“O Benfica é o maior do mundo!!!”
Já todos ouvimos isto várias vezes. Muitos o dizem, mas será que o sentem mesmo? Será que estão mesmo convictos do que dizem?
Então vamos lá ver se o Benfica é ou não o maior clube do mundo.
Quando se fala de maior clube do mundo, afinal, fala-se de quê? De títulos ganhos? Do número de sócios ou adeptos? De capacidade financeira?
Vamos então fazer uma análise áqueles que são comummente aceites como sendo os clubes mais importantes do Mundo.
Comecemos pelo Real Madrid. O Real Madrid é o clube com mais títulos europeus, tendo sido por 9 vezes Campeão Europeu. O Real Madrid tem igualmente uma enorme capacidade financeira, tendo até alegadamente feito uma oferta de 100 milhões de euros para comprar o passe de Cristiano Ronaldo.
Mas isso faz do Real Madrid o maior clube do mundo?
Há uns anos atrás, numa conversa com Camacho, em Madrid, ele disse-me uma coisa que não me saiu da cabeça. Ele disse-me que o Real Madrid era muito grande e muito importante, mas que fora da cidade de Madrid o Real não era número 1 em lado nenhum. Camacho disse-me mais: o Real Madrid é respeitado e temido pelo mundo fora, mas não é amado.
Com o Manchester United ou Liverpool passa-se algo de semelhante com a diferença de terem ganho menos que o Real Madrid. Onde estão os verdadeiros adeptos do Manchester ou do Liverpool, a não ser nas respectivas cidades? Haverá algum sítio do mundo em que esses clubes são o emblema mais importante para além das suas cidades? Mesmo em Inglaterra, será que em Newcastle, Birmingham ou Leeds as pessoas são maciçamente do Manchester ou Liverpool? Tenho a certeza que não.
E o Barcelona? Se fossemos olhar para os títulos o Barcelona está muito longe do Real Madrid e em termos sociais ainda vale muito menos que o Real. O Barcelona é um clube parecido com o Porto, assim como o Atlético de Madrid é parecido com o Sporting.
De facto, o Barcelona representa um sentimento regionalista e com isso domina na Catalunha e vive por oposição ao Real Madrid. O Porto tem um papel semelhante em Portugal, tem no Benfica a sua obsessão, mas ao contrário do Barcelona não consegue sequer dominar o Norte de Portugal nem ter a capacidade financeira do clube catalão. Quem quiser confirmar o que digo que vá a Braga, a Famalicão, Viana do Castelo, Mirandela, Bragança ou Vila Real e verifique qual é o clube com mais adeptos. É, de longe, o Benfica.
Mas ter mais adeptos será um critério suficiente para se ser o maior clube do mundo? Manuel José, treinador do Al-Ahly, dizia há uns tempos que este clube do Cairo era enorme porque tinha cerca de 40 milhões de adeptos no Egipto. Mas fará isso do Al-Ahly um grande clube? Seguramente que não. Se fizesse, rapidamente qualquer clube chinês ou indiano poderia vir a dizer que é o maior clube do mundo.
Outros clubes como o Milão, Inter, Juventus, Bayern de Munique, Boca Juniors, Flamengo ou São Paulo têm o mesmo problema. São muito importantes nas suas regiões ou nos seus países, já ganharam muita coisa, alguns têm muito dinheiro, mas fora da sua área de influência directa não são nada. São muito respeitados. São adversários temíveis. Mas têm aquela coisa especial que faz deles o maior clube do mundo? A resposta é não.
Então, afinal, qual é o maior do clube do mundo?
É o Benfica. E porquê?
O Benfica é o maior clube do mundo não por causa de qualquer recorde do Guinness Book como alguns ignorantes nos querem fazer crer. Só pode dizer isso quem não percebe nada do que é ser benfiquista.
O Benfica é o maior clube do mundo porque num desenvolvimento histórico singular e irrepetível ganhou o respeito mas, acima de tudo, conquistou o amor de milhões em todo o mundo.
O Benfica conseguiu encarnar a diáspora portuguesa como nenhum outro clube do mundo o conseguiu fazer relativamente à história do seu próprio país.
Assim, o Benfica é o maior clube de Portugal, mas é também o clube nº 1 em Angola, Moçambique, Timor, Cabo Verde, Guiné e S. Tomé. Mas não só. Qual é o maior clube de Paris? Será o PSG que foi fundado em 1970? Não. É o Benfica. O Benfica que também é o maior clube na Suíça, no Luxemburgo e que tem uma enorme força na Alemanha, em Nova Iorque, em Toronto, na África do Sul ou em qualquer lado onde esteja um português.
O Benfica personifica a nostalgia e a alma de um povo, mesmo daqueles que não são simpatizantes do clube. E isso sente-se especialmente quando se sai de Portugal. Não há mais nenhum clube do mundo assim.
E o Benfica teve e tem Eusébio. Bem sei que o Real Madrid teve Alfredo di Stefano e o Manchester United Sir Bobby Charton. Mas Eusébio era outra coisa. Eusébio não era argentino nem inglês. Eusébio era africano, de Moçambique, o que representava a vocação universalista do Benfica. Eusébio era um rapaz simples e humilde com um talento incomparável. Eusébio carregou aos ombros todo um país no mundial de 1966. E chorou. As lágrimas de Eusébio deram a volta ao mundo e lavaram a alma de todos os portugueses que com ele sofreram.
E há mais. O Benfica é do povo. É popular no sentido literal do termo. É feito por gente simples que ama o Benfica mais do que tudo na vida e é capaz de sacrifícios espantosos pelo clube do seu coração.
Arrepia-me ver os novos jogadores estrangeiros do Benfica, quando chegam ao aeroporto da Portela, começarem logo a dizer que o Benfica é igual ao Real Madrid como se isso fosse algum elogio. A culpa não é deles. É claro que são instruídos por alguém dentro do Benfica para dizerem isso. Alguém que pensa que isso engrandece o Benfica. Nada mais patético. Faz-me lembrar quando os artistas brasileiros chegavam a Portugal e começavam logo a dizer que éramos um país lindo, maravilhoso e irmão. Soava a falso, como soam a falso as declarações dos jogadores recém chegados. Isso só acontece porque as pessoas que estão no Benfica não percebem verdadeiramente o que têm nas mãos. Estão lá, mas não sabem o que é o Benfica. Se vissem o Benfica como ele é não ficavam todos felizes com a comparação com o Real Madrid, mas proibiam-na.
Para se dirigir um clube como o Benfica é preciso ter-se categoria, algo que há muito anda arredado da Luz. Assim como para se ser jogador do Benfica é preciso ter-se algo de especial. Não é, de facto, coisa que esteja ao alcance de qualquer um.
Por muito que outros clubes possam ganhar nunca serão o Benfica. Não há nenhum clube do mundo que tenha a herança do Benfica. É preciso que o futuro do Benfica esteja à altura do seu passado. E para isso são precisas vitórias. Vitórias com honra, com glória, com humildade e com dignidade.
A minha última palavra vai para as Casas do Benfica espalhadas por Portugal e por esse mundo fora. Elas fazem um trabalho notável e desempenham um papel fundamental na manutenção da mística do Benfica. Mística essa de que todos falam, mas muitos não sabem o que quer dizer.
O Benfica é, de facto, um caso único no mundo do futebol.
O Benfica é, sem favor e sem exagero, o maior clube do mundo!