla-hélice do DNA sendo transcrita apenas uma das cadeias, por um
processo idêntico à replicação mas com algumas diferenças:

a) açúcar ribose e não desoxirribose


b)Uracilo em vez de Timina

c) Uma só cadeia

A TRANSCRIÇÃO é um processo que ocorre no núcleo e consiste na síntese do RNAm a partir


de uma porção do DNA. É no DNA que se encontram as informações necessárias para a obtenção das
proteínas. A porção que permite codificar a proteína ou parte dela designa-se por gene.

Após a ruptura da cadeia de DNA pela enzima polimerase, os ribonucleótidos existentes no meio
vão-se ligando um por um por pontes de hidrogénio, à cadeia molde de DNA. Simultaneamente, os
ribonucleótidos que constituem a nova cadeia polinucleotídica, em formação, ligam-se através do grupo
fosfato. A enzima RNA polimerase, vai-se deslocando ao longo do DNA, até encontrar uma sequência de
nucleótidos que dá o sinal de terminação da síntese do RNA.

O RNA assim sintetizado (RNA pré-mensageiro), vai ser submetido a um processo de maturação
que consiste em perder determinadas porções designadas intrões, ficando apenas constituído por
porções designadas exões. (A eliminação dos intrões possibilita a existência de nucleótidos livres no
nucleopalsma).

Este processo permite que o RNAm inicialmente transcrito, dê origem a um RNAm funcional.
Este passa para o Citoplasma e liga-se aos ribossomas, para orientar a tradução. Para além do RNAm
existe no citoplasma o RNAt que tal como o RNAm e o RNAr é sintetizado no núcleo a partir de DNA.

6.2. Tradução e Síntese proteica:

A tradução é a fase da síntese proteica que ocorre no citoplasma conduz directamente à síntese
das proteínas. Durante este fenómeno intervêm três tipos de RNA com características específicas:

RNA mensageiro: É uma molécula constituída por uma só cadeia de nucleótidos, que transporta
a mensagem do DNA do núcleo para o citoplasma.

RNA de transferência: É uma molécula constituída por uma cadeia polinucleotídica com número
reduzido de nucleótidos. As moléculas de RNAt apresentam uma
estrutura característica resultante das ligações de hidrogénio
existentes entre algumas bases complementares , originando zonas
de cadeia dupla.

Os nucleótidos que não estabelecem ligações entre si, originam quatro ansas que lhe conferem a
forma de “folha de Trevo”. O RNAt tem a particularidade de permitir a ligação numa das extremidades da
sua cadeia de um aminoácido específico (de acordo com a sequência de bases). Este aminoácido é
activado por uma enzima específica que faz a ligação (o gasto de energia é ATP vinda da mitocôndria). O
RNAt tem porção terminal constituída por 3 bases contrárias ao aminoácido - anticodão - que é
complementar de 3 bases do RNAm - codão.
RNA ribossómico: É uma molécula larga e dobrada que juntamente com algumas proteínas,
forma o RIBOSSOMA, organelo citoplasmático.

Os ribossomas são “máquinas” moleculares que coordenam a interacção dos RNAt, RNAm e
proteínas, durante o processo da síntese proteica.

6.3. Tradução:

A tradução ocorre no citoplasma e consiste em unir os aminoácidos segundo uma determinada


ordem dada pela informação contida no RNAm. Este fenómeno tem início quando o RNAm se liga ao
ribossoma de modo a que o codão de iniciação se situa numa posição adequada. Um RNAt com
anticodão complementar coloca-se no lugar P e estabelece uma ligação com o codão de iniciação. Este
RNAt transporta na extremidade 3’ um aminoácido específico para o primeiro codão.

O Ribossoma desloca-se ao longo do RNAm na direcção 5’-»3’, percorrendo o espaço


correspondente a um codão. O segundo RNAt que transporta o segundo aminoácido coloca-se no local
A do ribossoma e o seu anticodão estabelece a ligação com o codão complementar do RNAm.

Os aminoácidos colocados lado a lado, ficam próximos de modo que é possível estabelecerem
entre si uma ligação peptídica que permite a formação de dipéptidos. O ribossoma continua a deslocar-
se ao longo do RNAm. O Primeiro RNAt liberta-se e o segundo RNAt, desloca-se para o local P,
deixando livre o local A, pronto para receber o terceiro RNAt, que irá descodificar o terceiro codão. O
aminoácido transportado para este RNAt estabelece com o último aminoácido uma ligação peptídica,
que permite o crescimento da molécula proteica.

O ribossoma continua a deslocar-se ao longo do RNAm, os tripletos vão sendo descodificados e


os aminoácidos vão-se ligando um a um à cadeia polipéptídica em formação. Este processo contínua até
que o ribossoma, actua como sinal de finalização da tradução desta molécula proteica, após a chegada
do codão de finalização.

Nesta altura a cadeia peptídica desprende-se do último RNAt. Cada molécula de RNAm pode
ser lida simultaneamente por vários ribossomas, formando assim vários moléculas proteicas iguais. O
conjunto de ribossomas ligados a uma molécula de RNAm é designado por polirribossoma.

As proteínas sintetizadas, podem tomar duas direcções: a) Se os ribossomas estiverem livres


-»ficam no hialoplasma para uso da célula; B) Se os ribossomas forem do retículo -» são armazenadas
no retículo . Quando são necessárias, vão pelo aparelho de Golgi, formando-se grãos de secreção e
exocitose.

6.4. Regulação da síntese proteica:

Há na célula mecanismos que regulam a síntese proteica dando informações sobre o princípio e
o fim. Na cadeia DNA temos o Operon constituído por um gene operador, que controla os genes
estruturais, que por sua vez controlam a síntese proteica. Existe um gene regulador, que produz uma
proteína chamada repressor e que inibe o gene operador.

SISTEMA S DE REGULAÇÃO:

1. Sistema INDUTOR: (Substrato induz síntese proteica): Os genes estruturais normalmente


não estão a funcionar, pois são inibidos pelo operador, que foi inibido pelo repressor. Quando se
acumula substrato por ser decomposto por enzimas não sintetizadas, tem que haver síntese proteica
dessas enzimas. O próprio substrato liga-se ao repressor alterando-o de forma a que ele liberte o
operador, e assim os genes estruturais sintetizam proteínas. Quando o nível de substrato descer, o
repressor volta a ligar-se ao operador, bloqueando-o.

2. Sistema REPRESSOR: Neste caso, a célula está constantemente a sintetizar proteínas. Fica assim
com substrato utilizável em quantidade. Este quando passar a determinado nível de concentração, liga-
se ao repressor activando-o, o que faz com que ele se ligue ao operador e bloqueie a síntese proteica.

Qualquer destes sistemas funciona por retroacção e leva à economia de energia, pois não vai
permitir a acumulação de substrato.

8. Retículo Endoplásmático

No citoplasma de diferentes tipos de células eucarióticas, foram observadas, ao microscópio de luz,


várias estruturas membranares mal definidas e aparentemente interligadas e que ocupavam zonas
específicas no mesmo tipo de células.

Inicialmente designado por ergastoplasma, depois de ter sido observada e estudada toda uma
complicada rede de canais e cisternas formando labirintos, passou-se a denominar esta organização
citoplasmática por retículo endoplasmático.
8.1 ULTRA ESTRUTURA E TIPOS DE RE:

O retículo endoplasmático, também chamado retículo endoplásmico,é constituído por um


complexo conjunto membranar de cisternas, canais, vesículas e vacúolos, geralmente anastomosados,
ligando, geralmente entre si, os lumina dos seus diversos compartimentos.

As membranas que constituem estes elementos do RE são constituídas por lípidos e proteínas,
sendo morfológica e estruturalmente semelhantes às membranas dos diferentes organelos celulares.
Embora o RE constitua, quando observado em TEM, um organelo morfologicamente bem
individualizado de contornos bem marcados, por vezes as suas ramificações interpenetram-se com
outras estruturas membranares, nomeadamente com os dictiossomas (complexo de Golgi), sendo difícil
distinguir os seus elementos. Além disso, este complicado sistema de cisternas do RE pode ter também
uma ligação com o espaço perinuclear, possibilitando o contacto directo com o lúmen do invólucro
nuclear.

O RE apresenta tipicamente dois aspectos estruturais:

a) Num aspecto, as membranas do RE, não apresentam ribossomas aderentes à sua porção externa,
constituindo o chamado Retículo endoplasmático Liso (REL), também chamado Retículo
endoplasmático agranular;

b) No as membranas das cisternas e dos vacúolos apresentam-se externamente, isto é, na porção


hialoplásmica ou cistólica, revestidos de grupos de pequenas partículas densas, os ribossomas,
constituindo assim, o conjunto designado por Retículo endoplasmático Rugoso (RER), também
chamado RE granular;

A presença ou a ausência de ribossomas aderentes às membranas do RE é a única particularidade


ultraestrutural que permite a distinção entre os dois tipos de RE. Embora uma grande parte das células
apresente os dois tipos de RE (que podem comunicar um com o outro), por vezes, um é mais
desenvolvido do que o outro, devido à função específica que desempenha nas células. Há contudo células
que mostram diferenciações do RE,as quais se apresentam sob formas diversas.

Por exemplo as fibras musculares, têm um especializado REL nos seus sarcómeros, a que se dá o
nome de retículo sarcoplásmico. Este tipo especial de RE é constituído por um conjunto de cisternas
achatadas e dispostas à volta das miofibrilas que armazenam Ca++ oriundo do hialopasma, o qual tem uma
importância fundamental na fisiologia da contracção muscular.

Funções e actividades Fisiológicas:

De uma forma geral, podemos atribuir as seguintes funções e actividades fisiológicas ao RE:

a) Secreção e concentração de diferentes substâncias: Diferentes substâncias vindas do meio


extracelular ou do interior da célula, podem reunir-se, concentrando-se nas cavidades do retículo. O
exemplo de uma concentração de substâncias subtraídas do meio extracelular pode ser observado durante
a ovogénese do grilo. Exemplos de substâncias vindas do meio intracelular são numerosos. Os mais bem
conhecidos referem-se à concentração de proteínas sintetizaas ao nível dos ribossomas do retículo
granular.

b) Transporte de substâncias na célula: As cavidades do retículo servem também para transportar


diversas substâncias de um ponto a outro da célula, tanto vindas do meio extracelular, como do meio
intracelular.

c) Distribuição de substâncias na célula: O RE serve igualmente para distribuir diversas


substâncias pela célula. A rede de distribuição assim constituída existe tanto permanente como
transitoriamente. Um exemplo desta função é a do retículo sarcolpásmico.

d) Síntese de Esteróides: É provavelmente ao nível das membranas do RE que são sintetizadas


nos vertebrados as hormonas esteróides. Realmente as células que sintetizam essas hormonas a partir do
colesterol, possuem um REL desenvolvido e formado de numerosos túbulos emaranhados.Imagina-se que
nessas células, o colesterol se acumule como constituinte lipídico das membranas do retículo e seja, em
seguida, transformado em hormona.

De sumário, sobre as actividades fisiológicas do retículo, deve-se reter que esse organito
representa um compartimento celular onde podem estar isolados as hialopasma as substâncias mais
variadas. A membrana do RE desempenha um papel fundamental controlando as trocas entre o
hialopasma e as cavidades do retículo.

O RIBOSSOMA e A MEMBRANA DO RER: Como anteriormente foi referido, os ribossomas


são organelos citolplasmáticos de grande mobilidade. As subunidades que os compõem podem ser
observadas individualmente ou agregadas sob a forma particulada formando o ribossoma. Por outro lado,
sabe-se que os ribossomas aderem À membrana do RE pela porção basal da grande subunidade
ribossomal (RNP 60S), contudo, o local exacto da ligação ainda não está bem definido.

Nos inícios dos anos 7o foi descoberta uma sequência específica em alguns polipéptídeos a que se
deu o nome de sinal peptídico e que levou a propor a hipótese do sinal, que serve para guiar para a
membrana, o complexo mRNA/ribossoma/peptídeo nascente sendo este processo mediado pela partícula
de reconhecimento de sinal (PRS), que se liga, em parte, à membrana do RER e no domínio citosólico a
uma proteína receptora de reconhecimento do sinal. Muitas das proteínas que fazem parte das membranas
do RER, têm sido propostas como sendo as proteínas receptoras dos ribossomas durante a fase
preparatória do início da biossíntese das proteínas.

9. Complexo de Golgi

Em 1898, Camillo Golgi ao estudar o cerebelo da coruja, assinalou pela primeira vez a presença de
uma estrutura singular que designou por “aparelho reticular interno”. Considerada por muitos como
apenas um artefacto, esta estrutura celular, hoje designada pelo nome do seu autor - complexo ou
aparelho de Golgi -deu origem à maior controvérsia citológica dos tempos modernos.

Hoje, o complexo de Golgi é uma realidade citológica indiscutível e centro da actividade celular,
com funções bem estabelecidas: secreção, biogénese de membrana, recuperação de membranas, captação
de hormonas, origem dos lisossomas, etc... A designação de “Aparelho de Golgi”, é pois utilizada, por via
de regra para referir todos os complexos de Golgi de uma mesma célula. O componente mais
característico do complexo de Golgi, é a pilha de cisternas ou sáculos de parede lisa - dictiossomas.
9.1 ESTRUTURA DO COMPLEXO DE GOLGI:

Cisternas ou Sáculos: As cisternas ou sáculos são o elemento mais característico: dispõem-se em


fiadas sobrepostas constituindo uma pilha ou dictiossoma com 3-7 cisternas nos animais superiores e
plantas. As membranas das cisternas tem em média uma espessura de 7nm, sendo esta diferente de
cisterna para cisterna. As cisternas são rectilíneas ou curvadas; neste caso, referem-se 2 faces: externa ou
cis (também designada de convexa, de entrada, ou de formação) e interna ou trans /também designada de
saída, côncava ou de maturação).

A face cis reconhecer-se-á pelas suas relações com o retículo endoplasmático e a face trans pelas
suas relações com os elementos vesiculares, elementos secretores. Utilizando grandes ampliações, pode
observar-se dentro das cisternas um material de natureza provavelmente proteica - pontes intracisternais.
A cisterna da face cis tem aspecto fenestrado; a face trans apresenta frequentemente curiosas relações
com dictiossomas e retículo endoplasmático. A esta área especial chamou Novikoff GERL (de Golgi-
Retículo-Lisossomas).

