Livro Capitalismo Humanista Amostra KBR

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Ricardo Sayeg e Wagner Balera

O Capitalismo Humanista
1 Edio

POD

Petrpolis
KBR
2011

Edio KBR
Reviso Marco Antonio Beck e Carla Marcondes Hasson Sayeg
Editorao APED
Capa Carla Marcondes Hasson Sayeg

Copyright 2011 Ricardo Hasson Sayeg e Wagner Balera


Todos os direitos reservados aos autores

ISBN: 978-85-64046-73-3

KBR Editora Digital Ltda.


www.kbrdigital.com.br
[email protected]
24 2222.3491

340 - Direito

A representao simblica do Capitalismo Humanista foi desenvolvida


por Luciano de Abreu Tavares, artista Plstico, designer e Doutor em
Histria da Cincia pela Pontifcia
Universidade Catlica de So Paulo
(PUC-SP).
inspirado na Estrela de Belm, guia astrolgico no Evangelho e fruto da combinao dos smbolos
do Alfa (A) e do mega (), no alfabeto grego, que manifestam o culturalismo Cristo, no sentido da eternidade e universalidade da proposta
de Jesus Cristo. A cor vinho lembra o sangue de Cristo, para ser tomado
na comunho entre os homens e que satisfaz a sede do esprito.
O Alfa e o mega esto harmonicamente estruturados na forma
de uma estrela que aponta para os quatro pontos cardeais norte, sul,
leste e oeste , simbolizando o universalismo, a um s tempo, do capitalismo e da proposta do humanismo antropoilaco, para que abranja a
humanidade e o planeta inteiro.
A indicao de contraposio que h na conjugao do smbolo
entre as letras gregas traa o caminho para o encontro dos opostos no
ininito do universo, por fora de sua curvatura gravitacional, e, assim,
representa a sntese dialtica entre o capitalismo e o humanismo antropoilaco que tambm se encontraram pela ponderao e levaram as
pesquisas de Direito Econmico, combinadas com Direitos Humanos, a
produzir, como resultado, a teoria jus-econmica do Capitalismo Humanista.
A transposio do mega sobre o Alfa, cujo vrtice aponta para o
ngulo de irradiao do mega, corresponde ideia de que os Direitos
Humanos esto encapsulados no intratexto do direito positivo, demonstrando o destino a ser perseguido pela eiccia da positivao no que
tange satisfao da dignidade humana e planetria, via de consequncia revelando o jus-humanismo normativo.
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Ricardo Hasson Sayeg Professor Livre-Docente de Direito Econmico na Faculdade de Direito


da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo
PUC-SP, Doutor e Mestre em Direito Comercial pela PUC-SP. coordenador, no Doutorado e
Mestrado, do Ncleo e, no Bacharelado, da Disciplina de Direito Econmico do Departamento de
Direito das Relaes Tributrias, Econmicas e Comerciais da Faculdade de Direito da PUC-SP. lder do Grupo de Pesquisa do Capitalismo
Humanista atuante na PUC-SP e cadastrado no diretrio de pesquisa do
CNPq, imortalizado como Titular da Cadeira 32 da Academia Paulista
de Direito.
E-mail: [email protected]

Wagner Balera Professor Titular de Direitos


Humanos na Faculdade de Direito da Pontifcia
Universidade Catlica de So Paulo PUC-SP.
Livre-Docente em Direito Previdencirio, Doutor em Direito das Relaes Sociais e Mestre em
Direito Tributrio pela PUC-SP. coordenador da
Ctedra Srgio Vieira de Melo Direito Internacional dos Refugiados Convnio da PUC-SP com o Alto Comissariado das Naes Unidas para os Refugiados ACNUR; coordenador,
no Doutorado e Mestrado, do Ncleo de Direito Previdencirio e, no
Bacharelado, da Disciplina de Direitos Humanos do Departamento de
Direitos Difusos e Coletivos da Faculdade de Direito da PUC-SP. lder
do Grupo de Pesquisa do Capitalismo Humanista atuante na PUC-SP e
cadastrado no diretrio de pesquisa do CNPq, imortalizado como Titular da Cadeira 44 da Academia Paulista de Direito.
E-mail: [email protected]

