Quando eu penso em amamentação, logo de cara, lembro de mim mesma, grávida de 30 semanas das meninas, sentada num auditório com outras grávidas assistindo um curso sobre amamentação e pensando: “nossa, quanta técnica, por que tão complicado assim? Na hora, vai no instinto”. E eu saí logo em seguida porque estava meio tonta e queria ir pra casa pouco interessada no assunto. Mas acho que no fundo, no fundo, eu estava é com medo e não queria enxergar a realidade que estava na minha frente. No fundo, eu pensava “tá isso dá certo com um bebê, e eu? Como vou fazer com dois?”. Acho que preferi não torcer por antecipação e deixei para lidar com a situação quando ela acontecesse, e quando ela aconteceu eu queria ter me preparado sim. Então, se você está grávida, prepare-se, leia relatos, pegue uma dica aqui e outra ali. E mais importante: entregue-se para aquele momento. Vai doer, vai ser difícil, mas sim, vale muito a pena. O poder de alimentar e acalentar o próprio filho é toda essa maravilha que dizem por aí mesmo. Aqui vai a segunda parte do meu relato de amamentação do Francisco. O primeiro está
aqui. Ainda sinto que preciso escrever de novo o relato de amamentação das meninas que pra mim não foi tão bem sucedido como eu queria, mas foi meu e me ensinou muito até chegar aqui.
Bem, se você leu a primeira parte do relato deve saber que: Francisco não mamou nas primeiras horas de vida, deram complemento na maternidade e, assim que ele foi pro quarto, eu recusei e quando o leite desceu o bico do peito inchou e mudou de formato, então tive que trabalhar a pega de novo. Nesse processo aconteceu algo que é bem comum no começo da amamentação: meu bico rachou e ficou ferido. Pode ser sim que a pega do bebê não esteja tão correta, mas pra mim aquilo era parte do processo, o peito precisa ficar calejado para o bebê e o bebê também estava aprendendo a mamar. Por causa das rachaduras e porque o meu peito é grande, eu ficava segurando- o para o Francisco mamar. Fiquei meses segurando o peito com medo do meu bico rachar de novo, e hoje em dia, quando eu vejo que quando ele suga acaba machucando, eu vou lá e seguro de novo. Mas essa coisa de segurar o peito pra mim foi uma barreira também. Fazia isso com as meninas e com o Chico fiz de novo. Eu queria ser daquelas mulheres que abrem a blusa, tiram o peito com a maior facilidade e o bebê já ia direito no mamilo, achava que eu nunca conseguiria ser daquele jeito. Toda vez que eu tirava a mão, ele perdia a mamada e chorava. Achei posições até que consegui me libertar e, mais importante, relaxar. Entrega, entrega, sempre a entrega.
Pois bem, passado a fase das rachaduras e, quando eu finalmente estava tranquila, veio a dor. Assim que as mamadas terminavam eu sentia uma dor no peito absurda. Era um incômodo terrível e na minha cabeça eu só pensava “isso não pode ser normal” “mas essa agora? Não tava ficando fácil? Mais essa!”. Fiquei preocupada e pensei em mastite e candidíase. Então, fui correr pra minha rede de apoio, amigas virtuais e presentes, para me tranquilizar. Até que descobri que estava produzindo muito leite. Não chegou a ser uma hiperlactação, mas era quase isso. Assim que o Francisco terminava de mamar o meu peito já começava a encher de novo e por isso doía muito. Muita gente me aconselhou a ordenhar, mas cheguei a conclusão que se fizesse só ia atrapalhar o processo. Minha produção de leite precisava se ajustar às necessidades do meu filho. Fiquei mais de uma semana sofrendo, tomei paracetamol pra dor e uma amiga que conheci no instagram (@riotmom) e que mora na Espanha me ajudou muito e me tranquilizou no whatsapp dizendo “calma, que você sabe que vai passar e tudo vai dar certo”. E bem, passou.
Nesse processo de segunda tentativa na amamentação descobri que a gente tem que ser meio índia também. Deixar o bebê mamar tudo o que ele quer e depois quando ele, finalmente, largar o peito, não sair correndo para fechar o sutiã, deixar um pouco o peito pra fora (não precisa ser na frente dos outros). E, mais importante, dar colo, muito colo. Esse aconchego ajuda na amamentação e muito. Ajuda o leite descer e os hormônios do amor. Então, depois que o Francisco mamava eu não tinha pressa de colocar ele no berço, deixava ele no meu colo um bom tempo. E se ele quisesse mamar de novo, tudo bem. Se ele quisesse mamar meia hora depois, tudo bem também. De repente, eu comecei a ver a amamentação não só como uma forma de alimentar, mas como forma de aconchegar. Esqueci quantos mls saem em uma mamada, se ele tinha mamado há duas horas ou dez minutos atrás. Aliás, intervalo de três horas era algo raro aqui em casa. E hoje em dia no auge dos seus 12 meses, a livre demanda persiste.
Amamentar não é fácil, ainda que parece que está sendo fácil. É entrega, muita entrega. Tem dias que a gente quer desistir, cansa, mas como vale a pena. É uma coisa muito louca mesmo, uma experiência única. Aqui estamos partindo para o segundo ano de amamentação e eu já sinto saudades. Francisco ainda dorme todos os dias no peito, mama quando quer. Se eu mesma tivesse visto este cenário há três anos atrás ia achar inviável e esquisito, mas hoje em dia sei que não há nada de errado em continuar nessa jornada, pelo contrário, só traz benefícios pra mim e pra ele. E que assim seja, amamente enquanto dure e aproveite.