Vesículas: As vesículas, com um diâmetro de 40-80nm, redondas, apresentam parede lisa ou


revestida e situam-se quer nas extremidades das cisternas quer na face externa ou cis do dictiossoma.

Vacúolos: Os vacúolos , por vezes de grandes dimensões e de conteúdo denso situam-se na face
interna ou trans do dictiossoma; são frequentemente designadas por vesículas de condensação ou
secretoras.
A área do complexo de Golgi é uma região particular da célula, desprovida de ribossomas ou
glicogénio também designada de zona de exclusão; em material bem fixado pode observar-se entre as
cisternas uma estrutura fibrilar - fibrilas intercisternais.

Microscopia electrónica tridimensional: Foi graças `a técnica de utilização de cortes espessos


impregnados com tetróxido de ósmio e observados ao microscópio electrónico que se avançou na
compreensão do elemento cis do complexo de Golgi nas células gangliolares.

Assim, só o elemento cis é um rosário puramente tubular; os outros elementos são alternadamente
saculares e tubulares, muito fenestrados. A análise tridimensional do complexo de Golgi é muito
interessante na avaliação do comportamento deste organelo no processo secretor (armazenamento e
libertação dos produtos de secreção), particularmente no comportamento dos elementos trans durante a
secreção.

FUNÇÕES DO COMPLEXO DE GOLGI:

O complexo de Golgi participa nos seguintes processos:

a) Armazenamento das proteínas de exportação: Foi demonstrado a formação dos grânulos no


complexo de Golgi a partir da concentração progressiva de proteína sintetizadas no RER. Demonstrou-se
também que o transporte dessas proteínas se processava dentro de pequenas vesículas localizadas na
periferia do complexo de Golgi.

b) Glicosilação de proteínas e lípideos

c) Formação das lipoproteínas: Embora os componentes das lipoproteínas sejam sintetizados no


retículo endoplasmático, aquelas passam obrigatoriamente pelo complexo de Golgi.

D) Sulfatação: O Complexo de Golgi, participa na sulfatação de várias hormonas, particularmente


na das hormonas esteróides e na dos mucopolissacarídeos.

E) Processamento proteolítico de proproteínas: A maior parte das proteínas secretoras e das


membranas sofrem processamento proteolítico durante a sua biogénese; este processamento envolve a
conversão de proproteínas em proteínas secretoras, isto é, conversão à sua forma madura

f) Biogénese de membranas: A participação deste organelo, pelo menos na biogénese da


membrana plasmática, é hoje universalmente aceite.

G) Recuperação de membranas

h) Tráfico e segregação de produtos de secreção: Os produtos de secreção movem-se


sequencialmente através da pilha de cisternas numa direcção cis-trans e sofrem armazenamento em trans.

I) Formação dos Lisossomas


10. Lisossomas

Os lisossomas são organelos citoplasmáticos que se caracterizam principalmente pela presença de


diversas hidroláses ácidas, cujo pH óptimo se situa entre 3 e 6 e têm por função a digestão intracelular.
O pH parece ser mantido através da membrana do lisossoma, e as hidroláses ácidas são suficientes para
destruir todos os organitos celulares.

Estes organelos classificam-se em lisossomas primários e secundários de acordo com o seu


conteúdo. Os primários contêm apenas enzimas hidrolíticas, enquanto que os secundários, para além
destas contêm substâncias em digestão.

A sua descoberta ficou a dever-se a De Duve, com estudos sobre a actividade fostatásica ácida no
fígado de rato. Os meios hipotónicos, os detergentes ou a congelação e descongelação, provocavam
rupturas nas membranas dos lisossomas, o que permitia a libertação das enzimas, aumentando assim a
actividade detectada pelos métodos bioquímicos.

ASPECTOS ULTRAESTRUTURAIS: Nos cortes ultrafinos, os Lisossomas apresentam com frequência


secções aproximadamente circulares ou ovais, sendo limitados por uma membrana com espessura idêntica
à da membrana citoplasmática. Devido À função digestiva destes organelos , a membrana lisossomal tem
de ser resistente à acção das hidrláses ácidas, para não ser degradada por estas enzimas. Os lisossomas
primários possuem geralmente, a forma de pequenas vesículas podendo apresentar um conteúdo denso
aos electrões.

Como estas características não são exclusivas dos lisossomas primários, a identificação destes
organelos só pode ser feita, com segurança, através de estudos que revelem a presença de hidroláses
ácidas. Os lisossomas secundários, apresentam um conteúdo extremamente heterogéneo, devido à grande
variedade de substâncias que podem conter em resultado da sua actividade digestiva. Diferentes
morfologias podem ainda ser consequência dos diferentes estados da digestão em que se encontram.

Os lisossomas secundários podem atingir grandes dimensões. Apesar das características


ultraestruturais, referidas, por vezes é difícil distinguir morfologicamente os lisossomas dos peroxissomas
ou grânulos de secreção.

Além disso, não se notam modificações ultraestruturais significativas entre os vacúolos de


fagocitose, que ainda não receberam as hidroláses ácidas e os mesmos vacúolos logo após a recepção
dessas enzimas. No entanto, os referidos vacúolos não devem ser considerados como lisossomas antes de
terem recebido as enzimas digestivas. Em todos estes casos, uma identificação correcta dos lisossomas, só
pode ser conseguida com técnicas específicas para a detecção de enzimas lisossomais.
CONTEÚDO ENZIMÁTICO: O que melhor caracteriza os lisossomas é o seu conteúdo enzimático.
Estes organelos, contêm uma grande variedade de hidroláses ácidas que podem ser agrupadas de acordo
com o tipo de substratos que hidrolisam.

As proteáses responsáveis pela digestão das proteínas nos lisossomas, subdividem-se em


exopeptídases, que hidrolisam especificamente ligações peptídicas junto das extremidades da proteína, e
endopeptídases que só hidrolizam ligações peptídicas afastadas das extremidades da cada polipeptídica.
Este conjunto de enzimas permite uma degradação completa das proteínas em aminoácidos.

As diversas glisosidases lisossomais, que actuam sobre polissacarídeos e oligossacarideos das


glicoproteínas e glicolípidos, podem subdividir-se em exoglicosidases e endoglicosidases, consoante
actuem especificamente nas ligações glicosídicas entre açucares terminais ou entre açucares do interior
dos polissacarídeos e oligossacarídeos. As exoglicosidades actuam em sequência, cada uma removendo
um açucar terminal específico ao longo das cadeias dos polissacarídeos ou oligossacarídeos.

Nos lisossomas encontram-se ainda nucleases, fosfatases, sulfatases, lipases e outras esterases,
responsáveis pela hidrólise dos ácidos nucleicos, fosfatos, sulfatos, e lípidos respectivamente. Toda esta
variedade enzimática permite a digestão intracelular de praticamente todos os tipos de macromoléculas
nos seus constituintes fundamentais, aminoácidos, ácidos gordos, nucleótidos ou açucares.

Embora todos os lisossomas tenham hidroláses ácidas, algumas variações no conteúdo enzimático
podem ser detectadas entre tipos celulares diferentes. Por exemplo, os grânulos azurófilos dos neutrófilos
existe peroxidases para além das diversas hidrolases. A presença de hidrolases ácidas pode ser detectada
em microscopia electrónica através de técnicas citoquímicas ou imunocitoquímias.
OS LISOSSOMAS E A DIGESTÃO INTRACELULAR: A principal função dos lisossomas é a digestão
intracelular. De acordo com a origem das substâncias a serem ingeridas, os lisossomas secundários
dividem-se em autolisossomas e heterolisossomas. Nos primeiros são digeridos organelos e estruturas
da própria célula, enquanto os segundos digerem substâncias provenientes da endocitose e que, portanto,
não pertencem à própria célula.

Além do seu papel na digestão intraceliular, em certos casos, as enzimas lisossomais participam
também na digestão extracelular. Para que estas enzimas actuem no exterior da célula, tem de se
verificaram a exocitose do conteúdo dos lisossomas primários. Este tipo de digestão ocorre, por exemplo
durante a remodelação dos tecidos ósseos e cartilagíneo dos vertebrados, sendo digeridas as substâncias
orgânicas da matriz extracelular destes tecidos. Os fungos também secretam hidrolases ácidas lisossomais
para degradarem substâncias existentes no meio extracelular, absorvendo depois as pequenas moléculas
resultantes dessa digestão.

A) AUTOFAGIA: A autofagia, consiste na digestão intracelular de organelos e estruturas da


própria célula. Deste modo, podem ser eliminados organelos, que, deixaram de ser necessários à
actividade celular. Este processo é relativamente selectivo, sendo incluídos nos vacúolos de autofagia
principalmente os organelos que deixaram de ser funcionais. Contudo em certos casos, a autofagia pode
ser muito mas generalizada.

Nas células de tecidos que são substituídos durante as metamorfoses de anfíbios e de insectos,
uma grande parte dos constituintes celulares são digeridos por autofagia... Um aumento dos vacúolos de
autofagia, pode ser induzido por um jejum prolongado e por diversas substâncias tóxicas. No primeiro
caso, a digestão de parte dos constituintes celulares pode compensar, até certo ponto, a falta de nutrientes,
enquanto que nas células afectadas por substâncias tóxicas são digeridos os organelos alterados.

Estudos recentes provam que os vacúolos de autofagia formam-se quando uma cisterna de retículo
endoplasmático rugoso, que perdeu os ribossomas, envolve uma porção de citoplasma com alguns
organelos, dando origem a um vacúolo com membrana dupla. Estes vacúolos de autofagia recém
formados, ou autofagossomas, que ainda não possuem hidrólises, sofrem um processo de maturação que
os transforma em autolisossomas. Neste processo a membrana exterior adquire proteínas próprias da
membrana lisossomal, o conteúdo é acidificado por acção de bombas de protões integradas na membrana
e recebem as hidrolases ácidas.

Recentemente, duas vias foram propostas para a transformação dos autofagossomas em


autolisossomas. Na primeira, os autofagossomas poderão adquirir as proteínas membranares e enzimas
lisossomais numa única etapa, fundindo-se com lisossomas preexistentes. Na segunda, os
autofagossomas, fundem-se em primeiro lugar, com vesículas golgianas cuja membrana possui proteínas
membranares lisossomais. Estas vesículas, que não contêm hidrolases, provocam a acidificação dos
autofagossomas. Posteriormente, os autofagossomas já acidificados fundem-se com lisossomas,
recebendo destes as enzimas hidrolíticas. A membrana interna dos autofagossomas, é digerida
conjuntamente com o conteúdo.
C) HETEROFAGIA: A Heterofagia é o processo pelo qual a célula digere substâncias
exógenas. Este processo permite a diversos protozoários extrair os nutrientes dos alimentos que capturam,
ocorrendo também em células envolvidas na defesa do organismo, como os macrófagos e os neutrófilos.
As subatâncias exógenas, são fagocitadas ficando incluídas em vacúolos designados por fagossomas.

Posteriormente os fagossomas fundem-se com os lisossomas que transportam as hidrolases


ácidas, formando-se assim, um heterolisossoma. As pequenas moléculas resultantes da digestão ,
aminoácidos, ácidos gordos ou açucares, atravessam a membrana destes lisossomas para serem utilizados
noutros locais da célula.

No final os heterolisossomas contêm apenas os resíduos não digeridos, designando-se então por
corpos residuais, que acabam por se fundir com a membrana celular para lançar os resíduos no exterior. A
heterofagia está particularmente bem estudada em ciliados do género Paramecium. Estes protozoários
capturam bactérias e partículas em suspensão através de uma estrutura bucal complexa e especializada
que as conduz à citofaringe, no final da qual se formam os vacúolos digestivos. Antes de receberem as
enzimas digestivas, estes vacúolos fundem-se com um tipo especial de vesículas designadas por
acidossomas, que provocam a acidificação do conteúdo vacuolar. Nestas células, foi demonstrado
experimentalmente que a fusão com os acidossomas é necessária para preparar os vacúolos digestivos
para a fusão como os lisossomas.

11. Mitocôndria

As mitocôndrias são organelos celulares presentes na maioria das células eucarióticas e responsáveis, em
condições aeróbias, pela obtenção da maior parte da energia necessária às células que as possuem. Têm
aspecto morfológico muito variável podendo ocorrer sob diversas formas, como redonda, oval e em
bastonete ou filamento, e apresentando variações no seu tamanho, número e distribuição, não só segundo
os diferentes tipos de célula como também durante o ciclo de vida de uma mesma célula.

Nos finais do Sec. XIX, Michaelis desenvolveu uma


técnica para corar selectivamente mitocôndrias, facto que foi de
grande importância pois para além de ter sido a primeira
indicação de que a mitocôndria tem a capacidade de reduzir um
corante, forneceu um critério definitivo para a sua identificação
citológica.

1. História da Neurociência
Os primeiros cérebros têm mais de 500 milhões de anos.
A evolução humana tem 6 milhões de anos.
O Homo Sapiens tem menos de 2 milhões de anos.
O nosso cérebro é muito jovem em termos evolutivos!

O Homem primitivo começou a perceber que quando haviam golpes no crânio, ao


contrário do que acontecia com outras zonas do corpo, registavam-se lesões com
competências mais gravosas.

Ao longo da história foram encontrados vários crânios com perfurações –


trepanações. Estas parecem ter como intuito sanar alguns aspectos lesados, visando
manipular, de alguma forma aquilo que conhecemos actualmente como o encéfalo. É
claro que muitas destas manipulações nada científicas, terão causado consequências
muito nefastas, no entanto este facto revela-se altamente informativo, indicando que já
na pré-história havia intenção de manipular o encéfalo.

As primeiras manipulações do encéfalo são retratadas em vários documentos


egípcios, como o “Papiro de Ramesseum” (1900 a.C.) e o “Papiro de Ethens”. Há cerca
de 5 000 anos já haviam sido descritas formas que, ainda que arcaicas, visavam tratar
perturbações neurológicas e mentais – por exemplo os escritos de Imhotep (egípico).

Inicialmente estes “tratamentos” eram feitos por entidades divinas – daí a


entervenção de sacerdotes – e não por médicos. A alteração deste procedimento foi
realizada gradualmente e ao longo de muitos anos. O “Livro dos Mortos” de Imhotep,
atribui a causa das patologias mentais a entidades mágicas, divinas, religiosas. Para
Imhotep, o cérebro, contrariamente ao coração, não tinha qualquer relevância.

Nos tempos que se seguem dá-se toda uma interligação e confluência de


conhecimentos, oriundas de várias regiões (Oriente, Creta, Fenícios e Egípicos).