Sumrio

Introduo 7
Captulo I

Marco Terico da Fraternidade 2

Captulo II

Premissas 29

( ) JUS-HUMANISMO NORMATIVO
(2) METODOLOGIA
(3) LIBERALISMO, DEMOCRACIA E PAZ
(4) FEDERALISMO E DIREITOS HUMANOS

9
39
42
46

Captulo III Historicidade e Tendncia 49


( ) MUNDIAL
(2) BRASILEIRA

Captulo IV

9
69

Humanismo Integral 83

( ) DEFINIO DE HUMANISMO INTEGRAL


(2) CONTEDO SIGNIFICANTE DO HUMANISMO INTEGRAL
( ) HUMANISMO INTEGRAL E A ANTROPOFILIA
( ) O CULTURALISMO JURDICO
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3
90
0
4

Ricardo Hasson Sayeg e Wagner Balera

( ) OS DIREITOS HUMANOS E SUA APLICAO QUNTICA


( ) A PRESTAO JURISDICIONAL HUMANISTA
( ) APLICAO NO DOMNIO ECONMICO

Captulo V

Capitalismo Humanista

( ) O CAPITALISMO E O JUSNATURALISMO DE LOCKE


(2) OS DIREITOS HUMANOS DE PROPRIEDADE E LIVRE
INICIATIVA
( ) REGIMES ECONMICOS CLSSICOS DO CAPITALISMO
( ) OS INCONVENIENTES DO NEOLIBERALISMO
( ) CAPITALISMO E HUMANISMO ANTROPOFILACO
( ) O CAPITALISMO HUMANISTA
( ) REPENSANDO LOCKE E O CAPITALISMO

Captulo VI

4
3

9
7
3
6
9
7
4

Regncia Jurdica Humanista do Capitalismo

( ) EXISTNCIA E CONCEITO
( ) FONTES NATURAIS
(3) NATUREZA JURDICA
( ) RELEVNCIA DA TUTELA DO HOMO ECONOMICUS
( ) INCIDNCIA GRAVITACIONAL

Captulo VII A Proposta

A ADESO AO CAPITALISMO HUMANISTA

Referncias Bibliogrficas

4
200
202
5

Webgrafia 229

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Introduo

(A) O Alfa. Apesar da crise do capitalismo global, delagrada em

2008, o neoliberalismo ainda prevalece na economia mundial, estabelecendo para o planeta a globalizao econmica capitalista. Em sua
formatao original, tal processo se estrutura juridicamente em uma
concepo antijudicialista antropocntrica, individualista e hedonista,
apoiada no pensamento clssico de Adam Smith e David Ricardo.
O regime capitalista e a economia de mercado so realmente necessrios, eicientes e recomendveis, mas no h como desconsiderar
suas principais implicaes negativas, consubstanciadas no esgotamento planetrio e na excluso do circuito econmico, poltico, social e cultural de parcela substancial da humanidade, chegando ao ponto crtico
de coloc-la merc do lagelo da fome, da misria e da subjugao,
ambos inaceitveis.
Ipso facto, a im de conformar o capitalismo s exigncias da
atualidade em favor do homem, de todos os homens e do planeta,
necessrio formular uma teoria jus-humanista de regncia jurdica da
economia e do mercado que, sem abominar este ltimo e, pelo contrrio, recomendando-o, proponha-se a estruturar um direito planetrio
imanente, consagrador do Planeta Humanista de Direito.
Da, no obstante o carter individualista das poderosas foras
do mercado, se contemplar a efetivao multidimensional dos direitos humanos com vistas satisfao universal da dignidade da pessoa
humana, cujo mnimo concreto para o planeta a consecuo dos oito
objetivos gerais identiicados nas Metas do Milnio: (1) erradicar a ex| 17 |

