JOGOS DE GUERRA
Trump joga à batalha naval como um adolescente. O problema
está no facto dos seus jogos de guerra serem de fogos reais. Alegando uma
virtuosa indignação pela morte de sírios, vai provocar novos mortos. Como se
jogasse aos “cowboys”, aproxima-se perigosamente do risco de um confronto nuclear.
Invoca o uso de armas químicas pelo governo sírio. Não apresenta provas, parecendo ficar satisfeito com a invocação de imagens televisivas de veracidade
incerta. Lembrados das armas de destruição maciça que foram falsamente alegadas
como pretexto para a guerra no Iraque, duvidamos.
Tudo isso é comunicado tuitosamente. Os dirigentes políticos
seus aliados desconsideram-no, incomodados pelo seu estilo truculento e primário, pelo seu reacionarismo agressivo e
radical, mas seguem-no como cordeiros mansos nos seus jogos de guerra. Trump é
um político perigoso, mas os seus críticos, que acabam por mansamente o seguir,
são ainda mais perigosos, mas principalmente são de uma untuosidade desprezível.
A solidariedade para com as vítimas da guerra na Síria, para
com todas as vítimas, é eticamente imperativa, mas invocá-la para justificar ou esconder,
estratégias guerreiras, pulsões imperiais ou jogos geopolíticos, é simplesmente
miserável.
As vítimas desta e doutras guerras podem render vistosas
condecorações aos cabos de guerra, confortar os poderes dos poderosos, blindar ainda
mais a segurança das praças financeiras
e dar pujança ao negócio da venda de armas, enfim podem oxigenar o
capitalismo mundial; mas inscrevem-se no sofrimento dos povos como manchas
intoleráveis. Por isso, a nossa solidariedade só é autêntica se for uma luta pela Paz,
mas não podem ser nosso companheiros nessa luta os que apenas invocam a paz para vencer as guerras.