ALCMAEDON de Cretona (Sec. V a.C.), terá sido um dos primeiros a reflectir


sobre como pensamos. Para Alcmaedon, o cérebro era a estrutura por excelência, onde
assentava a inteligência, sentimentos, e muitos outros aspectos nobres. Ao contrário de
Imhotep, Alcmaedon atribui, pois, grande importância ao cérebro. Foi também o
primeiro a descrever um olho, a partir da dissecção. Para ele, a água era a base essencial
para qualquer estrutura. Descreveu o nervo óptico como a via que levava a comunicação
até ao encéfalo.
EMPEDOCLES (Sec. V a.C.), tem ideias opostas a Alcmaedon, voltando a
menosprezar o cérebro. Os movimentos, pensamentos, etc, teriam a ver com a natureza
do sangue e consequentemente o órgão fundamental seria o coração.

DEMOCRITO (Sec. V a.C.), engloba ideias de muitos outros pensadores e avança


com a primeira teoria atomista – uma ideia puramente filosófica: Considerava a
existência de três tipos de átomos, um dos quais se moveriam muito rapidamente, sendo
os responsáveis pela alma e funções superiores (pensamento, imaginação…). Estes
átomos estariam dispersos por todo o corpo, mas sobretudo localizados no encéfalo.
Contrariamente a estes, outros átomos, um pouco mais finos, estariam localizados no
coração, sendo responsáveis pelos sentimentos. O terceiro tipo de átomos estaria
localizado no fígado e seriam responsáveis pelas paixões.

HIPÓCRATES (Sec V a.C.), terá sido, entre outros – daí falar-se geralmente da
Escola Hipocrática – um defensor da ideia de que o encéfalo seria o responsável por
tudo. A sua visão do encéfalo e suas funções é bastante satisfatória, no entanto, peca
pela inexistência de estudo directo, estando meramente interessados na parte filosófica
(não sabia nada de anatomia, nem tão pouco a considerava importante).

PLATÃO (Sec V a IV a.C) é um pólo muito importante do ponto de vista da


filosofia e da ética. No entanto de ponto de vista científico trouxe muitas alterações
negativas, tendo menosprezado muito do trabalho que até então havia sido feito.

Para Platão, tudo era dirigido por uma alma superior da qual derivavam as almas
individuais, que por conseguinte seriam tão divinas que não teriam nada de humano. A
sua teoria surge em parte na mesma linha de pensamento dos egípcios que
consideravam a alma imortal.

ANAXAGORAS (Sec. V a.C) é por muitos considerado como o “pai do estudo do


comportamento”. Diz que o comportamento tem de ter uma base física e tenta associar
os comportamentos com as alterações nas estruturas físicas. É um anatomista e um
acérrimo defensor da dissecção.

ARISTÓTELES (Sec. IV a.C), defendia que o cérebro do homem era diferente do


da mulher (o do homem seria maior, mais desenvolvido). Para ele, o importante era o
coração e o cérebro apenas teria como função travar o fluxo de informação (e como o
homem pensaria muito mais do que a mulher, teria necessidade de ter um cérebro mais
desenvolvido).
Pelo que foi dito até aqui, facilmente se pode constatar que várias personagens
gregas, marcos sem dúvida importantes na nossa cultura e conhecimento filosófico,
acabam por deixar muito a desejar do ponto de vista das neurociências.

Em Alexandra, Herophilo e Erasistrato (Sec. III), criou-se um centro no qual


vários professores de várias artes se encontravam para discutir a mesma problemática
com vista a uma perspectiva única e convergente.

Começa-se então a dar uma particular atenção e destaque às partículas e circulação


cerebral. Assiste-se a uma divisão entre a filosofia e a ciência, sobretudo a medicina.
GALENO (Sec. III), médico por excelência, exerce a sua actividade como cirurgião
tratando gladiadores. De alguma forma acabava por realizar vivissecções, e vai atribuir
directamente as funções cerebrais ao encéfalo. O coração também seria importante mas
muito menos do que o encéfalo.

Durante cerca de dez a doze séculos seguintes, não se registou qualquer alteração
nesta visão. Isto deve-se em parte também ao papel da religião, para a qual as
perturbações mentais seriam castigos de Deus, e consequentemente não haveria nada a
fazer.

Surge entretanto a visão de que o encéfalo seria composto por três ventrículos,
repousáveis pelas funções cerebrais. A partir do século X, não havia qualquer dissecção,
ou se havia, eram comparativas, pelo que se trabalha sobretudo pela observação.
Avicena e Alhazen, médicos de formação, apontam vários aspectos importantes
relativos ao funcionamento do sistema nervoso.

Durante muito tempo as dissecções eram realizadas lendo textos de Galeno e


oficialmente em 1400 anos manteve-se o mesmo paradigma. O cirurgião era meramente
um auxiliar: nem os professores nem os alunos de medicina tinham qualquer interesse
nas dissecções.

ANDREAS VESALIUS (Sec. XVI) vem contrariar a teoria dos ventrículos


dizendo que não existe qualquer elemento anatómico que comprove a sua existência e
que estes não teriam qualquer relação com as funções cerebrais. Começa então
finalmente a anatomia comparada, o estudo profundo do sistema nervoso.

MARCELLO MALPIGHI (Séc. XVII) é tido como o “pai da neuroanatomia


microscópica”. O primeiro microscópico foi inventado por alguém nada associado à
ciência que terá feito a descoberta através do polimento de lentes (Leuvenhock).
Posteriormente desenvolve-se o microscópico óptico composto. Malpighi foi o primeiro
a aplicar a microscopia ao sistema nervoso.

Para RENÉ DESCARTES (Sec. XVII) a alma seria imortal e utiliza a ideia de que
os nervos são ocos atribuindo um papel importante à epífise.

Começa-se entretanto a colocar a hipótese de haver localizações concretas. No final


do século XVIII, alguém consegue articular várias teorias e apresentar uma ideia
original, congruente com a perspectiva evolucionista que reinava na época: FRANZ
GALL (Séc. XVIII – XIX) inventa a Frenologia segundo a qual, tocando na cabeça de
um sujeito, seria possível conhecer as suas características. Foi o primeiro a dizer que
qualquer função cerebral poderia estar relacionada com uma forma e localização
concreta. O seu grande erro foi ter assumido que seria possível fazer esta identificação
pelo toque craniano.

Mais ou menos por esta altura surge o famoso caso de Phineas Gage, o famoso
trabalhador ferroviário que sobre um acidente de trabalho, ficando com uma barra de
ferro alojada no cérebro, tendo sobrevivido aparentemente sem quaisquer alterações.
Passado algum tempo, começa a assistir-se a várias alterações de personalidade (passa a
ser mais violento, rude…) Estava pois mais do que comprovado a existência de um
suporte físico para o comportamento.

PAUL BROCA vem trazer um novo contributo ao estudar um paciente que


compreendia perfeitamente a linguagem, mas que era incapaz de se expressar. A partir
dos seus estudos, Broca (1964) afirma que “nós falamos com o hemisfério esquerdo”.
Para o autor, se alguma vez houver uma ciência frenológica, seria uma frenologia das
circunvoluções e não uma frenologia de relevos.

WERNICKE (1848-1904) apresenta-nos uma perturbação em que o paciente se


expressa perfeitamente mas se revela incapaz de entender a linguagem (trata-se pois de
uma área diferente – complementar da área de Broca – que ficou conhecida como a área
de Wernicke). Verifica-se portanto que uma função pode estar representada
cerebralmente por diversas áreas.

PENFIELD e RASMUSSEN vão mapear o córtex sensitivo e motor, apresentado


as localizações para as áreas sensitivas. Mas os processos de localização cerebrais não
são tão fáceis como se poderia pensar até porque existem vias alternativas.

A base de todo o comportamento está pois, indubitavelmente no sistema nervoso,


que, como veremos mais à frente, se encontra organizado por blocos ou módulos.
O cérebro humano é um complexo sistema de neurónios compostos por cerca de 1,5
milhões de quilómetros de células nervosas. Cerca de 90% das células nervosas são
células gliais tendo como função a estrutura, transporte e manutenção do sistema
nervoso. Os restantes 10% são neurónios (células electricamente excítaveis que
permitem aprender, pensar, recordar…)

Um adulto tem cerca de metade dos neurónios de uma criança de 2 anos (no entanto
os que tem apresentam mais ligações a apresentam estratégias mais eficazes. Todos os
dias perdemos mais de 10 000 neurónios…

2. Fisiologia do Sistema Nervoso

O sistema nervoso é composto por neurónios, células gliais. Todos os neurónios são
basicamente semelhantes, sendo compostos por um corpo celular (ou soma), pelo
núcleo, pelas dendrites, e por um prolongamento denominado axónio.

A zona dendrítica é, por excelência, a região receptora dos impulsos inibitórios ou


excitatórios. No corpo celular esses impulsos são analisados e, caso atinjam um limiar
mínimo necessário, são conduzidos pelo axónio até ao terminal sináptico.
Os neurónios podem classificar-se segundo as características do prolongamento
axoonal, em monopolares (caso possuam um prolongamento único, muito ramificado),
pseudounipolares (em forma de T), bipolares (com uma única dendrite), ou
multipolares (estrelados, entre outros). Se atendermos às características do soma,
poderemos classifica-los em estrelitas, fusiformes, esféricos, piramidais, cónicos e
poliédricos.

Como qualquer célula, para um bom funcionamento, um neurónio tem de ter uma
membrana celular com canais e receptores que, neste caso, são muito particulares, como
veremos mais à frente.

Os neurónios são células muito eucromáticas (a eucromatina existe em células


muito activas, enquanto a heterocromatina, mais enrolada, existe em células menos
activas), e têm muitos ribossomas, sinalizando a intensa síntese proteica que regista. O
seu nucléolo é pois, bastante activo.

No neurónio, o nucléolo está formado por partes fibrilares e granulares cuja função
é a formação e maturação de substâncias ribossómicas que posteriormente migram para
o citoplasma. O citoplasma neuronal condiciona parcialmente a sua morfologia, para
além de intervir em diversas actividades funcionais. As neurofibrilhas são um
componente do citosqueleto neuronal, determinando grande parte da morfologia dos
neurónios. Os componentes do citosqueleto dispõem-se nos prolongamentos neuronais
(dendrites e axónio), paralelamente ao seu eixo longitudinal, interrelacionando-se entre
si e formando uma densa rede que termina a sua morfologia, ao mesmo tempo que
intervêm na distribuição de organulos e no tráfego intracelular de moléculas e
estruturas. O citosqueleto participa pois activamente no transporte intracelular. Nas
dendrites, as substâncias tanto podem circular num sentido como noutro, contrariamente
ao axónio em que esta circulação é em sentido único.

Os corpos de Nyssl, constituem uma ultraestrutura que forma zonas muito ricas em
cisternas de retículo endoplasmático rugoso (RER) e ribossomas livres. A riqueza dos
corpos de Nyssl comprova a forte actividade sintética da célula.

O padrão de organização dendrítica é característico para cada tipo neuronal. Os


troncos dendríticos principais são expansões do soma. Nas dendrites reduz-se a
concentração de organulos e os troncos dendríticos ramificam-se originando dendrites
secundárias que se bifurcam por sua vez. Em localizações muito concretas encontram-se
dendrites rodeadas por bainhas de mielina (embora tal não seja muito frequente). As
dendrites são estruturas muito plásticas: reorganizam-se continuamente para optimizar a
eficiência funcional.
O axónio é uma estrutura única que se pode considerar em três partes: Uma parte
inicial – uma zona especializada do corpo celular (cone axónico) origina o segmento
inicial do axónio cujo prolongamento é o axónio. Até aqui faz-se a integração da
informação, sendo a partir deste ponto que ocorre a geração e condução do potencial de
acção –, uma parte mediana – o axónio é um prolongamento extenso do neurónio que
transporte com eficiência e rapidez a informação integrada no soma até regiões
concretas –, e uma região final.

3. A Célula Neuronal

No Ser Humano, tal como nos demais animais e alguns seres vivos, as células
primitivas organizam-se em células diferenciadas (com funções específicas), formando
tecidos que constituem diferentes tipos de órgãos.

Para cumprirem adequadamente as suas funções, as células deverão estar num meio
adequado – Meio Interno. O meio interno constitui-se a partir do plasma (que por sua
vez se origina a partir do sistema digestivo, circulatório, respiratório e excretor (renal).

Para uma adequada manutenção, o meio interno deve obedecer a determinados


parâmetros tidos como essenciais. São eles o pH, a concentração de determinados iões
(Na+, K+, Cl-, Ca2+, etc…), O2/C02, a temperatura, a água e a glucose. Geralmente
quando não existe glucose, as células podem produzir energia a partir das proteínas,
contudo as células nervosas são um caso muito especial em que tal não é possível.

É graças a determinados mecanismos homeostáticos que o meio interno mantém


estes parâmetros. Grande parte destes mecanismos funcionam por retro-alimentação.
Por exemplo, se a concentração de glicose aumenta no sangue, as células pancreáticas
segregam insulina que capta a glicose para as células, diminuindo assim a sua
concentração no sangue. Caso se verifique falta de açucares no sangue, o procedimento
é exactamente o contrário.

Entre os meios plasmático, intersticial e o líquido intracelular, existem como se


observou no capítulo anterior, finas camadas – membranas. Destas vamos relembrar um
pouco a membrana citoplasmática que separa os meios intra e extra-celulares, permite o
intercâmbio de substâncias, bem como a comunicação celular.
Como vimos no capítulo anterior, esta membrana possui cerca de 75 Angstons de
espessura, sendo composta por proteínas, lípidos e hidratos de carbono. A sua estrutura
é formada por uma dupla camada de lípidos que na microscopia electrónica é
representada por duas bandas escuras separadas por uma banda mais clara (relembrar
Modelo do Mosaico Fluído).

O intercâmbio e transporte de substâncias através da membrana plasmática pode


ocorrer essencialmente por duas formas:

- Transporte Passivo, ou Difusão, através de gradientes de concentração ou


diferenças de carga iónica, num processo relativamente moroso, mas que não implica
quaisquer gastos energéticos; ou

- Transporte Activo, caso em que exige gastos energéticos, mas que permite
contrariar os gradientes existentes.

No transporte passivo, o fluxo de difusão, depende nomeadamente da temperatura,


tamanho da molécula e da viscosidade do meio, isto é, da densidade. Num determinado
meio as substâncias (ou iões) tendem a deslocar-se de acordo com o seu potencial de
difusão, dependente dos factores mencionados, com vista a um equilíbrio – potencial de
equilíbrio.