Ricardo Hasson Sayeg e Wagner Balera

trema pobreza e a fome; (2) atingir o ensino bsico universal; (3) promover a igualdade de gnero e a autonomia das mulheres; (4) reduzir
a mortalidade infantil; (5) melhorar a sade materna; (6) combater o
HIV/AIDS, a malria e outras doenas graves; (7) garantir a sustentabilidade ambiental; e (8) estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.1
As presentes relexes representam uma proposta de caminho
jurdico que, por meio da Lei Universal da Fraternidade, dentro do ambiente capitalista, revele-se apta a conduzir a humanidade, com liberdade e igualdade, na marcha para a democracia e a paz.
Em nosso sentir, o fundamento de tal caminho a proposta deixada por Jesus Cristo, porque, como Ele ensinou, mais do que iguais,
somos irmos, posto que conectados a um elemento comum a tudo e a
todos, cuja existncia ratiicada pela partcula de Deus reconhecida pela fsica quntica e pela cosmologia na teoria do Big Bang e,
biologicamente, pela semente da vida, reairmada pela descoberta do
DNA.
Jefrey Sachs conirma essa conexo planetria ao airmar que a
consecuo dos objetivos de desenvolvimento do milnio requer uma
parceria global apropriada a um mundo interconectado. O mundo realmente compartilha um destino comum.2
Pretendemos assim, por meio da concretizao universal dos direitos humanos em suas trs dimenses subjetivas liberdade, igualdade e fraternidade , lanar um novo olhar jurdico sobre a economia,
elevando o mercado, de sua conhecida e mtica condio de ambiente
selvagem e desumano, a uma economia humanista de mercado para satisfao universal do direito objetivo inato, correspondente dignidade da pessoa humana em suas dimenses de democracia e paz. Como
airma Marques da Silva, a dignidade decorre da prpria natureza
humana.3
Isso tudo ser efetivado sob a perspectiva do esprito objetivo da
humanidade, sntese do tomismo antropoilaco culturalista, em uma
reviravolta em prol do homem, de todos os homens e do planeta, tendo
como base um humanismo que insula o jus-humanismo normativo,
consagrador de um Planeta Humanista de Direito.
1 Declarao do Milnio das Naes Unidas.
2 http://www.institutoatkwhh.org.br, em 19.11.2009.
3 Cidadania e democracia: instrumentos para a efetivao da dignidade humana, p. 227.
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O Capitalismo Humanista

Hartmann, conforme os estudos de Adeodato, airmou que ao


esprito objetivo que se deve submeter todo o direito positivado em leis
e outras instituies jurdicas; e apenas na medida em que esta relao
defendida por ele, enquanto esprito vivo, so a lei e as decises dos
tribunais justas. Sem o esprito vivo em que se radicam, as normas jurdicas no correspondem a valores e tm que ser necessariamente julgadas injustas. Sem ele, elas so apenas expresso de um poder que no
repousa no direito ou simplesmente um poder usurpado. Isso signiica
que as decises e a lei so, sem ele, mera expresso da violncia, e quem
a elas se sujeita v-se violentado.4

4 Filosoia do direito, p. 202.


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I
Marco Terico da Fraternidade

ara reger juridicamente a economia e o mercado devemos partir de


um novo marco terico, que se estabelece antropologicamente no
amor de Jesus Cristo, que nos uniu e nos leva ao encontro de Deus. Por
amor, Deus deu a vida ao homem e ao mundo Jesus Cristo, o caminho, a verdade e a vida. Somos irmos e estamos conectados a tudo e
todos. O papa Bento XVI a rma: O amor a Deus e o amor ao prximo
esto agora verdadeiramente juntos.5 Esta a Lei Universal da Fraternidade, que nos conduz com liberdade e igualdade para a democracia
e a paz.
O documento-sntese desse pensamento jurdico, aplicado ao
capitalismo, , sem favor algum, a Declarao Universal dos Direitos
Humanos, justamente porque, conforme assevera Senise Lisboa, a Declarao Universal dos Direitos do Homem, aprovada em 10.12.1948
pela Assembleia Geral da ONU, estabeleceu princpios inalienveis da
pessoa como prerrogativas que sustentam a dignidade humana.6
Pode-se mesmo airmar que a promulgao da Declarao dos
Direitos Humanos lana a pedra fundamental de uma nova era dos direitos e deveres e, como tal, inaugura a caminhada que impe o redesenho das vetustas estruturas dos Estados, dos organismos internacionais
e dos respectivos marcos tericos jurdicos, alm, claro, da reorganiza5 Deus Caritas Est, ponto 14.
6 Manual de Direito Civil, v. I, p. 105.
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Ricardo Hasson Sayeg e Wagner Balera