A membrana plasmática é muito permeável aos gases e ao álcool, relativamente


permeável à água e à ureia e completamente impermeável à glicose/frutose, bem como a
aminoácios, ATP e a moléculas grandes (e logo às proteínas) bem como a iões como
K+, Mg2+, Ca2+, Cl-…). Estas substâncias têm pois, inevitavelmente que atravessar a
membrana através de bombas ou transportadores.
Neurónio
Extracelular Intracelular
Na+ 150 15 Tende a entrar pela voltagem e pela
concentração
Cl- 110 10 Tende a sair pela voltagem e a entrar pela
concentração
K+ 5 150 Tende a sair pela concentração e a entrar pela
voltagem
Ca2+ 1,2 0,00001
Protéinas 1 150 A membrana é impermeável às proteínas
Cargas + -

O gradiente de voltagem entre o interior e o exterior das nossas células é de cerca de


-75mV (sempre com o interior negativo em relação ao exterior). Este é pois o potencial
de membrana e é gerado maioritariamente pelo ião potássio (é pois o potencial de
equilíbrio do ião potássio).

Para ajudar a manter esta concentração de potássio, o ião K+ é capturado pela


Bomba Sódio-Potássio e colocado no interior e, enquanto o ião K+ entra por transporte
activo, o Na+ sai passivamente. Se esta bomba deixasse de funcionar gerar-se-ia uma
concentração excessiva e o potencial de membrana perder-se-ia.

3.1. NEURÓNIO e SINAPSE

Ao nível do neurónio, quando chega um estímulo, o potencial de membrana sofre


uma alteração – variação do potencial de membrana – passando de um potencial de
repouso para um potencial de acção.

A variação do potencial de acção, é pois:

• Uma resposta a um estímulo;

• Uma variação de cerca de 120mv no sentido positivo (passa-se dos


-75mV para cerca de 45mv);

• Muito rápida – dura cerca de 2 a 5 milissegundos;


• Nem todas as respostas são iguais – isto é, os potenciais de acção não são
iguais para todas as células;

• O potencial de acção é capaz de viajar sem perder nenhuma das suas


propriedades, i.e., começa num ponto e vai-se propagando sem perder
propriedades – este sinal é capaz de viajar a cerca de 120 metros por segundo.

Mas para haver um potencial de acção é necessário haver um fluxo de iões. Aos
-75mV, os canais de Na+ estão maioritariamente fechados. No entanto as proteínas-
canais regulam-se, podendo estes canais estar abertos ou fechados, sendo que a “chave”
para a abertura destes canais parece ser o potencial de membrana.

Quando se dá a despolarização, os canais tornam-se permeáveis ao Sódio e a


bomba é incapaz de retirar a quantidade de iões que passam e entrar, tornando-se o
interior progressivamente mais positivo, até atingir o potencial de equilíbrio do ião Na+,
que acontece aos cerca de 45mV (valor positivo). Quando o potencial de equilíbrio é
atingido, o Na+ deixa de entrar e começa a sair o K+ até estar em equilíbrio, causando a
repolarização da célula.

Quando a célula está em repouso – o ião K+ está em equilíbrio – os canais de K+


estão abertos e os canais de Na+ fechados. Para disparar um potencial de acção é
necessário um valor limiar de -55mV. Só quando este valor é atingido é que é gerado o
potencial de acção.
Após cada regularização, a célula passa por um ligeiro período refractário em que
se revela indiferente a qualquer estímulo que a possa atingir.

CONDUÇÃO DO POTENCIAL ELÉCTRICO

No espaço em que o potencial de acção está a decorrer, o interior é positivo. Como


as demais regiões (em repouso) estão a -75mV, verifica-se uma diferença de potencial
de cerca de 120mv, que faz com que o impulso nervoso seja conduzido ao longo do
axónio.

O potencial de acção é um sinal eléctrico que dura cerca de 1 milissegundo e viaja a


cerca de 100m/seg, o que significa que por cada potencial de acção o estímulo viaja
cerca de 10 milímetros. O Homem possui neurónios com cerca de 1 metro de axónio,
pelo que este processo revelar-se-ia impróprio. A velocidade de condução depende da
recuperação do potencial de acção, que por sua vez está relacionado com a
abertura/fechamento dos canais de sódio.

Certas fibras estão cobertas por uma substância branca, de cor branca – bainha de
mielina que torna a condução muito mais rápida e eficiente. Esta substância recobre
toda a célula excepto determinados espaços entre si, denominados Nódulos de Ranvier.
Nas células mielinizadas, os canais de na+ estão apenas localizados nos Nódulos de
Ranvier, o que leva a uma condução do impulso nervoso muito mais rápida.

A maioria das fibras relacionadas com a recpção e movimento das fibras


musculares estão enervadas por células mielinizadas. Nos receptores a informação está
codificada por um determinado Código de Frequência (que consiste numa variação na
frequência e duração de potenciais de acção) que é interpretado pelo Sistema Nervoso
Central, permitindo a leitura da informação.

Em certas situações revela-se necessário produzir uma diminuição do potencial de


acção (por exemplo em situações de dor). É essa a função dos anestésicos locais: São
lipossulíveis pelo que entram facialmente no terminal nervoso e dissociam-se em duas
moléculas, uma das quais bloqueia (interiormente) os canais de Na+. Mas é claro que
desta forma inibe não só a dor como as demais sensações associadas aquele sensor.

Uma situação patológica também relativamente frequente é a Esclerose Múltipla.


Esta patologia surge de uma resposta imunitária que leva à destruição da mielina das
fibras. Se a extensão da destruição é pequena, não haverá graves problemas, mas se é
muito grande a condução neuronal bloqueia. Um dos primeiros sintomas desta patologia
tende a ser as alterações visuais bem como na motricidade fina.

Como é sabido, os estímulos chegam ao SNC por via aferente e as respostas


seguem do SNC para o exterior através de vias eferentes. A troca de informação entre
neurónios diferentes ocorre através de SINAPSES, que podem ser de natureza química
ou eléctrica, sendo que as primeiras são de todo as mais frequentes e importantes.

Em todas as sinapses químicas existe um terminal pré-siáptico (de onde parte a


sinapse), um espaço inter-sináptico ou inter-membranar e um terminal pós-
sináptico. As sinapses químicas fazem-se através de substâncias –
NEUROTRANSMISSORES – que passam de um neurónio para o outro: No botão
pré-sináptico existem vesículas sinápticas que contêm estes neurotransmissores.

Nas membranas pré-sinápticas podemos encontrar canais de Ca++ e no terminal


pós-sináptico existem receptores específicos para cada tipo de neurotransmissor.
Quando um potencial de acção chega ao terminal pré-sináptico ocorre a despolarização
que afecta os canais de Ca2+ (que sendo sujeitos a voltagem abrem, permitindo a entrada
do ião Cálcio).

Quando o Cálcio entra, fixa-se às vesículas de neurotransmissores produzindo


nestas alterações que lhe causam uma tendência para se unirem com a membrana,
permitindo a libertação de neurotransmissores no espaço inter-sináptico. Uma vez
libertos, os neurotransmissores difundem-se até à membrana pós-sináptica.

Quando um neurotransmissor se une ao receptor específico da membrana pós-


sináptica, produz a abertura desse canal, levando à entrada de cargas positivas e por sua
vez à despolarização, gerando um potencial de acção, de acordo com os princípios já
estudados. Não obstante, existem também bloqueadores específicos dos canais que
evitam que a substância entre – Inibidores.

Para permitir que um determinado receptor do terminal pós-sináptico fique


disponível para a recepção de novos neurotransmissores, é necessário haver uma enzima
– por exemplo para o neurotransmissor acetilcolina temos a acetilcolinasteráse – cuja
função é retirar o neurotransmissor alocado no receptor.
Um neurónio pode receber simultaneamente informações de variadíssimos sítios
diferentes (cerca de 5000). Tal é possível porque há muitos neurotransmissores
diferentes (cerca de 500). Quando um neurotransmissor tem por efeito criar um potenial
de acção, denomina-se como excitador (Fig.). Se contrariamente causa uma
hiperpolarização, denomina-se como inibidor (Fig.). Ao nível do SNC, o principal
excitador é o glutamato de aspartato e o principal inibidor o GABA. Podemos ainda
encontrar neurotransmissores cuja função é regular a actividade neuronal – como é o
caso das aminas biogénicas.

Na membrana pós-sináptica podemos encontrar dois tipos de receptores:


Ionotrópicos, que reagem à presença do neurotransmissor que abre um determinado
canal, colocando-o no interior e Metabotrópicos, nos quais o neurotransmissor liga-se
ao receptor que consiste numa molécula pretéica que interage com outros componentes
(Proteínas G), influenciando uma nova molécula e pondo em prática um conjunto de
processos metabólicos (Fig.)
Apesar de haver uma comunicação celular por sinapses, a comunicação através de
hormonas também é muito importante, jamais podendo ser descurada.

4. Fisiologia da Sinapse

Cajal, Sherrington, Loewi, Dale e Éccle (aqui apresentados por ordem cronológica),
marcaram o processo e descrição da sinapse. Podemos classificar a sinapse quanto ao
tipo de transmissão: sinapses químicas, sinapses eléctricas, existindo ainda outro tipo
muito especial de sinapses, de que iremos falar; ou quanto à região do neurónio que
intevém: axo-dendríticas, axo-somáticas, axo-axónicas, dentro-dentríticas, entre muitas
outras…

Distância Componentes Agente transmissor Retardo Direcção da


pré-pós estruturais sináptico transmissão
sináptica

20-40 - Vesíiculas Transmissão química Menos de 0,3 Unidireccional


SINAPSES
nannómetros (neurotransmissores) ms,
QUÍMICAS
habitualmente 1-
- Zona activa 5ms ou mais

- Fenda sináptica

- Densificação
pós-sináptica

3,5 nanómetros Junções GAP Corrente iónica Virtualmente Bidireccional


SINAPSES
(canais acoplados ausente
ELÉCTRICAS
das 2 membranas)

Zona activa: porção da membrana que vai intervir na sinapse

As junções tipo GAP não estão sempre abertas: Quando detectam algum tipo de
informação mais estranha (incongruente com a passagem da informação), fecham.

A transmissão da informação sináptica ás vezes não depende tanto do


neurotransmissor mas do receptor – o mesmo neurotransmissor pode causar alterações
diferentes em receptores diferentes. É no núcleo que são sintetizados os percursores dos
neurotransmissores que depois são maturados no Complexo de Golgi e transportados até
ao terminal sináptico: As vesículas viajam pelo citosqueleto, situam-se no terminal pré-
sináptico e depois, aquando da entrada do ião Ca++ e através da energia Rab3A,
fundem-se com a membrana e difundem-se.

Segundo a Teoria Clássica, parte destas vesículas que libertam os


neurotransmissores por exocitose, acabam por ser reabsorvidas por endocitose,
reorganizando-se nos endossomas e preparando-se para soltar novamente, sem ter de ser
degradado. Já a teoria “Beijar e Correr”, defende que a vesícula funde-se com a
membrana libertando o seu conteúdo e voltando a soltar-se em seguida

A Teoria da Endocitose em Massa defende que há uma invaginação que recebe


uma extensa parte do material da fenda sináptica, levando-o ao endossoma onde o seu
conteúdo é tratado.
As vesículas sabem com minúcia em que zona da membrana se devem fundir, pois
na sua membrana existem proteínas específicas que são complementos proteicos de
outras proteínas existentes na membrana plasmática.

NOTA: Note-se que o neurotransmissor nunca entre uma célula adjacente; o que
entra são os iões. O neurotnamissor apenas abre (ou fecha) os canais.

Nos vertebrados, as sinapses eléctricas são pouco frequentes e geralmente existem


em simultâneo com as sinapses químicas. Geralmente as sinapses eléctricas passam
informação bastante vital e imediata.

Uniões Neuromusculares – Placa Motora


Sinapse que se efectua com uma fibra muscular (elemento pós-sináptico); A
membrana da célula muscular está carregada de receptoers e encontra-se invaginada
para optimizar a captação de informação (fica a dispor de mais espaço). De resto o
processo é idêntico ao da sinapse química.

SINAPSES ESPECIAIS: Oxido Nítrico

Os neurónios nitrérgicos geram Óxido Nítrico em zonas pós-sinápticas como


resposta ao Cálcio. O Óxido Nítrico é um mensageiro retrógrado, com um meio de
acção limitado que difunde rapidamente. O Óxido Nítrico é único e é produzido por
moléculas em diferentes locais, pelo que pode exercer efeitos em locais diferentes, mas
sempre com o mesmo tipo de gás. Os neurónios nem sempre produzem óxido nítrico, a
sua produção ocorre apenas em momentos específicos.

4.1. CÉLULAS GLIAIS

Pensa-se que existem pelo menos 10 células gliais por cada neurónio. As células
gliais foram descobertas por Virchow em 1846. O termo “glia” designa “pegamento” ou
“cimento nervoso”.

Existem vários tipos de células, por exemplo a neuroglia (que tem um tronco
comum com os neurónios) e a microglia. A neuroglia pode existir no SN Central
(astrocitos – glia radial e epindimocitos – oligodendrocitos) ou no SN Periférico (células
de Schwan, Glia ganglionar e Teloglia).

As células gliais podem ser estudadas através de técnicas especiais das quais se
destacam as técnicas histológicas clássicas, marcadores específicos, técnicas
electrofisiológicas, culturas celulares purificadas, análise de imagens e a engenharia
genética.
FUNÇÕES GERAIS DAS CÉLULAS GLIAIS:

As células gliais têm por funções: manter e suster os neurónios (nutrição, controlo
do equilíbrio iónico, protecção contra agentes patogénicos – algumas células gliais); a
sinaptogénese (ajudam a estabelecer e a reforçar as sinapses, embora não participem
directamente nestas, permitindo antes que sejam mais ou menos efectivas), modulação
sináptica, neurogénese (formação de neurónios), servem de guia durante a migração
neuronal (quando os neurónios estão maduros têm de migrar até à zona em que vão
operar em tal intervindo as células gliais), e funcionam ainda como neurotóxicos de
desenvolvimento de certas doenças.

DIFERENÇAS ENTRE NEURÓNOS E CÉLULAS GLIAIS:

Todas as células gliais são células ramificadas – são células dendríticas – mas as
células gliais nunca apresentam axónio. Por outro lado, ao contrário dos neurónios, que
nunca se dividem, as células gliais conservam a capacidade de se dividir ao longo de
toda a sua vida. Estas células diferem ainda dos neurónios pelo facto de não
responderem a potenciais de acção, apenas apresentando pequenas varuiações do
potencial de membrana (de -90mV a -70mV). As glias não participam em sinapses, mas
podem estabelecer conexões entre outras células gliais através de junções GAP.

ASTRÓCITOS

Os astrócitos podem ser de dois tipos: protoplásticos ou fibrosos (Fig.) e existem em


maior número. Um astrócito pode ligar-se com neurónios (formando lâminas) e com
vasos sanguíneos. A barreira hemato-encefálica é sobretudo formada por astrócitos.
Ultraestrutura: Do ponto de vista ultra-estrutural, o núcleo é mais heterocromático
do que o dos neurónios, possuem mais lisossomas e o citosqueleto é sobretudo formado
por feixes de filamentos intermédios. Como os astrócitos se unem por junções GAP,
quando um dos astrócitos cadeia é activado pelo cálcio, os outros astrócitos da mesma
cadeia também.

Características Imunocitoquímicas:

- GFAP e Vimentina (componentes do citosqueleto)

- S100 (proteína ligante do cálcio)

- Glutamina-sintetáse (produz o glutâmico, neurotransmissor)

- Transportador do Glutamato típico dos astrócitos

Funções dos Astrócitos:


- Participar na barreira hematoencefálica (troca de substâncias entre o sangue e o
sistema nervoso)

- Nutrição (produzem a energia para o neurónio, mas também para modular a sinapse
– a partir do sangue);

- Controlar o nível iónico (“amortização” de K+)

- Transporte iónico (canais de Na+ dependentes de voltagem, canais de Cl-, Bombas


de Na+, Bombas de bicarbonato)

- Possuem receptores de neurotransmissores: Glutaminérgicos, Gabaérgicos,


Adrenérgicos, ATP, Serotominérgicos, Muscarínicos, Dopaminérgicos, Susbtãncia P,
Opióides).

Modulação Sináptica: Os astrócitos permitem recaptar neurotransmissores que


intervêm na sinapse (pós-sinápse) ou neurotransmissor d pré-sináptico que se ligam aos
seus receptores.

Neurogénese e Desenvolvimento: Os astrócitos conseguem sintetizar factores


neutróficos capazes de gerar neurónios, glia, entre outros.

Astrocinoma: Ao acumular de células gliais que vão afectar as células do tecido e


que acabam por destruir tudo o que encontram chama-se astrocinoma. Embora em
patologias como a epilepsia, Parkinson, Hutington, entre outros, a responsabilidade não
seja do astrócito, é sabido que o seu metabolismo é alterado. O mesmo acontece em
situações de isquémia cerebral, Alzheimer, SIDA e dor crónica, em que há aumento da
secreção de elementos citotóxicos.

Tipos especiais de astrócitos:

- Glia de Bergman (existente no cerebelo);

- Astrócitos Alados (que rodeiam o cerebelo e estruturas que não têm núcleo interior,
formando glomérulos muito ricos em sinapse);

- Células de Müller (existentes na retina que vão de uma camada à outra)

GLIA RADIAL

Inicialmente pensava-se que a glia radial era composta por astrócitos, mas na
realidade são apenas parentes próximos. Do ponto de vista imunocitoquímico, possuem
moléculas típicas dos astrócitos (GFAP, Vimentina, GLAST, BLP) e moléculas típicas
de células percursoras (Nestina, RC1 e RC2).

Funções:

- Guia para a migração de neuroblastos durante o


desenvolvimento do encéfalo;

- Percursor de neurónios e células gliais;

- Participa na regulação do encéfalo.

EPENDIMOCITOS

Com uma estrutura muito própria , geralmente são todos ciliados, mas quando são
maturados alguns perdem os cílios. A placa coroidea é formada por blocos de
ependimocitos, ou seja, sacos que estão dentro da cavidade encefálica.

Funções: Os ependimocitos constituem uma barreira física e mecânica e participam


no movimento do líquido cefaloraquídeo. Têm ainda funções de secreção, transporte de
substâncias e participam na neurogénese da zona subenpendimal dos ventrículos laterais.
Entre a principal patologia dos ependimocitos cita-se o ependinoma, isto é, o tumor do
ependimo.
CÉLULAS GLIAIS ESPECIAIS:

a) Oligodendrocitos: São células geralmente mais densas do que os astrócitos e


portanto mais hterocromáticas, que estão por vezes associadas com estruturas com
bainhas de mielina. Os oligodentrocitos podem classificar-se em claros (mais imaturos),
médios e os escuros (maduros). Esta característica encontra-se relacionada com a
heterocromatina.

Todos os oligodendrocitos são células que enviam prolongamentos a outras células


do sistema nervoso, formando bainhas de mielina.

De acordo com a sua localização, podem classificar-se como perivasculares


(próximos de vasos sanguíneos), perineuronais (próximo de neurónios) ou
interfasciculares (próximos de feixes). Do ponto de vista imunocitoquímico, convirá
referir que existem proteínas que permitem marcar os oligodendrócitos.

Têm como funções a formação da bainha de mielina, funções de suporte, funções


tróficas (factor de crescimento – NGF, BDNF, NT3, neuroregulinas, GDNF, etc.), bem
como a regulação do metabolismo neuronal. Sabe-se actualmente que participam em
doenças desmielinizantes.

b) Células de Schwan: Enquanto a mielinização dos axónios do SN Central se faz


através dos oligodendrócitos (em que um único oligodendrócito pode formar várias
camadas de mielina), no SN Periférico essa função é desempenhada pelas células de
Schwan, na relação de uma célula de Schwan para cada axónio.

Processo de mielinização: Uma célula de Schwan rodeia o axónio e vai rodando


em espiral gerando a bainha de mielina.
4.2. MIELINA

O controlo do processo de mielinização é determinado de acordo com a função dos


axónios, o seu diâmetro, factores neutróficos libertados pelos neurónios, pela actividade
eléctrica e pela participação do ATP libertado pelos neurónios.

A mielinização não está relacionada com o desenvolvimento do neurónios, já que


um neurónio maduro pode perfeitamente vir a mielinizar-se. Os neurónios amielínicos,
para além de mais lentos, tendem a ser mais pequenos. Como vimos anteriormente, um
axónio tem bainhas de mielina separadas por espaços – Nódulos de Ranvier – entre os
quais se situam os segmentos internodais.

Onde há mielina não pode haver sinapse, pelo que, um terminal sináptico pode
perfeitamente aproveitar os Nódulos de Ranvier para fazer sinapse.

A bainha de mielina é formada por lípidos (cerca de 75% - rica em


glicoesfingolípidos) e proteínas (cerca de 25%, entre as quais, a proteína básica da
mielina (MBP), proteína proteolipídica (PLP), glicoproteína do oligondendrócito (MOG)
e proteína associada à mielida (MAG).

Quando não estão a formar mielina, os oligodendrócitos/células de Schwan podem


participar na recepção de neurotransmissores ou em canais de cálcio.

Entre as patologias da mielina ao nível no SNC cita-se a esclerose múltipla, atoxias


progressivas, demenciais associadas a Hutington, surdez neurosensorial, lesões no nervo
óptico (no qual todas as células são mielinizadas, e portanto acaba por ser sempre um
dos primeiros a ressentir-se. Crê-se que a esclorose múltipla se deve a +porções em que
se perde a mielina e depois não se restaura, devendo-se provavelmente a um processo
auto-imune.

Regeneração do SNC:

Quando é um neurónio que se perde, a tendência será arranjar um outro neurónio que
cumpra a mesma função.
No SN Periférico há alguns processos de regeneração da mielina utilizando um
elemento sintético (p.ex. glia envolvente), para que desempenhe em parte as funções da
mielina. Outra hipótese é eliminar a área lesada e colocar uma comunicação (geralmente
um filamento). O grande problema é que ao nível do SNC estes canais acabam
frequentemente por bloquear, tornando-se inefectivos.

UNIDADE 2 - NEUROFISIOLOGIA

5. Embriogénese do Sistema Nervoso

5.1. Anatomia comparada

A forma mais simples de sistema nervoso encontra-se no filo dos celenterados,


do qual fazem parte as hidras, as medusas e os pólipos. Esses animais possuem
células nervosas distribuídas por todo o organismo, formando uma espécie de
rede. Nos vermes menos evoluídos, platelmintos e nematelmintos, o sistema
nervoso ainda é primitivo, mas já existe um certo grau de polarização, além de
gânglios cerebriformes e fibras nervosas longitudinais.

Os anelídeos se situam no estágio seguinte da escala evolutiva. O sistema


nervoso desses animais consta de um par de gânglios cerebriformes unidos por
um anel periesofágico aos gânglios metaméricos. Ocorrem também nervos
laterais. Os artrópodes, quanto ao sistema nervoso, não diferem muito dos
anelídeos a partir dos quais evoluíram.

No filo dos moluscos, a estrutura nervosa é muito diferenciada e atinge seu mais
alto grau de evolução na classe dos cefalópodes (lulas, polvos, náutilos etc).
Nesses animais, os diferentes gânglios se fundem para constituir a massa
cerebral, na qual se distingue uma parte encarregada da função visual e outra à
qual compete regular o funcionamento das brânquias, das vísceras etc.

Nos vertebrados, o sistema nervoso divide-se em central (cérebro e medula


espinhal) e periférico (nervos cranianos e raquidianos, além do sistema nervoso
autônomo ou vegetativo). O encéfalo divide-se em três regiões: o prosencéfalo,
ou encéfalo anterior; o mesencéfalo, ou porção média; e o rombencéfalo, ou
parte posterior. O segmento anterior pode dividir-se ainda em telencéfalo
(integrado pelos lóbulos da olfação e os hemisférios cerebrais) e diencéfalo (do
qual fazem parte o epitálamo, o tálamo e o hipotálamo). A seção intermediária
contém os lóbulos ópticos; a posterior também diferencia-se em metencéfalo (do
qual faz parte o cerebelo) e mielencéfalo (constituído pelo bulbo raquidiano, que
se liga à medula espinhal).

A complexidade anatômica do encéfalo está relacionada com o enorme número


de funções e processos sensitivos por ele regulados. Geralmente, observa-se nos
peixes um menor desenvolvimento do cérebro em benefício dos órgãos olfativos.
À medida que se avança na escala evolutiva, as dimensões do cérebro aumentam
até alcançarem o tamanho máximo nos primatas e no homem, em que ocorrem
circunvoluções e separação do cérebro em hemisférios. A porção intra-
raquidiana do sistema nervoso é a medula espinhal, a partir da qual surgem os
pares de nervos raquidianos, que inervam os diferentes músculos, glândulas e
vísceras. Nos vertebrados quadrúpedes observam-se na medula as
intumescências cervical e lombar, que correspondem à emergência de nervos que
se destinam aos membros anteriores e posteriores. O sistema nervoso autônomo
é uma unidade funcional complementar, constituída pelos sistemas simpático e
parassimpático, dos quais depende o equilíbrio da vida orgânica. A função do
sistema nervoso nos animais superiores é complementada pela acção do sistema
endócrino, encarregado de regular a secreção hormonal.

5.2. Genese e amadurecimento so SN

O sistema nervoso origina-se do folheto embrionário mais externo, o


ectoderma. O inicio da formação dá-se por um espessamento do ectoderma
situado acima da notocorda, formando a placa neural. Esta cresce
progressivamente, espessa-se e adquire um sulco longitudinal, o sulco neural,
que se aprofunda para formar a goteira neural. O tubo neural forma-se da fusão
dos lábios da goteira neural. O ectoderma, ainda não diferenciado, fecha-se sobre
o tubo neural, isolando-o do meio externo. A crista neural forma-se a partir de
células que se desenvolvem de cada lado dos lábios da goteira neural. O sistema
nervoso central (SNC) origina-se do tubo neural; o sistema nervoso periférico
(SNP) e outros elementos originam-se da crista neural (Machado, 1993).

1- Prosencéfalo
2- Mesencéfalo
3- Rombencéfalo
4- Futura medula espinhal
5- Diencéfalo
6- Telencéfalo
7- Mielencéfalo, futuro bulbo
8- Medula espinhal
9- Hemisfério cerebral
10- Lóbulo olfatório
11- Nervo óptico
12- Cerebelo
13- Metencéfalo

Nas cristas neurais diferenciam-se os neurónios sensitivos, cujos


prolongamentos centrais ligam-se ao tubo neural, e os prolongamentos
periféricos aos dermátomos dos somitos, á medula da glândula supra-renal, ás
células de Schwann e a outros elementos.

Em determinada idade do embrião temos o tubo neural no meio, rodeado de


goteira nas extremidades. O crescimento das paredes do tubo neural dá origem a
seis lâminas. As duas lâminas alares e as duas basais derivam neurónios e
núcleos ligados respectivamente á sensibilidade e á motricidade.

A parte cranial do tubo neural origina o encéfalo do adulto; dilata-se


constituindo o encéfalo primitivo, ou arquencéfalo. A parte caudal origina a
medula do adulto. No arquencéfalo distinguem-se três dilatações: prosencéfalo,
mesencéfalo e rombencéfalo. Com o subsequente desenvolvimento do embrião,
do prosencéfalo originam-se o diencéfalo e telencéfalo. Do rombencéfalo
originam-se o metencéfalo e o mienlencéfalo. O telencéfalo compreende uma
parte mediana e duas porções laterais. As vesículas telencefálicas laterais
crescem muito formando os hemisférios cerebrais que encobrem quase
completamente aquela parte mediana e o diencéfalo.

A "luz" da medula primitiva forma no adulto o canal central da medula. A


cavidade dilatada do rombencéfalo forma o 4° ventrículo e aquelas do diencéfalo
e da parte mediana do telencéfalo formam o 3° ventrículo. A "luz" do
mesencéfalo constitui o aqueduto cerebral que une o 3° ao 4° ventrículo. A "luz"
das vesículas telencefálicas laterais formam os ventrículos laterais, unidos ao 3°
ventrículo pelos forâmenes interventriculares. Com exceção do canal central da
medula, todas estas cavidades contêm um líquido cérebro-espinhal ou liquor.

A diferenciação da estrutura cerebral começa durante o período


embrionário, aproximadamente seis semanas após a concepção, e vai até quatro
semanas depois do nascimento.

Desde muito cedo na vida fetal o cérebro, em termos de peso bruto, está
mais próximo do seu estado adulto, do que qualquer outro orgão do corpo,
exceto talvez o olho. No nascimento ele tem em média 25% do seu peso adulto.
Aos seis meses quase 50%, aos dois anos e meio cerca de 75%, aos cinco anos
90% e aos 10 anos ele tem 95%.