o completa das estruturas de controle da economia globalizada e dos


prprios fundamentos em que se apoia o mercado.
O marco terico que distingue as presentes relexes, alis, fruto da pesquisa de Direito Econmico e Direitos Humanos na Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, pois as universidades catlicas,
como declarou o papa Joo Paulo II, tm por parmetro sua livre investigao de toda a verdade acerca da natureza, do homem e de Deus7
e, ainda, que em prol duma espcie de humanismo universal, a Universidade Catlica dedica-se completamente investigao de todos os
aspectos da verdade no seu nexo essencial com a Verdade suprema, que
Deus. Portanto, ela, sem medo algum, empenha-se com entusiasmo
em todos os caminhos do saber, consciente de ser precedida por Aquele
que o Caminho, Verdade e Vida, o Logos, cujo Esprito de inteligncia
e de amor concede pessoa humana encontrar, com a sua inteligncia,
a realidade ltima que a sua fonte e termo, e o nico capaz de dar em
plenitude aquela Sabedoria, sem a qual o futuro do mundo estaria em
perigo.8
Bento XVI esclarece que durante o sculo XIX formara-se a
convico de que a religio pertence ao mbito subjetivo e particular
ao qual deveria restringir-se. Fazendo parte da esfera subjetiva, ela no
podia ser uma fora determinante no grande processo da histria e nas
decises que deviam ser tomadas. Mas uma das consequncias do Conclio [Vaticano II] deveria ser justamente essa: realar de novo o fato de
que a f do cristo abrange a vida inteira, de que o seu lugar no meio
da histria e do tempo, ultrapassando a sua importncia o mbito meramente subjetivo.9
Com efeito, h que se levar ao capitalismo a perspectiva humanista crist, cujo io condutor, ao im e ao cabo, faz coro ao papa Paulo
VI, que a rmou ser necessrio promover um humanismo total. Que
vem ele a ser seno o desenvolvimento integral do homem todo e de todos os homens? Poderia aparentemente triunfar um humanismo limitado, fechado aos valores do esprito e a Deus, fonte do verdadeiro humanismo. O homem pode organizar a terra sem Deus, mas sem Deus s a
pode organizar contra o homem. Humanismo exclusivo humanismo
desumano. No h, portanto, verdadeiro humanismo seno o aberto ao
7 Ex Corde Ecclesiae, ponto 4.
8 Ibidem.
9 Introduo ao cristianismo, p. 12.
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O Capitalismo Humanista

Absoluto, reconhecendo uma vocao que exprime a ideia exata do que


a vida humana. O homem, longe de ser a norma ltima dos valores, s
pode realizar a si mesmo, ultrapassando-se. Na frase to exata de Blaise
Pascal: O homem ultrapassa ininitamente o homem.10
imperioso admitir, pois, que o capitalismo, obra humana, perverteu-se em uma verso neoliberal, selvagem e desumana que os pases
centrais da economia globalizada elevaram ao status de poltica econmica para o mundo.
Desde 1975 j estava constitudo o conjunto dos pases centrais
do capitalismo o chamado G7 ou grupo das sete soberanias mais
industrializadas e desenvolvidas economicamente: Estados Unidos da
Amrica, Reino Unido, Alemanha, Frana, Itlia, Japo e Canad. Atualmente, com a incluso da Rssia, foi rebatizado como G8: a era da
globalizao.
O neoliberalismo institucionalizou-se em 1989, no dito Consenso
de Washington. Vem se impondo desde ento, na prxis universal, certa
estruturao jurdica jusnatural que, blindada pelo mito da no-interveno, tornou-se a um s tempo impermevel positivao legislativa
das ordens jurdicas nacionais e reconhecida por meio da positivao
ao consagrar, em linhas gerais, o direito de propriedade privada e a livre
iniciativa.
Pela globalizao econmica com a fora do capital, principalmente por meio de transaes inanceiras e negcios multilaterais , o
grupo central do capitalismo imps ao mundo, em especial aos pases
inanciados pelo Fundo Monetrio Internacional (FMI) praticamente todos os emergentes e em desenvolvimento a pauta jus-econmica
neoliberal do Consenso. O Brasil, por exemplo, como tantas outras naes, tomou recursos do FMI na dcada de 1990 mediante o compromisso de privatizaes e da abertura do pas globalizao capitalista
liberal, o que foi de fato cumprido.
O planeta migrou ento para a ampla e global economia de mercado. a retomada concreta das clssicas teorias liberais econmicas de
Adam Smith e David Ricardo, sob a premissa de que, se cada um dentro
da comunidade agir em favor de seus interesses individuais, sem considerao com o outro, haver maior eicincia econmica e que isso, no
inal das contas, redundar naturalmente em prol do interesse coletivo.
10 Populorum Progressio, ponto 42.
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