O córtex cerebral no feto torna-se identificável com cerca de oito semanas.


Daí em diante, ele aumenta gradualmente em espessura, primeiro
uniformemente, mas por volta da 2° semana aumenta diferenciadamente em cada
parte. Por volta da 26° semana a maior parte do córtex mostra a estrutura típica
de seis camadas, um tanto indeterminadas, de células nervosas com uma camada
de fibra no centro.

De acordo com o desenvolvimento das diferentes partes do cérebro,


podemos esquematizar alguns periodos de evolução sendo o 1° período no feto,
até o 2° mês de gestação, permanecendo numa quase imobilidade. Num 2°
período, da 5° a 8° semana de gestação, aparecem movimentos espontâneos.

Do 2° até o 4° mês de vida intrauterina aparecem os primeiros movimentos


neurais, ou seja, aqueles comandados pelo sistema nervoso, que são mais ativos,
rápidos, coordenados e amplos. Desencadeiam-se por excitações diversas,
podendo ser considerados ainda reflexos. Aparecem no dorso e nas mucosas,
entre eles o oral e o anal, sendo o reflexo oral, resposta de fechamento da boca
ou movimento de sucção e deglutição, um dos mais precoces e constantes.
Observam-se também movimentos curtos das extremidades, são o reflexo de
flexão, de extensão, de preensão da mão e o reflexo plantar. Esboçam-se também
reflexos tônico-cervicais desencadeados por modificações da posição da cabeça
em relação ao corpo e reflexos posturais desencadeados por mudanças de
posição do corpo no espaço. Esses reflexos são conseqüéncias da diferenciação
do neurônio motor periférico da placa matriz dos receptores periféricos e das
células sensoriais. Há uma conexão entre os neurônios sensitivos externos e os
motores, além de sensibilidade proprioceptiva em desenvolvimento.

Os receptores do sistema vestibular do feto são excitados pelos movimentos


do liquido amniótico, ocasionando, assim, uma diferenciação das células da via
vestibular. Esses movimentos estimulam também a diferenciação das células da
raiz ventral da medula e as da raiz dorsal. Podemos dizer também que as raízes
motoras estão mielinizadas antes das sensitivas. A estimulação vestibular
provoca também contrações do músculo do pescoço, tronco, membros e globo
ocular, que estimulam os receptores dos músculos, articulações e tendões.

Do 4° ao 6° mês de vida intrauterina a diferenciação e delimitação das


reações motoras e o aparecimento das vias respiratórias são os contecimentos
mais importantes. Os movimentos são mais rápidos e os reflexos transformam-se
em cruzados. O reflexo plantar pode tornar-se maduro, os cervicais e posturais
são mais constantes e precisos; aparecem os reflexos ósteo-tendinosos, e o de
preensão é mais evidente. Anatomicam ente há uma maior maturação da parte
alta do tronco encefálico e da formação reticular. O final da vida intrauterina, do
6° ao 9° mês, caracteriza-se pela observação de reflexos e movimentos
espontâneos. O reflexo patelar, o aquileu e outros são mais evidentes; o reflexo
cutâneo-abdominal consolida-se e aparece, no 7° mês, o reflexo pupilar.
Também o tônus muscular se apresenta consolidado.

No nascimento o córtex é muito pouco desenvolvido e sua aparência não


sugere que muitas funções corticais, ou mesmo algumas, sejam possíveis. Dois
claros gradientes de desenvolvimento ocorrem durante os primeiros dois anos. O
primeiro refere-se á ordem em que as áreas funcionais gerais do cérebro se
desenvolvem, o segundo á ordem em que as estruturas se desenvolvem dentro
das primitivas áreas correspondentes. A parte mais adiantada do córtex é a área
motora primária, em seguida vem a área somato-sensitiva primária, depois a área
visual primária e então a área auditiva primária. Todas as áreas de associação
desenvolvem-se depois das áreas primárias correspondentes. Por volta do fim do
1° mês, a aparência da área motora primária do tronco e dos membros superiores
sugere que ela talvez esteja funcionando. Aos três meses aproximadamente todas
as áreas primárias estão relativamente maduras, sugerindo que a visão e a
audição simples são funcionais ao nível das áreas primitivas corticais, mas não
ao nível que envolva qualquer função interpretativa dependente da área de
associação. Nesta idade, a área motora constitui claramente a parte mais
desenvolvida do córtex, e dentro destas as áreas mais desenvolvidas são: mão,
braço e parte superior do tronco. Por volta dos seis meses, parte destas áreas
progrediu mais no seu desenvolvimento, e muitas das fibras exôgenas que
chegam ao córtex já estão completamente desenvolvidas, particularmente rápido
no córtex que controla os movimentos oculares.

Entre seis e 15 meses a taxa de desenvolvimento é acelerada no lobo


temporal, no cingulo e na insula, vindo em seguida o occipital, e por último os
lobos parietal e frontal, que já passaram pela maior parte do seu
desenvolvimento. A área motora primária ainda está ligeiramente adiantada em
relação a todas as outras, mas dentro dela a área da perna ainda continua
atrasada. A área de associação visual já amadureceu um pouco e está mais
adiantada que a auditiva. Por volta dos dois anos, as áreas primárias sensitivas
alcançam o desenvolvimento da área motora e as áreas de associação
progrediram um pouco mais. Mas alguns núcleos internos, principalmente o
hipocampo, relacionado ás emoções e á memória, ainda são claramente imaturas.

O cérebro continua a desenvolver-se, no nível macroscópico, na mesma


sequência, pelo menos até a adolescência e talvez até a idade adulta. A
mielinização das fibras nervosas é somente um sinal de maturidade e as fibras
podem conduzir impulso antes da mielinização. Como regra geral, as fibras que
transmitem impulsos para áreas corticais específicas sofrem mielinização, ao
mesmo tempo das que transmitem impulsos destas áreas para a periferia; assim a
maturação ocorre em arcos reflexos ou unidades funcionais, em vez de ocorrer
em áreas localizadas. Vários tractos como, por exemplo, o auditivo e o visual
ainda não completaram sua mielinização, mesmo três ou quatro anos depois do
nascimento. As fibras que ligam o cerebelo ao córtex cerebral e que são
necessárias para o controle preciso dos movimentos voluntários, somente
começam a mielinizar-se depois do nascimento e só completam a mielinização
aos quatro anos.

Os neurónios da formação reticular, envolvida no processamento das


diversas nuancias da atenção e da consciência, continuam a mielinizar pelo
menos até a puberdade e talvez mesmo depois. A mielinização também é
prolongada em partes do encéfalo anterior perto da linha média. Sugere-se que
isto tem a ver com o desenvolvimento prolongado dos padrões de
comportamento relacionados com atividades metabólicas viscerais e hormonais
durante a vida reprodutora. Desde o nascimento a massa encefálica vai
acelerando seu nível metabólico e intensifica-se a atividade mental.
UNIDADE 3 - NEUROPSICOLOGIA

1. Introdução

De acordo com Risuenõ, a Neuropsicologia é o estudo das relações


existentes entre as funções cerebrais, a estrutura psíquica e a sistematização
sociocognitiva nos seus aspectos normais e patológicos, abarcando todos os
períodos evolutivos.

A Neuropsicologia, é pois a ciência que estuda as actividades mentais


superiores nas suas relações com as estruturas cerebrais que as sustentam, ou
seja, no fundo, o estudo da relação entre a função cerebral e o comportamento.

Entre os vários objectivos da neuropsicologia, podemos citar (Peréa Bartolomé):

· Descrição científica das actividades neuronais superiores e sua


patologia:

· Diagnóstico clínico neuropsicológico e topográfico cerebral que


subjaz a uma perturbação comportamental;

· Conhecimento da fisiopatologia das alterações observadas


(organizações pouco frequentes, lesões cerebrais…);

· Estudo da influencia da experiência e da aprendizagem sobre o


substrato neurofuncional;

· Terapêutica racional e fisiopatológica;

· Realização de programas de investigação.

A partir da neuropsicologia surge a necessidade de estudar a existência de


perturbaões cognitivas, avaliar a sua intensidade, definir as suas características e
estabelecer enfoques terapêuticos adequados.

A neuropsicologia oferece uma informação crucial para o diagnóstico


neurológico. Ajuda a compreender como a condição neurológica afecta o
paciente e proporciona um método importante para solucionar e avaliar as
diferentes formas de tratamento.

A neuropsicologia é pois uma disciplina independente, com métodos


próprios e procedimentos próprios. Por exemplo enquanto o sintoma neurológico
tem uma localização preditiva, o sintoma neuropsicológico não pode localizar-se
numa zona isolada do cérebro, dependendo de um sistema funcional.
1.1. SISTEMA CEREBRAL FUNCIONAL

“Sistema dinamicamente estável de relação entre diferentes estruturas,


áreas corticais ou subcorticais, cada uma das quais aponta um determinado
factor cognitivo para o estabelecimento de uma determinada função
psocológica”.

Cada estrutura cerebral aponta o seu factor cognitivo de forma hierarquizada


e específica. Trata-se de uma aquisição ontogenética unicamente realizada
através da aprendizagem (espontânea e sistemática, prática e linguística), que o
indivíduo realiza no decurso da sua vida em condições sociais de existência
(família, trabalho, estudos, etc.).

A existência da relação social entre o Homem e o mundo externo deve ser


considerada como a fonte básica da origem das mais elevadas formas de conduta
consciente.

1.2. PRESSUPOSTOS DA NEUROPSICOLOGIA

Norman Geshwind permitiu a reabilitação dos "fazedores de esquemas"


contrariando a ideia de que aquando uma lesão cerebral tudo era afectado
porque "tudo tem a ver com tudo". O próprio sistema nervoso revelou ser muito
mais específico e muito menos equipotente do que Lashley considerou. É neste
contexto que nos aparece o estudo dos padrões de desempenho cognitivo em
pacientes cérebro-lesionados pela Neuropsicologia Cognitiva.

De acordo com Ellis & Young (cit in Eysenck, 1990), o maior objectivo da
neuropsicologia cognitiva consiste em retirar conclusões sobre os processos
cognitivos normais, intactos, a partir da observação de sujeitos com lesões
cerebrais. A neuropsicologia cognitiva permite-se pois a afirmar que os padrões
de sintomas observados não poderiam ocorrer se o sistema cognitivo normal,
intacto, não estivesse organizado segundo certos princípios.

Para Eysenck (1990), a identificação dos aspectos da cognição que estão


intactos ou afectados, revelou-se de grande importância por duas razões
principais:

1) O desempenho cognitivo de pacientes cérebro-lesionados pode ser


frequentemente explicado pelas teorias da psicologia cognitiva. Tais teorias
especificam os processos ou mecanismos envolvidos no funcionamento
cognitivo normal, sendo em princípio possível apelar para muitos dos
problemas dos sujeitos cérebro-lesionados em termos de dano selectivo de
alguns desses mecanismos (ideia em si incongruente com o postulado por Karl
Lashley).

2) Pode utilizar-se a informação proveniente dos sujeitos cérebro-


lesionados para propor bem como para rejeitar teorias propostas pelos
psicólogos cognitivistas.

Na neuropsicologia cognitiva assume-se a existência de uma relação


relevante entre o forma como o cérebro se encontra organizado ao nível físico e
o modo como a mente e os seus módulos cognitivos estão organizados -
Isomorfismo.

Outro princípio da neuropsicologia cognitiva consiste na Transparência,


ou seja, “o desempenho patológico observado constituirá a base para discernir
qual o componente ou módulo do sistema que está perturbado” (Caramazza cit
in Ellis & Young, 1991).

Este princípio encontra-se mais uma vez em clara contradição com a ideia
da equipotencialidade expressa por Karl Lashley. No entanto convirá referir
que de acordo com Ellis & Young (1991), o princípio da transparência é um
dos menos consensuais em neuropsicologia cognitiva, principalmente no que
concerne ao “grau” de transparência. Contudo é também um dos pilares
fundamentais na pesquisa neuropsicológica.

Um terceiro princípio - Subtractividade - pressupõe que o desempenho dos


pacientes cérebro-lesionados reflecte o aparato cognitivo total menos aqueles
sistemas perturbados.

Todo o império da neuropsicologia cognitiva é baseado na assunção de que


existe vários Módulos ou processadores cognitivos no cérebro. Estes módulos,
funcionam de uma forma relativamente independente, de tal modo que o dano
num módulo não afecta directamente os outros módulos (Eysenck, 1990).

As evidências para perspectiva da neuropsicologia cognitiva, e em grande


parte os aspectos que refutam a teoria de Lashley, assentam na descoberta de
Dissociações, as quais ocorrem quando um paciente desempenha normalmente
uma tarefa (tarefa A) mas não outra (tarefa B). No entanto, estas diferenças
podem dever-se não à lesão cerebral em si, mas antes a um diferente grau de
dificuldade entre as duas tarefas.

Este problema resolve-se optando pelo estado de Duplas Dissociações, que


ocorrem quando um paciente apresenta desempenho normal na tarefa A mas
apresenta dificuldades na tarefa B, enquanto outro paciente desempenha com
normalidade a tarefa B, situando-se as dificuldades na tarefa A (Eysenck,
1990).

Uma dupla dissociação indica que duas tarefas fazem uso de módulos
diferentes pelo que uma série de duplas dissociações podem ser utilizadas para
promover um mapa-esboço do nosso sistema cognitivo-modular, algo que
Lashley considerava impensável.

O método da neuropsicologia cognitiva tem assim permitido grandes


contributos para o conhecimento do funcionamento da “caixa negra” selada e
tão temida pelo behaviorismo. E pensar que nada disto seria possível se
considerássemos ainda que qualquer parte de uma área funcional podia levar a
cabo um comportamento particular...
2. Exploração Neurológica

Existe uma especificidade da informação que está definida anatomicamente e


que é o resultado do processo evolutivo do SNC (vias ópicas, acústicas,
ternoalgesia, etc.). Esta especificidade é conhecida como codificação neuronal.
Ao longo da vida organizam-se trajectórias específicas de circulação da
informação, próprias de cada sujeito.

A avaliação neuropsicológica engloba a História Clínica (anamnese,


antecedentes pessoais e familiares), a exploração física geral, a exploração
neurológica e o estudo neuropsicológico.

A exploração neurológica deve contemplar a avaliação do nível de


consciência e estado mental, a exploração dos pares canianos, a exploração do
sistema motor (força, massa e tónus muscular), exploração da sensibilidade
(superficial e profunda), exploração de reflexos (superficial e profunda),
coordenação, a marcha e a estagnação (estar de pé).

4. Patologia Neurológica

O funcionamento normal do cérebro pode ser afectado por diferentes


patologias: diversas condições patológicas são potencialmente capazes de
produzir alterações neuropsicológicas: AVCs (Acidentes Vasculares Cerebrais),
Traumatismos Craneo-encefálicos, Tumores, Infecções, Perturbações
convulsivas (Epilepsia), Doenças degenarativas e doenças desmielinziantes são
alguns exemplos.

3.1. ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL

O termo AVC designa qualquer perturbação no funcionamento cerebral


originada por uma condição patológica dos vasos sanguíneos. A patologia
vascular pode observar-se nas paredes dos vasos, por acumulação de material no
seu interior, por alteração na permeabilidade ou por ruptura das suas paredes.

Dois sistemas arteriais diferentes permitem a irrigação sanguínea do cérebro:


o sistema das artérias carótidas internas (sistema carotídeo) e o sistema das
artérias vertebrais (sistema vertebral ou vertebro-basilar).

As artérias carótidas internas entram no crâneo pela base, dividindo-se em


ramificações secundárias (artéria oftálmica, artéria coroidal e artéria
comunicante posterior), e uma das artérias principais: a artéria cerebral anterior e
a artéria cerebral posterior.

A artéria cerebral anterior irriga a face anterior, superior e medial do lóbulo


frontal e a parte superior e medial do lobo parietal. A face lateral dos lóbulos
frontal, temporal e parietal são territórios da artéria cerebral média.

As artérias vertebrais entram separadamente pela base do crâneo e unem-se


á altura da protuberância para formar a artéria basilar. Da artéria basilar
emergem as artérias cerebelosas e as artérias cerebrais posteriores que irrigam o
lóbulo occipital e a porção inferior, basal e face interna do lóbulo temporal.

A artéria cerebral média e a artéria cerebral posterior unem-se entre si por


meio da artéria comunicante anterior, e as artérias cerebrais anteriores unem-se
por meio da artéria comunicante anterior. Estas interconexões de artérias
constituem o chamado Polígono de Willis.
Lóbulo Frontal
Superfície Lateral Artéria cerebral média
Superfície Medial Artéria cerebral anterior
Superfície Inferior Artéria cerebral média e anterior

Lóbulo Temporal
Superfície Lateral Artéria cerebral média
Superfície Medial Artéria cerebral posterior, média, coroidea e comunicante
posterior
Superfície Inferior Artéria cerebral posterior

Lóbulo Parietal
Superfície Lateral Artéria cerebral média
Superfície Medial Artéria cerebral anterior

Lóbulo Occipital
Todas as superfícies Artéria cerebral posterior
Corpo caloso Artéria cerebral anterior
Hipocampo Artéria coroidea anterior, ramos da artéria coroidea posterior da
artéria cerebral posterior
Fórnix Artéria cerebral anterior e artéria cerebral posterior

Causas dos AVCs:


· Traumatismos craneo-encefálicos;
· Doenças hematológicas (colesterol….)
· Hipertensão arterial;
· Aneurismas;
· Outras anomalias artério-venosas.

Factores de Risco:
· Tabaco;
· Álcool;
· Hipertensão arterial;
· Diabetes;
· Etc…

Existem basicamente dois tipos de AVSc: Isquémico e Hemorrágico:

Isquemia

O termo isquemia utiliza-se para designar a diminuição ou interrupção do


fluxo sanguíneo, devido a uma trombose – em que existe a criação de uma
formação que interrompe o fluxo sanguíneo no próprio local da sua formação –
ou a embolia – neste caso, um coágulo bolha de ar ou outro material tapam o
vaso sanguíneo depôs de ter sido transportado pela corrente sanguínea.

Também pode aparecer uma redução do fluxo sanguíneo cerebral devido ao


endurecimento das artérias – arteriosclerose.

Na isquemia cerebral permanente, produz-se um enfarte cerebral e morte


neuronal. A morte neuronal pode resultar de toxinas que se produzem quando a
célula sofre a falta de irrigação sanguínea normal.

No acidente isquémico transitório, estamos perante uma situação


neurológica focal, cuja recuperação completa (ou aparentemente completa),
aparece dentro das primeiras 24H após a sintomatologia. O paciente apresenta
uma perda súbita da função neurológica (ou neuropsicológica), por um curto
período de tempo. Crê-se que esta situação poderá estar subjacente à amnésia
global transitória.

Hemorragias

Os AVCs hemorrágicos são secundários à ruptura de um vaso. A severidade


pode variar de uma pequena hemorragia, por vezes assintomática, até uma
hemorragia massiva que produz a morte. Existem hemorragias
extraparenquimatosas, intraparenquimatosas e intraventriculares.

As hemorragias extraparenquimatosas podem ocupar e/ou entender-se ao


espaço epidural, subdural, ou subaracnoideo, dando lugar a quadros clínicos
neurológicos e neuropsicológicos diferentes.

A causa mais frequente de AVCs hemorrágicos é a hipertensão arterial. As


hemorragias produzidas pela hipertensão são geralmente intracerebelares.
Quando se tratam de hemorragias grandes, produz-se a afectação de outras
estruturas cerebrais e frequentemente o sangue invade os ventrículos cerebrais.

A segunda causa mais frequente de AVC hemorrágico é a ruptura de um


aneurisma. Os aneurismas são alterações nas paredes das artérias devido a
defeitos na plasticidade das mesmas. Observam-se como bolsas e são
frequentemente observados em artérias grandes, como seja a carótida. Apesar do
aneurisma se dever geralmente a defeitos congénitos, podem desenvolver-se por
hipertensão, arteriosclerose, embolias, infecções, entre outras.

Os sintomas mais frequentes nos aneurismas são cefaleias, sintomas ficais


correspondentes aos sítios lesados como consequência da pressão focal, e
hemorragia. Cerca de 6,5% das pessoas têm aneurismas, das quais a maioria são
mulheres. Os aneurismas são relativamente raros nas crianças (prevalência de
2%). Os aneurismas podem ser não rasgados assintomáticos, não rasgados
sintomáticos, ou rotos.

Outra das possíveis causas dos AVCs são os Angiomas – malformações dos
capilares que resultam em anomalias do fluxo sanguíneo cerebral. Estas
malformações podem variar em tamanho, desde uns poucos milímetros de
diâmetro, até tamanhos grandes que podem produzir um efeito de massa. Da
mesma forma que os aneurismas, apresentam paredes finas e portanto facilmente
se rompem. A ruptura de uma malformação grande pode produzir hemorragia.

Sintomatologia do AVC:

A forma de apresentação dos AVCs é muito característica. Produzem de uma


forma súbita um deficit neurológico focal (p.ex. hemiplesia, afasia…). Em casos
graves, podem apresentar-se associados a um estado de coma. O começo do
deficit neurológico pode durar segundos, minutos, horas ou dias, dependendo do
tipo de AVC. Nos AVCs embólicos, o início é muito súbito e a deficit
neurológico alcança rapidamente a sua manifestação clínica máxima.

A recuperação observa-se durante dias, horas ou segundos após o AVC. O


deficit neurológico ou neuropsicológico reflecte o local e o tamanho da lesão. O
TAC e as Ressonâncias Magnéticas podem demonstrar a presença de
hemorragias, enfartes, aneurismas e deformações ventriculares. A arteriografia
descobre a presença de oclusões dos grandes vasos sanguíneos.

3.2. TRAUMATISMOS CRÂNEO ENCEFÁLICOS

Os traumatismos craneo-encefálicos (TCE), são a causa de lesão cerebral mais


frequente em pessoas com menos de 40 anos. Os TCE podem afectar o cérebro
de várias maneiras:

· Directamente o cérebro, como nu caso de uma ferida por arma de


fogo;
· Podem entupir o fluxo sanguíneo originando uma isquémia;

· Podem causar hemorragias e hematomas;

· Inflamação como consequência de trauma (edema), com aumento da


pressão intracerebral;

· Se há fractura do crâneo (traumatismo aberto), aumenta-se a


probabilidade de infecção e as “cicatrizes” que deixam no TCE pode
converte-se em foco epiléptico cujas manifestações clínicas
aparecerão meses após o traumatismo.

O TCE é um dano no cérebro (tende a afectar o encéfalo) de natureza não


degenerativa, causado por uma força externa que pode produzir uma diminuição
ou alteração do estado de consciência, resultando numa deterioração do
funcionamento das capacidades cognitivas e físicas.

Tradicionalmente, os TCE classificam-se em abertos (quando há uma


abertura) ou fechados (sem abertura). Nos TCE abertos, o crâneo rompe e
pequenos fragmentos do osso penetram no parênquima cerebral. Geralmente as
pessoas que sofrem este tipo de traumatismo não sentem perdas de consciência.
A sua causa mais frequente é o tiro de arma de fogo. Nos TCE fechados, o
cérebro sofre os efeitos mecânicos da rápida aceleração e desaceleração, não
chegando a haver fractura do crâneo.

De acordo com o tipo de lesão cerebral, os TCE podem também classificar-


se como focal (afecta uma zona limitada ou concreta), difuso (afecta uma função
global), ou misto (soma dos dois critérios anteriores).

Se o critério for a duração do coma, temos TCE graves (com mais de 6 horas
de coma), moderado (1 a 6 horas) e leve (menos de 1 hora).

Agente Externo Causal do TCE: As principais causas de TCE são os


acidentes de viação, os acidentes de trabalho, quedas fortuitas, agressões, entre
outros.

Factores de Risco:Os principais factores de risco são a idade (maior


incidência entre os 15 e os 24 anos, diminuindo entre os 25 e os 60 anos e
voltando a aumentar após os 60 anos, idade em que surgem os casos de maior
mortalidade e recuperação mais lenta e duvidosa); o sexo (3 homens por cada
mulher – devido ao facto do homem ter geralmente o papel mais activo e
profissões mais perigosas; com a emancipação da mulher, estes números
tenderão certamente a aproximar-se); a profissão (mais frequente em profissões
de risco) e a ingestão de tóxicos (álcool, drogas…).

Tipo de dano cerebral traumático:

Do ponto de vista biomecânico, na génese da lesão que causa o TCE


intervêm forças estáticas (compressivas) e dinâmicas, de força e movimento de
diversas estruturas encefálicas. Segundo as leis da física, a aplicação de uma
força que acelera e desacelera num corpo, leva a uma série de impactos
mecânicos e fisiológicos.

Do ponto de vista morfológico, produzem-se lesões difusas (alterações


axonais e/ou vasculares difusas, lesões cerebrais hipóxicas e swelling cerebral
(edema cerebral generalizado) – estas geralmente relacionam-se com os
fenómenos de aceleração e desaceleração), focais (contusões, hematomas) e
mistas.

Do ponto de vista etiopatogénico, podem verificar-se lesões primárias (ou de


impacto) – produzem-se no momento do impacto, e consequentemente o clínico
não consegue ter qualquer tipo de controlo (incluem contusões, lacerações, lesão
axonal difusa, fracturas…) – ou lesão secundária.

As lesões primárias devem-se basicamente ao impacto e aos mecanismos de


aceleração e desaceleração, bem como a movimentos relativos do encéfalo em
relação ao crâneo.

As lesões secundárias desenvolvem-se posteriormente ao acidente (pode ser


1 segundo depois, 1 hora, 1 dia…), pelo que, existe pelo menos potencialmente
uma possibilidade de actuação e poder tratar de forma precoce pelo clínico. São
estas lesões que determinam a modalidade do grupo de pacientes que a literatura
designa por “talked and died”.

O facto do prognóstico dos pacientes com TCE com lesão primária,


depender sobretudo da existência de lesões secundárias, leva a que os pacientes
devam ser sempre sujeitos a um período de observação e avaliação dos danos.

A isquemia cerebral é a lesão secundária com maior predominância nos


grupos de TCE graves, constituindo a causa de morte. As zonas mais afectadas
na isquemia cerebral por TCE são o hipocampo e os gânglios da base. Quando
existem lesões corticais, os territórios fronteiriços entre as artérias cerebral
anterior e cerebral media, são geralmente os mais afectados.

A gravidade dos TCE depende de alterações rápidas que se produzem, da


variabilidade intraindividual e da metodologia utilizada (já que a severidade
medida por um instrumento pode ser diferente da medida por outro).

Factores que condicionam as manifestações clínicas neuropsicológicas


postraumáticas:

· Características pré-morbidas do sujeito;

· Natureza e severidade do TCE;

· Tipo de dano cerebral;

· Zonas afectadas;
· Consequências fisiopatológicas;

· Lesões diferidas (aparecimento de lesões secundárias);

· Patologia associada;

· Intervenções cirúrgicas;

· Tratamento farmacológico;

· Tempo decorrido entre o traumatismo e a actuação profissional.

3.3. TUMORES

A palabra tumor, refere-se ao crescumento anormal de células organizadas de


forma atípica que crescem no organismo sem cumprir qualquer propósito.
Denominam-se também por neoplasias (novas formações).

Os tumores das células nervosas podem ser primários (Gliomas – 50% - ou


meningiomas – 20%), ou secundários (Metástases – 12%).

Os tumores podem ser malignos ou benignos. Os tumores benignos podem


crescer fora do cérebro (tumores extracerebrais), como sucede no caso dos
meningiomas. O seu crescimento é tipicamente lento e pode alcançar um grande
tamanho sem que se observe uma patologia evidente. A sintomatologia que
aparece geralmente deve-se ao efeito da massa sobre outras estruturas cerebrais.

Os tumores benignos permanecem bem definidos e não se infiltram dentro


do parênquima cerebral, pelo que a sua remoça cirúrgica é relativamente fácil.
Um tumor benigno situado num lugar de difícil acesso, pode causar a morte do
paciente ou provocar um compromisso de espaço e herniação do talo cerebral.

Os tumores malignos crescem mais frequentemente nas células gliais,


infiltrando-se e confundindo-se com o tecido cerebral, pelo que a sua remoção é
muito difícil. Os gliomas representam os tumores malignos mais frequentes
(aproximadamente 45%). Os astrocitomas podem ter um baixo nível de
malignidade e um crescimento relativamente lento. Os oligodendriomas são de
crescimento muito lento. Os glioblastimas são altamente malignos, com uma
rápida velocidade de crescimento, podendo considerar-se como gliomas de alta
malignidade.

Uma pequena porção de tumores cerebrais são metastásicos, isto é, as suas


células são transportadas de origem diferente.

Sintomatologia:

A apresentação clínica de um tumor é variável e depende da localização do


mesmo. Convulsões, diminuição da capacidade de concentração e da capacidade
cognitiva geral. É frequente a cefaleia, vómitos, a presença de papiledema
(aumento do disco óptico) e diplopia (visão dupla).

3.4. INFECÇÕES

Uma infecção apresenta-se quando um corpo é invadido por um


microorganismo patogénico que vai causar uma doença. O agente infeccioso
pode ser um vírus, bactérias, fungos, parasitas, etc… Por vezes tem uma origem
hematogénea (penetra nas estruturas cerebrais através do sangue), e outras vezes,
muito raramente é introduzido directamente por TCE.

Uma infecção pode afectar o tecido nervoso de várias formas: interferir


sobre o fluxo sanguíneo cerebral (causando tromboses, hemorragias, etc.), causa
meningites ou abcessos.
Infecções Virais: Um vírus é um agregado encapsulado de ácido nucleico
(ADN ou ARN). A susceptibilidade para os vírus depende da presença de
receptores específicos na membrana sobre a qual o vírus se fixa. Se se fixa nas
meningites causará uma meningite, etc… Como exemplos de infecções virais,
podemos citar o Creutzfeldt-Jackobson (equivalente humano à doença das
“vacas loucas”), herpes simples, adenovirus, SIDA, etc.

Infecções Bacterianas:Microorganismo geralmene unicelular, com clorofila


e que se divide por divisão celular. As infecções bacterianas do SN resultam de
uma invasão por estes microorganismos geralmente via sanguínea. As infecções
bacterianas geralmente produzem meningite e por vezes podem formar abcessos
celulares.

Infecções Micóticas:As infecções micóticas são produzidas por fungos que


entram no SN. O SNC geralmente é resistente à focos micóticos, mas em certas
doenças encontra-se fragilizado permitindo a infecção (tubercolose, leucemia…).

Infecções Parasitárias:Diferentes tipos de parasita podem afectar o SN


produzindo encefalite, abcessos cerebrais ou sintomas neurológicos focais e
deterioração cognitiva generalizada.

Sintomas:

Muitas infecções do SN são secundárias a infecções gerais do corpo, e dão


sintomas como a febre, dores gerais, hipotensão… Do ponto de vista
neuropsicológico, podem causar síndroma confusional agudo (desorientação
espacio-temporal), deficits atencionais) e por vezes agitação psicomotora.

Em caso de hipertensão endrocraneal registam-se cefaleias, vertigens,


náuseas, convulsões. Em casos de encefalite por herpes, são comuns alterações
comportamentais (p.ex. desinibição).
3.5. DOENÇAS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS

A desnutrição pode causar efeitos neurológicos e neuropsicológicos graves.


A falta de nutrientes específicos, como as vitaminas, causam anormalidades
circulatórias secundárias, podendo deixar sequelas importantes. O álcool é um
factor gerador de doenças nutritivas devido á sua acção sobre a absorção de
tiamina e a frquente associação entre a sua ingestão e a diminuião de ingestão de
alimentos. O síndroma de Korsakoff é uma das doenças nutricionais mais
importantes em neuropsicologia.

3.6. EPILESPSIA

A epilepsia é uma condição neurológica caracterizada pela presença de


alguma actividade paroxística relacionada com traços desorganizados na
actividade neuronal do córtex cerebral.

Dependendo da sua origem, podemos falar em epilepsia primária –


idiopática, surge espontaneamente sem que exista nenhum dano estrutural no SN
pelo que a sua causa é desconhecida, ainda que se suponham factores de natureza
genética –, ou secundária – também conhecida por sintomática, tem uma causa
precisa (tumor, infecção…). Neste tipo de epilepsia pode-se estabelecer a origem
das convulsões e a forma de manifestação associa-se com a localização
específica do foco patológico.

Existem crises convuslivas parciais ou focais – com sintomatologia simples,


complexa (perda de consciência…) ou secundariamente generalizadas – e crises
convuslivas generalizadas que podem ser de grande ou pequeno mal.

Nas crises convulsivas generalizadas de grande mal, existem crises


generalizadas tónico-clónicas, tónicas, clónicas (movimentos), mioclónicas; os
espasmos com cerca de 1 a 3 segundos de duração levam a perda de
conhecimento sendo frequente a flexão da cabeça e dos braços nas crianças),
podendo haver crises acinéticas, nas quais a pessoa simplesmente cai no chão
com uma perda brusca do tónus muscular.

As crises convulsivas de pequeno mal, são muito frequentes (chegam a


ocorrer cerca de 100 vezes por dia), havendo uma detenção brusca da actividade,
movimentos auto-cinéticos dos lábios durante cerca de 5 a 10 segundos, bem
como inclinação da cabeça com o olhar fixo e inespecífico.

O tratamento da epilepsia realiza-se geralmente com medicação


anticonvulsiva. O mecanismo de acção destes fármacos ainda não está muito
claro, mas provavelmente inibem as descargas neuronais anormais,
restabilizando os potenciais de membrana. Nos casos em que a medicação não se
revela eficaz, pode optar-se pelo tratamento cirúrgico.

3.7. DOENÇAS DEGENERATIVAS

Estas doenças implicam uma perda progressiva das células neuronais com
sinais e sintomas neurológicos e neuropsicológicos.

A demência tipo Alzheimer leva a uma perda dos neurónios colinérgicos no


núcleo basal de Meynert, descrevendo-se igualmente degenerações de células no
córtex cerebral e no hipocampo, com um aumento significativo de placas senis.

3.8. DOENÇAS DESMIELINIZANTES

Tal como o nome indica, é a substância branca do cérebro que é afectada. A


esclerose múltipla representa o exemplo mais importante. Pode aparecer de
forma intermitente, como geralmente acontece, mas por vezes assume um
carácter crónico.
UNIDADE 3 - NEUROPSICOLOGIA

4. Avaliação Neuropsicológica

Com a neuropsicologia surge a necessidade de estimar a existência de


traumatismos cognitivos, avaliar a sua intensidade, definir as suas características
e estabelecer foques terapêuticos adequados.

Em 1540, surge em inglês o termo “assesment” como o acto ou instância de


avaliar (na altura o termo tinha sobretudo uma aplicação jurídica).

Entre os objectivos da avaliação psicológica, citam-se:


- Determinar a situação cognitiva actual do sujeito;
- Analisar os sintomas e sinais presentes e identificar os síndromas fundamentais
subjacentes;
- Proporcionar informação para um diagnóstico diferencial entre condições
aparentemente similares;
- Sugerir possíveis patologias subjacentes a uma disfunção cognitiva existente;
- Elaborar procedimentos terapêuticos e determinar a sua efectividade

Actualmente a neuropsicologia está a ser utilizada também noutros âmbitos,


nomeadamente nas peritagens de seguradoras em acidentes de trabalho, etc.

4.1. Modelos de Avaliação Neuropsicológica

Existem dois modelos fundamentais de avaliação neuropsicológica: o


Modelo Quantitativo e Psicométrico – centrado em resultados, variáveis
claramente especificadas e susceptíveis de quantificação, que nasce nos EUA
com a “Bateria Neuropsicológica de Halstead-Reitan – e o Modelo Qualitativo –
centrado em processos de resolução de tarefas de sujeitos com lesão cerebral,
relacionado com a psicologia soviética, nomeadamente com Alexander
Romanovich Luria e a sua “Bateria Neuropsicológica” compilada por
Christensen (1974).

Do ponto de vista da prática clínica, o ideal é a combinação de ambos os


modelos (modelo misto). Para investigação, terá de ser o modelo quantitativo,
excepto nos casos de estudos de casos únicos.

De acordo com Lezak (1995), a natureza da avaliação neuropsicológica faz


com que um profissional competente deva utilizar habilidades de entrevista,
capacidade de apreciação nas variáveis sociais e culturais com a destreza de um
psicólogo clínico, a sofisticação estatística e a familiaridade com os destes de um
psicometrista; e o amplo entendimento compreensivo do sistema nervoso
humano e suas patologias, no mínimo, ao nível de um médico de clínica geral.

A avaliação neuropsicológica oferece medidas qualitativas e quantitativas de


funções sensitivas, motoras e verbais de capacidades mentais que se revelam
imprescindíveis para a planificação da reabilitação. As provas neuropsicológicas
contribuem para definir as relações estrutura-função cerebral.

A avaliação neuropsicológica engloba a História Clínica (anamnese,


antecedentes pessoais e familiares), a exploração física geral, a exploração
neurológica e o estudo neuropsicológico.

A história clínica deve contemplar a aparência do sujeito (forma como se


encontra vestido, higiene, a sua atitude). O facto do sujeito vir sozinho ou
acompanhado também é bastante informativo (por exemplo, geralmente quando
o paciente vem sozinho não se trata de uma demência). Alterações na linguagem
e alterações motoras (marcha, mobilidade, assimetrias de movimento, tropeções,
golpes ou nódoas negras no corpo), também se revelam importantes de registar.

A história pessoal, deve contemplar a identificação do sujeito, queixas


actuais, bem como antecedentes.

A exploração geral oferece-nos informações importantes para o estado


neuropsicológico, nomeadamente no que se refere a dados cardiológicos,
metabólicos e respiratórios que podem constituir-se como factores etiológicos.

A exploração neurológica deve contemplar a avaliação do nível de


consciência e estado mental, a exploração dos pares cranianos, a exploração do
sistema motor (força, massa e tónus muscular), exploração da sensibilidade
(superficial e profunda), exploração de reflexos (superficial e profunda),
coordenação, a marcha e a estagnação (estar de pé).

A avaliação psicológica deve ser adaptável, isto é, ter em consideração as


características e capacidades do sujeito, individualizada – a sua aplicação não
deve ser em grupo mas sim caso-a-caso (o que não quer dizer que não se possa
recorrer aos familiares para comparar informação e obter detalhes adicionais…)
– e minuciosa, isto é, precisa, exacta, avaliando todos os aspectos da função
cognitiva porque alguns podem estar conservados e outros lesados.

Não requere muitos instrumentos, mas precisa de muito tempo. A maioria


dos autores defende que não se deve levar mais do que 30/45 minutos por
sujeito, para não afectar os resultados por cansaço ou fadiga.

O instrumento de medida deve estar adaptado ao sujeito concreto e o


avaliador deve ser flexível – ser capaz de alterar as tarefas quando for necessário,
de acordo com a finalidade da avaliação e as características do sujeito.

Geralmente as provas de avaliação neuropsicológica são de aplicação fácil,


pois estas também permitem detectar o funcionamento cognitivos dos sujeitos e
muitos pacientes são incapazes de realizar tarefas complicadas.

A tarefa neuropsicológica deve centrar-se na confirmação da deterioração


suspeitada, sua diferenciação de lesões focais, definição do grau de deterioração
e na realização de controlos evolutivos.

A avaliação neuropsicológica através da aplicação de testes, indica os


rendimentos cognitivos que se expressam em medidas, cada vez mais precisas,
válidas e fiáveis, na tentativa de controlar e conhecer as variáveis que intervêm
em cada função, as características de apresentação dos deficits e as redes
funcionais afectadas e intactas que subjazem ao processo patológico.

4.2. Testes de Avaliação Neuropsicológica

Segundo Cronbach (1982), um teste é um procedimento sistemático para


observar condutas e descobri-las com a ajuda de escalas numéricas e categoriais
fixadas. Um utilizador competente, utilizará os testes de forma adequada,
profissional e ética, prestando a devida atenção às necessidades e direitos das
pessoas implicadas no processo de avaliação e tendo muita atenção ás razões
para utilizar o teste, bem como o contexto em que se leva a cabo a aplicação.

Os testes psicológicos em si mesmos raramente são suficientemente


discriminativos para se poder estabelecer um diagnóstico na ausência de outros
dados clínicos confirmativos.

Um teste deve apresentar as seguintes características:

Validade: Uma escala considera-se válida quando mede realmente aquilo


qie se pretende medir;

Fiável: Uma escala considera-se fiável quando produz os mesmos


resultados em medidas repetidas sob as mesmas condições;

Sensibilidade: Um instrumento psicométrico considera-se sensível quando


as modificações produzem diferentes resultados nas medidas repetidas, quando
as condições se modificam.

Um utilizador competente deve actuar de forma ética e profissional,


assegurar-se que são compatíveis para a utilização do teste, responsabilizar-se
pelo uso que faz dos testes, assegurar que os materiais dos testes estão seguros, e
assegurar a confidencialidade dos resultados do teste.

No momento da avaliação neuropsicológica, há que ter em consideração:


- História Clínica e Neurológica;
- Anamnese;
- Situação das vias de entrada perceptivo-sensoriais;
- Situação geral das outras funções superiores;
- variáveis sócio-culturais
- Instrumentos neuropsicológicos adequados;
- Profissional competente

Entre os instrumentos de avaliação neuropsicológica existem instrumentos


de rastreio cogntivo, bateriais neuropsicológicas gerais e testes específicos das
funções.
a) Instrumentos de Rastreio Cognitivo
São testes muito breves, de fácil aplicação, em tempo muito breve (5 a 10
minutos) e permitem a discriminação de situações normais e patológicas. Só
podem indicar se há ou não alterações cognitivas, não sendo possível fazer o
diagnóstico. De preferência, os testes de rastreio cognitivo devem avaliar a
informação geral, atenção, orientação, tempo-espacial, linguagem, memória,
recordação, abstracção, cálculo, concentração. São exemplos deste tipo de testes
o “Mini-mental State Examination” (MMSE) e o “Short-test of Mental Status”

b) Baterias Neuropsicológicas Gerais


Extensas, várias horas de aplicação, informam acerca da situação cognitiva do
paciente em profundidade. Permitem uma análise pormenorizada dos
subcomponentes de cada função cognitiva. Qualquer bateria geral deverá incluir:
Registo geral (dados biográficos…), anamnse, observação da conduta, raciocínio
e juízo crítico, atenção-concentralção, orientação tempo-espacial, linguagem,
memória, praxias, gnosias e teste do lóbulo frontal. São exemplos destas
baterias: Bateria Halstead-Reitan; Investigação neuropsicológica de Luria;
Bateria Neuropsicológica Luria-Nebraska; Teste Barcelona; Baterias informais
compostas por particulares

c) Testes específicos: Especificamente elaborados para o estudo de


determinadas funções cognitivas

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